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Realização: Apoio: TÍTULO: PROCEDIMENTO ESTRATÉGICOS E TÁTICOS PARA LEITURA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS CONTEXTOS TERRITORIAIS E URBANOS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS SUBÁREA: Arquitetura e Urbanismo INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFES AUTOR(ES): MARIANA CHAGAS PARMANHANI ORIENTADOR(ES): MILTON ESTEVES JUNIOR

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  • Realização: Apoio:

    TÍTULO: PROCEDIMENTO ESTRATÉGICOS E TÁTICOS PARA LEITURA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOSCONTEXTOS TERRITORIAIS E URBANOS

    CATEGORIA: CONCLUÍDO

    ÁREA: CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS

    SUBÁREA: Arquitetura e Urbanismo

    INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFES

    AUTOR(ES): MARIANA CHAGAS PARMANHANI

    ORIENTADOR(ES): MILTON ESTEVES JUNIOR

  • 1) RESUMO

    O presente subprojeto de pesquisa investigou questões relativas à construção do

    território - entendido aqui tanto nos seus aspectos físicos quanto imaterial –em suas

    relações nos processos de subjetivação-. Isso corresponde ao mapeamento e à

    compreensão do território bem como os processos urbanos contemporâneos

    superando-se formas reducionistas e sublimando-se métodos de leitura e (inter)ação

    sobre/com o território. Dessa forma, a pesquisa pautou-se em conceituações

    estratégicas e procedimentos táticos empreendidos pela situlogia, psicogeografia e

    deriva, e instrumentada pela fenomenologia e etnografia que nortearam a

    investigação de modo a estimular uma aproximação pesquisador/cidadão-território.

    Com base nessas ferramentas investigativas que tendem à experimentação,

    definiu-se o morro do Jaburu, em Vitória, o objeto de estudo empírico, onde foi

    realizada uma série de experimentações fenomênicas e de derivas. O processo

    cartográfico apresenta-se como produto final, o qual deve ser entendido como um

    procedimento que foi sendo construído de modo associativo com as subsequentes

    etapas da pesquisa, sendo entendido, também, como parte inerente de cada uma

    dessas etapas. Por fim, averiguou-se a validade dos métodos adotados e sua

    contribuição na atualização dos dispositivos técnicos, conceituais e metodológicos

    relativos à análise, à produção e à projetação urbana e do território.

    Palavras chave: Análise urbana; Contextos territoriais; Situlogia e Fenomenologia;

    Produção do Território e do Urbano.

    2) INTRODUÇÃO

    A cidade é “a mais consistente e, no geral, a mais bem sucedida tentativa do homem

    de refazer o mundo onde vive de acordo com o desejo de seu coração” (PARK,

    1967, apud HARVEY, 2009, p.1). De acordo com essa lógica, se por alguma razão a

    cidade não mais atender aos desejos dos homens, então ela deveria ser

    reformulada, repensada. Por outro lado, nota-se que o crescimento das cidades

    acontece de modo cada vez mais acelerado e descontrolado: segundo Harvey

    (2004), no início dos anos 2000, 80% da população mundial vivem nas cidades (no

    começo do século XX eram apenas 7%); no século XXI já são mais de 500 cidades

  • com mais de 1 milhão de habitantes, 4 delas passam dos 20 milhões e cerca de 20

    passam dos 10 milhões (em sua maioria situadas nos países em vias de

    desenvolvimento). Para atualização desses dados, cabe mencionar o Relatório

    Demografia das Áreas Urbanas do Mundo (2019), do centro de estudos urbanos

    americano Demographia, há 11 cidades com população superior a 20 milhões de

    habitantes e 38 megacidades (áreas urbanas com população superior a 10 milhões),

    sendo que a área urbana mais populosa do mundo (Tóquio-Yokohama), com 38,5mi

    de habitantes, e a 20ª (Buenos Aires), com 15mi. Tal onda de urbanização vem

    gerando desafios para habitantes e para profissionais dedicados à produção do

    território e à projetação urbana, desafios não mais possíveis de serem enfrentados

    pela utopia transformadora do urbanismo tradicional modernista. Isso nos coloca

    num “beco sem saída” (JAMESON, 2015, p.190).

    Frente a tantos desafios, a presente pesquisa buscou responder a uma difícil

    questão: como mapear, no sentido de diagnosticar, analisar e expressar, os atuais

    contextos urbanos e as configurações territoriais contemporâneas considerando-se

    sua natureza mutante, complexa e híbrida? Quais os procedimentos estratégicos e

    táticos disponíveis e adequados para garantir eficácia à leitura, a análise e a

    interpretação dos contextos territoriais e urbanos atuais?

