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Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
PROCESSO Nº TST-RR-224900-06.2013.5.13.0007
Firmado por assinatura digital em 07/05/2015 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP
2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
A C Ó R D Ã O
(2ª Turma)
DCCACM/006/
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE
REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. -
REVISTA EM ARMÁRIO - PODER DIRETIVO E
FISCALIZATÓRIO DO EMPREGADOR - EXCESSO
- ATO ILÍCITO CONFIGURADO. Conforme
substrato fático delineado nos autos,
verificou-se que a reclamante era
exposta situação vexatória a justificar
o pagamento de indenização por danos
morais, pois o armário da autora era
revistado. Possibilidade de violação do
inciso X do art. 5º da CF/88 a ensejar
o seguimento do recurso de revista com
fulcro na alínea "c" do art. 896 da CLT.
Agravo de instrumento conhecido e
provido.
RECURSO DE REVISTA. HORAS EXTRAS.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO
VERIFICADA. NÃO CONHECIMENTO.
Verificado que os arestos colacionados
na revista não guardam a mesma premissa
fática delineado no acórdão recorrido,
não se conhece do recurso de revista por
divergência jurisprudencial. Recurso
de Revista não conhecido.
RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR
DANO MORAL. - REVISTA DE ARMÁRIO - PODER
DIRETIVO E FISCALIZATÓRIO DO EMPREGADOR
- EXCESSO - ATO ILÍCITO CONFIGURADO.
Conforme substrato fático delineado nos
autos, verificou-se que a reclamante
era exposta à situação vexatória a
justificar o pagamento de indenização
por danos morais, pois o armário da
autora era revistado. A revista em
armários se reveste de ilicitude, uma
vez que põe em dúvida a honestidade do
obreiro, ofendendo a sua dignidade.
Cabe à empresa adotar meios menos
invasivos à intimidade do empregado
para prevenir eventual perda
patrimonial, como meios magnéticos de
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detecção, pois, do sopesamento destes
dois direitos fundamentais, dignidade e
propriedade, indubitavelmente o
primeiro deve prevalecer, pois a mera
necessidade de proteção do patrimônio
do empregador não basta enquanto
argumento para justificar uma conduta
capaz de gerar circunstância vexatória
para o trabalhador, como a dos autos, já
que, pelo princípio da alteridade (art.
2º da CLT), o empresário deve assumir os
riscos do negócio. Revista íntima seria
excepcionalmente admitida quando
houvesse risco iminente à sociedade, e
não ao patrimônio do empregador.
Violação do inciso X do art. 5º da CF/88.
Recurso de Revista conhecido e provido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo
de Instrumento em Recurso de Revista n°
TST-AIRR-224900-06.2013.5.13.0007, em que é Agravante ANDREIA EMANUELLE
PINTO RODRIGUES e Agravado MARISA LOJAS S.A..
Agravo de instrumento interposto contra decisão que
denegou seguimento ao recurso de revista.
Não Foram apresentadas contraminuta de agravo e
contrarrazões de recurso de revista.
Não houve manifestação do MPT.
É o relatório.
V O T O
1.CONHECIMENTO
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Conheço do agravo de instrumento porque regular e
tempestivo.
2.MÉRITO
Na exordial foi alegado constrangimento por parte da
empregadora que determinava a revista da bolsa e do armário da reclamante,
sem qualquer anuência ou aviso prévio da empresa.
A reclamante prestou este depoimento:
Que sofria revistas nos armários e nas bolsas; que as revistas nos
armários ocorriam mensalmente, ou quando havia suspeita de furto;
que os armários eram abertos sem a presença da reclamante; que todos
os dias tinha de abrir sua bolsa na saída; que quem abria a bolsa era a própria
reclamante, contudo, às vezes os próprios seguranças vasculhavam a bolsa;
(...) que sabe dizer que havia as revistas porque algumas pessoas viram e
disseram a ela depoente; que quem fazia a revista nas bolsas eram os gerentes
e as vezes os fiscais de loja (...)
A testemunha da reclamante declarou:
(...) que havia revistas nos armários; que as vezes via essas revistas
e as vezes alguém dizia que ocorriam; que nessas revistas se mexia no
conteúdo do armário; que quem faziam as revistas nos armários eram os
gerentes e os líderes; (...) que a revista nos armários ocorria
aproximadamente uma vez por mês, ou quando houvesse suspeita de
furto;
A reclamada foi condenada a indenizar a reclamante,
nestes termos:
DOS DANOS MORAIS DECORRENTES DA REVISTAÍNTIMA
Busca a parte reclamante o reconhecimento de danos ao seu patrimônio
imaterial em face de revistas íntimas indevidas perpetradas pela reclamada.
Estas se davam através de revistas na sua bolsa assim como de seu armário.
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Quanto às revistas nas bolsas da reclamante, tal fato restou fartamente
comprovado nos autos, tendo, inclusive, sido confessado pela preposta da ré
(s33p1). Inclusive, quem as realizava chegava a remexer o conteúdo das
mesmas, como confirmado pela primeira testemunha ouvida nos autos
(s33p2).
Noutra linha, igualmente pela primeira testemunha ouvida, restou
comprovado o fato da reclamada revistar os armários de seus
funcionários sem sua presença (igualmente no s33p2).
Por oportuno, saliento não sofrerem os fatos acima mencionados uma
variação no nível que naturalmente sofrem os horários de trabalho, razão
pela qual não há como entender maculada a memória da primeira testemunha
ouvida nos autos pelo decurso de tempo no particular.
Por outro lado, o fato da segunda testemunha ouvida não ter
presenciado as revistas nos armários ou as de forma invasiva das bolsas
não significa que estas não ocorreram, mas, apenas, que aquela não as
presenciou.
Dito isto, passo a analisar a mácula do patrimônio imaterial da obreira.
Existem métodos modernos de fiscalização de empregados, dentre os
quais se destaca o uso de câmeras de segurança. Este não impõe gastos
elevados, sendo de fácil acesso às empresas em geral (também aqui tenho por
guarida o art. 335 do CPC), fugindo ao razoável imaginar que a reclamada,
uma das maiores redes nacionais de comércio de roupas, não consiga
utilizá-lo.
Nesta linha, mostra-se desnecessária (ante a existência de métodos
diferentes) além de ilícita a revista nas bolsas do funcionários da ré,
especialmente de forma invasiva, com toques no seu conteúdo.
