plano diretor de preservação do patrimônio cultural de londrina

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Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina Documento para Discussão Arquitetos Humberto Yamaki- Coordenação Geral Milena Kanashiro Sidnei Junior Guadanhim Ricardo Dias Silva Rosane Troia-colaborador Estagiários Alex Lamounier Ilzangela Keila de Almeida Rex 2003 Lei Municipal de Incentivo à Cultura Prefeitura do Município de Londrina

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Page 1: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Plano Diretor de Preservação do

Patrimônio Cultural de Londrina

Documento para Discussão

Arquitetos

Humberto Yamaki- Coordenação Geral

Milena Kanashiro

Sidnei Junior Guadanhim

Ricardo Dias Silva

Rosane Troia-colaborador

Estagiários

Alex Lamounier

Ilzangela Keila de Almeida Rex

2003

Lei Municipal de Incentivo à Cultura

Prefeitura do Município de Londrina

Page 2: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Sumário

1.Introdução_____________________________________________________________01

2.Histórico / Possíveis Leituras______________________________________________01

Leitura 1: Da Micro à Macro Morfologia do Norte do Paraná______________________ 02

Leitura 2: Tradição e Rejeição – Casas de Madeira versus Casa de Material__________ 16

Leitura 3. Sobrevida das Construções de Madeira no Quadrilátero Nobre de Londrina___20

Leitura 4. Sobrevida dos Grandes Barracões da Década de 40-60___________________ 27

3. Critérios, Classificação e Categorias de Elementos_____________________________30

3.1 Critérios_____________________________________________________________ 30

3.2 Classificação Preliminar_________________________________________________31

3.3 Categorias___________________________________________________________ 34

4. Métodos, Técnicas e Estratégias de Preservação_______________________________36

4.1 Métodos de Preservação ________________________________________________ 36

4.2 Técnicas _____________________________________________________________36

4.3 Estratégias ___________________________________________________________39

5. Patrimônio Afetivo – uma outra Leitura do Patrimônio Cultural de Londrina ________40

5.1 Categorias ___________________________________________________________ 41

6. Listagem para Discussão _________________________________________________47

7. Ficha de Inventário______________________________________________________51

7.1 O inventário como Processo______________________________________________51

7.2 Modelos de Ficha de Inventário __________________________________________ 52

7.3 Fichas de Inventário- Arquitetônico e Urbano Paisagístico _____________________ 60

8. .Discussão de Legislação Possível de Proteção do Patrimônio Cultural- Panorama __114

8.1 Cartas Internacionais__________________________________________________114

8.2 Legislação Federal ___________________________________________________ 117

8.3 Legislação Estadual __________________________________________________ 119

8.4 Legislação Municipal _________________________________________________120

9. Minuta de Projeto de Lei de Preservação de Patrimônio Cultural_________________123

10. Considerações Finais __________________________________________________133

11. Referencias Bibliográficas _____________________________________________ 135

12. Listagem de Anexos __________________________________________________137

Page 3: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

INTRODUÇÃO

Cidade Nova construída num instante, Londrina carrega no seu

imaginário a inexistência de história. No V Congresso Latino-americano sobre a Cultura

Arquitetônica e Urbanística realizada em 1996 em Montevidéu, assim relatava Sapelli,

sobre o Centro antigo da cidade:

“La Ciudad Vieja por ser la genesis de nuestra historia constituye el laço mas

antiguo e fuerte que nos une al pasado. El patrimonio que contiene es un legado

del pasado que actúa sobre nuestra memoria y contribuye a mantener e

preservar la identidad de la comunidad.”

Em relação aos monumentos, afirma Sapelli, citando Choay, para a qual o monumento é uma defesa

contra os traumas da existência, portanto um dispositivo de segurança. O monumento conjura o ser do

tempo, assegurando, tranquilizando e apaziguando. Continua, afirmando que, o monumento é a garantia de

nossas origens, e acalma a inquietude dos começos. É um desafio à ação dissolvente do tempo, e trata de

apaziguar a angústia da morte e da aniquilação.

Pouco conhecida ainda, é a noção de patrimônio como sustentabilidade.

Segundo Acselrad (2001), o caráter e suas identidades, valores e heranças construídas e

cultuadas ao longo do tempo, constituem uma das vertentes da sustentabilidade. Sob esses

aspecto, fazer durar a existência simbólica de sítios edificados e naturais e seus

significados, pode ser considerado uma estratégia da população sentir-se parte do lugar,

bem como de marketing urbano, de modo a atrair capitais na competição global.

“Patrimônio não é o que existe, mas aquilo que se vê” , dizem os

europeus. Da visibilidade, sustentabilidade, identidade à atratividade, as qualidades a serem

perseguidas num processo de preservação são amplas.

2. HISTÓRICO

“Londrina foi reconstruída três vezes em 70 anos“ podemos afirmar

parafraseando o Arq.Benedito Lima de Toledo, que escreveu: “São Paulo foi reconstruída

Page 4: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

três vezes em quatro séculos “. Portanto, Londrina fez em setenta anos, o que São Paulo

demorou quatrocentos anos.

A velocidade de transformação, pode ser entendida também como

velocidade de destruição, da Londrina de madeira e da Londrina de tijolo. De fato,

importantes edificações foram destruídas, notadamente nos últimos 20 anos, em nome do

otimismo e progresso. O que falar então das construções de madeira, com mais de

cinqüenta anos, construídas em área nobre da cidade.

A leitura da micro e macro morfologia de Londrina, as reflexões em torno

das construções de madeira, a sobrevida das casas, constituem leituras preliminares

essenciais.

2.1 Leitura 1: Da Micro à Macro Morfologia do Norte do Paraná

A colonização do Norte do Paraná constitui uma das experiências de

organização do território e de projeto de Cidades Novas, mais significativas realizadas no

Brasil no século XX.

Seguindo o postulado da experiência inglesa, os chamados princípios

filosóficos de colonização, que incluía o parcelamento de terras férteis e a não retomada de

terras em hipótese alguma, o empreendimento alcançou grande sucesso. Resultou em mais

de 540 000 alqueires parcelados, e cerca de 63 cidades projetadas em curto espaço de

tempo.

Através de intensa campanha de venda de lotes, e produzindo material de

propaganda em vários idiomas, a Companhia de Terras atraiu imigrantes de outras frentes

de expansão. Relatos afirmam que, em 1938 havia proprietários de terras de 31

nacionalidades, sendo a região conhecida também como Colônia Internacional (Pioneira,

1952) (Nakanishi, 1950).

Uma pequena ressalva porém é necessária, ao silencio imposto aos

primitivos habitantes da região, e à devastação sistemática da mata nativa.

Page 5: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

“Lucta constante contra a mata virgem....épica obra de transformar um

sertão bruto em um sertão civilizado”(Album de Londrina, 1938)

Primórdios

A concessão de terras à CTNP- Companhia de Terras Norte do Paraná,

que tinha como maior acionista a Paraná Plantations Ltda de Londres, ocorreu entre 1925 e

1927. Segundo Pupo (1952), o plano inicial de desenvolvimento da Companhia estava

baseado na idéia de um ramal da Estrada de Ferro Sorocabana, que partindo de Regente

Feijó ou Presidente Prudente-SP, chegasse através de um traçado mais conveniente ao rio

Paranapanema, na altura da foz do rio Pirapó, daí prosseguindo em direção ao sul até o

centro do empreendimento. A sede da Companhia seria na região de Maringá, segundo o

projeto original.

Modificados os planos, a Companhia adquiriu a ferrovia São Paulo-

Paraná, que ligava Ourinhos a Cambará, numa extensão de 29 quilômetros e resolveu

prolongá-la, atravessando os rios Cinzas, Laranjinhas, Congonhas e Tibagi, até atingir suas

terras.

O empreendimento foi inspirado no êxito de uma trabalho semelhante

realizado entre 1910 e 1920 pelo inglês James Miller e pelo escocês Robert Clark em uma

área de 40 000 alqueires situada em Birigui, no Noroeste do Estado de São Paulo (CMNP,

1975).

Paralelamente, não se pode deixar de considerar as experiências inglesas

nas ex-colonias na África, mais especificamente no Sudão, como antecedente ao projeto de

colonização aqui adotado.

Projetistas

Page 6: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

O russo Alexandre Razgulaeff, formado em geodesia- arte de medir e

demarcar terras, foi o primeiro projetista a chegar na região de Londrina ainda em 1929

(Razgulaeff, 1972). Logo depois, vieram Carlos Rothmann e William Reid.

Em determinada época, conviviam técnicos ucranianos, alemães e

japoneses na Companhia de Terras, segundo o topógrafo russo Vladmir Babkov, que

chegou à região em 1937. Tal fato pode legitimar a diversidade e possíveis influências na

linguagem urbanística (Yamaki, 2000).

Entre os construtores nas épocas pioneiras, são citados C.B. Mac Donald,

C.B.Solberg, R.H. Leyton, James Adamson, Wales Molton, que após experiência na região,

se deslocariam respectivamente para Trinidad, Birmânia e Inglaterra (Nakanishi, 1950). As

experiências no Norte do Paraná podem ter sido transplantadas em colônias britânicas

ultramarinas.

Espacialização do Território

Uma ferrovia como eixo estruturador e extensa malha viária estavam

previstas no empreendimento que objetivava a subdivisão em lotes rurais, urbanos e

chácaras.

Precedia o processo de colonização, um minucioso levantamento

topográfico e hidrográfico. O parcelamento de terras previsto pela Companhia era o de

divisão de glebas em pequenos lotes rurais em faixas estreitas de 8 alqueires em média e 30

alqueires no máximo, além de chácaras de 5 alqueires num raio de 5 quilômetros a partir do

núcleo urbano (Nakanishi, 1950).

A análise das plantas parciais iniciais da CTNP, permite apreender o

processo de execução do plano. Após intenso levantamento topográfico, identificadas as

bacias hidrográficas e definidas a localização das estradas nos espigões, iniciava-se a

divisão de terras. Muitas vezes, tal processo resultava em parcelamento em “forma de

Page 7: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

leque”, com lotes trapezoidais, visando ajustar às peculiaridades do terreno e atendendo ao

princípio de que todos os lotes deveriam ter acesso à estrada e à água.

Rede de Cidades

Os núcleos urbanos hierarquizados, ficavam a uma distância idealizada,

onde o morador da área rural poderia se deslocar a pé, numa distância média de 5 a 9

quilômetros. Assim Londrina e Cambé distavam 14, Cambé e Rolandia 11, Rolandia e

Arapongas 16 , Arapongas e Apucarana 18, Arapongas e Pirapó 7, Pirapó e Jandaia 11,

Jandaia e Mandaguari 13, Mandaguari e Marialva 18, Marialva e Maringá 17 quilômetros

sucessivamente.

Vale a pena comparar aqui, o distanciamento entre as estações da Estrada

de Ferro São Paulo-Paraná que ligava Ourinhos a Jatahy e que havia sido adquirida pela

CTNP. Com exceção da distância entre Congonhas e Frei Timóteo com 34 quilômetros, e

entre Bandeirantes e Santa Mariana com 26, todas as outras situavam-se em intervalos

médios de 15,3 quilômetros. O mesmo pode-se dizer sobre a distribuição ritmada de

estações ao longo das estradas de ferro no Estado de São Paulo nos anos 30.

Segundo Joffily (1985), um dos termos da concessão à CTNP falava na

não construção de novas ferrovias numa faixa de 15 quilômetros. Pode-se concluir portanto

que, o de distanciamento entre cidades adotados nas terras da Companhia obedecia a uma

modulação com certa tradição em frentes de colonização, não chegando a constituir

propriamente imposição ou inovação. Tal modelo pode ser observado em outras regiões

colonizadas nos estados do Sul do país.

Page 8: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Ressonâncias dos Movimentos Urbanísticos Europeus

É freqüente a discussão sobre a possível ressonância do urbanismo

europeu, notadamente do Movimento das Cidades Jardins, na colonização do Norte do

Paraná (Barnabé, 1991). Afirmam-se como possíveis provas, a questão da rede de cidades

hierarquizadas, da população ideal de 30 000 habitantes, do cinturão verde de chácaras e a

questão da propriedade de terras.

Preliminarmente, é preciso afirmar que a CTNP não menciona nas suas

propagandas, o termo Cidade Jardim, em voga nos grandes centros mundiais.

A Garden City proposta na Inglaterra por Ebenezer Howard (1902),

combinava as virtudes e o equilíbrio da cidade e do campo. Tendo a ferrovia e estrada

como espinha dorsal, previam-se núcleos urbanos hierarquizados, a uma distância de 5

quilômetros, bastante reduzido em relação ao módulo de 15 km adotado no Norte do

Paraná.

