mais preparados para enfrentar a lagarta - danton júnior

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DOMINGO | 13 de julh o de 2014 correio  do  DANTON JÚNIOR A lém do conhecimento ad- quir ido na últi ma safr a, quando a Helicoverpa ar- migera  ainda era uma novidade, o produtor rural terá novas fer- ramentas para combater a lagar- ta durante o próximo ciclo. Se- gundo o Ministério da Agricultu- ra, 49 produto s comerc iais estão regi strados para o combate à praga. Em novembro do ano pas- sado, eram apenas 19. “Muitos deles têm o mesmo princ ípio ativo. Mas, de qual- quer forma, é uma disponibilida - de grande, já que inicialmente havia uma discussão sobre a fal- ta de produtos no mercado”, afir- ma o fiscal agro pecuá rio Jairo Carbonari, do Serviço de Sanida- de Vegetal do Mapa/RS. A maior parte dos defensivos disponíveis é de itens biológicos (28). Embora os danos provocados pela lagarta em solo gaúcho te- nham ficado aquém do que era temi do, o aperf eiço amento nas formas de combate à praga se  justi fica, já que a ameaça perma- nece. “Eu diria que ficar mais tranquilo, não vai ficar”, diz o entomologis ta Jerson Guedes, da UFSM, responsável pelo lau- do que identificou a presença da Helicoverpa armigera  no Esta- do. Ele vê para a safra 2014/ 2015 um cená rio pare cido com o do período anterior. De acordo com o especia- lista, a tendência é que a lagar- ta siga ocor rendo “dentro do que foi, para pior”. “A praga se distribuiu no Estado e principal- mente em soja. Colonizou quase toda a lavoura, em pequena quantidade, porém bem distribuí- da”, observa. Guedes ressalta que o surgimento da lagarta de- pende muito do cenário dos paí- ses onde ela foi observada, espe- cialmente no que se refere a cli- ma e hospede iros. Part e das mais de 200 armadilha s com feromônio insta- ladas em lavour as gaúcha s no ano pas- sado começou a ser retirada nas últi- mas semanas. “Con- tinuarmo s com as armadilhas é um trabalho desnecessá- rio. Sabemos que a lagarta está em todo o Estado”, afirma o gerente de Defesa Vege- tal da Seapa, José Cândido Mot- ta. “O que faremos é trabalhar a campo para ver os possíveis da- nos causados por ela e a sua presença nas culturas de inver- no”, acrescenta. Para a safra de verão, as me- didas , por enqu anto, permane- cem as mesmas. Motta ressalta que a  Helicoverpa  não chegou a causar no Rio Grande do Sul o dano que foi “apr egoado por quem queria vender inseticida”. “O momento é de trabalho con-  junto entre técnico s e agriculto - res”, afirma. “Temos depoimen- to de agricultores que monitora- ram ela como apregoa a tecnolo- gia e a controlaram no momento certo. Teve gente que teve mais problema com a falsa medidei- ra”, acrescenta. Um dos principais problemas observados na safra passada foi a aplicação indevida de produtos quími- cos na lavoura. Para o presidente da  Aprosoja/RS, Décio Teixeira, o produtor agora está mais consciente. “Não adianta colocar inse- ticidas de alto poder destrutivo , que aca- ba reforçando a la- garta e acaba com os inimi gos natur ais”, adverte. “Acho que o produtor vai estar mais preparado”, aposta o soji- cultor. Ele reconhece que a pre- sença da Helicoverpa  nas lavou- ras gaúchas mudou a forma co- mo o produtor organiza a sua plantação   o que inclui um au- mento de custos, que ele ainda não sabe precisar em valore s.  Antes , conforme Tei xeira , o agri- cultor agia somente após obser-  var uma determi nada quantida - de da praga na lavoura. “Agora não. Quando começa a apare - cer, ele já tem de aplicar o produto. Se (a lagar- ta) crescer um pouco acima do ideal, já fica muito difí- cil”, destac a. 49 produtoscontra a Helicoverpa armigera estão registradosno Mapa.      