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PRODOCÊNCIA Conversas teóricas e práticas em sala de aula Organizadores: Maria José Nascimento Soares Mary Lourdes Santana Martins Joelma Viana Alm eida Roseli Pereira Nunes Criação Editora

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PRODOCÊNCIAConversas teóricas

e práticas em sala de aulaOrganizadores:

Maria José Nascimento SoaresMary Lourdes Santana Martins

Joelma Viana Alm eidaRoseli Pereira Nunes

Criação Editora

Título: PRODOCÊNCIA: CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICASOrganizadoras: Maria José Nascimento SoaresMary Lourdes Santana MartinsJoelma Viana AlmeidaRoseli Pereira NunesISBN: 978-85-60102-04-4

CONSELHO EDITORIAL Ana Maria de MenezesEstácio Bahia GuimarãesFábio Alves dos SantosJorge Carvalho do NascimentoJosé Afonso do NascimentoJosé Eduardo FrancoJosé Rodorval RamalhoJustino Alves LimaLuiz Eduardo Oliveira MenezesMaria Inêz Oliveira AraújoMartin Hadsell do NascimentoRita de Cácia Santos Souza

CONSELHO CIENTÍFICO

Profa. Dra. Andrea Freire de CarvalhoProfa. Dra. Claudia Fernanda Teixeira de MéloProfa. Dra. Dèbora Evangelista Reis OliveiraProfa. Dra. Daniela Venceslau BitencourtProf. Dr. Edivânio Santos de AndradeProfa. Dra. Giane Florentino Rodrigues de BritoProfa. Dra. Gicélia Mendes da SilvaProfa. Dra. Heloisa Thais Rodrigues de SouzaProfa. Dra. Isabel Cristina Barreto AndradeProfa. Dra. Maria Luiza Rodrigues de Albuquerque OmenaProfa Dra. Ronise Nascimento de AlmeidaProf. Dr. Sergio Luiz Lopes

www.editoracriacao.com.br

PRODOCÊNCIAConversas teóricas

e práticas em sala de aula

Organizadores:Maria José Nascimento SoaresMary Lourdes Santana Martins

Joelma Viana Alm eidaRoseli Pereira Nunes

Criação Editora

Prodocência:conversasteóricasepráticasemsaladeaula / organizadores:Maria JoséNascimento Soares ... [etal.].–Aracaju:Criação,2018.

230 p. ISBN 978-85-60102-04-4

1.Práticadeensino.2.Educação.3.Pedagogiacrítica.I.Soares,MariaJoséNascimento.

CDU 37.03

Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, com finalidade de comercialização ou aproveitamento de lucros ou vantagens, com observância da Lei de regência. Poderá ser reproduzido texto, entre aspas, desde que haja expressa marcação do nome da autora, título da obra, editora, edição e paginação.A violação dos direitos de autor (Lei nº 9.619/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código penal.

Copyright by organizadoras

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFS

DeDICAtóRIA

In memorian a Pedagoga MARIA LELIANA VIEIRA, pelo exemplo e desejo de continuar lutando a favor de uma educação pública de qualidade para todos os cidadãos e que, como educadora do campo, os projetos que vi-nha desenvolvendo no campo de aprendizagens mútu-as contribuiram para formação humana, política e critica do homem do campo.

Aos alunos Pedagogos que ousam apostar na formação integral dos seus alunos de modo particular, aqueles que acreditam na educação básica como promotora de ações efetiva para a sociedade na atualidade.

Aos professores da educação básica, em especial os que atuam diretamente com os primeiros anos do en-sino fundamental, pelo auxilio e presteza cedendo o espaço de sala de aula para que nos futuros pedago-gos possam experienciar na prática o que teoricamente aprendeu na Universidade.

Enfim, a todos que oportunizam a escuta de desabafos sobre a educação formal brasileira.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos de coração à Mestranda Manuela Maria Perei-ra do Nascimento pelo apoio técnico, pelas noites acordadas, pelas discussões teóricas e pelo carinho que dispensaram ao nosso Projeto.

Agradecemos a Camila Bomfim de Góis.

Aos alunos que empreenderam esforços na conquista de ob-jetivos concretizados nos projetos desenvolvidos em sala de aula e materializado sobre a forma de artigos.

A CAPES pelo financiamento do projeto Prodocência.

Tulipas azuis...Abrem um novo momento, um novo sentimento.Nas tulipas azuis estão a pureza, a beleza, o amor perfeito.Cada uma é um novo descobrir, repleto de paz.

Tulipas azuis...São flores que representam a mansidão,A calma que a vida necessita, tanto precisa,No meu, no seu e no nosso coração.

Cada flor, cada tonalidade de azul é a verdadeira entrega,A um amor Sagrado, Materno.Em que colocamos as nossas alegrias,Vivemos as nossas esperanças.

Tulipas azuis... Nossa esperança por momentos e dias melhores!

Sergipe, Julho, 2013

Profa. Dra. Maria José Nascimento SoaresCoordenadora do Projeto PRODOCENCIADepartamento de Educação/UFS

APReSeNtAÇÃO

Os artigos aqui reunidos versam sobre as experiências em salas de aulas dos alunos do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, como resultado das ações desenvolvidas na disciplina Estagia Supervisionado III articulado ao Projeto PRODOCENCIA em que tiveram como desafio atuar na escola desempenhando projeto de ensino anco-rado na problematização enquanto atitude pedagógica.

O objetivo desta obra é propiciar ao leitor uma visão das práti-cas pedagógicas realizadas pelos alunos, que frente à complexidade do contexto atual na escola publica enfrentam desafios. Assim, as diversas temáticas aqui apresentadas sob a forma de artigos surgiram da articu-lação dos alunos e professores nos anos iniciais do ensino fundamental, nas diversas escolas do Estado Sergipe.

Este livro é extremamente valioso pelas experiências aqui relata-das que servem como instigadora à reflexão de sua prática docente em sala de aula e como o professor pode realizar mudanças significativas nas aprendizagens de cada aluno. Para instigá-los convido-os para a leitura dos versos abaixo como uma forma de aguçar o desejo pelo mer-gulho profundo aos escritos dos autores aqui presentes, em relação aos desafios e limites de SER PROFESSOR no tempo de hoje.

POESIA NA SALA DE AULAHeibe Kettre de Farias Lima

13

PRÁTICA DE ENSINO ATRAVÉS DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA

Simone Valéria Almeida Nascimento

21

INCLUSÃO E DIVERSIDADE DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM ESCOLA DA REDE REGULAR DE ENSINO

Crislayne Lima SantanaTaís da Silva Melo

33

OS SERES VIVOSKatielly Dbiane Silva Crispim

49O UNIVERSO DAS FRUTAS: VIVENCIANDO A PRÁTICA

PEDAGÓGICAJuliana Santos Xavier

57

RELATOS DO DOCENTE: O MEIO AMBIENTE EMPRÁTICAS INTERDISCIPLINARES

Roberta Gabriele de Menezes Santos

65

EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITOO TRÂNSITO COMO NORTEADOR DAS RELAÇÕES HUMANAS

Lucineide Lopes Ventura

77

ESTÁGIO SUPERVISIONADO: RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA VIVENCIADA EM SALA DE AULA

Ilma Souza Francisco

91

CIDADANIA NO TRÂNSITO: O TRÂNSITO COMO NORTEADOR DAS RELAÇÕES HUMANAS

Gilda Correia dos Santos

99

FESTEJOS JUNINOS: UMA ABORDAGEMTRANSDISCIPLINAR NO ENSINO FUNDAMENTAL

Camila Andrade ReisSolange dos Santos

117

SUMÁRIO

ESTÁGIO SUPERVISIONADO: RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA VIVENCIADA EM SALA DE AULA

Ilma Souza Francisco

123

CONHECENDO O LIVRO INFANTO-JUVENIL COMO ESTRATÉGIA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Genilma Oliveira Santos

131

SAÚDE - HIGIENE DO MEU CORPOJacqueline de Jesus Santos

Grace Kelly Silva de Carvalho

143

A EXPANSÃO E A PROBLEMÁTICA QUE ENVOLVE O USO DAS MOTOCICLETAS POPULARES

Cibele de Souza Rodrigues

163

LEITURA E ESCRITA EM MEU COTIDIANOGraciela Umbelino de SouzaSilvanilde Fonseca Maynard

173

EXPERIÊNCIAS DE PRÁTICA DE ENSINO EM ESCOLAS PÚBLICAS: O PRODOCÊNCIA EM AÇÃO

Joelma Viana AlmeidaMary Lourdes Santana Martins

Roseli Pereira Nunes

181

OS DIFERENTES TIPOS DE MORADIASCamila Lima da Silva

191A LUDICIDADE COMO COLABORADORA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE VALORES RESULTANTES NA QUALIDADE

DE VIDA DA CRIANÇA: UMA EXPERIÊNCIA NA E.M.E.F. MARTINHO BRAVO

Mônica Andrade Modesto

201

SABERES E PRÁTICAS COTIDIANAS NA PESQUISA INTERDISCIPLINAR: MÚLTIPLAS RELAÇÕES

Andréa Freire de Carvalho

215

13PRODOCÊNCIA

POeSIA NA SALA De AULA1

Heibe Kettre de Farias Lima2

Introdução

O presente artigo visa descrever as experiências vividas duran-te a execução do projeto de ensino durante a realização da disciplina Estágio Supervisionado III. O objetivo do projeto, num contexto geral foi despertar nos educandos, o gosto pela escuta e leitura de poemas, envolvendo-os num contexto criativo do processo ensino-aprendi-zagem. A leitura é o ponta pé inicial para o desempenho das demais atividades da escola. Se uma criança sabe ler e interpretar o que leu terá um melhor desenvolvimento na escrita e um bom posicionamen-to diante a sociedade. hoje, a escola tem buscado entender o mundo infantil, na tentativa de levar o educando a criar hábitos favoráveis à assimilação de conteúdos e consequentemente a uma aprendizagem significativa. Para que isso aconteça todas as pessoas que fazem parte da escola deverá está com o mesmo foco para que o educando tenha um avanço no processo ensino-aprendizagem. Isso, não exclui a res-ponsabilidade dos pais, ou seja, a presença, o dialogo, o acompanha-mento, o incentivo é fundamental para o desenvolvimento do educan-do na escola e na vida fora dela.

Sabe-se que atualmente os profissionais da educação estão presos aos métodos tradicionais, em que o educador é a única pessoa que possui a verdade, fazendo com que os alunos não expressem seus sentimentos, e apenas repitam o que está sendo transmitido por ele. Segundo Cagliari:

A escola usa e abusa da força da linguagem para ensinar e para deixar bem claro o lugar de cada um na instituição e até na sociedade, fora dos seus muros. A maneira como

1 Artigo elaborado a partir da disciplina estagio supervisionado III da Universidade Fed-eral de Sergipe, PRODOCÊNCIA/CAPES/UFS;2 graduanda do Curso de Pedagogia Licenciatura Noturno da Universidade Federal de Sergipe. [email protected]

POESIA NA SALA DE AULA1

Heibe Kettre de Farias Lima2

14 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

se fala, como se deixa falar, sobretudo como se pergunta e como são aceitas as respostas muitas vezes é usada não para avaliar o desenvolvimento intelectual de um aluno, mas como um subterfúgio para lhe dizer que é burro, in-capaz ou excelente. É uma forma de mostrar que o autor do livro, a professora, a escola possuem o poder da autori-dade disciplinar e moral a que o aluno deve se submeter. (CAgLIARI, 2005, p. 25).

A partir dessa visão pude refletir e perceber que atualmente esta forma de trabalho desestimula tanto o educador quanto os educandos. Daí a grande importância do educador dinamizar suas aulas e buscar formas de despertar o interesse dos educandos tanto em estar na aula como em participar da mesma e assim harmoniosamente obter uma educação melhor.

Partindo do conhecimento dessa necessidade contínua de de-senvolver aulas atrativas, esse projeto teve como visão despertar o in-teresse de educadores e estudantes da área de educação em utilizar os conteúdos programáticos de forma interdisciplinar com o propósito de valorizar a leitura, a liberdade de expressão do educando, assim como a melhoria significativa na qualidade do ensino e das aulas no cotidiano escolar. Assim, em comum acordo com os educandos e o educador re-gente o projeto teve como tema “poesia e alegria todo dia”.

Toda ação humana envolve uma atividade poética, em especial no universo infantil. Porque “há poetas que brincam com as palavras dum modo gostosíssimo de a criança ouvir e ler” (ABRAMOVICh, 1997, p. 67). Pois, está em constante mobilidade e utiliza de forma informal a poesia em busca e/ou na aquisição do conhecimento de si e daquilo que as rodeiam. Interagindo harmoniosamente em todos os aspectos: físico, motor, afetivo e cognitivo. É importante então, ressaltar a importância da poesia na infância, pois a poesia faz com que o pequeno leitor viaje em um universo de palavras e reflita se o que está na poesia faz parte do seu mundo ou não. Transmitindo valores através de uma boa leitura e formando cidadãos leitores.

Através das atividades realizadas em sala acredito ter estimulado o habito da leitura nas atividades escolares com relevância em língua portuguesa especificamente no âmbito interdisciplinar. A partir de po-emas direcionados para o mundo infantil, pude envolver os educandos

15PRODOCÊNCIA

na magia das rimas poéticas. Além de dar um sabor especial e praze-roso ao processo ensino-aprendizagem, desenvolvendo atividades que viabilizaram um aprendizado dinâmico e criativo, possibilitando leituras agradáveis e encantadoras que aguçaram os sentimentos e a imagina-ção dos educandos.

Caracteristicas da escola e do projeto

O estágio foi realizado em uma Escola Municipal, situada no Con-junto João Alves, em Nossa Senhora do Socorro – Sergipe. A unidade oferece a modalidade Ensino Fundamental I (2º ao 5º ano) e funciona como Polo do Programa Pro Jovem.

A referida instituição tem como missão: “ser uma escola de re-ferência regional pela qualidade dos serviços prestados a sociedade de forma efetiva e participativa, no sentido de formar cidadãos críticos e conscientes”, funciona em três turnos e possui 539 alunos com faixa etá-ria entre 7 e 12 anos distribuídos em 12 turmas nas quais ministram aula 11 professores concursados com nível superior, 01 professor de edu-cação física e 01 estagiária. O IDEB da escola é 3,9, considerado um dos maiores da região.

Realizei o estágio no turno da Tarde com uma turma do 2º ano com 19 alunos.

Os procedimentos metodológicos foram aula expositiva e dia-logada, estudo das consoantes b e p através da leitura de palavras cha-ves relacionadas às letras apresentadas, correspondência entre o som e grafia das letras, leitura individual e coletiva dos poemas seleciona-dos e audição dos mesmos através da leitura feita pela minha pessoa. A interpretação dos poemas se deu através da promoção de debates. Os conteúdos matemáticos estudo do sistema de numeração (0 a 10); Escrita dos algarismos de 0 a 10, Explorando os números em situações reais (associando- os a quantidade com brinquedos de montar) foram explorados através da utilização de material concreto, confecção de car-tazes com a participação dos educandos sempre enfatizando o contexto poético; Em sociedade e natureza foram explorados conteúdos referen-tes à representação do corpo humano e noções de direita e esquerda, confecção de cartaz com a representação do corpo de um educando,

16 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

identificamos algumas doenças, seus sintomas e modos de prevenção, rodas de conversa sobre atos que levam o ser humano a ter uma vida saudável, valorização e importância das vacinas.

A avaliação foi processual e continua, visto que, qualitativamente o aluno deve ser observado constantemente no processo de construção do saber. A avaliação não pode se restringir a capacidade do educando de codificar ou decodificar palavras e textos. Considerei também o con-junto de capacidades em desenvolvimento e o tempo de cada educan-do, ou seja, os alunos foram avaliados integralmente e individualmente, a medida que as atividades eram propostas.

A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino aprendizagem. Através dela, os re-sultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos, difi-culdades, e reorientar o trabalho para as correções neces-sárias. (LIBÂNIO, 1994, p.195).

Os educandos foram avaliados por meio das leituras diárias, pro-dução de textos, atividades escritas e lúdicas. Foram realizadas ativida-des individuais e coletivas que desenvolveram a autonomia, o respeito por si e pelos outros e a confiança que cada um deve ter em si mesmo para crescer durante o processo de aprendizagem.

Desafios em sala de aula

Para o primeiro dia de estágio apresentei o tema “Poesia e alegria todo dia”, dando início à dinâmica de socialização com apresentações e acordos de convivência para conhecer um pouco de cada um deles. Pois, segundo Cardoso e Ednir:

Um professor que pretende ensinar algo sem procurar conhecer os seus alunos está agindo às cegas, por tenta-tiva e erro, e seu trabalho corre o risco de, no mínimo, ser inútil e, no limite, de causar danos à vida intelectual das crianças (CARDOSO; EDNIR, 2004, p.30).

17PRODOCÊNCIA

Expus no quadro o alfabeto e li a poesia “grilo grilado” de Elias José e comecei a interpretação de maneira informal fazendo pergun-tas: sobre o que a poesia fala? Existe alguma letra que vocês conhecem? Quantas letras vocês conhecem? O retorno foi de acordo com o esperado. As respostas foram satisfatórias. Dando continuidade distribuí folhas de ofício em branco e pedi que desenhassem algo livremente. O resultado foi que fizeram o alfabeto, números, vogais e em muitos desenhos a fa-mília estava em destaque.

Desta forma pude perceber que a maioria identifica a letra mais não consegue escrever e que a família tem forte influência. Destaco ain-da que apesar da idade e mesmo estando ainda em processo de alfabe-tização os alunos não possuem autonomia para criar, buscando obser-var a ideia do outro e copiá-la.

Todos os dias eu iniciava a aula com cantigas e danças, pois eles gostavam bastante e era também uma forma de eles perceberem os mo-mentos em que a aula estava dividida. Neste dia levei a poesia “Borbo-letas” de Vinícius de Moraes e percebi que todos ficaram encantados e desejavam lê-la novamente, então realizei leitura individual, através da qual pude perceber as dificuldades de alguns alunos em relação a leitura.

Sabendo que “[...] a leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conse-guido através da leitura fora da escola. A leitura é uma herança maior do que qualquer diploma” (CAgLIARI, 2005, p. 148). Então iniciamos o debate timidamente, poucos queriam falar. Utilizando a informalidade e uma linguagem simples e um pouco de insistência ao poucos as crian-ças começaram a discutir o texto e dando-me um retorno encantador. Permitindo-me afirmar que a poesia estava neles. Para Cagliari (1998), pelo fato de estarem habituados a realizar atividades sob certa rigidez, os alunos podem apresentar inibição ao iniciarem novos trabalhos. Por isso o professor deve respeitar a posição deles quanto à aceitação de novas propostas.

Para discutir o poema “Diversidade” de Tatiana Belinky foi neces-sário saber quais os conhecimentos que os educandos têm sobre a te-mática, convidando-os a refletir sobre o que é ser diferente? E o que é ser igual? O resultado foi imediato, assim que começaram a observar dentro da própria sala e encontrarem a diversidade no colega ao lado: eu sou magrinho, o outro eu sou grandão!

18 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Reforcei o conceito e os sensibilizei de modo a aceitarem a ideia de que todos somos diferentes uns dos outros de alguma forma e preci-samos respeitar e sermos respeitados. Como estratégia fora desenhado coletivamente o corpo de um aluno em papel madeira para ser discuti-do o que tínhamos de igual e diferente.

A partir do momento em que foram convidados a expor suas ideias e falassem sobre o que já sabiam a turma passou a desejar estar em sala de aula. Em pouco tempo já sabiam se organizar de acordo com a rotina proposta no acordo de convivência. Rosana Dutoit afirma que:

As rotinas atuam como as organizadoras estruturais das experiências cotidianas. Pois esclarecem a estrutura e possibilitam o domínio do processo a ser seguido e, ain-da, substituem a incerteza do futuro por um esquema fácil de assumir. O cotidiano passa, então, a ser algo pre-visível, o que tem importantes efeitos sobre a segurança e autonomia (ZABALZA apud DUTOIT, 1998, p.52).

A cada dia era uma nova empolgação, principalmente, quando a atividade era lúdica. Fiz uma pista de corrida no chão da sala. Todos estavam ansiosos para brincar, então iniciamos a conversa sobre linhas retas e linhas curvas e a compreensão foi satisfatória, principalmente pelo tópico ter sido apresentado desta forma. Em seguida apliquei o exercício e foi uma surpresa, os educandos tinham compreendido tudo o que havia sido explanado e responderam a atividade sem que houves-se minha intervenção. Apenas, li o enunciado da questão. Outro poema apresentado foi “Roda na rua” de Cecília Meireles, coversamos um pouco sobre esse poema e uma criança disse: tia a roda do pneu do carro tem o formato de uma linha curva não é? Respondi que sim e a convidei para desenhar uma roda no quadro. Percebendo que houve significação na vivência proposta para abordagem dos conteúdos.

As despedidas eram momentos de ansiedade. Pois, os educan-dos deixavam a escola contentes e perguntando: tia você vem amanhã? Amanhã vai ter o que tia? Desta forma percebia o quão valiosa estava sendo aquela experiência e que estava contribuindo com o processo de aprendizagem. A avaliação era sempre positiva porque à medida que os observava percebia com nitidez que os conteúdos estavam sendo aprendidos e apreendidos. E concluí o quanto é importante o educador na formação de valores e concepções para os alunos.

19PRODOCÊNCIA

Aos poucos vão se familiarizando com diferentes tipos de possibilidades e manifestações da língua escrita. Em vez de trabalharem com fragmentos, isto é, com letras, síla-bas ou palavras, as crianças, desde o inicio, relacionam-se com textos e com as possibilidades da língua escrita. Daí aprendem a amá-la e a usá-la criativamente. (CARDOSO; EDNIR, 2004, p. 45).

Considerações finais

A leitura é o inicio de um mundo inteiramente fantástico. Com a leitura podemos descobrir o mundo e viver o mundo. Descobrir fanta-sias que somente os livros trazem para nós, uma vez que:

A poesia para crianças, assim como a prosa, tem que ser antes de tudo, muito boa! De primeiríssima qualidade!!! Bela, movente, cutucante, nova, surpreendente, bem es-crita... Mexendo com a emoção, com as sensações, com os poros, mostrando algo de especial ou que passaria despercebido, invertendo a forma usual de a gente se aproximar de alguém ou de alguma coisa... Prazerosa, divertida, inusitada, se for a intenção do autor... Prazero-sa, triste, sofrente, se for a intenção do autor... Prazerosa, gostosa, lúdica, brincante, se for a intenção do autor... (ABRAMOVICh, 2006, p. 67)

Os valores morais e éticos deverão está sempre presentes nesse processo de aprendizagem, pois são transmitidos primeiramente pela família e depois passa a ser de responsabilidade da escola em conjunto com a família.

Nesse período de estágio pude perceber o quanto é mágico para os educandos mergulhar no universo da leitura. Porém, é neces-sário que nós educadores sejamos as asas desse universo, fazendo com que sejam momentos realmente fantásticos e prazerosos. Inicialmente tive receio de não ter domínio da turma. Mas no decorrer do processo pude perceber que a virtude do diálogo e que a vontade de vê-los crescer me motivava a motivá-los e realizar as atividades de modo que

20 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

eles desejassem naturalmente realizar as atividades propostas durante o período de estágio.

O estágio foi o momento em que me encontrei em uma sala de aula com 19 crianças. Eu era a professora. Superei mais um obstáculo, eu sou capaz. Acredito que essas práticas são apenas o início do que posso realizar em minha carreira como educadora, podendo contribuir com educação de qualidade a formar cidadãos autônomos e críticos.

Os dez dias de estágio foram bastante significativos, pois pude perceber o quanto os educandos gostam de atividades diferenciadas, e que gostam de expor suas ideias. Portanto, este estágio proporcionou a vivencia com alunos, professores, ou seja, com a escola como um todo, delineando o desenvolvimento de atividades e práticas pedagógicas envolvendo poemas de diversos autores, colaborando assim, para mi-nha formação acadêmica.

Referências

ABRAMOVICh, Fanny. Literatura Infantil Gostosuras e bobices. São Paulo: Sci-pione, 2006.

CAgLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & linguística. São Paulo: Scipione, 2005.

CAgLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o ba be bi bo bu. São Paulo: Scipio-ne, 1998.

CARDOSO, Beatriz e EDNIR, Madza. Ler e escrever, muito prazer! São Paulo: Ática, 2004.

LIBÂNIO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

ZABALZA, Miguel. Qualidade em educação Infantil. Porto Alegre. Artes Mé-dicas, 1998.

21PRODOCÊNCIA

PRÁtICA De eNSINO AtRAVÉS DO eStÁGIO SUPeRVISIONADO NO CURSO De PeDAGOGIA

Simone Valéria Almeida Nascimento3

Introdução

O estágio foi realizado no primeiro semestre do ano de 2012, em uma escola municipal de ensino fundamental, localizada na cidade de Aracaju. Com o objetivo de possibilitar aos alunos do 3º ano do ensino fundamental o conhecimento significativo e articulado das questões relacionadas à vida do aluno, foi criado o projeto “descobrindo a nossa identidade”, que tratava da formação de identidade, a qual diferencia as pessoas através das características físicas, culturais e sociais, e que se faz como marca de cada indivíduo.

É preciso respeitar as diferentes personalidades e as caracterís-ticas das pessoas, modo de agir, de pensar, falar, enfim considerando as suas histórias sem preconceitos, entendendo que somos iguais e diferentes, pois somos todos seres humanos com necessidades físicas iguais e características semelhantes, mas com uma identidade própria, a começar pela história do próprio nome, da família e do local em que vivemos, diferenças foram construídas socialmente.

Nessa perspectiva, este projeto teve como proposta educativa direcionar para a construção de valores e comportamentos, processos importantes para que toda a sociedade valorize os aspectos étnicos do nosso povo, podendo assim, vivermos com dignidade e igualdade de acordo com os direitos já estabelecidos há muito tempo em nosso país. As diretrizes curriculares para o ensino nas escolas trazem concepções sobre a inclusão e valorização da diversidade de etnias e culturas que formam o nosso povo. Ante a importância de se trabalhar com temas que são do cotidiano do aluno, da sua realidade familiar, econômica, so-cial e cultural, temas ligados aos seus interesses é que devemos discutir e ampliar nossa compreensão, a fim de obter um maior entendimento

3 graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected].

PRÁTICA DE ENSINO ATRAVÉS DO ESTÁGIOSUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA

Simone Valéria Almeida Nascimento3

22 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

dos contextos histórico-sociais do nosso país. É conhecendo a sua iden-tidade, que o aluno como sujeito social poderá entender mais a sua fa-mília, a cultura da sua região e as condições histórico-sociais as quais estão inseridos.

A partir das observações e conversas com a professora e com as crianças pude constatar que os alunos têm interesse em ouvir e con-tar historinhas infantis e, a partir desse aspecto o projeto de ensino foi desenvolvido de forma articulada ao desejo dos alunos pela literatura infantil e aos conteúdos da unidade de ensino programada no currículo da escola para o período que foi realizado o estágio. Já a temática do projeto surgiu mediante observações em sala de aula em que constatei brigas entre os alunos, o que atrapalhava bastante o andamento das au-las e prejudicava o processo de ensino-aprendizagem de todos.

Esta escola na qual foi realizado o estágio tem como clientela crianças de condições sociais menos favorecidas, que em sua maioria não tem incentivos de familiares, que muitas vezes não tem condições financeiras e/ou estruturais para propiciar a criança o interesse pela lei-tura. De acordo com Abramovich (1997), o adulto precisa propiciar a criança visita a lugares de leitura, dando escolhas para elas, deixá-la livre para folhear livros, revistas, brincar com as figuras e palavras encontra-das em diversos tipos de livros que muitas vezes não encontramos em casa. Ainda segundo a autora

há tantos jeitos de a criança ler, de conviver com a lite-ratura de modo próximo, sem achar que é algo do outro mundo, remoto, enfadonho ou chato... É uma questão de aproximá-la dos livros de modo aberto – seja na livraria ou na biblioteca (ABRAMOVICh, 1997, p. 163).

A criança precisa de estímulos para a leitura na escola, na sala de aula, na biblioteca e em casa. A leitura, o teatro, a contação de histórias, leva a criança ao mundo da imaginação, que traz o conhecimento atra-vés do prazer proporcionado nestas histórias, e o gosto pela leitura que é desenvolvido desde cedo.

Utilizamos os seguintes recursos materiais e didáticos na realiza-ção das atividades: papel, lápis, caixa com espelho, giz, quadro, caderno, papeis A4, textos, data show, filme, moldes das figuras, cola, tesoura,

23PRODOCÊNCIA

lápis de cor, o livro “Menina Bonita do Laço de Fita” de Ana Maria Ma-chado. Para avaliação optamos pela realização de exercícios e diálogos, avaliação contínua que permitiu o acompanhamento da aprendizagem, detectando as falhas do processo de ensino e/ou a possível dificuldade de aprendizagem do aluno.

Os alunos foram avaliados através do registro das observações diárias de sala de aula, sendo verificado: a colaboração, participação, in-teresses e desenvolvimentos dos mesmos. Estas informações recebidas pelos alunos foram de forma escritas e orais.

experiência pedagógica

A turma do 3º ano “B” do ensino fundamental do turno matuti-no era composta por 14 alunos, sendo que 12 do sexo masculino e 02 do sexo feminino. A faixa etária era de 09 a 14 anos. Informação que ressalta a defasagem idade/série. Existem alunos com grande dificul-dade de leitura e escrita, na sua maioria não consegue fazer frases ou pequenos textos.

Quando entrei em sala de aula, no dia em que se deu início o estágio, a professora estava acompanhando a leitura individual dos alu-nos. Eles escolhiam o livrinho de contos infantis disponíveis no armário da sala, onde estavam os materiais didáticos, jogos e os objetos para o uso de atividades, como por exemplo: régua, lápis de cor, cola tesoura, entre outros. A professora me explicou que fazia esta atividade de leitu-ra individual todos os dias logo quando os alunos chegavam à escola, tendo como objetivo estabelecer a prática de leitura na perspectiva de melhorar o desenvolvimento da mesma, visto que existem muitos alu-nos com dificuldades na leitura. Eu também auxiliei a professora acom-panhando a leitura de alguns alunos, um de cada vez. E pude constatar que os alunos estavam lendo compassado, soletrando algumas pala-vras, mas com interesse na leitura.

Ao escrever no quadro o tema “Identidade: história do nome” co-mecei um diálogo sobre o que eles entendem por história. Expliquei que a história que me referia não se tratava da história que estudamos na escola, de coisas bem antigas, que são contadas nos livros didáticos, mas de coi-sas que aconteceram na vida de cada um de nós, coisas que seus pais e fa-

24 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

miliares contam que aconteceram antes deles nascerem e que continuam acontecendo. Como se deu a escolha dos nomes de cada um, como é sua família, onde você mora, vive com quantas pessoas... São estas questões que fazem parte da sua história, da história de sua vida.

Expliquei que ao falarmos da história do seu nome, estamos falando de sua identidade. Perguntei se alguém conhecia um docu-mento, conhecido como carteira de identidade? Alguns responderam que sim. Então esclareci que este documento vem com alguns dados que identificam a pessoa, como, o nome da pessoa, a digital do dedo polegar, o ano que nasceu a cidade, o estado, o nome dos pais, e o nú-mero da carteira, sendo este único para cada pessoa. Nesse contexto, Ferreira et al. aborda que

Cada ser humano é especial e pode ser identificado por suas características físicas e por sua personalidade. Alguns sinais e caracteres em nosso corpo permitem uma identi-ficação tão precisa que comprova, sem nenhuma margem de dúvida, que cada um de nós é um ser único (2004, p.10).

Então continuei a dizer para eles, que ao falarmos de identida-de, podemos entender que é um resumo do que somos, é um pouco da nossa história. Depois iniciei a dinâmica do espelho, onde os alunos ficaram contentes, imaginando o que poderia ter naquela caixa, alguns diziam que era um brinquedo, tentando adivinhar. Comecei então di-zendo que na caixa havia um tesouro, que eles teriam que descobrir que tesouro era este, mas que eles precisariam ter cuidado com este tesouro e que não poderiam contar ao outro colega o que viu. Ao vê-lo não po-deria falar o que era, só depois que todos tivessem visto.

O primeiro aluno olhou e disse que não gostou, o segundo olhou e sorriu, quando foi a vez de outro aluno, ele olhou rapidamente, tiran-do logo o olhar, o que fez a professora intervir perguntando se ele não havia gostado do que havia visto. Ao final buscamos fazê-los entender que o tesouro eram eles mesmos, que cada pessoa tem seu valor, por isso deve cuidar de si mesmo e respeitar o outro, pois o outro colega, também é um tesouro.

Em seguida escrevi no quadro algumas perguntas para debater com o tema “Quem sou eu?” a exemplo de: qual é o seu nome? Sua ida-

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de? O que gosta de fazer? Depois lhes entreguei um poema com o título “Quem sou eu?” de Lilian de Siqueira e Silva, que foi recitado por mim, e depois por todos. Um aluno quis ir pra frente da sala para fazer a leitura, depois outro aluno também pediu para lê-lo. Pedi a eles que identificas-sem quais as profissões que o menino citava no poema, profissões as quais almejava ser. Todos gostaram deste poema.

O tema da aula no segundo dia foi o cotidiano da criança. Este tema nos ajudou a conhecer um pouco mais sobre o cotidiano do aluno, além do cotidiano escolar. Foi entregue um questionário sobre as ativi-dades das crianças no seu cotidiano. O que os alunos gostam de fazer nos horários que não estão na escola. Eles responderam que gostam de brincar, jogar na praça, andar de bicicleta e etc. No entanto, eles não têm o costume de fazer atividades escolares e/ou leituras. No segundo mo-mento, depois do recreio, foi distribuído um texto para fazermos a leitu-ra juntos, mas não houve tempo para fazê-la, pois um grupo de teatro estava na escola e se apresentou no pátio para os alunos. Foi solicitado à coordenação o aparelho data show para que fosse assistido um vídeo que contava de modo animado o conto “Menina Bonita do laço de fita” de Ana Maria Machado.

O professor de outra turma me ajudou fazendo a instalação do aparelho. Os alunos ficaram eufóricos perguntando que filme iríamos assistir. Um aluno dizia que queria assistir filme de terror. O vídeo pos-sui duração de 5min. Eles acharam muito rápido, então eu repeti para que eles pudessem entender melhor a história do conto através do vídeo assistido.

Após o vídeo comecei o debate com os alunos sobre o vídeo. O que eles acharam? Quais os personagens da história? O que fez o coe-lho para ficar igual à menina bonita do laço de fita? Eles foram então lembrando a partir das minhas perguntas e, foram respondendo. Dois alunos lembraram como o coelho ficou ao tentar ficar pretinho como a menina bonita do laço de fita, e foram narrando estes momentos.

Depois do diálogo sobre o vídeo eu entreguei para os alunos algumas imagens que passaram no vídeo para que eles pudessem es-crever ao lado o que estava acontecendo em determinada cena. Nesta atividade, vi que não foi bem aceita pela turma. Eles diziam não saber fazer, por isso não iriam fazer. Alguns diziam que não sabiam o que fazer,

26 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

que não sabiam escrever... E isso me deixou aflita. Apenas uma aluna fez sozinha a atividade, escrevendo uma frase que estava de acordo com a cena do filme.

Durante essa atividade, um aluno começou jogar papel nos co-legas e quando vi, ele já estava se pegando com outro aluno. A briga dos dois alunos na sala me deixou apavorada, sem conseguir manter a ordem, pedi a um terceiro aluno que chamasse a coordenadora para retira-los da sala.

Dando continuidade a atividade, como a maioria dos alunos dis-se não conseguir realizar o que estava sendo solicitado, comecei a pegar a imagem e mostrar para turma. Fui escrevendo no quadro o que dizia a imagem a partir do conto. Uma aluna me pediu para que eu escrevesse o que dizia o conto sobre a sua imagem e ela foi escrevendo.

Figura 1: Atividade realizada em sala de aula a partir do conto “Menina bonita do laço de fita”.

O professor precisa entender como ocorre o processo de alfabe-tização na criança, para torna-se mais fácil para o mesmo criar métodos de aprendizagem, como também ser prazerosa para a criança a aprendi-zagem, como explica Cagliari:

O processo de alfabetização inclui muitos fatores, e, quan-to mais ciente estiver o professor de como se dá o processo de aquisição de conhecimento, de como a criança se situa em termos de desenvolvimento emocional, de como vem

27PRODOCÊNCIA

evoluindo o seu processo de interação social, da natureza da realidade linguística envolvida no momento em que está acontecendo a alfabetização, mais condições terá esse professor de encaminhar de forma agradável e pro-dutiva o processo de aprendizagem, sem os sofrimentos habituais (2005, p.9).

Na imagem 2, observamos a atividade de um dos alunos. Ele ti-nha sempre interesse em fazer as atividades, mas tinha dificuldades na leitura e principalmente na escrita, quase sempre me perguntava quais letras usar na formação de determinada palavra. Ele ainda está na face pré-silábica que, de acordo com Emília Ferreira (2001), “[...] A fase pré--silábica já difere as letras dos números, desenhos e símbolos e já reco-nhece a função das letras na escrita. Porém está no nível pré-silábico: em que a criança não conhece a forma da escrita, não estabelece ainda a diferença existente entre fala e escrita. Não faz equivalência entre as letras e os fonemas”.

Figura 2: Atividade realizada em sala de aula a partir do conto “Menina bonita do laço de fita”.

Em outra aula houve a apresentação do livro “Menina Bonita do Laço de Fita” de Ana Maria Machado. Tive como objetivo apresentar o li-vro aos alunos, para que os mesmos tivessem a possibilidade de conhe-cê-lo, folheando-o, vendo as imagens e a escrita das falas, que já tinham visto no vídeo na aula anterior. Os alunos ficaram bastante encantados com o livro e com a possibilidade de tocá-lo e folheá-lo.

28 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

A narração e a interpretação do livro são importantes para o es-tímulo à leitura e ao conhecimento da literatura, e com a sua interpre-tação são trazidas de forma animada as falas e sons contidos no conto. Assim como aborda Abramovich,

O ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal tudo pode nascer dum texto! (1997, p. 23).

Tive na prática a constatação de que, os alunos tiveram inte-resses de ouvir o conto, prestando atenção, ficando todos imaginando como seria o final daquela história. Ao ver que alguns alunos se com-portavam de forma agressiva com os colegas, ao observar um aluno que apelidava a colega por ter os cabelos de trancinhas, e outras situ-ações de desrespeito com outros colegas, vi que era necessário tratar de questões importantes para melhorar as relações entre eles. Então comecei a estimular um diálogo sobre a história e a questão da dife-rença e o respeito entre as pessoas.

Em outro encontro, comecei um pequeno diálogo com o tema “O bairro”. Estimulei que refletíssemos sobre o lugar em que vivemos, o bairro... Entreguei um texto que fala sobre o que é o bairro, sua forma-ção, sua composição: casas comerciais, residências, hospitais, bancos e etc. O nosso endereço é formado pelo nome da rua, o nº da residência, o bairro e a cidade, tendo também o número do CEP, sendo um número para cada rua. Todas essas informações foram debatidas na sala, e então solicitei que os alunos começassem a responder as questões do exercí-cio. Questões subjetivas, tendo em vista a particularidade das pergun-tas. Um aluno respondeu que a coisa mais importante que aconteceu no seu bairro foi o fato de pintarem as calçadas. Já outro disse que gosta de jogar bola na praça e o fato mais importante que aconteceu no seu bairro foram brigas.

Dando gancho ao tema apresentei para eles alguns serviços pú-blicos fazendo uma relação dos serviços e escrevendo no quadro. Soli-citei então que os alunos fizessem uma pesquisa com seus familiares ou amigos sobre os serviços públicos que eles têm no seu bairro e quais serviços públicos precisam ser criados.

29PRODOCÊNCIA

Essa pesquisa não foi feita, pois eles não fazem deveres de casa, como afirmou a professora. Respondemos todos juntos em sala de aula. Eles iam dizendo e eu escrevendo no quadro e eles no caderno. Um alu-no disse que a segurança precisava ser melhorada no seu bairro, outro disse que queria que fosse criado um clube com piscina e cinema. E um terceiro disse que queria posto de saúde em seu bairro. Então expliquei que alguns destes serviços públicos já existem mais precisam ser melho-rados, para assim atender a toda a população que precisa de alguns seus serviços, na sua cidade e em seu bairro.

Para a atividade sobre o conteúdo de matemática, levei para a sala moldes (retirados do livro didático) para a construção de figuras sólidas geométricas a partir de recortes e colagens. Os alunos ficaram entusiasmados com este trabalho. Enquanto eles faziam a atividade, fui desenhando as figuras no quadro e colocando o nome respectivamente.

Em um segundo momento, pedi aos alunos que trouxessem seu material (sua figura geométrica) para fazemos uma exposição das mes-mas. Coloquei todas as figuras na mesinha da professora. E comecei a fa-zer a comparação com as figuras desenhadas no quadro com as figuras construídas pelos alunos.

Retirei características do coelho, personagem do conto “Menina bonita do laço de fita” para trabalhar o conteúdo de ciências: animais vertebrados e invertebrados. Dando continuidade ao conteúdo traba-lhado pela professora sobre as características dos animais.

A aula sobre os dígrafos e encontros consonantais em outra aula, foi mais complicada, pois exigiu mais dos alunos. Para trabalhar com eles foram entregues exercícios com palavras cruzadas e de pinturas para iden-tificar os conteúdos de português: Dígrafos e encontros consonantais. E um texto de tirinhas com um exercício sobre encontros consonantais.

Uma aluna começou pintando a palavra toda, depois ela per-cebeu que era só os encontros consonantais e os dígrafos. Ela acabou respondendo bem este exercício, apesar do grau de dificuldade. Algu-mas palavras possuem os dois encontros consonantais ao mesmo tem-po tendo dígrafo e encontro consonantais. Outro aluno percebeu que a palavra “absolver” tem dois encontros consonantais, porém não viu que a palavra “atmosfera” que também possui dois encontros consonantais. Este fato se repetiu entre eles.

30 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Levei a dinâmica do chocolate para descontrair a turma no en-cerramento, eles ficaram sentados e eu lendo o texto e entregando a caixa de chocolate à pessoa escolhida – funciona como um amigo se-creto falso em que a cada momento o presente pertence a uma pessoa diferente - até chegar ao último escolhido, que entregou à caixa de cho-colate a professora para ela distribuir os chocolates. Encerrei a aula com um diálogo sobre a história “menina bonita do laço de fita” apresentada no primeiro encontro do estágio e a questão da identidade.

Considerações finais

O estágio supervisionado é fundamental para a formação de profissionais da educação, é a ação educativa dentro do curso de forma-ção em instituições de ensino superior, tem como objetivo “preparar o trabalho produtivo de educandos”, como traz o 1º artigo da Lei do está-gio supervisionado nº 11.788, de 25 de setembro de 2008.

Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desen-volvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam fre-quentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamen-tal, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. (BRASIL, 2008).

Ao sabermos que a base teórica é construída de acordo com as circunstâncias que ocorrem na prática docente, dentro da sala de aula, da escola e da própria sociedade, precisamos ter a concepção que a te-oria está ligada a prática, onde a ação educativa transforma a situação encontrada na escola, contribuindo para mudanças da realidade a qual estamos inseridos.

Este estágio foi para mim um grande desafio. Ao pensar que teria que enfrentar uma turma para estagiar me deu medo, e insegurança. Eu como ainda não trabalho na área de ensino, não tinha tido nenhuma experiência em sala de aula, fora é claro o estágio anterior, que foi com crianças na pré-escola. Ao começar o estágio fui vendo que este desa-

31PRODOCÊNCIA

fio estava sendo vencido, e que a experiência vivida neste estágio foi fundamental para compreender de forma prática a realidade do ensino--aprendizagem na interação com os alunos, professores, e toda equi-pe técnica e administrativa da escola. Podendo assim me trazer novos questionamentos sobre como melhorar a educação na escola pública, com tantas dificuldades aqui vivenciadas.

A maior dificuldade encontrada para mim foi em relação a indis-ciplina da maioria dos alunos na sala de aula, foi difícil realizar as ativida-des, principalmente na ausência da professora, pois a mesma controlava aqueles alunos mais “inquietos”. Apesar das dificuldades que encontrei no cotidiano da escola, pude também presenciar e sentir momentos felizes de amizade e carinho dos alunos para comigo. Perceber que os alunos estão aprendendo, respondendo, é bem satisfatório. Fato que nos exige a produção de práticas de ensino envolventes, dinâmicas e in-terativas, buscando assim melhorar as relações aluno-aluno e professor--aluno, e consequentemente o ensino-aprendizagem dos alunos.

Referências

ABRAMOVICh, Fanny. LIteRAtURA INFANtIL: Gostosuras e bobices. São Pau-lo: Scipione, 1997 – (Pensamento e ação no magistério).

MAChADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. 7 ed. São Paulo: Ática, 2005.

CAgLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 10 ed. 2005.

FERREIRA, gilvan... [et al.]. trabalhando com a linguagem. São Paulo: Quinteto, 2004.

FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 2001.

BRASIL, Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm > acesso em 30/06/2012.

INCLUSÃO E DIVERSIDADE DE PESSOAS COMDEFICIÊNCIA EM ESCOLA DA REDE REGULAR

DE ENSINO4

Crislayne Lima Santana5

Taís da Silva Melo6

33PRODOCÊNCIA

INCLUSÃO e DIVeRSIDADe De PeSSOAS COM DeFICIÊNCIA eM eSCOLA DA ReDe ReGULAR De

eNSINO4

Crislayne Lima Santana5

Taís da Silva Melo6

Introdução

Ao se tratar de Inclusão, se faz necessário pensar na exclusão e em seu processo histórico. Segundo William e Susan Staimback (2007), a história da exclusão surge a partir do momento que adultos e crian-ças eram tidos como ameaças à sociedade e encarados como obstácu-los para o crescimento econômico durante o século XIX e início do sé-culo XX. Além disso, pessoas tidas como deficientes eram entendidas como quem possuía poucas habilidades e potencial econômico para enfrentar a sociedade.

Com isso, segundo os mesmos autores, a preocupação com as pessoas tidas especiais se deu com o pensamento de que os mesmos representavam ameaça à população. A partir desse momento, foram criadas escolas públicas para as classes especiais com intuito de que a maioria das crianças pudesse ter acesso à educação.

Em 1700, Benjamin Rush foi um dos primeiros a introduzir o con-ceito de educação das pessoas com deficiência. Em 1783, surgiram orga-nizações filantrópicas como forma de controlar os tidos “indesejáveis”. Além disso, diversas personalidades apareceram como meio de facilitar a educação às pessoas mais pobres. Dentre essas individualidades, des-tacamos: Thomas Jefferson que propôs o primeiro plano de educação, sustentado pelo Estado, visando à educação aos pobres. No decorrer do fato, a classe média se recusou a pagar impostos ao Estado para man-

4 Artigo elaborado com base na realização do Projeto Prodocência/CAPES/UFS, em par-ceria com Escolas Públicas do Estado de Sergipe, a partir da disciplina Estágio Supervi-sionado III.5 graduanda em Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe. Lattes: http://buscatex-tual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4494360J6. Contato: [email protected] 6 graduanda em Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe. [email protected]

34 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

ter o plano e, em 1817, Thomas gallaudet implanta diversas instituições transformando a Sociedade Colonial em Nacional (STAINBACK, STAIN-BACK, p.36, 1999).

No final da década de 1970, as crianças tidas especiais passam a ser incluídas em meio turno nas classes regulares, mas, uma grande maioria continuava excluída, dentre estes: os Afro-Americanos e os Nati-vos Americanos que geralmente eram educados em sistemas separados (STAINBACK, STAINBACK, p.36, 1999).

No entanto, para que exista a inclusão se faz necessário pensar na acessibilidade à qual a legislação brasileira, especialmente na Lei n° 7.853/89 e o Decreto 914/93 definem que acessibilidade é a condição favorecedora da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzi-da para utilizar com segurança e autonomia os espaços, mobiliários e equipamentos urbanos em todas as edificações, transportes, sistemas e meios de comunicação do ambiente social. A acessibilidade, porém, não é voltada somente para pessoas que se encontram em situação de defi-ciência, mas, a todos que se movimentam pelos diversos espaços sociais.

Ao longo da história, a sociedade foi construindo normas e pa-drões que passam a regular o comportamento das pessoas e estas se-riam tidas como aceitáveis ou não. Aquelas que eram consideradas ina-ceitáveis, por vezes, eram entendidas como doentes ou anormais e esse pensamento só mudaria através do modo de agir e pensar daqueles que são tidos normais.

A educação no século XIX e XX estava relacionada aos princí-pios de Modernidade e Civilidade, adotados pelos EUA, sendo a edu-cação das pessoas com deficiência filantrópica e os alunos mais pobres são tidos como incapazes para atuar em sociedade. Através da aplica-ção de provas e testes é medido seu comportamento em relação ao padrão imposto pela classe dominante, tornando a educação deficien-te, além de dificultar o acesso e a permanência na escola (STAINBACK, STAINBACK, p.36, 1999).

