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fevereiro/2012 Vida Judiciária Nº 163 - fevereiro 2012 - 7,50€ EM FOCO Ordem dos Advogados de Angola quebra protocolo com advogados portugueses MARCAS Confundibilidade entre marcas ENTREVISTA Paula Meira Lourenço Comissão para a Eficácia das Execuções não é inconstitucional ARRENDAMENTO URBANO Proposta de alteração

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Confundibilidade entre marcas

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comissão para a eficácia das execuções não é inconstitucional

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editorial VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 1

a constitucionalidade da Comissão para a eficácia das execuçõesPor: Sandra Miranda da Silva

Paula Meira Lourenço, presidente da Comissão para a Eficácia das Execuções (CPEE), demonstrou satisfação com a decisão proferida pelo Tribunal Constitucional de considerar que a CPEE não é inconstitucional nem há inconstitucionalidade nas normas que a criaram.A decisão do Tribunal Constitucional surge na sequência do pedido de inconstitucionalidade deduzido pelo Provedor de Justiça, com base no parecer entregue pela Câmara dos Solicitadores.Paula Meira Lourenço destaca que a CPEE tem sido bem sucedida. Este organismo emitiu 105 recomendações para colocar a ação executiva a funcionar na prática, sobretudo do ponto de vista operacional. Por outro lado, assegurou a fiscalização de 731 agentes de execução quando, antes da sua existência, não havia sequer fiscalização. E também assegurou a entrada de mais 530 novos agentes de execução, incluindo solicitadores e advogados, que tiveram de se submeter a um rigoroso e exigente recrutamento e avaliação final feito pela CPEE em parceria com a Escola de Direito de Lisboa da Universidade Católica Portuguesa (em 2009 e 2011) e com a Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa (em 2012).Resta-nos ter esperança que as recomendações da CPEE contribuam decisivamente para que o processo executivo se torne efectivamente eficaz!

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Nº 163 fevereiro 2012REVISTA MENSAL

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SuMárioVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 20122

9 Em Foco Protocolo de cooperação foi chumbado em Assembleia Geral da Ordem em Angola – Ordem dos Advogados de Angola quebra protocolo com advogados portugueses

11 Atualidades Informações jurídicas

26 Registos & Notariado Notificação judicial avulsa

27 Análise Arrendamento urbano – Proposta de alteração

29 Marcas & Patentes Confundibilidade entre marcas

37 Jurisprudência

Resumos de Jurisprudência Jurisprudência do STJ e das Relações Sumários do STJ

63 Legislação Principal legislação publicada 1ª e 2ª séries do Diário da República

Tribunal Constitucional profere acórdão clarificador quanto à CPEE

“Comissão para a eficácia das execuções não é inconstitucional”

4 Entrevista

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eNtreviStaVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 20124

Tribunal Constitucional profere acórdão clarifi cador quanto à CPEE

Comissão para a efi cácia das execuções não é inconstitucionalTERESA SILVEIRA

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O Acórdão n.º 25/2012 do Tribunal Constitucional, publicado em Diário da República a 13 de fevereiro de 2012, aclarou todas as dúvidas: afi nal, a Co-missão para a Efi cácia das Execuções (CPEE) não é inconstitucional nem há inconstitucionalidade nas normas que

a criaram, o que coloca um ponto fi nal às dúvidas levantadas pelo Provedor de Justiça quer quanto à legalidade daquela Comissão quer quanto à sua constitucionalidade.Em declarações à “Vida Judiciária” sobre o fim desta polémica, Paula Meira Lourenço, presidente da CPEE, mostrou-se satisfeita com a decisão, explicando que, agora, “não há des-

culpas para querer extinguir ou mudar uma Comissão que está a funcionar bem”. Aliás, até acrescenta que “não se percebe como é que se poderia enten-der que uma entidade que representa e funciona em nome dos utentes e dos consumidores da Justiça podia serinconstitucional, pois, se há entidade que funciona em favor da democratização noacesso à Justiça, é a CPEE”.

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Mostrando-se algo agastada com esta questão, Paula Meira Lourenço reitera: “Porque a CPEE tem tido uma atividade intensa ao longo destes três anos de vida, só faltava agora que fosse incons-titucional”.Os números são, aliás, o melhor exem-plo para essa “atividade intensa”, refere a presidente da Comissão, destacando que aquele organismo “tem sido bem sucedido”, sendo de destacar três pon-tos. O primeiro é que a CPEE “assegurou a fiscalização de 731 agentes de execu-ção” quando, antes da sua existência, não havia sequer fiscalização.Por outro lado, a Comissão “asse-gurou a entrada de mais 530 no-vos agentes de execução”, incluin-d o s o l i c i t a d o re s e a d vo g a d o s, que tiveram de se submeter a um “rigoroso e exigente recrutamento e avaliação final” feito pela CPEE em parceria com a Escola de Direito de Lisboa da Universidade Católica Portuguesa (em 2009 e 2011) e com a Fa-culdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa (em 2012).Por fim, realça Paula Meira Lourenço à “Vida Judiciária”, a CPEE “emitiu 105 re-comendações para colocar a ação exe-cutiva a funcionar na prática, sobretudo do ponto de vista operacional, porque o que é necessário é colocar as normas legais de 2009 em funcionamento”.O acórdão agora proferido pelo Tribunal Constitucional, que vem na sequência do pedido de inconstitucionalidade deduzido pelo Provedor de Justiça junto do Tribunal Constitucional com base no parecer entregue pela Câmara dos Solicitadores ao Provedor de Justiça, e a defesa apresentada pelo Governo, assentaram, em síntese, nos seguintes argumentos:Por um lado, o Provedor de Justiça de-duziu pedido de fiscalização abstrata sucessiva, requerendo a declaração de ilegalidade e inconstitucionalida-de, com força obrigatória geral, das normas que constam do artigo 69.º -D, n.º 1, alíneas a) a j), do Estatuto da Câmara dos Solicitadores, aprovado

pelo Decreto-Lei n.º 88/2003, de 26 de Abril, na redacção que lhe foi conferida pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro.

Primeiro-Ministro respondeu que as alegações de inconstitucionalidade e ilegalidade partiam de dois equívocos

O organismo presidido por Alfredo José de Sousa invocava a ilegalidade da CPEE atendendo a que a Comissão tinha sido criada pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro, enquanto órgão inde-pendente da Câmara dos Solicitadores, ao abrigo de uma lei de autorização parlamentar (Lei n.º 18/2008, de 21 de Abril). Como a introdução da represen-tação dos Agentes de Execução inscritos na Ordem dos Advogados (OA) na CPEE era a inovação expressamente autori-zada pelo Parlamento, a manutenção da natureza associativa desse órgão impunha que, na sua composição, pelo menos a maioria dos seus membros encontrasse legitimação na autotutela associativa devolvida pelo Estado às classes profissionais em causa. Ora, apenas dois dos onze membros da CPEE são representantes da Câmara dos Solicitadores (CS), a que se soma apenas mais um da Ordem dos Advogados, pelo que, sendo o peso dos membros estranhos às referidas associações pro-fissionais consideravelmente superior aos membros representantes dessas as-sociações, o Provedor de Justiça alegou que o Governo atuara sem credencial parlamentar, contrariando o sentido da autorização concedida. Por isso mesmo, invocou o Provedor, as normas constantes do artigo 69.º -D, n.º 1, alíneas a) a j), do ECS padeceriam de ilegalidade material, por violação do sentido da lei de autorização legislativa contido no artigo 5.º, alínea b), da Lei n.º 18/2008, de 21 de Abril.A par disso, o Provedor de Justiça tam-bém invocava a inconstitucionalidade, por alegada violação do n.º 4 do artigo

267.º da CRP, dado que as associações públicas, como a CS, têm que ter uma “organização interna baseada no res-peito dos seus membros e na formação democrática dos seus órgãos”, e a CPEE, órgão integrado na CS com amplos poderes decisórios, tinha sido imposta pelo legislador à CS, não sendo a es-magadora maioria dos seus membros designada pela CS, o que violaria os direitos de participação democrática dos membros da CS e o princípio da formação democrática dos órgãos desta associação pública, princípios esses que decorrem da parte final do n.º 4 do artigo 267.º da CRP.Ainda invocava a inconstitucionalidade por violação da alínea d) do artigo 199.º da CRP, pois alegava o Provedor de Jus-tiça que ao Governo compete apenas

“A CPEE emitiu 105 recomendações para colocar a ação executiva a funcionar na prática”, realça Paula Meira Lourenço, presidente da Comissão para a Eficácia das Execuções

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o exercício de uma tutela da legalidade sobre a administração autónoma. Ora, tendo a CPEE poderes decisórios e inte-grando a sua composição três membros com direito a voto nomeados pelo Governo [alíneas b), c) e d) do n.º 1 do artigo 69.º -D, do ECS], e cabendo a estes efetivos poderes de decisão que não se enquadram nos limites da mera tutela da legalidade para a qual nos remete a norma do artigo 199.º, alínea d), da CRP, o poder de decisão do Governo no âm-bito da CPEE, viola a norma inserida no artigo 199.º, alínea d), da CRP, na parte respeitante à administração pública autónoma.A estes argumentos aduzidos pelo Pro-vedor de Justiça, o Primeiro-Ministro respondeu, afirmando, em síntese, que as alegações de inconstitucionalidade e de ilegalidade partiam de dois equí-

vocos substanciais.Um deles, o de que a CPEE, especifi-camente na formação de plenário, é o órgão ao qual compete a regulação e o exercício do poder disciplinar sobre os agentes de execução.Ora, considerou o Primeiro-Ministro que o pedido do Provedor “ignora a configuração de órgão complexo que o legislador deu à CPEE” e que é “um órgão que, mais do que funcionando em duas formações, compreende dois órgãos distintos e com competências diferentes”. E explica que a CPEE fun-ciona como Plenário (CPEEP) e como Grupo de Gestão (CPEEGG), sendo que, em matéria disciplinar, a CPEEP apenas funciona como órgão de recurso (um recurso hierárquico impróprio, faculta-tivo), para as decisões da CPEEGG que apliquem penas de suspensão e de

expulsão [alínea b), do n.º 1, do artigo 69.º-F, do ECS na redacção actual]. Por esse facto, é como CPEEGG que a Comissão atua no âmbito da regulação profissional, enquanto a CPEEP apenas define orientações gerais e através de recomendações, para além de definir o número de estagiários admitidos e es-colher a entidade externa que intervém na avaliação.O segundo equívoco do Provedor a que se refere o Primeiro-Ministro é a afirma-ção de que a CPEE é, sem qualquer espe-cificidade, um órgão da pessoa coletiva associativa (CS), porque a CPEE apenas formalmente está associada à CS por razões logísticas e de funcionamento administrativo, mas que goza de um estatuto de independência.Quanto à questão da invocada ilega-lidade por violação da autorização

“A comissão assegurou a entrada de mais de 350 novos agentes de execução”, adverte Paula Meira Lourençoà VJ.

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legislativa, explicou o Primeiro-Ministro que o Governo criou, tal como previsto, um órgão destinado a disciplinar a eficácia das execuções (a CPEE), tendo adoptado um esquema orgânico de “órgão complexo” sem discriminar ime-diatamente a proveniência profissional da totalidade dos membros do órgão com competências de “regulação pro-fissional” (a CPEEGG).Ora, para o Primeiro-Ministro, “esta opção em nada contraria” a lei de au-torização legislativa, uma vez que o Governo não atribuiu as competências de “regulação profissional” a um órgão com uma composição estranha às pro-fissões de solicitador e de advogado.No que respeita à invocada inconsti-tucionalidade por violação da norma da formação democrática dos órgãos, não sendo a CPEE um órgão próprio da estrutura orgânica da CS, pois não prossegue as atribuições desta, “seria estranho que a sua composição resul-tasse da expressão democrática dos so-licitadores”, explica o Primeiro-Ministro nas suas alegações.Em face de tudo, veio o Tribunal Consti-tucional proferir um acórdão, elaborado pelo seu presidente, concluindo que “o Tribunal Constitucional não declara a ilegalidade, nem a inconstitucionali-dade, das normas constantes do artigo 69.º-D, n.º 1, alíneas a) a j), do Estatuto da Câmara dos Solicitadores, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 88/2003, de 26 de Abril, na redacção que lhe foi conferida pelo Decreto -Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro”.

a fundamentação para o acórdão do tC fundou-se em quatro argumentos

Na posse de tudo, veio o Tribunal Cons-titucional pronunciar-se, afirmando que, “não procedendo nenhuma das razões invocadas pelo Requerente para fundamentar o seu pedido, não deve ser declarada a ilegalidade nem a inconsti-tucionalidade” da CPEE.

O primeiro argumento está relacionado com o facto de as normas questionadas no pedido de fiscalização definirem somente a composição da CPEE, na qualidade de órgão responsável em matéria de acesso e admissão a estágio, de avaliação dos agentes de execução estagiários e de disciplina dos agentes de execução, “não estando em causa a constitucionalidade da inserção deste órgão na estrutura da CS (artigo 69.º-B do ECS), uma vez que os poderes de cognição do TC estão limitados pelo pedido de fiscalização deduzido.Por outro lado, refere o acórdão, que a Proposta de Lei (n.º 176/X) apresentada

à Assembleia da República autorizou o Governo a aprovar um conjunto de medidas destinadas a aperfeiçoar o novo modelo adoptado pela “reforma da ação executiva”, aprofundando-o e criando condições para ser mais simples e eficaz. Entre essas medidas encon-trava-se o reforço do papel do agente de execução na tramitação das ações executivas, alargando-se a possibilidade de desempenho dessas funções a advo-gados, face à necessidade de aumentar o número de agentes de execução que garantisse uma efetiva possibilidade de escolha pelo exequente. Este alargamento do espetro de agen-tes de execução foi acompanhado por propostas de alteração ao regime de incompatibilidades, impedimentos e suspeições dos agentes de execução,

visando restringir as condições de exer-cício desta função, e de criação de um órgão destinado a promover a eficácia das execuções, ao qual também com-petisse o exercício do poder disciplinar sobre os agentes de execução, de forma a garantir uma maior transparência e confiança no sistema. Aliás, a proposta foi aprovada pela Lei n.º 18/2008, de 21 de Abril. O segundo argumento do Tribunal Constitucional refere que o requerente, ou seja, o Provedor de Justiça, questio-nou, em primeiro lugar, a legalidade destas normas, por entender que o Go-verno ao definir a composição da CPEE

contrariou o sentido da autorização legislativa concedida pela Assembleia da República, uma vez que dos onze membros que integram este órgão apenas três são designados ou provêm das associações profissionais dos so-licitadores e dos advogados. Ou seja, um vogal é designado pelo presidente da Câmara dos Solicitadores, outro é designado pelo bastonário da Ordem dos Advogados e um terceiro é o presi-dente do colégio de especialidade dos Agentes de Execução.Ora, da leitura conjugada das alínea a) e b) do artigo 5.º da Lei n.º 18/2008, de 21 de Abril, o TC concluiu que o legisla-dor parlamentar autorizou o Governo a criar, no âmbito da estrutura da CS, um órgão especificamente destinado a disciplinar a eficácia das execuções, ao

“Não procedendo nenhuma das razões invocadas pelo Requerente para fundamentar o seu pedido, não deve ser declarada a ilegalidade nem a inconstitucionalidade” da CPEE.

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qual competisse também o exercício do poder disciplinar sobre os agentes de execução, conferindo-lhe poderes para prever estas e outras competências e definir a composição deste novo órgão. Mais concluiu o TC que “se o legislador, com a extensão aos advogados do aces-so à profissão de agente de execução, por um lado, sentiu que a supervisão desta função não podia continuar entre-gue aos órgãos da associação represen-tativa dos interesses dos solicitadores, revelando-se necessária a criação de um novo órgão que desempenhasse especificamente essa actividade fiscali-zadora, por outro lado, não quis desligar completamente esse novo órgão da Câmara dos Solicitadores”. Daí que a sua previsão [alínea b) do artigo 5.º] implicasse uma modificação da estrutura orgânica da CS e uma alteração das competências dos seus órgãos [alínea a) do artigo 5.º]. Contudo, “apesar de a lei de autorização pretender que o novo órgão funcio-nasse inserido na estrutura da CS, não definiu a sua natureza, nem o modo como essa inserção se deveria proces-sar, não se tendo imposto que o mesmo assumisse um cariz representativo dos membros desta associação profissional”, pelo que o TC não considerou possível extrair da indicação da localização do órgão, uma diretriz no sentido de que a sua composição deveria satisfazer uma representação maioritária de qualquer classe profissional, designadamente a dos solicitadores. Isto, pois, nos termos da lei de autorização legislativa, a pre-visão pelo Governo da composição do novo órgão apenas estava obrigada a tomar em consideração que a função de agente de execução passava a poder ser exercida, não só por solicitadores, mas, também, por advogados [alínea a) do artigo 2.º, por remissão da parte final da aliena b) do artigo 5.º]. Se a imposição desta ponderação obri-gava à participação na CPEE das asso-ciações das quais aqueles profissionais liberais obrigatoriamente são membros (CS e OA), nada permite afirmar, diz o

Tribunal Constitucional, que essa par-ticipação tivesse que assumir um peso maioritário ou que aquele que lhe foi atribuído pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro, fosse insuficiente para satisfazer o sentido da autorização do legislador parlamentar.Assim, o TC concluiu que da análise dos termos da Lei n.º 18/2008, de 21 de Abril, não resultava que a definição da composição da CPEE efetuada pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro, contrariava o sentido da autorização legislativa, não se verifica o vício apontado pelo Requerente.

vogais da CPee não estão sujeitos a quaisquer orientações, diretivas ou recomendações

O Tribunal Constitucional argumenta ainda que o Provedor de Justiça, en-quanto requerente, invocou a inconsti-tucionalidade das normas definidoras da composição da CPEE, por considerar que violariam o n.º 4 do artigo 267.º da CRP. Mas, como entendeu o TC, “o artigo 69.º-D do ECS, aditado pelo artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro, optou por uma composição pluralista da CPEE, procurando que nesta estivessem representados todos os setores com interesse na eficácia da ação executiva, como as entidades representativas dos consumidores ou utentes de serviços de justiça, os par-ceiros sociais, o Governo, o Conselho Superior da Magistratura, a Ordem dos Advogados e a Câmara dos Soli-citadores. Nas palavras do legislador, pretendeu -se que esta composição plural tornasse a Comissão para a Eficácia das Execu-ções um fórum privilegiado para a troca de opiniões e de experiências sobre o desempenho dos agentes de execução, facilitando o diálogo entre aqueles que utilizam os serviços destes agentes, os que podem promover a sua eficácia e os próprios operadores judiciários.Por último, o Requerente alegou que

o disposto no n.º 1 do artigo 69.º-D do ECS, viola a alínea d) do artigo 199.º da CRP, vez que a composição da CPEE é integrada por três vogais designados pelo Governo [um vogal designado pelo membro do Governo responsável pela área da justiça, outro pelo mem-bro do Governo responsável pela área das finanças e outro pelo membro do Governo responsável pela área da segurança social – alíneas b), c) e d), do n.º 1 do artigo 69.º-D do ECS]. Porém, refere o Tribunal Constitucional, a intervenção do Governo cessa com a designação das pessoas que irão ocupar o lugar de vogais da CPEE, não estando estes, no exercício dos seus cargos, su-jeitos a quaisquer orientações, diretivas ou recomendações, não respondendo perante o Governo, que os não pode destituir, agindo os vogais designados pelos membros do Governo das áreas da justiça, finanças e segurança social, no seio da CPEE, com total autonomia e liberdade, não existindo qualquer con-trolo de conformidade da sua atuação com as políticas governamentais.

Nas palavras do legislador, pretendeu-se que esta composição plural tornasse a Comissão para a Eficácia das Execuções um fórum privilegiado para a troca de opiniões e de experiências sobre o desempenho dos agentes de execução.

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eM foCo VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 9

TERESA SILVEIRA

[email protected]

O acordo de cooperação entre a Ordem dos Advogados Portugueses (OAP) e a Ordem dos Advogados de Ango-la (OAA), assinado entre os respetivos bastonários, António Marinho Pinto e Manuel Vicente Inglês Pinto, em 15 de novembro de 2011, foi chumbado em Assembleia Geral da OAA realizada em 20 de janeiro último, apurou a “Vida Judiciária”. Nenhum dos bastonários se mostrou, até ao momento, disponível para comentar.O protocolo celebrado entre a OAP e a OAA ainda está disponível nos sites das respetivas ordens e tem como objetivo “definir os termos e as condições de co-operação” entre as duas ordens profis-sionais de advogados, “visando em par-ticular” “incentivar o intercâmbio entre a advocacia de Angola e de Portugal”. Tem também como fim “proporcionar formação teórico-prática aos advoga-dos de Angola, com vista ao adequado exercício da advocacia, de modo a que esta seja desempenhada de forma com-petente e responsável, designadamente nas suas vertentes deontológica, técni-ca e científica”.As duas ordens de advogados conside-ram, aliás, no próprio protocolo, que se revela “fundamental estabelecer o in-tercâmbio e cooperação entre a OAP e a OAA, designadamente em matéria de formação, na medida em que esta reves-te um papel fundamental no âmbito do exercício da advocacia” e que foi tam-bém esse um dos motivos subjacentes à assinatura do documento. Tudo com o intuito de “contribuir para o estreita-

mento das ligações” entre os dois países, estando os dois bastonários subscrito-res “convictos” de que a implementação do protocolo constituiria “um passo no reforço do relacionamento e coopera-ção entre a OAP e a OAA”.A formação profissional, de acordo com o mesmo protocolo, estava pre-vista “ter lugar em Portugal, em escri-tórios de advogados ou em sociedades de advogados, previamente indicadas pela OAP e com o acordo expresso dos interessados”. Paralelamente, refere uma outra cláusula do protocolo, essa formação “poderá, igualmente, reali-zar-se em Angola, em local a designar pela OAA, através de ações de forma-ção profissional específicas”. Porém, “orientadas por advogados portugue-ses que, para tal, se deslocarão a esse país, em condições a acordar pontu-almente entre as partes outorgantes”, não obstante as partes outorgantes se comprometerem a “desenvolver as diligências necessárias à criação e dis-ponibilização de mecanismos para for-mação ‘on-line’”.O acordo visava igualmente “definir a prestação de serviços, sem caráter de permanência, em Portugal e em Angola, por advogados regularmente inscritos” nas duas ordens de advogados, ainda que, naturalmente, os advogados tives-sem de estar “sujeitos às condições de exercício e regras deontológicas aplicá-veis aos advogados inscritos na ordem dos advogados do país de acolhimen-to, designadamente as respeitantes ao segredo profissional, incompatibilida-des, relações entre colegas, conflito de interesses e publicidade profissional”.Esta colaboração ao nível da prestação

de serviços, em Portugal e em Angola, por advogados é, porém, uma necessi-dade que se compreende, sobretudo quanto a Portugal, dadas as relações económicas crescentes com aquele país de expressão portuguesa, ou não fosse verdade que há, hoje, em Angola, mais de duas mil empresas de capital portu-guês a operar e, registadas a exportar para aquele mercado, cerca de oito mil empresas nacionais.

antónio Marinho Pinto mostrou-se surpreendidocom a não ratificação, mas recusou comentar

O certo é que o teor do protocolo não terá sido objeto de suficiente debate entre os advogados angolanos inscritos na OAA antes de ser assinado, soube a “Vida Judiciária”, nomeadamente entre aqueles que têm assento nos órgãos da respetiva Ordem. E a decisão de sus-pender a sua eficácia e de remeter para a Assembleia Geral da OAA a análise e ratificação deste protocolo foi mesmo tomada pelo Conselho Geral da OAA, o que consta e pode ser verificado pela leitura do despacho nº 32/AO-B/2011, a que a “Vida Judiciária” teve acesso.“O Bastonário ouviu os representantes da OAA e um número expressivo de as-sociados sobre o teor do referido proto-colo e conclui que existem, no seio da classe, interpretações acentuadamente divergentes sobre algumas das [suas] cláusulas”, lê-se no referido despacho datado de 13 de dezembro de 2011.Tomada a decisão, a Assembleia Geral da OOA reuniu no passado dia 20 de Ja-neiro para esse efeito, assim como para

Protocolo de cooperação foi chumbado em Assembleia Geral da Ordem em Angola

ordem dos advogados de angola quebra protocolo com advogados portugueses

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eM foCoVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201210

debater vários outros temas. A criação de uma tabela mínima de honorários, o estado da Justiça em Angola e a sua re-forma e as eleições, o congresso de ad-vogados de língua portuguesa que irá ter lugar em Maio e as eleições para o tri-énio 2012-2014 na própria OAA consta-vam igualmente da ordem de trabalhos. Certo é que, quanto ao protocolo cele-brado entre a OOA e a OAP, o mesmo não foi ratificado, apurou a “Vida Eco-nómica” junto de fonte da OOA.A “Vida Económica” tentou obter um comentário do bastonário da OAA, Ma-nuel Vicente Inglês Pinto, mas, até ao fe-

cho desta edição, não foi possível obter qualquer comentário.Igualmente contactado pela “Vida Eco-nómica”, o bastonário da OOP, António Marinho Pinto, mostrou-se surpreendi-do com a não ratificação e consequente suspensão da eficácia do referido pro-tocolo, celebrado em Lisboa a 15 de no-vembro de 2011, mas preferiu não fazer, para já, qualquer comentário. Limitou-se a afirmar: “a Ordem dos Advogados de Angola ainda não me comunicou nada e não posso fazer qualquer co-mentário sem analisar a situação”.Ainda assim, no protocolo assinado com a OAA a Ordem dos Advogados Portugueses (OAP) assume de forma

clara que, de acordo com os seus pró-prios estatutos, aprovados pela Lei n.º 15/2005, de 26 de Janeiro, são, entre outras, atribuições da OAP “defender o Estado de Direito e os direitos, liberda-des e garantias dos cidadãos e colaborar na administração da justiça, zelar pela função social, dignidade e prestígio da profissão de advogado, promovendo a formação inicial e permanente dos advogados e o respeito pelos valores e princípios deontológicos, promover o acesso ao conhecimento e aplicação do direito e contribuir para o desenvol-vimento da cultura jurídica e aperfeiço-

amento da elaboração do direito”. Daí também o interesse na assinatura deste acordo com os advogados angolanos.

advogados angolanos elegem novo bastonário em abril

O atual bastonário da Ordem dos Advo-gados de Angola, Manuel Vicente Inglês Pinto, vai cessar funções em Abril. Para o dia 26 daquele mês está a marcada a assembleiageral eleitoral que deve-rá eleger um novo titular do cargo. De acordo com o site da OAA, até novem-bro de 2011 havia 813 advogados ins-critos (520 homens e 293 mulheres) e 1109 advogados estagiários.

Para já, são apenas conhecidos como candidatos Hermenegildo Cachimbom-bo e Miguel Faria de Bastos, mas é de admitir que surjam mais candidaturas, uma vez que o prazo legal para o efei-to decorre entre 23 de fevereiro e 23 de março de 2012.A Ordem dos Advogados de Ango-la, proclamada aos 20 de setembro de 1996, no Palácio dos Congresso em Luanda, é única em todo o espa-ço territorial angolano para a classe profissional dos advogados e a advo-cacia naquele país, recorde-se, é uma “profissão liberal” ou “livre”, inserida

num sistema de organização do tipo “europeu continental”, em que as fun-ções regulatórias e de disciplina com-petem à Ordem dos Advogados de Angola, enquanto corporação profis-sional pública. Só os advogados e advogados estagi-ários com inscrição ou registo em vi-gor na Ordem dos Advogados podem, em todo o território nacional e perante qualquer jurisdição, instância, autori-dade ou entidade pública ou privada, praticar atos de consultoria, represen-tação e patrocínio judiciário próprios da profissão. A inscrição na Ordem é, portanto, obrigatória e requisito para o exercício da profissão.

Contactado pela “Vida Judiciária”, o bastonário da Ordem dos Advogados de Portugal, António Marinho Pinto, mostrou-se surpreendido com a não ratificação e consequente suspensão da eficácia do referido protocolo, celebrado em Lisboa a 15 de novembro de 2011, mas preferiu não fazer qualquer comentário. Limitou-se a afirmar: “a Ordem dos Advogados de Angola ainda não me comunicou nada e não posso fazer qualquer comentário sem analisar a situação”.

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atualidadeS VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 11

No final do 2011, o Governo come-çou a preparar a revisão do valor dos imóveis com avaliações ante-

riores a 2004, estimando-se um aumento considerável do IMI. Esta revisão vai incidir sobre 70% dos prédios urbanos em Portugal, devendo estar concluída em 2012. Os prédios em questão são aqueles que têm avaliações anteriores a 2004, ano em que entraram em vigor as novas regras de avaliação dos prédios urbanos. As alterações devem co-meçar a ter impacto na receita fiscal, em sede de IMI, no próximo ano de 2013, embora as receitas apenas refletirão a totalidade da alteração das avaliações a partir do fim de 2014, na medida em que o aumento anual do IMI não poderá ser superior a 75 euros em 2013 e 2014. Os novos valores patrimoniais dos prédios já começaram, entretanto, a ser comunica-dos aos proprietários e, nalguns casos, as subidas são significativas. Há situações em que o valor patrimonial tributário duplica e noutras em que aumenta mais do que seis vezes. De referir que as novas regras que definem a reavaliação geral dos imó-veis dispensam os peritos de se desloca-rem ao local, para verificarem o estado dos prédios e confirmarem as informações de

que dispõem. Há, por isso, quem enten-da que o “Fisco” não está a ter em conta factores específicos como o estado de conservação dos imóveis nas avaliações. Todavia, na opinião de Silvério Mateus, um dos pais da reforma da tributação do património em 2003, a não ser que se ve-rifiquem erros nos dados que servem de base à avaliação, o melhor é não contes-tar a avaliação, pois o resultado não será alterado e os proprietários ainda terão de pagar o custo da segunda avaliação, que nunca será inferior a € 204.O certo é que este processo de reavalia-ção tem implicações ao nível do IMI a pa-gar pelos proprietários, assim como nos processos de atualização das rendas, cuja proposta de lei está em fase de discussão no Parlamento. O aumento do valor pa-trimonial dos prédios vai fazer disparar as rendas antigas. Contudo, apesar de serem directamente afetados pelo resultado das reavaliações dos imóveis para efeitos de IMI, os inquilinos perdem agora a possibi-lidade de reclamar das decisões do Fisco e de pedir uma segunda avaliação. Este passará a ser um direito que apenas assiste aos proprietários, segundo a proposta de lei que altera a lei do arrendamento urba-no, em discussão no Parlamento.

reavaliações dos imóveis já começaram aumento das rendas antigas

Medidas de reforço da segurança dos meios de transporteCom a finalidade de promover a saúde e o bem-estar dos cidadãos, no âmbito dos transportes, a Assembleia da República recomenda ao Governo que reconheça a importância dos modos de transporte suave no contexto da mobilidade urbana. Assim, na revisão em curso do Código da Estrada, deverá ser consagrada a utilização do uso da bicicleta na rede viária e o estatuto do peão na via pública; deverá estabelecer-se, entre outros, a revogação da obrigatoriedade de o ciclista circular o mais próximo possível da berma, bem como a alteração de regras de prioridade, de forma a conferir maior importância à bicicleta em algumas situações particulares, assim como deverá prever-se a possibilidade de os velocípedes transportarem passageiros com idade inferior a 8 anos, desde que estejam equipados com cadeiras homologadas para o efeito.O regime de extinção das tarifas re-

guladas de venda de eletricidade a clientes finais com consumos em

baixa tensão normal foi aprovado em Con-selho de Ministros do passado dia 9 de Fe-vereiro. Este regime prevê mecanismos de salvaguarda dos clientes finais economi-camente vulneráveis, nomeadamente no que respeita ao relacionamento comercial e a tarifas e preços.De salinentar que as tarifas reguladas de venda de eletricidade a clientes finais com consumos em baixa tensão normal são extintas a partir de 1 de julho de 2012, para os clientes com potência contratada superior ou igual a 10,35 kVA, e a partir de

1 de janeiro de 2013, para os clientes com potência contratada inferior a 10,35 kVA.No mesmo Conselho de Ministros foi ainda aprovado o regime de extinção das tarifas reguladas de venda de gás natural a clien-tes finais com consumos anuais inferiores ou iguais a 10 000 m3. De acordo com o citado diploma, as tarifas reguladas de venda de gás natural a clien-tes finais com consumos anuais inferiores ou iguais a 10 000 m3 são extintas a par-tir de 1 de julho de 2012, para os clientes finais com consumos anuais superiores a 500 m3, e são extintas a partir de 1 de ja-neiro de 2013, para os clientes com consu-mos anuais inferiores ou iguais a 500 m3.

aprovado o regime de extinção das tarifas de venda de eletricidade e de gás

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atualidadeSVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201212

No passado dia 1 de fevereiro en-trou em vigor o Dec. Reg. Regio-nal n.º 3/2012/A, de 26.1, que re-

gulamenta o regime jurídico das farmá-cias de oficina, aprovado pelo Dec. Leg. Regional n.º 6/2011/A, de 10.3.O diploma ora aprovado define as con-dições gerais e específicas de abertura e transferências de farmácias, o horário de funcionamento, a dispensa e entrada de medicamentos ao domicílio e pela in-ternet, os serviços farmacêuticos a pres-tar pelas farmácias e a transformação dos postos farmacêuticos em farmácias.Assim, presentemente, a abertura de novas farmácias obedece às seguintes condições cumulativas:- Capitação mínima de 3500 habitan-tes por farmácia aberta ao público no município, com exceção das ilhas com um só município e uma só farmácia, em que a capitação mínima é de 2500 habi-tantes por farmácia, salvaguardando-se sempre a possibilidade de duas farmá-cias por ilha;- Distância mínima de 250 m entre far-mácias, contados, em linha reta, dos li-mites exteriores das farmácias;- Distância mínima de 250 m entre a farmácia e uma extensão de saúde, um centro de saúde ou um estabelecimen-to hospitalar, contados, em linha reta,

dos respetivos limites exteriores, salvo em localidades com menos de 3000 habitantes. O horário de funcionamen-to das farmácias abrange os períodos de funcionamento diário semanal e os turnos de serviço permanente, de regi-me de reforço e de regime de disponibi-lidade. O proprietário da farmácia deve assegurar o cumprimento do horário de funcionamento.De referir que o período de funciona-mento semanal das farmácias de oficina que não façam turnos de serviço perma-nente ou de regime de disponibilidade tem o limite mínimo de 50 horas. Já o período de funcionamento semanal das farmácias de oficina em turno de regime de disponibilidade tem o limite mínimo de 44 horas.Estas farmácias podem fixar um período de funcionamento diário que lhes per-mita estar abertas vinte e quatro horas por dia, todos os dias da semana.A farmácia de turno de serviço perma-nente mantém-se em funcionamento, ininterruptamente, desde a hora de abertura até à hora de encerramento do dia seguinte. A farmácia de turno de regime de reforço mantém-se em fun-cionamento até às 22 horas, sem preju-ízo de encerramento à hora de almoço quando o período de funcionamento

definido o preveja. A farmácia de tur-no de regime de disponibilidade tem de assegurar que um farmacêutico, um técnico ou um técnico auxiliar de farmá-cia está disponível para atender o públi-co que o solicite, em caso de urgência.Nos municípios com menos de 20 000 habitantes tem de existir sempre uma farmácia de turno de regime de dispo-nibilidade entre a hora de encerramen-to normal e a hora de abertura normal do dia seguinte.Nos municípios com mais de 20 000 habitantes ou com serviço de urgên-cia hospitalar tem de existir sempre uma farmácia de turno de serviço per-manente.Nos municípios com mais de 50 000 ha-bitantes tem de existir sempre uma far-mácia de turno de serviço permanente e uma farmácia de turno de regime de reforço pelo menos até às 22 horas.Nos medicamentos sujeitos a recei-ta médica dispensados não se verifi-ca qualquer acréscimo do preço pelo funcionamento da farmácia de turno. Fora destes casos, o funcionamento da farmácia por turnos pode originar um acréscimo no pagamento, sendo o valor máximo fixado por portaria do membro do Governo Regional competente em matéria de saúde.

açores – regulamentação das farmácias de oficina

De acordo com as alterações in-troduzidas ao regime jurídico das obras em prédios arrenda-

dos pela proposta de lei aprovada em Conselho de Ministros do passado dia 9 de fevereiro, a possibilidade de denún-cia do contrato de arrendamento para obras profundas passa a ser feita me-diante mera comunicação ao arrenda-tário, deixando de ser necessário o re-curso à. ação judicial. Todavia, verificando-se que há litígio fica constitucionalmente salvaguardada a a intervenção do tribunal através de

um processo que procurará ser bastante célere. Importa referir que nos contratos de arrendamento celebrados em data anterior a 1990, o senhorio fica obrigado ao realojamento se o arrendatário tiver idade igual ou superior a 65 anos ou se tiver deficiência com grau comprovado de incapacidade superior a 60%. Nos demais casos, se não houver acordo, é devida indemnização. Esta proposta de lei vem adequar este regime das obras à reforma do regime jurídico do arrenda-mento urbano, cuja proposta de lei foi já apresentada à Assembleia da República.

regime das obras em prédios arrendados sofre alterações

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atualidadeS VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 13

O Governo vai brevemente intro-duzir alterações nos regimes de rendas sociais e apoiadas, sendo

que a alteração dos critérios de atribui-ção destes apoios vai implicar, necessa-riamente, atualizações das rendas.Segundo o Ministério do Ambiente, Mar e Ordenamento do Território, o Governo está a fazer uma avaliação do regime de renda apoiada com o objetivo de proce-der a uma revisão dos critérios de atribui-ção da habitação social.O Executivo pretende salvaguardar as si-tuações em que se tenha verificado um aumento significativo da renda sempre que se constate que as famílias não dis-põem de um rendimento que permita responder a essa despesa ou que a casa não reúna condições de habitabilidade que justifiquem o aumento.Atualmente, a renda média das habi-tações sociais (entre rendas sociais e apoiadas) de todas as entidades públi-cas – câmaras municipais, Segurança Social, Instituto de Habitação e Reabili-tação Urbana (IHRU) e Regiões Autóno-mas – é de 47 euros, segundo dados de 2010 recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).Importa ainda referir que o Ministério da Solidariedade e Segurança Social tem

reunido com o setor bancário para dis-ponibilização de casas com o valor das rendas 30% inferior ao do mercado livre. A medida, recentemente anunciada pelo secretário de Estado da Segurança Social, ainda não está concluída e tem como principais destinatários jovens ca-sais ou famílias de classe média que não se encontram na tipologia com direito a habitação social, mas também não têm rendimentos suficientes para aquisição de casa própria ou arrendamento no mercado livre.

