UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO
A REABILITAÇÃO COMO PRESERVAÇÃO E TRANSMISSÃO
DA HISTÓRIA E DA MEMÓRIA
Uma Adega em Casas Novas
Felisberto Manuel de Pinho Rodrigues
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre
Porto, 2012
Agradecimentos
Á Professora Doutora Suzana Faro e ao Professor Arquitecto João Rapagão,
pelo empenho, dedicação e contributo indispensável na realização desta dissertação.
Ao gabinete Castanheira & Bastai Arquitectos, pela atenção e disponibilidade
no fornecimento de material gráfico e escrito solicitado.
Aos professores e arquitectos Jorge Amaral, Pedro Francisco, Jorge Carvalho,
Teresa Novais e João Rapagão, pela sua dedicação no ensino da arquitectura, que
me influenciam na minha formação como arquitecto.
Aos meus Pais e Avós por todo apoio e tolerância, e por me possibilitarem a
frequência do curso.
Às minhas irmãs por toda a perseverança que foram demonstrando ao longo
destes anos.
Á minha namorada por todo o apoio, compreensão e estímulo durante todo
percurso académico.
V
Índice V
Resumo e Palavras-chave IX
Abstract and Keywords XI
I_ Introdução 13
II_ Arquitectura 21
II.1_ Dimensões e propósitos 25
II.2_ Lugar 31
II.2.1_ Lugar natural 37
II.2.2_ Lugar construído 41
II.3_ Arquitectura popular e vernacular 45
III_ Princípios metodológicos para a reabilitação 53
Princípios, regras e ferramentas
III.1_ Património 57
III.2_ Reabilitação 59
III.2.1_ Conservação e restauro 63
III.2.1.1_ Eugène Viollet-le-Duc e o restauro estilístico 67
III.2.1.2_ John Ruskin e o anti-restauro 71
III.2.1.3_ Camillo Boito e o restauro moderno 73
III.3_ Organizações e orientações 77
III.3.1_ Cartas e convenções internacionais sobre o património 77
IV_ Obras de referência 93
IV.1_ Reconversão de Moinho. Arquitecto José Gigante 97
IV.2_ Reabilitação e ampliação da Adega Casa da Torre. Arquitecto
Carlos Castanheira 101
IV.3_ Construção da Adega Mayor . Arquitecto Álvaro Siza Vieira 107
VII
V_ Caso de estudo
Uma Adega em Casas Novas 115
V.1_ Enquadramento programático 119
V.1.1_ Adega enquanto espaço de produção e promoção do vinho 119
V.1.2_ Enoturismo 123
V.2_ Enquadramento territorial 127
V.2.1_ Chaves 127
V.2.2_ Aldeia Casas Novas 131
V.2.3_ Conjunto vitivinícola e agrícola 137
V.3_ Reabilitação e ampliação da Adega Casas Novas 139
VI_ Conclusão 153
Bibliografia 159
Índice de Imagens 167
IX
Resumo
A investigação proposta aborda o tema da reabilitação enquanto instrumento
de preservação da história e da memória, social e cultural, e simultaneamente
enquanto especialidade da arquitectura, com o objectivo de compreender os
intervalos de actuação do arquitecto perante o lugar e as construções preexistentes,
recorrendo-se à investigação teórica e paralelamente à experimentação prática num
lugar real, onde a reabilitação é essencial.
Constrói-se uma base teórica onde se abordam os valores da arquitectura e a
sua constante relação com o lugar e, com o intuito de adquirir os procedimentos e
instrumentos metodológicos necessários, estuda-se o conceito de património e os
diversos caminhos para a sua reabilitação. Ainda antes da aplicação prática, são
analisados estudos e projectos que se consideram relevantes na acção de integração
com o lugar, na reabilitação e na aproximação ao tema da adega e do enoturismo.
É com esta investigação e com o conjunto de conhecimentos adquiridos que
se inicia a contextualização temática e patrimonial, social e cultural, capaz de
fundamentar e estruturar os valores teóricos e práticos no domínio da reabilitação,
associado à sua capacidade de validação e das arquitecturas abandonadas, como o
caso de estudo na Aldeia de Casas Novas.
Considera-se que o património é importante para conservar a memória e
descrever a história das sociedades. Assim, a reabilitação revela-se indispensável e
desejável, permitindo deste modo, a validade e vitalidade do território, representativo
do crescimento social e cultural. No entanto, é a sociedade que deve ter a iniciativa e
o interesse de preservar e reabilitar o património, apoiada e incentivada pelas
organizações responsáveis pela identificação e preservação do património.
Palavras-chave
Reabilitação; Preservação; Adega; Enoturismo; Aldeia de Casas Novas
XI
Abstract
The proposed investigation issues the subject of building rehabilitation as a
means of preserving both social and cultural historical and memory values and as an
architectural specialty, with the purpose of understanding the range of the architect’s
actions in relation to the pre-existent constructions. For this purpose, a theoretical
investigation is applied, together with the practical experimentation in a real spatial
context, where rehabilitation is essential.
A theoretical basis is drafted, in which architectural values and their constant
relation to the site are issued and, with the purpose of acknowledging the necessary
procedures and methodological instruments, the concept of heritage is studied,
together with the multiple paths for its rehabilitation. Prior to the practical application,
studies and projects considered to be relevant to the role of site integration,
rehabilitation and to access the cases of the cellar and wine tourism are analyzed.
This investigation, with the collection of acknowledgements it brings forth,
launches the thematic and patrimonial sociocultural contextualization, capable of
affirming and structuring the theoretical and practical values in the context of building
rehabilitation. The latter is paired whit the ability to validate abandoned architectures,
as in the case study of the Village of Casas Novas.
Heritage is considered to play an important role in preserving the memory and
describing the history of societies. Therefore, building rehabilitation is indispensable
and advisable, making way for the validity and vitality of the territory, which is
representative of social and cultural growth. It is society, however, who should have
the initiative and the interest to preserve and rehabilitate the patrimony, supported and
powered by the organizations responsible for the identification and the preservation of
the heritage.
Keywords
Architecture; Preservation; Rehabilitation; Cellar, Wine tourism. Village of Casas
Novas;
I_ Introdução
15
A investigação que se propõe é uma abordagem ao tema da reabilitação,
enquanto especialização da arquitectura que promove a reutilização e validação dos
recursos patrimoniais, naturais e construídos preexistentes no território.
Reparar, regenerar, renovar, ajudar à reinserção social e reanimação cultural,
são sinónimos que definem reabilitação, mas que em arquitectura podem ganhar
outra dimensão, traduzindo-se na transformação e modificação do espaço
preexistente, na sua reutilização equilibrada como ferramenta capaz de atribuir
qualidade ao espaço natural e construído dos lugares, que por diversos motivos
tenham sido desprovidos ou tenham perdido as qualidades físicas e arquitectónicas.
Importa, sobre este assunto, reflectir sobre qual deverá ser a participação do
arquitecto perante a preexistência no território.
O abandono e desertificação dos sítios, promovido pela sobrecarga de usos
ou mesmo o desajustamento do espaço para responder aos novos padrões de
conforto e qualidade de vida, são os principais geradores da degradação e do
envelhecimento do património construído e não construído – estruturas naturais e
edificadas, de lazer e trabalho – originando o empobrecimento histórico, social,
cultural do território, ficando apenas representações de uma realidade que já não
existe. Este esquecimento do território pode subsistir por falta de apoio político e
económico capaz de promover a conservação do património, originando o
desinteresse social e cultural.
O recurso à reabilitação permite valorizar o espaço onde o homem se move,
se relaciona e, principalmente, habita, recriando os sítios, os usos e as formas da
arquitectura. A preexistência no território é a memória e a história do lugar, e reabilitar
pode permitir que o passado se transforme em futuro através do desenvolvimento de
novas oportunidades e capacidades concretas que respondam às exigências da vida
contemporânea. Estas oportunidades são ainda mais consideráveis e visíveis quando
se trata de uma arquitectura popular e vernacular, fortemente enraizada numa
determinada região.
O interesse por esta especialidade da arquitectura e a não abordagem da
mesma ao longo do percurso académico, foram as primeiras motivações para a
escolha do tema. Mas, a noção da forte presença do abandono do espaço construído
e do elevado número de construção desqualificada em Portugal – consequência dos
16
problemas políticos, económicos, sociais e culturais do país –, afirma a importância
na abordagem ao tema da reabilitação.
Ao preparar-se a visita aos concelhos de Chaves e Montalegre, proporcionado
no ano lectivo de 2010/2011, e consciente da realidade territorial portuguesa,
concentra-se as atenções nos sítios com qualidades arquitectónicas e com
necessidade de serem reabilitados.
A conjuntura territorial e patrimonial em estudo, com uma forte presença de
sítios devolutos, descaracterizados e com todos os problemas por estes
proporcionados, originam o desinteresse social e cultural do lugar, confirmando o
quanto é oportuna esta reflexão sobre o tema.
No âmbito da Unidade Curricular de Projecto III do Mestrado Integrado em
Arquitectura da Universidade Lusíada do Porto, é-nos proposta uma investigação
teórica e uma materialização prática nos territórios de Chaves e Montalegre, com a
temática enquadrada na investigação desenvolvida pelo CITAD – Centro de
Investigação em Território, Arquitectura e Design – desta universidade, em que se
deve abordar áreas do conhecimento do Território e Cidade, da Cultura
Arquitectónica e da Construção e Tecnologia.
Chaves é o concelho eleito para esta investigação, pela sua oportunidade
territorial para abordar o tema em estudo, mas também pela sua localização
estratégica, com boas ligações ao restante país e proximidade à fronteira com
Espanha, e pela sua importância cultural, histórica e turística.
O sítio, Casas Novas, é uma pequena aldeia deste concelho, a pouca
distância do centro da cidade de Chaves e da Vila de Boticas. O seu carácter singular
e rural mantém-se. No entanto, encontram-se algumas construções envelhecidas, em
ruína, e outras descaracterizadas por intervenções desajustadas. Nesse contexto,
uma pequena adega abandonada é o que se propõe reabilitar. O programa, esse,
mantém-se como pequena exploração e produção vinícola que tem a potencialidade
de se tornar num ponto de Enoturismo. Este interesse turístico é também sustentado
pela existência do Hotel Rural Casas Novas, recente reabilitação de um solar do
século XVIII, funcionando assim como valência complementar e de valorização do
sítio.
17
Abordar a temática da reabilitação é um objectivo e uma oportunidade de
ampliar e aprofundar o conhecimento em arquitectura, nesta área específica, pela
necessidade de estudar e conhecer o património e a história dos espaços produzidos
e habitados pelo homem.
Pretende-se investigar e reflectir sobre o que é a reabilitação enquanto
ferramenta social, cultural, de memória e história, não apenas no património
classificado, mas de todos os lugares em que o processo de abandono provocou a
perda das suas qualidades físicas e arquitectónicas. Ao mesmo tempo, importa
estudar o tema enquanto especialidade disciplinar, instrumental e profissional,
adquirindo os princípios fundamentais a seguir, e perceber como deve o arquitecto
intervir perante esta realidade, ou seja, construir no espaço construído.
Enquanto instrumento que constrói memória e história no território ao longo
dos tempos, a reabilitação implica reflectir e responder a algumas questões antes e
aquando de uma intervenção no território. Quais as oportunidades para estes lugares
esquecidos, abandonados? Qual o futuro para estes espaços? Que reflexões deve o
arquitecto fazer? Que instrumentos estão à disposição do arquitecto? Que
ferramentas deve usar? Quais as limitações na intervenção? Quais as consequências
da actuação no construído, a partir das potencialidades e capacidades existentes?
O propósito do estado da arte é a sólida fundamentação da investigação. Para
a sua elaboração, é necessário o recurso a documentos de referência sobre a
reabilitação e as disciplinas a ela associadas. O tema tem sido muito estudado ao
longo dos tempos e, acompanhando a evolução do conceito de património, tornou-se
numa preocupação e interesse da sociedade actual. Deste estudo contínuo no tempo
resultam inúmeros documentos e projectos, seleccionando-se alguns dos mais
relevantes para esta dissertação.
Os livros Da Organização do Espaço, de Fernando Távora, Genius Loci,
Towards a Phenomenology of Architecture de Norberg-Schulz, Arquitectura Popular
em Portugal, da Associação dos Arquitectos Portugueses e o Arquitectura Popular
Portuguesa de Mário Moutino, são publicações fundamentais para a sustentação e
construção teórica sobre a arquitectura e o lugar.
A reabilitação, sempre associada à recuperação e ao restauro de património
classificado, é um tema estudado. As Cartas e Convenções internacionais na área do
18
restauro, o livro Teoría de la Restauración de Cesare Brandi, e o livro Metamorfosis
de Monumentos y Teorias de la Restauración de Antón Capitel, são exemplares
importantes na teoria do restauro. Construir no Tempo e Territórios Reabilitados, são
duas publicações de Fátima Fernandes e Michele Cannatà, referências importantes
na apologia de que a reabilitação não se limita ao património classificado.
A Reconversão de um Moinho, da autoria do arquitecto José Gigante, e a
Reabilitação e ampliação da Adega Casa da Torre, da autoria do arquitecto Carlos
Castanheira, ambos projectos de reabilitação, são referências de actuação em
contextos preexistentes. A Construção da Adega Mayor, projecto da autoria do
arquitecto Álvaro Siza Vieira, é objecto de estudo como referência dos novos padrões
de qualidade e necessidade relativa à especificidade do programa.
A Associação para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade
Católica (AESBUC), assim como a Sogrape Vinhos, são importantes contributos para
a investigação programática. Para a compreensão e interpretação do território de
Chaves, na descrição física, histórica e cultural do concelho, recorre-se a informações
recolhidas no sítio da internet da Câmara Municipal de Chaves.
O processo metodológico para a elaboração deste trabalho, apoia-se numa
investigação teórica e prática.
A investigação passa pela interpretação, análise e síntese dos dados teóricos
referentes à reabilitação, recolhidos em bibliografia como livros, documentos oficiais
para a identificação e preservação do património, de publicações periódicas e fontes
informáticas. As bibliotecas universitárias, municipais e nacionais, são os recursos a
usar para esta recolha bibliográfica, assim como o uso da internet.
Recorre-se também à análise e síntese de três casos de referência, dois de
reabilitação e um de raiz, permitindo assim que se identifiquem os diferentes tipos de
actuação. É junto dos gabinetes e dos seus autores que se procura obter informações
referentes aos estudos e projectos seleccionados para a análise, para além das
informações recolhidas nas suas publicações.
Na Câmara Municipal de Chaves procurou-se obter cartografia actual, factos
históricos, regionais e locais tais como registos gráficos e fotográficos.
19
Esta investigação assenta numa estrutura que procura criar um percurso
coerente, de articulação e relação das disciplinas abordadas, para responder aos
objectivos propostos para o tema, organizando-se em quatro etapas correlacionadas.
Numa primeira etapa, abordar-se-ão os valores essenciais da arquitectura e a
sua importância na organização do espaço, em constante relação com o lugar. A
construção popular será também abordada, com o objectivo de estudar a arquitectura
de cariz marcadamente regional e local.
A temática da reabilitação é a segunda fase da análise, como aproximação e
sistematização dos conceitos, das regras e instrumentos disciplinares à disposição do
arquitecto na sua actuação.
A terceira etapa assenta na observação e comparação pormenorizada dos
casos de referência, sendo esta a primeira aproximação e compreensão da
experimentação prática, reflectindo sobre a investigação teórica.
A componente prática da investigação, um estudo e projecto de reabilitação e
ampliação de uma adega preexistente, antecedida por uma breve introdução sobre o
programa, o território e o sítio a intervir, é a quarta etapa.
A última fase é a conclusão, onde se procura responder a todas as questões
necessárias para compreender o acto de reabilitar, enunciadas nos objectivos da
introdução, e expressas nas premissas do caso prático.
II_ Arquitectura
23
O capítulo que se inicia, aborda o tema da arquitectura e qual a sua
importância, baseando-se no estudo das suas dimensões e dos seus propósitos. O
lugar, como suporte da arquitectura, é também objecto de estudo, percorrendo a
definição de lugar natural e construído. A finalizar o capítulo, estuda-se a arquitectura
popular como exemplo da essência da arquitectura, nomeadamente a de produção, e
também como base de conhecimento arquitectónico do lugar objecto de estudo.
24
1. Arquitectura condicionada pela circunstância territorial. Capela Netos. Figueira da Foz. Arquitecto Pedro Maurício Borges.
2. Tempos diferentes da arquitectura. Edifício Habitacional. Vila do Conde. Arquitecto José Cadilhe.
25
II.1_ Dimensões e propósitos
“Arquitectura (tè), (latim architectura, -ae) s. f. Arte de projectar e construir
edifícios; Contextura; (Figurado) Forma, estrutura.”1
Embora com a consciência de que esta definição de arquitectura seja
elementar e redutora, é-lhe reconhecida alguma verdade, reafirmada e completada
pela definição de arquitectura de Eugène Viollet-le-Duc, que defende que “A
arquitectura é a arte de construir. Compõe-se de duas partes: teoria e prática. A
prática é a construção efectiva, a teoria é o conjunto das regras derivadas da
Tradição, das Técnicas, da Ciência, da Sociedade e da História.”2
Ainda que estas definições sejam o ponto de partida para uma pequena
reflexão sobre o que é a arquitectura, e suas dimensões e propósitos, tem-se como
base teórica, os pensamentos do arquitecto Fernando Távora, expressos no livro Da
Organização do Espaço.
A arquitectura, enquanto construção que organiza o espaço – e por espaço
pode entender-se a forma, o uso, o tempo, a sua proporção e a sua materialização, o
ambiente expresso nas cidades, nas praças e nas ruas, nas construções – é
intervenção no território em resposta às necessidades da sociedade. No entanto, no
decorrer de todo o processo de ordenamento, é condicionada pela circunstância do
território (ilustração 1), e por circunstância podem entender-se os factores naturais,
sociais e culturais que dele fazem parte. O ambiente, a edificação, os costumes e os
usos, entre muitos outros, são elementos presentes na sociedade e no seu meio, são
condicionantes e ao mesmo tempo geradores de arquitectura.
O tempo é um factor importante, constante e inseparável da participação na
construção do espaço, do lugar. Neste sentido, podem considerar-se “dois tipos de
participação na organização do espaço; uma organização a que chamaremos
horizontal, que se realiza por homens de uma mesma época, uma outra a que
chamaremos vertical que se realiza entre homens de épocas diferentes”3 (ilustração
2). Assim, pode dizer-se que a arquitectura vive no tempo, e com o tempo se
1 Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – “Arquitectura”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011].
Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/> 2 RODRIGUES, Maria – O que é Arquitectura. s/l: Quimera Editores, 2002. p. 13.
3 TAVORA, Fernando – Da Organização do Espaço. 6ª ed. Porto: FAUP Publicações, 1962. p. 20.
26
3. Geometria na procura da implantação no lugar. Piscina das Marés. Matosinhos. Arquitecto Álvaro Siza Vieira.
27
transforma como resposta às diferentes situações. Deste modo, constrói a história do
lugar e das sociedades.
A continuidade do espaço – no tempo – é uma característica que deve estar
presente na organização do espaço, para que este seja coerente e equilibrado. Esta
permanência temporal do espaço, pressupõe também a existência de uma
irreversibilidade, uma vez que o que já foi não mais poderá voltar a ser, porque
mudou toda a circunstância urbana e humana para sempre.4
Esta organização do espaço, regulada pelo contexto do lugar e do homem –
no tempo –, tornar-se-á também circunstância, ou seja, será também condicionante
no território. Então, a permanente relação e participação activa do homem na
organização do espaço, faz com que a arquitectura seja também um reflexo político,
económico, social e cultural da sociedade, em que o passado, o presente e o futuro
fazem parte da sua história, podendo assim afirmar-se que “a sociedade é geradora
de arquitectura.”5
A forma é a representação da ordenação do espaço, que através da ordem
geométrica (ilustração 3), consegue estabelecer a estrutura e a materialização que
responde às necessidades da sociedade e do território. Neste sentido, podemos dizer
que “ (…) – vivendo – o homem organiza o espaço que o cerca, criando formas, umas
aparentemente estáticas, outras claramente dinâmicas.”6 Enquanto geometria,
estrutura, superfície, matéria, espaço e estética, a forma é a materialização e
composição do espaço, é o elemento que expressa as relações básicas entre o
homem e o seu contexto. Assim sendo, pode dizer-se que “a arquitectura é
geometrizar”7, e a forma é a sua característica estrutural, funcional e formal que, para
além de todas as circunstâncias sociais e territoriais, obedece a questões
programáticas, técnicas e estéticas.
O programa, enquanto orientador de funcionalidade e utilidade do espaço, é
essencial para a sua organização, pois estabelece regras, condições e proporções
para responder aos propósitos do uso. Uma casa, um restaurante, uma biblioteca,
uma igreja, um hospital ou uma fábrica, são exemplos de usos com significações e
sensações diferentes, influenciando deste modo a forma arquitectónica.
A escala é a dimensão real do espaço natural e construído, sendo o homem a
sua principal medida de referência, enquanto produtor e utilizador da arquitectura. A
4 TAVORA, Fernando – Da Organização do Espaço. 6ª ed. Porto: FAUP Publicações, 1962. p. 19.
5 RODRIGUES, Maria – O que é Arquitectura. s/l: Quimera Editores, 2002. p. 33.
6 TAVORA, Fernando – Da Organização do Espaço. 6ª ed. Porto: FAUP Publicações, 1962. p. 14.
7 GIANGREGORIO, Guido – Álvaro Siza, Imaginar a evidência. 2ª ed. Lisboa: Edições 70, 2009. p. 27.
28
4. Le Modulor. Arquitecto Le Corbusier.
5. Luz. Casa Ferreira da Costa. Matosinhos. Arquitecto Álvaro Siza Vieira.
29
proporção é o que impõe a relação entre as dimensões do homem e a forma,
definindo deste modo uma relação em harmonia, qualificada e equilibrada com toda a
circunstância. O le modulor (ilustração 4), estudo desenvolvido pelo arquitecto Le
Corbusier, é o arquétipo da importância desta investigação e relação da escala da
arquitectura com o homem.
