a reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

A REABILITAÇÃO COMO PRESERVAÇÃO E TRANSMISSÃO

DA HISTÓRIA E DA MEMÓRIA

Uma Adega em Casas Novas

Felisberto Manuel de Pinho Rodrigues

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Porto, 2012

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Agradecimentos

Á Professora Doutora Suzana Faro e ao Professor Arquitecto João Rapagão,

pelo empenho, dedicação e contributo indispensável na realização desta dissertação.

Ao gabinete Castanheira & Bastai Arquitectos, pela atenção e disponibilidade

no fornecimento de material gráfico e escrito solicitado.

Aos professores e arquitectos Jorge Amaral, Pedro Francisco, Jorge Carvalho,

Teresa Novais e João Rapagão, pela sua dedicação no ensino da arquitectura, que

me influenciam na minha formação como arquitecto.

Aos meus Pais e Avós por todo apoio e tolerância, e por me possibilitarem a

frequência do curso.

Às minhas irmãs por toda a perseverança que foram demonstrando ao longo

destes anos.

Á minha namorada por todo o apoio, compreensão e estímulo durante todo

percurso académico.

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V

Índice V

Resumo e Palavras-chave IX

Abstract and Keywords XI

I_ Introdução 13

II_ Arquitectura 21

II.1_ Dimensões e propósitos 25

II.2_ Lugar 31

II.2.1_ Lugar natural 37

II.2.2_ Lugar construído 41

II.3_ Arquitectura popular e vernacular 45

III_ Princípios metodológicos para a reabilitação 53

Princípios, regras e ferramentas

III.1_ Património 57

III.2_ Reabilitação 59

III.2.1_ Conservação e restauro 63

III.2.1.1_ Eugène Viollet-le-Duc e o restauro estilístico 67

III.2.1.2_ John Ruskin e o anti-restauro 71

III.2.1.3_ Camillo Boito e o restauro moderno 73

III.3_ Organizações e orientações 77

III.3.1_ Cartas e convenções internacionais sobre o património 77

IV_ Obras de referência 93

IV.1_ Reconversão de Moinho. Arquitecto José Gigante 97

IV.2_ Reabilitação e ampliação da Adega Casa da Torre. Arquitecto

Carlos Castanheira 101

IV.3_ Construção da Adega Mayor . Arquitecto Álvaro Siza Vieira 107

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VII

V_ Caso de estudo

Uma Adega em Casas Novas 115

V.1_ Enquadramento programático 119

V.1.1_ Adega enquanto espaço de produção e promoção do vinho 119

V.1.2_ Enoturismo 123

V.2_ Enquadramento territorial 127

V.2.1_ Chaves 127

V.2.2_ Aldeia Casas Novas 131

V.2.3_ Conjunto vitivinícola e agrícola 137

V.3_ Reabilitação e ampliação da Adega Casas Novas 139

VI_ Conclusão 153

Bibliografia 159

Índice de Imagens 167

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IX

Resumo

A investigação proposta aborda o tema da reabilitação enquanto instrumento

de preservação da história e da memória, social e cultural, e simultaneamente

enquanto especialidade da arquitectura, com o objectivo de compreender os

intervalos de actuação do arquitecto perante o lugar e as construções preexistentes,

recorrendo-se à investigação teórica e paralelamente à experimentação prática num

lugar real, onde a reabilitação é essencial.

Constrói-se uma base teórica onde se abordam os valores da arquitectura e a

sua constante relação com o lugar e, com o intuito de adquirir os procedimentos e

instrumentos metodológicos necessários, estuda-se o conceito de património e os

diversos caminhos para a sua reabilitação. Ainda antes da aplicação prática, são

analisados estudos e projectos que se consideram relevantes na acção de integração

com o lugar, na reabilitação e na aproximação ao tema da adega e do enoturismo.

É com esta investigação e com o conjunto de conhecimentos adquiridos que

se inicia a contextualização temática e patrimonial, social e cultural, capaz de

fundamentar e estruturar os valores teóricos e práticos no domínio da reabilitação,

associado à sua capacidade de validação e das arquitecturas abandonadas, como o

caso de estudo na Aldeia de Casas Novas.

Considera-se que o património é importante para conservar a memória e

descrever a história das sociedades. Assim, a reabilitação revela-se indispensável e

desejável, permitindo deste modo, a validade e vitalidade do território, representativo

do crescimento social e cultural. No entanto, é a sociedade que deve ter a iniciativa e

o interesse de preservar e reabilitar o património, apoiada e incentivada pelas

organizações responsáveis pela identificação e preservação do património.

Palavras-chave

Reabilitação; Preservação; Adega; Enoturismo; Aldeia de Casas Novas

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XI

Abstract

The proposed investigation issues the subject of building rehabilitation as a

means of preserving both social and cultural historical and memory values and as an

architectural specialty, with the purpose of understanding the range of the architect’s

actions in relation to the pre-existent constructions. For this purpose, a theoretical

investigation is applied, together with the practical experimentation in a real spatial

context, where rehabilitation is essential.

A theoretical basis is drafted, in which architectural values and their constant

relation to the site are issued and, with the purpose of acknowledging the necessary

procedures and methodological instruments, the concept of heritage is studied,

together with the multiple paths for its rehabilitation. Prior to the practical application,

studies and projects considered to be relevant to the role of site integration,

rehabilitation and to access the cases of the cellar and wine tourism are analyzed.

This investigation, with the collection of acknowledgements it brings forth,

launches the thematic and patrimonial sociocultural contextualization, capable of

affirming and structuring the theoretical and practical values in the context of building

rehabilitation. The latter is paired whit the ability to validate abandoned architectures,

as in the case study of the Village of Casas Novas.

Heritage is considered to play an important role in preserving the memory and

describing the history of societies. Therefore, building rehabilitation is indispensable

and advisable, making way for the validity and vitality of the territory, which is

representative of social and cultural growth. It is society, however, who should have

the initiative and the interest to preserve and rehabilitate the patrimony, supported and

powered by the organizations responsible for the identification and the preservation of

the heritage.

Keywords

Architecture; Preservation; Rehabilitation; Cellar, Wine tourism. Village of Casas

Novas;

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I_ Introdução

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A investigação que se propõe é uma abordagem ao tema da reabilitação,

enquanto especialização da arquitectura que promove a reutilização e validação dos

recursos patrimoniais, naturais e construídos preexistentes no território.

Reparar, regenerar, renovar, ajudar à reinserção social e reanimação cultural,

são sinónimos que definem reabilitação, mas que em arquitectura podem ganhar

outra dimensão, traduzindo-se na transformação e modificação do espaço

preexistente, na sua reutilização equilibrada como ferramenta capaz de atribuir

qualidade ao espaço natural e construído dos lugares, que por diversos motivos

tenham sido desprovidos ou tenham perdido as qualidades físicas e arquitectónicas.

Importa, sobre este assunto, reflectir sobre qual deverá ser a participação do

arquitecto perante a preexistência no território.

O abandono e desertificação dos sítios, promovido pela sobrecarga de usos

ou mesmo o desajustamento do espaço para responder aos novos padrões de

conforto e qualidade de vida, são os principais geradores da degradação e do

envelhecimento do património construído e não construído – estruturas naturais e

edificadas, de lazer e trabalho – originando o empobrecimento histórico, social,

cultural do território, ficando apenas representações de uma realidade que já não

existe. Este esquecimento do território pode subsistir por falta de apoio político e

económico capaz de promover a conservação do património, originando o

desinteresse social e cultural.

O recurso à reabilitação permite valorizar o espaço onde o homem se move,

se relaciona e, principalmente, habita, recriando os sítios, os usos e as formas da

arquitectura. A preexistência no território é a memória e a história do lugar, e reabilitar

pode permitir que o passado se transforme em futuro através do desenvolvimento de

novas oportunidades e capacidades concretas que respondam às exigências da vida

contemporânea. Estas oportunidades são ainda mais consideráveis e visíveis quando

se trata de uma arquitectura popular e vernacular, fortemente enraizada numa

determinada região.

O interesse por esta especialidade da arquitectura e a não abordagem da

mesma ao longo do percurso académico, foram as primeiras motivações para a

escolha do tema. Mas, a noção da forte presença do abandono do espaço construído

e do elevado número de construção desqualificada em Portugal – consequência dos

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problemas políticos, económicos, sociais e culturais do país –, afirma a importância

na abordagem ao tema da reabilitação.

Ao preparar-se a visita aos concelhos de Chaves e Montalegre, proporcionado

no ano lectivo de 2010/2011, e consciente da realidade territorial portuguesa,

concentra-se as atenções nos sítios com qualidades arquitectónicas e com

necessidade de serem reabilitados.

A conjuntura territorial e patrimonial em estudo, com uma forte presença de

sítios devolutos, descaracterizados e com todos os problemas por estes

proporcionados, originam o desinteresse social e cultural do lugar, confirmando o

quanto é oportuna esta reflexão sobre o tema.

No âmbito da Unidade Curricular de Projecto III do Mestrado Integrado em

Arquitectura da Universidade Lusíada do Porto, é-nos proposta uma investigação

teórica e uma materialização prática nos territórios de Chaves e Montalegre, com a

temática enquadrada na investigação desenvolvida pelo CITAD – Centro de

Investigação em Território, Arquitectura e Design – desta universidade, em que se

deve abordar áreas do conhecimento do Território e Cidade, da Cultura

Arquitectónica e da Construção e Tecnologia.

Chaves é o concelho eleito para esta investigação, pela sua oportunidade

territorial para abordar o tema em estudo, mas também pela sua localização

estratégica, com boas ligações ao restante país e proximidade à fronteira com

Espanha, e pela sua importância cultural, histórica e turística.

O sítio, Casas Novas, é uma pequena aldeia deste concelho, a pouca

distância do centro da cidade de Chaves e da Vila de Boticas. O seu carácter singular

e rural mantém-se. No entanto, encontram-se algumas construções envelhecidas, em

ruína, e outras descaracterizadas por intervenções desajustadas. Nesse contexto,

uma pequena adega abandonada é o que se propõe reabilitar. O programa, esse,

mantém-se como pequena exploração e produção vinícola que tem a potencialidade

de se tornar num ponto de Enoturismo. Este interesse turístico é também sustentado

pela existência do Hotel Rural Casas Novas, recente reabilitação de um solar do

século XVIII, funcionando assim como valência complementar e de valorização do

sítio.

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Abordar a temática da reabilitação é um objectivo e uma oportunidade de

ampliar e aprofundar o conhecimento em arquitectura, nesta área específica, pela

necessidade de estudar e conhecer o património e a história dos espaços produzidos

e habitados pelo homem.

Pretende-se investigar e reflectir sobre o que é a reabilitação enquanto

ferramenta social, cultural, de memória e história, não apenas no património

classificado, mas de todos os lugares em que o processo de abandono provocou a

perda das suas qualidades físicas e arquitectónicas. Ao mesmo tempo, importa

estudar o tema enquanto especialidade disciplinar, instrumental e profissional,

adquirindo os princípios fundamentais a seguir, e perceber como deve o arquitecto

intervir perante esta realidade, ou seja, construir no espaço construído.

Enquanto instrumento que constrói memória e história no território ao longo

dos tempos, a reabilitação implica reflectir e responder a algumas questões antes e

aquando de uma intervenção no território. Quais as oportunidades para estes lugares

esquecidos, abandonados? Qual o futuro para estes espaços? Que reflexões deve o

arquitecto fazer? Que instrumentos estão à disposição do arquitecto? Que

ferramentas deve usar? Quais as limitações na intervenção? Quais as consequências

da actuação no construído, a partir das potencialidades e capacidades existentes?

O propósito do estado da arte é a sólida fundamentação da investigação. Para

a sua elaboração, é necessário o recurso a documentos de referência sobre a

reabilitação e as disciplinas a ela associadas. O tema tem sido muito estudado ao

longo dos tempos e, acompanhando a evolução do conceito de património, tornou-se

numa preocupação e interesse da sociedade actual. Deste estudo contínuo no tempo

resultam inúmeros documentos e projectos, seleccionando-se alguns dos mais

relevantes para esta dissertação.

Os livros Da Organização do Espaço, de Fernando Távora, Genius Loci,

Towards a Phenomenology of Architecture de Norberg-Schulz, Arquitectura Popular

em Portugal, da Associação dos Arquitectos Portugueses e o Arquitectura Popular

Portuguesa de Mário Moutino, são publicações fundamentais para a sustentação e

construção teórica sobre a arquitectura e o lugar.

A reabilitação, sempre associada à recuperação e ao restauro de património

classificado, é um tema estudado. As Cartas e Convenções internacionais na área do

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restauro, o livro Teoría de la Restauración de Cesare Brandi, e o livro Metamorfosis

de Monumentos y Teorias de la Restauración de Antón Capitel, são exemplares

importantes na teoria do restauro. Construir no Tempo e Territórios Reabilitados, são

duas publicações de Fátima Fernandes e Michele Cannatà, referências importantes

na apologia de que a reabilitação não se limita ao património classificado.

A Reconversão de um Moinho, da autoria do arquitecto José Gigante, e a

Reabilitação e ampliação da Adega Casa da Torre, da autoria do arquitecto Carlos

Castanheira, ambos projectos de reabilitação, são referências de actuação em

contextos preexistentes. A Construção da Adega Mayor, projecto da autoria do

arquitecto Álvaro Siza Vieira, é objecto de estudo como referência dos novos padrões

de qualidade e necessidade relativa à especificidade do programa.

A Associação para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade

Católica (AESBUC), assim como a Sogrape Vinhos, são importantes contributos para

a investigação programática. Para a compreensão e interpretação do território de

Chaves, na descrição física, histórica e cultural do concelho, recorre-se a informações

recolhidas no sítio da internet da Câmara Municipal de Chaves.

O processo metodológico para a elaboração deste trabalho, apoia-se numa

investigação teórica e prática.

A investigação passa pela interpretação, análise e síntese dos dados teóricos

referentes à reabilitação, recolhidos em bibliografia como livros, documentos oficiais

para a identificação e preservação do património, de publicações periódicas e fontes

informáticas. As bibliotecas universitárias, municipais e nacionais, são os recursos a

usar para esta recolha bibliográfica, assim como o uso da internet.

Recorre-se também à análise e síntese de três casos de referência, dois de

reabilitação e um de raiz, permitindo assim que se identifiquem os diferentes tipos de

actuação. É junto dos gabinetes e dos seus autores que se procura obter informações

referentes aos estudos e projectos seleccionados para a análise, para além das

informações recolhidas nas suas publicações.

Na Câmara Municipal de Chaves procurou-se obter cartografia actual, factos

históricos, regionais e locais tais como registos gráficos e fotográficos.

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Esta investigação assenta numa estrutura que procura criar um percurso

coerente, de articulação e relação das disciplinas abordadas, para responder aos

objectivos propostos para o tema, organizando-se em quatro etapas correlacionadas.

Numa primeira etapa, abordar-se-ão os valores essenciais da arquitectura e a

sua importância na organização do espaço, em constante relação com o lugar. A

construção popular será também abordada, com o objectivo de estudar a arquitectura

de cariz marcadamente regional e local.

A temática da reabilitação é a segunda fase da análise, como aproximação e

sistematização dos conceitos, das regras e instrumentos disciplinares à disposição do

arquitecto na sua actuação.

A terceira etapa assenta na observação e comparação pormenorizada dos

casos de referência, sendo esta a primeira aproximação e compreensão da

experimentação prática, reflectindo sobre a investigação teórica.

A componente prática da investigação, um estudo e projecto de reabilitação e

ampliação de uma adega preexistente, antecedida por uma breve introdução sobre o

programa, o território e o sítio a intervir, é a quarta etapa.

A última fase é a conclusão, onde se procura responder a todas as questões

necessárias para compreender o acto de reabilitar, enunciadas nos objectivos da

introdução, e expressas nas premissas do caso prático.

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II_ Arquitectura

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O capítulo que se inicia, aborda o tema da arquitectura e qual a sua

importância, baseando-se no estudo das suas dimensões e dos seus propósitos. O

lugar, como suporte da arquitectura, é também objecto de estudo, percorrendo a

definição de lugar natural e construído. A finalizar o capítulo, estuda-se a arquitectura

popular como exemplo da essência da arquitectura, nomeadamente a de produção, e

também como base de conhecimento arquitectónico do lugar objecto de estudo.

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1. Arquitectura condicionada pela circunstância territorial. Capela Netos. Figueira da Foz. Arquitecto Pedro Maurício Borges.

2. Tempos diferentes da arquitectura. Edifício Habitacional. Vila do Conde. Arquitecto José Cadilhe.

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II.1_ Dimensões e propósitos

“Arquitectura (tè), (latim architectura, -ae) s. f. Arte de projectar e construir

edifícios; Contextura; (Figurado) Forma, estrutura.”1

Embora com a consciência de que esta definição de arquitectura seja

elementar e redutora, é-lhe reconhecida alguma verdade, reafirmada e completada

pela definição de arquitectura de Eugène Viollet-le-Duc, que defende que “A

arquitectura é a arte de construir. Compõe-se de duas partes: teoria e prática. A

prática é a construção efectiva, a teoria é o conjunto das regras derivadas da

Tradição, das Técnicas, da Ciência, da Sociedade e da História.”2

Ainda que estas definições sejam o ponto de partida para uma pequena

reflexão sobre o que é a arquitectura, e suas dimensões e propósitos, tem-se como

base teórica, os pensamentos do arquitecto Fernando Távora, expressos no livro Da

Organização do Espaço.

A arquitectura, enquanto construção que organiza o espaço – e por espaço

pode entender-se a forma, o uso, o tempo, a sua proporção e a sua materialização, o

ambiente expresso nas cidades, nas praças e nas ruas, nas construções – é

intervenção no território em resposta às necessidades da sociedade. No entanto, no

decorrer de todo o processo de ordenamento, é condicionada pela circunstância do

território (ilustração 1), e por circunstância podem entender-se os factores naturais,

sociais e culturais que dele fazem parte. O ambiente, a edificação, os costumes e os

usos, entre muitos outros, são elementos presentes na sociedade e no seu meio, são

condicionantes e ao mesmo tempo geradores de arquitectura.

O tempo é um factor importante, constante e inseparável da participação na

construção do espaço, do lugar. Neste sentido, podem considerar-se “dois tipos de

participação na organização do espaço; uma organização a que chamaremos

horizontal, que se realiza por homens de uma mesma época, uma outra a que

chamaremos vertical que se realiza entre homens de épocas diferentes”3 (ilustração

2). Assim, pode dizer-se que a arquitectura vive no tempo, e com o tempo se

1 Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – “Arquitectura”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011].

Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/> 2 RODRIGUES, Maria – O que é Arquitectura. s/l: Quimera Editores, 2002. p. 13.

3 TAVORA, Fernando – Da Organização do Espaço. 6ª ed. Porto: FAUP Publicações, 1962. p. 20.

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3. Geometria na procura da implantação no lugar. Piscina das Marés. Matosinhos. Arquitecto Álvaro Siza Vieira.

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transforma como resposta às diferentes situações. Deste modo, constrói a história do

lugar e das sociedades.

A continuidade do espaço – no tempo – é uma característica que deve estar

presente na organização do espaço, para que este seja coerente e equilibrado. Esta

permanência temporal do espaço, pressupõe também a existência de uma

irreversibilidade, uma vez que o que já foi não mais poderá voltar a ser, porque

mudou toda a circunstância urbana e humana para sempre.4

Esta organização do espaço, regulada pelo contexto do lugar e do homem –

no tempo –, tornar-se-á também circunstância, ou seja, será também condicionante

no território. Então, a permanente relação e participação activa do homem na

organização do espaço, faz com que a arquitectura seja também um reflexo político,

económico, social e cultural da sociedade, em que o passado, o presente e o futuro

fazem parte da sua história, podendo assim afirmar-se que “a sociedade é geradora

de arquitectura.”5

A forma é a representação da ordenação do espaço, que através da ordem

geométrica (ilustração 3), consegue estabelecer a estrutura e a materialização que

responde às necessidades da sociedade e do território. Neste sentido, podemos dizer

que “ (…) – vivendo – o homem organiza o espaço que o cerca, criando formas, umas

aparentemente estáticas, outras claramente dinâmicas.”6 Enquanto geometria,

estrutura, superfície, matéria, espaço e estética, a forma é a materialização e

composição do espaço, é o elemento que expressa as relações básicas entre o

homem e o seu contexto. Assim sendo, pode dizer-se que “a arquitectura é

geometrizar”7, e a forma é a sua característica estrutural, funcional e formal que, para

além de todas as circunstâncias sociais e territoriais, obedece a questões

programáticas, técnicas e estéticas.

O programa, enquanto orientador de funcionalidade e utilidade do espaço, é

essencial para a sua organização, pois estabelece regras, condições e proporções

para responder aos propósitos do uso. Uma casa, um restaurante, uma biblioteca,

uma igreja, um hospital ou uma fábrica, são exemplos de usos com significações e

sensações diferentes, influenciando deste modo a forma arquitectónica.

A escala é a dimensão real do espaço natural e construído, sendo o homem a

sua principal medida de referência, enquanto produtor e utilizador da arquitectura. A

4 TAVORA, Fernando – Da Organização do Espaço. 6ª ed. Porto: FAUP Publicações, 1962. p. 19.

5 RODRIGUES, Maria – O que é Arquitectura. s/l: Quimera Editores, 2002. p. 33.

6 TAVORA, Fernando – Da Organização do Espaço. 6ª ed. Porto: FAUP Publicações, 1962. p. 14.

7 GIANGREGORIO, Guido – Álvaro Siza, Imaginar a evidência. 2ª ed. Lisboa: Edições 70, 2009. p. 27.

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4. Le Modulor. Arquitecto Le Corbusier.

5. Luz. Casa Ferreira da Costa. Matosinhos. Arquitecto Álvaro Siza Vieira.

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proporção é o que impõe a relação entre as dimensões do homem e a forma,

definindo deste modo uma relação em harmonia, qualificada e equilibrada com toda a

circunstância. O le modulor (ilustração 4), estudo desenvolvido pelo arquitecto Le

Corbusier, é o arquétipo da importância desta investigação e relação da escala da

arquitectura com o homem.

