preservação do patrimônio cultural e reabilitação urbana: o caso da

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101 PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E REABILITAÇÃO URBANA: O CASO DA ZONA PORTUÁRIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO ELIANA MIRANDA ARAÚJO DA SILVA SOARES Professora - Instituto Metodista Bennett/RJ [email protected] FERNANDO DINIZ MOREIRA Professor - Universidade Federal de Pernambuco/UFPE [email protected]

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PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E REABILITAÇÃO URBANA: O CASO DA

ZONA PORTUÁRIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

ELIANA MIRANDA ARAÚJO DA SILVA SOARES Professora - Instituto Metodista Bennett/RJ

[email protected]

FERNANDO DINIZ MOREIRA Professor - Universidade Federal de Pernambuco/UFPE

[email protected]

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PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E REABILITAÇÃO URBANA: O CASO DA ZONA PORTUÁRIA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

RESUMO AáreaportuáriadoRiodeJaneirosofreugrandesredefiniçõesqueterminarampordimi-nuirseunúcleodinâmicoeportornarseusespaçosdegradadoseobsoletos.Partedaáreaéocupadaporfavelasemuitosdeseusbensarquitetônicosestãoabandonadoseemavançadograudedegra-dação.Comoemmuitascidadesdomundo,aPrefeituradoRiodeJaneirovislumbraareabilitaçãodessesespaçosesuareintegraçãoàmanchaurbana.EssainiciativaresultounoProjetoPortodoRio,publicadonoanode2001.Oplanoencontra-seemfasedeimplantação,emboraapassosmuitocurtos.Opresentetrabalhovisaanalisarascaracterísticaseasestratégiasdeintervençõespromovi-daspelaPrefeitura,identificandoospontospositivosenegativosdestaempreitadaàluzdoconceitodaconservaçãourbanaintegrada.ConsiderandoaZonaPortuáriadacidadedoRiodeJaneirocomopatrimônioculturalaserpreservadoparaasgeraçõesfuturas,otrabalhotambémprocuraidentificarosbensconstruídosexistentesesuasformasdeproteçãoediscutiraspossíveisformasdeinserçãodessepatrimônioemumaestratégiadedesenvolvimento.Apóstecermosconsideraçõessobreosprincipaisproblemasdasáreasportuárias,asegundapartedoartigoestudaastransformaçõesocor-ridasnapaisagemdessaáreadoRiodeJaneiro.Aterceiraparteanalisaasituaçãoatualdaárea,identi-ficandoosbensculturaisconstruídosexistentesesuasformasdeproteção.Aquartaparteapresentacomoazonaportuáriafoipensadanosdiversosplanosdeintervençãoeaspremissasdoplanoemcurso.Porfim,aquintapartediscuteosprincipaispontosnegativosdoplanoeaspossíveisformasdeinserçãodessepatrimônionoprocessodeplanejamentodaárea. Palavras-chave:PortodoRio,reabilitação,patrimônioeconservaçãourbana

ABSTRACT Theportdistrictof RiodeJaneirohassufferedgreattransformationsleadingtothelackof dynamismandtomanydegradationandobsolescenceof itsspaces.Sectionsof theareaareoc-cupiedbyshantytownsandmostof itsbuiltheritageisabandonedandhighlydegraded.Asinmanycitiesintheworld,theMunicipalityof RiodeJaneiroisfocusedintherehabilitationof thisdistrictanditsreintegrationtothemoredynamicsectionsof thecity.ThisinitiativewasmaterializedintheProjetoPortodoRio,publishedin2001.Theplanisunderway,butinaveryslowpace.Thispaperanalyzesthecharacteristicsandthestrategiespromotedbythisproject,identifyingthepositivesandnegativeaspectsof thisundertakingtakingintoconsiderationtheprinciplesof integratedurbanconservation.ConsideringthePortdistrictof RiodeJaneiroasaculturalheritagetobepreservedtothenextgenerations,thispaperalsoidentifiesthebuiltheritageandthewaysof includingitinastrategyof development.Afterdiscussingthemajorproblemsof portareas,thesecondsectionof thisarticlefocusesonthetransformationsof thelandscapeof RiodeJaneiroPortDistrictThethirdsectionanalyzesthecurrentsituation,identifyingthemajorbuiltheritageandthewaysof protectit.Thefourthsectionshowshowtheportzonewasconceivedinthediverseplansfortheareaandthemajorprinciplesof thecurrentplan.Finallythelastsectiondiscussesthemajorproblemsof theplanandthepossiblewasof includingthelocalheritageinthedistrictplanningprocess. Keywords:Portof RiodeJaneiro,rehabilitation,heritage,urbanconservation

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ELIANA MIRANDA ARAÚJO DA SILVA SOARES E FERNANDO DINIZ MOREIRA

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E REABILITAÇÃO URBANA: O CASO DA ZONA PORTUÁRIA DA

CIDADE DO RIO DE JANEIRO

ELIANA MIRANDA ARAÚJO DA SILVA SOARES / FERNANDO DINIZ MOREIRA

1 INTRODUÇÃO

Asgrandescidadeslitorâneasbrasileirassempredependeramdamodernizaçãodeseussistemasportuáriosparasobreviveremnocenárioeconômiconacionaleinternacional.Historicamente,aselites locaissempreapoiaraminiciativasdeampliação,modernizaçãoeexpansãodosportosdesuascidades.Essasintervençõesforambaseadasemumaóticaope-racionalqueprivilegiouamovimentaçãodecargas.Esseprocessolevou,atépoucasdécadasatrás,aumaumentodaáreadecais,armazénsemaquinaria, implicandoaapropriaçãodeáreasurbanasdosbairros tradicionaisvizinhosaosportos.Comoasestruturasportuáriaseasurbanaspossuemdiferentesformase lógicasdefuncionamento,aampliaçãodaáreaportuáriarompeucomamorfologiadosbairrostradicionaiselevouadesestruturaçãodestesúltimos.Emváriascidadeslitorâneasbrasileiras,éclaraadificuldadedeintegraçãoentreasestruturasportuáriaseotecidourbano,denotandoaimagemdeumacidadefraturada.(LLO-vERA,1999,p.208-210,SiLvA&COCCO,1999,p.16). Diantedasnovasdemandasdotráfegomarítimodasúltimasdécadas,comooau-mentodonúmerode containers e do caladodos navios, os portos tradicionais viram-seimpossibilitadosdecumpriradequadamentesuasfunções.Ainstalaçãodeportosmaioresafastados dos limites urbanos como Sepetiba (Rio de Janeiro), Pecém (Fortaleza), Suape(Recife)eviladoConde(Belém)foiumaalternativaqueseconsolidoudesdeosanos70nas principais cidadesbrasileiras.Esses grandes portos são ligados a uma rede territorialmaisamplaeseusmecanismosdeatuaçãosãorelativamenteindiferentesàexistênciadeumacidade(SiLvA&COCCO,1999). Asáreasportuáriastradicionaisimbricadasemcentrosurbanos,comoRiodeJa-neiro,SalvadorRecifeeBelém,sofreramgrandesredefiniçõesqueterminarampordiminuirseunúcleodinâmicoesuaáreadetrabalho.Comoemoutrascidadesdomundo,istoresultouemespaçosdegradadoseobsoletos.Noentanto,apesardadecadênciadosportos,criaram-seoportunidadesparaqueessesespaçosvenhamaserreabilitadosereintegradosàdinâmicaurbana. Muitascidadeslitorâneasbrasileirasvislumbramareabilitaçãodessasáreasurbanascontíguasàszonasportuárias.Comgranderiquezacultural,esseslugaressãopropíciosparao incrementodeatividadesculturais, alémdepossuirumgrandepotencialhabitacional ecomercial, por estaremna área central.Paraque essesprojetosde reabilitação tornem-sesustentáveisalongoprazo,faz-senecessáriointerligarosprojetosdereconversãodasestru-turasportuáriascomoentornoimediatoecomacidadecomoumtodo.Algumascidadesjá