Por outro lado, a revista nos armários dos trabalhadores mostra-se não
só desnecessária e ilegal, mas, também, aviltante e ultrajante, pois
humilhante para o empregado ante a invasão de sua privacidade, dela
nascendo mácula direta aos arts. 1º, III, IV e 5º, X da CF.
Nesta linha, pelo narrado, inegável a mácula ao patrimônio imaterial da
reclamante pelas revistas sofridas. Passo então a arbitrar a indenização pelos
danos morais sofridos.
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Ante todo o exposto, e analisando a dor moral da parte autora
naturalmente decorrente das revistas sofridas, e tendo em mente que para a
reparação deste dano deve o magistrado fixar o quantum indenizatório por
arbitramento, nos termos do art. 953, parágrafo único do CC, buscando
ao máximo amenizar o sofrimento experimentado pela vítima, e:
a) levando em conta o grau de culpa da ré;
b) o próprio dano;
c) a situação econômica da empresa;
d) além da gravidade do dano moral sofrido pela parte Condeno a
demandada ao pagamento de R$ 5.000,00 a título de danos morais.
Não há compensação ou dedução a ser procedida.
No entanto, o Tribunal Regional do Trabalho da 13ª
Região acolheu as alegações da reclamada, proferindo esta decisão,
verbis:
RECURSO DA RECLAMADA
A recorrente alega que jamais efetuou revistas íntimas em seus
empregados. Afirma que, com fundamento no poder de direção e no seu
direito de propriedade, apenas determinava que seus funcionários, ao saírem
do local de trabalho, abrissem as bolsas para uma revista visual, inexistindo
contato físico e toques nos pertences dos mesmos, pelo que não resultaria
configurada qualquer conduta ofensiva aos direitos fundamentais, e sequer
estaria caracterizada a revista íntima.
Assevera que não restaram comprovados os elementos constantes no
art. 186 do CC/2002, razão pela qual pugna seja excluída da condenação a
indenização por danos morais deferida.
Com razão, a recorrente.
A controvérsia gira em torno da caracterização da revista visual
de bolsas e armários, como procedimento hábil a ensejar o ressarcimento
por danos morais.
A reclamada sustenta que a revista era apenas visual e indiscriminada,
não evidenciando qualquer dano aos direitos do trabalhador. Afirma que “é
uma rede de lojas de varejo, sendo certo que vende peças que podem ser
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facilmente subtraídas (peças íntimas, bijuterias, meias etc)” e que a revista
por ela realizada é feita com o intuito de salvaguardar a sua propriedade.
No que pertine a revista íntima das bolsas e pertences, a matéria deve
ser analisada à luz da eficácia horizontal dos direitos fundamentais,
observando-se a ponderação de princípios, uma vez que entram em colisão,
no particular, o poder diretivo do empregador e os direitos da personalidade
do empregado.
Analisando-se os depoimentos constantes na ata de audiência,
verifica-se que a revista realizada pela recorrente era apenas visual, com
abertura de bolsas e armários, inexistindo qualquer contato físico.
Veja que, enquanto a testemunha da reclamante afirmou "que muitas
vezes os seguranças remexiam o conteúdo das bolsas das empregadas; que
havia revistas nos armários; que as vezes via essas revistas e as vezes
alguém dizia que ocorriam”, a testemunha da reclamada disse “que ao final
do expediente se mostram as bolsas para as gerentes; que não há revista
com invasão das bolsas, não sendo remexido seu conteúdo; que os armários
não são revistados”.
Como se observa, as testemunhas das partes prestaram depoimentos
diametralmente opostos acerca do fato, estando portanto, diante de prova
dividida.
Assim, a questão deve ser decidida contra quem tinha o ônus da prova.
Por se tratar de fato constitutivo de seu direito, cabia à autora o ônus de
comprovar que a revista não era apenas visual, mas, sim, que os seguranças
remexiam nas bolas e armários. Todavia, deste encargo não se desvencilhou
(arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC), pois a prova por ela apresentada não se
mostrou robusta e suficiente ao fim colimado.
Nesse contexto, entendo que não restou devidamente comprovado que
a revista era pessoal ou íntima, ao contrário, dava-se apenas nos pertences
dos empegados, como bolsas e armários, porém de maneira generalizada,
sem discriminação entre os trabalhadores.
Importante destacar que a revista vedada pela legislação trabalhista é
aquela prevista no art. 373-A da CLT – revista íntima -, não havendo falar
em proibição de revistas visuais, principalmente quando a empregadora tem
como atividade a produção e venda de produtos que possam ser facilmente
subtraídos, como é o caso da reclamada.
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Ademais, ainda encontraria respaldo para a condenação ao pagamento
de indenização por danos morais a revista realizada com inobservância do
princípio da proporcionalidade, nas quais os sujeitos são expostos a situações
ultrajantes e vexatórias, o que não ocorre nos autos.
Ora, o tipo de fiscalização efetuado pela reclamada, com observância
dos limites dos poderes diretivo e de fiscalização, fundamentados no direito
de propriedade consagrado no art. 5º, XXII, da Constituição da República,
revela o exercício regular de proteção do patrimônio do empregador, não
caracterizando o ato ilícito, pois não demonstrada a afronta aos direitos da
personalidade dos funcionários da reclamada. Assim, a mencionada conduta
não poderá, de forma presumida, caracterizar ofensa à honra ou à integridade
psíquica do empregado, tampouco aos princípios da dignidade da pessoa
humana e da presunção de inocência.
Nas palavras da ilustre doutrinadora Alice Monteiro de Barros:
O direito à intimidade nos protege da ingerência dos sentidos dos
outros, principalmente dos olhos e dos ouvidos de terceiro. A tutela dirige-se
contra as intromissões ilegítimas. Seu conceito é mais restrito do que o
direito à privacidade, sendo ambos consagrados no preceito constitucional
(art. 5º, X). [...] Não se discute que o empregado, ao ser submetido ao poder
diretivo do empregador, sofre algumas limitações em seu direito à
intimidade. Inadmissível, contudo, é que a ação do empregador se amplie a
ponto de ferir a dignidade da pessoa humana. (BARROS, Alice Monteiro,
Curso de Direito do Trabalho, 4. Ed. Rev e ampl. – São Paulo: LTr, 2008,
págs. 635-6).