O diagrama proposto originava-se a partir de um Parque Central, e as

funções eram agrupadas em anéis concêntricos onde o principal anel seria circundado por

uma grande avenida formando um cinturão verde. O princípio de Cidade Jardim era a auto-

suficiência, as terras administradas pela própria comunidade, o crescimento controlado não

além do cinturão verde para uma população final também limitada. (Howard, 1974). Mais

do que como traçado, a Garden City ou Cidade Jardim tinha uma imagem forte e atrativa.

Vide os inúmeros empreendimentos especulativos que proliferaram, até mesmo no Japão.

Howard iniciou a construção de duas Cidades Jardins na Inglaterra,

Letchworth (1903) e Welwyn (1919). A essência do plano de Letchworth era um grupo de

vilas no entorno de um centro cívico, com uma zona de indústrias na periferia, e circundado

por um anel de terras agricultáveis com área de cinco vezes a área urbanizada. Obedecendo

aos preceitos de Howard, os projetistas Parker e Unwin decidiram a forma da cidade pela

vegetação existente e pela idéia de que todas as casas deveriam facear o sol. Resulta numa

planta que mostra a síntese do formal e do informal, com concepções de design e

planejamento segundo a tradição britânica.

Page 9: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

No projeto de Welwyn, o traçado geral da cidade obedece à drenagem

natural, a vegetação nativa, e os caminhos e concessões de passagem pré-existentes

(Purdon,1925).

Vale destacar que, nos projetos de Maringá e Umuarama, a então

Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná-CMNP contratou Jorge de Macedo Vieira,

que havia trabalhado anteriormente na Companhia City em São Paulo. O empreendimento

da City, Jardim America, tinha projeto de Parker & Unwin, autores da Cidade Jardim de

Letchworth na Inglaterra. Nestas cidades, pode ter ocorrido maior aproximação com o

ideário em voga.

Prever a drenagem natural, procurar a melhor orientação, reservar

cinturão de chácaras, controlar o crescimento, respeitar a vegetação existente, preservar os

caminhos existentes entre outros, eram preceitos das Cidades Jardins, mas antes disso, uma

tradição britânica e também resultado de experiências vernaculares na construção de

cidades.

Olhar

Todas as cidades projetadas pela CTNP localizavam-se em lugar alto,

com pelo menos um dos lados em declive, favorecendo assim a questão da drenagem e de

salubridade (Nakanishi, 1950).

Assim Artur Thomas relata a escolha do sítio para a implantação de

Londrina:

“Saindo desta estrada, a burro, em junho de 1929, representantes da

Companhia de Terras furaram o mato até cruzar a divisa de suas terras, e pernoitando na

picada, exploraram o terreno em diversas direções, notando especialmente a cabeceira de

águas. A topografia em volta de um alto (onde se acha a Igreja matriz) impressionou-os

como local ideal para uma cidade“ (Pioneira, 1952).

Londrina, a filha de Londres, nasce assim do olhar, da observação atenta

do sítio, quase como uma inspiração. Babkov, um dos topógrafos da Companhia dizia que,

Page 10: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

ao observar o terreno por algum tempo, já tinha o plano básico em mente. Pode-se

encontrar nesta afirmação, alguns paralelos entre o que afirma Purdon (1925) ao relatar o

projeto da Cidade Jardim de Welwyn:

“O método adotado no planejamento do empreendimento era preparar

um plano planialtimétrico geral, o esquema de fornecimento de água e o

esquema de drenagem; um levantamento geral feito para possibilitar a

localização das várias partes da cidade....Um homem experiente pode

preparar um plano através do olhar...”

Unwin reforçava a importância do sítio na concepção integral do plano.

Na Cidade Jardim de Letchworth é possível ver que o centro da cidade é localizado em

uma generosa colina (Purdon, 1925).

A escolha de local dominante e simbólico, e a articulação com a

topografia também eram características morfológicas principais das cidades coloniais no

Brasil (Yamaki, 2003).

Traçado de Cidades

Assim relata Lévi-Strauss (1936), sobre as cidades visitadas no início da

colonização no Norte do Paraná:

“Nesses quadriláteros de maneira arbitrária cavados no coração da

floresta, as ruas em angulo reto são de início, todas parecidas: traçados

geométricos, privados de qualidade própria“.

Décadas depois, Bruand (1980) afirma: “as cidades são interessantes do

ponto de vista geográfico, mas não quando se limita o problema ao valor e novidade das

soluções propriamente urbanísticas....assim, não é de se espantar que todas essas

aglomerações acabem parecendo-se estranhamente em sua monotonia, sua falta de caráter,

seu aspecto de grande aldeia triste ou de perpetuo canteiro de obras” e Marx (1980) as

define sucintamente como “monotonia ordenada”.

Outra vertente, mais recente, vê qualidades nas soluções projetuais

(Yamaki, 1991) e pensamentos urbanísticos norteadores (Barnabé, 1991).

Primeiro projeto de cidade no empreendimento, e que possivelmente

antecedeu o parcelamento das glebas rurais, o traçado urbano de Londrina apresenta uma

malha ortogonal rígida. Traz gravada fortemente as certezas e incertezas no projetar frente a

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uma natureza vigorosa e sem maiores referências urbanísticas. As subsequentes Nova

Dantzig e Rolandia apresentam liberdade maior, nas diagonais e contornos definindo

centralidades .

Segundo Wachowicz (2001), “Todas as cidades foram planejadas

antecipadamente, possuindo aspecto de cidades modernas, bem traçadas geometricamente e

de aparência agradável.” Já nos anos 50, Nakanishi (1950) falava na importância dos

estudos destas “Cidades Artificiais” no futuro.

“Planta Azul”

A “planta azul” como é conhecida a primeira planta de Londrina, foi

projetada por Alexandre Rasgulaeff em 1932, na sua chácara na periferia da futura cidade.

Em depoimento de 1972, Rasgulaeff faz crítica ao projeto, e diz que “a cidade é mal

projetada mas não por sua culpa”. Informa que projetara a cidade com avenidas de 30m e

ruas de 24m , mas que após o envio à Inglaterra, foram mandadas diminuir para ruas de

12m, mas que no final ficaram ruas de 16m e avenidas de 24m. Como comparação, na

Cidade Jardim de Welwyn, as ruas normais tinham de 50 - 60 pés de largura, o que

equivale a 15-18 metros (PURDON, 1925), portanto não muito distante das recomendações

que foram feitas ao projeto de Londrina. Sobre o mesmo projeto, Babkov (1998) comenta

que a cidade foi “projetada no machado”.

No entanto, a análise do traçado revela certa complexidade, um conjunto

de saberes sedimentados. Malha ortogonal, Elipse, Diagonal e Espiral constituem

componentes básicos de sua morfologia. (Figura 01)

Elipse Central e Malha Ortogonal

Page 12: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

O traçado de Londrina apresenta malha regular que tem no centro uma

elipse tangenciada pela avenida, que por sua vez se projeta em diagonal pelo espigão. No

centro da elipse, no ponto mais alto localiza-se a Catedral, margeada por quadras espaços

livres.

Rasgulaeff afirma em depoimento, ter projetado inicialmente a Avenida

Paraná e posteriormente, as transversais Avenida Rio de Janeiro e São Paulo, podendo tal

fato ter influenciado na orientação no parcelamento das quadras.

As “sobras” resultantes da articulação da malha ortogonal e da elipse

levaram algum tempo para serem consideradas e receberem a denominação de Praças.

O traçado rígido ortogonal representa a ordem, estabilidade, domínio,

negação do tempo, e em alguns momentos encarna a civilização (Rapoport, 1981).

Page 13: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Diagonal como Linguagem

A diagonal da avenida Paraná se sobressai no plano ortogonal. Vindo da

direção de Jatahy, a avenida aponta a direção da Catedral e subitamente contorna uma das

Praças em quarto de círculo que formam a elipse central. Segue adiante e mais uma vez

rompe a malha em direção a Nova Dantzig. O traçado da avenida Paraná nem sempre é

resolvido de maneira natural em relação à malha. Os parcelamentos irregulares de quadras e

o surgimento de pequenas quadras triangulares evidenciam certa dissonância.

Representariam as pregnâncias, caminhos pré existentes ou natural,

incorporados no plano ou seria a diagonal como elemento de expressão do traçado, dando

um dinamismo maior.

Espiral de Expansão

A observação da numeração das quadras no plano inicial mostra uma

seqüência aparentemente desarticulada. No entanto, análise mais apurada permite observar

uma espiral imaginária de expansão.

O uso de espiral como forma urbana é antigo. A cidade na colina, de

Martini (1451-1464) mostra o uso de sobreposição de diagonais e espirais, na proposta de

uma Cidade Ideal.

No caso de Londrina, a espiral pode ter sido uma estratégia visando a

expansão homogênea da cidade, e simultaneamente reforçando a centralidade da elipse.

Quadra Número Um

Page 14: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

A “planta azul” de Razgulaeff traz ampliado no canto superior direito,

uma quadra padrão com suas dimensões detalhadas. Localizada na esquina da rua do

Commercio e rua Heimtal, possui dimensões de 105m no sentido Norte Sul e de 115m no

sentido Leste Oeste, sendo subdividida em 20 lotes sendo 12 lotes de 15mx38,75m, 2 lotes

de 15mx 51,25m, 4 lotes de 12,5mx45m e 2 lotes de 12,5mx52,5m. Comparativamente, os

lotes em Londrina eram muito maiores do que a proposta de Howard, que previa lotes de

6mx39m.

O sistema de parcelamento da quadra hum, mostra a preocupação no

desenvolvimento das quatro faces da quadra, com ênfase no sentido Norte Sul onde

observa-se maior número de lotes.

Tendo em vista as ruas serem abertas, aproveitando ao máximo as

características do relevo, tal direcionamento pode ser resultado do fracionamento adequado

à topografia. Ou ainda, solução lógica considerando-se que no projeto as avenidas Rio de

Janeiro e São Paulo seriam os principais eixos de ligação entre a Estação Ferroviária e a

Avenida Paraná. Todas as outras quadras, independente da localização, seguiriam o mesmo

padrão de parcelamento.

Praça em Bandeira Inglesa

Entre os mitos que povoam o imaginário urbano de Londrina, está o da

Praça em forma de bandeira Inglesa. Segundo Joffily (1985), a Praça Marechal Floriano

reproduz no traçado de ruas internas e canteiros a bandeira do Império inglês.

No entanto, a sobreposição de uma cruz e um xis, ou um formato de

asterisco para a morfologia de Praças não constitui novidade na história da urbanização.

Podemos citar a Place des Vosges (1605) em Paris, a Bloomsbury Square

(1731) em Londres entre inúmeros exemplos, como precedentes deste tipo de lay out.Em

alguns momentos, a geometria simples e funcional, lembra as soluções clássicas de Praças

Page 15: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Francesas dos séculos XVII~XIX, publicadas por Patte, a Memoires sur les objects plus

importantes de l’Architecture (Zucker,1959).

Nas plantas de Londrina de 1938 e 1939, todas as Praças do centro são

representadas em forma de asterisco.

Apesar disso, é importante a coexistência do mito e da verdade. O projeto

da Praça, era um traçado asterisco comum em todas as frentes de colonização. Para o

imaginário da população, a Praça certamente continuará sendo afetivamente como sendo a

da “bandeira”, independente do mastro erguido em 1944 para solenidades cívicas ou da

“bandeira inglesa”.

30 000 habitantes

Afirma-se que freqüentemente que Londrina fora projetada para 30 000

habitantes. Alguns pesquisadores relacionam este número à população ideal de 32 000

habitantes: 30 000 na cidade e 2000 no entorno, enunciada por Howard no diagrama de

Garden Cities. A proposta previa, para alocar essa população, um total de 5000 lotes de 6m

x 39m (Howard, 1974).

Se considerarmos que no plano inicial de Londrina conta-se cerca de

1360 lotes, mesmo considerando as chácaras, a população ficaria bem aquém daquele total

preconizado.

Talvez a cidade de 30 000 habitantes tenha sido imaginada como

dimensão ideal, baseada nas experiências e observações.

Breve Morfo Genealogia

Page 16: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

À época do projeto de Londrina, realizavam-se na Europa os Congresso

de Arquitetura Moderna- CIAM que culminariam na elaboração da Carta de Atenas (1933).

