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Prêmio UNESCO 2002

Coordenação geral

Jorge Werthein

Marlova Jovchelovitch Noleto

Coordenação adjunta

Manuela Pinheiro de Moraes Rêgo

Produção

Ana Theresa Botafogo Proença

Apoio

Beatriz Maria Godinho Barros Coelho

Vera Ros Vasconcelos

Agradecimentos especiais:

Ary Mergulhão

Jurema Machado

Escritório UNESCO de Brasília

Escritório UNESCO da Bahia

Edição de textos e divulgação

Ana Lucia Guimarães

Terezinha Tarcitano

Programação Visual

Edson Fogaça

Brasília, novembro de 2002

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Apresentação..............................................................................................................................................................................................Regulamento................................................................................................................................................................................................Introdução.....................................................................................................................................................................................................

Categoria EDUCAÇÃOFundação Roberto Marinho...................................................................................................................................................

Categoria CIÊNCIAFundação Oswaldo Cruz..........................................................................................................................................................

Categoria MEIO AMBIENTEAgenda Ambiental da Administração Pública.......................................................................................................

Categoria CULTURACaixa..............................................................................................................................................................................................................

Categoria JORNALISMOTim Lopes................................................................................................................................................................................................

Categoria COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃOCDI Comitê para a Democratização da Informática.................................................................................

Categoria DIREITOS HUMANOS E CULTURA DE PAZEvandro Lins e Silva........................................................................................................................................................................

Categoria CIDADANIA E ÉTICADrauzio Varella......................................................................................................................................................................................

Categoria JUVENTUDEPracatum Ação Social......................................................................................................................................................................

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SUMÁRIO

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Todos os anos, a UNESCO procura atentamente identificar pessoas e instituições que desenvolvam experiências de sucesso

no sentido de enfrentar e amenizar a desigualdade abissal que temos hoje na sociedade brasileira. E que sejam capazes de replicar

essas experiências em diferentes pontos do País. Essas pessoas e instituições estão dando suas parcelas de contribuição.

Homenageá-las é uma das formas que temos de realçar as esperanças de todos na construção de um Brasil mais justo.

Nesta quarta edição do Prêmio Unesco, temos a satisfação de anunciar uma nova categoria: Jornalismo. Além disso, desmem-

bramos outras que antes estavam juntas, totalizando hoje nove categorias. Essas mudanças no Prêmio UNESCO 2002 têm a

intenção de valorizar ainda mais nossos homenageados, além de ampliar os espaços para outras áreas igualmente importantes de

serem destacadas. A partir deste ano, as categorias serão Educação, Ciência, Meio Ambiente, Cultura, Jornalismo, Comunicação

e Informação, Direitos Humanos e Cultura de Paz, Cidadania e Juventude.

Na função de identificar e prestigiar projetos e programas de relevância, que de alguma forma tenham contribuído para

avanços sociais no País, a UNESCO se inclui como participante. Se por um lado temos o Prêmio UNESCO como instrumento de

prestigiar as boas idéias, também trabalhamos, muito, em centenas de projetos que fazem parte do elenco de ações importantes

para efetuar mudanças na luta contra a desigualdade e a exclusão social.

A UNESCO tem a mais profunda crença de que só por intermédio de ações concretas norteadas pelos ideais de paz e justiça,

solidariedade e ética é que poderemos trabalhar no sentido da construção solidária de uma sociedade melhor. Uma sociedade

onde ações do poder público e da sociedade civil se orientem por princípios voltados a uma nova ética universal compartilhada, com

adoção e desenvolvimento de valores que sirvam de referência às novas gerações.

O enfrentamento da pobreza e suas dramáticas conseqüências deverá ser assunto de destaque nos próximos meses no Brasil.

Essa é uma tarefa que não cabe apenas a um governo ou uma instituição, mas é precisamente a união de todos que determinará

o tamanho do avanço. Novos tempos se aproximam, com novas esperanças e novas soluções.

Mais uma vez, a UNESCO apresenta-se como parceira na realização de projetos que encontrem soluções criativas e ino-

vadoras, capazes de transformar a fundo a realidade brasileira. Oferecemos idéias e sugestões de solução. Além de um incansável tra-

balho no sentido de contribuir para mudar a condição de vida das pessoas que ainda não têm acesso à educação, à cultura e à

comunicação. Para isso, a cada ano estaremos também aplaudindo e premiando aqueles que se destacarem em suas atividades sociais,

culturais, científicas ou educacionais.

*Representante da UNESCO no Brasil

Parceria reafirmadaJorge Werthein*

As edições anteriores do Prêmio UNESCO incluíamseis categorias cobrindo as principais áreas de atuação daUNESCO Brasil. Para cada categoria, existiam dois premiados,escolhidos entre pessoas e experiências que se destacassem,em nível nacional, com contribuições relevantes ao desen-volvimento humano, oriundas do setor público e dasociedade civil.A experiência dessa concepção inicial atendeu plenamente

aos objetivos do prêmio, que era o reconhecimento, pelaUNESCO, dos avanços em direção a uma sociedade maissolidária, tanto em termos conceituais e de idéias quanto sob aforma de projetos de melhoria do nível de vida dos segmen-tos sociais mais atingidos pelas formas assimétricas do desen-volvimento.

Por outro lado, a prática dessa concepção, em quepese o grande êxito alcançado, mostrou a necessidade deuma melhor divisão das categorias do prêmio, de forma aatender à diversidade de situações e de iniciativas nas áreascobertas pelo mandato da UNESCO. Mostrou, ainda, que arelevância da premiação aumentaria se fosse atribuído um, enão dois, prêmio por cada categoria.

Assim sendo, a nova formatação que se segueprocurou fortalecer e aperfeiçoar o referido prêmio, conce-dendo ao laureado, seja pessoa física, instituição, entidade ouexperiência inovadora, em cada categoria, o status indivisívelde Prêmio UNESCO, critério que amplia o rigor da escolha efortalece o seu sentido social e referencial.

Objetivo

Premiar, anualmente, instituições públicas e dasociedade civil e/ou pessoas que se destacarem por ações deelevada relevância social nas áreas de educação, cultura, meioambiente, ciência e tecnologia, comunicação, direitoshumanos e desenvolvimento social.

Fundamentos

Há mais de meio século, a UNESCO empreendeincessante luta para a redução das desigualdades sociais e ainstauração de sociedades livres, pautadas pelos ideais de paze justiça, solidariedade e ética. A construção solidária, defen-dida pela UNESCO, só poderá ser alcançada na medida emque as ações do poder público e da sociedade civil se orientarempor princípios de uma nova ética universal compartilhada,mediante a adoção e o desenvolvimento de valores que pos-sam servir de referência às novas gerações.

