potencialidades e limites da cadeia de valor … · 13% de sua capacidade ao longo dos 8 meses...

14
1 Instituto Internacionalde Educação do Brasil – IEB Pablo Galeão POTENCIALIDADES E LIMITES DA CADEIA DE VALOR DO AÇAÍ EM BOCA DO ACRE Realização Apoio

Upload: doandang

Post on 09-May-2018

216 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

1

Inst

ituto

Inte

rnac

iona

lde

Educ

ação

do

Bras

il –

IEB

Pablo Galeão

POTENCIALIDADES E LIMITES DA CADEIA DE VALOR DO AÇAÍ EM BOCA DO ACRE

Realização Apoio

2

Apoio ao fortalecimento das cadeias de valor sustentáveisno sul do Amazonas

PROJETO +VALOR

3

INSTITUTO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO DO BRASIL – IEB

Potencialidades e limites da cadeiade valor do açaí em Boca do Acre

Pablo GaleãoMarço de 2017

Realização Apoio

4

1. INTRODUÇÃO

O açaí é uma palmeira amazônica que produz frutos em bagas, cuja coloração varia entre roxo e vermelho escuro, a depender da região. Planta abundante em áreas de várzea, também ocorre de forma menos intensa em terra firme. Pertence ao gênero botânico Euterpe, que na Amazônia é representado por duas espécies: Euterpe pre-catoria (açaí solteiro) e Euterpe oleraceae (açaí de touceira). Seu consumo remonta aos períodos pré-hispânicos. Rico em gorduras monoinsaturadas (60%) e poli-insa-turadas (13%), benéficas no combate a lipoproteínas de baixa densidade (LDL). Além disso possui elevados níveis de calorias e proteínas, assumindo importância na base da alimentação de inúmeras famílias.

No município de Boca do Acre observamos somente a presença do açaí solteiro. As-sim como em praticamente todo o estuário do rio Amazonas, o fruto do açaí solteiro é consumido fartamente, tanto no interior, quanto na sede do município.

A comercialização do açaí está presente em Boca do Acre em diversas escalas. Na sede municipal o açaí é vendido nas ruas pelos próprios extrativistas. Também é possível comprar nas feiras ou com revendedores. Apenas alguns poucos comerciantes atuam com compras de maior escala de açaí. Dentre eles, dois destacam-se pelo volume de produção e pelo número de famílias envolvidas:

• A empresa Frutos Baixo Acre Produção de Sucos de Frutas LTDA, sediada em Boca do Acre, produz polpas e sucos com altos padrões de qualidade. Em 2014 conquistou certificação orgânica para os produtores (Ecocert e BCS);

• O revendedor Zé Luiz, especializado em comercialização do açaí do rio Acre, produ-to muito cobiçado nos mercados de Rio Branco por sua qualidade e produtividade diferenciadas.

Estes dois comerciantes possuem formas bastante distintas de atuação na cadeia do açaí. Em se tratando da incidência geográfica, o comerciante Zé Luiz revende unicamente o açaí da várzea do rio Acre. Já a empresa Frutos Baixo Acre, com um enorme poten-cial de beneficiamento, demanda um grande volume de frutos e precisa estabelecer uma complexa logística de transporte, buscando açaí muitas vezes em locais remotos.

5

2. A CADEIA DE VALOR DO AÇAÍNO SUL DO AMAZONAS: VISÃO GERALO trabalho de campo que deu origem a esta Nota Técnica foi realizado por meio de entrevistas aos diversos atores da cadeia de valor do açaí: os extrativistas; os reven-dedores; a fábrica de polpas e sucos; representantes do Estado, como o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (IDAM); o Instituto Chico Mendes de Con-servação da Biodiversidade (ICMBio); a Secretaria Municipal de Turismo e Empreen-dedorismo; representantes da sociedade civil organizada, como os da Resex Arapixi; do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Boca do Acre e do Instituto Desenvolver (ATER).

De acordo com os relatos um dos desafios para a cadeia é a diminuição do interesse dos extrativistas em realizar a coleta. Entre os motivos que justificam esta dificuldade estão o assédio da pecuária de corte e da extração madeireira, mas também as difi-culdades do próprio ofício. É comum na região ouvir relatos de acidentes e até mor-tes relacionadas com a atividade, uma vez que a palmeira do açaí deve ser escalada para realização do corte das bagas e os frutos devem ser conduzidos até o chão com muito cuidado, pois as batidas podem comprometer a qualidade do produto.

