plano diretor de preservação do patrimônio cultural de londrina
TRANSCRIPT
Plano Diretor de Preservação do
Patrimônio Cultural de Londrina
Documento para Discussão
Arquitetos
Humberto Yamaki- Coordenação Geral
Milena Kanashiro
Sidnei Junior Guadanhim
Ricardo Dias Silva
Rosane Troia-colaborador
Estagiários
Alex Lamounier
Ilzangela Keila de Almeida Rex
2003
Lei Municipal de Incentivo à Cultura
Prefeitura do Município de Londrina
Sumário
1.Introdução_____________________________________________________________01
2.Histórico / Possíveis Leituras______________________________________________01
Leitura 1: Da Micro à Macro Morfologia do Norte do Paraná______________________ 02
Leitura 2: Tradição e Rejeição – Casas de Madeira versus Casa de Material__________ 16
Leitura 3. Sobrevida das Construções de Madeira no Quadrilátero Nobre de Londrina___20
Leitura 4. Sobrevida dos Grandes Barracões da Década de 40-60___________________ 27
3. Critérios, Classificação e Categorias de Elementos_____________________________30
3.1 Critérios_____________________________________________________________ 30
3.2 Classificação Preliminar_________________________________________________31
3.3 Categorias___________________________________________________________ 34
4. Métodos, Técnicas e Estratégias de Preservação_______________________________36
4.1 Métodos de Preservação ________________________________________________ 36
4.2 Técnicas _____________________________________________________________36
4.3 Estratégias ___________________________________________________________39
5. Patrimônio Afetivo – uma outra Leitura do Patrimônio Cultural de Londrina ________40
5.1 Categorias ___________________________________________________________ 41
6. Listagem para Discussão _________________________________________________47
7. Ficha de Inventário______________________________________________________51
7.1 O inventário como Processo______________________________________________51
7.2 Modelos de Ficha de Inventário __________________________________________ 52
7.3 Fichas de Inventário- Arquitetônico e Urbano Paisagístico _____________________ 60
8. .Discussão de Legislação Possível de Proteção do Patrimônio Cultural- Panorama __114
8.1 Cartas Internacionais__________________________________________________114
8.2 Legislação Federal ___________________________________________________ 117
8.3 Legislação Estadual __________________________________________________ 119
8.4 Legislação Municipal _________________________________________________120
9. Minuta de Projeto de Lei de Preservação de Patrimônio Cultural_________________123
10. Considerações Finais __________________________________________________133
11. Referencias Bibliográficas _____________________________________________ 135
12. Listagem de Anexos __________________________________________________137
INTRODUÇÃO
Cidade Nova construída num instante, Londrina carrega no seu
imaginário a inexistência de história. No V Congresso Latino-americano sobre a Cultura
Arquitetônica e Urbanística realizada em 1996 em Montevidéu, assim relatava Sapelli,
sobre o Centro antigo da cidade:
“La Ciudad Vieja por ser la genesis de nuestra historia constituye el laço mas
antiguo e fuerte que nos une al pasado. El patrimonio que contiene es un legado
del pasado que actúa sobre nuestra memoria y contribuye a mantener e
preservar la identidad de la comunidad.”
Em relação aos monumentos, afirma Sapelli, citando Choay, para a qual o monumento é uma defesa
contra os traumas da existência, portanto um dispositivo de segurança. O monumento conjura o ser do
tempo, assegurando, tranquilizando e apaziguando. Continua, afirmando que, o monumento é a garantia de
nossas origens, e acalma a inquietude dos começos. É um desafio à ação dissolvente do tempo, e trata de
apaziguar a angústia da morte e da aniquilação.
Pouco conhecida ainda, é a noção de patrimônio como sustentabilidade.
Segundo Acselrad (2001), o caráter e suas identidades, valores e heranças construídas e
cultuadas ao longo do tempo, constituem uma das vertentes da sustentabilidade. Sob esses
aspecto, fazer durar a existência simbólica de sítios edificados e naturais e seus
significados, pode ser considerado uma estratégia da população sentir-se parte do lugar,
bem como de marketing urbano, de modo a atrair capitais na competição global.
“Patrimônio não é o que existe, mas aquilo que se vê” , dizem os
europeus. Da visibilidade, sustentabilidade, identidade à atratividade, as qualidades a serem
perseguidas num processo de preservação são amplas.
2. HISTÓRICO
“Londrina foi reconstruída três vezes em 70 anos“ podemos afirmar
parafraseando o Arq.Benedito Lima de Toledo, que escreveu: “São Paulo foi reconstruída
três vezes em quatro séculos “. Portanto, Londrina fez em setenta anos, o que São Paulo
demorou quatrocentos anos.
A velocidade de transformação, pode ser entendida também como
velocidade de destruição, da Londrina de madeira e da Londrina de tijolo. De fato,
importantes edificações foram destruídas, notadamente nos últimos 20 anos, em nome do
otimismo e progresso. O que falar então das construções de madeira, com mais de
cinqüenta anos, construídas em área nobre da cidade.
A leitura da micro e macro morfologia de Londrina, as reflexões em torno
das construções de madeira, a sobrevida das casas, constituem leituras preliminares
essenciais.
2.1 Leitura 1: Da Micro à Macro Morfologia do Norte do Paraná
A colonização do Norte do Paraná constitui uma das experiências de
organização do território e de projeto de Cidades Novas, mais significativas realizadas no
Brasil no século XX.
Seguindo o postulado da experiência inglesa, os chamados princípios
filosóficos de colonização, que incluía o parcelamento de terras férteis e a não retomada de
terras em hipótese alguma, o empreendimento alcançou grande sucesso. Resultou em mais
de 540 000 alqueires parcelados, e cerca de 63 cidades projetadas em curto espaço de
tempo.
Através de intensa campanha de venda de lotes, e produzindo material de
propaganda em vários idiomas, a Companhia de Terras atraiu imigrantes de outras frentes
de expansão. Relatos afirmam que, em 1938 havia proprietários de terras de 31
nacionalidades, sendo a região conhecida também como Colônia Internacional (Pioneira,
1952) (Nakanishi, 1950).
Uma pequena ressalva porém é necessária, ao silencio imposto aos
primitivos habitantes da região, e à devastação sistemática da mata nativa.
“Lucta constante contra a mata virgem....épica obra de transformar um
sertão bruto em um sertão civilizado”(Album de Londrina, 1938)
Primórdios
A concessão de terras à CTNP- Companhia de Terras Norte do Paraná,
que tinha como maior acionista a Paraná Plantations Ltda de Londres, ocorreu entre 1925 e
1927. Segundo Pupo (1952), o plano inicial de desenvolvimento da Companhia estava
baseado na idéia de um ramal da Estrada de Ferro Sorocabana, que partindo de Regente
Feijó ou Presidente Prudente-SP, chegasse através de um traçado mais conveniente ao rio
Paranapanema, na altura da foz do rio Pirapó, daí prosseguindo em direção ao sul até o
centro do empreendimento. A sede da Companhia seria na região de Maringá, segundo o
projeto original.
Modificados os planos, a Companhia adquiriu a ferrovia São Paulo-
Paraná, que ligava Ourinhos a Cambará, numa extensão de 29 quilômetros e resolveu
prolongá-la, atravessando os rios Cinzas, Laranjinhas, Congonhas e Tibagi, até atingir suas
terras.
O empreendimento foi inspirado no êxito de uma trabalho semelhante
realizado entre 1910 e 1920 pelo inglês James Miller e pelo escocês Robert Clark em uma
área de 40 000 alqueires situada em Birigui, no Noroeste do Estado de São Paulo (CMNP,
1975).
Paralelamente, não se pode deixar de considerar as experiências inglesas
nas ex-colonias na África, mais especificamente no Sudão, como antecedente ao projeto de
colonização aqui adotado.
Projetistas
O russo Alexandre Razgulaeff, formado em geodesia- arte de medir e
demarcar terras, foi o primeiro projetista a chegar na região de Londrina ainda em 1929
(Razgulaeff, 1972). Logo depois, vieram Carlos Rothmann e William Reid.
Em determinada época, conviviam técnicos ucranianos, alemães e
japoneses na Companhia de Terras, segundo o topógrafo russo Vladmir Babkov, que
chegou à região em 1937. Tal fato pode legitimar a diversidade e possíveis influências na
linguagem urbanística (Yamaki, 2000).
Entre os construtores nas épocas pioneiras, são citados C.B. Mac Donald,
C.B.Solberg, R.H. Leyton, James Adamson, Wales Molton, que após experiência na região,
se deslocariam respectivamente para Trinidad, Birmânia e Inglaterra (Nakanishi, 1950). As
experiências no Norte do Paraná podem ter sido transplantadas em colônias britânicas
ultramarinas.
Espacialização do Território
Uma ferrovia como eixo estruturador e extensa malha viária estavam
previstas no empreendimento que objetivava a subdivisão em lotes rurais, urbanos e
chácaras.
Precedia o processo de colonização, um minucioso levantamento
topográfico e hidrográfico. O parcelamento de terras previsto pela Companhia era o de
divisão de glebas em pequenos lotes rurais em faixas estreitas de 8 alqueires em média e 30
alqueires no máximo, além de chácaras de 5 alqueires num raio de 5 quilômetros a partir do
núcleo urbano (Nakanishi, 1950).
A análise das plantas parciais iniciais da CTNP, permite apreender o
processo de execução do plano. Após intenso levantamento topográfico, identificadas as
bacias hidrográficas e definidas a localização das estradas nos espigões, iniciava-se a
divisão de terras. Muitas vezes, tal processo resultava em parcelamento em “forma de
leque”, com lotes trapezoidais, visando ajustar às peculiaridades do terreno e atendendo ao
princípio de que todos os lotes deveriam ter acesso à estrada e à água.
Rede de Cidades
Os núcleos urbanos hierarquizados, ficavam a uma distância idealizada,
onde o morador da área rural poderia se deslocar a pé, numa distância média de 5 a 9
quilômetros. Assim Londrina e Cambé distavam 14, Cambé e Rolandia 11, Rolandia e
Arapongas 16 , Arapongas e Apucarana 18, Arapongas e Pirapó 7, Pirapó e Jandaia 11,
Jandaia e Mandaguari 13, Mandaguari e Marialva 18, Marialva e Maringá 17 quilômetros
sucessivamente.
Vale a pena comparar aqui, o distanciamento entre as estações da Estrada
de Ferro São Paulo-Paraná que ligava Ourinhos a Jatahy e que havia sido adquirida pela
CTNP. Com exceção da distância entre Congonhas e Frei Timóteo com 34 quilômetros, e
entre Bandeirantes e Santa Mariana com 26, todas as outras situavam-se em intervalos
médios de 15,3 quilômetros. O mesmo pode-se dizer sobre a distribuição ritmada de
estações ao longo das estradas de ferro no Estado de São Paulo nos anos 30.
Segundo Joffily (1985), um dos termos da concessão à CTNP falava na
não construção de novas ferrovias numa faixa de 15 quilômetros. Pode-se concluir portanto
que, o de distanciamento entre cidades adotados nas terras da Companhia obedecia a uma
modulação com certa tradição em frentes de colonização, não chegando a constituir
propriamente imposição ou inovação. Tal modelo pode ser observado em outras regiões
colonizadas nos estados do Sul do país.
Ressonâncias dos Movimentos Urbanísticos Europeus
É freqüente a discussão sobre a possível ressonância do urbanismo
europeu, notadamente do Movimento das Cidades Jardins, na colonização do Norte do
Paraná (Barnabé, 1991). Afirmam-se como possíveis provas, a questão da rede de cidades
hierarquizadas, da população ideal de 30 000 habitantes, do cinturão verde de chácaras e a
questão da propriedade de terras.
Preliminarmente, é preciso afirmar que a CTNP não menciona nas suas
propagandas, o termo Cidade Jardim, em voga nos grandes centros mundiais.
A Garden City proposta na Inglaterra por Ebenezer Howard (1902),
combinava as virtudes e o equilíbrio da cidade e do campo. Tendo a ferrovia e estrada
como espinha dorsal, previam-se núcleos urbanos hierarquizados, a uma distância de 5
quilômetros, bastante reduzido em relação ao módulo de 15 km adotado no Norte do
Paraná.
O diagrama proposto originava-se a partir de um Parque Central, e as
funções eram agrupadas em anéis concêntricos onde o principal anel seria circundado por
uma grande avenida formando um cinturão verde. O princípio de Cidade Jardim era a auto-
suficiência, as terras administradas pela própria comunidade, o crescimento controlado não
além do cinturão verde para uma população final também limitada. (Howard, 1974). Mais
do que como traçado, a Garden City ou Cidade Jardim tinha uma imagem forte e atrativa.
Vide os inúmeros empreendimentos especulativos que proliferaram, até mesmo no Japão.
