projecto de reabilitação hsc 20060915
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As doenças cardio-vasculares têm hoje um lugar cada vez mais importante na nossa sociedade pela frequência aumentada com que atingem a população devido a vários factores, nomeadamente hábitos alimentares incorrectos, sedentarismo, tabagismo, poluição do ambiente e de produtos alimentares, maior longevidade e aumento de “stress” na vida do dia a dia. Segundo um estudo publicado no Lancet, “Global Burden of Disease Study” em 1997 a prevalência da doença coronária é um facto, sendo a causa de morte número um em 1990. e estimado que em 2020 a doença isquémica cardíaca continua a ser a numero um de causa de morte e incapacidade. Não basta investir em novas moléculas, em novos equipamentos e técnicas cirúrgicas com a finalidade de manter a sobrevivência, sem se acautelar a dignificação da vida humana e pela qualidade de vida. Visão: O investimento na Reabilitação Cardíaca do doente (ensino, exercício e modificação dos factores de risco) permite manter vivo o doente mas com acrescida qualTRANSCRIPT
PROJECTO DE REABILITAÇÃO
CARDIO RESPIRATÓRIA NO
HOSPITAL Stª CRUZ - CHLO
Dr. Licínio Carneiro
Carnaxide 14 de Setembro de 2006
PROJECTO DE REABILITAÇÃO CARDIO RESPIRATÓRIA NO
HOSPITAL Stª CRUZ – CENTRO HOSPITALAR LISBOA OCIDENTAL
As doenças cardio-vasculares têm hoje um lugar cada vez mais importante na
nossa sociedade pela frequência aumentada com que atingem a população devido a
vários factores, nomeadamente hábitos alimentares incorrectos, sedentarismo,
tabagismo, poluição do ambiente e de produtos alimentares, maior longevidade e
aumento de “stress” na vida do dia a dia. Segundo um estudo publicado no Lancet,
“Global Burden of Disease Study” em 1997 a prevalência da doença coronária é um
facto, sendo a causa de morte número um em 1990. e estimado que em 2020 a doença
isquémica cardíaca continua a ser a numero um de causa de morte e incapacidade.
Não basta investir em novas moléculas, em novos equipamentos e técnicas
cirúrgicas com a finalidade de manter a sobrevivência, sem se acautelar a dignificação
da vida humana e pela qualidade de vida.
Visão:
O investimento na Reabilitação Cardíaca do doente (ensino, exercício e
modificação dos factores de risco) permite manter vivo o doente mas com acrescida
qualidade de vida porque permite a integração familiar, social e profissional.
Definição:
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a reabilitação cardíaca é o somatório
das actividades necessárias para garantir aos pacientes portadores de cardiopatias as
melhores condições física, mental e social, de forma a que eles consigam pelo seu
próprio esforço, reconquistar uma posição normal na comunidade e levar uma vida
activa e produtiva.
A insuficiência cardíaca (IC), complicação corrente observada nos nossos
doentes, pode ser aguda (de recente começo), ou de instalação insidiosa (por
descompensação ou instabilidade de um quadro crónico) é a principal causa de
internamento nos países desenvolvidos apresentando alta mortalidade.
Os doentes com insuficiência cardíaca crónica, pós-enfarte, pós-cirurgia cardíaca
e torácica apresentam como principal sintomatologia ou sintomas major a sensação de
fadiga e dispneia com o esforço Esta fadiga pode também correlacionar-se com
alterações psicológicas tais como ansiedade e depressão e é responsável por uma
interferência negativa na execução das actividades de vida diária dos doentes..
Sabemos contudo que não existe uma correlação directa entre estes sintomas e a
gravidade da disfunção ventricular tal como a objectivada pela determinação da fracção
de ejecção sistólica (FEj). Na Insuficiência Cardíaca Crónica (ICC) foram encontradas
anomalias no fluxo sanguíneo periférico, função endotelial, e disfunção musculo-
esquelética. Esta última, com diminuição da capilaridade, diminuição preferencial de
fibras musculares de tipo I ou aeróbicas, menor volume e densidade de mitocôndrias,
menor conteúdo em enzimas oxidativas o que contribui para uma menor utilização do
oxigénio com diminuição do seu diferencial arterio-venoso e logo menor VO2 máximo,
bem como precoce acidémia láctica e diminuição do limiar anaeróbico, para além de
alterações da função renal e metabólica, associada à elevada estimulação do sistema
nervoso simpático e um complexo padrão de alterações neuro-humorais e inflamatórias.
