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REPRESENTAÇÃO N. 435-14 – CLASSE 42 – DISTRITO FEDERAL (Brasília)
Relatora: Ministra Laurita Vaz
Representante: Partido dos Trabalhadores (PT) – Nacional
Advogados: Sidney Sá das Neves e outros
Representados: Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) –
Nacional e outro
Advogados: Afonso Assis Ribeiro e outros
EMENTA
Propaganda partidária. Preliminar. Inépcia da inicial.
Rejeição. Alegação de desvio de fi nalidade. Bloco nacional. Promoção
pessoal. Filiado. Pré-candidato. Possibilidade. Participação.
Lideração política. Divulgação. Posições. Partido. Temas político-
comunitários. Ilegitimidade passiva. Extinção sem exame do mérito.
Improcedência. Representação.
1. A petição inicial não é inepta quando descreve os fatos e
os fundamentos do pedido, possibilitando à parte representada o
efetivo exercício do direito de defesa e do contraditório, impondo-se,
na espécie, a rejeição da preliminar. Precedentes.
2. Programa partidário em bloco protagonizado por liderança
política titular de mandato eletivo que apresenta as posições da
agremiação responsável pela sua veiculação sobre temas político-
comunitários, ainda que, em alguns momentos, explore a imagem
do fi liado e relate experiências sob ponto de vista pessoal, não induz,
por si mesmo, a exclusiva promoção pessoal em desvio das fi nalidades
legais.
3. A propaganda partidária deve observar as diretrizes
fi xadas no caput e nos incisos do art. 45 da Lei n. 9.096, de 1995,
voltando-se exclusivamente à difusão do programa do responsável
pela veiculação, à transmissão de mensagens aos fi liados sobre
a execução do programa, dos eventos com este relacionados e das
atividades congressuais do partido, à divulgação de sua posição em
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relação a temas político-comunitários ou à promoção e difusão da
participação política feminina, o que não se pode ter como ausente
no caso concreto.
4. Limitado o pedido à cassação do direito de transmissão,
impõe-se o reconhecimento da ilegitimidade de fi liado para integrar
com a respectiva agremiação o polo passivo da representação.
5. Representação que se julga extinta sem exame de mérito em
relação à parte ilegítima e improcedente quanto ao mais.
ACÓRDÃO
Acordam os Ministros do Tribunal Superior Eleitoral,
preliminarmente, por unanimidade, em extinguir a representação, sem
resolução de mérito, no tocante a Aécio Neves da Cunha e, no mérito, por
maioria, julgar improcedente o pedido formulado, nos termos do voto da
Relatora.
Brasília, 6 de maio de 2014.
Ministra Laurita Vaz, Relatora
DJe 20.6.2014
RELATÓRIO
A Sra. Ministra Laurita Vaz: Senhor Presidente, reproduzo a seguir o
teor do relatório assentado às fl s. 43-44:
Trata-se de representação ajuizada pelo Diretório Nacional do
Partido dos Trabalhadores contra o Diretório Nacional do Partido
da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Sr. Aécio Neves da
Cunha, Senador da República, com fundamento no art. 45 da Lei
n. 9.096, de 1995, por alegado desvio de fi nalidade de propaganda
partidária, em bloco nacional, veiculada no dia 30 de maio de 2013.
Alegou que o PSDB teria utilizado o espaço destinado à difusão
do programa e de sua proposta política para realização de propaganda
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eleitoral antecipada e que houve a divulgação de imagem pessoal
do pré-candidato à Presidência da República, Senador Aécio Neves,
com o objetivo de promovê-lo.
Requereu, ao fi nal, a procedência dos pedidos para determinar
a cassação do direito do PSDB de veicular por 25 (vinte e cinco)
minutos as inserções na propaganda partidária, conforme art. 45, §
2º, II, da Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/1995).
Em sua defesa de fl s. 24-30, os representados, respectivamente,
PSDB e Aécio Neves da Cunha, aduziram que não houve durante
todo programa uma única menção a pleito futuro, “nem mesmo na
sua forma implícita pode se considerar a ocorrência de propaganda
antecipada”.
Defenderam que a propaganda se ateve na ênfase de temas
político-comunitarios e que “a exploração do desempenho de fi liado
no exercício de mandato eletivo e a alegação de que a utilização
de linguagem em primeira pessoa confi guraria promoção pessoal
do fi liado, não é sufi ciente para caracterizar propaganda eleitoral
antecipada (...)”.
Por fi m, expuseram que o objetivo do programa impugnado, nos
termos do art. 45 da Lei n. 9.096/1995, foi apresentar a forma e
a maneira de governar defendida pelo partido representado como
ideal.
Requereram a improcedência da representação por ter sido lícita
a propaganda partidária.
Em suas alegações (fl s. 36-37), os representados corroboraram
os termos da resposta e pediram a improcedência da representação
e, no caso de ser julgada procedente, a aplicação do princípio da
proporcionalidade.
O representante, nas alegações de fl s. 39-40, ratifi cou a peça
inicial.
Aberto prazo de 48 horas para pronunciamento, de acordo com o
art. 22, XIII, da Lei Complementar n. 64, de 1990, a Procuradoria-Geral
Eleitoral manifestou-se, às fl s. 47-49, pela extinção do feito, sem resolução
de mérito, nos termos do art. 267, I, do Código de Processo Civil (CPC),
haja vista a dosimetria da sanção postulada nesta representação não guardar
“relação lógica nem pertinência com a causa de pedir exposta na inicial”.
