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Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho PROCESSO Nº TST-RR-224900-06.2013.5.13.0007 Firmado por assinatura digital em 07/05/2015 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. A C Ó R D Ã O (2ª Turma) DCCACM/006/ AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. - REVISTA EM ARMÁRIO - PODER DIRETIVO E FISCALIZATÓRIO DO EMPREGADOR - EXCESSO - ATO ILÍCITO CONFIGURADO. Conforme substrato fático delineado nos autos, verificou-se que a reclamante era exposta situação vexatória a justificar o pagamento de indenização por danos morais, pois o armário da autora era revistado. Possibilidade de violação do inciso X do art. 5º da CF/88 a ensejar o seguimento do recurso de revista com fulcro na alínea "c" do art. 896 da CLT. Agravo de instrumento conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA. HORAS EXTRAS. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO VERIFICADA. NÃO CONHECIMENTO. Verificado que os arestos colacionados na revista não guardam a mesma premissa fática delineado no acórdão recorrido, não se conhece do recurso de revista por divergência jurisprudencial. Recurso de Revista não conhecido. RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. - REVISTA DE ARMÁRIO - PODER DIRETIVO E FISCALIZATÓRIO DO EMPREGADOR - EXCESSO - ATO ILÍCITO CONFIGURADO. Conforme substrato fático delineado nos autos, verificou-se que a reclamante era exposta à situação vexatória a justificar o pagamento de indenização por danos morais, pois o armário da autora era revistado. A revista em armários se reveste de ilicitude, uma vez que põe em dúvida a honestidade do obreiro, ofendendo a sua dignidade. Cabe à empresa adotar meios menos invasivos à intimidade do empregado para prevenir eventual perda patrimonial, como meios magnéticos de Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000E973C9D4E55E5A.

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Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-RR-224900-06.2013.5.13.0007

Firmado por assinatura digital em 07/05/2015 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

A C Ó R D Ã O

(2ª Turma)

DCCACM/006/

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE

REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. -

REVISTA EM ARMÁRIO - PODER DIRETIVO E

FISCALIZATÓRIO DO EMPREGADOR - EXCESSO

- ATO ILÍCITO CONFIGURADO. Conforme

substrato fático delineado nos autos,

verificou-se que a reclamante era

exposta situação vexatória a justificar

o pagamento de indenização por danos

morais, pois o armário da autora era

revistado. Possibilidade de violação do

inciso X do art. 5º da CF/88 a ensejar

o seguimento do recurso de revista com

fulcro na alínea "c" do art. 896 da CLT.

Agravo de instrumento conhecido e

provido.

RECURSO DE REVISTA. HORAS EXTRAS.

DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO

VERIFICADA. NÃO CONHECIMENTO.

Verificado que os arestos colacionados

na revista não guardam a mesma premissa

fática delineado no acórdão recorrido,

não se conhece do recurso de revista por

divergência jurisprudencial. Recurso

de Revista não conhecido.

RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR

DANO MORAL. - REVISTA DE ARMÁRIO - PODER

DIRETIVO E FISCALIZATÓRIO DO EMPREGADOR

- EXCESSO - ATO ILÍCITO CONFIGURADO.

Conforme substrato fático delineado nos

autos, verificou-se que a reclamante

era exposta à situação vexatória a

justificar o pagamento de indenização

por danos morais, pois o armário da

autora era revistado. A revista em

armários se reveste de ilicitude, uma

vez que põe em dúvida a honestidade do

obreiro, ofendendo a sua dignidade.

Cabe à empresa adotar meios menos

invasivos à intimidade do empregado

para prevenir eventual perda

patrimonial, como meios magnéticos de

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detecção, pois, do sopesamento destes

dois direitos fundamentais, dignidade e

propriedade, indubitavelmente o

primeiro deve prevalecer, pois a mera

necessidade de proteção do patrimônio

do empregador não basta enquanto

argumento para justificar uma conduta

capaz de gerar circunstância vexatória

para o trabalhador, como a dos autos, já

que, pelo princípio da alteridade (art.

2º da CLT), o empresário deve assumir os

riscos do negócio. Revista íntima seria

excepcionalmente admitida quando

houvesse risco iminente à sociedade, e

não ao patrimônio do empregador.

Violação do inciso X do art. 5º da CF/88.

Recurso de Revista conhecido e provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo

de Instrumento em Recurso de Revista n°

TST-AIRR-224900-06.2013.5.13.0007, em que é Agravante ANDREIA EMANUELLE

PINTO RODRIGUES e Agravado MARISA LOJAS S.A..

Agravo de instrumento interposto contra decisão que

denegou seguimento ao recurso de revista.

Não Foram apresentadas contraminuta de agravo e

contrarrazões de recurso de revista.

Não houve manifestação do MPT.

É o relatório.

V O T O

1.CONHECIMENTO

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Conheço do agravo de instrumento porque regular e

tempestivo.

2.MÉRITO

Na exordial foi alegado constrangimento por parte da

empregadora que determinava a revista da bolsa e do armário da reclamante,

sem qualquer anuência ou aviso prévio da empresa.

A reclamante prestou este depoimento:

Que sofria revistas nos armários e nas bolsas; que as revistas nos

armários ocorriam mensalmente, ou quando havia suspeita de furto;

que os armários eram abertos sem a presença da reclamante; que todos

os dias tinha de abrir sua bolsa na saída; que quem abria a bolsa era a própria

reclamante, contudo, às vezes os próprios seguranças vasculhavam a bolsa;

(...) que sabe dizer que havia as revistas porque algumas pessoas viram e

disseram a ela depoente; que quem fazia a revista nas bolsas eram os gerentes

e as vezes os fiscais de loja (...)

A testemunha da reclamante declarou:

(...) que havia revistas nos armários; que as vezes via essas revistas

e as vezes alguém dizia que ocorriam; que nessas revistas se mexia no

conteúdo do armário; que quem faziam as revistas nos armários eram os

gerentes e os líderes; (...) que a revista nos armários ocorria

aproximadamente uma vez por mês, ou quando houvesse suspeita de

furto;

A reclamada foi condenada a indenizar a reclamante,

nestes termos:

DOS DANOS MORAIS DECORRENTES DA REVISTAÍNTIMA

Busca a parte reclamante o reconhecimento de danos ao seu patrimônio

imaterial em face de revistas íntimas indevidas perpetradas pela reclamada.

Estas se davam através de revistas na sua bolsa assim como de seu armário.

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Quanto às revistas nas bolsas da reclamante, tal fato restou fartamente

comprovado nos autos, tendo, inclusive, sido confessado pela preposta da ré

(s33p1). Inclusive, quem as realizava chegava a remexer o conteúdo das

mesmas, como confirmado pela primeira testemunha ouvida nos autos

(s33p2).