Enquanto elemento valorativo, revelador e modelador da arquitectura, a luz,

para além de responder à necessidade primária de iluminação, tem a capacidade de

organizar diferentes espaços (ilustração 5), recorrendo à intensidade, à

transparência, aos contrastes e aos reflexos, permitindo a continuidade e a divisão

dos espaços, possibilitando assim a sua identificação, estimulando emoções e

sensações. Detém tal importância na definição da forma na arquitectura que Le

Corbusier define que “a arquitectura é o jogo sábio, correcto e magnifico dos volumes

reunidos sob a luz.”8

Então, pode dizer-se que a forma não é totalmente livre, mas sim guiada pela

percepção e interpretação do arquitecto perante todas as condicionantes – territoriais,

sociais, culturais, programáticas, técnicas e criativas – com o propósito de gerar e

organizar espaços com qualidade e originalidade, espaços onde o homem habite e

com os quais se identifique. É o jogo compositivo, organizativo e geométrico,

associado a intenções artísticas e plásticas, que distingue a arquitectura da simples

construção, sem esquecer as preocupações práticas e programáticas da sociedade.9

Após esta exposição sobre as dimensões e os propósitos da arquitectura,

pode dizer-se que esta, enquanto acto com a ambição de organizar e ordenar o

espaço, está ao serviço do homem, das suas necessidades e vontades, e para tal

deve ser estável, utilitária e bela, em equilíbrio com a sua circunstância, assim como

defendia Marco Vitruvio Polião (século I a.C), ao referir-se ao Firmitas, Utilitas,

Venustas,10

como atributos indissociáveis à arquitectura.

8 LE CORBUSIER – Hacia una arquitectura. 2ª ed. Barcelona: Ediciones Apóstofre, S.L, 1998. p. 16.

Tradução livre: “La arquitectura es el juego sabio, correcto y magnífico de los volúmenes reunidos bajo la luz.” 9 COSTA, Lúcio – O que é arquitectura. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em:

<http://www.iabsp.org.br/oqueearquitetura.asp> 10

DIAS, Manuel Graça – “ É porque queremos continuar ” in FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2009. p. 17.

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6. Entre o céu e a terra.

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II.2_ Lugar

“Lugar s. m. Espaço ocupado ou que pode ser ocupado por um corpo; Ponto

(em que está alguém); Localidade; Pequena povoação; Trecho, passo (de livro);

Posto, emprego; Dignidade; Profissão; Ocasião; Vez; Azo; Dever, obrigação;

Situação, circunstâncias; Posto de venda; em primeiro lugar: antes de tudo, antes

de mais nada; lugar geométrico: linha cujos pontos satisfazem às condições

exigidas.”11

O conceito de lugar é amplo, bastante abrangente e complexo na sua

definição teórica. Pretende-se estreitar essa abrangência à especificidade da

arquitectura, enquanto espaço físico organizado e humanizado, e da antropologia,

enquanto estudo da relação entre o homem e o espaço. Neste sentido, recorre-se

essencialmente às ideias do arquitecto, historiador e investigador Christian Norberg-

Schulz e do etnólogo Marc Augé, que abordaram profundamente o tema.

O lugar, enquanto território encontra-se entre o céu e a terra (ilustração 6),

onde o homem habita, se move e se relaciona.12

No seu dia-a-dia “consiste em

pessoas, em animais, em flores, em árvores e florestas, em pedras, em terra, em

madeira e em água, em cidades, em ruas e em casas, em portas, em janelas e em

móveis. E consiste em sol, lua e estrelas, em nuvens passando de dia e noite, de

mudanças de estação. Mas inclui também fenómenos mais intangíveis, tais como

sentimentos.”13

Neste sentido, pode-se depreender que o lugar, enquanto ambiente

físico, é formado por diversos elementos de carácter natural e construído

directamente relacionado com a sociedade e os seus modos de vida. É aqui que a

antropologia se define, isto é, na relação do homem com o sítio ao nível social,

cultural e político, definindo os factores sentimentais representativos do indivíduo –

enquanto ser inteligente, emocional – e relacionando-os com as características do

local. Deste modo, pode dizer-se que todos os lugares “querem-se (querem-nos)

11

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – “Lugar”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/> 12

NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 23. 13

Idem, ibidem. p.6. Tradução livre: “Our everyday life-world consists of concrete "phenomena". It consists of people, of animals, of flowers, trees and forests, of stone, earth, wood and water, of towns, streets and houses, doors, windows and furniture. And it consists of sun, moon and stars, of drifting clouds, of night and day and changing seasons. But it also comprises more intangible phenomena such as feelings.”

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32

7. Orientação do homem no espaço.

8. Carácter urbano. 9. Carácter rural.

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33

identitários, relacionais e históricos.”14

A estrutura e o genius loci são os factores que Norberg-Schulz15

propõe que

se estude, para um melhor entendimento do fenómeno do lugar. Neste sentido, para

o entendimento da sua estrutura, é necessário perceber o espaço organizado e

desorganizado e o seu carácter.

Enquanto elemento fundamental da arquitectura, o espaço é um lugar

organizado geometricamente por construções e formas, condicionado por diferentes

circunstâncias físicas e humanas. Assim sendo, o homem deve saber orientar-se e

identificar-se com o espaço e o seu ambiente. O “(…) “nó”,(“marco ”), “caminho”,

“limite” e “região”, (…)”16

são elementos caracterizadores do sítio e do quotidiano

humano, referidos por Kevin Lynch – urbanista e investigador – como factores

importantes para a relação e orientação do homem no espaço (ilustração 7). É esta

analogia que define o lugar antropológico de Marc Augé17

, essencialmente

geométrico, pois associa a linha ao percurso do homem, a intersecção das linhas aos

seus cruzamentos e o ponto de intersecção às praças de convívio da sociedade.

O carácter é também um factor que, em paralelo com o espaço, define o lugar.

Entendido como atmosfera e ambiente que abrange todo e qualquer local, o carácter

é constituído e construído pela imagem formal e pelo entendimento e conhecimento

do sítio. Deste modo, pode dizer-se que cada sítio tem um carácter individual

(ilustração 8 e 9). “A habitação tem que ser “protectora”, um escritório “prático”, um

salão de baile “festivo” e uma igreja “solene". (…) As paisagens também possuem

propriedades, algumas das quais são de um determinado tipo “natural”. Assim,

falamos de paisagens “estéreis” e “férteis”, “sorridentes” e “ameaçadoras”.”18

Em suma, a estrutura do lugar é a relação entre os lugares naturais e

construídos, conseguida pelos elementos espaço e carácter. É uma relação

conquistada por três níveis, segundo Norberg-Schulz. Em primeiro, o homem constrói

o que viu, ou seja, o que conhece da sua experiência. Em segundo, procura perceber

14

AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: Editora 90º. 1992. p. 47. 15

NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 6 a 23. 16

LYNCH, Kevin, cit in NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p.12. Tradução livre: “(…) "node" ("landmark"), "path", "edge" and "district", (…)”. 17

AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: Editora 90º. 1992. p. 50. 18

NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 14. Tradução livre: “A dwelling has to be "protective", an office "practical", a ball-room "festive" and a church "solemn" (...) Landscapes also possess character, some of which are of a particular "natural" kind. Thus we talk about "barren" and "fertile", "smiling" and "threatening" landscapes.”

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34

10. Inverno nórdico.

Page 37: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

35

quais as carências do lugar e completa-o, como resposta às suas necessidades. Por

fim, procura simbolizar o seu conhecimento do sítio, e de si próprio.

Ainda segundo Norberg-Schulz, o genius loci é um termo latino relacionado

com o espírito do lugar, fundamental para perceber as suas relações naturais com o

homem. Entende-se pelo carácter das suas paisagens e ambientes, pela imagem que

o identifica e expressa os modos de vida do indivíduo. Habitar, isto é, viver, povoar,

estar presente num espaço, é a base da relação do homem com o lugar e pressupõe

a sua identificação. Neste sentido, do mesmo modo que a sociedade imprime

carácter ao sítio quando o organiza, este, com o seu espírito, também molda a sua

identidade.

O carácter – abordado anteriormente – e a identificação do lugar, são os

conceitos necessários para o entendimento do seu espírito.

Por identificação, compreende-se que o homem deve entender-se com as

suas circunstâncias e adquiri-las como expressões únicas do lugar, assim como “o

homem nórdico tem que ser amigo do nevoeiro, do gelo e dos ventos frios; ele tem

que desfrutar do som da neve rangendo sob os pés quando anda, ele tem de

experimentar o valor poético de estar imerso de nevoeiro (…) ”19

(ilustração 10).

A história da sociedade, ao longo dos tempos, é também elemento de

identificação e relação com o espaço, e exemplo disso é que “se tivéssemos de fazer

a exegese de todos os nomes de rua de uma metrópole como Paris, seria toda a

história de França que teríamos que reescrever”20

. Então, o genius loci é entender e

adquirir os seus valores físicos, sociais e culturais, como identidade ou imagem que

representa o seu carácter único.

“Se um lugar se pode definir como identitário, relacional e histórico, um espaço

que não pode definir-se nem como identitário, nem como relacional, nem como

histórico, definirá um não-lugar.”21

No sentido antropológico, que estuda a relação da

sociedade com o lugar, este só existe quando existe uma relação de convívio entre

os dois, assim sendo, os espaços que respondem puramente à necessidade de

locomoção e transição, como estações de metro, aeroportos, auto-estradas, sem

carácter identitário ou histórico, são não-lugares. No entanto, embora a arquitectura

19

NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 21. Tradução livre: “Nordic man has to be friend with fog, ice and cold winds; he has to enjoy the creaking sound of snow under the feet when he walks around, he has to experience the poetical value of being immersed in fog ( …)” 20

AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: Editora 90º. 1992. p. 60. 21

Idem, ibidem. p. 67.

Page 38: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

36

11. Alentejo.

12. Douro.

Page 39: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

37

tenha como referência o homem, e seja necessária a sua relação e identificação com

o lugar os não-lugares – definidos por Marc Augé – enquanto espaços geométricos,

estão sempre presentes e são necessários, devendo manter-se apenas como

complemento da vida da sociedade.

Norberg-Schulz diz que o espaço natural e construído são dois fenómenos

que, por meio das suas estruturas e do seu genius loci, permitem um melhor

entendimento do lugar. Com este propósito, é necessário estudar separadamente

estes dois fenómenos, distintos e ao mesmo tempo inter-relacionados.

II.2.1_ Lugar natural

Adoptando o pensamento de Norberg-Schulz22

, a compreensão do espaço

natural, como fenómeno do lugar, deve partir da experiência dos sentidos e da

compreensão das diferentes realidades, que pode ser feita por diferentes elementos,

que passam pela experiência imediata, a orientação solar, a estrutura e a escala, a

topografia, a luz e o tempo.

A experiência primitiva, sensorial, é o meio para chegar a esse entendimento e

conhecimento da natureza que influencia directamente a vida do homem, onde este

adquire objectos de orientação e identificação que permitem o reconhecimento do

lugar. A orientação solar é um dos momentos de grande importância, associada a

diferentes qualidades e significados relacionados com o universo, assumindo assim

os pontos cardeais enorme importância para o homem. Exemplo disso é que “no

antigo Egipto, a leste, a direcção do sol nascente foi associada ao nascimento e à

vida, enquanto a oeste foi associada à morte.”23

A estrutura geográfica e topográfica (ilustração 11 e 12), mais regular ou

irregular, imprime um carácter individual a cada sítio, promovendo deste modo a sua

identificação e uma orientação precisa na vivência do lugar pelo homem. Micro,

macro e média são as diferentes escalas da estrutura que cada sítio pode assumir.

Por um lado, a microestrutura é excessivamente pequena para o homem habitar, por

outro a macroestrutura é excessivamente grande, onde o indivíduo pode sentir-se

22

NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 23 a 48. 23

Idem, Ibidem. p. 28. Tradução livre: “In ancient Egypt, thus, the east, the direction of the sun's rising, was the domain of birth and life, whereas the west was the domain of death.”

Page 40: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

38

13. Régates à Argenteuil, 1872. Cloude Monet.

Page 41: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

39

perdido, sem elementos capazes de o orientar e situar. Neste sentido, para habitar

em harmonia com o lugar natural, é necessária uma estrutura com uma escala

humana capaz de servir os seus interesses. “A estrutura pode ser descrita em termos

de nós, caminhos e domínios, ou seja, elementos que "centralizem" o espaço, como

montes isolados e montanhas ou bacias circunscritas, elementos que orientem o

espaço, como vales, rios e barrancos, e os elementos que definem um padrão

espacial estendido, como um conjunto relativamente uniforme de campos ou

colinas.”24

Constituído por diferentes escalas, desde os continentes e países, até aos

mais pequenos lugares, todos têm propriedades e carácteres específicos definidos

pelas condições topográficas, e pela sua vegetação.

A luz é também um valor presente no espaço, característica indissociável do

lugar natural pela sua constante variação ao longo do dia, numa determinada estação

do ano, conforme as características geográficas e morfológicas. É por este motivo,

também, um modo de compreender a realidade, tendo esta, enorme importância ao

longo das épocas e civilizações. “Na civilização grega, (…), a luz era entendida como

um símbolo do conhecimento artístico, bem como intelectual, (…). No Cristianismo, a

luz tornou-se um "elemento" de importância primordial (…)”25

.O tempo está

directamente relacionado com o elemento luz, e é igualmente importante na

compreensão do sítio natural, como notam os pintores do impressionismo do final no

século XIX que defendiam a luz e o seu tempo, como elementos fundamentais para

captar cada momento (ilustração 13).

Compreende-se, então, que a estrutura, a escala, a luz, são factores

importantes que caracterizam o lugar natural, e definem o seu genius loci, capaz de

transmitir sensações e impressões – medo, alegria, entre outros sentimentos – pelas

variações do relevo, da cor e da textura, da terra, da água, da vegetação e de todos

os elementos inerentes ao espaço natural.

24

NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 32. Tradução livre: “The structure may be described in terms of nodes, paths and domains, that is, elements which "centralize" space such as isolated hills and mountains or circumscribed basins, elements which direct space such as valleys, rivers and wadis, and elements which define an extended spatial pattern, such as a relatively uniform cluster of fields or hills.” 25

Idem, Ibidem. p. 31. Tradução livre: “In Greek civilization, (…), light was understood as a symbol of knowledge, artistic as well as intellectual, (…). In Christianity light became an "element" of prime importance (…)”

Page 42: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

40

14. Lugar construído. Nova Iorque, EUA.

Page 43: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

41

II.2.2_ Lugar Construído

Ainda apoiado essencialmente nas reflexões de Norberg-Schulz26

, o lugar

construído (ilustração 14) deve partir da compreensão do espaço natural. Deste

modo, traduz os seus significados e estrutura na arquitectura, por meio da

visualização, complementação e simbolização.

O primeiro acto de construção é a representação das coisas naturais por

meios artificiais. A arquitectura mediterrânica é exemplo desta materialização, usando

grandes blocos de pedra que representam a solidez e a permanência das montanhas,

fortemente representada pela arquitectura egípcia, através da construção das

pirâmides.27

Enquanto base existencial do homem, a arquitectura é também representação

do seu carácter – parte integrante da natureza – e, por isso, pressupõe uma

linguagem e imagem formal simbólica que depende da procura de uma ordem e

articulação espacial com o lugar natural. O tempo, a forma, a luz, a escala e a

proporção são também arquitectura, elementos caracterizadores do espaço

construído, que representam e simbolizam a relação do homem com a natureza.

Com este sentido, os aglomerados populacionais, constituídos por

construções de carácter individual, como as habitações urbanas ou rurais, ou de

carácter colectivo, como museus, teatros, igrejas, entre outros, são todos lugares

artificiais, construídos pelo homem que procuram um entendimento e relacionamento

harmonioso com o espaço natural. Estas construções artificiais têm genius loci

próprios, fortemente enraizadas e evidenciadas nos sítios em que estão inseridas,

quando falamos de arquitectura popular, mas na arquitectura contemporânea é uma

compreensão de diversos interesses, podendo por vezes aplicar-se a diferentes

locais. “O genius loci construído depende de como esses lugares são, em termos de

espaço e carácter, isto é, em termos de organização e articulação.”28

Do mesmo modo que no espaço natural existe uma hierarquização de

diferentes espaços e escalas, no construído essa variação ou diversificação também

26

NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 50 a 78. 27

Idem, ibidem. p. 51. 28

Idem, ibidem. p.69. Tradução livre: “The man-made genius loci depends on how these places are in terms of space and character, that is, in terms of organization and articulation.”

Page 44: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

42

15. Quotidiano urbano.

Page 45: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

43

existe, percorrendo desde as cidades, as vilas, as aldeias, as habitações, até às

escalas interiores. É o limite que separa os espaços construídos e não construídos, o

interior e o exterior, que determinam a qualidade espacial do lugar construído e a sua

relação com o natural. Este limite ou fronteira pode ser mais fechado ou aberto,

reagindo de forma diferente na relação do interior com o exterior, assumindo-se como

importante e estruturante na arquitectura. As paredes funcionam como elemento de

fronteira entre o construído e o natural, e as aberturas para o lugar natural são os

factores preponderantes e estruturantes para a relação entres ambos. No entanto, o

espaço edificado é mais do que as relações entre o interior e o exterior. É também

determinado pelo modo como se caracteriza, como faz parte da cidade, como a

representa e permite a identificação e referenciação do homem. “O plano da casa, as

regras da residência, os quarteirões da aldeia, os altares, as praças públicas, o

recorte do território, correspondem para cada um a um conjunto de possibilidades, de

prescrições e de interditos cujo conteúdo é ao mesmo tempo espacial e social.”29

Anteriormente, foram referidas as diferentes escalas dos lugares construídos,

e todos estes lugares têm sub-lugares como ruas, bairros, habitações, entre outras

construções. Todos são interiores urbanos ou interiores de construções aos quais

Leon Battista Alberti – arquitecto renascentista, filósofo de arquitectura e urbanismo e

teórico de arte – chama de small city 30

, definidos pelas finalidades distintas das

edificações. Neste sentido, “na realidade concreta do mundo de hoje, os lugares e os

espaços, os lugares e não-lugares, emaranham-se, interprenetram-se”31

, e tornam-se

características dos diferentes espaços e escalas do lugar construído, reflexo da

compressão do lugar natural feito pelo homem e pela sociedade, e a expressão do

seu modo de viver e habitar (ilustração 15) que os distinguem, e permitem que se

interliguem.

29

AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: Editora 90º. 1992. p. 47. 30

ALBERTI, Leon Battista. cit in NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 58. 31

AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: Editora 90º. 1992. p. 90.

Page 46: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

44

16. Ilustração da página de rosto do livro “Essai sur 17. Relevo do território português. l’Architecture” do abade Marc-Antoine Laugier, 1753.

Page 47: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

45

II.3_ Arquitectura popular e vernacular

Desde que o homem sentiu a necessidade de abrigo, surgiu a arquitectura

(ilustração 16), e esta tem vindo a acompanhar a evolução do homem.

A sua história evidencia essa evolução e transformação, relatando os

diferentes períodos pelos quais a arquitectura passou, classificando-os em diferentes

estilos, mas de um modo geral existem dois tipos de arquitectura: a popular e

vernacular e a erudita.

Pretende-se com esta reflexão fazer uma aproximação à arquitectura popular

portuguesa – caso de estudo – e perceber o que a distingue de toda a outra

arquitectura.

Analisado por diferentes factores – tais como o relevo, o clima, as formas de

povoamento, os tipos de construção, os materiais e as cores predominantes –

Portugal continental é dividido em quatro regiões – Norte, Centro Litoral, Alentejo e

Algarve – as quais estão associadas a um tipo de arquitectura.32

No entanto, a

divisão mais evidente e clara do território é entre o litoral e o interior, pelo seu

afastamento e desenvolvimento económico, político, social e cultural, resultado do

seu relevo (ilustração 17). Pode-se, assim, dizer que existe um país que se divide em

duas realidades, afastadas por um desenvolvimento e crescimento assimétrico.

Por um lado, observamos o litoral, em que as condições naturais – o solo, o

clima, o relevo e a vegetação – são mais regulares, equilibradas, sem grandes

diferenças abruptas, favorecendo deste modo uma maior fixação da população, e por

consequência um maior desenvolvimento e crescimento, com acessibilidade ao

exterior pelo mar. Por outro lado, a existência do interior que se contrapõe ao litoral,

também pelas suas características naturais – território com um relevo marcado por

retalhos de planaltos, conjuntos elevados, depressões – diversificadas e bastante

irregulares. O clima, aqui, é também mais específico, com mais e maiores

acentuações e variações entre as diferentes estações do ano. Todas estas

particularidades propiciam um maior afastamento e isolamento relativamente ao

litoral.33

32

MOUTINHO, Mário – Arquitectura Popular Portuguesa. 3ª ed. s/l: Editorial Estampa, 1975. p. 37. 33

ARROTEIA, Jorge - “Introdução” In MOUTINHO, Mário – Arquitectura Popular Portuguesa. 3ª ed. s/l: Editorial Estampa, 1975. p. 37.

Page 48: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

46

18. Quotidiano rural.

Page 49: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

47

Embora as características naturais do território sejam um factor importante

para perceber a irregular distribuição da população no país, estas não são os únicos

factores. Neste contexto assimétrico, a ocupação por diferentes civilizações,

consoante as suas necessidades, e a facilidade na comunicação e no transporte

marítimo, promoveram e concorreram para o desenvolvimento estratégico,

económico e social do litoral. No entanto, estas condicionantes não são sinónimo

nem significam a existência de arquitectura popular apenas no interior do país. Esta

arquitectura existe por todo o território, com a particularidade de reflectir as

circunstâncias de cada lugar, as necessidades e costumes do homem, e acusando a

distância e acesso aos centros urbanos.

Então, para estudar e entender a arquitectura popular, é necessário perceber

– além da desigual distribuição dos povoamentos, do seu isolamento e

desenvolvimento – o ambiente natural do lugar e a sua população, como vivem e do

que vivem. Desta forma, pode-se dizer que a arquitectura popular vive do lugar e do

homem que a ele pertence.

Do lugar, porque aceita com humildade a sua natureza, cede aos seus

imperativos e deixa-se guiar pela formação e condição do território. É, também do

lugar, determinada pelo afastamento e isolamento, que não lhe permite acesso a

recursos técnicos e materiais para lá do seu mundo. A estes, contrapõe-se a verdade

e rusticidade dos materiais encontrados e retirados do sítio – pedra, madeira, colmo –

e a técnica e mão-de-obra local, desenvolvida e aperfeiçoada pelo homem ao longo

dos tempos. Este respeito perante a natureza cria uma arquitectura que nasce

equilibrada e integrada, com carácter permanente na paisagem.

Do homem, porque reflecte fielmente o seu carácter utilitário, como resposta

às suas necessidades e hábitos (ilustração 18). Sem desenho prévio, e construídas

por fases, representam as gentes e os seus modos de vida, a sua economia local de

auto-subsistência. Neste sentido, a criação de gado, a produção agrícola e vitivinícola

são as suas principais actividades de produção, e por consequência as principais

influências desta arquitectura vernacular, que são evidentes até nas geometrias

usadas, com bases circulares, quadrangulares e rectangulares, que muitas vezes

cediam aos imperativos da natureza.

