música na escola _ materiais didáticos para aulas de música popular brasileira -

21
23/10/2014 Música na Escola | Materiais didáticos para aulas de música popular brasileira http://musicanaescola.org/ 1/21 Música na Escola Materiais didáticos para aulas de música popular brasileira Feeds: Posts Comentários Educação e Gosto Musical 23 de agosto de 2011 por polianaalmeida O estudante do ensino médio, em relação aos de outras etapas da educação básica, tem maior autonomia em suas escolhas. Com o advento das novas tecnologias de armazenamento, compartilhamento e escuta as possibilidades de acesso à diversidade de repertório musical aumentaram. A música, atualmente, é ainda mais constante no cotidiano dos jovens estudantes nos espaços escolares. Escuta-se de tudo nos intervalos, e o que é melhor, sem que outros saibam ou interfiram no que estar-se ouvindo, pois os fones de ouvido se tornaram quase uma peça da indumentária dos nossos estudantes. Sendo assim, com os novos artefatos tecnológicos de escuta musical, amplia-se a autonomia na escolha de repertório. Eu escuto o que eu gosto, à hora que eu quiser e onde eu quiser. Os repertórios musicais apreciados pelos jovens, mesmo que ainda não tenhamos nos dado conta, têm adentrado, com toda força, nos espaços escolares. As trilhas musicais escolares não são mais de escolha exclusiva dos professores; os estudantes fazem ecoar seu gosto musical nos corredores, nos pátios e alguns, clandestinamente, nas salas de aula. Há práticas pedagógicas musicais que, até certo ponto, considerem a cultura musical do estudante, vendo-a como um ponto de partida para a ampliação dos conhecimentos musicais. Contudo, nas entrelinhas, ainda persiste certo preconceito musical, principalmente quando se trata de trazer para o cotidiano escolar, exemplos musicais oriundos da cultura de massa ou das classes sociais menos favorecidas. Trazendo essa discussão para um plano regional, neste caso para o cenário baiano, encontramos profissionais da educação preocupados em aprimorar o gosto musical dos jovens estudantes através da erradicação de musicas como o pagode baiano, arrocha, atribuindo a estes exemplos musicais o rótulo de música de baixa qualidade. Antes de tudo, faz-se necessário verificar até que ponto a educação escolar pode interferir nas escolhas musicais dos

Upload: arysselmo-lima

Post on 18-Nov-2015

15 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Música Na Escola _ Materiais Didáticos Para Aulas de Música Popular Brasileira -

TRANSCRIPT

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 1/21

    Msica na Escola

    Materiais didticos para aulas de msica popularbrasileira

    Feeds: Posts Comentrios

    Educao e Gosto Musical

    23 de agosto de 2011 por polianaalmeida

    O estudante do ensino mdio, em relao aos de outras etapas da educao bsica, tem maiorautonomia em suas escolhas. Com o advento das novas tecnologias de armazenamento,compartilhamento e escuta as possibilidades de acesso diversidade de repertrio musicalaumentaram. A msica, atualmente, ainda mais constante no cotidiano dos jovens estudantesnos espaos escolares. Escuta-se de tudo nos intervalos, e o que melhor, sem que outrossaibam ou interfiram no que estar-se ouvindo, pois os fones de ouvido se tornaram quase umapea da indumentria dos nossos estudantes. Sendo assim, com os novos artefatos tecnolgicosde escuta musical, amplia-se a autonomia na escolha de repertrio. Eu escuto o que eu gosto, hora que eu quiser e onde eu quiser.

    Os repertrios musicais apreciados pelos jovens, mesmo que ainda no tenhamos nos dadoconta, tm adentrado, com toda fora, nos espaos escolares. As trilhas musicais escolares noso mais de escolha exclusiva dos professores; os estudantes fazem ecoar seu gosto musical noscorredores, nos ptios e alguns, clandestinamente, nas salas de aula.

    H prticas pedaggicas musicais que, at certo ponto, considerem a cultura musical doestudante, vendo-a como um ponto de partida para a ampliao dos conhecimentos musicais.Contudo, nas entrelinhas, ainda persiste certo preconceito musical, principalmente quando setrata de trazer para o cotidiano escolar, exemplos musicais oriundos da cultura de massa oudas classes sociais menos favorecidas.

    Trazendo essa discusso para um plano regional, neste caso para o cenrio baiano,encontramos profissionais da educao preocupados em aprimorar o gosto musical dos jovensestudantes atravs da erradicao de musicas como o pagode baiano, arrocha, atribuindo aestes exemplos musicais o rtulo de msica de baixa qualidade. Antes de tudo, faz-senecessrio verificar at que ponto a educao escolar pode interferir nas escolhas musicais dos

    http://musicanaescola.org/http://musicanaescola.org/feed/http://musicanaescola.org/comments/feed/http://musicanaescola.org/2011/08/23/educacao-e-gosto-musical/http://musicanaescola.org/author/polianaalmeida/

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 2/21

    estudantes. At que ponto estudantes do ensino mdio, que gozam de certa autonomia em suasescolas musicais, poderiam ter o gosto musical impactado pelas aulas de msica ou pelosrepertrios musicais didticos utilizados pelos professores?

    Certa vez, numa apresentao musical de estudantes da instituio onde trabalho, o pblico,em sua maioria composto por adolescentes e jovens, solicitou que fosse tocado determinadopagode baiano; o grupo musical prontamente atendeu ao pedido e a platia foi ao delrio. Logoaps, um dos palestrantes do evento iniciou sua fala demonstrando-se decepcionado com abaixa qualidade do repertrio musical apreciado por jovens estudantes. Ou seja, ele espera quea educao comprometa-se em interferir na formao do gosto musical dos estudantes deforma a garantir a manuteno do padro esttico elitista, que ratifica teses de alta cultura ebaixa cultura.

    Incluir exemplos musicais socialmente aceitos como de qualidade durante as aulas, ouutiliza-los como recursos didticos ampliariam o gosto musical dos estudantes? Que prticaspedaggico-musicais melhor alcanam o objetivo do aprimoramento do gosto musical?

    Creio eu, que existe muito mais fora nas prticas de escuta musical contemporneas dajuventude do que na imposio de padres estticos cujos exemplos compem a chamadamsica de qualidade.

    E ento, como predominantemente reagem os jovens frente tenso gerada entre o que elesgostam de ouvir e aquilo que os professores querem que eles gostem de ouvir? Ser que elesmudam suas preferncias musicais? Falam que gostam de Caetano Veloso e Chico Buarque,mas na verdade s escutam Psirico no mp3?

    Precisamos refletir, at que ponto nossa prtica pedaggica tem revelado os preconceitosmusicais contra os quais nos declaramos contrrios.

    Publicado em Artigos | Leave a Comment

    Atividade Era do Rdio

    4 de agosto de 2011 por polianaalmeida

    Histria da Msica Popular Brasileira: Parte 1

    Nome:_______________________________ Turma:___________

    Professor:_____________________________ Data:___________

    Atividade de apreciao: Voc ir ouvir 11 exemplos musicais. Cada um dos exemplosmusicais encaixa-se num dos parntesis distribudos no texto abaixo. Tente preencher os

    parntesis com o nmero correspondente msica que melhor se encaixa a ele.

    A Era do Rdio (1920 1940)

    http://musicanaescola.org/category/artigos/http://musicanaescola.org/2011/08/23/educacao-e-gosto-musical/#respondhttp://musicanaescola.org/2011/08/04/atividade-era-do-radio/http://musicanaescola.org/author/polianaalmeida/

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 3/21

    Nos sculos XVIII e XIX, destacavam-se nas cidades, que estavam se desenvolvendo eaumentando demograficamente, dois ritmos musicais que marcaram a histria da MPB: olundu e a modinha. O lundu, de origem africana, possua um forte carter sensual e umabatida rtmica danante. J a modinha, de origem portuguesa, trazia a melancolia e falava deamor numa batida calma e erudita.