. Estas anomalias musculares são semelhantes às encontradas na
inactividade física e amiotrofia por desuso, o que explica a deterioração do
paciente associada à inactividade e daí o sindroma de descondicionamento físico
tão característico nestes doentes.
A capacidade física nestes doentes, que têm esgotada a sua capacidade de
reserva central, seria justificada em grande parte pelo reconhecimento dos factores
periféricos a nível musculo-esquelético limitativos da capacidade de esforço e pela
possibilidade da melhoria da sua eficiência com o exercício adequado.
Deste modo compreende-se o benefício que a actividade física programada e
individualizada – reabilitação cardíaca - apresenta na melhoria da fadiga e aumento da
tolerância ao esforço, objectivado por diversos teste diagnósticos como o aumento da
distância na prova de marcha de 6’, reversão das alterações histológicas e metabólicas,
aumentos do tempo de duração da prova de esforço e do VO2 máx e melhoria do limiar
anaeróbico.
Encontra-se também um efeito benéfico do exercício, através de uma estudada
cinesiterapia respiratória, sobre a função ventilatória com redução do VE/VCO2, por
reforço dos músculos respiratórios e por redução da hiper-reactividade do sistema de
ergoreflexo muscular.
Missão:
Implementação urgente de programas de reabilitação cardíaca e respiratória na
abordagem terapêutica, seja ela qual for, e do recurso a uma equipa multidisciplinar
para levar a bom termo esta tarefa.
Programa de Reabilitação Cardio-Respiratória
Ambulatório
Os doentes “alvo” serão da seguinte área nosológica:
Cardíaco e Respiratórios:
Doentes coronários, pós-enfarte do miocárdio, pós cirurgia cardíaca e
pulmonar, DPOC e outros.
Nota: Será inicialmente estruturado programa de Reabilitação cardíaca, por razões
óbvias
A estruturação destes programas, de Reabilitação Cardíaca dirige-se a doentes de alto
risco.
Estes programas serão do tipo da Fase II e de cariz multidisciplinar, estruturados
em processos de educação, orientação terapêutica, dietética, exercício e suporte
emocional para apoio aos doentes cardíacos / cardio-pulmonares de forma a:
1) Adquirirem a maior capacidade funcional possível,
2) promover o ensino do doente num contexto holístico da sua doença (cardíaca
e/ou respiratória), optimizando as suas capacidades funcionais com vista ao
maior grau de autonomia pessoal e de integração familiar e socio-profissional.
Por uma questão de comodidade de explanação denominarei o grupo de intervenientes
na reabilitação cardíaca como Unidade de Reabilitação Cardio-Respiratória (URCR)
que ficará sediada no Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital Stª Cruz
A – Comunidade assistida pela URCR:
- Doentes observados e estadiados pelo Serviço de Cardiologia
- Doentes transferidos dos Serviços de Cirurgia Cardio-Torácica (pacientes na
fase pré ou pós-operatório), Cardiologia, Pneumologia, Medicina Interna e externos.
B – Recursos Humanos.
Entendemos que Equipa é um conjunto de pessoas com objectivos comuns
actuando no cumprimento de metas específicas. Na formação da equipa deve-se
considerar o seguinte perfil de competências:
1 – Em primeiro lugar as competências individuais necessárias para o
desenvolvimento das actividades técnicas e em segundo lugar as competências ligadas
a acções de implicação individual como a motivação, o espírito de iniciativa, ser
diligente, ter uma perspectiva positiva, ser estável e responsável;
2 - Respeito pelos princípios da equipa, código de ética, capacidade de
interacção entre os seus membros e especialmente o reconhecimento da
interdependência, com partilha dos valores da cultura organizacional na concretização
dos resultados da equipa que inevitávelmente favorecerá os resultados da organização
como um todo.
Assim sendo, no desenho da política dos Recursos Humanos, para além do alinhamento
das competências individuais com a estratégia global do grupo, existe na filosofia deste
projecto a preocupação de assegurar bons níveis de motivação, evolução e
desenvolvimento pessoal e profissional para que se possa responder com eficiência e
qualidade às necessidades e exigências da actividade.
