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Projeto Brasil Local

Equipe da Articulação Nacional:

Ademar Bertucci João de Jesus da CostaTauá Lourenço PiresVanda Maria Fernandes

Equipe de Comunicação:

Thays PuzziRicardo Piantino

Colaboração:

José Magalhães de Sousa

Revisão:

Vanice Araújo

Projeto gráfico e diagramação:

www.arteemmovimento.org

Impressão:

Cidade Gráfica

Tiragem:

2000 exemplares

"Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes". Esta sentença paulofreiriana traduz o que queremos expressar nesta publicação: o acúmulo e a troca de saberes ocorridos no curso do Projeto Brasil Local. Alegra-nos poder publicar aqui a riqueza de conteúdos e vivências e colocar à disposição de cada leitor(a), mas, essencialmente, dos(as) agentes da economia solidária.

A Revista do Brasil Local foi feita a muitas mãos. Conta com a colaboração preciosa de pensadores da economia solidária, como Roberto Marinho Alves da Silva, Genauto Carvalho de França Filho e Ademar de Andrade Bertucci. Estes abordam as temáticas pela ótica dos aprendizados populares, institucionais e acadêmicos, e nos convidam a refletir sobre nossas trajetórias e a fundamentar o que o cotidiano das lutas nos oferece em termos de práticas e sentimentos. E, sobretudo, é a partir, da ótica e atuação dos própios agentes que queremos pôr em destaque o conteúdo desta publicação. A marca simbólica das "rodas de conversa", como expressão de vivências do cotidiano do Projeto, sugere que a ciranda de saberes deve continuar.

Além da ação por meio dos agentes, o Brasil Local vem se constituindo a partir das parcerias e do entrelaçamento de organizações da sociedade civil, comprometidas com outra economia que já acontece. É essa tecitura que proporciona a forte mobilização dos agentes e as significativas práticas aqui evidenciadas. Com esta publicação, a Cáritas reafirma seu papel de animar e fazer surgir novos sonhos, embalados por mais de três décadas de incessante busca na construção de outros parâmetros de desenvolvimento solidário, sustentável e territorial. Essa trajetória, consolidada em princípios e diretrizes institucionais, fundamenta-se no fortalecimento de iniciativas locais e num projeto democrático e popular de sociedade. Mais que registrar fatos, esta publicação oferece a possibilidade de vislumbrar um horizonte para além do projeto, que à luz das experiências de desenvolvimento local, permitirá desenhar novos caminhos. E os agentes são precursores e guias desses novos caminhos.

Maria Cristina dos Anjos Diretora Executiva Nacional

Uma organização social de interesse público (Oscip), com sede em Natal-RN, que tem como missão "contribuir com a autodeterminação das agricultoras e agricultores familiares do Rio Grande do Norte através dos processos de agroecologia, economia solidária e convivência com o semiárido".

Associação de Apoio às Comunidadesdo Campo do Rio Grande do Norte - AACC

É uma entidade de assistência social, sem fins lucrativos e tem como missão promover ações de voluntariado e de solidariedade, apoiando grupos e comunidades organizadas em busca da transformação e justiça social. Sua atuação é fundamentada na educação popular, possui como campo preferencial de trabalho a economia eolidária, o voluntariado e a assessoria a projetos sociais.

Associação do Voluntariado eda Solidariedade - AVESOL

É formada por empreendedores(as) que buscam produzir, comercializar, consumir e ter acesso ao crédito, com relações justas de parcerias, para a inclusão social.

Associação de Desenvolvimento Solidárioe Sustentável de Marituba - Adsmar

É uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos, destinada a apoiar a realização de projetos de desenvolvimento tecnológico, de pesquisa, de ensino e de extensão, da COPPE e demais unidades da UFRJ. Seu público é composto por órgãos governamentais, privados, entidades multilaterais e empresas privadas nacionais e estrangeiras.

Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas eEstudos Tecnológicos - COPPETEC

As entidades do Brasil Local atuam nas diferentes regiões do país e realizam ações temáticas voltadas para a consolidação dos princípios da economia solidária. Com base numa diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas na cooperação, autogestão, solidariedade, sustentabilidade e na interrelação em redes de informações, produção, comercialização e consumo. Em âmbito nacional, trazem outras dimensões e diferenciais expressos na Economia Solidária e Feminista e no Etnodesenvolvimento. O Brasil Local realiza iniciativas articuladas, buscando garantir as especificidades de cada projeto e de cada território. Além disso, aposta na descentralização e autonomia das entidades da sociedade civil parceiras no desenvolvimento de seus planos de trabalhos e projetos.

Guayí significa "semente", no idioma Guarani (grupo indígena da região Sul do Brasil). Tem como objetivo estimular a auto-organização da sociedade para a defesa de seus direitos, na perspectiva generosa e solidária de um outro mundo possível, onde haja socialização dos frutos do desenvolvimento e de todas as dimensões do poder, com respeito às diferenças, não sendo estas motivo de desigualdade social.

Guayí - Democracia Participação e Solidariedade

Entidade privada sem fins lucrativos, que desenvolve serviços de consultorias e pesquisas em agronegócio, meio ambiente, agricultura familiar, e fornece suporte técnico e institucional às ações governamentais para a formulação e avaliação de políticas e programas de desenvolvimento.

Instituto de Tecnologia para o Agronegócioe Meio Ambiente Amazônico - ITASA

É uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, sediada em Recife - PE. Possui núcleos operacionais nos estados do Piauí, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Goiás. Constitui-se como instrumento para ressaltar a força positiva do trabalho, como agente real da produção e, deste modo, fortalecer a participação estrutural do mundo do trabalho, no controle político e profisisonal de processos sócio-produtivos, através da constituição de empreendimentos solidários que impulsionem um novo tipo de desenvolvimento que possibilite o exercício da sociabilidade do trabalho.

Via do Trabalho

É uma associação civil com fins não econômicos, de âmbito nacional, de natureza democrática, cujos fundamentos são o compromisso com a defesa dos reais interesses da classe trabalhadora, a melhoria das condições de vida e de trabalho das pessoas, a eficiência econômica e o engajamento no processo de transformação da sociedade brasileira, com base nos valores da democracia e da justiça social.

Unisol Brasil - Centro de Cooperativas eEmpreendimentos Solidários

Etnodesenvolvimento

Em 2009, com o Programa Brasil Local, a SENAES lançou edital para um projeto nacional de etnodesenvolvimento nas 5 regiões do país. O Núcleo de Solidariedade Técnica - SOLTEC/UFRJ, em parceira com a CONAQ, e por meio da Fundação Coppetec - UFRJ. concorrem e foram selecionados, dando inicio a uma parceria inovadora, de gestão compartilhada entre a academia e o movimento quilombola. Abrangência Territorial e Comunidades Quilombolas envolvidas no Projeto:

É uma perspectiva de análise do campo das ciências econômicas que incorpora as relações de gênero na compreensão do pensamento econômico, considerando centralmente dois elementos: a divisão sexual do trabalho e a invisibilidade das mulheres na esfera da produção. Para tanto, a economia feminista busca transformar as relações econômicas e sociais, objetivando uma nova forma de organização do trabalho e uma nova sociedade, baseada na igualdade de gênero.A abordagem da economia feminista localiza na divisão sexual do trabalho a principal origem das desigualdades de gênero, posto que, historicamente, condiciona às mulheres ocupações determinadas socialmente, o que gera desigualdades no mundo do trabalho, tendo conseqüências direta sobre a vida das mulheres: salários inferiores, trabalho precário e alto índice de mulheres no mercado informal. Estes fatores, aliados à invisibilidade das mulheres, materializadas no trabalho não remunerado, realizado para manter a esfera de reprodução da vida, como as atribuições domésticas e o cuidado com a família, conformam a situação de subordinação e exploração vivida pela ampla maioria das mulheres. A crescente feminilização da pobreza é resultado destes processos que constantemente têm aprofundado as desigualdades de gênero e a exclusão das mulheres do mundo do trabalho. A partir destes pressupostos a Economia Feminista se constitui como método de análise, bem como propõe ações e políticas que visam à igualdade de gênero, à emancipação e à autonomia econômica das mulheres.

