lucia monica alexandrina banceu tendinite

63
9 DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Área de Clínica Médica e Cirúrgica de Eqüinos Acadêmica: Lucia Monica Alexandrina Banceu Orientadora: Profª. Drª. Rita de Cássia Campebell Supervisor: Médico Veterinário Ms. Herbert de Moura Goulart Brasília – DF Dezembro, 2004

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Page 1: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

9

DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO

DE MEDICINA VETERINÁRIA

Área de Clínica Médica e Cirúrgica de Eqüinos

Acadêmica: Lucia Monica Alexandrina Banceu

Orientadora: Profª. Drª. Rita de Cássia Campebell

Supervisor: Médico Veterinário Ms. Herbert de Moura Goulart

Brasília – DF Dezembro, 2004

Page 2: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

10

AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS pela sabedoria, por me abençoar e iluminar durante esta

jornada.

Aos meus pais, Banceu Ovidiu Valentin Ioan e Doina Paulescu Banceu,

pelo carinho, paciência, compreensão e por tornarem realidade o meu sonho de

ser Médica Veterinária.

A minha irmã Carmen Maria Valentina Banceu e meus tios Rosiu Ovidiu

Petre Octavian e Lucia Speranta Rosiu pelo contínuo incentivo e apoio nesta

caminhada.

Agradeço em especial a minha orientadora Profª. Drª. Rita de Cássia

Campebell pelos ensinamentos, orientações e conselhos durante a vida

acadêmica.

Aos professores, pelos incentivos contínuos e aprendizado.

Aos colegas, por compartilharem os momentos de alegria, as dificuldades,

angústias e por proporcionarem momentos inesquecíveis durante esses 5 anos.

Sou extremamente grata ao meu supervisor Herbert de Moura Goulart, pela

paciência em transmitir seus conhecimentos e pelo contínuo incentivo no meu

aprimoramento profissional.

Page 3: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

11

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................

1

2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................................................

3

3. REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO ............................................... 9

3.1. TENDINITE ............................................................................................. 9

3.2. EXOSTOSE EM EQÜINOS .................................................................... 22

3.3. EXOSTOSE INTERFALÂNGICA ............................................................ 28

3.4. RABDOMIÓLISE DE EXERCÍCIO .......................................................... 38

4. CONCLUSÃO ................................................................................................

50

5. FONTES DE AQUISIÇÕES ...........................................................................

51

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 52

Page 4: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

12

LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Tendinite do tendão do flexor digital superficial (‘’tendão

curvado’’) .....................................................................................

12

Figura 2 – Palpação dos tendões dos flexores com o boleto flexionado

para que os tendões dos flexores digitais superficial e

profundo possam ser separados. Se não puderem ser

facilmente separados, é bem provável que tenham se formado

adesões entre os dois tendões e que haja um tendão

espessado presente. ...................................................................

13

Figura 3 – Aplicação de compressa de gelo sobre os tendões afetados .....

21

Figura 4 – Exostose dupla no membro torácico esquerdo (setas). Este

animal apresentava deformidade angular varo. ..........................

23

Figura 5 – Uso de crioterapia em exostose no 3º metacarpo do membro

torácico. .......................................................................................

26

Figura 6 – Radiografia lateral 7 semanas após a cirurgia de artrodese da

articulação interfalângica proximal realizada com três parafusos

postos através da articulação, para comprimi-la. A cartilagem

da articulação interfalângica proximal foi removida antes da

colocação dos parafusos. ............................................................

32

Figura 7 – Perda da parede do casco no lado medial do membro posterior

esquerdo (seta). ..........................................................................

34

Figura 8 – Aumento de volume observado no membro posterior do

referido animal. ............................................................................

35

Page 5: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

13

Figura 9 – a) e b) aspecto radiográfico do membro posterior esquerdo

afetado mostrando a neoformação óssea, perda do espaço

articular entre as falanges média e distal e início de proliferação

óssea da região distal da falange proximal. ................................

36

Figura10 – a) aplicação tópica de iodo 40% na face lateral do membro

afetado; b) aplicação tópica de iodo 40% na face medial do

membro afetado. .........................................................................

37

Figura 11 – a) agulha de biópsia muscular percutânea, encontrada com

diâmetros internos de 4mm, 5mm e 6mm. b) aplicação de

anestesia local por via subcutânea ao longo da linha de incisão.

c) incisão da pele e da fáscia muscular. d) inserção da agulha

de biópsia à uma profundidade de 6 cm. ....................................

42

Page 6: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

14

LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Número de animais acompanhados durante o estágio

supervisionado, na seção veterinária do Regimento de Polícia

Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica

de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04 ...............................

3

Tabela 2 – Afecções clínicas e procedimentos cirúrgicos acompanhados,

classificados por sistemas acometidos, durante o estágio

curricular supervisionado, na seção veterinária do regimento de

Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e

cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04 ................

4

Tabela 3 – Afecções clínicas e clínico-cirúrgicas acompanhadas durante o

estágio curricular supervisionado, na seção veterinária do

Regimento de Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de

clínica médica e cirúrgica de eqüinos, Braília, DF – 24.06.04-

15.10.04 .........................................................................................

5/6

Tabela 4 – Procedimentos cirúrgicos acompanhados durante o estágio

curricular supervisionado, na seção veterinária do Regimento de

Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e

cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04 ................

6

Tabela 5 – Exames complementares realizados e/ou interpretados durante

o estágio curricular supervisionado, na seção veterinária do

Regimento de Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de

clínica médica e cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-

15.10.04 .........................................................................................

7

Page 7: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

15

Tabela 6 – Procedimentos realizados e/ou acompanhados durante o estágio

curricular supervisionado, na seção veterinária do Regimento de

Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e

cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04 ................

7

Tabela 7 – Número de óbitos ocorridos durante o estágio curricular

supervisionado, na seção veterinária do Regimento de Polícia

Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica

de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04 ...............................

8

Page 8: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

16

1. INTRODUÇÃO

O estágio supervisionado curricular foi realizado no período de 24 de junho

a 15 de outubro de 2004, perfazendo um total de 612 horas, na área de clínica

médica e cirúrgica de eqüinos, sob a orientação da Profª Drª Rita de Cássia

Campebell e supervisão do 1° Tenente Médico Veterinário Herbert de Moura

Goulart.

O estágio ocorreu no Regimento de Polícia Montada Coronel Rabelo,

situado em Brasília – DF, área especial 01, BR – 060, Km 0, considerado o maior

Regimento de Polícia Militar, em área, da América Latina.

O Regimento (1º Esquadrão) foi fundado em 1982, possuindo uma área de

51ha, sendo que possui duas seções sob sua responsabilidade: o 3º Esquadrão,

localizado no Parque da Cidade e o 14º CPMind, localizado em Planaltina – DF.

O 1º Esquadrão, onde foi realizado a maior parte do estágio, possui 223

eqüinos (sendo que 45 pertencem a remonta, 35 ao policiamento ostensivo, 58 ao

policiamento de choque e 45 ao departamento hípico). O 3º Esquadrão possui 56

eqüinos e o de Planaltina 10 eqüinos.

Além do atendimento aos animais do regimento, a seção veterinária

também é responsável pelos animais particulares pertencentes aos oficiais.

A equipe do 1º Esquadrão é formada pelo Dr. Herbert de Moura Goulart

(único veterinário do Regimento de Polícia Montada do DF), mestre em

reprodução eqüina, e pelos enfermeiros Agnaldo Ferreira de Sousa, Genivaldo da

Silva Santos, Joaquim de Souza Sobrinho, Francisco Flávio de Lima, Luiz Carlos

de Souza, Sonisval Maciel de Alencar e Ernane Ramos de Souza. Os enfermeiros

trabalham em escala de 24/48 horas.

Page 9: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

17

A seção veterinária possui 3 piquetes de areia, nos quais os animais

permanecem aguardando o atendimento, um tronco, duas farmácias, uma

balança e um centro cirúrgico em construção.

As especialidades oferecidas incluem: clínica médica, cirúrgica e

ferradoria.

A rotina baseia-se na realização de curativos, atendimento clínico e

cirúrgico, fiscalização do fornecimento de ração e forragens assim como de sal

mineral e linhaça, fiscalização da saída e chegada do policiamento e controle da

aquisição de medicamentos. Após a realização dos procedimentos necessários a

cada animal, estes são conduzidos para as baias onde recebem a ração sendo

posteriormente soltos no pasto.

Durante o estágio foram desenvolvidas atividades nas áreas de clínica

médica (enfermagem, atendimento de emergências) e cirúrgica

(acompanhamento e trabalho de volante durante as cirurgias).

Page 10: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

18

2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Tabela 1 – Número de animais acompanhados durante o estágio supervisionado,

na seção veterinária do Regimento de Polícia Montada Coronel

Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF-

24.06.04-15.10.04

Área Número Porcentagem

Clínica médica

Clínica cirúrgica

77

06

92,78

7,22

Total 83 100,0

Page 11: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

19

Tabela 2 – Afecções clínicas e procedimentos cirúrgicos acompanhados,

classificados por sistemas acometidos, durante o estágio

curricular supervisionado, na seção veterinária do regimento de

Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e

cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04

Sistemas acometidos Número Porcentagem

Digestório

Hemolinfático

Locomotor

Músculo-esquelético

Nervoso

Oftálmico

Reprodutivo

Respiratório

Tegumentar

10

01

22

02

01

05

01

01

42

11,77

1,18

25,88

2,35

1,18

5,88

1,18

1,18

49,40

Total 85 100,0

Page 12: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

20

Tabela 3 – Afecções clínicas e clínico-cirúrgicas acompanhadas durante o estágio

curricular supervisionado, na seção veterinária do Regimento de

Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica

de eqüinos, Braília, DF – 24.06.04-15.10.04

Afecções Número Porcentagem

Babesiose

Cólica

01 1,20

•Compactação gástrica 01 1,20

•Gasosa 01 1,20

•Dilatação gástrica 04 4,90

•Dilatação gástrica / deslocamento de ceco 02 2,40

•Torção intestino delgado/ ruptura da artéria

mesentérica

01 1,20

Sinovite

•Articulação do carpo 01 1,20

•Articulação fêmur-tibio-patelar 01 1,20

Desmite

•Ligamento suspensor do boleto 01 1,20

Exérese

•Hematoma no dorso 01 1,20

Exostose

•Interfalângica 01 1,20

•2º metacarpiano 02 2,40

•3º Metacarpo 01 1,20

Fratura

•2ª e 3ª vértebras lombares e costelas 01 1,20

•Ílio 02 2,40

•3º Metatarso (exposta) 01 1,20

Laceração da pele 33 39,7

Laceração perineal 01 1,20

Page 13: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

21

Afecções Número Porcentagem

Laminite 01 1,20

Lombalgia 01 1,20

Miíase 04 4,90

Paralisia do nervo facial 01 1,20

Perfuração da sola 02 2,40

Pneumonia 01 1,20

Rabdomiólise de exercício 01 1,20

Sarna 03 3,60

Sub-luxação de patela 01 1,20

Tendinite

•Tendão flexor digital superficial 04 4,90

•Tendão flexor digital profundo 01 1,20

•Tendão flexor digital superficial e profundo 02 2,40

Úlcera de córnea 05 6,00

Total 83 100,0

Tabela 4 – Procedimentos cirúrgicos acompanhados durante o estágio curricular

supervisionado, na seção veterinária do Regimento de Polícia

Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica de

eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04

Procedimentos Número Porcentagem

Exérese

•Hematoma no dorso 01 20,0

Dermorrafia 03 60,0

Vulvoplastia 01 20,0

Total 05 100,0

Page 14: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

22

Tabela 5 – Exames complementares realizados e/ou interpretados durante o

estágio curricular supervisionado, na seção veterinária do Regimento

de Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e

cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04

Exames complementares Número Porcentagem

Hemograma 03 27,3

Necropsia 06 54,5

Radiografia

•Falanges (membro posterior esquerdo) 01 9,1

•Radio-ulna 01 9,1

Total 11 100,0

Tabela 6 – Procedimentos realizados e/ou acompanhados durante o estágio

curricular supervisionado, na seção veterinária do Regimento de

Polícia Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e

cirúrgica de eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04

Procedimentos Número Porcentagem

Lavagem de ducto nasolacrimal 03 16,7

Sondagem nasogástrica 10 55,5

Teste de fluoresceína 05 27,8

Total 18 100,0

Page 15: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

23

Tabela 7 – Número de óbitos ocorridos durante o estágio curricular

supervisionado, na seção veterinária do Regimento de Polícia

Montada Coronel Rabelo, na área de clínica médica e cirúrgica de

eqüinos, Brasília, DF – 24.06.04-15.10.04

Animais que vieram a óbito Número Porcentagem

Eutanásia

•Fratura da 2ª e 3ª vértebras lombares e

costelas

01 12,5

•Fratura de metatarso 01 12,5

Óbito

•Dilatação gástrica 01 12,5

•Necrose de porção do jejuno 01 12,5

•Ofidismo 01 12,5

•Ruptura gástrica/cólon menor 01 12,5

•Torção de intestino delgado/ruptura de artéria

mesentérica

01 12,5

Trans-operatório

• Parada cárdio-respiratória (osteossíntese de

ulna)

