polÍtica pÚblica brasileira de combate ao … · escravidão do brasil no período imperial, ......
TRANSCRIPT
POLÍTICA PÚBLICA BRASILEIRA DE COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO.
Juliana Cordeiro de Melo1
Larissa Mascaro Gomes da Silva de Castro2
RESUMO:
O objeto dessa pesquisa é a política pública de ação dos Grupos de Fiscalização Móvel e as
metas propostas pelos planos para erradicação do trabalho escravo para melhorar sua
estrutura administrativa. O objetivo geral é o estudo do fenômeno do trabalho análogo ao
de escravo no Brasil. O objetivo específico é a verificação dos atos desenvolvidos pelo
governo brasileiro buscando erradicar e desestimular as formas de trabalho escravo
contemporâneo, corroborando com a OIT . A justificativa para a elaboração desse artigo se
fundamenta na relevância jurídica no que corresponde a defesa e efetivação dos direitos
trabalhistas que são os pressupostos para o respeito aos direitos humanos e a relevância
social no que compete ao combate e prevenção dessa prática degradante de exploração do
ser humano. A metodologia adotada para a confecção do presente estudo é dedutiva e a
pesquisa bibliográfica, se pautando na leitura e reflexão crítica de artigos científicos,
relatório da OIT, e dos planos para erradicação do trabalho escravo. Conclui-se que é
essencial o entrelaçamento entre os procedimentos de repressão dessa prática desumana e a
prevenção através da conscientização dos trabalhadores escravizados.
Palavras-chave: Trabalho escravo; Política Pública; Fiscalização Móvel.
Grupo Temático: Políticas Públicas e Direitos Humanos.
INTRODUÇÃO
A superexploração de um indivíduo por outro é uma prática vil e que desrespeita
os Direitos Humanos. A escravidão é um fato que macula a história brasileira, “o que
marca esse tipo de superexploração é o fato de ser conduzido por grandes empresas
privadas (e não mais por Estados)” (GOMES, 2012, p.169). A Lei Áurea “extingue” a
escravidão do Brasil no período imperial, contudo anteriormente o Estado legitimava essa
prática, sustentando o regime escravocrata em prol de interesses econômicos.
1 Acadêmica da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Três Lagoas-MS. 2 Docente do Curso de Direito do campus de Três Lagoas-MS da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. Líder do grupo de pesquisa: Trabalho Digno e desenvolvimento tecnológico.
Anais do X
IV C
ongresso Internacional de Direitos H
umanos.
Disponível em
http://cidh.sites.ufms.br/m
ais-sobre-nos/anais/
2
Com o advento da globalização e da economia de livre mercado, desenvolve-se
um sistema econômico de pouca intervenção do Estado e que promove a livre iniciativa.
Conjuntura que estimula a atuação de empresas privadas e empresários do agronegócio
com interesses econômicos vigorosos, que privilegiam os direitos individuais (de lucro) e
econômicos, em detrimento dos direitos do trabalho de seus funcionários. “Assim, a
hipótese e linha condutora desta reflexão é a de que o trabalho escravo contemporâneo é
um caso paradigmático de ‘fim’ de direitos de cidadania, e não só de direitos sociais do
trabalho.”. (GOMES, 2012, p.169).
A Constituição Federal de 1988 expressa em seu artigo sexto os direitos sociais e
no artigo sétimo os direitos dos trabalhadores, direitos e garantias do cidadão, que são
lesados e desrespeitados com a prática da escravidão. Com o objetivo de garantir os
direitos propostos pela Constituição Cidadã e reprimir a prática perniciosa da escravidão, o
Artigo 149 do Código Penal, estabelece que:
“Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a
trabalhos forçados ou a jornadas exaustivas, quer sujeitando-o a condições
degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção
em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto. Pena - reclusão, de
dois a oito anos, e multa, além de pena correspondente à violência”. (BRASIL,
Codigo Penal Brasileiro).
Verifica-se que o a escravidão é uma realidade que não desapareceu, se
transmutou ao longo do tempo, contudo a partido do final do século XX, inicia-se um
esforço por parte do governo brasileiro para erradicação da escravidão contemporânea.
1. LINHA DO TEMPO DO TRABALHO DECENTE
A primeira ação efetiva do Governo brasileiro foi a criação, em 1995, do Grupo
Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado (Gertraf). Mais adiante,
“a promoção do Trabalho Decente passou a ser um compromisso assumido entre
o Governo brasileiro e a OIT a partir de junho de 2003, com a assinatura, pelo
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo Diretor-Geral da OIT,
Juan Somavia, do Memorando de Entendimento que prevê o estabelecimento de
um Programa Especial de Cooperação Técnica para a Promoção de uma Agenda
Nacional de Trabalho Decente” (OIT, Agenda Trabalho Decente).
