processo de comunicacao todos-todos

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OS PROCESSOS DE COMUNICA ÇÃO E O MODELO TODOS-TODOS: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL COM O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA Suplemento 2 Brasília – DF 2007 Valéria Mendonça suplemento

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Um dos livros de minha autoria que fala sobre os processos de comunicação e o processo Todos-Todos que desenvolvi em meu doutorado.

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Os PrOcessOs

de cOmunica

çãO e O mOdelO

tOdOs-tOdOs: uma relaçãO

POssível cOm

O PrOgrama

saúde da

família

suplemento 2

Brasília – DF

2007

Valéria Mendonça

suplemento

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© 2007 Editora do Departamento de Ciência da Informação e Documentação (CID/UnB)Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.

1.ª edição – 2007 – Tiragem: 500 exemplares

PROJETO TEMPUS NA SAÚDE COLETIVACoordenação Editorial:Elmira SimeãoValéria Mendonça

Impresso no Brasil/Printed in Brazil

Ficha Catalográfica

Mendonça, Ana Valéria Machado.

Os processos de comunicação e o modelo todos-todos: uma relação possível com o programa

saúde da família / Ana Valéria Machado Mendonça. – Brasília : Editora do Departamento de

Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília, 2007.

60 p. (Série Tempus na Saúde Coletiva)

1. Comunicação em Saúde. 2. Programa Saúde da Família. 3. Modelos de Comunicação.I. Título.

Coordenação Institucional:Unidade de Tecnologia da Informação e Comunicação em Saúde do Núcleo de Estudos em Saúde Pública – UTICS/NESP/UnB (www.nesp.unb.br)Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília – PPGCINF/CID/UnB (www.cid.unb.br)

Apoio:Ministério da SaúdeDepartamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (DSC/UnB)Departamento de Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília (CID/UnB)

Revisão:Elmira Simeão

Projeto gráfico:Fabiano Bastos

Comissão Científica da Obra:Antônio L. C. de Miranda (CID/UnB)Aurora Cuevas Cerveró (UC3M)Elmira Simeão (CID/Utics/NESP/UnB)Emir José Suaiden (CID/UnB–Ibict/MCT)Isa Maria Freire (Ibict/RJ)

Comissão Científica da Série:Antônio L. C. de Miranda (CID/UnB)Edgar Merchán Hamann (DSC/NESP/UnB)Elmira Simeão (CID/Utics/NESP/UnB)Margarita Urdaneta (DSC/NESP/UnB)Maria Fátima de Sousa (USF/NESP/UnB)Oviromar Flores (DSC/NESP/UnB)Valéria Mendonça (CID/Utics/NESP/UnB)Ximena Pamela Díaz Bermudez (DSC/NESP/UnB)

Para mais informações sobre a série:Unidade de Tecnologia da Informação e Comunicação em Saúde do Núcleo de Estudos em Saúde PúblicaSCLN 406 Bloco A, 2º andar, Asa Norte, Brasília (DF), BrasilCEP 70847-510Tel.: (55++61) 3340-6863Fax: (55++61) 3349-9884E-mail: [email protected]

Publicado pela Dreams Gráfica e EditoraSIG sul Qd 06 Lote 1.205CEP: 71200-040, Brasília – DFTel.: (61) 3344-3635Fax: (61) 3341-1611E-mail: [email protected]

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lista de figurasFIGURA 1 - CONHECIMENTO TODOS-TODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

FIGURA 2 - MODELO CLÁSSICO DE ARISTÓTELES, 300 A .C . . . . . . 20

FIGURA 3 - FÓRMuLA DE COMuNICAçãO DE LASSwELL, 1948 . . . 21

FIGURA 4 - TEORIA MATEMÁTICA DA INFORMAçãO DE SHANNON E wEAVER, 1948 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

FIGURA 5 - MODELO DE RuESCH E BATESON, 1951 . . . . . . . . . . . . . .22

FIGURA 6 - MODELO DE OSgOOD E SCHRAMM, 1954 . . . . . . . . . . .23

FIGURA 7 - MODELO DE BERLO, 1960 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

FIGURA 8 - MODELO DE DANCE, 1967 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25

FIGURA 9 - MODELO DE BECKER, 1968 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

FIGURA 10 - MODELO DE DEFLEuR, 1970 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27

FIGURA 11 - MODELO DE MIRANDA, 1980 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

FIGURA 12 - MODELO DE TuBBS, 2003 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

FIGURA 13 - MODELO DE MIRANDA E SIMEãO, 2003 . . . . . . . . . . . .30

FIGURA 14 - INTERAçãO ENTRE TECNOLOgIA E CONHECIMENTO REgISTRADO, 2004 . . . . . . . . . . . . . 31

FIGURA 15 - MODELO DE MENDONçA, 2005 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36

FIGURA 16 - MODELO DE COMuNICAçãO TODOS-TODOS, 2007 . 37

FIGURA 17 - REgISTRO DA HIPERMODERNIDADE . . . . . . . . . . . . . 44

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sumário1 Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2 Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

3 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11

4 A integração de redes sociais e tecnológicas no processo comunicacional . . . . . . . . . . . . . . . . . .13

5 A memória tecnológica é individual ou coletiva? . . . . . . . 17

6 Revendo os processos de comunicação . . . . . . . . . . 19

6 .1 A evolução dos processos de comunicação . . . . . . . 19

7 A comunicação todos-todos . . . . . . . . . . . . . .33

7 .1 um modelo para o processo de comunicação . . . . . . . .33

8 As ciências da informação e da comunicação e suas aplicações à estratégia saúde da familia . . . . . . . . . . . . . . 47

8 .1 O PSF no Brasil: o limiar de um novo tempo . . . . . . . 49

8 .2 O que se pensou com o PSF? . . . . . . . . . . . . .51

8 .3 O que se fez com o PSF? . . . . . . . . . . . . . .53

8 .4 Na ampliação da cobertura . . . . . . . . . . . . 54

8 .5 No capital humano . . . . . . . . . . . . . . . 54

8 .6 Outros investimentos . . . . . . . . . . . . . . 54

8 .6 .1 No campo político . . . . . . . . . . . . . 54

8 .6 .2 No campo técnico-gerencial . . . . . . . . . . .55

8 .6 .3 No campo social . . . . . . . . . . . . . . .55

9 Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . 57

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1 Prefácio

No final do século XVI, Francis Bacon pronunciou a famosa frase: “In-formação é poder” . Mesmo que muitos de nós achemos que estamos em uma sociedade com excesso de informação, a mesma não é acessível a to-dos . um passo adiante é saber utilizar a informação . Nessa caminhada que passa pela captação e produção da informação e sua comunicação, nós, os profissionais da saúde que trabalhamos no Núcleo de Estudos em Saúde Pública (NESP) pertencente ao Centro de Estudos Avançados Multidisci-plinares (CEAM), da universidade de Brasília, sentíamos falta de um gru-po de profissionais que trabalhasse na área da informação e que viesse a preencher uma lacuna em nosso espaço de estudo, reflexão e ação . Foi en-tão quando oficializamos uma parceria institucional entre o NESP e o Pro-grama de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPgCINF) do Depar-tamento de Ciência da Informação e Documentação (CID) da unB, para implantação da unidade de Tecnologia da Informação e Comunicação em Saúde (uTICS) . O começo dessa parceria se deu em junho de 2006, quan-do comemorávamos os 20 anos de criação do NESP .

A unidade de Tecnologia da Informação e Comunicação em Saúde obedece ao movimento internacional da Comunicação Científica na área de Saúde Pública, que visa divulgar a produção de seus profissionais com um foco temático mais próximo das questões sociais . Além da formação e desenvolvimento de acervos e da organização de uma biblioteca virtual, a unidade teve como um dos seus objetivos definir uma política editorial para produção de um periódico eletrônico e uma série de livros sobre Co-municação da Informação em Saúde, além da recuperação e sistematiza-ção do acervo do NESP, como forma de valorizar e preservar a memória institucional da saúde pública .

Os objetivos da equipe de pesquisadores está sendo cumprido . Com este número que compõe a série Tempus em Saúde Coletiva, temos mais que um exemplar a ser lido cuidadosamente . Nele enxergamos a missão desenhada pela uTICS: “Fortalecer as políticas técnico-científicas em tec-nologia, informação e comunicação para o NESP, a partir da criação de uma área programática específica que viabilize a realização de pesquisa, elaboração de projetos, publicação de estudos científicos e outras ativida-des que permitam a adequação do Núcleo às práticas comunicacionais para a troca de conhecimento” .

Como coordenador do NESP, sinto-me orgulhoso por estar ao lado da equipe que compõe a uTICS, que tem à frente a Profa . Valéria Mendonça . Esta nos trouxe a parceria que vem colhendo frutos entre este Núcleo e o

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PPgCINF da unB, que tem em seu coordenador, Prof . Antonio Miranda, um exemplo de ousadia e inovação, além da sua reconhecida sensibilidade po-ética e musical .

Prof. Dr. Edgar Merchán HamannCoordenador do NESP

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2 apresentação

DO MODELO POuCOS-POuCOS AO TODOS-TODOS NA COMu-NICAçãO

Valéria Mendonça empreendeu um estudo verdadeiramente na pers-pectiva da “comunicação intensiva” — ou seja, uma pesquisa em profun-didade, em textos científicos e técnicos, sobre os fenômenos da informa-ção e seus modelos de representação — para abordar a complexa questão da “comunicação extensiva” que impera no cenário atual de ciberespaços e blogosferas . Mas ela não parte de e termina apenas em teorias e modelos . Valéria é uma jornalista de origem, mas com tese de doutorado em Ciência da Informação, o que a obrigou a buscar as relações entre as diversas disci-plinas de sua área de atuação que, afortunadamente, convergem para a Co-municação, seu campo prioritário de pesquisa . O presente livro é uma con-tribuição valiosa, produto de sua tarefa investigativa sobre os fenômenos da comunicação em ambiente de inclusão social, a partir de sua experiên-cia com o Programa gESAC, como parte de seu doutoramento .

Estamos diante de novos paradigmas . Na terceira etapa de um longo processo de mudanças que começaram há milênios, desde que o homem aprendeu a inscrever em alguma superfície, signos e imagens no intuito de comunicar sua visão do mundo, de exteriorizar suas percepções e entendi-mentos dos mundos interior e exterior . Agora entendemos esses registros, numa perspectiva popperiana, como um “conhecimento objetivo”, ou seja, materializado, coisificado, externo ao seu criador, apto para ser apropriado e compartilhado socialmente .

Em sua origem, tratava-se de um registro único . Códigos de inscrição mais sofisticados, entre eles o alfabeto, permitiu um processo de comuni-cação mais efetivo, com o apoio de copistas para levá-los a outras dimen-sões e latitudes .

Mas foi com gutenberg, há mais de 500 anos, que foi possível, me-canicamente, a multiplicação do pão sagrado do conhecimento, em esca-la universal . A oportunidade de que o autor chegasse a muitos leitores, no processo de “poucos para muitos”, superando a limitação anterior do “pou-cos para poucos” .

O objeto do estudo de Valéria Mendonça é o modelo todos para todos, do compartilhamento aberto e solidário de todos os saberes (e também das ignorâncias, dúvidas, inquietudes que permeiam o conhecimento), em es-cala planetária, vencidas as barreiras e ruídos próprios da ação comunica-tiva . Em princípio, todos em comunicação com todos, antecipando a fic-ção (em construção) das cidades digitais, das redes tecnosociais interati-

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vas, sem barreiras (malgrado os problemas da exclusão digital, dos níveis de educação e das línguas e códigos de transmissão interpessoais, para os quais já estão sendo criados poderosos programas de apoio, incluindo no-vas gerações de tradutores automáticos, não mais limitados às regras gra-maticais, mas avançando para o campo semântico, da websemântica .) . Valéria trabalha com inclusão digital . O modelo que apresenta, e seus fun-damentos teóricos e metodológicos, constituem um arsenal na tentativa de vencer as barreiras do analfabetismo real e digital . Para facilitar não apenas a comunicação para todos – ou seja, no modelo tradicional da difusão e ex-tensionismo de informações úteis para todos os níveis sociais, inclusive os mais baixos na escala educacional — mas, também e sobretudo, de todos para todos . Ou seja, que todo cidadão incluído possa compartilhar seus co-nhecimentos, repassar saberes, de forma intensiva e extensiva, conforme os limites das tecnologias disponíveis .

