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APC 2003 01 1 094745-9 4ª Turma Cível Fl.___________ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS A Gabinete do Desembargador Humberto Adjuto Ulhôa 1 Órgão : QUARTA TURMA CÍVEL Classe : APC APELAÇÃO CÍVEL Num. Processo : 2003 01 1 094745-9 Apelante(s) : WORLD STUDY BRAZIL NETWORK & EDUCAÇÃO INTERCULTURAL LTDA Apelado(a)(s) : MÁRCIO ANTÔNIO PATELLO SALDANHA E OUTRO(S) PLANETA INTERCÂMBIO E VIAGENS LTDA Relator Des. : HUMBERTO ADJUTO ULHÔA Revisora Desa. : VERA LÚCIA ANDRIGHI E M E N T A DIREITO DO CONSUMIDOR CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ORGANIZAÇÃO DE VIAGEM PARA PROGRAMA EDUCACIONAL NO EXTERIOR REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS CABIMENTO. 01. Tratando-se de relação de consumo, a responsabilidade da apelante é apurada de forma objetiva e solidária, não se perquirindo a extensão de sua culpa pelo defeito na prestação do serviço. 02. Tendo em vista que o contrato estabelece cláusula de exoneração de responsabilidade, esta deve ser desconsiderada, eis que é vedada cláusula contratual que impeça a obrigação de indenizar, a teor do que dispõe o art. 25 do Código de Defesa do Consumidor. 03. Apelo conhecido e não provido.Maioria.

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APC 2003 01 1 094745-9

4ª Turma Cível

Fl.___________

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

A Gabinete do Desembargador Humberto Adjuto Ulhôa 1

Órgão : QUARTA TURMA CÍVEL

Classe : APC – APELAÇÃO CÍVEL

Num. Processo : 2003 01 1 094745-9

Apelante(s) : WORLD STUDY BRAZIL NETWORK & EDUCAÇÃO

INTERCULTURAL LTDA

Apelado(a)(s) : MÁRCIO ANTÔNIO PATELLO SALDANHA E OUTRO(S)

PLANETA INTERCÂMBIO E VIAGENS LTDA

Relator Des. : HUMBERTO ADJUTO ULHÔA

Revisora Desa. : VERA LÚCIA ANDRIGHI

EE MM EE NN TT AA

DIREITO DO CONSUMIDOR – CONTRATO DE

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ORGANIZAÇÃO DE

VIAGEM PARA PROGRAMA EDUCACIONAL NO

EXTERIOR – REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E

MORAIS – CABIMENTO.

01. Tratando-se de relação de consumo, a responsabilidade

da apelante é apurada de forma objetiva e solidária, não se

perquirindo a extensão de sua culpa pelo defeito na prestação

do serviço.

02. Tendo em vista que o contrato estabelece cláusula de

exoneração de responsabilidade, esta deve ser desconsiderada,

eis que é vedada cláusula contratual que impeça a obrigação

de indenizar, a teor do que dispõe o art. 25 do Código de

Defesa do Consumidor.

03. Apelo conhecido e não provido.Maioria.

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AA CC ÓÓ RR DD ÃÃ OO Acordam os Senhores Desembargadores da Quarta

Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Des. HUMBERTO ADJUTO ULHÔA - Relator, Desa. VERA LÚCIA ANDRIGHI – Revisora e Des. GETÚLIO MORAES OLIVEIRA – 1º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador HUMBERTO ADJUTO ULHÔA em CONHECER. NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. MAIORIA, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 06 de junho de 2005.

Desembargador HUMBERTO ADJUTO ULHÔA Relator e Presidente

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RR EE LL AA TT ÓÓ RR II OO

O relatório é, em parte, o da r. sentença monocrática

(fls. 164/172), in verbis:

“MÁRCIO ANTONIO PATELHO SALDANHA e MÁRCIO NOGUEIRA DA CRUZ SALDANHA ajuizaram a presente ação de ressarcimento c/c perdas e danos, pelo rito ordinário, em desfavor de WOLD STUDY INTERCÂMBIO E VIAGENS LTDA e PLANETA INTERCÂMBIO E VIAGENS LTDA.

Aduzem, em apertada síntese, que, em 16.05.2002, o 2o autor, representado pelo 1o autor, seu genitor, firmou contrato de prestação de serviços no exterior com a 1a ré, representada pela 2a ré, pelo qual, o 2o autor participaria de um programa de intercâmbio cultural em high school nos Estados Unidos, pelo período de agosto de 2002 a julho de 2003, com acomodação em unidade famíliar composta por um ou mais membros, em condições de hospedar um adolescente estrangeiro pelo período do intercâmbio, mediante o pagamento de um preço.

Pelos serviços os autores efetuaram pagamentos nas quantias de R$ 1.020.00, relativa ao serviço de organização da viagem; R$ 12.727,00 (à época U$ 4.850,00), relativa a matrícula em programa de high school; e R$ 4.769,50, relativa às passagens aéreas, totalizando R$ 18.516,50.

Contudo, as requeridas não adimpliram com sua parte do contrato, pois o intercambista passou 42 (quarenta e dois) dias na casa do coordenador do programa, dormindo num sofá estendido no chão, enquanto aguardava acomodação em uma família anfitriã. Após essa quarentena, o intercambista foi encaminhado para uma família anfitriã, composta de uma só pessoa, vindo depois a saber, pelo próprio anfitrião, que este era homossexual. O que provou seu imediato retorno ao Brasil.

Comunicada a respeito, a primeira ré concordou com a devolução da parcela referente ao programa de high school (R$ 12.727,00), em três parcelas de U$ 800,00 e uma parcela de U$ 2.400,00, tendo sido devolvido aos autores somente uma parcela.

Requereram, assim, a decretação da rescisão contratual com a condenação das requeridas no pagamento de quantia equivalente a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a título de indenização pelos danos morais, R$ 20.000,00 (vinte mil reais), pelos danos materiais.

Juntaram os documentos de fls. 07/43. A 2a requerida, PLANETA INTERCÂMBIO E

VIAGENS LTDA, ofereceu resposta, fls. 61/66, aduzindo, preliminarmente, sua

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ilegitimidade passiva, eis que em função do contrato de representação comercial firmado com a 1a requerida, esta seria inteiramente responsável pelos riscos do negócio. Acrescentando que não participou da escolha da família anfitriã, limitando-se a vender o produto com pequena comissão.

No mérito, impugna o pedido de dano moral dizendo que o intercambista e seu pai foram esclarecidos quanto as peculiaridades do aprendizado e que o intercambista poderia se deparar com situações novas. A alegação vaga, imprecisa e originada do próprio autor de que o anfitrião era homossexual não pode ser considerada, pois tratava-se de homem de 40 anos, solteiro, exercendo a profissão de psicólogo e talvez tenha sido vítima de preconceito, não tendo sido demonstrado qualquer constrangimento ou situação vexatória que pudesse gerar dano moral.

Diz que nos Estados Unidos, em face da proteção a individualidade, as pessoas não têm preocupação extrema com a própria aparência, o que pode ter levado os autores a interpretar de forma equivocada as atitudes do anfitrião.

Afirma que o rompimento do contrato se deu por culpa exclusiva dos autores que haviam se comprometido a estabelecer uma boa convivência com a família anfitriã e, no entanto, à primeira suspeita de que o anfitrião era homossexual o intercambista retornou ao Brasil.

Impugna o valor requerido a título de danos morais, por ser elevado e desproporcional.

No tocante aos danos materiais, diz que não participou dos preparativos para a viagem do estudante e não consta do contrato a hipótese de devolução dos valores pagos por simples insatisfação. Não podem os autores reclamar o ressarcimento integral dos valores, sob pena de locupletamento, pois o estudante viajou aos Estados Unidos e usufruiu parte do intercâmbio.

A 1a requerida, WOLD STUDY INTERCÂMBIO E VIAGENS LTDA, apresentou resposta, fls. 90/108, aduzindo, preliminarmente, invalidade no ato citatório, porquanto o mandado fora cumprido na sede da EDUCAR INTERCÂMBIOS LTDA, pessoa jurídica que mantém relação comercial com a requerida sem pertencer ao seu quadro social. Requerendo o recebimento da contestação apresentada espontaneamente e dentro do prazo legal em face da existência de dois réus com procuradores diferentes. Ainda em preliminar, alega sua ilegitimidade passiva, pois a empresa contratada foi a 2a requerida, sem qualquer participação ou intermediação da contestante.

Afirma que seu relacionamento com a 1a requerida PLANETA INTERCÂMBIO E VIAGENS LTDA, diante da confessada ausência de condições econômico-financeiras desta, restou revogado. Ao celebrar o distrato, a 1a requerida assumiu a responsabilidade pelas dívidas, observando-se dos autos

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que esta se prontificou a reembolsar os autores, partindo destes a recusa em celebrar acordo para recebimento dos valores.

No mérito, assevera que o intercambista viajou para os Estados Unidos e em seguida voltou ao Brasil insatisfeito com os serviços prestados e negociou com a 2a requerida o ressarcimento dos valores desembolsados, não havendo qualquer prova dos fatos que teriam ocorrido nos Estados Unidos.

Diz que a contratada cumpriu com sua parte na avença, existindo nos autos, fl. 15, documento que comprova a participação do intercambista no treinamento. Os autores haviam sido alertados sobre a possibilidade de atraso na acomodação, e o retorno do intercambista ao Brasil representou rescisão unilateral, sem qualquer aviso ou interpelação, por parte dos autores.

Afirma que o estudante realizou a viagem ida e volta, via aérea, para os Estados Unidos, sendo descabido o ressarcimento de tais valores, bem como o ressarcimento do valor referente ao intercâmbio, em face da rescisão do contrato por culpa dos autores.

No tocante ao pedido de indenização por danos morais, diz que o contrato previa a possibilidade de a família anfitriã ser composta de apenas uma pessoa e que esta é escolhida de acordo com as condições financeiras e, principalmente, estrutura psicológica para receber um estudante estrangeiro. Os autores demonstraram preconceito e discriminação, inexistindo qualquer reclamação em relação a uma atitude específica do anfitrião.

Asseverou ainda que sua denominação correta é WORLD STUDY BRAZIL NETWORK & EDUCAÇÃO INTERCULTURAL LTDA.

Réplica às fls. 135/136. Designada data para colheita da prova oral, a

audiência transcorreu consoante fls. 161/163, tendo sido colhido o depoimento pessoal dos autores. Na oportunidade, as partes ofereceram alegações finais.”

Acrescento que o MM. Juiz prolator da r. sentença assim decidiu, verbis: “Por essas considerações, julgo parcialmente procedente o pedido formulado na petição inicial para decretar a rescisão do contrato celebrado pelas partes, por culpa das requeridas, condenando-as, solidariamente, no pagamento aos autores de indenização a título de danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a ser corrigido monetariamente pelos índices do TJDFT e acrescido de juros moratórios de 0,5% ao mês, ambos a contar desta data. Condeno ainda as requeridas a ressarcirem aos autores 50% da quantia de R$ 12.727,00 (doze mil, setecentos e vinte e sete reais), da qual deverá ser abatido o valor já ressarcido, ambos corrigidos monetariamente a contar dos respectivos desembolsos e acrescidos de juros de 0,5% ao mês a contar da citação. Em razão da

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sucumbência recíproca, as custas serão divididas em 50% para os autores e 50% para os réus e cada parte arcará com os honorários do respectivo advogado. Retifiquem-se os registros para que passe a constar a denominação correta da 1a requerida como WORLD STUDY BRAZIL NETWORK & EDUCAÇÃO INTERCULTURAL LTDA.”

Inconformada, apela a primeira ré – WORLD STUDY

BRAZIL NETWORK & EDUCAÇÃO INTERCULTURAL LTDA. (fls. 177/196) –,

aduzindo que o segundo autor não se adaptou às condições apresentadas,

desistindo do programa contratado e retornou ao Brasil antes da data prevista.

Afirma que os autores estavam cientes das condições do programa de intercâmbio e

da possibilidade de sobrevirem incidentes, havendo previsão contratual nesse

sentido, com o qual anuíram.

Alega que o contrato contém todas as informações

sobre o programa de intercâmbio, sendo os autores informados acerca do atraso na

colocação do estudante na família anfitriã e de que referida família poderia ser

composta por um único componente, não havendo, também, como se exigir

informações acerca da opção sexual do anfitrião. E, ainda, que o segundo autor não

sofreu qualquer tipo de constrangimento por parte do anfitrião, o qual, ao contrário,

sempre o tratou bem. Segue, alegando que a rescisão contratual ocorreu por culpa

dos apelados, tendo o segundo autor retornado ao Brasil antes do prazo estipulado

no contrato, sem qualquer aviso ou interpelação à apelante, razão pela qual não há

que se falar em reembolso do valor pago pelo curso no exterior.

Assevera que não intermediou qualquer transação

comercial entre os autores e a segunda ré, atribuindo a esta a responsabilidade pelo

descumprimento do contrato e que não restou caracterizado o dano moral, pelo fato

de o anfitrião ser homossexual.

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Por fim, pugna pela reforma da r. sentença

monocrática, para que seja afastada a condenação, julgando-se totalmente

improcedente os pedidos dos autores.

Preparo regular, fl. 197.

Contra-razões, fls. 201/202, pugnando pela

manutenção da r. sentença monocrática.

É o relatório.

VV OO TT OO SS

O Senhor Desembargador HUMBERTO ADJUTO ULHÔA – Relator

Conheço do recurso, eis que presentes os

pressupostos de sua admissibilidade.

Conforme disposto no relatório, trata-se de apelação

interposta pela primeira ré – WORLD STUDY BRAZIL NETWORK & EDUCAÇÃO

INTERCULTURAL LTDA. – contra a r. sentença monocrática, pretendendo a sua

reforma, para que seja afastada a condenação e seja julgado totalmente

improcedente o pedido deduzido na inicial.

Da análise dos autos, entendo que a razão não está

com a apelante.

Inicialmente, impõe-se traçar alguns balizamentos

acerca da responsabilidade civil da apelante e do conseqüente dever de reparar o

dano causado aos autores.

É que, tratando-se de relação de consumo, a

responsabilidade da apelante é apurada de forma objetiva e solidária, não se

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perquirindo, portanto, a extensão de sua culpa pelo defeito na prestação do serviço,

bastando que o tenha colocado no mercado ou que tenha concorrido para tanto.

Vale dizer, o caráter objetivo da responsabilidade

das rés exsurge da colocação do serviço no mercado de consumo, ou seja, pelo

risco da atividade desenvolvida, devendo responder civilmente quando, em razão de

um serviço prestado de forma defeituosa, venha a causar dano ao consumidor.

De igual sorte, deve a apelante responder

solidariamente com a segunda ré, pelo simples fato de ter concorrido para que o

serviço causador do dano estivesse no mercado, até porque o “Instrumento

Particular de Distrato e Outras Avenças (fls. 128/131), havido entre as rés, ocorreu

em 30/04/2003, ou seja, um ano após os autores celebrarem “Contrato de Prestação

de Serviços de Organização de Viagem para Programa Educacional no Exterior”

(fls. 09/14).

Delimitada, pois, a responsabilidade objetiva e

solidária da apelante, na condição de fornecedora do serviço, passo à análise dos

elementos que pressupõem a sua responsabilização, a saber: o defeito no serviço, o

evento danoso (“eventus damni”) e a relação de causalidade entre ambos.

In casu, restou efetivamente demonstrado que o

segundo autor não se adaptou às condições apresentadas, em face do vício na

qualidade do serviço prestado pela apelante, fazendo com que desistisse do curso

de intercâmbio e retornasse ao Brasil.

Com efeito, é falacioso o argumento de que os

autores estavam cientes das condições do programa de intercâmbio e da

possibilidade de sobrevirem incidentes, porquanto não é crível que alguém com o

mínimo discernimento pague um valor considerável (R$ 18.516,50) por um curso no

exterior e adira à cláusula prevendo a possibilidade de ocorrência de incidentes.

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Devo, ainda, assinalar que a cláusula contratual que

trata da parte aérea e embarque, não ampara o inconformismo da apelante, ao

estabelecer que o atraso “em colocação não significa cancelamento de Intercâmbio

Cultural nem implica em cancelamento deste contrato”. (fl. 10).

Em verdade, referida cláusula deve ser

desconsiderada, eis que se trata de cláusula de exoneração da responsabilidade,

não sendo permitida a avença de cláusula contratual que impeça a obrigação de

indenizar, a teor do que dispõe o art. 25 do Código de Defesa do Consumidor.

Assim, tenho que a r. sentença monocrática, com

acerto, discorreu quanto à relação de causalidade entre o vício na qualidade do

serviço e o evento danoso, conforme se vê do trecho abaixo transcrito, in verbis:

“Na hipótese dos autos, o estudante intercambista

viajou aos Estados Unidos imaginando que seria convenientemente acomodado em casa de família, desfrutando de todo estrutura correspondente, até porque adimplira com sua parte no contrato, mediante o pagamento do preço. Sucede que ao chegar no País alienígena viu-se na contingência de permanecer mais de quarenta dias acomodado de forma precária, dormindo em um sofá estendido no chão, sem local adequado para guardar seu pertences pessoais. Após esse período, foi finalmente acomodado na residência de um senhor solteiro, o qual teria manifestado sua preferência homossexual. Tal situação trouxe intranqüilidade ao intercambista que procurou a coordenação do programa, tendo sido informado que lhe seria providenciada nova acomodação em uma semana. Em face da experiência anterior de má acomodação por mais de quarenta dias, preferiu este retornar ao Brasil.” (fl.169)

De mais a mais, devo destacar o fato de o segundo

autor, à época da viagem, ser um adolescente e, como tal, encontrava-se em franca

transformações biológica e psicológica, tudo isso ocorrendo em meio à intensa

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demanda de ajustamento a um outro país, cultura e língua, gerando, assim, uma

natural tensão.

Toda essa mudança deveria ocorrer sem que o

segundo autor tivesse que passar pelos aborrecimentos causados pela ré, que

prestou um serviço defeituoso, ao inserir o adolescente, após quarenta e dois dias

em más acomodações, em um lar em que o anfitrião assumiu a condição de

homossexual.

Não se trata aqui de discriminação ou preconceito,

nem, tampouco, se quer exigir da apelante que obtenha informações acerca da

opção sexual do anfitrião ou de quem quer que seja. Trata-se em verdade de uma

constatação fática de que o segundo autor, enquanto adolescente, não poderia ser

constrangido a conviver com uma pessoa de opção sexual diferente da sua.

Aliás, o constrangimento foi de tal ordem que, em

comunicado enviado ao primeiro autor (fls. 31/32), a Word Study assim se

pronunciou, “ad litteris”:

“Durante os nossos anos de atividade já tivemos

todo tipo de caso, desde estudante que furtou a família até estudante que foi furtado pela família anfitriã. Desde intercambistas que engravidaram a irmã de intercâmbio até moças intercambistas que voltaram grávidas; além de questões com drogas e violência... Este caso que envolveu seu filho foi um terrível acidente cometido pela Priscila / World Study, que cedeu à curiosidade de uma adolescente... Tenho apenas que reforçar meu pedido de desculpas e de perdão. Erramos. Considerando que o senhor já estava chateado com todo o ocorrido anteriormente, com certeza este evento deixou o senhor e sua família mais aborrecidos ainda conosco. Foi uma terrível sucessão de coincidências desagradáveis”. (grifos incluídos).

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Desse modo, entendo que a responsabilidade da

apelante está amplamente demonstrada, na medida em que efetivamente prestou

um serviço defeituoso, devendo responder pelos danos experimentados pelos

autores, reembolsando a metade dos valores pagos para a matrícula em programa

de “high school”, conforme determinado na r. sentença “a quo”.

De igual modo, deve a apelante responder pelo dano

moral causado; não pelo fato de o anfitrião ser homossexual, mas sim pela má

prestação no serviço oferecido aos autores, porquanto a produção do dano moral

independe da potencialidade ou efetividade do ato ofensivo. Vale dizer, é

desnecessária a prova do prejuízo, que é presumido, uma vez que o dano moral

decorre do próprio ato atentatório contra a honra e intimidade das pessoas.

Pelo exposto, nego provimento à apelação

interposta pela primeira ré, mantendo íntegra a r. sentença monocrática.

É como voto.

A Senhora Desembargadora VERA LÚCIA ANDRIGHI - Revisora

Conheço da apelação porque presentes os pressupostos

de admissibilidade.

MÁRCIO ANTÔNIO PATELLO SALDANHA e MÁRCIO

NOGUEIRA DA CRUZ SALDANHA propuseram ação contra WORLD STUDY

BRAZIL NETWORK & EDUCAÇÃO INTERCULTURAL LTDA e PLANETA

INTERCÂMBIO E VIAGENS LTDA, onde pretendem a rescisão do “contrato de

prestação de serviços de organização de viagem para programa educacional

no exterior”, com ressarcimento do valor pago, o recebimento de

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indenização por danos materiais no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e

por danos morais neste mesmo valor.

A r. sentença (fls. 167/72) rejeitou a preliminar de

ilegitimidade passiva suscitada pelas rés, em razão da responsabilidade

solidária dos fornecedores prevista no CDC, bem como a preliminar de

nulidade do processo por vício de citação, haja vista a ausência de prejuízo à

ré WORLD STUDY BRAZIL NETWORK & EDUCAÇÃO INTERCULTURAL LTDA. No

mérito, julgou parcialmente procedente o pedido para rescindir o contrato,

por culpa das rés, condenando-as, solidariamente, a pagarem aos autores

indenização por danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais),

acrescida de correção monetária e juros moratórios a partir da prolatação da

sentença, e, ainda, a ressarcirem a estes 50% (cinqüenta por cento) da

quantia de R$ 12.727,00 (doze mil, setecentos e vinte e sete reais),

abatendo-se o valor já ressarcido, ambos corrigidos monetariamente a partir

dos respectivos desembolsos e acrescidos de juros de 0,5% (meio por cento)

ao mês a partir da citação.

Em razão da sucumbência recíproca, as partes foram

condenadas a pagar 50% (cinqüenta por cento) das custas processuais e os

honorários advocatícios dos respectivos advogados.

A ré WORLD STUDY BRAZIL NETWORK & EDUCAÇÃO

INTERCULTURAL LTDA interpôs apelação (fls. 177/96), onde suscita

preliminar de ilegitimidade passiva. No mérito, pretende a reforma integral

da r. sentença, pois o contrato informou devidamente os apelados sobre as

condições do programa, inclusive sobre a possibilidade de incidentes; o

julgamento foi proferido contrariamente às provas constantes dos autos; os

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apelados não provaram suas alegações; o apelado MÁRCIO NOGUEIRA DA

CRUZ SALDANHA desistiu unilateralmente do contrato, sequer requerendo

sua recolocação em outra família; e não ficou caracterizado dano moral pelo

fato de o anfitrião do autor-intercambista ser homossexual. Pede o

julgamento de improcedência da indenização por danos morais e a redução

da indenização por danos materiais, pois foram contratados com terceiras

pessoas os serviços disponibilizados ao autor-intercambista.

Inicialmente, ressalto que a relação existente entre as

partes encontra-se submetida às disposições do Código de Defesa do

Consumidor.

Os apelados firmaram contrato com a empresa PLANETA

INTERCÂMBIO E VIAGENS LTDA. Entretanto, observa-se a indicação no

contrato que a WORLD STUDY realizaria serviços no intercâmbio, indicados

na cláusula “dos serviços” (fl. 09).

Também não há dúvida que a apelante é representada

pela empresa PLANETA INTERCÂMBIO E VIAGENS LTDA, conforme contrato de

representação (fls. 78/84).

O § 1º do art. 25 do CDC dispõe que o consumidor pode

acionar individualmente qualquer dos fornecedores do serviço pela

reparação de danos, o que confere, conseqüentemente, legitimidade passiva

à apelante.

Rejeito a preliminar.

Não existe controvérsia sobre o fato de que o apelado

MÁRCIO NOGUEIRA DA CRUZ SALDANHA permaneceu os primeiros quarenta

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dias na casa do coordenador local do intercâmbio, tanto que a apelante em

sua contestação não diverge dessa assertiva (fl. 100).

Isso demonstra que houve descumprimento contratual

pela WORLD STUDY BRAZIL NETWORK & EDUCAÇÃO INTERCULTURAL LTDA e

PLANETA INTERCÂMBIO E VIAGENS LTDA, pois consta da cláusula “da parte

aérea e embarque” (fl. 10), que o intercambista não será embarcado

enquanto não for selecionada uma família anfitriã.

Outro fato que evidencia a má-prestação dos serviços

pelas empresas contratadas encontra-se no depoimento pessoal do apelado

MÁRCIO NOGUEIRA DA CRUZ SALDANHA, que afirmou:

“(...) o depoente não se sentiu mais à vontade de permanecer no

local; que chegou a procurar o coordenador das requeridas,

objetivando colocação em outra família, tendo sido informado que

tal providência poderia demorar uma semana; que como

anteriormente haviam lhe prometido instalação em uma semana e

só conseguiram em mais de 40 dias, o depoente resolveu entrar em

contato com seu pai que providenciou o seu retorno para o Brasil

(...)”

Existindo inexecução do contrato pela apelante e pela

outra empresa ré, a rescisão contratual pelos apelantes mostra-se motivada

e impõe, conseqüentemente, a devolução de parte da quantia por eles

desembolsada, conforme fundamentos da r. sentença.

Mesmo que não fosse observado o descumprimento do

contrato pela apelante e pela outra empresa ré, nada impede a desistência

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de sua consecução pelos apelantes, permitindo-se, ainda, o reembolso de

parte da importância paga, uma vez que o CDC estabelece que é abusiva e

nula de pleno direito a cláusula contratual que subtraia do consumidor a

opção de reembolso das quantias pagas, pois importa em disposição de

direito, nos termos do inc. I do art. 51 daquele Diploma Legal.

Apesar das despesas realizadas pelas empresas-rés para a

compra de passagens, contratação dos serviços para acomodação do apelado

MÁRCIO NOGUEIRA DA CRUZ SALDANHA, matrícula no estabelecimento de

ensino, a r. sentença deve ser mantida quanto ao valor a ser ressarcido aos

apelados, visto que considerou todos esses gastos (fl. 170), além do que a

própria apelante faz proposta de pagamento de 50% (cinqüenta por cento) do

débito (fl. 40), documento que não foi impugnado.

No tocante ao dano moral, a causa de pedir é a

convivência com homossexual e a inexecução do contrato.

O fato de o apelado MÁRCIO NOGUEIRA DA CRUZ

SALDANHA ser colocado em residência de anfitrião homossexual não constitui

nenhuma violação aos seus direitos de personalidade, mesmo porque os

próprios apelados em seus depoimentos pessoais confirmam que não existiu

nenhuma forma de assédio pelo anfitrião (fls. 162/3).

Além disso, não há como imputar responsabilidade à

apelante por deixar de verificar a opção sexual do anfitrião, pois isso

constituiria violação à intimidade da pessoa.

A pretensão de reparação do dano moral por inexecução

contratual é controvertida na doutrina e na jurisprudência. Por vezes, o dano

moral surge inconteste quando, além do dano material, o inadimplemento

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repercute, por exemplo, em danos físicos, estéticos, creditícios. Então fica

fácil vislumbrar o direito de personalidade violado, e daí fixar a

correspondente compensação moral. No entanto, por vezes, a natureza

extrapatrimonial da prestação inadimplida está adstrita ao desassossego,

intranqüilidade, aborrecimento, ou seja, violação do sistema emocional do

homem. Nestes casos, o reconhecimento do dano moral contratual é restrito

às hipóteses de culpa grave do inadimplente e de expressivo desgaste do

sistema emocional do credor, decorrente do desassossego, irritação,

desgaste físico e utilização de seu tempo pessoal, causados pela

inadimplência.

No caso dos autos, apesar da inexecução contratual, não

houve culpa grave da apelante apta a ensejar o dano moral. Portanto, devem

prevalecer a doutrina e a jurisprudência majoritárias no sentido de restringir

as hipóteses de reparação moral decorrente de inadimplemento contratual,

especialmente porque ausentes os requisitos para sua concessão, citados

acima.

Diante do provimento parcial da apelação, existe a

modificação dos ônus sucumbenciais, que passam a recíprocos, porém, não

proporcionais.

Isso posto, conheço da apelação, rejeito a preliminar e

dou parcial provimento ao recurso para julgar improcedente o pedido de

indenização por dano moral. Condeno os autores e as empresas-rés,

respectivamente, ao pagamento de 70% (setenta por cento) e 30% (trinta por

cento) das custas processuais e honorários advocatícios, os quais fixo em 15%

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(quinze por cento sobre o valor da condenação, observando o disposto no

art. 20, § 3º e art. 21, ambos do CPC.

É o voto.

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA – 1º Vogal

Senhor Presidente, peço vênia à Desembargadora Revisora

para acompanhar o eminente Relator.

Penso que havia uma expectativa lícita dos familiares.

Evidentemente que não se trata de discriminação sexual ou de dizer que a

convivência com homossexual é geradora de danos morais, mas é um

comportamento não esperado. A família que enviou o adolescente para

participar do programa de intercâmbio não esperava deparar-se com uma

situação que não seja o comportamento padrão do ser humano.

Creio que o sofrimento moral ocorreu.

Acompanho o eminente Relator.

DD EE CC II SS ÃÃ OO

Conhecido. Negou-se provimento ao recurso.

Unânime.