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PRODUTIVIDADE NO BRASIL Volume 1 – Desempenho DESEMPENHO E DETERMINANTES Organizadores Fernanda De Negri e Luiz Ricardo Cavalcante Autores Alexandre Messa, Carlos Mussi, Claudio Amitrano, Fernanda De Negri, Gabriel Squeff, João Maria de Oliveira, Lucas Mation, Luiz Dias Bahia, Luiz Ricardo Cavalcante, Mauro Oddo Nogueira, Regis Bonelli, Ricardo Infante, Roberto Ellery Jr, Rogerio Freitas, Thiago Miguez e Thiago Moraes

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Discussão sobre a produtividade no Brasil, realizada pelo IPEA.

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  • PRODUTIVIDADE NO BRASIL

    Volume 1 Desempenho

    DESEMPENHO E DETERMINANTES

    Organizadores

    Fernanda De Negri e Luiz Ricardo Cavalcante

    Autores

    Alexandre Messa, Carlos Mussi, Claudio Amitrano, Fernanda De Negri, Gabriel Squeff, Joo Maria de Oliveira, Lucas Mation, Luiz Dias Bahia, Luiz Ricardo Cavalcante, Mauro Oddo Nogueira, Regis Bonelli, Ricardo Infante, Roberto Ellery Jr, Rogerio Freitas, Thiago Miguez e Thiago Moraes

  • CAPTULO 8

    PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E MUDANA ESTRUTURAL NO BRASIL NOS ANOS 2000

    Gabriel Coelho Squeff*

    Fernanda De Negri**

    1 INTRODUO

    O baixo crescimento da produtividade um dos principais fatores a explicar o fraco desempenho econmico da Amrica Latina, de modo geral, e do Brasil, em particular, nas ltimas dcadas. Um dos fatos estilizados sobre o qual h pouca discordncia no Brasil o baixo crescimento da produtividade agregada, seja ela a do trabalho ou a produtividade total dos fatores, nos ltimos 20 ou 30 anos.

    Apesar de alguns autores apontarem para uma acelerao do crescimento da produtividade total dos fatores no incio dos anos 2000, em comparao dcada anterior, em termos histricos este crescimento muito pouco expressivo. Alm disso, aps a crise de 2008, observa-se novamente uma estagnao no crescimento da PTF na economia brasileira (Bonelli e Bacha, 2013; Bonelli e Veloso, 2012; Ellery, 2013).

    De modo geral, a anlise dos indicadores de produtividade do trabalho evidencia a mesma tendncia observada pela PTF, qual seja o baixo crescimento ou a relativa estagnao da produtividade. No caso da produtividade do trabalho, essa evidncia vlida independentemente da fonte de informao utilizada seja a partir das Contas Nacionais, ou das pesquisas anuais do Instituto Brasileiro de Geograia e Estatstica (IBGE) e dos indicadores de produo utilizados.

    Um aspecto que pode iluminar esse debate e contribuir para o diagnstico acerca das razes para o baixo crescimento da produtividade no pas est relacionado com mudanas na estrutura produtiva e seus impactos sobre a evoluo dos indi-cadores de produtividade. relativamente consensual na literatura que o processo de desenvolvimento econmico envolve, ou historicamente envolveu, mudanas na estrutura produtiva dos pases, caracterizadas pela migrao de trabalhadores de setores menos produtivos para setores mais produtivos. Esse movimento, por sua

    *Tcnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Polticas Macroeconmicas do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Dimac/Ipea).** Diretora de Estudos e Polticas Setoriais de Inovao, Regulao e Infraestrutura DISET / Ipea.

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  • 250 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    vez, impulsiona o crescimento da produtividade agregada na economia. No entanto, com o decorrer do tempo, o crescimento da produtividade agregada passa a depender cada vez mais do crescimento da produtividade intra-setorial.

    Neste sentido, o objetivo deste artigo analisar em que medida houve mudanas substanciais na estrutura produtiva brasileira no perodo recente, e quais os eventuais efeitos sobre o desempenho dos indicadores agregados de pro-dutividade do trabalho. Ou seja, pretende-se testar a hiptese de que eventuais mudanas na estrutura produtiva brasileira contribuiriam para explicar o baixo crescimento da produtividade agregada nos ltimos anos. Em outras palavras, seriam as mudanas estruturais na economia brasileira, particularmente a queda de participao da indstria no PIB, responsveis pelo baixo crescimento da produtividade agregada no pas?

    Para tanto, na prxima seo so apresentados, de forma sucinta, os principais argumentos tericos e evidncias empricas subjacentes ao debate sobre mudana estrutural e produtividade. Na terceira seo, apresentam-se dados sobre eventuais mudanas na composio da estrutura produtiva brasileira nos anos 2000, bem como os principais argumentos do debate recente sobre desindustrializao. A quarta seo apresenta a metodologia e os resultados de exerccios de decomposio da produti-vidade, a im de avaliar se mudanas na estrutura produtiva estariam contribuindo para explicar o desempenho da produtividade agregada na economia. A ltima seo traz as principais concluses que podem ser extradas desses resultados.

    2 MUDANA ESTRUTURAL E PRODUTIVIDADE

    A ideia de que a estrutura econmica relevante em termos de crescimento no nova na literatura econmica. O processo de desenvolvimento econmico dos pases centrais se deu concomitantemente ao processo de industrializao e migrao de mo de obra da agricultura, setor de menor produtividade, para a indstria. Esse movimento explicou boa parte dos ganhos de produtividade observados nesses pases e a consequente ampliao da renda per capita.

    Krger (2008) faz uma reviso da literatura sobre mudana estrutural e produtividade e descreve o fenmeno com a apresentao da hiptese dos trs setores. Essa hiptese argumenta que o processo de desenvolvimento dos pases acompanhado por mudanas na participao dos setores (primrio, secundrio e tercirio) no emprego e no valor adicionado da economia. Num primeiro mo-mento do processo de desenvolvimento haveria a reduo da participao do setor primrio em prol do setor secundrio e, posteriormente, reduo de ambos em prol do setor tercirio. Ainda segundo o autor, o primeiro a observar esse padro no processo de desenvolvimento dos pases foi Fisher (1939) e esse padro foi amplamente documentado por (Kuznets 1973; Kuznets 1957), posteriormente.

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  • 251Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    Baumol (1967) desenvolve um modelo de crescimento desbalanceado, no qual a economia foi dividida em dois setores, progressivo e estagnado, de acordo com o crescimento da produtividade do trabalho. A diferena entre ambos diz respeito ao papel desempenhado pelo trabalho, na medida que no primeiro este insumo um instrumento de produo, ao passo que no setor estagnado o trabalho pode ser considerado como o produto inal. Como exemplos desses setores o autor cita, respectivamente, indstria de transformao e os servios. O ponto relativo mudana estrutural diz respeito ao fato de que, por sua prpria natureza, os custos e os preos relativos no setor estagnado tendem a crescer, de modo que sua participao no produto total e/ou no estoque de fora de trabalho tambm aumenta, acarretando o declnio da produtividade agregada.

    J Kuznets (1973), em um texto que sintetiza os principais achados da literatura sobre crescimento, aponta as caractersticas principais do crescimento econmico moderno. Entre elas, a primeira o crescimento da renda per capita, do produto e da populao nos pases centrais, em taxas muito superiores a qualquer perodo anterior. A segunda a elevada taxa de crescimento da produtividade (seja do traba-lho ou de todos os fatores de produo) muito maior do que no passado. A terceira caracterstica , precisamente, a alta taxa de transformao estrutural da economia. Segundo ele major aspects of structural change include the shift away from agriculture to nonagricultural pursuits and, recently, away from industry to services (Kuznets, 1973). Essa transformao estrutural tambm se caracteriza pela mudana de escala das unidades produtivas, ou seja, mudanas na prpria estrutura de consumo; a ampliao da oferta internacional nos mercados domsticos; a urbanizao etc.

    Essas consideraes apontam para o fato de que, num sentido amplo, o conceito de mudana estrutural vai alm de mudanas na participao desses trs macrossetores na economia. Ela pode ser observada, tambm, entre atividades econmicas dentro dos setores primrio, secundrio e tercirio, assim como entre irmas dentro de um mesmo setor de atividade, como bem evidencia Krger (2008) em sua reviso sobre o tema.

    As razes e explicaes tericas para a mudana estrutural so um assunto que ocupa uma parcela signiicativa da literatura sobre crescimento e desenvolvi-mento econmico. Essas explicaes perpassam tanto os modelos neoclssicos de crescimento econmico (a la Solow), quanto modelos como o de Romer (1990), Grossman and Helpman (1991), passando ainda pelas teorias evolucionrias, conforme pode ser observado em Krger (2008).

