por uma antropologia do direito no brasil

Upload: kayke-lins

Post on 10-Jul-2015

732 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    1/16

    : . ~ . ' "

    "~ ."t::e L L ;J(J A

    ./ '\_..}IV .

    :jOA av ll'V1

    POI' Hilla Antropologia d\~ Dire.rr. au :;i '.i3i:-!Z()[J\. 'rtu :'.~il[e! i i i "

    / \L 'S II I II ( ): l) drtigu vcrS~ l :-iubll' ": 1-. :!:;.{'H:~~.,.rc llcxox h.rvid,; no Direli,' ,I panir .l..Antropologia, em espec ial, llU 'il,~ iJII~C dp esq uis a ju rid ic a n o B ra sil.Pal avras-chaves:Pesquisa J uridica.

    Antropologia. Dircito.

    1. Introducao

    A A ntro po lo gia c on stitu i-se , c om o d isc ip lin a c ie ntific a, n osquadros do pensarnento socia l europeu do seculo XIX, emt o rn o ,d e nt re o u tr a s, d as problernaticas o br ig a t6 ri as d o "progresso" e da" ev o lu c ao s oc ia l" , C omp et ia a d i sc i pl in a a s si rn constitulda a tarefa dee xp li ca r a s d ife re nc as e nt re a s d iv er sa s s oc ie da de s e s ua s i ns tit uic oe s,1740 a uto r a gra de ce il in sp ira ca o d os p ro fe sso rc s R ob erto d a M atta e L uiz d e C as troFaria do D epartamento de Antropologia do Museu Nacioual, U F RJ. A cste ultimo,especial agrudcc irncnto pelas suges tocs , emprcst imo d e rn.uc riul , i ndi ca co csbibf iograficus c cstimulos no que diz rcspciio Udiscussao uqui c tuprccndidu sobrc oTribunal do Juri. Agradeco tumbcm a Renato lit: Andr ade L,sia, do Departamento deCieuc ias S oc iais da Univ ersidadc Federal FJum incnsc , pc las prec iosas iudicacocs noque se rcfere a toruada de dec isocs dos jurados e suus implicacoc politicas m aisgerais, Aos Profs. Franc isco Jose dos Santos F

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    2/16

    ~ . . ~.ern especial. at~Jas pertencentes'

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    3/16

    -r::o

    0.0E c

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    4/16

    p ol it ic as , j ur id ic a s, rel ig iosas.de parentesco, etc., iambern naosustentou . S cm entrar na discussao de que a tecnica se mede por suaeficac ia e adequacao a contextos dados e nao por sua sofisticacao,encontraram -se sis tem as culturais de extrem a complexidadc cSl i lstica

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    5/16

    A rq u i v o s d e D jr e i t oIj~ I1 A rq u i v o s d e D ir e i l O

    ~ilil ica~;ilu cspec ificos ~CIll abandonar as caicgorias ,;I!' quec . m partim enta lizam os nossu soc iedade, passam -se it .JJ:'cDlll1"'W::L.alLdIGi9_1_~!l.ida~l_a int " . r : .deQ.\ ! l lQ~J1_cj< ! . d e s r a te s . . so < ;w i s . O_.Jiir ,:i t .o~. ' l . r~c~_S_Qmo.JUIL l&ISQ_Qlj v i J e 2 ,i i, l9 .9 . .d e . .l:.9IlJ cQ l c ..w . cj ; ll , _u a .o . s6 . . .p.acaIe 1 2 r i l 1 ) i .Le .QJ l lp .or taLr len1o.sJJ ld< ;c~~~~cj~J . ! l

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    6/16

    (~\IUICl,idus -:111 s uj c i ro s de ducito s C ob rigac oes. P OC Ill -S C it Jill OS

    p arad oxo s e nc errad os n a p erc ep cao d o E stad o c om o "organizacoes" esu a irnagem de to do h oin og en eo e c e nt ra li za d or : quanto maiscomplexa a socicdade , tanto mais centralizada, m as tanto maiscarnadas de regras, e mais adjacentes, numerosas e d iversas asjurisdicoes, instanc ias e campos autonornos. A apareucia deccntralizacao e contro le rac ional corresponde lim a efetiva delcgacaoIII governo e na adrnin istracao , constitu indo-se rnais areas ded I ; c ri< ,~ao e s em i -a u to n om i a, ma s assirn constituidas subpartes das oc ie da de , s ej am f orma li za da s o u i nf orm ai s. " ,I

    ~;J~~.jli~..'.'t

    A cim a d e t ud o, e nt re ta nto , 0 olhar antropol6gico e critico eimp ie do so c om seus pr6prios produtos i nt el ec tu ai s e aqueles da s suasc ornpanh eiras Cienc ias S ociais. A perrnanente etnografia de sellproprio conhecimento, 0 d es ve nd am en to d as c at eg or ia s q ue o rg an iz amse ll sabe r e su a sistem atic a irn plo sao sa o o s o bje tiv os d efin itiv os d aA n tr op ol og ia , e nq ua nt o d is ci pl in a c ie nt if ic a.

    2. A Contribuicao da Antropologia para a Pesquisa Juridicano Brasil

    A tradicao an tro po l6g ic a p rim a, c om o se v iu , p or in co rp ora rasp ec to s d e se u o bjeto d e e stu do a su as reflexoes t e6 ri c as . T a l tarefa serealiza n o p la no pratico pelo utilizacao d o m et od a etnografico, cujop on to c en tral e a descricao e interpretacao do s fenorncnos observadosco m a indispensavel explici tacao tanto das categorias "nativas" comoaquelas d o s ab er a nt ro po lo gi co u til iz ad o pelo p es qu is ad or. T al m eto dopede exercer-se nao so sobre fentHI1CnOSsociais de que paruc ipadiretarnente 0 o bserv ad or, m as tambem sobre q ua is qu er p ro du to sc ul tu ra is d e um a dada sociedade, 0 q ue in clu i ta nto d isc urso s oraisc om o e sc ri to s. A conv ivencia e partic ipacao na v ida dos gruposcostuma-se d en om in ar d e "observacao participante". 0 fa to de que aA ntro po lo gia te nh a p riv ile giad o so cie dad es .d e tra dic ao o ral ("semesc rita" ... ) fez com que esse aspecto do metodo etnografico fossep ri vil eg ia do , e m e sp ec ia l n as t ra di co es in gl es a e a me ri ca na d o n or te ,

    M as , a r efl ex ao e tn og ra fic a s ob re te xto s tern ta mb em s eu l ug arn o s ab er a nt ro po lo gi co , desv endar de sua logica e das c ategoriasc entrais que 0 organizam , acom panh am ento ou nao d e observ acao

    234r\ r q u i vo s d e D i r e t l ~ r:.

    partrcrpante, tendo sido objeto de espec ial aiencao por parte, porexem plo, de MARCEL MAUSS e se lls dlsc lpulos. Ern am ba s assituacoes, e ntre tan to , a bo a tecnica e a m es il la : u ti Iiza-se 0 farnil iarpara estabelec er diferenc as e d e le d e sc obr ir s ig n if ic a do s insuspeitados,qu e aparecern p or c ontraste ond e haviarn sido coufundidos pelo olhuropaco d a fam iliar id ad e c otid ia na.