Noutra linha, igualmente pela primeira testemunha ouvida, restou

comprovado o fato da reclamada revistar os armários de seus

funcionários sem sua presença (igualmente no s33p2).

Por oportuno, saliento não sofrerem os fatos acima mencionados uma

variação no nível que naturalmente sofrem os horários de trabalho, razão

pela qual não há como entender maculada a memória da primeira testemunha

ouvida nos autos pelo decurso de tempo no particular.

Por outro lado, o fato da segunda testemunha ouvida não ter

presenciado as revistas nos armários ou as de forma invasiva das bolsas

não significa que estas não ocorreram, mas, apenas, que aquela não as

presenciou.

Dito isto, passo a analisar a mácula do patrimônio imaterial da obreira.

Existem métodos modernos de fiscalização de empregados, dentre os

quais se destaca o uso de câmeras de segurança. Este não impõe gastos

elevados, sendo de fácil acesso às empresas em geral (também aqui tenho por

guarida o art. 335 do CPC), fugindo ao razoável imaginar que a reclamada,

uma das maiores redes nacionais de comércio de roupas, não consiga

utilizá-lo.

Nesta linha, mostra-se desnecessária (ante a existência de métodos

diferentes) além de ilícita a revista nas bolsas do funcionários da ré,

especialmente de forma invasiva, com toques no seu conteúdo.

Por outro lado, a revista nos armários dos trabalhadores mostra-se não

só desnecessária e ilegal, mas, também, aviltante e ultrajante, pois

humilhante para o empregado ante a invasão de sua privacidade, dela

nascendo mácula direta aos arts. 1º, III, IV e 5º, X da CF.

Nesta linha, pelo narrado, inegável a mácula ao patrimônio imaterial da

reclamante pelas revistas sofridas. Passo então a arbitrar a indenização pelos

danos morais sofridos.

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Ante todo o exposto, e analisando a dor moral da parte autora

naturalmente decorrente das revistas sofridas, e tendo em mente que para a

reparação deste dano deve o magistrado fixar o quantum indenizatório por

arbitramento, nos termos do art. 953, parágrafo único do CC, buscando

ao máximo amenizar o sofrimento experimentado pela vítima, e:

a) levando em conta o grau de culpa da ré;

b) o próprio dano;

c) a situação econômica da empresa;

d) além da gravidade do dano moral sofrido pela parte Condeno a

demandada ao pagamento de R$ 5.000,00 a título de danos morais.

Não há compensação ou dedução a ser procedida.

No entanto, o Tribunal Regional do Trabalho da 13ª

Região acolheu as alegações da reclamada, proferindo esta decisão,

verbis:

RECURSO DA RECLAMADA

A recorrente alega que jamais efetuou revistas íntimas em seus

empregados. Afirma que, com fundamento no poder de direção e no seu

direito de propriedade, apenas determinava que seus funcionários, ao saírem

do local de trabalho, abrissem as bolsas para uma revista visual, inexistindo

contato físico e toques nos pertences dos mesmos, pelo que não resultaria

configurada qualquer conduta ofensiva aos direitos fundamentais, e sequer

estaria caracterizada a revista íntima.

Assevera que não restaram comprovados os elementos constantes no

art. 186 do CC/2002, razão pela qual pugna seja excluída da condenação a

indenização por danos morais deferida.

Com razão, a recorrente.

A controvérsia gira em torno da caracterização da revista visual

de bolsas e armários, como procedimento hábil a ensejar o ressarcimento

por danos morais.

A reclamada sustenta que a revista era apenas visual e indiscriminada,

não evidenciando qualquer dano aos direitos do trabalhador. Afirma que “é

uma rede de lojas de varejo, sendo certo que vende peças que podem ser

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facilmente subtraídas (peças íntimas, bijuterias, meias etc)” e que a revista

por ela realizada é feita com o intuito de salvaguardar a sua propriedade.

No que pertine a revista íntima das bolsas e pertences, a matéria deve

ser analisada à luz da eficácia horizontal dos direitos fundamentais,

observando-se a ponderação de princípios, uma vez que entram em colisão,

no particular, o poder diretivo do empregador e os direitos da personalidade

do empregado.

Analisando-se os depoimentos constantes na ata de audiência,

verifica-se que a revista realizada pela recorrente era apenas visual, com

abertura de bolsas e armários, inexistindo qualquer contato físico.

Veja que, enquanto a testemunha da reclamante afirmou "que muitas

vezes os seguranças remexiam o conteúdo das bolsas das empregadas; que

havia revistas nos armários; que as vezes via essas revistas e as vezes

alguém dizia que ocorriam”, a testemunha da reclamada disse “que ao final

do expediente se mostram as bolsas para as gerentes; que não há revista

com invasão das bolsas, não sendo remexido seu conteúdo; que os armários

não são revistados”.

Como se observa, as testemunhas das partes prestaram depoimentos

diametralmente opostos acerca do fato, estando portanto, diante de prova

dividida.

Assim, a questão deve ser decidida contra quem tinha o ônus da prova.

Por se tratar de fato constitutivo de seu direito, cabia à autora o ônus de

comprovar que a revista não era apenas visual, mas, sim, que os seguranças

remexiam nas bolas e armários. Todavia, deste encargo não se desvencilhou

(arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC), pois a prova por ela apresentada não se

mostrou robusta e suficiente ao fim colimado.

Nesse contexto, entendo que não restou devidamente comprovado que

a revista era pessoal ou íntima, ao contrário, dava-se apenas nos pertences

dos empegados, como bolsas e armários, porém de maneira generalizada,

sem discriminação entre os trabalhadores.

Importante destacar que a revista vedada pela legislação trabalhista é

aquela prevista no art. 373-A da CLT – revista íntima -, não havendo falar

em proibição de revistas visuais, principalmente quando a empregadora tem

como atividade a produção e venda de produtos que possam ser facilmente

subtraídos, como é o caso da reclamada.

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Ademais, ainda encontraria respaldo para a condenação ao pagamento

de indenização por danos morais a revista realizada com inobservância do

princípio da proporcionalidade, nas quais os sujeitos são expostos a situações

ultrajantes e vexatórias, o que não ocorre nos autos.

Ora, o tipo de fiscalização efetuado pela reclamada, com observância

dos limites dos poderes diretivo e de fiscalização, fundamentados no direito

de propriedade consagrado no art. 5º, XXII, da Constituição da República,

revela o exercício regular de proteção do patrimônio do empregador, não

caracterizando o ato ilícito, pois não demonstrada a afronta aos direitos da

personalidade dos funcionários da reclamada. Assim, a mencionada conduta

não poderá, de forma presumida, caracterizar ofensa à honra ou à integridade

psíquica do empregado, tampouco aos princípios da dignidade da pessoa

humana e da presunção de inocência.

