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Entrevista. Carlos Ayres BrittoEx-ministro do Supremo diz que protesto, como movimento deexpresso da cidadania, deve ser saudado com 'foguetrio'

TAGS: Operao Lava Jato, Carlos Ayres Britto,

Dbora Bergamasco

15 Maro 2015 | 03h 00

Braslia - O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto, que presidiu aCorte durante grande parte do julgamento do mensalo, acredita que as descobertas feitaspela Operao Lava Jato so "uma nova oportunidade de o Brasil se passar a limpo". Maslamentou o fato de que um possvel julgamento do caso seja feito apenas por cinco e no portodos os ministros do STF. "Prefiro 11 pares de olhos a cinco pares de olhos repousandosobre o tema." Aposentado compulsoriamente do Supremo por ter completado 70 anos em2012, Britto trabalha agora como advogado e no representa ningum ligado ao processo.

Em entrevista ao Estado, defendeu asmanifestaes populares marcadas para hojecontra o governo e as classificou como um ato de"cidadania" que "deve ser saudado comfoguetrio". Para ele, sair com um cartaz escrito"Fora, Dilma" no golpismo. Mas repudiapedidos de impeachment porque "por enquanto,no tecnicamente o caso".

O que vai significar para o Brasil o eventual julgamento de aes penais resultantesda Operao Lava Jato?

Uma nova oportunidade de o Brasil se passar a limpo. O que bom e necessrio. ThomasJefferson, ex-presidente americano, dizia: "A arte de governar consiste unicamente na arte deser honesto". E (Immanuel) Kant (filsofo) falava que duas coisas o fascinavam: "O cuestrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim." desse tipo de exemplo e de prtica que o

'Operao novaoportunidade de passarPas a limpo'

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Brasil est precisando e vai chegar l. Vamos virar essa pgina de indecncia, de corrupo,de assalto. Com isso, no estou fazendo prejulgamento, no. Mas todo processo penal sempre uma oportunidade de o Pas se depurar nos costumes.

Ao contrrio do mensalo, as decises sobre esse processo sero tomadas porapenas cinco ministros e no por todos os 11 integrantes da Corte. O que pensasobre isso?

Claro que mais dinmico voc ultimar colhendo apenas cinco votos, do que 11. Mas 11votos terminam significando 11 experincias, 11 vises de mundo, 11 vocaes jurdicas ecom diversidade de profisses. Mas, segundo a prpria imprensa, a visibilidade no ser amesma porque as sesses plenrias so mais assistidas fisicamente, recebem uma coberturamaior da mdia e a transmisso da TV Justia feita em tempo real. O que se diz que oprocesso perde em transparncia e visibilidade.

O senhor concorda que ser menos transparente?

Concordo em partes. Porque em matria penal, os processos da competncia originria doSupremo podem desembocar em condenao e inclusive em recluso. E quando est em jogoa prpria liberdade de locomoo dos envolvidos, que uma liberdade fsica ou corporal, euprefiro 11 pares de olhos a 5 pares de olhos repousando sobre o tema no plano dosjulgadores.

Qual a sua opinio sobre as manifestaes anti-Dilma programadas para hoje?

Gosto dos movimentos significativos de cidadania ativada, com o cidado participando da vidado seu Pas em plano dos interesses gerais. Cidadania o segundo fundamento dos princpiosfundamentais da Repblica, o primeiro a soberania popular. E por que cidadania vem logodepois de soberania? Porque o soberano quem decide, voc soberano quando vota. O que cidadania? Qualidade do cidado, que o habitante da cidade-Estado dos gregos, da polis. aquele que se interessa por tudo que de todos, que tem esprito pblico. Ele ativo,dinmico, orgnico, vertebrado, militante, engajado, participativo das coisas respeitantes polis. Tenho um tempinho para a minha mulher, para meus filhos, para o meu trabalho e souindivduo, mas tenho que reservar um pedao do meu tempo para o coletivo, porque eu soucidado, no sou s indivduo. Esse movimento de expresso da cidadania deve ser saudadocom foguetrio. Ento estou de pleno acordo com esse movimento.

Cabe impeachment?