Enquanto elemento valorativo, revelador e modelador da arquitectura, a luz,
para além de responder à necessidade primária de iluminação, tem a capacidade de
organizar diferentes espaços (ilustração 5), recorrendo à intensidade, à
transparência, aos contrastes e aos reflexos, permitindo a continuidade e a divisão
dos espaços, possibilitando assim a sua identificação, estimulando emoções e
sensações. Detém tal importância na definição da forma na arquitectura que Le
Corbusier define que “a arquitectura é o jogo sábio, correcto e magnifico dos volumes
reunidos sob a luz.”8
Então, pode dizer-se que a forma não é totalmente livre, mas sim guiada pela
percepção e interpretação do arquitecto perante todas as condicionantes – territoriais,
sociais, culturais, programáticas, técnicas e criativas – com o propósito de gerar e
organizar espaços com qualidade e originalidade, espaços onde o homem habite e
com os quais se identifique. É o jogo compositivo, organizativo e geométrico,
associado a intenções artísticas e plásticas, que distingue a arquitectura da simples
construção, sem esquecer as preocupações práticas e programáticas da sociedade.9
Após esta exposição sobre as dimensões e os propósitos da arquitectura,
pode dizer-se que esta, enquanto acto com a ambição de organizar e ordenar o
espaço, está ao serviço do homem, das suas necessidades e vontades, e para tal
deve ser estável, utilitária e bela, em equilíbrio com a sua circunstância, assim como
defendia Marco Vitruvio Polião (século I a.C), ao referir-se ao Firmitas, Utilitas,
Venustas,10
como atributos indissociáveis à arquitectura.
8 LE CORBUSIER – Hacia una arquitectura. 2ª ed. Barcelona: Ediciones Apóstofre, S.L, 1998. p. 16.
Tradução livre: “La arquitectura es el juego sabio, correcto y magnífico de los volúmenes reunidos bajo la luz.” 9 COSTA, Lúcio – O que é arquitectura. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em:
<http://www.iabsp.org.br/oqueearquitetura.asp> 10
DIAS, Manuel Graça – “ É porque queremos continuar ” in FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2009. p. 17.
30
6. Entre o céu e a terra.
31
II.2_ Lugar
“Lugar s. m. Espaço ocupado ou que pode ser ocupado por um corpo; Ponto
(em que está alguém); Localidade; Pequena povoação; Trecho, passo (de livro);
Posto, emprego; Dignidade; Profissão; Ocasião; Vez; Azo; Dever, obrigação;
Situação, circunstâncias; Posto de venda; em primeiro lugar: antes de tudo, antes
de mais nada; lugar geométrico: linha cujos pontos satisfazem às condições
exigidas.”11
O conceito de lugar é amplo, bastante abrangente e complexo na sua
definição teórica. Pretende-se estreitar essa abrangência à especificidade da
arquitectura, enquanto espaço físico organizado e humanizado, e da antropologia,
enquanto estudo da relação entre o homem e o espaço. Neste sentido, recorre-se
essencialmente às ideias do arquitecto, historiador e investigador Christian Norberg-
Schulz e do etnólogo Marc Augé, que abordaram profundamente o tema.
O lugar, enquanto território encontra-se entre o céu e a terra (ilustração 6),
onde o homem habita, se move e se relaciona.12
No seu dia-a-dia “consiste em
pessoas, em animais, em flores, em árvores e florestas, em pedras, em terra, em
madeira e em água, em cidades, em ruas e em casas, em portas, em janelas e em
móveis. E consiste em sol, lua e estrelas, em nuvens passando de dia e noite, de
mudanças de estação. Mas inclui também fenómenos mais intangíveis, tais como
sentimentos.”13
Neste sentido, pode-se depreender que o lugar, enquanto ambiente
físico, é formado por diversos elementos de carácter natural e construído
directamente relacionado com a sociedade e os seus modos de vida. É aqui que a
antropologia se define, isto é, na relação do homem com o sítio ao nível social,
cultural e político, definindo os factores sentimentais representativos do indivíduo –
enquanto ser inteligente, emocional – e relacionando-os com as características do
local. Deste modo, pode dizer-se que todos os lugares “querem-se (querem-nos)
11
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – “Lugar”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/> 12
NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 23. 13
Idem, ibidem. p.6. Tradução livre: “Our everyday life-world consists of concrete "phenomena". It consists of people, of animals, of flowers, trees and forests, of stone, earth, wood and water, of towns, streets and houses, doors, windows and furniture. And it consists of sun, moon and stars, of drifting clouds, of night and day and changing seasons. But it also comprises more intangible phenomena such as feelings.”
32
7. Orientação do homem no espaço.
8. Carácter urbano. 9. Carácter rural.
33
identitários, relacionais e históricos.”14
A estrutura e o genius loci são os factores que Norberg-Schulz15
propõe que
se estude, para um melhor entendimento do fenómeno do lugar. Neste sentido, para
o entendimento da sua estrutura, é necessário perceber o espaço organizado e
desorganizado e o seu carácter.
Enquanto elemento fundamental da arquitectura, o espaço é um lugar
organizado geometricamente por construções e formas, condicionado por diferentes
circunstâncias físicas e humanas. Assim sendo, o homem deve saber orientar-se e
identificar-se com o espaço e o seu ambiente. O “(…) “nó”,(“marco ”), “caminho”,
“limite” e “região”, (…)”16
são elementos caracterizadores do sítio e do quotidiano
humano, referidos por Kevin Lynch – urbanista e investigador – como factores
importantes para a relação e orientação do homem no espaço (ilustração 7). É esta
analogia que define o lugar antropológico de Marc Augé17
, essencialmente
geométrico, pois associa a linha ao percurso do homem, a intersecção das linhas aos
seus cruzamentos e o ponto de intersecção às praças de convívio da sociedade.
O carácter é também um factor que, em paralelo com o espaço, define o lugar.
Entendido como atmosfera e ambiente que abrange todo e qualquer local, o carácter
é constituído e construído pela imagem formal e pelo entendimento e conhecimento
do sítio. Deste modo, pode dizer-se que cada sítio tem um carácter individual
(ilustração 8 e 9). “A habitação tem que ser “protectora”, um escritório “prático”, um
salão de baile “festivo” e uma igreja “solene". (…) As paisagens também possuem
propriedades, algumas das quais são de um determinado tipo “natural”. Assim,
falamos de paisagens “estéreis” e “férteis”, “sorridentes” e “ameaçadoras”.”18
Em suma, a estrutura do lugar é a relação entre os lugares naturais e
construídos, conseguida pelos elementos espaço e carácter. É uma relação
conquistada por três níveis, segundo Norberg-Schulz. Em primeiro, o homem constrói
o que viu, ou seja, o que conhece da sua experiência. Em segundo, procura perceber
14
AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: Editora 90º. 1992. p. 47. 15
NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 6 a 23. 16
LYNCH, Kevin, cit in NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p.12. Tradução livre: “(…) "node" ("landmark"), "path", "edge" and "district", (…)”. 17
AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: Editora 90º. 1992. p. 50. 18
NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 14. Tradução livre: “A dwelling has to be "protective", an office "practical", a ball-room "festive" and a church "solemn" (...) Landscapes also possess character, some of which are of a particular "natural" kind. Thus we talk about "barren" and "fertile", "smiling" and "threatening" landscapes.”
34
10. Inverno nórdico.
35
quais as carências do lugar e completa-o, como resposta às suas necessidades. Por
fim, procura simbolizar o seu conhecimento do sítio, e de si próprio.
Ainda segundo Norberg-Schulz, o genius loci é um termo latino relacionado
com o espírito do lugar, fundamental para perceber as suas relações naturais com o
homem. Entende-se pelo carácter das suas paisagens e ambientes, pela imagem que
o identifica e expressa os modos de vida do indivíduo. Habitar, isto é, viver, povoar,
estar presente num espaço, é a base da relação do homem com o lugar e pressupõe
a sua identificação. Neste sentido, do mesmo modo que a sociedade imprime
carácter ao sítio quando o organiza, este, com o seu espírito, também molda a sua
identidade.
O carácter – abordado anteriormente – e a identificação do lugar, são os
conceitos necessários para o entendimento do seu espírito.
Por identificação, compreende-se que o homem deve entender-se com as
suas circunstâncias e adquiri-las como expressões únicas do lugar, assim como “o
homem nórdico tem que ser amigo do nevoeiro, do gelo e dos ventos frios; ele tem
que desfrutar do som da neve rangendo sob os pés quando anda, ele tem de
experimentar o valor poético de estar imerso de nevoeiro (…) ”19
(ilustração 10).
A história da sociedade, ao longo dos tempos, é também elemento de
identificação e relação com o espaço, e exemplo disso é que “se tivéssemos de fazer
a exegese de todos os nomes de rua de uma metrópole como Paris, seria toda a
história de França que teríamos que reescrever”20
. Então, o genius loci é entender e
adquirir os seus valores físicos, sociais e culturais, como identidade ou imagem que
representa o seu carácter único.
“Se um lugar se pode definir como identitário, relacional e histórico, um espaço
que não pode definir-se nem como identitário, nem como relacional, nem como
histórico, definirá um não-lugar.”21
No sentido antropológico, que estuda a relação da
sociedade com o lugar, este só existe quando existe uma relação de convívio entre
os dois, assim sendo, os espaços que respondem puramente à necessidade de
locomoção e transição, como estações de metro, aeroportos, auto-estradas, sem
carácter identitário ou histórico, são não-lugares. No entanto, embora a arquitectura
19
NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 21. Tradução livre: “Nordic man has to be friend with fog, ice and cold winds; he has to enjoy the creaking sound of snow under the feet when he walks around, he has to experience the poetical value of being immersed in fog ( …)” 20
AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: Editora 90º. 1992. p. 60. 21
Idem, ibidem. p. 67.
36
11. Alentejo.
12. Douro.
37
tenha como referência o homem, e seja necessária a sua relação e identificação com
o lugar os não-lugares – definidos por Marc Augé – enquanto espaços geométricos,
estão sempre presentes e são necessários, devendo manter-se apenas como
complemento da vida da sociedade.
Norberg-Schulz diz que o espaço natural e construído são dois fenómenos
que, por meio das suas estruturas e do seu genius loci, permitem um melhor
entendimento do lugar. Com este propósito, é necessário estudar separadamente
estes dois fenómenos, distintos e ao mesmo tempo inter-relacionados.
II.2.1_ Lugar natural
Adoptando o pensamento de Norberg-Schulz22
, a compreensão do espaço
natural, como fenómeno do lugar, deve partir da experiência dos sentidos e da
compreensão das diferentes realidades, que pode ser feita por diferentes elementos,
que passam pela experiência imediata, a orientação solar, a estrutura e a escala, a
topografia, a luz e o tempo.
A experiência primitiva, sensorial, é o meio para chegar a esse entendimento e
conhecimento da natureza que influencia directamente a vida do homem, onde este
adquire objectos de orientação e identificação que permitem o reconhecimento do
lugar. A orientação solar é um dos momentos de grande importância, associada a
diferentes qualidades e significados relacionados com o universo, assumindo assim
os pontos cardeais enorme importância para o homem. Exemplo disso é que “no
antigo Egipto, a leste, a direcção do sol nascente foi associada ao nascimento e à
vida, enquanto a oeste foi associada à morte.”23
A estrutura geográfica e topográfica (ilustração 11 e 12), mais regular ou
irregular, imprime um carácter individual a cada sítio, promovendo deste modo a sua
identificação e uma orientação precisa na vivência do lugar pelo homem. Micro,
macro e média são as diferentes escalas da estrutura que cada sítio pode assumir.
Por um lado, a microestrutura é excessivamente pequena para o homem habitar, por
outro a macroestrutura é excessivamente grande, onde o indivíduo pode sentir-se
22
NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 23 a 48. 23
Idem, Ibidem. p. 28. Tradução livre: “In ancient Egypt, thus, the east, the direction of the sun's rising, was the domain of birth and life, whereas the west was the domain of death.”
38
13. Régates à Argenteuil, 1872. Cloude Monet.
39
perdido, sem elementos capazes de o orientar e situar. Neste sentido, para habitar
em harmonia com o lugar natural, é necessária uma estrutura com uma escala
humana capaz de servir os seus interesses. “A estrutura pode ser descrita em termos
de nós, caminhos e domínios, ou seja, elementos que "centralizem" o espaço, como
montes isolados e montanhas ou bacias circunscritas, elementos que orientem o
espaço, como vales, rios e barrancos, e os elementos que definem um padrão
espacial estendido, como um conjunto relativamente uniforme de campos ou
colinas.”24
Constituído por diferentes escalas, desde os continentes e países, até aos
mais pequenos lugares, todos têm propriedades e carácteres específicos definidos
pelas condições topográficas, e pela sua vegetação.
A luz é também um valor presente no espaço, característica indissociável do
lugar natural pela sua constante variação ao longo do dia, numa determinada estação
do ano, conforme as características geográficas e morfológicas. É por este motivo,
também, um modo de compreender a realidade, tendo esta, enorme importância ao
longo das épocas e civilizações. “Na civilização grega, (…), a luz era entendida como
um símbolo do conhecimento artístico, bem como intelectual, (…). No Cristianismo, a
luz tornou-se um "elemento" de importância primordial (…)”25
.O tempo está
directamente relacionado com o elemento luz, e é igualmente importante na
compreensão do sítio natural, como notam os pintores do impressionismo do final no
século XIX que defendiam a luz e o seu tempo, como elementos fundamentais para
captar cada momento (ilustração 13).
Compreende-se, então, que a estrutura, a escala, a luz, são factores
importantes que caracterizam o lugar natural, e definem o seu genius loci, capaz de
transmitir sensações e impressões – medo, alegria, entre outros sentimentos – pelas
variações do relevo, da cor e da textura, da terra, da água, da vegetação e de todos
os elementos inerentes ao espaço natural.
24
NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 32. Tradução livre: “The structure may be described in terms of nodes, paths and domains, that is, elements which "centralize" space such as isolated hills and mountains or circumscribed basins, elements which direct space such as valleys, rivers and wadis, and elements which define an extended spatial pattern, such as a relatively uniform cluster of fields or hills.” 25
Idem, Ibidem. p. 31. Tradução livre: “In Greek civilization, (…), light was understood as a symbol of knowledge, artistic as well as intellectual, (…). In Christianity light became an "element" of prime importance (…)”
40
14. Lugar construído. Nova Iorque, EUA.
41
II.2.2_ Lugar Construído
Ainda apoiado essencialmente nas reflexões de Norberg-Schulz26
, o lugar
construído (ilustração 14) deve partir da compreensão do espaço natural. Deste
modo, traduz os seus significados e estrutura na arquitectura, por meio da
visualização, complementação e simbolização.
O primeiro acto de construção é a representação das coisas naturais por
meios artificiais. A arquitectura mediterrânica é exemplo desta materialização, usando
grandes blocos de pedra que representam a solidez e a permanência das montanhas,
fortemente representada pela arquitectura egípcia, através da construção das
pirâmides.27
Enquanto base existencial do homem, a arquitectura é também representação
do seu carácter – parte integrante da natureza – e, por isso, pressupõe uma
linguagem e imagem formal simbólica que depende da procura de uma ordem e
articulação espacial com o lugar natural. O tempo, a forma, a luz, a escala e a
proporção são também arquitectura, elementos caracterizadores do espaço
construído, que representam e simbolizam a relação do homem com a natureza.
Com este sentido, os aglomerados populacionais, constituídos por
construções de carácter individual, como as habitações urbanas ou rurais, ou de
carácter colectivo, como museus, teatros, igrejas, entre outros, são todos lugares
artificiais, construídos pelo homem que procuram um entendimento e relacionamento
harmonioso com o espaço natural. Estas construções artificiais têm genius loci
próprios, fortemente enraizadas e evidenciadas nos sítios em que estão inseridas,
quando falamos de arquitectura popular, mas na arquitectura contemporânea é uma
compreensão de diversos interesses, podendo por vezes aplicar-se a diferentes
locais. “O genius loci construído depende de como esses lugares são, em termos de
espaço e carácter, isto é, em termos de organização e articulação.”28
Do mesmo modo que no espaço natural existe uma hierarquização de
diferentes espaços e escalas, no construído essa variação ou diversificação também
26
NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 50 a 78. 27
Idem, ibidem. p. 51. 28
Idem, ibidem. p.69. Tradução livre: “The man-made genius loci depends on how these places are in terms of space and character, that is, in terms of organization and articulation.”
42
15. Quotidiano urbano.
43
existe, percorrendo desde as cidades, as vilas, as aldeias, as habitações, até às
escalas interiores. É o limite que separa os espaços construídos e não construídos, o
interior e o exterior, que determinam a qualidade espacial do lugar construído e a sua
relação com o natural. Este limite ou fronteira pode ser mais fechado ou aberto,
reagindo de forma diferente na relação do interior com o exterior, assumindo-se como
importante e estruturante na arquitectura. As paredes funcionam como elemento de
fronteira entre o construído e o natural, e as aberturas para o lugar natural são os
factores preponderantes e estruturantes para a relação entres ambos. No entanto, o
espaço edificado é mais do que as relações entre o interior e o exterior. É também
determinado pelo modo como se caracteriza, como faz parte da cidade, como a
representa e permite a identificação e referenciação do homem. “O plano da casa, as
regras da residência, os quarteirões da aldeia, os altares, as praças públicas, o
recorte do território, correspondem para cada um a um conjunto de possibilidades, de
prescrições e de interditos cujo conteúdo é ao mesmo tempo espacial e social.”29
Anteriormente, foram referidas as diferentes escalas dos lugares construídos,
e todos estes lugares têm sub-lugares como ruas, bairros, habitações, entre outras
construções. Todos são interiores urbanos ou interiores de construções aos quais
Leon Battista Alberti – arquitecto renascentista, filósofo de arquitectura e urbanismo e
teórico de arte – chama de small city 30
, definidos pelas finalidades distintas das
edificações. Neste sentido, “na realidade concreta do mundo de hoje, os lugares e os
espaços, os lugares e não-lugares, emaranham-se, interprenetram-se”31
, e tornam-se
características dos diferentes espaços e escalas do lugar construído, reflexo da
compressão do lugar natural feito pelo homem e pela sociedade, e a expressão do
seu modo de viver e habitar (ilustração 15) que os distinguem, e permitem que se
interliguem.
29
AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: Editora 90º. 1992. p. 47. 30
ALBERTI, Leon Battista. cit in NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 58. 31
AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: Editora 90º. 1992. p. 90.
44
16. Ilustração da página de rosto do livro “Essai sur 17. Relevo do território português. l’Architecture” do abade Marc-Antoine Laugier, 1753.
45
II.3_ Arquitectura popular e vernacular
Desde que o homem sentiu a necessidade de abrigo, surgiu a arquitectura
(ilustração 16), e esta tem vindo a acompanhar a evolução do homem.
A sua história evidencia essa evolução e transformação, relatando os
diferentes períodos pelos quais a arquitectura passou, classificando-os em diferentes
estilos, mas de um modo geral existem dois tipos de arquitectura: a popular e
vernacular e a erudita.
Pretende-se com esta reflexão fazer uma aproximação à arquitectura popular
portuguesa – caso de estudo – e perceber o que a distingue de toda a outra
arquitectura.
Analisado por diferentes factores – tais como o relevo, o clima, as formas de
povoamento, os tipos de construção, os materiais e as cores predominantes –
Portugal continental é dividido em quatro regiões – Norte, Centro Litoral, Alentejo e
Algarve – as quais estão associadas a um tipo de arquitectura.32
No entanto, a
divisão mais evidente e clara do território é entre o litoral e o interior, pelo seu
afastamento e desenvolvimento económico, político, social e cultural, resultado do
seu relevo (ilustração 17). Pode-se, assim, dizer que existe um país que se divide em
duas realidades, afastadas por um desenvolvimento e crescimento assimétrico.
Por um lado, observamos o litoral, em que as condições naturais – o solo, o
clima, o relevo e a vegetação – são mais regulares, equilibradas, sem grandes
diferenças abruptas, favorecendo deste modo uma maior fixação da população, e por
consequência um maior desenvolvimento e crescimento, com acessibilidade ao
exterior pelo mar. Por outro lado, a existência do interior que se contrapõe ao litoral,
também pelas suas características naturais – território com um relevo marcado por
retalhos de planaltos, conjuntos elevados, depressões – diversificadas e bastante
irregulares. O clima, aqui, é também mais específico, com mais e maiores
acentuações e variações entre as diferentes estações do ano. Todas estas
particularidades propiciam um maior afastamento e isolamento relativamente ao
litoral.33
32
MOUTINHO, Mário – Arquitectura Popular Portuguesa. 3ª ed. s/l: Editorial Estampa, 1975. p. 37. 33
ARROTEIA, Jorge - “Introdução” In MOUTINHO, Mário – Arquitectura Popular Portuguesa. 3ª ed. s/l: Editorial Estampa, 1975. p. 37.
46
18. Quotidiano rural.
47
Embora as características naturais do território sejam um factor importante
para perceber a irregular distribuição da população no país, estas não são os únicos
factores. Neste contexto assimétrico, a ocupação por diferentes civilizações,
consoante as suas necessidades, e a facilidade na comunicação e no transporte
marítimo, promoveram e concorreram para o desenvolvimento estratégico,
económico e social do litoral. No entanto, estas condicionantes não são sinónimo
nem significam a existência de arquitectura popular apenas no interior do país. Esta
arquitectura existe por todo o território, com a particularidade de reflectir as
circunstâncias de cada lugar, as necessidades e costumes do homem, e acusando a
distância e acesso aos centros urbanos.