Nas palavras da ilustre doutrinadora Alice Monteiro de Barros:

O direito à intimidade nos protege da ingerência dos sentidos dos

outros, principalmente dos olhos e dos ouvidos de terceiro. A tutela dirige-se

contra as intromissões ilegítimas. Seu conceito é mais restrito do que o

direito à privacidade, sendo ambos consagrados no preceito constitucional

(art. 5º, X). [...] Não se discute que o empregado, ao ser submetido ao poder

diretivo do empregador, sofre algumas limitações em seu direito à

intimidade. Inadmissível, contudo, é que a ação do empregador se amplie a

ponto de ferir a dignidade da pessoa humana. (BARROS, Alice Monteiro,

Curso de Direito do Trabalho, 4. Ed. Rev e ampl. – São Paulo: LTr, 2008,

págs. 635-6).

A jurisprudência pátria, em sua maioria, vem firmando convencimento

no sentido de que a revista visual de bolsas e sacolas não configura dano

moral. Sobre a matéria, eis os seguintes julgados oriundos do Tribunal

Superior do Trabalho:

RECURSO DE REVISTA - INDENIZAÇÃO - DANO MORAL -

REVISTA VISUAL DE BOLSAS E SACOLAS - CONFIGURAÇÃO.

A revista em bolsas e sacolas dos empregados da empresa, realizada

de modo impessoal, geral e sem contato físico, e sem expor a intimidade dos

trabalhadores, não os submete a situação vexatória e não abala o princípio

da presunção da boa-fé que rege as relações de trabalho. O ato de revista de

empregados, em bolsas e sacolas, por meio de verificação visual, é lícita,

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consistindo em prerrogativa do empregador, tendo em vista o seu poder

diretivo, não caracterizando prática excessiva de fiscalização capaz de

atentar contra a dignidade do empregado.

Nesse sentido tem reiteradamente entendido esta Corte. Recurso de

revista conhecido e provido. (TST-RR - 408-59.2010.5.05.0039. Data de

Julgamento: 28/11/2012, Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello

Filho, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/12/2012);

REVISTA EFETUADA NOS PERTENCES DO EMPREGADO. DANO

MORAL. INDENIZAÇÃO. O Tribunal Regional consignou que a

Reclamante tinha seus pertences submetidos a revista visual feita pela

Reclamada e decidiu deferir à Autora indenização por dano moral no valor

de R$ 5.000,00, sob o fundamento de que a revista 'fere o direito à

intimidade e os princípios da presunção de inocência e da dignidade do

trabalhador, cabendo ao empregador, que, pelas condições em que o

trabalho é realizado, corra o risco de sofrer furtos, investir em outros meios

para proteger o seu patrimônio, já que a ele cabem os riscos da atividade

econômica'. Não obstante, esta Corte Superior tem decidido reiteradamente

que a revista feita nos pertences (bolsas, sacolas, mochilas e outros

volumes) do empregado não caracteriza, por si só, dano moral, se não

evidenciado o abuso do empregador durante o procedimento. Registrado, no

acórdão recorrido, que a Reclamada efetuava revista tão somente visual nos

pertences da Reclamante, que a revista era feita nos pertences de todos

empregados da empresa e que o procedimento ocorria na portaria, sem a

exposição dos fatos a terceiros, e inexistente notícia de que a Reclamante

fosse submetida a revista íntima ou de que houvesse qualquer tipo de abuso

por parte da Reclamada, é indevida a condenação ao pagamento de

indenização por danos morais. Recurso de revista de que se conhece e a que

se dá provimento. (RR - 930100-83.2007.5.09.0003. Data de Julgamento:

31/10/2012, Relator Ministro: Fernando Eizo Ono, 4ª Turma, Data de

Publicação: DEJT 30/11/2012).

No caso em apreço, ausente prova do ato ilícito do empregador, já que

não comprovado qualquer abuso do seu poder diretivo e fiscalizatório,

inviável concluir pela caracterização de dano moral à reclamante, uma vez

que ausente um dos principais requisitos previstos no art. 186 do CC/2002, a

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saber, o próprio ato ilícito, pelo que deve ser afastada a indenização por

danos morais.

Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso ordinário da

reclamada para julgar improcedente o pedido formulado por ANDRÉIA

EMANUELLE PINTO RODRIGUES em face da MARISA LOJAS S/A.

Custas invertidas e dispensadas, face ao permissivo legal.

(...)

RECURSO ADESIVO DA RECLAMANTE A reclamante alega ter

direito às horas extras por ter laborado em sobrejornada, sem receber a

respectiva contraprestação. Diz que laborou na seguinte jornada de trabalho,

das 07h30 às 18h, de segunda a sexta, e aos sábados, das 07h30 às 16h30,

com uma hora de intervalo.

A reclamada rebate, dizendo que a reclamante marcava corretamente

seus cartões de ponto e, se houvesse necessidade de prestar horas extras,

estas eram devidamente registradas nos registros de frequência, sendo

posteriormente pagas ou compensadas.

Nos termos da Súmula 338 do TST, o empregador, que conta com mais

de 10 (dez) empregados, tem o encargo de registrar a jornada de trabalho

desses empregados, na forma da primeira parte do § 2º, do art. 74 da CLT.

No caso, a reclamada apresentou os cartões de ponto (seq. 25). Assim,

o ônus da prova do fato constitutivo de seu direito seria da autora, a teor do

disposto nos arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC, do qual não se desvencilhou.

Isso porque não há como acolher o depoimento da sua testemunha,

notadamente sobre o horário de início da jornada de trabalho, pois ao depor

disse que trabalhava das 09h às 19h, mas não soube informar qual o horário

de entrada da reclamante, limitando-se a dizer que ela chegava antes (seq.

33).

Já o depoimento da testemunha da reclamada foi mais consistente,

assegurando a autenticidade das marcações nos cartões de ponto, bem como

que eventuais horas extras prestadas eram devidamente compensadas, senão

vejamos:

[…] que trabalha das 08h às 17h; que trabalha nesse horário na loja

onde trabalhou a reclamante há aproximadamente três anos; que costumava

entrar junto com a reclamante na loja aproximadamente às 07:50; que após

entrar troca a roupa e bate o ponto; que normalmente saía no mesmo

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horário da reclamante, por volta das 17h; que nunca aconteceu de bater o

ponto e voltar para trabalhar; que quando havia um movimento maior na

loja a reclamante poderia sair mais tarde que a depoente, por volta de uma

hora mais tarde; que esta hora era compensada através de banco de horas;

que se precisasse sair mais tarde, saía, mas batia o ponto corretamente; que

nenhum funcionário da empresa bate o ponto e volta a trabalhar; que

ninguém trabalha antes de bater o ponto.