    De modo geral, o que se pode dizer sobre as explicaes tericas da mudana estrutural que ela fruto tanto de fatores ligados ao lado da oferta, quanto da demanda. Do lado da oferta, o progresso tcnico parece ser um dos princi-pais fatores a impulsionar ganhos de produtividade diferenciados entre setores

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  • 252 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    econmicos, e a consequente realocao de trabalhadores entre os diferentes setores e atividades econmicas. Do lado da demanda, fatores relevantes esto associados saturao desta por determinados tipos de bens (bens agrcolas, por exemplo) ou s mudanas nos preos relativos ou preferncias dos consumidores.

    he work reviewed in this survey postulates that supply- and demand-side factors closely interact in shaping the process of structural change. On the supply side, technological progress leads either to improved production technologies or to new goods (...). On the demand side, factors like relative prices, preference for higher quality (), the desire for new goods and increasing saturation in the case of the existing ones inluence quantity and composition of demand for the goods of dif-ferent industries. he interaction of these factors gives structural change a speciic direction and also inluences the speed at which this process is taking place. his leads to immediate consequences of structural change at the aggregate level which afect the growth of aggregate output, employment and productivity. (Krger 2008)

    Os efeitos da mudana estrutural sobre o crescimento do produto e da pro-dutividade agregada na Economia so outro tema particularmente caro literatura sobre desenvolvimento econmico. Muito embora vrias das explicaes tericas existentes apontem para o fato de que so os ganhos de produtividade que impul-sionam a mudana estrutural, existem vrias abordagens que procuram analisar os efeitos inversos. Essa literatura foca nos efeitos da transformao da estrutura produtiva sobre o desempenho agregado de variveis como produo e produtividade e tem sido objeto de recorrentes anlises. De modo geral, esses estudos procuram decompor o crescimento da produtividade em dois componentes. O primeiro deles expressa o crescimento de produtividade agregada derivado da mudana estrutural, ou seja, da transferncia de trabalhadores de setores menos produtivos para os mais produtivos, ou o inverso. O segundo componente expressaria o crescimento da produtividade dentro dos setores econmicos, ou intra-setorial.1

    Fagerberg (2000), por exemplo, analisa a relao entre estrutura econmica dos pases e crescimento da produtividade, argumentando que vrios modelos su-gerem que pases que se especializam em setores intensivos em conhecimento so capazes de crescer a taxas mais altas do que outros. Utilizando dados de 24 setores, em 39 pases, durante o perodo 1973-1990, o autor conclui que, na mdia dos pases, a mudana estrutural no levou a ganhos de produtividade. Entretanto, identiicou que pases que se especializaram em setores mais avanados tecnologi-camente (particularmente eletrnica) apresentaram crescimento de produtividade superior aos demais.

    1. A prxima seo detalha como feita a decomposio do crescimento da produtividade entre esses componentes neste trabalho.

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  • 253Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    Segundo Pags (2010), os pases desenvolvidos icaram ricos quando, aps a revoluo industrial, os trabalhadores migraram da agricultura de baixa pro-dutividade para o setor industrial, de produtividade muito mais elevada. Para a autora, os pases latino-americanos tentaram seguir o mesmo caminho dos pases desenvolvidos sem tanto sucesso, pois, em paralelo com a reduo do emprego agrcola, houve uma ampliao do emprego no setor de servios. Esse movimento contribuiu para o crescimento insuiciente da produtividade agregada nesses pases. Nas palavras da autora: the regions economies became tertiary (or service-based) halfway along the road from poverty to prosperity (Pags 2010).

    Talvez isso explique a constatao realizada por McMillan and Rodrik (2011), de que, no perodo 1990 a 2005, o componente mudana estrutural contribuiu negativamente para a evoluo da produtividade agregada das economias latino--americanas. Segundo os autores, nos pases em desenvolvimento, as lacunas de produtividade entre diferentes setores de atividade tendem a ser maiores do que nos pases desenvolvidos. Por isso mesmo, h um maior potencial de ganhos de produtividade derivados da realocao de trabalhadores entre atividades econmicas. No entanto, no foi isso que se observou para os pases latino-americanos. No con-junto deles, no perodo considerado, o componente estrutural sozinho teria levado a perdas de produtividade agregada da economia. Esse retrato muito diferente do que o observado, nesses pases, durante o perodo de industrializao, quando o componente de mudana estrutural foi responsvel por metade dos ganhos de produtividade registrados na regio.

    Dadas essas consideraes, as prximas sees procuram investigar, no caso brasileiro, qual a magnitude da mudana estrutural observada nos anos 2000, bem como o impacto desta mudana sobre o crescimento da produtividade do trabalho no perodo.

    3 ESTRUTURA PRODUTIVA NO BRASIL DOS ANOS 2000 E O DEBATE SOBRE A DESINDUSTRIALIZAO

    O objetivo deste artigo analisar os efeitos de mudanas na estrutura produtiva sobre a produtividade agregada e sua evoluo na economia brasileira nos ltimos anos. Sendo assim, o primeiro passo consiste em investigar se houve, de fato, alguma mudana estrutural relevante no Brasil no perodo recente e, em caso positivo, qual a magnitude e direo dela. No h como falar sobre mudana estrutural no Brasil dos anos 2000 sem remeter ao debate sobre a desindustrializao da economia brasileira que, segundo vrios autores, vem ocorrendo pelo menos desde os anos 80.

    De maneira geral, desindustrializao corresponde reduo da participao da indstria no PIB e/ou reduo do emprego industrial em relao ao empre-go total na economia. Esse fenmeno pode ser fruto de um processo natural de

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  • 254 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    desenvolvimento, caracterizado por ganhos de produtividade mais rpidos na indstria do que em outros setores de atividade, o que modiicaria, em parte, os preos relativos e causaria reduo na participao da indstria no PIB, portanto, devido a maior eicincia desse setor (ver por exemplo, Rowthorn e Ramaswamy, 1999). Outras razes tambm costumam ser citadas na literatura para explicar o processo de desindustrializao, tais como: i) diferenas na elasticidade-renda das manufaturas entre pases ricos e pases pobres; ii) terceirizao e ampliao do contedo de servios na produo industrial; iii) doena holandesa, entre outras causas (Squef, 2012; Oreiro e Feij, 2010).

    O aumento nos preos das commodities e a consequente valorizao do cmbio no Brasil nos anos 2000 reacendeu o debate sobre o que seria um processo precoce de desindustrializao da economia brasileira. Dessa vez, o processo estaria sendo ocasionado por um mecanismo similar ao da doena holandesa. Em linhas gerais, o mecanismo comearia com um aumento das exportaes de commodities,2 o que levaria a uma apreciao cambial que reduziria a rentabilidade da indstria vis a vis os setores produtores, modiicando, portanto, a estrutura de oferta da economia. A doena holandesa no , entretanto, a nica explicao para a ligao entre o comrcio exterior e o processo de desindustrializao. De fato, vrios autores (tais como Kucera and Milberg 2003)3 advogam que o comrcio internacional, espe-cialmente o comrcio norte-sul, teve impactos signiicativos na desindustrializao dos pases desenvolvidos.4

    Sendo assim, caso uma mudana estrutural esteja efetivamente ocorrendo na economia brasileira dos anos 2000, a primarizao da pauta de exportaes, ocasionada pelo boom nos preos das commodities, pode ser considerada uma das causas mais evidentes. Nesse sentido, o primeiro fato estilizado importante nessa anlise diz respeito, justamente, s mudanas na estrutura das exportaes brasi-leiras no perodo.

    2. No caso holands, o crescimento das exportaes de commodities foi devido descoberta de enormes reservas de petrleo e gs natural. 3. Os autores utilizaram anlises de insumo-produto para chegar concluso de que o comrcio internacional foi responsvel por mais da metade da perda de empregos na indstria de transformao dos pases da OCDE. 4. A preocupao original de muitos desses autores era com a perda de empregos nos pases desenvolvidos derivada da maior abertura da economia nos anos 80 e 90 em especial os empregos industriais que estavam sendo substitudos por aqueles de menor remunerao no setor de servios.

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  • 255Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    GRFICO 1Participao percentual de diferentes grupos de produtos na pauta de exportaes brasileira: 2000 e 2011

    36,75

    13,65 8,15

    18,41

    17,96

    5,09

    Commodities primrias Trabalho e recursos naturais Baixa intensidade

    Mdia intensidade Alta intensidade Outros

    53,05

    4,78

    6,64

    12,71

    8,17

    14,65

    Elaborao dos autores a partir de dados do MDIC/Aliceweb e metodologia da UNCTAD (2002).

    O grico 1 mostra a enorme mudana na composio da pauta de exporta-es brasileiras na dcada de 2000. A participao das commodities primrias na pauta, que nos dez anos anteriores, pelo menos, manteve-se relativamente estvel, abaixo dos 40%,5 e saltou para 53% em 2011. Alm disso, ainda h o aumento, tambm muito grande, da participao de petrleo produto que compe a ca-tegoria outros e que o principal responsvel pelo salto de quase dez pontos percentuais nessa categoria. Ou seja, se tomarmos conjuntamente commodities primrias e petrleo, esses produtos responderam, em 2011, por quase 70% das exportaes brasileiras, contra, no mximo, 40% no incio da dcada.

    Essa uma modiicao extremamente importante, especialmente se levarmos em conta que, se tratando de composio, os percentuais de cada grupo de produto tendem a mostrar, historicamente, oscilaes mais sutis.6 Importante ressaltar e isso ter implicaes para o restante da anlise que a maior parte dessa mudana de composio ocorreu aps 2008. De fato, entre 2000 e 2008 a participao das commodities na pauta cresceu de 37% para 43% (De Negri e Alvarenga, 2011). Os outros dez pontos percentuais foram obtidos aps a crise de 2008, que parece ter afetado com muito mais intensidade a indstria.

    5. Conforme constatado em De Negri e Alvarenga (2011).6. Idem.

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  • 256 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    claro que h, nessa mudana de composio, tanto uma modiicao no quantum exportado desses diferentes grupos de produtos, quanto nos preos. De fato, no h queda nas exportaes industriais, em valor, durante o perodo anali-sado, muito embora tenha havido tal queda depois de 2011. Entretanto, mesmo eliminando o efeito-preo, ainda assim se veriica uma modiicao extremamente importante na pauta de exportaes do pas.

