portadores de deficiência auditiva no projeto segundo ... · membrana chamada de janela oval. a...

42
CRISTIANE RODRIGUES DOS SANTOS Portadores de deficiência auditiva no Projeto Segundo Tempo: O basquetebol como elemento colaborador no processo de inclusão familiar Teresina (PI) Julho de 2007 9

Upload: vuonganh

Post on 11-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CRISTIANE RODRIGUES DOS SANTOS

Portadores de deficiência auditiva no Projeto Segundo Tempo: O basquetebol como elemento colaborador

no processo de inclusão familiar

Teresina (PI) Julho de 2007

9

CRISTIANE RODRIGUES DOS SANTOS

Portadores de deficiência auditiva no Projeto Segundo Tempo:

O basquetebol como elemento colaborador no processo de inclusão familiar

Monografia realizada como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Esporte Escolar, pelo Centro de Ensino a Distância, da Universidade de Brasília.

Orientadora: Profª. Drª. Janete de Páscoa Rodrigues

Teresina (PI) Julho de 2007

10

Cristiane Rodrigues dos Santos

Portadores de deficiência auditiva no Projeto Segundo Tempo: O basquetebol como elemento colaborador

no processo de inclusão familiar

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de especialista em

Esporte Escolar, pelo Centro de Ensino a Distância, da Universidade de Brasília, pela

Comissão formada pelos professores:

Presidente: Profa. Dra. Janete de Páscoa Rodrigues

Universidade Federal do Piauí

Membro: Prof. Ms. Ahécio Kleber de Araújo Brito

Universidade Federal do Piauí

Teresina (Pi) Julho de 2007

11

DEDICATÓRIA

Dedico a conclusão de minha especialização aos meus

familiares, namorado e principalmente a Deus por qualificar-

me e permitir escrever esta pesquisa.

12

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que me deu força e me

iluminou durante todo trabalho de pesquisa aos

professores Janete, Gualberto, Eduardo e Ana Maria por

me ajudarem na conclusão desta investigação.

13

EPÍGRAFE

Eu sou a luz que ilumina O verbo que reconforta Sou a verdade que ensina A esperança que exorta Sou a água cristalina Que refresca a sede corta Sou a mensagem divina

E, da vida sou a porta Sou a doce peregrina Que vela por teu destino E que ao bem te conduz Sou o teu mestre!...teu amigo Dia e noite estou contigo Sabem quem sou? Sou Jesus!!!

14

RESUMO

O trabalho foi desenvolvido na escola Professora Consuelo Pinheiro, bairro Porenquanto na cidade de Teresina/Pi, no período de agosto de 2006 a fevereiro de 2007, com vinte alunos de sete a dose anos portadores de deferência auditiva e participante do Projeto Segundo Tempo. Com o objetivo de estudar as possíveis contribuições promovidas pela prática do basquetebol na formação integral e no desenvolvimento da cidadania. Foram realizadas reuniões, aplicações de questionários no início e no fim da pesquisa ás mães das crianças envolvidas, além de desenvolver debates, observações e anotações sobre a conduta das mães e das crianças no convívio familiar e social. Observou-se que o basquetebol colaborou de maneira significativa na melhoria do comportamento das crianças envolvidas quanto á consciência corporal, cognitiva, social, emocional e afetiva. Constatou-se que a integração da criança com atividades desportivas como o basquetebol, tornaram-nas mais participativa e confiantes de suas ações, tanto no ambiente familiar como extra familiar. Palavras-chaves: Deficiente auditivo, Basquetebol, Inclusão familiar.

15

SUMÁRIO

RESUMO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 09

2. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 11

2.1 Aspectos fisiológicos da orelha humana ........................................................................ 11

2.1.1 Mecanismos de funcionamento do ouvido .............................................................. 12

2.2 Criança com deficiência auditiva no Projeto Segundo Tempo....................................... 13

2.3 Pensamento e Linguagem na perspectiva do deficiente auditivo ................................... 15

2.4 Compreensões sobre deficiência auditiva....................................................................... 16

2.5 O Portador de deficiência auditiva no contexto da família ............................................ 20

2.6 Deficiência auditiva: contribuições educacionais oferecidas pelo

basquetebol ..................................................................................................................... 22

2.7 Dificuldades encontradas................................................................................................ 25

3. SOBRE A ESCOLA “PROFESSORA CONSUELO PINHEIRO”............................... 26

4. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS .................................................................... 28

4.1 Sobre a amostra da pesquisa............................................................................................ 29

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................... 30

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 36

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 38

ANEXOS

16

1. INTRODUÇÃO

Este estudo busca investigar a situação da criança portadora de deficiência auditiva

inserida no processo educacional e as possíveis contribuições que o basquetebol pode oferecer

na melhoria de suas ralações familiares. Neste sentido sabemos que quando se trabalha

o basquetebol com propósito de reeducação comportamental para criança com deficiência

auditiva, temos a finalidade de resgatar e/ou interferir nas relações sociais e afetivas

de cidadania dessas crianças.

Dentre as justificativas para a realização desta pesquisa podemos apontar o fato

da autora deste estudo ter participado durante o ano de 2006 do Projeto Segundo Tempo,

na condição de monitora de atividades esportivas, especialmente na área de basquetebol, onde

buscaram desenvolver um trabalho com objetivos de promover a inclusão dos alunos

deficientes auditivos junto aos alunos não portadores de deficiências. Tais atividades visavam

socializar e interagir na sociedade a criança com esta deficiência, além de tentar diminuir

o preconceito por parte da sociedade em geral no convívio com estas crianças.

No que diz respeito ao universo do portador de deficiência auditiva, a comunicação

por não ser efetiva pela falta da audição, o tato e a visão acabam suprindo e organizando as

informações recebidas do meio, a linguagem oral não é mais importante na comunicação

desta criança que passa a utilizar gestos, sinais e expressões faciais para indicar coisas

e objetos o que dificulta sua interação com a maioria das pessoas que lhe cercam porque esses

não entendem seus sinais de comunicação.

Quando trabalhamos com as limitações das crianças surdas numa perspectiva do

desenvolvimento global, devemos vislumbrá-las como iguais às demais crianças em termos de

personalidade e inteligência, portanto esta perspectiva deve também ser refletida no contexto

das práticas do basquetebol e dos demais esportes escolares. As diferenças estão, geralmente,

nos processos educacionais das famílias e nos preconceito da sociedade que as tratam como

“coitadinhas” ou “mudinhas”, dificultando a sua socialização e comprometendo sua

auto-estima.

O basquetebol se insere nesta pesquisa como um meio de reeducação comportamental

e de conscientização dos valores de cidadão por parte do deficiente auditivo, reduzindo as

17

desigualdades e diferenças desses alunos surdos na sociedade e na própria família,

tornando-as sujeitos integrados em seu meio social e familiar.

Este estudo consiste em levantar possíveis contribuições da prática do basquetebol

sobre a formação e o desenvolvimento da cidadania das crianças de sete a dose anos

portadoras de deficiência auditiva no Programa Segundo Tempo. Os objetivos específicos por

sua vez, visam verificar junto às crianças portadoras de deficiência auditiva e seus familiares,

algumas melhorias no aspecto motor e afetivo-social que segundo os sujeitos investigados

estejam associados com as práticas de basquetebol.

Para melhor compreensão dos questionamentos e reflexões levantadas nesta pesquisa

foi realizadas algumas discussões de caráter teórico sobre deficiência auditiva e suas

implicações sociais na vida de seu portador. Portanto, alguns conceitos oriundos da fisiologia

auditiva humana e as deficiências deste órgão serão tratados no decorrer da contextualização

teórica do trabalho de forma a subsidiar a pesquisa de campo realizada junto aos alunos do

Projeto Segundo Tempo e suas mães.

18

2. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

2.1 Aspectos fisiológicos da orelha humana

O ouvido é um órgão sensorial, cuja função principal é a recepção e transmissão dos

sons que chega do ambiente para o cérebro. Com isso, a audição funciona da seguinte

maneira: o som propaga-se produzindo ondas sonoras que se deslocam até atingir a orelha.