01

12,5

Total 08 100,0

Page 16: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

24

3. REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO

3.1. TENDINITE

3.1.1. Introdução

A tendinite é uma inflamação que acomete principalmente os tendões

flexores e suas sucessivas inserções com os músculos. Essa afecção geralmente

ocorre como conseqüência de uma luxação intensa dos tendões flexores, a qual

está associada ao esforço excessivo ou à hiperextensão destes. Contudo, a

tendinite pode ocorrer em qualquer cavalo como resultado de um trauma no

tendão (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY, 1995; McILWRAITH, 2002).

O local mais comum de lesão é a região central do metacarpo, onde tem-

se menor área de secção longitudinal tendínea, com predileção no tendão flexor

digital superficial (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; McILWRAITH, 2002;

FERNANDES; ALVES; SOUZA, 2003; FERRARO et al., 2003). Pode-se indicar

várias causas que promovem um aumento de estresse no tendão, como o

treinamento inadequado e a fadiga muscular ao final de um exercício forçado, a

angulação anormal do boleto associada à fraqueza muscular, um terreno desigual

ou escorregadio e curvas súbitas que podem forçar desproporcionalmente um

lado do tendão, angulação excessiva da quartela, pinças muito longas, tipo de

Page 17: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

25

ferradura, idade do animal, pistas enlameadas e ligas muito apertadas (HARDY,

1995; BARREIRA et al., 2002; McILWRAITH, 2002; FERRARO et al., 2003).

3.1.2. Patofisiologia A lesão e degeneração tendínea podem ocorrer em todos os graus de

intensidade, variando de subclínica leve à ruptura total do tendão. Esforços

excessivos podem resultar em pequenos deslocamentos e ruptura nas fibras, o

que resulta em hemorragia capilar dentro do tendão (McILWRAITH, 2002).

Lesões agudas são acompanhadas de hemorragia, acúmulo de fibrina e

edema local; essa transudação e hemorragia separam e enfraquecem o restante

de fibras não afetadas (HARDY, 1995; McILWRAITH, 2002; FERNANDES;

ALVES; SOUZA, 2003).

Todas as injúrias aos tendões e ligamentos cicatrizam por mecanismos

similares, independentemente da origem da lesão. A resposta do tendão à injúria

pode ser dividida em três fases: inflamatória, reparativa e remodelativa (SMITH;

WEBBON, 1999). A resposta inicial no tendão é semelhante àquela da pele em

resposta ao ferimento, apresentando pronunciada inflamação, com invasão de

neutrófilos no tecido danificado, seguido por macrófagos e monócitos. A

circulação sangüínea é aumentada e desenvolve-se edema. Enzimas

degradativas são liberadas, as quais ajudam a remover o tecido danificado, mas

isso é geralmente tão exagerado que afeta o tecido normal do tendão (SMITH;

WEBBON, 1999; McILWRAITH, 2002; FERNANDES; ALVES; SOUZA, 2003). A

fase inflamatória geralmente é curta, com duração de uma a duas semanas

dependendo da severidade da injúria inicial, especialmente se uma terapia

adequada for administrada (SMITH; WEBBON, 1999).

Dentro de alguns dias após a injúria, a fase reparativa começa e se

sobrepõe à fase inflamatória. Ocorre um acúmulo de fibroblastos no sítio da lesão,

derivados de células que entraram no tendão durante a fase inflamatória e

provavelmente também de células que já estavam dentro do tendão (tenócitos

residentes). Esse acúmulo começa dentro de 4 dias após a injúria e seu pico se

dá em 3 semanas. Novo colágeno é sintetizado, entretanto, está arranjado em

grande parte na forma de fibras colágenas do tipo III (tecido cicatricial).

Page 18: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

26

Inicialmente esse tecido é mais fraco do que o tendão intacto, sendo também

menos funcional e exibindo menos elasticidade (SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;

SMITH; WEBBON, 1999).

A extensão da fibroplasia está relacionada à severidade da injúria inicial e

algum insulto contínuo, tal como tensão provocada por exercício. Dentro da

bainha tendínea, o tendão não tem uma vasta contribuição das células externas, e

então, a cicatrização é lenta. Se a superfície do tendão está danificada,

geralmente este se adere a bainha, com conseqüências funcionais desastrosas

(SMITH; WEBBON, 1999).

A fase de remodelação começa alguns meses após a injúria e é

acompanhada pela transformação do colágeno tipo III em tipo I, o colágeno

normal do tendão. Porém, dependendo do grau de ruptura de fibras inicial, o

colágeno não se arranja no padrão funcional longitudinal. Além disso, no cavalo, o

colágeno tipo III (colágeno de tecido cicatricial) persiste por vários meses à anos,

resultando em um tendão forte, mas considerado menos funcional (SPEIRS,

1994; HARDY, 1995; SMITH; WEBBON, 1999; McILWRAITH, 2002).

3.1.3. Sinais clínicos e diagnóstico A fase aguda da tendinite é caracterizada por um edema difuso sobre a

região afetada, seguida de calor e sensibilidade à palpação (REEF, 1990;

SPEIRS, 1994). O eqüino pode apresentar claudicação leve à intensa, mantendo

o membro afetado em posição flexionada. A fase crônica manifesta-se por um

aumento de volume algumas vezes doloroso, com ou sem calor, associado a

fibrose e espessamento firme do tendão afetado na face palmar ou plantar, dando

a este um aspecto ‘’curvado’’ (Figura 1) (SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;

McILWRAITH, 2002; ROSS, 2003).

Page 19: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

27

Fonte: Stashak (2002)

Figura 1 – Tendinite do tendão do flexor digital superficial (‘’tendão curvado’’).

O exame clínico é o primeiro método para o diagnóstico de tendinite. Este

pode ser visual, com o animal em repouso e durante exercício, e através de

palpação e manipulação (STASHAK, 2002; ROSS, 2003).

Durante o exame visual com o animal em repouso, deve-se observar

criteriosamente os membros em busca de aumentos de volume, enquanto que a

observação do animal durante o exercício, tem como objetivo principal a

identificação do(s) membro(s) afetado(s), do grau de claudicação e incoordenação

do movimento. Deve-se portanto analisar o animal ao passo e ao trote, sendo que

o examinador posiciona-se de frente e de perfil ao mesmo. Balanço da cabeça,

alterações na suspensão do membro, fases do passo e colocação dos membros

no solo, são pontos importantes na avaliação do animal durante o exercício.

Como resultado de claudicação nos membros torácicos, o animal abaixa a cabeça

quando o membro sadio toca o solo e a levanta quando o peso é colocado sobre

o membro afetado (STASHAK, 2002; ROSS, 2003).

Page 20: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

28

Na palpação dos tendões, cada região deve ser palpada cuidadosamente

em busca de dor, edema e calor. Primeiramente, é realizada com o animal

apoiando-se sobre o membro, permitindo a identificação das estruturas

inflamadas. Posteriormente, o membro é dorsalmente mantido em uma das mãos

do examinador, com o boleto flexionado (Figura 2). Através da utilização de

compressão digital procura-se deslizar ou separar os tendões flexor digital

superficial do tendão flexor digital profundo. Normalmente, estes podem ser

facilmente separados e diferenciados. Em situações patológicas, a presença de

variados graus de aderências entre os tendões tornará difícil a separação dos

mesmos (STASHAK, 2002; ROSS, 2003).

Fonte: Stashak (2002)

Figura 2 – Palpação dos tendões dos flexores com o boleto flexionado para que os tendões dos flexores digitais superficial e profundo possam ser separados.

O diagnóstico ultrassonográfico é um meio preciso de confirmar a

ocorrência de injúria em tendão ou ligamento, e descrever o tipo, extensão e

severidade da lesão; além disso ele pode ser usado com sucesso para monitorar

a cicatrização do tendão ou ligamento afetado e avaliar quando o equino está

pronto para retornar ao trabalho normal. Desta forma, a ultra-sonografia, deveria

ser considerado em todos os cavalos nos quais o edema é notado na região dos

tendões, ligamentos ou nos quais é notado calor ou sensibilidade nessas regiões

à palpação; sendo que qualquer mudança na ecogenicidade do tendão, na

Page 21: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

29

uniformidade, ou linearidade da estrutura, corresponde numa alteração no tendão

ou ligamento afetado (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; BARREIRA et al., 2002;

GOMIDE et al., 2004).

Achados ultrassonográficos em tendinite aguda incluem aumento da área

tendínea e áreas hipoecóicas (desenvolvimento de tecido de granulação na

região). As lesões são classificadas de acordo com a intensidade da

ecogenicidade de I a IV, com a área e a extensão longitudinal da lesão ou o

número de zonas envolvidas. As áreas hipoecóicas também podem representar

fibrose ou mineralização do tendão, indicando cronicidade (REEF, 1990; HARDY,

1995) .

Lesões do tipo I geralmente apresentam redução difusa na ecogenicidade,

comparada a dos tendões ou ligamentos normais. Lesões do tipo II são mais

anecóicas e meio ecogênicas. As do tipo III são em grande parte anecóicas,

enquanto que as do tipo IV são completamente anecóicas, o que representa uma

completa ruptura de fibras e hemorragia na porção afetada do tendão ou

ligamento (REEF, 1990).

A tendinografia pode ser considerada como um procedimento diagnóstico

alternativo quando se suspeita de lesões nos tendões ou quando a

ultrassonografia é inconclusiva ou não-disponível (WATSON; SELCER, 1996).

Tendinografia contrastada negativa distal do membro pode ser feita colocando-se

um torniquete distalmente ao carpo e injetando 250 a 400 ml de ar dentro da

bainha tendínea digital ao nível da articulação interfalângica distal e, então,

subcutaneamente entre os tendões flexores, para delineá-los (WATSON;

SELCER, 1996; McILWRAITH, 2002). Ao se realizar as radiografias, deve-se

diminuir o potencial de kilovoltagem (kVp) até 10% de modo a assegurar a

densidade adequada do filme (WATSON; SELCER, 1996). Através desse

procedimento diagnóstico, a espessura dos tendões flexores digitais superficial e

profundo pode ser comparada e podem ser reconhecidas aderências em locais

aonde os tendões não se separam (WATSON; SELCER, 1996; McILWRAITH,

2002).

A termografia pode detectar precocemente injúria e inflamação até 2

semanas antes do aparecimento de outros sinais clínicos, porém não se pode

identificar as estruturas específicas envolvidas, a localização precisa da injúria, ou

Page 22: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

30

predizer de maneira exata a severidade da lesão, as quais são possíveis com o

ultra-som (GREEN, 1999).