Os leitores estão diante de um conjunto de conhecimentos paciente-mente pesquisados, compilados, analisados e avaliados, reorganizados em texto com uma linguagem especializada, mas razoavelmente acessível, sem circunlóquios ou florilégios . De forma direta, objetiva, até certo ponto didática . Que merece a nossa atenção e do qual poderemos extrair conhe-cimentos valiosos para entender o fenômeno da comunicação no mundo contemporâneo, seja ele intitulado “sociedade da informação”, “do conheci-mento” ou até de “hipermoderna” .

Prof. Dr. Antonio MirandaCoordenador do PPGCINF e orientador

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3 introduçãoEntre os vários exemplares da série Tempus, coordenada pela unida-

de de Tecnologia de Informação e Comunicação em Saúde do Núcleo de Estudos em Saúde Pública (uTICS/NESP), destaca-se neste fascículo, em sua primeira versão, o livro da professora Valéria Medonça: “OS PROCES-SOS DE COMuNICAçãO E O MODELO TODOS-TODOS: uMA RELA-çãO POSSÍVEL COM O SAÚDE DA FAMÍLIA” . O trabalho é parte de seu esforço na pesquisa de doutorado conduzida pelo professor Dr . Antonio Miranda (CID/uNB) dentro do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da universidade de Brasília(PPgCINF) .

Além de compartilharmos as mesmas convicções teóricas e de traba-lharmos juntas em vários projetos, Professora Valéria e eu (permitam a in-formalidade) desfrutamos também da orientação preciosa, firme e perma-nente do querido mestre, a quem tive o prazer de apresentá-la em 2004 . Oriundas da mesma área de formação, a Comunicação, descobrimos, es-trategicamente, na Ciência da Informação a oportunidade de contribuir, de forma vigorosa e legítima, para os estudos que aproximam as duas áreas (das ciências sociais aplicadas) em um esforço permanente de concretiza-ção de um projeto de inclusão social . A inclusão através das tecnologias de comunicação, base de sustentação da sonhada sociedade da informa-ção, acontece tanto no espaço da comunicação científica ou na comunica-ção popular . Diante da realidade brasileira, observando contrastes, confli-tos e riquezas, enxergamos na saúde coletiva um campo de atuação precio-so, onde esta mudança é possível: um desenvolvimento sustentável através da informação .

O livro demonstra que antes de qualquer iniciativa concreta, é preciso revisitar as principais teorias e expor também as contribuições de estudos mais recentes sobre a interferência da tecnologia nos processos de comu-nicação . A autora mostra neste trabalho a importância das redes sociais e a integração através destes dispositivos, questionando posteriormente, de forma desafiadora, o pertencimento da memória tecnológica atual . A dis-cussão é provocante e conduz para as explicações de vários modelos e pro-postas das teorias selecionadas . A informação, matéria prima do processo de comunicação, no conceito popperiano defendido por Mendonça, Miran-da e eu, faz parte do ciclo da comunicação em um processo de reciclagem contínua . É também o instrumento transformador, peça fundamental no Programa Saúde da Família, avaliado no final do livro como um espaço de aplicação da proposta de um modelo de comunicação integrador .

E é na discussão do modelo de Comunicação Todos-Todos, que a auto-ra sugere a relação direta com a tecnologia através da produção de conteú-

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dos mediados e redistribuídos em ações inclusivas, para indivíduos, famí-lias e comunidades - atendidas ou não por um Programa de Inclusão Di-gital . De forma transversal estes conteúdos invadem os múltiplos espaços socioculturais, como a escola, as organizações da sociedade civil, as biblio-tecas, entre outros, fazendo com que a sociedade da informação se instale e prevaleça . Partindo da possibilidade da Comunicação Extensiva (Simeão e Miranda, 2003) a autora aposta na efetividade do Processo de Comunica-ção Todos-Todos (Mendonça e Miranda, 2007), onde os registros são híbri-dos na construção de produtos e serviços de informação . Informação não só como produto social, do tecido social, mas como estratégia de transfor-mação, integrando espaços e pessoas . Como, de fato, deve ser .

Professora Elmira L. Melo S. SimeãoDoutora em Ciência da Informação

Professora do Departamento de Ciência da Informação - universidade de Brasília

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4 a integração de redes sociais e tecnológicas no processo comunicacional

Mas não devemos confundir a comunicação e a com-preensão, porque a comunicação é comunicação de informação às pessoas ou grupos que podem enten-der o que significa a informação, mas a compreen-são é um fenômeno que mobiliza os poderes subje-tivos de simpatia para entender uma pessoa, como uma pessoa é, também, sujeito .

Edgar Morin

Nas relações sociais desenhadas na Internet, as cibercomunidades são constituídas por elementos diversos e interligados por links1 ou interfaces de interligação, também denominados por Lemos (2002a) como hipertex-to2 mundial interativo . Nele, as novas relações se constituem a partir da troca, simbólica ou não, e da velocidade imediata do conhecimento, real ou imaginário . Por ele trafegam inúmeras informações e possibilidades de troca, sejam elas associadas ao poder, à economia, à cultura, ao social e até mesmo ao sexo ou ao psicológico emocional, entre tantas outras possibili-dades desenhadas pelos seres humanos .

Nesta formação de redes tecnológicas, que é considerada uma nova re-lação do homem, Lemos defende a tese do sentido coletivo na circulação de informações, adotando a forma todos-todos, numa multiplicidade de co-nhecimentos, desobedecendo à hierarquia da árvore um-todos . “As novas tecnologias de informação devem ser consideradas em função da comuni-cação bidirecional entre grupos e indivíduos, escapando da difusão centra-lizada da informação massiva” (2002a, p .73) .

Nesse sentido, entendemos que as questões relacionadas ao acesso do conhecimento pelos indivíduos, famílias e comunidades, estão intrínsecas às desigualdades, comprometendo, por vezes, o ciclo virtuoso do compar-

1 Pontos ou nós estabelecidos na rede para difusão das informações a partir de uma navega-ção não linear, guiada de acordo com o entender de cada navegador . um conjunto desses nós também pode ser chamado de hipertexto . Os links também são conhecidos por ligações ou conexões .

2 O hipertexto também pode ser definido por palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos, sendo ele um tipo de programa para a organização de conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a comunica-ção (LÉVY, 1996, p . 33) .

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tilhamento dos saberes apreendidos, e não somente aprendidos . Trazemos as discussões de Paulo Freire, ao afirmar que “o conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo . Requer uma ação trans-formadora sobre a realidade . Demanda uma busca constante .” (FREIRE, 2002, p . 27) . Com esta diretriz, reportamo-nos aos instrumentos comuni-cacionais como extensores desse processo de aquisição, troca e manuten-ção do conhecimento, por meio de tecnologias para a informação e comu-nicação, ampliando a educação, trazendo recortes sócio-políticos-econômi-cos e culturais ao processo de comunicação que ora pretendemos explorar e discutir .

Com a figura 1 representamos nossa fala sobre a estrutura social do conhecimento e sua base de sustentação, sem que haja estrutura que de-tenha o fluxo todos-todos . Aberta e integralizadora, a esta associam-se for-mas continuadas, lineares, pontilhadas ou não-lineares, e as entrelaçadas por nós reflexivos e condutores da reconstrução dos processos acumulati-vos do conhecimento .

Aos incluídos, bem como aos ainda excluídos tecnologicamente, temos oportunidades em forma de canal infinito do conhecimento registrado pela comunicação extensiva3, que viabiliza a continuidade melhorada, a partir da interferência de outros sujeitos, a exemplo do Estado, quando exerce seu papel de interagir com os cidadãos garantindo os aparatos formadores . Na escola, quando as lideranças da própria sociedade interagem com o Es-tado em seus espaços na sociedade civil organizada, e ainda nos processos livres entre os sujeitos, nos quais a emissão das mensagens atravessa canais híbridos até alcançarem receptores de número incalculável, que assumem papel mediador no processo todos-todos, onde a informação e a comuni-cação dialogam gerando o conhecimento .

De acordo com a representação a seguir, objetivamente temos repre-sentado por linha continuada o conhecimento em sua base e em sua exten-são, que se abre para expandir e abrigar em seu interior duas outras linhas, sendo uma pontilhada e a outra continuada com nós em sua dimensão . A primeira representa o conhecimento não-linear, construído ao longo da história de vida dos atores do processo; enquanto a segunda, linear, mas nodular, representa a reflexão do conhecimento mediado e redesenhado para nova aplicabilidade na comunidade, a qual os indivíduos receptor e produtor a ela pertencem . Neste espaço central, se dão trocas de saber de forma colaborativa e livre, por meio de um Processo de Comunicação To-dos-Todos a ser detalhado mais adiante .

3 Ver mais sobre este tema em Simeão (2006) .

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Valéria Mendonça

FIGURA 1

CONHECIMENTO TODOS-TODOS

Fonte: MENDONçA, A .V . M ., 2007 .

O que se vê surgir deste movimento global é uma desenfreada busca pela mediação tecnológica como verdade para o homem . É certo que as tec-nologias para a informação e comunicação incidem sobre as relações so-ciais de uma maneira muito particular, sobrepondo-se às relações sociais concretas, tais como se desenrolam no seio das comunidades tradicionais, conforme avalia Rodrigues (1999, p .209) . No entanto, as condições já vi-vidas pelo homem o remetem a condições de assimilação e entrosamento permanentes, em redes sociais dinâmicas e participativas .

Este movimento também se observa diante da adaptação do homem à oralidade, à escrita, à imprensa, aos transportes, à indústria, às relações de comércio, às revoluções, à guerra, à telefonia, aos computadores e à Inter-net, que trouxe um conceito de rede e uma nova relação social na qual o es-paço físico dá lugar à navegação interativa num local interligado por nós, denominados por Theodore Nelson, na década de 60 do século XX, como hipertexto, uma forma de exprimir a idéia de escrita/leitura não linear em um sistema de informática . (LÉVY, 1993, p . 29) .

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A isso podemos chamar de reconstrução das relações sociais e de pro-dução em função do conhecimento virtual, destituído de fronteiras e que tem a educação como elemento fundamental para a reconstrução do saber livre e não linear, diferencial condicionante e estratégico, que terá na me-mória um forte aliado na renovação dos aspectos intelectuais do indivíduo . No entanto, nesta galáxia “extensiva”, há necessariamente “agrupamentos” (clusters) interrelacionados com sentidos de continuidade e complemen-tariedade, fundamentais para entender a complexidade das redes sociais . Não é o ciberespaço uma massa disforme, um malgma inidentificável, são constelações . As redes são tecidos interconectados por nós (todos) extensi-vamente, e em expansão contínua e por reagrupamentos constantes – me-tamorfoses . O ciberespaço possibilita, segundo Lemos (2002a), o fluxo bi-direcional da informação (todos-todos) e a simultaneidade sensorial .

A construção desse modelo de ciberespaço do conhecimento depende, portanto, de uma arquitetura própria, cujos personagens são provenientes dos meios tradicionais, tais como engenheiros, criadores de redes ou in-terfaces, inventores de softwares, enfim, um domínio onde as escolhas apa-rentemente mais técnicas têm e terão sólidas incidências políticas, econô-micas e culturais . Conforme explora Levy (1993, p . 110), esta solidificação será necessária a produção de uma inteligência ou de uma imaginação co-letiva, uma vez que todos contribuem para produzir os ambientes de pen-samento, de percepção, de ação e de comunicação .

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5 a memória tecnológica é individual ou coletiva?

As mutações sociais observadas no indivíduo inserido num universo tecnológico, seu espaço, seu tempo e seu modus vivendi em torno da pós-modernidade da cultura e da ciência estão colocando o homem na função de espectador de conflitos que provocam metamorfoses nos caminhos de ida e de volta da informação . No sentido que estamos empregando o termo pós-modernidade, em verdade, estamos repensando uma “hipermoderni-dade” . Cabe-nos aqui indicar o termo não somente com base nos concei-tos de “hiper” no sentido de “demasiado”, como se refere gilles Lepovetsky (2005), mas um conceito ampliado, voltado para a extensão infinita e ga-láctica dos efeitos dessa etérea modernidade social, que se associa à hiper-contextualização do social, como veremos mais adiante .

