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PUBLICAÇÃO OFICIAL Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

VOLUME 228 ANO 24

OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO 2012

Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

Revista do Superior Tribunal de Justia - n. 1 (set. 1989) -. Braslia : STJ, 1989 -.Periodicidade varia: Mensal, do n. 1 (set. 1989) ao n. 202 (jun. 2006), Trimestral a partir do n. 203 (jul/ago/set. 2006).

Repositrio Ofi cial da Jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia. Nome do editor varia: Superior Tribunal de Justia/Editora Braslia Jurdica, set. 1989 a dez. 1998; Superior Tribunal de Justia/Editora Consulex Ltda, jan. 1999 a dez. 2003; Superior Tribunal de Justia/ Editora Braslia Jurdica, jan. 2004 a jun. 2006; Superior Tribunal de Justia, jul/ago/set 2006-.

Disponvel tambm em verso eletrnica a partir de 2009:

https://ww2.stj.jus.br/web/revista/eletronica/publicacao/?aplicacao=revista.eletronica.

ISSN 0103-4286.

1. Direito, Brasil. 2. Jurisprudncia, peridico, Brasil. I. Brasil. Superior Tribunal de Justia (STJ). II. Ttulo.

CDU 340.142 (81) (05)

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAGabinete do Ministro Diretor da Revista

DiretoraMinistra Nancy AndrighiChefe de GabineteMarcos Perdigo BernardesServidoresAndrea Dias de Castro CostaEloame AugustiGerson Prado da SilvaJacqueline Neiva de LimaMaria Anglica Neves SantAnaTcnico em SecretariadoFagno Monteiro AmorimMensageiroCristiano Augusto Rodrigues Santos

Superior Tribunal de Justiawww.stj.jus.br, [email protected] do Ministro Diretor da RevistaSetor de Administrao Federal Sul, Quadra 6, Lote 1, Bloco C, 2 Andar, Sala C-240, Braslia-DF, 70095-900Telefone (61) 3319-8003, Fax (61) 3319-8992

MINISTRA NANCY ANDRIGHI Diretora

Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

Resoluo n. 19/1995-STJ, art. 3.

RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, 1, e 23.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAPlenrio

Ministro Felix Fischer (Presidente)Ministro Gilson Langaro Dipp (Vice-Presidente)Ministro Ari PargendlerMinistra Eliana Calmon Alves (Diretora-Geral da ENFAM e Vice-Presidente em exerccio)Ministro Francisco Cndido de Melo Falco Neto (Corregedor Nacional de Justia)Ministra Ftima Nancy Andrighi (Diretora da Revista)Ministra Laurita Hilrio VazMinistro Joo Otvio de Noronha (Corregedor-Geral da Justia Federal)Ministro Jos de Castro MeiraMinistro Arnaldo Esteves LimaMinistro Humberto Eustquio Soares MartinsMinistra Maria Th ereza Rocha de Assis MouraMinistro Antonio Herman de Vasconcellos e BenjaminMinistro Napoleo Nunes Maia Filho Ministro Sidnei Agostinho BenetiMinistro Jorge MussiMinistro Geraldo Og Nicas Marques FernandesMinistro Luis Felipe SalomoMinistro Mauro Luiz Campbell MarquesMinistro Benedito GonalvesMinistro Raul Arajo FilhoMinistro Paulo de Tarso Vieira SanseverinoMinistra Maria Isabel Diniz Gallotti RodriguesMinistro Antonio Carlos FerreiraMinistro Ricardo Villas Bas CuevaMinistro Sebastio Alves dos Reis JniorMinistro Marco Aurlio Gastaldi BuzziMinistro Marco Aurlio Bellizze OliveiraMinistra Assusete Dumont Reis Magalhes

CORTE ESPECIAL (Sesses s 1 e 3 quartas-feiras do ms)

Ministro Felix Fischer (Presidente)Ministro Gilson Dipp (Vice-Presidente)Ministro Ari PargendlerMinistra Eliana Calmon (Vice-Presidente em exerccio)Ministro Francisco FalcoMinistra Nancy Andrighi Ministra Laurita VazMinistro Joo Otvio de NoronhaMinistro Castro MeiraMinistro Arnaldo Esteves LimaMinistro Humberto MartinsMinistra Maria Th ereza de Assis MouraMinistro Herman BenjaminMinistro Napoleo Nunes Maia FilhoMinistro Sidnei BenetiMinistro Jorge Mussi (Em substituio ao Ministro Gilson Dipp)

PRIMEIRA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms)

Ministro Castro Meira (Presidente)

PRIMEIRA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministro Arnaldo Esteves Lima (Presidente)Ministro Ari PargendlerMinistro Napoleo Nunes Maia FilhoMinistro Benedito Gonalves

SEGUNDA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministro Herman Benjamin (Presidente)Ministro Castro MeiraMinistro Humberto MartinsMinistro Mauro Campbell MarquesMinistra Diva Malerbi*

SEGUNDA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms)

Ministro Sidnei Beneti (Presidente)

TERCEIRA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministro Paulo de Tarso Sanseverino (Presidente)Ministra Nancy Andrighi Ministro Sidnei BenetiMinistro Villas Bas Cueva

QUARTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministro Luis Felipe Salomo (Presidente)Ministro Raul ArajoMinistra Isabel GallottiMinistro Antonio Carlos Ferreira Ministro Marco Buzzi

* Desembargadora convocada (TRF 3 Regio)

* Desembargador convocado (TJ-PR)** Desembargadora convocada (TJ-SE)*** Desembargadora convocada (TJ-PE)

TERCEIRA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms) Ministra Maria Th ereza de Assis Moura (Presidenta)

QUINTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministro Marco Aurlio Bellizze (Presidente)Ministra Laurita VazMinistro Jorge MussiMinistro Campos Marques*Ministra Marilza Maynard**

SEXTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

Ministro Og Fernandes (Presidente)Ministra Maria Th ereza de Assis MouraMinistro Sebastio Reis JniorMinistra Assusete MagalhesMinistra Alderita Ramos de Oliveira***

COMISSES PERMANENTES (*)

COMISSO DE COORDENAO

Ministro Joo Otvio de Noronha (Presidente)Ministro Castro MeiraMinistro Jorge Mussi

COMISSO DE DOCUMENTAO

Ministra Laurita Vaz (Presidenta)Ministro Sidnei Beneti Ministro Herman Benjamin (Suplente)

COMISSO DE REGIMENTO INTERNO

Ministra Nancy Andrighi (Presidenta)Ministro Napoleo Nunes Maia FilhoMinistro Og FernandesMinistro Humberto Martins (Suplente)

COMISSO DE JURISPRUDNCIA

Ministro Gilson Dipp (Presidente)Ministro Francisco FalcoMinistra Maria Th ereza de Assis MouraMinistro Luis Felipe SalomoMinistro Raul Arajo

* Dados atualizados at 17.12.2012

MEMBROS DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

Ministra Nancy Andrighi (Corregedora-Geral)Ministra Laurita Vaz (Efetivo)Ministro Castro Meira (1 Substituto)Ministro Arnaldo Esteves Lima (2 Substituto)

CONSELHO DA JUSTIA FEDERAL (Sesso 1 sexta-feira do ms)

Ministro Felix Fischer (Presidente)Ministro Gilson Dipp (Vice-Presidente)Ministro Joo Otvio de Noronha (Corregedor-Geral da Justia Federal)

Membros EfetivosMinistro Castro MeiraMinistro Arnaldo Esteves LimaJuiz Mrio Csar Ribeiro (TRF 1 Regio)Juza Maria Helena Cisne (TRF 2 Regio)Juiz Newton De Lucca (TRF 3 Regio)Juza Marga Inge Barth Tessler (TRF 4 Regio)Juiz Paulo Roberto de Oliveira Lima (TRF 5 Regio)

Membros SuplentesMinistro Humberto MartinsMinistra Maria Th ereza de Assis MouraMinistro Herman BenjaminJuiz Daniel Paes Ribeiro (TRF 1 Regio)Juiz Raldnio Costa (TRF 2 Regio)Juza Maria Salette Camargo Nascimento (TRF 3 Regio)Juiz Luiz Carlos de Castro Lugon (TRF 4 Regio)Juiz Rogrio Meneses Fialho Moreira (TRF 5 Regio)

SUMRIO

JURISPRUDNCIA

Corte Especial .............................................................................................................17

Primeira Seo .............................................................................................................97

Primeira Turma .........................................................................................................147

Segunda Turma .........................................................................................................205

Segunda Seo ...........................................................................................................265

Terceira Turma ..........................................................................................................343

Quarta Turma ............................................................................................................461

Terceira Seo ............................................................................................................559

Quinta Turma ............................................................................................................569

Sexta Turma ...............................................................................................................719

NDICE ANALTICO ........................................................................................................................................... 817

NDICE SISTEMTICO ...................................................................................................................................... 837

SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................................................................. 843

REPOSITRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA ............................................................................................................ 849

Jurisprudncia

Corte Especial

AGRAVO REGIMENTAL NA CARTA ROGATRIA N. 5.652-EX (2011/0033934-3)

Relator: Ministro Presidente do STJAgravante: Sergio Burello Jnior Advogado: Sandro Salazar Saraiva Jusrogante: Juzo de Instruo Criminal Entidade de Instruo do Canto

de Schwyz Agravado: Engedraulica Comrcio e Reparos Hidrulicos Ltda. Agravado: Labodiesel Advogado: Sandro Salazar Saraiva Parte: Anton Schmid e outros

EMENTA

Agravo regimental na carta rogatria. Exequatur. Hipteses de concesso. Ausncia de ofensa soberania nacional ou ordem pblica. Observncia dos requisitos da Resoluo n. 9/2005-STJ. Exame de mrito. Impossibilidade. Competncia da Justia rogante. Agravo regimental desprovido.

No sendo hiptese de ofensa soberania nacional, ordem pblica ou de inobservncia dos requisitos da Resoluo n. 9/2005, cabe apenas a este e. Superior Tribunal de Justia emitir juzo meramente delibatrio acerca da concesso do exequatur nas cartas rogatrias, sendo competncia da Justia rogante a anlise de eventuais alegaes relacionadas ao mrito da causa.

Agravo regimental desprovido.

ACRDO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Joo Otvio de Noronha, Teori Albino Zavascki, Castro Meira, Arnaldo Esteves Lima, Massami Uyeda, Humberto

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Sidnei Beneti, Jorge Mussi e Raul Arajo votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Ari Pargendler, Gilson Dipp, Eliana Calmon, Francisco Falco, Nancy Andrighi e Herman Benjamin.