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Às fl s. 51-52, o Partido dos Trabalhadores argumentou que houve erro material, que a inicial cumpriu os requisitos dos arts. 282 e 283 do CPC e que a narrativa dos fatos foi “sufi ciente à demonstração da controvérsia e permitiu o exercício do contraditório e da ampla defesa pela agremiação Representada”, ratifi cando “o pleito original com aplicação da sanção prevista no artigo 45 § 2º, I, da Lei n. 9.096/1995”, e a cassação do direito de transmissão da propaganda partidária do PSDB no semestre seguinte. (destaques no original)
À fl . 55, foi concedida nova vista ao Ministério Público Eleitoral, que reiterou o parecer anterior para que seja acolhida a preliminar de inépcia da inicial, com a extinção do processo sem resolução do mérito ou, caso ultrapassada, seja o pedido julgado improcedente por inexistir irregularidade ou ilicitude na propaganda impugnada (fl s. 58-63).
É o relatório.
VOTO
A Sra. Ministra Laurita Vaz (Relatora): Senhor Presidente, alegou o
representante a utilização do programa em bloco nacional veiculado sob a
responsabilidade do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), no dia
30 de maio de 2013, para a realização de propaganda eleitoral antecipada
em benefício de pré-candidato à Presidência da República, Senador Aécio
Neves, com o escopo de alavancar sua popularidade eleitoral.
Inicialmente, assento a tempestividade da representação e a
legitimidade do representante, atendidas as prescrições dos §§ 3º e 4º do
art. 45 da Lei dos Partidos Políticos, bem como a subscrição da inicial por
advogados regularmente habilitados nos autos.
No que concerne à preliminar de inépcia da inicial, observo que
a peça do representante descreveu os fatos e os respectivos fundamentos,
possibilitando a compreensão da causa de pedir e do pedido.
Tanto isso é verdade que os representados exerceram plenamente a
defesa e o contraditório, nada questionando sobre a equivocada indicação
do dispositivo da Lei n. 9.096, de 1995, em que se ampara a pretensão do
PT.
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Além disso, não é absolutamente necessário que a parte autora
mencione o enquadramento legal das condutas descritas na inicial. Os
recorridos devem defender-se dos fatos imputados. É sufi ciente, portanto,
que a peça inaugural descreva os fatos e os fundamentos jurídicos e traga ao
conhecimento desta Justiça especializada eventual prática de ilícito eleitoral.
Nesse sentido tem decidido esta Corte Eleitoral consoante os
seguintes julgados: AgR-REspe n. 265-32-PR, Rel. Min. Castro Meira,
DJe de 7.8.2013; Rp n. 1.251-98-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel.
designado Min. Marcelo Ribeiro, DJe de 1º.8.2012; Rp n. 1.493-57-DF,
Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de 13.9.2011; e AgR-AI n. 3.197-08-DF,
Rel. Min. Hamildo Carvalhido, DJe de 22.6.2011.
Por oportuno, reproduzo a seguir ementas de julgados do Superior
Tribunal de Justiça sobre a matéria:
Recurso especial. Ação de indenização. “Caso da Escola Base”.
Graves acusações divulgadas pela mídia. Abuso sexual de crianças
em escola.
Inquérito policial arquivado por absoluta falta de mínimos
elementos contrários aos investigados. Ausência de causa de pedir.
Inépcia da inicial. Inexistência. Danos morais. Valor exorbitante.
Redução na espécie. Recurso especial parcialmente provido.
1. [...].
2. A petição inicial não deve ser considerada inepta quando, com
a narração dos fatos contidos na exordial, seja possível a razoável
compreensão, por parte do magistrado, da causa de pedir e do
pedido.
Precedentes desta Corte Superior.
3. Também não deve ser declarada como inepta a inicial que
possibilita o exercício de defesa, permitindo o pleno contraditório,
podendo-se, ainda, vislumbrar perfeitamente o pedido e a causa de
pedir.
4. [...].
5. Recurso especial parcialmente provido, para reduzir o valor
da indenização para o montante de R$ 100.000,00 (cem mil reais),
a cada um dos autores, corrigidos a partir da data deste julgamento.
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(REsp 1.215.294-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
Terceira Turma, DJe de 11.2.2014);
Agravo regimental no recurso especial. Ação revocatória. Inépcia
da petição inicial. Prazo decadencial. Decisão monocrática negando
seguimento ao apelo nobre. Insurgência da ré.
1. Não há como acolher a tese de inépcia da exordial, pois
“a petição inicial não deve ser considerada inepta quando, com
a narração dos fatos contidos na exordial, seja possível a razoável
compreensão, por parte do magistrado, da causa de pedir e do
pedido.” (AgRg no AREsp n. 207.365-SP, Rel. Ministro Sidnei
Beneti, Terceira Turma, julgado em 21.3.2013, DJe 2.4.2013)
1.1. A indicação dos fundamentos jurídicos do pedido não se
confunde com a obrigatoriedade de particularização, de modo
absoluto, de artigos de lei em que amparada a pretensão do autor.
“Isso porque a exigência legal deve conviver com o princípio
identifi cado pelos brocardos iura novit curia e da mihi factum dabo tibi jus.” (REsp n. 818.738-PB, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira
Turma, julgado em 19.8.2010, DJe 16.11.2010)
2. [...].
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp n. 1.075.225-MG, Rel. Min. Marco Buzzi,
Quarta Turma, DJe de 4.2.2014);
Relativamente à legitimidade ad causam do Sr. Aécio Neves da
Cunha, constato que o pedido do representante é exclusivamente da
cassação do tempo de transmissão de propaganda partidária a que faria jus
o PSDB no segundo semestre de 2013, nos termos da inicial de fl s. 2-9.
Passando ao exame do mérito, o regramento, as fi nalidades e as
vedações da propaganda partidária estão defi nidos no art. 45 da Lei n.