    Para confrontar as questões apresentadas, foram utilizados instrumentos oriundos

    de interlocuções com outros campos do saber, com foco na questão urbana e na

    construção do território, para a constituição de “uma rede transversal de

    perspectivas catalisadoras da produção criativa em prol de novas formas de pensar

    e construir a urbe”, alinhando-se com o projeto de pesquisa [CON]TEXTOS

    URBANOS (dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/9343396825892179). É necessário

    salientar, todavia, que esta pesquisa não almeja respostas objetivas a problemáticas

    tão complexas, mas dispõe-se a investigar teorias e indicar experimentações

    possíveis – já utilizados e atestados por outros autores e pesquisadores investigados

    –, ressignificando-os de modo a atingir um dos seus principais objetivos: instigar

    métodos, instrumentos e procedimentos que suscitem processos de subjetivação

    nas relações território / pesquisador.

  • 3) OBJETIVOS

    Este subprojeto teve por objetivo geral contribuir para o entendimento, a análise e a

    interpretação das configurações urbanas e territoriais contemporâneas, visando: 1] a

    atualização dos dispositivos técnicos, conceituais e metodológicos relativos leitura e

    apreensão dos modos de produção do território; 2] o aperfeiçoamento do repertório

    teórico-conceitual dedicado à análise urbana; 3] promover táticas mais coerentes

    com os atuais contextos urbanos, que sejam contemplativas quanto às

    complexidades enfrentadas pela urbe contemporânea e, por consequente, pelos

    cidadãos e produtores de cidade, de modo a garantir territórios aparelhados com os

    direitos humanos e cidadãos.

    Dentre os objetivos específicos, destacaram-se: 1] investigar e sistematizar

    estratégias e táticas capazes de promover formas coerentes de leitura, análise e

    interpretação dos contextos territoriais e urbanos atuais; 2] desvencilhar a análise

    urbana de ferramentas metodológicas reducionistas, de conhecimentos previamente

    consolidados e de procedimentos meramente descritivos ou transcritivos dos valores

    formais do território; 3] estimular estudos investigativos (retrospectivos) e

    desdobramentos analíticos (prospectivos) que promovam o contato direto entre

    pesquisadores e território e suas territorialidades.

    4) METODOLOGIA

    A partir da problemática levantada, deu-se início à investigação teórica e à seleção e

    sistematização dos referenciais bibliográficos (por meio de leitura e fichamento de

    textos considerados relevantes). Dentre inúmeras linhas teóricas plausíveis,

    optou-se por conceituações (estratégicas) e procedimentos (táticos) explorados pela

    Internacional Situacionista, tais como a psicogeografia, a situlogia e a deriva, bem

    como da fenomenologia e da etnografia.

    Quanto aos instrumentos estratégicos/táticos concebidos e praticados pela

    Internacional Situacionista destacam-se: a psicogeografia, que trata de avaliar “[...]

    os efeitos do meio ambiente (físico e social, conscientemente ordenado ou não)

    sobre o comportamento afetivo e os sistemas cognitivo e perceptivo dos indivíduos,

  • assim como sua influência na formação do perfil psicológico e da índole desses

    mesmos indivíduos.” (ESTEVES, 2002); a situlogia, cujo preceito é pautado na

    analisis situs, na unicidade de cada lugar, o que, por conseguinte, nega a

    automatização e a superficialização nos processos de avaliação e interpretação do

    território; a deriva, entendida como procedimento tático que permite a aplicação

    prática dos citados instrumentos e pressupõe uma aproximação do pesquisador com

    o território, de modo a subsidiar uma relação de intimidade entre os dois. Esse

    conjunto pretende liberar o processo cartográfico (lato sensu) limitações via de regra

    estabelecidas pelos valores formais do urbanismo tradicional, regido pela

    historicização e automatização da cotidianidade e pelos excessos midiáticos.

    A fenomenologia, por sua vez, é um procedimento estratégico/tático fortemente

    relacionado com as ferramentas situacionistas ao sugerir experimentações

    fenomênicas, do mesmo modo como as que constituem a deriva. Para sintetizar a

    fenomenologia, cita-se um dos principais autores que contribuíram para esse tema:

    Sendo totalidades qualitativas de natureza complexa, os lugares não podem

    ser definidos por meio de conceitos analíticos, “científicos”. Por uma

    questão de princípio, a ciência “abstrai” o que é dado para chegar a um

    conhecimento neutro e “objetivo”. No entanto, isso perde de vista o

    mundo-da-vida cotidiana, que deveria ser a verdadeira preocupação do

    homem em geral e dos planejadores e arquitetos em particular. Felizmente,

    há uma saída para o impasse, o método chamado de fenomenologia, a

    fenomenologia foi concebida como um “retorno às coisas” em oposição a

    abstrações e construções mentais (NORBERG-SCHULZ, apud NESBITT,

    2008, P. 445).