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avançaramnosestudosepropostas,maspoucofoiimplantado.Dentreestesprogramas,odoRiodeJaneiroapresenta-secomoumdosmaisambiciosos. Apóssofrerinúmerastransformaçõesnapaisagem,aáreaportuáriadoRiodeJa-neiroencontra-sehojedesvalorizadaedesconectadaemrelaçãoàmalhaurbanadacidade.Grandepartedaáreaéocupadaporfavelaseboaparceladeseusbensarquitetônicosestãoabandonadoseemavançadograudedegradação.intervençõesrealizadasaolongodosé-culoXXcontribuíramaindamaisparaesse“isolamento”urbano.Aáreadetémumagrandecomplexidade, já que interesses diversos conflitam, como a questão da continuidade dasatividadesportuárias–comacargaedescargadoscontêineres–ousodosantigosarmazéns,aurbanizaçãodasfavelas,otratamentodasviasdecirculaçãointernaeperiférica,aimplanta-çãodeprogramashabitacionaiseaexpansãodeempreendimentoscomerciais,entreoutrosfatores.AáreaemestudocompreendeacostaoestedaBaíadeGuanabara,cujoslimitessãodefinidospelaRegiãoAdministrativaiRA,aqualenglobaosbairrosdaGamboa,Saúde,SantoCristoeCaju,consideradoscomoZonaPeriféricadoCentro. Jáháalgunsanos,aPrefeituradaCidadedoRiodeJaneirovemrealizandoestudosparareabilitaçãoepreservaçãodaregião.Adiversidadeculturaleurbanadaáreatambémestimulamuitosprofissionaiseestudantesaidealizaremintervençõesinovadorasouconser-vadoras.Asexperiênciasacumuladasduranteosanosserviramparaamadureceraspropostasemelhorestruturarosobjetivosaserematingidos,oqueresultounoProjetoPortodoRiodaPrefeitura,publicadonoanode2001.Oplanoencontra-seemfasedeimplantação,emboraapassosmuitocurtos. OpresentetrabalhovisaanalisarascaracterísticaseasestratégiasdeintervençõespromovidaspelaPrefeitura,identificandoospontospositivosenegativosdestaempreitadaàluzdoconceitodaconservaçãourbanaintegrada.ConsiderandoaZonaPortuáriadacidadedoRiode Janeiro comopatrimônio cultural a serpreservadopara asgerações futuras,otrabalhotambémprocuraidentificarosbensculturaisexistentesesuasformasdeproteçãoediscutiraspossíveisformasdeinserçãodessepatrimôniocomoumaestratégiadedesenvol-vimento. AsegundapartedoartigoestudaastransformaçõesocorridasnapaisagemdessaáreadoRiodeJaneiro.Aterceiraparteanalisaasituaçãoatualdaárea,identificandoosbensculturaisconstruídosexistentesesuasformasdeproteção.Aquartaparteapresentacomoazonaportuáriafoipensadanosdiversosplanosdeintervençãoeaspremissasdoplanoemcurso.Porfim,aquintapartediscuteasprincipaislimitaçõesdoplanoeaspossíveisformasdeinserçãodessepatrimônionoprocessodeplanejamentodaárea.

2 AS TRANSFORMAÇÕES DA PAISAGEM AO LONGO DA HISTÓRIA

Noiníciodacolonização,aBaíadeGuanabaraapresentou-secomoumlocalpro-pícioparainstalaçõesdeportosefortificações,afimdeconsolidaraocupaçãoportuguesaeguarneceracostacontraosinvasores.Cidadeeportonasceramaomesmotempoeforamporséculosintrinsecamenteligadosedependentesumdooutro.ComodesenvolvimentodamineraçãoemMinasGerais,noséculoXviii,oportodoRiotorna-seoprincipalescoadou-rodasriquezasdacolôniaeentradadeprodutoseescravos,passandoaganharaindamaisimportânciacomatransferênciadanovasedeadministrativaparaoRiodeJaneiro,em1763.