Então, para estudar e entender a arquitectura popular, é necessário perceber
– além da desigual distribuição dos povoamentos, do seu isolamento e
desenvolvimento – o ambiente natural do lugar e a sua população, como vivem e do
que vivem. Desta forma, pode-se dizer que a arquitectura popular vive do lugar e do
homem que a ele pertence.
Do lugar, porque aceita com humildade a sua natureza, cede aos seus
imperativos e deixa-se guiar pela formação e condição do território. É, também do
lugar, determinada pelo afastamento e isolamento, que não lhe permite acesso a
recursos técnicos e materiais para lá do seu mundo. A estes, contrapõe-se a verdade
e rusticidade dos materiais encontrados e retirados do sítio – pedra, madeira, colmo –
e a técnica e mão-de-obra local, desenvolvida e aperfeiçoada pelo homem ao longo
dos tempos. Este respeito perante a natureza cria uma arquitectura que nasce
equilibrada e integrada, com carácter permanente na paisagem.
Do homem, porque reflecte fielmente o seu carácter utilitário, como resposta
às suas necessidades e hábitos (ilustração 18). Sem desenho prévio, e construídas
por fases, representam as gentes e os seus modos de vida, a sua economia local de
auto-subsistência. Neste sentido, a criação de gado, a produção agrícola e vitivinícola
são as suas principais actividades de produção, e por consequência as principais
influências desta arquitectura vernacular, que são evidentes até nas geometrias
usadas, com bases circulares, quadrangulares e rectangulares, que muitas vezes
cediam aos imperativos da natureza.
Resumindo, esta arquitectura que é definida pelo lugar e pelo homem, é então
uma questão de factores naturais e humanos, económico-sociais e etno-históricos,
convertendo-se num indicador cultural da população de uma dada aldeia e de uma
48
19. Casa minhota. 20. Planta da casa minhota.
21. Casa serrana. 22. Planta da casa serrana.
23. Igreja em Piódão. Arganil.
49
região.34
Exemplo desta evidência é a divisão do país por diferentes regiões
arquitectónicas, em que cada uma expressa as suas características naturais e
humanas. Neste sentido, é também importante compreender a relação entre os
lugares, os modos de vida da população e a arquitectura vernacular.
Aproximando à região Norte, área objecto de estudo, podem encontrar-se
povoamentos dispersos ou aglomerados, servidos por arruamentos geralmente
estreitos e entalhados directamente no solo, acusando os percursos que lhes eram
mais convenientes. São povoamentos com construções de diferentes tipos,
relacionados com a produção e com a habitação que por vezes se fundem numa só,
e ainda as edificações religiosas.35
As casas minhota (ilustração 19 e 20) e serrana (ilustração 21 e 22) são as
mais frequentes na região norte, e embora apresentem características diferentes, na
generalidade predomina uma organização semelhante. No piso térreo encontram-se
todos os compartimentos relacionados com a produção e criação animal, e no andar
os de habitação. A cozinha, os quartos e salas são os espaços de habitação. Nas
produções podem encontrar-se as cortes, os currais, as pocilgas, as arrumações, as
adegas e lagares. Separados das habitações, podem encontrar-se ainda os
sequeiros, os espigueiros, as eiras, os abrigos, as azenhas, os moinhos e os fornos.
Estes espaços de produção encontram-se geralmente dispostos em volta de um
pátio, e muitas vezes têm um carácter de uso colectivo, evidenciando a importância
da coesão social presente nestas populações. Evidenciando o carácter religioso,
encontram-se capelas ou igrejas junto das povoações, que muitas vezes eram
mandadas construir pela própria população.36
O conhecimento, a globalização e a internacionalização atravessaram as
fronteiras do isolamento e influenciaram a arquitectura, estando assim presentes, a
par da arquitectura popular, exemplos de arquitectura erudita, senhorial. Deste modo,
é-nos possível perceber o que as distingue. É uma arquitectura com raízes
económicas, sociais e culturais que tem como ponto de partida o uso do desenho, na
procura de uma organização do espaço equilibrada e qualificada, e ao mesmo tempo
com preocupações estéticas e estilísticas (ilustração 23). Esta, sobrepõe-se à
natureza pela elevação do domínio da técnica.
34
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, GALHANO, Fernando – Arquitectura tradicional portuguesa. 2ªed. Lisboa: Publicações Dom Quixote Lda, 1994. p. 17. 35
MOUTINHO, Mário – Arquitectura Popular Portuguesa. 3ª ed. s/l: Editorial Estampa, 1975. p. 41. 36
Idem, Ibidem. p. 41.
50
24. Casa de emigrante.
51
Por oposição à arquitectura popular, esta desprende-se do lugar e do homem,
servindo-se principalmente do conhecimento científico e artístico. No entanto, não
deixam de existir interferências e influências recíprocas entre as duas arquitecturas,
pois estes lugares resultam destes dois tipos de arquitectura.
Hoje, a evolução do homem e do seu conceito de habitar, organizados e
associados ao desenvolvimento técnico e tecnológico como “(…) a introdução da luz
eléctrica e a evolução da hidráulica determinaram a transformação dos hábitos de
higiene, assim como a exigência de fazer frente às péssimas condições de vida das
sociedades (…)”37
. Esta evolução com intuito de melhorar a qualidade de vida do
homem é imprescindível e essencial para a continuação destes lugares e destas
arquitecturas. “O comboio, o automóvel, o avião, transportam-nos em poucas horas a
terras longínquas, que se tornaram, assim, efectivamente, mais próximas e
acessíveis.”38
É a velocidade e facilidade de comunicação e de transporte, que
permite que o desenvolvimento e conhecimento dos materiais chegue aos lugares
mais longínquos. O problema é, quando mal usados – os novos materiais e as novas
técnicas – podem confundir as relações naturais do território, e causar perturbações
profundas nas arquitecturas preexistentes e nos lugares, descaracterizando-os e
empobrecendo-os.
A edificação de uma casa por um emigrante retornado (ilustração 24), que
procura afirmar o seu triunfo e a sua nova condição social trazendo influências do
país onde esteve e recorrendo aos materiais industrializados, e a consequente
reprodução por parte da vizinhança, revela-se um exemplo de como a facilidade de
comunicação e transporte se podem tornar numa ameaça para estes lugares e estas
arquitecturas.39
É necessária uma reflexão sobre a reabilitação do território, como
fonte de preservação da cultura, do lugar e da arquitectura, evitando assim a perda
do carácter e identidade das sociedades.
37
MILANO, Maria – Do habitar. Porto: Edições ESAD – Escola Superior de Artes e Design, Matosinhos, 2005. p. 13. 38
ANTUNES, Alfredo da Mata, et al – Arquitectura Popular em Portugal. Volume 1. 3ª ed. Lisboa: Associação dos Arquitectos Portugueses, 1988. p. 3. 39
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, GALHANO, Fernando – Arquitectura tradicional portuguesa. 2ªed. Lisboa: Publicações Dom Quixote Lda, 1994. p. 369.
III_ Princípios metodológicos para a reabilitação
Princípios, regras e ferramentas
55
Neste capítulo, pretende-se fazer um percurso pelos conceitos de património e
de reabilitação, com o objectivo de conhecer e entender a sua definição actual, e qual
o meio para a sua manutenção. Enquanto métodos de preservação, são também
estudados os conceitos de conservação e restauro. Neste sentido, são abordados os
mais importantes autores e doutrinas disciplinares sobre o tema. A finalizar, são
estudadas cartas e convenções de restauro, com o intuito de perceber a evolução da
protecção do património.
56
25. Fado. 26. Padrão dos Descobrimentos, 1940. Lisboa.
Arquitecto Cottinelli Telmo e escultores Leitão Barros e Leopoldo de Almeida.
57
III.1_ Património
“Património, nome masculino herança paterna; bens que se herdaram dos
pais ou avós; bens de família; zonas, edifícios e outros bens naturais ou materiais de
determinado país que são protegidos e valorizados pela sua importância cultural;
RELIGIÃO dote necessário para a ordenação de um eclesiástico; figurado riqueza;
(Do latim patrimonĭu-, «idem»).”40
Esta definição, embora reduzida, demonstra o quanto o conceito de património
tem uma interpretação e ambição bastante abrangente, embora, permaneça em
constante transformação. Pode ser entendido como tudo o que é de propriedade
privada, de herança familiar, e que é ao mesmo tempo parte integrante do património
cultural de pertença colectiva, representativo da história e memória da sociedade, que
aqui importa estudar. Neste sentido, o património pode ser um conjunto de bens
imateriais (ilustração 25) – incorpóreos, sem matéria, tais como costumes ou
tradições – e materiais (ilustração 26) – corpóreos, objectos isolados ou agregados,
como os monumentos, conjuntos ou sítios – assumindo registos dos tempos,
testemunho de diferentes épocas. É uma herança de identidade nacional e
civilizacional imbuída de uma mensagem do passado que perdura para as gerações
do presente e do futuro, que pode ser classificada ou não, mediante o
reconhecimento da sua importância com significação e referenciação colectiva.
O monumento, enquanto património classificado, reserva-se a todos os bens
de “interesse cultural relevante, designadamente histórico, paleontológico,
arqueológico, arquitectónico, linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico,
social, industrial ou técnico, dos bens que integram o património cultural reflectirá
valores de memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade, singularidade
ou exemplaridade.”41
É também todo o património natural, das áreas naturais de valor
excepcional do ponto de vista da ciência e beleza, constituídos por formações físicas,
biológicas e geológicas.
Aqui, importa desenvolver a noção de património material, físico, que se
relaciona directamente com a disciplina da arquitectura, isto é, de todos os bens
40
Enciclopédia e Dicionários Porto Editora – “Património”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/>. 41
Lei de Bases da Politica e do Regime de Protecção e Valorização do Património Cultural. In Diário da República Electrónico. [em linha]. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.dgarq.gov.pt/files/2008/10/107_2001.pdf>.
58
27. Vista do Porto.
59
construídos, classificados ou não, pois agora “(…) todas as formas da arte de edificar,
eruditas e populares, urbanas e rurais e todas as categorias de edifícios, públicos e
privados, sumptuários e utilitários, foram anexadas sob novas denominações:
arquitectura menor, (…) usada para designar as construções privadas não
monumentais (…); arquitectura vernacular, (…) usada para distinguir os edifícios
característicos dos diversos territórios; arquitectura industrial das fábricas, das
estações, dos altos-fornos (…)”42
, são património, contrapondo-se deste modo ao
conceito de património de outras épocas, anteriores ao final da Segunda Guerra
Mundial, que se limitava aos monumentos isolados de valor artístico excepcional,
esquecendo-se de todos os outros valores que fazem parte das cidades e das
sociedades. “Enfim, o domínio patrimonial deixou de estar limitado aos edifícios
individuais; ele compreende daqui em diante, os conjuntos edificados e o tecido
urbano: quarteirões e bairros urbanos, aldeias, cidades inteiras e mesmo conjuntos
de cidades (3), como demonstra «a lista» do Património Mundial estabelecida pela
UNESCO.”43
Hoje, neste sentido, todo o património construído necessário para o homem se
mover, viver e conviver, faz parte do crescimento social, da memória e da história
(ilustração 27), sendo importante não só pela sua qualidade artística, técnica e
singularidade, mas também pela sua importância no bem-estar da sociedade, como
seu reflexo, identificador e caracterizador colectivo.
III.2_ Reabilitação
“Reabilitar, (re- + habilitar). v. tr. Restituir direitos e prerrogativas (que se
tinham perdido por sentença judicial); Declarar que o sentenciado está inocente;
Ajudar à reinserção social de: Reabilitar um toxicómano; Reparar, renovar (um
imóvel, um bairro antigo); Restituir a estima pública, regenerar moralmente; v. pron.
Ser Reabilitado; Regenerar-se.”44
Esta definição de reabilitar demonstra o carácter geral que este termo tem. No
entanto, interessa-nos a sua particular aproximação à disciplina da arquitectura. Ao
42
CHOAY, Françoise – Alegoria do Património. 3ª ed. Lisboa: Edições 70, 1999. p. 12. 43
Idem, Ibidem. p. 12 e 13. 44
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – “Reabilitar”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>.
60
28. Reabilitação. Casa da Arquitectura. Matosinhos. Arquitecto Álvaro Siza Vieira.
29. Porto.
61
falar-se de reabilitação em arquitectura, somos logo induzidos para o domínio estrito
do património classificado, do monumento histórico.45
Este pensamento advém de
toda uma ideia desenvolvida ao longo do tempo, associada directamente ao estrito
universo do restauro. É, por isso, importante dizer que tal como a definição de
património, reabilitar também evoluiu e se transformou, tendo agora uma aplicação
mais vasta, balizada e orientada por limites disciplinares, que integram todo o
património construído e natural.
“A história das cidades dá-nos conta de quanto hoje é actual construir no
construído, (…)”46
pois “(…) apesar de “o futuro ser o único sítio onde podemos ir”
como nos lembra Renzo Piano, “o passado é uma tentação constante””47
.
Reabilitar, como processo de regeneração e reutilização do espaço construído
e natural, promove o uso contínuo das preexistências (ilustração 28) e tem estas
como ponto de partida para responder às constantes exigências e necessidades do
habitar. Negam-se assim as teses mais conservadoras, que defendem que “(…) à
medida que se afirmam as tendências de embalsamento do património, acentua-se a
desertificação dos lugares da história, acabando por transformá-los em
representações fantásticas de uma realidade jamais existente.”48
(ilustração 29)
Neste sentido, modificando, transformando ou actualizando, o património construído
adquire qualidades arquitectónicas perdidas com o tempo, e promove a sua
continuação no tempo, de acordo com as vontades e necessidades e os novos
padrões de habitabilidade e qualidade da sociedade actual.
Assim sendo, só um trabalho colectivo de relação interdisciplinar e de
interacção com os cidadãos, possibilita o incremento e prosseguimento de um
projecto em equilíbrio capaz de atravessar os problemas políticos, económicos,
sociais e culturais, em benefício da qualidade do território e de uma “(…) cultura
contemporânea do habitar”49
, ao mesmo tempo que, por vontade e utilidade cultural
da sociedade, se preserva a memória e a história inscrita no património.
45
FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – “Reciclar o existente e requalificar o território” In FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2009. p. 9. 46
FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – “Construir no tempo” In FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Construir no tempo. Lisboa: Estar-editora, 1999. p. 7. 47
PEDREIRINHO, José Manuel – “O novo e o antigo contemporâneo” In Arquitectura Ibérica – N.º 36 Reabilitação. Casal de Cambra: Caleidoscópio. Março 2011. p. 10. 48
FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – “Construir no tempo” In FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Construir no tempo. Lisboa: Estar-editora, 1999. p. 7. 49
FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – “Reciclar o existente e requalificar o território” In FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2009. p. 9.
62
30. Mosteiro de Santa Maria da Vitoria, 1386 a 1517. Batalha.
63
Em suma, perante a arquitectura, reabilitar o território construído e natural –
classificado ou não – é uma acção disciplinar de manutenção, renovação,
requalificação, reconstrução, conservação e restauro, mas também de importância
social e cultural, capaz de promover o equilíbrio do antigo com o novo, e a sua
vivência e permanência.
III.2.1_ Conservação e restauro
“Conservação s. f. Acto de Conservar; conservar v. tr. Manter em bom
estado; Manter no estado actual; Guardar; Preservar; Continuar a ter; Reter (na
memória); Não perder; Não desistir; v.pron. Durar; Permanecer; Não Expor a saúde,
a vida; Ficar (a distância).”50
O acto de conservar o património deve ser o primeiro modo de preservar e
salvaguardar o seu valor histórico, social e cultural. Assim, impõe-se a sua
permanente manutenção com o objectivo de lhe prolongar a existência, de o
transmitir ao longo dos tempos (ilustração 30). Em arquitectura, e como define a
Carta de Veneza51
, além de todas as operações de manutenção e preservação,
conservar pode implicar a adaptação da construção a uma nova função necessária à
sociedade, resultado da evolução dos usos e costumes. Neste sentido, a demolição
ou adição de uma nova construção são também elementos do acto de conservar. No
entanto, é necessário um conhecimento disciplinar e um sentido ético capaz de
revelar e respeitar o carácter e a identidade da preexistência, não deturpando a sua
realidade e verdade histórica com acções de preservação impróprias.
A conservação é então um instrumento na preservação do território,
assegurando a identidade e cultura dos lugares, das cidades e das sociedades. É,
portanto, um assunto de interesse e valor colectivo em que se deve envolver toda a
população.
“Restauro (derivação regressiva de restaurar) s. m. Acto ou efeito de
restaurar. = Restauramento; Conjunto de técnicas e operações para conserto ou
reparação uma obra de arte ou de uma estrutura arquitectónica; Recuperação de
50
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – “Conservação”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>. 51
Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>.
64
31. Restauro industrial. 32. Restauro artístico.
33. Restauro arquitectónico. Adaptação de Palacete a Private Baking. Porto. Arquitectos António Portugal e Manuel Maria Reis.
65
algo que está em mau estado de conservação; [Encadernação] Operação que
consiste em eliminar de um livro os estragos causados pelo tempo e incúria.”52
O restauro, assim como a conservação, é também uma ferramenta importante
e essencial da reabilitação. Enquanto técnica que procura restabelecer o bom estado
de um objecto, o restauro pode ser genericamente de dois tipos: industrial e diário
(ilustração 31) – recuperando valores estritamente funcionais, como o restauro de um
automóvel, calçado, entre outros – ou artístico (ilustração 32) que recupera os valores
estéticos e históricos de uma obra de arte.53
No entanto, é o restauro artístico que verdadeiramente define o conceito de
restauro, e Cesare Brandi descreve-o como o “(…) momento metodológico de
reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dupla polaridade
estética e histórica, em sintonia com a sua transmissão no futuro.”54
Do mesmo
modo, destaca dois princípios: “Só se restaura a matéria da obra de arte”55
e “o
restauro deve dirigir-se ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte,
sempre que possível sem fazer uma falsificação artística e uma falsificação histórica,
sem apagar o percurso da obra de arte no tempo.”56
No primeiro, o autor sugere que só a imagem, como objecto físico e palpável,
é passível de ser restaurada, e por isso é o elemento primordial do restauro. No
entanto, o segundo princípio defende que o restabelecimento da obra de arte deve
ser coerente para que não falsifique a imagem, e ao mesmo tempo, a história que ela
transmite do passado para o presente e para o futuro, devendo permanecer presente
a marca de todos os tempos, como registo da sua vida.
Quando se fala de restauro em arquitectura, podem-se aplicar os princípios
gerais do restauro artístico.57
No entanto, e apesar de histórica e estética, como as
obras de arte, a arquitectura enquanto construção que organiza o espaço com o
propósito de ser vivido, habitado, é também funcional, útil (ilustração 33). O lugar,
enquanto suporte da arquitectura, é outro valor e factor que a distingue da obra
52
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – “Restauro”. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>. 53
BRANDI, Cesari – Teoria de la Restauración. 4ª ed. Madrid: Alianza Editorial, 1995. p. 13. 54
Idem, Ibidem. p. 15. Tradução livre: “(…) momento metedologico del reconocimiento de la obra de arte, en su consitencia física y en su doble polaridad estética e histórica, en orden a su tranmisíon al futuro.” 55
Idem, Ibidem. p. 16. Tradução livre: “Se restaura sólo la matéria de la obra de arte.” 56
Idem, Ibidem. p. 17. Tradução livre: “La restauración debe dirigirse al restablecimeiento de la unidad potencial de la obra de arte, siempre que esto sea posible sin cometer una falsificación artística o una falsificación histórica, y sin borrar huella alguna del trascurso de la obra de arte a través del tiempo.” 57
Idem, Ibidem. p. 77.
66
34. Retrato de Eugène Viollet-le-Duc.
67
de arte, pois influencia e condiciona o seu nascimento e desenvolvimento, tornando-a
parte integrante do sítio. Assim, o restauro arquitectónico implica ter em atenção o
contexto social e espacial, partilhado nas actuais definições e classificações de
património.
Tendo em conta estas diferenças, a renovação arquitectónica exige que além
da unidade artística e estética, se deve ter em atenção também a sua
contextualização e relação com o lugar em que se insere e inseriu no passado, assim
como a sua funcionalidade, pois são factores importantes para manter a verdade
artística e histórica, a transmitir ao longo do tempo. Neste sentido, pode dizer-se que
a recuperação arquitectónica e também urbanística, é essencialmente fundamentada
nos princípios do restauro artístico, mas também com uma vertente de restauro
industrial, na medida em que a arquitectura contém também um objectivo utilitário. É
ainda importante referir que o restauro, como ferramenta da reabilitação é, antes de
tudo, uma questão de vontade, de querer manter e defender a memória de
determinada época e sociedade.
Eugène Viollet-le-Duc, Jonh Ruskin e Camillo Boito foram notáveis vultos que
se destacaram na procura de uma definição do conceito de restauro, procurando ao
mesmo tempo estabelecer os princípios para a sua boa prática. É neste sentido que
se desenvolve o estudo sobre a recuperação, através das suas teorias.
III.2.1.1_ Eugène Viollet-le-Duc e o restauro estilístico
Eugène Viollet-le-Duc (ilustração 34) foi arquitecto e teórico francês (1814 -
1879). A sua imensa cultura e capacidade de crítica e de desenho são características
da sua personalidade ímpar, que se estende e identifica na sua obra construída e
teórica. Fruto da sua formação académica, recusa o neo-classicismo definindo-se
como eclético, pois a sua arquitectura percorre o neo-gótico e neo-renascimento. No
entanto, destacou-se pela sua dedicação e investigação ideológica na temática do
restauro. 58
Seguindo as reflexões de Antón Capitel, a sua arquitectura é a expressão da
sua formação, dos seus ideais, e apresenta um carácter de relação entre o uso e o
58
Enciclopédia Britânica – “Eugene-Emmanuel-Viollet-le-Duc”. [em linha]. [consultado em 06 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://www.britannica.com/EBchecked/ topic/629711/Eugene-Emmanuel-Viollet-le-Duc>.