No Brasil, dava-se continuidade ao processo de modernização de Capitais como recusa às

cidades coloniais. No projeto de Goiânia (1934), seus projetistas citam como modelos as

Cidades Jardins, além de Washington e Versailles. (Yamaki, 2003). No Norte do Paraná,

algumas Companhias de Colonização como a BRATAC, iniciavam empreendimentos com

glebas rurais e núcleos urbanos. Em Assaí (1932), obedecendo ao slogan da Companhia

que era educação e saúde, a Escola e Hospital ficavam em locais estratégicos na malha

ortogonal com diagonais a meia encosta. Os precedentes de Assaí eram as colônias de

imigrantes japoneses e as cidades de Bastos e Pereira Barreto no Estado de São Paulo.

A proposta de Jatahy, de autoria de Mabio Palhano (1930), projetado

junto à curva do rio Tibagi, traz um plano que se assemelha às Cidades Ideais, uma malha

ortogonal com praças distribuídas geometricamente, e margeada por uma avenida

arborizada e chácaras no entorno.

Assaí e Jatahy, apresentam características morfológicas similares a

Londrina, apresentando no entanto diferenças na estruturação e definição de centralidades.

Na semelhança de morfologia com o plano inicial de Londrina, pode-se

citar Circleville (1810) nos Estados Unidos. O plano se apropria de estruturas geométricas

pré-existentes dos aborígines, e desenvolve-se como sobreposição de um quadrado e um

círculo. (Fig.06-Circleville 1810)

A espiral imaginária de expansão de Londrina por sua vez, pode nos

remeter à distante Cidade na Colina de autoria de Martini (séc.XV).

Londrina traz impregnada no seu traçado, outras cidades, outras

experiências. “Um modelo de cidade do qual extrair todas as cidades possíveis”, como

descreveu Kublai Khan a Marco Polo, em Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino (1990).

Londrina pode ser considerada Cidade Ideal.

Mais do que invenção, as cidades são o resultado de um complexo

processo de transplante de modelos, imagens ideais e de reincorporação de tradições.

Page 17: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Sob essa perspectiva, as terras da Companhia de Terras Norte do Paraná

podem ser consideradas um grande laboratório de Culturas Espaciais. Projetistas de origens

e formações variadas marcaram com seus traços, a micro e a macro morfologia, o espaço

que seria vivido por dezenas de etnias.

É possível que tenha havido, tênues influências do ideário europeu no

projetar cidades e planejar a região. Mas, o mais provável é que, os estudos de precedentes

de colonização e saberes sedimentados, tenham sido o grande motivador nos projetos de

espacialização no Norte do Paraná.

Sob o ponto de vista do Patrimônio Cultural, o plano inicial da

Companhia de Terras define a gênese da cidade, e local onde deve-se desenvolver projeto

específico. Assim, os elementos definidores da elipse, os eixos e diagonais como a Avenida

Paraná, a saída para Nova Dantzig, e o entorno da linha férrea são regiões onde deve-se

desenvolver projetos estratégicos.

Por outro lado, o estudo de mitos e lendas da cidade, por fazerem parte do

imaginário popular, tais como Praça em Bandeira Inglesa, Praça em forma de Picadilly

Circus, Sete portas da cidade, entre outros, devem ser inventariados.

Page 18: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

2.2 Leitura 2: Tradição e Rejeição – Casas de Madeira versus Casa de Material

A Londrina de 1930-60 era uma cidade de madeira, onde as construções

denunciavam na forma do telhado e ornamentos de fachada, o repertório e a origem variada

dos construtores. Dentre eles, destacavam-se os mestres carpinteiros italianos, espanhóis, e

japoneses- que adaptaram sistematicamente o construir e o morar tradicional.

As Plantas de Aprovação de Projetos, confeccionadas por engenheiros

compatibilizando a construção e projeto, constituem importante acervo documental da

arquitetura vernacular e vernacular-imigrante Londrina.

Leis de Restrição às Casas de Madeira

Apesar da predominância na paisagem, a Companhia de Terras Norte do

Paraná tentava construir uma imagem de cidade higienista e com princípios estéticos onde a

exclusão de casas de madeira era evidente.

Já em 1939, o Decreto 29 considerava a necessidade de ser proibida a

construção de casas de madeira nos principais trechos da zona urbana, para melhorar seu

aspecto de urbs moderna.

Em algumas ruas da cidade ficava proibida toda e qualquer construção de

madeira, sendo a infração sujeita a multa e demolição.

Tal resolução era difícil de ser obedecida. Crônica de 1946 sugeria o

abrandamento da proibição, devido à “necessidade de solução do problema da habitação

através de construção de casas populares em madeira, que não venha a prejudicar a estética

da cidade.”

Apesar disso, a CTNP insistia na construção de imagem de cidade de

alvenaria ou material. Editorial na revista Pioneira dizia: “Esse contraste entre os modernos

edifícios de material e primitivos casebres de madeira tende a desaparecer, em breve, do

centro de Londrina” ou ainda “....grande parte do que se constrói agora é de material. Já não

Page 19: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

são mais casas de madeira construídas por quem vinha com a intenção de ganhar dinheiro,

fazer fortuna e voltar....”

A Lei 133 de 1951, lei de Loteamento que teve a consultoria de Prestes

Maia, sugeria a aplicação de idéias de unidades de vizinhança, cidade jardim, bairro jardim,

cidades lineares e outras concepções urbanísticas referentes a organização e conjuntos.

Mais que isso, considerava a necessidade de tratamento arquitetônico e paisagístico de

acordo com o ambiente residencial.

Restrições às edificações de madeira situadas no polígono central,

informando que “nas edificações existentes serão permitidas serviços de limpeza, consertos

ou alterações que visem satisfazer as condições mínimas de segurança e higiene”, seguiu-se

com o Código de Obras de 1955

À margem das discussões oficiais de extinção gradual , os anos 40-50

constituem o auge das construções em madeira realizadas pelos Mestres Carpinteiros e

Construtores no Norte do Paraná.

A continuidade da tradição, a abundância do material e o domínio técnico

entre outros fatores, definiram o aceite quase irrestrito deste tipo de construção entre os

imigrantes, quase independente de sua situação financeira.

Publicação comemorativa dos 15 anos da Colônia Internacional, como a

região era conhecida pelos imigrantes japoneses, mostrava a quase totalidade das casas

fotografadas como cenário de fundo, em madeira

Plantas Gráficas

As plantas de aprovação, documentação existente no Cadastro da

Prefeitura Municipal são cópias heliográficas sem tamanho padrão.

O desenho resultante é quase um esquema, em escala 1:100 ou 1:50. Consta que a

Prefeitura exigia que se representassem graficamente somente as peças maiores que

Page 20: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

10cm. Consequentemente não eram representados os elementos principais de identidade

da fachada da casa.

Em alguns casos, os cortes apresentavam a estrutura do telhado,

dimensionamento das peças e indicação de uso de telha francesa. A tesoura quando

representada, é a tradicional local.

Os esquemas apresentam usualmente a locação ou implantação, planta,

fachada e cortes longitudinal e transversal, além do carimbo com nome do proprietário e

responsável técnico. O nome do mestre carpinteiro não constava do documento.

Os aposentos eram denominados de quarto, sala/sala visitas/sala jantar,

copa/cozinha, alpendre/varanda/terraço, despensa e banho/wc.

A dissociação entre o projeto legal e a obra pode ser constatada em alguns

projetos construídos rebatidos, e a ausência de projetos de aprovação em muitos outros;

talvez extraviados ou que nunca tenham existido.

Espacialização Interna

A análise do projeto legal das casas analisadas, permite deduzir uma

variedade tipológica restrita, além da não fluidez resultante da compartimentação interna e

a não permeabilidade interior exterior.

A casa posicionada elevada em relação ao terreno, tinha via de regra a

sala na frente, a cozinha nos fundos, quartos com acesso direto à sala, corredor quase

ausente, banheiros externos ou semi-externos, atendendo o programa da moradia. Tais

compartimentos eram dispostos em duas linhas, sendo uma constituída de

varanda/sala/cozinha e a outra aposentos.

Nos anos 50, existiram em Londrina centenas de casas de madeira com

traços fortes de identidade, como obras de mestres carpinteiros. Há de se supor a existência

de razoável número de plantas de aprovação que, se não apresentam todos os detalhes

construtivos, permitem identificar os elementos de definição de tipologias.

Page 21: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Os projetos permitem identificar a planta, o tipo de estrutura do telhado e

as dimensões das peças, importantes à analise de técnica construtiva tradicional.

Mais importante, é o resgate ainda que gráfico, de um sem número de

construções já demolidas que não resistiram à implacável linha do tempo, e que existem

somente na memória dos pioneiros.

Passados mais de 50 anos, tais construções vem desaparecendo

rapidamente. Uma das dificuldades encontradas é a falta de mestres carpinteiros

qualificados na reabilitação, além da modificação dos valores na sociedade.

No caso da arquitetura vernacular da imigração japonesa, o sistema de

construção em encaixes, deveria resultar numa aparência simples, apesar de sua resolução

interna complexa. As sambladuras, apesar do trabalho na sua confecção, tornavam-se

invisíveis após a construção. Os mestres carpinteiros imigrantes, infelizmente não fizeram

escola, e poucos foram os que quiseram “roubar” suas técnicas.

Desaparecendo os mestres carpinteiros, esvaindo-se sua técnica milenar,

restam as casas vernaculares e as ferramentas hoje espalhadas, como testemunho de

momento significativo da história da técnica construtiva, e da contribuição ainda que pouco

reconhecida no Brasil.

Page 22: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

2.3 Leitura 3: Sobrevida das Construções de madeira no Quadrilátero Nobre de

Londrina

Quadrilátero Nobre

A região delimitada pela Avenida JK, Higienópolis e Mossoró, junto ao centro histórico

de Londrina, é região considerada nobre na cidade, devido à alta concentração de

edifícios de apartamentos de bom padrão e ser um dos m2 mais caros.

O trabalho iniciado em 1997 foi reavaliado em 2002/3. Surpreende a quantidade de

casas de madeira ainda existentes na região, um total de 66 unidades, bastante superior

ao que uma rápida análise visual permite apreender.

Fatores de Permanência e Substituição

Entrevistas realizadas junto aos moradores da região, bem como a imobiliaristas,

apresentaram como fatores de permanência, o fato de morar há mais de 30 anos e em

alguns casos mais de 50 anos no local, existindo afetividade ao local e à vizinhança, a

dimensão insuficiente do terreno para construir edifícios, entre outros.

Por outro lado, a dificuldade de manutenção, a sensação de insegurança, o fato de ficar

ilhado entre edifícios, a oferta insistente de construtoras, tem sido condicionantes à

demolição.

Estratégias de “atualização”

Page 23: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Em 1997, no primeiro levantamento, notava-se que poucas eram as unidades com algum

tipo de intervenção externa. A pintura, troca de esquadrias por outras quadriculadas e

maiores, além da eliminação do muro, eram algumas estratégias utilizadas ao re-uso.

Cenário hoje

Em levantamento recente, identificaram-se 28 casas que permaneciam com as mesmas

características, mesmo com mudança de uso. Cerca de 16 foram demolidas e

substituídas por construções em alvenaria, 4 abandonadas, e o resto sofreram

modificações como acréscimo em alvenaria e descaracterização da fachada.

Tal cenário mostra que, o re-uso adaptativo proporciona sobrevida às construções. Sua

permanência é importante como suporte a qualidades como convivialidade, afetividade com

o lugar, cada vez mais tênue em nossas cidades. (vide fotos ).

Page 24: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

2.4 Leitura 4: Sobrevida dos Grandes Barracões da década de 40-60

Ainda hoje, marcam forte presença na paisagem urbana de Londrina, grandes barracões em

madeira e alvenaria, que abrigavam serrarias, oficinas e principalmente como depósitos de

café e outros produtos agrícolas.

Constituem como marcos visuais e afetivos, importante acervo a ser redescoberto.

Distribuição dos Barracões

Existem atualmente, cerca de meia centena de barracões, que em sua maioria concentram-

se ao longo da antiga linha férrea (Rex, 2003).

Foto dos anos 50, mostra a imponência do Conjunto Cerâmica e Serraria Mortari, com

imensos barracões, e conjunto de 10 chaminés, bem junto ao Centro. (FIGURA 02)

Técnica Construtiva dos Barracões

A técnica construtiva adotada pelos construtores, para vencer grandes vãos adotava a

tesoura ou arco laminado colado em madeira. Esta última, composta de um arco

confeccionados com segmentos de madeira, é um exemplo de otimização do material e

apuro técnico.

Sobrevida dos Barracões

Alguns poucos barracões e conjuntos, vem sendo utilizados de maneira positiva.