O projeto Brasil Local, Economia Solidária e Economia Feminista

O projeto é desenvolvido em 09 estados brasileiros (Pará, Ceará, Pernambuco, Rio grande do Norte, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul), abrange as cinco regiões do país, onde são mapeados 300 empreendimentos solidários organizados por mulheres em diferentes segmentos produtivos, numa rica demonstração do trabalho das mulheres na economia solidária e da nossa diversidade regional, cultural e étnica.Partindo do resgate da experiência de trabalho das mulheres na economia solidária, busca-se aprofundar o debate sobre as políticas públicas que valorizem o conhecimento produzido pelas mulheres e fortaleçam sua presença na economia solidária. O projeto oferece atividades de formação na temática da economia feminista e tem como objetivo importante o fortalecimento da organização das mulheres.

Em 5 regiões do Brasil 43 municípios; 105 comunidades quilombolas ; 7.589 Famílias

Pará 9Estado Número de Comunidades

Maranhão 7Pernambuco 6

Goiás 9Bahia 11

São Paulo 8

Minas Gerais 10Estado Número de Comunidades

Paraná 6Espírito Santo 12Rio de Janeiro 5

Rio Grande do Sul 22

Economia Feminista

No decorrer da sua história, a Cáritas Brasileira vem desenvolvendo ações e contribuindo no debate e na concepção de desenvolvimento no Brasil. Podemos afirmar, que o nosso diferencial é a articulação entre teoria e prática construído a partir do que está sendo vivenciado no dia -a- dia de trabalho junto às comunidades. Nossas práticas revelaram a construção de um tipo de desenvolvimento diferenciado (sustentável e solidário), multidimensional (dimensão ambiental, econômica, política, social e cultural) que não se "restringe" ao crescimento econômico como condição única para promover a melhoria de vida da população.

As experiências revelaram também que para a Cáritas o desenvolvimento é: - Uma ação cultural, pois está relacionada às capacidades criativas e criadoras dos seres humanos para realização de desejos e a satisfação das necessidades.- Um processo de transformação das relações sociais, culturais, políticas e produtivas - expressa na constante busca ou inicio de uma nova realidade;- Uma construção societária - as relações humanas se transformam, possibilitando novas relações sociais;- Tem como finalidade à melhoria da qualidade de vida - que não se restringe a melhoria das condições materiais.- Incorpora a dimensão da Sustentabilidade - na medida em que promove a transformação das relações entre as pessoas e a natureza, buscando a harmonia entre o bem estar do ser humano e o meio ambiente e reconhece a unidade da vida no planeta Terra e a importância da biodiversidade.- Incorpora a dimensão da Solidariedade - na medida em que trabalha para a inclusão de todas as pessoas em seus benefícios, promove o rompimento com a visão utilitarista do meio ambiente, expressa um novo conceito e novas relações de poder, na condição de associação, de articulação de esforços e compromissos voltados para a superação de todas as desigualdades e de destruição da vida - avaliamos que esta dimensão tem forte significado para nós e está relacionada com a nossa identidade.

Chegamos à seguinte formulação sobre desenvolvimento solidário e sustentável territorial:

Por Ademar Bertucci

"Processo endógeno de mobilização das forças sociais e das potencialidades econômicas locais com a finalidade de implementação de mudanças que proporcionem a elevação das condições de vida da população local, em harmonia com o meio ambiente e com a participação ativa e solidária da sociedade na autogestão do seu desenvolvimento."Os caminhos já percorridos nos permitiram definir princípios e diretrizes que orientam nossa caminhada.