Em tendinites agudas dos tendões flexores, o local quente no termógrafo

se correlaciona com o local da lesão. ‘’Locais frios’’ sugerem edema, fibrose

crônica, trombose vascular, infarto ou injúrias nervosas (GREEN, 1999).

Pode-se citar também como métodos auxiliares de diagnóstico de tendinite,

a biópsia e a microscopia de luz polarizada. A biópsia permite a visualização da

presença de células inflamatórias no tecido endotendíneo e do aumento de

fibroblastos ativos, enquanto que a microscopia de luz polarizada permite o

exame quantitativo e qualitativo da organização e da agregação das fibras

colágenas, através da medida da birrefringência (FREITAS et al., 2004; SANTOS

et al., 2004).

3.1.4. Tratamento Na lesão aguda, o tratamento é dirigido para a diminuição do processo

inflamatório e dos seus efeitos deletérios, dando suporte ao tendão (SPEIRS,

1994; WATKINS, 1999; SANTOS et al., 2004).

Essa terapia inicial consiste em aplicação de hidroterapia com água gelada,

ou bolsas de gelo nas primeiras 48 horas após a injúria, para diminuir a

hemorragia e o edema, com intervalos diários de 4 a 6 horas entre as aplicações,

não excedendo 20 minutos cada aplicação. Posteriormente a cada aplicação de

hidroterapia é recomendado o uso de ligas de descanso para controlar o edema

subcutâneo provocado pelo frio (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;

WATKINS, 1999; McILWRAITH, 2002).

A utilização de corticosteróides ou fármacos antiinflamatórios não-

esteróides tem sido defendida (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;

WATKINS, 1999; McILWRAITH, 2002). A terapia sistêmica com corticosteróides

deve ter duração limitada para evitar uma potente supressão adrenal e inibição da

cicatrização tendínea; da mesma forma a terapia com antiinflamatórios não-

esteróides deve ser cuidada, para evitar úlceras gastrointestinais e lesões renais

(WATKINS, 1999).

Page 23: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

31

Injeções peritendíneas de corticosteróides são indicadas, com o intuito de

diminuir a ocorrência de aderências nessa região, mas tais injeções também

podem retardar a fibroplasia e causar calcificação dos tecidos moles. A aplicação

tópica de dimetil sulfóxido (DMSO) auxilia na diminuição do edema, assim como

as pomadas antiflogísticas (SPEIRS, 1994; HARDY, 1995; WATKINS, 1999;

McILWRAITH, 2002).

Deve-se continuar com o tratamento até o calor e a sensibilidade local

desaparecerem ou nenhuma melhora adicional ser vista em 5 a 7 dias. Indica-se

o uso contínuo de bandagem seca após ter-se cessado o tratamento tópico

(HARDY, 1995).

O ferrageamento corretivo em casos de tendinite é recomendado. Nas

lesões dos tendões flexores digitais superficiais os talões das ferraduras são

alongados para dar apoio, sendo a ferradura com barra oval bastante eficaz,

enquanto que nas lesões dos tendões flexores digitais profundos, os talões são

elevados para retirar parte da tensão. A altura dos talões pode variar de 2,5 a 7,0

cm, dependendo da gravidade da lesão, sendo que à medida que a cicatrização

avança, a altura dos talões deve ser diminuída para evitar a contração e

encurtamento crônico do tendão (LECHONSKI, 2000; McILWRAITH, 2002;

STASHAK, 2002).

O repouso é muito importante para a recuperação de lesões tendíneas,

sendo que este deve ser completo nas primeiras duas semanas e, então, institui-

se uma forma de manipulação passiva (SPEIRS, 1994; McILWRAITH, 2002).

Recomenda-se caminhada controlada por 8 a 10 semanas até a recuperação da

lesão, que deve ser gradualmente aumentada de 5 para 40 a 45 minutos duas

vezes ao dia. O cavalo desde então pode começar um programa de exercícios

controlados (REEF, 1990; HARDY, 1995).

‘’Essa recomendação se baseia na descoberta que uma leve tensão no

tendão afetado na fase inicial da cura pode auxiliar no alinhamento dos feixes de

fibrina do coágulo inflamatório inicial e promover um alinhamento adequado do

novo colágeno, assim como inibir a formação de adesões’’ (McILWRAITH, 2002).

O ultra-som terapêutico tem sido muito empregado em casos agudos de

tendinite, pois limita a expansão do edema, favorece a atividade fibroblástica e o

Page 24: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

32

aumento da vascularização no local da lesão e seu efeito térmico produz

analgesia (SPEIRS, 1994; FERNANDES; ALVES; SOUZA, 2003).

O efeito térmico do ultra-som depende da freqüência utilizada, da

intensidade e duração do tratamento, tamanho da área tratada e características

do tecido a ser tratado (STEISS, 2000).

A freqüência determina a profundidade de penetração da onda, sendo que

clinicamente a mais usada é de 1 megahertz (MHz). Em geral, a intensidade

requerida para aumentar a temperatura do tecido para aproximadamente 40 a

45ºC, varia de 1.0 a 2.0 watts por centímetro quadrado (W/cm²) no modo de

ondas contínuas, durante 10 a 15 minutos. Indica-se o modo de ondas pulsadas

quando o aumento de calor local desejado é mínimo (STEISS, 2000).

Incisões percutâneas longitudinais – ‘’splitting’’, têm sido usadas com

sucesso em tendinites agudas (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;

WATKINS, 1999; ALVES et al., 2000). Neste estágio, o ‘’splitting’’ alivia a pressão

intra-tendínea e promove um melhor debridamento e revascularização do núcleo

da lesão. Esse procedimento é indicado particularmente para as lesões

localizadas no centro do tendão, sendo que um resultado melhor se obtém

quando realizado nas duas primeiras semanas após a injúria (REEF, 1990;

HARDY, 1995; WATKINS, 1999).

Injeções peritendíneas de hialuronato de sódio (NaHa) têm sido atualmente

utilizadas no tratamento de tendinites agudas nos cavalos. Segundo estudos, o

hialuronato de sódio promove um aumento na deposição de colágeno dentro da

lesão, melhorando a estrutura tendínea, reduzindo a reação inflamatória,

hemorragia, e a formação de aderências entre o tendão e a bainha tendínea

(SPEIRS, 1994; HARDY, 1995; WATKINS, 1999).

Recomenda-se o uso de laser terapêutico de Gallium Arsenide (GaAs) e

campo magnético pulsátil (CPM), para o tratamento de tendinite. O laser

terapêutico acelera o processo de cicatrização através do aumento do

metabolismo local e da atração de fibroblastos para a lesão, enquanto que o

campo magnético pulsátil aumenta a circulação e a concentração de oxigênio na

região. O protocolo de fisioterapia pode ser de aplicação do laser durante 10

minutos, segundo recomendação do fabricante, e 1 hora de CPM. Segundo

estudo, a inclusão de um intervalo entre o uso do laser terapêutico e do campo

Page 25: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

33

magnético pulsátil, ou seja, um pela manhã e outro à tarde, pode ter contribuído

para manter o metabolismo da região aumentado por um tempo maior o que é

favorável no tratamento de lesões do aparelho locomotor (MIKAIL; CAMPOS,

2004).

Nas tendinites crônicas, a forma mais comum de tratamento inclui alguma

forma de contra-irritação, como pontas-de-fogo, agentes irritantes de superfície ou

injetáveis, ultra-som e incisões no tendão. Podem também ser realizados

transplantes de tendão, implante de bainhas tendíneas artificiais e implantes de

fibra de carbono (SPEIRS, 1994; HARDY, 1995; McILWRAITH, 2002).

A ponta-de-fogo age mais como uma proteção ao tendão, através da

formação de uma pele espessa ao redor do local da lesão, promovendo desta

forma, um apoio ao tendão flexor digital superficial (McILWRAITH, 2002). As

incisões no tendão promovem uma vascularização, a qual auxilia na cura da lesão

tendínea. Essas incisões podem ser perfurantes ou em leque percutâneo, sendo

que a segunda técnica apresentou menos ocorrência de adesões peritendíneas.

Propôs-se o uso do ultra-som terapêutico após a realização das incisões nos

tendões com o intuito de auxiliar a cura histológica destes (McILWRAITH, 2002).

Recentemente, tem-se sugerido a desmotomia do ligamento frenador

superior como tratamento nas injúrias do tendão flexor digital superficial, devido à

melhora na qualidade da cicatrização tendínea, tendo como intuito prevenir lesões

recorrentes. A desmotomia resulta no aumento da unidade músculo-tendínea

impedindo que o músculo flexor digital superficial assuma grande porção de carga

por unidade de área, durante o exercício (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY,

1995; WATKINS, 1999; BARREIRA et al., 2002).

3.1.5. Prognóstico Devido ao longo tempo necessário para a recuperação completa do tendão

e a alta incidência de reparação desorganizada com conseqüentes recidivas, esse

tipo de lesão compromete seriamente a performance do animal, resultando em

redução da vida útil, ou muitas vezes, no encerramento da carreira atlética,

levando a grandes perdas econômicas aos proprietários (SPEIRS, 1994; HARDY,

Page 26: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

34

1995; FERNANDES; ALVES; SOUZA, 2003; FERRARO et al., 2003; FREITAS et

al., 2004; SANTOS et al., 2004).

Desta forma, o prognóstico para o retorno ao trabalho, seguinte a injúria no

tendão ou ligamento varia com o tipo de trabalho executado, com a severidade da

lesão e a utilização de tratamento adequado (REEF, 1990; SPEIRS, 1994;

HARDY, 1995). Deve-se portanto enfatizar a necessidade de um início gradual

nos treinamentos e trabalhos para diminuir o estresse excessivo sobre as

estruturas tendíneas não condicionadas (McILWRAITH, 2002; FERNANDES;

ALVES; SOUZA, 2003; FERRARO et el., 2003).

3.1.6. Relato de caso e discussão No dia 1º de julho de 2004, na seção veterinária do Regimento de Polícia

Montada Coronel Rabelo, foi atendido um eqüino macho, sem raça definida, de

aproximadamente 10 anos de idade e com peso estimado de 450 Kg, com queixa

de claudicação no membro torácico esquerdo. O animal era utilizado para saltos

e, de acordo com o histórico, já havia sido tratado anteriormente de tendinite,

tendo o episódio mais recente ocorrido em meados do ano de 2003.

Importa salientar que o eqüino era proveniente do regimento de Polícia

Montada do Espírito Santo, e estava participando da competição de saltos por

ocasião do aniversário do Regimento de Polícia Montada Coronel Rabelo. Por

haver sido transportado em caminhão, numa jornada variando entre 24 a 48

horas, permanecendo num espaço limitado e praticamente imóvel, a pressão

exercida sobre os tendões com histórico de tendinite prévia, contribuiu para a

recidiva do caso, conforme comprovou-se posteriormente.

Nos dias que antecederam a competição, o animal claudicou do membro

quando estava praticando os saltos, logo no início do exercício. Contudo, a

sessão não foi interrompida de imediato, o que pode ter agravado ainda mais a

lesão. Somente após o final da série de exercícios, o animal foi conduzido à

seção veterinária para que fossem tomadas as providências necessárias.

Ao exame visual com o animal em repouso, constatou-se que o mesmo

apresentava um aumento moderado de volume na região dos tendões do membro

torácico esquerdo. Procedendo ao exame visual em situação de movimento, não

Page 27: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

35

foi observada claudicação ao passo, mas apenas ao trote. À palpação, o animal

apresentou calor local, sensibilidade à compressão digital dos tendões flexores

superficial e profundo e presença de um ligeiro espessamento do tendão flexor

digital superficial. Isto posto, cumpre-nos observar que tais sinais clínicos

condizem com os descritos na literatura por Spiers (1994), Hardy (1995),

McIlwraith (2002), Stashak (2002) e Ross (2003).

Existem, ainda, outras formas de proceder o exame de suspeita de

tendinite, dentre as quais importa citar ultrasonografia, tendinografia, termografia,

biópsia e microscopia de luz polarizada, conforme anteriormente mencionados.

