noções de proteção ambiental

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Noções sobre Proteção Ambiental Curso de Inspetor de Equipamentos 1 OBJETIVO O conteúdo desta apostila visa discutir resumidamente os aspectos que devem nortear como esperamos a interação do homem com a natureza. Neste início de século, em que o mundo vem passando por um importante processo de reorganização, a questão ambiental tenta resgatar sua essência frente ás relações sociedade natureza. A compreensão tradicional das relações entre a sociedade e a natureza desenvolvidas até o século XIX, vinculadas ao processo de produção capitalista, considerava o homem e a natureza como pólos excludentes, tendo subjacente a concepção de uma natureza objeto, fonte, ilimitada de recursos à disposição do homem. Nossa geração parece ter presenciado a data limite para este processo extrativista predatório e todas as formas irracionais e insustentáveis de utilização dos recursos naturais. Precisamos, de forma urgente e inadiável, estabelecer procedimentos e técnicas que permitam minimizar as agressões ao meio ambiente ocasionados pelas atividades exercidas pelo homem. Precisamos ter a consciência que não há preço para o ar que se respira, a água que se bebe, o Sol que nos ilumina e ter a consciência de que os “donos da natureza” ainda estão por chegar, nossos filhos e netos que mesmo antes de nascer devem ter direito a um mundo habitável. Um acidente industrial, como os que infelizmente temos presenciado, seja na bacia de campos, seja no Atlântico Norte, podem e devem ser evitados através da inspeção e manutenção dos equipamentos, e por isso serão apresentadas informações importantes buscando abrir canais de discussão e assim possibilitar, em cada um, a criação de um “senso crítico de proteção ecológica” para que exerçam a função de inspetor de equipamentos conscientes de sua responsabilidade na preservação ambiental.

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Noções de Proteção Ambiental

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  • Noes sobre Proteo Ambiental

    Curso de Inspetor de Equipamentos

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    OBJETIVO O contedo desta apostila visa discutir resumidamente os aspectos que devem nortear como esperamos a interao do homem com a natureza. Neste incio de sculo, em que o mundo vem passando por um importante processo de reorganizao, a questo ambiental tenta resgatar sua essncia frente s relaes sociedade natureza. A compreenso tradicional das relaes entre a sociedade e a natureza desenvolvidas at o sculo XIX, vinculadas ao processo de produo capitalista, considerava o homem e a natureza como plos excludentes, tendo subjacente a concepo de uma natureza objeto, fonte, ilimitada de recursos disposio do homem. Nossa gerao parece ter presenciado a data limite para este processo extrativista predatrio e todas as formas irracionais e insustentveis de utilizao dos recursos naturais. Precisamos, de forma urgente e inadivel, estabelecer procedimentos e tcnicas que permitam minimizar as agresses ao meio ambiente ocasionados pelas atividades exercidas pelo homem. Precisamos ter a conscincia que no h preo para o ar que se respira, a gua que se bebe, o Sol que nos ilumina e ter a conscincia de que os donos da natureza ainda esto por chegar, nossos filhos e netos que mesmo antes de nascer devem ter direito a um mundo habitvel. Um acidente industrial, como os que infelizmente temos presenciado, seja na bacia de campos, seja no Atlntico Norte, podem e devem ser evitados atravs da inspeo e manuteno dos equipamentos, e por isso sero apresentadas informaes importantes buscando abrir canais de discusso e assim possibilitar, em cada um, a criao de um senso crtico de proteo ecolgica para que exeram a funo de inspetor de equipamentos conscientes de sua responsabilidade na preservao ambiental.

  • Noes sobre Proteo Ambiental

    1. O HOMEM E SUA INTERAO COM O MEIO AMBIENTE 1.1. Introduo As tradies das diferentes culturas, sempre desempenharam o seu papel quanto ao comportamento humano em relao ao ambiente. O homem ocidental com seu dogma cristo-judaico, segundo o qual, ao contrrio de outras criaturas, foi feito imagem e semelhana de Deus, tendo, portanto o direito de dominar o mundo. As plantas foram criadas por causa dos animais e os animais por causa do homem (Aristteles, 350 a. C). Esta premissa grega da Antigidade refora a noo do mundo destinado ao homem. A concepo do mundo para os ndios americanos que viam na natureza virgem smbolos do mundo espiritual, na antiga China, determinados aspectos da terra eram interpretados como manifestaes do ser csmico, a noo Budista do consumo, sendo o mximo de felicidade com o mnimo de consumo, contrastando com o pensamento ocidental que prega o aumento de consumo para um viver melhor. O homem como elemento da natureza constitui uma noo relativamente recente no pensamento ocidental, em parte como conseqncia do darwinismo, que no o descrevia seno como outra forma de vida sobre a terra. Alteraes prejudiciais ao ambiente, resultantes das atividades humanas, acabaram por acarretar na concepo ecolgica, na qual o homem no passa de um elemento como outro qualquer do ecossistema geogrfico. Estas abordagens, no entanto, no so necessariamente certas ou erradas, mas todas elas afetaram vigorosamente como o homem procurou moldar o ambiente que o cerca. No passado estas diferenas teriam interesse puramente acadmico, mas hoje a relao do homem com o meio est chegando a uma situao crtica, na medida em que as mudanas por ele processadas talvez se tornem irreversveis. O homem deixou de ser mero integrante do ecossistema em que vive, para se tornar cada vez mais um elemento afastado do meio fsico e biolgico. Quando se tornar capaz de fabricar ou sintetizar alimentos de matrias inorgnicas perspectiva que no improvvel -, um vnculo basilar, o do homem com a terra viva, estar rompido. 1.2. O controle sobre a natureza

    Figura 1 Reao do homem ao ambiente natural

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    A teoria segundo a qual as condies naturais governam o comportamento do homem e at mesmo aspectos do seu carter chama-se determinismo ou casualidade. Esta idia antiquada de que o homem deve ser controlado pela natureza e se adaptar a ela, se contrape com a noo do possibilismo que diz; o homem no um ser passivo e se conformar com os caprichos da natureza e deve, dessa forma prosperar e agir sobre o meio e a modific-lo, dentro de limites naturais de espao e de possibilidades de desenvolvimento. impossvel explicar as decises e atividades humanas com base apenas nas limitaes ambientais. Se assim fosse, uma determinada fbrica para ser instalada, deveria ser determinada sua localizao pela proximidade de matria-prima e energia e admitindo a existncia de um mercado. Na realidade, fatores econmicos, sociais e polticos, ou mesmo vontade do empresrio, tm, no mnimo, importncia igual. No entanto, a espcie humana ainda est sujeita a natureza, a escassez de peixes em determinado local em virtude de mudanas na temperatura das correntes em determinado ano, as secas no Sudo e Etipia, etc. Ao contrrio, h exemplos do homem dominando a natureza, como uma rea urbana em Phoenix, no Arizona nos Estados Unidos, construda no deserto, atravs de recursos de irrigao. Nos arredores da cidade, cultiva-se algodo, frutas e tmaras, num verdadeiro osis, so exemplos de interao homem-ambiente, demonstrando a variedade do domnio do homem sobre a natureza e vice-versa. H sempre desastres noticiados pela imprensa todos os anos em diversas partes do mundo. Em certa medida, o esforo que se requer para a obteno de um dado retorno proporcional ao grau de submisso s condies naturais contrariar a natureza das coisas exige mais esforo. As aplicaes de tecnologia ultramoderna tm de ser estudadas com o maior dos cuidados, a fim de que sejam adequadas ao meio ambiente e no tragam mais prejuzo do que benefcio populao. Em certos casos, o homem subjugado pela natureza e aceita suas limitaes, como as reas ridas, regies trridas e desrticas do planeta. a natureza dominando o homem. 1.3. Nveis de Interferncia De fato, como vimos manipulao do meio pelo homem, vai do controle quase total do ambiente, como uma casa com calefao ou ar condicionado, e diversos aparelhos, at uma influncia mnima sobre o meio fsico (indgenas da Austrlia). A distribuio do homem sobre a superfcie da terra est desigualmente distribuda. Devemos observar que o homem distribuiu-se na terra em larga escala, basicamente em reas de potencial agrcola ou florestal e tambm em regies temperadas e quentes. Devemos atentar tambm que, as reas cobertas de gelo, as subrticas os desertos, densidade demogrfica baixa ou zero. Vale lembrar que a ausncia fsica do homem em determinada rea, no significa que sua influncia no est presente. Alteraes nos oceanos, no clima, efeito estufa, etc. podem afetar a terra como um todo. 1.4. Sistemas Naturais A terra pode ser considerada como um enorme sistema, porm ela pode tambm ser dividia em inmeros subsistemas como:

    Atmosfrico;

    Continental ou litosfrico;

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    Aqutico ou hidrosfrico. na zona de interao desses subsistemas que ocorre a vida (biosfera).