Habitação social. Governo vai aumentar rendas

Por Acórdão do Tribunal Constitucio-nal n.º 612/2011, de 24 de Janeiro, foi declarada a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, dos artigos 14.º, n.º 1, 47.º, n.º 2, alínea a), e 58.º do De-creto-Lei n.º 307/2007, de 31 de Agosto (estabelece o regime jurídico das far-mácias) na medida em que impõem às entidades do sector social que, no desempenho de funções próprias do seu escopo, constituam sociedades co-merciais para acesso à propriedade das farmácias, por violação do princípio da

proibição do excesso ínsito no princípio do Estado de Direito (consagrado no artigo 2.º da Constituição), conjugado com o artigo 63.º, n.º 5, da Constituição.Para o Tribunal Constitucional, a nor-ma que obriga as entidades do setor social a criarem sociedades comerciais para explorarem farmácias, a menos que seja para venda ao público, é in-constitucional.O Tribunal Constitucional analisou a regra que determina que as farmácias podem ser detidas por pessoas singu-

lares ou sociedades comerciais, o que excluiria, por exemplo, as entidades do setor social, que incorriam em penaliza-ções pecuniárias se não adequassem a sua estrutura a esse preceito, conside-rando-o inconstitucional.Todavia, estas entidades do setor social, apesar de não precisarem de constituir sociedades comerciais para vender me-dicamentos a associados ou pensionis-tas, terão de o fazer para venderem me-dicamentos ao público em geral.

entidades da área social podem ser proprietárias de farmácias

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atualidadeSVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201214

Face à atualidade do tema, transcreve-mos nesta edição a proposta de altera-ção do atual regime do arrendamento:

Proposta de lei nº 38/Xii

exposição de MotivosA presente proposta de lei inscreve-se num am-plo e profundo conjunto de reformas centrado na aposta clara do XIX Governo Constitucional na dinamização do mercado de arrendamento, na redução do endividamento das famílias e do desemprego, na promoção da mobilidade das pessoas, na requalificação e revitalização das cidades e na dinamização das atividades económicas associadas ao setor da construção.A presente proposta de lei concretiza as medi-das vertidas nas alíneas i) a iv) do ponto 6.1. e nas alíneas ii) e iii) do ponto 6.2. do Memorando de Entendimento celebrado entre Portugal e a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, bem como na parte III, relativa às «Finanças Públicas e Cresci-mento», do Programa do XIX Governo Constitu-cional, que prevêem a preparação de legislação em matéria de arrendamento urbano.No contexto abrangente dos objetivos da refor-ma, o mercado de arrendamento, bem como a reabilitação urbana, constituem domínios es-tratégicos e essenciais, cuja estreita conexão se afigura indiscutível e que, por isso, reclamam um tratamento integrado. Em decorrência, a presente iniciativa legislativa articula-se ainda com a aprovação, pelo Governo, no passado mês de setembro, da Proposta de Lei nº 24/XII, que consagra medidas destinadas a agilizar e a dinamizar a reabilitação urbana.A procura crescente de oferta de arrendamento e a ausência de resposta suficiente e a preços de mercado acessíveis demonstram que a revisão do regime do arrendamento urbano, se já era urgente há várias décadas, é, hoje, prioritária.Por outro lado, os dados provisórios dos Censos 2011 dão conta de que existem cerca de 12,5% de alojamentos vagos em Portugal, o que revela que existe uma margem de crescimento para o mercado de arrendamento.Se a reforma do arrendamento de 2006, apro-vada pela Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, in-troduziu alterações consideráveis nos contratos novos, não logrou, no que concerne aos arren-damentos antigos, atingir os resultados a que se propôs, o que se justificará, em parte, pela exces-siva complexidade do regime de atualização de rendas então criado.A reforma do regime do arrendamento urbano que agora se propõe procura encontrar solu-ções simples, assentes em quatro dimensões essenciais: (i) alteração ao regime substantivo, vertido no Código Civil; (ii) revisão do sistema de transição dos contratos antigos para o novo regime; (iii) agilização do procedimento de des-

pejo; e (iv) melhoria do enquadramento fiscal.O objetivo da presente reforma é claro: criar um verdadeiro mercado de arrendamento, que, em conjunto com o impulso à reabilitação urbana, possa oferecer aos portugueses soluções de habitação mais ajustadas às suas necessidades, menos consumidoras dos seus recursos – e, por isso, também promotoras da poupança – e que fomentem a sua mobilidade, permitindo-lhes mais facilmente encontrar emprego.Assim, no que respeita ao regime substantivo, as principais alterações respeitam aos contratos de arrendamento para habitação e estão vertidas em três grandes linhas de intervenção.Por um lado, no que concerne à duração dos contratos, confere-se maior liberdade às partes, promovendo o aparecimento de contratos de duração variada, nomeadamente mais curtos, mais ajustados às necessidades do arrendatário e do senhorio. As partes passam a poder livre-mente estipular a duração dos contratos para habitação, não estando sujeitas a um prazo mí-nimo. Todavia, se as partes nada estipularem, os contratos consideram-se celebrados pelo prazo de dois anos.Por outro lado, no que respeita ao cumprimento da obrigação de pagamento de renda, reforça-se o mecanismo de resolução do contrato de ar-rendamento quando o arrendatário se encontre em mora, permitindo uma mais rápida cessação do contrato e consequente desocupação do lo-cado. Neste sentido, prevê-se a faculdade de o senhorio resolver o contrato após dois meses de não pagamento ou atraso de pagamento da renda, comunicando-o ao arrendatário. No mês seguinte, e por uma única vez em relação a esse contrato, o arrendatário pode pagar a renda em atraso, caso em que a resolução fica sem efeito. Se o arrendatário não pagar, terá de desocupar o locado sem qualquer outro prazo. O fundamen-to de resolução do contrato de arrendamento no caso de mora é ainda alargado às situações de atrasos reiterados no pagamento da renda, superiores a oito dias, quando ocorram por qua-tro vezes, seguidas ou interpoladas, num perío-do de 12 meses. Com esta alteração, obvia-se à manutenção de contratos em que a confiança entre as partes tenha sido quebrada por reite-radas situações de incumprimentos, ainda que, isoladamente, pouco significativos.Por outro lado, ainda, e tendo por fito promover a reabilitação do edificado português, agiliza-se o procedimento de denúncia do contrato de arrendamento celebrado por duração indeter-minada quando o senhorio pretenda proceder à demolição ou realização de obra de remode-lação ou restauro profundos, que impliquem a desocupação do locado, o qual passa a ser efe-tuado por mera comunicação. Em contrapartida, prevê-se a responsabilização severa do senhorio que, após a denúncia do contrato nestes termos, não execute as correspondentes obras.O procedimento de denúncia por mera comu-

nicação do contrato celebrado por duração in-determinada é igualmente aplicado às situações em que o senhorio necessite do locado para ha-bitação pelo próprio ou pelos seus filhos.Relativamente à livre denúncia, pelo senho-rio, dos contratos de duração indeterminada, procede-se à redução, para dois anos, do prazo mínimo para a respetiva comunicação, em con-sonância com o prazo supletivo de duração dos contratos com prazo certo.No que respeita aos contratos celebrados an-tes da reforma introduzida pelo Novo Regime do Arrendamento Urbano, aprovado pela Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, introduzem-se al-terações significativas.Na linha da Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, entendeu-se adequado manter a distinção en-tre, por um lado, as normas transitórias aplicá-veis aos contratos habitacionais celebrados na vigência do Regime do Arrendamento Urbano (RAU), aprovado pelo Decreto-Lei nº 321-B/90, de 15 de outubro, e aos contratos não habita-cionais celebrados depois do Decreto-Lei nº 257/95, de 30 de setembro, e, por outro, as apli-cáveis aos contratos habitacionais celebrados antes da vigência do RAU e aos contratos não habitacionais celebrados antes do Decreto-Lei nº 257/95, de 30 de setembro.Volvidos mais de cinco anos sobre a entrada em vigor da Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, afigu-ra-se justificada uma aproximação do regime de tais contratos antigos ao regime aprovado por aquela lei para os novos contratos.Nesta medida, quanto aos contratos habitacio-nais celebrados na vigência do RAU e aos con-tratos não habitacionais celebrados depois do Decreto-Lei nº 257/95, de 30 de setembro, pas-sa a prever-se a possibilidade de livre denúncia, pelo senhorio, dos contratos celebrados por du-ração indeterminada nos mesmos termos apli-cáveis aos novos contratos. Esta regra apenas é excecionada quando o arrendatário tenha idade igual ou superior a 65 anos ou deficiência com grau de incapacidade superior a 60%, em con-sonância com idêntica proteção já conferida, e que se mantém, relativamente à denúncia para habitação do senhorio.Relativamente aos contratos habitacionais ce-lebrados antes da vigência do RAU e aos con-tratos não habitacionais celebrados antes do Decreto-Lei nº 257/95, de 30 de setembro, não obstante os dados provisórios dos Censos 2011 darem nota de que, em dez anos, o número de contratos de arrendamento celebrados antes de 1990 decresceu de 430 mil para 255 mil, verifica-se que tais contratos representam ainda 33% do total de arrendamentos em vigor em 2011, sen-do que 40% dos mesmos têm rendas inferiores a € 50, em muitos casos sem qualquer justifica-ção de ordem social. Nesta medida, entende-se justificado intervir, tratando separadamente as situações que devem ainda ser salvaguardadas, daquelas que, por não justificarem uma especial

arrendamento urbano – proposta de alteração

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atualidadeS VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 15

proteção do ponto de vista social, devem passar a regular-se integralmente, num curto período de tempo, pelo novo regime.Reconhecendo a excessiva complexidade e ineficácia do regime de atualização de rendas criado pela reforma de 2006, opta-se agora pela promoção do diálogo entre as partes, que deve-rão procurar alcançar um acordo quanto à ma-nutenção do contrato, salvaguardando sempre os casos de arrendatários com carência econó-mica e/ou idade igual ou superior a 65 anos ou deficiência com grau de incapacidade superior a 60%, nos arrendamentos para habitação, e as microentidades, nos arrendamentos para fins não habitacionais.Neste sentido, cria-se um mecanismo de nego-ciação da renda, a iniciar pelo senhorio, que deve propor o valor de atualização da renda e o tipo e a duração do contrato que pretende. Por sua vez, o arrendatário pode responder aceitando a proposta, contrapropondo nova renda, tipo e duração do contrato, ou denunciando o con-trato de arrendamento.Assim sendo, nos contratos para habitação, se o arrendatário aceitar a proposta, o valor da renda é atualizado, considerando-se o contrato cele-brado por prazo certo, por cinco anos, a menos que as partes acordem noutra duração.Caso o arrendatário apresente uma contrapro-posta, se o senhorio aceitar o valor da renda mas não houver acordo quanto ao tipo e/ou à dura-ção do contrato, o contrato considera-se sem-pre celebrado por prazo certo, por cinco anos.Se o senhorio não aceitar a renda contrapropos-ta pelo arrendatário, pode denunciar o contrato, pagando a este uma indemnização correspon-dente a cinco anos do valor médio das rendas propostas por cada um deles, a qual é agravada se o acordo se frustrar por pequenas margens. Prevê-se ainda que, havendo lugar a denúncia, o arrendatário deve desocupar o locado num prazo de sete meses, o qual poderá ser elevado para 13 meses caso haja crianças ou estudantes no agregado familiar do arrendatário. O senho-rio pode, em alternativa, optar pela atualização da renda, determinada de acordo com o valor patrimonial tributário do locado, caso em que o contrato se considera celebrado por prazo certo, por cinco anos. Salvaguarda-se, assim, a hipótese de o senhorio não ter disponibilidade financeira para o pagamento da indemnização.O arrendatário que, face ao procedimento de-sencadeado pelo senhorio, opte pela denúncia do contrato de arrendamento, deve desocupar o locado em três meses, não havendo, nesse caso, lugar a atualização da renda ou ao recebimen-to de indemnização pela cessação do contrato.O arrendatário, na sua resposta ao processo de atualização da renda desencadeado pelo senho-rio, pode também invocar e comprovar que o seu agregado familiar tem um rendimento anual bruto corrigido (RABC) inferior a cinco retribui-ções mínimas nacionais anuais (RMNA), caso em que a atualização da renda corresponderá, du-rante um período transitório de cinco anos, a um máximo de 25% ou de 10% do RABC do agre-gado familiar do arrendatário, consoante o ren-

dimento do agregado seja igual ou superior ou inferior a € 500 mensais, sempre com o limite de 1/15 do valor do locado, determinado de acordo com o valor patrimonial tributário do imóvel. O valor máximo em causa corresponderá a uma taxa de esforço que se entendeu adequada para afetação à habitação do agregado familiar do arrendatário. Durante este período, salvo acor-do entre as partes, não pode ocorrer a cessação do contrato ou a alteração do tipo de contrato. Findo o período de cinco anos, ou no decurso do mesmo no caso de o rendimento do agrega-do familiar do arrendatário elevar-se para valo-res iguais ou superiores a cinco RMNA, a renda passa a poder ser atualizada nos termos gerais.Por sua vez, caso o arrendatário, na sua resposta, invoque e comprove ter idade igual ou superior a 65 anos ou deficiência com grau de incapaci-dade superior a 60%, poderá haver atualização de renda pelo valor negociado ou pelo valor do locado determinado de acordo com o valor patrimonial tributário do imóvel, excepto se se verificar simultaneamente uma situação de ca-rência económica. Atendendo, contudo, a razões de mobilidade associadas à idade, e salvo acor-do entre as partes, não pode ocorrer a cessação do contrato ou a alteração do tipo de contrato.As razões de mobilidade associadas à idade jus-tificam também que, pretendendo proceder à demolição ou à realização de obra de remode-lação ou restauro profundos que impliquem a desocupação do locado, o senhorio possa de-nunciar o contrato de arrendamento celebrado por duração indeterminada por mera comuni-cação, mas, no caso de arrendatário com idade igual ou superior a 65 anos ou deficiência com grau comprovado de incapacidade superior a 60%, assegurando o respetivo realojamento no mesmo concelho, em condições análogas às que aquele detinha. Nos demais casos, mantém-se o regime supletivo do pagamento da indemni-zação correspondente.A presente lei procede ainda à alteração do re-gime da transmissão dos contratos de arren-damento para habitação antigos, pondo fim à possibilidade de transmissões sucessivas e à transmissão para quem tenha casa própria ou arrendada no mesmo concelho, por um lado, e permitindo, em alguns casos, a transição integral para o novo regime através da alteração do tipo de contrato, por outro lado.Assim, sempre que a transmissão ocorra para as-cendente que viva com o arrendatário e tenha idade inferior a 65 anos, o contrato considera-se celebrado por prazo certo de dois anos, salvo ou-tro acordo das partes. O mesmo sucede quan-do, transmitindo-se o direito ao arrendamento para menor que viva com o primitivo arrenda-tário, aquele perfizer 18 anos ou, estando ainda a estudar, 26 anos.No que respeita aos arrendamentos para fins não habitacionais, consagra-se um regime es-pecial apenas para as microentidades, atenden-do à importância que as mesmas assumem no tecido económico português, o que justificou a criação de um regime especial pelo legislador português. Nesta medida, prevê-se um regime

transitório de cinco anos, durante o qual apenas pode ser actualizada a renda, por referência ao valor do locado. Nesse período, salvo acordo entre as partes, não pode ocorrer a cessação do contrato ou a alteração do tipo de contrato.No que respeita ao regime processual, reconhe-ce-se a necessidade e a premência de reforçar os mecanismos que garantam aos senhorios meios para reagir perante o incumprimento do contra-to, assim tornando o mercado de arrendamen-to e o investimento na reabilitação urbana para colocação no mercado de arrendamento uma verdadeira opção para os proprietários e, mais relevantemente ainda, uma opção segura. Esta medida, concretizada mediante a agilização do procedimento de despejo, é fundamental para recuperar a confiança dos proprietários.Até à presente data, o senhorio tinha de recorrer a um processo de despejo apresentado junto de um tribunal. Mesmo dispondo de um título exe-cutivo nos termos previstos na Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, verificou-se que o tempo médio de duração da correspondente ação executiva é ainda de dezasseis meses. Tal longa espera, mui-tas vezes acompanhada pelo não recebimento das rendas, revelou ser um motivo de desincen-tivo para a colocação de imóveis no mercado do arrendamento pelos proprietários, ou ainda para a elevação do valor da renda como forma de controlo do risco.Para tornar o arrendamento num contrato mais seguro e com mecanismos que permitam rea-gir com eficácia ao incumprimento, é criado um novo procedimento extrajudicial que permite que a desocupação do imóvel seja realizada de forma célere e eficaz, num prazo médio estima-do de três meses, no caso de incumprimento do contrato por parte do arrendatário.Promove-se, por esta via, a confiança do se-nhorio no funcionamento ágil do mercado de arrendamento e o investimento neste setor da economia.O mecanismo especial de despejo aplica-se à cessação do contrato por revogação, à caducida-de do contrato de arrendamento pelo decurso do prazo, à cessação do contrato por oposição à renovação, à cessação do contrato de arren-damento por denúncia livre pelo senhorio, à cessação do contrato de arrendamento por de-núncia para habitação do senhorio ou filhos ou para obras profundas, à cessação do contrato de arrendamento por denúncia pelo arrendatário, bem como à resolução do contrato de arrenda-mento por não pagamento de renda por mais de 2 meses ou por oposição pelo arrendatário à realização de obras coercivas.O procedimento especial de despejo é o meio adequado para efetivar a cessação do arrenda-mento, independentemente do fim a que se destina, quando o arrendatário não desocupe o locado na data prevista na lei ou na data prevista por convenção entre as partes. Para assegurar a tramitação do procedimento especial de despe-jo em todo o território nacional é criado junto da Direcção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ) o Balcão Nacional do Arrendamento (BNA). Em síntese, o procedimento especial de

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despejo segue os seguintes trâmites: a) o se-nhorio apresenta junto do BNA, diretamente ou através de profissional do foro, o requerimento de despejo; b) o BNA promove a notificação ao inquilino; c) se o inquilino não deduzir oposição ao pedido de despejo, o balcão emite título de desocupação do locado, podendo o senhorio promover a efetivação do mesmo, apenas ha-vendo lugar à intervenção de tribunal, com ca-rácter urgente, para a autorização de entrada no domicílio do arrendatário caso este se recuse a desocupar o imóvel ou incumpra o acordo de desocupação firmado com o senhorio; d) se o arrendatário deduzir oposição ao pedido de des-pejo por não verificação do fundamento invoca-do pelo senhorio, há lugar à intervenção do juiz, num processo judicial especial e urgente, mas apenas nos casos em que é prestada caução, paga a taxa de justiça e, no decurso do mesmo, efetuado o depósito das rendas vencidas. Tendo em consideração que o procedimento especial de despejo se aplica aos casos de cessação do contrato de arrendamento de menor litigiosi-dade, nos casos em que o arrendatário deduz oposição ao requerimento de despejo e o pro-cesso é distribuído ao juiz, da respetiva decisão judicial cabe recurso com efeito meramente de-volutivo. No âmbito do procedimento especial de despejo, o pedido de pagamento de renda, encargos ou despesas pode ser deduzido cumu-lativamente com o pedido de desocupação do locado. Evita-se, desta forma, a instauração em tribunal de duas Ações distintas: uma para efe-tivar o despejo e outra para obter o pagamen-to das rendas em atraso. Nos casos de consti-tuição de título para desocupação do locado em que não houve distribuição do processo ao juiz, prevê-se a possibilidade de o arrendatário impugnar, com efeito meramente devolutivo, o respetivo título, em caso de violação das normas relativas à comunicação da cessação do contra-to e à notificação do requerimento de despejo. Nos casos de oposição ao despejo, o juiz decide todas as questões referentes ao pedido de des-pejo apresentado no procedimento especial, de-vendo a decisão final incluir a autorização para a entrada imediata no domicílio do arrendatário, caso considere que o despejo deve ser efetiva-do. Evita-se, desta forma, o reenvio do processo ao tribunal quando o arrendatário se recuse a sair do locado. Por sua vez, a transferência para o arrendatário do ónus de impugnação do des-pejo, de prestação de caução e de pagamento da taxa de justiça no âmbito do procedimento especial visa dissuadir o uso deste procedimen-to apenas como meio dilatório para a efetivação do despejo. Em contrapartida, são sancionados todos os que, sem fundamento, promovam o procedimento especial de despejo. Encontram-se previstas algumas causas de suspensão do procedimento especial de despejo, nomeada-mente quando exista título de arrendamento ou de outro gozo legítimo do prédio, emanado do senhorio, ou título de subarrendamento ou de cessão da posição contratual, emanado do arrendatário. Tratando-se de arrendamento para

habitação, há lugar à suspensão das diligências executórias, quando se mostre, por atestado mé-dico que indique fundamentadamente o prazo durante o qual se deve suspender a execução, que a diligência põe em risco de vida a pessoa que se encontra no local, por razões de doença aguda. Por fim, o arrendatário pode requerer o diferimento da desocupação do locado, por razões sociais imperiosas, por um período de cinco meses. O diferimento de desocupação do locado para habitação é decidido de acordo com o prudente arbítrio do tribunal, devendo o juiz ter em consideração as exigências da boa fé, a circunstância de o arrendatário não dispor imediatamente de outra habitação, o número de pessoas que habitam com o arrendatário, a sua idade, o seu estado de saúde e, em geral, a situação económica e social das pessoas en-volvidas. Ao longo de todo o procedimento es-pecial de despejo é sempre garantido um grau de jurisdição. Para combater a informalidade e a economia paralela, estabelece-se que os con-tratos de arrendamento relativamente aos quais o senhorio se pretenda prevalecer deste meca-nismo têm de estar registados junto da admi-nistração fiscal, bem como cumpridas todas as obrigações tributárias relativas aos mesmos. Foi promovida a audição da Comissão Nacional de Protecção de Dados.

Assim: Nos termos da alínea d) do nº 1 do artigo 197º da Constituição, o Governo apresenta à Assem-bleia da República a seguinte proposta de lei:

artigo 1º objecto

A presente lei aprova medidas destinadas a di-namizar o mercado de arrendamento urbano, nomeadamente:a) Alterando o regime substantivo da locação, designadamente conferindo maior liberdade às partes na estipulação das regras relativas à dura-ção dos contratos de arrendamento;b) Alterando o regime transitório dos contratos de arrendamento celebrados antes da Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, reforçando a nego-ciação entre as partes e facilitando a transição dos referidos contratos para o novo regime num curto espaço de tempo;c) Criando um procedimento especial de despe-jo do local arrendado que permita a célere reco-locação daquele no mercado de arrendamento.

artigo 2º alteração ao Código Civil

Os artigos 1048º, 1055º, 1069º, 1083º, 1084º, 1087º, 1094º a 1098º, 1100º a 1103º, 1106º e 1110º do Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei nº 47 344, de 25 de novembro de 1966, e alterado pelos Decretos-Leis nos 67/75, de 19 de fevereiro, 201/75, de 15 de abril, 261/75, de 27 de maio, 561/76, de 17 de julho, 605/76, de 24 de julho, 293/77, de 20 de julho, 496/77, de 25 de novembro, 200-C/80, de 24 de junho, 236/80, de 18 de julho, 328/81, de 4 de de-

zembro, 262/83, de 16 de junho, 225/84, de 6 de julho, e 190/85, de 24 de junho, pela Lei nº 46/85, de 20 de setembro, pelos Decretos-Leis nos 381-B/85, de 28 de setembro, e 379/86, de 11 de novembro, pela Lei nº 24/89, de 1 de agosto, pelos Decretos-Leis nos 321-B/90, de 15 de uutubro, 257/91, de 18 de julho, 423/91, de 30 de outubro, 185/93, de 22 de maio, 227/94, de 8 de setembro, 267/94, de 25 de outubro, e 163/95, de 13 de julho, pela Lei nº 84/95, de 31 de agosto, pelos Decretos-Leis nos 329-A/95, de 12 de dezembro, 14/96, de 6 de março, 68/96, de 31 de maio, 35/97, de 31 de janeiro, e 120/98, de 8 de maio, pelas Leis nos 21/98, de 12 de maio, e 47/98, de 10 de agosto, pelo Decreto-Lei nº 343/98, de 6 de novembro, pe-las Leis nos 59/99, de 30 de junho, e 16/2001, de 22 de junho, pelos Decretos-Leis nos 272/2001, de 13 de outubro, 273/2001, de 13 de outubro, 323/2001, de 17 de dezembro, e 38/2003, de 8 de março, pela Lei nº 31/2003, de 22 de agos-to, pelos Decretos-Leis nos 199/2003, de 10 de setembro, e 59/2004, de 19 de março, pela Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, pelo Decreto-Lei nº 263-A/2007, de 23 de julho, pela Lei nº 40/2007, de 24 de agosto, pelos Decretos-Leis nos 324/2007, de 28 de setembro, e 116/2008, de 4 de julho, pelas Leis nos 61/2008, de 31 de outubro, e 14/2009, de 1 de abril, pelo Decre-to-Lei nº 100/2009, de 11 de maio, e pelas Leis nos 103/2009, de 11 de setembro, 9/2010, de 31 de maio, e 23/2010, de 30 de agosto, pas-sam a ter a seguinte redação:

«Artigo 1048º […] 1 - O direito à resolução do contrato por falta de pagamento da renda ou aluguer, quando for exercido judicialmente, caduca logo que o locatário, até ao termo do prazo para a con-testação da ação declarativa, pague, deposite ou consigne em depósito as somas devidas e a indemnização referida no nº 1 do artigo 1041º. 2 - O locatário só pode fazer uso da faculdade referida no número anterior uma única vez, com referência a cada contrato. 3 - […]. 4 - Ao direito à resolução do contrato por falta de pagamento da renda ou aluguer, quando for exercido extrajudicialmente, é aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto nos nos 3 e 4 do artigo 1084º.

Artigo 1055º […] 1 - […]: a) Seis meses, se o prazo de duração inicial do contrato ou da sua renovação for igual ou su-perior a seis anos; b) 60 dias, se o prazo de duração inicial do con-trato ou da sua renovação for igual ou superior a um ano e inferior a seis anos; c) 30 dias, se o prazo de duração inicial do con-trato ou da sua renovação for igual ou superior a três meses e inferior a um ano; d) Um terço do prazo de duração inicial do con-

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atualidadeS VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 17

trato ou da sua renovação, tratando-se de prazo inferior a três meses. 2 - A antecedência a que se refere o número an-terior reporta-se ao termo do prazo de duração inicial do contrato ou da sua renovação.

Artigo 1069º […] O contrato de arrendamento urbano deve ser celebrado por escrito.

Artigo 1083º […] 1 - […]. 2 - […]: a) […]; b) […]; c) O uso do prédio para fim diverso daquele a que se destina, ainda que a alteração do uso não implique maior desgaste ou desvaloriza-ção para o prédio;d) […]; e) A cessão, total ou parcial, temporária ou per-manente e onerosa ou gratuita do gozo do pré-dio, quando ilícita, inválida ou ineficaz perante o senhorio. 3 - É inexigível ao senhorio a manutenção do ar-rendamento em caso de mora igual ou superior a dois meses no pagamento da renda, encargos ou despesas que corram por conta do arrendatá-rio, ou de oposição por este à realização de obra ordenada por autoridade pública, sem prejuí-zo do disposto nos nos 3 a 5 do artigo seguinte. 4 - É ainda inexigível ao senhorio a manuten-ção do arrendamento no caso de o arrendatá-rio se constituir em mora superior a oito dias, no pagamento da renda, por mais de quatro vezes, seguidas ou interpoladas, num período de doze meses, com referência a cada contrato, não sendo aplicável o disposto nos nos 3 e 4 do artigo seguinte. 5 - É fundamento de resolução pelo arrendatá-rio, designadamente a não realização pelo se-nhorio de obras que a este caibam, quando tal omissão comprometa a habitabilidade do loca-do e, em geral, a aptidão deste para o uso pre-visto no contrato.

Artigo 1084º […] 1 - [Anterior nº 2]. 2 - A resolução pelo senhorio quando fundada em causa prevista nos nos 3 e 4 do artigo anterior, bem como a resolução pelo arrendatário operam por comunicação à contraparte onde fundamen-tadamente se invoque a obrigação incumprida.3 - A resolução pelo senhorio, quando ope-re por comunicação à contraparte e se funde na falta de pagamento da renda, encargos ou despesas que corram por conta do arrendatá-rio, nos termos do nº 3 do artigo anterior, fica sem efeito se o arrendatário puser fim à mora no prazo de um mês. 4 - O arrendatário só pode fazer uso da faculdade referida no número anterior uma única vez, com referência a cada contrato.

5 - Fica sem efeito a resolução fundada na opo-sição pelo arrendatário à realização de obra or-denada por autoridade pública se no prazo de um mês cessar essa oposição.

Artigo 1087º […] A desocupação do locado, nos termos do artigo 1081º, é exigível após o decurso de um mês a contar da resolução, se outro pra-zo não for judicialmente fixado ou acordado pelas partes.

Artigo 1094º […] 1 - […]. 2 - […]. 3 - No silêncio das partes, o contrato considera-se celebrado com prazo certo, pelo período de dois anos.

Artigo 1095º […] 1 - […]. 2 - O prazo referido nonúmero anterior não pode ser superior a 30 anos, considerando-se automaticamente reduzido ao referido limite quando o ultrapasse.3 - [Revogado].

Artigo 1096º […] 1 - O contrato celebrado com prazo certo reno-va-se automaticamente no seu termo e por pe-ríodos mínimos sucessivos de igual duração, se outros não estiverem contratualmente previstos. 2 - Qualquer das partes pode opor-se à renova-ção, nos termos dos artigos seguintes.

Artigo 1097º […] 1 - O senhorio pode impedir a renovação auto-mática do contrato mediante comunicação ao ar-rendatário com a antecedência mínima seguinte: a) 240 dias, se o prazo de duração inicial do con-trato ou da sua renovação for igual ou superior a seis anos; b) 120 dias, se o prazo de duração inicial do con-trato ou da sua renovação for igual ou superior a um ano e inferior a seis anos; c) 60 dias, se o prazo de duração inicial do con-trato ou da sua renovação for igual ou superior a seis meses e inferior a um ano; d) Um terço do prazo de duração inicial do con-trato ou da sua renovação, tratando-se de prazo inferior a seis meses. 2 - A antecedência a que se refere o número an-terior reporta-se ao termo do prazo de duração inicial do contrato ou da sua renovação.

Artigo 1098º […]1 - O arrendatário pode impedir a renovação au-tomática do contrato mediante comunicação ao senhorio com a antecedência mínima seguinte: a) 120 dias, se o prazo de duração inicial do con-

trato ou da sua renovação for igual ou superior a seis anos;b) 90 dias, se o prazo de duração inicial do con-trato ou da sua renovação for igual ou superior a um ano e inferior a seis anos; c) 60 dias, se o prazo de duração inicial do con-trato ou da sua renovação for igual ou superior a seis meses e inferior a um ano; d) Um terço do prazo de duração inicial do con-trato ou da sua renovação, tratando-se de prazo inferior a seis meses. 2 - A antecedência a que se refere o núme-ro anterior reporta-se ao termo do prazo de duração inicial do contrato ou da sua renovação. 3 - Sem prejuízo do disposto no número seguin-te, decorrido um terço do prazo de duração inicial do contrato ou da sua renovação, o arrendatário pode denunciá-lo a todo o tempo, mediante co-municação ao senhorio com a antecedência mí-nima seguinte: a) 120 dias do termo pretendido do contrato, se o prazo deste for igual ou superior a um ano; b) 60 dias do termo pretendido do contrato, se o prazo deste for inferior a um ano. 4 - Quando o senhorio impedir a renovação au-tomática do contrato, nos termos do artigo an-terior, o arrendatário pode denunciá-lo a todo o tempo, mediante comunicação ao senhorio com uma antecedência não inferior a 30 dias do ter-mo pretendido do contrato, salvo se este tiver entretanto caducado. 5 - A denúncia do contrato, nos termos dos nos 3 e 4, produz efeitos no final de um mês do calendário gregoriano, a contar da co-municação.6 - [Anterior nº 3].

Artigo 1100º […] 1 - Sem prejuízo do disposto no número seguin-te, após seis meses de duração efetiva do contra-to, o arrendatário pode denunciá-lo, indepen-dentemente de qualquer justificação, mediante comunicação ao senhorio com a antecedência mínima seguinte:a) 120 dias do termo pretendido do contrato, se, à data da comunicação, este tiver um ano ou mais de duração efetiva; b) 60 dias do termo pretendido do contrato, se, à data da comunicação, este tiver até um ano de duração efetiva. 2 - Quando o senhorio denunciar o contrato nos termos da alínea c) do artigo seguinte, o arrendatário pode denunciá-lo, independente-mente de qualquer justificação, mediante co-municação ao senhorio com antecedência não inferior a 30 dias do termo pretendido do con-trato, salvo se este tiver entretanto caducado. 3 - A denúncia do contrato, nos termos dos nú-meros anteriores, produz efeitos no final de um mês do calendário gregoriano, a contar da co-municação. 4 - À denúncia pelo arrendatário é aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto no nº 6 do artigo 1098º.

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atualidadeSVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201218

Artigo 1101º […] […]: a) […]; b) Para demolição ou realização de obra de re-modelação ou restauro profundos que obriguem à desocupação do locado;c) Mediante comunicação ao arrendatário com antecedência não inferior a dois anos sobre a data em que pretenda a cessação.

Artigo 1102º […] 1 - O direito de denúncia para habitação do se-nhorio depende do pagamento do montante equivalente a seis meses de renda e da verifica-ção dos seguintes requisitos: a) Ser o senhorio proprietário, comproprietário ou usufrutuário do prédio há mais de dois anos ou, independentemente deste prazo, se o tiver adquirido por sucessão; b) Não ter o senhorio, há mais de um ano, na área dos concelhos de Lisboa ou do Porto e seus limí-trofes, ou no respetivo concelho quanto ao resto do País, casa própria que satisfaça as necessida-des de habitação própria ou dos seus descen-dentes em 1º grau. 2 - [Revogado]. 3 - […].

Artigo 1103º […] 1 - A denúncia pelo senhorio com qualquer dos fundamentos previstos nas alíneas a) e b) do ar-tigo 1101º é feita mediante comunicação ao ar-rendatário com antecedência não inferior a seis meses sobre a data pretendida para a desocu-pação e da qual conste, de forma expressa e sob pena de ineficácia, o fundamento da denúncia. 2 - Quando a denúncia tiver o fundamento pre-visto na alínea b) do artigo 1101º, a comunicação referida no número anterior é acompanhada de declaração do município que ateste que foi ini-ciado procedimento de controlo prévio da ope-ração urbanística a efetuar no locado e que esta obriga à desocupação do mesmo. 3 - O senhorio que haja invocado o fundamen-to referido na alínea a) do artigo 1101º deve dar ao local a utilização invocada no prazo de três meses e por um período mínimo de dois anos. 4 - A invocação do disposto na alínea b) do ar-tigo 1101º obriga o senhorio, mediante acordo e em alternativa: a) Ao pagamento de uma indemnização corres-pondente a seis meses de renda; b) [Anterior alínea b) do nº 3]. 5 - Caso as partes não cheguem a acordo no pra-zo de 30 dias a contar da comunicação prevista no nº 1, aplica-se o disposto na alínea a) do nú-mero anterior. 6 - A indemnização devida pela denúncia deve ser paga no momento da entrega do locado. 7 - Salvo motivo não imputável ao senhorio, o não cumprimento do disposto no nº 3, bem como o não início da obra no prazo de seis me-ses, obriga o senhorio ao pagamento de uma in-demnização correspondente a 10 anos de renda.

8 - Da denúncia pelo senhorio não pode re-sultar uma duração total do contrato inferior a dois anos. 9 - [Anterior nº 8].

Artigo 1106º […] 1 - O arrendamento para habitação não cadu-ca por morte do primitivo arrendatário quando lhe sobreviva:a) Cônjuge com residência no locado; b) Pessoa que com ele vivesse em união de facto há mais de dois anos; c) Pessoa que com ele vivesse em economia co-mum há mais de dois anos. 2 - Nos casos previstos nas alíneas b) e c) do nú-mero anterior, a transmissão da posição de ar-rendatário depende de, à data da morte do ar-rendatário, o transmissário residir no locado há mais de um ano. 3 - Havendo várias pessoas com direito à trans-missão, a posição do arrendatário transmite-se, em igualdade de circunstâncias, sucessivamente para o cônjuge sobrevivo ou pessoa que, com o falecido, vivesse em união de facto, para o pa-rente ou afim mais próximo ou, de entre estes, para o mais velho ou para o mais velho de entre as restantes pessoas que com ele residissem em economia comum. 4 - O direito à transmissão previsto nos núme-ros anteriores não se verifica se o titular desse direito tiver outra casa, própria ou arrendada, na área dos concelhos de Lisboa ou do Porto e seus limítrofes, ou no respetivo concelho quanto ao resto do País, à data da morte do arrendatário. 5 - [Anterior nº 3].

Artigo 1110º […] 1 - […]. 2 - Na falta de estipulação, o contrato conside-ra-se celebrado com prazo certo, pelo período de cinco anos, não podendo o arrendatário de-nunciá-lo com antecedência inferior a um ano.»

artigo 3º alteração ao Código de Processo Civil

Os artigos 222º, 930º-B, 930º-C e 930º-D do Códi-go de Processo Civil, aprovado pelo Decreto-Lei nº 44 129, de 28 de dezembro de 1961, e altera-do pelo Decreto-Lei nº 47 690, de 11 de maio de 1967, pela Lei nº 2 140, de 14 de março de 1969, pelo Decreto-Lei nº 323/70, de 11 de julho, pela Portaria nº 439/74, de 10 de julho, pelos Decre-tos-Leis nos 261/75, de 27 de maio, 165/76, de 1 de março, 201/76, de 19 de março, 366/76, de 15 de maio, 605/76, de 24 de julho, 738/76, de 16 de outubro, 368/77, de 3 de setembro, e 533/77, de 30 de dezembro, pela Lei nº 21/78, de 3 de maio, pelos Decretos-Leis nos 513-X/79, de 27 de dezembro, 207/80, de 1 de julho, 457/80, de 10 de outubro, 224/82, de 8 de junho, e 400/82, de 23 de setembro, pela Lei nº 3/83, de 26 de Feve-reiro, pelos Decretos-Leis nos 128/83, de 12 de março, 242/85, de 9 de julho, 381-A/85, de 28 de setembro, e 177/86, de 2 de julho, pela Lei nº 31/86, de 29 de agosto, pelos Decretos-Leis nos

92/88, de 17 de março, 321-B/90, de 15 de ou-tubro, 211/91, de 14 de junho, 132/93, de 23 de abril, 227/94, de 8 de setembro, 39/95, de 15 de Fevereiro, 329-A/95, de 12 de dezembro, pela Lei nº 6/96, de 29 de Fevereiro, pelos Decretos-Leis nos 180/96, de 25 de setembro, 125/98, de 12 de maio, 269/98, de 1 de setembro, e 315/98, de 20 de outubro, pela Lei nº 3/99, de 13 de janeiro, pelos Decretos-Leis nos 375-A/99, de 20 de se-tembro, e 183/2000, de 10 de agosto, pela Lei nº 30-D/2000, de 20 de dezembro, pelos Decretos-Leis nos 272/2001, de 13 de outubro, e 323/2001, de 17 de dezembro, pela Lei nº 13/2002, de 19 de fevereiro, pelos Decretos-Leis nos 38/2003, de 8 de março, 199/2003, de 10 de setembro, 324/2003, de 27 de dezembro, e 53/2004, de 18 de março, pela Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, pelo De-creto-Lei nº 76-A/2006, de 29 de março, pelas Leis nos 14/2006, de 26 de abril, e 53-A/2006, de 29 de dezembro, pelos Decretos-Leis nos 8/2007, de 17 de janeiro, 303/2007, de 24 de agosto, 34/2008, de 26 de fevereiro, e 116/2008, de 4 de julho, pe-las Leis nos 52/2008, de 28 de agosto, e 61/2008, de 31 de outubro, pelo Decreto-Lei nº 226/2008, de 20 de novembro, pela Lei nº 29/2009, de 29 de junho, pelo Decreto-Lei nº 52/2011, de 13 de abril, e pela Lei nº 63/2011, de 14 de dezembro, passam a ter a seguinte redação:

«Artigo 222º […] […] 1.ª […]; 2.ª […]; 3.ª Ações de processo sumaríssimo, ações espe-ciais para cumprimento de obrigações pecuniá-rias emergentes de contratos e Ações no âmbito do procedimento especial de despejo; 4.ª […]; 5.ª […]; 6.ª […]; 7.ª […]; 8.ª […]; 9.ª […]; 10.ª […].

Artigo 930º-B […] 1 - […]: a) [Revogada]; b) […]. 2 - […]. 3 - […].4 - […]. 5 - […]. 6 - […].

Artigo 930º-C […] 1 - […]. 2 - O diferimento de desocupação do local arren-dado para habitação é decidido de acordo com o prudente arbítrio do tribunal, devendo o juiz ter em conta as exigências da boa fé, a circuns-tância de o executado não dispor imediatamen-te de outra habitação, o número de pessoas que habitam com o executado, a sua idade, o seu es-

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atualidadeS VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 19

tado de saúde e, em geral, a situação económica e social das pessoas envolvidas, só podendo ser concedido desde que se verifique algum dos se-guintes fundamentos: a) [Revogada]; b) Que, tratando-se de resolução por não paga-mento de rendas, a falta do mesmo se deve a carência de meios do executado, o que se pre-sume relativamente ao beneficiário de subsídio de desemprego, de valor igual ou inferior à re-tribuição mínima mensal garantida, ou de ren-dimento social de inserção; c) […]. 3 - No caso de diferimento, decidido com base na alínea b) do número anterior, cabe ao Fundo de Socorro Social do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social pagar ao exequente as ren-das correspondentes ao período de diferimento, ficando aquele sub-rogado nos direitos deste.

Artigo 930º-D […]1 - […]. 2 - […]. 3 - O juiz deve decidir do pedido de diferimen-to da desocupação por razões sociais no prazo máximo de 20 dias a contar da sua apresentação, sendo, no caso previsto na alínea b) do nº 2 do artigo anterior, a decisão oficiosamente comu-nicada, com a sua fundamentação, ao Fundo de Socorro Social do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social. 4 - O diferimento não pode exceder o prazo de cinco meses a contar da data do trânsito em jul-gado da decisão que o conceder. 5 - [Revogado].»

artigo 4º alteração à lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro Os artigos 9º, 10º, 14º, 15º, 26º, 28º a 36º, 50º a 54º, 57º e 58º da Lei nº 6/2006, de 27 de feverei-ro, passam a ter a seguinte redação:

«Artigo 9º […] 1 - […]. 2 - As cartas dirigidas ao arrendatário, na falta de indicação por escrito deste em contrário, devem ser remetidas para o local arrendado. 3 - […]. 4 - […]. 5 - […]. 6 - […].7 - A comunicação pelo senhorio destinada à cessação do contrato por resolução, nos termos do nº 2 do artigo 1084º do Código Civil, é efetu-ada mediante: a) Notificação avulsa; b) Contacto pessoal de advogado, solicitador ou agente de execução, sendo feita na pessoa do no-tificando, com entrega de duplicado da comuni-cação e cópia dos documentos que a acompa-nhem, devendo o notificando assinar o original; c) Escrito assinado e remetido pelo senhorio nos termos do nº 1, nos contratos celebrados por escrito em que tenha sido convencionado o do-micílio, caso em que é inoponível ao senhorio

qualquer alteração do local, salvo se este tiver autorizado a modificação.

Artigo 10º […] 1 - […]. 2 - O disposto no número anterior não se aplica às cartas que: a) Constituam iniciativa do senhorio para a tran-sição para o NRAU e atualização da renda, nos termos dos artigos 30º e 50º; ou b) Integrem título para pagamento de rendas, encargos ou despesas ou que possam servir de base ao procedimento especial de despejo, nos termos dos artigos 14º-A e 15º, respetivamente, salvo nos casos de domicílio convencionado nos termos da alínea c) do nº 7 do artigo anterior. 3 - […]. 4 - […]. 5 - Nos casos previstos nas alíneas a) e b) do nº 7 do artigo anterior, se:a) O destinatário da comunicação recusar a as-sinatura do original ou a receção do duplicado da comunicação e cópia dos documentos que a acompanhem, o advogado, solicitador ou agente de execução lavra nota do incidente e a comuni-cação considera-se efetuada no próprio dia face à certificação da ocorrência; b) Não for possível localizar o destinatário da co-municação, o senhorio remete carta registada com aviso de receção para o local arrendado, decorridos 30 a 60 dias sobre a data em que o destinatário não foi localizado, considerando-se a comunicação recebida no 10º dia posterior ao do seu envio.

Artigo 14º[…] 1 - […]. 2 - Quando o pedido de despejo tiver por fun-damento a falta de residência permanente do arrendatário e quando este tenha na área dos concelhos de Lisboa ou do Porto e seus limítro-fes, ou no respetivo concelho quanto ao resto do País, outra residência ou a propriedade de imóvel para habitação adquirido após o início da relação de arrendamento, com exceção dos casos de sucessão mortis causa, pode o senho-rio, simultaneamente, pedir uma indemnização igual ao valor da renda determinada de acordo com os critérios previstos nas alíneas a) e b) do nº 2 do artigo 35º, desde o termo do prazo para contestar até à entrega efetiva da habitação. 3 - […].4 - Se as rendas, encargos ou despesas, vencidos por um período igual ou superior a dois meses, não forem pagos ou depositados, o arrendatá-rio é notificado para, em 10 dias, proceder ao seu pagamento ou depósito e ainda da importância da indemnização devida, juntando prova aos au-tos, sendo, no entanto, condenado nas custas do incidente e nas despesas de levantamento do depósito, que são contadas a final. 5 - Em caso de incumprimento pelo arrendatário do disposto no número anterior, o senhorio pode requerer o despejo imediato, aplicando-se, em caso de deferimento do requerimento, com as

necessárias adaptações, o disposto no nº 6 do ar-tigo 15º e nos artigos 15º-J, 15º-L e 15º-N a 15º-P.

