portugal nos tempos dos felipes - introdução

11
7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 1/11 I a l t ' \ ' ' 1 \ p (, t - .' I I c r ,. ) (T': 0 C">- , . . C 1 -- ( i ~ , · \ "",,...,. l. · · \ . o4 . l v .__ . ,.~_·..! ..->-· " ' . . , ) . ,. (. f) 0 I ' - : / . i' -'; 2 -:' ,_ ., - ,. ' } ·) s C' ' ' ,... I \ . ,,J · -~\... ,4..-?- .  CA8A DO XEROX Fernando Bouza Alvarez PORTUGAL NO TEMPO DOS FILIPES POLfTICA, CULTURA, REPRESENTAQOES (1580-1668) 322-2320 1 1 I :~;._ '- . C':urso: , £ tuJ.}U!ulv J'rofessor= ~ '.Iaior: .J. : ~------------~------- ~-lfta l l : c e a d o ' l t e r o x Q t l o t r : - : a l l .i . ill , i -·. ··· · - ---------- ----· .... . . . . ···---- --·--- ---- - - · . Pr4tkiode Antonio Manuel Hespanl;a Tratfu¢ode Angela Barreto XarMr e Pedro C(lf'dim . ® Edifoes Cosmos Lisboa, 2000 ~ - .. ···-· . ·· : ·: __ ·: : ".. ,,., : . . · : · · ·--- :::;, .~.,.- ~.:__,_::; .... ' } ; ; : '

Upload: amanda-rosa

Post on 03-Apr-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 1/11

I

••al

t

••••••••••

' \ ' ' 1\ p

(,t

- .' I I

c r ,.

)(T ': 0 C">-

, .. C1 -- (i ~ ,· \ "",,...,. l. ·· \ • . o 4.

l v

.__. , . ~ _ · . . ! ..->-·

" '

. . , ) . ,. (. f) 0

I '- :/ .i' -';2

-:' ,_., - ,. ' } ·) s C'

' '

,... I\ . . ,,J · - ~ \ . . . , 4 . . - ? - . 

CA8A DO XEROX

Fernando Bouza Alvarez

PORTUGAL NO TEMPO

DOS FILIPES

POLfTICA, CULTURA, REPRESENTAQOES

(1580-1668)322 - 2320 1

1 I : ~ ; . _ '- .C':urso: , £ tuJ.}U!ulvJ'rofessor= ~' .Iaior: .J. :

~ - - - - - - - - - - - - ~ - - - - - - -~ - l f t a l l : c e • a d o ' l t e r o x Q t l o t r : - : a l l

.i .ill , i

-·. ····- ---------- ----· .... . . .. · · · ------·-------- - ·

. Pr4tkiodeAntonioManuelHespanl;a

Tratfu¢ode

Angela BarretoXarMr ePedro C(lf'dim .

®Edifoes Cosmos

Lisboa, 2000

~ - .. · · · -· . ·· : ·: __ ·: : ".. ,,., : . . · : · · · - - - : : : ; , . ~ . , . - ~ . : _ _ , _ : : ; ....

' }

;;:

'

Page 2: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 2/11

•••- •••••••••

•••••••••

•'•••

1 1 

· :

«N este desterro, outra auzencia». A ausencia de cartas era 11111

mot ivo de amargu ra para Dona Filipa,.de Jesus , a filha «Ca tiva . , umofina" c

useim ventura» do Prior do Grato que; desde a decada de 1580ateao infcio do

seculo XVII; percofria Caste];! de c l a u ~ r a em clausura 1. uQual uma noouuer- lamentar-se-ia- qu e pod era com perder talpai como cu, comdcstcro,

. . com prizao, com me nao deixareimver neim ·falar a pessoa ninhum a, an tre

iiente estranha, apartada desa irma que comigo veio, scim me fiar nei mde dar urn ai onde irie ou<;iio,z

Numa epoca em que· ••ate dos san.os de ca ei medo .J, uma das poucas

esperan<;as que Dona Filipa podia ainda alimentar era a de receber cartasQuanta a escrever, tinha de o fazer furtadas ... que nao me deix!o urnmomento, como seeu ouesede roubaro musteiro e fugirdele» e, mesmo ass im,

quase que 0 nao COnseguia, pois estava «Seim ter COm que Compre.. . neim

para huma folha de papel, que neim esa tenho de meu»4• Todavia, «se tivese

novas do meu rei e ho vise restaurado tudo isto e meu destero nao sentiria»5•

Inicia-se o Portugal dos Filipes com esta correspondencia da t:iste tristeDona Filipa de Jesus assim como com as cartas que D. Filipe I de ?ortugal

enviou, entre 1581 e 1583, suas filhas Isabel Clara Eugenia t:. Catarina

Micaela6• A unica maneira de entender esses sessenta anos de hist6ria e

fazendo eco quer do Portugal cheio de arcos de triunfo, de festejos e, ainda,

de algumas esperanc;as, ilustrado pelas cartas as duos injlltltas mcni1111S, quer

desse outro «mofino e cativo PurtugaJ. que, do desterro, Dona Filipa imagi

nava como urn qu ase espelho seu7• «Amigo lector e amiga lectora»- pe<;o

emp restadas a To me Pinheiro da Veiga estas adequadfssimas palavras de

proemio8- , gostaria de o ier l c a n ~ a d o comos trabalhos que aqu i apresento.

Ahistoriografia relat iva ao Portugal Ha bsburgo tern sido dominada , com

jkmasjada f r e g u ~ u n . b . W t n c . u . t . Q . . d Q . s c c s c n l a ~ . f i . ! ! ! amude_ . . e o r r e s p o n d e , ~ cn

nvinrc

nrc dos scnt

idos:

ou

Page 3: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 3/11

•••

.