Howard iniciou a construção de duas Cidades Jardins na Inglaterra,
Letchworth (1903) e Welwyn (1919). A essência do plano de Letchworth era um grupo de
vilas no entorno de um centro cívico, com uma zona de indústrias na periferia, e circundado
por um anel de terras agricultáveis com área de cinco vezes a área urbanizada. Obedecendo
aos preceitos de Howard, os projetistas Parker e Unwin decidiram a forma da cidade pela
vegetação existente e pela idéia de que todas as casas deveriam facear o sol. Resulta numa
planta que mostra a síntese do formal e do informal, com concepções de design e
planejamento segundo a tradição britânica.
No projeto de Welwyn, o traçado geral da cidade obedece à drenagem
natural, a vegetação nativa, e os caminhos e concessões de passagem pré-existentes
(Purdon,1925).
Vale destacar que, nos projetos de Maringá e Umuarama, a então
Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná-CMNP contratou Jorge de Macedo Vieira,
que havia trabalhado anteriormente na Companhia City em São Paulo. O empreendimento
da City, Jardim America, tinha projeto de Parker & Unwin, autores da Cidade Jardim de
Letchworth na Inglaterra. Nestas cidades, pode ter ocorrido maior aproximação com o
ideário em voga.
Prever a drenagem natural, procurar a melhor orientação, reservar
cinturão de chácaras, controlar o crescimento, respeitar a vegetação existente, preservar os
caminhos existentes entre outros, eram preceitos das Cidades Jardins, mas antes disso, uma
tradição britânica e também resultado de experiências vernaculares na construção de
cidades.
Olhar
Todas as cidades projetadas pela CTNP localizavam-se em lugar alto,
com pelo menos um dos lados em declive, favorecendo assim a questão da drenagem e de
salubridade (Nakanishi, 1950).
Assim Artur Thomas relata a escolha do sítio para a implantação de
Londrina:
“Saindo desta estrada, a burro, em junho de 1929, representantes da
Companhia de Terras furaram o mato até cruzar a divisa de suas terras, e pernoitando na
picada, exploraram o terreno em diversas direções, notando especialmente a cabeceira de
águas. A topografia em volta de um alto (onde se acha a Igreja matriz) impressionou-os
como local ideal para uma cidade“ (Pioneira, 1952).
Londrina, a filha de Londres, nasce assim do olhar, da observação atenta
do sítio, quase como uma inspiração. Babkov, um dos topógrafos da Companhia dizia que,
ao observar o terreno por algum tempo, já tinha o plano básico em mente. Pode-se
encontrar nesta afirmação, alguns paralelos entre o que afirma Purdon (1925) ao relatar o
projeto da Cidade Jardim de Welwyn:
“O método adotado no planejamento do empreendimento era preparar
um plano planialtimétrico geral, o esquema de fornecimento de água e o
esquema de drenagem; um levantamento geral feito para possibilitar a
localização das várias partes da cidade....Um homem experiente pode
preparar um plano através do olhar...”
Unwin reforçava a importância do sítio na concepção integral do plano.
Na Cidade Jardim de Letchworth é possível ver que o centro da cidade é localizado em
uma generosa colina (Purdon, 1925).
A escolha de local dominante e simbólico, e a articulação com a
topografia também eram características morfológicas principais das cidades coloniais no
Brasil (Yamaki, 2003).
Traçado de Cidades
Assim relata Lévi-Strauss (1936), sobre as cidades visitadas no início da
colonização no Norte do Paraná:
“Nesses quadriláteros de maneira arbitrária cavados no coração da
floresta, as ruas em angulo reto são de início, todas parecidas: traçados
geométricos, privados de qualidade própria“.
Décadas depois, Bruand (1980) afirma: “as cidades são interessantes do
ponto de vista geográfico, mas não quando se limita o problema ao valor e novidade das
soluções propriamente urbanísticas....assim, não é de se espantar que todas essas
aglomerações acabem parecendo-se estranhamente em sua monotonia, sua falta de caráter,
seu aspecto de grande aldeia triste ou de perpetuo canteiro de obras” e Marx (1980) as
define sucintamente como “monotonia ordenada”.
Outra vertente, mais recente, vê qualidades nas soluções projetuais
(Yamaki, 1991) e pensamentos urbanísticos norteadores (Barnabé, 1991).
Primeiro projeto de cidade no empreendimento, e que possivelmente
antecedeu o parcelamento das glebas rurais, o traçado urbano de Londrina apresenta uma
malha ortogonal rígida. Traz gravada fortemente as certezas e incertezas no projetar frente a
uma natureza vigorosa e sem maiores referências urbanísticas. As subsequentes Nova
Dantzig e Rolandia apresentam liberdade maior, nas diagonais e contornos definindo
centralidades .
Segundo Wachowicz (2001), “Todas as cidades foram planejadas
antecipadamente, possuindo aspecto de cidades modernas, bem traçadas geometricamente e
de aparência agradável.” Já nos anos 50, Nakanishi (1950) falava na importância dos
estudos destas “Cidades Artificiais” no futuro.
“Planta Azul”
A “planta azul” como é conhecida a primeira planta de Londrina, foi
projetada por Alexandre Rasgulaeff em 1932, na sua chácara na periferia da futura cidade.
Em depoimento de 1972, Rasgulaeff faz crítica ao projeto, e diz que “a cidade é mal
projetada mas não por sua culpa”. Informa que projetara a cidade com avenidas de 30m e
ruas de 24m , mas que após o envio à Inglaterra, foram mandadas diminuir para ruas de
12m, mas que no final ficaram ruas de 16m e avenidas de 24m. Como comparação, na
Cidade Jardim de Welwyn, as ruas normais tinham de 50 - 60 pés de largura, o que
equivale a 15-18 metros (PURDON, 1925), portanto não muito distante das recomendações
que foram feitas ao projeto de Londrina. Sobre o mesmo projeto, Babkov (1998) comenta
que a cidade foi “projetada no machado”.
No entanto, a análise do traçado revela certa complexidade, um conjunto
de saberes sedimentados. Malha ortogonal, Elipse, Diagonal e Espiral constituem
componentes básicos de sua morfologia. (Figura 01)
Elipse Central e Malha Ortogonal
O traçado de Londrina apresenta malha regular que tem no centro uma
elipse tangenciada pela avenida, que por sua vez se projeta em diagonal pelo espigão. No
centro da elipse, no ponto mais alto localiza-se a Catedral, margeada por quadras espaços
livres.
Rasgulaeff afirma em depoimento, ter projetado inicialmente a Avenida
Paraná e posteriormente, as transversais Avenida Rio de Janeiro e São Paulo, podendo tal
fato ter influenciado na orientação no parcelamento das quadras.
As “sobras” resultantes da articulação da malha ortogonal e da elipse
levaram algum tempo para serem consideradas e receberem a denominação de Praças.
O traçado rígido ortogonal representa a ordem, estabilidade, domínio,
negação do tempo, e em alguns momentos encarna a civilização (Rapoport, 1981).
Diagonal como Linguagem
A diagonal da avenida Paraná se sobressai no plano ortogonal. Vindo da
direção de Jatahy, a avenida aponta a direção da Catedral e subitamente contorna uma das
Praças em quarto de círculo que formam a elipse central. Segue adiante e mais uma vez
rompe a malha em direção a Nova Dantzig. O traçado da avenida Paraná nem sempre é
resolvido de maneira natural em relação à malha. Os parcelamentos irregulares de quadras e
o surgimento de pequenas quadras triangulares evidenciam certa dissonância.
Representariam as pregnâncias, caminhos pré existentes ou natural,
incorporados no plano ou seria a diagonal como elemento de expressão do traçado, dando
um dinamismo maior.
Espiral de Expansão
A observação da numeração das quadras no plano inicial mostra uma
seqüência aparentemente desarticulada. No entanto, análise mais apurada permite observar
uma espiral imaginária de expansão.
O uso de espiral como forma urbana é antigo. A cidade na colina, de
Martini (1451-1464) mostra o uso de sobreposição de diagonais e espirais, na proposta de
uma Cidade Ideal.
No caso de Londrina, a espiral pode ter sido uma estratégia visando a
expansão homogênea da cidade, e simultaneamente reforçando a centralidade da elipse.
Quadra Número Um
A “planta azul” de Razgulaeff traz ampliado no canto superior direito,
uma quadra padrão com suas dimensões detalhadas. Localizada na esquina da rua do
Commercio e rua Heimtal, possui dimensões de 105m no sentido Norte Sul e de 115m no
sentido Leste Oeste, sendo subdividida em 20 lotes sendo 12 lotes de 15mx38,75m, 2 lotes
de 15mx 51,25m, 4 lotes de 12,5mx45m e 2 lotes de 12,5mx52,5m. Comparativamente, os
lotes em Londrina eram muito maiores do que a proposta de Howard, que previa lotes de
6mx39m.
O sistema de parcelamento da quadra hum, mostra a preocupação no
desenvolvimento das quatro faces da quadra, com ênfase no sentido Norte Sul onde
observa-se maior número de lotes.
Tendo em vista as ruas serem abertas, aproveitando ao máximo as
características do relevo, tal direcionamento pode ser resultado do fracionamento adequado
à topografia. Ou ainda, solução lógica considerando-se que no projeto as avenidas Rio de
Janeiro e São Paulo seriam os principais eixos de ligação entre a Estação Ferroviária e a
Avenida Paraná. Todas as outras quadras, independente da localização, seguiriam o mesmo
padrão de parcelamento.
Praça em Bandeira Inglesa
Entre os mitos que povoam o imaginário urbano de Londrina, está o da
Praça em forma de bandeira Inglesa. Segundo Joffily (1985), a Praça Marechal Floriano
reproduz no traçado de ruas internas e canteiros a bandeira do Império inglês.
No entanto, a sobreposição de uma cruz e um xis, ou um formato de
asterisco para a morfologia de Praças não constitui novidade na história da urbanização.
Podemos citar a Place des Vosges (1605) em Paris, a Bloomsbury Square
(1731) em Londres entre inúmeros exemplos, como precedentes deste tipo de lay out.Em
alguns momentos, a geometria simples e funcional, lembra as soluções clássicas de Praças
Francesas dos séculos XVII~XIX, publicadas por Patte, a Memoires sur les objects plus
importantes de l’Architecture (Zucker,1959).
Nas plantas de Londrina de 1938 e 1939, todas as Praças do centro são
representadas em forma de asterisco.
Apesar disso, é importante a coexistência do mito e da verdade. O projeto
da Praça, era um traçado asterisco comum em todas as frentes de colonização. Para o
imaginário da população, a Praça certamente continuará sendo afetivamente como sendo a
da “bandeira”, independente do mastro erguido em 1944 para solenidades cívicas ou da
“bandeira inglesa”.
30 000 habitantes
Afirma-se que freqüentemente que Londrina fora projetada para 30 000
habitantes. Alguns pesquisadores relacionam este número à população ideal de 32 000
habitantes: 30 000 na cidade e 2000 no entorno, enunciada por Howard no diagrama de
Garden Cities. A proposta previa, para alocar essa população, um total de 5000 lotes de 6m
x 39m (Howard, 1974).
Se considerarmos que no plano inicial de Londrina conta-se cerca de
1360 lotes, mesmo considerando as chácaras, a população ficaria bem aquém daquele total
preconizado.
Talvez a cidade de 30 000 habitantes tenha sido imaginada como
dimensão ideal, baseada nas experiências e observações.
Breve Morfo Genealogia
À época do projeto de Londrina, realizavam-se na Europa os Congresso
de Arquitetura Moderna- CIAM que culminariam na elaboração da Carta de Atenas (1933).
No Brasil, dava-se continuidade ao processo de modernização de Capitais como recusa às
cidades coloniais. No projeto de Goiânia (1934), seus projetistas citam como modelos as
Cidades Jardins, além de Washington e Versailles. (Yamaki, 2003). No Norte do Paraná,
algumas Companhias de Colonização como a BRATAC, iniciavam empreendimentos com
glebas rurais e núcleos urbanos. Em Assaí (1932), obedecendo ao slogan da Companhia
que era educação e saúde, a Escola e Hospital ficavam em locais estratégicos na malha
ortogonal com diagonais a meia encosta. Os precedentes de Assaí eram as colônias de
imigrantes japoneses e as cidades de Bastos e Pereira Barreto no Estado de São Paulo.
A proposta de Jatahy, de autoria de Mabio Palhano (1930), projetado
junto à curva do rio Tibagi, traz um plano que se assemelha às Cidades Ideais, uma malha
ortogonal com praças distribuídas geometricamente, e margeada por uma avenida
arborizada e chácaras no entorno.
Assaí e Jatahy, apresentam características morfológicas similares a
Londrina, apresentando no entanto diferenças na estruturação e definição de centralidades.
Na semelhança de morfologia com o plano inicial de Londrina, pode-se
citar Circleville (1810) nos Estados Unidos. O plano se apropria de estruturas geométricas
pré-existentes dos aborígines, e desenvolve-se como sobreposição de um quadrado e um
círculo. (Fig.06-Circleville 1810)
A espiral imaginária de expansão de Londrina por sua vez, pode nos
remeter à distante Cidade na Colina de autoria de Martini (séc.XV).