O mecanismo da audição transforma estas ondas em sinais elétricos que transmitem como

mensagens, através do nervo auditivo para o nosso cérebro onde são interpretados. O aparelho

auditivo humano é dividido em três partes, cada uma com suas funções próprias sendo os três

indispensáveis para o bom funcionamento da audição: orelha externa (orelha), orelha média

e orelha interna.

As orelhas externas são compostas de duas partes: o pavilhão auditivo, também

conhecido como orelha e o conduto auditivo externo. A função principal do pavilhão auditivo

é coletar sons, agindo como um funil e direcionando o som para o conduto auditivo. Outra

função é a filtração do som, processo este que ajuda a localizar a origem dos sons que chegam

ao indivíduo. Além disso, no caso dos seres humanos, o processo de filtração seleciona sons

na faixa de freqüência da voz humana, o que facilita o entendimento das mensagens.

O conduto auditivo externo conduz sons captados pela orelha para o tímpano no interior do

ouvido, e, ainda serve de câmara de ressonância ampliando algumas freqüências de sons.

A afecção da orelha externa é um acontecimento que acomete a orelha externa, pavilhão

auricular e conduto auditivo externo. Esses acontecimentos podem ser desde deformidades

congênitas até processos inflamatórios e infecciosos, inclusive metabólicos.

Já a orelha média é composta por ossículos como, martelo, bigorna e estribo. Estes

ligam o tímpano à orelha interna. Os ossículos estão localizados na cavidade em forma de

ervilha na orelha média, conectados formando uma ponte entre a membrana timpânica

e a janela oval. Através de um sistema de membranas, eles conduzem as vibrações sonoras

à orelha interna. Enquanto as ondas sonoras movem a membrana timpânica, esta move

os ossículos. Os três ossos na verdade formam um sistema de alavancas que transferem

19

a energia das ondas sonoras vindas da orelha externa, através da orelha média para a orelha

interna.

Na orelha interna é composta pela cóclea, aparato vestibular e tuba auditiva ou

Trompa de Eustáquio. O último osso da cadeia ossicular, o estribo, está acoplado a uma fina

membrana chamada de janela oval. A janela oval é na realidade uma entrada para a orelha

interna, que contém o órgão da audição, a cóclea um canal em forma de coral. Quando o osso

estribo move, a janela oval move-se com ele. No outro lado da janela oval está a cóclea,

preenchida por líquidos, e quando as vibrações chegam à cóclea proveniente da orelha interna,

são transformadas em ondas de compressão que por sua vez ativam o órgão de corti que

é responsável pela transformação das ondas de compressão em impulsos nervosos que são

enviados ao cérebro para serem interpretados. (ver anexo 2)

2.1.1 Mecanismos de funcionamento do ouvido

O ouvido capta vibrações do ar (sons) e as transforma em impulsos nervosos que

o cérebro decodifica. O ouvido externo é composto pelo pavilhão e pelo canal auditivo.

A entrada do canal auditivo é coberta de pêlos e cera, que ajudam a mantê-lo limpo.

O canal auditivo leva o som a uma membrana circular e flexível, denominado

de tímpano, que vibra ao receber ondas sonoras. Esta por sua vez, faz vibrar no ouvido médio

três ossículos que ampliam e intensificam as vibrações e as conduz ao ouvido interno.

O ouvido interno é formado por um complexo sistema de canais contendo líquido

aquoso. As vibrações do ouvido médio fazem com que esse líquido se mova e as

extremidades dos nervos sensitivos convertem esse movimento em sinais elétricos, que são

enviados ao cérebro, através do nervo da audição (nervo auditivo).

O modo como os sinais elétricos são interpretados pelo cérebro é a forma como

o meio percebe os sons. O processo normal da audição inicia-se com a captação de ondas

sonoras pela orelha externa e prossegue através da condução dessas ondas pela orelha média.

Ao chegar à orelha interna, as ondas sonoras são transformadas em impulsos elétricos, que

são enviados ao cérebro. No cérebro se dá a decodificação dos sons, o que caracteriza

a audição propriamente dita.

20

2.2 Crianças com deficiência auditiva no Programa Segundo Tempo

A deficiência auditiva traz muitas limitações no processo de desenvolvimento

da criança nos aspectos, cognitivo, emocional e motor. Assim, deve-se ressaltar que

a deficiência auditiva não é responsável diretamente por qualquer défit no desenvolvimento

físico da pessoa. Frente a isso, o corpo torna-se o mais freqüente experimento de situações

de sucesso no processo comunicacional dos portadores de deficiência auditiva, portanto

recurso indispensável na comunicação e interação social do indivíduo que comporta esta

deficiência.

Como parte da perda auditiva, houve danos aos sinais semicirculares do ouvido interno, é provável que ocorram problemas de equilíbrio. Esse tipo de comportamento é visto quando as crianças praticam atividade tanto recreativa como também no desporto. (WINNICK, 2004, p.22)

Sabe-se que a maioria das famílias sente uma enorme angústia quando tomam

consciência de que seu filho é deficiente auditivo. Geralmente ocorre um sentimento de culpa,

de complexo de inferioridade, ou não sabem como cuidar de seu filho seguido de uma

maratona na busca de soluções para amenizar as barreiras que é criar e educar seu filho.

Muitos desconhecem associações especializadas na educação de crianças deficientes como

a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) para se orientarem sobre como

devem proceder frente a esta questão, e que profissionais devem procurar e outros.

Muitos pais adotam métodos inadequados e negligenciando para educarem seus filhos

deficientes auditivos e às vezes exageram na proteção ou tornam-se impacientes com

a criança; alguns fazem tudo o que seu filho quer e muitos são tratados com preconceitos

e denominados apenas de mudinho, como se não tivesse um nome para aquela criança. Estas

atitudes podem levar às crianças a se tornarem agressivas, inquietas ou apáticas com indício

de insegurança pelo fato de não serem compreendidas e/ou entendidas pelos seus familiares

e amigos. Quando isso ocorre, ela se torna desatenta e com sérios comprometimentos em sua

vida social, o que podem levá-las a viver em um mundo isolado.

É neste contexto que o esporte passa a integrar o conjunto de atividades capazes de

desenvolver de forma mais humana estes indivíduos. Podemos dizer que a prática esportiva

21

está diretamente ligada à qualidade de vida das pessoas de maneira em geral, seja na área da

saúde, na área social, na área da educação através do esporte escolar e outros. Por esses

fatores, o esporte se apresenta como um dos elementos mais favoráveis para a promoção do

desenvolvimento integral das crianças em todos os aspectos. Assim, o esporte é hoje

fundamental na educação de crianças e jovens por desenvolver hábitos e valores saudáveis

para toda a vida de seus praticantes.

O basquetebol é, portanto, aplicado aos deficientes auditivos com objetivo de

favorecer o desenvolvimento motor, melhorar a auto-estima, diminuir a ansiedade, estimular

o aspecto intelectual e promover a interação social e a afetividade dessas crianças.

Para isso as turmas de basquetebol constituídas por crianças surdas devem ser

formadas seguindo a um padrão funcional relacionada à capacidade de compreensão dos

estímulos e de execução dos movimentos propostos pelo desporto de forma que desenvolva

os seguintes aspectos:

• O sistema motor global por meio da estimulação das percepções motoras;

• As capacidades sensitivas da criança;

• As capacidades mentais com experiências vividas do movimento global;

• O equilíbrio estático e dinâmico;

• As noções espaço-temporais;

• Os movimentos fundamentais;

• Os exercícios respiratórios e relaxamentos.

Segundo Strapasson, não dá para dar uma bola para eles brincarem somente, temos

que orientar a prática esportiva porque se dermos a bola, muitas vezes eles não sabem nem

o que fazer com ela. (STRAPASSON, 2006, p.35).

Como forma de administrar o basquetebol no contexto dessa pesquisa, enfatiza-se

o desenvolvimento global e conseqüentemente a qualidade de vida promovida pelo esporte

junto a esses alunos. O desporto compreendido como atividade lúdica, aproveitando vivência

e experiência de cada aluno de forma organizada pode ser aplicada às crianças surdas. Nesta

proposta, a abordagem pedagógica objetiva contribui nas mudanças dentro de si para alcançar

tais finalidades deve-se: respeitar a individualidade de cada criança com suas diferenças

e limitações, trabalhar suas potencialidades, nunca subestimá-los, vibrar com suas conquistas,

22

motivá-los a dar novos passos e oferecer oportunidades para que eles possam desfrutar da

alegria proporcionada pela prática recreativa promovida pelos jogos.

