por uma polÍtica de arrendamento urbano justa

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1 MOÇÃO POR UMA POLÍTICA DE ARRENDAMENTO URBANO JUSTA Em nome da dinamização do mercado de arrendamento urbano o governo do PSD/CDS apresentou uma lei de arrendamento que, se for aprovada na versão atual, mais não será do que uma lei, facilitadora, dos despejos, com consequências trágicas para muitas famílias no distrito de Lisboa. Em Portugal, vigoram dois tipos de contratos de arrendamento urbano: Os contratos celebrados anteriormente a 1990; Os contratos celebrados após essa data. Os primeiros, estão, efetivamente, numa situação de rendas congeladas, em resultado de uma decisão estrategicamente errada, assumida durante o Estado novo, a qual, veio a resultar numa progressiva descapitalização dos proprietários dos fogos arrendados, sofrendo apenas aumentos de rendas em função da inflação verificada; Os segundos, são contratos de arrendamento livre, não sujeitos a nenhum tipo de limitação. Na perspetiva destes dois tipos de relação contratual, seria de admitir, que se registasse um problema de atualização de rendas nos fogos arrendados anteriormente a 1990 e que, no caso dos arrendamentos posteriores, o mercado funcionasse normalmente. Ora, não é isso que acontece. Pelos dados dos censos de 2011 constatamos que existem cerca de 730 mil fogos vagos que poderiam ser imediatamente colocados no mercado em regime de arrendamento livre e que, de 2001 para 2011 os contratos antigos diminuíram em 42% (menos 200 mil fogos), fruto da morte natural dos titulares dos contratos de arrendamento. Estes dados permitem inferir que o principal problema na falta de dinamização deste sector, não terá tanto a ver com o valor das rendas uma vez que o mercado é livre de as fixar para os contratos feitos a partir de 1990 mas terá a ver, essencialmente, com a questão da confiança na colocação de fogos devolutos ou construídos no mercado. Também a questão dos senhorios descapitalizados tem vindo a evoluir de um modo positivo, porque, cessado por morte um contrato antigo, esse fogo é, ou pode ser, imediatamente colocado em regime de renda livre, originando que, por exemplo, na cidade de Lisboa, se encontrem já muitos prédios em situação mista, devolvendo deste modo, aos seus proprietários, alguma capacidade de retorno financeiro.

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POR UMA POLÍTICA DE ARRENDAMENTO URBANO JUSTA

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MOÇÃO

POR UMA POLÍTICA DE ARRENDAMENTO URBANO JUSTA

Em nome da dinamização do mercado de arrendamento urbano o governo do PSD/CDS apresentou

uma lei de arrendamento que, se for aprovada na versão atual, mais não será do que uma lei,

facilitadora, dos despejos, com consequências trágicas para muitas famílias no distrito de Lisboa.

Em Portugal, vigoram dois tipos de contratos de arrendamento urbano:

Os contratos celebrados anteriormente a 1990;

Os contratos celebrados após essa data.

Os primeiros, estão, efetivamente, numa situação de rendas congeladas, em resultado de uma

decisão estrategicamente errada, assumida durante o Estado novo, a qual, veio a resultar numa

progressiva descapitalização dos proprietários dos fogos arrendados, sofrendo apenas aumentos de

rendas em função da inflação verificada;

Os segundos, são contratos de arrendamento livre, não sujeitos a nenhum tipo de limitação.

Na perspetiva destes dois tipos de relação contratual, seria de admitir, que se registasse um

problema de atualização de rendas nos fogos arrendados anteriormente a 1990 e que, no caso dos

arrendamentos posteriores, o mercado funcionasse normalmente.

Ora, não é isso que acontece.

Pelos dados dos censos de 2011 constatamos que existem cerca de 730 mil fogos vagos que

poderiam ser imediatamente colocados no mercado em regime de arrendamento livre e que, de

2001 para 2011 os contratos antigos diminuíram em 42% (menos 200 mil fogos), fruto da morte

natural dos titulares dos contratos de arrendamento.

Estes dados permitem inferir que o principal problema na falta de dinamização deste sector, não

terá tanto a ver com o valor das rendas – uma vez que o mercado é livre de as fixar para os

contratos feitos a partir de 1990 – mas terá a ver, essencialmente, com a questão da confiança na

colocação de fogos devolutos ou construídos no mercado.

Também a questão dos senhorios descapitalizados tem vindo a evoluir de um modo positivo,

porque, cessado por morte um contrato antigo, esse fogo é, ou pode ser, imediatamente colocado

em regime de renda livre, originando que, por exemplo, na cidade de Lisboa, se encontrem já

muitos prédios em situação mista, devolvendo deste modo, aos seus proprietários, alguma

capacidade de retorno financeiro.

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Mais do que no valor das rendas (livre há mais de 20 anos), o principal problema estará, assim,

mais na morosidade dos despejos para os casos de incumprimento, fundamentalmente pelos

atrasos verificados no funcionamento da justiça – são vulgares situações em que inquilinos ocupam

casas por mais de dois anos, pagando apenas a caução e o primeiro mês de renda.

É esta a questão principal, será a sua resolução que poderá levar os proprietários e os investidores

a colocaremmais fogos no mercado de arrendamento.

Seria, assim de esperar que este governo procurasse resolver esta questão e, mantivesse os atuais

parâmetros contratuais, aprovados no ano de 2006, durante o governo do PS.

Acontece, que este governo, cego pela sua ideologia neoliberal, procurou aproveitar esta

necessidade, para avançar com uma proposta de lei, que a ser aprovada, promoverá um aumento

muito significativo das rendas, uma perda de proteção dos idosos, com a consequente tragédia de

provocar uma onda de despejos que atingirão, muito especialmente, os pobres e as famílias das

classes médias.

Vejamosdois exemplos:

1- Um casal de idosos com um rendimento bruto de 600€ terá, com esta nova lei, como limite do

valor da renda 150€. Se a renda anterior fosse por exemplo de 30€, a diferença de 120€ a mais que

passaria a pagar, significa uma perda de rendi mento de 20%;

2- Um idoso, com mais de 65 anos, terá um prazo de cinco anos para se adaptar a nova renda, mas

passados estes, passa a ser considerado como qualquer outro inquilino, pelo que, não se é

despejado aos 65 anos, mas pode ser- se a partir dos 71 anos.

O Partido Socialista não aceita que, em nome da dinamização do mercado, se esteja a promover

uma lei que trará – neste momento de grave crise económica em que a austeridade e o custo de

vida provocam o empobrecimento das famílias – ainda mais sofrimento e miséria social.

Nesse sentido, o PS propõe-se apoiar uma revisão da atual lei que promova, sem dispensa da

participação dos tribunais, uma rápida resolução das ações de despejo por incumprimento

contratual por parte dos inquilinos e que salvaguarde as garantias já dadas tanto a proprietários

como a inquilinos, na lei em vigor e agora reiteradas pelo projecto lei apresentado pelo PS.

Comissão Política da FAUL, 30 de Janeiro de 2012