    A fenomenologia foi utilizada como ferramenta durante as etapas de aproximação

    para leitura e de interpretação do território, objetivando-se uma experimentação do

    lugar desprovida de valores reducionistas e formalistas fornecidos pelo domínio da

    visão –que incitam o distanciamento entre pesquisador / objeto–, e priorizando-se

    uma vivificação do território com todos os sentidos ativos. Desse modo, pretende-se

    uma conexão mais íntima e verdadeira entre pesquisador e território, incluindo-se

    aqueles que o habitam; pretende-se que o pesquisador se insira como integrante do

    seu objeto de pesquisa por meio de uma relação dialética corpo-espaço. Essa

  • postura remete diretamente aos princípios da psicogeografia que, como vimos, visa

    uma avaliação dos efeitos do meio ambiente sobre os indivíduos ao indicar a

    atuação mútua que ocorre entre eles.

    Após entender o território e entendendo-se nele, lançou-se mão da etnografia,

    conceito derivado da Antropologia e que consiste na análise dos comportamentos e

    dos modos de vida de determinados grupos sociais, estudando-os dentro dos

    contextos referenciais em que os mesmos estão inseridos. Ou seja, trata-se de

    desenvolver tal análise por meio das interações de diversas variáveis inerentes aos

    contextos onde se desenvolvem as relações intersubjetivas e a vida cotidiana dos

    sujeitos – individuais e coletivos.

    Essa linha de pesquisa evidenciou outros dispositivos utilizados por autores

    relevantes que apontam para o entendimento da ideia de que “cartografar é

    acompanhar processos” (KASTRUP e BARROS, 2015). Evidenciou, também,

    trabalhos como “Cartografia Sentimental: transformações contemporâneas do

    desejo”, que entende a cartografia como dispositivo capaz de “dar língua a afetos

    que pedem passagem” (ROLNIK, 2007, p.23). Para a autora, o cartógrafo é, antes

    de tudo, um antropófago que se serve das mais diversas fontes presentes no

    território para apropriar-se delas, para devorá-las e, posteriormente, desovar seus

    próprias cartografias. Para Amador e Fonseca (2009, p.34), o cartógrafo deve

    atentar-se para “uma permanente modulação do problema, uma postura de abertura

    às forças que forçam a pensar”.

    5) DESENVOLVIMENTO

    Durante a etapa de leitura e fichamento dos referidos referenciais bibliográficos, foi

    definida como território de estudo o morro do Jaburu, na cidade de Vitória, devido: à

    sua configuração territorial complexa, expressa pela geomorfologia do território e

    pelas consequentes relações entre esta e os critérios arquitetônicos e urbanísticos

    adotados para a configuração urbana; à sua localização tangente a duas avenidas

    de conectividade metropolitana, o que por um lado estabelece uma espécie de

    fronteira que isola o morro e por outro permite a conexão entre aquela unidade de

    vizinhança e os contextos urbano e metropolitano; e à vivacidade das

  • territorialidades estabelecidas naquele território, expressa pelas interações entre

    seus moradores e deles com seu bairro, diferentemente do que via de regra se

    encontra na cidade planejada com suas ruas concebidas para o fluxo e a velocidade.

    É importante ressaltar que, uma vez adotada a postura de cartógrafo, todas as

    etapas envolvidas no projeto de pesquisa foram realizadas de modo associativo, isso

    é, sem seguir uma ordem cronológica ou sequencial, para assim permitir desejáveis

    e constantes interações entre elas. Concomitante e consequentemente às

    investigações teórico-conceituais, realizou-se uma série de derivas e

    experimentações fenomênicas objetivando-se uma aproximação pesquisador-objeto,

    entendendo-se por objeto o território –em sua concreticidade material/espacial– e

    suas territorialidades –as espacialidades constituídas pelos modos de apropriação

    das pessoas que ali habitam–. Nos intervalos entre as leituras verbais (com recursos

    textuais) e leituras do não verbal (entendido com mensagens emitidas pelas relações

    entre sujeitos e espacialidades), realizaram-se várias discussões entre os

    integrantes do grupo de estudos que resultaram em reflexões sobre os insumos

    teóricos e sobre os resultados das experiências.