P      A      U      L      O      R      O      B      E      R      T      O      P      E      R      E      I      R      A       /      D      I      V      U      L      G      A      Ç      A      O       /      C      P      M      E      M       Ó      R      I      A INOR ASSMANN / GAZETA DO SUL / CP MEMÓRIA SAMUEL MACIEL / CP MEMÓRIA Culturas de in ve rn o exi gem ate nçã o Ma is preparados para e nf rentar a lagarta Embora os maiores estrago s tenham sido constatados nas la-  voura s de soja, as cultura s de in-  verno também devem receber atenção. Mariposas foram encon- tradas nas armadilhas mesmo no início do mês de julho, em meio a baixas temperaturas, po- rém, em quantidade menor. Se- gundo o professor José Roberto Salvadori, da Faculdade de  Agronomia e Medicina Veterin á- ria da UPF, isso não significa que a  Helicoverpa armigera  irá completar seu ciclo. Para escla- recer isso, amost ras coletadas são analisa das em labora tório. “Minha posição é de alerta, e não de alarde”, explica o profes- sor. De acordo com ele, alguns indivíduos estão presentes no so- lo na forma de pupa, posterior à fase larval. Muitos darão origem a adultos, enquanto outros per- manecem no solo hibernando e  vão emergir com maior intens i- dade com a elevação da tempe- ratura, no final de agosto e iní- cio de setembro. “Quando a tem- peratura do solo aumentar e o banco de pupas reaba stece r a quantidade de mariposas no am- biente, elas vão se acasalar e po- derã o ocor rer lagartas na fase reprodutiva final do trigo, em ou- tubro e novembro.” O entomologista Jerson Gue- des, da UFSM, ressalta que ocor- rências foram observadas em fei-  jão safrinh a e nabo. “Melho ran- do a temperatura, aí por setem- bro, vai haver a safra de prima-  vera, girassol e canola, e prova-  velmente vamos ter problemas. Embora prejuízo causado tenha ficado abaixo do que se temia no RS, risco permanece para a safra 2014/2015 Us o de rus to rna-se al ternat iv a Pesquisad or alert a paraocorrênci a damarip osana lavoura de fei jãosafr inh a No verão, lagarta atingiu lavouras de soja, trazend o prejuízos  A preocupação com os inimigos naturais faz crescer a opção pelo controle biológico para com- bater a  Helicoverpa armigera   não apenas à base de  Bacillus thuringiensis  (bt). Uma das no-  vas ferrame ntas disponívei s no mercado é um ví- rus chamado Diplomata, que após ser aplicado na plantação pode exterminar a praga em no míni- mo 24 horas . Desen volvido pela holandesa Ko- ppert, ele foi testado no ano passado na Bahia, no Mato Grosso e no Paraná. O lançamento nacio- nal ocorreu durante a Agrishow, em Ribeirão Pre- to (SP), no mês de abril. Os defensivos biológi cos estão classifi cados dentro da Lei de Agrotóxicos e Afins. Para che- gar ao mercado, o produto recebeu aprovação da  Anvisa , do Mapa e do Ibama. Confo rme o fabrican- te, uma vez aplicado, a lagarta cessa a alimenta- ção mesmo ingerindo uma partícula do vírus. O custo aproximado será de 20 dólares por hectare.  A empresa alega que o vírus é menos agressivo do que os defensivos químicos. “O impacto no or- ganismo humano é zero. Ao meio ambiente, muito baixo”, explica o diretor comercial da empresa no Brasil, Gustavo Herrmann. A aplicação recomen- dada é de 65 ml por hectare, com pulverização tratorizada ou via aérea. “A principal vantagem (do controle biológico) é que ele é específico para a  Helicoverpa : controla exclu sivamente a lagar ta, salva ndo os inimi gos natu rais ”, observa o ento molo gist a Jerson Gue- des, da UFSM. Ironicamente, esse também é um fator de desvantagem. “As lavouras também têm outras lagartas”, explica. Por esse motivo, o pro- dutor acaba recorrendo ao controle químico para combater outras pragas. O professor José Rober- to Salvador i, da UPF, ressal ta que os produtos biológi cos requerem maior conheci mento de quem aplica. Além disso, observa, não se pode esperar um “efeito de choque”. “A lagarta não morre ime- diatamente e isso tem de ser alertado”, explica.