O açaí é uma planta muito comum na região, especialmente nas várzeas, onde há abundância da espécie. Alguns produtores têm realizado seu plantio em terra firme, garantindo produção farta e menos esforço para a coleta.

REVENDEDOR ZÉ LUIZ: Um destaque especial é para os açaizais da região da várzea do rio Acre, uma variedade peculiar de açaí, muito apreciada pelos moradores locais e das cidades próximas, com uma coloração vermelha escura. Apresenta alta produ-tividade, uma lata pode render até 10 litros de açaí, enquanto os demais açaizais da região rendem apenas 5 litros.

O Sr. Zé Luiz, principal revendedor do açaí do rio Acre, é extremamente rigoroso com o processo de coleta. As 30 famílias que vendem suas produções a ele precisam re-alizar a coleta até no máximo 2 dias antes da entrega. Os frutos devem estar bem maduros e sem impurezas. Não podem ter sido amassados durante o transporte das áreas de coleta até o ponto de venda (um porto do Rio Acre). No momento a capaci-dade de produção é limitada à capacidade de escoamento: uma viagem de caminhão com capacidade de 5 toneladas, duas vezes por semana. O açaí é levado in natura à Rio Branco, onde é vendido, beneficiado e revendido ao consumidor final. A venda é garantida para as 30 famílias já orientadas sobre as práticas de manejo.

6

Cada lata é vendida por 20 reais. São 120 toneladas de frutos de açaí ao longo de 3 meses de safra (janeiro, fevereiro e março), o que resulta em aproximadamente 240 mil reais movimentados pelos extrativistas que venderam ao Zé Luiz em 2016. Ao re-vender a 35 reais por lata, Zé Luiz movimentou cerca de 420 mil reais.

FÁBRICA BAIXO ACRE PRODUÇÃO DE SUCOS DE FRUTAS LTDA: A fábrica precisa comprar produções de regiões remotas para atingir o volume necessário ao funcionamento do maquinário. A fábrica adquire o produto de extrativistas que coletam o fruto em diversos locais, muito além dos limites municipais. Foram 1129 famílias envolvidas na atividade no ano de 2015:

LOCAL Nº DE FAMÍLIAS PRODUÇÃO (KG)

Lago Novo e cidade de Boca do Acre 53 35.182

Rio Acre 98 55.664

Rio Inauini 114 9.405

Médio rio Purus, trecho entre a cidade Sena Madureira /AC e a Resex Médio Purus,

Lábrea439 30.185

Terras Indígenas e Assentamentos no tre-cho da BR317 95 48.242

Rio Juruparí, Feijó /AC 284 168.328

Região do alto rio Envira 40 30.000

Rio Antimary 6 2.570

TOTAL 1129 379.576

Tabela 1 – Principais produtores de açaí para a fábrica em 2015. Fonte: Frutos Baixo Acre

Ao todo foram comercializados para a fábrica 380 toneladas de frutos de açaí, sendo que cada lata custou 15 reais. Considerando o rendimento de 54,7% obtido no ano, foram produzidas 208 toneladas de polpa de açaí médio em 2015. Um rendimento bastante expressivo, considerando impossibilidade em realizar a mobilização de to-das as 1129 famílias em boas práticas de manejo e segurança, além das dificuldades impostas pelas grandes distâncias, muitas vezes percorridas de barco.

7

As produções somadas do Zé Luiz e da fábrica de sucos somam 500 toneladas em 2015. No entanto, o comerciante Zé Luiz não tem aumentado ou diminuído sua capacida-de de produção (120 toneladas), de modo que nos últimos anos sua comercialização anual tem estado sempre no mesmo patamar. Já a fábrica vem obtendo produções cada vez maiores:

ANOPREÇO DO QUILO DO

AÇAÍ PAGO AO EXTRATIVISTA (R$)

PRODUÇÃO DE AÇAÍIN NATURA (KG)

PRODUÇÃO DE POLPA DE AÇAÍ MÉDIO (KG)