Contudo, tais métodos apresentam várias dificuldades, dentre as quais pode-se

enumerar: a dificuldade de deslocamento do animal até o aparelho de ultra-som

e/ou de raio-x ou vice-versa, a escassez de termógrafos disponíveis para a

realização do exame, e a existência de poucos profissionais que possuam os

equipamentos necessários para realizar tais exames.

O tratamento clínico realizado consistiu na aplicação de compressa de gelo

por 30 minutos durante dois dias (Figura 3), embora Watkins (1999) observe que

a aplicação de gelo por mais de 20 minutos anula os efeitos benéficos da

vasoconstrição induzidos pelo frio, provocando uma vasodilatação indesejada,

levando a um aumento do edema local. Adicionalmente realizou-se massagem

local com dimetil-sulfóxido (DMSO)¹ e posterior bandagem com liga de descanso

durante dez dias, como citado por (REEF, 1990; SPEIRS, 1994; HARDY, 1995;

WATKINS, 1999; McILWRAITH, 2002). Neste caso, teve-se atenção especial de

assegurar que a pele estivesse seca antes da aplicação de DMSO, tal qual

observado por WATKINS (1999), que complementa informando que pode haver

formação de bolhas cutâneas em cavalos com pele sensível.

Além do uso tópico de antiinflamatório, administrou-se 10 ml diários de

ketoprofeno² na dose de 2mg/kg, durante cinco dias. Segundo estudo realizado

por Longo et al. (1996), o ketoprofeno possui ação antiinflamatória 80 vezes maior

que a fenilbutazona, excelente tolerância sistêmica e gastrintestinal, ligando-se

rapidamente aos tecidos sinoviais.

Page 28: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

36

Figura 3 – Aplicação de compressa de gelo sobre os tendões afetados.

Durante o tratamento, realizado ao longo de 10 dias, que foi o período de

sua estada em Brasília-DF, o animal permaneceu estabulado, usando ligas de

descanso, como citado na literatura por Speirs (1994) e McIlwraith (2002).

Após os referidos 10 dias, o animal foi para a competição de saltos do

Regimento de Polícia Montada de Goiânia. Recomendou-se que durante a

viagem o eqüino usasse ligas de descanso e que fosse retirado do caminhão a

cada 2 horas, para movimentação. Foi recomendado, ainda, descanso em baia

com caminhadas leves pelo prazo mínimo de 6 meses, além da não participação

na referida competição de Goiânia.

No caso em análise, caberia ainda, ultra-som terapêutico, laser terapêutico,

campo magnético pulsátil, caminhadas, injeções peritendíneas de hialuronato de

sódio e ferrageamento corretivo como explicado anteriormente.

Page 29: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

37

3.2. EXOSTOSE EM EQÜINOS

3.2.1. Introdução O osso possui um revestimento mais externo, denominado periósteo, o

qual é formado por duas camadas – a camada fibrosa de tecido conjuntivo denso,

e a camada celular constituída por células mesenquimais, células

osteoprogenitoras, osteoblastos e osteoclastos (ALVES et al., 2002).

Em animais jovens, a camada celular possui grande quantidade de

osteoblastos ativos, enquanto que em cavalos adultos, essa camada encontra-se

em repouso, tornando-se ativa após algum estímulo, como traumas, ocorrendo

uma subsequente reação periosteal (ALVES et al., 2002).

A exostose é comumente encontrada em cavalos jovens, que na maioria

das vezes, afeta os membros torácicos (AUER, 1999; ALVES et al., 2002;

STASHAK, 2002; MITCHELL et al., 2003; PILSWORTH, 2003). Essa condição

geralmente envolve o aspecto medial da região do metacarpo estando localizada

na junção entre o segundo e terceiro ou quarto e terceiro metacarpianos no terço

proximal (AUER, 1999; ALVES et al., 2002; STASHAK, 2002; BASSAGE; ROSS,

2003; DYSON; 2003; LEWIS, 2003).

3.2.2. Etiologia A ocorrência do trauma resulta em hemorragia sub-periostal e

levantamento do periósteo, ou instabilidade entre o segundo ou quarto

metacarpianos e o terceiro metacarpo. Este hematoma com o tempo ossifica-se

(AUER, 1999; DYSON, 2003).

O aumento de volume observado nesta afecção pode ser causado pelo

rompimento do ligamento interósseo que liga o 2º ou 4º osso metacárpico ao 3º

metacarpo, por trauma externo ou pela cura de uma fratura ocorrida nesta região

(STASHAK, 2002; BENNETT, 2003; MITCHELL et al., 2003).

Defeitos conformacionais aumentam o estresse nos pequenos ossos

metacárpicos (STASHAK, 2002; MITCHELL et al., 2003; ROSS, 2003). O desvio

Page 30: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

38

lateral dos ossos metacárpicos é um exemplo de anormalidade conformacional

que predispõe a exostose nesses (STASHAK, 2002).

Os animais que possuem uma deformidade angular valgo, suportam maior

peso na parte medial do casco do que na parte lateral. Conseqüentemente, a

parte interna do membro tocará o solo primeiro, sendo esta sujeita a um esforço

maior, o que poderá ocasionar o desenvolvimento de exostose medial. Animais

com deformidade angular varo, são forçados a suportar mais peso no lado lateral

do membro do que no medial. Desta forma, o animal geralmente pisará

primeiramente com o lado externo do membro, o qual suportará um maior esforço,

levando à formação de exostose lateral (Figura 4) (STASHAK, 2002).

Um ferrageamento ou aparação inadequadas podem causar alterações no

movimento do membro suficientes para o animal se alcançar, provocando

traumas os quais resultam no aparecimento de exostose (AUER, 1999; ALVES et

al., 2002; STASHAK, 2002).

Figura 4 – Exostose dupla no membro torácico esquerdo (setas).

Este animal apresentava deformidade angular valgo.

Cavalos jovens que realizam treinamentos forçados, são propensos a

desenvolver esse problema, especialmente se forem pesados, como é o caso dos

Quarto de Milha (AUER, 1999; STASHAK, 2002). Outras áreas do metacarpo

Page 31: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

39

podem desenvolver exostose como resultado de trauma ósseo provocado por

objetos não cortantes ou coice (AUER, 1999; ALVES et al., 2002; STASHAK,

2002).

Desequilíbrio nutricional ou supernutrição também são incriminados como

fatores predisponentes ao aparecimento dessa afecção. Sugere-se também que,

eqüinos que recebem uma dieta desequilibrada em cálcio e fósforo, têm um

crescimento e aumento de peso rápidos, os quais provocam forças compressivas

excessivas sobre o ligamento interósseo, rompendo-o, provocando o surgimento

de exostose (AUER, 1999; STASHAK, 2002).

3.2.3. Sinais clínicos e diagnóstico Eqüinos afetados apresentam vários graus de claudicação. Calor, dor à

palpação e edema podem ser observados em qualquer ponto ao longo do

metacarpo. Na maioria das vezes, observam-se no terço proximal do metacarpo,

abaixo da articulação do carpo. Em casos crônicos, o animal pode vir a não sentir

dor à palpação (AUER, 1999; STASHAK, 2002; LEWIS, 2003). Nos casos leves,

desenvolve-se apenas uma discreta inflamação. A claudicação ao passo pode

estar ausente, sendo exibida apenas ao trote tornando-se mais evidente em

superfícies duras (AUER, 1999; STASHAK, 2002; DYSON, 2003).

Se o neocrescimento ósseo ocorrer próximo à articulação do carpo, poderá

causar artrite cárpica. A exostose continua a causar claudicação, especialmente

se esta interferir no funcionamento dos tendões flexores, ligamentos ou estruturas

periarticulares (AUER, 1999; ALVES et al., 2002; STASHAK, 2002; DYSON,

2003).

Após a inflamação ter cessado, o aumento de volume observado

geralmente torna-se menor e mais firme. A redução do edema se deve à

formação do tecido fibroso e não à diminuição no tamanho real da formação

óssea. No estágio inicial, o maior volume do edema é devido à inflamação que

ocorre no local (STASHAK, 2002).

Além do exame visual e palpação, no qual pode-se observar inflamação no

membro, presença de calor, claudicação e dor à palpação da área afetada, o

exame radiográfico é necessário para delinear a nova formação óssea, determinar

Page 32: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

40

o envolvimento ou não da articulação do carpo e se a proliferação óssea

prolonga-se suficientemente de modo a afetar o ligamento suspensório (AUER,

1999; STASHAK, 2002; BENNETT, 2003; DYSON; 2003; PILSWORTH, 2003).

Segundo Bassage e Ross (2003), um outro método diagnóstico inclui a

utilização de uma agulha 25 x 7 (22 G) para aplicação de 5 ml de anestésico local,

subcutaneamente, sobre a exostose dolorosa, o que leva ao alívio da dor e

claudicação. Se o animal continuar claudicando e sentir dor à palpação, o

diagnóstico para exostose não é positivo.

A utilização do ultra-som também é um método importante para o

diagnóstico de exostose, sendo essencial quando suspeita-se de

comprometimento no ligamento suspensório (DYSON, 2003).

3.2.4. Tratamento Na fase aguda o tratamento inclui antiinflamatórios associados ao gelo e

ligas de descanso sob pressão para diminuir o edema, o calor e a dor. A

hipotermia pode ser obtida utilizando-se bolsas de gelo ou aplicando-se ducha fria

durante 30 a 45 minutos, duas vezes ao dia, por pelo menos 5 a 7 dias. Os

cavalos acometidos devem ser confinados em baia por um período de 30 a 45

dias, iniciando-se posteriormente caminhadas durante 15 a 20 minutos duas

vezes ao dia (AUER, 1999; ALVES et al., 2002; STASHAK, 2002; MISHEFF,

2003; MITCHELL et al., 2003). O retorno prematuro aos exercícios provavelmente

exacerbará o problema, portanto, pode-se durante o período de repouso, realizar

exercícios de natação com o animal (DYSON, 2003).

Outro método terapêutico é injetar corticosteróides na região acometida,

seguido por bandagem compressiva, devendo o animal também ficar estabulado

por no mínimo 30 dias. Esse tratamento auxilia na redução da inflamação e

previne a proliferação óssea excessiva (AUER, 1999; ALVES et al., 2002;

STASHAK, 2002; BENNETT, 2003; MITCHELL et al., 2003). Um efeito similar

pode ser obtido com a utilização de dimetil-sulfóxido (STASHAK, 2002; DYSON,

2003).

A crioterapia é indicada como tratamento para exostose (Figura 5)

(JACOBS; OLIVER, 2003; MISHEFF, 2003; MITCHELL et al., 2003). Entretanto,

Page 33: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

41

esta técnica não deve ser realizada antes que a inflamação aguda tenha cessado,

pois a crioterapia pode exacerbar a reação periostal. Um descanso deve ser dado

aos animais por duas semanas, antes da realização da técnica. Em animais com

exostose crônica, a crioterapia pode ser feita sem a necessidade do período de

descanso, já que nestes casos não há presença de edema. Após a realização da

crioterapia, recomenda-se repouso em baia durante 3 a 5 dias, para todos os

animais. Posteriormente, os animais devem ser exercitados a meio trote ou

galope leve, sendo que o treinamento normal pode ser retomado dentro de 7 a 10

dias após o início dos exercícios leves (JACOBS; OLIVER, 2003).

Fonte : Ross; Dyson (2003).

Figura 5 - Uso de crioterapia em exostose no 3º metacarpo do membro torácico.

Nos casos subagudos ou crônicos, o tratamento consiste em uma contra-

irritação sob a forma de pontas-de-fogo, injeção local de agentes esclerosantes,

radiação ou aplicações tópicas de causticantes, como o iodo, junto com

massagem local com um objeto duro e plano, por 10-15 minutos diários. Esse

tratamento tem por objetivo converter um processo inflamatório limitado em um

Page 34: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

42

processo inflamatório agudo, acelerando desta forma a cura, e cessando também

a proliferação dos osteoblastos (AUER, 1999; STASHAK, 2002).