Deste modo a política de Recrutamento Humano sustenta-se nos seguintes pilares
fundamentais:
Recrutamento em função das especificidades técnicas da sua experiência –
assegurando uma resposta às necessidades, considerando as exigências
quantitativas e qualitativas da ocupação;
Formação e Desenvolvimento – sendo um projecto novo e inovador
pretende-se que seja uma aposta contínua que proporcione aos nossos
profissionais oportunidades em função do potencial individual e das novas
exigências e necessidades;
Desempenho e Progressão – através de uma cultura de desempenho e de
promoção do desenvolvimento, reconhecendo que só através dele estamos a
optimizar o valor da nossa Equipa;
Compensação e Sistemas de Recompensa – pelo estudo e desenvolvimento
de um conjunto de contrapartidas, consubstanciada numa política de
compensação e sistemas de recompensa que seguem princípios de equidade/
competitividade, sem fugir à qualidade;
Cultura e Comunicação – aposta numa cultura de flexibilidade, dando
primazia à comunicação interna e partilha de conhecimentos.
B1 - Qualificações - Especificidades Técnicas
A Direcção destes Programas será sempre da responsabilidade técnica do Fisiatra e / ou
Cardiologista (direccionados para estas vertentes nosológicas e com o treino
necessário).
A equipa de técnicos de saúde deverá ser constituído por:
1) Médico Fisiatra – desenha e administra o programa interagindo directamente
com o Cardiologista e equipa de reabilitação, avalia o doente no seu todo prescrevendo
o exercício; assegura a qualidade, conteúdo e segurança do programa; assim como o seu
desenvolvimento, avaliação e progressão futura; gere as condições de rentabilização,
optimização e sucesso na gestão do programa.
2) Médico Cardiologista – desenha e administra o programa interagindo
directamente com o Fisiatra, avalia as condições cardíacas dos pacientes; estabelece a
estratificação de riscos; colabora na prescrição do exercício; responsável pelos
protocolos de emergência e urgência; providencia o ensino e protocolo do desfibrilhador
à equipa;
3) Enfermagem de Reabilitação – providencia pela supervisão da classe; assiste
o paciente, colaborando nos programas de educação ao paciente e família; assiste ao
suporte medicamentoso e providencia pela gestão de factores de risco; deverá ter
experiência em cuidados críticos, (de preferência em unidades de cuidados intensivos),
experiência com o desfibrilhador e nas especificidades técnicas electrocardiográficas,
com capacidade para avaliar o “status” cardiovascular – sinais e sintomas; colabora no
supervisionamento das sessões de cinesiterapia respiratória com a Fisioterapeuta;
4) Fisioterapeuta - com conhecimentos de fisiopatologia cardíaca e respiratória
e em técnicas actuais de cinesiterapia respiratória, podendo supervisionar as sessões de
cinesiterapia respiratória; colabora no desenho e progressão do programa de tolerância
ao esforço; com conhecimento de sinais e sintomas de emergência cardíaca;
5) Fisiologista de esforço (licenciado em Educação Física) ou Fisioterapeuta –
com conhecimentos em fisiologia de esforço, biomecânica e técnicas gímnicas –
medicina desportiva; conhecimento de factores de risco; colabora no desenho e
progressão do programa de tolerância ao esforço; responsável pelo supervisionamento
de exercício aeróbico e de trabalho de força; com conhecimento de sinais e sintomas de
emergência cardíaca;
6) Dietista – Avalia o estado nutricional individual; providencia o
aconselhamento e seguimento nutricional; providencia a educação nutricional aos
pacientes;
7) Terapeuta Ocupacional – avalia as repercussões das actividades de vida diária
e ocupacional com impacto no sistema cardiovascular e respiratório; providencia os
apoios de ajuda técnica e soluções de rentabilidade energética;
8) Psicólogo – especial interesse ou experiência em doentes com doença crónica
e / ou em quadros clínicos de incapacidade; interesse ou experiência nas modificações
de hábitos de vida
9) Assistente Social – avalia as características sócio-familiares e económicas de
cada paciente enquadrando-os nas especificidades do programa de reabilitação, com
conhecimentos e interesse em trabalhar em rede, inserida na sociedade;
Nota: Qualquer dos elementos da equipa de reabilitação deverá ter sempre o curso