    Na segunda metade do sculo XIX, surge o Choro ou Chorinho, a partir da mistura do lundu,da modinha e da dana de salo europia. Em 1899, acompositora Chiquinha Gonzaga compea msica Abre Alas, uma das mais conhecidas marchinhas carnavalescas da histria. ( )

    J no incio do sculo XX comeam a surgir as bases do que seria o samba. Dos morros e doscortios do Rio de Janeiro, comeam a se misturar os batuques e rodas de capoeira(http://www.suapesquisa.com/educacaoesportes/historia_da_capoeira.htm) com os pagodes eas batidas em homenagem aos orixs. O carnaval (http://www.suapesquisa.com/carnaval)comea a tomar forma com a participao, principalmente de mulatos e negros ex-escravos. Oano de 1917 um marco, pois Ernesto dos Santos, o Donga, grava o primeiro samba que se temnotcia: Pelo Telefone. ( ) Neste mesmo ano, aparece a primeira gravao de Pixinguinha,importante cantor e compositor da MPB do incio do sculo XIX.

    Com o crescimento e popularizao do rdio nas dcadas de 1920 e1930, amsica popularbrasileira cresce ainda mais. Nesta poca inicial do rdio brasileiro, destacam-se os seguintescantores e compositores:

    Ary Barroso, compositor de Aquarela do Brasil ( ); Lamartine Babo, criador de O teu cabelono nega ( ); Dorival Caymmi, compositor de Histria de Pescadores ( ); Noel Rosa,

    compositor de Com que roupa eu vou? ( ).

    Surgem tambm, neste perodo, os grandes intrpretes da msica popular brasileira: CarmenMiranda (http://www.suapesquisa.com/biografias/carmen_miranda.htm) ( ), Mrio Reis eFrancisco Alves.

    Na dcada de 1940 destaca-se, no cenrio musical brasileiro, Luis Gonzaga, o rei do Baio(http://www.suapesquisa.com/o_que_e/baiao.htm), falando do cenrio da seca nordestina. ( )

    Enquanto o baio continuava a fazer sucesso com Luis Gonzaga e com os novos sucessos deJackson do Pandeiro ( ) e Alvarenga e Ranchinho, ganhava corpo um novo estilo musical: osamba-cano.( ) Com um ritmo mais calmo e orquestrado, as canes falavam principalmente de amor. Destacam-se neste contexto musical: Dolores Duran, Antnio Maria,Marlene, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, ngela Maria e Cauby Peixoto ( )

    (Texto adaptado do site: wwwsuapesquisa.com)

    Lista de msicas para apreciao (a sequncia de execuo deve ser elaborada pelo professor)

    1. Abre Alas (Chiquinha Gonzaga)2. Aquarela do Brasil (Ari Barroso)3. Baio (Luiz Gonzaga)4. Caterina (Jackson do Pandeiro)

    http://www.suapesquisa.com/educacaoesportes/historia_da_capoeira.htmhttp://www.suapesquisa.com/carnavalhttp://www.suapesquisa.com/biografias/carmen_miranda.htmhttp://www.suapesquisa.com/o_que_e/baiao.htm

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 4/21

    5. Com que roupa eu vou (Noel Rosa)6. Conceio (Intrprete: Caubi Peixoto Compositores: Nelson Souto e Antonio C. de Sousa e

    Silva)7. Hsitria de Pescadores (Dorival Caymmi)8. O que que a baiana tem (Intprete: Carmem Miranda; Compositor: Dorival Caymmi)9. O teu cabelo no nega (Lamartine Babo)

    10. Pelo Telefone (Donga)11. Tradio (Ismael Silva)

    Sugesto de atividade:

    O texto acima pode ser utilizado como guia de apreciao musical para introduo aocontedo A Era do Rdio. Solicite aos estudantes que identifiquem o lugar no texto no qualmelhor se encaixa cada exemplo musical executado

    Observaes: Informe o nome da msica apenas aps a execuo total da lista de exemplosmusicais. Aps a apreciao musical, leia o texto com a turma para revisar (corrigir) aatividade, aproveitando este momento para complementar as informaes.

    Publicado em Planos de aula | Leave a Comment

    A educao para diversidade e a seleo derepertrios musicais didticos

    31 de julho de 2011 por polianaalmeida

    A presena da msica na sociedade brasileira notvel. No pouco freqente nosdepararmos com a afirmao de que o Brasil o pas do Samba e do Futebol. Longe de entrarna importante discusso sobre a veracidade da afirmao acima ou de suas implicaes scio-culturais, de fato notvel o reconhecimento e admirao mundial frente musicalidadebrasileira.

    Apesar de ter, predominantemente, a funo de divertimento em nossa sociedade, pode-severificar uma larga utilizao da msica como recurso didtico, em espaos escolares, desde ostempos do Brasil Colnia at os dias atuais (MARIZ, 1994; BRASIL, 1997), seja como objeto deestudo, explorando-se os contedos musicais (anlise de melodias, harmonias e ritmos; etc.);como meio de atingir objetivos extra musicais (anlise de letras de canes, contextualizaeshistricas, etc.); como elemento ldico (recreaes, dinmicas de sensibilizao e socializao,etc.). E, talvez, isto justifique a msica como tema de diversas pesquisas na rea de Educao.

    A trajetria do ensino da msica como disciplina nas escolas brasileiras manteve caractersticas

    http://musicanaescola.org/category/planos-de-aula/http://musicanaescola.org/2011/08/04/atividade-era-do-radio/#respondhttp://musicanaescola.org/2011/07/31/a-educacao-para-diversidade-e-a-selecao-de-repertorios-musicais-didaticos/http://musicanaescola.org/author/polianaalmeida/

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 5/21

    A trajetria do ensino da msica como disciplina nas escolas brasileiras manteve caractersticaseurocntricas at o sculo XX. Sendo assim, os modelos musicais presentes nas escolas forampredominantemente europeus, no se levando, portanto, em considerao o contexto scio-cultural e origem dos alunos. Exemplo disso no que, no perodo colonial nas escolas jesutas,os ndios brasileiros eram ensinados a executar o cantocho, construir violas, violinos, tocarcravo e rgo, enquanto os negros foram obrigados a aprender msica europia para tocaremnas orquestras dos senhores das elites brancas de ento.

    Jos Ricardo Oir Fernandes (2005) comenta que quando a escola aborda culturas noeuropias geralmente o faz de maneira folclorizada e pitoresca como mero legado deixado porndios e negros, mas dando-se ao europeu a condio de portador de uma cultura superior ecivilizada. (2005, p. 380). Sculos aps a colonizao, ainda possvel perceber apredominncia da msica europia principalmente nas escolas superiores e especializadas emmsica (Conservatrios). Apesar de visualizarmos um cenrio diferente em instituies deEducao Bsica a prtica musical elitista do ponto de vista de seleo repertrio musical deutilizao didtica tanto por professores especialistas em msica quanto por professores deoutras reas, ainda prevalece. Ou seja, as escolhas dos repertrios didticos so feitas tendocomo critrio vivncias pedaggico-musicais e culturais que nem sempre esto em afinidadecom o universo cultural dos estudantes. Geralmente o julgamento que se faz das msicasouvidas pelos jovens que so de qualidade duvidosa e, portanto, no devem adentrar aoespao escolar.

    Discusses atuais sobre multiculturalismo, diversidade cultural e tnico-racial e respeito sdiferenas, traz novos desafios ao exerccio da docncia. Observa-se neste sentido umamobilizao, por parte de professores, para garantir que os alunos desenvolvam atitudes comotolerncia, respeito diversidade, valorizao de diferentes culturas. Entretanto, nasabordagens ao tema diversidade cultural e tnico-racial so utilizados exemplos musicaisdistantes das vivncias musicais dos alunos, que, geralmente, no so acolhidas e valorizadas,deste modo, os jovens estudantes no se sentem representados entre arqutipos dediversidade apresentados pelos professores em sala de aula.