Se a razão pela qual o cavalo se alcança é a ferração ou aparação

inadequadas, estas devem ser corrigidas, sendo que as caneleiras podem ser

utilizadas para evitar maiores traumas (STASHAK, 2002).

Persistindo a claudicação, a cirurgia é o tratamento de escolha (AUER,

1999; ALVES et al., 2002; BENNETT, 2003; DYSON, 2003; LEWIS, 2003;

MISHEFF, 2003; MITCHELL et al., 2003). O acesso cirúrgico à exostose se dá

por uma estreita incisão na pele, a qual pode ser elíptica. É importante que se

remova além da exostose, o periósteo envolvido e o osso possivelmente afetado;

isso se dá pela curetagem do osso no local envolvido. Deve-se retirar

aproximadamente 2 a 3mm do periósteo ao redor da exostose, lembrando-se que

a região óssea envolvida deverá ficar plana. A periostectomia regional foi adotada

a fim de se diminuir a quantidade e a taxa de recidivas após a remoção cirúrgica

de exostoses. Um dreno deve ser colocado, sendo retirado 24 horas após a

cirurgia. A incisão é fechada com pontos simples contínuos no subcutâneo e

derme, justapondo as bordas da pele; desta forma assegura-se um ótimo

resultado cosmético. Uma bandagem compressiva é colocada ao final da cirurgia,

a qual deverá ser trocada a cada 3-4 dias por um período de 3 semanas. Indica-

se descanso em baia por 2 semanas, seguido por caminhadas leves. Deve-se

evitar exercícios físicos forçados por no mínimo 3 meses (AUER, 1999; ALVES et

al., 2002; DYSON, 2003).

Estudo recente confirmou a eficácia da administração local de

corticosteróide e ácido hialurônico após a ressecção cirúrgica da exostose e

periostectomia. Dessa forma atinge-se altas concentrações dos fármacos no local

da lesão, o que leva a um efeito antiinflamatório imediato, conferindo maior

inibição da recidiva das exostoses removidas cirurgicamente (ALVES et al., 2002).

3.2.5. Prognóstico O prognóstico associado com exostose é bom. Na maioria dos casos, se o

tratamento conservador for utilizado, essas lesões tornam-se inativas e indolores.

Se forem removidas cirurgicamente juntamente com a excisão do periósteo, não

Page 35: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

43

ocorre recidiva em 90% dos casos. O animal geralmente pode ser usado em

qualquer atividade atlética 3 a 4 meses após a cirurgia (AUER, 1999).

Nos casos em que a exostose é grande e interfere no ligamento

suspensório, ou quando a causa são sucessivos traumatismos provocados pelo

membro contra-lateral, o prognóstico é reservado (STASHAK, 2002).

O prognóstico é bom para o retorno dos animais às atividades atléticas

normais após a realização da crioterapia. Em alguns casos, ocorre recidivas no

mesmo local ou em locais diferentes, sendo que o procedimento poderá ser

repetido (JACOBS; OLIVER, 2003).

3.3. EXOSTOSE INTERFALÂNGICA

A exostose interfalângica, também conhecida como osteoartrite da

articulação interfalângica, é um neocrescimento ósseo que atinge a falange

proximal, média ou distal, sendo o resultado de uma periostite, podendo levar a

uma osteoartrite ou anquilose da articulação interfalângica proximal ou distal

(STASHAK, 2002; RUGGLES, 2003).

Essa afecção pode ser classificada de duas formas: exostose interfalângica

alta ou baixa e exostose interfalângica articular ou periarticular. A alta acomete a

extremidade distal da falange proximal ou a extremidade proximal da falange

média, enquanto que a baixa acomete a extremidade distal da falange média ou a

extremidade proximal da falange distal. Na articular, o crescimento ósseo

compromete a superfície da articulação interfalângica proximal ou distal, enquanto

que na periarticular o crescimento ósseo se limita a contornar a articulação, não

havendo comprometimento desta (STASHAK, 2002).

Eqüinos utilizados em salto, doma e ‘’cross-country’’ parecem ser

propensos ao surgimento de exostose alta (RUGGLES, 2003).

Page 36: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

44

3.3.1. Etiologia

A exostose não-articular é causada por uma periostite resultante da tração

dos ligamentos colaterais das articulações afetadas, da tração das inserções da

cápsula articular ao osso, da tração do tendão extensor às falanges proximal,

média e distal ou de traumas diretos às falanges, sendo essas trações muito

comuns em animais com má conformação. Cortes com arame que se aprofundam

até o periósteo, também podem causar uma periostite que resultará em exostose.

Infecções ou osteocondrose também são incriminadas no desencadeamento

desta afecção (STASHAK, 2002; RUGGLES, 2003).

Cavalos fechados de frente têm maior predisposição para desenvolverem

exostose interfalângica no lado lateral das articulações, enquanto cavalos abertos

de frente desenvolvem exostose interfalângica no lado medial das articulações,

pois a má conformação aumenta o estresse, levando a uma pressão desigual

nessas superfícies articulares (STASHAK, 2002; GOBLE, 2003).

Exostose articular pode ser causada por fratura que acomete uma das

falanges, progredindo para uma osteoartrite da articulação interfalângica proximal

e conseqüente exostose interfalângica intensa (STASHAK, 2002; GOBLE, 2003).

A afecção também pode ser resultante de um espaçamento incorreto das

superfícies articulares da articulação interfalângica proximal (STASHAK, 2002).

3.3.2. Sinais clínicos e diagnóstico Os animais acometidos pela exostose interfalângica apresentam

claudicação de moderada a severa, em todas as andaduras, a qual torna-se mais

evidente quando da realização de curvas e/ou quando da flexão distal do

membro, sendo que alguns casos são assintomáticos (STASHAK, 2002; GOBLE,

2003; RUGGLES, 2003). A região afetada apresenta-se quente, observando-se

aumento de volume e dor quando aplicada uma ligeira pressão no local da

exostose ativa (STASHAK, 2002; GOBLE, 2003). Exostose interfalângica articular

é acompanhada por artrite da articulação afetada, podendo ocorrer a anquilose

desta (STASHAK, 2002).

Page 37: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

45

No caso de exostose interfalângica baixa, também chamada de doença

piramidal, além da claudicação, calor, dor à palpação e aumento de volume,

observa-se os pêlos da faixa coronária eriçados e um pisar excessivo sobre os

talões (STASHAK, 2002).

Na fase crônica da doença, o edema passa a ser frio e firme ao toque; a

realização do exame de flexão da articulação afetada poderá resultar em uma

resposta dolorosa, sendo que a flexão da articulação estará diminuída, ou nula

nos casos em que a anquilose já estiver presente (STASHAK, 2002). Pode-se

evidenciar nesses casos, uma formação óssea exuberante ou deformidade

angular (RUGGLES, 2003).

O diagnóstico baseia-se inicialmente pelos sinais clínicos observados,

resposta à analgesia perineural ou intra-articular e exame radiográfico (SCHAER

et al., 2001; STASHAK, 2002; GOBLE, 2003; RUGGLES, 2003). Os achados

radiográficos são necessários para identificar com precisão as estruturas

acometidas, podendo-se observar a neoformação óssea, esclerose periarticular e

a perda do espaço articular principalmente no aspecto medial da articulação

interfalângica proximal (SCHAER et al., 2001; STASHAK, 2002; RUGGLES,

2003). Radiografias do membro oposto devem ser feitas pois a afecção pode

acometer bilateralmente os membros (RUGGLES, 2003). Nos casos iniciais,

apesar da presença dos sinais clínicos, o exame radiográfico nada acusará,

sendo indicado a repetição deste após 30 dias (SCHAER et al., 2001; STASHAK,

2002).

3.3.3. Tratamento Nos casos agudos da doença, ou seja, quando não houve o início da

proliferação óssea, o tratamento consiste em limitação do movimento das

articulações através do uso de gesso, o qual deve envolver o membro desde a

parede do casco até abaixo do carpo ou tarso; o gesso deve ser mantido por no

mínimo 30 dias e o animal confinado por um período mínimo de 4 meses

(STASHAK, 2002).

Em eqüinos com osteoartrite e ligeira claudicação, recomenda-se repouso

em baia com acesso a um piquete pequeno durante 4 meses (GOBLE, 2003).

Page 38: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

46

Segundo Goble (2003), a administração oral de glicosaminoglicanos ou

suplementação com sulfato de condroitina tem tido resultados satisfatórios.

Recomenda-se a utilização de antiinflamatórios não-esteroidais ou injeções

intra-articulares de corticosteróides em combinação com hialuronato de sódio, que

são muito eficazes em eqüinos que apresentam exostose leve à moderada

(GOBLE, 2003; RUGGLES, 2003). Os corticosteróides aplicados dentro da

articulação reduzem o nível de enzimas nocivas na articulação além de

exercerem efeito antiinflamatório, retardando a migração de leucócitos e inibindo

a dilatação capilar, edema e deposição de fibrina (McILWRAITH, 2002). Apesar

de exercerem efeito terapêutico antiinflamatório desejável no sinóvio, os

corticosteróides reduzem a taxa de síntese de proteoglicanos e ácido hialurônico

no interior da articulação. Também diminuem os glicosaminoglicanos sulfatados,

resultando em uma redução na capacidade desses de ligar água da matriz

cartilaginosa, tornando a superfície articular menos elástica e mais vulnerável a

trauma mecânico. Devido a isso, recomenda-se a suplementação oral de

glicosaminoglicanos antes e durante o uso de corticosteróides, e da utilização

intra-articular em conjunto de corticosteróides e hialuronato de sódio, pois este

último contribuirá como lubrificante articular, diminuindo a probabilidade de dano à

cartilagem, além de controlar a permeabilidade da membrana sinovial (STASHAK,

2002; McILWRAITH, 2002).

Em animais com exostose subaguda ou crônica, especialmente aqueles

com extensiva proliferação periarticular e perda do espaço articular, o tratamento

varia da utilização de pontas-de-fogo, aplicações tópicas de causticantes até

fusão da articulação por artrodese, a qual promove um alívio da dor (SCHAER et

al., 2001; STASHAK, 2002; RUGGLES, 2003). O procedimento cirúrgico de

artrodese é invasivo e caro, mas geralmente é considerado a melhor solução

(RUGGLES, 2003).

A anquilose natural da articulação interfalângica proximal pode ocorrer,

porém, é um longo e doloroso processo, o qual pode ser incompleto (GOBLE,

2003; RUGGLES, 2003).

Neurectomia pode ser considerada em eqüinos com exostose

interfalângica proximal crônica, principalmente, quando no membro posterior

(STASHAK, 2002; RUGGLES, 2003).

Page 39: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

47

Cirurgicamente, três técnicas são citadas para a realização de artrodese:

perfuração da articulação do lado lateral para o medial, com o intuito de remover

a cartilagem e posterior enxerto do local com osso trabecular; estimulação elétrica

após remoção da cartilagem, sendo que essa técnica reduz o tempo necessário

para formação da anquilose; e fixação interna utilizando placas ou parafusos, com

ou sem enxerto de osso trabecular. Obtiveram-se melhores resultados na fixação

interna, com o uso de três parafusos colocados paralelamente, pois essa técnica

proporcionou uma maior fusão da região, um melhor alinhamento das falanges

proximal e média e um menor índice de erros na colocação destes (Figura 6)

(GENETZKY et al., 1981; STASHAK, 2002; GOBLE, 2003).

Figura 6 – Radiografia lateral 7 semanas após a cirurgia de artrodese da articulação interfalângica proximal realizada com três parafusos postos através da articulação, para comprimi-la. A cartilagem da articulação interfalângica proximal foi removida antes da colocação dos parafusos.