Artigo 15º Procedimento especial de despejo 1 - O procedimento especial de despejo é o meio para efetivar a cessação do arrendamento, inde-pendentemente do fim a que este se destina, quando o arrendatário não desocupe o locado na data prevista na lei ou na data fixada por con-venção entre as partes. 2 - Apenas podem servir de base ao procedimen-to especial de despejo: a) Em caso de revogação, o contrato de arrenda-mento, acompanhado do acordo previsto no nº 2 do artigo 1082º do Código Civil; b) Em caso de caducidade pelo decurso do prazo, não sendo o contrato renovável, o contrato escri-to donde conste a fixação desse prazo; c) Em caso de cessação por oposição à renovação, o contrato de arrendamento acompanhado do comprovativo da comunicação prevista no artigo 1097º ou no nº 1 do artigo 1098º do Código Civil; d) Em caso de denúncia por comunicação, o con-trato de arrendamento, acompanhado do com-provativo da comunicação prevista na alínea c) do artigo 1101º ou no nº 1 do artigo 1103º do Código Civil;e) Em caso de resolução por comunicação, o contrato de arrendamento, acompanhado do comprovativo da comunicação prevista no nº 2 do artigo 1084º do Código Civil, bem como, quando aplicável, do comprovativo, emitido pela autoridade competente, da oposição à re-alização da obra; f ) Em caso de denúncia pelo arrendatário, nos termos dos nos 3 e 4 do artigo 1098º do Código Civil, do artigo 34º ou do artigo 53º, o comprovativo da comunicação da iniciativa do senhorio e o documento de resposta do arrendatário. 3 - O procedimento especial de despejo previsto na presente subsecção apenas pode ser utilizado relativamente a contratos de arrendamento cujo imposto do selo tenha sido liquidado. 4 - Quando haja lugar a procedimento especial de despejo, o pedido de pagamento de rendas, encargos ou despesas que corram por conta do arrendatário pode ser deduzido cumulativa-mente com o pedido de despejo no âmbito do referido procedimento, desde que tenha sido comunicado ao arrendatário o montante em dívida, salvo se previamente tiver sido intenta-da ação executiva para os efeitos previstos no artigo anterior. 5 - No caso de desistência do pedido de paga-mento de rendas, encargos ou despesas, o pro-cedimento especial de despejo segue os demais trâmites legalmente previstos quanto ao pedido de desocupação do locado. 6 - Sempre que os autos sejam distribuídos, o juiz deve pronunciar-se sobre todas as questões sus-citadas e, independentemente de ter sido reque-rida, sobre a autorização de entrada no domicílio. 7 - Na pendência do procedimento especial de despejo, as rendas vencidas devem ser pagas ou depositadas, nos termos gerais.

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atualidadeSVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201220

Artigo 26º […] 1 - […]. 2 - […]. 3 - Quando não sejam denunciados por qual-quer das partes, os contratos de duração limitada renovam-se automaticamente no fim do prazo pelo qual foram celebrados, pelo período de dois anos, se outro superior não tiver sido previsto. 4 - […]: a) Continua a aplicar-se o disposto na alínea a) do nº 1 do artigo 107º do RAU; b) O montante previsto no nº 1 do artigo 1102º do Código Civil não pode ser inferior a seis me-ses de renda calculada de acordo com os critérios previstos nas alíneas a) e b) do nº 2 do artigo 35º; c) O disposto na alínea c) do artigo 1101º do Código Civil não se aplica se o arrendatário ti-ver idade igual ou superior a 65 anos ou defici-ência com grau comprovado de incapacidade superior a 60 %. 5 - […]. 6 - [Revogado].

Artigo 28º […] 1 - Aos contratos a que se refere o presente ca-pítulo aplica-se, com as necessárias adaptações, o disposto no artigo 26º, com as especificidades dos números seguintes. 2 - Aos contratos referidos no número anterior não se aplica o disposto na alínea c) do artigo 1101º do Código Civil.3 - Em relação aos arrendamentos para fins não habitacionais, a antecedência a que se refere a alínea c) do artigo 1101º do Código Civil é ele-vada para cinco anos, quando: a) Ocorra trespasse, locação do estabelecimen-to ou cessão do arrendamento para o exercício de profissão liberal após a entrada em vigor da presente lei; b) Sendo o arrendatário uma sociedade, ocorra transmissão inter vivos de posição ou posições sociais que determine a alteração da titularidade em mais de 50% face à situação existente aquan-do da entrada em vigor da presente lei. 4 - Se o arrendatário tiver idade igual ou superior a 65 anos ou deficiência com grau comprovado de incapacidade superior a 60 %, a invocação do disposto na alínea b) do artigo 1101º do Código Civil obriga o senhorio, na falta de acordo entre as partes, a garantir o realojamento do arrenda-tário no mesmo concelho, em condições análo-gas às que este já detinha.

Artigo 29º […] 1 - […]. 2 - A denúncia do contrato de arrendamento nos termos da alínea d) do nº 3 do artigo 31º e da alínea d) do nº 3 do artigo 51º confere ao ar-rendatário o direito a compensação pelas obras licitamente feitas, independentemente do esti-pulado no contrato de arrendamento. 3 - O disposto no número anterior aplica-se aos arrendamentos para fins não habitacionais,

quando o contrato cesse em consequência da aplicação do disposto no nº 3 do artigo 28º.

Artigo 30º Iniciativa do senhorio A transição para o NRAU e a atualização da ren-da dependem de iniciativa do senhorio, que deve comunicar a sua intenção ao arrendatá-rio, indicando: a) O valor da renda, o tipo e a duração do con-trato propostos; b) O valor do locado, avaliado nos termos dos artigos 38º e seguintes do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis (CIMI), acompanhado de cópia da caderneta predial urbana.

Artigo 31º Resposta do arrendatário 1 - O prazo para a resposta do arrendatário é de 30 dias, a contar da receção da comunicação pre-vista no artigo anterior. 2 - [Anterior nº 2 do artigo 37º]. 3 - O arrendatário, na sua resposta, pode: a) Aceitar o valor da renda proposto pelo se-nhorio; b) Opor-se ao valor da renda proposto pelo se-nhorio, propondo um novo valor, nos termos e para os efeitos previstos no artigo 33º; c) Em qualquer dos casos previstos nas alíneas anteriores, pronunciar-se quanto ao tipo e ou à duração do contrato propostos pelo senhorio; d) Denunciar o contrato de arrendamento, nos termos e para os efeitos previstos no artigo 34º. 4 - Se for caso disso, o arrendatário deve ainda, na sua resposta, invocar, isolada ou cumulativa-mente, as seguintes circunstâncias: a) Rendimento anual bruto corrigido (RABC) do seu agregado familiar inferior a cinco retribuições mínimas nacionais anuais (RMNA), nos termos e para os efeitos previstos nos artigos 35º e 36º;b) Idade igual ou superior a 65 anos ou deficiên-cia com grau comprovado de incapacidade su-perior a 60 %, nos termos e para os efeitos pre-vistos no artigo 36º. 5 - As circunstâncias previstas nas alíneas do nú-mero anterior só podem ser invocadas quando o arrendatário tenha no locado a sua residência permanente ou quando a falta de residência permanente for devida a caso de força maior ou doença. 6 - A falta de resposta do arrendatário vale como aceitação da renda, bem como do tipo e da dura-ção do contrato propostos pelo senhorio, ficando o contrato submetido ao NRAU a partir do 1º dia do segundo mês seguinte ao do termo do prazo previsto nos nos 1 e 2. 7 - Caso o arrendatário aceite o valor da renda proposto pelo senhorio, o contrato fica subme-tido ao NRAU a partir do 1º dia do segundo mês seguinte ao da receção da resposta: a) De acordo com o tipo e a duração acordados; b) No silêncio ou na falta de acordo das partes acerca do tipo ou da duração do contrato, este considera-se celebrado com prazo certo, pelo período de cinco anos. 8 - [Anterior nº 9 do artigo 37º].

Artigo 32º Comprovação da alegação 1 - O arrendatário que invoque a circunstância prevista na alínea a) do nº 4 do artigo anterior faz acompanhar a sua resposta de documento comprovativo emitido pelo serviço de finanças competente, do qual conste o valor do RABC do seu agregado familiar.2 - [Anterior nº 2 do artigo 44º]. 3 - [Anterior nº 4 do artigo 44º]. 4 - O arrendatário que invoque as circunstâncias previstas na alínea b) do nº 4 do artigo anterior faz acompanhar a sua resposta, conforme os ca-sos, de documento comprovativo de ter comple-tado 65 anos, ou de documento comprovativo da deficiência alegada, sob pena de não poder prevalecer-se das referidas circunstâncias.

Artigo 33º Oposição pelo arrendatário e denúncia pelo se-nhorio 1 - Sem prejuízo do disposto nos artigos 35º e 36º, caso o arrendatário se oponha ao valor da renda, ao tipo e ou à duração do contrato propos-tos pelo senhorio, propondo outros, o senhorio, no prazo de 30 dias contados da receção da res-posta daquele, deve comunicar ao arrendatário se aceita ou não a proposta. 2 - A oposição do arrendatário ao valor da renda proposto pelo senhorio não acompanhada de proposta de um novo valor vale como propos-ta de manutenção do valor da renda em vigor à data da comunicação do senhorio. 3 - A falta de resposta do senhorio vale como aceitação da renda, bem como do tipo e da du-ração do contrato propostos pelo arrendatário. 4 - Se o senhorio aceitar o valor da renda propos-to pelo arrendatário, ou verificando-se o dispos-to no número anterior, o contrato fica submeti-do ao NRAU a partir do 1º dia do segundo mês seguinte ao da receção, pelo arrendatário, da comunicação prevista no nº 1 ou do termo do prazo aí previsto: a) De acordo com o tipo e a duração acordados;b) No silêncio ou na falta de acordo das partes acerca do tipo ou da duração do contrato, este considera-se celebrado com prazo certo, pelo período de cinco anos. 5 - Se o senhorio não aceitar o valor de renda pro-posto pelo arrendatário, pode, na comunicação a que se refere o nº 1: a) Denunciar o contrato de arrendamento, pa-gando ao arrendatário uma indemnização equi-valente a cinco anos de renda resultante do valor médio das propostas formuladas pelo senhorio e pelo arrendatário; ou b) Actualizar a renda de acordo com os critérios previstos nas alíneas a) e b) do nº 2 do artigo 35º, considerando-se o contrato celebrado com pra-zo certo, pelo período de cinco anos a contar da referida comunicação. 6 - A indemnização a que se refere a alínea a) do número anterior é agravada para o dobro ou em 50% se a renda oferecida pelo arrendatário não for inferior à proposta pelo senhorio em mais de 10% ou de 20%, respetivamente.

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atualidadeS VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 21

7 - Sem prejuízo do disposto no número seguin-te, a denúncia prevista na alínea a) do nº 5 produz efeitos no prazo de seis meses a contar da rece-ção da correspondente comunicação, devendo então o arrendatário desocupar o locado e entre-gá-lo ao senhorio no prazo de 30 dias. 8 - No caso de arrendatário que tenha a seu cargo filho ou enteado menor de idade ou que, tendo idade inferior a 26 anos, frequente o 11º ou o 12º ano de escolaridade ou estabelecimento de ensi-no médio ou superior, a denúncia prevista na alí-nea a) do nº 5 produz efeitos no prazo de um ano, devendo então o arrendatário desocupar o loca-do e entregá-lo ao senhorio no prazo de 30 dias. 9 - A indemnização prevista na alínea a) do nº 5 e no nº 6 é paga no momento da entrega do lo-cado ao senhorio.10 - No período compreendido entre a receção da comunicação pela qual o senhorio denuncia o contrato e a produção de efeitos da denúncia, nos termos dos nos 7 e 8, vigora a renda antiga ou a renda proposta pelo arrendatário, consoante a que for mais elevada.

Artigo 34º Denúncia pelo arrendatário 1 - Caso o arrendatário denuncie o contrato, a denúncia produz efeitos no prazo de dois meses a contar da receção pelo senhorio da resposta prevista na alínea d) do nº 3 do artigo 31º, de-vendo então o arrendatário desocupar o locado e entregá-lo ao senhorio no prazo de 30 dias. 2 - No caso previsto no presente artigo não há lugar a atualização da renda.

Artigo 35º Arrendatário com RABC inferior a cinco RMNA 1 - Caso o arrendatário invoque e comprove que o RABC do seu agregado familiar é infe-rior a cinco RMNA, o contrato só fica submeti-do ao NRAU mediante acordo entre as partes ou, na falta deste, no prazo de cinco anos a contar da receção, pelo senhorio, da resposta do arrendatário nos termos da alínea a) do nº 4 do artigo 31º. 2 - No período de cinco anos referido no nú-mero anterior, a renda pode ser atualizada nos seguintes termos: a) O valor atualizado da renda tem como limite máximo o valor anual correspondente a 1/15 do valor do locado; b) O valor do locado corresponde ao valor da avaliação realizada nos termos dos artigos 38º e seguintes do CIMI; c) O valor atualizado da renda corresponde, até à aprovação dos mecanismos de proteção e compensação social:i) A um máximo de 25% do RABC do agregado familiar do arrendatário, com o limite previsto na alínea a); ii) A um máximo de 10% do RABC do agrega-do familiar do arrendatário, com o limite pre-visto na alínea a), no caso de o rendimento do agregado familiar ser inferior a € 500 mensais. 3 - Se o valor da renda apurado nos termos do número anterior for inferior ao valor que resul-

taria da atualização anual prevista no nº 1 do artigo 24º, é este o aplicável. 4 - Quando for atualizada, a renda é devida no 1º dia do segundo mês seguinte ao da rece-ção, pelo arrendatário, da comunicação com o respetivo valor. 5 - Sem prejuízo do disposto no número seguin-te, o valor atualizado da renda, no período de 5 anos referido no nº 1, corresponde ao valor da primeira renda devida. 6 - No mês correspondente àquele em que foi feita a invocação da circunstância regulada no presente artigo e pela mesma forma, o arren-datário faz prova anual do rendimento perante o senhorio, sob pena de não poder prevalecer-se da mesma. 7 - Findo o período de cinco anos referido no nº 1, o senhorio pode promover a transição do contrato para o NRAU, aplicando-se, com as ne-cessárias adaptações, o disposto nos artigos 30º e seguintes, com as seguintes especificidades: a) O arrendatário não pode invocar as circuns-tâncias previstas nas alíneas do nº 4 do arti-go 31º;b) No silêncio ou na falta de acordo das partes acerca do tipo ou da duração do contrato, este considera-se celebrado com prazo certo, pelo período de dois anos.

Artigo 36º Arrendatário com idade igual ou superior a 65 anos, ou com deficiência com grau de incapaci-dade superior a 60 % 1 - Caso o arrendatário invoque e comprove que tem idade igual ou superior a 65 anos, ou deficiência com grau comprovado de incapaci-dade superior a 60 %, o contrato só fica subme-tido ao NRAU mediante acordo entre as partes, aplicando-se no que respeita ao valor da renda o disposto nos números seguintes. 2 - Se o arrendatário aceitar o valor da renda proposto pelo senhorio, a nova renda é devida no 1º dia do segundo mês seguinte ao da rece-ção, pelo senhorio, da resposta. 3 - Se o arrendatário se opuser ao valor da renda proposto pelo senhorio, propondo um novo valor, o senhorio, no prazo de 30 dias contados da receção da resposta do arrenda-tário, deve comunicar-lhe se aceita ou não a renda proposta. 4 - A falta de resposta do senhorio vale como aceitação da renda proposta pelo arrendatário. 5 - Se o senhorio aceitar o valor da renda pro-posto pelo arrendatário, ou verificando-se o disposto no número anterior, a nova renda é devida no 1º dia do segundo mês seguinte ao da receção, pelo senhorio, da resposta ou do termo do prazo para esta, consoante os casos. 6 - Se o senhorio não aceitar o valor da renda proposto pelo arrendatário, o contrato man-tém-se em vigor sem alteração do regime que lhe é aplicável, sendo o valor da renda apura-do nos termos das alíneas a) e b) do nº 2 do ar-tigo anterior, sem prejuízo do disposto no nú-mero seguinte. 7 - Se o arrendatário invocar e comprovar que

o RABC do seu agregado familiar é inferior a cinco RMNA: a) O valor da renda é apurado nos termos dos nos 2 e 3 do artigo anterior; b) O valor da renda vigora por um período de cinco anos, correspondendo ao valor da primei-ra renda devida; c) É aplicável o disposto no nº 6 do artigo an-terior. 8 - Quando for atualizada, a renda é devida no 1º dia do segundo mês seguinte ao da rece-ção, pelo arrendatário, da comunicação com o respetivo valor. 9 - Findo o período de cinco anos a que se refe-re a alínea b) do nº 7: a) O valor da renda pode ser atualizado por ini-ciativa do senhorio, aplicando-se, com as ne-cessárias adaptações, o disposto nos artigos 30º e seguintes, não podendo o arrendatário invocar a circunstância prevista na alínea a) do nº 4 do artigo 31º; b) O contrato só fica submetido ao NRAU me-diante acordo entre as partes. 10 - No caso previsto no número anterior, o ar-rendatário pode ter direito a um subsídio de renda, nos termos e condições a definir em di-ploma próprio.

Artigo 50º Iniciativa do senhorio A transição para o NRAU e a atualização da ren-da dependem de iniciativa do senhorio, que deve comunicar a sua intenção ao arrendatá-rio, indicando: a) O valor da renda, o tipo e a duração do con-trato propostos;b) O valor do locado, avaliado nos termos dos artigos 38º e seguintes do CIMI, acompanhado de cópia da caderneta predial urbana.

Artigo 51º Resposta do arrendatário 1 - O prazo para a resposta do arrendatário é de 30 dias, a contar da receção da comunicação prevista no artigo anterior. 2 - Quando termine em dias diferentes o prazo de vários sujeitos, a resposta pode ser ofereci-da até ao termo do prazo que começou a correr em último lugar.3 - O arrendatário, na sua resposta, pode: a) Aceitar o valor da renda proposto pelo se-nhorio; b) Opor-se ao valor da renda proposto pelo se-nhorio, propondo um novo valor, nos termos e para os efeitos previstos no artigo 52º; c) Em qualquer dos casos previstos nas alíneas anteriores, pronunciar-se quanto ao tipo e ou à duração do contrato propostos pelo senhorio; d) Denunciar o contrato de arrendamento, nos termos e para os efeitos previstos no artigo 53º. 4 - Se for caso disso, o arrendatário deve ainda, na sua resposta, invocar que existe no locado um estabelecimento comercial aberto ao pú-blico e que é uma microentidade, nos termos e para os efeitos previstos no artigo 54º. 5 - Microentidade é a empresa que, indepen-

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dentemente da sua forma jurídica, não ultra-passe, à data do balanço, dois dos três limites seguintes: a) Total do balanço: € 500 000; b) Volume de negócios líquido: € 500 000; c) Número médio de empregados durante o exercício: cinco.6 - O arrendatário que invoque a circunstância prevista no nº 4 faz acompanhar a sua respos-ta de documento comprovativo da mesma, sob pena de não poder prevalecer-se da referida circunstância. 7 - É aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto nos nos 6 e 7 do artigo 31º.

Artigo 52º Oposição pelo arrendatário e denúncia pelo senhorio Sem prejuízo do disposto no artigo 54º, é apli-cável, com as necessárias adaptações, o artigo 33º, com exceção do seu nº 8.

Artigo 53º Denúncia pelo arrendatário É aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto no artigo 34º.

Artigo 54º Microentidade 1 - Caso o arrendatário invoque e comprove que existe no locado um estabelecimento comercial aberto ao público e que é uma mi-croentidade, o contrato só fica submetido ao NRAU mediante acordo entre as partes ou, na falta deste, no prazo de cinco anos a contar da receção, pelo senhorio, da resposta do ar-rendatário nos termos do nº 4 do artigo 51º. 2 - No período de cinco anos referido no nú-mero anterior, o valor atualizado da renda é determinado de acordo com os critérios pre-vistos nas alíneas a) e b) do nº 2 do artigo 35º. 3 - Se o valor da renda apurado nos termos do número anterior for inferior ao valor que resul-taria da atualização anual prevista no nº 1 do artigo 24º, é este o aplicável.4 - Quando for atualizada, a renda é devida no 1º dia do segundo mês seguinte ao da rece-ção, pelo arrendatário, da comunicação com o respetivo valor. 5 - No mês correspondente àquele em que foi feita a invocação da qualidade de microenti-dade e pela mesma forma, o arrendatário faz prova anual da manutenção daquela qualida-de perante o senhorio, sob pena de não poder prevalecer-se da mesma. 6 - Findo o período de cinco anos referido no nº 1, o senhorio pode promover a transição do contrato para o NRAU, aplicando-se, com as ne-cessárias adaptações, o disposto nos artigos 50º e seguintes, com as seguintes especificidades: a) O arrendatário não pode invocar novamente a circunstância prevista no nº 4 do artigo 51º; b) No silêncio ou na falta de acordo das partes acerca do tipo ou da duração do contrato, este considera-se celebrado com prazo certo, pelo período de dois anos.

Artigo 57º […] 1 - […]: a) […]; b) Pessoa que com ele vivesse em união de facto há mais de dois anos, com residência no locado há mais de um ano; c) Ascendente em 1º grau que com ele convi-vesse há mais de um ano; d) […];e) Filho ou enteado que com ele convivesse há mais de um ano, portador de deficiência com grau comprovado de incapacidade su-perior a 60%. 2 - […]. 3 - O direito à transmissão previsto nos núme-ros anteriores não se verifica se o titular desse direito tiver outra casa, própria ou arrendada, na área dos concelhos de Lisboa ou do Porto e seus limítrofes, ou no respetivo concelho quanto ao resto do País, à data da morte do arrendatário. 4 - Sem prejuízo do disposto no número se-guinte, quando ao arrendatário sobreviva mais de um ascendente, há transmissão por morte entre eles. 5 - Quando a posição do arrendatário se trans-mita para ascendente com idade inferior a 65 anos à data da morte do arrendatário, o con-trato fica submetido ao NRAU, aplicando-se, na falta de acordo entre as partes, o disposto para os contratos com prazo certo, pelo perí-odo de dois anos. 6 - Salvo no caso previsto na alínea e) do nº 1, quando a posição do arrendatário se transmi-ta para filho ou enteado nos termos da alínea d) do mesmo número, o contrato fica subme-tido ao NRAU na data em que aquele adquirir a maioridade ou, caso frequente o 11º ou 12º ano de escolaridade ou estabelecimento de ensino médio ou superior, na data em que per-fizer 26 anos, aplicando-se, na falta de acordo entre as partes, o disposto para os contratos com prazo certo, pelo período de dois anos.

Artigo 58º […] 1 - O arrendamento para fins não habitacio-nais termina com a morte do primitivo arren-datário, salvo existindo sucessor que, há mais de três anos, explore, em comum com aque-le, estabelecimento a funcionar no local, nele trabalhando efetivamente.2 - […].»

artigo 5º aditamento à lei nº 6/2006,

de 27 de fevereiro São aditados à Lei nº 6/2006, de 27 de feve-reiro, os artigos 14º-A e 15º-A a 15º-T, com a seguinte redação: «Artigo 14º-A Título para pagamento de rendas, encargos ou despesas O contrato de arrendamento, quando acom-panhado do comprovativo de comunicação ao

arrendatário do montante em dívida, é título executivo para a execução para pagamento de quantia certa correspondente às rendas, aos encargos ou às despesas que corram por conta do arrendatário.

Artigo 15º-A Balcão Nacional do Arrendamento 1 - É criado, junto da Direcção-Geral da Admi-nistração da Justiça, o Balcão Nacional do Ar-rendamento (BNA) destinado a assegurar a tra-mitação do procedimento especial de despejo. 2 - O BNA tem competência em todo o territó-rio nacional para a tramitação do procedimen-to especial de despejo.

Artigo 15º-B Apresentação, forma e conteúdo do requerimen-to de despejo 1 - O requerimento de despejo é apresentado, em modelo próprio, no BNA. 2 - No requerimento deve o requerente: a) Identificar as partes, indicando os seus no-mes e domicílios;b) Indicar o seu endereço de correio electróni-co, se pretender receber comunicações ou ser notificado por este meio; c) Indicar o lugar onde deve ser feita a notifi-cação, o qual, na falta de domicílio convencio-nado por escrito, deve ser o local arrendado; d) Indicar o fundamento do despejo e juntar os documentos previstos no nº 2 do artigo 15º; e) Formular o pedido e, no caso de pedido para pagamento de rendas, encargos ou despesas, discriminar o valor do capital, juros vencidos e outras quantias devidas; f ) Indicar a taxa de justiça paga; g) Identificar o agente de execução ou o no-tário competente para proceder à desocupa-ção do locado; h) Assinar o requerimento. 3 - Havendo pluralidade de arrendatários ou constituindo o local arrendado casa de mora-da de família, o requerente deve ainda iden-tificar os nomes e domicílios de todos os ar-rendatários e de cada um dos cônjuges, con-soante os casos. 4 - Durante o procedimento especial de despe-jo não é permitida a alteração dos elementos constantes do requerimento, designadamente do pedido formulado. 5 - Se o requerente indicar endereço de cor-reio eletrónico, nos termos e para os efeitos do disposto na alínea b) do nº 2, as comunica-ções e notificações pelo BNA ao requerente são efetuadas por meios eletrónicos, em termos a definir por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.6 - A entrega do requerimento de despejo por advogado ou solicitador é efetuada apenas por via eletrónica, com menção da existên-cia do mandato e do domicílio profissional do mandatário. 7 - O requerente que, sendo representado por advogado ou solicitador, não cumprir o dispos-to no número anterior fica sujeito ao pagamen-

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to imediato de uma multa no valor de 2 UC, salvo alegação e prova de justo impedimento. 8 - O disposto na alínea h) do nº 2 não é apli-cável quando o requerimento de despejo for apresentado por meios eletrónicos, assegu-rando o sistema informático a identificação do requerente ou mandatário que procede à apresentação do requerimento. 9 - O modelo e as formas de apresentação do requerimento de despejo são aprovados por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.

Artigo 15º-CRecusa do requerimento 1 - O requerimento só pode ser recusado se: a) Não estiver endereçado ao BNA; b) Não indicar o fundamento do despejo ou não for acompanhado dos documentos pre-vistos no nº 2 do artigo 15º; c) Omitir a identificação das partes, o domi-cílio do requerente ou o lugar da notificação do requerido; d) Não estiver assinado, exceto nos casos pre-vistos no nº 8 do artigo anterior;e) Não estiver redigido em língua portuguesa; f ) Não constar do modelo a que se refere o nº 9 do artigo anterior; g) Não se mostrar paga a taxa de justiça devida; h) O pedido não se ajustar à finalidade do pro-cedimento. 2 - Nos casos em que haja recusa, o requerente pode apresentar outro requerimento no prazo de 10 dias subsequentes à notificação daque-la, considerando-se o procedimento iniciado na data em que o primeiro requerimento foi apresentado.

Artigo 15º-D Finalidade, conteúdo e efeito da notificação 1 - O secretário do BNA expede imediatamente notificação para o requerido, por carta regista-da com aviso de receção, para, em 10 dias, este: a) Desocupar o locado e, sendo caso disso, pa-gar ao requerente a quantia pedida, acrescida da taxa de justiça por ele liquidada; ou b) Deduzir oposição à pretensão e ou requerer o diferimento da desocupação do locado, nos termos do disposto nos artigos 15º-O e 15º-P. 2 - Havendo vários requeridos, a notificação é expedida para todos eles, nos termos e para os efeitos previstos no número anterior. 3 - A notificação é expedida para o local indica-do no requerimento de despejo, aplicando-se o disposto nos nos 3 a 5 do artigo 237º-A e no nº 2 do artigo 238º do Código de Processo Civil. 4 - O acto de notificação deve conter: a) Os elementos referidos nas alíneas a) a f ) do nº 2 e, se for caso disso, no nº 3 do artigo 15º-B;b) A indicação do prazo para a oposição e a respetiva forma de contagem; c) A indicação de que, na falta de pagamen-to ou de oposição dentro do prazo legal, será constituído título para desocupação do loca-do com a faculdade de o requerente a efetivar imediatamente;

d) Nos casos de pedido de pagamento das ren-das, encargos ou despesas em atraso, a indica-ção de que, na falta de pagamento da quantia pedida e da taxa de justiça liquidada pelo re-querente, são ainda devidos juros de mora des-de a data da apresentação do requerimento; e) A indicação de que a dedução de oposição cuja falta de fundamento o requerido não deva ignorar o responsabiliza pelos danos que cau-sar ao requerente e determina a condenação em multa de valor não inferior a dez vezes a taxa de justiça devida. 5 - A notificação efetuada nos termos do pre-sente artigo interrompe a prescrição, nos termos do disposto no artigo 323º do Códi-go Civil.

Artigo 15º-E Constituição de título para desocupação do locado 1 - O secretário do BNA converte o requeri-mento de despejo em título para desocupa-ção do locado se: a) Depois de notificado, o requerido não de-duzir oposição no respetivo prazo; b) A oposição se tiver por não deduzida nos termos do disposto no nº 4 do artigo seguinte; c) Na pendência do procedimento especial de despejo, o requerido não proceder ao paga-mento ou depósito das rendas vencidas, nos termos previstos no nº 7 do artigo 15º.2 - O título de desocupação do locado é au-tenticado com recurso a assinatura eletrónica. 3 - Constituído o título de desocupação do lo-cado, o secretário disponibiliza o requerimen-to de despejo no qual tenha sido colocada a fórmula de título para desocupação do locado: a) Ao requerente, por meios eletrónicos se este tiver indicado endereço de correio eletrónico, nos termos da alínea b) do nº 2 do artigo 15º-B; b) Ao agente de execução ou notário por aque-le designado, preferencialmente por meios eletrónicos. 4 - Não tendo o requerente designado o agen-te de execução ou o notário, ou tendo a desig-nação ficado sem efeito, o secretário do BNA procede à designação segundo a escala cons-tante da lista oficial e através de meios eletró-nicos que garantam a aleatoriedade no resul-tado e a igualdade na distribuição, disponibi-lizando de imediato ao designado, por meios eletrónicos, o título de desocupação do locado. 5 - Considera-se que a designação do agente de execução ou do notário fica sem efeito se algum destes declarar, por meios eletrónicos, que a não aceita. 6 - O recurso aos meios eletrónicos previstos nos nos 3 a 5 é definido por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.

Artigo 15º-F Oposição 1 - O requerido pode opor-se à pretensão de despejo no prazo de 10 dias, a contar da sua notificação.2 - A oposição não carece de forma articulada,

devendo ser apresentada no BNA, nos termos a definir por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça. 3 - Com a oposição, deve o requerido proceder à junção do documento comprovativo da taxa de justiça e, nos casos previstos nos nos 3 e 4 do artigo 1083º do Código Civil, ao pagamento de uma caução no valor das rendas, encargos ou despesas em atraso, nos termos a definir por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça. 4 - Na falta de junção do documento compro-vativo do pagamento da taxa de justiça ou do pagamento da caução prevista no número anterior, a oposição tem-se por não deduzida.

Artigo 15º-G Desistência do procedimento 1 - Até à dedução da oposição ou, na sua falta, até ao termo do prazo de oposição, o reque-rente pode desistir do procedimento especial de despejo. 2 - No caso previsto no número anterior, o BNA devolve ao requerente o expediente respeitan-te ao procedimento especial de despejo e no-tifica o requerido daquele facto, se este já tiver sido notificado do requerimento de despejo.

Artigo 15º-HDistribuição e termos posteriores1 - Deduzida oposição, o secretário do BNA apresenta os autos à distribuição e remete ao requerente cópia da oposição.2 - Recebidos os autos, o juiz pode convidar as partes para, no prazo de 5 dias, aperfeiçoarem as peças processuais.3 - Não julgando logo procedente alguma ex-ceção dilatória ou nulidade que lhe cumpra conhecer, ou não decidindo logo do mérito da causa, o juiz ordena a notificação das partes da data da audiência de julgamento.

Artigo 15º-IAudiência de julgamento e sentença1 - A audiência de julgamento realiza-se no prazo de 20 dias, a contar da distribuição.2 - Não é motivo de adiamento da audiência a falta de qualquer das partes ou dos seus mandatários, salvo nos casos de justo impe-dimento.3 - Se as partes estiverem presentes ou re-presentadas na audiência, o juiz procura con-ciliá-las.4 - Frustrando-se a conciliação, produzem-se as provas que ao caso couber.5 - Qualquer das partes pode requerer a gra-vação da audiência.6 - As provas são oferecidas na audiência, podendo cada parte apresentar até três tes-temunhas.7 - A prova pericial é sempre realizada por um único perito.8 - Se considerar indispensável para a boa deci-são da causa que se proceda a alguma diligên-cia de prova, o juiz pode suspender a audiência no momento que reputar mais conveniente e

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marcar logo dia para a sua continuação, deven-do o julgamento concluir-se dentro de 10 dias.9 - Finda a produção de prova, pode cada um dos mandatários fazer uma breve alega-ção oral.10 - A sentença, sucintamente fundamentada, é logo ditada para a acta.

Artigo 15º-JDesocupação do locado e pagamento das ren-das em atraso 1 - Havendo título ou decisão judicial para de-socupação do locado, o agente de execução ou notário desloca-se imediatamente ao locado para tomar a posse do imóvel. 2 - O senhorio e o arrendatário podem acordar num prazo para a desocupação do locado com remoção de todos os bens móveis, sendo lavra-do auto pelo agente de execução ou notário. 3 - O agente de execução ou o notário po-dem solicitar directamente o auxílio das au-toridades policiais sempre que seja necessá-rio o arrombamento da porta e a substituição da fechadura para efetivar a posse do imóvel, aplicando-se, com as necessárias adaptações, o disposto nos nos 5 e 6 do artigo 840º do Có-digo de Processo Civil. 4 - Quando a desocupação do locado deva efetuar-se em domicílio, a mesma só pode realizar-se entre as 7h e as 21h, devendo o agente de execução ou notário entregar có-pia do título ou decisão judicial a quem tiver a disponibilidade do lugar em que a diligên-cia se realiza, o qual pode assistir à diligência e fazer-se acompanhar ou substituir por pessoa da sua confiança que, sem delonga, se apre-sente no local. 5 - O título para desocupação do locado, quan-do tenha sido efetuado o pedido de pagamen-to das rendas, encargos ou despesas em atraso, e a decisão judicial que condene o requerido no pagamento daqueles constituem título exe-cutivo para pagamento de quantia certa, apli-cando-se, com as necessárias adaptações, os termos previstos no Código de Processo Civil para a execução para pagamento de quantia certa baseada em injunção. 6 - Nos casos previstos no número anterior não há lugar a oposição à execução.

Artigo 15º-LDestino dos bens 1 - O agente de execução ou o notário pro-cede ao arrolamento dos bens encontrados no locado. 2 - O arrendatário deve, no prazo de 30 dias após a tomada da posse do imóvel, remover todos os seus bens móveis, sob pena de estes serem considerados abandonados.

Artigo 15º-M Autorização judicial para entrada imediata no domicílio 1 - Caso o arrendatário não desocupe o domicí-lio de livre vontade ou incumpra o acordo pre-visto no nº 2 do artigo 15º-J, e o procedimento

especial de despejo não tenha sido distribuí-do a juiz, o agente de execução ou o notário apresenta requerimento no tribunal judicial da situação do locado para, no prazo de 10 dias, ser autorizada a entrada imediata no domicílio. 2 - O requerimento previsto no número ante-rior assume carácter de urgência e deve ser instruído com: a) O título para desocupação do locado; b) O documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça devida. 3 - Se a considerar necessária, o juiz procede à audição do arrendatário. 4 - São motivos de recusa do requerimento de autorização para entrada no domicílio, de-signadamente: a) Não ter sido utilizado o modelo de reque-rimento ou este não estar devidamente pre-enchido;b) O requerimento não estar instruído com os documentos referidos no nº 2; c) A violação do disposto nos artigos 9º, 10º e 15º-D. 5 - Conferida autorização judicial para entrada no domicílio, o agente de execução ou notário desloca-se imediatamente ao locado para to-mar a posse do imóvel, aplicando-se o disposto nos nos 2 a 4 do artigo 15º-J e no artigo anterior. 6 - O disposto nos números anteriores é apli-cável, com as necessárias adaptações, aos ca-sos em que a entrada no locado dependa de autorização judicial nos termos da lei.

Artigo 15º-N Suspensão da desocupação do locado 1 - O agente de execução ou o notário suspen-de as diligências para desocupação do locado sempre que o detentor da coisa, ao qual não tenha sido dada a oportunidade de intervir no procedimento especial de despejo, exibir algum dos seguintes títulos, com data anterior ao início daquele procedimento: a) Título de arrendamento ou de outro gozo legítimo do prédio, emanado do senhorio; b) Título de subarrendamento ou de cessão da posição contratual, emanado do arrendatário, e documento comprovativo de haver sido re-querida no prazo de 15 dias a respetiva notifi-cação ao senhorio, ou de este ter especialmen-te autorizado o subarrendamento ou a cessão ou, ainda, de ter reconhecido o subarrendatá-rio ou cessionário como tal.2 - Tratando-se de arrendamento para ha-bitação, o agente de execução ou o notário suspende as diligências executórias, quando se mostre, por atestado médico que indique fundamentadamente o prazo durante o qual se deve suspender a execução, que a diligên-cia põe em risco de vida a pessoa que se en-contra no local, por razões de doença aguda. 3 - Nos casos referidos nos números anterio-res, o agente de execução ou o notário lavra certidão das ocorrências, junta os documentos exibidos e adverte o detentor, ou a pessoa que se encontra no local, de que as diligências para a desocupação do locado prosseguem, salvo

se, no prazo de 10 dias, requerer ao juiz a con-firmação da suspensão, juntando ao requeri-mento os documentos disponíveis, dando do facto imediato conhecimento ao senhorio ou ao seu representante. 4 - Ouvido o senhorio, o juiz do tribunal judi-cial da situação do locado, no prazo de 5 dias, decide manter as diligências para a desocupa-ção ou ordena o levantamento da suspensão e a imediata prossecução daquelas.

Artigo 15º-O Diferimento da desocupação de imóvel arrenda-do para habitação 1 - No caso de imóvel arrendado para habita-ção, dentro do prazo para a oposição ao pro-cedimento especial de despejo, o arrendatário pode requerer ao tribunal judicial da situação do locado o diferimento da desocupação, por razões sociais imperiosas, devendo logo ofere-cer as provas disponíveis e indicar as testemu-nhas a apresentar, até ao limite de três.2 - O diferimento de desocupação do locado para habitação é decidido de acordo com o prudente arbítrio do tribunal, devendo o juiz ter em consideração as exigências da boa fé, a circunstância de o arrendatário não dispor imediatamente de outra habitação, o número de pessoas que habitam com o arrendatário, a sua idade, o seu estado de saúde e, em geral, a situação económica e social das pessoas envol-vidas, só podendo ser concedido desde que se verifique algum dos seguintes fundamentos: a) Que, tratando-se de resolução por não pa-gamento de rendas, a falta do mesmo se deve a carência de meios do arrendatário, o que se presume relativamente ao beneficiário de sub-sídio de desemprego, de valor igual ou inferior à retribuição mínima mensal garantida, ou de rendimento social de inserção; b) Que o arrendatário é portador de deficiên-cia com grau comprovado de incapacidade superior a 60%. 3 - No caso de diferimento, decidido com base na alínea a) do número anterior, cabe ao Fun-do de Socorro Social do Instituto de Gestão Fi-nanceira da Segurança Social pagar ao senho-rio as rendas correspondentes ao período de diferimento, ficando aquele sub-rogado nos direitos deste.

Artigo 15º-P Termos do diferimento da desocupação 1 - O requerimento de diferimento da desocu-pação assume carácter de urgência e é indefe-rido liminarmente quando: a) Tiver sido apresentado fora do prazo; b) O fundamento não se ajustar a algum dos referidos no artigo anterior; c) For manifestamente improcedente.2 - Se o requerimento for recebido, o senhorio é notificado para contestar, dentro do prazo de 10 dias, devendo logo oferecer as provas disponíveis e indicar as testemunhas a apre-sentar, até ao limite de três. 3 - O juiz deve decidir o pedido de diferimen-

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to da desocupação por razões sociais no prazo máximo de 20 dias a contar da sua apresenta-ção, sendo, no caso previsto na alínea a) do nº 2 do artigo anterior, a decisão oficiosamente comunicada, com a sua fundamentação, ao Fundo de Socorro Social do Instituto de Ges-tão Financeira da Segurança Social. 4 - O diferimento não pode exceder o prazo de cinco meses a contar da data do trânsito em julgado da decisão que o conceder.

Artigo 15º-Q Impugnação do título para desocupação do locado 1 - O arrendatário só pode impugnar o títu-lo para desocupação do locado com funda-mento na violação do disposto nos artigos 9º, 10º e 15º-D. 2 - A impugnação prevista no número anterior é apresentada, por meios electrónicos, acom-panhada de cópia do título para desocupação do locado, no tribunal judicial da situação do locado, no prazo de 10 dias a contar da des-locação do agente de execução ou do notário ao imóvel para a sua desocupação. 3 - A impugnação observa as seguintes regras: a) A prova é oferecida com o requerimento; b) A parte requerida é notificada para, em 10 dias, se opor à impugnação e oferecer prova;c) A impugnação tem sempre efeito mera-mente devolutivo, seguindo, com as neces-sárias adaptações, a tramitação do recurso de apelação, nos termos do Código de Pro-cesso Civil.

Artigo 15º-R Recurso da decisão judicial para desocupação do locado Independentemente do valor da causa e da sucumbência, da decisão judicial para deso-cupação do locado cabe sempre recurso de apelação, nos termos do Código de Processo Civil, o qual tem sempre efeito meramente devolutivo.

Artigo 15º-S Uso indevido ou abusivo do procedimento 1 - Aquele que fizer uso indevido do procedi-mento especial de despejo do locado incorre em responsabilidade nos termos da lei. 2 - Se o senhorio ou o arrendatário usarem meios cuja falta de fundamento não deves-sem ignorar ou fizerem uso manifestamente reprovável do procedimento especial de des-pejo, respondem pelos danos que culposa-mente causarem à outra parte e incorrem em multa de valor não inferior a 10 vezes a taxa de justiça devida. 3 - O disposto no número anterior é ainda apli-cável ao detentor do locado ou a qualquer ou-tro interveniente no procedimento especial de despejo que, injustificadamente, obste à efeti-vação da desocupação do locado. 4 - Incorre na prática do crime de desobediên-cia qualificada quem infrinja a decisão judicial de desocupação do locado.

