producao de papel artesanal iceri celene oliveira

11
PRODUÇÃO DE PAPEL ARTESANAL EM COOPERATIVAS DE RECICLAGEM COM APARAS DE PAPEL E FIBRAS VEGETAIS Douglas Benicio OLIVEIRA Graduando do Departamento de Química, Universidade Estadual de Maringá – Brasil; Lidiana NICOLIN Técnica-Administrativa, Graduada em Química, Universidade Estadual de Maringá – Brasil; Celene TONELLA Coordenadora da Ação de Extensão: Prof. Dra. Celene Tonella, Departamento de Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá – Brasil; Silvia MARINI Técnica-Administrativa, Graduada em Psicologia, Universidade Estadual de Maringá – Brasil; Talitha Priscila Cabral Coelho LOPES Técnica-Administrativa, Graduada em Psicologia, Universidade Estadual de Maringá – Brasil; Silvia Louise Rosa de OLIVEIRA Graduando do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá – Brasil; Raquel ZAVATIN Graduando do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá – Brasil; Vanessa Kimie ICERI Graduanda do curso de Geografia, Universidade Estadual de Maringá – Brasil. Alice Machado FRAGA Auxiliar de Laboratório e membro do Pró-Resíduos. Universidade Estadual de Maringá – Brasil. Resumo A extensão universitária é uma forma de interação que deve existir entre a universidade e a comunidade na qual esta inserida, é uma espécie de ponte permanente entre a universidade e os diversos setores da sociedade. O projeto de Extensão Universitária Produção de Papel Reciclado na Região Noroeste do Paraná: Uma proposta de emancipação social junto aos cooperados da Coopercentral, desenvolvido junto ao Núcleo Incubadora Unitrabalho/UEM e em parceria com o Pró-Residuos/UEM (Programa de Gerenciamento de Resíduos da Universidade Estadual de Maringá) desenvolve atividades junto à Coopercentral, fazendo uma junção dos conhecimentos acadêmicos e dos conhecimentos produzidos pelos trabalhadores

Upload: talitha-lopes

Post on 27-Dec-2015

7 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

PRODUÇÃO DE PAPEL ARTESANAL EM COOPERATIVAS DE RECICLAGEM COM APARAS DE PAPEL E FIBRAS VEGETAIS

Douglas Benicio OLIVEIRA Graduando do Departamento de Química, Universidade Estadual de

Maringá – Brasil; Lidiana NICOLIN

Técnica-Administrativa, Graduada em Química, Universidade Estadual de Maringá – Brasil;

Celene TONELLA Coordenadora da Ação de Extensão: Prof. Dra. Celene Tonella,

Departamento de Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá – Brasil;

Silvia MARINI Técnica-Administrativa, Graduada em Psicologia, Universidade Estadual

de Maringá – Brasil; Talitha Priscila Cabral Coelho LOPES

Técnica-Administrativa, Graduada em Psicologia, Universidade Estadual de Maringá – Brasil;

Silvia Louise Rosa de OLIVEIRA Graduando do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá –

Brasil; Raquel ZAVATIN

Graduando do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá – Brasil;

Vanessa Kimie ICERI Graduanda do curso de Geografia, Universidade Estadual de Maringá –

Brasil. Alice Machado FRAGA

Auxiliar de Laboratório e membro do Pró-Resíduos. Universidade Estadual de Maringá – Brasil.

Resumo A extensão universitária é uma forma de interação que deve existir entre a universidade e a comunidade na qual esta inserida, é uma espécie de ponte permanente entre a universidade e os diversos setores da sociedade. O projeto de Extensão Universitária Produção de Papel Reciclado na Região Noroeste do Paraná: Uma proposta de emancipação social junto aos cooperados da Coopercentral, desenvolvido junto ao Núcleo Incubadora Unitrabalho/UEM e em parceria com o Pró-Residuos/UEM (Programa de Gerenciamento de Resíduos da Universidade Estadual de Maringá) desenvolve atividades junto à Coopercentral, fazendo uma junção dos conhecimentos acadêmicos e dos conhecimentos produzidos pelos trabalhadores