Resumindo, esta arquitectura que é definida pelo lugar e pelo homem, é então

uma questão de factores naturais e humanos, económico-sociais e etno-históricos,

convertendo-se num indicador cultural da população de uma dada aldeia e de uma

Page 50: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

48

19. Casa minhota. 20. Planta da casa minhota.

21. Casa serrana. 22. Planta da casa serrana.

23. Igreja em Piódão. Arganil.

Page 51: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

49

região.34

Exemplo desta evidência é a divisão do país por diferentes regiões

arquitectónicas, em que cada uma expressa as suas características naturais e

humanas. Neste sentido, é também importante compreender a relação entre os

lugares, os modos de vida da população e a arquitectura vernacular.

Aproximando à região Norte, área objecto de estudo, podem encontrar-se

povoamentos dispersos ou aglomerados, servidos por arruamentos geralmente

estreitos e entalhados directamente no solo, acusando os percursos que lhes eram

mais convenientes. São povoamentos com construções de diferentes tipos,

relacionados com a produção e com a habitação que por vezes se fundem numa só,

e ainda as edificações religiosas.35

As casas minhota (ilustração 19 e 20) e serrana (ilustração 21 e 22) são as

mais frequentes na região norte, e embora apresentem características diferentes, na

generalidade predomina uma organização semelhante. No piso térreo encontram-se

todos os compartimentos relacionados com a produção e criação animal, e no andar

os de habitação. A cozinha, os quartos e salas são os espaços de habitação. Nas

produções podem encontrar-se as cortes, os currais, as pocilgas, as arrumações, as

adegas e lagares. Separados das habitações, podem encontrar-se ainda os

sequeiros, os espigueiros, as eiras, os abrigos, as azenhas, os moinhos e os fornos.

Estes espaços de produção encontram-se geralmente dispostos em volta de um

pátio, e muitas vezes têm um carácter de uso colectivo, evidenciando a importância

da coesão social presente nestas populações. Evidenciando o carácter religioso,

encontram-se capelas ou igrejas junto das povoações, que muitas vezes eram

mandadas construir pela própria população.36

O conhecimento, a globalização e a internacionalização atravessaram as

fronteiras do isolamento e influenciaram a arquitectura, estando assim presentes, a

par da arquitectura popular, exemplos de arquitectura erudita, senhorial. Deste modo,

é-nos possível perceber o que as distingue. É uma arquitectura com raízes

económicas, sociais e culturais que tem como ponto de partida o uso do desenho, na

procura de uma organização do espaço equilibrada e qualificada, e ao mesmo tempo

com preocupações estéticas e estilísticas (ilustração 23). Esta, sobrepõe-se à

natureza pela elevação do domínio da técnica.

34

OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, GALHANO, Fernando – Arquitectura tradicional portuguesa. 2ªed. Lisboa: Publicações Dom Quixote Lda, 1994. p. 17. 35

MOUTINHO, Mário – Arquitectura Popular Portuguesa. 3ª ed. s/l: Editorial Estampa, 1975. p. 41. 36

Idem, Ibidem. p. 41.

Page 52: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

50

24. Casa de emigrante.

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51

Por oposição à arquitectura popular, esta desprende-se do lugar e do homem,

servindo-se principalmente do conhecimento científico e artístico. No entanto, não

deixam de existir interferências e influências recíprocas entre as duas arquitecturas,

pois estes lugares resultam destes dois tipos de arquitectura.

Hoje, a evolução do homem e do seu conceito de habitar, organizados e

associados ao desenvolvimento técnico e tecnológico como “(…) a introdução da luz

eléctrica e a evolução da hidráulica determinaram a transformação dos hábitos de

higiene, assim como a exigência de fazer frente às péssimas condições de vida das

sociedades (…)”37

. Esta evolução com intuito de melhorar a qualidade de vida do

homem é imprescindível e essencial para a continuação destes lugares e destas

arquitecturas. “O comboio, o automóvel, o avião, transportam-nos em poucas horas a

terras longínquas, que se tornaram, assim, efectivamente, mais próximas e

acessíveis.”38

É a velocidade e facilidade de comunicação e de transporte, que

permite que o desenvolvimento e conhecimento dos materiais chegue aos lugares

mais longínquos. O problema é, quando mal usados – os novos materiais e as novas

técnicas – podem confundir as relações naturais do território, e causar perturbações

profundas nas arquitecturas preexistentes e nos lugares, descaracterizando-os e

empobrecendo-os.

A edificação de uma casa por um emigrante retornado (ilustração 24), que

procura afirmar o seu triunfo e a sua nova condição social trazendo influências do

país onde esteve e recorrendo aos materiais industrializados, e a consequente

reprodução por parte da vizinhança, revela-se um exemplo de como a facilidade de

comunicação e transporte se podem tornar numa ameaça para estes lugares e estas

arquitecturas.39

É necessária uma reflexão sobre a reabilitação do território, como

fonte de preservação da cultura, do lugar e da arquitectura, evitando assim a perda

do carácter e identidade das sociedades.

37

MILANO, Maria – Do habitar. Porto: Edições ESAD – Escola Superior de Artes e Design, Matosinhos, 2005. p. 13. 38

ANTUNES, Alfredo da Mata, et al – Arquitectura Popular em Portugal. Volume 1. 3ª ed. Lisboa: Associação dos Arquitectos Portugueses, 1988. p. 3. 39

OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, GALHANO, Fernando – Arquitectura tradicional portuguesa. 2ªed. Lisboa: Publicações Dom Quixote Lda, 1994. p. 369.

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Page 55: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

III_ Princípios metodológicos para a reabilitação

Princípios, regras e ferramentas

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55

Neste capítulo, pretende-se fazer um percurso pelos conceitos de património e

de reabilitação, com o objectivo de conhecer e entender a sua definição actual, e qual

o meio para a sua manutenção. Enquanto métodos de preservação, são também

estudados os conceitos de conservação e restauro. Neste sentido, são abordados os

mais importantes autores e doutrinas disciplinares sobre o tema. A finalizar, são

estudadas cartas e convenções de restauro, com o intuito de perceber a evolução da

protecção do património.

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56

25. Fado. 26. Padrão dos Descobrimentos, 1940. Lisboa.

Arquitecto Cottinelli Telmo e escultores Leitão Barros e Leopoldo de Almeida.

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57

III.1_ Património

“Património, nome masculino herança paterna; bens que se herdaram dos

pais ou avós; bens de família; zonas, edifícios e outros bens naturais ou materiais de

determinado país que são protegidos e valorizados pela sua importância cultural;

RELIGIÃO dote necessário para a ordenação de um eclesiástico; figurado riqueza;

(Do latim patrimonĭu-, «idem»).”40

Esta definição, embora reduzida, demonstra o quanto o conceito de património

tem uma interpretação e ambição bastante abrangente, embora, permaneça em

constante transformação. Pode ser entendido como tudo o que é de propriedade

privada, de herança familiar, e que é ao mesmo tempo parte integrante do património

cultural de pertença colectiva, representativo da história e memória da sociedade, que

aqui importa estudar. Neste sentido, o património pode ser um conjunto de bens

imateriais (ilustração 25) – incorpóreos, sem matéria, tais como costumes ou

tradições – e materiais (ilustração 26) – corpóreos, objectos isolados ou agregados,

como os monumentos, conjuntos ou sítios – assumindo registos dos tempos,

testemunho de diferentes épocas. É uma herança de identidade nacional e

civilizacional imbuída de uma mensagem do passado que perdura para as gerações

do presente e do futuro, que pode ser classificada ou não, mediante o

reconhecimento da sua importância com significação e referenciação colectiva.

O monumento, enquanto património classificado, reserva-se a todos os bens

de “interesse cultural relevante, designadamente histórico, paleontológico,

arqueológico, arquitectónico, linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico,

social, industrial ou técnico, dos bens que integram o património cultural reflectirá

valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade

ou exemplaridade.”41

É também todo o património natural, das áreas naturais de valor

excepcional do ponto de vista da ciência e beleza, constituídos por formações físicas,

biológicas e geológicas.

Aqui, importa desenvolver a noção de património material, físico, que se

relaciona directamente com a disciplina da arquitectura, isto é, de todos os bens

40

Enciclopédia e Dicionários Porto Editora – “Património”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/>. 41

Lei de Bases da Politica e do Regime de Protecção e Valorização do Património Cultural. In Diário da República Electrónico. [em linha]. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.dgarq.gov.pt/files/2008/10/107_2001.pdf>.

Page 60: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

58

27. Vista do Porto.

Page 61: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

59

construídos, classificados ou não, pois agora “(…) todas as formas da arte de edificar,

eruditas e populares, urbanas e rurais e todas as categorias de edifícios, públicos e

privados, sumptuários e utilitários, foram anexadas sob novas denominações:

arquitectura menor, (…) usada para designar as construções privadas não

monumentais (…); arquitectura vernacular, (…) usada para distinguir os edifícios

característicos dos diversos territórios; arquitectura industrial das fábricas, das

estações, dos altos-fornos (…)”42

, são património, contrapondo-se deste modo ao

conceito de património de outras épocas, anteriores ao final da Segunda Guerra

Mundial, que se limitava aos monumentos isolados de valor artístico excepcional,

esquecendo-se de todos os outros valores que fazem parte das cidades e das

sociedades. “Enfim, o domínio patrimonial deixou de estar limitado aos edifícios

individuais; ele compreende daqui em diante, os conjuntos edificados e o tecido

urbano: quarteirões e bairros urbanos, aldeias, cidades inteiras e mesmo conjuntos

de cidades (3), como demonstra «a lista» do Património Mundial estabelecida pela

UNESCO.”43

Hoje, neste sentido, todo o património construído necessário para o homem se

mover, viver e conviver, faz parte do crescimento social, da memória e da história

(ilustração 27), sendo importante não só pela sua qualidade artística, técnica e

singularidade, mas também pela sua importância no bem-estar da sociedade, como

seu reflexo, identificador e caracterizador colectivo.

III.2_ Reabilitação

“Reabilitar, (re- + habilitar). v. tr. Restituir direitos e prerrogativas (que se

tinham perdido por sentença judicial); Declarar que o sentenciado está inocente;

Ajudar à reinserção social de: Reabilitar um toxicómano; Reparar, renovar (um

imóvel, um bairro antigo); Restituir a estima pública, regenerar moralmente; v. pron.

Ser Reabilitado; Regenerar-se.”44

Esta definição de reabilitar demonstra o carácter geral que este termo tem. No

entanto, interessa-nos a sua particular aproximação à disciplina da arquitectura. Ao

42

CHOAY, Françoise – Alegoria do Património. 3ª ed. Lisboa: Edições 70, 1999. p. 12. 43

Idem, Ibidem. p. 12 e 13. 44

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – “Reabilitar”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>.

Page 62: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

60

28. Reabilitação. Casa da Arquitectura. Matosinhos. Arquitecto Álvaro Siza Vieira.

29. Porto.

Page 63: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

61

falar-se de reabilitação em arquitectura, somos logo induzidos para o domínio estrito

do património classificado, do monumento histórico.45

Este pensamento advém de

toda uma ideia desenvolvida ao longo do tempo, associada directamente ao estrito

universo do restauro. É, por isso, importante dizer que tal como a definição de

património, reabilitar também evoluiu e se transformou, tendo agora uma aplicação

mais vasta, balizada e orientada por limites disciplinares, que integram todo o

património construído e natural.

“A história das cidades dá-nos conta de quanto hoje é actual construir no

construído, (…)”46

pois “(…) apesar de “o futuro ser o único sítio onde podemos ir”

como nos lembra Renzo Piano, “o passado é uma tentação constante””47

.

Reabilitar, como processo de regeneração e reutilização do espaço construído

e natural, promove o uso contínuo das preexistências (ilustração 28) e tem estas

como ponto de partida para responder às constantes exigências e necessidades do

habitar. Negam-se assim as teses mais conservadoras, que defendem que “(…) à

medida que se afirmam as tendências de embalsamento do património, acentua-se a

desertificação dos lugares da história, acabando por transformá-los em

representações fantásticas de uma realidade jamais existente.”48

(ilustração 29)

Neste sentido, modificando, transformando ou actualizando, o património construído

adquire qualidades arquitectónicas perdidas com o tempo, e promove a sua

continuação no tempo, de acordo com as vontades e necessidades e os novos

padrões de habitabilidade e qualidade da sociedade actual.

Assim sendo, só um trabalho colectivo de relação interdisciplinar e de

interacção com os cidadãos, possibilita o incremento e prosseguimento de um

projecto em equilíbrio capaz de atravessar os problemas políticos, económicos,

sociais e culturais, em benefício da qualidade do território e de uma “(…) cultura

contemporânea do habitar”49

, ao mesmo tempo que, por vontade e utilidade cultural

da sociedade, se preserva a memória e a história inscrita no património.

45

FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – “Reciclar o existente e requalificar o território” In FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2009. p. 9. 46

FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – “Construir no tempo” In FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Construir no tempo. Lisboa: Estar-editora, 1999. p. 7. 47

PEDREIRINHO, José Manuel – “O novo e o antigo contemporâneo” In Arquitectura Ibérica – N.º 36 Reabilitação. Casal de Cambra: Caleidoscópio. Março 2011. p. 10. 48

FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – “Construir no tempo” In FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Construir no tempo. Lisboa: Estar-editora, 1999. p. 7. 49

FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – “Reciclar o existente e requalificar o território” In FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2009. p. 9.

Page 64: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

62

30. Mosteiro de Santa Maria da Vitoria, 1386 a 1517. Batalha.

Page 65: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

63

Em suma, perante a arquitectura, reabilitar o território construído e natural –

classificado ou não – é uma acção disciplinar de manutenção, renovação,

requalificação, reconstrução, conservação e restauro, mas também de importância

social e cultural, capaz de promover o equilíbrio do antigo com o novo, e a sua

vivência e permanência.

III.2.1_ Conservação e restauro

“Conservação s. f. Acto de Conservar; conservar v. tr. Manter em bom

estado; Manter no estado actual; Guardar; Preservar; Continuar a ter; Reter (na

memória); Não perder; Não desistir; v.pron. Durar; Permanecer; Não Expor a saúde,

a vida; Ficar (a distância).”50

O acto de conservar o património deve ser o primeiro modo de preservar e

salvaguardar o seu valor histórico, social e cultural. Assim, impõe-se a sua

permanente manutenção com o objectivo de lhe prolongar a existência, de o

transmitir ao longo dos tempos (ilustração 30). Em arquitectura, e como define a

Carta de Veneza51

, além de todas as operações de manutenção e preservação,

conservar pode implicar a adaptação da construção a uma nova função necessária à

sociedade, resultado da evolução dos usos e costumes. Neste sentido, a demolição

ou adição de uma nova construção são também elementos do acto de conservar. No

entanto, é necessário um conhecimento disciplinar e um sentido ético capaz de

revelar e respeitar o carácter e a identidade da preexistência, não deturpando a sua

realidade e verdade histórica com acções de preservação impróprias.

A conservação é então um instrumento na preservação do território,

assegurando a identidade e cultura dos lugares, das cidades e das sociedades. É,

portanto, um assunto de interesse e valor colectivo em que se deve envolver toda a

população.

“Restauro (derivação regressiva de restaurar) s. m. Acto ou efeito de

restaurar. = Restauramento; Conjunto de técnicas e operações para conserto ou

reparação uma obra de arte ou de uma estrutura arquitectónica; Recuperação de

50

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – “Conservação”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>. 51

Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>.

Page 66: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

64

31. Restauro industrial. 32. Restauro artístico.

33. Restauro arquitectónico. Adaptação de Palacete a Private Baking. Porto. Arquitectos António Portugal e Manuel Maria Reis.

Page 67: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

65

algo que está em mau estado de conservação; [Encadernação] Operação que

consiste em eliminar de um livro os estragos causados pelo tempo e incúria.”52

O restauro, assim como a conservação, é também uma ferramenta importante

e essencial da reabilitação. Enquanto técnica que procura restabelecer o bom estado

de um objecto, o restauro pode ser genericamente de dois tipos: industrial e diário

(ilustração 31) – recuperando valores estritamente funcionais, como o restauro de um

automóvel, calçado, entre outros – ou artístico (ilustração 32) que recupera os valores

estéticos e históricos de uma obra de arte.53

No entanto, é o restauro artístico que verdadeiramente define o conceito de

restauro, e Cesare Brandi descreve-o como o “(…) momento metodológico de

reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dupla polaridade

estética e histórica, em sintonia com a sua transmissão no futuro.”54

Do mesmo

modo, destaca dois princípios: “Só se restaura a matéria da obra de arte”55

e “o

restauro deve dirigir-se ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte,

sempre que possível sem fazer uma falsificação artística e uma falsificação histórica,

sem apagar o percurso da obra de arte no tempo.”56

No primeiro, o autor sugere que só a imagem, como objecto físico e palpável,

é passível de ser restaurada, e por isso é o elemento primordial do restauro. No

entanto, o segundo princípio defende que o restabelecimento da obra de arte deve

ser coerente para que não falsifique a imagem, e ao mesmo tempo, a história que ela

transmite do passado para o presente e para o futuro, devendo permanecer presente

a marca de todos os tempos, como registo da sua vida.

Quando se fala de restauro em arquitectura, podem-se aplicar os princípios

gerais do restauro artístico.57

No entanto, e apesar de histórica e estética, como as

obras de arte, a arquitectura enquanto construção que organiza o espaço com o

propósito de ser vivido, habitado, é também funcional, útil (ilustração 33). O lugar,

enquanto suporte da arquitectura, é outro valor e factor que a distingue da obra

52

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – “Restauro”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>. 53

BRANDI, Cesari – Teoria de la Restauración. 4ª ed. Madrid: Alianza Editorial, 1995. p. 13. 54

Idem, Ibidem. p. 15. Tradução livre: “(…) momento metedologico del reconocimiento de la obra de arte, en su consitencia física y en su doble polaridad estética e histórica, en orden a su tranmisíon al futuro.” 55

Idem, Ibidem. p. 16. Tradução livre: “Se restaura sólo la matéria de la obra de arte.” 56

Idem, Ibidem. p. 17. Tradução livre: “La restauración debe dirigirse al restablecimeiento de la unidad potencial de la obra de arte, siempre que esto sea posible sin cometer una falsificación artística o una falsificación histórica, y sin borrar huella alguna del trascurso de la obra de arte a través del tiempo.” 57

Idem, Ibidem. p. 77.

Page 68: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

66

34. Retrato de Eugène Viollet-le-Duc.

Page 69: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

67

de arte, pois influencia e condiciona o seu nascimento e desenvolvimento, tornando-a

parte integrante do sítio. Assim, o restauro arquitectónico implica ter em atenção o

contexto social e espacial, partilhado nas actuais definições e classificações de

património.

Tendo em conta estas diferenças, a renovação arquitectónica exige que além

da unidade artística e estética, se deve ter em atenção também a sua

contextualização e relação com o lugar em que se insere e inseriu no passado, assim

como a sua funcionalidade, pois são factores importantes para manter a verdade

artística e histórica, a transmitir ao longo do tempo. Neste sentido, pode dizer-se que

a recuperação arquitectónica e também urbanística, é essencialmente fundamentada

nos princípios do restauro artístico, mas também com uma vertente de restauro

industrial, na medida em que a arquitectura contém também um objectivo utilitário. É

ainda importante referir que o restauro, como ferramenta da reabilitação é, antes de

tudo, uma questão de vontade, de querer manter e defender a memória de

determinada época e sociedade.

Eugène Viollet-le-Duc, Jonh Ruskin e Camillo Boito foram notáveis vultos que

se destacaram na procura de uma definição do conceito de restauro, procurando ao

mesmo tempo estabelecer os princípios para a sua boa prática. É neste sentido que

se desenvolve o estudo sobre a recuperação, através das suas teorias.

III.2.1.1_ Eugène Viollet-le-Duc e o restauro estilístico

Eugène Viollet-le-Duc (ilustração 34) foi arquitecto e teórico francês (1814 -

1879). A sua imensa cultura e capacidade de crítica e de desenho são características

da sua personalidade ímpar, que se estende e identifica na sua obra construída e

teórica. Fruto da sua formação académica, recusa o neo-classicismo definindo-se

como eclético, pois a sua arquitectura percorre o neo-gótico e neo-renascimento. No

entanto, destacou-se pela sua dedicação e investigação ideológica na temática do

restauro. 58

Seguindo as reflexões de Antón Capitel, a sua arquitectura é a expressão da

sua formação, dos seus ideais, e apresenta um carácter de relação entre o uso e o

58

Enciclopédia Britânica – “Eugene-Emmanuel-Viollet-le-Duc”. [em linha]. [consultado em 06 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://www.britannica.com/EBchecked/ topic/629711/Eugene-Emmanuel-Viollet-le-Duc>.

Page 70: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

68

35. Restauro estilístico. Catedral de Notre-Dame. Paris, França. Arquitecto Eugène Viollete-le-Duc.

Page 71: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

69

estilo. Com isto, procura uma arquitectura avançada e própria do seu tempo. Foi dos

primeiros que, ao dedicar-se ao estudo do restauro, procurou estabelecer princípios e

metodologias de actuação e intervenção. O convite de Prosper Mérimée – inspector-

geral dos monumentos franceses – a Viollet-le-Duc como seu colaborador executivo,

para dirigir e mesmo realizar a recuperação de “Catedrais góticas, Cidades

amuralhadas, Abadias e Castelos”59

, permitiu-lhe pôr em prática os seus

pensamentos sobre a preservação dos monumentos.

Ao mesmo tempo que o seu trabalho prático era conhecido, surgem também

publicadas as suas reflexões e pensamentos teóricos sobre arquitectura. O Dicionário

Analítico da Arquitectura Francesa do Século XI ao Século XVI, é o livro que aqui

interessa referenciar, pois para além de estudar a arquitectura francesa, é aqui que

aparece o conceito moderno de recuperação.

“Restaurar um edifício não significa conservá-lo, repará-lo ou refazê-lo, mas

obter a sua forma primitiva, mesmo que nunca tenha sido assim”60

. Esta afirmação de

Viollet-le-Duc caracteriza o seu pensamento sobre o restauro, que recusa qualquer

alteração ao desenho original e defende a eliminação de qualquer acrescento ao

edifício inicial, sempre na procura do carácter original – por meio de uma extensa

análise de todos os elementos presentes – que corresponde ao estilo mais marcante

do mesmo.61

Este modelo, apesar de estritamente rigoroso, poderia levar o edifício a

um falso original, pois na procura do seu estilo único, iriam apagar-se as marcas da

construção durante o tempo de vida do monumento, e por consequência a história

das diferentes épocas e sociedades que o viveram e percorreram (ilustração 35).

