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52 Produtividade de Milho e de Feijão (52-63) Produtividade de Milho e de Feijão Consorciados Adubados con Diferentes Formas de Lodo de Esgoto Thiago Assis Rodrigues N., Regynaldo Arruda S.*, Cleidson Soares F., Ivana Machado F., Luiz Arnaldo F. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Agrárias, Caixa Postal 135, CEP 39.404-006 - Montes Claros, MG - Brasil. *Correspondência: [email protected] Productivity of corn and beans in intercropping systems fertilized with different sewage sludge Key words: Organic fertilizers, Biosolid, Urban residues recycling. ABSTRACT The sewage sludge, as physical, chemical and biological conditioning of soil properties, has become important organic fertilizer. The aim of this work was to evaluate the effect of the organic fertilization with different sewage sludge on soil fertility and productivity of corn and beans in intercropping systems. The experimental design was a complete randomized blocks with three replicates. The treatments were: soil without fertilization, liming and chemical fertilization, sewage sludge, sewage sludge sanitized with nim, sewage sludge sanitized with lime, sewage sludge and ipomoea composting, sewage sludge and ipomoea composting with rock phosphate, sewage sludge with rock phosphate incorporated at soil, sewage sludge sanitized with nim and rock phosphate incorporated at soil, sewage sludge sanitized with lime and rock phosphate incorporated at soil, sewage sludge and ipomoea composting with rock phosphate incorporated at soil. The data had been submitted to the analysis of variance and test of Scott-Knott at 5% of probability. The application of sewage sludge with lime increased the alkalinity of the soil and, also, the nutrients available for the plants. However, the changes observed in the chemical characteristics of the soil with the application of the biosolid had not influenced the productivity of the cultures of corn and beans in intercropping system.

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Produtividade de Milho e de Feijão (52-63)

Produtividade de Milho e de FeijãoConsorciados Adubados con Diferentes

Formas de Lodo de Esgoto

Thiago Assis Rodrigues N., Regynaldo Arruda S.*, Cleidson Soares F.,Ivana Machado F., Luiz Arnaldo F.

Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Agrárias, Caixa Postal 135,CEP 39.404-006 - Montes Claros, MG - Brasil.

*Correspondência: [email protected]

Productivity of corn and beans in intercropping systems fertilized with differentsewage sludge

Key words: Organic fertilizers, Biosolid, Urban residues recycling.

ABSTRACT

The sewage sludge, as physical, chemical and biological conditioning of soil properties,has become important organic fertilizer. The aim of this work was to evaluate the effect ofthe organic fertilization with different sewage sludge on soil fertility and productivity ofcorn and beans in intercropping systems. The experimental design was a complete randomizedblocks with three replicates. The treatments were: soil without fertilization, liming andchemical fertilization, sewage sludge, sewage sludge sanitized with nim, sewage sludgesanitized with lime, sewage sludge and ipomoea composting, sewage sludge and ipomoeacomposting with rock phosphate, sewage sludge with rock phosphate incorporated at soil,sewage sludge sanitized with nim and rock phosphate incorporated at soil, sewage sludgesanitized with lime and rock phosphate incorporated at soil, sewage sludge and ipomoeacomposting with rock phosphate incorporated at soil. The data had been submitted to theanalysis of variance and test of Scott-Knott at 5% of probability. The application ofsewage sludge with lime increased the alkalinity of the soil and, also, the nutrients availablefor the plants. However, the changes observed in the chemical characteristics of the soilwith the application of the biosolid had not influenced the productivity of the cultures ofcorn and beans in intercropping system.

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53Thiago Assis Rodrigues , Regynaldo Arruda *, Cleidson Soares , Ivana Machado , Luiz Arnaldo.