22 lntrodu)aO. Canas, ll'tJ(O.S e satiras

~ ~ Concudo, deJa terao resul tado algumas s i t u a ~ o e s de Aesse prop6siro l i ~ s . e com asua habitual sub rileza, Eugen ioAsensio embraria a

importancia de evirar «Ia ventaja que da nacer tres siglos rarde y conocer a

soluci6n del enigma» para impor «unos principios y un c6digo politico que no

alcanzaron . aqueles que expe rimencaram a ~ " a l i d a d e do govemo dos Filipes9•

E rovavel que Asensio estivessc: em melhores c o n d i ~ o e s do que algunsou rros para descobrir os efeitos pouco desejaveis do acrualismo historiografico,

ace porque a materia literaria nao se deixa facilmeme reduzir a crirerios

dinasricos ou nacionais 10• Como ela, rambem os t6picos, as imagens e as

f i c ~ o e s remerem para as pr6prias t r a d i ~ o e s culrurais que vao a pouco e pouco

enrrete<·endo, e estas devem-lhes, em ultima instancia, a sua existencia, ate

ao ponro de gozarem de uma espec ie de durabilidade especial que lhes

confere urn grau considen\vel de autonomia. 0 que nao significa, evidence

mente, que se possa desvincular- nem que seja por urn s6 memento- as

diversas t·epresmto;oes culturois das sociedades queas quiseram imaginar; por

serem estas as que, em seguida, as vao receber, modelar e usar, esgrimindo-as

em combates conjunturais, consagrando-as como signos disrintivos11 • Deve

ainda fkar claro, e no que respeita a esca questao, que tam bern essas repre

sentaqcks cu ltura is respondem a uma determinada Zeitwillt, a uma v o m < ~ d ede epoca, a mesma que Mies van der Rohe considerava a razao-de-serdeuma

linguagem tao especffica como e a linguagem arquitect6nica12•

,t

Aeers ecriva adopt g ~ ~ ~ J i Y ! ~ . I ~ ~ ~ c ~ P r ? ~ i ~ a r - s e do P o ~ < ! _ o sc i l j a a ~ ! . ~ ! ! : . . . . ~ ~ s e n r a ~ p ~ ~ t 6 p i c ~ s ! I m a ~ e n s , l i c ~ ~ ~ ) . _ ~ Q f ! ! . ~ ~ _ g u ~ i ~

cxpressar aquela 1ue foi, sem qualquer duvida; uma nova r ~ a ~ a ~ _ d epam a comuniclade p o l f r p o r t u g u ~ s a , P E ~ - ~ r n u ~ v c : _ ~ ~ c o n f r o ~ ~ ! r ~ o , mf'lu, n r o n i z n 9os_I:{absburgo s i g ~ i f t c o u , p _ ! ' i m E r ! ) _ l u g a r , HQ_nver.sao

llr l 'oriUJtnl num reino de monarca a u s e n t ~ As_sim ficou Lisb.oa s u . J n f 1 1 ! :q 1 1 m ~ oirot1 hespemoo-seu di.ftaiite isposo; assim ficou o Reina ~ l ! g l a ~ q _ ~lltiC s . . r m 6 1 h o n e } o a ~ ~ a _odia s ~ a v i z a l :' 'l

..,,

\'

\

,.,'

I d'

II• I ..,

,

~

."1

1' •, -!

I•I

Jln n1nl6m do mais, 1580 s u p u n h ~ ! ~ g ~ ~ g ~ ~ Q ~ ~ c m _ u g a L ~ . M , Q _ n a r g u i alllnpnuit:n ~ l = t a b s b \ l r g e s g u t u ~ r a p o l \ - t e n , i _ ! Q . . r i i ! . l . d ~ . Q o r o i n i . P . L . ! U W' rconhcrin" difereMa.jl)_i_!d_iG.ionafd.ccada urn dos-seus componentes t r a v ~dn das n s t i t u i ~ o e s particulares; que, acima de tudo...expre,ssava a

11ru; plu ~ ~ i c ~ o ! _ ! ) ~ d i a n r e d j f e r e n t ~ . i " ! l . t . ~ !!1"/lj!,ode (retra_«is:.rrgnlio, u d o s de armas). T a m ' 6 ~ m as utilidodes- como se dizia en tao- que

, da i n c o r p o r a ~ a o do Reino em tal Monarquia eram expresru emimagens de. propaganda, visuais ou escritas, para cuja difusiio recorreu o

ciinOi'Oato Filipe de Habsburgo a gil tipografia, ao mesmo tempo que tirava.om<iximo partido dos arquivos e dos ·seus d o c u m e n ~ o s a n t i g ~ s . Dado que' . ·-·- ··- - -, __.,.

----- ··-- - - - - - - - ; - - - - - · -·- ··- ·-·- ···-

It' . I I

'

'

1

f:

c

.1'-

:_ --.ii:

'-{ '

':r.·

::1

1: •

;;

I o

:t

f[ 

.

t

r ~ u g a SC agrcgava a uma ~ ~ ~ q ~ CO!llp6si ta, nao surpreende que SC

tivessc rccorrido a igura de urn maestro qu e dirigia urn COIX? .ha.rmoniaso a

disrincas para rcferir o s.eu.soberano; nesra perspecriva, uma revolra nao

.podia ser explicada em melhores termos senao acraves da sonora referencia a

y_ma dissondncitJ.