Convocados os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Jorge Mussi e Raul Arajo. Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz. Braslia (DF), 19 de setembro de 2012 (data do julgamento).Ministra Laurita Vaz, PresidenteMinistro Felix Fischer, Relator

DJe 2.10.2012

RELATRIO

O Sr. Ministro Felix Fischer: Trata-se de agravo regimental interposto por Sergio Burello Jnior, em face de r. deciso que concedeu parcialmente o exequatur pelos seguintes fundamentos:

1. O Juzo de Instruo Criminal, Entidade de Instruo do Canto de Schwyz, Confederao Sua, solicita, mediante carta rogatria, a inquirio de Srgio Burello Jnior, bem como, a notifi cao dos representantes legais de Engedrulica Comrcio e Reparos Hidrulicos Ltda. e Labodiesel para que prestem informaes a fi m de instruir processo que tramita perante a Justia Rogante, conforme traduo do texto rogatrio.

Intimados previamente (fl. 61), Srgio Burello Jnior apresentou impugnao carta rogatria, sustentando que no possui qualquer envolvimento relevante com o suposto fatdico sub judice (fl . 136); Engedrulica Comrcio e Reparos Hidrulicos Ltda. e Labodiesel prestaram as informaes solicitadas.

O Ministrio Pblico Federal opinou pela concesso parcial da ordem para (a) devoluo origem das informaes prestadas pelas empresas Engedrulica e Labodiesel; (b) inquirio de Srgio Burello Jr., em audincia judicial, como solicitado pela Justia Rogante (fl . 148).

2. Segundo o artigo 9 da Resoluo n. 9/2005 deste Tribunal, a defesa somente poder versar sobre a autenticidade dos documentos, inteligncia da deciso e observncia dos requisitos desta Resoluo.

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

RSTJ, a. 24, (228): 17-95, outubro/dezembro 2012 21

No caso dos autos, os argumentos apresentados visam demonstrar a improcedncia da ao e devero ser analisados pela Justia estrangeira, pois na concesso do exequatur no cabe examinar o mrito da causa a ser decidida no exterior (cf. Embargos da CR n. 4.340, Relator Ministro Moreira Alves, publicados no DJ de 16.5.1986).

Por fi m, o objeto desta carta rogatria no atenta contra a soberania nacional nem a contra ordem pblica.

Concedo parcialmente o exequatur para a inquirio de Srgio Burello Jnior, nos termos do parecer ministerial (art. 2, Resoluo n. 9/2005 deste Tribunal).

Remeta-se a comisso Seo Judiciria da Justia Federal no Estado de So Paulo para as providncias cabveis.

Em razo da juntada aos autos dos dados solicitados das demais interessadas, considero parcialmente cumprida a rogatria.

Aps o trnsito em julgado, devolvam-se os autos Justia rogante por intermdio do Ministrio Pblico Federal, autoridade central para o caso (artigo 14 da mencionada resoluo). (fl s. 150-151).

Em suas razes, alega o agravante, em sntese, que (...) no possui qualquer envolvimento relevante com o suposto fatdico sob judice, excetuando-se pelo fato do mesmo de ter sido uma quase vtima de um grande golpe (fl . 165).

E mais, que no (...) h suporte probatrio mnimo ou indcios verossmeis que fundamente a CR, tampouco que justifi quem sua remessa a Justia Federal para submeter o agravante a instruo criminal (fl . 166).

Ao fi nal, requer seja denegado o exequatur.Incitado a se manifestar, o Ministrio Pblico Federal alega que o juzo

delibatrio do exequatur no se presta para exame de mrito e opina, com efeito, pelo desprovimento do presente recurso para que seja realizada audincia de inquirio do agravante (fl . 174).

o relatrio.

VOTO

O Sr. Ministro Felix Fischer (Relator): A deciso agravada deve ser mantida pelos seus prprios fundamentos.

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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No exerccio de sua competncia constitucional, visando dar efeito a um dos mais importantes instrumentos de cooperao jurdica internacional, este e. Superior Tribunal de Justia no conceder exequatur s cartas rogatrias na hiptese de ofensa soberania nacional e ordem pblica ou, ainda, se inobservados os requisitos da Resoluo n. 9/2005, que trata da matria.

Seu mister diz respeito apenas emisso de um juzo meramente delibatrio, acerca das condies de execuo das cartas rogatrias, situao que se verifi ca in casu.

De outra parte, questes de mrito, se porventura alegadas, somente devem ser examinadas na Justia Estrangeira do Estado rogante.

A propsito, cito, nesse sentido, os seguintes precedentes desta e. Corte Superior:

Carta rogatria. Agravo regimental. Citao. Aplicao dos arts. 214, 1, do Cdigo de Processo Civil e 13, 3, da Resoluo n. 9 de 2005 deste Tribunal. Precedentes desta Corte. Mrito da ao ajuizada no exterior. Remessa anlise da Justia rogante. Nos termos da jurisprudncia desta Corte, dispensvel a remessa da carta rogatria Justia Federal aps a concesso do exequatur, quando a parte interessada considerada citada em razo do comparecimento aos autos para apresentar impugnao. Questes referentes ao mrito da ao ajuizada no exterior devem ser remetidas anlise da Justia rogante, tendo em vista o juzo meramente delibatrio exercido por este Tribunal no cumprimento das rogatrias.

Agravo regimental improvido.

(AgRg na Carta Rogatria n. 5.263-AR, Corte Especial, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe 6.6.2012).

Carta rogatria. Agravo regimental. Autenticidade dos documentos. Questes de mrito. Anlise pela Justia rogante. Competncia relativa. Diligncia rogada. Citao. Alegada ofensa ordem pblica e soberania nacional. Inocorrncia.

A comisso tramitou por meio da autoridade central brasileira, o que confere autenticidade aos documentos que acompanham o pedido rogatrio.

No compete a esta Corte analisar o mrito de causa a ser decidida no exterior. Deve verifi car, apenas, se a diligncia solicitada no ofende a soberania nacional ou a ordem pblica e se foram observados os requisitos da Resoluo n. 9/2005 deste Tribunal.

Tratando-se de matria subsumida na previso do art. 88 do Cdigo de Processo Civil, a competncia da autoridade judiciria brasileira relativa, e o conhecimento das aes concorrente entre as Jurisdies nacional e estrangeira.

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

RSTJ, a. 24, (228): 17-95, outubro/dezembro 2012 23

A prtica de ato de comunicao processual plenamente admissvel em carta rogatria. A simples citao no afronta a ordem pblica ou a soberania nacional, pois objetiva dar conhecimento da ao ajuizada no exterior e permitir a apresentao de defesa.

Agravo regimental improvido.

(AgRg na Carta Rogatria n. 2.497-US, Corte Especial, Rel. Min. Barros Monteiro, DJe 10.12.2007).

Outrossim, no era diverso o entendimento do e. Supremo Tribunal Federal quando detinha competncia para a concesso de exequatur s cartas rogatrias, antes da entrada em vigor da Emenda Constitucional n. 45/2004. Confi ra-se:

Agravo regimental em carta rogatria. Exame de mrito. Competncia da Justia Estrangeira. Citao. Efeitos. Ofensa soberania nacional ou ordem pblica. Inocorrncia. 1. Questes pertinentes ao mrito da carta rogatria. Impossibilidade de anlise. Matria de exame apenas no mbito da Justia rogante. 2. O mero procedimento citatrio no produz qualquer efeito atentatrio soberania nacional ou ordem pblica, apenas possibilita o conhecimento da ao que tramita perante a Justia aliengena e faculta a apresentao de defesa. Agravo regimental a que se nega provimento.

(Carta Rogatria n. 10.849 AgR-EU, Tribunal Pleno, Rel. Min. Maurcio Corra, DJ 21.5.2004).

Com essas consideraes, nego provimento ao agravo regimental. o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSO DE LIMINAR E DE SENTENA N. 1.570-RS (2012/0090654-0)

Relator: Ministro Presidente do STJAgravante: Unio Agravado: Carlos Volnei Josende Nemitz Advogado: Diana Amorim Lorenzatto e outro(s)Requerido: Tribunal Regional Federal da 4a Regio Interessado: Municpio de Porto Alegre

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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Advogado: Critiane da Costa Nery Interessado: Estado do Rio Grande do Sul Advogado: Caroline Said Dias Interessado: Luiz Dorneles Jacoboski Advogado: Luiz Carlos Buchain

EMENTA

Pedido de suspenso de liminar. Bloqueio de valores. Continuidade de tratamento de sade. Inexistncia de grave leso aos interesses tutelados pela Lei n. 8.437, de 1992. No h Jurisdio sem efetividade (o Judicirio intil acaso no tiver fora para fazer cumprir suas decises). Se a Advocacia-Geral da Unio, que a interface da Administrao Pblica com o Poder Judicirio, no tem meios para fazer cumprir um acrdo proferido por Tribunal Regional Federal, nem prope uma alternativa de soluo (v.g., indicando uma conta do Tesouro Nacional com recursos disponveis), deve ela responder com o seu oramento pelo desvio de conduta da entidade que representa em Juzo. Agravo regimental no provido.

ACRDO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Teori Albino Zavascki, Castro Meira, Arnaldo Esteves Lima, Maria Th ereza de Assis Moura e Nancy Andrighi, que ressalvou seu voto, votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Felix Fischer, Eliana Calmon, Francisco Falco, Joo Otvio de Noronha, Massami Uyeda e Humberto Martins. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Gilson Dipp.

Braslia (DF), 14 de junho de 2012 (data do julgamento).Ministro Gilson Dipp, PresidenteMinistro Ari Pargendler, Relator

DJe 6.8.2012

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

RSTJ, a. 24, (228): 17-95, outubro/dezembro 2012 25

RELATRIO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: O agravo regimental ataca a seguinte deciso:

1. Os autos do conta de que Carlos Volnei Josende Nemitz ajuizou ao constitutiva de obrigao de dar contra a Unio e outros (fl . 46-68).

O MM. Juiz da 4 Vara Federal Substituto de Porto Alegre, RS, Dr. Jurandi Borges Pinheiro julgou o pedido procedente para determinar que forneam tanto a Unio como o Estado do Rio Grande do Sul e o Municpio de Novo Hamburgo, ao autor, o medicamento arrolado sob o item c dos pedidos da exordial (fl . 74).

Mantida a sentena pelo Tribunal Regional Federal da 4 Regio, relator o Juiz Jorge Antnio Maurique (fl . 99-110), a Unio interps recursos especial (fl . 111-133) e extraordinrio (fl . 134-155) - ambos sobrestados pelo Vice-Presidente daquele Tribunal (fl . 159 e 160).

vista da notcia de descumprimento da ordem judicial (fl . 173-174), o Vice-Presidente do Tribunal Regional Federal da 4 Regio proferiu a seguinte deciso:

Conforme j abordei em deciso anterior, e tal situao no foi revertida at o momento, constata-se que o medicamento a que faz jus a parte autora foi fornecido apenas at o ms de outubro de 2011 (fl . 537). Desde ento, o autor busca ver implementada a determinao judicial no que se refere s prximas doses, porquanto necessita de tratamento contnuo, sem obter xito.

A Unio j foi intimada a restabelecer o fornecimento da medicao, impondo-se multa diria de R$ 50,00 (cinquenta reais), e, ato contnuo, a multa restou majorada.