Artigo 15º-TDisposições finais1 - Ao procedimento especial de despejo aplica-se o regime de acesso ao direito e aos tribunais.2 - No procedimento especial de despejo, é obri-gatória a constituição de advogado para a dedu-ção de oposição ao requerimento de despejo.3 - As partes têm de se fazer representar por advogado nos actos processuais subsequen-tes à distribuição no procedimento especial de despejo.4 - Aos prazos do procedimento especial de despejo aplicam-se as regras previstas no Có-digo de Processo Civil.5 - Não dependem de distribuição a autoriza-ção judicial para entrada imediata no domicí-lio, a suspensão da desocupação do locado e o diferimento da desocupação de imóvel ar-rendado para habitação, previstos nos artigos 15º-M a 15º-P.6 - O valor do procedimento especial de des-pejo é o previsto no nº 1 do artigo 307º do Có-digo de Processo Civil.»

artigo 6ºalteração à organização sistemática da

lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro1 - A secção III do capítulo II do título I da Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, é subdividida em duas subsecções, nos seguintes termos:a) A subsecção I tem a epígrafe «Ações judi-ciais» e é composta pelos artigos 14º e 14-Aº;b) A subsecção II tem a epígrafe «Procedimen-to especial de despejo» e é composta pelos ar-tigos 15º a 15º-T.2 - São ainda introduzidas as seguintes altera-ções à organização sistemática do capítulo II do título II da Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro:a) A secção II passa a denominar-se «Arrenda-mento para habitação», deixando de estar di-vidida em subsecções e sendo composta pelos artigos 30º a 49º;b) A anterior subsecção II da secção II passa a constituir a secção III, mantendo a epígrafe «Arrendamento para fim não habitacional» e sendo composta pelos artigos 50º a 56º;c) A anterior secção III passa a constituir a secção IV, mantendo a epígrafe «Transmissão» e conti-nuando a ser composta pelos artigos 57º e 58º.

artigo 7º Contagem dos prazos

Aos prazos que já estiverem a decorrer aplica-se a redução de prazos resultante da presente lei, mas os novos prazos só se contam a partir da entrada em vigor desta, a não ser que fal-te menos tempo para se completarem os pra-zos em curso.

artigo 8º tributação de rendas de prédios urbanos

auferidas por pessoas singulares As rendas de prédios urbanos auferidas por pessoas singulares serão objecto de regime fiscal a fixar em diploma próprio.

artigo 9º disposição transitória

O disposto nos artigos 30º a 56º da Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, na sua redação originária, continua a aplicar-se até 31 de de-zembro de 2012.

artigo 10º legislação complementar

O Governo deve, no prazo de 90 dias, adequar à presente lei os seguintes diplomas: a) Decreto-Lei nº 156/2006, de 8 de agosto, que aprova o regime de determinação e verificação do coeficiente de conservação; b) Decreto-Lei nº 157/2006, de 8 de agosto, alterado pelo Decreto-Lei nº 306/2009, de 23 de outubro, que aprova o regime jurídico das obras em prédios arrendados; c) Decreto-Lei nº 158/2006, de 8 de agosto, que aprova os regimes de determinação do rendi-mento anual bruto corrigido e a atribuição do subsídio de renda; d) Decreto-Lei nº 160/2006, de 8 de agosto, que aprova os elementos do contrato de ar-rendamento e os requisitos a que obedece a sua celebração; e) Decreto-Lei nº 161/2006, de 8 de agosto, que aprova e regula as comissões arbitrais municipais.

artigo 11º Norma revogatória

São revogados: a) O nº 3 do artigo 1095º, o nº 2 do artigo 1102º e o artigo 1104º do Código Civil; b) A alínea a) do nº 1 do artigo 930º-B, a alínea a) do nº 2 do artigo 930º-C e o nº 5 do artigo 930º-D do Código de Processo Civil; c) O nº 6 do artigo 26º e os artigos 37º a 49º, 55º e 56º da Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, sem prejuízo do disposto no artigo 9º.

artigo 12º republicação

São republicados, na sua redação atual e nos anexos I e II à presente lei, respetivamente, e da qual fazem parte integrante:a) O capítulo IV do título II do livro II do Có-digo Civil; b) O capítulo II do título I e o título II da Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro.

artigo 13º entrada em vigor

1 - Sem prejuízo do disposto no número se-guinte, a presente lei entra em vigor 90 dias após a sua publicação. 2 - Os artigos 30º a 36º e 50º a 54º da Lei nº 6/2006, de 27 de fevereiro, na redação confe-rida pela presente lei, entram em vigor em 1 de janeiro de 2013. Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 29 de dezembro de 2011 O Primeiro-Ministro O Ministro Adjunto e dos Assuntos Parla-mentares

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reGiStoS e NotariadoVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201226

A notifi cação judicial avulsa é um ato judicial que não se inscreve em qualquer processo pendente, embora possa ser aproveitado para que se produzam determinados efeitos invocáveis em processo posterior.As notifi cações judiciais avulsas constituem “atos-meio”, ou seja, atos que têm em vista obter um determinado resultado.A notifi cação judicial avulsa deve ser requerida no tribunal em cuja área resida a pessoa a noti-fi car (artigo 84.º do Código de Processo Civil).A notificação judicial avulsa caracteriza-se pelo contacto pessoal do agente de execução, designado pelo requerente ou pela secretaria, ou por ofi cial de justiça (artigo 239.º, n.º 8, do Código de Processo Civil) com a própria pessoa a notifi car, a quem será entregue uma nota de notifi cação acompanhada do duplicado do requerimento e cópias dos documentos que o acompanham para serem entregues ao notifi cando.Uma vez efetuada, o requerimento e os docu-mentos serão entregues ao requerente.Não é admitida oposição à notifi cação, embora seja admitida a possibilidade de invocação de nulidades dentro do prazo legal.A minuta que seguir publicamos traduz um exemplo de notifi cação avulsa.

Notifi cação judicial avulsa

MiNuta de NotifiCaÇÃo JudiCial avulSa

Exmo. SenhorJuiz de Direito doTribunal Judicial de …

Nome, estado civil, portador do B.I. nº ......, datado de ....., emitido pelo arquivo de ......, e com o Nº. Contr. ......., residente na ......., Freguesia de ......, concelho de ......;, vem requerer a V. Exa., nos termos do disposto nos artigos 84.º, 231.º e 261.º do Código de Processo Civil a

NOTIFICAÇÃO JUDICIAL AVULSA

de

(Nome)., pessoa colectiva com o n.-º …, registada na Conservatória do Registo Comercial de …, com o capital social de … Euros, com sede na (morada),

nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.ºO Requerente adquiriu, por contrato de compra e venda celebrado com a Requerida

em (data), um veículo motorizado de marca ..............., com a matrícula ...

2.ºO Requerido, contra entrega do motociclo, pagou integralmente o preço no valor

de ...

3.ºNo acto da compra os serviços da Requerida informaram o Requerente que a

respetiva documentação lhe seria entregue no prazo aproximado de um mês, pelo que lhe foi passada uma declaração para fazer fé perante os Serviços de Finanças e as autoridades de trânsito, por esse período de tempo.

4.ºVolvidos mais de 6 meses e após vários contactos com a empresa, a Requerida ainda

não entregou ao Requerente a documentação legal obrigatória, continuando este a circular com uma declaração provisória sem qualquer validade que ao longo destes meses tem sido renovada por iguais períodos de um mês.

5.ºTal situação, além de irregular e de impedir a plena efi cácia do contrato de compra

e venda então celebrado, causa naturais incómodos e faz com que o condutor do veículo viole as normas estradais que o obrigam a circular acompanhado do título de registo de propriedade e do livrete do veículo, podendo, a qualquer momento, ser sancionado com coima que pode atingir os ... €...

Nestes termos, requer-se a V. Exa. a notifi cação da Requerida para, no prazo de 10 dias, entregar ao Requerente a documentação legal relativa ao veículo motorizado .............., de matrícula …, sem o que este avançará com correspondente ação judicial, fazendo-se valer por esta via de todos os seus direitos.

O Requerente,

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aNáliSe VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 27

A proposta de alteração ao regime do arrendamento urbano pretende en-curtar os prazos e diminuir as indem-nizações atualmente previstas no âm-bito dos contratos de contratos, assim como criar um novo meio processual destinado a obter o despejo de forma mais célere.Das alterações mais importantes desta-camos as seguintes:

i - resolução

- A justa causa para a resolução do con-trato no caso de o arrendatário estar em mora quanto ao pagamento das rendas passa de três para dois meses de mora.- Passa a ser possível ao senhorio resol-ver o contrato se o arrendatário estiver em mora quanto ao pagamento das ren-das por mais de oito dias, verificando-se essa situação mais de quatro vezes, seguidas ou interpoladas, num período de 12 meses, com referência a cada con-trato, sem possibilidade de a resolução ficar sem efeito caso o arrendatário po-nha fim à mora.- O fundamento de resolução do con-trato pelo arrendatário referente à fal-ta de realização de obras pelo senhorio é alargado aos casos em que a falta de tais obras ponha em causa a aptidão do locado para o uso previsto no contrato.- O prazo para o arrendatário pôr fim à mora e obter a ineficácia da comuni-cação de resolução pelo senhorio é en-curtado de três para um mês, ficando o uso desta faculdade limitado a uma só vez em cada contrato.- Também a resolução fundada na opo-sição à realização de obra ordenada por autoridade pública passa a ficar sem efeito se essa oposição cessar no prazo de um mês.- A desocupação passa a ser exigível um mês após a resolução do contrato.- Passa a ser possível a comunicação da resolução do contrato por outros mo-

tivos que não o atraso no pagamento das rendas, através de simples comu-nicação por carta registada com aviso de receção.

ii - Contratos com prazo certo

- Se nada estiver estipulado, o contrato tem-se como celebrado pelo prazo de dois anos e não por tempo indetermi-nado, como atualmente. Ou seja, o re-gime supletivo é de 2 anos renováveis automaticamente.- Deixa de existir um prazo mínimo de duração do contrato por 5 anos – pas-sa a ser possível celebrar contratos pelo prazo acordado entre as partes;- Os períodos de renovação automática dos contratos são iguais ao período de duração inicial contratualmente estipu-lado, eliminando-se as renovações por períodos mínimos de três anos.

iii – renovação / denúncia

- A oposição à renovação automática passa a ter avisos prévios iguais para ambas as partes, prevendo-se as seguin-tes antecedências mínimas:1) 240 dias, se o prazo de duração inicial

do contrato ou da sua renovação for igual ou superior a seis anos;

2) 120 dias, se o prazo de duração inicial do contrato ou da sua renovação for igual ou superior a um ano e inferior a seis anos;

3) 60 dias, se o prazo de duração inicial do contrato ou da sua renovação for igual ou superior a seis meses e infe-rior a um ano;

4) Um terço do prazo de duração ini-cial do contrato ou da sua renova-ção, tratando-se de prazo inferior a seis meses.

- O arrendatário, decorrido um terço do prazo de duração inicial do contrato ou da sua renovação, pode denunciá-lo a todo o tempo, mediante comunicação

ao senhorio com a antecedência míni-ma seguinte:1) 120 dias do termo pretendido do con-

trato, se o prazo deste for igual ou su-perior a um ano;

2) 60 dias do termo pretendido do con-trato, se o prazo deste for inferior a um ano.

- Se o senhorio impedir a renovação automática do contrato, o arrendatário pode denunciá-lo a todo o tempo, me-diante comunicação ao senhorio com uma antecedência não inferior a 30 dias do termo pretendido do contrato, salvo se este tiver entretanto caducado.

iv- Contratos com duração indeterminada

- O arrendatário só pode denunciar o contrato após seis meses de duração efectiva, com um aviso prévio de 120 dias para contratos que, à data da co-municação, tiverem um ano ou mais de duração efetiva e 60 dias nos contratos com duração efetiva inferior a um ano.- Se senhorio denunciar o contrato atra-vés de mero aviso prévio, o arrendatário pode denunciá-lo mediante comunica-ção ao senhorio com antecedência não inferior a 30 dias do termo pretendido do contrato, salvo se este tiver entretan-to caducado.- A antecedência para o senhorio de-nunciar o contrato passa de cinco para dois anos.- A denúncia para habitação ou para demolição ou obras profundas passa a operar por mera comunicação (não tem de ser exercida pela via judicial) e a res-petiva compensação devida ao arrenda-tário é fixada em seis meses de renda.- Na denúncia para demolição ou obras profundas, a comunicação ao arrenda-tário deve ser acompanhada da decla-ração do município que ateste que foi iniciado o procedimento de controlo prévio da operação urbanística a efetuar

arreNdaMeNto urBaNo – Proposta de alteração

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aNáliSeVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201228

no locado e que esta obriga à desocu-pação do mesmo.- Os efeitos do incumprimento do tem-po mínimo de ocupação do imóvel em caso de denúncia para habitação ou o não início da obra no prazo de seis me-ses passa a implicar o pagamento de uma indemnização muito mais pesada para o senhorio, no valor de 10 anos de renda mas deixa de conferir ao arrenda-tário o direito à reocupação do imóvel.

v- transmissão da posição de arrendatário

- A transmissão por morte do arrenda-tário só se dá para pessoa com quem este vivesse em união de facto ou em economia comum há mais de dois anos e desde que essa pessoa residisse no lo-cado há mais de um ano.- Em qualquer caso, o direito à transmis-são por morte não se verifi ca se o titular desse direito tiver outra casa, própria ou arrendada, na área dos concelhos de Lis-boa ou do Porto e seus limítrofes, ou no respetivo concelho quanto ao resto do País, à data da morte do arrendatário.

vi - Contratos para fi ns não habitacionais

Na falta de estipulação em contrário, o contrato considera-se celebrado pelo prazo de cinco anos.

vii - Mecanismos extrajudiciais e judiciais em situações de despejo ou extinção:

- Prevê-se a criação do Balcão Nacional de Arrendamento ao qual o senhorio pode recorrer para requerer a notifi -cação de desacupação do imóvel ou fração por parte do inquilino devido à falta de pagamento durante 3 meses comprovados;- Deixa de se prever a existência de tí-tulo executivo nos casos de resolução não fundada no atraso no pagamen-to de rendas e passa a ser obrigatório este novo procedimento para a obten-ção desse título executivo e passagem à fase de execução.- O requerimento de despejo é converti-do em título para desocupação do loca-do se o requerido não deduzir oposição, não juntar o documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça ou do pagamento da caução ou se não pro-ceder ao pagamento ou depósito das rendas vencidas.- Havendo oposição, o processo é dis-tribuído ao tribunal competente para decisão de mérito com eventual reali-zação de julgamento.- Obtendo-se o título para desocupa-ção do locado, a fase executiva ocorre imediatamente no próprio procedimen-to especial de despejo, podendo haver oposição à execução.

viii – atualização das rendas

- O senhorio pode propor ao inquilino um novo valor de renda; o inquilino pode aceitar ou não podendo contrapor um novo valor. Da média destes valores ou sai um valor sobre o qual pode haver acordo ou então sairá o valor de indemnização a pagar ao inquilino que corresponderá a 60 meses de renda que o senhorio deve-rá pagar para que se desocupe o imóvel. .

XiX - Proteção em casos excecionais a idosos, defi cientes com mais de 60%, inquilinos com carência económica

- Mecanismo transitório de 5 anos para situações de carência económica, prazo durante o qual se mantém o contrato, podendo haver um ajustamento extraor-dinário. O ajustamento extraordinário será apurado tendo por base o valor patrimo-nial do imóvel (após a atualização do valor patrimonial em curso nos imóveis avalia-dos pela última vez antes de 2004) e uma taxa de esforço máxima de 25% apurada sobre o rendimento anual bruto corrigido do agregado (taxa de esforço máxima de 10% para rendimentos até cerca de 500 €;- Caso, fi ndos os 5 anos não haja possi-bilidade de proceder aos ajustamentos, a Segurança Social deverá ser chamada para encontrar uma solução para essas situações.

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MarCaS VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 29

CoNfuNdiBilidade eNtre MarCaS(Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 13/03/2012)

SuMário:Não obstante ambas assinalarem os serviços incluídos na classe 39ª -“transporte, embalagem de mercadorias e organização de viagens “-, não existe confundibilidade entre a marca “INTERVISA DESTINATION MANAGEMENT COMPANY “e a marca “VISA “, motivadora da recusa do registo da primeira no INPI.

acordam no tribunal da relação de lisboa:

i – relatÓrio.Interpôs Visa I. , com sede em Estados Unidos da América, ao abrigo do dispos-to no art. 38º e segs. do Código de Pro-priedade Industrial, recurso do despacho do Sr. Director de Marcas e Patentes do I.N.P.I. que deferiu o registo da marca nacional nº ... “INTERVISA DESTINATION MANAGEMENT COMPANY”, requerida por I. – V., S.A., com sede na Lisboa, o qual foi publicado no Boletim da Propriedade Industrial nº 2009/11/23 (227/2009) de 23 de Novembro de 2009.Alegou essencialmente:É titular de várias marcas “VISA”, que ad-quiriram enorme prestígio e reputação internacional, não só na área financeira, mas também na área das viagens, aloja-mentos, eventos e serviços relacionados.Existe semelhança entre as marcas da recorrente e a marca cuja proteção se reclama, criando facilmente confusão no consumidor. Deve, pois, o despacho recorrido ser re-vogado, recusando o registo em Portugal à marca nacional nº ... “INTERVISA DESTI-NATION MANAGEMENT COMPANY”.Cumprido o disposto no art. 43º do Cod. Prop. Industrial, o Sr. Director de Marcas do I.N.P.I. remeteu o processo adminis-trativo para apensação.Citada a parte contrária, pronunciou-se esta no sentido do não provimento do recurso dado inexistir confundibilidade entre a marca “INTERVISA DESTINATION MANAGEMENT COMPANY” e as marcas “VISA“.

Proferiu-se sentença que negou provi-mento ao recurso apresentado, manten-do o despacho do Director de Serviços de Marcas do Instituto Nacional de Pro-priedade Horizontal que concedeu o re-gisto da marca nacional nº ... “INTERVISA DESTINATION MANAGEMENT COMPANY , conferindo-se assim proteção à referida marca para assinalar os serviços para que foi pedido o registo (cfr. fls. 426 a 438).Apresentou V. I. recurso desta decisão, o qual foi admitido como de apelação. Juntas as competentes alegações, a fls. 442 a 452, formulou a apelante as seguin-tes conclusões:1ª – O Director de Marcas e Patentes do Instituto Nacional de Propriedade Indus-trial concedeu o registo à marca nacional nº ... “Intervisa Destination Management Company“.2ª – A ora recorrente havia, desde logo, reclamado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial contra o pedido desse registo com fundamento quer na imitação das suas marcas “VISA“, quer na violação do art. 242º, do Código de Propriedade Industrial, que protege as marcas de prestígio, quer na possibili-dade de se proporcionar a concorrência desleal. 3ª – A ora recorrente é titular de várias marcas “VISA“ que adquiriram enorme prestígio e reputação internacional na área dos serviços financeiros e na área das viagens, alojamentos e eventos e serviços relacionados, entre outras, da marca nacional nº ... “VISA“ (que assi-nala produtos e serviços na classe 39), da marca comunitária nº ... “VISA“ (que assinala produtos e serviços nas classes

35, 39 e 41), da marca comunitária nº ... “VISA“ (que assinala produtos e serviços na classe 43) e da marca comunitária nº ... “VISA“ (que assinala produtos e serviços na classe 35).4ª – A marca nacional nº ... “Intervisa Destination Management Company“, de cuja concessão de registo, quer pelo INPI, quer pela sentença recorrida ora se recorre, assinala serviços similares aos das referidas marcas da ora recorrente, porquanto esta marca se destina a assi-nalar os serviços nas classes 35, 39, 41 e 43, genericamente viagens, alojamentos, eventos e serviços relacionados.5ª – Em face da previsão do nº 1 do artigo 245 do Código da Propriedade Industrial e da orientação da Jurisprudência e da Doutrina são elementos do conceito de imitação: a) a prioridade da marca registada; b) destinarem-se as marcas a assinalar os mesmos produtos ou servi-ços ou a produtos ou serviços afins; e c) existir entre as marcas semelhança grá-fica, figurativa ou fonética suscetível de induzir facilmente em erro ou confusão o consumidor.6ª – É o que se verifica no caso em apreço.7ª – É notória a semelhança entre as marcas da ora recorrente “VISA“ e a mar-ca nacional nº ... “Intervisa Destination Management Company“ da recorrida.Por outro lado,8ª – Existe identidade ou afinidade entre os serviços assinalados pelas marcas em apreço tanto mais que a marca da recorrida assinala genericamente via-gens, alojamento, eventos e serviços relacionados, igualmente assinalados pelas referidas marcas da ora recorrente.

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MarCaSVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201230

9ª – Aliás, a própria decisão recorrida deu como provada a existência de igualdade ou afinidade entre os serviços assinala-dos pelas marcas.10ª – O elemento INTERVISA é o elemen-to caracterizador da marca nº ..., uma vez que o restante da marca é descritivo e sem qualquer relevo.11ª – Na expressão INTERVISA a parte foneticamente forte e, igualmente, distintiva é o sufixo “VISA“ e será este elemento que o consumidor reterá na sua memória, por ser o elemento forte dada a notoriedade e alto prestígio das marcas do ora recorrente.Pelo que12ª – É indiscutível que as marcas em li-tígio apresentam manifesta semelhança gráfico-fonética.13ª – De facto, o elemento “VISA“ de-sempenha, sem qualquer dúvida, uma função peculiar e distintiva posto que se integra no conjunto da marca da ora recorrida, de forma, também ela, única e singular.14ª – O público consumidor não distin-guirá, assim, as marcas da ora recorrente da marca da recorrida, sendo inevitavel-mente induzido em erro ou confusão, e associando as marcas da ora recorrente e da recorrida como pertencentes à mesma identidade.15ª – As marcas “VISA“ pertencentes à ora Recorrente são marcas de prestígio em Portugal, na Comunidade Europeia e, aliás, em todo o mundo, pelo que goza, igualmente, da proteção acrescida estatuída pelo artigo 242º do Código da Propriedade Industrial.16ª – De resto, o elemento peculiar da marca nº ... – o elemento INTERVISA – sugere ao consumidor a ideia de “IN-TERnacional VISA“ ou VISA internacional que é, afinal, o elemento distintivo da denominação da recorrente e pelo qual a mesma é permanentemente designada.17ª – Destarte, ao confrontar-se com a marca nº ..., o consumidor não deixará de a associar a Visa internacional.18ª – Existe, em consequência, a possi-bilidade do titular da marca nacional nº ... “Intervisa Destination Management Company“ se aproveitar do prestígio das marcas da ora recorrente para lançar os

seus serviços no mercado e concorrer deslealmente com esta última.19ª – Em face do exposto, concluir-se que a sentença recorrida ao conceder a proteção em Portugal à marca nacional nº ... “Intervisa Destination Management Company“ violou as disposições dos arts. 239º, nº 1, alienas a) e e), 242º, 245º e 317º do Código da Propriedade Industrial.Contra-alegou a apelada, pugnando pela improcedência do recurso. ii – faCtoS ProvadoS.Encontra-se provado nos autos que:1 – Por despacho datado de 10 de No-vembro de 2009 o Sr. Director de Marcas e Patentes do INPI, por subdelegação de competências, deferiu o pedido de registo da marca nacional nº ... “INTER-VISA DESTINATION MANAGEMENT COM-PANY“ pedida a 3 de Outubro de 2008.2 - A referida marca destina-se a assinalar serviços das classes: - 35ª: “serviços de vendas através de redes mundiais de telecomunicações de serviços relacionados com o lazer, en-tretenimento e em particular a viagens turísticas; serviços de venda a retalho em estabelecimentos comerciais de serviços relacionados com o lazer e en-tretenimento e em particular a viagens turísticas; serviços de promoção presta-dos por uma empresa de organização de viagens; serviços de publicidade re-lacionados com o lazer, entretenimento e viagens turísticas; publicidade on-line numa rede informática relacionada com o lazer, entretenimento e viagens turís-ticas; difusão de material publicitário (folhetos, prospectos, impressos, amos-tras), organização de exposições com fins comerciais ou de publicidade; organiza-ção de feiras com fins comerciais ou de publicidade.”; - 39ª: “transporte e organização de viagens; reservas para viagens; reserva de lugares de viagem; reservas para transporte; organização de cruzeiros; organização de excursões; transporte de passageiros (viajantes); acompanha-mento de passageiros (viajantes); visitas turísticas; aluguer de veículos automó-veis; serviços de autocarros; serviços de transvias; informações sobre transporte.”;

- 41ª: “organização e direcção de congres-sos, colóquios, conferências, seminários, simpósios; reserva de lugares de espec-táculos; organização de exposições com fins culturais ou educativos.”; - 43ª: “serviços de agências de viagens ou intermediárias que asseguram re-servas de hotéis para viajantes; serviços prestados na procura de alojamento; albergue e a alimentação por hotéis, pensões, campos turísticos, lares tu-rísticos, quintas-pensões; agências de alojamento (hotéis, pensões); aluguer de alojamento temporário; reserva de alojamentos temporários; reserva de hotéis; reserva de pensões; aluguer de salas de reuniões.”. 3 - E o registo foi pedido por “I. – V. S.A.”.4 - A recorrente é titular da marca de registo nacional nº ... “VISA”, pedida em 17 de Julho de 1986 e deferida por des-pacho de 2 de Janeiro de 1992, destinada a assinalar na classe 39ª “serviços de agências de viagens”.5 - A recorrente é titular da marca de registo comunitário nº ... “VISA”, pedida em 25 de Outubro de 1996 e deferida por despacho de 2 de Outubro de 2000, destinada a assinalar entre outros serviços das classes 35ª, 39ª, 41ª e 43ª, conforme doc. fls. 51 que aqui se dá por reproduzido.6 - A recorrente é titular da marca de registo comunitário nº ... “VISA”, pedida em 12 de Março de 1997 e deferida por despacho de 21 de Junho de 2000, des-tinada a assinalar entre outros serviços das classes 35ª e 39ª, conforme doc. fls. 55 que aqui se dá por reproduzido. 7 - A recorrente é titular da marca de registo comunitário nº ... “VISA”, pedida em 16 de Agosto de 2002 e deferida por despacho de 28 de Março de 2004, destinada a assinalar serviços das classes 42ª, 43ª, 44ª e 45ª, conforme doc. fls. 58 que aqui se dá por reproduzido. 8 - A recorrente é titular da marca de registo comunitário nº ... “VISA”, pedida em 5 de Janeiro de 2006 e deferida por despacho de 30 de Novembro de 2006, destinada a assinalar serviços da classe 35ª, conforme doc. fls. 60 que aqui se dá por reproduzido. 9 - No livro “The World´s Greatest Brands”

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MarCaS VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 31

de Nicholas Kochan, a marca “VISA” surge na 14ª posição no grupo das 100 marcas mundiais. 10 - A marca VISA tem sido posicionada por várias revistas no grupo das cem maiores marcas mundiais, conforme doc. fls. 84 a 151 que aqui se dão por reproduzidos. 11 - O INPI indeferiu os pedidos de registo das marcas nacionais nº ... “VI-SAACTIVO CONTABILIDADE E GESTÃO”, 432.524 “VISAVENTURA”, ... “VISABEL” e do logótipo nº ... “VISABEL” por os con-siderar imitação de várias marcas da ora recorrente conforme doc. fls. 280 a 291 que aqui se dão por reproduzidos. 12 - “I…, S.A.” é titular do nome de esta-belecimento nº ... “INTERVISA” pedido a 15 de Maio de 1991 e deferido por despacho de 22 de Julho de 1994. ---13 - “I…, S.A.” é titular da insígnia de esta-belecimento nº 9.027, pedida em 15 de Maio de 1991 e deferida por despacho de 1 de Outubro de 1993, com a seguinte configuração:14 - “I…, S.A.” é titular da marca de registo nacional nº ... “INTERVISA”, pedida em 2 de Janeiro de 2002 e deferida por despa-cho de 7 de Janeiro de 2004, destinada a assinalar serviços da classe 39ª.15 - Encontra-se registada a marca nacio-nal nº ..., pedida em 5 de Abril de 2001 por “VC…, Lda.” e deferida por despacho de 30 de Janeiro de 2002, destinada a assinalar serviços das classes 35ª e 36ª, com a seguinte configuração:16 - Encontra-se registada em Portugal a marca internacional nº ... “VISARTIS”, pedida em 15 de Novembro de 2001 por “V…GmbH.” e deferida por despacho de 14 de Outubro de 2002, destinada a as-sinalar entre outros serviços das classes 39ª, 41º e 42ª. 17 - Encontra-se registada em Portugal a marca internacional nº 832.595 “VI-SALITY”, pedida em 14 de Outubro de 2004 por “V … GmbH.” e deferida por despacho de 1 de Julho de 2005, des-tinada a assinalar serviços das classes

35ª, 39º e 42ª. 18 - Encontra-se registada a marca comu-nitária nº 001619741 “VISAVI”, pedida em 19 de Abril de 2000 por “VP…” e deferida por despacho de 15 de Junho de 2001, destinada a assinalar serviços das classes 35ª, 36ª, 41ª e 42ª. 19 - Encontra-se registada a marca comu-nitária nº 002102317 “VISAVIS”, pedida em 23 de Fevereiro de 2001 por “Visavis GmnH” e deferida por despacho de 3 de Julho de 2002, destinada a assinalar serviços da classe 35ª. 20 - Encontra-se registada a marca comu-nitária nº ... “VISABLE”, pedida em 20 de Junho de 2001 por “BC…, Inc” e deferida por despacho de 2 de Outubro de 2002, destinada a assinalar produtos e serviços das classes 9ª, 39ª e 41ª.21 - Encontra-se registada em Portugal a marca internacional nº ... “VISA”, pedida em 28 de Agosto de 2003 por “GN… BV.” e deferida por despacho de 28 de Setembro de 2004, destinada a assinalar produtos da classe 9ª.22 - Encontra-se registada a marca co-munitária nº ... “VISA”, pedida em 31 de Janeiro de 2002 por “D…” e deferida por despacho de 16 de Julho de 2003, desti-nada a assinalar produtos da classe 18ª. 23 - Encontra-se registada a marca co-munitária nº ... “VISA”, pedida em 1 de Abril de 1996 por “P,,, M… Belgium” e deferida por despacho de 10 de Julho de 1998, destinada a assinalar produtos da classe 34ª. iii – QueStÕeS JurÍdiCaS eSSeNCiaiS.São as seguintes as questões jurídicas que importa dilucidar:Da confundibilidade entre as marcas da recorrente - “VISA “- e a marca - “Intervisa Destination Management CompanY” - pertencente à ora recorrida. Considera-ções gerais. Requisito legal da novidade. Aferição da capacidade distintiva entre as respectivas marcas.Passemos à sua análise:

A questão jurídica essencial que ora se discute centra-se na possibilidade da marca “INTERVISA Destination Manage-ment CompanY “, em virtude da alegada semelhança gráfica e fonética com a da apelante - “VISA“-, gerar no público erro ou engano, levando-o a associá-las e potenciando inclusivamente situações de concorrência desleal[1].Dispõe o art. 4º, nº 4, do Código da Propriedade Industrial, aprovado pelo Decreto-lei nº 36/2003, de 5 de Março:“Os registos de marcas, de nomes e insígnias de estabelecimento, de logó-tipos e de denominações de origem e de indicações geográficas constituem fundamento de recusa ou de anulação de denominações sociais ou firmas com ele confundíveis, se os pedidos de autori-zação ou de alteração forem posteriores aos pedidos de registo“.Acrescenta o art. 224º, nº 1, do mesmo diploma legal:“O registo confere ao seu titular o direito de propriedade e do exclusivo da marca para produtos e serviços a que este se destina“.Dispõe, por seu turno, o art. 258º:“O registo da marca confere ao seu titular o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de usar, no exercício de actividades económicas, qualquer sinal igual, ou semelhante, em produtos ou serviços idênticos ou afins daqueles para os quais a marca foi registada, e que, em consequência da semelhança entre os sinais e da afinidade dos produtos ou serviços, possa causar um risco de confusão, ou associação, no espírito do consumidor.Contemplando as denominadas “marcas de prestígio“ estabelece o art. 242º, nº 1 do Código de Propriedade Industrial:“Sem prejuízo do disposto no artigo anterior (referente às marcas notórias), o pedido de registo será igualmente re-cusado se a marca, ainda que destinada a produtos ou serviços sem identidade ou afinidade, constituir tradução, ou for

[1] Conforme consta do art. 4, alínea b), da Directiva do Conselho das Comunidades Europeias, de 21 de Dezembro de 1988, que harmoniza as legislações dos Estados-membros em matéria de marcas: “O pedido de registo de uma marca será recusado ou, tendo sido efectuado, o registo de uma marca ficará passível de ser declarado nulo: (…) se, devido à identidade ou semelhança com a marca anterior, e devido à identidade ou semelhança dos produtos ou serviços a que as duas marcas se destinam, existir, no espírito do público, um risco de confusão que compreenda o risco de associação com a marca anterior “.

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igual ou semelhante, a uma marca ante-rior que goze de prestígio em Portugal ou na Comunidade Europeia, se for co-munitária, e sempre que o uso da marca posterior procure tirar partido indevido do carácter distintivo ou do prestígio da marca, ou possa prejudicá-los”.No mesmo sentido, o Regulamento da Marca Comunitária CE nº 40/94, de 20 de Dezembro de 1993 (RMC), dispõe no seu art. 9º:“1. A marca comunitária confere ao seu titular um direito exclusivo. O titular fica habilitado a proibir um terceiro de utilizar, sem o seu consentimento, na vida comercial:a) Um sinal idêntico à marca comunitá-ria para produtos ou serviços idênticos àqueles para os quais esta foi registada;b) Um sinal que, pela sua identidade ou semelhança com a marca comunitária e pela identidade ou semelhança dos pro-dutos ou serviços abrangidos pela marca comunitária e pelo sinal provoque o risco de confusão no espírito do público; o risco de confusão compreende o risco de associação entre o sinal e a marca;c) Um sinal idêntico ou similar à marca comunitária, para produtos ou serviços que não sejam similares àqueles para os quais a marca comunitária foi registada, sempre que esta goze de prestígio na Comunidade e que o uso do sinal sem justo motivo tire partido indevido do carácter distintivo ou do prestígio da marca comunitária ou lhe cause prejuízo. 2. Pode nomeadamente ser proibido, se estiverem preenchidas as condições enunciadas no nº 1:a) Apor o sinal nos produtos ou na res-

pectiva embalagem;b) Oferecer os produtos, colocá-los no comércio ou possuí-los para esses fins, ou oferecer ou prestar serviços sob esse sinal;c) Importar ou exportar produtos sob esse sinal;d) Utilizar o sinal em documentos comer-ciais e na publicidade. 3. O direito conferido pela marca comu-nitária só é oponível a terceiros a partir da publicação do registo da marca. Todavia, pode ser exigida uma indemnização razoável por actos posteriores à publi-cação do pedido de marca comunitária que, após a publicação do registo da marca, sejam proibidos por força desta. O tribunal em que for proposta a acção não pode decidir do mérito da causa enquanto o registo não for publicado. “.Vejamos:Visando a marca, no essencial, desempe-nhar uma função distintiva dos produtos a que se reporta, a lei proíbe situações de imitação que se verificam sempre que, colocadas em confronto duas marcas, seja possível estabelecer-se, no espírito do público consumidor, confusão entre elas dada a susceptibilidade duma ser tomada pela outra[2].Aos olhos do consumidor médio[3] dos produtos em questão, registar-se-á confusão entre marcas se existir a possi-bilidade séria de, ao adquirir a respectiva mercadoria ou contratar determinados serviços, ficar convencido – pela seme-lhança gráfica, fonética ou figurativa - de que a marca que os assinala é aquela que retinha na memória[4] - quando afinal se tratava de produtos de proveniência

diversa.Escreve-se, sobre esta temática, no acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 26 de Abril de 2001 (relator Oliveira Barros), publicado in Colectânea de Ju-risprudência/STJ, Ano IX, tomo II, pags. 37 a 40:“Há risco de erro ou confusão sempre que a semelhança possa dar origem a que um sinal seja tomado por outro, ou a que o público considere que há iden-tidade da proveniência dos produtos ou serviços a que os sinais se destinam (…)(…) a apreciação da confundabilidade assenta em dois princípios fundamen-tais, a saber:a) deve fundar-se num exame rápido e, por isso, sintético, da marca, no seu todo (mais ou menos complexo);b) deve ser feita com referência à im-pressão geral suscitada no consumidor médio dos produtos ou serviços em questão, ao qual será raro mostrar-se possível proceder a um exame compa-rativo.Menos pertinente, pois, para efeito, uma indagação analítica das particularidades que no caso ocorram, importa ter em conta a impressão global, sintética, de conjunto, própria do público consumi-dor, que, desvalorizando os pormenores, se concentra nos elementos fundamen-tais, dotados de maior eficácia distintiva.De reter é, por fim, que a comparação que define a semelhança é a que tem em conta “um sinal e a memória que se possa ter doutro “[5]

Assim sendo,Há que averiguar, caso a caso, marca a marca, se existe (ou não), em termos

[2] Sobre este ponto vide, entre outros, Carlos Olavo, in “Propriedade Industrial “, pags. 37 a 39; Ferrer Correia, in “Lições de Direito Comercial “, Volume I, pag. 323; “Código de Propriedade Industrial “anotado por Jorge Cruz, em especial quanto ao respetivo art. 245º, a pags. 625 a 634; acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 30 de Outubro de 2003 (relator Oliveira Barros) publicado in www.dgsi.pt, com abundantes referências doutrinárias acerca do tema; acórdão da Relação de Lisboa de 31 de Maio de 2007 (relator Pedro Lima Gonçalves), in www.dgsi.pt, que, citando Luís Couto Gonçalves, in “Manual de Direito Industrial “, pag. 141, alude às funções distintiva, de garantia de qualidade dos produtos e serviços (função derivada) e publicitária (função complementar) que a marca deve prosseguir.

[3] Conforme sublinha o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 27 de Março de 2008 (relator Salvador da Costa), publicado in www.dgsi.pt: “O consumidor a que a lei se refere não é o perito nem o ignaro na matéria, mas o chamado consumidor médio ou padrão, ou seja, o que consegue captar a proveniência dos produtos por via de sinais distintivos. “.

[4] Atendendo a que, na maior parte dos casos, o consumidor não dispõe para observação direta, lado a lado, dos produtos assinalados com as marcas em contraposição. Realça-se, a este propósito, com particular acuidade, no acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 25 de Março de 2004 (relator Santos Bernardino), publicado in www.dgsi.pt, que “o público geralmente não está a pensar na imitação, na existência ou não de imitação. Liga um produto, que lhe agradou, a certa marca, de que conserva uma ideia mais ou menos precisa. E deve evitar-se que outro comerciante adopte uma marca que, ao olhar distraído do público, possa apresentar-se como sendo a que ele busca”.

[5] No mesmo sentido, vide acórdão da Relação de Lisboa de 20 de Outubro de 2005 (relator Ferreira Lopes), publicado in Colectânea de Jurispru-dência, Ano XXX, tomo IV, pags. 125 a 126; acórdão da Relação de Lisboa de 6 de Maio de 2003 (relator Proença Fouto), publicado in Colectânea de Jurisprudência, Ano XXVIII, tomo III, pags. 70 a 73, onde se apela para a perspetiva do consumidor captada através de “intuição sintética “, “não sendo por dissecação analítica que deve proceder-se à necessária comparação. “.

