Poemas selecionados para

o projeto

Maio / 2011

Cais Neste exato instante Penso em você Nos olhos que brilham Refletindo quem você é Nesse sorriso solto Perdido entre um suspiro e outro No caminhar certeiro Procurando o lugar, Visitando o espaço pra poder ancorar Neste fio de pensamento que une teu ser ao meu Encontro teu abraço Teu sorriso, teu olhar E na caminhada que faremos Seremos o porto, o cais e a nau! Sandra Laurita

MIGRAÇÃO As aves seguem seus instintos e sabem o momento exato para sua viagem. Minha voz interior levou-me a imitar as aves. Minha inquietação apresentou o meu destino e alcei o mais alto voo. Segui minha jornada e cheguei ao momento presente. Sou viajante solitária, busco a Paz e saber aceitar a Vida, onde quer que me encontre. Neida Rocha

Circunstâncias Precisamos de mais parágrafos felizes Dos amores que surgem do insuspeito Que venham de longe, de onde vaga o pensamento dissonante. Criaturas inteiras Que fujam dos recortes de jornais Que sejam vívidos, impávidos e colossos. Que saibam acordar e sorrir pela manhã. Feitos de sossego, Aurora e oportunidades Que antes de entrar limpem a sujeira da rua E que a alma seja leve feito nuvem Roupa de cama, Taça de vinho e disco de vinil. Que não virem Porta-retrato no espaço dos outros fatos vis. Que sejam brevemente demorados Sussurrando em falsetes outros versos... Jackeline Nawá

O lar No início, era o terreno Apenas um pedaço de chão, Num bairro belo e sereno Iniciava-se a construção. Paredes, janelas, telhado Tudo havia na composição De números tão calculados, Haveria a habitação Quando tudo pronto ficou A família pôde sorrir E o lar que tanto esperou Pode então os unir! A sala, cozinha e quartos Construídos com tanto labor Agora estavam tão fartos De muita emoção e amor! Fabiana Lange

Lua, minha, tua. Oh, lua que me inspiras, Brilho de menina. Olhar de gigante, Quando no céu, serena e cativante, Brilha para a solidão. E em meu humilde coração Já estás, lua. Totalmente nua. Para tão noite perfeita. O amor de esquina aproveita, Vossa imagem saudosa, Que em poesia ou em prosa Só faz inspirar. Oh lua, lindo luar. Como me admiro, Fortaleço-me, suspiro, Só com a simplicidade De estar junto à felicidade. A lua luar, A lua cantar, A lua dançar. Para três seres és lua, Para dois és serenata, Para um és quem dilata Um amor de solidão. És quem, com coesão Provoca textos de sentimento, Para todo o momento Se apaixonar, olhar, mergulhar Em sonho luar. Para tão sonhado infinito. Como apito De leveza, perseverança e calada, Ser simplesmente, eternamente amada. Viviana Borchardt

Cobiça Os olhos nas coisas alheias, Vontade de ter pra si Não vence por suas peleias, Mas mesmo assim quer subir... Querendo o que não é seu Esquece da própria vida Não sabe o que já perdeu Nesta triste sina doída. O mal do homem, a cobiça O desejo de tudo tomar, Se feito com muita justiça, Pode quem sabe ajudar. Então, meu caro amigo Cobice com inteligência, Dê valor ao que tem consigo, ou Vai sucumbir à própria demência. Fabiana Lange

25 Anos de Cores Belos contornos, natureza do vale, Líneas e curvas, combinando as cores, Unem talento, numa grande Família Abrindo caminho, conquistando horizontes, Pintando e entalhando, universal esperanto. Vocação, sina, traduzem sucesso, Imaginas e crias obras de grande talento. Necessidade que impacta, pelo uso do verbo Transpondo preconceitos, com abstratos traços Espiritualizando criações imortais ao tempo. Combinas poesias e imagens da alma, Imortal no talento, humilde tua casta Nunca desistas das obras do espírito Conquistadas no empenho e múltiplas formas Onipresente estás nos jardins e nas flores. Hugo Quintana