Em todas as manifestaes acostadas, a Unio limita-se a informar que dar prosseguimento ao procedimento de compra e que est em vias de fornecer o medicamento, sem dar efetividade garantia assegurada judicialmente ao demandante.

Na deciso da fl. 557 determinei a juntada de trs oramentos que demonstrassem o custo do medicamente, de forma a permitir o bloqueio da verba necessria ao tratamento do autor.

A parte autora acostou os documentos s fl s. 560-563.Analisando os oramentos, verifi ca-se que o tratamento de menor custo

importa em R$ 41.585,94 (quarenta e um mil, quinhentos e oitenta e cinco reais e noventa e quatro centavos).

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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Destarte, determino o bloqueio de R$ 41.585,94 (quarenta e um mil, quinhentos e oitenta e cinco reais e noventa e quatro centavos), diretamente da Unio (AGU - CNPJ n. 26994558/0001-23).

Encaminhe-se esta deciso Vara de origem para cumprimento, bem como para que, efetuado o bloqueio, sejam os valores imediatamente liberados parte autora, que dever prestar contas da importncia recebida, no prazo de 10 (dez) dias.

Por fi m, ressalto que, acaso a Unio cumpra espontaneamente a medida antes de ser liberada a importncia acima referida, ficar sem efeito a determinao de bloqueio (fl . 198-199).

2. Com causa de pedir semelhante, Luiz Dorneles Jacoboski ajuizou ao constitutiva de obrigao de fazer contra a Unio (fl . 566-578), a qual teve o mesmo desfecho: julgado procedente o pedido (fl . 614-626) e mantida a sentena, quanto ao fornecimento da medicao, pelo Tribunal Regional Federal da 4 Regio (fl . 627-638 e 651-657), os recursos especial e extraordinrio esto sobrestados naquele Tribunal. Noticiado o descumprimento da obrigao, o Vice-Presidente do Tribunal a quo determinou o bloqueio de R$ 45.246,00 (quarenta e cinco mil, duzentos e quarenta e seis reais) - fl . 792-793 e 807.

3. Seguiu-se o presente pedido de suspenso de liminar ajuizado pela Unio, alegando grave leso ordem pblica, bem como fl agrante ilegitimidade (fl . 01-09).

A teor da petio:Ao se prever que as verbas do rgo de representao judicial da Unio,

no mbito de defesa de seus trs Poderes, acabem por estar vinculadas ao cumprimento de decises judiciais que devem ser efetivadas por outro rgo, qual seja, o Ministrio da Sade, representa clara invaso ao processo de elaborao de lei oramentria, pelo Judicirio.

Isso porque a deciso acaba por determinar que a Unio transfi ra recursos de uma categoria de programao para outra ou de um rgo para outro sem prvia autorizao legislativa, o que vedado pela Constituio da Repblica (art. 167, inciso VI, da CRFB), e ocasiona um desequilbrio fi scal, ofendendo assim a ordem poltico-administrativa. ler:

(...)Percebe-se, assim, que a deciso vem afrontar diametralmente a lei

oramentria anual, Lei n. 12.595, de 19.1.2012, que veio estimar a receita da

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

RSTJ, a. 24, (228): 17-95, outubro/dezembro 2012 27

Unio para o exerccio fi nanceiro de 2012, distribuindo-a entre os seus poderes e rgos, alm de representar, por via transversa, uma velada forma de enfraquecer a defesa da Unio.

No se pode perder de vista que a Advocacia-Geral da Unio, nos termos do art. 131 da Constituio Federal, vem ser a instituio que, direta ou atravs de rgo vinculado, representa a Unio, judicial e extrajudicialmente, no mbito de seus trs Poderes, Executivo, Legislativo e Judicirio. Assim, vincular o oramento do rgo de representao judicial para cumprimento das obrigaes de seus representados revela procedimento, no mnimo, incorreto e enfraquecedor da advocacia pblica e, por consequncia, de um dos pilares do Estado Democrtico de Direito.

(...)Percebe-se que, de forma diferente, mas com finalidade anloga, a

deciso do TRF - 4 Regio extrapola os limites da legalidade e transgride as prerrogativas dos membros da Advocacia-Geral da Unio. O desempenho das atividades profi ssionais sob preceitos ticos pelos integrantes da Advocacia-Geral da Unio no pode ser maculado por medidas coercitivas, indevidamente aplicadas por juzes, o que no implica que a Unio se esquive de suas obrigaes legais e constitucionais.

Contudo, mesmo que no seja esse o entendimento a ser adotado, frontal seria a leso, j mencionada, norma disciplinada pelo art. 167, inciso VI, da Constituio; isso porque a deciso acaba por determinar que a Unio transfi ra recursos de um rgo para outro sem prvia autorizao legislativa, Advocacia-Geral da Unio para o Ministrio da Sade. Do contrrio, por ser rgo da Unio, at mesmo o oramento do prprio Tribunal poderia ser bloqueado, o que at se mostraria, adotando-se um raciocnio pragmtico, mas efetivo, diante da agilidade no cumprimento, do que as verbas da prpria Advocacia-Geral da Unio (fl . 04-08).

4. No h jurisdio sem efetividade; em outras palavras, o Judicirio intil se no tem fora para fazer cumprir suas decises.

A situao sub judice emblemtica. Duas sentenas, confirmadas por Tribunal Regional Federal, com

recursos especial e extraordinrio sobrestados espera de pronunciamento do Supremo Tribunal Federal a respeito do direito sade, so objeto de extrema desconsiderao por rgos da Unio, com prejuzo aos autores da ao que necessitam dos medicamentos que lhes so sonegados.

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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Quid?Aparentemente tem razo a Advocacia-Geral da Unio quando afi rma

que responsvel pela representao judicial dos trs Poderes do Estado, no podendo suas verbas ser sequestradas para atender necessidades a cargo de outros rgos, na espcie o Ministrio da Sade.

Acontece que, nas palavras do Vice-Presidente do Tribunal Regional Federal da 4 Regio, Juiz Luiz Carlos de Castro Lugon,

Determinado o bloqueio da importncia necessria continuidade do tratamento da parte recorrida (fl . 498), a magistrada a quo noticia no ter logrado xito na diligncia, porquanto ausente qualquer valor nas contas bancrias do Ministrio da Sade e do Fundo Nacional da Sade (fl . 807).

A suspenso dos efeitos de tal deciso que, ante esse fato surpreendente, procurou executar o acrdo de um modo possvel implicaria o reconhecimento de que o Poder Executivo s cumpre os ditames do Judicirio quando quer, e - mais do que isso - que o Judicirio, na pessoa do Presidente do Superior Tribunal de Justia, est de acordo com isso.

O apelo ao Poder Judicirio para reparar leso a direito individual ineliminvel nos termos da Constituio, e o juiz fraudar sua misso se no ouvi-lo; a tanto se assimila o procedimento de quem reconhece o direito individual, mas se omite de dar-lhe efetividade.

Outra seria a soluo, se a Advocacia-Geral da Unio induzisse o Ministrio da Sade a cumprir o julgado ou - quando menos - se indicasse outro meio de alcanar esse resultado.

Indefi ro, por isso, o pedido (fl . 817-821).A teor do recurso:O que pretende a Unio com o presente recurso que, resolvida a situao

do paciente no caso concreto, inclusive, para um dos pacientes, j tendo sido cumprida a deciso antes de apresentao da suspenso, no transformar em rotina medidas como tais adotadas pelo TRF - 4 Regio, no sentido de retirar da Advocacia-Geral da Unio as verbas para cumprimento de obrigaes a serem observadas por seus diversos rgos.

Frise-se, ademais, que as verbas para cumprimento da obrigao saram do Ministrio da Sade, a quem cabia a sua observncia.

(...)

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

RSTJ, a. 24, (228): 17-95, outubro/dezembro 2012 29

Contudo, em que pese a nobre preocupao do Judicirio com o cumprimento da obrigao, o ativismo no pode ser aquele que desrespeite os limites estabelecidos para os Poderes, e nem contrarie princpios e normas previstos expressamente na Constituio.

A deciso que se visa suspender, de uma forma exemplifi cativa e alegrica, equivaleria responsabilizao fi nanceira de um escritrio de advocacia cujos advogados integrantes estivessem munidos dos poderes de representao judicial de um devedor que, a princpio, se mostrasse insolvente.

(...)Ao se prever que as verbas do rgo de representao judicial da Unio,

no mbito de defesa de seus trs Poderes, acabem por estar vinculadas ao cumprimento de decises judiciais que devem ser efetivadas por outro rgo, qual seja, o Ministrio da Sade, representa clara invaso ao processo de elaborao da lei oramentria, pelo Judicirio.

Isso porque a deciso acaba por determinar que a Unio transfi ra recursos de uma categoria de programao para outra ou de um rgo para outro sem prvia autorizao legislativa, o que vedado pela Constituio da Repblica (art. 167, inciso VI, da CRFB), e ocasiona um desequilbrio fi scal, ofendendo assim a ordem poltico-administrativa (fl . 832-835).

VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): A motivao da deciso agravada subsiste, no obstante as razes do agravo regimental, que deixaram de enfrentar a resistncia ao cumprimento de uma ordem judicial.

Se a Advocacia-Geral da Unio, que a interface da Administrao Pblica com o Poder Judicirio, no tem meios para fazer cumprir um acrdo proferido por Tribunal Regional Federal, nem prope uma alternativa de soluo (v.g., indicando uma conta do Tesouro Nacional com recursos disponveis), deve ela responder com o seu oramento pelo desvio de conduta da entidade que representa em Juzo.

O que mais poderia ser feito, se ausente qualquer valor nas contas bancrias do Ministrio da Sade e do Fundo Nacional da Sade (fl . 807)?

Voto, por isso, no sentido de negar provimento ao agravo regimental.

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSO DE LIMINAR E DE SENTENA N. 1.630-PA (2012/0161048-1)

Relator: Ministro Presidente do STJAgravante: Lourival Fernandes de Lima Advogados: Chryssie Cavalcante e outro(s)

Sabato Giovani Megale Rossetti e outro(s)Agravado: Ministrio Pblico do Estado do Par Requerido: Desembargador Relator da Suspenso de Liminar n.

201.230.139.300 do Tribunal de Justia do Estado do Par

EMENTA

Agravo regimental na suspenso de liminar e de sentena. Grave leso ordem pblica. Afastamento. Prefeito. Agravo regimental desprovido.

I - A jurisprudncia da Corte Especial e a do c. Supremo Tribunal Federal tm admitido que prefeito afastado do cargo por deciso judicial pode formular pedido de suspenso de liminar e de sentena alegando grave leso ordem pblica (v.g. STJ, AgRg na SLS n. 876-RN, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJe de 10.11.2008. STF, SS n. 444 AgR-MT, Tribunal Pleno, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ de 4.9.1992, e Pet n. 2.225 AgR-GO, Tribunal Pleno, Rel. p/ acrdo Min. Seplveda Pertence, DJ de 12.4.2002).

