projeto e implementaÇÃo de um sistema de gestÃo de ideias...

128
FERNANDO HENRIQUE HASEGAWA PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE IDEIAS NA ÁREA EDUCACIONAL Trabalho de formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção São Paulo 2014

Upload: vudang

Post on 02-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

FERNANDO HENRIQUE HASEGAWA

PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE

IDEIAS NA ÁREA EDUCACIONAL

Trabalho de formatura apresentado

à Escola Politécnica da Universidade de

São Paulo para obtenção do Diploma de

Engenheiro de Produção

São Paulo

2014

FERNANDO HENRIQUE HASEGAWA

PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE

IDEIAS NA ÁREA EDUCACIONAL

Trabalho de formatura apresentado

à Escola Politécnica da Universidade de

São Paulo para obtenção do Diploma de

Engenheiro de Produção

Orientador:

Prof. Dr. Clovis Armando Alvarenga Netto

São Paulo

2014

RESUMO

Uma organização sem fins lucrativos, nomeada Fundação Vanzolini, tem pouca

mobilização dos funcionários para melhorar processos rotineiros ou inovar radicalmente. A

diretoria está atenta ao panorama de mudanças na gestão da inovação em serviços e deseja uma

organização com uma cultura de estímulo à criatividade e processos de apoio à inovação. Neste

contexto, o presente trabalho de formatura descreve o projeto e implementação de um sistema

de gestão de ideias, que tornou a geração, seleção e implementação de ideias uma parte do

trabalho de todos os funcionários. O foco do sistema foi na melhoria dos processos de

atendimento aos clientes, identificado como um dos principais problemas da organização, e

também nos processos de retaguarda. A implementação do sistema permitiu, sem grandes

investimentos, a criação de processos que estimulam a gestão de ideias e satisfazem de maneira

apropriada a todos os funcionários que contribuírem significativamente para a inovação.

Adicionalmente, o projeto iniciou o processo de mudança da cultura da Fundação Vanzolini,

em direção à uma cultura marcada por funcionários comprometidos com a melhoria contínua e

com a busca por novas formas de executar as tarefas ou de se relacionar, internamente e com

os clientes. Os resultados preliminares obtidos mostram que a adesão dos funcionários foi

grande e o número de sugestões de melhoria expressivo, em três unidades da organização.

Palavras chave: Inovação incremental. Sistema de gestão de ideias. Atendimento aos clientes.

Desenvolver. Implementar Processos. Fundação Vanzolini.

ABSTRACT

A nonprofit organization, named Vanzolini Foundation has employees that do little to

improve routine processes or to innovate radically. The directors are aware of the changes that

are happening with innovation management in services and wish an organization with a culture

that stimulates creativity and with processes that support innovation. Within this context, the

present work describes the design and implementation of an ideas management system, which

makes the generation, selection and implementation of new ideas a part of all employees ‘job.

The system’s focus was in the improvement of client attending process, which had been

identified as one of the major problems in the organization. The implementation of this work’s

recommendations has led, without major investments, to the creation of processes that stimulate

the ideas management and satisfy appropriately all workers that contribute significantly to

innovation. In addition, the project has started a cultural change in Vanzolini Foundation,

moving it towards a culture with employees committed to continuous improvement and to the

search of new ways of executing tasks or developing relationships with clients. Preliminar

results show a high employee buy-in and a significant number of improvement ideias, in three

units of the organization.

Keywords: Innovation. Ideas management system. Client attending. Develop. Implement

processes. Vanzolini Foundation.

SUMÁRIO

1. Introdução .................................................................................................................. 15

1.1. A Organização ........................................................................................................................................ 15

1.2. As Fundações no Brasil .......................................................................................................................... 17

1.3. Objetivos do Trabalho ............................................................................................................................ 19

1.4. Relevância do Trabalho para a Fundação ............................................................................................... 20

1.5. Estrutura do Trabalho ............................................................................................................................. 20

2. Revisão bibliográfica ................................................................................................. 23

2.1. Tornando a gestão de ideias trabalho de todos ....................................................................................... 23

2.2. Desenhando processos de gestão de ideias ............................................................................................. 27

2.2.1. Características fundamentais da gestão de ideias ............................................................................ 27

2.2.2. Desenhando sistemas de recompensas pela inovação ..................................................................... 31

2.2.3. Métodos de mapeamento de processos ........................................................................................... 34

2.2.4. Adequação da gestão de ideias a processos de atendimento ........................................................... 39

2.2.5. Sustentabilidade e gestão de ideias ................................................................................................. 43

2.3. Implementando processos de gestão de ideias ....................................................................................... 44

2.3.1. Planejamento da implementação ..................................................................................................... 44

2.3.2. Programa piloto ............................................................................................................................... 46

2.3.3. Execução da implementação ........................................................................................................... 49

2.4. Continuamente melhorando um sistema de gestão de ideias ................................................................. 52

2.4.1. Métricas para controle da performance do sistema ......................................................................... 52

2.4.2. Melhoria contínua da geração de ideias .......................................................................................... 54

2.4.3. Promoção da melhoria contínua na organização ............................................................................. 57

3. Diagnóstico da situação atual ................................................................................... 61

3.1. Situação atual segundo os executivos .................................................................................................... 63

3.2. Situação atual segundo as áreas envolvidas ........................................................................................... 64

4. Elaboração do sistema de gestão de ideias .............................................................. 67

4.1. Criando as condições organizacionais para uma cultura voltada para a inovação .................................. 67

4.2. Desenho do sistema de gestão de ideias ................................................................................................. 69

4.2.1. Elaboração das métricas do sistema de gestão de ideias ................................................................. 70

4.2.2. Mapeamento de macroprocessos – modelos BARCO e PIER ........................................................ 72

4.2.3. Elaboração do modelo RAIAS ........................................................................................................ 75

4.2.4. Elaboração do Service Blueprint ..................................................................................................... 76

4.2.5. Elaboração da Matriz de Integração ................................................................................................ 77

4.2.6. Subsistema “Geração de ideias” ...................................................................................................... 79

4.2.7. Subsistema “Seleção de ideias” ....................................................................................................... 80

4.2.8. Subsistema “Aceleração de ideias” ................................................................................................. 81

4.2.9. Sistemas de recompensas ................................................................................................................ 82

5. Implementação do sistema de gestão de ideias ........................................................ 85

5.1. Plano de trabalho .................................................................................................................................... 85

5.2. Workshops e newsletters de implementação........................................................................................... 87

5.3. Reuniões semanais do projeto piloto ...................................................................................................... 91

5.4. Sistema “Banco de Ideias” ..................................................................................................................... 93

6. Discussão de resultados ............................................................................................. 97

6.1. Ideias mais marcantes aprovadas durante o projeto piloto ..................................................................... 97

6.2. Discussão de resultados do projeto piloto com executivos ..................................................................... 98

6.3. Comunicação das decisões executivas aos gestores das áreas ................................................................ 94

6.4. Recomendações finais ............................................................................................................................ 95

7. Conclusão .................................................................................................................. 107

8. Referências bibliográficas ....................................................................................... 111

Apêndice A: Mapeamento de macroprocessos ...................................................... 115

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Número e % do total de FASFIL por área de atuação (adaptado IBGE 2010) .................. 18

Figura 2 - Número e % do total de FASFIL por ano da fundação (adaptado IBGE 2010) ................ 18

Figura 3 - Número de assalariados com ensino superior das FASFIL (adaptado IBGE 2010) ........... 19

Figura 4 – Fases do Trabalho .............................................................................................. 21

Figura 5 – Plano de trabalho da implementação do sistema de gestão de ideias ............................. 22

Figura 6 – Os três componentes da criatividade ...................................................................... 26

Figura 7 – Modelo de processo BARCO ............................................................................... 36

Figura 8 – Modelo de processo PIER .................................................................................... 37

Figura 9 – Raias – Convenção para o mapeamento dos macroprocessos ...................................... 38

Figura 10 – Template do Service Blueprint ............................................................................ 42

Figura 11 – Organograma da Fundação Vanzolini ................................................................... 62

Figura 12 – Fatores essenciais para a criatividade .................................................................... 67

Figura 13 – Template dos dados de entrada do modelo Excel “Banco de ideias” ............................ 71

Figura 14 – Template das métricas de quantidade calculadas pelo modelo .................................... 71

Figura 15 – Template das métricas de origem calculadas pelo modelo ......................................... 71

Figura 16 – Template das métricas de velocidade calculadas pelo modelo .................................... 71

Figura 17 – Template do modelo BARCO elaborado (macroprocesso “atender o aluno”) ................ 74

Figura 18 – Template do modelo PIER elaborado (macroprocesso “atender o aluno”) .................... 75

Figura 19 – Template do modelo RAIAS elaborado ................................................................. 76

Figura 20 – Template do Service Blueprint elaborado .............................................................. 77

Figura 21 – Template da Matriz de Integração elaborada .......................................................... 78

Figura 22 – Formulário online utilizado pelos funcionários para fornecer ideias ............................ 79

Figura 23 – Formulário escrito utilizado pelos funcionários para fornecer ideias ........................... 80

Figura 24 – Processos de gestão de ideias .............................................................................. 82

Figura 25 – Caneta que premia o funcionário quando ele envia sua primeira ideia ......................... 83

Figura 26 – Email usado para kick off do projeto ..................................................................... 90

Figura 27 – Painel de navegação do sistema “Banco de Ideias” .................................................. 93

Figura 28 – Página do sistema com as ideias aprovadas e prazo curto de implementação ................. 94

Figura 29 – Página que parabeniza o autor da melhor ideia ........................................................ 95

Figura 30 – Métricas de quantidade do projeto piloto ............................................................... 99

Figura 31 – Métricas de origem do projeto piloto .................................................................. 100

Figura 32 – Métricas de velocidade do projeto piloto ............................................................. 100

Figura 33 – Matriz de Integração com valores das métricas ..................................................... 101

Figura 34 – Service Blueprint com valores das métricas .......................................................... 103

Figura 35 – Modelo RAIAS com valores das métricas ............................................................ 104

Figura 36 – Métricas de gestão de ideias para cada elemento do modelo PIER ............................ 105

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Matriz de Integração do Disney Institute ................................................................ 40

Tabela 2 - Descrição das unidades da Fundação Vanzolini envolvidas no trabalho ......................... 62

Tabela 3 – Elaboração de indicadores para atender a objetivos do sistema .................................... 70

Tabela 4 – Legenda dos templates BARCO, PIER, RAIAS, Service Blueprint e Disney Matrix ........ 72

Tabela 5 – Plano de trabalho da implementação do sistema de gestão de ideias ............................. 85

Tabela 6 – Composição do comitê gerencial .......................................................................... 86

Tabela 7 – Ações adotadas pelo autor em cada estágio psicológico de implementação .................... 87

15

1. Introdução

O presente capítulo tem como objetivo introduzir o tema do trabalho, bem como a

fundação na qual o projeto será desenvolvido. Para isso, encontra-se dividido em cinco seções:

organização, contextualização dos setores de atuação, objetivos do trabalho, relevância do

projeto para a Fundação, e estrutura do trabalho.

1.1.A organização

O trabalho foi desenvolvido na Fundação Carlos Alberto Vanzolini (FCAV). As

informações nesta seção foram obtidas a partir do website da Fundação Vanzolini, de

entrevistas com a Diretoria Executiva, gestores e funcionários de diversas áreas de atuação.

A Fundação Vanzolini foi fundada em 31 de março de 1967. Seus fundadores foram

professores do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP. Ao

longo dos anos, tornou-se uma grande referência nacional e internacional nos quatro setores em

que atua: educação continuada, certificação, gestão de tecnologias aplicadas à educação e

consultoria/projetos.

No setor de educação continuada, a Fundação é um dos principais órgãos da América

Latina que atua desenvolvendo e disseminando conhecimentos científicos e tecnológicos

inerentes à Engenharia de Produção, à Administração Industrial, à Gestão de Operações e às

demais áreas em que atua, com caráter inovador e focado na resolução de problemas atuais. A

atuação da Fundação é permeada por critérios de excelência acadêmicos, profissionais e éticos,

priorizando as atividades e projetos por relevância econômica e social.

Nos cursos de capacitação (média duração), o participante aprofunda conhecimentos em

assuntos específicos e atuais da Engenharia de Produção. Por fim, nos cursos de atualização,

em sua grande maioria com carga horária compreendida entre 8 e 24 horas, os temas propostos

têm como principal objetivo proporcionar novos conhecimentos profissionais, atendendo a

necessidades bem focalizadas. Esses cursos estão agrupados em diversas áreas e podem ser

ministrados no formato in company.

16

A Fundação Vanzolini concede certificados no âmbito das normas NBR ISO 9001 para

Sistemas de Gestão da Qualidade, Sassmaq, Transqualit e ISO/TS 16949 para Certificação de

Sistemas de Gestão da Qualidade para a Indústria Automotiva, NBR ISO 14001 para Sistemas

de Gestão Ambiental, OHSAS 18001 para Sistemas de Saúde e Segurança Ocupacional e

Normas ONA para Acreditação de Organizações de Saúde.

Como resultado desse esforço, a Fundação Vanzolini tornou-se a única entidade

brasileira integrada à The International Certification Network (IQNet) - rede composta pelas

38 mais importantes certificadoras que estão presentes em mais de 150 países - o que outorga

validade internacional às suas certificações. Foi também o primeiro organismo de certificação

acreditado pelo INMETRO no Brasil, a conceder certificados do Sistema de Qualidade ISO

9001, dentro do Sistema Brasileiro de Certificação.

Em março de 2004, a Fundação Vanzolini conquistou mais um prêmio inédito na

América do Sul, tornando-se o primeiro e único Organismo de Certificação credenciado pelo

IATF (International Automotive Task Force) para conceder a Certificação ISO/TS 16949, a

Certificação Automotiva requerida pelas Montadoras dentro da Cadeia de Fornecimento para a

Indústria Automobilística.

No setor de consultoria, a Fundação Vanzolini, há mais de 45 anos, se consolidou como

referência em treinamentos e no desenvolvimento de projetos de consultoria de sucesso para

pequenas, médias e grandes empresas. Os consultores possuem uma metodologia inovadora,

experiência prática e ampla visão sistêmica, que facilita o diagnóstico de problemas e suas

soluções.

Os projetos de consultoria desenvolvidos são personalizados, de modo a contribuir para

o desenvolvimento e fortalecimento de competências-chave dos clientes. Adicionalmente, a

empresa procura atuar como um elo, uma ligação entre as necessidades das empresas e de seus

profissionais, com treinamentos customizados e adequados a cada organização, qualificando

equipes e tornando-as mais eficientes.

A Fundação presta consultoria em uma grande variedade de áreas, dentre elas:

Gerenciamento por Processos, Gestão de Projetos, Qualidade, Economia e Finanças da

Produção.

17

1.2.As Fundações no Brasil

A Fundação Vanzolini faz parte do grupo das FASFIL – Fundações Privadas e

Associações sem Fins Lucrativos. O IBGE realizou um estudo sobre as FASFIL em 2010,

nomeado “As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil – 2010”. Todas

as informações apresentadas nesta seção foram obtidas deste estudo.

As FASFIL fazem parte de movimentos sociais e outras iniciativas dos cidadãos,

tornando-se atores sociais e políticos fundamentais que dão vida à experiência democrática no

Brasil. Em conjunto, elas atuam executando políticas públicas, criando novos projetos de

interesse público, influenciando agendas públicas e exercendo o controle social.

O estudo apresenta um retrato das FASFIL em 2010 e sua evolução no período de 2006

a 2010. Neste período, seu número aumentou em 8,8%, passando de 267,3 mil em 2006 para

290,7 mil em 2010. Percebe-se, portanto, que o número de FASFIL em 2010 é relevante, pois

representa uma parcela significativa (5,2%) do total de 5,6 milhões de entidades públicas e

privadas, lucrativas e não lucrativas, que compunham o Cadastro Central de Empresas –

CEMPRE, do IBGE, neste mesmo ano.

A Fundação Vanzolini é uma das 17,7 mil FASFIL que atuam no setor de Educação e

Pesquisa. Trata-se de uma parcela significativa (6%), conforme ilustra a figura 1.

18

Figura 1: Número e % do total de FASFIL por área de atuação

Fonte: adaptado IBGE (2010)

As FASFIL são entidades muito recentes; a maior parte delas (40,8%) foi criada no

período de 2001 a 2010. É interessante notar, adicionalmente, que 46,5 % do total foram criadas

de 1981 a 2000. Dessa forma, pode-se concluir que a Fundação Vanzolini, fundada em 1967,

pertence ao grupo das fundações mais antigas do Brasil, as fundadas antes de 1970, que

representam apenas 3,3% do total, conforme mostra a figura 2.

Figura 2: Número e % do total de FASFIL por faixa de ano da fundação

Fonte: adaptado IBGE (2010)

19

Em relação ao nível de escolaridade, o estudo do IBGE revela que 702,0 mil

funcionários assalariados das FASFIL possuem nível superior, o que representa 33% do total

de pessoal ocupado assalariado delas. É importante notar que tal proporção é muito

significativa, principalmente se comparada às empresas com fins lucrativos. De fato, o

percentual de pessoas com nível de escolaridade superior nas empresas e demais organizações

formais ativas, em 2010, é de apenas 16,6% do total de assalariados. Nas fundações da área de

educação e pesquisa, na qual a Fundação Vanzolini está incluída, o percentual de profissionais

com curso superior é bem superior à média nacional: 56,3%, como mostra a figura 3.

Figura 3: Número de assalariados com ensino superior das FASFIL

Fonte: adaptado IBGE 2010

1.3.Objetivos do Trabalho

O Trabalho teve dois principais objetivos: estimular uma cultura de inovação na

Fundação Vanzolini, e desenhar e implementar processos de geração, seleção e implementação

de ideias. O conjunto de processos e a cultura de inovação formam o sistema de gestão de ideias.

As atividades e processos relacionados à gestão de ideias foram incorporados no

conjunto de tarefas de cada funcionário, de modo a melhorar a inovação da empresa sem resultar

em riscos como a perda de produtividade. Vale ressaltar que o foco é não apenas nas grandes

ideias, como também, e principalmente, nas pequenas. Todos os funcionários devem ser

estimulados a promover a melhoria contínua, a identificar problemas e a pensar em ideias, ainda

que pequenas, que contribuam para resolvê-los. Por terem contato rotineiro com o cliente e com

20

suas atividades mais operacionais, eles possuem muitas vezes um conhecimento mais detalhado

do que seus gerentes, o que lhes dá condição de continuamente melhorar os processos, ao invés

de serem passivos e esperarem ordens.

O estímulo aos funcionários foi uma questão central do Trabalho. Por este motivo,

procurou-se conscientizar os gestores a respeito da importância de continuamente passar

feedback das ideias para seus autores. Uma cultura inovadora requer um esforço dos

funcionários de sempre buscar novas formas de fazer suas tarefas, de melhorar os resultados;

estimular tal comprometimento foi um ponto essencial deste Trabalho.

1.4.Relevância do Trabalho para a Fundação

O estudo “As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil – 2010”,

do IBGE 2010, descrito resumidamente na seção 1.2. do presente relatório, revelou que o

número de FASFIL cresceu de maneira expressiva nos últimos anos. Adicionalmente, o setor

de educação e pesquisa é o que mais possui funcionários com ensino superior, o que revela que

muitas outras fundações nesta área possuem um quadro de funcionários de alta qualificação.

Mais do que aumentar a geração de grandes ideias, o Trabalho permitirá a criação de

um número grande de pequenas ideias. Cada proposta de melhoria, vindas de funcionários de

todos os níveis hierárquicos, fornece sua parcela de contribuição para a qualidade total e para o

atendimento ao público alvo. Vale ressaltar, por outro lado, que a relevância do trabalho não

recai no eventual ganho financeiro para a FCAV pela redução de custos, mas pela mobilização

dos funcionários sugerindo melhorias e alinhando suas ideias com as da Direção e gestores da

FCAV.

1.5.Estrutura do Trabalho

O Trabalho foi realizado seguindo-se uma sequência de quatro fases, descritas na figura

4.

21

Figura 4: Fases do Trabalho

A característica marcante em todas as fases do projeto é a abordagem colaborativa. A

proposta do autor, desde o primeiro dia de projeto, foi desenhar e implementar um sistema de

gestão de ideias que, além de agregar valor, seja aceito pela organização, em todos os níveis.

Em outras palavras, houve um esforço grande de gestão de stakeholders, para mantê-los uma

voz ativa do projeto durante toda sua extensão, e para garantir que o sistema construído tenha

tido participação de todos que desfrutarão do mesmo.

A primeira fase do Trabalho, o diagnóstico, se iniciou com uma comunicação cuidadosa

com gerentes dos departamentos de Educação, Projetos/Novos Negócios, RH, Secretarias,

Financeiro e TI. Foram comunicados detalhes do projeto, como seus objetivos, plano de

trabalho e papel de cada um.

Os executivos também foram comunicados do projeto. Reuniões foram feitas com o

presidente da empresa e com o diretor executivo administrativo. Nestas reuniões, além de

apresentação do projeto, procurou-se estimular a discussão, para levantamento de insights,

riscos, e alinhamento do Trabalho com a estratégia da organização.

Após a comunicação, o próximo passo consistiu na realização de uma avaliação da

situação atual dos departamentos. Um mapeamento detalhado de macroprocessos foi feito nos

departamentos dentro do escopo inicial. O objetivo era compreender as atividades rotineiras, e

em que medida os processos de gestão de ideias as influenciariam.

A segunda fase foi a elaboração do sistema de gestão de ideias. Com base na revisão

bibliográfica (descrita no item 2 do presente relatório), tal etapa consistiu em desenhar

processos de geração, seleção e implementação de ideias. A transformação da cultura da

Fundação Vanzolini, em direção a uma que estimule a criatividade, também foi planejada. Ao

fim desta etapa, iniciou-se a implementação do sistema de gestão de ideias.

22

O primeiro passo da implementação foi definir as tarefas e prazos de cada stakeholder

participante. O plano de trabalho resultante foi validado com cada um, de modo a garantir

engajamento de todos.