A UNESCO tem a mais profunda crença de que sópor intermédio de ações concretas, norteadas pelos princí-pios acima expostos, será possível, de forma gradual e pro-gressivamente abrangente, reverter o quadro de perplexi-dades que restou ao encerramento do século XX, para inau-gurar um novo século, cuja marca dominante haverá de ser aluta pela universalização da cidadania.

Em sendo assim, a decisão de se premiar instituiçõesda sociedade civil e do setor público, bem como pessoas dereconhecida contribuição nas áreas de atuação da UNESCO,define-se como incentivo e crença na possibilidade de umanova ética. Depõem a favor desse argumento inúmerasexperiências que estão em curso no Brasil hoje, conduzidase executadas pelos setores públicos e por entidades dasociedade civil, concebidas no contexto de uma novasociedade e implementadas com vistas ao novo desenhoconceitual de desenvolvimento que se almeja para o próximomilênio. Como também a atuação individual de pessoas que,tanto no plano das idéias quanto no das ações, se tornamexemplo e referência na luta por sociedades mais justas edemocráticas.

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Regulamento

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Categorias

• Educação• Ciência• Cultura• Meio Ambiente• Juventude • Cidadania e Ética• Direitos Humanos e Cultura de Paz• Comunicação e Informação• Jornalismo

Critérios

Um conjunto de critérios orientará a outorga doprêmio, pautado, basicamente, pela relevância social, em termosde política pública, e pela profundidade da inovação, nos casosde entidades e/ou organizações. Entre os critérios queorientarão a escolha, destacam-se os seguintes:

• potencialidade da experiência em termos de sua aplicabilidade como política pública de alcance social; • credibilidade da instituição e dos parceiros envolvidos;• tempo mínimo de 3 (três) anos de duração;• capacidade institucional em termos de continuidade;• reconhecida contribuição ao desenvolvimento das áreas incluídas nas diversas categorias do prêmio;• afinidade com o mandato e os compromissos da UNESCO.

No caso de pessoas físicas, os critérios serão:• notório saber, destacada atuação, já reconhecida pela sociedade brasileira, em uma das áreas do Prêmio;• atuação de, no mínimo, 3 (três) anos, com destaqueem uma das áreas do Prêmio;• publicações na área;• reconhecimento, pelos seus pares, como alguém cuja atuação tenha trazido importante benefício para a sociedade brasileira.

Número de premiados

Um por categoria, podendo ser pessoa física, insti-tuição, entidade ou projeto inovador.

Indicações para o prêmio

De acordo com os critérios estabelecidos, a UNESCOpoderá receber indicações de entidades da sociedade civil edo poder público, das três esferas administrativas do País.Essas indicações serão analisadas por um júri constituído noâmbito interno da UNESCO.

Júri

Da própria UNESCO, com representantes das áreasde Educação, Cultura, Ciências e Meio Ambiente, Desen-volvimento Social, Direitos Humanos e Cultura de Paz.

Natureza da premiação

O prêmio UNESCO, em 2002, consistirá na outorga deum diploma e uma escultura em cerâmica, produzida no Valedo Jequitinhonha, às entidades e/ou personalidades que, segun-do os critérios elaborados pela UNESCO, preencherem osrequisitos estabelecidos nas áreas de abrangência do Prêmio.

Solenidade de premiação

Os prêmios serão entregues em Solenidade públicano dia 13 de novembro de 2002, no Teatro Nacional, emBrasília.

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A cada ano, objetos de arte materializam o Prêmio UNESCO. Dentre as melhores expressões da arte brasileira, são cuida-

dosamente selecionadas, peças que, além dos seus atributos estéticos, sejam transmissoras de valores éticos representativos dos

compromissos da Organização. Assim foi com a escolha, nos três anos anteriores, de obras de Brennand, Fayga Ostrower e

Antônio Poteiro, que trafegam do popular ao erudito, mas guardam, em comum, a expressão mais legítima do seu tempo e do

vasto universo cultural brasileiro.

Nesse ano de 2002, fomos buscar na região do Vale do Jequitinhonha, enclave de pobreza e desigualdade no norte de Minas

Gerais, a produção artística de homens e mulheres castigados por uma longa história de mineração predatória e de injustiças

sociais, agravadas pela aridez do clima e da paisagem.

Em meio a tanta escassez, é pródigo o barro para a cerâmica, argilas variadas com pigmentos naturais que a tradição ensinou

como aproveitar para colorir as peças. Os indígenas já sabiam como usá-lo e esse conhecimento foi, e é até hoje, transmitido por

gerações. A pobreza material fez com que se buscasse, direto da natureza, a matéria-prima para os utensílios domésticos, as

panelas, os brinquedos e os presépios. O passo seguinte foram as chamadas "peças de enfeite", não mais exclusivamente utilitárias,

mas rigorosamente presas ao cotidiano do povo do lugar. Expressão inequívoca de um universo dominado por mulheres, muitas

delas chefes de família, cujos pais, irmãos e companheiros são lavradores e estão sempre migrando à procura de trabalho.

Na seleção de temas e na forma de criação, predomina o sentido do coletivo. Tudo ensinado dos pais e mães aos filhos,

autoria anônima, que só mais recentemente vem ganhando a assinatura dos mestres mais reconhecidos, resultado do contato com

o mundo da arte culta.

Individualmente e em seu conjunto, as peças expressam, com realismo e pureza, a textura da pele, as cores, os olhos, enfim, a

fisionomia do povo: – são figuras humanas, em sua maioria mulheres, noivas, grávidas, mães amamentando, e seu dia-a-dia, as

festas, casamentos e animais domésticos. Surgem também variações mais abstratas, tendendo para o surrealismo e resultando em

objetos antropomórficos, mistura de gente com bicho, ou em bichos imaginados.

Ao oferecer alguns desses exemplares aos homenageados de 2002, a UNESCO se sente honrada em contribuir com a preser-

vação dos valores dessa arte e dessa gente e em se juntar às instituições e pessoas que trabalham para o seu reconhecimento e para

a melhoria das suas condições de vida.

A expressão de vida na cerâmica do Jequitinhonha

Introdução

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Maurina Pereira dos SantosMULHER AMAMENTANDO Santana do AraçuaíDistrito de Ponto dos Volantes – MG

Ulisses Pereira ChavesMÁSCARACaraí – MG

Ulisses Pereira Chaves PÁSSARO BICUDOCaraí – MG

Ulisses Pereira ChavesCABAÇA DE 5 CABEÇASCaraí – MG

Maria Gomes dos Santos CIRANDA COM BOI Campo Alegre, Distrito de Turmalina – MG

Maria Gomes dos SantosMULHER AMAMENTANDO E BOICampo Alegre, Distrito de Turmalina – MG

Rita Gomes Xavier MULHER COM CACHO DE BANANACampo Alegre, Distrito de Turmalina – MG

Maria da Conceição Gomes FranciscoCIRANDA Campo Alegre, Distrito de Turmalina – MG

Rosa Gomes da SilvaGEMÊASCampo Alegre, Distrito de Turmalina – MG

Uma instituição dedicada ao conhecimento. Isto ainda épouco para definir o trabalho e a abrangência da atuação daFundação Roberto Marinho em todos os cantos do Brasil. Suapresença já se confunde com nossa história, tamanha a proximi-dade que tem de cada um de nós, entrando em nossas casas,escolas, hospitais, junto com os programas de televisão que pro-duz e que fazem parte de nosso dia-a-dia.