    Frente a situaes de mudanas nos termos legais que regem a educao Nacional, aos quaisestamos submetidos enquanto professores, costumo perguntar: O que fazer? Como fazer?Com o que fazer? O primeiro questionamento seria de carter posicional e filosfico, ou seja,como dentre tantas opinies e interpretaes do que foi legalmente exposto eu me posicionolevando em considerao minha liberdade de pensamento e convices educacionais. Osegundo refletir sobre que atitude tomar com vistas obteno dos objetivos propostos pelosnovos termos normativos; essa atitude diz respeito s novas prticas metodolgicas a seremassumidas. O terceiro questionamento refere-se avaliao do material didtico que tenho mo para por em prtica minhas novas opes metodolgicas.

    Os questionamentos acima foram feitos por mim ao tomar conhecimento da Lei 10.639/03,poca na qual eu atuava como professora de msica da rede pblica municipal de Salvador-Ba,cidade cujo 80% da populao negra, realidade tnica essa refletida em mim e nos meusalunos. Aps posicionar-me favoravelmente nova diretriz e reformular minhas aulas,adotando novos contedos e objetivos, era hora de coletar materiais didticos disponveis paraa nova realidade pedaggica. Por ser professora de msica lancei mo de um repertriomusical africano que ia de cantos e performances instrumentais tribais a msica africanaurbana contempornea. Ensinei aos alunos msicas em dialetos africanos, construmos

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 6/21

    instrumentos musicais elaborados a partir de modelos africanos. Enquanto isso ocorria, dei-meconta de que a frica estava muito mais prxima de mim do que imaginava: nos penteados dasalunas, na capoeira dos meninos na hora do recreio, na musicalidade dos sambesexecutados por estudantes no fundo dos nibus coletivos de Salvador; atividades eprocedimentos nem sempre bem aceitos pela sociedade. Constatei o que para muitoseducadores no novidade: h uma Histria Africana a ser contada a partir das prticas sociaisde jovens estudantes brasileiros.

    Acreditamos que todas as dimenses da realidade esto articuladas e permeadas de saberes e,em nossa sociedade, a grande maioria dos saberes das culturas que constituem nosso jeito deviver tem origens no legado das civilizaes africanas reelaboradas na dinmica do dia-a-diade nossas vidas, embora haja profundo desconhecimento e ausncia da histria e da sagaafricana no Brasil na educao de nvel bsico e nos nveis superiores de graduao e ps-graduao. (SANTOS e MACHADO, p.96, 2008)

    Segundo Paulo Freire para alcanarmos os ideais de uma educao libertadora, precisorejeitar toda e qualquer forma de segregao ou discriminao cultural, pois deste modo, oeducando proveniente de classes sociais menos favorecidas, poder reconhecer seu egocultural e orgulhar-se dele. Contudo, Candau e Moreira (2005) alertam que a substituio doolhar cultural elitista por uma perspectiva multicultural emancipatria na construo docurrculo escolar no tarefa fcil, pois alm do desafio de superar tenses culturais histricas,esta mudana requer do professor:

    () nova postura, novos saberes, novos objetivos, novos contedos, novas estratgias e novasformas de avaliao. Ser necessrio que o docente se disponha e se capacite a reformular ocurrculo e a prtica docente com base nas perspectivas, necessidades e identidades de classes egrupos subalternizados. Tais mudanas nem sempre so compreendidas e vistas comodesejveis e viveis pelo professorado. Certamente, em muitos casos, a ausncia de recursos ede apoio, a formao precria, bem como a desfavorveis condies de trabalho constituemfortes obstculos para que as preocupaes com a cultura e com a pluralidade cultural,presentes hoje em muitas propostas curriculares oficiais (alternativas ou no), venham a sematerializar no cotidiano escolar. (CANDAU e MOREIRA, 2005, p. 40)

    Infelizmente, a escola ainda tende a aceitar apenas os nveis considerados eruditos da culturalocal e excluir a cultura de classes sociais menos favorecidas.

    Em meu trabalho atual como professora de Artes/Msica do Ensino Mdio, no tem sido raroobservar que, ao apresentar exemplos musicais, meus jovens alunos reagem com ironia, decerta forma, ridicularizando a manifestao cultural apresentada, principalmente se indgenasou africanas. Como tentativa de superar estas reaes, montei um projeto no qual os alunosapresentariam suas msicas favoritas, tendo dentre os objetivos ampliar o repertrio dosalunos, e desenvolver atitudes de valorizao e respeito ao gosto musical do outro. Para minhasurpresa poucos alunos trouxeram exemplos musicais pertencentes cultura jovem local,marcadamente afro-brasileira. No geral foram apresentados exemplos musicais da altacultura popular brasileira. Questionei meus alunos sobre os critrios que eles utilizaram paraescolha das msicas apresentadas. A resposta foi: escolhemos msicas que combinassem coma aula de Artes. Percebi que para eles era difcil assumir seus gostos musicais frente elitizadacultura musical escolar. Trouxe para as classes a discusso sobre preconceito musical, econversamos sobre a tendncia de rotular negativamente as pessoas de acordo com suas

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 7/21

    preferncias musicais e sobre a necessidade de desenvolvermos atitudes como tolerncia,respeito e valorizao frente s diferenas culturais musicais, sejam elas aceitas ou no pelasociedade.

    A experincia acima provocou novas reflexes para o planejamento do ano seguinte: (1) seriamais proveitoso para o desenvolvimento do respeito e valorizao da diversidade cultural etnico-racial utilizar o repertrio musical escolhido por mim ou utilizar exemplos musicaistrazidos pelos meus alunos? (2) at que ponto devo incluir as canes do repertrio de meusalunos entre exemplos que utilizarei em sala de aula, nas execues musicais, nas produesteatrais? (3) que influncias a mudana de critrios para escolha de repertrio musical de usodidtico teria sobre o desenvolvimento, por parte dos alunos, de atitudes como respeito evalorizao da diversidade cultural e tnico-racial?

    O advento da Lei 10.639/2003 e os questionamentos acima, frutos de observaes empricas edos exerccios de reflexo sobre prticas pedaggicas que utilizam a msica como recursodidtico, de certa forma nortearam o problema e os objetivos deste projeto de pesquisa quefundamenta-se na seguinte hiptese: Mesmo com as reestruturaes curriculares nacionaisrealizadas com vistas educao para a diversidade cultural e das relaes tnico raciais, acultura musical escolar ainda tende a privilegiar no seu repertrio musical didticoexemplos oriundos da chamada alta cultura e exclui exemplos musicais provenientes dacultura jovem.

    A questo Legal

    No campo das polticas educacionais observamos que os textos da legislao educacionalbrasileira para a Educao Bsica abordam a questo cultural e sua importncia na formaodo ser humano. A seguir sero apresentados alguns exemplos desses textos legais, em especialos relacionados ao Ensino Mdio.

    No artigo 3 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao (9.694/96), dentre os princpios em que sefundamenta a Educao Brasileira, consta no inciso II liberdade de aprender, ensinar,pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber (grifo meu). Conforme oCaptulo III, Artigo 26 da atual LDB a diversidade cultural, dentre outras caractersticas locais eregionais brasileiras, exige que haja uma parte diversificada complementar a base curricularcomum do Ensino Fundamental e Mdio e, ainda no 2 pargrafo, deste mesmo artigo, torna oensino de Arte obrigatrio em todos os nveis da Educao Bsica, de forma a promover odesenvolvimento cultural dos alunos.