Meyer (1990) relata que a melhor maneira para a criança aprender é empregar

atividades que a envolvam e captem seu interesse proporcionando o desenvolvimento global

dos alunos de forma a ajudá-lo no sentido de atingir um equilíbrio que requer suas limitações

e/ou deficiências. Identificar as necessidades e capacidades de cada educando dentro do

desporto possibilita ações e adaptações para o movimento e promove sua independência

e autonomia. Além disso, as praticas do basquetebol promovem também melhorias em suas

relações interpessoais. Desse modo, as práticas de basquetebol podem fazer o aluno sentir-se

um ser útil, pensante, participativo e conseqüentemente inserido no meio social e familiar.

Importante atentar para o fato de que a criança deficiente auditiva é capaz de construir

seu conhecimento desde que a proposta de trabalho seja desafiadora e prazerosa. O processo

de aprendizagem deve ser apaixonante, tanto para o professor quanto para o aluno.

“A construção do conhecimento deve acontecer no convívio com o grupo e a afetividade

entre alunos e professores é essencial no processo de construção do conhecimento”

(GOIÁS, 1994,) elas demonstram que querem saber cada vez mais e por não se sentirem

compreendidas podem tornar-se agressivas.

Frente a isso, nossa intenção neste trabalho consiste em discutir e analisar dentro de

uma perspectiva de inclusão familiar da criança portadora de deficiência auditiva,

as contribuições promovidas pela prática do basquetebol dentro do Projeto Segundo Tempo.

2.3 Pensamento e Linguagem na perspectiva do deficiente auditivo

A Linguagem e o pensamento têm origens distintas, realizando-se posteriormente um

processo de interligação funcional para que a linguagem se converta em pensamento

e o pensamento em linguagem.

As próprias palavras de Vygotsky (1977) permitem compreender com maior clareza

este posicionamento no qual se refere ao pensamento e a palavra como um processo dinâmico.

Não obstante, o pensamento nasce a partir das palavras. Uma palavra sem pensamento é algo

morto e o pensamento desprovido de palavra permanece na sombra. Dessa forma,

23

o pensamento e a linguagem que refletem a realidade da percepção, são as chaves da natureza

da consciência humana.

As palavras têm um papel destacado tanto no desenvolvimento do pensamento como

no desenvolvimento histórico da consciência na sua totalidade, isto é, a criança surda tem uma

inteligência semelhante à dos ouvintes, mas o que as diferem são as deficiências no conjunto

das experiências vividas pela criança surda. Esta atinge o mesmo nível que o ouvinte, ainda

que com um certo atraso, já que o desenvolvimento intelectual não depende do

desenvolvimento lingüístico.

2.4 Compreensões sobre deficiência auditiva

Deve-se esclarecer que o termo surdo-mudo é uma denominação arcaica e incorreta

para se referir ao surdo. Este termo não é utilizado pelo grupo que pertence à comunidade

surda, pois mudez é a impossibilidade de falar ou problema relacionado à emissão da voz

(órgão fono-articulatório).

Portanto, deficiência auditiva é considerada genericamente como a diferença existente

entre a performance do indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora de acordo com

padrões estabelecidos. Segundo PARKER (1989), os conceitos sobre deficiência auditiva ou

surdez se trata da incapacidade parcial ou total da audição. Podem ser de nascença ou causada

posteriormente por doenças diagnósticadas e devidamente classificadas. Diversas técnicas

e métodos de avaliação podem detectar o motivo da perda da audição, e este diagnostico

caracterizam os diversos tipos de surdez. São alguns dos fundamentos para compreendermos

as implicações da deficiência auditiva.

A deficiência auditiva pode ser: de origem congênita (deformidade ou alteração

interna ou externa que ocorre no processo de formação do feto), doenças tóxicas

desenvolvidas durante a gravidez ou adquirida, ingestão de remédios que lesam o nervo

auditivo, exposição a sons, virose, predisposição genética, meningite, toxoplasmose (doença

que a mãe contrai por meio de contato com animais), falta de vitamina D etc.

Assim, a deficiência auditiva é classificada como surdez, quando sua audição não

é funcional na vida comum, considerando-a hipoacústico, ou seja, refere-se a uma redução na

sensibilidade da audição, sem qualquer alteração da qualidade de audição. As hipoacústicas

classificam-se em função do grau da perda auditiva em ordem e localização.

24

A deficiência auditiva pode ser classificada como:

• Deficiência condutividade: quando a lesão se localiza no ouvido externo ou no

ouvido médio. Tem por função “conduzir” o som ater o ouvido interno. Qualquer

interferência na transmissão do som desde o conduto auditivo externo até a orelha interna

(cóclea). A orelha interna tem capacidade de funcionamento normal mas não é estimulada

pela vibração sonora. Esta estimulação poderá ocorrer com o aumento da intensidade do

estímulo sonoro. A grande maioria das deficiências auditivas condutivas pode ser corrigida

através de tratamento clínico ou cirúrgico;

• Deficiência interna ou sensorioneural: quando se origina no ouvido interno

e no nervo auditivo. : Ocorre quando há uma impossibilidade de recepção do som por lesão

das células ciliadas da cóclea ou do nervo auditivo. Os limiares por condução óssea e por

condução aéreas e alterados são aproximadamente iguais. A diferenciação entre as lesões das

células ciliadas da cóclea e do nervo auditivo só pode ser feita através de métodos especiais

de avaliação auditiva. Este tipo de deficiência auditiva é irreversível;

• Deficiência mista: quando o problema se localiza no ouvido médio, dependendo

da intensidade da lesão. Ocorre quando há uma alteração na condução do som até o órgão

terminal sensorial associado à lesão do órgão sensorial ou do nervo auditivo, ou seja, há

ambas perdas auditivas: condutiva e sensorioneural.

O conceito de perda auditiva nem sempre é aceitável para a pessoa que se depara pela

primeira vez com o problema da surdez.

O nível de audição pode ser medido em decibéis (dB), unidade de avaliação de

intensidade dos sons necessária para amplificar um som de modo que seja percebido pela

pessoa surda.

Para o caso do ouvido humano, a intensidade padrão ou de referência correspondem

à mínima potência de som que pode ser distinguida do silêncio, sendo essa intensidade

tomada como O dB. Considera-se em geral que a audição normal corresponde à habilidade

para detecção de sons até 20 dB (decibéis, nível de audição).

Uma pessoa com audição normal pode captar como limiar inferior, desde -10 dB até

+ 10 dB. Verifica-se que essa progressão se dá de forma exponencial, ou seja, multiplicando-a

por dez. Assim, a audição normal situa-se em zero dB e são consideradas significativas

as perdas acima de 30 dB.

25

Pode-se dizer que uma pessoa com uma perda de 60 dB, que consideramos

hipoacústico, e outro com 100 dB de perda. Tendo em vista que 60 dB são mais ou menos

a intensidade de um grito a 1,5 m de distância. Portanto, compreendemos que a diferença

entre uma perda de 60 dB e 100 dB. A última sendo considerada bem mais difícil, para

o prognóstico de reabilitação, a partir daí é recomendado o uso de aparelhos de amplificação

sonora.

Quanto maior o número de decibéis necessários para que uma pessoa possa responder

aos sons, maior a perda auditiva. A adaptação do ouvido ao aparelho e a resposta aos

estímulos sonoros poderão caracterizar a criança como deficiente auditiva, a que discrimina o

som de uma fala graças ao uso do aparelho, ou como surda, a que não compreende os sons de

uma fala apesar do uso do aparelho, conforme ressalta GORGATTI; COSTA (2005) ao

categorizar os graus de deficiência como: deficiência auditiva, seria a perda parcial ou total

bilateral de 25 decibéis (dB) ou mais, resultante da média aritmética do audiograma, aferidas

nas freqüências de 500 Hertz (Hz), 1.000 Hz, 2.000 Hz, 3.000 Hz, 4.000Hz; variando de

acordo com o nível ou acuidade auditiva da seguinte forma:

• Limite Normal: 0 a 25 dB;

• Deficiência Auditiva leve: 25 a 40 dB. São pessoas com deficiência auditiva,

normalmente adquirem linguagem mas podem apresentar trocas de letras na fala e na escrita.