Ao meu ver, a autora não conseguiu desconstituir as anotações

constantes nos registros de ponto. Em se tratando de valiação da prova oral

produzida, deve esta Instância revisora, pelo menos em princípio, prestigiar a

valoração do conjunto probatório feita pelo Juízo de primeiro grau,

porquanto teve contato pessoal com as partes e testemunhas, podendo melhor

estabelecer se o depoimento de uma testemunha merece ou não

confiabilidade.

Desse modo, comungo do entendimento do juiz de origem, no sentido

de que os cartões de ponto são válidos e que os horários neles lançados

retratam a real jornada cumprida pela reclamante, de sorte que as horas

extraordinárias prestadas foram compensadas/pagas.

Mantenho a decisão de origem que indeferiu o pedido de horas extras e

reflexos.

Inconformada, a reclamante interpôs recurso de

revista, mas denegado por decisão assim fundamentada:

PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS

Tempestivo o recurso (decisão publicada em 20/05/2014 - seq. 0095;

recurso apresentado em 28/05/2014 - seq. 0098).

Regular a representação processual (seq. 0002 - fl. 01).

Dispensado o preparo (seq. 0040 - fl. 07).

PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS

Responsabilidade Civil do Empregador / Indenização por Dano Moral

Alegação(ões):

- violação do art. 5º, inciso X e LVII, da CF.

- divergência jurisprudencial.

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A Primeira Turma afirmou que, no tocante a revista íntima das bolsas e

pertences, a matéria deve ser analisada à luz da eficácia horizontal dos

direitos fundamentais, observando-se a ponderação de princípios, uma vez

que entram em colisão, no particular, o poder diretivo do empregador e os

direitos da personalidade do empregado.

Analisando os depoimentos constantes na ata de audiência, verificou o

v. acórdão que a revista realizada pela recorrente era apenas visual, com

abertura de bolsas e armários, inexistindo qualquer contato físico.

Por se tratar de fato constitutivo de seu direito, cabia à autora o ônus de

comprovar que a revista não era apenas visual, mas, sim, que os seguranças

remexiam nas bolas e armários. Todavia, deste encargo não se desvencilhou

(arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC), pois a prova por ela apresentada não se

mostrou robusta e suficiente ao fim colimado.

Nesse contexto, entendeu o v. decisum que não restou devidamente

comprovado que a revista era pessoal ou íntima, ao contrário, dava-se apenas

nos pertences dos empregados, como bolsas e armários, porém de maneira

generalizada, sem discriminação entre os trabalhadores.

No caso em apreço, concluiu a Turma Julgadora que, ausente prova do

ato ilícito do empregador, já que não comprovado qualquer abuso do seu

poder diretivo e fiscalizatório, inviável concluir pela caracterização de dano

moral à reclamante, uma vez que ausente um dos principais requisitos

previstos no art. 186 do CC, a saber, o próprio ato ilícito, pelo que deve ser

afastada a indenização por danos morais.

Nessa linha, constata-se que o Órgão Turmário firmou convencimento,

quanto à referida indenização, com base no contexto probatório dos autos e,

nesse sentido, uma suposta modificação na decisão demandaria,

necessariamente, o reexame de fatos e provas, o que encontra óbice na

Súmula nº 126/TST, inviabilizando o seguimento do recurso, inclusive por

divergência jurisprudencial.

CONCLUSÃO

Denego seguimento ao recurso de revista.

A reclamante, inconformada, agrava de instrumento,

voltando a reiterar as alegações de seu recurso de revista.

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Alega que os TRT1, TRT10, TRT13, TRT15, TRT19 já se

posicionaram em sentido contrário do acórdão recorrido.

Aduz que “a Lei nº 9.799/99, assecuratória de direitos específicos da

mulher no mercado de trabalho, que proíbe o empregador ou seu preposto de proceder a revistas

íntimas nas empregadas ou funcionárias, aplicável por analogia aos empregados do sexo masculino”

e que “os pressupostos da responsabilidade civil encontram-se no artigo 186 do Código Civil

Brasileiro” e ainda que “a revista íntima de empregado é conduta invasiva da privacidade, viola

a intimidade, a honra e a imagem do trabalhador, direitos esses constitucionalmente assegurados no

artigo 5º, inciso X”

Vejamos.

Por primeiro, o recurso de revista, no caso concreto,

é incabível por divergência jurisprudencial, tendo em vista que o

reclamante transcreve um aresto do próprio Tribunal Regional prolator

do acórdão recorrido (numeração eletrônica 389) e outro aresto de Turma

do TST, órgãos não previstos na alínea “a” do art. 896 da CLT. Incide

aqui o óbice da OJ 111 do TST.

Em relação ao cabimento do recurso pela alínea “c” do

art. 896 da CLT, o reclamante alega violação do art. 5º, LVII (Princípio

da Inocência) e X (direito à intimidade), do art. 186 do Código Civil

(reparação por dano decorrente de ato ilícito).

De início, ressalte-se não examinou a tese do

Princípio Constitucional da Inocência (art.5º, LVII), sequer

implicitamente, nem foram opostos embargos declaratórios. Incide aqui

o óbice da Súmula 297 do TST.

Quanto ao alegado ato ilícito, havendo prova robusta

de que o armário da reclamante era revistado de forma invasiva, há

possível violação do inciso X do art. 5º da CF/88 a ensejar o recurso

de revista.

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Dou provimento ao agravo de instrumento para

determinar o processamento do recurso de revista.

RECURSO DE REVISTA

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso

de Revista n° TST-RR-224900-06.2013.5.13.0007, em que é Recorrente

ANDREIA EMANUELLE PINTO RODRIGUES e Recorrido MARISA LOJAS S.A..

A reclamante interpõe recurso de revista quanto às

horas extras e à indenização por dano moral.

A reclamada não apresentou contrarrazões.

É o relatório.

V O T O

1. CONHECIMENTO

1.1.PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS

Tempestivo foi interposto tempestivamente(decisão

publicada em 20/05/2014 - seq. 0095; recurso apresentado em 28/05/2014

- seq. 0098).

A representação processual está regular (seq. 0002 -

fl. 01).

Dispensado o preparo (seq. 0040 - fl. 07).