Nos cursos de formação de professores, muitas vezes, o olhar acadêmico não é compatível com a realidade posta em sala de aula e o professor torna-se deficiente para agir de modo correto a cada situação aparente ou com o próprio aluno, sendo o tema educação especial pou-co discutido nas universidades.

35PRODOCÊNCIA

Os professores ainda não estão preparados para receber esses alu-nos em sala de aula, resultando em pequeno número de conclusão do Ensino Médio ou alcançar o nível Superior, pois, além de incluir o aluno na escola é preciso garantir sua permanência, assim como, a conclusão de seus estudos. Além disso, o saber deve ser alcançado por todos sem dis-tinção de classe, questão econômica ou étnica, por vezes, a educação das pessoas deficientes está relacionado ao alcance dos ideais de civilidade.

Souza (2010) afirma que há alegação de que alunos não conse-guem mesmo acompanhar níveis mais exigentes, quando, tão somente por falta de compromisso com o acompanhamento pedagógico, como também, os conteúdos e práticas que sequer respeitam a realidade do aluno. Como resultado, os alunos mais pobres ou com deficiência ter-minam como vítimas de escolarização que não visa habilitá-los para a convivência fortemente competitiva.

Para isso, o objetivo deste artigo é resgatar o desenvolvimento histórico do estágio realizado durante o primeiro semestre do ano de 2012. As falas dos sujeitos presentes neste trabalho configuram-se en-quanto considerações e impressões acerca de acontecimentos vivencia-dos na escola campo de estágio.

O Estágio Supervisionado III foi realizado, inicialmente, em es-cola da rede estadual de ensino, localizada no bairro grageru, com as crianças do 3º ano do Ensino Fundamental, mas, esta entrou em greve que teve início em abril e finalização em agosto. Ficando impossibilita-das de dar continuidade a prática de estágio, nos transferimos para uma outra escola da rede Estadual, situada à praça Major Edeirudes Teles, no conjunto Augusto Franco, bairro Farolândia, com a turma de 4° do En-sino Fundamental, composta por 27 alunos, com faixa etária entre 09 e 12 anos. Neste local, foi dada a oportunidade de observar e atuar como docente, a partir do planejamento de aulas e da interdisciplinaridade com a temática “Inclusão e Diversidade das pessoas com deficiência em Escola da Rede Regular de Ensino”, cumprindo os dez dias de estágio, sendo que o nome da Instituição não será identificado como meio de preservar sua identidade.

Segundo o Projeto Político Pedagógico – PPP da escola campo de estágio, esta foi fundada no ano de 1983 e atende a uma cliente-la bastante significativa e diversificada e, devido à sua localização, está

36 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

presente todo tipo de classe social, com grande quantidade de crianças e jovens de baixa renda.

Atualmente, estão matriculados, aproximadamente, 830 alunos, sendo ofertado os seguintes cursos: Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos e Classe de Educação Especial, no período noturno, diurno e matutino, compreende um IDEB de 3.7, considerado baixo em relação ao IDEB Nacional que equivale a 6.0.

A escola recebe recursos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvol-vimento da Educação), PROFIN (Programa de Transferências de Recur-sos Financeiros), PDE (Programa de Desenvolvimento da Escola) e PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola).

Para a realização do projeto, foi dada continuidade àquilo que a Instituição já vinha propondo como meta: um plano voltado ao proces-so de Inclusão e Acessibilidade, ao qual recebe pessoas com deficiência e oferece apoio, recursos e uma estrutura adequada a todos aqueles que tiverem qualquer tipo de necessidade educativa especial.

O foco principal é proporcionar a aprendizagem de uma for-ma interessante, interdisciplinar e educativa, assim como, conscien-tizar as crianças acerca das diversidades sociais, reconhecer que exis-tem diferenças entre as pessoas, com intuito de amenizar as diversas formas de preconceito.

Ao tratar da inclusão, sendo este um tema bastante discutido atualmente, são postos desafios à escola, tais como: capacidade dos pro-fessores em saber lidar com as diferentes problemáticas, além da rela-ção de alunos e suas respectivas famílias que devem estar em harmonia, pois, o papel da família é fundamental, assim como, aprender a aceitar as diferenças e possibilitar que as crianças com deficiência participem ativamente do seu processo educativo. Este deve ser feito com muito cuidado e atenção, respeitando sempre as dificuldades e o tempo de cada aluno e, por último, a mais difícil, que é acabar com o preconceito.

O Conselho Estadual de Educação de Sergipe (CEE-SE), define que a educação de pessoas com necessidades especiais, deve ser ofere-cida nas escolas da rede regular e, principalmente, nas escolas especiais, de acordo com princípios democráticos de que a educação é um direi-to de todos e é um motivo de luta pela inclusão. Para tanto, a inclusão

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não se limita somente em colocar as crianças dentro da escola, mas, é preciso obter recursos e instrumentos que possibilitem a permanência das mesmas, onde facilite sua interação com as outras crianças e estas possam ser inseridas no processo escolar.

A escola regular, como espaço educacional de todos é ainda bas-tante questionada acerca das suas práticas cotidianas e o tema sobre inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais nas escolas regulares, tem sido discutido e tem se exigido propostas politico peda-gógicas inovadoras, que estimule as diferenças e assegure oportunida-des iguais aos alunos.

Souza (2010) em sua obra “gênese da educação dos surdos em Aracaju”, afirma que ainda hoje persiste a falta de acesso das pessoas com deficiência na escola de ensino regular e que estes, por vezes, aparecem como números nas classes sociais economicamente desfavorecidas.

Diante dos parâmetros da educação para todos, somente deve-ria ser acreditada como boa escola, aquela que se capacitasse a atender todo tipo de pessoa, através de um trabalho de educadores hábeis e flexíveis na necessária adaptação do processo educacional às deman-das dos alunos. A questão não é tratar de incluir ou não na escola, mas, de pensar em uma escola onde todos tenham reais possibilidades de acesso, permanência e de conclusão, pois, não se trata de caridade ou porque é politicamente correto, mas, sim porque o ato de ensinar impli-ca transmissão de culturas.

Com este trabalho, apresentamos as possibilidades dos alunos com deficiência aprenderem nas turmas comuns de ensino regular, apontando os principais aspectos, características, caminhos acerca da inclusão e diversidade, que levem o professor a refletir, construir um sa-ber e uma prática sobre a temática abordada. Além disso, observar os recursos que a escola disponibiliza para promover a inclusão, realizar a caracterização física, pedagógica e social da unidade de estágio e refletir sobre o acesso e a importância de incluir alunos com deficiência na rede regular de ensino.

O projeto foi elaborado com as crianças do Ensino Fundamental, período relativo a formação básica do cidadão, mediante o desenvolvi-mento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, escrita e do cálculo, a compreensão do ambiente na-

38 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

tural e social, do sistema politico, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade. O desenvolvimento da capacida-de de aprendizagem, tendo em vista, a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores e o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.

Ao iniciarmos a proposta de estágio, após observações em sala de aula, partimos para os diálogos com os alunos relativo ao tema do nosso projeto, com intuito de relevar seus conhecimentos prévios par-tindo do interesse dos mesmos. Desta forma, fortaleceu o tema “Inclu-são e diversidade” como assunto abordado para o trabalho na escola, sobretudo, por ser um argumento bastante comum na Instituição, em que esta já havia adotado, pela necessidade de amenizar o preconceito ainda existente pelos próprios educandos e, devido a presença de aluno com deficiência na Instituição.

Ao chegarmos na escola, fomos recebidas pela coordenadora, pela professora da respectiva classe que atuamos e pelas crianças do 4° ano do Ensino Fundamental manhã. Os materiais utilizados durante to-das as atividades foram: giz, folhas de oficio, cadernos, cartolinas, tecidos em E.V.A, todos fornecidos pelas estagiárias. As atividades ocorreram na sala de aula e nos espaços da escola (pátio, banheiros, corredores, etc.), sempre realizando dinâmicas, como: brincadeiras (cabra-cega) voltadas à temática de estudo. A prática de estágio fora dividida em duas etapas: a primeira, relativa a observação em sala de aula e a segunda voltada ao relato da nossa atuação como docente em sala de aula.

O planejamento das atividades se deu por vontade própria dos alunos, das estagiárias e da escola em dar continuidade ao projeto de Inclusão que a mesma já vem adotando e pela necessidade de ameni-zar o preconceito ainda existente pelos próprios educandos devido à presença de aluno com deficiência na Instituição. As atividades foram realizadas pelas duas estagiárias simultaneamente durante 10 dias.

Ao organizar as aulas, pensamos na necessidade de cada aluno e como seria o desenvolvimento das atividades em sala de aula. Para isso, buscamos diferentes meios que proporcionassem uma interação com todos os alunos, pois, percebemos no início que muitos não interagiam entre si, uns por serem tímidos e outros por serem agressivos e alguns tinham receio destes e acabavam se afastando.

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Diante disso, ao iniciar a proposta prevista pela docência, foi per-ceptível que é de grande responsabilidade assumir o papel de professor, antes não tendo a oportunidade de estar à frente de tamanho dever. Para tanto, é essencial planejar o que deve ser passado em sala de aula e, para isso, nos reunimos e discutimos sobre o plano diário.

O planejamento escolar é uma tarefa que inclui tanto a previsão das atividades em termos de organização quanto a sua revisão e ade-quação no decorrer do processo de ensino. É um momento de pesquisa e reflexão e a preparação de aulas é uma tarefa indispensável, que servi-rá não só para orientar as ações do professor, como também, possibilitar constantes revisões e aprimoramento.

É evidente a importância do ato de planejar que, segundo Vas-concellos (1999), o professor tem que saber onde deseja conduzir seus alunos e, através do seu planejamento, se preparar para alcançar os ob-jetivos que já definiu, de forma consciente, percebendo e praticando como necessário para a organização do seu trabalho.

Executar a proposta do projeto para a docência foi algo desafia-dor, pois, exigiu das estagiárias ampla compreensão acerca do planejar as aulas, visando atender às necessidades da turma para que a aprendi-zagem pudesse ser significativa. Para que isso ocorresse, foi preciso re-planejar algumas aulas e inserir novas atividades na rotina da professora regente em sala de aula.

Esta etapa foi a mais difícil de todo o estágio, foi um desafio in-terligar a nossa proposta com aquelas já existentes, participar dos pla-nejamentos, fazer os planos diários, sequencias didáticas e elaborar ati-vidades diferenciadas, seria como juntar peças de um quebra-cabeça.

A cada dia de estágio foi um momento diferente, acontecimentos que envolviam os alunos e que chamavam atenção para as aulas, como brincadeiras, os textos, as atividades compartilhadas, bem como, escrever uma redação e desenhar, dentre outras ações correlatas à temática.

Um momento importante que fora notado ao longo dos dez dias é que os alunos tinham dificuldades em determinados momentos para desenvolver a proposta, mas, não os deixamos dispersos a fim de atrapa-lharem o andamento das aulas. Para tanto, foram realizadas dinâmicas, por meio, de brincadeiras que estimulassem a reflexão para a temática

40 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

proposta e que inter-relacionasse com o assunto que a professora da sala já havia planejado.

A seguir, algumas imagens referentes às principais atividades trabalhadas durante as aulas:

Figura 1: Brincadeira da cabra-cega intercalada com o assunto “Orienta-ção e Localização” da disciplina de geografia. Estudante alcançando a cadeira vazia sob orientação da colega.

Fonte: SANTANA; MELO, 2012.

Procuramos elaborar aulas diferenciadas que despertassem curiosidade, reflexão e atenção das crianças para os problemas enfren-tados pelas pessoas com deficiência visual. Percebemos o interesse cada vez maior, a interação com os assuntos abordados e a relação de amiza-de com nós estagiárias, explícitos nas palavras de apoio, nos elogios e o carinho demonstrado durante o estágio. Na atividade abaixo, fora trazida para sala de aula a história real de uma pessoa cega, com intuito de levar os alunos a refletirem sobre as diversas possibilidades dos alunos cegos realizarem as mesmas atividades daqueles ditos normais. Ver figura 2.

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Figura 2: Estagiária contando a história real de um garoto, com deficiên-cia visual, chamado Lucas.

Fonte: SANTANA; MELO, 2012.

No interior da escola, fora realizado um passeio com os alunos do 4º ano do Ensino Fundamental, com intuito de identificar os pontos acessíveis e inacessíveis existentes na Instituição. A proposta é reco-nhecer o espaço no qual estão inseridos, levando em consideração a acessibilidade das pessoas com deficiência e a compreensão Matemá-tica de quantos e quais são os espaços acessíveis através da posição e localização dos mesmos.

Esta atividade gerou nas crianças um sentimento de solidarieda-de, em que duas delas queriam medir a porta para ver se era possível o cadeirante entrar na sala de aula ou passar por ela, foi uns dos momen-tos importantes para nós estagiárias, onde o tema foi de grande interes-se para alunos. Ver figura 3.

42 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Figura 3: Estagiária apresentando uma rampa como uns dos pontos acessíveis, enquanto as crianças observam e fazem anotações.

Fonte: SANTANA; MELO, 2012.

Outro momento importante, durante o estágio, está na aula refe-rente ao alfabeto em Braille utilizado como meio de comunicação escrita pelos deficientes visuais. Nesta atividade, intercalada com as disciplinas de Português e Matemática foram mostradas as letras do alfabeto, assim como, os números em BRAILLE, para este último foram respondidas pelos alunos contas e expressões Matemáticas elaboradas pelas estagiárias.

Esta atividade, foi realizada com o objetivo das crianças terem uma noção de como é a interação do cego com o mundo letrado. Foi observado que, em um primeiro momento, as crianças tiveram certa dificuldade, em que uma delas relatou que o Braille é mais difícil que a LIBRAS, mas, demonstraram interesse em aprender o alfabeto, como também, os nomes em Braille. Ver figura 4.

43PRODOCÊNCIA

Figura 4: Um dos alunos treinando alfabeto em Braille no caderno.

Fonte: SANTANA; MELO, 2012.

houve vários momentos em que as crianças estavam cada vez mais interessadas, tanto que se ofereciam para ajudar a apagar e copiar no quadro negro, apresentar suas redações espontaneamente sobre o que tinha visto na aula anterior, além das atividades solicitadas por nós estagiárias, enfim, a participação cada vez maior por parte dos alunos.

No último dia do estágio, foi realizado pelas estagiárias, um te-atro de fantoches sobre a história dos deficientes, apresentando o con-ceito e os diversos tipos de Tecnologias Assistivas sendo estas um meio facilitador no desempenho das atividades desejadas, além da apresen-tação da ABNT 9050. Esta atividade foi a melhor forma de trabalhar as-suntos um pouco mais complexos de maneira lúdica. Ver figura 5.

44 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Figura 5: Trabalho final: crianças assistindo ao teatro de fantoches sobre a história dos deficientes, envolvendo os diversos tipos de Tecnologias Assistivas, além da apresentação da ABNT 9050.

Fonte: SANTANA; MELO, 2012.

Através de leituras, imagens e brincadeiras, foi possível gerar nos alunos um movimento de inquietação, de pensar e refletir sobre a reali-dade acerca do tema.

As atividades dadas em sala de aula, foram realizadas com êxi-to por parte dos discentes, criou-se ainda, um laço afetivo muito forte, fato que proporcionou o sucesso no processo de ensino- aprendizagem, bem como, o reconhecimento do trabalho, empenho e profissionalismo das estagiárias.

Encontramos dificuldades em adaptar a turma as atividades interdisciplinares de acordo com o desempenho apresentado pelos alunos. Entretanto, realizamos profundas observações do processo de aprendizagem, a produção de textos, a leitura, desenhos, ortografia e situações reais.

45PRODOCÊNCIA

Conclusão

Toda a construção do projeto de estágio foi voltada para a “In-clusão e Diversidade de Pessoas com Deficiência em Escola da Rede Re-gular de Ensino” e as atividades foram realizadas através de exposição de fotos, brincadeiras e diálogos, pois, era um processo que culmina-va a participação coletiva e ativa dos sujeitos. Acreditamos que com o projeto realizado e as informações passadas, estas crianças terão mais argumentos para melhor escolher os caminhos e respeitar as diferenças existentes na sociedade.

A disciplina “Estágio Supervisionado III” foi um momento de fundamental importância no processo de formação do pedagogo. Ela, constituiu-se um treinamento que nos possibilitou vivenciar o que foi aprendido na Universidade, tendo como função, integrar inúmeras dis-ciplinas que compõem o currículo. Foi uma oportunidade de colocar em prática todos os conhecimentos teóricos, aprender a resolver situações/problemas e entender a grande importância que tem o papel do educa-dor na formação pessoal e profissional de seus alunos.

Percebe-se a grande responsabilidade que tem o professor, que, sem dúvida alguma, influencia diretamente os alunos, a partir de suas atitudes, gestos e modos de exprimir as ideias. Foi possível perceber que o professor deve ter sensibilidade e, sobretudo, conhecimento para educar, criando um ambiente onde os alunos possam manifestar suas opiniões e seus sentimentos.

Diante disso, o Estágio Supervisionado, nos permitiu uma forma-ção “investigativa e reflexiva”, estimulando o desenvolvimento de uma prática integradora com o ambiente escolar, possibilitando interagir com a realidade social da comunidade, assim como, contribuir para a transformação da mesma.

Segundo Candau e Lelis (2002), a atuação como professores da disciplina Estágio Supervisionado no Ensino Superior possibilita,

depararmo-nos com situações em que os alunos afirmam sentirem-se desamparados, desmotivados, demonstran-do desinteresse pela docência, por terminarem o curso, sentindo-se limitados ou incapazes de estabelecer rela-ções entre teoria e prática, que lhes possibilite uma efetiva intervenção na realidade escolar vivenciada nos estágios.

46 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

De acordo com as autoras, entendemos que relacionar teoria e prática para muitos acadêmicos torna-se algo complicado, quando não nos colocamos como investigadoras e possíveis interventoras desta prática.

Entretanto, durante a prática de Estágio, a interdisciplinaridade do tema “Inclusão e Diversidade de Pessoas com Deficiência em Esco-la da Rede Regular de Ensino” com as demais disciplinas escolares, nos fez perceber que, apesar de ser uma tarefa difícil, é possível criar novas ideias e práticas que facilitem a aprendizagem dos alunos.

É importante perceber que a interdisciplinaridade, permite um aumento das informações intercaladas por dinâmicas, estratégias que envolvem a participação de toda turma e a temática proposta por nós, nos fez perceber que naquela Instituição o tema “Inclusão” ainda era no-vidade, apesar de haver a presença de alunos com deficiência.

Entre os alunos, foi percebido que a maioria não conhecia quase nada a respeito ou conhecia apenas fragmentos da realidade, como: es-paços físicos relevantes aos deficientes. Mas, com a nossa intervenção, foi possível despertar interesse pela temática, assim como, amenizar o preconceito entre os alunos, isso percebido, através das próprias atitu-des entre os educandos quanto ao respeito ao próximo, onde foram ob-servados gestos como: “desculpa”, “foi sem querer”, “eu empresto meu lápis”, “respeite-o”, “não faz isso com ele”, atitudes estas antes não presen-ciadas em sala de aula.

Consideramos o Estágio bastante produtivo, levando em conta, o pouco tempo de contato direto com as crianças, pois, o período de regência foi curto, mas, pudemos perceber a aceitação da nossa presen-ça em sala de aula e a receptividade foi bastante calorosa por parte dos alunos e também pela professora, que nos fez sentir certa tranquilidade no momento que desempenhamos o nosso papel e desenvolvemos o nosso estágio e isso fez com que o resultado viesse a ser positivo, uma vez que as partes envolvidas, professora regente, alunos e estagiárias, saíram satisfeitos.

Recebemos dos alunos muito mais do que esperava, posto o que mais desejava era que estes fossem participativos, críticos e expressas-sem suas ideias e opiniões diante da temática e dos conteúdos traba-lhados. De fato, foi um privilégio ter alunos com essas características, e

47PRODOCÊNCIA

ao término do estágio ficou a certeza da importância de conhecermos a realidade de uma Instituição escolar. A interação com os profissionais e com os educandos foi bastante enriquecedora, conforme expectativas, e vivenciamos a rotina do cotidiano escolar através das diversas ativida-des desenvolvidas em sala de aula.

A oportunidade do estágio nos proporcionou uma visão real da prática docente em sala de aula, inclusive do pioneirismo da educação inclusiva na escola pública de ensino regular em Sergipe.

Referência

BRASIL, Lei n° 7.853/89 de 24 de outubro de 1989.

_______, Decreto n° 914/93 de 6 de setembro de 1993.

_______, Conselho Estadual de Educação (SE). Resolução 119 de 21 de setembro de 2000. Disponível em: <http://www.cee.se.gov.br/arquivos/Resolucao_119-2000-CEE__21-09-2000.pdf > Acesso em: 25/03/2012

CANDAU, Vera Maria (org.); LELIS, Isabel Alice. A relação teórica – prática na formação do educador. In: Rumo a uma nova didática. 13 Ed. Petrópolis: RJ: Vozes, 2002.

LDB. Lei de Diretrizes e Bases da educação 9.394/96. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 25/03/2012

NOVAIS, Mayara Carlotto de. Importância do estágio supervisionado para a prática docente, set. 2011. Disponível em: < http://www.infoeducativa.com.br/index.asp?page=artigo&id=798 >, Acesso em: 29/11/2012

SOUZA, Verônica dos Reis Mariano. Gênese da educação de surdos em Araca-ju. São Cristóvão: UFS, Aracaju – Fundação Oviêdo Teixeira, 2010.

STAIMBACK, Susan; STAIMBACK, William. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre. ARTMED, 1999.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Politico Pedagógico. Cadernos Pedagógicos do Libertad-1. 6 ed. São Paulo, 1999.

OS SERES VIVOS7

Katielly Dbiane Silva Crispim

49PRODOCÊNCIA

OS SeReS VIVOS7

Katielly Dbiane Silva Crispim¹

Introdução

O presente artigo originou-se a partir das disciplinas de Estágio Supervisionado III e IV do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, em que pude planejar e executar um projeto de ensino intitulado “Os Seres Vivos”. O estágio foi desenvolvido mediante a re-alização de atividades pedagógicas em sala de aula, assim como da reflexividade necessária a um bom andamento das atividades diárias desenvolvidas em sala.

Partimos da crença de que tudo que existe no planeta faz parte da natureza. Alguns, são chamados de seres vivos, outras coisas existen-tes, são denominados de não vivos, a exemplo das pedras, das rochas, dos gases, mas tudo pertence à natureza. Os seres vivos são aqueles que nascem, crescem, se reproduzem e morrem, como os animais (inclusive o homem), fungos, plantas, algas, protozoárias e bactérias.

Os seres não vivos são aqueles inanimados, que não possuem vida, mas que também são da natureza, como o ar, a água, o solo e as pedras. Existem ainda os objetos criados pelo homem, que não são vivos, como os carros, as roupas, os computadores, os brinquedos e vários outros.

Os seres vivos precisam dos seres não vivos: a água não tem vida, porém quem mora na água possui vida, como os peixes e as plantas aquáticas. Do mesmo modo, a terra não possui vida, mas as plantas ne-cessitam dela e da água para nascer e viver. O ar também não possui vida, mas homens e animais precisam dele para sobreviver, bem como da água e da terra.

Conhecer e compreender sobre os seres vivos que existem na natureza, sua função reprodutora, as diversas formas de tamanhos e lo-comoção desses seres entre outras coisas que irei abordar é o objeti-vo principal do relatório. O interesse desse tema surgiu a partir de uma

7 Artigo elaborado após realização do projeto Prodocência/ CAPES/ UFS, em parceria com escolas Públicas do Estado de Sergipe, a partir da disciplina Estágio Supervisionado III.

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conversa com os alunos, quando perguntados sobre o que mais gosta-vam de estudar, eles responderam que gostavam muito da disciplina de Ciências, mais especificamente o conteúdo dos seres vivos. Segundo um dos alunos, “Era bom que fosse uma aula só disso, mas uma aula diferente, onde a gente não tivesse vergonha de perguntar e que saísse um pouco de assunto escolar e que não ficasse cobrando”. Diante disso resolvi trabalhar com eles sobre esse tema com recursos diferentes, arti-culando às áreas diversas áreas do conhecimento. Perspectiva elencada por Cagliari (2003) quando afirma que a escola deveria ouvir mais os alu-nos sobre o que eles já sabem e usar esse conhecimento para apresentar outras formas de utilizar esse saber.

Este artigo é resultado de um relatório de estágio cuja temática foi Os “Seres Vivos” e teve como objetivo principal possibilitar as crian-ças à compreensão do que são seres vivos e a importância deles para o meio ambiente. Teve também como objetivos específicos: Criar uma boa oralidade com os alunos, exposição de seres vivos figurativos ou não, relacionar ilustrações e textos, confecção de cartaz coletivo, com o intuito de manter o contato dos alunos com a leitura.

Para que esse tema fosse desenvolvido tive que ir a sala de aula para fazer uma pesquisa sobre qual assunto os alunos gostariam que fosse abordado. O estágio teve início no dia 14 de maio, finalizando no dia 25 do mesmo mês. A professora da turma não fez nenhuma objeção ao estágio, ela gostou do projeto e me deu carta branca para assumir a turma e aplicar o projeto. Pude relacionar esse tema com as disciplinas de português, matemática, geografia, história, redação e principalmente ciências.

Contudo, para que o estágio tivesse um bom resultado, também foram utilizados diversos recursos, como filme, música, produção de cartaz com as histórias dos seres vivos que as crianças tinham em casa, ilustração e criação de histórias. Foram utilizados diversos procedimen-tos educativos, entre eles também se pode citar a contação de histórias sobre a Arca de Noé.

O presente artigo foi resultado de um relatório em que expõe o desenvolvimento das atividades que foram feitas no decorrer do está-gio. A metodologia foi através de conversa informal sobre os seres vivos e os tipos de seres vivos que eles tinham em casa; produção de texto uti-

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lizando figuras de seres vivos do passado com os do presente; leitura da história da Arca de Noé; contação de história pelos alunos; e confecção do jogo do dado e da memória.

A escola segundo sua coordenadora é caracterizada pela prá-tica construtivista baseando-se em Jean Piaget, Vigotsky, entre outros. As atividades proposta pela escola são adaptadas às técnicas construti-vistas pensando no aluno como sujeito ativo na construção do seu de-senvolvimento. Segundo ainda a coordenadora, o construtivismo não visa anular a importância do professor em função do desenvolvimento singular do aluno. Mas exerce um papel fundamental, uma vez que ele pode identificar o estágio de desenvolvimento da criança, compreen-dendo que a mesma tem ritmos de aprendizagem diferentes uma das outras, por isso ele deve adequar o conteúdo e sua aplicação às capaci-dades individuais de cada criança.

A escola não dispõe de um Conselho Colegiado; os projetos pe-dagógicos são dois, um realizado no primeiro semestre relacionado a cidade e o outro no segundo semestre relacionado a feira de ciências. São desenvolvidos também alguns projetos como, saúde bucal e outros envolvendo a biblioteca e a arte.

O planejamento pedagógico é realizado anual e semanal, onde é proposto reuniões para discutir assuntos importantes para a organização da escola, uns dos fatores abordados nas reuniões são: Os assuntos que serão trabalhados no calendário escolar, atividades extraclasse, envolvendo aulas passeio, visitas a galerias, entre outras. Ela oferece também aos seus profissionais e alunos, apoio, acompa-nhamento pedagógico e psicológico que é realizado individualmente ou em reuniões coletivas.

A escola é da rede privada recebe verba do DR (Departamento Regional) e recebe acessoria do DN (Departamento Nacional). Essa es-cola funciona em dois turnos, manhã e tarde com turmas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental: pela manhã dispõe de duas salas de 1º ano, uma sala de 2 º ano, duas salas de 3º ano, uma sala do 4º ano e uma sala do 5º ano do ensino fundamental, já a tarde dispõe de uma sala para cada série até o 5º ano. Cada turma é formada por 25 a 30 alunos com a idade entre seis anos de idade para a menor série e dez e onze anos de idade para a série maior do ensino fundamental.

52 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

A escola dispõe de um quadro de funcional formado por profis-sionais capacitados: uma diretora, uma vice diretora, a coordenadora, uma secretária e uma vice secretária, sete pedagogos, um professor de música, um professor de Educação Física, um professor de inglês, e uma professora de informática.

“Fazem parte” também do quadro funcional sete estagiárias que auxiliam os professores em sala de aula e duas funcionárias de apoio. Para os serviços gerais, a escola dispõe de dois funcionários e para a ma-nutenção de ventiladores, lâmpadas e outras coisas ela dispõe de um funcionário. A escola tem como integrante do quadro funcional, tam-bém uma Psicóloga, uma estagiária de psicologia e uma psicopedago-ga. A matrícula é realizada em dezembro e os critérios são estar apto para a turma por idade e estar aprovado para aquela determinada série. Os alunos atendidos são em sua maioria crianças de classe baixa e mé-dia, filhos de assalariados.

A escola possui em sua estrutura física aspectos positivos e im-portantes para seu funcionamento geral; as salas são em sua maioria amplas, ventiladas, iluminadas e a cor das paredes adequada possibili-tando um ambiente agradável para a visão dos alunos; as condições do piso são boas, a lousa está em boas condições, o telhado possui forro e está em ótimas condições. A escola dispõe de uma sala para a diretoria, coordenação e para professores, contudo, não dispõe de cozinha e refei-tório, os lanches são vendidos na cantina. As instalações sanitárias estão adequadas para as crianças e deficientes.

experiência em sala de aula

A classe que estagiei o 4º ano A é composto por 29 alunos sen-do15 meninos e 14 meninas com 10 anos de idade, mais da maioria mora com os pais, os quais são todos comerciários.

Os alunos dessa turma são muito inteligentes, tem opinião pró-pria, participam das aulas, é difícil faltar, alguns são complicados de trabalhar, pois primeiro tem que ganhar a confiança deles para assim poder interagir na aula, tem um difícil de lhe dar , pois as vezes ele participa das aulas, às vezes não tem horas que ele faz atividades tem horas que só vive com a cabeça baixa, mais é um ótimo menino, con-versando com a professora da sala sobre ele, a professora me relatou

53PRODOCÊNCIA

que desde a série passada que ele é assim impulsivo é inteligente é difícil faltar mas de repente ele briga com os colegas do nada, rasga a atividade e diz que não vai fazer e no outro dia é totalmente diferente parece até que nada aconteceu.

Durante as duas semanas que fiquei com eles raramente pedi silêncio, pois a turma quando era hora da explicação prestava bastante atenção e na hora da atividade também, todos são bastante amorosos.

No começo do estágio, na hora da apresentação confesso que fiquei muito nervosa, porque a turma que eu escolhi é muito grande e quando eu cheguei na sala que a professora veio me receber e me apre-sentar aos alunos eu fiquei muito nervosa pois todos fixaram os olhares sobre mim e eu fiquei assustada, mas graças a Deus acho que me sair bem, pois os alunos nem queria que eu fosse mais embora teve alguns que até choraram e mais quando eles me veem na rua param falam co-migo como se eu fosse professora deles.

Os alunos gostavam de ler e participar da aula fazendo questio-namentos e perguntas sobre informações que eles tinham em mente, interagindo entre si. Para Bakhtin, [...] “não é a atividade mental que or-ganiza a expressão, mas ao contrário, é a expressão que organiza a ati-vidade mental, que a modela e determina sua orientação”.(1997- p.112). Bakhtin considera a figura do interlocutor como parte determinante no processo de expressão oral. Vigotsky “ [...] a função primordial da fala é a comunicação, o intercâmbio social”.(2000, p.6).

Cabe à escola, propiciar o uso concreto da linguagem oral pro-movendo situações em que os alunos sejam levados a usar, de fato, a sua fala, adaptando o seu discurso à situação apresentada.

Pude perceber também que os alunos gostam muito de ativi-dades lúdicas e principalmente contação de histórias, e minhas aulas quase sempre era assim lúdicas e levando histórias para eles assistirem interligando com a atividade proposta, pois segundo Abramovich

É através de uma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, ou-tras regras, outras éticas, outra ótica... É ficar sabendo his-tória, geografia, filosofia, direito, política, etc... sem pre-cisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula (1997, p. 17).

54 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Em um dos dias em que estagiei confesso que teve uma hora que eu não sabia o que fazer com um aluno, o mesmo aluno citado a cima como difícil de lhe dar, ele estava participando da atividade que no dia era um jogo, e do nada ele partiu para agressão de um colega, ele deu um murro no outro que quase quebra o óculos do colega, eu parei na hora a atividade separei a briga ele querendo se soltar pra pegar o co-lega eu fiquei segurando e mandei um outro aluno chamar a professora, a professora veio e levou ele para a coordenação, quando ela voltou veio sem ele e me disse que mandou chamar os pais dele e que amanhã ele só entraria com os pais, e me contou que do nada ele faz isso e que a professora dele do ano passado foi quase agredida por ele, ele pegou uma cadeira e queria rumar na professora a sorte foi que ela gritou e um professor foi na sala e tomou a cadeira dele e levou para a coordenação.

Mais foram esses contra tempos que apareceu na sala, eu gostei muito de estagiar nessa sala e de poder estar com eles todos os dias do meu estagio, dividindo com eles as conversas sobre a família deles e sobre o futuro deles, porque eu sempre conversava com eles sobre o que eles pensam em ser quando crescer profissionalmente, e alguns me contavam sobre suas famílias.

No primeiro dia de estágio, conversei com os alunos e depois propus atividade, onde foi feita uma roda de conversa. Eles puderam expor o que sabe sobre os seres vivos e conhecer um pouco sobre eles. Organizamos uma tempestade de ideias no quadro sobre o assunto pro-posto e eles escrevam no papel ofício um texto sobre o assunto aborda-do com as palavras que foram citadas por eles.

No segundo dia foi realizada uma roda de debate sobre os seres do passado, com leitura de livros, observando o tipos de registro encon-trado para identificá-los.Imaginar e descrever em uma folha de papel oficio seres que existia no passado.

No terceiro dia expliquei o assunto substantivo coletivo focan-do principalmente nos coletivos dos animais contando histórias da arca de Noé articulando com o exercício apresentado para circular ao subs-tantivo coletivo, pátrio, gentílico e os verbos. Construir no quadro uma cruzadinha para identificar o tipo de substantivo coletivo referente ao quadrado da cruzada.

55PRODOCÊNCIA

No quarto dia foi produzido um cartaz coletivo com a atividade feita em casa confeccionando com barro, e.v.a e tecidos os seres que eles imaginassem e expor para a escola deixando no corredor da mesma.

No quinto dia aconteceu uma explicação com o livro didático sobre cadeia alimentar, local de habitat, tipos de relevo e onde são encontrados pelo mapa, plantas e animais. Atividade em sala, onde a folha de papel ofício os alunos elaborara uma história de cadeia ali-mentar com os animais que está personalizada na folha. Atividade para casa, foi feita em sala a divisão de alguns seres vivos (mamíferos, aves, repteis, peixes e anfíbios).

No sexto dia pedi para eles fazerem uma roda e propus debater os assuntos estudados até o momento. Atividade em sala, montando uma cadeia alimentar coletivamente no quadro, onde algumas crianças iam falando alguns tipos de animais e insetos formando a cadeia. De-pois, pedi para eles construiu coletivamente uma árvore e escreverem a função de cada parte dela, expondo depois no corredor da escola.

No sétimo dia expliquei os assuntos sobre frações e tangran, de-pois eles fizeram uma atividade em sala de aula resolvendo problemi-nhas criado com frações. Assistiram a um filme do Rei Leão, tratando de animais, natureza, relevo, etc. E pedi uma atividade para casa, para eles trazerem no dia seguinte figuras que represente algum tangran encon-trado em casa.

No oitavo dia recolhi as atividades, discutir sobre as diversas for-mas do tangran. Os alunos confeccionaram desenhos na folhas de papel ofício a partir das formas de tangran encontradas em casa. Construir jun-to com os alunos um jogo de dado com perguntas dos assuntos estuda-dos até o momento.

No nono dia expliquei sobre os seres vivos só que agora em aula construída no Power point. Apresentação dos trabalhos proposto no dia 18-05 sobre os tipos de seres vivos e depois colar os trabalhos na parede da sala de aula. Conclusão da construção do jogo do dado e início do mesmo.

No décimo e último dia ensaiamos e cantamos em um grande coral a música de Ivete Sangalo e Saulo Fernades (Bicho) e os alunos pro-puseram fazer um resumo sobre os assuntos estudados, contribuindo para a prova que ia ser na segunda feira (28-05).

56 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Referências

ABRAMOVICh, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

BAKhTIN, Mikhail (1997). Marxismo e filosofia da linguagem. 8. ed. São Paulo: hucitec.

CAgLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 2003.

VIgOTSKY, L. S. Linguagem e pensamneto. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Os seres Vivos e não vivos. Disponível em: http://www.escolakids.com/seres--vivos-e-seres-naovivos.htm. Acessado em 20 de novembro de 2012.

O UNIVERSO DAS FRUTAS: VIVENCIANDO APRÁTICA PEDAGÓGICA

Juliana Santos Xavier8

57PRODOCÊNCIA

O UNIVeRSO DAS FRUtAS: VIVeNCIANDO A PRÁtICA PeDAGóGICA

Juliana Santos Xavier8

Introdução

O presente trabalho é resultado final da prática de Estágio Super-visionado III, ministrado pela professora Doutora Maria José Nascimento Soares, da Universidade Federal de Sergipe. O estágio foi desenvolvido numa escola da rede municipal, em uma turma do terceiro ano do en-sino fundamental, composta por trinta e três alunos com faixa etária de oito a dez anos, no período de duas semanas consecutivas, entre 14 a 25 de maio de 2012.

O projeto de ensino “O universo das frutas” foi escolhido pela turma através de um diálogo e posteriormente por uma votação. O ob-jetivo principal do projeto foi conscientizar os alunos a terem uma ali-mentação saudável e alertá-los sobre a importância do consumo diário das frutas e de alimentos saudáveis em nosso cardápio para o bom de-senvolvimento do corpo. Fortes afirma que,

As frutas são indispensáveis em uma alimentação sau-dável. Elas são ricas em micronutrientes (vitaminas e sais minerais), fundamentais para a saúde e o desenvolvimen-to de todos, principalmente de crianças e adolescentes (2009, p.1)

Os procedimentos metodológicos utilizados foram aulas exposi-tivas, produções textuais, leituras de textos informativos, confecção de cartazes, contação de história, caça palavras, resoluções de problemas matemáticos, atividade em folha. A avaliação foi contínua, na qual os alunos foram avaliados por meio de suas produções individuais, partici-pação nas aulas e nas atividades desenvolvidas.

Os conteúdos foram escolhidos de acordo com o cronograma apresentado pela professora responsável da turma no período em que

8 Estudante do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe. Email: [email protected]

58 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

a prática de estágio foi realizada. No decorrer dos dias foi abordado o tema do projeto com os seguintes conteúdos programáticos.

Quadro 01: Conteúdos da turma do terceiro ano do ensino fundamental da escola que foi realizada a prática do estágio entre o período entre 14 a 25 de maio de 2012.

Disciplina Conteúdos

PortuguêsNúmero do Substantivo: singular e plural; gênero do Substantivo: Masculino e Feminino; Leitura e Interpretação de texto.

Matemática Adição e Subtração; Resolvendo alguns problemas.

história Abolição da Escravatura

geografia Vegetação

Ciências Seres vivos e não vivos; Os órgãos do sentido.

Artes Confecção de cartazes

Abordar as frutas como tema principal durante a experiência de estágio proporcionou a oportunidade de trabalhar a interdiscipli-naridade9 e sensibilizar os alunos a terem bons hábitos alimentares.

Sabemos que, nos dias atuais o hábito alimentar das pessoas vem mudando gradativamente em consequência da “correria diária”, dos vários compromissos que muitas vezes inviabiliza as pessoas se ali-mentarem de forma correta, substituindo alimentos ricos em vitaminas e sais minerais, como frutas, verduras e legumes entre outros alimentos nutritivos, por produtos industrializados que em sua maioria contêm alto valor calórico sem valor nutritivo para o organismo.

9 Interdisciplinaridade é a interligação de disciplinas com relações definidas, o conheci-mento interdisciplinar impede que as atividades realizadas sejam feita de forma isolada, sem que haja uma integração de outros campos de saberes.

59PRODOCÊNCIA

Esta mudança nos hábitos alimentares vem acarretando proble-mas sérios na saúde do indivíduo, ocasionando doenças e dificultando o desenvolvimento do corpo, de maneira que é crescente o número de pessoas com doenças decorrentes da falta de vitaminas, como por exemplo, anemia, obesidade etc. Conforme Salgado,

O consumo de alimentos considerados benéficos para a saúde, como as frutas, vem diminuindo gradativamente por conta do crescimento da indústria alimentícia como por exemplo alimentos enlatados, do estilo de vida inade-quado de muitas crianças, que dão ênfase em suas dietas a produtos processados, na maioria das vezes com alto valor calórico e baixo valor nutricional, levando a sérios prejuízos á saúde das pessoas, principalmente doenças carências e obesidade, em especial no caso das crianças, fazendo com que na vida adulta se tornem indivíduos menos produtivos e incapacitados para determinadas atividades(2012, p.1).

Nesse contexto, foi apresentada aos alunos a importância de ter um bom hábito alimentar e os alimentos que realmente contribuem para o desenvolvimento do corpo e que faz bem a saúde, prevenindo o corpo de algumas doenças. Por esta razão, foram bastante enfatizadas as frutas na alimentação, vitaminas, sabores, tamanho, formas, varieda-des de acordo com a região.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais “[...] Espera – se que o aluno seja capaz de descrever as necessidades nutricionais bási-cas do organismo humano, indicando os alimentos adequados para a composição de um cardápio nutritivo utilizando os recursos e a cultura alimentares da sua região” (1997, p. 81).

Nesse aspecto, é importante ressaltar que a escola é um ambien-te social que tem como função formar os indivíduos em vários aspectos da vida, entre eles podemos destacar a necessidade de desenvolver nas crianças bons hábitos alimentares para uma vida saudável.

60 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Vivenciando a prática de estágio

A prática do estágio se deu inicialmente a partir de observações e conversa para conhecer os alunos, como propósito de coletar algumas informações das crianças, dados que pudesse contribuir com o desen-volvimento do estágio e na elaboração das atividades, que facilitasse o processo de ensino aprendizagem dos alunos.

As informações coletadas dos alunos como nome, idade, pre-ferências musicais, esporte, alimentação, atividades que mais gosta de fazer, qual a disciplina/matéria que mais gosta, foram bastante significa-tivas, pois possibilitou conhecer as dificuldades e habilidades dos alu-nos. Informações que tinham como propósito a preparação do projeto de ensino adequado para a turma.

Sabemos que para o processo de ensino aprendizagem é indis-pensável conhecer a realidade dos alunos, essas informações obtidas no primeiro contato é valiosíssima para desenvolver as atividades no intuito de atender as expectativas dos alunos e torná-los interessados nas aulas.

Na experiência em sala foi constatado dificuldades dos alunos em relação à leitura e escrita, por essa razão sempre eram solicitados aos alunos produções textuais. Conforme gagliari,

Deixar que os alunos escrevam redações espontâneas não dando muita atenção aos erros ortográficos e apostando na capacidade das crianças de escrever e se auto corrigir com relação à ortografia é de fato um estímulo desafio que o aluno sente no seu trabalho, uma motivação verdadeira para a escrita. Essa é a melhor forma de valorizar as ativida-des dos alunos (2005, p. 124).

Corroborando com o pensamento do autor de que as produções textuais espontâneas são necessárias para que o aluno tenha mais inte-resse pela escrita e possibilita que eles sejam responsáveis pelo que es-creve deixando de serem alunos “copistas” sugeri aos meus alunos esse tipo de produção, a espontânea. Atividades como produções textuais e leitura individual e coletiva eram sempre propostas.

61PRODOCÊNCIA

As disciplinas abordadas na prática do estágio foram português, matemática, história, geografia, ciências e artes. Como a turma era bas-tante diversificada, ou seja, alguns demonstravam mais domínio na es-crita, outros na leitura (tinha alunos que pela forma de se vestir e se com-portar mostrava ter melhor condições financeiras em relação a outros que não tinha nem o material básico para ir à escola). Diante desses as-pectos, havia momentos que alguns alunos mostravam indiferenças um com os outros, perante essa observação procurava sempre desenvolver atividades em grupos que possibilitassem um bom relacionamento en-tre eles, compartilhando as experiências. Abordava sempre a importân-cia da solidariedade, do respeito, do amor ao próximo. Segundo Oliveira,

Educar para a cidadania envolve a formação de atitudes de solidariedade para com os outros, particularmente com aqueles em dificuldade de superação de atitudes egoístas, implica fazer gestos de cortesia, preservar o coletivo, res-ponsabilizar - se pelas próprias ações e discutir aspectos éticos envolvidos em determinada situação (2002, p.52).

A formação de atitudes de solidariedade tem que se praticar desde cedo tanto no espaço familiar como escolar, pois são nesses am-bientes que as crianças aprendem a conviver com as diferenças, a convi-ver socialmente e respeitar as diversidades.

Em alguns momentos do estágio foram introduzidas contação de história, como “A salada de frutas” de Minéia Pacheco, “No Reino da Lagartolândia” de Patrícia Sena, “O patinho feio” do escritor hans Chris-tian Andersen. Nesses momentos as crianças pareciam bastante envol-vidas e mantinham toda atenção possível.

Para Palo e Oliveira “[...] contar histórias para crianças sempre expressou um ato de linguagem de representação simbólica do real di-recionado para a aquisição de modelos linguísticos” (1986, p.09). A opor-tunidade de contar histórias proporcionou o bom desenvolvimento nas atividades e ajudou bastante a manter a concentração da turma, o que contribui de maneira significativa para o entendimento das crianças em relação à importância das frutas na alimentação.

Ficou claro que narrar histórias para aqueles alunos era uma das atividades que eles mais gostavam, era incrível como eu con-

62 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

seguia manter toda a turma em silêncio, com os olhos vidrados em cada gesto que eu fazia, cada palavra, cada ruído, pra mim era um dos momentos mais prazerosos, pois eu sentia o interesse deles pela leitura. Para Abramovich,

É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem es-tar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilida-de, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve – com toda am-plitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar... Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário (1997, p.17).

Confirmando o que Abromovich escreve, é necessário a conta-ção de histórias para os alunos, pois o aluno desperta o imaginário, fi-cam curiosos, busca mais informações e desperta o gosto pela leitura.

Atividades como produção textual, resoluções de problemas matemáticos, produções de cartazes, leitura, brincadeiras, eram sem-pre desenvolvidas articuladas com o tema do projeto de ensino, de forma interdisciplinar.

Durante a experiência como estagiária encontrei grandes dificul-dades, dentre elas, sala de aula superlotada, indisciplina dos alunos, falta de material didático e os diferentes níveis de aprendizagem. Esta última dificultou bastante o estágio, pois era de fundamental importância res-peitar a individualidade de cada aluno e suas especificidades. Por esta razão me dedicava a esses alunos tirando suas dúvidas, ajudando-os nas atividades. Essa atitude é bastante importante, pois é necessário que os alunos sejam acompanhados individualmente, que cada dificuldade seja superada por eles para que no futuro eles não sejam vítimas de um professor omisso no ato de transmitir o conhecimento.

Considerações finais

A prática pedagógica permitiu trabalhar a interdisciplinaridade com os alunos das séries iniciais, assim como proporcionou a oportuni-dade de conhecer a realidade de uma instituição de ensino e vivenciar a experiência como docente/estagiária.

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No que se refere às expectativas quanto ao objetivo do projeto de ensino, foi bastante produtivo saber que parte da turma teve interes-se a cada encontro em realizar as atividades, como também se mostrou bem interessada no tema do projeto. No entanto, tiveram alguns pontos negativos, como por exemplo, o desinteresse de alguns alunos em parti-cipar das aulas, a presença de alguns alunos dispersos que não levavam para a escola os materiais didáticos, alunos indisciplinados, salas super-lotadas, entre outros problemas.

Mesmo diante de alguns obstáculos foi produtivo saber que al-guns alunos obtiveram mudanças de comportamentos e com certeza aprenderam de forma produtiva a importância de bons hábitos alimen-tares para o desenvolvimento do corpo humano, como também apren-deram atos de solidariedade, de respeito e amor ao próximo o que ficou perceptível durante os dias que se seguiram.

Quanto aos pontos positivos ficou a certeza de que houve pro-gresso durante o estágio e que o conhecimento é a porta para uma so-ciedade mais justa e igualitária, e os pontos negativos apresentados ser-vem para uma reflexão crítica, no intuito de analisarmos o que poderia ter sido feito de diferente e assumir uma postura como profissional da educação no intuito de se autoavaliar e rever qual postura é necessária assumir diante das situações postas no cotidiano escolar para a melho-ria da qualidade de ensino.