    / \ cO l 1t ri bu i c; ao que ~JZ.~_esperar da_~~)pL)lggi':lJ)'.IE'I.

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    7/16

    n i t U O S ~ L Sc estudo dos tribuna is e dernais agcnciasl.;oIJl:ljaliL~ldas na o e so 0 estu do do Direito, 0 e stu do d o D ire itotan.bern nao sc no estudo dessas agenc ias espec ializadas. M ais: ein ui il t en ta r c om pr ee nd e- la s s er n c on te xtu al iz a- la s,

    Os dados utilizados provern de minha experiencia como alunoe b ac ha re l em Direito (1 904- 1968), de urna curta experleuc ta decam po no Para (1 977) c de d ad o rec olh idos em p esqu isa d e c am po q uerealize atualm ente no Estado do R io de Janeiro desde seternbro de19 8 1 . Como pano de fundo atua certamente m inha recentcpermanencia no s e sta do s u nid os , qu e me serve d e p ad ra o de coutratc( 19 7 9- 1 98 1 ) .Pre l iminar a inves t igacao e tambern a p ro p ri a r ep re se nt ac aoqu e 0 Direi to tern em nossa sociedade. 0 que e Ie representa para a

    sociedade brasileira, q ua is s ao a s e xp ec ta ti va s q ue se tern em relacao asc ~lsignificado e papel e aos das instituicoes judiciarias em geral? Quante a questao do saber iu rid ic . 9 , e precise prirneiro defini-

    10 nao c om o s ab er restri to e espccial izado a ocupar espaco limitadodentro da soc iedade brasile ira , m ais com o sober qL le se difunde,e .er ,11le ia_1Q.d,i1S~ass fe ra :i e C Bm a( i< I Ss Q j ai~~llq,lHUlt .Q~i :;W:JHlb",d,erep reS S(I1 tacoes sobre a sociedade., .

    o Direi to, tambem, nao pode ser v isto como urn saberrn on ol itic o, E le e sta ra n ec essa ria m en te frag men ta do e m d ife re ntesco dific aco es substan tiv as e proc essuais, desco bertas atras de urn aa pa re nte h om o ge ne id ad e: o s p ri nc ip io s q ue in fo rm am 0D i re it o F is c al ,T rib uta rio , T ra ba lh ista , P en al, C om er cial , n ao sao o s m esm os, n em seaplic am nos m esm os con textos, tribunals e c asos conc re tos. Cadadom inic destes ag lu tina diferen tes saberes ev en tualm en tein co mp ativ eis. 0 m ito d a c oe re nc ia e siste rn atic id ad e d o D ir eito se rv ea su a in stitu ic ao c om o sab er d og rn atic o e fo nte d e p od er,

    e xis te nc ia e _9 oP r ac ao . N ess e s en tid o c on sti tu i- se e m r ep re se nta ca oc on sen su al, e m terr no s fo rm ais, d as fo rm as q ue o rg an iz ac ce s e m g era ld ev ern te r, p or e xe rn plo , d esd e tim es d e fu te bo l a e rn pre sas p ub lic as,A m anipulac ao tecnica desse saber pertence a urna h ie ra rq uia d eespec ia listas que com m aior ou m enor efic iencia "explic am" 0arc abo uc o ju rid ic o e m q ue estam os en vo lv id os em n ossa s a tiv id ad escotidianas .o p ro ble ma d e q ue 0 D ir eit o d e u ma s oc ie da de c ap it al is ts te rncarac teristic as comuns a todos os D ire itos de todas soc iedadesc apita listas, em esp ec ia l aqu elas q ue apresentam c onfigu rac oes

    juridicas sernelh antes, nao frustra m eu im peto antrop ologic o. Pelocontrario, Q ._ d is cl lr so d a a nt ro j! ol og ia e se rn pre alJe ora do e m 1II1la~ ;i_es12ec ifica , an de se descobrern _~ cto~ . inusitados doss$ .!} ific ad os S QC iaL SQ ye ~~ ntem r~ ta r. S e 0 f at o d e, p or e sta rm osestu dando em um a soc iedade capita lista e dependente, lim D ire itoa de qu ad o a essa s c on dic oe s g era is n ao p od e se r ig no ra do , n ao se d ev e

    recusar 0 c on he cim en to d e s ua s e sp ec if ic id ad es p ar a m el ho r e xe rc ita rnossa tarefa sociol6gic a (C f. DA M ATTA , 1979, especia lmenteI n tr c du c ao ) .

    C on se qu en cia i me dia ta d es sa s it ua ca o e 0 s en ti me nt o c omumde qu e a o rdenacao d e nossas ativ id ad es nao e a lg o p ass iv el d e s ur girde um consenso im ediato entre os dire tarnen te interessados, quec on tr at ua lm en te e st ab el ec am r eg ra s p ar a s ua c on vi ve nc ia , m as d ev er asem pr e se r fru to d e u ma "ad eq ua ca o" a d esc on he cid as fo rm ula s le ga lsp ara q ue p ossa te r efic ac ia , P or isso e sse sa be r e lim p od er d ifu so m asnem por isso men os eficaz em produzir conte lidos e orien tacoesfo rm ais para a acao soc ia l de lim a m aneira geral. S eu exerc ic io einstrum ental e form al em sua capac idade de agregar con teudosaparenternente contrad itorios em torno de eixos de signific acaoesp ec ific os, d estin ad os a "re so lv er" p ara do xe s o bse rv ad os e m c aso sp ar tic ul at es . l nc or po ra fa cil me nte o ut ro s s ab er es , a tu al iz an do -s e, s cmperder suas propriedades fundam entais, que nao residcmexclusiv arnente em sell co nteu do, m as nas form as de su a u tilizac aoc om o p od er .