Posteriormente, neste mesmo ano, é lançado pelo Brasil o Primeiro Plano
Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. Sucessivamente, em 2006 o Brasil
elaborou e publicou a Agenda Nacional de Trabalho Decente. Em 2008, lança apresenta o
Segundo Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. A posteriori, em 2015, é
Anais do X
IV C
ongresso Internacional de Direitos H
umanos.
Disponível em
http://cidh.sites.ufms.br/m
ais-sobre-nos/anais/
3
proposto pela ONU a Agenda 2030, com objetivos de desenvolvimento sustentável e que
vêm reiterar o que foi proposto pela Agenda Nacional de Trabalho Decente, que busca
promover o Trabalho Decente e crescimento econômico.
2. GRUPOS DE FISCALIZAÇÃO MÓVEL
Os Grupos de fiscalização móvel foram criados com a proposta de resgatar
trabalhadores em condições análogas à escravidão, sua primeira operação foi executada em
carvoarias no estado de Mato Grosso do Sul, “Uma das metas da operação era treinar
auditores de diversos Estados, para fortalecer o combate ao trabalho escravo em todo o
país.” (CAVALCANTI, 2015, p. 140). As ações ocorrem a partir de denúncias encaminhadas
pelo Ministério Público Federal (MPF) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Os
auditores responsáveis pelas operações atuam em conjunto com a Polícia Federal, dado o
grau de periculosidade implica nessas operações.
A partir da análise do Primeiro e Segundo Plano de Erradicação para a
Erradicação do Trabalho Escravo, verifica-se que o governo brasileiro traça metas a partir
dessas políticas públicas com o intuito de melhoria na estrutura administrativa do Grupo de
Fiscalização Móvel e ações de enfrentamento e repressão da referida questão. A
“importância da articulação entre os mecanismos de repressão e de prevenção, por meio da
‘conscientização’ daqueles submetidos ao trabalho análogo a de escravo” (GOMES, 2012,
p. 177) é fundamental para impedir que os trabalhadores voltem a se submeter a trabalhar
em condições tão degradantes e desumanas.
CONCLUSÃO
Depreende-se que o fenômeno da escravidão, não se estagna aos idos tempos do
Brasil império, este é um tema recente que necessita de divulgação e muito trabalho duro
para cumprir seu objetivo. É um esforço conjunto do Estado, com a atuação dos Grupos de
fiscalização móvel e a participação da sociedade para reprimir e conscientizar sobre essas
circunstâncias em que os Direitos Humanos são violados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL. Codigo Penal Brasileiro (1941). Republica Federativa do Brasil. Disponivel
em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 10 de agosto de 2017.
Anais do X
IV C
ongresso Internacional de Direitos H
umanos.
Disponível em
http://cidh.sites.ufms.br/m
ais-sobre-nos/anais/
4
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado,
1988.
BRASIL, Presidência da República. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. II Plano
Nacional para Erradicacao do Trabalho Escravo / Secretaria Especial dos Direitos
Humanos. – Brasília : SEDH, 2008.
BRITO FILHO, José Claudio Monteiro de. Trabalho decente: análise jurídica da
exploração do trabalho: trabalho escravo e outras formas de trabalho indigno. São
Paulo: LTr, 2016.
CAVALCANTI,Klester. A dama da liberdade - A história de Marinalva Dantas, a
mulher que liberou 2.354 trabalhadores escravos no Brasil, em pleno século 21. São
Paulo: Benvirá, 2015.
GOMES, Ângela Maria de Castro. Repressão e mudanças no trabalho análogo a de
escravo no Brasil: tempo presente e usos do passado.Rev. Bras. Hist., São Paulo , v. 32,
n. 64, p. 167-184, Dec. 2012 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
01882012000200010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 de junho de 2017.
OIT. Agenda Nacional de Trabalho Decente. Brasília, 2006. Disponível em:
<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/decent_work/pub/agenda_nacional_tra
balho_decente_298.pdf>. Acesso em: 10 de junho de 2017.
____. Aliança global contra o trabalho forçado. Relatório Global do Segmento da
Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho. 2005.
Disponível em <http://www.oitbrasil.org.br/node/316>. Acesso em: 05 de julho de 2017.
____.As boas práticas da inspeção do trabalho no Brasil : a erradicação do trabalho
análogo ao de escravo / Organização Internacional do Trabalho. - Brasilia: OIT, 2010.
____. Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, 2003. Disponível em
<http://www.oitbrasil.org.br/node/312>. Acesso em: 05 de julho de 2017.
____. Trabalho escravo no Brasil do seculo XXI / Coordenação do estudo Leonardo
Sakamoto. — [Brasília] : Organização Internacional do Trabalho, 2007.
Anais do X
IV C
ongresso Internacional de Direitos H
umanos.
Disponível em
http://cidh.sites.ufms.br/m
ais-sobre-nos/anais/