68
35. Restauro estilístico. Catedral de Notre-Dame. Paris, França. Arquitecto Eugène Viollete-le-Duc.
69
estilo. Com isto, procura uma arquitectura avançada e própria do seu tempo. Foi dos
primeiros que, ao dedicar-se ao estudo do restauro, procurou estabelecer princípios e
metodologias de actuação e intervenção. O convite de Prosper Mérimée – inspector-
geral dos monumentos franceses – a Viollet-le-Duc como seu colaborador executivo,
para dirigir e mesmo realizar a recuperação de “Catedrais góticas, Cidades
amuralhadas, Abadias e Castelos”59
, permitiu-lhe pôr em prática os seus
pensamentos sobre a preservação dos monumentos.
Ao mesmo tempo que o seu trabalho prático era conhecido, surgem também
publicadas as suas reflexões e pensamentos teóricos sobre arquitectura. O Dicionário
Analítico da Arquitectura Francesa do Século XI ao Século XVI, é o livro que aqui
interessa referenciar, pois para além de estudar a arquitectura francesa, é aqui que
aparece o conceito moderno de recuperação.
“Restaurar um edifício não significa conservá-lo, repará-lo ou refazê-lo, mas
obter a sua forma primitiva, mesmo que nunca tenha sido assim”60
. Esta afirmação de
Viollet-le-Duc caracteriza o seu pensamento sobre o restauro, que recusa qualquer
alteração ao desenho original e defende a eliminação de qualquer acrescento ao
edifício inicial, sempre na procura do carácter original – por meio de uma extensa
análise de todos os elementos presentes – que corresponde ao estilo mais marcante
do mesmo.61
Este modelo, apesar de estritamente rigoroso, poderia levar o edifício a
um falso original, pois na procura do seu estilo único, iriam apagar-se as marcas da
construção durante o tempo de vida do monumento, e por consequência a história
das diferentes épocas e sociedades que o viveram e percorreram (ilustração 35).
Então, pode dizer-se que estes ideais conservadores tenderiam a que os
resultados fossem o oposto do pretendido. Não o restauro de um monumento como
memória da história, mas sim a reconstrução de um novo edifício, em que o ponto de
partida é o património.
59
CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 18. Tradução livre: “ Catedrales Góticas, Ciudades amuralhadas, Abadías y Castilhos (…)”. 60
VIOLLET-LE-DUC, Eugène, cit in CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 19. Tradução livre: “Restaurar un edificio no significa conservlo, repararlo o rehacelo, sino obtener su complena forma pristina, incluso aunque nunca hubiera sido asi.” 61
CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 20.
70
36. Auto-retrato de John Ruskin.
37. Ciclo biológico da arquitectura. Convento das Bernardas, 1509 a 1530. Tavira.
71
III.2.1.2_ John Ruskin e o anti-restauro
John Ruskin (ilustração 36), escritor, sociólogo e crítico de arte inglês (1819 -
1900) revela uma paixão por desenho, embora como ferramenta de estudo
econhecimento, e extremamente ligado ao pensamento romântico da época,
relaciona-se com diferentes movimentos artísticos como a pintura, a literatura e a
arquitectura. O seu interesse pela arquitectura e o restauro foi expresso nos livros
The Seven Lamps of Architecture e The Stones of Venice, onde estabeleceu as suas
teorias de intervenção de restauro.62
“Cuidem dos nossos Monumentos e não haverá necessidade de restaurá-
los.”63
Acrescenta ainda que “o verdadeiro sentido da palavra restauro não é
compreendido nem pelo público nem pelos que cuidam dos nossos Monumentos.
Significa a mais completa destruição que um edifício pode sofrer, destruição que se
acompanha de uma falsa restituição do Monumento destruído.”64
Com estas
afirmações, Ruskin assumiu-se um defensor da verdade histórica e arquitectónica,
pelo que defendeu a conservação estritamente necessária ao prolongamento da vida
do edifício, em oposição aos pensamentos de Viollet-le-Duc sobre a arquitectura e o
restauro.
Entende que a arquitectura tem um carácter biológico, natural, e como tal tem
um ciclo de vida como o ser humano, determinado pelo seu nascimento, o tempo de
vida e a sua inevitável morte (ilustração 37).65
Enquanto expressão que eterniza e
representa a evolução histórica do homem no tempo, a arquitectura deve permanecer
intocada, envelhecendo. Neste sentido, a ruína é entendida como a morte do
monumento, consequência do ciclo natural da vida do edifício.
Ruskin acredita que a importância do património está relacionada com o seu
tempo, o seu povo, e que pertence a quem o construiu. Por este motivo, defende que
o restauro é errado, pois este vai criar um falso histórico, uma falsa memória,
62
Enciclopédia Britânica – “John Ruskin”. [em linha]. [consultado em 06 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://www.britannica.com/EBchecked/topic/513091/John-Ruskin>. 63
RUSKIN, John, cit in CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 23. Tradução livre: “Cuidad de nuestros Monumentos y no tendréis necessidade de restauralos.” 64
Idem, Ibidem. p. 27. Tradução livre: “El verdadero sentido de la palabra restauración no lo comprende ni el publico ni los que tienen el cuidado de velar nuestros Monumentos. Significa la más completa destrucción que pueda sufrir un edificio, destrucción que se acompaña de una falsa restitución del Monumento destruído.” 65
CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 24.
72
38. Retrato de Camillo Boito.
73
destruindo assim a sua marca do tempo, reveladora de diferentes momentos na
história. Neste sentido, sendo o tempo característica essencial da arquitectura, e a
morte o seu fim, recuperar o património “… é impossível, tão impossível como
ressuscitar um morto (…)”66
.
III.2.1.3_ Camillo Boito e o restauro moderno
Camillo Boito (ilustração 38), arquitecto, teórico, historiador e crítico italiano
(1936 - 1914), dedicou-se à arquitectura de edificações novas, mas foi no restauro de
monumentos que se distinguiu, e deu a conhecer o seu pensamento e conhecimento
sobre esta temática.67
Segundo Antón Capitel, Boito propõe uma conciliação da verdade histórica
defendida por John Ruskin, com a oportunidade de restaurar o património. No
entanto, a sua teoria pode definir-se melhor pela oposição de Boito ao extremismo
estilístico de Viollet-le-Duc e ao conservadorismo e fatalismo de Ruskin,
desenvolvendo assim uma nova ideologia sobre o restauro.
Os Restauradores68
, é o livro em que Boito expõe o seu pensamento sobre o
restauro. Faz a distinção entre o restauro de Viollet-le-Duc e a conservação de
Ruskin, demonstrando tratar-se de actos contrários, mas ao mesmo tempo ambos
necessários, não esquecendo os perigos do restauro, e enaltecendo os benefícios da
conservação. Afasta-se de Ruskin por não aceitar a morte das edificações, mas
também se distancia de Viollet-le-Duc ao não compreender que o restauro conduza a
construção ao que nunca foi. Embora recusasse os radicalismos destas teorias, o
restauro moderno de Camillo Boito é influenciado por Ruskin, na conservação dos
sinais do tempo de vida da construção, e por Viollete-le-Duc no estudo e respeito pela
edificação original. É, portanto considerado o entendimento entre as duas teorias
antagónicas, que se unem essencialmente na vontade de valorizar o património.
Mantendo o ideal de valorização do património, Boito defende a conservação
como acção de preservar o património. No entanto, se necessário para a sua
66
RUSKIN, John, cit in CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 27. Tradução livre: “… es imposible, tan imposible como resucitar a un muerto, restaurar nada que haya sido grande o hermoso en arquitectura (…)”. 67
CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p. 31. 68
BOITO, Camillo – Os Restauradores. [em linha]. Brasil: Atelié Editorial. 2002. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://books.google.pt/books?id=ZKZyMwEY6agC&printsec= frontcover&dq=os+restauradores&hl=pt-PT&sa=X&ei=PnjxT_PhJIT80QXA0_2LDg&ved=0CDUQ6AEwAA#v= onepage&q=os%20restauradores&f=false>.
74
39. Reabilitação e ampliação da Igreja de Figueiredo. Braga. Arquitecto Paulo Providência.
75
consolidação e uso pela sociedade, permite a adição de novas construções, deste
modo marcando as diferentes épocas de vida da edificação. É esta relação da
edificação com o tempo, revelando a constante evolução do homem e da sociedade
que Boito pretende transmitir.
Baseando-se numa posição analítica, diferenciadora, Boito descreve os seus
princípios e condições imprescindíveis para a conservação e ampliação: “1.º
Diferença de estilo entre antigo e novo; 2.º Diferença de material na sua construção;
3.º Omissão de molduras e decoração nas partes novas; 4.º Exposição das partes
materiais que tenham sido eliminadas, num lugar contíguo ao monumento restaurado;
5.º Incisão da data de actuação ou um sinal convencional na parte nova; 6.º Legenda
descrita da actuação fixada ao monumento; 7.º Descrição e fotografias das diversas
fases dos trabalhos, depositadas no próprio monumento ou num lugar público
próximo (condição substituível pela publicação); 8.º Notoriedade visual das acções
realizadas.”69
A acção mínima no restauro e a admissão de novos volumes (ilustração 39),
quando necessário para a sua consolidação, garantindo que estes se diferenciem da
preexistência, são as noções gerais defendidas por Boito para a recuperação, não
esquecendo que este deve ser um recurso de uso extremo, e que a premissa deve
ser sempre a conservação.
Segundo Antón Capitel, estes oito pontos definidos por Camillo Boito, que
foram apresentados no III Congresso de Arquitectos e Engenheiros Civis de Roma
em 1883, são entendidos como a primeira carta de restauro, e orientação para
legislação em alguns países. Neste sentido, esta nova perspectiva inicia uma nova
forma de ver a recuperação como especialidade importante da arquitectura, sendo
também um importante estímulo para o desenvolvimento das primeiras cartas e
convenções.
69
BOITO, Camilo. Cit in CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p.31 e 32. Tradução livre: “1º Diferencia de estilo entre lo antiguo y lo nuevo; 2º Diferencia de materiales en sus fábricas; 3º Supresión de molduras y decoración en las partes nuevas; 4º Exposición de las partes materiales que hayan sido eliminadas en un lugar contiguo al monumento restaurado; 5º Incisión de la fecha de la actuación o de un signo convencional en la parte nueva; 6º Epígrafe descriptivo de la actuación fijado al monumento; 7º Descripción y fotografías de las diversas fases de los trabajos depositadas en el propio monumento o en un lugar público proximo. (Condición sustituible por la publicación); 8º Notoriedad visual de las acciones realizadas.”
76
40. Ruínas de Conímbriga. Coimbra.
77
III.3_ Organizações e Orientações
III.3.1_ Cartas e convenções internacionais sobre o património
O património cultural e natural é a expressão e testemunho de um passado de
várias gerações. Neste sentido, a sua degradação ou desaparecimento significa a
perda da memória e da história das sociedades.
Por este motivo, a necessidade e vontade de preservar e conservar os
edifícios, os lugares e os conjuntos arquitectónicos que identificam a sociedade numa
determinada época (ilustração 40), é uma característica inerente ao homem, tão
antiga como a própria arquitectura.
Reflexo disto é a existência, desde muito cedo, de diferentes teóricos que
defendem diferentes modos de actuar perante a preexistência, como os
anteriormente abordados Viollete-Le-Duc, John Ruskin e Camillo Boito, que se
destacam pelas suas ideologias díspares, úteis à orientação e estabelecimento de
doutrinas de intervenção.
No entanto, a existência de teorias de restauro não é sinónimo da sua
actuação e aplicação por parte das nações. Verificando uma insuficiência de recursos
económicos, científicos e técnicos ao nível dos países capazes de promover uma
preservação cada vez mais eficaz, e perante o crescimento das ameaças – que para
além das causas de degradação naturais, comportam também as resultantes da
acção e evolução do modo de vida social, cultural e económico – nasce o sentido de
responsabilidade colectiva para a preservação.
Nos anos 30 do século XX, são publicadas as primeiras cartas de conservação
e restauro que têm como objectivo um acordo internacional dos conceitos e métodos
de restauro. Em 1945, com a criação da Organização das Nações Unidas70
, é
fundada a Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura71
,
cujo objectivo é manter a segurança e paz no mundo, e defesa dos direitos
fundamentais do homem, por meio da promoção da educação, ciência e cultura. Esta
organização é fundamental na defesa do património mundial, contribuindo com o
apoio e criação de cartas e convenções internacionais de promoção e divulgação da
conservação e do restauro do património, em que cada país se deve responsabilizar
70
UN - United Nations Organization 71
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
78
41. Região Vinhateira do Alto Douro.
79
pela sua aplicação, e criando a distinção de Património da Humanidade (ilustração
41) assinalando a sua importância.72
Conta, para esta missão, com o apoio de diversas organizações, onde se
destacam o Concelho Internacional de Museus73
, o Concelho Internacional de
Monumentos e Sítios74
e a União Internacional para a Conservação da Natureza e
dos Recursos Naturais75
. Em Portugal, tem a cooperação da Direcção Geral do
Património Cultural para a identificação e manutenção do património, sendo
anteriormente gerido pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico (IGESPAR).
Foram seleccionadas algumas das referidas cartas por se considerarem
importantes para esta investigação, desde a sua aplicação global até à especificidade
do património popular, evidenciando o que cada uma acrescenta, ao nível
instrumental e disciplinar.
A Carta de Atenas76
, assinada em 1931 pela Sociedade das Nações, é o
primeiro documento internacional de referência que serve como base de acção,
orientação e instrumentalização na área do restauro, com o objectivo de salvaguardar
o património. Estabelece doutrinas, princípios e técnicas para o restauro e
conservação dos monumentos históricos, promove a sua valorização e rejeita a sua
degradação, propondo para o efeito uma colaboração institucional e internacional.
O abandono de reconstruções integrais e o desenvolvimento de uma
manutenção regular são princípios defendidos para assegurar a conservação dos
monumentos. No caso do restauro ser a acção necessária, recomenda respeito pela
autenticidade do património – sem recusar elementos de diferentes épocas –, mesmo
quando estes adquirem novas utilizações como meio de continuidade de vida.
No que respeita à legislação, esta tem como objectivo proteger o monumento
histórico, artístico e científico. Perante o interesse na preservação do património
privado, deve conciliar as diferenças entre os direitos públicos e privados, evitando
conflitos com os proprietários em proveito dos benefícios públicos, e conflitos públicos
72
United Nations Organization. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.un.org/en/> 73
ICOM - International Council of Museums 74
ICOMOS - International Council of Monuments and Sites 75
IUCN - International Union for Conservation of Nature 76
Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas. [em linha] ICOMOS. 1987. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/ media/uploads/cc/CARTAINTERNACIONALPARASALVAGUARDDASCIDADESHISTORICAS.pdf>
80
42. Arco do Triunfo, 1806 a 1836. Paris, França.
81
em benefício privado.
O mesmo documento, ainda, defende que a valorização dos monumentos é
tida pelo respeito na construção de edifícios nas cidades e em especial na vizinhança
de monumentos, onde se deve ter um perímetro de protecção de monumento, ficando
este isolado e demarcado (ilustração 42). Esta valorização implica uma atenção
especial à envolvente próxima, na construção e materialização das edificações, assim
como a todos os objectos urbanos perturbadores e dissonantes.
Recomenda ainda o uso de materiais e técnicas modernas quando necessário,
desde que o seu uso seja cauteloso. No entanto, todos os materiais resistentes
devem ser dissimulados, para poder manter a identidade do edifício.
Devido às condições da vida moderna e às condições atmosféricas, os
monumentos encontram-se cada vez mais ameaçados. Deve-se, por isso,
desenvolver uma colaboração interdisciplinar – arquitectos, arqueólogos,
historiadores, entre outros – para conseguir alcançar metodologias de intervenção
úteis e aplicáveis a diferentes casos.
Quanto às técnicas de conservação definidas, impõe-se uma manutenção
rigorosa. Em caso de ruína, defende o recurso à anastilose, entendida pela reposição
de partes existentes. Todos os materiais novos que sejam necessários a estas
técnicas de conservação devem ser claramente identificáveis. Quando a conservação
de ruínas ou escavações é impossível, devem ser de novo enterradas, após serem
feitos registos rigorosos do património encontrado. Todos estes trabalhos devem ser
feitos em colaboração com os diferentes especialistas como arquitectos, arqueólogos,
entre outros.
A Carta de Atenas, propõe ainda a colaboração internacional técnica, moral,
no intercâmbio de especialistas com instrumentos e conhecimentos de diferentes
países. Defende que a educação sobre o respeito pelo património é a técnica de
conservação mais eficaz, no entanto é necessária uma documentação internacional
capaz de orientar a colaboração internacional.
Em 1964, pela mão do ICOMOS, surge a Carta de Veneza77
. É uma
actualização à Carta de Atenas que se revela muito limitada, comparativamente com
o tempo e os novos ideais em que é elaborada esta nova Carta, no entanto, é
importante por dar início ao debate desta temática. Esta modificação é sobretudo
77
Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>
82
43. Convento de Nossa Senhora da Arrábida, século XVI. Serra da Arrábida.
83
de conceitos e definições de património, conservação e restauro, permitindo que
todas as regras definidas pela Carta de Atenas tenham uma diferente aplicação, ou
seja, uma orientação alargada ao enquadramento do monumento.
Com este sentido, a primeira e mais significativa actualização à Carta de
Atenas é a definição de monumento histórico, que agora não se refere só ao
monumento em si, mas também a todo o conjunto e sítio (ilustração 43) – rural ou
urbano – que testemunha a sociedade no seu tempo. Aqui, importam também todas
as obras modestas que adquirem importância histórica, social e cultural com o tempo,
por serem a expressão e materialização de um momento em determinada sociedade.
No que respeita à conservação, a Carta mantém a preferência de uma
manutenção regular, e também uma relação científica e técnica interdisciplinar.
Contudo, defende a adaptação do monumento a uma função útil, em resposta às
necessidades da sociedade, desde que respeite a originalidade do edifício. Como
resultado da modificação da definição de monumento histórico, a conservação deve
ser alargada à envolvente próxima, pois o monumento é inseparável da sua
contextualização, que o sustenta.
A Carta de Veneza, revela ainda que o restauro, cujo objectivo é conservar e
revelar os valores do monumento, se baseia no respeito pela antiguidade e pela
autenticidade, deixando de ter significado quando se pretende a reconstituição. Se é
indispensável ao nível técnico e estético, deve então demarcar-se a modernidade de
forma equilibrada, exigindo-se previamente um estudo arqueológico e histórico.
Quando existam contributos de diferentes épocas num imóvel, estas devem
permanecer todas, pois não é o estilo que se quer recuperar mas sim a história do
monumento, sendo reprovável a eliminação de algum elemento, com a excepção dos
que tenham pouco interesse ou estejam em mau estado de conservação. No entanto,
a decisão de eliminação não pode ser tomada com base na única opinião do autor do
estudo e projecto. Durante o restauro, todos os elementos apostos devem distinguir-
se do original, e todos os acrescentos, quando necessários, devem respeitar os
interesses do edifício, o equilíbrio da sua composição e a sua relação com o sítio.
Todos estes princípios de conservação e restauro enunciados nesta Carta,
devem aplicar-se também aos sítios monumentais, que até então eram esquecidos e
deixados ao abandono.
Tal como a anterior Carta de restauro, esta propõe que se faça uma
documentação de todos os trabalhos e a sua publicação para que estejam acessíveis
a todos, servindo de exemplo.
84
44. Paisagem Cultural de Sintra.
85
A Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural78
assinada em 1972 pela UNESCO e em simultaneidade com o ICOMOS e IUCN, é
mais um contributo para a conservação do património.
Esta Convenção procurou estabelecer definições claras de património,
fazendo-o de forma rigorosa e descritiva do que pode ser considerado património
cultural e natural. Assim, permite uma maior e melhor actuação na identificação e
protecção do património (ilustração 44). Neste sentido, incentiva a protecção nacional
e internacional do património cultural e natural, atribuindo a obrigação da identificação
e preservação do património por parte de cada Estado-membro desta Convenção,
através de políticas de integração social e cultural, de medidas jurídicas,
administrativas e financeiras, e do desenvolvimento de estudos científicos e técnicos,
assim como o incentivo à informação e formação técnica.
Ainda, neste documento, é também criado um Comité do Património Mundial,
com carácter intergovernamental, essencialmente com dois objectivos. O primeiro é a
criação de uma lista de património em risco, elaborada em constante colaboração
com os Estados-membros. O segundo, e não menos importante, é a assistência
artística, científica e financeira em benefício da salvaguarda do património. No
entanto, para obter esta assistência, os Estados que o desejem têm de apresentar os
estudos referentes ao imóvel ou aos sítios em causa. Em contrapartida, a assistência
deve criar programas educativos que permitam dar a conhecer a importância do
património cultural, e da sua conservação, enquanto preservação da história de um
tempo e de uma sociedade.
No seguimento da Carta de Veneza, em que já se aborda o sítio como valor a
preservar – não se reduzindo ao monumento em si – o ICOMOS aprova, em 1987, a
Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas79
que se distingue de
todas as outras pela sua escala de abrangência – a cidade –, apesar da sua
identificação com as cartas e convenções anteriores.