básico e avançado de Reanimação Cardio-Pulmonar (requisito essencial) e
conhecimentos de informática e em rede na perspectiva do utilizador;
C – Recursos de Espaço Físico para o Programa e Equipamento
Espaço Físico e Laboratório de estudo funcional
Secretariado e sala de espera
Sala de consulta médica
Sala de testes / avaliação
Ginásio apetrechado para urgência médica e com as medidas regulamentares de espaço
Gabinetes individuais para cinesiterapia respiratória
Sala de conferência / apoio
Vestiários / duches / WC
Equipamento:
Dispositivo de sinal de emergência (imprescíndivel) em todas a salas, bem
referenciado;
Equipamento de ECG para prova de esforço e de consumo de O2 em tapete rolante e
portátil (HSC) ;
Pletismografia com estudo de DLCO (HSC) ;
Electrocardiografia por telemetria para 10 pacientes (imprescíndivel) ;
Carro de urgência com ambu e botija de O2 e equipamento de entubação de emergência
(imprescíndivel) ;
Desfibrilhadores automáticos (imprescíndivel) (HSC) ;
Esfigmomanómetros (imprescíndivel) ;
Software para Reabilitação Cardiaca e Respiratória (imprescíndivel) – sugere-se marca
ORION ;
Equipamento de frequência cardíaca e de pressão arterial de pulso (importante) ;
Ventiladores não invasivos (CPAP / BiPAP - IPPB) (importante) (**) ;
Bicicletas ergométricas - (existem duas “Monark” disponíveis no HSC )
(importante);
Cicloergómetro para membros superiores - (existe disponível no HSC) (importante) ;
Elípticas - (dirigidos àqueles pacientes com problemas ortopédicos / neurológicos que
impeçam parcialmente o uso articular dos membros inferiores ou seja menos indicado
pelo impacto de marcha, por ex.) - (importante) ;
Halteres - (importante) ;
Aerossóis ultrasónicos (imprescíndivel);
Equipamentos de fortalecimento respiratório (tipo Threshold) (*) - (importante);
Inspirómetros (*) (importante);
Flutter ou Accapela (*) (importante);
Equipamentos de “peak – flow” (*);
Equipamentos de biofeedback e de treino muscular respiratório (*);
Equipamento de espirometria portátil;
Electrocardiógrafos portátil;
“Coflattor” (in-exsuflator) (para pacientes com incapacidade muscular para higiene
brônquica activa) (importante);
Coletes de estabilização esternal (para doentes pós-operatório cardio-torácico)
(importante) (*);
Tapetes de marcha para o exterior;
Fitas e equipamento para medição digital de glicemia por picada (importante);
Suplementos de sumo de fruta ou bebidas com glucose para doentes diabéticos
(importante).
Nota: Define-se imprescíndivel o equipamento sem o qual é inviável quaisquer
programas de reabilitação cardíaca.
Os artigos marcados com (*) poderão ser adquiridos no item de Ajudas Técnicas
ou vendidos em pacote individual para cada doente;
Os artigos marcados com (**) poderão ser alugados individualmente e são
comparticipados por todos os organismos de saúde.
Mobiliário de gabinete e de apoio às áreas de tratamento.
Material adequado para ensino (estruturação de brochuras de exercício físico, de hábitos
de vida, testes de qualidade de vida, orientações alimentares, higiene de sono, de tabelas
de dispêndio energético em relação às actividades de vida diária e algumas actividades
ocupacionais que se considerem de referência, etc…)
D – Contraindicação ao Programa de Reabilitação Cardíaca
Absoluta:
- Recente alteração ECG que sugira re-enfarte ou outro evento cardíaco agudo
- Angina instável
- Arritmia ventricular incontrolável
- Arritmia auricular incontrolável que comprometa a função ventricular
- B-A de3º grau sem pace-maker
- Insuficiência cardíaca congestiva aguda
- Estenose aórtica severa
- Suspeita ou conhecido aneurisma ventricular ou dissecante aórtico
- Miocardite ou pericardite aguda
- Tromboflebite ou trombo intra-cardíaco
- Embolia sistémica ou pulmonar recente
- Infecção aguda
- Alteração emocional significativa (psicose, por ex.)
Relativa:
- HTA com sistólica > 200 mmHg e / ou diastólica > 115 mmHg
- Moderada doença valvular cardíaca
- Conhecidas alterações do ionograma (tal c/o hipokaliémia, hipomagnesiémia . )
- Pace-maker dependente
- Taquicárdia induzida pelo exercício
- Doença metabólica dificílmente controlável (DM, tirotoxicose, mixedema,...)
- Doenças infecciosas crónicas (mononucleose infecciosa, hepatite, SIDA ..)