9.096, de 1995, alterado pela Lei n. 12.034, de 2009, o qual dispõe:
Art. 45. A propaganda partidária gratuita, gravada ou ao vivo,
efetuada mediante transmissão por rádio e televisão será realizada
entre as dezenove horas e trinta minutos e as vinte e duas horas para,
com exclusividade:
I - difundir os programas partidários;
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II - transmitir mensagens aos fi liados sobre a execução do
programa partidário, dos eventos com este relacionados e das
atividades congressuais do partido;
III - divulgar a posição do partido em relação a temas político-
comunitários.
IV - promover e difundir a participação política feminina,
dedicando às mulheres o tempo que será fi xado pelo órgão nacional
de direção partidária, observado o mínimo de 10% (dez por cento).
§ 1º Fica vedada, nos programas de que trata este Título:
I - a participação de pessoa fi liada a partido que não o responsável
pelo programa;
II - a divulgação de propaganda de candidatos a cargos eletivos e
a defesa de interesses pessoais ou de outros partidos;
III - a utilização de imagens ou cenas incorretas ou incompletas,
efeitos ou quaisquer outros recursos que distorçam ou falseiem os
fatos ou a sua comunicação.
§ 2o O partido que contrariar o disposto neste artigo será punido:
I - quando a infração ocorrer nas transmissões em bloco, com a
cassação do direito de transmissão no semestre seguinte;
II - quando a infração ocorrer nas transmissões em inserções,
com a cassação de tempo equivalente a 5 (cinco) vezes ao da inserção
ilícita, no semestre seguinte.
[...].
Eis o teor da publicidade impugnada:
Locutora em off : Quando o PSDB governou o Brasil, ele venceu
a infl ação e criou os primeiros programas de transferência de renda.
Hoje você vai ver o exemplo do trabalho do PSDB em um Estado
brasileiro. Você vai conhecer o jeito do PSDB cuidar das pessoas.
Aécio Neves (Presidente Nacional do PSDB): Andando aqui por
São João é difícil acreditar que já são trinta anos que nós tivemos
um momento mágico, que era o Brasil buscando se encontrar, com a
liberdade de nós mesmos escolhermos nosso destino. Eu falo sempre
que fui um telespectador privilegiado. O destino me permitiu estar
ao lado do meu avô na época, do Tancredo, e ao lado de fi guras
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como Ulisses, como tantos artífi ces daquela construção belíssima
que é a democracia. Porque ela é um instrumento, ela que nos
permite avançar do ponto de vista econômico e principalmente do
ponto de vista social. Acho que todos nós temos que ter sonhos para
fazer o que nós fazemos, não só na política. Ver um país onde haja
qualifi cação das pessoas, a educação seja de qualidade, para que as
pessoas possam subir na vida.
Aécio Neves (Presidente Nacional do PSDB): O que justifi ca você
fazer política é você ter a possibilidade de transformar de verdade
a vida das pessoas. O PSDB governa hoje oito Estados, governa
praticamente metade da população. E pra nós o lema fundamental é
o seguinte: gastar menos com a estrutura do Estado para gastar mais
com as pessoas. Foi dessa forma que nós governamos Minas.
[...]
Juracy Borges: Eu nasci na zona rural, aqui em Galheiros. Eu
amo o artesanato, adoro. Eu era depressiva. Além do artesanato ser
o meu sustento, ele foi o meu doutor também. Quem mais compra
na mão da gente mesmo são as pessoas de fora. São os turistas, a
gente leva para a feira. Se a gente fosse fazer o artesanato só para
aqui, a gente não ia ter muito retorno, não. A gente está sempre
em exposições e em feiras, através do Circuito dos Diamantes, que
é um grande parceiro. E é isso que a gente precisa, divulgação. Em
setembro eu estou indo para Londres, também a trabalho. É quase
que inacreditável, né? Para quem vivia em um cantinho isolado. O
Governo ajudou a colocar o nosso trabalho no mapa.
[...]
Aécio Neves (Presidente Nacional do PSDB): Isso é um exemplo e
eu faço questão que o Brasil inteiro veja isso, viu? Porque o trabalho
de vocês é tão bonito e tão importante e mostra a capacidade que
vocês têm, né, com todas as difi culdades. Isso é o que a gente chama
empreendedorismo, né. O caso da dona Juraci e das artesãs de
Diamantina é um caso claro de que, com apoio, com planejamento,
com qualifi cação, as pessoas empreendem e vão em frente.
Aécio Neves (Presidente Nacional do PSDB): Nós estamos na porta
de entrada do Vale do Jequitinhonha. Nós temos aqui em Minas
o maior perímetro irrigado do Brasil, que é o Projeto Jaíba, uma
grande parceria. Parceria com todos os líderes de governo, parceria
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com os empreendedores, com os produtores. Então, planejamento
em governo é essencial e é isso que o PSDB sabe fazer.
[...]
Populares: Aécio eu queria saber de você se o salário diminuiu
ou se o custo de vida aumentou. O meu salário não chega nem até
a metade do mês, não dá nem para pagar as contas. A sensação é de
abuso, né? Porque o tomate chegou a R$10,00 o quilo. E se perdeu
o direito até a salada de tomate.
Aécio Neves (Presidente Nacional do PSDB): Eu estou muito
preocupado. Essa é uma questão para nós que fi zemos o plano real lá
atrás, aqui tem muito da geração.
[...]
Aquilo foi um alívio, porque a infl ação penaliza quem? É quem
não tem como se defender. O rico tem dinheiro quando ele aplica no
título, aplica em algo que vai gerar a ele uma rentabilidade maior do
que a infl ação está comendo. E quem não tem? Quem tem que pegar
o dinheiro e comprar com medo do aumento no dia seguinte. É uma
questão grave, porque a infl ação é realimentada pela expectativa. Se
você está ali no seu comerciozinho, você acha que aqueles produtos
que você vende semana que vem eles já vão estar mais caros, você já
cria o aumento agora. E aí, ele fi ca efetivamente mais caro.