    GRFICO 2Market share brasileiro no comrcio mundial por grupos de produtos: 2000-2011

    0,00

    1,00

    2,00

    3,00

    4,00

    5,00

    6,00

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

    Commodities primrias Trabalho e recursos naturais Baixa intensidade

    Mdia intensidade Alta intensidade Outros

    Total

    Elaborao dos autores a partir de dados do MDIC/Aliceweb e do WITs (World Integrated Trade Solution).

    O grico 2 tenta eliminar o efeito da alterao de preos relativos sobre a compo-sio da pauta, e mostra como variou a participao do Brasil no comrcio mundial em cada grupo de produtos. A linha tracejada mostra que, em 2000, o Brasil era responsvel por menos de 1% das exportaes mundiais, percentual que cresceu para 1,45% em 2011. Entretanto, quase todo esse ganho de mercado se deu em commodities, grupo no qual o Brasil detinha, em 2000, pouco menos de 3% das exportaes mundiais, frente a quase 6% em 2011. Embora as exportaes no tenham tido queda de valor, o market share dos produtos industriais brasileiros ica relativamente estvel no perodo e, em alguns casos, chega a cair, especialmente aps 2008.

    Dada essa expressiva alterao na composio das exportaes, a pergunta que se coloca em que medida ela se reletiu em alteraes na estrutura produtiva da economia brasileira. razovel supor que tanto o crescimento da fatia de mer-cado do Brasil no mundo, quanto a maior rentabilidade dos setores produtores de

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  • 257Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    commodities em virtude do ciclo de alta de preos induzam a uma realocao dos fatores produtivos nesses setores de atividade.

    Nesse sentido, vrios foram os autores que procuraram investigar mais profun-damente a hiptese de desindustrializao da economia brasileira, seja nas ltimas dcadas, seja no perodo mais recente.

    Bonelli e Pessoa (2010), utilizando dados at 2009, procuram sintetizar as evidncias sobre a desindustrializao no Brasil. Os autores argumentam que a queda de participao da indstria no PIB, veriicada nas ltimas dcadas, no to grande quanto mostram alguns dados das contas nacionais, por duas razes. Primeiro, a mudana na metodologia do clculo do PIB na passagem de 1989 para 1990 e em 1994/95 explica boa parte da queda veriicada nesses dois momentos. Em segundo lugar, a utilizao da srie a preos correntes tende a superestimar a perda de participao na indstria, em virtude de mudanas nos preos relativos que, em vrios momentos, cresceram menos na indstria do que em outros setores, resultando em perda de participao, mas em consequente ganho de competitivida-de. Alm disso, os dados de emprego de vrias fontes sugerem uma perda de peso menor do que os dados de valor adicionado e, ademais, concentrada nos anos 90.

    Os autores tambm mostram que a reduo do peso da indstria uma tendncia mundial: a indstria de transformao representava 24,9% do PIB em 1970 e passou para 16,6 % do PIB mundial em 2007. Para os autores, nos anos 70 o Brasil tinha uma indstria muito maior do que o padro internacional em pases com nveis de desenvolvimento similares. Talvez a sntese do argumento de Bonelli e Pessoa (2010) seja de que houve, sim, uma queda de participao da indstria no PIB nos ltimos anos, mas esta deveria ser analisada luz de mudanas nos preos relativos e de uma tendncia mundial de reduo do peso da indstria no PIB, alm de algum sobredimensionamento da indstria no Brasil dos anos 70.

    Nassif (2008), usando dados da economia brasileira at 2005, tambm conclui que, at aquele momento, no havia evidncias de um processo de desindustrializao no perodo recente. Para o autor, a maior parte da perda de participao da indstria no PIB se deu na segunda metade dos anos 80, e o comportamento da indstria na primeira metade dos anos 2000 no corrobora a hiptese de desindustrializao. Da mesma forma, ele tambm no nota nenhuma tendncia de reverso a um padro de especializao exportadora em produtos intensivos em recursos naturais. Vale ressaltar que o autor est analisando os dados da economia brasileira em um momento (2004/2005) no qual a participao da indstria no PIB tinha apresentado um leve crescimento, a composio da pauta exportadora no era signiicativamente diferente do ano 2000 e a fatia das commodities nas exportaes era de cerca de 38%.7

    7. De Negri e Alvarenga (2011).

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  • 258 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    Oreiro e Feij (2010), analisando os dados entre 1996 e 2004, argumentam que estaria havendo um processo de desindustrializao na economia brasileira. Apesar disso, reconhecem a diiculdade de comprovar a tese de forma conclusiva, aps 1999, em funo da mudana na metodologia de apurao das Contas Nacio-nais pelo IBGE. Na mesma linha argumentam Feij, Carvalho, e Almeida (2005), dizendo que comeou j nos anos 80 um retrocesso muito intenso da indstria no PIB, mas que esse movimento parece ter se estabilizado aps a desvalorizao de 1999. Note-se que, assim como Nassif (2008), esses autores param sua anlise no ano de 2004, quando a indstria comeava a recuperar participao no PIB.

    Em sntese, todos os autores veriicam que, sim, a indstria perdeu participao no PIB nos 80 e nos 90, sendo que parece consensual que a maior perda, ou o incio dela, se deu nos anos 80 (ou inal dos anos 70 para Bonelli e Pessoa, 2010). Por outro lado, nenhum deles consegue airmar categoricamente que esse movimento tenha se mantido durante os anos 2000. Vale ressaltar que os autores que mais se estendem, temporalmente, na anlise so Squef (2012) e Bonelli e Pessoa (2010), que estudam dados at 2009. Uma das razes pelas quais as anlises mais recentes param em 2009 que este o ltimo ano para o qual esto disponveis os dados das contas nacionais do IBGE.8

    GRFICO 3Participao percentual dos setores econmicos no valor adicionado (em preos cor-rentes): anos selecionados entre 1995 e 2012(Em %)

    5,8 5,6 5,7 5,6 5,3 0,8 1,6 2,5 1,8 4,3

    18,6 17,2 18,1 16,6 13,0

    8,1 8,9 8,7 8,4 8,8

    66,7 66,7 65,0 67,5 68,7

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    1995 2000 2005 2009 2012

    Agricultura Minerao Indstria de transformao SIUP + construo Servios

    Fonte: Sistema de Contas Nacionais Anuais e Sistema de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.

    8. Esta tambm uma limitao deste artigo, especialmente na prxima seo.

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  • 259Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    O grico 3, com base nos valores correntes das Contas Nacionais, mostra que, de fato, no houve uma mudana estrutural muito signiicativa no perodo 2000-2009, como identiicado por vrios dos autores citados. O setor de servios aumenta sua participao no valor adicionado em pouco menos de um ponto percentual, ao tempo em que cai a participao da indstria de transformao em 1,5 ponto percentual. Entretanto, entre 2009 e 2012 que a mudana de com-posio mais brusca. A indstria de transformao perde 3,6 pontos percentuais de participao em apenas 3 anos, basicamente dando lugar para o crescimento do setor de servios e da indstria extrativa. O crescimento da indstria extrativa pode estar reletindo, com alguma defasagem, a mudana de composio da pauta de exportaes, veriicada, com maior intensidade, a partir de 2008.

    Do ponto de vista das ocupaes (grico 4), o que mais chama a ateno uma grande e contnua reduo do pessoal ocupado na agricultura e um movi-mento similar de aumento das ocupaes no setor de servios. Esta foi, de fato, a grande mudana estrutural ocorrida at 2012, qual seja, a migrao do emprego do setor agrcola para o setor de servios e, em menor medida, para a construo. Esse movimento tenderia a ser favorvel evoluo da produtividade agregada na economia, dado que o emprego est sendo transferido de um setor menos produtivo (agricultura) para um setor mais produtivo (servios).

    No que concerne indstria de transformao, constata-se a resilincia do emprego manufatureiro, uma vez que entre 2000 e 2005 a participao da in-dstria de transformao no emprego total aumentou ligeiramente de 12% para 12,8%, permanecendo neste patamar at 2009. Essa dinmica indica, portanto, que a reduo das manufaturas em termos de VA demorou algum tempo para ser transferida para o emprego, de modo que, somente em 2012, houve queda na participao das ocupaes da indstria de transformao nas ocupaes totais.

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  • 260 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    GRFICO 4Participao percentual dos setores econmicos nas ocupaes totais na economia brasileira: anos selecionados entre 1995 e 2012 (Em %)

    26,0 22,3 20,9 17,4 14,9

    0,4 0,3 0,3

    0,3 0,3

    13,0 12,0 12,8

    12,7 12,1

    6,4 7,2 6,9

    7,6 8,7

    54,3 58,2 59,1 62,1 64,0

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    1995 2000 2005 2009 2012

    Agricultura Minerao Indstria de transformao SIUP e construo Servios

    Fonte: Sistema de Contas Nacionais Anuais do IBGE.Obs: Para 2012, a informao calculada com base na PNAD.

