política de drogas novas práticas pelo mundo

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    de Drogas:

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    Rio de Janeiro - Brasil - 2011

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    pelo mundo

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    Poltica de Drogas: Novas prticas pelo mundo 4

    introduoA Organizao No Governamental Viva Rio vem trabalhando desde 2008 na rea de

    polticas de drogas. Ao longo deste perodo, foi observado o surgimento de uma srie de

    abordagens alternativas ao tradicional tratamento repressivo ao trco de drogas: a legalizao

    de fato de algumas substncias, a ateno aos usurios sob a perspectiva de reduo de danos

    e a combinao destas. Que a resposta denitiva para a questo das drogas ainda nos ilude,

    no h dvidas. H, porm, sinais esparsos de resultados mais interessantes. A proteo s

    sociedades e aos seus indivduos dos danos causados pelas drogas, e tambm pelas medidas

    tomadas para reprimi-las, no um objetivo irreal, impossvel de ser alcanado.

    Pretende-se, neste breve documento, reunir experincias recentes que chamaram a

    ateno por seu carter inovador e, principalmente, por j apresentarem resultados positivos.

    Este trabalho no esgotar as experincias que trouxeram mudanas nas polticas de

    drogas. Busca-se contribuir com quem procura alternativas, apontando novos caminhos e

    indicando fontes para maiores informaes. Quem sabe, daqui a alguns anos, a tarefa no

    seja pescar as boas prticas, mas aquelas que ainda precisem ser aperfeioadas.

    Desejamos a todos um bom proveito deste dossi.

    Atenciosamente,

    Equipe de Polticas sobre Drogas

    Viva Rio

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    ndice

    Introduo 04

    Amrica do SulInconstitucionalidade da criminalizao do uso de drogas (Argentina) 07Campanha pela descriminalizao da mastigao da coca (Bolvia) 09Comunidades teraputicas (Brasil) 11

    Despenalizao da posse e cultivo de drogas para uso pessoal (Brasil) 12Jurisprudncia pela individualizao da pena para trco de drogas (Brasil) 14Jurisprudncia contra a penalizao do uso de drogas (Colmbia) 16Anistia a pequenos tracantes (Equador) 18Polticas governamentais de reduo de riscos e danos (Uruguai) 20

    Amrica do NorteInSite e a poltica de reduo de danos da cidade de Vancouver (Canad) 22Descriminalizao da maconha para uso medicinal (Estados Unidos) 24Inovaes nas prticas policiais: os casos de Boston e High Point (Estados Unidos) 26Lei do Narcovarejo (Mxico) 28

    EuropaPoltica de reduo de danos e clubes de consumo de canbis (Espanha) 30Descriminalizao do consumo e encaminhamento a tratamento (Portugal) 32

    Tratamento a dependentes em drogas em conito com a lei (Reino Unido) 34Quantidades para a descriminalizao de porte e uso de drogas (Repblica Tcheca) 36Programas de reduo de danos e salas de consumo seguro (Sua) 38Descriminalizao de usurios e distino entre usurio e tracante (Polnia) 40

    siaPoltica anti-HIV/AIDS entre usurios de drogas injetveis (Malsia) 41Eliminao sustentvel de campos ilcitos de cultivo de pio (Tailndia) 43

    Concluses 45

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    Amrica o Norte

    Amrica o Su

    Europa

    sia

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    Deciso unnime da Suprema Corte da Argentina pelainconstitucionalidade da criminalizao do uso de drogas

    Com base na proteo da liberdade individual, consagrada na Constituio da Argen-tina, os ministros da Suprema Corte do pas declararam, em agosto de 2009, a inconstitu-cionalidade do pargrafo segundo do artigo 14 da Lei 23.737 1, que pune com priso ou compenas alternativas a posse de drogas para uso pessoal. Na opinio dos juzes, tal pargrafoviola o artigo 19 da Constituio Nacional argentina ao invadir a esfera da liberdade indi-vidual, protegida da ingerncia dos rgos estatais. Na prtica, a deciso signicou a des-

    criminalizao da posse de drogas para uso pessoal, quando esta no implicar um perigoconcreto ou prejuzo aos direitos e bens de terceiros. Sendo assim, as sanes previstas noreferido pargrafo (que variam de um ms a dois anos, substituveis por medidas educativasou de tratamento) tem sido vlidas tambm para casos em que a posse de drogas, mesmoque para uso pessoal, prejudique outros.

    A sentena da Corte foi resultado de estudos dos casos de cinco usurios presos na sa-da de um estabelecimento, suspeito de vender drogas, portando trs cigarros de maconha.Dada a quantidade mnima em poder dos detidos, o argumento fundamental dos minis-tros da Corte foi o de que penalizar o porte de drogas para uso pessoal (como neste caso)se constitua uma interferncia na esfera pessoal do indivduo, comprometendo seu direitoconstitucional privacidade.

    Ao expor os motivos, o ministro Eugenio Zaffaroni observou que o processamentodos usurios (...) se torna um obstculo para a recuperao das poucas pessoas que so de-

    pendentes, pois no faz mais que estigmatizar e reforar sua identicao atravs do uso desubstncias txicas, com prejuzo claro para o avano de qualquer terapia de desintoxicaoe modicao de comportamento, que, justamente, prope o objetivo inverso, isto , a re-moo dessa identicao em busca da autoestima com base em outros valores2.

    1Lei 23.737, sobre Posse e Trco de Entorpecentes. Disponvel em: http://www.mseg.gba.gov.ar/Investigaciones/DrogasIlicitas/ley%2023737.htm

    2Intercambios Asociacin Civil. La Corte Suprema declar inconstitucional penar la tenencia para consumo perso-

    nal. Boletim n. 24, setembro de 2009. Disponvel em: http://www.intercambios.org.ar/boletin/Intercambiando24.html#art74

    Arg

    entin

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    At o momento, no existe mensurao quantitativa dos efeitos da jurisprudncia daCorte Suprema Argentina em delegacias e tribunais. No entanto, a deciso tem estimuladoo debate sobre a necessidade de uma reforma legislativa que resolva as zonas cinzentas daatual legislao e responda aos desaos mais importantes dessa problemtica social: a su-perpopulao carcerria, o aumento do trco de drogas e avano dos efeitos colaterais doproibicionismo a violncia, o crime organizado, entre outros.

    A deciso tambm abriu as portas para uma mudana nas abordagens jurdicas a ou-tras drogas, pois, apesar de a deciso decorrer de um caso de porte de maconha, os argu-mentos da Suprema Corte relativos proteo da intimidade e da liberdade individual soaplicveis a outras substncias.

    No entanto, alm da Deciso Arriola como conhecida essa sentena , outros acon-tecimentos surgiram para promover a reforma da poltica de drogas na Argentina. Entre

    eles, esto uma Declarao Pblica3assinada por juzes, advogados e procuradores e diri-gida ao poder judicirio da Nao pedindo uma nova legislao, e a criao por parte dogoverno da Comisso Assessora em Matria de Controle do Trco ilcito de Entorpecen-tes, Substncias Psicotrpicas e Criminalidade Complexa. Tal comisso deniu vrias linhastemticas que defendem a necessidade de uma lei mais humana e respeitosa aos princpiosda legalidade, da nocividade e da proporcionalidade.

    3Declaracin de Magistrados de la Repblica Argentina ante la reforma de la ley de estupefacientes. Disponvel em:http://www.druglawreform.info/images/stories/documents/declaracion_jueces.pdf

    Para saber mais:

    Intercambios Asociacin Civilhttp://www.intercambios.org.ar/boletin/Intercambiando24.html#art74

    Argentina

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    Campanha internacional pela descriminalizao da mastigaotradicional da folha de coca

    Em maro de 2009, o presidente boliviano Evo Morales solicitou formalmente Organi-zao das Naes Unidas a alterao do artigo 49 da Conveno nica de 1961 sobre Entorpe-centes. Com esse pedido, Morales exigia por parte da Organizao e de seus Estados-membroso reconhecimento da legitimidade de mastigao da folha de coca, atualmente consideradailegal. Os Estados Unidos, principal opositor da Bolvia neste debate, tm repetido diversasvezes, atravs de seus altos funcionrios, que no se opem tradio ancestral dos povosindgenas na Bolvia, mas sim alterao que afeta a integridade do acordo.

    Diante de tal situao, o embaixador da Bolvia junto Organizao das Naes Unidas,Pablo Soln, declarou ser impossvel explicar a ambiguidade da posio norte-americana. Se reconhecido que a mastigao das folhas de coca uma legtima tradio indgena que nadatem a ver com a droga, um absurdo no querer corrigir o erro na Conveno quando se esta-belece a proibio de mastigar folha de coca 4.

    Os argumentos a favor do caso boliviano se fortalecem na mesma organizao que pedeo m do acullico, palavra aimar que se refere antiga tradio de mastigar as folhas: a Decla-rao das Naes Unidas sobre os Direitos dos Povos Indgenas arma que os povos indge-nas tm o direito de manter, controlar, proteger e desenvolver seu patrimnio cultural, seusconhecimentos tradicionais, suas expresses culturais tradicionais...5.

    A Bolvia j recebeu apoios importantes nesta campanha pela reivindicao de uma tra-dio central na identidade de um pas cuja populao 60% indgena. Entre as vitrias dacampanha diplomtica est o apoio dos governos da Macednia, do Egito e da Colmbia, queat ento tinham se mostrado contra o pedido boliviano.