Seu objetivo é contribuir, com o uso dos meios de comuni-cação, para a solução dos principais problemas educacionais damaioria da população brasileira. Tão vasta quanto essa meta é acompreensão que tem de educação: o sentido mais amplo, como envolvimento de diferentes áreas temáticas, contemplandoparte da rica experiência cotidiana do homem e de sua comu-nidade. Seus projetos passam por diferentes áreas, sem nuncaperder a abordagem educativa, presente em todos eles.

A Fundação Roberto Marinho foi criada em 1977 pelasOrganizações Globo, como uma instituição privada com atuaçãono Terceiro Setor. Em 1981, foi declarada instituição de UtilidadePública Federal, com sede no Rio Comprido, Rio de Janeiro (RJ).Para cumprir suas metas, desenvolve projetos educacionais, que

abrangem todo o País, no ensino básico, educação complementar,patrimônio histórico e cultural e meio ambiente.

A opção pela parceria tornou-se um princípio de realizaçãoda Fundação. Trabalha em conjunto com empresas privadas, enti-dades governamentais, associações comunitárias, organismosinternacionais e sindicatos.Assim, envolvida com os diversos segmentos da sociedade orga-nizada, a Fundação amplifica a sua atuação em iniciativas queempregam as mais modernas técnicas de comunicação para fazerchegar educação a quem precisa.

Sua história está entrelaçada com o desenvolvimento da tele-ducação no Brasil. Basta lembrarmos da importância e granderepercussão do Telecurso 2000, iniciativa que marcou época.Foram produzidos 1.272 programas/aulas que atingiram 700 milalunos em todo o País, dando oportunidade de conclusão dosestudos básicos a jovens e adultos.

Outra iniciativa de enorme sucesso foi o programa GloboCiência, considerado um dos melhores da televisão brasileira.Aquilo que parecia ser um mundo distante e complicado, possívelapenas para alguns iniciados, foi levado semanalmente a milhões

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Categoria Educação

Fundação Roberto Marinho

Contribuindo para universalizar o acesso à educação

de brasileiros de forma didática, interessantee até mesmo divertida. Na área de identificação e valorização debens culturais históricos e culturaisbrasileiros, a Fundação possui mais de 80projetos, começando pela recuperação erevitalização de sua própria sede, a Casado Bispo, no Rio. Entre os bens estão museus,igrejas, capelas, conventos, casarões, teatros,centros e monumentos históricos em maisde 30 cidades brasileiras. A estratégia daFundação em identificar e valorizar adiversidade histórica e cultural do Brasil émovida pela convicção de que “patrimônio não éapenas o que possuímos. É também o que somos”.

Na área ambiental a Fundação se destaca em duas principaisfrentes. O programa Globo Ecologia, que teve mais de 470 episó-dios, levou ao ar mais de dez campanhas de preservação e atingecinco milhões de telespectadores por semana. Houve ainda cam-panhas de preservação da natureza e educação ambiental, como

a Tom da Mata, conscientizando crianças ejovens sobre a necessidade de se preservar aMata Atlântica, e a iniciativa irmã Tom Pantanal,voltada para estudantes da rede pública deensino nos estados próximos à região do pan-tanal.O Canal Futura foi a iniciativa recente maisousada da Fundação Roberto Marinho. Ummarco como primeiro canal privado de

educação do País, entrou no ar em 1997e hoje conta com um público demais de 10 milhões de telespectadores.É captada por tv a cabo ou por antena

parabólica, com 24 horas de progra-mação todos os dias e mantida por uma parce-

ria com 14 instituições. Há muitos outros projetos e iniciativas da Fundação que contribuem,decisivamente, para o nível educacional da população brasileira.É sua atuação no universo ilimitado do conhecimento, junta-mente com seus parceiros, que contribuem para a construção de

Prêmio UNESCO 2002

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Maior instituição de pesquisa biomédica e em saúde públicada América Latina, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é um cen-tro polivalente e multidisciplinar de pesquisa na área médica. Hoje,a Fiocruz é a maior produtora nacional de imunobiológicos, comcapacidade anual de 200 milhões de doses de vacinas. Produz –ainda, reagentes, diagnósticos e medicamentos. Cumpre-se o desejode Oswaldo Gonçalves Cruz que, em 25 de maio de 1900, crioua instituição. São muitos anos de dedicação científica ao Brasil.

Preocupada em sempre atuar com profissionalismo na áreamédica, seus funcionários não medem esforços no desenvolvi-mento de pesquisas biológica e biomédica, além de tecnologiasem diversos campos da saúde. Para tanto, a instituição investe emseus profissionais: destaca-se como a principal instituição não-uni-versitária de formação de recursos humanos em saúde no País, játendo formado cerca de 20 mil profissionais voltados para o aper-feiçoamento dos serviços de saúde, mantendo 700 matrículas ativasem seus programas de mestrado e doutorado. Na área de pós-graduação, a Fiocruz oferece oito programas de Mestrado eDoutorado. Já formou mais de 15 mil profissionais voltados aoaperfeiçoamento do sistema de serviços de saúde do País.

Atualmente, cerca de 1.350, dos seus 3.180 servidores, têmpós-graduação, sendo 316 com doutorado e 532 com mestrado.Entre os 520 pesquisadores, 51% têm doutorado, 40% mestradoe 8% especialização.

Ligada ao Ministério da Saúde, a instituição participa da for-mulação das políticas nacionais de saúde. Incansável em suaspesquisas, tornou-se importante centro fornecedor de medica-mentos para o Sistema Único de Saúde, fabricando quase umbilhão de unidades farmacêuticas por ano. Já faz par te doseu dia-a-dia desenvolver novos produtos e aperfeiçoar os jáexistentes. Nos seus laboratórios de controle de qualidade,realiza cerca de 5.700 análises anuais de vacinas, medicamentos,cosméticos e alimentos. Nas unidades de assistência médica,atende a 2.500 internações e cerca de 360 mil consultas.

