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Page 1: Mais preparados para enfrentar a lagarta - Danton Júnior

7/17/2019 Mais preparados para enfrentar a lagarta - Danton Júnior

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DOMINGO | 13 de julho de 2014 correio do

 DANTON JÚNIOR

Além do conhecimento ad-quirido na última safra,quando a Helicoverpa ar- 

migera  ainda era uma novidade,o produtor rural terá novas fer-

ramentas para combater a lagar-ta durante o próximo ciclo. Se-gundo o Ministério da Agricultu-ra, 49 produtos comerciais estãoregistrados para o combate àpraga. Em novembro do ano pas-sado, eram apenas 19.

“Muitos deles têm o mesmoprincípio ativo. Mas, de qual-quer forma, é uma disponibilida-de grande, já que inicialmentehavia uma discussão sobre a fal-ta de produtos no mercado”, afir-ma o fiscal agropecuário JairoCarbonari, do Serviço de Sanida-de Vegetal do Mapa/RS. A maiorparte dos defensivos disponíveisé de itens biológicos (28).

Embora os danos provocados

pela lagarta em solo gaúcho te-nham ficado aquém do que eratemido, o aperfeiçoamento nasformas de combate à praga sejustifica, já que a ameaça perma-nece. “Eu diria que ficar maistranquilo, não vai ficar”, diz oentomologista Jerson Guedes,da UFSM, responsável pelo lau-do que identificou a presença daHelicoverpa armigera   no Esta-d o . E l e v ê p a r a a s a f r a2014/2015 um cenário parecido

com o do período anterior. Deacordo com o especia-

lista, a tendência é que a lagar-ta siga ocorrendo “dentro doque foi, para pior”. “A praga sedistribuiu no Estado e principal-mente em soja. Colonizou quasetoda a lavoura, em pequenaquantidade, porém bem distribuí-

da”, observa. Guedes ressaltaque o surgimento da lagarta de-pende muito do cenário dos paí-ses onde ela foi observada, espe-cialmente no que se refere a cli-ma e hospedeiros.

Parte das maisde 200 armadilhascom feromônio insta-ladas em lavourasgaúchas no ano pas-sado começou a serretirada nas últi-mas semanas. “Con-tinuarmos com asarmadilhas é umtrabalho desnecessá-rio. Sabemos que alagarta está em todo o Estado”,

afirma o gerente de Defesa Vege-tal da Seapa, José Cândido Mot-ta. “O que faremos é trabalhar acampo para ver os possíveis da-nos causados por ela e a suapresença nas culturas de inver-no”, acrescenta.

Para a safra de verão, as me-didas, por enquanto, permane-cem as mesmas. Motta ressaltaque a   Helicoverpa  não chegou acausar no Rio Grande do Sul odano que foi “apregoado por

quem queria vender inseticida”.“O momento é de trabalho con- junto entre técnicos e agriculto-res”, afirma. “Temos depoimen-to de agricultores que monitora-ram ela como apregoa a tecnolo-gia e a controlaram no momento

certo. Teve gente que teve maisproblema com a falsa medidei-ra”, acrescenta.

Um dos principais problemasobservados na safra passada foi

a aplicação indevidade produtos quími-cos na lavoura. Parao p r es i de n te d a Aprosoja/RS, DécioTeixeira, o produtora g or a e s tá m a isconsciente. “Nãoadianta colocar inse-ticidas de alto poderdestrutivo, que aca-ba reforçando a la-garta e acaba com

os inimigos naturais”, adverte.

“Acho que o produtor vai estarmais preparado”, aposta o soji-cultor. Ele reconhece que a pre-sença da Helicoverpa  nas lavou-ras gaúchas mudou a forma co-mo o produtor organiza a suaplantação  —  o que inclui um au-mento de custos, que ele aindanão sabe precisar em valores. Antes, conforme Teixeira, o agri-cultor agia somente após obser- var uma determinada quantida-de da praga na lavoura. “Agora

não. Quando começa a apare-cer, ele já tem de aplicar

o produto. Se (a lagar-ta) crescer um pouco

acima do ideal, jáfica muito difí-

cil”, destaca.

49produtoscontraaHelicoverpaarmigeraestãoregistradosno

Mapa.

