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Pós Graduação em Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos ECA - USP - Celacc Metodologia de Pesquisa dos Bens Simbólicos Professor: Dennis de Oliveira Aluna: Sílvia Maria Lopes de Mello Estudo Dirigido Bem simbólico a ser analisado: Proposta para uma Nova Via Crucis dez quadros (1 Cristo é entregue a Pilatos; 2 Cristo e Barrabás; 3 Cristo Flagelado é apresentado ao Templo; 4 Cristo recebe a Cruz; 5 Simão Cireneu; 6 Cristo fala aos mercadores de Jerusalém; 7 Cristo é despojado das Vestes; 8 A Crucificação; 9 Descida da Cruz ; 10 Sepultamento ),1966, técnica mista sobre tela, 81 x 81 cm, acervo particular. Autor: Darcy Penteado, artista plástico (1926-1987) Tipo de manifestação simbólica: Arte plástica 1 - DESCRIÇÃO A Via Crucis de Darcy Penteado foi concebida na fase de sua carreira artística denominada Post Pop Art pela crítica italiana, durante o período em que viveu na Europa. A polêmica obra, intitulada Proposta para uma nova Via Crucis dez quadros que mostram uma versão pós-moderna de momentos da via sacra, ao invés dos 14 tradicionais impressionou pela temática, aliada à técnica e à própria mensagem, carregada de crítica social. Foi exposta, publicamente, pela primeira vez, num momento delicado da vida política e social brasileira, o pós-golpe militar de 1964. A Proposta para uma nova Via Crucis ficou em exposição primeiramente em São Paulo e depois foi levada à Roma. Quanto à temática: O artista se propôs uma nova maneira de mostrar o tema da Paixão e Morte de Cristo, cujo interesse lhe foi despertado ao visitar as igrejas do bairro Trastevere, em Roma, onde morou no início dos anos 1960. Sobre a temática, uma reformulação da Via Crucis tradicional, feita em função de passado e presente, o artista explicou à imprensa brasileira na época: Os grandes temas subsistem e resistem ao tempo, justamente pela sua grandiosidade e intemporalidade. Considero a Via Crucis um dos temas mais apaixonantes. O drama de Cristo é tão atual, a humanidade continua tão a mesma coisa que, tenho certeza, caso ele de novo aparecesse seria igualmente crucificado”. Com sua Via Crucis, Darcy Penteado conseguiu dar atualidade ao tema da paixão de Cristo, em consequência dos elementos formais que usou e das figuras que escolheu para as colagens, deslocando-as de sua época quanto ao traje. O artista comentou sua intenção em entrevista a um jornal paulistano, em 1966:

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Page 1: Pós Graduação em Gestão de Projetos Culturais e ... · Metodologia de Pesquisa dos Bens Simbólicos Professor: Dennis de Oliveira ... em consequência dos elementos formais que

Pós Graduação em Gestão de Projetos Culturais e Organização de Eventos

ECA - USP - Celacc

Metodologia de Pesquisa dos Bens Simbólicos

Professor: Dennis de Oliveira

Aluna: Sílvia Maria Lopes de Mello

Estudo Dirigido

Bem simbólico a ser analisado: Proposta para uma Nova Via Crucis – dez quadros (1 –

Cristo é entregue a Pilatos; 2 – Cristo e Barrabás; 3 – Cristo Flagelado é apresentado ao

Templo; 4 –Cristo recebe a Cruz; 5 – Simão Cireneu; 6 – Cristo fala aos mercadores de

Jerusalém; 7 – Cristo é despojado das Vestes; 8 – A Crucificação; 9 – Descida da Cruz ;

10 – Sepultamento ),1966, técnica mista sobre tela, 81 x 81 cm, acervo particular.

Autor: Darcy Penteado, artista plástico (1926-1987)

Tipo de manifestação simbólica: Arte plástica

1 - DESCRIÇÃO

A Via Crucis de Darcy Penteado foi concebida na fase de sua carreira artística denominada

Post Pop Art pela crítica italiana, durante o período em que viveu na Europa.

A polêmica obra, intitulada Proposta para uma nova Via Crucis – dez quadros que

mostram uma versão pós-moderna de momentos da via sacra, ao invés dos 14 tradicionais

– impressionou pela temática, aliada à técnica e à própria mensagem, carregada de crítica

social. Foi exposta, publicamente, pela primeira vez, num momento delicado da vida

política e social brasileira, o pós-golpe militar de 1964.