O segundo passo foi desenvolver um modelo de governança, que permitisse o

agendamento de um comitê permanente para verificar o andamento das tarefas, mapear gargalos

e riscos e fomentar a discussão de ações para resolvê-los. Tais discussões foram realizadas

semanalmente.

A implementação dos processos e KPIs (Key Performance Indicators) foi feita sempre

de modo a manter todos os envolvidos estimulados e eliminar fontes de desconfiança. Segundo

Francischini (2014), KPI significa indicador chave de desempenho, uma forma de medir

quantitativamente a performance. Planos de comunicação detalhados foram elaborados e

conduzidos levando-se em conta as características das equipes envolvidas e procurando

antecipar fontes de resistência. A máxima eficácia do processo de change management foi o

grande objetivo perseguido nesta fase.

A última fase consistiu em avaliar os resultados do Trabalho. Para isso, primeiramente,

mensurou-se os indicadores do sistema de gestão de ideias, utilizando-se as métricas descritas

na revisão bibliográfica. Adicionalmente, instituiu-se reuniões periódicas para gestão do

sistema, nas quais assuntos como desempenho de cada departamento são discutidos. Por fim,

um conjunto de recomendações foi elaborado, de modo a garantir que os ganhos realizados

durante o Trabalho sigam sendo obtidos no futuro. Os resultados finais do trabalho e os

próximos passos propostos foram apresentados tanto para os gerentes de cada departamento

como para os executivos.

A figura 5 mostra o plano de trabalho elaborado.

Figura 5: Plano de trabalho da implementação do sistema de gestão de ideias

23

2. Revisão bibliográfica

2.1.Tornando a gestão de ideias trabalho de todos

Segundo Robinson e Schroeder (2006), para atingir a excelência na gestão de ideias,

uma organização necessita incorporar no trabalho de todos os funcionários as atividades

relacionadas à inovação e à criatividade. Todos os níveis hierárquicos, dos subordinados do

front office até a liderança, devem estar plenamente engajados no sistema de geração, seleção e

implementação de ideias. Eles devem entender que inovação e criatividade, mais do que aceitos,

são esperados.

Segundo Taylor (1911), a gestão de ideias é responsabilidade dos gerentes, cabendo aos

empregados a execução de ordens operacionais, com pouca autonomia para inovar. O modelo

de gestão de Taylor, desde o início do século XX, têm sido um dos mais aplicados em todo o

mundo. Robinson e Schroeder (2006), por outro lado, mostram que as empresas com melhores

resultados em inovação são as que, ao invés de tirar o poder do pensamento criativo das

expectativas de cada cargo, o incorporam explicitamente. Os autores ressaltam que a obtenção

de ideias de seus subordinados deve ser parte do trabalho de todos os gerentes. Cabe a eles

desenvolver políticas, estruturas e processos operacionais que estimulem e facilitem a gestão

de ideias, ao invés de dificultá-la.

Um erro que muitos gerentes cometem é esperar que seus funcionários venham apenas

com as grandes ideias, as que levam a inovações disruptivas. O excesso e a complexidade dos

processos desenhados para avaliar apenas grandes ideias acaba desencorajando funcionários a

apresentarem suas ideias. É importante lembrar que as pequenas ideias são mais valiosas que

as grandes em muitos aspectos, como descrevem em detalhes Robinson e Schroeder (2006).

De fato, como explicam Argyris e Schön (1978), as pequenas ideias são a principal

ferramenta de aprendizado da organização. A habilidade de conduzi-las leva a empresa a uma

curva de aprendizado mais rápida. Além disso, o conjunto de pequenas ideias fornecem uma

vantagem competitiva mais sustentável que as grandes.

De fato, como descrevem Goffin e Mitchell (2010), inovações disruptivas causam

impacto de tamanha magnitude no mercado que são mais facilmente notadas e, ainda que a

longo prazo, copiadas pelos concorrentes. Já as pequenas ideias são muito mais difíceis de

24

serem aprendidas por competidores, por se referirem a detalhes específicos e usualmente únicos

de cada empresa. Ainda assim, com cada uma dando sua parcela de contribuição à melhoria

contínua, em conjunto, as pequenas ideias geram importante e duradoura vantagem

competitiva.

Barbieri (2009) descreve em detalhes o sistema de gestão de ideias japonês (teian

kaizen), que incentiva a melhoria contínua e promove a educação permanente de todo o pessoal

mediante o armazenamento gradual de pequenos conhecimentos. O grande expoente deste

sistema é a Toyota. Como dizem Liker e Meier (2006), “o sistema Toyota baseia-se na premissa

de que as pessoas desejam melhorar o ambiente de trabalho e de que as contribuições de todos

os empregados proporcionam melhoramento contínuo no longo prazo”.

O número de ideias geradas, como descreve Barbieri (2009) é fundamental neste

sistema, constituindo um indicador de desempenho. O declínio do número de sugestões é

preocupante, pois indica refluxo da participação. O sistema é governado por normas simples e

pouco detalhadas, a serem aplicadas pelas pessoas, de forma descentralizada, a todas as áreas

da organização.

Barbieri (2009) ressalta ainda que, embora o sistema japonês incentive e gere um

número muito maior de inovações incrementais, ele não representa perigo algum às inovações

disruptivas. Pelo contrário, ele impulsiona processos que constroem um ambiente complexo e

de compromisso com a produção sustentável de inovações, permitindo o surgimento das

inovações mais radicais.

Percebe-se, portanto, que o foco da gerência é estimular os funcionários a gerarem

pequenas ideias de forma regular e consistente. As recompensas devem ser claras e justas, e os

processos a serem seguidos pelo interessado em inovar devem ser simples e facilitar a geração,

seleção e implementação de ideias, ao invés de dificultar.

O supervisor, que é o reporte direto dos empregados do nível hierárquico mais baixo,

tem um papel importante a cumprir na gestão de ideias, como descrevem Robinson e Schroeder

(2006): devem criar um ambiente colaborativo; dar suporte e treinar as habilidades dos

subordinados gerarem ideias; devem ajudar a implementação apropriada das ideias,

recompensar os envolvidos, e olhar maiores implicações.

Tal papel deve ser seguido também nos níveis mais altos da hierarquia, ainda segundo

Robinson e Schroeder (2006). A gerência deve fornecer o suporte necessário aos supervisores,

25

inclusive providenciando os recursos necessários para treinamento e implementação. Os líderes

devem comunicar seu apoio constante ao sistema de gestão de ideias, além de pessoalmente o

supervisionar e tomar medidas para aumentar sua efetividade. Uma prática importante é manter

contato regular com todos os funcionários, inclusive os subordinados do front line, para lembrá-

los que empregados são um recurso essencial, são pessoas que conhecem seus trabalhos num

nível de detalhe e precisão que com frequência veem problemas e tem ideias que nunca seriam

pensadas pelos gerentes. Adicionalmente, cada funcionário possui um conjunto de fundamentos

e informações que adquiriu ao longo da vida, pela experiência, que pode aplicar para resolver

problemas. Como revela Krogh (2000), tal conjunto, conhecido como conhecimento tácito, é a

mais importante fonte de inovação.

Barbieri (2004) ao descrever o caso Copesul, relata que o departamento de Recursos

Humanos tem uma participação decisiva em tornar a gestão de ideias parte do trabalho de todos.

Afinal, cabe a ele implantar e desenvolver uma cultura colaborativa na organização, que

valorize e estimule a participação efetiva dos colaboradores, individualmente, e dos times nas

decisões em que estão envolvidos, comprometendo os indivíduos com os resultados. O RH deve

ainda, junto com a liderança, desenvolver o empowerment em todos os níveis hierárquicos, ou

seja, incentivar a concessão de autonomia a todos os colaboradores para solucionar problemas

e inovar.

Segundo Johnston e Clark (2001), o empowerment só trará bons resultados para a

organização se os funcionários aos quais a autonomia for concedida tiverem o discernimento

apropriado de seu cargo para lidar com diferentes situações. Ele cita três tipos de discernimento

que organizações que prestam serviços (como é o caso da Fundação Vanzolini) devem

diagnosticar nos seus funcionários, bem como avaliar se estão adequados ou não.

O primeiro tipo de discernimento é o rotineiro, que indica se o funcionário pode, em

situações de exceção, modificar seu conjunto padrão de tarefas para se adaptar às necessidades

do momento. O segundo é o discernimento criativo, que é exercido pelos que desenvolvem o

que fazer e como fazer as coisas. Isso pode relacionar-se às pessoas que não possuem uma

fórmula experimentada e testada de fazer as coisas, mas possuem algum treinamento e

experiência que lhes permite fazer julgamentos sobre o que fazer. O terceiro é o discernimento

divergente, que indica se o funcionário seria capaz de agir por conta própria, sem aprovação da

organização. Um exemplo é um balconista que devolve dinheiro ao cliente, contrariando a

política da empresa. Isso pode aumentar a satisfação do cliente, mas não é aprovado pela

26

administração. Johnston e Clark (2001) afirmam, ainda, que uma empresa cujos funcionários

não tenham discernimento divergente pode ficar estagnada, sem desafio ao status quo; por outro

lado, estimular os funcionários a terem tal discernimento o tempo todo no dia a dia pode gerar

caos.

Outra prática de sucesso da Copesul, segundo Barbieri (2004) é descentralizar a gestão

dos recursos humanos. Em outras palavras, transferir a cada time a função de recrutar,

selecionar, treinar, promover e monitorar a satisfação do colaborador e seu desligamento. O

papel dos recursos humanos passa a ser de consultoria interna, com profissionais atuando no

acompanhamento e no apoio às ações desenvolvidas pelos times e na elaboração de estudos,

simulações, planos e propostas para RH.

Segundo Amabile (1998), os gerentes devem ter em mente que a criatividade de cada

indivíduo é função de três componentes: expertise, habilidades de pensamento criativo, e

motivação. Cada um dos três deve ser desenvolvido para melhorar a participação da

organização no sistema de gestão de ideias. A figura 6 ilustra os três componentes da

criatividade.

Figura 6: Os três componentes da criatividade

Fonte: Amabile (1998)

Amabile (1998) descreve expertise se refere ao conhecimento técnico, intelectual, que

serve como base para as ideias. Dentre as habilidades de pensamento criativo, destacam-se a

capacidade de resolver problemas de maneira flexível, questionando o status quo e

perseverando até de fato obter melhorias. A autora cita dois tipos de motivação: a extrínseca e

a intrínseca. A primeira consiste em fazer o funcionário ser criativo fornecendo recompensas,

como bônus salariais, ou pressões externas, como demissão. A desvantagem, ainda segundo a

27

autora, é que se a pessoa não tem paixão pela inovação, vai continuar não tendo; o esforço por

inovar, se ocorrer, vai ser devido a incentivos ou pressões exteriores a ela.

Em sua pesquisa sobre criatividade em diversas organizações, Amabile (1998) constatou

que a motivação intrínseca costuma ser mais eficaz do que a extrínseca. Em outras palavras, ela

notou que as pessoas são mais criativas quando se sentem motivadas pelo desafio, pelo desejo

de fazer diferente, do que por pressões externas. Ainda segundo a autora, as organizações mais

criativas raramente oferecem recompensas extrínsecas. Por outro lado, Amabile (1998)

constatou que tais organizações são marcadas por gerentes que reconhecem e elogiam o

trabalho criativo de seus funcionários, de maneira espontânea e encorajadora, muitas vezes

antes que a ideia de fato traga lucros.

2.2.Desenhando processos de gestão de ideias

2.2.1. Características fundamentais da gestão de ideias

Segundo Hansen e Birkinshaw (2007), caso a empresa desejar começar a fazer

inovações incrementais, ou seja, melhorias em produtos já existentes, mantendo o padrão

corrente (business as usual), o primeiro passo é criar as condições organizacionais para uma

implementação bem sucedida. O objetivo é dar início ao processo de inovação sem impor um

conjunto de processos muito complexo, que envolva muitas pessoas, o que poderia gerar focos

de resistência, em especial porque a empresa não inova sistematicamente. O uso de técnicas

como engenharia e análise de valor, QFD (Quality Function Deployment) ou análise de

atributos é recomendada, pois podem dar um impulso inicial a processos de inovação sem exigir

equipes muito grandes. Segundo Cheng e Melo Filho (2007), o QFD é uma forma estruturada

de se analisar e comunicar informações relacionadas à qualidade. O sucesso obtido com os

primeiros projetos de inovação precisa ser divulgado ao longo da empresa, como forma de

ilustrar com casos reais o valor que a inovação pode agregar.

O segundo passo na introdução de um sistema de gestão de inovação é projetar e

gerenciar de forma conjunta as atividades da cadeia de valor da inovação (geração, seleção,

desenvolvimento e lançamento de ideias), conforme explicam Hansen e Birkinshaw (2007). É

essencial equacionar e avaliar a cadeia de valor da inovação como um sistema, para que os

28

gerentes identifiquem as atividades em que a organização tem o pior desempenho. A melhoria

no desempenho das atividades em que a empresa mais tem dificuldade deve ser a prioridade.

Além de identificar métodos que dizem respeito às suas áreas de maior dificuldade, a empresas

deve avaliar em que medida eles podem ser aplicados. De fato, cada organização tem sua

cultura, conjunto de pessoas e processos particular, e o surgimento de focos de resistência deve

ser considerado antes de se aplicar um método.

Ainda segundo Hansen e Birkinshaw (2007), a avaliação das atividades da cadeia de

valor da inovação, mencionada no parágrafo anterior, deve ser feita através do estabelecimento

e monitoramento de KPIs, que indiquem a performance da organização em cada componente

da cadeia.

Para que a inovação seja um processo sistemático, além de constante avaliação, é

importante a definição de responsáveis pelo sistema, ainda que estes não se dediquem à gestão

do mesmo em tempo integral, como explicam Hansen e Birkinshaw (2007). Afinal, a presença

de líderes engajados com o sistema de inovação mostrará para os demais funcionários que a

empresa valoriza tal sistema. Os líderes também podem auxiliar a introduzir processos de coleta

de sugestões na organização, servindo como ponto de referência, como as pessoas que devem

ser procuradas por todos ao participarem do sistema de gestão da inovação.

A empresa pode também desejar fazer inovações radicais, que são as que criam

mercados que não existiam, ou disruptivas, que são as que mudam a base competitiva de uma

indústria capturando inicialmente franjas do mercado. Para fazer inovações radicais e

disruptivas, a liderança deve projetar e gerenciar de forma conjunta os três componentes

organizacionais do modelo DIA (Descoberta, Incubação e Aceleração), conforme explicam

O'Connor e Demartino (2006). É essencial equacionar e avaliar o modelo como um sistema,

para que os gerentes identifiquem as atividades em que a organização tem o pior desempenho.

A melhoria no desempenho das atividades em que a empresa mais tem dificuldade deve ser a

prioridade. Além de identificar métodos que dizem respeito às suas áreas de maior dificuldade,

a empresas deve avaliar em que medida eles podem ser aplicados. De fato, cada organização

tem sua cultura, conjunto de pessoas e processos particular, e o surgimento de focos de

resistência deve ser considerado antes de se aplicar um método. Adicionalmente, é importante

lembrar que a implementação do DIA costuma exigir altos investimentos, tomar um tempo

considerável dos envolvidos, e ter como possível pré-requisito um sistema de gestão de

inovação já presente, como a cadeia de valor da inovação de Hansen e Birkinshaw (2007).

29

Como explica Gundling (2000), as práticas inovadoras copiadas de outras organizações

são como animais em zoológicos, que podem sobreviver, mas ou não procriam, ou não o fazem

com a mesma facilidade observada em seu hábitat natural. Dessa forma, os processos de geração

de ideias devem ser incorporados na maneira como uma organização opera, adaptando-os à

realidade da empresa, e não o contrário. Ainda segundo Gundling (2000), não se pode

selecionar um método específico e aplicá-lo sem realizar antes um diagnóstico detalhado dos

processos já executados pelas áreas envolvidas, em particular os relacionados à inovação.

Somente após esta avaliação inicial, pode-se começar a pensar em mudanças nos processos.

Como explicam Robinson e Schroeder (2006), ter ideias não deve ser uma atividade

pontual ou ocasional, deve fazer parte uma iniciativa dos funcionários. Políticas bem

desenhadas de melhoria contínua ou sistemas de recompensas como o descrito na seção anterior

podem ser a solução.

Mais ideias surgirão se a melhoria contínua estiver incorporada ao modo como a

empresa trabalha. De fato, ao se analisar os processos rotineiros das empresas em detalhes,

pode-se identificar problemas. E a partir deste ponto, os funcionários devem ter o costume de

buscar soluções, muitas vezes inovadoras, para resolve-los.

Segundo Dauphinais e Price (1998), a gerência deve participar ativamente na criação

dos hábitos de se ter ideias. Quando precisarem de ideias em certo assunto, primeiramente

devem simplesmente pedir por elas (o que significa quebrar barreiras, típicas principalmente de

empresas mais hierárquicas). Além disso, é importante manter os empregados focados na área

em que a ideia é necessária, controlar o escopo da criatividade.

De fato, campanhas focadas em ideias tem impacto duradouro. O que antes era um

aspecto de performance olhado por cima foi articulado e legitimado. As pessoas são motivadas

a virem com um grande número de ideias para melhoria da área em particular. E o sucesso leva

outras áreas a conduzirem estes processos.

A forma como os processos de geração de ideias é apresentada também é essencial. Os

gerentes devem convencer os empregados que realmente querem suas ideias. E a melhor forma

de gerar a confiança é a retribuindo a atenção dada pelo subordinado, é engajando-se para

compreender, avaliar e implementar a ideia.

Segundo Robinson e Schroeder (2006), o processo de entrega das ideias deve ser o mais

simples possível. Ao invés de criar processos burocráticos e que fazem avaliações detalhadas

30

em busca apenas de inovações disruptivas, deve-se desenhar processos eficientes, que não

exijam propostas e análises complexas e longas num primeiro momento. Se mais informação

for necessária, é importante providenciar o autor da ideia com os recursos e conhecimentos

necessários, além de dar tempo para ele desenvolver sua ideia de maneira efetiva.

Robinson e Schroeder (2006) ressaltam a importância de se utilizar um método que

considere o nível de detalhe adequado para a seleção de ideias. Em outras palavras, é essencial

considerar todos os fatores relevantes, mas sem tornar o processo burocrático e lento. Para isso,

pode-se reunir os stakeholders em reuniões periódicas, em que as ideias fornecidas são

apresentadas, discutidas, e levadas adiante ou abortadas.

O incentivo a todo tipo de ideias, inclusive às bem simples, como trocar cortinas, implica

que se pode chegar a uma decisão de aprovar ou abortar mediante discussões qualitativas ou

estimativas rápidas de custos, para a maior parte das ideias.

No caso das ideias de decisão com maior grau de complexidade, que exigem reuniões

posteriores, e cuja implementação mobiliza maiores recursos, deve-se primeiramente identificar

o tipo de inovação. Para inovações incrementais, Cooper (1997) descreve em detalhes as

condições organizacionais e métodos adequados para gestão do portfólio de projetos deste tipo,

como o ECV (expected comercial value).

Para inovações radicais e disruptivas, destacam-se os métodos de opções reais, descrito

por Huchzermeier e Loch (2001); de matemática fuzzy, descrito por Zimmermann (1996); e de

balanceamento, descrito por Mikkola (2000). As condições organizacionais adequadas para

gestão do portfólio de projetos de inovações radicais e disruptivas são descritas em obras como

O’Connor e Rice (2008) e O’Connor e Demartino (2006).

O autor não fará uma descrição mais detalhada dos métodos citados nos dois parágrafos

anteriores porque eles não representam o foco do trabalho. Seguindo-se as orientações de

Robinson e Schroeder (2006), procurou-se não aumentar a complexidade dos processos de

seleção de ideias, a menos que realmente necessário.

Ainda segundo Robinson e Schroeder (2006), manter os empregados estimulados a

fornecer ideias significa também valorizar e querer desenvolver o funcionário mesmo quando

as ideias não são boas. Neste caso, o gerente deve adotar um discurso positivo e ajudar o

funcionário a melhorar, ensinando a considerar mais restrições, ajudando a respeitar o escopo,

a comunicar melhor a ideia, dentre outras iniciativas. O feedback deve ser imediato, construtivo

31

e explicativo. Trata-se de uma maneira poderosa de mostrar que as ideias dos subordinados são

levadas a sério, e promovem o aprendizado dos envolvidos, seja qual for o resultado.

As ideias selecionadas nas reuniões periódicas devem ser desenvolvidas e ter a

implementação planejada e executada junto com os autores das ideias. Envolver os autores é

importante, como observam Robinson e Schroeder (2006), para construir uma cultura de

valorização dos subordinados, de confiança mútua entre gerentes e demais funcionários. Tal

prática leva a melhores decisões, já que contam com a participação de quem teve a ideia e

conhece no detalhe atividades operacionais; reduz custos de processamento; levam à

implementação mais rápida; e liberam mais tempo para os gerentes focarem no que devem

fazer.

2.2.2. Desenhando sistemas de recompensas pela inovação

Um sistema que recompense os funcionários por serem criativos e inovadores pode

auxiliar no engajamento de todos em um novo sistema de gestão de idéias. No entanto, é preciso

definir com cuidado o sistema de recompensas, e verificar se ele é adequado para a cultura e o

momento atual da organização.

Kohn (1993) relata que, ao pensar em um sistema de recompensas pela inovação, muitos

pensam em oferecer uma porcentagem das economias ou lucros derivados da ideia. No entanto,

tal sistema pode gerar sérios problemas. O principal motivo é que há uma tendência de se

recompensar apenas quem teve a ideia. Afinal, é a parte mais facilmente mensurável e

quantificável do processo de ideias. O problema é que este sistema ignora todos os que também

participaram do processo, na seleção e implementação. Ao invés de incentivar a inovação, pode

desestimulá-la, já que muitos podem pensar que não vale a pena auxiliar a selecionar e

implementar a ideia se não vai ser recompensado. Adicionalmente, este sistema pode levar

funcionários a cometerem fraudes ou terem comportamento antiético.