Page 2: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

da cooperativa, a fim de agregar valor ao trabalho e melhorar a renda destes. A Coopercentral é composta por cooperados da reciclagem das cidades de Maringá, Sarandi, Paiçandu, abrangendo também neste projeto, trabalhadores de Paranavaí. Com a atual conjuntura econômica, o preço dos recicláveis sofreu uma queda no mundo inteiro, e os países mais afetados foram os emergentes, entre eles o Brasil. Houve-se a necessidade de agregação de valores ao material, através da produção de papel artesanal a partir do coletado, pois até então, havia apenas a coleta e venda desse material. O papel artesanal reciclado pode ser produzido de diversas formas: por reciclagem de fibras secundárias (papel de papel), mistura de aparas com fibras vegetais e também com o uso somente de fibras vegetais, gerando assim, uma reutilização de resíduos agrícolas (papel com fibras vegetais de cana-de-açúcar, sisal, bananeira, folha de côco, grama e bambu). O preparo do papel artesanal obedece à seguinte ordem: seleção, separação, picotamento de fibras secundarias e vegetais, desinfecção com hipoclorito de sódio (NaClO), cozimento da fibra com hidróxido de sódio, lavagem para retirar a soda, mistura das aparas beneficiadas com água, imersão de bastidores para dar forma ao produto final, secagem e prensagem. A polpa celulósica utilizada no processo de produção é feita a partir da hidratação de aparas de papel velho sob agitação. A celulose com as fibras vegetais são beneficiadas através de trituração em liquidificador industrial utilizando soda cáustica 50%. Em ambas as formas de polpa são utilizadas na imersão de um bastidor de madeira com tela que dá forma as folhas de papel em vários tamanhos e gramatura. Tanto o efluente, quanto a polpa tem controle sistemático de pH que fica em torno de 5,8 a 6,0. Cuidados com o pH da polpa celulósica são essenciais, pois o produto final com um pH baixo, em torno de 3 unidades, resulta-se em um papel com aparência amarelada e uma rápida degradação do mesmo. Os fatores que determinam uma boa qualidade do papel reciclado artesanal e padronização do produto dão-se em torno de variáveis como: profundidade de imersão da tela do bastidor, velocidade de descida da tela e seu ângulo de imersão, volume de fibras em suspensão, tempo de espera para escoamento de água, metodologia de secagem e processo de prensagem da folha. Palavras-chave: Papel artesanal, reciclagem, cooperativismo. Introdução O projeto “Produção de Papel Artesanal na Região Noroeste do Paraná: uma proposta de emancipação social junto aos cooperados da Coopercentral” é fruto de uma política elaborada, desenvolvida e financiada pelo Programa Universidade Sem Fronteiras, da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (SETI). Os projetos financiados pelo Programa Universidade Sem Fronteiras têm como característica determinante a ação extensionista, ou seja, a interação do conhecimento acadêmico e o conhecimento popular, com vistas à transformação desse conhecimento e, principalmente, da realidade social. O incentivo financeiro oferecido por diversas instâncias de fomento aos projetos de extensão tem permitido a constatação de que a ação extensionista, que durante décadas foi desvalorizada frente às atividades de pesquisa e ensino, apresenta-se como instrumento capaz de oferecer a sociedade o conhecimento útil e aplicável ao cotidiano das camadas populares que por muito tempo

Page 3: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

estiveram à margem do processo de construção e de acesso ao conhecimento científico.

Desse modo uma das etapas realizada pelo projeto foi a pesquisa do perfil dos cooperados, que buscava levantar informações relevantes para a caracterização do grupo, tais como: sexo, idade, cor, escolaridade, cidade de origem, filhos, renda total e percapta, entre outras. As entrevistas buscou abranger o universo dos trabalhadores da Coopercanção, Coopercentral, Coopernorte e Cooperpalmeiras, somando um total de 34 questionários. Destes, 62,5% são mulheres, 37,5% homens sendo que a maioria deles encontra-se na faixa etária entre 51 e 60 anos (28,1%), considerada pelos próprios cooperados como uma das faixas etárias mais difíceis para a inclusão no mercado de trabalho.

Com relação à cor, a maior parte deles, 33% , se declaram moreno, 24% negro, 21% branco e 12% preto, ou seja, 69% dos trabalhadores são afrodescendentes.

Para melhor compreender a situação financeira que se encontram os trabalhadores das cooperativas, pôde-se comparar os dados da renda percapta com a renda total gerada por todos os membros de cada família. Esta relação não mostrou considerável aumento: 65% dos cooperados recebem de R$240,00 a R$500,00, ao passo que 25% das famílias compostas por esses trabalhadores mantém esta mesma faixa de renda. Além da baixa remuneração, 57% dos cooperados não recebem nenhum benefício para se manter. Vale ressaltar que os mesmos 57% acreditam estar em condições financeira inferior a de seus pais.