A salvaguarda das cidades e dos bairros históricos deve estar presente nos
planos de ordenação e de urbanização, de modo a preservar o carácter histórico das
78
Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural. [em linha]. UNESCO. 1972. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/ media/uploads/cc/ConvencaoparaaProteccaodoPatrimonioMundialCulturaleNatural.pdf> 79
Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas. [em linha] ICOMOS. 1987. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CARTAINTERNACIONALPARASALVAGUARDDASCIDADESHISTORICAS.pdf>
86
45. Centro Histórico de Guimarães.
46. Piódão. Arganil.
87
cidades e o conjunto de elementos materiais e imateriais que a caracterizam
(ilustração 45). Estes são expressos nas relações das cidades com o seu
enquadramento natural e construído, pela forma urbana do território, pelas diferentes
relações entre os espaços construídos e não construídos, livres e cultivados, a forma
e as condições das edificações, e as diferentes vocações abraçadas e
protagonizadas pela cidade. Neste sentido, é essencial a cooperação e envolvimento
da população das cidades para a sua salvaguarda, pois está directamente
relacionada com eles em termos sociais e culturais.
Os métodos e instrumentos de salvaguarda segundo esta Carta devem ser
pluridisciplinares, devendo fazer-se a análise de dados arqueológicos, históricos,
arquitectónicos, sociológicos e económicos, de modo a conseguir uma articulação
disciplinar harmoniosa, determinando o que e como proteger, devendo todos estes
estudos e projectos estarem e serem documentados antes de qualquer intervenção.
Estes princípios e métodos devem respeitar a Carta de Veneza, devendo
sempre existir um equilíbrio entre as necessidades da vida contemporânea, como
costumes, novos usos, preexistência e infra-estruturas contemporâneas. Devem
também ser tomadas medidas de prevenção de catástrofes, assegurando a
salvaguarda do património.
A Carta do Património Vernacular Construído80
, de 1999, proposta e
desenvolvida pelo ICOMOS, surge como uma expansão da Carta de Veneza e das
cartas posteriores, com o objectivo de proteger o património popular construído. Esta
intenção existe, pois a arquitectura vernacular ou popular tem um carácter singular
(ilustração 46). Aparenta ser irregular e desordenada, no entanto, é o reflexo do seu
carácter utilitário em resposta às necessidades da sociedade rural, e de adaptação
perante a natureza, com recurso aos materiais locais e técnicas tradicionais,
assumindo-se assim como identidade da comunidade. Com a globalização
económica, social e cultural, facilitada pela comunicação generalizada, estas regiões,
assim como as suas arquitecturas, estão mais acessíveis, e com isso mais
vulneráveis a acções de desequilíbrio e de desintegração.
Os princípios de conservação desprendem-se dos definidos pelas cartas e
convenções anteriores, no que diz respeito aos valores culturais e tradicionais dos
conjuntos e sítios. Neste contexto, a conservação tem uma orientação particular.
80
Carta sobre o Património Construído Vernáculo. [em linha]. ICOMOS. 1999. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.international.icomos.org/charters/vernacular_sp.pdf>
88
47. Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, 1178. Alcobaça.
89
Na sua intervenção, deve respeitar a integridade e organização dos conjuntos,
mantendo a sua relação com a paisagem. Para uma resposta mais adequada na
intervenção, é necessário conhecer os sistemas e as técnicas tradicionais de
construção vernacular. Quando se exige a adaptação aos usos contemporâneos, e a
consequente substituição de parte da preexistência, deve respeitar-se a sua
integridade e configuração, recorrendo ao uso de técnicas e materiais que
mantenham melhor o equilíbrio e expressão. Como defendido em cartas anteriores,
as contribuições de diferentes épocas devem manter-se, pois são parte da história e
memória da construção e da sociedade em que se inserem.
À semelhança de outras cartas e convenções, esta defende que é necessária
uma investigação e documentação prévia, e a criação de programas educativos e de
promoção e animação cultural destas regiões vernaculares e rurais.
Em síntese, para a conservação do património popular e vernacular, deve ter-
se especial atenção aos seus valores culturais e tradicionais, às estruturas, aos
valores espaciais e materiais, e ao modo como estes são usados pela população,
pois revelam a sua identidade social e cultural, resultando da relação de intimidade
entre a natureza, o lugar e o modo de vida local.
A abordagem cronológica de algumas cartas e convenções tem o objectivo de
compreender o desenvolvimento das ideias e conceitos relacionados com o crescente
interesse pela identificação, preservação e divulgação do património, e ao mesmo
tempo, qual o compromisso assumido pela sociedade na sua salvaguarda e
valorização (ilustração 47).
Esta evolução é imediatamente perceptível, desde a definição de monumento
histórico introduzida pela Carta de Veneza até às definições de património das
actuais cartas. Deste modo, aumentou as áreas de intervenção e, por sua vez, a
forma como são aplicadas as doutrinas de conservação e restauro por parte dos
responsáveis, onde se incluem os arquitectos. O conceito de património continua a
evoluir e a especificar-se, assim como as doutrinas na procura da diminuição das
agressões aos nossos sítios, cidades e conjuntos rurais, pois uma intervenção de
reabilitação ou restauro envolve actos muitas vezes irreversíveis, devendo por isso
ser acções bem pensadas.
90
48. Desrespeito pelo património.
91
Cada novo documento confirma, e ao mesmo tempo actualiza, os conceitos e
orientações defendidos nas anteriores cartas e convenções, pois cada documento é
criado de acordo com os pensamentos e ideologias individuais e colectivos de cada
sociedade, balizados nos acontecimentos que marcam a sua época. Assim, tal como
a sociedade continua em constaste evolução política, económica, social e cultural, as
cartas e convenções tendem a desenvolver-se e a complementar-se de acordo com
as vontades das sociedades. Estes documentos e organizações criados em prol do
património, necessitam do envolvimento da sociedade na sua preservação, e devem
ter como base de sustentação a educação cultural, sobre o que é o património e qual
o seu significado, pois só deste modo é possível que se crie uma relação de
proximidade e respeito, que incentive uma conservação preventiva, capaz de manter
a identidade cultural e criativa das diferentes épocas históricas, e se previna o seu
abandono e desrespeito (ilustração 48).
Do ponto de vista mais técnico, as cartas e convenções internacionais são
documentos de orientação disciplinar e instrumental que motivam a reflexão sobre o
património e a sua preservação e conservação. No entanto, e dependendo do
pensamento ideológico individual de cada arquitecto – que importa estudar – as
orientações ideológicas e instrumentais de conservação e restauro, da manutenção
ou alteração dos usos, dos materiais e técnicas utilizados, podem revelar-se
fundamentais para a sua actuação no património, ou pelo contrário, podem mostrar-
se limitações à sua intervenção.
IV_ Obras de referência
95
A finalidade deste capítulo é estudar e interpretar três projectos de arquitectura
que constituem fontes na aplicação das metodologias de intervenção no património e
de aproximação ao programa vitivinícola. A reconversão de um Moinho em Vilar de
Mouros, a reabilitação e ampliação da Adega Casa da Torre em Vila Nova de
Famalicão e a construção da Adega Mayor em Campo Maior são os estudos e
projectos seleccionados. O primeiro está especialmente dirigido à aplicação das
ideologias do restauro, o segundo à relação da reabilitação e da ampliação com o
programa vinícola, e o terceiro ao novo programa vinícola.
A abordagem é realizada de acordo com os temas apontados até então, isto é,
cada caso é analisado segundo o lugar, a arquitectura e as metodologias de
intervenção no património, diferenciando e evidenciando a sua importância individual.
96
49. Reconstrução do Sequeiro. Guimarães. 50. Casa Cristina Silva. Porto.
51. Reconversão do Moinho. Vilar de Mouros.
52. Localização do Moinho. Vilar de Mouros.
97
IV.1_ Reconversão de Moinho. Arquitecto José Gigante
A obra do arquitecto José Gigante é marcada pela sua diversidade projectual,
e é com facilidade que encontramos uma forte relação disciplinar e instrumental com
a temática da reabilitação. Encontramos ainda valores importantes e estruturantes
como a construção e a pormenorização, pensada e destinada a cada obra.
A sua forma de ver e pensar a arquitectura, e a sua interpretação do espaço
preexistente altera-se ao longo do tempo de projecto para projecto, no entanto, é
possível observar um equilíbrio e respeito pelo património nas suas intervenções,
quer pela sua interpretação do antigo como matéria-prima de estudo e projecto, quer
também na relação do passado com os materiais e os sistemas construtivos
contemporâneos. Como afirmação desta coerência projectual, pode destacar-se,
entre os projectos de reabilitação que traçou ao longo do tempo, a Reconstrução do
Sequeiro (Guimarães, 2002-2005) (ilustração 49), a Casa Cristina Silva (Porto, 2003-
2006) (ilustração 50) e, a mais antiga, seleccionada como referência de estudo, a
Reconversão do Moinho (Vilar de Mouros, 1989-1996) (ilustração 51).
Vilar de Mouros (ilustração 52) situa-se entre os montes de Goios, Pena,
Gávea e Viso, no litoral norte do país, no concelho de Caminha. A agricultura e a
pecuária ainda fazem parte do sector laboral, mas também existe o comércio
tradicional e a pequena indústria, em resposta às necessidades e anseios da
população local. Rica em património natural e cultural, mantém o seu carácter rural,
vernacular e singular, apesar da evidente evolução do território e da sociedade ao
longo do tempo.81
É neste contexto, ainda rural, inserido no terreno de uma habitação
existente, que se encontra um moinho, outrora degradado. É uma construção
simples, utilitária, associada à arquitectura de produção local. A implantação
apresenta uma forma circular que origina um volume cilíndrico, construído com
materiais retirados do lugar – pedra e madeira – e sistemas construtivos tradicionais
que imprimem uma identidade própria e, ao mesmo tempo, uma harmonia com o
sítio.
A vontade de transformar o moinho em espaço de estar e dormir, dependente
de uma habitação recuperada anteriormente, promoveu o prolongamento da sua vida
81
Junta de Freguesia de Vilar de Mouros. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.jf-vilardemouros.com/>
98
53. Plantas e cortes do moinho.
54. Entrada. 55. Cobertura em cobre.
56. Piso térreo.
57. Piso superior.
99
e a preservação da sua história e memória. A intenção de lhe dar uma nova função
(ilustração 53) é, por si só, o primeiro acto de reabilitação do moinho, ao qual se
juntam as motivações ideológicas de actuação que passam pelas opções
organizacionais e materiais.
Com o sentido da preservação e reabilitação autêntica, de algum modo
relacionada com o pensamento menos fatalista de John Ruskin, que defende a acção
mínima de conservação para prolongamento da vida da construção, desenha e
constrói o projecto com a manutenção da topografia e dos muros em pedra
associados, que definem e apoiam o pódio natural em que o moinho se encontra,
comprovando a importância do lugar. O perímetro exterior do moinho é preservado,
sem nada lhe demolir ou ampliar. Mantém a marca do tempo na pedra, vestígio do
seu ciclo de vida, e o recorte dos vãos. A madeira, pela sua forte ligação com a
pedra, é seleccionada e usada para fazer a porta e as janelas (ilustração 54), para
além da sua extensão para o interior.
A cobertura é reinterpretada, adoptando a contemporaneidade e diferenciando
a data da intervenção no tempo, como defende Camillo Boito. Agora, é plana, com
pouca presença no perfil do moinho, e a sua estereotomia converge para o centro
numa clara alusão à cobertura anterior (ilustração 55). O material é o cobre que, com
a sua oxidação no tempo, cria uma relação de equilíbrio, proximidade e intimidade
com a construção em pedra e o lugar em que se insere.
Na transição para o espaço interior, onde se exige uma nova função, mantém-
se a coerência e o equilíbrio do espaço, mas assumindo a contemporaneidade da
intervenção, como defende a Carta de Veneza82
, devendo ter-se sempre em atenção
a essência patrimonial e cultural.
Assumindo a modernidade e qualidade do espaço que é agora para habitar, a
parede interior é rebocada e pintada. Conservando a relação com o exterior do
moinho, a madeira, material de todos os tempos, prolonga-se das janelas e portas
para o interior, e enquanto material construtivo, organiza e materializa todo o espaço
em dois pisos. Constrói o piso térreo (ilustração 56), o piso superior (ilustração 57) –
que se prologa até à janela, apropriando-se da espessura da parede – e a escada
que os liga. A sua versatilidade e modularidade permitem apropriar-se do espaço
disponível, organizando-o. No espaço de entrada, localiza-se uma instalação sanitária
82
Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>
100
58. Casa da Costa Grande. Baião. 59. Adega Quinta da Faísca. Alijó.
60. Adega Casa da Torre. Vila Nova de Famalicão.
61. Localização da Adega Casa da Torre. Vila Nova de Famalicão.
101
e uma área de estar, onde o sofá pode adoptar a função de cama, e, no piso superior,
um armário e um estrado-cama integrado no piso, proporcionam um habitar mínimo
conotado com as ideologias da contemporaneidade.
Na preservação do moinho, por meio da sua reconversão, a madeira assume
claramente a responsabilidade de ligação entre as diferentes épocas de intervenção,
entre a preservação do antigo e a criação do novo, permitindo manter a identidade do
moinho, sem descaracterizar ou deformar a sua identidade popular e vernacular. Os
materiais e as técnicas associadas, reveladas e evidenciadas pelos detalhes e
apoiadas na interpretação e construção a partir do lugar preexistente mas com
valores marcados pela contemporaneidade, em sintonia com as ideologias da
reabilitação e do restauro, fazem com que a reconversão do moinho se revele um
bom exemplo de preservação e valorização do património.
IV.2_ Reabilitação e ampliação da Adega Casa da Torre. Arquitecto Carlos
Castanheira
A obra do arquitecto Carlos Castanheira é essencialmente dedicada à
construção nova, e muito relacionada com o tema da habitação. No entanto, no seu
percurso arquitectónico também existem obras com carácter mais colectivo e de
reabilitação que, dependendo das condicionantes espaciais e funcionais, exige a
consequente necessidade de ampliação.
A madeira é o material evidente e constante nos seus projectos e obras, pois o
arquitecto constrói em madeira porque gosta83
, mas também porque o lugar assim o
exige. O seu uso é obsessivo, podendo afirmar-se que é protagonista, mesmo
quando se relaciona com outros materiais, transmitindo equilíbrio, tranquilidade e
autenticidade à obra que se apresenta inserida e relacionada com o lugar, da
construção nova à reabilitação. A Casa da Costa Grande (Baião, 2008-2009)
(ilustração 58) é um bom exemplo de reabilitação e ampliação do existente,
associada ao uso da habitação. Ainda associado ao mesmo tema e, simultaneamente
à produção vinícola que também importa estudar, encontram-se as obras da Adega
Quinta da Faísca (Alijó, 2008-…) (ilustração 59), e a Adega Casa da Torre (Vila Nova
de Famalicão, 2008-2009) (ilustração 60), seleccionada e aqui abordada.
83
CASTANHEIRA, Carlos – “Construir em madeira – porque eu Gosto!” In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 8.
102
62. Adega antes da intervenção.
63. Implantação da adega.
64. Plantas da reabilitação e ampliação da adega.
103
O lugar em que se insere a Adega Casa da Torre tem o contexto natural da
freguesia de Louro (ilustração 61), no concelho de Vila Nova de Famalicão situado a
norte de Portugal. A sua paisagem é dominantemente natural, atravessada pelo rio
Este, e é rica em terrenos férteis, utilizados para a agricultura e viticultura. Este facto
revela-se e sustenta-se com a presença de uma arquitectura rural de produção.84
A Adega Casa da Torre é uma construção de cariz popular e vernacular
(ilustração 62), numa propriedade com cinco hectares de vinha. É marcada por
diferentes fases de construção que evidenciam o seu carácter utilitário, em resposta
às necessidades de produção, que correspondem à exploração de mais duas
propriedades da mesma família. Na sua origem, era composta por uma única
edificação com uma planta rectangular de nove metros de largura e dezoito metros de
comprimento. No entanto, na década de 90 do século XX, com o intuito de aumentar
e modernizar a adega, esta foi recuperada e ampliada, permanecendo até 2009 com
uma planta quadrada de dezoito metros de lado. Existem, nesta propriedade vinícola,
ainda, mais duas construções independentes. Uma, com a função de apoio a esta, e
outra com capacidades e funcionalidades agrícolas.85
A actualização e modificação
da adega continua, acompanhando a evolução programática e tipológica produtiva
até aos dias de hoje.
“A vontade de produzir mais, melhor e de acordo com as novas regras,
obrigou a repensá-la e obrigatoriamente a aumentá-la.”86
Este desejo tinha, ainda,
como estímulo, a expansão internacional da produção vinícola e a associação ao
enoturismo.
Como sustenta a Carta de Veneza87
, o património não está isolado, integra-se
na sua envolvente. Neste sentido, quando se pensa intervir no património, não se
pode esquecer o meio em que está inserido, como acontece nesta actualização da
adega. O espaço exterior foi redesenhado para responder às novas exigências,
mantendo a implantação da vinha e os espaços de apoio vinícola e agrícola, assim
como a sua base material e formal, a pedra (ilustração 63).
A adega, conserva a orientação e organização da implantação (ilustração 64),
84
Junta de Freguesia de Louro. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.freg-louro.pt/> 85
Adega Casa da Torre. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.adegacasadatorre.com/> 86
CASTANHEIRA, Carlos – “Adega Casa da Torre” In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 123. 87
Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>
104
65. Vista frontal da adega.
66. Escritório. 67. Escada. 68. Passadiço.
69. Laboratório. 70. Espaço interior da adega.
105
parcialmente encastrada no terreno, e amplia o espaço necessário, sempre com
respeito pela preexistência. A área de implantação da adega foi aumentada,
recorrendo a sistemas estruturais e materiais contemporâneos, no entanto, no
exterior, a parede foi revestida com pedra existente, garantindo a unidade e
continuidade da textura e expressão existente. Esta forma de intervir, procurando
modernizar sem desrespeitar a identidade da construção e do lugar, vai ao encontro
do que aconselha a Carta de Atenas88
, e também a Carta do Património Vernacular
Construído89
.
A transformação mais evidente acontece na cobertura. Reduzem-se as quatro
águas resultantes do crescimento da adega por etapas, a apenas duas águas
(ilustração 65). Simplifica-se a estrutura e, ao mesmo tempo, são criadas
oportunidades para novos espaços, permitidos pelo aumento do pé-direito, e pelo
avanço da cobertura sobre o lajeado da entrada. Assim, cumprindo a Carta de
Veneza90
, este aumento de um piso em parte da adega, permitido pela nova
configuração da cobertura e ditado pela necessidade programática, distingue-se do
original e, ao mesmo tempo, respeita a composição da edificação existente, pela sua
simplicidade formal e material. O escritório, ligado à adega por uma escada e à cota
alta do terreno por um passadiço longitudinal que atravessa toda a adega (ilustração
66, 67 e 68), é um dos espaços novos. Destacam-se ainda o laboratório (ilustração
69), em forma de barril, e o vestiário dos funcionários, implantado no lajeado da
entrada. Na ampliação e adição, a madeira faz a ligação à pedra, pela integração e
associação identitária com a arquitectura popular, mantendo uma harmonia espacial
e material com a estrutura preexistente (ilustração 70).
No interior, o espaço da adega é marcado pela presença de pilares centrais
com quatro escoras que apoiam a cobertura, surgindo entre eles o passadiço
longitudinal. A madeira, transita do exterior e predomina no interior, usada na
estrutura da cobertura, no passadiço e no ripado de madeira usado na ampliação,
para responder à necessidade de filtrar a luz e reduzir a insolação e
sobreaquecimento do espaço interior. O mesmo ripado constrói o laboratório e o
vestiário.
88
Carta de Atenas. [em linha]. Escritório Internacional dos Museus/Sociedade das Nações. 1931. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeAtenas.pdf> 89
Carta sobre o Património Construído Vernáculo. [em linha]. ICOMOS. 1999. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.international.icomos.org/charters/vernacular_sp.pdf> 90
Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>
106
71. Casa de Chá da Boa Nova. Matosinhos. 72. Adega Quinta do Portal. Sabrosa.
73. Adega Mayor. Campo Maior.
74. Localização da Adega Mayor. Campo Maior.
107
Devido às necessidades específicas do programa, e aos novos padrões de
higiene, manutenção e conservação, os materiais do pavimento e das paredes são
estudados para responder às exigências de salubridade, revelando-se claramente
contemporâneos. As paredes são rebocadas e pintadas de branco, e o piso é
cerâmico. As cubas, agora em aço inoxidável, são também elementos que
evidenciam a evolução dos tempos, com a modernidade e actualidade tecnológica.
Importa nesta intervenção destacar a forma como foram solucionados os
problemas de ordem técnica no universo da produção vinícola, sem esquecer a
relação com a preexistência. A madeira e a pedra são os elementos que
protagonizam as renovações estruturais e espaciais da ampliação e reinterpretação
do espaço, respeitando as cartas e convenções Internacionais sobre o Património,
permitindo manter a identidade e unidade da adega e do lugar popular e vernacular.
IV.3_ Construção da Adega Mayor. Arquitecto Álvaro Siza Vieira
Álvaro Siza Vieira é um arquitecto premiado nacional e internacionalmente,
com uma numerosa e diversificada obra construída em todo mundo, que percorre
variados programas e escalas, de carácter privado ou público. De entre essa
multiplicidade projectual, podem encontrar-se projectos de reabilitação, mas, como o
próprio sugere, a arquitectura de implantação nova também é reabilitação do sítio, do
lugar, pois “a relação entre natureza e construção é decisiva na arquitectura.”91
A sua arquitectura é marcada pela importância que atribui à interpretação e
compreensão do lugar, revelando-se francamente integrada e relacionada com o
espaço em que se insere, e associada às influências da arquitectura popular
portuguesa, embora interpretada pelos princípios do modernismo internacional. Cria
assim uma linguagem arquitectónica própria, simples e útil, e ao mesmo tempo
complexa, de enorme riqueza construtiva, material e cultural, com recurso às cores e
texturas dos materiais tradicionais e contemporâneos, com a luz como elemento
primordial da construção. A Casa de Chá da Boa Nova (Matosinhos, 1958-1963)
(ilustração 71) é um belo exemplo dessa relação e fusão entre a sua arquitectura e o
lugar. Ainda na sua obra, e associado ao programa vinícola que aqui importa estudar,
destacam-se a Adega da Quinta do Portal (Sabrosa, 2008) (ilustração 72), e a Adega
Mayor (Campo Maior, 2003-2007) (ilustração 73), seleccionada para este estudo.