Londrina traz impregnada no seu traçado, outras cidades, outras
experiências. “Um modelo de cidade do qual extrair todas as cidades possíveis”, como
descreveu Kublai Khan a Marco Polo, em Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino (1990).
Londrina pode ser considerada Cidade Ideal.
Mais do que invenção, as cidades são o resultado de um complexo
processo de transplante de modelos, imagens ideais e de reincorporação de tradições.
Sob essa perspectiva, as terras da Companhia de Terras Norte do Paraná
podem ser consideradas um grande laboratório de Culturas Espaciais. Projetistas de origens
e formações variadas marcaram com seus traços, a micro e a macro morfologia, o espaço
que seria vivido por dezenas de etnias.
É possível que tenha havido, tênues influências do ideário europeu no
projetar cidades e planejar a região. Mas, o mais provável é que, os estudos de precedentes
de colonização e saberes sedimentados, tenham sido o grande motivador nos projetos de
espacialização no Norte do Paraná.
Sob o ponto de vista do Patrimônio Cultural, o plano inicial da
Companhia de Terras define a gênese da cidade, e local onde deve-se desenvolver projeto
específico. Assim, os elementos definidores da elipse, os eixos e diagonais como a Avenida
Paraná, a saída para Nova Dantzig, e o entorno da linha férrea são regiões onde deve-se
desenvolver projetos estratégicos.
Por outro lado, o estudo de mitos e lendas da cidade, por fazerem parte do
imaginário popular, tais como Praça em Bandeira Inglesa, Praça em forma de Picadilly
Circus, Sete portas da cidade, entre outros, devem ser inventariados.
2.2 Leitura 2: Tradição e Rejeição – Casas de Madeira versus Casa de Material
A Londrina de 1930-60 era uma cidade de madeira, onde as construções
denunciavam na forma do telhado e ornamentos de fachada, o repertório e a origem variada
dos construtores. Dentre eles, destacavam-se os mestres carpinteiros italianos, espanhóis, e
japoneses- que adaptaram sistematicamente o construir e o morar tradicional.
As Plantas de Aprovação de Projetos, confeccionadas por engenheiros
compatibilizando a construção e projeto, constituem importante acervo documental da
arquitetura vernacular e vernacular-imigrante Londrina.
Leis de Restrição às Casas de Madeira
Apesar da predominância na paisagem, a Companhia de Terras Norte do
Paraná tentava construir uma imagem de cidade higienista e com princípios estéticos onde a
exclusão de casas de madeira era evidente.
Já em 1939, o Decreto 29 considerava a necessidade de ser proibida a
construção de casas de madeira nos principais trechos da zona urbana, para melhorar seu
aspecto de urbs moderna.
Em algumas ruas da cidade ficava proibida toda e qualquer construção de
madeira, sendo a infração sujeita a multa e demolição.
Tal resolução era difícil de ser obedecida. Crônica de 1946 sugeria o
abrandamento da proibição, devido à “necessidade de solução do problema da habitação
através de construção de casas populares em madeira, que não venha a prejudicar a estética
da cidade.”
Apesar disso, a CTNP insistia na construção de imagem de cidade de
alvenaria ou material. Editorial na revista Pioneira dizia: “Esse contraste entre os modernos
edifícios de material e primitivos casebres de madeira tende a desaparecer, em breve, do
centro de Londrina” ou ainda “....grande parte do que se constrói agora é de material. Já não
são mais casas de madeira construídas por quem vinha com a intenção de ganhar dinheiro,
fazer fortuna e voltar....”
A Lei 133 de 1951, lei de Loteamento que teve a consultoria de Prestes
Maia, sugeria a aplicação de idéias de unidades de vizinhança, cidade jardim, bairro jardim,
cidades lineares e outras concepções urbanísticas referentes a organização e conjuntos.
Mais que isso, considerava a necessidade de tratamento arquitetônico e paisagístico de
acordo com o ambiente residencial.
Restrições às edificações de madeira situadas no polígono central,
informando que “nas edificações existentes serão permitidas serviços de limpeza, consertos
ou alterações que visem satisfazer as condições mínimas de segurança e higiene”, seguiu-se
com o Código de Obras de 1955
À margem das discussões oficiais de extinção gradual , os anos 40-50
constituem o auge das construções em madeira realizadas pelos Mestres Carpinteiros e
Construtores no Norte do Paraná.
A continuidade da tradição, a abundância do material e o domínio técnico
entre outros fatores, definiram o aceite quase irrestrito deste tipo de construção entre os
imigrantes, quase independente de sua situação financeira.
Publicação comemorativa dos 15 anos da Colônia Internacional, como a
região era conhecida pelos imigrantes japoneses, mostrava a quase totalidade das casas
fotografadas como cenário de fundo, em madeira
Plantas Gráficas
As plantas de aprovação, documentação existente no Cadastro da
Prefeitura Municipal são cópias heliográficas sem tamanho padrão.
O desenho resultante é quase um esquema, em escala 1:100 ou 1:50. Consta que a
Prefeitura exigia que se representassem graficamente somente as peças maiores que
10cm. Consequentemente não eram representados os elementos principais de identidade
da fachada da casa.
Em alguns casos, os cortes apresentavam a estrutura do telhado,
dimensionamento das peças e indicação de uso de telha francesa. A tesoura quando
representada, é a tradicional local.
Os esquemas apresentam usualmente a locação ou implantação, planta,
fachada e cortes longitudinal e transversal, além do carimbo com nome do proprietário e
responsável técnico. O nome do mestre carpinteiro não constava do documento.
Os aposentos eram denominados de quarto, sala/sala visitas/sala jantar,
copa/cozinha, alpendre/varanda/terraço, despensa e banho/wc.
A dissociação entre o projeto legal e a obra pode ser constatada em alguns
projetos construídos rebatidos, e a ausência de projetos de aprovação em muitos outros;
talvez extraviados ou que nunca tenham existido.
Espacialização Interna
A análise do projeto legal das casas analisadas, permite deduzir uma
variedade tipológica restrita, além da não fluidez resultante da compartimentação interna e
a não permeabilidade interior exterior.
A casa posicionada elevada em relação ao terreno, tinha via de regra a
sala na frente, a cozinha nos fundos, quartos com acesso direto à sala, corredor quase
ausente, banheiros externos ou semi-externos, atendendo o programa da moradia. Tais
compartimentos eram dispostos em duas linhas, sendo uma constituída de
varanda/sala/cozinha e a outra aposentos.
Nos anos 50, existiram em Londrina centenas de casas de madeira com
traços fortes de identidade, como obras de mestres carpinteiros. Há de se supor a existência
de razoável número de plantas de aprovação que, se não apresentam todos os detalhes
construtivos, permitem identificar os elementos de definição de tipologias.
Os projetos permitem identificar a planta, o tipo de estrutura do telhado e
as dimensões das peças, importantes à analise de técnica construtiva tradicional.
Mais importante, é o resgate ainda que gráfico, de um sem número de
construções já demolidas que não resistiram à implacável linha do tempo, e que existem
somente na memória dos pioneiros.
Passados mais de 50 anos, tais construções vem desaparecendo
rapidamente. Uma das dificuldades encontradas é a falta de mestres carpinteiros
qualificados na reabilitação, além da modificação dos valores na sociedade.
No caso da arquitetura vernacular da imigração japonesa, o sistema de
construção em encaixes, deveria resultar numa aparência simples, apesar de sua resolução
interna complexa. As sambladuras, apesar do trabalho na sua confecção, tornavam-se
invisíveis após a construção. Os mestres carpinteiros imigrantes, infelizmente não fizeram
escola, e poucos foram os que quiseram “roubar” suas técnicas.
Desaparecendo os mestres carpinteiros, esvaindo-se sua técnica milenar,
restam as casas vernaculares e as ferramentas hoje espalhadas, como testemunho de
momento significativo da história da técnica construtiva, e da contribuição ainda que pouco
reconhecida no Brasil.
2.3 Leitura 3: Sobrevida das Construções de madeira no Quadrilátero Nobre de
Londrina
Quadrilátero Nobre
A região delimitada pela Avenida JK, Higienópolis e Mossoró, junto ao centro histórico
de Londrina, é região considerada nobre na cidade, devido à alta concentração de
edifícios de apartamentos de bom padrão e ser um dos m2 mais caros.
O trabalho iniciado em 1997 foi reavaliado em 2002/3. Surpreende a quantidade de
casas de madeira ainda existentes na região, um total de 66 unidades, bastante superior
ao que uma rápida análise visual permite apreender.
Fatores de Permanência e Substituição
Entrevistas realizadas junto aos moradores da região, bem como a imobiliaristas,
apresentaram como fatores de permanência, o fato de morar há mais de 30 anos e em
alguns casos mais de 50 anos no local, existindo afetividade ao local e à vizinhança, a
dimensão insuficiente do terreno para construir edifícios, entre outros.
Por outro lado, a dificuldade de manutenção, a sensação de insegurança, o fato de ficar
ilhado entre edifícios, a oferta insistente de construtoras, tem sido condicionantes à
demolição.
Estratégias de “atualização”
Em 1997, no primeiro levantamento, notava-se que poucas eram as unidades com algum
tipo de intervenção externa. A pintura, troca de esquadrias por outras quadriculadas e
maiores, além da eliminação do muro, eram algumas estratégias utilizadas ao re-uso.
Cenário hoje
Em levantamento recente, identificaram-se 28 casas que permaneciam com as mesmas
características, mesmo com mudança de uso. Cerca de 16 foram demolidas e
substituídas por construções em alvenaria, 4 abandonadas, e o resto sofreram
modificações como acréscimo em alvenaria e descaracterização da fachada.
Tal cenário mostra que, o re-uso adaptativo proporciona sobrevida às construções. Sua
permanência é importante como suporte a qualidades como convivialidade, afetividade com
o lugar, cada vez mais tênue em nossas cidades. (vide fotos ).
2.4 Leitura 4: Sobrevida dos Grandes Barracões da década de 40-60
Ainda hoje, marcam forte presença na paisagem urbana de Londrina, grandes barracões em
madeira e alvenaria, que abrigavam serrarias, oficinas e principalmente como depósitos de
café e outros produtos agrícolas.
Constituem como marcos visuais e afetivos, importante acervo a ser redescoberto.
Distribuição dos Barracões
Existem atualmente, cerca de meia centena de barracões, que em sua maioria concentram-
se ao longo da antiga linha férrea (Rex, 2003).
Foto dos anos 50, mostra a imponência do Conjunto Cerâmica e Serraria Mortari, com
imensos barracões, e conjunto de 10 chaminés, bem junto ao Centro. (FIGURA 02)
Técnica Construtiva dos Barracões
A técnica construtiva adotada pelos construtores, para vencer grandes vãos adotava a
tesoura ou arco laminado colado em madeira. Esta última, composta de um arco
confeccionados com segmentos de madeira, é um exemplo de otimização do material e
apuro técnico.
Sobrevida dos Barracões
Alguns poucos barracões e conjuntos, vem sendo utilizados de maneira positiva.
É o caso de parte dos 17 barracões localizados na Rua Paraíba, que foram convertidos para
restaurante e boate, mostrando o potencial de reconversão deste tipo de construção.
Preservar os grandes barracões, é preservar símbolos de épocas de desenvolvimento da
cidade e edificações que dão identidade aos lugares. (FIGURA 03)
3. CRITÉRIOS, CLASSIFICAÇÃO PRELIMINAR E CATEGORIAS
3.1 Critérios
Para a definição do que se considerar Patrimônio Cultural em Londrina,
foram considerados os seguintes aspectos, posteriormente descritos na Ficha de Inventário
proposta.
(A) Ser edificação pioneira
Ser uma das primeiras edificações
(B) Interesse Histórico (Valor Histórico, Significado Social)
Trata-se de edificação preservada por estar relacionada a fatos e personagens da história
Identificado e associado com o passado da cidade.
Ex:Marco Zero
(C) Representativo de Épocas de Desenvolvimento / Meios s Modos de Organização do
Espaço
Neste enfoque, leva-se em consideração as edificações que deram suporte à economia em
cada época do desenvolvimento da cidade. As vilas de madeira existentes na cidade
refletem o modo de organização do espaço em épocas iniciais.
Ex:Os barracões de café e algodão, as tulhas para café.
(D) Técnica e Qualidade Construtiva
Através deste enfoque, analisa-se a técnica construtiva. É o caso das casas de madeira, que
outrora predominavam na cidade.
Ex: Casas de madeira projetadas por mestres carpinteiros japoneses
(E) Qualidade Arquitetônica (projetos de autoria, excepcionais)
Algumas edificações são importantes por terem sido projetadas por arquitetos de renome
nacional, ou de projetistas locais com densa produção.
Ex:Os projetos de Vilanova Artigas, Rubens Meister, Américo Sato.
(F) Identidade do Lugar
Algumas edificações marcam fortemente o lugar em que estão inseridas, dando-lhes
significado ao entorno. Outros elementos são marcos paisagísticos, pela escala e
imponência.