     P     A     U     L     O     R     O     B     E     R     T     O     P     E     R     E     I     R     A      /     D     I     V     U     L     G     A     Ç     A     O      /     C     P     M     E     M      Ó     R     I     A

INOR ASSMANN / GAZETA DO SUL / CP MEMÓRIA

SAMUEL MACIEL / CP MEMÓRIA

Culturasde invernoexigematenção

Maispreparadosparaenfrentara lagarta

Embora os maiores estragos

tenham sido constatados nas la- vouras de soja, as culturas de in- verno também devem receberatenção. Mariposas foram encon-tradas nas armadilhas mesmono início do mês de julho, emmeio a baixas temperaturas, po-rém, em quantidade menor. Se-gundo o professor José RobertoSalvadori, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veteriná-ria da UPF, isso não significaque a  Helicoverpa armigera   irácompletar seu ciclo. Para escla-recer isso, amostras coletadassão analisadas em laboratório.

“Minha posição é de alerta, enão de alarde”, explica o profes-sor. De acordo com ele, algunsindivíduos estão presentes no so-lo na forma de pupa, posterior à

fase larval. Muitos darão origem

a adultos, enquanto outros per-manecem no solo hibernando e vão emergir com maior intensi-dade com a elevação da tempe-ratura, no final de agosto e iní-cio de setembro. “Quando a tem-peratura do solo aumentar e obanco de pupas reabastecer aquantidade de mariposas no am-biente, elas vão se acasalar e po-derão ocorrer lagartas na fasereprodutiva final do trigo, em ou-tubro e novembro.”

O entomologista Jerson Gue-des, da UFSM, ressalta que ocor-rências foram observadas em fei- jão safrinha e nabo. “Melhoran-do a temperatura, aí por setem-bro, vai haver a safra de prima- vera, girassol e canola, e prova- velmente vamos ter problemas.”

Embora prejuízo causado tenha ficado abaixo do que se temia no RS, risco permanece para a safra 2014/2015

Usodevírus torna-sealternativa

Pesquisador alerta paraocorrência damariposana lavoura de feijãosafrinha

No verão, lagarta atingiu lavouras de soja, trazendo prejuízos

 A preocupação com os inimigos naturais fazcrescer a opção pelo controle biológico para com-bater a  Helicoverpa armigera   —   não apenas àbase de  Bacillus thuringiensis   (bt). Uma das no-vas ferramentas disponíveis no mercado é um ví-rus chamado Diplomata, que após ser aplicado naplantação pode exterminar a praga em no míni-mo 24 horas. Desenvolvido pela holandesa Ko-ppert, ele foi testado no ano passado na Bahia,no Mato Grosso e no Paraná. O lançamento nacio-nal ocorreu durante a Agrishow, em Ribeirão Pre-to (SP), no mês de abril.

Os defensivos biológicos estão classificados

dentro da Lei de Agrotóxicos e Afins. Para che-gar ao mercado, o produto recebeu aprovação daAnvisa, do Mapa e do Ibama. Conforme o fabrican-te, uma vez aplicado, a lagarta cessa a alimenta-ção mesmo ingerindo uma partícula do vírus. Ocusto aproximado será de 20 dólares por hectare.A empresa alega que o vírus é menos agressivo

do que os defensivos químicos. “O impacto no or-ganismo humano é zero. Ao meio ambiente, muitobaixo”, explica o diretor comercial da empresa noBrasil, Gustavo Herrmann. A aplicação recomen-dada é de 65 ml por hectare, com pulverizaçãotratorizada ou via aérea.

“A principal vantagem (do controle biológico) éque ele é específico para a  Helicoverpa : controlaexclusivamente a lagarta, salvando os inimigosnaturais”, observa o entomologista Jerson Gue-des, da UFSM. Ironicamente, esse também é umfator de desvantagem. “As lavouras também têmoutras lagartas”, explica. Por esse motivo, o pro-

dutor acaba recorrendo ao controle químico paracombater outras pragas. O professor José Rober-to Salvadori, da UPF, ressalta que os produtosbiológicos requerem maior conhecimento de quemaplica. Além disso, observa, não se pode esperarum “efeito de choque”. “A lagarta não morre ime-diatamente e isso tem de ser alertado”, explica.


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