A Fundação responde por cerca de 50% da produçãonacional de vacinas, com capacidade para criar mais de 200 milhõesde doses de vacinas ao ano. Teve papel de destaque na luta pelaprevenção e controle da Aids no País: produz anualmente oitodos 12 remédios do coquetel contra a Aids. Mais de 100 milpacientes de Aids utilizam os medicamentos do coquetel, os quais

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Categoria Ciência

Fundação Oswaldo Cruz

Excelência científica como regra

a fundação mantém acordos de cooperaçãocom instituições de 26 diferentes países, emmais de 60 convênios de pesquisa. Em média,produz três milhões de reativos/kits por ano, que são usados em diagnóstico de doenças.

A dedicação à educação não pára por aí. A Fundação possuiprograma de difusão científica por meio de publicações e progra-mas de televisão. A Editora Fiocruz já publicou mais de 100títulos; o Canal Saúde é um projeto de televisão, com programasdiários via satélite e semanais via rede de tvs educativas do país, eo RADIS – Reunião, Análise e Difusão de Informação em Saúdeedita mais de 200 mil exemplares/ano de publicações sobresaúde. Para que toda essa produção esteja disponível, a instituiçãoconta com uma videoteca com mais de 2.500 produções sobresaúde, ciência e tecnologia.

A cooperação internacional está entre as principais estratégiasda Fundação. Seu programa de ensino é aberto para estudantesestrangeiros, que podem acessá-lo por meio das representaçõesdo Brasil no exterior. Para os próximos quatro anos a prioridadeserá o desenvolvimento tecnológico em produtos e serviços para

o sistema de saúde, objetivo definido nas dire-trizes para a elaboração do seu Plano Quadrienal

2001-2005 (www.fiocruz.br). A Fundação Oswaldo Cruz está organizada em 17

unidades técnico-científicas, localizadas em seis estados brasileiros eno Distrito Federal. No Rio de Janeiro está sediada a presidência daInstituição e a administração central. O Instituto Oswaldo Cruz ésua mais antiga unidade. Destina-se à pesquisa biológica e bio-médica, ao ensino (Mestrado e Doutorado em Biologia Parasitária,Medicina Tropical, Biologia Celular e Molecular, além de cursosde especialização) e ao desenvolvimento tecnológico.

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Far-Manguinhos) é aunidade responsável pela produção e desenvolvimento tecnológi-co de fármacos e medicamentos, tendo uma linha de pesquisa deplantas medicinais a partir da biodiversidade brasileira. Tanto olaboratório quanto a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) daFiocruz desenvolveram estudos em relação aos medicamentosgenéricos, com o objetivo de diminuir os custos dos remédios erepassar a tecnologia dessas drogas. Far-Manguinhos, dessa forma,exerceu um papel regulador quanto aos preços dos medicamentos.

Prêmio UNESCO 2002

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E se o governo, por ser governo, desse o exemplo? Essebem que poderia ter sido o pensamento que motivou a criaçãodo projeto Agenda Ambiental da Administração Pública, conheci-do por A3P, do Ministério do Meio Ambiente. Sabemos que anossa sobrevivência – e a do planeta – está diretamente ligadaà capacidade de mudarmos o modelo de gestão das organiza-ções públicas e privadas. Coisa que não é lá muito fácil para associedades do século XXI, mal-acostumadas ao desperdício eao lema "salve-se quem puder!"

A saída parece estar na sustentabilidade do uso de recursosnecessários para nossa vida em comunidade. Há quem diga quesustentabilidade esteja na moda. E ainda bem que está, porquesó com uma nova maneira de viver as relações coletivas é queteremos chances de melhorar a qualidade de vida do homem,sua saúde, seu bem-estar e ainda preservando esses avanços para asgerações futuras. Só assim nossas chances de salvação aumentam.

A Agenda Ambiental da Administração Pública é uma açãode caráter voluntário, que visa induzir a adoção de um modelode gestão pública que corrija e diminua impactos negativos pro-duzidos durante uma jornada de trabalho.

Para conseguir isso é necessário reaprender a usar adequada-mente os recursos naturais, materiais, financeiros e humanos. Épreciso resgatar valores esquecidos e ainda adotar novos parase chegar a uma vida mais saudável.

Não parece tarefa fácil. E não é.Criado em 1999, o projeto foi implementado, inicialmente

como uma experiência-piloto, no próprio Ministério do MeioAmbiente. Usando metodologia dos princípios da Norma eCer tificação Ambiental ISO 14.001, seu objetivo inicial foichamar a atenção dos servidores públicos para as questõesambientais por meio de novos procedimentos em sua rotina detrabalho.

Seu primeiro momento foi de mobilização e engajamentodos servidores, com a identificação dos aspectos ambientaisnegativos, a busca de soluções da implementação de ações cor-retivas e a promoção de mudanças. Foi aí que um aspectomuito importante da vida do servidor público foi tocado: a cul-tura institucional. Para lidar com isso, foi necessário estimular osservidores à reflexão, ao aprendizado sobre as questões ambi-entais e às novas formas de trabalhar.

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Categoria Meio ambiente

Agenda Ambiental da Administração Pública

O melhor dos exemplos

Os temas levados à discussão em reuniõescom os servidores foram: gestão adequadade resíduos sólidos, programas de reduçãodo consumo e do desperdício, estímulo àscompras governamentais ecoeficientes e acapacitação e treinamento dos servidorespúblicos voltados às questões ambientais.Todos com ligação direta com o trabalhodesempenhado pelos servidores.

Antes disso, foi criada uma comissão deimplantação, elaborado, em seguida, um diag-nóstico e a própria Agenda Ambiental. Depois,veio a elaboração do Plano de Ações comdefinição de prazo de execução. A partir daí,aconteceram a execução das ações propostas eo acompanhamento e avaliação dos resultados,refletindo-se em melhoria contínua das condiçõesde trabalho.

Levou-se sempre em contas diferentes maneiras de sensibi-lização e motivação dos servidores, por meio de materiais

didático-pedagógicos, informativos e realização deeventos para uma troca descontraída de informações.

O projeto tem dado tão certo que logo passoudos servidores públicos federais para, com a ajuda demanuais, vídeos e folders, ser também implementadonos três níveis dos Poderes Executivo, Legislativo eJudiciário. E os avanços continuam.

Desde 2001, o Ministério do Meio Ambiente firmaTermos de Cooperação Técnica com diversos outrosórgãos de governo interessados em implementar oprojeto A3P. Entre eles estão, a Presidência daRepública, Comunidade Solidária, Câmara dosDeputados, Sebrae Nacional e Regionais, Ministérioda Defesa, Empresa Brasileira de Correios ePrefeitura de Palmas.

Se a idéia é usar o efeito demonstrativo dosgovernos perante a sociedade em geral, surgem

novas perspectivas. Ao ver que o próprio governo dá oexemplo, fica mais fácil acreditar que é possível tornar ofuturo um lugar melhor para todos.

