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ISSN 1808-3757

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Projeto de música na escola: desafios no ensino fundamental

Mariliane Dessotti Pibid/Capes/UERGS

Cristina Rolim Wolffenbüttel Pibid/Capes/UERGS

Resumo: este trabalho apresenta um projeto de educação musical executado no ano de 2012 nas escolas de ensino fundamental da rede municipal de ensino de Bom Princípio, RS. Desde o ano de 2005 o município, situado na região do Vale do Rio Caí, oferece diversas oficinas para os estudantes das séries iniciais do Ensino Fundamental (1º a 5º anos), incluindo: Língua Alemã, Informática, História do Município, Esportes Coletivos, Hora do Conto e Música. Estas oficinas, desde sua criação, funcionam no sistema de rodízio quinzenal. Ao vivenciar tal tipo de prática, tenho me questionado sobre as funções da música na escola. Teria a música a finalidade de formar músicos ou ouvintes? Preocupada com estas questões e, pensando na realidade de meu município, ao final de 2012 elaborei uma proposta de ação de extensão para a Prefeitura de Bom Princípio, com vistas a repensar as oficinas e aulas de música nesta localidade. O projeto foi direcionado ao Ensino Fundamental, do 6º ao 9º anos. A proposta previa ações de ensino de música com vistas à promoção de um festival de música escolar. Como resultado obteve-se a aprovação da proposta, sendo o projeto subvencionado financeiramente. Palavras-chave: educação musical; festival de música escolar; atividades musicais na escola.

Introdução

Atualmente a escola é um dos espaços que potencialmente podem ser

utilizados para o ensino de música. Considere-se, neste sentido, a aprovação da Lei

11.769/2008, que dispõem sobre a obrigatoriedade do ensino de música na

Educação Básica.

Como não se encontra explicitado no texto da Lei quais os modos de inserção

da música nos ambientes escolares, entende-se que uma destas possibilidades seja

através do oferecimento de oficinas extracurriculares, oportunizadas no contraturno

da escola, e contribuindo com a integralidade da educação.

Quanto às possibilidades de o ensino de música se apresentar, Kraemer

(2000) contribui através de seu modelo estrutural pedagógico-musical. O autor, ao

focar os problemas da apropriação e transmissão de música, propõe como campos

de aplicação:

(...) a educação musical escolar e extra-escolar, processo de impregnação músico-cultural na família, nos jardins de infância, escola de música, escola, escola superior, escola popular, instituições de formação continuada, aulas

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particulares, em corais, conjuntos, organizações comunitárias. (KRAEMER, 2000, p. 67).

Partindo deste pressuposto e, considerando minha experiência nas escolas

da localidade, iniciei a refletir sobre a eficácia das ações de música nos ambientes

escolares.

As aulas de música utilizadas para desenvolver o projeto funcionariam em

forma de oficinas quinzenais levando-me a minha inquietação quanto a resultados

que, muitas vezes, se restringiam a apresentações em datas comemorativas. A

motivação dos estudantes não estava sendo instigada e, pensando nisso, resolvi

lançar a ideia de um festival estudantil de música às direções das duas escolas. O

projeto foi bem aceito por parte das direções, professores e, principalmente, dos

alunos.

A proposta inicial

A Secretaria Municipal de Educação do município de Bom Princípio, RS,

comprometeu-se a apoiar um projeto de educação musical nas escolas, o qual eu

havia proposto. Denominado de “Música na Escola”, o projeto seria desenvolvido na

disciplina de Artes, ocorrendo quinzenalmente.

Na proposta apresentada foi salientada, por parte da secretaria, a

necessidade de uma avaliação dos estudantes, com critérios de que resultariam em

conceito no boletim escolar. Esta solicitação existia em virtude da necessidade de

fazer um “convencimento” dos professores desta disciplina, a fim de permitirem a

realização do projeto.

Após a readequação da proposta inicial, devido aos motivos mencionados

anteriormente, a Secretaria Municipal de Educação de Bom Princípio aprovou o

projeto “Música na Escola”.

Entendendo os contextos

O município de Bom Princípio orgulha-se por apresentar bons níveis de

qualidade de vida, figurando nos primeiros lugares no Estado quanto aos Índices de

Desenvolvimento Humano (IDH).

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Indicadores como o Produto Interno Bruto (PIB) e a Renda per Capita (RC)

revelam um município rico e economicamente forte. Porém, existem problemas

sociais igualmente preocupantes. E é no ambiente escolar que estes problemas se

apresentam com maior intensamente.