Aausencia continuada dos reis, a sorJtlode na qual ficava o Reino, viria a

ser mitigada por meio de alguns expediences itlstirucionais; por urn !ado, o

C:onselhode

Portugal, que

eraamemoria do R.-ino

junco do Rei;por ou rro,

osVice-Reis/Govemadores qu:: eram os alter nos, mais ou menos senztlhomes, do

monarca no Reino. Esra . - e d e f i n i s a _ o ~ e ~ m o s rradicionais da a ~ a o entre~ ~ O _ J _ ~ p J ) . < ? \ 1 consideravelmente o campo da lura politica, a qual viria

~ ~ ~ ~ e x . e : ~ _ : a ~ O f ! 1 2 _ 1 l ! l 1 a especie de economia da u ~ e n c i a regia que modificou,

·· C ! . I l l d u ~ i d a , o equilibrio de poderes previamenre existence.

Neste conspecto, o Portugal dos Filipes foi construido com base numa

estreita l i a n ~ a entre a Coroa e a nobreza como elite territorial. Ainda que deforma polemica, que o Portugal Habsburgo podia rer sido o das cidades e

nao o foi, osjidalgosconverteram-se- para empregar a termino logia de Denis

Richer - nos muiiodorts14 que o tornaram possfvel. Para eles , o periodo 1580-1640-1668 viria a ser crucia l; a sua n d i ~ a o de m ~ d i a d o r imprescindfveis,

entao ratificada e ampliada, obrigou a que conrrapusessem a sua i ~ a ocorporativa de leais servidores do Rei ao papel comuni nlriodepo1rcspott'iac, nque se arrogavam ou que se lhes exigia, tal como es tc se viria acxprcssar, por

exemp lo, na f a c ~ a o dos reprlblicos15• ~ s a r de ncm rodos os scus mcmh w.\

~ r . ~ ~ _ _ p ~ ~ i ~ i p a d o oa R e s r a u r a ~ a o de D. Joao N e de muiros jido/go.f contin uarem fleis aqu ele que ainda consideravam como Filipc III de Porw gal, aind u

assim.se pode afirmar que a nobreza. fez do zeo forista urn dos scus signos

distintivos.' ..Epassive[ que tal r.e{o nao tenha resultado de outra coisa seniio da

identifica9ao dos seus pr6prios privilegios com as liberdades do Reina, r.omoera coerente e habitual naquela epoca; o que :azia com que a defesa de staspassasse pelo cumprimento daqueles. Todavia, havia muito de interesse

dissimulado-de consciencia plena de que cumpriam o papel dos mediodores

cuja aquiescencia eran e c e s s ~ r i a

para mant .!r o domfnio de Portugal- nessaatitude deulosos e de repr/blicos. Talvez isto explique que alguns dosfidalgos

mais ardentemente anti-olivaristas tenham mantido, depois de 1640, a sua

obedicncia a Fi lipe Ill, exigindo que as c o n d i ~ o e s da e n ~ a de Portttgal na

Monarquia Hispanics dos Habsburgos se cingisse a uma a g r e g a ~ a o estrita, o

que nao s6 era consequence com o que tinha sido decidido em 1580, como

garantia, tambem, a sua preeminencia eo seu conrro lo do Portugal agregado

• J.ii

Page 4: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 4/11

•,••••••••••••

24 lncroduyiio. Carcas, rafdS e saciras

Em todo o caso, o pe rfodo 1580-1640 permitiu pensar a comunidade em

novos term os. Paradoxalmente, esses mesmos fidalgos que nao reco nheceram

a rea leza de D. Joao IV de Bragan9a e que se imaginaram pereg,·inos,

desenvolveram tambem uma interessantfssima reflexiio sobre a patritl que

tinham sido obrigados a abandonar por razoes da obediencia, que proclamavam sincera , aos Filipes. ~ ~ ~ S . £ ' ! l .. I l } , ~ . . . 9 . ! l e o debate que~ o o r t ~ . @ ! . J j a b s b u r g o nao f ? . ~ ? ~ s ~ ! l i i 9 J . . Q ! . ~ ~ i m e ~ ~ ~ _ c i ~correcta arricula9a o entre_o e r v i £ ~ R,e! eo e r v i ~ o R ~ i n o .- Foi urn debate animado pe.los diferentes cenarios que conjunturalmente

foram surgi ndo entre 1580 e 1640, dos quais faria imediatamente eco. Assim,

osvicc- reinados de t ~ n g u e , adefesa militar da metr6pole, agoverna9iio por nao

na turais, a i a ~ a o de junt as, as revoltas populares, a convocat6ria de Cortes ,as mcdidas tendentes a resolver a crise imperial ou a supressiio do Conselho

de Portugal, seriam julgados em rela9ao mem6ria do esta tuto do Reino na

sua relarrao com o Rei e como resto da sua Monarquia, tal cornu fora acordadoem Tomar, em 1581.

Pode dizer-se que a saudode em que o Reino ficava tomou-o ainda mais

vislvel em si mesmo. Com urn Rei quase nunca presence, a ideia expressapelo proverbio «Que no pudiendo haver Rey sin Reyno I bien puede haver

Reyno sin Rey, teve de ser refor9ada 16• E ~ ~ ~ a : i o ~ ~

pens amcn to comunitario_n.Q .PQrtugal Habsbu.rgQ.S.,.esse Portugal CUJOS

o i f ~ ~ ~ s t ; ' a m b e m p . A n t 6 n L o E ~ _ _ ! } j . Q . J l O u ~ s . D. Sehmia!Les ~ a V ~ _ I l l s e , m ~ o.C .U _Re.illQ __ ~ _ _ p g ! h l _ 5 ! e v i a . . _ SCd coosjd,rado enui.~ l l l ~ redu¥iio do p e _ I ! ~ ~ f ! l e n _ ! o o m u n i c a . ! ! ~ a formas ~ i Y ~ m ~ n l ~ .