Ex: conjunto de edificações curvas na Praça Willie Davids, Chaminé da Mortari, Igreja do
Espírito Santo
(E) Pela Qualidade Tipológica
Alguns padrões consagrados de construções foram insistentemente repetidos,
caracterizando ruas e bairros.
Ex:: As casas de madeira com varanda, e as casas borboleta.
(F) Pelos Saberes Tradicionais
As construções em madeira eram o resultado de aplicação de técnicas tradicionais por
carpinteiros de várias origens.
Ex: Construções de madeira em geral
3.2 Classificação Preliminar
Para efeito de preenchimento posterior da Ficha de Inventário, realizou-se a classificação
preliminar das edificações. Tomou-se como referência inicial, os critérios analisados pelo
IPPUC em estudo de 1997.
(A) Função
Finalidade de uso inicial e atual do imóvel.
Comercial- loja, armazém
Cultural- teatro
Educacional- escola
Hospitalar- hospital
Hoteleira - hotel, pensão
Industrial- fábrica,
Institucional- prefeitura, biblioteca
Recreativa- clube, associações esportivas
Religiosa- igrejas, capelas
Utilitária – caixa d’água, ponte
(B) Material Construtivo
Material predominante e respectiva técnica construtiva.
Madeira- estrutura e paredes em madeira
Alvenaria- estrutura e paredes em alvenaria de tijolos
Mista- fachada em alvenaria e o resto da construção em madeira
Concreto Armado-estrutura em concreto armado
(C) Porte
Térreo
Dois Pavimentos
Três Pavimentos
Quatro Pavimentos
Mais de Quatro Pavimentos
Torre
(D) Linguagem Arquitetônica
Caracterização da edificação conforme a sua expressão estético-arquitetônica ,
representativa de momentos de desenvolvimento da cidade. Preliminarmente pode-se
considerar:
Vernacular / Vernacular Imigrante
Eclético
Proto Moderno
Moderno
Indefinido
(E) Modos de Organização
Maneira como se apresentam as construções no lote, ruas e quadras
Isoladas
Geminada / Alinhada
Conjunto
Vila
Dispersão Homogênea
(F) Elementos de Expressão
Componentes externos e visíveis, que caracterizam determinadas linguagens arquitetônicas.
Implantação
Telhado
Ornamentos
Jardim
Varanda
Interior
Escala
3.3 Categoria
Os elementos componentes do Patrimônio Cultural são divididos em paisagens, acessos,
eixos e caminhos, manchas, conjuntos homogêneos, fragmentos, esquinas e edificações
isoladas.
(A ) Paisagem / Atmosfera
Algumas ruas mantém atmosfera de ruas tradicionais, como resultado de uma
homogeneidade de implantação, forma de telhados, e uso dos espaços.
(B) Acesso Histórico
A leitura da Planta Geral da CTNP de 1937 evidencia a existência de caminhos conectando
o Núcleo Urbano de londrina à região. Recuperar ou sugerir na malha urbana atual os
caminhos iniciais significa resgatar os eixos primários de desenvolvimento da cidade, a
continuidade histórica enquanto qualidade urbana (Yamaki, 1995).
(C) Eixos/Corredores Históricos
Segundo este critério, os acessos transformam-se em eixos históricos na malha urbana
inicial.
(D) Caminho Consolidado
Refere-se a outros eixos significativos, de identidade, que surgiram no decorrer do
desenvolvimento da cidade.
(F) Manchas Urbanas
Alguns bairros sobressaem pela homogeneidade do conjunto, perceptível através do
conjunto de edificações, ou mesmo pelo traçado das ruas.
(G) Conjuntos Homogêneos
É relativamente comum, a existência de conjuntos de edificações semelhantes, construídas
no mesmo período.
(H) Praças e Espaços Públicos
Espaços públicos livres sedimentados no tempo, de forte simbolismo.
(I) Fragmentos Urbanos
Remanescentes de um grupo de edificações utilitárias, partes restantes que possibilitam a
visão histórica do conjuntos .
(J) Esquinas
Espaços pré-praças. Em bairros tradicionais, as esquinas são pontos marcantes, onde se
localizavam bares e armazéns.
(L) Edificações Isoladas
Edificações que pela qualidade construtiva, espacial e afetiva são importantes para a
memória da cidade.
4. MÉTODOS, TÉCNICAS E ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO
4.1 Métodos de Preservação
Segundo Attoe, o entendimento e a rápida expansão da preservação tem
sido acompanhada por um grande número de programas imaginativos, promovendo a
atividade. A preservação é realizada de seis maneiras:
1.Proteção Legal, 2.Multas e Penalidades, 3.Financiamento, 4.Subsídios, 5.Reuso
Adaptativo e 6.Venda de Direito de Construção (Solo Criado)
Em relação ao ítem 1.Proteção Legal, pode-se destacar:
1.1.Indicação Legal (Listagem Oficial)
1.2.Convenções de Restrição
1.3.Guidelines ou Guias de Design ( para manter o caráter das adições novas às edificações
históricas e o design de novas estruturas em contextos históricos)
1.4.Propriedade (posse através de ONGs de defesa do patrimônio)
Em relação ao item 5. Re-uso Adaptativo, afirma Attoe que algumas edificações
históricas podem ter potencial, viabilidade de uso através de projetos mais flexíveis.
Todavia, as possibilidades de transformações físicas e a violação de autenticidade faz
com que devam ser analisadas caso a caso.
4.2 Técnicas
Existem inúmeras técnicas de preservação de edificações. As técnicas,
juntamente com os métodos e estratégias devem fazer parte de orientações básicas relativas
ao Patrimônio. Umezu (in Okawa, 1997), enumera os seguintes. (FIGURA 04)
(A) Preservação no local:
Método tradicional de conservação e restauro. Possibilita o re-uso da edificação para outras
finalidades.
(B) Translado:
Trata-se de método utilizado em pequenas construções, ou edificações de madeira.
Desmantelamento e posterior transporte para outro lugar.
(C) “Envelopar”:
Construir uma outra edificação, encobrindo e mantendo a original.
(D) Preservação da Fachada:
Preservação da parte frontal da edificação, e construção de nova edificação na parte
posterior
(E) Preservação Total das Fachadas:
Preservação da “casca” da edificação, reconstruindo seu interior
(F) Preservação do Interior:
No caso de preservação de espaços e aposentos específicos, existe a possibilidade de
preservação das partes específicas.
(G) Preservação de Fragmentos:
Partes consideradas mais importantes da edificação a ser demolida, são preservadas.
(H) Preservação da imagem:
O projeto incorpora técnicas e detalhes tradicionais.
(I) Contraponto e Harmonia:
A construção de uma nova edificação junto à preservada, de maneira a harmonizar o
conjunto.
4.3 Estratégias: Ponto, Eixo ou Linha, Setor ou Mancha
Na observação das peculiaridades do Patrimônio Cultural de Londrina,
constata-se que a sua riqueza maior, é constituída em grande parte, de edificações simples.
Propõe-se aa estratégia de pontos, eixos e setores, visando fortalecer a
visão de conjunto, potencializando assim as edificações dispersas.(Kuribayashi, 1995)
É o caso dos caminhos históricos, hoje pouco visíveis devido à destruição
sistemática de antigas edificações. Vale lembrar os antigos nomes de ruas, ainda na
memória recente dos moradores, como por exemplo Rua Curytiba, Rua do Lago, etc.
Nos bairros tradicionais como Casoni, Brasil, Nova, unidades-tipo
agrupadas numa mesma rua, ainda hoje mantém atmosferas de épocas de desenvolvimento
da cidade.
Identificar atmosferas, espaços coesos é tarefa essencial. A leitura de atmosferas, em
que ritmo, aberturas, volumes, telhados, cor, recuos e elementos invisíveis intra-quadra,
possam ser descobertos é importante à manutenção de pregnâncias e outras qualidades
essenciais.
Assume portanto, importância cada vez maior, a participação da
comunidade, na organização de acordos de preservação de qualidades no seu próprio bairro.
5. PATRIMÔNIO IMAGINÁRIO E AFETIVO DE LONDRINA
– UMA OUTRA LEITURA DO PATRIMÔNIO CULTURAL-
Ao se transporem seis rios e três cadeias de montanhas, surge
Zora, cidade que quem viu uma vez nunca mais consegue
esquecer. Mas não porque deixe, como outras cidades
memoráveis, uma imagem extraordinária nas recordações.
Zora tem a propriedade de permanecer na memória ponto por
ponto, na sucessão de ruas e das casas ao longo das ruas e das
portas e janelas das casas, apesar de não demonstrar
particular beleza ou raridade....Essa cidade que não se elimina
da cabeça é como uma armadura ou um retículo em cujos
espaços cada um pode colocar as coisas que deseja recordar:
nomes, virtudes,....partes do discurso. (Cidades e a Memória;
Calvino,1990)
Nas atuais discussões sobre a Preservação do Patrimônio Cultural, há um
consenso de que deve haver consulta e envolvimento da comunidade.
Segundo Lavegas (apud SAPELLI,1996):
“a cidade não é somente a fachada de edificações e ruas que a
embelezam. A cidade é um programa cultural que está ligado
estreitamente ao homem, que a vive, representa seu status laboral e
social, suas tradições, sua história e o seu sentir estético. Sem o homem,
seria um conjunto de blocos, cimento e ferro, carente de significados.”
Neste sentido, uma parte do trabalho foi direcionada para a questão
central: o que seria considerado patrimônio para os londrinenses? Re- produzir o
imaginário do patrimônio de Londrina do ponto de vista de seus moradores pode ser uma
das estratégias de construir uma cidade atrativa, um ambiente reconhecível e familiar.
Silva (2001) ressalta que a cidade também é uma imagem que lenta e
coletivamente vai sendo construída. A cidade como lugar de acontecimento cultural e como
cenário de um efeito imaginativo. O que faz uma cidade são os símbolos que os seus
próprios habitantes constróem para representá-la.
Construir o patrimônio imaginário e afetivo, por meio do registro da
participação dos moradores incorpora outros modos de contar a história da cidade, a
chamada memória do lugar, e abre caminhos de diálogos para a implantação de um plano
de preservação do Patrimônio Histórico de Londrina.
Para a compreensão dos elementos imaginários e afetivos da população
sobre Londrina, foi realizado um questionário distribuído no centro da cidade, lugar de
população residente e pendular, totalizando 150 entrevistas. Foram incluídas perguntas para
a identificação e para possíveis correlações entre idade, tempo de moradia em Londrina,
bairro e profissão. A amostragem resultou em tempo médio de moradia de 18 anos para
uma idade média de 32,9 anos.
A pergunta-chave do questionário, referia-se aos elementos importantes
para se preservar e/ou manter como parte da história de Londrina. Foi realizado o
direcionamento em categorias: 1. Casa/ edifício/ construções; 2. Praças; 3. Ruas; 4.
Esquinas; 5. Bairros; 6. Igrejas ou templos; 7. Paisagens; 8. Elementos naturais; 9. Objetos.
Os entrevistados apontaram vários exemplos de uma mesma categoria,
porém as mais evocadas representam, certamente, os símbolos do Patrimônio Histórico de
Londrina. Observa-se que em sua maioria são construções, espaços institucionais ou
mesmo a imagem presente em cartões postais, nas páginas internas das listas telefônicas,
que formam os cenários construídos e adotados no imaginário da cidade.
5.1.Categorias
(A) Casas, Edifícios e Construções
Nesta primeira categoria, os entrevistados apontaram 82 edificações diferentes. No
conjunto citado predominam três, a saber: Museu Histórico, Museu de Arte e a Mansão da
Família Garcia Cid, atual sede do Banco Sudameris.
O Museu Histórico-antiga Estação Ferroviária e o Museu de Arte-antiga Rodoviária, como
espaço de chegada e partida para muitos, a primeira e última forte lembrança da cidade.
A mansão da família Garcia Cid, no alto da então aristocrática Avenida Higienópolis, se
sobressaia pela imponência e símbolo da chamada elite londrinense.
(B) Praças
Apesar do desuso atual das Praças, dentre as 25 praças citadas, os espaços localizados na
área central ainda mantém forte presença na memória. Fotos dos anos 50, mostram praças
vigorosas, bem cuidadas, e relatos de uso intenso.
A Praça Rocha Pombo e a Praça Marechal Floriano são as mais citadas no questionário, não
somente por serem as praças “mais centrais”, mas também por serem espaços com carga
afetiva e simbólica.
A Praça Rocha Pombo, tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual, foi certamente a
primeira paisagem para os pioneiros que chegavam de trem. Hoje, sua proximidade com o
terminal urbano faz com que seja um espaço de passagem diária para muitos.
A Praça Marechal Floriano, entre a Catedral e as Casas Pernambucanas, é espaço mais de
lembrança do que de uso. Existe o mito da bandeira inglesa, no seu traçado em asterisco,
por isso entre outras razões, chamada de Praça da Bandeira.