    O artigo 26-A, (redao dada pela lei n. 11.645/2008), determina: Nos estabelecimentos deensino fundamental e de ensino mdio, pblicos e privados, torna-se obrigatrio o estudo dahistria e cultura afro-brasileira e indgena. E ainda em seus artigos 1 e 2:

    1o O contedo programtico a que se refere este artigo incluir diversos aspectos da histriae da cultura que caracterizam a formao da populao brasileira, a partir desses dois grupostnicos, tais como o estudo da histria da frica e dos africanos, a luta dos negros e dos povosindgenas no Brasil, a cultura negra e indgena brasileira e o negro e o ndio na formao dasociedade nacional, resgatando as suas contribuies nas reas social, econmica e poltica,pertinentes histria do Brasil. (grifo meu)

    2o Os contedos referentes histria e cultura afro-brasileira e dos povos indgenas

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 8/21

    2o Os contedos referentes histria e cultura afro-brasileira e dos povos indgenasbrasileiros sero ministrados no mbito de todo o currculo escolar, em especial nas reas deeducao artstica e de literatura e histria brasileiras. (grifo meu)

    O artigo 36, seo VI, do Captulo III, determina como primeira das diretrizes, que o currculodo Ensino Mdio:

    I destacar a educao tecnolgica bsica, a compreenso do significado da cincia, das letrase das artes; o processo histrico de transformao da sociedade e da cultura; a lnguaportuguesa como instrumento de comunicao, acesso ao conhecimento e exerccio dacidadania. (grifo nosso)

    No texto das Orientaes Curriculares para o Ensino Mdio destinado rea Linguagens,Cdigos e suas tecnologias, no captulo que trata do ensino de Arte, traz no sub-item 1.6, otema Diversidade e Pluralidade Cultural. Dentre os questionamentos trazidos neste itempodemos destacar: (1) a predominncia de contedos sobre arte europia e norte americanabranca e masculina; (2) a ausncia de figura feminina nos cenrios artsticos. Este mesmo textoafirma que o ensino de arte iderio contempla as diferenas de raa, etnia, religio, classesocial, gnero, opes sexuais e um olhar mais sistemtico sobre outras culturas. (BRASIL,2006, p.177). Comenta ainda a profunda ligao das idias de diversidade e pluralidadecultural no ensino de Artes a atuao dos movimentos sociais organizados, repercutidos pelaslegislaes que visam a garantir a presena de contedos curriculares ligados s culturas afro-brasileira e indgena, alm da reserva de vagas (cotas) para populaes historicamentediscriminadas e portadores de necessidades especiais. (BRASIL, 2006, p.177).

    Sendo assim, as prerrogativas legais brasileiras atuais para a educao tm desafiado osdocentes a elaborarem prticas pedaggicas que considerem a diversidade cultural e tnico-racial brasileiras refletida nos educandos. H, porm, um rduo caminho a ser trilhado at ocumprimento do iderio educacional comprometido com a diversidade cultural e tnico racial,pois a implementao de leis referentes a tal iderio esbarra na falta de formao dosprofissionais da educao para a diversidade cultural e tnico-racial, na ausncia de vontadepoltica por parte instituies escolares e na escassez de material didtico especfico. responsabilidade das instituies escolares, juntamente com seus professores transformar asconquistas legais em aes. necessrio, neste sentido, que novas propostas pedaggicas sejamtestadas, documentadas e refletidas.

    Seria importante construir propostas pedaggicas que atendessem e considerassem nosomente a cultura tradicional local, mas tambm os perfis e identidades dos estudantes,sobretudo no Ensino Mdio, onde se encontram adolescentes e jovens da sociedadecontempornea, agrupados em guetos que determinam formas peculiares de comunicao einterao com a cultura.

    Cultura musical e educao

    Os termos multicultural, pluricultural e intercultural, so constantemente apresentados emtextos e discusses sobre diversidade na educao, trabalhos estes decorrentes dos EstudosCulturais que apontam a centralidade da cultura na ps-modernidade, afirmando que oconhecimento dos aspectos culturais podem levar tambm compreenso de relaes polticas,sociais e econmicas. A admisso desta centralidade no implica considerar tudo como cultura,mas admitir que toda prtica social tem sua dimenso cultural. (HALL, 1997)

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 9/21

    Uma das definies para os termos multicultural e pluricultural a coexistncia de diferentesculturas num s contexto social. H, entretanto, diferentes formas de ver as relaes entreculturas coexistentes. MacLaren (1997) apresenta trs espcies de multiculturalismo: (1) oconservador, caracterizado por sua viso colonizadora, civilizatria ligada a crenas desuperioridade racial e cultural; (2) o liberal, que acredita numa convivncia harmoniosa entreas culturas despida de tenses conflituosas e relaes polticas e de poder; (3) o crtico,compreende a cultura como desencadeadora de processos sociais conflitantes, e se ope a idiade caldeiro cultural e de fuso harmoniosa na qual as culturas perdem sua individualidade.(MACLAREN, 1997, p. 124).

    Os conflitos culturais permeiam o espao escolar, e nele podem reproduzir atitudesdiscriminatrias, principalmente em relao s culturas ditas subalternas, uma vez que ossujeitos envolvidos nos processos pedaggicos so oriundos de diferentes culturas, faixasetrias e etnias.

    A problemtica das relaes entre escola e cultura inerente a todo processo educativo. No heducao que no esteja imersa na cultura da humanidade e, particularmente, do momentohistrico em que se situa. () A escola , sem dvida, uma instituio cultural. Portanto, asrelaes entre escola e cultura no podem ser concebidas como entre dois plos independentes,mas sim como universos entrelaados, como uma teia tecida no cotidiano e com fios e nsprofundamente articulados. (CANDAU e MOREIRA, 2005, p.41)

    A escola um espao de cruzamentos culturais, assegura Perez Gomes (1988), e exige, de nseducadores, a identificao das diferentes expresses culturais que a permeiam. Porconseguinte, ao conhecer o universo cultural onde atuamos somos desafiados a desenvolverum novo olhar e uma nova postura pedaggica. Este novo olhar poderia envolver prticaspedaggicas ligadas a linguagens artsticas, por exemplo, o que favoreceria um maiorconhecimento das culturas, considerando a Arte como detentora e propagadora deconhecimento, no somente como uma fonte diverso e prazer esttico.

    Atravs das artes temos a representao simblica dos traos espirituais, materiais,intelectuais e emocionais que caracterizam a sociedade ou o grupo social, seu modo de vida,seu sistema de valores, suas tradies e crenas. A arte, como uma linguagem presentacionaldos sentidos, transmite significados que no podem ser transmitidos atravs de nenhum outrotipo de linguagem, tais como as linguagens discursivas e cientfica. No podemos entender acultura de um pas sem conhecer sua arte. Sem conhecer as artes de uma sociedade, spodemos ter conhecimento parcial de sua cultura. Aqueles que esto engajados na tarefa vitalde fundar a identificao cultural, no podem alcanar um resultado significativo sem oconhecimento das artes. (BARBOSA, 1998, p.16)

    A msica figura entre as linguagens artsticas como importante representante dasmanifestaes culturais. Ela carrega consigo diversos cdigos capazes demonstrar os cnonessociais de diferentes povos e grupos sociais. Ao mesmo tempo ela reproduz uma realidadesocial, criticando-a ou transformando-a. Estas caractersticas fazem com que a msica veiculeconhecimentos histricos, sociais e culturais. A msica como linguagem artstica constitui-senum instrumento para o conhecimento de ns mesmos e do outro, pois ela uma forma dediscurso, isso, o que segundo o educador musical ingls Swanwick (2003) justifica apresena da msica nas escolas e em todas as sociedades:

    A msica pode ser agradvel, pode manter as pessoas afastadas das ruas, pode gerar

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 10/21

    A msica pode ser agradvel, pode manter as pessoas afastadas das ruas, pode gerarempregos, pode engrandecer eventos sociais. Mas, por si s, essas razes no so suficientespara justificar a msica no sistema educacional. () Creio que a msica persiste em todas asculturas e encontra um papel em vrios sistemas educacionais no por causa de seus serviosou de outras atividades, mas porque uma forma simblica. A msica uma forma dediscurso to antiga quanto a raa humana, um meio no qual as idias sobre ns mesmos e dosoutros so articuladas em formas sonoras. (SWANWICK, 2003, p. 18)

    Para Swanwick cada discurso musical tem um sotaque, cada pessoa possui seu sotaquemusical caracterizado por suas vivncias msico-sociais, sendo assim no existem sotaquesmelhores ou mais bonitos, e da mesma forma no existe uma forma universal de valorar amsica.