    4Declaraes do embaixador Pablo Soln em entrevista ao Comunidade Segura disponveis em: http://www.comu-nidadesegura.org/es/ARTICULO-coca-en-boca-de-todos

    5

    Declarao das Naes Unidas sobre os direitos dos povos indgenas disponvel em: http://www.un.org/esa/socdev/unpi/es/drip.html

    Bovi

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    Atualmente, existem inmeras pesquisas cientcas que mostram que mascar coca nos no prejudicial sade, como, ao contrrio, benco para o tratamento de vrias doen-as e ecaz em reduzir a fadiga causada por jornadas intensas de trabalho em grandes altitu-des. Na prtica, o uso tradicional da coca permanece na Bolvia e, em menor medida, no Peru,na Colmbia e na Argentina, apesar da Conveno.

    Hoje, existem 30.400 hectares de plantaes de folha de coca na Bolvia, o que constitui19% do nmero global de hectares dessa cultura. Desses 30.400 atualmente a lei diz que 12.000hectares so utilizados para ns tradicionais, disse o embaixador Soln, que observa que os da-dos apresentados pelo Controle Social no prximo ano ajudaro a atualizar a situao6.

    Se a ONU rejeitar a alterao solicitada pelo presidente Evo Morales, a Bolvia pedir umaconferncia internacional sobre o acullico, uma prtica protegida como patrimnio culturalpela Constituio da Bolvia de 1999.

    Para saber mais:Mama Cocahttp://www.mamacoca.org/

    6Op. Cit. Comunidade Segura

    Bolvia

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    Para saber mais:

    Fazenda da EsperanaDisponvel em: http://www.fazenda.org.br/

    Comunidades teraputicas Fazendas da Esperana

    As chamadas Fazendas da Esperana so exemplos de comunidades teraputicas que obtive-ram bons resultados no tratamento de dependentes qumicos no Brasil. Fruto da iniciativa, durante oincio dos anos 1980, de um jovem paroquiano Nelson Givaneli e do proco da igreja catlica da ci-dade paulista de Guaratinguet Frei Hans Stapel , em pouco tempo ganhou forte adeso da IgrejaCatlica e se tornou nacionalmente conhecida por seu trabalho de tratamento teraputico a usuriosproblemticos de drogas. Atualmente, as Fazendas da Esperana tm suas prticas exportadas a di-versos pases, estando presente na Europa, na sia, nas Amricas e na frica.

    A primeira unidade da Fazenda consistiu em um lar coletivo, em que os usurios em tratamento

    se empenhavam em trabalhar e conseguir sustento para a casa por si mesmos. Enquanto isso, rece-biam o auxlio espiritual do proco da cidade, cuja igreja os usurios passaram a frequentar. O m-todo principal das Fazendas da Esperana relacionar o tratamento do uso problemtico de drogasao trabalho coletivo voluntrio e aos ensinamentos catlico-cristos, como um meio de distanciaros dependentes qumicos do uso de drogas quando este traz problemas a si ou aos que dele estoprximos.

    Uma vez difundido o sucesso da primeira Fazenda da Esperana em Guaratinguet, autoridadescivis, polticas e at mesmo eclesisticas passaram a requerer unidades em suas cidades, multiplican-do rapidamente o nmero de Fazendas no Brasil e, posteriormente, no mundo. Atualmente, segundoa equipe que gerencia as Fazendas, so mais de 70 as unidades, que j atenderam a cerca de 20 mil

    jovens e adultos usurios de drogas, entre os 15 e os 55 anos, em recuperao 7.

    Entre os principais servios oferecidos pela Fazenda da Esperana aos dependentes em trata-mento esto a internao voluntria mediante iniciativa expressa do internado , o atendimentopsicolgico, o acolhimento espiritual baseados cristianismo , o apoio familiar e grupos de apoio eartstico-culturais. Ainda, as Fazendas da Esperana, hoje, atuam em outras reas sociais, como no

    abrigo a moradores de rua e na manuteno de creches comunitrias.

    7Da Esquina para o Mundo. So Paulo: Cidade Nova 2007

    Brasi

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    Despenalizao da posse e do cultivo de drogaspara consumo prprio

    Em outubro de 2006, entrou em vigor no Brasil a Lei 11.343/2006, popularmente chama-da, na poca, de Nova Lei de Drogas, e que revogou as duas leis anteriores que versavam sobrea questo das drogas ilcitas - a Lei 6.368/1976 e a Lei 10.409/2002. Essa nova lei foi fruto demovimentao poltica imediatamente posterior entrada em vigor da referida legislao dedrogas de 2002, que teve vetada pela Presidncia da Repblica grande parte de seus artigosmais inovadores. A nova lei de 2006, portanto, vista como uma nova tentativa de exibilizara legislao de drogas do pas.

    Nesse sentido, a principal inovao da lei 11.343/2006 foi a despenalizao explcita ouseja, a no aplicao de penas privativas de liberdade da posse de drogas para consumo pr-prio, de acordo com seu artigo 28. Ainda, igualou-se, pioneiramente, a condio dos indivdu-os que plantam drogas notadamente, a maconha para consumo pessoal daqueles que asobtm de outras formas, sendo despenalizada tambm essa prtica. Por ltimo, diferenciou-

    se o consumo conjunto da droga do trco de drogas propriamente dito, reduzindo a penaaplicada primeira conduta.

    Sendo assim, aps a entrada em vigor da lei de 2006, os indivduos que viessem a ser pre-sos em posse de drogas para uso prprio seriam conduzidos unidade policial, mas no seriammais encarcerados. Em lugar, o artigo 28 da nova lei prev trs penas: advertncia sobre osefeitos das drogas; prestao de servios comunidade; ou medida educativa de compareci-mento ao programa ou curso educativo. O mesmo acontece com o indivduo que cultiva dro-

    gas ilcitas para o mesmo m, e a reincidncia no mais implica o agravamento dessas penas.

    A nova lei foi importante ao introduzir denitivamente a despenalizao da posse e docultivo de droga para uso prprio na legislao nacional. Nesse sentido, rearmou-se umapoltica mais progressista com relao ao usurio de drogas, que, segundo a lei, no poderiamais ser socialmente equiparado condio de tracante. Luciana Boiteux Rodrigues, em seuartigo A Nova Lei Antidrogas e o aumento da pena do delito de trco de entorpecentes, de2006, aponta outros dois aspectos positivos da nova lei de drogas: a previso expressa do

    fortalecimento da autonomia e da responsabilidade individual em relao ao uso indevido de

    Brasil

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    drogas (art. 19, III), e o reconhecimento dos princpios da liberdade e da diversidade (art. 4),que seriam, segundo ela, medidas acertadas por reetirem uma reduo do controle da penasobre o usurio de drogas, especialmente se comparadas com a antiga Lei 6.386/19768.

    No entanto, o efeito despenalizador da lei 11.343/2006 mais simblico do que prtico,j que as legislaes anteriores tambm j dicultavam a priso dos usurios de drogas. Ro-

    drigues atenta ainda que a lei de 2006 trouxe o agravamento da pena por trco de drogas,que passa de uma pena mnima de trs anos de recluso, de acordo com a legislao anterior,a cinco anos mnimos de pena. Uma vez que a diferenciao entre usurios e tracantes ainda difusa na nova lei no h, por exemplo, diferena marcada de acordo com a quantidade dedroga apreendida em posse do indivduo , frequentemente verica-se pena desproporcionaldada a pequenos tracantes, ou at mesmo a tipicao equivocada de trco de drogas acasos em que a posse para consumo o mais evidente.

    Para saber mais:

    Lei 11.343/2006Disponvel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm

    8RODRIGUES, Luciana Boiteux. A Nova Lei Antidrogas e o aumento da pena do delito de trco de entorpecentes.Boletim do Instituto Brasileiro de Cincias Criminais (IBCCrim). Ano 14., n. 167. Outubro de 2006, p. 8-9. Disponvel

    em: http://www.neip.info/upd_blob/0000/192.pdf

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    Jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia a favor daindividualizao da pena para o trfico de drogas

    Segundo dados do Ministrio da Justia, h, atualmente, cerca de 97 mil pessoas pre-sas por trco de entorpecentes no Brasil. Antes da entrada em vigncia da lei 11.343 em2006, j eram cerca de 40 mil os encarcerados por este crime no pas9.

    De acordo com essa lei, os indivduos que fossem condenados pelo delito de trco dedrogas no poderiam ter direito a penas alternativas, ainda que houvesse fatos atenuantes

    ao crime: ser ru primrio, estar de posse de mnimas quantidades no momento da priso ouno usar de armas ou violncia. O princpio que regia tal restrio era o de no individualiza-o da pena, ou seja: em crimes de trco de drogas, o juiz no teria autonomia para decidira pena de acordo com o perl do condenado.

    Em outubro de 2009, no entanto, o Supremo Tribunal Federal, atravs de deciso so-bre concesso de Habeas Corpus a Alexandro Mariano da Silva que havia sido preso emagrante em junho de 2007 com 13,4 gramas de cocana e crack na cidade de Porto Alegre,

    no sul do pas devolveu ao juiz a autonomia para individualizar a pena. Desse modo, abriu-se a porta para que se pudesse ser sancionado com penas alternativas o delito de trco dedrogas. Tal deciso valorizou importante diferena entre ser preso pela primeira vez - emmuitos casos, o equivalente a ingressar na universidade do crime e assim vincular-se a or-ganizaes criminosas que usam a violncia para alcanar seus ns - ou ter direito a penasalternativas, que poderiam oferecer uma melhor misso ressocializadora do condenado portrco de drogas.