! l a c i o n a i !lao con.:segue captar em coda a a m _ p l i ~ 9 . r i q u e . z a c 1 i v e r s i d aNao cxplica, por exemplo, a o n c i ! i a ~ a o dou/o manifestado pelos repub/icos

contra apolltica do Conde Duque de Olivares, coma lealdade ao Portugal dos

Filipes depois de 1640; e, nem sequ er, a p ( ; r a ~ a o aristocratica de identificar

as liberdad es do Reino com os privilegios das elites territoriais.

A o n s i d e r a ~ a o do Portugal dos Filipes a partir duma perspecciva dehist6 ria cultu ral e favorecida, sem duvida, pela extraordinaria riqueza docu

mental, felizmente conservada , que existe para este perfodo. A leitura quefizemos de tais fontes- do reverso de uma medalha a uma alegoria pintada,

de urn lugar-comum juridico auma carta cortesii, de urn pasquim a urn retrato

- nao se limita a c o n s i d e r ~ ~ o seu conteudo como uma posslvel r m a ~ aencarand o-as tam b6m como um facto em si mesm on

Os ou tros elementos polfticos, institucionais, sociais da a n ~ l i s e hist6rica

vao sendo apresencados no encadear da c r i a ~ a o , do uso e da c e p ~ desses

factos que sao as e n t a ~ o e s culturais. Assim, as fic¥6es, as imagens e os

· 

rr ~ · :..'

:

k

f:

··.;;

!i

h

--- - - - - - -- - - --·- - - -- -- . ··. -· --"- -- ---··-·

Pollcica, culcura e represencagoes no Portugal dos Filipes 25

t6picos que aparecem nos diversos artigos recolhidos neste volume sao

considerados formulas expressivas que nao s6 ilustram uma epoca, como sao,

essencialmente, uma epoca tornada discurso, do mesmo modo que Miesvan

der Rohe desejava que a sua Arquitectura dotada de Zeitwille fo sse uma epoca

feita espa9o18• Evocando Mies, considerem-se, por exemplo, algumas dasimagens que se referem ao Portugal dos Filipes, nas quais se re.:orrcu

Arquitectura e ao arqui tect6nico.Em 1663, depois de mais de duas decadas de guerra , uma Carro rid Gnn

Capitan [Gonza/o Ferntinder. de Cordoba/ a Pedro Fernandez dd Compo uti lizo11

uma imagem arquitect6nica para, emprimeiro Iugar, expflra i l l l a nn qual

a Monarquia Hispanica se encontrava, naque le tempo; e para, en1 SCf\IHldo.

apoiar o reconhecimento definitive da nova realeza aqual Ponugal sc 1iuh .t

entregue:

«Querer en las circunstancias del tiempo presence continuar IngucnudePortugal se puede comparar con el que teni.endo un Palacio muy grnndc

que hauiendose caydo un quarto principal se pone muy de cspacio a

levantarle desde los fundamentos no s6to sin reparar los otros queamenazan ruyna sino quitando de ellos los puntales y piedras angularcs

de que se vale para su nueva fabrica y quanto engolfado se halla enellay menos lo piensa se le cae por el suelo todo lo que restaua en pie yse

halla con Ia casa cayda sin poderlo ya remediar por hauer querido fabricllr

fuera de tiempo y quando convenia fortificar y consolidar lo flaco

que aventurarse a labrar de nuevo con tanto riesgo. Este Palacio viejo es

Ia Monarquia espanola no por lo mucho que ha dorado, que es Ia que

menos lo ha hecho y muy modema, sino por su poca cavidad originada decausas harto visibles. Cay6sele por el suelo el quarto entero de Portugal,est<in amenazando ruyna otros· muy principales y no obstante trata defabricar de nuevo el de Portuga!, 19

Antes de mais , a imagem da Monarquia H i s p ~ n i c a dos J : I _ ~ Q . ~ b . u r g o s . . . c o m o~ ~ - - · ·-~ n . ! .. P ~ ~ c i ~ ~ ~ x t : - a < ? ! ! . J ! I Y l ! t e . J ~ 9 . : 0 r a ca. uJ.o:p. r ~ ~ ~ J i a~ ~ . £ ~ ~ ~ ~ . t i n ~ .no.s.finais ..d.Q reinadq de_}•il_!p_; IY~ Depois, emuito expressiva da posi9ao dos que defendiam encerrar

definitivamente a questao portuguesa numa polemica que ainda estava em

aberto, reconhecendo os B r a g a n ~ a e renunciando, assim, a ccfabricar de nuevo»

o «quarto entero de Portugal»20• Todavia, as possibilidades oferecidas por esta

imagem nao se esgotam aqui; de modo aexplica-laconvenientemente,imporca

ainda saber o que e que implicava equiparar uma monarquia- mesmo que

· - - · · - - - - - :

Page 5: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 5/11

I

j

'•'•••••''''••••••t

•••••••

26 t r o d u ~ a o . Cart as, trOfaJ e satiras

esta a r n e a ~ a s s e rulna- a urn palacio; saber qual era o escatu to C]uc o:1tmhc-1r :.

arqui£cct6nicos ocupavam na i m a g i n a ~ a o pol1£ica do rei c ua cnrr Hrrlidatl c.