(C) Ruas
Nesta categoria, foram citadas no total, 42 ruas. Existe predominância de ruas centrais, com
destaque para a Av. Higienópolis, Av. Paraná(Calçadão) e a Rua Sergipe.
A rua Sergipe por talvez ser rua tradicional de comércio, a Av. Paraná por ser o Calçadão, e
a Av.Higienópolis por ser ainda uma das ruas de comércio mais sofisticado.
Nota-se que, existe pregnância dos eixos e caminhos históricos.
(D) Esquinas
Esquinas são quase praças. As construções chanfradas e com acesso pela esquina,
evidenciam momentos em que a esquina era um componente tão importante quanto ruas e
praças.
A esquina da Av. J.K e Av. Higienópolis, embora aparentemente árida, com 17,3% das
respostas, é a mais citada no questionário. Outras 63 esquinas são citadas, quase todas na
área central.
(E) Bairros
A análise da cartografia da evolução urbana de Londrina mostra a formação histórica de
bairros surgindo como “ilhas”ao longo de eixos de ligação. Além do centro projetado pela
CTNP, Vila Casoni e Vila Nova são lembrados como de importância.
Outros 33 bairros citados, referem-se ao bairro de residência do entrevistado, o espaço e
paisagem do cotidiano.
(F) Igrejas ou Templos
Nesta categoria de edifícios de representatividade religiosa, há predominância absoluta de
citações da Catedral de Londrina.
Podem ser considerados elementos de fortalecimento do imaginário: ser a primeira, possuir
uma forte centralidade e, sua implantação no ponto mais alto do espigão central.
(G) Paisagens e Elementos Naturais
Nas respostas ao questionário, paisagens e elementos naturais resultaram em elementos
considerados semelhantes.
O Igapó é um consenso entre os entrevistados.
(H) Objetos
Cerca de 45 objetos foram referenciados pelos entrevistados.
A Concha acústica, tradicional local de manifestações e o Monumento ao Viajante perto da
nova rodoviária, são os mais evocados.
A análise do questionário nos conduz a uma série de conclusões.
Podemos citar por exemplo, uma pesquisa feita entre os moradores de Kobe, no Japão,
logo após o terremoto que literalmente arrasou a cidade. Os espaços que mais ficavam
gravados na memória dos moradores, eram aqueles do dia a dia, espaços reconhecíveis e
familiares, demonstrando a importância da paisagem do cotidiano.
Nas discussões sobre Patrimônio Histórico é imprescindível incluir o aquele construído no
imaginário e representativo de afetividade dos moradores. Decidir a permanência desses
elementos não é uma decisão complexa, pois:
“ A cidade também é o efeito de desejo ou de muitos desejos, que
resistem a aceitar que a urbe não seja também o outro mundo que
quiséramos viver. E também o que vivem e querem que assim seja
(SILVA, 2001, p.xxix)
Museu Histórico
Museu de Arte
Banco Sudameris
Biblioteca Municipal
Cine Ouro Verde
Ed. Júlio Fuganti
Rodoviária Nova
Banco Itaú Personalitté
Ed. Autolon
Rocha Pombo
Marechal Floriano
7 de Setembro
Willie Davis
Bosque
Nishinomiya
1o de Maio
Todas
Av. Higienópolis
Av. Paraná
R. Sergipe
Av. J. K.
Av. Duque de Caxias
R. Souza Naves
R. Quintino Bocaiuva
Av. Tiradentes
Av. Leste-Oeste
Av. Hig. X Av. J.K.
Al. M. Ribas X R. Rio de Jan.
Av. PR X R. São Paulo
Av. PR X R. Prof. J. Cândido
Av. Celso G.Cid X R.S.Naves
Av. PR X R. Minas Gerais
Av. PR X R. Rio de Jan.
R. S. Naves X R. Píaui
Vila Casoni
Centro
Vila Nova
Shangri-lá
Aeroporto
Vila Brasil
Quebec
Vila Iara
Jd. Bela Suiça
Cinco ConjuntosBair
ros
Patrimônio Cultural de Londrina - Análise dos Questionários
Casas/ E
dif
./ C
on
str
.P
raças
Ru
as
Esq
uin
as
Catedral
Presbit. (R. Mato Grosso)
Templo Horganji
Rainha dos Apóstolos
Metodista (Centro)
Mesquita Islâmica R. Faissal
Adventista (Av. J. K.)
Capela UEL
Lago Igapó
Pq. Arthur Thomas
Zerão
UEL
Bosque
Barragem
Fundos de Vale
Mata do Godoy
Salto Apucaraninha
Monumento ao Viajante
Concha Acústica
Relógio da Papelaria Central
Monumento à Bíblia
Coreto do Calçadão
Monumento (Rotatória UEL)
UEL
Zerão
Museu Histórico
Museu de Arte
Moringão
Estádio do CaféOu
tro
s
Patrimônio Cultural de Londrina - Análise dos Questionários (cont.)
Igre
jas/ T
em
plo
sO
bje
tos
Pais
ag
./ E
lem
.Natu
rais
6. LISTAGEM PARA DISCUSSÃO
Segue listagem preliminar para inventário e posterior listagem ou tombamento.
Paisagem
Conjunto Lagos Igapó
Bosque
Visual do horizonte através da do Museu de Arte e Museu Histórico
Eixos Visuais de fundo de vale
Sistema fundo de vale
Skyline centro (vista da rodovia, zona norte)
Paisagem que marquem o parcelamento da CTNP
Acessos históricos
Londrina – Nova Dantzig
Londrina – Heimtal/Warta
Londrina- Cafezal
Linha Férrea
Eixos Históricos
Duque de Caxias
Quintino Bocaiúva
Celso Garcia Cid
Rua Curytiba (atual Jorge Casoni)
Caminhos Consolidados
Calçadão (Av.Paraná)
Rio de Janeiro
São Paulo
Sergipe
Higienópolis
Setores ou Manchas Urbanas
Centro Histórico
Vila Casoni
Shangri-lá
Vila Nova
Vila Brasil
Vila Matos
Conjunto das Flores
Heimtal
Espirito Santo
Warta
Colônia Coroados
Conjuntos Homogêneos
Rua Caraíbas (comércio)
Conjunto Aeroviários Aeroporto
Conjunto das Flores
Rua Guaranis
Ruas na Vila Casoni
Vila Brasil (travessas)
Vila Nova (travessas)
Vila Casoni (ruas e vilas)
Conjunto Autolon e Cine Teatro Ouro Verde
Praças e Espaços Públicos
Praça Rocha Pombo
Praça Marechal Floriano
4 Praças centro (Praça Willie Davids/Primeiro de Maio/7 Setembro/Gabriel Martins)
Praças seqüenciais Shangri-lá
Praças da Humaitá
Praças Quintino
Largo Fuganti
Fragmentos Urbanos
Chaminé da Mortari
Portal I e II Mortari
Barracões Leste Oeste (Antiga Serraria e Cerâmica Mortari)
Barracões rua Paraíba (Sahão)
Remanescentes rurais na Av. São Jõao
Esquinas
Esquinas/arquitetura de esquina
Caraíbas – madeira
Pará x Mato Grosso
Sergipe x Minas Gerais
Edificações Isoladas
Anônimas
Casarão Duque de Caxias
Construções Em Madeira - Imigração Japonesa e outras imigrações
Comércio em madeira
Edificações mistas
Autor/Casas Artigas/Cascaldi
Igrejas e Templos
Catedral
Igreja Budista
Igreja Batista
Igreja Episcopal
Igreja rua Brasil
Igreja rua do Bosque
Templo Honganji
Capela Mãe de Deus
Igreja Heimtal Católica e Presbiteriana
Igreja Espirito Santo
Igreja Shangri-lá
Além, das categorias citadas, alguns outros elementos devem ser considerados:
Elementos Utilitários / Mobiliário
Chaminé Mortari
Caixa dágua Higienopolis
Antigo Bebedouro na Duque de Caxias com Benjamin Constant
Bueiro de 1942
Bancos com apoio em esfera na Praça Marechal Floriano
* Calçada antiga em pedra bola, assentes em diagonal
Denominações Históricas (ruas, praças, bairros) patrimônio adotado / imaginário coletivo
Leste Oeste, Via Expressa
Estrada dos Pioneiros
Rua do Lago
7. FICHA DE INVENTÁRIO
7.1 Inventário como Processo
Conhecer é o primeiro passo para preservar as referências culturais. O fato
de explicitar e, se possível documentar, é chamar a atenção para a sua dimensão cultural, e
para a possibilidade de perda dos marcos referenciais. (LONDRES in MOTTA, 1998 p.38)
Segundo Azevedo (1998), a par de sua função básica de identificação e
gestão de bens de interesse cultural, o inventário tem efeito conscientizador e legitimador
muito importante.
A Carta de Atenas, já nos anos 30, recomendava um inventário de
monumentos históricos nacionais que deveria ser acompanhado de fotografia e de
informações
A paradigmática Carta de Veneza de 1964– Carta Internacional sobre
conservação e restauração de monumentos e sítios, afirma que os trabalhos de preservação
deverão ser acompanhados pela elaboração de documentação precisa, sob a forma de
relatórios analíticos e críticos, ilustrados com desenhos e fotografias.
Assim afirma a Carta de Petrópolis(1987):
“No processo de preservação do sítio urbano histórico, o inventário
como parte do processo não só de análise e compreensão da realidade,
constitui-se em ferramenta básica para o conhecimento do acervo
cultural e natural. A realização do inventário com a participação da
comunidade proporciona não apenas a obtenção do conhecimento do
valor por ela atribuída ao patrimônio, mas também o fortalecimento dos
seus vínculos em relação ao patrimônio.”(Art.8)
De fato, inventariar tem sido um dos processos recorrentes no processo de
preservação do Patrimônio Cultural., como atesta a publicação Inventários de Identificação
(MOTTA, 1998).
O programa nacional de Reabilitação Urbana de sítios históricos, em
desenvolvimento pelo IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(2001), define os seguintes Instrumentos de Identificação do Patrimônio Cultural:
1. Inventário de Bens Arquitetônicos – registro sistemático de bens tombados
individualmente e de tipologias excepcionais nos tombamentos dos conjuntos
2. Inventário Nacional de Bens Imóveis em Sítios Urbanos Tombados – pesquisa
histórica, levantamento físico-arquitetônicos, urbanísticos, tipológicos, morfológicos,
sócio econômicos e afetivos.
3. Inventário de Configuração de Espaços Urbanos – dimensões morfológicas do
processo de urbanização, para avaliar a identidade configurativa dos sítios urbanos
tombados.
4. Inventário Nacional de Referencias Culturais – identificar bens culturais segundo as
categorias: celebrações, formas de expressão, ofícios e modos de fazer, edificações e
lugares.
Observa-se que atualmente o inventário não possui apenas a idéia de
catalogação de edificações, mas também as identidades configurativas e afetivas, além de
aspectos como celebrações e saberes.
Em relação ao método de coleta de dados preliminar, resolveu-se adotar
critérios não tão somente arquitetônicos e estilísticos, mas também a consulta à comunidade
para identificação dos bens. Um meio de se iniciar um diálogo com a memória da
comunidade, no processo de democratização cultural.
7.2 Modelos de Ficha de Inventário
Para a elaboração da Ficha de Inventário de Londrina, utilizaram-se como
parâmetros os critérios adotados no Plano de Discussão do Plano de Diretor de Londrina-
1995, e de modelos de outras Fichas de Inventário. A saber: Ficha de Inventário do
CONDEPHAAT da Secretaria do Estado da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de
São Paulo, Ficha de Reconocimiento do Inventário Paisajistico del Area Metropolitana de
Montevideo, Ficha de Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Secretaria da Industria
e Comércio do Estado da Bahia, Ficha de Inventário de Proteção do Acervo Cultural de
Minas Gerais, Ficha do Inventário do Patrimônio Urbano e Cultural de Belo Horizonte,
entre outros.
Os inventários realizados no Estado do Paraná foram considerados
relevantes, como referência próxima às questões regionais, como por exemplo, o Inventário
de Proteção do Acervo Cultural da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, a Ficha do
Patrimônio Edificado de Curitiba e a Ficha de Inventário da Cidade de Assaí(PR).
A análise das fichas existentes, permitiu uma síntese em dois tipos de Fichas de
Inventário:
1. Ficha de Inventário do Patrimônio Arquitetônico e
2. Ficha de Inventário do Patrimônio Urbano-Paisagístico
Em ambas as fichas, além da numeração, existe um quadro analítico onde, de acordo com a
significância, a edificação ou paisagem é considerada neutra, importante ou excepcional.
A Ficha de Inventário Arquitetônico abrange os seguintes itens:
- Identificação de localização– endereço, quadra/lote, bairro/distrito, data de construção e
identificação do morador – proprietário/inquilino e telefone de contato.
- Caracterização geral do imóvel – uso atual e inicial, alterações, estado de conservação dos
principais elementos construtivos relevantes na questão de processos de preservação.