A Proposta para uma nova Via Crucis ficou em exposição primeiramente em São Paulo e

depois foi levada à Roma.

Quanto à temática:

O artista se propôs uma nova maneira de mostrar o tema da Paixão e Morte de Cristo, cujo

interesse lhe foi despertado ao visitar as igrejas do bairro Trastevere, em Roma, onde

morou no início dos anos 1960.

Sobre a temática, uma reformulação da Via Crucis tradicional, feita em função de passado e

presente, o artista explicou à imprensa brasileira na época:

“Os grandes temas subsistem e resistem ao tempo, justamente pela sua grandiosidade e

intemporalidade. Considero a Via Crucis um dos temas mais apaixonantes. O drama de

Cristo é tão atual, a humanidade continua tão a mesma coisa que, tenho certeza, caso ele

de novo aparecesse seria igualmente crucificado”.

Com sua Via Crucis, Darcy Penteado conseguiu dar atualidade ao tema da paixão de Cristo,

em consequência dos elementos formais que usou e das figuras que escolheu para as

colagens, deslocando-as de sua época quanto ao traje.

O artista comentou sua intenção em entrevista a um jornal paulistano, em 1966:

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“Nesse sentido adotei uma liberdade total. Somente o Cristo foi mantido dentro da época

em que existiu e assim mesmo tratei-o quase como uma silhueta em que a expressão está

mais sugerida do que propriamente desenhada. Pilatos, por exemplo, é um cavalheiro

medieval copiado de uma litografia de um folhetim; Simão Cireneu foi tirado de uma

fotografia de promessa ao bom Jesus de Pirapora; o povo, que impassível assiste ao

julgamento do Cristo, é de uma foto que encontrei em Roma, datada de 1909; e assim por

diante”.

Quanto à simbologia:

Ainda, segundo o artista, “do ponto de vista literário, os quadros foram imaginados

obedecendo a símbolos diversos. A cruz que Cristo recebe na quarta estação, por exemplo,

é um crucifixo do medievo italiano em que a sua própria figura está pintada. Com isso

pretendi dizer que ao recebê-la ganhou a responsabilidade do mito que dele adviria. O

detalhe dessa série que, parece, foi o mais comentado e que escandalizou alguns foi o da

montagem fotográfica de orgia carnavalesca com background ao Cristo flagelado.

O que apenas alguns mais esclarecidos perceberam é que, na minha concepção, o povo ou

qualquer agrupamento humano é igual em todos os lugares e em todas as épocas.

Basta um impulso mais forte, uma idéia sugerida por um líder muitas vezes improvisado

pelo momento e pelas circunstâncias, para que essa multidão reaja coletivamente.

No caso, fiz uma equiparação entre a inconsciência de uma orgia carnavalesca e a orgia

festiva (por que não?) que determinou a crucificação do Cristo, conforme pretendiam os

sacerdotes e os príncipes do templo”.

Quanto à técnica:

Para compor essa obra, o artista utilizou técnicas, como pintura e colagem, além de vários

materiais, como cartazes, papéis com texturas diferenciadas, fotografias, etc.

Darcy Penteado também definiu a técnica utilizada em seu trabalho na Via Crucis:

“Não posso eu negligenciar na acuidade técnica e artesanal que sempre foram

características do meu desenho e da minha pintura. Portanto, o meu quadro precisa, por

exigências de meu temperamento, ser bem composto, bem pintado, bem colado, quando

emprego colagens”.

A base para esse trabalho foi a Pop Art, segundo declaração do artista ao Diário de Notícias

em abril de 1966:

“A Pop-Art foi, sem dúvida, a base de minha atual pintura. Recebi o impacto violento da

estética da Pop na Bienal de Veneza e todas as suas conseqüências – destruição radical

dos valores tradicionais da pintura e afirmação de novo sentimento plástico – construíram

o fundamento de minha arte”.