2012 1,50 170.767 78.415

2013 1,50 134.836 58.730

2014 1,50 468.705 207.874

2015 1,50 379.576 207.910

2016 Não houve compra n/a n/a

Tabela 2 – Histórico de produção do açaí pela fábrica nos últimos cinco anos

3. OS ELOS DA CADEIADE VALOR: ATORES ECONÔMICOSHoje, a fábrica da empresa Frutos Baixo Acre, se mantem operando muito abaixo de sua capacidade de produção, que pode chegar a 10 toneladas de polpa de açaí mé-dio por dia, e 1600 toneladas por ano. Isso significa que em 2015 a fábrica operou a 13% de sua capacidade ao longo dos 8 meses produtivos do ano. Essa discrepância faz com que a fábrica busque produções em regiões cada vez mais distantes e com logísticas cada vez mais complexas. Além disso, é mister superar o desafio do desin-teresse pela atividade de coleta do açaí, muitas vezes tendo que arrendar açaizais e contratar mão de obra para coleta, aumentando ainda mais os custos.

Outro fator que influencia a viabilidade do negócio são os gastos da própria fábri-ca, que envolvem energia elétrica, estocagem refrigerada, peças industriais e outros insumos. Também é preciso garantir que a equipe responsável pela operação dos equipamentos industriais esteja devidamente capacitada. São especialidades muito difíceis de encontrar na região.

8

Em relação à produção, o açaí adquirido pela fábrica está disperso em vasto no terri-tório. De modo geral podemos estabelecer que a produção regional do açaí se dá ao longo de 8 meses, segundo uma sazonalidade microrregional:

• Várzea do Rio Acre: janeiro, fevereiro e março;• Município de Feijó e Envira: janeiro, fevereiro e março;• Região de Boca do Acre: janeiro, fevereiro, março, abril, maio;• Várzea do Rio Antimary: abril, maio e junho;• Terra firme (região da BR317): Julho, agosto, setembro, outubro.

Atividades de capacitação são muito importantes, pois além de aumentar a segurança no trabalho de coleta, se reflete em maior produtividade. No entanto, os custos em realizar oficinas de capacitação para um público diverso, e em localidades dispersas, são muito altos para que a fábrica arque com tudo de uma só vez. Algumas oficinas já ocorreram, com extrativistas de Boca do Acre, bem como a distribuição de equipa-mentos de segurança. No entanto, está claro que ainda há muita demanda, uma vez que a grande maioria dos extrativistas não teve acesso às capacitações.

A fábrica de sucos emite nota fiscal para cada extrativista, que recebe o pagamento em espécie no ato da entrega e pesagem da produção. Isso possibilita que o extrati-vista reivindique junto à Companhia Brasileira de Abastecimento (CONAB) a subvenção prevista na Política de Garantia de Preços Mínimos de Produtos da Sociobiodiversi-dade (PGPM-Bio), sempre que o valor do produto no local estiver abaixo do patamar estabelecido pela política. No entanto, o valor pago pela empresa (R$ 1,50) tem esta-do acima do preço mínimo previsto pelo PGPM-Bio para o Estado do Amazonas, que variou entre R$ 1,11 e R$ 1,29, entre 2015 e 2016.

Neste contexto de grandes desafios financeiros e de logística, a fábrica precisa lidar ainda com a sazonalidade do mercado. O ano de 2016, por exemplo, os preços foram influenciados pela grande produção no Pará ao final de 2015, quando as indústrias de beneficiamento final não se interessaram em comprar a produção do Acre e Ama-zonas. Isso fez com que a fábrica de polpas passasse o ano no vermelho e hoje luta por sua sustentabilidade em meio a várias dívidas.

4. ACESSO A INFORMAÇÕESE AOS MERCADOS EXTERNOS O açaí é tido como um dos principais produtos da economia amazônica. As princi-pais agroindústrias de beneficiamento de açaí encontram-se no nordeste paraense,

9

de onde abastecem as principais regiões consumidoras do país. São Paulo, Rio de Ja-neiro, Minas Gerais e Distrito Federal são as quatro unidades da federação que mais consomem. Além disso, grandes volumes são exportados principalmente para Japão e Estados Unidos. De acordo com o IBGE, o valor da produção de açaí no Brasil em 2013 foi de R$ 409,7 milhões, relativos a 202 mil toneladas do fruto.