Diante desse aspecto é importante afirmar que o estágio obri-gatório é necessário, pois é através dele que temos a oportunidade de relacionarmos a teoria com a prática e temos a certeza de como é impor-tante o uso da teoria nas atividades pedagógicas, possibilita também conhecer as deficiências das instituições de ensino.

Referências

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BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Funda-mental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros Curricu-lares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

64 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

FORTES, M. C. de Miranda. Olho na criança: importância das frutas. Abril de 2009 Disponínel em mirandafortes.blogspot.com/2009/04/importancia-das--frutas.html. Acesso em 13. Maio.2012

gAgLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo, Scipione,2005.

OLIVEIRA, Zilma Ramos de. educação Infantil: Fundamentos e Métodos. São Paulo, Cortez, 2002.

PAChECO, Minéia. história Para Criança Ler, Ouvir e Sonhar: A salada de Fru-tas. Disponível em: < http://historiaparacriancalerouviresonhar.blogspot.com.br/2011/04/salada-de-frutas.html

Acesso em 13. Maio. 2012

PALO, Maria José; OLIVEIRA, Maria Rosa de. Literatura Infantil: Voz de Criança. São Paulo: Ática, 1986.

SALgADO, Joselem Mostrodi. A importância das frutas no crescimento e desen-volvimento das crianças. Disponívelhttp://www.nutraceutica.com.br/crescer-bem/Artigos_frutas.htm

SENNA, Patrícia. No reino da Lagartolândia. São Paulo: Construir, 2006.

RELATOS DO DOCENTE: O MEIO AMBIENTE EMPRÁTICAS INTERDISCIPLINARES

Roberta Gabriele de Menezes Santos

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ReLAtOS DO DOCeNte: O MeIO AMBIeNte eM PRÁtICAS INteRDISCIPLINAReS

Roberta Gabriele de Menezes Santos¹

Introdução

O presente artigo foi desenvolvido através de um projeto, de-corrente da experiência de atividades realizadas durante o período de estágio exigido pela disciplina Estágio Supervisionado III, orientado pela professora doutora Maria José Nascimento Soares do Curso de Pedago-gia da Universidade Federal de Sergipe. As atividades foram desenvol-vidas em uma turma de 3º ano do Ensino Fundamental de uma Escola particular localizada no Bairro Siqueira Campos/Aracaju com vinte e três crianças durante dez dias consecutivos do mês de maio.

Além de ensinar os conteúdos didáticos propostos pela escola, o projeto proporcionou aos alunos uma maior conscientização acerca do assunto relacionado ao lixo e o meio ambiente. Com isso, discussões acerca do referido tema estão cada vez mais sendo trabalhadas, seja no ambiente escolar como também em toda sociedade.

O tema “O Lixo” foi escolhido pelos alunos quando estávamos numa roda de conversa e eu, como mediadora, perguntei-lhes quais te-mas eles sugeriam. Foram mencionados vários temas, mas um comentá-rio de um aluno chamou atenção dos demais quanto ele levantou uma questão sobre a grande quantidade de lixo que ele observava nas ruas a caminho da Escola, e dai surgiram outras vertentes e mais aluno comen-tou sobre a utilização das latas coletoras colocadas no ambiente escolar que sempre intimidaram a maioria deles que preferiam jogar todo lixo na mesma lixeira por não ter as distinções de como fazer a separação diante de tais latas. Tentando sensibilizar os alunos para uma reflexão sobre a atual situação e com isso, na perspectiva de mudanças de ati-tudes em relação à preservação do meio ambiente e separação do lixo, onde possam também através desse conhecimento tornarem-se multi-plicadores de informações para outras pessoas e com isso, aderir a luta pela preservação do planeta.

66 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

A educação ambiental deverá ter um enfoque global e in-tegrado, não podendo ser reduzida a uma disciplina esco-lar. Deverá ser responsabilidade de toda a escola e perme-ar todo o currículo escolar, visando, em última instância, que a comunidade se estruture e se organize para o de-senvolvimento de pesquisas permitindo que, com recur-sos próprios e tecnologia adequada, sejam resolvidos os problemas prioritários. (KRASILChIK, 2005 p.192).

A partir do tema foram propostas atividades interdisciplinares trabalhando alguns conceitos que envolveram disciplinas como portu-guês, natureza e sociedade, matemática e artes.

Esse tema teve relevância nos PCN’s – Parâmetros Curriculares Nacionais – visto que nesse primeiro ciclo as crianças são instruídas a ter uma primeira aproximação com as noções de ambiente, neste caso o lixo. Com o objetivo geral de conscientizar os alunos no que diz respeito à produção de lixo na escola e na sociedade, bem como o seu descarte que acaba provocando vários danos ambientais. Os objetivos específicos são: apontar os prejuízos causados pelo homem ao meio ambiente com a produção de lixo, aprimorar formas alternativas de (reutilizar, reduzir, reciclar), investigar as problemáticas ambientais locais causadas pelo lixo e comparar as diversas ações que podem reduzir a produção de lixo.

A mobilização social não é uma oportunidade de conse-guir pessoas para ajudar a viabilizar nossos sonhos, mas de congregar pessoas que se dispõem a contribuir para construirmos juntos um sonho, que passa a ser de todos. Se esse sonho excluir alguém, esse alguém não vai se comprometer e vai buscar atacar, desestimular e destruir o movimento e a disposição dos outros para agir (TORO; WERNECK, 1966, p. 21).

É preciso que haja uma conscientização sobre a importância que o meio ambiente tem em nossa vida. No papel de educadora, sou responsável em transmitir conhecimentos para que o aluno seja ca-paz de participar da construção de mudanças tornando o ambiente um lugar propício com uma melhor qualidade de vida. E para que isso aconteça é preciso expor algumas atitudes como a reciclagem do lixo e da coleta seletiva.

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A partir disso, foram organizadas e esquematizadas discussões sobre o lixo, execução de dinâmicas, explicações sobre separação de sí-labas, formação de palavras, vogais e consoantes, encontros consonan-tais e vocálicos; numerais e ordem numérica, números pares e impares, adição e subtração. Apontadas algumas reflexões sobre o lixo, poluição, decomposição de materiais orgânicos e inorgânicos, reciclagem e meio ambiente. Trabalhando a oralidade, leitura, escrita, raciocínio lógico e trabalho em grupo, bem como a confecção de cartazes, textos, dese-nhos e objetos através de materiais reciclados.

Metodologia

Para tanto foram utilizados os seguintes procedimentos meto-dológicos: Conversa informal sobre o lixo, procurando saber o que eles fazem com o lixo na escola e em suas residências. Leituras e interpreta-ções de imagens sobre o lixo, e dos textos “Rap do Lixo”, “As três letras que podem salvar a natureza”e “Xote Ecológico”. A construção e expo-sição em grupo de um desenho representando os textos trabalhados. Recolhimento de materiais trazidos pelos alunos e ver sua utilidade para não causar danos ao meio ambiente e com isso a construção de bonecos e carros feitos a partir de materiais recicláveis para desenvolver a coor-denação motora bem como a conscientização ambiental. Estudos sobre o tempo de decomposição do lixo. Confecção de caixas para separação do lixo para trabalhar coordenação motora, conceitos sobre reciclagem e conscientização ambiental.

O processo de avaliação foi baseado na construção de conheci-mento que o aluno teve durante as aulas, durante as suas participações nos debates e atividades propostas em sala, bem como sua postura no decorrer das dinâmicas e atividades lúdicas. Isso porque a função da avaliação é desenvolver o aluno no seu aspecto intelectual, social e mo-ral e o professor deve planejar seu ensino para alcançar esse objetivo.

Relatos da teoria na prática docente

As atividades aqui descritas foram planejadas e organizadas de acordo com o projeto de ensino elaborado. Que continha os objetivos,

68 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

os conteúdos, procedimentos metodológicos a serem desenvolvidos e os recursos a serem utilizados, todos tendo como base o tema escolhido pela turma, “O Lixo”.

No primeiro dia de aula 07/05/2012, em um primeiro momento com os alunos, fizemos uma roda onde foi apresentado o tema e come-çamos uma conversa informal. Neste momento, as crianças colocaram suas ideias, a partir da visão de mundo de cada um. Solicitei que todos fizessem um pequeno texto sobre o tema escolhido por eles, “O Lixo”, mas percebi que eles ficaram com uma certa dificuldade para escrever algo, e dei a opção que também poderia ser feito um desenho. Mas ao recolher a atividade pude perceber que nenhum dos alunos fizeram tex-to, apenas desenhos.

Perguntei por que eles não quiseram escrever e uma aluna logo se manifestou dizendo “ Ah, é difícil escrever alguma coisa sobre o lixo, vai escrever o que? Lixo é lixo e pronto.”. Após a afirmação da aluna co-mecei a levantar as seguintes questões: Em casa vocês têm o costume de separar o lixo? Na própria escola costumam separar o lixo? Vocês sa-bem o que é a Coleta Seletiva, e qual sua importância? Como o lixo joga-do na rua interfere no meio ambiente?

A partir disso, os alunos passaram a discutir o assunto e saímos um pouco da sala para observar as caixas coletoras espalhadas pela Escola.

Com relação ao meu desempenho na aula de hoje, foi bastante satisfatório, pois consegui prender a atenção dos alunos de forma parti-cipativa entre todos os presentes.

No segundo dia, pedi que um voluntário falasse um pouco sobre a aula anterior, e três alunos logo se manifestaram. Comentaram tam-bém da observação feita em casa. Um deles disse “Lá em casa eu prestei atenção quando minha mãe ia jogar o lixo, e disse que era importante a gente começar a separar para ajudar o planeta, mas ela disse que só a gente não iria fazer muita diferença”, e muitos da turma confirmaram e dizendo a mesma coisa.

Então entreguei a atividade em folha com a musica “Rap de Lixo” e pedi para que eles fizessem uma reflexão sobre a musica. Na Atividade foram trabalhados assuntos sobre conscientização ambiental, encontros vocálicos e consonantais, sílabas e formação de palavras, adição, subtra-

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ção e raciocínio lógico. Os alunos se mostraram interessados durante a leitura do texto, mas pude perceber uma rejeição da atividade quando eles viram que iriam resolver contas.

A Matemática é uma disciplina que se destaca em relação às ou-tras, muito mais pela dificuldade que representa para muitos alunos do que pela sua importância enquanto área de conhecimento. Dificuldade entendida como algo complexo, complicado, custoso de entender e de fazer (Thomaz, 1999).

Antes mesmo de prestarem atenção na conta em si, já senti uma inquietação de muitos alunos procurando quem já tinha resolvido pra dizer o resultado, e “poupar” o trabalho. Diante disso, muitos alunos ape-nas copiaram os resultados das contas, e esses resultados serviam para a formação de palavras, essas ficaram erradas ou, resultados errados e palavras certas.

Com relação ao meu desempenho de hoje, todo o conteúdo foi passado de maneira satisfatória, mas não pude evitar as colas dos alu-nos, pois a sala é arrumada de forma onde fiquem sentados em dupla.

No terceiro dia, para fazer uma revisão da aula anterior pedi que se dividissem em grupos e fizessem a transcrição da musica trabalhada anteriormente, seguida de um desenho representando a música. Como o trabalho foi desenvolvido em grupo, eles tinham que aprender a res-peitar a opinião do outro e chegar a um consenso para execução da ati-vidade. No começo, foi difícil para que os alunos conseguissem chegar em uma opinião em comum, pois alguns decidiram tomar a frente do grupo e dando “ordens” do que deveria ser feito. Isso acabou gerando um conflito muito grande entre os alunos uns queriam explicar que ele é que estava certo gritando, mas logo comecei a conversar com eles di-zendo que se achasse que o colega estava errado, dissesse a ele, mas de forma que entendesse porque estava errado.

Mesmo assim, dois alunos não quiseram participar da atividade alegando “A gente não pode fazer nada”, e outro aluno, não queria par-ticipar de nenhum grupo, mas dava opiniões em todos. Na aula de hoje pude trabalhar a interação em grupo, conscientização ambiental, artes, coordenação motora, interpretação de texto e o senso crítico.

70 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Com relação ao desempenho de hoje foi bastante satisfatório, percebi que os alunos se mostraram bastante interessados e houve mui-tas discussões a respeito do assunto.

No quarto dia, pedi que os alunos juntassem materiais que po-deriam ser reciclados e trouxessem para a sala, onde discutimos suas utilidades , qual seria a melhor maneira para o seu descarte, o que pode-ríamos fazer com aqueles materiais e quais os danos causados ao meio ambiente. Em um segundo momento da aula as crianças começaram a confeccionar bonecos, carrinhos, foguetes, etc, a partir das embalagens recicladas. A atividade foi realizada com bastante entusiasmo pelos alu-nos. A princípio achavam que não iriam construir nada com aquelas gar-rafas, embalagens e tampinhas, mas quando um aluno começou a criar foguetes e dar asas à imaginação, todos queriam criar algo diferente.

No brinquedo, no entanto, os objetos perdem sua força determinadora. A criança vê um objeto, mas age de manei-ra diferente em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição em que a criança começa a agir indepen-dentemente daquilo que vê (VYgOTSKY, 1994).

houve algumas dificuldades a principio pela falta de materiais, a fita adesiva logo acabou, mas eles improvisaram com cola e palitos. As criações ficaram realmente lindas, cada uma com suas características em particular, poderia expor na Escola, seria bem interessante, mas, in-felizmente, não foi possível. Pude trabalhar com eles conteúdos como a conscientização ambiental, materiais recicláveis, interação em grupo, senso crítico, artes e coordenação motora. Com relação a meu desempe-nho achei bastante proveitoso, pois além de passar os conteúdos para as crianças, pude perceber um pouco de cada um através de cada criação.

No quinto dia, os alunos comentaram sobre a aula anterior, pontuando o que acharam sobre o desenvolvimento da aula. Em se-guida, foi realizada uma atividade em folha onde foram trabalhadas palavras relacionadas ao tema, formação de palavras na junção das letras correspondentes aos números (pares e ímpares), separação de sílabas e meio ambiente.

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Os alunos mostraram certa dificuldade com relação aos números pares e ímpares. Como antes do planejamento tive uma conversa com a Professora responsável pela turma e a mesma disse que o conteúdo já havia sido apresentado, quando fui fazer o plano de aula achei que os alunos já tivessem domínio do conteúdo e fiz uma breve revisão, mas na correção das atividades observei as dificuldades. O que poderia ter sido feito diferente seria apresentar, hoje, a dinâmica prevista para ser feita no dia 17/05, mas infelizmente, não tinha os materiais para sua execução.

A dinâmica proposta para o segundo momento da aula não foi realizada, pois os alunos tinham aulas à parte, neste caso Informática, com seu respectivo professor. A aula foi bastante proveitosa, porém não fiquei satisfeita, pois não tive tempo de tirar todas às dúvidas dos alunos que apresentaram dificuldades com relação aos números.

No sexto dia, em um primeiro momento da aula, os alunos se dividiram em grupos para fazer a leitura dos cartazes expostos em sala sobre o texto “Rap do Lixo”, para fixar e revisar o texto, leitura e interpre-tação, interação em grupo e trabalhar o senso crítico.

Como hoje, o segundo momento da aula precisa ser um pou-co reduzido decorrente de aulas posteriores dos alunos, apresentei o texto “RRR: As três letras que podem salvar a natureza”. Onde os alunos conheceram a produção de lixo, reduzir, reutilizar e reciclar. Além de trabalharem o senso crítico, bem como o debate em sala. As atividades foram efetuadas e os alunos ouviram o texto com atenção, abriu-se para um debate onde foram questionadores uns com os outros, e o trabalho fluiu muito bem.

O desempenho com a aula de hoje foi excelente. A escrita do tex-to estimulou os alunos a repensarem no texto, bem como conviver com palavras que muitos não conseguiam nem escrever, exemplo: “Cons-cientização, exigência, preservação, sobrevivência, etc.”.

No sétimo dia, sentados na roda, questionei os alunos sobre o que eles entendiam como “Tempo de decomposição do lixo”. Um aluno deu a resposta rapidamente “Lógico que é o tempo que o lixo some”, e sua colega questionou “Ou pode ser o tempo que colocou o lixo não é”. Comecei a explicar o quanto o lixo jogado nas ruas causava danos ao meio ambiente e a natureza questionando sobre: Quais materiais vo-cês encontram com frequência jogado na rua? Quais materiais vocês

72 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

consomem com frequência em casa? Quais materiais vocês acham que podem ser reciclados? Em um segundo momento da aula, foi desen-volvida a atividade em folha para trabalhar o tempo de decomposição do lixo, leitura e escrita, adição e subtração, raciocínio lógico, materiais orgânicos e inorgânicos.

O conteúdo foi trabalhado de maneira proveitosa, os alunos não tinham noção do quanto uma folha de papel, um pedaço de pano ou o vidro, demoraria tanto para se decompor. Com relação às contas de adição e subtração continuou havendo uma rejeição dos alunos, onde grande parte deles deixou de fazer a questão, um disse: “Vixe quanta conta, tem que ser uma manhã toda, ainda bem que daqui a pouco tem Educação Física”, em compensação seu colega respondeu: “Deixa de pre-guiça, as contas estão fáceis, eu já respondi tudo”.

A beleza da Matemática é o que está por detrás dos nú-meros, o que está além da sua aparência árida, rígida, exata, lógico-dedutiva, é o “espírito” da Matemática, é sua essência, que nos possibilita movimentar suas estruturas, dando-lhe sentido e significado. Portanto, enxergar a be-leza do conhecimento, não apenas matemático, é poder desvelar o aparente, tirando-lhe o véu para encontrar a essência (ThOMAZ, 1996, p. 109).

Após o comentário do aluno, no que diz respeito às contas esta-rem fáceis, percebi que aos outros alunos começaram a atividade pelas contas, que estavam na última questão da segunda folha. E comecei a tentar contextualizar as contas, mostrando exemplos com os alunos da sala, “Que conseguiu recolher o lixo da sala achou 20 papeis jogados, ao jogar no lixo sete papeis caíram fora do cesto” e assim fui conseguindo prender a atenção deles e percebendo que muitos continuaram a resol-ver as contas com esse mesmo raciocínio.

Com relação ao conteúdo de matemática fiquei bastante satis-feita, em poder quebrar alguns preconceitos dos alunos que ao saberem que precisariam fazer contas demonstraram insatisfação com relação à matemática, mas devido ao tempo da aula não pude parar mais uma vez para ajudar os alunos com mais dificuldades, o que me deixou um pouco frustrada.

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No oitavo dia, pedi que os alunos expusessem suas opiniões so-bre o assunto trabalhado na aula anterior sobre a decomposição do lixo. Diante das opiniões foquei na importância da separação do lixo. E du-rante esses três últimos dias eles iam ter que separar o lixo todos os dias, para isso perguntei: Qual a maior produção de lixo existente na sala? E eles responderam que sem duvidas papel e plástico. Em um segundo momento, mostrei a eles caixas de papelão e pedi que confeccionassem as caixas coletoras da sala visando trabalhar a conscientização ambien-tal, coleta seletiva, interação em grupo, coordenação motora, conceitos sobre reciclagem, trabalho em equipe e artes.

Os alunos se divertiram muito na confecção das caixas, percebi que com essa dinâmica eles não entraram muito em conflitos e o traba-lho se desenvolveu de forma bastante proveitosa. Ao final da atividade, um deles disse: “Podia fazer essas caixas semana passada, hoje já estava transbordando de materiais recicláveis”. gostei muito do comentário fei-to pelo aluno, e sim faria diferente, colocando as caixas na semana ante-rior. O desempenho dessa aula foi incrível, eu gostei muito dos comentá-rios dos alunos e as caixas coletoras ficaram lindas, todos queriam logo jogar algum lixo nelas. Ao termino da atividade a coordenadora da Escola passou na sala para um aviso e elogiou muito o trabalho dos alunos.

No nono dia, as crianças falaram sobre a experiência da aula an-terior, em seguida solicitei que todos fossem à quadra da Escola, onde houve uma dinâmica para a fixação dos números pares e impares.

Ao chegar à quadra pedi para os alunos sentarem na roda fa-zendo um grande circulo. Comecei chamando apenas um para o centro da roda. Iniciou-se a musica “Xote Ecológico”, musica de Luiz gonzaga, falando do meio ambiente, tema trabalhado durante as duas semanas, e do gênero forró. Questionei: O aluno no meio da roda poderá dançar sozinho? Não? Isso significa que ele é impar. Em seguida chamei uma aluna para roda e questionei novamente: E agora juntos podem dançar forró? Sim? Então formamos um par.

Diante disso, a dinâmica ocorreu de uma maneira bem agradá-vel, onde os alunos adoraram sair um pouco de sala e aprender um as-sunto que eles já tinham visto, de maneira bem natural. Em um segundo momento da aula, refiz a dinâmica em sala já com o auxilio da atividade onde além de trabalhar encontros consonantais trabalhei os números

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pares e ímpares, de forma que os alunos tinham que desenhar uma ta-bela e desenhar as crianças que participavam da dinâmica e separarem entre pares e ímpares. Com a atividade pude trabalhar, encontros conso-nantais, números pares e ímpares, leitura e interpretação de texto, inte-ração em grupo, expressão corporal e coordenação motora.

Com esse clima descontraído os alunos conseguiram realmen-te entender por que o numero é par ou ímpar e conseguiram prestar atenção sem maiores dispersões. O decorrer da aula foi tão bom que a manha passou bem rápida.

Finalmente, décimo e ultimo dia de aula 17/05/2012, e na roda, falamos um pouco da importância do tema trabalhado nesses dez dias do meu estagio junto a eles. Fizemos uma revisão dentro de um debate sobre todos os assuntos trabalhados. Perguntei o que eles mais gosta-ram e ouvi dos alunos as seguintes respostas: “Foi conhecer a utilidade do lixo”, “O tempo de decomposição do lixo”, “Fazer as caixas coletoras”, “A musica Xote Ecológico junto com os números”, dentre outras. Em um segundo momento, pedi que os alunos construíssem individualmente um pequeno texto, contendo tudo que eles me falaram na roda, sobre o que eles mais gostaram nas aulas. E com isso ter um feedback, que sig-nifica realimentar ou dar resposta, de todas as atividades desenvolvidas por mim em sala, se realmente consegui alcançar os objetivos propos-tos com as aulas elaboradas e realizadas, o que me deu uma resposta bastante satisfatória, pois consegui realizar todas as atividades de forma em que pude prender a atenção dos alunos, além de fazer com que eles participassem efetivamente das aulas.

Considerações finais

Com a experiência da regência em sala do 3º ano do Ensino Fun-damental em uma Escola particular localizada na cidade de Aracaju/SE, através da disciplina de Estágio Supervisionado III, e diante da leitura dos textos elaborados pelos alunos no último dia de aula pode-se con-cluir que estou bastante satisfeita ao término do trabalho, com o meu desempenho, pois consegui trabalhar todas as atividades propostas, com o desempenho dos alunos em fazê-las, mostrando um grande em-penho e entusiasmo em todo o seu desenvolvimento.

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Fugindo um pouco de uma educação extremante tradicional, pude trabalhar com o conhecimento prévio dos alunos e modificar um pouco as atividades no decorrer de sua execução tentando adaptá-las de forma que fossem significativas nos respectivos dias. A Escola não trabalha de forma interdisciplinar e grande parte dos profissionais cos-tumam limitar um determinado assunto a uma área de conhecimento, ou seja, não há uma integração de saberes. Diante disso, pude perceber os questionamentos dos alunos com a preocupação de sempre estarem perguntando “O dever é de que, matemática, história?”.

Com relação à professora da sala, pelo pouco contato que tive-mos pude perceber que sempre para chamar atenção das crianças ela costumava dizer “Isso vai cair na prova”, como se a prova fosse determi-nar realmente o que o aluno aprendeu. Acredito que a forma de avalia-ção tem que ser baseada na construção de conhecimento que o aluno tiver durante as aulas, esses conhecimentos foram avaliados durante as suas participações nos debates e atividades propostas em sala, bem como a sua postura no decorrer das dinâmicas e atividades lúdicas.

Sendo assim, atividades sugeridas no projeto de ensino, fizeram com que a criança fosse um elemento ativo do processo de ensino--aprendizagem e não somente receptora de conhecimento e a forma de avaliar, em todo o processo, foi contínua com o objetivo de melhorar a aprendizagem através do rendimento das atividades, dos momentos de conversas sobre o assunto, do envolvimento com os trabalhos, e não na aplicação de provas em forma de punição.

No que diz respeito à prática docente durante a execução do projeto, nos últimos dez dias, pude perceber que os desafios do pro-fessor seja ele de Educação Infantil ou Ensino Fundamental está no se “doar” de forma que o foco seja único e exclusivamente com o apren-dizado do aluno. Poder aproveitar todo seu conhecimento de mundo, para facilitar a troca de experiências entre educando e educador, sem restrição do que venha a ser modificado ou acrescentado durante a aula, e assim conseguir superar as dificuldades existentes em todo processo de aprendizagem. E cabe a nós, futuros educadores, estarmos sempre priorizando tal aprendizado.

76 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Referências

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Funda-mental. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Brasília: MEC/SEF, 1998. v.8.

KRASILChIK, Myriam. Prática de ensino de Biologia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

LUCKESI, Cipriano. Avaliação: Otimização do Autoritarismo. Equívocos Teóricos na prática educacional. Rio de Janeiro, ABT, 1984. 

PIAgET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.  

REgO, Teresa Cristina. Vygotsky - uma perspectiva histórico-cultural da edu-cação. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1995.

RODRIgUES, Francisco Luíz. Lixo: de onde vem? Para onde vai?. São Paulo: Mo-derna, 1997.

SECRETARIA de Estado do Meio Ambiente São Paulo. Guia pedagógico do lixo. São Paulo, SMA, 1998.

ThOMAZ, T.C. Não gostar de Matemática: que fenômeno é este?. Cadernos de Educação/UFPel, Pelotas, n. 12, 1999.

TORO. José Bernardo A.; WERNECK, Nisia Maria Duarte. Mobilização social: Um modo de construir a democracia e a participação. 1°ed. Colombia. 1993.

VYgOTSKY, LS. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITOO TRÂNSITO COMO NORTEADOR DAS

RELAÇÕES HUMANAS

Lucineide Lopes Ventura

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eDUCAÇÃO PARA O tRÂNSItOO trânsitO cOmO nOrteadOr das relações humanas

Lucineide Lopes Ventura

Introdução

O estágio foi realizado em uma turma do 1º ano de um escola da rede Municipal de Ensino Fundamental, que doravante denominaremos “E. M. B. T.”, no turno vespertino na Cidade Aracaju/SE, onde a principio fiz as primeiras observações em sala de aula que deram suporte meto-dológico para a escolha do tema: “o trânsito como formação para cida-dania a ser desenvolvido no projeto de ensino”.

Os conteúdos programáticos seguidos na escola correspondem às diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que não se apresen-tam inflexíveis, pois segundo o ex- ministro Paulo Renato Souza:

foram elaborados procurando de um lado, respeitar diver-sidades regionais, culturais, politicas existentes no país e, de outro, considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regi-ões brasileiras (BRASIL,1998, p. 05).

Apesar de localizado em uma rua de pouco movimento, para che-gar à escola, os alunos e seus acompanhantes em sua maioria precisam atravessar ruas e avenidas circunvizinhas de trafego intenso, tendo esse fato me feito refletir acerca do tema o trânsito e determinadas ações que são de suma importância para a formação de cidadania e ética no mes-mo; nesse sentido, pensei em trabalhar por meio do projeto de ensino a educação no trânsito, buscando despertar nas crianças a importância de se ter segurança no vaivém das ruas de nossa cidade. De acordo com um site de pesquisa denominado Wikipédia, o trânsito prima, geralmente, pela organização, fluindo em faixas de tráfego numa direção particu-lar, com cruzamentos e sinais de trânsito. O trânsito pode ser separado em classes: motorizado, não-motorizado (bicicletas, carroças e Pedestre) (2012, s.p). Classes diferentes podem compartilhar limites de velocidade e direitos, ou podem ser segregadas. Alguns países têm leis de trânsito muito detalhadas e complexas enquanto outros confiam no bom sen-

78 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

so dos motoristas e na boa vontade deles em cooperar, evidenciando o bom desenvolvimento da educação para o trânsito.(WIKPÉDIA,2012).

O projeto de ensino procurou atender ao objetivo de promover uma melhor interação entre as crianças como cooperação, amizade e valores. Nesse sentido o objetivo vai além de regras do trânsito e aden-tra nas relações cidadania e respeito mútuo, assim como também foi inserido o uso de diferentes linguagens (placas, imagens, fotos), adapta-das as situações do cotidiano para que o aprendizado se faça de forma lúdica e prazerosa.

Considerando-se que se trata de uma turma de 1ª série, os as-suntos foram abordados de forma interdisciplinar, a cada dia, sempre retornando ao mesmo ponto do dia anterior e acrescentando algo novo, para que eu como educadora pudesse perceber as dificuldades de cada um e assim desenvolver, na medida do possível, as capaci-dades de forma igualitária. Apropriando-me do tema gerador de meu projeto, “O Trânsito”, busquei desenvolver a expressão oral com leitu-ras de pequenos textos adaptado ao conteúdo programático. Busquei desenvolver também a escrita e a interpretação de textos através de desenhos e formação de palavras e dentro deste contexto destaquei as cores e formas, sílabas e letras, quantidade e a natureza e relevância para nossa convivência em sociedade.

A interdisciplinaridade não é apenas integração de disci-plinas. Após a integração, é preciso interação, viver a prá-tica dialógica, atitude que cria zonas de interseção entre as disciplinas, entre as pessoas, entre o que se sabe de si mesmo e o que não se sabe. A partir desse movimento, possibilita-se ampliar as fronteiras e tornar-se capaz de produzir conhecimentos que em uma única disciplina não seriam possíveis (hASS,2008 , p.07).

As atividades propostas para essa turma além de direcionada a à alfabetização, também visavam às reflexões ao desempenhar as ativi-dades nas aulas de educação física, como estabelecer relações espaciais e dominar progressivamente as direções, para estimular as percepções visuais táteis e auditivas (sons do corpo, objetos diversos) por meio de brincadeiras e atividades relacionadas ao tema, através da qual elas co-nheçam sinais e regras de trânsito e percebam quais as atitudes deverão ter para segurança no trânsito.

79PRODOCÊNCIA

O desenvolvimento humano é muito complexo, rico e di-versificado, com muitas surpresas e diversas fases, através das quais o indivíduo se constituirá em ser dinâmico ati-vo e interativo. Para que a apropriação das características humanas aconteça, é necessário que ocorra atividades por parte do sujeito, formando ações e operações motoras e mentais (SENNA, 2010, p.04).

A teoria em busca da prática

Além de se ter um conhecimento prévio da turma na qual traba-lhei, observei que foi de fundamental importância a criação de vínculos de amizade para que a turma adquirisse confiança em mim como pro-fessora e assim fizesse seus questionamentos sem medo de rejeição ou punição. Os alunos da primeira série eram muito comunicativos e par-ticipativos, só identifiquei uma menina que raramente vi conversando com seus colegas e me disseram que ela é tímida.

Formamos uma roda de conversa sobre o trânsito demostrei algumas placas eles identificavam algumas figuras, a faixa de pedes-tres e as cores do semáforo e as crianças contaram suas experiências enquanto pedestres.

Atividade 1: reconhecendo as placas de trânsito

Fonte: google imagens.

80 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

As crianças da primeira série ainda estão descobrindo a escrita por isso pedi a eles que se expressassem como eles sabem desenhan-do como vem à escola, partindo de suas casas, foi mais um momento de muita descontração e alegria pois é a atividade predileta da maio-ria deles. Alguns me pediram para escrever o nome no papel para que eles pudessem escrever na atividade para mostrar aos pais. Segundo Libâneo não basta à seleção e organização lógica dos conteúdos para transmiti-los. Antes os próprios conteúdos devem incluir elementos da vivência prática dos alunos para se tornar signifi cativos. (1994, p.128), assim busquei inserir atividades relacionadas ao dia a dia das crianças, a exemplo da imagem abaixo.

Exemplo de desenho: indo para casa

No segundo dia de atividades perguntei às crianças se no per-curso para a escola eles observaram placas de trânsito nas ruas ou aveni-das e todos eles explicaram como vem à escola alguns de ônibus, outros de bicicleta e muitos a pé, com seus pais, vizinhos e parentes.

A aula de Português foi sobre a letra C e Ch para escrever novas palavras e acrescenta-las ao vocabulário cotidiano e para as crianças foi difícil se acostumar ao novo som porque eu havia dito antes que a letra h era muda e agora teria som de X. As novas palavras também foram es-critas no caderno, copiadas por eles do quadro. De acordo com Cagliari

81PRODOCÊNCIA

Conhecer a natureza, a função e os usos da ortografia é importante ainda para entender as relações entre letra e sons e entre fala e escrita. A ortografia comanda a função das letras no sistema de escrita, estabelecendo a ordem dos caracteres das palavras e o valor fonético de cada um deles, de acordo coma linguagem oral (dialeto de todos os usuários). (gAgLIARI,1999,p.123)

No decorrer do terceiro dia, ao descreverem como chegam á escola, entramos no tema da natureza e o que ela nos proporciona, tudo explicado no quadro para que depois eles fizessem a atividade na folha sozinhos.

O professor T10 de educação física chegou, e como exercício de coordenação motora começou a brincadeira: Morto, vivo com uma musica de axé, que ele trouxe no cd player, mas as crianças entraram em euforia e algazarras e fomos obrigados a parar a atividade; em se-guida conversamos sobre as dificuldades que eles têm de seguir as regras e usando tema da aula o que aconteceria se não respeitássemos as regras de trânsito.

Ainda nesta tarde ao retornar para a sala retomei a explicação das atividades e entreguei a folha de atividades, muitos ainda ficam in-seguros e um menino me chamou a atenção por ter “pavor” de errar e nem ao menos tentar, disse a ele que sabia como fazer e assim o fez, enquanto eu falava sem precisar escrever em outro papel como fiz em outra ocasião. Cagliari (1992a), nos mostra a importância do aluno ter a chave da decifração da escrita para que o aluno tenha condições de desenvolver-se de forma autônoma.

Após a leitura do livro “Sinal Vermelho para o Desrespeito”, de Ivan Alcântara e Newton Foot da editora Escala, trabalhamos com o al-fabeto móvel foi muito enriquecedor para a interação e o envolvimen-to do grupo. Enquanto as crianças formaram palavras e separavam por quantidade de sílabas, devido a maioria não saber ler eu os ajudava es-crevendo algumas palavras no quadro. Nesse momento de interação, me recordei de Vygotsky, quando escreve que:

Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sis-

10 Manteremos a letra inicial para preservarmos a identidade dos professores

82 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

tema de comportamento social, e sendo dirigidas a objeti-vos definidos, são refratadas através do prisma do ambien-te da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desen-volvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social (VYgOTSKY,1989, p. 33).

A leitura é um hábito constante nas atividades de sala dos alunos da turma da 1ª série para que eles desenvolvam desde cedo o gosto pela leitura e consequentemente compreendam e desenvolvam o sistema da leitura e escrita. Ao retornar à leitura do texto do livro “Sinal Vermelho para o Desrespeito”, como proposta à literatura infantil para leitura em sala, o livro foi passado de mesa em mesa para que fossem observadas as figuras, mais uma vez a foi uma algazarra geral para saber que mesa iria receber o livro primeiro. De acordo com Luzuriaga, “[...] A educação é a organização dos recursos biológicos do individuo, de todas as ca-pacidades de comportamento que os fazem adaptável ao meio físico e social” (1951, p.40). Nesse sentido, o diálogo com as crianças para que estas compreendam que tais comportamentos não seriam aceitáveis em sala de aula, se fez primordial.

Em alfabetização matemática, trabalhamos a importância dos números em nossa vida. Pensando no projeto de ensino, questiona-mos onde poderíamos encontrar os números quando estamos na rua, se poderíamos encontrá-los no trânsito, e a partir desta troca, introdu-zimos o conceito de dezena e unidade. Segundo Mizukami, o profes-sor é um planejador do ensino e da aprendizagem “[...] que trabalha no sentido de dar maior produtividade, eficiência e eficácia ao proces-so, maximizando o desempenho do aluno (1986, p.31-32)”. De acordo com a autora, o professor, como um analista do processo, procura criar ambientes favoráveis de forma a aumentar a chance de repetição das respostas aprendidas.

Trabalhamos em folha, atividade de português com a letra C, in-terpretação de texto e matemática identificando as dezenas e unidades. Achei interessante quando uma criança perguntou a professora o que era ácido? E a professora explicou que era um sabor que doía na língua como limão e todos riram da careta que ela fez.

83PRODOCÊNCIA

A atividade deste novo dia letivo foi iniciada com uma roda de conversa sobre o nosso ambiente de sala, a arrumação das mesas e o lu-gar onde as meninas queriam sentar, no fundo da sala, então expliquei a elas que não poderiam sentar lá porque não iriam enxergar direito, além de perder a interação comigo e com a professora e os demais colegas de sala, mas elas compreenderam e vieram se sentar à mesa da frente como de costume.

O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também ouve os alunos. Deve lhes dar atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a ex-por opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e as opiniões dos alunos mos-tram como eles estão reagindo à atuação do professor e as dificuldades que encontram na assimilação dos conteú-dos. Servem também para diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades. Estas são uma das funções da avaliação diagnóstica (LIBÂNIO, 1994; p. 250).

Começamos a aula com uma breve conversa sobre o trânsito e em seguida eles foram para a aula de educação física na qual trabalha-mos um jogo de coordenação motora de acordo com as cores do se-máforo simbolizadas por bandeiras. Com a ajuda do professor fizemos riscos no chão e os alunos brincavam de carro e corriam até a bandeira vermelha na qual eles tinham que parar, andar devagar na amarela ou seguir adiante na verde. Para Libânio:

O objetivo do processo de ensino, e de educação é que toda a criança desenvolva suas capacidades físicas e intelectuais, seu pensamento independente e criativo, tendo em vista tarefas teóricas e prática, de modo que se preparem positi-vamente para a vida social (LIBÂNEO 1994, p. 201).

Ao voltar do recreio foi feita uma explicitação das ações na qual foi sugerido aos alunos que falassem como deveríamos ou não fazer para vivermos bem socialmente e o conceito de sociedade.

Neste contexto aprendi em FREIRE (1996, p. 96) que o professor precisa dar, ao aluno, apoio moral e sentimentos de segurança e con-

84 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

fiança, ou seja, estimular o autoconceito da criança. O educador deve evitar fazer criticas negativas para não aguçar a insegurança e o senti-mento de incapacidade.

A atividade de Português foi explicada, mas sem dificuldades a qual já havia sido realizada pelas crianças nas atividades anteriores, apenas com a explicação de significados de palavras novas como vadio na qual foi apresentado a eles pela professora um dicionário explicando sua finalidade.

O processo de ensino-aprendizagem, que ocorre na infância é muito importante, visto que é nesse estágio que a criança poderá ou não adquirir o hábito de criar, ler e escrever, descobrir o mundo e assi-milar métodos que a ajudará durante toda sua vida, conforme Vygotsky,

Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sis-tema de comportamento social, e sendo dirigidas a objeti-vos definidos, são refratadas através do prisma do ambien-te da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desen-volvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social (VYgOTSKY,1989, p. 33).

Como vemos em Libânio, (1990) a tendência da educação liberal renovada é centrada pelo sentido da cultura como desenvolvimento de aptidões individuais. Só que o processo de educação se dá no interno, não no externo; ou seja, ela varia de acordo com as necessidades e inte-resses individuais necessários para adaptação do meio à sua realidade.

Na realização das atividades deste penúltimo dia aproveitando que houve uma briga entre as meninas por causa de um batom falei sobre a importância de se estabelecer coletivamente as regras sociais e de generosidade para que todos os indivíduos vivam pacificamente.

Com esta conversa, expliquei que alguém pode ser machucado e ficar sem amigos porque assim como as regras de trânsito nada funcio-na se não respeitar as normas, porque elas existem para evitar acidentes ao colocar ordem não só no trânsito, mas toda a sociedade.

85PRODOCÊNCIA

A atividade de sala continuou com dezenas e unidades e colo-quei um quadro com o trânsito para numerar os quadrinhos. As crianças gostaram, mas tiveram dificuldade na hora de numerar porque queriam fazer em sequência e eu expliquei que não poderia, pois os quadrinhos não estavam em sequência.

É importante destacar que a Matemática deverá ser vista pelo aluno como um conhecimento que pode favorecer o desenvolvimento do seu raciocínio, de sua capacidade ex-pressiva, de sua sensibilidade estética e de sua imaginação (BRASIL, 1997, p.88).

Acolhimento às crianças que estavam agitadas porque não iria ter aula no outro dia, a professora e eu dissemos que os alunos iriam fazer um ditado quando voltassem da educação física e alguém pediu que ela explicasse o que era ditado.

Exemplo do ditado

Na aula de educação física decidimos fazer a brincadeira de reconhecimento do outro, com os olhos vendados, foi muito interes-sante porque depois as crianças ficaram mais calmas porque tinha que prestar atenção uns aos outros e ficar em silêncio para não ser identi-ficado e quem acertava ganhava um pirulito, que ao final da atividade distribuí a todos.

86 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Depois dessa atividade que durou um longo tempo foi distribuído letras para a formação de palavras que escrevi no quadro. Assim elas se saíram bem melhor, mas alguns que não conseguiam escrever as palavras acabavam desmanchando o do colega e a brincadeira terminou.

Consequência, vontade, intenção, pertencem à esfera da subjetividade, uma dimensão humana tão fundamental para Vygotsky (ainda que geralmente não comtempla-da nas discursões sobre seu pensamento). O processo de internalização, que corresponde à própria formação da consciência é também um processo de constituição da subjetividade a partir das situações de intersubjetivi-dade. A passagem assim do nível interpsicológico para o nível intrapsicológico envolve, assim, relações interpesso-ais densas, mediadas simbolicamente, e não trocas me-cânicas limitadas a um patamar meramente intelectual (OLIVEIRA,1992, p. 68).

Distribui um joguinho sobre o trânsito com grãos de milho e dados para brincarem após pintar o desenho, observei que eles já es-tavam se adaptando as regras, pois conseguiram jogar em duplas sem discursão, depois todos levaram seus joguinhos para casa e observei que gostaram muito.

Considerações finais

O estágio supervisionado do ensino é de suma importância para o desenvolvimento de habilidades práticas que permearam, e as teorias acadêmicas, as práticas educacionais que aplicarei para o meu futuro profissional.

As horas passadas em sala de aula muito me acrescentaram como pessoa e mais ainda como profissional, onde constatei a impor-tância de ministrar uma boa aula, o carinho das crianças para com a pro-fessora e comigo, assim como todos os funcionários da instituição que recebe a nós estagiários de braços abertos, demonstrando como se faz uma educação de qualidade, apesar das dificuldades.

Esse contato com a sala de aula me fortaleceu como profissional, com relação à habilidade para controlar a classe, solucionar problemas

87PRODOCÊNCIA

surgidos repentinamente, desde a falta de recursos financeiros, a falta de interesse do aluno e até a evasão escolar.

Na prática percebo que dá sim para programar e adequar os con-teúdos acadêmicos a nossa vivência em sala de aula, sempre dando no-vos formatos às aulas, através de estudos e pesquisas e adequar os con-teúdos a capacidade e ao cotidiano do aluno, para que este seja sempre receptivo e participante do processo de aprendizagem.

Aprendi também que meu papel como professora é de sempre orientar e motivar meus alunos na busca de informações, sendo essen-cial a integração, pois se há afinidade entre educando e educador e eles puderem me ver como mediador, que está sempre disposto a ajudar, quando houver alguma dúvida não terão constrangimento em me inda-gar, porque eles saberão que estarei sempre disposta a orienta-los, pes-quisar com eles e demostrar a utilidade do conteúdo em seu cotidiano, reforçando, assim o interesse em aprender.

Os conteúdos didáticos é o conjunto de conhecimentos, hábitos, habilidades, valores e atitudes, buscando a assimilação ativa e aplicação prática na vida dos alunos; Os objetivos educacionais definem propó-sitos que se pretende alcançar; e o método é o meio que será utilizado para alcançar os objetivos propostos.

Conteúdos educacionais sofrem alterações constantemente, para se adaptar às novas realidades e a intencionalidade do sistema de ensino, assim sendo a escola tem por dever oferecer aos alunos um ensi-no democrático, dando o devido valor aos seus costumes, introduzindo o saber científico a partir de uma vivência interdisciplinar.

Desenvolvendo esse trabalho a partir da segunda semana pude observar que eles desenvolveram melhor suas atividades, o empenho da professora inclusive conversando com a coordenação da escola e pais de alunos para que as crianças realizem suas tarefas e não faltem à aula. Então acredito que o problema não está apenas na criança, mas no sistema, que não tem uma proposta que atenda as necessidades e permita ampliar as possibilidades das crianças desenvolverem suas po-tencialidades cognitivas.

Sei que o Estado tem obrigação de fornecer material para a educação, mas aprendi com a professora E., que o que se faz com amor

88 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

sai bem feito, por isso seus alunos recebem seu material, zelam por ele e tem obtido um bom desempenho em relação aos demais alunos da mesma faixa etária.

Portanto, o estágio supervisionado III me proporcionou um aprendizado novo que foi sentir-me útil na minha ação, foi bom per-ceber que cada um tem seu jeito de aprender e que cabe ao educador estar atento a essas diferenças em sala de aula.

Sei que os alunos da turma de primeira série compreenderam cada um à sua maneira as normas do trânsito e sua ligação coma cida-dania quando no decorrer dos dias foram se acalmando nas atividades de jogos e brincadeiras, respeitando os demais colegas e nos relatos de suas vindas à escola e o cuidado ao atravessar as ruas do trajeto.

O professor deve ser o facilitador da aprendizagem, sempre aberto a novas experiências, procurando entender as dificuldades de seus alunos e assim tentar leva-los a auto realização. Sendo assim o pro-cesso de ensino depende da capacidade de cada professor de como se comporta perante o educando e da compreensão e aceitação destes.

Pude perceber através da vivência em sala a importância da rela-ção professor aluno, e desejo me tornar uma profissional sempre dispos-ta a troca de experiências e aprendizados porque a verdadeira educação é uma via de mão dupla.

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89PRODOCÊNCIA

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ESTÁGIO SUPERVISIONADO: RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA VIVENCIADA EM SALA DE

AULA11

Ilma Souza Francisco12

91PRODOCÊNCIA

eStÁGIO SUPeRVISIONADO: ReLAtOS De UMA eXPeRIÊNCIA VIVeNCIADA eM SALA De AULA11

Ilma Souza Francisco12

Introdução

Meu interesse pelo tema nasceu do desejo das crianças em sa-ber ler e escrever e de relatos da professora da turma a qual me confes-sou que grande parte dos alunos de sua classe tem muitas dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita. A professora chegou a relatar que tinha que buscar fora do livro didático alternativas que possibili-tasse o interesse da turma, pois os conteúdos do livro não estavam ao alcance da aprendizagem as crianças, filhos de pais analfabetos que o único contato com a leitura e escrita é mediante a escola.

Para o desenvolvimento deste trabalho com as crianças utilizei como metodologia: Leituras de livros de literatura infantil à escolha da criança feita em voz alta para as crianças; jogos como barcos, baralho de sílabas, alfabeto móvel, jogo da memória, desenho do corpo humano (das próprias crianças) músicas, textos, escrita, corte e colagem; con-fecção de matérias concretos que pudessem ajudar na realização das atividades, produção de textos livro e direcionado; resumos de textos dos fundamentos estudados, aula expositiva e dialogada, trabalhos em grupo e individual. Pois acredito que se pode contribuir de forma bas-tante significativa para a superação das dificuldades de aprendizagem apresentadas por crianças que não conseguem apreender as habilida-des necessárias para o domínio da leitura e da escrita.

Ler e escrever faz parte do cotidiano de todas as pessoas alfa-betizadas, por isso a sua importância e relevância no convívio social, a necessidade da criança já ir descobrindo que tanto a leitura como a es-crita nos possibilita ter uma comunicação mais ampla do mundo que nos rodeia. Pois acredito que o desenvolvimento pleno do ser humano

11 Artigo elaborado após realização do projeto no programa Prodocênçia/ CAPES/ UFS, em parceria com escolas públicas do estado de Sergipe.12 [email protected]. graduanda de Licenciatura em Pedagogia da Univer-sidade Federal de Sergipe, cursando o 8º período/Departamento de Educação/Centro de Ciências humanas

92 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

depende do aprendizado que realiza num determinado grupo social, a partir da interação com os outros indivíduos da sua espécie. Ou seja,

[...] um indivíduo criado numa tribo indígena, que des-conhece    o sistema de escrita e não tem nenhum tipo de    contato com um ambiente letrado, não se alfabeti-zará. O mesmo ocorre com a aquisição da fala. A criança só aprenderá a falar se pertencer a uma comunidade de falantes, ou seja, as condições orgânicas (possuir o apare-lho fonador), embora necessárias, não são suficientes para que o indivíduo adquira a linguagem. Nessa perspectiva é o aprendizado que possibilita e movimenta o processo de desenvolvimento (REgO; VIgOTSKY, 1999, p. 183).