Fic96es com estas caracterlsticas nao se podem reduzir, como sc vc d adinntc,

nem a fronteiras nem a cronologias determinadas, correspondcndo an1 cs a

uma tradi9ao cultural partilhada

Cinco anos pas::ados sobre a p a r i ~ a o da cicada Carta, depois de tcrcmsido reconhecidos os Bragan9a, Madrid deixar-se-ia deslumbra r pelo engenho

ponentoso de Ant6nio Luis Ribeiro de Barros. Por ocasiao do aniversario da

rainha Mariana de Habsburgo, viuva de Filipe IV e regente, em seu nome, do

ainda c r i a n ~ a Carlos II , o cavaleiro p o r c u g u ~ s idealizaria, em Deze mbro de

1668, um torneio cujas diferentes provas deviam servir pa ra en contrar operfeito cavaleiro com «todas las partes ... con que se puede servir al Rey o auna Dama»,

Alguns dos exerdcios de cavalaria propostos ao cavaleiro nao eram

surpreendentes: esperava-se, assim, que soubesse cavalgar, tourear com rojoes,

atirar com arcabuz, bailar com uma dama e compor urn soneto ou glosar uma

decima . 0 carulindicava,aind a, que o cavaleiro devia saber falar tres linguas

(a latina, a materna e uma outra), defender conclusoes de filosofia moraleespeculativa ante os padres jesultas do Colegio Imperial, e argumentar

c o n c l u ~ e e s poHticas sobre aforismos de, entre outros, Tacita, Justo Llpsio eSeneca . AJem disso, e como ultima prova, os ju{zes do torneio deviam avalia r

os seus conhecimentos numa materia tao especifica quanta a Arquitectura

p o r I a ~ reglas de Vitrubio ySebastiane Serlio», diante de uma: plantaede urn

a l ~ a d oEnquanto que na literacura espanhola da epoca e rnais comum encontrar

referencias ao pict6rico - ~ I E _ Q ~ - unueino como ,-epUIJiica p i ~ d f l~ r o p O S ~ . £ . ~ L J y a _ n . J J ~ a i\guilar e d i s ~ O ..C?E§t,erzz -, diversos autoresportugueses, como Diogo Henriques de Vilhegas, ins1stiram no arquitect6nicocomo urn posslvel simile do politico. Assim, em 1656, o copitiio Vilhegas

elaboraria urna curiosa compara¥lio da comunidade com uma grande obra em

construgao, sendo o monarca o seu ·arquitecto t r a ~ a d o r . No Principe en ideapodemos ler que a arquitectura civil:

)1

« ... es retrato de una republica, en raz6n de que muy diversos hombres

en natural, ingenio, estudio, exercicio, se valen de materiales diferentes

en orden a un fin que es Ia fabrica y construcci6n de un edificio,

obediences en todo lo que dispone el Arcbitecto e conducen aperfecci6n,

de Ia misma suerte los subd itos de una Republica, aplicados a varies

ministerios, artcs, oficiosyocupaciones, de particulares medias,

,,..

I •

!r·I

+I

!

'

I;

...;  

"•.

'

f

'

l'oliuca, cult ura e representa9oes no Portugal dos Filipes 27

tcnicnuo rorobjcw un fin comun ,quees Ia pub lica afluencia, gouern ados

por uno so lo, que de ouo modo no seria exequible, [pu es]l a variedad en ..

las disposiciones impide conseguir el efecto a que se dirigen»21

Emsuma, se o rei agia como urn arquitecto, nao ad mira que se encon tre ,

pouco depois, Ant6nio Luis Ribeiro de Barros a argumentar que o perfeitocaballero politico precisava nao s6 de Tacite e de Lipsio, mas tambem deVi truv io e de Serlio «para lo que viere o se le preguntase en los edificios en

plantas o executados,24•

No panorama se iscentista da cu ltura de corte euro eia destaca-se, or

l!lerito pr6prio, 0 ext raor inario interesse pelps saberes arquir ect6nicos que

tiveram alguns membros da nobreza portu&,oesa, o qual parece cbegar aconstituir-se como urn t r a ~ o original do seu et/ws enquanto ru oco o:a:ivo

2s.

Como esquecer que rancesco Borromini considerou Manuel de Moura, omecenas de San Carlino aile Quattro Fontane, seu padrone romano , ou rJ e a

sua <<relazione" sobre o Oratorio dos Filipenses26 foi dedicada ao Marques de

Castelo Rodrigo, e que, por ou tro !ado, Guarino Guarin ided icou a sua Placito

Phihsophica, de 1665, a Francisco de Melo e Torres , Marques de Sand e, umaobra que abre com uma serie de admiraveis paralelismos polltico-arqui

tect6nicos?27.Nao ha duvida de que a r a d i ~ a o portuguesa de unir osaber arquitect6nico

acultura de corte eanterior ao seculo XVII. Na verdade, ela ja se t-;Jcontrabern assente na centuria anterior, tendo sido superado nessa altura·Onlvel do

simples mecenato entrando-se, nos tempos de D. Joao III, ll9 'tstadio maisvirtuoso do gosto e da opiniao. A par do pr6prio monarca, era o caso, por

exemplo, do infante D. Luis que , para alem das obras qu·e promoveu, nos

deixou frequentes provas de ter tido um juizo cu.i8ado em materiasarquitect6nicas. A prop6sito das obras que o rei seu irmao mandava realizar

em Sintra, o Infante critica adecisao de ••cortarseo taboleiro, quebe a melbor

cousa de Cymra, por quam pouco cham ba nella, em que se possa passear,,

propondo que:

<<,.. podia V.A. na mesma caza em que agora esta o tanque fazer tres

casas, burna da banda do mar de cinco b r a ~ a s de comprido, c: tres delargo, com genela pera o patio onde V.A. ordena que se f a ~ a o canqu e, e

pera o laranjal e pera sobre a estrebaria, e ficarn assi muito boa ci12a, e

pode V.A. repartir a outra parte pera que fique em duas cazas, burna da

banda do laranjal de tres b r a ~ a de cumprido e duas de largo com as

sinelas pera o laranjal e serentla perao taboleiro, e aourra de du as bra9as

.i::' _. .:;, .t:_ ,/ .. . ~ : · : ;  '1:- '

Page 6: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 6/11

Page 7: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 7/11

Page 8: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 8/11

..

••,

••••••••t

•.

