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1 PROJETO BRASIL DAS ÁGUAS Sete Rios Brasília – DF 2007

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PROJETO BRASIL DAS ÁGUAS Sete Rios

Brasília – DF 2007

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PROJETO BRASIL DAS ÁGUAS Sete Rios

Sumário

1. O PROJETO SETE RIOS

1.1. Apresentação..................................................................................................... 1.2. Objetivos..........................................................................................................

1.3. Área de Abrangência....................................................................................

1.4. Metodologia................................................................................................

1.5. Equipes........................................................................................................

2. EXPEDIÇÃO AO RIO VERDE

2.1. Apresentação da Expedição........................................................................ 2.2. Caracterização do Rio Verde....................................................................... 2.3. Estratégia.....................................................................................................

2.4. Locais Visitados pelo Projeto............................................................................

2.5. Diário de Campo.......................................................................................... 2.6. Análises das Amostras de Água................................................................... 2.7. Conclusões e Recomendações.....................................................................

2.8. Links Relacionados ao Tema Recursos Hídricos........................................

2.9. Contatos........................................................................................................

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1.1. Apresentação

Entre os anos de 2003 e 2005, o piloto Gérard Moss e a fotógrafa e escritora Margi Moss executaram a primeira fase do Projeto Brasil das Águas percorrendo todo o território brasileiro a bordo de um avião anfíbio, equipado com um moderno laboratório para pesquisas de água.

Foram selecionados e pesquisados cerca de 350 rios brasileiros com 1.161 pontos de coleta de água, que apresentaram um panorama da qualidade da água doce brasileira e com resultados que dão suporte à elaboração de um programa de preservação e de conscientização da situação dos principais rios brasileiros. Trata-se de um projeto de importância estratégica para o conhecimento dos recursos hídricos no Brasil, e os dados levantados são utilizados por pesquisadores e entidades como ANA, FEEMA, COPPE e os Comitês de Bacia, entre outros. O Projeto Brasil das Águas, em sua segunda fase denominada “Sete Rios”, pretende aprofundar os trabalhos em sete rios especialmente escolhidos, e usufruindo do interesse despertado durante a primeira fase, conscientizar as populações ribeirinhas sobre as condições da água desses rios, mostrando os riscos e discutindo a melhor forma de preservação desta riqueza para o bem de todos. Iniciada em março de 2006, esta etapa tem a sua conclusão prevista para agosto de 2007, já tendo completado as expedições por cada um dos rios selecionados no final de junho de 2007.

Trecho do rio Verde próximo à nascente, mostrando a cor esverdeada de suas águas em contraste com a poeira da estrada.

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1.2. Objetivos

O projeto Sete Rios é orientado para envolver as comunidades locais na conservação de seus rios, sugerindo algumas mudanças de hábito ou ações enérgicas que resultarão na melhora da qualidade de vida e ajudarão na preservação dos ecossistemas que fornecem a água. O objetivo é estimular a participação de todos – governos local, estadual e federal, usuários e cidadãos brasileiros de um modo geral – no gerenciamento hídrico dos seus rios. Através das apresentações abertas ao público nas cidades ribeirinhas, com a projeção de imagens do rio em questão, o projeto abre o debate sobre uma variedade de assuntos ligados ao rio: ações de desmatamento que afetam os mananciais e as matas ciliares, instalação de aterros sanitários e estações de tratamento de esgoto, controle das atividades de pesca, deslizamentos de encostas, assoreamentos, outorga para irrigação e impactos do turismo, entre outros.

Promovendo um canal de comunicação entre os participantes do projeto e os usuários do rio nas cidades visitadas, busca-se a troca de experiências através das discussões e a divulgação de informações das iniciativas, dos problemas e das soluções encontradas para apoiar a elaboração de políticas de meio ambiente nas diversas localidades trabalhadas.

Família ribeirinha que opera a balsa entre Ipiranga do Norte e Sinop.

Auxílio de fazendeiros da região para

chegar à nascente do rio Verde. .

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1.3. Área de Abrangência

No Projeto Brasil das Águas - Sete Rios, os rios foram selecionados em um workshop realizado em Brasília com a participação das mais diversas autoridades, cientistas e pesquisadores vinculados ao tema água. Os rios selecionados foram o Guaporé (MT e RO), o rio Verde (MT), o rio Araguaia (GO, MT, TO e PA), o rio Grande (BA), o rio Miranda (MS), o rio Ribeira (PR e SP) e o rio Ibicuí (RS), podendo ser identificados na ilustração abaixo.

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1.4. Metodologia

Inicialmente realiza-se um sobrevôo em toda a extensão de cada rio para captar imagens e constatar a condição da mata ciliar e os impactos sofridos na região. Também são feitos contatos iniciais com as prefeituras das maiores cidades.

Em seguida, na época determinada ideal para cada rio, membros da equipe percorrem de barco toda a extensão navegável, acompanhados por uma equipe de apoio a bordo de um veículo Land Rover, que reboca o barco pertencente ao projeto. Os integrantes observam e registram os impactos visíveis tanto na navegação, onde são feitas as coletas de amostras de água para posterior análise em laboratório, quanto no percurso terrestre.

Nas palestras realizadas nas cidades ribeirinhas, sempre que possível em praça pública, são projetadas num grande telão as imagens aéreas de toda a extensão do rio. A platéia muitas vezes se emociona ao ver a nascente ou a foz do seu rio, lugares desconhecidos por muitos. Logo, com o intuito de ressaltar a importância da participação da comunidade na preservação de seu rio, também são projetadas imagens de outros rios, como o Tietê, que tiveram algum dia suas águas limpas. Os debates que seguem à projeção das imagens oferecem uma oportunidade às pessoas para exporem suas preocupações e fazerem sugestões. As prefeituras locais, e especialmente as Secretarias de Meio Ambiente, se tornam parceiras na mobilização para esses eventos, muitas vezes apoiados pela imprensa local.

A pedido dos professores de escola nas cidades ribeirinhas, as palestras estão disponibilizadas em PowerPoint no site do projeto, para uso em sala de aula.

A equipe também aplica um questionário aos ribeirinhos, com o objetivo de entender melhor sua relação para com o rio, e as necessidades sócio-ambientais de cada região.

Um relatório final com as informações coletadas sobre cada rio, contendo os resultados dos questionários e das análises das amostras, é encaminhado às prefeituras visitadas e órgãos e pessoas interessadas no intuito de compartilhar com as instituições a necessidade de cuidar do rio e tomar as medidas necessárias para minimizar os danos causados pela ação do homem em sua fonte de água.

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1.5. Equipes

Idealizador do Projeto Brasil das Águas, Gérard Moss é engenheiro mecânico, empresário, piloto privado e Mestre Arrais. Líder das expedições, pilota o avião anfíbio e conduz o barco*, também orientando as apresentações e debates. Como fotógrafa da expedição, Margi Moss é a responsável pela atualização do website e do diário de bordo além da coleta e processamento das amostras de água, participando junto a Gérard das apresentações à população.

Pedro Meohas e Tiago Iatesta fizeram parte da equipe de expedicionistas que acompanharam Gérard e Margi no rio Verde, e Eduardo Bessa, Engenheiro de Meio Ambiente da SMS da Petrobras, também acompanhou todo o trajeto.

Na composição da equipe de pesquisadores, o Professor José Galizia Tundisi e o Doutor Donato Seiji Abe, do Instituto Internacional de Ecologia (IIE) de São Carlos - SP, são os responsáveis pela análise das concentrações de fósforo total, nitrogênio total, nitrogênio amoniacal e íons na água, classificando as amostras em um Índice de Estado Trófico (IET).

Analisam a biodiversidade do fitoplâncton a Doutora Maria do Socorro Rodrigues, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília, Iná de Souza Nogueira, Doutora em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo e Elizabeth Cristina Arantes de Oliveira, Mestre em Ecologia pela Universidade de Brasília.

A abundância celular do bacterioplâncton é analisada pelo Doutor Rodolfo Paranhos, do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

* O barco de alumínio da expedição, o modelo Marfim de 5 metros da Levefort, foi adaptado para obter uma autonomia de até 600 km em regime de navegação econômica. O projeto escolheu o motor de popa mais ecológico do mundo, o Evinrude E-TECH, de 50 hp. Além de usar até 75% menos óleo que os motores 2 tempos, o E-TEC emite um volume de monóxido de carbono de 30 a 50% menor que qualquer motor 4 tempos. O motor ganhou o Prêmio Clean Air Excellence, promovido pela Agência Norte-Americana de Proteção Ambiental (EPA).

Navegando no lago da PCH para a filmagem de TVs locais.

Equipe do projeto que acompanhou a expedição ao longo do rio Verde.

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RIO VERDE (MT)

Expedição Exploratória

Maio de 2007

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SUMÁRIO EXECUTIVO

Rio Verde – Mato Grosso Nascente: Fazenda Santa Clara, municípios de Santa Rita do Trivelato e Nobres, nas coordenadas S14°10,5 / W055°17,6. Altitude: 555 metros. Foz: Rio Teles Pires, ponto tríplice entre os municípios de Sorriso, Sinop e Ipiranga do Norte, nas coordenadas S11°43,6 / W055°43,9. Altitude: 295 metros. Extensão: Aproximadamente 520 km. Região Hidrográfica: Amazônica. Bacia do rio Verde: 78.984 km². Bioma: Cerrado e Floresta Amazônica. População dos municípios contíguos ao rio: 229.676 habitantes (IBGE 2006). Municípios contíguos ao rio Verde (8): Nobres, Santa Rita do Trivelato, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Tapurah, Sorriso, Ipiranga do Norte e Sinop. Oportunidades: Turismo voltado ao rio Verde e suas belíssimas águas, bem como a exploração turística do lago formado pela construção da PCH Canoa Quebrada, em Lucas do Rio Verde e Sorriso. Possíveis ameaças: Desmatamento para a abertura de novas áreas dentro da mata ciliar, dejetos dos confinamentos de animais e efluentes de novos complexos industriais. Principais preocupações da população: Desmatamento e eliminação da mata ciliar, que podem resultar na erosão das margens e sedimentação do rio e utilização inadequada de defensivos que podem infiltrar nas águas subterrâneas e no rio. Resultados das análises das amostras: A qualidade da água analisada do rio Verde apresenta resultados excelentes, os melhores de todos os sete rios amostrados.

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2.1. Apresentação da Expedição ao Rio Verde Verde é o nome dado a rios encontrados em diversos Estados do Brasil. Com a abertura de novas terras, muitas vezes esses rios perdem sua qualidade de “verde”. Não é o caso do rio Verde, no Mato Grosso, percorrido pelo Projeto Sete Rios. Apesar de cortar uma região que, nos últimos 30 anos, foi alvo de um radical desmatamento a passo acelerado, as matas em torno do rio foram preservadas com o resultado que as águas ainda hoje descem limpas. Na verdade, o rio Verde é meio desconhecido pelos moradores da região que cruza, com a óbvia exceção de Lucas do Rio Verde, única cidade localizada às suas margens. Há certo receio quanto à sua balneabilidade nesse trecho em decorrência da força da correnteza, sendo que o rio Teles Pires é bem mais popular devido à sua piscosidade e à ocorrência de praias. A expedição da equipe do projeto pelo rio Verde foi realizada entre 19 e 25 de maio de 2007, percorrendo por água e por terra desde o local das nascentes até a foz. As atividades que envolvem o projeto se deram nas três cidades mais populosas da região, onde foram realizadas as palestras. No Alto Verde, a equipe não conseguiu navegar, já que o rio corre por um leito estreito dentro de uma mata fechada. Só foi possível iniciar os trabalhos utilizando os barcos a partir de Lucas do Rio Verde. Após esse trecho, o leito e o volume de água aumentam e, vencendo alguns obstáculos como corredeiras e a represa de Canoa Quebrada, a navegação torna-se tranqüila.

Durante a visita ao rio Verde, o projeto Sete Rios estabeleceu um valioso debate entre seus diversos usuários. Tendo navegado em um rio que corta uma das regiões mais produtivas do país e encontrado um rio ainda de águas limpas, o projeto apresenta um parecer geral de todo o trajeto percorrido. Estão expressas algumas sugestões que podem reduzir os impactos futuros e promover a utilização sustentável das águas, beneficiando o homem e a generosa natureza que o envolve. A preservação do rio está nas mãos das autoridades municipais e dos próprios moradores.