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Acostaeraplenadepequenasbaíase dominada por diversos embarca-douroseoutrasestruturasligadasaoporto. A atual configuração dazonacentralqueenglobaazonapor-tuária pouco se parece com aquelanostemposcoloniais.Morrosforamdemolidos,aexemplodosMorrosdoCastelo edeSantoAntônio,praias,lagoas e pântanos foram aterrados.Tais fatosalteraramdefinitivamenteapaisagemlocal. NoiníciodoséculoXX,nagestãodoprefeitoPereiraPassos,aorladacidadefoialterada,egrandesavenidas foram abertas, a exemplodo que o Barão Haussmann reali-zouemParis.Umagrandeobrafoifeitanoporto,devidoaoseucrescentemovimento.TodaafaixacosteiraentreaPraçaMauáeaPontadoCajufoiretificadapormeiodeaterros,emsubstituiçãoàsreentrânciasdacosta.Aotododezpraiasdesapareceram,permanecendosomenteosnomes,bastanteconhecidos:Prainha,Saúde,Chichorra,Gamboa,valongo,Formosa,Palmeiras,Lázaros,SãoCristóvãoeCaju(GASPAR,2004,p.128).Nessaépocafoiconstruídoumnovocaiscom3500metros,juntamentecom18armazéns,naavenidarecémaberta,batizadadeRodriguesAlves.OnovocaisdoportotransformouoSacodeSãoDiogonaAvenidaFranciscoBicalho;aPraiaFor-mosanaRuaPedroAlves;oSacodoAlferesnaRuadoSantoCristo;oSacodaGamboanaRuadaGamboa;ovalongonaRuaSacaduraCabral;eaPrainhanaPraçaMauá(GASPAR,2004,p.135). AconstruçãodoElevadoJuscelinoKubitscheknadécadade1970,maisconhecidocomoAveni-daPerimetral,obstruiuavisibilidadedos bairros portuários. Sua exten-sãoseguetodaaAvenidaRodriguesAlves, e tem por objetivo ligar aautopista doAterro do Flamengo,aAvenidaBrasil,eaPonteRio-Ni-terói,alémdeoutrosacessossecun-dários.Todas estas transformaçõesacentuaramo conflito entre a áreaportuáriaeaáreacentraldacidade,comumefeitodesarticuladorsobreaestruturaurbana.

Figura1-PrainhaeSaúde,em1893.FotoemdetalhedeMarcFerrez.Fonte:OrlaCarioca,2004.

Figura2-PíerMauánoprimeiroplano.Foto:S/a.iníciodosanos2000.

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No âmbito das políticas eprojetosmodernizadoresdadécadade1970,oGovernodoEstadopromoveuaimplantaçãodoPortodeSepetiba,nomunicípiodeitaguaí,afimdeatender,sobretudo, o complexo industrial dobairrodeSantaCruz,nacidadedoRiode Janeiro.PortodeSepetiba foi inau-gurado em 1982, sob a administraçãodaCompanhiaDocasdoRiodeJanei-ro (CDRJ).Com isso,oPortodoRioperdeugrandepartedesuasatividades,ficandomuitosdeseusarmazénsobso-letos.AsatividadesdecargaedescargadoantigocaisforamdeslocadasparaobairrodoCaju, próximo àPonteRio-Niterói.Algunsdosarmazénspassaramaserutilizadoscomogalpõesparaasatividadesdeproduçãodasescolasdesambacariocas. Aregiãofoiesquecidapormuitosanos,nãosópelopoderpúblico,maspeloscidadãosca-riocas,deummodogeral.ComaconstruçãodaAvenidaPresidentevargas,nadécadade40,ocen-trodacidadefoiclaramentedivididoemduaspartes,entreocentrodenegócios“febril”eocentro“próximoàzonaportuária”,fatoquegerouumasegregaçãosocial,culturaleeconômica.Enquantooprimeirorecebeumaisinvestimentoseprogramasespecíficosparaapreservaçãoeconservaçãodopatrimôniocultural,comooCorredorCultural,queserávistomaisadiante,osegundotornou-sepoucovalorizado,entrandoemumfortedeclíniosócioeconômicoeemumavançadograudedegra-dação,comoempobrecimentodapopulaçãoresidente.Espacialmente,osbairrosportuáriosforamcercadospelagrandeavenidaeseumurodeedifícios,epeloviadutodaPerimetral,fazendocomqueperdessemaconexãocomacidadeeasuavisibilidade,tendocomoconseqüênciaoisolamentourbano.

3 CONTEXTO: CARACTERIZAÇÃO E SITUAÇÃO ATUAL

OPortodoRioaindapossui6740metrosdecaiscontínuoeumpíerde883metrosdeperímetro(CDRJ,2006).Asinstalaçõesportuáriasvãodesdeaextremidadeleste,noPíerMauá,atéaextremidadenortenoCaisdoCaju,incluindooscais,ilhas,docas,pontes,píeresdeatracaçãoedeacostagem,armazéns,pátios,edificações,viasinternasdecirculaçãorodoviáriaseferroviárias,alémdeterrenosaolongodessasfaixasmarginais(CDRJ,2006).OportoaindaéutilizadoedetémimportânciaparaaeconomiadoEstado. Osbairrosdazonaportuáriaguardamaindaemmuitasruasaambiênciadasuaocupação,consolidadanoiníciodoséculoXX.Podem-seencontrarinúmerossobrados,galpõesmarcadamen-teecléticos,evilasoperáriasremanescentesdoperíodoindustrial,edificaçõesartdécoemodernistas,quesemesclamaconjuntoshabitacionaispopulareseàsfavelas,conferindoumaenormediversida-deàárea. Essadiversidadeéexpressaatravésdeexemplaresarquitetônicosquepoucoscariocasconhecem.Ariquezadessepatrimônioéinestimável.Encontramosobrasdegrandesarquitetos

Figura3-Fotoaérea:BairrosdaSaúde,GamboaeSantoCristoemarcosreferenciais.Fonte:dosautorescombasenoGoogleMaps,2007.

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econstrutores,queatuaramnofinaldoséculoXiXeiníciodoXX,comoAntô-nioJannuzzi,emodernistas,comoLú-cioCosta,GregoriWarchavchik,OscarNiemeyereAffonsoEduardoReidy. A arquitetura industrial estárepresentadapelosgalpõesqueseloca-lizamaolongodalinhad’águaeporou-trosedifíciosespalhadosnaárea,comooMoinhoFluminense, construídoem1927.PartedoMoinhoévoltadaparaaPraçaCoronelAssunção,antigaPraçadaHarmonia,muitoutilizadapelosmo-radoresdobairro,particularmenteporidososecrianças. Com relação aos usos dai–RA,daáreaportuáriaemquestão,ousoépredominantementeresidencial,àexceçãodobairrodaSaúde,deacordocomaTabela1aseguir.Emboraasáreasdestinadasaosusosnãoresidenciaissejambemmaisexpressivas,éprecisolevaremcontaquemuitosdessasáreaseimóveisestãoabandonados,subaproveitados,ouatémes-moemruínas,havendotambémvaziosurbanos,alémdocomérciopossuirbaixarentabilidade.

Figura4-vilaoperáriadeLúcioCostaeGregoriWarchavchikem1931easpectoatual.Fonte:LiNO,p.147,2005.Foto:ElianaMiranda,2007.

Figura5-UmdosedifíciosdoMoinhoFluminense,projetadoeconstruí-doporAntônioJannuzzieirmão,etrechodaPraçaCoronelAssunção.Foto:ElianaMiranda,2007.