São consideradas desatentas;

• Deficiência Auditiva Moderada: 41 a 70 dB. Tem-se a voz forte, apresenta atraso

no desenvolvimento da linguagem, troca letras na fala e na escrita, dificuldades de

comunicar-se em ambientes em que tenham ruído, dificuldades no uso de pronomes, artigos

e preposições. Informações lingüísticas pela audição conseqüentemente é capaz de

desenvolver a linguagem oral;

• Deficiência Auditiva Severa: 71 a 90 dB. Precisa de muito estímulo para adquirir

a “fala” e a leitura labial, só responde a sons muito intensos, tem grandes dificuldades para

abstrair idéias, sendo assim, terá dificuldades para desenvolver a linguagem oral

espontaneamente;

• Deficiência Auditiva Profunda: profunda acima de 91 dB.

26

Indivíduos com níveis de perda auditiva leve, moderada e severa são mais

freqüentemente chamados de deficientes auditivos, enquanto os indivíduos com níveis de

perda auditiva profunda são chamados surdos, ou seja, a perda leve da audição permite ouvir

os sons, desde que sejam mais intensos. Na perda moderada há a necessidade de se repetir

algumas vezes o que foi dito e dificuldade de falar ao telefone, com a possibilidade de troca

da palavra ouvida por outra foneticamente semelhante (pato/gato, cão/não, céu/mel). A perda

severa permite escutar sons fortes, como o de um caminhão, um avião, uma serra elétrica

e outros mas não permite ouvir a voz humana sem amplificação. Na perda profunda só são

audíveis sons graves que produzam vibração (trovão, avião e outros).

Dito isso, a deficiência auditiva pode ser compreendida como a perda total ou parcial

da audição em que para se comunicar, a pessoa utiliza linguagem brasileira de

SINAIS-LIBRAS. A criança com essa surdez, em geral, utiliza-se naturalmente a Língua de

Sinais.

Contudo, é muito importante que a deficiência auditiva seja reconhecida o mais

precocemente possível. Para tanto, os pais ou responsáveis devem observar as reações

auditivas da criança.

Depois de detectada os pais devem levar a criança ao médico. Este fará o diagnóstico

das deficiências de audição, realizado a partir da avaliação médica e audiológica. Em geral

a primeira suspeita quanto à existência de uma alteração auditiva em crianças muito pequenas

é feita pela própria família a partir da observação da ausência de reações aos estímulos

sonoros, comportamento diferente do usual, a criança que é muito quieta, dorme muito e em

qualquer ambiente, não se assusta com sons intensos, quando um pouco mais velhos, não

desenvolvem a linguagem. A busca pelo diagnóstico também poderá ser originada a partir dos

programas de prevenção das deficiências auditivas na infância como o registro de fatores de

riscos e triagens auditivas.

Geralmente o primeiro profissional de saúde a ser procurado pela família da criança

é o pediatra, o qual encaminhará a criança ao otorrinolaringologista, quando se iniciará

o diagnóstico. Este profissional fará um histórico do caso, observará o comportamento

auditivo e procederá ao exame físico das estruturas do ouvido, nariz e das diferentes partes da

faringe. O passo seguinte é o encaminhamento para a avaliação audiológica.

27

2.5 O Portador de deficiência auditiva no contexto da família

Durante a realização desta pesquisa observamos algumas questões que podem estar

levando a criança surda a se sentir menos qualificada que a criança ouvinte e que,

evidentemente, precisam levar uma vida plena e normal, pois somente o fato de não ouvirem,

não justificaria qualquer forma de sentimento de desigualdade. Podemos verificar através da

falta de ações do poder público o descaso diante de tais questões. A ausência de projetos

educacionais neste setor da sociedade, uma vez que existem poucas instituições ou

associações que podem auxiliar as famílias para uma orientação adequada frente aos filhos

portadores dessa deficiência.

Fatores como a vida escolar, a sociedade e a família influenciam diretamente no

comportamento das crianças com deficiência auditiva.

As famílias geralmente não estão preparadas para receberem uma criança com

deficiência auditiva, e, muitas vezes não possuem recursos financeiros para contratar

profissionais habilitados para desenvolverem as potencialidades dos seus filhos, tais como,

fonoaudiólogos, escolas especializadas em educar crianças com este tipo de deficiência, curso

de LIBRAS (linguagem brasileira de sinais) e outros. Isto faz com que se criem angústias

e aflições por partes dos pais frente tais situações. As famílias limitam-se a aceitar, educar

e orientar seus filhos dentro de um sistema de superproteção, momento em que se inicia

o processo de exclusão, o que dificulta a formação desta criança como cidadão. Também,

algumas vezes as famílias escondem seus filhos da sociedade como forma de “protegê-los”

das discriminações.

Este tipo de comportamento leva a criança se isolar da sociedade, levando a crianças

a desenvolver uma confusão mental gerada a partir do problema. As crianças portadoras de

deficiência auditiva que se encontram nestas condições. Em muitos casos, a criança se

aproveita ao máximo dessa situação de superproteção por parte dos pais, aprendendo desde

cedo a usar a chantagem emocional, “síndrome do coitado”, subestimando suas capacidades

como forma mais fácil de atingir seus desejos e objetivos. Certamente, nestes casos, se

sentirão frustrados, ansiosos e conseqüentemente poderão apresentar alguns comportamentos

inadequados frente à sociedade, como, agressividade com os companheiros e familiares, além

de se isolarem.

28

A vida escolar é outro fator de dificuldades na vida das crianças e suas famílias, uma

vez que nem toda escola tem estrutura para receber esses alunos, isto leva as mães

a procurarem escolas especializadas, o que nem sempre é uma tarefa fácil.

O maior problema vivido pelos portadores de deficiência auditiva atualmente é o

preconceito que sofrem por parte da sociedade e a educação deturpada que a criança surda

recebe desde pequeno da família e da sociedade em geral, que não consegue qualificá-lo

a ocupar o seu lugar de direito. Isso contribui para sedimentar o comportamento de

incapacidade do surdo imposto por uma sociedade preconceituosa e ignorante dos fatos.

É óbvio que qualquer deficiência que uma pessoa tenha, necessitará de alguns

cuidados especiais. No caso do surdo, estes cuidados são muitos pequenos. Com um pouco de

atenção, paciência e adaptações, esta barreira da comunicação se desmorona, proporcionando

aos alunos uma vivência plena e abrangente.

Nós não devemos deixar que as incapacidades das pessoas nos impossibilitem de reconhecer as suas habilidades. As características mais importantes das crianças e jovens com deficiência são as suas habilidades. (FIGUEIRA, 1994, p.54).

Segundo Rizkallah (1991), a deficiência auditiva no Brasil é agravada pelas precárias

condições sanitárias e pelo fato de a maioria dos deficientes auditivos não terem condições de

lidar com o problema. Sendo assim, a deficiência auditiva é uma dentre todas

as possibilidades do ser humano e deve ser considerada, com suas causas e conseqüências,

como um fato natural do homem do mesmo modo que o fazemos em relação a todas as outras

potencialidades humanas. É importante lembrar que a criança mesmo sendo surda, necessita

que a família e principalmente as mães continuem a falar com ela até para que estas se

conscientizem do mundo dos sons e que ela própria é capaz de produzir sons e que estes têm

sempre um significado. Só assim se poderá desenvolver nela o gosto pela comunicação entre

criança-sociedade e criança-pais.

É importante termos sempre em mente que conviver com a diversidade é uma

oportunidade importante na vida de cada um de nós. Por isso alguns autores apontam algumas

sugestões para um bom relacionamento entre professor e aluno com deficiência auditiva:

• Enxergar sempre a criança e não a deficiência; ninguém gosta de ser visto pelo

prisma das limitações;

29

• Tratar a criança com deficiência com a mesma consideração e respeito com que

você trata as demais pessoas;

• Manter o contato visual durante o dialogo;

• Falar de maneira clara e moderada, não fale muito depressa;

• Evitar colocar objeto próximo ao rosto durante o dialogo;

• Verificar se foi compreendido;

• Proporcionar oportunidade para que o aluno se comunique sempre em aula,

objetivando melhor sua linguagem e sua interação com o grupo;

• Não mudar constantemente as regras de uma determinada atividade;

• Ser paciente e acolhedor, sem deixar de estabelecer limites;

• Aprender “libras”.