Uma das pontes de madeira que cruza o Verde.

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2.2. Caracterização do Rio Verde A bacia do rio Verde, localizada no centro do Estado de Mato Grosso, a norte de Cuiabá, abrange oito municípios, sendo que alguns possuem sua área localizada totalmente na bacia, e outros apenas parcialmente. Drena uma área de 78.984 km², que conta com uma população total de aproximadamente 229.700 habitantes (IBGE, 2006). Seus afluentes de maior influência são o rio Branco e o ribeirão Ranchão. Suas nascentes encontram-se dentro da Fazenda Santa Clara, inseridas nos municípios de Santa Rita do Trivelato e Nobres, a 555 metros de altitude. Já a foz está situada no rio Teles Pires, limite tríplice dos municípios de Ipiranga do Norte, Sorriso e Sinop, medido a cerca de 295 metros de altitude na época da expedição, ou seja, uma queda total de aproximadamente 260 m. O Verde percorre estimados 520 quilômetros, num rumo ao norte sempre acompanhando o curso do vizinho Teles Pires. Não há cachoeiras em seu percurso, apenas alguns trechos de corredeiras de pequeno porte. É o afluente mais importante do rio Teles Pires pela margem esquerda, somente ultrapassado em tamanho pelo Juruena que, ao se juntar ao Teles Pires no extremo norte de Mato Grosso, forma o rio Tapajós, um dos principais afluentes da margem direita do rio Amazonas. O solo do entorno é composto por latossolos vermelho-amarelados com fertilidade natural baixa, mas que responde muito bem à calagem e adubação. O relevo é plano, com ondulações à beira do rio. O rio nasce em região de cerrado e depois cruza o bioma de floresta amazônica. A vegetação nativa no entorno do rio alterna-se em matas abertas e fechadas, às vezes cercadas por várzeas e cerrado no alto Verde. O clima é tropical úmido, com temperatura média ao redor de 26°C e 2.000 milímetros de chuvas. A estação chuvosa vai de outubro a abril e a seca, de maio a setembro. A água do rio Verde é ainda pouco impactada, provavelmente em parte devido à preservação das matas ciliares.

As estradas de terra que cruzam as florestas de galeria do alto rio Verde.

Alto rio Verde, escondido na mata, impossível de ser navegado.

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Em toda a extensão do Verde, há apenas uma cidade, Lucas do Rio Verde. Quase todas as propriedades nas margens do rio são grandes fazendas e, portanto, há poucos ribeirinhos. Três pontes principais cruzam o rio, a primeira, pequena, no Alto Verde, na estrada que liga Nova Mutum a Santa Rita do Trivelato, outra localizada na BR-163 na própria cidade de Lucas, e a mais nova na estrada que liga Sorriso a Ipiranga do Norte. Além delas, há algumas pontes mais rústicas, de madeira, e no Baixo Verde, há serviço de balsa na estrada de terra que liga Ipiranga do Norte a Sinop.

Atualmente o principal uso da água do rio é a geração de energia elétrica, através da implantação, da Usina Canoa Quebrada, a jusante de Lucas do Rio Verde. A hidrelétrica é responsável pela geração de mais de 28 mW de energia e se consolida com a chegada de grandes indústrias de alimentos a serem instaladas na cidade.

A interação da população com o rio é bastante restrita. Isso, em parte, devido ao difícil acesso, em parte à força da correnteza e aos redemoinhos (responsáveis por vários casos de afogamento) e em parte à inexistência de ribeirinhos. A beleza natural do rio, com suas águas limpas e suas matas que são um refúgio para a fauna, criam um potencial de turismo ecológico ainda não desenvolvido.

Encontro dos sinuosos Verde e Teles Pires

Matas retiradas das margens do rio nolago da represa Canoa Quebrada.

O rio Verde, estreito, 40 km acima de Lucas do Rio Verde.

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LOCALIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO VERDE

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2.3. Estratégia A expedição acompanhou a dinâmica do rio Verde, desde as nascentes na Fazenda Santa Clara, até a desembocadura no rio Teles Pires, sendo que somente foi possível navegar a partir de Lucas do Rio Verde devido a obstáculos naturais no percurso. A interação com o rio foi efetivada percorrendo primeiro de avião toda a sua extensão durante o mês de julho de 2006, captando as imagens e observando a condição da mata ciliar e os impactos causados pelo homem às margens e à água. Em maio de 2007, a equipe retornou à região, desta vez com dois barcos e um jipe, para percorrer os trechos navegáveis e coletar amostras de água para posterior análise em laboratório, bem como buscar um contato direto com a população.

A equipe teve a oportunidade de realizar apresentações para as comunidades nas cidades de Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop. Em Lucas do Rio Verde, único município localizado às margens, foram levantados questionamentos quanto a possíveis alterações que o rio vem sofrendo após a construção da PCH Canoa Quebrada, bem como a disposição de lixo doméstico no trecho em que cruza a cidade e as possíveis repercussões da instalação de uma mega-fábrica da Sadia, entre outras, na periferia da cidade.

Devido à distância de Sorriso e Sinop ao rio Verde, e à preferência dos cidadãos pelo rio Teles Pires, nos debates que seguiram as palestras, a população não apresentou preocupações específicas quanto ao dia-a-dia do Verde. Esta ‘distância’ emocional dos moradores da região do rio Verde é um fator que contribui para sua preservação, poupando-o de maiores impactos antrópicos.

Entrevista para canais locais de televisão, em Lucas do Rio Verde.

Preparando o barco para a navegação no lago da PCH Canoa Quebrada.

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2.4. Locais visitados pelo projeto

As múltiplas nascentes do rio Verde estão localizadas na Fazenda Santa Clara, municípios de Santa Rita do Trivelato e Nobres, a uma altitude de aproximadamente 555 metros nos contrafortes da Serra Azul. Pelo menos cinco riachos formam dois braços distintos dentro dessa propriedade, ambos conhecidos como Rio Verde, que se unem 15 km rio abaixo. O local é difícil de encontrar, devido à falta de placas e sinalização nas estradas de terra da região. A nascente é pouco conhecida, mesmo por moradores das proximidades. Fica 130 km da cidade de Nova Mutum, a maior parte do caminho sendo por diversas estradas de terra que cortam grandes milharais. Nos pontos onde a equipe teve acesso às margens do rio para coletar amostras, a mata ciliar estava bem preservada, conforme também constatado nas fotos aéreas. Do ar, foi possível identificar certos lugares onde resta apenas uma estreita faixa de vegetação. A transparência da água e a tonalidade esverdeada impressionam, fazendo jus ao nome Verde dado ao rio. As terras que cercam as nascentes e os braços superiores do rio estão plenamente utilizadas por lavouras de milho, soja e feijão. Segundo informações, há uma criação de porcos próxima às nascentes de um dos braços do rio, podendo eventualmente haver alguma ameaça à qualidade da água. Esse detalhe não foi verificado pela equipe devido à hora tardia. As análises das amostras não indicaram contaminação.

NASCENTES

FAZENDA SANTA CLARA

Santa Rita do Trivelato e Nobres - MT

Não foi possível navegar em qualquer trecho do Alto Verde devido ao tamanho reduzido do rio, encaixado em uma calha estreita passando por uma densa mata ciliar, com galhos e troncos caídos no curso d’água. Desde as nascentes, o rio Verde percorre aproximadamente 220 km até alcançar a cidade de Lucas do Rio Verde.

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Localização Pode ser acessada pela BR-163 (Cuiabá-Santarém). Está localizada no centro do Estado de Mato Grosso, distante 350 km da capital Cuiabá. A cidade dispõe de um aeroporto sem a operação de linhas regulares. Economia local

A economia de Lucas do Rio Verde gira em torno da produção agrícola, sendo que ficou em 9º lugar no ranking nacional de produção de grãos em 2006, com uma renda de R$ 313 milhões (IBGE). A cidade também se destaca como pólo agroindustrial e pela qualidade do ensino, com uma faculdade construída mediante o auxílio financeiro de produtores. Com alta tecnologia e elevados índices de produtividade, a agricultura de Lucas do Rio Verde desponta como uma das mais eficientes do mundo e foi fundamental para que rapidamente o município se firmasse entre os mais importantes pólos de agronegócio do Estado e do país. O município vive um processo de adaptação de seu perfil econômico devido ao início das atividades agroindustriais. A soja é o principal item dos produtos primários, porém ainda se destacam o algodão, o arroz e, principalmente, o milho de segunda safra (safrinha), cuja participação, em torno de 10% no volume da produção nacional, confere a Lucas o título de campeão brasileiro do setor. Ajudadas pelo clima favorável, as duas principais safras anuais garantem uma comercialização de cerca de 1,5 milhão de toneladas de grãos, ou 1% da produção brasileira nesse setor. Saneamento e Lixo De acordo com a prefeitura, o abastecimento de água potável é feito pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto – SAAE através de captação em nove poços artesianos. Á água é tratada na estação municipal e distribuída a 100 % da comunidade. Lucas do Rio Verde conta com apenas 22% das edificações ligadas à rede coletora e estação de tratamento de esgotos, que encontram-se em fase de expansão devido a recentes investimentos. Todo o restante, ou seja 75%, ainda utiliza fossas.

LUCAS DO RIO VERDE

População do Município: 28.646 habitantes (IBGE, 2006).

www.lucasdorioverde.mt.gov.br

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Cerca de 80% do lixo é coletado diariamente nas zonas urbana e rural e levado a um lixão próximo da cidade. Porém, segundo a prefeitura, já está em fase de construção um aterro sanitário municipal que atenderá a 100% da demanda atual. Em certas localidades, os moradores ainda queimam ou enterram o lixo produzido. Cultura e Turismo Vale lembrar que Lucas é uma cidade muito nova, sendo fundada há apenas 22 anos (ano de 1985) e colonizada principalmente por gaúchos. Trinta anos atrás, toda a região era composta por florestas virgens. A prefeitura recentemente estruturou uma Secretaria Municipal de Turismo, que está responsável por catalogar todos os possíveis pontos onde se podem desenvolver e explorar o turismo de forma sustentável. Após a construção da PCH Canoa Quebrada, formou-se um belo lago de águas limpas próximo à cidade, que poderá ser utilizado para lazer da população e dos que visitam a região. Outro ramo que se destaca no município é o de eventos de agronegócios vinculados à venda de sementes, equipamentos e novas tecnologias agrícolas. Através da realização de feiras e exposições, ocorre grande circulação de capitais, e parte desse capital acaba retido no município sob a forma de impostos. Meio Ambiente

É importante destacar o premiado Projeto Lucas do Rio Verde Legal, uma iniciativa ambiciosa que representa uma aliança entre produção e meio ambiente, unindo o poder público, os produtores rurais, a ONG The Nature Conservancy - TNC e empresas privadas. Aponta novos rumos para a cadeia produtiva, servindo de linha mestra para o desenvolvimento sustentável do município, que busca ganhar o título de primeiro município sem passivos ambientais, sanitários e trabalhistas no setor agropecuário. Atualmente, junto com a iniciativa de implantação de uma terceira safra através da ILP (Integração Lavoura/Pecuária) no período de junho a setembro, desenvolvem-se cada vez mais ações voltadas à proteção do meio ambiente. No trecho navegado que corta a cidade de Lucas, a mata ciliar ainda encontra-se preservada, mas novas construções e invasões se aproximam das margens do rio. O rio é utilizado por alguns moradores para lazer e pesca, mas é preciso insistir na educação ambiental, pois a equipe encontrou latas, sacos plásticos e especialmente garrafas PET na água e no entorno. Pesca

Apesar de estar localizado junto à margem do rio, os poucos moradores de Lucas do Rio Verde que pescam em suas águas visam somente o lazer ou a subsistência de suas famílias, não havendo relatos de qualquer tipo de atividade de pesca predatória naquele trecho do rio.

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Localização

Sorriso está situada a 430 km de Cuiabá pela BR-163, rodovia que une a capital do Mato Grosso a Santarém, no Pará. A cidade dispõe de aeroporto sem vôos regulares.