Page 40: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

48

Estudo recente confirmou que a utilização em conjunto dos três parafusos

com uma placa colocada dorsalmente promove uma fixação mais estável e

segura, minimizando a mobilidade, acelerando a remodelação óssea, favorecendo

então, uma rápida fusão da articulação (SCHAER et. al., 2001; RUGGLES, 2003).

Após a cirurgia deve-se imobilizar o membro, desde o casco até abaixo do

carpo ou tarso, através da utilização de gesso. O membro deve ser imobilizado o

mais próximo possível de sua posição normal, sendo que o animal deve

permanecer engessado por um período de 6 a 7 semanas. Ligas de apoio são

indicadas após a retirada do gesso. O animal deverá permanecer confinado em

baia por mais 8 semanas e após esse período, exercícios com caminhadas

podem ser iniciados (STASHAK, 2002).

Nos cavalos acometidos com exostose interfalângica, pode-se fazer uma

ferração corretiva, que consiste no encurtamento da pinça e colocação de

ferraduras de rolamento completo, com o intuito de transferir a ação das

articulações interfalângica proximal e distal para a ferradura. Se o animal possui

boa conformação, uma ferradura de rolamento na pinça é suficiente (STASHAK,

2002).

3.3.4. Prognóstico

A forma não-articular aguda de exostose, desde que tratada precocemente,

apresenta bom prognóstico para o retorno ao trabalho. Entretanto, no caso da

exostose interfalângica não-articular baixa, o prognóstico é geralmente reservado,

com freqüente alteração mecânica na andadura, cessada a dor (STASHAK,

2002).

Os casos de exostose interfalângica articular alta progridem

constantemente para osteoartrite, apresentando prognóstico desfavorável

(STASHAK, 2002; GOBLE, 2003). A exostose interfalângica articular baixa

apresenta um prognóstico muito ruim em termos de retorno normal ao trabalho

(STASHAK, 2002; GOBLE, 2003).

O diagnóstico precoce é um critério muito importante para um melhor

prognóstico, pois desta forma cessa-se o treinamento do animal, e instituindo-se

Page 41: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

49

tratamento adequado, ocorrerá retardo na progressão da osteoartrite, resultando

numa melhora substancial da afecção (GOBLE, 2003).

Como citado anteriormente, a técnica de artrodese, especialmente quando

da utilização de três parafusos e placas, possibilita retorno às atividades atléticas,

ainda que restritas em alguns casos. Entretanto, essa técnica não conduz a um

prognóstico bom em animais pesados, em razão da forte pressão exercida sobre

os implantes (SCHAER et al., 2001; GOBLE, 2003).

3.3.5. Relato de caso e discussão No dia 8 de setembro de 2004, na seção veterinária do Regimento de

Polícia Montada foi atendido um garanhão da raça Appaloosa de nome Gringo

Lee, com dois anos e meio de idade, aproximadamente 350 Kg e histórico de

grande aumento de volume no membro posterior esquerdo, perda por avulsão da

parede do casco no lado medial do mesmo membro e miíase local. Segundo

relato do proprietário, o animal havia perdido a parede do casco à

aproximadamente um ano, sendo realizados apenas curativos locais (Figura 7).

Figura 7 – Perda da parede do casco no lado medial do membro posterior esquerdo (seta).

Page 42: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

50

Devido ao estado em que se encontrava a ferida e a grande quantidade de

miíase, optou-se primeiramente pela limpeza da mesma, para posterior exame

clínico. Utilizou-se larvicida spray³ sobre a ferida e com uma pinça, foram

retiradas todas as larvas. Lavou-se a ferida com polivinilpirrolidona-iodo4 e foi

usado iodo tópico5 à 5% no local, durante 3 dias.

Após este período foi realizado o exame clínico. Visualmente,

observou-se a presença de um grande aumento de volume acima da região

coronária, o qual circundava todo o membro e que, à palpação apresentava-se

fria e firme ao toque (Figura 8). Fez-se pressão digital sobre a área afetada, mas

o animal não respondeu à dor, sendo essas características citadas na literatura

por Stashak (2002).

Figura 8 – Aumento de volume observado no membro posterior do referido

animal.

Como indicado por Stashak (2002), realizou-se o exame de flexão da

articulação afetada, tendo-se como resultado uma flexão nula, provavelmente

pela presença de anquilose da articulação, devido à cronicidade da lesão.

Conduziu-se o animal até um piso rígido, onde este foi observado ao passo

e ao trote. Em nenhuma das andaduras o animal apresentou claudicação, apenas

observou-se um pisar excessivo sobre os talões do membro afetado.

Page 43: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

51

Foi feito exame radiográfico, por meio do qual pôde-se observar uma

grande neoformação óssea sobre as falanges média e distal e início de

proliferação óssea na região distal da falange proximal. Constatou-se também a

perda de espaço articular entre as falanges média e distal (Figura 9). Esses

achados são descritos na literatura por Schaer et. al. (2001), Stashak (2002) e

Ruggles (2003).

Não foi realizado radiografia do membro oposto como sugerido por Ruggles

(2003).

Figura 9 – a) e b) aspecto radiográfico do membro posterior esquerdo afetado mostrando a

neoformação óssea, perda do espaço articular entre as falanges média e distal e início de proliferação óssea da região distal da falange proximal.

Avaliando-se os sinais clínicos e os achados radiográficos, constatou-se a

ocorrência de exostose interfalângica articular baixa, procedendo-se

posteriormente o início do tratamento.

O tratamento consistiu em aplicação tópica de iodo 40% sobre toda a

lesão. Como este fármaco havia sido manipulado erroneamente pela primeira vez,

ba

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52

e pela demora do proprietário em trazer o fármaco certo, o tratamento foi

inicializado somente após 3 semanas do diagnóstico.

Durante esse período, diariamente realizava-se curativo no casco afetado

anteriormente pela miíase. Este consistia em pedilúvio com permanganato de

potássio, 0,1g/litro, durante 30 minutos para limpeza do local, uso tópico de

cicatrizante6 e bandagem ao redor do casco para evitar o contato da lesão com a

urina e fezes do animal.

Durante todo o tratamento, o animal permaneceu estabulado sendo

retirado para caminhadas diárias durante aproximadamente 30 minutos.

Após o proprietário ter trazido o iodo 40%, iniciou-se o tratamento, o qual

consistiu em aplicação tópica sobre a região afetada, durante 7 dias (Figura 10).

Após esse período, aplicou-se localmente vaselina líquida para facilitar a retirada

das crostas formadas pela ação cáustica do iodo.

Figura 10 – a) aplicação tópica de iodo 40% na face lateral do membro afetado; b) aplicação tópica

de iodo 40% na face medial do membro afetado.

Devido à grande perda da parede medial do casco no membro afetado,

sucessivas rachaduras ocorriam neste, dificultando o crescimento do novo casco.

Para evitar a contínua formação de rachaduras, optou-se pela colocação de uma

ferradura oval com guarda casco lateral para aumentar a estabilidade do casco.

Pelo fato do animal apresentar deformidades angulares nos quatro

membros, uma aparação adequada dos cascos era realizada mensalmente.

Em virtude da cronicidade da afecção, não foi observada melhora

significativa com o tratamento utilizado. Não houve necessidade da realização de

a b

Page 45: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

53

artrodese, como citado na literatura por Genetzky et al. (1981), Schaer et al.

(2001), Stashak (2002), Goble (2003) e Ruggles (2003), pois o animal já

apresentava anquilose natural da articulação interfalângica proximal.

3.4. RABDOMIÓLISE DE EXERCÍCIO

3.4.1. Introdução Rabdomiólise de exercício, também conhecida como azotúria, mal de

segunda-feira, ‘’tying up’’, mioglobinúria paralítica e miosite, é uma degeneração

das fibras musculares estriadas que ocorre após o exercício, sendo a desordem

muscular mais comum que acomete principalmente eqüinos atletas (HODGSON,

1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994;

HARDY, 1995; HARRIS; MAYHEW, 2000).

Os fatores que predispõem ao aparecimento da rabdomiólise de exercício

são variados. Dieta, desbalanço eletrolítico, hipotireoidismo, genética, viremia,

bacteremia e exercícios, em conjunto ou separadamente, estão implicados no

desencadeamento da doença (HODGSON, 1987; TURNER, 1992; HARDY,

1995).

Classicamente, observa-se a doença em animais que estão em um

programa de treinamento, os quais passam por um repouso de um ou mais dias,

sendo-lhes fornecida a mesma quantidade de ração. O mecanismo exato da ação

dos carboidratos para o aparecimento de rabdomiólise ainda está incerto, mas

postula-se que ocorre uma formação excessiva de glicogênio, resultando em uma

superprodução de ácido láctico pós-exercício e vasoconstrição muscular

resultando em cãibras (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; HARRIS;

MAYHEW, 2000).

Diversos pesquisadores apontam que distúrbios eletrolíticos causam

rabdomiólise. A ação mais provável dos eletrólitos no aparecimento da

rabdomiólise pode envolver alterações passageiras nas concentrações ou fluxos

Page 46: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

54

iônicos através da membrana celular do músculo. As concentrações intracelulares

de sódio e potássio são mantidas pela bomba de sódio e potássio. Alterações no

número ou na eficiência dessas bombas resulta em alteração na capacidade

celular em realizar o transporte ativo desses íons. A supressão das bombas

também resulta numa diminuição na capacidade de remover o potássio do

plasma, o que é de extrema importância durante o exercício. Desta forma sugere-

se que a distribuição alterada de potássio afeta propriedades funcionais como o

potencial de membrana, o potencial de ação e acoplamento de excitação-

contração em fibras musculares (HODGSON; PARISH, 1990; HARRIS;

MAYHEW, 2000).

Propôs-se que o hipotireoidismo secundário é um fator ‘’gatilho’’, que

desencadeia a rabdomiólise de exercício, ‘’pois resulta em uma deficiência

protéica, numa depressão no metabolismo oxidativo do músculo e diminuição na

atividade da miosina ATPase’’ (TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994).

O metabolismo defeituoso de cálcio dentro das células musculares, leva a

um excesso de cálcio dentro das unidades contráteis, desencadeando excessivas

contrações das fibras musculares, as quais se manifestam como cãibras,

podendo resultar em necrose celular (HODGSON; PARISH, 1990; TURNER,

1992).

Infecções bacterianas e viróticas, podem causar dano muscular levando a

miopatias. O vírus da influenza, o qual freqüentemente invade o trato respiratório,

e a bactéria Acinetobacter calcoaceticus podem se instalar nos músculos durante

o curso das doenças, caso uma injúria ocorra a estes (HODGSON, 1987;

TURNER, 1992; BYRNE et al., 2000; HARRIS; MAYHEW, 2000).

Súbitas elevações na duração ou na intensidade dos exercícios, são

consideradas as causas iniciais do aparecimento de rabdomiólise, em especial

quando associadas a outros fatores predisponentes, acima citados (HODGSON,

1987; TURNER, 1992).

3.4.2. Sinais clínicos e diagnóstico Os sinais clínicos da doença podem variar em severidade, desde uma

ligeira rigidez ou encurtamento do passo até uma incapacidade total de

Page 47: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

55

movimentação, podendo até levar o animal ao decúbito (HODGSON, 1987;

HODGSON; PARISH, 1990; SNOW; VALBERG, 1994; HARDY, 1995; VALBERG;

MACLEAY; MICKELSON, 1997; HARRIS; MAYHEW, 2000; FIRSHMAN et al.,

2003).

Durante o exercício, os cavalos podem desenvolver, além de um andar

curto e rígido, suor profuso, freqüência cardíaca e respiratória elevadas,

desidratação e hipertermia. Terminado o exercício, estes apresentam relutância

em se movimentar devido à ocorrência de disfunção e cãibras musculares,

freqüentemente adquirem posição de urinar, sendo que em casos mais severos

pode-se observar presença de mioglobinúria (HODGSON, 1987; HODGSON;

PARISH, 1990; TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994; VALBERG;

MACLEAY; MICKELSON, 1997; BYRNE et al., 2000; FIRSHMAN et al., 2003).