Barbieri (2004) avaliou em detalhes os modelos de inovação de duas grandes empresas

brasileiras: a Brasilata e a Copesul. Elas são referência nacional na área. De fato, a Brasilata

ganhou o Brasil Premium pela inovação em produto “Fechamento Plus”, enquanto a Copesul

ganhou o Prêmio Nacional de Qualidade pela inovação em gestão “Sistema Copesul de Gestão”.

32

Ambas as empresas possuem um sistema de recompensas pela inovação que não apresenta os

problemas supracitados.

O sistema de recompensas das duas se baseia em medidas agregadas, que refletem o

impacto amplo e coletivo das ideias de todos. Os benefícios são distribuídos de maneira

equilibrada, segundo regras transparentes e claras. O sistema não é uma tática para as pessoas

trabalharem mais, mas sim um incentivo para o engajamento em torno das ideias de todos para

melhorar a organização. Quanto melhores os indicadores de performance de certa área, maiores

as recompensas. Desta forma, todos são incentivados a participarem no processo de gestão de

ideias, seja na geração, seleção e/ou implementação, para a melhoria contínua ser uma

realidade.

Barbieri (2004) descreve em detalhes o sistema de recompensas da Copesul. Trata-se

do sistema de gestão da evolução profissional (GEP), iniciativa pioneira com relação a plano

de carreira, que estabeleceu regras inovadoras de remuneração. O GEP procura estimular o

desenvolvimento pessoal, o crescimento profissional e a valorização do colaborador.

Adicionalmente, o cálculo dos salários leva em consideração o número de habilidades que o

funcionário possui para operar os processos sob sua responsabilidade, com base nas

necessidades do time; os colaboradores são certificados por um comitê após comprovarem sua

performance com ações pragmáticas.

É importante ressaltar que a gestão do time passa a ser baseada no grau de polivalência

almejado. Há um planejamento objetivo que visa a diminuição das carências pelo crescimento

ou acréscimo das habilidades faltantes. De fato, o GEP conta com cerca de 1200 habilidades e

contempla quase todas as atividades desenvolvidas na empresa, incluindo as operacionais e de

apoio técnico, administrativo e financeiro. O GEP é avaliado com frequência por executivos,

que são responsáveis de forma direta pela aprovação de alterações no conjunto de habilidades

especificadas originalmente.

Robinson e Schroeder (2006) citam ainda que o sistema de recompensas deve estar

plenamente integrado à forma que a empresa já funciona. Em outras palavras, não deve ser um

acréscimo, mas sim uma parte da forma como as pessoas trabalham. As medidas agregadas que

direcionam as recompensas devem ser derivadas dos objetivos de performance mais críticos

das empresas, os mesmos que determinam a tomada de decisão no dia a dia, as avaliações de

competências, as iniciativas de melhoria, e no limite, a maior parte das ações dos gerentes.

33

Dessa forma, o sistema de recompensas vai direcionar a organização no sentido que a liderança

vê como fundamental.

Vale lembrar que, em organizações que fazem a gestão de ideias com excelência, o

sistema de recompensas não é necessário. De fato, como descrevem Robinson et Schroeder

(2006), nestas empresas os funcionários já participam ativamente do processo de inovação, por

serem reconhecidos. A maior parte das pessoas já tem muitas ideias, e querem partilhá-las. Eles

se orgulham do seu trabalho e gostariam de contribuir para o sucesso da organização. Para eles,

a melhor recompensa é ver as ideias sendo usadas.

Na visita realizada pelo autor e pelo diretor administrativo à Brasilata, João revelou

diversos exemplos de iniciativas adotadas pela empresa para engajar os funcionários na gestão

de ideias sem oferecer recompensas monetárias. O principal é o apoio e presença constante do

CEO, Antônio Carlos Teixeira Alvares, como líder do projeto.

De fato, como revela Pontes e Barri (2014), o executivo cobra fortemente os gestores a

serem ágeis em dar resposta aos autores da ideia, a implementar as melhores, e a cobrar os

membros de suas equipes que menos contribuíssem. O comprometimento da gerência

intermediária foi fundamental para desenvolver uma cultura de inovação entre os operários.

Atualmente, a cultura é tão forte que, no contrato de um funcionário novo, ao invés do nome

usual do seu cargo (como “soldador” ou auxiliar de logística), aparece “inventor”.

Ainda segundo Pontes e Barri (2014), os gestores também são cobrados para fornecer

reconhecimento aos autores das melhores ideias. Eles são reconhecidos periodicamente em

murais e e-mails corporativos enviados a todos.

Adicionalmente, segundo Pontes e Barri (2014), a cada seis meses, a empresa organiza

uma festa, em um sábado, na qual o autor da melhor ideia do semestre, em cada unidade da

empresa, recebe um prêmio de sua escolha, desde que respeite o valor máximo estipulado. Por

fim, todo ano, a empresa organiza um evento que ela chama de “supercopa”, no qual a melhor

ideia do ano de cada unidade é avaliada pelos diretores, e a melhor de toda a empresa é

escolhida. O autor é premiado diante de toda a empresa, podendo novamente escolher um

prêmio, respeitando o valor máximo (superior ao do prêmio semestral). As recompensas

simbólicas, conforme Pontes e Barri (2014) ressaltou, se revelaram fortes fontes de incentivo

na Brasilata, sem desvantagens como competição predatória entre funcionários, que surgem em

sistemas de recompensa monetários.

34

A seção seguinte descreve em detalhes diversos métodos de mapeamento de processos

em empresas. Tal mapeamento é essencial para se entender em que medida os processos de

gestão de ideias e o sistema de recompensas se relaciona com os processos já existentes na

organização avaliada.

2.2.3. Métodos de mapeamento de processos

O desenho dos processos de gestão de ideias deve ser feito levando-se em consideração

os atuais processos das áreas envolvidas e de Recursos Humanos. Afinal, cada organização tem

sua própria cultura e cada funcionário está habituado a realizar suas tarefas rotineiras de uma

forma diferente; impor um método significa forçar os envolvidos a mudarem, o que gerará

resistências e pode resultar em processos inadequados para a realidade específica das áreas.

Dessa forma, é extremamente importante realizar um diagnóstico inicial da organização.

Para isso, há uma série de metodologias consagradas de mapeamento de processos. Hill e

Robinson (1995) citam o IDEF0 (Integrated Definition) como um dos métodos principais, que

apresenta quatro vantagens: é voltado ao negócio; prioriza “o que” deve ser feito e não apenas

o “como” fazê-lo; objetiva eficácia antes da eficiência; é útil para estabelecer o escopo da

análise.

Alvarenga-Netto (2004) cita ainda as seguintes características do IDEF0: pode ser

utilizada de forma abrangente; possibilita uma visualização ampla das interações entre os

processos, onde as saídas de cada um são vistas como entradas para o processo seguinte (como

entradas propriamente ditas, como controles ou como recursos); é referenciada na literatura,

sendo portanto fácil o acesso a outras referências sobre seu uso; pode ser aplicada sem

necessariamente exigir que o usuário empregue algum tipo de software; estabelece um padrão

de linguagem.

Segundo Alvarenga-Netto (2004), a execução dos processos depende, na maioria dos

casos, de recursos. Estes podem ser de quatro naturezas distintas: equipamentos, programas

(software), pessoal (mão-de-obra) ou infraestrutura. Esta última pode incluir tanto instalações

prediais como utilidades e ambiente de trabalho, de acordo com a conveniência da aplicação.

35

Alvarenga-Netto (2004) afirma, ainda, que todo processo necessariamente precisa de

controles, que permitam avaliar se as atividades foram realizadas a contento. Neste caso, podem

ser considerados os indicadores de desempenho, metas estabelecidas, especificações e, quando

necessários, os procedimentos. Os procedimentos não necessariamente precisam ser

documentados, embora eles sejam convenientes sob o ponto de vista de padronização e

treinamento. Para os indicadores de desempenho, vale considerar que todo processo ocorre

durante algum período de tempo, portanto esta é uma grandeza passível de consideração em

boa parte das aplicações.

Alvarenga-Netto (2004) elaborou duas representações gráficas de processo, a completa,

chamada BARCO, e a simplificada, chamada PIER. Elas foram elaboradas, segundo o autor,

com o objetivo de fornecer: uma estrutura para todos os elementos dos processos; auxílio à

memória no planejamento dos processos, facilitando sua implementação; ferramenta de

comunicação interna, um recurso visual poderoso que pode ser usado na divulgação,

treinamento e conscientização dos stakeholders quanto aos requisitos aplicáveis e eficácia do

sistema de processos.

Ainda segundo o autor, o modelo BARCO fornece uma visão completa e exaustiva dos

processos, por isso deve ser utilizado na fase de planejamento. A representação gráfica BARCO

se encontra na figura 7.

36

Figura 7: Modelo de processo BARCO

Fonte: Adaptado de Alvarenga-Netto (2004)

Já o modelo PIER deve ser usado durante a implementação. O motivo é que ele é mais

didático e simples de entender para pessoas que, atuando dentro das organizações, costumam

ter dificuldade em pensar suas atividades de outra forma, por se sentirem presas a seu

departamento e não terem uma visão do todo. De fato, o modelo PIER pode ser lido como os

processos de cada área de trabalho, as ações executadas (por isso são descritos como verbo +

objeto). Neste caso, a Fase Anterior seria entendida como as áreas fornecedoras das entradas

enquanto a Fase Posterior contemplaria as áreas clientes das saídas do processo. Estas duas

fases, bem como o modelo PIER, encontram-se representadas na figura 8.

37

Figura 8: Modelo de processo PIER

Fonte: Adaptado de Alvarenga-Netto (2004)

Contador (2001) afirma que, após a elaboração da representação unitária de cada

processo, o passo seguinte é contemplar os processos de planejamento, apoio, produção e

atendimento no mapeamento de macroprocessos. Para isso, Alvarenga-Netto (2004) propõem

o mapa de serviço ilustrado na figura 9. Nota-se que os processos foram dispostos em três

faixas, ou raias: gerir sistema, realização do produto e gerir recursos. Alvarenga-Netto (2004)

descreve em detalhes cada uma das três.

38

Figura 9: Raias – Convenção para o mapeamento dos macroprocessos

Fonte: Adaptado de Alvarenga-Netto (2004)

Segundo Alvarenga-Netto (2004), a raia de “gerir sistema” diz respeito aos processos

de planejamento. Inclui definir requisitos e valor ao cliente; determinar diretrizes estratégicas

para o sistema; controlar ações corretivas, preventivas e de melhoria; monitorar a satisfação do

cliente; gerir e realizar avaliações internas periódicas; analisar criticamente o sistema; e definir

e controlar regras gerais de documentação pertinente ao sistema. O resultado desejado é um

alinhamento entre as diretrizes e os objetivos estratégicos da organização.

Alvarenga-Netto (2004) descreve a “realização do produto” como os processos-fim de

produção e atendimento, ligados à atividade fim da empresa. Inclui a análise crítica dos

requisitos do cliente; o planejamento ou projeto de realização do produto; a aquisição e

recebimento de insumos; o planejamento e controle da produção; inspeções e ensaios;

comercialização; distribuição e atendimento ao cliente. De forma geral, corresponde ao ciclo

completo do atendimento, desde o recebimento da solicitação até a entrega do produto ou

serviço e a verificação da satisfação do cliente.

39

Segundo Alvarenga-Netto (2004), “gerir recursos” se refere aos processos de apoio.

Considera-se que as atividades de apoio tenham por objetivo prover os oportunos recursos que

a realização do produto necessita, assim este processo contempla a disponibilização de recursos

capacitados e em número adequado à realização dos demais processo. Prioritariamente,

considera-se a identificação e provisão dos recursos nas categorias de recursos humanos,

equipamentos e máquinas, informática, infra-estrutura e ambiente de trabalho.

2.2.4. Adequação da gestão de ideias a processos de atendimento

Os processos do sistema de gestão de ideias devem se complementar aos já existentes

na organização para em conjunto haver uma melhor gestão de ideias. A literatura indica

algumas ferramentas que podem ser utilizadas, em conjunto com a metodologia de Alvarenga-

Netto (2004), descrita na seção anterior, para auxiliar a geração de ideias a partir da

compreensão de processos específicos. Uma das principais é a Matriz de Integração, explicada

pelo Disney Institute (2011). Ela se refere aos processos de atendimento do cliente, que tem

impacto decisivo no sucesso das empresas, em particular para organizações que prestam

Serviços.

Segundo o Disney Institute (2011), o primeiro passo para se alcançar a excelência no

atendimento ao cliente é determinar o tema do atendimento. Trata-se de uma declaração

simples, mas poderosa: quando a empresa se conscientiza, é por ela estimulada rumo ao

atendimento ideal. Serve para alinhar as ações dos funcionários e estabelece uma base para seu

comportamento com os clientes. No caso da Disney, o tema é: “Criar felicidade para pessoas

de todas as idades, por toda parte”.

O segundo passo, ainda segundo o Disney Institute (2011), é determinar os padrões de

atendimento. Tratam-se de critérios para ações essenciais para tornar concreto o tema de

atendimento. É essencial também estabelecer uma ordem de prioridade. No caso da Disney, os

padrões, por ordem de importância, são: segurança, cortesia, espetáculo e eficiência.

O terceiro passo é analisar e ter ideias a respeito de como melhorar o atendimento

utilizando a Matriz de Integração. A Matriz proposta pelo Disney Institute (2011) se encontra

na tabela 1.

40

Tabela 1: Matriz de Integração do Disney Institute

Fonte: Disney Institute (2011)

O Disney Institute (2011) descreve os três sistemas de atendimento presentes em toda

organização: o “elenco” (funcionários), o “cenário” (ativos físicos) e o “processo” (ações,

mudanças ou funções combinadas para produzir um resultado). A Matriz auxilia a definir em

que medida cada sistema (colunas da Matriz) consegue cumprir com um padrão de atendimento

(linhas da Matriz).

Conforme descreve o Disney Institute (2011), cada célula da Matriz representa uma hora

da verdade do atendimento, um ponto no qual é possível influenciar a qualidade da experiência

do cliente. Cada célula faz uma pergunta a quem estiver usando o modelo. Por exemplo, no

canto superior esquerdo a pergunta é “Como o seu elenco garantirá a segurança dos clientes? ”.

O Disney Institute revela ainda que a Matriz pode ser utilizada como ferramenta para

geração e seleção de ideias dentre os funcionários com contato direto com os clientes. De fato,

ela permite isolar, analisar e fazer o brainstorming de soluções para falhas no atendimento.

Outra vantagem importante é que ela permite que várias alternativas sejam levantadas em cada

célula para a criação de um excelente momento de atendimento.

Dessa forma, uma organização voltada para a melhoria contínua encontrará na Matriz

de Integração do Disney Institute (2011) uma ferramenta poderosa de gestão de ideias.

Funcionários devem com frequência refletir a respeito de cada célula da Matriz e continuamente

buscar ideias para melhorar o atendimento dos clientes.

Carlzon (1985) fornece dicas de boas práticas de gestão de ideias em processos de

atendimento. No caso dos funcionários da linha de frente, o discurso da liderança pode enfatizar

pontos como a confiança dos líderes em cada funcionário, dentre outros já mencionados nas

seções anteriores. Além disso, por se tratar de processos de atendimento, a liderança pode ainda

fornecer diversos exemplos de casos de sucesso, em que funcionários tiveram que tomar

decisões em poucos segundos e foram bem sucedidos.

41

Decisões rápidas são frequentes no dia a dia de funcionários em contato direto com o

cliente. De fato, como descrevem Johnston e Clark (2001), o cliente considerará toda a

experiência, todo o contato que teve com a empresa para avaliar a qualidade do serviço prestado.

Dessa forma, é essencial que os funcionários tenham a autonomia e a capacidade para

solucionar imprevistos e manter um bom relacionamento com clientes que fujam do padrão.

Relatar casos em que funcionários do front office se depararam com uma situação inesperada e

resolveram autonomamente e em questão de segundos o problema é uma estratégia fundamental

para os líderes engajarem a organização.

Carlzon (1985) cita o caso de um voo da SAS (Scandinavian Airlines System), empresa

na qual foi CEO de 1981 a 1993. O voo tinha atrasado muito por causa da neve. A comissária

decidiu por si mesma compensar os passageiros pelo inconveniente oferecendo-lhes café e

biscoitos de cortesia. Ela sabia que precisaria de cerca de 40 lanches além do previsto para isso.

Obteve-os, e conseguiu agradar clientes que tinham grandes chances de se irritarem e decidirem

não voar mais pela empresa. Trata-se de um bom exemplo a ser divulgado para a linha de frente

a respeito de como um funcionário pode agir rápido diante de uma situação fora do comum para

resolver problemas.

Carlzon (1985) fornece ainda algumas dicas para alinhar os gerentes médios ao sistema

de gestão de ideias. A primeira é se colocar no lugar de um gerente que de repente vê seus

subordinados com poder de tomar decisões. Como antes eles só seguiam ordens, o gerente pode

achar que perdeu poder e que foi rebaixado. O líder deve compreender estas preocupações dos

gerentes médios para em seguida, como segundo passo, mostrar que eles seguem sendo

essenciais e donos de grande poder de influência na organização.

De fato, Carlzon (1985) propõe explicar aos gerentes que seus papéis passaram a ser o

de apoiar a linha de frente para que cada membro da equipe contribua de forma efetiva e criativa

para atingir os objetivos específicos do departamento. Os funcionários passarão a ser avaliados

mais pelos resultados que trazem do que pelo modo como executam suas atividades rotineiras.

O gerente médio segue sendo um chefe, um líder, que ao invés de tomar decisões sozinho, passa

a delegar responsabilidades, mas não sem antes guiar e fornecer recursos.

Como descreve Carlzon (1985), o gerente deverá ter boa dose de criatividade e engenho

para planejar de forma meticulosa como delegará responsabilidades à sua equipe de forma que

ela siga no sentido de atingir os objetivos do departamento. O planejamento deve incluir

treinamento dos funcionários em competências especificas que eles precisam ter para lidar com

42

os “momentos da verdade”, com as situações de contato direto com o cliente. Além disso, deve

incluir sessões de avaliação e feedback construtivo. O funcionário deve tomar a decisão com

base na sua experiência e treinamento nos “momentos da verdade”, mas depois é importante

que o gerente converse com ele e aponte pontos de melhoria.

Uma técnica que permite que o gerente e sua equipe tenham uma visão do todo, do

conjunto dos “momentos da verdade”, é o Service Blueprint. Segundo Bitner, Ostrom e Morgan

(2007), Service Blueprint é uma técnica que deixa claro o papel do cliente em todos os processos

feitos por uma organização. Adicionalmente, segundo os autores, ele reforça uma orientação

voltada para o cliente e clarifica interfaces entre departamentos.

A técnica do Service Blueprint, ainda segundo Bitner, Ostrom e Morgan (2007), consiste

em classificar um conjunto de ações (executadas por clientes ou funcionários) em um de cinco

grandes grupos: evidências físicas, ações dos clientes, ações dos funcionários visíveis aos

clientes, ações dos funcionários invisíveis aos clientes, e processos de suporte. O template do

Service Blueprint encontra-se na figura 10.

Figura 10: Template do Service Blueprint

Fonte: Adaptado de Bitner, Ostrom e Morgan (2007)

43

2.2.5. Sustentabilidade e gestão de ideias

Não basta, para uma organização inovadora, apenas inovar constantemente; é preciso

inovar considerando as três dimensões da sustentabilidade, descritas pelo modelo triple bottom

line de Elkington (2001): dimensão social, dimensão ambiental e dimensão econômica.

Segundo Schot e Geels (2008), boa parte das organizações inovadoras busca prever apenas os

efeitos econômicos de suas criações, que de fato são relativamente fáceis de prever, pois há

uma enorme quantidade de instrumentos desenvolvidos para isso. Os efeitos sociais e

ambientais são mais difíceis de serem avaliados previamente, pois envolvem muito mais

variáveis, incertezas e interações. É por este motivo que boa parte das empresas apenas

interrompem ou redirecionam um processo específico de inovação se houver a expectativa de

um resultado econômico negativo ou abaixo do esperado.

No entanto, a interrupção ou redirecionamento do projeto também deveria ocorrer com

respeito aos resultados ambientais e sociais negativos ou abaixo do esperado. Barbieri,

Vasconcelos e Andreassi (2010) citam uma série de exemplos de como as empresas podem

inovar e atingir suas metas econômicas sem causar prejuízos sociais e ambientais.

Do ponto de vista ambiental, os autores citam as inovações que reduzem a quantidade

de materiais e energia por unidade produzida, eliminam substâncias tóxicas, aumentam a vida

útil dos produtos e reduzem as emissões de gases de efeito estufa, chuva ácida, dentre outros.

Do ponto de vista social, eles mencionam inovações que mitiguem impactos sociais

(desemprego; exclusão social; pobreza, dentre outros) nas comunidades humanas dentro e fora

da organização.

Hall e Vredenburg (2003) informam que as abordagens mais tradicionais de inovação

costuma focalizar apenas um reduzido grupo de partes interessadas (stakeholders), como

fornecedores, clientes, investidores e órgãos reguladores, e as análises consideram os impactos

da inovação sobre essas partes. Já as inovações sustentáveis, segundo os autores, consideram

uma lista mais abrangente de partes interessadas, pois incluem ativistas de causas diversas, a

comunidade local, dentre outros.

De fato, estes stakeholders, que os autores denominam secundários, não se restringem

aos que operam no entorno da organização; eles podem estar em qualquer local e tampouco se

restringem às que são afetadas pela inovação. Para lidar com um grupo mais abrangente de

44

partes interessadas, propõe-se manter canais abertos para diálogo constante com quem se

declara interessado no que a empresa faz ou pretende fazer, e divulgar de forma transparente

suas atividades e os impactos sociais, ambientais e econômicos que elas causam.

2.3.Implementando processos de gestão de ideias

2.3.1. Planejamento da implementação

Robinson e Schroeder (2014) ressaltam que, antes de se dar início à implementação, é

essencial que os líderes da organização (C-level) não apenas apoiem o sistema de gestão de

ideias como também o ajudem a dar suporte à estratégia da empresa, de curto, médio e longo

prazo. A dedicação dos líderes ao projeto, indo pessoalmente a sessões de treinamento de

funcionários sobre o novo sistema, mostrará a todos que a liderança realmente valoriza a

inovação vinda de todos os colaboradores, independentemente do nível hierárquico.