    Entre os grandes setores de atividade, as mudanas ocorridas at 2009 foram relativamente sutis, as mudanas de participao dentro da indstria de transformao e dentro do setor de servios tambm no foram muito expressivas nesse perodo. Na indstria de transformao, o movimento mais expressivo entre a segunda metade dos anos 90 e o im dos anos 2000 uma perda de participao dos setores intensivos em mo de obra, particularmente txtil e vesturio. Esses dois setores, que representavam 2,3% do VA em 1995, chegam em 2009 representando 1,2% do VA. A maior parte dessa queda, entretanto, se deu entre 1995 e 2000. Nos anos 2000 ocorre tambm um pequeno aumento da participao de setores de mdia intensidade tecnolgica, principalmente elementos qumicos e mquinas e tratores. Esse crescimento constante entre 2000 e 2008, com um retrocesso em 2009. A sntese que, at 2009, os anos 2000 foram marcados por uma relativa estabilidade na estrutura da indstria de transformao brasileira.

    Aps 2009, a principal fonte de informao disponvel para analisar as eventuais mudanas de composio dentro da indstria a Pesquisa Industrial Anual (PIA), do IBGE, dado que as contas nacionais trimestrais no desagre-gam as atividades da indstria de transformao. Embora as duas fontes no

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  • 261Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    sejam exatamente comparveis, a tabela 1 corrobora os nmeros das Contas Nacionais no que diz respeito ao crescimento inequvoco da indstria extra-tiva, que representava 4,1% do Valor da Transformao Industrial em 2007, e chega a 9,5% em 2011.9 Note-se, novamente, que esse movimento muito mais intenso a partir da crise.

    TABELA 1Participao percentual dos diferentes grupos de setores no valor da transformao industrial da indstria brasileira: 2007-2011(Em %)

    Segmentos da indstria 2007 2008 2009 2010 2011

    Indstria extrativa 4,1 5,1 4,9 7,9 9,5

    Alimentos, bebidas e fumo 16,1 15,9 18,8 17,9 18,0

    Intensivos em mo de obra1 5,2 4,8 5,6 5,4 5,3

    Madeira, papel, celulose e grfica 6,0 5,3 5,3 5,1 4,8

    Petroqumica, borracha e plstico 26,8 26,9 25,5 23,8 24,4

    Metal-mecnica (exceto transportes)2 20,0 20,2 17,7 17,8 16,7

    Automotivo 9,5 10,0 10,2 10,1 9,9

    Alta intensidade tecnolgica3 7,2 6,8 6,5 6,2 5,7

    Outros 5,2 5,1 5,7 5,7 5,6

    Fonte: Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE. Notas: Agregao de setores realizada de forma ad hoc pelos autores:

    1 Txtil, vesturio e calados; 2 Inclui metalurgia, produtos de metal, mquinas aparelhos e materiais eltricos, mquinas e equipamentos (fabricao e manuteno); 3 Indstria farmacutica, equipamentos de informtica, eletrnicos e ticos e fabricao de outros equipamentos de transporte.

    Outros setores que ganham participao na estrutura industrial so o setor de alimentos e o automotivo, embora em menor intensidade do que o primeiro. As quedas mais expressivas esto no complexo metal-mecnico puxado pela Metalurgia, que passa de 8% para 4,6% do VTI da indstria, entre 2007 e 2011 e na petroqumica. Outro movimento relevante diz respeito reduo de par-ticipao dos setores de alta intensidade tecnolgica (farmacutica, informtica e eletrnicos e outros equipamentos de transporte), que passam de 7,2% para 5,7% do VTI da indstria nesse perodo.

    9. Em termos de emprego, as mudanas so muito mais sutis, apesar de apontarem na mesma direo. A participao da indstria extrativa no pessoal ocupado, por exemplo, cresce de 2% para 2,4% no perodo. O setor de alimentos passa de cerca de 20% para um pouco menos de 22% e o setor automotivo mantm participao constante.

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  • 262 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    TABELA 2Participao percentual dos diferentes segmentos do setor de servios no VA: anos selecionados entre 2000 e 2012(Em %)

    Segmentos dos servios 2000 2005 2009 2012

    Comrcio 10,6 11,2 12,5 12,7

    Transporte, armazenagem e correio 4,9 5,0 4,8 5,4

    Servios de informao 3,6 4,0 3,6 2,9

    Interm. finaceira e seguros 6,0 7,1 7,2 7,2

    Servios imobilirios e aluguel 11,3 9,0 8,4 8,2

    Administrao Pblica (APU), educao pblica e sade pblica 14,9 15,0 16,3 16,6

    Outros servios 15,4 13,8 14,7 15,7

    Total setor de servios 66,7 65,0 67,5 68,7

    Fonte: Sistema de Contas Nacionais Anuais e Sistema de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.

    Dentro do setor de servios, as mudanas mais perceptveis so um crescimento do comrcio, da APU, da educao pblica e da sade pblica e, em menor medida, dos servios de transporte, armazenagem e correio e intermediao inanceira e seguros (tabela 2). Essas tendncias no parecem se alterar depois de 2009.

    Em sntese, possvel dizer que as mudanas na estrutura produtiva brasileira, entre 2000 e 2009, foram relativamente sutis tanto entre os grandes setores de atividade, quanto dentro da indstria e dos servios. O movimento mais expressivo nesse perodo foi a migrao do emprego do setor agrcola para o setor de servios.

    Entretanto, no perodo 2000-09 j era possvel visualizar o incio de algumas tendncias que se tornaram inequvocas no perodo ps-crise. Em primeiro lugar, a continuidade do crescimento do setor de servios, especialmente aps 2009 e principalmente em atividades como comrcio e administrao pblica.

    Entretanto, talvez a principal mudana no perodo ps-crise seja o crescimen-to expressivo da participao da indstria extrativa no PIB sua participao no emprego total praticamente desprezvel e a queda da participao da indstria de transformao. bem provvel que essas mudanas estejam associadas s altera-es veriicadas na pauta de exportaes do pas no perodo recente, intensiicadas aps a crise de 2008.

    Dentro da indstria de transformao, a Pesquisa Industrial Anual sugere uma tendncia de aumento da participao do setor de alimentos e de queda da metalurgia, da petroqumica e dos setores mais intensivos em tecnologia.

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  • 263Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    4 MUDANA ESTRUTURAL E PRODUTIVIDADE: A DECOMPOSIO DO CRES-CIMENTO DA PRODUTIVIDADE AGREGADA

    A decomposio do crescimento da produtividade tem por objetivo analisar at que ponto este crescimento (ou baixo crescimento) da produtividade responde a alteraes na estrutura produtiva do pas. Em outras palavras: seriam as mudanas estruturais na economia brasileira, particularmente a queda de participao da indstria ou o aumento da participao dos servios no VA e nas ocupaes, os responsveis pelo baixo crescimento da produtividade agregada no pas?

    Na seo anterior, vimos que, entre 2000 e 2009, a mudana mais pungente na estrutura produtiva no foi a queda de participao da indstria, mas a migrao de ocupaes do setor agrcola (de baixa produtividade) para setores mais produtivos, especialmente servios e, em menor medida, construo civil. Esse movimento tenderia, em princpio, a aumentar a produtividade agregada da economia.

    No mesmo sentido, o de aumentar a produtividade do trabalho, atua o ganho de participao da indstria extrativa no VA. Embora esta no seja uma indstria geradora de externalidades ou intensiva em conhecimento, ela possui elevada produtividade do trabalho, em virtude de ser intensiva em capital.

    Contribuindo para a reduo da produtividade agregada, por outro lado, estaria a migrao de trabalhadores da indstria para o setor de servios, notada-mente servios intensivos em capital e, portanto, estagnados la Baumol. Alm disso, dentro da indstria de transformao, a reduo do peso de setores mais intensivos em tecnologia e capital tambm tenderia a reduzir a produtividade agregada da economia.

    Quais desses movimentos foram mais signiicativos no perodo recente, em termos de seus efeitos sobre a produtividade, o que essa seo vai investigar.

    4.1 Metodologia

    Neste trabalho so utilizados os seguintes bancos de dados do IBGE: Sistema de Contas Nacionais Anuais (SCN), para o perodo 2000 a 2009; Sistema de Con-tas Nacionais Trimestrais (CNT), para 2012; e Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD), tambm para o ano de 2012. Do SCN foram utilizadas as variveis valor adicionado bruto a preos correntes e a preos do ano anterior e o total de ocupaes,10 desagregados em 56 atividades econmicas. Do CNT foram utilizadas as sries de valor adicionado bruto a preos correntes e a preos de 1995, desagregados em doze atividades econmicas, sendo esta classiicao

    10. O Sistema de Contas Nacionais do Brasil, em consonncia com as recomendaes do System of National Accounts (SNA) das Naes Unidas, divulga somente a quantidade de ocupaes das atividades econmicas, em vez da quantidade de trabalhadores. Isso decorre do fato de que um mesmo trabalhador pode ter mais de uma ocupao, de modo que seu trabalho gera valor em mais de um local/setor produtivo.

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  • 264 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    um agrupamento da desagregao em 56 atividades do SCN. Por im, da PNAD foram utilizadas o total de ocupaes (trabalho principal + trabalho secundrio), classiicados nas doze atividades econmicas do CNT.11

    A produtividade do trabalho foi calculada pela razo entre o valor adicionado, a preos constantes de 2000, e as ocupaes, conforme a equao 1:

    Xt

    i =Yt

    i

    Lt

    i (1)

    Onde Y o valor adicionado a preos constantes de 2000 e L o total de ocupa-es. Doravante, variveis com o sobrescrito i denotam a atividade econmica, e o subscrito t indica o ano.