É nesse contexto que esse projeto, fruto também da demanda dos próprios trabalhadores de reciclagem das cidades de Maringá e região, foi elaborado. Seu principal objetivo é agregar valor e renda ao trabalho desenvolvido pelas cooperativas de reciclagem incubadas pelo Núcleo Incubadora Unitrabalho/UEM, acrescentando mais uma etapa ao processo de separação e comercialização do material reciclável já desenvolvido, qual seja a produção do papel artesanal. Assim, a Unitrabalho em parceria com o Pró-Residuos/UEM (Programa de Gerenciamento de Resíduos da Universidade Estadual de Maringá) por meio desse projeto pretende capacitar os trabalhadores da Coopercentral para a produção e comercialização do papel artesanal.

Desde 1999, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) vem estabelecendo uma política integra de gerenciamento de resíduos. E em 2003, visando dar continuidade a essa política e trazer soluções para os resíduos, criou-se o Programa de Gerenciamento de Resíduos biológicos, químicos e radioativos (PRORESIDUOS). Esse Programa tem como intuito quantificar e qualificar todos os resíduos gerados na universidade, a fim de minimizar os impactos ambientais gerados por suas atividades acadêmicas.

Ele é composto por um conselho técnico-científico de diversas áreas de atuação com a responsabilidade de gerenciar os resíduos específicos dos

Page 4: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

diversos laboratórios e setores da UEM realizando a segregação, o tratamento e a passivação dos resíduos infectantes, químicos, radioativos e também dos efluentes. E por fim, encaminhando para o aterro industrial aqueles não recuperáveis.

As atividades que o programa desenvolve incluem tanto os docentes, como os discentes em projetos de pesquisa e extensão, devido ao desenvolvimento de novas tecnologias de tratamento.

O Programa Pró-resíduos supõe uma coleta seletiva, bem como o reaproveitamento de parte considerável desse material através da reutilização e reciclagem de papel, lâmpadas, restos de construção civil, vidros, PETs, latas de alumínio, ferragens, entre outros.

Entre as ações do programa está à reciclagem do papel utilizado pela universidade e a produção de papel artesanal, juntamente com o uso de fibras vegetais. Há ainda a promoção de cursos a fim de ensinar tal prática a comunidade externa e universitária. O Núcleo Incubadora Unitrabalho/UEM é uma incubadora social que oferece apoio técnico, formação em cooperativismo, associativismo e Economia Solidária, a grupos que se organizam para a realização de atividades produtivas. Desenvolvendo atividades junto a Universidade Estadual de Maringá desde 2001, o Núcleo incuba, atualmente, empreendimentos dos mais variados segmentos produtivos (reciclagem, agricultura familiar, artesanato e alimentício) localizados em diversas cidades do Estado. O processo de incubagem é realizado por meio de cursos de formação, orientações técnicas e legais aos empreendimentos econômicos solidários (EES) em formação. E, ainda, pela parceria com os grupos incubados e com alguns municípios na elaboração de projetos que contribuam, por meio de aquisições de equipamentos e da contratação de equipes, para estruturação produtiva, gestionária e comercial dos empreendimentos. Com todas as atividades desenvolvidas objetiva-se prioritariamente a instrumentalização dos grupos, de modo que o processo de incubagem seja provisório e que os EES, em posse do conhecimento e organização necessários ao desenvolvimento da atividade produtiva, promovam o crescimento e a emancipação social e econômica de seus integrantes. Para tanto, o Núcleo Incubadora Unitrabalho/UEM possui uma equipe composta por professores, técnicos e estagiários das mais diversificadas áreas do conhecimento, o que possibilita denominá-la Equipe Multidisciplinar. A união de diversos saberes promove um olhar mais global dos trabalhadores e das necessidades de cada EES incubado, bem como sobre a conjuntura econômico-social em que estiveram e estão inseridos esses empreendimentos. Destaca-se que as atividades desenvolvidas pelo núcleo se inserem em um movimento maior, a Economia Solidária.

De acordo com a Carta de Princípios do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), esta constitui o fundamento de uma globalização

Page 5: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

humanizadora, de um desenvolvimento sustentável, socialmente justo. Sua definição pelo Ministério do Trabalho e Emprego salienta o aspecto econômico e social dos empreendimentos que se orientam nesta proposta, reforçando que ela vem se apresentando nos últimos anos, como inovadora alternativa de geração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão social.