91
GIANGREGORIO, Guido – Álvaro Siza, Imaginar a evidência. 2ª ed. Lisboa: Edições 70, 2009. p. 17.
108
75. Implantação da Adega Mayor.
109
A Adega Mayor situa-se no concelho de Campo Maior (ilustração 74), no sul
do país. O lugar, com valores naturais e patrimoniais excepcionais, é marcado pela
horizontalidade da topografia, suave, ondulada, composta por colinas e montes
alentejanos e pontuada por espelhos de água para uso agrícola. A fertilidade do
território propicia a actividade agrícola e vitivinícola que funciona como forma de
manutenção e ordenação deste território, onde predominam os vinhedos e os
sobreiros.92
Embora a sua envolvente predominante seja uma paisagem agrícola e
vinícola, na sua vizinhança existe uma unidade industrial de torrefacção de café.
A adega é uma implantação nova no lugar, de inspiração na arquitectura
regional alentejana e em relação com essa envolvente. “Siza espraia o seu volume
numa das colinas da propriedade, evocando a linearidade e a unicidade dos “montes
alentejanos”, (…) “o edifício assume uma monumentalidade próxima da de uma
fortaleza ou de um mosteiro, emergindo na planície como um guardião de preciosos
tesouros “sacros””93
É com um sentido de total respeito pela paisagem – enquanto
património natural e cultural – que o arquitecto Álvaro Siza Vieira desenvolve o
projecto e obra da adega, pois, como ele afirma, “não é fácil encontrar a oportunidade
de construir no interior de uma paisagem bela e incólume. E é também uma enorme
responsabilidade.”94
A implantação (ilustração 75) é determinada por uma estrada de
acesso à propriedade, relacionada com a indústria cafezeira – e respectivo museu – e
ao mesmo tempo pela existência de um afloramento argiloso, cavado e utilizado
como depósito de entulho. Assim, o volume rectangular, maioritariamente de dois
pisos, é encastrado no suave declive do terreno, permitindo o acesso aos dois pisos,
respeitando a integridade do território envolvente que permanece aparentemente
inalterado. Neste sentido, pode dizer-se que esta intervenção no lugar está em
sintonia com a orientação da Convenção para a Protecção do Património Mundial,
Cultural e Natural,95
que defende a preservação da paisagem enquanto bem
patrimonial.
Apesar do incontestável valor morfológico e arquitectónico desta adega, de
“(…) um arquitecto de cujo lápis têm saído alguns dos edifícios mais marcantes dos
92
Câmara Municipal de Campo Maior. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://www.cm-campo-maior.pt/> 93
GRANDE, Nuno – “Esfinge Mayor” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>. p. 13. 94
SIZA, Álvaro – “A adega” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>. p. 10. 95
Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural. [em linha]. UNESCO. 1972. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.igespar.pt/ media/uploads/cc/ConvencaoparaaProteccaodoPatrimonioMundialCulturaleNatural.pdf>
110
76. Esquema programático da adega.
77. Recepção. 78. Sala de reuniões.
79.Nave das barricas. 80. Jardim.
111
nossos tempos (…)”96
, o que importa estudar e aprofundar para esta investigação,
além da reabilitação no sentido de apropriação territorial e promoção patrimonial, é o
programa vinícola de uma adega contemporânea, pensada e desenhada de acordo
com as necessidades técnicas, tecnológicas e arquitectónicas actuais, sem as
eventuais limitações de uma construção preexistente. Com este propósito, ao estudar
o projecto, verifica-se que o programa pode ser dividido em três grupos de usos
principais (ilustração 76), como o de administração e gestão, o de produção e o de
promoção turística.
Aos usos de administração, podem associar-se essencialmente a recepção
(ilustração 77), o vestíbulo, os escritórios (ilustração 78) e os vestiários. Estes
espaços, distribuídos em dois pisos do volume, localizados no topo de acesso à
adega, estão inter-relacionados por escadas e circulações. O mármore preenche os
pavimentos e os lambris, alternado com a madeira dos soalhos, e as paredes e os
tectos são estucados, conferindo qualidade e conforto aos espaços. Todas as áreas
destinadas ao processo de transformação da uva em vinho, desde a recepção, o
desengace e o esmagamento, a fermentação, até ao armazenamento e
envelhecimento (ilustração 79), ao engarrafamento e à expedição do vinho, estão
associados ao programa de produção, organizados segundo o processo de
vinificação. Contrastando com os espaços de gestão, na sua maioria, estes espaços
apresentam um pé-direito duplo e são acabados com betão aparente, com a
excepção do laboratório que adquire características específicas de higiene. Situados
no topo de acesso à adega, surgem a loja, a copa e a sala de provas com vista para
o jardim localizado na cobertura, aberto sobre paisagem alentejana (ilustração 80) e
as vinhas, destinado em exclusivo à promoção do vinho, nomeadamente pelos
visitantes do universo do enoturismo.97
Comuns a todos os programas, e necessários
ao funcionamento da adega, encontram-se instalações sanitárias, espaços de
geradores e depósitos de água, em pontos estratégicos da adega.
A Adega Mayor é um excelente exemplo de relação e integração com o lugar,
permitindo estimular a sua valorização, preservação e conservação ao logo do tempo.
É também importante realçar neste exemplo de arquitectura vínica a sua organização
programática, que embora seja em sectores, os diferentes programas cruzam-se em
96
NABEIRO, Rui – “Adega Mayor” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em linha]. [consultado em Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>. p. 8. 97
SIZA, Álvaro – “Memória descritiva” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em: <http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>. p. 78 a 80.
112
81.Esquiço da reconversão do Moinho.
82. Esquiço da reabilitação e ampliação da Adega Casa da Torre.
83. Esquiço da construção da Adega Mayor.
113
pontos úteis e necessários, permitindo o funcionamento contínuo, equilibrado e
articulado de toda a adega, e da adega com a sua envolvente.
A investigação e interpretação de três obras de arquitectura revelam princípios
estratégicos e metodológicos de actuação distintos que, no entanto, se completam e
articulam, tendo como objectivo a compreensão e absorção de cada lição.
É importante realçar que apesar das propostas e obras terem conceitos e
ideias distintos, revelam ter uma disciplina ideológica, instrumental e profissional que
vai ao encontro das cartas e convenções internacionais sobre o património, revelando
capacidades e qualidades arquitectónicas, instrumentais e culturais indissociáveis,
quer na sua relação com a paisagem quer na sua relação espacial, funcional e
material.
Na Reconversão do Moinho (ilustração 81) adquire-se um conhecimento mais
próximo das regras do restauro, embora não o seja, e percebe-se a capacidade de
adaptação e transformação dos espaços, sem os descaracterizar. Na Reabilitação e
ampliação da Adega Casa da Torre (ilustração 802, onde o tema da exploração e
produção vitivinícola já está associado, estuda-se a necessidade de ampliação, com
integração e continuação espacial e temporal. Nestes dois exemplos, é visível a
importância da materialidade na afirmação das intervenções e na reabilitação das
construções. Na Adega Mayor (ilustração 83), entre a reabilitação do lugar e a
integração da arquitectura de raiz, aborda-se o programa funcional e formal vinícola
de uma adega contemporânea, sem as restrições e condições de uma preexistência.
No seu conjunto, estes casos de referência permitem orientar e sustentar um
programa de usos e formas vitivinícolas que respondam às vontades e necessidades
contemporâneas, e que ao mesmo se ajustem à realidade da arquitectura popular e
vernacular, respeitando os seus valores e a sua verdade e identidade singular,
permitindo a sua continuação e evolução no tempo.
V_ Caso de estudo
Uma Adega em Casas Novas
117
Caso de estudo da Adega em Casas Novas é o capítulo onde se aplicam os
conhecimentos contidos e adquiridos na investigação produzida anteriormente, no
universo dos princípios orientadores das cartas e convenções, e dos teóricos que se
dedicaram a esta temática, com a realização de um estudo e projecto de reabilitação
e ampliação em contexto rural e vernacular.
É necessário um desenvolvimento e enquadramento programático ao tema,
relacionado com a arquitectura de produção e promoção vinícola, abordando o
espaço formal e funcional de uma adega e o conceito do enoturismo. É também
indispensável caracterizar e interpretar o lugar de intervenção, do concelho e cidade
de Chaves à aldeia de Casas Novas, especialmente a sua arquitectura popular e os
seus interesses culturais e sociais, enquadrando as opções e soluções tomadas.
118
84. Esquema de produção vinícola.
119
V.1_ Enquadramento programático
V.1.1_ Adega enquanto espaço de produção e promoção do vinho
As adegas contemporâneas constituem, para além de uma construção de
produção vinícola, uma manifestação e actuação turística, tanto pelo interesse pelo
vinho como pelo interesse patrimonial e cultural dos lugares. Enquanto exploração e
produção vinícola, a adega requer características espaciais e funcionais específicas –
como qualquer arquitectura – directamente relacionas com o processo de
transformação da uva em vinho. Importa, então, antes de qualquer gesto na
concepção e organização de uma adega, adquirir um conhecimento sobre o processo
de transformação, produção e comercialização do vinho. Neste sentido, com base
nos conhecimentos recolhidos na AESBUC98
, na Sogrape Vinhos99
e na dissertação
Adegas contemporâneas, um novo discurso na arquitectura vernacular ou o boom do
Eno-arquitecturismo?100
, procura-se compreender as principais etapas necessárias
na produção vinícola (ilustração 84).
Numa primeira abordagem, verifica-se que existem diferentes métodos de
vinificação, que correspondem a diferentes tipos de vinho, tais como o branco e o
tinto, o verde e o maduro, o do Porto e o da Madeira, o espumante, entre outros.
Contudo, após um estudo mais aprofundado, entende-se que os espaços necessários
à sua produção são os mesmos, pois são o tipo de uva e o processo de vinificação
necessário que especificam cada vinho, para além da localização geográfica e do
clima do lugar de plantação.101
A vindima, o transporte e o desengace da uva são as primeiras fases de
produção do vinho. Segue-se o esmagamento e a prensagem das uvas, de onde é
extraído o seu sumo. A fermentação é o processo natural pelo qual o açúcar do sumo
de uva é transformado em álcool, desencadeando a libertação de gases. Após o
período de fermentação, é necessário proceder-se a uma prévia clarificação –
98
Associação para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica. [em linha]. [consultado em 09 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://www.aesbuc.pt/twt/ETGI/MyFiles/MeusSites/Enologia/2005/index.htm> 99
Sogrape Vinhos. [em linha]. [consultado em 09 de Fevereiro 2012] Disponível na internet em: <http://www.sograpevinhos.eu> 100
MARGARIDO, Raquel Joana Freitas Gírio – Adegas contemporâneas, um novo discurso na arquitectura vernacular ou o boom do Eno-arquitecturismo? Coimbra: Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. 2009. Dissertação para a Obtenção de Grau de Mestre em Arquitectura. pp. 18 a 28. 101
Associação para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica. [em linha]. [consultado em 09 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://www.aesbuc.pt/twt/ETGI/MyFiles/MeusSites/Enologia/2005/index.htm>
120
85. Espaço de recepção, desengace e esmagamento.
86. Área de fermentação.
87. Nave das barricas.
88. Sala de controlo de qualidade.
89. Espaço de engarrafamento e rotulagem do vinho.
121
eliminação das impurezas do vinho – através da filtragem ou da colagem, de modo a
que se assegure a sua estabilidade, evitando o risco de uma nova fermentação. O
vinho é então transferido para as barricas – em madeira ou em aço inoxidável – onde
permanecem em estágio ou ficam a envelhecer. Depois do período de maturação, o
vinho é engarrafado. Fruto da evolução nos processos de produção vinícola, com a
necessidade de responder a progressivos e elevados padrões de qualidade, durante
todo o processo de vinificação deve ser feito um controlo de qualidade ao vinho.
Esta cadeia de espaços necessários e inter-relacionados entre si, que segue o
processo de transformação da uva em vinho, desde a recepção da uva até à
expedição do vinho, gera uma organização espacial específica, e exige, na criação e
organização de uma adega, o conhecimento de todas as especificidades de cada
fase de produção do vinho, pois estas definem os espaços fundamentais da adega e
as suas características arquitectónicas determinadas pelo seu uso, e caracterizadas
pela escala, pelos materiais e pela luz.
Seguindo o encadeamento e desenvolvimento da produção vinícola, uma
adega tem uma área de recepção, desengace, esmagamento e prensagem da uva
(ilustração 85), em que as suas especificidades são essencialmente na organização
funcional e sequencial do espaço, condicionando particularmente a sua criação
espacial e formal, tendo que respeitar a escala, a higiene e a segurança, valores
fundamentais e transversais a todos os espaços. A zona de fermentação (ilustração
86) assume características mais específicas e relevantes, resultantes do seu uso.
Obriga a uma boa fenestração, proporcionando a constante renovação de ar e a
expulsão de gases produzidos no processo, nocivos e perigosos para o homem. A
nave das barricas (ilustração 87), onde é armazenado e envelhecido o vinho, é um
espaço específico na sua relação com a temperatura e a humidade, devendo ser
estável e fresca, evitando deste modo a sua evaporação. A forma como as barricas
são dispostas é também importante, estas não devem ter contacto com o solo,
evitando assim mudanças bruscas de temperatura. A luz, mínima, deve ser constante
e a essencial ao trabalho na nave. Com estas características, define-se como um
espaço fechado, recolhido, silencioso, de repouso do vinho. O laboratório de controlo
de qualidade detém igualmente particularidades, não estando estas relacionadas com
o vinho, mas sim com as especificidades de um laboratório científico (ilustração 88),
expressas pela escolha dos materiais que devem ser duradouros e salubres. O
engarrafamento e rotulagem (ilustração 89) finalizam o ciclo de produção vinícola,
122
90. Visitação das vinhas.
91. Apanha da uva. 92. Pisar da uva.
93. Prova do vinho. 94. Visita de conhecimento da região.
123
com o intuito da expedição. Esta etapa final exige uma nave ampla, mais mecanizada
e autónoma, em que o vinho é a matéria-prima que a distingue de qualquer outra
produção.
Como referido inicialmente, hoje uma adega é mais do que a exploração e
produção de vinho. É, também, uma atracção turística de exaltação do vinho e, ao
mesmo tempo, de promoção e animação do lugar e da cultura em que a adega está
inserida. Deste modo, além dos espaços de produção, exige-se um programa de
carácter lúdico, onde devem estar presentes a sala de degustação de vinhos, a sala
gastronómica e a loja. Este turismo classifica-se como enoturismo, pela sua directa
relação com o vinho, não sendo no entanto este o seu único factor de interesse.
V.1.2_ Enoturismo
A “visitação a vinhedos, adegas, festivais de vinho e mostras de vinhos para
degustação e ou experimentação dos atributos de uma região de vinho, são os
principais factores de motivação para os visitantes”102
, como defende Michael Hall
para classificar o enoturismo. Neste sentido, enquanto conceito que abarca a
exploração e produção vitivinícola e o turismo, determinado essencialmente pelo
interesse público pelo conhecimento sobre o vinho, importa também o interesse pelas
suas regiões. É nestas, geralmente em lugares de meio rural, que o visitante
descobre o ambiente de produção do vinho – visita a vinha (ilustração 90) e a adega,
apanha e pisa a uva (ilustração 91 e 92) – participando e convivendo em festas e
eventos vínicos, onde prova e conhece o vinho (ilustração 93) e descobre a relação
com a gastronomia regional. O visitante e utente pode fluir pelo espaço rural,
descobrindo e apreciando o património natural e cultural (ilustração 94), através dos
habitantes, da arquitectura vernacular e popular, da história, das tradições e
costumes, da gastronomia, do artesanato, entre outros valores identitários de um
povo e de uma região. Deste modo, pode definir-se o turismo vinícola como uma
tipologia apoiada nos meios rurais e ambientes vernaculares onde os turistas estão
interessados no conhecimento sobre o vinho, mas também motivados pela
experiência do meio rural.
102
HALL, C. Michael – Wine Tourism around the World: Development, Management and Markests. 3ªed. Nortolk: Great Britain by Biddles, 2002. p.3. Tradução livre: “visitation to vineyards, wineries, wine festivals and wine shows for which grape wine tasting andlor experiencing the attributes of a grape wine region are the prime motivating factors for visitors”
124
95. Adega Dominus, Napa Valley, Califórnia . 96. Quinta do Vallado. Douro. Arquitectos Francisco Arquitectos Jacques Herzog e Pierre de Meuron. Vieira de Campos e Cristina Guedes.
125
Como meio de expansão e promoção deste tipo de turismo, foi criada em 2006
a Carta Europeia do Enoturismo,103
no âmbito da Rede Europeia das Cidades do
Vinho. O documento defende que os territórios do vinho têm um papel fundamental
na preservação e conservação da região, permitindo dar-se a conhecer aos
visitantes, ao mesmo tempo que melhora a qualidade de vida aos seus habitantes. O
enoturismo deve, por isso, ter um desenvolvimento apoiado e sustentado por uma
gestão ecológica, social e cultural. Neste sentido, a carta tem como objectivo a
promoção do vinho e do lugar, contribuindo para o progresso de quem vive e trabalha
nesses territórios. Para tal, ajuda a criar uma estratégia comum para desenvolver o
turismo com um programa de actividades, que devem abarcar os subsistemas do
enoturismo, que se entendem por território, cultura vinícola e turismo. Esta estratégia
deve ter como base a melhoria contínua da qualidade da oferta turística, com respeito
pela capacidade do território, controlando o fluxo e a consciencialização social, pela
defesa e valorização de todo o património, desde a divisão dos campos e a sua
cultura, às construções de habitação e produção associados aos modos de vida e às
suas tradições, que definem a paisagem do lugar. O desenvolvimento económico,
social e cultural, e a protecção e melhoria das condições de vida dos habitantes, são
também pontos estratégicos importantes.
Em suma, pode dizer-se que o enoturismo é um importante instrumento de
reabilitação e preservação do património histórico, natural e cultural, permitindo que
este seja transmitido às gerações futuras. No entanto, face a todo este interesse e ao
consequente desenvolvimento em torno da produção vinícola – associado a um lugar
– e toda a procura turística, lúdica e cultural que conjuga estes dois factores – vinho e
turismo – as adegas têm a necessidade de criar outros factores de atracção. A
arquitectura é, cada vez mais, usada como imagem da adega e do seu vinho –
nomeadamente pelo uso identitário e publicitário, designadamente nos rótulos de
garrafas, entre outros produtos – e da sua região, convertendo-se cada vez mais num
agente de promoção e sustentação desta tipologia de turismo. A Adega Dominus
(ilustração 95) dos arquitectos Jacques Herzog e Pierre de Meuron e a Adega Quinta
do Vallado (ilustração 96) dos arquitectos Francisco Vieira de Campos e Cristina
Guedes são exemplos da importância da arquitectura no enoturismo. Embora se
implantem em lugares com características diferentes, ambos os projectos e obras
103
Carta Europeia de Enoturismo. [em linha]. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/AreasAtividade/ProdutoseDestinos/ReuniaoTecnicaEnoturismo/CataEuropeiadoEnoturismo/Anexos/Carta%20Europeia%20Enoturismo.pdf>
126
99. Freguesias do concelho de Chaves.
97. Limites do concelho de Chaves.
98. Localização de Chaves em Portugal. 97.
98.
127
procuram a integração e identificação com a paisagem, ao mesmo tempo que
procuram a exaltação do vinho e da sua região.
V.2_ Enquadramento territorial
V.2.1_ Chaves
Situado no extremo Norte de Portugal continental, Chaves confronta-se com a
Galiza na fronteira com Espanha (ilustração 97). É um concelho do distrito de Vila
Real, situado na região do Alto Tâmega, delimitado a Este pelos municípios de
Vinhais e Valpaços, a Sul por Vila Pouca de Aguiar, e a Oeste por Boticas e
Montalegre (ilustração 98). Com 41.444 habitantes (Censos 2011), o concelho é
constituído por 51 freguesias – entre elas Redondelo onde se insere o caso de estudo
– dispersas em 591,32 km2 de área territorial. Os aglomerados populacionais mais
importantes (ilustração 99) são a vila de Vidago e a cidade de Chaves, sede de
concelho. Ligada ao Sul pela auto-estrada A24 e ao litoral pela A7, atravessada pela
estrada nacional N103 que liga Bragança a Braga, a menos de 8 km da fronteira com
Espanha, e com um aeródromo, Chaves e o seu concelho, estão bem conectados
com o restante país, contrariando a interioridade e aparente isolamento que a sua
geografia revela.104
A sua localização geográfica insere-a numa importante rota
comercial nacional e internacional, apoiada pelo Parque Empresarial de Chaves, que
integra um parque de actividades, um mercado abastecedor e um centro de
logística.105
O município de Chaves é amplamente marcado pela sua diversidade natural e
cultural. No âmbito natural, essa multiplicidade é expressa pelo seu relevo
diversificado, o seu clima particular, e a sua fauna e flora específicas, preponderantes
em diversas condições estratégicas e políticas, que serão aprofundadas no texto
sempre que se justifique. No contexto patrimonial e cultural, Chaves é rica na sua
história, assinalada pelas várias civilizações que nela se fixaram. Prova desta riqueza
é o vasto património cultural existente, disperso um pouco por todo o território, onde
se destaca o centro histórico da cidade de Chaves.
104
Câmara Municipal de Chaves. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.cm-chaves.pt pdf> 105
Idem, ibidem.