Tabela1-Osusosdeacordocomosbairrosdai–RA

Fonte:DadosdaPCRJ–SecretariaMunicipaldeFazenda–SMF-iPP/DiG-ALFA,2000.

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AZonaPortuáriai–RAocupaumaárea1de850,84ha,eabrigaumapopulaçãode39973habitantes,deacordocomoCensode2000,realizadopeloiBGE.Osbairrosemestudo–Saúde,GamboaeSantoCristo–possuemaotodo316,14haeumapopulaçãode22294habitantes,oquecaracterizaumadasmaisbaixasdensidadesdemográfica/habitacio-naldacidade.Osgrandesproprietáriosdeimóveiseterrenos,deacordocomolevantamen-torealizadopelaPrefeituradaCidadedoRiodeJaneiro(PACRJ,2001,p.12),são:DocasS.A.,aRedeFerroviáriaFederal–RFFSA,aUnião,Exército,CEDAE,Estado,Município,MoinhoFluminenseePortus. Apartirdofinaldosanos70, iniciaram-se as preocupaçõesem torno da preservação da áreacentral da cidade, tanto do centrode negócios como da área portu-ária.De1979a1984 foi a fasedeimplantação do Projeto CorredorCulturaldoRiodeJaneiro,2quetevecomo foco o centro de negócios.Aotodoforamcercade1600edifi-caçõespreservadaspeloplano,hojeconsideradoumplanoeficazebemsucedido(RiOARTE,1985,p.6). Já na área portuária dosbairrosanteriormentedescritos,oimpulsoparaapreservaçãopartiudepreocupaçõesambientais.Em1998,surgiuentão,afigurajurídicadaÁreadePreservaçãoAmbiental–APA,regulamentadapelodecre-tomunicipaln.°7.612.OscritériosconsideradosparaacriaçãodasAPAsestãocontidosem13artigos,osquaisdispõemsobreumbem,cujascaracterísticasdeverãosernotáveisnosaspectosnaturaisouculturais,cujaocupaçãoeutilizaçãodevemserdisciplinadasnosentidodavalorizaçãodopatrimônioambiental.Naquelemesmoano,foiregulamentadaaLeiqueinstituiu comoAPA logradourosdosbairrosdaSaúde,SantoCristo,GamboaeCentro,conhecidacomoSAGAS3.DentreasprincipaisatribuiçõesdaLei,pode-sedestacar:

amanutençãodascaracterísticasconsideradas importantesnaambiênciaeidentidadeculturaldaárea;preservaçãodobens culturaisque apresentemcaracterísticasmorfológicastípicaserecorrentesnaárea;estabelecimentosdecritériosparanovosgabaritos;préviaaprovaçãoparademoliçõeseconstruções;criaçãodeumescritóriotécnico,parafiscalizaçãoeacompanhamentodasin-tervenções.

•••

Figura6-AsquatroáreasdeproteçãodoCorredorCulturaleadelimitaçãodaAPA-SAGAS,destacando-seosmorrosexistentes,Conceição,Livramento,ProvidênciaePinto.Fonte:dosautores,combasenafotoaéreadoGoogleMaps,2007edadodaPCRJ.

1Dadosde2003,PrefeituradaCidadedoRiodeJaneiro.2AprovadopelaLein.506de17/01/1984,quereconheceoCorredorCulturalcomozonaespecialdocentrohistóricodoRiodeJaneiro.3Decreto“N”7.351de14dejaneirode1988.

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A Lei de SAGAS protege oconjuntodecentenasdeimóveis,queseespalhamemdiversasquadras.Namaio-ria, são sobrados de dois pavimentos,comcomércionotérreoeresidêncianopavimentosuperior.NotrechodoCen-tro,ocomércioseestendeaosdoispa-vimentos.Avolumetriadaedificaçãoépreservada,istoé,mantêm-seotelhadocomtelhasfrancesas,asclarabóiasparailuminaçãoeventilação,eafachada. ComoPlanoDecenal daCi-dadedoRiode Janeiro, instituídopelaLeiComplementarn.° 16de1992, foicriadaaÁreadeProteçãodoAmbien-teCultural–APAC,comoobjetivodeprotegerasáreascomcaracterísticasambientaiseurbanasdenotávelinteresseparaaiden-tidadeculturaldacidade.Estabeleceu-setambémaconceituaçãoeadiferenciaçãoentreasAPAseasAPACs.ASecretariaMunicipaldasCulturaséquemgerenciaesteinstrumentourbanístico.Comocontrapartidaparaosinteressesprivados,aprefeituradispôsemlegisla-çãoaisençãodeimpostosparaosimóveisdeinteressehistórico,arquitetônico,culturaledepreservaçãopaisagística,taiscomo:

impostoSobreServiçodeQualquerNatureza–iSS;impostoSobreaPropriedadePredialeTerritorialUrbana–iPTU;TaxasdeObrasemÁreasParticulares–TOAP.

Alémdoinstrumentomunicipaldepreservação,aZonaPortuáriapossuibensimó-veistombadospelasesferasmunicipal,estadualefederal,queestãoclassificadosnaTabela2,aseguir.OstombamentosrealizadospeloinstitutodoPatrimônioHistóricoeArtísticoNacional–iPHANfizerampartedaprimeirafasedapreservaçãodopatrimônionoPaís,aqualprivilegiavaaarquiteturacolonial.Portanto,apenascincobens,quatrolocalizadosnaSaúdeeumnaGamboa,foramtombadoslogonoanosubseqüenteàfundaçãodoiPHAN,em1938,sendoocontextourbanodesconsiderado.

•••

Figura7-TomadadoJardimdovalongonoMorrodaConceiçãocomvistaparaaRuaBarãodeSãoFélixeaofundooMorrodaProvidên-cia.Foto:ElianaMiranda,2005.

Tabela2-BensimóveistombadosnaSaúde,GamboaeSantoCristo

Fonte:iPHAN,institutoEstadualdoPatrimônioCultural– iNEPAC,ePrefeituradaCidadedoRiodeJaneiro–SecretariadasCulturas,2007.

DeacordocomorelatóriodossubsídiosparaarevisãodoPlanoDiretorDecenalde1992,aÁreadePlanejamento1(noanode2005)éconstituídapor15bairrose6regiõesadministrativas,representando4,6%dapopulaçãoe2,8%doterritóriomunicipal.Asregiõessão:i-Portuária,ii–Centro,iii–RioComprido,vii–SãoCristóvão,XXi–Paquetáe

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Figura8 - igrejadeN.Sra.daSaúde,naGamboa, tombadapeloiPHAN.Fonte:ElianaMiranda,2007.