    O ministro Carlos Ayres Britto, relator do caso no STF, argumentou plenria da altacorte que ningum melhor do que o juiz da causa para saber qual o tipo de reprimendasuciente para castigar e recuperar socialmente o condenado, ao defender a individuali-zao da pena. No grupo de potenciais benecirios das penas alternativas, encontram-semuitos dos presos que correspondem ao perl traado por uma pesquisa da Universidade doRio de Janeiro, segundo a qual, dos 8 mil presos por drogas no Rio de Janeiro, 66% so rus

    9Ministrio da Justia. Sistema Prisional InfoPen Estatstica. Disponvel em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRIE.htm

    Brasil

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    primrios, 60% estavam sozinhos no momento da priso e 42% foram agrados ou presosportando menos de 100 gramas de maconha10.

    A deciso do Supremo Tribunal Federal vem a recuperar os direitos constitucionais doscondenados por trco de drogas que no haviam sido contemplados pelos avanos da Lei11.343/2006, que priorizou a despenalizao do delito de posse para consumo prprio. Sen-

    do assim, logrou-se um pequeno progresso no tratamento aos pequenos tracantes hojeencarcerados no pas, que, muitas vezes, tm seu primeiro contato com o crime organizadodentro das prises, mas que, cumprindo penas alternativas, poderiam ter-se dissociado dasredes criminosas.

    10 RODRIGUES, Luciana Boiteux; WIECKO, Ela. Trco de Drogas e Constituio. Disponvel em: http://portal.mj.gov.br/services/DocumentManagement/FileDownload.EZTSvc.asp?DocumentID=%7B75731C36-32DC-419F-

    A9B6-5170610F9A7B%7D&ServiceInstUID=%7B0831095E-D6E4-49AB-B405-C0708AAE5DB1%7D. ltimo acesso:02/05/2011

    Para saber mais:

    Deciso sobre o caso de Alexandro Mariano da Silva

    Disponvel em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=alexandro+mariano+da+silva&base=baseAcordaos

    Brasi

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    Sentena da Corte Suprema de Justia da Colmbiarechaando a penalizao de usurios de drogas

    O plenrio da Corte Suprema de Justia da Colmbia (CSJ) emitiu, no ano de 2009, sentenaem que rearmou que o porte de quantidade de qualquer droga para uso pessoal no pode serpenalizado. Esta deciso cobre inclusive as quantidades para abastecimento ou seja, ainda queo usurio seja encontrado na posse de uma dose maior do que o prescrito pela lei como baixadose, se a droga destinada a vrios dias de proviso para uso pessoal e no distribuio, oindivduo no pode ser julgado ou punido penalmente.

    A sentena foi resultado de deciso da Corte sobre o caso de um jovem que havia sido presoe condenado a 64 meses de priso por levar consigo 1,3 gramas de cocana para uso pessoal (o

    limite da dose mnima de um grama de cocana). Ao analisar o caso, a Corte Suprema entendeuque no havia motivo para abrir um processo penal e decidiu que o jovem no poderia ser penali-zado por ser usurio de drogas. No incumbido ao direito penal esse tipo de caso, pois se tratade um comportamento que corresponde ao mbito exclusivo de sua liberdade, efeito sobre oqual deve-se realmente aplicar o princpio da interveno mnima, assinalou a sentena11.

    Como armado pelo CSJ, o consumo de drogas um comportamento autodestrutivo,mas pertence ao mbito da liberdade individual e, portanto, no passvel de punio. O consu-mo de maconha e substncias entorpecentes cria na pessoa problemas de dependncia e escra-vido que a transforma em um doente compulsivo merecedor de receber tratamento mdico,antes de uma sano, punio ou reduo a um estabelecimento prisional.

    Ao concluir que no se podia provar que o usurio do caso teve a inteno de comercializara droga, a Corte declarou que, no exerccio dos seus direitos pessoais e ntimos, o acusado noafetou outros, no produziu nenhum dano ou perigo de dano ao bem jurdico da sade pblica;podemos concluir que o comportamento no vai contra a lei e, portanto, no pode ser objeto dequalquer sano, pois, ao no apresentar a situao jurdica da ilegalidade, impossvel pregar a

    congurao da conduta punvel.Com esta sentena, a Corte Suprema lanou luz sobre uma questo que tinha sido

    problemtica nos ltimos anos, desde que o Congresso, por iniciativa do governo de l-varo Uribe, alterou o artigo 49 da Constituio para proibir o porte da dose pessoal dequalquer droga. Esta reforma, por sua vez, contrariou deciso histrica da Corte Consti-tucional, que, em 1994, havia estabelecido jurisprudncia sobre o assunto ao permitir o

    11 Trechos da Sentena da CSJ disponvel em: http://www.corteconstitucional.gov.co/comunicados/noticias/NOTI-CIAS%2014%20DE%20FEBRERO%20DE%202011.php

    Colmbia

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    porte de dose mnima de qualquer droga, estabelecendo montantes especcos para cadasubstncia, desde que para uso pessoal12.

    O argumento da Corte Constitucional ao permitir o porte de dose mnima para uso pes-soal em 1994 foi a defesa do direito constitucional ao livre desenvolvimento da personali-dade. Esse mesmo argumento aparece novamente na deciso da Corte Suprema de Justiaem 2009, que tambm enfatiza o direito do usurio de receber tratamento mdico em vezde punio criminal.

    Independentemente da deciso da CSJ, a alterao ao artigo 49 da Constituio - apesar deproibir o porte de dose pessoal e abrir a porta para uma possvel punio - tambm poderia criarum espao para o trabalho vinculado sade.

    o que concluem os pesquisadores Diana Ester Guzmn e Rodrigo Uprimny Yepes, do Cen-tro de Estudos de Direito, Justia e Sociedade, ao esclarecer que, ainda que de qualquer forma areforma constitucional seja um retrocesso, pois no reconhece que existam consumos no pro-blemticos de entorpecentes e substncias psicotrpicas bem como usurios recreativos, essamesma proibio abre a possibilidade para a consolidao do direito ao tratamento para usu-

    rios problemticos que o demandam.Impor essa interpretao, os investigadores dizem, poderia ser uma reviravolta interes-

    sante nessa histria de retrocesso e perda de uma oportunidade para a democracia. Se o Estadolevar a srio as polticas de preveno, o fortalecimento das instncias de apoio reabilitao e aaplicao do tratamento como um direito do consumidor problemtico ao qual se deve ter aces-so quando quiser, poderia, ento, promover uma poltica de reduo de danos e, desta forma,alcanar melhores resultados em relao ao uso de drogas13.

    12 Sentena C-221/94 da Corte Constitucional disponvel em: http://www.alcaldiabogota.gov.co/sisjur/normas/Nor-ma1.jsp?i=6960

    13 GUZMN, Diana Esther e UPRIMNY, Yepes Rodrigo. La prohibicin como retroceso/La dosis personal en Colombia.Centro de Estudios de Derecho, Justicia y Sociedad. Disponvel em: http://www.dejusticia.org/interna.php?id_tipo_publicacion=2&id_publicacion=714

    Para saber mais:

    Centro de Estudios de Derecho, Justicia y Sociedadhttp://www.dejusticia.org/

    Co

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    Anistia a pequenos traficantes

    Proposta pelo governo de Rafael Correa e aprovada pela Assemblia Constituinte doEquador, a anistia a pequenos tracantes (em espanhol, chamados de mulas) no nal de2008 permitiu a libertao de 1.500 presos por microtrco de drogas no Equador. Os argu-mentos do governo foram a desproporcionalidade das penas em relao aos crimes cometi-dos e a necessidade de aliviar o peso sobre o sistema prisional, sobrecarregado, em parte, pelogrande nmero de condenaes por venda de pequenas quantidades de entorpecentes.

    O Equador tem uma das leis sobre drogas mais repressivas da Amrica e pune com penas

    similares os delitos por venda de qualquer quantidade de drogas e por crimes violentos. Istogerou a superlotao de prises entre 1993 e 2007: a populao prisional aumentou de 9.000para 14.000 presos14.

    Longe de ser uma liberao geral e negligente, o perdo, proposto pelo governo equa-toriano em 2008, estabeleceu diversas condies para receber o benefcio: a medida s pdeser aplicada a quem no tinha condenaes anteriores por crimes relacionados ao trco de

    drogas e, no momento da deteno, estava com at dois quilos de qualquer substncia entor-pecente. Alm disso, somente se concedeu clemncia a quem havia cumprido um dcimo dasentena ou, no mnimo, um ano de priso.

    Como o perdo foi destinado a um grupo especco de vtimas de uma pena despro-porcional, na prtica estabeleceu-se um precedente na diferenciao dos variados crimes denarcotrco, dependendo no s das quantidades envolvidas, mas tambm das circunstn-cias que envolvem a pessoa que se v sem nenhuma escolha alm de vender drogas. Espera-

    se que este precedente seja levado em considerao nas novas propostas legislativas emdiscusso no Congresso equatoriano e que pretendem harmonizar a legislao sobre drogascom a nova constituio.

    14

    EDWARDS, Sandra G. e YOUNGERS, Coletta A. Reforma sobre Legislacin de Drogas en Ecuador: GenerandoImpulso para un Enfoque Ms Efectivo, Balanceado y Realista, WOLA y TNI. Disponvel em: http://www.druglawre-form.info/images/stories/documents/ecuador-memo-s.pdf

    Equad

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    Como avaliou Martin Jelsma, do Transnational Institute, em seu relatrio Inovaes Le-gislativas em Polticas sobre Drogas, essa prtica contribui para iniciativas que reforam aidia de que preciso haver uma distino mais clara em relao aos diferentes nveis deenvolvimento no comrcio de drogas. Assim, o cultivo em pequena escala da coca e pio cada vez mais considerado como um desao do ponto de vista do desenvolvimento e no daaplicao da lei. Em relao aos nveis de comrcio, as jurisdies entendem que os consumi-dores-tracantes devem ser tratados como uma categoria separada de infratores. Est sendo

    mais frequente, a legislao ou as jurisprudncias estabelecerem critrios para distinguir entreo microtrco (ou comrcio varejista), o transporte, o trco de mdio porte e o trco organi-zado, considerando tambm o grau de responsabilidade do infrator na cadeia do trco, seusganhos e os motivos que o levaram a se envolver15.