Desta forma, o contexto de crise econômica, e conseqüente necessidade de uma economia que coloque como fator de primeira importância aqueles que realizam o trabalho, os seres humanos, a Economia Solidária é um movimento social que não visa apenas os ganhos econômicos, mas também, e principalmente, o desenvolvimento humano dentro de um projeto de sociedade mais justa e solidária.

Os Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) são compostos por um grupo de pessoas que decidem trabalhar juntas para produzir algum produto ou prestar algum serviço, com base nos princípios da posse coletiva dos meios de produção, da democracia e autogestão. Assim, todos são donos dos meios de produção, todos opinam e decidem sobre como conduzir o empreendimento.

O economista Paul Singer, presidente da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), define a autogestão como o processo em que os sócios/trabalhadores ou cooperados/trabalhadores pensam, organizam e executam o trabalho coletivamente (SINGER, 2002). Nesse sentido, com a autogestão deixam de existir: hierarquia de cargos, divisão alienante das tarefas, diferenças de renda em função do tempo de trabalho, separação entre o planejamento do trabalho e sua execução e centralização das decisões.

Vale lembrar que o sujeito psicológico, construído e moldado em uma sociedade liberal que prioriza o individualismo, quando organizado em um EES deverá aprender novos modelos de relações sociais e de trabalho compatíveis com a autogestão e com a solidariedade. Essa mudança tem por intuito promover uma nova subjetividade que coloque o coletivo acima do individual (ABIB, 2007).

Contudo, para que a autogestão seja realmente posta em prática a reconstrução da identidade e auto-estima do trabalhador de um EES se torna necessário, sobretudo os que trabalham com o lixo (seja nas ruas ou no lixão). Pois essas pessoas, abruptamente se tornam sócios-trabalhadoras de empreendimentos autogestionários, ou seja, mudam do regime de trabalho empregatício-competitivo para o cooperativo. Sabe-se que o individualismo, a competição e o controle autoritário e centralizador das decisões são fenômenos produzidos histórico e socialmente e não características inatas, intrínsecas a natureza humana, e que, portanto, há estreita ligação entre os determinantes histórico-sociais e a construção da subjetividade de cada um desses trabalhadores, bem como o reflexo das mesmas no trabalho solidário.

O modo como os homens garantiram sua sobrevivência ao longo da história - os diferentes modos de produção concretizados em diferentes relações

Page 6: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

de trabalho - tiveram como conseqüência diferentes manifestações subjetivas. O trabalho como atividade que diferencia os homens dos animais, pelo seu caráter criativo, planejador e coletivo, no modo capitalista de produção, transforma-se em trabalho alienado. As ferramentas, a matéria-prima (natureza), a idéia prévia do que se quer produzir, a coletividade e o próprio produto do trabalho fora expropriado do trabalhador. Assim, todo o processo de produção da vida material se esvazia em seu sentido.

Com o trabalho organizado com base nos princípios da Economia Solidária (autogestão, posse coletiva dos meios de produção e democracia) pretende-se restituir o sentido prático, afetivo e transformador dessa atividade caracteristicamente humana. Com isso, os trabalhadores de um EES, para além da garantia de sua subsistência, tornam-se sujeitos autônomos na (re)construção prática de suas vidas.

Metodologia A proposição desse projeto é fruto da demanda dos próprios trabalhadores, que manifestaram à equipe da Incubadora o desejo de produzir papel artesanal como alternativa a queda brusca nos preços dos materiais recicláveis em função da crise mundial e, ainda, como atividade para os trabalhadores que por algum motivo (idade, debilidade física, doenças, etc.) não conseguem realizar a separação de forma produtiva e sem danos à saúde. Com base nessa demanda, o projeto prevê recursos para a montagem da unidade de produção de papel na Coopercentral e a contração da equipe para a formação produtiva e comercial dos trabalhadores. O processo de montagem da produção encontra-se em andamento, ou seja, os equipamentos estão sendo adquiridos e instalados. Já, o processo de formação para a produção encontra-se em vias de finalização, sendo que aproximadamente 14 trabalhadores de três cooperativas (Coopermaringá, Coopercanção e Coopervaí) receberam 20 horas de curso para a produção de papel artesanal. Os cursos foram realizados na Universidade Estadual de Maringá (UEM) na sede do Pró-resíduos, que há alguns anos produz e comercializa papel artesanal. Paralelamente a isso, a equipe formada por representantes (professores, estagiários, técnicos) de diferentes áreas (psicologia, geografia, química e ciências sociais) têm realizado: discussões teóricas que embasam a prática; pesquisa para a compreensão do perfil dos trabalhadores e suas demandas e; apoio técnico e formativo frente aos problemas enfrentados na coleta seletiva (falta de estrutura física, queda do preço do material, etc.). A produção de papel artesanal apresenta-se como alternativa e acréscimo de renda por ser um processo que exige pouco investimento em estrutura física, por ser simples e, principalmente, por ser muito rentável.