Figura 1 - Distribuição do consumo de açaí no mundo. Fonte: Conab

De acordo com estudos realizados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), CONAB e o IDAM , 90% da produção advêm do extrativismo nativo ou manejo de sistemas agroflorestais. Apenas 10% são plantios de terra firme e irriga-dos (alto rendimento). O Pará é responsável por 54,% da produção de açaí no Brasil, seguido pelo Amazonas 33,6%, Maranhão 7,0%, Acre 2,0%%, Amapá, 1%, e Rondônia e Roraima 0,9% cada.

Por ser o Amazonas um estado onde o escoamento da produção é mais caro devido às grandes distancias e à qualidade da malha viária, o preço pago aos extrativistas/produtores do estado são bem menores. Muitas iniciativas não prosperam justamente por não haver como escoar a produção a um preço competitivo.

Os preços praticados no estado do Pará têm uma relação direta com o volume da safra. Durante os anos em que a produtividade dos açaizais foi baixa, o preço teve tendência

6

Figura 1 - Distribuição do consumo de açaí no mundo. Fonte: Conab

De acordo com estudos realizados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), CONAB e o IDAM , 90% da produção advêm do extrativismo nativo ou manejo de sistemas agroflorestais. Apenas 10% são plantios de terra firme e irrigados (alto rendimento). O Pará é responsável por 54,% da produção de açaí no Brasil, seguido pelo Amazonas 33,6%, Maranhão 7,0%, Acre 2,0%%, Amapá, 1%, e Rondônia e Roraima 0,9% cada. Por ser o Amazonas um estado onde o escoamento da produção é mais caro devido às grandes distancias e à qualidade da malha viária, o preço pago aos extrativistas/produtores do estado são bem menores. Muitas iniciativas não prosperam justamente por não haver como escoar a produção a um preço competitivo. Os preços praticados no estado do Pará têm uma relação direta com o volume da safra. Durante os anos em que a produtividade dos açaizais foi baixa, o preço teve tendência de alta. No estado do Amazonas se observa que o preço do açaí vem sendo lastreado pelo Preço Mínimo, com leves altas ocasionas. Portanto, o Estado não acompanha as tendências de aumento do preço observadas em outras regiões produtoras.

60%

30%

5,44% 3,65% 0,91%

Regiões

Estados ProdutoresSP, RJ e MGEUAJapãoOutros países

6

Figura 1 - Distribuição do consumo de açaí no mundo. Fonte: Conab

De acordo com estudos realizados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), CONAB e o IDAM , 90% da produção advêm do extrativismo nativo ou manejo de sistemas agroflorestais. Apenas 10% são plantios de terra firme e irrigados (alto rendimento). O Pará é responsável por 54,% da produção de açaí no Brasil, seguido pelo Amazonas 33,6%, Maranhão 7,0%, Acre 2,0%%, Amapá, 1%, e Rondônia e Roraima 0,9% cada. Por ser o Amazonas um estado onde o escoamento da produção é mais caro devido às grandes distancias e à qualidade da malha viária, o preço pago aos extrativistas/produtores do estado são bem menores. Muitas iniciativas não prosperam justamente por não haver como escoar a produção a um preço competitivo. Os preços praticados no estado do Pará têm uma relação direta com o volume da safra. Durante os anos em que a produtividade dos açaizais foi baixa, o preço teve tendência de alta. No estado do Amazonas se observa que o preço do açaí vem sendo lastreado pelo Preço Mínimo, com leves altas ocasionas. Portanto, o Estado não acompanha as tendências de aumento do preço observadas em outras regiões produtoras.

60%

30%

5,44% 3,65% 0,91%

Regiões

Estados ProdutoresSP, RJ e MGEUAJapãoOutros países

10

de alta. No estado do Amazonas se observa que o preço do açaí vem sendo lastreado pelo Preço Mínimo, com leves altas ocasionas. Portanto, o Estado não acompanha as tendências de aumento do preço observadas em outras regiões produtoras.

