projetil 77

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 20 Quando a sustentabilidade começou a ser debatida pela ONU, nos anos 70, pouco se conhecia sobre o tema Meio Ambiente Bárbara Versolato Brenda Cirino Passados mais de 40 anos, a dis- cussão não cessou, e eventos climáticos confirmaram algumas das previsões pessimistas. As mudanças climáticas estão mais frequentes e intensas. Cien- tistas acreditam e temem que se medi- das não forem tomadas, o planeta entrará numa situação de difícil rever- são. A temperatura aumentará(ainda mais), espécies entrarão em extinção, a água pode se esgotar, catástrofes ambientais e etc. Uma das preocupações é a possi- bilidade de faltar recursos para atender a demanda da população, que está pre- vista para chegar a 9 bilhões, em 2050. Uma alternativa cada vez mais difundi- da atualmente é o uso consciente ou sustentável dos re- cursos naturais. Em Campo Grande/ MS, antes de irem parar em fábricas de reciclagem, al- gumas garrafas pa- ram em uma hon- rável escala, que dá vida a centenas de árvores. Como? É o projeto Eco- plantar, surgido em 2008, pela iniciati- va de dois amigos, Marcus Kirst e Rodrigo Albuquerque. O projeto começou com uma ideia de Marcus, que havia se mudado do Pará e trouxe de lá algumas sementes da árvore “neem indiano”, um repelente natural e planta medicinal, desconhecida em Mato Grosso do Sul, e pensou em montar um viveiro de mudas. Rodrigo possuía um terreno apto para o plantio, e aí nasceu a par- ceria. As mudas vingaram, assim como a procura por elas. “Para con- feccioná-las te- mos que arma- zená-las em saquinhos e a garrafa PET era o local perfeito para isso”, expli- cou Marcus en- fatizando que a garrafa é reci- clada duas vezes, com a reutili- zação nas mudas, sem precisar comprar os saquinhos e consumir mais plásticos. O problema agora era outro: como coletar tantas garrafas? A educação ambiental foi a arma. Marcus e Rodrigo iniciaram, por conta própria, campanhas de educação ambiental nas escolas municipais de Campo Grande, com tambores de co- leta que são recolhidos uma vez por se- mana. “É mais fácil ensinar e investir na criança, que aprende rápido. Elas jun- tam tudo o que vê de plástico pela casa, quando aprendem. Adulto é quem sem- pre fez errado e tem preguiça de mu- dar”, explicou Marcus. O plástico em Campo Grande é comprado a R$0,30 o quilo, contra R$2,00 do metal, segundo a dupla de empresários. Rodrigo comenta que na cidade não há uma cultura nem o costu- me da reciclagem, “74% do lixo em Campo Grande não é reciclado por fal- ta de conhecimento e investimento mu- nicipal, mas quando as pessoas apren- dem que não é difícil, não deixam de fazer”. Em 2011, o Brasil aprovou a “Po- lítica Nacional de Resíduos Sólidos”, que possui três pontos fundamentais: Fechamento de lixões até 2014; Apenas rejeitos (parte do lixo que não tem como ser reciclado) poderão ser encaminha- dos aos aterros sanitários; e Elabora- ção de planos de resíduos sólidos nos municípios. Para os integrantes da Ecoplantar, tudo não passa de mano- Divulgação/ Ecoplantar Reduzir Reutilizar Reciclar Reduzir Reutilizar Reciclar Divulgação/ Ecoplantar “Para confeccioná-las, temos que armazená-las em saquinhos, mas a garrafa PET era o local perfeito para isso” Marcus Kirst

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Page 1: Projetil 77

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 20

Quando a sustentabilidade começou a ser debatida pela ONU, nos anos 70, pouco se conhecia sobre o tema

Meio Ambiente

Bárbara VersolatoBrenda Cirino

Passados mais de 40 anos, a dis-cussão não cessou, e eventos climáticosconfirmaram algumas das previsõespessimistas. As mudanças climáticasestão mais frequentes e intensas. Cien-tistas acreditam e temem que se medi-das não forem tomadas, o planetaentrará numa situação de difícil rever-são. A temperatura aumentará(aindamais), espécies entrarão em extinção, aágua pode se esgotar, catástrofesambientais e etc.