É o caso de parte dos 17 barracões localizados na Rua Paraíba, que foram convertidos para

restaurante e boate, mostrando o potencial de reconversão deste tipo de construção.

Preservar os grandes barracões, é preservar símbolos de épocas de desenvolvimento da

cidade e edificações que dão identidade aos lugares. (FIGURA 03)

Page 25: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

3. CRITÉRIOS, CLASSIFICAÇÃO PRELIMINAR E CATEGORIAS

3.1 Critérios

Para a definição do que se considerar Patrimônio Cultural em Londrina,

foram considerados os seguintes aspectos, posteriormente descritos na Ficha de Inventário

proposta.

(A) Ser edificação pioneira

Ser uma das primeiras edificações

(B) Interesse Histórico (Valor Histórico, Significado Social)

Trata-se de edificação preservada por estar relacionada a fatos e personagens da história

Identificado e associado com o passado da cidade.

Ex:Marco Zero

(C) Representativo de Épocas de Desenvolvimento / Meios s Modos de Organização do

Espaço

Neste enfoque, leva-se em consideração as edificações que deram suporte à economia em

cada época do desenvolvimento da cidade. As vilas de madeira existentes na cidade

refletem o modo de organização do espaço em épocas iniciais.

Ex:Os barracões de café e algodão, as tulhas para café.

(D) Técnica e Qualidade Construtiva

Através deste enfoque, analisa-se a técnica construtiva. É o caso das casas de madeira, que

outrora predominavam na cidade.

Ex: Casas de madeira projetadas por mestres carpinteiros japoneses

(E) Qualidade Arquitetônica (projetos de autoria, excepcionais)

Algumas edificações são importantes por terem sido projetadas por arquitetos de renome

nacional, ou de projetistas locais com densa produção.

Ex:Os projetos de Vilanova Artigas, Rubens Meister, Américo Sato.

Page 26: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

(F) Identidade do Lugar

Algumas edificações marcam fortemente o lugar em que estão inseridas, dando-lhes

significado ao entorno. Outros elementos são marcos paisagísticos, pela escala e

imponência.

Ex: conjunto de edificações curvas na Praça Willie Davids, Chaminé da Mortari, Igreja do

Espírito Santo

(E) Pela Qualidade Tipológica

Alguns padrões consagrados de construções foram insistentemente repetidos,

caracterizando ruas e bairros.

Ex:: As casas de madeira com varanda, e as casas borboleta.

(F) Pelos Saberes Tradicionais

As construções em madeira eram o resultado de aplicação de técnicas tradicionais por

carpinteiros de várias origens.

Ex: Construções de madeira em geral

3.2 Classificação Preliminar

Para efeito de preenchimento posterior da Ficha de Inventário, realizou-se a classificação

preliminar das edificações. Tomou-se como referência inicial, os critérios analisados pelo

IPPUC em estudo de 1997.

(A) Função

Finalidade de uso inicial e atual do imóvel.

Comercial- loja, armazém

Cultural- teatro

Educacional- escola

Hospitalar- hospital

Hoteleira - hotel, pensão

Industrial- fábrica,

Page 27: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Institucional- prefeitura, biblioteca

Recreativa- clube, associações esportivas

Religiosa- igrejas, capelas

Utilitária – caixa d’água, ponte

(B) Material Construtivo

Material predominante e respectiva técnica construtiva.

Madeira- estrutura e paredes em madeira

Alvenaria- estrutura e paredes em alvenaria de tijolos

Mista- fachada em alvenaria e o resto da construção em madeira

Concreto Armado-estrutura em concreto armado

(C) Porte

Térreo

Dois Pavimentos

Três Pavimentos

Quatro Pavimentos

Mais de Quatro Pavimentos

Torre

(D) Linguagem Arquitetônica

Caracterização da edificação conforme a sua expressão estético-arquitetônica ,

representativa de momentos de desenvolvimento da cidade. Preliminarmente pode-se

considerar:

Vernacular / Vernacular Imigrante

Eclético

Proto Moderno

Moderno

Indefinido

Page 28: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

(E) Modos de Organização

Maneira como se apresentam as construções no lote, ruas e quadras

Isoladas

Geminada / Alinhada

Conjunto

Vila

Dispersão Homogênea

(F) Elementos de Expressão

Componentes externos e visíveis, que caracterizam determinadas linguagens arquitetônicas.

Implantação

Telhado

Ornamentos

Jardim

Varanda

Interior

Escala

Page 29: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

3.3 Categoria

Os elementos componentes do Patrimônio Cultural são divididos em paisagens, acessos,

eixos e caminhos, manchas, conjuntos homogêneos, fragmentos, esquinas e edificações

isoladas.

(A ) Paisagem / Atmosfera

Algumas ruas mantém atmosfera de ruas tradicionais, como resultado de uma

homogeneidade de implantação, forma de telhados, e uso dos espaços.

(B) Acesso Histórico

A leitura da Planta Geral da CTNP de 1937 evidencia a existência de caminhos conectando

o Núcleo Urbano de londrina à região. Recuperar ou sugerir na malha urbana atual os

caminhos iniciais significa resgatar os eixos primários de desenvolvimento da cidade, a

continuidade histórica enquanto qualidade urbana (Yamaki, 1995).

(C) Eixos/Corredores Históricos

Segundo este critério, os acessos transformam-se em eixos históricos na malha urbana

inicial.

(D) Caminho Consolidado

Refere-se a outros eixos significativos, de identidade, que surgiram no decorrer do

desenvolvimento da cidade.

(F) Manchas Urbanas

Alguns bairros sobressaem pela homogeneidade do conjunto, perceptível através do

conjunto de edificações, ou mesmo pelo traçado das ruas.

(G) Conjuntos Homogêneos

É relativamente comum, a existência de conjuntos de edificações semelhantes, construídas

no mesmo período.

Page 30: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

(H) Praças e Espaços Públicos

Espaços públicos livres sedimentados no tempo, de forte simbolismo.

(I) Fragmentos Urbanos

Remanescentes de um grupo de edificações utilitárias, partes restantes que possibilitam a

visão histórica do conjuntos .

(J) Esquinas

Espaços pré-praças. Em bairros tradicionais, as esquinas são pontos marcantes, onde se

localizavam bares e armazéns.

(L) Edificações Isoladas

Edificações que pela qualidade construtiva, espacial e afetiva são importantes para a

memória da cidade.

Page 31: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

4. MÉTODOS, TÉCNICAS E ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO

4.1 Métodos de Preservação

Segundo Attoe, o entendimento e a rápida expansão da preservação tem

sido acompanhada por um grande número de programas imaginativos, promovendo a

atividade. A preservação é realizada de seis maneiras:

1.Proteção Legal, 2.Multas e Penalidades, 3.Financiamento, 4.Subsídios, 5.Reuso

Adaptativo e 6.Venda de Direito de Construção (Solo Criado)

Em relação ao ítem 1.Proteção Legal, pode-se destacar:

1.1.Indicação Legal (Listagem Oficial)

1.2.Convenções de Restrição

1.3.Guidelines ou Guias de Design ( para manter o caráter das adições novas às edificações

históricas e o design de novas estruturas em contextos históricos)

1.4.Propriedade (posse através de ONGs de defesa do patrimônio)

Em relação ao item 5. Re-uso Adaptativo, afirma Attoe que algumas edificações

históricas podem ter potencial, viabilidade de uso através de projetos mais flexíveis.

Todavia, as possibilidades de transformações físicas e a violação de autenticidade faz

com que devam ser analisadas caso a caso.

4.2 Técnicas

Existem inúmeras técnicas de preservação de edificações. As técnicas,

juntamente com os métodos e estratégias devem fazer parte de orientações básicas relativas

ao Patrimônio. Umezu (in Okawa, 1997), enumera os seguintes. (FIGURA 04)

(A) Preservação no local:

Método tradicional de conservação e restauro. Possibilita o re-uso da edificação para outras

finalidades.

(B) Translado:

Page 32: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Trata-se de método utilizado em pequenas construções, ou edificações de madeira.

Desmantelamento e posterior transporte para outro lugar.

(C) “Envelopar”:

Construir uma outra edificação, encobrindo e mantendo a original.

(D) Preservação da Fachada:

Preservação da parte frontal da edificação, e construção de nova edificação na parte

posterior

(E) Preservação Total das Fachadas:

Preservação da “casca” da edificação, reconstruindo seu interior

(F) Preservação do Interior:

No caso de preservação de espaços e aposentos específicos, existe a possibilidade de

preservação das partes específicas.

(G) Preservação de Fragmentos:

Partes consideradas mais importantes da edificação a ser demolida, são preservadas.

(H) Preservação da imagem:

O projeto incorpora técnicas e detalhes tradicionais.

(I) Contraponto e Harmonia:

A construção de uma nova edificação junto à preservada, de maneira a harmonizar o

conjunto.

Page 33: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

4.3 Estratégias: Ponto, Eixo ou Linha, Setor ou Mancha

Na observação das peculiaridades do Patrimônio Cultural de Londrina,

constata-se que a sua riqueza maior, é constituída em grande parte, de edificações simples.

Propõe-se aa estratégia de pontos, eixos e setores, visando fortalecer a

visão de conjunto, potencializando assim as edificações dispersas.(Kuribayashi, 1995)

É o caso dos caminhos históricos, hoje pouco visíveis devido à destruição

sistemática de antigas edificações. Vale lembrar os antigos nomes de ruas, ainda na

memória recente dos moradores, como por exemplo Rua Curytiba, Rua do Lago, etc.

Nos bairros tradicionais como Casoni, Brasil, Nova, unidades-tipo

agrupadas numa mesma rua, ainda hoje mantém atmosferas de épocas de desenvolvimento

da cidade.

Identificar atmosferas, espaços coesos é tarefa essencial. A leitura de atmosferas, em

que ritmo, aberturas, volumes, telhados, cor, recuos e elementos invisíveis intra-quadra,

possam ser descobertos é importante à manutenção de pregnâncias e outras qualidades

essenciais.

Assume portanto, importância cada vez maior, a participação da

comunidade, na organização de acordos de preservação de qualidades no seu próprio bairro.

Page 34: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

5. PATRIMÔNIO IMAGINÁRIO E AFETIVO DE LONDRINA

– UMA OUTRA LEITURA DO PATRIMÔNIO CULTURAL-

Ao se transporem seis rios e três cadeias de montanhas, surge

Zora, cidade que quem viu uma vez nunca mais consegue

esquecer. Mas não porque deixe, como outras cidades

memoráveis, uma imagem extraordinária nas recordações.

Zora tem a propriedade de permanecer na memória ponto por

ponto, na sucessão de ruas e das casas ao longo das ruas e das

portas e janelas das casas, apesar de não demonstrar

particular beleza ou raridade....Essa cidade que não se elimina

da cabeça é como uma armadura ou um retículo em cujos

espaços cada um pode colocar as coisas que deseja recordar:

nomes, virtudes,....partes do discurso. (Cidades e a Memória;

Calvino,1990)

Nas atuais discussões sobre a Preservação do Patrimônio Cultural, há um

consenso de que deve haver consulta e envolvimento da comunidade.

Segundo Lavegas (apud SAPELLI,1996):

“a cidade não é somente a fachada de edificações e ruas que a

embelezam. A cidade é um programa cultural que está ligado

estreitamente ao homem, que a vive, representa seu status laboral e

social, suas tradições, sua história e o seu sentir estético. Sem o homem,

seria um conjunto de blocos, cimento e ferro, carente de significados.”

Neste sentido, uma parte do trabalho foi direcionada para a questão

central: o que seria considerado patrimônio para os londrinenses? Re- produzir o

imaginário do patrimônio de Londrina do ponto de vista de seus moradores pode ser uma

das estratégias de construir uma cidade atrativa, um ambiente reconhecível e familiar.

Silva (2001) ressalta que a cidade também é uma imagem que lenta e

coletivamente vai sendo construída. A cidade como lugar de acontecimento cultural e como

cenário de um efeito imaginativo. O que faz uma cidade são os símbolos que os seus

próprios habitantes constróem para representá-la.

Construir o patrimônio imaginário e afetivo, por meio do registro da

participação dos moradores incorpora outros modos de contar a história da cidade, a

chamada memória do lugar, e abre caminhos de diálogos para a implantação de um plano

de preservação do Patrimônio Histórico de Londrina.

Page 35: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Para a compreensão dos elementos imaginários e afetivos da população

sobre Londrina, foi realizado um questionário distribuído no centro da cidade, lugar de

população residente e pendular, totalizando 150 entrevistas. Foram incluídas perguntas para

a identificação e para possíveis correlações entre idade, tempo de moradia em Londrina,

bairro e profissão. A amostragem resultou em tempo médio de moradia de 18 anos para

uma idade média de 32,9 anos.