    E para atender ao objetivo de se compreender a relação das pessoas com seu

    território, usou-se como ferramenta a captura de imagens fotográficas por meio de

    exercícios com os próprios moradores, seguindo-se, assim, um viés etnográfico.

    Para fugir de comportamentos pautados na presunção de um domínio da pesquisa

    conduzida no sentido vertical (de cima para baixo) e constituída por conhecimentos

    consolidados e preconceituados, estabeleceu-se que o manejo do equipamento

    fotográfico seria praticado pelos moradores, para que eles escolhessem como e

    onde processar suas próprias fotos e, consequentemente, para que pudéssemos

    captar o olhar dos mesmos sobre o território que ocupam. O grupo selecionado para

    participar de tal procedimento era composto por crianças, por entender-se que estas

    têm uma visão lúdica sobre o mundo, desprovida de juízos de valores e de

    convencionalismos culturais normalmente presentes na visão de mundo séria dos

    adultos. A única orientação dada foi para que fotografassem lugares que gostassem

    em seu bairro. Essa atividade foi assistida par e passo pelos pesquisadores,

  • acompanhada por gravações de áudio de modo a registrar cada um dos fotógrafos

    para que contassem por quê escolheram aqueles locais para aquelas fotos.

    Essa fase tática permitiu importantes deduções no que se refere à experiência

    fenomênica/etnográfica para apreciação das relações entre pesquisadores e

    moradores bem como destes com o território, além de uma avaliação do papel do

    cartógrafo na elaboração do mapeamento entendido como somatória resultante de

    todas as fases do processo –concepção, organização, elaboração, efetivação no

    território, discussões, reflexões...–.

    6) RESULTADOS

    Conforme comentado anteriormente, as etapas para realização da pesquisa não

    seguiram uma ordem sequencial rígida, de modo a permitir que as teorias e as

    práticas pudessem interagir constante e dialeticamente. A própria investigação

    teórica indicava a necessidade de adoção de estratégias e de táticas experimentais,

    ou seja, de experimentações fenomênicas no território. Estas se desdobraram na

    forma de derivas, de conversas com os moradores e também da citada atividade

    envolvendo registros fotográficos num viés etnográfico. Enquanto se desenrolava

    todo esse processo, desde o início entendido como cartografia, realizaram-se

    diversos tipos de registros: 1] registros textuais - fichamentos das leituras críticas e

    relatórios de diferentes formatos sobre as derivas e demais experimentações

    realizadas; e 2] registros audiovisuais, incluindo fotografias efetuadas por crianças

    do morro do Jaburu e gravações de áudio para registrar as intenções das fotos.

    Seguindo a postura do cartógrafo conforme sugere Suely Rolnik, exalta-se a

    natureza processual da cartografia aqui adotada, o que implica na renúncia de

    meros “resultado final” da pesquisa para enunciação de uma cartografia capaz de

    documentar cada uma das fases de todo o processo. É necessário destacar que o

    presente subprojeto deriva de um processo de subjetivação que vem acontecendo

    há muito, mais precisamente desde a escolha pelo curso de arquitetura e urbanismo

    e que parece culminar a cada enunciação das cartografias elaboradas nesta

    oportunidade. Durante o período de um ano da Iniciação Científica, produziu-se

    muito mais do que poderia caber neste documento escrito, sendo ele próprio

  • entendido como cartografia. Isto posto, segue apenas um exemplo de registro

    relevante para a construção do presente trabalho - parte de registro fotográfico da

    experimentação etnográfica realizada com crianças do morro do Jaburu:

    (1) (2)

    Figuras 1 e 2. Registro fotográfico efetuado no Parque do Bem (1) e no corrimão ao lado do mirante

    (2), espaços residuais transformados pelas crianças em parquinho.

    (3) (4)

    Figuras 3 e 4. Registros fotográficos efetuados no Mirante de Jaburu (3), o “oficial”, com destaque

    para a vista que se tem a partir dele e para a lateral de sua estrutura (à direita na foto), e em um outro

    mirante considerado “informal” (4) onde as crianças gostam de brincar.

    (5) (6)

  • Figuras 5 e 6. Registros fotográficos efetuados em instalações realizadas pelos moradores: (5) uma

    série de garrafas PETs pintadas e fincadas na grama (registradas por uma criança que participou da

    instalação); e (6) jardim comunitário.

