poesia alexandrina

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Unifal-MG/ICHL/Letras 1 Literatura Antiga I Antologia alexandrina Prof Wellington Ferreira Lima Para uso exclusivo em sala de aula CALÍMACO (???-245 a.C.) Epigrama XXVIII Detesto o poema em série; tampouco me agrada o caminho que leva muitos a várias direções. Odeio também o amado a varejo, não bebo de fonte; me aborrece tudo quanto seja público. Lisânias é um tesouro, um tesouro; mas antes de eu dizê-lo claramente um eco faz: “É de outro, é de outro”. Epigrama VII Teeteto caminha por uma senda pura, e este caminho não conduz, Baco, a tua hera. O nome dos vencedores os arautos farão ouvir apenas um instante. Sua arte, porém, para sempre proclamará a Hélade. Epigrama XLIII O hóspede tinha uma ferida oculta. Subiam dolorosos suspiros de seu peito – te atentaste? – enquanto bebia sua terceira taça e as rosas, de sua coroa, caíam todas ao chão, pétala a pétala. A consumia algo poderoso. Pelos deuses que não imagino nada em excesso: sou ladrão e reconheço as pegadas de um ladrão! Epigrama XXXI Caçador, Epicides persegue nas montanhas toda lebre e segue as pegadas das gazelas pela geada e pela neve. Mas se alguém lhe diz: “Eis um bicho ferido”, não o quer. Assim também o meu amor; perseguindo o que lhe foge, deixa para trás o que jaz no chão. Epigrama XXV Calignoto jurou a Yônide que não teria nunca outro amigo ou amiga melhor que ela. Jurou-o. Mas dizem a verdade: os juramentos de amor não penetram os ouvidos dos imortais. Agora se abrasa em fogo por um jovem, e da desgraçada noiva se recorda menos que dos megareus. Epigrama XXXV Teus passos te levaram junto à sepultura do Batíada, perito no canto e também na burla oportuna, quando o pede o vinho.

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Page 1: Poesia Alexandrina

Unifal-MG/ICHL/Letras 1 Literatura Antiga I Antologia alexandrina Prof Wellington Ferreira Lima Para uso exclusivo em sala de aula CALÍMACO (???-245 a.C.) Epigrama XXVIII Detesto o poema em série; tampouco me agrada o caminho que leva muitos a várias direções. Odeio também o amado a varejo, não bebo de fonte; me aborrece tudo quanto seja público. Lisânias é um tesouro, um tesouro; mas antes de eu dizê-lo claramente um eco faz: “É de outro, é de outro”. Epigrama VII Teeteto caminha por uma senda pura, e este caminho não conduz, Baco, a tua hera. O nome dos vencedores os arautos farão ouvir apenas um instante. Sua arte, porém, para sempre proclamará a Hélade. Epigrama XLIII O hóspede tinha uma ferida oculta. Subiam dolorosos suspiros de seu peito – te atentaste? – enquanto bebia sua terceira taça e as rosas, de sua coroa, caíam todas ao chão, pétala a pétala. A consumia algo poderoso. Pelos deuses que não imagino nada em excesso: sou ladrão e reconheço as pegadas de um ladrão! Epigrama XXXI Caçador, Epicides persegue nas montanhas toda lebre e segue as pegadas das gazelas pela geada e pela neve. Mas se alguém lhe diz: “Eis um bicho ferido”, não o quer. Assim também o meu amor; perseguindo o que lhe foge, deixa para trás o que jaz no chão. Epigrama XXV Calignoto jurou a Yônide que não teria nunca outro amigo ou amiga melhor que ela. Jurou-o. Mas dizem a verdade: os juramentos de amor não penetram os ouvidos dos imortais. Agora se abrasa em fogo por um jovem, e da desgraçada noiva se recorda menos que dos megareus. Epigrama XXXV Teus passos te levaram junto à sepultura do Batíada, perito no canto e também na burla oportuna, quando o pede o vinho.

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Unifal-MG/ICHL/Letras 2 Literatura Antiga I Antologia alexandrina Prof Wellington Ferreira Lima Para uso exclusivo em sala de aula Epigrama XIII A. Jaz Caridas sob ti? B. Sim, se for o filho de Arima, o cireneu. A. Ei, Caridas, que tal aí embaixo?

C. Trevas só. A. E quanto à volta? C. Mentira. A. E Plutão? C. Um mito. A. Então estamos fritos. C. Crê no que te digo. Mas se queres algo de aprazível, há boi barato no Hades. (Trad. J. Paulo Paes) Aitia (Prólogo) Pois inclusive na primeira ocasião em que dispus a tábua em meus joelhos, já me disse Apolo Lício: “A vítima, bom cantor, bem cevada [há de criá-la], mais tua Musa sutil. Também te ordeno isso: Pisar por onde não passam os carros, não por trilhos comuns ao resto das pessoas, não por caminho raso senão por sendas, ainda que deva andar por uma mais estreita. E o obedeci, pois meu canto se dirige àqueles que apraz o claro som da cigarra e não o escândalo dos asnos. Aitia, 110 (frag.) Remonta por cima o brilhante descendente de Tia, o pico de tua mãe Arsínoe, e pelo coração do Atos atravessaram as naves funestas do medos. O que poderemos fazer, nós tranças, quando, do mesmo modo, montanhas cedem ao ferro? Assim, pereça o povo dos cálibes, os primeiros que a planta nefasta que brota da terra expuseram e ensinaram a arte dos martelos. No momento de cortar-me, minhas irmãs tranças sentiam, já, triste saudade de mim, e, súbito, o brando sopro, que é da mesma raça do etíope Memnon, lançou-se entre os torvelinhos de suas rápidas asas, corcel da lócria Arsínoe, de cinto violeta, e me arrebatou com seu alento, e comigo, carregado pelos úmidos ares, fui depsitar-me no regaço de Afrodite. A própria Zerfirítide, que tem sua morada na costa de Canopo, enviou-o com este fim. De modo que, a noiva, filha de Minos, não somente sobre os homens, senão que eu também entre as numerosas luminárias me encontrasse, o lindo cacho de Berenice, quando, banhada pelas águas ascendia até os imortais, Afrodite me pousou, novo astro entre os de tempo imemorial.