- Doenças neuromusculares, musculo-esqueléticas ou reumáticas de exacerbação
com o exercício
- Gravidez
- Alterações cognitivas
- Doenças cardíacas congénitas
- Depressão do segmento S-T > 3 mm
E - Programa de Reabilitação Cardíaca tipo “fase II”
Após avaliação do doente em Cardiologia, com determinação da estratificação
de risco (baixo, médio ou alto risco) e indicações clínicas e terapêuticas necessárias para
iniciar programa de reabilitação, irá a consulta de Fisiatria para ser observado e
programado o tipo de reabilitação e recursos que serão necessários disponibilizar. Esta
incluirá história clínica (anamnese, antecedentes, exame objectivo) identificação de
factores de risco, avaliação nutricional (esquemático), revisão medicamentosa e
compreensão da interacção da doença no seu estilo de vida (escala de qualidade de vida
– Nothigham Health Profile por exemplo ou outro).
Segundo o perfil e as necessidades que o doente apresentar será enviado aos
elementos da equipa – Enfermeira, fisioterapeuta, dietista, etc – para avaliação e
discussão futura do projecto terapêutico, de forma objectiva e realista.
Será constituído um grupo de não mais de 10 doentes e cujo programa terá um
tempo previsto de 12 semanas, preferencialmente de frequência diária, e que consiste na
readaptação ao esforço (fisioterapia musculo-esquelética e cinesiterapia respiratória nas
suas diversas vertentes), suporte terapêutico (em especial quando inclui anti-
coagulação), educação * e apoio psico-social. Na educação incluirá o conhecimento de
factores de risco nomeadamente evicção tabágica para os fumadores, orientação
dietética, sexual e precauções quanto a cicatrizes operatórias de recentes intervenções
cirúrgicas. Também a Terapia Ocupacional apoiará no estudo e ensino individual de
cada paciente para execução de técnicas de rentabilização de gestos ou actos de vida
diária;
Este programa será estruturado em função da capacidade dos doentes, avaliada
por teste de qualidade de vida e monitorizado de acordo com a estratificação de risco.
Finalidade:
Independência das suas actividades de vida diária, melhoria da auto-confiança;
Razoável resposta ao exercício a 5 mets;
Ausência de contra-indicações para o exercício independente;
Preparação psicológica para o regresso a casa e sociedade (trabalho);
Melhoria da qualidade de vida..
E1 - Programa:
A Primeira semana será de avaliação:
- clínica,
- laboratorial (ECG com consumo de O2, pletismografia/espirometria com
eventual DLCO, polissonografia, osteodensitometria óssea, radiologia ...),
- funcional (prova de marcha de 6’ com oximetria digital, teste analógico de
dispneia com o esforço, teste de Epworth, teste muscular, avaliação em terapia
ocupacional e nutricional)
- psico-social através de teste de qualidade de vida, como o de “Stº Georges
Hospital”, e o de “Notthingham Health Profile”.
A partir dos dados adquiridos de cada paciente organizar-se-á um programa de
reabilitação individualizado para cada paciente a fazer em grupo.
A prescrição de exercício deverá sempre incluir a frequência, intensidade,
duração, tipo de actividade e progressão de exercícios.
Da Segunda à Décima Primeira semana (10 semanas) constará de três sessões
de trabalho por semana (cinesiterapia respiratória e fisioterapia, alternadamente) em que
os doentes serão sempre portadores de equipamento de telemetria, cardio-
frequencímetros e eventual oximetria portátil (em caso de dessaturação de O2 com
esforço). Estas alternam-se com actividades dos outros técnicos.
As sessões serão divididas em duas vertentes quanto a técnicas:
1) Programa de actividade física que consiste no condicionamento aérobico e de
tolerância ao esforço e exercícios de melhoria de fortalecimento muscular, exercícios de
flexibilidade e endurance muscular com fortalecimento dos músculos dos membros
superiores, inferiores e associado a ensino e aplicação de técnicas de relaxamento;
O início da sessão de exercício supervisionada, inclui pelo menos três componentes
principais: aeróbico, flexibilidade e fortalecimento muscular. O exercício aeróbico é o
principal componente pela sua acção sobre vários factores de risco modificáveis –
(coronários), enquanto que os treinos de fortalecimento muscular e de flexibilidade têm
sido cada vez mais utilizados com a finalidade de proporcionar melhoria da qualidade
de vida.
A marcha, a bicicleta ergométrica e outras actividades aeróbicas, incluindo
cicloergómetro dos membros superiores são as recomendadas, tendo sempre em atenção
as características ortopédicas e neurológicas de cada paciente. Estas actividades podem
ser complementadas por treino de resistência com altas repetições de baixa resistência e
exercícios de amplitude articular.