Adicionalmente, os líderes podem planejar transmitir nestas sessões em que medida o

sistema contribui para a empresa atingir seus objetivos estratégicos. Robinson e Schroeder

(2014) citam como exemplo a empresa Alpha, uma mineradora que comprara um concorrente,

a Massey. Depois de um planejamento meticuloso, a liderança da Alpha participou

pessoalmente das sessões de treinamento dos funcionários da Massey a respeito de seu sistema

de gestão de ideias. Nestas sessões, procurou estimular os funcionários a comunicarem suas

preocupações com a segurança no trabalho, bem como ideias de como evitar acidentes. Graças

ao alinhamento do sistema com a estratégia, a Alpha conseguiu atingir seu objetivo estratégico,

que era reduzir o número de acidentes na mineradora adquirida.

Beer (2003) enfatiza ainda que, antes de iniciar a implementação, é importante verificar

se cada unidade está preparada para a mudança. Para isso, o primeiro passo é avaliar se os

gerentes são eficientes e respeitados. Afinal, chefes desprovidos dessas qualidades não são

capazes de induzir ninguém a mudar. Se na unidade este líder não estiver presente, deve-se

avaliar a possibilidade de contratar um.

O segundo passo é avaliar se todos os envolvidos estão pessoalmente motivados para

mudar. Mesmo na ausência de uma crise, os bons gerentes podem motivar as pessoas a

45

mudarem, deixando bem claro o plano de implementação, o que mudará em detalhes na rotina

de cada um e os benefícios gerados. Lawler (2000) apresenta sugestões interessantes para

incentivar as pessoas a mudar. Dentre elas, destaca-se dar voz a todos, e eliminar o medo, não

permitir que o medo de errar suprima a exposição de uma ideia.

Hoffer (1976) divide os envolvidos na implementação em dois grupos. O primeiro são

os agentes da mudança, que notam o quão importante é o novo sistema e expressam a

necessidade de forma eficiente para os outros. Se tiverem o conjunto de habilidades necessárias,

é essencial que sejam colocados em pontos-chave da equipe de implementação, já que são

catalisadores fundamentais da iniciativa da mudança.

O segundo grupo são os resistentes à mudança, que ou fazem corpo mole ou tentam

ativamente sabotar a implementação. Pode-se prever focos de resistência ao se determinar onde

e como as mudanças acarretarão sofrimentos ou perdas na organização. Uma vez identificados,

pode-se, ainda segundo Hoffer (1976), para ganhar a aprovação deles, adotar medidas como

explicar a necessidade urgente de mudança, descrever os benefícios que esta lhes proporcionará

e descobrir novas maneiras pelas quais eles podem colaborar.

Eisentat, Beer e Spector (1990) destacam que é de extrema importância alocar em cada

frente do projeto de implementação uma liderança forte. Não se pode entregar o projeto apenas

para Recursos Humanos ou executivos. É preciso que os melhores estejam envolvidos em todos

os níveis, que os responsáveis pelas frentes conheçam em detalhes os processos, sistemas e

KPIs atuais, os novos, e como suas equipes reagirão.

Segundo Tushman e O’Reilly (1997), deve-se também estabelecer um modelo de

governança, ou seja, reuniões periódicas dos líderes para verificar o andamento das tarefas e

mapear os principais riscos, supervisionada por um comitê composto de membros da liderança.

É essencial que a equipe de implementação possua a mistura correta de habilidades, autoridade,

recursos e liderança. Afinal, precisa ter a competência de conquistar o apoio e a dedicação de

personagens fundamentais. É também importante que os marcos alcançados sejam

comemorados.

Finalmente, Beer (2003) relembra que o plano de trabalho elaborado pelos líderes deve

ser flexível e simples de ser modificado. De fato, ao longo da implementação há diversos riscos,

como desistência de pessoas, falha de algumas tarefas ou reações dos competidores. Dessa

46

forma, é essencial elaborar um plano que seja simples de ser monitorado e permita rápido ajuste

em resposta aos obstáculos encontrados no processo de mudança.

2.3.2. Programa piloto

Após a elaboração de um plano inicial de implementação, com as características

mencionadas na seção anterior, Robinson e Schroeder (2014) recomendam a condução de um

programa piloto. Os autores definem programa piloto como um teste “ao vivo” em pequena

escala do sistema de ideias antes de ele ser implementado. No caso de grandes organizações,

tipicamente envolve um pequeno conjunto de departamentos (de três a cinco, em geral). No

caso das pequenas, pode envolver todos os funcionários, mas por um período de tempo de

experimentação e aprendizado, antes do lançamento “oficial”.

Robinson e Schroeder (2014) afirmam que a liderança deve escolher como participantes

do piloto as áreas em que os gerentes tenham fortes habilidades de liderança e comunicação,

ótimo relacionamento com sua equipe, e estejam mais alinhados e engajados com o sistema de

gestão de idéias. Afinal, o momento de superar obstáculos com os gerentes mais difíceis é

depois que a empresa desenvolveu expertise em gestão de ideias.

Os autores defendem ainda que treinamento e suporte seja dado aos envolvidos com o

piloto, de maneira semelhante ao planejado para a implementação em si. Em particular é

importante garantir que os resultados do piloto sejam mensurados, monitorados e que

problemas sejam corrigidos ainda enquanto o piloto é conduzido.

Para tornar o mais simples possível os processos de comunicação de problemas,

gargalos e oportunidades de melhoria durante o piloto, Robinson e Schroeder (2014) citam o

exemplo de uma grande empresa de varejo americana, que conduzia reuniões semanais entre o

supervisor de uma área do piloto, seu gerente e um membro do time que elaborou o sistema.

Adicionalmente, a empresa conduzia reuniões mensais entre todos os supervisores e gerentes

do piloto para que eles dividissem experiências, discutissem problemas e propusessem

soluções.

A vantagem de detectar e resolver problemas ainda durante o piloto é que, como ele tem

caráter experimental, as mudanças costumam ser de baixo risco. Afinal, caso elas fracassem,

47

irão expirar automaticamente ao final do teste. Caso sejam um sucesso, é muito mais simples

implementá-las “oficialmente”, uma vez que todos os problemas e gargalos já foram

reconhecidos e eliminados no piloto.

Segundo Robinson e Schroeder (2014), uma das grandes vantagens do programa piloto

é que ele fornece uma chance de identificação de problemas do sistema de gestão de ideias e

sua correção antes que suas consequências sejam avassaladoras. Para isso, o programa introduz

mudanças na organização, cujas ramificações completas são impossíveis de prever. Fatores

como treinamento, conexão do sistema de gestão de ideias com outros sistemas e processos,

recursos necessários e comportamento dos envolvidos só podem ser realmente avaliados através

de programas piloto.

Adicionalmente, como relatam os autores, o status de “piloto” deixa os funcionários

mais confortáveis para experimentar e mesmo mudar significativamente o design inicial sem

ninguém perder a credibilidade ou ficar exposto. De fato, o caráter experimental permite que as

pessoas apontem os problemas sem serem vistas como rebeldes ou reclamantes. Os autores

propõem que o programa piloto dure o tempo suficiente (usualmente três meses) para permitir

que o sistema seja de fato desafiado.

Segundo Robinson e Schroeder (2014), a liderança deve avaliar os resultados do piloto

de modo a responder a dúvidas comuns dos funcionários com relação à operação do sistema de

gestão de ideias. Perguntas típicas, como “Quanto tempo terei que me dedicar, e como arranjarei

este tempo?”, “Como o sistema afetará meu trabalho?”. “Como terei tantas ideias?” e “O

esforço vale mesmo a pena?” Devem ser respondidas pela liderança aos autores das perguntas,

de modo a aliviar a incerteza em torno do sistema.

Ainda de acordo com Robinson e Schroeder (2014), a liderança deve identificar os

resultados positivos do piloto e comunicá-los de modo a evidenciar o valor gerado pelo sistema

de gestão de ideias. A comunicação pode ser, por exemplo, mostrando a todos uma lista das

ideias geradas durante o piloto, bem como os benefícios estimados com a implementação. Uma

boa divulgação do piloto pode fazer com que os funcionários não envolvidos com o mesmo, ao

observarem seus colegas expondo ideias e resolvendo problemas, decidam se engajar na

implementação.

Robinson e Schroeder (2014), por fim, relatam que é de extrema importância que a

liderança avalie os resultados finais do piloto e ajuste o plano inicial de implementação de

48

acordo com os insights obtidos. Os autores descrevem uma série de exemplos de problemas

comuns da implementação do sistema de gestão de ideias que podem ser descobertos e

resolvidos durante o piloto.

Um dos pontos mais comuns é a falta de habilidades de liderança e comunicação dos

líderes das frentes. De fato, o piloto evidencia os supervisores e gerentes que não conseguiram

engajar as equipes a participarem do sistema de ideias, ou não comunicaram de maneira

apropriada seus subordinados. Uma possível solução é a liderança se envolver pessoalmente no

treinamento dos supervisores e gerentes, conduzindo sessões individuais, se possível, e focadas

nos pontos de melhoria.

Por outro lado, ainda segundo os autores, o piloto evidencia também os supervisores e

gerentes que mais podem colaborar com a implementação do sistema de gestão de ideias. O

acompanhamento detalhado do piloto permitirá que a liderança perceba quais líderes de frente

conseguiram melhor conduzir o programa, engajando suas equipes, eliminando incertezas e de

fato conseguindo gerar um bom número de ideias por funcionário. Tais lideres devem ter papéis

chave durante a implementação e devem ser postos em contato com outros supervisores e

gerentes. Com base na experiência bem sucedida em suas áreas, eles podem ajudar outros

membros do middle management a resolverem dúvidas como: “O supervisor deve sempre

aceitar a ideia que sua equipe votar, mesmo que não concorde?”, “Os subordinados podem se

comunicar com outros gerentes para tirar dúvidas, mesmo na ausência do seu chefe?”, “Como

reagir quando o time quer implementar uma ideia, mas o supervisor tem informação sensível

que ele não pode compartilhar mas influencia como a ideia deve ser implementada?”

Outro ponto que costuma ser levantado pelo piloto, segundo Robinson e Schroeder

(2014), é a complexidade dos processos de geração, seleção e implementação de ideias

atualmente existentes na organização. A liderança da empresa e os líderes do projeto de

implementação do sistema devem se envolver pessoalmente em identificar durante o piloto as

fontes de complexidade e eliminá-las. Problemas como análises desnecessárias exigidas dos

autores das ideias, e excesso de aprovações necessárias para a ideia ser implementada devem

ser resolvidos, considerando-se a realidade da organização. O envolvimento do time sênior é

particularmente importante quando as ideias requerem a participação de diversas áreas da

empresa. Por exemplo, se for necessária a aprovação do departamento de Suprimentos para

comprar recursos necessários para implementar a ideia, o time sênior deve participar do desenho

dos processos de aprovação para torná-los os mais simples e eficientes possível.

49

Finalmente, os autores apontam que o programa piloto deve informar à liderança quais

e quantos recursos de suporte adicionais serão necessários uma vez que o sistema de gestão de

ideias seja lançado em toda a organização. A experiência de ter conduzido um piloto irá guiar

os líderes para alocarem um maior número de recursos nas áreas em que realmente a demanda

for maior.

2.3.3. Execução da implementação

Segundo Dauphinais e Price (1998), os gerentes devem se empenhar bastante para

garantir que a implementação seja rápida e suave. Afinal, tornar o processo desnecessariamente

complexo atrasa a realização de seus benefícios e desmotivam os subordinados. A

implementação deve envolver todos os empregados, independentemente do nível hierárquico,

que conhecem detalhes operacionais que podem agilizá-la e riscos que devem ser mitigados.

Mais do que isso, é preciso dar aos empregados os recursos que eles precisam para uma

implementação eficiente. Tais recursos, conforme relembram Tushman e O’Reilly (1997),

podem incluir treinamentos, que forneçam aos funcionários os conhecimentos necessários para

implementar e lidar com as mudanças.

Barbieri (2004) cita alguns meios de comunicação utilizados pela Copesul para

gerenciar a implementação e impedir a circulação de informações distorcidas, do tipo “rádio

peão”. Um deles é uma newsletter, principal meio de comunicação formal entre a administração

e os colaboradores; com circulação mínima semanal, é enviado ao email de todos e ainda está

disponível na intranet; tem linguagem ágil e objetiva, atendendo prontamente às demandas

cotidianas de informação, apoiando o processo de mudança e abordando os principais aspectos

do novo sistema de gestão de ideias. O outro é um jornal, emitido trimestralmente em formato

gráfico e editorial diferenciado, que reforça estes conceitos, abordando ainda assuntos de

gestão, desempenho, reconhecimento a colaboradores, aspectos relativos aos clientes e ao

negócio.

Vale ressaltar que, conforme relatam Freiberg e Freiberg (1998), é de extrema

importância que a implementação e condução dos processos seja feita de modo a manter um

ambiente de trabalho otimista, de confiança mútua e desejo de inovar. Afinal, se os funcionários

não estiverem satisfeitos, dificilmente terão condições de dar o melhor de si. Satisfazer os

50

funcionários, evidentemente, não significa se enredar em atividades “agradáveis”. Como

informa Beer (2003), é de extrema importância se concentrar nas tarefas que vão contribuir de

maneira direta e tangível para melhorar o resultado.

Beer (2003) descreve em detalhes qual deve ser a conduta dos líderes ao lidarem com

casos mais sensíveis de implementação. Para os autores, diante de mudanças drásticas, a reação

das pessoas em geral passa por quatro etapas: choque, negação defensiva, reconhecimento e

aceitação.

Para preparar os subordinados para o choque da mudança, os líderes devem inoculá-los

periodicamente com pequenas doses de transformações, como a mudança dos processos de

trabalho sempre que houver oportunidades reais de aprimoramento; o uso de metas maleáveis

para estimular a flexibilidade e um maior esforço; o combate à acomodação e aos privilégios.

Caso ainda assim, a mudança cause uma reação extrema, os líderes devem ajudar os

funcionários a administrar o estresse decorrente da mudança, proporcionar oportunidades para

que todos expressem seus sentimentos, e encontrar novas fundações para reerguer quem teve

os alicerces de sua vida profissional arrasados (por exemplo, levantando novos papéis em seu

novo grupo de trabalho).

A segunda etapa descrita por Beer (2003) é a negação defensiva, na qual os funcionários

ficam irritados e agressivos, na tentativa de aferrar-se às antigas maneiras de fazer as coisas.

Para superar esta etapa, os líderes devem: proporcionar um escoadouro verbal para os

ressentimentos e angústias serem desabafados; e fazer um esforço para manter os “negadores”

ligados ao grupo a que pertencem. Esta última sugestão é importante porque o grupo funciona

como uma fonte de identidade, segurança e apoio. Cabe aos líderes ajudarem as pessoas a

estabelecerem ligações às outras em suas novas situações.

A terceira etapa é o reconhecimento, em que os colaboradores param de negar a

implementação e passam a reconhecer a nova situação. A dinâmica psicológica desse estágio

compreende ao mesmo tempo o pesar pelo que foi perdido e os sentimentos nascentes de

libertação. Se por um lado os funcionários ainda se sentem como peões em um jogo controlado

por terceiros, começam a enxergar o jogo com um certo grau de distanciamento e objetividade.

Volta a ser possível correr riscos, à medida que se começa a explorar os prós e contras da nova

situação.

51

Para ajudar os colaboradores durante o reconhecimento, os líderes devem: seguir

estimulando que os funcionários ponham para fora suas queixas e frustrações (e ouvi-los);

explorar mais a fundo a coesão do grupo estabelecidas no estágio anterior; estimular as pessoas

a experimentar coisas novas e a correr alguns riscos (cada risco bem sucedido vai gerar

confiança e preparar as pessoas para o estágio final).

O último estágio é a aceitação e adaptação. Em uma implementação bem conduzida, a

maioria dos funcionários aceitará sua nova situação e acabará se adaptando a ela. Para facilitar

esta última etapa, os líderes devem: deslocar o foco dos sentimentos para a ação, fazendo-os

esquecer suas mágoas e inseguranças, que acabarão se dissipando; procurar entender o que cada

um dos subordinados precisa para ter uma sensação de realização, para em seguida dá-los uma

oportunidade de usar suas melhores habilidades e serem reconhecidos.

Por mais perfeita que seja a implementação, sempre existirão alguns funcionários que

simplesmente não conseguem ou não querem se adaptar à nova situação, constituindo-se um

empecilho permanente ao desempenho e lançando uma sombra sobre a unidade de negócios.

Em relação a estes colaboradores, os líderes devem demitir, e depois conduzir o outplacement,

ou seja, dar orientação ao profissional dispensado, preparando-o para novas oportunidades de

mercado.

Por fim, como descrevem Robinson e Schroeder (2006), uma vez implementada a ideia,

é necessário garantir que ela seja de fato continuamente utilizada. É evidente que deve-se

publicamente parabenizar os responsáveis pela geração, seleção e implementação da ideia. Mas

mais do que receber crédito, o que mais vai satisfazer os envolvidos é ver a ideia efetivamente

em ação.

Robinson e Schroeder (2014) afirmam que o ritmo e natureza da implementação do

sistema de gestão de ideias deve ser determinado levando-se em conta o que foi aprendido nas

fases anteriores sobre a cultura, estrutura, tamanho, recursos e estratégia da organização. Um

padrão comum aos casos de sucesso observados pelos autores é a implementação faseada.

Neste modelo, a implementação do sistema em toda a organização é dividida em ondas,

sendo que, em cada uma, apenas alguns departamentos são envolvidos. Um dos motivos é que

cada departamento demandará recursos de suporte durante a implementação e a empresa

dificilmente poderá disponibilizar tais recursos a todos os departamentos de uma só vez.

52

Adicionalmente, a implementação faseada fará com que funções como TI, Manutenção e

Suprimentos se ajustem mais gradualmente à responsabilidade de dar suporte ao sistema.

Outra vantagem da implementação faseada, ainda segundo Robinson e Schroeder

(2014), é que cada lançamento do sistema em certo departamento é beneficiado pela experiência

ganha pelos seus predecessores. Os supervisores e gerentes que já implementaram o sistema

podem ajudar os colegas a superarem obstáculos e dificuldades que eles mesmos já superaram.

Por fim, pode-se deixar para as últimas ondas os departamentos em que a resistência

será maior. Dessa forma, a implementação do sistema nestas áreas será feita em um momento

em que a liderança já aprendeu com os erros e as dificuldades encontradas nas fases anteriores.

Robinson e Schroeder (2014) relembram que todos os envolvidos na implementação

precisam receber treinamento e coaching. Instruções de como conduzir os novos processos de

gestão de ideias e comunicação da importância dos mesmos podem ser dadas em módulos de

treinamento ou workshops. No entanto, é essencial, segundo os autores, seguir com sessões de

treinamento de maneira contínua ao longo da implementação. Tais sessões devem conduzir os

funcionários a não apenas aceitarem como também continuamente melhorarem o sistema de

gestão de ideias.

2.4. Continuamente melhorando um sistema de gestão de ideias

2.4.1. Métricas para controle da performance do sistema

Seguindo-se os passos descritos nas seções anteriores, implementa-se um bom sistema

de gestão de ideias na organização. Entretanto, é fundamental que o sistema seja continuamente

melhorado e refinado. O objetivo é garantir que a empresa mantenha-se inovadora, mesmo que

passe por grandes mudanças. Adicionalmente, a própria cultura da empresa, conforme já

descrito, deve ser voltada para a melhoria contínua de todos os seus processos, incluindo,

obviamente, os de gestão de ideias. Como diz Ishikawa (1993): “Controle de Qualidade é

responsabilidade de todos os trabalhadores e de todas as divisões”.

O primeiro passo, como descrevem Robinson e Schroeder (2006), é garantir que os

gerentes estejam aptos a monitorar a performance do seu sistema de gestão de ideias e

53

continuamente identifiquem oportunidades de melhorá-lo. As métricas necessárias para isso

podem ser divididas em três grandes grupos: a quantidade de ideias, a origem delas, e a

velocidade com que são processadas.

As métricas de quantidade medem o número médio de ideias por empregado em um

certo período de tempo, que pode variar da semana até o ano. Este número é um indicador chave

de quão bem a empresa administra ideias. Adicionalmente, como muitas empresas mantém tais

informações, é simples fazer benchmarks para comparar performance e aprender melhores

práticas.

De fato, mensurar o número de ideias no tempo ajuda uma organização a desenvolver

um entendimento mais profundo das causas dos picos e vales de produção de ideias. Podem ser

relacionadas a fatores sazonais de atividades de negócios, eventos pontuais, ou até mesmo

queda de moral. O conhecimento das causas ajuda os gerentes a melhor alocarem os recursos

para lidar com a escassez de inovação.

Métricas de origem rastreiam de onde as ideias vem. A mais comum é a métrica de

participação, que mede a porcentagem de funcionários de certo departamento que deu suas

ideias em um certo período de tempo, tipicamente um semestre ou um ano. Esta métrica

identifica lacunas na cobertura do sistema de gestão de ideias.

Métricas de velocidade indicam o quão ágil a empresa é em responder a ideias.

Permitem mostrar quanto tempo demora para tomar decisões sobre elas, quão rápido os autores

recebem feedback de suas sugestões, e quão rápida é a implementação. Agilidade é essencial

para manter as pessoas motivadas a participar. É importante lembrar que a velocidade não vem

de alocação massiva de recursos para a implementação. Ela vem do controle gerencial do tempo

que as ideias levam para passar cada estágio do processo, da identificação e rápida eliminação

de gargalos, da construção de confiança mútua entre empregado e gerente, da eliminação de

regras e burocracias supérfluas.

A elaboração das métricas deve seguir o processo proposto por Francischini (2014).

Segundo o autor, o primeiro passo é definir o objetivo da gerência (estratégica, tática ou

operacional). Em seguida, deve-se elaborar os critérios relevantes de interpretação, que são as

variáveis que mostram de que forma os objetivos definidos anteriormente devem ser atingidos.