II - In casu, o requerente, prefeito municipal, foi afastado cautelarmente do cargo, mediante deciso do juzo a quo, por interferir concretamente na instruo processual valendo-se de funcionrios do municpio para esconder provas e ocultar vestgios acerca de supostos atos de improbidade a ele atribudos.

III - Consoante a jurisprudncia deste Tribunal, no se confi gura excessivo o afastamento cautelar de prefeito municipal pelo perodo de 90 dias, ainda que o afastamento do agente pblico seja anterior deciso proferida no mbito desta Corte.

Agravo regimental desprovido.

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

RSTJ, a. 24, (228): 17-95, outubro/dezembro 2012 31

ACRDO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Joo Otvio de Noronha, Teori Albino Zavascki, Castro Meira, Arnaldo Esteves Lima, Massami Uyeda, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Sidnei Beneti, Jorge Mussi e Raul Arajo votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Ari Pargendler, Gilson Dipp, Eliana Calmon, Francisco Falco e Nancy Andrighi.

Convocados os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Jorge Mussi e Raul Arajo. Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz. Braslia (DF), 19 de setembro de 2012 (data do julgamento).Ministra Laurita Vaz, PresidenteMinistro Felix Fischer, Relator

DJe 2.10.2012

RELATRIO

O Sr. Ministro Felix Fischer: Trata-se de agravo regimental interposto por Lourival Fernandes de Lima contra decisum proferido pelo ento Presidente desta Corte Superior, Min. Ari Pargendler, assim fundamentado:

(...)

3. A suspenso de medida liminar ou de sentena exige um juzo poltico a respeito dos valores jurdicos tutelados pela Lei n. 8.437, de 1992, no seu art. 4: ordem, sade, segurana e economia pblica.

Aqui, a deciso cuja execuo se busca suspender determinou o afastamento cautelar de Lourival Fernandes de Lima do cargo de prefeito do Municpio Santa Luzia do Par enquanto durar a instruo processual (fl . 131).

O art. 20, pargrafo nico, da Lei n. 8.429, de 1992, estabelece o seguinte:

Art. 20. A perda da funo pblica e a suspenso dos direitos polticos s se efetivam com o trnsito em julgado da sentena condenatria.

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Pargrafo nico. A autoridade judicial ou administrativa competente poder determinar o afastamento do agente pblico do exerccio do cargo, emprego ou funo, sem prejuzo da remunerao, quando a medida se fi zer necessria instruo processual (o sublinhado no do texto original).

A norma supe prova sufi ciente de que o agente pblico possa difi cultar a instruo processual, e sua aplicao deve ser ainda mais estrita quando se trata de afastamento de titular de mandato eletivo, considerada a temporariedade do cargo e a natural demora na instruo da ao. Desprovido de fundamento, o afastamento pode constituir uma indevida interferncia do Poder Judicirio, causando instabilidade poltica.

Na espcie, a medida est assim fundamentada:

(...) o requerido Lourival Fernandes de Lima, utilizando-se de seu cargo e de seu poder hierrquico sobre servidores de sua confi ana, vem buscando ocultar provas e esconder vestgios acerca de supostos atos de improbidade a si atribudos, pois, durante a diligncia de busca e apreenso por mim deferida, foi encontrado na residncia do requerido Jos Raimundo Nascimento Oliveira o procedimento licitatrio referente ao matadouro municipal, o que comprova que a omisso do requerido em no apresentar os documentos solicitados pelo Ministrio Pblico dolosa e visa obstruir a produo de provas, valendo-se o demandado de funcionrios de municpio, seja para esconderem em suas residncias documentos pblicos, seja para registrarem ocorrncias policiais dando conta do desaparecimento de documentos, tudo, repita-se, com o fi m de obstruir as investigaes que pesam contra si (fl . 96).

H, portanto, elemento concreto a justifi car o afastamento do requerente do cargo de Prefeito de do Municpio Santa Luzia do Par. Nessa linha, a deciso judicial deve produzir seus efeitos, com um temperamento. A instruo da ao de improbidade administrativa precisa ter um prazo razovel, para evitar que a durao do processo constitua, por si s, uma penalidade.

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justia tem limitado a 180 (cento e oitenta) dias o prazo de afastamento de agente poltico do exerccio de suas funes. Na espcie, esse prazo consumiria o restante do mandato eletivo do Requerente, e por isso deve ser reduzido pela metade.

Defi ro, por isso, em parte, o pedido apenas para limitar os efeitos da deciso que determinou o afastamento de Lourival Fernandes de Lima do cargo de prefeito do Municpio Santa Luzia do Par at 90 (noventa) dias contados da presente data.

Comunique-se, com urgncia.

Intimem-se. (fl s. 416-418).

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

RSTJ, a. 24, (228): 17-95, outubro/dezembro 2012 33

Em suas razes, sustenta o agravante que requereu nesta Corte o seu retorno ao cargo de Prefeito Municipal de Santa Luzia do Par em decorrncia da inexistncia de prazo determinado de durao do afastamento que lhe fora imposto pelo juzo de 1 instncia, de modo a confi gurar uma inequvoca e inaceitvel cassao branca do mandato eletivo (fl . 462).

Aduz que o Presidente desta Corte reconheceu a existncia de elemento concreto a justifi car o afastamento do Requerente do cargo de Prefeito do Municpio de Santa Luzia do Par (fl . 462), determinando a limitao do perodo de afastamento do cargo at 90 dias contados da data da deciso por ele proferida em 14.8.2012.

Entende o agravante, assim, que, da forma como consignado na deciso agravada, o perodo de afastamento a ele imposto seria, na verdade, de 270 dias, e somente terminaria em 14.11.2012, uma vez que j se encontra afastado desde 27.2.2012.

Desse modo, alega que no h razo alguma para que o prazo de 90 (noventa) dias seja contado da data da deciso agravada, qual seja, 14 de agosto de 2012 (fl . 464), entendendo que o marco inicial consagrado para o cmputo do prazo de 180 dias a data da deciso de afastamento (fl . 465).

Requer, ao fi nal, que o perodo de 90 dias estabelecido na deciso objurgada seja contado no da data em que proferida (14.8.2012), mas da data do seu afastamento inicial, que se deu em 27.2.2012.

o relatrio.

VOTO

O Sr. Ministro Felix Fischer (Relator): O Superior Tribunal de Justia, seguindo entendimento propugnado pelo c. Supremo Tribunal Federal (v.g. SS n. 444 AgR-MT, Tribunal Pleno, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ de 4.9.1992 e Pet n. 2.225 AgR-GO, Tribunal Pleno, Rel. p/ acrdo Min. Seplveda Pertence, DJ de 12.4.2002), tem reconhecido a legitimidade de prefeito municipal afastado do cargo por deciso judicial para formular pedido de suspenso nesta Corte Superior, quando a deciso objeto do requerimento excepcional puder provocar grave leso a algum dos interesses tutelados pela Lei n. 8.437/1992, quais sejam, ordem, sade, segurana e economia pblicas.

Cito, nesse sentido, precedente:

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Afastamento cautelar de agente poltico. Pedido de suspenso. Legitimidade ativa.

- O agente poltico tem legitimidade ativa para ajuizar pedido de suspenso visando subtrair efi ccia da deciso judicial que o afastou do cargo.

(...)

(AgRg na SLS n. 876-RN, Corte Especial, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJe de 10.11.2008).

Por outro lado, a jurisprudncia mais recente da Corte Especial tem permitido, em carter excepcional, a manuteno de afastamento cautelar de prefeito municipal, determinado por juiz de primeiro grau, quando, mediante fatos incontroversos, existir prova sufi ciente de que o alcaide esteja difi cultando a instruo processual em curso de ao de improbidade administrativa (v.g. AgRg na SLS n. 1.382-CE, Corte Especial, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe de 23.9.2011).

O fundamento legal para o afastamento cautelar de agente pblico em sede de ao de improbidade administrativa est previsto no art. 20, pargrafo nico, da Lei n. 8.429/1992, que assim dispe:

Art. 20. A perda da funo pblica e a suspenso dos direitos polticos s se efetivam com o trnsito em julgado da sentena condenatria.

Pargrafo nico. A autoridade judicial ou administrativa competente poder determinar o afastamento do agente pblico do exerccio do cargo, emprego ou funo, sem prejuzo da remunerao, quando a medida se fi zer necessria instruo processual. (Grifos acrescidos).

Referida norma, contudo, deve ser interpretada com temperamentos quando se refere ao afastamento de prefeito municipal, uma vez que se volta contra agente munido de mandato eletivo. Por essa razo, a deciso judicial que determina o afastamento de alcaide deve estar devidamente fundamentada, sob pena de se constituir em indevida interferncia do Poder Judicirio no Executivo.

In casu, consoante o r. decisum proferido pelo juzo de primeiro grau, est sufi cientemente fundamentado o afastamento do prefeito municipal, porquanto, no curso de investigaes realizadas no mbito de ao de improbidade administrativa, o agente pblico estava interferindo indevidamente na instruo processual, valendo-se de funcionrios do municpio para esconder provas e ocultar vestgios acerca de supostos atos de improbidade a ele atribudos, de modo que se mostra razovel a medida adotada pelo magistrado.

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

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A propsito, cito trecho da r. deciso que se busca suspender:

Com relao ao fumus boni iuris, observo que resta demonstrado nos presentes autos, ante a comprovao pelo Ministrio Pblico, na exordial, de que o Municpio, por intermdio do requerido Lourival Fernandes de Lima, recebeu R$ 196.000 (cento e noventa e seis mil reais) do Estado do Par, alm de R$ 4.000 (quatro mil reais) de repasse prprio para concluso do matadouro municipal, no tendo concludo a referida obra, realizando apenas pouco mais de 50% da mesma, no havendo mais qualquer valor disponvel na conta aberta para o servio, eis que todo o numerrio j fora sacada.

Desse modo, resta inconteste o fumus boni iuris, na medida em que o Municpio recebeu o valor integral para a concluso do matadouro municipal, tendo sido gasto, de forma inexplicvel, todo o dinheiro recebido e realizado apenas 52,51% do servio, consoante laudo de execuo fsica de fl s. 505-508, realizado em 7.7.2011 pela Secretaria de Estado de Planejamento, Oramento e Finanas do Estado do Par.

Porm, em que pese este fato, isto no sufi ciente para determinao do afastamento do cargo, sendo necessrio demonstrar que o requerido possa vir a causar embaraos instruo, ou seja, o periculum in mora.

Quanto ao periculum in mora, com relao ao requerido Lourival Fernandes de Lima, observo que existem elementos mais do que sufi cientes para a concesso da medida, restando mais do que claro que o mesmo, desde o incio das investigaes, vem praticando atos e omisses no sentido de buscar inviabilizar a atividade investigatria do Ministrio Pblico, fato que materializa concretamente o severo risco de continuar frente da gesto do Municpio, tendo em vista que, no af de ocultar atos irregulares levados a efeito por sua gesto, acabou por ocultar provas e criar fatos inexistentes conforme abaixo demonstrarei.

fl . 194, consta o Ofcio n. 199/2011 do Ministrio Pblico Estadual, no qual requisitada cpia integral da prestao de contas referente ao Convnio n. 351/2010 celebrado entre o Municpio e a Sepof para a construo do matadouro municipal. O requerido, mesmo tendo recebido o ofcio em questo, quedou-se inerte, no tendo apresentado qualquer respostas ao fi scal da lei, conforme se observa da certido de fl . 194-v.