Page 7: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

Processo de Produção de Papel Artesanal

O papel artesanal pode ser obtido de três formas: papel somente com aparas, papel de aparas com fibras vegetais e papel de fibras vegetais.

O papel somente com aparas tem como primeira fase a separação de acordo com sua classificação. Os materiais (aparas) que podem ser reciclados são papéis provenientes de materiais de escritório que não estejam com alto teor de tinta impressa . As aparas devem estar desprovidas de qualquer mancha como mofo, sujeira ou gordura.

Após a separação, faz-se o picote de fibras utilizando o procedimento manual, rasgando o papel a mão em pedaços em tiras no comprimento da folha. As aparas de papel devem ser picotadas dessa maneira, para que as moléculas de celulose (C6H10O5)n se mantenham no formato original sem ruptura das ligações de hidrogênio presentes.

Em seguida o papel é deixado submerso em água em um balde ou bacia por volta de 24 horas.

Para a preparação da polpa, o papel é retirado do molho e triturado em liquidificador por 3 a 5 minutos, o importante é que não fiquem pedaços maiores, pois criariam irregularidades na superfície do papel produzido. Sua consistência deve ser levemente cremosa.

A polpa pronta é vertida em um tanque de cimento, ou bacia. Para dar forma ao papel é usado um bastidor que é feita de um quadro de madeira e uma tela tipo mosquiteiro, ou de serigrafia, o tamanho do bastidor é o tamanho que desejar a folha de papel pronta. O quadro com a tela é introduzido no recipiente onde está a polpa, e este irá pegá-la. Para tanto o bastidor deve ser retirado do tanque em posição perfeitamente horizontal, para evitar o acúmulo de polpa em alguma parte. Deixa-se, então escorrer a água e secar ao sol. A folha depois de seca deve ser retirada do bastidor com cuidado para não danificá-la.

Para a produção de papel a partir de fibras vegetais, as fibrilas são separadas de acordo com a sua textura e com seu estado, sendo que os materiais com manchas químicas são descartados. Após a separação, é feita a maceração das fibras vegetais usando uma moenda de massa. Já a picotagem é feita por procedimento mecânico utilizando uma moinha de cana adaptada, ou de forma manual com a utilização de facão.

Em seguida, é feita a retirada de componentes químicos indesejáveis com o processo de desinfecção das fibrilas, adicionando água sanitária, hipoclorito de sódio (NaClO) para alvejá-la1, o que é feito somente se for realizado o tingimento das fibras.

1 A etapa de desinfecção com hipoclorito de sódio (NaClO) serve para a retirada de lignina presente em

fibras vegetais. A lignina é uma macromolécula encontrada nas plantas terrestres associada à celulose, cuja função é garantir rigidez e resistência a ataques biológicos. Papéis com alto teor de lignina degradam-se ficando com aspecto envelhecido e cor amarelada, ao entrar em contato com o oxigênio presente no ar.

Page 8: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

Após a desinfecção, adiciona-se uma carga de hidróxido de sódio (NaOH), soda cáustica, em água fervente, para isolar (amolecer) as fibras de celulose. Logo, lavam-se as fibras após o cozimento várias vezes a fim de remover a soda presente. Posteriormente inicia-se a etapa de refino das fibrilas, utilizando um liquidificador industrial no qual são batidas as fibras com água. Em seguida a polpa é coada com ajuda de peneiras. A partir desta etapa segue-se o mesmo procedimento do papel somente com aparas.

Se o papel for utilizado para impressão, depois de pronto, deve ser empilhado intercalando-o com um pano de algodão úmido de mesma medida em uma prensa manual de 15 toneladas de pressão, sendo protegido por uma placa rígida e uniforme.