    M in ha re flex ao p assa ra a se d esd ob rar e m to rn o d e tres e ixo s,p ro cu ra nd o a po ntar p ar a a p erp lex id ad es q ue n os esp era m n o d ec orr erd e um a e tn o gr af ia : 0 prim eiro deles, ~ stao do saber iu rid ic~ o .e const~ s.iJ; a segunda, .!!.~ estao da ap lica 't~Q .~ ~~ .e .s.,J;Lprat.ic as-es.~ izad.as; a terceira, aq l le s ta o QsU :\ il it 9 ao e n tr e e ~~ ! pe r juriEl2..

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    8/16

    23 8 I1 23 9Arqu ivo s de Direito

    :i ' ,;c;:;ihi:._j::dc: .Ie que desconhecam norm as (em g-:ra l, de ft': 1 : :! ' : :. l .d 'iga lu rl , ," conhecimento de todos) que possa SCI' subitamentcinvocadu para nos impedir (au favorecer .... ) , lim a ativ idade niuitasVCLCS c orriq ue ira e d iu tu rn am en te re pe tid a. N os sa u nic a possibilidadede s uc es so , e nta o, d eix a de re po usa r em nossa unica p o ss ib i l id a dcindividual e co le tiv a, para deslocar-se sistem atic am ente para ahabilidade e prestig io de !lOSSOS patronos do memento , capazes desem pre e sistem aticam ente "contro lar" a situacao, m as dific ilm eute deC:l/.'~rvaler nossos direitos.

    supostam ente tec nico-iurid ic a M as tarnbern sen! iI base em cue ~el'i\ne xe rc id as a tl vi da de s " ex tr a] urldlcas", como as pollciais, de ' servicesp ub li co s e p ar ti cu la te s, de a ss oc ia cc es e o rg an iz ac oe s particulares,consciente Oll inconscientemente.

    Essa pratic a geral, que poderiarnos ro tu lar dc c lien te listica Chicrarquizanic em nos s o cotid iano.pode ser observ ada em suaproducao e reproduc ao nas instituicoes "jurid ic as" c le m ane ira geral e ,em espec ia l, nas Facu ldades de D ireito . E sse e 0 l ug ar p or e xc el en ci ada instaurac ao e constitu icao expllc ita desse saber e de suas form as deoperacao . Por essas institu icoes e por seu proc esso soc ializadorpassarn , no B rasil nao s6 os profissionais do D ire ito , como ju izes,adv ogados, prom otores e juristas, m as tarnbern de legados, escriv aes,p olic iais, fu nc io nario s p ublic os, d on as d e c asa, em presa rio s, p ol itic os,enfimmembros os m ais diversos das c am adas dom inantes edom inadas da soc iedade , que ali v an em busc a de status erec onhec im ento soc ial em seus respec tiv os grupos de referenc ia . M as,se 0 obtern, se ra sempre as c ustas da in ic iac ao nessas praticasdogm atico-form ais de representar a soc iedade idea l com o urn conjuntode 16gicos em harmonia com razao , que detem , em princ ip io , u rnconhec im ento defin itiv o sobre as origem e 0 conteudo das forrnas dev id a h um an a em so cied ad e.

    A form a de institu ic ao desse saber implica aparented is ta nc ia me nto f orm al da rea lid ad e so cia l, qu e tern de ser atingida porsucessivas operacoes de reducao logica a s uu s c on fi gu ra co esnorrnativas. E a realidade que se dev e adaptar, em cada caso , aoDireito. 0 que nos coloca diante da legitim idadc dos processes dec on stitu ic ao d essa s re pre sen tac oes. C abe a n os a ntro po lo go s expliciiaros mecunismos que informam as rcgras de operacao desse saber .

    Para demonstrar como perc ebo operando a relacao entre 0conteudo desse saber e a legitirnacao de pra tic as soc iais em nossasoc iedade, dev ere i exem plificar c om duas situacoes em que 0 saberjurid ic o, atrav es d e p rin cip io s d ou trin ario s, se in sc rev e e rn institu ic oe sjudic iarias e recusa 0 que expl ic itam ente se propoe, regu lar"juridicamente" 0 comportam ento soc ial atrav es de regras gera is atodos aplic av eis, fundam entadas em princfp ios explic itos. A o dar ta isexemplos pretendendo contribu ir para uma explic itacao do ~contribu i< ;30 gue a AntroPQ logia pode dar' a _ p es m .l is a i ur id ic Jl "tornando consc ientes processos que se ocu ltam atras de form alisrnoque apenas podem serv ir ao refe ree do arbftrio e da explorac ao emnossa soc iedade . A utores e situacoes c itadas, portanto, sao aqu iconsiderados com o representativ os de urna situac ao geral, nenhumprop6sito hav endo alem do inte resse academ ico na in te rpretacao denossa soc iedade , na exposicao e disc ussao nesse doloroso processo deestranharnento.N a pra tica , essa soc ializac ao se c ornplernenta tecnic arnente no

    cotidiano do exerc lc io profissiona!, m ais ou m enos bem suc edido deacordo com as posicoes que se consign oClIpar em um a estru turnh ie rarqu izada e corpora tiv e que e com o sc representam organizudas asprofissocs ju rtdicas. A Fac uldade, sem prc "acusada" de inefic az para \)ensino da "pratic a do dire ito", cumpre efic azm ente seu papel desoc ia lizar, in ic iar, consagrar e ampliar, para ale rn da esferap ro priam en te ju rid ic a, as rep rese ntac oe s c on sen su ais ali ap re sen ta dascom o parte de um a "C ienc ia do D ireito".

    o saber assim produzido sera a base na qual se fundam entaraoleis, reg ulam en to s, sen te nc as e a co rda os ju dic ia is, p arec eres e p ro jeto spoliticos, inc lusiv e aque les de ordem constituc iona l, assim como achamada doutrina - princ ip ios basic os que orientam a pra tica

    o prirn eiro exe rn plo d ira resp eito it area de parentesco , porguardar in tim a re lac ao c om a tradicao de estudos de rninh a disc ip line .N a Antropologia S oc ia l sc cstabc lcc eu em definitive a conv icc ao dequ e 0 parentesco e UIl1 fenorneno soc ia l, que diz respe ito aorganizacao de grupos dentro da soc iedade, e rn te rmos de dire itos,obrigacoes, a titudes, residenc ies, aliancas, inc lusao e exc lusao demembros. N ada tem av er, portanto , com "instin tos indiv iduais" oucom "le is naturais" (Cf. LEV I-STRAUSS , 1949, entre v astabibIliografia).