Daí a necessidade de dos educadores buscar desenvolver o pro-cesso da leitura e da escrita dentro da sala de aula de modo que possa possibilitar um ambiente educativo propício a aprendizagem dessas crianças que muitas vezes não sabem sequer escrever seu próprio nome. Então este trabalho deve se fazer de modo processual e continuo para observar mudanças ocorridas ou não e poder trabalhar nos aspectos em que o aluno estiver tendo mais dificuldades. Pois ”A leitura, como prática social, é sempre um meio, nunca um fim” (BRASIL, 1997, p.57).

Relatando a vivência no estágio

Quanto a minha prática esta durou dez dias, já que foi o exigido pela minha professora de estágio III e ocorreu de 07 a 18 de Maio no colégio X. As atividades escolares começavam das 7:30 as 11:30 no turno da manhã onde eu desempenhei aí um papel de docência e com isso desenvolvi um projeto de Leitura e Escrita sempre fazendo uma ligação direta com os conteúdos que seriam dados pela professora da turma.

È importante deixar claro que antes de começar a prática eu ob-servei os alunos durante uma semana então já conhecia um pouco da historia de vida deles, o grau de aprendizagem e dificuldades em de-terminadas tarefas. O tempo todo trabalhei levando esses aspectos em consideração para que eles realmente aprendessem. Tudo foi feito com muita participação dos alunos que estavam sempre participando de acordo com seu desenvolvimento e disposição. Pois como tem mostra-do estudos realizados com alguns autores a exemplo de garvin (1993),

93PRODOCÊNCIA

Perrenoud (2000), Zabala (1998), Sacristán (1988) entre outros que todo criança apresenta um ritmo único no processo de evolução.

Visto por esta ótica, cada pessoa tem uma história particular e única, formada por sua estrutura biológica, psicológica, social e cultural. Esse fato ocorre tanto no ambiente familiar quanto no escolar e é preciso que tanto os educadores quanto os pais respeitem esse processo. Sendo que esse respeitar o ritmo de cada um quer dizer oferecer as condições necessárias para que esse indivíduo possa se desenvolver integralmente.

Para Sacristán (1988) “é fato empírico que nós, seres humanos, somos diferentes uns dos outros do ponto de vista biológico, psicológi-co, social e cultural. Cada um de nós constitui uma individualidade única ao lado de outras tão singulares quanto a nossa”. (SACRISTÁN, 1988, p. 16, apud, FERNANDES, s/p, 2012). Por isso é que antes de começar qual-quer trabalho educativo o professor deve procurar conhecer sua cliente-la e trabalhar de acordo com o meio em que ele está inserida.

Percebi que quando tinha uma palavra no texto que as crianças não conheciam o seu significado todas silenciavam por alguns momen-tos como se estivessem tentando compreender seu significado, e eu respeitava esse momento pensando que era o modo deles lêem, mas de tanto observar esse fato, resolvi perguntar o por que. Foi então que fiquei sabendo que aquela pausa era para que eu explicasse aquela pa-lavra, mas em momento algum presenciei a outra professora fazer isso então resolvi conversar com ela para saber como vinha trabalhando aquelas questões. Foi então quando ela relatou que havia dito as crian-ças que quando eles ou eu tivesse lendo um texto e no meio dele tivesse alguma palavra que por ventura eles não entendessem era para parar que eu explicava. O que a professora esqueceu foi de dizer aos alunos para me perguntar. Então eles silenciavam em busca de respostas e eu ficava esperando sem saber porque daquele silêncio.

Nas aulas seguintes resolvi que todos teriam do seu lado um di-cionário para quando a duvida surgir a gente consultar o pai dos inte-ligentes. Para que eles já fossem aprendendo a consultar o dicionário e não ficassem buscando respostas prontas. Então a cada dia fui buscan-do proporcionar uma leitura eficaz, de modo que deixasse bem claro para as crianças qual o objetivo daquela leitura que eles faziam e por que é tão importante buscar compreender o que está sendo lido pois:

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hoje em dia, a leitura se tornou uma ferramenta indis-pensável à vida em sociedade, o uso da leitura favorece a formação pessoal, não sendo apenas perceptível os dife-rentes contextos e nas mais elementares tarefas da vida cotidiana, como: tomar ônibus, fazer compras em super-mercados, telefonar em uma cabine pública, utilizar carros entre outras. O ato de ler permite o desenvolvimento do senso crítico, aprimorando a capacidade e as possibilida-des de participação social (MOURA; VIEIRA, 2006, p.2).

Por isso a sua importância e relevância. Pois me inquietava mui-to o fato de saber que fora do ambiente escolar eles iriam se deparar com variados tipos de gêneros literários e precisariam lidar com eles para ter uma boa interação na sociedade. Por estes fatores busquei fa-zer com que os alunos que tinham mais dificuldades em ler e escrever lessem mais, tanto nas aulas como em casa. Para tanto, dava livros de literatura que eles mesmos escolhiam para levar para casa e no outro dia falava um pouco da história sem pressão nenhuma. Pois a escrita e a leitura são consumidas, hoje, pelas pessoas como meio necessá-rios para a comunicação e sobrevivência. Para tanto, é preciso que se tenha um respeito pelo grau de desenvolvimento de cada criança já que cada uma possui um ritmo diferente. Lembro-me do quanto as crianças ficaram felizes em aprender as horas. Foi muito difícil fazer com que elas respeitassem o momento de cada um pois todos que-riam ir ao mesmo tempo para frente do quadro realizar as atividades. Antes disso é claro que utilizei um texto cujo título era “lendo as horas”. O texto trazia informações do que era hora, trazia ilustrações de reló-gios tanto de ponteiros como digital e explicava todo processo que os ponteiros percorria no centro do relógio ate marcar uma hora, e isso as deixou fascinadas. Então no dia seguinte combinei com elas que pro-duziríamos nosso próprio relógio e assim fizemos. Elas participaram ativamente de todas as atividades tanto a de confeccionar o relógio quanto a de identificar no mesmo momento que faziam parte do seu cotidiano (hora de dormir, acordar, comer, ir para escola...)

É importante deixar claro que elas, mesmas com a minha aju-da fizeram os registros escritos desses momentos tanto no quadro de giz como em seus cadernos e desse modo fomos trabalhando a escrita das palavras. Muitas vezes perguntavam- me como escrevia determi-

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nadas frases então as convidava a pronuncia-la silabicamente, ouvir o som que elas produziam e imaginar como deveria ser escrita. De acordo com Cagliari,

os alunos são capazes de enfrentar uma variedade enor-me de textos. A restrição com relação à escrita reside apenas nos casos em que os alunos não sabem decifrar determinadas letras ou conjuntos de letras, dificultando ou impossibilitando a leitura. Depois que eles decifram a escrita o texto pode ser qualquer um, desde que a criança tenha condições de entender (CAgLIARI, 1998, p.221).

Seguindo esta linha de pensamento me basei no autor para ex-plicar que há letras, que em alguns momentos vão possuir sons diferen-tes a exemplo do C que na palavra casa tem som de k por exemplo. Isso, com o intuito de leva-las a pensar antes de escrever e foi maravilhosa essa experiência porque elas olhavam uma para outra e ficavam deba-tendo a escrita da palavra, percebi que elas conseguiram melhorar de modo significativo a escrita das palavras. Talvez porque começaram a pensar antes de escrever ou porque começaram a se ajudarem nesta tarefa. Desse modo

A escrita é um sistema, ou seja, um conhecimento orga-nizado, com regras, padrões e estruturas. É um conhe-cimento complexo. Para aprender as várias áreas de co-nhecimento, na escola, a pessoa precisa se apropriar do sistema da escrita. Aprender a escrever, no entanto, vai além disso: faz parte da cidadania, é um direito de todo ser humano. Quando pensamos na dimensão formadora da educação escolar, precisamos considerar que poder escrever, se expressar, entrar em comunicação com o outro são essenciais para o estudante de qualquer idade (SOUZA, s/a, p.2).

Essa atividade foi muito gratificante para mim, pois nos dias se-guintes elas chegaram todas empolgadas dizendo que tinha acertado a hora do relógio do pai ou da mãe e não tiravam os olhos do relógio da escola, sempre que ele marcava uma hora parecia um coral dizendo tia já é tal hora. E acertavam mesmo o que mostra que aprenderam.

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Várias outras atividades foram desenvolvidas, leituras coletivas e individual, o mesmo tentava fazer com textos escritos porque percebia que desse modo elas aprendiam mais facilmente. Jogos com baralho de sílabas para que elas pudessem formar palavras, alfabeto móvel. Nesse jogo alguns criaram textos, outros fizeram o seu próprio nome, e o nome de pessoas que tinham importância para eles. Trabalhamos os números utilizando a própria sala de aula e objetos que elas estavam utilizando como o número do calçado, a roupa que vestiam, a idade deles, a quan-tidade de sapatos, o numero do telefone celular etc. Isso tudo seguido de anotações no caderno.

Busquei atividades em que eles desenvolvessem o hábito de ler e escrever sem que se sentissem pressionados a aprender. A hora da leitura coletiva era bem mais satisfatória do que a individual, já que, elas ficavam muito tensas com a leitura individual. Percebi que tinham muito medo de errar, e quando o erro acontecia na leitura coletiva elas sempre tentavam ajudar umas as outras e isso era muito bonito de se ver. Desse modo fui buscando fazer leituras coletivas, mas de modo que todos pu-dessem ler pelo menos uma vez na semana. Pois assim como Vygotsky (1998), acredito que ‘’a aprendizagem sempre inclui relações entre pes-soas’’. E se este é o meio pelo qual as crianças aprendem não vejo mal algum em realizar estas tarefas coletivamente.

Atividade lendo as horas

É possível perceber também estampado no rosto delas a felici-dade daquele momento. Algumas imagens tiradas em sala de aula, em que crianças representavam as horas em relógios de ponteiro e digital, deixando claro que as mesmas foram consentidas pelos pais das crian-ças e a direção da escola.

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Muitas crianças tem verdadeira aversão à leitura por não con-seguirem entender o sentido do texto e acabam por ficarem cada dia mais desmotivadas em relação ao ato de ler, principalmente a leitura que é imposta pela escola, que quando trabalhada de modo ‘’errôneo’’ pode trazer consequências até a vida adulta. Por isso, ao ensinar uma criança a ler o educador deve deixar bem claro para ela o quê e porque ela está lendo.

Deve-se observar quais as maiores dificuldades enfrentadas por elas, quais gêneros literários as crianças tem mais contato e gosta. Pois a leitura é um momento de interação entre o leitor e o texto e este deve proporciona satisfação a quem lê para que haja uma melhor compre-ensão do que está sendo lido. e com isso buscar meios de criar um am-biente motivador que proporcione maior interação entre aluno/ aluno, professor aluno. Deixando claro que a leitura não se faz apenas na deci-fração e codificação de palavras. Nós temos a capacidade de ler símbo-los como: o desenho de um homem na porta de um banheiro que tem uma mensagem que diz que ali é um banheiro masculino.

Encontrei dificuldades para realizar algumas atividades por falta de material. Algumas vezes fui interrompida pela professora que preci-sava falar com algum aluno ou até mesmo fazer a chamada e não espe-rava que eu concluísse primeiro o assunto que estava abordando. Isso fazia com que alguns alunos ficassem disperso e demorassem a “pousar na terra” novamente. As vezes não conseguia realizar todas as tarefas propostas, já que, a turma escrevia e lia lentamente por causa das difi-culdades que tinham em ler, escrever e compreender.

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A prática desse estágio me fez ter a certeza de que é esse mes-mo o caminho que pretendo seguir na minha carreira profissional. Já havia trabalhado antes como auxiliar de professora em uma instituição particular e fiquei traumatizada com a experiência, e já tinha me desani-mado. Queria concluir o curso por está já no final, mas que, depois faria outra coisa menos dá aulas e graças a Deus agora tenho outra visão de sala de aula, penso que quando você é a professora, quando ninguém fica ali dizendo faça isso, faça aquilo é bem mais prazeroso trabalhar. Isso sem falar nas crianças que eram muito violentas e desobediente. Aqui na rede publica tinha desobediência sim, mas nada comparado com os alunos que trabalhei na rede particular. Não estou aqui dizendo que o problema seja a rede ou os alunos, estou apenas relatando as impressões que tive em minha prática com elas.

Referências

CAgLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o ba-be-bi-bo-bu. São Paulo: Sci-pione, 1998.

MOURA Urea de Souza; VIEIRA Marcia Aparecida de Lima. Um estudo sobre as práticas de leitura e escrita nas séries do ensino fundamental

BRASIL : MEC/SE . Parâmetros curriculares nacionais língua portuguesa- 1997

SOUZA Elvira. Apropriação da Leitura e da escrita: disponível em: Limahttp://www.secult.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-al-fabetizar-letrar/lecto-escrita/artigos/apropriacao%20da%20leitura%20e%20da%20escrita.pdf acessado em: 08/ 11/ 2012.

VILLARDI, Raquel. ensinando a gostar de ler e formando leitores para a vida inteira – Rio de Janeiro: Qualitymark / Dunya ed.,1999.

REgO, T.C. Vygotsky – Uma Perspectiva histórico-Cultural da educação. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 1999. 183p disponível em: http://www.obrasill.com/educa-cao/teorias-da-aprendizagem/aprendizagem-a-partir-da-interacao-entre-indi-viduos-segundo-vygotsky. acessado em: 22/ 02/ 2013.

FERNANDES, João André Tavares. Uma reflexão sobre a identidade Cultural na universidade: respeito as diferenças. São Paulo- 2012. Disponível em: http://www.eumed.net/rev/cccss/21/jatf.html. acessado em: 22/ 02 2013.

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CIDADANIA NO tRÂNSItO: O tRÂNSItO COMO NORteADOR DAS ReLAÇõeS hUMANAS

Gilda Correia dos Santos13

Introdução

O presente trabalho propõe descrever a minha experiência de prática educativa na sala de aula, na disciplina de Estágio Supervisiona-do III da Universidade Federal de Sergipe, disciplina obrigatória para a conclusão do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Fe-deral de Sergipe. O estágio foi realizado numa turma de segundo ano do Ensino Fundamental, em uma escola do Ensino Fundamental Municipal, no turno vespertino na Cidade Aracaju/SE.

O projeto de Ensino elaborado após uma breve conversa com os alunos que resultou no tema Trânsito resultando em: Cidadania no trân-sito. O uso da literatura como parte integrante do processo de alfabeti-zação de crianças, com a finalidade de possibilitar o gosto pela leitura e escrita, pois, segundo Cagliari (2003) estas são consideradas como ne-cessidades básicas para a inclusão do sujeito na cultura ampla do saber sistematizado. O autor completa que

Além da escrita devem-se investigar as expectativas dos alunos com relação aos diferentes modos de fala, as leitu-ras, à Educação e á moral, à filosofia que cada um espera ter para si, o que pretendem fazer quando crescerem e o que pretendem fazer na escola etc, etc.(CAgLIARI, 2003, p.22).

A execução do projeto consistiu da aplicação de atividades de leitura e escrita de forma interdisciplinar. Desta forma, fez-se necessário através do diálogo conscientizar as crianças da importância e da neces-sidade de ter o domínio da leitura e escrita para o indivíduo, indepen-dente de idades, classe social ou ocupação profissional. Pois para viver em segurança em uma sociedade em que esta faltando conscientização

13 Universidade Federal de Sergipe. Centro de Educação e Ciências humanas. Departa-mento de Educaçã[email protected]

CIDADANIA NO TRÂNSITO: O TRÂNSITO COMO NORTEADOR DAS RELAÇÕES HUMANAS

Gilda Correia dos Santos13

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de motoristas e pedestres, faz-se necessário que todos compartilhem dos signos sociais que estão presentes e são visíveis no dia a dia das crianças e adultos, mas que muitas vezes passam despercebidos aos nossos olhos. Vale destacar neste sentido também a oralidade como im-portante função que possibilita a plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expres-sa e defende seus pontos de vista, partilhando ou construindo visões de mundo distinto, produz conhecimento e constrói dessa forma ações e valores que são passados de geração a geração.

Para elaboração e execução das atividades do Projeto de Ensino, foram analisados os livros didáticos, com a participação da professora efetiva da turma J14, que leciona na turma desde o inicio do ano leti-vo como também todo conteúdo que a professora iria passar durante os dez dias em que ocorreria o estágio. Tendo como base também a realidade escolar e as vivências dos educandos, foi desenvolvida uma proposta pedagógica de forma dinâmica, com prática de leituras diária abordando vários temas relacionados ao trânsito, buscando integrar os conteúdos programáticos de forma eficiente.

Trabalhar escrita, oralidade, interpretação textual, a partir das ideias e conhecimentos prévios das crianças são fundamentais para que os novos leitores sejam motivados e encontre sentido nos conteúdos que estão sendo explorados.

Neste sentido é importante que se identifique as necessidades básicas da turma, para saber adequar aos conteúdos com intenções edu-cativas significativas. Onde o aluno vivencie situações comunicativas, expressem sentimento, opiniões, ideias e valores. Portanto, com preten-são de alcançar os objetivos deste projeto de ensino, utilizamos diversos procedimentos educativos: exposição de cartazes, conversação, roda de conversa, utilização diversos textos, utilização de figuras, artes com a confecção de semáforo e outros, explorando o tema sugerido.

Dessa maneira, o objetivo deste projeto foi demonstrar a impor-tância do professor em proporcionar as crianças atividades pedagógi-cas que auxiliem no processo da leitura, escrita e oralidade a partir de histórias que permeiam o cotidiano das crianças. Para Cagliari (2005),

14 Os nomes foram omitidos objetivando salvaguardar as identidades dos alunos e pro-fessores. Será utilizado uma letra do alfabeto ;

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as atividades que serão desenvolvidas em sala de aula devem partir da espontaneidade das crianças, ou seja, devem condizer com as práticas conhecidas em seu contexto social.

Desenvolvimento

O Estágio Supervisionado III, disciplina obrigatória do curso de Licenciatura de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, torna-se uma experiência significativa e de suma importância para as acadêmi-cas, pois temos que fazer a relação teoria/prática do cotidiano escolar da Educação Fundamental, seja na Educação Infantil, de primeiro ao nono ano, ou Educação de Jovens e Adultos.

Este estágio foi realizado numa turma de Segundo Ano -B do Ensino Fundamental, (Antiga Primeira Série, do mesmo ciclo), na Esco-la Municipal de Ensino Fundamental B., no turno vespertino. A turma é composta por 23 alunos entre 7 e 8 anos, sendo 10 meninos e 13 meni-nas. Com uma frequência regular de 23 alunos por aula.

Este projeto de Ensino “Cidadania no trânsito”- Traz o uso da li-teratura como parte integrante do processo de Alfabetização de crian-ças. Foi elaborado com intuito de contribuir com a formação social, integral da criança proporcionando de forma interdisciplinar o gosto e sentido da leitura e escrita; promovendo a inclusão do cidadão de maneira consciente e responsável no trânsito já que no seu dia a dia é algo tão comum.

Uma escola bem organizada e bem gerida é aquela que cria e assegura condições pedagógico-didáticas, orga-nizacionais e operacionais que propiciam o bom desem-penho dos professores em sala de aula, de modo que todos os seus alunos sejam bem-sucedidos na aprendi-zagem escolar (LIBÂNEO, 2004, p 10).

Podemos observar também nesta escola características de uma gestão escolar democrática efetiva cooperando significativamente no funcionamento eficaz das atividades escolares; Conjuntamente com a participação de professores, pais, alunos, demais funcionários e a co-

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munidade. Os benefícios vêm devido à interação de todos através da discussão, sugestão e resolução de possíveis problemas relacionados à educação, promovendo assim um ensino aprendizagem com qualidade através das práticas pedagógicas curriculares. Em síntese, esta é a missão da Instituição: Oportunizar a comunidade escolar maior envolvimento e participação nas ações escolares, contribuindo para a formação pessoal e social dos alunos, sendo estes considerados agentes transformadores, conscientes, críticos e participativos, construtores de uma sociedade justa, solidária, e respeito mútuo.

A escola pode significar um espaço propiciador ou não para as crianças, por tal motivo a forma democrática de ensino é constituído com a participação e organização de todos, inclusive das crianças, por isso a cidadania no trânsito foi trabalhada neste projeto de forma cons-ciente, focalizando as vivências dos alunos incentivando o processo de leitura e escrita. Em relação ao ato de ler, Cagliari (2005) escreve que,

uma decifração e uma decodificação. O leitor deverá em primeiro lugar decifrar a escrita, depois entender a lingua-gem encontrada, em seguida decodificar todas as impli-cações que o texto tem e, finalmente, refletir sobre isso formar o próprio conhecimento e opinião a respeito do que leu. A leitura sem decifração não funciona adequada-mente, assim como sem a decodificação e demais compo-nentes referentes à interpretação, se torna estéril e sem grande interesse. A leitura é uma atividade estritamente linguística e a linguagem se monta com a fusão de sig-nificados com significantes (CAgLIARI, 2005, p. 150-151).

No desenvolvimento do projeto, de forma interdisciplinar foi trabalhado conteúdos de história e geografia onde procuramos expor diferentes tipos de atividades nas quais exploramos os vários tipos de moradias, como também os materiais utilizados em suas construções, regiões urbana e rural, o respeito à natureza, as regras de trânsito, as pessoas, a socialização e as profissões formais e informais que encontra-mos no trânsito. Já com a disciplina de Ciências explanamos os conteú-dos sobre os animais, seres vivos e não vivos, como nascem e crescem os animais, cadeia alimentares dos animais e meio ambiente. Português leitura, escrita e compreensão textual, encontro consonantais e ditado.

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Matemática números pares e ímpares, o real, formas geométricas e os sólidos geométricos, dias da semana e horas.

Utilizamos como procedimentos aula expositiva e dialogada, uti-lização de textos impresso e no quadro para leitura individual e coletiva, roda de conversa, atividades individuais e coletivas. Para isso usamos como recursos: textos, lápis de cor, folhas A4, lápis grafite, borracha, litera-tura, canções, revistas, cola, livro, caderno, quadro, giz, massinha, tesoura.

A avaliação foi realizada durante todo processo de desenvolvi-mento do Projeto de Ensino, mediante acompanhamento das crianças como também os trabalhos realizados em sala de aula, atividade de casa, participação nas atividades individual e coletiva.

Vale ressaltar que tivemos que dar continuidade as atividades planejadas pela escola, além de trabalhar o nosso projeto de ensino, o qual foi elaborado e trabalhado juntamente com livros didáticos. A esco-la também estava recebendo alguns alunos do curso de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe e as atividades realizadas foram fei-tas sempre no primeiro horário durante três dias na semana.

A E.M.E.F.B.T15. É uma Unidade de Ensino foi criada a principio para funcionar como Unidade de Ensino Pré- Escolar e transformada em “Escola Municipal de Educação Infantil” em 2000.

Em 2012 foi ampliada sua área de atuação, passando a oferecer além da Educação Infantil, o Ensino Fundamental de nove anos.

Iniciei o primeiro dia de estagio com uma saudação e uma breve conversa sobre a minha proposta de ensino, pois já havíamos nos co-nhecido anteriormente nas primeiras visitas à escola e a turma para son-dagem, observação e sugestão dos alunos ao tema e atividades do pro-jeto de ensino. No segundo momento abrimos uma roda de conversas para explorar o tema ”Cidadania no trânsito”. houve uma participação significativa, onde eles falaram sobre as vivencias no percurso para a es-cola. Também falei que para o exercício de qualquer profissão é impor-tante o domínio da leitura e escrita. Por serem elementos fundamentais de decodificação de signos sociais compartilhados dentro das socieda-des letradas. Conforme Libâneo, 1994, p. 128 [...] não basta à seleção e

15 O Nome da Escola foi alterado objetivando salvaguardar a identidade da comunidade escolar escolar.

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organização lógica dos conteúdos para transmiti-los. Antes os próprios conteúdos devem incluir elementos da vivência prática dos alunos para se tornar significativos.

A partir desta conversa, alguns relataram que não sabia ler o que encontrava nas placas, mas identificavam alguns desenhos. Outros fa-laram dos pais que não sabiam ler. Então falei que eles poderiam ain-da não possuir o domínio da leitura e escrita convencional, mas seriam capacitados a partir do exercício e atividades de leitura e escrita feitas dentro ou fora da escola, e que a escola iria contribuir significativamen-te nesta construção, por isso seria muito importante que cumprisse as tarefas solicitadas. Falei ainda que tanto o educador como o educando ainda está aprendendo coisas novas e juntos poderíamos fazer novas descobertas e assimilarmos novos conhecimentos, mas que para isso seria importante compromisso e dedicação de todos os envolvidos.

Ao solicitar a primeira produção a respeito do tema estudado eles reclamaram afirmando não saber escrever, outros reclamaram que não sabiam ler e que estava cansado, porem realizaram a atividade em forma de desenho e escreveram com a minha ajuda. Durante a ativida-de eles dialogavam entre eles, relatando vivências que presenciaram no trânsito. Percebi então, que a maioria deles apresenta dificuldade de escrita e leitura, pois esses relatos foram registrados sobre a forma de desenho. Para Freire (2005),

É preciso que, ao respeitar a leitura de mundo do edu-cando para ir mais além dela, o educador deixe claro que a curiosidade é fundamental à inteligibilidade do mundo e histórica e se dá na história, se aperfeiçoa, muda qualitativamente, se faz metodicamente rigorosa (FREIRE, 2005, p.123).

Portanto, para se efetivar um ensino aprendizagem qualitativo e eficiente para os alunos de todas as classes sociais os educadores preci-sam utilizar métodos de ensino fundamentado no processo reflexivo a partir da contextualização escolar, ajudando-os a romperem com as di-ficuldades de leitura, escrita, compreensão e produção de texto. Cagliari (1998) escreve que

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o melhor método para um professor deve vir de sua ex-periência e deve ser baseado em conhecimentos sólidos e profundos da matéria que leciona, o fato de não ter uma método preestabelecido não significa que o ensino seguira a deriva... Quando um professor é bom conhece-dor da matéria que leciona ele tem um jeito particular de ensinar e isso é fundamental para o processo educativo (CAgLIARI, 1998 p. 108).

O segundo dia a aula foi iniciada com uma roda de conversa, ten-tando controlar as crianças que estavam muito inquietas. Foram solicita-dos que ficassem atentos que nós estávamos ali, para a aula e que a falta de respeito dificulta o desenvolvimento das atividades.

Perguntei às crianças se no percurso para a escola eles observa-ram placas de trânsito nas ruas ou avenidas e todos eles tiveram alguma coisa para falar, ficaram atentos, pois à medida que falavam eu ia ten-tando desenhar, com a participação deles. Por fim, fiz a leitura do texto: Semáforo: isso é nome. E respondemos algumas questões para encon-trarmos palavras com V e F.

Integrada com a leitura do texto fizemos a conversa sobre os se-res vivos e não vivos e suas mudanças. Partindo logo após para a brinca-deira: Morto, vivo e a música Motorista, em seguida conversamos sobre os perigos que os seres vivos sofrem quando não respeitam as regras do trânsito, fazendo o exercício de folha. Percebi que fizeram estas ativida-des sem reclamarem que estavam cansados. Achei bastante produtivo. Isto me fez refletir sobre a minha prática pedagógica, tentando com-preender as dificuldades dos alunos e buscar meios adequados as suas possibilidades de entender os conteúdos.

O uso da brincadeira Morto Vivo, da Canção Folclórica e Motoris-ta foi muito importante para que eles explorassem a expressão corporal rompendo as dificuldades que a maioria tem de participar de atividades novas. Na resolução da atividade muitos deles por não saber ler e es-crever pediam para eu escrever no quadro as respostas dadas por eles. Percebi ainda que alguns não registravam o nome da atividade desen-volvida por não saber o seu respectivo nome.

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Pude perceber com isso que o educador deve trabalhar com seus alunos, individual e coletivamente para que eles desenvolvam suas habilidades cognitivas, através da leitura e escrita simultaneamente.

Comecei o terceiro dia de aula com uma conversa sobre as nos-sas ações no trânsito, narrando um poema e mostrando a figura do se-máforo. Eles interagiram falando de como deveria se comportar no co-tidiano nas ruas. Porém, não fizeram correspondência com o cotidiano deles. Neste sentido achei oportuna a exploração deste tema, partindo da vivência deles para um conhecimento mais amplo das suas ações.

Foi feito explicitação no quadro das ações que sugeriram de como deveríamos ou não fazer para vivermos bem socialmente. Segun-do Libâneo “[...] Os conhecimentos e modos de ação surgem da prática social e histórica dos homens e vão sendo sistematizados e transforma-dos em objetos de conhecimentos (1994, p.130)”

Retomando as aulas anteriores falei da falta de respeito que os motoristas têm com os pedestres e que muitas vezes os pedestres tam-bém não respeitam as regras de trânsito e que isso estava se tornando muito comum entre eles. E nestes momentos eles estavam botando em risco a vida de muitas pessoas.

Trabalhamos no caderno, atividade de português e matemáti-ca identificando as cores do semáforo e a função de cada uma, a que vem antes, depois etc.. Achei interessante quando uma criança perce-beu que não se tratava apenas de uma ciência. E alguém perguntou: Coloco qual matéria?

É de fundamental importância que o professor estude e forme convicções próprias sobre as finalidades sociais, políticas e pedagógica do trabalho docente; sobre o pa-pel da matéria que ensina; Os conteúdos de ensino de-vem estar em correspondência com os conhecimentos científicos atuais e com os métodos de investigação pró-prios de cada matéria (LIBÂNEO, 1994, p.155).

A participação dos alunos contribuiu para o desempenho das atividades. Porém seria melhor se as crianças não tivessem tão acostu-madas a esperar as respostas prontas no quadro, elas não tomam inicia-tiva nenhuma de tentar responder sozinhas.

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Comecei o quarto dia de aula com uma conversa sobre as dife-renças de casas que há nas ruas e avenidas, falamos também sobre os tipos de casas que eles moravam e se perto de suas casas havia algum tipo de placa de trânsito ou faixa de pedestre, alguns confirmaram que sim outros relataram que moravam na favela e que lá não tinha placas, mas quando vinham para a escola viam um monte. E, aproveitando o gancho, comecei a falar sobre as diferenças que há nas casas e os varia-dos tipos que encontramos.

Logo após Cantarmos a música “A casa”, ilustraram e pintaram suas casas. Também assistimos a um vídeo no qual as crianças puderam ver os tipos de casas que não são visíveis no seu dia a dia. Vale ressaltar que ficaram um pouco agitadas no início do vídeo, porém foi muito in-teressante essa atividade, pois, as crianças levantaram questionamentos muito interessantes sobre as construções de algumas casas e os mate-riais utilizados na sua construção. A partir daí trabalhei os valores, fazen-do-os refletirem sobre atitudes de respeito com o próximo.

Diante das propostas inseridas nos Parâmetros Curriculares Na-cionais (PCNs), os temas transversais assinalam para as discussões sobre a interdisciplinaridade em sala de aula. Pois:

Os temas transversais (Ética, Pluralidade Cultural, Meio Am-biente, Saúde e Orientação Sexual), por tratarem de ques-tões sociais, pertencem à dimensão do espaço público e, portanto, necessitam de participação efetiva e responsável dos cidadãos na sua gestão, manutenção e transformação. Todos eles demandam tanto a capacidade de análise críti-ca e reflexão sobre valores e concepções quanto a capaci-dade de participação (BRASIL, 1997, 45-46).

Objetivamos, num contexto geral que a pluralidade cultural compreende um desenvolvimento social diversificado e de respeito mútuo; e a escola deve trabalhar essas questões com naturalidade no cotidiano escolar.

Trabalhar com o alfabeto móvel foi muito enriquecedor para a interação e o envolvimento do grupo, as crianças formaram palavras e quantificaram a quantidade de sílabas, devido a maioria não saber ler eu os ajudei escrevendo as palavras no quadro.

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O processo de ensino-aprendizagem, iniciado na infância tem nessa fase a mais importante, visto que é nesse estágio que a criança poderá ou não adquirir o hábito de ler e escrever, descobrir o prazer de aprender e assimilar métodos que a ajudará durante toda sua vida; Vygotsky (1989), escreve que

Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sis-tema de comportamento social, e sendo dirigidas a objeti-vos definidos, são refratadas através do prisma do ambien-te da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desen-volvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social (VYgOTSKY, 1989, p. 33).

A participação dos alunos nas atividades realizadas foi quase unânime, mostraram-se bem interessados e participaram na formação das palavras, sem muita reclamação. A leitura é uma das atividades que deve fazer parte do cotidiano das crianças para que elas apreciem des-de cedo o gosto pela leitura e, sucessivamente, vão compreendendo e desenvolvendo o sistema da leitura e escrita.

No quinto dia de aula levei como proposta a literatura infantil para leitura e construção desse hábito que às vezes notamos que é tão pouco trabalhado em sala de aula. Devido à grande dificuldade que muitos tinham fiz a leitura coletiva, mas após a leitura, pedi que eles comentassem o que entenderam da história e em seguida folhearam o livro trabalhado, pois para Libâneo, “a ilustração é uma forma de apre-sentação gráfica de fatos e fenômenos da realidade sendo importante para que os alunos desenvolvam a capacidade de concentração e de observação (1994, p.162)”.

Achei esta atividade muito significativa para o aprendizado dos educandos. Eles adoraram folhear o livro as imagens fazendo assim a leitura visual. Algumas vezes interferi para ensiná-los a utilizar palavras de boas maneiras e evitando que eles rasgassem os livros.

Trabalhamos também a importância dos números em nossa vida e como poderíamos encontrá-los no trânsito, realizamos uma ativida-

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de na qual as crianças puderam identificar as placas com números e aí foi explorado se era par ou impar, relatei também da importância do número das casas, pois assim facilitaria o trabalho dos carteiros, nesse momento uma das crianças levantou e falou: “Tia na favela não tem não número não, porque minha casa não tem”.

No sexto dia comecei a aula fazendo o acolhimento com música perguntando como eles estavam e como tinha sido o final de semana logo após eles foram para a aula de educação física. Após o recreio pa-reciam muito nervosos e irritados então coloquei uma música de rela-xamento e solicitei que todos deitassem no chão alguns estranharam e quiseram se recusar, mas logo se juntaram aos outros. E mais uma vez enquanto eles ouviam a música instrumental dei continuidade a história “Sinal Vermelho para o Desrespeito”, no final desta atividade os alunos estavam bem mais calmos, alguns me pediram até para fazer mais vezes.

Pedi que todos voltassem para seus lugares e falei das avaliações que iriam começar no dia seguinte alguns se mostravam preocupados, porém expliquei que não precisavam ficar apavorados que íamos res-ponder a revisão de linguagem e que prestassem muita atenção, pois tudo que ia cair eles já haviam estudado com a professora.

O aluno não tem liberdade nem lhe é facultado ter qual-quer iniciativa para escrever o que gostaria. Pelo contrá-rio, toda aventura individual pode levar ao erro, e o erro pode ser irremediável. Por isso, ninguém pode escrever nada, a não ser o que já tenha estudado com o profes-sor. A cartilha jamais discute a leitura em si, a decifração (CAgLIARI, 1989, p. 92).

As séries iniciais podem possibilitar as competências linguísticas de modo que descubram os conceitos e façam aquisição da linguagem e da escrita. Após entregar a revisão comecei a trabalhar a leitura alguns acompanharam tranquilamente, pois já tinham uma noção de leitura e outros não, fui para o quadro e respondi a revisão, questionei-os bastante sobre o assunto, depois sentei com todos que apresentavam dificuldades.

Comecei o sétimo dia de aula com uma roda de conversa so-bre o nosso ambiente de sala e aula, questionando se eles já haviam ouvido falar em regras alguns disseram que sim outros não, então eu

110 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

expliquei que como no trânsito há regras de segurança para o bem de todos de quem tem carro ou não na escola também há como há em qualquer lugar. Vamos refletir um pouco mais, falei. Vocês sabem quem mantém essa escola organizada? Vocês acham que no trânsito para se ter organização quando o semáforo tá quebrado quem é que vem? A profissão de agente de limpeza é menos privilegiada que a do agente de trânsito? É importante saber ler as placas de trânsito e por quê? Esta conversa perdurou uns quarenta minutos e eles interagiram com respostas e perguntas muito interessantes. Eles demonstraram que estavam assimilando informações importantes para ampliação de conhecimentos. Os conceitos e procedimentos desta área contribuem para a ampliação das explicações sobre as ações que o homem acha natural e sua reação que tem causado muito desastre ultimamente.

Mas é necessário refletir como deve ser feita essas relações de convivência e respeito mútuo nos ambientes onde há uma diver-sidade de pessoas no processo de formação, para tomada de consci-ência adequadas, possibilitando um desenvolvimento cultural com qualidade de vida para todos e o equilíbrio ambiental. Em seguida trabalhamos a revisão de matemática em círculo, depois fomos para o lanche e recreio.

Ao retornarmos para sala de aula fiz uma rápida revisão de por-tuguês e começamos a avaliação que para mim foi uma experiência nova e desafiadora, menos da metade da sala começou a responder as questões enquanto os outros me chamavam direto pedindo ajuda, pois não sabiam ler e nem escrever, então eu lia, eles me respondiam eu es-crevia e eles transcreviam. Essa atividade demandou muito tempo, pois eu tive que pegar um de cada vez. Os que iam acabando ficavam no pátio brincando e esperando os pais.

Comecei o oitavo dia de aula com uma breve conversa sobre o trânsito e em seguida eles foram para a aula de educação física. Ao retor-narem convidei-os para sentar em círculo para respondermos a revisão de história e geografia, percebi que eles estavam um pouco agitados, mas mesmo assim dei continuidade a revisão, quando acabamos já era hora do lanche. Antes eu havia falado com o professor (estagiário) se ele podia entregá-los no horário ele falou que ia fazer o possível, mas de-morou um pouco mais do que havíamos previsto. Para Libâneo (1994),

111PRODOCÊNCIA

O objetivo do processo de ensino, e de educação é que toda a criança desenvolva suas capacidades físicas e intelectuais, seu pensamento independente e criativo, tendo em vista tarefas teóricas e prática, de modo que se preparem positi-vamente para a vida social (LIBÂNEO, 1994, p.201).

Neste dia tive certeza que a maior dificuldade da turma é com o processo de leitura e escrita, pois na avaliação de matemática eu lia a questão e eles iam respondendo e muitos nem esperavam que eu lesse, é claro que teve algumas exceções que precisou de um acompa-nhamento maior.

Eu tinha levado massinha preta, vermelha, laranja e verde e de acordo com quem fosse terminando eu pedia para sentar na mesinha e dava massinha, pedindo que eles construíssem um semáforo. Vale res-saltar que foi muito interessante essa atividade, pois, muitos alunos usa-ram sua criatividade e fizeram coisas incríveis, alguns ficaram com receio de tocar na massinha, mas ao ver os outros logo começaram a interagir com os demais.

O processo de ensino-aprendizagem, que ocorre na infância é muito importante, visto que é nesse estágio que a criança poderá ou não adquirir o hábito de criar, ler e escrever, descobrir o mundo e assi-milar métodos que a ajudará durante toda sua vida, conforme escreve Vygotsky, (1989),

desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social, e sendo dirigidas a objetivos defini-dos, são refratadas através do prisma do ambiente da crian-ça. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana com-plexa é o produto de um processo de desenvolvimento pro-fundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social (VYgOTSKY, 1989, p. 33).

Cabe ao professor, possibilitar oportunidades para efetivar a aprendizagem do aluno respeitando sua individualidade seu momen-to de estagio e incentivando suas potencialidades, proporcionando-lhe criar suas próprias hipóteses em relação ao objeto do conhecimento.

112 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

O nono dia de aula foi iniciada com uma roda de conversa so-bre a nossa ação no trânsito e para minha surpresa ouvi relatos incríveis das crianças, percebi que a proposta do projeto estava de alguma for-ma despertando nas crianças certa consciência. Aproveitando o gancho das regras e condutas explicitadas no inicio desta tarefa, aproveitei para falar a importância de se estabelecer coletivamente as regras sociais, para que todos os indivíduos vivam pacificamente. Com esta conversa, embora meio tumultuada alguns responderam que alguém pode ser machucado se não respeitar as normas, pois elas foram feitas para evitar acidentes e pôr ordem.

Após a roda arrumamos a sala para responder a revisão de Ciên-cias e em seguida eles foram para o lanche e recreio. Ao retornar iniciamos a avaliação de historia e geografia houve um pouco de reclamação das crianças, mas responderam do jeitinho deles, os que não sabiam ler eu dei um acompanhamento maior em seguida formamos duplas no pátio e confeccionamos um semáforo para a nossa dramatização do trânsito.

No último dia de estagio acolhi ás crianças com oração coletiva na sala, música e uma roda de conversa. Eles estavam muito ansiosos, pois sabiam que iríamos fazer a dramatização do trânsito em seguida foram para a educação física.

Quando retornaram de educação física decidimos quem ia ser carro, guarda, pedestre e semáforo foi uma grande farra, em seguida fo-mos para o lanche. Depois do lanche e recreio fomos fazer a avaliação de ciências.Depois deste momento, comentei que nós iríamos realizar nossa dramatização e foi um momento de muita alegria e descontração, todos quiseram participar e eu pude neste momento perceber quantas informações importantes eles absorveram Após a dramatização deixei que eles criassem suas próprias regras na brincadeira e foi muito impor-tante vê-los interagindo corrigindo uns aos outros quando não respeita-vam as regras. Para mim foi muito gratificante.

Considerações finais

O estágio é muito importante para o futuro professor, porque através dele se vivencia práticas de sala de aula, familiarizando com o ambiente escolar e com o processo pedagógico, dando a oportunida-de de testar na prática o aprendizado teórico que tivemos durante a

113PRODOCÊNCIA

nossa formação. Além de oportunizar os alunos que nunca tiveram a frente de uma sala de aula como educador, embora eu acredite que o tempo de estágio seja muito curto para tirarmos nossas dúvidas e por em teste os conhecimentos adquiridos, refletir sobre nossas ações e em que devemos melhorar, sendo um objetivo constante de o educa-dor buscar o aperfeiçoamento.

O processo didático ocorre por meio de seus aspectos media-dores que são: Objetivos, conteúdos e métodos. E estes são elementos essenciais para o desempenho das atividades pedagógicas, onde o edu-cador fundamenta a sua prática, norteando as responsabilidades que lhes são destinadas no processo de ensino.

Os conteúdos didáticos é o conjunto de conhecimentos, hábi-tos, habilidades, valores e atitudes, buscando a assimilação ativa e apli-cação prática na vida dos alunos; Os objetivos educacionais definem propósitos que se pretende alcançar; e o método é o meio que será utilizado para alcançar os objetivos propostos. Na sala de aula temos a oportunidade de refletirmos de como devemos melhorar para aju-dar o nosso aluno, às vezes planejamos uma coisa, mas quando vamos para prática observamos que precisamos olhar mais para as necessi-dades do aluno respeitando o seu estagio de desenvolvimento e que aquilo que planejamos não esta coerente com o desenvolvimento da turma, mas essa ação só será possível se o educador reflete sobre sua ação e o seu educando.

Mas cabe ao educador consciente, crítico propor para seus alu-nos um ensino que possibilite o desenvolvimento integral no qual o educando sinta-se valorizado. O trabalho de leitura e escrita realizado nas serie inicias pode desencadear no educando o desejo de conhecer o universo científico e intelectual, rompendo com os empecilhos impos-tos pelo sistema, que geralmente excluiu a classe popular do saber cien-tifico, ou muitas vezes pode fazer esse aluno odiar a escola fazendo-o sentir incapaz sem vontade de buscar esse desenvolvimento.

Neste sentido, a escola tem obrigação e dever de oferecer aos alunos um ensino democrático, valorizando a cultura deste, introduzin-do o saber científico a partir das matérias de ensino. É possível ao edu-cador organizar os conteúdos de acordo com estas necessidades, mas para isso o professor precisa ser sensível ao seu aluno, para que eles pos-sam desenvolver suas habilidades intelectuais a partir de suas vivências

114 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

e sejam sujeitos, respeitados, valorizados, reflexivos e ativos na produ-ção do saber sistematizado.

A minha experiência em sala de aula durante estes dez dias foi muito significativa para que eu pudesse fazer uma relação com meu aprendizado teórico acadêmico. Apesar de ser um tempo curto e com outras atividades para desenvolver, senti na pele o que é uma sala de aula caracterizada por realidades de problemas diferentes, que no momento parece que as teorias já estudadas não atende os problemas explicitados.

Contudo, as dificuldades estão mais relacionadas a leitura e es-crita; outro aspecto importante é a quantidade de crianças pra acompa-nhar de forma individual suas dificuldades de desempenho de tarefa. É um número grande de aluno por professor, fica difícil o educador dar a atenção necessária a todos.

Outra coisa que me chamou a atenção foi á forma como as crian-ças falavam sempre “eu não sei eu não consigo”, e nem tentavam respon-der as atividades, o que eu percebi desde a observação, é que por conta do conteúdo a professora sempre que ia fazer as atividades colocando no quadro as respostas, não dava tempo para que as crianças pensas-sem e tentassem responder do seu jeito, sendo visível essa espera até nas crianças que já sabiam ler. “Tanto é que na primeira semana que eu assumi, “quando fui fazer a primeira atividade eles pediram logo “bote a resposta no quadro tia”, me recusei e fui lendo com eles, refletindo sobre as respostas que davam e, na hora de escrever eu pedi que eles escrevessem do jeito deles e quando eu via que eles tentavam então eu ia e escrevia no quadro.

Desenvolvendo esse trabalho a partir da segunda semana pude observar que eles desenvolveram melhor suas atividades. Então, acre-dito que o problema não está apenas na criança, mas no sistema, que não tem uma proposta que atenda às necessidades e permita ampliar as possibilidades das crianças desenvolverem suas potencialidades cogni-tivas. Por isto, a avaliação é uma ferramenta importante para ambas as partes, pois ela possibilita avaliar o desenvolvimento de aprendizagem da criança e o desempenho do educador, para promover conteúdos adequados ao seu nível de desenvolvimento sem prejudicar outros que estejam mais avançados.

115PRODOCÊNCIA

Portanto, o estágio supervisionado III me proporcionou um aprendizado novo que foi sentir-se útil na minha ação, foi bom perceber que cada um tem seu jeito de aprender e que cabe ao educador estar atento a essas diferenças em sala de aula. Notei que basta a criança sen-tir-se valorizada para mostrar-se ativa e isso foi visível quando eu pedi a uma das alunas para ajudar o colega que estava com muita dificuldade e outros observando essa ação se ofereceram para sentar perto e ajudar os demais colegas.Foi muito bom para meu aprendizado, percebi que as diversas dificuldades do ambiente escolar e alunos podem ser rom-pidos, pois os alunos são agentes ativos no processo de aprendizagem.

Referências

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ALCÂNTARA de Ivan. e FOOT. Newton “Sinal Verde para o Desrespeito” editora Escala Ano: 2005

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: história e geografia / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

________, Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

CAgLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Lingüística. 10 ed. São Paulo: Scipione, 2005.

CAgLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem ba, be, bi, bo,bu. Ed. Scipione. São Paulo, 1998.

FREIRE, Paulo; Pedagogia do Oprimido: Saberes necessários à prática Educati-va. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

__________, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática- 5ª edição – goiânia: Editora Alternativa, 2004

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003.

VYgOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

FESTEJOS JUNINOS: UMA ABORDAGEMTRANSDISCIPLINAR NO ENSINO

FUNDAMENTAL16

Camila Andrade Reis17

Solange dos Santos18

117PRODOCÊNCIA

FeSteJOS JUNINOS: UMA ABORDAGeM tRANSDISCIPLINAR NO eNSINO FUNDAMeNtAL16

Camila Andrade Reis17

Solange dos Santos18

Introdução

A comemoração da festa junina desenvolve o resgate social exer-cendo a cidadania através de ações concretas, solidárias e participativas, favorecendo a criança a ampliação de seu universo linguístico, pois a festa junina se constitui uma temática rica onde podem ser explorados diversos tipos de linguagem. Levando ao aluno o conhecimento da ori-gem da festa junina e a conhecer seus símbolos e seus valores.

É importante conhecer as características da festa junina valorizan-do e Incentivando o trabalho cooperativo, proporcionando a participação das crianças em diversas brincadeiras levando-os a conhecer os costumes e valorizar as tradições, criando novos métodos interdisciplinares.