RESUMO

O lodo de esgoto, em razão da sua atuação como condicionador das propriedadesfísicas, químicas e biológicas do solo, pode se constituir em um importante adubo orgânico.O presente trabalho buscou avaliar o efeito da adubação com diferentes formas de lodo deesgoto sobre a fertilidade do solo e produtividade de grãos de milho e de feijão consorciados.Os tratamentos, no delineamento em blocos casualizados, com 3 repetições, corresponderama: Solo sem adubação, Calagem e adubação química, Lodo não higienizado, Lodo higienizadocom nim, Lodo higienizado com cal, Composto de lodo e ipomoea, Composto de lodo eipomoea com fosfato, Lodo não higienizado e fosfato no solo, Lodo higienizado com nim efosfato no solo, Lodo higienizado com cal e fosfato no solo, Composto de lodo e ipomoeae fosfato no solo. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e teste deScott-Knott a 5% de probabilidade. A aplicação de lodo de esgoto tratado com cal aumentoua alcalinidade do solo e, também, a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Entretan-to, as mudanças observadas nas características químicas do solo com a aplicação desteinsumo não influenciaram a produtividade das culturas de milho e de feijão consorciados.Palavras-chave: Adubo orgânico, Biossólido, Reciclagem de resíduos urbanos.

INTRODUÇÃO

A crescente população dos centros ur-banos é importante produtora de diversosresíduos, os quais, muitas vezes, são acu-mulados no ambiente sem o adequadotratamento, ou utilização, que possibilite suareciclagem. Dentre esses resíduos, pode-sedestacar o lodo de esgoto, ou biossólido,resultante do tratamento das águas servi-das, que apresenta potencialidade parautilização agrícola. Este resíduo contémconsiderável percentual de matéria orgânicae de elementos essenciais para as plantas,podendo substituir, ainda que parcialmen-te, os fertilizantes minerais, podendodesempenhar importante papel na produçãoagrícola e na manutenção da fertilidade dosolo (Nascimento et al., 2004).

As principais formas de transformaçãoou destinação do lodo de esgoto são oaterramento, a incineração e a aplicação nosolo. O aterro é um método que utilizaprincípios de engenharia para oconfinamento dos resíduos a menor área evolume possíveis, cobrindo-os com umacamada de terra sempre que necessário. Aincineração é um método de tratamento quese utiliza da decomposição térmica viaoxidação, com o objetivo de tornar um

resíduo menos volumoso, menos tóxico ouatóxico, ou ainda eliminá-lo, em alguns ca-sos. Do ponto de vista sustentável, aeliminação do lodo através de incineraçãoou pela disposição em aterros sanitáriossomente é empregada quando suavalorização é impossível, devido principal-mente à presença de contaminantes no lodo.

Desta forma, a aplicação do lodo deesgoto no solo apresenta-se como umatendência mundial (Lopes et al., 2005). Estatécnica consiste na disposição do lodo uni-formemente sobre o terreno de modo a pro-mover a melhoria das condições do solo oudo desenvolvimento da cobertura vegetalimplantada. No Brasil, existem experiênciascomo a de Curitiba, onde foi criado no iníciodesta década o programa para a reciclagemagrícola do lodo de esgoto. Alternativas comestas têm apresentado bons resultados,conforme relatam Silva et al. (2002), podendoser utilizado por meio da reciclagem, na agri-cultura, silvicultura, floricultura, paisagismoou recuperação de áreas degradadassubmetidas a processo de revegetação pararecuperação. A reciclagem via utilizaçãoagronômica é a forma que apresenta maiorpotencial em razão do seu uso como fertili-zante e condicionador do solo, além dosmaiores benefícios ambientais.

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O lodo de esgoto, dependendo do tipode tratamento das águas residuárias e daépoca de sua produção, caracteriza-se porapresentar quantidades elevadas de matériaorgânica. Neste aspecto, o lodo de esgotodesempenha uma função extremamente im-portante na dinâmica dos solos, influindoem suas características químicas, físico-quí-micas, biológicas e físicas (Barbosa et al.,2004).