A jurisprudência pátria, em sua maioria, vem firmando convencimento
no sentido de que a revista visual de bolsas e sacolas não configura dano
moral. Sobre a matéria, eis os seguintes julgados oriundos do Tribunal
Superior do Trabalho:
RECURSO DE REVISTA - INDENIZAÇÃO - DANO MORAL -
REVISTA VISUAL DE BOLSAS E SACOLAS - CONFIGURAÇÃO.
A revista em bolsas e sacolas dos empregados da empresa, realizada
de modo impessoal, geral e sem contato físico, e sem expor a intimidade dos
trabalhadores, não os submete a situação vexatória e não abala o princípio
da presunção da boa-fé que rege as relações de trabalho. O ato de revista de
empregados, em bolsas e sacolas, por meio de verificação visual, é lícita,
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consistindo em prerrogativa do empregador, tendo em vista o seu poder
diretivo, não caracterizando prática excessiva de fiscalização capaz de
atentar contra a dignidade do empregado.
Nesse sentido tem reiteradamente entendido esta Corte. Recurso de
revista conhecido e provido. (TST-RR - 408-59.2010.5.05.0039. Data de
Julgamento: 28/11/2012, Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello
Filho, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/12/2012);
REVISTA EFETUADA NOS PERTENCES DO EMPREGADO. DANO
MORAL. INDENIZAÇÃO. O Tribunal Regional consignou que a
Reclamante tinha seus pertences submetidos a revista visual feita pela
Reclamada e decidiu deferir à Autora indenização por dano moral no valor
de R$ 5.000,00, sob o fundamento de que a revista 'fere o direito à
intimidade e os princípios da presunção de inocência e da dignidade do
trabalhador, cabendo ao empregador, que, pelas condições em que o
trabalho é realizado, corra o risco de sofrer furtos, investir em outros meios
para proteger o seu patrimônio, já que a ele cabem os riscos da atividade
econômica'. Não obstante, esta Corte Superior tem decidido reiteradamente
que a revista feita nos pertences (bolsas, sacolas, mochilas e outros
volumes) do empregado não caracteriza, por si só, dano moral, se não
evidenciado o abuso do empregador durante o procedimento. Registrado, no
acórdão recorrido, que a Reclamada efetuava revista tão somente visual nos
pertences da Reclamante, que a revista era feita nos pertences de todos
empregados da empresa e que o procedimento ocorria na portaria, sem a
exposição dos fatos a terceiros, e inexistente notícia de que a Reclamante
fosse submetida a revista íntima ou de que houvesse qualquer tipo de abuso
por parte da Reclamada, é indevida a condenação ao pagamento de
indenização por danos morais. Recurso de revista de que se conhece e a que
se dá provimento. (RR - 930100-83.2007.5.09.0003. Data de Julgamento:
31/10/2012, Relator Ministro: Fernando Eizo Ono, 4ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 30/11/2012).
No caso em apreço, ausente prova do ato ilícito do empregador, já que
não comprovado qualquer abuso do seu poder diretivo e fiscalizatório,
inviável concluir pela caracterização de dano moral à reclamante, uma vez
que ausente um dos principais requisitos previstos no art. 186 do CC/2002, a
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saber, o próprio ato ilícito, pelo que deve ser afastada a indenização por
danos morais.
Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso ordinário da
reclamada para julgar improcedente o pedido formulado por ANDRÉIA
EMANUELLE PINTO RODRIGUES em face da MARISA LOJAS S/A.
Custas invertidas e dispensadas, face ao permissivo legal.
(...)
RECURSO ADESIVO DA RECLAMANTE A reclamante alega ter
direito às horas extras por ter laborado em sobrejornada, sem receber a
respectiva contraprestação. Diz que laborou na seguinte jornada de trabalho,
das 07h30 às 18h, de segunda a sexta, e aos sábados, das 07h30 às 16h30,
com uma hora de intervalo.
A reclamada rebate, dizendo que a reclamante marcava corretamente
seus cartões de ponto e, se houvesse necessidade de prestar horas extras,
estas eram devidamente registradas nos registros de frequência, sendo
posteriormente pagas ou compensadas.
Nos termos da Súmula 338 do TST, o empregador, que conta com mais
de 10 (dez) empregados, tem o encargo de registrar a jornada de trabalho
desses empregados, na forma da primeira parte do § 2º, do art. 74 da CLT.
No caso, a reclamada apresentou os cartões de ponto (seq. 25). Assim,
o ônus da prova do fato constitutivo de seu direito seria da autora, a teor do
disposto nos arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC, do qual não se desvencilhou.
Isso porque não há como acolher o depoimento da sua testemunha,
notadamente sobre o horário de início da jornada de trabalho, pois ao depor
disse que trabalhava das 09h às 19h, mas não soube informar qual o horário
de entrada da reclamante, limitando-se a dizer que ela chegava antes (seq.
33).
Já o depoimento da testemunha da reclamada foi mais consistente,
assegurando a autenticidade das marcações nos cartões de ponto, bem como
que eventuais horas extras prestadas eram devidamente compensadas, senão
vejamos:
[…] que trabalha das 08h às 17h; que trabalha nesse horário na loja
onde trabalhou a reclamante há aproximadamente três anos; que costumava
entrar junto com a reclamante na loja aproximadamente às 07:50; que após
entrar troca a roupa e bate o ponto; que normalmente saía no mesmo
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horário da reclamante, por volta das 17h; que nunca aconteceu de bater o
ponto e voltar para trabalhar; que quando havia um movimento maior na
loja a reclamante poderia sair mais tarde que a depoente, por volta de uma
hora mais tarde; que esta hora era compensada através de banco de horas;
que se precisasse sair mais tarde, saía, mas batia o ponto corretamente; que
nenhum funcionário da empresa bate o ponto e volta a trabalhar; que
ninguém trabalha antes de bater o ponto.
Ao meu ver, a autora não conseguiu desconstituir as anotações
constantes nos registros de ponto. Em se tratando de valiação da prova oral
produzida, deve esta Instância revisora, pelo menos em princípio, prestigiar a
valoração do conjunto probatório feita pelo Juízo de primeiro grau,
porquanto teve contato pessoal com as partes e testemunhas, podendo melhor
estabelecer se o depoimento de uma testemunha merece ou não
confiabilidade.
Desse modo, comungo do entendimento do juiz de origem, no sentido
de que os cartões de ponto são válidos e que os horários neles lançados
retratam a real jornada cumprida pela reclamante, de sorte que as horas
extraordinárias prestadas foram compensadas/pagas.