•••••t

•••il

I

II

••

32 d u ~ a Canas, tra(as e sa ti ras

caracterizavam aofensa aos outros5z. Sem duvida, a frondosa arvore do burlesco

tinha uma multidao de ramos, desde o Judo universitario ao libelo sobrelinhagens obscuras, passando ainda pela copla infamat6ria de corte e pelos

vexames litenirios entre autores.Nao e necessaria Jembrar, tambem, que as satiras do Portugal dos Filipes

fundavam as suas raizes numa florescence t r a d de Lf'Ofi(JS, a qual e possfvel

seguir ate aos tempos medievais. Recordemos, por exemplo, as que <<fizeriioae!Rey [D. Sebastiao) pera o amoestarem dalgumas cousas . , compiladas no

lvfemoriol de Perc Roiz Soares, e que come!favam <<Pide a tu iuzio cuema Izagal, de ti descuidado I que se pierde el ganado/ y p i e n ~ a s que setacresienta••53• Havia tambem, evidentemente, uma fecunda linha r e m ~ ·centrada em ridicularizar os castelhanos, e, ainda- o que e mais curiosa-, a

r e l a ~ a o entre portugueses e castelhanos ; e provavel que esse «Homem que

nao foi mais que a raya e quando torna nao quer senao falar castelhano» quefigura na Summa dep(J1·voices em ,·omonu portugues seja urn exemplo perfe ito14 •

Dirojsto, importa insistir n.o facto de o Portugal Habsburgo ter assistidoa un1<iprofusao impressionante de satiras que m e ~ a m no mesmissimo ano

de 158 0, as quais acompanham os Filipes ate 1640, para entrarem, com pleno

di reito, depois dest<> data, no arsen al propagandfstico da Restaura'fliO. Sem al n t e n ~ a de sermos exaustivos, assinalem-se, porem, alguns dos expoentesmais singulares desta fonte eloquente sabre o Portugal dos Filipes. Do

periodo dos Cinco Governadores, por exemplo, as 'fl-owsdos Sibilos constituem

urn lamento entre o profetico eo burlesco pelos que «Sao tempos perdidos Ipois r e ~ e m as dares I r e ~ e m os gemidos» 55

• Na sua esteira, o reinado de

D. Filipe II de Portugal foi fecundo em semelhantes satiras poeticas, talvez

por a politica fiscal do Duque de Lerma ter sido bern mais agressiva; tanto

assim que-como escreveu Crist6vao deMoura aPedralvares Pereira em 1600

- «como nos podemos espantar se chamarem por dom Antonio o por ElRey

que esta em Veneza,56•

- Do inicio do seculo deve sera satira 0aparelho d_osfestasque eordenavao na

cidodedeLisboa, aqual, com os seus «libres, motes e bandeiras», ridicularizava

aqueles que esperavam por urn D. Filipe II que nunca mais se dispunha a

viajar na direc!fiiO da antiga capital portuguesa . D. Te6dosio, Duque de

Bragan9a, teve direito a estes versos demolidores:

«Real sangue, mais pensamentosde escudeiro de Arrayolos.

A9ucar com bolinholos .[E na bandeira) Asenhora Dona Catherina

: .

..

.

J

l'

I'll .

PoHtica, cultura e represen tagoes no Pr.rtugal dos Fd ipes 33

causou serpara pouco.

Fe: tres parvos e hum louco,s'.

Em 1612 reuniu-se em Madrid a chamada Junta do Confessor, na qualentraram Crist6vao de Moura, o Conde do Sabugal, Mendo da Mota, Manuel

deVasconcelos, Fernao de Matos eo castelhano Juan de I «para vcr In

forma que podria haber para jurar en Portugal al Principe [Felipe llll sin q 11 r

vaya su Majestad alia ni el» 51• Por este motivo circulararn LhJus Ulll\1

entitulada as Cortes, a outra o & ~ n m o t o .Na primeira, que imaginava um(J1ttodecortes nasa ladoAlcazur I Hilh ilrnn,

passaram-se em revista os principais membros da nobrezn c du oficiu lidudr

ponuguesas ao servi9o dos Habsburgo s. E este o retrato de Duane de C:as1 lo

Branco:

«Seguiase luego el Conde deSabugal vestido a Ia rnorisca, con alfa nxc en

Ia cinta, capellar y borzeguies , toea en Ia caveza, muy hinchado yLleg6se a el un fidalgo portuguez, pobre pretendiente en Ia ccrte por

servicios antiguos de Ia India , diciendo: Este es el h ~ v i t confo(me al

celo que V.S. quiso tener de el nombre de Portugal como otro Elias: Il\enihil, nee querentem tanta moratur .. Llevava una letra que decia :

Por una hora me ve•r

en Portugal virreyalma y vida entregare,s9

E este outro, ode Pedralvares Pereira:

« .. vestido de verde, acompaiiado por un !ado de Protheo y por or:o de

Mercurio, con tres Iibras en Ia mano, los quales dec(an ser el Machavelo,

Ia L6gica de Arist6teles en griego y otro de alchimia y deda Ia letra por

un !ado:Las formas Protheo me dio

yMercurio su vista,

pero nose ser alchimista» 60•

A Stltira del Ter·rmzoto, do mesmo ano, nao desmerece a das Cortes.

Assustados por urn violento terramoto, os m i n i ~ t r o s portugueses iam fazend o

os seus testamentos, compondo urn epidfio para as suas rumbas. Para o

anciao Crist6vao de Moura, elege-se o seguinte:

_

Page 9: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 9/11

.,

•••fit

•t

•••I

••

•••t•••t

•I

i l•••••••

34 l n t r o d u ~ a o Cartas,tra(m e satiras

«Aqui yaze el que medr6

por hacer a muchos dafio,

siempre us6 de engafio

por eso a Conde pass6

A a pat ria que le crio

hizo todo el mal que sabfa.Sin tener nunca valentla

muchos valientes derr ib6.Aun hixo que dex6

ningun amigo le dio,

porque no le tuvo suyo

en quamos afios mand6.