O treino terá em atenção a idade, temperatura ambiente do ginásio, quadro
clínico e nível de “fitness” inicial. A frequência cardíaca alvo será de 40 a 75 % do
VO2; frequência de treino de 3 vezes por semana, 20 a 40 minutos por sessão.
Estas actividades far-se-ão com apropriado aquecimento muscular e no final da
actividade os exercícios de arrefecimento devem ter em conta a diminuição da
frequência cardíaca e a prevenção do “pooling” venoso dos membros inferiores. O
aquecimento e o arrefecimento prolongar-se-ão por cerca de 10 a 15 minutos.
Mas … a prescrição de um seguro e efectivo programa de resistência ao esforço
será iniciado como coadjuvante ao programa de exercício aeróbico após 6 semanas de
treino cardiovascular sem complicações de pressão sanguínea do paciente (menor que
105 mmHg capacidade do pico de exercício do paciente maior que 5 MET) e não
comprometido por insuficiência cardíaca congestiva, sintomas instáveis, ou arritmias.
De início com bandas elásticas de diminuída resistência e halteres de 0.5 kg,
exercitando grandes grupos de músculos antes dos pequenos. **
2) programa de treino e fortalecimento respiratório podendo em cada sessão de
tratamento iniciar-se com aerossol ultrasónico e técnicas de higiene brônquica. Serão
realizadas e ensinadas diversas técnicas de expansão pulmonar, mobilização e também
com diversos tipo de equipamento como os inspirómetros, “flutter”, “therapep” ou
outros que se achem úteis para as diversas patologias que se apresentem.
Complementar-se-ão com exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular dos
membros superiores e músculos respiratórios, tendo em consideração as premissas atrás
descritas quanto às características da prescrição.
Porque a resposta cronotrópica pode ser afectada, a percepção do esforço deverá
ser anotada, assim como a dispneia, para além da frequência cardíaca alvo e cargas
propostas.
Também durante estas dez semanas os pacientes serão abordados pelos restantes
membros da equipa, como a Dietista, Terapeuta Ocupacional, Assistente Social e
Psicólogo.
Ainda durante este período de 10 semanas serão os participantes acompanhados
de brochuras com ensino de anatomia, fisiologia / fisiopatologia pulmonar, de evicção
tabágica e de orientações de higiene respiratória e do sono. Cada doente será portador
de uma pasta onde arquivará todos os seus documentos de ensino, exames, testes, sendo
dirigido ao Médico assistente um relatório final.
A Última semana - a 12ª, será a de reavaliação dos resultados finais.
Última semana:
A equipa organizará um mapa dos pacientes com os objectivos a atingir e a
estruturação das deficiências, incapacidades e “handicaps” ao fim da 1ª semana de
avaliação. Esses mesmos resultados serão transmitidos aos doentes assim como se
transmitirão os objectivos da sua reabilitação. Na última semana, como se referiu,
voltará a reavaliar-se os pacientes individualmente, elaborando-se um relatório de cada
um e posicionando-os no referido mapa através de um sistema classificativo.
Far-se-á no último dia um “evento social e recreacional” com a entrega final dos
relatórios e o posicionamento de cada um em relação aos objectivos traçados
inicialmente. Ser-lhes-á entregue um diploma do curso que frequentaram.
Poder-se-á reforçar através de uma curta palestra a importância destes
Programas, que não é só a de redução de sintomas, o melhorar da tolerância ao esforço
e diminuição da frequência de infecções ou de hospitalizações, mas fundamentalmente
levar a que o paciente garanta a sua independência pessoal e em relação a terceiros, por
forma a não pesar na sociedade, melhorando deste modo a sua qualidade de vida pelo
retorno à família, vida social e ocupacional.
Nota: Haverá importância no convite para este último dia, não só dos familiares, não se
perdendo o espírito da filosofia de “cuidado continuado para a integração familiar”
como também dos médicos assistentes. Poder-se-ão fazer convites a eventuais parceiros
da sociedade civil.
Nota Final:
Os pacientes que aderem aos programas de reabilitação cardio-respiratória irão
apresentar mudanças miocárdicas, hemodinâmicas, vasculares, respiratórias,
musculares, metabólicas, alimentares e psicológicas que estão associadas ao melhor
controle dos factores de risco e à melhoria da qualidade de vida.