2.6 Deficiência auditiva: contribuições educacionais ofertadas pelo basquetebol

A escolha das atividades desportiva para as crianças surdas deve respeitar os mesmos

critérios usados para a escolha de atividades a serem aplicadas em crianças não deficientes.

Portanto, condições de saúde, faixa etária, condicionamento físico e interesse. devem ser

consideradas neste momento muito importantes, pois as crianças que não se utiliza da fala

costumam ter uma respiração “curta”, isto é, não enchem completamente os pulmões de ar,

deixa de expandir a caixa torácica e de exercitar os músculos envolvidos na respiração. Assim

sendo, além de todos os benefícios cardiorespiratório (a criança passará a ter maior

condicionamento físico, aumento do consumo máximo de oxigênio, controle da respiração

etc.), ou seja, indiretamente contribui para o aprendizado da emissão de sons da fala, as

atividades aeróbicas também ajudam no trabalho dos fonoaudiólogos que lidam com essa

categoria de crianças. Dessa forma os portadores de deficiência auditiva podem praticar

qualquer tipo de esporte. No caso especifico do basquetebol, não há necessidade de qualquer

adaptação na forma de ensinar, conduzir ou arbitrar, nem tampouco há necessidade de

adaptações nas regras de cada modalidade.

Podemos ressaltar, ainda, ganhos de agilidade, de equilíbrio dinâmico ou estático, de

força muscular, coordenação motora, dissociação de cinturas, de resistência física, enfim, o

30

favorecimento de sua readaptação ou adaptação física global na esfera psíquica e social da

criança portadora de deficiência auditiva. Podemos observar também, que o basquetebol

provoca nessas crianças uma melhoria de sua auto-estima, uma facilitação do processo de

integração social, redução da agressividade, dentre outros benefícios que esse esporte

promove junto aos seus praticantes.

No âmbito escolar, o basquetebol visa diretamente o regaste da aprendizagem de

forma a construir novas referências e práticas vislumbrando a democratização, a socialização

e a humanização desses alunos. Tais práticas e concepções quando incorporada pelos alunos

portadores de deficiência auditiva, certamente os conduzirá às dimensões afetivas, cognitivas,

sócio-culturais e motoras pretendidas pelo processo educacional junto a esses alunos. Isto

porque através dos fundamentos do basquetebol se possibilita ao mesmo tempo a aquisição da

linguagem e a aprendizagem de conceitos e normas sociais, possibilitando uma melhor

convivência da criança portadora de deficiência auditiva com seu meio e com aqueles que

o cercam.

O basquetebol quando aplicado de maneira adequada aos alunos deficientes auditivos,

facilita na estimulação de suas percepções motoras e contribui na descoberta das suas

possibilidades corporais como instrumento de comunicação. O que possibilita a criança se

tornar mais ativa e superar suas limitações e combater preconceitos de outros e seus próprios

preconceitos sobre si. É importante destacar que a aprendizagem de habilidades motora

aumentou, também, a memorização dessas crianças.

As regras do basquetebol influenciam no requisito de respeitar as capacidades de cada

um nas diferenças e limitações proporcionando melhor desenvolvimento motor, intelectual,

social e afetivo. Além de estimular as habilidades básicas, melhora e amplia a capacidade de

combinação dos movimentos fundamentais e desenvolve os aspectos inerentes às atividades

coletivas desencadeando na adoção de atitudes cooperativas e solidárias. Assim, podemos

destacar no conjunto de benefícios promovidos pelo basquetebol aplicado às crianças com

deficiência auditiva, os seguintes fatores:

Cognitivos:

• Exploração, descobrimento, entendimento e obtenção de conhecimento, decisão,

crítica e resolução de problemas através dos movimentos;

• Esquema corporal e organização espaço/temporal;

31

Sociais:

• Ajustamento social e grupal;

• Aceitação;

• Entrosamento;

• Solidariedade;

Emocionais:

• Melhoria a auto-estima, autoconfiança, autovalorização e auto-imagem;

• Estímulo à independência e autonomia;

• Desenvolver a criatividade;

• Diminuição da ansiedade;

• Vivência de situações de sucesso e superação de situações de frustração;

Motores:

• A experiência com suas possibilidades, potencialidades e limitações;

• Melhoria na força e resistência muscular global;

• Melhoria na velocidade;

• Aprimoramento da coordenação motora global e ritmo;

• Melhora no equilíbrio estático e dinâmico.

Importante ressaltar que as atividades de basquetebol possibilitam que os alunos

passem a se conhecer melhor e a respeitar os colegas, na medida em que lhe é possível no

processo educacional, a promoção de seu bem-estar, auxílio de sua auto-aceitação e auto-

avaliação, além de favorecer o reconhecimento de suas limitações, aproveitando melhores

potencialidades e capacidades.

32

2.7 Dificuldades encontradas

As principais dificuldades encontradas nesta pesquisa foram: a falta de recursos

materiais que, apesar da colaboração da equipe de profissionais da Escola de Educação

Especial “Professora Consuelo Pinheiro”, foi difícil trabalhar com a falta de estruturas de

recursos matérias.

Outra dificuldade encontrada na pesquisa diz respeito ao descrédito dos pais com

relação aos filhos deficientes auditivos, que não acreditavam no potencial de seus filhos. Ao

entrarem em contato com o trabalho e com as informações relacionadas ao desenvolvimento

educacional de seus filhos, algumas familiares ficaram sensibilizadas para a importância que

esta pesquisa representa para seus filhos, uma vez que favorece as conquista da autonomia e

responsabilidade, outros não deram importância, chegando a comentar que seu filho é desse

jeito porque tem que ser. Rotineiramente as dificuldades relativas às integrações, as

sociabilidades e o resgate da auto-estima dos alunos com esta deficiência vêm sendo avaliada

e trabalhada na escola, contudo o preconceito da sociedade continua sendo um grande desafio

a ser superado.

Quanto à consciência sobre a realidade e as necessidades dos deficientes auditivos,

acreditamos que poderia ser amenizadas com a criação e adaptações de leis que atendessem as

exigências e necessidades das pessoas com deficiência auditiva. Entendemos que as leis são

criadas para regular e beneficiar a grande maioria da população, mas é importante lembrar que

a partir do momento que as uma legislação se tornam arcaica, obsoleta, negligente ou

simplesmente impraticável, deveria ser revogada ou, no mínimo, reciclada para atender seu

real objetivo. Como também uma política de informações nas escolas, comunidades, bairros e

demais locais em relação ao contexto de inclusão do deficiente auditivo, reduzindo o

preconceito e descriminações direcionadas a estas crianças como futuros cidadãs.

Uma crítica mais apurada deixará claro que fisicamente o aluno surdo e o aluno

ouvinte estão no mesmo patamar de aprendizado, e a única dificuldade que qualquer

profissional de educação física enfrentaria, em princípio, seria a barreira da comunicação.

Porém, ressaltamos que este entrave seria mínimo se levarmos em consideração que muitos

destes alunos conseguem escutar relativamente bem com o auxílio de aparelhos auditivos, ou

ainda que o professor se habilite em aprender a linguagem “libras”.

33

3. A ESCOLA “PROFESSORA CONSUELO PINHEIRO”

A Escola de Educação Especial “Professora Consuelo Pinheiro”, instituição escolhida

para se desenvolver esta pesquisa, é um projeto da APAE (Associação de Pais de Amigo

Excepcionais) de Teresina/PI, localizada na Rua Francisco Mendes, 290, no bairro

Porenquanto, zona norte desta cidade. A Escola em pauta começou a funcionar em 15 de

março de 1970, através de um convênio entre a Secretaria de Educação e Cultura do Estado

do Piauí e o Município de Teresina, a qual se encontra registrada pelo MEC (Ministério da

Educação e Cultura) desde este período. É uma entidade filantrópica (sem fins lucrativos), que

tem como finalidade prestar assistência à comunidade portadora de deficiência auditiva.