Darcy definiu a Pop Art como “uma tendência artística que resultou do cansaço da nova

geração de pintores dos padrões tidos como modernos na pintura da época. Foi uma

libertação que se estendeu a diversos campos da atividade artística e intelectual. A

apologia do cotidiano, do banal, do popular – seu nome vem daí. Buscou nas histórias em

quadrinhos, nos supermercados, nos depósitos de velharias o seu material de expressão”.

2 – SOBRE O ARTISTA

Darcy Penteado nasceu em São Roque, interior de São Paulo, em 1926. Autodidata, foi

desenhista, ilustrador, retratista, figurinista, cenógrafo, designer, dramaturgo e escritor.

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Viveu até os onze anos na cidade de origem. A fim de estudar, mudou-se para São Paulo

onde residiu a maior parte de sua vida. Embora pertencesse a uma família de classe média

alta, começou trabalhar aos 16 anos como desenhista. Enveredou pelo campo da moda e do

teatro. Ilustrou livros de autores como Jorge Amado e Graciliano Ramos. Recebeu o prêmio

Jabuti por ilustrações em Contos da Cabra Cega. Recebeu todos os prêmios de teatro por

figurinos e cenografia da peça Pedreira das Almas no final da década de 1950. Foi

premiado também pela criação do cartaz a I Bienal de Arte de São Paulo. Participou de

diversas bienais. Retratou mais de 400 personalidades e foi considerado um dos dez

melhores retratistas do mundo pela crítica norte-americana. Viveu em Roma e Paris na

década de 1960. Conviveu com a alta sociedade paulistana. Suas obras integram acervos de

museus como o MASP e o Fog Art Museum (EUA).

Darcy Penteado era homossexual assumido e escreveu diversos livros sobre esse tema

(contos e o Romance Nivaldo e Jerônimo, publicado pela Codecri – Pasquim, em 1981, que

trata do envolvimento amoroso entre um estudante e um militante político, integrante da

Guerrilha do Araguaia). Participou como colaborador do jornal “Lampião”, tablóide que

defendia os direitos dos homossexuais, ao lado de Agnaldo Silva, Glauco Mattoso,

Trevisan e outros. Politicamente, era membro da esquerda, contra o regime militar e

participou do movimento pelas diretas. Morreu de AIDs em 1987 e foi enterrado em São

Roque, doando seu acervo para a prefeitura dessa cidade.

2 - QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA

O objetivo do presente estudo dirigido é interpretar a obra de arte Proposta para uma Nova

Via Crucis, tendo como quadro de referência a teoria da cultura proposta por Nestor Garcia

Canclini, especialmente os conceitos inseridos no seu Cultura Transnacional y Culturas

Populares (Lima:Ipal, 1998).

Conceitos

Como alicerce para a interpretação específica desse bem simbólico e sua contextualização,

é importante a afirmação de que a obra de arte tem suas implicações num campo simbólico

que extrapola aquele do seu local de origem, determinado por influências das relações entre

cultura subalterna e cultura dominante, conseqüência do processo de globalização. Nesse

sentido, afirma Canclini (op. cit. p. 25):

“No sirve para explicar el desarrollo planetário de um sistema industrial,

tecnológico, financeiro y cultural, cuya sede no está en una sola nación, sino en una

completa red de estructuras económicas e ideológicas. Aunque sus decisiones y

benefícios se concentren en la burguesia de las metrópolis, su hegemonia se realiza

no tanto por la imposición de las culturas metropolitanas como mediante la

resignificación de los conocimientos y hábitos de cada pueblo y su subordinación a

un completo sistema transnacional”.

Entenda-se por hegemonia:

“Un proceso de dirección política e ideológica en el que una clase o sector logra una

apropiación preferencial de las instancias de poder en alianza con otras clases,

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admitiendo espacios donde los grupos subalternos desarrollan prácticas

independientes y no siempre ‘funcionales’ para la reproducción del sistema.” (op.

cit. p. 22)

O autor mostra também um panorama do desenvolvimento cultural da América Latina nos

anos 1960 e início dos 1970, período em que foi criada a obra em questão:

“En lo cultural, se incrementó el ingreso a la educación superior, hubo un

desarrollo vertiginoso de las ciencias sociales y de las vanguardias artísticas, nuevas

tecnologías se incorporaron a la producción y difusión cultural (la expansión de la