    M as em c onsagrado texto de F ilosofia do D ire ito , largarnenteutilizado nas c adeiras de "ln troducao a Cienc ia do D ire ito",

    A r q u i v o s d e D jr e i t o - - - - . - - - -

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    9/16

    A r q u i v o s d e D j r e ito

    .'u1,rll.',l1ton::l 11\,1 curr icula dus faculdades, como comprova su.. 26".l:\.:i:;~10,de 1 98 0, encontra-se exposicao sobre a "origem da familia". 0aut.ir L ' l Z rcferencia, sern contextual izacao cultural algum a, a c asus de"p,< )llliscu idade" entre m clanesios para exernplificar supostasdivergencies entre antrop6Jogos e sociologos quanta ao "estatutoorig i nario das relac oes sexuais na espec ie h urnana", (LIM A, Ino: 17) .S,- 'gundo ele , alguns adm itern a existenc ia de urn alegado estado de"rrum iscu idade" e "comunismo sexual" anterior ,\ c onstituic ao c iat~ 'lillilia, com o G UN TH ER , (au tor que nao m erec e nenh um a indicac aobibliografica assirn c om o to do s o s d em ais, im possibilitand o qualquertentative de conferencia, contextualizacao e discussao academics deSlI< lS a firm ac oes, tom ad as do grn atic am en te, p ortan to ), en quan to ou tro s(scm indicacao) afirmariam 0 "patriarcado" como mais a ntig a f orm ade familia . E sta fornec ida e estabelec ida a form ula evoluc ionista depensar a institu ieuo fam iliar em term os de organizacao de suas regras.Ap6s dissertar so b fo rm as d e c asam en to pol igamicos , 0 autor volta afazer citacoes. E os au tores esco lh idos sao W esterm arck e Briffault, 0prim eiro afirm ando a existenc ia de um "institu te monogarnico"enraizado na natureza humana e 0 segundo, que estabe lece emrelacoes tra nsit6rias e "promiscuas" as aspec tos predominantes dasrelacoes entre os sexos no "estagios in fe rio re s d a cultura" ( Cf. L lM A ,1 98 0: em ide ias ev oluc ion istas do sec ulo p assad o).

    realizac ao da finalidade do D ire ito como babitualrnente ddillidn'cam po de estabelec im ento do dever soc tal.

    Entretanto, a operacao c lessas pre rrussas de contcudodisc utiv el nao se constitu i nern ao menos em regra gera l pela qualpodernos o rie nta r n os so comportamento, estejamos Oll nao de acordo(om elc , Pois, se LI m p ai aju iza u ma c au sa p ara liv rar- sc d o pag .u llen tode pensao ao filh o, por este tel ' atingido a m aioridadc , II filho, ernboraparte sociologies e cruc ial m ente envolv ida no processo, dele nao eparte l eg it im a , f or rn al rn en te falando, pois 0 pac to que estabe leceupensao foi firmado entre mulher e marido, na minoridade do 111110.Embora sc comprov ando a necessidade da pensao a despe ito damaioridade, 0 argurnento formal prev alec eu, sendo dec id idafavorav elm ente ao pai a causa, realrnente ajuizada no Estado do R iode Janeiro , em 1 98 2.

    .j -

    Onde , en tao , buscar a legitim idade das regras c apazes degarantir orien tacao segura para este dom inio supostarnente "natural"do parentesco , que em nossa soc iedade se apresenta, por isso m esm o,como de dom inio do D ireito Publico , regido por norm as rigidas e naocontratuais? Pois a carac teristica desse saber e ta rnbem serim perm eav el ao exam e -concreto e em pirico das condutas, a pretextode dirig i-las. A ssim , unioes que nao se rea lizam segundo as" fo rm ali da de s le ga ls " ta mb er n n ao sao adm itidas ao Direito em suascondicoes pa rtic ulares, p ois estas fazern p arte d e l im e len co l irn itan do ,de enunciacao restrita. "Contratos de casam ento" que pude m anusearno Para, em que e sti pu la m c on dic oe s para u ma v iv en ci a t em po ra ri a delim casa l com explici tacao de dev eres e direitos m utuos ecompreensiveis para ambos os contraentes, inc lusiv e no que dizrespeito a serv ic es sexuais, econornicos e soc iais a sere rn prestadospor ambos os conjuges, sa o elaborados e "registrados" em cartcrios ouesc rit6rios de advogados. S erv em para fundar relacoes duradouras ee xp lic itam en te c on tro lad as p ela s p artes, urna v ez que renovarn OL I na operiodicarnente 0 pac to , alterando-o ou nao. A garantia da v igenc ia,entretanto, e de ordern puram ente soc ial, c onstitu indo-se em genii emimpedim ento de contra ir novo pac to na cornunidade em v irtude deperda da c redibilidade da parte inadimplente . Eis aqui urn novosignificado contratual de que nao tom a c onhec im ento 0 d ireito , p orconsidera-lo "nu lo", fechando os olhos nao s6 a realidade soc ia l m astarnbern a sua suposta finalidade reguladora. N a pratica, os contra tossao incorporados sempre de maneira implic ita e sub-reptic ia, a sdiscussoes e conflitos que originam . N ao podern , no entanto , aparecer

    O utro tratadista, espec ialistas em D ire ito de Fam ilia, ensinaqu e 0 parentesco "natural" decorre apenas da consanguinidade, sendop ai e filh o, po r exern plo, "parentes na turais"; se ll pa ren tesc o fo i c riad opela pr6pria na tureza, atrav es do sangue (Cf. M ONTEIRO , 1964: 242)O s v incu los soc iais e os direitos e obrigacoes juridicus que decorrernd a re lac ao de parentesco, estritarnente s oc ia is , p ar ec cm IeI' su alegitim ac ao na Natureza, N ur na s up os ta natureza h um an a e nc on tr amtam bem justific acao os estabelec im entos arbitrarios das v arias idadesem que se adquire a responsabilidade c iv il e a habilitacao para a plenacapacidade j uridica.