Dentre os efeitos do lodo de esgoto so-bre as propriedades físicas do solo, condi-cionadas principalmente pela presença dematéria orgânica, destacam-se a melhoria noestado de agregação das partículas do solo,com conseqüente diminuição da densidadee aumento na aeração e retenção de água(Melo et al, 2004). Quanto aos aspectos quí-micos, a aplicação de lodo ao solo tem pro-piciado elevação dos teores de fósforo, decarbono orgânico, da fração humina damatéria orgânica, do pH, da condutividadeelétrica e da capacidade de troca de cátions(Nascimento et al., 2004).

Segundo Andreolli (1999), a aplicaçãono solo destaca-se pela viabilização dareciclagem de nutrientes, promoção demelhorias físicas, especialmente naestruturação do solo e por ser uma soluçãode longo alcance para destinação do lodo.As maiores limitações para o emprego destemétodo são os riscos de contaminação dosolo com metais pesados e agentespatogênicos (Lopes et al., 2005). Também,deve se destacar a necessidade dedisponibilidade de grandes áreas, apossibilidade de lixiviação de nitrogênio efósforo, contaminando o lençol freático eas águas superficiais, e a possibilidade daocorrência de problemas como atração deinsetos vetores, pequenos roedores eliberação de odores quando não houverestabilização suficiente do lodo. Todavia, acomposição e o nível dos contaminates de-pende da origem dos rejeitos, tais comoesgotos domésticos, industriais ehospitalares (Rocha et al., 2003).

De acordo com Nascimento et al. (2004)são evidentes os resultados positivosapresentados por culturas como soja, trigo,milho, feijão e girassol, com a aplicação delodo de esgoto. Segundo Andreolli et al.(1999) foram observados aumentos deprodutividade com o uso deste insumo nosistema de cultivo de bracatingaconsorciado com o milho e feijão, sendo oretorno financeiro com base no investimentoem adubo, quatro vezes maior com o uso dolodo de esgoto quando comparado aadubação mineral. Lourenço et al. (1996)também verificou efeito residual para culti-vos subseqüentes, quando o lodo de esgotofoi empregado em doses elevadas.

O presente trabalho teve como objetivoprincipal avaliar o efeito da adubação comdiferentes formas de lodo de esgotoassociado a aplicação de fosfato naturalsobre a fertilidade do solo e produtividadede grãos de milho e de feijão consorciados.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado na área ex-perimental do Campus da UFMG em Mon-tes Claros–MG, em CAMBISSOLOHÁPLICO, com as características químicase físicas apresentadas no (Quadro 1). Foramutilizadas como plantas indicadoras, em doiscultivos consecutivos, o milho crioulo CAA(Zea mays L.) e o feijão trepador (Vigna

unguiculata (L.) Walp) consorciados.

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55Thiago Assis Rodrigues , Regynaldo Arruda *, Cleidson Soares , Ivana Machado , Luiz Arnaldo.

O lodo de esgoto desidratado foicoletado na Estação de Tratamento deEsgoto – ETE no município de Juramento –MG, sendo esta operada pela Copasa – MG,e a macrófita Ipomoea carnea ssp. fistulosa

adquirida do reservatório do Sistema VerdeGrande, onde se constitui em uma impor-tante praga que onera os custos demanutenção do sistema de abastecimentode água da cidade de Montes Claros.

Logo após a aquisição dos materiais(lodo de esgoto e ipomoea) foram feitasanálises laboratoriais seguindometodologias preconizadas por Tedesco(1995): Matéria Orgânica, pH, Umidade, Car-bono e Nitrogênio, tanto para o lodo quantopara a Ipomoea (Quadro 2). Sendo que oCarbono e o Nitrogênio foram utilizados paracalcular a relação C/N para a formação dacompostagem.