Finalmente, obtêm-se os KPIs (Key Performance Indicators), que são as métricas, que indicam

como os objetivos são mensurados.

54

Pontes e Barri (2014), em sua apresentação de slides, citam como melhoria importante

do “Projeto Simplificação” da Brasilata a utilização de um sistema eletrônico de coleta de ideias

e cálculo de métricas. Tal sistema garantiu maior agilidade e confiabilidade. Adicionalmente,

tornou mais fácil o trabalho de gerenciar o banco de dados com todas as ideias geradas desde

1987.

Dentre as tarefas relacionadas à gestão do banco de dados, merece destaque a verificação

de ideias repetidas. Pontes e Barri (2014) afirmaram que alguns funcionários enviaram ideias

que já haviam sido enviadas anteriormente, seja por desconhecimento, seja por tentativa de

enganar a gestão. Dessa forma, ter um sistema de apoio à verificação de ideias duplicadas foi

muito importante para não premiar funcionários que não merecessem.

2.4.2. Melhoria contínua da geração de ideias

A geração de ideias é uma parte crucial do sistema e cabe aos gerentes treinar seus

funcionários a atingirem níveis de excelência nesta fase. Como descrevem Robinson e

Schroeder (2006), toda ideia resulta de uma combinação do conhecimento da pessoa diante do

problema ou oportunidade e da perspectiva que ele ou ela trazem para a situação. Aumentar o

conhecimento e a perspectiva significa conscientizar os funcionários de que é possível melhorar

os processos que eles executam rotineiramente.

Segundo Gelb (1998), os gerentes podem utilizar diversas práticas para aumentar o

conhecimento e as perspectivas de seus subordinados. Um primeiro passo é estimular o

intercâmbio de conhecimento entre diferentes departamentos. Estimular a formação de grupos

interdepartamentais de estudo ou de leitura, e promover a rotação de funcionários são formas

de atingir este objetivo. Vale ressaltar que a rotação deve realmente garantir que os envolvidos

vejam o máximo da organização possível, incluindo parceiros, clientes internos e fornecedores.

A exposição a novas perspectivas e conhecimento vai levar a melhores ideias.

Barbieri (2004), ao descrever o caso Copesul, propõe que sejam formados alguns grupos

que se reúnam de maneira temporária, os focus groups. Eles visam auxiliar as pessoas a

internalizar e entender os objetivos propostos e, consequentemente, garantir a adesão ao

processo; assim, os comportamentos são readequados. A Copesul se destacou ainda pela

55

implementação de uma rede de interação entre pessoas para que estas ensinem e aprendam umas

com as outras, com forte participação dos líderes.

Amabile (1998) descreve uma iniciativa interdepartamental da Procter & Gamble, a

Corporate New Ventures (CNV). Trata-se de um time multifuncional que tem como objetivo

inventar novos produtos que construiriam o futuro da empresa. O sucesso da iniciativa, que em

3 anos entregou 11 projetos aos setores específicos para execução, se deve principalmente ao

fato de a Procter já ter uma cultura voltada para a melhoria contínua e confiança mútua entre

gerentes e subordinados. Adicionalmente, os membros da CNV foram autorizados a se

elegerem. Pedir por voluntários foi uma forma de garantir que os membros estivessem

intrinsicamente motivados.

Um segundo passo, segundo Gelb (1998), é promover o ganho de conhecimento fora da

empresa. Para isso, deve-se incentivar os funcionários a participarem de exposições,

workshops, e conferências. Deve-se também aproveitar oportunidades de se visitar outras

empresas, inclusive as que fazem tipos de trabalho bem distintos. Novamente, uma maior

exposição ajudará funcionários a serem criativos.

Hansen e Birkinshaw (2007) propõem uma forma alternativa de se promover o ganho

de conhecimento fora da empresa: a construção de uma rede de descobertas direcionada à

geração de novas ideias pertencentes a domínios específicos de tecnologia ou produto. Os

autores citam o exemplo da Siemens, que desde 1999 mantém uma unidade de quinze pessoas,

a Technology-to-Business (TTB) em Berkeley, Califórnia. Membros da TTB cultivam um

relacionamento pessoal com cientistas, estudantes de doutorado, venture capitalists, e

empreendedores assim como com laboratórios do governo e centros corporativos de pesquisa.

Através de tais relacionamentos, eles aprendem sobre tecnologias emergentes e ideias de

negócios. Muito valor é gerado quando eles conseguem ligar o que aprendem à realidade dos

negócios da Siemens.

Nesta linha de promover o ganho de conhecimento fora da empresa, Chesbrough (2008)

propõe a open innovation. Tal estratégia é entendida como a utilização de fontes internas e

externas de oportunidades de inovação, a integração da exploração de tais fontes com as

capacidades e recursos da empresa, e a exploração de tais oportunidades através de múltiplos

canais. As fontes externas incluem clientes, competidores e instituições acadêmicas.

56

Chesbrough (2008) cita como principais vantagens do open innovation: redução de

custos de P&D; incorporação dos clientes cedo no processo de desenvolvimento;

aumento na precisão de pesquisa de mercado e customer targeting; potencial de sinergia entre

inovações internas e externas. No entanto, o autor aponta também algumas desvantagens. A

principal delas é o compartilhamento de informações que não poderiam ser expostas, por

exemplo por representarem vantagem competitiva da empresa.

Para gerenciar o compartilhamento de informações, Chesbrough (2008) recomenda que

as empresas não impeçam o fluxo de informações para fora de si, mas maximizem os retornos

econômicos resultantes de aplicações comerciais de tais informações. Uma das maneiras de se

atingir tal objetivo é patentear as ideias de forma agressiva, o que permitiria inclusive que a

empresa as disseminasse, garantindo um fluxo de royalties caso as ideias sejam adotadas.

A empresa deve identificar quais informações de fato agregam valor a seu negócio e

representam vantagem competitiva, para priorizar o que vale o esforço de ser protegido, e o que

pode ser compartilhado livremente no relacionamento com open innovation stakeholders. Por

exemplo, como descreve Chesbrough (2008), vendedores de sistemas de Tecnologia de

Informação disseminam amplamente conhecimento sobre construir complementos que

aumentam o valor dos produtos de sua empresa, mas protegem agressivamente a informação

necessária para construir complementos dos competidores, através de patentes, leis de direitos

autorais, dentre outros.

Outra abordagem proposta por Chesbrough (2008) é desenvolver políticas para licenciar

o conhecimento tácito e participar ativamente no sucesso das perdas de recursos chave. Por

exemplo, caso funcionários que detenham um conhecimento chave da empresa decidam sair e

fundar a própria companhia, tais políticas podem garantir que a organização participe do

sucesso comercial das novas start-ups, através de licenciamento, joint ventures, spin offs, dentre

outras.

Por fim, Chesbrough (2008) recomenda que os líderes se esforcem para convencer os

funcionários que a serem inovadores de forma contínua. O autor ressalta que os líderes devem

encorajar os colaboradores a conduzir experimentos, fazer descobertas, mudar pontos de vista

e aprender a apreciar os frutos da própria criação, a valorizar a recompensa resultante da criação

e recriação.

57

2.4.3. Promoção da melhoria contínua na organização

Segundo Gelb (1998), em um sistema de gestão de ideias deve-se ressaltar a importância

de direcionar esforços para incorporar a melhora contínua na cultura organizacional. A

habilidade de perceber um problema específico ou oportunidade vem do quão alerta a pessoa

está. É necessário disciplinar todos a notar exceções, registrar o que observam, e gastar tempo

estudando no detalhe o problema ou oportunidade.

É sempre importante ressaltar que a melhoria contínua só é possível se todos os

funcionários da organização estiverem dispostos a aprender sempre, a desejar o enfrentamento

das mudanças impostas por um mundo dinâmico que cerca a empresa. De fato, como afirma

Drucker (1975), “a Organização Inovadora requer um ambiente de aprendizado por toda a

empresa. Cria e mantém um aprendizado contínuo. Ninguém tem permissão de se considerar

‘pronto’, em qualquer época. O aprendizado é um processo contínuo para todos os membros da

Organização. ”

Gelb (1998) relembra ainda que a mudança leva à necessidade de mais mudança.

Infelizmente, a força do hábito muitas vezes cega as pessoas à importância das mudanças

subsequentes. Sempre que uma mudança ocorrer, deve-se perguntar quais oportunidades esta

nova mudança cria.

Uma técnica famosa relacionada à melhoria contínua e à geração de ideias é o design

thinking. Brown (2010) afirma que seu objetivo é atender às necessidades dos clientes com o

que é factível tecnologicamente e viável como estratégia de negócios. O autor enfatiza, ainda,

que ao ensinar design thinking, líderes promoverão na sua organização melhores práticas de

inovação, tendo como base os métodos de geração, seleção e implementação de ideias utilizados

por designers.

Brown (2010) cita uma série de práticas seguidas pelos design thinkers nos momentos

de inovação. A primeira dela é estimular os questionamentos. Todos os funcionários devem ser

encorajados a perguntar o porquê, a entender os objetivos de suas tarefas e porque os processos

ocorrem da forma que ocorrem. A segunda prática descrita por Brown (2010) é incentivar a

observação de fatos corriqueiros. O objetivo é impedir que os funcionários caiam na armadilha

de não notar pequenas oportunidades de melhoria por estarem muito acostumados com os

processos do jeito que são, sem observá-los.

58

A terceira prática é visualizar as observações e ideias. Registrar o que foi aprendido com

a contestação e a observação da rotina é essencial para expor aos colegas e fomentar uma busca

conjunta de soluções. A quarta prática é desenvolver as ideias alheias, é entender que o objetivo

é atingir metas agregadas do departamento, e não competir com os colegas. Deve-se, inclusive,

mostrar como a competição pode dificultar o atingimento de metas coletivas.

A quinta prática descrita pelo autor é buscar a maior diversidade possível de opções para

melhorar. É não se contentar com a primeira boa ideia e seguir levantando novas formas de

resolver problemas. Os prazos finais devem ser os parâmetros utilizados para saber quando

parar. A sexta prática é organizar todos os registros feitos, montando um documento final, que

permita que o funcionário, ao final do projeto, entenda tudo o que foi feito e o que pode ser

melhorado, para que erros nos processos do design thinking não se repitam no futuro, para que

o aprendizado seja concreto.

Do ponto de vista organizacional, Beer (2003) recomenda ainda que cada unidade

operacional conte com uma equipe encarregada de supervisionar regularmente as funções-

chave da divisão. Esse grupo deve incluir pessoas de diferentes níveis hierárquicos e

competências com revezamentos periódicos. O foco de avaliação do grupo deve ser nos

processos internos essenciais, buscando sempre torná-los os mais rápidos, flexíveis e eficientes

possível.

Do ponto de vista cultural, Barbieri (2004), ao descrever o caso Brasilata, mostra que

uma das melhores formas de garantir a melhoria contínua é incentivar as pessoas a enfrentarem

os problemas abertamente, ou seja, ao invés de evitar os conflitos, colocá-los em aberto para

serem solucionados. Cada time é responsável pelo controle dos conflitos; a hierarquia não atua

como condutora da solução para os conflitos, mas sim como facilitadora. Essa postura leva os

grupos a discutir os problemas sempre confiando na outra parte e tendo empatia com o outro

grupo.

Finalmente, do ponto de vista estratégico, Collins e Porras (1995) afirmam que as

empresas de êxito duradouro, como Hewlett – Packard e Johnson & Johnson, possuem valores

essenciais, finalidades primárias e ideologias que permanecem imutáveis ao longo do tempo,

ainda que suas estratégias, linhas de produtos e métodos operacionais adaptem-se

constantemente ao mundo em constante mudança. Esses elementos, segundo os autores,

permitem que a organização se mantenha coesa e ao mesmo tempo cresça, descentralize-se,

59

diversifique-se e expanda-se globalmente, além de promoverem a diversidade no ambiente de

trabalho.

Dessa forma, é preciso identificar os valores essenciais, finalidades primárias e

ideologias da empresa. Se forem fortes, terão condições de funcionar como os alicerces

necessários para que as pessoas se mantenham saudáveis e dispostas em ambientes de mutação

acelerada.

60

61

3. Diagnóstico da situação atual

O início do projeto consistiu em comunicar qual o objetivo e o plano do trabalho a todos os

stakeholders chave que serão envolvidos ou influenciados pelo sistema de gestão de ideias.

Dessa forma, foram agendadas reuniões com os principais envolvidos no projeto. Os dois

principais são o diretor executivo administrativo, que é o líder, e o autor do presente Trabalho,

que é o executante. Em todas as reuniões, ambos estiveram presentes. A presença do líder foi

essencial para mostrar o comprometimento dos executivos com o projeto, e reforçar seu

alinhamento com a estratégia da empresa.

A estrutura organizacional da Fundação Vanzolini e os setores que serão escopo do

presente trabalho encontram-se descritos em detalhes na figura 11. Vale ressaltar que o

planejamento do sistema de gestão de ideias levou em consideração o fato de que a Fundação

tinha uma cultura que estimulava pouco a inovação. Por este motivo, como será abordado na

discussão de Hansen et Birkinshaw (2007) na seção “Revisão Bibliográfica” deste projeto,

procurou-se criar as condições organizacionais para que o sistema pudesse ser posteriormente

implementado. Em outras palavras, planejou-se o início do processo de inovação agregando o

mínimo possível de complexidade ao dia a dia das pessoas, para minimizar focos de resistência.

Adicionalmente, como propõem Hansen et Birkinshaw (2007), procurou-se envolver

um número menor de pessoas no começo, sem nenhum recurso dedicado em tempo integral.

Por este motivo, apenas as diretorias “Administrativo”, “Educação” e “Financeiro” foram

envolvidas a princípio.

62

Figura 11 - Organograma da Fundação Vanzolini

Fonte: Diretoria executiva administrativa (2014)

As áreas envolvidas no projeto piloto se localizam em três unidades da Fundação

Vanzolini. A tabela 2 fornece uma breve descrição de cada unidade.

Unidade Descrição

USP É o local de trabalho do diretor executivo administrativo e da gestora

de Secretarias. A unidade USP também concentra os funcionários de

Educação responsáveis pelos cursos ministrados no local.

Alberto Seabra Localizada na rua Alberto Seabra, a unidade é o local de trabalho da

equipe financeira, de recursos humanos e de Projetos/Novos Negócios.

Paulista Localizada na Avenida Paulista, a unidade concentra os funcionários

de Educação responsáveis pelos cursos ministrados no local

Tabela 2 – Descrição das unidades da Fundação Vanzolini envolvidas no trabalho

Fonte: Diretoria executiva administrativa (2014)

O passo seguinte foi coletar os dados necessários para se ter um panorama exaustivo das

atividades dos setores do escopo. As informações levantadas são descritas em detalhes nas

subseções 3.1. e 3.2. deste relatório.

63

3.1.Situação atual segundo os executivos

O executivo entrevistado na fase de diagnóstico do Trabalho foi o presidente da

entidade. A reunião foi feita às 17h do dia 20 de maio.

A comunicação do projeto foi feita mais em alto nível, em comparação com as efetuadas

com os gerentes. Houve um foco maior em apresentar os resultados esperados do projeto, e o

esforço que se exigira da organização, sem entrar no nível máximo de detalhe. A recepção do

projeto pelo executivo foi empolgante, com apoio aos objetivos e ao cronograma.

O passo seguinte foi validar, com o presidente, o alinhamento do projeto com a

estratégia da Fundação. O presidente confirmou que havia sim o interesse em associar a marca

Vanzolini com inovação, em fazer a Fundação ser reconhecida por gerar produtos e serviços

inovadores.

Por outro lado, o presidente levantou um risco do projeto: o fato de a cultura da

Fundação não estimular, historicamente, a inovação. Como revelou o professor, os funcionários

estavam acostumados a seguir rotinas rígidas e executar seus processos de maneira passiva, sem

procurar melhorias. Tais hábitos levaram a Fundação, segundo ele, a ser reconhecida pela

tradição e qualidade de seus produtos e serviços, mas não pela inovação. Dessa forma, ele

concordou plenamente com a abordagem proposta, de um trabalho colaborativo, em que

stakeholders são envolvidos, comunicados e participam das decisões ao longo do projeto, e os

processos de gestão de ideias são adaptados à realidade da empresa.

O presidente apontou a necessidade de um mapeamento de macroprocessos na área de

Educação, para alinhá-los com os processos de gestão de ideias proposto. De fato, segundo o

executivo, tal área, além de ser chave na organização, tinha maior complexidade de processos

e relações entre departamentos e clientes, e tradicionalmente pouco inovava, o que poderia gerar

dificuldades para a implementação do projeto.

64

3.2.Situação atual segundo as áreas envolvidas

O líder auxiliou a agendar as reuniões de apresentação do projeto e diagnóstico da

situação atual com os gestores das áreas envolvidas. Adicionalmente, uma reunião foi feita com

o responsável pelo mapeamento de processos anterior da Fundação Vanzolini.

A comunicação do projeto em todas as reuniões foi feita de modo a deixar claro desde

o início os objetivos do trabalho e como ele iria influenciar a rotina de ambos os setores. As

mensagens principais transmitidas foram que o projeto permitiria, sem aumento significativo

de custos, tornar os departamentos mais inovadores e mais engajados a buscar a melhoria

contínua, através do levantamento de soluções criativas para problemas rotineiros.

Adicionalmente, procurou-se ressaltar que o trabalho não visava avaliar nem reduzir o

quadro de funcionários, e estava alinhado com o presidente. O cronograma de atividades

também foi apresentado, de modo a conscientizar os stakeholders a respeito do esforço que

seria demandado ao longo do ano. A recepção foi bastante positiva, pois todos concordaram

com a importância do projeto e com o plano de Trabalho apresentado.

O passo seguinte foi entender os processos que cada departamento executava. O objetivo

principal era compreender em que medida as melhores práticas de inovação levantadas na

bibliografia se encaixam na realidade da empresa. Adicionalmente, procurou-se entender que

mecanismos poderiam ser instituídos na Fundação para estimular uma cultura de estímulo à

criatividade.

Conforme havia sido alertado pelo presidente, a área de Educação foi a que mais

forneceu detalhes e complexidade a respeito dos processos. Na reunião de apresentação e

diagnóstico, o gerente da área de Educação forneceu primeiramente uma descrição em alto nível

a respeito do papel de cada departamento na interação com os clientes, bem como as principais

oportunidades de melhoria. Em sua descrição inicial, o gerente de Educação dividiu os clientes

em dois grupos: os alunos dos cursos oferecidos pela Fundação Vanzolini na própria Fundação,

e os cursos in company. Em seguida, revelou as interações de cada grupo de cliente tanto com

departamentos de front office, como dos funcionários responsáveis pelo atendimento na

secretaria acadêmica, como com os de back office, como TI, Comunicação e parte da secretaria

acadêmica. Adicionalmente, ele revelou na reunião inicial, em alto nível, como os diferentes

departamentos se relacionam para atender os clientes da área.

65

O gerente de Educação destacou uma grande oportunidade de melhoria no atendimento

no momento em que o aluno aguarda uma resposta da secretaria, nos casos em que ela depende

do back office para atender à solicitação. De fato, segundo o gerente, muitos alunos solicitavam

serviços que precisavam ser executados ou aprovados por outros departamentos. A espera por

uma resposta costumava ser angustiante para o aluno, em particular por não saber o resultado

nem quando sua solicitação seria cumprida.

Adicionalmente, a secretaria se limitava a aguardar a resposta do back office, sem de

alguma forma agir para aliviar a ansiedade dos alunos. Dessa forma, quando o aluno pedia para

postergar o pagamento de um boleto de um curso, ou desejava que sua nota fosse divulgada,

enquanto os responsáveis (departamento financeiro e professores, respectivamente) não davam

retorno, a secretaria ouvia as reclamações dos alunos sem agir.

O gerente destacou ainda que o front office tinha que gerenciar a demanda dos alunos

versus a demanda dos professores e coordenadores de curso. Tal fato só não ocorria no caso

dos cursos in company¸ nos quais os professores interagem diretamente com os alunos em

questões normalmente delegáveis para a secretaria.

Por fim, o gerente citou algumas situações em que muitos funcionários deixavam de

agir por não terem confiança ou experiência. Um caso de destaque se refere aos coffee breaks

fornecidos pela Fundação Vanzolini nos cursos da unidade Paulista. Havia um curso que se

encerrava às 15h com direito a coffee break e outro às 15h15 sem os lanches. O professor do

curso das 15h se atrasou e só liberou os alunos às 15h30. Assim, quando os alunos das 15h15

saíram da aula e viram os lanches prontos, consumiram todos. Dessa forma, quando os alunos

do curso que tinha direito a coffee break saíram e não encontraram os lanches, protestaram

bastante. Muitos funcionários da Vanzolini perceberam a situação, mas não agiram, não

tentaram resolvê-la, por falta de confiança e de experiência para lidar com a situação.

Percebe-se, portanto, que um grande problema dos departamentos de front office da

Fundação Vanzolini era a falta de iniciativa da secretaria em resolver os problemas. Dentre os

motivos para a falta de proatividade, destacam-se: espera por ordens dos chefes para agir, falta

de recursos ou do conhecimento necessário.

Outro ponto destacado pelo gerente foram as reclamações dos funcionários da linha de

frente, em particular da secretaria, a respeito da postura dos alunos. Muitos diziam que os alunos

eram “displicentes, muito exigentes, mal educados”, dentre outros. Ele destacou que outra

66

oportunidade de melhoria seria verificar em que medida a “culpa” pela má interação era

responsabilidade do aluno, ou deles mesmos. Para isso, sugeriu que cada funcionário se

colocasse no lugar do aluno e compreendesse como agiria e reagiria diante de situações como

atrasos no atendimento a solicitações.

A reunião de apresentação e diagnóstico realizada com o responsável por processos foi

fundamental para o autor compreender os processos de cada área, sob a ótica de quem fizera

um trabalho de mapeamento na Fundação Vanzolini. Dentre os dados fornecidos, destacam-se

um conjunto de fluxogramas que descrevem a ordem dos processos que compõem cada

macroprocesso, bem como as áreas responsáveis. Tais dados foram essenciais para o autor

utilizar, posteriormente, ferramentas como os modelos BARCO e PIER.