Popular: Meu pai fala que comprava de manhã uma coisa, a tarde
já estava, bem dizer, o dobro, no outro dia estava o triplo.
Aécio Neves (Presidente Nacional do PSDB): E foi uma luta,
precisou de muita coragem lá atrás, foi o Plano Real, que foi o mais
exitoso plano de controle da infl ação. Porque tudo o que veio depois,
veio com a estabilidade. A gente não teria os investimentos que o
Brasil teve se não tivesse estabilidade, você não ia ter os programas
de transferência de renda se você não tivesse estabilidade. A infl ação
tem que ser tratada com tolerância zero. É preciso que o governo
dê o exemplo. Um governo que gasta mais do que arrecada, é o
governo que vai estar ao fi nal estimulando a infl ação. É preciso
trabalhar para superação real da pobreza, estimulando as pessoas a
trabalhar, criando condições para que elas possam ter a sua renda,
crescer na vida. Eu não acho que a herança que um pai de família,
pode deixar para o seu fi lho é o cartão do Bolsa-Família, porque as
pessoas querem crescer, elas querem se desenvolver.
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Armando da Silva: Melhorou demais, melhorou 90%. Carne
e leite são minha produção fundamental. Antes não tinha como
investir. Estrada de terra com muito lamaçal, atoleiro, oito dias,
dez dias para chegar num lugar. Chegava ao ponto de jogar fora a
produção. Gastava para produzir e depois você não vendia, como
que vinha retorno para a nova safra? Aí o governo de Minas asfaltou
e as coisas “já pegou” a melhorar. Hoje, tudo que você produzir, você
vende, né? Ajudou a população toda, do município e da região toda.
Primeiro, eu ia na porta do mercado para vender a produção, e hoje
eles vêm na minha porta. E assim que for aumentando a produção
de leite, e as crias também vão aumentando, fazer o pão de queijinho
do dia. Tem que ter o pão de queijo, tem que ter. Mineiro gosta de
um pão de queijo mesmo.
Aécio Neves (Presidente Nacional do PSDB): O que o seu Armando
fala é de gestão. É gastar direito o dinheiro público. Aqui em Minas
mesmo, nós fi zemos mais de seis mil quilômetros de estradas, num
espaço muito, muito curto. É preciso focar nas nossas prioridades,
onde estão nossos gargalos, que o Brasil precisa de rodovias, precisa
de ferrovias, precisa de hidrovias, de portos e de aeroportos. É
preciso que nós saltemos de século e aqueles que estão no governo
compreendam que o setor privado não é inimigo, setor privado é
um parceiro essencial. O Estado tem que cuidar daquilo que é de
sua responsabilidade, de melhorar a qualidade da saúde pública, dar
mais recursos para a educação pública no Brasil e é o que o PSDB
vem fazendo em todos os oito estados que governa.
Ana Flávia Assunção: Eu quero ser gastrônoma, eu quero montar
o meu restaurante. Quero ser chef. A gente as vezes fala assim, pra
que matemática? O que o x da questão vai ser no seu futuro?
Vanilda Assunção: Essa lei de estar começando a estudar mais
novo, na verdade aqui em Minas já tem desde 2004. Um ano a mais
na escola.
Ana Flávia Assunção: No começo eu duvidava, eu falava: nossa
pra que?
Vanilda Assunção: A mais velha teve um ensino diferente.
Quando ela chegou no ensino médio, ela não tinha tanta facilidade
como os mais novos têm hoje. Vendo o ensino deles, eu resolvi voltar
a estudar e meu marido também resolveu voltar a estudar. Nós três
formamos juntos, Eu, ele e a minha fi lha mais velha.
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Aécio Neves (Presidente Nacional do PSDB): É muito bom ver
o que aconteceu com a vida da família da dona Vanilda. Não
existe nenhum político no Brasil que não diga que educação seja
fundamental, mas a diferença está entre dizer e fazer. Em Minas
Gerais, nós fi zemos e transformamos Minas no Estado que tem a
melhor educação fundamental do Brasil. É possível, sim, qualifi car
a nossa mão de obra, com educação também de qualidade. Porque
é a educação que transforma a vida das pessoas, é a educação que
dá perspectiva. Educação mexe tanto na economia, mexe nos
indicadores sociais, mas mexe aqui, na cabeça das pessoas. Com
educação, as pessoas são capazes de sonhar e de acreditar que podem
mais. E você só pode mais, meu amigo, se você acreditar que pode
ultrapassar barreiras.
Geraldo Alckmin (Governador de São Paulo): Essa é a festa da
unidade do PSDB. Estamos unidos para servir o Brasil.
José Serra (Ex-Governador de São Paulo): É o projeto de defender
a democracia, a liberdade, a independência dos poderes e a decência
na vida pública.
Fernando Henrique Cardoso (Presidente de Honra do PSDB): Outra vez é o momento de mudanças importantes. E cabe ao PSDB
estar olhando para frente e ajudar essas mudanças.
Aécio Neves (Presidente Nacional do PSDB): Nós queremos
que cada brasileiro possa escolher o seu caminho, conseguir a sua
independência e buscar o seu sucesso, o seu progresso. É por isso que
nós estamos aqui, para construir um tempo novo no Brasil, escrever
uma página de dignidade, competência e de utopia por um Brasil
mais justo e mais solidário. Viva o PSDB e um grande abraço.
Analisada a peça impugnada e a mídia trazida aos autos, verifi ca-
se que a propaganda cuida de diversas temáticas com interesse político-
comunitário: democracia, política de educação, infl ação, saúde,
infraestrutura, melhoria da efi ciência na gestão pública em busca do
desenvolvimento com justiça social, entre outros.