    O significado e o valor da msica nunca podem ser intrnsecos e universais, mas esto ligadosao que socialmente situado e culturalmente mediado. Sob esse ponto de vista, o valor musicalreside em seus usos culturais especficos, no que bom para na vida das pessoas. A msica boa, certa ou oportuna dependendo de quo bem ela funciona em ao, como prxis.(SWANWICK, 2003, p. 39)

    A afirmao acima vai de encontro a crenas muitas vezes difundidas nos meios educacionaissobre a m qualidade das msicas dos repertrios dos alunos a necessidade de aprimorar ogosto musical dos jovens estudantes o que poderia justificar a ausncia significativa da msicajovem na escola.

    Os estudos de Juarez Dayrell sobre culturas jovens e cultura escolar apontam para anecessidade de maior envolvimento da escola com o universo juvenil, denuncia atitudesdiscriminatrias em relao s manifestaes culturais de jovens estudantes propondoenxergar humanizao, saberes, cultura onde o olhar pedaggico viciado s v barbrie eanalfabetismo, ignorncia, atraso e violncia. (DAYRELL, 2005, p.17). Este autor afirma aindaque o mundo da cultura aparece como um espao privilegiado de prticas, representaes,smbolos e rituais no qual os jovens buscam demarcar uma identidade juvenil (p.15) e apontaa msica como a atividade que mais envolve e mobiliza os jovens. O mergulho na culturamusical jovem proporcionaria a educadores comprometidos com uma educao para adiversidade, perceber o jovem como sujeito cultural e construir novas relaes entre culturajuvenil e cultura escolar, superando assim as tenses decorrentes do choque entre elas, choqueeste responsvel muitas vezes pelas atitudes autoritrias por parte dos docentes e ditasrebeldes por parte dos estudantes.

    BARBOSA, Ana. Mae. Tpicos utpicos. So Paulo: Com-Arte, 1998.

    BRASIL. Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional.Braslia: MEC, 1996.

    ________. Lei n 11.645, de 2008. Histria e cultura afro-brasileira e indgena. Braslia: MEC, 2008.

    _________. Orientaes Curriculares para o Ensino Mdio: Linguagens, cdigos e suastecnologias. v.1, Braslia: Ministrio da Educao/Secretaria da Educao Bsica, 2006.

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 11/21

    _________. Parmetros Curriculares Nacionais: Arte. v. 6, Braslia: MEC/SEF, 1997

    CANDAU, Vera Maria; MOREIRA, Antnio Flvio Barbosa. Educao escolar e cultura(s):construindo caminhos. Educao como exerccio de diversidade. (Coleo educao para todos, v.6)Braslia: UNESCO, MEC, ANPEd, 2005, p.35-55.

    DAYRELL, Juarez. (Org.). Mltiplos olhares sobre educao e cultura. Belo Horizonte: EditoraUFMG, 1996.

    ________________. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educao. Rio de Janeiro, n.24. Set. 2003. p. 40-52.

    ________________. A msica entra em cena: o rap e o funk na socializao da juventude. BeloHorizonte: Editora UFMG, 2005

    FERNANDES, Jos Ricardo Ori. Ensino de histria e diversidade cultural: desafios epossibilidades. Cad. CEDES, Campinas, v. 25, n. 67, Dez. 2005 . Disponvel em

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 12/21

    script=sci_arttext&pid=S010440362008000100007&lng=en&nrm=iso&gt(http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010440362008000100007&lng=en&nrm=iso&gt);. Acessado em 29 deJulho de 2009.

    SILVA, Maria Jos Lopes da. As Artes e a diversidade tnico-cultural na escola bsica.In:MUNANGA, Kabengele. (Org.). Superando o racismo na escola. 3. ed. Braslia: MEC/SEF, 2003.

    SWANWICK, Keith. Ensinando msica musicalmente. So Paulo: Moderna, 2003.

    Publicado em Artigos | Leave a Comment

    A Identidade dos Professores de Msica

    31 de julho de 2011 por polianaalmeida

    Ao adentrar uma escola pblica de ensino Fundamental II, para visitar um professor parentemeu, encontrei-me no corredor com um aluno que me perguntou se eu seria a nova professorade Artes. Respondi-lhe que no e perguntei por que ele achou que eu fosse. O aluno respondeuque eu parecia uma professora de Artes. Comecei a questionar se existiria no imaginrio dacultura escolar uma imagem, um esteretipo ou mesmo um perfil predefinido para o professorde Artes. Conversei com meus alunos sobre o ocorrido e eles confirmaram que existia sim, paraeles certo perfil pessoal que, em particular, caracterizava o professor de cada disciplina escolar.A partir destas vivncias, questiono: Como so vistos os professores de msica pela culturaescolar? Qual a funo dos professores de msica? Como so tratados quanto a suaprofissionalidade nos espaos escolares por outros professores, estudantes e diretores?

    A cultura escolar constituda por uma rede complexa de significados que envolvem valoressociais, prticas e discursos. No cenrio de construo de identidades e significaes, dentro dacultura escolar, inscrevem-se tambm as polticas pblicas educacionais que atingem oambiente escolar de forma a muitas vezes tornar imperativo a reformulao de suas aes,normas e valores. Sendo assim a cultura escolar, na qual se insere a prtica pedaggica musical, em parte, influenciada por essas polticas pblicas que, ao longo dos anos, comodemonstrado anteriormente neste texto, tende a configur-la, incluindo ou excluindo a msicacomo disciplina escolar.

    Em seu texto a lei 11.769/2008, orienta no artigo 1, pargrafo 6: A msica dever ser contedoobrigatrio, mas no exclusivo, do componente curricular de que trata o 2o deste artigo. Estadeterminao legal torna clara a obrigatoriedade do ensino da Msica, sem o carter dedisciplina escolar, mas como de contedo da rea de Artes. J o artigo 3, estabelece o perodode trs anos para que os estabelecimentos escolares se adaptem s exigncias estabelecidas. Aoser sancionada a lei 11.769/2008, teve vetado o pargrafo que afirmava: O ensino da msica serministrado por professores com formao especfica na rea. O ento presidente da ABEM, Prof.Srgio Figueiredo, que mediou o processo de aprovao da lei junto s instncias

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010440362008000100007&lng=en&nrm=iso&gthttp://musicanaescola.org/category/artigos/http://musicanaescola.org/2011/07/31/a-educacao-para-diversidade-e-a-selecao-de-repertorios-musicais-didaticos/#respondhttp://musicanaescola.org/2011/07/31/a-identidade-dos-professores-de-musica/http://musicanaescola.org/author/polianaalmeida/

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 13/21

    governamentais, afirma estar garantido que os profissionais que atuaro no ensino da Msicanas escolas bsicas sero os licenciados em Msica, no havendo, portanto, razo depreocupao com o veto ao artigo 2.

    A supresso deste pargrafo no afeta diretamente a implantao desta nova medida queinclui a msica na educao bsica, pois tambm faz parte do texto da LDB de 1996, anecessidade de formao superior em curso de licenciatura para os profissionais da educaobsica. De certa forma est garantido que para ensinar msica na escola preciso ter formaoem curso de licenciatura, e parece bvio que para ensinar msica um professor deveria terformao na licenciatura em msica. (FIGUEIREDO, 2008, p.6).

    Cabem, porm, alguns comentrios sobre a mensagem 622 de 18 de agosto de 2008, quejustifica o veto, afirmando que:

    1 necessrio que se tenha muita clareza sobre o que significa formao especfica na rea.

    2 Vale ressaltar que a msica uma prtica social e que no Brasil existem diversosprofissionais atuantes nessa rea sem formao acadmica ou oficial em msica e que soreconhecidos nacionalmente. Esses profissionais estariam impossibilitados de ministrar talcontedo na maneira em que este dispositivo est proposto.

    3 () esta exigncia vai alm da definio de uma diretriz curricular e estabelece, semprecedentes, uma formao especfica para a transferncia de um contedo. Note-se que no hqualquer exigncia de formao especfica para Matemtica, Fsica, Biologia etc. Nem mesmoquando a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional define contedos mais especficoscomo os relacionados a diferentes culturas e etnias (art. 26, 4o) e de lngua estrangeira (art. 26, 5o), ela estabelece qual seria a formao mnima daqueles que passariam a ministrar essescontedos.

