com a garantia do pampa - danton júnior

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correio do povo rural DOMINGO,1 O de fevereiro de 2015 DANTON JÚNIOR | Consumidores do Sudeste do país terão acesso, a partir de ju- lho, a uma carne bovina com se- lo de origem do pampa gaúcho. Após acordo firmado em setem- bro de 2014 entre a Alianza del Pastizal e o Marfrig, a ONG que visa proteger os campos nativos ou pastizales, em espanhol deu início à certificação das pro- priedades que irão integrar o programa, etapa que deverá ser con- cluída até o fim des- te mês. Num primei- ro momento, 24 fa- zendas na região da Campanha farão parte da iniciativa. A carne certifica- da pela Alianza del Pastizal irá receber um selo atestando que o produ- to veio de propriedades onde há pelo menos 50% de conservação de campos nativos principal requisito para integrar o progra- ma. “Nossa expectativa é gerar uma diferenciação para a carne do Pampa, produzida em pasto nativo e que promove a conser- vação da biodiversidade”, expli- ca o gerente de Sustentabilida- de da Marfrig, Mathias Almeida. Na primeira fase do projeto, o volume de produção será peque- no. As 24 propriedades certifica- das irão fornecer 15 toneladas/ mês. A ONG conta com mais de cem associados, mas nem todos fornecem ao Frigorífico Marfrig. Segundo Almeida, o foco são as raças Angus e Hereford, por te- rem maior representatividade no Estado. O fecha- mento da unidade do frigorífico em Alegrete não deve prejudicar o proje- to, já que os abates ocorrerão em Bagé. Além de proteger a biodiversidade, o consumidor ganha com o sabor do pro- duto. “É uma carne mais macia, rica em ômega 3”, afirma Almei- da. A ideia inicial era que a car- ne chegasse ao consumidor ain- da em 2014, após a assinatura do convênio, ocorrida na Expoin- ter. O gerente da Marfrig atribui o atraso a uma “questão buro- crática interna”. O convênio do Frigorífico Marfrig com a ONG é válido até setembro deste ano, mas poderá ser prorrogado. O alvo do programa não é o mercado de massa, mas sim um público mais elitizado. Pesquisa realizada pela ONG em 2009 apontou o caminho que a carne certificada deverá seguir. Segun- do o biólogo Pedro Develey, um dos coordenadores da Alianza del Pastizal, o estudo mostrou que as grandes redes de super- mercados não estariam interes- sadas, já que a carne terá custo mais alto. “Mas casas de carne e marcas mais restritas entre es- sas grandes redes, além de res- taurantes e hotéis, demonstra- ram interesse em comercializar e estariam dispostos a pagar mais por isso”, explica. O primei- ro remate de gado certificado, ocorrido em Lavras do Sul, em abril de 2014, pode ter sido bali- zador de preços. Na ocasião, a média do quilo vivo ficou 15% acima do registrado em outras praças. Considerando que a ofer- ta era de um gado de “altíssima qualidade”, Develey calcula que a carne poderá custar em torno de 10% mais do que o normal quando chegar ao mercado. Um dos 24 produtores selecio- nados, o pecuarista Gil Fernan- des, de Quaraí, orgulha-se de di- zer que na Estância São Rober- to, de sua propriedade, “nunca entrou lavoura”. Depois que ele e a esposa receberam a área de 2 mil hectares como herança, em maio de 2013, a primeira ati- tude foi contatar um dirigente da Alianza para certificar o lo- cal. Com plantel de 1,5 mil ani- mais, sem contar os terneiros, ele afirma ter cerca de 90% de campo nativo preservado. “As pessoas daqui não se dão conta de que têm um ambiente tão im- portante quanto o ambiente da Floresta Amazônica”, define. O hábito da conservação foi adquirida com o sogro, Walter Elizalde Osório, antigo proprietá- rio das terras. “Ele foi uma das pessoas que mais vi plantar ár- vores. Não bosques de eucalipto, mas árvores nativas”, recorda Fernandes. Embora o programa não preveja, num primeiro mo- mento, bonificação extra para os fornecedores, o pecuarista vê com grande expectativa o início da certificação. De acordo com ele, é preciso trabalhar o marke- ting da carne produzida no Pam- pa, o que poderá resultar, além da conservação, em ganhos fi- nanceiros no futuro. “No longo prazo, num período de dez anos, pode se igualar, sim, à receita de uma lavoura.” » Sustentabilidade » Criada em 2006, a Alianza del Pastizal atua no Brasil, na Argenti- na, no Paraguai e no Uruguai. Hoje, a carne certificada é vendida ape- nas no mercado argentino. Embora tenha como finalidade a busca por uma pecuária sustentável, a Alianza del Pastizal teve início para comba- ter a extinção de aves. Conforme a entidade, 23 espécies do Bioma Pampa estão ameaçadas de extin- ção, entre elas a veste-amarela e a noivinha-de-rabo-preto. Para prote- ger a biodiversidade, ficou claro aos integrantes do grupo que era neces- sário envolver os pecuaristas. De acordo com o biólogo Pedro Deve- ley, além da conservação propiciada pela atividade, a pecuária em cam- po nativo tem baixo impacto para mudanças climáticas. ANO 32 | NÚMERO 1.645 Com a iniciativa, 24 propriedades da Campanha serão certificadas até o final de fevereiro. Com a garantia do PAMPA GIL FERNANDES/ ARQUIVO PESSOAL/ CP