Com o auxílio das TICs, o conhecimento se bifurca entre o real e o vir-tual, assim como se entrelaça na chamada produção intelectual coletiva, que legitima a comunicação propriamente dita, ou o que se pode chamar de “fator V2”, a velocidade/virtualidade observadas a partir de um ponto crítico de velocidade com o qual se desencadeia um movimento de virtu-alização do mundo e das relações sociais, conforme discutido por Elhajji (2001, p . 164) .

Com a velocidade de troca informacional praticada em rede, essa mes-ma virtualidade se beneficia, bem como as comunidades inseridas no pro-cesso que exige concentração e dedicação na busca, apuração, assimilação e crítica dos dados levantados, delimitando o tempo junto às pessoas pre-viamente localizadas em seus espaços sociais e/ou virtuais . Essas condi-ções devem ser questionadas a partir de uma minuciosa avaliação por par-te da comunidade, de forma individualizada ou não, e sua colocação no so-cial coletivo ou não; afinal, existe a confirmação de que cibercomunidades individualizadas com o “eu” interagem com o “eu” no computador, uma es-pécie de eu-exterior, assim como a Internet constitui um “não-lugar” .

Lévy argumenta que “jamais pensamos sozinhos, mas sempre na cor-rente de um diálogo ou de um multidiálogo, real ou imaginado” (1996, p . 97) o que nos leva a considerar que a memória tecnológica é adquirida co-letivamente a partir do desenvolvimento de processos e métodos que ad-ministrarão a comunicação mediada por computador, neste caso, relacio-nada à Internet . Sobre essa relação, podemos citar o que defende Moraes a respeito de que a “cibercultura mundializa modos de organização social contrastantes, sem favorecer pensamentos únicos” (2001, p .72) .

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Para defendermos a idéia de memória coletiva no processo da comuni-cação assistida por computador, faz-se necessário trazer à tona, mais uma vez, o pensamento de Lévy em “O que é o virtual?” ele escreve:

O desenvolvimento da comunicação assistida por computador e das redes digitais planetárias apa-rece como a realização de um projeto mais ou me-nos bem formulado, o da constituição deliberada de novas formas de inteligência coletiva, mais flexí-veis, mais democráticas, fundadas sobre a recipro-cidade e o respeito das singularidades . Neste senti-do, poder-se-ia definir a inteligência coletiva como uma inteligência distribuída em toda parte, conti-nuamente valorizada e sinergizada em tempo real . (LÉVY, 1996, p . 96)

Com esta provocação, faz-se necessário rever os processos de comuni-cação a seguir de forma a iluminar a teoria aqui proposta de um hibridismo entre o conhecimento registrado por estas “modelagens”, até a propositura de um novo formato conceitual e metodológico aplicado às memórias co-letivas, ambientes hipermidiáticos, entendimentos globais de conteú dos e culturas locais .

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6 revendo os processos de comunicação

Neste item, vamos nos ater a uma revisão dos principais modelos de processo de comunicação, desde a antiguidade até a atualidade tecnológi-ca, para a qual nos predispomos a sugerir um modelo tecno-info-comuni-cacional, dirigido ao fenônemo inclusivo do digital, visualizando uma pers-pectiva simbólica dos indivíduos, famílias e comunidades, que interagem no sistema de alfabetização em informação e comunicação . Vejamos pri-meiro uma abordagem preliminar e elucidativa .

6.1 A evolução dos processos de comunicaçãoAntes do nascimento de Cristo (300 a .C .), Aristóteles trazia ao debate

o que viria a ser a origem dos modelos clássicos de comunicação .

Nos ensinam Lasswell, Shannon e weaver, Berlo, DeFleur, Osgood e Schramm, Dance, Miranda, Tubbs, Simeão e outros teóricos aqui explo-rados, em seus ensaios para a construção de um modelo ideal do processo de comunicação, seja ele no campo da telecomunicação, da semiótica, da lingüística, da informação ou da comunicação, que o emissor, o receptor, a mensagem e o canal são elementos imprescindíveis e matriciais à consti-tuição de qualquer processo, haja vista os exemplos trazidos a esta pesqui-sa . Encontrados em suas mais variadas aplicações e fases históricas, os mo-delos de processo de comunicação apresentados a seguir refletem maior volume de informações e propostas a fim de que seja viável uma reflexão dos modelos para uma tentativa de renovação da proposta .

Aristóteles tinha suas atenções focadas no orador, na mensagem e na audiência . Tratava-se de um nítido reflexo dos sentidos do emissor sobre os demais elementos do processo, cujo centro filosófico não previa distúr-bios ou ruídos na circulação previsível . Pouco se contestava, afinal, a infor-mação e o conhecimento pouco ou quase nada circulavam entre os indiví-duos, famílias e comunidades, restrigindo-se a grupos privilegiados de in-telectuais .

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FIGURA 2

MODELO CLÁSSICO DE ARISTÓTELES, 300 a.C.

Fonte: Ilustração adaptada de MORTENSEN, C . David, Communication: The Study of Human Communication (New York: Mcgraw-Hill Book Co ., 1972), Chapter 2, Communication Models .4

O estudo de Lasswell nos traduz as relações de estudos de controle, análises de conteúdo, mídia, audiência e de efeitos, respectivamente, sen-do que a ele critica-se a omissão do elemento feedback, ou seja, o retorno da efetividade ou não do processo, que mais tarde surge em ensaios tími-dos nos estudos apontados por DeFleur . No entanto, a Lasswell atribui-se a inserção dos efeitos, elementos considerados imprescindíveis ao que ora pretendemos aplicar: o estudo dos processos comunicacionais na Comuni-cação da Informação em estudos de inclusão digital .

4 Disponível em: <http://www.shkaminski.com/Classes/Handouts/Communication%20Mo-dels.htm> Acesso em: Mar., 2007.

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Valéria Mendonça

FIGURA 3

FÓRMULA DE COMUNICAçãO DE LASSwELL, 1948

Diz o quê?

Com que efeito?Quem? Em que

canal ?Para quem ?

Fonte: Adaptação nossa ao formato induzido .

No ano seguinte ao lançamento do modelo de Laswell, esperava-se que a Teoria Matemática de Shannon e weaver (1948) viesse suprir esta lacuna ini-cial, mas ao contrário . Partindo da formação básica da fórmula desenvolvida com influência das telecomunicações, com a Ciência da Informação, especi-ficamente, a Teoria Matemática da Informação contribuiu para sua autono-mia, libertando-a do suporte, maneira tradicional de se pensar a informação, isto porque a Teoria de Shannon e weaver não se refere a significado .

Shannon estava preocupado com a solução de problemas de otimiza-ção do custo de transmissão dos sinais, mas seu sistema de comunicação e alguns conceitos, como ruído, são úteis para a Ciência da Informação e, por isso, a influenciaram .

Os estreitos laços com a Teoria Matemática da Informação e a Ciência da Informação também se manifestam com as relações da causa e efeito do sentido diante do significado . O ruído, na Ciência da Informação, bem como em sua análise na Comunicação da Informação são muito úteis e se transformam em novas perspectivas de estudo . A seguir, temos a Teoria Matemática da Informação de Shannon e weaver (1948):

FIGURA 4

TEORIA MATEMÁTICA DA INFORMAçãO DE SHANNON E wEAvER, 1948

Fonte: Disponível em: <http://www .shkaminski .com/Classes/Handouts/Communication%20Models .htm>

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Quando o suíço-americano Jurgen Ruesch e o inglês gregory Bateson desenvolveram o modelo funcional que se segue, eles tinham como foco quatro níveis de informação que interferem diretamente em cada indiví-duo do processo recebendo a mensagem, canalizando, enviando e avalian-do a informação, de forma que a estrutura mantenha em seu primeiro ní-vel o processo interpessoal; no segundo, os focos de troca de experiências entre dois participantes do processo (os quais entendemos como emissor e receptor); elementos de interação entre muitas pessoas no nível três; e ao nível quatro, o processo cultural em larga escala de troca entre os indivídu-os . Esse exemplo não dá fim a todos os comportamentos comunicativos, porque o processo, aparentemente, se fecha em um ciclo onde as trocas de informação e conhecimento não extrapolam os limites . Em nosso entendi-mento, esse movimento limita a extensividade comunicacional, mas a figu-ra a seguir ilustra como se dá o processo no contexto social da comunicação .

FIGURA 5

MODELO DE RUESCH E BATESON, 1951

FUNCTIONAL MODEL

Fonte: Disponível em: <http://www .shkaminski .com/Classes/Handouts/Communication%20Models .htm>

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Valéria Mendonça

Em wilbur Schcramm e Charles E . Osgood, (MCQuAIL e wINDAHL, 1993), apuramos a presença de novos atores ao processo de comunicação, apresentado pela dupla em 1954 . Apesar de apresentar uma representação estática circular, o modelo não aplica a retroalimentação, o emissor é, ao mesmo tempo, decodificador, interpretador e codificador, enquanto o re-ceptor decodifica, interpreta e codifica novamente, sendo emissor ao en-caminhá-la novamente . A inversão de papéis entre os atores do processo se aplica de forma considerável, haja vista a evolução que idealizam para o duplo papel de emissor e receptor . No entanto, sem uma imersão de valo-res sociais explicitados nessa atuação, cria-se um conflito de interesses en-tre os sujeitos comunicadores .

Nesta confusão de papéis, as duas partes desempenham as mesmas tarefas em momentos aparentemente diferenciados, porém visivelmente dúbios, em se tratando de estudos aos quais podem vir a ser posteriormen-te associados a itens colaborativos, a exemplo dos conteúdos, elementos identitários e culturais, receptivos e mediatizados .

FIGURA 6

MODELO DE OSGOOD E SCHRAMM, 1954

Fonte: Disponível em: <http://www .shkaminski .com/Classes/Handouts/Communication%20Models .htm>

Como discípulo de Schcramm e de Osgood, o americano David K . Ber-lo tem como princípio da escola americana o entendimento de que:

Nosso objetivo básico na comunicação é nos tornar agentes influentes, é influenciarmos outros, nosso

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ambiente físico e nós próprios, é nos tornar agentes determinantes, é termos opção no andamento das coisas . Em suma, nós nos comunicamos para in-fluenciar – para influenciar com intenção . (BERLO, 1997, p . 22) .

Dessa forma, ao elaborar seu modelo de ação comunicativa, o estu-dioso nos provoca a influenciar o comportamento dos emissores, que, em nosso entendimento, também viriam a ser os mediadores e os mobilizado-res do processo como um todo, passando pelos diversos canais disponibi-lizados, chegando ao receptor e a sua retransmissão de valores culturais . Vemos, então, que o elemento estático apresentado por Berlo nos orienta para esse caminho agregador de elementos, mas de forma subliminar . É observado também que a contextualização social do conjunto dos atores não representa se há ou não o elemento provocador de ruídos no processo . Os fluxos são claros, mas não retroalimentam o fluxo do conhecimento ad-quirido ao longo da ação comunicativa .

FIGURA 7

MODELO DE BERLO, 1960

Fonte: Disponível em: <http://www .infoamerica .org/teoria/berlo1 .htm>

Frank Dance, em seu modelo helicoidal, de 1967 (MCQuAIL e wIN-DAHL, 1993), teoriza que a estrutura circular está mais próxima do pro-

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cesso de comunicação entre as pessoas, porém não apresenta os elementos participantes da comunicação . Sua representação não-linear nos mostra a natureza dinâmica da comunicação e mostra ainda que os elementos, rela-ções e ambientes estão continuamente em mutação, com destaque para o avanço e o crescimento do processo em si de forma ampla e livre, como é a informação . Apesar desta forma trazer a idéia cíclica de evolução do conhe-cimento, observa-se também que não há encontros para revisão do proces-so, apenas intersecções não destacadas pelo teórico e que não aparentam relação de continuidade, somente de passagem, deixando um hiato entre esses movimentos .

FIGURA 8

MODELO DE DANCE, 1967

Fonte: Disponível em: <http://www .shkaminski .com/Classes/Handouts/Communication%20Models .htm>

O modelo seguinte, do sociológo americano Howard Saul Becker, apresenta uma estrutura em mosaico, em forma de cubo, construindo uma comunicação formal complexa, com situações em que os elementos das mensagens são muito mais que uma situação social pura e simples . Discutir o modelo de Becker sugere relacionarmos a massa do cubo a uma representação potencial de pesquisa, de recognição e de informações parti-lhadas conforme sua relevância . Distribuímos o que recebemos de acordo

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com a necessidade que precisamos compartilhar e em que dimensão isso deve ser feito . Vejamos o que mostra a figura abaixo:

FIGURA 9

MODELO DE BECKER, 1968

Fonte: Disponível em: <http://www .shkaminski .com/Classes/Handouts/Communication%20Models .htm>

No modelo seguinte, desenvolvido pelo cientista americano Melvin L . DeFleur, em 1970 (MCQuAIL e wINDAHL, 1993), o ruído está presente em todas as fases da comunicação e nota-se também que as correspondên-cias de sentidos raramente são perfeitas, ou seja, se existir relação entre dois significados, o resultado é a comunicação .

