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PROAM-Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental Av. Brigadeiro Faria Lima 1811 - cj. 127 - Jd. Paulistano – São Paulo-SP CEP 01451-001 tel (11) 3814-8715 e-mail: [email protected] www.proam.org.br

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PROAM-Instituto Brasileiro de Proteção AmbientalAv. Brigadeiro Faria Lima 1811 - cj. 127 - Jd. Paulistano – São Paulo-SP

CEP 01451-001 tel (11) 3814-8715 e-mail: [email protected]

www.proam.org.br

HOLOCENO ANTROPOCENO

O contexto exige políticas preventivas e corretivas para a sustentabilidade.

Para promover a discussão sobre o licenciamento ambiental no Brasil será preciso considerar o contexto

civilizatório:

Capacidade de suporte: concentração populacional e atividades humanas

ESTUDOS DE CAPACIDADE DE SUPORTE DOS ECOSSISTEMAS O cálculo da área necessária para o abastecimento do consumo é dada pela capacidade de carga do planeta: “(...) a

capacidade de carga se refere especificamente à carga máxima que pode ser, segura e persistentemente, imposta ao meio ambiente pela sociedade” (BELLEN, 2005 apud CATTON, 1986)

INDICADORES AMBIENTAIS ATUALIZADOS COM VALIDAÇÃO CIENTÍFICA

Para promover a discussão sobre o licenciamento ambiental no Brasil será preciso considerar:

Mudança de Paradigma e Business as Usual

“Os homens no comando das grandes organizações econômicas sabem perfeitamente que o aquecimento global é extremamente perigoso, mas eles se encontram numa espécie de contradição institucional pois sua função é maximizar o lucro em curto prazo. Se eles não fizerem alguém o fará, se eles não fizerem vão para a rua e outro entrará e falo-á, então essa não é uma escolha que vai acontecer nas grandes instituições. Eles poderão saber que estão hipotecando o futuro de seus netos e que provavelmente tudo o que possuem será destruído, mas eles se encontram nessa armadilha institucional – e é isso que acontece em sistema de mercado”.

Noam ChonskyMassachusetts Institute of Tecnology

Observações sobre o contexto atual e as iniciativas no Congresso Nacional

1 - No contexto atual, a função do governo jamais poderá ser de mero gestor de conflitos. Ex: o caso de revisão dos padrões de qualidade do ar no Conama.

2 - Também não poderá o governo associar-se, em busca de PIB, à iniciativas econômicas – perde-se a isonomia no licenciamento e perpetua-se o business as usual (falso dilema entre ciência X economia).

3 – Avaliação do substitutivo do PL 3729/2004 e demais apensados, em tramitação no Congresso Nacional.

O PL 3729/2004 é um grave retrocesso no licenciamento ambiental. Gestão participativa – não tangencia o planejamento.

Uma das principais frentes de atuação da cidadania organizada na área ambiental é o acompanhamento dos licenciamentos ambientais, em especial dos empreendimentos que interferem diretamente na vida das pessoas e em parcelas ou regiões do território, por exemplo, por meio de obras viárias, hidrelétricas, portuárias, entre outras....

O substitutivo do PL 3.729/2004, em discussão no Congresso Nacional, apresenta dispositivos prejudiciais ao licenciamento e ao seu controle social. Ao invés de evoluir, o substitutivo retrocede. Ao invés da busca da qualidade e eficiência, investe-se mais na cultura de flexibilização e celeridade, em prejuízo da qualidade e consistência das decisões.

Destacamos alguns exemplos a seguir, iniciando por alguns aspectos gerais: I - Anistia a empreendimentos irregularesArt. 1º do PL dispõe também sobre o licenciamento corretivo de empreendimentos irregulares; o que abre um campo imenso de regularização e consolidação indevida de empreendimentos ambientalmente indesejáveis. II – Lei Complementar 140O § 1º do artigo 1º ressalta o embasamento da proposta na Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011, no entanto, a discussão sobre a sua constitucionalidade precisa ser abordada criticamente pelos ministérios públicos.