A pergunta-chave do questionário, referia-se aos elementos importantes

para se preservar e/ou manter como parte da história de Londrina. Foi realizado o

direcionamento em categorias: 1. Casa/ edifício/ construções; 2. Praças; 3. Ruas; 4.

Esquinas; 5. Bairros; 6. Igrejas ou templos; 7. Paisagens; 8. Elementos naturais; 9. Objetos.

Os entrevistados apontaram vários exemplos de uma mesma categoria,

porém as mais evocadas representam, certamente, os símbolos do Patrimônio Histórico de

Londrina. Observa-se que em sua maioria são construções, espaços institucionais ou

mesmo a imagem presente em cartões postais, nas páginas internas das listas telefônicas,

que formam os cenários construídos e adotados no imaginário da cidade.

5.1.Categorias

(A) Casas, Edifícios e Construções

Nesta primeira categoria, os entrevistados apontaram 82 edificações diferentes. No

conjunto citado predominam três, a saber: Museu Histórico, Museu de Arte e a Mansão da

Família Garcia Cid, atual sede do Banco Sudameris.

O Museu Histórico-antiga Estação Ferroviária e o Museu de Arte-antiga Rodoviária, como

espaço de chegada e partida para muitos, a primeira e última forte lembrança da cidade.

A mansão da família Garcia Cid, no alto da então aristocrática Avenida Higienópolis, se

sobressaia pela imponência e símbolo da chamada elite londrinense.

(B) Praças

Apesar do desuso atual das Praças, dentre as 25 praças citadas, os espaços localizados na

área central ainda mantém forte presença na memória. Fotos dos anos 50, mostram praças

vigorosas, bem cuidadas, e relatos de uso intenso.

Page 36: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

A Praça Rocha Pombo e a Praça Marechal Floriano são as mais citadas no questionário, não

somente por serem as praças “mais centrais”, mas também por serem espaços com carga

afetiva e simbólica.

A Praça Rocha Pombo, tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual, foi certamente a

primeira paisagem para os pioneiros que chegavam de trem. Hoje, sua proximidade com o

terminal urbano faz com que seja um espaço de passagem diária para muitos.

A Praça Marechal Floriano, entre a Catedral e as Casas Pernambucanas, é espaço mais de

lembrança do que de uso. Existe o mito da bandeira inglesa, no seu traçado em asterisco,

por isso entre outras razões, chamada de Praça da Bandeira.

(C) Ruas

Nesta categoria, foram citadas no total, 42 ruas. Existe predominância de ruas centrais, com

destaque para a Av. Higienópolis, Av. Paraná(Calçadão) e a Rua Sergipe.

A rua Sergipe por talvez ser rua tradicional de comércio, a Av. Paraná por ser o Calçadão, e

a Av.Higienópolis por ser ainda uma das ruas de comércio mais sofisticado.

Nota-se que, existe pregnância dos eixos e caminhos históricos.

(D) Esquinas

Esquinas são quase praças. As construções chanfradas e com acesso pela esquina,

evidenciam momentos em que a esquina era um componente tão importante quanto ruas e

praças.

A esquina da Av. J.K e Av. Higienópolis, embora aparentemente árida, com 17,3% das

respostas, é a mais citada no questionário. Outras 63 esquinas são citadas, quase todas na

área central.

(E) Bairros

Page 37: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

A análise da cartografia da evolução urbana de Londrina mostra a formação histórica de

bairros surgindo como “ilhas”ao longo de eixos de ligação. Além do centro projetado pela

CTNP, Vila Casoni e Vila Nova são lembrados como de importância.

Outros 33 bairros citados, referem-se ao bairro de residência do entrevistado, o espaço e

paisagem do cotidiano.

(F) Igrejas ou Templos

Nesta categoria de edifícios de representatividade religiosa, há predominância absoluta de

citações da Catedral de Londrina.

Podem ser considerados elementos de fortalecimento do imaginário: ser a primeira, possuir

uma forte centralidade e, sua implantação no ponto mais alto do espigão central.

(G) Paisagens e Elementos Naturais

Nas respostas ao questionário, paisagens e elementos naturais resultaram em elementos

considerados semelhantes.

O Igapó é um consenso entre os entrevistados.

(H) Objetos

Cerca de 45 objetos foram referenciados pelos entrevistados.

A Concha acústica, tradicional local de manifestações e o Monumento ao Viajante perto da

nova rodoviária, são os mais evocados.

A análise do questionário nos conduz a uma série de conclusões.

Page 38: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Podemos citar por exemplo, uma pesquisa feita entre os moradores de Kobe, no Japão,

logo após o terremoto que literalmente arrasou a cidade. Os espaços que mais ficavam

gravados na memória dos moradores, eram aqueles do dia a dia, espaços reconhecíveis e

familiares, demonstrando a importância da paisagem do cotidiano.

Nas discussões sobre Patrimônio Histórico é imprescindível incluir o aquele construído no

imaginário e representativo de afetividade dos moradores. Decidir a permanência desses

elementos não é uma decisão complexa, pois:

“ A cidade também é o efeito de desejo ou de muitos desejos, que

resistem a aceitar que a urbe não seja também o outro mundo que

quiséramos viver. E também o que vivem e querem que assim seja

(SILVA, 2001, p.xxix)

Page 39: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Museu Histórico

Museu de Arte

Banco Sudameris

Biblioteca Municipal

Cine Ouro Verde

Ed. Júlio Fuganti

Rodoviária Nova

Banco Itaú Personalitté

Ed. Autolon

Rocha Pombo

Marechal Floriano

7 de Setembro

Willie Davis

Bosque

Nishinomiya

1o de Maio

Todas

Av. Higienópolis

Av. Paraná

R. Sergipe

Av. J. K.

Av. Duque de Caxias

R. Souza Naves

R. Quintino Bocaiuva

Av. Tiradentes

Av. Leste-Oeste

Av. Hig. X Av. J.K.

Al. M. Ribas X R. Rio de Jan.

Av. PR X R. São Paulo

Av. PR X R. Prof. J. Cândido

Av. Celso G.Cid X R.S.Naves

Av. PR X R. Minas Gerais

Av. PR X R. Rio de Jan.

R. S. Naves X R. Píaui

Vila Casoni

Centro

Vila Nova

Shangri-lá

Aeroporto

Vila Brasil

Quebec

Vila Iara

Jd. Bela Suiça

Cinco ConjuntosBair

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Patrimônio Cultural de Londrina - Análise dos Questionários

Casas/ E

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Page 40: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Catedral

Presbit. (R. Mato Grosso)

Templo Horganji

Rainha dos Apóstolos

Metodista (Centro)

Mesquita Islâmica R. Faissal

Adventista (Av. J. K.)

Capela UEL

Lago Igapó

Pq. Arthur Thomas

Zerão

UEL

Bosque

Barragem

Fundos de Vale

Mata do Godoy

Salto Apucaraninha

Monumento ao Viajante

Concha Acústica

Relógio da Papelaria Central

Monumento à Bíblia

Coreto do Calçadão

Monumento (Rotatória UEL)

UEL

Zerão

Museu Histórico

Museu de Arte

Moringão

Estádio do CaféOu

tro

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Patrimônio Cultural de Londrina - Análise dos Questionários (cont.)

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Page 41: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

6. LISTAGEM PARA DISCUSSÃO

Segue listagem preliminar para inventário e posterior listagem ou tombamento.

Paisagem

Conjunto Lagos Igapó

Bosque

Visual do horizonte através da do Museu de Arte e Museu Histórico

Eixos Visuais de fundo de vale

Sistema fundo de vale

Skyline centro (vista da rodovia, zona norte)

Paisagem que marquem o parcelamento da CTNP

Acessos históricos

Londrina – Nova Dantzig

Londrina – Heimtal/Warta

Londrina- Cafezal

Linha Férrea

Eixos Históricos

Duque de Caxias

Quintino Bocaiúva

Celso Garcia Cid

Rua Curytiba (atual Jorge Casoni)

Caminhos Consolidados

Calçadão (Av.Paraná)

Rio de Janeiro

São Paulo

Sergipe

Higienópolis

Page 42: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Setores ou Manchas Urbanas

Centro Histórico

Vila Casoni

Shangri-lá

Vila Nova

Vila Brasil

Vila Matos

Conjunto das Flores

Heimtal

Espirito Santo

Warta

Colônia Coroados

Conjuntos Homogêneos

Rua Caraíbas (comércio)

Conjunto Aeroviários Aeroporto

Conjunto das Flores

Rua Guaranis

Ruas na Vila Casoni

Vila Brasil (travessas)

Vila Nova (travessas)

Vila Casoni (ruas e vilas)

Conjunto Autolon e Cine Teatro Ouro Verde

Praças e Espaços Públicos

Praça Rocha Pombo

Praça Marechal Floriano

4 Praças centro (Praça Willie Davids/Primeiro de Maio/7 Setembro/Gabriel Martins)

Praças seqüenciais Shangri-lá

Page 43: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Praças da Humaitá

Praças Quintino

Largo Fuganti

Fragmentos Urbanos

Chaminé da Mortari

Portal I e II Mortari

Barracões Leste Oeste (Antiga Serraria e Cerâmica Mortari)

Barracões rua Paraíba (Sahão)

Remanescentes rurais na Av. São Jõao

Esquinas

Esquinas/arquitetura de esquina

Caraíbas – madeira

Pará x Mato Grosso

Sergipe x Minas Gerais

Edificações Isoladas

Anônimas

Casarão Duque de Caxias

Construções Em Madeira - Imigração Japonesa e outras imigrações

Comércio em madeira

Edificações mistas

Autor/Casas Artigas/Cascaldi

Igrejas e Templos

Catedral

Igreja Budista

Igreja Batista

Igreja Episcopal

Page 44: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Igreja rua Brasil

Igreja rua do Bosque

Templo Honganji

Capela Mãe de Deus

Igreja Heimtal Católica e Presbiteriana

Igreja Espirito Santo

Igreja Shangri-lá

Além, das categorias citadas, alguns outros elementos devem ser considerados:

Elementos Utilitários / Mobiliário

Chaminé Mortari

Caixa dágua Higienopolis

Antigo Bebedouro na Duque de Caxias com Benjamin Constant

Bueiro de 1942

Bancos com apoio em esfera na Praça Marechal Floriano

* Calçada antiga em pedra bola, assentes em diagonal

Denominações Históricas (ruas, praças, bairros) patrimônio adotado / imaginário coletivo

Leste Oeste, Via Expressa

Estrada dos Pioneiros

Rua do Lago

Page 45: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

7. FICHA DE INVENTÁRIO

7.1 Inventário como Processo

Conhecer é o primeiro passo para preservar as referências culturais. O fato

de explicitar e, se possível documentar, é chamar a atenção para a sua dimensão cultural, e

para a possibilidade de perda dos marcos referenciais. (LONDRES in MOTTA, 1998 p.38)

Segundo Azevedo (1998), a par de sua função básica de identificação e

gestão de bens de interesse cultural, o inventário tem efeito conscientizador e legitimador

muito importante.

A Carta de Atenas, já nos anos 30, recomendava um inventário de

monumentos históricos nacionais que deveria ser acompanhado de fotografia e de

informações

A paradigmática Carta de Veneza de 1964– Carta Internacional sobre

conservação e restauração de monumentos e sítios, afirma que os trabalhos de preservação

deverão ser acompanhados pela elaboração de documentação precisa, sob a forma de

relatórios analíticos e críticos, ilustrados com desenhos e fotografias.

Assim afirma a Carta de Petrópolis(1987):

“No processo de preservação do sítio urbano histórico, o inventário

como parte do processo não só de análise e compreensão da realidade,

constitui-se em ferramenta básica para o conhecimento do acervo

cultural e natural. A realização do inventário com a participação da

comunidade proporciona não apenas a obtenção do conhecimento do

valor por ela atribuída ao patrimônio, mas também o fortalecimento dos

seus vínculos em relação ao patrimônio.”(Art.8)

De fato, inventariar tem sido um dos processos recorrentes no processo de

preservação do Patrimônio Cultural., como atesta a publicação Inventários de Identificação

(MOTTA, 1998).

O programa nacional de Reabilitação Urbana de sítios históricos, em

desenvolvimento pelo IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(2001), define os seguintes Instrumentos de Identificação do Patrimônio Cultural:

1. Inventário de Bens Arquitetônicos – registro sistemático de bens tombados

individualmente e de tipologias excepcionais nos tombamentos dos conjuntos

Page 46: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

2. Inventário Nacional de Bens Imóveis em Sítios Urbanos Tombados – pesquisa

histórica, levantamento físico-arquitetônicos, urbanísticos, tipológicos, morfológicos,

sócio econômicos e afetivos.