- Significância do imóvel.
- Descrição sumária.
- Fotos ou Croquis da obra
- Fontes de consulta
- Inserção Urbana
- Identificação complementar, caso existam dados sobre o projetista ou construtor e data de
aprovação ou habite-se nos arquivos da PML.
A Ficha de Inventário Urbano -Paisagístico por sua vez, insere as categorias como praça,
esquina, rua, caminhos históricos, bairros, conjunto homogêneo, fragmentos urbanos e
paisagem. A Ficha de Inventário abrange os seguintes itens:
- Identificação de localização– endereço, quadra/lote, bairro/distrito, data de construção ou
formação
- Caracterização geral– uso atual e inicial, alterações, estado de conservação dos principais
elementos construtivos relevantes na questão de processos de preservação.
- Significância tais como características morfológicas, tipológicas, referências paisagísticas.
- Descrição histórica da formação do local
- Fotos ou Croquis da obra
- Fontes de consulta
- Inserção Urbana-análise do elemento em questão e seu entorno
- Identificação complementar, caso existam dados sobre o projetista ou construtor e data de
aprovação ou habite-se nos arquivos da PML.
A Ficha reflete a estratégia adotada de preservação do Patrimônio
Cultural em pontos, eixos e manchas, ou seja, da edificação isolada aos conjuntos de
edificações e bairros.
7.3 Fichas De Inventário – Arquitetônico e Urbano-Paisagístico
Fichar e inventariar deve ser um processo sistemático. A seguir,
apresenta-se exemplos de elementos inventariados para o direcionar futuros levantamentos.
8. DISCUSSÃO DE LEGISLAÇÃO POSSÍVEL DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO
CULTURAL-PANORAMA
Este breve panorama da legislação sobre preservação do patrimônio, os
caminhos percorridos, a evolução dos conceitos e enfoques, e pretende situar nesse
conjunto, a proposta de legislação para Londrina.
Inicialmente é preciso destacar que em relação à Legislação de
Preservação, existem: as Cartas, Recomendações e Declarações Internacionais adotadas
pelo ICOMOS-Conselho Internacional de Monumentos e Sítios da UNESCO, Leis
Federais, Estaduais e finalmente Municipais.
8.1 Cartas Internacionais
Entre as Cartas adotadas pelo ICOMOS vale destacar: Carta de Veneza
(1964) – Carta Internacional para Conservação e Restauro de Monumentos e Sítios, Carta
de Burra (1981) – Carta de Conservação de Lugares de Significância Cultural, Carta de
Washington (1987) – Carta de Conservação de Cidades Históricas e Áreas Urbanas, Carta
de Brasília (1987) – Sobre Preservação e Revitalização de Centros Históricos, Documento
de Nara (1994) – Conferência sobre Autenticidade em relação ao Patrimônio Mundial.
A primeira reunião internacional, resultado do Primeiro Congresso
Internacional de Arquitetos e Técnicos em Monumentos Históricos, ocorreu em Atenas em
1931. A Carta de Atenas, chamada “Carta del Restauro”, definia alguns princípios
fundamentais, e entre suas resoluções, a necessidade de proteção aos monumentos através
de técnicas modernas, com atenção especial ao seu entorno.(anexo 1)
A década de 60 seria decisiva para o patrimônio cultural em todo o
mundo (AZEVEDO In: MOTTA, 1998). Já em 1962, com a Recomendação de Paris,
ampliam-se as categorias a serem preservadas, incorporando o elemento natureza ou seja, a
“salvaguarda da beleza e do caráter das paisagens e sítios”.(anexo 2)
O Segundo Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos em
Monumentos Históricos, reunido em Veneza, em 1964, aprovaria a Carta Internacional
sobre Conservação e Restauração de Monumentos e Sítios, intitulada Carta de Veneza.
A Carta de Veneza se tornaria um dos paradigmas. No seu artigo 1o
, a noção de
monumento histórico é definido como:
Compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou
rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução
significativa ou de um acontecimento histórico. Entende-se não só às
grandes criações, mas também as obras modestas, que tenham adquirido,
com o tempo, uma significação cultural (ICOMOS, 1964).
Delineia-se a partir daí, o princípio de que a chamada arquitetura
vernacular também deveria ser considerada patrimônio. A Carta traz também importantes
considerações sobre conservação e restauro, alertando sobre a necessidade de utilização de
todos os recursos de técnicas modernas, de eficácia comprovada cientificamente. Na
conservação, a necessidade de permanente manutenção, destinação de uso social, e a sua
indissociabilidade do meio. Sobre a restauração, considerada operação de caráter
excepcional, admite a anastylose- recomposição de partes existentes, mas jamais a
reconstrução do edifício. (anexo 3)
Nas Cartas Patrimoniais subsequentes, são incluídas a necessidade de um
diálogo com a comunidade, a salvaguarda do patrimônio mundial, cultural e natural, a
ampliação do conceito de patrimônio cultural, sendo incluídos além dos monumentos, os
conjuntos e lugares, a ênfase no patrimônio ambiental.
Em 1981, o ICOMOS Australia publica a Carta de Burra sobre a
Conservação de Lugares de Significância Cultural. São apresentadas definições entre elas:
bens, significação cultural, substância, conservação, manutenção, preservação, restauração,
adaptação. Define princípios, processos de Conservação, Preservação, Restauração,
Reconstrução e Adaptação e práticas. O objetivo da conservação, segundo a Carta de Burra
é conservar ou recuperar a significância cultural de lugares, incluindo aspectos como
segurança, manutenção e futuro. (anexo 4)
Deve-se destacar ainda a Carta Internacional para a salvaguarda das
cidades históricas – Carta de Washington de 1986, que, refere-se as cidades, centros ou
bairros históricos que exprimem valores de civilizações urbanas tradicionais. (anexo 5)
A contrapartida brasileira, seria a Carta de Petropolis de 1987, resultado
do 1o Seminário Brasileiro para preservação e revitalização de centros históricos.(anexo 6)
Por sua vez, a Conferencia de Nara realizada em 1994, no Japão, ressalta
a importância da valorização da diversidade cultural e de patrimônios diferenciados e
discute os valores e autenticidade, inseridos no seu contexto. Em relação à Carta de Veneza
(1964) que privilegiava edificações ocidentais em pedra e tijolo, a Carta de Nara(1994)
coloca em foco a discussão sobre as edificações em madeira, que predominam na Ásia. No
Japão por exemplo, a técnica tradicional de restauro prevê a substituição de partes e peças
deterioradas, dando assim sobrevida ao conjunto. (anexo 7)
Interessante observar que, no caso das construções de madeira em
Londrina, a discussão sobre preservação e restauro deverá considerar a questão da
autenticidade e da técnica construtiva suporte.
Por último, devemos destacar a Recomendação R(95) 9 do Conselho da
Europa, que fala sobre a conservação integrada de paisagens culturais como integrantes das
políticas paisagísticas. Assim é definido o termo paisagem:
Paisagem- expressão formal dos numerosos relacionamentos existentes
em determinado período entre indivíduos ou uma sociedade e um
território topograficamente definido, cuja aparência é resultante de ação
ou cuidados especiais, de fatores naturais e humanos e de uma
combinação de ambos.
Paisagem é considerada em um triplo significado cultural, porquanto,
-é definida e caracterizada da maneira pela qual determinado território é
percebido por um indivíduo ou uma comunidade;
-dá testemunho ao passado e ao presente do relacionamento existente
entre os indivíduos e seu meio ambiente;
-ajuda a especificar culturas locais, sensibilidades, práticas, crenças e
tradições.
A Recomendação refere-se à conservação de áreas de paisagem cultural,
particularmente às áreas suscetíveis a avarias, destruição e transformação prejudicial ao
meio ambiente. Encaminha o processo de identificação e avaliação das áreas de paisagem
natural, estratégias de ação e conservação de paisagens
8.2 Legislação Federal
O Brasil, de certa maneira, acompanha as preocupações internacionais
sobre a preservação, elaborando Cartas nacionais sobre o assunto. Historicamente, é no
Artigo 148 da Constituição Federal de 1934 que define a proteção ao acervo monumental e
arquitetônico como um princípio constitucional (Apud Brasileiro, p.80).
Em decorrência dessa primeira manifestação constitucional, é elaborado o
Decreto 25 de 30 de novembro de 1937, que organiza a proteção do patrimônio histórico e
artístico nacional, cria o SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e
reforça o tombamento como instrumento de preservação.
Na Constituição Federal de 1988, observa-se a ampliação do conceito de
patrimônio, além de instituir outros instrumentos de preservação.
“O Poder Publico, com a colaboração da comunidade promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários,
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas
de acautelamento e preservação” (Art. 216, V, §1).
A Constituição Federal de 1988, amplia o conceito de patrimônio cultural.
“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referencia à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I-as formas de expressão;
II-os modos de criar, fazer e viver;
III-as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV-as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V-os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”
Segundo Brasileiro, confere força aos Municípios, dando alento à
preservação do patrimônio cultural, e ressalta a questão da função social da propriedade,
em que o interesse público sobrepõe-se ao privado.
A Conferencia Internacional do Meio Ambiente, realizada no Rio de
Janeiro em 1992, institui como proposta necessária, buscar um Desenvolvimento
Sustentável na convergência dos aspectos ambientais e sociais. Como resultado, estratégias
são definidas no documento resultante – a Agenda 21, que enfatiza para a aperfeiçoar o
manejo dos assentamentos humanos a Promoção do Desenvolvimento Sustentável:
“Melhorar o meio ambiente urbano promovendo a organização social e a
consciência ambiental por meio da participação das comunidades locais
na identificação dos serviços públicos necessários, do fornecimento de
infra-estrutura urbana, da melhoria dos serviços públicos e da proteção
e/ou reabilitação de antigos prédios, locais históricos e outros elementos
culturais...”
Ainda sobre a discussão do patrimônio cultural, foi publicado em Agosto
de 2000, o Decreto 3551 que institui o registro de bens culturais de natureza imaterial que
constituem patrimônio cultural brasileiro e cria o Programa Nacional do Patrimônio
Imaterial.
O decreto em questão, identifica os saberes-conhecimentos e modos de
fazer enraizados no cotidiano das comunidades, celebrações- rituais e festas de vivência
coletiva, formas de expressão- manifestações literárias, musicais, plásticas e lúdicas,
lugares-mercados, feiras e praças onde se concentram práticas culturais coletivas.
Saberes e lugares emergem como elementos a serem considerados dentro
do chamado patrimônio cultural.
No também recentemente promulgado Estatuto da Cidade – Lei n.10.257
de 10 de Julho de 2001, podemos observar os seguintes pontos:
Capitulo I – Diretrizes Gerais
Art 2a. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana,
mediante as seguintes diretrizes gerais:
XII – Proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e
construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e
arqueológico.
O Estatuto da Cidade deverá vigorar a partir de 5 anos após sancionada a
Lei. Todas as cidades estão obrigadas a re-adequar suas legislações de política urbana,
incorporando diretrizes ainda não contempladas. Significa que diretrizes gerais de
patrimônio histórico deverão ser desenvolvidas pelas instâncias de planejamento e cultura.
Na esfera municipal, o Estatuto possibilita a eliminação de distorções dos instrumentos
legais usuais, que desconsideram os aspectos locais, gerando um certo distanciamento da
população no processo.
8.3 Legislação Estadual
Em relação ao Estado do Paraná, ainda nos anos 1940, são inscritos no
Livro do Tombo do SPHAN, algumas obras do período colonial em Paranaguá e Guaratuba
além de edifícios religiosos na Lapa.
Porém, somente em 1948 é criado o Conselho Consultivo do Patrimônio
Histórico e Artístico do Estado do Paraná, como resposta ao Decreto 25 de 1937.
Em 16 de setembro de 1953 é aprovada a Lei n. 1.211/53 que dispõe
sobre o Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Paraná. Constitui o conjunto de bens
móveis e imóveis que a sua conservação seja de interesse público e, deverá estar inscrito
em um dos Livros do Tombo.(anexo 9) Segundo Kersten (2000), apesar de ser aprovada
em 1953 a lei somente foi regulamentada em 1977, não havendo processo de tombamento
no Estado na década de 50. Os primeiros bens tombados, na esfera estadual, referem-se a
edificações de certa representatividade histórica e monumentalidade como Igrejas, palácios
e museus.
Em virtude das discussões sobre patrimônio e a abrangência de conceitos
e definições, outras tipologias de bens foram incluídos nos processos de tombamento
estadual.
Em relação à Londrina, são três os bens tombados, inscritos nos Livros do
Tombo na Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná: o conjunto Estação
Rodoviária João Batista Vilanova Artigas, a Praça Rocha Pombo e o Cine Teatro Ouro
Verde.