128
100. Ruínas das Termas Romanas. 101. Ponte Romana de Trajano. 102. Torre de Menagem.
103. Igreja de Santa Maria Maior. 104. Forte de S. Neutel. 105. Pelourinho de Chaves.
106. Câmara Municipal de Chaves. 107. Paço dos Duques de Bragança.
129
Chaves é hoje um concelho em crescimento e desenvolvimento, graças ao
aproveitamento de toda a sua variedade natural e cultural. As suas paisagens e o
património são usados como promoção turística, recorrendo a uma diversidade de
espaços públicos e uma rede de museus, que exibem a sua história e memória. As
ruínas das Termas Romanas (ilustração 100) – encontradas recentemente – a Ponte
Romana de Trajano (ilustração 101), a Torre de Menagem e o jardim envolvente
(ilustração 102), a Igreja de Santa Maria Maior (ilustração 103), o Forte de S. Neutel
(ilustração 104), o Pelourinho de Chaves (ilustração 105), a Câmara Municipal de
Chaves (ilustração106), e o Paço dos Duques de Bragança (ilustração107), onde está
instalado o Museu da Região Flaviense que expõe a sua história, desde o Paleolítico
até às obras do arquitecto e pintor Nadir Afonso, são alguns dos monumentos e
equipamentos colectivos que se encontram no centro histórico de Chaves. A par
destas atracções históricas e patrimoniais, são igualmente importantes, enquanto
atracção turística, as actuais Termas de Chaves que são hoje a imagem de promoção
do concelho.
Com menor relevância, mas não menos importante para a promoção de
Chaves, encontra-se o turismo em espaço rural, como fonte de conhecimento da
natureza e das tradições populares da região. Neste sentido, as várias aldeias de
Chaves possuem um enorme património popular e vernacular, caracterizado por
aglomerados concentrados de construções associadas à habitação, produção e
religião, e à natureza, que respondem às necessidades da comunidade.
Como resultado da actividade humana associada à agropecuária e à
agricultura, enquanto meio de subsistência, a fauna e a flora têm características
específicas. A paisagem natural de Chaves tem várias espécies de invertebrados e
vertebrados. No entanto, importa salientar as raças autóctones relacionadas com a
auto-suficiência popular e vernacular – equinos, caprinos, ovinos, bovinos e suínos –
perfeitamente adaptadas às condições naturais da região. Na flora, embora também
com enorme diversidade florestal de influência atlântica e mediterrânica, predomina a
vegetação relacionada com a ocupação humana, que serve de alimentação animal, e
também para consumo humano.106
A aldeia de Casas Novas é um exemplo
representativo das características naturais, culturais e tradicionais populares.
Beneficiando do facto de Chaves se apropriar do seu património cultural e
natural, com o intuito de o promover e de se dar a conhecer através do turismo,
106
Câmara Municipal de Chaves. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.cm-chaves.pt pdf>
130
108. Mapa com Regiões Vitivinícolas em Portugal continental, com destaque para a região de Trás-os-Montes: a) Chaves; b) Valpaços; c) Planalto Mirandês.
109. Vista aérea da Aldeia de Casas Novas.
131
importa abordar o tema em estudo – a reabilitação e ampliação do existente –
associado à exploração e produção vinícola.
Chaves é uma região demarcada de vinho (ilustração 108), com tradição na
cultura do vinho, pois “já durante a ocupação dos romanos se cultivava a vinha e se
produzia vinho na região de Trás-os-Montes, tornando-se estes conhecidos e
apreciados pelas suas qualidades.”107
Com características desiguais entre si, os
vinhos da região de Trás-os-Montes são a expressão da diversidade territorial. O
relevo é marcado por montes, serras, pequenas elevações e colinas que delimitam o
vale do Tâmega, designado por Veiga de Chaves. O clima, de influência atlântica e
continental, caracteriza-se por invernos frescos e verões moderados. No inverno, a
precipitação é elevada (de 700 a 1200 mm), onde a formação de geada e de orvalho
é significativa, e a ocorrência de neve nas terras com altitudes superiores ou iguais a
800 metros é normal108
. Para além de Chaves, Valpaços e o Planalto Mirandês, são
também sub-regiões que produzem vinho de Denominação Original Protegida (DOP),
geralmente designado como vinho regional transmontano, contribuindo para o seu
crescimento e divulgação.
Fazendo uso da tradição vitivinícola da região de Trás-os-Montes, à qual
Chaves pertence, e do seu património popular, pretende-se, com esta intervenção de
reabilitação, estimular Chaves para um novo modo de promover o seu património
natural e cultural de carácter vernacular – pela cultura do vinho, até então pouco
utilizada – colocando-a ao nível de outras regiões vitivinícolas, interligadas pelas
rotas do vinho. Assim, ao dar-se a conhecer Chaves rural, estimula-se a preservação
da memória e da história desses lugares e dessas gentes.
V.2.2_ Aldeia Casas Novas
Casas Novas (ilustração 109), é uma aldeia da freguesia de Redondelo que
dista 11,8 km a Sudoeste da cidade de Chaves à qual se liga pela estrada municipal
N103. Está igualmente próxima de Boticas (12,7 km), e ainda próxima do nó de
acesso à A24.
107
Instituto da Vinha e do Vinho. [em linha]. [consultado em 12 de Janeiro 2012]. Disponível em: <http://www.ivv.min-agricultura.pt/np4/home.html> 108
Câmara Municipal de Chaves. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.cm-chaves.pt pdf>
132
110. Ruas em Casas Novas. 111. Casa de dois pisos.
112. Hotel Rural Casas Novas.
113. Solar dos Vilhenas. 114. Capela N. Sr. dos Aflitos. 115. Capela de S. Bernardino.
133
Implantada numa pequena colina com uma altitude compreendida entre os
480 e os 500 metros, tem uma topografia pouco acentuada, ainda influenciada pelas
margens do rio Tâmega, fazendo com que o território seja fértil e propício a diferentes
tipos de cultivo. Essa diversidade de terrenos agrícolas – usados para plantação de
legumes, de pomares, de vinhas e de pastagens e terrenos devolutos, cria uma
paisagem rica, com diferentes cores e ritmos. Ainda importante no desenho desta
paisagem assinala-se a divisão dos campos, umas vezes com muros baixos, outras
com caminhos vicinais.
O povoamento de Casas Novas é concentrado, composto por construções de
habitação, produção e religião, directamente relacionadas com os modos de vida
social, à base da exploração agropecuária, agrícola e vitivinícola, expressão do seu
carácter vernacular e popular. Neste contexto rural, podem ainda encontrar-se
exemplos de arquitectura erudita, em menor quantidade e, por consequência, com
menor presença no conjunto da aldeia. As ruas, estreitas e sinuosas, pavimentadas
com granito ou em terra batida (ilustração 110), são definidas por construções – em
pedra, madeira e barro – constituídas maioritariamente por habitações de dois pisos
(ilustração 111). O rés-do-chão destina-se aos trabalhos de produção e de criação
animal, e o piso superior à habitação. O seu acesso faz-se por uma escada exterior e,
por vezes, por uma varanda associada. Apesar da dualidade de funções descrita,
existem construções unicamente destinadas à agropecuária, agricultura e viticultura.
Além destas construções correntes de habitação e produção, as ruas são ainda
definidas por pequenos largos marcados por fontes de água – directamente
relacionados com a vivência do lugar – e também por edificações de carácter erudito,
como a Escola Primária, o Solar Viscondessa do Rosário, recentemente reconvertido
em Hotel Rural Casas Novas (ilustração 112), o Solar dos Vilhenas (ilustração 113), e
de carácter religioso, como a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos (ilustração 114) e
a Capela de S. Bernardino (ilustração 115).
Além destes valores expressivos da humanização da paisagem e da relação
do homem com a natureza em resposta às suas necessidades económicas e sociais,
existem também outros elementos que permanecem e definem o ambiente rural da
aldeia. Ao percorre-la, o cheiro da terra e da criação animal, revelam que a agricultura
e a agropecuária ainda subsistem. A presença de tractores que substituíram as
tradicionais ferramentas agrícolas, e o gado nas ruas – embora menos expressivo
134
116. Vista panorâmica sobre o sítio, o edificado e a vinha.
135
que noutros tempos – reafirmam a sua continuidade, embora agora como actividades
secundárias.
As festas e romarias que preservam e demonstram o modo de vida social
popular, estão também presentes, assim como nas aldeias vizinhas, que em
cumplicidade demonstram a riqueza de uma região. Aqui, em Casas Novas destaca-
se, a festa em honra de S. Bernardino, celebrada a 20 de Maio.
A gastronomia é também um bom promotor de uma cultura, e aqui na aldeia
destaca-se o fumeiro e o folar. Beneficiando da proximidade com Chave e Boticas,
podem destacar-se ainda dois eventos de promoção da região rural. Sabores e
Saberes de Chaves, um evento anual cujo objectivo é dar a conhecer a gastronomia,
as tradições, os cantares e danças populares da região, e também a Feira
Gastronómica do Porco e a rede de tabernas na vila de Boticas.
Como acontece na maioria das aldeias rurais, e apesar dos valores
mencionados, característicos do seu ambiente natural e patrimonial, e da proximidade
a Chaves e Boticas, esta aldeia apresenta um contínuo processo de despovoamento
e enfraquecimento económico causado pelo abandono das gerações mais novas e,
por consequência, pelo envelhecimento das gerações actuais. Este facto reflecte-se
no estado de conservação das construções e dos terrenos associados que
permanecem abandonados e, cada vez mais, deteriorados e degenerados. Neste
sentido, existe a necessidade de criar um valor distinto e atractivo que, em
cumplicidade com as aldeias mais próximas, atraiam novos visitantes para fixação
temporária, e posteriormente novos habitantes.
Fazendo uso da reabilitação enquanto especialidade da arquitectura, e como
instrumento de reanimação e valorização dos lugares e dos seus valores, recorre-se
a um conjunto de edificações (ilustração 116) onde a intervenção seja motor de
revitalização. Aliando a promoção turística de Chaves à presença do Hotel Rural
Casas Novas e aos valores de interesse cultural, patrimonial e natural da aldeia de
Casas Novas anteriormente mencionados, em cumplicidade com as aldeias vizinhas,
torna-se evidente que a resposta à necessidade de desenvolvimento económico,
social e cultural da aldeia passa por um programa relacionado com o turismo.
A forte presença de campos vitivinícolas que confirmam a tradição vinícola da
região, e a existência de um conjunto de imóveis relacionados com a exploração e
136
117. Vista aérea do conjunto vitivinícola.
118. Coberto.
137
produção de vinho, em avançado estado de degradação, confirmam a escolha do
lugar e definem a estratégia de intervenção. Neste contexto, a reabilitação de um
agregado de construções associadas a uma tradição, como atracção turística, além
do desenvolvimento económico e consequentemente cultural e social, pretende
fomentar a preservação e conservação patrimonial, motivados pela habitação
permanente dos trabalhadores, ou temporária dos turistas, permitindo assim a sua
continuidade para as gerações futuras.
Propõem-se, então, a reabilitação e ampliação de uma pequena adega
vinícola e vinha associada abandonadas, actualizando a sua função de exploração e
produção vinícola para os padrões de qualidade e conforto actuais, modificando-a e
transformando-a num ponto de enoturismo, exaltando e promovendo a tradição local
e regional.
V.2.3_ Conjunto vitivinícola e agrícola
O sítio (ilustração 117) é composto por um conjunto de diversas construções,
com diferentes usos e escalas, que configuram um pátio entre si. Contíguos, e a
sustentarem a existência desta exploração e produção vitivinícola, encontram-se
terrenos vitícolas, marcados pela horizontalidade e linearidade da implantação da
vinha, limitada por pequenos muros e caminhos vicinais. Numa relação de
proximidade com este conjunto vitivinícola e agrícola, separada pela rua de acesso
com o mesmo nome, está a Capela de S. Bernardino que, segundo os populares, foi
mandada instituir e construir como agradecimento à protecção das colheitas.
O granito, a madeira e o barro são os materiais que predominam na edificação
e materialização deste conjunto popular e vernacular, à semelhança do que acontece
na aldeia, identificando e marcando a sua paisagem. O granito constrói as paredes
que se revelam robustas, de aparência inacabada e tosca, e a madeira, mais leve e
macia, faz os pisos e a estrutura das coberturas, para além das portas e janelas. O
barro das telhas, marselha e meia cana, faz os telhados essencialmente de duas
águas.
Junto à vinha, encontra-se um coberto porticado (ilustração 118), voltado para
o pátio e encerrado para a vinha. Existe ainda, associado ao terreno vinícola e
agrícola, uma construção de pequena escala maioritariamente encerrada, com
pequenos vãos para entrada de ar e uma porta relacionada com o pátio. Aqui
138
119. Lagares.
120. Adega e palheiro.
121. Armazém e sequeiro.
122. Forno e arrecadação
123. Pátio e espigueiro.
139
encontram-se dois lagares (ilustração 119) e um canal em granito para o escoamento
do vinho, ligado por um vão à adega, localizada na construção contígua (ilustração
120). Essa edificação de dois pisos está relacionada com a rua de acesso ao
conjunto agrícola e vinícola. O rés-do-chão, encerrado e com um acesso directo da
rua, é a adega, dividida em dois espaços, posteriormente adaptados a pocilga. O
andar superior, acessível por uma escada interior em granito, tem o piso em madeira
e é aberto, naturalmente ventilado e iluminado, respondendo à função de palheiro.
Relacionada com a mesma rua, existe outro volume, maior, parcialmente dividido e
organizado em dois pisos (ilustração 121. O rés-do-chão é dividido em dois armazéns
e o piso superior constitui o sequeiro, amplo e aberto em dois alçados. Adossada a
este corpo, existem mais duas edificações de um piso (ilustração 122), directamente
relacionadas com o pátio, com as funções de forno e de arrumo.
O pátio (ilustração 123), com dois acessos, funciona como sala exterior, de
circulação e ligação à vinha e aos diferentes espaços de trabalho, respondendo às
necessidades exigidas. Em terra batida, desnivelado, é limitado pelos volumes, mas
também por muros baixos que fazem a divisão e separação da vinha.
Apesar das diferentes escalas, articulações e relações com o lugar, reflexo da
sua construção conforme os seus usos e necessidades, todas estas edificações
organizam e resultam num conjunto vinícola e agrícola equilibrado, entre si e entre
este e o lugar, representando bem o carácter da arquitectura popular e vernacular da
aldeia. No entanto, apesar da sua riqueza formal e patrimonial, encontram-se
degradadas e em risco de ruir, observando-se já a inexistência de alguns pavimentos
e coberturas.
V.3_ Reabilitação e ampliação da Adega Casas Novas
Partindo do contexto vernacular e rural em geral, e vitivinícola em especial,
associado ao conceito de enoturismo, existiu a necessidade de se desenvolver um
programa funcional e sequencial. Com base na pesquisa sobre a produção vitivinícola
e o enoturismo, e relacionando com o estudo do projecto da Adega Casa da Torre da
autoria do arquitecto Carlos Castanheira, e da Adega Mayor da autoria do arquitecto
Álvaro Siza Vieira, foi definido e organizado um programa distribuído por três
sectores: o de administração e gestão, o de produção e o de enoturismo.
140
124. Programa de administração e gestão.
125. Programa de produção vinícola.
126. Programa de enoturismo.
141
O programa de administração e gestão (ilustração 124), a que correspondem a
recepção, o gabinete administrativo, a arrecadação e a cozinha, é organizado no
antigo armazém e sequeiro, e o vestiário e balneário dos funcionários dispõe-se
numa nova construção. O de produção (ilustração 125), composto pelo pátio de
trabalho, o armazém agrícola, a recepção e esmagamento da uva, a prensagem e
fermentação, o estágio e o controlo de qualidade, o envelhecimento do vinho, o
engarrafamento e o embalamento do vinho, o armazém de expedição, divide-se entre
a antiga adega e o lagar, e a nova edificação adjacente a Este. O programa de
enoturismo (ilustração 126) – enquanto turismo especializado, com o propósito de
conhecer a cultura do vinho e da sua região – abrange todos os espaços de
produção. No entanto, a loja e a sala gastronómica, no sequeiro, e a sala de
degustação, no palheiro, são espaços que respondem a esta valência programática.
Utilizando o pensamento de Camillo Boito quando defende a diferença dos
estilos e dos materiais, e a clara marcação das acções realizadas109
, e recorrendo às
cartas e convenções internacionais sobre o Património, a elaboração deste estudo e
projecto procura ser coesa, desde a acção de organização e adequação dos usos
aos espaços preexistentes, até à forma como estes se articulam e originam a sua
ampliação. Fazendo uso das linhas de acção da Carta do Património Vernacular
Construído, nomeadamente quando defende que a “adaptação e reutilização das
estruturas vernaculares deve ser levada a cabo de modo a que respeite a sua
integridade e configuração”110
, a distribuição e organização funcional do programa,
em equilíbrio com a escala da preexistência, procura a directa relação com algumas
funções já existentes e também a melhor adequação dos espaços aos novos usos,
aproveitando as capacidades e qualidades espaciais e materiais das construções. A
apropriação do espaço é também inspirada e aconselhada na capacidade de
adaptação espacial na reconversão do moinho do arquitecto José Gigante.
Com este sentido, o coberto preexistente (ilustração 127) adopta a função de
armazém agrícola, e pela sua necessidade de guardar as máquinas e ferramentas
agrícolas, é encerrado com madeira.
109
CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración. Madrid: Alianza Editorial. 1988. p.31 e 32. 110
Carta sobre o Património Construído Vernáculo. [em linha]. ICOMOS. 1999. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.international.icomos.org/charters/vernacular_sp.pdf>
142
127. Esquema de evolução de intervenção. Reabilitação. Legenda: 1. Armazém agrícola; 2. Espaço de fermentação do vinho; 3. Sala de controlo de qualidade; 4. Sala das barricas; 5. Sala de degustação; 6. Recepção e loja; 7. Gabinete administrativo; 8. Sala gastronómica; 9. Cozinha; 10. Loja.
128. Vista sobre o conjunto vinícola.
129. Vista sobre a capela S. Bernardino.
143
A edificação de transformação da uva em vinho (ilustração 127) mantém o
programa anterior, validando os lagares e o canal em pedra de ligação à adega para
escoamento do vinho, embora seja necessária a adaptação tecnológica, para o
esmagamento e prensagem da uva, e a bombagem do vinho para as cubas. A área
livre contígua permite ainda a colocação de uma prensa. A antiga adega actualiza a
sua função. No rés-do-chão, instala-se a sala das barricas e a sala de controlo de
qualidade. O seu carácter encerrado permite responder às exigências térmicas e
lumínicas, mas também ao ambiente recolhido e calmo que o vinho exige. No piso
superior – palheiro – com acesso pela escada preexistente na sala das barricas,
surge agora a sala de degustação, com relação visual com a sala de controlo de
qualidade. As suas características espaciais singulares – ventilação e iluminação –
exigem que a preexistência, rasgada de Sul a Este, seja encerrada com madeira e
vidro. Um ripado de madeira, sugerido fundamentalmente pelos espigueiros e
sequeiros tradicionais, e desenvolvido na Adega Casa da Torre, foi a solução
adoptada para filtrar a luz, e controlar a temperatura por meio da redução da
incidência solar directa. Deste modo, é também conseguido um espaço de culto, um
ambiente destinado à degustação do vinho, com apenas duas janelas, uma em cada
fachada, relacionadas com o exterior, a Sul, com o conjunto vitivinícola (ilustração
128), a Oeste, com a Capela de S. Bernardino (ilustração 129).
Mantendo os princípios de respeito na adequação de novos usos à
preexistência, a construção que anteriormente foi armazém e sequeiro (ilustração
127), assume agora as funções de recepção, loja e gabinete no rés-do-chão. O andar
superior é agora cozinha e sala gastronómica, apropriando-se da escala popular do
espaço, que lhe confere um ambiente acolhedor e familiar, e das vistas sobre todo o
espaço de exploração e produção vinícola. A multiplicidade de espaços nesta
construção é permitida e conseguida pela sua configuração regular e liberdade
espacial. No entanto, a necessidade de conexão interior entre os espaços originou a
abertura de duas portas em paredes preexistentes, evoluindo e assumindo objectivos
programáticos. Aproveitando o facto de, no rés-do-chão, existir um vão obstruído por
uma pequena construção dissonante, demole-se e abre-se uma porta de ligação ao
pátio. Uma pequena pála simboliza esta passagem para o pátio, e assume a
contemporaneidade da acção. O antigo forno, adossado a esta construção, é agora a
continuação da loja.
Recorrendo ao ripado de madeira usado na sala de degustação, encerra-se a
sala gastronómica. No entanto, por não ter as mesmas exigências térmicas e
144
130. Esquema de evolução de intervenção. Ampliação. Legenda: 1. Recepção da uva; 2. Engarrafamento e embalamento do vinho; 3. Armazém e expedição; 4. Espaço de apoio a funcionários; 5. Vestiário e balneário.
145
lumínicas que a adega, abre-se sobre o pátio e as vinhas. O necessário
encerramento das fachadas cumpre as exigências e valências funcionais e, ao
mesmo tempo, a expressão da linguagem vernacular e popular, com recurso a um
material intemporal e à reinterpretação de uma técnica tradicional, como é defendido
pela Carta sobre o Património Construído Vernacular111
.
Estas acções de conservação e reabilitação, com o sentido de adaptação ao
uso contemporâneo, em sintonia com a Carta de Veneza, tiveram sempre presente o
sentido de respeito pela preexistência através da conservação da sua identidade.
Embora tenha existido a necessidade de adaptação de usos e materiais, em alguns
espaços recuperados, mantêm-se os valores identitários da arquitectura popular e
vernacular, com a manutenção da sua forma e escala, mas também pelas cores e
texturas das estruturas e materiais preexistentes reutilizados e aplicados na solução
adoptada.