Estli en esta sepultura

porque Iagente portuguesa,que vio su naturaleza,vea aqui su ventura . 1

Mas e no retrato de Diogo da Silva y Mendoza, Marques de A!enquer,Conde de Salinas, e futuro Vice-rei de Portugal que, ao enfrentar urn poeta, as ~ t i r a parece mais engenhosa:

«El Conde deSalinas estava hacienda unas redondillas quando se levant6

Ia torments y no hallava consonantes para elias.Vol6se el papel y tinteroy qued6se con Ia pluma en Ia mano, desacordado de el sobresalto yparecitndole que se moria dixo: pesame, que pierden los portuguesesuno que siempre loa sido en su favor en tiempo que todos son contraries

unos a otros. Hizo testamento muy h ; . ~ n r a d o y para Ia sepultura se dex6

esto:

Aquf yaze un castellanode portugues enxertado,

que s6lo supo serhomado

sin hacer a ninguno daiio.Aningun hombre hizo mal

quando no hiciesse bien.

No se quexa de el alguno

de Castilla o Portugal.

Fue prolixo en el decir,

mas discreto todavfa

y pide U".avemarfaa quien que le viere ser .62

1) I! '' i . ~·;·

.rfi·,

i

,J.

n

i...

,.

!.

PoHtica, culwra e e p r e s e n t a ~ o e s no Portugal dus Fdipes 35

Comes tes antecedentes, e facil de compreender que, quandofinalmente

v i ~ i Lisboa, em 1619, D. Filipe II de Portugal tenha sido recebido- e para

a16m dos arcos rriunfais que Joao Baptista Lavanha compilou na sua formosa

Viogcm- por uma pequena multidao de pasquins que, entre out ras coisas, o

acusavam de nao ser «molher neim home, senao figu ra que come .6l. i)a

mesma forma, o reinado do seu fi lho, D. Filipe Ill de Portugal, foi :mimadopor numerosissimas s<hiras, em especial na decada de 1630 , quando a poli tica

olivarista empo lou enormeme nte a a ~ a oDesses anose a a citada s ~ t i r a dos Quodros do Bom Retiro, mas preferimos

destacar a A inundo(OO quefes a priwdo doCostellode Lisboo quando OTTebentou, a

qual responde as caracteristicas burlescas do genera com umaeloquencia urn

pouco grosse ira, mas mu ito eficaz. Va i directamente dirigid a aVice-rain ha

Margarida de Mftntua, a qual haver ia de confrontar-se, nada mais e nada

menos, do que com o mesmfssimo Manuelinho de Evora. 0 seu mote era:<<Senhora, aquelle despeio I que ocastd o fes de sy Idizem tod os por aquy I foi

commedo de Alemtejo . ; a sua glosa era:

«Senhora, grande porffana cidade se alterou

por verde que procedia

huma nova artelharia

que o Castelo disparou

porque Iogue acontecerneste temp o & nes te ensejo

claramente nos fez crer

que foi do mu lto temersenhora aquelle desreio.

Em vez de bern apontadaspera nossa defensao

as e carregJadassao ya p e ~ a s recuad as

que sem pilouros estao.

Se o Reyno tern f o r ~ aqual enxerguamos aquf

bern estan\ Portugal

quando he de medo o sinal

que o Castelo fez de sy

. ' . ' ~ I I · ' ' I'

Page 10: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 10/11

'••••••t••••••••••••••it

I

•Iit

· ·1n

36

-·-.--

lntrodus;iio. Canas, tl'afOS e s:iciras

Dizem que o m e ~ o uManoelinho de agastado

e que tal temor cobrou

que por isso rebentoucomo Judas por hum !ado

e se porCastela foz

tudo quanto fes por sy

menino Portuguezlho fara mais de huma vez

dizem todos por aquf.

Se V.A quizermostrarse mais amoroza

Manoelinho ha de render

que nunqua se vio molher

a menino rigurosae se nao fiqua o stado

com vergonha e grande pejopois se tern averiguado

que o Castelo estar borrado

foi com medo de Alentejon 64

Niio ha nada de semelhante, entre 1640 e 1668, nem a este tremendodesastre na c o n s t r u ~ a o do medroso Castelo de Lisboa nem invectivasburlescas nas quais se enxertam a publicfstica pr!S-,filipina e pr6-restauradora.

Contudo, isso deve ser objecto de outras leituras. As que a ~ i _ _ E ! : Q 2 Q I T ! . 9..tefer.e.m-s.e aos_usos da$ r e p r e s e n t a 9 9 e s c u l t u r a i ~ que swiram para i m ~ g ! n a r oP..onugaLdos.Filipes. · · · -

Sao muitas as pessoas e n s t i t u i ~ o e s quepermitiram a redacs:ao primitivados novos trabalhos que agora se compilam neste volume, tornando possfvel

quealguns deles foss em reelaborados quase porcompleto. Agrade90 a todaselas. Tcnho uma dfvida enorme para com os proprietaries e responsaveisdos arquivos privados ou publicos que me acolheram _durante estes anos ,

disponibilizando-meos seus fundos eo seu·saber com grande generosidade.

Nesta lembran9a, urn Iugar especial e ocupado par Isabel Aguirre, doArchivo General de Simancas, por Cristina Guillen, da .Biblioteca Nacional

de Madrid, por Gregorio de Andres, do lnstituto Valencia Don Juan, e

par Mercedes Noviembre, da Biblioteca Francisco de Zabalburu, assimcomo pcl os funciomhios da Torre do Tombo, Biblioteca Nacional de Lisboa,

· ;

.·!