Uma das preocupações é a possi-bilidade de faltar recursos para atendera demanda da população, que está pre-vista para chegar a 9 bilhões, em 2050.Uma alternativa cada vez mais difundi-da atualmente é ouso consciente ousustentável dos re-cursos naturais. EmCampo Grande/MS, antes de iremparar em fábricasde reciclagem, al-gumas garrafas pa-ram em uma hon-rável escala, que dávida a centenas deárvores. Como? Éo projeto Eco-plantar, surgido em 2008, pela iniciati-va de dois amigos, Marcus Kirst eRodrigo Albuquerque.

O projeto começou com umaideia de Marcus, que havia se mudadodo Pará e trouxe de lá algumassementes da árvore “neem indiano”, umrepelente natural e planta medicinal,desconhecida em Mato Grosso do Sul,

e pensou em montar um viveiro demudas. Rodrigo possuía um terrenoapto para o plantio, e aí nasceu a par-ceria.

As mudas vingaram, assim comoa procura porelas. “Para con-feccioná-las te-mos que arma-zená-las emsaquinhos e agarrafa PET erao local perfeitopara isso”, expli-cou Marcus en-fatizando que agarrafa é reci-clada duas vezes,com a reutil i-

zação nas mudas, sem precisar compraros saquinhos e consumir mais plásticos. O problema agora era outro: comocoletar tantas garrafas?

A educação ambiental foi a arma.Marcus e Rodrigo iniciaram, por contaprópria, campanhas de educaçãoambiental nas escolas municipais deCampo Grande, com tambores de co-

leta que são recolhidos uma vez por se-mana. “É mais fácil ensinar e investirna criança, que aprende rápido. Elas jun-tam tudo o que vê de plástico pela casa,quando aprendem. Adulto é quem sem-pre fez errado e tem preguiça de mu-dar”, explicou Marcus.

O plástico em Campo Grande écomprado a R$0,30 o quilo, contraR$2,00 do metal, segundo a dupla deempresários. Rodrigo comenta que nacidade não há uma cultura nem o costu-me da reciclagem, “74% do lixo emCampo Grande não é reciclado por fal-ta de conhecimento e investimento mu-nicipal, mas quando as pessoas apren-dem que não é difícil, não deixam defazer”.

Em 2011, o Brasil aprovou a “Po-lítica Nacional de Resíduos Sólidos”,que possui três pontos fundamentais:Fechamento de lixões até 2014; Apenasrejeitos (parte do lixo que não tem comoser reciclado) poderão ser encaminha-dos aos aterros sanitários; e Elabora-ção de planos de resíduos sólidos nosmunicípios. Para os integrantes daEcoplantar, tudo não passa de mano-

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Reduzir Reutilizar ReciclarReduzir Reutilizar Reciclar

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“Para confeccioná-las,temos que armazená-las

em saquinhos, mas agarrafa PET era o local

perfeito para isso”

Marcus Kirst

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21 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMSMeio Ambiente

Uso racional de águae energia na UFMS

Em 2000, a Organização das Nações Unidas,através dos Objetivos de Desenvolvimento doMilênio (ODM) traça compromissos entre 190países para a melhora da qualidade de vidahumana. São estratégias para que se man-tenha possível a nossa existência no plane-ta. No total são Oito Objetivos, com diversosenfoques, como erradicar a pobreza e a fome,promover a igualdade entre os sexos, saúdee etc. O sétimo objetivo é esse:

Garantir a sustentabilidade ambientalPromover o desenvolvimento sustentável,reduzir a perda de diversidade biológica ereduzir pela metade, até 2015, a proporçãoda população sem acesso a água potável eesgotamento sanitário.