À palpação, os músculos apresentam-se tumefeitos e firmes e o animal

bastante dolorido, sendo o dano muscular encontrado bilateralmente afetando os

músculos glúteo, semitendíneo e semimembranáceo. Os músculos proximais dos

membros anteriores podem estar acometidos isoladamente ou em combinação

(HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; SNOW; VALBERG, 1994;

VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; HARRIS; MAYHEW, 2000).

O diagnóstico baseia-se na história clínica, acompanhada por exame físico

completo. Exames laboratoriais são freqüentemente necessários para confirmar o

diagnóstico provisório e controlar a recuperação, dentre estes podemos citar a

quantidade sérica de mioglobina, creatina-cinase (CK), lactato-desidrogenase

(LDH) e aspartato-aminotransferase (AST). Biópsia muscular, eletromiografia e

urinálise podem ser úteis (HODGSON, 1987; SNOW; VALBERG, 1994; HARDY,

1995; HARRIS; VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; BYRNE et al., 2000;

CARMICHAEL, 2000; DE LA CORTE; VALBERG, 2000; MAYHEW, 2000).

A elevação na atividade da CK pode ser detectada dentro de horas após o

começo dos sinais clínicos, sendo que seu pico se dá após 6 horas, alcançando

de 1000 para 400.000 UI/L, declinando dentro de 2 a 3 dias. O pico na LDH

ocorre 12 horas após o início da sintomatologia clínica, continuando elevada por 7

a 10 dias. A elevação na AST começa aproximadamente 24 horas após o começo

dos sinais clínicos, tendo uma meia vida de 7 a 14 dias. Uma persistente elevação

Page 48: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

56

nas enzimas musculares indica um progressivo dano muscular (HODGSON,

1987; TURNER, 1992; HARDY, 1995).

Um aumento nos valores de CK sem alta nos de AST ou LDH indica uma

miodegeneração que ocorreu 6 a 12 horas antes. Valores aumentados de CK e

LDH sem crescimento nos níveis de AST revela dano sofrido 24 horas antes.

Incremento nos níveis de AST e LDH sem alta nos valores de CK demonstra dano

muscular ocorrido 3 a 4 dias antes (TURNER, 1992).

A biópsia é um método diagnóstico definitivo, especialmente para animais

que apresentem rabdomiólise de exercício recorrente. As amostras de biópsia

muscular podem ser obtidas através de duas técnicas: excisão cirúrgica sob

anestesia geral ou local, ou agulha de biópsia percutânea (VALBERG; MACLEAY;

MICKELSON, 1997; HARRIS; MAYHEW, 2000). O músculo semimembranoso é o

mais utilizado quando da realização da biópsia pela técnica aberta, devido a

facilidade ao acesso, a falta de uma cicatriz aparente, e a anormal prevalência de

polissacarídeos neste músculo (VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997;

CARNICHAEL, 2000).

Os animais podem ser sedados com detomidina (0,01 mg/kg) combinada

com tartarato de butorfanol (0,01 mg/kg). A cauda deve ser enfaixada, e uma área

13 cm distal e medial à tuberosidade isquiática (sobre o músculo

semimembranoso) é preparada cirurgicamente. Injeta-se lidocaína para produzir

um ‘’botão’’ anestésico de 5 cm, sem infiltrar o tecido muscular. Faz-se uma

incisão vertical de 4 a 5 cm na pele e fáscia do músculo, a qual é rebatida 1,5 cm

de cada lado. Uma incisão vertical de 1,5 cm de profundidade e 3 cm de

comprimento é realizada abaixo da fáscia; outra incisão similar paralela à primeira

deve ser feita. A amostra é agarrada com fórceps e seccionada dorsalmente e

ventralmente. Após retirado, o tecido precisa ser manipulado cuidadosamente,

sendo este colocado em uma gaze umedecida em solução salina à 0,9%, até ser

enviada ao laboratório. A fáscia é suturada com fio absorvível e a pele utilizando-

se sutura intradérmica (VALBERG; MACLEAY; MICKELSON , 1997).

A biópsia com agulha percutânea não deixa nenhum resquício de cicatriz.

Uma pequena área de pele sobre o músculo glúteo (dois terços de distância de

uma linha da cabeça da cauda à tuberosidade coxal) deve ser preparada

cirurgicamente. Aplica-se 1,5 ml de lidocaína no subcutâneo ao longo da linha de

Page 49: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

57

incisão e na fáscia que recobre o músculo. Faz-se uma incisão na pele e na

fáscia, inserindo-se em seguida a agulha de biópsia a uma profundidade de

aproximadamente 6 cm (em eqüinos adultos) (Figura 11). Com essa técnica,

coleta-se 200 a 400 mg de amostra de tecido muscular, sendo que a quantidade

da amostra não é suficiente para um exame mais apurado (VALBERG;

MACLEAY; MICKELSON, 1997; HARRIS; MAYHEW, 2000).

Fonte: Reed; Bayly (2000)

Figura 11 - a) agulha de biópsia muscular percutânea, encontrada com diâmetros internos de

4mm, 5mm e 6mm. b) aplicação de anestesia local por via subcutânea ao longo da linha de incisão. c) incisão da pele e da fáscia muscular. d) inserção da agulha de biópsia à uma profundidade de 6 cm.

As características histológicas detectadas na amostra muscular coletada

através da biópsia podem variar, desde a ausência de lesões detectáveis, até

alterações graves caracterizadas por fibras intumescidas e alterações hialinas em

segmentos de fibras (HODGSON; PARISH, 1990).

a

b c d

Page 50: Lucia Monica Alexandrina Banceu Tendinite

58

A urinálise é importante para detectar a presença de mioglobina oculta na

urina e diferenciá-la de hemoglobina. Foi sugerido que o escurecimento visível da

urina ocorre quando a concentração de mioglobina excede 40mg/100ml

(TURNER, 1992; HARRIS; MAYHEW, 2000).

O diagnóstico diferencial de rabdomiólise inclui todas as moléstias que

podem resultar em andar rígido ou desconforto geral, como laminite, pleurite,

cólica, tétano, entre outros (HARDY, 1995; VALBERG; MACLEAY; MICKELSON,

1997; HARRIS; MAYHEW, 2000).

3.4.3. Tratamento O tratamento baseia-se em limitar lesão muscular adicional, aliviar a

ansiedade e a dor, corrigir a deficiência eletrolítica e de fluidos e prevenir lesão

renal (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992; SNOW;

VALBERG, 1994; HARDY, 1995; HARRIS; MAYHEW, 2000; DE LA CORTE;

VALBERG, 2000; FIRSHMAN et al., 2003).

Fluidoterapia oral ou intravenosa deve ser prioridade em animais

desidratados que apresentam mioglobinúria, já que esta pode causar

nefrotoxicidade devido à sua deposição nos túbulos renais. Os fluidos mais

indicados são NaCl a 0,9% e ringer com lactato (TURNER, 1992; SNOW;

VALBERG, 1994; VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; HARRIS;

MAYHEW, 2000). Se o animal estiver acentuadamente hipertérmico, os fluidos

administrados podem ser resfriados, e uma ventilação externa é indicada (SNOW;

VALBERG, 1994).

A utilização de acepromazina, um antagonista alfa1-adrenérgico, abranda a

ansiedade podendo aumentar o fluxo sangüíneo para os músculos, contudo, seu

uso é contra-indicado em eqüinos desidratados, pois pode resultar em hipotensão

(HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994;

VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; DE LA CORTE; VALBERG, 2000).

O alívio da dor, da inflamação muscular e desconforto podem ser

alcançados com a utilização de antiinflamatórios não-esteroidais como a

fenilbutazona ou flunixin meglumine, devendo-se ter cuidado na administração

desses fármacos em animais desidratados, pois podem provocar lesão renal

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(HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992; HARDY, 1995;

VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; DE LA CORTE; VALBERG, 2000).

Em eqüinos excessivamente doloridos, a utilização de detomidina fornece

uma melhor sedação e analgesia. No entanto, a utilização dessa medicação

torna-se inviável no Brasil, pois ela não é encontrada aqui, devendo-se importá-la

(SNOW; VALBERG, 1994; HARDY, 1995). Recomenda-se também o uso de

derivados narcóticos, como o tartarato de butorfanol ou hidrocloridrato de

meperidina para o alívio da dor. A combinação desses medicamentos com a

xilazina é indicada, porque evita a excitação ocasionada pela administração

desses narcóticos, o que levaria a um agravamento da lesão muscular nesses

animais (HODGSON, 1987; TURNER, 1992; DE LA CORTE; VALBERG, 2000).

Relata-se que os corticóides produzem relaxamento dos esfíncteres

capilares, melhorando desta forma a perfusão tecidual. Estes também auxiliam na

redução de contínuas lesões musculares, através da estabilização das

membranas celulares (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER,

1992).

A administração intravenosa de dimetil-sulfóxido, na dose de 1,0 g/Kg

diluído em solução salina a 10 ou 20% ou numa solução de dextrose a 5%, tem

ação antiinflamatória eficiente (HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992;

SNOW; VALBERG, 1994; VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; DE LA

CORTE; VALBERG, 2000; HARRIS; MAYHEW, 2000).

Autores aconselham o uso de dantrolene sódico na dose de 2mg/Kg via

oral. Este alivia os espasmos musculares e previne outros possíveis danos

musculares, pela diminuição da quantidade de cálcio liberada dos retículos

sarcoplasmáticos (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER,

1992; SNOW; VALBERG, 1994; DE LA CORTE; VALBERG, 2000).

Como a maioria dos pacientes apresenta um quadro de alcalose

metabólica, não se recomenda o uso de bicarbonato de sódio, a menos que se

conheça o estado ácido-básico deste (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH,

1990; TURNER, 1992; HARDY, 1995; HARRIS; MAYHEW, 2000).

Indica-se repouso em baia, com duração variando de acordo com a

extensão da lesão muscular, e sempre que possível, o animal deve ser levado a

um piquete, antes que se retorne ao exercício normal, o que pode ser útil no

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restabelecimento da resistência muscular (TURNER, 1992; DE LA CORTE;

VALBERG, 2000; HARRIS; MAYHEW, 2000). Durante este tempo recomenda-se

uma dieta com feno de boa qualidade e baixa suplementação com cereais,

principalmente aveia (SNOW; VALBERG, 1994; HARRIS; MAYHEW, 2000).

Em casos graves de rabdomiólise de exercício, a dieta deve consistir em

apenas capim ou feno e água. Nos casos em que os animais permanecem em

decúbito, recomenda-se uma baia bem acolchoada, sendo que esses não devem

ser forçados a se levantar, mas ajudados a isto tão logo seja possível. Deve-se

fazer controle da hidratação do animal para observar se a ingestão de água e

micção estão normais (HODGSON; 1987; HODGSON; PARISH, 1990; HARRIS;

MAYHEW, 2000). Na maioria dos casos a cateterização urinária é necessária,

pois pelo fato da incapacidade de se levantar, pode ocorrer retenção de urina

(HARRIS; MAYHEW, 2000).

3.4.4. Profilaxia Os fatores mais importantes na profilaxia da rabdomiólise de exercício são

a dieta e o exercício, ou seja, deve-se fornecer uma dieta equilibrada de acordo

com a carga de trabalho realizada pelo animal, sendo que os períodos de

inatividade devem ser acompanhados por redução na alimentação (HODGSON;

1987; HODGSON; PARISH, 1990; TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994;

VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; DE LA CORTE; VALBERG, 2000;

HARRIES; MAYHEW, 2002; FIRSHMAN et al., 2003).

Animais muito excitados podem melhorar com a administração de doses

baixas de tranqüilizantes 30 minutos antes do início dos exercícios (HODGSON;

PARISH, 1990; SNOW; VALBERG, 1994).