O fato de a publicidade estar protagonizada por liderança política
e exercente de cargo eletivo, que apresenta as posições da agremiação
responsável pela veiculação do programa partidário sobre temas político-
comunitários, ainda que, em alguns momentos, fale de si próprio e relate
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experiências sob ponto de vista pessoal, não induz à exclusiva promoção
pessoal em desvio das fi nalidades legais.
A jurisprudência desta Corte Superior admite a participação de
fi liado na apresentação de programa partidário quando não haja menção
a pleito futuro, pedido de votos ou promoção pessoal de eventual
candidatura, como se pode observar das ementas a seguir transcritas:
Agravo regimental. Representação por propaganda eleitoral
antecipada. Eleições 2014. Presidente da República. Art. 36 da Lei
n. 9.504/1997. Ausência de conotação eleitoral.
1. A exaltação de atos de governo sem qualquer referência ao
pleito futuro confi gura mera prestação de contas à sociedade, o
que não se confunde com a propaganda eleitoral extemporânea.
Precedentes.
2. Agravo regimental não provido.
(AgR-Rp n. 328-67-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
DJe de 10.12.2013);
Recurso especial. Propaganda eleitoral antecipada. Adesivos.
Hashtag. Ausência de referência ao pleito.
Para se concluir pela divulgação de propaganda eleitoral
extemporânea é necessário demonstrar a presença dos requisitos
ensejadores do ato de propaganda: a divulgação, ainda que de
forma dissimulada, da candidatura; a ação política que se pretende
desenvolver; as razões que levem a inferir que o benefi ciário seja o
mais apto para a função pública; ou, a referência, ainda que indireta,
ao pleito.
(AgR-REspe n. 130-66-MS, de minha relatoria, Rel. designado
Min. Henrique Neves, DJe de 27.11.2013);
Propaganda partidária. Alegação de desvio de fi nalidade.
Promoção pessoal. Filiado. Candidato. Regionalização. Inserções
nacionais. Possibilidade. Improcedência.
1. A propaganda eleitoral extemporânea em espaço de propaganda
partidária confi gura-se quando há o anúncio, ainda que de forma
indireta e disfarçada, de determinada candidatura, dos propósitos
para obter apoio por intermédio do voto e de exclusiva promoção
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pessoal com fi nalidade eleitoral, o que não se verifi ca na hipótese dos autos.
2. Admite-se que liderança de expressão apresente as posições da agremiação responsável pela veiculação da publicidade partidária sobre temas político-comunitários. Precedentes.
3. Possibilidade de veiculação de conteúdo diferenciado em inserções nacionais de propaganda partidária.
4. Representação que se julga improcedente.
(Rp n. 429-41-DF, de minha relatoria, DJe de 7.11.2013);
Propaganda eleitoral antecipada. Propaganda partidária.
1. E possível o reenquadramento jurídico dos fatos se estes estiverem precisamente delineados no acórdão regional e não for preciso reexaminar fatos e provas. Precedentes: AgR-REspe n. 46-98, rel. Min. Dias Toff oli, DJE de 12.3.2013; AgR-REspe n. 148-66, de minha relatoria, DJE de 19.8.2013.
2. A jurisprudência deste Tribunal é no sentido de ser possível a participação de fi liado no programa partidário, desde que não haja pedido de votos ou menção a possível candidatura (AgR-REspe n. 1.551-16, rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJE de 19.4.2011; AgR-AI n. 3.027-36, rel. Min. Arnaldo Versiani, DJE de 5.4.2011).
Agravo regimental a que se nega provimento
(AgR-REspe n. 98-97-SP, Rel. Min. Henrique Neves, DJe de 5.11.2013);
Propaganda partidária. Alegação de desvio de fi nalidade. Propaganda eleitoral antecipada. Divulgação. Candidatura. Filiado. Partido diverso. Ausência. Comprovação. Prévio conhecimento. Benefi ciado. Procedência parcial.
1. A propaganda eleitoral extemporânea em espaço de propaganda partidária confi gura-se quando há o anúncio, ainda que de forma indireta e disfarçada, de determinada candidatura, dos propósitos para obter apoio por intermédio do voto e de exclusiva promoção pessoal com fi nalidade eleitoral.
2. Somente é possível impor a sanção por infração ao art. 36 da Lei n. 9.504/1997 ao benefi ciário de propaganda eleitoral antecipada
quando comprovado o seu prévio conhecimento. Precedentes.
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3. Inaplicável à espécie a regra do art. 367, § 2º, do Código
Eleitoral. Precedentes.
4. Representação que se julga procedente, em parte.
(Rp n. 1.379-21-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de
17.8.2012);
Propaganda partidária. Alegação de desvio de fi nalidade.
Publicidade negativa. Agremiações partidárias diversas. Promoção
pessoal. Propaganda eleitoral antecipada. Preliminares. Inépcia da
inicial. Rejeição. Improcedência.
1. [...].
2. Não confi gura desvio de fi nalidade na propaganda partidária a
divulgação, ao eleitorado, de atividades desenvolvidas sob a condução
de determinada agremiação política, sem menção a candidatura, a
eleições ou a pedido de votos, nem publicidade negativa de outros
partidos políticos.
3. Caracteriza propaganda eleitoral em espaço de propaganda
partidária o anúncio, ainda que de forma indireta e disfarçada,
de determinada candidatura, dos propósitos para obter apoio por
intermédio do voto e de exclusiva promoção pessoal com fi nalidade
eleitoral.
4. A veiculação de programa partidário sem promoção pessoal
de fi liado com explícita fi nalidade eleitoral afasta a aplicação
de penalidade pecuniária pela prática de propaganda eleitoral
extemporânea.