1.2.PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS

1.2.1. HORAS EXTRAS

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No tocante às horas extras, o Tribunal Regional assim

decidiu:

RECURSO ADESIVO DA RECLAMANTE

A reclamante alega ter direito às horas extras por ter laborado em

sobrejornada, sem receber a respectiva contraprestação. Diz que laborou na

seguinte jornada de trabalho, das 07h30 às 18h, de segunda a sexta, e aos

sábados, das 07h30 às 16h30, com uma hora de intervalo.

A reclamada rebate, dizendo que a reclamante marcava corretamente

seus cartões de ponto e, se houvesse necessidade de prestar horas extras,

estas eram devidamente registradas nos registros de frequência, sendo

posteriormente pagas ou compensadas.

Nos termos da Súmula 338 do TST, o empregador, que conta com mais

de 10 (dez) empregados, tem o encargo de registrar a jornada de trabalho

desses empregados, na forma da primeira parte do § 2º, do art. 74 da CLT.

No caso, a reclamada apresentou os cartões de ponto (seq. 25).

Assim, o ônus da prova do fato constitutivo de seu direito seria da

autora, a teor do disposto nos arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC, do qual

não se desvencilhou.

Isso porque não há como acolher o depoimento da sua testemunha,

notadamente sobre o horário de início da jornada de trabalho, pois ao depor

disse que trabalhava das 09h às 19h, mas não soube informar qual o horário

de entrada da reclamante, limitando-se a dizer que ela chegava antes (seq.

33).

Já o depoimento da testemunha da reclamada foi mais consistente,

assegurando a autenticidade das marcações nos cartões de ponto, bem como

que eventuais horas extras prestadas eram devidamente compensadas, senão

vejamos:

[…] que trabalha das 08h às 17h; que trabalha nesse horário na loja

onde trabalhou a reclamante há aproximadamente três anos; que costumava

entrar junto com a reclamante na loja aproximadamente às 07:50; que após

entrar troca a roupa e bate o ponto; que normalmente saía no mesmo

horário da reclamante, por volta das 17h; que nunca aconteceu de bater o

ponto e voltar para trabalhar; que quando havia um movimento maior na

loja a reclamante poderia sair mais tarde que a depoente, por volta de uma

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hora mais tarde; que esta hora era compensada através de banco de horas;

que se precisasse sair mais tarde, saía, mas batia o ponto corretamente; que

nenhum funcionário da empresa bate o ponto e volta a trabalhar; que

ninguém trabalha antes de bater o ponto.

Ao meu ver, a autora não conseguiu desconstituir as anotações

constantes nos registros de ponto. Em se tratando de avaliação da prova oral

produzida, deve esta Instância revisora, pelo menos em princípio, prestigiar a

valoração do conjunto probatório feita pelo Juízo de primeiro grau,

porquanto teve contato pessoal com as partes e testemunhas, podendo melhor

estabelecer se o depoimento de uma testemunha merece ou não

confiabilidade.

Desse modo, comungo do entendimento do juiz de origem, no sentido

de que os cartões de ponto são válidos e que os horários neles lançados

retratam a real jornada cumprida pela reclamante, de sorte que as horas

extraordinárias prestadas foram compensadas/pagas.

Mantenho a decisão de origem que indeferiu o pedido de horas extras e

reflexos.

Em seu apelo revisional, a reclamante alegou

divergência jurisprudencial com arestos do TRT02, TRT04 e TRT15.

Mas não tem razão, pois os arestos colacionados são

inservíveis para o confronte de tese, tendo em vista que não guardam a

mesma premissa fática delineada no acórdão supratranscrito.

Não conheço do recurso de revista.

1.2.2. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. REVISTAS FEITAS DE

FORMA INVASIVA EM ARMÁRIOS DOS EMPREGADOS. ABUSIVIDADE COMPROVADA

Fosse a revista visual realizada em bolsas e sacolas quando

de forma impessoal entre a pessoa que procede à revista e o empregado,

acompanharia a orientação da SDI-1 do TST, por política judiciária, ressalvando

meu entendimento pessoal no sentido de que a revista realizada em bolsas,

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mochilas, gavetas e armários pessoais do empregado é íntima, eis que estes

constituem um prolongamento da intimidade da pessoa, não cabendo sequer o exame

visual.

Mas a reclamante pretende a indenização, alegando que

a revista visual era feita nos pertences (armários) de empregados, mas

de forma pessoal e invasiva.

E a prova oral produzida abona a tese da reclamante,

senão vejamos.

Na exordial foi alegado constrangimento por parte da

empregadora que determinava a revista da bolsa e do armário da reclamante,

sem qualquer anuência ou aviso prévio da empresa.

A reclamante confirmou suas alegações em Juízo, ao

declarar:

Que sofria revistas nos armários e nas bolsas; que as revistas nos

armários ocorriam mensalmente, ou quando havia suspeita de furto;

que os armários eram abertos sem a presença da reclamante; que todos

os dias tinha de abrir sua bolsa na saída; que quem abria a bolsa era a própria

reclamante, contudo, às vezes os próprios seguranças vasculhavam a bolsa;

(...) que sabe dizer que havia as revistas porque algumas pessoas viram e

disseram a ela depoente; que quem fazia a revista nas bolsas eram os gerentes

e as vezes os fiscais de loja (...)

A testemunha da reclamante fez esta declaração:

(...) que muitas vezes os seguranças remexiam o conteúdo das bolsas

das empregadas; que havia revistas nos armários; que as vezes via essas

revistas e as vezes alguém dizia que ocorriam; que nessas revistas se

mexia no conteúdo do armário; que quem faziam as revistas nos

armários eram os gerentes e os líderes; (...) que a revista nos armários

ocorria aproximadamente uma vez por mês, ou quando houvesse

suspeita de furto;

Com base nessas declarações, a reclamada foi condenada

a indenizar a reclamante, nestes termos:

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DOS DANOS MORAIS DECORRENTES DA REVISTAÍNTIMA

Busca a parte reclamante o reconhecimento de danos ao seu

patrimônio imaterial em face de revistas íntimas indevidas perpetradas

pela reclamada. Estas se davam através de revistas na sua bolsa assim

como de seu armário.

Quanto às revistas nas bolsas da reclamante, tal fato restou fartamente

comprovado nos autos, tendo, inclusive, sido confessado pela preposta da ré

(s33p1). Inclusive, quem as realizava chegava a remexer o conteúdo das

mesmas, como confirmado pela primeira testemunha ouvida nos autos (s33p2).

Noutra linha, igualmente pela primeira testemunha ouvida, restou

comprovado o fato da reclamada revistar os armários de seus

funcionários sem sua presença (igualmente no s33p2).