    Figura 2 Interao dos subsistemas bsicos do ambiente natural.

    Portanto, a Terra funciona como uma inter-relao de sistemas, todos parcialmente independentes, mas fortemente vinculados entre si. A interveno humana no pode afetar de maneira significativa a atividade dos sistemas em escala global, como o sistema atmosfrico, mas os sistemas de ordem inferior, principalmente aqueles que envolvem seres vivos (ecossistemas), so bastante vulnerveis as aes do homem. Os exemplos abaixo so de subsistemas nos quais houve um percentual de interveno do homem, e conseqentemente alterao do atual sistema.

    Ciclo do Nitrognio Algumas causas: - Introduo pelo homem de fontes artificiais; - Volume de nitrognio oriundo de fontes industriais. Um dos efeitos desse fenmeno o crescimento excessivo de algas.

    Ciclo do Fsforo Algumas causas: - Encurtamento, pelo homem, da escala em que o ciclo do fsforo se manifesta; - Explorao de substncias naturais ricas em fosfato - Uso de fosfato mineral como fertilizantes e a fabricao de detergentes. Os resduos de

    detergentes so lanados indiscriminadamente em corpos dgua; - Lanamento de elevadas cargas de fosfato oriundo dos esgotos vindo a contaminar sistemas

    hdricos.

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    Ciclo do Mercrio Algumas causas: - Este metal apresenta-se em pequeninas quantidades nos sistemas naturais; - Uso em larga escala para fins industriais; - Na extrao do ouro sendo lanados em rios, vindo a contaminar organismos marinhos e

    conseqentemente ao homem. 1.5. Impactos sobre os meios fsicos 1.5.1. Os Solos Fatores como clima, materiais de origem, topografia, a biota e o tempo determinam um equilbrio dinmico com os solos. Qualquer alterao nesses mecanismos reverter ao solo. De modo consciente ou no, so exemplos de como o homem modifica os solos: Dentre os mais negativos efeitos do homem sobre o solo, est eroso. Em ambientes de delicado equilbrio como os semi-ridos ou montanhosos, a eroso se mostra mais prejudicial.

    1.5.2. Plantas e Animais A grande mudana na relao do homem e os demais seres vivos ocorreram com a transio dos hbitos humanos da caa e coleta para a da agricultura, domesticao. Introdues pelo homem de espcies vegetais quando de suas migraes pelo planeta, deve-se ao fato de serem importantes fontes de alimentos, ou seja, aonde ele ia, levava aquelas espcies conhecidas para o ambiente desconhecido.

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    Animais e insetos muitas vezes foram introduzidos acidentalmente, transportados por barcos e sementes trazidas com a roupa, etc. Modificaes profundas nos ecossistemas animais, atravs de desmatamentos ocasionando transformaes no habitat de vrias espcies inclusive promovendo a extino de insetos, construo de represas para obteno de energia hidroeltrica acarretando paralisao da desova de trutas, etc.

    1.6. Efeitos na Atmosfera, gua, formas de relevo e nos oceanos. 1.6.1. Atmosfera A Alteraes microclimticas: A construo de um edifcio busca obter abrigo criando um clima artificial inteiramente controlado. Este edifcio modifica muitos parmetros climticos ainda que em pequena escala. No entanto, imagine uma grande cidade com centenas de milhares de edifcios modernos, convertendo em calor a radiao solar que entra e modificando o padro do fluxo de ventos nas vizinhanas. Deste modo estas construes funcionam como ilhas de calor como uma clula de conveco prpria de ar quente ascendente. B Alteraes mesoclimticas: Mudanas no uso da terra nas reas rurais afetam o clima por centenas ou milhares de quilmetros quadrados. Os efeitos se fazem maiores junto ao cho, mas as condies atmosfricas so alteradas numa abbada de 30 a100 metros de altura daquele ponto. Queimadas em solos, prtica bastante comum, alteram a zona protetora da vegetao, aumentando a temperatura do solo e ainda a mdia de temperatura de dia e de noite em mais de 10 C. o gradiente trmico aumenta 10 centmetros mais baixos da atmosfera, cerca de 2 positivos. A falta de rvores, por exemplo, afeta a velocidade do vento, aumenta a infiltrao da gua da chuva no solo e em longo prazo, alterar a evoluo do solo (maior lixiviao), e da a vegetao e novamente, portanto o microclima. C Alteraes macroclimticas: O caso do deserto de Rajputana na fronteira entre o Paquisto e a ndia onde numa rea de cerca de 30 mil quilmetros quadrados, trata-se de um exemplo extremo de desertificao. Deve-se em grande parte a intensa criao de cabras que atravs dos anos acabou com a vegetao baixa existente. Com isso, a poeira em suspenso na atmosfera faz que este deserto seja mais poeirento do mundo, ultrapassando os valores de partculas em suspenso no ar, de muitas cidades industrializadas. Estas partculas de p fazem decrescer a quantidade de radiao solar incidente promovendo o rebaixamento da temperatura na superfcie da terra. Por sua vez, isso reduz o volume do ar elevado por conveco, possvel fonte de chuvas.

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    1.6.2. gua Pode-se dizer que a gua doce o mais importante recurso da humanidade, individualmente considerado. Setenta por cento do corpo humano composto de gua, o que a torna vital para nossa sobrevivncia. Especialistas afirmam que muito mais difcil suportar a sede que a fome. Por que eu devo me preocupar, afinal, no basta abrir a torneira para ter gua? Normalmente, no temos conscincia da importncia da gua. Somente nos perodos de estiagem, quando falta gua nas nossas casas, lembramos, um tanto nervoso, que dependemos da gua para as mais variadas atividades domsticas. E, com pacincia, temos que esperar. Dificilmente algum se pergunta quanto consome de gua por ms; a maior parte das pessoas somente paga a conta no banco. Essa inconscincia pode ser explicada pelo fato de vivermos em regies onde a oferta de gua bastante satisfatria. Os moradores do Serto, no Nordeste Brasileiro, provavelmente atribuem um valor bem diferente gua.Em todo o mundo, com exceo da Europa, a principal utilizao da gua est na agricultura. Ela usada na irrigao de cultura e criao de animais. Em algumas reas da sia, o consumo de gua na atividade agropecuria chega a ser dez vezes maior que na produo industrial. Durante muito tempo, pensou-se que a gua, ao circular na natureza, seria capaz de eliminar todos os seus poluentes e seria um bem infinito, assim os esgoto industriais e domsticos eram despejados, sem tratamento, nos rios. Mas, atualmente, a gua concebida pelos especialistas como um recurso renovvel, porm finito, j que a poluio e o uso dos recursos hdricos tm aumentado tanto, que no permitem a reposio na velocidade necessria ao consumo. Numa escala mundial, o que inibe a expanso da agricultura e conseqentemente o povoamento das vastas regies do planeta. J em uma escala local, os recursos hdricos determinam a localizao de certas industriais, como a gerao de energia; antigamente, o estabelecimento de povoaes estava em relao estreita com a localizao de rios e fontes. As tecnologias desenvolvidas pelo homem como a construo de represas, desvios de rios, drenagem de terras, extrao de gua subterrnea e at rebocamento de icebergs, interferem no ciclo hidrolgico. O movimento da gua entre os continentes, oceanos e a atmosfera chamado de ciclo hidrolgico. Na atmosfera, o vapor da gua em forma de nuvens pode ser transformado em chuva, neve ou granizo, dependendo das condies do clima. Essa transformao provoca o que se chama de precipitao. A precipitao ocorre sobre a superfcie do planeta, tanto nos continentes como nos oceanos. Nos continentes, uma parte das precipitaes devolvida para a atmosfera, graas evaporao, outra parte acaba desaguando nos oceanos depois de percorrer os caminhos recortados pelos rios. Os oceanos, portanto recebem gua de duas fontes: das precipitaes e do desaguamento dos rios, e perdem pela evaporao. Na atmosfera, o excesso de vapor sobre os oceanos transportado para os continentes, em sentido inverso ao desaguamento. Abaixo a representao do ciclo hidrolgico, mostrando grandes e pequenos pontos da interferncia humana. 1.6.3. Formas de Relevo As alteraes introduzidas no relevo podem ser conseqncias deliberada ou inadvertida de qualquer outra atividade. Na construo de rodovias e ferrovias, vales artificiais ou a deposio de sedimentos nos esturios dos rios devido eroso do solo carregada plos rios, depresses

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    gigantescas escavadas para a explorao de minrios, assim como o surgimento de fossas internas quando da abertura de minas e da drenagem da terra.