Portanto, oferece ensino infantil, ensino fundamental e reforço escolar a esta categoria de

cidadãos teresinenses.

A Escola possui onze salas de aula, sala dos professores, biblioteca, seis banheiros,

diretoria, depósito, cozinha, terapia ocupacional, refeitório, quadra de esportes com cobertura

e arquibancada e mais algumas dependências que fazem parte da escola.

Os funcionários são contratados pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado do

Piauí e pelo Município de Teresina e conta com Parecer da Superintendência de Ensino

Especial. Todos fazem cursos de atualização, aprimoramento etc. oferecidos pela Secretaria

de Educação do Estado do Piauí. O ensino especial dessa escola se encontra voltado para a

reabilitação e integração do deficiente auditivo na sociedade, inclusive encaminhamento ao

mercado de trabalho e à escola regular.

Há atendimento e acompanhamento oferecidos às pessoas de ambos os sexos sem

limite de idade. Para tanto, possui uma equipe técnica composta de assistente social,

psicólogo, médico otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, pedagogo, dentista, intérpretes da

língua de sinais e educador físico.

A Escola oferece gratuitamente, atendimento pedagógico que inclui alfabetização,

escolaridade do ensino educacional infantil e ensino fundamental com apoio pedagógico,

curso de língua de sinais e de computação.

Através do Projeto Segundo Tempo esta escola propõe oferecer às crianças que se

encontram freqüentando suas atividades, práticas desportivas e reforço escolar com objetivo

34

de diminuir os riscos de descriminação. Através do convívio das crianças excepcionais com as

demais crianças existentes na Escola, o processo de inclusão social é uma das principais metas

da escola. Além do envolvimento de todos os profissionais que atuaram (educadores físicos,

professores, psicólogos e a equipe da própria escola) com propósitos claros no sentido de

promover a harmonia na formação de ambas às categorias de crianças freqüentadoras da

Escola Professora Consuelo Pinheiro.

Deve esclarecer que no ano de 2006, a autora desta pesquisa compôs a equipe de

profissionais integrantes dessa escola, oportunidade na qual surgiram os primeiros

apontamentos sobre a problemática investigada nesta pesquisa sobre os deficientes auditivos e

a prática do basquetebol.

Não obstante, verifica-se que ainda hoje o trabalho com o deficiente auditivo é

controverso e apresenta duas grandes linhas: a oralista (línguas gestuais-visuais) com métodos

que utilizam o treinamento oral e a linguagem de sinais, e o oralismo, um método mais

adequado, pela possibilidade de integração do indivíduo à sociedade.

35

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho foi desenvolvido na escola Professora Consuelo Pinheiro, bairro

Porenquanto na cidade de Teresina/Pi, no período de agosto de 2006 a fevereiro de 2007,

foram investigado vinte alunos de sete a dose anos, sendo dose meninos e oito meninas

portadores de deferência auditiva como também seus genitores femininos.

Durante o desenvolvimento do trabalho foram realizados a seguintes atividades.

Elaborou-se um questionário de entrevista semi-estruturado com dez questões (Anexo 1) em

que visava explorar os seguintes aspectos: questões sobre o perfil das mães; o comportamento

familiar e social do aluno da amostra; o relacionamento entre pais e filhos; a comunicação,

a coordenação motora e o descanso destas crianças. O questionário aplicado em duas etapas:

a primeira no início da pesquisa (agosto de 2006) e a outra no final (fevereiro de 2007).

As respostas foram ouvidas, transcritas, cuidadosamente lidas e categorizadas. Foi possível

organizar sete grandes categorias de temas centrais, os quais refletiram os aspectos explorados

nas entrevistas e observações.

Foram realizadas duas reuniões com as mães. A primeira reunião, no mesmo período

da aplicação do primeiro questionário, em que foi apresentados o projeto e esclarecimento

sobre os objetivos desta pesquisa. A segunda reunião, sucedeu no dia seguinte da aplicação do

segundo questionário, teve finalidade de confrontar as questões e os resultados antes e depois

da investigação.

No decorrer da pesquisa, aplicaram-se aulas teóricas e aulas práticas acompanhadas

de jogos e atividades lúdicas que açulasse o desejo da criança pelo basquetebol. As aulas

tiveram duração de uma hora e meia em dias alternados (segundas, quartas e sextas feiras). As

aulas teóricas, noções de regras do basquetebol em que nos treinos coletivos os alunos foram

instigados a colocarem em prática os fundamentos aprendidos nas aulas de forma a adaptá-los

nas situações que se apresentavam nas partidas e principalmente não cometer faltas. Os jogos

de maneira cooperativa e por fim as atividades lúdicas que chamasse a atenção. As aulas

práticas foram enriquecidas com fundamentos do basquetebol como quicar, conduzir a bola,

passe de peito e predominantemente o arremesso. Durante o desenvolvimento da pesquisa

fez-se observações e anotações sobre o comportamento dos alunos antes e depois das

atividades do basquetebol no decorrer da pesquisa.

36

Os materiais utilizados foram: bolas de basquetebol: bolas comuns, aros, cones e giz.

A tabulação dos dados quanto às atividades de basquetebol junto aos alunos com

deficiência auditiva, tiveram objetivos de mostrar em que aspectos o basquetebol trouxe

contribuições para esses alunos no final das atividades como na opinião das próprias crianças

surdas e das mãe. Deve-se esclarecer que durante a pesquisa de campo teve auxílio de um

interprete durante as aulas de basquetebol destinado aos alunos portadores de deficiência

auditiva, o que possibilitou uma comunicação adequada durante o período da pesquisa.

4.1 Sobre a amostra da pesquisa

As aulas práticas foram desenvolvidas na quadra de esporte da Escola de Educação

Especial “Professora Consuelo Pinheiro”, com alunos entre sete e dez anos de idade. As

crianças eram todas portadoras de deficiência auditiva. Esta etapa da investigação serviu para

se observar o comportamento das crianças antes e depois da prática de basquetebol.

37

5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Através das observações e dos questionários aplicados aos alunos e as suas

respectivas mães, foi possível levantar algumas contribuições promovidas pela prática do

basquetebol no que diz respeito ao comportamento dos alunos no ambiente familiar,

especialmente, no que se refere ao convívio e iteração com os demais membros da família

e nos reflexos dessa convivência no âmbito escolar e social.

Assim, os Gráficos 1 e 2 mostram os resultados obtidos através de questionários

respondidos pelas mães dos alunos portadores de deficiência auditiva. Conforme os dados

obtidos através dos questionários aplicados às mães dos alunos, nota-se que houve um

desenvolvimento das crianças pesquisadas no que diz respeito aos aspectos social, afetivo e

psicomotor do aluno que prática basquetebol.

GRÁFICO 1

Comportamento dos portadores de deficiências auditivo antes da prática do basquetebol na visão das mães.

Teresina/PI, agosto de 2006.

17

13

817

16

16

13

Comportamento agressivo

Afetividade com os pais

Atenção

Dificuldade de comunicação

Difilculdade deconcentraçãoDificuldade motora

Dorme oito hora por dia

Fonte: Dados da pesquisa Santos, Cristiane

38

GRÁFICO 2

Comportamento dos portadores de deficiências auditivo depois da prática do basquetebol na visão das mães.

Teresina/PI, fevereiro de 2007.

5

17

1555

6

15

Comportamento agressivo

Afetividade com os pais

Atenção

Dificuldade decomunicaçãoDifilculdade deconcentraçãoDificuldade motora

Dorme oito hora por dia

Fonte: Dados da pesquisa Santos, Cristiane

Por meio das informações obtidas através dos questionários e das anotações feitas ao

longo da pesquisa podemos comparar os dois gráficos e verificar que houve melhoras

significativas no processo educacional das crianças surdas mediante a pratica do basquetebol

desenvolvida como estratégia da pesquisa comparativa.