    Na tentativa de contra-argumentar as afirmativas acima, levanto alguns pontos, de acordo comordem que seguem no texto legal:

    1 De acordo com a LDB vigente, a formao dos profissionais da educao bsica se dar emnvel das licenciaturas. Posto isso, seria possvel afirmar que ao utilizarmos o termoprofissionais com formao especfica, relacionado ao ensino de msica na escola bsica, nosreferimos ao profissional oriundo dos cursos de Licenciatura em Msica.

    2 A msica sim uma prtica social fortemente presente na cultura brasileira. Os msicosbrasileiros so realmente excelentes representantes da nossa cultura. Contudo a msica nopode ser vista somente atravs da dimenso social e cultural.

    [...] no temos conseguido ver essa musicalidade emergir no espao que por excelncia poderiaampli-la ainda mais: a escola. A impresso que se tem que msica algo para se usufruir,curtir, cantar, danar, tocar, mas no algo para se saber. (BEYER, 1999, p.10)

    O virtuosismo musical no garantia de proficincia pedaggica, em especial quando se tratade transmisso de conhecimentos musicais fora das escolas de msica. Alm do conhecimentotcnico, qua envolve a aquisio de habilidades musicais, o profissional da educao que

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 14/21

    ensinar msica deve estar pedaggicamente preparado. A mensagem de veto deixatransparecer a falta de compreenso sobre as especificidades metodolgicas do ensino damsica em escolas regulares.

    3- Existem na cultura escolar normas que estabelecem critrios de escolha do profissionaldocente para trabalhar com cada disciplina. Para disciplinas que possuem uma boa posio nahierarquia das disciplinas, as regras de escolha do profissional tendem a ser bastante rgidas secomparadas s regras de seleo de profissionais para as outras, ditas menos importantes.Mesmo sem instituir uma formao especfica aos que ensinaro os contedos relacionados adiferentes culturas e etnias, o Ministrio da Educao tem investido em formao dos docentesque trabalharo tais contedos, deixando claro, que para ensin-los, faz-se necessria umaformao especfica.

    Estas reflexes nem de longe esgotam as discusses sobre a questo da no obrigatoriedade daformao especfica para o ensino da msica na escola bsica, implcita na mensagem de veto jcitada, ao contrrio, fomentam mais questes: Qual a necessidade das licenciaturas para aformao profissional do professor de msica da escola bsica? Como tratada pelas polticaspblicas para a educao musical esta categoria de profissionais da educao? De que modo aformao especfica influencia a construo da identidade profissional?

    Paralelo s influncias externas (cultura escolar e polticas pblicas para educao), o professorde msica da escola bsica constri sua identidade profissional tendo como base sua trajetriadocente, ou em outras palavras, a partir de sua histria de vida. As experincias de formao ede prtica de um professor de msica so bastante singulares em relao s de professores deoutras disciplinas. Isso faz com que sua identidade profissional tome formas diferenciadas secomparada a de seus colegas professores.

    REFERNCIAS

    BAYER, Esther. Fazer ou entender msica? In. BAYER, Esther (Org.). Idias em EducaoMusical. (Cadernos de Autoria), v. 4, Porto Alegre: Mediao, 1999. p.10-31.

    FIGUEIREDO, Srgio Luiz Ferreira de. A ABEM e o projeto nacional de msica na escola. In:VIII ENCONTRO REGIONAL CENTRO-OESTE DA ABEM. 2008, Braslia, Palestra, 2008.

    [1] (http://musicanaescoladotorg.wordpress.com/wp-admin/post-new.php#_ftnref1) LucianaDel Ben discute esta questo no artigo A delimitao da Educao Musical como rea doconhecimento: contribuio de uma investigao junto a trs professoras de Msica do EnsinoFundamental publicado em 2001 na revista Em Pauta, v. 12, n. 18/19, p.65-93.

    Publicado em Artigos | Leave a Comment

    Professoras de sries iniciais e a obrigatoriedade doensino da msica: impactos e primeiras impresses.

    31 de julho de 2011 por polianaalmeida

    http://musicanaescoladotorg.wordpress.com/wp-admin/post-new.php#_ftnref1http://musicanaescola.org/category/artigos/http://musicanaescola.org/2011/07/31/a-identidade-dos-professores-de-musica/#respondhttp://musicanaescola.org/2011/07/31/professoras-de-series-iniciais-e-a-obrigatoriedade-do-ensino-da-musica-impactos-e-primeiras-impressoes/http://musicanaescola.org/author/polianaalmeida/

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 15/21

    Resumo: Vence neste ano de 2011, o prazo legal para o cumprimento efetivo da lei federal quetornou, em 2008, o ensino da msica obrigatrio em todos os nveis da educao brasileira.Infelizmente, perceptvel que somente agora, vencido o prazo, as discusses sobre esse novodispositivo legal alcanam os espaos escolares e seus profissionais. Este artigo tem comoobjetivo refletir sobre as primeiras impresses de professoras unidocentes da rede pblica deSanto Amaro sobre a Lei 11.769/08. Baseio-me para tanto em trs frases proferidas porprofessoras participantes do curso para formao continuada em msica, oferecido peloInstituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia da Bahia Campus Santo Amaro aprofessores de sries iniciais da educao bsica. Aps a introduo deste texto segue-se os trstpicos nos quais cada uma das frases ser analisada de forma a estabelecer sob quecircunstncias e cotidianos escolares elas se fundamentam.

    Palavras chave: educao musical, escola pblica, formao de professores.Introduo

    Com a aprovao da Lei 11.769/08 surgem, entre os educadores musicais, manifestaes quevo desde uma euforia crdula de que agora, amparados legalmente, a msica ocupar umlugar importante na escola, at um sentimento de desesperana por parte dos que ao longo dosanos tem vivenciado o vai e vem das polticas pblicas educacionais que constroem edesconstroem aes e quase sempre so determinantes do fracasso da educao musicalbrasileira.

    Aps a leitura de algumas publicaes sobre a Lei 11.769/08, resolvi posicionar-me ativamenteem favor de sua implementao efetiva nas escolas pblicas. Acredito, porm, que a existnciade uma determinao legal no basta por si s para mudar determinada realidade, neste caso asituao do ensino da msica.

    As polticas pblicas para a educao musical e artstica no tm contribudo para umamudana significativa na situao dessas reas atualmente. Mesmo depois das novaslegislaes (LDB, PCN, Diretrizes Estaduais e Municipais) as artes em geral continuam a sertratadas de maneira irrelevante, mesmo quando alguns sistemas educacionais j adotaram acontratao de profissionais especficos para cada linguagem, o que j um avano comrelao aos tempos da polivalncia. (PENNA, 2008, p. 25).

    Como ento fazer cumprir-se tal dispositivo legal se o cenrio de uma demanda de escolasmuito superior quantidade de profissionais qualificados para o ensino da msica nestesespaos? Se pensarmos na situao das sries iniciais do ensino fundamental o quadro aindapiora, pois a temos um nico professor responsvel pelo ensino de todas as disciplinas,inclusive Artes, funo para a qual nem sempre recebeu formao, em nvel de graduao,suficiente.

    Cabe, ento, as administraes pblicas, aliadas a instncias formadoras, promoverem acapacitao destes profissionais para o ensino da msica, uma vez que muito dificilmenteveremos surgir milagrosamente at 2011[1] (http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn1)quantidade suficiente de licenciados em msica que atendam a demanda das escolas pblicasbrasileiras de educao infantil de ensino fundamental I.

    Por ter formao em educao musical e ensinar numa instituio pblica[2]

    http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn1http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn2

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 16/21

    Por ter formao em educao musical e ensinar numa instituio pblica[2](http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn2)que me possibilita a atuao nas reas de extenso e pesquisa, me senti co-responsvel pelaimplementao da lei 11.769/08, elaborei um curso de formao[3](http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn3)para professores unidocentes das sries iniciais do ensino fundamental da rede pblica deSanto Amaro-Ba.