    Para delacionar as sries de valor adicionado para o referido ano-base foram construdos ndices de preos a partir dos dados do SCN e CNT. Neste sentido, importante destacar que, como as contas nacionais brasileiras so do tipo base mvel, a passagem dos dados de VA para uma base ixa implica a chamada perda de aditividade: a soma dos VAs desagregados a preos constantes no igual ao VA agregado a preos constantes (IBGE 2008 e Feij 2004). Para tratar desse fenmeno possvel ajustar as sries desagregadas ao total agregado ou tornar o total agregado igual soma das partes desagregadas. A adoo destes procedimentos implicaria ao menos dois problemas, quais sejam, a modiicao dos dados originais do IBGE e a no utilizao de informaes sobre a mudana de preos relativos. Para evitar tais problemas, optamos por manter a perda de aditividade e lidar com a mudana de preos relativos explicitamente no procedimento de decomposio da variao da produtividade do trabalho.

    Diversos trabalhos (McMillan e Rodrik, 2011; Kupfer e Rocha, 2005; Holland e Porcile, 2005; Burgueo e Pittaluga, 2007; Baily, Bartelsman and Haltiwanger, 2001; entre outros) utilizaram a chamada tcnica shift-share para decompor a variao da produtividade do trabalho agregada em dois ou trs componentes, usualmente denominados de i) estrutural (ou between); ii) intrnseco (ou within); e iii) covarincia ou interao. Como os prprios nomes sugerem, o componente estrutural est relacionado mudana na composio das ocupaes, ao passo que o efeito intrnseco diz respeito contribuio da produtividade dentro de cada atividade econmica para o resultado agregado. O terceiro componente, decorrente do processo de manipulao algbrica de decomposio, tem difcil interpretao econmica e, portanto, costuma ser negligenciado na anlise. Esta abordagem re-cebeu diversas crticas e aperfeioamentos, resultando numa mirade de shift-share

    11. Os autores agradecem a Sandro Sacchet de Carvalho pelo fornecimento destas informaes a partir dos microdados da PNAD.

  • 265Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    modiicados (Timmer e Szirmai, 2000; Tang e Wang, 2004; Timmer e De Vries, 2009; Dumagan, 2011; Artige e Van Neuss, 2012; Diewert, 2013).

    No presente trabalho utilizamos a metodologia proposta por Diewert (2013), a partir do trabalho seminal de Tang e Wang (2004). Esta tcnica consiste numa modiicao do shift-share tradicional, ao incorporar o papel desempenhado pela mudana de preos relativos na variao da produtividade agregada e, portanto, ser indicada para o sistema de contas nacionais brasileiro.

    Se denominarmos P o delator do VA agregado, Pi o delator do VA da uni-dade i, e reconhecendo que L

    t=

    i

    Lt

    i , temos que a produtividade do trabalho agregada pode ser dada por:

    Xt= i

    Qt

    i

    PtLt

    = iYt

    iPt

    iLt

    i/ L

    t

    i( )PtLt

    = iPt

    iLt

    iX

    t

    i( )PtLt

    =i

    pt

    ist

    iX

    t

    i( ) (2)Onde Q o valor adicionado a preos correntes, p

    t

    i = Pt

    i/ P

    t o preo

    relativo e st

    i = Lt

    i/ L

    t a participao da unidade i no total de ocupaes (share

    de ocupaes).

    Deinindo qt

    i = Qt

    i/Q

    t como a participao da unidade i no VA agregado

    a preos correntes no ano t (share de VA); Xt= X

    tX

    t 1( ) / X t 1 como sendo a variao da produtividade agregada entre os anos t e t-1; X

    t

    i = Xt

    iX

    t 1

    i( ) / X t 1i como a variao da produtividade da unidade de anlise i entre os anos t e t-1;

    i = st

    ist 1

    i( ) / st 1i como sendo a variao no share de ocupaes entre os anos t e t-1; e, inalmente, i = p

    t

    ipt 1

    i( ) / pt 1i como a variao dos preos relativos entre os anos t e t-1, temos, aps algumas manipulaes algbricas, que a variao da produtividade do trabalho igual a:

    (3)

    Como pode ser visto acima, a variao da produtividade do trabalho agregada uma mdia ponderada do share de VA. O primeiro termo do lado direito da equao, denominado efeito direto, mede a contribuio da variao da produtividade de cada unidade de anlise para o resultado agregado. Essa contribuio ser positiva (negativa) quando houver aumento (queda) da produtividade desta unidade e proporcional ao share de VA. Este componente tambm denominado de puro, na medida que seu efeito independe do share de ocupaes e de mudanas nos preos relativos. O segundo termo chamado de efeito ocupao e mede a contribuio da variao do share de ocupao, independentemente da variao da produtividade

  • 266 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    ou da mudana de preos relativos. Assim, toda vez que houver aumento do share de ocupaes de uma determinada unidade analtica, haver contribuio positiva para a variao da produtividade agregada, proporcionalmente ao share de VA.

    J o terceiro componente denominado efeito preo, uma vez que, como o prprio nome sugere, ele capta o efeito da mudana de preos relativos para a dinmica da produtividade agregada. Analogamente, variaes positivas (negativas) de preos relativos contribuem positivamente (negativamente) para o resultado agregado de maneira proporcional ao share de VA. Conforme mencionado anterior-mente, este efeito existe, justamente, para captar a perda de aditividade decorrente da passagem de um sistema de contas nacionais de base mvel para um sistema de base ixa. Por im, os demais quatro componentes so tratados em conjunto e denominados de efeito interao, uma vez que decorrem do prprio processo de manipulao algbrica e, adicionalmente, possuem difcil interpretao econmica.

    Destacam-se trs pontos com relao equao 3. Primeiro, como esta for-mulao requer ndices de preos relativos defasados em um perodo, a anlise da decomposio da variao da produtividade agregada foi realizada somente entre 2001 e 2009 e entre 2009 e 2012, j que que no existem dados de preos em 2000 no SCN. Segundo, como mostram Tang e Wang (2004), esta tcnica v-lida para qualquer tipo de ndice (Paasche, Laspeyre e Fisher), pode ser aplicada a qualquer intervalo temporal e invariante escolha do ano-base e quantidade de atividades econmicas analisadas. Terceiro, possvel identiicar a contribuio de cada atividade econmica para a variao da produtividade agregada por meio da identiicao dos elementos i correspondentes a cada setor na equao 3.

    Entretanto, importante ressaltar que, tal como deinido no presente trabalho, muito complicado discutir produtividade do trabalho em algumas atividades econmicas. Uma parcela considervel da produo de Intermediao inanceira, seguros e previdncia complementar e servios relacionados so os chamados Servios de Intermediao Financeira Indiretamente Medidos SIFIM. O SIFIM corresponde ao total de rendimentos de propriedade a receber pelos intermedirios inanceiros lquidos dos juros totais a pagar, excluindo o valor de qualquer rendi-mento de propriedade a receber de investimentos de fundos prprios e calculado pelo diferencial dos juros recebidos e dos juros pagos, com base na aplicao nas contas ativas e passivas geradoras de SIFIM, de taxas mdias de juros seleciona-das de acordo com a transao e (...) a Selic Sistema Especial de Liquidao e Custdia -, mdia do ano (IBGE 2010). Desta forma, a produtividade dessa atividade pode aumentar em funo da capacidade de arbitragem das instituies inanceiras, o que no necessariamente decorre de uma melhor eicincia produtiva.

    Igualmente complicado discutir a produtividade em Atividades imobi-lirias e aluguis, Servios domsticos, Educao pblica, Sade pblica,

  • 267Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    Administrao pblica e seguridade social. Para o primeiro concorre o aluguel imputado, ao passo que para os demais se constata que o valor adicionado destas atividades praticamente igual aos salrios, de tal modo que polticas de valorizao do salrio mnimo e/ou da remunerao de servidores pblicos podem culminar no aumento de produtividade nestas atividades.

    Por esses motivos, a produtividade agregada foi avaliada, no perodo 2001-2009, tanto considerando todas as atividades econmicas (total agregado), quanto com base no total ajustado, dado pelo total agregado menos as seguin-tes atividades: Intermediao inanceira, seguros e previdncia complementar e servios relacionados, Atividades imobilirias e aluguis, Servios domsticos, Educao pblica, Sade pblica, Administrao pblica e seguridade social.

    Vale dizer, por im, que optamos por apresentar os dois resultados (total agregado e total ajustado) por dois motivos. Primeiro, por mais complicada que seja a compreenso analtica das imputaes realizadas pelo IBGE para ins de avaliao da produtividade do trabalho, as atividades inanceiras e de aluguis contriburam, em maior ou menor medida, para o valor adicionado total. Adicio-nalmente, a grande maioria dos trabalhos que discute produtividade do trabalho agregada no Brasil no expurga as referidas atividades econmicas, de modo que apresentar os resultados considerando todas as atividades til para ins de comparao com outras pesquisas.

    4.2 Produtividade setorial: diferenciais e evoluo nos anos 2000

    A razo pela qual mudanas na estrutura produtiva podem afetar o desempenho da produtividade agregada na economia reside no fato de que existem enormes diferenas no nvel de produtividade entre os setores. Especialmente se tratando de produtividade do trabalho, essas diferenas mostram no apenas nveis de eicincia diversos, mas diferentes intensidades de capital e tecnologia entre os setores.