Economia local

Sorriso é uma das cidades mais ricas de Mato Grosso. Sua estrutura produtiva está baseada na agricultura de grãos, sendo soja, arroz, milho e algodão as principais culturas. Dentre elas, destaca-se a produção de soja, que atualmente ocupa 550 mil hectares com lavouras, colhendo cerca de 20 milhões de sacas ao ano. É o maior município brasileiro produtor deste grão, representando 3% da produção nacional e mais de 17% da produção estadual. Pelo ranking nacional de produção de grãos para 2006, segundo o IBGE, Sorriso ocupa o 3º lugar, tendo gerado uma renda de R$585 milhões.

O rápido progresso da cidade, formada em 1986, trouxe para a área comerciantes, técnicos, profissionais liberais, pequenas, médias e grandes empresas, como Cargill, Bunge, ADM, Amaggi e Monsanto, esta com a sua unidade de pesquisa de soja inaugurada em 2003. A expansão também atraiu pessoas sem especialização em busca de melhores condições de vida pela possível oferta de trabalho. Muitas vezes, acabaram decepcionadas, já que a mecanização do agronegócio reduziu significativamente a demanda de mão-de-obra.

Outras atividades econômicas, como a pecuária de gado confinado, frigoríficos e a extração de madeira agregam receita ao município, porém esta última encontra-se em forte declínio devido ao esgotamento de matéria-prima e ao incremento da fiscalização.

Saneamento e Lixo

O abastecimento de água atende a 100% das residências de Sorriso, e a água, captada em poços da Companhia Águas de Sorriso, é tratada com cloro e flúor e distribuída pela rede. A cidade não possui rede coletora e estação de tratamento de esgotos. A grande maioria das residências, tanto na zona urbana quanto na zona rural, possui fossas rudimentares. O lixo é recolhido nos domicílios diariamente na cidade e na zona rural, sendo levado a um aterro sanitário distante 20 km do centro da cidade.

SORRISO

População do Município: 50.613 habitantes (IBGE, 2006).

www.sorriso.mt.gov.br

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Cultura e Turismo As terras do atual município fizeram parte do projeto de colonização da empresa Colonizadora Feliz, no ano de 1977. Antigo distrito da cidade de Nobres, Sorriso só obteve sua emancipação em 1986. A maioria dos moradores é composta por descendentes de imigrantes italianos fixados no Rio Grande do Sul e, em menor escala, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Trata-se de colonos atraídos pelo desafio, terra barata e a grande possibilidade de enriquecimento com o desenvolvimento da região após a abertura da BR-163, rasgada na selva pelo governo militar como parte do programa de integração da Amazônia ao restante do país.

Está em plena fase de construção o centro de eventos municipal, uma obra realizada com o objetivo de atrair maiores investimentos ao município. Atualmente, os maiores eventos que se destacam são: a Semana do Município, o Motocross Estadual, a Festa do Chimarrão e da Soja, a Semana da Pátria e o Carnasoja.

A cidade hospeda anualmente a Tecnocampo, considerada o maior evento em todo o Brasil vinculado à difusão de novas tecnologias de plantio de soja. Meio Ambiente Como medidas de amenização dos impactos ambientais, Sorriso desenvolve uma série de projetos como, por exemplo, a implantação de um programa de coleta seletiva e outro para a reciclagem de pneus usados. De todos, o que mais se destaca é o projeto pioneiro no Brasil e desenvolvido pela prefeitura, que realiza a coleta e destinação de embalagens usadas de agrotóxicos, fazendo forte campanha educacional a respeito.

Sorriso apresenta problemas de certa magnitude em função da falta de planejamento urbano. De acordo com a prefeitura, o município tem sérias ocorrências de erosão acelerada e apresenta grandes áreas desmatadas a serem reconstituídas.

O Projeto Sorriso Vivo do Clube Amigos da Terra – CAT Sorriso existe desde junho de 2005 com o objetivo de conscientizar a sociedade com respeito à produção em harmonia com a natureza, protegendo as matas ciliares e promovendo o Plantio Direto na Palha. Junto com o Ministério Público, em 2006 o CAT lançou o “Disque Denúncia Ambiental” (0800 647 1700) com uma campanha para cuidar do meio ambiente. Pesca Relatos afirmam que há casos de pesca predatória em rios da região. Uma alternativa incentivada pela prefeitura de Sorriso é o combate à pesca predatória através de incentivos à prática da pesca esportiva. O rio Verde não é alvo por parte desses pescadores, que preferem o rio Teles Pires.

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Localização Sinop está localizada a 503 km de Cuiabá pela BR-163. Dispõe de um bom aeroporto, com duas linhas aéreas operando freqüências regulares para Cuiabá, Alta Floresta e Santarém. Economia local Sinop desenvolveu-se devido à intensa atividade madeireira de seus primeiros colonizadores, embora ainda seja a principal atividade econômica do município. Hoje possui aproximadamente 300 madeireiras, quadro bem diferente das 800 contabilizadas no passado. Devido a essa atividade, ganhou fama pelas altas taxas de desmatamento, queimadas e a fumaça constante que pairava acima da cidade. A economia sinopense é diversificada, sustentada pela pecuária de corte. Os números são bastante significativos, já que a agricultura cresceu cerca de 700% nos últimos três anos, em função dos bons preços dos grãos, escassez de árvores de grande porte e desgaste das pastagens. Ainda destacam-se no município três grandes frigoríficos, como o Frialto, com toda a produção destinada aos grandes centros do país e também ao mercado externo. Outras grandes empresas, como a Bunge, estão instaladas no município. Saneamento e Lixo A água é captada em poços tubulares da Companhia de Águas de Sinop, tratada e distribuída a 100% da população urbana. A cidade não possui rede de esgotos e estação de tratamento, sendo que atualmente 100% das residências utilizam fossas. Porém, já está em andamento o projeto de autoria da prefeitura para o saneamento básico do município, que contará com rede coletora atendendo a toda cidade, que estará direcionada a uma estação de tratamento.

SINOP

População do Município: 103.868 habitantes (IBGE, 2006).

www.sinop.mt.gov.br

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O lixo, recolhido diariamente em cerca de 90% das residências, é direcionado a um lixão distante 8 km da cidade. Cultura e Turismo O nome Sinop é alusão às iniciais da empresa paranaense que ocupou a região a partir de 1972. A Colonizadora Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná pertencia a Enio Pipino, fundador de 13 cidades, dentre elas Vera, Santa Carmem e Cláudia. Por tanto, há um número significante de paranaenses no município. Eventos como a Feira Agropecuária, considerada uma das melhores do Brasil, e a Festa das Nações, movimentam a cidade e sua economia durante os dias desses acontecimentos. Seguindo exemplo de cidades vizinhas, Sinop aproveita a oportunidade do turismo de negócios e está construindo o segundo maior centro de eventos do Estado. A cidade é sede de importantes eventos como a Exponop, a Festa Internacional do Arroz e o Pró-madeira, sendo o evento mais importante do ramo de madeira tropical na região. Meio Ambiente Sinop possui uma situação ambiental delicada, já que no passado viveu intensamente a exploração da madeira e, após ter toda a vegetação de seu entorno devastada, hoje busca na agropecuária uma nova fonte de receita. Outra preocupação está expressa no rápido crescimento industrial do município, devendo atentar-se à sustentabilidade ambiental desses novos empreendimentos que estão sendo construídos, desde a poluição atmosférica causada, bem como os efluentes resultantes dos processos produtivos. Atualmente, não há planos de ajustamento do passivo ambiental das propriedades do município, conforme as cidades vizinhas de Sorriso e Lucas. Um projeto em fase de lançamento é o Ecoagrotur, idealizador pelo produtor Clayton Arantes. É o primeiro desse tipo no município de Sinop e visa aumentar a consciência do produtor rural sobre a importância de uma relação harmoniosa com o meio ambiente. O projeto vai incluir o lançamento de um selo verde, Sinop Ecolegal, para produtos provenientes de propriedades que aderem à prática de agricultura sustentável. Hoje em dia, não é apenas para fazer bonito, entra em jogo a questão das exigências do mercado de exportação. Pesca Apesar do foco da pesca estar direcionado ao rio Teles Pires, alguns pescadores procuram o rio Verde em busca de espécies como o matrinxã, peixe bastante visado e consumido na região. A cidade promove um grande festival de pesca todos os anos no rio Teles Pires. O evento acontece durante o início do mês de agosto, logo após o final do também movimentado Festival de Praia, nos meses de junho e julho.

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2.5. Diário de Campo – Margi Moss

Rio Verde – manancial de águas limpas que percorre as lavouras Saindo de Cuiabá no Land Rover, com o barco no reboque, a procura do início do rio Verde, optamos pelo caminho mais seguro. Em vez do trajeto mais curto, que seria sair da BR-163 em Posto Gil, 170 km ao norte de Cuiabá, e passar ao longo da Serra Azul por uma longa estrada de terra de condições desconhecidas, preferimos seguir pelo asfalto até Nova Mutum. Ali, deixamos barco e reboque no estacionamento do hotel, e aproveitamos para almoçar antes de encarar uma longa viagem ida e volta em busca da nascente. Sem o reboque, conseguimos andar mais depressa. Estávamos cinco a bordo bem apertados – Gerard, Tiago, Pedro e eu, além de Eduardo Bessa, da SMS da Petrobras, que acompanharia toda a expedição. Saindo de Nova Mutum rumo ao leste, os primeiros 60 km da estrada que vai rumo à Santa Rita do Trivelato estão asfaltados. Quando termina o tapete de alcatrão, começa a estrada de terra usada pelos caminhões que transportam as safras de soja e milho. Esses veículos pesados transformam a estrada num poeirão que cobre tudo com uma sufocante camada de pó vermelho. Tivemos que parar várias vezes para pedir informações, nada não fácil numa região onde há apenas grandes fazendas e é raro cruzar com uma pessoa na beira da estrada. No minúsculo distrito de Pacoval, apesar da vastidão ‘vazio’ em volta e da relativa proximidade ao rio, ninguém sabia ao certo onde nascia o Verde. Iríamos encontrar essa surpreendente falta de interesse no rio por parte de moradores ao longo do vale. Enfim, após uma orientação de um fazendeiro da região, encontramos a Fazenda Santa Clara, onde o Verde nasce. Muitas vezes, é difícil atribuir a origem de um rio a uma nascente específica. O caso do rio Verde é mais complicado ainda. São várias nascentes bem próximas e bem demarcadas pelas matas que aparecem de repente no meio das lavouras. Mas há um detalhe que torna o Verde duplamente especial. O rio tem dois braços distintos, que nascem bem próximos um ao outro e são ambos chamados de Rio Verde. Cada braço começa com uma mão cheia de nascentes, como se fossem dedos. Nesse começo, nas suaves encostas da Serra Azul cobertas por um cerrado ralo, brotam as águas transparentes, que correm com força surpreendente por uma calha profunda dentro da mata ciliar fechada, até se unir 15 km rio abaixo para formar o corpo do rio. Coletamos uma amostra 9 quilômetros a jusante das nascentes no braço direito, único lugar que conseguimos um acesso ao rio, e paramos para conversar com o pessoal da Fazenda. O sol já estava se pondo, e ainda tínhamos pelo menos 130 km para chegar de volta a Nova Mutum. Por isso, quando veio a dica para pegar uma estrada vicinal que cruza a fazenda e encontra com a estrada principal mais perto do nosso destino, topamos na hora. Mesmo desconfiando daquela frase fatal “O caminho é fácil, não tem erro...”. Pior, na escuridão! O caminho cortava os milharais, atravessando múltiplas fazendas com dezenas de estradas idênticas saindo à direita e à esquerda. Nenhuma placa, porque quem anda por ali sabe onde vai. Resultado: nos perdemos. Mas era uma bela noite: estrelada, com uma lua imensa. A salvação foi o GPS.