Desta forma, as falhas surgem na multiplicidade dos significados e das mensagens, uma vez que a possibilidade de se alcançar o feedback pode vir a ser adaptada ou não, somente voltada à audiência, com limitações de fon-tes em estudos voltados para a comunicação de massa .

Esta, por sua vez, como sendo essencial para a visibilidade dos resul-tados, a fim de serem obtidos reconhecimento, compartilhamento e rede-finição de conceitos previamente estabelecidos ou não, tende a não solidi-ficar um modelo de comunicação de massa dialógica, negligenciando fato-res importantes como o elo da comunicação a ser estabelecido entre os in-

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divíduos (emissores e receptores), bem como deixando de coordenar e ge-rar vínculos co-responsáveis como se espera .

Com a ineficácia do processo de feedback do modelo de DeFleur, ainda encontramos lacunas operacionais à aplicabilidade do processo ao estudo ora proposto, haja vista que não consideramos o ruído como eixo central entre os sujeitos do processo, mas como o irradiador principal de informa-ções ou qualquer outro tipo de conteúdo que constitua o processo . Sendo assim, seguimos para a imagem representativa do modelo e, em seguida, à análise de mais um processo, dessa vez o de Miranda, com o qual adentra-mos no que poderia se chamar de modernidade dos processos sugeridos ao longo da teoria da informação e da comunicação .

FIGURA 10

MODELO DE DEFLEUR, 1970

Fonte Canal Transmissor Receptor Destinatário

Ruído

Destinatário Canal Receptor Transmissor Fonte

Dispositivo de

comunicação demassa

Dispositivo de retroalimenta ção

Fonte Canal Transmissor Receptor Destinatário

Ruído

Destinatário Canal Receptor Transmissor Fonte

Dispositivo de

comunicação demassa

Dispositivo de retroalimenta ção

Fonte: MCQuAIL & wINDAHL, Communication models, 1993 .

Em 1980, no Brasil, Miranda apresentava para discussão o mecanismo de transferência da informação, que se destinava à formulação de políticas de transferência de informação no país e que, em sua origem, já apresenta-va uma forte característica de inconclusão . Ele dizia:

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Assim como o conceito de informação é dinâmico, queiram ou não os ditadores, também é dinâmica a vida das nações neste planeta da Aldeia global (sem qualquer ironia de nossa parte) . E perdoem o herme-tismo, pois a abertura que pretendemos para nossa transferência de informação, ainda não desobstruiu todos os canais . (1980, p . 157) .

Àquela época, o Brasil ainda não vivia a realidade da comunicação glo-bal, convergente, hipermidiática, interativa e hipertextual – características do modelo extensivo que veremos mais adiante . Também não entendía-mos a Internet e as tecnologias para a informação e comunicação como in-termediadoras do processo, haja vista que a informação, na anterior visão de Miranda (1980, p . 155), “só se transferia de indivíduo para indivíduo: o primeiro codifica a mensagem e o segundo descodifica a informação conti-da” . O próprio teórico veio, mais tarde, com Elmira Simeão (2002), verificar a evolução deste modelo e do processo comunicacional .

FIGURA 11

MODELO DE MIRANDA, 1980

Políticas de Transferência de Informação

(OBJETIVOS NACIONAIS)

critério de seleção

emissoras:

geradores das informações (documento)

Qualidade (Nível)

Conveniência

Custo

avaliação de resultados

capacidade de absorção (nível)

Utilidade

Benefício

receptores:

transformadores, utilizadores, geradores de

novas informações

Transferência de Informação

Sistemas

de

Informação

Estrutura formal:

BIBLIOTECAS, ARQUIVOS

CENTROS DE DOCUMENTAÇÃO

Estrutura informal: Colégios Invisíveis

Congressos - Simpósios Visitas - Consultorias

©MIRANDA, A.1980.

(OBJETIVOS NACIONAIS)

ério de

emissoras:

geradores das informações (documento)

Qualidade (Nível)

Conveniência

Custo

capacidade de absorção (nível)

receptores:

transformadores, utilizadores, geradores de

novas informações

ç

Estrutura formal:

BIBLIOTECAS, ARQUIVOS

CENTROS DE DOCUMENTAÇÃO

Estrutura informal: Colégios Invisíveis

Congressos - Simpósios Visitas - Consultorias

í

(OBJETIVOS NACIONAIS)

é

emissoras:

geradores das informações (documento)

Qualidade (Nível)

Conveniência

Custo

absorç ível)

receptores:

transformadores, utilizadores, geradores de

novas informações

Estrutura formal:

Estrutura informal: Colégios Invisíveis

Congressos - Simpósios Visitas - Consultorias

(OBJETIVOS NACIONAIS)

ç

íEstrutura formal:

Colé íveis - ó

-

Fonte: MIRANDA, 1980 .

O modelo de comunicação de Tubbs (2003c) reflete dois novos atores denominados Comunicador 1 e Comunicador 2, bem como às mensagens emitidas e recebidas a partir de filtros e interferências externas ao processo

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Valéria Mendonça

imediato, mas que se relacionam diretamente com os emissores e recep-tores, também encontrados em situações duplas com funções igualmente duplas, a primeira no sentido de inserir, e a segunda, em multiplicar os va-lores dos códigos do processo .

FIGURA 12

MODELO DE TUBBS, 2003

Fonte: MCQuAIL & wINDAHL, Communication models, 1993 .

Conforme se observa entre os modelos anteriormente relembrados, os principais atores baseiam-se em percursos simples, geralmente estabeleci-dos em função de uma mensagem a ser direcionada por meio de um canal específico ou não, mas que subtrai de cada agente do processo, ativo ou não, uma determinada função, seja ela dirigida ao emissor ou ao receptor, con-tanto que ambos os atores participem e se encontrem em forma de ruídos ou retroalimentação de significados . Não pretendemos, entretanto, dar por concluída essa breve retrospectiva teórica e experimental sem trazermos os modelos de Antonio Miranda e Elmira Simeão, discutidos no Brasil no mesmo ano em que era discutido nos Estados unidos o modelo de Tubbs .

Em seu primeiro ensaio nesse sentido, em 1980, Miranda concebia um modelo de comunicação adaptado por Simeão em 2003, com base no princípio da comunicação extensiva, proposta que, no ano seguinte, pro-porcionaria o sentido de amplitude e multisignificados, entre a tecnologia e o conhecimento registrado, como veremos logo em seguida .

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Para contextualizarmos essa representação, devemos nos reportar ao movimento dinâmico no qual está envolta a representação numa relação emissor-receptor com subcanais que se interrelacionam em qualidade/nível x capacidade de absorção/nível; conveniência x utilidade; e custo x benefício . A estes pares estão condicionados os objetivos e metas estabe-lecidos para o processo comunicativo conforme suas intenções e conve-niências . Porém, destacam-se ainda as três características da comunica-ção extensiva, a hipermidiação, a hipertextualidade e a interatividade, as quais vemos como substanciais ao processo Todos-Todos a ser apresenta-do mais a frente .

FIGURA 13

MODELO DE MIRANDA E SIMEãO, 2003

Fonte: MIRANDA, 1980, adaptado por SIMEAO, 2003 .

Para o modelo de interação entre tecnologia e conhecimento registra-do, trazemos os dizeres de seus autores, “a massa documental, no concei-to popperiano aqui defendido, faz parte do ciclo da comunicação científica em processo de reciclagem contínua”, (MIRANDA e SIMEãO, 2002, p . 5) . Compreendemos então que o elemento mediação incorpora valores subje-tivos frente aos valores objetivos de Popper . Os autores continuam:

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A produção (registro) do conhecimento, conformada à tecnologia e aos elementos constitutivos do docu-mento (tipo-conteúdo-formato-suporte), se dá atra-vés da mediação compreendida como absorção das novas idéias, análise e crítica para a complementa-ridade do conhecimento acumulado, “conjecturas e refutações”, retornando ao ciclo através de novos do-cumentos . (MIRANDA e SIMEãO, 2002, p . 5) .

FIGURA 14

INTERAçãO ENTRE TECNOLOGIA E CONHECIMENTO REGISTRADO

Fonte: Modelo MIRANDA E SIMEãO, 2004 .

Ao encerrarmos este momento reflexivo, dá-se início ao propósito de inserir no universo destas ricas teorias e processos, o que chamamos nesta pesquisa de Modelo de Comunicação Todos-Todos, que sugere a relação di-reta com a tecnologia convergente e suas produções de conteúdos media-dos e redistribuídos num segmento inclusivo, como veremos .

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7 a comunicação todos-todos

O modelo que desenvolvemos, segundo Mendonça (2006), para o Pro-cesso de Comunicação Todos-Todos, além de atender a uma necessidade complementar das atividades que se pretendiam na pesquisa, também foi pensado para destinar aos usuários, compreendidos entre indivíduos, fa-mílias e comunidades – atendidas ou não por um Programa de Inclusão Digital – de forma transversal aos múltiplos espaços sócio-culturais, como a escola, as organizações da sociedade civil, as bibliotecas, entre outros . No cenário da convergência das mídias, da educação voltada para as compe-tências digitais e da aproximação da tecnologia com a identidade da rede Internet, buscamos resgatar elementos da comunicação, da mobilização social e da educação inclusiva sempre e para todos à luz de Paulo Freire (2002), bem como as linhas de aprendizagem em informação e em comu-nicação que os saberes inteligentes requerem para a sociedade da informa-ção e da comunicação . Desta forma, seguimos, inicialmente, com o que denominaremos de construções e re-construções interfacetadas no agir co-municativo de Jürgen Habermas (2003a, 2003b e 2002), bem como na es-trutura da comunicação extensiva de Simeão (2006) .

7.1 Um modelo para o processo de comunicaçãoÀ análise ora apresentada sugere-se uma adaptação de modelos inspi-

rada no que nos apresentaram os teóricos dos modelos de comunicação, com a complementação do que pode vir a ser denominado de modelo de processo comunicacional para a inclusão digital, com vistas a preservar as bases de atores (emissor e receptor), com objetivos prévios e analisados a partir de indicadores de contexto pré-existentes, frutos da observação dos sujeitos a serem incluídos .

Além disso, as mensagens codificadas frutos de uma realidade editada socialmente, estariam diante de adaptações contextuais e retroalimentadas por intermédio de ações reeditadas e, posteriormente, avaliadas mediante a ação de implementadores sociais, ou ainda Agentes de Inclusão Digital (AID), atores considerados essenciais para a intermediação das atividades .

Elaborar uma representação estática a esse pensamento teorizado po-deria ser considerado prematuro, uma vez que as substâncias essenciais a esta fundamentação encontram-se em pesquisa, que futuramente podem vir a ser apresentadas em discussões outras, porém, cabe-nos ressaltar que a codificação e a decodificação dos significados atribuídos a este modelo de comunicação interagem com atores que atuam separadamente, com múl-tipla função, por vezes, mas cientes de suas atividades no processo .

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Por conseqüência, interdisciplinaridades e interelações simbólicas fa-zem-se necessárias, haja vista o caráter inovador de tal proposta . Extensiva, originalmente, ela parte do pressuposto da existência de sujeitos não inter-comunicáveis que, motivados pela conectividade de projetos de inclusão digital podem coabitar em espaços-tempos proativos a partir do contexto social ao qual estão inseridos, disseminando conhecimentos, produzindo informação, e não apenas consumindo-a . Sujeitos intercomunicáveis em sua origem também se encontram nesse ambiente contextualizado . Estes, por sua vez, possuem múltiplas funções, desde compartilhar o conheci-mento até a produção de conteúdos e sua posterior distribuição em rede .