Apesar de as pesquisas apontarem a importância da música na vida das

pessoas (CORREIA, 2003; FIALHO, 2007; LOUREIRO, 2004; PENNA, 2005, 2006),

bem como o ensino de música já ser uma obrigatoriedade (PENNA, 2007;

SOBREIRA, 2008), ainda luta-se com dificuldades para esta efetivação.

Wolffenbüttel (2009), analisando a inserção da música no projeto político pedagógico

da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre, RS, explica:

A despeito da existência da proposta de política pública em educação musical por parte da SMED-POA/RS, com o histórico de anos da presença de profissionais da música nos quadros das escolas da RME-POA/RS, bem como da existência da política nacional em educação musical, caracterizada pela Lei nº 11.769/2008, ainda se luta com dificuldades para a continuidade da inserção da música nas escolas da RME-POA/RS. (WOLFFENBÜTTEL, 2009, p.241).

A presença das atividades musicais nas escolas através das chamadas

oficinas oferecidas quinzenalmente, de forma recreativa e lúdica, parece ter

contribuído parcamente para transformar o fazer musical na escola sistemático e

comprometido. Minha experiência como professora de música tem me desvelado um

panorama um tanto difícil neste sentido.

Ao refletir sobre estas questões fundamento-me em teóricos tratam da

educação musical (KRAEMER, 2000; SWANWICK, 2003), apontando alguns

aspectos que podem dificultar o ensino musical escolar, em se tratando deste

oferecimento através de oficinas e atividades complementares (PENNA, 2006, 2007;

SOBREIRA, 2008). No entanto, também merece ser apontado que muitas

experiências positivas têm surgido no cenário escolar, apresentando possibilidades

do ensino de música (ARROYO, 2009, 2006, 2000; CORREIA, 2003; FIALHO, 2007;

LOUREIRO, 2004; PENNA, 2005).

Entendo que a arte e, em especial, a música, trabalha conteúdos significativos

para a formação integral do sujeito. Aprender música não deve ser um privilégio

apenas para os “talentosos” ou quem tem condições de pagar por este ensino.

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Pesquisas têm demonstrado que todos podem aprender música e que esta é uma

das prerrogativas da educação musical. Em sua investigação, Schroeder (2004)

“procura desconstruir a concepção do músico como uma pessoa dotada

naturalmente com algum talento especial, visão essa que não somente faz parte do

senso comum, mas se mostra predominante também entre os indivíduos envolvidos

diretamente no campo musical” (p.109).

Neste sentido, o projeto “Música na Escola” pretende ser inovador e,

principalmente, oportunizar o acesso ao aprendizado musical no âmbito escolar,

democratizando este saber.

O projeto Música na Escola

O projeto “Música na Escola” propõe-se a oportunizar aulas de música para

todas as séries do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino. A partir do

projeto as séries finais (6º a 9º anos) também serão atendidas, o que significa atingir

cerca de 100% dos estudantes da rede municipal de ensino de Bom Princípio com o

ensino de música escolar.

Nas séries finais, as aulas de música serão realizadas utilizando um período

da matéria de Artes. A cada quatro períodos de artes, um será de música. Desta

forma, todos os estudantes do Ensino Fundamental terão, quinzenalmente, um

período de música.

De um modo geral, o projeto objetiva contribuir com a implementação da Lei

nº 11.769, de agosto de 2008, que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino de

música na Educação Básica. Entende-se a importância de o aprendizado musical

ser um processo sistemático auxiliando na produção do conhecimento e

formalização do conteúdo.

Em se tratando dos objetivos específicos, o projeto “Música na Escola”

objetiva musicalizar estudantes realizando aulas quinzenais de música em todas as

séries do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino; despertar o gosto pela

música; aprimorar a percepção musical, notadamente no que diz respeito ao

reconhecimento do timbre de instrumentos musicais, dos estilos e dos gêneros

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musicais; estimular a memória e a inteligência musical incentivando os estudantes a

criarem composições próprias; compreender a linguagem musical; executar

músicas, através do canto e da flauta doce; contribuir para a socialização dos

estudantes, através da música; desenvolver o senso estético através de atividades

de criação, execução e composição musical (SWANWICK, 2003); oportunizar o

desenvolvimento de novos talentos musicais; e promover um Festival de Música.

Dentre os benefícios possíveis originados a partir da realização do projeto

“Música na Escola” tem-se que cerca de 1.030 estudantes serão atendidos sendo

que possibilitará que estudantes passem a integrar grupos musicais existentes,

como as Bandas Marciais das Escolas, a Orquestra de Sopros e os Corais.

