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O LUGAR DA CULTURA ESCRITA NA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA: Pode a escrita roubar a infância? Ana Lúcia Espíndola Regina A. Marques de Souza

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O LUGAR DA CULTURA ESCRITA NA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA:

Pode a escrita roubar a infância?

Ana Lúcia EspíndolaRegina A. Marques de Souza

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- Discutir a escrita e a infância como conceitos que não se excluem.

- Discutir a possibilidade de que a escrita possa vir a tornar-se, também, mais um brinco para a infância.

Objetivo do texto

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Para isso o texto irá:

• Situar infância e escrita;• Refletir sobre a forma como as crianças pequenas se

relacionam com a linguagem;• Refletir sobre a pré-história da linguagem escrita,

segundo Vygotski (2000).• Refletir a formação de conceitos cotidianos e

científicos, segundo Vygotski, articulados com a apropriação da linguagem escrita.

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O que é infância?“[...] é não apenas um período da vida, mas, mais que isso, ela é parte da condição que nos torna humanos” (MEYER; VASCONCELLOS; LOPES, apud GOULART, 2012, p.2).

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• Estudos desenvolvidos por Ariès tornaram possível fazer a pergunta “o que é infância?”, questão que nos situa como homens e mulheres da modernidade.

• Ariés (1981) afirma que durante toda a Idade Média, havia uma representação da criança sem traços infantis, um adulto miniaturizado, o que representaria uma ausência do sentimento de infância nas sociedades europeias daquela época.

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Heywood (2004) questiona se realmente não haveria o sentimento de infância na Idade Média, ou se Ariès, por buscá-lo com os olhos da modernidade e não o encontrando da forma como considerava ser correto, conclui pela ausência desse sentimento.

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• Stearns (2006, p.11) apresenta uma visão diferente daquela defendida por Ariès, apontando que “todas as sociedades, ao longo da história, e a maior parte das famílias, lidaram amplamente com a infância e a criança”.

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Ainda que pensada em um mesmo tempo, a infância não é a mesma para todas as

crianças, variando por:

Classe Social

Etnia

Religião

Historicidade

Raça

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Os diversos momentos históricos também irão definir formas

diferentes de se ver a criança em sua relação com o mundo e, como consequência, com a

cultura escrita

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O que estamos considerando “ESCRITA”?

• A cultura escrita - o lugar - simbólico e material - que o escrito ocupa em/para determinado grupo social, comunidade ou sociedade.

Galvão (2010, p.

218)

• Aquilo que se convencionou tratar de tecnologia

Ong (1998)

Não

apenas

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A infância, a escrita e o brinquedo no Ciclo de Alfabetização

Pensar a escrita articulada com a infância não é uma tarefa simples, porque, para alguns aprender a escrever é o primeiro passo para a saída da infância.

XMas, para outros, a escrita ocupa lugar especial na infância, constitui-se como possibilidade de exercício de autoria.

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Articulação entre a infância, a escrita e o brinquedo

Na perspectiva de Vygotski (2000) implica lembrar que se ensinava às crianças a desenhar letras e construir palavras, mas não se ensinava a linguagem escrita.

Infelizmente, a afirmativa continua verdadeira, nos dias de hoje, uma vez que ainda ensinam às

crianças apenas a desenhar letras e não a linguagem escrita.

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Para Vygostski a escrita é um simbolismo de segunda ordem, isto é, um sistema de signos que designam os sons e as palavras da linguagem falada, que são signos das relações e entidades reais, e que irão, aos poucos, transformar-se em um simbolismo direto.

A escrita como simbolismo de segunda ordem

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Para aprender a ler e escrever, a criança precisa compreender que a escrita representa a fala e

não os objetos aos quais se referem as palavras.

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A importância do Faz-de-Conta

Para a criança, há uma ligação entre percepção e significado.

No entanto, quando se envolve com jogos de imaginação (faz-de-conta), a ação da criança

surge das ideias e não das coisas.