    15JELSMA, Martin. Innovaciones Legislativas en Poltica de Drogas. Transnational Institute 2009. Disponvel em:http://www.druglawreform.info/index.php?option=com_flexicontent&view=items&id=610:innovaciones-legislati-

    vas-en-politicas-de-drogas&Itemid=99

    Para saber mais:

    Drug Law Reform

    http://www.druglawreform.info/index.php?option=com_flexicontent&view=items&id=610:innovaciones-legislativas-en-politicas-de-drogas&Itemid=99

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    A poltica de reduo de riscos e danos do governo do Uruguai

    O Uruguai foi um dos poucos pases a no criminalizar os usurios de drogas aps adeclarao ocial de guerra contra as drogas em 1988 pelos Estados Unidos e a ONU. Alm

    disso, conhecido por ser um dos primeiros pases latino-americanos a abraar de maneira

    integral a reduo de danos como uma poltica de Estado para mitigar os efeitos do uso de

    drogas. A partir dos anos 80, vrias organizaes comearam a defender tais polticas no

    pas, mas o governo tomou a frente dos programas atravs do Conselho Nacional de Drogas

    (em espanhol,Junta Nacional de Drogas ou JND), um rgo interinstitucional que coordena

    tudo o que relacionado questo das drogas no Uruguai.

    Sob a direo de Leonardo Costa, a JND implantou as primeiras orientaes sobre re-

    duo de danos para prevenir o contgio de HIV/AIDS entre usurios de drogas injetveis.

    Posteriormente, esses critrios foram expandidos para outras drogas lcitas e ilcitas, como

    evidenciado nas campanhas de preveno de acidentes de trnsito por bebidas alcolicas ou

    para evitar que os usurios de drogas faam misturas perigosas de substncias.

    Esta abordagem continua em vigor, o que pode ser visto em nvel normativo em docu-

    mentos como o Marco Regulatrio para os Estabelecimentos Especializados no Tratamento

    de Usurios com Consumo Problemtico de Drogas ou os artigos 296 a 301 da Lei 17.930 de

    19 de dezembro de 2005 (que criou o Centro de Informao e Referncia Nacional da Rede

    Drogas - Portal Amarelo) 16.

    16Junta Nacional de Drogas do Uruguai. Disponvel em: http://www.infodrogas.gub.uy/

    Uruguai

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    Para saber mais:

    Junta Nacional de Drogas do UruguaiDisponvel em: http://www.infodrogas.gub.uy/

    Portal AmarilloDisponvel em: http://guiaderecursos.mides.gub.uy/mides/text.jsp?contentid=4099&site=1&channel=mides

    Recentemente, a Argentina e o Uruguai assinaram um Memorando de Entendimentopara harmonizar as leis sobre drogas entre as duas naes, e no qual o governo argentino

    reconhece tanto o progresso das medidas sobre drogas adotadas pelo Uruguai e quanto sua

    inteno de copiar seus aspectos positivos, particularmente em matria de reduo de

    danos e tratamento de usurios problemticos.

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    InSite e a poltica de reduo de danos da cidade de Vancouver

    Em 2003, a cidade de Vancouver, no estado canadense de British Columbia, inaugurou aprimeira sala para uso seguro de drogas injetveis da Amrica do Norte. Chamada InSite (abre-viao, em ingls, para Supervised Injection Site), ela foi implementada em conjunto pelos r-gos de sade da prefeitura e do estado na comunidade de Downtown Eastside, uma das regi-es mais pobres do Canad. Segundo a Vancouver Coastal Health Authority, dos cerca de 12 milusurios de herona que esto cadastrados na unidade, um tero dessa comunidade 17.

    Os servios oferecidos pela Supervised Injection Siteincluem a disponibilizao de ma-

    teriais descartveis para o uso injetvel de drogas e o apoio de prossionais de sade noauxlio a casos de overdose, que tambm orientam os usurios caso necessitem de desin-toxicao e outros tratamentos para uso de drogas. Segundo dados disponibilizados pelaInSite, foram registradas, desde seu incio, 1,8 milhes de visitas - 300 mil apenas no anode 2010. Nesse mesmo ano, foram atendidos 221 casos de overdose no local sem que fosseatestada nenhuma morte 18.

    A InSite uma reao a um problema histrico de Vancouver: o alto ndice de preva-lncia de AIDS e Hepatite C entre usurios de drogas injetveis, diretamente relacionado troca de seringas e outros materiais contaminados para uso injetvel de drogas 19. Criadacomo uma aposta para resolver essa questo, a InSite tem sido efetiva: pesquisa de Kerr etal. (2005)20indica que os usurios de drogas injetveis que atualmente utilizam o local tm70% menos chances de trocar seringas e agulhas com outros usurios, comparados aos queno frequentam a unidade.

    17Supervised Injection Site. User Statistics. Vancouver Coastal Health. Disponvel em: http://supervisedinjection.vch.ca/research/supporting_research/.18Idem.

    19Suite 101. Does Harm Reduction Really Work? Vancouver Says Yes. Disponvel em: http://www.suite101.com/con-tent/does-harm-reduction-really-work-vancouver-says-yes-a342633

    20KERR T., TYNDALL M.W., LI K., MONTANER J. & WOOD E. Safer injection facility use and syringe sharing in in-jection drug users. Publicado online em The Lancet em 18/03/2005. Disponvel em: http://image.thelancet.com/

    extras/04let9110web.pdf

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    Para saber mais:

    Os Quatro Pilares da Poltica de Drogas da Cidade de VancouverDisponvel em: http://vancouver.ca/fourpillars/index.htm. ltimo acesso: 02/05/2011

    Poltica de Drogas do Departamento de Polcia de VancouverDisponvel em: http://vancouver.ca/police/assets/pdf/reports-policies/vpd-policy-drug.pdf.

    InSite Supervised Injection Site

    Disponvel em: http://supervisedinjection.vch.ca/

    Pesquisa semelhante tambm foi feita por Wood et al. (2006)21, em trabalho de obser-vao com mil usurios de drogas que visitavam a InSite. A pesquisa concluiu que, entreeles, os que mais frequentavam a unidade tinham 17 vezes mais chances de se envolver emum tratamento de desintoxicao de drogas que os frequentadores menos assduos.

    No entanto, a Supervised Injection Siteno uma atividade de reduo de danos iso-lada da prefeitura de Vancouver. Encontra-se includa a uma poltica de drogas mais amplapraticada desde 2000, ano em que foi lanado o documento Framework for Action: A Four

    Pillar Approach to Vancouvers Drug Problemspelo ento prefeito, Phillip Owen 22. A partirdesse documento, convencionou-se que a poltica de drogas da cidade se basearia emquatro pilares de abordagem aos problemas relacionados s drogas - represso, preven-o, tratamento e reduo de danos e, desde ento, essa nova poltica tem inuenciadoo trabalho com drogas de diversos departamentos municipais, como o Departamento dePolcia de Vancouver.

    21 WOOD E., TYNDAL M.W., SOTLTZ J., LAI, C. et al. Attendance at Supervised Injecting Facilities and Use of Detoxi-cation Services. Publicado em New England Journal of Medicine - 2006.

    22MC PHERSON, Donald. Framework for Action: A Four Pillar Approach to Vancouvers Drug Problems. 2001. Dispo-nvel em: http://vancouver.ca/fourpillars/pdf/Framework.pdf

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    Descriminalizao da maconha para uso medicinal

    Diversas correntes da medicina, atualmente, apostam nos benefcios medicinais daCannabis sativa. Dentre seus efeitos mdicos mais conhecidos esto a reduo da nuseae de vmitos em pacientes submetidos a tratamentos de quimioterapia, o estmulo doapetite e a diminuio da presso intraocular. Por esses fatores, a canbis pode ser recei-tada a pacientes com cncer, HIV/AIDS e glaucoma, e estudos recentes destacam aindasua ao no tratamento de convulses e de esclerosa mltipla 23. Reconhecendo os bene-fcios medicinais da maconha, a partir da dcada de 1990, 16 estados norte-americanos

    descriminalizaram a posse, o consumo e o cultivo da droga para uso medicinal, alm dacapital, Washington D.C..

    O estado da Califrnia, atravs da Proposio 215, foi o primeiro a, em 1996, permitirque indivduos obtivessem limitadas quantidades de maconha sob recomendao mdica,atravs da descriminalizao da conduta. A partir desse ano, Alasca, Arizona, Colorado, De-laware, Hava, Maine, Michigan, Montana, Nevada, Nova Jrsei, Novo Mxico, regon, Rho-de Island, Vermont, Washington e a capital federal seguiram o mesmo caminho, aprovando

    legislao semelhante. Juntos, esses estados representam mais de 20% da populao dosEstados Unidos e, em dez deles, as leis em favor da maconha medicinal foram fruto de ini-ciativa popular.

    Os principais objetivos das novas leis sobre maconha medicinal eram, ao mesmo tempo,assegurar aos pacientes de distintas doenas o acesso ao tratamento adequado e proteg-losdo sistema jurdico-penal, que determina, em nvel federal, a condio dos usurios de ma-conha para ns medicinais como criminosa. Uma vez que a discrepncia surgida entre as leisfederais sobre entorpecentes e as recentes legislaes estaduais sobre a canbis medicinalprovocava contradies prticas na atuao das polcias federal e local, o Departamento deJustia dos Estados Unidos, em outubro de 2009, recomendou aos promotores federais dosestados cujas leis so permissivas maconha medicinal que no processassem mais os usu-rios baseando-se nas leis federais 24.