O responsável pelos processos destacou, ainda, que iniciativas de mapeamento de

processos já haviam sofrido forte resistência na Fundação Vanzolini. O primeiro motivo,

segundo ele, é que muitos funcionários viam tais iniciativas como formas de avaliar seu

desempenho e redimensionar equipes, o que os deixava desconfortáveis ou receosos. Outro

motivo é que muitos não tinham o hábito de pensar no que poderia ser melhor para a

organização como um todo, e se limitavam a pensar na realidade do próprio departamento.

67

4. Elaboração do sistema de gestão de ideias

4.1.Criando as condições organizacionais para uma cultura voltada para a inovação

O primeiro passo foi planejar como convencer os funcionários de que o sistema de

gestão de ideias só é possível com uma mudança cultural. A implementação de processos de

gestão de ideias só foi viável com a transição de uma cultura pouco voltada para a inovação,

como era o caso da Fundação Vanzolini, para uma que tem fatores como melhoria contínua,

criatividade, autonomia e confiança mútua como pilares.

No planejamento da cultura de estímulo à criatividade, a premissa básica é a de que o

funcionário tem pleno conhecimento de suas tarefas; tem expertise dos processos pelo qual é

responsável. Dessa forma, o foco foi entender como melhorar os componentes “motivação” e

“pensamento criativo” de Amabile (1998) na FCAV, conforme ilustra a figura 12.

Figura 12: Fatores essenciais para a criatividade

Fonte: Amabile (1998)

A criação da cultura voltada para a inovação seguiu dois passos: definição dos pontos a

serem comunicados, e desenvolvimento de uma forma de comunicá-los mitigando possíveis

resistências.

Com relação ao primeiro passo, o autor considerou importante ensinar os funcionários

a avaliar criticamente suas tarefas, notar exceções, e estudar no detalhe as oportunidades de

68

melhoria identificadas. Adicionalmente, é essencial celebrar quando uma melhoria é

implementada, e preparar as equipes a enfrentar as mudanças impostas por um mundo

dinâmico. Por fim, deve-se lembrar a gerência que a mudança leva à necessidade de mais

mudança. Em outras palavras, ressaltar que, sempre que uma mudança ocorrer, deve-se avaliar

quais novas oportunidades foram criadas.

Ainda em relação ao componente “pensamento criativo”, de Amabile (1998), uma

técnica que o autor planejou ensinar é a open innovation. Como expõe Chesbrough (2008),

algumas iniciativas que podiam ser contadas são:

I. Reuniões interdepartamentais, para estimular a discussão sobre temas como o

atendimento ao cliente.

II. Formulários de feedback de atendimento, preenchidos pelos clientes

Por fim, foi importante ressaltar que o sucesso da open innovation requer um boa gestão

do compartilhamento de informações. Por um lado, informações sensíveis, confidenciais, ou

que representem uma vantagem competitiva da Fundação Vanzolini não podem ser reveladas.

Por outro, um bom relacionamento com stakeholders internos e externos pressupõe confiança

mútua, e compartilhamento de informações necessárias para discussões e aprendizado.

Com relação ao componente “motivação”, de Amabile (1998), o autor planejou

promover um ambiente colaborativo na organização. Dentre as principais características deste

ambiente, destacam-se:

Funcionários devem dar suporte às ideias de colegas, baseando-se sempre na

missão, visão e valores da organização, e buscando atingir metas.

Os processos de geração, seleção e implementação de ideias não podem ser

muito complexos ou burocráticos

Líderes devem ouvir com atenção cada ideia, e dar feedback rapidamente. No

caso de feedback positivo, celebrar junto com os responsáveis pela ideia, e

mostra efetivo engajamento em sua implementação e difusão pela organização.

No caso de feedback negativo, explicar claramente os motivos da não seleção da

69

ideia, e seguir incentivando os membros a participar do sistema de gestão de

ideias.

Líderes devem fornecer com eficiência os recursos necessários caso se decida

implementar a ideia.

Seguindo a orientação de Hansen et Birkinshaw (2007), o autor planejou comunicar a

todos o apoio executivo ao projeto, bem como seu champion. Trata-se do diretor administrativo,

que em todos os workshops, fez questão de assumir a posição de líder do projeto, e se colocou

à disposição para solucionar eventuais dúvidas.

O último conceito necessário para a motivação cuja comunicação foi planejada é o de

empowerment. Conforme explicado por Robinson et Schroeder (2006), o objetivo foi conceder

autonomia para membros das equipes identificarem e resolverem problemas.

4.2.Desenho do sistema de gestão de ideias

Na fase de desenho inicial do sistema, o autor constatou, a partir das reuniões com

gestores e executivos, descritas na seção 3, que era importante desenvolver todos os elos da

cadeia de valor da inovação de Hansen et Birkinshaw (2007). Afinal, todos os funcionários

apontaram dificuldades técnicas e culturais na geração, seleção e implementação de ideias,

principalmente com relação à geração.

O sistema de gestão de ideias da Fundação Vanzolini, assim, foi dividido em três partes:

geração, seleção e implementação de ideias. Em cada uma delas, desenvolveu-se um

subsistema, composto por técnicas, processos, indicadores de desempenho, mecanismos de

interação entre departamentos para se superar tanto barreiras técnicas como culturais. A

principal base para o desenho inicial do sistema de gestão de ideias foi o mapeamento por

macroprocessos. Afinal, ele permite a elaboração de processos, técnicas e métodos de geração,

seleção e implementação de ideias (e o controle de sua performance) levando-se em

consideração em que medida eles influenciam as tarefas rotineiras dos departamentos.

70

4.2.1. Elaboração das métricas do sistema de gestão de ideias

As métricas de quantidade, velocidade e origem específicas de cada departamento

devem ser definidas pelos executivos e gestores, com base em seus objetivos. A tabela 3 mostra

a elaboração de indicadores segundo a orientação de Francischini (2014).

Objetivos Critérios Relevantes

de Interpretação

Indicadores de

Desempenho

Método de cálculo

Alcançar as

referências na

indústria quanto à

geração de ideias

Aumentar a

quantidade de ideias

geradas por

funcionário

Número de ideias

médio gerado por

funcionário (métrica

de quantidade)

(Soma das ideias

geradas na FCAV) /

(Número de

funcionários)

Ser o departamento

que melhor contribui

para a geração de

ideias

Aumentar a

quantidade de ideias

geradas por

funcionário no

departamento

Número de ideias

médio gerado por

funcionário do

departamento

(métrica de origem)

(Soma das ideias

geradas pelo

departamento) /

(Número de

funcionários do

departamento)

Ser o departamento

cujos funcionários

mais contribuem

com ideias válidas

Aumentar a % de

ideias selecionadas

em relação ao

número de ideias

geradas no

departamento

% de ideias

selecionadas em

relação ao número de

ideias geradas

(métrica de origem)

(Número de ideias

médio selecionado

por funcionário do

departamento) /

(Número de ideias

médio gerado por

funcionário do

departamento)

Ser o departamento

que implementa mais

rapidamente as ideias

Diminuir o tempo de

implementação das

ideias no

departamento

Tempo de

implementação

médio das ideias

referentes ao

departamento

(métrica de

velocidade)

(Soma do tempo de

implementação das

ideias referentes ao

departamento) /

(Número de ideias

selecionadas por

departamento) Tabela 3: Elaboração de indicadores para atender a objetivos do sistema

O autor desenvolveu um modelo no software Microsoft Excel que automatiza a geração

de tabelas referentes aos principais indicadores de desempenho. Os dados de entrada do modelo

em Excel são as ideias fornecidas pelos funcionários. No caso do formulário online, os

funcionários precisavam apenas baixar os resultados do Google Forms e copiar e colar nas

células das colunas A:F (mostradas na figura 13). O passo seguinte é classificar cada ideia

segundo o macroprocesso, o elemento do modelo BARCO e do modelo PIER correspondente,

nas colunas G:I (também mostradas na figura 13).

71

Figura 13: Template dos dados de entrada do Modelo Excel “Banco de ideias”

Após o fornecimento dos dados de entrada, o modelo calcula os principais indicadores,

utilizando fórmulas análogas às apresentadas na tabela 3. As figuras 14, 15 e 16 mostram os

resultados obtidos, por semana, pois esta é a frequência das reuniões periódicas com gestores

das áreas.

Figura 14: Template das métricas de quantidade calculadas pelo modelo

Figura 15: Template das métricas de origem calculadas pelo modelo

Figura 16: Template das métricas de velocidade calculadas pelo modelo

72

A principal forma de se avaliar as métricas de gestão de ideias é comparando-as a seus

valores históricos, devido à ausência de valores de referência disponíveis. Dessa forma, pode-

se obter a % de variação semanal e definir se a performance foi boa, ou por quanto tem que ser

melhorada.

Percebe-se, portanto, que o modelo Excel elaborado permite que o gestor rapidamente

obtenha todos os dados que precisa para atualizar semanalmente modelos como PIER e RAIAS

(descrito na seção seguinte). Tais modelos seguem a legenda da tabela 4.

Tabela 4: Legenda dos templates BARCO, PIER, RAIAS, Service Blueprint e Disney Matrix

4.2.2. Mapeamento de macroprocessos - modelos BARCO e PIER

Conforme explicou o responsável por processos na FCAV, a sequência e os

responsáveis de cada macroprocesso da área de Educação já haviam sido mapeados.

Adicionalmente, a sequência de processos que compõe cada macroprocesso também já havia

sido feita. No entanto, fatores como indicadores, metas e balizadores de mercado não haviam

sido levantados.

Dessa forma, o autor, a partir do mapeamento já feito, elaborou um modelo BARCO

para cada macroprocesso. A elaboração do modelo foi restrita ao nível dos macroprocessos.

Afinal, no nível abaixo (processos componentes de cada macroprocesso), o levantamento de

fatores como indicadores, equipamentos e recursos humanos não agrega mais valor, pois o grau

de detalhe e especificidade é muito alto. O uso do modelo BARCO a nível de macroprocessos,

para a realidade deste trabalho, é viável e indica de que maneira a gestão de ideias (e de controle

de sua performance) poderiam se relacionar com os macroprocessos rotineiros.

O modelo BARCO foi usado pelo autor para o desenho do sistema. Vale lembrar, por

outro lado, que o modelo mais apropriado para discussão com stakeholders é o PIER, conforme

73

descrito por Alvarenga-Netto (2004) na revisão bibliográfica. Por este motivo, o autor elaborou

um modelo PIER para cada macroprocesso, o que constituiu tarefa rápida, pois o modelo PIER,

de certa forma, é uma versão simplificada do modelo BARCO.

O conjunto de informações fornecido pelos modelos permite também elaborar processos

para controlar a performance do sistema de gestão de ideias. Em outras palavras, torna-se

possível entender como medir métricas de quantidade, origem e velocidade das ideias, de

Robinson et Schroeder (2006), dentro do contexto das tarefas rotineiras executadas pelos

departamentos.

O autor planejou apresentar os modelos PIER aos executivos. Afinal, eles são

ferramentas que fornecem uma visão do todo e detalham as inter-relações entre os

departamentos. Tal visão sistêmica, em conjunto com os valores das métricas do sistema

coletados a cada semana, permite que os executivos gerenciem o sistema. Em outras palavras,

permite identificar oportunidades de melhoria e comunica-las a seus subordinados. Outras

técnicas e métodos que auxiliam os executivos a direcionar o sistema de gestão de ideias, como

o modelo RAIAS de Alvarenga-Netto (2004), Service Blueprint e Matriz de Integração do

Disney Institute, foram elaboradas, conforme ilustrado nas seções 4.2.3, 4.2.4 e 4.2.5. já que a

elaboração dos templates pode ser baseada nos dados utilizados no mapeamento de

macroprocessos.

A primeira versão dos modelos PIER foi elaborada inteiramente pelo autor, com dados

fornecidos pelos stakeholders. Dessa forma, seguiu-se a recomendação de Hansen et

Birkinshaw (2007), de minimizar o impacto dos novos processos na rotina nos estágios iniciais

de desenvolvimento do sistema de gestão de ideias. Vale ressaltar, por outro lado, que os

modelos elaborados pelo autor devem ser atualizados, à medida que ideias são implementadas

e processos são modificados.

Os modelos obtidos com o mapeamento de todos os macroprocessos estão no apêndice

A do relatório. Eles foram elaborados utilizando-se o software Microsoft Power Point porque

os slides foram apresentados para serem validados com stakeholders chave.

A título de ilustração, o autor irá descrever a elaboração do sistema de gestão de ideias

para o macroprocesso “atender o aluno”. Tal metodologia foi aplicada de maneira análoga à

todos os macroprocessos do escopo do projeto.

74

O primeiro passo para elaborar o modelo BARCO foi analisar os fluxogramas dos

processos relacionados a “atender o aluno”. Tal observação permitiu que o autor levantasse a

sequência e detalhes das tarefas, bem como as áreas envolvidas.

O passo seguinte é levantar os dados ou análises faltantes para a elaboração do modelo

BARCO. Informações como recursos humanos e tecnologia foram obtidos em entrevistas com

responsáveis pelas áreas envolvidas.

A figura 17 mostra o modelo BARCO elaborado para o macroprocesso “atender o

aluno”. Pode-se notar que, sobre cada elemento do modelo BARCO (como procedimentos,

tecnologia, dentre outros), há um painel, que resume as métricas do sistema de gestão de ideias.

As cores dourada, prata e roxo representam, respectivamente, a quantidade total de ideias a

respeito do elemento, a quantidade de ideias gerada pelo responsável pelo departamento, e o

tempo de implementação médio das ideias.

Figura 17: Template do modelo BARCO elaborado (macroprocesso “atender o aluno”)

O modelo PIER, elaborado a partir do BARCO, é a forma mais adequada de discutir as

métricas com os gestores, devido ao seu caráter mais didático, como explica Alvarenga-Netto

(2004). O modelo elaborado para o macroprocesso “atender o aluno” está na figura 18.

75

Uma explicação mais detalhada dos modelos será dada na seção 5 do presente relatório.

O conjunto completo de modelos BARCO e PIER para cada macroprocesso da FCAV se

encontra no apêndice A, seção “modelos BARCO e PIER”. No apêndice, os modelos já são

apresentados em conjunto com as métricas finais do projeto piloto.

Figura 18: Template do modelo PIER elaborado (macroprocesso “atender o aluno”)

4.2.3. Elaboração do modelo RAIAS

As relações de dependência entre os macroprocessos, ilustradas por setas, foram obtidas

com base nas informações de “entrada” e “saída” de cada modelo BARCO, presentes no

apêndice A. A obtenção dos valores das métricas por macroprocesso foi descrita na seção 4.2.2.

A figura 19 mostra o modelo RAIAS obtido para a Fundação Vanzolini. O significado das

métricas presentes no modelo RAIAS será esclarecido na seção 5.

76

Figura 19: Template do modelo RAIAS elaborado

4.2.4. Elaboração do Service Blueprint

O primeiro passo para elaborar o Service Blueprint foi classificar cada

macroprocesso em três grupos: ações dos funcionários visíveis aos clientes, ações dos

funcionários não visíveis aos clientes, e processos de suporte. O passo seguinte foi mapear

as evidências físicas e ações dos clientes correspondentes a cada macroprocesso. Ambos os

passos foram executados com dados coletados através de entrevistas com o gerente de

Educação e mapeamento prévio de processos. Os resultados são mostrados na figura 20. O

significado das métricas presentes no modelo Service Blueprint será esclarecido na seção 5.

77

Figura 20: Template do Service Blueprint elaborado

4.2.5. Elaboração da Matriz de Integração

O primeiro passo adotado foi determinar os padrões de atendimento. Quatro

padrões foram propostos: diligência, agilidade, cortesia, engajamento. O presidente da

entidade os aprovou, mas solicitou que o termo “diligência” fosse substituído por outro,

que deixasse mais claro seu significado. Por este motivo, o autor substituiu este termo

por “zelo”.

Por fim, o Disney Institute (2011) propõe determinar os sistemas de atendimento.

Os stakeholders supracitados e o autor decidiram utilizar três sistemas: “funcionários”,

“ativos físicos” e “processo” (ações, mudanças ou funções combinadas para produzir

um resultado). A figura 21 mostra a Matriz de Integração. O significado das métricas

presentes no modelo será esclarecido na seção 5.

78

Figura 21: Template da Matriz de Integração elaborado

4.2.6. Subsistema “Geração de ideias”

O subsistema “Geração de ideias” é composto por processos que representam um meio

simples de cada funcionário fornecer ideias para a organização. No caso da Fundação

Vanzolini, enviou-se o formulário da figura 22 para o email de todos os funcionários das áreas

envolvidas.

79

Figura 22: Formulário online utilizado pelos funcionários para fornecer ideias

O formulário online consiste em uma ferramenta simples e prática, que pode ser

acessada a qualquer momento pelo funcionário. O autor decidiu não solicitar informações

complexas, como projeção de custos da ideia, pois isso desestimula a participação no sistema

de gestão de ideias.

Os funcionários foram estimulados a fornecer ideias não apenas referentes ao seu

próprio departamento, mas também em relação a outras áreas da empresa. De fato, muitas vezes

observadores externos de uma área, principalmente se forem clientes internos dela, tem

contribuições valiosas para fornecer. Por este motivo, o campo “responsável por implementar

a ideia” foi incluído no formulário.

Formulários escritos também foram disponibilizados, na secretaria de cada unidade

envolvida. O objetivo foi permitir que os funcionários fornecessem desenhos para

complementar a descrição da ideia proposta, caso desejado. A figura 23 mostra o formulário

utilizado.

80

Figura 23: Formulário escrito utilizado pelos funcionários para fornecer ideias

O autor e o diretor executivo administrativo decidiram permitir que grupos de até quatro

funcionários fossem montados para a geração de ideias. Tal ideia, feita com base em

Chesbrough (2008), tem como objetivo estimular interações interdepartamentais, uma forma de

open innovation, além de reduzir o risco de competição agressiva entre funcionários.

Pontes et Barri (2014) revelaram, como descrito na revisão bibliográfica, o risco de

funcionários enviarem denúncias ou reclamações pelos formulários. Para evitar gerar

desconforto e ruído na organização, o diretor comunicou em todos os workshops durante a

implementação que tanto o autor como o alvo da denúncia não seriam expostos, e que ele

assumiria o compromisso de garantir total confidencialidade das ideias.

4.2.7. Subsistema “Seleção de ideias”

O subsistema “Seleção de ideias” é composto por um conjunto de processos que tem

como objetivo garantir que as ideias geradas sejam avaliadas e filtradas de maneira eficiente e

81

justa. Eles podem ser divididos em três partes: filtro inicial, conversa detalhada com autor da

ideia, e decisão final. Cada parte será detalhada nos três parágrafos seguintes.

O filtro inicial deve ser conduzido pelos gestores de cada área em reuniões periódicas

semanais. O objetivo é ler cada ideia fornecida durante a semana, e descartar as que não podem

ser implementadas, por não serem viáveis economicamente ou não agregarem valor. Os

gestores devem também identificar e conversar com os funcionários que usaram os formulários

indevidamente, tentando “empurrar” suas responsabilidades para outra área, fazendo

reclamações ou denúncias sem fundamentos, ou tentando enviar uma ideia já implementada.

As ideias pré selecionadas devem ser discutidas pelo gestor com o autor da ideia. O

objetivo é entender em detalhes os benefícios e custos, e definir uma forma de mensurá-los, se

necessário. Adicionalmente, deve-se estimar prazos, áreas envolvidas e formas para mensurar

os resultados. Com tais estimativas, é possível tomar uma decisão final a respeito do projeto (se

é levado para frente, postergado ou abortado).

O autor planejou relembrar cada stakeholder, ao final da reunião periódica semanal, que

cada autor de ideia deveria receber feedback:

• Caso a ideia tenha sido aprovada para implementação ("sim" na coluna

"Implementar?"), o autor deve ser parabenizado. Em seguida, deve ser orientado a

respeito dos próximos passos que deve adotar para planejar e executar a implementação.

• Caso uma decisão final não tenha sido tomada (em branco na coluna "Implementar?")

porque faltam esclarecer ou discutir alguns pontos, o autor deve receber uma explicação,

e ser lembrado dos detalhes que é responsabilidade dele esclarecer.

• Caso a ideia tenha sido rejeitada ("Não" na coluna "Implementar?"), o autor deve

entender o motivo (ideia repetida, já existente ou inviável).

4.2.8. Subsistema “Aceleração de ideias”

O subsistema “Aceleração de ideias” é formado por um conjunto de processos que visa

a implementação rápida e efetiva das ideias selecionadas. Os recursos necessários devem ser

fornecidos, e a difusão da ideia em torno da organização deve ser eficiente.

82

A figura 24 resume os processos desenhados para a gestão de ideias.

Figura 24: Processos de gestão de ideias

4.2.9. Sistema de recompensas

Como forma de incentivar a geração de ideias, o autor estabeleceu, juntamente com o

líder, um conjunto de premiações. Todas são de caráter simbólico, não monetário, de modo a

reconhecer o esforço dos funcionários, mas minimizando o risco de gerar competição agressiva

entre eles. A base teórica para as premiações está descrita na revisão bibliográfica, e as

referências são Robinson et Schroeder (2014) e Pontes et Barri (2014).

A primeira ideia enviada por um funcionário é premiada com uma caneta metálica, na

qual está escrito a frase “Parabéns pela primeira ideia enviada!”. A figura 25 mostra um

exemplar da caneta.

83

Figura 25: Caneta que premia o funcionário quando ele envia sua primeira ideia

Adicionalmente, definiu-se uma série de premiações, que recompensam as melhores

ideias em um certo intervalo de tempo. O objetivo é fornecer um prêmio simbólico, não

monetário, mas que simbolize o reconhecimento da diretoria ao esforço desprendido pelo autor

da ideia. No caso de a ideia selecionada ter sido elaborada por um grupo, todos os membros

recebem prêmios/reconhecimentos iguais.