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No dia seguinte, seguimos 100 km pelo asfalto até Lucas do Rio Verde. Chegando à cidade, procuramos logo chegar à beira do rio, e pedimos vários moradores onde havia um acesso ou uma rampa. A maioria das pessoas não tinha a menor idéia, talvez porque, em se tratar de uma cidade nova, muitos são recém-chegados. Estávamos descobrindo que, em geral, os moradores do vale do rio Verde, desde as nascentes até a foz, mal sabem por onde passa o rio, muito menos onde nasce ou onde termina. Poucos o usam para o lazer, apesar das suas águas tão bonitas e limpas. Mesmo sendo domingo, conseguimos fazer contato com Aluísio Bassani, Secretário de Turismo, e almoçamos juntos. Ele esclareceu que a população tem medo do rio. Na altura de Lucas do Rio Verde, a correnteza é forte e os redemoinhos já causaram a morte de um número assustador de banhistas. À tarde, colocamos ambos os barcos no Verde perto da ponte da BR-163 e subimos o rio que serpenteia em volta da área urbana. Mesmo ali, tão perto do centro da cidade, a mata ciliar é densa e quase intacta, com poucas construções perto das margens. Havia algumas famílias curtindo o domingo só em três pequenas baias, onde as crianças mais corajosas pulavam dentro da água. O maior problema constatado foi o lixo - garrafas PET e sacos plásticos dentro da água e espalhadas nas margens. Mesmo assim, a água do rio é um espetáculo. Navegamos rio acima, passando o encontro com o afluente Rio Ranchão que, apesar de pequeno, fornece um impressionante volume de água, com correnteza poderosa. Acima desse encontro, o Verde fica mais estreito e a navegação se complica, devido aos troncos de árvore atravessando o leito. Subimos até não poder mais, coletamos uma amostra e retornamos, só chegando de volta à rampa ao anoitecer. De manhã, Aloísio e o fazendeiro Fernando Ambiel nos levaram até um local onde era possível descer com os barcos no recém-formado lago da represa Canoa Quebrada. Entre o ponto onde o rio ainda passa pelas últimas corredeiras não submersas pelo lago, com uma queda de 1 metro de altura, até o paredão da represa, navegamos 33 km. Ao fazer o sobrevôo da região para fotografar o rio, a barragem ainda estava em fase final de construção e observamos os trabalhos da construtora para retirar as árvores que ficariam dentro da água e apodreceriam. Navegando no lago, ficamos impressionados com a exatidão da retirada da mata, deixando as árvores exatamente na altura do nível da água. Aparentemente será feito o reflorestamento das áreas das novas margens atualmente ocupadas por lavouras, para que haja uma proteção de 100 metros de mata em volta do lago, conforme exige a lei. Infelizmente, esse detalhe é ignorado na quase totalidade das represas construídas pelo país afora. Em outro esforço para minimizar impactos ambientais, foi construído um canal para a subida dos peixes na época da piracema.

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O município, através da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, está investindo pesado na preservação. Criou o premiado projeto Lucas do Rio Verde Legal, que tem o objetivo de adotar o caminho de desenvolvimento sustentável. Na palestra à noite, na UNIVERDE, falamos para um auditório lotado. A maior dificuldade que estávamos enfrentando era a falta de informações com respeito ao rio. Na preparação da expedição, através das imagens do sobrevôo e do Google Earth, identificamos várias pontes, a maioria de madeira, pelo caminho. Porém, os moradores não as conheciam, mesmo uma ponte nova, de concreto, que tínhamos fotografada do ar. Também não conseguimos informações sobre uma balsa que havíamos vimos. Para continuar descendo o rio, precisávamos encontrar um acesso após a represa. Fernando sugeriu a rampa na fazenda dele, a 37 km da cidade pela estrada Lucas-Tapurah. Perfeito, mas a grande dúvida era onde encontrar uma rampa para tirarmos o barco rio abaixo? Faltavam aproximadamente 230 km até a foz. O rio continuava belíssimo – uma mata densa em cada margem, as águas esverdeadas fazendo jus ao nome. Navegamos tranquilamente, Gerard, Pedro e eu, tendo marcado um encontro com Tiago e Eduardo, no carro, na lendária ponte de concreto. Esperávamos tirar o barco ali. Tiago seguiu para o novo município de Ipiranga do Norte, onde procurou mais informações. Sem saber ao certo o que nos esperava, e passando por muitas curvas de rio, levamos quase 5 horas para alcançar a ponte, imensa, que, se encontra na nova estrada asfaltada que liga Sorriso a Ipiranga do Norte. Tiago e Eduardo estavam esperando no barranco íngreme, envolto em nuvens de borrachudos. Na sombra da ponte, dois pescadores exibiam a cachorra dentuça que acabaram de pescar. Porém, não havia condições de tirar o barco do rio naquele lugar. Em Ipiranga do Norte, Tiago soube que, de fato, uma balsa operava numa estrada de terra que liga a cidade a Sinop. Sem outra opção, seguimos descendo o rio. No Baixo Verde, encontramos alguns ranchos pesqueiros instalados na beira do rio. Em quase todos eles, havia lixo deixado nas margens. Como é um rio quase sem ribeirinhos, a maioria dos pescadores – que vivem nas cidades – não se importam com o aspecto do rio. Certa altura, encontramos boiando na água um jacaré juvenil, morto. Não havia marca de ferida. Envenenado talvez por estar comendo peixe? Ao longo do rio, avistamos imensos sacos brancos, de plástico forte, que, presos aos galhos das árvores, indicavam a altura das enchentes. Pareciam embalagens de algum produto utilizado na agricultura.

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Pelo rio até a balsa, foram 80 km, um caminho bem mais tranqüilo do que a péssima estrada esburacada que o Land Rover pegou. No barco, chegamos bem antes do carro, tanto que já estava começando a escurecer quando finalmente conseguimos colocar o barco no reboque. Agora começou a pior viagem. Estávamos longe de Sorriso, onde estávamos esperados para uma palestra logo mais. Primeiro foram 40 km até Sinop numa estrada precária. Tivemos que atravessar a cidade (sem placas de sinalização) para pegar a péssima BR-163 na escuridão – uma estrada cheia de caminhões, sem encostamento e com asfalto tão esburacado que as estradas de terra pareciam lençóis de seda em comparação. Foi um pesadelo e chegamos atrasados para a palestra em Sorriso, onde o Secretário Fabiano e 5 canais de TV esperavam na porta do auditório. O evento foi gratificante, com uma platéia comprometida com o meio ambiente. Por ter navegado 180 km na véspera, sobrou apenas um trecho de 50 km para alcançarmos a foz do Verde no Teles Pires. Por falta de informações, resolvemos voltar ao mesmo local. Éramos quatro no barco – Gerard, Eduardo, Tiago e eu. Nuvens carregadas cobriam o céu e ameaçava chover. Talvez por ser tão ‘escuro’ às 14 h, logo vimos uma tímida anta nadando perto da margem. Ela fugiu rapidamente, subindo o barranco e sumindo na mata. Momentos depois, vimos outra na margem oposta. A sorte de ver as duas antas foi para compensar a chegada da chuva forte que nos acompanhou até a foz, onde um boto veio nos saudar e vimos tracajás pescando! O Verde realmente é um rio especial: suas águas são limpas, bem preservadas pelas das matas que, com poucas exceções, formam uma manta de proteção ao longo de toda sua extensão. Molhados e gelados, voltamos ao local da balsa e tiramos o barco pela última vez.

Balsa entre Ipiranga do Norte e Sinop.

A nove ponte de concreto na estrada que liga Sorriso a Ipiranga do Norte.

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2.7. Análises das Amostras de Água

Composição Química da Água - Resultados de fósforo total, nitrogênio total, nitrogênio amoniacal e íons na água.

- Dr. Donato Seiji Abe, Instituto Internacional de Ecologia, São Carlos, SP.

Dentro da pesquisa de composição química da água, são analisadas as concentrações de fósforo total, nitrogênio total, nitrogênio amoniacal e íons presentes nas amostras, incluindo o nitrato e o nitrito. A partir da concentração de fósforo total, as amostras são classificadas como oligotrófica, mesotrófica, eutrófica ou hipereutrófica. Águas oligotróficas e mesotróficas ainda podem ser consideradas naturais, com teores baixos ou moderados de impacto, em níveis aceitáveis na maioria dos casos. Águas eutróficas indicam corpos de água com alta produtividade em relação às condições naturais, em geral afetados por atividades antrópicas, em que ocorrem alterações indesejáveis na qualidade. Águas hipereutróficas foram afetadas significativamente pelas elevadas concentrações de matéria orgânica e nutrientes, comprometendo seu uso e podendo resultar na mortandade dos animais aquáticos. O nitrogênio é um dos elementos mais importantes no metabolismo de ecossistemas aquáticos, pela sua participação na formação de proteínas. Dentre as diferentes formas presentes nos ambientes aquáticos, o nitrato e o nitrogênio amoniacal assumem grande importância. As principais fontes de nitrato no sistema aquático são os esgotos e a agricultura. O nitrogênio amoniacal entra no sistema aquático principalmente por meio de despejos de esgotos domésticos. Concentrações de nitrogênio amoniacal superiores a 250 mg/L são tóxicas para peixes e invertebrados em águas com pH superior a 9. O rio Verde apresentou, em todos os pontos amostrados, valores muito baixos de fósforo total (Figura 1), nitrogênio total (Figura 2) e de nitrogênio amoniacal, nitrito e nitrato (Figura 3). A partir das concentrações de fósforo total, cujos valores estiveram sempre abaixo de 10 µg-P/L, todos os pontos foram classificados como oligotróficos (Figura 2). Além dos baixos valores de nitrogênio e fósforo, os valores extremamente baixos de cloreto e sulfato, cujas médias foram 0,05 mg/L e 0,02 mg/L, respectivamente, estão relacionados à geologia da bacia, que tem suas águas provenientes de áreas caracterizadas por sedimentos terciários de material oriundo dos escudos pré-cambrianos altamente lixiviados e geoquimicamente muito pobres, característica da região central do Brasil.

Com relação ao nitrato, verifica-se um aumento da nascente para a foz (Figura 3), possivelmente resultante de atividades antrópicas, como agricultura e pecuária, porém, em escala moderada.

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Tais resultados conferem ao rio Verde o status de rio menos impactado dentre os rios estudados ao longo do projeto. Detalhes das amostras especificadas nas tabelas abaixo encontram-se na página 50.

Figura 1 – Concentração de fósforo total ao longo do rio Verde e em alguns de seus tributários.

Figura 2 – Concentração de nitrogênio total ao longo do rio Verde e em alguns de seus tributários.

P total - Rio Verde

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5

Pontos

P t

otal

g-P

/L)

P TOTAL

Limite oligotrófico-mesotróficoLimite mesotrófico-eutrófico

N total - Rio Verde

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0

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Pontos

N t

otal

g-N

/L)

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Figura 3 – Nitrogênio amoniacal, nitrito e nitrato ao longo do rio Verde e em alguns de seus tributários.

Figura 4 – Índice de estado trófico calculado em função da concentração de fósforo total nos pontos amostrados ao longo do rio Verde em alguns de seus tributários.

Índice de Estado Trófico - Rio Verde

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(P)

IET(P)

Limite oligotrófico-mesotróficoLimite mesotrófico-eutrófico

N amoniacal, Nitrito e Nitrato - Rio Verde

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)

N amoniacalNitritoNitrato

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Resultados das pesquisas de Fitoplâncton

– Dra. Maria do Socorro Rodrigues, Universidade de Brasília, Dra. Iná de Souza Nogueira e Elizabeth Cristina Arantes de Oliveira.