O papel reciclado artesanal pode ser produzido de diversas cores e tons, para isso é feito o tingimento das fibras no momento do cozimento utilizando corantes para tecido2. Vários autores se dedicaram a estudos acerca de propriedades químicas das fibras vegetais abaixo, utilizadas na fabricação de papel artesanal. Tais estudos foram importantes, pois evidenciaram características determinantes na aceleração do processo de produção. Tabela 1: teores de celulose, lignina e hemi-celulose encontrados nas matérias-primas utilizadas de acordo com a literatura. Matéria-prima Celulose Lignina Hemi-Celulose Cana-de-açucar 44% 27% 28% Bambu 40% 28% 23% Sisal 73% 11% 13% Banana 63% 13% n.d* Folha de coco 32% 40% 9%

*n.d – não determinado.

Tabela 2. Materiais usados. Material Fibras vegetais Massa de fibra vegetal (Kg) 60 Soda cáustica (NaOH) (mL) 200 Hipoclorito de Sódio (NaClO) (mL) 4000 Cozimento da fibra (min) 120

Procedimento padrão para todos os tipos de fibra.

2 O corante de tecido foi escolhido por ter um menor custo e por ser a substância que apresentou melhores resultados. Contudo, a existência de outras formas de corantes também eficazes e baratos não são descartadas, embora desconhecidos.

Page 9: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

Fotos: fabricação de papel artesanal usando com fibra de sisal (01) e tiragem do papel com fibra de bananeira (4). CONCLUSÕES

Por meio do trabalho apresentado, nota-se que a reciclagem de papel é uma maneira promissora de agregar valor ao material coletado pelos recicladores das cooperativas e revender o material a fim de melhorar seus ganhos.

Com a atual conjuntura econômica, materiais recicláveis como papel, garrafas PET e outros materiais chegaram a perder até 60% do seu valor de revenda.

O papel artesanal com adição de fibras vegetais pode ser usado como material de escritório, confecção de convites de casamento, rascunhos, livros e entre outros fins.

1 - Cozimento 2 - Tingimento 3 - Trituração no liquidificador 4 - Tiragem do papel 5 - Secagem 6 - Papel pronto

1 3

5

2

4 6

Page 10: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MWAIKAMBO, Leonard Y.; ANSELL, Martin P. Chemical Modification of hemp, sisal, jute and kapok fibers by alkalinization. Journal of Applied Polymer

Science, vol. 84, pag. 2222-2234 D’ALMEIDA, Maria Luzia Otero. Celulose e Papel – Tecnologia de

Fabricação de Pasta Celulósica. São Paulo: IPT/SENAI. 1988 p.492. 2 ed. FRANCIA, Purita C.; ESCOLANO, Eugenia U.; SEMANA, Jose A. Chemical composition of the fibers of some Philippine bananas. Forpride Digest, pag. 26-31 CARRIJO, Osmar A.; LIZ, Ronaldo S.; MAKISHIMA, Nozomu. Fibra da Casca do Coco Verde Como Substrato Agrícola. Revista Brasileira de Horticultura, v. 20, pag. 533-537 LEBRÃO, Susana M. G.; LEBRÃO, Guilherme W.; NAGASHI, Letícia.; SU, Mone T.; HANNA, Renata K., FERREIRA, Ana C.; VICENTINI, Thais. Avaliação de Compósito de Poliéster e Fibra de Cana-de-açúcar. 17º Congresso

Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais – CBECIMAT, 2006, Foz do Iguaçu – Brasil. 2006. ABIB, José Antônio Damásio. Sociedade em Transformação: Estudo das

relações entre trabalho e subjetividade. Londrina: EDUEL, 2007. BRAVERMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista: a degradação do

trabalho no século XX. 3ªedição. Rio de Janeiro: Guanabara. 1974. OLIVEIRA, Carlos Roberto. História do trabalho. 3ª edição. São Paulo: Editora Ática, 1998. SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. Pró-resíduos: Programa de gerenciamento de resíduos químicos, radioativos e biológicos. Disponível em: http://www.proresiduos.uem.br. Acesso em: 04 de set. 2009. Plano Nacional de Extensão Universitária Edição Atualizada Brasil 2000 / 2001. Disponível em: <http://www.fcm.unicamp.br/extensão/arquivos/pne.pdf.> Acesso em 03 jun. 2009.

Page 11: Producao de Papel Artesanal Iceri Celene Oliveira

BUSS, Diva Elena. Como fazer papel artesanal. Disponível em: <http://www.comofazer.com.br/assests/comofazerpapel.pdf.> Acesso em 07 jun. 2009.