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sérios e fundados, o risco dum produto ou serviço ser associado ao outro, pela similitude gráfico ou fonética apontada, prejudicando o requisito legal da novi-dade da marca.Tudo dependerá, no fundo, da natureza da mercadoria e do mercado concreto a que se destina; da forma como está cons-truída a marca concorrente e o carácter original, individualizador e autónomo que consiga objectivamente transmitir ao público. Debruçando-nos sobre a situação sub judice:Pronunciou-se o Instituto Nacional de Propriedade Industrial, na decisão proferida nestes autos: “…os sinais em confronto não possuem tal semelhança que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, como é exigência da alínea c) do nº 1 do art. 245º, do Código de Propriedade Industrial, ou que justi-ficariam a eventual aplicação do regime da marca notória.Com efeito, entendemos que as seme-lhanças existentes entre os sinais se reve-lam escassas para que se possa defender a susceptibilidade dos consumidores se-rem incapazes de reportar os serviços em causa às respectivas origens, pois tanto na componente fonética como na figu-rativa as diferenças entre os conjuntos em comparação são, em nossa opinião, evidentes, circunstâncias a que acrescem os factos alegados e demonstrados pela requerente“.No mesmo sentido, concluiu o juiz a quo:“Resta então analisar se o terceiro requi-sito: semelhança gráfica e fonética que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não as podendo distin-guir senão depois de exame atento ou confronto, se verifica. A marca recorrida caracteriza-se pela expressão “INTERVISA DESTINATION MANAGEMENT COMPANY”. As marcas da recorrente, por sua vez, são todas elas compostas pela expressão “VISA”. As marcas em confronto são, todas elas, meramente nominativas. Olhando para a marca recorrida é ma-nifesto que o seu elemento preponde-rante é a expressão “INTERVISA” já que as restantes palavras mais não são do

que a descrição do serviço que a marca pretende assinalar e, enquanto tal, não têm eficácia distintiva.Assim, em rigor, a comparação há-de fazer-se entre “INTERVISA” e “VISA”. Pese embora a marca recorrida contenha na íntegra a marca da recorrente “VISA”, o certo é que tal palavra é antecedida pela expressão “INTER”, facto que não pode ser desconsiderado até porque o elemento “VISA” não surge na marca recorrida particularmente destacado, ou seja, não lhe é dado particular destaque ou realce. Ora, não obstante a identidade no que à expressão “VISA” toca, o certo é que a partícula “INTER” introduz uma alte-ração de onde resulta desde logo uma diferença significativa entre os sinais, quer gráfica quer foneticamente. A argumentação do recorrente é absoluta-mente improcedente dado que assenta na predominância da palavra VISA na marca recorrida, predominância essa que não existe. Acresce que a recorrida é uma empresa que tem na sua denominação a mesma expressão “INTERVISA”, sendo essa a denominação porque é conhecida, e é titular de ouros sinais distintivos, de-signadamente marca, nome e insígnia de estabelecimento que são todos eles caracterizados pela mesma expressão “INTERVISA”. Ora, não é crível, face ao conjunto de sinais da recorrida e à sua própria denominação, que o consumidor ao deparar com a marca da recorrida a vá de algum modo associar às recorrentes ou às suas marcas. Com efeito, existindo há longos anos uma marca, um nome e uma insígnia de estabelecimento carac-terizados pela expressão “INTERVISA”, todos associados a serviços relaciona-dos com viagens, ao surgir uma nova marca, destinada a assinalar os mesmos serviços, a haver qualquer associação é à recorrida, ou seja, o consumidor que já conhece os sinais “INTERVISA”, ao deparar com serviços relacionados com viagens assinalados com a expressão “INTERVI-SA” vai associá-los aos sinais INTERVISA que já conhece e não ao sinal “VISA” da recorrente ou à recorrente.Significa isto que não se pode considerar

haver uma semelhança entre as marcas que permita afirmar ser a marca recorrida imitação das marcas da recorrente nem há qualquer indício de que os sinais vão ser associados pelo consumidor, sendo, pois, irrelevante o prestígio das marcas da recorrente por esta invocado.Atendendo a estes considerandos é de concluir que apesar de a marca recorrida incluir a expressão que caracteriza as marcas da recorrente partes comuns, analisando cada uma das marcas no seu todo há diferenças nítidas entre elas, o que não permite ao consumidor médio a confusão necessária para se poder considerar a marca recorrida imitação das marcas da recorrente.Aliás, não deixa de ser relevante o facto de os sinais da recorrida coexistirem no mercado com as marcas da recorrente há já alguns anos sem que a recorrente tenha invocado qualquer situação con-creta de confusão já havida ou qualquer prejuízo resultante dessa coexistência. Relevante é igualmente o facto de haver várias outras marcas em vigor, nacionais, comunitárias e internacionais, da titulari-dade de terceiros, que incluem a mesma expressão “VISA” e em relação aos quais a recorrente nada refere.Face ao exposto, no entender do Tribu-nal, a marca recorrida não é imitação das marcas da recorrente.

da concorrência deslealAlega ainda a recorrente que a con-cessão da marca objecto do presente recurso potencia a concorrência desleal.Prescreve o art. 24º, nº 1, al. d) versão ori-ginal, correspondente ao actual art. 239º, nº 1, al. e), que é fundamento de recusa do registo. O reconhecimento de que o requerente pretende fazer concorrência desleal ou que esta é possível indepen-dentemente da sua intenção.A concorrência existe quando o consu-midor é levado a atribuir os produtos à mesma fonte produtiva (estabeleci-mento ou sociedade) ou a pensar que existem relações comerciais, económicas ou de organização entre as empresas que produzem ou comercializam os produtos. Neste último caso o consu-midor atribui a origem dos produtos

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ou serviços a um denominador comum pensando tratar-se da mesma organiza-ção, entendida esta em sentido lato, pelo que ainda assim se pode dizer que atribui os produtos à mesma origem (neste sen-tido, Américo da Silva Carvalho, in Marca Comunitária, Cª Editora, p. 82 e segs.).Atendendo às conclusões supra enun-ciadas e à noção de concorrência desleal, não se nos afigura lícita a conclusão de que o uso da marca recorrida para assinalar produtos farmacêuticos pode levar à prática de actos da concorrência desleal. Como já se referiu, a diferença entre as marcas é evidente não se afigu-rando possível que o consumidor médio deste tipo de produtos caia no erro de as associar. Não se vislumbra possível a associação entre as marcas de modo a poder pensar-se tratar-se da mesma fonte produtiva nem se podendo con-cluir que o consumidor médio irá pensar desse modo.Pelo exposto, a única conclusão possível é a de que não há concorrência desleal mesmo que não intencional. Assim, e mesmo considerando que deverá ser recusado o registo se houver possibilidade de ocorrer concorrência desleal mesmo não intencional, não descortinamos que no presente caso possa existir concorrência desleal, já que não admitimos como possível qualquer tipo de confusão quer entre os produtos que as marcas pretendem assinalar quer quanto à origem dos mesmos.Face a todo o exposto, não sendo as marcas confundíveis nem se afigurando que a sua coexistência leve à prática de concorrência desleal, não há fundamen-to para a revogação do despacho. Deve, pois, o despacho recorrido ser mantido. “.Apreciando:

As considerações supra expendidas merecem, em termos gerais, a nossa concordância.Com efeito,As marcas em confronto são, tanto no seu aspecto gráfico como fonético, totalmente distintas, permitindo ao cidadão médio a fácil individualização dos respetivos serviços, sem o real pe-rigo da ocorrência de situações de erro ou confusão no consumidor, geradoras de fenómenos de concorrência desleal.É certo que nos encontramos perante marcas que visam assinalar serviços do mesmo tipo, ou seja, os incluídos na classe 39ª - “transporte, embalagem de mercadorias e organização de viagens”, Logo, Sendo os serviços comercializados pelas detentoras das marcas em contraposição do mesmo género, existe, em abstracto, a possibilidade de partilha da mesma clientela interessada.Não obstante, É nosso entendimento queNão se verifica verdadeira similitude entre as duas expressões – “VISA“ e “INTERVISA“- capaz de sugerir uma correspondência necessária, instintiva e imediata que globalmente conduza à sua indevida associação[6].Com efeito,Quem se interessar pelos produtos comercializados pela INTERVISA, pre-sentes e atuantes no mercado nacional há largos anos, não tenderá, através da perceção da respetiva marca, a identificá-los, de forma fragmentária, pelo dizer “VISA“ - retido na sua memória enquanto denominador comum que eventual-mente os aproxima.Concretamente, Para o consumidor médio português, a

expressão “VISA“ é imediata e instintiva-mente associada com a vulgar utilização de cartões de crédito e débito, bem como de outros produtos financeiros, não lhe sugerindo, sem outra informa-ção ou esclarecimento adicional, o seu relacionamento com a temática da or-ganização de viagens e turismo.Por outro lado,As diferenças entre as duas expressões revestem a força distintiva necessária para alertar quem se dispõe a utilizar os serviços oferecidos de que está perante proveniências diversas.Ou seja,As duas marcas em causa revestem elementos prevalecentes que afastam o fundado receio de que o público con-sumidor seja espontaneamente levado a estabelecer um nexo identificativo entre as duas, acreditando numa proveniência comum.A marca “Intervisa “, tomada no seu con-junto[7], atendendo à sua integralidade, em que tanto prevalece a designação inicial “Inter“ como a final “Visa“, possui a necessária e indispensável capacida-de ou eficácia distintiva, aos olhos do consumidor médio dos serviços em questão (organização de viagens) para, no confronto com a conhecida marca “VISA “, não vir a proporcionar confusões ou associações geradoras de fenómenos de concorrência desleal.A marca da apelada, composta na sua integralidade pela expressão “INTERVISA DESTINATION MANAGEMENT COM-PANY”, afasta-se claramente da realidade que o público consumidor retém como traduzindo os serviços vulgarmente associados ao que comummente atribui à dita “VISA “.Mesmo aceitando a qualificação da mar-

[6] Conforme se realça no acórdão da Relação de Lisboa de 29 de Abril de 2003 (relator Pimentel Marcos), publicado in www.dgsi.pt: “(…) a imitação de uma marca por outra deve ser apreciada mais pela semelhança que resulte dos elementos que a constituem do que pelas dissemelhanças que poderiam oferecer os diversos pormenores, considerados isolados e separadamente. Relativamente às marcas nominativas, importa considerar sobretudo a semelhança visual e fonética. Há que tem em conta quem lê e quem ouve. Mas nas marcas mistas, como é o caso, há que ter ainda em consideração o seu conjunto. O que é fundamental é que a marca possua a necessária eficácia distintiva “. Outrossim o acórdão da Relação de Lisboa de 31 de Maio de 2007, citado supra, chama a atenção para que: “(…) Deve privilegiar-se, sempre que possível, o elemento dominante. (…) É no respeito da visão unitária e não espartilhada da marca que se retira a prevalência de um dos seus elementos. “. No mesmo sentido pronuncia-se o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 25 de Março de 2004 (relator Santos Bernardino), citado supra, onde pode ler-se: “(o risco de confusão) deve ser apreciado globalmente, sendo que tal apreciação, no que respeita à semelhança visual, auditiva ou conceitual das marcas em causa, deve ser fundada numa impressão de conjunto, tendo em conta, nomeadamente, os elementos distintivos e dominantes dessas marcas. “.

[7] Escreve, a este propósito, Oliveira Ascensão, in “Direito Comercial - Volume II – Direito Industrial “, a pags. 154 a 155: “interessa aqui uma semelhança de conjunto, que não obste a que cada um dos elementos singulares seja diferente; tal como a fantasia de Carnaval pode sugerir imediatamente a figura representada, embora se tenham alterado humoristicamente todos os elementos componentes. “.

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ca “VISA“ como uma marca de prestígio – o que acarreta a atribuição de uma proteção adicional, extensiva inclusive a produtos que não são idênticos, nem afins[8] – não existe fundamento sério e real para conjeturar a suscetibilidade de concorrência desleal a ser praticada pela nacional “INTERVISA“.Para isso, falta o essencial: a verdadeira confundibilidade junto do consumidor médio, idónea a parasitar o seu prestígio e a sua distintividade.Acrescente-se igualmente que se encon-tram registadas em Portugal diversas e variadas marcas em cuja composição entra a expressão “VISA“, sem que daí resulte ligação à marca da recorrente, in-tuitos de imitação, nem o menor indício

de concorrência desleal[9].De resto, seria perfeitamente absurdo e profundamente insensato proibir toda e qualquer marca em cuja composição entrasse a expressão “VISA“ com base no genérico e difuso receio de que – sem se intuir ou perscrutar o intuito fraudulento, desleal ou concorrencial – pudesse exis-tir aproveitamento do prestígio mundial e da pujança publicitária da marca da apelante, maioritariamente conotada em Portugal apenas e só com cartões de débito e crédito e outros produtos financeiros.Por conseguinte,Não há fundamento para a recusa do registo desta marca. O recurso terá, pois, que improceder.

iv - deCiSÃo:Pelo exposto, acordam os Juízes desta Relação em julgar improcedente a apelação, confirmando-se a decisão recorrida, subsistindo o despacho do Di-rector de Serviços de Marcas do Instituto Nacional de Propriedade Horizontal que concedeu o registo da marca nacional nº... , “INTERVISA DESTINATION MANA-GEMENT COMPANY“, de que é titular Intervisa – Viagens e Turismo, S.A.. Custas pela apelante.

Lisboa, 13 de Março de 2012.

Luís Espírito SantoGouveia Barros Conceição Saavedra

[8] Sobre a proteção das marcas de prestígio, vide acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 22 de Janeiro de 2009 (relator Granja da Fonseca), publicitado in www.jusnet.pt; acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 13 de Julho de 2010 (relator Fonseca Ramos), publicitado in www.jusnet.pt, onde se procede à demarcação entre marca de prestígio e marca notória.

[9] Vide os factos dados como provados, bem como a conhecida marca nacional VISABEIRA TURISMO (sobre esta temática pronunciou-se o acórdão deste Tribunal da Relação e secção (7ª) no processo nº 1360/04.0TYLSB – relator Gouveia Barros – onde se escreve “…está sobrestimada pela recorrida a eficácia distintiva do seu sinal o qual faz parte da denominação social de várias sociedades, algumas nascidas muito antes do registo das marcas da recorrida, e nas quais possui uma mera conotação geográfica com o “berço“ de tais sociedades ou dos seus fundadores (Viseu) e sem nenhuma conexão com a matriz financeira do sinal por aquela adoptado“).

CoMeNtário: No âmbito do presente recurso coloca-se a seguinte questão:“Possibilidade da marca “INTERVISA Destination Management CompanY”, em virtude da alegada semelhança gráfica e fonética com a da apelan-te - “VISA“-, gerar no público erro ou engano, levando-o a associá-las e potenciando inclusivamente situações de concorrência desleal”.De acordo com o art. 4º, nº 4, do Código da Propriedade Industrial:“Os registos de marcas, de nomes e insígnias de estabelecimento, de logó-tipos e de denominações de origem e de indicações geográficas constituem fundamento de recusa ou de anulação de denominações sociais ou firmas com ele confundíveis, se os pedidos de autorização ou de alteração forem posteriores aos pedidos de registo“.Dispõe o art. 224º, nº 1, do mesmo C. Prop. Industrial que:“O registo confere ao seu titular o di-reito de propriedade e do exclusivo da marca para produtos e serviços a que

este se destina“.E o art. 258º do mesmo Código, que:“O registo da marca confere ao seu titular o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de usar, no exercício de actividades económicas, qualquer sinal igual, ou semelhante, em produtos ou serviços idênticos ou afins daqueles para os quais a marca foi registada, e que, em consequência da semelhança entre os sinais e da afinidade dos produtos ou serviços, possa causar um risco de confusão, ou associação, no espírito do consumidor“.A respeito das “marcas de prestígio“ estabelece o art. 242º, nº 1 do CPI, que:“Sem prejuízo do disposto no artigo anterior (referente às marcas notórias), o pedido de registo será igualmente re-cusado se a marca, ainda que destinada a produtos ou serviços sem identidade ou afinidade, constituir tradução, ou for igual ou semelhante, a uma marca anterior que goze de prestígio em Portugal ou na Comunidade Europeia, se for comunitária, e sempre que o uso da marca posterior procure tirar

partido indevido do carácter distintivo ou do prestígio da marca, ou possa prejudicá-los“.O Regulamento da Marca Comunitária CE nº 40/94, de 20 de Dezembro de 1993 (RMC), dispõe no seu art. 9º:“1. A marca comunitária confere ao seu titular um direito exclusivo. O titular fica habilitado a proibir um terceiro de utilizar, sem o seu consentimento, na vida comercial:a) Um sinal idêntico à marca comunitá-ria para produtos ou serviços idênticos àqueles para os quais esta foi registada;b) Um sinal que, pela sua identidade ou semelhança com a marca comunitária e pela identidade ou semelhança dos produtos ou serviços abrangidos pela marca comunitária e pelo sinal, pro-voque o risco de confusão no espírito do público; o risco de confusão com-preende o risco de associação entre o sinal e a marca;c) Um sinal idêntico ou similar à marca comunitária, para produtos ou servi-ços que não sejam similares àqueles para os quais a marca comunitária foi

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MarCaSVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201236

registada, sempre que esta goze de prestígio na Comunidade e que o uso do sinal sem justo motivo tire partido indevido do carácter distintivo ou do prestígio da marca comunitária ou lhe cause prejuízo. 2. Pode nomeadamente ser proibido, se estiverem preenchidas as condições enunciadas no nº 1:a) Apor o sinal nos produtos ou na respectiva embalagem;b) Oferecer os produtos, colocá-los no comércio ou possuí-los para esses fins, ou oferecer ou prestar serviços sob esse sinal;c) Importar ou exportar produtos sob esse sinal;d) Utilizar o sinal em documentos co-merciais e na publicidade. 3. O direito conferido pela marca comu-nitária só é oponível a terceiros a partir da publicação do registo da marca. Todavia, pode ser exigida uma indem-nização razoável por actos posteriores à publicação do pedido de marca comunitária que, após a publicação do registo da marca, sejam proibidos por força desta. O tribunal em que for proposta a acção não pode decidir do mérito da causa enquanto o registo não for publicado“.A lei proíbe situações de imitação que se verificam sempre que, colocadas em confronto duas marcas, seja possível estabelecer-se, no espírito do público consumidor, confusão entre elas, dada a suscetibilidade de uma ser tomada pela outra.Para o consumidor médio há confusão entre marcas se existir a possibilidade séria de, ao adquirir a respetiva mer-cadoria ou contratar determinados serviços, ficar convencido – pela se-melhança gráfica, fonética ou figura-tiva – de que a marca que os assinala é aquela que retinha na memória - quando afinal se tratava de produtos de proveniência diversa.Há, pois, que averiguar, caso a caso, marca a marca, se existe (ou não), em termos sérios e fundados, o risco dum produto ou serviço ser associado ao outro, pela similitude gráfico ou foné-

tica apontada, prejudicando o requisito legal da novidade da marca.Tudo dependerá, no fundo, da nature-za da mercadoria e do mercado con-creto a que se destina; da forma como está construída a marca concorrente e o carácter original, individualizador e autónomo que consiga objetivamente transmitir ao público. Sobre o caso em concreto, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial, entende que“…os sinais em confron-to não possuem tal semelhança que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, como é exigência da alínea c) do nº 1 do art. 245º do Código de Propriedade Industrial, ou que justificariam a eventual aplicação do regime da marca notória. Com efei-to, entendemos que as semelhanças existentes entre os sinais se revelam escassas para que se possa defender a suscetibilidade dos consumidores serem incapazes de reportar os ser-viços em causa às respetivas origens, pois tanto na componente fonética como na figurativa as diferenças entre os conjuntos em comparação são, em nossa opinião, evidentes, circunstân-cias a que acrescem os factos alegados e demonstrados pela requerente. “.A marca recorrida caracteriza-se pela expressão “INTERVISA DESTINATION MANAGEMENT COMPANY”. As marcas da recorrente, por sua vez, são todas elas compostas pela expressão “VISA”. O elemento preponderante da marca recorrida é a expressão “INTERVISA”. A comparação há-de fazer-se entre “INTERVISA” e “VISA”. Pese embora a marca recorrida contenha na íntegra a marca da recorrente “VISA”, o certo é que tal palavra é antecedida pela expressão “INTER”. Aqui, o elemento “VISA” não surge na marca recorrida particularmente destacado, ou seja, não lhe é dado particular destaque ou realce. Ora, não obstante a identidade no que à expressão “VISA” toca, o certo é que a partícula “INTER” introduz uma alteração de onde resulta desde logo uma diferença significativa entre os

sinais, quer gráfica quer foneticamente. A argumentação do recorrente é, por isso, improcedente.Acresce que a recorrida é uma em-presa que tem na sua denominação a mesma expressão “INTERVISA”, sendo essa a denominação porque é conhecida, e é titular de outros sinais distintivos, designadamente marca, nome e insígnia de estabelecimento que são todos eles caracterizados pela mesma expressão “INTERVISA”. O consumidor que já conhece os sinais “INTERVISA”, ao deparar com serviços relacionados com viagens assinala-dos com a expressão “INTERVISA” vai associá-los aos sinais INTERVISA que já conhece e não ao sinal “VISA” da recorrente ou à recorrente.Significa isto que não se pode consi-derar haver uma semelhança entre as marcas que permita afirmar ser a marca recorrida imitação das marcas da recorrente nem há qualquer indício de que os sinais vão ser associados pelo consumidor, sendo, pois, irrelevante o prestígio das marcas da recorrente por esta invocado.Assim, apesar de a marca recorrida incluir a expressão que caracteriza as marcas da recorrente partes comuns, analisando cada uma das marcas no seu todo há diferenças nítidas entre elas, o que não permite ao consumidor médio a confusão necessária para se poder considerar a marca recorrida imitação das mar-cas da recorrente.No entender do Tribunal da Relação de Lisboa, a marca recorrida não é imita-ção das marcas da recorrente. Não se tratando de marcas confundíveis nem se afigurando que a sua coexistência leve à prática de concorrência desleal, não há fundamento para a revogação do despacho. Não há, pois, fundamento para a recusa do registo desta marca. Face ao exposto o Tribunal da Re-lação de Lisboa decidiu em julgar improcedente o recurso de apelação, mantendo na íntegra a decisão objecto de recurso.

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Resumos - JuriSPrudêNCia VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 37

A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 06 de Março de 2012, foi sumariada do se-guinte modo:

“I - O direito real de habitação periódi-ca, classificado como direito real menor, comporta dois planos: aquele que o ca-racteriza como “um esquema ou regime de exploração turística” cuja constitui-ção é feita com base num negócio ju-rídico unilateral, em regra, da iniciativa do proprietário das infra-estruturas do empreendimento turístico e o dos di-reitos parcelares de habitação periódi-ca que são adquiridos pelos respetivos utentes, em regra, por mero efeito de um contrato, nos termos do art. 408.º do CC (cf. arts. 6.º, 10.º e 12.º do DL n.º 275/93, de 05-08).

II - O carácter real da obrigação de pa-gamento da prestação anual, no âmbito do direito real de habitação periódica, impõe-se ao titular deste direito inde-pendentemente de qualquer acto de aceitação, retirando-lhe a natureza de contraprestação sinalagmática assumi-da num hipotético quadro contratual, nomeadamente para efeitos de oposi-ção ao respetivo pedido de pagamento por via da exceção de não cumprimento, prevista no art. 428.º do CC.III - Funcionando as prestações anuais como correspetivo dos encargos de ges-tão e como compensação do proprietá-rio do empreendimento turístico pelas despesas a que está sujeito, essas pres-tações não podem configurar-se como sendo meras contrapartidas simétricas do uso das unidades de alojamento, pelo que estando o empreendimento

sujeito à realização de obras de gran-de vulto que, porém, não inviabilizam a sua utilização essencial, a exigência do pagamento dessas prestações não pode ser entendida como abusiva, nem se traduz em excesso manifesto dos li-mites impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou econó-mico desse direito (art. 334.º do CC).”Neste recurso interposto junto do Tri-bunal do Supremo Tribunal de Justiça discute-se a seguinte matéria:- Saber se verifica no caso em apreço a excepção de não cumprimentoOs AA. são titulares de um direito par-celar de habitação periódica que lhes confere, a cada um deles, o uso para fins habitacionais, por determinado período temporal, em cada ano, de fracção do Aparthotel FF integrado no Complexo Turístico de Tróia, mediante o pagamen-to de determinada prestação periódica ao respetivo proprietário ou gestor (cfr

art. 1º e 3º do DL 275/93 de 5.8). Classificado como direito real menor, há que distinguir quanto a este novo direi-to real, dois planos: aquele que o carac-teriza como “um esquema ou regime de exploração turística” cuja constituição é feita com base num negócio jurídi-co unilateral, em regra, da iniciativa do proprietário das infra-estruturas do em-preendimento turístico e o dos direitos parcelares de habitação periódica que são adquiridos pelos respetivos utentes, em regra, também, por mero efeito de um contrato, nos termos do art. 408º do C. Civil.Sendo um direito real, por via da tipici-dade, o regime do direito real de habi-tação periódica deve resultar, ao menos no tocante ao seu conteúdo essencial, da lei e nos casos nela não regulados, do título constitutivo e do documento complementar a que se alude no nº2 do art. 11 do mesmo diploma, cuja elabora-ção pertence ao proprietário do imóvel. É no art. 21º daquele diploma (redação do DL 180/99 de 22.05) que se elencam poderes e faculdades dos titulares de di-reitos parcelares de habitação periódica

direito real de HaBitaÇÃo PeriÓdiCa- exceção de não cumprimento

referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 06.03.2012fonte: site do STJ – www.dgsi.pt

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JuriSPrudêNCia - ResumosVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201238

e entre eles, o de habitar a unidade de alojamento pelo período corresponden-te ao seu direito ou o de usar instalações e equipamentos comuns do empreen-dimento. O art. 22º daquele diploma impõe-lhe a obrigação de pagar ao proprietário ou gestor do empreendimento a presta-ção anual que, no mesmo normativo, é apontada como correspetivo de gestão e compensação do proprietário pelas despesas a que está sujeito. A falta de pagamento dessa prestação confere a este último privilégio creditó-rio imobiliário sobre aquele direito (cfr art. 23º), revestindo, pois, essa obrigação a natureza de uma verdadeira obrigação real, com eficácia erga omnes, portanto, impositiva para o titular do direito.Ora, apesar de a Recorrente vir, apenas em sede de recursos, recentrar a lide na órbita dos direitos de crédito, alu-dindo a vaga violação de expectativas, comprometedoras dos fins do contrato, certo é que , tal como foi reconhecido no acórdão recorrido, se não descorti-nam nos autos elementos de origem contratual(bilateral) que sustentem quais as obrigações e direitos assumidos pelas partes que tenham sido objecto de violação e possam sustentar os pe-didos formulados na acção. Também mesma razão se recusa reme-ter para um genérico e vago incumpri-mento contratual a solução do litígio, e se mostra, claramente, deslocada a excepção de não cumprimento do con-trato que os AA opuseram ao pedido de pagamento da prestação anual que a Ré, contra eles, formulou, reconven-cionalmente. A exceção de não cumprimento é a fa-culdade que cada um dos contraentes tem de, nos contratos bilaterais com o mesmo prazo de cumprimento das respetivas prestações, recusar a sua en-quanto o outro não efectuar a que lhe cabe (art. 428º do C. Civil). Ora, desde logo, não resulta comprova-do que a prestação anual cujo cumpri-mento os Reconvindos pretendem recu-sar, tenha por origem qualquer contrato bilateral e muito menos que nele tenha sido assumida como contraprestação

sinalagmática de prestação assumida pelo outro sujeito contratual. Não tendo por fundamento o trato contratual, também, se afigura que o carácter real, acima sublinhado, da obri-gação de prestação anual no âmbito do estatuto do direito real de habitação pe-riódica se impõe ao titular deste direito, independentemente, de qualquer acto de aceitação o que sempre lhe retiraria qualquer vínculo daquela ordem (si-nalagmática) num hipotético quadro contratual. Não se revendo a solução da causa e da revista no paradigma do direito das obrigações, ela também não procede, por falta de prova, no quadro dos pode-res correspondentes ao conteúdo típico do direito real de habitação periódica, nomeadamente, o direito de habitar a fração autónoma e de usar as instala-ções comuns do empreendimento em que ela se insere cuja lesão e respectiva ilicitude ficaram por demonstrar.Na verdade, supunham os pedidos que formularam, a demonstração pelos AA de que as obras levadas a cabo pela Ré haviam inviabilizado a utilização de suas frações, objecto do direito real de habitação periódica e também que ha-viam sido impedidos de aceder e usar as partes comuns de lazer, do empre-endimento. Não só não o fizeram, mas também se veio , afinal, a comprovar que no perío-do temporal em que haviam situado a lesão de seus direitos, e como bem re-ferem as instâncias, “não só o FF se man-teve em funcionamento e em condições de ser utilizado pela generalidade dos seus utilizadores até Novembro de 2007, como os próprios Autores utilizaram os apartamentos durante algumas sema-nas do ano de 2005 e socorreram-se dos tribunais visando utilizá-los nos anos de 2006 e 2007.” Por outro lado, no silêncio dos títulos que fizeram juntar aos autos, como se escreve no acórdão recorrido, não só “nada consta quanto a equipamentos de uso comum exteriores ao Aparthotel a cujo uso tenham direito” mas também se não comprova que “a Ré (tenha) as-sumido contratualmente a obrigação

de assegurar o uso dos equipamentos de que os AA. alegam terem sido priva-dos com as obras, ou proporcionarem a animação cultural, jogos, festas que invocam terem deixado de ser organi-zados…” Assim, não comprovada a conduta le-siva da Ré, não se pode pedir que a responsabilidade civil cumpra a sua função de obrigar a Ré a proceder à reparação dos danos peticionados (art. 483º do CC). A conduta da Ré de exigir aos AA. o pagamento das prestações anuais em falta, relativas à unidade de alojamen-to de cada um deles, configura abuso de direito. Como se escreve no acórdão recorrido, “os AA. só não utilizaram as frações so-bre as quais incide o respetivo DRHP, porque não quiseram, já que o Apar-thotel se manteve, no período a que respeitam as pedidas prestações, em funcionamento e em condições de ser utilizado…” Segundo o disposto no art. 22º do já citado DL 180/99, funcionam tais pres-tações como correspetivo dos encargos de gestão e como compensação do pro-prietário do empreendimento turístico pelas despesas a que está sujeito. Vinculadas a tais finalidades, essas pres-tações não podem configurar-se, por-tanto, como sendo meras contraparti-das simétricas do uso das unidades de alojamento. Assim sendo, na descrita situação dos autos, em que o empreendimento pas-sa pela realização de obras de grande vulto que, todavia, não inviabilizam a sua utilização essencial, a exigência do pagamento das mesmas prestações, não pode ser entendida como abusiva nem se traduz em excesso manifesto dos limites impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico desse direito (art. 334º do C. Civil). Em consequência do exposto, na falta de fundamento das questões analisa-das, conclui-se pela falta de fundamen-to da revista. Termos em que o STJ julgou improce-dente o recurso de revista.

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JuriSPrudêNCia do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 39

aSSuNto: Categoria de ações

referências: Acórdão do Tribunal

da Relação do Porto de 13.3.2012

fonte: site do TRP – www.dgsi.pt

Sumário: I - Em função da objetivação da

participação social, nas sociedades anó-nimas os direitos especiais são atribuí-dos às ações, tornando-se irrelevante a pessoa do acionista.

II - A norma que confere ao mínimo de 10% de ações de qualquer categoria o poder de votar contra os eleitos para o conselho de administração, permitindo o ingresso de um membro eleito pelo grupo que votou contra, não constitui um direito especial de uma categoria de ações.

III - As ações dessa minoria têm os mesmos direitos que as demais, de modo a que a tutela dos acionistas minoritários é indiferenciada e não em função de determinada categoria de ações.

IV -Assim, não necessita do consen-timento dos visados nem padece de ineficácia a deliberação social que, alte-rando o estatuto da sociedade, suprime esse direito das minorias.

acordam no tribunal da relação do Porto

i. relatórioB…, residente na …, …, …, propôs

esta ação declarativa constitutiva, sob a forma de processo ordinário, contra C…, S.A., com sede na Rua …, … a …, no Porto, pedindo:

a) a anulação da deliberação social tomada sob o ponto um da ordem do dia;

b) a declaração de que, pelo menos

na hipótese de pelo menos 10% do capital de qualquer das categorias de ações se agrupar sob a titularidade de um único acionista, a disposição esta-tutária do artigo 24º, 5, dos Estatutos que integram o acto constitutivo da ré, a que alude em 17º e 18º, consagra um verdadeiro direito especial, atribuído a esse mínimo de 10% de ações de qual-quer categoria;

c) a declaração de que o autor era, à data da assembleia geral de 31 de Março de 1997, que suprimiu tal disposição estatutária, titular desse direito especial;

d) a declaração de que tal delibe-ração, que suprimiu esta disposição estatutária, é ineficaz, por ter sido tomada sem consentimento do autor, que relativamente a ela votou contra;

e) a declaração de que a deliberação que elegeu os titulares do C.A. para o quadriénio 2009-2012 é também, por isso ineficaz;

f ) a declaração de que, ao votar con-tra a deliberação que elegeu os titulares do C.A. para o quadriénio 2009-2012, o autor tem direito a designar um elemen-to do mesmo conselho que substitua o que figura em último lugar da lista, por não haver lugar a eleição (dado o carác-ter individual do seu voto, resultante da titularidade, só por si, de pelo menos 10% do capital social), o de ser investido na qualidade de membro desse Conse-lho, para o referido quadriénio;

g) condenar a ré no reconhecimento desses direitos do autor, bem como a admitir o autor como titular do C.A. em substituição do último elemento indicado na lista constante da proposta declarada aprovada na assembleia geral da ré de 30-03-2009.

Alegou, em síntese, que a ré, como gestora do C…, tem o seu capital social dividido em três espécies de ações – A, B

e C. As ações de categoria A são detidas pela Câmara Municipal ou pessoas cole-tivas de direito público. As de categoria B são detidas por comerciantes grossis-tas. E as de categoria C são detidas por produtores individuais ou coletivos de bens, agrupamentos ou associações, cooperativas e suas organizações de grau superior. O autor é sócio da ré, de-tendo um total de 127.875 ações, sendo o maior acionista das categorias B e C. Em 30 de Março de 2009 teve lugar uma assembleia geral e, sob o ponto 1 da or-dem do dia, foi aprovada a proposta do C.A. de serem aprovados os relatórios de gestão e constas do ano 2008. Sobre o ponto quatro da ordem do dia, foi apro-vada a proposta de eleição dos titulares dos órgãos sociais. O autor votou contra as propostas e deliberações. A delibe-ração do ponto um é inválida, por não lhe terem sido fornecidos os elementos contabilísticos que solicitou, tendo sido informado que a sua consulta depende-ria de requerimento a apresentar ao C.A. A deliberação tomada sobre o ponto quatro é ineficaz, porquanto era titular de um direito especial de voto que foi suprimido sem o seu assentimento. Sendo ineficaz a deliberação que supri-miu esse seu direito especial, é também ineficaz a deliberação de 30-03-2009 que designou o C.A. contra o voto do autor. Ao votar contra essa deliberação, tem de ser admitido a designar um elemento desse C.A. que substitua o que figura no último lugar da lista e, por não haver lugar a eleição, deverá ser investido na qualidade de membro do C.A. nesse quadriénio.

Juntou documentos.Contestou a ré a falta de informação

invocada pelo autor, contrapondo que todos os elementos informativos pre-paratórios previstos no artigo 289º CSC

aNulaÇÃo de deliBeraÇÃo SoCial- Deliberação renovatória – direito especial

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JuriSPrudêNCia do STJ e das RelaçõesVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201240

lhe foram remetidos, bem como outros elementos adicionais por ele solicita-dos. Impugnou a evocada ineficácia da deliberação, pois o autor não justifica o tal direito especial, o qual só poderia ser atribuído a categorias de ações e não a acionistas. De todo o modo, o autor não é nem nunca foi titular de um qualquer direito especial, designadamente que lhe conferisse direito a designar admi-nistradores, o que até é proibido por lei. A deliberação de 1997 não padeceu de qualquer vício. Atribuindo ao autor a deturpação e falsidade dos factos legados, pediu a sua condenação como litigante de má fé em multa condigna e indemnização a seu favor a liquidar em execução de sentença, mas não inferior a 25.000,00 euros.

Juntou documentos.Replicou o autor, impugnando a fac-

tualidade aduzida como fundamento da litigância de má fé e defendendo a sua improcedência.

Foi determinado o registo da ação.A ré veio arguir a nulidade da maté-

ria articulada pelo autor sob os artigos 10º a 20º da réplica, pedindo que fosse considerada não escrita.

Nulidade a que respondeu o autor, sustentando a sua inverificação.

De novo respondeu a ré com a for-mulação do desentranhamento deste articulado apresentado pelo autor.

Comprovado o registo da ação, foi proferido despacho que determinou a notificação da requerida para, em 10 dias, indicar “(…) se pretende prevale-cer-se da faculdade legal consignada no art. 62º, n.º 3, do CPC (…)”.

Tendo a ré pedido esclarecimento acerca do alcance do despacho em causa, foi judicialmente reconhecido tratar-se de um manifesto “lapsus cala-mi”, reiterando que a ré deve esclarecer, em 10 dias, a sua posição sobre o tema em crise no despacho transacto.

A ré veio informar não pretender usar da faculdade legal a que alude o artigo 62º, 3, do C.S.C.

Teve lugar a audiência preliminar, vindo posteriormente a ser proferido despacho saneador e condensatório, tendo este merecido reclamações do

autor e da ré, não atendidas “in totum”.Em sede de audiência de julgamen-

to foi ampliada a base instrutória com aditamento de 10 itens.

O autor apresentou articulado su-perveniente, alegando que, em 31 de Março de 2011, teve lugar a assembleia geral ordinária da sociedade ré e sob o ponto quatro da ordem de trabalhos foi aprovada a deliberação de renovação da deliberação tomada sobre o relatório de gestão e contas do exercício de 2008, sob o ponto cinco foi aprovada a deli-beração de renovação da deliberação tomada sobre o relatório de gestão e contas do exercício de 2009 e sobre o ponto 6 foi aprovada a deliberação de renovação da deliberação sobre a afectação dos resultados relativos ao exercício de 2009, tomada na assem-bleia geral de 31-03-2010. Votou contra tais deliberações e interpôs ação para anulação da deliberação renovatória, por entender que a mesma enferma do mesmo vício da precedente. Conclui pedindo a declaração de procedência da ação quanto ao pedido de anulação da deliberação que aprovou o relatório de gestão e contas do exercício de 2008, declarando-se a sua invalidade relativa-mente ao período anterior à deliberação renovatória.

Admitido liminarmente o articu-lado superveniente, respondeu a ré com a adução de que a renovação da deliberação foi aprovada por 78,52% do capital social, equivalente a 88% do capital social presente ou representado na assembleia. O autor teve nova opor-tunidade de solicitar informações sobre o exercício de 2008 e não o fez, reve-lando que litiga por litigar, distanciado dos motivos que apregoa. Pediu que, tendo sido já ouvidas as testemunhas do autor, fossem igualmente inquiridas as testemunhas da ré, tanto mais que a sua inquirição é fundamental para apuramento da litigância de má fé.

Foram apresentados novos articu-lados com reposição das respectivas teses.

O Senhor Juiz proferiu a sentença que transcrevemos na íntegra:

Fls.271 e ss- e da deliberação reno-

vatória que aí consta (Ata da A.G. do R., C…, S.A, datada de 27 de Outubro de 2010):

Como consabido, uma deliberação eventualmente nula por vícios na sua formação (vd. o art. 56º a) e b) do CSC) ou uma deliberação anulável, pode ser renovada por outra que não enferme do vício precedente (vd, com interesse, o Snr. Prof. Lobo Xavier in Anulação de Deliberações Sociais e Deliberações Co-nexas, pag. 464, nota 108), situação esta que me parece ser aquela da situação “sub Júdice”, uma vez analisada a ata nº 34 da sociedade em crise – vd. fls.273 e ss. para onde remeto “brevitatis causa”.

Por outro lado, será de realçar que o ataque judicial a deliberações toma-das constitui um sério embaraço ao fluir normal da actividade societária, bem podendo, na prática, levar à sua paralisação, com os advenientes preju-ízos para o normal desenrolar da vida empresarial (que, vista a decorrente inércia da actividade societária duran-te tempo não neglicenciável em face da dúvida instalada sobre a validade de uma deliberação, particularmente quando a mesma é atacada em juízo, com facilidade pode inexoravelmente conduzir a uma situação de inanição económica dos entes sociais) situação esta, a todas as luzes, deveras gravosa (particularmente) nos tempos hodier-nos em face da notória crise económica que grassa no País, em que, mais do que nunca, devem as empresas desenvolver o seu aviamento da forma mais tranqui-la possível na prossecução do escopo ao qual geneticamente tendem.

Na verdade, as questíunculas so-ciais não raro levam à desagregação económico/social do tecido empresa-rial (muitas vezes, à insolvência), com nefastas consequências quer para os trabalhadores, quer para a economia em geral, pensando eu que está na “ra-tio legis” (e na “mens legislatoris”, uma vez o assunto estudado) do assinalado art. 62º do CSC a ideia fundante/estru-turante da preservação da paz social nos entes económicos em prol do bem comum através da criação de riqueza.

Ora, uma vez analisada criticamente

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JuriSPrudêNCia do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 41

a sobredita deliberação social (proémio de fls. 273), extrai-se que a mesma é de subsumir à previsão do art.62º nº3 do C.S.Comerciais, assistindo-lhe eficácia renovadora à luz dos considerandos supra expostos, assistindo-lhe a virtu-alidade jurídica supra exarada, o que se julga.

Aqui chegados, dir-se-á que a figura da renovação consignada no art. 62º do CSC destina-se precisamente a obviar a tal, sendo que através da renovação, os sócios refazem a deliberação que antes haviam tomado, concluindo sobre o seu objecto uma outra destinada absorver o conteúdo daquela e a tomar o seu lugar, sendo certo que o sobredito comando também deve ser extensivo às deliberações eventualmente anulá-veis – atente-se ao estatuído no art. 58º nº1 c) do CSC (vd. propugnando neste sentido, o Snr. Dr. Carneiro da Frada, in Deliberações Sociais Inválidas, em No-vas Perspectivas do Direito Comercial, 1988, pgs. 334 e ss ).

Ora, uma vez analisada criticamente a sobredita deliberação social, extrai-se que a mesma é de subsumir à previ-são do art. 62º nº3 do C.S.Comerciais, assistindo-lhe eficácia renovadora da pregressa deliberação à luz dos con-siderandos supra expostos. A novel deliberação obstará a que possa chegar a bom termo a ação onde foi atacada a anterior (ob. cit. supra, pg.334 e ss), deliberação esta que, na prática, desa-parece do mundo jurídico, deixando a presente ação de ter estribo bastante para a continuação dos seus termos (“et pour cause “).

“Lastly”, dir-se-á ainda que o Snr. B… (A.) expressamente reconhece a fls. 313 que já intentou nova ação destinada a colocar em causa a deliberação com eficácia renovatória, o que igualmente milita decisivamente no propugnado sentido, consumida que está a del.social que constitui o “thema” dos presentes autos pelo supervenientemente deli-berado em 31/3/2011.

Deste modo, como corolário das supra esgrimidas razões, julgo como extinta esta instância nº 359/09 por manifesta inutilidade/impossibilidade

superveniente de continuação da Lide (vd. o art. 287º e) do CPC).

Custas pela requerida, em face do acto renovatório por si praticado “motu próprio” e que foi determinante para o “terminus” desta causa nos termos supra expostos.

Registe e notifique.Desta sentença interpôs recurso

o autor, cuja alegação assim rematou:1. A sentença é nula ao abrigo do

artigo 668º, 1, d), CPC.2. Invocou na petição inicial razões

de facto e de direito, nomeadamente invalidade da deliberação aprovada sob o ponto um da ordem do dia da assembleia realizada no dia 20-03-2009 e a ineficácia da deliberação tomada sob o ponto quatro da mesma ordem de trabalhos.

3. Ora, a deliberação renovatória apenas se relaciona com o pedido for-mulado sob a al. a), em nada interferin-do com os restantes pedidos, fundados em deliberação que não foi objecto de renovação.

4. Termos em que deve ser revogada a decisão que ordene o prossegui-mento do processo para anulação da deliberação.

5. Caso assim não entenda, o tri-bunal também não se pronunciou quanto ao formulado no articulado superveniente, pelo que a sentença é nula também por essa via. Pediu a decla-ração de nulidade da deliberação que aprovou o relatório de gestão e contas relativamente ao período anterior à deliberação renovatória.

6. Já instaurou ação de anulação da deliberação social renovatória, a qual está inquinada do mesmo vício da re-novada. E, por isso, não faz cessar a anu-labilidade de que a renovada padece.

7. Não podia o tribunal a quo pro-ferir sentença de extinção da instância por inutilidade superveniente da lide, devendo prosseguir a ação.

8. Deve ser revogada a decisão e proferida outra que ordene o prosse-guimento da instância.

Em resposta, assim concluiu a ré a sua alegação:

1. O pedido formulado no articulado

superveniente depende do interesse atendível invocado pelo sócio impug-nante.