    1.6.4. Oceanos Os oceanos perfazem sete dcimos da superfcie do globo. O que se sabe a importncia dos oceanos no controle dos fluxos globais de energia e no ambiente geral do planeta. Todos os oceanos esto ligados entre si e as nicas barreiras so na verdade, as diferenas de salinidade e temperatura. Os oceanos so considerados a lata de lixo do mundo. 2. A POLTICA E A GESTO AMBIENTAL NO BRASIL 2.1 Evoluo Um dos mais importantes movimentos sociais dos ltimos anos, promovendo significantes transformaes no comportamento da sociedade e na organizao poltica econmica, foi chamada revoluo ambiental. Com razes no final do sculo XIX, a questo ambiental emergiu aps a Segunda Guerra mundial, promovendo importantes mudanas na viso do mundo. Pela primeira vez a humanidade percebeu que os recursos naturais so finitos e que seu uso incorreto pode representar o fim de sua prpria existncia. Com o surgimento da conscincia ambiental, a cincia e a tecnologia passaram a ser questionadas. A explorao dos recursos naturais, o desbravamento do territrio, o saneamento rural, a educao sanitria e os embates entre os interesses econmicos externos, os conservacionistas que defendiam a proteo da natureza atravs da explorao controlada como a Fundao Brasileira de Conservao da Natureza (FBCN), e os nacionalistas que defendiam a explorao plos brasileiros como a Campanha Nacional de Defesa e Desenvolvimento da Amaznia (CNDDA), eram os temas dominantes.

    2.1.1. Histrico possvel identificar pelo menos trs tipos de polticas ambientais: as regulatrias, as estruturadoras e as indutoras de comportamento.

    Polticas Regulatrias Dizem elaborao de legislao especfica para estabelecer ou regulamentar as normas e regras do uso e acesso ao ambiente natural, bem como criao de aparatos institucionais que o garantam o cumprimento da lei.

    Polticas Estruturadoras interveno direta do poder pblico ou de organismos no-governamentais na proteo ao meio ambiente (ex: unidade de conservao).

    Polticas Indutoras referem-se a aes que objetivam influenciar o comportamento de indivduos ou grupos sociais. (ex: linhas especiais de financiamento ou de polticas fiscais e tributrias.

    Foi somente no sculo XX que a preocupao com o meio ambiente resultou, no Brasil, na elaborao e implementao de polticas pblicas com carter marcadamente ambiental, especialmente a partir da dcada de setenta, quando a percepo da degradao ambiental aumenta onde os efeitos podem ser irreversveis e catastrficos.

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    Podemos dividir a poltica ambiental brasileira em trs grandes perodos: a) O primeiro perodo de 1930 a 1971, marcado pela construo de uma base de regulamentao dos usos dos recursos naturais. b) O segundo perodo, de 1972 a 1987, em que a ao intervencionista do Estado chega ao seu momento mximo, e ao mesmo tempo em que a percepo ecolgica aumenta. c) O terceiro perodo, de 1988 ao dias atuais, marcado pelo processo de descentralizao e pela rpida disseminao da noo de desenvolvimento sustentvel.

    2.2. Perodo de 1930 a 1971 Base Regulamentadora A Revoluo de 1930 e a constituio de 1934 marcam a transio de um pas dominado pelas elites rurais para um Brasil que comea a se industrializar e urbanizar, particularmente na Regio Sudeste. Nacionaliza a explorao do petrleo estatiza a Companhia Vale do Rio Doce. Tem um perodo caracterizado por polticas regulatrias, mesmo que incipientes. O decreto n23. 793, de 23 de Janeiro de 1934, previa a criao de parques nacionais e de reas florestais protegidos nas regies Nordeste, Sul e Sudeste. O crescimento populacional desordenado e concentrado na regio litornea do pas levou a uma reestruturao levando assim criao de unidades de conservao. Em 1937 foi criado o Parque Nacional de Itatiaia, o primeiro parque nacional do pas, localizado no Rio de Janeiro. Nas dcadas de 1950 e 1960, criao de vrias unidades de conservao no Centro-Oeste estava associada ao processo de transferncia da capital nacional para o interior do pas. Lembrando que em 1934 foram promulgados os cdigos florestais, das guas e das minas. O fim da Segunda Guerra Mundial chamou a ateno do mundo para o poder de destruio das bombas atmicas. Em 1958, o governo federal criou a Fundao Brasileira para a Conservao da Natureza (FBCN), onde o objetivo principal defender a fauna martima, a flora aqutica e fiscalizar a pesca do litoral. O primeiro cdigo de pesca foi promulgado em 1965. As aes pblicas foram basicamente nas regies Sul e Sudeste em funo do processo de industrializao e urbanizao estar avanados.

    2.3. Perodo de 1972 a 1987 Intervencionismo do Estado e a Crise Ecolgica Global Neste segundo perodo o Brasil foi fortemente influenciado pela repercusso do informe do Clube de Roma onde a primeira reunio significativa aconteceu em 1968 onde a concluso foi que o mundo teria que diminuir a produo de forma que os recursos naturais fossem menos solicitados, e que houvesse uma reduo gradual dos resduos, fundamentalmente do lixo industrial. Ento, a primeira proposta do Clube de Roma foi essa: vamos diminuir a produo. A prxima iniciativa no que diz a respeito evoluo do conceito de sustentabilidade e consequentemente de produo mais limpa, ocorreu em Estolcomo na Sucia em 1972. Diante da previso do relatrio do Clube de Roma e das movimentaes dos anos 60, a ONU Organizao das Naes Unidas realizou, em junho de 1972,a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, congregando mais de 110 paises entre eles o Brasil que teve uma participao vergonhosa ao convidar empresas poluidoras a se instalarem no pas; quando ento se chegou concluso de que a soluo no era diminuir a produo como props o Clube de Roma soluo era comear a pensar em produzir melhor. Ao invs de produzirmos indiscriminadamente, com grandes desperdcios, gerando grande quantidade de resduos tanto em forma de emisses gasosos, quanto efluentes lquidos e resduos slidos, vamos pensar em produzir melhor, isto produzir de forma mais limpa. Foi consolidado, ento o conceito de Desenvolvimento Sustentvel que veio emergir em 92.

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    A crise do petrleo no incio de dcada de 1970 ampliou o debate mundial. Em 1971, foi fundado o Greenpeace, uma das organizaes no governamentais de maior visibilidade no setor ambientalista. As polticas ambientais entram em contradio com as polticas modernizantes e de integrao nacional implementadas pelo regime militar. As atividades de construo de estradas, barragens e linhas de transmisso de energia eltrica etc.entre 1975 e 1985, foram pressionadas a realizar estudos de impacto ambiental, bancados por empresas estatais e privadas. Em 1973, foi criada a Secretaria Especial do Meio ambiente (SEMA).