    23Ver GABEIRA, Fernando. A maconha. So Paulo: Publifolha, 2000 (Folha Explica).24

    The New York Times, U.S. Wont Prosecute in States That Allow Medical Marijuana. Disponvel em: http://www.nytimes.com/2009/10/20/us/20cannabis.html.

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    A legislao californiana , sem dvida, a mais representativa das mudanas nos Es-tados Unidos com relao maconha medicinal. Segundo o livro Cannabis Policy: movingbeyond stalemate, ela pode ser considerada uma legalizao de factoda maconha, j quecerca de 200 mil californianos tm permisso mdica para comprar, consumir e cultivar acanbis para ns teraputicos 25. Atualmente, possvel obter legalmente a maconha parauso medicinal nos dispensrios californianos espalhados pela Califrnia, que possuem per-misso estatal para funcionar e contribuem com impostos para o estado.

    Para saber mais:

    PROCON Maconha Medicinal em 16 estados e Distrito FederalDisponvel em: http://medicalmarijuana.procon.org/view.resource.php?resourceID=000881

    25ROOM, FISCHER, HALL, LENTON e REUTER. Cannabis Policy: Moving Beyond Stalemate. The Beckley Founda-tion. Oxford University Press 2010.

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    Inovaes das prticas policiais:os casos das cidades de Boston e High Point

    A atuao policial nos Estados Unidos com relao aos crimes vinculados s drogas temsido, nas ltimas dcadas, notadamente baseada em prticas punitivas. O exemplo maisemblemtico dessa abordagem foi o Programa de Tolerncia Zero desenvolvido pela po-lcia de Nova Iorque durante os anos 1990 e que apostava na represso total, mesmo noobtendo resultados favorveis na luta contra o narcotrco26. No entanto, algumas prticaspoliciais, principalmente com o objetivo de coibir a violncia juvenil relacionada ao trco de

    drogas, destacaram-se durante esse perodo como alternativas s medidas tradicionalmen-te repressivas, sendo lembradas, hoje, como uma inovao na rea policial a ser replicada.

    O projeto Boston Gun, tambm conhecido como Operao Cessar-Fogo, frequen-temente citado como uma tima prtica dessa nova abordagem. Iniciada em 1995, essa es-tratgia tinha dois objetivos principais: por um lado, reprimir o mercado de armas que abas-tecia os grupos de venda de drogas da cidade de Boston; por outro lado, diminuir tambm aviolncia juvenil associada a esses dois negcios, sobretudo entre as prprias gangues.

    Foi sobre essa segunda questo que a Operao Cessar-Fogo mais inovou aps in-vestigar e reunir informaes sobre as gangues criminosas que estavam em disputa pelomercado de drogas, a polcia de Boston lhes deu um ultimato: se fosse registrada uma morterelacionada a ataques de grupos tracantes, a polcia prenderia todos os criminosos contraos quais elas j tinham provas. A estratgia funcionou e, em pouco tempo, conseguiu-sediminuir a taxa de homicdios juvenis da cidade27.

    Outra experincia mencionada repetidas vezes quando se fala de inovaes policiaisem poltica de drogas o caso de High Point, cidade da Carolina do Norte. Iniciada em 2004de modo semelhante estratgia do projeto Boston Gun, a polcia de High Point agrupouevidncias sucientes para encarcerar boa parte dos criminosos envolvidos com o trco de

    26ROLIM, Vanderlan Hudson. Tolerncia zero: um sinnimo para a represso. Revista O Alferes, Belo Horizonte, Vol.

    22, n 61, pg. 83-96, jan./jun. 2007.27Op. Cit. JELSMA, Martin.

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    28John Jay College Of Criminal Justice. High Point Police Department Wins Innovation Award for Drug Market Strate-gy Designed by Professor David Kennedy. Disponvel em: http://www.jjay.cuny.edu/948.php.

    drogas local. Em seguida, passou a se reunir com amigos e parentes dos tracantes mais ati-vos da comunidade e esclareceu que, se os jovens abandonassem as atividades relacionadasao mercado das drogas, eles no seriam mais perseguidos e suas famlias teriam assistnciapara superar as diculdades que enfrentavam. Desse modo, a polcia conseguiu inuenciar,diversas vezes, os jovens a deixar de trabalhar para o trco, e possibilitou a diminuio dataxa de crimes violentos em 35%28.

    Os casos de Boston e High Point so dois importantes exemplos de inovaes das pr-ticas policiais relacionadas s drogas que superaram a abordagem repressiva tradicional-mente implementada pelos departamentos de polcia de diversas localidades dos EstadosUnidos e do mundo. Focando-se, principalmente, nas questes de violncia entre jovensassociadas ao mercado de drogas e armas, essas experincias evidenciam a importncia odilogo com os atores envolvidos e com a comunidade como uma efetiva estratgia parasolucionar os problemas locais.

    Para saber mais:

    National Institute of Justice.Reducing Gun Violence: The Boston Guns Project Operation CeasefireDisponvel em: http://www.ncjrs.gov/pdffi les1/nij/188741.pdf

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    Lei do Narcovarejo

    Em abril de 2009, o Congresso mexicano aprovou a chamada Ley de Narcomenudeo,ou Lei do Narcovarejo, que descriminalizou a posse de pequenas quantidades de drogas,traduzindo-se, portanto, na descriminalizao de seu uso. A lei foi aprovada pela Assem-blia Legislativa do Distrito Federal em abril de 2011.

    As quantidades denidas por lei como limite para no ser criminalizada como posse deentorpecentes so dois gramas de pio, 50 miligramas de herona ou diacetilmorna, cincogramas de Cannabis sativa indica ou maconha, 500 miligramas de cocana, 0,015 miligramas

    de LSD (dietilamida) e 40 gramas de metanfetaminas.

    A lei tambm estabeleceu que, quando a quantidade de droga apreendida inferior aoresultado da multiplicao de cada um dos montantes acima por mil e as autoridades pbli-cas de segurana e judicirias determinarem no haver ligaes com o crime organizado ecom o trco de drogas em grande escala, o caso considerado de narcomenudeo. Essadiferenciao de pequeno trco o conhecido narcovarejo e contempla penas entre qua-tro e oito anos de priso (menos do que as para o trco de drogas em grande escala).

    Desse modo, por exemplo, considerado vendedor de varejo ou narcovarejista quem encontrado em agrante delito com quantidades de maconha entre cinco gramas e meioquilo. Outras inovaes da lei so a eliminao da reabilitao obrigatria para consumi-dores que no so dependentes de drogas, e o estabelecimento de tratamento obrigatriosomente a partir da terceira advertncia ao usurio. Ainda, a lei permite usos cerimoniais dealgumas substncias tradicionais.

    De acordo com o Coletivo para uma Poltica Integral para as Drogas, CUPIHD, a lei donarcovarejo representa alguns avanos, mas tambm riscos importantes para o pas em ma-tria de Direitos Humanos e poltica de drogas. Entre os avanos, o CUPIHD destaca a des-penalizao do consumo de drogas ilegais e o estabelecimento de dois universos jurdicosdistintos: um para os consumidores e outro para os tracantes. Ainda, se observa um avanopositivo no fato da lei estabelecer a atuao das autoridades em polticas de reduo de ris-cos e danos e permitir os usos cerimonial e cultural de algumas substncias.

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    No entanto, o CUPIHD critica fortemente a lei, pois, segundo o coletivo, ela fortaleceuma estratgia policial e militar, em vez de manifestar um interesse por um enfoque de sa-de pblica e de Direitos Humanos. (A lei) criminalizar um imenso grupo de pessoas quevive da venda de drogas de varejo, mas que, na realidade, no faz parte consciente do cri-me organizado, mas sim se trata de um exrcito de reserva de desempregados. Prend-losno servir para diminuir a oferta de drogas nas ruas, nem melhorar a segurana pblica.Ao contrrio, eles sero a justicativa da guerra contra as drogas, j que o governo poder

    vangloriar-se do nmero de pessoas presas por essa poltica, disse a organizao29

    .Ainda, os pesquisadores do Coletivo alertam que a medida poderia estimular a corrup-

    o policial nas ruas: (as quantidades de droga estipuladas) no correspondem realidadedo mercado de drogas nas ruas. Por exemplo, supe-se que um consumidor possa portar 0,5grama de cocana, quando na rua se vende por grama, o que permite antecipar um cresci-mento exponencial da corrupo e da extorso dos policiais sobre os consumidores.

    No nvel poltico, a Lei do Narcovarejo estimulou a abertura de um debate que at en-to estava limitado ao endurecimento das penas contra as organizaes criminosas que,

    justamente fortalecidas pelo enorme lucro derivado da ilegalidade das drogas, aterrorizama sociedade com aes violentas. Figuras como os ex-presidentes Vicente Fox e Ernesto Ze-dillo, o ex-ministro das Relaes Exteriores Jorge Castaeda, o escritor Carlos Fuentes, entreoutros pesquisadores e intelectuais, defenderam a necessidade de legalizar as drogas parafazer frente crise institucional que o pas vive.

    Para saber mais:

    Colectivo por una poltica integral hacia las drogas

    Disponvel em: http://www.cupihd.org/

    29CUPIHD Colectivo por una Poltica Integral hacia las Drogas. Comunicado de prensa. Disponvel em: http://www.cupihd.org/boletin_prensa.pdf.

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    Poltica de reduo de danos e clubes de consumo de canbis

    A poltica de drogas na Espanha marcada pela distino entre usurios de drogas,para quem existe o sistema de tratamento, e o tracante/criminoso, para quem o rigor da leipenal dirigido. O uso de entorpecentes a ss e em locais privados no infringe a legislaonacional. J em locais pblicos, o porte, mesmo que para consumo pessoal, expe o usurioa sanes penais ou encaminhamento aos servios de sade.