No bastasse isso, o Ministrio Pblico requisitou por meio do Ofcio n. 216/2011 cpia integral de todos os processos de licitao realizados no ano de 2007, bem como notas fi scais emitidas por diversas empresas; assim como suas notas de empenho, tendo, todavia, o requerido, por meio de seu advogado, informado que estava impossibilitado de fornecer alguns dos documentos porque no dia 23.9.2011, o prdio da Prefeitura, bem como os prdios das Secretarias Municipais foram invadidos, tendo suas portas arrombadas, valores e documentos subtrados (processo cautelar fl . 13). Registre-se que este fato foi inclusive objeto de Boletim de Ocorrncia n. 2011000433-2, feito pela Sra.

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Elissandra de Ftima do Nascimento, de 27.9.2011, no qual a mesma, que exerce o cargo de Secretria Executiva de Gabinete do Municpio, informou que a Prefeitura Municipal foi invadida pelo prefeito empossado Zaquel Salomo acompanhado por Adalto e Ivonete e outra pessoa que no identifi ca, os quais invadiram a sala onde a mesma trabalha, sendo subtrados alguns documentos (...) adita neste momento que alm dos documentos citados acima, tiveram tambm subtrados, segundo informaes da CPL (Comisso Permanente de Licitao) vrios processos licitatrios dos anos de 2006 a 2009.

Registre-se que essa verso de no apresentao dos documentos ao Ministrio Pblico por suposto furto na Prefeitura Municipal foi sustentada pelo Municpio, representado pelo requerido recentemente por ocasio do ajuizamento de Agravo de Instrumento perante o TJE-PA n. 20123001917-2, rel. Desa. Diracy Nunes Alves, no qual fundamentou a no apresentao dos documentos requisitados pelo fiscal da lei por conta da suposta subtrao atribuda ao Vice-Prefeito do Municpio.

Ocorre que esse fato comprova mais uma vez que o requerido Lourival Fernandes de Lima, utilizando-se de seu cargo e de seu poder hierrquico sobre servidores de sua confiana, vem buscando ocultar provas e esconder vestgios acerca de supostos atos de improbidade a si atribudos, pois, durante a diligncia de busca e apreenso por mim deferida, foi encontrado na residncia do requerido Jos Raimundo Nascimento Oliveira o procedimento licitatrio referente ao matadouro municipal, o que comprova que a omisso do requerido em no apresentar os documentos solicitados pelo Ministrio Pblico dolosa e visa obstruir a produo de provas, valendo-se o demandado de funcionrios de municpio, seja para esconderem em suas residncias documentos pblicos, seja para registrarem ocorrncias policiais dando conta do desaparecimento de documentos, tudo, repita-se, com o fim de obstruir as investigaes que pesam contra si.

Outro fato demonstrado na inicial e que comprova que o requerido utiliza-se de seu poder hierrquico e, inclusive familiar, para obstruir as investigaes produzidas pelo Ministrio Pblico pode ser observado por meio da conversa telefnica travada pelo Secretrio de Administrao e Finanas do Municpio e fi lho do Prefeito Municipal, Sr. Gedson Lima, com homem no identifi cado, ocasio em que Gedson, s fl s. 242-248, afi rmou que a Promotora de Justia estava cobrando as notas fi scais referentes ao matadouro, porm seu interlocutor afi rmou que as contas estavam com pendncias, mas que no poderia falar por telefone, demonstrando, desse modo, temor dos servidores, um deles fi lho dos gestor municipal, ante a possvel interceptao telefnica e a descoberta de fraudes na aplicao de dinheiro pblico (fl s. 92-94) (Grifos acrescidos).

O perodo de afastamento cautelar e o seu termo inicial, contudo, variaro de acordo com o caso concreto e com a intensidade da interferncia promovida pelo agente pblico na instruo processual. No pode ser extenso a ponto de

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caracterizar verdadeiramente a perda do mandato eletivo e tampouco pode ser exguo de modo a permitir a contnua interferncia do agente pblico na instruo do processo que contra ele tramita.

Ainda que nesse juzo sumrio de delibao, verifi co que existem elementos concretos sufi cientes para justifi car o perodo de 90 dias de afastamento cautelar a contar de 14.8.2012, data da deciso agravada, sem que tal determinao possua o condo de promover qualquer leso aos bens jurdicos tutelados pela Lei n. 8.437/1992.

A propsito, cito precedente deste Tribunal:

Pedido de suspenso de medida liminar. Afastamento do cargo de prefeito. Leso ordem pblica. A norma do art. 20, pargrafo nico, da Lei n. 8.429, de 1992, que prev o afastamento cautelar do agente pblico durante a apurao dos atos de improbidade administrativa, s pode ser aplicada em situao excepcional. Hiptese em que a medida foi fundamentada em elementos concretos a evidenciar que a permanncia no cargo representa risco efetivo instruo processual. Pedido de suspenso deferido em parte para limitar o afastamento do cargo ao prazo de 120 dias. Agravo regimental no provido.

(AgRg na SLS n. 1.442-MG, Corte Especial, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe de 29.2.2012).

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental. o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSO DE SEGURANA N. 2.585-BA (2012/0115502-5)

Relator: Ministro Presidente do STJAgravante: Sindicato dos Trabalhadores em Educao do Estado da Bahia

- APLB Advogados: Deraldo Barbosa Brando Filho e outro(s)

Rita de Cssia de Oliveira Souza e outro(s)Agravado: Estado da Bahia Procurador: Antnio Jos de Oliveira Telles de Vasconcellos e outro(s)

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Requerido: Desembargador Relator do Mandado de Segurana n. 3058702120128050000 do Tribunal de Justia do Estado da Bahia

EMENTA

Processo Civil. Pedido de suspenso de segurana. O reconhecimento de leso grave aos valores protegidos pelo art. 15 da Lei n. 12.016, de 2009, exige um juzo mnimo acerca da deciso judicial. O dano s potencial se tal juzo identifi car a probabilidade de reforma do ato judicial. - e disso aqui se trata. A deciso administrativa que determina o desconto em folha de pagamento dos servidores grevistas compatvel com o regime da lei. Agravo regimental no provido.

ACRDO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Senhor Ministro Relator. Os Srs. Ministros Gilson Dipp, Laurita Vaz, Castro Meira, Arnaldo Esteves Lima, Massami Uyeda, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Raul Arajo e Sebastio Reis Jnior votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Eliana Calmon, Francisco Falco, Nancy Andrighi, Joo Otvio de Noronha e Teori Albino Zavascki. Convocados os Srs. Ministros Raul Arajo e Sebastio Reis Jnior. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Felix Fischer.

Braslia (DF), 29 de agosto de 2012 (data do julgamento).Ministro Felix Fischer, PresidenteMinistro Ari Pargendler, Relator

DJe 6.9.2012

RELATRIO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: O agravo regimental ataca a seguinte deciso:

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1. Os autos do conta de que o Sindicato dos Trabalhadores em Educao do Estado da Bahia impetrou mandado de segurana contra ato do Governador do Estado da Bahia e outros (fl . 26-46).

L-se na petio inicial:O impetrante representa ativa e passivamente os servidores em educao

do Estado da Bahia, ora substitudos, nos termos do art. 8 da Constituio Federal. Na qualidade de entidade sindical, e considerando que a data base dos servidores do Estado primeiro de janeiro (art. 258 da Lei n. 6.677/1994), e como tambm esta a data base para o reajuste do piso nacional dos professores da educao bsica (art. 3 da Lei n. 11.738/2008), o impetrante iniciou em novembro de 2011 o processo de negociao coletiva, negociando com o Estado da Bahia o reajuste salarial da categoria, o que culminou com acordo fi rmado entre as partes, documento anexo, onde na clusula primeira foi pactuado que o reajuste salarial do magistrio da rede estadual do ensino fundamental e mdio ser o mesmo do piso salarial profi ssional, nos anos de 2012, 2013 e 2014, a partir de janeiro de cada ano, incidindo sobre todas as tabelas vigentes.

Como dito acima, o acordo foi fi rmado em novembro de 2011, e a partir daquela data passou a ser cumprido piso para toda a categoria referente ao ano de 2011, j prevendo ali o cumprimento do reajuste salarial do piso nos anos subsequentes (2012, 2013 e 2014), contudo, em que pese o acordo fi rmado, o Estado da Bahia somente cumpriu o piso at o ms de dezembro de 2011, isto porque em janeiro de 2012 o valor do piso j era outro, necessitando apenas da divulgao do percentual de reajuste pelo MEC, o que foi divulgado em 27 de fevereiro em 22,22%.

Assim, com a fi xao do percentual, a partir de primeiro de janeiro o piso passou a ser R$ 1.451,00, tendo, portanto o salrios dos professores fi cado abaixo de tal valor. Assim, desde o incio de maro de 2012, foram retomadas as negociaes, visando o cumprimento do piso e a sua extenso aos professores do ensino fundamental e mdio consoante assumido pelo Estado da Bahia no acordo fi rmado em 11.11.2011.

Como as negociaes para o cumprimento do piso para 2012 no progrediram, em 26.3.2012, o impetrante encaminhou para o Estado da Bahia - SEC Ofcio de n. 036/2012, comunicando previamente que em caso de descumprimento do piso seria realizada assemblia da categoria visando a decretao da greve. Como de fato no houve avano nas negociaes, a categoria reunida em assemblia geral decretou greve a partir de 11.4.2012, como previamente informado no ofcio mencionado.

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Desde a data acima, os professores esto a exercer seu legtimo direito de greve previsto constitucionalmente como direito social do trabalhador, e, portanto, instrumento legal na busca de melhores condies de trabalho.

Contudo, em que pese a previso constitucional que garante o direito de greve, e a mais recente posio do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do MI n. 708-DF, que determinou a aplicao das Lei n. 7.701/1988 e n. 7.783/1989 aos confl itos e s aes judicias que envolvam a interpretao do direito de greve dos servidores pblicos, os impetrados atravs do comunicado mencionado no item 2 do presente esto a determinar o envio pelos Diretores Regionais da frequncia dos professores do Estado da Bahia, com a fi nalidade de suspenso dos vencimentos dos servidores/substitudos.

Tem-se pois que a atitude da Administrao Pblica, praticada pelos impetrados, consistente na determinao da suspenso dos vencimentos, constitui-se arbitrria e ilegal, uma vez que pode deixar diversos servidores/substitudos em situao difcil, na medida em que os vencimentos, verba de natureza salarial e alimentar, donde muitas famlias, inclusive crianas dependentes destes profissionais que passaro por necessidades, com a concretizao da suspenso e ou descontos dos vencimentos.