Para tanto, foram trabalhados os seguintes pontos: Valorizar as festas juninas; Desenvolver a linguagem oral, corporal e o raciocínio. De-senvolver a imaginação e a criatividade através de produção de texto; Exercitar a operação da soma; Estimular a leitura e a escrita; Possibilitar a criança conhecer um pouco sobre uma das festas tradicionais do Bra-sil, seus símbolos, santos, pratos típicos, trajes e danças; Compreender a história da festa junina, bem como o seu valor dentro do folclore bra-sileiro, destacando seus aspectos sociais e religiosos; Perceber a impor-tância do trabalho em equipe e a união do mesmo; Resgatar as tradições da festa junina; Desenvolver o gosto por poemas e músicas; Socialização dos alunos; Incentivar o gosto pela culinária junina.

16 Artigo originado do relatório da disciplina Estágio supervisionado III do curso de graduação em pedagogia da Universidade Federal de Sergipe (UFS) em 2012 em articu-lação com o projeto PRODOCÊNCIA.17 graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe. Email: [email protected] 18 graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe. Email: [email protected]

118 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Orgulho de nossa cultura

É importante destacar para os alunos o conceito de festa junina e sua origem, os santos comemorativos em junho, em todo o Brasil: Santo Antônio, São João e São Pedro. Destacar ainda que no nordeste brasi-leiro principalmente, estes santos são reverenciados, pois como afirma Arantes e Silva:

a educação tem sido entendida como um direito social e um processo de desenvolvimento humano. Como pode ser observado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a educação escolar corresponde a um espaço socio-cultural e institucional, responsável pelo trato pedagógico do conhecimento e da cultura (ARANTES; SILVA. p.9).

Foi necessário, ainda, explicar para os mesmos que as festas juni-nas giram em torno de três datas principais: 13 de junho, festa de santo Antônio; 24 de junho, São João e 29 de junho, São Pedro e, que durante este período, o país fica praticamente tomado por festas. Algumas ci-dades homenageiam o músico Luiz gonzaga, mais conhecido nacional-mente como o Rei do Baião. Mas, não podemos esquecer das regiões que além do forró, xaxado e baião tem outros meios de festejar. Em Sai-ré, agreste central de Pernambuco, tem a festa de buscapé. Em Mossoró, no Rio grande do Norte, tem a festa de balas, representando o confronto do bando de Lampião. E ainda tem as mais famosas e conhecidas fes-ta em Campina grande, na Paraíba, em Caruaru, Pernambuco, etc.. De norte a sul do Brasil comemoram-se os santos juninos, com fogueiras e comidas. É interessante notar que não apenas o dia, propriamente dito, mas todo mês, é considerado como tempo consagrado a estes santos na região e, principalmente, as vésperas, que é quando simpatias, a parte mágica da festa típica do catolicismo popular são realizados.

Ensaiar quadrilha e danças típicas, enfeitar a escola, comer co-midas típicas, etc. O que fica para as crianças? Qual o significado dos festejos juninos? Segundo graue e Walsh (2003) As crianças se expres-sam de modos diferentes dos adultos e o desafio está em acreditar nas suas informações, ao invés de perguntar aos adultos o que eles pensam, ou supõem que elas pensam. Dessa forma, a festa junina é uma excelente oportunidade de engajar diversas atividades e ampliar

119PRODOCÊNCIA

o universo linguístico, pois se constitui uma temática rica onde podem ser explorados diversos tipos de linguagens, resgate de brincadeiras, culinária típica e outros.

Como o mês de junho é a época da colheita do milho, grande parte dos doces, bolos e salgados, relacionados às festividades, são fei-tas deste alimento. Pamonha, cural, milho cozido, canjica, cuzcuz, pipo-ca, bolo de milho são apenas alguns exemplos.

Além das receitas com milho, também fazem parte do cardápio desta época: arroz doce, bolo de amendoim, bolo de pinhão, bomboca-do, broa de fubá, cocada, pé-de-moleque, quentão, vinho quente, bata-ta doce e muito mais.

As tradições fazem parte das comemorações. O mês de junho é marcado pelas fogueiras, que servem como centro para a famosa dança de quadrilhas. Os balões também compõem este cenário, embora cada vez mais raros em função das leis que proíbem esta prática, em função dos riscos de incêndio que representam. No nordeste19, ainda é muito comum a formação dos grupos festeiros. Estes grupos ficam andando e cantando pelas ruas das cidades. Vão passando pelas casas, onde os moradores deixam nas janelas e portas uma grande quantidade de co-midas e bebidas para serem degustadas pelos festeiros.

Já na região Sudeste é tradicional a realização de quermesses. Estas festas populares são realizadas por igrejas, colégios, sindicatos e empresas. Possuem barraquinhas com comidas típicas e jogos para animar os visitantes. A dança da quadrilha, geralmente ocorre durante toda a quermesse.

Como Santo Antônio é considerado o santo casamenteiro, é co-mum a simpatia para mulheres solteiras que querem se casar. No dia 13 de junho, as igrejas católicas distribuem o “pãozinho de Santo Antô-nio”. Diz à tradição que o pão bento deve ser colocado junto aos outros mantimentos da casa, para que nunca ocorra a falta. As mulheres que querem se casar, diz a tradição, devem comer deste pão.

19 Extraído do site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_junina.

120 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Metodologia

A metodologia utilizada foram aulas expositivas, com a inte-ração entre professor/alunos onde forão abordadas leituras de textos que abordem o tema citado, atividades em folha e no caderno, atra-vés da interdisciplinaridade dos conteúdos, despertando nos alunos o interesse em tratar o tema, não fugindo da realidade dos alunos.

A avaliação foi processual, ou seja, no primeiro momento foi para identificar as dificuldades e os conhecimentos dos alunos sobre o tema, para depois ocorrer a participação dos alunos. Através das ati-vidades de leitura coletiva e individual, rodas de conversa e atividades em folha, permitindo ao aluno uma maior conscientização acerca do assunto abordado.

Este trabalho é composto da descrição das observações e das experiências vivenciadas no período de regência em sala de aula que se baseou no processo de interdisciplinaridade do ensino-aprendizagem.

experiências em sala de aula

Procuramos elaborar aulas que despertassem a curiosidade e atenção dos alunos, dessa forma, percebemos que o interesse a cada dia foi maior, e a interação com os assuntos abordados.

Outro ponto significativo foi a importância do projeto para a orga-nização do professor, pois percebemos que certo tema planejado e pen-sado tem um retorno benéfico, tanto para os alunos como para os pro-fessores. Procuramos elaborar aulas diferenciadas para que despertasse nos alunos a curiosidade, utilizando dessa metodologia percebemos que a participação e interação dos alunos se deram de maneira harmônica.

Ao longo das aulas fomos percebendo alguns que se dispersa-vam, pois acordavam muito cedo e ainda estavam com sono, outros não conseguiam se concentrar por que vinham de casa sem fazer ao me-nos uma simples refeição, esperando a hora do intervalo para ter sua primeira alimentação do dia. Então, procuramos iniciar nosso encontro contando histórias folclóricas, como: a mula-sem-cabeça, saci, etc.

121PRODOCÊNCIA

Atividades planejadas

Nas datas propostas, realizamos as atividades planejadas nos dias da semanas consecutivas em seus 20 dias de aula. Fizemos uma roda de conversa com os alunos perguntando o que eles gostam no são João e passei atividade na folha para circular somente as figuras que façam parte do são João e para casa uma atividade sobre o caça-palavra.

Também fizemos uma cruzadinha que após encontrarem as pa-lavrinhas copiaram no caderno e fizemos um plantio dos grãos de milho no algodão e íamos observando a cada dia o desenvolvimento do grão. Utilizamos o recorte e a colagem sobre as figuras que representassem o são João, nos livros velhos que levei para a sala, fizemos uma interpreta-ção de texto sobre uma musica de são João e em seguida ordena-la cor-retamente. Usamos a matemática envolvendo a contagem das letrinhas, cantamos a musica dos três santos juninos e depois na atividade preen-cher os quadradinhos com as letrinhas que faltam. Exercitando a escrita, pedindo que copiassem umas palavrinhas juninas, e depois apresentei um convite mostrando- lhe o que era um convite logo após fizemos a colagem de grãos de milho na folha que entreguei com uma figura de uma espiga e iriam colando os grãos.

Em seguida utilizei também a ciência explicando sobre a impor-tância do milho na alimentação cantamos também a musica do balão, e na atividade completar com as palavras que faltam no texto, e em segui-da construímos um lindo balão.

Na utilização das letrinhas do alfabeto, maiúsculo na atividade eles iriam identificar a primeira letra do seu nome, levei também uma fo-lha com uma receita e perguntava se mamãe ou vovó tinham-lhes mos-trado algo parecido e se elas faziam bolos e outras coisas mais, foi um alvoroço alguns diziam: minha avó faz bolo gostoso e mamãe também e ai foi longe a conversa depois dessa longa conversa construímos nossa bela fogueira, identificamos no texto também as vogais, vimos também as continhas de adição e subtrair, brincamos com as rimas em alguns textinhos e palavras, na utilização dos números fizemos brincadeiras e perguntas sobre a idade ,e a quantidade de objetos existentes em sala.

122 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Conclusão

As festas juninas proporcionam momentos de ensino-aprendi-zado dinâmico em torno de manifestações culturais, gastronomia, signi-ficação e origem de elementos históricos.

As experiências adquiridas a partir da disciplina Estágio supervi-sionado III foi um suporte para um futuro, que a cada dia fica mais pró-ximo. Pudemos sentir todos os medos, anseios, alegrias, enfim, todos os sentimentos que um professor sente em sala de aula. Assim, analisando todas as experiências que esse estágio nos proporcionou é notório o quão complexo e cheio de pormenores é a rotina na escola. Apesar de termos pouca experiência na ação docente, chegamos à conclusão que o resultado superou nossas expectativas, uma vez que as partes envol-vidas, professor regente, estágiarias e alunos, mostraram satisfação com todas as atividades proposta. De fato, foi uma experiência muito signifi-cativa para nossa atuação.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretária de Educação Funda-mental.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Brasília: MEC/SEF, 1998. V.8.

SChIMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. ensinar história. São Paulo: Scipicione, 2004.

CAgLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & linguística. 10ed. São Paulo: Scipicione.

NASCIMENTO, Maria Luiza Costa. Os três santos juninos. 4 ed. São Paulo: Brasil, 2007.

gRAUE, E.WALSh, D. Investigação etnográfica com crianças: Teorias, métodos e ética. Lisboa: Fundação Calouste gulbenkian, 2003.

FESTA JUNINA (s.d). Consultado em 03 de janeiro de 2013. No site Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_junina.

ARANTES, Adlene Silva; SILVA, Fabiana Cristina. história e cultura africana e afro-brasileira: Repercussão da Lei 10.639 nas escolas municipais da cidade de Petrolina – PE.

123PRODOCÊNCIA

CONtRIBUIÇÃO DA LeItURA e eSCRItA NA SALA De AULA

Mirele Cardoso Lima20

Introdução

O seguinte artigo discute o desenvolvimento e participação das crianças em atividades que a partir do tema Aprimorando a habi-lidade e Aptidão da Leitura e da Escrita na Sala de Aula promoveram o conhecimento destas sobre diferentes gêneros textuais trabalhados em todas as disciplinas. Foi um trabalho realizado na sala do 4º ano do ensino fundamental de uma instituição da rede municipal da cidade de São Cristóvão/SE.

O tema foi selecionado a partir de observações iniciais feitas na determinada turma. Período em que verifiquei que maior parte dos alu-nos não apresentavam aptidão e hábito pela leitura e escrita, o que con-tribuía para que ficassem dispersos na sala de aula.

A leitura e a escrita são dois fatores que vem na bagagem do aluno desde pequeno, ou seja, é através das experiências do dia a dia, do aperfeiçoamento no crescimento intelectual, desenvolvimento psi-cossocial, que guardam em si, experiências pessoais durante cada fase de desenvolvimento da leitura e escrita que o aluno traz antes mesmo de frequentar a escola. Percebo que é a partir dessa bagagem que o pro-fessor estimula a aprendizagem, intensificando esses dois processos de ensino no decorrer do processo educativo. Dessa maneira a leitura se-gundo Monteiro e Mesquita “[...] excede a compreensão da superfície; ela é mais que um entendimento das informações explícitas, um proces-so dinâmico entre sujeitos que se instituem trocas de experiências por meio do texto escrito” (S/D. p.2). Ou seja, transmitir a leitura e a escrita não é uma simples junção de letras e sons, mas principalmente fazer com que essa junção tenha significado na formação desses alunos.

Para a realização da prática de estágio contei com a coopera-ção da turma, que se tratava em sua grande maioria de crianças sem

20 graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected].

ESTÁGIO SUPERVISIONADO: RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA VIVENCIADA EM SALA DE

AULA11

Ilma Souza Francisco12

124 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

apoio dos pais e que tinham que trabalhar para ajudar no sustento da casa. Tratava-se então de alunos cansados da rotina e que pouco, ou nada, aproveitavam o ser criança e adolescente como deve ser. Sendo assim, era comum que parte desses alunos não fosse à escola devi-do ao desgaste de no dia anterior ter que passar trabalhando. Os que iam participavam ativamente das atividades desenvolvidas, contando também com a ajuda da professora da sala que me orientou e apoiou em todos os momentos.

A prática pedagógica em sala de aula

Após a realização das atividades e observações feitas para aná-lise, exponho os resultados dessa prática de estágio onde partilhei do conhecimento e utilização de diferentes gêneros textuais.

Nesse primeiro dia de aula, como já havia me apresentado e co-nhecido a turma, fiz uma visita antes de iniciar minha prática - dei con-tinuidade a uma atividade proposta pela professora. Dessa forma, não pude colocar em prática textos diferenciados em nenhum assunto do dia por conta da atividade programada anteriormente. havendo em seguida o intervalo para o recreio e a aula de educação física onde as professoras não participam indo para casa mais cedo. Foi um dia pouco proveitoso, o tempo de permanência na sala foi muito curto mais o sufi-ciente para analisar ainda mais a turma, a forma como se comportavam e como estavam reagindo com a minha presença.

O segundo dia foi inicializado com meu método, pois já havia finalizado o método proporcionado pela professora para terminar o as-sunto iniciado por ela. Entre questionamentos prévios dos alunos pude analisar o que eles entendiam do assunto de matemática “Sistema Mo-netário” que com exemplos denotativos os aproximei para a realidade fazendo-os identificar e reconhecer o sistema monetário brasileiro. Fui surpreendida com a quantidade de dúvidas que tinham e com as opi-niões a respeito desse assunto. havendo também a exposição e expli-cação do que é uma fábula, pois a próxima atividade seria que fizessem a leitura e em seguida expusessem o que entenderam da fábula: A Co-ruja e a Águia. Foi um dia bastante proveitoso, pois pude perceber na maioria dos alunos a empolgação para aprender um assunto que eles utilizam muito no dia a dia.

125PRODOCÊNCIA

No dia seguinte expliquei o que seria um poema e a partir disso expus o assunto de Ciências sobre As Plantas utilizando o poema retira-do da internet chamado “história das Plantas” de Orfélia e Nerbal Fontes. Pude observar que grande parte da turma teve dificuldade em interpre-tar o poema, mas que após a explicação eles passaram a ter mais aten-ção e entendimento para resolver a atividade proposta. Observamos a grande quantidade de erros ortográficos nas atividades de escrita, mas havia também interesse e vontade em aprender.

Neste dia houve a transmissão do assunto de matemática “Ex-pressões”, exposto no quadro. houve muita interação da turma em que-rer responder e mostrar que tinham aprendido e entendido o assunto. Seguido, a exposição do Assunto de história onde desenvolvi a leitu-ra individual em voz alta para analisar melhor como estava a leitura de cada aluno e onde poderia ajuda-los. Pude perceber que grande parte da turma resistiu à leitura por vergonha e por não saber ler direito. Re-sultando em bagunça na sala, pois os que decidiram não ler atrapalha-vam a aula conversando com outros da turma, tirando a atenção dos que queriam aprender.

No quinto dia utilizei de uma pequena história retirada da in-ternet, onde trabalhei novamente a leitura, a escrita e a interpretação. Desenvolvendo o aprendizado sobre o assunto de português “grau dos Substantivos”, questionei sobre quais substantivos encontravam na his-torinha, solicitando que os escrevesse na folha de respostas. Como essa leitura foi realizada de forma coletiva analisei que a turma se soltou mais e se interessou em fazer a atividade apesar de haver falta de atenção e erros na escrita, pois queriam resolver rápido para que pudessem con-versar e ir ao recreio. Depois do recreio, teve um momento de descon-tração onde tiveram que desenvolver a escrita em cartões para as mães, observando a grande preocupação da maioria em escrever correto, para que as mães percebessem que estavam bem na escola.

No sexto dia foi curto devido a aula de educação física que vem logo após o intervalo, havendo pouco tempo para desenvolver minhas atividades, onde reforcei o assunto de expressões numéricas sendo que cada aluno era responsável por resolver e escrever por extenso no qua-dro o resultado para aprimorar a escrita.

126 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

No sétimo dia aprendemos sobre o que é a multiplicação a partir de uma poesia bem simples e pequena, que explicava de forma diferen-ciada como se faz a multiplicação. Nessa aula, os alunos tiveram dificul-dades em entender o que seria a poesia e que estava sendo estranho aprender matemática dessa forma, chegaram a dizer que era melhor passar assunto no quadro como a professora deles fazia todos os dias. Em outro momento fiz uma leitura individual em voz alta do assunto de história onde pude perceber que alguns alunos que resistiram até então em ler deixaram a vergonha e o medo de errar de lado e colocaram para fora a voz aprimorando assim a leitura e a vontade em aprender.

No dia seguinte transmiti o assunto de português “Substantivos Coletivos” por meio de uma história em quadrinhos. Sendo este gêne-ro mais bem recepcionado por eles, pelo fato de alguns já possuírem o costume de ler histórias em quadrinhos. O assunto foi lido de forma coletiva, ia explicando passo a passo o assunto. Em seguida propus uma atividade onde cada aluno individualmente criaria um pequeno texto que devia conter alguns dos substantivos aprendidos. No início dessa atividade muitos alunos levaram na brincadeira, tendo muito barulho e falta de atenção para ler. Já na resolução da atividade eles se concen-traram mais e construíram seus pequenos textos, sendo corrigida a or-tografia e em seguida a exposição da leitura de alguns deles para toda a turma. havendo interação e boa participação de todos.

Desenvolvi no penúltimo dia de prática educativa o assunto de ciências “Os Animais” que foi exposto no quadro seguido de uma leitura feita por mim e pelos alunos. Após a transmissão do assunto os alunos em grupo sorteavam um tipo de animal e escreviam o que tinha apren-dido em relação a eles como, por exemplo, o habitat, a classe, a pele, etc. Mas esta atividade não teve resultado positivo, pois os alunos não entra-ram em acordo para formar os grupos, tornando a sala uma bagunça de conversas, discussões... Resultando na não realização da atividade.

Este foi o último dia dessa prática onde retomei a atividade de ciências, agradecendo a colaboração da turma que apesar da bagunça que faziam em sala de aula vieram dizer que gostaram da minha pre-sença durante os dez dias de atuação profissional se despedindo de mim carinhosamente.

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Dificuldades durante a prática de estágio

Apesar de ter sido bem recebida pela direção da escola e pela professora responsável pela turma, pois é um colégio bastante acolhe-dor com profissionais que se ajudam entre si, não fui muito bem rece-bida pelos alunos. Em minha primeira visita de reconhecimento não consegui a atenção dos alunos nem mesmo para a minha devida apre-sentação e exposição do que estava fazendo lá. Eles não permitiram que isso acontecesse devido à agitação e brigas. Tive que ser breve nas pa-lavras, pois ninguém prestava muita atenção no que eu estava falando. O que me levou a voltar a escola, ainda sem iniciar o estágio de fato, apenas para que eles fossem me conhecendo e se acostumando com a minha proposta de passar dez dias ensinando. Tive dificuldades no re-lacionamento com os alunos, mas com o passar dos dias fui ganhando um pouco a confiança de parte da turma. Analisei a realidade dos alunos para tornar a transmissão dos assuntos mais significativa para eles, pois como cita Benincá “[...] A problematização é, nesse sentido, basicamen-te, o levantamento de suspeitas e indagações sobre o que se vê e o modo como se vê a escola, a comunidade, as relações pedagógicas e sociais, enfim a sociedade que se vive” (2004, p.4). Dessa maneira procurei ver e colocar em prática os assuntos e atividades de acordo como os alunos veem o mundo e o percebe.

Se tratando da participação dos alunos, estes se encontravam bastante dispersos, bagunceiros havendo em alguns dias bastante par-ticipação de parte da turma e em outros dias muita agitação e conver-sas. Um fator constante foi a falta de interesse dos alunos. Mas o que seria interesse? Para entendermos por que se da a falta deste. Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa, Interesse significa: lucro, vantagem. Portanto trazendo o interesse para sala de aula diríamos que, o aluno ao possuir este, seria acometido de vontade em querer aprender tiran-do lucro do aprendizado e se empenhando cada vez mais para se aper-feiçoar em todas as situações desempenhadas dentro da sala, fato que não acontecia. Apesar disso havia sempre a particularidade de cada um. Bim, explica sobre essa particularidade onde concordo com ela quando diz que: “[...] O aluno está principiando no conhecimento e convivo com diferentes ciências que compõe o currículo, e, portanto, a sua maneira de compreende-las é significativamente particular.” (2011. P.120). Talvez

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esse seja um dos motivos de tantos alunos não se encontrarem em sala de aula, cada um vê as situações de um modo diferenciado do outro com base no que encontram nas experiências fora da sala e quando chegam dentro da sala de aula se deparam com novas palavras, com métodos, se tornando então para eles a aula e as matérias sem significado, onde segundo Bim: “Para este sujeito iniciante a matéria é “fluida” e “escassa”. (2011, p. 120).

O reconhecimento que alunos não tem interesse em participar das atividades em sala de aula não é o fim da linha, mas sim apenas o início, pois a partir do reconhecimento se analisa o que fazer com deter-minada situação. Visualizo como uma das saídas para que isso aconteça com menos frequência seria relacionar portanto as matérias, os conteú-dos transmitidos com a realidade social de cada individuo, assim como perceber que professor e aluno se encontram em maneiras diferentes de pensar e isso não significa que o professor será melhor que o aluno, para não haver nenhuma hierarquia entre ambos.

Percebi que alguns alunos, ao perceber que cometiam erros na escrita, desistiam de continuar as atividades e passavam a atrapalhar os demais que queriam continuar a aprender a escrever e ler. Apesar de tamanha dificuldade ao aplicar minhas aulas e atividades procurei ao máximo mantermos as relações sociais sem hierarquia, sem imposições. Indo de acordo com o proposto por Benincá quando aborda que “[...] O processo participativo firma-se na estratégia do diálogo, entendido como confronto em busca da verdade, e não como submissão de um frente ao outro.” (2004, p.18). Assim mantendo o aluno no universo do professor e professor no universo do aluno, sem limitação da participa-ção de cada um no crescimento e conhecimento do outro. Onde segun-do Ariès, citado por BIM (2011. p 129) em sua fundamentação, que no período medieval: “O fato de que as crianças e os adultos convivam nos mesmo espaços e compartilhavam o mesmo universo cultural.” Ou seja, independente se esse fator acontecia no período medieval devemos traze-los para a atualidade a fim de manter um convívio sem hierarquias.

Considerações finais

Durante o desenvolvimento das aulas e atividades, tive nos dez dias de minha atuação fatores negativos e positivos e participações sa-

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tisfatórias e não satisfatórias por parte dos alunos. Como fatores nega-tivos tive dificuldades ao realizar as atividades do inicio ao fim do está-gio mesmo sendo atividades diversificadas e assuntos transmitidos de maneira diferenciada, entre esses fatores tive alunos com dificuldades e falta de vontade em interpretar textos, grande resistência nas atividades de leitura e na resolução das atividades de folha... Alguns esperavam que eu desse a resposta no quadro. Outro fato percebido foi que eles respondiam com rapidez as atividades para ficarem livres e começar a conversar e atrapalhar os demais. Tendo então alunos no geral que não se permitiam ser ajudados.

Como fator positivo teve poucos, mas consegui despertar em al-guns (poucos) a vontade em ler coletivamente o que haviam produzido durante as atividades onde estes se preocupavam em estar escrevendo certo para não fazer feio na frente da turma. Podendo assim colocar em prática o que aprendi durante a formação acadêmica na disciplina de Estágio Supervisionado III onde considero a mais importante e difícil, pois é o nosso primeiro contato com o que veremos ao assumir uma sala de aula, é onde verificamos as possíveis dificuldades e os pontos onde podemos melhorar como pedagogas ao ponto de não reproduzir o que se encontra em livros didáticos, mas sim expor a criatividade e as teorias de como trabalhar em sala de aula, desenvolvidas por alguns teóricos.

Referências

MONTEIRO, A. C. A; MESQUITA, E. J. A Importância da Leitura e escrita para a Construção do hábito de Ler. XII Encontro de Extensão UFPB-PRAC. Depar-tamento de habilitações Pedagógicas/Departamento de Fundamentação da Educação Centro de Educação/PROLICEN.

BENINCÁ, Eli; CAIME, Flávia Eloísa (ORgE). Formação de Professores: Diálogos entre teoria e prática. Segundo Passo Fundo: UPF, 2004.

BIM, Ana Clara. Como explicar a “Falta de Interesse” dos Alunos? Encontro: Revista de Psicologia. Vol. 14, Nº20, Ano 2011. P. 117 – 133. Universidade de São Paulo – FE/USP.

SCOTTINI, Alfredo. Dicionário escolar de Língua Portuguesa, Ed. Brasileitura, Blumenau, 1998.

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CONheCeNDO O LIVRO INFANtO-JUVeNIL COMO eStRAtÉGIA NA PRÁtICA PeDAGOGICA

Genilma Oliveira Santos21

Introdução

O presente artigo objetiva apresentar todas as atividades que fo-ram realizadas em sala de aula durante o exercício de estágio no campo educativo, abordando também as experiências e dificuldades obtidas na prática deste. O tema abordado “Conhecendo o Livro Infanto-juvenil como estratégia na prática pedagógica” foi de fundamental importância para a turma em que se desenvolveu o estágio, uma vez que este teve como ênfase desenvolver o hábito de ler com mais frequência, facilitan-do o processo de aprendizagem.

O estágio foi realizado em uma escola da rede pública do muni-cípio de Aracaju/SE, teve duração de duas semanas, no período de 07 a 18 de Maio de 2012, com uma turma do 3ºano do ensino fundamental, composta por 23 alunos. Para chegar ao devido tema, houve um deba-te com os alunos sobre várias temáticas, onde tentamos sensibiliza-los para uma reflexão em favor das suas necessidades. Assim, foi definido pelos mesmos de forma democrática o seguinte Tema “Conhecendo o Livro Infanto-Juvenil”.

A literatura infantil é de fundamental importância na aprendiza-gem. O hábito da leitura em nosso país ainda não possui um papel de destaque. Crianças e adolescentes, principalmente da rede pública de ensino, leem muito pouco, usando maior parte de seu tempo para ou-tras atividades. Nas práticas pedagógicas do convívio escolar, são cons-truídos processos de aquisição da leitura e da escrita, porém, percebe-se uma deficiência, a falta de estratégias de leitura da literatura infantil na sala de aula. Poucas crianças têm o hábito de ler, e o conto de história da literatura tem várias possibilidades de aprendizagem, construindo me-lhor o entendimento de mundo.

21 graduanda do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected].

CONHECENDO O LIVRO INFANTO-JUVENIL COMO ESTRATÉGIA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Genilma Oliveira Santos21

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Partindo desta perspectiva, entendi que o objetivo no contexto geral desta temática foi o de oportunizar o contato com os livros, des-pertando na criança o gosto pela leitura da literatura infantil, como uma das ferramentas do saber no processo educacional. De acordo com as autoras Palo e Oliveira, “[...] Contar histórias para crianças sempre expres-sou um ato de linguagem simbólica do real direcionado para a aquisição de modelos linguísticos.” (1986, p.9).

Esta pesquisa me motivou a entender a necessidade das crian-ças, em se envolverem de forma lúdica com as obras literárias, exploran-do sua fantasia diante dos contos de fadas, pois acredito que o educador deve instigar a criança à prática da leitura dentro e fora da sala de aula.

Descrição das experiências

Como metodologia e para termos um melhor aprofundamento sobre a temática “Conhecendo o livro infanto-juvenil”, foi realizada uma análise teórica sobre o tema: Abramovich (1997), Cademartori (1986), Cagliari (1998), Frants (1997), Palo e Oliveira (1986). São autores que nos trouxeram fundamentos para organizar as ideias e refletir a perspecti-va do tema na vida das crianças. Trabalhamos as áreas de conhecimen-tos de acordo com o planejamento da professora regente da turma do 3ºano do ensino fundamental, sendo que a mesma concordou em dire-cionar os conteúdos ao meu tema “Conhecendo o Livro Infanto-juvenil”, trabalhando a interdisciplinaridade. Assim, na disciplina de Português desenvolvemos leituras de textos infantis, explorando a fantasia e ima-ginação dos alunos, os dígrafos, os sinais de pontuação e ortografia.

Em Matemática trabalhamos o conteúdo de adição e subtração, os números ordinais e ordem crescente e decrescente. Em ciências tra-balhamos os animais em extinção, matéria-prima para fazer o papel e reciclagem do papel. Em história abordamos a história do campo e da cidade e a vida do escritor Monteiro Lobato. O conteúdo trabalhado em geografia foi a escola e o caminho para a escola, o espaço da biblioteca e o percentual de leitores no Brasil.

As aulas foram desenvolvidas mediante apresentação da impor-tância do livro infanto-juvenil, através de um cartaz feito com cartolina

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e figuras, aula expositiva em roda de conversas com os alunos, ativida-des individuais, dinâmicas, leituras de literaturas infantis (cantinho da leitura), atividades lúdicas como a hora do conto, homenagem a um dos principais escritores da Literatura Infantil Monteiro Lobato, visita a uma biblioteca pública.

A avaliação do trabalho foi feita através de observação do de-sempenho e envolvimento dos alunos nas atividades propostas. Foi diagnosticado durante todo o processo de estágio que o envolvimento dos alunos com as histórias trabalhadas ampliou o hábito de ler com prazer. Para atingir um dos objetivos propostos, os alunos elaboraram um pequeno livro, onde puderam expor a suas próprias histórias. Para realizar as atividades utilizamos como recursos: Cartolina, figuras, livros infantis, quadro negro, giz, lápis de cor, E.V. A, fitas, tesoura sem ponta, textos, papel ofício, perfurador, revistas e cola.

O contato das crianças com a literatura infantil permite que as mesmas tenham mais autonomia e suscita o seu senso crítico, como aborda Cademartori

A literatura, por sua vez, propicia uma reorganização das percepções do mundo e, deste modo, possibilita uma nova ordenação das experiências existenciais da criança. A convivência com textos literários provoca a formação de novos padrões e o desenvolvimento do senso crítico. (1986 p.18-19)

No primeiro dia de estágio, iniciamos com uma oração de agra-decimento a Deus pelo dia, onde houve trocas de cumprimentos uns com os outros e apresentação dos nomes. Antes de começar a aula os alunos sempre tinham a oportunidade de falar sobre o seu cotidiano. Logo foi apresentado o tema do projeto “Conhecendo o livro infanto-ju-venil” através de um cartaz. Em seguida, relacionamos a importância da leitura em uma roda de conversa, onde os alunos deram suas opiniões e fizeram um texto argumentando a importância do hábito de leitura. (Ver figura 01).

134 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Figura 01. Cartaz de apresentação.

Fonte: arquivo pessoal.

Em seguida os alunos tiveram a oportunidade de ler um conto da literatura “Tião e o bicho papão” de Telma Costa, onde nos divertimos muito, por isso concordo quando a autora Abramovich diz que

Ler histórias para as crianças, sempre, sempre... É poder sor-rir, rir, gargalhar com situações vividas pelas personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento [...] (1997, p.17).

Figura 02. Amostra de livros infantis.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

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Alguns alunos tiveram um desempenho satisfatório nos exer-cícios propostos, expressavam-se muito bem na produção do texto. Já outros ainda não sabiam ler e escrever, a não ser o seu devido nome. O nome da escola eles só escreviam se estivesse exposto no quadro negro, infelizmente tinham dificuldades em realizar as atividades de leitura, es-crita e cálculos. Nesse contexto, Cagliari aborda que “[...] Na alfabetiza-ção, a prática da produção de textos tem como objetivo ensinar os alu-nos a passar seus conhecimentos sobre a linguagem oral para a forma escrita.” (1998, p. 212).

No segundo dia ao chegarmos à sala de aula, fizemos uma ora-ção e os cumprimentos do dia. Dialogamos a respeito da aula anterior abordando o tema do projeto, para dar sequência à aula do dia. Em seguida fizemos um ditado de texto no caderno, da história da Dona baratinha, depois pedimos que os alunos interpretassem o texto com as próprias palavras. Ao terminarmos o diálogo, os mesmos tiveram uma pausa para a recreação.

Dando sequência a aula, foi explicado o assunto sobre o funda-mento da subtração e os seus termos, os alunos atentos tinham curiosi-dades em algumas situações, como por exemplo, a questão dos proble-mas. Assim, para tirar qualquer dúvida, os alunos resolveram um exercício para aperfeiçoar mais o seu entendimento. Ao resolverem a tarefa, abri-mos uma conversa sobre a matéria prima usada para fazer o livro.

No terceiro encontro os alunos tiveram aula com um professor de Educação Física, pois o movimento corporal também é uma pratica pedagógica fundamental para a criança. Ao retornarem a sala fizemos a oração os cumprimentos do dia e cantamos a música do Sitio do pica pau amarelo, para não perderem o foco da literatura. Logo, nos reuni-mos e fizemos um círculo e debatemos um pouco sobre o autor e escri-tor Monteiro Lobato. Posteriormente contamos a história dos Três por-quinhos, e os alunos tiveram a oportunidade de reescrever a história ao seu modo, fluindo assim a imaginação de cada um. De acordo com Palo e Oliveira “[...] O pensamento infantil é aquele que está sintonizado com esse pulsar pelas vias do imaginário” (1986, p.11) e foi exatamente isso que pude observar.

No segundo momento, abordamos o assunto de ordem crescen-te e decrescente e para que entendessem melhor, pedimos a alguns alu-

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nos de tamanhos diferentes, para formarem uma fila e os outros tinham que dizer se a ordem estava correta. Antes do término da aula, os mes-mos resolveram uma atividade de sala na qual tiveram um desempenho satisfatório (Ver figura 03).

Figura 3: Atividade de produção de texto.

Fonte: arquivo pessoal da autora.

No quarto encontro do estágio, iniciamos a aula fazendo uma oração, os cumprimentos do dia e cantamos a música da “Dona Bara-tinha”. Corrigimos o dever de matemática sobre ordem crescente e de-crescente. Em seguida fomos visitar uma biblioteca localizada no bairro. A visita foi bem proveitosa, pois os alunos puderam ter contato com di-versos livros e gêneros. Nesta perspectiva Abramovich discute que

Mesmo nas escolas mais democráticas, onde se dá o direi-to de escolher entre dois ou três títulos, quais os referen-ciais reais para essa prévia seleção? Por que não ampliar os

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horizontes, indo às livrarias ou bibliotecas e deixando cada aluno manusear, folhear, buscar, achar, separar, repensar, rever, reescolher, até se decidir por aquele volume, aquele autor, aquele gênero, que, naquele determinado dia, lhe desperta curiosidade, a vontade, a inquietação???Claro que, para isso, a professora teria que ler muito mais livros, e a questão que fica é esta: ela está disposta a fazer isso? (1997, p.140).

Ao voltarmos para a sala de aula, foi entregue aos alunos uma atividade na qual eles iriam pesquisar quantas pessoas tinham o hábito da leitura em sua casa. Depois foi explicada a importância da reciclagem do papel e os tipos de papeis recicláveis.

No quinto encontro, logo no início da aula, retomamos a discus-são sobre a importância da leitura em nosso cotidiano. Em seguida abor-damos o assunto sobre os números ordinais. Posteriormente, fizemos um círculo e contamos a historia da Dona baratinha e dialogamos a respeito do conto e neste momento da conversa, percebi que os alunos estavam realmente inteirados com o projeto e dispostos a ter o hábito da leitura.

Para o sexto encontro foi planejado a leitura de um texto, onde o tema foi “A revolta dos livrinhos” da autora Lielba Ramos. Ainda nes-te dia iniciamos a história do campo e da cidade, sendo que durante a temática os alunos tiveram a oportunidade de recordar algum passeio que eles já realizaram nestes ambientes. Quase todas as atividades pla-nejadas para este dia foram realizadas, só o exercício de Matemática não foi possível resolver com os alunos, pois eles tinham que sair mais cedo por decisão da escola. Por este motivo estavam agitados, mas tiveram um bom desempenho.

No sétimo encontro iniciamos a aula com uma oração e os cum-primentos do dia em seguida retomaram o assunto de ordem crescente e decrescente e para saber se os alunos estavam lembrados, aplicamos um exercício. Neste dia abordamos um assunto importante, que foi so-bre quantidade de leitores existentes no Brasil e eles falaram o seu pon-to de vista. Trabalhamos com um recorte de uma pesquisa divulgada na qual se relatava que o maior percentual de leitores está entre os jovens. Os alunos pensavam que eram os adultos.

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O hábito da leitura em nosso país ainda é um problema, mas deve se constituir em uma característica no cotidiano, principalmente no âm-bito escolar. Citando Resende, Frants (1997) faz a seguinte afirmação

a leitura pode ter duas funções distintas e opostas. A pri-meira, alienadora, quando fornece ingredientes que ali-mentam o mundo de aspirações ilusórias, desvinculadas de qualquer intenção questionadora. Uma segunda, re-flexiva, que desperta no leitor reações face ao que a obra contém e a tudo que ela revive e evoca fora do sujeito. (RESENDE, apud FRANTS, 1985:52).

Assim, trabalhar com recortes, informações reais sobre um de-terminado tema possibilita um novo olhar sobre o mesmo, no caso, a leitura. Em seguida, abordamos uma breve demonstração dos animais em extinção e os alunos gostaram e participaram do diálogo.

Neste dia, um dos objetivos principais foi criar um mural e fun-damentar as principais obras de Monteiro Lobato, construindo também um cantinho com vários livros infantis, onde nos divertimos muito e houve um grande envolvimento entre os alunos e as professoras. No se-gundo momento, os alunos resolveram uma atividade de adição e sub-tração. Foi acrescentado na aula a acolha de alguns alunos para fazerem a leitura das histórias “A pequena Sereia” e “A princesa e o sapo”. Foi um momento gratificante vê-los contando e dramatizando as histórias.

Neste penúltimo dia de estágio, iniciamos com uma oração e dialogamos a respeito do tema principal que estava sendo abordado nestes dias, os alunos comentaram que estavam gostando do tema, mas estavam tristes porque o estágio estava terminando. No entanto a pro-fessora que estava presente em todas as aulas afirmou que queria dar continuidade ao projeto ao terminar o estágio. Assim, foi gratificante sa-ber que estávamos deixando bons frutos naquela turma.

Em seguida convidamos os alunos para darem uma volta na es-cola, ao retornar a sala de aula perguntamos os que eles achavam da es-cola e numa roda de conversa explicamos o sentido da escola. Neste dia recebemos a visita e colaboração de quatro estagiárias, estas foram dar uma aula de nutrição aos alunos com o tema Bê-á-bá das frutas. Assim, não houve tempo para trabalhar com os alunos a hora do conto. No úl-

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timo dia planejamos o retorno à biblioteca, Abramovich tem um pensa-mento importante quanto a visitar uma biblioteca. A autora afirma que

uma biblioteca é um centro de descobertas, de silêncio repousante, de provocação para olhar, mexer e encontrar algo de saboroso ou novidadeiro... de possibilidades de sentar numa mesa e ficar por muito tempo virando pági-nas e páginas de livros raros, não encontráveis em casa... Um lugar onde se pode folhear qualquer espécie de livro publicado, brincar com dicionários e buscar palavras no-vas, imagens em livros (1997, p.162).

Neste dia, os alunos foram novamente a biblioteca que fica ao lado da escola para terem momentos prazer. Os mesmos, junto com a equipe do setor infanto-juvenil da biblioteca, construíram um mine livro de histórias infantis, onde puderam usar de sua criatividade. Ao termi-narem o livro discutimos questões referentes à importância do hábito de ler. Em seguida os alunos vivenciaram a hora do conto, um projeto rotineiro que acontece as terças e quintas-feiras na biblioteca onde re-cebem escolas e comunidades. Os alunos puderam interagir adaptando e recontando as histórias e no final os mesmos receberam de brindes revistas do Sesinho (personagem infantil) para recordarem deste mo-mento fantástico e imaginário.

Considerações finais

No estágio foi possível compreender como a prática docente é fundamental na sala de aula e como o resultado final nos trás satisfação quando percebemos o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos. No inicio ficamos um tanto apreensivas em relação ao conhecimento dos educandos, mas no decorrer das atividades e principalmente das práticas de leitura, os alunos nos surpreenderam ao demonstrar motiva-ção sobre o tema abordado.

Mediante um diálogo com a professora da turma foi possível compreender que a escola também procura desenvolver trabalhos com base no saber da leitura e da escrita, como projetos “a poesia vai à sala”, além de outros saberes fundamentando-se na realidade cultural onde

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a escola está inserida. Buscam formas também diferenciadas, para ele-var o desempenho acadêmico e garantir a permanência dos alunos na escola, pois a função do professor não é somente ensinar, além disso, é criar situações para que o aluno questione e reflita. A literatura infantil é uma fonte de prazer e divertimento, que proporciona “acesso ao mundo da leitura”, por isso que é importante que o educador das séries iniciais priorize a leitura através da obra literária infantil.

Nesta perspectiva, Frantz explica o papel do professor no pensa-mento da autora Maria helena Martins quando fundamenta que

A função do educador não seria precisamente a de ensi-nar a ler, mas a de criar condições para o educando reali-zar a sua própria aprendizagem, conforme seus próprios interesses, necessidades, fantasias, segundo as dúvidas e exigências que a realidade lhe apresenta. Assim, criar con-dições de leitura não implica apenas alfabetizar ou propor-cionar acesso aos livros. Trata-se, antes, de dialogar com o leitor sobre a sua leitura, isto é, sobre o sentido que ele dá, repito, a algo escrito, a um quadro, a uma paisagem, a sons, imagens, coisas, ideias, situações reais ou imaginarias (1997, p.42).

Esta experiência nestes dez dias de estágio foi fundamental para a nossa aprendizagem, onde pudemos lidar com as dificuldades dos alu-nos, aprimorando mais o nosso papel de educador. Conseguimos che-gar ao objetivo principal, o de oportunizar o contato com os livros, des-pertando na criança o gosto pela leitura da literatura infantil, como uma das ferramentas do saber no processo educacional. A obra literária deve fazer parte da vida da criança desde cedo e que seus primeiros conta-tos aconteça com história de contos de fadas, que sejam contadas pelos pais e educadores com o intuito de aproxima-las da leitura e da escrita.

Portanto, mesmo através das teorias aprendidas durante a gra-duação, a realidade é que se aprende muito mais quando se está na prática docente diária. E prazeroso foi ter visto a interação das crianças, o envolvimento com as histórias contadas, no qual podemos perceber uma ampliação no hábito de ler com prazer.

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Referências

ABRAMOVICh, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Sci-pione, 1997.

CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura infantil. São Paulo: Brasiliense, 1986.

CAgLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Sci-pione,1998. -(Pensamento e ação no magistério).

FARANI, Jaime. A problematização como recurso pedagógico. Problemas de Filosofia de Educação, cultural, politico, ético na escola; pedagógico epistemo-lógico no ensino. 6 ed. Petropolis: Vozes, 1991.

FRANTS, Maria helena Zancan. O ensino da literatura nas séries iniciais/ Ijuí: Ed.UNIJUI, 1997.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática, São Paulo: Cortez, 1994.

PALO, Maria José e OLIVEIRA, Maria Rosa: Literatura infantil: Voz de Criança. 4 edição, Ática, São Paulo, 1986.

ROMANOWSKI, Joana Paulin; MARTINS, Pura Lucia Oliver; JUNQUEIRA, Sergio Rogerio Azevedo (orgs). Conhecimento local e Conhecimento Universal: pesquisa, didática e ação docente. Vol.4. Curitiba: Champagnat, 2004.

CARVALhO, Lais B. escrever bem com gramática, 2º ano. São Paulo: Saraiva, 2009.

gARCIA, Jacqueline e DANTAS, Márcio: Matemática, coleção conhecer e cres-cer. 1ª edição escala educacional, São Paulo, 2006.

SOUZA, Joanita. Brincando com os números. São Paulo: Brasil, 1999.

PASSOS, Marinez Meneghello. De olho no futuro: ciências, 3ºano. São Paulo: Quinteto Editorial, 2009.

VIÉgAS, Aline. Aprender a criar Ciências, São Paulo: Escala Educacional, 2011.

VENÂNCIO, Adriana. et al: Conhecer e Crescer história e Geografia, coleção conhecer e crescer. 1ª edição escala educacional, São Paulo, 2006.

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Disponivel em <http://graudez.com.br/litinf/autores/lobato/lobato.html> acesso dia 04 de maio de 2012.

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SAÚDe - hIGIeNe DO MeU CORPO

Jacqueline de Jesus Santos Grace Kelly Silva de Carvalho

Introdução

O tema “Saúde - higiene do meu corpo” foi definido, a partir da curiosidade e necessidade de algumas crianças aprenderem a cuidar de seus corpos com mais higiene e dedicação, mostrando a importância da higienização em nosso dia-a-dia.

Os seres humanos a cada momento passam por mudanças físi-cas, mentais, sociais, dentre outras. Desde os primórdios, a espécie hu-mana tem evoluído de forma processual. Nos dias atuais temos o avan-ço tecnológico e campos de conhecimento evoluídos, que contribuem para o aperfeiçoamento e criação de novos instrumentos, possibilitando a melhor sobrevivência e comodidade daqueles que podem obtê-los. Trazendo essa realidade para a área da saúde, mais especificamente a “higiene pessoal”, temos como exemplo algumas ações a escovação dos dentes, o uso do fio dental, o uso de sabonetes, cremes, tomar banho, entre outras.

O corpo humano exige todos os dias que sejam supridas neces-sidades, tais como: fisiológicas, alimentares, higiênicas, sociais, enfim integralmente. Quando adulto normalmente o ser humano já tem em si conceitos formados, linguagem e esquemas de comunicação desenvol-vidos, sabendo agir em diferentes situações e respondendo a estímulos de seu corpo. Mas acontece diferente quando se trata do ser humano ainda criança. Em seus anos iniciais o individuo ainda está enfrentando o processo de formação e desenvolvimento em todos os sentidos (físico, social, psicológico), dependendo muitas vezes do auxilio de outras pes-soas (adultos) para que suas necessidades sejam supridas. Desta forma, podemos entender que, como ainda estão em processo de formação, as crianças compreendem é correto ser feito segundo as normas da so-ciedade em que estão inseridas. Segundo Vygotsky (1991), a criança é totalmente influenciada pela cultura em que vive. Através dos costumes, hábitos, ideias e informações do seu meio social ela vai construindo sua personalidade. Vygostky acreditava que o desenvolvimento cognitivo

SAÚDE - HIGIENE DO MEU CORPO

Jacqueline de Jesus SantosGrace Kelly Silva de Carvalho

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era construído por meio das interações com as pessoas e com os instru-mentos do mundo da criança.

O tema tornou-se de suma importância para ser trabalhado com crianças dentro de seu contexto escolar nas séries iniciais, pois é neste momento que estão em seu processo de desenvolvimento/ aprendiza-gem e que precisam saber como lidar com as necessidades apresentadas pelo seu corpo. Uma criança que ainda não tem a concepção de como deve ser feita as diferentes maneiras de higienização em diferentes par-tes do seu corpo torna-se mais vulnerável, podendo facilmente contrair doenças, como micoses, gripes, infecções dentre outras que podem ser contraídas por falta ou inadequados atos de higiene.

De acordo com Piaget (1971) a criança que tem por volta de seus sete anos de idade, já traz em sua mente alguns conceitos estabe-lecidos, e em grande parte o desejo de ser independente, a todo o mo-mento tenta mostrar para aqueles que estão em sua volta, a sua capaci-dade de executar tarefas individualmente (sem a interferência ou ajuda do outro). Assim sendo, a criança que tem conhecimento dos principais cuidados que deve ter com seu corpo consegue de certa forma alcan-çar um de seus principais objetivos, que é mostrar (provar) ao outro sua independência. Nesta perspectiva, este projeto foi desenvolvido de forma interdisciplinar, ou seja, envolvendo todas as disciplinas do cur-rículo escolar buscando abranger o planejamento escolar e conteúdos programáticos determinados, articulados a partir do tema tomando como base: A Leitura, escrita e interpretação de textos (histórias, ima-gens); Alfabeto; Silabas- formação de palavras; Literaturas – contação de histórias; Números naturais; Conjuntos; Pertence, não pertence; Me-didas de tempo; Soma e subtração; Relações sociais- Direitos e Deveres; Formações sócias- Família; Acontecimentos históricos; Percepção de tempo e espaço; Poluição; Lixo na cidade; Corpo humano – higiene; Água Potável; Coleta Seletiva. O educador ao ensinar a disciplina his-tória não deve apenas se deter a essa disciplina, pois pode trabalhar também português, matemática pelo texto de história, estimulando no discente a autonomia, o debate, a crítica em observar em uma discipli-na a interdisciplinaridade, como podemos ver no texto que segue:

A interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de inves-tigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve

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partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários. (BRASIL, 2002, p. 88-89)

A partir do levantamento realizado juntamente com as crianças, concluímos que existia a necessidade de compreenderem o processo de higienização corporal, para seu melhor desenvolvimento, e desempe-nho na realização das ações cotidianas exigidas pelo seu corpo, garanti-do também seu bem-estar.