TV, el uso de materiales y procedimientos avanzados en el diseño industrial y la

creación artística). Si bien no fueron eliminadas las desigualdades tradicionales

entre las clases, en el acceso a la cultura, se extendió su circulación y se

democratizaron sus contenidos”. (op. cit. p. 28)

Canclini aponta para uma concepção dinâmica da cultura que liga intelectuais e artistas aos

processos políticos de mudança que levariam ao surgimento de uma “cultura de la

subversion”:

“…en los años sesentas creció una concepción dinámica de la cultura y de lo

popular en movimientos de intelectuales y artistas ligados a procesos políticos de

cambios”. La visión de la cultura popular como un conjunto de tradiciones

embalsamadas tenia que ser redefinida por los escritores, cineastas y cantantes que

intentaban convertir sus instrumentos de trabajo en agentes de transformação (op.

cit. p.45).

O autor evidencia o fato de que alguns movimentos culturais surgidos na América Latina

nesse período invertem a caracterização folclórica do popular:

“em vez de definirlo a partir de las tradiciones, lo hicieron por su potencia

transformadora, em vez de dedicarse a conservar el arte, trataron de usarlo como

instrumento revolucionário. Al dar tanta preeminência a la dimensión política,

descuidaron otros aspectos de la cultura, por ejemplo lúdicos y ficticios, que son

decisivos con la creación y la comunicación artísticas”. (op. cit. p. 46)

3 – INTERPRETAÇÃO

A Proposta para uma Nova Via Crucis não pode ser interpretada como objeto isolado, mas

no contexto do conjunto da obra de Darcy Penteado, considerando-se a posição do artista

na sociedade paulistana e sua postura política.

O artista fez um caminho diferente da maioria de seus colegas das artes plásticas. Era

desenhista por excelência e, apesar de aplicar técnicas diversas e experimentá-las a cada

momento como base de estudo, só foi produzir óleo sobre tela para sua última exposição,

em 1986. Trabalhou sempre usando tinta preta sobre papel ou tela branca. Somente na

década de 1960 seus quadros passam a ter um colorido, em função das tonalidades dos

papéis utilizados nas colagens. As séries de gravuras coloridas e águas fortes viriam depois.

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Recebeu influência dos grandes pólos culturais do mundo, principalmente europeus, como

os berços da arte Itália e França. Nesse sentido, tendo por base a teoria de Canclini,

podemos inferir que a produção artística de Darcy apresenta uma contradição: como

receptor das influências européias hegemônicas em sua arte, pode ser considerado um

integrante da cultura subalterna; mas, como membro da alta sociedade, que produzia para

uma elite, em relação ao povo de seu país, deve ser considerado integrante da cultura

dominante.

E as contradições não param por aí, pois, apesar de ter sua origem numa família abastada e

um pai que militava a favor de Getúlio Vargas, Darcy identifica-se com os ideais políticos

da esquerda e defende o homossexualismo, características que aparecem claramente em sua

obra, embora a temática de grande parte do conjunto de seu trabalho seja de caráter

intimista.

Nesse sentido, a Proposta para uma Nova Via Crucis revela um tom de crítica social

traduzido por um tema universal. Essa crítica revela-se tanto na técnica como na forma

“nova” de abordar o tema da Paixão de Cristo, como o próprio título da obra propõe. Por

meio dessa criação, como em seus livros, o artista mostra um certo desprezo pela própria

sociedade que o mantém. Lúcido, Darcy revelou-se sutilmente contra muitos aspectos do

relacionamento social da classe na qual transitava e da qual tirava o seu sustento,

comercializando obras arte e pintando retratos por encomenda.

Carnavalesco e figurinista que criava modelos para as alas das Escolas de Samba do Rio,

ele usa exatamente cenas de bailes e desfiles de Carnaval, nas quais aparecem figuras

conhecidas da sociedade dos anos 1960, para representar o povo que gritava “Crucifica-o”

(na passagem da sua Via Crucis em que Pilatos lava as mãos e entrega ao povo a

responsabilidade de decidir sobre o destino de Jesus de Nazaré).

Mas, apesar do tom de crítica social e da posição política do artista, a Proposta para uma

Nova Via Crucis não pode ser considerada uma obra criada estritamente com a finalidade

de transformação social, como aponta Canclini sobre alguns movimentos artísticos desse

período. Tampouco Darcy Penteado pode ser classificado como um artista da “cultura da

subversão” no sentido político-social, apesar de ter sido chamado de “artista maldito”.