Nesse ínterim, trazemos ao debate alguns conceitos que servirão para um melhor entendimento quanto à possibilidade concreta de uma Comu-nicação Todos-Todos a partir da convergência das TICs no espaço virtual, em virtude da operacionalidade do processo e sua mediação ativa . Entre os elementos do processo em sua primeira versão, destacam-se os seguintes conceitos necessários:

Emissor – considerado como usuário dos serviços de inclusão a) digital, incluindo os indivíduos, as famílias e as comunidades, desenvolve conceitos, atribui valores à informação e as distribui . Pode exercer o papel de receptor .

Receptor – além de também ser usuário dos serviços de inclusão b) digital, o receptor exerce a função mobilizadora e questionadora no processo, que mais tarde será reiniciado por ele dentro do es-pectro . Pode exercer o papel de emissor .

Canal – é visto como todo o espaço interno de convergência dos c) conteúdos produzidos, informações circuladas, conhecimento acumulado ou mesmo contextualizado .

Mensagem – informação mediada ou distribuída no conjunto do d) processo por qualquer elemento em qualquer formato .

Conteúdo – todo tipo de informação, comunicação ou conheci- e) mento produzido, a partir de qualquer ferramenta de comunica-ção, seja ela analógica, digital, eletrônica, magnética, artesanal, híbrida, concreta ou virtual .

Filtros e/ou interferências – considerados elementos estimulantes f) ao emissor e ao receptor, eles irão sedimentar o conhecimento ad-quirido ou acumulado a partir do contexto social dos indivíduos, famílias e comunidades . Dentro do processo, esse contexto se hi-pertextualiza e forma, dentro do espectro, um elemento agregador e de extrema importância para a aplicabilidade social do conteúdo produzido .

Contexto Social – particularidades da sociedade à qual pertencem g) os emissores e receptores, determinantes da qualidade de vida a partir das condições política, social, econômica, histórica e cultural .

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Valéria Mendonça

Análise de Indicadores de Contexto – é a interferência externa h) presente na produção e difusão de informação e de conteúdo a partir da história social de cada emissor e/ou receptor, bem como a contextualização da realidade vivida por cada um destes atores atuando como filtro no processo de mediação .

Comunicador 1 – sujeito externo à produção de conteúdos, inter- i) fere como mediador natural da aprendizagem em informação e comunicação para o primeiro grupo de trabalho híbrido .

Comunicador 2 – sujeito externo à produção de conteúdos, tam- j) bém interfere como mediador natural da aprendizagem em infor-mação e comunicação para o segundo grupo de trabalho híbrido, exercendo o mesmo papel do ator descrito acima .

Adaptação de Conteúdo ao Contexto – quando os indivíduos, famí- k) lias e comunidades produzem conteúdos no Processo de Comu-nicação Todos-Todos, eles refletem o momento contextualizado socialmente, a partir de filtros que atuam no conjunto das tarefas, dessa forma, ao contribuírem no processo, eles adaptam o contex-to às produções de conteúdo .

Retroalimentação de Conteúdos – produção de conteúdos orais, l) verbais e/ou visuais a partir das ferramentas de comunicação de massa, retrabalhados, reconfigurados, redistribuídos numa inter-face hipertextualizada, interativa e multimidiática, como prevê os princípios da comunicação extensiva .

Objetivo – primeiro passo para que os indivíduos, famílias e co- m) munidades visualizem a necessidade de produção de conteúdos, como forma de ampliar o espaço inclusivo na interface Internet .

Aplicabilidade Social – momento em que os indivíduos, famílias n) e comunidades identificam possibilidades de sustentabilidade de seus projetos para inclusão digital mediante a produção de conteú-dos e valorização do processo de alfabetização em informação e comunicação .

Estes, portanto, são os elementos matriciais para o primeiro ensaio do modelo de Comunicação em um processo de construção simbólica . Quan-do associado aos demais processos de comunicação anteriormente discu-tidos, observamos similitudes em seu aparelho funcional, referências teó-ricas unidirecionais no caminho da comunicação, ou da informação, sob o ponto de vista semiótico, cognitivo ou ainda nas óticas psicológica ou ma-temática . Vejamos então como representamos, estaticamente, esse primei-ro momento teórico para formulação do Processo de Comunicação Todos-Todos (MENDONçA e MIRANDA, 2006):

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FIGURA 15

MODELO DE MENDONçA, 2005

Fonte: MENDONçA, A .V .M ., 2005 .

Esta versão foi a representação discutida e pesquisada até o final de 2006, quando da elucidação de outras vertentes do pensamento e da ope-racionalidade do ciclo, associadas à virtualidade, ao não-lugar, à extensivi-dade, à hipercontextualização e à convergência das mídias no critério tec-nológico . Longe do rigor científico, estávamos, à época, em busca de uma colocação mais adequada ao novo cenário da aprendizagem funcional em detrimento às TICs, interagindo com os espaços do aprender a conhecer, a fazer, a viver juntos e a ser . Para além do aprender, estávamos nos defron-tando com os múltiplos saberes os quais, segundo Morin (2002), são ne-cessários à educação do futuro .

Além disso, estávamos em busca do elo entre a sociedade tecno-info-comunicacional e o agir comunicativo da galáxia da extensividade . Dessa forma, precisávamos expandir o modelo, direcionando seus valores, pa-péis, objetivos e ações, associando as representações do contexto social ao fenômeno da hipercontextualização . Em sua conotação, este novo momen-to característico às relações info-tecno-sociais do ciberespaço, compreen-de-se como a contextualização das competências do aprender, do ser e do informar, mediante as convergências comunicacionais em uma noosfera global, frente à navegação no mundo dos processos virtuais e não apenas no mundo das coisas concretas, e da relação cognitiva do indivíduo com ele mesmo, com outro de sua espécie e com a representação dele próprio

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na interface Internet . Hipercontextualizar o social nesse momento, estaria muito além do que é apenas visto pelos sujeitos, mas estaria relacionado às verdades provisórias, cada vez mais buscadas pela ciência . um estado da coisa visto através das metodologias e da instrumentalização do processo que multiplica a capacidade de manuseio das próprias coisas . Na visão re-cente de Miranda (apud RIBEIRO, 2007), findam por se tornar “próteses” metodológicas e tecnológicas por onde perpassam a velocidade e a virtuali-dade da informação e do conhecimento registrado junto à humanidade .

Estaríamos, dessa maneira, inseridos na hipercontextualização do Processo de Comunicação Todos-Todos . Antes de adentrarmos um pouco mais na teorização do modelo atual, desenvolvido em 2007, apresentamos o modelo em si, conforme seqüência .

FIGURA 16

MODELO DE COMUNICAçãO TODOS-TODOS

Ao observarmos certa limitação analítica da informação e da comuni-cação nos modelos processuais empregados até final dos anos 90 do sé-culo passado, antevíamos que iniciativas explicativas estariam por se con-cretizar, a exemplo do que se predispõe Tubbs (vide figura 11), Miranda e Simeão (vide figura 12) . Ao modelo extensivo de Miranda e Simeão (vide fi-

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gura 13), atribuímos valores convergentes rumo ao estabelecimento de hi-permodelos de conhecimento registrado, em que os tipos permanecem he-terogêneos, porém não existem formatos específicos pré-definidos – eles passam a ser hipertextualizados, os conteúdos são hipermidiáticos e os su-portes interativos .

Decifremos o modelo anterior a partir de sua desconstrução . Inicial-mente, devemos entendê-lo como um processo inerente ao Conhecimento Todos-Todos, e que traz em seu núcleo o processo comunicacional . Enten-dida a localização teórica deste modelo, devemos partir para suas entradas e saídas sempre abertas e influenciadas, diretamente, pelos emissores e re-ceptores . Estes atores atuam como filtros naturais do processo de elabora-ção das mensagens, mas são abertos e livres para que possam sofrer as in-terferências e seus conseqüentes ruídos . Com ênfase na convergência dos canais, definidos como os mais variados meios de comunicação, os mes-mos aportam para a célula do tubo canalizador – a Internet, símbolo da convergência hipermidiática . Deciframos a Internet como símbolo porque concordamos com as palavras de Lemos, quando afirma que a Internet

não é um mídia, mas um (novo) ambiente midiáti-co, uma incubadora espontânea de instrumentos de comunicação, um sistema auto-organizante e cria-tivo . [ . . .] Além de criar novos instrumentos, a Rede acolhe também as mídias de massa [ . . .] cuja vitalida-de encontra-se na circulação de informação ponto a ponto (não massiva), na conexão generalizada, na universalização do acesso e na libertação do pólo da emissão . (LEMOS, 2002b, p . 36) .

A história de vida hipercontextualizada desses atores (emissor e recep-tor) interfere na linha pontilhada e não-linear . Nela encontram-se as infor-mações adquiridas ainda por serem mediadas . Somente após esta identifi-cação subliminar, por meio das práticas de alfabetização em informação e comunicação, vemos que os atores apresentam agora uma linha represen-tativa do conhecimento acumulado; enquanto isso, os nós sintetizam este fenômeno estimulador à mediação da comunicação propriamente dita . As-sim, nossos atores estarão aptos à produção de conteúdos, a partir do ins-tante em que se visualizem hipercontextualizados no modelo cíclico da tecno-info-comunicação dirigida às TICs e aos projetos de inclusão digital dela advindos, tendo como meta a aplicabilidade social dos conteúdos no cotidiano dos usuários do sistema, sejam eles ativos, passivos, participati-vos ou simbólicos, haja vista que o processo provém do todo para o todo in-finito, permitindo aos indivíduos, famílias e comunidades utilizarem seus conhecimentos basilares, sua cultura, sua experiência de vida social e polí-tica, por meio da atuação externa mobilizadora e retroalimentada nos prin-cípios do agir comunicativo .

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Resgatamos o entendimento do agir comunicativo em Habermas, que nos revela que

o agir comunicativo coloca em jogo um espectro mais claro dos fundamentos – fundamentos epistê-micos para a verdade das asserções, pontos de vista éticos para a autenticidade de uma escolha de vida, indicadores para a sinceridade das declarações, ex-periências estéticas, explicações narativas, padrões de valores culturais, exigências de direitos, conven-ções, etc . (2002, p . 49) .

Compreendemos que a racionalidade deixa de ser uma obrigação comparada à idéia de liberdade comunicativa desses atores, mesmo ten-do em vista valores padronizados da cultura ocidental . Habermas continua nos alertando que “também no agir comunicativo partimos de que todos os participantes são atores capazes de se justificarem” . (2002, p . 51) . Jus-tificam-se pela sustentabilidade dos projetos e dos conhecimentos e pela certeza adquirida na prática cotidiana do saber e do aprender . Ao justifi-carmos a sobreposição de papéis e funções dos atores emissores/recepto-res, acreditamos, assim como Habermas, que esse movimento é possível e eficaz . Deste modo, a ambigüidade de tarefas iria buscar a convergência não somente na interface Internet, mas também na supremacia do sujeito como agente informante e comunicador . Vejamos:

[ . . .] os sujeitos agindo comunicativamente se tratam literalmente como falantes e destinatários, nos papéis das primeira e segunda pessoas, no mesmo nível do olhar . Contraem uma relação interpessoal, na qual se entendem sobre algo no mundo objetivo e admitem os mesmos referentes mundanos . (HABERMAS, 2002, p . 53) .

Esse tipo de reflexão mediada exige-nos outra suposição, para a qual nos amparamos, dessa vez no filósofo alemão, Hans-georg gadamer (apud HABERMAS, 2002) quando fala sobre a “fusão de horizontes” . Ele nos orienta para o entendimento hermenêutico deste hipermodelo tecno-info-comunicacional que nos dispomos a teorizar e representar sob a res-ponsabilidade de emissores/receptores, da seguinte forma:

A objetividade do mundo, que supomos ao falar e agir, está de tal modo entrelaçada com a intersub-jetividade do entendimento sobre algo no mundo, que não damos um passo atrás dessa correlação, da qual não nos podemos desviar, do horizonte revela-do lingüisticamente de nosso mundo da vida inter-

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subjetivamente partilhado . Isto não exclui, sem dú-vida, uma comunicação sobre os limites dos mun-dos da vida particulares . Podemos ultrapassar refle-xivamente nossas posições de partida hermenêuti-cas a cada vez diferentes e chegar a concepções par-tilhadas sobre uma coisa disputada . (HABERMAS, 2002, p . 57) .