    No caso da ateno ao usurio, existe um sistema descentralizado de servios que in-

    clui a estratgia de reduo de danos em regies e cidades autnomas que possuem inde-pendncia de organizao. Neste sentido, os servios de ateno ao usurio podem tantoser oferecidos pelo setor pblico, quanto por ONGs ou por organizaes privadas, muitoembora a maior parte do oramento destes servios venha dos governos nacional ou locais/comunitrios.

    Paralelamente a isso, a abordagem penal para combater organizaes criminosas quese capitalizam atravs do trco de substncias ilcitas segue, via de regra, o cnone interna-

    cional. A Espanha, devido a sua proximidade com a frica e a Amrica do Sul (se comparadacom o resto da Europa), rota do trco para escoamento no restante do continente. Acocana produzida nas Amricas entra na Espanha por via martima, s vezes fazendo escalaem pases do noroeste africano, s vezes diretamente de portos do Brasil, Venezuela e Co-lmbia. Em seguida segue para o mercado consumidor no resto da Europa. V-se, portanto,que necessrio um forte esforo por parte das autoridades espanholas para impedir o in-gresso de entorpecentes em seu territrio. Esta atividade levada a cabo de acordo com o

    que estabelecem as convenes internacionais referentes ao combate ao trco de drogas.No que diz respeito poltica interna, a Espanha apresenta simultaneamente uma pol-

    tica heterodoxa e resultados animadores sobre taxas de consumo de entorpecentes. O pasproduz bienalmente um levantamento sobre consumo de drogas da populao entre 15 e 64anos. Nos relatrios de 2005 e 2007 observa-se queda no consumo de ecstasy, anfetaminase alucingenos. A taxa de consumo de cocana se manteve estvel aps anos de tendnciaao aumento.

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    O pas adota uma postura diferenciada em relao canbis. Desde 1974, o consumopessoal e privado da planta permitido, muito embora seu comrcio seja considerado crimepassvel de privao de liberdade. Contudo, as autoridades tm desviado suas atenes parao combate ao trco e crime organizado, permitindo o surgimento de clubes canbicos,isto , associaes focadas em prover a seus membros condies para o consumo da plantaao abrigo da rua. Trata-se de uma zona cinzenta na legislao, pois, em primeiro lugar, aproduo e comrcio da droga so ainda ilcitos e, em segundo lugar, o ato de fumar emlocais pblicos e fechados passvel de multa. Ainda assim, a existncia e funcionamentode tais clubes no tm chamado a ateno das autoridades. de se destacar que as taxas deconsumo de canbis no pas tm demonstrado constante queda.

    Para saber mais:NORML European Drug Policy AnalysisDisponvel em: http://norml.org/index.cfm?Group_ID=4415.

    Drug War Facts SpainDisponvel em: http://www.drugwarfacts.org/cms/?q=node/1254.

    Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e Drogadio (EMCDDA) - EspanhaDisponvel em: http://www.emcdda.europa.eu/publications/country-overviews/es

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    Descriminalizao do consumo e implantao dasComisses de Dissuaso da Toxicodependncia

    Desde 2001, todas as drogas foram descriminalizadas para consumo pessoal em Por-tugal. dizer que o porte para consumo de qualquer droga no incorre em processo penal,mas em sano administrativa acompanhada de indicao para o acolhimento por parte deComisses para a Dissuaso da Toxicodependncia (CDTs). Desde ento, as taxas de consu-mo de drogas diminuram, estabilizaram ou, em relao s taxas do resto da Europa, dimi-nuram, embora mantenham aumento. O trco de drogas continua a ser prioridade entreas atividades dos setores de segurana pblica.

    A dcada de 1990 se mostrou particularmente difcil, no que disse respeito questodas drogas em Portugal. As taxas de consumo e os problemas associados ao mercado deentorpecentes ilcitos chegaram a nveis alarmantes, superlotando o sistema prisional e so-brecarregando o sistema judicirio. Uma comisso multidisciplinar foi formada para proporalternativas s polticas de ento, buscando trazer ecincia e efetividade s aes desen-

    volvidas pelo Estado.A resposta encontrada foi a descriminalizao do porte para consumo pessoal de to-

    das as drogas, acompanhada pela criao das CDTs. Estas so comisses compostas portrs pessoas: uma, da rea jurdica, indicada pelo Ministrio da Justia e as outras duas, dasreas de sade, psicologia e assistncia social, recomendadas em conjunto, pelo Ministrioda Sade e a autoridade responsvel pela Poltica sobre Drogas. O indivduo enquadrado nainfrao de porte para consumo pessoal de substncia proibida ser encaminhado a uma

    Comisso, que o encorajar a resolver o problema atravs de tratamento.

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    Desde a inaugurao destas polticas, as taxas de consumo de drogas, inclusive entrejovens, seguiram uma das seguintes trs tendncias:

    Diminuio;

    Estabilizao; ou

    Aumento absoluto, porm abaixo da mdia quando comparadas com outros pa-ses europeus.

    Como se pode observar, trata-se de uma experincia que tem pontos alternativos aoque propalado pelas convenes da ONU sobre Drogas30que obteve, no entanto, resulta-dos animadores.

    Para saber mais:

    Relatrio Drug Decriminalization in Portugal, da Catho InsituteDisponvel em: https://docs.google.com/viewer?url=http://www.cato.org/pubs/wtpapers/greenwald_whitepaper.pdf&pli=1

    Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e Drogadio (EMCDDA) - EspanhaDisponvel em: http://www.emcdda.europa.eu/publications/country-overviews/pt

    30 Principalmente, a Conveno nica de 1961, emendada em 1972 (Disponvel em: http://www2.mre.gov.br/dai/entorpe.htm); a Conveno sobre Substncias Psicotrpicas (Disponvel em: http://www2.mre.gov.br/dai/psicotr%C3%B3picas.htm); e a Conveno Contra o Trco Ilcito de Entorpecentes e Substncias Psicotrpicas (Dis-ponvel em: http://www2.mre.gov.br/dai/entorpecentes.htm).

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    Servio de tratamento para dependentes em drogasem conflito com a lei

    O Governo Britnico implementou em 1999 um programa que oferece aos usuriosproblemticos de drogas, que tenham cometidos delitos, tratamento dependncia, o quereduz a taxa de reincidncia destes indivduos. Tendo em vista a concomitncia entre rein-cidncia no crime e dependncia qumica, a poltica presente no Reino Unido de oferecertratamento para os usurios de drogas, antes e durante o julgamento e aps sua sada dosistema prisional, se apresenta como uma prtica promissora. Alm de seu alinhamento

    com a proposta de prover um tratamento mais humano para usurios de drogas, esta polti-ca tem reduzido a ocorrncia de crimes. De fato, a implantao desta abordagem na UnioEuropeia tem sido sugerida.

    Um dos resultados do aumento do consumo de drogas observado na Europa nos l-timos anos31 o aumento da quantidade de delitos relacionados a este uso. Como conse-quncia desta situao, os gastos com procedimentos jurdicos, o aumento da populaocarcerria e o desvio da ateno das autoridades policiais para delitos de pequeno potencialofensivo tm ocorrido.

    O tratamento teraputico tem diminudo a populao carcerria ao desviar do sistemaprisional o indivduo que, de delinquente, passa a ser paciente dos servios de sade. H,claro, casos em que o crime cometido no pode ser perdoado e um perodo em instituiopenal necessrio, mas, havendo concordncia por parte do indivduo, parte da pena podeser cumprida em liberdade desde que frequente a instituio para tratamento.

    31

    Centro Europeu de Monitoramento sobre Drogas e Drogadio (EMCDDA). Ver http://www.emcdda.europa.eu/stats10/dlog3 e http://www.emcdda.europa.eu/stats10/dlog4

    ReinoU

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    Para saber mais:

    The treatment and supervision of drug-dependent offenders -A review of the literature prepared for the UK Drug Policy CommissionDisponvel em: https://docs.google.com/viewer?url=http%3A%2F%2Fwww.ukdpc.org.

    uk%2Fresources%2FRDURR_ICPR_literature_review.pdf

    Neste sentido, duas das trs consequncias indesejadas da atual poltica de drogas,indicadas acima, so dirimidas atravs da oferta deste servio. So elas a reduo da popu-lao carcerria e a reduo dos custos que o Estado incorre na persecuo penal de quemcomete pequenos delitos para sustentar sua dependncia qumica.

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    Definio de quantidades mnimas de porte/uso de drogas queincorrem em processo penal

    A legislao sobre drogas na Repblica Tcheca, at 2009, fazia distino entre o trata-mento dado a quem portasse/usasse drogas ilcitas para consumo pessoal e quem portassepara vender (tracar). Contudo, o limite no estava claro no texto da lei, o que confundiatanto as autoridades policiais e judicirias quanto a populao em geral. Para resolver estaambiguidade, limites foram estabelecidos para cada droga, indicando quais casos sero pro-cessados e quais sero tratados por vias administrativas, incorrendo em multas.

    Em deciso tomada durante este ano, o governo e parlamento tchecos deniram adata de 1 janeiro de 2010 para que as novas denies entrassem em funcionamento. Apartir de ento, quantidades abaixo de 15g de canbis, quatro comprimidos de ecstasy, 1gde cocana e 1,5g de herona no incorrem em penas de privao de liberdade, mas apenasem multa. O mesmo se aplica ao caso de cultivo de pequenas quantidades de plantas (cin-co) e cogumelos (quarenta).