Verifica-se no Gráfico 1, que dezessete mães afirmaram que seu filho apresentava

comportamento agressivo, diferente do Gráfico 2 onde apenas cinco mães dizem que os filhos

apresentam tal conduta. Esta diferença pode ser explicada pelo fato de que antes as crianças

não apresentavam limites e costumavam fazer tudo o que queriam. As regras expostas do

basquetebol possibilitaram a elas ter consciência dos limites de suas ações que devem levar

em conta sempre à existência de um sistema social que devemos nos situar como componente

participativo, Corneau (1993) ressalta que a ausência da “paternidade adequada” gera

confusões quanto à identidade sexual e dificuldades quanto ao manejo da agressividade,

auto-afirmação, ambição e curiosidade exploratória dos filhos. Através dos comentários

de algumas mães contatou-se, ainda, que seus filhos não tinham qualquer controle sobre seus

39

comportamentos, e, que após as atividades esportivas oferecidas durante a pesquisa e a adoção

de suas regras e do diálogo instaurado nas aulas, seus filhos ficaram mais flexíveis quanto

suas posturas e condutas.

Conforme aponta o Gráfico 1, nota-se um quadro de desequilíbrio entre a família

e a criança portadora de deficiência auditiva. Por apresentar limitações diante de sua

deficiência, muitas vezes essas crianças ou adultos são considerados inválidos pela família ou

“coitadinho”. O que pode afetá-la diretamente nos aspectos afetivos e sociais. Umas dessas

dificuldades, seria a integração dentro do contexto escolar e familiar, uma vez que os próprios

pais as consideram desiguais, conforme verificado no decorrer do estudo. No ambiente

escolar, em decorrência de preconceitos dos outros alunos que não conseguem manter uma

comunicação ou que descriminam esses colegas em face de sua deficiência, geralmente,

ocorre um comprometimento da auto-estima do deficiente auditivo que conseqüentemente

o leva a exclusão social deste em relação ao meio em que vive.

Já o Gráfico 2, demonstra que houve um progresso na vida destas crianças no lado

afetivo e social depois das práticas do basquetebol. Com a implantação de normas, respeito,

conscientização e interação através deste desporto o aluno se tornou sujeito do ambiente e não

o predicado de suas ações. De início, notou-se durante as aulas que havia resistências por

parte dos alunos devido ao fato deles não acreditarem em suas potencialidades. Suas formas

de brincar envolviam movimentos de lutas, violências e agressões verbais, além dos meninos

demonstrarem claros preconceitos quanto à inclusão das meninas nas atividades esportivas.

Contudo, essas barreiras foram se quebrando aos poucos pelo diálogo instaurado pela

pesquisadora e pelo próprio desporto em si. Observou-se também, que os alunos em estudo

passaram a respeitar melhor os colegas, demonstraram melhor capacidade de socialização

e interação em geral com todas as pessoas participantes das aulas.

Constatamos que as maiorias das mães são desinformadas sobre o que as questões

referentes à deficiência auditiva, tanto no aspecto afetivo e social dessa deficiência, como

motor e orgânico. Costumam deixar a responsabilidade de educar seu filho deficiente para

a escola somente por acreditar que possuem mecanismos de convívio e de educação sobre

seus filhos. Através dos grupos de debate feito com as mães, buscamos informar a essas mães

que á criança pode fazer qualquer tipo de ação e que por ser deficiente isto não limita o seu

processo biopsicossocial. A aceitação ocorre quando os pais superam seu pesar e aceitam-se

novamente como pais cita Lervolino, Castiglione & Almeida (2003) e segundo Bevilacqua

(1985), cabe à mãe proporcionar o equilíbrio e a harmonia, estando atenta às necessidades

40

específicas do filho, sem deixar de ter uma relação normal de mãe e filho. Afinal é importante

que os pais e a família cumpram seus verdadeiros papeis na educação destas crianças e nem

subestimem ou limitem o desenvolvimento de seus filhos.

O que favorece os pais a terem uma maior aceitação e compreensão sobre

a deficiência dos seus filhos seria somente o convívio mais fraterno entre essas crianças e seus

familiares. Valorizar sempre a subjetividade das experiências de cada um, suas emoções

e criatividades, possibilitará que os portadores de deficiência auditiva se reconheçam

e estabeleçam laços de convivência e fraternidade com sua família e sociedade. Assim,

a recriação e reeducação dessa identidade que se diferencia dos demais seriam vislumbradas

como a diferença necessária para a convivência humana.

Decerto, a criança surda possui algumas características diferenciadas que podem

afetar ou dificultar a aprendizagem, tal dificuldade é chamada de “alerta acústico”, conforme,

refere Lafon (1989); Strnadová (2000) ao afirmarem que a atenção auditiva consiste

na capacidade da pessoa apresentar uma resposta voluntária a um estímulo sonoro envolvendo

discriminação auditiva (processo de detectar diferenças e semelhanças nos sons percebidos)

e memória auditiva (envolve habilidade de armazenar e evocar o material auditivo). Estando

estes comprometidos ou inexistentes, o processo de atenção pode ser afetado acarretando

defasagem na aprendizagem. Outro argumento a ser mencionado seria a vigilância

unicamente visual que traz distrações, devido à fonte principal de alerta ser a audição. Tais

afirmações podem evidenciadas no Gráfico 1, onde oito crianças demonstram não ter

capacidade de atenção desenvolvida. Notamos que grandes partes das crianças surdas não

ficam alerta. Por não disporem dessa função de alerta acústico, esta é substituída pela visão,

ao explorar seu ambiente e ficam à espera de modificações que possam acontecer estando

obrigado a forçar sua vigilância na falta de um estado de alerta permanente (a falta da

audição).

Por este fato, freqüentemente a criança surda distrai-se facialmente, tem dificuldades

em fixar sua atenção de forma mais contínua. Assim todo o processo educacional do desporto

desenvolvido neste trabalho foi realizado em locais menos expostos e utilizando-se

da linguagem dos gestos.

A família por ter dificuldade de se comunicar, com essas crianças, observada

no Gráfico 1, raramente enxerga suas potencialidades, apenas suas limitações, o que dificulta

o seu convívio familiar. Nos grupos de discussões com as mães constatamos que dezessete

crianças apresentam dificuldades de convívio e de interação com a família. São tímidas,

41

envergonhados e/ou agressivas. Através das atividades de basquetebol foram observados

alguns avanças como: estimulo para a prática esportiva, iniciativa, maior segurança,

criatividade.

Verificando o gráfico 1, percebemos que dezesseis crianças tiveram dificuldade

de concentração, onde no gráfico 2 aparece uma redução desse problema.

As atividades relacionadas ao basquetebol foram desafiadoras para os alunos e fonte

de prazer. Estas foram desenvolvidas com grandes estímulos visuais que facilita

na permanência por mais tempo das informações na mente dos alunos surdos.

Para melhor entendimento comparamos os dois gráficos e percebemos que no Gráfico

1 dezesseis crianças tiveram dificuldade motora. Isto foi observado tanto pela investigação

como através dos questionários aplicados as mães. Assim, acredita-se que as crianças não

foram trabalhadas devidamente no sentido de sua educação motora, o que dificulta

à capacidade de seleção de informações relevantes ao longo do seu desenvolvimento.

A coordenação motora demonstrada por parte dos alunos em umas algumas atividades

aplicadas nas aulas comprovam esta realidade apresentada pelos alunos surdos. Assim,

fundamentos como quicar a bola, passar e manusear, foram realizados pelas crianças com

muita dificuldade.

Durante a pesquisa, estas limitações foram sendo aos poucos reduzidas e o aluno

passou a demonstrar desejo em manusear a bola, o que foi refletindo sobre sua capacidade

de organização de informação e tornou possível estimular sua atenção, coordenação

e capacidade de sucesso no decorrer das aulas.

Durante as aulas foi imprescindível o incentivo por parte do professor junto aos

alunos pois a convivência com a bola possibilitou uma melhoria da coordenação motora,

do controle corporal e de sua noção espaço-temporal. Essas melhorias se devem as atividades

com propósito de reeducar a criança surda como também a cumplicidades professor-aluno

e aluno-aluno.

Algumas mães relataram que seus filhos antes de praticarem basquetebol costumavam

ficar acordados até tarde da noite assistindo televisão, e muitos levantam cinco ou seis horas

da manhã para ir à escola. Sabemos que a falta de sono pode causar inúmeras perturbações

dificultando a aprendizagem. No entanto, com a participação desses alunos nas aulas

de basquetebol, tais crianças surdas passaram a gastar mais energia e conseqüentemente

a dormir mais cedo. Assim, verificamos que essas crianças se tornaram mais tranqüilas

42

e passaram a dormir oito horas por dia, melhorando seu desempenho nos aspectos cognitivo,

emocional e motor.