Novos Tempos É preciso medir as palavras mais do que nunca Medir sem parar, sem barrar Nem todos são culpados Por mim já teria gritado, teria pintado o rosto Ou até mesmo enviado flores a mim mesma Pra provar meu amor e minha dor Provar que ainda existem as cores E que a compaixão muito vezes é por si mesmo Nesses momentos é preciso correr E fazer o coração se sentir realmente vivo Pulsar cada gota de sangue freneticamente Como cavalos em largada, como corrida à liberdade E deixar para trás, terminar de ler o livro Olhar ao redor sem medo, mesmo estando na corda bamba É hora de abrir as janelas, sacudir o tapete E pintar o que está por fazer, colar pérolas, trançar colares E sorrir de verdade, se chorar, é para limpar a alma E não mais brincar de colar cacos ou guardar retalhos É sentir-se numa erupção evolutiva de si mesmo E quebrar paradigmas é não mais se importar com as horas Cada tempo é suficiente para nossa capacidade de aproveitar E não adianta mudar o tempo, não temos como alcançá-lo Jussara Ferreira

Dentro de tua alma navega o doce canto do pássaro que outrora habitava, solitário a imensidão iluminada das estrelas Espalhava sua doce melodia por entre planetas e meteoros e hoje descansa sua voz em cada batida de teu peito Pássaro rodeado de imensa cantoria Lucinda Costa

Não quero apenas que sejas amada como nunca ou que venhas a morrer de amores para viver Não quero que sintas minha alma falando contigo ou que leias o que ela te escreve todas as noites Quero dar-te muito mais do que amor quero que sintas a felicidade de amar que sintas o gosto do amor plantado pelo tempo regado com paixão e crescido com luz divina Quero que tenhas o prazer de sentir teu coração tocando tua garganta tuas mãos ficando frias e trêmulas e teu corpo querendo entregar - de ao meu Quero que sintas mais do que amor... que tenhas o prazer de traduzi-lo de entendê-lo e compreendê-lo quero que descubras os mistérios do amar Lucinda Costa

Revelação Hoje tirei meus sonhos da gaveta. Desembrulhei meus afetos. Rasguei minhas poucas mágoas. Congelei meus medos. Desarrumei as malas da tristeza. Joguei fora todas as lembranças. Respirei fundo e ... pude me tornar v-e-r-d-a-d-e-i-r-a-m-e-n-t-e quase eu mesmo! Revelar-se é uma aventura. Cadê eu? Diva F R Martinelli

QUERER Quero milhões de nostalgias em milhões de céus. Quero planar livre como as gaivotas no seu voo matinal. Quero a quietude que tonifica as imagens celestes traçadas à maneira de anjo. Quero voar como as gaivotas tão soltas, tão poetas. Harry Wiese

no meu mundo interno. no meu mundo interno vendem até santinhos de você; fabricam toalhas e quadros. Todos os tipos de souvenir. Até cerveja tem no seu nome. A marca mais vendida de café. Você, maior sucesso internacional. Ruca Souza

A Sala Retardo meus processos e minhas ideias. Mas sem parar. Retrato dela nos seus olhos. Num piscar. Reflexo. Ela ainda está ai. Elas ainda estão aqui, na minha sala, sob champanhe. dançando em música quente mentindo mente da minha mente As coisas existem fora do meu estúdio musical mas aqui dentro soa bem melhor Ruca Souza

Velho rosto Vou ficar assim a eternidade inteira. Assim meia, assim incompleta, assim inconstante. Quero abraçar meu destino e fazer dele uma rotina. O tic tac das horas será efêmero. O envelhecer...uma comédia atemporal. Olho meu rosto no espelho.. rugas? Não! Apenas sulcos de eternidade. Diva F. R. Martinelli