Prêmio UNESCO 2002

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A Caixa Econômica Federal experimentou algumas açõesde reabilitação de sítios históricos ainda nos anos 80, naépoca do Banco Nacional da Habitação, o extinto BNH,quando estudou a criação de um programa específico, tendocomo referência um projeto-piloto no centro antigo deOlinda. A ênfase à participação da comunidade e a definiçãode um fundo municipal de preservação foram os maioresméritos desse estudo. No ano 2000, a Caixa retomou estetema, lançando o Programa de Revitalização de SítiosHistóricos, o PRSH, que trata da reabilitação de áreas cen-trais degradadas, apoiada em uma estratégia de desenvolvi-mento local, mobilizando parcerias e comprometendo acomunidade, empresários e setor publico em todo o proces-so.

Essa nova linha de ação, à primeira vista, pode ter causa-do estranheza: –por que um Banco deveria se interessar pelapreservação de sítios históricos? Mas a instituição tem-semostrado segura de que essa atitude corajosa e inovadora sebaseia em uma visão abrangente da preservação que, comopreconiza a UNESCO há várias décadas, associa a Cultura ao

desenvolvimento social e econômico.Não apenas o valor cultural desses bens mobiliza a Caixa.Existe no Brasil um déficit habitacional urbano de 5,4

milhões de moradias e 4,6 milhões de domicílios urbanosvagos. Embora ainda não existam dados detalhados sobreesses domicílios, estudos demonstram que a maioria deles selocaliza nas muitas áreas centrais degradadas das cidadesbrasileiras. Essas áreas, por sua vez, correspondem, quasesempre, às regiões mais antigas das cidades – são conjuntosurbanos com edificações dispostas em tramas de valor patri-monial, dotados de infra-estrutura urbana e serviços, equipa-mentos públicos, transportes e oportunidades de trabalho.

Ao levantar a bandeira de incluir na política urbanabrasileira a reabilitação de sítios históricos e das áreas centraisdas nossas cidades, a Caixa merece o aplauso de todos nós.Reutilizar domicílios vagos e reabilitar áreas centrais, além domérito da preservação do patrimônio cultural, significa umganho social e ambiental inestimável, uma vez que reduz odesperdício de tudo aquilo que foi construído com o esforçode gerações, evita novos gastos com infra-estutura, contribui

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Categoria Cultura

CAIXA

Compromisso com a cultura e o desenvolvimento

para a conservação de energia edesestimula que a urbanizaçãoavance sobre áreas de interesse depreservação.

Além disso, essa linha de açãodemonstra exemplarmente a estra-tégia de associar a valorização dopatrimônio cultural à melhoria decondições de vida da população:geração de novos empregos, nãoapenas na construção civil, mastambém na etapa subseqüente, ouseja, no setor do turismo culturale de serviços dele decorrentes.

É louvável, também, o esforçonacional empreendido pela Caixa na divulgação eimplantação do Esta-tuto da Cidade, a nova lei federal de desen-volvimento urbano que induz a implantação de PlanosDiretores e de sistemas de gestão democrática nas cidades,oferecendo novas perspectivas para a preservação do

patrimônio cultural urbano no Brasil.Além desse empenho em favor do

patrimônio cultural urbano brasileiro, aCaixa tem sido incentivadora da cul-tura no Brasil desde o tempo doImpério. Mantém em todo o país umgrande número de equipamentos cul-turais, promove, apóia e divulga asmanifestações artístico-culturais, desen-volve iniciativas criativas como a con-tratação de artistas para ilustrarem os

bilhetes das Loterias Federais, propiciaa pesquisa e o desenvolvimento artísti-

co, além de preservar importante acervomuseológico e vasta coleção de obras de

arte.Hoje, a Caixa detém uma das mais completas coleções deobras de arte e documentos que retratam as atividadeseconômico-financeiras do País, colocando-os à disposição dopúblico, contribuindo, assim, para a disseminação da cultura

Prêmio UNESCO 2002

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Ele tinha nome de anjo. Na verdade, de arcanjo, que é oanjo de uma ordem superior. Mas não era só o nome que davadignidade à pessoa e ao trabalho de Arcanjo Antonino Lopesdo Nascimento. Este é o nome do conhecido Tim Lopes, quefoi brindado com o apelido, pelo também jornalista SamuelWainer, quando conseguiu o seu primeiro trabalho na RevistaDomingo Ilustrada, da Bloch Editores.

Tim desapareceu no dia 2 de julho de 2002, na VilaCruzeiro, bairro da Penha, zona norte da cidade do Rio deJaneiro, quando fazia, para a Rede Globo, reportagem sobre arelação dos bailes funk com o tráfico de drogas e a prostituiçãoinfantil. Foi exatamente com uma dessas matérias, chamada"Feira de Drogas", feita em dezembro de 2001, que o jornalistahavia ganho uma das maiores premiações do jornalismobrasileiro, o Prêmio Esso de Telejornalismo de 2002. Umadenúncia forte, cujas imagens ficaram gravadas em nossamemória: drogas sendo vendidas e anunciadas aos gritos nasruas; traficantes fortemente armados, protegendo seus "pontos".

O mesmo tema já havia proporcionado outro prêmio aTim, em março de 1994, quando trabalhava no jornal carioca O

Dia. Foi para a matéria "Funk, som, alegria e terror". O proble-ma da criminalidade nas favelas cariocas era uma obsessão dojornalista. Antes disso, com reportagens de esportes, o talentode Tim Lopes havia sido reconhecido com XII Prêmio Abril deJornalismo, em 1986, e o XI Prêmio Abril de Jornalismo, em1985. Premiações que deixaram evidente a preferência de Timpor temas relacionados à vida do povo – sejam seus problemas,como tráfico de drogas, ou sua diversão, como o futebol – , numacarreira feita nos jornais O Repórter, O Globo, Jornal do Brasile O Dia, na revista Placar, e, por último, na Rede Globo.

Gaúcho de Pelotas, Tim foi logo morar na Mangueira assim quechegou ao Rio de Janeiro. Ficou quase dez anos num dos maisautênticos símbolos cariocas, incorporando plenamente o espíritodescontraído da cidade. Era homem de sorriso largo, que logo con-quistava as pessoas com seu permanente bom humor, e de umaginga que em nada lembrava suas origens gaúchas. Gostava de sam-bar na Mangueira, de caminhar pelo calçadão e torcia pelo Vasco daGama. Tinha muitos amigos. Estava em seu segundo casamento, comdois filhos. Um companheiro incansável, inseparável e generoso emtodas as situações, segundo sua segunda mulher, Alessandra Wagner.