Outro fato que merece ser destacado aqui é sobre o papel da família, que geralmente

costuma não acompanhar o que a criança aprende na escola e muitas vezes segue em direção

contraria daquela que educadoras, psicólogos e outros profissionais empenhados na educação

desta criança segue, em que, Bevilacqua (1985) afirma que a família é o "agente modificador

da realidade" das crianças e os terapeutas funcionam como "agentes de apoio". Por meio

de informação, conscientização e principalmente aceitação da limitação de seu filho, é que

podemos mudar esse pensamento de que a criança surda é um incapacitado. É tratando

a criança de forma igual às demais que poderemos de fato prepará-la para uma vida em

sociedade de maneira igualitária.

Deve-se esclarecer que nos finais das aulas, aconteceram diálogos entre o professor e

os alunos, nestes momentos foram feitas avaliações críticas e reflexões sobre a aula e sobre o

próprio aluno.

43

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se enfatizar nesta pesquisa, as possíveis colaborações da prática

do basquetebol para crianças surdas no sentido de desenvolvê-las fisicamente, cognitivamente

e sócio-afetivamente.

Constatamos que a prática do basquetebol estimulou os alunos investigados

a adotarem atitudes que geralmente não lhes são propiciadas em outros contextos ou em

outras atividades. Ao considerar suas diferenças e limitações sem subestimá-las,

reconheceu-se e incentivaram-se suas conquista pessoais e coletivas. Estes aspectos foram

observados no período de aplicação das aulas junto aos alunos portadores dessa deficiência.

Contudo, deve-se ressaltar que é importante a união ente a criança surda, a família

e os professores envolvidos em sua educação. Em contrário, há um grande risco de fracasso

desse processo, se esse elo não for construído. Nestas situações, deve-se valorizar

os desportos, os hábitos e as atitudes preparatórias para a vida adulta da criança, de forma

a possibilitar que o deficiente auditivo se torne co-responsável no seu processo escolar,

e se conscientize de seus direitos na sociedade em geral.

A pesquisa demonstrou que ocorreram avanços no aspecto biopsicossocial através do

basquetebol, comprova que nem a restrições, nem limites são barreiras quando o assunto é

fazer parte de algum esporte. Estudos na área da dança, da natação, a capoeira e as demais

modalidades têm demonstrado que a sociedade precisa compreender que o deficiente não é

um incapaz, e que suas limitações não os impedem de conviver com os diferentes deles.

Portanto, os responsáveis pela educação da criança surda precisam assumir desafios

no sentido de construir estratégias novas de educação especial, transformar, criar e estabelecer

uma pedagogia educacional onde cada educador seja operante e responsável em contribuir

cada vez mais com a qualidade do ensino do surdo através do esporte. Somente assim

estaremos realizando com responsabilidade nossa função de educador, contribuindo para uma

sociedade mais justa onde todos tenham direito à verdadeira inclusão social. Além de buscar

construir políticas públicas voltadas para as questões do portador de deficiência auditiva.

Assim, aspectos sociais, educacionais e esportivos atuariam de forma democrática para

a superação das barreiras e dos preconceitos existentes hoje com relação aos deficientes

44

de maneira em geral, além de transcenderem as fronteiras dos muros das instituições

escolares.

45

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei 9394 de 24 de dezembro de 1996.

BUSCAGLIA, L. Os deficientes e seus pais. Rio de Janeiro: Record, 1997.

BALLANTYNE, J. M. C. MARTIN, A. Surdez. Tradução Sandra Costa. 5 ed. Porto Alegre:

Artes Médicas Sul, 1995.

CASANOVA, J. P. Manual de Fonoaudiologia. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

CORNEAU, G. Pai ausente, filho carente: o que aconteceu com os homens? São Paulo:

Brasiliense, 1993.

BEVILACQUA, M. C; FORMIGONI, G. M. Audiologia Educacional: Uma Opção

terapêutica para a Criança Deficiente Auditiva. São Paulo: Pró-Fono, 1997.

DANCE, F.E.X. Teoria da comunicação humana. São Paulo: Cultrix, 1976.

FIGUEIRA, E. Vamos conversar sobre crianças deficientes? São Paulo: Memnon, 1993.

GOIÁS, Secretaria da Educação e Cultura. Superintendência de Ensino Especial. Diretrizes

Gerias para o Ensino do Portador de Necessidades Educativas Especiais. Goiânia, 1994.

GORGATTI, M. G; COSTA, R.F. Atividade Física Adaptada. Barueri – São Paulo: Manole,

2005.

GUILHERME, J. J. Educação e reeducação psicomotora. Porto Alegre: Artes Médicas,

1983.

LAFON, J. C. A deficiência auditiva na criança: incapacidades e readaptações. São

Paulo: Manole, 1989.

IERVOLINO, S. M. S, CASTIGLIONE, M, & ALMEIDA. K. A orientação e o

aconselhamento no processo de reabilitação auditiva. São Paulo: Lovise, 2003.

MARTINS, C. Deficiências físicas e mentais; o espiritismo esclarece, São Paulo: DPL,1999.

MEYER, S. A Habilitação da Criança Deficiente Auditiva Pré-Escolar - uma descrição dos

serviços oferecidos pela John Tracy Clínic. v-2, São Paulo: Pró-fono, 1990.

OMS - Organização Mundial de Saúde.

PARKER, S. O. O ouvido e a audição. São Paulo: Scipione, 1989.

RIZKALLAH, Z. Y. As oportunidades educacionais que se oferecem a uma criança

Deficiente Auditiva no Município de São Paulo. v-1, São Paulo: Pró-fono, 1991.

46

SILVA, I.R.; KANCHAKJE, S. & GESUELI, Z.M. Cidadania, Surdez e Linguagem:

desafios e realidades. São Paulo: Plexus, 2003.

STRAPASSON, A. Apostila de Educação Física para Pessoas com Deficiência, da

Faculdade de Pato Branco. Pato Branco, PR: FADEP, 2006/2007.

STRNADOVÁ, V. Como é ser surdo. Rio de Janeiro: Babel, 2000.

VYGOTSKY.L.S. PENSAMENTO E LINGUAGEM. São Paulo: Morais, 1977.

WINNICK. J.P. Educação Física e Esportes Adaptados. 3 ed. Barueri – São Paulo: Manole,

2004.

47

ANEXO 1

QUESTIONÁRIO APLICADO ÀS MÃES

1ª parte: perfil da mãe

Nome;__________________________________________________________________ Idade;______ Quantos Filhos (__) Quantos Deficientes (__); Auditivo (__) Mental (__) Físico (__) Visual (__) Endereço;________________________________________________________________ Estado Civil; Casada (__) Solteira (__) Viúva (__) Separada (__) Outros (__) Escolaridade; Ensino fundamental (__) Ensino Médio (__) Ensino Superior (__) Ensino Técnico (__) 2ª parte: comportamento familiar e social do aluno 1 - Seu filho apresenta comportamento agressivo? Sim ( ) Não ( )

2 - Tem afetividade com os pais? Sim ( ) Não ( )

3 - É prestativo? Sim ( ) Não ( )

4 - Tem dificuldade em se comunicar? Sim ( ) Não ( )

5 - Tem dificuldade de concentração? Sim ( ) Não ( )

6 - Tem dificuldade motora? Sim ( ) Não ( )

7 - Dorme 8(oito horas) por dia? Sim ( ) Não ( )

8 - O que, na sua opinião, mais contribui para que as crianças se tornem agressivas?

( ) falta de estrutura familiar;

( ) falhas na instituição escolar;

( ) televisão;

( ) sociedade;

( ) os pais não ser tolerante com seus filhos;

( ) outros. Quais?

9 - Marque se possessível o que ocorre dentro de casa com seu filho

( ) entende o que seu filho quer, pede ou informa;

( ) você dar algum tipo de palmadas em seu filho;

48

( ) não saber comunicar-se com seus filhos;

( ) outros. Quais?

10 - Defina o relacionamento com seus filhos?

49