    A indstria extrativa, por exemplo, tem uma produtividade do trabalho cerca de seis vezes superior produtividade total da economia, em grande me-dida por ser um setor muito intensivo em capital. Enquanto isso, a indstria de transformao como um todo apresenta uma produtividade do trabalho cerca de 20% superior mdia da economia. O setor agrcola, por sua vez, tem uma produtividade do trabalho que corresponde a cerca de 30% da produtividade total da economia (grico 5).

    Os diferenciais de produtividade no so grandes apenas entre os macros-setores, mas tambm dentro da indstria de transformao ou dos servios. No setor de servios os maiores indicadores esto em aluguis e instituies inancei-ras este ltimo com indicadores de produtividade 8 vezes superiores mdia da

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  • 268 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    economia.12 Na indstria, o setor de reino de petrleo (no grico 5 includo no grupo de setores industriais de mdia-baixa intensidade tecnolgica) o que tem maior produtividade relativa, cerca de dez vezes a produtividade mdia da economia.

    Na indstria de transformao, os setores de alta intensidade tecnolgica (aeronutica, farmacutica, eletrnica e informtica) tambm apresentam nveis de produtividade do trabalho bastante superiores (cerca de 3 vezes) mdia da indstria. De modo geral, na indstria de transformao, os indicadores de produtividade do trabalho esto muito correlacionados com a intensidade tecnolgica e com a inten-sidade de capital do setor. Setores muito intensivos em capital, tais como metalurgia, siderurgia, petroqumica e automotiva, possuem indicadores muito superiores mdia.

    GRFICO 5Produtividade do trabalho (R$ mil por ocupao) em diferentes setores de atividade em 2009

    13,9

    4,7

    81,1

    17,1

    11,1

    20,0

    31,1

    50,8

    108,6

    9,7

    15,5

    10,1

    36,6

    103,2

    13,2

    - 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00

    Total

    Agropecuria

    Extrativa

    Ind. transformao - total

    Ind. de baixa intensidade tecnolgica 1

    Ind. de mdia-baixa intensidade tecnolgica 1

    Ind. de mdia-alta intensidade tecnolgica 1

    Ind. de alta intensidade tecnolgica 1

    Eletricidade

    Construo

    Servios total

    Servios pouco intensivos em tecnologia 2

    Alta tecnologia e mercado 2

    Servios financeiros 2

    Outros servios 2

    R$ mil (valores de 2000)

    Elaborao dos autores a partir do Sistema de Contas Nacionais Anuais do IBGE. Valores constantes a preos de 2000. Notas: Na indstria de transformao, os setores foram agregados segundo a classificao OCDE de intensidade tecnolgica.

    No setor de servios as atividades foram agrupadas da seguinte forma: i) pouco intensivos: comrcio, transporte, armazenagem, correio, manuteno e reparao, alojamento e alimentao, servios domsticos prestados s famlias e administrao pblica; ii) alta tecnologia e mercado: servios de informao, atividades imobilirias, servios prestados s empresas; iii) financeiros: intermediao financeira, seguros e previdncia complementar; iv) outros: educao e sade (pblicas e mercantis).

    O grico 6 mostra o crescimento da produtividade do trabalho em vrios perodos da ltima dcada. Vale ressaltar que a periodizao utilizada foi condi-cionada, no por uma opo dos autores, mas pela disponibilidade de dados das

    12. Esta evidncia refora a necessidade de expurgar ambas as atividades da anlise, conforme destacado na seo anterior.

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  • 269Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    contas nacionais anuais apenas at 2009. Sabe-se que este no um bom ano de comparao, pois representa o vale de produo ocorrido aps a crise, vale este que foi ainda mais abrupto no caso da indstria, o que inluenciar os resultados obtidos nos subperodos.13

    No perodo todo, entre 2001 e 2012, a produtividade do trabalho na economia cresceu apenas 17,2%, o que equivale a 1,5% a.a. Durante o perodo 2001-2005 a produtividade agregada se manteve praticamente estagnada (decrscimo de 0,2% ao ano), tendo crescido apenas na indstria extrativa, produo e distribuio de eletricidade e gs, gua, esgoto e limpeza urbana (SIUP) e em atividades imobili-rias. No perodo 2005-2009 houve crescimento da produtividade agregada para 1,9% ao ano, com destaque para a agropecuria e servios, especialmente comrcio (que representa parcela signiicativa do setor de servios) e intermediao inan-ceira. Se levarmos em conta apenas o perodo antes da crise, entre 2005 e 2008, a produtividade agregada na economia cresceu 2,8% ao ano. Por im, no perodo 2009-2012 a taxa de crescimento da produtividade do trabalho quase dobra, pas-sando para 3,1% a.a. Este processo fruto, principalmente, da comparao com o vale de produo ocorrido em 2009 em virtude da crise. Se analisarmos o perodo 2008-2012, por exemplo, a taxa de crescimento da produtividade do trabalho vai para cerca de 2,1% ao ano. As atividades de maior destaque neste perodo foram novamente a agropecuria e SIUP.

    Os ltimos anos no foram positivos para a indstria de transformao brasi-leira. Entre 2001 e 2012, a produtividade da indstria de transformao caiu 0,2% a.a, sendo a maior queda (-2,1% a.a.) nos primeiros anos da dcada. Embora tenha ocorrido uma recuperao entre 2009-2012 variao positiva de 3,7% a.a. , este resultado foi fruto do downsizing do setor, uma vez que o total de ocupaes manufatureiras caiu 3,4% neste trinio. Alm disso, o vale de 2009 foi ainda mais abrupto para a indstria do que para o restante da economia, ou seja, a indstria sentiu mais fortemente o impacto da crise. Fato preocupante para a indstria que, mesmo quando a economia cresceu mais aceleradamente, a indstria continuou com um desempenho muito menos favorvel. De fato, no perodo 2005 a 2009, quando a produtividade da economia como um todo crescia prximo a 2% ao ano, a produtividade da indstria de transformao caia 1% se analisarmos o perodo 2005 a 2008, essas taxas foram de 2,8% e 0,8% ao ano, respectivamente.

    13. Essas influncias sero ressaltadas ao longo do texto e no invalidam os resultados globais obtidos no artigo.

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  • 270 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    GRFICO 6Crescimento da produtividade do trabalho, segundo setor de atividade econmica (nvel 12): 2001 a 2012 (Em %)

    1,5

    4,7

    2,4

    -0,2

    6,2

    -0,6

    2,1

    -0,3

    1,3

    3,9

    0,2

    1,0

    -0,3 -0,2

    0,8

    3,2

    -2,1

    3,5

    -1,6 -1,1 -1,0 -0,9

    -0,2

    3,2

    0,9

    0,1

    1,9

    6,4

    0,2

    -1,2

    0,9 0,1

    2,9

    1,4 0,6

    9,7

    -0,7

    0,7

    -1,0

    3,1

    7,8

    4,4 3,7

    17,6

    -0,3

    5,4

    -1,6

    5,3

    2,0

    -2,6

    1,5

    -0,1

    -5,0

    0,0

    5,0

    10,0

    15,0

    20,0

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    Crescimento 01-12 Crescimento 01-05 Crescimento 05-09 Crescimento 09-12

    Fonte: Sistema de Contas Nacionais Anuais, Sistema de Contas Nacionais Trimestrais e Pesquisa por Amostra de Domiclios do IBGE.

    Enquanto isso, a agricultura apresentou elevado crescimento da produtividade durante todo o perodo, assim como a indstria extrativa, que s desacelerou no perodo 2005-2009, quando sua produtividade cresceu apenas 0,2%. O setor de servios teve um comportamento mais instvel e sua produtividade cresceu ape-nas 11,7% no perodo todo. Apenas entre 2009 e 2012 que a produtividade do trabalho no setor de servios cresceu mais aceleradamente.14

    A contribuio de cada um dos setores de atividade para o crescimento da produtividade agregada da economia, no entanto, depende do peso de cada setor na estrutura produtiva, entre outros. A prxima subseo trata dessas contribuies e de analisar o quanto da evoluo da produtividade agregada no perodo se deve evoluo da produtividade dentro de cada um dos setores de atividade, o quanto se deve a mudanas na composio da estrutura produtiva e o quanto decorreu da mudana de preos relativos, conforme a equao 3.

    14. Ainda assim, preciso levar em conta que a produtividade no setor de servios fortemente influenciada pelos salrios. Como esse foi um perodo de valorizao salarial, especialmente no setor pblico (que representa parte sig-nificativa dos servios), esse crescimento no indicador de produtividade pode refletir outros determinantes, tal como mencionado na seo anterior.

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  • 271Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    4.3 Principais componentes no crescimento da produtividade agregada

    Como vimos na seo 3, o perodo 2001-2009 foi marcado por uma relativa estabi-lidade na estrutura produtiva brasileira, exceto pela reduo de ocupaes na agri-cultura e consequente aumento no setor de servios. A indstria de transformao, por sua vez, at cresceu (de 12 para 12,7%) sua participao nas ocupaes totais. Entre 2009 e 2012, entretanto, as mudanas so mais signiicativas. A participao da indstria extrativa, em termos de VA, sobe de 1,8 para 4,3%, a indstria de transformao cai de 16,6% para 13% e os servios permanecem aumentando seu share. Em termos de ocupaes, perpetuou-se a reduo da agropecuria e o aumento dos servios, e houve queda na participao das manufaturas no total para 12,1%.