4Elitizaçãodapopulaçãoresidente,pormeiodasubstituiçãodoshabitantesporoutrosdemaiorpoderaquisitivo.

XXiii–SantaTeresa,asquaisformamoespaçodeocupaçãomaisantigadacida-de.Dentreasdiretrizesurbanísticasparaessasáreas,destaca-seoestímuloaousoresidencialdeclassemédiaetambémdaclassebaixa,visandopromoverumamul-tiplicidadedeusosediversidadesocial. Está prevista a elaboração deestudos tantopara a construçãodeno-vos imóveis, como para a reconversãodosantigosprédiosexistentesparamo-radia.AZonaPortuária,aLapa,eaAv.Beira Mar, no Centro, aparecem comograndes eixos de desenvolvimento dosusosresidenciais,culturaisedelazer.Aexpansão do uso portuário é creditadaparaobairrodoCaju,tambémpertencenteai–RA. Apredominânciadousoresidencialnestesbairros(deacordocomaTabela1)podeserconsideradacomoumfatorpositivoparaaconservaçãodaárea,poisatribuiaolocalumvalordeuso,quedeveserpreservado.issoserefletediretamenteemumvaloreconômicoqueresidenãosomentenavocaçãohabitacional,mastambémculturaleco-mercialdolocal,compotencialparacrescereseexpandir.Asintervençõesdevemprever,noentanto,aspossíveisopçõesdeusofuturo,afimdequenãoocorraagentrificação4pelaespeculaçãoimobiliáriaeaperdadaautenticidadedobem,edaidentidadecultural. Aregiãoguardamuitasconstruçõeseruasdaépocadesuaformação,oquelheconfereumvalorhistóricocultural,tornando-sefontedeinteressesparaestudos,planoseprojetos.Asestóriascontadaspelosmoradoresmaisidosos,sãopartedamemórialocal.Essaaquisiçãoetransmissãodeconhecimento,queconsisteemvalorcognitivo,nãopodeseresquecidaaoserealizaremprojetosdereabilitaçãourbana,paraquesepossapreservarasuaidentidadeculturalepromoverprojetossociais.

4 PLANOS DE INTERVENÇÃO NA ZONA PORTUÁRIA

ForamrealizadosmuitosprojetosvisandoarevitalizaçãodaZonaPortuária,masnemtodosforambem-sucedidos,ounãochegaramaserexecutados.inspiradosemmo-deloscomoodePuertoMadero,emBuenosAires,essesplanos tinhamcomoobjetivoreabilitarumaáreaurbanadegradadapróximaaograndecentrofinanceirodacidade,tendocomoestratégiaoestímuloaprogramasdecunhohabitacional,incrementaçãodocomér-cioedolazer.Contudo,aáreaselecionadasofreasconseqüênciasdesteabandonoeaindaesperaaimplantaçãodessesprogramas. Nofinaldadécadade70,existiaa idéiade transformaraáreadoportoemumcomplexodeavançada tecnologia.Aorla tambémseria renovada,afimdeampliaroseuvalorimobiliário.Contudo,osmoradoresdosbairrosdaSaúde,GamboaeSantoCristoma-

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nifestaram-secontráriosàsintervenções.Foramentãorealizadosestudos,conhecidoscomoProjetoSAGAS,quelevaramàaprovaçãodeatoslegaisparaapreservaçãodosbairros(PCRJ,2001,p.7). Oprojetolançadoem1984visavaà“proteção”e“valorização”dopatrimôniocul-turaldosreferidosbairros,afimdepromoverarevitalizaçãodolocalpormeiodaformulaçãodeumalegislaçãoespecíficadeproteção.Paratal,bensculturaismóveiseimóveisforamin-ventariados.QuatroanosmaistardefoicriadaaAPA–SAGAS,explicadanoitemanterior. De1987a1996foielaboradooPlanodeDesenvolvimentoPortuário,encomenda-dopeloMinistériodosTransportesepelaPortobrás–EmpresadePortosdoBrasilS.A.,paraáreasdepropriedadedaCiaDocasdoRiodeJaneiro.OobjetivoeraexpandirerevitalizaroPorto,comareduçãodecustosrelativosaotransportedemercadorias.Em1989,oPlanofoidesdobradonoPlanodeDesenvolvimentoUrbanodaRetaguardadoPortodoRiodeJaneiro,(dosbairrosdeGamboa,SaúdeeSantoCristo).Passouaincluirarevitalizaçãoerenovação.Constatou-se,noentanto,quenãohaviaárealivresuficienteparaasoperaçõesportuáriasparacargaedescargadoscontêineres.EstefatofezcomquefossecriadooPlanodeDesenvolvi-mentoUrbanoparaárea“nãoutilizável”,oqualdefiniaaexpansãodoCentrodeNegócioscomaimplantaçãodecomércio,serviços,habitaçãoelazer,nasáreasreservadasaosgalpõesearmazéns,alémdebuscargarantiraadaptaçãofísicaparaasatividadesportuárias(MOREi-RA,2002,p.105-106). Afimdeorientarosplanosderenovação,em1992foiimplantadooPlanodeEstru-turaçãoUrbanadaZonaPortuáriapelaSecretariaMunicipaldeUrbanismoeMeioAmbiente.Erapropostootombamentodeedifícioshistóricos,alémdacriaçãodeáreasparapreservação,ereabilitação, incluindoo incentivoaousohabitacional,reestruturaçãodosistemaviárioeusodosolo.Estabelecia-seentãodefinitivamenteopotencialcultural,socialeeconômicodaregião. Em1994,foicriadooProjetoCidadeOceânicadoRiodeJaneiro–Centrointerna-cionaldaÁguaedoMar.OprojetopropunhaacriaçãodeumpólodeanimaçãoculturaledeintercâmbiosnoPorto,comaconstruçãodecentroscomerciais,deserviçoedeconvenções,masnãosaiudopapel.OutrosprojetosforamaindadesenvolvidosparaoPíerMauá,eoter-minaldepassageiros,masnenhum,contudo,foiimplantando. Naquele mesmo período foramrealizados estudos para propostas habita-cionaisnaregião,comodesenvolvimentodoProjetoOportunidadesHabitacionais,acargo daPrefeitura daCidade doRio deJaneiro e do instituto de Planejamento–iPLAN5.Oprojetodiagnosticouasáre-asafimdeverificaraquelascompotencialhabitacionalesuaviabilidadeeconômicaelegal.Como resultado, foram iniciadas asobras, do ProjetoHabitacional da Saúde,em1996,cujaconclusãoocorreuem2001,com financiamento da Caixa EconômicaFederal(MOREiRA,2002,p.107-108). Figura9-ProjetoHabitacionaldaSaúde.Foto:ElianaMiranda,2006.