    N a pra tica, 0 que esse saber faz e v eic ular certasrepresentacoes, oriundas de concepcoes ac riticas dos fenornenossoc ia is, de mane ira dogrnatic a. Como e esse saber que vai serinvocado na confec cao das leis, e preenchera as justific ativ as queserao apresentadas em juizo, ele tendera a reproduzir c oncepcoesetnocentric as e u ltrapassadas das instituicoes soc iais, M ais que isso,el c e ensinado hoje, nas Faculdades, como atual e base para a

    24 0 ,1 24 1

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    10/16

    As representacoes sobre a instituicao do juri destacam sernpresua carac teristica de "instituicao dernocratica", em que 0 "povo"participa das dec isoes judic iais, "hum anizando" a lei. As suas dec iscesdevern, por isso mesmo, ser obtidas atraves do comprornisso dosjurados, como forma reconhec ida de exerc lcio democratico e delegitimacao de institui9~es e normas juridicas. Nao seria muitaousad ia afirm ar qlle 0 juri no Brasil reflete, consc ientemente, em suaorganizacao, nossa ideia de dernoc rac ia, T al h ipo tese e re fo rc ad a p el oac irramento das polem icas que tern suscitado, desde sua origem , ainstituic ao e suas pratic as.inc lusiv e aquelas originadas em su a ornissaoda Constituicao de 1937 (FRANCO, 195 6),

    outretu. IlCIl1 rnani festar sua opiniao sobre 0 orocesso, sob penn deexc lusao do Conselho e multa, de quatrocentos a mil cruzeiros.I nr or rn an te s s ol ic ita do s a e sc la re ce r 0 sig nific ad o d es se a rtig o, lig ad osits ta re fa s d o ju ri, forarn unanimes em afirrnar que essa e a maneira depreservar os jurado de ev entuais influenc ias que possarn in te rfe rir emsell julgamento . Resulta, na pratica em seu confinamento ao rec into doTribunal do Juri pelo periodo que durar 0 julgam ento, m uitas vezesprolongado por dias seguidos. Urn cornenrarista consagrado fazreferencia it "severidade" dessa rnedida till rclacao a outraslegislacoes, como a francesa e algumas norte-aruericanas, queperm item interv alos no julgam ento, pod en do 0 jurado retirar-se a suacasa, "sujei to , entao a inf luencias as mais diversas" (Cf NORONHA,1 97 9: 2 65 ). 0 mesmo tratadista argurnenta que nao seria dernais queessa incornunicabilidade se estendesse aos jurados entre si, "de m odoqu e 0 v o to f os se e xc l us iv a rn en te 0 resu ltado de sua conv iccao", mas alei patria, com as cautelas tomadas, cu ida para que a cornunicacaoentre os jurados nao chegue ao ponto de urn influir sobre 0o utr o. T aiscautelas sao as do art. 476 do CPP, que estipula que 0 juiz deve estarpresente it sala secreta onde se realiza a votacao dos requisitosreferentes ao ju lgamento para "ev itar a influenc ia de uns sobre osoutros".

    < :icitan ,;,~OHiO prova ou .ndicio no processc . Fica. dei iramcntc au arbitrio dos agentes proccssuais sua constuerac .io ou

    o formalisrno processual, portanto , so contribui paraprolongar 0 arbitrio e 0 c lirna de p erm an en te ilegalidade que se respiraem toda a soc ied ac le brasileira, oriund o, prov av elrnente, de urn espirito[iscalista do Imperio portugues, mais recenternente atualizado em1'-: .nos de nossa triste trad icao de regim es republicanos de execucao,

    M cu segundo exemplo refere-se mais explic itamente aotrabalh o que atualm en te desenv olv o so bre 0 juri IlO Brasil.

    242 243

    o que demons tr ar e i e qu e 0 juri brasileiro se organize e tom asuns dec isoes de acordo com normas e praticas assoc iadas a certosaber ju ridico, fundado em determ inadas concepcoes do seculopassado, que se atualizam atrav es da legislacao e praticas judicia is,Para os prop6sitos desse trabalho tomarei apenas normas e praticasrelacionadas ,3 . incornunicabi lidade dos jurados e a constitu i yao d e lim alis[a anual pelo juiz, de onde sao sorteados aqueles qu~~ v ao assimSl~(Vlr.

    A chamada quebra da incornunicabilidade, quando provadapor quem a alega, e motive de anulacao do julgamento e a realizacaode urn outro, 0 que tern sido sistem aticarnente ratificado pelo saberjurldico expresso nas decisoes jurisprudenc iais, inclusive do S uprem oTribunal Federal ( Cf. JESUS , 1982: 270 - 272 e 279).

    N as disposicoes dos artigos 45 8, paragrafo 1, e 476, doC6digo de Processo Penal Brasileiro, encontram-se as disposicoessobre as formulas prescritas para tomada de dec isao dos jurados, queincluem 0 institute da incomunicabilidade. No artigo 439 do mesmoC 6d ig o e nc o nt ra -s e a regra para a elaboracao das listas de jurados.

    O ra, tal carac terlstica foge in teiram ente as representacoes queos brasileiros leigo s tern sobre 0 juri, inc lusive reus, a rnaioria delasoriundas do que se ve em filrnes, no c inema ou na telev isao, quandotodo 0 en c anto e forca dos longos e acalorados debates entre osjurados vao constituir-se ern expressfio dos valores de umadeterrninada soc iedade, Tais debates tam bem veincularn a ideia de quea decisao final e fruto de urn compromisso entre ju rados, apesv eiculacao explic ita de suas diferencas, E , tarnbem , a ideia de que 0ju r] pede tel" s ua comunicacao "bloqueada", nao conseguindo chegar atim veredito, casu em que 0 julgarnento e re pe tid o (J AC OB , (972).Essa carac teristica do debate permeia as varias formas que 0juri tomanos estado Unidos, enquanto processo pedag6gico destinado aobtencao de comprornisso entre as partes, ou de lim "sen so cornum"re pr es en tativ e d o g ru po ,No artigo 45 8 , paragrafo 1 , le-se que 0 juiz advert ira osjurados de que lima v ez sorteados, nao poderao cornunicar-se com

    A rq u .v o s d e D i r e i t o A rq u i v o s d e D ir e i t u

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    11/16

    A perplcx idade diante do cerceamento c ia comunicacao entrep c :s oa s e sc . Iih idas a dedo, p or i nd i ca ca o p es so al do j ui Z o u d e p es so asde : -uu conf ianca, como dispoe a legislacao, (artigo 439, do CPI') queSC : c onstituc m em grupos de v inte e lim , dos quais se sorteiarn em cadaj u lgamento se le e que supostamente rep resentant a idoneidade mediada soc iedade, desaparece quando se ve 0 motivo da medida nao res ideCIII desconfianca pessoa l mas na eventua l possibi lidade de influenciaque possam exercer uns sobre os outros. E bern verdade que aca tegoria influencia , no Dicionario de Aure lio Buarque de Hollanda eassemelhada a "sugestao" e tarnbern ao exercicio de ascendencia deuns sobre os outros. Tal visao parece denunciar certa desconfiancacom a pratica da discussao entre pessoas iguais, onde niio sc"influencia", mas se convence atraves de argumentacao.

    psiquiatrico-juridico capaz de justificar 0 controle indeterrninado dedesviantes Oll dissidentes (Cr . THOMPSOM, no prelo).