5. Representação que se julga improcedente.
(Rp n. 41.990-50-DF, rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJe de
8.6.2010);
Representação. Propaganda eleitoral antecipada. Programa
partidário.
1. A jurisprudência do Tribunal admite que no programa
partidário haja a participação de fi liados com destaque político,
desde que não exceda ao limite da discussão de temas de interesse
político-comunitário.
409
Ministros do STJ no TSE - Ministra Laurita Vaz
2. É plausível que a agremiação partidária, em seu programa,
dê realce a notórios fi liados e sua atuação e vida política, o que, na
verdade, expressa a representatividade do próprio partido e suas
conquistas; não se permite, todavia, é que essa exposição se afi gure
excessiva, de modo a realizar propaganda eleitoral antecipada em
prol de determinada candidatura.
Agravo regimental a que se nega provimento.
(Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral n. 27.857-
RN, rel. Min. Arnaldo Versiani, DJe de 16.10.2009).
Não vislumbro no conteúdo da mídia exibida qualquer ilicitude na propaganda questionada e verifi co seu ajuste à moldura do inciso III do transcrito art. 45 da Lei dos Partidos Políticos.
Ante o exposto, reconheço a ilegitimidade passiva ad causam para julgar extinta a representação, sem resolução de mérito, em relação ao Sr. Aécio Neves da Cunha, nos termos do art. 267, I, do Código de Processo Civil, e improcedente quanto ao mais.
É como voto.
VOTO (vencido)
O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Senhores Ministros, peço vênia aos Colegas para divergir. Repito que o desvirtuamento da propaganda partidária é algo escancarado, o abuso é de parte a parte.
Temos aqui situação jurídica em que, em horário de propaganda, no caso do Partido da Social Democracia Brasileira, apresentou-se – reconheço que ele integra o partido, é fi liado a ele – pré-candidato e simplesmente foi sinalizado aos eleitores o que seria o governo do próprio PSDB, o governo central do Partido.
Aludindo, por exemplo, a fatos que estão transcritos no voto da Relatora:
[...]
Então, planejamento em governo é essencial e é isso que o PSDB
sabe fazer.
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Propaganda Partidária
MSTJTSE, a. 7, (12): 393-418, novembro 2015
E por aí adiante. Houve interlocutor que apontou algo com o
qual devo concordar: “Mineiro gosta de um pão de queijo mesmo.” Isso
realmente não revela desvirtuamento da propaganda partidária.
No mais, o que se versou foi justamente o necessário para ter-se –
como já disse em caso antecedente – aplainada a via, visando o sucesso nas
eleições que se avizinham.
REPRESENTAÇÃO N. 1.001-60 – CLASSE 42 – DISTRITO FEDERAL (Brasília)
Relatora: Ministra Laurita Vaz
Representante: Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) –
Nacional
Advogados: Afonso Assis Ribeiro e outros
Representados: Partido dos Trabalhadores (PT) – Nacional e outra
Advogados: Sidney Sá das Neves e outro
EMENTA
Propaganda partidária. Alegação de desvio de fi nalidade.
Crítica. Administração. Participação. Filiado. Discussão. Temas.
Interesse político-comunitário. Improcedência.
1. Na linha da jurisprudência desta Corte, é admissível a
participação de fi liados com destaque político durante a veiculação
de programa partidário, desde que nele não ocorra publicidade de
teor eleitoral ou exclusiva promoção pessoal.
2. Não há confi guração de propaganda eleitoral antecipada no
espaço destinado ao programa partidário quando ausentes pedido de
votos ou divulgação, ainda que dissimulada, de candidatura, de ação
política que se pretenda desenvolver, de razões que levem a inferir que
o benefi ciário seja o mais apto para a função pública e/ou referência,
mesmo que indireta, ao pleito. Precedentes.
3. Representação que se julga improcedente.
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Ministros do STJ no TSE - Ministra Laurita Vaz
ACÓRDÃO
Acordam os Ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por
unanimidade, em julgar improcedente a representação, nos termos do voto
da relatora.
Brasília, 16 de junho de 2014.
Ministra Laurita Vaz, Relatora
DJe 4.8.2014
RELATÓRIO
A Sra. Ministra Laurita Vaz: Senhor Presidente, reproduzo a seguir o
teor do relatório assentado às fl s. 60-62:
Trata-se de representação ajuizada pelo Diretório Nacional do
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que impugnou a
veiculação, ocorrida em 12 e 14 de dezembro de 2013, de inserções
nacionais produzidas pelo Partido dos Trabalhadores (PT), com
fundamento nos arts. 45, § 1º, II, da Lei n. 9.096, de 1995, e 36,
§ 3º, da Lei n. 9.504, de 1997, por alegado desvio de fi nalidade de
propaganda partidária.
Argumentou o representante que o PT teria utilizado o espaço
destinado à difusão do programa e de sua proposta política para
“ilegalmente, promover eleitoralmente a segunda representada”,
“sabidamente candidata a reeleição”. (destaques no original).
Aduziu que a propaganda não disfarçou ao fazer uma
“verdadeira apologia à pessoa de Dilma Roussef” e que serviu única e
exclusivamente para alavancar a sua pessoa e a sua reeleição (destaque no original).
Noticiou que é “escancarada a intenção da propaganda
impugnada em promover a pessoa de Dilma Roussef e de pregar a
continuidade do governo nas eleições vindouras, inclusive com
passagem de aberto confronto com uma eventual candidatura de
oposição” (destaque no original).
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Propaganda Partidária
MSTJTSE, a. 7, (12): 393-418, novembro 2015
Pugnou, ao fi nal, pela providência da representação, com a
imposição aos representados das penas do § 2º do art. 45 da Lei n.
9.096, de 1995, e do § 3º do art. 36 da Lei n. 9.504, de 1997.