3. Inventário de Configuração de Espaços Urbanos – dimensões morfológicas do

processo de urbanização, para avaliar a identidade configurativa dos sítios urbanos

tombados.

4. Inventário Nacional de Referencias Culturais – identificar bens culturais segundo as

categorias: celebrações, formas de expressão, ofícios e modos de fazer, edificações e

lugares.

Observa-se que atualmente o inventário não possui apenas a idéia de

catalogação de edificações, mas também as identidades configurativas e afetivas, além de

aspectos como celebrações e saberes.

Em relação ao método de coleta de dados preliminar, resolveu-se adotar

critérios não tão somente arquitetônicos e estilísticos, mas também a consulta à comunidade

para identificação dos bens. Um meio de se iniciar um diálogo com a memória da

comunidade, no processo de democratização cultural.

7.2 Modelos de Ficha de Inventário

Para a elaboração da Ficha de Inventário de Londrina, utilizaram-se como

parâmetros os critérios adotados no Plano de Discussão do Plano de Diretor de Londrina-

1995, e de modelos de outras Fichas de Inventário. A saber: Ficha de Inventário do

CONDEPHAAT da Secretaria do Estado da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de

São Paulo, Ficha de Reconocimiento do Inventário Paisajistico del Area Metropolitana de

Montevideo, Ficha de Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Secretaria da Industria

Page 47: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

e Comércio do Estado da Bahia, Ficha de Inventário de Proteção do Acervo Cultural de

Minas Gerais, Ficha do Inventário do Patrimônio Urbano e Cultural de Belo Horizonte,

entre outros.

Os inventários realizados no Estado do Paraná foram considerados

relevantes, como referência próxima às questões regionais, como por exemplo, o Inventário

de Proteção do Acervo Cultural da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, a Ficha do

Patrimônio Edificado de Curitiba e a Ficha de Inventário da Cidade de Assaí(PR).

A análise das fichas existentes, permitiu uma síntese em dois tipos de Fichas de

Inventário:

1. Ficha de Inventário do Patrimônio Arquitetônico e

2. Ficha de Inventário do Patrimônio Urbano-Paisagístico

Em ambas as fichas, além da numeração, existe um quadro analítico onde, de acordo com a

significância, a edificação ou paisagem é considerada neutra, importante ou excepcional.

A Ficha de Inventário Arquitetônico abrange os seguintes itens:

- Identificação de localização– endereço, quadra/lote, bairro/distrito, data de construção e

identificação do morador – proprietário/inquilino e telefone de contato.

- Caracterização geral do imóvel – uso atual e inicial, alterações, estado de conservação dos

principais elementos construtivos relevantes na questão de processos de preservação.

- Significância do imóvel.

- Descrição sumária.

- Fotos ou Croquis da obra

- Fontes de consulta

- Inserção Urbana

- Identificação complementar, caso existam dados sobre o projetista ou construtor e data de

aprovação ou habite-se nos arquivos da PML.

A Ficha de Inventário Urbano -Paisagístico por sua vez, insere as categorias como praça,

esquina, rua, caminhos históricos, bairros, conjunto homogêneo, fragmentos urbanos e

paisagem. A Ficha de Inventário abrange os seguintes itens:

Page 48: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

- Identificação de localização– endereço, quadra/lote, bairro/distrito, data de construção ou

formação

- Caracterização geral– uso atual e inicial, alterações, estado de conservação dos principais

elementos construtivos relevantes na questão de processos de preservação.

- Significância tais como características morfológicas, tipológicas, referências paisagísticas.

- Descrição histórica da formação do local

- Fotos ou Croquis da obra

- Fontes de consulta

- Inserção Urbana-análise do elemento em questão e seu entorno

- Identificação complementar, caso existam dados sobre o projetista ou construtor e data de

aprovação ou habite-se nos arquivos da PML.

A Ficha reflete a estratégia adotada de preservação do Patrimônio

Cultural em pontos, eixos e manchas, ou seja, da edificação isolada aos conjuntos de

edificações e bairros.

7.3 Fichas De Inventário – Arquitetônico e Urbano-Paisagístico

Fichar e inventariar deve ser um processo sistemático. A seguir,

apresenta-se exemplos de elementos inventariados para o direcionar futuros levantamentos.

8. DISCUSSÃO DE LEGISLAÇÃO POSSÍVEL DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO

CULTURAL-PANORAMA

Este breve panorama da legislação sobre preservação do patrimônio, os

caminhos percorridos, a evolução dos conceitos e enfoques, e pretende situar nesse

conjunto, a proposta de legislação para Londrina.

Inicialmente é preciso destacar que em relação à Legislação de

Preservação, existem: as Cartas, Recomendações e Declarações Internacionais adotadas

Page 49: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

pelo ICOMOS-Conselho Internacional de Monumentos e Sítios da UNESCO, Leis

Federais, Estaduais e finalmente Municipais.

8.1 Cartas Internacionais

Entre as Cartas adotadas pelo ICOMOS vale destacar: Carta de Veneza

(1964) – Carta Internacional para Conservação e Restauro de Monumentos e Sítios, Carta

de Burra (1981) – Carta de Conservação de Lugares de Significância Cultural, Carta de

Washington (1987) – Carta de Conservação de Cidades Históricas e Áreas Urbanas, Carta

de Brasília (1987) – Sobre Preservação e Revitalização de Centros Históricos, Documento

de Nara (1994) – Conferência sobre Autenticidade em relação ao Patrimônio Mundial.

A primeira reunião internacional, resultado do Primeiro Congresso

Internacional de Arquitetos e Técnicos em Monumentos Históricos, ocorreu em Atenas em

1931. A Carta de Atenas, chamada “Carta del Restauro”, definia alguns princípios

fundamentais, e entre suas resoluções, a necessidade de proteção aos monumentos através

de técnicas modernas, com atenção especial ao seu entorno.(anexo 1)

A década de 60 seria decisiva para o patrimônio cultural em todo o

mundo (AZEVEDO In: MOTTA, 1998). Já em 1962, com a Recomendação de Paris,

ampliam-se as categorias a serem preservadas, incorporando o elemento natureza ou seja, a

“salvaguarda da beleza e do caráter das paisagens e sítios”.(anexo 2)

O Segundo Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos em

Monumentos Históricos, reunido em Veneza, em 1964, aprovaria a Carta Internacional

sobre Conservação e Restauração de Monumentos e Sítios, intitulada Carta de Veneza.

A Carta de Veneza se tornaria um dos paradigmas. No seu artigo 1o

, a noção de

monumento histórico é definido como:

Compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou

rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução

significativa ou de um acontecimento histórico. Entende-se não só às

grandes criações, mas também as obras modestas, que tenham adquirido,

com o tempo, uma significação cultural (ICOMOS, 1964).

Page 50: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Delineia-se a partir daí, o princípio de que a chamada arquitetura

vernacular também deveria ser considerada patrimônio. A Carta traz também importantes

considerações sobre conservação e restauro, alertando sobre a necessidade de utilização de

todos os recursos de técnicas modernas, de eficácia comprovada cientificamente. Na

conservação, a necessidade de permanente manutenção, destinação de uso social, e a sua

indissociabilidade do meio. Sobre a restauração, considerada operação de caráter

excepcional, admite a anastylose- recomposição de partes existentes, mas jamais a

reconstrução do edifício. (anexo 3)

Nas Cartas Patrimoniais subsequentes, são incluídas a necessidade de um

diálogo com a comunidade, a salvaguarda do patrimônio mundial, cultural e natural, a

ampliação do conceito de patrimônio cultural, sendo incluídos além dos monumentos, os

conjuntos e lugares, a ênfase no patrimônio ambiental.

Em 1981, o ICOMOS Australia publica a Carta de Burra sobre a

Conservação de Lugares de Significância Cultural. São apresentadas definições entre elas:

bens, significação cultural, substância, conservação, manutenção, preservação, restauração,

adaptação. Define princípios, processos de Conservação, Preservação, Restauração,

Reconstrução e Adaptação e práticas. O objetivo da conservação, segundo a Carta de Burra

é conservar ou recuperar a significância cultural de lugares, incluindo aspectos como

segurança, manutenção e futuro. (anexo 4)

Deve-se destacar ainda a Carta Internacional para a salvaguarda das

cidades históricas – Carta de Washington de 1986, que, refere-se as cidades, centros ou

bairros históricos que exprimem valores de civilizações urbanas tradicionais. (anexo 5)

A contrapartida brasileira, seria a Carta de Petropolis de 1987, resultado

do 1o Seminário Brasileiro para preservação e revitalização de centros históricos.(anexo 6)

Por sua vez, a Conferencia de Nara realizada em 1994, no Japão, ressalta

a importância da valorização da diversidade cultural e de patrimônios diferenciados e

discute os valores e autenticidade, inseridos no seu contexto. Em relação à Carta de Veneza

(1964) que privilegiava edificações ocidentais em pedra e tijolo, a Carta de Nara(1994)

coloca em foco a discussão sobre as edificações em madeira, que predominam na Ásia. No

Japão por exemplo, a técnica tradicional de restauro prevê a substituição de partes e peças

deterioradas, dando assim sobrevida ao conjunto. (anexo 7)

Page 51: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Interessante observar que, no caso das construções de madeira em

Londrina, a discussão sobre preservação e restauro deverá considerar a questão da

autenticidade e da técnica construtiva suporte.

Por último, devemos destacar a Recomendação R(95) 9 do Conselho da

Europa, que fala sobre a conservação integrada de paisagens culturais como integrantes das

políticas paisagísticas. Assim é definido o termo paisagem:

Paisagem- expressão formal dos numerosos relacionamentos existentes

em determinado período entre indivíduos ou uma sociedade e um

território topograficamente definido, cuja aparência é resultante de ação

ou cuidados especiais, de fatores naturais e humanos e de uma

combinação de ambos.

Paisagem é considerada em um triplo significado cultural, porquanto,

-é definida e caracterizada da maneira pela qual determinado território é

percebido por um indivíduo ou uma comunidade;

-dá testemunho ao passado e ao presente do relacionamento existente

entre os indivíduos e seu meio ambiente;

-ajuda a especificar culturas locais, sensibilidades, práticas, crenças e

tradições.

A Recomendação refere-se à conservação de áreas de paisagem cultural,

particularmente às áreas suscetíveis a avarias, destruição e transformação prejudicial ao

meio ambiente. Encaminha o processo de identificação e avaliação das áreas de paisagem

natural, estratégias de ação e conservação de paisagens

8.2 Legislação Federal

O Brasil, de certa maneira, acompanha as preocupações internacionais

sobre a preservação, elaborando Cartas nacionais sobre o assunto. Historicamente, é no

Artigo 148 da Constituição Federal de 1934 que define a proteção ao acervo monumental e

arquitetônico como um princípio constitucional (Apud Brasileiro, p.80).

Page 52: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Em decorrência dessa primeira manifestação constitucional, é elaborado o

Decreto 25 de 30 de novembro de 1937, que organiza a proteção do patrimônio histórico e

artístico nacional, cria o SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e

reforça o tombamento como instrumento de preservação.

Na Constituição Federal de 1988, observa-se a ampliação do conceito de

patrimônio, além de instituir outros instrumentos de preservação.

“O Poder Publico, com a colaboração da comunidade promoverá e

protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários,

registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas

de acautelamento e preservação” (Art. 216, V, §1).

A Constituição Federal de 1988, amplia o conceito de patrimônio cultural.

“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material

e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de

referencia à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos

formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I-as formas de expressão;

II-os modos de criar, fazer e viver;

III-as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV-as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços

destinados às manifestações artístico-culturais;

V-os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,

arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”

Segundo Brasileiro, confere força aos Municípios, dando alento à

preservação do patrimônio cultural, e ressalta a questão da função social da propriedade,

em que o interesse público sobrepõe-se ao privado.

A Conferencia Internacional do Meio Ambiente, realizada no Rio de

Janeiro em 1992, institui como proposta necessária, buscar um Desenvolvimento

Sustentável na convergência dos aspectos ambientais e sociais. Como resultado, estratégias

Page 53: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

são definidas no documento resultante – a Agenda 21, que enfatiza para a aperfeiçoar o

manejo dos assentamentos humanos a Promoção do Desenvolvimento Sustentável:

“Melhorar o meio ambiente urbano promovendo a organização social e a

consciência ambiental por meio da participação das comunidades locais

na identificação dos serviços públicos necessários, do fornecimento de

infra-estrutura urbana, da melhoria dos serviços públicos e da proteção

e/ou reabilitação de antigos prédios, locais históricos e outros elementos

culturais...”