    Pois e nessa direcao da individualizacao de conflitos e dosprocedirnentos te6ricos da cham a da criminologia positiva queencontramos 0 campo intelectual onde se constitui como saber a"ps icologia das rnultidoes", Nao foi necessario procurar multo paraencoutrar 110 rnesmo traiadista anteriormente mencionado, agora naparte de Direi to Penal (em 1982 em sua 40" edicao) referenc ia, ern seuparagrafo 141, aos "cr imes de multidao" (NORONHA, 1(82). Nao etarnbem surpresa encont rar a li referencia (como e de habito nessesaber dogmatico sern indicacao de obra ou p,igina) uos auiorcs"espec ial istas" da mater ia: Le-Bom, Sighe le e Tarde . 0 autor repe tc . .lhes 0 conceito de multidao: "E a multidiio !II]} agregado, lima reuniiiode indivlduos, informe e inorgdnico, surgido espontaneamentedesaparecendo" (NORONHA, 1982) . Tornarn-se "espontaneos" caosde perda das faculdades mentais, objeto portanto de estudospsicol6gicos para detectar as origens dessa anorrnalidade dasconsciencias individuals sadias, momentanearnente ensandecidas.

    A desconfianca com a influencia, ou sugestao, nao e nova,entretanto. Desde 0 seculo passado ela faz par te de teorias da charnada"psicologia colet iva", que entendia a sociedade nao a partir de suaconsti tuicao em grupos soc iai s mas como composta de agregados deindividuos, considerados as verdadeiras unidades sociais. Taisconcepcoes nao fazem senao radicalizar a invencao ideologica doindividuo como sujeito de direitos e obrigacoes, que aparece naideologia ocidental como parte do processo de compartimental izacao eautonomizacao com que se representa (Cf DUMONT, 1960; 1967;1977).

    A relacao desta discussao sobre multidoes com a forma dejulgamento pelo jur i popular e conclusao expressa de urn dos autorescitados pelo tratadista e ditado entre nos em 1954 sem nenhumaintroducao critica, passando portanto, tranqtlilarnente, seuconhecimento por conternporaneo. SigheJe, refer indo-se a supostoserros de j ulgamento comet ido pelo juri afi rma: "todos estes fatos ( ... )provam simplesrnente isto: que doze homens de bom sense eintel igentes podem dar urn sentenca estupida e absurda, lima reuniaode individuos podem (sic ) dar uma resultante oposta it que teria dadocad a urn deles" (S IGHELE, 1954: 16).

    Explicava-se 0 comportamento social coletivo comocornportamento de "mult idao" tendendo aver quaisquer movimentosde massa como form a s de "loucura" coletiva, "anorrnalidades"psiquicas , e nao como resultado de contl i tos sociais emergentes.

    Ora, as vinculacoes sobre 0 saber-poder do Direito e os daPsiquia tri a e da Psicologia tem sido obje to de re flexao mctodologicasistematica (CL FOUCAULT, 1963, 1972; 1975; 1977) . Tendclll essasassociacoes especialrnente em direi to criminal, a t ransformacao deconflitos socials e polit icos em fenornenos relacionados ao "hornern",a sua "personalidade" ou a seu "meio". Cria-se com isso figura do"cr irninoso" do "delinquente" , do "Iouco", que vern substituir a nocaoclassica de "crime", individualizando, no campo juridico, osprocedirnentos essenciais a seu controle. Passa-se, assim, de urn aestrategia repressiva e exemplar a verdadeira "producao" de cer to t ipode individuos uteis ao s is tema. Reflexo des te rnovimento e 0 conceitode periculosidade, utilizado para constituir urn discurso medico-

    "Uma reunido cosmopolita niio podeevidentemente ref let ir em sell conjunto asdiversos caracteres dos individuos quecompoe, COlli a mesilla exatidiio que umareunido de indivlduos todos italianos, alltodos a/emacs, refle ti ria no sell conjunto os

    Prossegue 0 autor dizendo que Cl 1l11!CO caso em que oscaracteres do "agregado e das unidades que 0 cornpoe secorrespondern e quando existem sernelhanca, hornogeneidade, entresuas unidades" (Cf. S IG HELE, 195 4: 21).

    244 I1 245A rq u i v o s d e D jr e i t o Arquivo s de Direito

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    12/16

    A r q 1I i\ 05 d e 0 i re ito

    caracteres particulares desses italianos alldesses alemiies. 0mesmo se podera dizer de1I juri, 110 (Ilia! 0 acaso c'ego colocou ()ten deiro jill. to tie um hOIllCIII de cieucia, emcomparaciio COIl1 uma Assembleia deperitos" (C f. S IGH ELE, 195 4:22 , grifon0550).

    individuos que compoe, e necessaria quenestes indivkluos estejant unidos entre si pOi"meio de relacoes permanentes e orgtinicus,COII/O, par e xemplo, os me IIIbros d e umantesma familia, as individuos qlle pertencciu(1 mesma classe da sociedade" (Cf.S1GHELE, 1 95 4: 2 3, grifos do au/or).