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Consumidores do Sudeste do país terão acesso, a partir de julho, a uma carne bovina com selo de origem do pampa gaúcho. Após acordo firmado em setembro de 2014 entre a Alianza del Pastizal e o Marfrig, a ONG que visa proteger os campos nativos — ou pastizales, em espanhol — deu início à certificação das propriedades que irão integrar o programa, etapa que deverá ser concluída até o fim des-te mês. Num primeiro momento, 24 fa-zendas na região da Campanha farão parte da iniciativa.

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Page 1: Com a garantia do Pampa - Danton Júnior

correiodo povoruralDOMINGO, 1O de fevereiro de 2015

■ DANTON JÚNIOR |

Consumidores do Sudeste dopaís terão acesso, a partir de ju-lho, a uma carne bovina com se-lo de origem do pampa gaúcho.Após acordo firmado em setem-bro de 2014 entre a Alianza delPastizal e o Marfrig, a ONG quevisa proteger os campos nativos— ou pastizales, em espanhol —deu início à certificação das pro-priedades que irão integrar oprograma, etapaque deverá ser con-cluída até o fim des-te mês. Num primei-ro momento, 24 fa-zendas na região daCampanha farãoparte da iniciativa.

A carne certifica-da pela Alianza delPastizal irá receberum selo atestando que o produ-to veio de propriedades onde hápelo menos 50% de conservaçãode campos nativos — principalrequisito para integrar o progra-ma. “Nossa expectativa é geraruma diferenciação para a carnedo Pampa, produzida em pastonativo e que promove a conser-

vação da biodiversidade”, expli-ca o gerente de Sustentabilida-de da Marfrig, Mathias Almeida.Na primeira fase do projeto, ovolume de produção será peque-no. As 24 propriedades certifica-das irão fornecer 15 toneladas/mês. A ONG conta com mais decem associados, mas nem todosfornecem ao Frigorífico Marfrig.Segundo Almeida, o foco são asraças Angus e Hereford, por te-rem maior representatividade

no Estado. O fecha-mento da unidadedo frigorífico emAlegrete não deveprejudicar o proje-to, já que os abatesocorrerão em Bagé.

Além de protegera biodiversidade, oconsumidor ganhacom o sabor do pro-

duto. “É uma carne mais macia,rica em ômega 3”, afirma Almei-da. A ideia inicial era que a car-ne chegasse ao consumidor ain-da em 2014, após a assinaturado convênio, ocorrida na Expoin-ter. O gerente da Marfrig atribuio atraso a uma “questão buro-crática interna”. O convênio do

Frigorífico Marfrig com a ONG éválido até setembro deste ano,mas poderá ser prorrogado.

O alvo do programa não é omercado de massa, mas sim umpúblico mais elitizado. Pesquisarealizada pela ONG em 2009apontou o caminho que a carne

certificada deverá seguir. Segun-do o biólogo Pedro Develey, umdos coordenadores da Alianzadel Pastizal, o estudo mostrouque as grandes redes de super-mercados não estariam interes-sadas, já que a carne terá customais alto. “Mas casas de carnee marcas mais restritas entre es-sas grandes redes, além de res-taurantes e hotéis, demonstra-ram interesse em comercializare estariam dispostos a pagarmais por isso”, explica. O primei-ro remate de gado certificado,ocorrido em Lavras do Sul, emabril de 2014, pode ter sido bali-zador de preços. Na ocasião, amédia do quilo vivo ficou 15%acima do registrado em outraspraças. Considerando que a ofer-ta era de um gado de “altíssimaqualidade”, Develey calcula quea carne poderá custar em tornode 10% mais do que o normalquando chegar ao mercado.