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Categoria Jornalismo

Tim Lopes

A coragem de investigar

Foram essa generosidade e esseespírito de homem do povo que certa-mente motivaram Tim a investigar um dosproblemas mais graves e angustiantes dapopulação carioca, que é o tráfico de drogas. Nofatídico dia em que esteve na Vila Cruzeiro, Tim Lopes seguiadenúncias relativas ao tráfico e à exploração sexual de menoresnos bailes funks. Repórter de televisão e consciente do imensopoder deste poderoso meio de comunicação, Tim buscavareunir elementos para denunciar e expor a milhões debrasileiros a triste realidade construída pelo crime organizadonos bairros mais pobres da Cidade Maravilhosa. Homem dopovo, com cara de homem do povo, Tim foi à Vila Cruzeiro como objetivo de mostrar a profundidade dos problemas enfrenta-dos pelo povo carioca – que, de resto, são comuns a vastasparcelas da população brasileira.

"Tim sempre fez questão de ser um anônimo. Um anônimoque mostrava as mazelas e as virtudes de outros tantos anôni-mos – estes, sim, a notícia", escreveu Alessandra Wagner. Era dopovo que ele mais gostava de falar em suas matérias. E sempre

conseguia o que buscava porque sua sim-plicidade tocava o coração de todo mundo

que o conhecia. É essa coragem, é esse não medir esforços no

cumprimento profissional que contribuem enorme-mente para que o jornalismo investigativo no Brasil não seja

interrompido, nem calado. É por essa e tantas outras qualidadeprofissionais que Tim Lopes recebe, in memoriam, a homenagemdo Prêmio UNESCO 2002. A categoria Jornalismo é nova, mas caisob medida para o trabalho deste valioso profissional.

Um dia Tim saiu para trabalhar e nunca mais voltou. Suamorte gerou manifestações de repúdio de toda a sociedadebrasileira e teve repercussão internacional. Morreu o profissional.Ficou seu exemplo e a intensificação do trabalho de jornalismoinvestigativo brasileiro contra a o crime organizado e o tráficode drogas. Um alerta para que todos participem, cada vez mais,de movimentos e manifestações pela vida e pela paz. É com jor-nalismo como aquele que Tim fazia que crescerá a consciênciado país em relação a seus problemas e a capacidade da nossasociedade de superar esses problemas.

Prêmio UNESCO 2002

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A informática revolucionou a vida no planeta. E, hoje,a tecnologia da informação é uma das principais forçasmotrizes das sociedades. Mesmo exercendo verdadeirofascínio entre os jovens, atualmente, pouco mais de 12% dosbrasileiros têm um micro em casa. A região Nordeste possuio menor índice. Somente 5,2% dos domicílios têm computa-dor. Em Pernambuco, esse percentual é de 7%. Enquanto nosEstados Unidos, 54,2% das pessoas têm acesso à Internet, noBrasil, esse número é de 8%, sendo a grande maioria dasclasses A e B. Os números comprovam o quadro de exclusãodigital. Quem não sabe utilizar um computador ou desconheceum vocabulário mínimo de inglês — a língua mais falada naInternet — está condenado a perder boas oportunidades deemprego.

Diante deste quadro, foi criado, em 1995, o Comitêpara Democratização da Informática (CDI), uma organizaçãonão-governamental, sem fins lucrativos, que desenvolve otrabalho pioneiro de promover a inclusão social utilizando atecnologia da informação como um instrumento para aconstrução e o exercício da cidadania. O objetivo prioritário

do CDI é incluir a população de baixa renda e com deficiên-cia física à Era digital, disponibilizando, a ela, computadoresconectados com a internet sob a orientação de educadores.Para atingir sua meta, a organização ocupa espaços públicosem 10 estados brasileiros e em cinco países com suas Escolasde Informática e Cidadania.

Transformação de vidas e desenvolvimento comu-nitário. Assim pode ser resumido o ideal do CDI, que sepropõe a abrir novas oportunidades de trabalho e de geraçãode renda, como também possibilitar o acesso a fontes deinformação e espaços de sociabilidade. Daí o interesse doCDI em estimular uma demanda crescente de conhecimen-to em informática no mercado de trabalho. A organizaçãoentende que os jovens de comunidades de baixa renda,capacitados em tecnologia de informação, terão mais opor-tunidades de ingresso no mundo do trabalho e, conseqüen-temente, maior reconhecimento social. Por isso, investe nacapacidade das comunidades e de organizações a fim derealizar seus empreendimentos sócioeducacionais, tanto noBrasil como no exterior.

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Categoria Comunicação e Informação

CDI Comitê para Democratização da Informática

Reduzindo a exclusão digital

Para promover ainclusão digital, o CDI procuraformar parcerias com organi-zações filantrópicas nacionaise internacionais, com o meioempresarial, com agênciasgovernamentais e busca doaçõesindividuais. Essas parcerias sãovitais para garantir a manutençãoda equipe de profissionais, respon-sável pela criação, apoio e acom-panhamento das atividades da RedeCDI e suas respectivas Escolas de Informáticae Cidadania. Além disso, as parcerias viabilizama constante inovação dos processos de aperfeiçoa-mento das atividades desenvolvidas, garantido a qualidade do modelo CDI.

Em 1993, Rodrigo Baggio, então empresário e pro-fessor de informática em escolas particulares no Rio deJaneiro, idealizou o uso do computador como um canal de

comunicação entre jovens dediferentes grupos sociais, quedialogariam entre si por meio dainternet. Essa idéia foi a origemde um BBS (Bulletin Board

System) chamado "Jovemlink" e opasso inicial para a criação do

CDI: tentativa pioneira em usar astecnologias da informação como

uma ponte digital, promotora deintegração social. A proposta era de

que o BBS ajudasse a promover o diál-ogo entre os moradores da favela e os do

"asfalto", no Rio de Janeiro. As Escolas de Informática e Cidadania (EIC) são

uma iniciativa pioneira no Brasil, aliando tecnologia à pro-moção da cidadania, e criando um novo segmento no mer-cado social. O trabalho do CDI é hoje reconhecido nacionale internacionalmente, já tendo recebido diversos prêmios ehomenagens

Prêmio UNESCO 2002

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Um conhecido poema de Bertold Brecht – “Os que lutam”define com absoluta justiça o grande brasileiro que é EvandroLins e Silva: Há aqueles que lutam um dia, e por isso são muitobons /Há aqueles que lutam muitos dias, e por isso são muitobons/ Há aqueles que lutam anos, e são melhores ainda/Porém, há aqueles que lutam toda a vida/esses são os impre-scindíveis. Evandro Lins e Silva, por sua luta de toda uma vida,é um brasileiro imprescindível. Advogado e renomado jurista,seu nome é sinônimo de lutador.