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A compostagem do lodo foi efetuadajuntamente com a Ipomoea carnea ssp.fistulosa triturada com o uso de umdesintegrador elétrico, tendo a meda umaaltura de aproximadamente 1,5 m. Diariamen-te monitorou-se a temperatura e a umidadedo material. Sempre que necessário efetuou-se o revolvimento manual das pilhas, utili-zando-se pás e enxadas. A temperatura foimedida através de barras de ferro introduzidana pilha de compostagem em três pontosespecíficos do topo, do meio e da base. Aumidade foi determinada pela secagem emestufa a 105º C até peso constante. Ao finaldo processo de degradação, o material foiestocado por mais 30 dias para a maturaçãodo composto.

A macrófita Ipomoea carnea ssp.fistulosa misturado ao lodo de esgotoapresentou bons resultados na produçãode composto orgânico, constituindo-se emuma importante fonte de adubo para usoagrícola, podendo ser explorado pelaCopasa.

O experimento contou com 11tratamentos, distribuídos no delineamentoem blocos casualizados, com trêsrepetições, conforme mostrado a seguir:* T

1 – Testemunha (solo sem adubação);

* T2 – Calagem e adubação química con-

vencional;* T

3 – Aplicação de 16,7 t/ha de lodo de

esgoto seco não higienizado;* T

4 – Aplicação de 13,8 t/ha de lodo de

esgoto seco higienizado com extrato de Nim(Azadirachta indica);* T

5 – Aplicação de 33,2 t/ha de lodo de

esgoto seco tratado com cal virgem;* T

6 – Aplicação de 28,1 t/ha composto

orgânico feito com lodo de esgoto eIpomoea;* T

7 – Aplicação de 30,6 t/ha composto

orgânico feito com lodo de esgoto eIpomoea, com adição no início dacompostagem de 2 % de fosfato naturalreativo;* T

8 – Aplicação de 14,1 t/ha de lodo de

esgoto seco não higienizado + Aplicação

no campo de 200 kg/ha de fosfato naturalreativo;* T

9 – Aplicação de 13,1 t/ha de lodo de

esgoto seco higienizado com extrato de Nim+ Aplicação no campo de 200 kg/ha defosfato natural reativo;* T

10 – Aplicação de 31,8 t/ha de lodo de

esgoto seco tratado com cal virgem +Aplicação no campo de 200 kg/ha de fosfatonatural reativo;* T

11 – Aplicação de 24,8 t/ha composto

orgânico feito com lodo de esgoto eIpomoea + Aplicação no campo de 200 kg/ha de fosfato natural reativo.

As variações nas dosagens do lodoforam estabelecidas conforme sua umidadee na exigência de nitrogênio pela cultura domilho (115 Kg/ha de N), baseando-se nadisponibilidade deste elemento presente nolodo ou no composto de lodo e ipomoea.Também, considerou uma taxa demineralização do material da ordem de 50%por ano.

Os tratamentos higienizados com Nimreceberam meio litro de extrato aquoso defolhas de Nim (Azadirachta indica) paracada litro de lodo de esgoto seco.

Os tratamentos higienizados com calforam tratados na proporção de 50% do pesoseco de lodo + 50% do peso seco de calvirgem, misturados a 70% de umidade dolodo.

No tratamento com calagem e adubaçãoquímica foram aplicados 3,65 t/ha de calcáriodolomítico, para elevação da saturação debases para 70%, e 575, 66,7 e 500 kg/ha desulfato de amônio, cloreto de potássio esuperfosfato simples, respectivamente, combase na análise do solo e na recomendaçãode adubação para a cultura do milho,

As características químicas das diferen-tes formas de lodo de esgoto utilizadas noexperimento são apresentadas no Quadro3. Os teores totais dos nutrientes foram de-terminados no extrato ácido (ácido nítrico eácido perclórico), conforme metodologiapreconizada por Tedesco (1995).

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57Thiago Assis Rodrigues , Regynaldo Arruda *, Cleidson Soares , Ivana Machado , Luiz Arnaldo.