Um dos 24 produtores selecio-nados, o pecuarista Gil Fernan-des, de Quaraí, orgulha-se de di-zer que na Estância São Rober-to, de sua propriedade, “nuncaentrou lavoura”. Depois que elee a esposa receberam a área de

2 mil hectares como herança,em maio de 2013, a primeira ati-tude foi contatar um dirigenteda Alianza para certificar o lo-cal. Com plantel de 1,5 mil ani-mais, sem contar os terneiros,ele afirma ter cerca de 90% decampo nativo preservado. “Aspessoas daqui não se dão contade que têm um ambiente tão im-portante quanto o ambiente daFloresta Amazônica”, define.

O hábito da conservação foiadquirida com o sogro, WalterElizalde Osório, antigo proprietá-rio das terras. “Ele foi uma daspessoas que mais vi plantar ár-vores. Não bosques de eucalipto,mas árvores nativas”, recordaFernandes. Embora o programanão preveja, num primeiro mo-mento, bonificação extra paraos fornecedores, o pecuarista vêcom grande expectativa o inícioda certificação. De acordo comele, é preciso trabalhar o marke-ting da carne produzida no Pam-pa, o que poderá resultar, alémda conservação, em ganhos fi-nanceiros no futuro. “No longoprazo, num período de dez anos,pode se igualar, sim, à receitade uma lavoura.”

»Sustentabilidade» ■ Criada em 2006, a Alianza delPastizal atua no Brasil, na Argenti-na, no Paraguai e no Uruguai. Hoje,a carne certificada é vendida ape-nas no mercado argentino. Emboratenha como finalidade a busca poruma pecuária sustentável, a Alianzadel Pastizal teve início para comba-ter a extinção de aves. Conforme aentidade, 23 espécies do BiomaPampa estão ameaçadas de extin-ção, entre elas a veste-amarela e anoivinha-de-rabo-preto. Para prote-ger a biodiversidade, ficou claro aosintegrantes do grupo que era neces-sário envolver os pecuaristas. Deacordo com o biólogo Pedro Deve-ley, além da conservação propiciadapela atividade, a pecuária em cam-po nativo tem baixo impacto paramudanças climáticas.

ANO 32 | NÚMERO 1.645

Com a iniciativa, 24propriedades daCampanha serãocertificadas até ofinal de fevereiro.

Com agarantia

do PAMPA

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Page 2: Com a garantia do Pampa - Danton Júnior

DOMINGO | 1O de fevereiro de 2015 CORREIO DO POVOcorreio do povo rural

BRASILProdução (em mil toneladas)

Produto Safra 2013/14 Safra 2014/15Arroz 12.161,7 11.857,3 a 12.197,8Feijão 3.431,6 3.176,1 a 3.338,4Milho 79.905,5 77.335,8 a 79.051,7Soja 86.120,8 89.342,5 a 95.919,8Trigo 7.667,2 7.006,0 a 5.903,9

Área (em mil hectares)Produto Safra 2013/14 Safra 2014/15Arroz 2.386,9 2.262,1 a 2.353,9Feijão 3.350,4 3.210,4 a 3.197,1Milho 15.800,7 15.368,7 a 15.361,1Soja 30.173,1 31.288,2 a 31.621,8Trigo 2.698,5 2.716,1 a 2.730,4

Preçosaoprodutor(emR$)—EmaterProduto Unidade Mínimo Médio MáximoArroz em casca saco 50 kg 34,00 37,06 39,00Feijão saco 60 kg 95,00 129,90 150,00Milho saco 60 kg 22,00 23,37 28,00Soja saco 60 kg 51,00 53,13 55,50Sorgo saco 60 kg 18,00 20,25 22,50Trigo saco 60 kg 23,00 25,42 27,50Boi gordo kg vivo * 4,80 4,89 5,00Vaca gorda kg vivo * 4,00 4,43 4,70Suíno kg vivo 3,30 3,48 4,00Cordeiro p/ abate kg vivo * 4,00 4,54 5,50Leite litro 0,58 0,80 0,90Semana de 26/1/2015 a 30/1/2015 | * Prazos de 20 ou 30 dias