Registre-se que alguns servidores/substitudos, caso venha a ser efetivada a suspenso dos vencimentos, por conta dos diversos compromissos assumidos, a exemplo de descontos de emprstimos consignados, descontos legais de previdncia e imposto de renda na fonte, podero nada receber, fi cando com os contracheques zerados.

(...)O ato a ser praticado pelos impetrados, no tocante ameaa da suspenso

dos vencimentos (verba de natureza alimentar), encontra-se revestido de ilegalidade, na medida em que no existe no ordenamento ptrio legislao que determine a suspenso ou o desconto dos vencimentos dos servidores de um modo geral, tendo em vista que at os dias atuais no existe lei de greve especfi ca onde esclarea como dever ser o posicionamento da Administrao Pblica no tocante aos dias parados nos movimentos grevistas.

Tanto, assim, que por conta desta omisso legislativa, o Supremo Tribunal Federal em 24 de fevereiro de 2012, por meio do Plenrio Virtual, em discusso no AI n. 853.275-RJ em que se discute a possibilidade ou no dos descontos dos dias parados em virtude de movimento paredista, atravs de voto do relator Min. Dias Toff oli, reconheceu a existncia de repercusso geral da matria.

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

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(...)Portanto, o impetrante (em nome dos substitudos) tem por objetivo

demonstrar, na presente ao, que o ato praticado atravs do comunicado anexo aos autos em que externa a ameaa concreta de suspenso dos vencimentos no tem amparo legal, e, ferindo o princpio da legalidade, impe que o administrador no deve fazer ou deixar de fazer alguma coisa sem prvia determinao legal, este princpio por sua vez no se aplica apenas ao agente pblico, mas tambm ao nosso regramento jurdico vigente. Em outras palavras, o princpio da legalidade impe a prtica de atos vinculados pela administrao, no comportando discricionariedade (fl . 30-34).

A relatora, Desembargadora Lcia de Castro Laranjeira Carvalho, deferiu o pedido liminar, possibilitando o restabelecimento imediato do pagamento dos salrios dos professores, supostamente suspensos em decorrncia do referido movimento paredista e, por conseguinte, o acesso dos conveniados ao Planserv - Plano de Sade dos Servidores Pblicos da Bahia (fl . 148).

2. Seguiu-se o presente pedido de suspenso de segurana ajuizado pelo Estado da Bahia, alegando grave leso ordem e economia pblicas (fl . 01-23).

A teor da petio:A movimentao paredista, que deixa - como assinalam amplamente

os meios de comunicao - cerca de 2 milhes de alunos da rede estadual sem aulas, e com riscos de prejuzos graves para todo o ano letivo, portanto manifestamente desproporcional. Mais ainda: parte carecer de qualquer plano de trabalho que garanta o programa de educao das centenas de milhares de crianas e de outros tantos adolescentes e adultos da rede estadual, e parte ainda a falta de mrito de suas motivaes, a greve patentemente injurdica, com manifesto prejuzo resultante ao errio estadual, desfalcado em favor de quem nega comunidade o trabalho a que est obrigado, e, sobretudo, ordem pblica, que se v seriamente ameaada com um movimento paredista de servio pblico essencial.

(...)Tambm guisa de reforo de argumentao jurdica, embora o que

prevalea para o desate da questo na seara da suspenso pretendida seja a incompatibilidade da deciso com o disposto na Lei n. 7.783/1989 que preconiza a suspenso do contrato de trabalho, ou seja, sem remunerao, o TJBA, tanto

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em primeira instncia em juzo de cognio sumria pelo Juiz de Direito da 5 Vara da Fazenda Pblica (Processo n. 0329637-85.2012.8.05.0001), como tambm pelo Desembargador Gesivaldo Brito, Relator do Agravo de Instrumento n. 0305372-22.2012.8.05.0000, declararam a ilegalidade da greve defl agrada pelo sindicato impetrante, inclusive com determinao de cesso do movimento paredista e retorno s atividades normais, sob pena de multa diria de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

(...)Destarte, a atitude que as autoridades impetradas anunciaram e puseram

em prtica, com respaldo no artigo 7 da Lei n. 7.783/1989 no sentido de descontar da remunerao dos servidores pblicos grevistas o correspondente aos dias de paralisao, sobretudo porque declarada ilegtima, longe de caracterizar a ilegalidade ou abuso de poder.

(...)A leso economia e ordem pblica eventualmente decorrente da

deciso liminarmente concessiva da segurana manifesta. O Estado realizar indevidamente, se executada a deciso, despesa que no deveria, j que a suspenso do contrato e a consequente dispensa de pagamento enquanto durar o movimento paredista est prevista na Lei n. 7.783/1989. Os estudantes tero seus cursos, no mnimo, signifi cativamente retardados, alm de irremediavelmente prejudicados em suas vidas, como nos casos em que dependem, fundamentalmente, da alimentao fornecida nas escolas (fl . 09-21).

3. No mbito do instituto da suspenso, tal como previsto na Lei n. 12.016, de 2009, o Presidente do Tribunal emite juzo poltico acerca dos efeitos da deciso judicial, tendo presentes os eventuais danos aos valores protegidos pelo art. 15 (ordem, sade, economia e segurana pblicas).

O reconhecimento de leso grave a esses valores exige um juzo mnimo acerca da deciso judicial, porque sem a potencialidade do dano que resultar da reforma do decisum no possvel impedir a atuao jurisdicional. O dano s potencial se tal juzo identifi car a probabilidade da reforma do ato judicial, e disso aqui aparentemente se trata.

A greve no setor privado suspende o contrato de trabalho (Lei n. 7.783, de 1989, art. 7, caput). Sem o contrato de trabalho, o empregado no tem direito ao salrio. Este um dos elementos da lgica da greve no setor privado: o de que o empregado tem necessidade do salrio para a sua subsistncia e a da famlia. O outro elemento est na empresa: ela precisa dos empregados, sem os quais seus

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negcios entram em crise. A tenso entre esses interesses e carncias se resolve, conforme a experincia tem demonstrado, por acordo em prazos relativamente breves. Ningum, no nosso pas, faz ou suporta indefi nidamente uma greve no setor privado. Em outros pases, sindicatos fortes de empregados apiam fi nanceiramente seus fi liados, e a greve assim pode perdurar.

No setor pblico, o Brasil tem enfrentado greves que se arrastam por meses. Algumas com algum sucesso, ao fi nal. Outras sem consequncia qualquer para os servidores. O pblico, porm, sempre penalizado. Na espcie, a paralisao iniciou em 11 de abril de 2012 - h dois meses, portanto. A Lei n. 7.783, de 1989, se aplica, no que couber, ao setor pblico. Salvo melhor juzo, a deciso administrativa que determina o desconto em folha de pagamento dos servidores grevistas compatvel com o regime da lei. A que limite estar sujeita a greve, se essa medida no for tomada? Como compensar faltas que se sucedem por meses? Como compatibilizar a declarao judicial da ilegalidade da greve - declarada pelo MM. Juiz de Direito (e em princpio mantida pelo Tribunal a quo) - com o pagamento dos dias no trabalhados?

Em recente julgamento, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, no MS n. 17.405, DF, relator o Ministro Felix Fischer, declarou legal o desconto da remunerao correspondente aos dias de greve, nos termos do acrdo assim ementado:

Mandado de segurana. Servidor pblico. Greve. Remunerao. Desconto. Possibilidade. Administrao Pblica. Ato discricionrio. Ordem denegada.

I - O c. Supremo Tribunal Federal decidiu que a Lei n. 7.783/1989, que dispe sobre o exerccio do direito de greve, deve ser aplicada, no que couber, tambm aos servidores pblicos civis (MI n. 708-DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 31.10.2008).

II - Desse modo, de ser compreendido que a defl agrao do movimento grevista suspende, no setor pblico, o vnculo funcional e, por conseguinte, desobriga o Poder Pblico do pagamento referente aos dias no trabalhados. Precedentes do c. STF, deste eg. STJ e do c. CNJ (STF: AI n. 824.949 AgR, 2 Turma, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 6.9.2011; RE n. 551.549 AgR, 2 Turma, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe de 13.6.2011; AI n. 795.300 AgR, 2 Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 20.5.2011; RE n. 399.338 AgR, 1 Turma, Rel. Min. Crmen Lcia, DJe de 24.2.2011. STJ: MS n. 15.272-DF, 1 Seo, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe de 7.2.2011; AgRg na Pet n. 8.050-RS, 1 Seo, Rel. Min. Castro Meira, DJe de 25.2.2011; AgRg no AREsp n. 5.351-SP, 1 Turma, Rel. Min. Benedito Gonalves, DJe de 29.6.2011. CNJ: PP

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n. 0000098-92.2012.2.00.0000, Plenrio, Relator Conselheiro Gilberto Valente Martins, julgado em 10.4.2012; PP n. 0000096-25.2012.2.00.0000, Plenrio, Relator Conselheiro Gilberto Valente Martins, julgado em 10.4.2012; PP n. 0000136-07.2012.2.00.0000, Plenrio, Relator Conselheiro Gilberto Valente Martins, julgado em 10.4.2012).

III - A existncia de acordo, conveno coletiva, laudo arbitral ou deciso judicial regulando as relaes obrigacionais decorrentes do movimento paredista pode prever a compensao dos dias de greve (ex vi do art. 7, in fi ne, da Lei n. 7.783/1989).

IV - Todavia, mngua dessas tratativas, no h direito lquido e certo dos servidores sindicalizados a ser tutelado na via mandamental, j que, nesses casos, deve prevalecer o poder discricionrio da Administrao, a quem cabe defi nir pelo desconto, compensao ou outras maneiras de administrar o confl ito, sem que isso implique qualquer ofensa aos princpios da proporcionalidade ou razoabilidade.

Ordem denegada (DJe, 9.5.2012).Defi ro, por isso, o pedido de suspenso (fl . 160-166).A teor do recurso, in verbis:(...) a deciso proferida pela MD. Desembargadora, em momento algum

ofendeu a ordem e a economia pblica, pois esta nada mais determinou que fossem respeitados os direitos dos substitudos/servidores consistente na percepo dos vencimentos j que inexiste legislao regulando a matria, bem como pelo fato de que a relao de trabalho pblica de natureza permanente e a lei contempla a hiptese de reposio ao errio, que poder ser feita ao fi nal da ao na hiptese de improcedncia do mandamus.

(...)A greve, sem dvida, causa transtorno e prejuzos para todos: professores,

alunos e sociedade. A bem da verdade, a nica parte que parece no dar relevncia greve so os gestores pblicos. Quando a greve no setor pblico atinge a arrecadao, tal qual ocorre no setor privado, rapidamente resolvida.

No caso da greve do magistrio pblico obrigatria a reposio dos dias paralisados, ou seja, diferentemente do que ocorre com outros setores, os professores tero que realizar sobrelabor de forma a garantir a carga horria anual mnima prevista no art. 24, I, da Lei n. 9.394/1996 (fl . 193-207).