A comunidade de algas é também conhecida como fitoplâncton. Esses organismos são microscópicos e possuem capacidade fotossintética, encontrando-se na base da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos. Além disso, acredita-se que o fitoplâncton é responsável pela produção de 98% do oxigênio da atmosfera terrestre. O fitoplâncton também pode ser responsável por alguns problemas ecológicos quando se desenvolve demasiadamente: numa situação de excesso de nutrientes e de temperatura favorável, podem multiplicar-se rapidamente formando o que se costuma chamar "florescimento" ou bloom (palavra inglesa que é mais usada). Nesta situação, a água fica esverdeada, mas rapidamente, de um a dois dias, dependendo da temperatura, se torna acastanhada, quando o plâncton esgota os nutrientes e começa a morrer. A decomposição mais ou menos rápida dos organismos mortos pode levar ao esgotamento do oxigênio na água e, como conseqüência, à morte em massa de peixes e outros organismos. Esta situação pode ser natural, mas pode também ser devido à poluição causada pela descarga em excesso de nutrientes. Neste caso, diz-se que aquela massa de água se encontra eutrofizada. Em água doce, quando esta situação se torna crônica, a água pode ficar coberta por algas azuis que flutuam na sub-superfície da coluna d'água. Adotou-se o método de Uthermöhl (1958) mediante o uso de microscópio invertido Zeiss modelo Telaval 31, com aumento de 400x, para contagem das amostras. A câmara de sedimentação utilizada variou em função da densidade de organismos presentes, podendo ser de 5 mL e 10 mL.

Os campos foram contados até que o número de indivíduos da espécie dominante atingisse um total de no mínimo 100 indivíduos ou que pelo menos estabilizassem vinte campos contados sem a ocorrência de espécie nova. Os campos de contagem foram distribuídos em transectos verticais e horizontais paralelos cobrindo praticamente toda a área da câmara. Considerou-se como indivíduo: organismos unicelulares, filamentos, tricomas, colônias e cenóbios.

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Para a determinação da densidade do fitoplâncton por unidade de volume, foi utilizada a seguinte fórmula, sendo considerada como unidade fundamental de contagem o campo do microscópio: D = (N) Vcont

Onde: D = densidade de algas (ind./L) / N = número de indivíduos na amostra Vcontado = número de campos na amostra multiplicado pelo volume de cada campo na câmara de sedimentação para aumento de 400x, que foi de 1,6 x 10-6 mL e 3,2 x 10-6 mL para as câmaras de 5 mL e 10 mL, respectivamente. As algas analisadas no Rio Verde, em seus diferentes trechos, foram distribuídas em 8 classes: Chlorophyceae, Bacillariophyceae, Dinophyceae, Zygnemaphyceae, Cyanophyceae, Crysophyceae, Euglenophycea e Cryptophyceae. O total de 34 táxons foram encontrados nos quinze pontos investigados. A classe mais representativa foi a das Chlorophyceae com 12 táxons. As diatomáceas contribuíram com 8 táxons e as Zygnemaphyceae com 7. As demais classes Cyanophyceae, Crysophyceae, Euglenophycea e Cryptophyceae não excederam mais do que três espécies de algas em cada uma delas. As Cyanophyceae, Crysophyceae e Euglenophycea foram representadas com apenas um táxon. As Cryptophyta são em sua maioria formadas por organismos unicelulares e flagelados e são especialmente abundantes em águas oligotróficas. Em termos de riqueza (Figura 1), o ponto 13 (25 km antes da foz do Verde) e 15 (rio Teles Pires) foram os mais ricos em algas (10 espécies). Já os trechos com baixa riqueza (menos que 5 táxons) foram do 1 ao 5 (todos à montante de Lucas). Quanto à densidade de organismos fitoplanctônicos (Figura 2) o ponto 8 (montante PCH) seguido do 13 (25 km antes da foz) foram os que apresentaram maiores densidades com 150.862 indivíduos/mL e 142.857 indivíduos/mL, respectivamente. A ocorrência das cianofíceas se deu apenas em cinco trechos do Rio Verde e com as seguintes densidades: trecho 5 (montante Lucas, 19.531 indivíduos/mL), trecho 7 (corredeira, jusante Lucas, 10.416 indivíduos/mL), trecho 12 (balsa, 10.775 indivíduos/mL), trecho 14 (foz Rio Verde, 10.416 indivíduos/mL) e trecho 15 (Teles Pires, 20.833 indivíduos/mL). Vale ressaltar que, de modo geral, esse rio é considerado como o mais oligotrófico dos estudados pelo projeto, o que é constatado pelos valores da densidade fitoplanctônica.

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Rio Verde

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Chlorophyceae Bacillariophyceae Dinophyceae Zygnemaphyceae

Cyanophyceae Crysophyceae Euglenophyceae Cryptophyceae

Figura 1. Riqueza dos organismos fitoplanctônicos (número de táxons) amostrados nas estações RV 1 a RV 15 no Rio Verde (maio de 2007).

Rio Verde

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L)

Chlorophyceae Bacillariophyceae Dinophyceae Zygnemaphyceae

Cyanophyceae Crysophyceae Euglenophyceae Cryptophyceae

Figura 2. Densidade dos organismos fitoplanctônicos (número de indivíduos/mL) amostrados nas estações RV 1 a RV 15 no Rio Verde (maio de 2007).

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Resultados das pesquisas de Bacterioplâncton

– Dr. Rodolfo Paranhos, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

As bactérias são formas muito antigas de vida, e têm um papel importante para o equilíbrio do planeta, em especial nos ciclos de carbono, nitrogênio e enxofre. Uma gota de água pode conter mais que um milhão de células de bactérias ou “bacterioplâncton”, que são as bactérias que vivem flutuando na água. Ajudam na transformação e decomposição da matéria orgânica, pois são a base da cadeia alimentar para organismos maiores. Esta pesquisa visa determinar a quantidade de células do bacterioplâncton em amostras de 2 mL, e examinar sua correlação com o estado trófico da água.

Nesta campanha realizada em abril de 2007 foram coletadas 15 amostras e todas elas analisadas para a determinação da abundância de bactérias. Os valores registrados no rio Verde não foram baixos (entre 2,67 e 5,83 milhões de bactérias por mililitro), mas foram bastante homogêneos e sem grandes variações por todo o percurso do rio. A maior parte dos resultados é por volta de 3 a 4 milhões de células por mililitro. A pouca variação também foi o padrão para o fósforo e nitrogênio total, cujos valores reduzidos classificaram estas águas como oligotróficas. Dentro desta pouca variação nas bactérias do rio Verde, foi possível perceber algumas pequenas particularidades. No início do rio, observamos um maior percentual de células pequenas, que logo no segundo local de coleta já se modifica para o padrão observado ao longo do rio: o predomínio de células maiores e mais ativas. Mas na primeira metade das amostras estas bactérias maiores são mais de 70% do total das células contadas, e na segunda metade este predomínio diminui para cerca de 60% do total. Esta distribuição pode estar relacionada aos valores de nitrato, um pouco maiores na porção final do rio Verde. Mas no geral esta homogeneidade dos valores de bactérias ao longo do rio Verde parece indicar um ecossistema em equilíbrio.

Amostra Bactérias Local Amostra Bactérias Local

# 1 3260000 Ponte na Fazenda Santa Clara # 9 4840000 Aprox 25 km na jusante da Represa

# 2 2670000 Ponte Rodovia Nova Mutum/Santa Rita # 10 3140000 Próx. velha ponte de madeira

# 3 4330000 60 km acima de Lucas # 11 3790000 Próx. ponte Sorriso/Ipiranga do Norte

# 4 4440000 Rio Ranchão (afluente - correnteza forte) # 12 3230000 Balsa Sinop/Ipiranga do Norte

# 5 5460000 Montante Lucas do Rio Verde # 13 3840000 Curva do rio, 25 km acima da foz

# 6 5830000 Jusante Lucas (próximo ponte BR) # 14 3380000 Foz do Rio Verde

# 7 5670000 Última corredeira acima da represa # 15 4110000 Teles Pires (montante foz do Rio Verde)

# 8 5310000 Próx. Represa Canoa Quebrada (montante)

Resultados das análises de Bacterioplâncton.

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2.8. Conclusões e Recomendações O belo rio Verde atendeu às expectativas da equipe do Brasil das Águas, que tempos antes por meio de um sobrevôo, já havia simpatizado com este rio de águas transparentes, cercado por uma mata ciliar ainda bastante preservada. A passagem do projeto pelo rio Verde terá grande importância quanto ao fornecimento de dados obtidos durante as navegações, pois trata-se de um rio que ainda não dispõe de muitas informações para o conhecimento público.

O que foi possível identificar por via aérea quanto à situação da mata ciliar, passa a ser corroborado após o contato direto com o rio. Foram raros e pequenos os trechos onde o rio sofre ausência de mata ciliar, boa parte disso devido à conscientização dos proprietários das áreas ribeirinhas.

As análises das amostras de água coletadas apresentaram resultados excelentes, sendo o rio que dispõe da melhor qualidade de água de todos os que foram analisados durante o projeto. O fato das amostras analisadas apresentarem esse quadro é de surpreender, já que o rio Verde está cercado por lavouras. Uma vantagem é a distância de centros urbanos. Apesar de estar localizado às margens, Lucas do Rio Verde não despeja grandes cargas de esgoto diretamente ao rio. O projeto ficou impressionado com novas ações que estão sendo adotadas em prol do desenvolvimento sustentável na região, refletindo uma mudança de hábitos e práticas agrícolas que estão permeando todo o Estado de Mato Grosso. O abastecimento de água nos domicílios é um avanço na infra-estrutura de uma cidade, mas vale lembrar que esse abastecimento automaticamente gera esgoto sanitário. E o tratamento desse esgoto sanitário é uma questão fundamental para alcançar o desenvolvimento sustentável. Não se pode considerar uma obra dessa envergadura, que "ninguém vê", como desnecessário. Uma rede coletora sem uma ETE apenas joga o esgoto mais longe. O objetivo é que ela encaminhe o esgoto a uma estação para purificação. A seguir estão detalhados os principais problemas identificados e algumas recomendações ou soluções possíveis que, em alguns casos, são sugestões da equipe do projeto Brasil das Águas, ou exemplos apontados por pessoas das próprias comunidades ao longo do rio Verde.

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• Quanto ao Lixo e ao Saneamento

Urge a aplicação de investimentos nessa área. A falta de infra-estrutura de saneamento se torna preocupante devido à expansão populacional das cidades, situação que será agravada pelo crescimento industrial, conseqüência do sucesso dos agronegócios.

Os municípios visitados contam com coleta regular de lixo, porém Lucas e Sinop ainda não possuem disposição final adequada. Sorriso tem um aterro sanitário que foi implantado recentemente e Lucas dispõe de um projeto em andamento para o mesmo.

Durante a navegação, a equipe constatou certo volume de lixo levado pelas águas do rio, especialmente garrafas PET nas proximidades de Lucas, onde havia moradias na margem do rio. Também observou acúmulo de lixo nos pesqueiros abertos nas margens do rio.

Recomendações É insustentável a produção de toneladas de esgoto, que acumulam em nossos solos e águas subterrâneas. Não é difícil entender que, algum dia, haverá saturação. Portanto, a melhor coisa que uma administração possa fazer para a saúde de seus cidadãos, após a entrega da água, é começar as obras de coleta e tratamento de esgoto. Segundo o BNDES, 65% das internações hospitalares de crianças menores de 10 anos estão associadas à falta de saneamento básico. Investimentos em tratamento de esgotos proporcionam uma boa redução nos custos de saúde pública e do tratamento da água. Apesar da dificuldade para a obtenção de verbas, existem recursos disponíveis nas esferas municipais, estaduais e federais para obras de saneamento básico e tratamento de lixo. É importante a determinação de cada prefeitura e também das indústrias em buscar a orientação e os meios para realizar as melhorias necessárias e cumprir as leis, que não devem estar vinculadas a interesses políticos ou momentâneos. 1 – Lixo A coleta seletiva é uma alternativa ecologicamente correta, que não consiste somente na instalação de lixeiras diferenciadas, e sim em um esforço de separação dos materiais recicláveis do lixo orgânico, diminuindo a quantidade de resíduos sólidos levada aos aterros sanitários ou lixões. Com isso, a vida útil dos aterros é prolongada e os impactos ao meio ambiente minimizados com o reaproveitamento desses materiais. Informações em www.lixo.com.br/coleta.htm.

Nas cidades visitadas pelo projeto, a rede de esgotos é praticamente inexistente, situação enfrentada pela maioria dos municípios nesta região, apesar de serem cidades nascidas nas últimas três décadas. As cidades não possuem rede coletora e estação de tratamento, sendo as fossas o meio mais utilizado no despejo do esgoto.