    Dadas essas diferenas entre os perodos, uma maior estabilidade estrutural entre 2001 e 2009 e mudanas mais signiicativas entre 2009 e 2012, optou-se por fazer dois exerccios diferentes de decomposio do crescimento da produtivi-dade. O primeiro deles para o perodo 2001-2009 e o segundo para 2009-2012. Para este ltimo perodo, conforme mencionado, no esto disponveis as contas nacionais anuais, apenas as contas trimestrais. Embora sejam compatveis, as contas anuais so mais desagregadas setorialmente (56 setores) do que as contas trimestrais (12 setores). Dessa forma, para possibilitar comparaes entre os dois perodos ser utilizado o menor nvel de desagregao, em doze setores. Isso no afeta sobremaneira os resultados para o perodo de 2001-2009 que, como se ver nesta seo, so muito prximos ao se utilizar a desagregao de doze ou de 56 setores. Entretanto, o maior nvel de desagregao permite anlises mais ricas, por isso, para o primeiro perodo sero apresentados tanto os resultados com 56 setores, quanto os resultados obtidos no nvel doze.

    No perodo 2001-2009, a produtividade agregada da economia brasileira cresceu 7% ou 0,8% a.a. A tabela 3 mostra o crescimento total dos vrios setores de atividade no perodo, bem como sua contribuio ao crescimento da produtividade agregada. Essa contribuio pondera trs elementos: i) a variao da produtividade dentro do setor; ii) a variao da participao do setor na economia; e iii) a variao de preos relativos entre os diferentes setores (ver equao 3).

    A indstria total, embora tenha perdido produtividade no perodo (-7,2%), contribuiu positivamente com 1,8% ao crescimento da produtividade agregada. Isso ocorre porque a indstria ganhou participao nas ocupaes no perodo (0,7% de aumento), alm de ter apresentado ganho de preos relativamente aos preos totais da economia. Dentro da indstria, os setores que mais contriburam para o crescimento da produtividade foram os de mdia-baixa intensidade tec-nolgica (petrleo est entre eles), o que pode ser explicado, em grande medida, pela evoluo de preos relativos desses setores. Os setores de maior intensidade tecnolgica na indstria, que so os de maior produtividade relativa (grico 5),

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  • 272 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    tiveram contribuio nula para o crescimento da produtividade agregada no perodo. Como um todo, a indstria de transformao contribuiu com 0,7% do crescimento agregada. Neste sentido, chama a ateno o caso da indstria extrativa que, embora tenha uma participao de apenas 0,3% nas ocupaes totais na economia (grico 4), apresentou uma contribuio prxima das manufaturas.

    A agropecuria, embora tenha tido um expressivo crescimento nos seus in-dicadores de produtividade (31,9%), teve contribuio nula para a produtividade agregada, especialmente por ter perdido participao nas ocupaes nesse perodo.

    TABELA 3Contribuio dos principais setores de atividade ao crescimento da produtividade agregada no perodo 2001-2009 (Em %)

    Total agregado (56 setores)Total Ajustado (retirando alguns

    segmentos de servios*)

    Crescimento da produtividade

    Contribuio ao crescimento

    Crescimento da produtividade

    Contribuio ao crescimento

    Total 7,0 7,0 6,2 6,2

    Agropecuria total 31,9 0,0 31,9 -0,1

    Indstria total -7,2 1,8 -7,2 1,8

    Ind. extrativa 14,5 0,5 14,5 0,7

    Ind. transformao -9,8 0,7 -9,8 0,5

    Baixa IT -11,0 -0,9 -11,0 -1,6

    Mdia-baixa IT -22,5 1,4 -22,5 1,9

    Mdia-alta IT -11,5 0,3 -11,5 0,3

    Alta IT 0,2 0,0 0,2 -0,1

    Eletricidade 19,0 0,3 19,0 0,4

    Construo -6,1 0,3 -6,1 0,3

    Servios total 5,5 5,2 5,4 4,5

    Pouco intensivos 5,5 3,8 7,6 3,4

    Alta tecnologia e mercado -6,1 -0,5 -2,5 1,6

    Financeiros 43,5 0,9 - -

    Outros -8,9 0,9 -9,5 -0,4

    Elaborao dos autores a partir do Sistema de Contas Nacionais Anuais do IBGE. * Ver texto.

    O setor que explicou a maior parte dos ganhos de produtividade na eco-nomia, no perodo 2001-2009, em grande medida por sua elevada participao no PIB, foi o setor de servios, que explicou 5,2% (ou mais de 70%) do cresci-mento da produtividade no perodo. Dentro dos servios, foram os segmentos pouco intensivos em tecnologia entre os quais o principal o comrcio, dada

  • 273Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    sua elevada representatividade os que mais contriburam para o crescimento da produtividade agregada.

    Entretanto, conforme destacado na seo 3, h que se considerar que, em algumas atividades do setor de servios, a evoluo positiva dos indicadores de produtividade calculados pela relao entre valor agregado e pessoal ocupado pode no reletir, necessariamente, ganhos de eicincia. Esse o caso, por exem-plo, de Intermediao inanceira, seguros e previdncia complementar e servios relacionados, cuja variao no valor adicionado pode aumentar em funo da capacidade de arbitragem das instituies inanceiras. J a produtividade do tra-balho nas Atividades imobilirias e aluguis, Servios domsticos, Educao pblica, Sade pblica, Administrao pblica e seguridade social tambm complicada de ser avaliada pela razo VA/ocupaes. Para o primeiro concorre o aluguel imputado, ao passo que para os demais se constata que o valor adicionado destas atividades praticamente igual aos salrios, o que faz com que os indicadores de produtividade relitam muito mais movimentos remuneratrios do que de ei-cincia. Em virtude disso, a segunda coluna da tabela 3 traz os mesmos indicadores depois da retirada dessas atividades.

    Quando so retirados esses segmentos, a produtividade do setor de servios cresce um pouco menos do que no cenrio anterior (5,4% ante 5,5% com todos os segmentos) e sua contribuio ao crescimento da produtividade agregada passa para 4,5% (ante 5,2%, anteriormente). A produtividade da economia, que havia crescido 7%, sem esses setores passou a crescer 6,2% no perodo.

    A sntese dessa anlise que foram justamente os segmentos menos intensivos em conhecimento e os de menor produtividade relativa (tanto na indstria quanto nos servios) os que mais contriburam para o crescimento da produtividade at 2009. Por um lado, isso pode ser analisado como uma reduo das disparidades entre os setores econmicos. Por outro, pode ser um sinal de alerta de que justamente os segmentos mais produtivos e mais intensivos em conhecimento no tem sido capazes de ganhar eicincia na medida que seria necessrio ou desejado. Talvez por essa razo o crescimento da produtividade na economia tenha sido to baixo nesses anos.

    A tabela 4 mostra os resultados da decomposio do crescimento da produti-vidade entre seus vrios componentes, contabilizados com os dados desagregados em doze e em 56 setores de atividade. Os componentes da desagregao so: i) direto, que o crescimento da produtividade explicado pelo crescimento dentro de cada um dos setores de atividade; ii) trabalho, que o componente derivado da migrao de mo de obra entre setores com diferentes nveis de produtividade (quando ela ocorre de setores menos produtivos para setores mais produtivos, este componente positivo); iii) efeito preo, que o componente derivado de mudanas

  • 274 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    de preos relativos na economia;15 e, por im iv) efeito interao, decorrente do processo algbrico de decomposio da produtividade, relete a interao entre os trs componentes anteriores e que tem difcil interpretao econmica.

    Os resultados mostram, em primeiro lugar, que nenhum dos componentes relevantes contribuiu negativamente para a evoluo da produtividade no perodo. Tanto as mudanas de participao dos diferentes setores na economia, quanto o desempenho da produtividade dentro dos setores de atividade contriburam positivamente para a evoluo da produtividade agregada da economia. Em ou-tras palavras, as mudanas na estrutura produtiva brasileira, nos anos 2000, no inluenciaram negativamente a evoluo da produtividade agregada da economia. O componente relacionado ao efeito-preo mostra que uma parte dos ganhos de produtividade tambm est associada a mudanas nos preos relativos na economia.

    TABELA 4Decomposio do crescimento da produtividade entre 2001 e 2009 com distintas desagregaes setoriais (Em %)

    Componente 56 setores 12 setores

    Direto 4,3 5,5

    Preo 1,7 0,6

    Trabalho 4,7 2,3

    Interao -3,8 -1,4

    Total 7,0 7,0

    Elaborao dos autores a partir do Sistema de Contas Nacionais Anuais do IBGE.

    Em grande medida, esses resultados se mantm independentemente do nvel de agregao utilizado para realizar os clculos de decomposio. O que ocorre uma mudana na magnitude de alguns resultados. A mudana estrutural impacta menos o crescimento da produtividade agregada, quando um menor nmero de setores considerado. Esse resultado esperado, j que, nesse nvel de agregao, uma parcela importante da migrao de mo de obra entre setores (por exemplo, as que ocorrem dentro da indstria de transformao) no est sendo considerada.16 Entretanto, em nenhum dos resultados o componente estrutural negativo, e a parcela signiicativa do (baixo) crescimento da produtividade no perodo se deve evoluo da produtividade dentro dos setores econmicos.

    Isto posto e, sobretudo, considerando a ausncia de dados desagregados para os anos posteriores a 2009, realizamos o exerccio de decomposio da variao da produtividade agregada entre 2009 e 2012, utilizando os dados do Sistema de

    15. Como mostram Cavalcante e De Negri, no captulo 5 deste livro, esse foi um movimento importante na economia brasileira no passado recente. 16. No Sistema de Contas Nacionais Trimestrais a indstria de transformao no detalhada.