A reação da cultura dominante à obra de Darcy acontece menos pelo fator crítica ao modelo

econômico do que como reação à sua temática, ofensiva aos costumes conservadores

vigentes nos anos 1960 e 1970. Suas obras exploravam os nus feminino e masculino e

expunham temas como a homossexualidade, tocando em tabus impostos pela cultura

dominante. Na Proposta para uma Nova Via Crucis essa abordagem se mantém e a reação

por parte de setores da cultura dominante não é diferente: o artista toca de maneira

considerada “desrespeitosa” no tema Paixão de Cristo, tido como “sagrado” por essa

sociedade predominantemente “católica”.

No que se refere à técnica utilizada pelo artista, que admite ter recebido influência da Pop

Art na Europa, os traços da Proposta para uma Nova Via Crucis são considerados como

Post Pop Art pela crítica italiana da época. Se fizermos um paralelo com a literatura, essa

obra pode ser considerada pós-moderna, pelo aspecto da bricolagem, linha mestra da sua

técnica. Nesse sentido, Darcy Penteado é um artista deslocado de seu tempo ou à frente

dele, o que o faz sempre objeto de polêmicas diante da crítica especializada. Sua obra não

tem caráter linear e nem apresenta uma lógica estanque. Ao contrário, é viva, denota

movimento constante e vai ao encontro do conceito de Canclini para Cultura: constrói-se

num processo de constante transformação.

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Essa dinâmica ocorre exatamente pela preocupação do artista com a acuidade técnica. Na

Proposta para uma Nova Via Crucis, Darcy não permite que o fator crítica social se

sobreponha ao elemento técnica, conservando as características “lúdicas e fictícias”,

apontadas por Canclini como determinantes do processo de produção de uma obra de arte e

“decisivas para a criação e comunicação artísticas”. E tampouco, como em toda sua obra,

permite que a preocupação com a técnica anule a criatividade.

4 – CONCLUSÃO

A Proposta para uma Nova Via Crucis é uma obra que se mantém atual não somente por

sua temática universal, mas também pela forma de comunicação adotada pelo artista que a

insere no hall das obras que podem ser caracterizadas como “arte de transformação”. Os

aspectos lúdicos são mantidos e revelam não só a preocupação com a arte em si como o

equilíbrio entre acuidade técnica e criatividade, características que Canclini aponta como

ausentes na maioria das obras de artistas integrantes do movimento artístico que tem na

obra de arte e na cultura o elemento fomentador da mudança social.

Trata-se de uma obra que pode ser referência da teoria de Canclini, pois se mantém

consistente enquanto arte sob todos os pontos de vista abordados pelo autor.

BIBLIOGRAFIA

GARCIA CANCLINI, Nestor, RONCAGLIOLO, Rafael. Cultura Transnacional y

Culturas Populares. Lima: Ipal, 1998.

LOPES DE MELLO, Sílvia Maria. Contando a Arte de Darcy Penteado. São Paulo:

Noovha América, 2004.

Darcy vem Expor Aqui, in O Globo, 23/01/1966.

Darcy inaugura na PG, in Correio da Manhã, 03/04/1966.

A Orgia Festiva do Pop, in Jornal do Brasil, 21/04/1966.

Darcy já é Retaguarda e OP falseia Realidade, in Diário de Notícias – 24/04/1966.

Darcy Carrega Arte na Nova Via Crucis, in O Estado de São Paulo, 04/05/1966.

Darcy Penteado já está no Post Pop, in Correio da Manhã, 27/11/1964.

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ANEXO: IMAGENS DOS DEZ QUADROS DA

Proposta para uma nova Via Crucis, 1966

técnica mista sobre madeira – 81 x 81 cm

Darcy Penteado (1926-1987)

Acervo particular

1 – Cristo é entregue a Pilatos

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2 – Cristo e Barrabás

3 – Cristo Flagelado é apresentado ao povo

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4 – Cristo recebe a Cruz

5 – Simão Cireneu

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6 – Cristo fala aos mercadores de Jerusalém

7 – Cristo é despojado das Vestes

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8 – A Crucificação

9 – Descida da Cruz

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10 - Sepultamento