Mantenho a decisão de origem que indeferiu o pedido de horas extras e
reflexos.
Inconformada, a reclamante interpôs recurso de
revista, mas denegado por decisão assim fundamentada:
PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Tempestivo o recurso (decisão publicada em 20/05/2014 - seq. 0095;
recurso apresentado em 28/05/2014 - seq. 0098).
Regular a representação processual (seq. 0002 - fl. 01).
Dispensado o preparo (seq. 0040 - fl. 07).
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
Responsabilidade Civil do Empregador / Indenização por Dano Moral
Alegação(ões):
- violação do art. 5º, inciso X e LVII, da CF.
- divergência jurisprudencial.
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A Primeira Turma afirmou que, no tocante a revista íntima das bolsas e
pertences, a matéria deve ser analisada à luz da eficácia horizontal dos
direitos fundamentais, observando-se a ponderação de princípios, uma vez
que entram em colisão, no particular, o poder diretivo do empregador e os
direitos da personalidade do empregado.
Analisando os depoimentos constantes na ata de audiência, verificou o
v. acórdão que a revista realizada pela recorrente era apenas visual, com
abertura de bolsas e armários, inexistindo qualquer contato físico.
Por se tratar de fato constitutivo de seu direito, cabia à autora o ônus de
comprovar que a revista não era apenas visual, mas, sim, que os seguranças
remexiam nas bolas e armários. Todavia, deste encargo não se desvencilhou
(arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC), pois a prova por ela apresentada não se
mostrou robusta e suficiente ao fim colimado.
Nesse contexto, entendeu o v. decisum que não restou devidamente
comprovado que a revista era pessoal ou íntima, ao contrário, dava-se apenas
nos pertences dos empregados, como bolsas e armários, porém de maneira
generalizada, sem discriminação entre os trabalhadores.
No caso em apreço, concluiu a Turma Julgadora que, ausente prova do
ato ilícito do empregador, já que não comprovado qualquer abuso do seu
poder diretivo e fiscalizatório, inviável concluir pela caracterização de dano
moral à reclamante, uma vez que ausente um dos principais requisitos
previstos no art. 186 do CC, a saber, o próprio ato ilícito, pelo que deve ser
afastada a indenização por danos morais.
Nessa linha, constata-se que o Órgão Turmário firmou convencimento,
quanto à referida indenização, com base no contexto probatório dos autos e,
nesse sentido, uma suposta modificação na decisão demandaria,
necessariamente, o reexame de fatos e provas, o que encontra óbice na
Súmula nº 126/TST, inviabilizando o seguimento do recurso, inclusive por
divergência jurisprudencial.
CONCLUSÃO
Denego seguimento ao recurso de revista.
A reclamante, inconformada, agrava de instrumento,
voltando a reiterar as alegações de seu recurso de revista.
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Alega que os TRT1, TRT10, TRT13, TRT15, TRT19 já se
posicionaram em sentido contrário do acórdão recorrido.
Aduz que “a Lei nº 9.799/99, assecuratória de direitos específicos da
mulher no mercado de trabalho, que proíbe o empregador ou seu preposto de proceder a revistas
íntimas nas empregadas ou funcionárias, aplicável por analogia aos empregados do sexo masculino”
e que “os pressupostos da responsabilidade civil encontram-se no artigo 186 do Código Civil
Brasileiro” e ainda que “a revista íntima de empregado é conduta invasiva da privacidade, viola
a intimidade, a honra e a imagem do trabalhador, direitos esses constitucionalmente assegurados no
artigo 5º, inciso X”
Vejamos.
Por primeiro, o recurso de revista, no caso concreto,
é incabível por divergência jurisprudencial, tendo em vista que o
reclamante transcreve um aresto do próprio Tribunal Regional prolator
do acórdão recorrido (numeração eletrônica 389) e outro aresto de Turma
do TST, órgãos não previstos na alínea “a” do art. 896 da CLT. Incide
aqui o óbice da OJ 111 do TST.
Em relação ao cabimento do recurso pela alínea “c” do
art. 896 da CLT, o reclamante alega violação do art. 5º, LVII (Princípio
da Inocência) e X (direito à intimidade), do art. 186 do Código Civil
(reparação por dano decorrente de ato ilícito).
De início, ressalte-se não examinou a tese do
Princípio Constitucional da Inocência (art.5º, LVII), sequer
implicitamente, nem foram opostos embargos declaratórios. Incide aqui
o óbice da Súmula 297 do TST.
Quanto ao alegado ato ilícito, havendo prova robusta
de que o armário da reclamante era revistado de forma invasiva, há
possível violação do inciso X do art. 5º da CF/88 a ensejar o recurso
de revista.
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Dou provimento ao agravo de instrumento para
determinar o processamento do recurso de revista.
RECURSO DE REVISTA
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso
de Revista n° TST-RR-224900-06.2013.5.13.0007, em que é Recorrente
ANDREIA EMANUELLE PINTO RODRIGUES e Recorrido MARISA LOJAS S.A..
A reclamante interpõe recurso de revista quanto às
horas extras e à indenização por dano moral.
A reclamada não apresentou contrarrazões.
É o relatório.
V O T O
1. CONHECIMENTO
1.1.PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Tempestivo foi interposto tempestivamente(decisão
publicada em 20/05/2014 - seq. 0095; recurso apresentado em 28/05/2014
- seq. 0098).
A representação processual está regular (seq. 0002 -
fl. 01).
Dispensado o preparo (seq. 0040 - fl. 07).
1.2.PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
1.2.1. HORAS EXTRAS
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No tocante às horas extras, o Tribunal Regional assim
decidiu:
RECURSO ADESIVO DA RECLAMANTE
A reclamante alega ter direito às horas extras por ter laborado em
sobrejornada, sem receber a respectiva contraprestação. Diz que laborou na
seguinte jornada de trabalho, das 07h30 às 18h, de segunda a sexta, e aos
sábados, das 07h30 às 16h30, com uma hora de intervalo.
A reclamada rebate, dizendo que a reclamante marcava corretamente
seus cartões de ponto e, se houvesse necessidade de prestar horas extras,
estas eram devidamente registradas nos registros de frequência, sendo
posteriormente pagas ou compensadas.
Nos termos da Súmula 338 do TST, o empregador, que conta com mais
de 10 (dez) empregados, tem o encargo de registrar a jornada de trabalho
desses empregados, na forma da primeira parte do § 2º, do art. 74 da CLT.