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Em outros rios do país, ribeirinhos e pescadores coletam e vendem o lixo reciclável encontrado ao longo do rio, assim aumentando a renda dessas pessoas. Aproveitamos para citar um exemplo dentro do próprio Estado de Mato Grosso que está ajudando a limpar os rios e ruas dos municípios onde atua: o projeto Vale Luz é uma excelente iniciativa que troca latas de alumínio e garrafas PET, por bônus descontados na fatura de energia elétrica. Em escala maior, situado em São Paulo, o Compromisso Empresarial para Reciclagem - CEMPRE é uma parceria entre grandes empresas comprometidas com a reciclagem (www.cempre.org.br). Para a construção de aterro sanitário, coleta e reciclagem de lixo para municípios que possuam de 30 a 250 mil habitantes, a prefeitura pode apresentar um projeto, conforme edital publicado no Diário Oficial e disponível apenas no site do Ministério do Meio Ambiente. As informações de como conseguir recursos são facilmente localizadas no link Fundo Nacional de Meio Ambiente - FNMA. O FNMA só consegue repassar o recurso para prefeituras que estão em situação regular junto ao Governo Federal. É recomendável que pelo menos parte dos profissionais que executarão o projeto seja funcionário público do quadro da prefeitura. FNMA - Tel: (61) 4009-9090 - www.mma.gov.br 2 – Tratamento de efluentes domésticos Em 2000, foi aprovada a lei que autoriza o Estado a conceder incentivos à municipalização dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, em função da população, do número de ligações domiciliares de água e do faturamento mensal. Os municípios que aderiram ao Plano de Incentivos assinaram um termo com a SANEMAT e também com o Governo Estadual. Hoje, o município faz a sua opção pela gestão dos seus sistemas, muitos concedendo à iniciativa privada e outros criando as autarquias, as companhia municipais de saneamento ou departamentos autônomos. Esclarecimentos poderão ser obtidos com a AGER (www.ager.mt.gov.br). Agência de Regulação dos Serviços Públicos de Mato Grosso Tel: (65) 3618-6100. O custo da instalação de redes coletoras e ETEs é fator significante na demora dos municípios em realizar essas obras. Existem alternativas mais simples e econômicas para pequenas cidades. Um trabalho científico desenvolvido pelo Professor Enéas Salatti, do CENA/ESALQ/USP em 1981, utiliza tecnologias diferentes em um sistema de wetlands construídas. São ecossistemas artificiais que usam os mesmos princípios básicos de purificação da qualidade da água que as wetlands naturais. Essa modalidade de tratamento de água pode ser utilizada principalmente para polimentos de efluentes das ETEs e para o tratamento terciário na remoção de nutrientes. Informações sobre o estudo através do e-mail [email protected]. Para municípios com menos de 30 mil habitantes que visam à construção de estação de tratamento de esgotos e de tratamento de água, é possível encontrar as informações através do site da Fundação Nacional de Saúde - FUNASA (no link saneamento). Existem arquivos para download, dentre eles o Projeto de Saneamento Ambiental em Regiões Metropolitanas, parceria entre os Ministérios das Cidades e da Saúde. FUNASA - Tel: (61) 3314-6362 - www.funasa.gov.br

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• Quanto ao Desmatamento e

Hoje, algumas indústrias que sobreviveram exportam seus produtos para o mercado internacional, conseguido somente mediante a adequação do sistema de extração para o modo de manejo sustentado através de bosques renováveis. Madeireiras com o apoio técnico da EMPAER desenvolvem projetos de reflorestamento, utilizando espécies como a castanha.

Nos municípios desta porção, particularmente na região mais próxima a Sinop, ainda é significativa a exploração da madeira e muitas crianças são empregadas nas atividades secundárias das madeireiras, o que acarreta no seu afastamento temporário das escolas.

De acordo com informações da SEMA a situação ambiental é crítica, pois na bacia do rio Verde, por exemplo, o desmatamento já destruiu 62% da vegetação original, e a taxa anual de desmatamento é significativamente elevada, cerca de 2%. Esses números não estão somente vinculados à atividade das madeireiras, mas também são impulsionados pelo avanço das fronteiras agrícolas que, de alguma maneira, podem eventualmente refletir na atual situação de preservação do rio Verde. Apesar da mata ciliar que acompanha o leito principal do rio estar bem preservada, a região vive uma preocupação quanto à situação das nascentes dos afluentes, já que cerca de 90% atualmente encontram-se desmatadas. Possui grande importância as campanhas da SEMA contra as queimadas, pois além da destruição da fauna e da flora, acabam trazendo consigo a poluição atmosférica, que prejudica a saúde humana, altera o regime de chuvas e reduz a fertilidade do solo. Recomendações É recomendável a elaboração de um estudo objetivando o desenvolvimento de técnicas para um melhor aproveitamento da madeira, criando mecanismos de agregação e dinamização da atividade madeireira de forma sustentável. A má fama do setor é relacionada às ações destrutivas em larga escala. A própria indústria precisa se policiar, denunciando os que operam de forma ilegal e mostrando à sociedade que é possível trabalhar de forma sustentável.

O rio Verde cruza uma região bastante impactada pelo homem. Nas últimas 30 décadas, esse território foi palco da extração indiscriminada de madeira nativa, que hoje apresenta forte declínio devido ao fim da matéria-prima. Atualmente essas terras vivem o auge do agronegócio, em substituição ao extrativismo de madeira.

e à Exploração de Madeira

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Porém, o consumidor final tem boa parte da responsabilidade pela devastação das matas. A indústria de construção no Brasil, mal acostumada com a abundância, utiliza madeiras nobres para fins diversos, não se importando com a reutilização das mesmas. Até agora, poucos procuram saber a origem dessas madeiras, verificando se tratam-se de madeiras certificadas de manejo sustentável ou reflorestamento.

A restauração das matas ciliares das nascentes dos afluentes ao longo do Verde é essencial para a proteção do rio. Deve-se mostrar ao produtor os benefícios advindos da proteção dessas matas e do manejo adequado de suas terras, como por exemplo, os benefícios de se investir em água encanada para o gado ao invés de deixá-lo beber água diretamente nos rios ou riachos; o retorno ao se controlar a erosão e assim evitar a perda do solo e promover maior infiltração das águas das chuvas; os benefícios ao se cumprir a lei florestal e proteger a rica biodiversidade do cerrado e da floresta, e o retorno pela contribuição na conservação dos recursos naturais para que tenham longa duração. A disponibilização de mudas de árvores nativas para os que se interessam a recompor a mata de suas áreas, ensinando os cuidados necessários para que as mudas se adaptem ao solo, é um bom incentivo. Uma alternativa simples e barata para a regeneração da floresta é deixar de roçar a terra. Se houver mata por perto, ela se recompõe sem a necessidade do plantio de mudas.

LARGURA MÍNIMA DA FAIXA DE MATA CILIAR

Nascentes Raio de 50 m Rios com menos de 10 m de largura 30 m em cada margem Rios com 10 a 50 m de largura 50 m em cada margem Rios com 50 a 200 m de largura 100 m em cada margem Rios com 200 a 600 m de largura 200 m em cada margem Rios com largura superior a 600 m 500 m em cada margem Represas e hidrelétricas 100 m ao redor do espelho d’água

Limites mínimos de mata ciliar estabelecidos por lei.

Mesmo que a mata ciliar do rio Verde esteja longe de se encontrar em situação crítica, e já existindo dois importantes projetos de recuperação, é válido aprender do sucesso de experiências alheias.

Por exemplo, vejamos o caso do rio Formoso, MS. O Ministério Público de Bonito elaborou um diagnóstico ambiental do rio, criando o Projeto Formoso Vivo, estruturado em três fases: diagnóstico dos problemas ambientais, elaboração de um plano de recuperação das áreas degradadas e assinatura de Termos de Ajustamento de Conduta entre os proprietários rurais contraventores e o Ministério Público.

O projeto teve boa repercussão e está sendo multiplicado em outros rios do Mato Grosso do Sul. Abaixo, detalhamos as medidas de recuperação ambiental sugeridas pelo Ministério Público de Bonito, sendo que algumas podem ser aplicadas em trechos do rio Verde e em seus afluentes, servindo para uma atividade preventiva.

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Recuperação das áreas degradadas • Recuperação da mata ciliar, onde a mesma não exista ou esteja em tamanho menor do que determina a lei (50 m); • Isolamento da área para que o gado não penetre, permitindo a regeneração natural; • Plantio de mudas nos locais em que se perceba ser impossível a regeneração natural; • Retirada de construções feitas dentro da área de preservação permanente (cinqüenta metros), salvo obras irreversíveis, mas será exigida a compensação ambiental; • Eliminação de eventuais bebedouros de gados porventura ainda existentes – dando-se prazo para que o proprietário busque alternativas para seu rebanho; • Valoração de danos ambientais pretéritos, nos casos de significativa degradação ambiental; Providências quanto às Reservas Legais: • Constatação de existência de 20% na propriedade de vegetação, destinada à reserva legal, sendo que neste percentual não entram as áreas de preservação permanente (matas ciliares, matas em torno das nascentes e olhos d´água, topos de morros etc.); • Realização de ato declaratório constando de forma georeferenciada o local da reserva legal dentro da propriedade, para que o mesmo seja averbado na matrícula do imóvel, objetivando facilitar a fiscalização; • Alocação da reserva legal a ser recuperada – em locais a serem definidos pelo Engenheiro Florestal – de forma a interligar dentro do imóvel, e com imóveis lindeiros, as áreas de matas, visando melhorar a integração do ecossistema; Outras medidas adotadas: • Incentivo à criação de RPPN’S (Reserva Particular do Patrimônio Natural), nos locais em que haja abundância de mata e interesse ecológico; • Exigência de regularização do Licenciamento Ambiental; • Conscientização dos proprietários e funcionários da importância da recuperação da mata ciliar e das reservas legais para o meio ambiente; • Retirada de atividades dentro da faixa dos cinqüenta aos cento e cinqüenta metros do rio, que não estejam de acordo com a legislação estadual. Tornar a fiscalização do desmatamento mais eficiente por parte dos órgãos ambientais, fazendo o controle inclusive por satélite, incentivará a cooperação da sociedade em denunciar as contravenções. Com a tecnologia de hoje, a fiscalização poderá agir previamente à derrubada ou queimada da mata principalmente ao redor das nascentes, pois a aplicação de multas posteriores já não possui eficácia. Informações e denúncias podem ser feitas junto ao IBAMA. Telefone: (61) 3321-7713 - www.ibama.gov.br Da mesma forma que as atividades agrícolas, especialmente a soja e a cana, têm de mostrar que operam de maneira sustentável, mudanças são necessárias na indústria madeireira, investindo na sustentabilidade para consequentemente ter uma vida longa.

Fonte: http://www.mp.ms.gov.br/formosovivo

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• Quanto à Agricultura

Mato Grosso se transformou rapidamente no maior produtor de grãos no país. Há 30 anos, a lavoura era incipiente na região. Só recentemente, com o desenvolvimento de tecnologias que permitiram implantar variedades adaptadas e incorporar nutrientes ao solo pobre, a agricultura extensiva explodiu.

Os avanços mais significativos ocorrem com a cultura da soja, notadamente a mais desenvolvida de todas, onde investidores brasileiros e estrangeiros têm adquirido terras para o plantio e, dessa forma, contribuído para a expansão acentuada da produção. Vale lembrar que a soja não tem fins nobres e destina-se principalmente à alimentação de gado na Europa. Dos 50 municípios maiores produtores desse grão, 22 pertencem a Mato Grosso, sendo o município de Sorriso o maior produtor. Referindo-se ao milho, dos 50 municípios brasileiros maiores produtores, seis pertencem a Mato Grosso. Sorriso é o quarto colocado nacional, com 12,3% da produção estadual e 0,7% do total nacional.

A conclusão da BR-163 é sonho antigo dos produtores que esperam encurtar o caminho entre o centro-oeste e o mercado externo. A rodovia está pavimentada de Cuiabá a Matupá-MT, embora esburacada em alguns trechos e quase intransitável em outros. De Matupá até Santarém, são mais de 800 quilômetros de barro e atoleiros. Quando concluída, servirá para escoar as safras do Mato Grosso, diminuindo pela metade a distância e as despesas com a exportação atualmente realizada pelo porto de Paranaguá (PR), cujo frete é estimado em US$ 60 por tonelada de grãos.