III – Revogação de resoluções do ConamaO § 2º do artigo 1º estabelece que “As resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que se referem a licenciamento ambiental, editadas no uso das atribuições normativas do órgão colegiado estabelecidas pelo art. 8º da Lei nº 6.938, de 1981, são aplicáveis naquilo que não contrariarem esta Lei” - o que representa nada mais de uma revogação tácita de todas as normas do Conama que se relacionam ao tema – enquanto que, em nosso entendimento, o aprimoramento do licenciamento ambiental no Brasil deveria ter como foro privilegiado o próprio Conama, por sua notória especialização sobre a matéria.  IV – Revoga dispositivos de responsabilização do agente públicoO art. 44 (item II) revoga o parágrafo único do art. 67 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Trata-se de flagrante promoção de impunidade, como se fosse admitida a oficialização de burlas (trata-se de punir o funcionário público com prisão por falsas informações).

V - Sobre as definições contidas no PL 3729/2004: Definições legalmente conflitantes e insuficientemente fundamentadas que viciam o conjunto da proposta. (os dispositivos do PL são construídos a partir das suas definições e este fato prejudica o seu conjunto tornando necessário um novo substitutivo integral). Alguns exemplos mais graves:

PL - Artigo 2º, V – degradação do meio ambiente: alteração adversa das características físicas, químicas, bióticas ou socioeconômicas do meio ambiente;A definição cria distorção e conflito com a Lei 6.938/81- Política Nacional do Meio Ambiente: a definição da Lei 6.938/81 é um dos alicerces do direito ambiental brasileiro e fundamento central para a reparação de danos ambientais. Vejamos o que dispõe a Lei 6938/81:Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. 

• PL- Artigo 2º, X – impacto ambiental: o resultado do balanço entre os efeitos ambientais adversos e benéficos causados por um empreendimento, considerando o funcionamento dos ecossistemas e a qualidade dos recursos ambientais, a biodiversidade, as atividades sociais e econômicas, a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

• - Conflito com a Resolução Conama 01/86: há uma incompatibilidade entre os textos – A Conama 01/86 foi criada com base na Lei 6.938/81, a qual foi recepcionada pela constituição de 1988.

• O conceito de “impacto ambiental” proposto é inadequado e se assemelha a uma síntese do que seria o significado das conclusões de uma avaliação de viabilidade ambiental dos empreendimentos.

• Observamos que a respectiva definição do artigo 1º da Resolução Conama 01/86 deve ser respeitada e adotada como referência:

• Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

• II - as atividades sociais e econômicas; • III - a biota; • IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; • V - a qualidade dos recursos ambientais.

• PL - Art.2º, XIV – resiliência: capacidade de depuração e regeneração do ambiente após eventos de degradação, sem que suas funções ecológicas sejam comprometidas de forma irreversível.

• A definição é insuficiente e inadequada no contexto proposto. A aplicação desta definição para fins da escolha prévia de modalidade de licenciamento da forma estabelecida no PL é muito discutível (graus alto, médio e baixo), e deve ser objeto de avaliação crítica da comunidade científica.

• VI - Simplificação do licenciamento• Vários dispositivos abrem espaço para o licenciamento simplificado e para o

órgão ambiental arbitrar a condução do licenciamento, sem critérios transparentes, o que faz com que os estudos e avaliações de impacto ambiental tendam a perder qualidade e deixem de cumprir as funções básicas do licenciar (contar com a participação da sociedade, evitar e minimizar impactos negativos, protegendo o meio ambiente).

• Os artigos 8º , 9º , 10º e 19º do PL , entre outros dispositivos, que em parte se baseiam nas matrizes do ANEXO I (ver abaixo) estão prejudicadas inclusive em função desta definição:

• ANEXO I• POTENCIAL DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL• MATRIZ 1: EMPREENDIMENTO DE PEQUENO PORTE• MATRIZ 2: EMPREENDIMENTO DE MÉDIO PORTE• MATRIZ 3: EMPREENDIMENTO DE GRANDE PORTE• Os critérios se mostram genéricos e passíveis de muita subjetividade e

distorção (Impacto ambiental esperado da categoria do empreendimento: baixo, médio e alto; e Grau de resiliência da área: frágil; baixa, média e alta).