A luta de Evandro sempre foi a justiça, a liberdade e o avançosocial. Para os brasileiros mais jovens, o velho Evandro, hoje com90 anos de lutas, tornou-se figura conhecida quando atuou naequipe de acusação de Fernando Collor, no histórico processo quelevou ao impeachment o ex-presidente. Mas na bela história dessevaloroso nordestino, o impeachment de Collor é apenas mais umde dezenas de episódios que se confundem com a própria históriarecente de nosso País. No caso de Collor, ele acusava, em sintoniacom o sentimento de toda uma Nação. Mas sua marca foi a defe-sa de mais de 2 mil presos políticos ao longo de 70 anos demilitância nos tribunais, luta iniciada na ditadura de Getúlio Vargas.

Filho de juiz, nascido no Piauí e criado no Maranhão,Evandro Lins e Silva é daqueles humanistas para quem a profis-são de advogado é um sacerdócio das liberdades. Formado, em1932, pela Faculdade Nacional de Direito, atual Faculdade deDireito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, especializou-se em matéria penal, mas notabilizou-se pelas causas políticascom as quais esteve envolvido.

Desde muito jovem, ainda estudante, e depois, já advogado, tra-balhou em diversos jornais, com um traço muito comum à época:o dublê de advogado e jornalista. Em jornais como Diário deNotícias, A Batalha, A Nação e O Jornal, tratava tanto de temasforenses, como fazia crônicas diárias ou comentários políticos. Já em1935, recém-saído da Faculdade, sua alma política levou-o a defendero tenente da Aeronáutica Benedito de Carvalho, acusado de partici-par da tentativa de levante comunista, de 1935, contra Getúlio Vargas.

Combateu duramente a ditadura Vargas, no período de1937 a 1945, mas hoje, em um processo de balanço histórico,considera-o "o maior estadista que o Brasil produziu". O saldotão positivo deve-se às conquistas trabalhistas proporcionadaspor Vargas e à sua postura nacionalista do segundo período, já

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Categoria Direitos Humanos e Cultura de Paz

Evandro Lins e Silva

Um lutador imprescindível

presidente eleito constitucionalmente.Tanto é assim que foi Chefe da CasaCivil, procurador-geral da República eministro das Relações Exteriores doprincipal herdeiro político de Vargas, oex-presidente João Goulart.

Indicado por Jango, chegou a ministrodo Supremo Tribunal Federal em setembrode 1963, mas com a deposição do presidente esua atuação sempre firme na defesa dos direitos humanos,concedendo habeas corpus que desagradavam os militares, acabousendo cassado em 1969. Voltou à advocacia e até hoje divide seutempo entre o escritório no Centro do Rio de Janeiro e o aparta-mento de Copacabana, cercado de livros, recordações e uma per-manente vontade de lutar por aquilo que considera justo.

Tanto tempo de lutas resultaram em muitas láureas.Evandro Lins e Silva é membro da Academia Brasileira deLetras; foi escolhido em 1999 "O Criminalista do Século", pelaAssociação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo;é detentor de dezenas de comendas e medalhas que reconhecem

seu saber jurídico e importância polí-cia; e já é nome de Faculdade deDireito no Rio de Janeiro, cidade queadotou e tanto ama.

Uma das homenagens recentementeprestadas a Evandro talvez simbolize

com mais força o sentido de sua vida. Foio troféu "D. Quixote de La Mancha, símbolo

da defesa dos desvalidos, da ética e da moral", con-ferido pela revista "Justiça & Cidadania" a personalidades e

autoridades do Poder Judiciário. Para muitos, Quixote nãopassa de uma figura que lutava inutilmente por seus sonhos eambições. Para outros, não. É uma permanente referência daque-les que lutam mesmo sabendo que a vitória é difícil, talvezimpossível, mas que precisa ser permanentemente perseguida.

Evandro não tem vergonha do seu quixotismo, mesmo porque jáprovou, ao longo de décadas de lutas, que a vitória acaba chegando.E quando não chega de forma objetiva, resulta num símbolo quetambém pode ser considerado uma vitória. Evandro é assim: umsímbolo daqueles homens imprescindíveis a quem se referia Brecht.

Prêmio UNESCO 2002

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Como um artista querido pelo grande público, ele, muitasvezes tem, dificuldades em andar pelas ruas sem ser abordadopor admiradores. Aparece regularmente em emissoras de televisão,já escreveu um best-seller e é requisitado a toda hora por jornalistaspara dar opinião sobre os mais variados e diferentes assuntos.Drauzio Varella é, sem sombra de dúvida, um médico diferente.

Apaixonado por sua profissão e obcecado pela idéia detransmitir ao grande público a importância fundamental da boasaúde, Drauzio é hoje uma referência nacional. Seja nas noitesde domingo, no Fantástico, da Rede Globo – quando mostra acerca de 40 milhões de brasileiros como funciona o corpohumano ou demonstra os males causados pelo tabagismo – ouseja no dia-a-dia com seus pacientes e em palestras por todoo país, Drauzio Varella é um comunicador nato.

O imenso talento deste médico cancerologista de 59 anos,paulistano do Brás, para divulgar suas idéias e debater de formacoloquial sobre o intrincado mundo da medicina surgiu daexperiência como professor de cursinho pré-vestibular.

Um dos fundadores do hoje famosíssimo Curso Objetivo,Drauzio aperfeiçoou sua clareza didática nas salas de aula, bus-

cando enfiar na cabeça de adolescentes as doses cavalares deQuímica exigidas pelo vestibular de Medicina.

Com um grupo de professores, ele fundou, em São Paulo,em 1965, o complexo educacional Objetivo-Unip, que hojereúne 400 mil alunos em todo o país. Acabou se desligando donegócio, para se dedicar à Medicina, mas ficou no médico o talentodo professor dedicado e atento à importância do didatismo eda simplicidade na transmissão do conhecimento.

Ao lado desta permanente preocupação com a divulgaçãodas idéias e dos fatos relacionados à saúde humana, Drauziosempre foi um estudioso. Estava em Nova York, em 1983, fazen-do estágio no Memorial Hospital, quando viu uma experiênciade uso de Interferon em sarcoma de Karposi, câncer de pelecomum em doentes de Aids, que começava a se multiplicar nomundo. "Fiquei fascinado. A doença envolvia as duas coisas queeu conhecia melhor: imunologia e câncer", relata o médico.

Drauzio voltou aterrorizado ao Brasil, obcecado pela idéiade mobilizar as autoridades de saúde pública contra os perigosda Aids e para que selecionassem melhor os doadores desangue. Pregou no deserto. Mas, com o passar do tempo, foi um

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Categoria Cidadania e Ética

Drauzio Varella

Um praticante da medicina cidadã

dos muitos que ajudaram o Brasil a ser hoje umpaís modelo no combate à doença.

É já famosa sua experiência na Casa deDetenção do Carandiru, recentemente demoli-da, quando dedicou toda sua competência eexperiência à enfermaria onde eram atendidosalguns dos homens mais violentos edesvalidos da criminalidade brasileira. Aexperiência resultou no pungente EstaçãoCarandiru, um relato cruel, mas absoluta-mente verdadeiro da realidade penitenciáriabrasileira. O livro se transformou em best-seller e,agora, será filme, pelas mãos do tarimbado cineasta Hector Babenco.