Ainda sobre a discussão do patrimônio cultural, foi publicado em Agosto

de 2000, o Decreto 3551 que institui o registro de bens culturais de natureza imaterial que

constituem patrimônio cultural brasileiro e cria o Programa Nacional do Patrimônio

Imaterial.

O decreto em questão, identifica os saberes-conhecimentos e modos de

fazer enraizados no cotidiano das comunidades, celebrações- rituais e festas de vivência

coletiva, formas de expressão- manifestações literárias, musicais, plásticas e lúdicas,

lugares-mercados, feiras e praças onde se concentram práticas culturais coletivas.

Saberes e lugares emergem como elementos a serem considerados dentro

do chamado patrimônio cultural.

No também recentemente promulgado Estatuto da Cidade – Lei n.10.257

de 10 de Julho de 2001, podemos observar os seguintes pontos:

Capitulo I – Diretrizes Gerais

Art 2a. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno

desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana,

mediante as seguintes diretrizes gerais:

XII – Proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e

construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e

arqueológico.

O Estatuto da Cidade deverá vigorar a partir de 5 anos após sancionada a

Lei. Todas as cidades estão obrigadas a re-adequar suas legislações de política urbana,

incorporando diretrizes ainda não contempladas. Significa que diretrizes gerais de

patrimônio histórico deverão ser desenvolvidas pelas instâncias de planejamento e cultura.

Na esfera municipal, o Estatuto possibilita a eliminação de distorções dos instrumentos

legais usuais, que desconsideram os aspectos locais, gerando um certo distanciamento da

população no processo.

Page 54: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

8.3 Legislação Estadual

Em relação ao Estado do Paraná, ainda nos anos 1940, são inscritos no

Livro do Tombo do SPHAN, algumas obras do período colonial em Paranaguá e Guaratuba

além de edifícios religiosos na Lapa.

Porém, somente em 1948 é criado o Conselho Consultivo do Patrimônio

Histórico e Artístico do Estado do Paraná, como resposta ao Decreto 25 de 1937.

Em 16 de setembro de 1953 é aprovada a Lei n. 1.211/53 que dispõe

sobre o Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Paraná. Constitui o conjunto de bens

móveis e imóveis que a sua conservação seja de interesse público e, deverá estar inscrito

em um dos Livros do Tombo.(anexo 9) Segundo Kersten (2000), apesar de ser aprovada

em 1953 a lei somente foi regulamentada em 1977, não havendo processo de tombamento

no Estado na década de 50. Os primeiros bens tombados, na esfera estadual, referem-se a

edificações de certa representatividade histórica e monumentalidade como Igrejas, palácios

e museus.

Em virtude das discussões sobre patrimônio e a abrangência de conceitos

e definições, outras tipologias de bens foram incluídos nos processos de tombamento

estadual.

Em relação à Londrina, são três os bens tombados, inscritos nos Livros do

Tombo na Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná: o conjunto Estação

Rodoviária João Batista Vilanova Artigas, a Praça Rocha Pombo e o Cine Teatro Ouro

Verde.

O conjunto Estação Rodoviária de Artigas e a Praça Rocha Pombo, foram tombados em

1975, no processo n. 53, inscrição 52 e processo n. 54 inscrição 53, no Livro do Tombo

Histórico. Segundo Lyra (1994), a rodoviária foi considerada por ser edifício pioneiro da

arquitetura moderna do Paraná e, a praça por integrar-se de maneira expressiva à

edificação, ambientando. O Cine Teatro Ouro Verde, é expressão da arquitetura

Page 55: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

moderna no Paraná. Tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado, em 1999, é símbolo

do otimismo e ousadia que caracterizaram a região.

8.4 Legislação Municipal

Londrina nasceu como “cidade de madeira”. Apesar da predominância de

construções em madeira, toda legislação urbana direcionava à sua transformação em urbs

moderna, o que implicava na construção “em material”. O decreto 29 de 1939, proibia a

construção de casas de madeira nos principais trechos da cidade. Tal preocupação pode ser

observada no Código de Obras de 1955, que permitia somente a manutenção nas casas de

madeira existentes.

No projeto de Re-desenho do Pátio Ferroviário em 1984, havia proposição de

preservação de barracão da rede e manutenção da paisagem. O barracão serviria como

apoio ao futuro Museu. O horizonte, no conjunto Rodoviária, Rocha Pombo e

Ferroviária, deveria ser preservado como patrimônio. Infelizmente, o projeto foi

implementado somente parcialmente, impossibilitando a preservação do barracão, bem

como a preservação da visual do horizonte.

Em 1995, a questão da preservação foi novamente inserida no Documento de Discussão

para o Plano Diretor de Londrina.

Documento base para a elaboração do Plano Diretor, e realizado pelo IPUUL – Instituto

de planejamento Urbano de Londrina trazia um conjunto de recomendações relativas ao

patrimônio cultural edificado.

Definia como Áreas de Interesse Histórico-Morfológico: Acessos Históricos, Centro

Histórico, Vila Casoni, Jardim Shangri-lá, Heimtal, Patrimonio de Warta e o Patrimonio do

Page 56: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Espírito Santo, já incorporando discussões internacionais e nacionais na abrangência de

escala de bairros e áreas de interesse histórico.

Individualmente são definidos: o elemento a ser preservado, seu significado e qualidade e

os possíveis procedimentos para a manutenção das características locais.

No entanto, somente a Vila Casoni e o Heimtal, foram incluidos no Plano

Diretor de Londrina de 1997, inserida no Projeto de Lei n.004/97 – Lei de Uso e Ocupação

do Solo, como ZEOC - Zona Especial de Ocupação Controlada:

“destina-se a regular áreas de interesse específico de proteção do patrimônio cultural,

histórico, artístico e paisagístico. Deve-se procurar manter a área com tipologias

distintas, espaços e edificações significativas, fortalecendo a identidade e promovendo o

senso de comunidade.

A ZEOC Casoni destina-se à manutenção das qualidades espaciais

tradicionais do bairro pioneiro de Londrina, e a ocupação “não-planejada”

consagrada” (Art. 32 § 1ª).

As unidade tipos, casa térreas isoladas, em madeira ou alvenaria, e as

vilas de fundo de lote são ocupações tradicionais, a serem incentivadas

nos casos de ampliação, reforma ou substituição, observadas as

seguintes normas:

I – os recuos de origem, variados no bairro, poderão ser mantidos;

II – a edificação da frente do lote deverá manter a tipologia de nível

tradicional;

III – as edificações poderão ter no máximo dois pavimentos;

IV – a construção de vilas é permitida, mantidos os índices urbanísticos;

V – isenta-se de vagas de estacionamento o lote, no caso de manutenção

de edificação significativa e/ou reconstrução original, segundo critérios

de preservação do patrimônio;

VI – os acesso as vilas de fundo de lote poderão ter largura máxima de

2.50m, mantida a unidade frontal tradicional; (Art. 32 § 2ª).

Em relação ao Heimtal, ZEOC –3, previa-se a manutenção das

características do núcleo Pré-Londrina englobando a avenida principal e a praça circular

(Art. 33). As novas edificações nos lotes voltados à praça deverão manter e fortalecer o tipo

de construção e obedecer o alinhamento (Art. 33 § 1ª).

Os lotes junto a avenida principal deverão manter as dimensões mínimas

originais, observadas as seguintes normas:

I – taxa de ocupação de 50%

Page 57: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

II – coeficiente de ocupação de 1,0 (Art. 3 § 2.).

Nos loteamentos próximos ao Heimtal, as quadras vizinhas deverão

manter as dimensões da malha original, sendo no entanto livre a

subdivisão de quadra (Art. 33 § 3). Os loteamentos novos, próximos ao

Heimtal, deverão localizar os espaços livres junto a Avenida Principal,

fortalecendo a centralidade (Art. 33 § 4ª).

Embora, as outras áreas de interesse Histórico-Morfológico não tenham

sido inseridas na Lei n.004/97, nesta época já se iniciava o processo da importância

temática.

No entanto, existe a necessidade de uma legislação específica, tanto em

termos de perda sistemática de elementos importantes, como também legais, já que o

Estatuto da Cidade – Lei n.10.257/2001, define na política urbana a ser adotada nas cidade

a “ Proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do

patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico.”

A proposta de Lei de Preservação do Patrimônio Cultural, procura incorporar esse

conjunto de preocupações e conceitos, base para o fortalecimento da identidade local, da

salvaguarda das edificações e paisagens, e da durabilidade da cidade.

Tendo em vista a agilização de processo, prevê-se dois caminhos: 1) Listagem de

Edificações de Interesse de Preservação e o 2)Tombamento. O Conselho de Preservação

do Patrimônio Cultural, e a Coordenadoria de Patrimônio Cultural deverão ser criadas

para deliberar, e conduzir a política de preservação. Incentivos e penalidades estão

previstos, visando a salvaguarda do conjunto indicado.

Page 58: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

9. MINUTA DE PROJETO DE LEI DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO

CULTURAL

LEI ............/2003

A Câmara Municipal de Londrina , Estado do Paraná aprovou, e eu, Prefeito Municipal,

sanciono a seguinte lei:

“Dispõe sobre a Preservação do Patrimônio Cultural do Município

de Londrina, e cria o Conselho Municipal de Preservação do

Patrimônio Cultural de Londrina e a Coordenadoria do Patrimônio

Cultural de Londrina.”

PATRIMÔNIO CULTURAL

Art.1 O Patrimônio Cultural construído e natural de Londrina, é integrado pelo Centro

Histórico, bairros, caminhos, edificações, praças, parques, paisagens, saberes e outros

elementos que, por sua importância para consolidar a identidade cultural, mereçam

proteção do Município.

Art.2 Constitui Patrimônio Cultural de Londrina, os elementos que serão analisados sob o

seguinte critério de valor:

I- Ser pioneiro ou um dos primeiros

II- Ser testemunho da passagem do tempo e de épocas de desenvolvimento da cidade

III- Pela singularidade da técnica construtiva e material utilizado

IV- Pela excepcional qualidade espacial

Page 59: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

V- Pelos fatos históricos que tenham ocorrido no local

VI- Ser formador da identidade local

VII- Ser testemunho da durabilidade da cidade

VIII- Pelos saberes tradicionais

Art.3 O Município efetuará a identificação de edifícios e conjuntos considerados

Patrimônio Cultural de Interesse de Preservação, e os inscreverá numa Listagem de

Elementos de Interesse de Preservação do Município.

Art.4 O Município efetuará o tombamento de edifícios e conjuntos que forem considerados

Patrimônio Cultural excepcional, segundo os preceitos desta Lei, e os inscreverá no Livro

do Tombo Municipal

Art. 5 O Município, a qualquer tempo, assiste o direito de função fiscalizadora, no sentido

de verificar a obediência aos preceitos desta Lei,

CONSELHO MUNICIPAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE LONDRINA-COMPAC

Art. 6 Fica criado o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Londrina, COMPAC-

LONDRINA, de caráter deliberativo e consultivo, integrante da Secretaria Municipal de

Cultura.

Art. 7 Compete ao COMPAC-LONDRINA

I- Definir a política municipal de defesa e proteção do Patrimônio Cultural;

II- Coordenar, integrar e executar as atividades relacionadas à defesa do Patrimônio

Cultural;

III- Gestão permanente visando o aperfeiçoamento de mecanismos institucionais e de

obtenção de recursos com apoio da iniciativa privada

IV- Adequação ao Estatuto da Cidade, em especial ao direito de preempção, outorga

onerosa do direito de construir e operações consorciadas

Page 60: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

V- Elaborar seu regimento interno em 60 dias após nomeação

Art. 8 O Conselho será composto pelo:

Secretário Municipal de Cultura – Presidente do Conselho, a quem caberá voto de

qualidade

Coordenador do Patrimônio Cultural do Município

Diretor Presidente do IPPUL

Secretário Municipal de Meio Ambiente

Representante da Câmara Municipal

Representantes das seguintes entidades, nomeadas pelo Secretário Municipal de Cultura:

IAB- Instituto de Arquitetos do Brasil

CEAL- Clube de Engenharia e Arquitetura de Londrina

Representante de Universidade Pública- UEL

Representante de Universidade Privada- UNIFIL ou UNOPAR

IAP- Instituto Ambiental do Paraná

ONG ou grupo de defesa do Patrimônio

Art. 9 Dentre os representantes deverá haver no mínimo: antropólogo, arquiteto, geógrafo,

historiador, e os demais representantes, de profissões envolvidas com o patrimônio cultural.