O conjunto Estação Rodoviária de Artigas e a Praça Rocha Pombo, foram tombados em
1975, no processo n. 53, inscrição 52 e processo n. 54 inscrição 53, no Livro do Tombo
Histórico. Segundo Lyra (1994), a rodoviária foi considerada por ser edifício pioneiro da
arquitetura moderna do Paraná e, a praça por integrar-se de maneira expressiva à
edificação, ambientando. O Cine Teatro Ouro Verde, é expressão da arquitetura
moderna no Paraná. Tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado, em 1999, é símbolo
do otimismo e ousadia que caracterizaram a região.
8.4 Legislação Municipal
Londrina nasceu como “cidade de madeira”. Apesar da predominância de
construções em madeira, toda legislação urbana direcionava à sua transformação em urbs
moderna, o que implicava na construção “em material”. O decreto 29 de 1939, proibia a
construção de casas de madeira nos principais trechos da cidade. Tal preocupação pode ser
observada no Código de Obras de 1955, que permitia somente a manutenção nas casas de
madeira existentes.
No projeto de Re-desenho do Pátio Ferroviário em 1984, havia proposição de
preservação de barracão da rede e manutenção da paisagem. O barracão serviria como
apoio ao futuro Museu. O horizonte, no conjunto Rodoviária, Rocha Pombo e
Ferroviária, deveria ser preservado como patrimônio. Infelizmente, o projeto foi
implementado somente parcialmente, impossibilitando a preservação do barracão, bem
como a preservação da visual do horizonte.
Em 1995, a questão da preservação foi novamente inserida no Documento de Discussão
para o Plano Diretor de Londrina.
Documento base para a elaboração do Plano Diretor, e realizado pelo IPUUL – Instituto
de planejamento Urbano de Londrina trazia um conjunto de recomendações relativas ao
patrimônio cultural edificado.
Definia como Áreas de Interesse Histórico-Morfológico: Acessos Históricos, Centro
Histórico, Vila Casoni, Jardim Shangri-lá, Heimtal, Patrimonio de Warta e o Patrimonio do
Espírito Santo, já incorporando discussões internacionais e nacionais na abrangência de
escala de bairros e áreas de interesse histórico.
Individualmente são definidos: o elemento a ser preservado, seu significado e qualidade e
os possíveis procedimentos para a manutenção das características locais.
No entanto, somente a Vila Casoni e o Heimtal, foram incluidos no Plano
Diretor de Londrina de 1997, inserida no Projeto de Lei n.004/97 – Lei de Uso e Ocupação
do Solo, como ZEOC - Zona Especial de Ocupação Controlada:
“destina-se a regular áreas de interesse específico de proteção do patrimônio cultural,
histórico, artístico e paisagístico. Deve-se procurar manter a área com tipologias
distintas, espaços e edificações significativas, fortalecendo a identidade e promovendo o
senso de comunidade.
A ZEOC Casoni destina-se à manutenção das qualidades espaciais
tradicionais do bairro pioneiro de Londrina, e a ocupação “não-planejada”
consagrada” (Art. 32 § 1ª).
As unidade tipos, casa térreas isoladas, em madeira ou alvenaria, e as
vilas de fundo de lote são ocupações tradicionais, a serem incentivadas
nos casos de ampliação, reforma ou substituição, observadas as
seguintes normas:
I – os recuos de origem, variados no bairro, poderão ser mantidos;
II – a edificação da frente do lote deverá manter a tipologia de nível
tradicional;
III – as edificações poderão ter no máximo dois pavimentos;
IV – a construção de vilas é permitida, mantidos os índices urbanísticos;
V – isenta-se de vagas de estacionamento o lote, no caso de manutenção
de edificação significativa e/ou reconstrução original, segundo critérios
de preservação do patrimônio;
VI – os acesso as vilas de fundo de lote poderão ter largura máxima de
2.50m, mantida a unidade frontal tradicional; (Art. 32 § 2ª).
Em relação ao Heimtal, ZEOC –3, previa-se a manutenção das
características do núcleo Pré-Londrina englobando a avenida principal e a praça circular
(Art. 33). As novas edificações nos lotes voltados à praça deverão manter e fortalecer o tipo
de construção e obedecer o alinhamento (Art. 33 § 1ª).
Os lotes junto a avenida principal deverão manter as dimensões mínimas
originais, observadas as seguintes normas:
I – taxa de ocupação de 50%
II – coeficiente de ocupação de 1,0 (Art. 3 § 2.).
Nos loteamentos próximos ao Heimtal, as quadras vizinhas deverão
manter as dimensões da malha original, sendo no entanto livre a
subdivisão de quadra (Art. 33 § 3). Os loteamentos novos, próximos ao
Heimtal, deverão localizar os espaços livres junto a Avenida Principal,
fortalecendo a centralidade (Art. 33 § 4ª).
Embora, as outras áreas de interesse Histórico-Morfológico não tenham
sido inseridas na Lei n.004/97, nesta época já se iniciava o processo da importância
temática.
No entanto, existe a necessidade de uma legislação específica, tanto em
termos de perda sistemática de elementos importantes, como também legais, já que o
Estatuto da Cidade – Lei n.10.257/2001, define na política urbana a ser adotada nas cidade
a “ Proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do
patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico.”
A proposta de Lei de Preservação do Patrimônio Cultural, procura incorporar esse
conjunto de preocupações e conceitos, base para o fortalecimento da identidade local, da
salvaguarda das edificações e paisagens, e da durabilidade da cidade.
Tendo em vista a agilização de processo, prevê-se dois caminhos: 1) Listagem de
Edificações de Interesse de Preservação e o 2)Tombamento. O Conselho de Preservação
do Patrimônio Cultural, e a Coordenadoria de Patrimônio Cultural deverão ser criadas
para deliberar, e conduzir a política de preservação. Incentivos e penalidades estão
previstos, visando a salvaguarda do conjunto indicado.
9. MINUTA DE PROJETO DE LEI DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
CULTURAL
LEI ............/2003
A Câmara Municipal de Londrina , Estado do Paraná aprovou, e eu, Prefeito Municipal,
sanciono a seguinte lei:
“Dispõe sobre a Preservação do Patrimônio Cultural do Município
de Londrina, e cria o Conselho Municipal de Preservação do
Patrimônio Cultural de Londrina e a Coordenadoria do Patrimônio
Cultural de Londrina.”
PATRIMÔNIO CULTURAL
Art.1 O Patrimônio Cultural construído e natural de Londrina, é integrado pelo Centro
Histórico, bairros, caminhos, edificações, praças, parques, paisagens, saberes e outros
elementos que, por sua importância para consolidar a identidade cultural, mereçam
proteção do Município.
Art.2 Constitui Patrimônio Cultural de Londrina, os elementos que serão analisados sob o
seguinte critério de valor:
I- Ser pioneiro ou um dos primeiros
II- Ser testemunho da passagem do tempo e de épocas de desenvolvimento da cidade
III- Pela singularidade da técnica construtiva e material utilizado
IV- Pela excepcional qualidade espacial
V- Pelos fatos históricos que tenham ocorrido no local
VI- Ser formador da identidade local
VII- Ser testemunho da durabilidade da cidade
VIII- Pelos saberes tradicionais
Art.3 O Município efetuará a identificação de edifícios e conjuntos considerados
Patrimônio Cultural de Interesse de Preservação, e os inscreverá numa Listagem de
Elementos de Interesse de Preservação do Município.
Art.4 O Município efetuará o tombamento de edifícios e conjuntos que forem considerados
Patrimônio Cultural excepcional, segundo os preceitos desta Lei, e os inscreverá no Livro
do Tombo Municipal
Art. 5 O Município, a qualquer tempo, assiste o direito de função fiscalizadora, no sentido
de verificar a obediência aos preceitos desta Lei,
CONSELHO MUNICIPAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE LONDRINA-COMPAC
Art. 6 Fica criado o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Londrina, COMPAC-
LONDRINA, de caráter deliberativo e consultivo, integrante da Secretaria Municipal de
Cultura.
Art. 7 Compete ao COMPAC-LONDRINA
I- Definir a política municipal de defesa e proteção do Patrimônio Cultural;
II- Coordenar, integrar e executar as atividades relacionadas à defesa do Patrimônio
Cultural;
III- Gestão permanente visando o aperfeiçoamento de mecanismos institucionais e de
obtenção de recursos com apoio da iniciativa privada
IV- Adequação ao Estatuto da Cidade, em especial ao direito de preempção, outorga
onerosa do direito de construir e operações consorciadas
V- Elaborar seu regimento interno em 60 dias após nomeação
Art. 8 O Conselho será composto pelo:
Secretário Municipal de Cultura – Presidente do Conselho, a quem caberá voto de
qualidade
Coordenador do Patrimônio Cultural do Município
Diretor Presidente do IPPUL
Secretário Municipal de Meio Ambiente
Representante da Câmara Municipal
Representantes das seguintes entidades, nomeadas pelo Secretário Municipal de Cultura:
IAB- Instituto de Arquitetos do Brasil
CEAL- Clube de Engenharia e Arquitetura de Londrina
Representante de Universidade Pública- UEL
Representante de Universidade Privada- UNIFIL ou UNOPAR
IAP- Instituto Ambiental do Paraná
ONG ou grupo de defesa do Patrimônio
Art. 9 Dentre os representantes deverá haver no mínimo: antropólogo, arquiteto, geógrafo,
historiador, e os demais representantes, de profissões envolvidas com o patrimônio cultural.
Art. 10 Em cada processo, o Conselho deverá ouvir a opinião de no mínimo dois
especialistas com conhecimento e experiência no assunto, bem como de membros da
comunidade de interesse do bem em análise.
Art 11 O exercício da função de Conselheiro é considerado de relevante interesse publico,
e não poderá ser remunerado
Art 12 O mandato de Conselheiro será de dois anos, permitindo-se uma recondução
PROCESSO DE LISTAGEM DE ELEMENTOS DE INTERESSE DE PRESERVAÇÃO
Art.13 Os pedidos de identificação de elementos e conjuntos de interesse de preservação,
por iniciativa da própria Secretaria de Cultura, do proprietário ou de qualquer outro
cidadão, encaminhados pelo Protocolo Geral da Secretaria de Cultura serão enviadas à
Coordenadoria do Patrimônio Cultural, para instrução preliminar.
Art.14 O setor de emissão de alvarás para demolição e construção da Prefeitura, deverá
fazer consulta à Coordenadoria de Patrimônio Cultural, para instrução preliminar.
Art.15 Os órgãos de planejamento, projeto e obras da Prefeitura, tais como IPPUL, AMA,
CMPU, Secretaria de Obras, deverão sempre solicitar instrução preliminar à Coordenadoria
de Patrimônio Cultural, para análise de elementos de interesse e entorno.
Art. 16 O processo de inscrição na listagem obedecerá às seguintes fases distintas: Pedido
de inscrição na Listagem de Elementos de Interesse de Preservação, Notificação ao
proprietário da inscrição provisória, Registro na Listagem junto à Coordenadoria de
Patrimônio Histórico.
Art.17 Os pedidos de inscrição na Listagem de Elementos de Interesse de Preservação
deverão ter as seguintes informações:
I-Identificação e endereço do imóvel
II-Endereço do imóvel, descrição
III-Justificativa
Art.18 A partir do pedido, a Coordenadoria de Patrimônio Cultural efetuará o
preenchimento da Ficha de Inventário e após análise, constatado o seu valor, será incluída
na Listagem de Elementos de Interesse de Preservação
Art.19 Os elementos e conjuntos de excepcional valor, serão encaminhados para o
processo de Tombamento pelo Município
PROCESSO DE TOMBAMENTO
Art. 20 Os pedidos de tombamento, por iniciativa da própria Secretaria de Cultura, do
proprietário ou de qualquer outro cidadão, encaminhados pelo Protocolo Geral da
Secretaria de Cultura serão enviadas à Coordenadoria do Patrimônio Cultural para instrução
preliminar.
Art. 21 O processo de tombamento obedecerá às seguintes fases distintas: Pedido de
tombamento, Notificação ao proprietário do tombamento provisório, Instrução para
eventual contestação, Deliberação através do COMPAC, Registro no Livro do Tombo.
Art. 22 Os pedidos de tombamento deverão ter as seguintes informações:
I-Identificação e endereço do interessado
II-Endereço do imóvel, descrição, estado de conservação(bom, regular, ruim, péssimo),
atual uso, documentação fotográfica datada,
III-Justificativa com informação preliminar sobre o valor do bem, a relevância, significado
para a memória da cidade, materiais e técnicas construtivas, informação se faz parte de um
conjunto maior.
Art. 23 A Coordenadoria deverá averiguar as informações apresentadas no pedido, checar
o nome e endereço do proprietário do bem em estudo, anexar planta planialtimétrica em
escala 1:2000 com a localização do bem e delimitação de área envoltória (de 300 metros no
caso de edificação), documentação fotográfica, identificação das características que
justificam a preservação do bem, e análise crítica preliminar.