Em gadamer, originalmente, encontramos outra justificativa à dupla função dos atores, que diz:

[ . . .] a essência consiste em proporcionar essa dupla mediação, a de atrair sobre si a atenção do observa-dor, satisfazer seu gosto e ao mesmo tempo afastá-lo, remetendo-o ao conjunto mais amplo do contexto vital a que ela acompanha . [ . . .] Mas, por outro lado, não deve atuar de modo uniforme e morto, já que, em sua tarefa de acompanhamento, deve ter um efeito vivaz; até certo ponto, portanto, deve atrair o olhar sobre si . (gADAMER, 2005, p . 222-223) .

Com essas palavras, reforçamos a importância da manutenção dos va-lores relativos à identidade cultural desses indivíduos, famílias e comuni-dades . Retomamos à visão compartilhada em Habermas quando ele afirma que “[ . . .] os membros compreendem seu ‘mundo social’ como a totalidade das relações interpessoais legitimamente reguladas” . (HABERMAS, 2002, p . 62) . Sendo assim, encontram-se esses sujeitos imersos num ambiente conflituoso de tarefas mas harmonioso no contexto produtivo sob a com-preensão do universo em cada um, pois “la tradición cultural compartida por uma comunidad es constitutiva del mundo de la vida que los miembros indi-viduales encuentran ya intrepretado en lo que atañe a su contenido” . (HABER-MAS, 2003a, p . 119) . uma atitude reflexiva irá, certamente, auxiliar nes-te processo de entendimento das operações culturais interpretativas destes sujeitos receptores/emissores/produtores, em mais um entendimento de que “Todo proceso de entendimiento tiene lugar sobre el transfondo de una pre-concepción imbuida culturalmente .” (HABERMAS, 2003a, p . 145) .

Discutimos agora não somente com Habermas (2003a e 2003b), mas também com Popper (1999) e Miranda (2002), haja vista que a formula-ção da teoria poperiana dos três mundos reflete significativamente na ação induzida em Habermas e em sua teoria da ação comunicativa por nós uti-lizada para substanciar nosso processo de comunicação à luz das Ciências da Informação e da Comunicação .

Nessa ordem, Habermas inicia sua definição a cerca da teoria pela su-posição de que a mesma representa “[ . .] un medio lingüístico en que se refle-jan como tales las relaciones del actor com el mundo .” (HABERMAS, 2003a, p . 136) . Ele complementa dizendo que

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Sólo el concepto de acción comunicativa presupone el lenguaje como un medio de entendimiento sin más abre-viaturas, em que hablantes y oyentes se refieren, desde el horizonte preinterpretadado que su mundo de la vida re-presenta, simultáneamente a algo en el mundo objetivo, en el mundo social y en el mundo subjetivo, para nego-ciar definiciones de la situación que puedan ser compar-tidas por todos. Este concepto interpretativo de lenguaje es el que subyace a las distintas tentativas de pragmática formal . (HABERMAS, 2003a, p . 137-138) .

Na perspectiva dos falantes e ouvintes, Habermas reflete como se dão as relações ator/mundo5 nesse processo de ação comunicativa . Elas se ma-nifestam no mundo objetivo, no mundo social e no mundo subjetivo do seguinte modo:

[ . . .] el mundo objetivo (como conjunto de todas las enti-dades sobre las que son posibles enunciados verdaderos); el mundo social (como conjunto de todas las relaciones interpesonales legítimamente reguladas), y el mundo subjetivo (como totalidad de las vivencias del hablante, a las que éste tiene un acceso privilegiado) . (HABER-MAS, 2003a, p . 144) .

Em nossa compreensão, as manifestações expressivas destes três mundos de Habermas estão a serviço das intenções comunicativas e po-dem apresentar-se de forma deliberada, construindo outras funções de en-tendimento, a exemplo da coordenação da ação comunicativa em si mesma e na socialização dos indivíduos, famílias e comunidades, pressupostos in-terativos do processo info-tecno-comunicacional . As TICs, como meios de comunicação, são as que possibilitam novas interpretações simbólicas no ciberespaço do conhecimento multidimensional sugerido no Processo de Comunicação Todos-Todos .

Ainda em Habermas (2003b), tomamos o caminho que nos levará ao entendimento dos três mundos poperianos quando ele nos diz que a inte-ração mediada simbolicamente se caracteriza na emergência de um novo meio de comunicação (supomos que seja um espaço de convergência) e a ação dirigida às redes sociais se normatizam pelas expectativas do com-portamento de quem as compõe . Essa afirmativa converge para o que diz Popper (1999) sobre a interelação entre os mundos de forma pluralista, mesmo quando ocorre a limitação do primeiro e o terceiro mundos intera-girem apenas com a intervenção do segundo, sendo que este se comunica com o primeiro e com o segundo distintamente . Ele os define e os associa-mos assim:

5 Estão relacionados, por analogia, os emissores/receptores do ciclo de comunicação, a hiper-contextualização social desses sujeitos, o processo hipermediador e a interface responsável pela convergência dos mundos .

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[ . . .] o primeiro mundo é o mundo material, ou o mundo dos estados materiais; o segundo é o mundo mental, ou o mundo de estados mentais; e o terceiro é o mundo dos inteligíveis, ou das idéias no sentido objetivo; é o mundo de objetos de pensamentos pos-síveis; o mundo das teorias em si mesmas e de suas relações lógicas, dos argumentos em si mesmos, e das situações de problema em si mesmas . (POPPER, 1999, p . 152) .

Na interpretação de Miranda “o conhecimento objetivo, assim conce-bido, seria uma ‘coisificação’ ou a autonomia da informação de seu cria-dor . uma vez produzido, o texto é público, sujeito a críticas, apropriações, reformulações até mesmo pelo seu criador .” (2002, p . 4) . Associando-o ao processo de comunicação, entendemos que o terceiro mundo viabiliza a todos os sujeitos a transposição de conteúdos produzidos, criticados, dis-tribuídos e hipermidiatizados entre todos os demais atores . E ele conclui:

Embora Popper esteja referindo-se às teorias e outras propriedades que entram na formulação e registro dos conhecimentos científicos em geral – mais pre-ocupado com a sua formulação –, ele também nos fala do processo em que o conhecimento avança por “conjecturas e refutações”, isto é, por registro e críti-ca objetiva que dá origem a novos registros, numa cadeia produtiva infinita . (MIRANDA, 2002, p . 4-5) .

No modelo do Processo de Comunicação Todos-Todos aqui teorizado, encontram-se registros concretos do conhecimento de cada um dos seus elementos, bem como uma infinitude de possibilidades tecnológicas, in-formativas e comunicativas, entre as quais podem vir a se estabelecer, de fato, o que prega a teoria da comunicação extensiva apresentada anterior-mente . Os novos e também infinitos registros do conhecimento, sejam eles concebidos, acumulados ou adquiridos, por conseguinte, associam-se às redes de constelações interconectadas e hipercontextualizadas, obser-vando-se o surgimento de outros infinitos processos de causa e efeito em uma hiperconexão simbólica onde os meios digitais e a convergência das mídias podem vir a facilitar o convívio tecnológico e a presença cidadã na sociedade da informação e da comunicação . Em síntese, substanciado no mundo três, o Processo de Comunicação Todos-Todos apresenta alternati-vas de construção colaborativa do conhecimento, formulação de conteúdos por meio de mídias convergentes distribuídas via Internet, formação de re-des sociais de compartilhamento e progressiva inclusão de infinitos atores que dialogam com o universo do ciberespaço em linguagem formal e in-formal, interativa, hipertextualizada, hipermidiatizada, auxiliando no ensi-

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no-aprendizagem e na alfabetização em informação e comunicação em ra-zão de objetivos que viabilizem a aplicabilidade de projetos sociais .

Mas resta-nos ainda um esclarecimento a cerca da hipermodernidade destacada anteriormente . A vida em redes sociais dinâmicas a que nos re-ferimos para dar vazão a este Processo de Comunicação Todos-Todos não é mais a pós-modernidade . Mas uma evolução hipermoderna em que não há reprodução do conceito tradicional do espaço e do tempo que se constroem entre as redes sociais estáticas . Acredita Miranda:

A questão não é de tempo, mas de produtividade, se-letividade, conectividade, uso de recursos de “comu-nicação extensiva” como interatividade, hipertextua-lidade e hipermidiação . São “próteses” metodológi-cas e tecnológicas que ampliam a nossa capacidade em todas as direções e nos dão uma nova dimensão de espaço e de tempo . (apud RIBEIRO, 2007) .

Sobre a relação de troca de informações e conhecimentos nessa socie-dade hipermoderna podemos acrescentar ainda que

As pessoas formam redes de relacionamento instin-tivamente, de forma seletiva, por níveis . É tudo es-pontâneo, intuitivo, mas regras invisíveis se formam e conformam os grupos, condicionam os relaciona-mentos . Você busca os “iguais”, reconhece e estabe-lece identidades e acaba criando uma constelação de amigos com os quais você cresce, promove e se pro-move, aprende . Sempre foi assim, só que a tecnolo-gia facilita, agiliza, multiplica as oportunidades . (MI-RANDA apud RIBEIRO, 2007) .

Essa troca galáctica sugerida por Miranda refere-se ao saber livre e não-linear, que atravessa níveis de absorção por canais de conhecimento acu-mulado, fruto dessa rede social dinâmica . Vejamos o que seria a represen-tação estática desse universo hipermoderno .

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FIGURA 17

REGISTRO DA HIPERMODERNIDADE

Estamos diante da pluralidade de corpos intercomunicáveis, emisso-res e receptores que agem intencionalmente e imponderavelmente em um universo hipermoderno, em que só conseguimos ver pelo que é visto pelo outro no universo dos registros (coisas) de Popper, ou seja, as redes sociais dinâmicas da hipermodernidade atuam como filtros entre a intencionali-dade e a imponderabilidade . Essa dinâmica do processo real é que vai para-metrizar os canais que acabam definindo os perfis dos atores que, por sua vez, geram uma linha imaginária na qual o conhecimento registrado pode atingir o cume da representação . Enfim, eu só enxergo o público por meio do que ele vê e o que ele vê é o mundo popperiano: com isso entendemos que não há modelos puros de comunicação na sociedade hipermoderna que pretendemos destacar . Finalizamos com Miranda, que afirma que de-vemos apostar na confluência das vertentes da comunicação extensiva e da comunicação intensiva .

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No caso extensivo, na possibilidade dos textos nave-garem, surfarem e serem expostos em telas lumino-sas para o olhar externo, apressado, erradio e casuís-tico, descobrindo e descobrindo-se . [ . . .] É o momen-to da comunicação intensiva, do mergulho no texto, do diálogo introspectivo com o autor inscrito, na re-flexão criativa e crítica . Mesmo na web há lugar para que essa dicotomia extensiva e intensiva se reconci-lie, na medida em que, paralelamente aos blogs, rele-ases e discussões erráticas, podemos também explo-rar crescentes repositórios institucionais de acesso livre, com volumosos compêndios, obras completas, textos inteiros digitalizáveis e disponíveis em rede . (MIRANDA, 2007) .

É nesse hipercontexto que visualizamos a efetividade do Processo de Comunicação Todos-Todos na hipermodernidade em que todos os gêne-ros são híbridos na construção dos registros, por sua vez, céleres . Os tipos de documento passam a ser produtos sociais e corporativamente referen-dados . O ruído, por sua vez, fica caracterizado pelos níveis de entendimen-to proveniente da identidade cultural dos atores, mais comunitária que in-dividual, e pela interferência dos meios de comunicação no processo que, certamente, mediante agrupamentos de públicos, buscará a certificação por orientação induzida e espontânea, em uma dinâmica de apropriação das “coisas” vistas e que vemos em fusão de visões .

Antes de findarmos estas considerações, devemos elucidar alguns con-ceitos a cerca desse homem hipermoderno, presente no Processo de Co-municação Todos-Todos, na visão de Lipovetsky (2004, p . 27-28) . Ele diz que os indivíduos hipermodernos são, ao mesmo tempo, mais informados e mais desestruturados, e que a sua principal mudança está no ambiente social e na relação com o presente, um medo que domina em face de um futuro incerto, de uma lógica da globalização que se exerce independente-mente dos indivíduos e de um desenvolvimento desenfreado das tecnolo-gias para a informação e comunicação, entre outros medos . Sobre essa re-lação com as TICs ele se refere a uma vertente social excrescente, desme-surada, “sem limites”, que tem como uma de suas provas a tecnologia e suas transformações vertiginosas em seus mais diversos referenciais “a ga-láxia Internet e seu dilúvio de fluxos numéricos (milhões de sites, bilhões de páginas, trilhões de caracteres, que dobram a cada ano” (2004, p . 55) .