Em sua defesa de fl s. 21-29, os representados asseveraram que
as peças veiculadas tiveram como objetivo transmitir à população a
posição do partido em relação a temas político-comunitários e que,
em momento algum, ostentaram caráter eleitoreiro ou buscaram
fazer publicidade negativa contra partidos de oposição.
Defendeu não haver nas inserções veiculadas a divulgação de
propaganda de candidatos a cargos eletivos e a defesa de interesses
pessoais, mas, sim, enaltecimento das ações do partido e das suas
políticas públicas.
Por fi m, expôs ter sido lícita a propaganda partidária, considerando
a ausência de promoção pessoal, e requereu a improcedência da
representação.
Em suas alegações (fl s. 46-48), o PSDB ratifi cou a peça inicial
para impor aos representados as penas do § 2º do art. 45 da Lei n.
9.096, de 1995, e do § 3º do art. 36 da Lei n. 9.504, de 1997.
Os representados, à fl . 44, corroboraram os termos de sua
resposta, e pediram a improcedência da representação.
Determinei o pronunciamento da Procuradoria-Geral Eleitoral, em
observância ao rito previsto no art. 22, XIII, da Lei Complementar n. 64,
de 1990, tendo se manifestado pela improcedência da representação (fl s.
53-58 e 65).
É o relatório.
VOTO
A Sra. Ministra Laurita Vaz (Relatora): Senhor Presidente, alegou
o representante que o Partido dos Trabalhadores teria utilizado programa
partidário para ressaltar as supostas qualidades da segunda representada e
fazer referências aos seus feitos administrativos, além de disparar rasgados
elogios ao governo, num verdadeiro “proselitismo eleitoreiro”.
413
Ministros do STJ no TSE - Ministra Laurita Vaz
Inicialmente, assento a tempestividade da representação, a
legitimidade do representante, atendidas as prescrições dos §§ 3º e 4º do
art. 45 da Lei dos Partido Políticos, bem como a subscrição da inicial por
advogados regularmente habilitados nos autos.
Passo ao exame de mérito e observo que o regramento, as fi nalidades
e as vedações da propaganda partidária estão defi nidos no art. 45 da Lei n.
9.096, de 1995, o qual dispõe:
Art. 45. A propaganda partidária gratuita, gravada ou ao vivo,
efetuada mediante transmissão por rádio e televisão será realizada
entre as dezenove horas e trinta minutos e as vinte e duas horas para,
com exclusividade:
I - difundir os programas partidários;
II - transmitir mensagens aos fi liados sobre a execução do
programa partidário, dos eventos com este relacionados e das
atividades congressuais do partido;
III - divulgar a posição do partido em relação a temas político-
comunitários.
IV - promover e difundir a participação política feminina,
dedicando às mulheres o tempo que será fi xado pelo órgão nacional
de direção partidária, observado o mínimo de 10% (dez por cento).
§ 1º Fica vedada, nos programas de que trata este Título:
I - a participação de pessoa fi liada a partido que não o responsável
pelo programa;
II - a divulgação de propaganda de candidatos a cargos eletivos e
a defesa de interesses pessoais ou de outros partidos;
III - a utilização de imagens ou cenas incorretas ou incompletas,
efeitos ou quaisquer outros recursos que distorçam ou falseiem os
fatos ou a sua comunicação.
§ 2o O partido que contrariar o disposto neste artigo será punido:
I - quando a infração ocorrer nas transmissões em bloco, com a
cassação do direito de transmissão no semestre seguinte;
II - quando a infração ocorrer nas transmissões em inserções,
com a cassação de tempo equivalente a 5 (cinco) vezes ao da inserção
ilícita, no semestre seguinte.
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Propaganda Partidária
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[...].
Eis o teor das peças inquinadas de irregulares:
Inserção 1
Dilma Vana Rousseff : Somos um país com uma das menores taxas
de desemprego do mundo. E vamos continuar sendo. Mais que isso:
Vamos gerar cada vez mais empregos de qualidade. Somos um país
que cresce, com distribuição de renda e infl ação controlada. E vamos
continuar sendo. Mais que isso: Seremos um país de economia cada
vez mais dinâmica solidária e sustentável.
Inserção 2
Dilma Vana Rousseff : O Brasil fez, faz e fará. Somos um país
que decidiu fazer uma profunda mudança no seu sistema de saúde.
E vamos continuar sendo. Mais que isso: vamos aprofundar essas
mudanças para que todos os serviços públicos, sem exceção, atendam
ao nosso povo com dignidade. Porque o Brasil quanto mais faz, mais
aprendea fazer. E aprende a fazer mais rápido.
Inserção 3
Luiz Inácio Lula da Silva: Tem políticos que até hoje defendem
cortar a verba do Bolsa Família. São os mesmos que fi cam falando
que é preciso oferecer “porta de saída”. Como se o Bolsa Família
já não fosse uma grande porta de saída da miséria, e uma grande
porta de entrada para um futuro melhor. Mas quer saber? Deixa eles
falarem. Porque o Bolsa Família é como bolo: quanto mais batem,
mais ele cresce. E, crescendo, garante uma vida mais digna a milhões
e milhões de brasileiros.
Analisadas as inserções e a mídia trazida aos autos, verifi ca-se a
presença de temas inerentes ao conteúdo de um programa partidário, tais
como assistência social, saúde, distribuição de renda e desenvolvimento
econômico e social.
Ainda que a propaganda seja apresentada pela presidente da
República Dilma Rousseff , tal circunstância não tem o condão de afetar o
jogo democrático, como assinalou a Procuradoria-Geral Eleitoral em seu
parecer.
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Ministros do STJ no TSE - Ministra Laurita Vaz
A jurisprudência deste Tribunal tem admitido a participação de
fi liado com destaque político em programa partidário, bem como críticas à
Administração quando inseridas na discussão os temas relativos à realização
de propaganda político-partidária, verbis:
Representação. Propaganda eleitoral extemporanea. Não
caracterizada. Precedentes. Agravo regimental desprovido.
1. É permitida a participação de fi liados em programas
partidários para a divulgação, ao eleitorado, de atividades realizadas
por administrações públicas, desde que não exceda o conteúdo
político-comunitário e não haja menção a candidatura, eleições ou
pedido de votos.
[...]
3. Agravo regimental desprovido.
(AgR-REspe n. 2.140-40-AM, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de
28.2.2014);
Representação. Propaganda partidária gratuita. Desvirtuamento.
Preliminares. Ilegitimidade ativa do Ministério Público Eleitoral.
Inépcia da petição inicial. Impossibilidade juridica do pedido.
Intempestividade. Ilegitimidade passiva. Necessidade de prova
pericial. Rejeição. Merito. Participação de fi liada com destaque
político. Possibilidade. Conotação eleiltoral. Ausência. Propaganda
antecipada não confi gurada. Improcedência.
[...]
7. Na linha da jurisprudência desta Corte, é admissível a
participação de fi liados com destaque político durante a veiculação
de programa partidário, desde que nela não ocorra publicidade de
teor eleitoral ou exclusiva promoção pessoal.
[...]
9. Representação julgada improcedente.
(Rp n. 1.251-98-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. designado
Min. Marcelo Ribeiro, DJe de 1º.8.2012);
Representação. Programa partidário. Desvio de fi nalidade.
Propaganda eleitoral antecipada. Promoção pessoal. Comparação
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Propaganda Partidária
MSTJTSE, a. 7, (12): 393-418, novembro 2015
entre administrações. Caráter subliminar. Preliminares. Ilegitimidade ativa. Ministério Público Eleitoral. Rejeição. Litispendência. Conexão. Julgamento conjunto. Procedencia.
[...]
4. A divulgação de críticas à atuação de administrações conduzidas por governos anteriores em comparação com o atual é inadmissível quando desborde dos limites da discussão de temas de interesse político-comunitário, em contexto indissociável da disputa eleitoral de próxima realização, e busque ressaltar as qualidades do responsável pelo programa e denegrir a imagem de legendas adversárias, sobe de se confi gurar propaganda subliminar.
(Rp n. 1.109-94-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de 27.3.2012);
Representação. Propaganda partidária. Critica. Desvinculação. Discussão. Temas. Interesse politico-comunitário. Ofensa pessoal. Procedencia parcial.
1. O lançamento de críticas em programa partidário – ainda que desabonadoras – ao desempenho de fi liado à frente da administração é admitido quando não ultrapasse o limite da discussão de temas de interesse político-comunitário, vedada a divulgação de ofensas pessoais ao governante ou à imagem de partido político, não exalte as qualidades do responsável pela propaganda e não denigra a imagem da agremiação opositora, sob pena de confi gurar propaganda eleitoral subliminar, veiculada em período não autorizado pela legislação de regência.
(Rp n. 1.181-81-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de 17.8.2011).
Sobre a alegada propaganda eleitoral antecipada em programa
partidário, o atual entendimento desta Corte Superior se encontra
estampado nas ementas a seguir reproduzidas:
Representação. Propaganda partidária. Eleições 2014. Inserção
nacional. Desvirtuamento. Art. 45, § 2º, II, da Lei n. 9.096/1995.
Competência. Tribunal Superior Eleitoral.
1. A mera exaltação das qualidades do integrante do partido,
conquanto não constitua propaganda eleitoral pois não houve pedido
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Ministros do STJ no TSE - Ministra Laurita Vaz
de voto e nem menção a uma possível candidatura - confi gura,
outrossim, desvirtuamento da propaganda partidária por ofensa à
norma do art. 45 da Lei n. 9.096/1995.
2. A competência para o julgamento de representação que versa
sobre propaganda partidária veiculada em inserções nacionais é do
Tribunal Superior Eleitoral.
3. Representação julgada procedente.
(Rp n. 114-76-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, Red. Designado Min.
João Otávio de Noronha, DJe de 12.2.2014);
Representação. Propaganda partidária. Eleições 2014. Inserção
nacional. Desvirtuamento. Art. 45, § 2º, II, da Lei n. 9.096/1995.
Competência. Tribunal Superior Eleitoral.
1. A mera exaltação das qualidades do integrante do partido,
conquanto não constitua propaganda eleitoral - pois não houve
pedido de voto e nem menção a uma possível candidatura -
confi gura, outrossim, desvirtuamento da propaganda partidária por
ofensa à norma do art. 45 da Lei n. 9.096/1995.
2. A competência para o julgamento de representação que versa
sobre propaganda partidária veiculada em inserções nacionais é do
Tribunal Superior Eleitoral.
3. Representação julgada procedente.
(Rp n. 113-91-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, Red. Designado Min.
João Otávio de Noronha, DJe de 7.2.2014).
Não vislumbro no conteúdo das peças veiculadas ilicitude e verifi co
seu ajuste à moldura do art. 45, III, da Lei n. 9.096, de 1995, ausentes, na
espécie, propaganda eleitoral extemporânea ou desvirtuamento do espaço
destinado à publicidade partidária.
Esta Corte, em recente julgamento, promovido na sessão
jurisdicional de 27.5.2014, ao apreciar hipótese análoga à destes autos,
envolvendo publicidade partidária do PT, igualmente protagonizada pela
segunda representada, cuja exibição ocorrera em 24.10.2013, concluiu pela
improcedência da representação (Rp n. 806-75.2013.6.00.0000-DF).
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Diante do exposto, julgo improcedente a representação e determino
o seu arquivamento.
É como voto.