    A seguir destacarei em trs tpicos algumas falas de professoras participantes do curso, a fimde discutir suas primeiras impresses sobre a Lei 11.769/08.

    Impresso 1: Alm de tudo, ainda tenho que ensinar msica

    Em nosso primeiro contato, no grupo de formao, procurei saber o quanto as professorassabiam sobre a lei 11.697. Elas, de forma geral, responderam que nunca tinham lido o texto dadeterminao, mas sabiam que o ensino da msica tornou-se obrigatrio em todas as sries.Algumas demonstraram certo descontentamento, pois, alm de terem que lidar com questesdesafiadoras como alfabetizao nas sries iniciais, dentre outras, devero agora se incumbirdo ensino de uma disciplina para a qual o curso de pedagogia no as preparou, e, para a qualse sentem incapazes.

    Este descontentamento deixa patente o lugar pouco privilegiado que ocupa a Msica e as Artesna hierarquia das disciplinas escolares e tambm nos cursos de formao de professores parasries iniciais.

    Pais e responsveis de crianas da educao infantil e sries iniciais preocupam-se quandoconstatam falhas no processo de alfabetizao, mas no se importam muito com odesenvolvimento artstico de seus filhos. Desde 2004, como professora de musica em escolaspblicas, nunca ouvi de um pai: Por que meu filho ainda no consegue cantar afinado?

    [...] o professor que responsvel pelas matrias consideradas nobres no programa escolar(matemtica, por exemplo) diversamente avaliado pela administrao escolar, pelos alunos epelas famlias. Entretanto, os que so responsveis por matrias pouco valorizadas no cmputogeral devem fazer prova de maestria para prender a ateno dos alunos e estimular seuempenho nos saberes transmitidos.(VASCONCELOS, 2002, p. 309)

    Quando falamos sobre realidade no sentido educacional, nos remetemos ao ambiente escolar, instituio escola. Nesta realidade constri-se o que denomina-se cultura escolar que definida por Jlia (2001) como:

    [...] um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e umconjunto de prticas que permitem a transmisso desses conhecimentos e a incorporaodesses comportamentos normas e prticas coordenadas a finalidades que podem variarsegundo as pocas, finalidades religiosas, sociopolticas ou simplesmente de socializao.(JULIA, 2001, p. 41)

    Ao colocar a cultura escolar como mediadora da prtica profissional docente, Jlia leva-nos a

    http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn2http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn3

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 17/21

    Ao colocar a cultura escolar como mediadora da prtica profissional docente, Jlia leva-nos acrer que as singularidades da mesma produzem diferentes perfis profissionais, em outraspalavras, culturas escolares especficas de determinados contextos escolares podem serrelacionadas construo de diferentes prticas profissionais.

    A cultura escolar, que reproduz e ao mesmo tempo questiona a sociedade, carrega algunspreconceitos. Um deles, fundamentado na hierarquia dos conhecimentos e disciplinasescolares. A citao abaixo exemplifica algumas conseqncias dessa hierarquia:

    Recorramos ao que por vezes ocorre nos Conselhos de Classe: a hierarquia que se encontrano currculo faz com que se valorizem diferentemente os conhecimentos escolares e justificaa prioridade concedida Matemtica em detrimento da Lngua Estrangeira ou da Geografia.Nessa hierarquia, se supervalorizam as chamadas disciplinas cientficas, secundarizando-se ossaberes referentes s artes e ao corpo. Nessa hierarquia, separam-se: a razo da emoo, ateoria da prtica, o conhecimento da cultura. Nessa hierarquia, legitimam-se saberessocialmente reconhecidos e estigmatizam-se saberes populares. Nessa hierarquia, silenciam-seas vozes de muitos indivduos e grupos sociais e classificam-se seus saberes como indignos deentrarem na sala de aula e de serem ensinados e aprendidos. Nessa hierarquia, reforam-serelaes de poder favorveis manuteno das desigualdades e das diferenas quecaracterizam nossa estrutura social. (MOREIRA e CANDAU, 2006, p. 23 e 24).

    Cludia Bellochio (2003) confirma a existncia de uma cultura estabelecida no contextoeducacional baseada na tradio de no valorizar determinadas disciplinas do currculo. Taltradio, segundo a autora, atinge as disciplinas artsticas, que quando presentes na escolaservem, na melhor das hipteses, para deixar o ambiente mais bonito e agradvel ou comoapoio as disciplinas mais nobres do currculo.

    A cultura escolar hierarquiza conhecimentos baseando-se em critrios estabelecidos pelasociedade sobre o que importante ser aprendido e, portanto, ser ensinado. A msica, segundoo discurso pedaggico brasileiro corrente, importante, mas na prtica escolar prevalece aidia de que ela no to necessria quanto lngua portuguesa e matemtica.

    Sendo assim o professor eleger tambm suas prioridades a partir do que lhe cobradosocialmente, seguindo uma hierarquia disciplinar historicamente construda, mantendo umalgica circular de desvalorizao do conhecimento musical e artstico que concretizada a cadanova gerao de estudantes.

    Impresso 2 Ser que isso vai dar certo?

    Em sua maioria o grupo de formao composto por professoras que atuam sistema pblicoh mais de cinco anos, portanto esto acostumadas a verem suas prticas pedaggicas, detempos em tempos, atingidas pelo vai e vem poltico ideolgico das polticas educacionaisbrasileiras. Mal nos adequamos ao anterior eis que chega um novo pacote, pronto; neste pontominhas colegas professoras questionam ao se depararem com a 11.769/08: Ser que isso vai darcerto? E algumas, menos esperanosas, mas no menos experientes em matria de sala de aula,afirmam: Isso no vai dar certo.

    Aps uma atividade de musicalizao[1] (http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn1)uma das professoras perguntou se eu elaboraria um manual de atividades musicais e outra

    http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn1

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 18/21

    disse: Eu nem quero tentar. Com meus alunos? Na minha sala? Olha gente, vocs no sabem como lna escola. Se eu fizer essa atividade l os meninos acabam com tudo.

    Para quem no tem os ps no cho de uma sala de aula de uma escola pblica, a fala dessaprofessora revela descompromisso e acomodao apenas. Proponho olharmos por outrongulo.

    A constatao de que nenhuma instituio pblica educacional participou ou foi consultadadurante o processo de elaborao e aprovao da lei 11.769/08 extremamente preocupante.Sendo assim no podemos ser intolerantes com a professora que afirma que isso no vai darcerto. Est fadado a no dar certo, pois, os atores principais do processo, aqueles que poroem prtica a lei, foram postos a parte de sua construo.

    O debate envolveu msicos atuantes na mdia, entidades musicais diversas, polticos eeducadores musicais, mas causa estranheza a ausncia de representantes das escolas pblicas.O locus de efetivao das propostas no foi presena efetiva nos debates, fazendo pressuporque o consenso podia no ser to amplo como se aparentava e que o dispositivo legal seriaimposto s escolas, e no resultado de suas demandas. (SOBREIRA, 2008, p.47).

    A oposio idia de projetos educacionais elaborados como receitas culinrias prontas eacabadas, no se resume a nos negarmos a fazer um manual de atividades musicais. Devemostransformar essa oposio em aes de forma que possamos nos unir a nossas colegasprofessoras unidocentes num esforo colaborativo para a construo de seus prprios manuaisde atividades musicais, adequados a suas realidades.

    O educador musical que se prope a capacitar professores para o trabalho com msica deveestar envolvido na realidade da sala de aula. No fazer do grupo em formao umlaboratrio de pesquisa experimental, mas tomar parte no cotidiano escolar de seusparticipantes, acompanhando o desenvolvimento de suas prticas pedaggico-musicais.

    A impresso de incerteza e desconfiana explicitadas no questionamento ser que isso vai darcerto? estar a poucos passos de ser substitudo nos discursos dos professores pela afirmaoisso pode dar certo, quando as instituies formadoras de educadores musicais envolverem-secom a escola pblica e seus profissionais de tal forma que sejam capazes de juntos elaboraremplanejamentos educacionais musicais executveis.