Na ocasião das chamadas públicas para a fase 2010/2011 do Projeto Brasil Local, a Cáritas, contribuiu com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária na discussão de critérios para apoio às propostas. Além disso, elencou 06 compromissos que tem orientado o papel da Articulação Nacional e que servirá de indicadores para o processo avaliativo de finalização dos projetos. São eles:

I) Parcerias e articulação com organizações e movimentos que têm práticas de orientação de Agentes de Desenvolvimento, com foco no território e que articulam ações de fomento de empreendimentos e mobilização comunitária; II) Compromissos com o fortalecimento dos espaços de confluência do movimento da Economia Solidária: fóruns brasileiro, estaduais e micro-regionais e seu reconhecimento como atores e atrizes políticos; III) Articulação entre os diferentes programas governamentais que atuam com Agentes de Desenvolvimento Local: assistência técnica e extensão rural, agroecologia, agricultura familiar, catadores(as) de materiais recicláveis, segurança alimentar e nutricional, reforma agrária, artesãos, convivência com o semiárido, educação cidadã, dentre outros; IV) Integração em Redes: educadores da economia solidária, educação cidadã, feiras de comercialização e comércio justo, bancos comunitários, fundos rotativos solidários, dentre outras; V) Construção/formulação da Política Nacional que os inclua os ADS como agentes públicos; VI) Balanço crítico da experiência acumulada com a execução do Projeto de Promoção do Desenvolvimento Local e Economia Solidária - PPDLES e Projeto Brasil Local - Desenvolvimento e Economia Solidária frente às experiências históricas de atuação de Agentes de Crédito, de Desenvolvimento, de Ação Comunitária, etc.

Por esta razão, a Cáritas Brasileira assumiu o desafio de atuar como articuladora nacional do Projeto Brasil Local, buscando olhar para as experiências de desenvolvimento local em curso e construir com o coletivo das organizações parceiras a partir delas uma concepção do papel dos ADS nos territórios. No primeiro semestre de 2012 ocorrerá um ciclo de avaliações nas diferentes regiões impulsionado pelo Brasil Local e pelo Centro de Formação em Economia Solidária. Essas avaliações nos permitirão averiguar os resultados das sistematizações, alguns indicadores de impacto, a relação entre estado e sociedade civil, a incidência em políticas públicas e, principalmente, qual o horizonte das políticas de economia solidária para além dos projetos.

O que é ser uma agente da economia solidária? É vivenciar uma construção coletiva em conjunto com os grupos de economia solidária da Rede Bodega e dos empreendimentos das comunidades de Beberibe. É fazer valer o direito a outra economia mais justa e com princípios da autogestão, de cooperação e de solidariedade. É também um grande aprendizado e muito gratificante estar nesse trabalho junto aos movimentos comunitários na construção de uma outra economia.

Quais são as suas atribuições e funções?- Colaborar com as ações de desenvolvimento comunitário e melhoria da qualidade de vida junto à Associação dos Moradores da Prainha do Canto Verde, onde permanece a luta pelo direito à terra e a moradia.- Integrar o Conselho de Turismo, onde começamos o desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária para melhorar a renda e o bem estar dos moradores pensando na preservação do meio ambiente e nos valores culturais.- Participar da Rede Tucum - Rede de Turismo Comunitário do Ceará - como moradora da comunidade da Prainha do Canto Verde, buscando a consolidação do Turismo Comunitário onde a população local tem o controle, o desenvolvimento e a gestão da atividade turística.- Contribuir para fazer acontecer a autogestão e o fortalecimento da Bodega o Nordeste Vivo e Solidário, como parte da diretoria da COAPSOL - Cooperativa de Produção e Comercialização Agroecológica e Solidária. E como membro do conselho gestor, acompanhando os encontros mensais, as atividades da Bodega, as visitas aos grupos, a realização das feiras de economia solidária

no Ceará e Santa Maria - RS, nos encontros de formação e assembleias.- Participar do Conselho Gestor da Rede Bodega do Ceará, com os encontros trimestrais mais específicos e encontros ampliados de planejamento, monitoramento e avaliação da Rede no estado do Ceará.

Quais lições e aprendizados você destacaria? As vivências com os empreendimentos, desde o primeiro contato até as expectativas e acolhida. E todo o aprendizado possibilitado - foi muito gratificante a forma acolhedora com que nos receberam e toda uma construção coletiva a partir dos diagnósticos locais.

Quais foram as principais dificuldades e desafios? O acesso até os empreendimentos, a falta de registros de dados e as informações colhidas principalmente relativas à renda e ao meio ambiente.