Então, pode dizer-se que estes ideais conservadores tenderiam a que os

resultados fossem o oposto do pretendido. Não o restauro de um monumento como

memória da história, mas sim a reconstrução de um novo edifício, em que o ponto de

partida é o património.

59

CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 18. Tradução livre: “ Catedrales Góticas, Ciudades amuralhadas, Abadías y Castilhos (…)”. 60

VIOLLET-LE-DUC, Eugène, cit in CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 19. Tradução livre: “Restaurar un edificio no significa conservlo, repararlo o rehacelo, sino obtener su complena forma pristina, incluso aunque nunca hubiera sido asi.” 61

CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 20.

Page 72: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

70

36. Auto-retrato de John Ruskin.

37. Ciclo biológico da arquitectura. Convento das Bernardas, 1509 a 1530. Tavira.

Page 73: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

71

III.2.1.2_ John Ruskin e o anti-restauro

John Ruskin (ilustração 36), escritor, sociólogo e crítico de arte inglês (1819 -

1900) revela uma paixão por desenho, embora como ferramenta de estudo

econhecimento, e extremamente ligado ao pensamento romântico da época,

relaciona-se com diferentes movimentos artísticos como a pintura, a literatura e a

arquitectura. O seu interesse pela arquitectura e o restauro foi expresso nos livros

The Seven Lamps of Architecture e The Stones of Venice, onde estabeleceu as suas

teorias de intervenção de restauro.62

“Cuidem dos nossos Monumentos e não haverá necessidade de restaurá-

los.”63

Acrescenta ainda que “o verdadeiro sentido da palavra restauro não é

compreendido nem pelo público nem pelos que cuidam dos nossos Monumentos.

Significa a mais completa destruição que um edifício pode sofrer, destruição que se

acompanha de uma falsa restituição do Monumento destruído.”64

Com estas

afirmações, Ruskin assumiu-se um defensor da verdade histórica e arquitectónica,

pelo que defendeu a conservação estritamente necessária ao prolongamento da vida

do edifício, em oposição aos pensamentos de Viollet-le-Duc sobre a arquitectura e o

restauro.

Entende que a arquitectura tem um carácter biológico, natural, e como tal tem

um ciclo de vida como o ser humano, determinado pelo seu nascimento, o tempo de

vida e a sua inevitável morte (ilustração 37).65

Enquanto expressão que eterniza e

representa a evolução histórica do homem no tempo, a arquitectura deve permanecer

intocada, envelhecendo. Neste sentido, a ruína é entendida como a morte do

monumento, consequência do ciclo natural da vida do edifício.

Ruskin acredita que a importância do património está relacionada com o seu

tempo, o seu povo, e que pertence a quem o construiu. Por este motivo, defende que

o restauro é errado, pois este vai criar um falso histórico, uma falsa memória,

62

Enciclopédia Britânica – “John Ruskin”. [em linha]. [consultado em 06 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://www.britannica.com/EBchecked/topic/513091/John-Ruskin>. 63

RUSKIN, John, cit in CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 23. Tradução livre: “Cuidad de nuestros Monumentos y no tendréis necessidade de restauralos.” 64

Idem, Ibidem. p. 27. Tradução livre: “El verdadero sentido de la palabra restauración no lo comprende ni el publico ni los que tienen el cuidado de velar nuestros Monumentos. Significa la más completa destrucción que pueda sufrir un edificio, destrucción que se acompaña de una falsa restitución del Monumento destruído.” 65

CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 24.

Page 74: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

72

38. Retrato de Camillo Boito.

Page 75: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

73

destruindo assim a sua marca do tempo, reveladora de diferentes momentos na

história. Neste sentido, sendo o tempo característica essencial da arquitectura, e a

morte o seu fim, recuperar o património “… é impossível, tão impossível como

ressuscitar um morto (…)”66

.

III.2.1.3_ Camillo Boito e o restauro moderno

Camillo Boito (ilustração 38), arquitecto, teórico, historiador e crítico italiano

(1936 - 1914), dedicou-se à arquitectura de edificações novas, mas foi no restauro de

monumentos que se distinguiu, e deu a conhecer o seu pensamento e conhecimento

sobre esta temática.67

Segundo Antón Capitel, Boito propõe uma conciliação da verdade histórica

defendida por John Ruskin, com a oportunidade de restaurar o património. No

entanto, a sua teoria pode definir-se melhor pela oposição de Boito ao extremismo

estilístico de Viollet-le-Duc e ao conservadorismo e fatalismo de Ruskin,

desenvolvendo assim uma nova ideologia sobre o restauro.

Os Restauradores68

, é o livro em que Boito expõe o seu pensamento sobre o

restauro. Faz a distinção entre o restauro de Viollet-le-Duc e a conservação de

Ruskin, demonstrando tratar-se de actos contrários, mas ao mesmo tempo ambos

necessários, não esquecendo os perigos do restauro, e enaltecendo os benefícios da

conservação. Afasta-se de Ruskin por não aceitar a morte das edificações, mas

também se distancia de Viollet-le-Duc ao não compreender que o restauro conduza a

construção ao que nunca foi. Embora recusasse os radicalismos destas teorias, o

restauro moderno de Camillo Boito é influenciado por Ruskin, na conservação dos

sinais do tempo de vida da construção, e por Viollete-le-Duc no estudo e respeito pela

edificação original. É, portanto considerado o entendimento entre as duas teorias

antagónicas, que se unem essencialmente na vontade de valorizar o património.

Mantendo o ideal de valorização do património, Boito defende a conservação

como acção de preservar o património. No entanto, se necessário para a sua

66

RUSKIN, John, cit in CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 27. Tradução livre: “… es imposible, tan imposible como resucitar a un muerto, restaurar nada que haya sido grande o hermoso en arquitectura (…)”. 67

CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 31. 68

BOITO, Camillo – Os Restauradores. [em linha]. Brasil: Atelié Editorial. 2002. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://books.google.pt/books?id=ZKZyMwEY6agC&printsec= frontcover&dq=os+restauradores&hl=pt-PT&sa=X&ei=PnjxT_PhJIT80QXA0_2LDg&ved=0CDUQ6AEwAA#v= onepage&q=os%20restauradores&f=false>.

Page 76: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

74

39. Reabilitação e ampliação da Igreja de Figueiredo. Braga. Arquitecto Paulo Providência.

Page 77: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

75

consolidação e uso pela sociedade, permite a adição de novas construções, deste

modo marcando as diferentes épocas de vida da edificação. É esta relação da

edificação com o tempo, revelando a constante evolução do homem e da sociedade

que Boito pretende transmitir.

Baseando-se numa posição analítica, diferenciadora, Boito descreve os seus

princípios e condições imprescindíveis para a conservação e ampliação: “1.º

Diferença de estilo entre antigo e novo; 2.º Diferença de material na sua construção;

3.º Omissão de molduras e decoração nas partes novas; 4.º Exposição das partes

materiais que tenham sido eliminadas, num lugar contíguo ao monumento restaurado;

5.º Incisão da data de actuação ou um sinal convencional na parte nova; 6.º Legenda

descrita da actuação fixada ao monumento; 7.º Descrição e fotografias das diversas

fases dos trabalhos, depositadas no próprio monumento ou num lugar público

próximo (condição substituível pela publicação); 8.º Notoriedade visual das acções

realizadas.”69

A acção mínima no restauro e a admissão de novos volumes (ilustração 39),

quando necessário para a sua consolidação, garantindo que estes se diferenciem da

preexistência, são as noções gerais defendidas por Boito para a recuperação, não

esquecendo que este deve ser um recurso de uso extremo, e que a premissa deve

ser sempre a conservação.

Segundo Antón Capitel, estes oito pontos definidos por Camillo Boito, que

foram apresentados no III Congresso de Arquitectos e Engenheiros Civis de Roma

em 1883, são entendidos como a primeira carta de restauro, e orientação para

legislação em alguns países. Neste sentido, esta nova perspectiva inicia uma nova

forma de ver a recuperação como especialidade importante da arquitectura, sendo

também um importante estímulo para o desenvolvimento das primeiras cartas e

convenções.

69

BOITO, Camilo. Cit in CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p.31 e 32. Tradução livre: “1º Diferencia de estilo entre lo antiguo y lo nuevo; 2º Diferencia de materiales en sus fábricas; 3º Supresión de molduras y decoración en las partes nuevas; 4º Exposición de las partes materiales que hayan sido eliminadas en un lugar contiguo al monumento restaurado; 5º Incisión de la fecha de la actuación o de un signo convencional en la parte nueva; 6º Epígrafe descriptivo de la actuación fijado al monumento; 7º Descripción y fotografías de las diversas fases de los trabajos depositadas en el propio monumento o en un lugar público proximo. (Condición sustituible por la publicación); 8º Notoriedad visual de las acciones realizadas.”

Page 78: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

76

40. Ruínas de Conímbriga. Coimbra.

Page 79: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

77

III.3_ Organizações e Orientações

III.3.1_ Cartas e convenções internacionais sobre o património

O património cultural e natural é a expressão e testemunho de um passado de

várias gerações. Neste sentido, a sua degradação ou desaparecimento significa a

perda da memória e da história das sociedades.

Por este motivo, a necessidade e vontade de preservar e conservar os

edifícios, os lugares e os conjuntos arquitectónicos que identificam a sociedade numa

determinada época (ilustração 40), é uma característica inerente ao homem, tão

antiga como a própria arquitectura.

Reflexo disto é a existência, desde muito cedo, de diferentes teóricos que

defendem diferentes modos de actuar perante a preexistência, como os

anteriormente abordados Viollete-Le-Duc, John Ruskin e Camillo Boito, que se

destacam pelas suas ideologias díspares, úteis à orientação e estabelecimento de

doutrinas de intervenção.

No entanto, a existência de teorias de restauro não é sinónimo da sua

actuação e aplicação por parte das nações. Verificando uma insuficiência de recursos

económicos, científicos e técnicos ao nível dos países capazes de promover uma

preservação cada vez mais eficaz, e perante o crescimento das ameaças – que para

além das causas de degradação naturais, comportam também as resultantes da

acção e evolução do modo de vida social, cultural e económico – nasce o sentido de

responsabilidade colectiva para a preservação.

Nos anos 30 do século XX, são publicadas as primeiras cartas de conservação

e restauro que têm como objectivo um acordo internacional dos conceitos e métodos

de restauro. Em 1945, com a criação da Organização das Nações Unidas70

, é

fundada a Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura71

,

cujo objectivo é manter a segurança e paz no mundo, e defesa dos direitos

fundamentais do homem, por meio da promoção da educação, ciência e cultura. Esta

organização é fundamental na defesa do património mundial, contribuindo com o

apoio e criação de cartas e convenções internacionais de promoção e divulgação da

conservação e do restauro do património, em que cada país se deve responsabilizar

70

UN - United Nations Organization 71

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

Page 80: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

78

41. Região Vinhateira do Alto Douro.

Page 81: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

79

pela sua aplicação, e criando a distinção de Património da Humanidade (ilustração

41) assinalando a sua importância.72

Conta, para esta missão, com o apoio de diversas organizações, onde se

destacam o Concelho Internacional de Museus73

, o Concelho Internacional de

Monumentos e Sítios74

e a União Internacional para a Conservação da Natureza e

dos Recursos Naturais75

. Em Portugal, tem a cooperação da Direcção Geral do

Património Cultural para a identificação e manutenção do património, sendo

anteriormente gerido pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e

Arqueológico (IGESPAR).

Foram seleccionadas algumas das referidas cartas por se considerarem

importantes para esta investigação, desde a sua aplicação global até à especificidade

do património popular, evidenciando o que cada uma acrescenta, ao nível

instrumental e disciplinar.

A Carta de Atenas76

, assinada em 1931 pela Sociedade das Nações, é o

primeiro documento internacional de referência que serve como base de acção,

orientação e instrumentalização na área do restauro, com o objectivo de salvaguardar

o património. Estabelece doutrinas, princípios e técnicas para o restauro e

conservação dos monumentos históricos, promove a sua valorização e rejeita a sua

degradação, propondo para o efeito uma colaboração institucional e internacional.

O abandono de reconstruções integrais e o desenvolvimento de uma

manutenção regular são princípios defendidos para assegurar a conservação dos

monumentos. No caso do restauro ser a acção necessária, recomenda respeito pela

autenticidade do património – sem recusar elementos de diferentes épocas –, mesmo

quando estes adquirem novas utilizações como meio de continuidade de vida.

No que respeita à legislação, esta tem como objectivo proteger o monumento

histórico, artístico e científico. Perante o interesse na preservação do património

privado, deve conciliar as diferenças entre os direitos públicos e privados, evitando

conflitos com os proprietários em proveito dos benefícios públicos, e conflitos públicos

72

United Nations Organization. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.un.org/en/> 73

ICOM - International Council of Museums 74

ICOMOS - International Council of Monuments and Sites 75

IUCN - International Union for Conservation of Nature 76

Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas. [em linha] ICOMOS. 1987. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/ media/uploads/cc/CARTAINTERNACIONALPARASALVAGUARDDASCIDADESHISTORICAS.pdf>

Page 82: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

80

42. Arco do Triunfo, 1806 a 1836. Paris, França.

Page 83: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

81

em benefício privado.

O mesmo documento, ainda, defende que a valorização dos monumentos é

tida pelo respeito na construção de edifícios nas cidades e em especial na vizinhança

de monumentos, onde se deve ter um perímetro de protecção de monumento, ficando

este isolado e demarcado (ilustração 42). Esta valorização implica uma atenção

especial à envolvente próxima, na construção e materialização das edificações, assim

como a todos os objectos urbanos perturbadores e dissonantes.

Recomenda ainda o uso de materiais e técnicas modernas quando necessário,

desde que o seu uso seja cauteloso. No entanto, todos os materiais resistentes

devem ser dissimulados, para poder manter a identidade do edifício.

Devido às condições da vida moderna e às condições atmosféricas, os

monumentos encontram-se cada vez mais ameaçados. Deve-se, por isso,

desenvolver uma colaboração interdisciplinar – arquitectos, arqueólogos,

historiadores, entre outros – para conseguir alcançar metodologias de intervenção

úteis e aplicáveis a diferentes casos.

Quanto às técnicas de conservação definidas, impõe-se uma manutenção

rigorosa. Em caso de ruína, defende o recurso à anastilose, entendida pela reposição

de partes existentes. Todos os materiais novos que sejam necessários a estas

técnicas de conservação devem ser claramente identificáveis. Quando a conservação

de ruínas ou escavações é impossível, devem ser de novo enterradas, após serem

feitos registos rigorosos do património encontrado. Todos estes trabalhos devem ser

feitos em colaboração com os diferentes especialistas como arquitectos, arqueólogos,

entre outros.

A Carta de Atenas, propõe ainda a colaboração internacional técnica, moral,

no intercâmbio de especialistas com instrumentos e conhecimentos de diferentes

países. Defende que a educação sobre o respeito pelo património é a técnica de

conservação mais eficaz, no entanto é necessária uma documentação internacional

capaz de orientar a colaboração internacional.

Em 1964, pela mão do ICOMOS, surge a Carta de Veneza77

. É uma

actualização à Carta de Atenas que se revela muito limitada, comparativamente com

o tempo e os novos ideais em que é elaborada esta nova Carta, no entanto, é

importante por dar início ao debate desta temática. Esta modificação é sobretudo

77

Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>

Page 84: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

82

43. Convento de Nossa Senhora da Arrábida, século XVI. Serra da Arrábida.

Page 85: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

83

de conceitos e definições de património, conservação e restauro, permitindo que

todas as regras definidas pela Carta de Atenas tenham uma diferente aplicação, ou

seja, uma orientação alargada ao enquadramento do monumento.

Com este sentido, a primeira e mais significativa actualização à Carta de

Atenas é a definição de monumento histórico, que agora não se refere só ao

monumento em si, mas também a todo o conjunto e sítio (ilustração 43) – rural ou

urbano – que testemunha a sociedade no seu tempo. Aqui, importam também todas

as obras modestas que adquirem importância histórica, social e cultural com o tempo,

por serem a expressão e materialização de um momento em determinada sociedade.

No que respeita à conservação, a Carta mantém a preferência de uma

manutenção regular, e também uma relação científica e técnica interdisciplinar.

Contudo, defende a adaptação do monumento a uma função útil, em resposta às

necessidades da sociedade, desde que respeite a originalidade do edifício. Como

resultado da modificação da definição de monumento histórico, a conservação deve

ser alargada à envolvente próxima, pois o monumento é inseparável da sua

contextualização, que o sustenta.

A Carta de Veneza, revela ainda que o restauro, cujo objectivo é conservar e

revelar os valores do monumento, se baseia no respeito pela antiguidade e pela

autenticidade, deixando de ter significado quando se pretende a reconstituição. Se é

indispensável ao nível técnico e estético, deve então demarcar-se a modernidade de

forma equilibrada, exigindo-se previamente um estudo arqueológico e histórico.

Quando existam contributos de diferentes épocas num imóvel, estas devem

permanecer todas, pois não é o estilo que se quer recuperar mas sim a história do

monumento, sendo reprovável a eliminação de algum elemento, com a excepção dos

que tenham pouco interesse ou estejam em mau estado de conservação. No entanto,

a decisão de eliminação não pode ser tomada com base na única opinião do autor do

estudo e projecto. Durante o restauro, todos os elementos apostos devem distinguir-

se do original, e todos os acrescentos, quando necessários, devem respeitar os

interesses do edifício, o equilíbrio da sua composição e a sua relação com o sítio.

Todos estes princípios de conservação e restauro enunciados nesta Carta,

devem aplicar-se também aos sítios monumentais, que até então eram esquecidos e

deixados ao abandono.

Tal como a anterior Carta de restauro, esta propõe que se faça uma

documentação de todos os trabalhos e a sua publicação para que estejam acessíveis

a todos, servindo de exemplo.

Page 86: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

84

44. Paisagem Cultural de Sintra.

Page 87: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

85

A Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural78

assinada em 1972 pela UNESCO e em simultaneidade com o ICOMOS e IUCN, é

mais um contributo para a conservação do património.

Esta Convenção procurou estabelecer definições claras de património,

fazendo-o de forma rigorosa e descritiva do que pode ser considerado património

cultural e natural. Assim, permite uma maior e melhor actuação na identificação e

protecção do património (ilustração 44). Neste sentido, incentiva a protecção nacional

e internacional do património cultural e natural, atribuindo a obrigação da identificação

e preservação do património por parte de cada Estado-membro desta Convenção,

através de políticas de integração social e cultural, de medidas jurídicas,

administrativas e financeiras, e do desenvolvimento de estudos científicos e técnicos,

assim como o incentivo à informação e formação técnica.

Ainda, neste documento, é também criado um Comité do Património Mundial,

com carácter intergovernamental, essencialmente com dois objectivos. O primeiro é a

criação de uma lista de património em risco, elaborada em constante colaboração

com os Estados-membros. O segundo, e não menos importante, é a assistência

artística, científica e financeira em benefício da salvaguarda do património. No

entanto, para obter esta assistência, os Estados que o desejem têm de apresentar os

estudos referentes ao imóvel ou aos sítios em causa. Em contrapartida, a assistência

deve criar programas educativos que permitam dar a conhecer a importância do

património cultural, e da sua conservação, enquanto preservação da história de um

tempo e de uma sociedade.

No seguimento da Carta de Veneza, em que já se aborda o sítio como valor a

preservar – não se reduzindo ao monumento em si – o ICOMOS aprova, em 1987, a

Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas79

que se distingue de

todas as outras pela sua escala de abrangência – a cidade –, apesar da sua

identificação com as cartas e convenções anteriores.

A salvaguarda das cidades e dos bairros históricos deve estar presente nos

planos de ordenação e de urbanização, de modo a preservar o carácter histórico das

78

Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural. [em linha]. UNESCO. 1972. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/ media/uploads/cc/ConvencaoparaaProteccaodoPatrimonioMundialCulturaleNatural.pdf> 79

Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas. [em linha] ICOMOS. 1987. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CARTAINTERNACIONALPARASALVAGUARDDASCIDADESHISTORICAS.pdf>

Page 88: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

86

45. Centro Histórico de Guimarães.

46. Piódão. Arganil.

Page 89: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

87

cidades e o conjunto de elementos materiais e imateriais que a caracterizam

(ilustração 45). Estes são expressos nas relações das cidades com o seu

enquadramento natural e construído, pela forma urbana do território, pelas diferentes

relações entre os espaços construídos e não construídos, livres e cultivados, a forma

e as condições das edificações, e as diferentes vocações abraçadas e

protagonizadas pela cidade. Neste sentido, é essencial a cooperação e envolvimento

da população das cidades para a sua salvaguarda, pois está directamente

relacionada com eles em termos sociais e culturais.

Os métodos e instrumentos de salvaguarda segundo esta Carta devem ser

pluridisciplinares, devendo fazer-se a análise de dados arqueológicos, históricos,

arquitectónicos, sociológicos e económicos, de modo a conseguir uma articulação

disciplinar harmoniosa, determinando o que e como proteger, devendo todos estes

estudos e projectos estarem e serem documentados antes de qualquer intervenção.

Estes princípios e métodos devem respeitar a Carta de Veneza, devendo

sempre existir um equilíbrio entre as necessidades da vida contemporânea, como

costumes, novos usos, preexistência e infra-estruturas contemporâneas. Devem

também ser tomadas medidas de prevenção de catástrofes, assegurando a

salvaguarda do património.

A Carta do Património Vernacular Construído80

, de 1999, proposta e

desenvolvida pelo ICOMOS, surge como uma expansão da Carta de Veneza e das

cartas posteriores, com o objectivo de proteger o património popular construído. Esta

intenção existe, pois a arquitectura vernacular ou popular tem um carácter singular

(ilustração 46). Aparenta ser irregular e desordenada, no entanto, é o reflexo do seu

carácter utilitário em resposta às necessidades da sociedade rural, e de adaptação

perante a natureza, com recurso aos materiais locais e técnicas tradicionais,

assumindo-se assim como identidade da comunidade. Com a globalização

económica, social e cultural, facilitada pela comunicação generalizada, estas regiões,

assim como as suas arquitecturas, estão mais acessíveis, e com isso mais

vulneráveis a acções de desequilíbrio e de desintegração.