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

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VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): No mbito do instituto da suspenso, tal como previsto na Lei n. 12.016, de 2009, o Presidente do Tribunal emite juzo poltico acerca dos efeitos da deciso judicial, tendo presentes os eventuais danos aos valores protegidos pelo art. 15 (ordem, sade, economia e segurana pblicas).

O reconhecimento de leso grave a esses valores exige um juzo mnimo acerca da deciso judicial, porque sem a potencialidade do dano que resultar da reforma do decisum no possvel impedir a atuao jurisdicional. O dano s potencial se tal juzo identifi car a probabilidade da reforma do ato judicial, e disso aqui aparentemente se trata.

A greve no setor privado suspende o contrato de trabalho (Lei n. 7.783, de 1989, art. 7, caput). Sem o contrato de trabalho, o empregado no tem direito ao salrio. Este um dos elementos da lgica da greve no setor privado: o de que o empregado tem necessidade do salrio para a sua subsistncia e a da famlia. O outro elemento est na empresa: ela precisa dos empregados, sem os quais seus negcios entram em crise. A tenso entre esses interesses e carncias se resolve, conforme a experincia tem demonstrado, por acordo em prazos relativamente breves. Ningum, no nosso pas, faz ou suporta indefi nidamente uma greve no setor privado. Em outros pases, sindicatos fortes de empregados apiam fi nanceiramente seus fi liados, e a greve assim pode perdurar.

No setor pblico, o Brasil tem enfrentado greves que se arrastam por meses. Algumas com algum sucesso, ao fi nal. Outras sem consequncia qualquer para os servidores. O pblico, porm, sempre penalizado. Na espcie, a paralisao iniciou em 11 de abril de 2012 - h dois meses, portanto. A Lei n. 7.783, de 1989, se aplica, no que couber, ao setor pblico. Salvo melhor juzo, a deciso administrativa que determina o desconto em folha de pagamento dos servidores grevistas compatvel com o regime da lei. A que limite estar sujeita a greve, se essa medida no for tomada? Como compensar faltas que se sucedem por meses? Como compatibilizar a declarao judicial da ilegalidade da greve - declarada pelo MM. Juiz de Direito (e em princpio mantida pelo Tribunal a quo) - com o pagamento dos dias no trabalhados?

Em recente julgamento, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, no MS n. 17.405, DF, relator o Ministro Felix Fischer, declarou legal o desconto da remunerao correspondente aos dias de greve, nos termos do acrdo assim ementado:

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Mandado de segurana. Servidor pblico. Greve. Remunerao. Desconto. Possibilidade. Administrao pblica. Ato discricionrio. Ordem denegada.

I - O c. Supremo Tribunal Federal decidiu que a Lei n. 7.783/1989, que dispe sobre o exerccio do direito de greve, deve ser aplicada, no que couber, tambm aos servidores pblicos civis (MI n. 708-DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 31.10.2008).

II - Desse modo, de ser compreendido que a defl agrao do movimento grevista suspende, no setor pblico, o vnculo funcional e, por conseguinte, desobriga o Poder Pblico do pagamento referente aos dias no trabalhados. Precedentes do c. STF, deste eg. STJ e do c. CNJ (STF: AI n. 824.949 AgR, 2 Turma, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 6.9.2011; RE n. 551.549 AgR, 2 Turma, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe de 13.6.2011; AI n. 795.300 AgR, 2 Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 20.5.2011; RE n. 399.338 AgR, 1 Turma, Rel. Min. Crmen Lcia, DJe de 24.2.2011. STJ: MS n. 15.272-DF, 1 Seo, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe de 7.2.2011; AgRg na Pet n. 8.050-RS, 1 Seo, Rel. Min. Castro Meira, DJe de 25.2.2011; AgRg no AREsp n. 5.351-SP, 1 Turma, Rel. Min. Benedito Gonalves, DJe de 29.6.2011. CNJ: PP n. 0000098-92.2012.2.00.0000, Plenrio, Relator Conselheiro Gilberto Valente Martins, julgado em 10.4.2012; PP n. 0000096-25.2012.2.00.0000, Plenrio, Relator Conselheiro Gilberto Valente Martins, julgado em 10.4.2012; PP n. 0000136-07.2012.2.00.0000, Plenrio, Relator Conselheiro Gilberto Valente Martins, julgado em 10.4.2012).

III - A existncia de acordo, conveno coletiva, laudo arbitral ou deciso judicial regulando as relaes obrigacionais decorrentes do movimento paredista pode prever a compensao dos dias de greve (ex vi do art. 7, in fi ne, da Lei n. 7.783/1989).

IV - Todavia, mngua dessas tratativas, no h direito lquido e certo dos servidores sindicalizados a ser tutelado na via mandamental, j que, nesses casos, deve prevalecer o poder discricionrio da Administrao, a quem cabe defi nir pelo desconto, compensao ou outras maneiras de administrar o confl ito, sem que isso implique qualquer ofensa aos princpios da proporcionalidade ou razoabilidade.

Ordem denegada (DJe, 9.5.2012).Voto, por isso, no sentido de negar provimento ao agravo regimental.

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL N. 137.141-SE (2012/0012642-0)

Relator: Ministro Antonio Carlos FerreiraAgravante: Norgraf Produtos Grfi cos Ltda. Advogado: Adernoel Almeida da Cruz Filho e outro(s)Agravado: Banco do Brasil S/A Advogado: Paula Rodrigues da Silva e outro(s)

EMENTA

Processual Civil. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Tempestividade. Feriado local. Comprovao posterior. Possibilidade. Mudana de entendimento.

1. A comprovao da tempestividade do recurso especial, em decorrncia de feriado local ou de suspenso de expediente forense no Tribunal de origem que implique prorrogao do termo fi nal para sua interposio, pode ocorrer posteriormente, em sede de agravo regimental. Precedentes do STF e do STJ.

2. Agravo regimental provido, para afastar a intempestividade do recurso especial.

ACRDO

A Corte Especial, por unanimidade, deu provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Senhor Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Teori Albino Zavascki, Castro Meira, Arnaldo Esteves Lima, Massami Uyeda, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Napoleo Nunes Maia Filho, Sidnei Beneti, Jorge Mussi, Luis Felipe Salomo e Raul Arajo votaram com o Sr. Ministro Relator.

Impedido o Sr. Ministro Joo Otvio de Noronha. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Ari Pargendler, Gilson Dipp,

Eliana Calmon, Francisco Falco e Nancy Andrighi. Convocados os Srs. Ministros Napoleo Nunes Maia Filho, Sidnei Beneti,

Jorge Mussi, Luis Felipe Salomo e Raul Arajo.

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Braslia (DF), 19 de setembro de 2012 (data do julgamento).Ministro Felix Fischer, PresidenteMinistro Antonio Carlos Ferreira, Relator

DJe 15.10.2012

RELATRIO

O Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira: Trata-se de agravo regimental contra deciso que no admitiu agravo nos prprios autos.

Na origem, o recurso especial interposto no foi admitido em virtude da falta de prequestionamento (Smulas n. 282-STF e n. 211-STJ) e inadequada demonstrao do dissdio (e-STJ fl s. 117-120).

Interposto o agravo nos prprios autos (e-STJ fls. 123-130), neguei monocraticamente a irresignao, em virtude da no comprovao de tempestividade do recurso especial. Isso porque o recurso foi interposto alm dos 15 (quinze) dias previstos na legislao, sem comprovao da suspenso do prazo (e-STJ fl s. 149-150). Segui a fi rme jurisprudncia da Corte.

No agravo regimental (e-STJ fl s. 153-155), a recorrente argumenta que o ltimo dia do prazo foi ponto facultativo no Tribunal de origem (Quarta-Feira de Cinzas) e que, portanto, o recurso especial tempestivo. Juntou, no regimental, ato do TJSE comprovando a assertiva (e-STJ fl . 154).

Ao apresentar o regimental para julgamento colegiado em mesa, a Quarta Turma acolheu proposta de afetao do recurso a esta colenda Corte Especial, considerando (i) a recente mudana da jurisprudncia do egrgio Supremo Tribunal Federal quanto ao assunto e (ii) a existncia, a propsito, de decises divergentes no mbito das Turmas deste Tribunal.

Assim, o presente recurso tem por fi nalidade a manifestao da Corte Especial a respeito do tema.

o relatrio.

VOTO

O Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira (Relator): A jurisprudncia dos Tribunais Superiores firmou-se no sentido de no admitir posterior

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

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comprovao da tempestividade do recurso, em virtude da ocorrncia de feriado local ou de qualquer outra causa de suspenso de prazo verifi cada no mbito do Tribunal de origem.

Assim, prevaleceu a orientao segundo a qual a comprovao de fato que alterasse o termo fi nal do prazo deveria ocorrer, necessariamente, no momento da interposio do recurso especial, sendo invivel a juntada posterior de documento comprobatrio.

Nesse sentido, a jurisprudncia deste Tribunal, sedimentada no mbito da Corte Especial:

Agravo regimental nos embargos de divergncia. Processual Civil. Ausncia de comprovao de feriado local. Recurso especial intempestivo. Jurisprudncia pacfi ca desta Corte. Incidncia da Smula n. 168-STJ. Alegada erronia na aplicao da multa do pargrafo nico do art. 538 do CPC. Carter protelatrio de embargos de declarao. Casustica. Particularidades de cada caso. Situaes fticas comparadas distintas. Inexistncia de teses divergentes. Dissdio jurisprudencial no confi gurado. Embargos liminarmente indeferidos. Deciso mantida em seus prprios termos.

1. A jurisprudncia dominante do STJ estabelece que para fins de demonstrao da tempestividade do recurso, incumbe parte, no momento da interposio, comprovar a ocorrncia de suspenso dos prazos processuais em decorrncia de feriado local ou de portaria do Presidente do Tribunal a quo. Prescreve, ademais, que no h de se admitir a juntada posterior do documento comprobatrio (EREsp n. 299.177-MG, Corte Especial, Rel. Ministra Eliana Calmon, DJe de 29.5.2008).

2. A aferio de existncia ou no de omisses, ou se os embargos de declarao so ou no protelatrios, ou se o acrdo est ou no sufi cientemente fundamentado nesse sentido, tudo isso tarefa realizada com a anlise de cada caso concreto, considerando suas particularidades. E, como sabido e consabido, no se prestam os embargos de divergncia para ensejar um rejulgamento, puro e simples, do recurso especial. Divergncia jurisprudencial inexistente.

3. Agravo regimental desprovido.

(AgRg nos EREsp n. 657.543-RJ, Relatora Ministra Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 5.12.2011, DJe 2.2.2012).

Processual Civil. Recurso intempestivo. Feriado local. No-comprovao. Divergncia superada. Smula n. 168-STJ.

1. Na ocorrncia de feriado local, paralisao ou interrupo do expediente forense por ato normativo da Justia do Estado, cumpre ao recorrente, quando da interposio do recurso, apresentar documento idneo comprobatrio de tal fato para efeito do seu conhecimento.