    V e-s e be rn porque a tendencia da homogeneizacao er n term osde classe soc ial, profissao, etc , que se c onstata nas listas de jurados,m u i tas v ezes c onsc ienterneute desejada no Brasil, nao se c onstitui empre oc upac ao de obter a m aior re pre sen ta tiv idade soc ia l, e stim ula ndo-il;: a c om posic ao d iferenciada, c om o nos procedirnentos ate m eS IlIO

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    13/16

    l ho.ncns: rc fletira apenas as facu ldadc s que se encontrarn em todos ou:1( maier numc ro de indiv iduos. As u l t i r n a s e me lh or es e s tr at if ic a c oe s,1 car.iter, diria S erg i, as que a c iv ilizacao e a educacao c onsc guiramI~} . n u r alguns in div id uo s p riv il eg ia do s estao eclipsadas pclasesuatificacocs m edias que sao patrim onio de todos: na soma totalesras prevalecem e as outras desaparecem (...). sucede, na rnultidao, noponte de v ista intelectual. A companh ia enfraquece - em re lacao aoresu ltado to tal - tan to a forca do talento como os sentirnentoscaritativ os (Cf. S ighe le, 1 95 4: 5 8 - 5 9).

    perrnanenc ia de LImas mais que os outros nas listas de jurados

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    14/16

    A rq u i v o s d e D 'i r e u oIi t

    individuos diferentes e na isonomi a das partes, apresenta quandoap: icada ,1 soc iedade que se represen ta hierarquizadarnente0i' ,~tnizada, l ud iv id ua li da de a ss oc ia da a r ep re se nt ac oe s ig ua lita ria s d a~ ,ie dad c c onstitui-se em discurso sustentador de Iiberdadesin.: i v iduais c respeito a d if er en ca s, Inc!iv idual idade assoc iada ar ep re se nta co es h ie ra qu ic a c ia s oc ie da de significam sc m pr e distorcoesatribuidas a ordens da efetiv idade "egoismo" ou da insanidade(gc nialida de e l o uc u ra ) , r es u lt an do quase sernpre er n "necessidade" deim posic ao de ordens autoritarias, frequenternente associada ,texploracao se lvagern do s mais f racos, a quem nao se da nem aprotecao da casta e a garantia de u rn a p os ic ao e identidade socialsquaisquer ( Cf. D a M att a, 1979; 1982; FALCAO, 1981),

    sociais capazes de exprurur, c riar e extinguir diferencas ':s em el ha nc as f un da rn en ta is ao con viv io social e 30 exercicio dad ife ren ca e d a h etero ge ueid ad e (C f. N AD ER , 1 965 ).

    t preciso fazer a etnografia d a s j ud i ci ar ia s. t precisepercorrer sells Espacos, as salas e os corredores, ass is ti r a audiencia.reparar em quem In cornparece, como se veste e cornporta . Enecessario contar as presencas e as ausencias, descrever-lhess ig ni fic ad os e u ti liz ac ao . D ep oi s, e p r ec is o e n te n de r sell tempo, seusp razos infin dav eis, suas aud ienc ias to rm alm en re ininterruptas, seush ierarqu izuntes ritu ais de espera e p od er .

    Estaremos tambern p ro blem atiz an do a s d efin ic oes e lim itesdes dominies do publico e do privado, t radicionalrnente operados emurua 6tica personalizante no seio da magist ra ture brasi le ira (Cr.S CHW AR T4 sl data).

    E imperioso coutar-Ihes os serv idores e serventuarios,descrever suas praticas, observar suas transformacocs no contatoc on ta gi an te d o poder. Perceber a red e d e S l I< lS relacoes pessoais e suaexpressao na maier OL I menor facilidade de acesso a s informacoes e ,)Sd e ci so e s p r oc e ss u ai s. E p re ci so f as ci na r- se c om 0 jogo do form al e doin fo rm al, c on ta min ar-se, v estir-se c om o u m serv de ntu ario e c om ele sse confundir. Portar-se diferentemente e dos serventuarios sediferenciar.Sera prec iso, pois, rasgar os veus do poder e implodir suasferreascategorias a q ue s em p re c o rr es po nd em praticas casulsticas e

    arbitrarias, mas eficazes em sua manutencao e reproducao, E precisotomar todas as praticas jurldicas, substantivas e p ro ce ss ua is ,c on he cid as e explicitas, p ar a q ue r eg ra s d ef in id as e a t od o s acessiveisg ov ern em a s a tiv id ad es ju dic ia ries. A d em oc rac ia d o ju dic iario p assapelas concepcoes d e d em oc ra cia arraig ad as n a so cie dad e e , portanto,S(:I esse poder-saber difuso que se inscreve em seus objetos a cadaiusrante.

    t preciso ir a lern: saber quem vai aos tribunais e 0 porque.C on ta r-lh es o s n um ero s, o s m otiv os, o s v al o re s m orais e fin an ceiro senvolv idos, por que vale e por que nao vale a pena litigarjudicialmente. E p re ciso ir as v aras clveis e crim inais, de fam ilia e defalen cias, a d efen so ria p ublic a e a s p ro mo to ria s. D ep ois e p rec iso irno s carceres, as reparticoes publicas e rnais l ima vez percorrer tudocom o po lic ial , com o adv ogado, c om o antropologo e com o cidadao ed es li nd ar e ss a r na gic a t ra ns fo rr na ca o d os se rv ic es d a A dm in is tr ac aoem Poder Adminis tra t ivo.S e ra p r ec is o abandonar concepcoes le ga li sta s d e q ue decretose leis sao a melhor form a de governar, priv ilegiada v ia de

    transformacao social, em v ez de conc eber esse processo inv ertido deprod ucao legal c om o um abdicar de d ireitos, nao su a exp re ssao . l~prec ise libertar-nos de concepcoes positiv as e natu ralistus narep resen ta cao d os fe n6m en os e sa beres q ue se p ro c!u zem socialmen tc ,c qu e resultarn sistematicarnente em mites c om o os de neutralidade depanes e ag en te s d e d ec iso es, in div id ualizac oes d e c on flito s so cia is,criminosos, processes e prisocs,

    E nesses casos o bs er va r c om o 0 P od er se o rg an iz a subito,coerente , frente a c asos c oncretos que investe, o rg an iza e silencia. Ep re cis o o uv ir o s s ile nc io s d ess e sa be r- po de r, 0 q ue n ele e st a im pli cit onaqueles p ro ce dim en to s s em pr e t ao ritualizados, abertos e formais, dequem nada terne pOI-que nada deve, expressao maxima de sell arbitriod efin itiv arn en te im pu ne e irre sp on sa ve l.