O primeiro cultivo das plantas foi rea-lizado no período de abril a setembro de 2004e o segundo cultivo no período de janeiro ajunho de 2005. Foram semeadas cincosementes de milho e duas de feijão por cova,sendo feito desbaste após quinze diasdeixando apenas uma planta de milho e umade feijão. O espaçamento utilizado para asculturas foi de 0,5 m entre plantas e de 1,0 mentre fileiras, em parcelas de 14 m2.Cada par-cela foi cultivada com 28 plantas de milho e28 de feijão em consórcio na mesma cova,sendo consideradas bordaduras as fileirasexternas.

Ao longo dos cultivos foram realizadostratos culturais com a aplicação de inseticida(STR0N, organofosforado sistêmico daagripec na quantidade de 25mL/500 m2), parao controle de Diabrotica speciosa,Cerotoma arcuata e Spodoptera

frugiperda, tendo sido realizadas duasaplicações. Utilizou-se para irrigação um sis-tema fixo de aspersão constituído de duaslinhas secundárias com um número total deseis aspersores. Foi adotado tanque ClasseA para o manejo da irrigação. Foram feitasna área capinas manuais sistemáticas.

As colheitas do feijão e do milho foramrealizadas, respectivamente, aos 90 e 160 diasapós o plantio, considerando-se aporcentagem de umidade para a colheita de

grãos, sendo esta posteriormente ajustadapara 13%.

Em relação ao feijão e milho foramanalisadas as seguintes variáveis: Nº deVagens/Planta de feijão, N° Grãos/Vagem defeijão, Nº de Grãos de feijão/Planta, Massade 100 grãos de feijão, Produtividade dofeijão, Nº de Espigas/Planta de milho, N°Grãos/Espigas de milho, Massa de 100grãos de milho e Produtividade do milho.

Em relação ao solo, foram determinadosem amostras coletadas na profundidade de0 a 20 cm: o pH e os teores de P, K, Ca, Mg,Al, H+Al e Matéria Orgânica, de acordo comas metodologias preconizadas por Tedesco(1995).

Os dados obtidos foram submetidos àanálise de variância e as médias compara-das até 5% de probabilidade pelo teste deScott-Knott.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores de pH e Ca do solo forammaiores nos tratamentos em que o lodo deesgoto foi tratado com cal (Quadro 4). Talfato pode ser atribuído ao Ca existente nacal e a capacidade de hidrólise desta última,razão pela qual o pH atingiu valores muitoelevados para estes tratamentos.

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De acordo com Andreoli et al. (1999) aadição de cal ao lodo de esgoto é uma práticacomum que visa à eliminação de patógenose estabilização do resíduo para uso agríco-la. O aumento do pH do solo com o uso dolodo tratado com cal foi relatado por Meloet al. (2002), os quais consideram que aintensidade das mudanças no pH dependeprincipalmente da textura e da capacidadetampão do solo. Os menores valores de pHdo solo observados nos tratamentos comaplicação de lodo de esgoto não tratado com

cal podem ser atribuídos ao processo denitrificação, onde o amônio é oxidado anitrito e nitrato, com a produção líquida dedois íons de H+ e conseqüente redução dopH (Bettiol e Fernandes, 2004). Também,Simonete et al. (2003) afirmam que aacidificação pode estar associada, além dasreações de nitrificação do N amoniacal, aprovável oxidação de sulfitos e à produçãode ácidos orgânicos durante a degradaçãodos resíduos por microrganismos. Por outrolado, constatou-se neste experimento, após

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o cultivo, aumento do pH e do teor de Ca dosolo, inclusive da testemunha (Quadro 4),quando comparados aos valores iniciais dosolo (Quadro 1), possivelmente em razão daágua utilizada na irrigação ser de origemcalcária (pH 7,2 e alcalinidade 262 mg L-1

CaCO3).