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Importância do brincar para aprendizagem da escrita

Os objetos tem força determinante no comportamento da criança daí a importância do

brinquedo (VIGOTSKI,1991)

A ação em uma situação imaginária ensina a criança a dirigir seu comportamento não somente pela

percepção imediata dos objetos ou pela situação imediata. Com isso objetos perdem sua força

determinadora.

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O objeto é dominante para a criança. Porém, no brinquedo, os significados são

dominantes e os objetos são deslocados para uma situação subordinada.

A situação imaginária é a 1ª manifestação da emancipação da criança em relação às situações

concretas e funcionais (VIGOTSKI, 1991).

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Jogo simbólico – Faz-de-conta

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Mentiras Mário Quintana

Lili vive no mundo do faz de conta...Faz de conta que isto é um avião.

Zzzzzuuu...Depois aterrissou em um pique

e virou um trem.Tuc tuc tuc tuc...

Entrou pelo túnel, chispando.Mas debaixo da mesa havia bandidos.

Pum! Pum! Pum!O trem descarrilou.

E o mocinho?Onde é que está o mocinho?

Meu Deus! onde é que está o mocinho?!No auge da confusão, levaram Lili para cama, à força.

E o trem ficou tristemente derribado no chão,Fazendo de conta que era mesmo uma lata de sardinha.

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É grande a importância dada ao brinquedo, como parte da construção do simbolismo na criança. Por meio do brinquedo a criança perceberá que determinados objetos podem denotar outros,

tornando-se, assim, seus signos.

No brinquedos os objetos podem se tornar signos

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Como ocorre no brinquedo, na língua escrita, a criança precisará entender a questão da substituição.

Sob a influência dos gestos, crianças mais velhas começam a descobrir que os objetos podem também substituir as coisas

que indicam.

Ao se fazer jogos com as crianças, em que um dado objeto passa a denotar outro, elas irão modificar a estrutura

corriqueira do objeto, adquirindo este a função de signo, independente dos gestos da criança.

A substituição no brinquedo

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A aprendizagem da linguagem escrita pode ser vista como um dos produtos do processo de

brincar.

A escrita como um simbolismo de segunda ordem precisa ser compreendida como um

objeto substitutivo da fala.

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A aprendizagem da linguagem escrita pode acontecer APENAS a partir do

brinquedo e sem atividades intencionais de ensino.

Não se pretende com isso afirmar

que

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Que o brinquedo tem um papel significativo e que NÃO É APENAS UM ADEREÇO sem importância na

prática pedagógica.

PRETENDE-SE SIM

AFIRMAR QUE:

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Não será pelo treino e pelo desenho de letras que as crianças aprenderão sobre a escrita. Mas o processo de brincar, por meio do qual a criança percebe a possibilidade de um objeto denotar outro, poderá contribuir para o desenvolvimento de mecanismos psíquicos importantes para a compreensão do que é a escrita e do que ela representa, embora se trate de simbolizações de naturezas diferentes.

A escrita e a infância não podem estar interligadas de qualquer forma.

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Brincar X Treinar Letras

Segundo Vigotski, mais faremos pela crianças pequenas para que aprendam a ler e escrever brincando com elas e as deixando brincar livremente do que treinando letras e as obrigando a fazer dever de casa em materiais estruturados.

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A importância do ensino no aprendizado da escrita

Sendo a escrita uma convenção, seu aprendizado não ocorrerá sem intervenção de atividades de ensino.

O brincar também desempenha papel importante no processo de aprendizagem da escrita e, muitas vezes, isso não é percebido por aqueles que trabalham com

as crianças no Ciclo de Alfabetização

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A infância é uma condição de nos tornarmos seres humanos e para isso,

a educação, a escola é fundamental em nossas vidas, principalmente em

nosso país, marcado por uma diferença acentuada das classes

sociais.

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Crianças destituídas do direito à infância?