CA

RLO

SQ

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MEM

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RIO GRANDE DO SULProdução (em mil toneladas)

Produto Safra 2013/14 Safra 2014/15Arroz 8.112,9 8.052,6 a 8.170,2Feijão 80,7 71,7Milho 5.717 4.843,1 a 4.794,0Soja 12.867,7 11.737,6 a 13.4645,5Trigo 3.178,4 3.178,4 a 2.497,7

Área (em mil hectares)Produto Safra 2013/14 Safra 2014/15Arroz 1.120,1 1.052,9 a 1.119,2Feijão 50,4 53,4Milho 1.031,2 979,6 a 940,0Soja 4.939,6 5.087,8 a 5.100,0Trigo 1.038,7 1.038,7 a 1.140,0

BRASIL

ARGENTINA

PARAGUAI

BOLÍVIA

URUGUAI

» Bioma presente em quatro países

Cotações&MercadoDadosdo4ºlevantamentodesafradaConab

■ O Pampa estende-sepor mais de 1 milhão dekm² no Rio Grande do Sul,no Uruguai, na Argentina eno Paraguai.■ Metade do bioma éconstituído por urbaniza-ção, agricultura intensiva esilvicultura. Da metaderestante, apenas 1,5% éoficialmente reconhecidacomo área protegida.

Criação em sintoniacom campo nativo

■ De acordo com pesquisa realizada em 2009 pela Foco Rural, a pedido daAlianza del Pastizal, o selo de preservação ambiental, sob o ponto de vistados compradores, agrega valor à carne. Os resultados da pesquisa indica-ram que os restaurantes em média atribuem 22,6% acima do preço da car-ne comum, seguindo-se as casas de carnes (17,5%), os hotéis (15%) e, porúltimo, os supermercados (10%). Logo, conforme a Alianza del Pastizal, ovalor médio mínimo pago está em 10% acima do preço da carne comum.

Com a exigência de ter 50%de campo nativo preservado, oprograma de certificação daAlianza del Pastizal visa redu-zir o impacto ambiental da ati-vidade. Segundo a bióloga Lui-za Chomenko, pesquisadora daFundação Zoobotânica do RSe uma das diretoras da Alian-za, a emissão de gases provo-cada pela pecuária é diferenteem sistemas de gado confina-do. “Ele fica em ambientes res-tritos, come ração, tem umacondição de vida totalmente ar-tificial”, observa.

No campo nativo, a situa-ção é outra. “A área não sofreerosão, acumula carbono nosolo e conserva a biodiversida-de, além da melhoria da pró-pria qualidade da carne, que émuito saudável”, acrescenta.Composto principalmente porvegetação campestre (gramí-neas, herbáceas e algumas ár-vores), o Bioma Pampa ocupa63% do território gaúcho. São176,5 mil quilômetros quadra-dos, dos quais uma pequenaparcela permanece conserva-da. “Muita gente acha que is-so é um descampado, e na ver-dade existem centenas de ti-pos de gramas, além de cente-nas de espécies de animais,muito deles endêmicos (encon-

trados apenas em um bioma)”,explica Luiza.

O 1˚ vice-presidente da Far-sul, Gedeão Pereira, vê a ini-ciativa da certificação da car-ne com cautela. “Tudo o queagregar valor ao produtor é in-teressante. Mas como é umprograma que se baseia exclu-sivamente em campo nativo,que não tem a velocidade determinação de engorda quetem as pastagens cultivadas,seria um senão, porque aí é

uma carne um pouco de maisidade e é uma velocidade deprogresso um pouco mais len-ta”, acredita. “Não sou contraalguma coisa que possa agre-gar valor, mas em qualidadede produto, acho outro sistemabem melhor.” Entre as suasrestrições à certificação, se-gundo ele, está o fato de o pro-grama não prever integraçãocom a agricultura. E afirmaque o volume de carne certifi-cada será pequeno.