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Além do conhecimento adquirido na última safra, quando a Helicoverpa armigera ainda era uma novidade, o produtor rural terá novas ferramentas para combater a lagarta durante o próximo ciclo.

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7/17/2019 Mais preparados para enfrentar a lagarta - Danton Júnior

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DOMINGO | 13 de julho de 2014 correio do

 DANTON JÚNIOR

Além do conhecimento ad-quirido na última safra,quando a Helicoverpa ar- 

migera  ainda era uma novidade,o produtor rural terá novas fer-

ramentas para combater a lagar-ta durante o próximo ciclo. Se-gundo o Ministério da Agricultu-ra, 49 produtos comerciais estãoregistrados para o combate àpraga. Em novembro do ano pas-sado, eram apenas 19.

“Muitos deles têm o mesmoprincípio ativo. Mas, de qual-quer forma, é uma disponibilida-de grande, já que inicialmentehavia uma discussão sobre a fal-ta de produtos no mercado”, afir-ma o fiscal agropecuário JairoCarbonari, do Serviço de Sanida-de Vegetal do Mapa/RS. A maiorparte dos defensivos disponíveisé de itens biológicos (28).

Embora os danos provocados

pela lagarta em solo gaúcho te-nham ficado aquém do que eratemido, o aperfeiçoamento nasformas de combate à praga sejustifica, já que a ameaça perma-nece. “Eu diria que ficar maistranquilo, não vai ficar”, diz oentomologista Jerson Guedes,da UFSM, responsável pelo lau-do que identificou a presença daHelicoverpa armigera   no Esta-d o . E l e v ê p a r a a s a f r a2014/2015 um cenário parecido

com o do período anterior. Deacordo com o especia-

lista, a tendência é que a lagar-ta siga ocorrendo “dentro doque foi, para pior”. “A praga sedistribuiu no Estado e principal-mente em soja. Colonizou quasetoda a lavoura, em pequenaquantidade, porém bem distribuí-

da”, observa. Guedes ressaltaque o surgimento da lagarta de-pende muito do cenário dos paí-ses onde ela foi observada, espe-cialmente no que se refere a cli-ma e hospedeiros.

Parte das maisde 200 armadilhascom feromônio insta-ladas em lavourasgaúchas no ano pas-sado começou a serretirada nas últi-mas semanas. “Con-tinuarmos com asarmadilhas é umtrabalho desnecessá-rio. Sabemos que alagarta está em todo o Estado”,

afirma o gerente de Defesa Vege-tal da Seapa, José Cândido Mot-ta. “O que faremos é trabalhar acampo para ver os possíveis da-nos causados por ela e a suapresença nas culturas de inver-no”, acrescenta.

Para a safra de verão, as me-didas, por enquanto, permane-cem as mesmas. Motta ressaltaque a   Helicoverpa  não chegou acausar no Rio Grande do Sul odano que foi “apregoado por

quem queria vender inseticida”.“O momento é de trabalho con- junto entre técnicos e agriculto-res”, afirma. “Temos depoimen-to de agricultores que monitora-ram ela como apregoa a tecnolo-gia e a controlaram no momento

certo. Teve gente que teve maisproblema com a falsa medidei-ra”, acrescenta.

Um dos principais problemasobservados na safra passada foi

a aplicação indevidade produtos quími-cos na lavoura. Parao p r es i de n te d a Aprosoja/RS, DécioTeixeira, o produtora g or a e s tá m a isconsciente. “Nãoadianta colocar inse-ticidas de alto poderdestrutivo, que aca-ba reforçando a la-garta e acaba com

os inimigos naturais”, adverte.

“Acho que o produtor vai estarmais preparado”, aposta o soji-cultor. Ele reconhece que a pre-sença da Helicoverpa  nas lavou-ras gaúchas mudou a forma co-mo o produtor organiza a suaplantação  —  o que inclui um au-mento de custos, que ele aindanão sabe precisar em valores. Antes, conforme Teixeira, o agri-cultor agia somente após obser- var uma determinada quantida-de da praga na lavoura. “Agora

não. Quando começa a apare-cer, ele já tem de aplicar

o produto. Se (a lagar-ta) crescer um pouco

acima do ideal, jáfica muito difí-

cil”, destaca.

49produtoscontraaHelicoverpaarmigeraestãoregistradosno

Mapa.