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Unifal-MG/ICHL/Letras 3 Literatura Antiga I Antologia alexandrina Prof Wellington Ferreira Lima Para uso exclusivo em sala de aula SÍMIAS DE RODES (325 a.C-???)

Acolhe

da fêmea canora

este novo urdente, que animosa

Tirando-o de sob as asas maternas, o ruidoso

e mandou que, de metro de um só pé, crescesse em número

e seguiu de pronto, desde cima, o declive dos pés erradios

tão rápido, nisso, quanto as pernas velozes dos filhotes de gamo

e faz vencer, impetuosos, as colinas no rastro de sua nutriz querida,

até que, de dentro do seu covil, uma fera cruel, ao eco do balido, pule

mãe, e lhes saia célere no encalço pelos montes boscosos recobertos de neve.

Assim também o renomado deus instiga os pés rápidos da canção a ritmos complexos.

do chão de pedra pronta a pegar alguma das crias descuidosas da mosqueada

balindo por montes de rico pasto e grutas de ninfas de fino tornozelo

que imortal desejo impele, precípites, para a ansiada teta da mãe

para bater, atrás deles, a vária e concorde ária das Piérides

até o auge de dez pés, respeitando a boa ordem dos ritmos,

arauto dos deuses, Hermes, jogou à tribo dos mortais

e pura, ela compôs na dor estrídula do parto.

do rouxinol dórico

benévolo,

(Trad. J. Paulo Paes)

Page 4: Poesia Alexandrina

Unifal-MG/ICHL/Letras 4 Literatura Antiga I Antologia alexandrina Prof Wellington Ferreira Lima Para uso exclusivo em sala de aula DIODORO SÍCULO (90 a.C.-30 a.C.) Biblioteca Histórica, IV, 1.

Não ignoro que aqueles que recopilam os relatos de antigas mitologias estão, a miúdo, em desvantagem na redação das suas obras. Com efeito, a antiguidade dos feitos do relato, ao tornar difícil seu estabelecimento, põe em grande dificuldade aqueles que escrevem sobre estes acontecimentos; e, além disso, sua exposição cronológica, ao não resistir a uma comprovação rigorosa, gera em seus leitores um sentimento de menosprezo pela história. D’outra parte, a diversidade e abundância de heróis, de semi-deuses e de outros homens cujas genealogias devem ser estabelecidas fazem que a exposição seja dificultosa. Mas, o mais grave, e o mais inconcebível de tudo, é que aqueles que narraram estes feitos e mitos dos tempos mais antigos estão em descordo entre si. Por esta razão, entre os historiadores que se sucederam, os de maior reputação evitaram a antiga mitologia devido a dificuldade de tratamento, ainda que se dedicassem a registrar os acontecimentos mais recentes. Éforo de Cime, por exemplo, discípulo de Isócrates, ao pôr-se a escrever uma história universal, passou por alto os relatos da antiga mitologia e, uma vez estabelecidos os feitos que seguiram ao retorno dos Heráclitas, os tomou como ponto de partida de sua história. Da mesma forma, Calístenes e Teopompo, que viveram na mesma época, evitaram os mitos antigos. Nós, contudo, com um critério oposto ao seu, e assumindo o esforço que supõe tal relato, temos posto todo nosso empenho no estudo da Antiguidade. Extraordinárias e façanhas muito numerosas, certamente foram realizadas por heróis e semi-deuses e por outros homens muito destacados, aos que a posteridade honrou por seus serviços à comunidade, a uns com cultos iguais aos que se rendem aos deuses, a outros com os que se tributam aos heróis; e em todos os casos a voz da história cantou suas empresas para sempre com homenagens adequadas. Nos três livros precedentes, registramos os feitos mitológicos de outros povos e as histórias sobre os deuses que circulam entre eles; e examinamos, ainda, a topografia de cada um destes países, sua fauna selvagem e outros animais, e, em suma, qualquer coisa digna de lembrança ou qualquer relato fora do comum. Neste livro diremos o que dizem os gregos em suas histórias dos tempos antigos acerca dos heróis e dos semi-deuses mais ilustres e, em geral, todos aqueles que levaram a cabo alguma façanha digna de menção em época de guerra e, da mesma forma, sobre aqueles que, em tempos de paz, fizeram alguma descoberta ou instituído alguma lei de utilidade para a vida da comunidade. Começaremos por Dioniso, não só porque é o mais antigo, mas também por outorgar enormes benefícios ao gênero humano. Dissemos nos livros anteriores que alguns povos bárbaros disputam o lugar de nascimento deste deus. Os egípcios, por exemplo, afirmam que o deus que recebe o nome entre eles de Osíris é o mesmo que os gregos chamam Dioniso. Contam mesmo em seus mitos que este deus percorreu toda a terra habitada, que, após inventar o vinho, ensino aos homens o cultivo da vinha, fez partícipes do prazer do vinho aos homens da terra habitada. Mas, agora, nós, dado que já falamos destes temas no lugar correspondente, vamos expor o que dizem os gregos sobre este deus.