Figura 2 - Série Historica dos Preços Recebidos pelos extrativistas do Açaí fruto Nos Estados do Pará e Amazonas-R$/Kg. Fonte: Conab

De acordo com a Conab, o preço do açaí subiu 308% entre o ano 2006 e 2014. Junto a isso o volume de produção cresceu 95% no mesmo período. São indicadores muito claros de que a demanda pelo produto é maior que a oferta. Essa grande demanda estimulou o crescimento da produção de açaí plantado no Pará. Ao mesmo tempo, levou os comerciantes a buscar o produto de regiões cada vez mais distantes.

O plano de negócios neste caso deve considerar que a procura por açaí em regi-ões distantes apenas acontecerá naqueles anos em que a safra não atingiu um dos grandes picos de máxima produtividade no Pará. Isso pode sugerir que, idealmente, o produto beneficiado a ser comercializado pela fábrica em Boca do Acre não seja a polpa de açaí, mas sim um produto acabado, entregue diretamente às distribuidoras locais e regionais.

Ao menos foi essa a linha de ação da fábrica durante o ano 2016. Ao optar pelo pro-cessamento de sucos de açaí com guaraná, amendoim ou mesmo o suco de açaí puro, a fábrica espera atingir receita 98% maior do que com a venda da polpa in natura. Apesar de promissora, a alternativa deverá levar em conta novos acréscimos aos cus-tos de embalagem, estocagem e transporte.

7

Figura 2 - Série Historica dos Preços Recebidos pelos extrativistas do Açaí fruto Nos Estados do Pará e Amazonas-R$/Kg. Fonte: Conab

De acordo com a Conab, o preço do açaí subiu 308% entre o ano 2006 e 2014. Junto a isso o volume de produção cresceu 95% no mesmo período. São indicadores muito claros de que a demanda pelo produto é maior que a oferta. Essa grande demanda estimulou o crescimento da produção de açaí plantado no Pará. Ao mesmo tempo, levou os comerciantes a buscar o produto de regiões cada vez mais distantes. O plano de negócios neste caso deve considerar que a procura por açaí em regiões distantes apenas acontecerá naqueles anos em que a safra não atingiu um dos grandes picos de máxima produtividade no Pará. Isso pode sugerir que, idealmente, o produto beneficiado a ser comercializado pela fábrica em Boca do Acre não seja a polpa de açaí, mas sim um produto acabado, entregue diretamente às distribuidoras locais e regionais. Ao menos foi essa a linha de ação da fábrica durante o ano 2016. Ao optar pelo processamento de sucos de açaí com guaraná, amendoim ou mesmo o suco de açaí puro, a fábrica espera atingir receita 98% maior do que com a venda da polpa in natura. Apesar de promissora, a alternativa deverá levar em conta novos acréscimos aos custos de embalagem, estocagem e transporte.

11

Figura 3 – Volume de produção do açaí no Brasil. Fonte: Conab

5. INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICAEm 2011 o Banco da Amazônia financiou em 2,2 milhões de reais para maquinaria, instalações e capital de giro da empresa Frutos Baixo Acre. Em 2012 a fábrica iniciou a produção de polpa de açaí. Neste momento ainda não era possível produzir sucos devido a necessidade de maiores investimentos para o término da montagem da li-nha de produção.

Para realizar o transporte do açaí in natura até a fábrica, é preciso alugar barcos de até 10 toneladas, além da contratação de outros pequenos serviços. Para enviar pol-pa de açaí até comerciantes em São Paulo, é necessário alugar caminhões frigoríficos para transporte de até 30 toneladas.

Em 2016 a fábrica adquiriu um baú frigorífico para 8 toneladas, capaz de transportar 27 mil unidades de polpas congeladas de açaí. É esperado que ele escoe a produção ao longo da BR 364 até Cuiabá, abastecendo diretamente supermercados das cidades situadas ao longo do trajeto entre Rio Branco e a capital mato-grossense.