Art. 10 Em cada processo, o Conselho deverá ouvir a opinião de no mínimo dois

especialistas com conhecimento e experiência no assunto, bem como de membros da

comunidade de interesse do bem em análise.

Art 11 O exercício da função de Conselheiro é considerado de relevante interesse publico,

e não poderá ser remunerado

Art 12 O mandato de Conselheiro será de dois anos, permitindo-se uma recondução

Page 61: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

PROCESSO DE LISTAGEM DE ELEMENTOS DE INTERESSE DE PRESERVAÇÃO

Art.13 Os pedidos de identificação de elementos e conjuntos de interesse de preservação,

por iniciativa da própria Secretaria de Cultura, do proprietário ou de qualquer outro

cidadão, encaminhados pelo Protocolo Geral da Secretaria de Cultura serão enviadas à

Coordenadoria do Patrimônio Cultural, para instrução preliminar.

Art.14 O setor de emissão de alvarás para demolição e construção da Prefeitura, deverá

fazer consulta à Coordenadoria de Patrimônio Cultural, para instrução preliminar.

Art.15 Os órgãos de planejamento, projeto e obras da Prefeitura, tais como IPPUL, AMA,

CMPU, Secretaria de Obras, deverão sempre solicitar instrução preliminar à Coordenadoria

de Patrimônio Cultural, para análise de elementos de interesse e entorno.

Art. 16 O processo de inscrição na listagem obedecerá às seguintes fases distintas: Pedido

de inscrição na Listagem de Elementos de Interesse de Preservação, Notificação ao

proprietário da inscrição provisória, Registro na Listagem junto à Coordenadoria de

Patrimônio Histórico.

Art.17 Os pedidos de inscrição na Listagem de Elementos de Interesse de Preservação

deverão ter as seguintes informações:

I-Identificação e endereço do imóvel

II-Endereço do imóvel, descrição

III-Justificativa

Art.18 A partir do pedido, a Coordenadoria de Patrimônio Cultural efetuará o

preenchimento da Ficha de Inventário e após análise, constatado o seu valor, será incluída

na Listagem de Elementos de Interesse de Preservação

Art.19 Os elementos e conjuntos de excepcional valor, serão encaminhados para o

processo de Tombamento pelo Município

Page 62: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

PROCESSO DE TOMBAMENTO

Art. 20 Os pedidos de tombamento, por iniciativa da própria Secretaria de Cultura, do

proprietário ou de qualquer outro cidadão, encaminhados pelo Protocolo Geral da

Secretaria de Cultura serão enviadas à Coordenadoria do Patrimônio Cultural para instrução

preliminar.

Art. 21 O processo de tombamento obedecerá às seguintes fases distintas: Pedido de

tombamento, Notificação ao proprietário do tombamento provisório, Instrução para

eventual contestação, Deliberação através do COMPAC, Registro no Livro do Tombo.

Art. 22 Os pedidos de tombamento deverão ter as seguintes informações:

I-Identificação e endereço do interessado

II-Endereço do imóvel, descrição, estado de conservação(bom, regular, ruim, péssimo),

atual uso, documentação fotográfica datada,

III-Justificativa com informação preliminar sobre o valor do bem, a relevância, significado

para a memória da cidade, materiais e técnicas construtivas, informação se faz parte de um

conjunto maior.

Art. 23 A Coordenadoria deverá averiguar as informações apresentadas no pedido, checar

o nome e endereço do proprietário do bem em estudo, anexar planta planialtimétrica em

escala 1:2000 com a localização do bem e delimitação de área envoltória (de 300 metros no

caso de edificação), documentação fotográfica, identificação das características que

justificam a preservação do bem, e análise crítica preliminar.

Art. 24 Os pedidos instruídos pela Coordenadoria de Patrimônio Cultural, serão analisados

inicialmente pelo IPPUL, que após consulta à Secretaria de Obras o encaminhará de volta à

Secretaria de Cultura

Art. 25 O requerimento do proprietário ou de qualquer cidadão poderá ser indeferido pela

Coordenadoria do Patrimônio Cultural, caso em que caberá recurso ao COMPAC

Page 63: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Art. 26 A Coordenadoria do Patrimônio Cultural deverá enviar o processo ao Presidente do

COMPAC, no prazo de 30 dias

Art. 27 O Presidente do Conselho deverá indicar um relator, que terá prazo de 15 dias para

apreciar e apresentar o processo ao colegiado do COMPAC.

Art. 28 A deliberação do Conselho será publicada no Diário Oficial do Município

Art. 29 A proposta poderá ser contestada num prazo de 15 dias da data da publicação no

Diário Oficial

Art. 30 Instaurado o processo de tombamento, passam a incidir sobre os bens, as limitações

ou restrições administrativas próprias do regime de preservação de bens tombados, até a

decisão final

PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO DE BENS LISTADOS

Art..31 Cabe ao proprietário do bem inscrito na Listagem, a sua proteção e conservação,

segundo os preceitos desta Lei.

Art. 32 O bem inscrito ou em processo de inscrição na listagem, não poderá ser

descaracterizado

Art. 33 O restauro, a reparação ou alteração, somente poderá ser feita em cumprimento aos

parâmetros estabelecidos segundo orientação da Coordenadoria de Patrimônio Cultural,

ouvido o COMPAC

Page 64: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Art..34 A Listagem em questão estará vinculada ao Cadastro Imobiliário, e qualquer

alvará: de demolição ou de construção, deverá levar em consideração os parâmetros ao

interesse de preservação.

PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO DE BENS TOMBADOS

Art. 35 Cabe ao proprietário do bem tombado, a sua proteção e conservação, segundo os

preceitos desta Lei

Art. 36 O bem tombado ou em processo de tombamento não poderá ser descaracterizado.

Art. 37 No caso de venda do imóvel em pré-tombamento ou tombamento, o Município

poderá exercer o direito de preempção ou prioridade na aquisição do imóvel.

Art. 38 A restauração, reparação ou alteração somente poderá ser feita em cumprimento

aos parâmetros estabelecidos na decisão do COMPAC, cabendo à Coordenadoria de

Patrimônio Cultural, a conveniente orientação e acompanhamento da execução.

Art. 39 Em caso de urgência, as obras de reparação ou contenção poderão ser realizadas

com o ad referendum da Coordenadoria de Patrimônio Histórico

Art. 40 A Coordenadoria de Patrimônio Histórico poderá determinar ao proprietário, a

execução de obras imprescindíveis à conservação do bem tombado ou em tombamento,

fixando o seu início e fim.

Art. 41 Toda vez que se fizer necessária a proteção do entorno, deverá ser considerada a

questão da visibilidade, escala, ambiência e integridade paisagística

Page 65: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

INCENTIVOS E BENEFÍCIOS

Art. 42 Os proprietários de imóveis de valor cultural terão direito aos seguintes benefícios

e incentivos `a preservação:

I- Redução de até 80% do IPTU, considerados o grau de proteção ou a área ocupada pela

edificação, de acordo com os critérios e diretrizes técnicas,

II- Transferência de Potencial Construtivo conforme o Estatuto da Cidade

III- Orientação técnica necessária à adequada manutenção, conservação e restauro

IV- Divulgação e Premiação de Boas Iniciativas

PENALIDADES

Art. 43 Quando constatada mutilação do imóvel em fase de pré-tombamento ou

tombamento, ou de edificação do entorno, o proprietário notificado deverá reconstituir as

características originais da edificação, segundo orientação do órgão de Preservação.

Art. 44 Na hipótese de destruição ou mutilação irreversível, que impossibilite a restauração

do imóvel, será aplicada multa de 1 a 10 vezes o valor venal do imóvel, e a nova edificação

deverá obrigatoriamente observar a área construída e volume do mesmo

Art. 45 No caso de reforma, reparação, pintura, restauro sem prévia autorização, será

aplicada multa no valor de 20 a 100% do valor venal do imóvel.

Art. 46 A não observância de normas estabelecidas para o entorno do imóvel, será aplicada

multa de 10 a 50% do valor venal.

Art. 47 As multas deverão ser recolhidas dentro de quinze dias a partir da notificação,

cabendo recurso em igual prazo.

Page 66: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Art. 48 A penalidade sofrerá acréscimo de 100%, a cada novo procedimento de

fiscalização, até a reconstituição da edificação.

CORDENADORIA DO PATRIMONIO CULTURAL

Art. 49 Fica criada a Coordenadoria do Patrimônio Cultural , subordinada à Secretaria de

Cultura

Art. 50 Compete à Coordenadoria:

I- localizar, identificar e inventariar os bens do Município

II- manter a Listagem de Elementos de Interesse de Preservação

III- instruir os processos de identificação de edifícios de interesse de preservação

IV- instruir os processos de tombamento e as áreas envoltórias

V- fiscalizar e supervisionar a conservação e preservação de bens culturais do

Município

VI- Orientar e adequar a legislação de preservação ao Plano Diretor do Município

VII- Analisar todos os pedidos de demolição e aprovação de projetos de construção e

reforma, inclusive os projetos de iniciativa da Prefeitura

VIII- Criar programas de Educação Patrimonial

Art. 51 A Coordenadoria de Patrimônio Cultural será constituída por um Coordenador,

com formação superior em áreas afins, pessoal técnico sendo no mínimo dois arquitetos, e

mais três especialistas nas áreas afins de conhecimento, além de pessoal administrativo

Art. 52 A Coordenadoria deverá fornecer recursos humanos e materiais necessários às

atividades do Conselho, através da Secretaria de Cultura.

Page 67: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

Art. 53 Esta lei será regulamentada no prazo de 90 dias a partir da data de sua publicação,

revogadas as disposições em contrário

Londrina, Outubro de 2003

_________________________

Nedson Micheletti

Prefeito Municipal de Londrina

Page 68: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões sobre o Patrimônio Cultural de Londrina nos conduzem a uma série de ações

e estratégias, a saber:

1.Educação Patrimonial – conscientização da população, em especial os proprietários, sobre

a importância e vantagens da preservação. Introdução de disciplinas sobre Patrimônio nas

escolas de primeiro e segundo grau. Criação de disciplinas prático-teóricas nas

Universidades. Campanha permanente visando a divulgação sobre a importância do

Patrimônio.

2.Legislação sobre Preservação do Patrimônio Cultural. Criação do Conselho Municipal de

Preservação Patrimônio Histórico e da Coordenadoria de Patrimônio Histórico, vinculadas

à Secretaria de Cultura. Instituição de Livro de Tombo Municipal.

3.Inventário Sistemático, visando a elaboração de listagem de edificações e conjuntos de

interesse de preservação, e a indicação de edificações e conjuntos de qualidade excepcional

para tombamento.

4.Inventário sistemático de paisagens culturais, visando a utilização de seu potencial

cênico, recreativo e institucional.

5.Criação de Escola Técnica de Restauro, com ênfase em Carpintaria, visando a

conservação e restauro de construções listadas ou tombadas. Valorização dos saberes

tradicionais, o chamado Patrimônio Imaterial.

6.Orientação técnica gratuita aos proprietários , principalmente nas construções em madeira

7.Organização de um Banco de Dados sobre edificações a serem demolidas, e a

potencialização do material usado, para restauro de outras edificações.

Page 69: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

8.Incentivo ao re-uso adaptativo para sobrevida das construções e conjuntos listados

9.Preservação como ferramenta à revitalização de setores da cidade. Organização de

roteiros de caminhadas, visando incentivar o turismo urbano.

10. Elaboração de guias de design de bairros e manchas homogêneas, visando a

preservação e construção de paisagem urbana de qualidade.

Page 70: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

11. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 72: Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina

ANEXO 01 - CARTAS PATRIMONIAIS, LEGISLAÇÃO FEDERAL,

ESTADUAL E MUNICIPAL

ANEXO 02 – CADERNO DE PATRIMÔNIO -Capela do Espírito Santo – Patrimônio

do Espírito Santo

ANEXO 03 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Capela de São Miguel Arcanjo -

Heimtal

ANEXO 04 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Cadeia Pública de Londrina

ANEXO 05 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Museu de Arte de Londrina

ANEXO 06 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Museu Histórico de Londrina

ANEXO 07 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Biblioteca Pública de Londrina

(antigo Forum)

ANEXO 08 – CADERNO DE PATRIMÔNIO - Capela de Santo Antonio –

Patrimônio Selva

ANEXO 09 – QUESTIONÁRIOS – PATRIMÔNIO AFETIVO E IMAGINÁRIO