A cada semana, o autor estabeleceu que os stakeholders (gestor de cada área envolvida,

além do líder) se reúnem para selecionar as ideias que podem ser implementadas. Os processos

de seleção de ideias descritos na seção 4.2.7. devem ser seguidos.

Os mesmos stakeholders devem se reunir mensalmente para escolher a melhor ideia de

cada unidade. Os vencedores recebem como prêmio um almoço, e devem escolher uma entre

duas opções de restaurantes oferecidas. Adicionalmente, o departamento de Comunicação se

responsabilizou por anunciar a ideia e seu autor em um email enviado a todos.

A cada seis meses, definiu-se que a melhor ideia de cada unidade deve ser escolhida.

Planejou-se definir o prêmio com maiores detalhes em novembro. As discussões iniciais

realizadas durante as reuniões semanais do comitê foram no sentido de fornecer uma camiseta

com um símbolo, como uma lâmpada, para representar a criatividade.

Finalmente, definiu-se que os gestores e diretoria deveriam se reunir anualmente para

escolher a melhor ideia do ano. Apenas as ideias vencedoras de cada unidade em cada semestre

podem participar. No final, a melhor ideia de toda a organização deve ser escolhida. O comitê

decidiu planejar mais detalhes sobre o prêmio e o evento de premiação em uma data mais

próxima do aniversário de um ano do projeto.

84

85

5. Implementação do sistema de gestão de ideias

Antes de se iniciar a implementação do sistema de gestão de ideias na Fundação

Vanzolini, elaborou-se um plano de trabalho. A implementação dos processos e KPIs foi o

passo seguinte, conduzido através de três workshops, um em cada unidade envolvida.

5.1.Plano de trabalho

Elaborou-se um plano de trabalho detalhado, que contém os grupos de atividades que

devem ser executadas, bem como as tarefas de cada grupo. As tarefas foram definidas de modo

a garantir que todos os detalhes do sistema de gestão de ideias, descrito na seção 4 do presente

relatório, sejam implementados de maneira rápida e eficiente. A tabela 5 mostra o cronograma

final elaborado e validado com o diretor executivo administrativo.

Reunião Frequência Presentes Local

1o workshop Única Comitê gerencial USP

2o workshop Única Equipes de Educação e Secretarias da USP USP

3o workshop Única Equipes de Educação e Secretarias da Paulista Paulista

4o workshop Única Equipes de TI, RH, Financeiro e Projetos/Novos Negócios

Alberto Seabra

Acompanha-

mento Semanal Comitê gerencial USP

Resultados a executivos Única

Presidente e diretor administrativo USP

Resultados a gestores das áreas Única Comitê gerencial USP

Tabela 5: Plano de trabalho da implementação do sistema de gestão de ideias

O plano de trabalho inclui diversas reuniões do comitê gerencial, que em conjunto

constituem o modelo de governança da implementação. Em cada uma delas, discute-se como

86

mitigar riscos de atrasos ou de resistências. Adicionalmente, selecionam-se ideias e discutem-

se próximos passos. A melhor ideia é escolhida semanalmente, mensalmente, semestralmente,

anualmente, em reuniões de periodicidade equivalente. As dificuldades encontradas durante a

implementação, as soluções encontradas pelo comitê e as melhores ideias selecionadas são

descritas nas seções 5.2., 5.3. e 5.4 do relatório.

A tabela 6 expõe a composição do comitê gerencial.

Unidade Cargo

USP Diretor executivo

administrativo

Paulista/USP Gerente de Educação

USP Gestor de Secretarias e de

Recursos Humanos

Alberto Seabra Gestor de Tecnologia de

Informação

Alberto Seabra Gerente Financeiro

Alberto Seabra Gerente de Projetos/Novos

Negócios Tabela 6: Composição do comitê gerencial

O autor e o diretor também planejaram como reagir a funcionários que oferecessem

resistência à mudança organizacional. O processo consiste, primeiramente, em identificar em

qual estágio psicológico de implementação de Beer (2003) o funcionário que resiste se encontra.

Em seguida, são conduzidas as ações recomendadas por Beer (2003). Tal discussão deve ser

feita durante a reunião semanal, em caso de dúvidas do gestor a respeito de como agir com

determinado funcionário. A tabela 7 mostra os estágios psicológicos de um funcionário durante

a implementação, e ações recomendadas em cada um.

87

Tabela 7: Ações adotadas pelo autor em cada estágio psicológico de implementação

5.2.Workshops e newsletter de implementação

Os principais pontos referentes ao sistema de gestão de ideias, descritos na seção 4 do

presente relatório, foram apresentados nos quatro workshops previstos pelo plano de trabalho

da implementação (figura 24).

No primeiro workshop estiveram presentes apenas os membros do comitê gerencial. O

objetivo era apresentar os principais pontos do sistema de gestão de ideias, ajustar a

apresentação que seria utilizada nos workshops posteriores, ganhar o buy in dos gestores e

mudar os detalhes necessários.

Vários pontos importantes foram definidos nesta reunião, o que comprova, conforme

haviam recomendado Robinson et Schroeder (2014), como é essencial analisar detalhes e tomar

decisões debatendo com os stakeholders. O primeiro ponto diz respeito ao nome do sistema de

gestão de ideias. Os gestores propuseram o nome “Banco de ideias”. A palavra “banco” não

descreve de maneira holística o sistema criado, já que considera apenas uma de suas partes.

Entretanto, por ser simples de memorizar, impactante, e dar a ideia de armazenamento de valor

fornecido pelos usuários, o autor e o diretor decidiram utilizar este nome para comunicar-se

com as equipes.

88

Outro ponto levantado pelos gestores durante o primeiro workshop foi a forma de envio

dos formulários em papel. Após a discussão, decidiu-se que o funcionário que desejasse enviar

sua ideia em papel deveria colocar o formulário em um envelope e enviá-lo para a Secretaria

Acadêmica, localizada na unidade USP. Tal procedimento já era utilizado rotineiramente pelos

funcionários da Alberto Seabra e da Paulista, minimizando o risco de extravio de ideias.

O segundo workshop foi realizado na unidade USP, com as equipes de Educação,

Secretarias e TI desta unidade. Foram conduzidas duas sessões em sequência, cada uma

contando com cerca de oito pessoas. A divisão ocorreu para evitar que as áreas de atendimento

a clientes ficassem completamente vazias durante o workshop.

Nenhuma dúvida ou questionamento foi levantado durante a apresentação. Ao final da

mesma, um dos presentes reforçou seu apoio ao projeto, destacando em particular sua

contribuição para melhorar a comunicação interna e as relações interdepartamentais.

O terceiro workshop foi conduzido na unidade Paulista, com as equipes de Educação e

Secretarias desta unidade. Estiveram presentes cerca de quinze pessoas.

Durante a apresentação, dois presentes levantaram dúvidas. O primeiro questionou se

não seria melhor se, ao invés de premiar os autores das melhores ideias, os departamentos de

tais funcionários fossem recompensados. O diretor respondeu que tal sistema poderia premiar

funcionários que pouco ou nada tivessem contribuído com o sistema de gestão de ideias. O

diretor ressaltou ainda que era permitido formar grupos de até quatro pessoas para participar, e

que todos os envolvidos receberiam premiações.

O segundo questionou como seriam gerenciados os casos em que uma ideia não fosse

viável no momento, mas pudesse ser implementada no futuro. O diretor explicou que tais ideias

seriam registradas com o status “a ser avaliado” no modelo “Banco de ideias” (exposto na figura

21), juntamente com a data futura de reavaliação.

Posteriormente, o mesmo presente questionou o que ocorreria com as ideias que fossem

aplicáveis à uma unidade mas não em outra. O diretor respondeu que o comitê gerencial, na

reunião periódica de seleção de ideias, por ser composto por gestores que ficam em diferentes

unidades, levaria restrições particulares de cada uma em consideração para tomar as decisões

necessárias.

89

A resposta a este ponto não havia sido considerada no planejamento do sistema de gestão

de ideias, descrito na seção 4. Dessa forma, ilustra como a adoção de uma postura colaborativa

por parte dos líderes do projeto resulta em contribuições significativas das equipes. Graças a

este questionamento, o autor e o diretor perceberam que uma possível dificuldade do projeto

seria o envio de ideias idênticas aplicadas a unidades diferentes. Por exemplo, se um funcionário

propor “trocar cortinas na unidade USP” e outro “trocar cortinas na unidade Paulista”, ambas

as ideias deveriam ser premiadas?

Tal questionamento foi discutido com João Pontes, da Brasilata, por email. Decidiu-se

que o melhor seria premiar ambos os autores, no caso de ideias iguais mas aplicadas a unidades

diferentes, desde que acompanhadas por boas justificativas e propostas de implementação. Por

um lado existe o risco de funcionários, após conhecer uma ideia que foi aplicada em uma

unidade, escrever a mesma ideia, mas aplicada a outra unidade. Por outro, premiar apenas um

dos autores, além de gerar desconforto e insatisfação do outro autor, pode ser injusto, caso o

outro tenha notado que, embora a ideia seja a mesma, há detalhes relativos à sua implementação

que devem ser diferentes pois a unidade é diferente. Por este motivo, é muito importante o

gestor entender porque e como cada autor deseja implementar sua ideia; se as respostas forem

satisfatórias, ambos devem ser premiados.

O quarto workshop foi conduzido na unidade Alberto Seabra. Estiveram presentes cerca

de doze pessoas, dos departamentos Tecnologia de Informação, Financeiro e Recursos

Humanos. Nenhum questionamento foi levantado.

Após a realização dos workshops, o diretor enviou, através do departamento de

comunicação, o primeiro email de uma série, a newsletter “De Para” da FCAV, que seria

utilizada para divulgar resultados do projeto para as equipes. O objetivo, conforme recomenda

Barbieri (2004) ao descrever o caso Copesul, é criar um meio de comunicação entre

administração e equipes, aproximando a gestão do projeto de todos os envolvidos.

O primeiro email da newsletter do sistema de gestão de ideias foi elaborado através de

uma iniciativa conjunta entre autor, diretor executivo administrativo, funcionários responsáveis

pela comunicação interna e a gerente de Secretarias.

Dessa forma, foi possível ajustar a linguagem e os termos utilizados no email a partir de

diferentes pontos de vista. O autor contribuiu com base em recomendações de autores

consagrados na área de mudança organizacional, como Beer (2003). O líder contribuiu baseado

90

em sua experiência em cargos gerenciais e em projetos sobre organização de empresas. A

gerente de Secretarias e os funcionários responsáveis pela comunicação interna anteciparam

possíveis resistências com base em seu contato rotineiro com as equipes e conhecimento prévio

de fontes de desconforto no passado da Fundação. Após as discussões, decidiu-se utilizar o

email ilustrado na figura 26.

Figura 26: Email usado para kick off do projeto

Fonte: Elaborado pelo diretor administrativo, com contribuição do autor, da gerente de Secretarias e dos

funcionários de comunicação interna da Fundação Vanzolini

91

5.3.Reuniões semanais do projeto piloto

Conforme previsto no plano de trabalho, foram conduzidas reuniões semanais em

setembro e outubro. Todas elas ocorreram numa segunda feira, na unidade USP. Em todas elas,

os processos de seleção de ideias cuja elaboração foi descrita na seção 4.2.1. foram seguidos.

Nos parágrafos seguintes, serão destacados os principais riscos, resistências, dificuldades e

melhores ideias discutidos durante as reuniões.

Na primeira reunião semanal, os gestores não levantaram nenhum risco ou resistência

que surgiu durante a primeira semana do projeto piloto. Um ponto positivo foram as 9 ideias

enviadas, um número muito acima do esperado para a primeira semana. Tal fato mostra que os

workshops de kick off do projeto haviam sido bem sucedidos quanto ao objetivo de engajar

funcionários.

No entanto, muitas ideias enviadas pelos funcionários não tinham o grau de detalhes

mínimo para se decidir se vale a pena discutir a implementação ou não. Por exemplo, um

funcionário enviou como ideia “Mudança de Layout no atendimento ao Cliente”. Teria sido

melhor se tivesse detalhado, descrito qual mudança de layout está propondo.

Dessa forma, o autor reforçou, ao final da reunião, que todos os funcionários deveriam

ser incentivados a enviar mais detalhes junto com a ideia. Adicionalmente, além de escrever o

que fazer, deveriam detalhar como fazer; propor soluções mais que solicitações.

Outro ponto importante da primeira reunião semanal foi anotar os nomes dos

funcionários cujas ideias haviam sido aprovadas. O líder se encarregou de entregar a cada um

deles os brindes pela primeira ideia, descritos na seção 4.2.3 do relatório. 24

Na segunda reunião semanal, o comitê constatou que 26 novas ideias haviam sido

enviadas. O número surpreendeu positivamente a todos, e mostrou que os funcionários seguiam

muito empolgados com o projeto.

Na terceira reunião semanal, os presentes notaram uma nova leve diminuição no número

de ideias, de 26 para 21 ideias. Chamou a atenção nesta reunião o fato de que dois funcionários

denunciaram que colegas seus (sem citar nomes) da unidade Paulista estavam saindo antes do

fim da jornada de trabalho, e tendo o ponto registrado por outros. Um deles inclusive propôs a

instalação de uma câmera de segurança.

92

Diante de tal situação, a confidencialidade dos envolvidos foi rigidamente mantida,

conforme prometido. Adicionalmente, os gestores se empenharam nas próximas semanas para

resolver o problema, discutindo a implantação do sistema de pontos biométrico (o que foi

posteriormente reprovado devido a alto custo) e relembrando às equipes que tal conduta poderia

resultar em demissão por justa causa tanto para o funcionário que saiu mais cedo como para o

que registrou o ponto pelo outro.

A quarta reunião semanal contou com a participação do presidente, que agradeceu pelo

esforço de todos durante o primeiro mês de projeto. 14 ideias foram discutidas. O destaque

nesta reunião foi para algumas ideias de cunho estratégico, como a compra de um software de

relacionamento com os clientes, que foi levada para posterior discussão com a diretoria.

Na quinta reunião semanal, o comitê constatou uma diminuição brusca no número de

ideias enviadas, de 14 para apenas 3. Diante de tal cenário, o primeiro passo adotado foi ressaltar

aos gestores a importância do rápido feedback e rápida implementação. Neste sentido, o

executante e o líder repassaram todas as ideias, com o objetivo de checar a velocidade e

qualidade da implementação, bem como avaliar a dinâmica da interação entre gestores e

funcionários.

O principal assunto da sexta reunião semanal foi novamente a busca por formas de

estimular os funcionários a participar. Afinal, apenas uma ideia fora enviada. Por este motivo,

após a discussão desta ideia, o comitê gerencial focou em formas de melhorar a performance

do projeto. Pontos como a necessidade de se dar feedback mais rapidamente para os

funcionários foram ressaltados. Adicionalmente, procurou-se entender em que medida o tempo

de implementação das ideias poderia ser reduzido. Na sexta reunião semanal, ocorreu também

a seleção da melhor ideia do mês de setembro. Tal ideia será descrita com mais detalhes na

seção 5.4.

A sétima reunião semanal foi a última realizada antes da entrega do presente Trabalho.

A boa notícia, repassada para o comitê, foi o forte crescimento no número de ideias, em relação

à semana anterior, de 1 para 9. O executante e o líder reforçaram os dois principais fatos que

ocorreram durante a semana e resultaram nessa melhoria: a implementação de diversas ideias,

e as discussões detalhadas que foram conduzidas individualmente com cada autor da ideia.

Dessa forma, procurou-se passar a seguinte mensagem: se a liderança e os gestores mostrarem

contínuo empenho em debater e implementar ideias com seus autores, a participação dos

funcionários tende a aumentar.

93

5.4.Sistema “Banco de Ideias”

O autor fez um sistema, chamado “Banco de Ideias”, que tem como objetivo permitir

que os funcionários consultem todas as ideias. O software utilizado foi o Microsoft Excel. O

sistema elaborado é didático, de fácil manuseio, e tem um conjunto de botões no painel de

navegação que permite acesso rápido a qualquer ideia.

A figura 27 mostra o painel de navegação, que é a primeira página que o usuário vê ao

acessar o sistema.

Figura 27: Painel de navegação do sistema “Banco de Ideias”

No painel de navegação, as ideias foram classificadas em quatro grupos. Os três

primeiros representam as ideias aprovadas, e diferem entre si devido ao tempo médio planejado

de implementação. Neles, os nomes dos autores foram mencionados, para reconhecer o mérito

deles em agregar valor para a Fundação Vanzolini.

O último grupo é formado pelas ideias não aprovadas. Nele, os nomes dos autores foram

mantidos confidenciais, para evitar constrangimentos.

94

A figura 28 mostra a página que celebra os autores das ideias aprovadas com

implementação à curto prazo. Além de citar o nome do autor e sua ideia, o status da

implementação é descrito. Dessa forma, o usuário pode também entender os passos que faltam

ser cumpridos para a ideia ser implementada, bem como porque certa ideia foi rejeitada.

Figura 28: Página do sistema com as ideias aprovadas e prazo curto de implementação

Páginas análogas foram montadas para os casos de implementação à médio e à longo

prazo. A página das ideias não aprovadas tem apenas as colunas “resumo da ideia” e “status da

implementação”, pois os nomes dos autores não foram mencionados, conforme já explicado no

parágrafo anterior.

A figura 29 mostra a página que parabeniza o autor da melhor ideia de setembro. Páginas

análogas serão montadas para cada mês. Mais detalhes sobre esta ideia serão dados na seção

6.2.

95

Figura 29: Página que parabeniza o autor da melhor ideia

96

97

6. Discussão de resultados

6.1. Ideias mais marcantes aprovadas durante o projeto piloto

Em pouco mais de um mês de projeto piloto, diversas ideias que agregam valor

surgiram. Merece destaque a ideia de incentivo à utilização de canecas, que foi eleita pelo

comitê gerencial a melhor de setembro.

A ideia da campanha para utilização de canecas produz ganhos de sustentabilidade

significativos, devido à redução drástica no número de copos de plástico utilizados diariamente

pelos funcionários da Fundação. Os autores da ideia sugeriram ainda campanhas de

conscientização para convencer as pessoas que não quisessem usar caneca a usar um único copo

plástico durante o dia.

As ideias de realizar uma palestra de ergonomia e instituir ginástica laboral são

exemplos de como autores de ideias diferentes podem cooperar entre si para chegar a uma

solução que permita a implementação de ambas. Os autores das ideias, com o auxílio do autor

deste trabalho de formatura, entraram em contato com o professor doutor da Escola Politécnica

da USP que é especialista nesta área, e com o médico de trabalho da Fundação Vanzolini. No

momento do final do presente Trabalho, detalhes finais da palestra estavam sendo discutidos

entre os autores das ideias e o professor.

A ideia de implementar um processo de reciclagem de papel foi fornecida por diversos

funcionários. A implementação foi uma iniciativa interdepartamental liderada pelo

departamento de Secretaria da USP e pelo departamento financeiro. O primeiro comprou as

caixas organizadoras a serem usadas pelos departamentos para armazenar papel; o segundo

entrou em contato com empresas de reciclagem para vender o papel reciclável. Com relação ao

uso dos fundos arrecadados, os autores da ideia propuseram a doação.

A ideia de redefinir as vagas de estacionamento na unidade Alberto Seabra foi debatida

com a pessoa responsável pela manutenção. Naquele momento (início de outubro), as vagas

eram todas 90 graus; a proposta do autor da ideia era colocar vagas de 45 graus, facilitando a

entrada e saída de veículos.

98

Foi possível constatar que o arranjo proposto melhoraria a movimentação, mas reduziria

o número de vagas, obrigando mais funcionários a parar na rua, que já havia tido problemas de

segurança. Diante de tal cenário, o autor da ideia e seu gestor propuseram manter o arranjo

atual, mas incentivar os funcionários a conversarem entre si, entenderem os horários de trabalho

e necessidades de saída de cada um, para encontrarem formas de melhorar a movimentação.

Esta ideia e a anterior (de implementar um processo de reciclagem de papel) ilustra como o

projeto pode auxiliar no sentido de melhorar o ambiente interno da empresa, de fomentar

conversas interdepartamentais para resolver um problema de maneira colaborativa.

O comitê gerencial decidiu selecionar a ideia de uso de canecas como a melhor do mês

de setembro porque ela agrega muito valor, é aplicável em toda a Fundação, e é de

implementação rápida, fácil, e de baixo custo. Outras ideias muito boas, mencionadas nos

parágrafos seguintes, não cumprem a todos estes critérios.

6.2. Discussão de resultados do projeto piloto com executivos

A discussão executiva dos resultados do piloto foi conduzida no dia 15 de outubro, 11h,

com a presença do presidente da entidade e do diretor executivo administrativo.

O objetivo da reunião com os executivos era discutir em alto nível os resultados do

projeto piloto e entender sua relação com o objetivo estratégico de melhorar os serviços de

atendimento a clientes. Adicionalmente, foi planejado na reunião a continuidade do projeto, ou

seja, quem assumiria a liderança após o término do trabalho de formatura. Por fim, discutiu-se

um conjunto de próximos passos e recomendações finais para se manter um projeto com alto

nível de performance.

Iniciou-se a reunião apresentando para o presidente as métricas de quantidade do

projeto. Elas se encontram na figura 30.

99

Figura 30: Métricas de quantidade do projeto piloto

A grande quantidade de ideias geradas nas três primeiras semanas indica que os

workshops de implementação conseguiram criar uma forte adesão inicial dos funcionários ao

projeto. Em particular, os dois workshops que foram realizados na sexta feira, 5 de setembro,

explicam o grande número de ideias das unidades Alberto Seabra e Paulista na 2ª semana do

projeto piloto.

Por outro lado, o número de ideias diminuiu drasticamente nas três semanas seguintes.

Um dos motivos é a redução da empolgação inicial, após as ideias mais imediatas serem dadas,

e também devido à baixa velocidade de implementação (problema que será abordado com mais

detalhes nos parágrafos seguintes). Para contornar o problema, uma das medidas adotadas foi a

elaboração do sistema “banco de ideias”, descrito na seção 5.4, que permite uma consulta rápida

e didática às ideias, e reconhece perante toda a organização os autores das principais ideias.