~ J l · .~ ~ : q _

... -;

tS:; ·

! : r r

'

;;

; ·J l

i

Polrtica, culrura e represencas;ees no Portugal dos Filipes 3 7

Biblioteca Publica de Evora e pelos proprietaries ou cust6dios dos fundosdas casas de Abrantes, Alba, Bornos, Cadaval e do arquivo da Hermandaddel Refugio de Madrid. Da mesma forma, nao posso esqu ecer a q u i p ~ do

Decanato da Facultad de Geograffa e Hisroria da Univcrsidad Co mplu tcn:.c,cujo cuidado, ajuda e compreensao me permitiram culminar 1 1 h n l hA generosidade que me demonstraram Angela Barrera Xavier c i>ctl, o

Almeida Cardim s6 poderia ser expressa com um tal num cro de pnh 11•,,,:.

que eles nao me deixariam pronunciar ate ao fi :.al. Aamizadcco n•a f.\istf 11o

de Jean-Frederic Schaub, Claudia e Harry Sieber, Dclffn Rodriguez ,Gcof11 y

Parker, Ricardo Garda Carcel, Elena de Santiago, Pedro C:hedra, Ma da

Victoria L6pez Cord6n, Roger Chartier, Sel:na Blasco Cmiilcyra, JoaquimRomero e, muito especialmente, Ant6nio Manuel Hc spanha, dci;:arati1 assuas marcas nas linhas destas paginas que mcreccm a pcna scr lidas.

«Amigo lector e amiga lectora•, para encerrar esta I n t r o d u ~ a o n?o ha,talvez, melhor despedida queesta carta enviada das Cortes de Almeirim de

1580, as mesmas em que o candidato Filipe de Habsburgo pugnava porconvencer urn Reina que, simultaneamente, pensava conquistar. E uma

carta, mas tern alguma coisa de arquitectura e nao pouco de satira:

«Par otras abra entendido VS. que mucha parte de los letrados de

Portugal ycasi todos ellos juntamente los deCastilla, Ytalia y t . : n ~ i a sonpar parte de doiia Catalina y ansimismo todos los senores y cavalleros

mas principales y todo el estado eclesiastico junto vistas las razones de

los pretendientes son de finne a r e ~ e r que el rreino es suyo sin poder selo nadie quitar; de su Cat6lica Magestad se que no hazen menci6nalguna; los mas de los pueblos par otra parte faborecen a el senor DAnt6nio; oy est<in mui amedrentados y fuera de s{ no quieren dejar suantiguo odio viendo armada tan poderosa como es Ia del Rei D. Phelipea las puertas de sus casas y creo que estaran cada dfa mas ostinadosprocurando entrar eJ exercito cat6lico ames se dejaran hazer pedazos y

no entregaran el rreino. El qual nuestro senor prospere y de su antigua

Iibertad le deje g09ar munchos afios en su s e r v i ~ i o y que aV.S. lllma de lo

que desea, de Almeirim y de abril 28 de 1580 anos»61•

Como tantas 9...0gs_ o ..Portugal dos Filipes esta carta nao e o que

~ r e n _ ! ~ ~ · P o r _ d e t _ n l ~ ~ t a . t s c ' Q ~ J l ~ - : . ~ ~ u l l ) _ ~ q u < ? ! l ~ . i 6 g no n c g r sob.re:

branco, c u j ~ s f > _ ~ ~ ~ s - f o t ; a J ! l ~ i s t r i ~ u j d o s de taJ f ( ) ~ m ~ que a_pen ils se tom avanecessaria dobrar o originiD ao meio. De modo que, dobrando -se sabre siinesma como uma a r q u i t e c t ~ r n ; e p o s s f v e l fer:_______ ---- . ... .

Page 11: portugal nos tempos dos felipes - Introdução

7/28/2019 portugal nos tempos dos felipes - Introdução

http://slidepdf.com/reader/full/portugal-nos-tempos-dos-felipes-introducao 11/11

•'''••'''''•

•••••••••I

Iit

I

I

•I

...

38 lncroduylio. Cartaa,lrtJfare satiras

"Par otras abra entendido V.S. que

y casi todos ellos juntamente

son por parte de doria Catalina

y cavalleros mas principales

vistas las razones de los p r e t e n d i e n t e ~suyo sin poder se lo nadie qui tar;

se que no hazen menci6n alguna;faborecen a el senor D. Antonio;

no quieren dejar su anciguo odio

como es Ia del Rei D. Phelipe

estaran cada dia mas ostinados

antes se dejanin hazer pedazos y no

prospere y de su antigua libertad

y que aV.S. !lima de lo que desea,

mucha partede los letmdos de Portugal

los de CastiUa,Ymlia y Fmn,.ia

y ansi.mismo todos los senoresy todo el estado cclesiastico junto

son de finne r que el rreino esdesu Cat6Iica Magestad

los rms de los pueblos por otra parteayesWI mui amedrentados y fuera de sl

viendo annada tan poderosa

a aspuertas de sus casas y creo que

procutando entrarel cxercito cat61ico

entregar.S.n el rreino. El qual nuestro senor

le deje ~ munchos aiios en su servi9io

deAimeirimy de abril28 de 1580 aiios».

Canas, lt'OfOS, satiras, 0 Portugal dos Filipes.

Madrid, Abril de 1999.

~~~~ ..t ·

~~~i

_ ,

t

{

r

· · c ~ . · .rr!··:

'.

l·; ,

:.

~ ; ' :(i;

··.

.'

I<...

;.

2

Documentos antigos e imprensas novas

na pretensao ao trona portugues.

Sabre a propaganda escrita de D. Filipe I

•i ll