5AtualinstitutoPereiraPassos.

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Em1996surgiuoProgramaNovasAlternativasdaSecretariaMunicipaldeHabi-tação,oqualperduraatéomomento,comoobjetivodefomentarousoresidencial,comareabilitação,recuperaçãoeconstruçãodeimóveisemvaziosurbanoscominfra-estruturanoCentrodoRio.OsimóveissãocomercializadospeloProgramaMorandonoCentro,paraaocupaçãodevaziosurbanoseprédiosemruínas,incluindoaSaúde,GamboaeSantoCristo.OProgramabuscaaindaparceriascomproprietários,construtoreseempreendedoresinteres-sadosemvender,reabilitarouconstruirimóveisnoCentro. Em 1998 começou a ser desenvolvido o Programa de Recuperação Orientada– proRiO, para oMorro daConceição.Tem comoprincípio básico “a intensificação daarticulaçãoentreosdiversosprogramasdaprefeitura,promovendoumconjuntodeaçõescomplementaresàorganizaçãourbana,quevisamreabilitarevalorizaropatrimôniourbanís-tico,paisagísticoearquitetônico(...)”(SiGAUDePiNHO,2000,p.13).Constamnoprojetoaintervençãonasáreaspúblicas,arecuperaçãodoparqueprivado,arevisãodaslegislaçõesurbanasedepreservaçãoeoaproveitamentodopotencial turístico(SiGAUDePiNHO,2000,p.14). Naárea aindaconstaoprojetodoMuseuGuggenheim,que seria localizadonoPierMauá.Segundoaprefeitura,omuseuserviriaparaintegraraárea,aocircuitodaFrenteMarítimaeaoAterro,interligando-apelaorlaepeloeixodaAvenidaRioBranco.Apropostatornou-se bastante polêmica tanto nomeio acadêmico quanto para a população carioca.Questionou-seaviabilidadedoempreendimentopelosaltosvaloresdecustodeprojetoeobra,alémdaescassezderecursosqueacometeriaoutrasinstituiçõesculturaisdocentrodoRiojáexistentes. Todosessesprojetosrefletemqueopoderpúblicocompreendequesetratadeumazonaestratégica,apesardoseuatualestadodedegradação.Sãomaisde30anosdeestudossistemáticos,queevoluíram,epermitemquehojeexistaumamadurecimentosobrecomotrabalharaárea,nosmaisdiversosaspectosdeconhecimento,sendoelessociais,culturaiseeconômicos.

4.1 Projeto Porto do Rio

Em 2001 foi desenvolvido o “Plano de Recuperação e Revitalização da RegiãoPortuáriadoRiodeJaneiro”pelaPrefeituradaCidadedoRiodeJaneiro.Oobjetivogeralépromover“areinserçãodessaáreanotecidourbanodacidade,sejaeleviário,econômico,so-cial,culturalouespacial”(PCRJ,2001,p.13).Esteplanofoifeitocombasenaexperiênciadosprojetosanteriores,eparaalcançarameta,foramtraçadaspremissasbásicas,quebuscam:

tratararegiãocomoumespaçoestratégicodedesenvolvimento;atrairnovosempreendimentosprivados(serviços,comércio,lazercultural,ehabitaçãoparaclassemédia);romperocaráterdeisolamentodosbairrosportuários(melhoriasnossiste-masdelocomoção);reintegraraáreaàpaisagemeaousodaBaíadeGuanabara(lazer,esporteecontemplação);valorizaropatrimônioarquitetônicoeurbanolocal;

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criarumapolíticaparaoreaproveitamentodeimóveisdevalorhistóricoparafinshabitacionais,comerciaisoudeserviços;instituirumórgãogestorparaodesenvolvimentodaregião.

Dasaçõespropostaspeloplano,constamprojetosparareurbanizaçãodelogradou-ros,incluindoasáreasdemorro,bemcomoprojetosparaaberturadenovasvias,incluindoaampliaçãodosistemadecicloviasea implantaçãodenovosistemade transporte.Comrelaçãoaosusos,háincentivosprincipalmenteparaahabitaçãoeserviços,comacriaçãodelinhasdemicrocréditoparaaeconomialocal.Novasopçõesdelazerserãocriadaseserãoimplantadosnovosequipamentosculturais. Paraapropostadereestruturaçãourbana,foramrealizadosestudossobreapoten-cialidadede renovação, alteraçõesda regulamentaçãourbanaealteraçõesdamalhaviária,visandoatenderosobjetivoselencados.Reconhecem-seaindaosantigosgalpõesearmazénscomomarcasdapaisagemportuária,comodeverãoserrecicladosparausosligadosaolazer,culturaecomércio. Noestudodopotencialderenovação,aPCRJidentificouoquedeveriasermanti-do,oqueseriadifícildealteraroudetransformaremespaçopúblico,edefiniuasquadraseterrenosondea“renovaçãoconstrutivaedeusopoderiaocorrersemcomprometeraperso-nalidadedaárea”(PCRJ,2001,p.23).Asregulamentaçõesurbanasdevemsofreralteraçõespelasnovaspossibilidadesdeusoeocupação,eamalhaviáriadeverátambémserre-adequa-da,comoprolongamento,ouacriaçãodenovoseixosviários,considerandoaindaantigoseixosoperacionaisportuários. Oprogramapararecuperaçãoerevitalizaçãodoportoestádivididoemseisfunções:ur-banismo,transportes,habitação,desenvolvimentoeconômico,projetosespeciaisegestãourbana.Ourbanismocontemplaolevantamentodasituaçãofísica,fundiáriaetributária;amodificaçãodalegislaçãodezoneamento;aaprovaçãodenovosalinhamentos;earequalificaçãopaisagísticadaAvenidaBarãodeTeféedaPraçaMauá/píer.Emrelaçãoaostransportes,estáprevistaaimplan-taçãodosistemadeveículolevesobretrilhosenovasligaçõeshidroviáriasnaBaíadeGuanabara.Paraahabitaçãoprevê-seaexistênciadeumapolíticahabitacionaladequadaparaaárea.Paraodesenvolvimentoeconômicopropõe-seapoioàspequenasatividadeseconômicas,atraçãodeno-

Figura10-MapadeinteressesdoPlanodeRevitalizaçãoeReestruturaçãodaZonaPortuária.Fonte:institutoPereiraPassos–PCRJ,2006.