    2.4. Perodo de 1988 Aos Dias atuais Neste terceiro momento as polticas ambientais correspondem a uma mudana significativa embora no radical, no que tange a problemtica ambiental do pas. A divulgao do Relatrio Brundtland, em 1987,introduz com grande repercusso o conceito de desenvolvimento sustentvel. No mbito interno, o processo de redemocratizao leva promulgao de uma nova Constituio,em 1988,com forte tendncia descentralizadora. A sociedade de uma maneira geral comeou a se envolver nas questes ambientais. As responsabilidades passaram a ser divididas entre as vrias competncias federais, estaduais e municipais acompanhadas pelas discusses sobre o papel dos diversos atores sociais na reformulao das polticas pblicas e no reordenamento das demandas setoriais e regionais. A Constituio de 1988 foi a primeira a tratar especificamente da questo ambiental, h captulos especficos sobre meio ambiente e nela se declarou como patrimnio nacional a Mata Atlntica, Floresta Amaznica e o Pantanal. Em 1989, Atravs de presses sobre queimadas na Amaznia no governo Sarney, redefinida a poltica ambiental, reestruturando o setor pblico encarregado dessa poltica o antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) foi transformado em Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis (IBAMA) As polticas ambientais voltadas para a adoo de medidas de cunho normativo foram as que mais evoluram no Brasil. Um novo cdigo florestal foi promulgado em 1996, ampliando a rea de reserva legal de floresta nativa de 50 para 80% nas propriedades privadas. No campo no-estatal ganharam fora medidas voltadas para a certificao ambiental (Selo verde) e para aquisio dos padres ISO 9001 e 14000. As ONGs reuniram-se durante a Conferncia das Naes Unidas sobre o meio ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) firmaram compromisso coma elaborao das Agendas 21 locais e regionais que abordou como o centro da nova temtica ambiental, o Desenvolvimento Sustentvel, Biodiversidade, Mudanas Climticas, guas (doces e oceanos) e Resduos. Abaixo segue o resumo das discusses que pautaram a Agenda 21:

    Desenvolvimento Sustentvel Sujeito as definies de ocasio, aponta em dois sentidos principais. Para os ricos, sustentabilidade exige transformaes no estilo de vida, melhoria da eficincia energtica, moderao do consumo e a reciclagem ou o reaproveitamento dos materiais. Para os pobres, onde existam recursos naturais, se trata de programar a explorao no predatria que minimize impactos adversos, priorize a renovao, gere empregos e renda. Com isso no se pode separar, desenvolvimento e meio ambiente.

    Biodiversidade Biodiversidade esto relacionados os temas da biotecnologia, do controle do desmatamento, do patenteamento, da proteo das culturas locais ou primitivas e da agricultura sustentvel. Basicamente, preservar, estudar e conhecer as espcies para, eventualmente, utiliz-las.

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    Mudanas Climticas Se concentram no efeito estufa e na destruio da camada de oznio. Agora as aes so de mbito global. Material particulado, CO, SO2, HC, so problemas de sade e CO2/CFC so problemas da humanidade.

    Cooperao Internacional, apoio financeiro, transferncia de tecnologia devero prevalecer para aqueles que reduzam contribuies para o efeito estufa (CO2). Felizmente sobre o ar que respiramos, j existem centenas ou milhares de estaes automticas espalhadas pelo mundo, filtros de mangas e lavadores de gases nos equipamentos das indstrias. Felizmente, CO e CO2 no so totalmente dissociados, e a reduo de CO2 acabar resultando na melhoria da qualidade do ar.

    guas Trata-se de controlar a poluio, os acidentes ou a produtividade dos mares e oceanos, a gua doce est escassa no mundo e as reservas esto se contaminando a ponto de se tornar inaproveitvel. As aes no esto voltadas apenas para vibrio, metais pesados ou substncias txicas que possam estar presentes nos corpos dgua mais tambm na escassez que j produz conflitos entre grupos tnicos e naes, estimulam a migrao e pode ser prenncio de novas guerras. A desertificao tambm est relacionada s guas.

    Resduos Da mera sada das latas de lixo domstico indo aos aterros sanitrios para uma questo bem mais ampla de como coibir o trfico internacional de resduos txicos. Normalizar o comrcio de resduos entre naes, definir medidas para reduo ou a destinao adequada de resduos nucleares. Dando seqncia a um processo que passou pela Conferncia da Basilia, Protocolo de Montreal e pela atuao de ONGs internacionais.

    No quadro geral da crise financeira das dcadas de 1980 e 1990 as mudanas nas estratgicas econmicas do Estado brasileiro repercutiram na poltica tradicional de defesa dos recursos naturais. A privatizao dos setores energticos resultou na transferncia de responsabilidades na conduo da gesto ambiental para alguns segmentos do setor empresarial.

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    Tabela: Polticas ambientais brasileiras (de 1930 aos dias atuais). Contexto

    Perodo Mundial Nacional

    Polticas regulatrias

    Polticas estruturadoras

    Polticas indutoras

    Aspectos principais

    Escala de atuao

    priorizada

    1930

    A

    1971

    - II Guerra mundial

    - Risco Nuclear

    - Risco de crescimento populacional

    - Riscos de contaminao

    qumica

    - Revoluo de 1930

    - Constituio de 1934

    - Industrializao e urbanizao

    aceleradas

    - Promulgao dos cdigos: Florestais,

    das guas e de Minas (1934)

    - Criao do Departamento

    Nacional Contra as secas (DNOCS)

    (1963).

    - Promulgao ou reformulao dos cdigos de pesca (1965), de minas (1967) e florestal

    (1967);

    - etc.

    - Propostas de criao de parques

    nacionais e estaduais;

    declarao de reas florestais como

    florestas protetoras (1934);

    - Criao do primeiro Parque Nacional de

    Itatiaia (1937);

    - Criao da primeira floresta nacional da

    Amaznica.

    - 26 unidades de Conservao foram

    criadas.

    Idiam no formalizadas no

    perodo Poder Pblico

    Federal

    Nacional com aes voltadas para as regies desenvolvidas

    (Sul e Sudeste) e regies problema

    (Nordeste e Amaznia)

    1972

    A

    1987

    -Divulgao do Relatrio do Clube de Roma (1971);

    - Gerao de movimentos

    ambientalistas (Greenpeace em

    1971);

    -Conferncia de Estocolmo (1972);

    -Ameaas das usinas nucleares;

    -Crise do Petrleo (1973 e 1979).

    - Milagre econmico;

    -Crescimento das reas

    metropolitanas;

    -Crise econmica financeira.

    _Criao da secretria Especial do Meio Ambiente

    (Sema) (1973);

    -Criao da Companhia de

    desenvolvimento do Vale do So

    Francisco (1974);

    -Criao do ministrio do

    Desenvolvimento Urbanizao e Meio

    Ambiente (1985);

    -Resoluo sobre a obrigatoriedade do Estudo de Impacto

    ambiental (EIA) e do relatrio de Impacto Ambiental (RIMA)

    (1986).

    -Criao de estaes biolgicas federais no RJ e BA para

    proteger a espcie do mico-leo;

    -Criao de parques nacionais, florestas

    nacionais;

    -Formulao da Poltica Nacional do

    Meio Ambiente (1981);

    -Definio e criao de reas de

    Proteo Ambiental em todo o territrio

    Nacional (APA) criadas em 1981 e regulamentada em

    1990.

    - etc.

    Idiam ainda no concretizadas no

    perodo

    Poder Pblico Federal; Agncias Regionais

    ONGs; empresas

    -Regionais (Nordeste) e

    metropolitanas do Sul e Sudeste do pas. Cresce o interesse pela

    Regio Amaznica escala dos

    Ecossistemas.

    1988 aos dias atuais

    -Crise ambiental mundial

    -Lanamento do relatrio Brundtland

    de 1987

    -Crise financeira

    -Realizao da ECO 92 e do Frum das organizaes no governamentais

    - Conferencia do Clima Global em

    Kyoto (1977)

    -Constituio de 1988

    -Discusso sobre os transgnicos

    -Criao da Secretaria do Meio Ambiental (1990).

    -Criao do Ministrio do Meio

    Ambiente e do Meio Ambiente e da

    Amaznia Legal (1993) e etc.

    -Formulao da Poltica nacional do

    meio Ambiente (1989)

    -Criao das Estaes Ecolgicas e reas de Proteo

    Ambiental (1990)

    -Um total de 119 unidades variadas foi criado (23 em rea da Mata Atlntica e

    51 em rea da Floresta Amaznica)

    -Proposio de estratgias,

    mecanismos e instrumentos econmicos e sociais para a melhoria da qualidade

    ambiental e do uso dos recursos naturais (1990);

    -Construo da Agenda 21 Local,

    Regional;

    -Implantao de certificao

    ambiental (selo verde) e das ISO

    9000 14000.