Os pacientes portadores de cardiopatia isquémica e de insuficiência cardíaca, a
reabilitação cardíaca reduz a mortalidade cardiovascular, assim como nos pacientes com
patologia respiratória há melhoria da tolerância ao esforço e diminuição das co-
morbilidades naqueles que finalizam a reabilitação respiratória.
Somado esses benefícios, os programas de reabilitação cardíaca e respiratória,
quando adequadamente conduzidos, são seguros e de custo/efectividade positivos,
devendo ser oferecidos a todos os pacientes.
F - Parceiros:
Parceiros na sociedade médica:
Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação
Sociedade Portuguesa de Cardiologia
Sociedade Portuguesa Medicina Interna
Sociedade Portuguesa de Pneumologia
Associação Portuguesa de Prevenção e Reabilitação das Doenças Cardio-Vasculares
Parceiros na sociedade civil:
Companhias Seguradoras
Fundações e Associações com expressão na sociedade civil
Em virtude destes programas envolverem grandes recursos, custos avultados e
uma equipa altamente especializada e numerosa, é importante pensar no suporte
destes custos e no apoio financeiro futuro.
Assim, para além da comparticipação de verbas dadas ao apoio de iniciativas
como estas – Cuidados Continuados de Doentes Crónicos – pelo Ministério da Saúde,
sugere-se:
1 – promover esta nova modalidade de saúde junto a Seguradoras ou àquela mais
vocacionada para a área da saúde de reabilitação, argumentando a mais valia para o
paciente, para a Seguradora e para a Comunidade.
A mais valia para a Seguradora seria discutida chamando a atenção para dois factos:
- menos custos para esta, pela prevenção de riscos, menor frequência de internamentos
ou de reinternamentos e de aquisição de medicação. Estes programas são na maior parte
das vezes anuais ou bi-anuais e o risco corrido pela Seguradora ao realizar os diversos
tipos de seguros na sua multiplicidade de situações, seria menor, o que seria uma
vantagem para esta.
- novo produto que a Seguradora pode lançar e comercializar, com chamada de atenção
para a novidade, única no mercado, com as vantagens inerentes a este facto.
2 – que seja objecto de estudo por parte do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental em
eventual parceria com uma Companhia de Seguros para promover um Seguro
vocacionado para a área de saúde de medicina de reabilitação. (criação de marca com
imagem positiva associada a Centro idóneo e credenciado).
3 – Criação de centro de custo financeiro autónomo para gestão económica por forma a
manter a auto-sustentabilidade, alargamento e re-investimento do projecto.
3 – Promover estes programas, depois de rotinados e validados, junto de outras
instituições públicas e particulares com evidentes benefícios para a Instituição CHLO;
4 – Chamar a atenção das instituições tradicionais para a necessidade de apoiarem este
tipo de iniciativas, com donativos por parte do grande público, empresas e organismos
de solidariedade social e cultural e mesmo internacional (Institutos mistos portugueses e
estrangeiros (Fundações do Oriente, Luso-Americana, da Gulbenkian, etc), e
determinadas iniciativas, como por exemplo a semana da reabilitação cardíaca ou
respiratória e outras.
ADENDAS (exemplos):
Perfil do Programa
Nome do Programa: ___________________________________ Programa:
Morada: _________________________________________ Cardiaco
Cidade: ________________________ CP: _________ Pulmonar
Pessoa de contacto: ___________________________________________
Telefone: _____________________________Telemóvel ______________
Email: ______________________________________________________
Tipo de Programa:
Ambulatório – Inst. Publica Seguro, convenção
Ambulatório – Inst. Privada Convenção
Other ___________________
Modalidade:
Equipe: _______Dias por Semana
Fisiatra _______Nº de Semanas
Cardiologista _______Nº de Sessões
Pneumologista
Enfermeira de Reabilitação Assistente Social
Fisioterapeuta
Terapeuta Ocupacional Prof. Educ. Física
Dietista
Psicólogo
Componentes do Programa: Segundo AACVPR
Exercício - Treino (usado em cada sessão): Guidelines Rehabilitation
Passadeira Segundo ACSM
Elíptica Exercise Guidelines
Bicicleta estacionária
Cicloergómetro m.sup
Inspirómetro incentivado
Threshold
Roldana
Treino de resistência Tópicos de Educação:
Pesos A Doença
Elásticos Anatomia e Fisiologia
Treino musculos inspiratórios Dieta e Nutrição
Treino de flexibilidade Modificação Comportament
Treino de relaxamento Factores de Risco
Treino Respiratório
Formato de Educação Higiene Brônquica
Leitura - brochuras Medicações
Ensino durante o exercício Outros tópicos de educação
Auto - estudo _______________
Videos _______________
_______________
_______________
Intensidade do Exercício
Percepção Subjectiva do Esforço:
Escala de Borg (Borg & Noble, 1974)
A tabela abaixo facilita a compreensão da alteração da Frequência Cardíaca através de nossa própria
percepção corporal, durante a prática da actividades fïsicas. Ela pode ser utilizada para qualquer
actividade aeróbica, sendo recomendada como uma opção prática na observação da Intensidade de
esforço.