Por oportuno, saliento não sofrerem os fatos acima mencionados uma

variação no nível que naturalmente sofrem os horários de trabalho, razão

pela qual não há como entender maculada a memória da primeira testemunha

ouvida nos autos pelo decurso de tempo no particular.

Por outro lado, o fato da segunda testemunha ouvida não ter

presenciado as revistas nos armários ou as de forma invasiva das bolsas

não significa que estas não ocorreram, mas, apenas, que aquela não as

presenciou.

Dito isto, passo a analisar a mácula do patrimônio imaterial da obreira.

Existem métodos modernos de fiscalização de empregados, dentre os

quais se destaca o uso de câmeras de segurança. Este não impõe gastos

elevados, sendo de fácil acesso às empresas em geral (também aqui tenho por

guarida o art.335 do CPC), fugindo ao razoável imaginar que a reclamada,

uma das maiores redes nacionais de comércio de roupas, não consiga

utilizá-lo.

Nesta linha, mostra-se desnecessária (ante a existência de métodos

diferentes) além de ilícita a revista nas bolsas do funcionários da ré,

especialmente de forma invasiva, com toques no seu conteúdo.

Por outro lado, a revista nos armários dos trabalhadores mostra-se

não só desnecessária e ilegal, mas, também, aviltante e ultrajante, pois

humilhante para o empregado ante a invasão de sua privacidade, dela

nascendo mácula direta aos arts. 1º, III, IV e 5º, X da CF.

Nesta linha, pelo narrado, inegável a mácula ao patrimônio imaterial da

reclamante pelas revistas sofridas. Passo então a arbitrar a indenização pelos

danos morais sofridos.

Ante todo o exposto, e analisando a dor moral da parte autora

naturalmente decorrente das revistas sofridas, e tendo em mente que para a

reparação deste dano deve o magistrado fixar o quantum indenizatório por

arbitramento, nos termos do art. 953, parágrafo único do CC, buscando

ao máximo amenizar o sofrimento experimentado pela vítima, e:

a) levando em conta o grau de culpa da ré;

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b) o próprio dano;

c) a situação econômica da empresa; d) além da gravidade do dano moral sofrido pela parte Condeno a

demandada ao pagamento de R$ 5.000,00 a título de danos morais.

Não há compensação ou dedução a ser procedida.

No entanto, o Tribunal Regional do Trabalho da 13ª

Região acolheu as alegações da reclamada, proferindo esta decisão,

verbis:

RECURSO DA RECLAMADA

A recorrente alega que jamais efetuou revistas íntimas em seus

empregados. Afirma que, com fundamento no poder de direção e no seu

direito de propriedade, apenas determinava que seus funcionários, ao saírem

do local de trabalho, abrissem as bolsas para uma revista visual, inexistindo

contato físico e toques nos pertences dos mesmos, pelo que não resultaria

configurada qualquer conduta ofensiva aos direitos fundamentais, e sequer

estaria caracterizada a revista íntima.

Assevera que não restaram comprovados os elementos constantes no

art. 186 do CC/2002, razão pela qual pugna seja excluída da condenação a

indenização por danos morais deferida.

Com razão, a recorrente.

A controvérsia gira em torno da caracterização da revista visual de

bolsas e armários, como procedimento hábil a ensejar o ressarcimento por

danos morais.

A reclamada sustenta que a revista era apenas visual e indiscriminada,

não evidenciando qualquer dano aos direitos do trabalhador. Afirma que “é

uma rede de lojas de varejo, sendo certo que vende peças que podem ser

facilmente subtraídas (peças íntimas, bijuterias, meias etc)” e que a revista

por ela realizada é feita com o intuito de salvaguardar a sua propriedade.

No que pertine a revista íntima das bolsas e pertences, a matéria deve

ser analisada à luz da eficácia horizontal dos direitos fundamentais,

observando-se a ponderação de princípios, uma vez que entram em colisão,

no particular, o poder diretivo do empregador e os direitos da personalidade

do empregado.

Analisando-se os depoimentos constantes na ata de audiência,

verifica-se que a revista realizada pela recorrente era apenas visual, com

abertura de bolsas e armários, inexistindo qualquer contato físico.

Veja que, enquanto a testemunha da reclamante afirmou "que muitas

vezes os seguranças remexiam o conteúdo das bolsas das empregadas; que

havia revistas nos armários; que as vezes via essas revistas e as vezes

alguém dizia que ocorriam”, a testemunha da reclamada disse “que ao final

do expediente se mostram as bolsas para as gerentes; que não há revista

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com invasão das bolsas, não sendo remexido seu conteúdo; que os armários

não são revistados”.

Como se observa, as testemunhas das partes prestaram depoimentos

diametralmente opostos acerca do fato, estando portanto, diante de prova

dividida.

Assim, a questão deve ser decidida contra quem tinha o ônus da prova.

Por se tratar de fato constitutivo de seu direito, cabia à autora o ônus

de comprovar que a revista não era apenas visual, mas, sim, que os

seguranças remexiam nas bolas e armários. Todavia, deste encargo não se

desvencilhou (arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC), pois a prova por ela

apresentada não se mostrou robusta e suficiente ao fim colimado.

Nesse contexto, entendo que não restou devidamente comprovado que

a revista era pessoal ou íntima, ao contrário, dava-se apenas nos pertences

dos empregados, como bolsas e armários, porém de maneira generalizada,

sem discriminação entre os trabalhadores.

Importante destacar que a revista vedada pela legislação trabalhista é

aquela prevista no art. 373-A da CLT – revista íntima -, não havendo falar

em proibição de revistas visuais, principalmente quando a empregadora tem

como atividade a produção e venda de produtos que possam ser facilmente

subtraídos, como é o caso da reclamada.

Ademais, ainda encontraria respaldo para a condenação ao pagamento

de indenização por danos morais a revista realizada com inobservância do

princípio da proporcionalidade, nas quais os sujeitos são expostos a situações

ultrajantes e vexatórias, o que não ocorre nos autos.

Ora, o tipo de fiscalização efetuado pela reclamada, com observância

dos limites dos poderes diretivo e de fiscalização, fundamentados no direito

de propriedade consagrado no art. 5º, XXII, da Constituição da República,

revela o exercício regular de proteção do patrimônio do empregador, não

caracterizando o ato ilícito, pois não demonstrada a afronta aos direitos da

personalidade dos funcionários da reclamada. Assim, a mencionada conduta

não poderá, de forma presumida, caracterizar ofensa à honra ou à integridade

psíquica do empregado, tampouco aos princípios da dignidade da pessoa

humana e da presunção de inocência.