Lava JatoSua j bloqueou US$400 milhes

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Atos pelo PasMTST faz protestos pormoradia

TunsiaAtaque a museu mataao menos 11

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Na regio central de Franca, interior de So Paulo, 10 mil manifestantes foram s ruas, segundoa PM. Foto: Igor do Vale/Estado


Tenho essa preocupao de que a manifestao de hoje tenha por objeto central oimpeachment porque, ao meu ver, no cabe. No vamos enganar a cidadania. Vamos deixarclaro que o caso do Pas no condiz com impeachment da presidente Dilma Rousseff, porenquanto. At agora, no tecnicamente o caso. Ento, quando eu vejo o movimento afunilarpara um pedido de impeachment, eu tenho que dizer: "Olha, exclua isso. E tudo mais podeincluir".

Quando o manifestante segura um cartaz escrito "Fora, Dilma" golpismo?

No. Ele est dizendo que est insatisfeito, que est desaprovando o governo. o livreexerccio de uma crtica, de uma opinio fundada no que ele entende como requisitos mnimospara exerccio do poder, e isso no golpismo. E no Brasil no h condies de golpe. Pelahistria do Brasil, o risco estaria nas Foras Armadas, mas elas do demonstraes de que omaior de todos os seus deveres o de defender as instituies democrticas. Ns estamosmais e mais contando com toda a populao para implantar uma nova cultura da decncia, dahonestidade, da lisura, da essa reao coletiva diante das notcias de assalto aos cofres daPetrobrs. Nenhum povo sai s ruas, se manifesta, como dever acontecer neste domingo, seno quando tem conscincia de que a sua prpria cultura est sendo violada. Isso aexigncia de que se fora das instituies no h salvao, ento o povo quer que asinstituies funcionem. O copo d'gua de tolerncia com as disfunes institucionaistransbordou. E isso timo. Dom Pedro Casaldliga, bispo no Araguaia, disse que tica napoltica "vergonha na cara e amor no corao".

O senhor vai manifestao programada para hoje?

No iria s ruas porque eu sa do Supremo, depois de quase dez anos, com cabea de juiz,que equidistante, imparcial, isenta de apaixonamentos ideolgicos, ento j no me sintomuito vontade.

Durante o julgamento do mensalo, o senhor sofreu tentativa de presso?

Nunca me senti pressionado e acho que de se esperar que um ministro do Supremo tenhaessa autoblindagem contra qualquer tipo de coao.

Qual sua opinio sobre os encontros entre o procurador- geral da Repblica,Rodrigo Janot, com o ministro da Justia, Jos Eduardo Cardozo, e tambm com ovice-presidente da Repblica, Michel Temer, dias antes da divulgao da lista deinvestigados na Lava Jato?

Primeiro precisaria saber qual foi o contedo da conversa, porque muito natural que umprocurador-geral da Repblica converse com o ministro do Supremo, com o da Justia. Oimportante saber qual o contedo. Parece que eles falaram que o contedo no foi esse.

A data dos encontros no abre brecha para interpretaes?

Sob essa ambincia de investigao do mais rumoroso caso da Repblica, todo tipo deaudincia pessoal entre autoridades do Executivo e autoridades do poder Judicirio ou aindade autoridades do Executivo e autoridades do Ministrio Pblico Federal, suspeies eclodemmeio que inevitavelmente. Da a formular um juzo de condenao, vai uma grande diferena.Fica a critrio do livre arbtrio e do senso de prudncia de cada autoridade.

Por que o senhor acha que o ministro do Supremo Dias Toffoli aceitou ir para a 2turma da Corte, onde sero apreciadas questes ligadas Lava Jato?

Honestamente, no sei o que o levou a migrar para a 2. turma.

Mas qual a inteno?

Olha, eu era da primeira 1. e mudei para a 2.. Era interessante conhecer a 2. turma,trabalhar com os outros colegas e chegar presidncia de l tambm, desejo que realizei.Mas no foi para participar de nenhum julgamento especfico.


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QUEM

Em Sergipe, onde nasceu, foi procurador-geral de Justia, procurador do Tribunal de Contas echefe da rea jurdica do Conselho de Desenvolvimento Econmico do Estado. Foi nomeadoministro do Supremo Tribunal Federal por Lula e tomou posse na Corte em junho de 2003.Presidente do STF em 2012, foi o responsvel por colocar o mensalo na pauta do plenrio.No mesmo ano, ao fazer 70 anos, aposentou-se do Supremo.

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