     P     A     U     L     O     R     O     B     E     R     T     O     P     E     R     E     I     R     A      /     D     I     V     U     L     G     A     Ç     A     O      /     C     P     M     E     M      Ó     R     I     A

INOR ASSMANN / GAZETA DO SUL / CP MEMÓRIA

SAMUEL MACIEL / CP MEMÓRIA

Culturasde invernoexigematenção

Maispreparadosparaenfrentara lagarta

Embora os maiores estragos

tenham sido constatados nas la- vouras de soja, as culturas de in- verno também devem receberatenção. Mariposas foram encon-tradas nas armadilhas mesmono início do mês de julho, emmeio a baixas temperaturas, po-rém, em quantidade menor. Se-gundo o professor José RobertoSalvadori, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veteriná-ria da UPF, isso não significaque a  Helicoverpa armigera   irácompletar seu ciclo. Para escla-recer isso, amostras coletadassão analisadas em laboratório.

“Minha posição é de alerta, enão de alarde”, explica o profes-sor. De acordo com ele, algunsindivíduos estão presentes no so-lo na forma de pupa, posterior à

fase larval. Muitos darão origem

a adultos, enquanto outros per-manecem no solo hibernando e vão emergir com maior intensi-dade com a elevação da tempe-ratura, no final de agosto e iní-cio de setembro. “Quando a tem-peratura do solo aumentar e obanco de pupas reabastecer aquantidade de mariposas no am-biente, elas vão se acasalar e po-derão ocorrer lagartas na fasereprodutiva final do trigo, em ou-tubro e novembro.”

O entomologista Jerson Gue-des, da UFSM, ressalta que ocor-rências foram observadas em fei- jão safrinha e nabo. “Melhoran-do a temperatura, aí por setem-bro, vai haver a safra de prima- vera, girassol e canola, e prova- velmente vamos ter problemas.”

Embora prejuízo causado tenha ficado abaixo do que se temia no RS, risco permanece para a safra 2014/2015

Usodevírus torna-sealternativa

Pesquisador alerta paraocorrência damariposana lavoura de feijãosafrinha

No verão, lagarta atingiu lavouras de soja, trazendo prejuízos

 A preocupação com os inimigos naturais fazcrescer a opção pelo controle biológico para com-bater a  Helicoverpa armigera   —   não apenas àbase de  Bacillus thuringiensis   (bt). Uma das no-vas ferramentas disponíveis no mercado é um ví-rus chamado Diplomata, que após ser aplicado naplantação pode exterminar a praga em no míni-mo 24 horas. Desenvolvido pela holandesa Ko-ppert, ele foi testado no ano passado na Bahia,no Mato Grosso e no Paraná. O lançamento nacio-nal ocorreu durante a Agrishow, em Ribeirão Pre-to (SP), no mês de abril.

Os defensivos biológicos estão classificados

dentro da Lei de Agrotóxicos e Afins. Para che-gar ao mercado, o produto recebeu aprovação daAnvisa, do Mapa e do Ibama. Conforme o fabrican-te, uma vez aplicado, a lagarta cessa a alimenta-ção mesmo ingerindo uma partícula do vírus. Ocusto aproximado será de 20 dólares por hectare.A empresa alega que o vírus é menos agressivo

do que os defensivos químicos. “O impacto no or-ganismo humano é zero. Ao meio ambiente, muitobaixo”, explica o diretor comercial da empresa noBrasil, Gustavo Herrmann. A aplicação recomen-dada é de 65 ml por hectare, com pulverizaçãotratorizada ou via aérea.

“A principal vantagem (do controle biológico) éque ele é específico para a  Helicoverpa : controlaexclusivamente a lagarta, salvando os inimigosnaturais”, observa o entomologista Jerson Gue-des, da UFSM. Ironicamente, esse também é umfator de desvantagem. “As lavouras também têmoutras lagartas”, explica. Por esse motivo, o pro-

dutor acaba recorrendo ao controle químico paracombater outras pragas. O professor José Rober-to Salvadori, da UPF, ressalta que os produtosbiológicos requerem maior conhecimento de quemaplica. Além disso, observa, não se pode esperarum “efeito de choque”. “A lagarta não morre ime-diatamente e isso tem de ser alertado”, explica.