Quais são os seus principais compromissos? Continuar contribuindo para a construção da economia solidária junto com a Rede Bodega e com os grupos das comunidades de Beberibe

Quais são seus sonhos e perspectivas futuras a partir do seu trabalho? A conquista da Lei 9.709/98 para que as políticas públicas voltadas para a economia solidária aconteça. Sobretudo para que o poder público municipal venha priorizar mais a economia solidária. Acho importante que o projeto Brasil Local não termine aqui, mas que permaneça o compromisso do governo em apoiar os empreendimentos que fizeram parte dessa edição do projeto.

Marly Fernandes - Agente da Economia SolidáriaComunidade Prainha do Canto Verde - Beberibe/CE Projeto Brasil Local - Região Nordeste / AACC - RN

" fazer valer o direito a outra economia mais justa e com princípios da autogestão, de cooperação e de solidariedade."

"Acho importante que o projeto Brasil Local não termine aqui, mas que permaneça o compromisso do governo em apoiar os empreendimentos que fizeram parte dessa edição do projeto."

O que é ser uma agente da economia solidária?Ser um agente da economia solidária é conseguir ter a visão do todo e conseguir vislumbrar uma ação que possa envolver todas as pessoas. Ser agente é, acima de tudo, praticar a economia solidária no dia a dia, porque os-as agentes são os grandes semeadores dos princípios dessa outra economia. É, ainda, servir como meio para que as pessoas consigam atingir a prática da economia solidária e ser um articulador do trabalho a partir dos princípios da economia solidária.

Quais são as suas atribuições e funções?Promover ações que fortaleçam o espírito de grupo e a autogestão. Instigar a dar-se conta da realidade. Fortalecer os fóruns através de iniciativas que contribuam na sua auto-organização. Fomentar a economia solidária onde ela ainda não existe. Falar da economia solidária pra todos e todas. Escrever relatórios dos encontros com os empreendimentos econômicos solidários e das atividades que colaboramos. Estudar e refletir sobra nossas próprias ações.

Quais lições e aprendizados você destacaria?Nesse pouco mais de um ano que atuo como agente do Brasil Local, posso dizer que as lições são muitas, principalmente quando estamos no chão do trabalho dos empreendimentos econômicos solidários, escutando suas histórias e dificuldades. Aprendi que devemos sempre nos colocar no lugar do outro. Não podemos ter medo de errar, devemos saber que a avaliação é tão importante quanto a ação. Tenho como princípio nunca desistir, ser sempre otimista, e ter a certeza de que se damos o nosso melhor tudo dará certo. Também é fundamental respeitar o tempo do outro, saber voltar e começar tudo de novo.

Quais foram as principais dificuldades e desafios?Tem sido muito difícil mobilizar as pessoas, a gente chega com uma ideia de outra organização para o trabalho, num local onde literalmente impera outro sistema. O nosso povo está muito alienado e despolitizado. Quanto aos desafios, ainda é fazer com que os empreendimentos econômicos solidários compreendam que o momento junto ao agente, onde se constrói a linha da vida do empreendimento ou se discute a produção, é tão importante quanto estar produzindo.

Quais são os seus principais compromissos?Ser coerente, ética e sincera com os grupos acompanhados. Tentar colaborar em tudo o que possa para o desenvolvimento e fortalecimento da economia solidária.

Quais são seus sonhos e perspectivas futuras a partir do seu trabalho?Meu sonho é que as pessoas entendam que este sistema que vivemos hoje não dá mais, e passem a apostar nessa outra forma de organização para o trabalho proposta pela economia solidária. Minhas perspectivas são que os empreendimentos econômicos solidários que estou acompanhando se firmem, que o fórum consiga se articular e se estruturar melhor, e que a partir desse projeto a gente possa estruturar de fato políticas públicas em economia solidária para cada território. Gostaria que em todos os territórios existisse um-a agente mostrando para o nosso povo que nós podemos ser o que quisermos se estivermos juntos vivendo em cooperação, respeitando a opinião do outro e somando sempre.