Sugestões de ações:Incentivar a reciclagem de materiais, o usode sacolas reutilizáveis no lugar de sacolasplásticas, usar os recursos de forma consci-ente, implementar a coleta seletiva, plantarárvores, não jogar lixo nas ruas e etc.

[email protected]@gmail.com

No Brasil são mais de 2,5 mil instituições de ensino superior,mais de 6,5 milhões de alunos, no país inteiro, segundo olevantamento de 2010, do Ministério da Educação. E essasinstituições sempre enfrentam problemas, principalmente deinfraestrutura, que acontecem principalmente em universidades pú-blicas, onde existe uma ausência de gestão responsável.

Quem nunca foi a uma instituição pública onde houvesse umvazamento, uma torneira quebrada, ou uso irracional de energia?Pensando nisso, Vinícius Battisteli Lemos, mestrando em Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental da UFMS (UniversidadeFederal de Mato Grosso do Sul), criou o projeto CampusInteligente, sob orientação do professor Peter Batista Cheung.

A ideia surgiu nas pesquisas bibliográficas de Vinicius, quandodescobriu que em um campus numa universidade dos EstadosUnidos, uma ideia simples, reduziu em até 20% o consumo de ener-gia. Uma lâmpada instalada no meio dos prédios, que mudava decor, variando conforme o consumo dos estudantes.

O projeto consiste em levantar indicadores de desempenho eapresentar num sistema de informação geográfico, onde essas in-formações serão transmitidas em tempo real a um administrador eficar sobre o controle do gerente de manutenção, que enviará umaequipe para o local apontado.

O site está em funcionamento há pouco mais de dois meses.Uma das metas é, em breve, calcular uma média do gasto individu-al, num prazo de 6 meses. Mas para poder gerar esse número énecessário saber onde existe desperdício. Para isso serão implanta-dos equipamentos que transmitem em tempo real ao site do CampusInteligente, onde serão exibidos em forma de gráficos e números.Quando o sistema estiver implantado, o cidadão poderá reportar oproblema através do site, até mesmo pelo celular. Existem placasespalhadas pelos prédios da UFMS, onde existe orientação do quefazer. Qualquer pessoa pode visualizar e ajudar.

“O conceito é muito semelhante ao de Cidades inteligentes. Agente não sabe quanto gasta deágua, energia, nada. Não sabemosonde estão e nem quais são osproblemas, então o Campus In-teligente é o primeiro passo paradar inteligência a esse processo deadministração”, disse Vinicius. Oprojeto é patrocinado pelaEletrobrás, e é de um programade Incentivo a gestão hidroenergética.

Projeto pretende indicar onde e como são osdesperdícios no campus

Foto:

Vinic

ius Ba

ttistel

i

(Re)Agir

bras políticas marqueteiras, assim comoa Rio+20, a Copa do Mundo de Futebol,em 2014, e que Campo Grande podedemorar muito para ver seu plano deresíduos sólidos, pois os programas mu-nicipais “só funcionam por conveniên-cia, por meio de troca de fatores e votos,por isso tivemos que botar a mão namassa por conta própria, juntamentecom os catadores” conta Marcos.

Atualmente, a Ecoplantar vendemuda de árvores para quase todos osestados brasileiros, contando com espé-cies raras, medicinais e ornamentais, ealém de ensinarem as crianças nas esco-las, possuem pontos de coleta de garra-fas PET espalhados pela cidade. O di-nheiro adquirido com o projeto, uma ini-

ciativa privada, é revertido para a estru-tura do viveiro e dos catadores de lixoque colaboram com o projeto.

Quem quiser ajudar, a Ecoplantarfica na Rua Manoel Cecílio, Nº 780, Jar-dim São Bento, onde é possível doarmateriais sólidos recicláveis. As mudasproduzidas podem ser adquiridas dire-tamente no local ou pela venda on-linena internet. Os voluntários também po-derão ir até o viveiro aprender como oempreendedoris-mo pode se tornarsustentável, e confeccionar as mudas,que fazem do lixo, um berço de vida.