Os princípios de conservação desprendem-se dos definidos pelas cartas e

convenções anteriores, no que diz respeito aos valores culturais e tradicionais dos

conjuntos e sítios. Neste contexto, a conservação tem uma orientação particular.

80

Carta sobre o Património Construído Vernáculo. [em linha]. ICOMOS. 1999. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.international.icomos.org/charters/vernacular_sp.pdf>

Page 90: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

88

47. Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, 1178. Alcobaça.

Page 91: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

89

Na sua intervenção, deve respeitar a integridade e organização dos conjuntos,

mantendo a sua relação com a paisagem. Para uma resposta mais adequada na

intervenção, é necessário conhecer os sistemas e as técnicas tradicionais de

construção vernacular. Quando se exige a adaptação aos usos contemporâneos, e a

consequente substituição de parte da preexistência, deve respeitar-se a sua

integridade e configuração, recorrendo ao uso de técnicas e materiais que

mantenham melhor o equilíbrio e expressão. Como defendido em cartas anteriores,

as contribuições de diferentes épocas devem manter-se, pois são parte da história e

memória da construção e da sociedade em que se inserem.

À semelhança de outras cartas e convenções, esta defende que é necessária

uma investigação e documentação prévia, e a criação de programas educativos e de

promoção e animação cultural destas regiões vernaculares e rurais.

Em síntese, para a conservação do património popular e vernacular, deve ter-

se especial atenção aos seus valores culturais e tradicionais, às estruturas, aos

valores espaciais e materiais, e ao modo como estes são usados pela população,

pois revelam a sua identidade social e cultural, resultando da relação de intimidade

entre a natureza, o lugar e o modo de vida local.

A abordagem cronológica de algumas cartas e convenções tem o objectivo de

compreender o desenvolvimento das ideias e conceitos relacionados com o crescente

interesse pela identificação, preservação e divulgação do património, e ao mesmo

tempo, qual o compromisso assumido pela sociedade na sua salvaguarda e

valorização (ilustração 47).

Esta evolução é imediatamente perceptível, desde a definição de monumento

histórico introduzida pela Carta de Veneza até às definições de património das

actuais cartas. Deste modo, aumentou as áreas de intervenção e, por sua vez, a

forma como são aplicadas as doutrinas de conservação e restauro por parte dos

responsáveis, onde se incluem os arquitectos. O conceito de património continua a

evoluir e a especificar-se, assim como as doutrinas na procura da diminuição das

agressões aos nossos sítios, cidades e conjuntos rurais, pois uma intervenção de

reabilitação ou restauro envolve actos muitas vezes irreversíveis, devendo por isso

ser acções bem pensadas.

Page 92: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

90

48. Desrespeito pelo património.

Page 93: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

91

Cada novo documento confirma, e ao mesmo tempo actualiza, os conceitos e

orientações defendidos nas anteriores cartas e convenções, pois cada documento é

criado de acordo com os pensamentos e ideologias individuais e colectivos de cada

sociedade, balizados nos acontecimentos que marcam a sua época. Assim, tal como

a sociedade continua em constaste evolução política, económica, social e cultural, as

cartas e convenções tendem a desenvolver-se e a complementar-se de acordo com

as vontades das sociedades. Estes documentos e organizações criados em prol do

património, necessitam do envolvimento da sociedade na sua preservação, e devem

ter como base de sustentação a educação cultural, sobre o que é o património e qual

o seu significado, pois só deste modo é possível que se crie uma relação de

proximidade e respeito, que incentive uma conservação preventiva, capaz de manter

a identidade cultural e criativa das diferentes épocas históricas, e se previna o seu

abandono e desrespeito (ilustração 48).

Do ponto de vista mais técnico, as cartas e convenções internacionais são

documentos de orientação disciplinar e instrumental que motivam a reflexão sobre o

património e a sua preservação e conservação. No entanto, e dependendo do

pensamento ideológico individual de cada arquitecto – que importa estudar – as

orientações ideológicas e instrumentais de conservação e restauro, da manutenção

ou alteração dos usos, dos materiais e técnicas utilizados, podem revelar-se

fundamentais para a sua actuação no património, ou pelo contrário, podem mostrar-

se limitações à sua intervenção.

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IV_ Obras de referência

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95

A finalidade deste capítulo é estudar e interpretar três projectos de arquitectura

que constituem fontes na aplicação das metodologias de intervenção no património e

de aproximação ao programa vitivinícola. A reconversão de um Moinho em Vilar de

Mouros, a reabilitação e ampliação da Adega Casa da Torre em Vila Nova de

Famalicão e a construção da Adega Mayor em Campo Maior são os estudos e

projectos seleccionados. O primeiro está especialmente dirigido à aplicação das

ideologias do restauro, o segundo à relação da reabilitação e da ampliação com o

programa vinícola, e o terceiro ao novo programa vinícola.

A abordagem é realizada de acordo com os temas apontados até então, isto é,

cada caso é analisado segundo o lugar, a arquitectura e as metodologias de

intervenção no património, diferenciando e evidenciando a sua importância individual.

Page 98: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

96

49. Reconstrução do Sequeiro. Guimarães. 50. Casa Cristina Silva. Porto.

51. Reconversão do Moinho. Vilar de Mouros.

52. Localização do Moinho. Vilar de Mouros.

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97

IV.1_ Reconversão de Moinho. Arquitecto José Gigante

A obra do arquitecto José Gigante é marcada pela sua diversidade projectual,

e é com facilidade que encontramos uma forte relação disciplinar e instrumental com

a temática da reabilitação. Encontramos ainda valores importantes e estruturantes

como a construção e a pormenorização, pensada e destinada a cada obra.

A sua forma de ver e pensar a arquitectura, e a sua interpretação do espaço

preexistente altera-se ao longo do tempo de projecto para projecto, no entanto, é

possível observar um equilíbrio e respeito pelo património nas suas intervenções,

quer pela sua interpretação do antigo como matéria-prima de estudo e projecto, quer

também na relação do passado com os materiais e os sistemas construtivos

contemporâneos. Como afirmação desta coerência projectual, pode destacar-se,

entre os projectos de reabilitação que traçou ao longo do tempo, a Reconstrução do

Sequeiro (Guimarães, 2002-2005) (ilustração 49), a Casa Cristina Silva (Porto, 2003-

2006) (ilustração 50) e, a mais antiga, seleccionada como referência de estudo, a

Reconversão do Moinho (Vilar de Mouros, 1989-1996) (ilustração 51).

Vilar de Mouros (ilustração 52) situa-se entre os montes de Goios, Pena,

Gávea e Viso, no litoral norte do país, no concelho de Caminha. A agricultura e a

pecuária ainda fazem parte do sector laboral, mas também existe o comércio

tradicional e a pequena indústria, em resposta às necessidades e anseios da

população local. Rica em património natural e cultural, mantém o seu carácter rural,

vernacular e singular, apesar da evidente evolução do território e da sociedade ao

longo do tempo.81

É neste contexto, ainda rural, inserido no terreno de uma habitação

existente, que se encontra um moinho, outrora degradado. É uma construção

simples, utilitária, associada à arquitectura de produção local. A implantação

apresenta uma forma circular que origina um volume cilíndrico, construído com

materiais retirados do lugar – pedra e madeira – e sistemas construtivos tradicionais

que imprimem uma identidade própria e, ao mesmo tempo, uma harmonia com o

sítio.

A vontade de transformar o moinho em espaço de estar e dormir, dependente

de uma habitação recuperada anteriormente, promoveu o prolongamento da sua vida

81

Junta de Freguesia de Vilar de Mouros. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.jf-vilardemouros.com/>

Page 100: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

98

53. Plantas e cortes do moinho.

54. Entrada. 55. Cobertura em cobre.

56. Piso térreo.

57. Piso superior.

Page 101: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

99

e a preservação da sua história e memória. A intenção de lhe dar uma nova função

(ilustração 53) é, por si só, o primeiro acto de reabilitação do moinho, ao qual se

juntam as motivações ideológicas de actuação que passam pelas opções

organizacionais e materiais.

Com o sentido da preservação e reabilitação autêntica, de algum modo

relacionada com o pensamento menos fatalista de John Ruskin, que defende a acção

mínima de conservação para prolongamento da vida da construção, desenha e

constrói o projecto com a manutenção da topografia e dos muros em pedra

associados, que definem e apoiam o pódio natural em que o moinho se encontra,

comprovando a importância do lugar. O perímetro exterior do moinho é preservado,

sem nada lhe demolir ou ampliar. Mantém a marca do tempo na pedra, vestígio do

seu ciclo de vida, e o recorte dos vãos. A madeira, pela sua forte ligação com a

pedra, é seleccionada e usada para fazer a porta e as janelas (ilustração 54), para

além da sua extensão para o interior.

A cobertura é reinterpretada, adoptando a contemporaneidade e diferenciando

a data da intervenção no tempo, como defende Camillo Boito. Agora, é plana, com

pouca presença no perfil do moinho, e a sua estereotomia converge para o centro

numa clara alusão à cobertura anterior (ilustração 55). O material é o cobre que, com

a sua oxidação no tempo, cria uma relação de equilíbrio, proximidade e intimidade

com a construção em pedra e o lugar em que se insere.

Na transição para o espaço interior, onde se exige uma nova função, mantém-

se a coerência e o equilíbrio do espaço, mas assumindo a contemporaneidade da

intervenção, como defende a Carta de Veneza82

, devendo ter-se sempre em atenção

a essência patrimonial e cultural.

Assumindo a modernidade e qualidade do espaço que é agora para habitar, a

parede interior é rebocada e pintada. Conservando a relação com o exterior do

moinho, a madeira, material de todos os tempos, prolonga-se das janelas e portas

para o interior, e enquanto material construtivo, organiza e materializa todo o espaço

em dois pisos. Constrói o piso térreo (ilustração 56), o piso superior (ilustração 57) –

que se prologa até à janela, apropriando-se da espessura da parede – e a escada

que os liga. A sua versatilidade e modularidade permitem apropriar-se do espaço

disponível, organizando-o. No espaço de entrada, localiza-se uma instalação sanitária

82

Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>

Page 102: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

100

58. Casa da Costa Grande. Baião. 59. Adega Quinta da Faísca. Alijó.

60. Adega Casa da Torre. Vila Nova de Famalicão.

61. Localização da Adega Casa da Torre. Vila Nova de Famalicão.

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101

e uma área de estar, onde o sofá pode adoptar a função de cama, e, no piso superior,

um armário e um estrado-cama integrado no piso, proporcionam um habitar mínimo

conotado com as ideologias da contemporaneidade.

Na preservação do moinho, por meio da sua reconversão, a madeira assume

claramente a responsabilidade de ligação entre as diferentes épocas de intervenção,

entre a preservação do antigo e a criação do novo, permitindo manter a identidade do

moinho, sem descaracterizar ou deformar a sua identidade popular e vernacular. Os

materiais e as técnicas associadas, reveladas e evidenciadas pelos detalhes e

apoiadas na interpretação e construção a partir do lugar preexistente mas com

valores marcados pela contemporaneidade, em sintonia com as ideologias da

reabilitação e do restauro, fazem com que a reconversão do moinho se revele um

bom exemplo de preservação e valorização do património.

IV.2_ Reabilitação e ampliação da Adega Casa da Torre. Arquitecto Carlos

Castanheira

A obra do arquitecto Carlos Castanheira é essencialmente dedicada à

construção nova, e muito relacionada com o tema da habitação. No entanto, no seu

percurso arquitectónico também existem obras com carácter mais colectivo e de

reabilitação que, dependendo das condicionantes espaciais e funcionais, exige a

consequente necessidade de ampliação.

A madeira é o material evidente e constante nos seus projectos e obras, pois o

arquitecto constrói em madeira porque gosta83

, mas também porque o lugar assim o

exige. O seu uso é obsessivo, podendo afirmar-se que é protagonista, mesmo

quando se relaciona com outros materiais, transmitindo equilíbrio, tranquilidade e

autenticidade à obra que se apresenta inserida e relacionada com o lugar, da

construção nova à reabilitação. A Casa da Costa Grande (Baião, 2008-2009)

(ilustração 58) é um bom exemplo de reabilitação e ampliação do existente,

associada ao uso da habitação. Ainda associado ao mesmo tema e, simultaneamente

à produção vinícola que também importa estudar, encontram-se as obras da Adega

Quinta da Faísca (Alijó, 2008-…) (ilustração 59), e a Adega Casa da Torre (Vila Nova

de Famalicão, 2008-2009) (ilustração 60), seleccionada e aqui abordada.

83

CASTANHEIRA, Carlos – “Construir em madeira – porque eu Gosto!” In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 8.

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102

62. Adega antes da intervenção.

63. Implantação da adega.

64. Plantas da reabilitação e ampliação da adega.

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103

O lugar em que se insere a Adega Casa da Torre tem o contexto natural da

freguesia de Louro (ilustração 61), no concelho de Vila Nova de Famalicão situado a

norte de Portugal. A sua paisagem é dominantemente natural, atravessada pelo rio

Este, e é rica em terrenos férteis, utilizados para a agricultura e viticultura. Este facto

revela-se e sustenta-se com a presença de uma arquitectura rural de produção.84

A Adega Casa da Torre é uma construção de cariz popular e vernacular

(ilustração 62), numa propriedade com cinco hectares de vinha. É marcada por

diferentes fases de construção que evidenciam o seu carácter utilitário, em resposta

às necessidades de produção, que correspondem à exploração de mais duas

propriedades da mesma família. Na sua origem, era composta por uma única

edificação com uma planta rectangular de nove metros de largura e dezoito metros de

comprimento. No entanto, na década de 90 do século XX, com o intuito de aumentar

e modernizar a adega, esta foi recuperada e ampliada, permanecendo até 2009 com

uma planta quadrada de dezoito metros de lado. Existem, nesta propriedade vinícola,

ainda, mais duas construções independentes. Uma, com a função de apoio a esta, e

outra com capacidades e funcionalidades agrícolas.85

A actualização e modificação

da adega continua, acompanhando a evolução programática e tipológica produtiva

até aos dias de hoje.

“A vontade de produzir mais, melhor e de acordo com as novas regras,

obrigou a repensá-la e obrigatoriamente a aumentá-la.”86

Este desejo tinha, ainda,

como estímulo, a expansão internacional da produção vinícola e a associação ao

enoturismo.

Como sustenta a Carta de Veneza87

, o património não está isolado, integra-se

na sua envolvente. Neste sentido, quando se pensa intervir no património, não se

pode esquecer o meio em que está inserido, como acontece nesta actualização da

adega. O espaço exterior foi redesenhado para responder às novas exigências,

mantendo a implantação da vinha e os espaços de apoio vinícola e agrícola, assim

como a sua base material e formal, a pedra (ilustração 63).

A adega, conserva a orientação e organização da implantação (ilustração 64),

84

Junta de Freguesia de Louro. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.freg-louro.pt/> 85

Adega Casa da Torre. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.adegacasadatorre.com/> 86

CASTANHEIRA, Carlos – “Adega Casa da Torre” In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 123. 87

Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>

Page 106: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

104

65. Vista frontal da adega.

66. Escritório. 67. Escada. 68. Passadiço.

69. Laboratório. 70. Espaço interior da adega.

Page 107: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

105

parcialmente encastrada no terreno, e amplia o espaço necessário, sempre com

respeito pela preexistência. A área de implantação da adega foi aumentada,

recorrendo a sistemas estruturais e materiais contemporâneos, no entanto, no

exterior, a parede foi revestida com pedra existente, garantindo a unidade e

continuidade da textura e expressão existente. Esta forma de intervir, procurando

modernizar sem desrespeitar a identidade da construção e do lugar, vai ao encontro

do que aconselha a Carta de Atenas88

, e também a Carta do Património Vernacular

Construído89

.

A transformação mais evidente acontece na cobertura. Reduzem-se as quatro

águas resultantes do crescimento da adega por etapas, a apenas duas águas

(ilustração 65). Simplifica-se a estrutura e, ao mesmo tempo, são criadas

oportunidades para novos espaços, permitidos pelo aumento do pé-direito, e pelo

avanço da cobertura sobre o lajeado da entrada. Assim, cumprindo a Carta de

Veneza90

, este aumento de um piso em parte da adega, permitido pela nova

configuração da cobertura e ditado pela necessidade programática, distingue-se do

original e, ao mesmo tempo, respeita a composição da edificação existente, pela sua

simplicidade formal e material. O escritório, ligado à adega por uma escada e à cota

alta do terreno por um passadiço longitudinal que atravessa toda a adega (ilustração

66, 67 e 68), é um dos espaços novos. Destacam-se ainda o laboratório (ilustração

69), em forma de barril, e o vestiário dos funcionários, implantado no lajeado da

entrada. Na ampliação e adição, a madeira faz a ligação à pedra, pela integração e

associação identitária com a arquitectura popular, mantendo uma harmonia espacial

e material com a estrutura preexistente (ilustração 70).

No interior, o espaço da adega é marcado pela presença de pilares centrais

com quatro escoras que apoiam a cobertura, surgindo entre eles o passadiço

longitudinal. A madeira, transita do exterior e predomina no interior, usada na

estrutura da cobertura, no passadiço e no ripado de madeira usado na ampliação,

para responder à necessidade de filtrar a luz e reduzir a insolação e

sobreaquecimento do espaço interior. O mesmo ripado constrói o laboratório e o

vestiário.

88

Carta de Atenas. [em linha]. Escritório Internacional dos Museus/Sociedade das Nações. 1931. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeAtenas.pdf> 89

Carta sobre o Património Construído Vernáculo. [em linha]. ICOMOS. 1999. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.international.icomos.org/charters/vernacular_sp.pdf> 90

Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>

Page 108: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

106

71. Casa de Chá da Boa Nova. Matosinhos. 72. Adega Quinta do Portal. Sabrosa.

73. Adega Mayor. Campo Maior.

74. Localização da Adega Mayor. Campo Maior.

Page 109: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

107

Devido às necessidades específicas do programa, e aos novos padrões de

higiene, manutenção e conservação, os materiais do pavimento e das paredes são

estudados para responder às exigências de salubridade, revelando-se claramente

contemporâneos. As paredes são rebocadas e pintadas de branco, e o piso é

cerâmico. As cubas, agora em aço inoxidável, são também elementos que

evidenciam a evolução dos tempos, com a modernidade e actualidade tecnológica.

Importa nesta intervenção destacar a forma como foram solucionados os

problemas de ordem técnica no universo da produção vinícola, sem esquecer a

relação com a preexistência. A madeira e a pedra são os elementos que

protagonizam as renovações estruturais e espaciais da ampliação e reinterpretação

do espaço, respeitando as cartas e convenções Internacionais sobre o Património,

permitindo manter a identidade e unidade da adega e do lugar popular e vernacular.

IV.3_ Construção da Adega Mayor. Arquitecto Álvaro Siza Vieira

Álvaro Siza Vieira é um arquitecto premiado nacional e internacionalmente,

com uma numerosa e diversificada obra construída em todo mundo, que percorre

variados programas e escalas, de carácter privado ou público. De entre essa

multiplicidade projectual, podem encontrar-se projectos de reabilitação, mas, como o

próprio sugere, a arquitectura de implantação nova também é reabilitação do sítio, do

lugar, pois “a relação entre natureza e construção é decisiva na arquitectura.”91

A sua arquitectura é marcada pela importância que atribui à interpretação e

compreensão do lugar, revelando-se francamente integrada e relacionada com o

espaço em que se insere, e associada às influências da arquitectura popular

portuguesa, embora interpretada pelos princípios do modernismo internacional. Cria

assim uma linguagem arquitectónica própria, simples e útil, e ao mesmo tempo

complexa, de enorme riqueza construtiva, material e cultural, com recurso às cores e

texturas dos materiais tradicionais e contemporâneos, com a luz como elemento

primordial da construção. A Casa de Chá da Boa Nova (Matosinhos, 1958-1963)

(ilustração 71) é um belo exemplo dessa relação e fusão entre a sua arquitectura e o

lugar. Ainda na sua obra, e associado ao programa vinícola que aqui importa estudar,

destacam-se a Adega da Quinta do Portal (Sabrosa, 2008) (ilustração 72), e a Adega

Mayor (Campo Maior, 2003-2007) (ilustração 73), seleccionada para este estudo.

91

GIANGREGORIO, Guido – Álvaro Siza, Imaginar a evidência. 2ª ed. Lisboa: Edições 70, 2009. p. 17.

Page 110: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

108

75. Implantação da Adega Mayor.

Page 111: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

109

A Adega Mayor situa-se no concelho de Campo Maior (ilustração 74), no sul

do país. O lugar, com valores naturais e patrimoniais excepcionais, é marcado pela

horizontalidade da topografia, suave, ondulada, composta por colinas e montes

alentejanos e pontuada por espelhos de água para uso agrícola. A fertilidade do

território propicia a actividade agrícola e vitivinícola que funciona como forma de

manutenção e ordenação deste território, onde predominam os vinhedos e os

sobreiros.92

Embora a sua envolvente predominante seja uma paisagem agrícola e

vinícola, na sua vizinhança existe uma unidade industrial de torrefacção de café.

A adega é uma implantação nova no lugar, de inspiração na arquitectura

regional alentejana e em relação com essa envolvente. “Siza espraia o seu volume

numa das colinas da propriedade, evocando a linearidade e a unicidade dos “montes

alentejanos”, (…) “o edifício assume uma monumentalidade próxima da de uma

fortaleza ou de um mosteiro, emergindo na planície como um guardião de preciosos

tesouros “sacros””93

É com um sentido de total respeito pela paisagem – enquanto

património natural e cultural – que o arquitecto Álvaro Siza Vieira desenvolve o

projecto e obra da adega, pois, como ele afirma, “não é fácil encontrar a oportunidade

de construir no interior de uma paisagem bela e incólume. E é também uma enorme

responsabilidade.”94

A implantação (ilustração 75) é determinada por uma estrada de

acesso à propriedade, relacionada com a indústria cafezeira – e respectivo museu – e

ao mesmo tempo pela existência de um afloramento argiloso, cavado e utilizado

como depósito de entulho. Assim, o volume rectangular, maioritariamente de dois

pisos, é encastrado no suave declive do terreno, permitindo o acesso aos dois pisos,

respeitando a integridade do território envolvente que permanece aparentemente

inalterado. Neste sentido, pode dizer-se que esta intervenção no lugar está em

sintonia com a orientação da Convenção para a Protecção do Património Mundial,

Cultural e Natural,95

que defende a preservação da paisagem enquanto bem

patrimonial.