Em relação ao teor de P disponível, ob-serva-se no (Quadro 4) que em geral osmaiores valores deste elemento ocorreramnos tratamentos que receberam adubaçãoquímica e fosfato natural aplicado ao solo.Também, ficou evidente o aumento do teordeste elemento com a aplicação de lodo deesgoto comparado ao teor inicial do solo(Quadro 1). Segundo Melo et al. (2002) aindaexistem dúvidas quanto ao potencial do lodoem aumentar a disponibilidade de P no solo,entretanto, Hue (1995) afirma que o lodopode atuar diminuindo a adsorção de P nosolo, em razão do elevado teor de matériaorgânica que poderá fornecer íonsorgânicos que competem com o fosfato pe-los sítios de adsorção.

O K, em razão da baixa concentração nolodo, tem sido o elemento de maiornecessidade de suplementação com fertili-zantes minerais quando da sua utilizaçãopara adubação (Melo et al., 2002). Tal fatoocorre em razão do K manter-se em soluçãoe ser eliminado com as águas residuárias,permanecendo pouco deste elemento nolodo de esgoto (Simonete et al., 2003). Nopresente trabalho, constatou-se aumentodos teores de K em relação ao teor inicial dosolo (Quadros 1 e 4), inclusive datestemunha, o que sugere algumacontribuição da água de irrigação. Dentreos tratamentos, a maior contribuição para oaumento do teor de K no solo foi principal-mente da adubação química (Quadro 4).

Os teores de Mg após o cultivo de milhoe feijão (Quadro 4) aumentaram em relaçãoaos teores iniciais do solo (Quadro 1). Oaumento do teor de Mg no solo, com aaplicação do lodo de esgoto, também foiobservado por Simonete et al. (2003). Nãohouve, entretanto, diferenças estatísticas

entre tratamentos em relação a este elemento.O teor de Al no solo, antes da

incorporação de adubo químico e do lodode esgoto, apresentou valor muito baixo(Quadro 1), destacando o efeito da calagemem cultivos anteriores na precipitação doAl trocável, fato também constatado pelaconcentração elevada de Ca e Mg. Após oplantio de milho e de feijão o teor de alumíniofoi zero.

A acidez potencial (H+Al) do solo antesdo cultivo apresentou valor alto (Quadro 1),diminuindo para valores baixos após o cul-tivo, com destaque principalmente para ostratamentos que receberam adição de cal aolodo de esgoto (Quadro 4). Tal fato eviden-cia a influência da qualidade da água usadana irrigação, uma vez que, segundo Tranninet al. (2005), a aplicação de biossólido aosolo promove a diminuição do pH, aumentoda acidez potencial e do Al trocável e dasaturação por Al. De acordo com estes au-tores, a mineralização do N orgânico esubseqüente nitrificação contribuem para aacidificação do solo. Também, abiodegradação da matéria orgânicadecomponível pode causar acidificaçãotransiente no solo em razão da produção deácidos orgânicos.

Os teores de matéria orgânica do soloao final do cultivo (Quadro 4) diminuiramcomparados ao teor inicial do solo (Quadro1). Comportamento contrário foi observadopor Nascimento et al. (2004), queconstataram expressivos aumentos nosteores de matéria orgânica com a aplicaçãode lodo de esgoto em solos do semi-árido,apresentando aumentos de 53 %, emEspodossolo, e de 62 %, em Argissolo,sendo este aporte especialmente importan-te para os solos dessa região que, natural-mente, apresentam teores baixos de matériaorgânica. Resultados similares a este tambémforam observados por Simonete et al. (2003)e Melo et al. (2004). No entanto, Melo et al.(1994) e Oliveira et al. (2002) relatam que amanutenção de altos teores de matériaorgânica pela adição de lodo dependerá de

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aplicações sucessivas do resíduo, visto que,os efeitos sobre os teores de carbonoorgânico do solo podem ser temporários emdecorrência da rápida decomposição damatéria orgânica em condições tropicais.Conforme se observa no (Quadro 4), nãohouve diferença estatística no teor dematéria orgânica para os diferentestratamentos. O teor de matéria orgânica ve-rificado na testemunha resulta dos restosde palhadas de milho e feijão acumulados eincorporados ao solo ao longo do plantio.