Pesquisa indica preço até 22% mais alto

COORDENAÇÃO ■ Eliane Iensen | [email protected]ÇÃO ■ Eliane Iensen e Danton Júnior| [email protected];REPORTAGEM ■ Danton Júnior;PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO ■ Claudia Judá e Cláudia RodriguesREVISÃO ■ Elácia Herold

Page 3: Com a garantia do Pampa - Danton Júnior

DOMINGO | 1O de fevereiro de 2015 CORREIO DO POVOcorreio do povo rural

Barcelona

P ensei em escrever os Cadernos de Espanha, mas em res-peito ao povo catalão, titulo apenas Barcelona. A Catalu-nha é mesmo um país à parte, mais que um estado autô-

nomo. Barcelona é uma cidade linda, alegre e multicolorida. Acidade me impressionou desde a chegada, uma majestade ao la-do do Mediterrâneo. A revoltosa Barcelona nos enche os olhos ea alma. Fiquei admirado mesmo com a arquitetura, os prédios(antigos ou modernos), cada um mais bonito que o outro. A sen-sação é que fizeram ali um Festival da Barranca (reunião de mú-sicos nativistas em São Borja, na Semana Santa) de arquitetos,onde cada um mostrou suas habilidades. O ganhador, claro, foiAntoni Gaudí, com suas impressionantes concepções neogóticase modernistas. “A beleza é o resplendor da verdade”, disse o ar-tista, religioso e visionário, que morreu após ser atropelado porum bonde. Terminou a vida pobre, morando numa ala da suaobra-prima, a Igreja da Sagrada Família, nunca concluída. Os gê-nios nunca conseguem terminar seus planos.

Barcelona é um mosaico, mas não apenas uma multicoloridaobra de Gaudí. Muitas misturas. Ao lado de meu hotel, na Sagra-da Família, havia muitos indianos, gente do Bangladesh, Repúbli-ca Dominicana, China e Japão. Uma cidade que depois dos anos1960 recebeu pessoas de todo o mundo e, mesmo que queira serapenas catalã, de forma contraditória acabou universal. Minhacolega Claudia Moritz, uma viajante refinada e sensível, sugeriuque visitasse o Museu da Música Catalã. Um lugar esplêndido,uma revelação. Depois andei pela Barceloneta, o bairro junto àpraia, morada de antigos pescadores, visitei as lojas do bairroGótico, caminhei pela Rambla, subi ao Montjuïc, onde está o Está-dio das Olimpíadas de 1992 e muitas casas de cultura, visitei mu-seus e me misturei aos catalães e aos demais povos desta cidadede muitos sotaques.

Barcelona é um pouco cara, um pouco arrogante, mas muito lin-da e elegante como uma orquídea sobre a mesa. Porque se a belezaé mesmo a verdade, às vezes ela vem fazer do nosso coração suamorada e, sem querer, acampa em nós só para assoprar as brasas...

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CampereadaPauloMendes|[email protected]

JAIRO SOUZA / ESPECIAL / CP MEMÓRIA

Carne tem gorduramenosagressiva

Pesquisadores afirmam que, além da qualidade da carne, a área de campo nativo não sofre erosão

Quanto mais natural o am-biente de produção, menor é aartificialização da alimentação(grãos e subprodutos daagroindústria). Para o coordena-dor do Núcleo de Estudos emSistemas de Produção de Bovi-nos de Corte e Cadeia Produtiva(Nespro) da Ufrgs, Júlio Bar-cellos, esses fatores favorecem àprodução de uma carne diferen-ciada em vários aspectos. “Parti-cularmente, pela composição degordura menos agressiva à saú-de e pigmentos no músculo quepodem ser favoráveis ao consu-

midor”, avalia, embora ressalteque existem controvérsias sobresuas vantagens. Segundo Bar-cellos, iniciativas desta naturezaexigem que seus participantescompartilhem experiências, re-sultados e busquem uniformizarseus processos produtivos. “Osinvestimentos precisam ser pri-meiramente organizacionais,após na produção e quase simul-taneamente em promoção doproduto”, observa.

O gerente de Sustentabilida-de da Marfrig, Mathias Almeida,concorda que o desafio principal

é comunicar-se com o públicoconsumidor, principalmente ten-do em vista o custo da carne cer-tificada. “Claro que ninguémquer pagar mais pelas coisas,mas queremos trazer um tipo deincentivo ao produtor”, explica.

De acordo com ele, o progra-ma irá favorecer cortes tradicio-nais, como picanha, contrafilé,maminha e alcatra, mas aindanão há definição de como seráaproveitada a parte dianteira dobovino. “É uma coisa que não te-mos na mão ainda. Será um de-safio”, afirma.