Apesar do incontestável valor morfológico e arquitectónico desta adega, de

“(…) um arquitecto de cujo lápis têm saído alguns dos edifícios mais marcantes dos

92

Câmara Municipal de Campo Maior. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://www.cm-campo-maior.pt/> 93

GRANDE, Nuno – “Esfinge Mayor” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>. p. 13. 94

SIZA, Álvaro – “A adega” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>. p. 10. 95

Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural. [em linha]. UNESCO. 1972. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/ media/uploads/cc/ConvencaoparaaProteccaodoPatrimonioMundialCulturaleNatural.pdf>

Page 112: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

110

76. Esquema programático da adega.

77. Recepção. 78. Sala de reuniões.

79.Nave das barricas. 80. Jardim.

Page 113: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

111

nossos tempos (…)”96

, o que importa estudar e aprofundar para esta investigação,

além da reabilitação no sentido de apropriação territorial e promoção patrimonial, é o

programa vinícola de uma adega contemporânea, pensada e desenhada de acordo

com as necessidades técnicas, tecnológicas e arquitectónicas actuais, sem as

eventuais limitações de uma construção preexistente. Com este propósito, ao estudar

o projecto, verifica-se que o programa pode ser dividido em três grupos de usos

principais (ilustração 76), como o de administração e gestão, o de produção e o de

promoção turística.

Aos usos de administração, podem associar-se essencialmente a recepção

(ilustração 77), o vestíbulo, os escritórios (ilustração 78) e os vestiários. Estes

espaços, distribuídos em dois pisos do volume, localizados no topo de acesso à

adega, estão inter-relacionados por escadas e circulações. O mármore preenche os

pavimentos e os lambris, alternado com a madeira dos soalhos, e as paredes e os

tectos são estucados, conferindo qualidade e conforto aos espaços. Todas as áreas

destinadas ao processo de transformação da uva em vinho, desde a recepção, o

desengace e o esmagamento, a fermentação, até ao armazenamento e

envelhecimento (ilustração 79), ao engarrafamento e à expedição do vinho, estão

associados ao programa de produção, organizados segundo o processo de

vinificação. Contrastando com os espaços de gestão, na sua maioria, estes espaços

apresentam um pé-direito duplo e são acabados com betão aparente, com a

excepção do laboratório que adquire características específicas de higiene. Situados

no topo de acesso à adega, surgem a loja, a copa e a sala de provas com vista para

o jardim localizado na cobertura, aberto sobre paisagem alentejana (ilustração 80) e

as vinhas, destinado em exclusivo à promoção do vinho, nomeadamente pelos

visitantes do universo do enoturismo.97

Comuns a todos os programas, e necessários

ao funcionamento da adega, encontram-se instalações sanitárias, espaços de

geradores e depósitos de água, em pontos estratégicos da adega.

A Adega Mayor é um excelente exemplo de relação e integração com o lugar,

permitindo estimular a sua valorização, preservação e conservação ao logo do tempo.

É também importante realçar neste exemplo de arquitectura vínica a sua organização

programática, que embora seja em sectores, os diferentes programas cruzam-se em

96

NABEIRO, Rui – “Adega Mayor” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em linha]. [consultado em Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>. p. 8. 97

SIZA, Álvaro – “Memória descritiva” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>. p. 78 a 80.

Page 114: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

112

81.Esquiço da reconversão do Moinho.

82. Esquiço da reabilitação e ampliação da Adega Casa da Torre.

83. Esquiço da construção da Adega Mayor.

Page 115: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

113

pontos úteis e necessários, permitindo o funcionamento contínuo, equilibrado e

articulado de toda a adega, e da adega com a sua envolvente.

A investigação e interpretação de três obras de arquitectura revelam princípios

estratégicos e metodológicos de actuação distintos que, no entanto, se completam e

articulam, tendo como objectivo a compreensão e absorção de cada lição.

É importante realçar que apesar das propostas e obras terem conceitos e

ideias distintos, revelam ter uma disciplina ideológica, instrumental e profissional que

vai ao encontro das cartas e convenções internacionais sobre o património, revelando

capacidades e qualidades arquitectónicas, instrumentais e culturais indissociáveis,

quer na sua relação com a paisagem quer na sua relação espacial, funcional e

material.

Na Reconversão do Moinho (ilustração 81) adquire-se um conhecimento mais

próximo das regras do restauro, embora não o seja, e percebe-se a capacidade de

adaptação e transformação dos espaços, sem os descaracterizar. Na Reabilitação e

ampliação da Adega Casa da Torre (ilustração 802, onde o tema da exploração e

produção vitivinícola já está associado, estuda-se a necessidade de ampliação, com

integração e continuação espacial e temporal. Nestes dois exemplos, é visível a

importância da materialidade na afirmação das intervenções e na reabilitação das

construções. Na Adega Mayor (ilustração 83), entre a reabilitação do lugar e a

integração da arquitectura de raiz, aborda-se o programa funcional e formal vinícola

de uma adega contemporânea, sem as restrições e condições de uma preexistência.

No seu conjunto, estes casos de referência permitem orientar e sustentar um

programa de usos e formas vitivinícolas que respondam às vontades e necessidades

contemporâneas, e que ao mesmo se ajustem à realidade da arquitectura popular e

vernacular, respeitando os seus valores e a sua verdade e identidade singular,

permitindo a sua continuação e evolução no tempo.

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V_ Caso de estudo

Uma Adega em Casas Novas

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117

Caso de estudo da Adega em Casas Novas é o capítulo onde se aplicam os

conhecimentos contidos e adquiridos na investigação produzida anteriormente, no

universo dos princípios orientadores das cartas e convenções, e dos teóricos que se

dedicaram a esta temática, com a realização de um estudo e projecto de reabilitação

e ampliação em contexto rural e vernacular.

É necessário um desenvolvimento e enquadramento programático ao tema,

relacionado com a arquitectura de produção e promoção vinícola, abordando o

espaço formal e funcional de uma adega e o conceito do enoturismo. É também

indispensável caracterizar e interpretar o lugar de intervenção, do concelho e cidade

de Chaves à aldeia de Casas Novas, especialmente a sua arquitectura popular e os

seus interesses culturais e sociais, enquadrando as opções e soluções tomadas.

Page 120: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

118

84. Esquema de produção vinícola.

Page 121: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

119

V.1_ Enquadramento programático

V.1.1_ Adega enquanto espaço de produção e promoção do vinho

As adegas contemporâneas constituem, para além de uma construção de

produção vinícola, uma manifestação e actuação turística, tanto pelo interesse pelo

vinho como pelo interesse patrimonial e cultural dos lugares. Enquanto exploração e

produção vinícola, a adega requer características espaciais e funcionais específicas –

como qualquer arquitectura – directamente relacionas com o processo de

transformação da uva em vinho. Importa, então, antes de qualquer gesto na

concepção e organização de uma adega, adquirir um conhecimento sobre o processo

de transformação, produção e comercialização do vinho. Neste sentido, com base

nos conhecimentos recolhidos na AESBUC98

, na Sogrape Vinhos99

e na dissertação

Adegas contemporâneas, um novo discurso na arquitectura vernacular ou o boom do

Eno-arquitecturismo?100

, procura-se compreender as principais etapas necessárias

na produção vinícola (ilustração 84).

Numa primeira abordagem, verifica-se que existem diferentes métodos de

vinificação, que correspondem a diferentes tipos de vinho, tais como o branco e o

tinto, o verde e o maduro, o do Porto e o da Madeira, o espumante, entre outros.

Contudo, após um estudo mais aprofundado, entende-se que os espaços necessários

à sua produção são os mesmos, pois são o tipo de uva e o processo de vinificação

necessário que especificam cada vinho, para além da localização geográfica e do

clima do lugar de plantação.101

A vindima, o transporte e o desengace da uva são as primeiras fases de

produção do vinho. Segue-se o esmagamento e a prensagem das uvas, de onde é

extraído o seu sumo. A fermentação é o processo natural pelo qual o açúcar do sumo

de uva é transformado em álcool, desencadeando a libertação de gases. Após o

período de fermentação, é necessário proceder-se a uma prévia clarificação –

98

Associação para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica. [em linha]. [consultado em 09 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://www.aesbuc.pt/twt/ETGI/MyFiles/MeusSites/Enologia/2005/index.htm> 99

Sogrape Vinhos. [em linha]. [consultado em 09 de Fevereiro 2012] Disponível na internet em: <http://www.sograpevinhos.eu> 100

MARGARIDO, Raquel Joana Freitas Gírio – Adegas contemporâneas, um novo discurso na arquitectura vernacular ou o boom do Eno-arquitecturismo? Coimbra: Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. 2009. Dissertação para a Obtenção de Grau de Mestre em Arquitectura. pp. 18 a 28. 101

Associação para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica. [em linha]. [consultado em 09 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://www.aesbuc.pt/twt/ETGI/MyFiles/MeusSites/Enologia/2005/index.htm>

Page 122: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

120

85. Espaço de recepção, desengace e esmagamento.

86. Área de fermentação.

87. Nave das barricas.

88. Sala de controlo de qualidade.

89. Espaço de engarrafamento e rotulagem do vinho.

Page 123: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

121

eliminação das impurezas do vinho – através da filtragem ou da colagem, de modo a

que se assegure a sua estabilidade, evitando o risco de uma nova fermentação. O

vinho é então transferido para as barricas – em madeira ou em aço inoxidável – onde

permanecem em estágio ou ficam a envelhecer. Depois do período de maturação, o

vinho é engarrafado. Fruto da evolução nos processos de produção vinícola, com a

necessidade de responder a progressivos e elevados padrões de qualidade, durante

todo o processo de vinificação deve ser feito um controlo de qualidade ao vinho.

Esta cadeia de espaços necessários e inter-relacionados entre si, que segue o

processo de transformação da uva em vinho, desde a recepção da uva até à

expedição do vinho, gera uma organização espacial específica, e exige, na criação e

organização de uma adega, o conhecimento de todas as especificidades de cada

fase de produção do vinho, pois estas definem os espaços fundamentais da adega e

as suas características arquitectónicas determinadas pelo seu uso, e caracterizadas

pela escala, pelos materiais e pela luz.

Seguindo o encadeamento e desenvolvimento da produção vinícola, uma

adega tem uma área de recepção, desengace, esmagamento e prensagem da uva

(ilustração 85), em que as suas especificidades são essencialmente na organização

funcional e sequencial do espaço, condicionando particularmente a sua criação

espacial e formal, tendo que respeitar a escala, a higiene e a segurança, valores

fundamentais e transversais a todos os espaços. A zona de fermentação (ilustração

86) assume características mais específicas e relevantes, resultantes do seu uso.

Obriga a uma boa fenestração, proporcionando a constante renovação de ar e a

expulsão de gases produzidos no processo, nocivos e perigosos para o homem. A

nave das barricas (ilustração 87), onde é armazenado e envelhecido o vinho, é um

espaço específico na sua relação com a temperatura e a humidade, devendo ser

estável e fresca, evitando deste modo a sua evaporação. A forma como as barricas

são dispostas é também importante, estas não devem ter contacto com o solo,

evitando assim mudanças bruscas de temperatura. A luz, mínima, deve ser constante

e a essencial ao trabalho na nave. Com estas características, define-se como um

espaço fechado, recolhido, silencioso, de repouso do vinho. O laboratório de controlo

de qualidade detém igualmente particularidades, não estando estas relacionadas com

o vinho, mas sim com as especificidades de um laboratório científico (ilustração 88),

expressas pela escolha dos materiais que devem ser duradouros e salubres. O

engarrafamento e rotulagem (ilustração 89) finalizam o ciclo de produção vinícola,

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122

90. Visitação das vinhas.

91. Apanha da uva. 92. Pisar da uva.

93. Prova do vinho. 94. Visita de conhecimento da região.

Page 125: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

123

com o intuito da expedição. Esta etapa final exige uma nave ampla, mais mecanizada

e autónoma, em que o vinho é a matéria-prima que a distingue de qualquer outra

produção.

Como referido inicialmente, hoje uma adega é mais do que a exploração e

produção de vinho. É, também, uma atracção turística de exaltação do vinho e, ao

mesmo tempo, de promoção e animação do lugar e da cultura em que a adega está

inserida. Deste modo, além dos espaços de produção, exige-se um programa de

carácter lúdico, onde devem estar presentes a sala de degustação de vinhos, a sala

gastronómica e a loja. Este turismo classifica-se como enoturismo, pela sua directa

relação com o vinho, não sendo no entanto este o seu único factor de interesse.

V.1.2_ Enoturismo

A “visitação a vinhedos, adegas, festivais de vinho e mostras de vinhos para

degustação e ou experimentação dos atributos de uma região de vinho, são os

principais factores de motivação para os visitantes”102

, como defende Michael Hall

para classificar o enoturismo. Neste sentido, enquanto conceito que abarca a

exploração e produção vitivinícola e o turismo, determinado essencialmente pelo

interesse público pelo conhecimento sobre o vinho, importa também o interesse pelas

suas regiões. É nestas, geralmente em lugares de meio rural, que o visitante

descobre o ambiente de produção do vinho – visita a vinha (ilustração 90) e a adega,

apanha e pisa a uva (ilustração 91 e 92) – participando e convivendo em festas e

eventos vínicos, onde prova e conhece o vinho (ilustração 93) e descobre a relação

com a gastronomia regional. O visitante e utente pode fluir pelo espaço rural,

descobrindo e apreciando o património natural e cultural (ilustração 94), através dos

habitantes, da arquitectura vernacular e popular, da história, das tradições e

costumes, da gastronomia, do artesanato, entre outros valores identitários de um

povo e de uma região. Deste modo, pode definir-se o turismo vinícola como uma

tipologia apoiada nos meios rurais e ambientes vernaculares onde os turistas estão

interessados no conhecimento sobre o vinho, mas também motivados pela

experiência do meio rural.

102

HALL, C. Michael – Wine Tourism around the World: Development, Management and Markests. 3ªed. Nortolk: Great Britain by Biddles, 2002. p.3. Tradução livre: “visitation to vineyards, wineries, wine festivals and wine shows for which grape wine tasting andlor experiencing the attributes of a grape wine region are the prime motivating factors for visitors”

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124

95. Adega Dominus, Napa Valley, Califórnia . 96. Quinta do Vallado. Douro. Arquitectos Francisco Arquitectos Jacques Herzog e Pierre de Meuron. Vieira de Campos e Cristina Guedes.

Page 127: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

125

Como meio de expansão e promoção deste tipo de turismo, foi criada em 2006

a Carta Europeia do Enoturismo,103

no âmbito da Rede Europeia das Cidades do

Vinho. O documento defende que os territórios do vinho têm um papel fundamental

na preservação e conservação da região, permitindo dar-se a conhecer aos

visitantes, ao mesmo tempo que melhora a qualidade de vida aos seus habitantes. O

enoturismo deve, por isso, ter um desenvolvimento apoiado e sustentado por uma

gestão ecológica, social e cultural. Neste sentido, a carta tem como objectivo a

promoção do vinho e do lugar, contribuindo para o progresso de quem vive e trabalha

nesses territórios. Para tal, ajuda a criar uma estratégia comum para desenvolver o

turismo com um programa de actividades, que devem abarcar os subsistemas do

enoturismo, que se entendem por território, cultura vinícola e turismo. Esta estratégia

deve ter como base a melhoria contínua da qualidade da oferta turística, com respeito

pela capacidade do território, controlando o fluxo e a consciencialização social, pela

defesa e valorização de todo o património, desde a divisão dos campos e a sua

cultura, às construções de habitação e produção associados aos modos de vida e às

suas tradições, que definem a paisagem do lugar. O desenvolvimento económico,

social e cultural, e a protecção e melhoria das condições de vida dos habitantes, são

também pontos estratégicos importantes.

Em suma, pode dizer-se que o enoturismo é um importante instrumento de

reabilitação e preservação do património histórico, natural e cultural, permitindo que

este seja transmitido às gerações futuras. No entanto, face a todo este interesse e ao

consequente desenvolvimento em torno da produção vinícola – associado a um lugar

– e toda a procura turística, lúdica e cultural que conjuga estes dois factores – vinho e

turismo – as adegas têm a necessidade de criar outros factores de atracção. A

arquitectura é, cada vez mais, usada como imagem da adega e do seu vinho –

nomeadamente pelo uso identitário e publicitário, designadamente nos rótulos de

garrafas, entre outros produtos – e da sua região, convertendo-se cada vez mais num

agente de promoção e sustentação desta tipologia de turismo. A Adega Dominus

(ilustração 95) dos arquitectos Jacques Herzog e Pierre de Meuron e a Adega Quinta

do Vallado (ilustração 96) dos arquitectos Francisco Vieira de Campos e Cristina

Guedes são exemplos da importância da arquitectura no enoturismo. Embora se

implantem em lugares com características diferentes, ambos os projectos e obras

103

Carta Europeia de Enoturismo. [em linha]. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/AreasAtividade/ProdutoseDestinos/ReuniaoTecnicaEnoturismo/CataEuropeiadoEnoturismo/Anexos/Carta%20Europeia%20Enoturismo.pdf>

Page 128: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

126

99. Freguesias do concelho de Chaves.

97. Limites do concelho de Chaves.

98. Localização de Chaves em Portugal. 97.

98.

Page 129: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

127

procuram a integração e identificação com a paisagem, ao mesmo tempo que

procuram a exaltação do vinho e da sua região.

V.2_ Enquadramento territorial

V.2.1_ Chaves

Situado no extremo Norte de Portugal continental, Chaves confronta-se com a

Galiza na fronteira com Espanha (ilustração 97). É um concelho do distrito de Vila

Real, situado na região do Alto Tâmega, delimitado a Este pelos municípios de

Vinhais e Valpaços, a Sul por Vila Pouca de Aguiar, e a Oeste por Boticas e

Montalegre (ilustração 98). Com 41.444 habitantes (Censos 2011), o concelho é

constituído por 51 freguesias – entre elas Redondelo onde se insere o caso de estudo

– dispersas em 591,32 km2 de área territorial. Os aglomerados populacionais mais

importantes (ilustração 99) são a vila de Vidago e a cidade de Chaves, sede de

concelho. Ligada ao Sul pela auto-estrada A24 e ao litoral pela A7, atravessada pela

estrada nacional N103 que liga Bragança a Braga, a menos de 8 km da fronteira com

Espanha, e com um aeródromo, Chaves e o seu concelho, estão bem conectados

com o restante país, contrariando a interioridade e aparente isolamento que a sua

geografia revela.104

A sua localização geográfica insere-a numa importante rota

comercial nacional e internacional, apoiada pelo Parque Empresarial de Chaves, que

integra um parque de actividades, um mercado abastecedor e um centro de

logística.105

O município de Chaves é amplamente marcado pela sua diversidade natural e

cultural. No âmbito natural, essa multiplicidade é expressa pelo seu relevo

diversificado, o seu clima particular, e a sua fauna e flora específicas, preponderantes

em diversas condições estratégicas e políticas, que serão aprofundadas no texto

sempre que se justifique. No contexto patrimonial e cultural, Chaves é rica na sua

história, assinalada pelas várias civilizações que nela se fixaram. Prova desta riqueza

é o vasto património cultural existente, disperso um pouco por todo o território, onde

se destaca o centro histórico da cidade de Chaves.

104

Câmara Municipal de Chaves. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.cm-chaves.pt pdf> 105

Idem, ibidem.

Page 130: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

128

100. Ruínas das Termas Romanas. 101. Ponte Romana de Trajano. 102. Torre de Menagem.

103. Igreja de Santa Maria Maior. 104. Forte de S. Neutel. 105. Pelourinho de Chaves.

106. Câmara Municipal de Chaves. 107. Paço dos Duques de Bragança.

Page 131: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

129

Chaves é hoje um concelho em crescimento e desenvolvimento, graças ao

aproveitamento de toda a sua variedade natural e cultural. As suas paisagens e o

património são usados como promoção turística, recorrendo a uma diversidade de

espaços públicos e uma rede de museus, que exibem a sua história e memória. As

ruínas das Termas Romanas (ilustração 100) – encontradas recentemente – a Ponte

Romana de Trajano (ilustração 101), a Torre de Menagem e o jardim envolvente

(ilustração 102), a Igreja de Santa Maria Maior (ilustração 103), o Forte de S. Neutel

(ilustração 104), o Pelourinho de Chaves (ilustração 105), a Câmara Municipal de

Chaves (ilustração106), e o Paço dos Duques de Bragança (ilustração107), onde está

instalado o Museu da Região Flaviense que expõe a sua história, desde o Paleolítico

até às obras do arquitecto e pintor Nadir Afonso, são alguns dos monumentos e

equipamentos colectivos que se encontram no centro histórico de Chaves. A par

destas atracções históricas e patrimoniais, são igualmente importantes, enquanto

atracção turística, as actuais Termas de Chaves que são hoje a imagem de promoção

do concelho.

Com menor relevância, mas não menos importante para a promoção de

Chaves, encontra-se o turismo em espaço rural, como fonte de conhecimento da

natureza e das tradições populares da região. Neste sentido, as várias aldeias de

Chaves possuem um enorme património popular e vernacular, caracterizado por

aglomerados concentrados de construções associadas à habitação, produção e

religião, e à natureza, que respondem às necessidades da comunidade.

Como resultado da actividade humana associada à agropecuária e à

agricultura, enquanto meio de subsistência, a fauna e a flora têm características

específicas. A paisagem natural de Chaves tem várias espécies de invertebrados e

vertebrados. No entanto, importa salientar as raças autóctones relacionadas com a

auto-suficiência popular e vernacular – equinos, caprinos, ovinos, bovinos e suínos –

perfeitamente adaptadas às condições naturais da região. Na flora, embora também

com enorme diversidade florestal de influência atlântica e mediterrânica, predomina a

vegetação relacionada com a ocupação humana, que serve de alimentação animal, e

também para consumo humano.106

A aldeia de Casas Novas é um exemplo

representativo das características naturais, culturais e tradicionais populares.

Beneficiando do facto de Chaves se apropriar do seu património cultural e

natural, com o intuito de o promover e de se dar a conhecer através do turismo,

106

Câmara Municipal de Chaves. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.cm-chaves.pt pdf>

Page 132: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

130

108. Mapa com Regiões Vitivinícolas em Portugal continental, com destaque para a região de Trás-os-Montes: a) Chaves; b) Valpaços; c) Planalto Mirandês.

109. Vista aérea da Aldeia de Casas Novas.

Page 133: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

131

importa abordar o tema em estudo – a reabilitação e ampliação do existente –

associado à exploração e produção vinícola.