Os números de 6-20 são baseados na Frequência Cardíaca de 60-200 bpms por minuto . Sendo que o
número 12 corresponde aproximadamente 55% e o 16 a 85% da Frequência Cardiaca Máxima.
6 -
7 muito fácil
8 -
9 fácil
10 -
11 relativamente fácil
12 -
13 ligeiramente cansativo
14 -
15 cansativo
16 -
17 muito cansativo
18 -
19 exaustivo
20 -
* -
Educação Geral:
Com o doente
Reabilitação - porquê
O que é insuficiência cardíaca e seus sintomas
Causas de insuficiência cardíaca e noções de fisiopatologia
Como reconhecer sintomas e sinais
O que faz os sintomas aparecerem e quando informar imediatamente
Como se pesar ou monitorizar a pressão arterial
Racionalidade do tratamento
Importância da adesão à prescrição farmacológica e não farmacológica
Parar o uso de cigarro/álcool/ drogas, etc
Educação das Medicações
Efeitos, dose e tempo de administração
Efeitos colaterais, sinais de intoxicação
Orientação sobre doses, automanipulação dos medicamentos
Evitar antiinflamatórios não esteróides, antiarrítimcos classe I, antagonistas de cálcio,
antidepressivos tricíclico, corticoesteróides, litium, etc
Educação para Repouso e Exercício
Repouso, Trabalho, Actividade diária física, Actividade sexual
Vacinas, Viagens
Dietas e Hábitos Sociais
Controle da dieta de sal, quando necessária, Evitar excesso de líquidos
Ensino do efeito colateral das medicações
Com a equipa
Simplificar tratamento
Reduzir complexidade, prescrever 1x dia se possível
Tratamento adequado às actividades do paciente
Melhorar relação médico-enfermeira-paciente
Mais tempo com o paciente
Comunicação de maneira que o paciente entenda
Envolver família para manter aderência
Melhorar percepção da doença
Regular consulta ou avaliação
Embalagem racionalizada para comprimidos
Eliminação de medicamentos não necessários
Simplificação da receita
Instruções para Contato com Equipa
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PRINCÍPIOS GERAIS DA PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIO AERÓBICO
Tipo Ex.: marcha, cicloergometro - Respeitar as preferências individuais.
Modo: Contínuo: Carga de trabalho constante.
Descontínuo: Trabalho e repouso alternadamente.
Intervalado: Alternando intensidades de trabalho.
Exemplo: alternando corrida e marcha.
Frequência: 3 x / semana.
Duração: 10 a 60 minutos. Dependerá da frequência semanal, intensidade e da
condição clínica do paciente.
Intensidade: Sempre individualizada e baseada nos dados de teste de exercício
cardio-respiratório de consumo de O2 prévio.
Progressão: Adaptar segundo a evolução do paciente no programa.
Outros folhetos importantes:
1- Escala para determinar a progressão de risco cardio-vascular
2- Educação do paciente (intervenções standardizadas a realizar)
3- Folheto a determinar passos importantes a realizar em caso de evento grave
4- Folheto descritivo com critérios para terminar uma sessão de exercício
5- Folheto descritivo com os procedimentos / protocolo de emergência
6- Folhetos descritivo com os critérios de alta
7- Folheto de consentimento informado de participação do paciente no Programa
8- Folheto de prescrição de exercício / cinesiterapia respiratória
9- Folheto de prescrição de treino de resistência
10- Folheto respeitante a protocolos de:
- passadeira
- bicicleta ergométrica
- cicloergómetro de braços
- de fortalecimento muscular respiratório com “Threshold”
11 – Folheto com as indicações medicamentosas do paciente
Carnaxide, 15 de Setembro de 2006
Licínio Carneiro
(Médico Fisiatra)