Nas palavras da ilustre doutrinadora Alice Monteiro de Barros:

O direito à intimidade nos protege da ingerência dos

sentidos dos outros, principalmente dos olhos e dos ouvidos de

terceiro. A tutela dirige-se contra as intromissões ilegítimas. Seu

conceito é mais restrito do que o direito à privacidade, sendo

ambos consagrados no preceito constitucional (art. 5º, X). [...]

Não se discute que o empregado, ao ser submetido ao poder

diretivo do empregador, sofre algumas limitações em seu direito à

intimidade. Inadmissível, contudo, é que a ação do empregador se

amplie a ponto de ferir a dignidade da pessoa humana. (BARROS,

Alice Monteiro, Curso de Direito do Trabalho, 4. Ed. Rev e ampl.

– São Paulo: LTr, 2008, págs. 635-6).

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A jurisprudência pátria, em sua maioria, vem firmando convencimento

no sentido de que a revista visual de bolsas e sacolas não configura dano

moral. Sobre a matéria, eis os seguintes julgados oriundos do Tribunal

Superior do Trabalho:

RECURSO DE REVISTA - INDENIZAÇÃO - DANO

MORAL - REVISTA VISUAL DE BOLSAS E SACOLAS -

CONFIGURAÇÃO.

A revista em bolsas e sacolas dos empregados da empresa,

realizada de modo impessoal, geral e sem contato físico, e sem

expor a intimidade dos trabalhadores, não os submete a situação

vexatória e não abala o princípio da presunção da boa-fé que rege

as relações de trabalho. O ato de revista de empregados, em

bolsas e sacolas, por meio de verificação visual, é lícita,

consistindo em prerrogativa do empregador, tendo em vista o seu

poder diretivo, não caracterizando prática excessiva de

fiscalização capaz de atentar contra a dignidade do empregado.

Nesse sentido tem reiteradamente entendido esta Corte.

Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR -

408-59.2010.5.05.0039. Data de Julgamento: 28/11/2012, Relator

Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 4ª Turma, Data de

Publicação: DEJT 07/12/2012);

REVISTA EFETUADA NOS PERTENCES DO

EMPREGADO. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. O Tribunal

Regional consignou que a Reclamante tinha seus pertences

submetidos a revista visual feita pela Reclamada e decidiu deferir

à Autora indenização por dano moral no valor de R$ 5.000,00,

sob o fundamento de que a revista 'fere o direito à intimidade e os

princípios da presunção de inocência e da dignidade do

trabalhador, cabendo ao empregador, que, pelas condições em

que o trabalho é realizado, corra o risco de sofrer furtos, investir

em outros meios para proteger o seu patrimônio, já que a ele

cabem os riscos da atividade econômica'. Não obstante, esta

Corte Superior tem decidido reiteradamente que a revista feita

nos pertences (bolsas, sacolas, mochilas e outros volumes) do

empregado não caracteriza, por si só, dano moral, se não

evidenciado o abuso do empregador durante o procedimento.

Registrado, no acórdão recorrido, que a Reclamada efetuava

revista tão somente visual nos pertences da Reclamante, que a

revista era feita nos pertences de todos empregados da empresa e

que o procedimento ocorria na portaria, sem a exposição dos

fatos a terceiros, e inexistente notícia de que a Reclamante fosse

submetida a revista íntima ou de que houvesse qualquer tipo de

abuso por parte da Reclamada, é indevida a condenação ao

pagamento de indenização por danos morais. Recurso de revista

de que se conhece e a que se dá provimento. (RR -

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930100-83.2007.5.09.0003. Data de Julgamento: 31/10/2012,

Relator Ministro: Fernando Eizo Ono, 4ª Turma, Data de

Publicação: DEJT 30/11/2012).

No caso em apreço, ausente prova do ato ilícito do empregador, já que

não comprovado qualquer abuso do seu poder diretivo e fiscalizatório,

inviável concluir pela caracterização de dano moral à reclamante, uma vez

que ausente um dos principais requisitos previstos no art. 186 do CC/2002, a

saber, o próprio ato ilícito, pelo que deve ser afastada a indenização por

danos morais.

Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso ordinário da

reclamada para julgar improcedente o pedido formulado por ANDRÉIA

EMANUELLE PINTO RODRIGUES em face da MARISA LOJAS S/A.

Custas invertidas e dispensadas, face ao permissivo legal.

(...)

Inconformada, a reclamante interpõe recurso de

revista, alegando violação do inciso X do art. 5º da CF/88.

Assiste-lhe razão.

Incontroverso, nos autos, que a reclamada realizava

revista nas bolsas e nos armários das empregadas.

É controvertida a questão no tocante à revista de

bolsas dos empregados, pois há julgados no sentido de ser devida a

indenização, se realizada de forma invasiva e também há julgados no

sentido de ser indevida a indenização por danos morais.

No caso, também se discute se é devida a indenização

por revista de armários, sem a presença da reclamante.

E a prova dos autos é de que havia a revista dos

armários, sem a presença dos empregados.

Em que pese a testemunha da reclamada, negando a

existência de revista nos armários dos empregados, penso que a testemunha

da reclamante foi mais robusta que a da reclamada, pois restou evidenciado

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que a revista nos armários dos empregados era feita de forma invasiva,

quando havia a notícia de furto na empresa.

Quando a testemunha da reclamante declara "que a

revista nos armários ocorria aproximadamente um vez por mês, ou quando

houvesse suspeita de furto", fica evidente que esse procedimento era

desprovido de caráter impessoal da revista realizada na empresa, como

exige o precedente da SDI-1 do TST, transcrito no corpo do voto.

E nessa ordem de ideias, conclui-se, na verdade, que o v.

acórdão, além de violar os dispositivos invocados no apelo revisional, dando

incorreto enquadramento jurídico à matéria debatida, está em desacordo com o

seguinte julgado:

(...) 5. DANO MORAL. REVISTA EM OBJETOS PESSOAIS DOS

EMPREGADOS. Segundo o inciso X do art. 5º. da CF, "são invioláveis a

intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o

direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua

violação". Considera-se que a Reclamada, ao adotar um sistema de

fiscalização diária dos objetos pessoais dos empregados, ainda que não

houvesse toque corporal, extrapolou a adoção de medidas capazes de

proteger seu patrimônio. Essa política de segurança interna revela-se

desproporcional, já que atualmente existem outros equipamentos eficientes

de segurança, capazes de monitorar o ambiente de trabalho, sem ofender a

dignidade, a intimidade e a privacidade do trabalhador. Como bem pontuado

pelo Tribunal Regional, a realização de revista pelo empregador nos

pertences particulares dos empregados viola a presunção de inocência

garantida pelo texto constitucional (art. 5º, LVII), sendo constrangedora a

submissão do trabalhador a um procedimento que revela dúvida sobre seu

caráter. Ora, a higidez física, mental e emocional do ser humano são bens

fundamentais de sua vida privada e pública, de sua intimidade, de sua

auto-estima e afirmação social e, nessa medida, também de sua honra. São

bens, portanto, inquestionavelmente tutelados, regra geral, pela Constituição

Federal (artigo 5º, V e X). Agredidos em face de circunstâncias laborativas,

passam a merecer tutela ainda mais forte e específica da Carta Magna, que se

agrega à genérica anterior (artigo 7º, XXVIII, da CF/88). Recurso de revista

não conhecido, no particular. (RR - 217100-57.2006.5.09.0661 , Relator

Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 24/08/2011, 6ª

Turma, Data de Publicação: DEJT 23/09/2011)

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Vale ressaltar ainda que a 4ª Turma deste c. TST já

deciu:

DANO MORAL - REVISTA DE ARMÁRIO - PODER DIRETIVO E

FISCALIZATÓRIO DO EMPREGADOR - EXCESSO - ATO ILÍCITO

CONFIGURADO. A reclamada extrapolou seu poder diretivo e

fiscalizatório, ao proceder à revista do armário do reclamante, sem sua prévia

autorização ou presença, retendo até objetos pessoais. Não se trata de simples

procedimento administrativo, em que a empresa, na presença do empregado,

pode ter acesso ao seu armário, para retirada de objetos não pessoais, como

equipamentos de proteção individual, mas de invasão à privacidade, ou seja,

ao armário que foi colocado à disposição do reclamante, para a guarda, até

mesmo, de objetos pessoais. O referido armário, como revela o TRT, possuía

chave, o que evidencia, sem dúvida, seu uso personalíssimo, que, uma vez

violado, resulta em dano à intimidade e à vida privada. Demonstrado, pois, o

ato ilícito, bem como o dever de indenizar, permanece intacto o art. 186 do

Código Civil. Agravo de instrumento não provido. (AIRR -

42-97.2010.5.12.0015 , Relator Ministro: Milton de Moura França, Data de

Julgamento: 16/11/2011, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 25/11/2011)

Esse aresto está conforme meu entendimento pessoal de

que a revista em armários já é motivo suficiente para causar vexame e

vergonha ao empregado, mormente porque expõe a sua intimidade.

A revista em armários se reveste de ilicitude, uma vez

que põe em dúvida a honestidade do obreiro, ofendendo a sua dignidade.

Cabe à empresa adotar meios menos invasivos à intimidade do empregado

para prevenir eventual perda patrimonial, como meios magnéticos de

detecção, pois, do sopesamento destes dois direitos fundamentais,

dignidade e propriedade, indubitavelmente o primeiro deve prevalecer,

pois a mera necessidade de proteção do patrimônio do empregador não basta

enquanto argumento para justificar uma conduta capaz de gerar

circunstância vexatória para o trabalhador, como a dos autos, já que,

pelo princípio da alteridade (art. 2º da CLT), o empresário deve assumir

os riscos do negócio. Revista íntima seria excepcionalmente admitida

quando houvesse risco iminente à sociedade, e não ao patrimônio do

empregador.

Sob o primado da CF/88, que considera a dignidade da

pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

(art. 1º, III, da CF), tais atitudes não podem prosperar. O ser humano

tem que ser encarado como um todo indissociável, a fim de garantir-lhe

todos os direitos que lhe são atribuídos constitucionalmente. Há de ser

visto simultaneamente como cidadão, como pai, como trabalhador.

Ante todo o exposto, a revista indiscriminada dos

armários dos empregados configura-se em abuso do direito fiscalizatório

do empregador, transmudando-se em ato ilícito, que deve ser prontamente

reprimido por esta Especializada!

O procedimento ilícito perpetrado pelo recorrido

desrespeita ainda a presunção de inocência que deve gozar qualquer um

do povo.

Além do mais, o direito à intimidade é mais um dentre

os direitos fundamentais inespecíficos dos trabalhadores, ou seja,

aqueles não previstos no art. 7º da Constituição Federal, especialmente

os elencados no art. 5º, que nem convenções ou acordos coletivos podem

sobre eles dispor.

E sobre os direitos laborais inespecíficos dos

trabalhadores, convém ressaltar que, dentre eles, se encontra o direito à

presunção de inocência, o que não ocorreu no caso dos autos, tendo em vista

a revista íntima realizada de forma invasiva.

Ainda que o direito brasileiro não tenha ainda

regulamentado pela legislação trabalhista os direitos da personalidade no

âmbito das relações de trabalho, como direitos laborais inespecíficos dos

trabalhadores, sua efetividade, no entanto, como direitos fundamentais, é

garantida pela aplicação do artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal de

1988, em especial no que concerne a proteção à intimidade, à vida privada, à

honra e à imagem das pessoas.

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Sem uma regulamentação infraconstitucional brasileira

adequada quanto aos direitos fundamentais inespecíficos, os direitos

fundamentais foram absorvidos pelo Código Civil de 2002, constitucionalizado.

Desse modo, os direitos laborais inespecíficos dos trabalhadores na esfera das

relações de trabalho encontram suporte no artigo 21 do Código Civil, que trata

da inviolabilidade da vida privada da pessoa natural, bem como nas cláusulas

gerais da boa-fé objetiva e deveres anexos e da função social do contrato,

encontradas nos artigos 187, 421 e 422 do diploma civil. As cláusulas gerais

da boa-fé objetiva e deveres anexos do Código Civil servem de embasamento para

a efetividade do direito à informação, do direito à presunção de inocência e

do direito à ampla defesa e ao contraditório como direitos laborais

inespecíficos dos trabalhadores.

Dessarte, conheço do recurso de revista por violação

do inciso X do art. 5º da Constituição Federal.

1.3.MÉRITO.

Como consequência lógica do conhecimento do apelo, por

violação do inciso X do art. 5º da CF/88, dou provimento ao recurso de

revista para restabelecer a sentença de procedência do pedido de

indenização por danos morais.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Segunda Turma do Tribunal

Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do agravo de instrumento

e lhe dar provimento. Por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso

de revista e lhe dar provimento para restabelecer a sentença de

procedência do pedido de indenização por danos morais. Custas pela

reclamada, no importe de R$ 100,00, calculadas sobre R$ 5.000,00, valor

da condenação.

Brasília, 29 de Abril de 2015.

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Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

CLÁUDIO ARMANDO COUCE DE MENEZES Desembargador Convocado Relator

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