O nosso corpo muitas vezes retrata a nossa maneira de ser, de viver, o cuidado que temos conosco, a forma que nos importamos com nossa saúde, e nosso bem estar. Precisamos entender que devemos ter com nosso corpo um conjunto de hábitos de limpeza, por sempre estar-mos em movimento no nosso dia a dia, por vários contatos que temos com os diversos ambientes através do tato, paladar, olfato. Cuidar de si é muito importante para que se tenha uma vida saudável, por esse motivo precisávamos alertar as crianças a se higienizar, pois a higiene do corpo é de extrema importância para a saúde. E foi esse o foco do nosso proje-to, mostrar de maneira dinâmica e simples que o cuidar esta relacionado a gestos do nosso cotidiano, como lavar as mãos para evitar doenças, escovar os dentes para não contrair a cárie etc.

Podemos perceber que ao abordar o assunto sobre a higiene, eles tinham muitas dúvidas; Identificamos através de relatos comenta-dos por eles mesmos que nem sempre os pais conversam sobre a impor-tância de se higienizar. Então discutimos questões com a importância de se tomar banho, cuidar dos dentes, dentre outros cuidados diários.

A cada dia de aplicação do projeto de ensino foi trabalhado um subtema relacionado à ideia principal do projeto, com o objetivo de que em cada aula os alunos aprendessem e expusessem suas ideias a partir das discussões geradas e atividades desenvolvidas. Cada subtema con-tou com diferentes atividades e metodologias para serem desenvolvi-dos, a exemplo do bingo higiênico, pintura, colagem, contação de estó-ria e outras atividades.

No primeiro dia de aula, apresentamos às crianças o tema e pedi-mos que apresentassem em forma de diálogo o que sabiam sobre tal, já que a escolha foi feita juntamente com elas, em seguida a esse dialogo foi

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discutido para as crianças um pouco sobre higiene corporal e a partir daí pedimos que escrevessem ou desenhassem o que compreendiam sobre higiene ou algo relacionado ao que lhes foi exposto oralmente. A partir de então, nos dias posteriores foi dada continuidade a esse processo de aprendizagem, através de atividades oral, escrita e jogos.

A classe é composta por trinta alunos prevalecendo crianças do sexo masculino, todos residindo em comunidades próximas à escola; seus pais são trabalhadores assalariados e exercem funções como por-teiros, carroceiros, domésticas, manicures, trabalham em supermerca-dos e alguns são desempregados tendo como renda familiar apenas a “bolsa família” arrecadado todos os meses como beneficio da frequ-ência de seus filhos na instituição escolar. As crianças são agitadas, gritam muito, conversam bastante, e são dispersas, normalmente não prestam atenção nas aulas e não demonstram interesse por aprendi-zagem. Apenas 10% da turma já sabe ler, porém apresentam grandes dificuldades de escrita, o restante da turma ainda não sabe ler e ape-nas sabe fazer cópia de lição e não consegue traduzir para a linguagem escrita aquilo que deseja.

Emilia Ferreiro, uma psicolingüista argentina buscou compreen-der o processo de desenvolvimento de leitura e escrita das crianças, des-ta forma através de pesquisas e estudos desvendou o mecanismo pelo qual estas enfrentam esse processo.

Segundo FERREIRO, a construção do conhecimento da leitura e da escrita tem uma lógica individual, embora aberta à interação social, na escola ou fora dela. No processo, a criança passa por etapas, com avanços e recuos, até se apossar do código lingüístico e dominá-lo. O tempo ne-cessário para o aluno transpor cada uma das etapas é muito variável. Duas das conseqüências mais importantes do construtivismo para a prática de sala de aula são respeitar a evolução de cada criança e compreender que um desempenho mais vagaroso não significa que ela seja menos inteli-gente ou dedicada do que as demais. Outra noção que se torna importan-te para o professor é que o aprendizado não é provocado pela escola, mas pela própria mente das crianças e, portanto, elas já chegam a seu primeiro dia de aula com uma bagagem de conhecimentos.

De acordo com a teoria exposta em Psicogênese da Língua Escri-ta, toda criança passa por quatro fases até que esteja alfabetizada:

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• PRÉ-SILÁBICA: não consegue relacionar as letras com os sons da lín-gua falada;• SILÁBICA: interpreta a letra a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada uma;• SILÁBICO-ALFABÉtICA: mistura a lógica da fase anterior com a iden-tificação de algumas sílabas;• ALFABÉtICA: domina, enfim, o valor das letras e sílabas. 

De acordo com Ferreiro, o princípio de que o processo de co-nhecimento por parte da criança deve ser gradual corresponde aos me-canismos deduzidos por Piaget, segundo os quais cada salto cognitivo depende de uma assimilação e de uma reacomodação dos esquemas internos, que necessariamente levam tempo. É por utilizar esses esque-mas internos, e não simplesmente repetir o que ouvem, que as crianças interpretam o ensino recebido. No caso da alfabetização, isso implica uma transformação da escrita convencional dos adultos. Para o constru-tivismo, nada mais revelador do funcionamento da mente de um aluno do que seus supostos erros, porque evidenciam como ele “releu” o con-teúdo aprendido. O que as crianças aprendem não coincide com aquilo que lhes foi ensinado.

Metas e metodologias

Para a realização do projeto nos foi necessário traçar algumas metas (objetivos) e Metodologias para assim realizá-las e alcançar nos-sos objetivos da melhor forma possivel obtendo bons resultados. Veja-mos a seguir a esquematização de nossos instrumentos:

Análise - experiência diária

A experiência em sala de aula foi dividida em dois blocos sendo que os primeiros dez dias foram desenvolvidos por Jacqueline de Jesus Santos, segue-se abaixo a descrição pontual (diária), desse projeto.

• Tema: Falando sobre higiene.

Neste primeiro dia a aula começou com a retomada de pergun-tas feitas no dia da escolha do tema a ser desenvolvido em forma de projeto, tema esse escolhido pelas próprias crianças. Então inicialmente foi feita uma discussão juntamente com os alunos, resgatando o que

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eles sabiam sobre higiene e suas experiências pessoais. Após essa socia-lização e discussão mais informal, foi realizada uma aula expositiva de-monstrado às crianças a importância da higienização corporal (pessoal) para a sua saúde e diferentes atos higiênicos que poderiam realizar, a exemplo, escovar os dentes após cada refeição todos os dias.

A atividade realizada neste dia inicial foi estimular a criatividade dos alunos a partir do desenho (ver Figura 1) e também foi realizada uma atividade no quadro para ser respondida em casa.

Figura 1:

• Tema: Existem Produtos de Higiene? Quais?

Este segundo dia teve como objetivo demonstrar para as crian-ças que existem alguns produtos voltados para a higienização de nosso corpo que podem contribuir para nossa higiene pessoal.

As atividades realizadas nesse dia foram de pintura (uma ativida-de para que os alunos pintem alguns produtos que nos ajudam a man-ter nosso corpo limpo (Figura 2) e a escuta da música 100 bolinhas de sabão – Aline Barros para fixar melhor a idéia de higienização e foi feito no quadro uma atividade para casa.

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Figura 2:

• Tema: Sai pra lá sujeira!

Esta aula contou com um instrumento especial a estória da “Es-trelinha Azul”, que contribuiu de maneira excelente para o desenvolver das atividades planejadas para esse dia, e melhor ainda para a compre-ensão e criatividade dos alunos sobre o objetivo principal do dia, que era demonstrar a todos eles a importância de estarmos sempre limpos.

Nesta aula os alunos foram super participativos, alguns reconta-ram a estória em sua versão com suas modificações utilizando sua ima-ginação. A ludicidade exerceu um papel fundamental nesse processo de ensino/ aprendizagem em que os alunos através do desenho (ver Figura 3) expressaram todo seu conhecimento aprendido a partir da estória. De acordo com Vygotsky (1998) a brincadeira é uma atividade que proporciona aprendizagem aos alunos, estimulando a autonomia, a imaginação, o senso crítico, dentre outros, quando a criança tem seus medos, anseios e desejos não realizados ela recorre ao brinquedo, onde ela pode se transformar e ser quem quiser.

No inicio da idade pré-escolar, quando surgem os desejos que não podem ser imediatamente satisfeitos ou esqueci-

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dos, e permanece ainda a característica do estágio prece-dente de uma tendência para a satisfação imediata desses desejos, o comportamento da criança muda. Para resolver essa tensão, a criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não re-alizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que cha-mamos de brinquedo (VYgOTSKY, 1998, p. 106).

Foi possível verificar a partir desses desenhos que a maioria da turma compreendeu a moral da historia e entendeu o verdadeiro senti-do de nos mantermos limpo todos os dias têm.

Figura 3:

• Tema: Água.

Esta aula teve como principal objetivo, mostrar a importância da água para a vida dos seres humanos e sua contribuição nos atos higiênicos.

Os alunos foram participativos e disseram tudo que sabiam sobre a água, contaram também suas ações dentro de casa e como as realizava com a água, a breve conscientização sobre o não desperdício de água, também levou os alunos a refletirem sobre suas ações, e uma aluna até se pronunciou dizendo o seguinte: - Professora hoje eu vou ensinar a

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minha mãe como ela deve lavar a louça sem gastar muita água, e vou dizer para meu irmão que quando ele for escovar os dentes ele deixe a torneira fechada e só abra na hora de lavar a boca (Figura 4).

Figura 4:

• Tema: Lavando as mãos.

A quinta aula foi mais pratica, pois os alunos realizaram sua pró-pria experiência de limpeza dentro da sala de aula. Como o projeto tem uma visão mais dinâmica e tem a intenção de tirar os alunos de aulas ro-tineiras e serem levados a pensar agir, expor suas opiniões, demonstrar seus conhecimentos, esta aula teve como objetivo principal, ensinar aos alunos como e por que devemos lavar as mãos corretamente.

Desta forma, o tema foi trabalhado a partir de exposição oral, com a utilização de alguns recursos para exemplificar com ludicidade as falas apresentadas. Foi perguntado aos alunos inicialmente de que maneira eles lavavam as mãos e com qual frequência. Então após a essa breve discussão foi demonstrado para eles uma imagem (Figura 5) a qual nos ensina como devemos fazer para lavar as mãos corretamente, explicando e gesticulando juntamente com eles o passo- a- passo indicado pela figu-ra, logo em seguida foi promovida com eles em prática a lavagem correta das mãos dentro de sala de aula antes de irem ao lanche.

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Figura 5:

• Tema: Escovando os Dentes.

A sexta aula contou como objetivo principal, mostrar aos alunos como devemos realizar o ato da higienização bucal.

De inicio foi perguntado aos alunos como e quando escovam os dentes, com qual frequência. A partir de então com a utilização de uma escova de dente e um fantoche foi demonstrado aos alunos como deve ser feita a escovação de dentes corretamente passo-a-passo e quando devemos escovar nossos dentes, após a essa apresentação e conversa com os fantoches os alunos responderam a atividades relacionadas à hi-giene bucal (Figura 6). Também foi feita no quadro a atividade para casa.

Figura 6:

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• Tema: Ações higiênicas - Limpando os ouvidos.

O sétimo dia de aula teve como principal fazer com que os alu-nos compreendessem como devemos realizar os atos de higienização em nosso corpo.

O tema foi trabalhado a partir de exposição oral, com a utiliza-ção de alguns recursos para exemplifi car com ludicidade as falas apre-sentadas. No primeiro momento discutimos sobre os atos de higiene, e a partir dessa discussão ensinei aos alunos como devemos fazer para limpar os nossos ouvidos corretamente e quais os cuidados que deve-mos tomar no ato dessa higienização. Os alunos realizaram atividades de colagem (ver Figura 7) e pintura e em grupo jogaram o jogo da me-mória (ver Figura 8) que continha algumas ações envolvidas na higiene corporal. Também copiaram uma atividade para casa.

Figuras 7 e 8:

• Tema: Isso sim é Higiene.

O oitavo dia teve como foco compreender a formação familiar e os hábitos higiênicos desse contexto, assim como a existência de direi-tos e deveres de cada um.

Desta forma, o tema foi trabalhado a partir de exposição oral, com a utilização de alguns recursos para exemplifi car com ludicidade as falas apresentadas. No primeiro e segundo momento conversei com

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os alunos sobre o contexto familiar e direitos e deveres de cada ator da família, logo em seguida após a discussão, realizei algumas atividades e o Bingo higiênico que contém o nome de alguns produtos e ações de higiene, também em um último momento copiei no quadro uma ativi-dade para casa (ver Figura 9).

Figura 9:

• Tema: Mantendo o meio ambiente limpo- Reciclando com higiene.

O penúltimo dia teve como objetivo principal esclarecer para os alunos questões que envolvessem a poluição, os prejuízos que o lixo na cidade causa à população e a sua saúde, e a importância da coleta seletiva. Portanto, o tema foi desenvolvido a partir de exposição oral, com a utilização de alguns recursos para exemplificar com ludici-dade as falas apresentadas.

Os momentos iniciais da aula, com o uso de algumas imagens e pequenos textos, expliquei aos alunos o que é a poluição, o que o lixo nas ruas causa a nossa saúde, como devemos manter o meio ambiente limpo e o que é a coleta seletiva e reciclagem, então logo após o recreio os alunos responderam a uma atividade e participaram do jogo corrida ambiental (os alunos deveriam separar as embalagens de produtos higi-ênicos corretamente e joga-los nos sacos com as cores correspondentes a cada material da coleta seletiva) [ver Figura 10].

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Figura 10:

• Tema: Agora estou Limpinho!

A decima aula teve como foco principal produzir o produto final da primeira etapa do projeto. Para tanto, iniciamos o primeiro momento da aula com uma breve discussão em que pedi aos alunos que disses-sem tudo que aprenderam sobre higiene corporal durante esses dias. Então logo após a essa socialização, dividi a turma em grupos de cin-co ou seis crianças, assim então os outros momentos foram utilizados para a confecção de cartazes pelos alunos, de modo que expusessem sua criatividade e aprendizagem sobre o tema do projeto (Ver produto final, Figuras 11 e 12)

Figuras 11 e 12:

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Na décima primeira atividade, nós realizamos uma roda de con-versação com o objetivo de analisar como eles veem a higiene, se está sendo positivo todo assunto abordado até o dia de hoje e como aconte-ce a sua higienização e a dos seus pais em casa, se são estimulados a se higienizar, se são obrigados e etc.

No décimo segundo dia começamos a conversar sobre a impor-tância desses atos tão simples, mas que mudam nossa vida e também a nossa saúde como daqueles que vivem ao nosso redor. Podemos per-ceber neste dia o quanto estavam concentrados no assunto abordado e como gostaram de fazer a observação em casa. Terminada a discussão, levamos uma atividade com a seguinte pergunta: Quais cuidados diá-rios que devemos fazer para higienizar meu corpo? Trabalhamos tanto a leitura como também a escrita. (Figura 13)

Figura 13:

No décimo terceiro dia ao começar a roda de conversa fizemos com que as crianças pensassem sobre o significado da palavra higiene, depois da discussão finalizada pegamos um dicionário e dissemos para eles o que estava escrito no dicionário que levamos, segundo o dicio-nário Aurélio: higiene é “a arte de conservar a saúde”. Falamos sobre os cuidados básicos com o corpo como cortar as unhas, tomar banho todos

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os dias, lavar os cabelos, escovar os dentes após cada refeição e também explicamos as consequências que podemos ter quando não realizamos esses atos. (ver Figura 14)

Figura 14:

No décimo quarto dia, logo no momento da recepção, conver-samos na roda de conversa, onde falamos sobre os objetos que usamos para nos higienizar, como por exemplo, escova de dente, o pente, o cor-tador de unhas (tesoura), shampoo, sabonete dentre outros. No inicio estavam um pouco agitados, mas depois foram se acalmando e concen-trando mais. Eles também foram dando exemplos de objetos que uti-lizam para manter seu corpo limpo e saudável. E falamos que limpeza e saúde andam juntos, pois ao manter a higiene vamos ficando conse-quentemente com o corpo saudável (ver Figura 15).

Figura 15:

158 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

No décimo quinto dia, tendo terminado a roda de conversa co-meçamos com a atividade, onde escrevemos no quadro o número e íamos completando com a figura. Por exemplo: escrevíamos o número quatro e desenhávamos quatro escovas de dente, assim eles iriam as-sociando o número as figuras. Em seguida entregamos a atividade para que respondessem de acordo com os exemplos apresentados pelo que explicamos (ver Figura 16).

Figura 16:

No décimo sexto dia iniciamos com um debate sobre tudo o que expomos até agora, perguntamos se eles estão colocando em prática tudo o que viram até o momento discutido, se estão dialogando com seus pais sobre as atividades que fazemos em sala e a grande maioria respondeu que sim e que estão achando interessante conversar com os pais. Em seguida começamos a atividade onde eles teriam que marcar o X nos cuidados que faziam para manter o corpo limpo e pintar o que fazem após as refeições (ver Figura 17).

Figura 17:

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No décimo sexto iniciamos com a roda de conversa cantando a música Chuá, Chuá da Xuxa: Conversamos sobre a música e pergun-tamos do que ela vem falar, qual o cuidado com o corpo que ela vem enfatizar. Em seguida, começamos a ler o texto inserido abaixo:

“Lavar bem os alimentos, isso sim é que é cuidar, da saúde da família, para todos alegrar, um ambiente limpo e saudável, todos amam visitar, higienização é importante, para a vida melhorar”.

Terminada a leitura do texto, conversamos com os educando so-bre cada frase, o que vem nos falar e qual importância e eles circularam as vogais desse texto e na questão seguinte, iriam marcar um X nos ele-mentos que fazem parte da limpeza diária do corpo (ver Figura 18).

Figura 18:

No décimo oitavo dia dialogamos sobre os cuidados com o cor-po enfatizando o cuidado com os dentes, onde explicamos a fala de um aluno que tinha ressaltado dois dias antes, quando falou para a mãe dele a importância de escovar os dentes para não atrair a cárie e tam-bém não ficar com dentes “doentes” e sujos. Em seguida, começamos a atividade onde eles teriam que encontrar o caminho da escova de dente até as cáries, terminada a atividade proposta, ensaiamos a mú-sica Chuá Chuá para eles cantarem no último dia e pedimos para que eles conversassem com os pais perguntando o que podem fazer para prevenir a cárie (ver Figura 19).

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Figura 19:

No décimo nono dia começamos com a roda de conversa em se-guida, entregamos a atividade proposta para o dia, onde eles ligaram as imagens às frases correspondentes. Ou seja, de um lado havia a imagem de um pente e do outro havia a frase: pentear os cabelos. Dessa forma, eles iriam associar a imagem a palavra. Para finalizar o encontro deste dia, ensaiamos a música Chuá, Chuá da Xuxa. (ver Figura 20).

Figura 20:

No vigésimo dia começamos com a roda de conversação e per-guntamos o que cada aluno aprendeu durante todos esses dias onde discutimos o tema: higiene. Falamos a diferença em nossa saúde quan-

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do realizamos cada ato como lavar as mãos, tomar banho, escovar os dentes, cortar as unhas, e eles foram falando as consequências boas e ruins de cada ato aprendido.

Considerações finaisO que avaliamos do projeto foi a importância em abordar o

tema escolhido juntamente com os alunos, pois por ter sido algo de-senvolvido a partir do interesse deles, tornou o trabalho mais prazero-so e estimulante para que os alunos aprendessem e obtivessem mais atenção e curiosidade.

Durante o desenvolvimento do projeto observamos como as-pectos positivos, o interesse das crianças em aprender o tema por apre-sentar ações que estão presentes diariamente em seu cotidiano tanto social, escolar e principalmente familiar. A participação constante dos alunos em todas as atividades nos serviu como estímulo para continuar o trabalho e nos ajudou a compreender as dificuldades deles e assim trabalhar em cima delas para a melhor aprendizagem deles. A utilização de diferentes recursos e metodologias contribuíram positivamente para a melhor aprendizagem e desempenho dos educandos.

O que ficou marcado como aspecto negativo nessa experiência foi o fato da turma quase em 90% ser composta por alunos repetentes com grandes dificuldades de aprendizagem, o que tornou nosso tra-balho mais cauteloso, nos exigindo maior atenção e um ritmo menos acelerado. Também agiu negativamente sobre nosso projeto a falta de ventilação na sala tornando os alunos mais agitados em determinados momentos de algumas atividades. E um fator que marcou foi a sinceri-dade deles ao falar que nem sempre tomavam banho, nem escovavam os dentes com muita frequência, pois além de não serem estimulados a realizar essas atividades pelos pais, eles também não conheciam a im-portância de tais cuidado.

Desta forma, fica claro observarmos que nossos alunos precisam ser levados a pensar e sejam atraídos a aprender o que está sendo expos-to por seus professores, profissionais que não devem ser simplesmente tarefeiros, que aplicam e ensinam aos seus alunos o que é determinado por livros, planos anuais ou direção e coordenação escolar, mas que es-timulem e ajudem o aluno a pensar mostrando que todos nós somos os construtores de nossos conhecimentos e sociedade em que habitamos.

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A eXPANSÃO e A PROBLeMÁtICA QUe eNVOLVe O USO DAS MOtOCICLetAS POPULAReS

Cibele de Souza Rodrigues

Introdução

O presente texto é resultado do projeto de ensino realizado na EMEF M. B. e proposto na disciplina Estágio Supervisionado III, sob a orientação da professora Drª Maria José Soares e sua orientanda Joelma Viana Almeida, como requisito avaliativo e para a conclusão do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe.

O tema do projeto surgiu a partir dos primeiros contatos com os alunos do 4º ano “A” da “EMEF M. B.”. Diante dos debates que foram rea-lizados nas primeiras visitas à turma, foi imposta uma pergunta direta: o que vocês gostariam de estudar, discutir, conversar e trocar informações aqui na escola e que existe no cotidiano de vocês, mas que não é abor-dado formalmente nos estudos em aula?

Em meio a confusão que ocorreu após a pergunta, um dos alu-nos citou a palavra “shineray”, então, resolvi perguntar o que o levou a falar tal palavra já que a priori, seria um assunto inusitado a ser desen-volvido como projeto de ensino, e o garoto suscitou a importância de se falar como essa motocicleta é montada, e do que é composta, quais materiais são utilizados na fabricação da mesma, entre outras indaga-ções. Em meio às inquietações dos outros alunos, percebi uma menina relatando um acidente que presenciou com esse veículo na comunida-de em que mora, como também um outro aluno que abordou o fato desses veículos serem alvos constantes de assaltos no bairro, ou seja, um assunto muito presente à realidade em que eles estavam inseridos naquele momento.

Segundo Damis (s/d) “[...] o ensino deve adaptar a matéria de estudo às necessidades atuais da vida individual e social do aluno, par-tindo de seus interesses e experiências” (p.148). Dessa forma, expliquei para as crianças, que elas continuariam a estudar os assuntos do progra-ma de ensino daquela série, porém com adaptações, para que questões relacionadas ao tema escolhido por eles, pudessem ser discutidas.

A EXPANSÃO E A PROBLEMÁTICA QUE ENVOLVE O USO DAS MOTOCICLETAS

POPULARES

Cibele de Souza Rodrigues

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O tema possui uma grande relevância na comunidade, pois a escola está localizada em uma zona de periferia da cidade de Aracaju, onde a concentração desse veículo está popularizada, bem como, por se tratar de um meio de transporte com baixo custo. Esse tema pôde contribuir, principalmente para a consciência dos alunos e a dissemina-ção das informações apreendidas pelos mesmos, aos seus pais e demais conhecidos, sobre algumas precauções que precisam ser tomadas com relação ao uso desse transporte, que em índices crescentes, acabam se tornando uma poderosa arma contra a vida.

Pensando nas dificuldades que poderiam surgir na realização do projeto, por se tratar de um tema ‘não convencional’, busquei autores como Libâneo (1994) para ir adiante com a proposta, ele fala que “a es-colha de conteúdos vai além, portanto dos programas oficiais e da sim-ples organização lógica da matéria, ligando-se às exigências teóricas e práticas da vida social” (LIBÂNEO, 1994, p.135). Foi nesse caminho que a execução do projeto se deu, procurando interligar os assuntos do tema eleito pelos alunos com os do programa de ensino, mesmo que em al-guns momentos essas ligações fossem feitas de modo menos direto. Li-bâneo (1994) comenta ainda que “Se os conteúdos são acessíveis e dida-ticamente organizados, sem perder o caráter científico e sistematizado, haverá mais garantia de uma assimilação sólida e duradoura, tendo em vista sua utilização nos conhecimentos novos e a sua transferência para as situações prática” (LIBÂNEO, 1994, p.145), ou seja, o tema escolhido estava bastante presente na vida naqueles alunos.

Pensando em objetivos, foi ressaltada a ideia geral de ajudar as crianças a desenvolverem a capacidade de síntese e relação entre os as-suntos “formais” com os, não formais, bem como, ajudar na conscientiza-ção das regras de trânsito que envolve o uso das motocicletas de até 50Cc.

Tratando de objetivos mais específicos, foram desenvolvidas ati-vidades de interpretação, leitura e escrita de textos que envolviam as-suntos gramaticais e de interesse do tema que eles elegeram importan-te ser estudado; noção de figuras planas, seguimentos de reta, sólidos geométricos; importância dos antigos objetos para compor histórias no presente; discussão de histórias dos povos indígenas existentes no Brasil hoje em dia; debates sobre diferenças entre a vida no campo e a vida na cidade; estudo sobre a utilização de mapas; experiências das mudanças de estados físicos da água.

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Com relação aos métodos de ensino para as aulas de Português, foram adotadas aulas de leitura, com vários tipos de textos, que contem-plava assuntos relacionados à gramática e assuntos sobre o tema eleito. Bem como aulas mais dinâmicas onde foram levados materiais para a con-fecção de textos em cartolinas, através de jornais, revistas, entre outros.

Em Matemática foram abordados assuntos relacionados aos sólidos geométricos, figuras planas e seguimento de reta dessa forma, houve atividades que giraram em torno da observação das peças de uma Shineray, entre outras. Já nas aulas de geografia, como os assuntos foram sobre a vida no campo, pôde-se trabalhar com vídeos que mos-traram a popularização das motos nas cidades do interior do estado e na capital Aracaju. Foram também mostrados alguns produtos que são utilizados na fabricação desse veículo e que são retirados da natureza.

Nas aulas de história, os assuntos foram sobre os costumes dos índios, assim, vistos textos que indicavam como a vida do índio se cons-titui hoje em dia. E, ainda, fotos de índios pilotando motos e fazendo uso de outros meios de transporte. Em ciências, trabalhamos sobre os esta-dos físicos da água, dessa forma, as crianças viram alguns processos de transformação da mesma por meio de experiências realizadas em classe e como é o processo de queima dela quando a utilizamos na “Shineray”.

O presente texto objetiva apresentar de maneira abrangente a execução do projeto durante os dez dias, bem como a apresentação das características da escola e a composição da mesma. Foi pensado tam-bém em descrever brevemente sobre o perfil do aluno da turma. Se-guindo das análises mais detalhadas das experiências de cada dia em sala de aula. E por último, algumas considerações a respeito do que foi trabalhado com as crianças durante esse tempo de aplicação do projeto.

Desenvolvimento do projeto

A aplicação do projeto de ensino se deu durante dez dias, e o mesmo deveria se adequar ao programa de ensino da turma.

No decorrer dos dias de aplicação do projeto, foi notável o en-volvimento da turma com relação às atividades que foram propostas. Procurei inserir da melhor forma os conteúdos do tema eleito pelos alunos ao programa de ensino previsto para aquelas duas semanas que

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seguiam. Apesar de em alguns momentos ter sido complicado man-ter uma ligação direta entre os mesmos, busquei implantar desde uma simples palavra que lembrasse o tema, na explicação e no debate com os alunos, até a construção de atividades mais elaboradas e diretas ao próprio projeto.

Em Português e matemática, foi viável uma ligação maior ao tema, pois trabalhei interpretação de textos que falavam diretamente sobre “Shineray”, assim como, com relação a questões sobre dígrafos, encontros vocálicos e consonantais, procurei eleger palavras ligadas ao tema para que pudessem ser feita uma ligação precisa entre os assun-tos. Já em Matemática, como foi proposto o estudo dos sólidos geo-métricos, figuras planas e seguimentos de retas, utilizei diversas vezes a imagem da “Shineray” para sinalizar os tipos de sólidos que poderiam ser encontrados na moto.

Em Ciências, geografia e história, por exemplo, a ligação entre os assuntos foi menos direta. Dessa maneira, busquei aproximar os as-suntos do tema do projeto de ensino utilizando métodos, recursos e ma-teriais de apoio como: aulas expositivas com cartazes, roda de conversa, corte e colagem, produção de texto, leitura e interpretação de textos com curiosidades sobre motos, imagens vídeos, anúncios de jornais e revistas, experiências, etc.

A avaliação dos alunos foi construída durante todos os dias da aplicação do projeto seguindo assim o que Libâneo (1994) nos fala so-bre esse procedimento, “A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem” (LIBÂBEO, 1994).

O projeto foi de grande importância para a formação dos alu-nos daquela série, pois notou-se uma visão mais consciente a respeito das precauções a serem tomadas com relação ao uso de motocicletas. Notou-se também que os alunos compreenderam a importância da história para se entender a evolução de uma sociedade moderna. Foi importante trabalhar com materiais concretos, pois os alunos mostra-ram-se bastante interessados com atividades práticas. Bem como, foi despertado o interesse pela leitura através de textos com ilustrações e com assuntos de seus interesses.

167PRODOCÊNCIA

Caracterização e composição da escola

A EMEF Manoel Bomfim situada na Rua A 4, nº 136, Conjunto Bugio, Aracaju/SE, foi fundada inicialmente em 24 de Maio de 1981, com o codinome AMAB (Associação de moradores amigos do Bugio), seu fundador e diretor foi Manoel de Carvalho garção. O prédio sofreu demolição e foi reconstruído, em Julho de 2004 com o atual nome Ma-noel Bonfim. A escola está em bom estado de conservação, com salas bem iluminadas, possui banheiros para deficientes, banheiros infantis e de adulto. São 12 salas de aula, laboratório de informática, biblioteca com vasto acervo de livros; quadra de esporte coberta, refeitório, sala de professores, sala da coordenação e uma diretoria. Possui dentre outros recursos televisão, Dvd, som e computadores.

A rotina escolar é simples e funciona no horário de 07:00hs as 11:10hs da manha, e a tarde da 13:00hs as 17:10hs da tarde, com inter-valo de 15 minutos para o lanche dos alunos.

A instituição possui nota 4.1 no IDEB de 2011. Ela funciona nos três turnos, manhã, tarde e noite, com um total de 990 alunos. Pela ma-nhã são atendidas turmas do 1º ao 5º ano, à tarde do 6º ao 9º ano e, à noite funciona o programa acelera e a EJA. Com relação ao quadro de funcionários, a escola possui 25 professores efetivos e 9 estagiários, 2 coordenadores pedagógicos, 1 administrativo e 1 diretor geral. São 3 vi-gilantes, 6 serventes, 1 merendeira e 8 funcionários na secretaria.

Perfil do aluno

A classe onde foi executado o projeto possui 35 alunos, dos quais 17 são meninas e 18 são meninos, a maioria deles reside nas adjacências do bairro, em loteamentos com problemas dos mais diversos, desde precárias estruturas residências, falta de saneamento básico, violência, drogas e até fome e analfabetismo.

Segundo a professora da classe, mais de 60% da turma acom-panha bem os assuntos e as atividades executadas, porém o nível da leitura e escrita não condiz com a idade e série em que estão.

168 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Análise da experiência da sala de aula

Nas duas semanas que foi executado o projeto de estágio, todos os assuntos e atividades que constavam no programa de ensino da clas-se, foram adaptados ao tema de estudo pretendido pelos alunos. Des-sa forma, no primeiro dia de execução do mesmo, foi feita juntamente com os alunos, uma sondagem sobre o que eles acreditavam dar para estudar sobre as motocicletas (“shineray”) e assuntos como: Dígrafo, en-contro vocálico e consonantal, sílaba tônica e separação de sílaba em Português, sólidos geométricos, figuras planas e seguimentos de reta em Matemática, a vida no campo em geografia, os costumes indígenas em história, e os estados físicos da água em Ciências.

Realizando atividades de consultas nos livros didáticos, as crian-ças foram percebendo que pelo menos algo do assunto escolhido por eles, tinha uma ligação entre os assuntos programados para as duas se-manas seguintes. Entreguei folhas em branco e pedi que escrevessem o que eles achavam que dava para associar entre os assuntos. Alguns alunos resistiram à escrita, e eu solicitei então, que desenhassem algo que ilus-trasse o que eles estavam querendo passar. Logo após, formamos uma roda de conversas e discutimos prováveis atividades para a semana.

No segundo dia de encontro, corrigimos as atividades do dia anterior que foram enviadas para casa. Em seguida, entreguei uma ativi-dade de Português com um texto que falava sobre algumas regras e leis que existem para pilotar motocicletas, nesse texto as crianças tinham que grifar todas as palavras com encontros vocálicos e circular os encon-tros consonantais. Ao final da manhã, sentamos para discutirmos o que estudaríamos no dia seguinte.

No primeiro momento do terceiro dia, corrigimos a atividade do livro enviada para casa no dia anterior e em seguida realizamos uma ati-vidade sobre as semelhanças das peças de uma “shineray” com sólidos geométricos. Bem como, a identificação de algumas figuras planas. Já no segundo momento da aula, procurei abri uma discussão com os alunos sobre questões mais diretas relacionadas ao tema do projeto, perguntei se eles estavam gostando do que estava sendo discutido em aula. Se eles estavam entendendo os assuntos que estavam sendo explanados, etc.

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Partindo para o quarto dia de encontro com a turma, fizemos a correção do exercício enviado para casa no dia anterior, em seguida os alunos responderam a atividade de geografia com consulta ao livro. Após responderam sozinhos, eles socializaram as respostas entre os co-legas. Em seguida, após o lanche, nós, eu e os alunos, confeccionamos um cartaz contendo alguns tipos de atividades econômicas e trabalho no campo, onde foi pregado na parede da sala.

No quinto dia de aplicação do projeto de ensino, procurei come-çar o dia com as crianças falando um pouco sobre a conscientização do uso da água no meio ambiente, mostrei a elas um globo terrestre para sinalizar a composição da água existente na terra. Assim, dei sequência a explicação do assunto de ciências nesse primeiro momento. Em segui-da, fizemos uma correção no quadro, do exercício enviado para casa no dia anterior. Após o lanche, Com o livro de Ciências em mãos, expliquei numa aula expositiva as duas propriedades da água, mostrando através de experiências, características que a mesma possui de exercer pressão e de ser solvente universal.

Após o final de semana, caminhando para a sexta aula, come-çamos o dia com uma roda de conversa. Perguntei se eles, os alunos, descobriram mais curiosidades sobre a “Shineray”, se tinham vivenciado algum acontecimento com a moto, acidentes, assaltos, etc. Em seguida corrigimos no quadro, o último exercício enviado para casa. No segundo momento da aula fizemos uma atividade de Português com interpreta-ção de texto e Dígrafo. (No texto havia curiosidades sobre motocicletas e uma imagem da primeira moto fabricada, modelo de 1885).

No primeiro momento do sétimo dia de aula, corrigimos a ativi-dade enviada para casa no dia anterior. Em seguida distribui a atividade de Matemática sobre regiões planas e seguimentos de retas. Após o lan-che, trabalhamos de maneira mais prática, entreguei barbante para as crianças e pedi que tentassem fazer algum tipo de seguimento de reta segurando o barbante com os dedos. Nessa atividade, as crianças inte-ragiram bastante umas com as outras e me surpreenderam com relação a coordenação motora.

No penúltimo dia de aula, fiz a correção do exercício enviado para casa no dia anterior. Em seguida fizemos uma leitura coletiva do texto que falava sobre os “Costumes dos Tupis” e, depois os alunos res-

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ponderam a atividade na folha de história, com consulta ao livro. No segundo momento da aula, propus aos alunos uma atividade de corte e colagem de imagens que lembrassem a vida do indígena nos dias atu-ais. No final da atividade, cada aluno apresentou seus painéis e explicou as imagens que havia colado. Nessa atividade nem todos os alunos de-sejaram apresentar e eu respeitei a opinião de cada um.

No décimo dia, fizemos a correção da atividade anterior. Em se-guida, uma experiência sobre as mudanças dos estados físicos da água. Por falta de recursos só mostrei a eles o gelo derretendo caracterizando assim em fusão. As demais mudanças, a vaporização, condensação e so-lidificação, sinalizei em forma de exemplos do cotidiano. Após a expli-cação, distribui as atividades de Ciências, para obter dados sobre o que eles aprenderam a partir da aula. Para encerrar o projeto, fizemos uma roda de conversa, para alcançar dados sobre o que eles aprenderam du-rante as duas últimas semanas.

Considerações finais

A execução do projeto de estágio é sem dúvida uma experiên-cia muito rica para a formação profissional, pois é o momento de se por em prática as teorias apreendidas durante todo o curso. Para as licencia-turas, esse momento tornar-se ainda mais desafiador, pois a prática do trabalho docente deve estar também, alicerçada às especificidades do público alvo (os alunos), estes podem estar inseridos em comunidades com poderes aquisitivos diferentes, o que gera um jogo de interesses e uma visão de mundo distinta.

O trabalho didático do professor deve estar baseado em objeti-vos, conteúdos e métodos, estes são norteadores e fundamentais para a obtenção dos resultados desejados, pois são eles que asseguram segun-do Libâneo (1994) a orientação e o desempenho das tarefas executadas pelos mesmos.

A experiência do Estágio supervisionado III, apesar de ter sido estruturada em um pequeno tempo de prática, foi imprescindível para se obter uma noção ampliada do que é a realidade da escola pública. Onde, a todo o momento somos (professores) “obrigados” a fazermos

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um jogo de adaptações no planejamento por diversos motivos, desde a falta de recursos materiais, até o mau atendimento aos alunos por conta da superlotação nas salas de aula, configurando assim em um trabalho mal executado.

A turma do 4º ano A da EMEF “Manoel Bomfim”, alvo da minha prática didática, possui características diferencias da rede particular de ensino por exemplo. Quando eles sugeriram esse tema, eu fiquei surpre-sa e pensei logo na possibilidade de não levar a diante a proposta, mas com os diálogos realizados na turma, fui percebendo que seria impor-tante trabalhar um tema tão presente na vida social daquelas crianças. Segundo Libâneo:

Devemos partir do princípio de que a escolha e definição dos conteúdos é, em ultima instancia tarefa do professor. É ele que tem pela frente determinados alunos, com suas características de origem social, vivendo num meio cultu-ral determinado, com certas disposições e preparo para enfrentar o estudo. (LIBÂNEO, 1995, p. 132)

Portanto, apesar do pouco tempo de execução do projeto, “A expansão e a problemática que envolve o uso das motocicletas popu-lares”, naquela turma, notou-se a importância e o valor que ele obteve por, dentre outros motivos, cooperar para que os alunos abrissem no-vos olhares com relação ao uso seguro de um meio de transporte que tem causado muitas mortes, principalmente na região em que eles vi-vem, a descoberta da importância da história para a compreensão da evolução dos objetos atuais e, um dos mais importantes, a contribui-ção que ele deu para otimizar os assuntos programados para aquelas duas semanas sequentes.

Durante a execução do projeto, notei que os alunos à medida que descobriam novas informações sobre o uso do transporte, pas-savam para a família, e traziam discussões para que ampliássemos a nossa problemática. Notei também, que os educandos estavam con-dicionados a escreverem do quadro, o que gerou problemas com os métodos utilizados para a execução do projeto, contudo por diversas vezes mudei de estratégias sem mudar o foco dos objetivos que eu pretendia alcançar.

172 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Ao final do projeto, fiz uma espécie de catarse, perguntei aos alu-nos o que eles haviam apreendido do tema, os que eles acharam mais significante, se gostaram da metodologia, etc. Dessa forma, otimizei a avaliação dos resultados obtidos através do projeto. E, constatei que ele foi de suma importância, acima de tudo, para a vida social daquelas crianças, assim como, para mim, futura educadora que enxerguei inti-mamente o valor que se tem trabalhar com assuntos relacionados à vi-vência dos alunos.

Referências

DAMIS, Olga Teixeira. Docência: Uma Intencionalidade Social?. In: ROMANO-WSKI, J. P., MARTINS, P. L. O., JUNQUEIRA, S. R. A. (Orgs). Conhecimento Local e Conhecimento Universal: Práticas sociais: Aulas, Saberes e Políticas. Cidade, Esta-do: Ed., ANO. p. 141 – 154 (Referência incompleta)

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

gIL, Angela Bernardes de Andrade; FANIZZI, Sueli. Porta aberta: ciências, 4º ano. São Paulo: FTD, 2008

RAMA, Angela; PAULA, Marcelo Moraes. Projeto Prosa: geografia, 4º ano. São Paulo: Saraiva, 2008

ALVES, Alexandre; OLIVEIRA, Letícia Fagundes; BORELLA, Regina Nogueira. Pro-jeto prosa: história, 4º ano. São Paulo: Saraiva, 2008

DANTE, Luiz Roberto. Aprendendo sempre: matemática, 4º ano. São Paulo: Áti-ca, 2008.

173PRODOCÊNCIA

LeItURA e eSCRItA eM MeU COtIDIANO22

Graciela Umbelino de Souza23

Silvanilde Fonseca Maynard24

Introdução

O presente artigo objetiva apresentar as experiências desen-volvidas durante a execução do projeto de ensino cuja temática foi “Leitura e escrita em meu cotidiano”. Este teve como objetivo principal possibilitar que as crianças conhecessem diferentes gêneros textuais e a importância da compreensão e utilização destes no meio social. Nesta perspectiva, destacou-se como objetivos específicos: refletir sobre a re-levância da leitura e escrita; incentivar os alunos a realização de leitura e escrita; desenvolver a capacidade de interpretação nos alunos dos di-versos tipos de texto; compreender e identificar as informações em dife-rentes textos; aprender e utilizar diversos tipos textos, com a finalidade da aquisição do conteúdo que faz parte do currículo escolar; formar lei-tores a partir da leitura dos textos apresentados.

O tema do projeto foi definido após contato com as crianças e a professora da turma onde o estágio foi realizado. A professora relatou as dificuldades que vinha enfrentando com as crianças em relação à leitu-ra, escrita e interpretação de texto. Fato que nos motivou a pensar em um projeto para as crianças, de modo que o mesmo viesse a contribuir de forma criativa e significativa para ampliar o conhecimento dos alu-nos sobre a literatura presente em seu cotidiano por meio da criativi-dade, ludicidade. Assim, buscamos proporcionar as crianças situações/oportunidades que favorecessem novas aprendizagens a partir do que já sabiam sobre tema.

Pudemos relacionar esse tema com as disciplinas de matemá-tica, geografia, redação e principalmente português. A professora das

22 Artigo elaborado com o programa Prodocência/ Capes/UFS, em parceria com as Esco-las Públicas do estado de Sergipe a partir da disciplina Estágio Supervisionado III.23 graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Sergi-pe. E-mail: [email protected] graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Sergi-pe. E-mail: [email protected].

LEITURA E ESCRITA EM MEU COTIDIANO22

Graciela Umbelino de Souza23

Silvanilde Fonseca Maynard24

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turmas não fez nenhuma objeção ao estágio, afirmando ser muito in-teressante nossa proposta de trabalho em que o trabalho com diferen-tes textos nas diferentes matérias envolveram os alunos numa apren-dizagem significativa.

Durante o desenvolvimento do projeto foram distribuídos di-ferentes tipos de gêneros textuais: jornais, revistas, livros de histórias infantis, receita médica, receita culinária, revistas em geral, os próprios livros didáticos, cartas, bilhetes, cordel, bula, encarte de supermercados, álbuns, dentre outros, que fazem parte do cotidiano dos alunos, ou não. A fim de que os alunos percebessem a importância da leitura e da escrita em seu contexto, e a utilize de forma clara e eficiente, é preciso que o processo de aquisição da leitura e da escrita proporcione uma apren-dizagem significativa, ou seja, que o aluno possa estabelecer relações entre o que aprendeu na escola com seu cotidiano fora dessa instituição para que a partir daí possa desenvolver/ampliar seus conhecimentos nas diversas áreas do conhecimento, tanto no cotidiano, no meio social, como na aquisição do conteúdo curricular.

Vivenciando a experiência em sala de aula

O referido projeto “Leitura e escrita em meu cotidiano” foi desen-volvido em uma escola que está localizada no bairro 18 do Forte zona norte do município de Aracaju- SE, com uma turma de crianças, do 2º Ano com 22 alunos, com faixa etária entre 7 a 9 anos.

A instituição atende a Educação Básica do 1º ao 5º Ano do Ensino Fundamental no turno da manhã, incluindo também ao atendimento a Educação de Jovens e Adultos – no turno da noite. Os alunos são de classe baixa, a maior parte desses mora na comunidade e em municípios próximos a Aracaju, a exemplo de Socorro e Itaporanga.

A prática pedagógica foi realizada com uma turma do 2º ano e outra do 4º ano do ensino fundamental. Nessa escola, procurou-se a professora da turma e conversou se sobre sua prática pedagógica. Ela explicou como desenvolvia os conteúdos e quais os assuntos programa-dos para essas duas semanas, pegamo-os para adaptar ao nosso projeto.

No primeiro momento de nossa experiência nos apresentamos e em seguida realizamos as atividades planejadas desse dia que foram a

175PRODOCÊNCIA

apresentação do projeto de ensino e em seguida propusemos aos alu-nos a produção de um texto, mesmo sabendo que muitos dos alunos não conseguem escrever com facilidade e que cada um tem um ritmo diferente, assim como elencado Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

As crianças têm ritmos próprios e a conquista de suas capa-cidades lingüísticas se dá em tempos diferenciados, sendo que a condição de falar com fluência, de produzir frases completas e inteiras provém da participação em atos de linguagem (BRASIL, 1998, p. 126).

Posteriormente foram expostos cartões com letras, logo após os alunos realizaram uma pesquisa jornais, revistas, livros de histórias infantis, receita medica, receita culinária, revistas em geral, os próprios livros didáticos, cartas, bilhetes, cordel, bula, encarte de supermercados, álbuns, dentre outros. Ao final do dia discutimos como surgiu a moeda real e em que situações do dia a dia (compras, vendas, mesadas). Nesse mesmo dia tivemos que acrescentar uma outra atividade que foi o tra-balho com a letra inicial de cada nome do aluno.

Os alunos não tinham costume de fazer atividade de pesquisa e recorte, logo houve uma grande confusão e bagunça o que levou bas-tante tempo para que eles compreendessem a atividade. E o trabalho em grupo acabou sendo substituído por trabalho em dupla. No entanto os alunos participaram com muita euforia e questionamentos durante a realização das atividades.

No segundo dia de aula utilizamos os cartões das letras que fo-ram confeccionados pelos alunos no inicio da aula com cartolina, onde os alunos tinham uma oportunidade de manusear letras e formarem pa-lavras. Ao final das atividades, os alunos confeccionaram coletivamente um cartaz com palavras com as letras c, d e f.

Em seguida, propusemos uma atividade de simulação de com-pra e venda, onde os alunos montaram um supermercado composto por vários produtos, cada aluno tem uma função, uns compram e os ou-tros vendem, sendo que foram eles que montaram a tabela de preços. Não foram encontradas grandes dificuldades com relação à operacio-nalização da aula. Só quando dois alunos se recusaram a participar da

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atividade, pois afirmaram que não queriam brincar e sim estudar. Nesse momento, explicamos que mesmo brincando aprendemos várias coisas, inclusive os conteúdos curriculares, corroborando com a ideia de que “[...] quando uma criança brinca, joga ou desenha, ela está desenvol-vendo a capacidade de representar, simbolizar. É construindo represen-tações que a criança se apropria da realidade)” (FREIRE, 1983, p.25). Ao final da aula os alunos haviam negociado (compra/venda), estabelecido relações de confiança, diferenciação (valores).