Aproximadamente 660 estudantes das séries iniciais e 370 das séries finais serão

atingidos pelo Projeto.

Cada estudante envolvido no projeto transformar-se-á em agente

multiplicador, disseminando a arte musical como forma de expressão, transformando

o meio em que vivem e tornando-se cidadãos inseridos na sociedade.

O projeto também motivará a criação de novos grupos vocais, bandas e

conjuntos dos mais variados estilos, auxiliando no desenvolvimento dos processos

de aquisição do conhecimento, sensibilidade, criatividade, sociabilidade e gosto

artístico.

Além disso, indiretamente o impacto gerado pelo projeto atingirá cerca de 900

famílias, pois, ao participarem do projeto, os estudantes partilharão seus

aprendizados musicais, ampliando estes benefícios aos pais e familiares.

Resultados esperados e considerações finais

Espera-se que, ao proporcionar aulas de música em todas as séries do

Ensino Fundamental, os estudantes encontrem na prática musical uma maneira de

aprender e se comunicar. Espera-se, também, que a comunidade escolar se

mobilize para realizar eventos culturais. Esses eventos tornam-se referências para

toda comunidade, contribuindo, assim, para a formação integral e efetiva do

estudante como cidadão inserido no meio escolar e comunitário.

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É importante que as aulas de música auxiliem aos estudantes

compreenderem a música como algo significativo em suas vidas. A este respeito,

Swanwick (2003) entende a música como a fluência e a continuidade dos sons. O

autor afirma que a experiência do evento musical pode ser comparada a uma a

vivência metafórica do discurso. Segundo ele ouvir música de forma analítica não é

a melhor opção para vivenciar sua forma fluente e contínua. “Escutar sons como

música exige que desistamos de prestar atenção nos sons isolados e que

experimentemos, em vez disso, uma ilusão de movimento, um sentido de peso,

espaço, tempo e fluência” (SWANWICK, 2003, p.30).

As aulas de música são ansiosamente aguardadas pelos estudantes. O

prazer de aprender a música oportuniza momentos no convívio escolar, atuando na

formação de crianças, jovens e adultos e contribuindo com a escolarização como um

todo.

Por fim, entende-se que o projeto “Música na Escola” possa contribuir com o

desenvolvimento de estudantes no município de Bom Princípio, além de possibilitar

momentos de fazer e apreciar música junto à comunidade local.

Referências ARROYO, Margarete. Juventudes, músicas e escolas: análise de pesquisas e indicações para a área da educação musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 21, 53-66, mar. 2009. ____. Rap em trânsito: culturas juvenis, pesquisa e escola. Resenha. OuvirOuver, Uberlândia, n. 2, p. 205-209, 2006. ____. Um olhar antropológico sobre práticas de ensino e aprendizagem musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 5, p. 13-20, set. 2000. CORREIA, Marcos Antonio. Música na educação: uma possibilidade pedagógica. Revista Luminária. União da Vitória, PR, n. 6, p. 83-87, 2003. Publicação da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória.

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FIALHO, Vânia M. Ensinando música na escola: conceito, funções e práticas Educativas: In: RODRIGUES, Elaine; ROSIN, M. Sheila: Infância e Práticas Educativas. Maringá: Eduem, 2007. KRAEMER, Rudolf D. Dimensões e funções do conhecimento pedagógico-musical. Em Pauta, v. 11, n. 16/17, abr./nov., p. 50-73, 2000. LOUREIRO, Alicia Maria Almeida. A educação musical como prática educativa no cotidiano escolar. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 10, 65-74, mar. 2004. PENNA, Maura. Poéticas musicais e práticas sociais: reflexões sobre a educação musical diante da diversidade. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 13, p. 7-16, set. 2005. ____. Desafios para a educação musical: ultrapassar oposições e promover o diálogo. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 14, p. 35-43, mar. 2006. ____. Conquistando espaços para a música nas escolas: a solução é a obrigatoriedade? In: ENCONTRO ANUAL DA ABEM, 16, 2007, Campo Grande. Anais… Campo Grande: Abem, 2007. 1 CD-ROM. SCHROEDER, Sílvia Cordeiro Nassif. O músico: desconstruindo mitos. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 10, 109-118, mar. 2004. SOBREIRA, Sílvia. Reflexões sobre a obrigatoriedade da música nas escolas públicas. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 20, p. 42-52, set. 2008. SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. São Paulo: Ed. Moderna, 2003. WOLFFENBÜTTEL, Cristina R. A inserção da música no projeto político pedagógico: o caso da rede Municipal de Ensino de Porto Alegre/RS. 2009. Tese (Doutorado em Música)–Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.