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vosinvestimentosecriaçãodepólosdedesenvolvimento.Comoprojetosespeciaisverificam-seprogramasparaviabilizaçãodegrandesequipamentos,parareabilitaçãodeconjuntoshistóricoseimplantaçãodemelhoriaspontuais.Agestãourbanatemcomoproposiçãoamodelageminstitu-cionaleoperacionalparaaexecuçãodoplano.(PCRJ,2001) Oquadro1aseguirindicaosatoresenvolvidosnoprocessamentodasfunções,ospro-dutosemdesenvolvimento.

Quadro1-ProgramadeRecuperaçãoeRevitalização* Concluído. iPP – instituto Pereira Passos, SMU – SecretariaMunicipaldeUrbanismo,SMO–SecretariaMunicipaldeObras,SMTR–SecretariaMunicipaldeTransportes,SMC–SecretariaMunicipaldasCulturas,SMH–SecretariaMunicipaldeHabitação,SMF–SecretariaMunicipaldaFazenda.Fonte:PCRJ,2001,p.28.

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Também está prevista para asobrasderevitalizaçãoareformadoTúnelFerroviáriodaGamboa edavilaOlím-pica.Estáprevistaaindaareurbanizaçãoe revitalização de várias ruas, incluindoobras de drenagem, esgotamento sani-tário, sinalização e iluminação pública.Comoprioridadedaobra,aprefeituraas-sinalouanecessidadederesolverospro-blemasdealagamentodaregiãoemépocadechuvas. Desdeadécadade70estãopre-vistasemleiconstruçõesde18pavimentosna região, alémdequatropavimentosdegaragem, apesar de quase não se encon-trarem edifícios desse porte.A legislaçãoconfirma o desejo de expansão do cen-tro de negócios. Cabe aqui destacar queesteprojetotevecomomodelooprojetodePuertoMaderoemBuenosAires,quepromoveu a reconversão dos antigos ar-mazénsportuáriosparaabrigarescritórios,serviçoscomerciais eculturais, e residen-ciais,eretomoualigaçàodacidadecomorio.OprojetodePuertoMaderoprocurouintegrar as novas construções, sem abrirmãodoaspectoportuário,quefoiconser-vado. PuertoMaderodestaca-sepeloseuzoneamentoediversidadedeusosimplantados,gerandoassimcondiçõesdesustentabilidade.Noentanto,RiodeJaneiroeBuenosAiressãomuitodistintas.Emtermosdocrescimentodamalhaurbana,observa-sequeoRiocresceuemdireçãoàZonaSuleOeste,maisespecificamentenaBarradaTijuca,quesetornaramossetoresmaisdinâmicosdacidade.OcentrodeBuenosAiresemsuafaixapróximaàregiãoportuáriasempremantevecertodinamismoeistofacilitouarevitalização.DiferentementedoPuertoMa-dero,noqualavalorizaçãosedeutambémpeloestabelecimentodeescritóriosehotéisdeluxo,oprojetoPortodoRiodevecontemplartambémascamadaspopulares,quealiestãodesdeoiníciodesuaocupação.Grandesempreendimentoscorremoriscodeficaremobsoletoscomonorestantedacidade,senãohouverumestudoclarosobreaviabilidadeeconômica,culturalesocialdolocal. UmgrandeacertodoprojetoforamasobrasdaCidadedoSambaedavilaOlímpicadaGamboa,ambasinauguradasem2005.ACidadedoSambalocaliza-senoantigopátioferro-viário,terrenoadquiridopelaprefeituradaliquidanteRedeFerroviáriaFederalS.A.Éconstituí-dapor14galpõesqueservemparaatenderasatividadescarnavalescasdoGrupoEspecial,antesespalhadaspelosgalpõesdaGamboa,carecendodeinfra-estrutura.Comasnovasinstalações,ostrabalhossãorealizadosemsegurança,alémdefacilitareincentivaravisitadeturistas.

Figura11-Apresentaçãodoestudodeverticalizaçãoparaarecupe-raçãoerevitalizaçãodoporto.Fonte:PCRJ.

Figura12-PuertoMadero,BuenosAires.Foto:ElianaMiranda,1999.

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AvilaOlímpicafoiinstaladaemterrenopróximo,comaproximadamente18milm²,comquadraspolivalentes,ginásiocoberto,pistadeskate,áreasdelazerparacrianças,anfiteatro,piscinas,ciclovia,espaçoparaalimentação,entreoutrasatividades.Noterrenohádoisgalpõestombadospelaesferamunicipal,osquaispertenciamàRedeFerroviáriaFederal.Oprogramafoi criadopelaprefeitura em2001 afimde“promover e incentivar apráticade atividadesesportivas voltadas principalmente para crianças, jovens e adolescentes (...)”.6O trabalho édesenvolvidopelaSecretariaMunicipaldeEsporteseLazer,queadministraosespaçoserealizaprojetos,integrandoacomunidadepormeiodoesporte. Atualmente, alguns armazéns são utilizados como equipamento cultural, já tendoabrigado grandes eventos.OArmazém5 encontra-se emconstante uso, com incentivodaSecretariaMunicipaldasCulturas.ACompanhiaDocasdoRiodeJaneiro tambémabreosportõesdoArmazém6.

5 CONCLUSÕES

OgrandedesafioProjetoPortodoRio,semdúvida,étransformarumespaçofun-cionalcomooporto,emumaáreadeusourbanocomum,mantendoaindaassuasatividadeseaambiêncialocal,comapreservaçãodasconstruçõeshistóricas.Tarefascomointegraçãodasfavelas,reestruturaçãourbanae implementaçãodepolíticashabitacionaistambémsãoquestõescomplexasquerequerem,alémderecursosfinanceirosdisponíveis,vontadepolí-tica.Entreospontospositivosdoprojeto,estáoaumentodoestoquehabitacionaldaárea.Coma implantaçãode linhasdefinanciamento–umaatitudequedeve ser continuadaeincentivadadesdeque respeitandoospadrões tipológicosemorfológicos–eo incentivoàinstalaçãodeempreendimentosimobiliárioscomerciaisedeserviços,comoexpansãodocentrodenegócios,eexpansãodocomérciovicinallocal,comaaberturadelinhasdecrédito.Aspropostasespaciaistrazemimportantescontribuiçõesparaacidadeporabrirumafrentemarítima,ouseja,maisespaçoscomvistasparaabaía,eporprovermaisespaçospúblicos. Noentanto,oProjetoPortodoRioapresentaalgunspontosnegativosquepodemcomprometerseusucesso,vistoque:

Figura13-CidadedoSamba.Foto:ElianaMiranda,2006Figura14-vilaOlímpicadaGamboa.Foto:ElianaMi-randa,2006

6Disponívelemhttp://www.rio.rj.gov.br.Acessoem2006.