No caso, a reclamada apresentou os cartões de ponto (seq. 25).
Assim, o ônus da prova do fato constitutivo de seu direito seria da
autora, a teor do disposto nos arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC, do qual
não se desvencilhou.
Isso porque não há como acolher o depoimento da sua testemunha,
notadamente sobre o horário de início da jornada de trabalho, pois ao depor
disse que trabalhava das 09h às 19h, mas não soube informar qual o horário
de entrada da reclamante, limitando-se a dizer que ela chegava antes (seq.
33).
Já o depoimento da testemunha da reclamada foi mais consistente,
assegurando a autenticidade das marcações nos cartões de ponto, bem como
que eventuais horas extras prestadas eram devidamente compensadas, senão
vejamos:
[…] que trabalha das 08h às 17h; que trabalha nesse horário na loja
onde trabalhou a reclamante há aproximadamente três anos; que costumava
entrar junto com a reclamante na loja aproximadamente às 07:50; que após
entrar troca a roupa e bate o ponto; que normalmente saía no mesmo
horário da reclamante, por volta das 17h; que nunca aconteceu de bater o
ponto e voltar para trabalhar; que quando havia um movimento maior na
loja a reclamante poderia sair mais tarde que a depoente, por volta de uma
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hora mais tarde; que esta hora era compensada através de banco de horas;
que se precisasse sair mais tarde, saía, mas batia o ponto corretamente; que
nenhum funcionário da empresa bate o ponto e volta a trabalhar; que
ninguém trabalha antes de bater o ponto.
Ao meu ver, a autora não conseguiu desconstituir as anotações
constantes nos registros de ponto. Em se tratando de avaliação da prova oral
produzida, deve esta Instância revisora, pelo menos em princípio, prestigiar a
valoração do conjunto probatório feita pelo Juízo de primeiro grau,
porquanto teve contato pessoal com as partes e testemunhas, podendo melhor
estabelecer se o depoimento de uma testemunha merece ou não
confiabilidade.
Desse modo, comungo do entendimento do juiz de origem, no sentido
de que os cartões de ponto são válidos e que os horários neles lançados
retratam a real jornada cumprida pela reclamante, de sorte que as horas
extraordinárias prestadas foram compensadas/pagas.
Mantenho a decisão de origem que indeferiu o pedido de horas extras e
reflexos.
Em seu apelo revisional, a reclamante alegou
divergência jurisprudencial com arestos do TRT02, TRT04 e TRT15.
Mas não tem razão, pois os arestos colacionados são
inservíveis para o confronte de tese, tendo em vista que não guardam a
mesma premissa fática delineada no acórdão supratranscrito.
Não conheço do recurso de revista.
1.2.2. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. REVISTAS FEITAS DE
FORMA INVASIVA EM ARMÁRIOS DOS EMPREGADOS. ABUSIVIDADE COMPROVADA
Fosse a revista visual realizada em bolsas e sacolas quando
de forma impessoal entre a pessoa que procede à revista e o empregado,
acompanharia a orientação da SDI-1 do TST, por política judiciária, ressalvando
meu entendimento pessoal no sentido de que a revista realizada em bolsas,
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mochilas, gavetas e armários pessoais do empregado é íntima, eis que estes
constituem um prolongamento da intimidade da pessoa, não cabendo sequer o exame
visual.
Mas a reclamante pretende a indenização, alegando que
a revista visual era feita nos pertences (armários) de empregados, mas
de forma pessoal e invasiva.
E a prova oral produzida abona a tese da reclamante,
senão vejamos.
Na exordial foi alegado constrangimento por parte da
empregadora que determinava a revista da bolsa e do armário da reclamante,
sem qualquer anuência ou aviso prévio da empresa.
A reclamante confirmou suas alegações em Juízo, ao
declarar:
Que sofria revistas nos armários e nas bolsas; que as revistas nos
armários ocorriam mensalmente, ou quando havia suspeita de furto;
que os armários eram abertos sem a presença da reclamante; que todos
os dias tinha de abrir sua bolsa na saída; que quem abria a bolsa era a própria
reclamante, contudo, às vezes os próprios seguranças vasculhavam a bolsa;
(...) que sabe dizer que havia as revistas porque algumas pessoas viram e
disseram a ela depoente; que quem fazia a revista nas bolsas eram os gerentes
e as vezes os fiscais de loja (...)
A testemunha da reclamante fez esta declaração:
(...) que muitas vezes os seguranças remexiam o conteúdo das bolsas
das empregadas; que havia revistas nos armários; que as vezes via essas
revistas e as vezes alguém dizia que ocorriam; que nessas revistas se
mexia no conteúdo do armário; que quem faziam as revistas nos
armários eram os gerentes e os líderes; (...) que a revista nos armários
ocorria aproximadamente uma vez por mês, ou quando houvesse
suspeita de furto;
Com base nessas declarações, a reclamada foi condenada
a indenizar a reclamante, nestes termos:
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DOS DANOS MORAIS DECORRENTES DA REVISTAÍNTIMA
Busca a parte reclamante o reconhecimento de danos ao seu
patrimônio imaterial em face de revistas íntimas indevidas perpetradas
pela reclamada. Estas se davam através de revistas na sua bolsa assim
como de seu armário.
Quanto às revistas nas bolsas da reclamante, tal fato restou fartamente
comprovado nos autos, tendo, inclusive, sido confessado pela preposta da ré
(s33p1). Inclusive, quem as realizava chegava a remexer o conteúdo das
mesmas, como confirmado pela primeira testemunha ouvida nos autos (s33p2).
Noutra linha, igualmente pela primeira testemunha ouvida, restou
comprovado o fato da reclamada revistar os armários de seus
funcionários sem sua presença (igualmente no s33p2).
Por oportuno, saliento não sofrerem os fatos acima mencionados uma
variação no nível que naturalmente sofrem os horários de trabalho, razão
pela qual não há como entender maculada a memória da primeira testemunha
ouvida nos autos pelo decurso de tempo no particular.
Por outro lado, o fato da segunda testemunha ouvida não ter
presenciado as revistas nos armários ou as de forma invasiva das bolsas
não significa que estas não ocorreram, mas, apenas, que aquela não as
presenciou.
Dito isto, passo a analisar a mácula do patrimônio imaterial da obreira.