O cidadão Drauzio Varella é assim: um pregador obsessivo,um divulgador, um animador de idéias e posturas. Já era médicodo Hospital do Câncer, mas continuava fumando, dominadopela nicotina, quando resolveu dar um basta, aos 36 anos.Fumava desde os 17 anos. A partir da sua própria atitude, fezda luta contra o tabagismo, assim como o alcoolismo, uma das

marcas de sua pregação por uma vida saudável. Em programas de televisão, artigos de jornal, entrevistase no site www.drauziovarella.com.br, o médico can-cerologista ultrapassa, e muito, as fronteiras da suaespecialidade e mostra aos brasileiros porque asaúde é um bem inestimável.

Foi também a preocupação com a saúde quelevou Drauzio, já aos 40 anos, a fazer da corridaseu esporte preferido. Hoje, disputa maratonas.Com fôlego de maratonista, além do consultório

e tantas atividades junto à mídia, ainda arranjatempo para projetos como a pesquisa da flora

amazônica para a identificação e catalogação deespécies vegetais que possam combater as células tumorais.Sem dúvida, um incansável.

Por tudo isto, ele é mais que um médico excepcional. É tambémmais que um notável comunicador, daqueles que sabem comopoucos passar sua mensagem para o grande público. DrauzioVarella é um exemplo de cidadão, um brasileiro que ama seu país e suagente e coloca todo seu talento e energia a serviço do bem-comum.

Prêmio UNESCO 2002

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"O possível de ser mais e para muitos". Foi com este sonhoque o músico Carlinhos Brown voltou seus olhos e sua atençãoà comunidade de seu bairro natal em Salvador, CandealPequeno de Brotas, e criou a Associação Pracatum Ação Social,em 1994. Ele já percorria os caminhos da fama como artista,mas não ficou em paz enquanto não iniciou um pelo desen-volvimento social da comunidade de baixa renda ali residente.Mais do que desenvolvimento, o que ele fez foi plantar esperançade tempos melhores no coração das pessoas. Desde então, avida do bairro mudou completamente.

A principal missão da Pracatum é melhorar a qualidade devida dos moradores do bairro, trabalhando em educação, culturae mobilização comunitária. A comunidade é de baixo poderaquisitivo e tem cerca de 5.500 habitantes. Atualmente, a orga-nização desenvolve dois programas: o Tá Rebocado e a EscolaProfissionalizante de Música e Tecnologia. O primeiro visa ao desen-volvimento social e econômico do bairro e começou com oobjetivo de rebocar e pintar todas as casas do bairro. O segun-do, além de oferecer oportunidades profissionais aos jovens deCandeal Pequeno, usa a música para promover a cidadania.

Há quase 300 anos, o Candeal era o lugar para onde iamos escravos negros que conquistavam sua liberdade. Mesmoem constante transformação e miscigenação, a comunidade dobairro se manteve íntegra, preservando sua identidade, com-posta por diferentes manifestações culturais, especialmentecandomblé, capoeira e música dos timbais (instrumentos depercussão africanos). É por isso que a cultura local é o principalpatrimônio para a sustentação do desenvolvimento dessacomunidade.

Mais do que um instrumento para a construção da cidada-nia entre os jovens, a arte-educação da Pracatum significa umaoportunidade concreta de profissionalização e, conseqüente-mente, de mobilidade social. O conceito de mudança e trans-formação continua permeando os programas da Associaçãoem Candeal Pequeno. O aluno é envolvido nas atividades dosprogramas de maneira holística, incluindo uma rede de serviçossociais que são oferecidos.

O caráter inovador da Pracatum está no fato de acreditarque a melhoria da qualidade de vida só será efetiva quando asdiferenças sociais forem minimizadas. Por isso, alia à educação

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Categoria Juventude

Pracatum Ação Social

Manual prático de desenvolvimento comunitário

projetos de urbanização, geração detrabalho e renda, saúde e meio ambiente,e mobilização comunitária. Trabalha, tam-bém, pelo fortalecimento das liderançaslocais e da construção coletiva e individualda cidadania, e da disseminação de novasregras de convivência social, baseadas em princí-pios democráticos para se viver bem em comunidade.

Um exemplo: por meio do Programa Tá Rebocado, os alunosda Escola de Música e seus familiares têm acesso gratuito a serviçosde saúde, projetos habitacionais e de infra-estrutura urbana, cur-sos de computação, alfabetização de jovens e adultos, teatro eserviços de apoio aos empreendedores de pequenos negóciosno bairro. A instituição preza por uma educação de alta quali-dade, representada nas relações interpessoais entre educandose educadores, no currículo especialmente desenvolvido para opúblico a que se destina e ainda na constante sistematização eavaliação dos procedimentos pedagógicos e administrativos.

Os resultados concretos são muitos. E estão registrados nosrelatórios mensais e anuais de atividades da Associação. Os

avanços vão desde a ampliação de redede esgotos, abastecimento de água e eletri-cidade, passa pela construção de 114 uni-

dades habitacionais e pintura, reboco e outrasmelhorias em 86 unidades, até a profissionaliza-

ção de jovens e a capacitação profissional deadultos, para citar alguns. Sem falar da alfabetiza-

ção de jovens e adultos, da capacitação de agentes comu-nitários de saúde e oficinas de arte-educação para crianças.

Este ano, o Programa de Assentamentos Humanos dasNações Unidas/UN-Habitat concedeu ao Programa Tá Rebocadoo certificado de "Best Practice". A experiência deve ser dissemi-nada pelas Nações Unidas por meio de um banco de dados ede um CD-ROM com a sistematização da experiência dedesenvolvimento comunitário de Candeal Pequeno. A idéia éque o programa possa ser adaptado a outras comunidades, noBrasil e no exterior. A elaboração desse manual prático poderárepresentar, hoje, uma concreta possibilidade de transformaçãocom sucesso, como está sendo em Salvador, de outras favelas ebairros de baixa renda

Prêmio UNESCO 2002

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Agradecimento especial

Pelo seu trabalho de valorização do artesanato brasileiro e, em especial, pela identificação das peças do Vale do Jequitinhonha

oferecidas como Prêmio UNESCO.

Rua Grão Mogol, 66230.310-010 - Belo Horizonte

Minas Gerais - BrasilFone 55(31) 3282.8300

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UNESCO - Representação no BrasilSAS – Quadra 5 – Bloco H – Lote 6

Ed. CNPq/IBICT/UNESCO - 9°andar70070-914 – Brasília – DF – Brasil

Telefone: 55 (61) 321-3525 • Fax: 55 (61) 322-4261E-mail: [email protected]