A reorganização social desse homem e seu grupo observa-se a partir dos anos 80 e 90, esta década em especial .

[ . . .] instalou-se um presentismo de segunda geração, subjacente à globalização neoliberal e à revolução in-formática . Essas duas séries de fenômenos se con-

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jugam para “comprimir o espaço-tempo”, elevando a voltagem da lógica da brevidade . De um lado, a mí-dia eletrônica e informática possibilita a informação e os intercâmbios em “tempo real”, criando uma sen-sação de simultaneidade e de imediatez que desvalo-riza sempre mais as formas de espera e lentidão . De outro lado, a ascendência crescente do mercado e do capitalismo financeiro pôs em xeque as visões esta-tais de longo prazo em favor do desempenho a curto prazo, da circulação acelerada dos capitais em escala global, das transições econômicas em ciclos cada vez

mais rápidos . (LIPOVETSKY, 2004, p . 62-63) .

Dito isso, deixamos mais um registro sobre este fenômeno social que, ao nosso entender, interfere substancialmente no Processo de Comunica-ção Todos-Todos . Acreditamos que os indivíduos, famílias e comunidades envolvidas no modelo são interativos e se comunicam extensivamente em cenários hipercontextualizados . “Ela [a hipermodernidade] segue de mãos dadas com a ‘tomada da palavra’, a auto-reflexividade, a crescente conscien-tização dos indivíduos, esta paradoxalmente acentuada pela ação efêmera da mídia” . (2004, p . 76) . Cremos que essa era não se confunde com um “processo sem sujeito”, mas nela residem coletivos capazes de criar uma identidade comunitária como sendo a nova chance de enfrentar esses me-tadesafios e a estes associam-se desafios temáticos das mais diversas natu-rezas, entre eles a temática da saúde, como veremos a seguir .

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8 as ciências da informação e da comunicação e suas aplicações à estratégia saúde da familia

A Ciência da Informação está associada a todas as áreas do conheci-mento, tendo esse avanço tecnológico como aliado . Este avanço possibili-ta, por um lado, o acesso ágil e eficiente às fontes de informação . Por ou-tro, evidencia-se um aumento incontrolável na quantidade de informa-ções que surgem em todos os formatos, principalmente por meio eletrô-nico convergente .

Informar está para o exercício do saber informar por meio de aportes tecnológicos que transcendem os formatos tradicionais de comunicação, dando vazão aos modelos info-tecno-comunicacionais . Assim, saber utili-zar a informação passou a ser um fator determinante no exercício do agir comunicativo do cidadão para a promoção de sua inclusão social e digital, temas que permeiam o cotidiano dos indivíduos, famílias e comunidades, daí a importância de citá-los como facilitadores de uma relação possível com o Programa Saúde da Família .

Têm-se na característica interdisciplinar da Ciência da Informação apre-sentada por Saracevic (1995) o mais forte elo entre a avaliação de contextos diversos da humanidade e a reciprocidade do conhecimento a partir dos processos comunicacionais observados nas interações sociais . Para esse fa-tor, ele orienta que a Ciência da Informação está associada a inúmeras áreas do conhecimento e, por isso, é determinante na sociedade da informação, haja vista a “explosão da informação” que começou na ciência, difundindo-se para outras produções do homem .

uma outra afirmativa, dessa vez indicada por wersig e Neveling (1975), mostra-nos que a Ciência da Informação “é baseada na noção das necessidades de informação de certas pessoas envolvidas em trabalho so-cial, e relacionadas como o estudo de métodos de organização dos proces-sos de comunicação numa forma que atenda estas necessidades de infor-mação” . (p . 17) .

Pinheiro e Loureiro (1995) destacam, ainda, que, “no âmbito da Ciên-cia da Informação, a comunicação pode ser entendida como transferên-cia da informação” . A partir da relação estabelecida por Ingwersen (1992) entre as cinco áreas de concentração da Ciência da Informação, extraímos quatro que avaliamos ter relação direta com a temática: “a idéia da infor-

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mação desejada; a eficácia do sistema de informação e a transferência da informação; a relação entre a informação e o gerador; e a relação entre a in-formação e o usuário” .

Entendemos que todas, sem exceção, aplicam-se aos introdutórios te-óricos que pretendemos estabelecer para o entendimento das inter-rela-ções que nos dispusemos a tecer entre as Ciências da Informação e da Comu nicação .

A interdisciplinaridade acadêmica tem sido a tônica no universo do “saber” . O fato é que tem sido cada vez mais evidente a necessidade do “fa-zer”, associado às áreas do conhecimento, sempre voltadas ao homem . Aqui, em particular, chama-se atenção para as temáticas Informação, Edu-cação e Comunicação, associadas à Cultura e à Saúde Pública – Coletiva . Eis a razão das linhas da humanização, da aproximação e da apropriação pelo sujeito, usadas como tripé delineador para os “pesquisadores do sa-ber fazer” que compõem o Programa Saúde da Família no Brasil, detalha-do mais adiante .

Quando avaliamos esta proximidade entre emissores e receptores do processo de conhecimento coletivo (pesquisadores do saber fazer) em uma intrínseca relação entre a cultura e a sociedade da comunicação, Martín-Barbero nos aponta que

Pensar os processos de comunicação a partir da cul-tura implica deixar de pensá-los desde as disciplinas e os meios . Implica a ruptura com aquela compulsi-va necessidade de definir a ‘disciplina própria’ e com ela a segurança que proporcionava a redução da pro-blemática da comunicação à dos meios . ( . . .) Por ou-tra parte, não se trata de perder de vista os meios, se-não de abrir sua análise às mediações, isto é, às ins-tituições, às organizações e aos sujeitos, às diversas temporalidades sociais e à multiplicidade de matri-zes culturais a partir das quais os meios-tecnologias se constituem . (1985, p . 10) .

A mesma sociedade, estudada a partir da construção do conhecimento em torno da escrita e da oralidade, do saber fazer, via de regra, corrobora a realidade de que:

[ . . .] a expressão novo paradigma vai além do âmbito puramente científico, para se manifestar em vários setores da cultura, inspirando a economia, a política, a educação, a estética, a religião e os cuidados com o corpo e a mente . Seriam então os novos paradigmas científicos uma apresentação de alternativa organi-zadora da cosmovisão da contemporaneidade . (AL-BuQuERQuE, 2002, p . 1) .

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Numa visão hipermoderna, ou tecnológica, constata-se que a dinâmi-ca empregada na elaboração do estudo ora apresentado, ao unir aspectos da Informação, da Educação, e da Comunicação à Cultura e à Saúde Públi-ca, estabelece o que chamamos de integração das ações pré-estabelecidas para o encontro de indivíduos, famílias e comunidades; e estes, num exer-cício diário de contribuir no aprofundamento destas relações simbióticas . Relações estas baseadas em uma parceira responsável entre o Estado-Na-ção e as famílias, em que o primeiro, no seu dever constitucional, assegura e promove condições econômicas e sociais aos direitos a saúde de todas as famílias brasileiras . E, estas, também no seu dever, compartilham do cuidar permanente de sua própria saúde, cujos instrumentais teóricos-metodoló-gicos são balizados pela indissociabilidade entre saúde e informação, edu-cação e comunicação, tão necessárias e importantes ao empoderamento da saúde dos indivíduos, famílias e comunidades assistidas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) .

8.1 O PSF no Brasil: o limiar de um novo tempoDesde logo, abre-se um parêntese para transcrever o que diz o mundo

sobre Atenção Básica à Saúde, antes de falar do que se pensou e do que se fez nesses últimos 13 (treze) anos do Programa de Saúde da Família (PSF) no Brasil .

Na literatura mundial, pouco se encontra a terminologia Atenção Bá-sica à Saúde – seu conceito usual é Atenção Primária à Saúde . E este fato ocorre em função do pacto mundial, realizado em 1978, na cidade de Al-ma-Ata, antiga união Soviética, no qual diversos países fizeram-se presen-tes na Conferência Internacional de Cuidados Primários de Saúde e afir-maram compromissos com a meta de “saúde para todos no ano 2000”, constituindo com isso a Declaração de Alma-Ata .6

Tal evento apontava, também, para a atenção primária como sendo composta de cuidados essenciais de saúde baseados em

[ . . .] métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colo-cadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação”, devendo representar o “primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde . . ., e constituírem o pri-meiro elemento de um continuado processo de as-sistência à saúde . (Carta de Ottawa para a promoção da saúde . OMS, genebra, 1986) .

6 Declaração de Alma-Ata, in: Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde; 6-12 de setembro de 1978; Alma-Ata, uRSS; Organização Mundial de Saúde, Fundo das Na-ções unidades para a Infância .

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Reforçava, para tanto, a saúde como sendo, não a simples ausência de doença, mas o “estado de completo bem-estar físico, mental e social”, trazendo para âmbito formal e internacional aquilo que Marc Lalonde, Ministro da Saúde do Canadá, já vinha apontando como os componentes básicos para a abordagem da saúde dos povos: “a biologia humana, o meio ambiente, o estilo de vida e a organização da atenção à saúde” . (gENTILE, 1999) .

Passados 29 anos do debate em Alma-Ata, Cazaquistão, em 1978, mui-tas foram as iniciativas ao cumprimento do referido pacto, e vários eventos internacionais foram realizados, na perspectiva de reafirmar seus princí-pios, estratégias e compromissos relacionados com o sucesso da saúde da população – compromissos que o mundo viu sendo assinados em diversas cartas e declarações7, destacando a Atenção Primária de Saúde como estra-tégia de garantia da cobertura, da acessibilidade, da capacidade resolutiva (e que a esta pertencesse a um sistema integrado de saúde)8 . Não se encon-tra, portanto, seja no cenário internacional, seja no nacional, um consenso em torno do conceito da Atenção Básica à Saúde . Mesmo assim seus prin-cípios e diretrizes gerais, de caráter planetário, têm sido, nestas últimas dé-cadas, o balizador da formulação da utopia de uma atenção básica, cuida-dosa, resolutiva e qualificada .

Faz-se necessário registrar, de forma resumida, o que diz o país so-bre o conceito da Atenção Básica . Passando antes pelo que afirma Mendes (1999), quando se refere à organização da Atenção Básica à Saúde, no Bra-sil . Segundo ele, a Atenção Básica vem avançando desde 1924, com a cria-ção dos Centros de Saúde9, cuja prática era orientada pela prevenção e pro-moção da saúde, centrada na educação sanitária; e sua expansão vem se dando por ciclos ao longo do século XX .

O primeiro deles inicia-se nos anos 1940, quando da criação do Servi-ço Especial de Saúde Pública10 . O segundo nos anos 1960, nas Secretarias Estaduais de Saúde, com as ações voltadas, prioritariamente, para a assis-tência à mulher e à criança . O terceiro nos anos 1970, com a criação dos programas de extensão de cobertura . O quarto nos anos 1980, com o movi-mento da implantação dos Distritos Sanitários, organizados segundo a ló-gica da territorialização . E o quinto ciclo nos anos 1990, com a criação do Programa de Saúde da Família (PSF) .

Fecha-se o parêntese dizendo que a sociedade tem o dever de elevar o olhar, alargar horizontes de análise e confirmar que somente quatro anos

7 Carta de Bogotá, in: Promoção da Saúde: Carta de Ottawa, Declaração de Adelaide, Declara-ção de Sundsvall, Declaração de Bogotá; Brasília: Ministério da Saúde, 1996 .

8 Encontro dos Ministros da Saúde dos Países Ibero-Americanos; 18-19 de outubro de 1999; Havana, Cuba .

9 Criados em 1924 por geraldo de Paula Souza . 10 Hoje, Fundação Nacional de Saúde .

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depois de implantação do PSF, em novembro de 1998, é que o Ministé-rio da Saúde ousou indagar os demais gestores do Sistema Único de Saú-de (SuS) sobre o que era atenção básica . Publicou, assim, uma portaria11, e lançou o Manual para a Organização da Atenção Básica como resultado de um pacto TRIPARTITE, cujo desafio foi jogar-se ao futuro dizendo os ru-mos desejados que este nível do sistema deveria trilhar .