• A avaliação com base nos mesmos tenderá à generalização, superficialidade e distorção, além de não considerar impactos cumulativos e sinérgicos, sendo importante lembrar que pequenos impactos de empreendimentos, dependendo do contexto em análise, podem apresentar uma grande relevância e significado do ponto de vista ambiental, especialmente pelo seu efeito conjunto no território.

• O PL 3729/2004 promove o licenciamento simplificado, com substituição do EIA por estudos de menor complexidade e permite a eliminação de etapas do licenciamento (art. 8º, §7º e § 8º; art. 9º e art. 12, do PL).

• No conjunto, observa-se que o PL 3729/2004 confere um poder desproporcional de decisão ao órgão licenciador, em relação à diferentes aspectos e etapas do licenciamento, sem que haja ampliação concomitante dos mecanismos de controle social.

• Art. 8º, § 7º: A LI ou a LO poderá ser dispensada nos casos em que o tipo da licença for incompatível com a natureza da atividade.

• Art. 8º, § 8º: A LP poderá ser dispensada quando o grau de detalhamento do projeto for suficiente para que a autoridade licenciadora avalie os requisitos para emissão direta da LI, exigindo-se, minimamente, projeto executivo.

• Art. 9º O empreendimento não abrangido pelo art. 8º desta Lei será submetido a processo simplificado de licenciamento, com a substituição da elaboração de EIA por outro estudo ambiental menos complexo ou o fornecimento de informações específicas, e a fusão das três etapas de licenciamento em duas ou uma única, a critério da autoridade licenciadora.

• Art. 12. A autoridade licenciadora deve estabelecer critérios para simplificar os procedimentos de licenciamento ambiental de empreendedor que implantar planos e programas voluntários de gestão ambiental, visando à melhoria contínua e ao aprimoramento do desempenho ambiental.

Prazos para emissão da Licença Ambiental

Segundo o artigo 31 do PL o órgão licenciador pode ser pressionado a emitir licenças em prazo exíguo para não ser responsabilizado no âmbito administrativo. A tendência será a aprovação de licenças em regime cartorial; com o princípio da celeridade se voltando contra a suficiência e a eficácia do licenciamento: Art. 31. Ato normativo da autoridade licenciadora pode estabelecer formas, etapas e prazos diferenciados de análise para cada modalidade de licença em função das peculiaridades do empreendimento, bem como para a formulação de exigências complementares, desde que respeitados os seguintes prazos:•I – 12 (doze) meses para a LP, nos casos em que for exigido EIA;•II – 6 (seis) meses para a LP, nos demais casos;•III – 6 (seis) meses para a LI;•IV – 4 (quatro) meses para a LO.•(...)•§ 5º O gestor responderá administrativamente pela extrapolação dos prazos previstos no caput deste artigo, salvo excepcionalidades comprovadas ou insuficiência de recursos técnicos ou humanos do órgão licenciador.

Respondendo aos quesitos solicitados pelos organizadores do seminárioRecebemos como orientação dos trabalhos neste seminário os seguintes quesitos:

•Quais são os elementos mais importantes do licenciamento ambiental, que constituem ganhos institucionais para a sociedade e, portanto, não devem ser modificados? (O que deve ser preservado?) •Resposta: Os princípios, definições, conceitos e a estruturação da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6938/81) e da Resolução Conama 01/86, em seus termos atuais, são ganhos consolidados e essenciais que não devem ser modificados, nem sofrer qualquer tipo de desfiguração ou retrocesso ambiental. •As propostas de norma sobre o tema devem partir e se basear nestas normas e não desfigurá-las ou entrar em conflito com as mesmas.

• ii. Quais os principais problemas do licenciamento ambiental que devem ser alterados? (O que deve ser modificado?) e

• iii. Em que sentido devem ser modificados os elementos identificados como problemáticos? (Os elementos problemáticos devem ser excluídos do processo de licenciamento? Devem ser aprimorados dentro dos procedimentos já existentes? Devem ser melhor articulados com outros instrumentos de gestão ambiental e territorial? Etc).