    Como consequncia destes esclarecimentos, dois benefcios no trato da questo dasdrogas podem ser observados: um referente ao trabalho das autoridades, e outro socieda-de civil como um todo.

    No primeiro caso, com a estipulao clara de limites, as autoridades policiais as pri-meiras a entrarem em contato com casos de conito com a lei de drogas tero a seu dispormaiores condies de medir prioridades na execuo de suas atividades. dizer que po-dero concentrar seus esforos em lidar com casos de violao da legislao nacional que,ainda, representam os maiores riscos para a segurana pblica. Por exemplo, o combate aocrime organizado vinculado ao trco de drogas poder ser focado, em detrimento repres-so de indivduos envolvidos apenas com o consumo pessoal de substncias ilcitas. Comoconsequncia, os demais estgios na cadeia do processo judicial sero aliviados ao no maislidar com usurios, estes em quantidades muito superiores s de tracantes.

    RepblicaTchec

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    Por outro lado, ao distanciar os usurios de drogas do sistema de justia penal, oEstado facilita a aproximao aos servios daqueles que necessitam de tratamento pelouso abusivo, uma vez que no correm o risco de serem processados por porte de subs-tncias ilcitas.

    Na prtica, a atual legislao se assemelha situao dos Pases Baixos, onde o con-

    sumo de drogas no est, de jure, permitido, embora a prtica se apresente como uma dasmais liberais do mundo.

    Para saber mais:

    RNW - Czech Republic goes DutchDisponvel em: http://www.rnw.nl/english/article/czech-drug-policy-goes-dutch

    Government Council for Drug Policy Coordination.Disponvel em: http://www.vlada.cz/en/ppov/protidrogova-politika/government-council-for-drug-policy-coordination-72748/

    The New Criminal Code And Crimes Connnected With Unauthorised Handling Of Narco-tic And Psychotropic Substances From 2010 And Associated Amendments In The Act On

    MisdemeanoursDisponvel em: http://www.vlada.cz/assets/ppov/protidrogova-politika/web_New-Criminal-Code---summary_rev2.pdf

    Drogy Info Sobre limites de quantidades de plantas/cogumelosDisponvel em: http://www.drogy-info.cz/index.php/content/download/102496/439231/le/Plants%20and%20mushrooms%20containing%20NPS.pdf

    Drogy Info Sobre limites de quantidades de substncias ilcitasDisponvel em: http://www.drogy-info.cz/index.php/content/download/102496/439231/le/Plants%20

    and%20mushrooms%20containing%20NPS.pdf

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    Programas de substituio de opiceos, distribuio de seringas,salas de injeo segura e terapia com herona

    No nal da dcada de 80, a Sua passou por um perodo de altas taxas de consumode drogas injetveis - o parque de Platzpitz era a grande vitrine desta situao - e, em partecomo consequncia, altas taxas tambm de infeces pelo vrus HIV. A soluo buscada foiengajar o setor da sade pblica para lidar com a questo. As propostas no se viram livresde polmicas, crticas de polticos ou mesmo instituies internacionais, como a Junta Inter-nacional de Fiscalizao de Entorpecentes. Contudo, os resultados observados no decrsci-mo do nmero de mortes advindas do consumo de drogas injetveis e de infeco do vrusHIV foram sucientes para obteno de apoio interno a estas polticas.

    As aes focadas na reduo dos males causados pelo consumo de drogas injetveis,no caso da Sua, seguiram o princpio do baixo limiar (low-threshold), o que signicaque os usurios alvo destas aes no encontravam altas exigncias para obter os serviosde tratamento. Por exemplo, no se exigiu que o indivduo deixasse de consumir determi-

    nado entorpecente para ingressar no programa, embora a abstinncia fosse um objetivoa ser alcanado.

    Esta abordagem teve por consequncia uma alta adeso por parte da populao usu-ria de drogas, o que acarretou em reduo de 50% nas taxas de mortalidade por uso e deinfeco de HIV entre usurios de drogas injetveis.

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    Para saber mais:

    Drug Text Sobre Low-ThresholdDisponvel em: http://www.drugtext.org/library/articles/peddr0032.htm

    Medical News Today Switzerlands Liberal Drug Policy Seems To Work, Study SaysDisponvel em: http://www.medicalnewstoday.com/articles/44417.php

    CSETE, JOANNE. From the Mountaintops: What the World Can Learn from Drug PolicyChange in SwitzerlandDisponvel em: http://www.soros.org/initiatives/drugpolicy/articles_publications/publications/csete-mountaintops-20101021/csete-from-the-mountaintops-english-20101021.pdf

    REUTERS Swiss drug policy should serve as model: expertsDisponvel em: http://www.reuters.com/article/2010/10/25/us-swiss-drugs-idUSTRE69O3VI20101025

    SWITZERLANDS DRUG POLICY: Prepared For The Senate Special Committee On Illegal DrugsDisponvel em: http://www.parl.gc.ca/Content/SEN/Committee/371/ille/library/collin1-e.htm

    A poltica sobre drogas na Sua encontra-se baseada em quatro pilares:

    1. Preveno

    2. Tratamento

    3. Reduo de Danos

    4. Represso (Law Enforcement)Esta abordagem foi endossada pela populao sua em referendo no ano de 2008.

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    Descriminalizao de usurios e distino entre usurio e traficante

    Em Maio de 2011, o presidente da Polnia, Bronislaw Komorowsk, assinou uma emen-da lei de drogas, de origem parlamentar, que estabelece uma distino entre usurios evendedores de drogas. A partir dessa emenda, os agentes governamentais podero optarpor levar os indivduos encontrados em posse de drogas ao juiz, e no mais prend-los, emtrs casos: quando a quantidade de drogas for pequena; quando for a primeira vez em que osujeito agrado em posse de drogas; ou se a pessoa dependente da substncia.

    At ento, as pessoas encontradas com drogas, independentemente de estar em pos-se de pouca quantidade, eram enviadas priso e podiam ser condenadas a penas de maisde trs anos. A emenda, redigida por uma equipe de especialistas, entre eles um ex-Ministrode Justia polons, aguardou dois anos para ser debatida no Parlamento do pas. De acordocom os ativistas de Direitos Humanos e liberdades individuais, esta emenda resultado doforte lobby praticado por essas organizaes, em meio a uma das legislaes de drogas maisdraconianas da Europa.

    O prximo passo ser assegurar que os funcionrios judiciais conheam e apliquem anova medida, j que as experincias em outros pases mostram que essas emendas com fre-quncia so ignoradas. Outra diculdade ser a indenio do que so exatamente peque-nas quantidades, que no foram estabelecidas claramente. Ao mesmo tempo, a emendaaumentou a pena mxima de priso por trco de drogas de 10 para 12 anos.

    Para saber mais:

    Soros Polnia se aproxima de poltica de drogas baseada em evidncias cientficasDisponvel em: http://blog.soros.org/2011/04/poland-inches-closer-to-evidence-based-drug-policy/

    Polnia

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    Poltica anti-HIV/AIDS entre usurios de drogas injetveis

    O uso injetvel de drogas est entre os principais comportamentos de risco de conta-minao por HIV/AIDS na Malsia. Nesse pas, a taxa de prevalncia de HIV/AIDS entre osusurios de drogas injetveis circula em torno dos 22% 32, apesar de a incidncia total napopulao adulta ser considerada baixa apenas 0,4% 33. Por esse motivo, a epidemia deHIV/AIDS no pas classicada como concentrada pela Organizao Mundial de Sade: hbaixa difuso do vrus entre a populao em geral, mas registram-se altas taxas de contami-nao entre os principais grupos de risco.

    Para tentar coibir a difuso do vrus entre o grupo de Pessoas Que Injetam Drogas (emingls, People Who Inject Drugsou PWID), em 2005, o governo da Malsia incorporou em seuPlano Estratgico Nacional contra HIV/AIDS para 2006-2010 um programa de reduo dedanos pioneiro para usurios de drogas.

    Nesse mesmo ano, os primeiros pilotos do programa de Terapia de Manuteno comMetadona (em ingls, Methadone Maintenance Therapyou MMT) foram testados em nove

    estados malsios. Meses depois, em 2006, inauguraram-se os pilotos do Programa de Agu-lhas e Seringas (em ingls, Needle and Serynge Programou NSP) nas localidades de Penang,Johor e Kuala Lumpur. Os projetos, em seguida, foram expandidos a hospitais e clnicas par-ticulares, a centros religiosos, a universidades e a instituies fechadas, como a priso dePengkalan Chepa.

    Como resultado, a rede de reduo de danos para atendimento de usurios de dro-gas injetveis inchou-se, passando de zero no ano de 2005 para 221 programas de Terapia

    de Manuteno por Metadona, 200 dispensrios de drogas de substituio e 352 locais de

    32 Ministry of Health. Malaysia UNGASS country progress report. Kuala Lumpur, MOH, 2010. Disponvel em:http://www.unaids.org/en/dataanalysis/monitoringcountryprogress/2010progressreportssubmittedbycountries/malaysia_2010_country_progress_report_en.pdf.33 World Health Organization. Good practices in Asia: effective paradigm shifts towards an improved national res-ponse to drugs and HIV/AIDS: scale-up of harm reduction in Malaysia. 2011. Disponvel em: http://www.who.int/hiv/

    pub/idu/idu_harm_malaysia/en/index.html

    Masi

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    distribuio de seringas e agulhas em 2010

    34

    . Em particular, destaca-se a expanso de pro-gramas de reduo de danos para 15 prises malsias nesse mesmo ano uma poltica es-pecialmente importante devido aos 38% da populao carcerria do pas terem sido presospor crimes relacionados a drogas 35.