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    13

    A poltica ambiental ideal seria aquela que incorporasse as diversas dimenses da vida

    humana em sociedade, o que inclui as suas dimenses sociais, ambientais, polticas e

    econmicas. O planejamento deve assim orientar-se em torno do princpio de sustentabilidade,

    entendido aqui como o principio que fornece as bases slidas para um estilo de desenvolvimento

    humano que preserve a qualidade de vida da espcie no planeta. A dimenso ambiental deve, por

    isso, integrar de forma relevante a poltica de desenvolvimento das naes em geral. A adoo da

    perspectiva ambiental significa reconhecer que todos os processos de ajuste setorial e de

    crescimento esto condicionados pelo entorno biofsico local, nacional e global. Deve, portanto,

    ser combinada com outras perspectivas crticas baseadas na preocupao com os direitos

    humanos, com os valores da autonomia nacional e da identidade cultural dos povos a que se

    referirem.

    3. CONTROLE AMBIENTAL O saldo deixado pela Conferncia de Estocolmo, no plano das Normas h desde legislao constitucional (nacionais e estaduais) at captulos de leis orgnicas e planos diretores. H ainda, legislao especfica, como a lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente, at resolues CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), leis estaduais e deliberao de conselhos e comisses estaduais de controle. H ainda, institucionalizao rotinas de licenciamento e a fiscalizao de atividades poluidoras ou o controle ambiental. No plano dos mtodos, existem metodologias para monitoramento e diagnstico da qualidade do meio ambiente, avaliao do impacto, preveno de riscos e poluio acidental, tratamento de efluentes e resduos, reduo de emisses e de gases poluentes, e despoluio. No plano de recursos humanos, h pessoal especializado em planejamento ambiental, anlise de projetos e estudos de impacto ambiental, legislao, fiscalizao, licenciamento, despoluio, comunicao, pesquisa e educao ambiental. O modelo era executado de forma descentralizada propiciando o florescimento de experincias adaptadas s realidades dos estados:

    Rio Grande do Sul voltou prioritariamente para a questo dos agrotxicos;

    Minas Gerais Para a siderurgia, minerao e carvo vegetal;

    So Paulo Poluio industrial e meio urbano;

    Rio de Janeiro Proteo dos corpos hdricos (Paraba do Sul e Baa de Guanabara);

    Paran Para o meio urbano e agrotxicos;

    Santa Catarina Carvo mineral;

    Bahia Para as indstrias do plo petroqumico. Depois veio a criao das OEMAS (rgos Estaduais de Meio Ambiente) em quase todos os estados. A SEMA se dedicava a fazer avanar a legislao e aos assuntos que demandavam negociao a nvel nacional, como a produo de detergentes biodegradveis, a poluio por veculos e a

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    criao de Unidades de Conservao. A pauta poltica mudou e esse sistema entra em crise, pois o meio ambiente matria de relaes exteriores e se reflete internamente no pas, atravs de articulaes para a aprovao de convenes internacionais e de leis (lei das patentes, contratao de crditos para a proteo biodiversidade) e pela prpria reestruturao do aparelho do Estado. Surge um novo mercado de crditos e tecnologias. Novos instrumentos neste nvel so oferecidos: auditorias, certificao de processos e produtos, anlise de mapeamento de risco, centrais de tratamento de resduos, redes automticas de monitoramento, sistemas de informaes geogrficas, solo verde, etc. Novos atores esto em cena.

    Tabela Principais Atores da Poltica Ambiental.

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    4. A CRISE DA POLTICA AMBIENTAL SEMA, CONAMA, SISNAMA, no dariam conta desse desafio poltico. O modelo de gesto dos rgos estaduais de meio ambiente tambm entram em crise. A populao est mais consciente, questiona e exige novas posturas. impossvel dar conta das demandas locais e da crise dos rgos do SISNAMA. interessante notar que o carter autoritrio do Estado, restos de uma cultura autoritria, fica escondido, aparecendo na ao dos rgos pblicos, na definio e gesto de polticas, na morosidade da justia, na representao parlamentar desproporcional ao nmero de eleitores, na votao dos oramentos, na burocracia, no suborno, no jeitinho, no quebra-galho, no excesso de leis e nas leis que no pegam. No entanto, no campo ambiental, conquistas democrticas moderaram esse carter autoritrio do Estado na gesto da poltica como:

    Criao de rgos colegiados com representaes da sociedade (CONAMA, etc.);

    Realizao de audincia pblicas exigindo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), quando do licenciamento de novos empreendimentos;

    Apoio financeiro a iniciativas da sociedade atravs do Fundo Nacional do Meio Ambiente, Fundos Estaduais, parcerias em projetos.

    5. ONGs Segundo estimativa do PNUD (Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento), a atuao das ONGs beneficia cerca de 250 milhes de pessoas nos pases em desenvolvimento. As organizaes no governamentais e voluntrias tornaram-se importantes peas de apoio aos programas de desenvolvimento nas ltimas dcadas. Existem ONGs atuando no plano local, nacional, regional e internacional. A vinculao local e a conexo internacional possibilitam que as aes locais possam se interligar globalmente. Os principais temas abordados so: cidadania, educao, polticas pblicas, movimentos sociais, direitos humanos e meio ambientes. Atualmente as ONGs e Movimentos Ambientais vm se organizando atravs de redes temticas como as redes Mata Atlntica, Cerrados, guas, Educao Ambiental e outras, promovem reunies regionais, publicam boletins e estudos, se comunicam intensamente atravs da Internet. No plano internacional as articulaes se dirigem s diferentes convenes (Clima, Biodiversidade, Resduos, guas, Doces e outras).

    6. EVOLUO DA LEGISLAO AMBIENTAL BRASILEIRA 6.1. Introduo Para um estudo mais aprofundado, seria necessrio um exame simultneo da histria e das normas portuguesas na poca do descobrimento, do Brasil-Colnia, das Capitanias Hereditrias, do Governo Geral, etc. Portanto, este resumo, abordar a Evoluo da Legislao Ambiental aps o advento da Repblica.

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    6.2. O Cdigo Civil e as Questes relativas ao meio ambiente O cdigo Civil de 1916, quando a palavra ecologia tinha apenas algumas dcadas e o assunto no havia tomado propores atuais, no trata de forma expressiva das questes ambientais. Contudo os artigos 554 e 555, na seo relativa aos Direitos de vizinhana, reprimem o uso nocivo da propriedade. O proprietrio ou inquilino de um prdio pode impedir que o mau uso da propriedade vizinha prejudique a segurana, o sossego e a sade. Ainda o Cdigo Civil, no artigo 582, confere ao dono do prdio vizinho que se sinta ameaado, a possibilidade de solicitar o embargo de obras de chamins, foges ou fornos. 6.3.Os anos vinte Enquanto se inicia uma nova linguagem nacional, atravs de msica, da pintura e da literatura surge construo de uma legislao prpria brasileira. Tal movimento, semana de arte moderna de 1922, na idade de So Paulo, surge exaltao das riquezas naturais (florestas, Po de Acar, etc.), preconizadas por Oswald de Andrade. a poca do impulso da industrializao e do urbanismo brasileiro. Com o decreto nmero 16.300 (de 31/12/1923), que rege sobre a sade e saneamento, importante passo foram dados em favor do controle da poluio, quando proibiu instalaes de indstrias nocivas e prejudiciais sade de residncias vizinhas. 6.4. Os anos trinta a poca voltada para a construo dos interesses nacionais. criado o Ministrio do Trabalho em 1931 e so editadas inmeras leis trabalhistas. A constituio de 1934, no seu artigo 10 estabelecido a competncia da Unio e dos Estados para proteger as belezas naturais e os monumentos de valor histrico. Entretanto, houve uma grave omisso constitucional em relao aos Municpios que ficaram sem previso expressa do poder de polcia para proteo de suas riquezas naturais. No artigo 5, inciso XIX atribuiu exclusivamente Unio, competncia legislativa sobre bens de domnio federal, riquezas do subsolo, minerao, metalurgia, gua, energia eltrica, florestas e sobre a caa e pesca. So dessa poca tambm o Cdigo de guas nos seus artigos 98 e 109, que, respectivamente, probem construes capazes de poluir a gua de poo ou nascente, assim como classificam como ato ilcito contaminao deliberada da gua. J na constituio de1937, o artigo 16, inciso XIV, determinava a competncia privativa da Unio para legislar sobre os bens de domnio federal, minas, metalurgia, energia hidrulica, guas, florestas, caa e pesca e sua explorao, no incluindo expressamente (a exemplo da Constituio de 1934), a competncia para legislar sobre as riquezas do subsolo. 6.5. Os anos quarenta Com relao Legislao Florestal, no Decreto-lei n 2.014 de 14/02/1940, autoriza os Governos estaduais a promoverem a guarda e fiscalizao das florestas. Na Constituio Federal de 1946, consagrando o fim d Estado Novo e o restabelecimento da vida democrtica brasileira, no seu