2. A alegação e a prova do prejuízo derivado para o sócio impugnante da execução da deliberação a ele incum-be, não tendo o autor alegado factos suscetíveis de subsunção a um interesse atendível na anulação da deliberação renovada.

3. A alegação meramente conclusiva que efectuou é contraditória com o fac-to de o autor se ter apressado a levantar os dividendos.

4. Por tais razões nunca esse pedido poderia proceder.

5. A deliberação renovatória não está inquinada do mesmo vício que o autor imputa à renovada – a violação do direito à informação.

6. Não pediu o autor qualquer infor-mação para a assembleia geral em que foi tomada a deliberação renovatória.

7. Relativamente à nulidade deriva-da da falta de apreciação dos restantes pedidos deduzidos na ação, o que o autor quer discutir é uma deliberação de 1997, o que não é possível por há muito estar ultrapassado o prazo.

8. Ainda que fosse possível discutir uma deliberação de 1997, que o autor aceitou, não lhe assistiria qualquer ra-zão. Os direitos especiais são atribuídos a categorias de ações e não a acionistas, pelo que o autor não é titular de qual-quer direito especial.

9. O direito a designar administrador não constitui um direito especial, mas apenas a de atribuir um direito de exer-cício coletivo a acionistas maioritários.

10. Por isso, quando o senhor Juiz declarou extinta a instância por inutili-dade superveniente da lide terá consi-derado prejudicadas as outras questões.

11. Por tudo quanto foi dito deve ser negado provimento ao recurso e, subsidiariamente, no que diz respeito aos pedidos formulados pelo autor em b) a g), sempre a ré deverá ser absolvida dos mesmos, com pronúncia acerca da litigância de má fé.

ii. Âmbito do recursoRessalvadas as questões de conhe-

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cimento oficioso, são as conclusões da alegação do recorrente que delimitam o objecto do recurso (artigos 684º e 685º-A do Código de Processo Civil[1]). Assim, no presente recurso impõe-se-nos o exame das seguintes questões:

1. Nulidade da sentença.2. Deliberação renovatória.3. Direito especial.4. Litigância de má fé.

iii. fundamentação de facto (com base nos documentos e no acordo das partes)

1. A ré é uma sociedade que tem por objeto a instalação e gestão do C…, cujo capital social está divido em 1.200.000 ações, no valor nominal indi-vidual de 5,00 euros.

2. O autor é acionista da ré, que detém 128.875 ações, representativas de 10,6% do capital social.

3. Em 6-03-2009 foram os acionistas da ré convocadas para uma assembleia geral ordinária a realizar em 30-03-2009, pelas 10:00 horas, na sua sede social, com a seguinte ordem de trabalhos:

3.1. Deliberar sobre o relatório de gestão e demais documentos de pres-tação de contas relativos ao exercício findo em 31-12-2008.

3.2. Deliberar sobre a afetação dos resultados.

3.3. Proceder à apreciação geral da administração e fiscalização da sociedade.

3.4. Deliberar sobre a eleição dos titulares dos órgãos sociais para o qua-driénio 2009-2012 (doc. fls. 13).

4. Desse aviso constava a menção: “Os elementos de informação prepa-ratórios da assembleia geral estarão à disposição dos senhores acionistas, para consulta, na sede social, durante as horas de expediente, a partir do dia 13 de Março, nos termos do artigo 289º do Código das Sociedades Comerciais” (doc. fls. 13).

5. Em 30-03-2009 teve lugar a assembleia geral ordinária da ré, que reuniu com a presença de acionistas

representativos de 92,01% do capital social, na presença de todos os mem-bros do conselho de administração e do conselho fiscal, com a seguinte ordem de trabalhos:

5.1. Deliberar sobre o relatório de gestão e demais documentos de pres-tação de contas relativos ao exercício findo em 31-12-2008.

5.2. Deliberar sobre a afetação dos resultados.

5.3. Proceder à apreciação geral da administração e fiscalização da sociedade.

5.4. Deliberar sobre a eleição dos titulares dos órgãos sociais para o qua-driénio 2009-2012.

E ainda a inclusão de dois pontos propostos pela representante do autor:

5.5. Na deliberação da alteração do pacto social quanto à composição do conselho de administração, que haverá de passar a ser constituído apenas por três administradores;

5.6. Na deliberação da redução para cinco do número de administradores do conselho de administração para o qua-driénio 2009-2012 (ata de fls. 14 a 31).

6. Quanto ao ponto um da ordem de trabalhos, foi aprovado com 81,09% de votos a favor, com 10,83% de votos contra e uma abstenção de 0,09% do capital social. A representante do au-tor manifestou a seguinte declaração de voto: “Votou contra por o acionista por si representado ter sido impedido de formar uma opinião conscienciosa e fundamentada sobre a matéria da deliberação, dado ter sido impedida a consulta de todo o qualquer docu-mento contabilístico, quando para tal expressamente se deslocou, na passada sexta-feira, dia 27-03-2009, na compa-nhia de uma técnica oficial de contas”. Sobre essa declaração se expressou o representante do acionista D…, por ter estado diretamente envolvido nesse pedido de informação, afirmando não ser verdade que o acionista B… tenha sido impedido de ter acesso a informa-ção e que lhe foi disponibilizada toda

a informação disponível para consulta dos acionistas, sem que tenha sido concretizado qualquer pedido de in-formação (ata de fls. 14 a 31).

7. O segundo ponto da ordem de trabalhos, quanto à afectação dos resultados, foi aprovado por 81,18% de votos a favor, tendo 10,08% votado contra, com uma abstenção de 0,03% do capital (ata de fls. 14 a 31).

8. No tocante ao ponto quatro da ordem de trabalhos, relativo à eleição dos corpos sociais para o quadriénio 2009-2012, foi apresentada uma pro-posta de eleição de determinadas pes-soas para os corpos sociais, tendo sido aprovada por 81,18% de votos a favor, 10,74% contra, com uma abstenção de 0,09% do capital social. Intervindo a representante do autor, fez a seguinte declaração de voto: “Sem prejuízo das razões que serão invocadas em sede de uma ação de anulação de deliberação social, votou contra pelas razões que fundamentam as propostas e que se consubstanciam nos dois pontos do aditamento a esta ordem de trabalhos requerido pelo acionista que representa (ata de fls. 14 a 31).

9. Posto à consideração o ponto cin-co da ordem de trabalhos, após explici-tação pela representante do autor das razões para tal proposta, foi o mesmo reprovado com 81,18% de votos contra, 10,83% a favor e com quatro votos de abstenção, correspondentes a 42 ações (ata de fls. 14 a 31).

10. Relativamente ao ponto seis da ordem de trabalhos, foi o mesmo con-siderado prejudicado face à deliberação vertida e votada sob o ponto quatro da ordem de trabalhos. A representante do acionista autor expressou o seguinte: “Dado o sentido de voto do ponto quatro da ordem de trabalhos fica prejudicada a apreciação deste ponto, pelo que propôs a sua retirada” (ata de fls. 14 a 31).

11. Em 31-03-1997 teve lugar uma assembleia geral da ré, com a presença ou representação de 89,59% do ca-

[1] Na redação dada pelo Decreto-Lei 303/2007, de 24 de Agosto, dado que a ação entrou em juízo em data posterior a 1 de Janeiro de 2008 (artigos 11º e 12º). Normativo a que pertencerão todas as normas do Código de Processo Civil que tenham sido por ele alteradas.

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pital social, com a seguinte ordem de trabalhos:

11.1. Aprovar o relatório de gestão e demais documentos de prestação de contas relativos ao exercício findo.

11.2. Aprovar a afetação dos resul-tados.

11.3. Proceder à apreciação da ad-ministração e fiscalização da sociedade.

11.4. Deliberar aumentar o ca-pital social de 200.000.000$00 para 400.000.000$00, através de incor-poração de reservas no montante de 200.000.000$00, com emissão de 200.000 novas ações ordinárias nomina-tivas com o valor nominal de 1.000$00.

11.5. Deliberar modificar parcial-mente o contrato de sociedade através da alteração da redação dos artigos 2º, 5º a 35º inclusive e pelo aditamento de um novo artigo 36º.

11.6. Deliberar eleger os titulares dos órgãos sociais para o quadriénio 1997-2000 (ata de fls. 40 a 58).

12.Colocado à votação o ponto um da ordem de trabalhos, foi aprovado com 14.420 votos a favor, 3.299 votos contra e abstenção dos acionistas E…, F… e G… (ata de fls. 40 a 58).

13. Foi aprovado por unanimidade o ponto dois da ordem de trabalhos.

14. Foi lida a proposta do Conselho de Administração quanto aos pontos quatro e cinco da ordem de trabalhos, propondo para o artigo 6º do contrato de sociedade a seguinte alteração:

1 – As ações representativas do capital social dividir-se-ão em três categorias, A, B e C; com exceção dos privilégios dos titulares das ações da categoria A previstos nos artigos 8º, 15º e 19º, todas as ações da sociedade con-ferem os mesmos direitos e obrigações, legais e estatutários.

2 – O disposto no número anterior não prejudica a estipulação de que certos direitos só possam ser exercidos por acionistas que sejam titulares de, ou representem, um determinado número de ações ou uma determinada percen-tagem de capital social.

3 – Sem prejuízo do disposto no

artigo 9º, as ações representativas do capital social da sociedade serão ex-clusivamente detidas pelas seguintes entidades: - as ações da categoria A são obrigatoriamente detidas pela CM … ou por outras pessoas coletivas de di-reito público ou sociedades de capitais maioritariamente públicos; - as ações da categoria B são obrigatoriamente detidas por comerciantes grossistas de bens transacionáveis no C…; as ações de categoria C são obrigatoriamente detidas por produtores individuais ou coletivos dos bens atrás referidos, ou pelos seus agrupamentos, associações, cooperativas e suas organizações de grau superior, conforme definido no Código Cooperativo; as ações de uma das categorias que venham a ser adqui-ridas por acionistas titulares de ações de outra categoria ou por terceiros que reúnam condições para integrar outra categoria, serão obrigatoriamente convertidas em ações da categoria a que pertencer o adquirente, sendo os respectivos custos de conta deste; um mesmo acionista não poderá nunca ser titular de ações de categorias distintas. A proposta foi aprovada por acionistas e representantes detentores de 72,89% do capital social (ata de fls. 40 a 58).

16. Foi aprovada por 72,89% do ca-pital social a proposta de determinadas pessoas para eleição dos corpos sociais. O autor apresentou à assembleia dois requerimentos anexos à ata (ata de fls. 40 a 58, que não exibe tais reque-rimentos).

17. Em 31-03-2011 realizou-se a assembleia geral ordinária da socie-dade ré, contando dentre a ordem de trabalhos os pontos 5. e 6. com o seguinte teor:

5. Deliberar sobre a renovação da deliberação sobre o relatório de gestão e demais documentos de prestação de contas relativos ao exercício findo em 31-12-2009, tomada na assembleia geral de 31-03-2010;

6. Deliberar sobre a renovação da deliberação sobre a afectação dos re-sultados relativos ao exercício findo em

31-12-2009, tomada na assembleia ge-ral de 31-03-2010 (ata de fls. 273 a 282).

18. As propostas apresentadas quanto àqueles pontos foram aprova-das com 78,52% de votos a favor e 12% de votos contra (ata de fls. 273 a 282).

iv. fundamentação de direito1. Nulidade da sentença

O recorrente atribui à sentença a nulidade decorrente da falta de reso-lução de todas as questões que foram submetidas a julgamento, a que alude o artigo 668º, 1, d), do Código de Processo Civil. Preceito que comina de nula a sen-tença que deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar e que o recorrente centra na falta de apreciação dos pedidos deduzidos sob as alíneas b) a g), dado que a deliberação renovatória apenas atingiu de inutilidade superve-niente da lide o pedido formulado sob a alínea a).

Esta nulidade entronca no dever de o juiz dever conhecer todas as questões que lhe são submetidas (artigo 660º, 2, do Código de Processo Civil), ou seja, de todos os pedidos, causas de pedir e excepções invocadas ou de que cumpra conhecer oficiosamente, salvo se o seu conhecimento estiver prejudicado pelo anterior conhecimento de qualquer outra questão[2]. Nulidade que não abarca a omissão de análise de linhas de fundamentação jurídica evocadas pelas partes, não afrontadas pela sentença.

Vista a petição inicial, o autor de-mandou o C…, com a formulação dos seguintes pedidos:

a) a anulação da deliberação social tomada sob o ponto um da ordem do dia, ou seja, a aprovação do relatório de gestão e demais documentos de pres-tação de contas relativos ao exercício do ano de 2008;

b) a declaração de que, pelo menos na hipótese de pelo menos 10% do capital de qualquer das categorias de ações se agrupar sob a titularidade de um único acionista, a disposição esta-tutária do artigo 24º, 5, dos Estatutos que integram o ato constitutivo da ré,

[2] José Lebre de Freitas, “Código de Processo Civil”, Anotado, II Vol., 2ª ed., pág. 704.

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a que alude em 17º e 18º, consagra um verdadeiro direito especial, atribuído a esse mínimo de 10% de ações de qual-quer categoria;

c) a declaração de que o autor era, à data da assembleia geral de 31 de Março de 1997, que suprimiu tal disposição estatutária, titular desse direito especial;

d) a declaração de que tal delibe-ração que suprimiu esta disposição estatutária é ineficaz, por ter sido tomada sem consentimento do autor, que relativamente a ela votou contra;

e) a declaração de que a deliberação que elegeu os titulares do C.A. para o quadriénio 2009-2012 é também por isso ineficaz;

f ) a declaração de que, ao votar con-tra a deliberação que elegeu os titulares do C.A. para o quadriénio 2009-2012, o autor tem direito a designar um elemen-to do mesmo conselho que substitua o que figura em último lugar da lista, por não haver lugar a eleição (dado o carác-ter individual do seu voto, resultante da titularidade, só por si, de pelo menos 10% do capital social), o de ser investido na qualidade de membro desse Conse-lho, para o referido quadriénio;

g) condenar a ré no reconhecimento desses direitos do autor, bem como a admitir o autor como titular do C.A. em substituição do último elemento indicado na lista constante da proposta declarada aprovada na assembleia geral da ré de 30-03-2009.

E, em articulado superveniente, que foi admitido, pediu o autor que, apesar da deliberação renovatória, seja decla-rada a procedência da ação quanto ao pedido de anulação da deliberação que aprovou o relatório de gestão e contas do exercício de 2008, declarando-se a sua invalidade relativamente ao período anterior à deliberação renovatória.

A sentença proferida, perante a comprovação de deliberação renova-tória da deliberação de aprovação do relatório de gestão e demais documen-tos de prestação de contas relativos ao exercício do ano de 2008, tomada na assembleia geral de 30-03-2009, limitou-se a declarar “extinta a instância por inutilidade/ impossibilidade super-

veniente da lide”, omitindo qualquer referência quanto aos demais pedidos deduzidos pelo autor, claramente inde-pendentes da eficácia da deliberação renovatória.

Vale por dizer que, patentemente, o Senhor Juiz julgou extinta a instância com total sonegação do direito do autor a ver conhecidos todos os demais pe-didos, designadamente relativamente quanto ao pedido formulado em a), já que o autor pediu a declaração de inva-lidade da deliberação tomada quanto a esse ponto relativamente ao período anterior à deliberação renovatória (articulado superveniente). Daí que, mesmo no tocante à deliberação que a aprovou o relatório de gestão e demais documentos de prestação de contas re-lativos ao exercício do ano de 2008, lhe era vedado declarar extinta a instância, pois estava formulada a declaração de invalidade relativamente ao período anterior à deliberação renovatória.

Ante o exposto, julgamos verificada a arguida nulidade com a consequente anulação daquela sentença de extinção de instância e, ao abrigo do preceituado no artigo 715ºdo Código de Processo Civil, passamos, de imediato, a conhecer dos pedidos formulados, uma vez que as partes se pronunciaram sobre essa matéria na alegação e na resposta.

2. deliberação renovatória Está adquirido que, em 6-03-2009,

os acionistas da ré foram convocadas para uma assembleia geral ordinária a realizar em 30-03-2009, cuja ordem de trabalhos, dentre outros pontos, enqua-drava a deliberação sobre o relatório de gestão e demais documentos de pres-tação de contas relativos ao exercício findo em 31-12-2008. Teve lugar essa assembleia geral ordinária da ré, que reuniu em 30-03-2009, com a presença de acionistas representativos de 92,01% do capital social, e que, quanto àquele ponto, o aprovou com 81,09% de votos a favor, com 10,83% de votos contra e uma abstenção de 0,09% do capital social. Nesse ato, a representante do autor clarificou que votou contra por o autor ter sido impedido de formar uma

opinião conscienciosa e fundamentada sobre a matéria da deliberação, dado ter sido impedida a consulta de todo o qualquer documento contabilístico, quando para tal expressamente se deslocou à empresa na companhia de uma técnica oficial de contas. Declara-ção logo refutada pelo representante do acionista D…, que afirmou a falta de verdade dessa declaração, quer por lhe ter sido disponibilizada toda a informação disponível para consulta dos acionistas, quer por não ter concre-tizado qualquer pedido de informação (nos 3, 5 e 6 da fundamentação de facto).

Encontra-se controvertida a factu-alidade relativa à assinalada violação do dever de informação evocada pelo autor, a qual respeita exclusivamente à deliberação de aprovação do relatório de gestão e demais documentos de prestação de contas relativos ao exercí-cio de 2008. Porém, como a sociedade demandada procedeu à renovação dessa deliberação, é irrelevante uma apurada decantação dessa causa de invalidade da deliberação renovada e do vício que a afeta.

Podem ser objeto de renovação as deliberações anuláveis e as delibe-rações nulas por força das alíneas a) e b) do n.º1 do artigo 56º do Código das Sociedades Comerciais, doravante designado por “C.S.C.”, ou seja, as que forem tomadas em assembleia geral não convocada, salvo se todos os sócios estiverem presentes ou representados, ou tomadas mediante voto escrito sem que todos os sócios com direito de voto tenham sido convocados a exercer esse direito, excepto se todos tiverem dado por escrito o seu voto (artigo 62º do C.S.C.). In casu, pese embora o cariz con-trovertido da factualidade relevante, a verdade é que o autor invocou como fundamento da invalidade da delibe-ração o não lhe terem sido fornecidos os elementos mínimos de informação, o que comportaria a anulabilidade da deliberação (artigo 58º, 1, c), do C.S.C.). Assim, a deliberação em causa estava em condições de ser renovada. Reno-vação que foi efetuada pelo órgão que tinha competência para o efeito, ou seja,

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pela assembleia geral, que foi o órgão social que concluiu o ato antecedente, e com o mesmo conteúdo da renovada, surgindo a nova deliberação com o fim substitutivo do anterior procedimento deliberativo no tocante à aprovação do relatório de gestão e demais documen-tos de prestação de contas relativos ao exercício de 2008.

Logo, à luz do artigo 62º do C.S.C., que consagra a possibilidade de reite-ração de uma deliberação inválida por outra, entretanto tomada regularmente, que renova a definição de interesses por aquela outra apresentada, a deliberação renovatória substituiu a anterior. Este mecanismo oferece aos sócios a pos-sibilidade de reconduzir “ad viam juris” uma deliberação viciada ou, ao menos, de eliminar a dúvida eventualmente existente acerca da validade de uma deliberação, prosseguindo o desiderato da certeza e estabilidade, relevantes na actividade societária[3]. E tomada a nova deliberação, validamente e com o mesmo objeto, ela passa a constituir a única fonte de efeitos jurídicos, como se a deliberação antecedente não tives-se existido e esta fosse concluída pela primeira vez. Vale por dizer que, através da deliberação renovatória, a sociedade pode repelir os inconvenientes que uma deliberação viciada sempre acarreta ao regular funcionamento da sociedade. E pela deliberação renovatória surge uma nova regulamentação, um novo comando de relações sociais estáveis[4].

Foi com base nestes princípios que a decisão impugnada julgou extinta a instância, apesar de o autor ter pedido a anulação da primeira deliberação relativamente ao período anterior à deliberação renovatória.

A deliberação renovatória, desde que não enferme do vício da anterior, opera o convalescimento desta, salva-guardando, por regra, os seus efeitos “ex tunc”, a significar que se eliminam os efeitos jurídicos produzidos pela de-

liberação renovada. Porém, na situação prevista no artigo 62º, 2, do C.S.C. o seu efeito renovatório produz somente efei-tos “ex nunc”, ou seja, actua apenas para o futuro[5]. Embora esta matéria se en-quadre numa problemática mais vasta, correlacionada com a modificabilidade de certas situações jurídicas por via de deliberações retroactivas, parece-nos que, tal como em qualquer negócio jurídico, os sócios estão legitimados a regular os seus interesses instituindo à deliberação social eficácia retroativa. Naturalmente que essa eficácia não pode afetar terceiros que não tenham intervindo no negócio nem concordado com a sua retroatividade, a impor que uma deliberação social retroativa não possa ofender direitos de terceiros. Não relativamente à posição de sociabilida-de, em que a retroatividade da delibe-ração social é, em princípio, admissível, podendo, no entanto, qualquer dos sócios invocar contra ela um interesse atendível, para que a mesma só produza efeitos “ex nunc”.

O autor, que não votou favora-velmente a deliberação em causa, ao invocar a anulação da deliberação no período anterior à deliberação reno-vatória, alegou interesse atendível na anulação da deliberação, por estar em jogo a deliberação que aprova os resul-tados de exercício, que se repercute nos seus interesses patrimoniais, por ser o maior acionista da ré entre os titulares das ações das categorias B e C (artigos 13º a 15º do articulado superveniente).

O estatuto da ré proscreve que qualquer acionista seja detentor de ações de diversa categoria, ao dispor que “um mesmo acionista não poderá nunca ser titular de ações de categorias distintas” (artigo 6º, 3). Afirma o autor ser titular de ações das categorias B e C, mas esse posicionamento não afeta a questão decidenda, de tal modo que a apelada se limitou a opor que o autor reduziu a sua alegação a um juízo con-

clusivo e jurídico, sem concretização de factos suscetíveis de prova e que possam facultar ao tribunal a indagação da atendibilidade do interesse do autor.

O nosso ordenamento jusprocessual civil consagra o princípio da substan-ciação, segundo o qual não basta a indicação genérica do direito que o demandante pretende satisfazer, sendo necessária a indicação especificada do facto constitutivo desse direito. Embora esteja salvaguardada a possibilidade do tribunal qualificar juridicamente a situação factual aduzida, até de forma diversa da que as partes apresentaram, ela tem de ser alicerçada nos factos por elas articulados (artigo 664º do Código de Processo Civil). É, pois, essencial ao êxito da ação que o autor identifique a causa de pedir, especificando o acervo de factos que integram o núcleo essen-cial da previsão da norma que estatui o efeito de direito material pretendido[6]. Efectivamente, à luz do princípio do dispositivo, as partes são responsá-veis pela orientação e consequências decorrentes da estratégia processual que definam e adoptem. É o princípio da autorresponsabilidade das partes, que lhes exige pedir a resolução do conflito, enunciando-o e elegendo o meio concreto de tutela que pretendam perante a alegada violação do direito, carreando os factos e as provas que reputem adequados e formulando os pedidos correspondentes[7].

É assim que tudo está em saber se o autor alegou causa de pedir fundante da sua pretensão. Como vimos, o autor limitou-se a alegar que, por estar em jogo a deliberação que aprova os re-sultados de exercício, repercute-se nos seus interesses patrimoniais, por ser o maior acionista da ré entre os titulares das ações das categorias B e C, quando teria de alegar, para provar, um interesse substantivo, traduzido na suscetibi-lidade de prejuízo causado ao titular do direito de anulação pela eficácia

[3] Manuel Carneiro da Frada, in BFDUC, Volume LXI, 1985, págs. 286 e 287.[4] Manuel Carneiro da Frada, ibidem, pág. 290.[5] Manuel Carneiro da Frada, ibidem, pág. 308.[6] José Lebre de Freitas, “Código de Processo Civil”, Anotado, 2º Volume, 2ª ed., pág. 352.[7] Ac. STJ 18-06-2009, in www.dgsi.pt, processo 1120/03.5TBALQ.S1.

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retroativa da deliberação renovatória, por ser constitutivo do seu direito[8]. A asserção aduzida pelo autor envolve um juízo conclusivo, recondutível ao quadro normativo evocado, mas está longe de decantar os factos revelado-res do seu interesse na anulação da deliberação no período compreendido entre a renovada e a renovatória. Sendo inquestionável que, para beneficiar da anulação da primeira deliberação no lapso de tempo que medeia entre as duas deliberações, o sócio tem de fazer prova de que a anulação evita a ofensa de um direito seu ou a ocorrência de um prejuízo na sua esfera[9], assinalamos a insuficiência da causa de pedir, que se reconduz à improcedência desse pedi-do de anulação.

Improcedência que igualmente é convocada quanto ao pedido de anulação da deliberação de aprovação do relatório de gestão do exercício de 2008. O tribunal “a quo” enveredou por extinguir a instância por inutilidade/impossibilidade superveniente da lide face à deliberação renovatória, mas ela acarreta a superveniente extinção do direito de anulação do autor e, tornados definitivos os efeitos produzidos pela deliberação anulável, deve a ação ser julgada improcedente[10]. Posição que não acolhe a unanimidade dos autores, havendo quem considere preferível a absolvição da instância[11].

Na verdade, parece-nos mais con-sentânea com os princípios expostos a declaração de improcedência do pedido. Em caso de renovação, estamos em presença de uma nova e distinta deliberação, que substitui a primeira e assim inutiliza o pedido e a causa de pedir duma ação que tinha sido dirigida exclusivamente contra a deliberação primitiva. Com a renovação da delibe-ração viciada, a ré introduz na lide um

facto superveniente que extingue o direito do autor nesta ação, transportan-do a impossibilidade de procedência do pedido, com a consequente absolvição do pedido, por facto extintivo posterior à propositura[12]. Desaparecendo a ca-rência de tutela judiciária que levou o autor a intentar a ação, julgamos, pois, improcedente também esse pedido. Apesar de o apelante não ter suscitado essa questão, sendo ela do conhecimen-to oficioso, está este tribunal legitimado a alterar a consequência processual adveniente da decisão impugnada.

O autor alega ter já intentado nova ação de anulação da deliberação reno-vatória que, em seu entender, padece do mesmo vício. Ainda que seja por-tadora de um qualquer vício que gere a sua anulabilidade, ela não deixa de surtir eficácia renovatória, pois só a de-cisão constitutiva de anulação declarará tal vício. Se a deliberação anulatória se apresentar como anulável, apesar do vício de que é portadora, não deixa de surtir eficácia renovatória, pois a relevância do vício implica o exercício do direito potestativo de anulação, o que exige uma decisão judicial consti-tutiva de anulação. Assim, o sócio que tiver interesse em prevalecer-se da anulabilidade da primitiva deliberação terá que impugnar autonomamente a deliberação renovatória sanante[13].

Abraçando o posicionamento juris-prudencial de dois acórdãos que cita[14], o apelante defende que a impugnação judicial autónoma da novel deliberação determina a suspensão da instância da ação de anulação da primitiva delibe-ração até que naquela seja proferida a decisão final, por forma a denegar os efeitos renovatórios da deliberação ulterior se a sua invalidade vier a ser decretada. Aceitamos que tal solução procura conciliar os interesses que

estão em jogo nas duas ações, mas a vida societária não se compadece com a incerteza e insegurança causadas pela delonga da prolação das decisões defi-nitivas nas duas ações, suscetíveis de causar embaraços e prejuízos à socieda-de. Esse o fundamento para a admissão da figura da deliberação renovatória, tendente a remover aquele perigo se os sócios substituírem a deliberação vi-ciada por outra, regularmente tomada, que renova o acto tomado na primitiva deliberação. Por isso, a solução que deixámos expressa, propugnada pela doutrina e jurisprudência enunciadas, salvaguarda os interesses do impug-nante, enquanto estabiliza as relações societárias e decide definitivamente a questão.

Também a absolvição da instância sempre facultaria a instauração de outra ação tendente a apreciar a anulação da deliberação primitiva quando a situação obtém resolução definitiva se a ação anulatória da novel deliberação vier a declará-la anulada, caso em que revitali-za a deliberação inicial, que continuará a produzir os seus efeitos. Evidentemente que a falta de impugnação tempestiva da deliberação renovatória convalidará o ato, subsistindo os efeitos da delibe-ração sobrevinda[15].

Donde concluamos que, nesta sede processual, não temos de extrair quais-quer efeitos da pendência da ação de impugnação da deliberação renovató-ria, o que conduz à insubsistência dos argumentos pelo apelante aduzidos em sentido contrário.

3. direito especialO autor impugnou também a de-

liberação tomada sob o ponto quatro da ordem do dia atribuindo-lhe o vício de ineficácia. Na convocação da assembleia geral de 30-03-2009

[8] Acs. STJ de 24-03-2994, ref. 086125; STJ de 23-03-99, ref. 99A166.[9] Manuel Carneiro da Frada, ibidem, pág. 322.[10] Manuel Carneiro da Frada, ibidem, pág. 324; Pinto Furtado, “Deliberações Sociais”, págs. 636 e 637.[11] Vasco da Gama Lobo Xavier, “Anulação de Deliberação Social e Deliberações Conexas”, 1998, pág. 447, nota106.[12] Pinto Furtado, ibidem, pág. 635; in www.dgsi.pt: Acs. STJ de 31-10-2006 e 26-02-2009, ref. 06A3446 e 07B4311, respectivamente; Ac. R. P. de 2-03-

2009, processo 64/07.6TYVNG.P1.[13] Manuel Carneiro da Frada, ibidem, págs. 328 e 329.[14] Acs. R. L. de 3-03-2009, processo 1008/07.0TYLSB e R.P. de 4-12-2008, ref. 0836152.[15] Vasco da Gama Lobo Xavier, ibidem, pág. 463.

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constava como ordem do dia a deli-beração sobre a eleição dos titulares dos órgãos sociais para o quadriénio 2009-2012 (5.4. da fundamentação de facto). Realizada a assembleia geral, no âmbito do ponto quatro da ordem do dia, relativo à eleição dos corpos sociais para o quadriénio 2009-2012, foi apresentada uma proposta de elei-ção de determinadas pessoas para os corpos sociais, tendo sido aprovada por 81,18% de votos a favor, 10,74% contra, com uma abstenção de 0,09% do capital social.

A representante do autor, fez a seguinte declaração de voto: “Sem pre-juízo das razões que serão invocadas em sede de uma ação de anulação de deliberação social, votou contra pelas razões que fundamentam as propos-tas e que se consubstanciam nos dois pontos do aditamento a esta ordem de trabalhos requerido pelo acionista que representa (n.º 8 da fundamentação de facto)”.

Como a assembleia geral de 31-03-1997 suprimiu a disposição estatutária que previa a aplicação do artigo 392º C.S.C., 6 e 7, à eleição dos membros do Conselho de administração, a qual permitia que o acionista que detivesse pelo menos 10% de capital votasse contra a proposta que fizesse vencimento, podendo designar um administrador, eleito pela minoria que votasse contra, defende que a mesma suprimiu um direito especial. A norma acolhia um verdadeiro direito especial, atribuído ao mínimo de 10% de ações de qualquer categoria, por via do qual o ato de votar contra os eleitos para o conselho de administração permitia fazer ingressar um membro eleito pelo grupo que votou contra. Sendo um di-reito especial não pode ser suprimido sem o consentimento do beneficiado e, como votou contra tal deliberação, a mesma é-lhe ineficaz.

Logo, ao votar contra a eleição na assembleia de 30-03-2009, tem de ser admitido a designar um elemento para

o conselho de administração e, dado o carácter individual do seu voto, deve ser ele próprio investido no cargo.

Com efeito, as deliberações que violem direitos especiais dos sócios são ineficazes enquanto não obtiverem a concordância destes[16]. As deliberações ineficazes, “stricto sensu”, são aquelas em que a falta de um requisito exterior ao próprio acto, em regra o consenti-mento de determinado sujeito, obsta à produção dos respetivos efeitos[17]. A significar que a deliberação não vincula o sócio discordante.

Vejamos, então, se estarão em causa direitos especiais.

Erigindo regras para a eleição dos administradores das sociedades anó-nimas, aquele artigo 392º do C.S.C. admite que o contrato de sociedade pode estabelecer, para um número de administradores não excedente a um terço do órgão, que se proceda a eleição isolada entre pessoas propostas em listas subscritas por grupos de acio-nistas, contanto que nenhum desses grupos possua ações representativas de mais de 20% e de menos de 10% do capital social. O contrato de sociedade pode ainda estabelecer que uma mi-noria de acionistas que tenha votado contra a proposta que fez vencimento na eleição dos administradores tem o direito de designar, pelo menos, um administrador, contanto que essa mi-noria represente, pelo menos, 10% do capital social.

Nesses sistemas, a eleição é feita entre os acionistas que tenham votado contra a proposta que fez vencimento na eleição dos administradores, na mes-ma assembleia, e os administradores assim eleitos substituem automatica-mente as pessoas menos votadas da lis-ta vencedora ou, em caso de igualdade de votos, aquela que figurar em último lugar na mesma lista (nos 1, 6 e 7).

É esta disposição, que, tendo sido assumida pelos estatutos da ré, confere ao apelante um direito especial, segun-do a sua alegação.

Os direitos especiais são concedidos no interesse próprio ou exclusivo do seu titular ou dos titulares das ações de que fazem parte e nascem de con-sagração estatutária. Porém, enquanto na generalidade das sociedades, os direitos especiais são “intuitus perso-nae”, constituindo direitos individuais, nas sociedades anónimas os direitos especiais não são atribuídos às pessoas mas às ações[18].

É assim que o artigo 24º, 4, do C.S.C. prescreve que, nas sociedades anóni-mas, os direitos especiais só podem ser atribuídos a categorias de ações e transmitem-se com estas. Compreen-sivelmente. Estando em causa socieda-des de capitais, toda a tecitura social é construída com base nas ações, sendo indiferentes as pessoas que participam no capital social.

Por isso, nas sociedades deste tipo, as prerrogativas são atribuídas a catego-rias ou classes de ações (artigo 302º, 2, do C.S.C.) e não diretamente aos acionis-tas, ficando sem relevância os titulares das ações que são beneficiadas. As ações privilegiadas ou preferenciais são, pois, aquelas que conferem aos seus detentores determinadas vantagens, podendo agrupar-se em categorias, embora o agrupamento de ações por categorias não seja exclusivo das ações privilegiadas.

Os estatutos previam, até à altera-ção aprovada pela deliberação de 31-03-1997, que uma minoria de acionistas que representasse, pelo menos, 10% do capital social e que tivesse votado contra a proposta que fez vencimento na eleição dos administradores, tivesse o direito de designar um administrador. Previsão estatutária que não concedia ao autor, pela circunstância de ser detentor de 10,66% do capital social, um qualquer direito especial. Quando muito, foram criadas ações privilegiadas ou preferenciais, que tiveram em vista interessar determinadas pessoas ou o público em geral a aderir à sociedade, subscrevendo títulos que lhes permiti-

[16] Ferrer Correia, Lições, II, pág. 367.[17] Vasco da Gama Lobo Xavier, pág. 106, nota 10.[18] Paulo Olavo Cunha, “Os Direitos Especiais nas Sociedades Anónimas: As Ações Privilegiadas”, 1993, pág. 27.

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rão de desfrutar de condições particu-larmente desfavoráveis[19].

Às ações de uma mesma sociedade podem corresponder diversos conteú-dos, nomeadamente quanto à atribuição de dividendos e quanto à partilha do ativo resultante da liquidação (artigo 302º, 1, do C.S.C.). Ao exemplificar os direitos suscetíveis de caracterizar uma categoria de ações privilegiadas, o direito societário refere-se apenas a privilégios de natureza patrimonial, parecendo ex-cluir outro tipo de vantagens, tal como o indicia a própria natureza e vocação das sociedades anónimas e a natureza das participações sociais. Essa mesma le-gislação das sociedades comerciais pon-tualiza diversas situações que também inculcam o afastamento de ações com privilégios não patrimoniais, como sejam o artigo 391º, 1, que veda a possibilidade de designação de administrador, embora o artigo 392º o reconheça, em certos termos, às minorias[20].

Trata-se, porém, de uma conclusão apressada, porque o artigo 531º admite a subsistência de ações com direitos de voto plural, constituídos legalmente an-tes da entrada em vigor do C.S.C.. Norma que, para além de reconhecer as ações com direito de voto plural, é um exemplo da admissibilidade das ações com um privilégio não imediatamente patrimo-nial. Assim, tem vindo a defender-se que a autonomia da vontade contratual permite fundamentar a admissibilidade da criação de direitos especiais de natu-reza não patrimonial, os quais podem ser concedidos a todo um grupo de acionistas ou a um só acionista se titular de todas as ações da mesma categoria, mas nunca atribuídos a uma pessoa[21].

Os estatutos da ré, ao aderir à nor-mação do artigo 392º, 6 e 7, do C.S.C., permitiam que, no tocante à eleição dos membros do conselho de administração, uma percentagem mínima de 10% do capital social e que votasse contra a proposta de eleição que fez vencimento,

pudesse designar um administrador. Há uma proteção especial da minoria repre-sentativa de, pelo menos, 10% do capital social, concedendo-lhe a possibilidade de eleger um administrador[22]. A norma tutela aquela minoria, reconhecendo-lhe a titularidade daquele direito que pode ser exercido coletivamente, mas também por um acionista isolado se reunir a per-centagem de capital social necessária.

Essa norma acolhia um poder es-pecial, atribuído ao mínimo de 10% de ações de qualquer categoria, por via do qual o ato de votar contra os eleitos para o conselho de administração permitia fazer ingressar um membro eleito pelo grupo que votou contra. Contudo, a “finalidade da concessão destes direitos é diferente da atribuição de direitos especiais. Pretende-se garantir, com um mínimo de eficácia, os direitos essenciais de pequenos acionistas, preservando-os do normal funcionamento das regras da maioria”, mas “[O] reconhecimento legal de direitos de exercício coletivo de acionistas minoritários não constitui uma categoria, já que as suas ações têm os mesmos direitos que as demais. A tutela dos acionistas minoritários é indiferenciada; ela beneficia quem, inde-pendentemente do capital que detém, se agrupa para poder exercer determi-nados direitos. É preciso reunir um certo número de ações e não certas ações”[23]. Vale por dizer que o autor, por si, ou um grupo de acionistas minoritários que, agrupados, atinjam aquele mínimo de 10% do capital social, poderiam exercer aquele direito, independentemente da categoria de ações que detivessem, sem que lhes fosse atribuída qualquer vantagem ou direito especial em função da categoria de ações. O autor, possuidor de ações indiferenciadas, não era, por-tanto, titular de ações privilegiadas ou preferenciais que lhe conferissem uma vantagem ou benefício especial que as outras categorias de ações não de-tinham. E, como vimos, nas sociedades

anónimas os direitos especiais não são atribuídos aos acionistas mas às ações. Por isso, a atribuição de um direito espe-cial a determinadas categorias de ações, qualquer que seja a fração do capital que representem, confere aos seus titulares uma situação de vantagem, em função do benefício da categoria de ações, rela-tivamente à situação da titularidade das demais ações[24].

Esta asserção está absolutamente compaginada com aquela previsão do artigo 392º do C.S.C. de tutela das mi-norias e com a simultânea proibição de criação de um direito especial mesmo para essas minorias, designadamente vedando a atribuição do direito de designação de administradores a uma qualquer categoria de ações (artigo 391º, 2, do C.S.C.).

Estas as razões que declinam a argu-mentação do apelante de que era titular de um direito especial, que não poderia ser suprimido sem o seu consentimento, pelo que tendo votado contra a delibera-ção que alterou essa norma estatutária, a mesma lhe é ineficaz.

A alteração estatutária operada pela deliberação de 1997 dividiu as ações representativas do capital social da ré em três categorias, A, B e C; com excepção dos privilégios dos titulares das ações da categoria A previstos nos artigos 8º, 15º e 19º, todas as ações da sociedade conferem os mesmos direitos e obriga-ções, legais e estatutários. Disposição que não prejudica a estipulação de que certos direitos só possam ser exercidos por acionistas que sejam titulares de, ou representem, um determinado número de ações ou uma determinada percen-tagem de capital social. Para além disso, nesse âmbito, define que as ações repre-sentativas do capital social da sociedade serão exclusivamente detidas pelas se-guintes entidades: - as ações da catego-ria A são obrigatoriamente detidas pela CM … ou por outras pessoas coletivas de direito público ou sociedades de capitais

[19] Paulo Olavo Cunha, ibidem, pág. 148.[20] Paulo Olavo Cunha, ibidem, pág. 150.[21] Paulo Olavo Cunha, ibidem, pág. 155.[22] Paulo Olavo Cunha, ibidem, pág. 173.[23] Paulo Olavo Cunha, ibidem, pág. 173.[24] Paulo Olavo Cunha, ibidem, pág. 174.

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JuriSPrudêNCia do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 49

[25] Vasco da Gama Lobo Xavier, ibidem, pág. 153[26] Vasco da Gama Lobo Xavier, ibidem, págs. 161 e 163.[27] Vasco da Gama Lobo Xavier, ibidem, págs. 164 e 167.

maioritariamente públicos; - as ações da categoria B são obrigatoriamente detidas por comerciantes grossistas de bens transaccionáveis no C…; as ações de categoria C são obrigatoriamente detidas por produtores individuais ou coletivos dos bens atrás referidos, ou pelos seus agrupamentos, associações, cooperativas e suas organizações de grau superior, conforme definido no Có-digo Cooperativo; as ações de uma das categorias que venham a ser adquiridas por acionistas titulares de ações de outra categoria ou por terceiros que reúnam condições para integrar outra categoria, serão obrigatoriamente convertidas em ações da categoria a que pertencer o adquirente, sendo os respetivos custos de conta deste; um mesmo acionista não poderá nunca ser titular de ações de categorias distintas.

Não obstante a questão não se apresentar directamente colocada, ainda poderia opor-se que a norma estatutá-ria antecedente ou a novel disposição estatutária violam normas imperativas. No direito das sociedades há normas imperativas ou cogentes que não podem ser arredadas dos estatutos primitivos nem sequer pela vontade unânime dos sócios, não lhes sendo consentido subverter, através de deliberação que estabeleça disciplina divergente, caso em que a deliberação é nula[25]. Normas cogentes que pretendem proteger os actuais e futuros acionistas em relação ao momento da realização dos atos.