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• carecedeumaestratégiamaisabrangentedegestãoedeconservaçãodaáreaemquestão;

• nãoapresentaumasistemáticadeanálisedoselementosformaisetipológicosdaárea;

• põeemriscoamanutençãodaidentidadeportuária;• nãoconstruiuumasólidaaliançacomosdiversosatorespresentesnaárea;• suaspropostasdedesenhourbanoparecemnãocontribuirparaamanutenção

dasespecificidadeslocais;• nãopossuiumprocessodemonitoramentoecontroledasações.

Oplanejamentoeagestãodaáreaportuáriadevemtercomoobjetivogarantiramanutençãodesuasestruturasfísicasesociais,integrando-oscomnovosecompatíveisusosefunções.Aáreadeveserentendidacomoumsistema,noqualseuselementos,usos,funçõesevaloresestejamemumagradualecompatívelmudança,dentrodeumcontextourbano.(ZANCHETi&JOKKiLEHTO,1997,p.38)DeacordocomaDeclaraçãodeAmsterdã,a conservação do patrimônio deve ser considerada comoo objetivo principal da planifi-caçãourbanae territorial,earecuperaçãodeáreasurbanasdegradadasdeveserrealizadasemmodificaçõessubstanciaisdacomposiçãosocialdosresidentesnasáreasreabilitadas.7AcreditamosquearevisãodalegislaçãourbanadoportodoRiodeJaneirodeveserfeitademaneiracriteriosa,levandoemconsideraçãoosprincípiosdaconservaçãointegrada,quenãofoiabordadanoplano. Aanálisedasformasdeumaáreadevalorhistórico,edeseurelacionamentocomorestodacidade,éfundamentalparaaidentificaçãodevaloresquenortearãoasdecisõesepropostas(ZANCHETi&JOKKiLEHTO,1997,p.40).Umaanálisemaisdetidadastipo-logiasemorfologiasexistentesnaestruturaurbanaportuáriapoderiaterdotadooprojetodoPortodeuminstrumentomaiseficazparaoentendimentodaformaçãoeevoluçãodaspartes da área portuária e de suas articulações e com a estrutura urbana.Oprocessodevaloraçãodeveserfundadoemamplasperspectivasculturais,ouseja,deveserbaseadoemvaloreshistóricos,econômicos,antropológicose,também,aquelesrelacionadosàmemórialocaleàtradiçãoartística. Comofoivisto,omodeloportuáriotradicionalimbricadoemcentrosurbanosden-sos,eemconflitocomestes,nãoémaissustentável.Noentanto,odeslocamentodasfunçõesportuáriasparagrandesportosexternossãoaindamaisdanososparaoscentrosurbanosaoretirarampartedeseudinamismo.Semantidosdentrodecertaescalaosportospodemfun-cionarcomoumimportanteinstrumentodedesenvolvimentolocal.Arelaçãodoportocomacidadedeveserestimulada,gerandoassimbenefíciosparaambososlados(SiLvA&COC-CO,1999,p.20).Oportopodeencontrarnasredessociaisurbanasrecursosempresariaisecompetênciasparaaprimorarosserviçosqueoferta.Odesativamentoquasetotaldoporto,deixandoapenasasinstalaçõesdoCaju,poderepresentaraperdadeumafacetaimportantedaidentidadeculturaldoRiodeJaneiro,dealgoqueestáidentificadocomaprópriaorigemdacidade.Apesardamanutençãodosgalpões,acreditamosqueopatrimônioportuáriode-veriatersidomaisvalorizado,poissuasformas,usoseatividadespermitemdarcontinuidadeentreopassado,presenteeofuturoepodemgarantirasustentabilidadedoprocessoaofo-mentaremsoluçõesinovadoras,mascompatíveiscomaspráticastradicionaisdeconstruçãodolugar.7CongressodoPatrimônioArquitetônicoEuropeu,realizadoemAmsterdã,outubrode1975.

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Programaseplanosdessanaturezasópodemtersucessoseforemapoiadospelosatoresquedecidemosusosdacidadeequepossuemos intrumentosapropriadosparaaimplementaçãodosplanos.Assim,oprojetoemquestãodevecontarcomaconstruçãodeamplascoalizõeseparceriasentretodososatoresenvolvidos:órgãospúblicosdediferentesestâncias,investidoresepromotores,administradoresedonosdegrandespropriedades,mora-doresegruposculturaisesociaislocais(LAPA&BORGES,2007,p.11).Nessesentido,verifi-ca-seaindaafaltadeincentivosaprogramasdeconscientizaçãoedeeducaçãopatrimonialnoprojeto.ObservamosaindaqueoprojetodoPortodoRiocarecedeumamaiorinteraçãoentreaadministraçãoportuária,osórgãospúblicosmunicipaiseórgãosdeproteçãoaopatrimôniocultural. Emtermosprojetuais,apesardeoplanopossuiraçõespositivascomooaumentodoespaçopúblicoeaaberturadafrentemarítima,apossibilidadedeverticalizaçãocomaltosgabaritos,noentornoimediatodosarmazénscontribuiaindamaisparaoisolamentodaárea,cercadapelaAvenidaPresidentevargasesuamuralhadeedifícioseoviadutodaPerimetral.Nãoestáprevistanoplanoalgumaformadeatenuaroimpactodoviaduto,quecertamenteimpedetodaequalquerrelaçãoespacialeurbanadosantigosbairrosportuárioscomaBaíadeGuanabara,alémdecontribuirfortementeparaadesvalorizaçãoimobiliárialocal.Oplanodeveriadeixarmaisclaraaconexãoentreatividadesportuáriaseaatividadescomerciaisedeserviçosalocadasemsuaáreadeentorno.Emtermosdedesenhourbano,observamosorecursoasoluçõesmassificadasquepodemserencontradasemqualquercidadeeuropéiaeapoucareferênciaàculturaememórialocal. Porfim,oplanonãoprevêumsistemademonitoramentoquecontroleperiodica-menteascondiçõesdaáreacomoformademensurarastendênciasquecausarãoimpactonoprojeto.Oprocessodemonitoramentedeveservistocomopartedoprocessogestorcomoobjetivodeembasaroplanejamentopreventivo,natentativadereduziraçõesemergenciais.

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