Existem métodos modernos de fiscalização de empregados, dentre os
quais se destaca o uso de câmeras de segurança. Este não impõe gastos
elevados, sendo de fácil acesso às empresas em geral (também aqui tenho por
guarida o art.335 do CPC), fugindo ao razoável imaginar que a reclamada,
uma das maiores redes nacionais de comércio de roupas, não consiga
utilizá-lo.
Nesta linha, mostra-se desnecessária (ante a existência de métodos
diferentes) além de ilícita a revista nas bolsas do funcionários da ré,
especialmente de forma invasiva, com toques no seu conteúdo.
Por outro lado, a revista nos armários dos trabalhadores mostra-se
não só desnecessária e ilegal, mas, também, aviltante e ultrajante, pois
humilhante para o empregado ante a invasão de sua privacidade, dela
nascendo mácula direta aos arts. 1º, III, IV e 5º, X da CF.
Nesta linha, pelo narrado, inegável a mácula ao patrimônio imaterial da
reclamante pelas revistas sofridas. Passo então a arbitrar a indenização pelos
danos morais sofridos.
Ante todo o exposto, e analisando a dor moral da parte autora
naturalmente decorrente das revistas sofridas, e tendo em mente que para a
reparação deste dano deve o magistrado fixar o quantum indenizatório por
arbitramento, nos termos do art. 953, parágrafo único do CC, buscando
ao máximo amenizar o sofrimento experimentado pela vítima, e:
a) levando em conta o grau de culpa da ré;
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b) o próprio dano;
c) a situação econômica da empresa; d) além da gravidade do dano moral sofrido pela parte Condeno a
demandada ao pagamento de R$ 5.000,00 a título de danos morais.
Não há compensação ou dedução a ser procedida.
No entanto, o Tribunal Regional do Trabalho da 13ª
Região acolheu as alegações da reclamada, proferindo esta decisão,
verbis:
RECURSO DA RECLAMADA
A recorrente alega que jamais efetuou revistas íntimas em seus
empregados. Afirma que, com fundamento no poder de direção e no seu
direito de propriedade, apenas determinava que seus funcionários, ao saírem
do local de trabalho, abrissem as bolsas para uma revista visual, inexistindo
contato físico e toques nos pertences dos mesmos, pelo que não resultaria
configurada qualquer conduta ofensiva aos direitos fundamentais, e sequer
estaria caracterizada a revista íntima.
Assevera que não restaram comprovados os elementos constantes no
art. 186 do CC/2002, razão pela qual pugna seja excluída da condenação a
indenização por danos morais deferida.
Com razão, a recorrente.
A controvérsia gira em torno da caracterização da revista visual de
bolsas e armários, como procedimento hábil a ensejar o ressarcimento por
danos morais.
A reclamada sustenta que a revista era apenas visual e indiscriminada,
não evidenciando qualquer dano aos direitos do trabalhador. Afirma que “é
uma rede de lojas de varejo, sendo certo que vende peças que podem ser
facilmente subtraídas (peças íntimas, bijuterias, meias etc)” e que a revista
por ela realizada é feita com o intuito de salvaguardar a sua propriedade.
No que pertine a revista íntima das bolsas e pertences, a matéria deve
ser analisada à luz da eficácia horizontal dos direitos fundamentais,
observando-se a ponderação de princípios, uma vez que entram em colisão,
no particular, o poder diretivo do empregador e os direitos da personalidade
do empregado.
Analisando-se os depoimentos constantes na ata de audiência,
verifica-se que a revista realizada pela recorrente era apenas visual, com
abertura de bolsas e armários, inexistindo qualquer contato físico.
Veja que, enquanto a testemunha da reclamante afirmou "que muitas
vezes os seguranças remexiam o conteúdo das bolsas das empregadas; que
havia revistas nos armários; que as vezes via essas revistas e as vezes
alguém dizia que ocorriam”, a testemunha da reclamada disse “que ao final
do expediente se mostram as bolsas para as gerentes; que não há revista
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com invasão das bolsas, não sendo remexido seu conteúdo; que os armários
não são revistados”.
Como se observa, as testemunhas das partes prestaram depoimentos
diametralmente opostos acerca do fato, estando portanto, diante de prova
dividida.
Assim, a questão deve ser decidida contra quem tinha o ônus da prova.
Por se tratar de fato constitutivo de seu direito, cabia à autora o ônus
de comprovar que a revista não era apenas visual, mas, sim, que os
seguranças remexiam nas bolas e armários. Todavia, deste encargo não se
desvencilhou (arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC), pois a prova por ela
apresentada não se mostrou robusta e suficiente ao fim colimado.
Nesse contexto, entendo que não restou devidamente comprovado que
a revista era pessoal ou íntima, ao contrário, dava-se apenas nos pertences
dos empregados, como bolsas e armários, porém de maneira generalizada,
sem discriminação entre os trabalhadores.
Importante destacar que a revista vedada pela legislação trabalhista é
aquela prevista no art. 373-A da CLT – revista íntima -, não havendo falar
em proibição de revistas visuais, principalmente quando a empregadora tem
como atividade a produção e venda de produtos que possam ser facilmente
subtraídos, como é o caso da reclamada.
Ademais, ainda encontraria respaldo para a condenação ao pagamento
de indenização por danos morais a revista realizada com inobservância do
princípio da proporcionalidade, nas quais os sujeitos são expostos a situações
ultrajantes e vexatórias, o que não ocorre nos autos.
Ora, o tipo de fiscalização efetuado pela reclamada, com observância
dos limites dos poderes diretivo e de fiscalização, fundamentados no direito
de propriedade consagrado no art. 5º, XXII, da Constituição da República,
revela o exercício regular de proteção do patrimônio do empregador, não
caracterizando o ato ilícito, pois não demonstrada a afronta aos direitos da
personalidade dos funcionários da reclamada. Assim, a mencionada conduta
não poderá, de forma presumida, caracterizar ofensa à honra ou à integridade
psíquica do empregado, tampouco aos princípios da dignidade da pessoa
humana e da presunção de inocência.
Nas palavras da ilustre doutrinadora Alice Monteiro de Barros:
O direito à intimidade nos protege da ingerência dos
sentidos dos outros, principalmente dos olhos e dos ouvidos de
terceiro. A tutela dirige-se contra as intromissões ilegítimas. Seu
conceito é mais restrito do que o direito à privacidade, sendo
ambos consagrados no preceito constitucional (art. 5º, X). [...]