Katiucia Gonçalves - Agente da Economia SolidáriaProjeto Brasil Local Região Sul / Avesol - Porto Alegre /RS

"Aprendi que devemos sempre nos colocar no lugar do outro. Não podemos ter medo de errar, devemos saber que a avaliação é tão importante quanto a ação."

"Meu sonho é que as pessoas entendam que este sistema que vivemos hoje não dá mais, e passem a apostar nessa outra forma de organização para o trabalho proposta pela economia solidária."

Prof. Genauto Carvalho de França Filho

Desenho e estratégia de atuação daSENAES: dialogando com Roberto Marinho

Roberto Marinho destaca que a SENAES pretende adotar duas abordagens transversais: a territorial e a setorial. Nesse segundo caso, pretende-se apostar na constituição e fortalecimento de redes de cooperação e apoiar projetos a partir da setorialidade, mantendo o diálogo com a territorialidade. A idéia é apoiar projetos produtivos estruturantes em cadeias produtivas ou segmentos econômicos com foco em redes de cooperação solidária.

Marinho reforça, ainda, a existência de outra dimensão dos segmentos populacionais que devem ser considerados nas suas especificidades: são pessoas em situação de extrema pobreza, os catadores de materiais recicláveis, as comunidades étnicas (quilombolas, povos originários etc), as mulheres, as pessoas que cumprem pena nas unidades prisionais, entre outras.

A economia solidária foi incorporada como uma das estratégias do Programa Brasil Sem Miséria. A partir do fortalecimento da parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), pretende-se ampliar significativamente as ações de economia solidária junto à população, enquanto estratégia emancipatória de superação da pobreza extrema.

No caso das comunidades quilombolas, a SENAES pretende trabalhar de forma articulada com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), no Programa Brasil Quilombola. No caso das mulheres, faz-se necessário integrar as ações de economia solidária com os programas desenvolvidos pela Secretaria de Política para as Mulheres (SPM), além de outras iniciativas que visam à emancipação de mulheres em situação de extrema pobreza, como é o caso do "Mulheres Mil", coordenado pelo Ministério da Educação, e do Projeto Elas, recentemente lançado pelo Banco Palmas, em Fortaleza/CE. Esse seria o desenho da ação em parceria, fortalecida por diferentes frentes e objetivos comuns. A economia solidária, enquanto estratégia emancipatória, aparece como fio condutor dessas articulações.

Ainda no tocante às articulações, Roberto Marinho explica que já foi iniciado um diálogo com o Departamento Penitenciário Nacional, e instituído um grupo de trabalho pela SENAES e pelo Ministério da Justiça, para debater e construir uma estratégia de atuação em unidades prisionais femininas.

É preciso também enfrentar o desafio de incorporar a temática da juventude através de uma parceria com a Secretaria Nacional da Juventude (SJ), na Secretaria Geral da Presidência da República. A SENAES e a SJ pretendem construir ações conjuntas voltadas para a juventude, abrangendo, por meio da economia solidária, cadeias produtivas e segmentos econômicos próximos aos interesses da juventude, tais como: esporte, lazer, moda, software livre e atividades culturais.

Roberto reforça a idéia de que, em todos esses casos, tanto considerando a abordagem territorial quanto a setorial, a atuação do agente da economia solidária é fundamental. Por exemplo, cada presídio feminino possui um "conselho da comunidade" formado pelas apenadas e por suas famílias. Nesse caso, a agente pode contribuir para que o conselho possa incidir nas iniciativas de resgate humano daquela população. Da mesma forma entre os jovens, entre os quilombolas e indígenas, entre as organizações feministas etc.

Tendo em vista a finalização da atual etapa do Brasil Local em 2012, Roberto Marinho ressalta o protagonismo político dos fóruns e organizações da economia solidária como fundamental para o reconhecimento e conquista de novos espaços nessas novas etapas da política pública de economia solidária. Isso significa que os acúmulos do Brasil Local precisam ser divulgados, difundidos e defendidos nos espaços públicos de participação. Nesse sentido, o papel da informação é primordial. Os dados e indicadores do projeto precisam subsidiar as discussões políticas e contribuir no redesenho das novas políticas que serão iniciadas nos territórios.