    Impresso 3 Preciso aprender isso direito porque eu vou ter que ensinar depois

    A frase acima foi dita por uma das colegas professora participante do curso quando estvamosconceituando as propriedades sonoras.

    Como podem ensinar o que no sabem? Talvez este seja um dos argumentos mais utilizadospelos que acreditam que no permitir a professores unidocentes ensinar contedos musicais garantia de que teremos nossos empregos como licenciados em msica garantidos e tambmcerta qualidade no ensino da msica nas escolas.

    O discurso academicista tem, h muito tempo, pregado objetivos inatingveis para os noiniciados musicalmente. Por vezes ouvimos relatos de pessoas que se frustraram ao tentarem seaproximar de uma educao formal na rea de msica. Mas se por um lado no podemoscobrar virtuosismo musical dos professores unidocentes, por outro lado necessrio garantirque eles possuam habilidades musicais e pedaggicas suficientes para o ensino de msica.

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 19/21

    De forma alguma pretendo com o comentrio acima compartilhar com a idia da mensagem622 de 18 de agosto de 2008, que justifica o veto[2] (http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn2)ao artigo 2 da Lei 11.697, transcrita em parte a seguir: Vale ressaltar que a msica uma prticasocial e que no Brasil existem diversos profissionais atuantes nessa rea sem formao acadmica ouoficial em msica e que so reconhecidos nacionalmente. Esses profissionais estariam impossibilitados deministrar tal contedo na maneira em que este dispositivo est proposto.

    A msica uma linguagem e, como tal, possui cdigos especficos capazes de produzirdiscursos, em certos nveis, acessveis apenas queles que detm o conhecimento de taiscdigos. Os saberes musicais so transmitidos de gerao a gerao graas tambm a essescdigos. Um bom msico, mesmo dominando os cdigos da linguagem musical, nem semprepode ser considerado um professor de msica em potencial, pois, cada vez mais, tomam corpoas especificidades tcnicas e metodolgicas para o ensino da msica, em especial quandodestinadas a escola bsica. Tais conhecimentos pedaggicos especficos que vem destacando aEducao Musical concedendo-a status de rea do conhecimento[3](http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn3)precisam ser estudados por professores de msica. Sobre isso comenta a educadora musical epesquisadora Cludia Bellochio:

    Esse campo de saberes carrega especificidades de conhecimento musical e de conhecimentopedaggico, sem, no entanto, delimitar prescries de como agir na situao educacional, que carregada de situaes especficas da prtica. Para ensinar, preciso que se compreenda aeducao e esta em seus constituintes psicolgicos, filosficos, antropolgicos, sociolgicos,pedaggicos. Para ensinar msica, preciso que se compreenda msica nos constituintes acimaapontados. (BELLOCHIO, 2003, p. 22).

    Sendo assim, temos como objetivo, que professoras participantes do grupo de formaodesenvolvam habilidades musicais adequadas demanda de sua realidade e tambmadquiram conhecimentos de metodologias da msica que possam alicerar uma prticapedaggica musical significativa. Ao contrrio do que esperava nosso grupo de formaomostrou-se muito disposto a realizar as atividades de musicalizao. As professoras gostam demsica, de cantar e tentam, na medida do possvel, fazer a msica presente em suas salas deaula. Enxergar na msica, obra de arte apreciada, contedos musicais educacionais um passoseguinte de uma longa caminhada, difcil, mas possvel.

    O cenrio ideal em que cada escola pblica ter um licenciado em msica no seu corpo docenteainda est longe de ser vislumbrado, e se tornar cada dia mais utpico se ns, educadoresmusicais nos fecharmos nos limites de nossa rea com atitudes territorialistas e excludentes.

    Consideraes finais Eu quero msica na escola

    Durante o primeiro mdulo do curso de capacitao em msica para professores das sriesiniciais, deparei-me com expresses reveladoras sobre que tipo de impresses a aprovao dalei de obrigatoriedade do ensino da msica nas escolas brasileiras causou fora dos crculos daeducao musical. As expresses comentadas so de professoras unidocentes de escolaspblicas de educao infantil e ensino fundamental. Ao coment-las procurei partir do meuolhar com professora da rede pblica, tentando, assim, expandir a discusso sobre a Lei11.769/08, para alm da dos limites restritos da rea de msica.

    http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn2http://mail.mailig.ig.com.br/mail/?ui=2&view=js&name=main,tlist&ver=VZWoxg3oMkU.pt_BR.&am=!KpSF4DJY86mbRv3i08g2Al6tYnVXwjC83nyBesmVl2DGIsK3i5fWo2jdf4pOFw#_ftn3

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 20/21

    Apoiada por outros educadores, defendo que uma medida legal no suficiente por si s paragarantir mudanas significativas no cenrio educacional brasileiro.

    As inquietaes que as falas analisadas deixam transparecer podem ser justificadas (1) por umacultura escolar que impe msica um lugar desprivilegiado dentro da hierarquia dasdisciplinas e saberes escolares, (2) pela insuficincia ou ausncia do ensino das linguagensartsticas e suas metodologias de ensino nos cursos de formao de professores para sriesiniciais e (3) pelo distanciamento entre as instancias formadoras de educadores musicais ecotidiano escolar brasileiro.

    Garantir a educao musical dos pequenos brasileiros que freqentam as escolas de educaoinfantil e ensino fundamental, mais que lei, deve ser compromisso dos educadores musicais.

    Para alm das polmicas sobre quem deve ou quem pode ensinar msica na escola, devemosestar atentos aos que realmente podem fazer a lei sair do papel. Como no nos possvelrealizar o milagre da multiplicao dos licenciados em msica, cabe-nos o engajamento emaes que promovam a formao e capacitao dos profissionais da educao que podero nosajudar na tarefa de musicalizar. No propondo aos unidocentes pacotes prontos, como se taisprofissionais no tivessem nada a oferecer, mas buscando a construo colaborativa depropostas em educao musical adequadas ao cho da sala de aula.

    Referncias

    BELLOCHIO, Cludia Ribeiro. A formao profissional do educador musical: algumas apostas.Revista da Abem, n. 8, p. 17-24, mar. 2003.

    DEL BEN, Luciana. A cultura escolar como objeto histrico. Revista Em Pauta, Rio de Janeiro,v.12, n. 18/19, p. 65-93, 2001.

    JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histrico. Revista Brasileira de Histria daEducao, Campinas, n. 1, p. 9-44, 2001.

    MOREIRA, Antnio Flvio B.; CANDAU, Vera. Maria. Currculo, conhecimento e cultura. In:BRASIL. Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Bsica. Indagaes sobre currculo.Braslia: 2006.

    PENNA, Maura. Caminhos para a conquista de espaos para a msica na escola: umadiscusso em aberto. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 19, 57-64, mar. 2008.

    SOBREIRA, Slvia. Reflexes sobre a obrigatoriedade da msica nas escolas pblicas. Revista daAbem, Porto Alegre, V. 20, 45-52, set. 2008.

    VASCONCELLOS, Maria Drosila. O trabalho dos professores em questo.Educ. Soc. [on-line],Campinas, v. 23, n. 81, Dec. 2002.

    Publicado em Artigos | Leave a Comment

    Msica na EscolaCrie um website ou blog gratuito no WordPress.com. O tema MistyLook.

    Seguir

    http://musicanaescola.org/category/artigos/http://musicanaescola.org/2011/07/31/professoras-de-series-iniciais-e-a-obrigatoriedade-do-ensino-da-musica-impactos-e-primeiras-impressoes/#respondhttp://musicanaescola.org/https://pt-br.wordpress.com/?ref=footer_websitehttps://wordpress.com/themes/mistylook/javascript:void(0)

  • 23/10/2014 Msica na Escola | Materiais didticos para aulas de msica popular brasileira

    http://musicanaescola.org/ 21/21

    Seguir Msica na Escola

    Build a website with WordPress.com

    https://pt-br.wordpress.com/?ref=lof