Com isso, afirmou o seguinte conceito:ATENçãO BÁSICA é um conjunto de ações, de ca-ráter individual ou coletivo, situadas no primeiro ní-vel de atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção da saúde, prevenção de agravos, tratamen-to e reabilitação . Essas ações não se limitam àqueles procedimentos incluídos no grupo Assistência Bási-ca da tabela do SIA/SuS, quando da implantação do Piso de Atenção Básica . A ampliação desse conceito se torna necessária para avançar na direção de um sistema de saúde centrado na qualidade de vida das pessoas e de seu meio ambiente12 . (BRASIL, 1999) .

Conclui-se dizendo que, no Brasil, tem-se claro o conceito da atenção, com ele os princípios e suas diretrizes organizativas; optou-se pelo PSF como a estratégia de (re)estruturá-la .

8.2 O que se pensou com o PSF?Vale recordar que o Programa de Agentes Comunitários do Estado do

Ceará – implantado em 1988, por iniciativa estadual (e outras experiên-cias) – influenciou a concepção teórico-prática do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) . Foi institucionalizado em 1991 pelo Mi-nistério da Saúde, como afirma Sousa (2001) .

O PACS foi desenhado de modo a compor uma etapa de transição para uma estratégia mais abrangente, denominada Programa de Saúde da Famí-lia (PSF), cuja implantação teve início em março de 1994 . Não foi à toa o de-senho originário dos objetivos geral e específicos do PSF, tendo na inserção dos Agentes Comunitários de Saúde – estágio inicial ao enfrentamento e a superação dos nós críticos do SuS .

A memória, sobretudo das dificuldades, às vezes é curta . Entretanto, é preciso repetidamente dizer que os programas Agentes Comunitários de Saúde e Saúde da Família constituem estratégias direcionadas para contri-

11 Portaria n . 3 .925 de 13 de novembro de 1998 que aprova o Manual para Organização da Atenção Básica no Sistema Único de Saúde, considerando as disposições da Lei n 8 .080, de 19 .09 .90, o Art . 5 da Lei n 8 .142, de 28 .12 .90, o art .1 do Decreto n 1 .232, e a portaria gM/MS no 2203, de 05 .11 .96 .

12 Manual para a Organização da Atenção Básica/Secretaria de Assistência à Saúde – Brasília: Ministério da Saúde, 1999 . 40p .

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buir na reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde – universali-zação do acesso, descentralização das ações, integralidade da assistência e participação popular . E que seus objetivos específicos buscam:

prestar, nas unidades de saúde e no domicílio, assistência integral, •contínua, com resolubilidade e boa qualidade às necessidades de saúde da população adscrita;

intervir nos fatores de risco aos quais a população está exposta;•

eleger a família e o seu espaço social como núcleo básico de aborda-•gem no atendimento à saúde;

promover o estabelecimento de parcerias por meio do desenvolvi-•mento de ações intersetoriais;

estimular a organização da comunidade para o efetivo exercício do •controle social, com base no princípio de que a saúde constitui um direito de cidadania e, portanto, de expressão da qualidade de vida (Brasil . MS, 1997) .

É importante mencionar a dificuldade em dar-se conta da dimensão dos processos históricos, quando ainda estamos neles imersos . Entretanto, tem-se a convicção de que, no futuro, o PSF seja base referencial no tocante aos resultados efetivos ao que foi pensando na sua origem – março de 1994 .

À época, dizia-se que ele tinha o caráter substitutivo, não significava a criação de novas estruturas de serviços, exceto em áreas desprovidas, e sim a substituição das práticas convencionais de assistência por um novo pro-cesso de trabalho, cujo eixo estava centrado na vigilância à saúde . Dizia-se ainda que a integralidade e hierarquização colocavam a unidade de Saú-de da Família inserida no primeiro nível de ações e serviços do sistema lo-cal de saúde, denominado Atenção Básica . E que estas deveriam estar vin-culadas à rede de serviços de forma que se garantissem atenção integral aos indivíduos/famílias/comunidades e fossem asseguradas a referência e a contra-referência para os diversos níveis do sistema, sempre que fosse re-querida maior complexidade tecnológica para a resolução de situações ou problemas identificados na atenção básica .

Dizia-se mais: que a territorialização e adscrição da clientela eram con-dições basilares para que as unidades de Saúde da Família pudessem tra-balhar com território de abrangência definido e que fosse responsável pelo cadastramento e acompanhamento da população adscrita a essa área, em que a equipe do PSF fosse responsável pelo acompanhamento de, no má-ximo, 4 .500 pessoas .

Dizia-se, sobretudo, que a equipe multiprofissional, composta por um médico generalista ou médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e por quatro a seis agentes comunitários de saúde era uma equipe nuclear . E que outros profissionais deveriam inserir-se na equipe

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de forma a complementar e ampliar o potencial resolutivo e efetivo das unidades de Saúde da Família . E que as equipes (nucleares e complemen-tares) deveriam estar preparadas para:

conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável, por •meio do cadastramento destas e do diagnóstico de suas característi-cas sociais, demográficas e epidemiológicas;

identificar os problemas de saúde prevalentes e situações de risco às •quais a população está exposta;

elaborar, com a participação da comunidade, um plano local para o •enfrentamento dos determinantes de processo saúde/doença;

prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racio-•nalizada à demanda organizada ou espontânea, na unidade de Saúde da Família, na comunidade, no domicílio e no acompanhamento ao atendimento nos serviços de referência ambulatorial ou hospitalar;

desenvolver ações educativas e intersetoriais para o enfrentamento •dos problemas de saúde identificados .

Seria um triste engano minimizar a importância desses ditos . Os seus sentidos mais profundos eram, ainda é, proporcionar uma base a partir da qual tudo o mais pudesse se ver e resolver . Ainda se ouvem, vez ou outra vozes críticas e céticas com relação à sustentabilidade do PSF no Brasil . Vo-zes que diziam e dizem: “é mais um programa, vertical, agenda do Banco Mundial, proposta pobre – para os pobres [ . . .]” (SOuSA, 2001a) . São vozes equivocadas . Falta-lhes perceber que as estratégias do PACS/PSF, se não responderam, ainda, de imediato, a todos os anseios e problemas do pro-cesso saúde/doença dos indivíduos, famílias e comunidades, dão-se a cha-ve para abrir as portas .

8.3 O que se fez com o PSF?O que os brasileiros conquistaram com o PSF ao longo de mais de uma

década foi, e ainda é, um feito diferente de pensar e fazer saúde . um méto-do de diálogo entre os serviços, seus profissionais e os usuários . Por meio dele uma aproximação mais humana, apontando para o sentido do perten-cimento dos espaços institucionais e comunitários . Repetimos um saudá-vel método de aceitação das diferenças, desde as equipes das unidades de Saúde da Família entre si, na perspectiva da complementaridade, de res-peito ao dissenso, da necessidade de trabalhar de forma integrada, até os membros de cada comunidade por elas cuidada .

Aqui é fundamental insistir no registro: se não todos os investimen-tos feitos nestes 13 anos, ao menos algumas linhas merecem destaques13 . (SOuSA, 2001b) .

13 Vide PSF: a linha do tempo . in: A Cor-Agem do PSF .

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8.4 Na ampliação da coberturaNestes 13 anos de implantação do PSF, sua expansão em número de

equipes atingiu 27 .454 equipes, que cuidam de 87 .916 .762 milhões de pes-soas, representando 46,7% de cobertura populacional, o que indica cuidar o mais perto de indivíduos, famílias e comunidades que, historicamente, não tiveram acesso aos bens de serviços e ações do setor saúde; além de contar nas equipes com 221 .381 Agentes Comunitários de Saúde, sujeitos das comunidades que acompanham hoje 110 .804 .875 pessoas, o que signi-fica 58,9% de indivíduos em todo o território nacional14 .

E esse acesso aos poucos chega aos grandes centros urbanos, aos mu-nicípios acima de 100 mil habitantes e, principalmente, às capitais, que vêm assumindo o compromisso de re-estruturar a Atenção Básica à Saú-de, na lógica organizativa do PSF . A entrada nesses espaços demonstra um tempo de crescimento sustentado, pujante e integrado a redes organizati-vas do Sistema Único de Saúde no Brasil .

8.5 No capital humanoA necessidade de qualificar para o trabalho as equipes envolvidas na

operacionalização da estratégia de Saúde da Família levou a Coordenação de Saúde da Comunidade/Ministério da Saúde a promover, a partir de no-vembro de 1997, a implantação de Pólos de Formação, Capacitação e Edu-cação Permanente para o pessoal do PSF .

Vinculados em geral às universidades, os Pólos tinham como tarefa central articular uma ou mais instituições voltadas para a formação, capa-citação e educação permanente de recursos humanos para a saúde . Desen-volveram projetos voltados para os profissionais atuantes em unidades de Saúde da Família mediante convênios/contratos de metas com as Secreta-rias de Saúde de estados e municípios .

8.6 Outros investimentosAs questões relativas à formação de redes de parceiros, à formulação

de tecnologias avaliativas e gerenciais, aplicadas ao PSF, transcendem nos-sa capacidade de relato e ou análise, dada sua riqueza singular . Entretan-to, podem-se citar algumas ações que, julgamos, foram, e são, essenciais ao elenco dos investimentos do PSF em sua trajetória de 13 anos de existência .

8.6.1 No campo políticoA integração e a articulação de esforços e definição de atribuições e

responsabilidades nos três níveis de governo, onde são pactuados princí-

14 Dados referentes ao mês de Julho de 2007 . Fonte: Sistema de Informação da Atenção Bási-ca – SIAB - MS/SAS/DAB .

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pios, diretrizes e decisões operacionais . A descentralização decisória e ope-racional, concomitante à provisão de assessoria técnica aos níveis estaduais e municipais, têm sido fundamentais para presidir essa descentralização e sustentar a integração e articulação, sem prejuízo das funções e competên-cias normativas e regulatórias do Ministério da Saúde .

8.6.2 No campo técnico-gerencialO Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB), desenvolvido pelo

Departamento de Informática do SuS (DATASuS), agrega e processa as informações sobre a população visitada pelas equipes do PSF, em cada mi-croárea trabalhada .

Seus instrumentos mais utilizados são as fichas de acompanhamento de gestantes e de crianças, de registro de atividades, procedimentos e no-tificações, os relatórios de cadastramento de famílias/ano e de produção e marcadores para avaliação . Se o município adota outro modelo de atenção que envolva o critério de adscrição da clientela por microáreas e/ou áreas, bem como o cadastro de famílias, podem ser utilizadas partes dos instru-mentos do SIAB .

Assim, o SIAB, e todo movimento direcionado à sua construção e im-plementação, tem se orientado pelo sentido de oportunidade, adequação, integralidade e atualidade da informação, para que ele seja, de fato, uma ferramenta eficaz para as equipes que gerenciam os sistema locais de saú-de, para os profissionais que prestam atenção à saúde nos diversos níveis, especialmente as equipes de Saúde da Família, como também para a popu-lação, que poderá se utilizar do sistema como instrumento de controle so-cial das ações e serviços de saúde a ela direcionados .

8.6.3 No campo socialEstratégia desta envergadura não poderia ser construída sem fortes e

sustentadas parcerias, internas (diversos setores do Ministério da Saúde) e externas, considerando as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, além de instituições e organizações não governamentais, citando alguns exemplos: uNICEF, OPAS, terceiro setor e empresas privadas que aumenta-ram o capital de legitimidade e respeitabilidade do PSF no Brasil e de sua imagem mundo afora .

Por esses e tantos outros investimentos, arrisca-se dizer que o caminho ainda é longo, mas sabemos que existem condições de percorrê-lo . E mais: que estes 13 anos de implantação do PSF indicam que se chegou no limiar de um novo tempo, no qual, os sujeitos, mesclados pela paixão, fazem e conjugam alguns valores, desde a vontade política até o conhecimento téc-nico, ditos em suas vozes pelo Brasil .

Nessa direção, é imperativo, no momento atual, que as Ciências da Saúde, por meio da estratégia Saúde da Família, e as Ciências da Informa-

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ção e da Comunicação possam dialogar de forma integrada . E que esse diá-logo seja direcionado a serviço da democratização do conhecimento sobre a saúde das famílias . Esse conhecimento deve ser tomado como uma refe-rência ao direito à informação, sendo este fundamental para que a popu-lação possa participar da tomada de decisão sobre as políticas de saúde e o seu controle social .

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