  • 275Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    Contas Nacionais Trimestrais e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios, desagregados em doze atividades econmicas (tabela 5).

    Conforme destacado anteriormente, no perodo 2009-2012 houve forte crescimento da produtividade do trabalho. No obstante, novamente, nenhum dos componentes relevantes contribuiu negativamente para a evoluo da produtivi-dade no perodo. O que se observa, contudo, uma menor contribuio do efeito trabalho (mudana estrutural) para o crescimento da produtividade agregada: entre 2001 e 2009 ele representou 33% do crescimento total, ao passo que, no perodo 2009-2012, a mudana na composio das ocupaes respondeu por 21%.17

    Desse modo, constata-se um salutar, embora ainda reduzido, aumento da eicincia dentro dos setores de atividade, uma vez que o crescimento da produtivi-dade agregada foi majoritariamente explicado pelo efeito direto, que corresponde ao efeito do crescimento intrassetorial. Com efeito, a contribuio deste componente foi 8,4%, o que representa 88% do crescimento agregado.

    TABELA 5Decomposio do crescimento da produtividade entre 2009 e 2012(Em %)

    Setor/atividadeCrescimento da produtividade

    Contribuio ao crescimento

    Direto Preo Trabalho Interao

    Total 9,5 9,5 8,4 -0,1 2,1 -0,9

    Agropecuria total 25,2 0,2 1,4 -0,2 -0,8 -0,2

    Indstria total 7,3 1,7 4,0 -1,1 -0,7 -0,5

    Ind. Extrativa 13,9 2,8 0,3 2,2 0,0 0,3

    Ind. Transformao 11,4 -2,5 1,9 -3,3 -0,7 -0,3

    Produo e distribuio de eletricidade e gs, gua, esgoto e limpeza urbana

    62,5 0,3 1,9 -0,2 -0,9 -0,6

    Construo civil -0,9 1,0 0,0 0,1 0,9 0,0

    Servios total 5,8 7,7 3,0 1,3 3,6 -0,1

    Comrcio 17,2 1,5 2,1 -0,3 -0,3 -0,1

    Transporte, armazenagem e correio -4,7 1,1 -0,2 0,4 0,9 0,0

    Servios de informao 16,8 -0,4 0,6 -0,8 -0,1 -0,1

    Intermediao financeira, seguros e previdncia complementar e servios relacionados

    6,2 0,6 0,5 -0,4 0,5 0,0

    Atividades imobilirias e aluguis -7,6 0,6 -0,6 0,2 1,1 -0,1

    Outros servios 4,6 2,4 0,7 1,2 0,4 0,1

    Administrao, sade e educao pblicas e seguridade social

    -0,3 1,9 0,0 0,8 1,0 0,0

    Elaborao dos autores a partir do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios do IBGE.

    17. Conforme mostra a tabela 4, para a agregao em doze setores, o efeito trabalho contribuiu com 2,3% do cresci-mento total da produtividade agregada de 7% (2,3/7,0=0,33). J pela tabela 5, temos que o efeito trabalho foi 2,1% (2,1/7,0=0,21).

  • 276 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    Novamente houve a proeminncia dos servios, cuja produtividade cresceu 5,8% no perodo e contribuiu para o crescimento total com 7,7 p.p. A indstria total teve um crescimento ainda maior (7,3%), mas dada a sua reduzida partici-pao na economia, a contribuio foi de apenas 1,7 p.p. Destacam-se, por um lado, novamente, a contribuio da indstria extrativa (+2,8 p.p.), a despeito de seu reduzido tamanho; por outro, mais uma vez houve contribuio negativa das manufaturas (-2,5 p.p.), apesar do crescimento da produtividade deste setor entre 2009-2012. Este ltimo comportamento foi explicado pelo efeito preo fortemente negativo (-3,3%), que destoa fortemente do veriicado na primeira dcada dos 2000. Assim, depreende-se que um efeito nefasto da crise foi a mudana nos preos relativos, a qual foi desfavorvel economia brasileira como um todo (efeito preo igual -0,1%) e, em especial, indstria de transformao.

    Em sntese, os resultados das decomposies da produtividade mostram, inde-pendentemente da periodizao utilizada, alguns resultados importantes em relao evoluo da produtividade agregada da economia. Em primeiro lugar, novamente evidencia-se o baixo crescimento da produtividade agregada na ltima dcada: 1,5% ao ano entre 2001 e 2012. Em segundo lugar, entende-se que a indstria de transformao o setor com pior desempenho em qualquer subperodo analisado, tendo apresentado um decrscimo de produtividade da ordem de 0,2% ao ano, nesse perodo. Em terceiro lugar, a maior contribuio ao crescimento da produ-tividade agregada nos ltimos anos tem vindo do setor de servios, no tanto por um desempenho extraordinrio, mas em virtude do seu elevado peso na economia.

    Por im e mais importante, as mudanas na estrutura produtiva observadas no perodo recente at 2012 no explicam o baixo crescimento da produtividade agregada. Em outras palavras, a produtividade da economia brasileira cresceu pouco em virtude do baixo crescimento dessa varivel dentro dos setores econmicos e no em virtude de mudanas na estrutura produtiva.

    5 CONSIDERAES FINAIS

    A relao entre mudanas na estrutura produtiva de uma economia e o crescimen-to da produtividade fartamente documentada na literatura, especialmente nos perodos de industrializao. Durante esse processo, a migrao de ocupaes de setores menos produtivos, para setores mais produtivos, contribui fortemente para o aumento da produtividade agregada da economia.

    Uma das hipteses que se coloca no debate sobre o baixo crescimento da pro-dutividade na economia brasileira diz respeito ao impacto negativo que a reduo da participao da indstria de transformao na economia teria sobre a produti-vidade. O que se percebe a partir das informaes levantadas, no entanto, que essa suposta reduo do peso da indstria no ocorreu de forma to signiicativa,

  • 277Produtividade do trabalho e mudana estrutural no brasil nos anos 2000

    pelo menos no no perodo 2001-2009, embora tenha ocorrido fortemente nos anos 90 e voltado a ocorrer no ps-crise. De fato, as mudanas mais perceptveis na estrutura produtiva do pas, no perodo recente, foram: i) entre 2001 e 2009, a migrao de ocupaes da agropecuria para os servios; ii) aps a crise, uma reduo da participao das manufaturas nas ocupaes totais, em consonncia com a reduo do peso deste setor no valor adicionado, o que j vinha ocorrendo; e iii) um aumento de participao da indstria extrativa no valor adicionado, sobretudo a partir de 2009, embora em termos de ocupaes essa participao seja desprezvel.

    Essa relativa estabilidade ocorreu a despeito da profunda alterao na com-posio das exportaes brasileiras, o que poderia acarretar, no longo prazo, mu-danas na estrutura produtiva. Talvez, o fato de o Brasil ser uma grande economia no to aberta ao comrcio internacional reduza o impacto que as mudanas nos luxos de comrcio possam ter sobre a estrutura produtiva, mais dependente da demanda domstica.

    As mudanas ocorridas na estrutura produtiva no perodo, especialmente aps a crise, no inluenciaram de forma preponderante a evoluo da produtividade do trabalho na economia brasileira. Ou seja, a hiptese de que teria sido a reduo da relevncia da indstria na economia a responsvel pelo baixo crescimento da produ-tividade do trabalho no encontra respaldo nos indicadores apresentados. Mesmo aps 2009, quando ocorrem mudanas mais expressivas na composio da produo, ainda assim, essas mudanas no afetaram negativamente a produtividade agregada.

    Assim, o fator que mais explica a evoluo da produtividade no perodo recente a evoluo da produtividade intrassetorial, e no aquela associada migrao de trabalhadores entre atividades econmicas. Este ltimo fator foi, a propsito, positivo, indicando que as mudanas estruturais ocorridas na economia brasileira nos anos 2000 contriburam para o crescimento da produtividade agregada, e no o oposto. Isso est associado ao fato de que o luxo de ocupaes que migrou de setores menos produtivos para os mais produtivos (agropecuria para servios) sobrepujou o movimento inverso (indstria para servios).

    Em sntese, a produtividade da economia brasileira cresceu pouco no por-que aumentou a participao de setores pouco produtivos na estrutura produtiva, mas, sim, porque a produtividade dentro dos setores econmicos cresceu pouco. Depreende-se, portanto, que o baixo crescimento da produtividade da economia brasileira, no perodo recente, est associado a outros fenmenos que no mudana estrutural ocorrida. Isso no quer dizer, contudo, que a estrutura produtiva no importe do ponto de vista de eicincia e de crescimento econmico; ao contrrio. Isto signiica apenas que no foi essa mudana estrutural a responsvel pelo baixo crescimento da produtividade. As causas para o baixo dinamismo da economia brasileira vo muito alm da simples dicotomia indstria versus servios.

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  • Misso do Ipea

    Aprimorar as polticas pblicas essenciais ao desenvolvimento brasileiro por meio da produo e disseminao de conhecimentos e da assessoria ao Estado nas suas decises estratgicas.

    Misso da ABDI

    Servio social autnomo vinculado ao Ministrio do Desenvolvimento, da Indstria e do Comrcio Exterior tem como misso desenvolver aes estratgicas para possibilitar a poltica industrial, promovendo o investimento produtivo, o emprego, a inovao e a competitividade da industria brasileira.

    9 788578 112288

    ISBN 978-85-7811-228-8