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2. Superado o dissenso em relao ao tema objeto do recurso, visto que a jurisprudncia da Corte Especial do STJ pacificou-se no sentido do aresto impugnado, tornam-se incabveis os embargos de divergncia. Incidncia da Smula n. 168-STJ.

3. Agravo regimental desprovido.

(AgRg nos EREsp n. 756.836-SP, Relator Ministro Joo Otvio de Noronha, Corte Especial, julgado em 4.6.2008, DJe 26.6.2008).

Processual Civil. Embargos de divergncia. Tempestividade. Portaria do Presidente do Tribunal a quo. Suspenso do prazo recursal. Ausncia de comprovao em momento oportuno.

1. A jurisprudncia dominante do STJ estabelece que para fi ns de demonstrao da tempestividade do recurso, incumbe parte, no momento da interposio, comprovar a ocorrncia de suspenso dos prazos processuais em decorrncia de feriado local ou de portaria do Presidente do Tribunal a quo. Prescreve, ademais, que no h de se admitir a juntada posterior do documento comprobatrio.

2. Mudana de entendimento da relatora em face da orientao traada no AgRg nos EREsp n. 732.042-RS e no AgRg no Ag n. 708.460-SP, ambos da Corte Especial.

3. Embargos de divergncia providos.

(EREsp n. 299.177-MG, Relatora Ministra Eliana Calmon, Corte Especial, julgado em 11.2.2008, DJe 29.5.2008).

Processual Civil. Recurso especial. Ausncia de certido comprobatria da suspenso do expediente forense por feriado local. No conhecimento. Matria pacifi cada. Smula n. 168-STJ.

1. A Corte Especial, por ocasio do julgamento do AGA n. 708.460-SP, relator Min. Castro Filho, DJ de 2.10.2006, fi rmou posicionamento no sentido de que cabe parte recorrente comprovar nos autos, no momento da interposio do recurso, a ocorrncia de suspenso dos prazos processuais em decorrncia de feriado local ou portaria do presidente do Tribunal de origem, com a fi nalidade de vir a ser aferida a tempestividade do recurso.

2. Matria pacifi cada no mbito desta Corte importa em aplicao da Smula n. 168-STJ.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg na Pet n. 5.506-SP, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, Corte Especial, julgado em 5.3.2008, DJe 24.3.2008).

Essa posio tambm era adotada no mbito do egrgio Supremo Tribunal Federal.

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

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Contudo, recentemente, por ocasio do julgamento do Ag.Reg. no RE n. 626.358-MG, Relator Ministro Cezar Peluso, Tribunal Pleno, ocorrido em 22.3.2012 e publicado em 23.8.2012, o egrgio Supremo Tribunal Federal modificou sua jurisprudncia para permitir a posterior comprovao da tempestividade do recurso extraordinrio, quando reconhecida a extemporaneidade em decorrncia de feriado local ou suspenso do expediente forense do Tribunal de origem: a seguinte a ementa do julgado:

Recurso. Extraordinrio. Prazo. Cmputo. Intercorrncia de causa legal de prorrogao. Termo fi nal diferido. Suspenso legal do expediente forense no juzo de origem. Interposio do recurso no termo prorrogado. Prova da causa de prorrogao s juntada em agravo regimental. Admissibilidade. Presuno de boa-f do recorrente. Tempestividade reconhecida. Mudana de entendimento do Plenrio da Corte. Agravo regimental provido. Voto vencido. Pode a parte fazer efi cazmente, perante o Supremo, em agravo regimental, prova de causa local de prorrogao do prazo de interposio e da consequente tempestividade de recurso extraordinrio.

Em que pese a referida deciso no possuir carter vinculante, o novo entendimento adotado pelo Pleno do egrgio Supremo Tribunal Federal deve ser acompanhado por este STJ, em homenagem ao ideal de uniformizao da jurisprudncia nacional.

A referida deciso j ensejou discusses no mbito de rgos fracionrios deste Tribunal.

Inicialmente, em abril, a Primeira Turma chegou a adotar posicionamento conforme o precedente do Supremo, todavia a deciso foi posteriormente anulada para se manter a jurisprudncia deste Superior Tribunal de Justia (Ag n. 1.368.507-SP, de relatoria do eminente Ministro Napoleo Nunes Maia Filho).

Tambm a Sexta Turma, em junho, por maioria, decidiu no mesmo sentido do egrgio Supremo Tribunal Federal, em acrdo assim ementado:

Recurso especial. Tempestividade. Comprovao de ocorrncia de feriado local.

1. possvel a parte comprovar a tempestividade de recurso especial com a juntada, por ocasio do agravo regimental, de documento que comprove a ocorrncia de feriado local quando do vencimento do prazo original para a sua interposio.

2. Precedentes do Supremo Tribunal Federal: AgRg no RE n. 626.358, Ministro Cezar Peluso, Pleno e HC n. 112.842, Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma.

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3. Agravo regimental provido.

(AgRg no REsp n. 1.080.119-RJ, Relator Ministro Vasco Della Giustina, Desembargador convocado do TJRS, Relator para Acrdo Ministro Sebastio Reis Jnior, Sexta Turma, julgado em 5.6.2012, DJe 29.6.2012).

Cabe destacar que, aps a mudana de orientao pelo Pleno do egrgio Supremo Tribunal Federal, foram proferidas decises no mbito de suas Turmas, em habeas corpus, determinando a esta Corte que admitisse a posterior comprovao de tempestividade e, assim, passasse anlise do mrito recursal. Uma dessas decises est assim ementada:

Habeas corpus. Tempestividade recursal. Suspenso de expediente forense no juzo de origem. Causa legal de prorrogao do prazo recursal. Interposio do recurso no termo prorrogado. Prova da causa de prorrogao juntada apenas em sede de agravo regimental. Admissibilidade. Nova orientao jurisprudencial firmada pelo Plenrio desta Corte. Ordem concedida. Pode a parte fazer eficazmente(...), em agravo regimental, prova de causa local de prorrogao do prazo de interposio e da consequente tempestividade de recurso (AgRg no RE n. 626.358-PE, rel. min. Cezar Peluso, DJe n. 66, divulgado em 30.3.2012). Ordem concedida para que o Superior Tribunal de Justia conhea do Agravo de Instrumento n. 1.252.005-SP e se pronuncie sobre o seu mrito.

(HC n. 108.638-SP, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgado em 8.5.2012, Processo Eletrnico DJe-100, Divulgado em 22.5.2012, Publicado em 23.5.2012).

Tem-se, portanto, a necessidade de manifestao da egrgia Corte Especial quanto ao tema, nos termos do art. 11, XI, do RISTJ, diante da relevncia da questo jurdica e da necessidade de prevenir divergncia entre as Sees (RISTJ, art. 16, IV).

A meu ver, uma vez alterado o posicionamento do Supremo Tribunal Federal quanto possibilidade de comprovao posterior da tempestividade recursal, no h como se manter nesta Corte entendimento confl itante, em homenagem ao ideal de uniformizao da jurisprudncia, que confere maior segurana jurdica ao jurisdicionado.

A propsito, essa egrgia Corte Especial, julgando matria em relao qual havia divergncia entre a jurisprudncia deste Tribunal e a do egrgio Supremo Tribunal Federal, concluiu: (...) pacifi cada a questo no Supremo Tribunal Federal, importante que, por um critrio de coerncia, respeitando-

Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

RSTJ, a. 24, (228): 17-95, outubro/dezembro 2012 53

se o ideal de uniformizao da jurisprudncia nacional, que o STJ pacifi que tambm sua jurisprudncia no mesmo sentido (EREsp n. 760.840-RS, Relatora Ministra Nancy Andrighi, Dje 14.12.2009).

No caso concreto, o Tribunal de origem, ao proceder admissibilidade do recurso especial no indicou sua extemporaneidade, tampouco a parte contrria apontou tal bice, que veio a ser constatado apenas no mbito deste Tribunal. Em deciso monocrtica, adotei a jurisprudncia desta Corte, no conheci do recurso especial, por extemporneo. Sucede que o recorrente, em agravo regimental, apresentou comprovao de ausncia de expediente forense no ltimo dia do prazo (uma Quarta Feira de Cinzas). Portanto, o recurso especial tempestivo.

Nesse sentido, trecho do voto do eminente Ministro Cezar Peluso, no precedente do STF:

A parte, de boa-f - pois difi cilmente se pode acreditar que a parte deixe de faz-lo por algum outro motivo -, no apresenta certido de que, naquela data, no houve expediente forense, mas de repente surpreendida com o julgamento de que o seu recurso tido por intempestivo - na verdade, disso que se trata, porque se nega efi ccia prova da tempestividade.

Quando a parte se v, ento, surpreendida com juzo que, na sua boa-f, no aguardava, parece-me justo que se lhe permita fazer prova da tempestividade. O fato incontestvel que o recurso tempestivo.

A respeito da admissibilidade recursal e das restries ao conhecimento dos recursos, digna de nota a sempre atual lio de BARBOSA MOREIRA:

A essa luz, o que se espera da lei e de seus aplicadores um tratamento cuidadoso e equilibrado da matria, que no imponha sacrifcio excessivo a um dos valores em jogo, em homenagem ao outro. Para usar palavras mais claras: negar conhecimento a recurso atitude correta - e altamente recomendvel - toda vez que esteja clara a ausncia de qualquer dos requisitos de admissibilidade.

No devem os Tribunais, contudo, exagerar na dose; por exemplo, arvorando em motivos de no conhecimento circunstncias de que o texto legal no cogita, nem mesmo implicitamente, agravando sem razo consistente exigncias por ele feitas, ou apressando-se a interpretar em desfavor do recorrer dvidas suscetveis de suprimento. Cumpre ter em mente que da opo entre conhecer ou no conhecer de um recurso podem advir consequncias da maior importncia prtica: por exemplo, se algum apela da sentena meramente terminativa, o conhecimento da apelao pressuposto necessrio (embora no sufi ciente) do

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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processamento da atividade cognitiva do Tribunal, no sentido de julgar desde logo o mrito, no examinando no primeiro grau de jurisdio (art. 515, 3, acrescentado pela Lei n. 10.352, de 26.12.2001) - desfecho prefervel na medida em que importe, como no raro ocorrer, a eliminao definitiva do litgio. (Restries ilegtimas ao conhecimento dos recursos, Temas de direito processual. So Paulo: Saraiva, 2007. 9. Srie, p. 270).

E a controvrsia a propsito da tempestividade se torna ainda mais relevante considerando a alterao do art. 544 do CPC, com a edio Lei n. 12.322/2010. Atualmente, diante da desnecessidade de formao de instrumento, a subida do agravo ocorre nos prprios autos do processo. Sendo assim, poder-se-ia cogitar de certido cartorria quanto suspenso do prazo por especifi cidade do Tribunal intermedirio, de modo a comprovar a tempestividade do recurso interposto aps feriado local ou ausncia de expediente forense.