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    17

    artigo 5, inciso XV, voltou a atribuir Unio competncia para legislar sobre as riquezas do subsolo, alm da minerao metalurgia, guas, energia eltrica, florestas, caa e pesca. J no Decreto Legislativo n.3 de 13.02.1948, importante passo foi dado com a proteo da flora, da fauna e a conceituao de parques nacionais, reservas nacionais, monumentos naturais, reservas de regies virgens e aves migratrias. 6.6. Os anos sessenta Em 21 de abril de 1960, inaugurada a nova Capital, Braslia. Conseqentemente o Rio de Janeiro vai perdendo gradualmente seu status de capital cultural do Brasil. Neste perodo, uns grandes nmeros de Leis Ambientais so editados.

    Lei n 3.964 (1961) Protege os monumentos arqueolgicos e pr-histricos;

    Lei n 4.132 Define os casos de desapropriao de terras por interesse social, na hiptese de proteo do solo e preservao de cursos e mananciais de gua, bem como de reservas florestais;

    Lei Delegada n 10 Criava a SUDEPE (Superintendncia do Desenvolvimento da Pesca);

    Lei n 4.504 (30/11/1964), dispe sobre o estatuto da terra, trazendo no seu texto a funo social da terra, ou seja, o Poder Pblico pode desapropri-la para quando seus proprietrios no ponham em prticas normas de conservao de recursos naturais;

    Decreto n 55.795, de 24/01/1965 Fica estabelecido festa anual da rvore, com o objetivo de difundir ensinamentos sobre a preservao florestal e estimular a prtica dos mesmos;

    Lei n 4.717 de 29/06/1965 Esta lei institui a ao popular, que constitui um dos instrumentos legais para o cidado, em nome da coletividade, obter a invalidao de atos ou contratos administrativos, ilegais e lesivos ao patrimnio federal, estadual e municipal. Foi proposta para anular uma autorizao para a extrao de madeira em floresta protetora, mas tambm pode dela se servir o cidado que vise a pleitear em Juzo a invalidade do registro de loteamento que esteja em desacordo com a legislao estadual ou municipal pertinente;

    Lei n 5.197 de 03/01/1967 Dispe sobre a proteo fauna e cria o tutelados pelo Estado, conforme determinava o Decreto n 24.646, de 1934. Conceituao de fauna, para estender proteo da norma aos ninhos, abrigos e criadouros naturais de animais fora do cativeiro;

    A constituio Federal de 1967 e a Emenda nmero 1 de 14/10/1969 Esta constituio que respaldou o regime autoritrio em nosso pas, no trouxe maiores mudanas quanto legislao ambiental;

    Decreto Lei n 32 de 18/11/1966 institui o Cdigo Brasileiro do Ar.

    Decreto Lei n 221 de 28/02/67 Dispe sobre a proteo e estmulos Pesca, trazendo em seu artigo 37, o conceito de poluio;

    Lei n 5.357 e 17/11/1967 estabelece penalidades para embarcaes e terminais martimos ou fluviais que lanarem detritos ou leo em guas brasileiras;

    Decreto n 62.127 de 16/01/1968 Aprova o Cdigo Nacional de Trnsito, que atravs do seu artigo 8, fixa a competncia do Conselho Nacional de Trnsito para determinar o uso, nos veculos automotores, de aparelhos que diminuam ou impeam a poluio do ar.

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    6.7. Os anos setenta Lei n 6.151 de 4/11/1974 Dispe sobre o 2 Plano Nacional de Desenvolvimento (PND)

    e d enfoque Poltica habitacional, alm de Ter traado as prioridades, quanto preservao do meio ambiente;

    Decreto n 75.000, de 7/05/1975 Protege as fontes de gua mineral;

    Decreto n 76.389, de 3/10/1975 Dispe sobre as medidas de preveno e controle da poluio industrial;

    Decreto n 79.367, de 9/03/1977 Determina as normas e o padro de potabilidade de gua;

    Lei n 6.576 de 30/09/1978 declara o Pau-Brasil rvore nacional e institui o dia do Pau-Brasil;

    Decreto n 84.017 de 21/09/1979 Institui o Cdigo Florestal e regulamenta os Parques Nacionais.

    6.8. Os anos oitenta e noventa Um dos maiores avanos na Legislao ambiental brasileira foi proporcionado pela Lei n. 6.803 de 02/09/1980, que determinou as diretrizes bsicas para o zoneamento industrial nas reas crticas de poluio. O estudo de impacto ambiental (Lei n 6.803) passou a ser realizada de forma preventiva para a aprovao de zonas de uso estritamente industrial que se destinem a localizao de plos petroqumicos, cloroqumicos, carboqumicos, bem como instalaes nucleares. Esse estudo resulta na elaborao do relatrio de impacto ambiental - RIMA, que dever ser apresentado aos rgos pblicos competentes e populao. Na resoluo CONAMA n.001, de 23/01/1986, em seu artigo 1, conceituou impacto ambiental como qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

    I a sade, a segurana e o bemestar da populao; II as atividades sociais e econmicas; III a biota; IV as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; V a qualidade dos recursos naturais.

    Lei n 6.938 de 31/08/1981 Estabelece a poltica Nacional do Meio Ambiente, constitui o sistema Nacional do Meio Ambiente, cria o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e institui o Cadastro Tcnico Federal de atividades e instrumentos da defesa ambiental. No artigo 2 dessa norma, a Poltica Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservao, melhoria e recuperao da qualidade ambiental propcia vida, visando a assegurar, no Pas, condies ao desenvolvimento scio-econmico, aos interesses da segurana nacional e proteo da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princpios:

    I. Ao governamental na manuteno do equilbrio ecolgico, considerando o meio ambiente

    como um patrimnio pblico a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

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    II. Racionalizao do uso do solo, do subsolo, da gua e doa ar; III. Planejamento e fiscalizao do uso dos recursos ambientais; IV. Proteo dos ecossistemas, com a preservao de reas representativas; V. Controle e zoneamento das atividades potencial e efetivamente poluidor; VI. Incentivos aos estudos e pesquisa de tecnologias orientadas para uso racional e a proteo

    dos recursos ambientais; VII. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII. Recuperao de reas degradadas; IX. Proteo de reas ameaadas de degradao; X. Educao ambiental em todos os nveis de ensino, incluindo a educao da comunidade,

    objetivando capacit-la para participao ativa na defesa do meio ambiente.

    Ainda nesta Lei, temos um importante instrumento de defesa ambiental que a ao de responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente.

    Lei n 7347 de 24/07/1985 Institui a ao civil pblica de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens de direito de valor histrico, artstico, esttico e paisagstico.

    Constituio Federal de 1988 Traz enormes mudanas no Tratamento do meio ambiente no Brasil. Nos trabalhos na subcomisso do Meio Ambiente da Comisso de Direitos Humanos, se tornaram disposies constitucionais:

    a) O estudo prvio do impacto ambiental; b) O conceito do meio ambiente como patrimnio pblico e direito difuso da coletividade; c) No se questiona mais sobre a responsabilidade civil do poluidor; d) No artigo 5, inciso LXXIII, possibilita a qualquer cidado a proposta de ao popular para

    anular ato lesivo ao meio ambiente; e) questo indgena tambm tem tratamento detalhado, os direitos territoriais dos povos

    indgenas como primeiros habitantes do Brasil, cabendo a Unio demarcar e reconhecer essas terras;

    f) A localizao das usinas nucleares deve ser definida por lei federal; g) A Floresta Amaznica brasileira e a Mata Atlntica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-

    grossense e a Zona costeira, foram declarados patrimnio nacional; h) Os stios de valor ecolgicos foram declarados patrimnio cultural brasileiro, sujeitando os

    causadores de danos ou ameaas sano, na forma de lei; i) A educao ambiental como princpio da Poltica nacional do Meio Ambiente, passa a ser

    determinao federal contida expressamente no artigo 225, inciso VI, incentivando-se a promoo desse tipo de educao em todos os nveis de ensino;

    j) Determina aos exploradores de recursos minerais a recuperao do meio ambiente degradado, de acordo com soluo tcnica exigida pelo rgo competente, na forma da lei;

    k) Criado o controle de produo, comercializao e emprego de tcnicas, mtodos e substncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.