Não se discute que o empregado, ao ser submetido ao poder
diretivo do empregador, sofre algumas limitações em seu direito à
intimidade. Inadmissível, contudo, é que a ação do empregador se
amplie a ponto de ferir a dignidade da pessoa humana. (BARROS,
Alice Monteiro, Curso de Direito do Trabalho, 4. Ed. Rev e ampl.
– São Paulo: LTr, 2008, págs. 635-6).
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A jurisprudência pátria, em sua maioria, vem firmando convencimento
no sentido de que a revista visual de bolsas e sacolas não configura dano
moral. Sobre a matéria, eis os seguintes julgados oriundos do Tribunal
Superior do Trabalho:
RECURSO DE REVISTA - INDENIZAÇÃO - DANO
MORAL - REVISTA VISUAL DE BOLSAS E SACOLAS -
CONFIGURAÇÃO.
A revista em bolsas e sacolas dos empregados da empresa,
realizada de modo impessoal, geral e sem contato físico, e sem
expor a intimidade dos trabalhadores, não os submete a situação
vexatória e não abala o princípio da presunção da boa-fé que rege
as relações de trabalho. O ato de revista de empregados, em
bolsas e sacolas, por meio de verificação visual, é lícita,
consistindo em prerrogativa do empregador, tendo em vista o seu
poder diretivo, não caracterizando prática excessiva de
fiscalização capaz de atentar contra a dignidade do empregado.
Nesse sentido tem reiteradamente entendido esta Corte.
Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR -
408-59.2010.5.05.0039. Data de Julgamento: 28/11/2012, Relator
Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 4ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 07/12/2012);
REVISTA EFETUADA NOS PERTENCES DO
EMPREGADO. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. O Tribunal
Regional consignou que a Reclamante tinha seus pertences
submetidos a revista visual feita pela Reclamada e decidiu deferir
à Autora indenização por dano moral no valor de R$ 5.000,00,
sob o fundamento de que a revista 'fere o direito à intimidade e os
princípios da presunção de inocência e da dignidade do
trabalhador, cabendo ao empregador, que, pelas condições em
que o trabalho é realizado, corra o risco de sofrer furtos, investir
em outros meios para proteger o seu patrimônio, já que a ele
cabem os riscos da atividade econômica'. Não obstante, esta
Corte Superior tem decidido reiteradamente que a revista feita
nos pertences (bolsas, sacolas, mochilas e outros volumes) do
empregado não caracteriza, por si só, dano moral, se não
evidenciado o abuso do empregador durante o procedimento.
Registrado, no acórdão recorrido, que a Reclamada efetuava
revista tão somente visual nos pertences da Reclamante, que a
revista era feita nos pertences de todos empregados da empresa e
que o procedimento ocorria na portaria, sem a exposição dos
fatos a terceiros, e inexistente notícia de que a Reclamante fosse
submetida a revista íntima ou de que houvesse qualquer tipo de
abuso por parte da Reclamada, é indevida a condenação ao
pagamento de indenização por danos morais. Recurso de revista
de que se conhece e a que se dá provimento. (RR -
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930100-83.2007.5.09.0003. Data de Julgamento: 31/10/2012,
Relator Ministro: Fernando Eizo Ono, 4ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 30/11/2012).
No caso em apreço, ausente prova do ato ilícito do empregador, já que
não comprovado qualquer abuso do seu poder diretivo e fiscalizatório,
inviável concluir pela caracterização de dano moral à reclamante, uma vez
que ausente um dos principais requisitos previstos no art. 186 do CC/2002, a
saber, o próprio ato ilícito, pelo que deve ser afastada a indenização por
danos morais.
Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso ordinário da
reclamada para julgar improcedente o pedido formulado por ANDRÉIA
EMANUELLE PINTO RODRIGUES em face da MARISA LOJAS S/A.
Custas invertidas e dispensadas, face ao permissivo legal.
(...)
Inconformada, a reclamante interpõe recurso de
revista, alegando violação do inciso X do art. 5º da CF/88.
Assiste-lhe razão.
Incontroverso, nos autos, que a reclamada realizava
revista nas bolsas e nos armários das empregadas.
É controvertida a questão no tocante à revista de
bolsas dos empregados, pois há julgados no sentido de ser devida a
indenização, se realizada de forma invasiva e também há julgados no
sentido de ser indevida a indenização por danos morais.
No caso, também se discute se é devida a indenização
por revista de armários, sem a presença da reclamante.
E a prova dos autos é de que havia a revista dos
armários, sem a presença dos empregados.
Em que pese a testemunha da reclamada, negando a
existência de revista nos armários dos empregados, penso que a testemunha
da reclamante foi mais robusta que a da reclamada, pois restou evidenciado
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que a revista nos armários dos empregados era feita de forma invasiva,
quando havia a notícia de furto na empresa.
Quando a testemunha da reclamante declara "que a
revista nos armários ocorria aproximadamente um vez por mês, ou quando
houvesse suspeita de furto", fica evidente que esse procedimento era
desprovido de caráter impessoal da revista realizada na empresa, como
exige o precedente da SDI-1 do TST, transcrito no corpo do voto.
E nessa ordem de ideias, conclui-se, na verdade, que o v.