Caso as mudanças no manejo citadas acima não sejam suficientes,

recomenda-se o uso de dantrolene, o qual diminui a taxa de liberação de cálcio do

retículo sarcoplasmático, evitando recidivas. Os autores sugerem o uso de 500mg

de dantrolene sódico diluídos em solução salina normal administrados via sonda

nasogástrica durante 3 a 5 dias e em seguida 300mg a cada 3 dias por cerca de

um mês, sendo que, um controle da função hepática é sugerido já que o fármaco

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é hepatotóxico (HODGSON, 1987; TURNER, 1992; SNOW; VALBERG, 1994;

HARRIES; MAYHEW, 2002).

Indica-se a suplementação de sódio, potássio, cálcio, vitamina E e selênio,

isoladamente ou em conjunto, para prevenir rabdomiólise causada por

desequilíbrios eletrolíticos (TURNER, 1992; HARRIES; MAYHEW, 2002).

Aconselha-se o uso de dimetilglicina, um composto comum encontrado em

vários compostos alimentícios. Supõe-se que este promova um aumento no

consumo de oxigênio pelo músculo e diminua a produção de ácido láctico. A dose

diária recomendada é de 1 a 1,6 mg/Kg (HODGSON, 1987; HODGSON; PARISH,

1990; TURNER, 1992).

3.4.5. Prognóstico O prognóstico para a doença pode variar de excelente para animais que

são acometidos com a forma discreta, a grave para os que permanecem em

decúbito ou desenvolvem lesões renais (HARRIS; MAYHEW, 2000).

Nos casos em que os fatores predisponentes forem identificados e medidas

de segurança instituídas, como uma dieta balanceada e exercícios regulares,

episódios recidivantes de rabdomiólise de exercício podem não ocorrer (SNOW;

VALBERG, 1994; HARRIS; MAYHEW, 2000;).

Preconiza-se a não utilização para reprodução, os animais que pertencem

a famílias com múltiplos casos de miopatia, já que esta afecção é considerada

herdável (HARRIS; MAYHEW, 2000).

3.4.6. Relato de caso e discussão No dia 11 de setembro de 2004, na seção veterinária do Regimento de

Polícia Montada Coronel Rabelo, foi atendido um cavalo castrado, sem raça

definida, de nome Rango, com 12 anos de idade e aproximadamente 450 kg.

O animal pertencente ao pelotão de choque, apresentou um andar rígido

ao ser retirado da baia, e não comeu a ração da noite anterior.

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Em virtude do dia 7 de setembro, dia da Independência, quando os animais

foram exigidos muito fisicamente, devido aos treinamentos dos dias que

antecederam o desfile e do próprio desfile, e pela razão de permanecerem os três

dias seguintes sem trabalhar, comendo a mesma quantidade de ração, sugere-se

de acordo com Hodgson (1987), Hodgson e Parish (1990); Harris e Mayhew

(2000), a situação como um fator predisponente para o aparecimento da

rabdomiólise de exercício.

Ao exame visual, o animal estava ofegante, observando-se presença de

sudorese e ao ser estimulado, apresentou andar rígido. Os parâmetros

observados foram mucosas hiperêmicas com 2 segundos de tempo de

preenchimento capilar, freqüência cardíaca de 62 batimentos por minuto (bpm),

freqüência respiratória de 58 movimentos por minuto (mpm), desidratação

moderada, 38,7° C de temperatura retal e presença de urina escura. Esses sinais

clínicos são descritos na literatura por Hodgson (1987), Hodgson; Parish (1990),

Turner (1992), Snow; Valberg (1994), Valberg; Macleay; Mickelson (1997), Byrne

et al. (2000) e Firshman et al. (2003).

Como descrito por Hodgson (1987), Hodgson; Parish (1990), Snow;

Valberg (1994), Valberg; Macleay; Mickelson (1997) e Harris; Mayhew (2000), à

palpação, os músculos dos membros posteriores (principalmente os glúteos)

apresentaram-se firmes e doloridos.

Exames laboratoriais complementares para aferição da quantidade sérica

de mioglobina, CK, AST, LDH, biópsia muscular, eletromiografia e urinálise

podem ser úteis (HODGSON, 1987; SNOW; VALBERG, 1994; HARDY, 1995;

HARRIS; MAYHEW, 2000; VALBERG; MACLEAY; MICKELSON, 1997; BYRNE et

al., 2000; CARMICHAEL, 2000; DE LA CORTE; VALBERG, 2000; MAYHEW,

2000). Em virtude da falta de verba liberada para a seção veterinária, nenhum

destes exames foram realizados.

Instituiu-se, portanto, tratamento com fluidoterapia com 10 litros de ringer

com lactato e 2 litros de glicose à 5%. Como o animal apresentava pouco apetite,

acrescentou-se à fluidoterapia 20 ml de complexo vitamínico7, 20 ml de ácido

ascórbico8 (vitamina C) e 500 ml de estimulante energético9, durante cinco dias.

A quantidade de fluido (em litros) a ser administrada a um eqüino, pode ser

calculada multiplicando-se o peso corporal (kg) do animal pela desidratação

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estimada (%). A perda de fluidos de 5% a 7% do peso corporal é considerada

leve, 8% a 10% moderada e maior que 10% severa (DE LA CORTE; VALBERG,

2000). Desta forma, o animal deveria ter recebido aproximadamente 30 litros de

fluidos diários, já que apresentava desidratação leve. Contudo, conforme

anteriormente mencionado, o estoque de medicamentos na seção veterinária é

limitado, pelo que não pôde ser administrada a citada quantidade de fluidos.

Durante este período, o animal continuava a apresentar parâmetros

elevados de freqüência cardíaca variando de 50 a 62 bpm, freqüência respiratória

entre 45 a 58 mpm. Esta variação era decorrente da caminhada que o animal

fazia da baia até a seção veterinária. A temperatura oscilava de 38,7° C a 40,5°C.

Após transcorridos os dias do citado tratamento, o animal não mais

apresentava urina escura, mas os parâmetros continuavam alterados, houve uma

grande perda de peso (aproximadamente 100 kg) e apresentou comprometimento

do pulmão direito, constatado pela ausência de sons respiratórios normais

produzidos pelo movimento de ar através da árvore traqueobrônquica, na

auscultação. Não havia presença de secreção nasal.

Iniciou-se antibioticoterapia, administrando-se inicialmente Ceftiofur

sódico10, na dose de 2 mg/kg, via intravenosa por 10 dias. Durante este

tratamento, o animal continuava a apresentar os parâmetros alterados, freqüência

cardíaca 50 bpm, freqüência respiratória 48 mpm e temperatura retal oscilando

entre 38,0 e 40,0° C. À auscultação pulmonar, o eqüino não apresentou grande

melhora. Modificou-se o tratamento administrando-se Cefalotina Sódica11 1g, na

dose de 12 mg/kg, o equivalente a 4g de 6 em 6 horas, via intravenosa durante 10

dias; esse tratamento resultou na melhora significativa do funcionamento

pulmonar do animal e na estabilidade dos parâmetros. A mudança do antibiótico

utilizado deveu-se à aquisição de tipo diferente de medicamento, obtido por meio

de doação, mantido contudo o poder bactericida.

Concluída a antibioticoterapia, após aproximadamente cinco dias, o animal

apresentou mucosas ictéricas e aumento da temperatura retal, variando de 39,5 a

40,5° C durante o dia, apatia e falta de apetite. Os sinais apresentados pelo

eqüino são observados na babesiose como descrito na literatura por Morris

(2000). Suspeitou-se de hemoparasitas, procedendo-se à realização de

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hemograma completo e pesquisa hemoparasitária, confirmando a suspeita de

babesiose.

Antes do resultado do hemograma e da pesquisa hemoparasitária, iniciou-

se o tratamento com dipropionato de imidocarb12 na dose de 2,2 mg/kg de 24 em

24 horas durante 03 dias, como descrito por Morris (2000) e 15 ml de

oxitetraciclina13, na dose de 10 mg/kg, durante 05 dias, os dois aplicados pela via

intramuscular. Administrou-se a dose diária de dipropionato de imidocarb em uma

única aplicação. Importa mencionar que o animal apresentava 300 kg nesta fase

do tratamento.

Indica-se a utilização de oxitetraciclina no tratamento de babesiose, pois

esta geralmente está associada com doenças causadas por riquétsias, como a

erliquiose. A dose recomendada de oxietraciclina é de 7 mg/kg de 24 em 24 horas

durante 3 a 7 dias, via intravenosa (RIKIHISA, 2000; BROWN; BERTONE, 2002).

Desde o início do tratamento, o animal permaneceu estabulado, recebendo

feno e capim à vontade. Permitiu-se que o mesmo fizesse pequenas caminhadas

de 15 a 20 minutos de duração, diariamente.

Segundo descrito anteriormente, a utilização de acepromazina,

antiinflamatórios não-esteroidais ou corticosteróides poderiam ter sido úteis no

alívio da dor muscular.

Como citado na literatura por Hodgson (1987), Turner (1992), Byrne et al.

(2000); Harris e Mayhew (2000), um dos fatores predisponentes da rabdomiólise

de exercício é infecção bacteriana ou virótica, a qual causa danos à musculatura,

quando essa passa por uma injúria, sendo esta a possível causa predisponente

de rabdomiólise neste eqüino.

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4. CONCLUSÃO

A Medicina Veterinária nos oferece um vasto campo de atuação: clínica

médica e cirúrgica de pequenos e grandes animais, inspeção animal, animais

silvestres, produção animal, melhoramento genético.

Entre tantas áreas interessantíssimas, a que mais me agradou foi a

possibilidade de atuação com grandes animais, principalmente eqüinos. Uma vez

que esta área me fascinou desde o início do curso de graduação, não foi surpresa

a realização do estágio supervisionado curricular num meio aonde encontraria

preciosas oportunidades de conviver e aplicar os conhecimentos obtidos durante

toda a vida acadêmica.

No estágio tive a oportunidade de conviver com excelentes profissionais,

em breve colegas de profissão, e aprender mais sobre o dia-a-dia de um Médico

Veterinário.

Aprendi muito mais do que simplesmente aplicar a teoria à prática, mas

sim, a enfrentar os contratempos, os erros e acertos, e fazer o melhor possível

para obter bons resultados. Aprendi que acima de tudo, é preciso estudar sempre,

aperfeiçoando as técnicas, estando sempre em contato com a evolução dos

instrumentos e com o surgimento de novos tratamentos e fármacos, bem como

trabalhar com ética e seriedade para que possamos cumprir nossa missão da

melhor maneira e fazer cumprir as palavras do nosso juramento, visando o bem

estar humano e dos animais.

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5. FONTES DE AQUISIÇÕES

¹Dimesol® - Marcolab Laboratórios Ltda. Duque de Caxias – RJ, Brasil.

²Ketofen® - Merial Saúde Animal Ltda. Paulínia – SP, Brasil.

³Matabicheiras® - Cyanamid Química do Brasil Ltda. Paulínia – SP, Brasil.

4Nordiodine Degermante® - Cinord Sul Indústria e Comércio Ltda. Ribeirão Preto–

SP, Brasil.

5Iodo Tópico® - Pinus Indústria e Comércio Ltda – Jundiaí – SP, Brasil.

6Bactrovet® - Laboratórios König S.A. – Avellaneda, Argentina.

7Marcomplex® - Marcolab Laboratórios Ltda. Duque de Caxias – RJ, Brasil.

8Marcovit C® injetável - Marcolab Laboratórios Ltda. Duque de Caxias – RJ,

Brasil.

9Stimovit® - Coopers Brasil Ltda. São Paulo – SP, Brasil.

10TopCef ® - Eurofarma Laboratórios Ltda – Campo Belo – SP, Brasil.

11Kefalotin® - Instituto Biochimico Ltda. Itatiaia – RJ, Brasil.

12Imizol® - Coopers Brasil Ltda. São Paulo – SP, Brasil.

13Terramicina® / LA – Laboratórios Pfizer Ltda. Guarulhos – SP, Brasil.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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