Ainda encontramos crianças vivendo em descompasso com o que se pode pensar como um ideal de condições mínimas de existência. Encontramos crianças que são destituídas do direito à infância, independente da classe social a que pertencem, seja por precisar trabalhar ou por terem seu tempo tomado por compromissos considerados produtivos (balé, natação, aula de línguas, dentre outras).

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QUAL EDUCAÇÃO PARA A INFÂNCIA?

UMA EDUCAÇÃO CAPAZ DE CONDUZIR A UMA VIVÊNCIA DE INFÂNCIA PERMEADA DE

DESCOBERTAS, BRINCADEIRAS E APRENDIZAGENS CONSTANTES.

UMA EDUCAÇÃO AS TORNEM CIDADÃS, DETENTORAS DE DIREITOS, QUE PRODUZAM

CULTURA, E SEJAM POR ELA PRODUZIDAS (KRAMER, 2007).

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Para Vigotski

APRENDIZAGEM

DESENVOLVIMENTO

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A formação de conceitos

Para Vigotski, a formação de conceitos está presente já na fase mais precoce da infância, estruturando-se e

desenvolvendo-se somente na puberdade.

No período de alfabetização, enquanto é vivenciado o processo de ensinar e aprender a ler e a escrever a partir das práticas sociais, convivendo dentro e fora da escola

com o sistema de escrita alfabético, vamos organizando a formação dos conceitos.

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Na mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento, Vigotski identifica duas

linhas de formação de conceitos:

Os conceitos cotidianos

Os conceitos científicos

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Crianças pequenas constroem conceitos no relacionamento com as pessoas mais próximas (família e amigos), em suas atividades práticas, interagindo com o mundo em que vivem, em uma relação experimental e intuitiva, com características primitivas e fora do campo das reflexões, da consciência. Esses conceitos são formados no dia a dia em conversas informais, brincadeiras, descobertas, questionamentos, quando a criança aprende aquilo que sua capacidade psicológica permite naquele momento.

Os conceitos cotidianos

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O desenvolvimento dos conceitos científicos aparecem com o início da escolarização. Eles são elaborados a partir do processo de reflexão, análise e compreensão, marcados por explicações conscientes sobre assuntos sistematizados pela cultura letrada.

Os conceitos científicos

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Sinalizam a construção de várias funções psicológicas superiores do sujeito como: memória mediada, atenção voluntária, raciocínio lógico, abstração, comparação e diferenciação.

Sua concretização ocorre na fase da adolescência, período em que o indivíduo se torna capaz de interagir com seus parceiros, opinar, criticar, reclamar, sugerir e deixar sua marca conscientemente.

Os conceitos científicos e as funções psicológicas

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É na e pela escola que o indivíduo passa dos conceitos cotidianos, que construiu no seu dia a dia, para os conceitos científicos,

característicos do trabalho intelectual e necessários ao seu futuro crescimento

pessoal.

O papel da escola e do professor

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As diferenças entre os Conceitos Cotidianos e Científicos:

A diferença principal entre os conceitos cotidianos e científicos está ancorada no grau de consciência

da criança.

Os conceitos cotidianos são vivenciados no dia a dia a partir do nascimento, fazendo parte do

contexto sócio-histórico-cultural em que estamos inseridos, através dos conhecimentos produzidos

pela humanidade.

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Já os conceitos científicos surgem em ambientes específicos, como a escola – acompanhados de

pensamentos conscientes e sistematizados, que vão sendo internalizados pela criança a partir de suas

necessidades, seus interesses e incentivos oferecidos/mediados pelo(a) professor(a) ou por um(a)

colega mais experiente.

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•A escrita não rouba a infância, não atrapalha a criança, porque ela faz parte do mundo do qual deve a escola também fazer parte.

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• Devemos escolher por trabalhar com a linguagem escrita e não com a escrita de letras e palavras de forma enfadonha, repetitiva; devemos criar nas crianças a atitude leitora e produtora de texto.

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PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA

IDADE CERTA