8

Figura 1 – Volume de produção do açaí no Brasil. Fonte: Conab

Infraestrutura e logística Em 2011 o Banco da Amazônia financiou em 2,2 milhões de reais para maquinaria, instalações e capital de giro da empresa Frutos Baixo Acre. Em 2012 a fábrica iniciou a produção de polpa de açaí. Neste momento ainda não era possível produzir sucos devido a necessidade de maiores investimentos para o término da montagem da linha de produção. Para realizar o transporte do açaí in natura até a fábrica, é preciso alugar barcos de até 10 toneladas, além da contratação de outros pequenos serviços. Para enviar polpa de açaí até comerciantes em São Paulo, é necessário alugar caminhões frigoríficos para transporte de até 30 toneladas. Em 2016 a fábrica adquiriu um baú frigorífico para 8 toneladas, capaz de transportar 27 mil unidades de polpas congeladas de açaí. É esperado que ele escoe a produção ao longo da BR 364 até Cuiabá, abastecendo diretamente supermercados das cidades situadas ao longo do trajeto entre Rio Branco e a capital mato-grossense. Caso a fábrica se estabeleça como fornecedora de sucos, é eliminado um dos maiores riscos ao negócio: os picos de máxima produtividade do Pará. Ao estabelecer contratos de comercialização com mercados locais de cidades como Cuiabá, minimiza-se os riscos da ausência de demanda pelo açaí da região do sul do Amazonas.

12

Caso a fábrica se estabeleça como fornecedora de sucos, é eliminado um dos maiores riscos ao negócio: os picos de máxima produtividade do Pará. Ao estabelecer contra-tos de comercialização com mercados locais de cidades como Cuiabá, minimiza-se os riscos da ausência de demanda pelo açaí da região do sul do Amazonas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAISDotada de grande volume de produção e abundante força de trabalho com tradição extrativista, a cadeia do açaí é um dos principais produtos da floresta comercializados em Boca do Acre. No entanto a capacidade de escoar a produção parece ser crucial para compreender a viabilidade do negócio.

Apesar de Boca do Acre praticar um preço do açaí acima da média do Estado, a re-gião está fortemente caracterizada pela expansão da pecuária de corte. Boa parte dos açaizais encontram-se em regiões de várzea, muitas vezes nos fundos de fazendas ou pastos. Boa parte das famílias que reside nessas áreas não está interessada em coletar o açaí, restando apenas a opção de pagar pelo direito a coletar, o chamado ‘arrendamento’. É costume que o pagamento seja determina fração da produção, em geral 10%. Além disso, é necessário pagar o serviço de retirada do fruto. A necessidade do arrendamento tem diminuído as margens de lucro da fábrica.

A capacidade de se processar e congelar o mais rapidamente possível o açaí é funda-mental para um produto de qualidade. Os custos de manutenção da fábrica da Frutos Baixo Acre são bastante altos e, mesmo localizada em região de abundância do fruto, não chega ainda a utilizar toda a sua capacidade de produção.

A realização de oficinas de boas prática no manejo do açaí será fundamental para o aumento do volume de produção. Da mesma forma, apoiar os produtores visando ampliar a sua capacidade de organização da produção do açaí, realizando vendas conjuntas, com diminuição dos custos e maior capacidade de negociação de preços.

Também é necessário se compreender a relativa desmotivação das famílias em rela-ção à atividade de coleta do açaí, fato recorrentemente citado durante o processo de diagnóstico e nas entrevistas.

Será fundamental reduzir a influência que os picos de máxima produção do Pará exer-cem sobre as compras no Estado do Amazonas. Uma abordagem para isso pode partir da realização de estudos mais aprofundados sobre a sazonalidade da produção para-ense, bem como da criação de estratégias de diversificação dos contratos de compra e venda do açaí amazonense.

13

REFERÊNCIASConab. “Cadernos de conjuntura mensal da Conab”. Link: http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=526&t=#this

Pagliarussi, Marina Sanches (2010). “A cadeia produtiva agroindustrial do açaí: Estudo da cadeia e proposta de um modelo matemático”. São Carlos/SP: USP.

IBGE (2013, 2014 e 2015). “Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura”. Publicação: IBGE.

Embrapa/CNPTIA (2008). “Informativo técnico Rede de Sementes da Amazônia: Açaí”. Link: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Informativo_da_RSA_000gb-z50dd802wx5ok01dx9lc8peulnc.pdf. FNMA/MMA.

Maria do Socorro et all (2000), “Açaí (Eterpe oleracea Mart.)”. Linl: https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Oliveira+et+al.%252C+2000_000gbtehk8902wx5ok07shn-q9dunz6i0.pdf. FNMA/MMA.

14

Realização Apoio