Abandonado Andando pela rua Achei um corpo vivo Uma verdade nua No mundo adormecido. Tinha ele olhos grandes, Mãos que pediam ajuda, O ventre esvaziado E uma face desnuda. Dei-lhe um copo d’água E ele recusou com jeito Parecia querer respeito. Pediu-me que o beijasse E que as formas de amor Eu nunca discriminasse. (06 de agosto de 1989). Valdeck Almeida de Jesus

Eternamente no paraíso Quando o homem respirou O universo inteiro se encantou A vida suscitou e emocionou. Estrelas no infinito negrito Tão bonito brilharam, Foi lindo, infindo, muito bem vindo. A morte tão forte Como ninguém suporte Mudou nossa eterna sorte. Ficamos expostos ao vento Amarelados pelo tempo Neste lindo planeta cheio de talento. A vida agora mortal Não está livre do mal Mas há uma Esperança perenal. O eterno Paraíso Será sempre um lindo sorriso, Um doce sobreaviso: De que a morte morrerá, A vida sobrepujará E o Paraíso eternizará. Odolivio da Silva

SEMPRE QUE INICIAMOS UM NOVO DIA Vou compor uma nova canção Que vai falar de amor Vou comprar um violão Que vai ser meu companheiro Quero fazer um refrão Vem comigo ver o nascer do sol Fazendo uma caminhada na praia Vem comigo ver o pôr do sol Fazendo uma cavalgada numa colina Vou falar de gente que ama Que chora e se emociona Que gosta de luar e estrelas E que não deseja pro seu próximo O que não quer pra si Paulo Roberto Wovst Leite

Após o esplendor Após feito o esplendor Trouxe a vida mais que isso Confiança no amor Puro e forte compromisso No jardim de nossas vidas Semeamos lindas flores Que tão belas e vividas Irradiam com suas cores Anjos querem vir também Iluminar o nosso lar Pro nosso amor ir mais além E todo sempre perdurar Deus nos guie com sua mão Hoje e sempre nessa vida E na hora da partida Seja eterna esta união Filhos, netos e parentes Sempre amigos de valor Todos guardem os presentes Que deixamos com amor. Ricardo Brandes

20 HERANÇAS 20 lembranças trago guardadas no calabouço do homem. Possibilidades de eu ser, visibilidades construídas, afagos cotidianos da palavra 20 lembranças trago em fortalezas como se joias fossem pedaços de gente esquecidos nas máquinas que constroem o consumo de hoje. Avestruzes vorazes da palavra. 20 lembranças deixo esquecidas porque constatações deixam feridas abertas no tempo cotidiano. Permissões para que vivamos mais, alvarás sem validade, invisível. 20 lembranças me são herdadas, em rolos de fumo na madrugada fria, conserto de máquinas e teares, costuras infinitas de sonhos, de carteiras secas, vazias. 20 homens desfilam heranças. Possibilidades articulares de tintas e sons. Infinidades de conjugações reinventadas. Tempo presente árido de rimas, beija-flores que não mais me visitam 20 heranças deixo aqui depositadas, Em urnas, espíritos de meu tempo sem sombra, sem amigos, sem colheitas, nem galpões abrigados. Sem sementes, terra irrigada, deus na contramão. As palavras destruídas, homens destituídos de si! Era assim. Rosane Magaly Martins

RESSURREIÇÃO Ficar pra sempre presa à laje Cimentada à lápide, frio da pele morta Gelo de pedra, úmido de chuva Do inverno antecipado Morte é gelada A terra é fria A morte cinza Enquanto ela me sorria de lábios colados Chorávamos tanto e quanto possível A morte não me falou do vazio que viver é Morte má, mazelas! Vieram quase todos e alguns outros E olhavam para o que não era ela checavam meu sofrimento Morto é frio Morrer não é descanso É um desespero só! Seu corpo foi baixado aos poucos Em menos de sete palmos Sem terra, sem hinos e salmos Na mão o celular para coisas urgentes Um cigarro para depois do orgasmo E nenhuma possibilidade de uso Flores que não dão cor, nem perfume Lágrimas que não significam vida Nem limpeza do tempo que passou Ela se foi Deixou a mim como herança, na esperança da ressurreição! Rosane Magaly Martins