Atividades como a elaboração do sistema “banco de ideias”, a implementação de

diversas ideias e o feedback detalhado dado aos autores, resultaram numa melhoria substancial

da performance do projeto na semana de 12 de outubro. De fato, o número de ideias subiu de 1

(da semana anterior) para 9, o que comprova a importância de se seguir executando tais

atividades.

A figura 31 mostra as métricas de origem do projeto piloto, apresentadas na sequência,

durante a reunião com o presidente da entidade.

100

Figura 31: Métricas de origem do projeto piloto

Pode-se notar, de imediato, a performance destacada das equipes de Secretaria e de

Educação, pois ambos tiveram o maior número de ideias geradas e selecionadas por

funcionário, mesmo sendo os departamentos com mais colaboradores. Por este motivo, nota-se

que os funcionários destas áreas notaram diversas oportunidades de melhoria, e se mobilizaram

através do projeto para tentar coloca-las em prática.

A figura 32 mostra as métricas de velocidade do projeto piloto.

Figura 32: Métricas de velocidade do projeto piloto

As ideias de baixa complexidade são aquelas cuja implementação é bem mais simples,

depende de menos aprovações. Elas impactam aspectos do dia a dia dos funcionários, quase

sempre de uma determinada equipe. Por este motivo, a maioria foi implementada menos de três

semanas depois de enviada pelo autor (e portanto já se encontravam implementadas ao fim do

Trabalho). As ideias implementadas mais marcantes foram descritas na seção anterior, 6.1.

Uma exceção importante foi a ideia de criar um ambiente de descanso na unidade

Alberto Seabra, cuja implementação foi postergada. O motivo é que o uso do terreno em que se

pretendia construir a área de descanso depende de liberação do alvará da prefeitura, o que só

ocorreria em 2015, aumentando bastante o tempo médio de implementação das ideias de baixa

complexidade.

101

As ideias de alta complexidade de implementação são aquelas que demandam uma

análise mais aprofundada, aprovações da diretoria, contatos com agentes externos à

organização, dentre outros fatores. Isso ocorre porque elas causam impacto maior, muitas vezes

diretamente sobre a forma como os clientes são atendidos. As ideias de alta complexidade

relacionadas com o atendimento foram analisadas mais a fundo, com o apoio de métodos como

a Matriz de Integração e o Service Blueprint.

A Matriz de Integração permite uma visão de alto nível a respeito dos impactos dos

funcionários, ativos físicos e processos nos padrões de atendimento da Fundação Vanzolini. A

diretoria deve avaliou o desempenho atual da Fundação em cada célula, as perspectivas de

melhoria com base nas ideias fornecidas, e estipulou objetivos para o futuro.

A figura 33 mostra a Matriz de Integração elaborada conforme o método descrito na

seção 2.4.6, já com os valores finais das métricas.

Figura 33: Matriz de Integração com valores das métricas

102

Percebe-se que os funcionários que propuseram formas de inovar quanto ao atendimento

focaram no padrão “engajamento”. Diante de tal cenário, o presidente sugeriu que a liderança

do projeto estimulasse os funcionários a inovar com respeito ao padrão “zelo”. Seguir os

processos de atendimento com zelo significa ter responsabilidade, tomar cuidado e prestar

atenção para não cometer erros. A importância deste padrão justifica um direcionamento futuro

do projeto “Banco de Ideias”, em que a liderança propõe um tema (no caso, “zelo no

atendimento”) sobre o qual funcionários enviam ideias.

Merece destaque o fato de que alguns funcionários propuseram formas de alterar

processos típicos executados na área de atendimento. Com relação aos lanches, por exemplo,

um deles propôs a substituição dos mesmos por café e bolachas, para cortar custos. Outro

sugeriu que os lanches só fossem oferecidos no início e final dos cursos, e não em todo coffee

break. Tais ideias não foram implementadas antes do final do trabalho de formatura porque

envolvem uma discussão longa com os coordenadores de curso, mas representam uma iniciativa

interessante dos funcionários no sentido de reduzir custos.

No sentido de aumentar o engajamento dos funcionários do front office, um dos

funcionários propôs a criação de um manual de relacionamento do colaborador com o cliente,

o que foi aprovado e com implementação prevista pelo RH até o início de 2015. Ainda com o

objetivo de garantir maior engajamento, um funcionário forneceu um conjunto de ideias que

tinham como objetivo melhor compreender o cliente, como a condução de pesquisas de

satisfação e a compra de um software de relacionamento com clientes (CRM).

Também merece destaque a ideia de instituir o uso de uniforme. Ela não foi

implementada antes do fim do trabalho de formatura, mas foi fundamental por levantar uma

discussão em torno de um tema chave de atendimento. Detalhes como a variedade de uniformes

e os departamentos que seriam obrigados a usá-los foram levados para debate com a diretoria e

com a área de Educação.

Percebe-se, portanto, que ideias vindas de funcionários mais operacionais podem ter um

grande impacto estratégico em uma organização, se corretamente avaliadas e desdobradas. Mais

do que isso, os inputs de funcionários que passam por momentos da verdade diariamente são

valiosos para se planejar formas de melhorar o atendimento.

O passo seguinte foi investigar mais a fundo as ideias fornecidas durante o piloto a nível

de departamentos e macroprocessos. Para isso, utilizou-se o Service Blueprint, que mostra de

103

que maneira cada departamento do front-office interage com os clientes (nos momentos da

verdade) e com o back-office.

A figura 34 mostra o Service Blueprint, elaborado segundo o método descrito na seção

4.2.6.

Figura 34: Service Blueprint com valores das métricas

O Service Blueprint mostra que a maior parte dos momentos da verdade ocorrem no

macroprocesso “Atendimento ao cliente”, sobre o qual diversas ideias foram dadas, referentes

a diferentes aspectos do atendimento, conforme já descrito no parágrafo anterior. É notável

também o número de ideias geradas sobre “Infraestrutura” e “S.G.Q.”, o que mostra o

comprometimento de alguns funcionários com a gestão de qualidade.

Outro template discutido na reunião foi o modelo RAIAS. Ele foi elaborado com o

objetivo de fornecer aos executivos de que maneira cada departamento depende e causa

104

dependência dos outros departamentos. Tal visão sistêmica, em conjunto com dados

mensurados a cada semana das métricas do sistema de gestão de ideias, permite que a liderança

conclua em que medida o sistema está melhorando os serviços de atendimento, isole problemas,

detecte oportunidades de melhoria e direcione a geração de ideias.

A figura 35 mostra o modelo RAIAS, elaborado segundo descrito na seção 4.2.6.

Figura 35: Modelo RAIAS com valores das métricas

O Modelo RAIAS mostra que os funcionários forneceram ideias referentes às três raias,

ou seja, procuraram refletir sobre diferentes conjuntos de macroprocessos da Fundação

Vanzolini, inclusive de Gestão do Sistema. No entanto, faltaram ideias de macroprocessos

como “ouvidoria” e “controle orçamentário”, que são muito importantes e influenciam diversos

outros macroprocessos.

105

Todos os macroprocessos foram mapeados através da ferramenta BARCO. Isso permitiu

o aprendizado a respeito de quais elementos específicos dos macroprocessos as ideias se

referiram. A partir de cada modelo BARCO, pode-se obter o modelo PIER. Detalhes a respeito

de como os macroprocessos foram mapeados se encontram na seção 4.2.2.

O modelo PIER permite uma discussão detalhada a respeito dos elementos que mais

foram lembrados pelos autores de ideia. Somando-se as métricas obtidas por macroprocesso,

pode-se obter o modelo mostrado na figura 36.

Figura 36: Métricas de gestão de ideias para cada elemento do modelo PIER

Percebe-se que a maior parte das ideias (31 de 83) se referem ao elemento “Recursos

Humanos” do modelo PIER. Isto indica que muitos funcionários apontaram oportunidades

inovadoras de melhoria em fatores como treinamento, formas de conduta diante de clientes

internos e externos, melhor relacionamento entre as áreas, dentre outros, conforme é ilustrado

pelas ideias descritas na seção 6.1.

Adicionalmente, 30 de 83 ideias se referem ao elemento “Equipamentos”. Isto se deve

principalmente às diversas ideias que foram fornecidas com relação à infraestrutura, como a

ideia de redesenho de vagas de estacionamento na Alberto Seabra, descrita na seção 6.1.

O baixo número de ideias (5 de 83) referente a “Indicadores” mostra que tal elemento

pode não ter sido muito explorado pelos funcionários. Estimular o uso de indicadores de

desempenho e a formalização de processos de avaliação de performance pode ser importante

para incentivar a inovação neste aspecto. De fato, projetos relacionados à implementação de

106

indicadores estavam sendo avaliados em algumas áreas no momento do final do Trabalho, como

na área de Educação.

Discutiu-se também, na reunião executiva, o planejamento da continuidade do projeto,

ou seja, quem o gerenciaria após o término do trabalho de formatura do autor, no final de

outubro. O presidente da entidade decidiu que ele assumiria a liderança do projeto, e que um

estagiário da Fundação seria alocado para executar as tarefas que durante o Trabalho foram

responsabilidades do autor. Desta forma, embora o Trabalho tenha sido terminado ao final de

outubro, o autor seguiu acompanhando o projeto mais alguns dias, para treinar o estagiário e

garantir uma boa continuidade do projeto.

107

7. Conclusão

O presente Trabalho tinha como objetivos o projeto e implementação de um sistema de

gestão de ideias, e a criação de uma cultura voltada para a inovação na Fundação Vanzolini.

Os excelentes resultados obtidos para um projeto piloto e o engajamento dos funcionários

durante o projeto mostraram que é realmente possível tornar uma organização inovadora e

comprometida com a melhoria contínua em pouco espaço de tempo. Os dois fatores

fundamentais que explicam o sucesso são: uso de extensa base de conhecimento e experiência

de autores consagrados, e atenção extrema ao relacionamento com stakeholders do projeto.

O primeiro fator foi importante porque permitiu que o autor se conscientizasse, antes de

se comunicar com stakeholders, não apenas da metodologia em si, como também de riscos de

um projeto de sistema de gestão de ideias em todas as suas fases (desenho, implementação e

melhoria). O entendimento do que deu certo e o que deu errado em empresas reais, cujos casos

foram descritos com excelência por Robinson et Schroeder (2006) e Barbieri (2004) foi decisivo

para se evitar cometer os mesmos erros na Fundação Vanzolini.

O segundo fator fundamental foi o esforço realizado, desde o primeiro dia de projeto,

em se manter um relacionamento ótimo com todos os stakeholders do projeto. De fato, o

diagnóstico da situação atual, o desenho e a implementação do sistema de gestão de ideias

tomam tempo dos funcionários. Assim, se não feito com a devida cautela, a comunicação de

processos novos que mudem a rotina de quem sempre trabalhou da mesma forma pode gerar

forte resistência à mudança.

Garantir transparência foi essencial no sentido de manter o bom relacionamento. Para

isso, o sistema “banco de ideias” foi criado. Ele permite que cada colaborador acesse de maneira

rápido e fácil cada ideia gerada durante o projeto, bem como seu status de implementação. A

operacionalização do sistema, bem como o reconhecimento dado aos autores de ideias

aprovadas e ao autor da melhor ideia de setembro, foram essenciais para o projeto voltar a

apresentar uma boa performance, em um momento (início de outubro) em que o número de

ideias havia se reduzido muito.

Por outro lado, manter um bom relacionamento significou também mitigar riscos e

evitar o surgimento de conflitos desnecessários. Por este motivo, não se mencionou o nome dos

autores das ideias reprovadas, já que parte delas poderiam gerar constrangimentos.

108

Adicionalmente, casos de denúncias e reinvindicações foram tratadas com a devida

confidencialidade.

Desta forma, foi de suma importância realizar o projeto de maneira colaborativa desde

o início. Engajar stakeholders na tomada de decisões, refinar o sistema de gestão de ideias

proposto e levar em consideração o conhecimento e interesses dos envolvidos foram as ações

conduzidas.

A mensagem sempre foi clara: o autor estava lá para ajudar a área a inovar, e não para

corrigir o erro. A comunicação sempre foi feita de modo a, ao invés de se impor uma

metodologia, conduzir o stakeholder à melhor solução, convencê-lo de que irá se desenvolver

muito mais dessa forma, e chegando à esta conclusão junto com ele, envolvendo-o na tomada

de decisão.

As recomendações finais, ou seja, as atividades que devem ser executadas sempre para

garantir que os resultados do sistema de gestão de ideias sigam melhorando, são:

Seguir monitorando com frequência as métricas quantitativas (quantidade,

origem e velocidade de ideias), buscando solucionar da maneira mais rápida e

eficiente possível as lacunas encontradas

Seguir estimulando a colaboração e compartilhamento de conhecimento entre

departamentos

Direcionar esforços com o objetivo de reduzir o tempo médio de implementação

das ideias

Incentivar a participação de eventos de fora da empresa que auxiliem a melhorar

a geração de ideias, como congressos, visitas a outras empresas, cursos, dentre

outros

Direcionar o sistema de gestão de ideias de acordo com os objetivos estratégicos

da Fundação Vanzolini. Caso a diretoria deseje que ideias inovadoras surjam em

relação a determinado tema, tal direcionamento deve ser comunicado a todos da

organização. Os templates do modelo PIER, RAIAS, Service Blueprint e Matriz

de Integração podem ser utilizados para monitorar a performance dos

envolvidos.

109

Endereçar de imediato possíveis quedas de moral da organização, reconhecendo

os funcionários que contribuam para a inovação independentemente do nível

hierárquico, e mantendo sempre alta o respeito e confiança mútua entre gerentes

e subordinados.

Por fim, vale ressaltar que é importante conhecer a fundo as melhores metodologias e

práticas e buscar implementá-las segundo o que já deu certo em outras empresas. Entretanto,

não se deve esquecer que, ao invés de forçar a organização a se adaptar à metodologia, o correto

é criar uma solução customizada para as necessidades e cultura específicas.

110

111

8. Referências bibliográficas

ALVARENGA-NETTO, C. Definindo gestão por processos: características, vantagens,

desvantagens. São Paulo: Atlas, 2006. 14-37 p.

ALVARENGA-NETTO, C. Proposta de modelo de mapeamento e gestão por

macroprocessos. São Paulo, 2004. 146p. ++ apêndices

AMABILE, T. How to kill creativity. Harvard Business Review, v.76, n.5, Sep-Oct. 1998.

ARGYRIS, C.; SCHÖN, D. Organizational Learning. New York: Currency Double-day,

1990.

BARBIERI, J. (Org.) Organizações inovadoras: estudos e casos brasileiros. Rio de Janeiro:

Editora FGV, 2004. 158 p.

BARBIERI, J.; ÁLVARES, A.; CAJAZEIRA, J. Gestão de idéias para inovação contínua.

Porto Alegre: Bookman, 2009. 134 p.

BARBIERI, J.; SIMANTOB, M. Organizações inovadoras sustentáveis: uma reflexão sobre

o futuro das organizações. São Paulo: Atlas, 2007. 112 p.

BARBIERI, J. VASCONCELOS, I.; ANDREASSI, T; Inovação e Sustentabilidade: Novos

Modelos e Proposições. São Paulo, 2010, p. 146-154.

BEER, M. Gerenciando mudança e transição. São Paulo: Editora Record, 2003.

BINTNER, M.; OSTROM, A.; MORGAN, F. Service Blueprinting: A Practical Technique

for Service Innovation. Arizona: Center for Services Leadership, 2007

BROWN, T. Design thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas

ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 249 p.

CARLZON, J. A hora da verdade. Rio de Janeiro: Cop, 1985. 120 p.

CHENG, L. C.; MELO FILHO, L.D.R. QFD: desdobramento da função qualidade na gestão

de desenvolvimento de produtos. Editora Blucher, São Paulo: 2007

CHESBROUGH, H. (Org.) Open innovation: researching a new paradigma. Oxford: Oxford

University Press, 2008. 373 p.

112

COLLINS, J.; PORRAS, J. Feitas para durar: práticas bem-sucedidas de empresas

visionárias. São Paulo: Editora Rocco, 1995.

CONTADOR, J.C. Modelo geral das atividades da empresa. Gestão & Produção, v.8, n.3,

p.219-36, dez. 2001.

COOPER, R. Portfolio Management for New Products. McMaster University, Hamilton,

Ontario, Canada, 1997.

DAUPHINAIS, G.; PRICE, C. Straight from the CEO. New York: Simon & Schuster, 1998,

243.

DISNEY INSTITUTE. O jeito Disney de encantar os clientes: do atendimento excepcional

ao nunca parar de crescer e acreditar. São Paulo: Saraiva, 2011. 168 p.

DRUCKER, F.P. Administração: tarefas, responsabilidades, práticas. São Paulo: Pioneira,

1975.

ELKINGTON, J. Canibais com garfo e faca. São Paulo: Makron Books, 2001.

EISENSTAT, R.; BEER, M.; SPECTOR, B. The critical path to corporate renewal. Boston:

Harvard Business School Press, 1990.

FRANCISCHINI, P. Indicadores de desempenho. Working paper utilizado pelo professor

doutor Paulino Francischini na disciplina PRO2421 – Técnicas de Gerenciamento de Operações

Industriais, do curso de graduação em engenharia de produção da Escola Politécnica da USP.

2014. Não publicado.

FREIBERG, K; FREIBERG, J. Nuts: Southwest Airlines’ crazy recipes for business and

personal success. New York: Broadway, 1998.

GELB, M. How to think like Leonardo da Vinci. New York: Delacorte, 1998, 57.

JOHNSTON, R.; CLARK, G. Administração de operações de serviço. São Paulo: Atlas,

2001.

GOFFIN, K.; MITCHELL, R. Innovation management: strategy and implementation using

the Pentathlon framework. 2 ed. Basingstoke (UK): Palgrave Macmillan, 2010.

GUNDLING, E. The 3M way to innovation. New York: Kodanska America 2000.

113

HANSEN, T.; BIRKINSHAW, J. The innovation value chain. Harvard Business Review,

v.85, n.6, p. 121-130, July 2007

HALL, J.; VREDENBURG, H. The challenges of innovating for sustainable development.

Sloan Management Review, v.45, n.1, p. 61-68, 2003.

HILL, S. C.; ROBINSON, L. A. A concise guide to the IDEF0 technique: a practical

technique for business process reengineering. Puyallup, Enterprise Technology Concepts,

1995.

HOFFER, E. The ordeal of change. Cutchogue, NY: Buccaneer Books, 1976, 3.

HUCHZERMEIER, A.; LOCH, C. Project Management Under Risk: Using the Real

Options Approach to Evaluate Flexibility in R&D. Whu-Otto; Insead; Management

Science/Vol. 47, No. 1, January 2001.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, As Fundações Privadas E

Associações Sem Fins Lucrativos No Brasil. Disponível em: <

ftp://ftp.ibge.gov.br/Fundacoes_Privadas_e_Associacoes/2010/fasfil.pdf>. Acesso em maio de

2014.

ISHIKAWA, K. Controle de qualidade total à maneira japonesa. Rio de Janeiro: Campus,

1993.

KINGMAN-BRUNDAGE, J. Technology, design and service quality. International Journal

of Service Industry Management, v.2, n.3, p. 47-59, 1991.

KINGMAN-BRUNDAGE, J.; GEORGE, W. R.; BOWEN, D. E. “Service logic”: achieving

service system integration. International Journal of Service Industry Management, v.6, n.4,

p.20-39, 1995.

KOHN, A. Punished by Rewards: The Trouble with Gold Stars, Incentive Plans, A’s

Praise, and Other Bribes. New York: Houghton Mifflin, 1993, 17.

KROGH, G.V.; ICHIJO, K.; NONAKA, I. Enabling knowledge creation. New York: Oxford

University, 2000.

LAWLER, E. Breaking the code of change, orgs. Boston: Harvard Business School Press,

2000.

114

LIKER, J.K.; MEIER, D. The Toyota way fieldbook. New York: McGraw-Hill, 2006.

O’CONNOR, G.; DEMARTINO, R. Organizing for radical innovation: An Exploratory

Study of the Structural Aspects of RI Management Systems in Large Established Firms.

Product Development & Management Association, 2006.

O’CONNOR, G.; RICE, M. Implementing a Learning Plan to Counter Project Uncertainty.

INSEAD, 2008

PONTES, J.; BARRI, L. Sistema de gestão de ideias da Brasilata. Trabalho apresentado em

reunião do autor e do diretor executivo administrativo da FCAV, com João Pontes, gerente de

qualidade da Brasilata. 2014. Não publicado.

PORTAL – FUNDAÇÃO VANZOLINI, Quem somos. Disponível em: <

http://www.vanzolini.org.br/conteudo.asp?id_menu=6&cod_site=0#>. Acesso em maio de

2014.

ROBINSON, A; SCHROEDER, D. Ideas are free: How the Idea Revolution Is Liberating

People and Transforming Organizations. Berrett-Koehler Publishers, 2006. 2o Reprint

edition

ROBINSON, A; SCHROEDER, D. The Idea-Driven Organization. Berrett-Koehler

Publishers, 2014

SCHOT, J.; GEELS, F.W. Strategic niche management and sustainable innovation

journeys: theory, findings, research agenda and policy. Technology Analysis & Strategic

Management, v.20, n.5, p. 537-554, 2008

SENGE, P. M. A quinta disciplina: arte, teoria e prática da organização de aprendizagem.

São Paulo, Nova Cultural, 1990.

TAYLOR, F. The Principles of Scientific Management. New York: Harper 1911; reprinted

by Hive Publishing Company, Easton, Pennsylvania, 1985, p.38.

TUSHMAN, M.; O’REILLY, C. Winning through innovation. Boston: Harvard Business

School Press, 1997.

ZIMMERMANN,H.-J. Fuzzy Set Theory and its Applications. 3rd Ed. Norwell, MA:

Kluwer, 1996.

115

Apêndice A: Mapeamento de macroprocessos

Os diagramas abaixo mostram os modelos BARCO e PIER elaborados para cada

macroprocesso, bem como as métricas e as principais ideias.

116

117

118

119

120

121

122

123

124

125

126

127

128