    Atualmente, a reduo de danos se tornou o eixo mais importante da poltica nacionalde preveno ao HIV/AIDS entre usurios de drogas injetveis. Implementado em parceriacom organizaes no governamentais e instituies de sade privadas, o programa ma-

    joritariamente nanciado pelo governo da Malsia. A crescente importncia atribuda a essanova abordagem ao problema evidencia uma mudana do paradigma de represso s dro-gas baseado unicamente em aes policiais punitivas a uma poltica que coloca a questo dasade do usurio de drogas como guia das aes governamentais.

    Para saber mais:

    Plano Estratgico Nacional contra HIV/AIDS para 2006-1010 (Governo da Malsia)Disponvel em: http://www.eematkb.com/wordpress/wp-content/uploads/2010/01/MYSNationalS-trategicPlanAIDS.pdf

    34Idem.

    35HIV and AIDS Data Hub for AsiaPacic. Law, policy and HIV in Asia and the Pacic: implications on the vulnera-bility of men who have sex with men, female sex workers and injecting drug users. 2010. Disponvel em: http://www.aidsdatahub.org/en/regional-prole/law-and-policy.

    Malsia

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    36JELSMA, Martin e KRAMER, Tom. Withdrawal Symptoms: Changes in the Southeast Asian drugs market. Trans-national Institute 2008.

    Eliminao sustentvel dos campos ilcitos de cultivo de pio

    O Sudeste Asitico tradicionalmente uma das regies em que mais se registram reasde cultivo ilegal de pio no mundo. Por esse motivo, diversos pases da regio empreen-dem desde a segunda metade do sculo passado polticas de erradicao das plantaes depapoula baseadas principalmente em prticas de destruio forada dentre esses pasesesto, principalmente, Mianmar, Laos e Tailndia. No entanto, os mtodos para alcanar oobjetivo de eliminao total de culturas de pio entre esses trs pases so por vezes opos-tos e, consequentemente, logram resultados distintos em cada territrio.

    Nesse sentido, as polticas de erradicao de cultivos da papoula da Tailndia tm-sedestacado como as mais efetivas. De acordo com relatrio de 2008 do Transnational Insti-tute36, o processo de eliminao dos cultivos nesse pas se dividiu em trs fases: a primeira,iniciada na dcada de 1970, constituiu-se em simples tentativas de substituio de cultivospensadas e implantadas majoritariamente por instituies internacionais e com pouca par-ticipao governamental ou comunitria; a segunda fase, do m dos anos 1970 at o incioda dcada de 1990, caracterizou-se pela presena do governo tailands, tanto em aes de

    represso quanto na elaborao de projetos de desenvolvimento alternativo; e a terceirafase, a partir dos anos 1990, em que houve a incluso das comunidades na formulao daspolticas de eliminao das plantaes e construo de alternativas, agrcolas ou no.

    A principal inovao da poltica de eliminao de cultivos na Tailndia foi a defesa deque no seria suciente a erradicao forada das plantaes. Seria preciso, primeiramen-te, que se construssem alternativas de desenvolvimento aos agricultores de pio, para queno voltassem ao plantio tempos depois; que se investisse em infraestrutura e servios so-

    ciais para as populaes envolvidas nas plantaes; e, principalmente, que se integrasse acomunidade aos processos de construo e implementao dessas polticas, para, assim,compreender e abranger ao mximo as necessidades locais prtica adotada notadamentena terceira fase da poltica de eliminao das plantaes.

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    Seguindo esse caminho, a Tailndia conseguiu, em 40 anos de poltica, obter resul-tados interessantes para a prtica mundial de eliminao de cultivos de drogas ilcitas.Segundo pesquisa do Washington Offi ce on Latin America(WOLA) 37, os principais efeitosvericados foram una mejora sostenida en la calidad de vida, y mayores oportunidadesde empleo e ingreso fuera de la agricultura [...], tambin se enfatiz el desarrollo de nuevosmercados, la sostenibilidad ambiental, y el fortalecimiento de estructuras comunitarias. Apesquisa tambm assinala o trabalho do governo tailands em, ao mesmo tempo, traba-lhar para a coibio da demanda interna por pio, para onde era voltada a maior parte daproduo tailandesa da droga.

    Atualmente, novos desaos poltica tailandesa de eliminao de cultivos tm surgi-do. Entre eles, est o crescente consumo da herona como substituio ao pio e a migraode algumas plantaes para os pases vizinhos do Sudeste Asitico 38. Ainda assim, a expe-rincia tailandesa essencial para se repensar os mtodos dessa poltica em outras partes

    do mundo, que frequentemente tm falhado em obter resultados efetivos ao focar-se quaseque exclusivamente na erradicao forada das plantas.

    Para saber mais:

    WOLA. El Desarrollo Primero: Un Enfoque Ms Humano y Prometedor para laReduccin de Cultivos para Mercados IlcitosDisponvel em: http://www.wola.org/es/informes/el_desarrollo_primero_un_enfoque_mas_humano_y_prometedor_para_la_reduccion_de_cultivos_para

    37JELSMA, Martin e YOUNGERS, Coletta. El Desarrollo Primero: Un Enfoque Ms Humano y Prometedor para laReduccin de Cultivos para Mercados Ilcitos. Washington Offi ce on Latin America 2010.

    38Idem.

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    concluses

    As experincias pesquisadas para a constituio desse relatrio mostram que exis-tem, atualmente, trs meios principais pelos quais se do as prticas inovadoras empoltica de drogas.

    Em primeiro lugar, pela mudana de facto nas legislaes mundiais sobre drogas.Essas mudanas, muitas vezes, surgem por iniciativa popular, mas tambm so ins-titudas, frequentemente, pelos governos como tentativas de solucionar alguns pro-

    blemas advindos da abordagem repressiva s drogas dentre eles, a superpopulaocarcerria, a violncia urbana e os problemas de sade pblica. A descriminalizao dousurio e a diferenciao entre os diversos nveis de traficantes avanaram, por exem-plo, as discusses sobre como tornar as polticas de drogas menos nocivas nesses trsaspectos. Ainda, a flexibilidade das leis para a incluso de direitos, como o de uso damaconha para fins medicinais, mostraram a mudana de enfoque da legislao de umaabordagem puramente repressiva para a valorizao da sade dos indivduos.

    Um segundo meio pelo qual as experincias se concretizaram foi atravs de mudanasna aplicao das legislaes, que, embora no advenham de alteraes diretamente nos c-digos de leis, so fruto de transformaes no modo como os diversos agentes governamen-tais, sobretudo os judicirios, abordam a poltica de drogas nacional. Desse modo, Tribunaisde Justia e Cortes Supremas tm cada vez mais dado novas interpretaes s leis sobredrogas dos Estados aos quais pertencem, e notadamente em direo a uma abordagemmais progressista que respeite as liberdades individuais e os direitos bsicos.

    Em terceiro lugar, pelo envolvimento do governo em programas inovadores paralidar com a questo das drogas em seus mais diversos nveis. Destacam-se, nesse sen-tido, as inovaes na prtica policial, ao se aproximarem do que comumente se chamade policiamento comunitrio. Ainda, os Estados passaram a trazer para si a responsa-bilidade de abordar as questes de drogas pela via da sade pblica, especialmentefocada na reduo de danos e no oferecimento de tratamento como parte da soluoaos problemas vinculados ao uso de drogas.

    [ continua ] >

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    No Brasil, verificam-se boas prticas que se encontram nessas trs esferas. No en-tanto, algumas delas ainda se mostram incipientes se comparadas experincia inter-nacional largamente documentada, sobretudo em dois aspectos. Primeiramente, noque tange aos programas de sade e de reduo de danos, que, apesar de na dcada de90 terem ganhado certa notoriedade por conta dos altos ndices de contaminao porHIV/AIDS, ainda recaem basicamente sobre organizaes da sociedade civil, em pe-quena escala. Em segundo lugar, com relao a mudanas efetivas na lei, em especial,concernentes descriminalizao do uso, possibilidade de uso da maconha para finsmedicinais e diferenciao de penas entre os vrios escales do trfico.

    De qualquer modo, esperamos que este documento suscite a reflexo sobre to-das as experincias inovadoras nele contidas. Porm, acima de tudo, desejamos queele possa contribuir, ainda que em um primeiro momento, para que o Brasil inicie suacaminhada rumo a polticas de drogas mais adequadas, que tragam resultados mais

    positivos para a sociedade.

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    expedienteSuperviso Geral

    Rubem Cesar Fernandes

    Coordenao Tcnica

    Rubem Cesar Fernandes

    Fabiana Lustosa Gaspar

    Elaborao Tcnica

    Fabiana Lustosa Gaspar

    Ana Clara Telles C. de Souza

    Andrea Domnguez DuquePedro Vicente Bittencourt

    Reviso Tcnica

    Rubem Cesar Fernandes

    Fabiana Lustosa Gaspar

    Projeto Grco e Reviso de Textos

    Comunica Design Grfico

    Diagramao: Diogo Tirado

    Reviso: Ricardo Siciliano

    Comisso Brasileirasobre Drogas e Democracia

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    Paulo Gadelha (Presidente)Rubem Cesar Fernandes (Secretrio)

    Carlos CostaCarlos VellosoCelina Carpi

    Celso FernandesDruzio Varela

    Ellen GracieEdmar Bacha

    Einardo BingemerJoaquim Falco

    Joo Roberto MarinhoJorge Hilrio Gouva Vieira

    Jorge da SilvaJos Murilo de Carvalho

    Lilia Cabral

    Luiz Alberto Gomez de SouzaMaria Clara Bingemer

    Marcos Vinicios Rodrigues VilaaPaulo Teixeira

    Pedro Moreira SalesRegina Miki

    Regina Novaes

    Roberto LentRosiska Darcy de Oliveira

    Zuenir Ventura