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    Hoje, podemos afirmar que a regulamentao da legislao ambiental brasileira uma das mais avanadas do mundo. Nas dcadas de oitenta e noventa, temos algumas importantes leis e decretos ambientais estruturadas na constituio de 1988. 7. ISO-14000 7.1. Introduo Com o objetivo de uniformizar as aes a serem tomadas nesta nova postura mundial quanto ao meio ambiente, a ISO Organizao Internacional para a Normalizao (Internacional Organization for Standardization, organismo mundial constitudo em 1947, que tem a Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT como um de seus membros fundadores). A ISO uma organizao no governamental e conta com mais de 100 membros, (representando cada um seu pas de origem) decidiu criar um sistema de normas que trata basicamente da gesto ambiental. A srie ISO14000, a nova srie de normas trata basicamente da gesto ambiental e no deve ser confundida com um conjunto de normas tcnicas. A srie ISO 14000 constituem provavelmente o conjunto de normas mais amplo que j se tentou criarem de forma simultnea. Contm, em seu corpo, normas que regulam sua prpria utilizao e que definem as qualificaes daqueles que devero auditar sua aplicao (ISO14010 Diretrizes para Auditoria Ambiental incluindo os critrios de qualificao dos prprios auditores). Um dos grandes mritos deste sistema consiste em proteger produtores responsveis contra outros concorrentes predadores que por no respeitarem as leis e os princpios da conservao ambiental, produzem mais barato e no internalizam alguns custos que acabam sendo arcados pelas sociedades. Portanto, seria perfeito se a implantao da nova srie de normas ambiental respeitasse conceitos e procedimentos se perderem de vista caractersticas e valores regionais.

    7.2. Histrico Por outro lado, algumas iniciativas foram tomadas de forma isolada, em alguns pases, com a criao de smbolos ou rtulos ecolgicos de produtos que no agrediam o meio ambiente. Um produto que os tivesse, seria considerado um produto ambientalmente correto, merecedor, portanto da preferncia do consumidor. Um novo passo para a abordagem sistmica as atividades relacionadas ao meio ambiente foi dado pela British Standards Institution (BSI), em 1992, com a homologao da norma BS 7750 que cria procedimentos para se estabelecer um Sistema de Gesto Ambiental nas empresas. A norma BS 7750 estabelece um paralelo ambiental com a norma britnica de gesto da qualidade BS 5750 e esta, por sua vez, serviu de base para a elaborao das normas internacionais da srie ISO 9000 de Gesto da Qualidade e garantia de Qualidade, j adotadas Universalmente. Com esta experincia, a cumulada na elaborao das normas de srie 9000 e sensibilizada pelas aes que j vinham sendo tomadas por diversos pases para criar suas prprias normas de gesto e certificao ambiental, a ISO criou, em 1993, um novo comit tcnico, o TC 207, incumbido de elaborar normas internacionais que assegurem essa abordagem sistmica gesto ambiental e possibilitem a certificao das empresas e dos produtos que as cumpram. Para poder desenvolver esse plano de normalizao, ambicioso por sua abrangncia e pelo curto prazo em que se pretende implant-lo, o TC207 foi estruturado em seis subcomits tcnicos, alm de um comit coordenador:

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    SC1 Subcomit de Gerenciamento Ambiental

    SC2 Subcomit de Auditoria Ambiental

    SC3 Subcomit de Rotulagem Ambiental

    SC4 Subcomit de Avaliao de Desempenho Ambiental

    SC5 Subcomit de Anlise de Ciclo de Vida

    SC6 Subcomit de Termos e Definies

    Pretende-se unificar, no futuro, as sries 14000 e 9000, relacionando os aspectos da qualidade na empresa e em seus produtos, incluindo a qualidade da produo, do meio ambiente, da segurana e da sade ocupacional. Alm do mais, as normas ISO 14000, so voluntrias e no prevem a imposies de limites prprios para medidas de poluio, padronizao de produtos, nveis de desempenho, etc. so, ao contrrio, sistemas orientadores. 7.3. A Nova Ordem Com a entrada em vigor da srie ISO 14000, as fronteiras so derrubadas e colocam a gesto ambiental, no mesmo plano j alcanado pela gesto da qualidade. Conciliar as caractersticas ambientais dos produtos com os paradigmas da conservao ambiental ser, por isso e cada vez mais, um requisito essencial para as empresas serem competitivas e manterem posies comerciais arduamente conquistadas. Por outro lado, as empresas que vem na qualidade ambiental no um empecilho, mas um fator de sucesso para se posicionarem no mercado tem, nas normas ISO 14000, a oportunidade para se valorizarem internacionalmente. Um dos grandes mritos do programa de normalizao da srie ISO 14000 a uniformizao das rotinas e procedimentos necessrios para uma empresa certificar-se ambientalmente, cumprindo um mesmo roteiro-padro de exigncias que ser vlido internacionalmente. Para que esse certificado seja reconhecido internacionalmente necessrio, contudo, que o procedimento de certificao seja feito por uma terceira parte, isto , umas entidades especializadas, reconhecidas junto a um organismo autorizado ou credenciadas. As dificuldades atualmente encontradas por empresas que so obrigadas a comprovar a correo ambiental de seus produtos e processos e a cumprir exigncias burocrticas em cada pas onde exportam ficam, assim, superadas ou, pelo menos, bastante reduzidas. Para alcanar a certificao ambiental, uma empresa deve:

    Ter implantado um sistema de Gesto Ambiental;

    Cumprir a legislao ambiental aplicvel ao local da instalao;

    Assumir um compromisso com a melhoria contnua de seu desempenho ambiental.

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    7.4. Objetivos e Abrangncia Em sua concepo a srie de normas ISO 14000 tem como objetivo central um sistema de Gesto Ambiental que auxilie as empresas a cumprirem seus compromissos assumidos com o meio ambiente. Como conseqncia, cria sistemas de certificao, tanto das empresas como de seus produtos, possibilitando assim distinguir aquelas empresas que atendem legislao ambiental e cumprem os princpios do desenvolvimento sustentvel. Tendo por base um Sistema de gesto Ambiental, as normas da srie ISO 14000 tambm vo estabelecer, quando inteiramente implantadas, as diretrizes para Auditorias Ambientais, Avaliao do Desempenho Ambiental, Rotulagem Ambiental e Anlise do Ciclo de Vida dos produtos, exigindo assim a total transparncia da empresa e de seus produtos com relao aos aspectos ambientais. As normas devero, portanto, servir de modelo para a implantao desses programas no mbito da empresa, possibilitando harmonizar os procedimentos e diretrizes aceitas internacionalmente com a experincia e a tradio empresarial local.