• As abordagens incluem a avaliação crítica a dispositivos do PL 3729/2004• A simplificação proposta é prejudicial ao Licenciamento. • A simplificação do licenciamento não deve normatizada e orientada de forma

desvinculada da estruturação conceitual da Resolução Conama 01/86. A simplificação não afasta a aplicação da Resolução Conama 01/86 como guia para a elaboração do termo de referência em qualquer caso.

• Deve haver justificativa técnica para definição do nível de detalhamento dos conteúdos nos casos específicos e a obediência a critérios adequados e transparentes. O pré-julgamento genérico e superficial com o uso de termos como “baixo impacto” ou “resiliência” é um grande equívoco para a gestão ambiental.

• Os conteúdos da instrução apenas devem ser compatíveis com os níveis de detalhamento aceitáveis após avaliação técnica prévia estabelecida por critérios transparentes e não baseadas nos moldes distorcidos propostos no PL.

• A modalidade simplificada não deve ter outra denominação (é uma AIA) e sim um TERMO DE REFERÊNCIA específico e justificado consignado em parecer técnico do órgão ambiental manifestando-se tecnicamente sobre o nível de aprofundamento desejável dos conteúdos da instrução no caso específico. O parecer técnico deve ser tornado público permitindo que haja questionamentos, por meio de um processo de controle social.

Participação da sociedade

• A redução ou dispensa de audiências públicas obrigatórias é prejudicial ao controle social.

• As audiências públicas deveriam ser realizadas mesmo em caso de menor complexidade da instrução do licenciamento, pois podem afetar cidadãos ou comunidades em sua área de influência.

• O estabelecimento de prazos fixos para avaliação implicando em responsabilização administrativa dos gestores é uma distorção que não contribui para eficiência do licenciamento. O tempo necessário à avaliação deverá ser aquele necessário para que os requisitos estabelecidos pela Conama 001/86 sejam atendidos – neste caso a celeridade nos termos propostos pelo PL poderá significar cerceamento, oficialização de pressões indevidas e prejuízo à adequada instrução dos licenciamentos (equívoco do artigo 31 do PL 3729/2004).

 

•A AAE deve ser regulamentada em norma própria:

•Embora a AAE esteja citada superficialmente em normas brasileiras a exemplo do Decreto 4.339/2002, que institui princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade; e a Política Nacional de Mudanças Climáticas/ Decreto 6.101/2007 (art. 14, I, a; art. 16,a); é elemento ligado à decisão dentro de uma política para a sustentabilidade e não está devidamente regulamentada em norma específica. Essa matéria deverá ser remetida ao Conama para a devida regulamentação. Trata-se de instrumento muito flexível, cuja definição permite a adoção de metodologias de forma extremamente diversificadas, mas tem sido usada de forma equivocada como ocorreu no licenciamento ambiental do Rodoanel Metropolitano Mário Covas, em São Paulo.•A Avaliação Ambiental Estratégica e a Avaliação Ambiental Integrada não substituem o EIA-RIMA. O EIA - RIMA (Resolução CONAMA 01/86) é o instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente com amparo legal para permitir a efetiva avaliação da viabilidade ambiental de empreendimentos.•A realização da AAE ou da AAI não deve induzir à elaboração de licenciamento simplificado (equívoco no artigo 10 do PL 3729/2004) .•É necessário a regulamentação em norma própria não só da Avaliação Ambiental Estratégica mas também da Avaliação Ambiental Integrada, indo além do que a atual legislação estabelece para empreendimentos hidrelétricos.

• Reiteramos também os elementos contidos no documento intitulado: “Desafio e contexto do Licenciamento Ambiental no Brasil - Contribuição preliminar de Entidades da Sociedade Civil com representação junto ao Conselho Nacional do Meio Ambiente”, protocolado no Conama em Brasília, na data de 26 de novembro de 2013 (em anexo).

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