Hoje, parte da soja de plantada em Mato Grosso viaja por rodovia até Porto Velho (RO) e mais 1 600 quilômetros em barcaças pelos rios Madeira e Amazonas até Santarém. O asfaltamento da BR-163, orçado em cerca de 1 bilhão de reais, é questionado por ambientalistas, já que, por mais que as leis estabeleçam limites, acarretará um processo maciço de desmatamento da floresta no Pará. Como é de conhecimento comum, as terras serão griladas, haverá falta de fiscalização e a impunidade será a regra. Um efeito colateral desse desmatamento que não está sendo computado na equação de facilitar a exportação dos grãos, mas que terá repercussões ao longo prazo, é a relação floresta/chuva. Como a floresta amazônica, através da evapotranspiração, é responsável por boa parte das chuvas que alcançam o centro-oeste, a destruição dessas matas pode repercutir diretamente nos índices pluviométricos e na própria produção dos grãos.

É visível a forte e crescente hegemonia que a agricultura exerce perante outras atividades econômicas dos municípios próximos ao rio Verde. Tanto a soja quanto o milho despontam nos índices de produção e importantes culturas como o girassol e o algodão vêm ganhando destaque.

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Uma excelente iniciativa desenvolvida na região é a parceria entre o poder público e o privado, que resultou no Programa Estradeiro, sistema de convênios entre produtores rurais, empresários, prefeituras e Estado para recuperar, construir e pavimentar estradas. O município entra com infra-estrutura e mão-de-obra, o produtor com capital e o Estado com o asfalto. Em média, prefeituras e produtores rurais respondem por 50% dos custos e o Estado, pelos outros 50%. A contribuição de cada agricultor depende do tamanho da lavoura e da distância da estrada. O programa já tem 23 consórcios constituídos e o objetivo é asfaltar 2.400 km e formar um corredor no sentido leste-oeste, interligando os municípios agrícolas. O projeto viajou por algumas dessas estradas, em excelentes condições, servindo para contrastar com o desleixo da rodovia federal BR-163.

Ao lado da produção de grãos e da pecuária, a lavoura de cana-de-açúcar cresce impulsionada pelos incentivos governamentais à produção do álcool, bem como as lavouras de girassol e outras oleaginosas que servem de matéria prima para a produção dos biocombustíveis. Associada à agricultura mecanizada para a produção de grãos, verifica-se a presença de importantes grupos empresariais, como a Sadia, que estão investindo em novas plantas ou ampliando as existentes.

O uso dos agroquímicos na produção agrícola gera uma série de impactos. Na maioria dos municípios agrícolas do país, mal se toca no assunto para não incomodar os agricultores, mesmo que o uso excessivo e o manejo inadequado reflitam perigosamente na fauna e flora, nos recursos hídricos e na saúde dos cidadãos. Recentemente, moradores de Lucas do Rio Verde foram surpreendidos quando as plantas dos seus jardins e hortas começaram a secar devido ao efeito de um dessecante, possivelmente Gramoxone, pulverizado por avião. Mais uma vez, Lucas do Rio Verde e Sorriso, pró-ativos, saem à frente. Após a visita do projeto à região, aconteceu o fórum “Manejo adequado no uso se Defensivos Agrícolas” em Lucas do Rio Verde, abordando a aplicação eficiente, o manejo dos produtos e o destino das embalagens. A prefeitura de Sorriso produziu um folheto (“Agora é lei: comprou e usou, tem que lavar e devolver”) ensinando aos produtores os procedimentos certos para lavagem das embalagens (despejando dentro do pulverizador, não nas águas) e mostrando como o aplicador deve se proteger para evitar contaminações.

Como medida de amenização dos impactos causados pelos agrotóxicos, os municípios se uniram e idealizaram um eficiente programa de coleta e reciclagem das embalagens, dando uma destinação segura a esse material potencialmente nocivo à saúde humana e às águas. Reciclado, pode ser útil na confecção de conduítes para a construção civil.

Como mencionando anteriormente, a prefeitura de Lucas do Rio Verde fez uma parceria com a The Nature Conservancy – TNC, para desenvolver o Projeto Lucas do Rio Verde Legal. É uma estratégia para tornar o município o primeiro a ter todas as propriedades rurais regularizadas do ponto de vista do Código Florestal. Ganhador do 1º Prêmio Brasil de Meio Ambiente, o trabalho envolve diversos parceiros que vão desde o governo estadual e instituições de pesquisa a empresas do agronegócio, a SEMA, o Sindicato Rural e o Ministério Público Estadual.

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O compromisso do projeto é transformar Lucas do Rio Verde em um dos raros municípios do país sem passivos sócio-ambientais no setor agropecuário e sem problemas trabalhistas. Um importante objetivo é o uso correto e seguro de defensivos. A ação busca a sustentabilidade ambiental da atividade rural, conscientizando produtores e administradores sobre a necessidade de conservação da área pertencente à Amazônia Legal, baseada em modelos que unem a produção com a preservação.

A meta é a conservação e/ou a recuperação de 72 mil hectares de reservas legais, ou 35 a 80% de cada propriedade, onde deverá ser mantida a vegetação nativa, além de todas as áreas de preservação permanente, como as matas ciliares. Os passivos ambientais poderiam ser compensados com mecanismos coletivos, como reservas legais em condomínio, maximizando as áreas de ecossistemas nativos contínuos sob proteção. A expectativa é que, ao integrar esforços de todos os parceiros, se construa um processo de legalização com ganho para o meio ambiente e para o produtor rural.

Outro exemplo está em Sorriso, onde há uma mobilização em defesa do meio ambiente em que os próprios produtores rurais estão à frente da iniciativa. O Projeto de Educação Ambiental Integrado para Proteção do Solo, Água, Flora e Fauna, mais conhecido como Sorriso Vivo, envolve além do trabalho de educação ambiental desenvolvido junto às escolas do município, o treinamento de produtores, funcionários de fazendas e técnicos em práticas sustentáveis e a recuperação de áreas degradadas pela atividade agrícola.

Recomendações Através dos modelos implementados pelos projetos Lucas do Rio Verde Legal e Sorriso Vivo, deve-se difundir as informações aos outros municípios no intuito de contribuir para a preservação em harmonia com o desenvolvimento local e regional, especialmente da Amazônia, já que é esperado um crescimento industrial e populacional para a região.

É necessário atentar-se às normas técnicas que regulam as condições específicas de temperatura e velocidade do vento para a aplicação de defensivos agrícolas. Nenhum desses materiais agrotóxicos pode ser lançado a menos de 15 quilômetros da área onde vivem pessoas. Segundo a legislação responsável, o artigo 54 da lei 9.605 de Crimes Ambientais diz que é crime “causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora”.

A utilização da prática de Plantio Direto, que perturba o mínimo possível a estrutura física e a vida biológica do solo, é bem difundida na região. Além de aumentar a capacidade produtiva do solo, manter quase intacta a cobertura morta de resíduos de colheitas anteriores ajuda proteger contra o impacto da chuva, reduz a erosão e assim contribui para evitar a sedimentação dos rios. Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha - Tel: (42) 3223-9107 www.febrapdp.org.br.

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Outro sistema agrícola que tem dado sucesso, promovido pelo CAT Sorriso, é a Integação Lavoura-Pecuária – ILP, um aliado do Plantio Direto, especialmente eficaz na recuperação de áreas degradadas. É a conciliação de pecuária e lavoura, com rotação de culturas e pastagens nas mesmas terras. CAT Sorriso – (66) 3544-3379 – www.catsorriso.com.br Em regiões onde é praticada a agricultura intensiva, é comum cruzar campos de soja ou milho que se estendem até o horizonte, onde não se vê uma árvore sequer. Em outros lugares do mundo, os talhões são menores e separados por faixas de vegetação. Na França uma vez, Sr. Ângelo Maronezzi (Fazenda Cabana, Sinop) testemunhou esforços de reflorestamento entre as lavouras para cortar o efeito do vento e do frio. Em vez de ter que replantar no futuro, ele resolveu deixar faixas de mata – corredores biológicos – em volta dos talhões plantados com arroz de sequeiro ou soja. Estas faixas variam de 150 metros de largura no cerrado e 70 metros na mata. Além do claro beneficio para a fauna e flora, os resultados também foram positivos em termos produtivos. - A mata do corredor ajuda a cortar o vento e reduz a velocidade. - Facilita o controle de eventuais surtos de praga, restringindo a contaminação ao talhão em questão e reduzindo o risco de propagação para outras lavouras. - Ajuda manter a umidade do solo no talhão durante veranicos de 15-20 dias. O ótimo exemplo pode ser seguido por proprietários espalhados em todo o país. Contato: Agronorte, Sinop – Tel. (66) 3535-1099 - www.agronorte.com.br Em qualquer parte, a educação ambiental é uma valiosa ferramenta na proteção do meio ambiente em todas as esferas, desde assuntos como lixo na rua e uso racional da água, como também no âmbito rural. Nos municípios agrícolas, é ainda mais importante ensinar aos jovens, os produtores de amanhã, o papel do meio ambiente numa produção saudável. Em Lucas e Sorriso, o projeto encontrou ampla divulgação de folhetos educativos sobre vários assuntos desde a prevenção de queimadas até a ‘adoção de uma árvore’ e a pesca consciente.

Campanhas para fomentar a coleta e a destinação correta de embalagens de agrotóxicos.

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• Quanto às Hidrelétricas

A resolução nº 395, de 17 de setembro de 2001, foi a responsável por autorizar a empresa Amper Energia Ltda. a estabelecer-se como Produtor Independente de Energia Elétrica mediante a exploração do potencial hidráulico da PCH Canoa Quebrada. O investimento girou em torno de R$ 115,9 milhões, sendo que 66% ou R$ 76,7 milhões foram financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, e o restante com recursos próprios da empresa geradora. A usina possui 28 mW de potência instalada (até 30 kW é considerado uma PCH), localizada em território dos municípios de Sorriso e Lucas do Rio Verde. O lago da represa, com uma extensão de aproximadamente 33 km e uma superfície de 10,5 km², está cercado por diversas lavouras e uma pequena faixa do que resta de mata nativa, anteriormente intacta na beira do rio. Aparentemente, a empresa adquiriu as terras a uma faixa de 100 metros em torno do lago, onde será feito o reflorestamento com espécies nativas. Apesar dessa ação ser lei, a vasta maioria das construtoras de represas não a faz. O principal efeito sócio-econômico da construção da PCH Canoa Quebrada é o de expandir a oferta de energia em uma região com expressivo crescimento populacional e da atividade agropecuária, o que se reflete, também, em um significativo aumento da demanda por eletricidade pela agroindústria. Boa parte da mão-de-obra foi contratada na região, mas o principal efeito sócio-econômico do projeto Canoa Quebrada é o de fornecer um dos principais ítens de infra-estrutura necessários ao desenvolvimento dos municípios e à expansão industrial, que é a disponibilidade de energia elétrica, que hoje atende à totalidade da demanda de Lucas do Rio Verde. Anteriormente ao enchimento do lago da PCH Canoa Quebrada, gerou-se uma preocupação relacionada à qualidade dos serviços que seriam realizados na preparação para o início das atividades da usina. Após navegar pelo lago, o projeto constata uma situação diferente do que ocorre na construção de usinas em todo o país. Todo o processo de demarcação e limpeza foi realizado de forma correta, com a retirada prévia das árvores e de animais das áreas que foram inundadas, assim evitando a contaminação das águas pelo apodrecimento da vegetaçao submersa. Hoje, o local está apto à balneabilidade, tornando-se um belo ponto turístico para a região. Também foi construída uma escada de peixes junto à barragem, uma espécie de canal da piracema que viabilizará a reprodução e o trânsito de peixes ao longo do rio, sem o impedimento causado pelo obstáculo.

Em 2005, iniciou-se a construção da barragem da usina Canoa Quebrada no rio Verde, sendo até agora a única instalada ao longo do seu percurso. Apesar das conseqüências que podem ser geradas, esta PCH foi construída de maneira responsável.