A soma de bases, a saturação por ba-ses, a CTC efetiva e a CTC total do soloaumentaram após o plantio (Quadro 5) em

relação aos valores iniciais do solo (Quadro1). Em geral, os maiores valores observadospara estas variáveis foram para ostratamentos com adubação química ecalagem e lodo de esgoto tratado com cal,evidenciando neste último a contribuiçãodo Ca para o aumento da fertilidade do solo.Silva et al. (1998) constatou que o lodo deesgoto aplicado ao solo neutralizou parteda acidez potencial, provocando aumentodo pH do solo, e proporcionou aumento daCTC, da soma de bases e da percentagemde saturação por bases do solo.

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Conforme observado no (Quadro 6),considerando as médias de dois cultivosconsecutivos, não foram constatadasdiferenças em relação ao número de vagenspor planta de feijão, número de grãos porvagem de feijão, produtividade do feijão,número de espigas por planta de milho, nú-mero de grãos por espiga de milho, massade 100 grãos e produtividade do milho. Anão diferença estatística para produtividadedo milho e do feijão pode ser atribuída a umnível razoável de fertilidade já existente nosolo, em razão de cultivos anteriores, e amenor exigência das variedades utilizadas,que consistem em variedades crioulas culti-vadas por pequenos agricultores, as quais

praticamente não aportam insumos para osseus cultivos. Neste aspecto, as mudançasobservadas nas características químicas dosolo não foram suficientes para influenciara produtividade das culturas. Entretanto, éimportante destacar que Nascimento et al.(2004) observaram efeito positivo daaplicação de doses crescentes de lodo nasculturas de milho e feijão em espodossolo eargissolo. Também, Silva et al. (2002)constataram que uma dose de 6 t/ha de lodoseco teve efeito residual sobre a produçãode milho até o terceiro ano após suaaplicação, o que indica a potencialidade fer-tilizante deste insumo.

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As produtividades médias do milho edo feijão foram da ordem de 1,93 t/ha e 256kg/ha, respectivamente, sendo compatíveiscom as médias de produtividades de varie-dades locais (Oliveira e Araújo, 1993;Meneguetti et al., 2002). No presentetrabalho, as doses de lodo de esgoto, sobdiferentes formas, variaram de 13,8 a 33,2 t/ha em base seca, sendo as quantidadesfunção da quantidade de nitrogêniodisponível para as plantas (Melo et al., 2002).Uma vez que a dose de lodo aplicadacorrespondeu ao dobro do requerimento deN para a cultura do milho, em razão de seconsiderar uma fração de mineralização de50%, pode-se pressupor a ocorrência deperdas deste elemento do solo, principal-mente no início do ciclo vegetativo das cul-turas, intensificada pelo uso da irrigação,conforme verificado por Vieira e Cardoso(2003). De modo geral, a recomendação deaplicação de lodo de esgoto foi próxima darecomendada por Silva et al. (2002) quesugerem a aplicação de 21 t/ha de biossólidoem base seca para se obter à produção máxi-ma de milho em LATOSSOLO VERMELHODistrófico. Por outro lado, Trannin et al.(2005), destacam que a dose de 10 t/ha debiossólido em base seca, suplementada comK

2O e 30% da exigência em P

2O

5, proporcio-

na produtividade de milho equivalente àobtida com adubação mineral completa.

CONCLUSÃO

1. A aplicação de lodo de esgoto tratadocom cal contribui para o aumento daalcalinidade do solo,2. Em geral, a adição de lodo de esgoto aosolo aumenta a concentração de nutrientesdisponíveis para as plantas,3. As variedades de milho crioulo e de feijãotrepador cultivadas em consórcio, em solode média fertilidade, não são influenciadaspela adubação química convencional e pelaadição de lodo de esgoto.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Fapemig e aoICA/UFMG pelo suporte financeiro conce-dido ao projeto.

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