acórdão, além de violar os dispositivos invocados no apelo revisional, dando
incorreto enquadramento jurídico à matéria debatida, está em desacordo com o
seguinte julgado:
(...) 5. DANO MORAL. REVISTA EM OBJETOS PESSOAIS DOS
EMPREGADOS. Segundo o inciso X do art. 5º. da CF, "são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação". Considera-se que a Reclamada, ao adotar um sistema de
fiscalização diária dos objetos pessoais dos empregados, ainda que não
houvesse toque corporal, extrapolou a adoção de medidas capazes de
proteger seu patrimônio. Essa política de segurança interna revela-se
desproporcional, já que atualmente existem outros equipamentos eficientes
de segurança, capazes de monitorar o ambiente de trabalho, sem ofender a
dignidade, a intimidade e a privacidade do trabalhador. Como bem pontuado
pelo Tribunal Regional, a realização de revista pelo empregador nos
pertences particulares dos empregados viola a presunção de inocência
garantida pelo texto constitucional (art. 5º, LVII), sendo constrangedora a
submissão do trabalhador a um procedimento que revela dúvida sobre seu
caráter. Ora, a higidez física, mental e emocional do ser humano são bens
fundamentais de sua vida privada e pública, de sua intimidade, de sua
auto-estima e afirmação social e, nessa medida, também de sua honra. São
bens, portanto, inquestionavelmente tutelados, regra geral, pela Constituição
Federal (artigo 5º, V e X). Agredidos em face de circunstâncias laborativas,
passam a merecer tutela ainda mais forte e específica da Carta Magna, que se
agrega à genérica anterior (artigo 7º, XXVIII, da CF/88). Recurso de revista
não conhecido, no particular. (RR - 217100-57.2006.5.09.0661 , Relator
Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 24/08/2011, 6ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 23/09/2011)
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Vale ressaltar ainda que a 4ª Turma deste c. TST já
deciu:
DANO MORAL - REVISTA DE ARMÁRIO - PODER DIRETIVO E
FISCALIZATÓRIO DO EMPREGADOR - EXCESSO - ATO ILÍCITO
CONFIGURADO. A reclamada extrapolou seu poder diretivo e
fiscalizatório, ao proceder à revista do armário do reclamante, sem sua prévia
autorização ou presença, retendo até objetos pessoais. Não se trata de simples
procedimento administrativo, em que a empresa, na presença do empregado,
pode ter acesso ao seu armário, para retirada de objetos não pessoais, como
equipamentos de proteção individual, mas de invasão à privacidade, ou seja,
ao armário que foi colocado à disposição do reclamante, para a guarda, até
mesmo, de objetos pessoais. O referido armário, como revela o TRT, possuía
chave, o que evidencia, sem dúvida, seu uso personalíssimo, que, uma vez
violado, resulta em dano à intimidade e à vida privada. Demonstrado, pois, o
ato ilícito, bem como o dever de indenizar, permanece intacto o art. 186 do
Código Civil. Agravo de instrumento não provido. (AIRR -
42-97.2010.5.12.0015 , Relator Ministro: Milton de Moura França, Data de
Julgamento: 16/11/2011, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 25/11/2011)
Esse aresto está conforme meu entendimento pessoal de
que a revista em armários já é motivo suficiente para causar vexame e
vergonha ao empregado, mormente porque expõe a sua intimidade.
A revista em armários se reveste de ilicitude, uma vez
que põe em dúvida a honestidade do obreiro, ofendendo a sua dignidade.
Cabe à empresa adotar meios menos invasivos à intimidade do empregado
para prevenir eventual perda patrimonial, como meios magnéticos de
detecção, pois, do sopesamento destes dois direitos fundamentais,
dignidade e propriedade, indubitavelmente o primeiro deve prevalecer,
pois a mera necessidade de proteção do patrimônio do empregador não basta
enquanto argumento para justificar uma conduta capaz de gerar
circunstância vexatória para o trabalhador, como a dos autos, já que,
pelo princípio da alteridade (art. 2º da CLT), o empresário deve assumir
os riscos do negócio. Revista íntima seria excepcionalmente admitida
quando houvesse risco iminente à sociedade, e não ao patrimônio do
empregador.
Sob o primado da CF/88, que considera a dignidade da
pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito
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Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.24
PROCESSO Nº TST-RR-224900-06.2013.5.13.0007
Firmado por assinatura digital em 07/05/2015 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP
2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
(art. 1º, III, da CF), tais atitudes não podem prosperar. O ser humano
tem que ser encarado como um todo indissociável, a fim de garantir-lhe
todos os direitos que lhe são atribuídos constitucionalmente. Há de ser
visto simultaneamente como cidadão, como pai, como trabalhador.
Ante todo o exposto, a revista indiscriminada dos
armários dos empregados configura-se em abuso do direito fiscalizatório
do empregador, transmudando-se em ato ilícito, que deve ser prontamente
reprimido por esta Especializada!
O procedimento ilícito perpetrado pelo recorrido
desrespeita ainda a presunção de inocência que deve gozar qualquer um
do povo.
Além do mais, o direito à intimidade é mais um dentre
os direitos fundamentais inespecíficos dos trabalhadores, ou seja,
aqueles não previstos no art. 7º da Constituição Federal, especialmente
os elencados no art. 5º, que nem convenções ou acordos coletivos podem
sobre eles dispor.
E sobre os direitos laborais inespecíficos dos
trabalhadores, convém ressaltar que, dentre eles, se encontra o direito à
presunção de inocência, o que não ocorreu no caso dos autos, tendo em vista
a revista íntima realizada de forma invasiva.
Ainda que o direito brasileiro não tenha ainda
regulamentado pela legislação trabalhista os direitos da personalidade no
âmbito das relações de trabalho, como direitos laborais inespecíficos dos
trabalhadores, sua efetividade, no entanto, como direitos fundamentais, é
garantida pela aplicação do artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal de
1988, em especial no que concerne a proteção à intimidade, à vida privada, à
honra e à imagem das pessoas.
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Sem uma regulamentação infraconstitucional brasileira
adequada quanto aos direitos fundamentais inespecíficos, os direitos
fundamentais foram absorvidos pelo Código Civil de 2002, constitucionalizado.
Desse modo, os direitos laborais inespecíficos dos trabalhadores na esfera das
relações de trabalho encontram suporte no artigo 21 do Código Civil, que trata
da inviolabilidade da vida privada da pessoa natural, bem como nas cláusulas
gerais da boa-fé objetiva e deveres anexos e da função social do contrato,
encontradas nos artigos 187, 421 e 422 do diploma civil. As cláusulas gerais
da boa-fé objetiva e deveres anexos do Código Civil servem de embasamento para
a efetividade do direito à informação, do direito à presunção de inocência e
do direito à ampla defesa e ao contraditório como direitos laborais
inespecíficos dos trabalhadores.
Dessarte, conheço do recurso de revista por violação
do inciso X do art. 5º da Constituição Federal.
1.3.MÉRITO.
Como consequência lógica do conhecimento do apelo, por
violação do inciso X do art. 5º da CF/88, dou provimento ao recurso de
revista para restabelecer a sentença de procedência do pedido de
indenização por danos morais.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Segunda Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do agravo de instrumento
e lhe dar provimento. Por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso
de revista e lhe dar provimento para restabelecer a sentença de
procedência do pedido de indenização por danos morais. Custas pela
reclamada, no importe de R$ 100,00, calculadas sobre R$ 5.000,00, valor
da condenação.
Brasília, 29 de Abril de 2015.
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CLÁUDIO ARMANDO COUCE DE MENEZES Desembargador Convocado Relator
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