No terceiro dia de aula realizamos uma roda de conversa sobre a importância de ler e escrever possibilitando aos alunos ouvir e dar opiniões, pois segundo Piaget, “[...] é através de relações interpessoais repetidas, principalmente aquelas que incluem discussões e discor-dâncias, que a criança é levada a tomar conhecimento do outro.” (PIA-gET, apud FREIRE, 1983, p.20).

Os alunos participaram cada um dando sua contribuição/opi-nião, questionando o colega, concordando com o outro, trazendo re-latos do seu cotidiano para explicar sua opinião. Enquanto professoras, coube a nós mediar o processo, pois como afirma Madalena Freire, “[...] enquanto participante também, nesta atividade, coordenar a conversa. É o de alguém que problematiza as questões que surgem, desafia o gru-po a crescer na compreensão dos seus próprios conflitos”. (1983, p.21). Logo o professor aparece como mediador, de uma aprendizagem base-ada na troca de conhecimento entre os indivíduos.

Na aula do quarto dia foi feito uma colagem onde eles teriam que identificar as letras para formar o nome de alguns dos alunos da sala, e a partir dos nomes formados destacarem as consoantes ‘g’ ‘j’ e “x”.

A maior dificuldade encontrada foi que os alunos ao receber a folha de atividade ficaram esperando que nós dessemos as repostas no quadro, afirmando que não sabiam responder. No entanto, percebi que não era verdade, pois como não respondi antes deles tentarem, muitos iniciaram a atividade de forma correta sem minha ajuda diretamente.

As atividades aplicadas na aula do quinto dia foram as seguintes: a utilização de um texto e perguntas sobre o mesmo; cruzadinha - onde eles puderam usar o raciocínio para tentar descobrir qual palavra eles encontrariam; e em seguida a dança da música e representação.

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A dificuldade encontrada nesta aula foi que alunos ficaram es-perando a resposta das atividades, eles não se dispunham a fazer sem que o professor colocasse no quadro as respostas. Assim, as atividades ganhavam um novo rumo algumas vezes diferente do previsto, no en-tanto não mudaria nada dessa aula, pois a cada novo rumo uma nova possibilidade de ensinar e aprender era construída.

As atividades do sexto dia se iniciaram com a apresentação de palavras com as letras “b”, “p”, “v” e “f” seguida da pesquisa em jornais, revistas, livros de histórias infantis, receita medica, receita culinária, re-vistas em geral, os próprios livros didáticos, cartas, bilhetes, cordel, bula, encarte de supermercados, álbuns, dentre outros de palavras com essas letras. Os alunos já estão ficando mais acostumados com a metodolo-gia de trabalho, onde eles não recebem as respostas prontas, cada um constrói a sua. A participação esta ocorrendo quase que total só dois alunos se recusaram a realizar as atividades. hoje cada um se sentiu re-presentado no gráfico construído pelos alunos com a colaboração das professoras, onde estava representada a realidade de na sala, onde re-presentando o nome, idade e o sexo da criança, todos tiveram o direito de ser representado.

A criança pensa, agindo concretamente sobre os objetos. Ela opera, pensa a realidade transformando-a e a cada vez mais este pensar vai deixando de se apoiar no concreto. A criança vai interiorizando, abstraindo suas ações sobre a realidade. (FREIRE, 1983, p.29)

As crianças perceberam a relação entre a realidade e o objetos (o gráfico), foram capazes de operar mentalmente, fazendo essa relação eles foram capazes de discutir, diferenciar e reconhecer as diversidades que as cercam.

No sétimo dia de estágio trabalhamos com a poesia “Batatinha quando nasce” ilustrativa. Trabalhamos com a letra da poesia e eles de-clamaram/cantaram e em seguida pedi para que circulassem/retiras-sem as palavras que tinha os mesmos sons. Atividade fundamentada na perspectiva de Abramovich. Segundo a autora,

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é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... escutá-las é o inicio da aprendi-zagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho abso-lutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo (ABRAMOVICh, 1994, p. 16).

Mas um dia de estágio cumprido, hoje foi um dia muito provei-toso e sentimos que cumprimos nosso papel como professor. É muito satisfatório chegar à sala de aula e os alunos eufóricos perguntarem o que iriam fazer no dia. Sei que a cada dia que passa mais será exigido de mim enquanto profissional, mas não desisto, sempre tentarei estabele-cer essa relação de troca, onde eu aprendo e também ensino.

No oitavo dia de estágio mais uma vez realizei a roda de conver-sa sobre questões relacionadas ao tempo, cada um dos alunos teve a oportunidade de dar sua contribuição. Neste dia desenvolveram tam-bém atividades em grupos para a confecção de um cartaz intitulado “curiosidades do tempo”. Proponho, mas discuto, ouço o que ela tem a dizer como querem fazer.

O nono dia de aula deu-se continuidade ao dia anterior, já que boa parte dos alunos ficou muito confusa nas questões relacionadas ao tempo. Assim foi feito todo um trabalho de explicação de como esta or-ganizado o tempo. Posteriormente, foi realizado um passeio pela escola no intuito de conhecer/reconhecer as formas geométricas presentes no nosso dia-a-dia e passam despercebidas.

A dificuldade encontrada foi realização do passeio pela escola onde os alunos ao saírem da sala de aula e tiveram permanecerem em grupo sobe minha orientação, no entanto quatro alunos ficaram disper-sos e na volta à sala de aula, começaram a atrapalhar os colegas, e não conseguiam realizar a atividade, pois perderam as explicações.

No último dia a nossa proposta foi de revisão e utilização de todo os materiais produzidos durante as duas semanas de estágio, revemos os conteúdos como os números, as formas geométricas planas e, claro, leitu-ra e escrita. Eles estavam um pouco eufóricos por se tratar do último dia de estágio e por eles quererem que continuássemos. Nosso desempenho foi bom e não mudaria nada. A participação dos alunos foi muito boa, eles pediam que eu ficasse na sala com eles, pois gostaram muito das aulas.

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Considerações finais

O projeto de ensino foi mais um pequeno passo no caminho que começou a ser traçado e que possibilitou um crescimento pessoal, pro-fissional e como educadora. A experiência em sala de aula possibilita uma reflexão acerca do sentido da leitura e da escrita em nossa vida. Muitas vezes é na escola que o indivíduo tem o principal contato com a leitura e escrita, sendo assim cabe ao professor mediar essa relação com cotidiano do aluno.

O contato com a leitura possibilita a descoberta do mundo imen-so dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atra-vessamos. É também suscitar o imaginário, e ter a curiosidade aguçada em relação a tantas perguntas, é encontrar respostas (BASSO,2001).As-sim como ouvir e fazer leituras de diferentes textos pode sentir diferen-tes emoções, como a tristeza, a raiva, a alegria, a tranquilidade, é viver o que a narrativa proporciona de forma significativa e contextualizada.

Foi muito gratificante, passamos por diversas situações que exi-giram bastante do nosso conhecimento, encontramos dificuldades na aplicação das atividades, como também com os nossos limites pessoais. Mas, todo conflito serviu para o nosso amadurecimento intelectual e re-flexão sobre a profissão de ser professor. Assim como reconhecer que o domínio da leitura e da escrita tem estreita relação com a possibilida-de de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vis-ta, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento (PCNS, 1997). Por fim, podemos dizer que conseguimos atingir os objetivos e metas para a realização desse projeto por meio de experiência concreta em sala de aula.

180 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Referências

ABRAMOVICh, F. Literatura infantil: gostosuras e bobice. 4 ed. São Paulo: Sci-pione, 1994.

BASSO; Cíntia Maria. A literatura infantil nos primeiros anos escolares e a peda-gogia de projetos. Revista Linguagem e Cidadania, Edição n 06 - data: 12/01. Disponível em: http://www.ufsm.br/lec/02_01/CintiaLC6.htm. acessado em 03 de janeiro de 2013.

BRASÍLIA. Referencial Curricular Nacional para a educação Infantil (RCNEI). Brasília: MEC/SEF, 1998. 

FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua escrita. Porto Ale-gre: Artes Médicas, 1985.

FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo: relato de uma professo-ra. Rio de Jaeneiro: Paz e Terra,1983.

.VYgOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.São Paulo: Martins Fontes, 2ª ed., 1989.

PCNs: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educa-ção Fundamental, Brasília, MEC/SEF, 1997.

Referencial Circular Nacional para Educação Infantil (RCNEI). Brasilia: MEC/SEF, 1998.

VYgOSTSKY, L. A formação social da mente: o desenvolvimento dos proces-sos superiores. São Paulo, Martins Fontes, 1988.

VYgOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

VYgOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

181PRODOCÊNCIA

eXPeRIÊNCIAS De PRÁtICA De eNSINO eM eSCOLAS PÚBLICAS: O PRODOCÊNCIA eM AÇÃO25

Joelma Viana Almeida26 Mary Lourdes Santana Martins27

Roseli Pereira Nunes28

Introdução

É sabido que o ato de ensinar se configura como sendo um ofício exercido em quase toda a parte do mundo e sem interrupção desde a Antiguidade. Trata-se, pois, de uma ação que visa a transmissão de co-nhecimentos mediante o exercício de práticas sistematizadas em que o professor costuma ser compreendido tão somente enquanto articula-dor de conteúdos pré estabelecidos para os alunos.

No entanto, autores como Caldeira (1995) e Lorossa (2001), des-tacam em seus estudos a necessidade de conferir respaldo aos saberes dos profissionais de educação e dos alunos, assim como às especifici-dades inerentes às realidades individuais e culturais dos sujeitos en-volvidos no processo de ensino-aprendizado e da comunidade na qual estão inseridos. Assim, promover a necessária articulação entre teoria – consoante ao repertorio teórico adquirido na academia – e a prática vivenciada nas mais diversas realidades constitui, algo imprescindível à formação do futuro professor, uma vez que o contato com a sala de aula possibilita a vivência de desafios e situações inerentes à realidade do ambiente escolar. Ademais, a prática constitui-se também em um mo-mento apropriado à reflexão acerca do saber e do ser docente.

25 Este artigo é resultado de uma experiência compartilhada entre alunos-estagiários e um grupo de professoras envolvidos no PRODCÊNCIA/DED/UFS, sob a orientação da Profa. Dra. Maria José Nascimento Soares.26 graduada em Pedagogia (UFS), mestre em Educação (NPgED/UFS).27 Licenciada em geografia (UFS), mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRO-DEMA/UFS).28 graduada em Comunicação Social (UFS), mestre em Desenvolvimento e Meio Am-biente (PRODEMA/UFS).

EXPERIÊNCIAS DE PRÁTICA DE ENSINO EM ESCOLAS PÚBLICAS: O

PRODOCÊNCIA EM AÇÃO25

Joelma Viana Almeida26

Mary Lourdes Santana Martins27

Roseli Pereira Nunes28

182 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Nesta perspectiva, destaca-se a importância de se pensar a for-mação do educador mediante uma abordagem que vá além da acadê-mica e que envolva neste processo, aspectos relacionados ao desenvol-vimento pessoal, profissional e organizacional da profissão docente, o que, para Nóvoa (1995), trata-se de uma nova abordagem surgida em oposição aos estudos que tendem à redução da profissão docente a um conjunto de competências e técnicas, de maneira a promover a separa-ção entre o eu profissional e o eu pessoal.

A partir deste enfoque, as investigações passaram a ter o profes-sor e a articulação da teoria com a prática, como foco central em estudos e debates, que consideram o quanto o “modo de vida” pessoal acaba por interferir no profissional. Assim, o mencionado autor acrescenta ainda que esse movimento surgiu [...] num universo pedagógico, num amál-gama de vontades de produzir um outro tipo de conhecimento, mais próximo das realidades educativas e do quotidiano dos professores” (NÓVOA, 1995. p. 19).

Vislumbrando ampliar a qualidade das ações voltadas à formação de professores, o governo Federal, através do Ministério da Educação, criou em 2006, o Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodo-cência), cujos objetivos são, dentre outros, dinamizar os cursos de licen-ciatura das instituições federais de educação superior e propiciar aos gra-duandos formação acadêmica, científica e técnica dos docentes. Desta feita, destaca-se a inserção nas universidades de ações que propiciem experiências práticas vivenciadas no ambiente escolar numa relação real de ensino aprendizado entre os futuros profissionais e os educandos.

O projeto Prodocência do Departamento de Educação (UFS), tem como finalidade oportunizar uma reflexão sobre a articulação te-oria-prática mediante a inserção do estudante-estagiário no universo escolar, mediante elaboração e execução de um projeto de ensino a partir das necessidades, interesses e realidade do aluno. Tal experiência mostra-se significativamente relevante por possibilitar uma conexão de saberes entre o estudante-estagiário, o professor da sala de aula e o alu-no, proporcionando, neste sentido, uma reflexão sobre o ato de ensinar e os possíveis desdobramentos que envolvem esse processo.

É neste contexto que ressaltamos a importância da Disciplina Estágio Supervisionado III, ofertada pelo Departamento de Educação/

183PRODOCÊNCIA

UFS, cujo objetivo consiste em viabilizar ao graduando do curso de Pe-dagogia e Licenciaturas, através de orientação e acompanhamento indi-vidual, a aquisição de atitudes e habilidades pedagógicas, capacitando--o ao planejamento e execução da sua prática docente, preparando-o para atuar no ambiente escolar. Ademais, tal experiência visa também proporcionar qualificação à formação dos acadêmicos.

A prática de ensino, sob a forma de estágio mostra-se substan-cialmente importante nos currículos dos cursos de licenciatura, por aproximar o futuro docente de circunstâncias e realidades inerentes ao cotidiano escolar, permitindo desta forma, a apreensão da complexida-de que envolve este universo. Isto é possível a partir da aplicação de um projeto de ensino a ser desenvolvido na sala de aula, elaborado median-te diagnóstico da realidade do aluno. É este diagnóstico que orientará a definição dos objetivos, a organização do trabalho didático, sistematiza-ção dos conteúdos, procedimentos de ensino e as formas de avaliação (SOARES, et all, 2012).

Depois da elaboração de cada elemento que compõe o proje-to de ensino os graduandos são lotados nas escolas (preferencialmente da rede pública), com o objetivo de apresentarem e desenvolverem a proposta do projeto junto às turmas escolhidas para realização do es-tágio. A experiência ocorre num período de 10 (dez) dias, nos quais são realizadas e executadas com ações apresentadas a fim de alcançarem os objetivos propostos no projeto de ensino de forma colaborativa com o professor regente da sala de aula.

Após cumprir as atividades do estágio, os acadêmicos compar-tilham com os colegas da turma, mediante apresentação sistematizada, as experiências vivenciadas, assim como as angustias, as descobertas e as similitudes existentes entre as realidades encontradas por eles nas mais diferentes escolas e salas de aula. Momento impar na formação dos alunos-estagiários do curso de Pedagogia, pois possibilita a troca de ex-periências que poderá auxiliá-los no direcionamento do caminho profis-sional que desejam seguir dentro do campo da Pedagogia. Além disto, este espaço constitui-se um momento profícuo para reflexão do exercí-cio docente, mediante exposição das dificuldades, desafios, frustrações, conquistas e satisfações vivenciadas durante a prática pedagógica.

184 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Figura 1: Alunos da Disciplina Estágio Supervisionado III apresentando os projetos aplicados em sala de aula.

Fonte: Arquivo pessoal, outubro, 2012.

185PRODOCÊNCIA

A experiência do estágio mostra-se válida não só por aproximar o estagiário dos limites, dificuldades e desafios enfrentados cotidiana-mente no universo escolar, com os quais irá se deparar futuramente, mas, sobretudo, por possibilitar a aplicação dos fundamentos teóricos difundidos na academia, como esclarece este fragmento extraído do relatório de um estágio “[...] o contato com a sala de aula, possibilita a reflexão sobre as teorias aprendidas durante o curso, assim como sua aplicação à necessidade de cada educando” (Estudante do Curso de Pe-dagogia/UFS, 7º período). Todavia, faz-se necessária mencionar que nem sempre isto é possível, pois é comum o contato com situações no con-texto escolar nem sempre possíveis de serem satisfatoriamente contor-nadas utilizando-se as teorias apreendidas durante a graduação, como esclarece o relato de uma estagiária “[...] a sala de aula é um espaço onde encontramos situações e problemas complexos, cujas teorias estudadas nem sempre atendem as dificuldades encontradas” (Estudante do Curso de Pedagogia/UFS, 7º período).

Articulação teoria e prática

A articulação de conhecimentos provenientes da teoria com a prática é fator preponderante no que se refere à contribuição necessária para a formação do docente de forma contínua e coletiva, destacando os saberes produzidos na vivência cotidiana. Ou seja, desmistificando a máxima de que ensinar consiste apenas em transmitir o conteúdo aca-dêmico a um grupo de alunos, reduzindo a aprendizagem escolar ao tema das disciplinas.

Quem mergulha diariamente no oficio de ensinar sabe muito bem que, apesar da grande importância de se conhecer a matéria, isto não é suficiente por si só. Esta ação não consiste apenas em transmitir um conteúdo a um grupo de alunos, pois, entendê-la assim, significa reduzir uma atividade tão complexa como o ensino a uma única dimen-são, aquela que é mais evidente e, sobretudo, é negar-se a refletir de forma mais profunda sobre a natureza deste ofício e dos outros saberes que lhes são necessários (gAUThIER et ali,1998).

De acordo com Lorossa (2001), os saberes da docência vão além da formação inicial das universidades. Porém, cabe ao aluno-estagiário

186 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

ter conhecimentos pedagógicos especializados - fundamentos da edu-cação e da didática -, e dominar conteúdos da área especifica de conhe-cimentos em que atua. Para o autor, estes valores somados a vivencia da experimentação de sucessos e fracassos na prática do ensino, refletida e dialogada, é que resulta na formação identitária do professor e que irá contribuir de forma significativa na educação do docente. Com os saberes das disciplinas curriculares e de formação profissional há uma relação de teoria e prática, uma vez que

esses conhecimentos não lhes pertencem, nem são defini-dos ou selecionados por eles. [...] Não obstante, com os sa-beres da experiência o professorado mantém uma ‘relação de interioridade’. E por meio dos saberes da experiência, os docentes se apropriam dos saberes das disciplinas, dos saberes curriculares e profissionais. (CALDEIRA. 1995, p.8).

Ademais, no que se refere aos atributos de um professor, sabe-se que para ensinar, é preciso muito mais do que conhecer a matéria, mes-mo sendo este um conhecimento fundamental. A quem ensina cabe também o planejamento, organização, execução e avaliação de todo o processo, não esquecendo os problemas como os relacionados à disci-plina29, por exemplo, cabendo ao professor estar atento a especificida-des como a presença de alunos mais agitados, muito tranquilos, mais avançados, mais lentos etc.

O conhecimento originaria da experiência e que se manifesta na prática de forma diferenciada em cada situação é reunido por Santos (1998) em dois grupos: no primeiro estão as competências relacionadas à organização da classe e ao desenvolvimento do trabalho de modo ade-quado. No segundo grupo situam-se os saberes referentes ao conheci-mento das normas da instituição escolar e das características dos alunos, que oferecem subsídios para um adequado relacionamento com eles.

Neste sentido, os saberes da experiência, construídos na prática diária, auxiliam o professor na tarefa de contextualizar os conhecimen-

29 Neste caso fala-se em disciplina enquato comportamento. A disciplina é um conjun-to de regras que servem para o bom andamento da aprendizagem escolar. Portanto, podemos concluir que ela é uma questão de qualidade nos relacionamentos humanos, sendo também uma questão de qualidade entre professor e aluno (SILVEIRA, Fernanda Lapenda. O desafio da disciplina na sala de aula. Disponível em: http://www.webarti-gos.com . Acesso em: 19 de abril de 2010.

187PRODOCÊNCIA

tos dos conteúdos curriculares à realidade da escola e dos alunos. há ainda outros fatores que subsidiam na condução da prática pedagógica: os valores, as crenças, as concepções de ensino, os princípios éticos, po-líticos e sociais, que servem de abordagens e referências para a tomada de decisões no campo do ensino, de maneira que

a experiência filtra e seleciona os outros saberes; e por isso mesmo ela permite a (ao)s professore(a)s retomar seus saberes, julgá-los e avaliá-los, e então, objetivar um saber formado de todos os saberes retraduzidos e sub-metidos ao processo de validação constituído na prática cotidiana (TARDIF, et all, 2001, p. 231).

Com base nas experiências vividas durante os anos de formação no ambiente universitário, seja nas disciplinas de estágio obrigatório ou em atividades profissionais, o professor constrói esquemas e imagens que determinarão ações efetivas no exercício da profissão e que são pautadas por experiências já vivenciadas por eles ou compartilhadas por colegas (PLACCO, 2006). Assim, estar em sala de aula significa apren-der algo novo todo dia. Um aprendizado que se reflete na prática diária e que leva ao estimulo de reflexões, desafios e mudanças que delineiam o descobrimento de novas experiências. Ou seja, a educação escolar po-derá ser compreendida como uma

Prática simultaneamente técnica e política, atravessada por uma intencionalidade teórica, fecundada pela signifi-cação simbólica, mediando a integração dos sujeitos edu-candos nesse tríplice universo das mediações existenciais: no universo do trabalho da produção material das rela-ções econômicas; no universo das relações instituições da vida social, lugar das relações políticas, esfera do poder; no universo da cultura simbólica, lugar da experiência da identidade subjetiva, esfera das relações institucionais (SEVERINO, 1998, p. 36).

Por seu caráter singular, cada individuo faz o próprio tempo e espaço de acordo com assimilação e incorporação da própria vida, co-nhecimentos, ações, forças, formas de comportamento e idéias criadas pelos seus antecessores ou pelos que o rodeiam. Desta maneira, Char-lot (2005) coloca que só se pode ensinar a alguém que aceita aprender,

188 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

ou seja, que aceita investir-se intelectualmente. Desta feita, o professor não produz o saber no aluno, ele realiza alguma coisa: aula, exercícios e aplicação de dispositivo de aprendizagem, objetivando que o próprio aluno faça o que é de fato o trabalho intelectual e, portanto, obtenha conhecimento por meio de aprendizagem singular.

Deste modo, o saber profissional deve orientar a atividade do professor que se insere na multiplicidade própria do trabalho dos pro-fissionais que atuam em diferentes situações e que, portanto, precisam agir de forma diferenciada, mobilizando teorias, metodologias e habili-dades. Saber este que não é constituído por um único saber específico, mas, por um saber composto de vários saberes na perspectiva de formar cidadãos críticos, reflexivos e ativos na sociedade.

Contributos do estágio supervisionado para a formação do professor

Vivenciar a realidade de uma sala de aula composta por diferen-tes sujeitos com variados comportamentos, níveis de aprendizado, an-seios, expectativas e uma série de particularidades é sem dúvida uma experiência singular na vida acadêmica e pessoal do aluno-estagiário das licenciaturas. Trata-se, pois, do momento em que as teorias formula-das por Paulo Freire, Piaget, Vygotsky, dentre outros renomados nomes da Educação, são experimentadas mediante a junção dos elementos te-óricos do arcabouço universitário à prática que só se é capaz de mensu-rar na realidade do cotidiano. A este respeito faz-se necessário explicitar a opinião de um aluno-estagiário

O estágio em minha opinião é mais que um momento para colocarmos a teoria em prática. É também para revermos os nossos conceitos e preconceitos, refletindo a respeito de nossos interesses quanto à nossa formação docente (Estudante do Curso de Pedagogia/UFS, 7º período).

Visando efetivar esta experiência, as disciplinas de Estágio Su-pervisionado compõem a grade curricular dos cursos de licenciatura das Universidades Federais brasileiras, representando o período de aprendi-zado em que o graduando “põe à prova” os conhecimentos teóricos e, conforme os relatos abaixo elencados constroem e desconstroem asser-tivas que antes lhes pareciam verdades absolutas, pois,

189PRODOCÊNCIA

Estar à frente de uma turma faz a gente rever conceitos. Tan-to os aprendidos na universidade, como conceitos de vida [...]. A prática molda a nossa ação (Estudante do Curso de Pedagogia/UFS, 7º período).Mudei a minha maneira de ver a educação em sala de aula depois da minha primeira experiência na disciplina do es-tágio (Estudante do Curso de Pedagogia/UFS, 7º período).

Faz-se necessário mencionar a existência de capacidades as quais são esperadas que o profissional de educação seja capaz de desenvolver em sala de aula e no ambiente escolar como um todo, a saber: elaboração de planos de aula, métodos de ensino, material didático, adequação do conteúdo à capacidade de compreensão do aluno, diversificação dos recursos avaliativos, entre outros. No entan-to, ressalta-se que na prática diária uma serie de outras capacidades subjetivas são explicita e implicitamente cobradas dos profissionais de educação, uma vez estarem diante de situações que envolvem pessoas com diferentes realidades.

Ademais, é imprescindível o momento do estágio para que os futuros educadores percebam quais são estas outras capacidades que lhes serão solicitadas durante sua vida profissional, pois irão se perceber diante de sujeitos com diferentes níveis de aprendizado cuja assimilação de conteúdos não acontece de maneira simultânea, aspecto este que requer empenho e dedicação do professor na escola pública.

Somadas às mencionadas situações, são constantes os episó-dios relacionadas à má disciplina, violência e desrespeito entre os alunos e deles com professores e funcionários como descreve o seguinte relato

“Eles [os alunos] não respeitam a professora e nem quem tá querendo estudar. Foi preciso ter muita paciência e sa-bedoria para contornar a situação sem gritar ou perder o controle [...] Com o passar dos dias fui aprendendo a com-preender o jeito deles” (Estudante do Curso de Pedagogia/UFS, 7º período).

Estes fragmentos corroboram com a importância de vivenciar realidades cotidianas no ambiente escolar para construir estratégias de ação que sejam eficazes diante das particularidades de cada sala de aula, assim como de cada grupo de sujeitos.

190 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Por esta razão, a experiência do estágio reveste-se de significa-tiva importância para a formação docente, constituindo-se neste senti-do em um rico momento de aprendizagem. O contato com as situações complexas do cotidiano escolar, que não são instantaneamente resol-vidas com a aplicação das teorias, possibilita uma reflexão acerca da prática docente e do compromisso no processo formativo-educativo do aluno-estagiário que tem a oportunidade de avaliar junto ao professor da escola pública, num (re) pensar estratégias pedagógicas na possibili-dade de obter aprendizagem significativa.

Referências

CALDEIRA, Anna Maria Salgueiro. A apropriação e construção do saber docente e a prática cotidiana. Cadernos de Pesquisa, n.º 95. São Paulo: nov. 1995. p. 5-12.

ChARLOT, Bernard. Relação com o saber, formação dos professores e globa-lização: questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed, 2005.

gAUThIER, Clermont; MRTINEAU, Stéphane; DESBIENS, Jean-François; MALO, Annie; SIMARD, Denis. Por uma teoria da Pedagogia: pesquisas contemporâ-neas sobre o saber docente. Rio grande do Sul, 1998.

NÓVOA, António. Os professores e as histórias da sua vida. In: NÓVOA, Antó-nio. (Org.).Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 1995.

PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza; SOUZA, Vera Lucia Trevissan de (orgs) Aprendizagem do adulto professor. São Paulo: Loyola, 2006.

SANTOS, Lucíola Licínio de Castro Paixão. Dimensões pedagógicas e políticas da formação contínua. In: VEIgA, Ilma Passos A. (org.). Caminhos da profissio-nalização do magistério. Campinas, SP: Papirus, 1998.

SEVERINO, A. J. O conhecimento pedagógico e a interdisciplinaridade: o sa-ber como intencionalidade da prática. In: FAZENDA, I. (Org.). Didática e Interdis-ciplinaridade. Campinas: Papirus, 1998.

SOARES, M. J. N.; et all, Contributo do Programa Prodocência para a forma-ção Docente. In: BITENCOURT, Daniela Venceslau et all (Orgs). Prodocência: Vivências colaborativas na formação de professores em escolas públicas. São Crsitóvão, editora UFS, 2012.

TARDIF, M; LESSARD, C; LAhAYE, L. Os professores face ao saber: esboço de uma problemática do saber docente. In: Teoria e Educação n.º 4. Porto Alegre, RS. 1991.

191PRODOCÊNCIA

OS DIFeReNteS tIPOS De MORADIAS1

Camila Lima da Silva2

O presente artigo propõe descrever a minha experiência de prática educativa em sala de aula, na EMEF- Escola Municipal de Ensino Fundamental Bebé Tiúba, no turno matutino, com alunos do 1° ano do Ensino Fundamental. Ela está situada na Rua: humberto da Silva Mou-ra, S/N, Bairro: Médice II. É uma escola da rede pública de ensino tendo como público alvo crianças dos níveis da Educação Infantil até o 3º ano do ensino fundamental. O projeto teve como objetivo abordar os dife-rentes tipos de moradia como: casa de alvenaria, palafitas, ocas, entre outros, levando em consideração o contexto social em que as crianças estão inseridas.

Este tema pode ser abordado levando em conta as diversas áreas do conhecimento: Português- Músicas, textos, vídeos. Matemática- For-mas geométricas, numérica de quantidades. história- Membros de uma família, a história da sua família, diferentes tipos de famílias. geografia- A moradia, diferentes tipos de moradias. Ciências- Casas de palafitas (ca-sas sem saneamento básico), higiene familiar.

Criado em 2007, no segundo mandato do presidente Lula (2007-2010), o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) promoveu a re-tomada do planejamento e execução de grandes obras de infraestru-tura social, urbana, logística e energética do país, contribuindo para o seu desenvolvimento acelerado e sustentável, mostrando a importância de todos terem sua moradia. Porém, não nos falta o conhecimento da quantidade de pessoas que sobrevivem nas ruas das grandes cidades, que moram em locais sem as devidas condições sanitárias, que vivem em áreas de riscos.

È importante considerar também o que estabelece a Lei Nº 11.124, de 16de Junho de 2005: Art. 4o A estruturação, a organização e a atuação do SNhIS devem observar: I – os seguintes princípios:

1- Artigo elaborado após realização de projeto vinculado ao Programa Prodocência/CA-PES/UFS, em parceria com Escolas públicas do Estado de Sergipe, a partir da disciplina Estágio Supervisionado III.2- graduanda de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe

OS DIFERENTES TIPOS DE MORADIAS1

Camila Lima da Silva2

192 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

a) compatibilidade e integração das políticas habitacionais fe-deral, estadual, do Distrito Federal e municipal, bem como das demais políticas setoriais de desenvolvimento urbano, ambientais e de inclusão social; b) moradia digna como direito e vetor de inclusão social; c) de-mocratização, descentralização, controle social e transparência dos pro-cedimentos decisórios;  d) função social da propriedade urbana visando a garantir atuação direcionada a coibir a especulação imobiliária e per-mitir o acesso à terra urbana e ao pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade;

A avaliação proposta se deu a partir da elaboração de textos e desenhos expressando o que aprendeu diante desta unidade, assim como também conversas em rodas, para que podessem transmitir para os demais colegas o que aprendeu. Tendo como objetivos; geral: Com-preender os diferentes tipos de moradias, e sua importância no nosso cotidiano; Específicos: Identificar através de imagens os diferentes tipos de moradias; Identificar palavras no texto do tema abordado, e a partir daí trabalhar a leitura; Compreender as diferentes estruturas de mora-dias através de Filmes; Criar um desenho que represente o que foi pas-sado no filme; Entender a importância de sua própria moradia através de um desenho da mesma; Criar moradias com caixas (maquete), mos-trando a importância das mesmas; Identificar os diversos materiais de que são construídas as casas; Identificar as formas geométricas através de imagens sobre os tipos de moradias; Mostrar a importância de ter uma moradia, através de atividade lúdica (jogo da memória); Trabalhar os numerais através de moradias criadas pelos alunos.

Com este projeto, foram realizadas atividades de leituras, es-critas, desenhos, atividades lúdicas, rodas de conversas, brincadeiras, cantigas de roda que possibilitem um melhor conhecimento desenvol-vimento das suas potencialidades. Promovendo um ambiente signifi-cativo de aprendizagem; onde a criança possa se apropriar do conhe-cimento mais amplo. Como: Mostrar imagens de diferentes tipos de moradias; Leitura de texto sobre os tipos de moradia, para desenvolver a leitura com os alunos; histórias e filmes; Roda de conversa sobre as histórias e os filmes; Pedir para eles desenhar sua moradia; Fazer cola-gens sobre os diferentes tipos de moradias; Montar moradias; Traba-lhar músicas relacionadas ao tema; Trabalhar formas geométricas com os diferentes tipos de moradias; Criar jogo da memória com os tipos

193PRODOCÊNCIA

de moradias; Trabalhar contagem através das moradias criadas pelos alunos, às partes das moradias, etc.

Pode-se dizer que a moradia é um direito de todos, sendo de responsabilidade do Estado fazer com que todos tenham uma moradia digna, mas ainda assim muitas pessoas não conhecem seus direitos e acabam por não desfrutar dos mesmos.

Devido à diversidade social, faz-se necessário um estudo sobre os diferentes tipos de moradias, afim de que a criança possa conhecer não só sua moradia, como também outras que existe.

Relato das práticas desenvolvidas em sala de aula

No primeiro dia de prática, foi proposta uma roda de conversa com os alunos, referente ao tema trabalhado no decorrer dos encon-tros: tipos de moradias, o que eles sabiam sobre o tema e a partir daí pedir que expressasem em forma de desenho tudo que sabiam sobre os tipos de moradias, aproveitando o conhecimento prévio dos alunos. No segundo momento foi proposto, ler juntamente com os alunos um texto que fala sobre os tipos de moradias, para a partir daí reconhecer as palavras que eles já conheciam. E segundo LIBÂNEO (1994, p.128) “Sen-do assim, não basta à seleção e organização lógica dos conteúdos para transmiti-los. Antes os próprios conteúdos devem incluir elementos da vivência prática dos alunos para se tornar significativos.”

A partir desta conversa alguns alunos falaram que já sabiam so-bre os tipos de moradias, e começaram a comentar sobre o assunto, a maioria comentava, poucos ainda tinham a dificuldade de se expressar. Para LIBÂNEO (1994, p.168)

A conversação tem um grande valor didático, pois desen-volve nos alunos as habilidades de expressar opiniões fun-damentais e verbalizar a sua própria experiência, de discutir, argumentar e refutar opiniões dos outros, de aprender a es-cutar, contar fatos,interpretar,etc., alem de evidentemente, de proporcionar a aquisição de novos conhecimentos.

Não tive dificuldades em sala com os alunos, pois já os conhecia, por ser uma escola onde já fazia estágio há algum tempo. Consegui de-

194 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

senvolver de forma proveitosa o trabalho previsto e os alunos mostrava bastante interesse com o assunto.

No segundo dia de prática, foi proposto que fizéssemos uma roda para contar a história dos 3 porquinhos, e depois pedir para eles ilustrarem o que entenderam da história numa folha, destacando o que eles mais gostaram e associaram aos tipos de moradias. De inicio fica-ram um pouco dispersos, mas logo depois demonstraram bastante in-teresse pela história e ficaram bem atentos.No segundo momento foi proposto ,identificar através de imagens de diferentes tipos de moradias as formas geométricas existentes, e fazê-las no caderno e depois socia-lizar com os colegas da sala, para saber se todos conseguiriam identifi-car. Pode-se considerar que: [...] ”a ilustração é uma forma apresentação gráfica de fatos e fenômenos da realidade sendo importante para que os alunos desenvolvam a capacidade de concentração e de observação.” (LIBÂNEO, 1994 p.162)

A maioria comentou sobre as imagens e conseguiu destacar as formas geométricas existentes, mostrando-se interessados em analisar as imagens. As atividades propostas para este dia foram desenvolvidas, com colaboração dos alunos, conseguir desenvolver de forma que ficas-se nítido as atividades desenvolvidas.

O terceiro dia de prática, houve uma conversação diálogo, com as seguintes perguntas: Como é a moradia deles, se é casa ou apartamento? Se eles gostam? Onde é localizada? Quem mora com eles? Para que eles percebessem as diferenças dos tipos de moradias e os diferentes tipos de família, e depois pedir para que eles desenhassem sua moradia. Logo após a conversação, entreguei a atividade onde eles desenharam a mo-radia deles. Nesse diálogo pude perceber que alguns tinham vergonha de falar onde moravam, e a partir daí fui conscientizando eles, que inde-pendente de como seja sua moradia, todos são iguais. No segundo mo-mento, fomos até a sala de vídeo para assistir ao filme dos 3 porquinhos , onde eles perceberam a estrutura das moradias existentes no filme.

A participação dos alunos na conversa sobre o filme foi quase unânime, mostraram-se bem interessados e participaram, sem ne-nhuma reclamação.

O quarto dia de prática, foi feita uma conversa sobre os compar-timentos que existe na casa de cada um dos alunos, e em seguida, en-sinei a fazer uma dobradura de uma casa, sendo que depois eles deve-

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riam ilustrar a casa de dobradura. Essa atividade foi muito interessante, fizeram com muita empolgação e a todo o momento viam me mostrar como estava ficando. No segundo momento, distribuir para eles uma atividade para numerar os compartimentos da moradia. E logo após fiz a brincadeira de telefone sem fio, em roda, e expliquei a brincadeira, as palavras que iram passar na brincadeira foram as dos compartimentos da moradia, enfatizando a atividade anterior.

O processo de ensino-aprendizagem, que ocorre na infân-cia é muito importante, visto que nesse estágio que a criança pode-rá ou não adquirir o hábito de ler, escrever, descobrir o mundo e as-similar métodos que a ajudará durante toda sua vida, conforme diz (VYgOTSKY,1989, p. 33).

Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sis-tema de comportamento social, e sendo dirigidas a objeti-vos definidos, são refratadas através do prisma do ambien-te da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desen-volvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social.

Cabe ao professor, possibilitar oportunidades para efetivar a aprendizagem do aluno respeitando sua individualidade e incentivan-do suas potencialidades, proporcionando ao aluno criar suas próprias hipóteses em relação ao objeto do conhecimento.

No quinto dia de prática, foi proposto que formassem 2 grupos, onde os alunos procuraram em revistas e livros figuras de diferentes tipos de moradias, e a partir daí colocar em um cartaz coletivamente.Eles gos-taram muito desta atividade, todos começaram a procurar as figuras, e ficaram muito preocupados em encontrar logo. Para não haver discussão organizei a colagem de modo que cada um colasse uma figura, afim de que todos participassem ativamente. No segundo momento, falei para eles que iríamos brincar de toca do coelho, e ficaram muito agitados para saber como era, eles não conheciam essa brincadeira, organizamos a sala, de modo que ficasse um espaço vazio no meio, e começamos a brincar, depois desse dia, pediam todos os dias para brincar novamente.

196 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Percebi que eles estavam muito empolgados com o desenvolvi-mento desta atividade. Para (LIBÂNEO 1994, p. 201)

O objetivo do processo de ensino, e de educação é que toda a criança desenvolva suas capacidades físicas e inte-lectuais, seu pensamento independente e criativo, tendo em vista tarefas teóricas e prática, de modo que se prepa-rem positivamente para a vida social.

Vale ressaltar que foi muito interessante essa atividade, pois, muitos alunos não tinham antes feito essa atividade lúdica, a qual tra-balhou bem a questão da coletividade, norteando também sobre o tema do projeto.

O sexto dia de prática, em roda, contei pra eles a história: A casi-nha do tatu, a partir dessa história, os alunos compreenderam que seja qual for o tipo de moradia, a casa é um lugar importante para eles. Além de ser abrigo, ela é espaço de convivência entre seu grupo familiar. No segundo momento, Pedir para cada um procurar saber o número da sua moradia procuramos na ficha escolar dos alunos e a partir daí identifi-camos se era número par ou ímpar, e conseqüentemente trabalhei com eles os números pares e ímpares.

Alguns teóricos mostram sugestões de como deve ser realizado o trabalho de construção do conhecimento matemático para crianças em período de alfabetização, dentre eles podemos citar:

Se na escola assumimos tanto ao ensinar como ao avaliar, que fazer matemática é mais do que fazer contas, não só poderíamos conseguir que as crianças adquirissem co-nhecimento como também ofereceríamos a oportunida-de de que elas se apaixonassem por essa invenção huma-na que é a matemática. (ZUNINO, 1995, p. 27).

Essa fala nos atenta para a necessidade de o profissional alfabe-tizador, não deter-se apenas ou meramente a realizar uma construção matemática apoiada em cálculos, mais que procure também alternati-vas de forma a tornar a aula mais dinâmica e proveitosa, conquistando dessa forma a atenção das crianças e ao mesmo tempo incentivando as mesmas a se apaixonarem pela matemática.

197PRODOCÊNCIA

No sétimo dia de prática, fizemos uma roda e começamos cantan-do a música: Era uma casa muito engraçada, e a partir daí, entreguei uma atividade onde tinha letra da música e um espaço abaixo para desenhar a casa que falava na música, enfatizando os diferentes tipos de moradias e suas estruturas. No segundo momento, com o objetivo de trabalhar as cores, levei o desenho de uma moradia e eles pintaram da cor da moradia deles, depois fizemos uma roda de conversa para que todos percebes-sem as cores existentes, para a partir daí trabalhamos as cores.

Percebi ainda que alguns não expressavam suas opiniões e dúvi-das. Contudo “[...] Sabemos que a criança é um sujeito ativo do ponto de vista cognitivo. Mas é preciso propor formas adequada de intervir nesse processo.” (CARDOSO, EDNIR; 2004 p. 51.)

Por isto o educador deve trabalhar com seus alunos, individual e coletivamente para que eles desenvolvam suas habilidades cognitivas, através do conhecimento prévio do aluno e respeitando suas limitações.

O oitavo dia de prática, falei pra eles que iríamos assistir um ou-tro filme que se chamava João e Maria, perguntei se eles já conheciam , e alguns afirmaram que sim, mas mesmo assim, assistiram atentamen-te.Com esse filme enfatizei que eles percebessem os diferentes tipos de moradia existentes e favorecesse  a percepção do papel de cada um dentro a família.No segundo momento, conversei com eles Qual a parte do filme você mais gostou? Qual não gostou? Como é sua família? Com quem você vive? Deixando que eles se expressem a vontade, mostrando o que ficou do filme relacionado ao tema trabalhado.

Dessa maneira, o professor precisa entender que é necessário proporcionar atividades pedagógicas que auxiliem no processo e ora-lidade a partir de histórias que rondam o mundo das crianças. Para CA-gLIARI (2005), as atividades que serão desenvolvidas em sala de aula devem partir da espontaneidade das crianças, ou seja, devem condizer com as práticas conhecidas em seu contexto social.

No nono dia de prática, comecei falando que iríamos formar gru-pos para confeccionarmos com caixinhas de papelão diferentes tipos de moradias (apartamentos, casas) de acordo com os conhecimentos que eles já tinham e adquiriram das aulas anteriores. Os alunos mostraram--se bastante interessados com a atividade, e entusiasmados em executá--la. No segundo momento, ainda em grupo, montaram a maquete com a

198 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

minha ajuda e com a ajuda da professora titular da sala, com os tipos de moradias produzidos no momento anterior, para que eles percebessem a importância do trabalho em grupo e que juntos podemos produzir algo melhor.

Acho que o fato deles estarem muito preso às atividades do livro didático possibilitou maior prazer em executar atividades diferenciadas. Com as atividades mecânicas do livro didático, geralmente:

o aluno não tem liberdade nem lhe é facultado ter qualquer iniciativa para escrever o que gostaria. Pelo contrário, toda aventura individual pode levar ao erro, e o erro pode ser ir-remediável. Por isso, ninguém pode escrever nada, a não ser o que já tenha estudado com o professor. A cartilha jamais discute a leitura em si, a decifração (CAgLIARI, 1989, p. 92).

Trabalhar atividades lúdicas nas séries iniciais pode possibilitar as competências lingüísticas de modo que descubram os conceitos e façam aquisição da linguagem e da escrita.

No décimo dia de prática, com o jogo da memória impresso em uma folha A4 com o desenho dos tipos de moradias, em grupo os alunos pintaram os desenhos, depois colocaram em um papel duplex e recorta-ram, após a atividade poderam brincar com o jogo, para que percebes-sem que podem aprender sobre o assunto de uma forma lúdica. Assim, a proposta dessa atividade, foi bastaste satisfatória, uma vez que conse-guiu quebrar um pouco a rotina dos alunos com uma atividade mais lú-dica, sem deixar de expor ou revisar o conteúdo proposto com o jogo. No segundo momento, conversei sobre o que eles acharam das aulas? O que eles mais gostaram? Ainda ficou alguma dúvida? Relembrando o que foi desenvolvido no projeto, deixando que eles demonstrassem os pontos positivos e negativos, e perceber se eles compreenderam os diferentes tipos de moradias e sua importância no nosso cotidiano. Para Libaneo:

Uma escola bem organizada e bem gerida é aquela que cria e assegura condições pedagógico-didáticas, orga-nizacionais e operacionais que propiciam o bom desem-penho dos professores em sala de aula, de modo que todos os seus alunos sejam bem-sucedidos na aprendi-zagem escolar (LIBANEO, 2004, p.10).

199PRODOCÊNCIA

Uma escola com estas características significa que tem uma gestão escolar democrática efetiva cooperando significativamente no funcionamento eficaz das atividades escolares; Conjuntamente com a participação de professores, pais, alunos, demais funcionários e a comu-nidade. Pois, a interação de todos promove a discussão, sugestão e re-solução de possíveis problemas relacionados à educação. Promovendo ensino com qualidade através das práticas pedagógicas curriculares.

Considerações finais

Considerando que o Estágio Supervisionado é muito importante para o futuro professor, o meu aprendizado foi muito significativo atra-vés dos desafios de sala de aula na Rede Pública. Pois a vivência de sala de aula oportuniza uma familiaridade com o ambiente escolar e com o processo pedagógico. Ambos fundamentais para quem deseja assumir atividades pedagógicas na educação escolar.

Ficou evidente que o processo didático ocorre por meio de seus aspectos mediadores que são os objetivos, os conteúdos e os métodos utilizados pelo professor e que estes são elementos essenciais para o de-sempenho das atividades pedagógica em que o professor fundamenta a sua prática, norteando as responsabilidades que lhes são destinadas durante o processo de ensino.

Considerando que os conteúdos sofrem mudanças constante-mente de acordo com as produções humanas e com a intencionalidade do sistema regente. Neste sentido, a escola deve oferecer aos alunos um ensino democrático, valorizando a cultura deste introduzindo o saber científico partir das matérias de ensino; é cabível ao educador organizar os conteúdos de acordo com estas necessidades, para que eles possam desenvolver suas habilidades intelectuais a partir de suas vivências e se-jam sujeitos reflexivos e ativos na produção do saber sistematizado.

Quanto a minha experiência em sala de aula durante esse perí-odo foi muito significativo para que eu pudesse fazer uma relação com meu aprendizado teórico acadêmico. Apesar de ser um tempo curto e com outras atividades para desenvolver sentir na pele o que é uma sala de aula caracterizada por realidades de problemas diferentes, que no momento parece que as teorias já estudadas não atende a todos os pro-blemas explicitados.

200 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Contudo, as dificuldades estão mais relacionada a quantidade de crianças para acompanhá-la de forma individual nas suas dificulda-des de desempenho de tarefas por ser um numero grande de aluno por professor, não tem como o educador dar a atenção necessária a to-dos, ficando sempre o mais fraco com menos atenção que necessita.

Neste sentido, geralmente o educador é muito cobrado pelo in-sucesso do desempenho dos alunos e atividades, sem considerar que os materiais disponíveis são insuficientes e ou inadequado para um bom trabalho pedagógico.

Portanto, o estágio supervisionado III foi muito bom para meu aprendizado, percebi que as diversas dificuldades do ambiente escolar relacionada a estrutura física e a relação entre alunos/alunos, alunos/professor, professor/professor podem ser superadas a partir de um tra-balho consolidado com responsabilidade e compromisso entre escola e comunidade escolar.

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201PRODOCÊNCIA

A LUDICIDADe COMO COLABORADORA NO PROCeSSO De CONStRUÇÃO De VALOReS ReSULtANteS NA QUALIDADe De VIDA DA

CRIANÇA: UMA eXPeRIÊNCIA NA e.M.e.F. MARtINhO BRAVO

Mônica Andrade Modesto 1

O presente artigo é fruto do desenvolvimento de um projeto decorrente da experiência vivida durante a disciplina de Estágio Super-visionado do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe, orientado pela professora Maria José Nascimento Soares. Tal experiência aconteceu na turma do quarto ano da Escola Municipal de Ensino Fun-damental (EMEF) Dr. Martinho de Oliveira Bravo. O objetivo desta expe-riência foi contribuir para que as crianças tivessem a possibilidade de compreender a importância dos cuidados para com a saúde por inter-médio de brincadeiras, construindo assim um valor acerca dos cuidados que deve ter com a saúde de uma forma prazerosa, própria da sua faixa etária e da sua realidade. Ansiou-se assim colaborar para a reflexão a respeito da saúde da criança e do modo como esta é tratada pela esfera da escola pública e possibilitar, de modo efetivo, uma melhoria significa-tiva na promoção da saúde permitindo que as crianças envolvidas neste projeto tivessem uma melhor qualidade de vida.