Art. 24 Os pedidos instruídos pela Coordenadoria de Patrimônio Cultural, serão analisados
inicialmente pelo IPPUL, que após consulta à Secretaria de Obras o encaminhará de volta à
Secretaria de Cultura
Art. 25 O requerimento do proprietário ou de qualquer cidadão poderá ser indeferido pela
Coordenadoria do Patrimônio Cultural, caso em que caberá recurso ao COMPAC
Art. 26 A Coordenadoria do Patrimônio Cultural deverá enviar o processo ao Presidente do
COMPAC, no prazo de 30 dias
Art. 27 O Presidente do Conselho deverá indicar um relator, que terá prazo de 15 dias para
apreciar e apresentar o processo ao colegiado do COMPAC.
Art. 28 A deliberação do Conselho será publicada no Diário Oficial do Município
Art. 29 A proposta poderá ser contestada num prazo de 15 dias da data da publicação no
Diário Oficial
Art. 30 Instaurado o processo de tombamento, passam a incidir sobre os bens, as limitações
ou restrições administrativas próprias do regime de preservação de bens tombados, até a
decisão final
PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO DE BENS LISTADOS
Art..31 Cabe ao proprietário do bem inscrito na Listagem, a sua proteção e conservação,
segundo os preceitos desta Lei.
Art. 32 O bem inscrito ou em processo de inscrição na listagem, não poderá ser
descaracterizado
Art. 33 O restauro, a reparação ou alteração, somente poderá ser feita em cumprimento aos
parâmetros estabelecidos segundo orientação da Coordenadoria de Patrimônio Cultural,
ouvido o COMPAC
Art..34 A Listagem em questão estará vinculada ao Cadastro Imobiliário, e qualquer
alvará: de demolição ou de construção, deverá levar em consideração os parâmetros ao
interesse de preservação.
PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO DE BENS TOMBADOS
Art. 35 Cabe ao proprietário do bem tombado, a sua proteção e conservação, segundo os
preceitos desta Lei
Art. 36 O bem tombado ou em processo de tombamento não poderá ser descaracterizado.
Art. 37 No caso de venda do imóvel em pré-tombamento ou tombamento, o Município
poderá exercer o direito de preempção ou prioridade na aquisição do imóvel.
Art. 38 A restauração, reparação ou alteração somente poderá ser feita em cumprimento
aos parâmetros estabelecidos na decisão do COMPAC, cabendo à Coordenadoria de
Patrimônio Cultural, a conveniente orientação e acompanhamento da execução.
Art. 39 Em caso de urgência, as obras de reparação ou contenção poderão ser realizadas
com o ad referendum da Coordenadoria de Patrimônio Histórico
Art. 40 A Coordenadoria de Patrimônio Histórico poderá determinar ao proprietário, a
execução de obras imprescindíveis à conservação do bem tombado ou em tombamento,
fixando o seu início e fim.
Art. 41 Toda vez que se fizer necessária a proteção do entorno, deverá ser considerada a
questão da visibilidade, escala, ambiência e integridade paisagística
INCENTIVOS E BENEFÍCIOS
Art. 42 Os proprietários de imóveis de valor cultural terão direito aos seguintes benefícios
e incentivos `a preservação:
I- Redução de até 80% do IPTU, considerados o grau de proteção ou a área ocupada pela
edificação, de acordo com os critérios e diretrizes técnicas,
II- Transferência de Potencial Construtivo conforme o Estatuto da Cidade
III- Orientação técnica necessária à adequada manutenção, conservação e restauro
IV- Divulgação e Premiação de Boas Iniciativas
PENALIDADES
Art. 43 Quando constatada mutilação do imóvel em fase de pré-tombamento ou
tombamento, ou de edificação do entorno, o proprietário notificado deverá reconstituir as
características originais da edificação, segundo orientação do órgão de Preservação.
Art. 44 Na hipótese de destruição ou mutilação irreversível, que impossibilite a restauração
do imóvel, será aplicada multa de 1 a 10 vezes o valor venal do imóvel, e a nova edificação
deverá obrigatoriamente observar a área construída e volume do mesmo
Art. 45 No caso de reforma, reparação, pintura, restauro sem prévia autorização, será
aplicada multa no valor de 20 a 100% do valor venal do imóvel.
Art. 46 A não observância de normas estabelecidas para o entorno do imóvel, será aplicada
multa de 10 a 50% do valor venal.
Art. 47 As multas deverão ser recolhidas dentro de quinze dias a partir da notificação,
cabendo recurso em igual prazo.
Art. 48 A penalidade sofrerá acréscimo de 100%, a cada novo procedimento de
fiscalização, até a reconstituição da edificação.
CORDENADORIA DO PATRIMONIO CULTURAL
Art. 49 Fica criada a Coordenadoria do Patrimônio Cultural , subordinada à Secretaria de
Cultura
Art. 50 Compete à Coordenadoria:
I- localizar, identificar e inventariar os bens do Município
II- manter a Listagem de Elementos de Interesse de Preservação
III- instruir os processos de identificação de edifícios de interesse de preservação
IV- instruir os processos de tombamento e as áreas envoltórias
V- fiscalizar e supervisionar a conservação e preservação de bens culturais do
Município
VI- Orientar e adequar a legislação de preservação ao Plano Diretor do Município
VII- Analisar todos os pedidos de demolição e aprovação de projetos de construção e
reforma, inclusive os projetos de iniciativa da Prefeitura
VIII- Criar programas de Educação Patrimonial
Art. 51 A Coordenadoria de Patrimônio Cultural será constituída por um Coordenador,
com formação superior em áreas afins, pessoal técnico sendo no mínimo dois arquitetos, e
mais três especialistas nas áreas afins de conhecimento, além de pessoal administrativo
Art. 52 A Coordenadoria deverá fornecer recursos humanos e materiais necessários às
atividades do Conselho, através da Secretaria de Cultura.
Art. 53 Esta lei será regulamentada no prazo de 90 dias a partir da data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário
Londrina, Outubro de 2003
_________________________
Nedson Micheletti
Prefeito Municipal de Londrina
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reflexões sobre o Patrimônio Cultural de Londrina nos conduzem a uma série de ações
e estratégias, a saber:
1.Educação Patrimonial – conscientização da população, em especial os proprietários, sobre
a importância e vantagens da preservação. Introdução de disciplinas sobre Patrimônio nas
escolas de primeiro e segundo grau. Criação de disciplinas prático-teóricas nas
Universidades. Campanha permanente visando a divulgação sobre a importância do
Patrimônio.
2.Legislação sobre Preservação do Patrimônio Cultural. Criação do Conselho Municipal de
Preservação Patrimônio Histórico e da Coordenadoria de Patrimônio Histórico, vinculadas
à Secretaria de Cultura. Instituição de Livro de Tombo Municipal.
3.Inventário Sistemático, visando a elaboração de listagem de edificações e conjuntos de
interesse de preservação, e a indicação de edificações e conjuntos de qualidade excepcional
para tombamento.
4.Inventário sistemático de paisagens culturais, visando a utilização de seu potencial
cênico, recreativo e institucional.
5.Criação de Escola Técnica de Restauro, com ênfase em Carpintaria, visando a
conservação e restauro de construções listadas ou tombadas. Valorização dos saberes
tradicionais, o chamado Patrimônio Imaterial.
6.Orientação técnica gratuita aos proprietários , principalmente nas construções em madeira
7.Organização de um Banco de Dados sobre edificações a serem demolidas, e a
potencialização do material usado, para restauro de outras edificações.
8.Incentivo ao re-uso adaptativo para sobrevida das construções e conjuntos listados
9.Preservação como ferramenta à revitalização de setores da cidade. Organização de
roteiros de caminhadas, visando incentivar o turismo urbano.
10. Elaboração de guias de design de bairros e manchas homogêneas, visando a
preservação e construção de paisagem urbana de qualidade.
11. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A PIONEIRA n.11, Revista Bimensal Ilustrada, Londrina Julho Agosto de 1952, Londrina,
PR
BABKOV, V.; entrevista a Humberto Yamaki e Marcos Barnabé, 1998
BARNABÉ, M. ; A Contribuição do Pensamento Urbanístico Moderno para o Projeto das
Cidades Novas do Norte do Paraná, Anais do 4.SEDUR, UnB, Brasília, 1991
BRUAND, Y.; Arquitetura Contemporânea no Brasil, Perspectiva, São Paulo, 1980
CALVINO, I.; Cidades Invisíveis, Companhia das Letras, SP, 1990
CLARIM EMPRESA DE PUBLICIDADE, Guia Globo de Exp. e Imp. Parana no Ano do I
Centenário de Emancipação Política do Estado 1853-1953, Porto Alegre, 1953
CMNP; Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná, Edanee, São Paulo, 1975
CURY,I.; Cartas Patrimoniais, Edições do Patrimônio, IPHAN, RJ, 2000
HOWARD,E.; Garden City of Tomorrow, Faber&Faber, Londres, 1974
JOFFILY, J.; Londres-Londrina, Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1985
KERSTEN, M.; Os Rituais do Tombamento e a Escrita da História, Editoda UFPR, 2000
LEONE, M. et alii; Patrimônio Edificado de Curitiba, IPPUC, 1997
LEVI-STRAUSS, C.; Tristes Trópicos, Ed Schwarcz, São Paulo, 1999
MARX, M.; Cidade Brasileira, Edusp, São Paulo, 1980
MUNFORD, L.; The Culture of Cities, Ed,Kajima, Tokyo, 1974
NAKANISHI, S.; História dos 15 anos da Colônia Internacional, São Paulo, 1950
OKAWA, N.(org.); Toshi no Rekishi to Machizukuri, Gakugei Shuppan, Kyoto, 1995
OKAWA, N.;(org.); Rekishiteki Isan no Hozon to Machizukuri, Gakugei Shuppan, Kyoto,
1997
PUPO, Benedito Barbosa; Assim nasceu Londrina, in A Pioneira ano V n.11, Julho-Agosto
de 1952, Londrina
RAPOPORT, A .; Aspectos Humanos de la Forma Urbana, GG, Barcelona, 1977
RAZGULAEFF, A .; entrevista a Antonio Magalhães e Maria Gotti, 1972
REX, I.K.;YAMAKI,H.(orient.); Sobrevida dos Grandes Barracões da Década de 30-60,
mimeo, 2003
REIS FILHO, N.; Imagens de Vilas e Cidades do Brasil Colonial, Edusp, São Paulo, 2001
REPS, J.; The Making of Urban America, Princeton University Press, New .Jersey, 1965
UNWIN, R.; Town Planning in Practice, Ernest Benn Ltd, London, 1932
WACHOWICZ, R.; História do Paraná, Imprensa Oficial do Estado, Curitiba, 2001
YAMAKI,H.; Iconografia Londrinense, Edições Humanidades, Londrina 2003
YAMAKI, H. ; Assaí: Requalificação Urbana, PM Assaí, 1997.
YAMAKI, H. ; Pré Manual de Regulamentação LEI no. 454/93 do Município de Assaí-Pr,
PMA, 1994.
YAMAKI, H., Onozato T.; Arquitetura da Imigração japonesa em Londrina, Análise de
Documentação, Anais da 9.a Reunião Anual SBPN, 244-245, 2001
YAMAKI, H.; Arquitetura da Imigração Japonesa em Londrina-PR, Aspectos visíveis e
invisíveis, Colóquio Arquitetura Brasileira Redescobertas, Cuiabá, 2000
YAMAKI, H.; Cidades Novas Norte Paranaenses- Citações e Referências nos Planos
Urbanísticos e Praças 1930-60, Anais do 6. Seminário em História da Arquitetura e do
Urbanismo, Natal , 2000
YAMAKI, H.; Morfo Genealogia da Cidade nas Américas, Anais do 51o Congresso
Internacional de Americanistas, Santiago, 2003
YAMAKI, H.; Paradigms of New Town Construction in Brazil- a Morpho Genealogical
Approach, Daiichi Juken Foundation, Tokyo, 1994
YAMAKI. H.; Arquitetura da Imigração Japonesa no Brasil, Brasil 500 anos Módulo
Arquitetura Popular
YAMORI, K.; Toshizu no Rekishi, Kodansha, Tokyo, 1975
ZORTEA, A.; Londrina através dos tempos e cronicas da vida, Juriscred, São Paulo, 1975
ZUCKER, P.; Town and Square, trad.OISHI&KATO, Ed.Kajima, Tokyo, 1975
ANEXO 01 - CARTAS PATRIMONIAIS, LEGISLAÇÃO FEDERAL,
ESTADUAL E MUNICIPAL
ANEXO 02 – CADERNO DE PATRIMÔNIO -Capela do Espírito Santo – Patrimônio
do Espírito Santo
ANEXO 03 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Capela de São Miguel Arcanjo -
Heimtal
ANEXO 04 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Cadeia Pública de Londrina
ANEXO 05 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Museu de Arte de Londrina
ANEXO 06 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Museu Histórico de Londrina
ANEXO 07 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Biblioteca Pública de Londrina
(antigo Forum)
ANEXO 08 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Capela de Santo Antonio –
Patrimônio Selva
ANEXO 09 – QUESTIONÁRIOS – PATRIMÔNIO AFETIVO E IMAGINÁRIO