A palavra A palavra bem pensada sussurada no discurso Tudo cala tudo encerra tudo serra tudo corta Corta asa corta o bico corta o rico corta o pobre A palavra sussurrada bem pensada é meu recurso Tuco Egg

Pedra Eu era pedra e ainda sou Eu era vidro eu era seda eu era cera cristal quem dera Eu era pedra e ainda sou Era menino era criança era esperança amor pudera Eu era pedra e ainda sou Eu era hoje seda e cristal criança e amor eu era e ainda sou Tuco Egg

Ela repetiu a letra de uma música (não acredito que inventou): apenas sei de um caminho para ser parte da tua paisagem e é aquele que vai fazendo o rio... Também não sirvo para cativo, admiti. Sejamos parte juntos. E somos sempre o mesmo, mas nunca igual. Como o rio. Gabriel Gómez

Anis-luz. Seus olhos espelhados na cor vista ao fundo d’água numa piscina plena de azul, vivencia: que são mais que reflexo, são fonte-luz. Cláudia I. Vetter

Lero-lero Larara Foi coberta de sangue Que te vi dançar Dançava diferente Esse seu jeito de me machucar Foi coberta da sua saliva Que me vi inventar Inventava tanta graça Que só me fez chorar Foi coberto de lero-lero Não sei o que lá Que corri não querendo Querendo só zoar! Ana Peres Batista

JOVEM A noite abre em sonhos Jovem criança! Jovem ancião! A alegria estampada no rosto! É a eterna juventude! A tarde cai em sorrisos Na sabedoria Dos sonhos Cultivados Alcançados Realizados com sucesso Na intrigante persistência Da perseverança Agradecendo essa força Divina Dispõe e compartilha A felicidade. Iris Schreiber

OS SENTIDOS DA MULHER Entre o silêncio e a verdade, A inquietude. Entre o olhar e a devoção, A complacência. Entre o toque e a súplica, A feminilidade. Entre a fala e a lágrima, A cumplicidade. Entre o perfume e a paixão, A plenitude. Entre o verbo e o adjetivo, Único substantivo feminino: Mulher. Fátima Venutti

CONTEMPLAÇÃO Trago meus medos no invólucro do tempo. A inércia me desafia a cada vento que esbarro. Transito ruas perdido em bocas-mudas procurando decifrar futuros sem forças pra me manter no presente. Transitório é o tempo. Instante perdido entre a metáfora e a fala. De porquês, quandos e ondes. Transitório é o respirar. Sou o poeta da contemplação do vazio. Do nada contido na esfera de um todo a tornar-se pó. Fátima Venutti

CENA INTERIOR A porta da igreja fechou para os fiéis. Na praça, o pipoqueiro estoura sonhos e vende-os em sacos de papel. Uma menina cruza, correndo, o tempo desenhado no chão em concreto preto e branco. Troca a moeda por um saquinho de sonhos e faz sua festa solitária no banco de madeira partida. A seus pés, uma revoada de pombos faz pose e aguarda migalhas. Tarde de domingo: sinos calados. Do outro lado da praça, a fome adormece em corpos encaixados sob a velha figueira. No céu, nuvens escurecem a paisagem avisando: mais um temporal. O pipoqueiro recolhe sua fonte de sustento. A menina espanta os pombos e ri um desejo escondido. A fome continua a sonhar com a igreja abrindo suas portas. Começa a chover na fonte central. A praça, de novo, vazia. Missa às 18hs. (Em Pouso Alegre/MG) Fátima Venutti