    7) CONSIDERAÇÕES FINAIS

    O urbanismo tradicional não tem demonstrado eficiência para resolver as atuais

    questões relativas à produção do território e à projetação urbana, o alcance destes é

    reducionista quando limitados às questões formais (ignorando problemas estruturais)

    e quando não envolvem a participação daqueles que usufruem da cidade ao

    produzirem as territorialidades. Quando limitados, são incoerentes com a natureza

    mutante, híbrida e complexa inerente ao acelerado crescimento das cidades.

    Acreditamos que é imprudente a proposição de um modelo para a projetação do

    território, isso corresponderia à adoção de um caminho oposto ao que propõem os

    conceitos da Internacional Situacionista. Por isso, aposta-se, aqui, no “consciente

    desapego a todo e qualquer modelo”, entendendo-se que antes de qualquer

    proposta, o urbanista (por formação, por vivência, por condição de urbanita) deve

    entregar-se ao território, penetrá-lo para com ele interagir; deve estar praticar uma

    espécie de imersão com todos os sentidos atentos para, após perceber e interpretar

    as prerrogativas do território, sentir-se apto a atuar em sua produção e projetação. É

    preciso ser cartógrafo e, antes de tudo, antropófago: devorador de fontes de

    informações primárias (visíveis e táteis) e secundárias (imateriais e subjetivas)

    presentes no território e na formação de suas territorialidades.

    A metodologia estabelecida pelos referenciais teóricos e conceituais que se

    somaram à –e derivaram na– realização de experimentações fenomênicas tornaram

    possível aproximações diretas entre o trinômio pesquisadores / território /

    moradores, viabilizando um entendimento para além de formalismos acerca do

    objeto de estudo, fundamentando as necessárias fases de leitura, análise e

    interpretação de modo coerente aos contextos territoriais e urbanos analisados.

    Conclui-se, dessa forma, que ficou atestada a eficiência e a legitimidade dos

    métodos e procedimentos propostos para a pesquisa, que contribuíram para uma

    validação e atualização do repertório teórico-conceitual e indicaram eficientes

  • dispositivos técnicos e táticos para uma adequada apreciação das configurações

    territoriais contemporâneas, bem como dos atuais modos de produção do território e

    dos ambientes da vida urbana.

    8) FONTES CONSULTADAS

    AMADOR, F.; FONSECA, T. M. G. Da intuição como método filosófico à cartografia como método de pesquisa: considerações sobre o exercício cognitivo do cartógrafo. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro, v. 61, n. 1, p. 30-37, abr. 2009. Disponível em . Acesso em 27 fev. 2019

    DEMOGRAPHIA. Relatório Demografia das Áreas Urbanas do Mundo. 2019. Disponível na Internet via http://demographia.com/db-worldua.pdf. Arquivo capturado em 05 de jul. 2019.

    ESTEVES, M. Jr. “Psicogeografia e situlogia: premissas e alternativas experimentais”. In DEL RIO, V., DUARTE, C. e RHEINGANTZ, P. (orgs.): Projeto do lugar: colaboração entre psicologia, arquitetura e urbanismo. Rio de Janeiro, Contra Capa Livraria / PROARQ, 2002.

    HARVEY, D.; ALFREDO, A.; SCHOR, T.; BOECHAT, C. “A liberdade da cidade” in GEOUSP: Espaço e Tempo (Online), n. 26, p. 09-18, 30 dez. 2009. Disponível em . Acesso em 27 fev. 2019

    HARVEY, D. “Mundos Urbanos Posibles”, in RAMOS, Á. M. (org.): Lo urbano en 20 autores contemporâneos. Barcelona: UPC, 2004.

    JAMESON, F. “A cidade futura” in SYKES, K. A. (org.): O campo ampliado da arquitetura: antologia teórica 1993-2009. São Paulo: Cosac Naify, 2013. p. 189-204.

    KASTRUP, V.; POZZANA de BARROS, L. Cartografar é acompanhar processos. In: PASSOS, E.; KASTRUP, V.; ESCÓSSIA, L. (Orgs.). Pistas do método da Cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. 4. ed. Porto Alegre: Sulina/Editora da UFRGS, 2015. Cap. 3. p. 52-75.

    NORBERG-SCHULZ, C. “O fenômeno do lugar”. In NESBITT, K. (Org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: CosacNaify, 2008.

    ROLNIK, S. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. 1.ed. Porto Alegre: Sulina/Editora da UFRGS, 2007.

    http://demographia.com/db-worldua.pdf