No campo das sociedades anónimas o legislador confere particular atenção às normas um cariz imperativo ou cogente, enquanto servem os interesses de todos e cada um dos sócios dentro da corpo-ração, ou seja, de todos aqueles que em cada instante podem vir a ingressar na sociedade. Serve também o sistema legal de transmissão de ações, pois o sistema de circulação da socialidade envolveria graves perigos se acaso não se assegu-rasse por essa via da imperatividade das normas a posição de quem quer que se torne acionista[26]. Podem existir normas

de protecção de acionistas inarredáveis pelo pacto social primitivo ou por deli-beração posterior, ainda que alcançada por unanimidade.

Defende-se que, no silêncio do legislador, as normas que regulam as sociedades anónimas têm carácter co-gente e na medida em que o texto legal não remeta para o exame dos estatutos ou das deliberações da assembleia ge-ral, deve o adquirente confiar em que a regulamentação naquele contida é a que efetivamente governa a sociedade em que ingressa, ficando desonerado de mais obrigações[27].

A essa luz, é seguro que a norma do artigo 392º, 6 e 7, do C.S.C., vertida na disposição estatutária primitiva, não tem natureza cogente, pois expressa que o “contrato de sociedade pode (sublinha-do nosso) ainda estabelecer que uma minoria de acionistas que tenha votado contra a proposta que fez vencimento na eleição dos administradores tem o direito de designar, pelo menos, um ad-ministrador, contanto que essa minoria represente, pelo menos, 10% do capital social”. De todo o modo, a nova disposi-ção estatutária continua a observar as normas legais e os princípios expostos.

Categoria de sócios é o conjunto de sócios possuidores de ações da mesma categoria e a nova disposição estatutária prevê os três tipos de categorias de ações que referimos e, com exceção dos privilé-gios dos titulares das ações da categoria A previstos nos artigos 8º, 15º e 19º, todas as ações da sociedade conferem os mesmos direitos e obrigações, legais e estatutários. Ora, as ações da categoria A são obrigatoriamente detidas pela CM … ou por outras pessoas coletivas de direito público ou sociedades de capitais maioritariamente públicos, a significar que os privilégios conferidos a essa categoria de ações (ignoramos quais sejam, porque os autos não exibem os estatutos da sociedade demandada) têm em vista a proteção dos interesses públicos imanentes ao funcionamen-to da sociedade. E a nova disposição

declara expressamente o que acima expusemos: o previsto não prejudica a estipulação de que certos direitos só possam ser exercidos por acionistas que sejam titulares de, ou representem, um determinado número de ações ou uma determinada percentagem de capital so-cial, a dar mostras de que a protecção das minorias se mantém, sem que constitua um qualquer privilégio ou preferência de ações que conceda aos seus titulares uma qualquer vantagem.

As considerações tecidas levam-nos a rejeitar “in totum” a argumentação apresentada pelo apelante.

4. litigância de má féA apelada propugna a condenação

do autor como litigante de má fé. Sabido que qualquer pessoa pode

dirigir-se ao tribunal para pedir o re-conhecimento de um direito ou a sua realização coerciva, parece-nos poder-mos antecipar que a propositura desta ação, não obstante o seu inêxito, não pode sustentar a censura à fomentada atividade jurisdicional.

O quadro normativo introduzido no instituto da litigância de má fé pela re-forma de 1995 (Decreto-Lei n.º 329-A/95, de 12 de Dezembro) ampliou o sanciona-mento da litigância e, a par da litigância dolosa, incluiu a gravemente negligente. Digamos que alguma degradação dos padrões de atuação processual impuse-ram ao legislador, por um lado, o realce dos princípios da cooperação, da boa fé e da lealdade processuais, e, por outro, a ampliação do âmbito do instituto da má fé, assumindo que a negligência grave é também causa de censura à conduta processual da parte.

É assim que o n.º 2 do artigo 456º do Código de Processo Civil prescreve que é litigante de má fé aquele que, com dolo ou negligência grave, deduzir pretensão ou oposição cuja falta de fundamentação se não deva ignorar, alterar a verdade dos factos ou omitir factos relevantes para a decisão da causa, omitir grave dever de cooperação, usar

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JuriSPrudêNCia do STJ e das RelaçõesVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201250

[28] Ac. STJ 28.05.09, in www.dgsi.pt, ref. 6812.[29] Menezes Cordeiro, “Litigância de Má fé – Abuso do Direito de Ação e Culpa in Agendo”, 2006, pág. 91.

manifestamente reprovável o processo ou os meios processuais, para conseguir um objetivo ilegal, impedir a descoberta da verdade ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão.

Há na previsão da norma situações de má conduta substancial e de má conduta processual. Esta relacionada com questões de natureza processual, com a relação procedimental, e aquela com o fundo da causa, com a relação material, praticadas dolosamente ou com uma negligência de tal modo grave ou grosseira que justifica um elevado grau de reprovação.

Sendo livre o exercício do direito à tutela jurisdicional, ele sofre, no entan-to, um limite: o exercício desse direito deve ser franco, leal, coerente e a parte há-de estar convencida da justiça da sua pretensão. E se é amplo o direito abstrato de ação ou de defesa, inerente à personalidade humana e sem limites, já o não é o direito concreto de exercer atividade processual. Este comporta limitações prescritas pela ordem ju-rídica, uma das quais se traduz numa exigência de ordem moral recondutível ao convencimento do litigante da sua razão, em suma, da sua boa fé. O mesmo é dizer que se a parte procedeu de boa fé, convicta da sua razão, a conduta é perfeitamente lícita e, perante o insu-cesso da sua pretensão, o risco inerente à sua atuação é suportar o encargo das custas. Ao invés, se procedeu de má fé, se sabia que não tinha razão ou se não ponderou com prudência os seus pretensos motivos, é ilícita a sua con-duta e dá azo à condenação em multa e indemnização à parte contrária, se esta a pedir.

A litigância de má fé constitui, pois, o reverso dos deveres de cooperação, pro-bidade e de boa fé processual impostos às partes (artigos 266º, 266º-A e 266º-B do Código de Processo Civil). A má fé pro-cessual é uma má fé ética, cujos limites e contraponto se encontram na boa fé ética, contornos que foram introduzidos com a relevância dada à negligência neste tipo de ilícito[28]. Logo, são abusivas

as ações judiciais intentadas em grave desequilíbrio de modo a provocar danos máximos a troco de vantagens mínimas; nelas há abuso do direito. Instituto que traduz a aplicação, nas diversas situações jurídicas, do princípio da boa fé. E o prin-cípio da boa fé equivale à capacidade que o sistema jurídico tem de, mesmo nas decisões mais periféricas, reproduzir os seus valores fundamentais. A boa fé que age através da tutela da confiança e da primazia da materialidade subjacen-te, concretizados numa constelação de situações típicas, desde o “venire contra factum proprium” ao desequilíbrio no exercício[29].

Do contexto dos autos, não obstante o insucesso do demandante, nada per-mite inferir que ele não estava conven-cido da sua razão e que tenha acionado o sistema judicial para deduzir uma pretensão que sabia não corresponder à verdade. Ao invés, o mesmo limitou-se a sustentar, na ação e na apelação, um posicionamento jurídico que as normas legais e os estatutos da ré po-deriam eventualmente comportar. Para além disso, não evidencia o processo a deturpação e falsidade dos factos que a ré lhe aponta. Tanto assim é que os documentos e o acordo das partes permitiram conhecer dos pedidos sem produção de prova.

Donde não mereça qualquer cen-sura o exercício jurisdicional da tutela daquele seu direito, assim ajuizando pela improcedência dessa pretensão da ré.

No concernente às custas, como o pedido formulado em a) é julgado improcedente por via da renovação da deliberação anulável, mediante a as-sunção de uma deliberação renovatória sem a aparência do vício procedimental antecedente, as custas respetivas são suportadas pela ré. Foi ela que, já no de-curso da ação, através da comprovação da deliberação renovatória, deu causa a tal desfecho. Do mesmo modo, tendo sido a ré quem suscitou a litigância de má fé, face à sua improcedência, tem de suportar as custas correspondentes. No inverso, improcedendo os restantes

pedidos formulados pelo autor, são as custas correspectivas por ele suportadas (artigo 446º do Código de Processo Civil). Na fixação da sua proporção, atendendo aos interesses em jogo e ao epílogo da ação, estabelecemo-la em igual com-participação.

Em suma:1. Em função da objetivação da parti-

cipação social, nas sociedades anónimas os direitos especiais são atribuídos às ações, tornando-se irrelevante a pessoa do acionista.

2. A norma que confere ao mínimo de 10% de ações de qualquer categoria o poder de votar contra os eleitos para o conselho de administração, permitindo o ingresso de um membro eleito pelo grupo que votou contra, não constitui um direito especial de uma categoria de ações.

3. As ações dessa minoria têm os mesmos direitos que as demais, de modo a que a tutela dos acionistas minoritários é indiferenciada e não em função de determinada categoria de ações.

4. Assim, não necessita do consenti-mento dos visados nem padece de inefi-cácia a deliberação social que, alterando o estatuto da sociedade, suprime esse direito das minorias.

v. decisãoNa defluência do exposto, acordam

os Juízes do Tribunal da Relação do Porto em declarar a nulidade da sen-tença recorrida e, substituindo-a, julgar a ação improcedente, absolvendo a ré do pedido.

Custas a cargo do autor e da ré em igual proporção (artigo 6º, 2, e Tabela I-B do regulamento das Custas Proces-suais).

Porto, 13 de Março de 2012Os Desembargadores,Maria Cecília de Oliveira Agante dos

Reis PancasJosé Bernardino de Carvalho Eduardo Manuel B. Martins Rodrigues

Pires

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JuriSPrudêNCia do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 51

ANOTAÇÃO

Questão decidenda:O Tribunal da Relação do Porto,

no dia 13 de Março de 2012, procurou dar solução definitiva, entre outras, às seguintes questões:

1. Nulidade da sentença.2. deliberação renovatória.3. direito especial.

Solução jurídica:1. Nulidade da sentençaO recorrente atribui à sentença

a nulidade decorrente da falta de resolução de todas as questões que foram submetidas a julgamento, a que alude o artigo 668º, 1, d), do Código de Processo Civil.

Esta nulidade entronca no dever de o juiz dever conhecer todas as questões que lhe são submetidas (artigo 660º, 2, do Código de Processo Civil), ou seja, de todos os pedidos, causas de pedir e exceções invocadas ou de que cumpra conhecer oficiosa-mente, salvo se o seu conhecimento estiver prejudicado pelo anterior conhecimento de qualquer outra questão.

Na verdade, o tribunal “aquo” julgou extinta a instância com total sonegação do direito do autor a ver conhecidos todos os demais pedi-dos, designadamente relativamente quanto ao pedido formulado em a), já que o autor pediu a declaração de invalidade da deliberação tomada quanto a esse ponto relativamente ao período anterior à deliberação renova-tória (articulado superveniente). Daí que, mesmo no tocante à deliberação que a aprovou o relatório de gestão e demais documentos de prestação de contas relativos ao exercício do ano de 2008, lhe era vedado declarar extinta a instância, pois estava formulada a declaração de invalidade relativamen-te ao período anterior à deliberação renovatória.

Atento o exposto, a Relação do Porto, julgou verificada a arguida

nulidade com a consequente anula-ção daquela sentença de extinção de instância.

2. deliberação renovatória No caso em apreço está dado

como assente que em 6-03-2009, os acionistas da ré foram convocadas para uma assembleia geral ordinária a realizar em 30-03-2009, cuja ordem de trabalhos, dentre outros pontos, enquadrava a deliberação sobre o rela-tório de gestão e demais documentos de prestação de contas relativos ao exercício findo em 31-12-2008. Teve lugar essa assembleia geral ordinária da ré, que reuniu em 30-03-2009, com a presença de acionistas representati-vos de 92,01% do capital social, e que, quanto àquele ponto, o aprovou com 81,09% de votos a favor, com 10,83% de votos contra e uma abstenção de 0,09% do capital social. Nesse ato, a representante do autor clarificou que votou contra por o autor ter sido impedido de formar uma opinião conscienciosa e fundamentada sobre a matéria da deliberação, dado ter sido impedida a consulta de todo o qualquer documento contabilístico, quando para tal expressamente se deslocou à empresa na companhia de uma técnica oficial de contas. De-claração logo refutada pelo represen-tante do acionista D…, que afirmou a falta de verdade dessa declaração, quer por lhe ter sido disponibilizada toda a informação disponível para consulta dos acionistas, quer por não ter concretizado qualquer pedido de informação.

Encontra-se controvertida a factu-alidade relativa à assinalada violação do dever de informação evocada pelo autor, a qual respeita exclusivamente à deliberação de aprovação do relatório de gestão e demais documentos de prestação de contas relativos ao exer-cício de 2008. Porém, como a socieda-de demandada procedeu à renovação dessa deliberação, é irrelevante uma apurada decantação dessa causa de

invalidade da deliberação renovada e do vício que a afeta.

Podem ser objeto de renovação as deliberações anuláveis e as delibe-rações nulas por força das alíneas a) e b) do n.º1 do artigo 56º do Código das Sociedades Comerciais, ou seja, as que forem tomadas em assembleia geral não convocada, salvo se todos os sócios estiverem presentes ou repre-sentados, ou tomadas mediante voto escrito sem que todos os sócios com direito de voto tenham sido convoca-dos a exercer esse direito, excepto se todos tiverem dado por escrito o seu voto (artigo 62º do C.S.C.). o autor invocou como fundamento da invali-dade da deliberação o não lhe terem sido fornecidos os elementos mínimos de informação, o que comportaria a anulabilidade da deliberação (artigo 58º, 1, c), do C.S.C.). Assim, a delibe-ração em causa estava em condições de ser renovada. Renovação que foi efectuada pelo órgão que tinha competência para o efeito, ou seja, pela assembleia geral, que foi o órgão social que concluiu o ato antecedente, e com o mesmo conteúdo da reno-vada, surgindo a nova deliberação com o fim substitutivo do anterior procedimento deliberativo no tocante à aprovação do relatório de gestão e demais documentos de prestação de contas relativos ao exercício de 2008.

Logo, à luz do artigo 62º do C.S.C., que consagra a possibilidade de rei-teração de uma deliberação inválida por outra, entretanto tomada regular-mente, que renova a definição de inte-resses por aquela outra apresentada, a deliberação renovatória substituiu a anterior.

Através da deliberação renova-tória, a sociedade pode repelir os inconvenientes que uma deliberação viciada sempre acarreta ao regular funcionamento da sociedade. E pela deliberação renovatória surge uma nova regulamentação, um novo co-mando de relações sociais estáveis. Foi com base nestes princípios que a

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decisão impugnada julgou extinta a instância, apesar de o autor ter pedido a anulação da primeira deliberação relativamente ao período anterior à deliberação renovatória.

A deliberação renovatória, desde que não enferme do vício da anterior, opera o convalescimento desta, salva-guardando, por regra, os seus efeitos “ex tunc”, a significar que se eliminam os efeitos jurídicos produzidos pela deliberação renovada. Porém, na situação prevista no artigo 62º, 2, do C.S.C. o seu efeito renovatório produz somente efeitos “ex nunc”, ou seja, atua apenas para o futuro.

O autor, que não votou favora-velmente a deliberação em causa, ao invocar a anulação da deliberação no período anterior à deliberação reno-vatória, alegou interesse atendível na anulação da deliberação, por estar em jogo a deliberação que aprova os re-sultados de exercício, que se repercute nos seus interesses patrimoniais, por ser o maior acionista da ré entre os ti-tulares das ações das categorias B e C.

O estatuto da ré proscreve que qualquer acionista seja detentor de ações de diversa categoria, ao dispor que “um mesmo acionista não poderá nunca ser titular de ações de catego-rias distintas” (artigo 6º, 3). Afirma o autor ser titular de ações das catego-rias B e C, mas esse posicionamento não afeta a questão decidenda, de tal modo que a apelada se limitou a opor que o autor reduziu a sua alegação a um juízo conclusivo e jurídico, sem concretização de factos suscetíveis de prova e que possam facultar ao tribunal a indagação da atendibilidade do interesse do autor.

É essencial ao êxito da ação que o autor identifique a causa de pedir, especificando o acervo de factos que integram o núcleo essencial da previsão da norma que estatui o efeito de direito material pretendido. Efetivamente, à luz do princípio do dispositivo, as partes são responsáveis pela orientação e consequências de-

correntes da estratégia processual que definam e adoptem. É o princípio da autorresponsabilidade das partes, que lhes exige pedir a resolução do confli-to, enunciando-o e elegendo o meio concreto de tutela que pretendam perante a alegada violação do direito, carreando os factos e as provas que reputem adequados e formulando os pedidos correspondentes.

É assim que tudo está em saber se o autor alegou causa de pedir fundante da sua pretensão. O autor limitou-se a alegar que, por estar em jogo a deliberação que aprova os resultados de exercício, repercute-se nos seus interesses patrimoniais, por ser o maior acionista da ré entre os titulares das ações das categorias B e C, quando teria de alegar, para provar, um interesse substantivo, traduzido na suscetibilidade de prejuízo causado ao titular do direito de anulação pela eficácia retroativa da deliberação renovatória, por ser constitutivo do seu direito.

Para beneficiar da anulação da primeira deliberação no lapso de tempo que medeia entre as duas de-liberações, o sócio tem de fazer prova de que a anulação evita a ofensa de um direito seu ou a ocorrência de um prejuízo na sua esfera. Não o tendo feito, há insuficiência da causa de pe-dir, que se reconduz à improcedência desse pedido de anulação.

O autor alega ter já intentado nova ação de anulação da deliberação renovatória que, em seu entender, padece do mesmo vício. Ainda que seja portadora de um qualquer vício que gere a sua anulabilidade, ela não deixa de surtir eficácia renova-tória, pois só a decisão constitutiva de anulação declarará tal vício. Se a deliberação anulatória se apresentar como anulável, apesar do vício de que é portadora, não deixa de surtir eficácia renovatória, pois a relevância do vício implica o exercício do direito potestativo de anulação, o que exige uma decisão judicial constitutiva de

anulação. Assim, o sócio que tiver interesse em prevalecer-se da anu-labilidade da primitiva deliberação terá que impugnar autonomamente a deliberação renovatória sanante. Improcede, nesta questão, a preten-são do autor.

3. direito especialO autor impugnou também a de-

liberação tomada sob o ponto quatro da ordem do dia atribuindo-lhe o vício de ineficácia. Na convocação da assembleia geral de 30-03-2009 constava como ordem do dia a deli-beração sobre a eleição dos titulares dos órgãos sociais para o quadriénio 2009-2012 (5.4. da fundamentação de facto). Realizada a assembleia geral, no âmbito do ponto quatro da ordem do dia, relativo à eleição dos corpos so-ciais para o quadriénio 2009-2012, foi apresentada uma proposta de eleição de determinadas pessoas para os cor-pos sociais, tendo sido aprovada por 81,18% de votos a favor, 10,74% con-tra, com uma abstenção de 0,09% do capital social. A representante do au-tor, fez a seguinte declaração de voto: “Sem prejuízo das razões que serão invocadas em sede de uma ação de anulação de deliberação social, votou contra pelas razões que fundamentam as propostas e que se consubstanciam nos dois pontos do aditamento a esta ordem de trabalhos requerido pelo acionista que representa (n.º 8 da fundamentação de facto)”. Como a assembleia geral de 31-03-1997 suprimiu a disposição estatutária que previa a aplicação do artigo 392º C.S.C., 6 e 7, à eleição dos membros do Conselho de administração, a qual permitia que o acionista que detivesse pelo menos 10% de capital votasse contra a proposta que fizesse vencimento, podendo designar um administrador, eleito pela minoria que votasse contra, defende que a mesma suprimiu um direito especial. A norma acolhia um verdadeiro direito especial, atribuído ao mínimo de 10% de ações

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JuriSPrudêNCia do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 53

de qualquer categoria, por via do qual o ato de votar contra os eleitos para o conselho de administração permitia fazer ingressar um membro eleito pelo grupo que votou contra. Sendo um di-reito especial não pode ser suprimido sem o consentimento do beneficiado e, como votou contra tal deliberação, a mesma é-lhe ineficaz. Logo, ao vo-tar contra a eleição na assembleia de 30-03-2009, tem de ser admitido a de-signar um elemento para o conselho de administração e, dado o carácter individual do seu voto, deve ser ele próprio investido no cargo.

Com efeito, as deliberações que violem direitos especiais dos sócios são ineficazes enquanto não obtive-rem a concordância destes. As delibe-rações ineficazes, “stricto sensu”, são aquelas em que a falta de um requisito exterior ao próprio ato, em regra o consentimento de determinado sujei-to, obsta à produção dos respectivos efeitos. A significar que a deliberação não vincula o sócio discordante.

O citado artigo 392º do C.S.C. admite que o contrato de sociedade pode estabelecer, para um número de administradores não excedente a um terço do órgão, que se proceda a eleição isolada entre pessoas propos-tas em listas subscritas por grupos de acionistas, contanto que nenhum desses grupos possua ações represen-tativas de mais de 20% e de menos de 10% do capital social. O contrato de sociedade pode ainda estabelecer que uma minoria de acionistas que tenha votado contra a proposta que fez vencimento na eleição dos administra-dores tem o direito de designar, pelo menos, um administrador, contanto que essa minoria represente, pelo menos, 10% do capital social. Nesses sistemas, a eleição é feita entre os acionistas que tenham votado contra a proposta que fez vencimento na eleição dos administradores, na mes-ma assembleia, e os administradores assim eleitos substituem automatica-mente as pessoas menos votadas da

lista vencedora ou, em caso de igual-dade de votos, aquela que figurar em último lugar na mesma lista .

É esta disposição, que tendo sido assumida pelos estatutos da ré, con-fere ao apelante um direito especial, segundo a sua alegação.

Os direitos especiais são concedi-dos no interesse próprio ou exclusivo do seu titular ou dos titulares das ações de que fazem parte e nascem de consagração estatutária. Porém, enquanto, na generalidade das so-ciedades, os direitos especiais são “intuitus personae”, constituindo direitos individuais, nas sociedades anónimas os direitos especiais não são atribuídos às pessoas mas às ações. É assim que o artigo 24º, 4, do C.S.C. prescreve que, nas sociedades anónimas, os direitos especiais só podem ser atribuídos a categorias de ações e transmitem-se com estas. Compreensivelmente. Estando em causa sociedades de capitais, toda a tecitura social é construída com base nas ações, sendo indiferentes as pessoas que participam no capital social. Por isso, nas sociedades deste tipo, as prerrogativas são atribuídas a categorias ou classes de ações (artigo 302º, 2, do C.S.C.) e não directamente aos acionistas, ficando sem relevân-cia os titulares das ações que são beneficiadas. As ações privilegiadas ou preferenciais são, pois, aquelas que conferem aos seus detentores determinadas vantagens, podendo agrupar-se em categorias, embora o agrupamento de ações por cate-gorias não seja exclusivo das ações privilegiadas.

Os estatutos da ré, ao aderir à normação do artigo 392º, 6 e 7, do C.S.C., permitiam que, no tocante à eleição dos membros do conselho de administração, uma percentagem mínima de 10% do capital social e que votasse contra a proposta de eleição que fez vencimento, pudesse designar um administrador. Há uma protecção especial da minoria representativa

de, pelo menos, 10% do capital social, concedendo-lhe a possibilidade de eleger um administrador. A norma tutela aquela minoria, reconhecendo-lhe a titularidade daquele direito que pode ser exercido coletivamente, mas também por um acionista isolado se reunir a percentagem de capital social necessária.

Essa norma acolhia um poder es-pecial, atribuído ao mínimo de 10% de ações de qualquer categoria, por via do qual o ato de votar contra os elei-tos para o conselho de administração permitia fazer ingressar um membro eleito pelo grupo que votou contra. Contudo, a “finalidade da concessão destes direitos é diferente da atribui-ção de direitos especiais. Pretende-se garantir, com um mínimo de eficácia, os direitos essenciais de pequenos acionistas, preservando-os do normal funcionamento das regras da maioria”, mas “[O] reconhecimento legal de direitos de exercício coletivo de acio-nistas minoritários não constitui uma categoria, já que as suas ações têm os mesmos direitos que as demais. A tutela dos acionistas minoritários é indiferenciada; ela beneficia quem, independentemente do capital que detém, se agrupa para poder exercer determinados direitos. É preciso reunir um certo número de ações e não cer-tas ações”. Assim, o autor, por si, ou um grupo de acionistas minoritários que, agrupados, atinjam aquele mínimo de 10% do capital social, poderiam exercer aquele direito, independente-mente da categoria de ações que deti-vessem, sem que lhes fosse atribuída qualquer vantagem ou direito especial em função da categoria de ações. O autor, possuidor de ações indiferencia-das, não era, portanto, titular de ações privilegiadas ou preferenciais que lhe conferissem uma vantagem ou benefício especial que as outras cate-gorias de ações não detinham. E, como vimos, nas sociedades anónimas os direitos especiais não são atribuídos aos acionistas mas às ações. Por isso,

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JuriSPrudêNCia do STJ e das RelaçõesVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201254

a atribuição de um direito especial a determinadas categorias de ações, qualquer que seja a fração do capital que representem, confere aos seus titulares uma situação de vantagem, em função do benefício da categoria de ações, relativamente à situação da titularidade das demais ações.

Esta asserção está absolutamente compaginada com aquela previsão do artigo 392º do C.S.C. de tutela das minorias e com a simultânea proibi-ção de criação de um direito especial mesmo para essas minorias, desig-nadamente vedando a atribuição do direito de designação de administra-dores a uma qualquer categoria de ações (artigo 391º, 2, do C.S.C.).

Estas as razões que declinam a argumentação do apelante de que era titular de um direito especial, que não poderia ser suprimido sem o seu consentimento, pelo que tendo vota-do contra a deliberação que alterou essa norma estatutária, a mesma lhe é ineficaz.

A essa luz, é seguro que a nor-ma do artigo 392º, 6 e 7, do C.S.C., vertida na disposição estatutária primitiva, não tem natureza cogente, pois expressa que o “contrato de sociedade pode (sublinhado nosso) ainda estabelecer que uma minoria de acionistas que tenha votado contra a proposta que fez vencimento na eleição dos administradores tem o direito de designar, pelo menos, um administrador, contanto que essa minoria represente, pelo menos, 10% do capital social”. De todo o modo, a nova disposição estatutária continua a observar as normas legais e os prin-cípios expostos.

A Relação do Porto decidiu, as-sim, declarar a nulidade da sentença recorrida e, substituindo-a, julgar a ação improcedente, absolvendo a ré do pedido.

Decisão do Acórdão:A decisão tomada pelos Juízes

Desembargadores acabou por ser sumariada, no Acórdão, do seguinte

modo: “I - Em função da objectivação da

participação social, nas sociedades anónimas os direitos especiais são atribuídos às ações, tornando-se irre-levante a pessoa do acionista.

II - A norma que confere ao mí-nimo de 10% de ações de qualquer categoria o poder de votar contra os eleitos para o conselho de admi-nistração, permitindo o ingresso de um membro eleito pelo grupo que votou contra, não constitui um direito especial de uma categoria de ações.

III - As ações dessa minoria têm os mesmos direitos que as demais, de modo a que a tutela dos acionistas minoritários é indiferenciada e não em função de determinada categoria de ações.

IV -Assim, não necessita do con-sentimento dos visados nem padece de ineficácia a deliberação social que, alterando o estatuto da sociedade, suprime esse direito das minorias.”

O QUE DIZ A LEI

Código das Sociedades Comerciais

artigo 56.ºdeliberações nulas

1 - São nulas as deliberações dos sócios:

a) Tomadas em assembleia geral não convocada, salvo se todos os sócios tiverem estado presentes ou representados;

b) Tomadas mediante voto escrito sem que todos os sócios com direito de voto tenham sido convidados a exercer esse direito, a não ser que todos eles tenham dado por escrito o seu voto;

c) Cujo conteúdo não esteja, por natureza, sujeito a deliberação dos sócios;

d) Cujo conteúdo, diretamente ou por atos de outros órgãos que determine ou permita, seja ofensivo

dos bons costumes ou de preceitos legais que não possam ser derroga-dos, nem sequer por vontade unânime dos sócios.

2 - Não se consideram convocadas as assembleias cujo aviso convocató-rio seja assinado por quem não tenha essa competência, aquelas de cujo aviso convocatório não constem o dia, hora e local da reunião e as que reúnam em dia, hora ou local diversos dos constantes do aviso.

3 - A nulidade de uma deliberação nos casos previstos nas alíneas a) e b) do n.º 1 não pode ser invocada quando os sócios ausentes e não representados ou não participantes na deliberação por escrito tiverem posteriormente dado por escrito o seu assentimento à deliberação.

artigo 58.ºdeliberações anuláveis

1 - São anuláveis as deliberações

que:a) Violem disposições quer da lei,

quando ao caso não caiba a nulidade, nos termos do artigo 56.º, quer do contrato de sociedade;

b) Sejam apropriadas para satis-fazer o propósito de um dos sócios de conseguir, através do exercício do direito de voto, vantagens especiais para si ou para terceiros, em prejuízo da sociedade ou de outros sócios ou simplesmente de prejudicar aquela ou estes, a menos que se prove que as deliberações teriam sido tomadas mesmo sem os votos abusivos;

c) Não tenham sido precedidas do fornecimento ao sócio de elementos mínimos de informação.

2 - Quando as estipulações con-tratuais se limitarem a reproduzir pre-ceitos legais, são estes considerados directamente violados, para os efeitos deste artigo e do artigo 56.º

3 - Os sócios que tenham formado

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JuriSPrudêNCia do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 55

maioria em deliberação abrangida pela alínea b) do n.º 1 respondem solidariamente para com a sociedade ou para com os outros sócios pelos prejuízos causados.

4 - Consideram-se, para efeitos deste artigo, elementos mínimos de informação:

a) As menções exigidas pelo artigo 377.º, n.º 8;

b) A colocação de documentos para exame dos sócios no local e du-rante o tempo prescritos pela lei ou pelo contrato.

artigo 62.º

renovação da deliberação 1 - Uma deliberação nula por força

das alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo 56.º pode ser renovada por outra deliberação e a esta pode ser atribu-ída eficácia retroativa, ressalvados os direitos de terceiros.

2 - A anulabilidade cessa quando os sócios renovem a deliberação anu-lável mediante outra deliberação, des-de que esta não enferme do vício da precedente. O sócio, porém, que nisso tiver um interesse atendível pode ob-ter anulação da primeira deliberação, relativamente ao período anterior à deliberação renovatória.

3 - O tribunal em que tenha sido impugnada uma deliberação pode conceder prazo à sociedade, a re-querimento desta, para renovar a deliberação.

artigo 392.ºregras especiais de eleição 1 - O contrato de sociedade pode

estabelecer que, para um número de administradores não excedente a um terço do órgão, se proceda a eleição isolada, entre pessoas propostas em listas subscritas por grupos de acio-nistas, contando que nenhum desses grupos possua ações representativas de mais de 20% e de menos de 10% do capital social.

2 - Cada lista referida no número anterior deve propor pelo menos duas pessoas elegíveis por cada um dos cargos a preencher.

3 - O mesmo acionista não pode subscrever mais de uma lista.

4 - Se numa eleição isolada forem apresentadas listas por mais de um grupo, a votação incide sobre o con-junto dessas listas.

5 - A assembleia geral não pode proceder à eleição de outros admi-nistradores enquanto não tiver sido eleito, de harmonia com o n.º 1 deste artigo, o número de administradores para o efeito fixado no contrato, salvo se não forem apresentadas as referidas listas.

6 - O contrato de sociedade pode ainda estabelecer que uma minoria de acionistas que tenha votado contra a proposta que fez vencimento na eleição dos administradores tem o direito de designar, pelo menos, um administrador, contanto que essa minoria represente, pelo menos, 10%

do capital social.7 - Nos sistemas previstos nos nú-

meros anteriores, a eleição é feita en-tre os acionistas que tenham votado contra a proposta que fez vencimento na eleição dos administradores, na mesma assembleia, e os administrado-res assim eleitos substituem automa-ticamente as pessoas menos votadas da lista vencedora ou, em caso de igualdade de votos, aquela que figurar em último lugar na mesma lista.

8 - Nas sociedades com subscrição pública, ou concessionárias do Estado ou de entidade a este equiparada por lei, é obrigatória a inclusão no contra-to de algum dos sistemas previstos neste artigo; sendo o contrato omisso, aplica-se o disposto nos precedentes nos 6 e 7.

9 - A alteração do contrato de so-ciedade para inclusão de algum dos sistemas previstos no presente artigo pode ser deliberada por maioria sim-ples dos votos emitidos na assembleia.

10 - Permitindo o contrato a elei-ção de administradores suplentes, aplica-se o disposto nos números an-teriores à eleição de tantos suplentes quantos os administradores a quem aquelas regras tenham sido aplicadas.

11 - Os administradores por parte do Estado ou de entidade pública a ele equiparada por lei para este efeito são nomeados nos termos da respectiva legislação.

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JuriSPrudêNCia - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201256

arreNdaMeNtoReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 15/11/2011Revista nº 43/09.9T2STC.E1.S1 - 6.ª SecçãoAssunto: Arrendamento para fins não habitacionais

I - O art. 29º, nº 1, do NRAU tem natu-reza supletiva e não imperativa, uma vez que, para a respetiva estatuição, admite estipulação em contrário.II - Estipulado no contrato de arren-damento que “Findo o arrendamento, qualquer que seja o motivo, a inquilina terá direito a ser ressarcida do custo das benfeitorias efetuadas no prédio, ficando com direito de retenção até ao pagamento da indemnização cor-respondente às ditas benfeitorias”, perante tal cláusula, não tem qualquer aplicação o preceituado no sobredito art. 29º.

CivilReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 10/11/2012,Revista nº 681/10.7.TBBRG.G1-A.S1 - 2.ª SecçãoAssunto: Registo predial

I - Relativamente às decisões dos Con-servadores de Registo Predial sobre recusa dos atos de registo, a lei é clara no sentido de que os tribunais compe-tentes para a impugnação judicial oucontenciosa de tais atos são os tribu-nais da ordem judiciária comum, pois, como reza do art. 140º do CRgP, com a redação que lhe foi conferida pelo DL nº 116/2008, de 04-07, que expressa-mente estatui que a decisão de recusa do ato de registo nos termos requeri-dos pode ser impugnada «…mediante impugnação judicial para o tribunal da área da circunscrição a que pertence o serviço de registo».II - Por sua vez, o art. 146º do mesmo di-ploma legal estabelece no seu nº 1 que «da sentença proferida podem sempre interpor recurso para a Relação, o Con-servador que sustenta, o Presidente do

Instituto dos Registos e Notariado, IP, e o Ministério Público» (sublinhado edestaques nossos). Tais normas são, pois, de uma clareza inexcedível no tangente à competência jurisdicional para a impugnação da recusa do Con-servador dos atos de registo e in claris non fit interpretio.III - Já quanto às impugnações sobre as decisões relativas à conta dos atos de registo, que é a que se nos depara no caso “sub judicio”, a lei não concede resposta clara e inequívoca, pelo que se adensam as dificuldades herme-nêuticas sobre esta “vexata questio” do direito registral.IV - Nunca deixou de estar na “mens legislatoris”, ou mais propriamente na “mens legis” submeter a impugnação judicial das decisões sobre a conta dos atos de registo ao foro administrativo e fiscal, o que, aliado às diversas consi-derações tecidas no presente acórdão, impõe a conclusão que atualmente são os tribunais tributários os detentores de tal competência material.

CoMerCialReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 10/11/2011Revista nº 6152/03.0TVLSB.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Sociedade anónima

I - As deficiências de gravação da prova, constituindo uma nulidade secundária, devem ser apreciadas pelo Tribunal da Relação, a quem cabe dirimir se as alu-didas anomalias são ou não suscetíveis de influir na decisão de facto, estando vedado ao STJ sindicar essa apreciação em concreto, por se inserir no âmbito dos poderes de reapreciação da maté-ria de facto.II - Não se registando oposição de jul-gados, nem invocando o recorrente, no requerimento de interposição do recurso de revista, qualquer acórdão que se encontre em oposição com o recorrido, a matéria do agravo, se res-

peitar a questão puramente processu-al, não pode ser apreciada no âmbito do recurso de revista.III - É legalmente admissível que as par-tes, no âmbito de um contrato de com-pra e venda de ações, estipulem uma cláusula de limitação convencional da garantia ao património constituído pelas próprias ações transacionadas.IV - Se as partes acordaram, simultane-amente com a celebração do contrato de compra e venda de ações, em de-positar essas ações num Banco, para garantia do cumprimento da obriga-ção de pagamento do respetivo preço, vinculando-se o Banco a guardá-las e a dar a tais ações o destino acordado entre as partes daquele contrato (prin-cipal), está-se perante um contrato de depósito fiduciário ou depósito “in escrow”.V - Se a cláusula de limitação con-vencional da garantia patrimonial às ações depositadas foi estabelecida em benefício da compradora das ações, é destituído de fundamento que o risco de depreciação do valor das ações re-caia sobre ela.VI - As ações, enquanto títulos de par-ticipação social, exprimem a medida da posição do sócio na sociedade anónima, traduzindo-se num comple-xo de direitos e deveres, mas não se confundem com a empresa explorada pela sociedade a que as ações dizem respeito.VII - Se as partes estipularam que a compradora das ações, acionista maioritária, se obrigava a diligenciar no sentido dos negócios da sociedade anónima salvaguardarem o interesse da vendedora em receber o seu pre-ço daquelas participações sociais, e, ainda, em não participar em negócios que fossem incompatíveis com aquele contrato de compra e venda das ações ou tivessem o efeito adverso de incum-prir as obrigações dele decorrente, tais obrigações configuram meras obriga-

SuPreMo triBuNal de JuStiÇa

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Sumários - JuriSPrudêNCia VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 57

ções de meios e não de resultado.VIII - Se a sociedade anónima, a que res-peitavam as ações objeto do contrato de compra e venda, se encontra(va) numa situação de elevado endivida-mento bancário, de que a vendedora era conhecedora, tendo esta efetuado a venda por não pretender efetuar qualquer esforço adicional de inves-timento, nem ter tido qualquer outra oferta de compra, conhecendo as cir-cunstâncias do mercado internacional explorado por essa sociedade, com sucessivos abaixamentos de preços de venda, o que levou à acumulação de prejuízos junto dos fabricantes, e conhecendo, ainda, a vendedora que seria difícil atingir uma exploração económica que permitisse gerar va-lores conducentes aos estipulados no contrato de compra e venda das ações, não se pode imputar à compradora das ações qualquer responsabilidade contratual na depreciação do seu valor.IX - Se os contratos efetuados pela compradora das ações – v.g., financia-mentos bancários, oneração de imóvel, dação em cumprimento e transferência de estabelecimento – foram adequa-dos a evitar o iminente estrangulamen-to financeiro da sociedade anónima a que se referiram essas participações sociais, situação de que a vendedora era conhecedora, não pode ser im-putada à compradora das ações qual-quer responsabilidade pré-contratual, contratual ou extracontratual pela de-preciação do valor das ações (a que as partes limitaram a garantia patrimonial pelo não pagamento do preço).X - Inexistindo qualquer responsabili-dade da compradora, pela depreciação do valor das ações, não se colocam, se-quer, as questões da violação do prin-cípio par conditio creditorum, nem daimpugnação pauliana, não podendo ser assacada qualquer responsabilida-de aos Bancos que intervieram naque-les contratos.XI - O facto de a autora/recorrente ter decaído na ação e nos recursos apenas a conduz a ter de suportar o encargo das custas processuais, como con-sequência do seu decaimento; coisa

diversa é a parte, antecipadamente, saber que não tem razão e, proceden-do de má-fé e com culpa, litigar dessa forma.

CoNtratoSReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 15/11/2011Revista nº 226/05.0TBALJ.P1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Contrato de empreitada

I - No contrato de empreitada, o dono da obra deve verificar, antes de a acei-tar, se a mesma se encontra nas con-dições convencionadas e sem vícios e comunicar ao empreiteiro os resulta-dos da verificação, importando a falta de verificação ou da comunicação a aceitação da obra (art. 1218º, nos 1, 4 e 5, do CC).II - O empreiteiro somente tem que ale-gar e provar que fez a entrega da obra aos seus donos, cabendo a estes, face ao disposto no nº 5 do art. 1218º do CC, o ónus de alegar e provar a recusa de aceitação da obra.III - Assente que a obra foi entregue pelo empreiteiro e nada tendo sido alegado quanto ao comportamento da contraparte, tem-se como presu-mida (presunção absoluta e inilidível) a aceitação da obra pelos seus donos.IV - A eventual não realização pelo em-preiteiro de todos os trabalhos contra-tados poderá conduzir às consequên-cias a que aludem os arts. 1220º e segs. do CC, mas já não à consideração de que os donos da obra a não aceitaram.V - A aceitação da obra, não havendo cláusula ou uso em contrário, importa o pagamento do respetivo preço, como resulta do nº 2 do art. 1211º do CC.

faMÍliaReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 15/11/2011Revista nº 49/07.2TBRSD.P1.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Investigação da paternidade

I - A disposição transitória vertida no art. 3º da Lei nº 14/2009, de 01-04, é inconstitucional, por violação do art. 18º, nº 3, da CRP, na medida em que manda aplicar aos processos penden-

tes, à data da sua entrada em vigor, o prazo previsto na nova redação do art. 1817º, nº 1, do CC.II - O art. 1817º, nº 1, do CC, na reda-ção emergente da Lei nº 14/2009, ao estabelecer o prazo de caducidade de 10 anos após a maioridade (ou emancipação) do investigante para a propositura da ação de investigação de paternidade (cf. art. 1873º) é igual-mente inconstitucional por violação dos arts. 18º, nºs 2 e 3, 26º, nº 1, e 36º, nº 1, da CRP.III - Não ocorre qualquer abuso de di-reito na instauração de uma ação de investigação de paternidade, apenas por ter sido proposta decorridos mais de 40 anos desde a maioridade do in-vestigante e se não se provar que essa ação foi instaurada com propósitos censuráveis de obter, exclusivamente, proveitos puramente patrimoniais.

PeNalReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 19/01/2012Proc. nº 235/01.9TALRA-B.S1 - 5.ª SecçãoAssunto: Recurso de revisão

I - A interpretação segundo a qual o condenado tem legitimidade para re-querer a revisão da sentença condena-tória, em seu próprio nome e em reque-rimento por si subscrito, é confortada pelo elemento gramatical [art. 450º, nº 1, al. c), e nº 2, do CPP] e apresenta-se conforme às especificidades (não re-clama a assistência ou representação técnica na mesma medida em que ela é exigida nos recursos ordinários e nos recursos extraordinários de fixação de jurisprudência) e à finalidade (primado da realização da justiça, em detrimento da estabilidade do caso julgado) deste recurso extraordinário.II - Na tese da obrigatoriedade de re-presentação por advogado, sempre seria caso de observar o procedimento prescrito no art. 33º do CPC, o que se traduziria em não atribuir à falta de subscrição do recurso por advogado um imediato efeito preclusivo.III - O recurso de revisão, dada a sua natureza excecional, ditada pelos

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princípios da segurança jurídica, da lealdade processual e do caso julgado, não é um sucedâneo das instâncias de recurso ordinário, só se admitindo nas circunstâncias taxativamente previstas no art. 449º, nº 1, do CPP.IV - O fundamento de revisão da al. c) do nº 1 do art. 449.° do CPP reclama que os factos que serviram de fun-damento à condenação sejam incon-ciliáveis com os factos dados como provados noutra sentença de modo a que, do confronto entre uns e outros, resultem graves dúvidas sobre a justiça da condenação.V - Não constitui fundamento de revi-são a oposição entre soluções jurídicas dadas a situações de facto similares.VI - No quadro do fundamento de revi-são da al. d) do nº 1 do art. 449.° do CPP, deve interpretar-se a expressão “factos ou meios de prova novos” no sentido de serem aqueles que eram ignorados pelo tribunal e pelo requerente ao tempo do julgamento e, por isso, não puderam, então, ser apresentados e produzidos, de modo a serem aprecia-dos e valorados na decisão.VII - Os novos factos ou meios de de-fesa devem ser adequados a levantar fundadas suspeitas da inocência do condenado.VIII - Como “novo meio de prova”, o re-querente vem juntar o canhoto do che-que nº (…), no valor de (…), para prova de que foi emitido em 14-08-2000.IX - A condenação do requerente pela prática do crime de emissão de cheque sem provisão sustenta-se, em resumo, em ter emitido esse cheque no dia 27-11-2000 e o mesmo, apresentado a pagamento, ter sido devolvido, por motivo de falta/insuficiência de provi-são, verificada no dia 4-12-2000.X - Sobre a matéria, o requerente prestou declarações em audiência, sem aludir a que se tratasse de che-que pós-datado e, no recurso que interpôs da decisão da 1.ª instância, o requerente colocou a questão de esse cheque ser pré-datado, sendo que esta questão foi objeto de aprecia-ção pela Relação que, nesse âmbito, conheceu de facto.

XI - O referido canhoto não pode ser considerado meio de prova novo e nunca seria meio de prova apto a pôr em causa a justiça da condenação.XII - O recurso de revisão não é meio processual adequado para reagir ao facto de a defesa do requerente ter sido assegurada por uma advogada estagiária, nem o eventual prejuízo para a sua defesa que daí tivesse decorrido se compreende no elenco taxativo dos fundamentos de revisão de sentença.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 19/01/2012Proc. nº 1099/07.4GAVNF-A.S1 - 5.ª SecçãoAssunto: Alteração da qualificação jurídica

I - O recurso extraordinário de revisão de sentença é estabelecido e regula-do pelo CPP, como também pelo CPC, como forma de obviar a decisões injus-tas, fazendo-se prevalecer o princípio da justiça material sobre a certeza e segurança do direito, a que o caso jul-gado dá caução.II - A revisão extraordinária de senten-ça transitada não pode ser concedida senão em situações devidamente clausuladas, pelas quais se evidencie ou pelo menos se indicie com uma probabilidade muito séria a injusti-ça da condenação, dando origem, não a uma reapreciação do anterior julgado, mas a um novo julgamento da causa com base em algum dos fundamentos indicados no nº 1 do art. 449.° do CPP.III - Os factos a que se alude na al. d) do nº 1 do art. 449º do CPP são os factos probandos, ou seja, os factos consti-tutivos do próprio crime, ou os seus elementos essenciais e ainda os factos dos quais, uma vez provados, se infere a existência ou inexistência de elemen-tos essenciais do crime.IV - Estes novos factos têm de suscitar grave dúvida sobre a justiça da conde-nação, a ponto de se colocar fundada-mente o problema de o arguido dever ter sido absolvido.V - Os novos factos e os novos meios de prova são aqueles que não pude-ram ser apresentados e apreciados

ao tempo do julgamento, quer por serem desconhecidos dos sujeitos processuais, quer por não poderem ter sido apresentados a tempo de serem submetidos à apreciação do julgador.VI - Segundo o recorrente, o tribunal de 1.ª instância, alterando a qualifi-cação jurídica dos factos e não lhe comunicando essa alteração nos ter-mos do art. 358.° do CPP, inviabilizou a desistência de queixa por parte da ofendida, uma vez que o crime por que estava acusado (furto qualifica-do - art. 204.°, nº 1, al. b), do CP) não a admitia e, se lhe tivesse sido comuni-cada a referida alteração, o recorrente teria obtido da ofendida a referida desistência, pois que esta emitiu uma declaração afirmando que «sempre esteve na disposição de conceder perdão ao arguido (...) e que só o não fez porque foi informada que o crime de que o mesmo vinha acusado não admitia desistência de queixa.», vindo a ofendida mesmo a apresentar uma declaração a desistir da queixa.VII - A alegada comunicação da alte-ração da qualificação jurídica é uma questão definitivamente resolvida, estando coberta irremediavelmente pelo caso julgado (a Relação decidiu que o caso não configurava uma ver-dadeira alteração da qualificação, uma alteração mesmo não substancial, que carecesse de ser comunicada em nome do direito de defesa do arguido ou mesmo do exercício do contraditório porque se tratou de uma desqualifica-ção do facto).VIII - Uma coisa é a intenção de o ofen-dido vir a desistir da queixa apresenta-da e outra, a própria desistência mani-festada por qualquer meio (escrito ou oral) até à publicação da sentença em 1.ª instância. Só esta última é válida e eficaz.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 19/01/2012Proc. nº 1431/09.6GLSNT.L1-A.S1 - 5.ª SecçãoAssunto: Recurso para fixação de jurisprudência

I - No requerimento de interposição do recurso extraordinário para fixação de jurisprudência, o recorrente, além do

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mais, deve justificar a oposição que origina o conflito de jurisprudência (art. 438º, nº 2, do CPP), representando esta justificação a motivação neste tipo de recurso.II - No caso, o recorrente nada disse em jeito de justificação da oposição, não dando mesmo qualquer indicação so-bre qual a questão de direito que terá merecido soluções diversas nos dois acórdãos que indicou.III - Falta, pois, a motivação, circunstân-cia que, de acordo com o disposto no art. 414.°, nº 2, aplicável por força do art. 448.°, ambos do CPP, é causa de inadmissibilidade do recurso.IV - E não há que dar oportunidade ao recorrente para suprir a apontada falha, pois o convite para esse efeito só está previsto para o caso de faltarem as conclusões ou estas enfermarem de deficiências; não para a falta ou insufi-ciência da motivação (art. 417º, nº 3, do CPP) – cf. Acs. do TC nºs 140/2004 e 259/2002, publicados no DR, II série, de 17-04-2004 e 13-12-2002, respeti-vamente).V - Em qualquer caso, lidos os dois acórdãos pretensamente em conflito, não existe a pretendida oposição de julgados, na medida em que, enquanto no caso apreciado no acórdão da Re-lação o agente detinha anteriormente a arma usada, no caso do acórdão do STJ, o agente apenas fez uso de uma arma que anteriormente não detinha (uso que se esgotou na prática do cri-me de homicídio, razão pela qual se decidiu no último acórdão não punir autonomamente a conduta do agente em relação à arma).

ProCeSSo CivilReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 27/10/2011Revista nº 1534/06.9TCSNT.L1.S1 - 2.ª SecçãoAssunto: Nulidade de acórdão

I - A nulidade de acórdão por omissão de pronúncia ocorre quando o tribu-nal coletivo não se pronuncia sobre determinada questão e não quando os fundamentos da decisão não merecem a concordância do alegante.

II - A faculdade de apresentar docu-mentos depois da admissão de recurso apenas se justifica em dois casos: (i) quando não tenha sido possível a sua apresentação até ao encerramento da discussão em primeira instância (ou por a parte não ter conhecimento da sua existência ou, conhecendo-a, por não lhe ter sido possível fazer uso deles, ou ainda por os documentos se terem formado ulteriormente) ou (ii) quando a junção apenas se torna necessária em virtude do julgamento proferido em 1.ª instância, designadamente por a deci-são se mostrar de todo surpreendente relativamente ao que seria expectável.III - Em ação de reivindicação incumbe ao réu alegar e provar que possuía títu-lo que justificasse a sua posse, como o seja o contrato de arrendamento váli-do e eficaz celebrado por quem tinha poderes para a cedência do gozo tem-porário do imóvel, designadamente através de usufruto (art. 1439º do CC), comodato (art. 1129º do CC) ou direito de superfície (art. 1252º do CC).IV - Não tem poderes de cedência do gozo o promitente vendedor de coisa alheia.V - O mero detentor não tem direito a indemnização por benfeitorias por si efetuadas em prédio reivindicado.VI - O direito à indemnização, pelo pos-suidor, mesmo que de má fé, à indem-nização por benfeitorias depende da prova, que lhe incumbe (art. 342º, nº 1, do CC), que as mesmas tinham por fim evitar a perda, destruição ou deteriora-ção da coisa (benfeitorias necessárias) ou que as mesmas valorizavam a coisa e o seu levantamento (das benfeitorias) a deterioraria (a coisa).VII - As questões não suscitadas no tribunal recorrido não podem ser apre-ciadas em sede de recurso por estes se destinarem a reapreciar questões já de-cididas e não a decidir questões novas.VIII - No domínio das ações indemniza-tórias só é possível deixar para liquida-ção a indemnização respeitante a da-nos cuja existência se provou, embora sem elementos suficientes para fixar o seu quantitativo exato, ainda que com recurso à equidade.

ProPriedade HoriZoNtalReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 29/11/2012Revista nº 121/07.9TBALM.L2.S1 - 1.ª SecçãoAssunto: Partes comuns – reparação

I - A contagem do prazo de 5 anos para denúncia dos defeitos de edifícios ou outros imóveis destinados por sua natureza a longa duração, previsto no art. 1225º, nº 1, do CC, inicia-se no mo-mento da entrega do prédio por parte do construtor/vendedor.II - Tal entrega considera-se feita no momento em que o vendedor entrega o prédio à assembleia de condóminos, ou seja, no momento a partir do qual o vendedor deixa de ter poder para determinar ou influir sobre o curso das decisões dos condóminos constituídos em assembleia de interesses autóno-mos e identificados com os interesses comuns.III - Este momento – da cisão do vende-dor do prédio vendido – pode coincidir, ou não, com a constituição da assem-bleia de condóminos, sendo que: a) se quando esta for constituída o prédio estiver entregue, será a partir deste momento que se passará a contar o prazo de 5 anos;b) se o prédio não estiver concluído e não estando em condições de ser en-tregue à assembleia de condóminos para que esta possa exercer todos os direitos de fiscalização sobre as partes comuns, o “dies a quo” a partir do qual deve ser contado o início do prazo dos 5 anos deverá ser a partir da entrega do prédio para uma entidade/adminis-tração distanciada do vendedor e com plena autonomia para denunciar os eventuais defeitos existentes na obra.IV - O legislador, no caso de imóveis destinados a longa duração, pôs à disposição do dono da obra e do ter-ceiro adquirente: um prazo de 5 anos, durante o qual, se forem descobertos defeitos, os pode denunciar (prazo de garantia supletivo), e outro prazo de 1 ano, a partir do seu conhecimento, para os denunciar, o que valerá por dizer que o dono da obra tem um prazo – de 5 anos – em que se ocorrer a descober-

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ta de um defeito o pode denunciar, mas que, exaurido esse prazo, e não tendo operado qualquer denúncia, queda peado o direito à denúncia de defeitos.V - O dono da obra ou o terceiro adqui-rente, para fazer valer com êxito uma pretensão para reparação de defeitos detetados numa obra de longa dura-ção, terá de: a) denunciar os defeitos no prazo de garantia da obra, ou seja, 5 anos após a entrega da mesma; b) propor a ação, caso o empreiteiro ou vendedor do imóvel não aceitem proceder à reparação dos defeitos, no prazo de 1 ano a partir do momento em que efetuou a denúncia.VI - De harmonia com as regras do ónus probatório (arts. 342º e segs. do CC), será ao empreiteiro ou vendedor que, pretendendo fazer extinguir o direito do dono da obra à eliminação de alega-dos defeitos, cabe arguir e provar que o direito foi exercitado para além dos prazos supra indicados.VII - O legislador não violou o princípio da proporcionalidade, um dos desdo-bramentos que conferem densidade prática e material ao princípio da igualdade contido no art. 2º da CRP, na fixação do prazo previsto no nº 2 do art. 1225º do CC, dado que o exigem razões e critérios de diferenciação das respetivas posições, nomeadamente de índole económica, e compatibiliza-ção das exigências de conformidade do produto vendido com as regras de boa fé e confiança, sabendo-se que, tratando-se de produtos duráveis e duradouros, os defeitos podem não emergir em curtos lapsos de tempo, mas tão-só ao fim de uma utilização continuada e da incidência de fatores naturais sobre a estrutura construída, materiais usados e modo de aplicação.

reSPoNSaBilidade CivilReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 29/11/2011Revista nº 1507/10.7TBPNF.P1.S1 - 6.ª SecçãoAssunto: Acidente de viação – direito de regresso

I - O alongamento do prazo de prescrição do direito à indemnização em conse-quência de danos ocasionados por facto

ilícito que constitua um crime (art. 498º, nº 3, do CC) não vale para o exercício do direito de regresso da alínea c) do art. 19º do DL nº 522/85, de 31-12.II - É certo que o elemento literal da nor-ma não afasta em definitivo a aplicação do nº 3 do art. 498º às situações do nº 2; mas é ilógica essa aplicação, dado que, na hipótese de exercício do direito de regresso, só está em aberto o direito da seguradora ao reembolso do que pagou ao lesado e não a determinação da responsabilidade extracontratual do lesante, ponto nesse momento já assente e indiscutido.III - O alongamento do prazo de pres-crição compreende-se quando esteja em causa o direito do lesado, mas não o direito de regresso da seguradora.IV - Tendo em conta o princípio de adesão estabelecido no art. 71º do CPP, segundo o qual o pedido de in-demnização civil fundado na prática de um crime é deduzido no processo penal respetivo, só o podendo ser em separado, perante o tribunal civil, nos casos previstos no art. 72º do mesmo diploma, não faria sentido que o di-reito do titular à indemnização civil (a exercer no processo criminal) pudesse ser atingido pela prescrição, estando ainda a decorrer o prazo de prescrição do procedimento criminal, que em certo número de casos – cf. o art. 118º do CP – é mais longo do que o fixado no nº 1 do art. 498º do CC.V - Mas estas razões não colhem quan-do se está perante o direito de regres-so da seguradora, realidade jurídica inteiramente distinta e autónoma em relação ao direito de indemnização do lesado; por isso mesmo é que no primeiro caso o prazo de prescrição se conta a partir da data do cumprimento da obrigação e no segundo do conhe-cimento do direito pelo lesado.VI - Porque o direito de regresso nada tem que ver com a fonte da obrigação que a seguradora extinguiu ao cumprir o contrato de seguro obrigatório de responsabilidade civil celebrado com o lesante, não se justifica, em tal even-tualidade, o alongamento do prazo de prescrição previsto no nº 3 do art. 498º,

antes devendo prevalecer o interesse da lei na rápida definição da situação e na consequente punição da inércia da seguradora num lapso de tempo mais curto, que é o do nº 2 do mesmo preceito.

traBalHoReferências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/1/2012Recurso nº 57/08.6TTBCL.P1.S1 - 4.ª Secção Assunto: Ação emergente de acidente de trabalho

I - Tratando-se da reprodução de decla-rações que foram produzidas oralmente pela mandatária da entidade empre-gadora, com poderes especiais para confessar, na tentativa de conciliação realizada na fase conciliatória de proces-so emergente de acidente de trabalho, mas não efetivadas, provocadamente, em depoimento de parte ou em pres-tação de informações ou esclarecimen-tos ao tribunal, e não se verificando a inequivocidade exigida pela lei em relação à declaração confessória, a força probatória plena do que se contém no correspondente auto reconduz-se a não se poder pôr em causa que tais declara-ções foram prestadas nessa diligência, sendo a correspetiva força probatória apreciada livremente pelo tribunal. II - Porque a ré empregadora transferiu a sua responsabilidade infortunística para a ré seguradora, mediante contrato de seguro, na modalidade de folhas de férias, que remeteu, nos termos e prazos legais, à ré seguradora, não tendo esta ré alegado e provado o incumprimento das obrigações decorrentes do contrato de seguro, por parte da ré empregadora, apenas a ré seguradora deve ser res-ponsabilizada pelas consequências já reconhecidas do acidente de trabalho que vitimou o sinistrado.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/1/2012Recurso nº 421/06.5TTFIG.C1.S1 - 4.ª Secção Assunto: Acidente de trabalho - Cálculo da pensão

I - Se o trabalhador sinistrado, labo-rando embora a tempo parcial para a empregadora e auferindo em média a retribuição diária de € 25,00, mas es-

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tando a responsabilidade emergente do acidente transferida para a segu-radora com base na retribuição diária de € 39,00 e por tempo integral, para se encontrar a retribuição devida para cálculo da pensão, não há necessidade de recorrer a qualquer remuneração ficcionada, designadamente encon-trada através da equidade, dado que a garantida através do contrato de segu-ro, por ser superior à auferida e quiçá determinável com base na equidade, é a que deve prevalecer. II - Na verdade, quando a retribuição de-clarada para efeito de seguro de aciden-te de trabalho for superior à realmente auferida pelo sinistrado, é com base na última que as prestações devidas devem ser calculadas, por a tal não poder obs-tar a imperatividade dos regimes dos acidentes de trabalho estabelecidos na lei [designadamente na Lei nº 2127/65 e na Lei nº 100/97], porque essa impera-tividade, em bom entendimento, deve funcionar apenas em defesa da garantia mínima dos direitos do sinistrado, sem que impeça a fixação de outros regimes mais favoráveis, desde que promovidos pelas entidades patronais. III - A lei dos acidentes de trabalho estabelece valores mínimos obrigató-rios, mas tais valores não representam, simultaneamente, valores máximos admissíveis, pois que não se vislumbra qualquer justificação plausível para que assim fosse, atento o princípio da liberdade contratual. IV - Se é de concluir que, nos termos do estatuído no artigo 37º, nº 1, da LAT, a entidade empregadora não pode transferir a sua responsabilidade emergente de acidente para a entida-de seguradora por valor inferior ao da retribuição auferida pelo trabalhador, sob pena de, em caso de acidente, ter de responder pela diferença não transferida, já não se pode concluir que a entidade seguradora apenas seja responsável pelo valor real auferido pelo trabalhador em caso de o valor transferido ser superior àquele. V - É que não seria justificável que o empregador tivesse de suportar o pa-gamento de um prémio de seguro mais

elevado para garantir prestações mais vantajosas para o sinistrado e, por se considerar haver impedimento legal no assegurar de tais prestações, se consti-tuísse um benefício para a seguradora, sem qualquer contrapartida.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/1/2012Recurso nº 1085/08.7TTSTB.E1.S1 - 4.ª Secção Assunto: Resolução do contrato de trabalho pelo trabalhador

I - Os factos invocados pelo trabalhador para resolver o contrato de trabalho com justa causa têm de ser apreciados, com as devidas adaptações, à luz do conceito de justa causa adotado pelo legislador a propósito da justa causa de despedimento por facto imputável ao trabalhador, pese embora, no juízo de prognose acerca da inexigibilidade da manutenção do vínculo laboral, o grau de exigência tem de ser menor do que o utilizado na apreciação da justa causa em caso de despedimento. II - Uma vez que, ao transitar da área residencial para a empresarial, o tra-balhador manteve o mesmo enqua-dramento hierárquico e funcional, não se alcança que tal mudança tenha cor-respondido a uma alteração da sua ca-tegoria profissional, nem que a mesma tenha representado um esvaziamento de funções que tivesse a virtualidade de alterar, em sentido desfavorável, o seu estatuto profissional. III - Tendo em conta que a forma de remuneração acordada no contrato de trabalho tem uma componente fixa e outra variável, sendo esta resultado das comissões atribuídas ao trabalhador, em função das vendas que efetuasse e permanecendo aquele a exercer as mesmas funções profissionais, tendo apenas mudado da área residencial para a empresarial, não se verifica a pretendida diminuição da retribuição, por parte da entidade empregadora.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/1/2012Recurso nº 1530/08.1TTLSB.L1.S1 - 4.ª Secção Assunto: Despedimento sem justa causa

I - A exceção do caso julgado, enquan-to insuscetibilidade de impugnação

de uma decisão transitada, visa evitar que o Tribunal da ação seja confronta-do com a hipótese de se contradizer ou repetir. Pressupondo a repetição de uma causa (o que ocorre quando se propõe uma ação idêntica a outra quanto aos sujeitos, ao pedido e à causa de pedir), tal situação não se verifica se/quando o facto concreto de que emerge o direito peticionado é diverso nos dois casos, mesmo que a providência requerida possa ser for-malmente semelhante. II - Inexiste identidade de causa de pedir se/quando a mesma, no se-gundo caso, é reportada a um facto não só ocorrido posteriormente ao encerramento e discussão da pri-mitiva ação, mas diferente do facto concreto que fundamenta o pedido na primeira. III - A reintegração, enquanto efeito ou consequência da ilicitude do des-pedimento, não é confundível com a obrigação sinalagmática de ocupação efetiva do trabalhador na constância de um vínculo juslaboral. IV - Constitui comportamento ilegíti-mo, subsumível na noção de despedi-mento ilícito, a terminante disposição do empregador em não admitir um trabalhador, vinculado por um contra-to de trabalho sem termo, a retomar as suas funções, consubstanciada na reiterada comunicação escrita de que não era autorizada a sua apresentação ao serviço.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/1/2012Recurso nº 45/08.2TTALM.L1.S1 - 4.ª Secção Assunto: Bancário – pensão de reforma

I - Tendo sido estipulado no acordo de cessação do contrato de trabalho e passagem à situação de pré-refor-ma do trabalhador que a pensão a pagar-lhe seria atualizada mediante a aplicação ao seu valor mensal líquido do mesmo coeficiente de atualização que vier a corresponder ao nível 16 do Anexo II ao ACTV, ou algo equiparado que eventualmente venha a substituir esse nível, será sempre em função da percentagem do aumento deste

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JuriSPrudêNCia - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201262

nível salarial que a mesma deverá ser atualizada. II - Tendo passado a aplicar-se à em-presa ré um novo ACT, cujo Anexo III e IV continua a referir-se ao nível 16 como sendo o que corresponde ao dum trabalhador com a categoria de “diretor”, conforme constava do ante-rior instrumento de regulamentação coletiva, deverão as atualizações desta pensão continuar a ser feitas através da percentagem de aumento que a este nível couber, apesar da criação de dois novos níveis salariais para aplicar aos diretores que integravam a alta direção da empresa.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/1/2012Recurso nº 5030/03.8TTLSB.L1.S1 - 4.ª Secção Assunto: Acidente de trabalho – nexo de causalidade

I - Os poderes cognitivos do Tribunal da Relação estão delimitados no art. 712º do CPC, mencionando-se, nos seus nºs 1 e 2, as condições em que podem ser reapreciados, julgados de novo, os factos fixados na primeira instância, podendo ser, se verifica-dos esses concretos pressupostos, alterados, quer no sentido da am-pliação, quer no sentido da redução pela via da alteração das respostas dadas aos quesitos, quer pela re-apreciação de factos confessados, admitidos por acordo ou passíveis de retirar-se de documento novo superveniente. II - Não obstante estar previsto no nº 4 do referido art. 712º que a falta dos elementos probatórios que per-mitam a reapreciação da matéria de facto justifique a anulação, mesmo a título oficioso, da decisão proferida na primeira instância, nada impede que, constatada uma possível deficiência ou obscuridade quanto a certa par-cela ou segmento da decisão sobre a matéria de facto, se constarem do pro-cesso todos os elementos probatórios que lhe serviram de base, a Relação, antes e em vez de anular a decisão, proceda à reapreciação do decidido, substituindo-se ao tribunal “a quo” e

corrigindo o erro de julgamento que considere ter ocorrido. III - Tendo a Relação, no âmbito des-ses poderes, alterado a resposta dada pela primeira instância ao facto onde se consignava a causa determinativa da ocorrência do acidente e as lesões sofridas pelo sinistrado e, conjugados esses factos com os restantes apura-dos nos autos, é de conferir ao aciden-te em apreço a natureza de acidente de trabalho e, consequentemente, afirmar a responsabilidade das rés na sua reparação.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12/1/2012Recurso nº 2158/07.9TTLSB.L1.S1 - 4.ª SecçãoAssunto: Indícios de subordinação jurídica

I - São elementos indiciadores da exis-tência de um contrato de trabalho: o compromisso da prestação de uma atividade, realizada em regime de exclusividade e em prestações du-radouras e de execução continuada; mediante instruções e fiscalização do empregador; em local de pertença ou determinação deste; dentro de um horário preestabelecido; mediante remuneração, certa, variável ou mista, mantida com a mesma “regularidade” e “periodicidade” e acompanhada de subsídios complementares; com os riscos, ligados ao exercício da ati-vidade desenvolvida, por conta do dador de trabalho e com pertença deste dos instrumentos de trabalho e das matérias-primas, para além da dos produtos acabados; com o trabalhador integrado na hierarquia da empresa ou exercendo a sua ati-vidade formando equipa com outros trabalhadores subordinados ou com sujeição a prestar o seu trabalho nas mesmas condições daqueles; com a obrigação de o trabalhador justificar as suas ausências e a possibilidade de exercício do poder disciplinar sobre o mesmo e com a responsabilidade do empregador pelos encargos com os regimes fiscais, de segurança social e de seguro obrigatório. II - Terão de ser havidos como mais relevantes os índices que manifestem

com maior percetibilidade a existência da subordinação jurídica do trabalha-dor ao dador de trabalho, que deverá considerar-se afastada se tais índices apontarem mais convincentemente para a presença de um contrato de prestação de serviço. III - Exercendo o trabalhador, por for-ça do vínculo contratual, a função de “perito auto”, mediante o pagamento de honorários, pela empregadora, por cada peritagem realizada e a emissão de recibos verdes por aquele, que se mostrava inscrito na Segurança Social e coletado nas Finanças como trabalhador independente, sem re-ceber qualquer quantia quando fal-tava ou quando estava de férias, sem cumprimento de horário, utilizando viatura própria nas deslocações para executar a sua atividade, suportando as despesas com a mesma, sem ter que apresentar justificação das faltas e podendo escolher os períodos em que gozava as férias e sem que a em-pregadora lhe tivesse pago subsídio de férias e subsídio de Natal e sem que o trabalhador também tivesse reclamado o gozo de 22 dias úteis de férias, retribuição de férias, subsídio de férias, subsídio de Natal, diutur-nidades e subsídio de almoço, há elementos indiciadores bastantes da existência de um contrato de presta-ção de serviço. IV - Não obstando para tanto que a atividade, de “perito auto”, do tra-balhador fosse exercida em regime exclusividade e que para a executar este tivesse de visitar oficinas de auto-móveis nos locais indicados pela em-pregadora, a elas tendo de se deslocar durante o seu período normal de fun-cionamento e que para a execução das suas tarefas utilizasse instrumentos de trabalho fornecidos pela mesma empregadora e desta recebesse orien-tações sobre a execução do trabalho e o pagamento das despesas com as deslocações, uma vez que os índices insinuativos do contrato de trabalho menos relevam que os que prognos-ticam a existência de um contrato de trabalho autónomo.

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leGiSlaÇÃo - Síntese VIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 2012 63

Bebidas espirituosasPort. n.º 52/2012, de 2.3- Altera os modelos de estampilha especial para a selagem das bebidas espirituosas, constantes do anexo I da Portaria n.º 1631/2007, de 31 de dezembro

Código FlorestalLei n.º 12/2012, de 13.3- Revoga o Código Florestal

Documentos AdministrativosLei n.º 10/2012, de 29.2- Aprova o Regulamento Orgânico da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos

Exploração de jogos sociais – repartição de resultadosPortaria n.º 54/2012, de 5.3 - Fixa as normas regulamentares necessárias à repartição dos resultados líquidos da exploração dos jogos sociais atribuídos ao Ministério da Administração Interna

Igualdade na administração e fiscalização das empresasRCM n.º 19/2012, de 8.3 - Determina a adoção de medidas de promoção da igualdade de género em cargos de adminis-tração e de fiscalização das empresas

REGIÕES AUTÓNOMASAçores – Conta de GerênciaRALRA Açores n.º 9/2012/A, de 1.3- Resolve aprovar a Conta de Gerência da As-sembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, referente ao ano 2010

Açores – empreendimentos turísticosDLR n.º 7/2012/A, de 1.3- Estabelece o regime jurídico da instalação, exploração e funcionamento dos empreendi-mentos turísticos

Açores – TribunaisRALRA Açores n.º 10/2012/A, de 1.3- Pronuncia-se a Assembleia Legislativa da Re-gião Autónoma dos Açores pela manutenção da Comarca do Nordeste e do respetivo Tribunal Judicial

Açores – Tabelas de retenção na fonte 2012Circular n.º 6/2012, de 13.3.2012, da Autoridade Tributária e Aduaneira- Divulga as tabelas de retenção na fonte de IRS para os titulares de rendimentos com residência fiscal na Região Autónoma dos Açores, a aplicar em 2012.

Açores – regime de educação para a saúdeDLR n.º 8/2012/A, de 16.3- Fixa o regime da educação para a saúde em meio escolar

Madeira – Subsídio de mobilidade do transporte marítimo e aéreoRALRA Madeira n.º 17/2012/M, de 9.3 - Recomenda ao Governo da República a regu-lamentação do subsídio de mobilidade do trans-porte marítimo entre o continente português e a Região Autónoma da Madeira

RALRA Madeira n.º 18/2012/M, de 9.3- Recomenda ao Governo da República a revisão do subsídio de mobilidade no transporte aéreo e marítimo entre o continente português e a Região Autónoma da Madeira

Madeira – Subsídio de insularidadeDLR n.º 1/2012/M, de 15.3- Revoga os Decretos Legislativos Regionais n.os 4/90/M, de 18 de janeiro, que cria o subsídio de insularidade ao funcionalismo público da Região Autónoma da Madeira e estabelece o seu regime, e 29/98/M, de 29 de dezembro, que estabelece o complemento regional de 30 % nas ajudas de custo para funcionários e agentes da administração regional e local, altera a percenta-gem relativa ao subsídio de insularidade atribu-ído aos funcionários, agentes e contratados há mais de um ano na ilha de Porto Santo, referido no Decreto Legislativo Regional n.º 2/2011/M, de 10 de janeiro, que aprovou o Orçamento da Região Autónoma da Madeira para 2011 e altera o Decreto Legislativo Regional n.º 2/92/M, de 7 de março, que atribui um subsídio de 30 % aos funcionários e pessoal contratado da Junta de Freguesia do Porto Santo

MedicamentosDLR n.º 2/2012/M, de 16.3- Primeira alteração ao Decreto Legislativo Regional n.º 16/2010/M, de 13 de agosto, que estabelece que a prescrição de medicamentos é feita de acordo com a denominação comum in-ternacional e aprova o modelo de receita médica

DLR n.º 3/2012/M, de 16.3- Estabelece o regime de dispensa de medica-mentos em unidose

Tabaco manufaturadoPort. n.º 53/2012, de 5.3- Quarta alteração à Portaria n.º 1295/2007, de 1 de outubro, que aprova o novo modelo e as especificações técnicas da estampilha fiscal aplicável aos produtos de tabaco manufaturado destinado a ser introduzido no consumo no território nacional

TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL

Energia – qualificações profissionaisPort. n.º 48/2012, de 27.2- Especifica as profissões regulamentadas abrangidas no setor da energia e designa a res-petiva autoridade competente para proceder ao reconhecimento das qualificações profissionais

Turismo – qualificações profissionaisPort. n.º 50/2012, de 28.2- Especifica as profissões regulamentadas abrangidas no âmbito da área do Turismo e designa a respetiva autoridade competente para proceder ao reconhecimento das qualificações profissionais

Medicamentos – novas regras de prescrição e dispensaLei n.º 11/2012, de 8.3- Estabelece as novas regras de prescrição e dispensa de medicamentos, procedendo à sexta alteração ao regime jurídico dos medicamentos de uso humano, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 176/2006, de 30 de agosto, e à segunda alteração à Lei n.º 14/2000, de 8 de agosto

Serviço Público de EmpregoRCM n.º 20/2012, de 9.3- Aprova o Programa de Relançamento do Serviço Público de Emprego, com o objetivo de acelerar e potenciar a contratação e a formação dos desempregados, contribuir para um acom-panhamento reforçado de potenciais situações de desempregados de longa duração, alterar o sistema e a articulação das medidas ativas e pas-sivas de emprego e imprimir uma nova dinâmica ao funcionamento dos Centros de Emprego

Redução de trabalhadores na Administração CentralRCM n.º 22/2012, de 9.3- Aprova um conjunto de obrigações de reporte de informação para efeitos de determinação do plano de redução de trabalhadores na adminis-tração central do Estado e de acompanhamento e controlo da respetiva execução

Reconhecimento das qualificações profissionaisPort. n.º 55/2012, de 9.3- Especifica as profissões regulamentadas abran-gidas na área do emprego e designa a respetiva autoridade competente para proceder ao reco-nhecimento das qualificações profissionais, nos termos da Lei n.º 9/2009, de 4 de março

Proteção no desemprego – Trabalhadores por conta de outremDL n.º 64/2012, de 15.3- Procede à alteração do regime jurídico de proteção no desemprego dos trabalhadores por conta de outrem, beneficiários do regime geral de segurança social, e à quarta alteração ao Decreto-Lei n.º 220/2006, de 3 de novembro

Proteção no desemprego – Trabalhadores independentesDL n.º 65/2012, de 15.3- Estabelece, no âmbito do sistema previdencial, o regime jurídico de proteção social na eventua-lidade de desemprego dos trabalhadores que se encontrem enquadrados no regime dos traba-

PriNCiPal leGiSlaÇÃo PuBliCada1ª e 2ª Séries do Diário da República de 25 de fevereiro a 16 de março de 2012

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leGiSlaÇÃo - SínteseVIDA JUDICIÁRIA - fevereiro 201264

iNveStiGaÇÃo da PaterNidade

Sumário: “i – Quando a lei refere que a conduta de falta de cooperação da parte com o tribunal será apreciada por este em sede de julgamento da matéria de facto, não está a indicar que a convicção do julgador tenha de se formar necessariamente contra o que é o interesse dessa parte. ii – Quando a determinação da paternidade se fundava numa conclusão judicial, ou seja, quando se presumia de uma série de factos, sem que se pudesse provar directamente, um quesito a perguntar se alguém era filho de ou-trem era conclusivo e não podia ser formulado. No entanto, o surgimento dos testes de ADN, através dos quais é possível fazer a prova directa da paternidade, permite que se elabore tal que-sito, que, assim, se configura como meramente factual e cuja resposta positiva ou negativa não resulta da consideração de outros factos. iii – Aquele que, culposamente, se recusa a se submeter as testes de ADN em acção de investigação da paternidade em que é réu, fica onerado com o encargo de provar que não é pai, nos termos do art.º 344º nº 2 do C. Civil. iv – O direito à identidade pessoal, por referên-cia a um determinado arquétipo familiar, do réu, em acção de investigação da paternidade, tem de ceder perante o direito à identidade pessoal e genética do filho, nos termos do art.º 26º da Constituição. v – O pedido de realização de exames de ADN poder ser determinado oficiosamente pelo tri-bunal, nos termos do art.º 265º nº 3 do C. P. Civil. vi – Em acção de investigação da paternidade, deve o réu ser notificado para se submeter aos testes de ADN com a advertência de que a sua recusa injustificada implica a inversão do ónus da prova, nos termos do art.º 344º nº 2 do C. Civil.”(Proc. nº. 994/06.2TBVFR.P1.S1, de 23/2/2012).

aCideNte de traBalHo

Sumário:” i - Tendo a recorrente reservado, para as alega-ções e conclusões do recurso, a arguição de nu-lidade que assacava ao acórdão recorrido, não pode este Supremo Tribunal dela conhecer, por extemporaneidade, atento o disposto no artigo 77.º, n.º 1, do Código de Processo do Trabalho.

ii - Resultando provado que a máquina na qual o sinistrado laborava – britadeira de crivo – não estava dotada das protecções que impediam o contacto com elementos móveis – as quais tinham sido retiradas –, que funcionava de for-ma deficiente, que a empregadora havia dado instruções ao sinistrado para que removesse as pedras que iam caindo no tapete da má-quina – instruções às quais obedecia aquando da ocorrência do acidente de trabalho – e que ao sinistrado, não obstante comunicadas os perigos inerentes ao facto de colocar a mão na máquina, não havia sido dada qualquer formação em matéria de segurança quanto ao funcionamento da máquina, não pode concluir-se que o acidente se deveu a sua culpa exclusiva. iii - Correspondendo a “negligência grosseira” à “culpa grave”, a sua verificação pressupõe que a conduta do agente – porque gratuita e de todo infundada – se configure como altamente re-provável, à luz do mais elementar senso comum.iv - A exclusão da responsabilidade prevista na alínea b) do n.º 1 do art. 7.º da LAT, a par de um comportamento altamente reprovável do tra-balhador exige que o acidente tenha resultado em exclusivo desse comportamento.v - Atendendo à factualidade enunciada em II, não pode concluir-se que o sinistrado haja actuado de forma temerária, inútil, indescul-pável e sem qualquer explicação, dando causa única à eclosão do acidente de trabalho, tanto mais que, por várias vezes, avisou o gerente da empregadora que o tapete da máquina era um perigo e que era necessário substitui-lo. vi - Apurando-se que o acidente de trabalho ocorreu em virtude de a máquina na qual ope-rava o sinistrado estar sem protecções do crivo e ausente o botão de paragem de emergência junto à zona de perigo, em virtude de inexisti-rem procedimentos e instruções de segurança relativos ao funcionamento da máquina e em virtude da falta de experiência e formação do sinistrado, em matéria de segurança, relativa-mente àquele tipo de máquina, é de imputar à empregadora a responsabilidade, a título principal, pela reparação dos danos emergentes daquele acidente, por inobservância das regras de segurança. vii - A prova de factos que permitem concluir que a entidade empregadora violou deveres de cuidado, atenção ou diligência, que seriam seguidos por um empregador normal, colocado na posição da ré, que contribuíram para a pro-

dução do acidente, ou que aquela tenha violado qualquer regra legal de segurança no trabalho, causal do acidente, há lugar à indemnização por danos não patrimoniais. viii - Resultando provado que o sinistrado sofreu, em consequência do acidente de tra-balho que foi vítima, lesões particularmente graves, que implicaram um período de cura directa longo, determinaram várias interven-ções cirúrgicas do foro ortopédico e estético e subsequentes tratamentos particularmente agressivos e dolorosos e que está, definitiva-mente, amputado do membro superior direito, pelo terço superior, afigura-se adequada uma indemnização pelos danos não patrimoniais no valor de € 50.000,00. “. (Proc. n.º 165/07.0TTBGC.P1.S1, de 29/2/2012).

aCÇÃo de PetiÇÃo de HeraNÇa

Sumário: “i - A ação de petição de herança (art. 2075.º do CC) visa o reconhecimento judicial da qualidade sucessória e a consequente restituição de todos os bens da herança ou de parte deles contra quem os possua como herdeiro, ou por outro título, ou mesmo sem título.ii - Conferidos poderes para movimentação de depósito bancário de modo a que o procurador só deva proceder a levantamento a pedido ou em caso de necessidade ou de impossibilidade do respetivo titular, o facto de o procurador ter procedido, a pedido do titular, ao levantamento de € 100 000, alegando que o fez para, depois, os entregar ao titular da conta que os iria aplicar em despesas de vária ordem, tal levantamento não importa que essa quantia tenha deixado de continuar a integrar o património do titular da conta.iii - Por isso, não tendo sido a mesma restituída, ato que importava a execução do mandato e simultaneamente traduzia o cumprimento da obrigação a que alude o art. 1161.º, al. e) do CC, impõe-se a condenação do mandatário a restituir tal quantia à herança entretanto aberta por óbito de um dos titulares da conta.iv - Ao autor cumpre o ónus de provar, para além da sua qualidade de herdeiro, que a referida quantia foi levantada pelo procurador que, por sua vez, tem o ónus de provar que a restituiu ou que a despendeu justificadamente (art. 342.º do CC).” (Proc. n º 6752/08.2TBLRA.C1.S1, de 6/3/2012).

disponíveis em www.dgsi.ptaCÓrdÃoS do StJ

lhadores independentes e que prestam serviços maioritariamente a uma entidade contratante

ACÓRDÃOSTribunal ConstitucionalRegulamento de Estágio da Ordem dos AdvogadosAcórdão do Tribunal Constitucional n.º 89/2012, de 9.3- Declara a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, das normas constantes do artigo 24.º, n.os 3 e 4; do artigo 36.º, n.º 2, 2.ª parte; do artigo 42.º, n.º 5, 2.ª parte, todos do

Regulamento Nacional de Estágio da Ordem dos Advogados (Regulamento n.º 52-A/2005, de 1 de agosto), na redação que lhes foi conferida pela Deliberação n.º 3333-A/2009, de 16 de dezembro, do Conselho Geral da Ordem dos Advogados

RETIFICAÇÕESOrçamento 2012 AçoresDecl. de Ret. n.º 13/2012, de 13.3- Retifica o Decreto Legislativo Regional n.º 3/2012/A, de 13 de janeiro, da Assembleia Le-

gislativa da Região Autónoma dos Açores, que aprova o Orçamento da Região Autónoma dos Açores para 2012, publicado no Diário da Repú-blica, 1.ª série, n.º 10, de 13 de janeiro de 2012.

OE 2012 – Normas de execuçãoDecl. de Ret. n.º 14/2012, de 16.3- Retifica o Decreto-Lei n.º 32/2012, de 13 de fevereiro, do Ministério das Finanças, que esta-belece as normas de execução do Orçamento do Estado para 2012, publicado no Diário da Repú-blica, 1.ª série, n.º 31, de 13 de fevereiro de 2012.

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