É sabido que toda criança gosta de brincar e que o “seu mun-do” é mediatizado pela brincadeira, pela ludicidade. São os momentos de brincadeira que lhe proporciona a aquisição do conhecimento e o desenvolvimento de valores e comportamento. Contudo, a brincadeira, por diversas vezes, é enxergada de maneira equivocada e confundida como meros passatempos ou distrações, mas ela vai muito além do en-tretenimento, quando utilizada da maneira correta, a brincadeira pode se tornar uma grande aliada no processo de ensino-aprendizagem, como demonstra Oliveira quando afirma que

1 Pedagoga, aluna especial do Programa de Pós-graduação em Educação da UFS, pós-graduanda em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela FSLF, membro do gEPEASE. [email protected]

A LUDICIDADE COMO COLABORADORA NOPROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE VALORESRESULTANTES NA QUALIDADE DE VIDA DA

CRIANÇA: UMA EXPERIÊNCIA NA E.M.E.F.MARTINHO BRAVO

Mônica Andrade Modesto1

202 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Uma criança não precisa de motivos ou razões para brin-car. Ela tem uma motivação interna que a impulsiona para a brincadeira. É o brincar pelo brincar, sem neces-sidade da existência de um objetivo final a ser alcança-do. Enquanto para a criança, a brincadeira tem fim em si, para o adulto a brincadeira pode ser vista como uma possibilidade para a promoção do desenvolvimento, da saúde e da aprendizagem. Por meio da brincadeira, as crianças podem exprimir sentimentos, dominar angús-tias, aumentar experiências sociais e emocionais, treinar para situações imediatas e futuras, estabelecer contatos e estimular os aspectos do desenvolvimento, da saúde e da aprendizagem (OLIVEIRA, 2008, p.193).

O ensino mediado pela brincadeira permite que o/a professor/a articule os conteúdos de forma interdisciplinar, isso porque, utilizando uma atividade lúdica o/a educador/a pode trabalhar diversos conteú-dos de diferentes disciplinas. Assim, um processo de aprendizagem que tem sua base na interdisciplinaridade, ultrapassa os resultados do ensi-no tradicional, aquele que tem suas bases na transmissão de conteúdo, deixando o aluno passivo na aquisição do conhecimento.

A interdisciplinaridade permite que o aluno se envolva na pro-dução do conhecimento, portanto, é imprescindível para o bom apro-veitamento do ensino, visto que consiste na superação da fragmentação e da compartimentalização de conhecimentos. Carvalho (1998) confir-ma essa concepção ao afirmar que o trabalho interdisciplinar “pretende superar uma visão especializada e fragmentada do conhecimento em direção à compreensão da complexidade e da interdependência dos fe-nômenos da natureza e da vida” (p. 09).

Corroborando com a percepção de Carvalho, Mattos (2006) afir-ma que é a partir do caráter interdisciplinar contextualizado da educa-ção que se pode articular a EA para que essa possa difundir a abertura de um caminho para a desenvolvimento sustentado associado à realida-de do Brasil, sem ser preciso importar modelos de outros países.

Observa-se assim que o processo de aprendizagem não se resume apenas ao ensino dos conteúdos curriculares, mas estende-se também ao processo de construção de valores que irão nortear as escolhas, as deci-sões e as atitudes do aluno durante o seu processo de formação de sujeito.

203PRODOCÊNCIA

Desse modo, concebe-se que o ensino deve estar ancorado na formação de valores, pois estes se traduzem no significado do apren-dizado, e se não há significado é porque não houve um aprendizado efetivo, capaz de transformar as ações do indivíduo, houve apenas uma transferência de conteúdo. Freire (1996) já indicava essa problemática quando explanou sua concepção de ensino onde ensinar não é simples-mente transferir conteúdos, mas criar possibilidades para que o aluno possa construir seu conhecimento.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais é impor-tante que a criança tenha oportunidade de “(...) conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva” (PCN, 1997, p.07).

É importante ressaltar que os PCN trazem atreladas às suas pro-postas, discussões sobre meio ambiente e saúde, uma vez que Educa-ção Ambiental não se resume apenas nos conteúdos relacionados à ecologia, ela perpassa caminhos essenciais para o bem estar individual e coletivo da sociedade. Reigota define esta educação como uma “(...) educação política, no sentido de que ela reivindica e prepara cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza” (2006, p. 10). Como resultado desta prática se terá a garantia ao ser humano da qualidade de vida e a construção do valor da saúde é um aspecto desta qualidade.

guimarães (1995) aponta que a educação ambiental vem sendo chamada a dar conta da mudança de valores e atitudes da humanidade, tal mudança vislumbra a construção de valores no indivíduo. É emba-sado em valores como solidariedade, humanização, sensibilização, cor-responsabilidade que o homem poderá então criar medidas que visem o bem estar coletivo e promovam um equilíbrio para com o ambiente, gerando qualidade de vida.

Fala-se em construção do valor da saúde porque na perspectiva freireana é assim que a educação precisa ser, pautada na construção de valores. Uma educação que prima por este objetivo alcança resultados significativos, pois permite ao educando que estabeleça reflexões críti-cas acerca do meio em que vive. Conforme o método Paulo Freire (2005) para que haja uma educação transformadora é necessário que o profes-

204 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

sor conheça e trabalhe a realidade do aluno de forma interdisciplinar a fim de que o aprendente – forma como Freire se refere ao aluno – seja capaz de encontrar significado no que está sendo ensinado e a partir de então construa seu conhecimento, fundamentado em valores construí-dos por ele mesmo. Assim justifica-se o fato da defesa em se trabalhar a construção de valores neste artigo, fruto de ações educativas desenvol-vidas durante a disciplina de estágio supervisionado, a qual compreen-de um período de regência escolar com alunos das primeiras séries do ensino fundamental.

Partindo da indagação sobre a possibilidade de construir valores relacionados à educação ambiental por intermédio da ludicidade é que se definiu o objeto de estudo do projeto elaborado: a brincadeira como um agente cooperador para a melhoria da qualidade de vida das crian-ças envolvidas na prática de ensino.

Dessa forma, o presente trabalho buscou verificar se é possível lançar mão da brincadeira para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental e como elas se constituem numa ferramenta2 moti-vadora para a construção de valores e aquisição de conhecimento.

Para o alcance desses objetivos foi desenvolvido um projeto de ensino, com alunos do quarto ano da Escola Municipal de Ensino Funda-mental (EMEF) Dr. Martinho de Oliveira Bravo que ansiou colaborar para a reflexão a respeito da saúde da criança e do modo como esta é tratada pela esfera da escola pública e possibilitar, de modo efetivo, uma me-lhoria significativa na promoção da saúde permitindo que as crianças envolvidas neste projeto tivessem uma melhor qualidade de vida.

Procedimentos Metodológicos

Os procedimentos metodológicos adotados, como a aplicação de um projeto, caracterizam essa pesquisa como de abordagem quali-tativa do tipo pesquisa-ação, visto que, ao final, houve uma intervenção na prática cotidiana dos envolvidos no projeto, pressuposto principal deste último tipo de pesquisa, conforme pode ser verificado na afirma-ção de Thiollent, na qual

2 A brincadeira se constitui como ferramenta porque nesse trabalho seu objetivo final foi promover a formação dos alunos e não somente executá-la aleatoriamente.

205PRODOCÊNCIA

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita asso-ciação com uma ação ou com a resolução de um pro-blema coletivo e no qual os pesquisadores e os parti-cipantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (ThIOLLENT, 2005, p.16).

A experiência da prática de ensino aconteceu durante dez aulas. Como aportes metodológicos para o alcance deste objetivo utilizou--se aulas expositivas e algumas atividades lúdicas como brincadeiras e jogos. As primeiras aulas partiram do tema a brincadeira na promoção da saúde. Os recursos utilizados foram bastante simplórios, fez-se uso apenas de quadro negro, giz, embalagens e rótulos de produtos, figuras, brincadeiras, livro didático, textos paradidáticos e um cartaz com figuras dos hábitos de higiene que promovem a saúde (figura 01).

Figura 01: Cartaz utilizado para apresentar os hábitos de higiene. No detalhe: as figuras do cartaz.

Fonte: Trabalho de campo.

A prática foi iniciada com uma apresentação do tema higiene e saúde e um diálogo sobre o mesmo para que fosse possível fazer uma

206 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

avaliação diagnóstica acerca da temática trabalhada. Esse momento de avaliação foi importante, pois foi através dele se pode identificar os conhecimentos prévios dos alunos e a partir de então reavaliar as es-tratégias que seriam utilizadas para o alcance dos objetivos do projeto. Luckesi aponta que

O ato de avaliar tem como função investigar a qualidade do desempenho dos estudantes, tendo em vista proceder a uma intervenção para a melhoria dos resultados, caso seja necessária. Assim, a avaliação é diagnóstica. Como in-vestigação sobre o desempenho escolar dos estudantes, ela gera um conhecimento sobre o seu estado de apren-dizagem e, assim, tanto é importante o que ele aprendeu como o que ele ainda não aprendeu. O que já aprendeu está bem; mas, o que não aprendeu (e necessita de apren-der, porque essencial) indica a necessidade da intervenção de reorientação..., até que aprenda (LUCKESI, 2005, p.02).

A avaliação diagnóstica é muito importante também para que o aluno alcance a aprendizagem significativa. Para Auzubel (1980) o pro-cesso de ensino-aprendizagem só tem sentido para o aluno quando lhe oferece possibilidades para a construção da aprendizagem significativa.

Junto a escrita e a leitura foi desenvolvida ainda a atividade de contação de histórias priorizando o acesso à literatura infantil. A literatu-ra infantil tem suma importância na vida de uma criança. Ela é capaz de despertar no aluno o gosto e a valorização da leitura, o senso crítico, o auxílio na escrita e na linguagem.

Como metodologia escolheu-se o método que instiga a pesquisa porque acreditou-se que através desta o aluno tem a oportunidade de buscar as informações que ele quer aprender. E quando se trata de crian-ças a pesquisa tem um significado ainda maior que é o de desvendar os mistérios da curiosidade. Martins apud Mattos; Castanha aponta que

A criança tem paixão inata pela descoberta e por isso con-vém não lhe dar a resposta ao que não sabe, nem a so-lução pronta a seus problemas; é fundamental alimentar--lhe a curiosidade, motivá-la a descobrir as saídas, orientá--la na investigação até conseguir o que deseja (MATTOS; CASTANhA, 2008, p. 05).

207PRODOCÊNCIA

Foi construído um jogo de tabuleiro intitulado “corrida saudá-vel” (figura 02). O jogo trazia algumas questões de língua portuguesa, matemática e referentes ao tema higiene e saúde e era marcado pela presença de regras.

Figura 02: Jogo de tabuleiro “corrida saudável”.

Fonte: Trabalho de campo.

Os jogos de regras permitem que as crianças interajam em si-tuações igualitárias, de caráter discursivo, em que necessitam coope-rarem entre si para alcançarem um objetivo. Caiado; Rossetti (2009) apontam que

Jogando, a criança encontra a possibilidade de interagir com seus iguais e debater opiniões, o que favorecerá o exercício da reciprocidade tão peculiar ao ato de cooperar. [...] O jogo de regras representa a exigência de reciprocidade social na medida em que instaura a regra como produto de uma regularidade imposta pelo grupo. Encontra-se nela um sentido de obrigatoriedade que denota a existência de relações sociais. Desse modo, o jogo de regras constitui a atividade lúdica do ser socializado, o que explicaria seu desenvolvimento tardio e a permanência de sua prática após a infância. A capacidade de cooperar, por sua vez,

208 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

conduzirá a criança a novas interpretações do mundo e das coisas, produzindo mudanças significativas em seu pensamento. [...] É também, com base na cooperação, que as crianças passarão a defender a igualdade em face da autoridade. No campo cognitivo, será esta a responsável por modificar as atitudes egocêntricas iniciais, permitindo a inserção da criança num sistema de reciprocidade lógica e interpessoal, isto é, de cooperação (CAIADO; ROSSETTI, 2009, p. 01).

Com base na citação acima é possível perceber a importância que o jogo tem na vida da criança, pois ele é aporte metodológico que instiga o aluno, desperta o desejo de aprendizagem de uma forma que é prazerosa e tem como consequências, aprendizagens que vão além da sala de aula. Através de brincadeiras e jogos o aluno compreende que é preciso abrir não de alguns anseios em prol da conquista do grupo, compreende que todos são iguais e compreende que a cooperação é necessária para a conquista de um objetivo. O jogo proporciona ainda o aprendizado da importância do trabalho de equipe.

Discussão dos Resultados

Numa análise mais profunda sobre os escritos das crianças pode-se observar que estes se encontram em três níveis: silábico, silábico-alfabético e alfabético. O nível silábico, conforme demons-tram Ferreiro; Teberosky (1999), compreende uma fase onde a escrita é pautada pela sonoridade. A criança tenta corresponder fonemas à grafemas. Um grafema corresponde ao som da fala a cada letra escrita. Neste nível, observa-se que a utilização dos símbolos gráficos (letras) é aleatória e nem sempre a representação dos fonemas corresponde à escrita convencional. Neste primeiro dia os alunos que ainda estavam neste nível de aquisição da escrita não se dispuseram a escrever e ape-nas desenharam (figura 03).

209PRODOCÊNCIA

Figura 03: Desenhos feitos pelos alunos.

Fonte: Trabalho de campo.

O nível silábico-alfabético, de acordo com as mesmas autoras, compreende uma fase intermediária onde há uma correspondência en-tre a fase silábica e a fase alfabética. A escolha das letras que o aluno faz pode seguir um critério fonético ou ortográfico. Este fato faz com que a escrita apresente algumas sílabas com características do nível silábico e outras, do nível alfabético, ocasionando uma escrita mista (figura 04). A figura mostra que a criança consegue identificar a separação das pala-vras, porém ainda as escreve conforme o modo que fala.

Figura 04: Texto produzido por uma criança em nível silábico-alfabético.

Fonte: Trabalho de campo.

210 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

O nível alfabético compreende uma fase onde a criança compre-ende e opera com o sistema de escrita, entendendo que a sílaba pode ser desmembrada em letras e que é necessária a análise fonética das pa-lavras para escrevê-las. No entanto, escreve sem demonstrar o uso corre-to da grafia (figura 05). É possível identificar este nível na figura, onde a criança demonstra que sabe separar as palavras, porém ainda faz uso da fonética para escrever, o que ocasiona a falha gramatical.

Figura 05: Texto produzido por uma criança em nível alfabético.

Fonte: Trabalho de campo.

Observou-se ainda que assim como a escrita a leitura também se encontrava no estágio alfabético onde as crianças recorrem à silabação das palavras para compreender o seu sentido. Nesta fase é muito comum a presença de erros em palavras que apresentam complexidades em sua escrita. Capovilla demonstra como a leitura acontece no nível silábico quando diz que

No estágio alfabético, as relações entre o texto e a fala se fortalecem. Desenvolve-se a estratégia fonológica, sendo que a escrita passa a ficar sob controle dos sons da fala e, na leitura, a seleção e o seqüenciamento de sílabas e fo-nemas passam a ficar sob controle dos grafemas do texto. A criança aprende o princípio da decodificação na leitura (isto é, a converter as letras do texto escrito em seus sons correspondentes) e o da codificação na escrita (isto é, a converter os sons da fala ouvidos ou apenas evocados em seus grafemas correspondentes). A leitura por decodifica-ção grafo-fonêmica, bem como a escrita correspondente por codificação fonografêmica, no início, são muito lentas e podem apresentar erros em palavras com irregularidade

211PRODOCÊNCIA

nas relações entre as letras e os sons (como, por exemplo, BOXE) (CAPOVILLA, 2004, p. 191).

Após a análise dos escritos e das falas das crianças é possível observar que no início as crianças identificavam meio ambiente como sendo apenas o espaço físico e saúde como o estado de saúde em que se encontravam. No primeiro dia eles entendiam como hábitos de higie-ne apenas as obrigações diárias sem relacioná-las com a saúde. Já nos escritos deste dia pude notar que há relação entre a higiene e a saúde e também entre a qualidade do ambiente (figuras 06, 07, 08 e 09).

Figura 06: Texto de uma criança sobre higiene e saúde.

Fonte: Trabalho de campo.

Figura 07: Texto de uma criança sobre higiene e saúde.

Fonte: Trabalho de campo.

212 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Figura 08: Texto de uma criança sobre higiene e saúde.

Fonte: Trabalho de campo.

Eles não escreveram explicitamente a questão da qualidade mas como citaram atitudes que devem ser feitas para manter a qualidade do ambiente, avalio que eles já haviam começado a criar um valor sobre qualidade e saúde. Em relação à produção do texto, pode-se observar que as crianças ainda estão em busca da coesão textual e por isso sen-tem dificuldades em organizar o pensamento para pô-lo no papel. Esse é um processo comum na aquisição da escrita.

Considerações Finais

A partir das avaliações pode-se observar que o objetivo do pro-jeto foi atingido em parte, uma vez que nem todos os alunos consegui-ram construir um valor sobre saúde e qualidade de vida. Uma boa parte da turma conseguiu relacionar a higiene com a saúde, este é um ponto favorável, mas ainda tiveram dificuldade em relacionar a saúde com a qualidade do ambiente que gera qualidade de vida.

É possível afirmar que houve um resultado significativo, uma vez que alguns alunos passaram a relacionar a higiene à saúde. Quanto à qualidade de vida não posso afirmar que as crianças incorporaram este conceito aos seus conhecimentos, pois não demostraram essa relação nas atividades.

213PRODOCÊNCIA

É possível afirmar também que um valor foi criado pelos alunos, o valor da saúde. Em suas práticas pude notar que eles se mostravam preocupados em manter hábitos de higiene porque não queriam ficar doentes. Verificou-se que as crianças passaram a lavar as mãos com mais frequência que no início do estágio. Começaram a ir com roupas mais limpas, mostravam que haviam cortado as unhas e limpado os ouvidos, passaram a zelar mais pelo material escolar, etc. Essas mudanças atitudi-nais dos alunos foram responsáveis pelo sucesso deste estágio, em que pese todos os objetivos não tenham sido atingidos por completo.

Por fim, pode-se afirmar ainda que por meio da brincadeira é possível formar as crianças e promover um processo de ensino-aprendi-zagem mediado pela construção de valores, uma vez que, foi verificado, apesar do curto espaço de tempo de aplicação do projeto, que as crian-ças refletiram sobre o que aprenderam e transformaram suas práticas a partir do que foi aprendido.

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215PRODOCÊNCIA

SABeReS e PRÁtICAS COtIDIANAS NA PeSQUISA INteRDISCIPLINAR:

MÚLtIPLAS ReLAÇõeS1

Andréa Freire de Carvalho2

Introdução

Se toda jornada inicia com o primeiro passo, então, vamos ca-minhar! Ainda que sejam passos trôpegos, cambaleantes, ora hesitan-tes ora decididos, são passos que ensejam contribuir timidamente para nossa reflexão sobre saberes e práticas cotidianas na pesquisa interdis-ciplinar e suas múltiplas relações.

O fio condutor deste ensaio já nos direciona para uma comple-xidade de relações, entre os saberes e as práticas cotidianas que tra-zemos e são trazidas para nós, que cultivamos e que são cultivadas, que aperfeiçoamos e buscamos colocá-la em prática, numa atualização constante de saberes e num refazer de práticas que dialogam entre si. Nesse sentido, ao escrevermos sobre saberes e práticas cotidianas, já direcionamos este artigo a uma troca de experiências, de olhares, de vi-vências entre pesquisador, orientador e pesquisados. Saberes estes que, entrelaçados, almejam compreender diversos aspectos da realidade sociocultural, político e econômico e outros aspectos que caibam à competência do pesquisador.

E não existe, em minha opinião, nada mais complexo e dinâmi-co que o ser humano, com todo seu arcabouço sociocultural, psíquico e emocional em nossa eterna busca de objetivar e racionalizar a nossa própria subjetividade, esta que nos é tão humanamente característica (o), enfim, complexos, incompletos, processuais... Um eterno vir-a-ser.

1 Artigo elaborado a parti das leituras e discursões no SEMINALIS articulado à experiên-cia vivenciada no Curso de Pedagogia da Terra, enquanto auxiliava as discussões sobre a docência nas séries iniciais e o quanto se faz necessários um investimento na elaboração de projetos de ensino contextualizado.2 Formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe, é mestranda em Desen-volvimento e Meio Ambiente na Universidade Federal de Sergipe e participa do SEMI-NALIS – grupo de Pesquisa em Mídias e Educação Contemporânea e do gPFIMA como integrante pesquisadora no campo da mística enquanto ferramenta para fortalecer a prática pedagógica na escola dos assentamentos.

SABERES E PRÁTICAS COTIDIANASNA PESQUISA INTERDISCIPLINAR:

MÚLTIPLAS RELAÇÕES1

Andréa Freire de Carvalho2

216 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

O primeiro passo que considero elementar para pensarmos a in-terdisciplinaridade é a busca de entendimento a respeito do arcabouço teórico construído no decorrer do tempo, que delineia hoje o que com-preendemos por interdisciplinaridade. Mesmo porque, se vamos nos posicionar frente a algo, nos posicionaremos com base em que? Não que ser interdisciplinar seja confrontar algo, mas a complexidade envolvida na compreensão que buscamos na interdisciplinaridade necessita de algo mais, e esse algo não será encontrado em um pensamento, linear, excludente, fragmentado e fragmentador, principalmente, quando nos remetemos ao estudo das ciências humanas, com suas complexidades inerentes aos fatos humanos.

Nesse sentido, compreendo que ser interdisciplinar é ampliar sua forma de olhar o mundo. Não existe mais um único foco, mas di-versos olhares a serem considerados, assim como a certeza de que, tais fatores, estão entrelaçados formando um teia viva que se entrelaçam para nós fornecer pistas a serem desvendadas.

Comparo neste instante, a interdisciplinaridade como uma sá-bia saída da superespecialização, uma volta aos antigos pensadores que filósofos, astrônomos, matemáticos e que todos esses saberes conver-giam para um único ponto de estudo. Mas será que é possível voltarmos a esse olhar mais completo e menos fragmentado? Será que conseguire-mos ver o relógio como um todo e não apenas suas peças? De qualquer forma, tic-tac para nós cientistas...tic-tac.

Caracterizando as tensões na Pesquisa Interdisciplinar

Ser interdisciplinar, em meu ponto de vista, é compartilhar ex-periências, é aprender a ouvir e a olhar, assim como aprender a se co-locar perante o outro com o qual você esta cooperando, em busca de dissonâncias e consonâncias, numa fusão de métodos que buscam uma forma de olhar o mundo sem desmontá-lo tanto quanto uma visão dis-ciplinar, mas, ainda assim, cientes da impossibilidade de abarcá-lo em seu total; ou seja, ser interdisciplinar é aprender a compartilhar pensa-mentos e resultados, conscientes de que, tais resultados, são vislumbres, parciais e provisórios, de uma realidade percebida, construída e explici-tada pela objetivação da subjetividade do pesquisador.

217PRODOCÊNCIA

Esta objetivação da subjetividade é postulada por Laville e Dio-nne (1999), em que as autoras escrevem que “[...] é a mente do pesqui-sador que, a seu modo, e por diversas razões, efetuas escolhas e deter-minações que determinarão o resultado da pesquisa (p.43)”; São estas escolhas e determinações que são o objeto da objetivação, pois

de uma parte, do lado do pesquisador do qual se espera que tome metodicamente consciência desses fatores e os racionalize; de outra, do lado daquele ao qual serão comu-nicados os resultados da pesquisa, que espera que o pes-quisador lhe informe tudo para que possa julgar a validade dos saberes produzidos. É esse princípio de objetivação que fundamenta a regra da prova e define a objetividade. Poder--se-ia dizer que a objetividade repousa sobre a objetivação da subjetividade (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 44).

Quando as inquietações concernentes às divisões das ciências e suas compartimentalizações se intensificam, (res)surgem olhares sobre como vislumbrar o real, em seus diversos aspectos e as inter-relações entre eles. “[...] o real, pensa-se, deveria ser abordado em sua globalida-de, como um sistema de fatores inter-relacionados” (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 44) desenvolvendo-se uma abordagem multidisciplinar.

Abordagem multidisciplinar de acordo com Laville e Dionne “[...] consiste em abordar os problemas de pesquisa, apelando às diversas disciplinas das ciências humanas,” (1999, p.44), os modos de fazer são diversos, ou seja,

um pesquisador pode se inspirar em perspectivas de dis-ciplinas vizinhas, usar seus aparelhos conceituais e analí-ticos, tomar emprestado certas técnicas de abordagem, multiplicar os ângulos de questionamento e de visão... cada vez mais, devido à amplitude e à complexidade dos problemas no campo do humano, os pesquisadores incli-nam-se a se associarem para reunir o saber de cada um (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 45).

Assim, ao desenvolve o pensamento multidisciplinar nas ciên-cias humanas a partir da necessidade de se olhar com uma maior pro-fundidade as questões humanas integradas em seus âmbitos sociais,

218 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

políticos, culturais e históricos. Mas temos realmente como vislumbrar o real? O que é real para mim, é real para você?

Para Coelho, realidade é “[...] a coisa que sai de si. É a natureza transformada pela própria ação do homem que interfere sobre a mes-ma, conferindo-lhe significação e transformando-a em realidade” (2002, p.191). A significação, segundo Silva (2000), é a característica da realida-de, intrínseca à ação transformadora do homem, ou seja, a práxis humana.

Interdisciplinaridade enquanto Busca de Conceito ou a Busca de Um Sentido Interdisciplinar

O (des)velar desta “realidade” é despertado no aluno - pesqui-sador (escolherei o termo pesquisador a partir deste momento) ao ini-ciarmos nosso diálogo de saberes e práticas na pesquisa interdisciplinar enquanto um processo de construção de conhecimentos referentes à metodologias, recursos metodológicos, posicionamentos perante sua visão de mundo, dentre outros fatores que estão sempre a inquietar a mente do pesquisador, que, como sementes jogadas ao vento, poderão ou não germinar. Se germinar, a possibilidade de uma procura incessan-te, inquietante, que tanto define um pesquisador, esse sentimento de in-completude, um devir com escreve Deleuze, um algo falta e, isto posto, se este arcabouço teórico não responde ao que vislumbro, neste instante, acredito que essa vontade de compreender esse algo, até mesmo mais do que de explicar nos conduz ao principio da interdisciplinaridade.

Mais do que uma teoria, ser interdisciplinar é uma forma de viver-o-mundo, com-o-mundo e no-mundo. Segundo Macedo, ao bus-carmos aplicar o método fenomenológico, (surpresa (o)? Ser interdisci-plinar é ter um método, mas um que não nos limite tanto quanto outros) haja vista que, a realidade vivida é “[...] partilhar compreensões, interpre-tações, comunicações, conflitos (2000, p. 48)”, e, sendo uma realidade perspectival, a interdisciplinaridade nos permite uma aproximação do real. Obvio que outros métodos, outros caminhos podem ser escolhidos, mas isso dependerá do pesquisador e seu orientador, assim como do objetivo a ser alcançado na pesquisa.

Ao colocarmos a realidade no sentido perspectival, “[...] a feno-menologia invoca o caráter de provisoriedade, mutabilidade e relativi-

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dade da verdade, por conseguinte, não há absolutidade de qualquer perspectiva” (MACEDO, 2000, p.47). Nesse sentido, a prática cotidiana adotada na pesquisa interdisciplinar é uma relativação da realidade, me-diante uma descritibilidade consciente da consciência percebida dentro de um estar no mundo e com o mundo.

A priori, o pesquisador interdisciplinar assume uma posição de suspensão de (pre)conceitos que poderiam “[...] vir a influenciar o que é para ser visto”(MACEDO, 2000,p.48); no entanto, não temos a ingenuida-de de acreditar que este despir-se-á de seus valores, crenças e preceitos, mas sim que assumirá um posicionamento crítico e reflexivo, almejando um “[...] desvencilhamento dos seus preconceitos para abrir-se ao fenô-meno” (MACEDO, 2000, p.48).

Interessado em descrever para compreender, o pesquisa-dor fenomenólogo sempre está interrogando: o que é isto? No sentido de querer apreender o fenômeno situado e o que o caracteriza enquanto tal. Em vez de partir de uma atitude positiva (afirmativa, explicativa, generalizante, o fenomenólogo é um céptico cuidadoso, evita afirmações, pré-concebidas face às realidades a serem estudadas. Sua interrogação é a atitude básica, dirigida às pessoas e suas relações comunicadas, seu instrumento é a disposição para interpretar antes de tudo. Emerge desta disposição, deste labor, o recurso da hermenêutica. E, nesta modalidade, a interrogação é: qual o significado destas ações e expressões? (FINI, 1974 apud MACEDO, 2000, p.49).

Outro ponto importante em relação aos saberes e práticas co-tidianas interdisciplinares, é a constante vigilância que o pesquisador deve ter ao considerar “o outro3”, haja vista que, o dialogo respeitoso e compreensivo, possibilita a troca de saberes entre conhecimentos. Nes-se sentido, despe-se novamente da superioridade postulada da ciência

3 O outro, definido por Kilani in Macedo (2000), “[...] o outro é se compreender a si mes-mo como vivo no mundo onde se pode, por contraste com o outro, desenhar os seus contornos” (p.54). Insiro a escrita de Marie-Jeanne Borel para compreendermos melhor o outro a que me refiro: “ o outro que fala e pensa, meu objeto, portanto, não fala e pensa como eu. Se não, não seria meu objeto. Mas devo falar e pensar como ele, pois eu digo e penso alguma coisa, na verdade, daquilo que ele diz e pensa. Se não, não seria meu objeto, nem o seu, nem o de ninguém. Sem este jogo de diferença e de identificação não teria ciência sobre aquilo que quero conhecer” (BOREL, 1992 in MACEDO, 2000, p. 54).”

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enquanto única detentora do saber, e traz-se o outro para junto de si, trocando saberes, respeitando ações, conhecimentos, apreendendo e compreendendo o modo do outro de olhar o mundo.

Ao perceber o complexo veio que alimenta a complexidade do outro, enquanto parte de mim e concomitantemente diferente do meu eu, o pesquisador interdisciplinar afasta-se mais um passo do que Mo-rin denomina “racionalização”, que institui um ser do conhecimento que se apropria do mundo pelo pensamento racional, linear, por um ser do conhecimento complexo, dinâmico, rizomático, um “[...] artesão que bri-cola, de forma singularizante, os saberes à sua volta”. Não estou a afir-mar aqui que devemos dar as costas a todos os métodos e abordagens positivistas, mas que devemos como postula Almeida, retirar de nossas malas o que dificulta nossa caminhada. Almeida completa tal pensa-mento escrevendo que

Nossa mala contém o passado e o presente. Não os jogue-mos fora. Precisaremos deles nessa viagem “de volta ao futuro”. Não são eles que pesam, mas é certo que teremos de metamorfoseá-los, desterritorializá-los, ressignificá-los, lançar mão deles de forma criativa (ALMEIDA, 1998, p.26).

Assim, na possibilidade de se pensar uma nova forma de com-preender a complexa realidade da qual vislumbramos, a interdisciplina-ridade, neste instante, nos acalenta, de forma a pensarmos em conjunto, não mais isolados, mas em cooperação e dialogicidade entre conheci-mentos, práticas e saberes cotidianos dos nossos “objetos de pesquisa”.

Delineando o Cotidiano...

Durante entrevista com um homem do campo que resgata e cui-da de gaviões, águias e falcões que são capturados pelos órgãos oficiais e encaminhados a seus cuidados, ocorreu uma cena que ficou registrada em minha memória. Ele perguntou se gostaríamos de segurar um fal-cão. Muitos dos presentes responderam que sim e ele colocou o falcão nas mãos de uma colega. Neste instante, ele disse que não nos devería-mos nos preocupar porque o falcão abriria suas asas, “ele estava apenas respondendo a natureza”. Logo depois, o falcão abre suas asas majes-

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tosas, e nós sentimos a corrente de vento passando. Tal afirmação foi basilada em seus saberes e práticas cotidianas. Conta ele que, quando criança achou uma ave morta no chão e ao apalpar encontrou um “caro-ço”. Perguntou para mãe o que era e a mãe respondeu que era um ovo. Ele abriu a ave e retirou o ovo, colocando-o para chocar com as galinhas. Deste ovo, nasceu Tito, seu fiel companheiro por mais de duas décadas. São essas práticas e esses saberes cotidianos aos quais nos referimos. É como ganhar um beijo em cima de um dodói. Não tem explicação, mas que a dor diminui, ah, isso diminui! Saberes e práticas cotidianas.

Ao formular o paragrafo acima, eu havia colocado uma pergun-ta do tipo: como um homem com tão pouco estudo..., o que, em mi-nha autorreflexão mostra a profundez de uma ideologia na “ verdade, é aquela formulada e provada pela ciência”, fato que, ao ser percebido, é importante que se reavalie posicionamentos, pois, se vamos falar de sa-beres e práticas cotidianas, abrimos uma comporta que estava fechada exatamente pela credulidade cega na cientificidade, relegando os sabe-res cotidianos a um plano inferior.

O cotidiano analisado por Michel de Certeau, em seus livros a invenção do cotidiano vol I e II, nos delineia saberes e percepções coti-dianas entrelaçadas principalmente por laços culturais, por percepções políticas, econômicas, por visões de mundo que passam despercebidas e muitas das vezes, principalmente no discurso cientifico, é ignorado. Nós vamos até nossas ‘fontes”, coletamos informações e depois volta-mos repletos de “interpretações” as vezes até mesmo distorcidas. Cala-mos a voz de nossos pesquisados, e colocamos palavras segundo nos-sas interpretações. O estudo do cotidiano é dar voz ativa à estes que são essenciais para que desenvolvamos nosso trabalho, é compreendermos e apreendermos os métodos de lidar com a terra, de podar a planta para utilizar no artesanato e permanecer no espaço por séculos sem esgo-tar os recursos naturais, é compreender como as plantas medicinais são cultivadas e utilizadas muito antes de qualquer interferência “externa”. Certeau escreve,

O cotidiano é aquilo que no prende intimamente, a partir do interior. É uma história a meio-caminho de nós mesmos, quase em retirada, às vezes velada. Não se deve esquecer este “mundo memória”, segundo a expressão de Péguy. É um mundo que amamos profundamente, memória olfati-

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va, memória dos lugares da infância, memória do corpo, memória dos gestos da infância, dos prazeres. Talvez não seja inútil sublinhar a importância do domínio desta his-tória “irracional”, ou desta “não-história”, como diz ainda A. Dupront. Oque interessa ao historiador do cotidiano é o Invisível... (CERTEAU, 2005, p.31).

No segundo livro A invenção do cotidiano, volume II, Certeau, giard e Mayol (2005)4, trazem uma análise da articulação entre compor-tamentos e benefícios simbólicos, implicados dentro de um contrato social, possibilitando o desenrolar da vida cotidiana, e assim compreen-dendo a prática cultural dos homens, mulheres e crianças.

A prática cultural para estes autores é uma

combinação mais o menos coerente, mais ou menos flui-da, de elementos cotidianos concretos, ou ideológicos, ao mesmo tempo passados por uma tradição e realizados dia a dia através dos comportamentos que traduzem em uma visibilidade social, fragmentos desse dispositivo cul-tural, da mesma maneira que a enunciação traduz na pa-lavra fragmentos do discurso (CERTEAU, gIARD, MAYOL, 2005, p.39-40).

É para estes elementos cotidianos concretos e ou ideológicos que voltamos nossa atenção. São os fazeres e saberes cotidianos o início de nossa caminhada cientifica e interdisciplinar, pois para descrevermos tais saberes e fazeres ou nossas práticas cotidianas, precisamos compreendê-la.

Os Saberes e as Práticas Cotidianas na Pesquisa Interdisciplinar

Charlot (2001) nos traz noções de relação com o saber e escre-ve que “[...] uma noção pode ser muito utilizada porque traz à luz uma problemática, ou seja, novas pistas de pesquisa, mas também, porque é flexível, facilmente amoldável, podendo, assim, servir de abrigo teó-

4 O objetivo deste estudo foi descrever e interpretar os processos de apropriação do es-paço urbano no bairro, em relação às quais as considerações biográficas ou psicológicas tem apenas uma pertinência reduzida (CERTEAU, gIARD, MAYOL, 2005, (p.42)).

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rico (p.11)”. Em nosso artigo, trazemos saberes sempre no plural, pois acreditamos em sua complexidade, e entendemos, tal qual Charlot, que saberes são construídos em relações consigo e com outros, às vezes in-conscientes, outros conscientes, mas sempre saberes construídos e se construindo continuamente, cotidianamente.

Parafraseando Charlot (2001) a mobilização é o ponto de partida para uma problematização em relação ao saber, que não separa o ”[...] sujeito-desejo, e o sujeito-social, a construção do sujeito e sua sociali-zação”, estabelecendo uma “[...] dialética entre interioridade e exteriori-dade, entre sentido e eficácia” assim como implica “[...] uma relação do saber com o saber (p.20 - 21)”. Nesse sentido,

Aprender é interiorizar algo, apropriar-se de um saber, de uma prática, uma forma de relação com os outros e con-sigo mesmo...que existe antes que eu a aprenda, exterior a mim. A problemática da relação com o saber recusa-se a definir a aprendizagem partindo apenas do movimento daquele que aprende ou das características daquilo que é aprendido [...] (ChARLOT, 2001, p.21).

É necessário pontuarmos que, nesta situação, Charlot analisava a relação dos jovens com um saber institucionalizado. No entanto, é perti-nente a análise para compreendermos o que é o saber por ele definido, pois essencialmente, os saberes possuem a mesma base epistemológica e antropológica, no sentido de construir-se e ser construído com os ou-tros e com seu ambiente.

Charlot, (2000) escreve que nascer é [...] ingressar em um mundo no qual esta-se-a submetido à obrigação de aprender. Ninguém pode escapar desta obrigação, pois o sujeito só pode “tornar-se” apropriando--se do mundo(p.59).

No sentido de apropriar-se do mundo, Laville e Dionne, nos ofe-recem uma sequencia de formas de se apropriar do mundo por meio de saberes que foram dos espontâneos elaborados pelos homens pré-his-tóricos, que elaboravam saberes cotidianos para facilitar-lhes a vida; os saberes míticos, que buscavam explicar o mundo e seu funcionamento por meio de mitos; os saberes intuitivos, que são denominados hoje de “senso comum” e algumas vezes de “simples bom senso” (1999, p. 18);

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os saberes tradicionais encontrados nas famílias, na comunidade, e são passadas de geração para geração. Estes saberes tradicionais também podem ser transmitidos por meio de autoridades, a exemplo da Igreja, que impõe sua autoridade aos seus seguidores por meio de preceitos; ou órgãos oficiais a serviço do governo ou alguma outra instituição, quando quer estabelecer ou difundir algo; saberes escolares, que apre-senta uma transmissão de conhecimentos sistematizados. Neste senti-do, as autoras exemplificam que

O principal modo de transmissão do saber, na instituição escolar, assemelha-se, ao mesmo tempo, ao da tradição e ao da autoridade. Autoridades escolheram o saber que parece útil ou necessário a transmitir aos membros da so-ciedade; saber já construído oferecido aos estudantes, sem que esses sejam convidados a determinar o sentido e os limites de cada um (LAVILLE; DIONNE, 1999, p.21).

E finalmente, o saber racional. Nesta análise, as autoras nos tra-zem uma descrição dos saberes filosóficos e científicos, desde os filóso-fos gregos, a exemplo de Platão e Aristóteles, perpassando pelos sabe-res dogmáticos da idade media, os saberes empíricos e experimentais do renascimento; os saberes positivistas até a complexidade dos fatos humanos que demandam novas formas de se pensar saberes voltados às ciências humanas, sociais, antropológicas, dentre outras.

Neste “realinhamento cientifico5”, busca-se primordialmen-te soluções para problemas e questionamentos no campo do social. Parafraseando Laville e Dionne, 1999, “[...]trata-se de compreender, considerando atentamente, a natureza do objeto de estudo, sua com-plexidade e o fato de ser livre e atuante, sempre cuidando para não deforma-lo ou reduzi-lo (p.41)”.

Enfim, são muitos saberes; no entanto, Charlot pontua que, a questão do “aprender é muito mais ampla pois que a do saber (p.59)”. O autor coloca duas razões para tal afirmação. A primeira é que [...] existem maneiras de aprender que não consistem em apropriar-se de um saber, entendido como conteúdo de pensamento; e a segunda colocação é a seguinte [...] ao mesmo tempo em que se procura adquirir esse tipo de

5 Termo utilizado por LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 40.

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saber, mantêm-se, também, outras relações com o mundo (p.59); mais uma vez estamos diante da complexidade de conflitos inerentes ao sa-ber. Temos por um lado a aquisição de saberes trazido por Charlot en-quanto processo de construção de conhecimentos, tendo no aprender uma consequência maior que o saber e os saberes que, mesmo constru-ídos em relação com o mundo, consigo e com outros, que são saberes construídos coletivamente. São esses saberes construídos coletivamen-te e suas praticas cotidianas o objeto deste artigo ou o saber que cons-truímos individualmente a fim de conseguirmos apreender o saber do outro, em sua relação com o mundo, consigo e com os outros nosso objeto do artigo?

Em relação a essa complexa compreensão entre saber e compre-ender, nada mais memorável que os saberes cotidianos docentes que, depois de muito debate sobre as diferenças entre conhecer, compreen-der e saber, ela resume assim: primeiro você sabe, depois você conhece, ai compreende, explico e descrevo! Simples assim. Maravilhosa fonte de saber e praticas docentes cotidianas complementa: você sabe que exis-te uma cidade chamada Simão Dias porque por algum motivo, já ouviu falar dela; então você pega um meio de transporte e vai até lá e conhe-ce o caminho; ao conhecer o caminho, você se apropria deste conheci-mento e pode dizer que conhece como se chega até Simão Dias, então você pode explicar para outra pessoa e depois descrever, tanto a cidade quanto o caminho! Compreendem agora porque saberes cotidianos são tão importantes?

Práticas Cotidianas na Pesquisa Interdisciplinar

Tendo descrito a importância dos saberes cotidianos, faremos uma breve exposição das tensões vividas por nós, pesquisadores; ou seja, serão os nossos saberes e práticas que estaremos dialogizando agora.

Estarmos em um programa de mestrado interdisciplinar em Ci-ências Ambientais, nos inquieta de forma visceral. Fomos formados em bases disciplinares, alguns mais rígidos que outros, somos de áreas di-versas e de repente, devido à nossas escolhas de estudo, estamos todos no mesmo caldeirão. E a água não foi sendo aquecida vagarosamente

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para que fossemos nos acostumando...foi mais um quase ponto de fer-vura, faltando pouco para ebulição!

Ouvimos que a ciência ambiental requer um sujeito autocons-ciente dos desafios ambientais! Será que a própria Ciência Ambiental tem noção dos desafios ambientais? A próxima pergunta que devemos nos fazer: Qual a utilidade de sua pesquisa? Qual a originalidade desta? Vocês tem metodologia definida? Se já definiram a metodologia, qual ou quais recursos metodológicos apoiarão seus métodos? E nesta en-xurrada de perguntas, alguém lá no fundo responde baixinho (sempre tem um para aliviar a tensão): eu não tenho nem mais projeto! (deixo por conta do leitor a reação).

Bem, então pela descrição acima, deixamos claro que agora ire-mos refletir sobre os saberes e práticas cotidianas dos pesquisados. Nos-sos “objetos” de estudo. Chamar seres humanos de “objeto de pesquisa” ou “atores sociais” me incomoda. Tenho a impressão angustiante de que estou transformando esses seres humanos que estão se construindo, me construindo e sendo (re)construído pelo mundo que nos rodeia em objetos, estáticos, inanimados. Como se, mesmo depois de toda minha reflexão sobre os saberes cotidianos (meus e deles), sobre suas práticas, sobre o respeito, o aprender a ouvir, se tornasse mero discurso, por que no final, eles serão apenas meus “objetos”.

Mas, dar voz àqueles que estamos desenvolvendo a pesquisa com, nos parece ser um dos caminhos existentes para se dialogar com saberes e práticas cotidianas, em uma troca de informações profícua. Nesse sentido, as disciplinas que estudamos, os diferentes posiciona-mentos dos professores, que, a principio pareces ser contraditórios, constroem no pesquisador uma base sólida para a compreensão de diversos fatores sociopolíticos e culturais, que nos permitem partir do saber para o conhecer.

Em se tratar de práticas cotidianas voltadas para Ciências Am-bientais, acredito não há saber maior do que os saberes voltados à prá-tica cotidiana de manejar, cuidar, proteger a terra, os mananciais, as aguadas e fontes. O fato de termos gerações que, por mais de século e meio estão compartilhando, cooperando, solidarizando usos e recursos

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comuns6, principalmente os recursos básicos, é uma clara mostração de saber sustentável.

Amador, escreve em seu artigo que o conceito de sustentabilida-de, em seu sentido semântico, é [...] suster, suportar, conservar em bom estado, manter resistir. Sustentável, portanto, pode ser entendido como tudo que é positivo e que seja capaz de ser suportado e mantido ao lon-go do tempo (2011, p.53). no entanto, Martinho escreve que não existe uma “ definição acordada internacionalmente” (2012, p.141) , mas que, a que mais se utiliza é a definição proposta por World Commission on En-vironment and Development, 1987 também conhecido como Relatório Brundtland “Nosso futuro Comum” que escrevia que desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades presentes sem com-prometer a capacidade de satisfação das necessidades futuras.

O desenvolvimento, transcendo ao valor capitalista agregado à ele de transformar tudo e todos em mercadoria e quantificar, vem a nos mostrar enquanto pesquisadores, que, desenvolvimento é conti-nuidade e rupturas, desenvolver é dialogar, construir, e ser consensual, sem ignorar as dissonâncias, em relação á melhor forma de se resolver situações, sejam positivas ou negativas, sempre pensando no homem como um ser humano que se constrói e é construído constantemente nesta troca de saberes e práticas, que permitem que estes estejam em lugares diversos e adversos e continuar vivendo plenamente sua reali-dade, sentindo-a, dialogando , trocando cuidados em uma interação e integração homem-natureza, busílis7, desenvolvimento neste sentido, é respeito, completude, um eterno aprender a ouvir, seja a voz do outro, seja a voz da natureza.

6 A respeito de usos comum, Almeida (2009) escreve que, um sistema comum dos re-cursos básicos se dá por meio de “[...] normas específicas instituídas para além do código legal vigente, e acatadas consensualmente, nos meandros das relações sociais estabe-lecidas entre vários grupos familiares que compõem a unidade social (p.39)”. Para maior aprofundamento, consultar o artigo terras de preto, terras de santo, terras de índio: uso comum e conflito. 7 Esta expressão se deve em homenagem a professores que inovam e planta em nós a vontade, o querer, o sabor de ir além de seus saberes. Busílis, ou seja, o ponto central, o cerne da questão de acordo com nosso atual “pai dos burros”, excelentíssimo google.com, aulete.uol.com.br e finalmente para confirmar em segundos wikcionario.org.

228 CONVERSAS TEÓRICAS E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

Considerações finais

A pesquisa interdisciplinar que tem em sua base o respeito ao outro, ao meio ambiente, buscando uma visão integrada da fauna e da flora, refletindo sobre as melhores formas de se utilizar os recursos naturais finitos, pensando sempre em gerações futuras, buscando um dialogo entre saberes e respeito às praticas que procuram encontrar ca-minhos e preservar o que ainda temos, permeada por políticas cons-cientes que respeite o povo e não interesses de poucos, e um povo que busca melhorar sua vida, não no sentido capitalista de comprar, mas no sentido de procurar viver e conviver com o que lhe rodeia, seu meio am-biente total, e que este se compreenda como ser integrante da natureza, mas que se destaca por ser capaz de construir e ser construído por esse planeta do qual faz parte, é o que almejamos e compreendemos por pesquisa interdisciplinar.

Independente de nomes que recebe, interdisciplinar, multidisci-plinar, transdisciplinar e até mesmo poli disciplinar, o ponto nevrálgico desta questão é a cooperação, o ouvir, o compreender profundo que perpassa pelo saber, aprender e compreender das visões e mundos que se tem de si, do outro e do meio ambiente a que se pertence.

Mais do que definir termos, interdisciplinaridade é buscar cami-nhos para que possamos continuar a caminhar por espaços que não se-jam degradados, é um (re)aprender a viver de forma que, muitas e mui-tas gerações futuras possam desfrutar dos bens comuns pertencentes à todos os animais, dentre os quais, o ser humano que ocupa um lugar de muita responsabilidade, exatamente por sua capacidade de pensar, criar, (re)criar, usar, desgastar, esgotar e até mesmo destruir os recursos naturais, desligado da mãe das mães, gaia, nossa mãe terra, que tal qual seus filhos, possui essa imensa capacidade de gerar, mas também tal qual suas filhas, não possui a capacidade de gerar para sempre os recur-sos naturais, tão necessários à manutenção da vida neste planeta que chamamos Terra.

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