    S era p rec iso desfazer-se, finalrnente, da ideia funcional-instrum ental de que 0 judiciario e lim lugar de "resolucao decouflitos", suposto promotor de uma harmonia soc ia l semprearneacada pelo litigio e pela diferenc a dos indiv iduos e d os grupos

    Fundarnentalmente, e preciso nao deixar nada de l ado, nernurn re can to , n em u rn e sc an in ho , n ao p ara q ue se rep ro du za a rea lid ad eno anseio de sua transparencia positiv ista , nern para que surjar en ov ad a d e u ma q uir ne ir a r ac io na l. A pe na s p ar a, finalmente, eerceber--I1 25 11 25 0

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    15/16

    que: DillJ-:22;Ull0S dinnt_c de IIcnh::!.!Lilldi~, mas ~j1!.m,!L.dSLill.uaj~~_9 nC~,,(~)SS r v e I c~llstithl.Lr_?~!:t e ~1? re t aG~i i~s q.9j '!W~_

    S e quiserm os levar a seno a proposta de pensard er no cr at ic am en te a d ife re nc a e m n os sa s oc ie da de , l ib er ta nd o- no s d osp ri sm a s d o c o lo n ia li sm o econornico e cultural , i nt er ne e e xt er no , bernc om o e xp lic it ar a s t en de nc ia s e tn oc en tr ic as e h om o ge ne iz an te s p ur e lesu sc itad as tern os de ' l o n ; : n s l ; ' f : ('()fB __;J._~ tiYQ ;.m trQ ,j:H !i(iI.' IIi....v a l or j z~~a! , l . .he.ucis1i.c.a..

  • 5/10/2018 Por Uma Antropologia Do Direito No Brasil

    16/16

    A rq ui v os d e D i r e it o ' . : - - - - - - -{

    A rq u i , o s d e D ir e i t o

    . Historia da loucura. S ao Paulo : E d. P erspec tiv a,

    Crime and CIIS/O/ll in savage societv. London:Kegan Paul , Trech, 'I 'rubner and Co. , L tda. , 1926.

    . I n tr oduc t ion . In : H OG B IN , H . l a n . 1.(/\1' and---order in Polynesia. N.Y. .Chistophers, 1934.________ . A new instrument for th e in terpre tation of law -

    e sp ec ia ll y p ri mi ti va . The Yale Law Review, 5 1 : 1 237 - 1 25 4,1942 .

    M ONTEIRO , W ashington de Barros. Curso de Direito Civil. Direttode Familia. 6. ed . S ao P aul o: Saraiva, 1964.

    MOORE , S a lly Falk. Law and Antropology . In: - Law as process.L ondon: R outledge and Kegan P au l, 1 97 0, pp . 21 4-65 .MORGAN , Sir Henry L. A sociedade primitiva. Lisbon: Ed. l 'rcsenc,1973 .

    NADER , Laura. The anthropological S tudy or Law. 1 1 1 : - TheEthnography of law. American antropologist , v. 67, n6, parte 2,d ez.,p . 3 -3 2, 1 965 .

    N ORO NH A, M agalh aes, Curso de Direito Processual Penal. Sa oP aulo : S araiv a, 1 97 9.

    ____ . Direito Penal. S ao Paulo : S araiv a, 1 98 2.P OI RE R, J ea n. I ntr od uc tin it L 'e thnologie de I'appareil ju rid ique . In :

    Ethnologic Generale. Paris: G allim ard, 1 968 , pp . 1 091 - 1 10.R AD CL IFFE , B row n. Estrutura e funciio na sociedade primitiva.

    P etro pol is: V oz es, 1 97 3.SCH W ARTZ , S tuart B. Burocracia e .sociedade no Brasil colonial. ASuprem a Corte da Bah ia e seus julzes: 1 609-175 1 . S ao Paulo :

    Perspectiva, sid.S IG HELE, S c ip io. A multidiio criminosa. R io de Jane iro :

    O rganizac ao S im oes, 1 95 4.THOMPSON , Augusto F. G . No prelo - Criminosos e criminologia.

    P et ro po l i s: V o ze s.

    ____ . As regras do metoda sociologico. Sao Paulo : Ed.N ac io na l, 1 %8 .

    U;CiELS, YTh origin off wili ly, private property and the Sta te. N ewYork: Inrernation P ubl is he rs, 1 97 8.

    F :\L CA O, Jo aq uin : A. Cultura jurid ica e democracia: a favor dad er no cr at iz ac ao d o j ud ic ia ri o. In : L arnounier et Hili eds. Direito,cidadania e participaciio. S ao P aulo : T . A .Q ueiro z Ed., 1981 .

    FUUCAULT,M.O nascimento da clinica. R io de Janeiro : ForcuseUniversitaria, 1977.

    1978._____ . Vigiar e punir. P etrop ol is: E d. V oze s, 1 977 ._____ . Historia da sexualidade I - A vontade de saber. Ri ode Janeiro: G raal, 1 977.

    G LUCKM AN , M ax. O brigacao e div isa. In : SH ELTO N, D av is, (org .)Antropologia do Direito. R io de Janeiro : Zah ar, 1 973 . p . 25 -5 6.

    GULLIVER, P.B . Social control in an African society. London:Routledge and Kegan Paul, 1963.

    BOEBEL, E.A . The Law oj primitive man. Cambridge, Mass.H arv ard: U niv ersity Press, 1 95 4,

    J AC OB , H e rb ert. Justice in America. Courts. lawyers. and thejudicialprocess. 6.ed . Boston: Little, B rown and Com pany , 1 972 ,

    JESUS , Darnasio E . Codigo de processo penal anotado. 2 . ed. S aoP au lo, S ara iv a, 1 98 2.

    LEACOCK , Eleanor B . ln troduc tio . In : ENG ELS , F. The origin of thefamily, private property and the state. N .Y .: I nt er na ti on alP ub lish er s, 1 97 8.

    L (~VI-STRAUSS , C . Raca e historia . In : Raca e ciencia, S ao P au lo ,P ersp ec tiv a, v . 1 ,1 97 0, pp .23 1 -7 0.

    _______ . As estruturas elementares do parentesco.Petropolis, Vozes; S ao Paulo : ED USP, 1976.

    L IM A, H erm es. introduciio a Ciencia do Direito. 26. ed . R io deJa ne iro : F reitas B astes, 1 98 0.

    MACLENNAN , J. F. Primitive marriage. Ch icago and London: TheU niv ersity of Chicago , 1970.M ArNE , S ir H enry S ummer. Anciente Lmll London: Jonh M urray,1 908 . .~ .MALINOWSK I, B . Argonautas do Pacifico Ocidentaf. S ao P au lo:

    A bril C ultu ra l, 1 97 6.

    Abstract: The article focuses Oil therelations lind influences 0/ Anthropology illLaw, inpart icular in what refers 10 thejuralresearch i ll 0111'Country.

    Key-words : Anthropology. La 11'. Juralresearch,

    254 r:1 255