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• Quanto ao Turismo O turismo gera empregos em múltiplas áreas, desde o comércio dentro das cidades, até a formação de profissionais para trabalhar nos hotéis e pousadas, nos restaurantes, e como guias turísticos, barqueiros, etc. Se desenvolvido de forma sustentável, protegendo precisamente os atrativos que trazem os visitantes, a atividade aumentará a qualidade de vida dos moradores de toda a região envolvida. A UNIVERDE, de Lucas do Rio Verde, promove um curso de turismo. A proposta deste curso visa atender a demanda de toda essa região na qual o turismo encontra-se em fase incipiente. Seu conteúdo visa formar profissionais para um mercado de trabalho baseado no principalmente no turismo sustentável. Recomendações

Ajudado pela boa qualidade da água do Verde, seria adequada a instalação de agências especializadas na realização de atividades como flutuações em suas águas transparentes, principalmente no Alto rio Verde, bóia-cross ou caiaque nas águas mais agitadas perto de Lucas, e passeios de barco para turismo contemplativo em todo o restante do rio. Tudo isso passa a ser uma alternativa para o crescimento de um turismo sustentável, capaz de gerar renda. Ao usar o rio como palco de lazer, tais empresas lutarão para manter o bom estado de preservação do rio, zelando para sua limpeza para não afugentar os visitantes. Assim, torna-se um mecanismo de proteção e gestão dos seus recursos naturais.

Devido à proximidade e às características semelhantes, os municípios poderiam pleitear a criação de um consórcio para investir especialmente no turismo ao longo do vale do rio Verde, visto que o turista geralmente visita mais que uma única cidade da região. Para tal, é importante realizar um levantamento de pontos de interesse e criar roteiros de turismo. Vários ramos de turismo, então, são aplicáveis às condições oferecidos no vale do Rio Verde. São turismo de aventura, trekking, canoagem, bóia-cross, flutuação, pesca esportiva, turismo rural, turismo contemplativo. É um mercado em franca expansão que vai de mãos dadas com o crescimento de todas as cidades da região e a conseqüente necessidade de oferecer opções de lazer aos habitantes locais. A chegada de visitantes de outras regiões servirá para valorizar o ambiente nos olhos dos moradores locais.

O turismo no rio Verde ainda não é explorado, mesmo possuindo um potencial para o lazer e atividades esportivos ao longo de seu leito. O projeto ficou impressionado pela beleza das águas desse rio, bem como de toda a vegetação ciliar que o acompanha até a foz no rio Teles Pires.

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O recém-criado lago da represa Canoa Quebrada também abre novas oportunidades para o lazer. Ao navegar no trecho do rio dentro de Lucas, o projeto ficou preocupado com os jet-skis navegando nas proximidades de banhistas, especialmente crianças. O risco de um atropelamento é grande e pode resultar numa fatalidade. Além disso, expelem fumaça nociva que cobre a superfície da água, justamente onde os banhistas tentam respirar. Sugere-se que os jet-skis sejam proibidos de atuar nas proximidades dessas baias freqüentadas por banhistas, criando zonas onde podem ser operados. O ideal seria restringir o uso ao lago da represa. Conforme já recomendado para outros rios visitados pelo Brasil das Águas, a Associação Brasileira das Empresas do Turismo de Aventura – ABETA (www.abeta.com.br) auxilia e promove o profissionalismo e as melhores práticas de segurança e qualidade, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do Turismo de Aventura no Brasil, e ajudaria na elaboração desses projetos envolvendo as atividades acima citadas. Igualmente importante é a ética e prática do Mínimo Impacto, pelo qual o turista minimiza os rastros de sua visita na paisagem. Em um local ainda preservado, é indispensável à manutenção das características naturais da região. No site www.pegaleve.org.br, são encontradas informações importantes para a prática do turismo sem deixar ou conseqüências ao meio ambiente.

Oportunidades: belos passeios de barco no rio Verde.

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• Quanto à Pesca

A sobrepesca e a pesca predatória foram identificadas como possíveis problemas encontrados ao longo do rio Verde, mas especificamente no caso de pescadores que vão em busca da espécie nobre matrinxã, de maior ocorrência nesse rio. Mesmo assim, o rio Teles Pires é o preferido por pescadores de toda a região, devido aos maiores índices de piscosidade. É neste rio que acontecem todos os campeonatos regionais de pesca, reunindo uma grande quantidade de pescadores esportivos. Recomendações Uma arma eficaz de combate à pesca predatória que pode ser aplicada ao rio Verde e entorno é o estabelecimento de uma lei que proíba a transferência de peixes do município onde foi pescado, pois teria um valor intimidador e repressor da atividade, evitando também a participação de intermediários na comercialização do pescado. Uma experiência trazida de outros lugares é o estabelecimento de áreas específicas de pesca proibida. Esses locais se transformam em verdadeiros viveiros de peixes, garantindo a existência dos mesmos no rio. Possui também grande valor a elaboração de estudos detalhados quanto à ictiofauna da região, visando a obtenção de dados mais técnicos da vida dos peixes no rio Verde e seus afluentes, auxiliando no estabelecimento de períodos específicos de piracema. Vale lembrar a grande importância de todo pescador estar munido de licenças de pesca estadual e federal, não somente para a atividade em si, mas para o transporte dos peixes em rodovias. A Licença Nacional para Pesca Amadora é obrigatória para todo pescador esportivo. É a forma que os governos dispõem para controlar a pesca e arrecadar recursos para a implementação de planos de gerenciamento e fiscalização, garantindo a manutenção dos estoques pesqueiros. Informações para a obtenção da licença com o IBAMA – Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora. Tel: (61) 3316-1234 - http://www.ibama.gov.br/pescaamadora/licenca/ Seja a pesca amadora ou profissional, a consciência ecológica deve prevalecer como forma de preservar os recursos naturais, para que estoques pesqueiros não diminuam ou até mesmo aumentem.

A equipe do projeto registrou a ocorrência de diversos pesqueiros localizados às margens do rio Verde, especialmente no Médio Verde, representando uma possível ameaça à abundância da ictiofauna desse rio. Em alguns destes pontos, foi registrada a ceva de peixes, visando a facilidade para a pesca nesses locais.

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2.8. Links relacionados ao tema Recursos Hídricos • O Programa de Gestão de Recursos Hídricos, coordenado pela Agência Nacional de Águas, é um programa do Governo Federal que integra projetos e atividades objetivando a recuperação e preservação da qualidade e quantidade dos recursos hídricos das bacias hidrográficas. Agência Nacional de Águas – ANA Tel: (61) 2109-5400 - www.ana.gov.br

• O DRS - Desenvolvimento Regional Sustentável, lançado pelo Banco do Brasil em 2003, busca incentivar a inclusão social, por meio da geração de trabalho e renda, democratizar o acesso ao crédito, impulsionar o associativismo e o cooperativismo, contribuir para a melhora dos indicadores de qualidade de vida e solidificar os negócios com micro e pequenos empreendedores rurais e urbanos, formais ou informais. Informações disponíveis no site: www.bb.com.br/appbb/portal/bb/drs/index.jsp

• O PRONAF – Programa Nacional de Agricultura Familiar, Destina-se às atividades agropecuárias e atividades rurais não-agropecuárias, como o artesanato, o turismo rural, o extrativismo sustentável, a agroindústria, a aqüicultura e a pesca, podendo ser na forma individual, grupal ou coletiva, com a finalidade de custeio.

Ministério do Desenvolvimento Agrário Tel: (61) 3426-9910 - www.pronaf.gov.br

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2.9. Contatos Relaciona-se a seguir as pessoas chave que, direta ou indiretamente, ajudaram e apoiaram o Projeto Brasil das Águas “Sete Rios”, na expedição ao rio Verde.

Região Nome Contato Lucas do Rio Verde

Luciane Bertinatto Copetti Secretária Municipal de Desenvolvimento Agrícola e Meio Ambiente Aluízio J. Bassani Secretário Municipal de Esporte e Lazer Giovanni Matues Mallmann The Nature Conservancy

Tel: (65) 3549-5081 / 9985-3590 [email protected] Tel: (65) 3549-2792 / 9985-8163 [email protected] Tel: (65) 9633-2691 [email protected]

Sorriso

Fabiano Alves Marson Secretário de Agricultura e Meio Ambiente Diogo Uchimura Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente Alei Fernandes Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo Eloy Antônio Brandão Sindicato Rural de Sorriso

Tel: (66) 3545-4700 / 9985-5614 [email protected] Tel: (66) 3545-4700 / 8402-0018 [email protected] Tel: (66) 9985-5555 [email protected] Tel: (66) 3544-1942 / 9985-5450 [email protected]

Sinop

Rosana Tereza Martinelli Secretária Municipal de Indústria, Comercio, Turismo e Mineração Emerson Andrade Secretaria Municipal de Indústria, Comercio, Turismo e Mineração

Tel: (66) 3511-1800 [email protected] / [email protected] Tel: (66) 3511-1800 / 9965-5252 [email protected]

Agradecimentos Além de agradecer a colaboração de todos os citados acima, o projeto gostaria de mencionar o apoio especial de Fernando Ambiel, Antonio Carlos e Elaine Cabral, de Tangará da Serra, e o companheirismo do colega Eduardo Bessa, da Petrobras, durante a expedição.

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Anexo 1. Tabela máster com os dados obtidos das amostras coletadas.

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Anexo 2. Tabela 2 – Espécies de fitoplâncton encontradas. RV 1 RV 2 RV 3 RV 4 RV 5 RV 6 RV 7 RV 8 RV 9 RV 10 RV 11 RV 12 RV 13 RV 14 RV 15

Chlorophyceae

Dictyosphaerium cf pulchellum x

Monoraphidium pusillum x

Monoraphidium contortum x x

Monoraphidium irregulare x x x

Selenstrum sp x

Scenedesmus cf bijugus x x x x x x x

Ankistrodesmus gracile x

Monoraphidium setiforme x x x x

Scenedesmus cf ellipsoideus x

Ankistrodesmus sp 1 x

Coelastrum reticulatum x

Ankistrodesmus sp2 x

Bacillariophyceae

Diatoma sp x

Navicula sp2 x

Encyonema sp x

Surirella cf linearis x

Eunotia sp1 x x x x x

Tabellaria sp x

Acanthoceras cf zachariasii x x x x

Eunotia sp2 x

Dinophyceae

Peridinium sp1 x

Peridinium sp2 x x x x x x

Zygnemaphyceae

Staurastrum cf sebaldi x x x x x x

Staurastrum sp2 x

Cosmarium cf majae x x x x x x

Closterium kuetzingii x x

Closterium cf incurvum x

Staurastrum cf trifidum x

Closterium sp1 x x x x

Cyanophyceae

Oscillatoria limnetica x x x x x

Crysophyceae

Dinobryon sertularia x x

Euglenophyceae

Euglena sp2 x x

Cryptophyceae

Cryptomonas platyuris x x

Chilomonas paramaecium x

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Anexo 3. Estudo da série histórica da vazão do rio Verde.

Cód. da Estação Fluviométrica Nome da Estação Área de drenagem (km2) 17231000 Ponte BR-163 5435

Dados referentes à plataforma de coleta de dados da Agência Nacional de Águas instalada no rio Verde. Fonte: Software HIDRO - Agência Nacional de Águas • Estação fluviométrica 17231000 instalada em Lucas do Rio Verde.

17230000

Chuva & Vazão

060505040403030202010100009999989897979696959594949393929291919090898988888787868685858484838382828181808079797878777776767575747473

Vaz

ão (

m3/

s)

320,0

310,0

300,0

290,0

280,0

270,0

260,0

250,0

240,0

230,0

220,0

210,0

200,0

190,0

180,0

170,0

160,0

150,0

140,0

130,0

120,0

110,0

100,0

90,0

80,0

70,0

60,0

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PATROCÍNIO MASTER

PARCEIROS

APÓIO TÉCNICO E INSTITUCIONAL

PROJETO BRASIL DAS ÁGUAS – SETE RIOS Rua Marechal Cantuária, 149, 501 Rio de Janeiro – RJ CEP 22291-060 Tel: (21) 2530-2644

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