Chaves é uma região demarcada de vinho (ilustração 108), com tradição na

cultura do vinho, pois “já durante a ocupação dos romanos se cultivava a vinha e se

produzia vinho na região de Trás-os-Montes, tornando-se estes conhecidos e

apreciados pelas suas qualidades.”107

Com características desiguais entre si, os

vinhos da região de Trás-os-Montes são a expressão da diversidade territorial. O

relevo é marcado por montes, serras, pequenas elevações e colinas que delimitam o

vale do Tâmega, designado por Veiga de Chaves. O clima, de influência atlântica e

continental, caracteriza-se por invernos frescos e verões moderados. No inverno, a

precipitação é elevada (de 700 a 1200 mm), onde a formação de geada e de orvalho

é significativa, e a ocorrência de neve nas terras com altitudes superiores ou iguais a

800 metros é normal108

. Para além de Chaves, Valpaços e o Planalto Mirandês, são

também sub-regiões que produzem vinho de Denominação Original Protegida (DOP),

geralmente designado como vinho regional transmontano, contribuindo para o seu

crescimento e divulgação.

Fazendo uso da tradição vitivinícola da região de Trás-os-Montes, à qual

Chaves pertence, e do seu património popular, pretende-se, com esta intervenção de

reabilitação, estimular Chaves para um novo modo de promover o seu património

natural e cultural de carácter vernacular – pela cultura do vinho, até então pouco

utilizada – colocando-a ao nível de outras regiões vitivinícolas, interligadas pelas

rotas do vinho. Assim, ao dar-se a conhecer Chaves rural, estimula-se a preservação

da memória e da história desses lugares e dessas gentes.

V.2.2_ Aldeia Casas Novas

Casas Novas (ilustração 109), é uma aldeia da freguesia de Redondelo que

dista 11,8 km a Sudoeste da cidade de Chaves à qual se liga pela estrada municipal

N103. Está igualmente próxima de Boticas (12,7 km), e ainda próxima do nó de

acesso à A24.

107

Instituto da Vinha e do Vinho. [em linha]. [consultado em 12 de Janeiro 2012]. Disponível em: <http://www.ivv.min-agricultura.pt/np4/home.html> 108

Câmara Municipal de Chaves. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.cm-chaves.pt pdf>

Page 134: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

132

110. Ruas em Casas Novas. 111. Casa de dois pisos.

112. Hotel Rural Casas Novas.

113. Solar dos Vilhenas. 114. Capela N. Sr. dos Aflitos. 115. Capela de S. Bernardino.

Page 135: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

133

Implantada numa pequena colina com uma altitude compreendida entre os

480 e os 500 metros, tem uma topografia pouco acentuada, ainda influenciada pelas

margens do rio Tâmega, fazendo com que o território seja fértil e propício a diferentes

tipos de cultivo. Essa diversidade de terrenos agrícolas – usados para plantação de

legumes, de pomares, de vinhas e de pastagens e terrenos devolutos, cria uma

paisagem rica, com diferentes cores e ritmos. Ainda importante no desenho desta

paisagem assinala-se a divisão dos campos, umas vezes com muros baixos, outras

com caminhos vicinais.

O povoamento de Casas Novas é concentrado, composto por construções de

habitação, produção e religião, directamente relacionadas com os modos de vida

social, à base da exploração agropecuária, agrícola e vitivinícola, expressão do seu

carácter vernacular e popular. Neste contexto rural, podem ainda encontrar-se

exemplos de arquitectura erudita, em menor quantidade e, por consequência, com

menor presença no conjunto da aldeia. As ruas, estreitas e sinuosas, pavimentadas

com granito ou em terra batida (ilustração 110), são definidas por construções – em

pedra, madeira e barro – constituídas maioritariamente por habitações de dois pisos

(ilustração 111). O rés-do-chão destina-se aos trabalhos de produção e de criação

animal, e o piso superior à habitação. O seu acesso faz-se por uma escada exterior e,

por vezes, por uma varanda associada. Apesar da dualidade de funções descrita,

existem construções unicamente destinadas à agropecuária, agricultura e viticultura.

Além destas construções correntes de habitação e produção, as ruas são ainda

definidas por pequenos largos marcados por fontes de água – directamente

relacionados com a vivência do lugar – e também por edificações de carácter erudito,

como a Escola Primária, o Solar Viscondessa do Rosário, recentemente reconvertido

em Hotel Rural Casas Novas (ilustração 112), o Solar dos Vilhenas (ilustração 113), e

de carácter religioso, como a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos (ilustração 114) e

a Capela de S. Bernardino (ilustração 115).

Além destes valores expressivos da humanização da paisagem e da relação

do homem com a natureza em resposta às suas necessidades económicas e sociais,

existem também outros elementos que permanecem e definem o ambiente rural da

aldeia. Ao percorre-la, o cheiro da terra e da criação animal, revelam que a agricultura

e a agropecuária ainda subsistem. A presença de tractores que substituíram as

tradicionais ferramentas agrícolas, e o gado nas ruas – embora menos expressivo

Page 136: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

134

116. Vista panorâmica sobre o sítio, o edificado e a vinha.

Page 137: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

135

que noutros tempos – reafirmam a sua continuidade, embora agora como actividades

secundárias.

As festas e romarias que preservam e demonstram o modo de vida social

popular, estão também presentes, assim como nas aldeias vizinhas, que em

cumplicidade demonstram a riqueza de uma região. Aqui, em Casas Novas destaca-

se, a festa em honra de S. Bernardino, celebrada a 20 de Maio.

A gastronomia é também um bom promotor de uma cultura, e aqui na aldeia

destaca-se o fumeiro e o folar. Beneficiando da proximidade com Chave e Boticas,

podem destacar-se ainda dois eventos de promoção da região rural. Sabores e

Saberes de Chaves, um evento anual cujo objectivo é dar a conhecer a gastronomia,

as tradições, os cantares e danças populares da região, e também a Feira

Gastronómica do Porco e a rede de tabernas na vila de Boticas.

Como acontece na maioria das aldeias rurais, e apesar dos valores

mencionados, característicos do seu ambiente natural e patrimonial, e da proximidade

a Chaves e Boticas, esta aldeia apresenta um contínuo processo de despovoamento

e enfraquecimento económico causado pelo abandono das gerações mais novas e,

por consequência, pelo envelhecimento das gerações actuais. Este facto reflecte-se

no estado de conservação das construções e dos terrenos associados que

permanecem abandonados e, cada vez mais, deteriorados e degenerados. Neste

sentido, existe a necessidade de criar um valor distinto e atractivo que, em

cumplicidade com as aldeias mais próximas, atraiam novos visitantes para fixação

temporária, e posteriormente novos habitantes.

Fazendo uso da reabilitação enquanto especialidade da arquitectura, e como

instrumento de reanimação e valorização dos lugares e dos seus valores, recorre-se

a um conjunto de edificações (ilustração 116) onde a intervenção seja motor de

revitalização. Aliando a promoção turística de Chaves à presença do Hotel Rural

Casas Novas e aos valores de interesse cultural, patrimonial e natural da aldeia de

Casas Novas anteriormente mencionados, em cumplicidade com as aldeias vizinhas,

torna-se evidente que a resposta à necessidade de desenvolvimento económico,

social e cultural da aldeia passa por um programa relacionado com o turismo.

A forte presença de campos vitivinícolas que confirmam a tradição vinícola da

região, e a existência de um conjunto de imóveis relacionados com a exploração e

Page 138: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

136

117. Vista aérea do conjunto vitivinícola.

118. Coberto.

Page 139: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

137

produção de vinho, em avançado estado de degradação, confirmam a escolha do

lugar e definem a estratégia de intervenção. Neste contexto, a reabilitação de um

agregado de construções associadas a uma tradição, como atracção turística, além

do desenvolvimento económico e consequentemente cultural e social, pretende

fomentar a preservação e conservação patrimonial, motivados pela habitação

permanente dos trabalhadores, ou temporária dos turistas, permitindo assim a sua

continuidade para as gerações futuras.

Propõem-se, então, a reabilitação e ampliação de uma pequena adega

vinícola e vinha associada abandonadas, actualizando a sua função de exploração e

produção vinícola para os padrões de qualidade e conforto actuais, modificando-a e

transformando-a num ponto de enoturismo, exaltando e promovendo a tradição local

e regional.

V.2.3_ Conjunto vitivinícola e agrícola

O sítio (ilustração 117) é composto por um conjunto de diversas construções,

com diferentes usos e escalas, que configuram um pátio entre si. Contíguos, e a

sustentarem a existência desta exploração e produção vitivinícola, encontram-se

terrenos vitícolas, marcados pela horizontalidade e linearidade da implantação da

vinha, limitada por pequenos muros e caminhos vicinais. Numa relação de

proximidade com este conjunto vitivinícola e agrícola, separada pela rua de acesso

com o mesmo nome, está a Capela de S. Bernardino que, segundo os populares, foi

mandada instituir e construir como agradecimento à protecção das colheitas.

O granito, a madeira e o barro são os materiais que predominam na edificação

e materialização deste conjunto popular e vernacular, à semelhança do que acontece

na aldeia, identificando e marcando a sua paisagem. O granito constrói as paredes

que se revelam robustas, de aparência inacabada e tosca, e a madeira, mais leve e

macia, faz os pisos e a estrutura das coberturas, para além das portas e janelas. O

barro das telhas, marselha e meia cana, faz os telhados essencialmente de duas

águas.

Junto à vinha, encontra-se um coberto porticado (ilustração 118), voltado para

o pátio e encerrado para a vinha. Existe ainda, associado ao terreno vinícola e

agrícola, uma construção de pequena escala maioritariamente encerrada, com

pequenos vãos para entrada de ar e uma porta relacionada com o pátio. Aqui

Page 140: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

138

119. Lagares.

120. Adega e palheiro.

121. Armazém e sequeiro.

122. Forno e arrecadação

123. Pátio e espigueiro.

Page 141: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

139

encontram-se dois lagares (ilustração 119) e um canal em granito para o escoamento

do vinho, ligado por um vão à adega, localizada na construção contígua (ilustração

120). Essa edificação de dois pisos está relacionada com a rua de acesso ao

conjunto agrícola e vinícola. O rés-do-chão, encerrado e com um acesso directo da

rua, é a adega, dividida em dois espaços, posteriormente adaptados a pocilga. O

andar superior, acessível por uma escada interior em granito, tem o piso em madeira

e é aberto, naturalmente ventilado e iluminado, respondendo à função de palheiro.

Relacionada com a mesma rua, existe outro volume, maior, parcialmente dividido e

organizado em dois pisos (ilustração 121. O rés-do-chão é dividido em dois armazéns

e o piso superior constitui o sequeiro, amplo e aberto em dois alçados. Adossada a

este corpo, existem mais duas edificações de um piso (ilustração 122), directamente

relacionadas com o pátio, com as funções de forno e de arrumo.

O pátio (ilustração 123), com dois acessos, funciona como sala exterior, de

circulação e ligação à vinha e aos diferentes espaços de trabalho, respondendo às

necessidades exigidas. Em terra batida, desnivelado, é limitado pelos volumes, mas

também por muros baixos que fazem a divisão e separação da vinha.

Apesar das diferentes escalas, articulações e relações com o lugar, reflexo da

sua construção conforme os seus usos e necessidades, todas estas edificações

organizam e resultam num conjunto vinícola e agrícola equilibrado, entre si e entre

este e o lugar, representando bem o carácter da arquitectura popular e vernacular da

aldeia. No entanto, apesar da sua riqueza formal e patrimonial, encontram-se

degradadas e em risco de ruir, observando-se já a inexistência de alguns pavimentos

e coberturas.

V.3_ Reabilitação e ampliação da Adega Casas Novas

Partindo do contexto vernacular e rural em geral, e vitivinícola em especial,

associado ao conceito de enoturismo, existiu a necessidade de se desenvolver um

programa funcional e sequencial. Com base na pesquisa sobre a produção vitivinícola

e o enoturismo, e relacionando com o estudo do projecto da Adega Casa da Torre da

autoria do arquitecto Carlos Castanheira, e da Adega Mayor da autoria do arquitecto

Álvaro Siza Vieira, foi definido e organizado um programa distribuído por três

sectores: o de administração e gestão, o de produção e o de enoturismo.

Page 142: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

140

124. Programa de administração e gestão.

125. Programa de produção vinícola.

126. Programa de enoturismo.

Page 143: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

141

O programa de administração e gestão (ilustração 124), a que correspondem a

recepção, o gabinete administrativo, a arrecadação e a cozinha, é organizado no

antigo armazém e sequeiro, e o vestiário e balneário dos funcionários dispõe-se

numa nova construção. O de produção (ilustração 125), composto pelo pátio de

trabalho, o armazém agrícola, a recepção e esmagamento da uva, a prensagem e

fermentação, o estágio e o controlo de qualidade, o envelhecimento do vinho, o

engarrafamento e o embalamento do vinho, o armazém de expedição, divide-se entre

a antiga adega e o lagar, e a nova edificação adjacente a Este. O programa de

enoturismo (ilustração 126) – enquanto turismo especializado, com o propósito de

conhecer a cultura do vinho e da sua região – abrange todos os espaços de

produção. No entanto, a loja e a sala gastronómica, no sequeiro, e a sala de

degustação, no palheiro, são espaços que respondem a esta valência programática.

Utilizando o pensamento de Camillo Boito quando defende a diferença dos

estilos e dos materiais, e a clara marcação das acções realizadas109

, e recorrendo às

cartas e convenções internacionais sobre o Património, a elaboração deste estudo e

projecto procura ser coesa, desde a acção de organização e adequação dos usos

aos espaços preexistentes, até à forma como estes se articulam e originam a sua

ampliação. Fazendo uso das linhas de acção da Carta do Património Vernacular

Construído, nomeadamente quando defende que a “adaptação e reutilização das

estruturas vernaculares deve ser levada a cabo de modo a que respeite a sua

integridade e configuração”110

, a distribuição e organização funcional do programa,

em equilíbrio com a escala da preexistência, procura a directa relação com algumas

funções já existentes e também a melhor adequação dos espaços aos novos usos,

aproveitando as capacidades e qualidades espaciais e materiais das construções. A

apropriação do espaço é também inspirada e aconselhada na capacidade de

adaptação espacial na reconversão do moinho do arquitecto José Gigante.

Com este sentido, o coberto preexistente (ilustração 127) adopta a função de

armazém agrícola, e pela sua necessidade de guardar as máquinas e ferramentas

agrícolas, é encerrado com madeira.

109

CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p.31 e 32. 110

Carta sobre o Património Construído Vernáculo. [em linha]. ICOMOS. 1999. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.international.icomos.org/charters/vernacular_sp.pdf>

Page 144: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

142

127. Esquema de evolução de intervenção. Reabilitação. Legenda: 1. Armazém agrícola; 2. Espaço de fermentação do vinho; 3. Sala de controlo de qualidade; 4. Sala das barricas; 5. Sala de degustação; 6. Recepção e loja; 7. Gabinete administrativo; 8. Sala gastronómica; 9. Cozinha; 10. Loja.

128. Vista sobre o conjunto vinícola.

129. Vista sobre a capela S. Bernardino.

Page 145: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

143

A edificação de transformação da uva em vinho (ilustração 127) mantém o

programa anterior, validando os lagares e o canal em pedra de ligação à adega para

escoamento do vinho, embora seja necessária a adaptação tecnológica, para o

esmagamento e prensagem da uva, e a bombagem do vinho para as cubas. A área

livre contígua permite ainda a colocação de uma prensa. A antiga adega actualiza a

sua função. No rés-do-chão, instala-se a sala das barricas e a sala de controlo de

qualidade. O seu carácter encerrado permite responder às exigências térmicas e

lumínicas, mas também ao ambiente recolhido e calmo que o vinho exige. No piso

superior – palheiro – com acesso pela escada preexistente na sala das barricas,

surge agora a sala de degustação, com relação visual com a sala de controlo de

qualidade. As suas características espaciais singulares – ventilação e iluminação –

exigem que a preexistência, rasgada de Sul a Este, seja encerrada com madeira e

vidro. Um ripado de madeira, sugerido fundamentalmente pelos espigueiros e

sequeiros tradicionais, e desenvolvido na Adega Casa da Torre, foi a solução

adoptada para filtrar a luz, e controlar a temperatura por meio da redução da

incidência solar directa. Deste modo, é também conseguido um espaço de culto, um

ambiente destinado à degustação do vinho, com apenas duas janelas, uma em cada

fachada, relacionadas com o exterior, a Sul, com o conjunto vitivinícola (ilustração

128), a Oeste, com a Capela de S. Bernardino (ilustração 129).

Mantendo os princípios de respeito na adequação de novos usos à

preexistência, a construção que anteriormente foi armazém e sequeiro (ilustração

127), assume agora as funções de recepção, loja e gabinete no rés-do-chão. O andar

superior é agora cozinha e sala gastronómica, apropriando-se da escala popular do

espaço, que lhe confere um ambiente acolhedor e familiar, e das vistas sobre todo o

espaço de exploração e produção vinícola. A multiplicidade de espaços nesta

construção é permitida e conseguida pela sua configuração regular e liberdade

espacial. No entanto, a necessidade de conexão interior entre os espaços originou a

abertura de duas portas em paredes preexistentes, evoluindo e assumindo objectivos

programáticos. Aproveitando o facto de, no rés-do-chão, existir um vão obstruído por

uma pequena construção dissonante, demole-se e abre-se uma porta de ligação ao

pátio. Uma pequena pála simboliza esta passagem para o pátio, e assume a

contemporaneidade da acção. O antigo forno, adossado a esta construção, é agora a

continuação da loja.

Recorrendo ao ripado de madeira usado na sala de degustação, encerra-se a

sala gastronómica. No entanto, por não ter as mesmas exigências térmicas e

Page 146: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

144

130. Esquema de evolução de intervenção. Ampliação. Legenda: 1. Recepção da uva; 2. Engarrafamento e embalamento do vinho; 3. Armazém e expedição; 4. Espaço de apoio a funcionários; 5. Vestiário e balneário.

Page 147: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

145

lumínicas que a adega, abre-se sobre o pátio e as vinhas. O necessário

encerramento das fachadas cumpre as exigências e valências funcionais e, ao

mesmo tempo, a expressão da linguagem vernacular e popular, com recurso a um

material intemporal e à reinterpretação de uma técnica tradicional, como é defendido

pela Carta sobre o Património Construído Vernacular111

.

Estas acções de conservação e reabilitação, com o sentido de adaptação ao

uso contemporâneo, em sintonia com a Carta de Veneza, tiveram sempre presente o

sentido de respeito pela preexistência através da conservação da sua identidade.

Embora tenha existido a necessidade de adaptação de usos e materiais, em alguns

espaços recuperados, mantêm-se os valores identitários da arquitectura popular e

vernacular, com a manutenção da sua forma e escala, mas também pelas cores e

texturas das estruturas e materiais preexistentes reutilizados e aplicados na solução

adoptada.

Distribuído e organizado o programa, verifica-se a insuficiência de área

necessária para o completo funcionamento da adega. Esta circunstância determina o

aparecimento de novas construções, de modo a permitir responder às novas

necessidades programáticas que correspondem essencialmente à produção vinícola.

Estas novas edificações são adições no tempo, à semelhança do que ocorreu no

aglomerado de edificações e construções existentes, mas assumindo claramente a

modernidade do seu tempo. A implantação do volume ampliado (ilustração 130) é a

consequência de diferentes intenções. A de resposta a uma lógica de construção

modular e sequencial, conforme as necessidades, e o prolongamento do programa de

produção. A sua forma é o reflexo do modo de produção do vinho. Assume, na sua

maioria, a industrialização da produção vinícola actual, definindo os espaços de

engarrafamento e embalamento do vinho, armazém e expedição. No entanto, define

também o espaço de recepção da uva, antecedido de um espaço exterior de trabalho,

diminuindo o impacto da escala do volume. O espaço interior é livre, bem iluminado e

com forte relação visual com o exterior.

Independente desta ampliação, mas orientada pela direcção da vinha e no

limite a Norte do terreno vinícola, surge outra construção de raiz, de menor escala

(ilustração 130), de apoio aos funcionários, com o vestiário e balneário, e com um

espaço de estar que se estende para o exterior. A tensão criada por estes dois

111

Carta sobre o Património Construído Vernáculo. [em linha]. ICOMOS. 1999. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.international.icomos.org/charters/vernacular_sp.pdf>

Page 148: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

146

131. Esquema de evolução de intervenção. Pátios. Legenda: 1. Pátio do visitante; 2. Pátio de trabalho; 3. Pátio de estar do trabalhador.

Page 149: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

147

volumes cria um pátio de entrada para uma parcela agrícola que ainda pertence à

propriedade em estudo.

É apoiado nos princípios de restauro e conservação de Camillo Boito e na

Carta de Veneza que as novas construções exigidas pela evolução dos usos no

tempo, assumem a sua contemporaneidade e se distinguem da preexistência. No

entanto, mantêm uma relação de equilíbrio e harmonia com o lugar, respeitando a

escala das construções preexistentes, do lugar, e a sua relação com o todo.

O espaço exterior (ilustração 131), definido pelas construções envolventes e

pelos muros preexistentes, é um elemento comum, unificador e comunicador com

todos os espaços. Apresenta diferentes momentos, essencialmente marcados por

três pátios. Um pátio central, de forma poligonal definido pelas construções

preexistentes, e de pendente irregular, é agora regularizado e dirigido ao visitante.

Um novo pátio e o seu acesso, com um carácter mais regular, é destinado ao

trabalho, relacionado com as vinhas e os volumes de produção. Permite a circulação

de máquinas agrícolas e o transporte de expedição do vinho. Um terceiro pátio, ligado

ao vestiário, balneário e ao espaço de estar de uso dos funcionários, está

intimamente relacionado com a vinha. A vinha mantém a sua implantação e

orientação, realçando e preservando o relevo natural do sítio, e marcando e

identificando a paisagem.

O lugar e a sua natureza são também respeitados, na medida em que o seu

uso agrícola e vitivinícola é mantido, assim como a orientação das vinhas e o relevo

associado, como aponta a Convenção para a Protecção do Património Mundial,

Cultural e Natural, na definição global de património, que procura manter a sua

estrutura e a identidade natural e cultural do lugar.

Materializando e pormenorizando a ideia (ilustração 132), o granito, a madeira

e o barro, materiais preexistentes, predominam no conjunto, evocando os valores

culturais e naturais das construções de cariz popular e vernacular. Simultaneamente,

recorrem-se a técnicas e materiais actuais – betão armado aparente e reboco – como

forma de revelar os diferentes tempos da intervenção. Esta distinção material é

apoiada pela conciliação dos princípios definidos nas cartas de restauro, em sintonia

com os princípios de Camillo Boito, na procura da harmonia material e formal.