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    8. SEGURANA AMBIENTAL Dois so os enfoques tradicionais que damos segurana no meio industrial: seguranas patrimoniais, que visa proteo dos bens das industriais sejam eles fsicos, sejam conhecimentos especficos da atividade e a segurana no trabalho, que est relacionada manuteno da integridade fsica das pessoas, tendo como foco a preveno dos acidentes. Contemporaneamente veio a tona a necessidade de se estabelecer critrios para a obteno da Segurana Ambiental. A segurana ambiental aquela que visa proteger os ecossistemas locais de possveis impactos ocasionados pela atividade industrial, e verificou-se que este deve ser mais um enfoque dado ao tema segurana. Estas duas ltimas, segurana do trabalho e segurana ambiental, esto intimamente ligadas principalmente pelo fato de que um indivduo que pratica atos inseguros pode vir a lesar a si prprio, a colegas de trabalho, a indstria e, com grande freqncia, ao meio ambiente; e que clamam por ateno urgente das empresas preocupadas com a sustentabilidade do negcio, e devem fazer parte (como vimos no captulo anterior) da viso estratgica da empresa. Esta ligao tanta que na prtica as grandes empresas mantm uma nica diretoria para os principais enfoques de segurana, por exemplo, o SMS (Sade, Meio Ambiente e Segurana Patrimonial) a Petrobrs ou o HSE (Healthy, Safety/Security and Environment) da Shell. A atividade de inspeo de equipamentos mostra-se intrinsecamente ligada a estes conceitos quando tenta prevenir as falhas que podem vir a causar no s paralisao das atividades industriais como acidentes. Por diversas vezes ao exercer a profisso deve-se levar em considerao o peso de um risco ambiental, seja ao inspecionar um equipamento de conservao ambiental, como separadores gua leo, seja prevenindo a corroso em um duo enterrado. Para tanto necessrio se estabelecer critrios claros de prioridade e detalhamento de equipamentos, conceito da moderna inspeo baseada em riscos (RBI). Uma tcnica que tem sido usada para a elaborao de planos de inspeo o uso de uma matriz de riscos, por exemplo:

    bem verdade que gostaramos que fosse possvel manter todo o nosso parque industrial mundial sob atenta vigilncia e anlise a fim de erradicarmos os acidentes ambientais causados por grandes indstrias, entretanto, isso se mostra uma utopia devido a seus custos proibitivos e que, portanto justifica o uso de tabelas como a acima. A seguir, faremos um breve estudo do maior risco, em abrangncia e em freqncia, presente nas indstrias Brasileiras.

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    - Derrames No Brasil a atividade de inspeo de equipamentos industriais est muito concentrada no ramo Petroqumico (no que seja inexistente em outros ramos) e quando falamos de Petrleo e seus derivados esto em geral falando de produtos fluidos e, portanto do risco de derrames. O primeiro passo para estudarmos um risco, no caso os derrames, procurarmos suas causas, ou seja, a forma como o petrleo e seus derivados fluidos vo parar em rios e mares, neste caso:

    Despejos acidentais ou propositais, criminosos, ocorridos em reas urbanas (postos de gasolina, oficinas mecnicas...);

    Operaes de navios petroleiros e/ou acidentes em transporte

    Esgotos oleosos de fbricas, vazamentos em refinarias e terminais...

    Vazamento natural (poos) e a condensao das fraes leves que se evaporam e retornam em forma de chuva.

    O segundo passo pode ser a percepo de que todas estas causas podem ser evitadas pela elaborao de normas rgidas de manejo e principalmente a criao e o cumprimento de legislao que regulamente o tpico. Um terceiro passo aquele que gostaramos de no ter que por em prtica, a elaborao de planos de contingncia para a reduo do impacto ambiental, para tanto se faz necessrio conhecer o problema e seus fenmenos. Ao ser derramado na gua a primeira modificao que o leo sofre o seu espalhamento na superfcie lquida formando uma grande mancha que se alongar em funo das correntes, normalmente se tratando de petrleo este processo pode levar uma semana, podemos ento, notar que, de forma geral, o petrleo e seus derivados so mais leves do que a gua e por isso flutuaro, ficando sobrenadando na superfcie na forma de uma fina, mas extensa camada, como um filme. Durante estes processos estar havendo a evaporao das fazes mais leves tornado o derrame cada vez mais viscoso e aderente s pedras, praias e tudo o que encontrar no caminho, incluindo a vida marinha. A evaporao tambm a maior responsvel pelo grande risco de incndio, e exploses, nas 24 h aps o derrame. Considerando o problema exposto acima podemos pensar em casos hipotticos para a aplicao da matriz de riscos apresentada anteriormente, sendo os casos:

    Tubulaes areas, sobre o mar, que transporta grandes volumes de petrleo entre um terminal e uma refinaria;

    Trecho de tubulao area dentro da bacia de tanques de armazenamento, movimentando grandes volumes de petrleo entre tanques.

    Qual ser o caso que necessita de maior ateno e dispndio de tempo e dinheiro? Analisando a matriz de risco podemos verificar que a ocorrncia de um furo pode acontecer com ambos com a mesma freqncia, ou seja, provavelmente j ocorreu na instalao, entretanto ao analisarmos frente ao impacto causado verificamos que a tubulao na bacia de tanques atinge uma rea controlada, confinada, enquanto a tubulao sobre o mar pode causar desastre ambiental, ou seja, risco 3 e 1 respectivamente em nossa matriz. Racionalmente a tubulao sobre o mar exige maior ateno. A tcnica acima trata de como gerenciar a preveno do problema, ou seja, focar os esforos onde realmente necessrio para prevenir os acidentes, entretanto, como atuar quando no conseguimos evitar um acidente? Neste caso, como vimos anteriormente necessrio Ter um

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    plano de contingncia muito bem estruturado e uma forma de se conseguir elabor-lo atravs da Anlise Histrica de Acidentes. A anlise histrica de acidentes consiste na associao dos perigos identificados na anlise crtica dos resultados e das causas dos acidentes ocorridos em instalaes similares a analisada. A forma mais comum de elaborao desta anlise a consulta a bancos de dados e referncias bibliogrficas. importante que a pesquisa seja abrangente, envolvendo publicaes internacionais e consultas at mesmo a empresas concorrentes, e deve ser tratada de forma estatstica, fornecendo assim ndices de trabalho para causas e conseqncias, possibilitando a estruturao de um plano de contingncia. Voltando a relacionar o derrame como principal problema, em ocorrncias, vamos citar como exemplo acidentes que foram exaustivamente estudados para a definio de planos de contingncia: TORREY CANYON - At o acidente de Torrey Canyon a preservao do meio ambiente marinho estava praticamente restrita a Conveno Internacional para a preveno da Poluio do Mar por leo (Internacional Convention for the Prevention of Pollution of Sea by Oil). O Petroleiro encalhou na costa da Bretanha, em 1967, sendo totalmente destrudo pelo mar, derramado 117000 toneladas de Petrleo do Kuwait, cerca de 390 Km de litoral da Frana e Inglaterra foram atingidos, mostrando ao mundo o quanto estava despreparado para enfrentar estas situaes. Devido ao emprego de dispersantes a populao marinha sofreu agresses por mais de dez anos. BARCAA FLRIDA Em 1969, a Barcaa Flrida, que levava cerca de 2500 toneladas de leo combustvel, naufraga na baia de Bazzard em Massachusetts. Este acidente muito importante, pois ocorreu em guas interiores e foi muito estudado pelos Nortes Americanos. Suas conseqncias mais notveis foram mortandade de pequenos peixes, invertebrados e organismos de pntano alm de trocas na estrutura gentica de populaes marinhas locais, esterilidade de alguns moluscos e principalmente desajuste comportamental. Estes so exemplos de acidentes que poderiam ser evitados ou ter suas conseqncias reduzidas pelo uso das tcnicas que discutimos. Entretanto, o desenvolvimento destas e de outras tcnicas, todas muito eficientes por sinal, s acarretaram em resultados se forem aplicadas de forma extensiva, e para tanto se faz necessria formao de uma cultura ambiental, no apenas na gesto das empresas como se encarrega a ISO 14000, mas determinantemente no dia a dia das pessoas sejam eles operrios de indstrias sejam donas de casa ou crianas, com a mesma determinao que devemos buscar um sistema de gesto ambiental vivo, dinmico, devemos incentivar a coleta seletiva de lixo, dar preferncia a produtos ecologicamente corretos e incentivar a educao ambiental em casa e na escola, dentre outros.

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    9. BIBLIOGRAFIA Drew, David. Processos Interativos Homem-Ambiente 4 Ed. 1998.

    Valle, Cyro Eyer. Como se preparar para as Normas ISO 14000 2 Ed. 1995.

    Heinrich Boll Foundation. The joburg-Memo Memorandum for the World Summit on Sustainable Development. 2 Ed. 2002.

    Apostila de proteo Ambiental na Indstria do Petrleo. CEFET- 2002.

    A questo Ambiental Diferentes: diferentes abordagens-/ Sandra Baptista da Cunha e Antonio Jos Teixeira Guerra (organizadores) 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007

    C Alteraes macroclimticas: