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Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 13ª Vara Federal de Curitiba Av. Anita Garibaldi, 888, 2º andar - Bairro: Ahu - CEP: 80540-180 - Fone: (41)3210-1681 - www.jfpr.jus.br - Email: [email protected] AÇÃO PENAL Nº 5012331-04.2015.4.04.7000/PR AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU : WALDOMIRO DE OLIVEIRA ADVOGADO: JEFFREY CHIQUINI DA COSTA RÉU : SONIA MARIZA BRANCO ADVOGADO: MARCELO AUGUSTO CUSTODIO ERBELLA ADVOGADO: CLAUDIO JOSE LANGROIVA PEREIRA RÉU : SERGIO CUNHA MENDES ADVOGADO: MARCELO LEONARDO RÉU : ROGERIO CUNHA DE OLIVEIRA ADVOGADO: MARIA CAROLINA DE MELO AMORIM ADVOGADO: TALITA DE VASCONCELOS MONTEIRO ADVOGADO: LIGIA CIRENO TEOBALDO ADVOGADO: EDUARDO LEMOS LINS DE ALBUQUERQUE ADVOGADO: CARIEL BEZERRA PATRIOTA RÉU : RENATO DE SOUZA DUQUE ADVOGADO: ALEXANDRE LOPES DE OLIVEIRA ADVOGADO: ROBERTO BRZEZINSKI NETO ADVOGADO: RICARDO MATHIAS LAMERS ADVOGADO: RENATO RIBEIRO DE MORAES RÉU : PEDRO JOSE BARUSCO FILHO ADVOGADO: BEATRIZ LESSA DA FONSECA CATTA PRETA RÉU : PAULO ROBERTO COSTA ADVOGADO: JOAO MESTIERI ADVOGADO: JOAO DE BALDAQUE DANTON COELHO MESTIERI ADVOGADO: FERNANDA PEREIRA DA SILVA MACHADO

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Poder JudiciárioJUSTIÇA FEDERAL

Seção Judiciária do Paraná13ª Vara Federal de Curitiba

Av. Anita Garibaldi, 888, 2º andar - Bairro: Ahu - CEP: 80540-180 - Fone: (41)3210-1681 - www.jfpr.jus.br - Email:[email protected]

AÇÃO PENAL Nº 5012331-04.2015.4.04.7000/PR

AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

RÉU: WALDOMIRO DE OLIVEIRA

ADVOGADO: JEFFREY CHIQUINI DA COSTA

RÉU: SONIA MARIZA BRANCO

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ADVOGADO: EDWARD ROCHA DE CARVALHO

ADVOGADO: JOSÉ GUILHERME BREDA

ADVOGADO: ANA LUIZA HORN

ADVOGADO: EDUARDO EMANOEL DALLAGNOL DE SOUZA

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ADVOGADO: BRUNA ARAUJO AMATUZZI

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RÉU: JOAO VACCARI NETO

ADVOGADO: LUIZ FLAVIO BORGES D URSO

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ADVOGADO: FLAVIA GUIMARAES LEARDINI

ADVOGADO: PAULA STAVROPOULU BARCHA

ADVOGADO: MIGUEL PEREIRA NETO

DESPACHO/DECISÃO

1. Trata-se de denúncia formulada pelo MPF contra vinte e sete acusadosimputando-lhes os crimes de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro, e relacionadaa assim denominada Operação Lava Jato.

A peça acusatória foi recebida na data de 23/03/2015 (evento 13).

Apresentaram resposta no presente processo: Sergio Mendes (ev. 131),Renato Duque (ev. 137), Waldomiro de Oliveira (ev. 140), Agenor Franklin, JoséAdelmário e Mateus Coutinho (ev. 141), Adir Assad (ev. 145), Luiz Ricardo Sampaiode Almeida (ev. 161), Paulo Roberto Costa (ev. 163), Renato Vinicius de Siqueira,Marcus Vinicius Holanda Teixeira (ev. 169), Lucélio Goes (evs. 184 e 318), AlbertoElísio Vilaça Gomes (ev. 278), Augusto Ribeiro Mendonça (ev. 282), Julio Gerin deAlmeida Camargo (ev. 283), Pedro Barusco (ev. 284), Sonia Mariza Branco (ev. 301),Rogério Cunha de Oliveira (ev. 303), Ângelo Alves Mendes (ev. 306), João VaccariNeto (ev. 310), José Americo Diniz (ev. 320), José Humberto Cruvinel Resende (ev.321), Francisco Cláudio Perdigão (ev. 322), Dario Teixeira Alves Junior (ev. 328) eVicente Ribeiro (ev. 352).

Falta, apenas, a apresentação da peça defensiva de Alberto Youssef(decurso em 13/05).

Pela decisão de 20/04/2015 (evento 205), designei, em vista daexistência de acusados presos, audiência para oitiva das testemunhas de acusação edeterminei outras providências.

Algumas das Defesas reclamaram de invalidade pela designaçãoantecipada das audiências antes do exame das respostas preliminares, mas o fato é que amedida foi tomada em benefício dos acusados presos que tem direito a um

procedimento célere. Não se vislumbra com facilidade qual seria o prejuízodecorrente, já que as audiência serão realizadas após a decisão quanto às respostaspreliminares.

Passo a examinar as respostas preliminares. Depois, complementareicom a análise da resposta de Alberto Youssef.

2. Sobre as exceções apresentadas, de suspeição, de impedimento, delitispendência e incompetência, serão apreciadas nos autos próprios.

3. Parte das Defesas alegou cerceamento de defesa pela falta deelementos probatórios citados na denúncia.

A questão já foi apreciada e resolvida pela decisão de 20/04/2015(evento 205), a qual remeto.

4. Parte das Defesas alega que a denúncia é inepta e genérica.

Ora, a denúncia é longa, mas descreve cumprida e circunstanciadamenteos fatos delitivos, declinando os motivos de imputação em relação a cada acusado.

Na decisão de recebimento (evento 13), fiz um resumo ao qual remeto.

Pode-se eventualmente discordar da denúncia em relação às provas damaterialidade e autoria dos crimes, mas isso não diz respeito a vício formal da peça esim ao mérito, cuja apreciação está reservada ao julgamento.

Igualmente, pelo já exposto na referida decisão do evento 13, não há falarem falta de justa causa, salvo no que se refere ao item seguinte.

5. Quanto às negativas da prática dos crimes formuladas em várias dasrespostas preliminares, só será possível apreciar após a instrução.

Vários dos acusados, especificamente empregados das empreiteiras nosConsórcios, alegaram de falta de dolo, pois teriam assinado contratos que a Acusaçãoafirma serem fraudulentos por determinação superior e desconhecendo essa condição.

Em princípio, não cabe discutir nessa fase processual a presença doelemento subjetivo. Trata-se de questão de alta indagação cuja resolução pertence aojulgamento.

Entretanto, considerando os depoimentos dos acusados colaboradores,nos quais a denúncia em muito se funda, constata-se que, segundo eles, o conhecimentoa respeito da prática dos crimes circunscrevia-se à cúpula diretiva das empresasenvolvidas.

É possível, portanto, que subordinados das empreiteiras Mendes Júnior eOAS tenham assinado contratos ideologicamente falsos sem conhecimento pleno dosfatos.

Nessas condições, reputo mais prudente rever, como requereram asDefesas, o recebimento das denúncias em relação a esses empregados subordinados,rejeitando-as e sem prejuízo de nova denúncia caso surjam novas provas.

Observo que, embora a fase processual em questão não comporte emregra a rejeição da denúncia, trata-se aqui de adotar medida mais benéfica aos acusadosem questão.

Assim, e em vista do consignado nas respostas preliminares, revejo, embenefício dos acusados e excepcionalmente, a decisão de recebimento da denúncia,rejeitando-a por falta de justa causa em relação ao elemento subjetivo doloso emrelação aos seguintes acusados:

- Luiz Ricardo Sampaio de Almeida, Marcus Vinicius Holanda Teixeira,Renato Vinicios de Siqueira, que eram representantes da OAS e dos Consórcios por elacompostos e teriam assinado contratos ideologicamente falsos; e

- José Humberto Cruvinel Resende, Francisco Claudio Santos Perdigão,Vicente Ribeiro de Carvalho e José Américo Diniz eram os representantes da MendesJúnior no Consórcio Interpar ou no Consórcio CMMS e teriam assinado contratosideologicamente falsos.

Tudo isso, sem prejuízo da propositura de ação penal se surgirem novasprovas.

Como esses acusados não serão ouvidos mais como acusados, faculto àspartes que os arrolem, querendo, como testemunhas a serem ouvidas no processo.Prazo de cinco dias.

6. A Defesa de Renato Duque argumenta que os acordos de colaboraçãopremiada são nulos pois a Lei nº 12.850/2013 não poderia ser aplicada retroativamente.

Aqui um equívoco, pois a Lei n.º 12.850/2013 inovou basicamente no quediz respeito ao procedimento da realização dos acordos de colaboração, já que existiam normas anteriores que conferiam benefícios materiais a criminososcolaboradores, v.g. arts. 13 a 15 da Lei nº 9.807/1999. Quanto às normasprocedimentais, aplicam-se as inovações de imediato, não havendo proibição deaplicação a crimes pretéritos, conforme regra expressa do art. 2º do CPP.

Então não há nulidade a ser reconhecida pela causa apontada.

7. Alega a Defesa de Lucélio Goes que o acordo de colaboração premiadade Alberto Youssef seria inválido poque ele teria quebrado anterior acordo decolaboração premiada celebrada no Caso Banestado. O acordo seria inválido porque ocolaborador careceria de credibilidade.

Ora, a palavra de um criminoso colaborador deve ser sempre corroboradapor outras provas e não há qualquer óbice para que os delatados questionem acredibilidade do depoimento do colaborador e a corroboração dela por outras provas.

Entretanto, em qualquer hipótese, não podem ser confundidas questões devalidade com questões de valoração da prova.

Argumentar, por exemplo, que o colaborador é um criminosoprofissional ou que descumpriu acordo anterior é um questionamento da credibilidadedo depoimento do colaborador, não tendo qualquer relação com a validade do acordoou da prova.

Questões relativas à credibilidade do depoimento resolvem-se pelavaloração da prova, com análise da qualidade dos depoimentos, considerando, porexemplo, densidade, consistência interna e externa, e, principalmente, com a existênciaou não de prova de corroboração.

Então não há qualquer invalidade a ser reconhecida, não sendo o caso deconfundir o plano da validade com o da valoração das provas. Quanto à valoração, cabeela apenas quando do julgamento.

8. Questiona a Defesa de Lucélio Goes a separação das imputaçõesdecorrentes do esquema criminoso da Petrobrás em diversas ações penais.

Já abordei a questão na decisão de recebimento da denúncia.

Reputo razoável a iniciativa do MPF de promover o oferecimentoseparado de denúncias sobre os fatos delitivos.

Apesar da existência de um contexto geral de fatos, a formulação de umaúnica denúncia, com dezenas de fatos delitivos e acusados, dificultaria a tramitação ejulgamento, violando o direito da sociedade e dos acusados à razoável duração doprocesso.

Também não merece censura a não inclusão na denúncia dos crimes deformação de cartel e de frustração à licitação. Tais crimes são descritos na denúnciaapenas como antecedentes à lavagem e, por força do princípio da autonomia dalavagem, bastam para processamento da acusação por lavagem indícios dos crimesantecedentes (art. 2º, §1º, da Lei nº 9.613/1998). Provavelmente, entendeu o MPF quea denúncia por esses crimes específicos demanda aprofundamento das investigaçõespara delimitar todas as circunstâncias deles.

Apesar da separação da persecução, oportuna para evitar o agigantamentoda ação penal com dezenas de crimes e acusados, remanesce o Juízo como competentepara todos, nos termos dos arts. 80 e 82 do CPP.

Então o procedimento adotado não fere a lei, ao contrário encontrarespaldo expresso nela.

9. Questionam as Defesas de Renato Duque, Agenor Franklin, JoséAdelmário e Mateus Coutinho a validade da interceptação das comunicações realizadaspelo Blackberry Messenger, alegando que seria necessária cooperação jurídicainternacional.

Importante destacar, primeiro, que o resultado da prova decorrente dainterceptação do Blackberry tem uma importância muito pequena no processo.

Para as Defesas que levantaram a questão, tem talvez alguma relevânciapara Mateus Coutinho, já que citado em troca de mensagens por Alberto Youssef comterceiro.

Para os demais, sequer foram interceptados pelo Blackberry.

Quanto à alegação da Defesa de Agenor, Aldemário e Mateus de que ainterceptação do Blackberry consistiria na origem do caso, não correspondeminimamente à realidade dos autos, já que as provas mais relevantes são quebras desigilo bancário e fiscal, além de depoimentos de testemunhas e de acusados. Se aDefesa pretende alegar que há alguma prova ilícita por derivação deve demonstrar onexo causal, não bastando alegação genérica.

Ainda que assim não fosse, não há qualquer vício na prova.

No processo de interceptação telefônica 5026387-13.2013.404.7000,foi autorizada interceptação telefônica e telemática de Carlos Habib Chater porsupostos crimes financeiros e de lavagem de dinheiro. Posteriormente, identificadogrupo criminoso dirigido por Alberto Youssef com o qual os ora investigados teriaminteragido, houve desmembramento dos feitos e das investigações, passando ainterceptação telefônica e telemática desse grupo a ser realizada no processo5049597-93.2013.404.7000.

A interceptação telemática abrangeu mensagens trocadas através doBlackberry Messenger.

Nada há de ilegal em ordem de autoridade judicial brasileira deinterceptação telemática ou telefônica de mensagens ou diálogos trocados entrepessoas residentes no Brasil e tendo por objetivo a investigação de crimes praticadosno Brasil, submetidos, portanto, à jurisdição nacional brasileira.

O fato da empresa que providencia o serviço estar sediada no exterior, aRIM Canadá, não altera o quadro jurídico, máxime quando dispõe de subsidiária noBrasil apta a cumprir a determinação judicial, como é o caso, a Blackberry Serviços deSuporte do Brasil Ltda.

Essas questões foram esclarecidas no ofício 36 e na decisão de21/08/2013 (evento 39) do processo conexo 5026387-13.2013.404.7000.

A cooperação jurídica internacional só seria necessária caso sepretendesse, por exemplo, interceptar pessoas residentes no exterior, o que não é ocaso, pois tanto os ora acusados, como todos os demais investigados na OperaçãoLavajato residem no Brasil.

Com as devidas adaptações, aplicáveis os precedentes firmados peloEgrégio TRF4 e pela Egrégia Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça quando dadiscussão da validade da interceptação de mensagens enviadas por residentes no Brasilutilizando os endereços eletrônicos e serviços disponibilizados pela Google.

Do TRF4:

"MANDADO DE SEGURANÇA. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. QUEBRA DESIGILO. EMPRESA 'CONTROLADORA ESTRANGEIRA. DADOSARMAZENADOS NO EXTERIOR. POSSIBILIDADE DE FORNECIMENTO DOSDADOS.

1. Determinada a quebra de sigilo telemático em investigação de crime cujaapuração e punição sujeitam-se à legislação brasileira, impõe-se ao impetranteo dever de prestar as informações requeridas, mesmo que os servidores daempresa encontrem-se em outro país, uma vez que se trata de empresaconstituída conforme as leis locais e, por este motivo, sujeita tanto à legislaçãobrasileira quanto às determinações da autoridade judicial brasileira.

2. O armazenamento de dados no exterior não obsta o cumprimento da medidaque determinou o fornecimento de dados telemáticos, uma vez que basta àempresa controladora estrangeira repassar os dados à empresa controlada noBrasil, não ficando caracterizada, por esta transferência, a quebra de sigilo.

3. A decisão relativa ao local de armazenamento dos dados é questão de âmbitoorganizacional interno da empresa, não sendo de modo algum oponível aocomando judicial que determina a quebra de sigilo.

4. Segurança denegada. Prejudicado o agravo regimental." (Mandado deSegurança nº 5030054-55.2013.404.0000/PR - Rel. Des. Federal João PedroGebran Neto - 8ª Turma do TRF4 - un. - j. 26/02/2014)

Da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça:

"QUESTÃO DE ORDEM. DECISÃO DA MINISTRA RELATORA QUEDETERMINOU A QUEBRA DE SIGILO TELEMÁTICO (GMAIL) DEINVESTIGADOS EM INQUÉRITO EM TRÂMITE NESTE STJ. GOOGLE BRASILINTERNET LTDA. DESCUMPRIMENTO. ALEGADA IMPOSSIBILIDADE.INVERDADE. GOOGLE INTERNATIONAL LLC E GOOGLE INC.CONTROLADORA AMERICANA. IRRELEVÂNCIA. EMPRESA INSTITUÍDA EEM ATUAÇÃO NO PAÍS. OBRIGATORIEDADE DE SUBMISSÃO ÀS LEISBRASILEIRAS, ONDE OPERA EM RELEVANTE E ESTRATÉGICOSEGUIMENTO DE TELECOMUNICAÇÃO. TROCA DE MENSAGENS, VIA E-MAIL , ENTRE BRASILEIROS, EM TERRITÓRIO NACIONAL, COM SUSPEITADE ENVOLVIMENTO EM CRIMES COMETIDOS NO BRASIL. INEQUÍVOCAJURISDIÇÃO BRASILEIRA. DADOS QUE CONSTITUEM ELEMENTOS DEPROVA QUE NÃO PODEM SE SUJEITAR À POLÍTICA DE ESTADO OUEMPRESA ESTRANGEIROS. AFRONTA À SOBERANIA NACIONAL.IMPOSIÇÃO DE MULTA DIÁRIA PELO DESCUMPRIMENTO." (Questão deOrdem no Inquérito 784/DF, Corte Especial, Relatora Ministra Laurita Vaz -por maioria - j. 17/04/2013)

A própria empresa Google Inc. e a sua subsidiária no Brasil, Google doBrasil, após essas controvérsias, passaram, como é notório, cumprir as ordens deinterceptação das autoridades judiciais brasileiras sem novos questionamentos.

Recusar ao juiz brasileiro o poder de decretar a interceptação telemáticaou telefônica de pessoas residentes no Brasil e para apurar crimes praticados no Brasilrepresentaria verdadeira afronta à soberania nacional e capitis diminutio da jurisdiçãobrasileira.

Seguindo a argumentação defendida pelas Defesas, seria o mesmo que,com consequência necessária, concordar que a Justiça estrangeira pudesse interceptarcidadãos ou residentes brasileiros tão só pelo fato do sistema de comunicaçãoutilizado ser disponibilizado por empresa residente no exterior, como a Google, aMicrosoft ou a própria a RIM Canadá.

Tratando-se de questão submetida à jurisdição brasileira, desnecessáriacooperação jurídica internacional.

Impertinente, portanto, a alegação da Defesa de que teria havido violaçãodo Tratado de Assistência Mútua em Matéria Penal entre o Brasil e o Canadá e que foipromulgado no Brasil pelo Decreto nº 6747/2009. Não sendo o caso de cooperação, otratado não tem aplicação.

Não se tem, aliás, notícia de que qualquer autoridade do Governocanadense tenha emitido qualquer reclamação quanto à imaginária violação do tratadode cooperação mútua.

Oportuno lembrar que o descumprimento de compromissosinternacionais geram direitos às Entidades de Direito Internacional lesadas e não, porevidente, a terceiros. Cabe, portanto, aos Estados partes a reclamação. A ausência dequalquer reclamação das autoridades canadenses acerca da suposta violação é um sinalque não há violação nenhuma.

Tendo a Justiça brasileira jurisdição para ordenar interceptaçãotelemática de troca de mensagens através do Blackberry Messenger quando os crimesocorreram no Brasil e quando os interlocutores são residentes no Brasil, não tem amenor relevância a questão relativa à forma de implementação da diligência, se osofícios judiciais ou da autoridade policial foram entregues a X ou a Y, se foram seladosou não, se o endereço foi escrito corretamente, com utilização de letra cursiva ou não.Essas são questiúnculas relativas à formalidades, sendo apenas relevante se atenderamou não a finalidade da realização da diligência e se foram ou não autorizadasjudicialmente, questões já respondidas no sentido afirmativo.

Portanto, não há invalidade a ser reconhecida, como também járeconheceu, por unanimidade, o Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região nojulgamento do HC 5023642-74.2014.404.0000 em ação penal conexa.

Indefiro, portanto, o reconhecimento da ilicitude desta prova.

10. Alegam as Defesas de Agenor Franklin, José Adelmário e MateusCoutinho que o depoimento prestado por Alberto Youssef na ação penal 5026212-82.2014.404.7000 seria ilícito por violação do direito ao silêncio do acusado.

Quanto a esta questão, sem analisar o mérito dela, observo que somente aDefesa de Alberto Youssef pode reclamar quanto a eventual violação do direito aosilêncio de seu cliente na referida audiência.

Não obstante, a Defesa de Alberto Youssef estava presente na ocasião enão apresentou qualquer objeção ao depoimento de seu cliente.

Assim, não faz qualquer sentido que esse tipo de alegação.

Agregue-se que o depoimento em questão é mero elemento informativoda denúncia e Alberto Youssef será ouvido na presente ação penal, sob contraditório,que é o que será considerado para avaliação probatória quando do julgamento.

11. Quanto ao argumento da Defesa de Alberto Elísio Vilaça de que eleteria deixado a Mendes Júnior em 30/03/2011, observo que a denúncia reporta-se afatos, inclusive pagamento de propina, ocorrido anteriormente a esta data,especialmente no âmbito do Consórcio Interpar, não sendo ele causa para absolviçãosumária.

Além disso, o coacusado Augusto Mendonça declarou que Alberto Vilaçatinha conhecimento do pagamento de propina nos contratos efetuados pelosConsórcios.

Então a questão deve ser deixada para o julgamento.

12. José Américo Diniz (evento 320) coloca a disposição seu sigilofiscal e bancário ao MPF, que apresentaria em separado.

José Humberto Cruvinel Resente (evento 321) apresenta rol detestemunhas e requer perícia grafotécnica para demonstrar que a assinatura do contratocom a empresa Rio Marine não é sua.

Francisco Cláudio Santos Perdigão (evento 321) coloca a disposição seusigilo fiscal e bancário ao MPF, que apresentaria em separado.

Vicente Ribeiro de Carvalho (evento 352) coloca a disposição seu sigilofiscal e bancário ao MPF, que apresentaria em separado.

Os requerimentos ficam prejudicados pelo constante no item 5, retro.

13. Alega a Defesa de Dario Teixeira invalidade da busca e apreensãoordenada em sua residência, uma vez que teria que ter sido expedida carta precatória.

Para apreciar a questão, necessário que a Defesa indique se na busca foicolhido algum elemento probatório relevante que necessite ser excluído, se positivodiscriminando.

A medida visa evitar discussão sobre questão em abstrato sem reflexoconcreto para o presente feito. Concedo o prazo de cinco dias para esclarecimento.

14. As Defesas de Sergio Mendes e Alberto Elísio pleitearam arequisição dos seguintes documentos juntoà Petrobras:

"a) Cópias das ATAS de reuniõesentre equipe da PETROBRAS e equipe daMENDES JUNIOR (ou dos Consórcios INTERPARe CMMS de que estaparticipou), relativas a negociação do preço da propostaapresentada, queantecederam a assinatura do contrato, em relação a cada umadas duas obrascitadas na denúncia, isto é REPAR e REPLAN;

b) Cópias da ATAS de reuniões entreequipe da PETROBRÁS e equipe daMENDES JUNIOR (ou dos Consórcios INTERPAR eCMMS de que estaparticipou), relativas a negociação que antecedeu a assinaturade cada um dosdiversos ADITIVOS de contratos, em relação acada uma das duas obrascitadas na denúncia, isto é REPAR e REPLAN;

c) Cópia dos RELATÓRIOS e PARECERESelaborados pela equipe daPETROBRÁS e por seu Jurídico, quesubsidiaram as decisões da diretoriaexecutiva da PETROBRÁS, para aprovação daassinatura de contratos e decada um dos aditivos, em relação a cada uma dasduas obras citadas nadenúncia, isto é REPAR e REPLAN;"

Defiro a requisição desses documentos. Entendo que a requisição supre opedido mais genérico de requisição feito pela Defesa deÂngelo Mendes. Se assim nãofor, deve essa Defesa melhor explicitar eventuaisoutros documentos.

Intime-se a Petrobras, na pessoa de seus advogados, para osapresentarem, se muito extensos em mídia separada a ser apresentada em Secretaria.Prazo de 20 dias.

15. As Defesas de Sergio Mendes, Agenor Franklin, José Adelmário,Mateus Coutinho, Alberto Elísio, Sônia Branco e Ângelo Mendes requereram arealização de perícia para apurar a ocorrência de superfaturamento ou sobrepreço nasobras.

Manifestamente desnecessária a perícia considerando os termos daimputação.

A denúncia abrange apenas os crimes de lavagem de dinheiro, corrupção,associação criminosa e uso de documento falso.

Segundo a denúncia, o crime de lavagem teria por antecedentes os crimesde formação de cartel e de frustração à licitação, que não foram incluídos na denúncia eque foram reportados apenas como antecedentes à lavagem.

Em grande síntese, segundo o MPF, as empreiteiras previamentecombinariam entre eles a vencedora das licitações da Petrobrás. A premiadaapresentaria proposta de preço à Petrobras e as demais dariam cobertura, apresentandopropostas de preço maiores. A propina aos diretores teria por objetivo que estesfacilitassem o esquema criminoso, convidando à licitação apenas às empresascomponentes do Clube.

A proposta da empreiteira vencedora não superaria o limite de preçoadmitido pela Petrobrás (20% acima do custo estimado), mas o ajuste permitia que alicitante vencedora apresentasse preço próximo a esse limite sem concorrência real.

Nessa descrição, quer os preços sejam ou não compatíveis com omercado, isso não afastaria os crimes, pois teria havido cartel e fraude à licitação,gerando produto de crime posteriormente utilizados para pagamento de propina esubmetidos a esquemas de lavagem.

No contexto da imputação, a perícia pretendida, para verificar ou não aocorrência de superfaturamento, é irrelevante, pois não tem qualquer relação com aprocedência ou não da acusação.

Além disso, como restou notório, a Petrobrás recentemente publicou seubalanço de 2014, tendo escolhido estimar as perdas em seus ativos com a corrupçãocalculando o percentual de 3% sobre as obras afetadas, o que corresponderia aomontante de propina pago segundo os depoimentos dos acusados colaboradores.

A própria Petrobrás, como se constata no balanço, entendeu inviávelrealizar apuração para verificar o eventual superfaturamento das obras, preferindo ametodologia acima.

Se a própria Petrobrás, com recursos técnicos muito superiores aosdisponíveis da Polícia Federal, descartou a produção de tal prova e até hoje não logroudimensionar, salvo com a metodologia acima, os possíveis prejuízos nessas obrassofridos com a corrupção, é evidente que não há condições técnicas para realizar essaprova no âmbito do presente processo judicial. Seria necessário contratar uma empresaespecializada, com custos milionários, para o que não há recursos judiciais disponíveis,e o trabalho, além da duvidosa possibilidade de chegar a bom termo, levaria meses ouanos, incompatível com a razoável duração do processo.

Assim, por tratar a perícia requerida de prova custosa e demorada, nessecaso possivelmente inviável tecnica e financeiramente, e por ser igualmente irrelevanteem vista da imputação específica ventilada nestes autos, indefiro tal prova pericial, oque faço com base no art. 400, §1º, do CPP, e com base nos precedentes das instânciasrecursais e superiores, entre eles o seguinte:

"HABEAS CORPUS. INDEFERIMENTO DE PROVA. SUBSTITUIÇÃO DO ATOCOATOR. SÚMULA 691. 1. Não há um direito absoluto à produção de prova,facultando o art. 400, § 1.º, do Código de Processo Penal ai juiz oindeferimento de provas impertinentes, irrelevantes e protelatórias. Cabíveis, nafase de diligências complementares, requerimentos de prova cuja necessidadetenha surgido apenas no decorrer da instrução. Em casos complexos, há queconfiar no prudente arbítrio do magistrado, mais próximo dos fatos, quanto àavaliação da pertinência e relevância das provas requeridas pelas partes, semprejuízo da avaliação crítica pela Corte de Apelação no julgamento deeventual recurso contra a sentença. 2. Não se conhece de habeas corpusimpetrado contra indeferimento de liminar por Relator em habeas corpusrequerido a Tribunal Superior. Súmula 691. Óbice superável apenas emhipótese de teratologia. 3. Sobrevindo decisão do colegiado no TribunalSuperior, há novo ato coator que desafia enfrentamento por ação própria."(HC 100.988/RJ - Relatora para o acórdão: Min. Rosa Weber - 1ª Turma - pormaioria - j. 15.5.2012)

Fica então indeferida essa prova.

16. A Defesa de Agenor Franklin, José Adelmário e Mateus Coutinhorequereu ainda perícia na interceptação telefônica e telemática para "para provar oprocedimento utilizado pela autoridade policial diante de inadequações cabais às regraspertinentessobre o tema, seja para provar a não veracidade das mensagens".

Interceptação telefônica e telemática é uma prova, perícia outra.

Não se faz em regra perícia sobre interceptação a não ser que exista razãoconcreta.

O requerimento da prova não apresenta nenhuma, nem sequer discriminadiálogos ou mensagens cuja autenticidade questiona.

Então, a fim de apreciar o requerido, deve a Defesa esclarecer o quepretende, inclusive os diálogos e mensagens cuja autenticidade questiona. Prazo decinco dias.

17. Questiona a Defesa de Agenor Franklin, José Adelmário e MateusCoutinho a validade dos relatórios de inteligência financeira colhidos no Conselho deControle de Atividades Financeiras e juntados aos autos da investigação. Pede que sejaoficiado ao COAF para que informe por quem, como, e de que forma foramrequisitados.

Em realidade, o que existe aqui é um questionamento da validade daprova, alegando a Defesa que não existem decisões judiciais que autorizaram aobtenção dessa informação.

Ora, em princípio, a comunicação de operação suspeita de lavagem dainstituição financeira para o COAF e deste para autoridade judicial não está sujeita àprévia quebra de sigilo bancário, como previsto naLei nº 9.613/1998.

De todo modo, querendo questionar a prova em questão,queaparentemente não instrui a denúncia, deve a Defesa melhor identificar os relatórioscuja validade da obtenção questiona e a sua relação com as provas que instruem apresente ação penal, a fim de demonstrar pertinência da argumentação para o casoconcreto, não cabendo decisão judicial em abstrato.Prazo de cinco dias.

18. A Defesa de Rogério Cunha alega que o MPF não poderia apresentarnova denúncia relativamente ao Consórcio Interpar e o Consórcio CMMS relativamenteao pagamento de vantagem indevida à Diretoria de Serviços, mas sim deveria ter aditadoa denúncia da ação penal 5083401-18.2014.404.7000 e que tem por objeto opagamento de vantagem indevida à Diretoria de Abastecimento.

Ora, a ação penal 5083401-18.2014.404.7000 está em fase adiantada, dealegações finais.

Poderia eventualmente o MPF aditá-la, como também poderia apresentarnova denúncia já que os crimes que são objeto de uma e outra, apesar de conexos, sãodistintos.

Não há base legal para a pretensão da Defesa em reclamar que o MPFtivesse aditado a denúncia e não apresentado denúncia conexa. A escolha está no âmbitoda liberdade profissional do MPF. Indefiro o requerido.

19. Alega a Defesa de Angelo Mendes que a presente ação penal deveriaser reunida com a ação penal 5083401-18.2014.404.7000 para julgamento conjunto.

Inviável a medida, pois não há identidade completa de partes e porque aação penal 5083401-18.2014.404.7000 está já em fase adiantada, de alegações finais.

20. A Defesa de Mario Goes arrolou vinte e oito testemunha, váriasresidentes em outros países (Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Grécia, França eNoruega).

Rigorosamente, uma na Alemanha, duas na Noruega, três nos EstadosUnidos, uma na França e três no Reino Unido.

Foi a Defesa intimada para demonstrar a imprescindibilidade da prova nostermos do art. 222-A do CPP.

A Defesa, no evento 208, alegou que o objetivo é demonstrar que oacusado teria grande expertise na área de óleo e gás e a efetiva prestação de serviçospelo acusado e sua empresa a multinacionais.

Ora, no processo, há acusados presos cautelarmente. Ouvir testemunhasno exterior com acusado presos cautelarmente é na prática inviável em decorrência dausual demora dos mecanismos de cooperação jurídica internacional.

Por outro lado, os fatos narrados na denúncia ocorreram em territórionacional.

Os contratos da Rio Marine que, segundo a denúncia, teriam sidofraudados foram firmados com empresas brasileiras e seriam relativas a supostosserviços prestados no Brasil, tendo aliás gerado emissão de notas fiscais no Brasil.

Seriam eles contratos do Consórcio CMMS com a empresa RiomarineOil e Gás, para prestação de consultoria nas obras da Refinaria de Paulínea, em SãoPaulo, e contratos da Construtora OAS/Consórcio Gasam com a empresa RiomarineOil e Gás, para prestação de serviços de consultoria relativamente a obras daPetrobrás também no Brasil.

Por outro lado, os fatos ocorridos no exterior imputados a Mario Goessão bem determinados.

Segundo a denúncia propina das obras da Petrobras foi repassada paraconta Maranelle Investiments Inc mantida no Deutsche Bank em Frankfurt e para a PhadCorporation mantida no Banco Safra na Suíça e destas duas para Pedro Barusco eRenato Duque em contas na Suíça.

Então o que interessa ao feito não é eventual consultoria prestada peloacusado Mario Goes no exterior, mas os serviços supostamente prestados em relação aessas obras no Brasil e com contratantes brasileiros e, quanto aos fatos no exterior,apenas as transações bancárias em favor de Renato Duque e Pedro Barusco.

Não vislumbrando este Juízo um nexo entre esses fatos e a provapretendida, ainda que com a justificativa apresentada pelo acusado, não há comoconsiderar imprescindível a oitiva de nove testemunhas no exterior, em cinco paísesdiferentes.

Faculto, porém, à Defesa, querendo, trazer as testemunhas em questão aoBrasil para serem ouvidas ou juntar declarações subscritas as quais serão examinadas.

Indefiro, portanto, a oitiva das testemunhas no exterior arroladas porMario Goes.

21. Requer a Defesa de Rogério Cunha o traslado como prova emprestadade depoimentos prestados na ação penal 5083401-18.2014.404.7000, bem como dedocumentos (itens1 e 2 do evento 303). Para viabilizar o traslado, deve a Defesaindicar a exata localização dessas provas na referida ação penal. Prazo de cinco dias.

22. Defesa de Rogério Cunha indicou testemunhas sem endereço e quesupostamente trabalhariam na empresa Toyo Setal (evento 303). A Toyo Setal não éparte neste feito e é ônus da Defesa indicar as testemunhas com endereço completo.Assim, concedo o prazo de cinco dias para indicaçao do nome completo e endereçodessas testemunhas sob pena preclusão.

23. A Defesa de Ângelo Mendes reclama cerceamento de defesa por faltade acesso a inquéritos mencionados na peça (fls. 07 e 08).

Ora, estando a Defesa cadastrada na presente ação penal, tem acesso atodos os processos conexos, inclusive a aqueles alimencionados.

Deve a Defesa estar cometendo algum equívoco no procedimentoutilizado para acesso. Assim, deverá para resolvê-lo contatar diretamente à Secretariadeste Juízo por telefone ou vir aqui pessoalmente para que possa ser verificadooproblema havido.

Não cabe devolução de prazo para a defesa se o óbice de acesso não éprovocado por este Juízo mas por equívoco da Defesa.

24. Pleiteia a Defesa de Ângelo Mendes acesso irrestrito aoprocedimento 5075916-64.2014.404.7000 do acordo de colaboração de PedroBarusco.

A Defesa já teve acesso aos elementos probatórios decorrentes doacordo e ao próprio texto do acordo. O acesso aos autos do próprio procedimento,porém, deve ser limitado, uma vez que envolve até questões de segurança relativamenteao acusado colaborador.

25. Reclamaram algumas Defesas acesso aos depoimentos gravados dosacusados e testemunhas que celebraram acordo de colaboração com o MPF.

Observo que as Defesas desde o início tiveram acesso aos depoimentosescritos, sendo difícil vislumbrar o interesse no acesso aos vídeos e áudios, máximequando as mesmas pessoas irão prestar depoimentos em Juízo.

De todo modo, pelo despacho de 20/04/2015 (evento 20), já foidisponibilizado o áudio e vídeo dos depoimentos de Pedro Barusco, Augusto Mendonçae Julio Gerin.

A medida não se aplica aos depoimentos de Alberto Youssef e de PauloRoberto Costa, uma vez que o acordo foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal eeventual requerimento deverá ser dirigido aquela Corte.

Intime-se, porém, o MPF para também disponibilizar na Secretaria desteJuízo o áudio e vídeo dos depoimentos de Dalton Avancini e Eduardo Leite pertinentesa este feito. Prazo de cinco dias.

26. A Defesa de Agenor Franklin, José Adelmário, José Ricardo ??,Mateus Coutinho, Luiz Ricarco e Marcus Vinicius arrolou como testemunha JohnMcNeely da Blackberry residente no Canadá e ainda o Ministro da Justiça brasileiro,José Eduardo Cardoso.

Consignei o que segue no despacho do evento 205:

"As Defesas de Agenor Franklin, José Adelmário, Mateus Coutinho MarcusVinicius e Renato Vinicius arrolaram testemunha residente no exterior e aindacomo testemunha o Ministro da Justiça do Brasil.

Para ambas, depreende-se que o objetivo das Defesas é de questionar validadeda interceptação do Blackberry Messenger.

Em princípio, não se justifica ouvir testemunha no exterior e ainda o Ministroda Justiça do Brasil para discutir a validade da interceptação, pretendendotransformar questão de direito em questão de fato.

De todo modo, antes de decidir, concedo às Defesas o prazo de cinco dias paraesclarecimento do propósito dessas testemunhas."

A Defesa apresentou a petição do evento 351. Confirmou que o objetivoda oitiva de John McNeely é demonstrar invalidade da interceptação do Blackberry ealegou que não pode ser obrigada e esclarecer porque pretende a oitiva do Ministro daJustiça.

Relativamente ao primeiro ponto, a importância da interceptação doBlackberry para este processo é muito residual como já apontado no item 9. Ademais,já afirmou a validade da prova. Se for o caso a Defesa pode questionar, mas não cabetransformar questão de validade em questão de fato.

No contexto, impossível considerar a oitiva de testemunha no Canadá,prova custosa e demorada, máxime quando há acusados presos, como diligênciaimprescindível nos termos do art. 222-A do CPP.

Então indefiro essa prova.

Quanto à recusa da Defesa em esclarecer o motivo de ter arrolado oMinistro da Justiça como testemunha, reitero o que já consinei no item 15, inclusivecom precedentes do Supremo Tribunal Federal, de que não há um direito absoluto àprodução de provas.

O art. 400, §1º, do CPP, confere ao Juízo a oportunidade de controlar,com prudência, a relevância e a pertinência das provas requeridas. Se a lei confere aojuiz este poder, também lhe outorga os meios necessário.

O Direito é arte da prudência e o exercício do razoável. Não vislumbroqualquer arbitrariedade na solicitação, ainda que como exceção, de esclarecimentos àDefesa acerca do motivo de ter arrolada uma testemunha cuja oitiva gera ônus, comoum agente político já que necessário seguir o procedimento do art. 221 do CPP.

Além disso, não se justifica, por mero capricho, tomar inutilmente otempo de agente político como o Ministro da Justiça, já que é evidente que ele temseus afazeres em prol do serviço público.

No contexto, parece óbvio que o objetido da Defesa é ouvir o Ministro daJustiça para que ele fale a respeito da interceptação do Blackberry, o que, além deinsólito, não tem qualquer relevância para o processo como já consignado.

Aliás, a mesma Defesa já pretendeu ouvir o Ministro da Justiça do Canadásobre o mesmo tema, o que seria ainda mais insólito, na ação penal conexa 5083376-05.2014.404.7000, tendo tido a sabedoria de, diante de ressalva do Juízo, reconsideraro seu requerimento.

A recusa da Defesa em esclarecer os motivos do arrolamento apenasconfirmam a compreensão do Juízo de que a prova pretendida é irrelevante eprotelatória.

Assim e com base no art. 400, §1º, do CPP, indefiro também tal prova.Caso a Defesa, revendo essa posição, esclareça a relevância do depoimento, porexemplo no sentido de que a oitiva não tenha a ver com a interceptação do Blackberry,poderei rever o indeferimento.

27. Sobre o requerido no evento 409, já houve apuração administrativa dofato, concluindo-se que não houve escuta ambiental.

Ademais, como já consignei antes, não há qualquer prova nos autosresultante da suposta escuta ambiental e não é possível vislumbrar mesmohipoteticamente qualquer prova nestes autos ou em todas as demais ações penais quepoderia ser direta ou indiretamente derivada da suposta diligência.

De todo modo, tendo este julgador sido também surpreendido pelanotícia, verificará exatamente o ocorrido e tomará as providências cabíveis paraesclarecer os fatos, trazendo a informação aos autos.

28. Faço alguns apontamentos para registro.

Sobre o requerido na petição do evento 415, vale o que já consignei nodespacho do evento 354:

"Dispenso o comparecimento dos acusados nas audiências destinadas à oitivadas testemunhas arroladas pela Acusação, sob a condição de que a intimaçãopara os demais atos processuais seja realizada na pessoa de seus advogados.Ausência será interpretada como efetiva concordância."

A Defesa de Augusto Mendonça prestou esclarecimentos eapresentoudocumentos (evento 282).

A Defesa de Julio Gerin prestou esclarecimentos eapresentoudocumentos (evento 283).

A Defesa de Pedro Barusco prestou esclarecimentos (evento 284).

MPF juntou novos documentos no evento 396.

29. Como adiantei, após a oitiva das testemunhas de acusação, desmembrarei ofeito, já que o excesso de acusados é incompatível a necessidade de processo e julgamento céleredos acusados presos.

Avaliando a conexão lógica entre acusados e fatos, adianto que manterei no feitoprincipal apenas:

- Adir Assad, (seis testemunhas em Itatiba/SP e São Paulo/SP, uma semendereço completo - evento 397),

- Alberto Youssef,

- Augusto Ribeiro de Mendonça Neto (sem testemunhas, evento 282),

- Dario Teixeira Alves Júnior (seis testemunhas em Itatiba/SP e São Paulo/SP, umasem endereço completo - evento 328),

- João Vaccari Neto (oito testemunhas em Brasília, Porto Alegre e São Paulo/SP,evento 310);

- Júlio Gerin e Almeida Camargo (sem testemunhas, evento 283),

- Lucélio Roberto Von Lehsten Goes (quinze testemunhas no Rio deJaneiro, São Paulo, Bahia, Niterói, Porto Alegre, Bragança Paulista/SP, com algunsendereços incompletos, eventos 184 e 318,

- Mario Frederico Mendonça Goes,

- Paulo Roberto Costa (sem testemunhas, evento 163),

- Pedro José Barusco Filho (sem testemunhas, evento 284),

- Renato de Souza Duque (trinta e duas testemunhas que seriamempregados da Petrobrás, uma outra no Rio, uma outra em Salvador/BA, e ainda outrano exterior);

- Sonia Mariza Branco (seis testemunhs no Rio de Janeiro/RJ e em SãoPaulo/SP, algumas com endereço incompleto, e uma em Londres, evento 301).

Desde logo, obtenha a Secretaria datas e expeça precatórias para a oitiva dastestemunhas relativamente a esses acusados, com a ressalva daqueles com endereço incompletoou os dois deputados federais arrolados por João Vaccari, já que se aguardam esclarecimentos daDefesa.

5012331-04.2015.4.04.7000 700000688978 .V24 SFM© SFM

Designo as datas de 10 e 12/06, às 14:00, para oitiva das testemunhas dedefesa arroladas por Renato Duque e que seriam empregados da Petrobrás, dezesseis em cadadata (evento 349, com endereço na Av. República do Chile, 65, 20º andar, sala 2002, AlaSul, Centro, Rio de Janeiro).

Expeça-se precatória para intimação das testemunhas.

Solicito os especiais préstimos da Petrobrás para trazer as testemunhaspara serem ouvidas em Curitiba, na referida data e horário, dezessseis em cada dia.Deverá a Petrobras, no prazo de cinco dias, confirmar se referidas pessoas sãomesmo sues empregados e esclarecer se pode trazê-las. Poderá definir com elas asmelhores datas para uma e outra e não havendo preferências, seguir a ordem dearrolamento. Fica a Petrobrás intimada.

Requisite-se, para a audiência, os acusados presos Alberto Youssef,Renato Duque, Mario Goes e Adir Assad.

Intimarei os demais acusados pessoalmente nas audiências da próximasemana.

30. Ciência ao MPF, Defesas e Petrobrás desta decisão. Devem as partesatentar para as intimações específicas, inclusive quanto à revisão parcial dorecebimento da denúncia (item 5).

Curitiba, 13 de maio de 2015.

Documento eletrônico assinado por SÉRGIO FERNANDO MORO, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, incisoIII, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. Aconferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônicohttp://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador700000688978v24 e do código CRC e6f20df8.

Informações adicionais da assinatura:Signatário (a): SÉRGIO FERNANDO MOROData e Hora: 13/05/2015 12:01:19