O granito, elemento estrutural, continua aparente no exterior e no interior das

construções preexistentes. No entanto, existem espaços que, por actualização dos

padrões de qualidade, exigência e valência técnica – cozinha, sala de controlo de

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148

132. Materialização e pormenorização.

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149

qualidade e instalações sanitárias – requerem outro revestimento interior, assumindo

a sua contemporaneidade e salubridade.

A madeira é igualmente importante, em “que o exterior é tantas vezes parte do

interior, sem problemas de pontes térmicas obsessivas; que a viga se confunde com

o caixilho e o caixilho funciona, também, como viga; o tecto é chão e o chão tecto,

assim sem mais nada”112

. Assume um protagonismo estrutural e espacial importante

na construção dos pisos das salas de degustação e de gastronomia, e de todas as

coberturas preexistentes recuperadas. Estas assentam sobre as espessas e robustas

paredes de granito, ficando a viga visível pelo exterior. No interior, a estrutura de

madeira é aparente na sua totalidade. As portas e janelas, também em madeira, são

fixadas no entalhe da pedra. Relativamente às janelas de correr, propostas nas salas

de degustação e de gastronomia, assentam sobre o soalho e fixam-se lateralmente à

parede, recusando a sua irregularidade dos topos. O ripado de madeira é fixo na

parede e na viga, permitindo revelar os pilares de pedra preexistentes, como memória

visual e material.

Nas novas construções, onde o betão armado é estrutural, as paredes são

rebocadas no interior e exterior, contrastando com o aspecto irregular das

construções antigas. Os pisos são em betão afagado e os tectos em betão aparente.

Embora a construção antiga e nova se diferenciem na linguagem formal e

material, também se cruzam de modo disciplinar e intencional nos valores das suas

arquitecturas. Nesta união, entalha-se uma caleira que recolhe as águas das duas

construções. O granito e a madeira propagam-se para as novas construções,

desenhando o lambrim, o rufo, as portas e janelas. Os materiais actuais também

invadem as preexistências. O betão afagado e o reboco prolongam-se para a sala de

controlo de qualidade, a sala de barricas, a cozinha e as instalações sanitárias.

No exterior, os três pátios, embora com usos e utentes distintos, têm a mesma

materialização, prolongada da rua para o pátio com cubos de granito, apenas

interrompidos pelas guias e rampas definidas por lagetas de granito. Guias e rampas

têm como objectivo regularizar e dignificar o espaço exterior, criando domínios visuais

e espaciais, quando estes se transformam em bancos ou muros, e definem os lambris

em granito das novas construções.

112

CASTANHEIRA, Carlos – “Construir em madeira – porque eu Gosto!” In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 8.

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150

133. Maqueta da reabilitação e ampliação da Adega Casas Novas.

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151

“Uma adega já não é o que era. Está melhor, assim como o vinho.”113

Esta

convicção é consequência da tranformação do processo de produção e promoção

vinícola que acompanha a evolução da sociedade no tempo.

Uma aldeia também já não é o que era. Está esquecida, abandonada, perdida

no tempo. A arquitectura deve, então, associada aos valores construídos e não

construídos dos lugares da aldeia, ser uma ferramenta de preservação patrimonial e

de desenvolvimento económico, social e cultural, sempre em equilíbrio com a sua

identidade – aqui vernacular e popular – contrariando os princípios de restauro

defendidos por Eugène Viollet-le-Duc que se revelam descaracterizadores, e

recusando o fim das construções preexistentes como sustentam as teorias mais

fatalistas de Jonh Ruskin. Contudo, ambas as teorias contribuem para a preservação

da história e memória dos lugares, e, no estudo e projecto da Adega Casa Novas

(ilustração 133), pode associar-se a conservação e a preservação de alguns

elementos identitários a Viollet-le-Duc, e a preservação das marcas do tempo na

pedra e na madeira a Ruskin. Camillo Boito é, no entanto, o teórico mais influente

nesta intervenção, sendo ele simultaneamente conservador e transformador,

permitindo a conservação e evolução do conjunto vitivinícola reabilitado e ampliado.

São também lições úteis, as cartas e as convenções sobre o património e os casos

de referência seleccionados.

113

CASTANHEIRA, Carlos – “Adega Casa da Torre” In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 123.

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VI_ Conclusão

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155

O conceito de reabilitação aplicado em arquitectura é contemporâneo,

devendo-se o seu entendimento actual à evolução da definição de conservação e

restauro ao longo dos tempos. Enquanto ferramenta que permite a recuperação e

reutilização do espaço que é memória e história de uma sociedade, e permite a sua

transmissão no tempo continuando assim a acrescentar valor com a qualidade e a

identidade das diferentes épocas que atravessa, a reabilitação define-se como meio

de preservação social e cultural do património, dependente da necessária acção

técnica, disciplinar, instrumental e profissional do arquitecto.

A abordagem ao tema da reabilitação proposta nesta dissertação teve como

principal objectivo compreender qual a posição do arquitecto perante o território não

construído e construído preexistente. Com este sentido, é necessário responder às

interrogações que se enunciaram e colocaram no início desta investigação, e que se

relembram. Quais as oportunidades para estes lugares esquecidos, abandonados?

Qual o futuro para estes espaços? Que reflexões deve o arquitecto fazer? Que

instrumentos estão à disposição do arquitecto? Que ferramentas deve usar? Quais as

limitações na intervenção? Quais as consequências da actuação no construído, a

partir das potencialidades e capacidades existentes?

A concretização desta investigação teórica e experimentação prática permitiu

afirmar e confirmar a importância do património na identificação e caracterização das

sociedades e dos seus tempos, mais evidente em ambientes rurais, populares e

vernaculares, onde a arquitectura de habitação e produção é a expressão da forte

relação de afinidade e conformidade entre o homem e a natureza. A verificação da

continuada e acelerada degradação da aldeia de Casas Novas, assim como de tantas

outras que se visitaram nos concelhos de Montalegre e Chaves, aquando da

pesquisa territorial, revelou que o território do interior português está desertificado e

deteriorado, deixando ao abandono os campos e as construções associadas, o que

origina a consequente perda das tradições e dos costumes da cultura popular e

vernacular. Esta constatação permite concluir que a consciencialização da

importância do património natural e cultural pela sociedade é o primeiro passo para

que esta e o arquitecto identifiquem e valorizem as oportunidades, promovendo e

sustentando um futuro para estes lugares e para estas arquitecturas, permitindo a

sua preservação e evolução no tempo. Torna-se necessário identificar e evidenciar os

valores de cada lugar e dos seus habitantes, revelando o que melhor os identifica e

distingue, recuperando e acrescentando novos interesses, promovendo assim a

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156

continuação e apresentação dos valores tradicionais e culturais da região. Conclui-se

assim que a reabilitação é indispensável e imprescindível para manter a memória e

historia do passado e, ao mesmo tempo, proporcionar um futuro a estes lugares, a

estas construções e a estes habitantes, seja pela evolução e adaptação dos usos

seja pela sua musealização.

O caso de estudo na aldeia de Casas Novas revela-se um exemplo de

manutenção e promoção da permanência patrimonial, através da sua reabilitação,

evidenciando todos os seus valores construídos e não construídos. A vontade e, aqui,

a necessidade de manter uma cultura que já existiu, e, ao mesmo tempo,

acrescentar-lhe conceitos e ideias actuais como o enoturismo, através de

espacialidades e materialidades contemporâneas protagonizadas pela arquitectura, é

um exemplo de como o futuro destes lugares está neles próprios.

A reabilitação, além de um acto de interesse social e cultural, tem a necessária

intervenção disciplinar, instrumental e profissional, recorrendo ao conhecimento da

arquitectura e de outras disciplinas. Assim, como cidadão da sociedade, mas com

responsabilidades acrescidas e exigidas na organização do espaço, o arquitecto tem

de apreender o que é o património e a sua importância, reflectindo caso a caso.

Quais são os valores fundamentais e essenciais do lugar e da sua arquitectura?

Quais são os princípios fundadores e estruturadores? Quais são os materiais e

técnicas de construção associadas e utilizadas? Estas são as perguntas que

concorrem para a reabilitação e construção do lugar e da arquitectura, ajudando a

compreender o que fazer aquando de uma acção ou intervenção, seguindo a via da

preservação e não da destruição.

As teorias, as cartas e as convenções de restauro são instrumentos que o

arquitecto tem à sua disposição, auxiliando na investigação e compreensão do

património a intervir, indicando e sugerindo metodologias de intervenção. Enquanto

ferramentas de reabilitação, estes instrumentos constituem orientações intelectuais e

culturais a ter em consideração nos intervalos entre a conservação e o restauro, que

se revelam nas adições e subtracções, nas técnicas e nos materiais usados na

acção, sempre com preocupação pela identidade e verdade do património,

assumindo sempre a actualidade da intervenção, que passa, assim a constituir

registo de cada tempo e momento da acção. Perante a liberdade metodológica,

instrumental e profissional expressa nestes documentos, é o arquitecto que define o

Page 159: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

157

caminho a adoptar e quais as ferramentas usar, seguindo os seus ideais de

preservação e actuação no património.

Na reabilitação da Adega Casas Novas, assumiu-se a preservação máxima

dos usos, das formas, dos materiais e dos pormenores, mas quando necessário

recorreu-se a uma adição e ampliação com materiais de linguagens e imagens novas,

considerando-se e sustentando-se ser a resposta mais adequada para a preservação

e evolução do património.

Embora cada arquitecto tenha a sua identidade de intervenção e manipulação

do património, a sua actuação é orientada e gerida pelas organizações de

identificação e protecção do património. Com a consciência de que sempre que

intervêm no património algo se perde, estas orientações e gestões prendem-se

essencialmente nas acções que possam ser irreversíveis, como a demolição ou

ampliação de novos espaços, de modo a evitar que o património perca os seus

interesses e valores essenciais, ficando desvalorizado e descaracterizado, incapaz de

afirmar o seu passado e, consequentemente, o seu futuro.

Construir no construído, apropriando-se das potencialidades e capacidades

existentes nos lugares e nas arquitecturas, valida a continuação e transmissão da

história e memória de outros tempos às gerações presentes e futuras, para que estas

não percam o contacto com o passado e possam desfrutar e reinventar o futuro.

Reabilitando, consegue-se um território capaz de se transformar e reutilizar,

respondendo com equilíbrio às exigências políticas, económicas, sociais e culturais

da sociedade, tornando-se assim na sua identidade.

Concluindo a investigação em torno da preservação da história e da memória,

que aqui se associa à arquitectura enquanto geradora, transformadora e mediadora

cultural, popular ou erudita, a reabilitação torna-se indispensável e imprescindível.

Revelando-se um conceito com intervalos dilatados e diversificados capazes de

apelar e motivar a imaginação do arquitecto, apresenta-se em constante evolução e

adaptação ao pensamento de cada sociedade e de cada época. A capacidade de

reutilização na reabilitação, dos usos aos materiais, permite inúmeras opções e

soluções de intervenção, balizadas e orientadas – mas não limitadas – pelas cartas e

convenções dedicadas ao património. Com este sentido, é a concepção, a

Page 160: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

158

imaginação, o conhecimento e, ainda, o bom senso do arquitecto que definem como

agir caso a caso, pois cada arquitecto tem a sua identidade, a sua forma de pensar e

desenhar o espaço em arquitectura.

Contudo, é necessário que o interesse pelo património motive efectiva e

afectivamente a sociedade em geral, e os cidadãos com responsabilidades políticas,

técnicas e económicas, sociais e culturais. Com este sentido, é essencial que as

organizações internacionais referidas na investigação, como o ICOMOS, a UNESCO,

o Conselho da Europa, entre outras, e as organizações nacionais como a Direcção

Geral do Património Cultural, desenvolvam instrumentos de formação e educação

cívica e técnica que animem e incentivem o interesse pelo conhecimento do

património e pela importância na sua preservação e transmissão futura, permitindo a

qualidade e vitalidade do tecido rural e urbano, dos sítios, evitando que deste modo

de percam valores únicos, insubstituíveis e imprescindíveis, reflexo do crescimento

das sociedades.

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Bibliografia

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Índice de imagens

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169

I _ Introdução. Ilustração composta pelas imagens 1, 6, 19, 27, 28, 32, 34, 60 e 116.

II _ Arquitectura. Ilustração composta pelas imagens 1, 3, 11, 12, 14, 19 e 23.

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om=1&tx_damzoom_pi1%5Bzoom%5D=0&tx_damzoom_pi1%5BxmlId%5D=001089

&tx_damzoom_pi1%5Bback%5D=fr%2Fcollections%2Fcatalogue-des-oeuvres%2Fre

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20. Planta da casa minhota. In MOUTINHO, Mário - Arquitectura Popular Portuguesa.

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21. Casa serrana. In MOUTINHO, Mário - Arquitectura Popular Portuguesa. 3ª ed. s/l:

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22.Planta da casa serrana. In MOUTINHO, Mário - Arquitectura Popular Portuguesa.

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23. Igreja em Piódão. Arganil. In Olhares. [em linha]. [consultado em 11 de Fevereiro

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24.Casa de Emigrante. Fotografia do candidato.

Page 173: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

171

III_ Princípios e metodologias para a reabilitação

Princípios, regras e ferramentas. Ilustração composta pelas imagens 27, 28, 30,

32, 34, 36, 38 e 40.

25. Fado. In Wikipedia. [em linha]. [consultado em 03 de Novembro 2011]. Disponível

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.abril.com.br/especiais/onde-consertar-tudo&docid=5e5RZvlhAbJNWM&w=540&h=36

0&ei=BfCJTsLOE8j74QS6n-mMDw&zoom=1&iact=rc&dur=177&page=1&tbnh=145&t

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43. Convento de Nossa Senhora da Arrábida, século XVI. Serra da Arrábida. In

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48. Desrespeito pelo património. In Olhares. [em linha]. [consultado em 22 de Março

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IV_ Obras de referência. Ilustração composta pelas imagens 51, 60 e 73.

49. Reconstrução do Sequeiro. Guimarães. In NEVES, José Manuel – José Gigante,

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50. Casa Cristina Silva. Porto. In Habitar Portugal. [em linha]. [consultado em 13 de

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52. Localização do Moinho. Vilar de Mouros. In Google Maps. [em linha]. [consultado

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182079341842480&type=3&theater> e <http://www.facebook.com/media/set/?set=

a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3#!/photo.php?fbid=182268141

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182079341842480&type=3&theater> e <http://www.facebook.com/media/set/?

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248490256&set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3&theater>.

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182079341842480&type=3&theater>; <http://www.facebook.com/media/set/?

set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3#!/photo.php?fbid=182268

295156918&set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3&theater> e

<http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184

2480&type=3#!/photo.php?fbid=182268305156917&set=a.182268085156939.57726.

182079341842480&type=3&theater>.

58. Casa da costa Grande. Baião. In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira

arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 154.

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175

59. Adega Quinta da Faísca. Alijó. In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira

arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 143.

60. Adega Casa da Torre. Vila Nova de Famalicão. Fotografia cedida pelo gabinete

Castanheira & Bastai Arquitectos.

61. Localização da Adega Casa da Torre. Vila Nova de Famalicão. In Google Maps.

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62. Adega antes da intervenção. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira &

Bastai Arquitectos.

63. Implantação da adega. Desenhos cedidos pelo gabinete Castanheira & Bastai

Arquitectos, redefinidos pelo candidato.

64. Plantas de reabilitação e ampliação da adega. Desenhos cedidos pelo gabinete

Castanheira & Bastai Arquitectos, redefinidos pelo candidato.

65.Vista frontal da adega. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai

Arquitectos.

66. Escritório. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai Arquitectos.

67. Escada. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai Arquitectos.

68. Passadiço. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai Arquitectos.

69. Laboratório. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai Arquitectos.

70. Espaço interior da adega. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai

Arquitectos.

71. Casa de Chá da Boa Nova. Matosinhos. In Ultimas reportagens. [em linha].

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72. Adega Quinta do Portal. Sabrosa. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado

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73. Adega Mayor. Campo Maior. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em

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74. Localização da Adega Mayor. Campo Maior. In Google Maps. [em linha].

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75. Implantação da Adega Mayor. In VIDIELLA, Àlex Sánchez – Àlvaro Siza.

Apontamentos de uma arquitectura sensível. Lisboa: Bertrand Editora, 2009. p.70.

76. Esquema programático da adega. Desenho do candidato.

77. Recepção. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de Janeiro

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78. Sala de reuniões. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de

Janeiro 2012]. Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/178.php>.

79. Nave das barricas. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de

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80. Jardim. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de Janeiro 2012].

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81. Esquiço da reconversão do Moinho. In Facebook – José Gigante. [em linha].

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182079341842480&type=3&theater>.

82. Esquiço da reabilitação e ampliação da Adega Casa da torre. Esquiço cedido

gabinete Castanheira e Bastai Arquitectos.

83. Esquiço da construção da Adega Mayor. In VIDIELLA, Àlex Sánchez – Àlvaro

Siza. Apontamentos de uma arquitectura sensível. Lisboa: Bertrand Editora, 2009.

p.74.

V _ Caso de Estudo. Ilustração composta pelas imagens 87, 90, 109, 116 e 133.

Uma Adega em Casas Novas

84. Esquema de produção vinícola. Desenho do candidato.

85. Espaço de recepção, desengace e esmagamento. In Ultimas reportagens. [em

linha]. [consultado em 02 de Janeiro 2012]. Disponível em:

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86. Área de fermentação. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de

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87. Nave das barricas. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de

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88. Sala de controlo de qualidade. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em

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89. Espaço de engarrafamento e rotulagem do vinho. In Facebook – Adega Mayor.

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Page 179: A reabilitação como preservação e transmissão da história e da memória

177

90. Visitação das vinhas. In NERY, Isabel - “A paixão do Vinho” In Visão, n.º 970.

Lisboa: Medipress – Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. 6 a 12 de Outubro 2011.

p. 86 e 87.

91. Apanha da uva. In NERY, Isabel - “A paixão do Vinho” In Visão, n.º 970. Lisboa:

Medipress – Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. 6 a 12 de Outubro 2011. p. 88.

92. Pisar da uva. In NERY, Isabel - “A paixão do Vinho” In Visão, n.º 970. Lisboa:

Medipress – Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. 6 a 12 de Outubro 2011. p. 89.

93. Prova do vinho. In NERY, Isabel - “A paixão do Vinho” In Visão, n.º 970. Lisboa:

Medipress – Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. 6 a 12 de Outubro 2011. p. 89.

94. Visita de conhecimento da região. In NERY, Isabel - “A paixão do Vinho” In Visão,

n.º 970. Lisboa: Medipress – Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. 6 a 12 de

Outubro 2011. p. 91.

95. Adega Dominus, Napa Valley, Califórnia. Arquitectos Jacques Herzog e Pierre de

Meuron. In Travelmodus. [em linha]. [consultado em 23 de Dezembro 2011].

Disponível em: <http://travelmodus.com/dominus-winery-napa.html>.

96. Quinta do Vallado. Douro. Arquitectos Francisco Vieira de Campos e Cristina

Guedes. In Facebook – Luis Ferreira Alves. [em linha]. [consultado em 23 de

Dezembro 2011]. Disponível em:

<http://www.facebook.com/photo.php?fbid=142978189116221&set=a.142977662449

607.38340.103320009748706&type=3&theater>.

97. Localização de Chaves em Portugal. Desenho do candidato.

98. Limites do concelho de Chaves. Desenho do candidato.

99. Freguesias do concelho de Chaves. Desenho do candidato.

100. Ruínas das Termas Romanas. In Museu da Região Flaviense. [em linha].

[consultado em 06 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://

museudaregiaoflaviense.blogspot.com/2010/07/termas-romanas-de-chaves.html>.

101. Ponte Romana de Trajano. Fotografia do candidato.

102. Torre de Menagem. Fotografia do candidato.

103. Igreja de Santa Maria Maior. Fotografia do candidato.

104. Forte de S. Neutel. In Chaves. [em linha]. [consultado em 27 de Dezembro

2011]. Disponível em: <http://www.chaves.pt/Default.aspx?ID=316>.

105. Pelourinho de Chaves. In Chaves. [em linha]. [consultado em 27 de Dezembro

2011]. Disponível em: <http://www.chaves.pt/Default.aspx?ID=323>.

106. Câmara Municipal de Chaves. Fotografia do candidato.

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178

107. Paço dos Duques de Bragança. In Chaves. [em linha]. [consultado em 27 de

Dezembro 2011]. Disponível em: <http://www.chaves.pt/Default.aspx?ID=318>.

108. Mapa com Regiões Vitivinícolas em Portugal continental, com destaque para a

região de Trás-os-Montes: a) Chaves; b) Valpaços; c) Planalto Mirandês. Desenho do

candidato.

109. Vista aérea da Aldeia de Casas Novas. In Google Maps. [em linha]. [consultado

em 29 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://maps.google.pt/>.

110. Ruas em Casas Novas. Fotografias do candidato.

111. Casa de dois pisos. Desenho do candidato.

112. Hotel Rural Casas Novas. Fotografias do candidato.

113. Solar dos Vilhenas. Fotografia do candidato.

114. Capela N. Sr. dos Aflitos. Fotografia do candidato.

115. Capela de S. Bernardino. Fotografia do candidato.

116. Vista panorâmica sobre o sítio, o edificado e a vinha. Fotografia do candidato.

117. Vista aérea do conjunto vitivinícola. In Google Maps. [em linha]. [consultado em

29 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://maps.google.pt/>.

118. Coberto. Desenho do candidato.

119. Lagares. Desenho do candidato.

120. Adega e palheiro. Desenho do candidato.

121. Armazém e sequeiro. Desenho do candidato.

122. Forno e arrecadação. Desenho do candidato.

123. Pátio e espigueiro. Desenho do candidato.

124. Programa de administração e gestão. Desenho do candidato.

125. Programa de produção vinícola. Desenho do candidato.

126. Programa de enoturismo. Desenho do candidato.

127. Esquema de evolução de intervenção. Reabilitação. Desenho do candidato.

128. Vista sobre o conjunto vinícola. Fotografia do candidato.

129. Vista sobre a capela S. Bernardino. Fotografia do candidato.

130. Esquema de evolução de intervenção. Ampliação. Desenho do candidato.

131. Esquema de evolução de intervenção. Pátios. Desenho do candidato.

132. Materialização e pormenorização. Desenho do candidato.

133. Maqueta da reabilitação e ampliação da Adega Casas Novas. Fotografias do

candidato.

VI _ Conclusão. Fotografias do candidato.

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O presente documento encontra-se escrito conforme o antigo acordo ortográfico da língua portuguesa.

11 de Julho de 2012