Distribuído e organizado o programa, verifica-se a insuficiência de área
necessária para o completo funcionamento da adega. Esta circunstância determina o
aparecimento de novas construções, de modo a permitir responder às novas
necessidades programáticas que correspondem essencialmente à produção vinícola.
Estas novas edificações são adições no tempo, à semelhança do que ocorreu no
aglomerado de edificações e construções existentes, mas assumindo claramente a
modernidade do seu tempo. A implantação do volume ampliado (ilustração 130) é a
consequência de diferentes intenções. A de resposta a uma lógica de construção
modular e sequencial, conforme as necessidades, e o prolongamento do programa de
produção. A sua forma é o reflexo do modo de produção do vinho. Assume, na sua
maioria, a industrialização da produção vinícola actual, definindo os espaços de
engarrafamento e embalamento do vinho, armazém e expedição. No entanto, define
também o espaço de recepção da uva, antecedido de um espaço exterior de trabalho,
diminuindo o impacto da escala do volume. O espaço interior é livre, bem iluminado e
com forte relação visual com o exterior.
Independente desta ampliação, mas orientada pela direcção da vinha e no
limite a Norte do terreno vinícola, surge outra construção de raiz, de menor escala
(ilustração 130), de apoio aos funcionários, com o vestiário e balneário, e com um
espaço de estar que se estende para o exterior. A tensão criada por estes dois
111
Carta sobre o Património Construído Vernáculo. [em linha]. ICOMOS. 1999. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em: <http://www.international.icomos.org/charters/vernacular_sp.pdf>
146
131. Esquema de evolução de intervenção. Pátios. Legenda: 1. Pátio do visitante; 2. Pátio de trabalho; 3. Pátio de estar do trabalhador.
147
volumes cria um pátio de entrada para uma parcela agrícola que ainda pertence à
propriedade em estudo.
É apoiado nos princípios de restauro e conservação de Camillo Boito e na
Carta de Veneza que as novas construções exigidas pela evolução dos usos no
tempo, assumem a sua contemporaneidade e se distinguem da preexistência. No
entanto, mantêm uma relação de equilíbrio e harmonia com o lugar, respeitando a
escala das construções preexistentes, do lugar, e a sua relação com o todo.
O espaço exterior (ilustração 131), definido pelas construções envolventes e
pelos muros preexistentes, é um elemento comum, unificador e comunicador com
todos os espaços. Apresenta diferentes momentos, essencialmente marcados por
três pátios. Um pátio central, de forma poligonal definido pelas construções
preexistentes, e de pendente irregular, é agora regularizado e dirigido ao visitante.
Um novo pátio e o seu acesso, com um carácter mais regular, é destinado ao
trabalho, relacionado com as vinhas e os volumes de produção. Permite a circulação
de máquinas agrícolas e o transporte de expedição do vinho. Um terceiro pátio, ligado
ao vestiário, balneário e ao espaço de estar de uso dos funcionários, está
intimamente relacionado com a vinha. A vinha mantém a sua implantação e
orientação, realçando e preservando o relevo natural do sítio, e marcando e
identificando a paisagem.
O lugar e a sua natureza são também respeitados, na medida em que o seu
uso agrícola e vitivinícola é mantido, assim como a orientação das vinhas e o relevo
associado, como aponta a Convenção para a Protecção do Património Mundial,
Cultural e Natural, na definição global de património, que procura manter a sua
estrutura e a identidade natural e cultural do lugar.
Materializando e pormenorizando a ideia (ilustração 132), o granito, a madeira
e o barro, materiais preexistentes, predominam no conjunto, evocando os valores
culturais e naturais das construções de cariz popular e vernacular. Simultaneamente,
recorrem-se a técnicas e materiais actuais – betão armado aparente e reboco – como
forma de revelar os diferentes tempos da intervenção. Esta distinção material é
apoiada pela conciliação dos princípios definidos nas cartas de restauro, em sintonia
com os princípios de Camillo Boito, na procura da harmonia material e formal.
O granito, elemento estrutural, continua aparente no exterior e no interior das
construções preexistentes. No entanto, existem espaços que, por actualização dos
padrões de qualidade, exigência e valência técnica – cozinha, sala de controlo de
148
132. Materialização e pormenorização.
149
qualidade e instalações sanitárias – requerem outro revestimento interior, assumindo
a sua contemporaneidade e salubridade.
A madeira é igualmente importante, em “que o exterior é tantas vezes parte do
interior, sem problemas de pontes térmicas obsessivas; que a viga se confunde com
o caixilho e o caixilho funciona, também, como viga; o tecto é chão e o chão tecto,
assim sem mais nada”112
. Assume um protagonismo estrutural e espacial importante
na construção dos pisos das salas de degustação e de gastronomia, e de todas as
coberturas preexistentes recuperadas. Estas assentam sobre as espessas e robustas
paredes de granito, ficando a viga visível pelo exterior. No interior, a estrutura de
madeira é aparente na sua totalidade. As portas e janelas, também em madeira, são
fixadas no entalhe da pedra. Relativamente às janelas de correr, propostas nas salas
de degustação e de gastronomia, assentam sobre o soalho e fixam-se lateralmente à
parede, recusando a sua irregularidade dos topos. O ripado de madeira é fixo na
parede e na viga, permitindo revelar os pilares de pedra preexistentes, como memória
visual e material.
Nas novas construções, onde o betão armado é estrutural, as paredes são
rebocadas no interior e exterior, contrastando com o aspecto irregular das
construções antigas. Os pisos são em betão afagado e os tectos em betão aparente.
Embora a construção antiga e nova se diferenciem na linguagem formal e
material, também se cruzam de modo disciplinar e intencional nos valores das suas
arquitecturas. Nesta união, entalha-se uma caleira que recolhe as águas das duas
construções. O granito e a madeira propagam-se para as novas construções,
desenhando o lambrim, o rufo, as portas e janelas. Os materiais actuais também
invadem as preexistências. O betão afagado e o reboco prolongam-se para a sala de
controlo de qualidade, a sala de barricas, a cozinha e as instalações sanitárias.
No exterior, os três pátios, embora com usos e utentes distintos, têm a mesma
materialização, prolongada da rua para o pátio com cubos de granito, apenas
interrompidos pelas guias e rampas definidas por lagetas de granito. Guias e rampas
têm como objectivo regularizar e dignificar o espaço exterior, criando domínios visuais
e espaciais, quando estes se transformam em bancos ou muros, e definem os lambris
em granito das novas construções.
112
CASTANHEIRA, Carlos – “Construir em madeira – porque eu Gosto!” In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 8.
150
133. Maqueta da reabilitação e ampliação da Adega Casas Novas.
151
“Uma adega já não é o que era. Está melhor, assim como o vinho.”113
Esta
convicção é consequência da tranformação do processo de produção e promoção
vinícola que acompanha a evolução da sociedade no tempo.
Uma aldeia também já não é o que era. Está esquecida, abandonada, perdida
no tempo. A arquitectura deve, então, associada aos valores construídos e não
construídos dos lugares da aldeia, ser uma ferramenta de preservação patrimonial e
de desenvolvimento económico, social e cultural, sempre em equilíbrio com a sua
identidade – aqui vernacular e popular – contrariando os princípios de restauro
defendidos por Eugène Viollet-le-Duc que se revelam descaracterizadores, e
recusando o fim das construções preexistentes como sustentam as teorias mais
fatalistas de Jonh Ruskin. Contudo, ambas as teorias contribuem para a preservação
da história e memória dos lugares, e, no estudo e projecto da Adega Casa Novas
(ilustração 133), pode associar-se a conservação e a preservação de alguns
elementos identitários a Viollet-le-Duc, e a preservação das marcas do tempo na
pedra e na madeira a Ruskin. Camillo Boito é, no entanto, o teórico mais influente
nesta intervenção, sendo ele simultaneamente conservador e transformador,
permitindo a conservação e evolução do conjunto vitivinícola reabilitado e ampliado.
São também lições úteis, as cartas e as convenções sobre o património e os casos
de referência seleccionados.
113
CASTANHEIRA, Carlos – “Adega Casa da Torre” In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 123.
VI_ Conclusão
155
O conceito de reabilitação aplicado em arquitectura é contemporâneo,
devendo-se o seu entendimento actual à evolução da definição de conservação e
restauro ao longo dos tempos. Enquanto ferramenta que permite a recuperação e
reutilização do espaço que é memória e história de uma sociedade, e permite a sua
transmissão no tempo continuando assim a acrescentar valor com a qualidade e a
identidade das diferentes épocas que atravessa, a reabilitação define-se como meio
de preservação social e cultural do património, dependente da necessária acção
técnica, disciplinar, instrumental e profissional do arquitecto.
A abordagem ao tema da reabilitação proposta nesta dissertação teve como
principal objectivo compreender qual a posição do arquitecto perante o território não
construído e construído preexistente. Com este sentido, é necessário responder às
interrogações que se enunciaram e colocaram no início desta investigação, e que se
relembram. Quais as oportunidades para estes lugares esquecidos, abandonados?
Qual o futuro para estes espaços? Que reflexões deve o arquitecto fazer? Que
instrumentos estão à disposição do arquitecto? Que ferramentas deve usar? Quais as
limitações na intervenção? Quais as consequências da actuação no construído, a
partir das potencialidades e capacidades existentes?
A concretização desta investigação teórica e experimentação prática permitiu
afirmar e confirmar a importância do património na identificação e caracterização das
sociedades e dos seus tempos, mais evidente em ambientes rurais, populares e
vernaculares, onde a arquitectura de habitação e produção é a expressão da forte
relação de afinidade e conformidade entre o homem e a natureza. A verificação da
continuada e acelerada degradação da aldeia de Casas Novas, assim como de tantas
outras que se visitaram nos concelhos de Montalegre e Chaves, aquando da
pesquisa territorial, revelou que o território do interior português está desertificado e
deteriorado, deixando ao abandono os campos e as construções associadas, o que
origina a consequente perda das tradições e dos costumes da cultura popular e
vernacular. Esta constatação permite concluir que a consciencialização da
importância do património natural e cultural pela sociedade é o primeiro passo para
que esta e o arquitecto identifiquem e valorizem as oportunidades, promovendo e
sustentando um futuro para estes lugares e para estas arquitecturas, permitindo a
sua preservação e evolução no tempo. Torna-se necessário identificar e evidenciar os
valores de cada lugar e dos seus habitantes, revelando o que melhor os identifica e
distingue, recuperando e acrescentando novos interesses, promovendo assim a
156
continuação e apresentação dos valores tradicionais e culturais da região. Conclui-se
assim que a reabilitação é indispensável e imprescindível para manter a memória e
historia do passado e, ao mesmo tempo, proporcionar um futuro a estes lugares, a
estas construções e a estes habitantes, seja pela evolução e adaptação dos usos
seja pela sua musealização.
O caso de estudo na aldeia de Casas Novas revela-se um exemplo de
manutenção e promoção da permanência patrimonial, através da sua reabilitação,
evidenciando todos os seus valores construídos e não construídos. A vontade e, aqui,
a necessidade de manter uma cultura que já existiu, e, ao mesmo tempo,
acrescentar-lhe conceitos e ideias actuais como o enoturismo, através de
espacialidades e materialidades contemporâneas protagonizadas pela arquitectura, é
um exemplo de como o futuro destes lugares está neles próprios.
A reabilitação, além de um acto de interesse social e cultural, tem a necessária
intervenção disciplinar, instrumental e profissional, recorrendo ao conhecimento da
arquitectura e de outras disciplinas. Assim, como cidadão da sociedade, mas com
responsabilidades acrescidas e exigidas na organização do espaço, o arquitecto tem
de apreender o que é o património e a sua importância, reflectindo caso a caso.
Quais são os valores fundamentais e essenciais do lugar e da sua arquitectura?
Quais são os princípios fundadores e estruturadores? Quais são os materiais e
técnicas de construção associadas e utilizadas? Estas são as perguntas que
concorrem para a reabilitação e construção do lugar e da arquitectura, ajudando a
compreender o que fazer aquando de uma acção ou intervenção, seguindo a via da
preservação e não da destruição.
As teorias, as cartas e as convenções de restauro são instrumentos que o
arquitecto tem à sua disposição, auxiliando na investigação e compreensão do
património a intervir, indicando e sugerindo metodologias de intervenção. Enquanto
ferramentas de reabilitação, estes instrumentos constituem orientações intelectuais e
culturais a ter em consideração nos intervalos entre a conservação e o restauro, que
se revelam nas adições e subtracções, nas técnicas e nos materiais usados na
acção, sempre com preocupação pela identidade e verdade do património,
assumindo sempre a actualidade da intervenção, que passa, assim a constituir
registo de cada tempo e momento da acção. Perante a liberdade metodológica,
instrumental e profissional expressa nestes documentos, é o arquitecto que define o
157
caminho a adoptar e quais as ferramentas usar, seguindo os seus ideais de
preservação e actuação no património.
Na reabilitação da Adega Casas Novas, assumiu-se a preservação máxima
dos usos, das formas, dos materiais e dos pormenores, mas quando necessário
recorreu-se a uma adição e ampliação com materiais de linguagens e imagens novas,
considerando-se e sustentando-se ser a resposta mais adequada para a preservação
e evolução do património.
Embora cada arquitecto tenha a sua identidade de intervenção e manipulação
do património, a sua actuação é orientada e gerida pelas organizações de
identificação e protecção do património. Com a consciência de que sempre que
intervêm no património algo se perde, estas orientações e gestões prendem-se
essencialmente nas acções que possam ser irreversíveis, como a demolição ou
ampliação de novos espaços, de modo a evitar que o património perca os seus
interesses e valores essenciais, ficando desvalorizado e descaracterizado, incapaz de
afirmar o seu passado e, consequentemente, o seu futuro.
Construir no construído, apropriando-se das potencialidades e capacidades
existentes nos lugares e nas arquitecturas, valida a continuação e transmissão da
história e memória de outros tempos às gerações presentes e futuras, para que estas
não percam o contacto com o passado e possam desfrutar e reinventar o futuro.
Reabilitando, consegue-se um território capaz de se transformar e reutilizar,
respondendo com equilíbrio às exigências políticas, económicas, sociais e culturais
da sociedade, tornando-se assim na sua identidade.
Concluindo a investigação em torno da preservação da história e da memória,
que aqui se associa à arquitectura enquanto geradora, transformadora e mediadora
cultural, popular ou erudita, a reabilitação torna-se indispensável e imprescindível.
Revelando-se um conceito com intervalos dilatados e diversificados capazes de
apelar e motivar a imaginação do arquitecto, apresenta-se em constante evolução e
adaptação ao pensamento de cada sociedade e de cada época. A capacidade de
reutilização na reabilitação, dos usos aos materiais, permite inúmeras opções e
soluções de intervenção, balizadas e orientadas – mas não limitadas – pelas cartas e
convenções dedicadas ao património. Com este sentido, é a concepção, a
158
imaginação, o conhecimento e, ainda, o bom senso do arquitecto que definem como
agir caso a caso, pois cada arquitecto tem a sua identidade, a sua forma de pensar e
desenhar o espaço em arquitectura.
Contudo, é necessário que o interesse pelo património motive efectiva e
afectivamente a sociedade em geral, e os cidadãos com responsabilidades políticas,
técnicas e económicas, sociais e culturais. Com este sentido, é essencial que as
organizações internacionais referidas na investigação, como o ICOMOS, a UNESCO,
o Conselho da Europa, entre outras, e as organizações nacionais como a Direcção
Geral do Património Cultural, desenvolvam instrumentos de formação e educação
cívica e técnica que animem e incentivem o interesse pelo conhecimento do
património e pela importância na sua preservação e transmissão futura, permitindo a
qualidade e vitalidade do tecido rural e urbano, dos sítios, evitando que deste modo
de percam valores únicos, insubstituíveis e imprescindíveis, reflexo do crescimento
das sociedades.
Bibliografia
161
Monografias _ NP 405-1
● ANTUNES, Alfredo da Mata, et al – Arquitectura Popular em Portugal. Volume 1. 3ª
ed. Lisboa: Associação dos Arquitectos Portugueses, 1988.
● AUGÉ, Marc – Nao-lugares, Introdução a uma antropologia da Sobremodernidade.
Lisboa: Editora 90º. 1992.
● ARROTEIA, Jorge – “Introdução” In MOUTINHO, Mário – Arquitectura Popular
Portuguesa. 3ª ed. s/l: Editorial Estampa, 1975.
● BRANDI, Cesari – Teoria de la Restauración. 4ª ed. Madrid: Alianza Editorial, 1995.
● CAPITEL, Antón – Metamorfosis de monumentos y teorias de la restauración.
Madrid: Alianza Editorial. 1988.
● CASTANHEIRA, Carlos – “Adega Casa da Torre” In CASTANHEIRA, Carlos –
Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011.
● CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra:
Caleidoscópio, 2011.
● CASTANHEIRA, Carlos – “Construir em madeira – porque eu Gosto!” In
CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira arquitecto. Casal de Cambra:
Caleidoscópio, 2011.
● DIAS, Manuel Graça – “ É porque queremos continuar ” in FERNANDES, Fátima,
CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados. Casal de Cambra: Caleidoscópio,
2009.
● CHOAY, Françoise – Alegoria do Património. 3ª ed. Lisboa: Edições 70, 1999.
● FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Construir no tempo. Lisboa: Estar-
editora, 1999.
● FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – “Construir no tempo” In FERNANDES,
Fátima, CANNATÁ, Michele – Construir no tempo. Lisboa: Estar-editora, 1999. pp. 7 a
9.
● FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados. Casal de
Cambra: Caleidoscópio, 2009.
● FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – “Reciclar o existente e requalificar o
território” In FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados.
Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2009. pp. 9 a 15.
● GIANGREGORIO, Guido – Álvaro Siza, Imaginar a evidência. 2ª ed. Lisboa:
Edições 70, 2009.
162
● HALL, C. Michael – Wine Tourism around the World: Development, Management
and Markests. 3ªed. Nortolk: Great Britain by Biddles, 2002.
● LE CORBUSIER – Hacia una arquitectura. 1ª reimpressão. Barcelona: Ediciones
Apóstofre, S.L, 1998.
● MILANO, Maria – Do habitar. Porto: Edições ESAD – Escola Superior de Artes e
Design, Matosinhos, 2005.
● MILHEIRO, Ana Vaz, AFONSO, João, NUNES, Jorge – Àlvaro Siza, Candidatura
ao prémio Gold Medal 2005. Maia: Ordem dos Arquitectos, Caleidoscópio, 2007.
● MOUTINHO, Mário – Arquitectura Popular Portuguesa. 3ª ed. s/l: Editorial Estampa,
1975.
● NEVES, José Manuel – José Gigante, Habitar. Casal de Cambra: Caleidoscópio,
2008.
● NORBERG-SCHULZ, Christian – Intenciones en Arquitectura. Barcelona: Editora
Gustavo GIli, 1965.
● NORBERG-SCHULZ, Christian – Genius Loci, Towards a Phenomenology of
Architecture. New York: Rizzoli, 1980.
● OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, GALHANO, Fernando – Arquitectura tradicional
portuguesa. 2ªed. Lisboa: Publicações Dom Quixote Lda, 1994.
● RODRIGUES, Maria – O que é Arquitectura. s/l: Quimera Editores, 2002.
● TAVORA, Fernando – Da Organização do Espaço. 6ª ed. Porto: FAUP Publicações,
1962.
● VIDIELLA, Àlex Sánchez – Àlvaro Siza. Apontamentos de uma arquitectura
sensível. Lisboa: Bertrand Editora, 2009.
Artigos e publicações em série _ NP 405-1
● Arquitectura Ibérica – N.º 36 Reabilitação. Casal de Cambra: Caleidoscópio. Março
2011.
● Guia Municipal de Chaves. Chaves: Câmara Municipal. 2001.
● PEDREIRINHO, José Manuel – “O novo e o antigo contemporâneo” In Arquitectura
Ibérica – N.º 36 Reabilitação. Casal de Cambra: Caleidoscópio. Março 2011. pp. 10 a
13.
163
Referências electrónicas _ NP 405-4
● Associação para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica. [em
linha]. [consultado em 09 de Fevereiro 2012]. Disponível em:
<http://www.aesbuc.pt/twt/ETGI/MyFiles/MeusSites/Enologia/2005/index.htm>.
● Adega Casa da Torre. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível
em: <http://www.adegacasadatorre.com/>.
● Adega Mayor, Álvaro Siza. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011].
Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>.
● BOITO, Camillo – Os Restauradores. [em linha]. Brasil: Atelié Editorial. 2002.
[consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em:
<http://books.google.pt/books?id=ZKZyMwEY6agC&printsec=frontcover&dq=os+resta
uradores&hl=pt-PT&sa=X&ei=PnjxT_PhJIT80QXA0_2LDg&ved=0CDUQ6AEwAA#v=
onepage&q=os%20restauradores&f=false>.
● Câmara Municipal de Campo Maior. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro
2011]. Disponível na internet em: <http://www.cm-campo-maior.pt/>.
● Câmara Municipal de Chaves. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011].
Disponível em: <http://www.cm-chaves.pt pdf>.
● Carta de Atenas. [em linha]. Escritório Internacional dos Museus/Sociedade das
Nações. 1931. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em:
<http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeAtenas.pdf>.
● Carta Europeia de Enoturismo. [em linha]. [consultado em: 25 de Janeiro 2011].
Disponível em: <http://www.turismodeportugal.pt/Portugu%C3%AAs/AreasAtividade
/ProdutoseDestinos/ReuniaoTecnicaEnoturismo/CataEuropeiadoEnoturismo/Anexos/
Carta%20Europeia%20Enoturismo.pdf>.
● Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas. [em linha]
ICOMOS. 1987. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em:
<http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CARTAINTERNACIONALPARASALVAGUA
RDDASCIDADESHISTORICAS.pdf>.
● Carta de Lisboa sobre a Reabilitação Urbana Integrada. [em linha]. Encontro Luso-
Brasileiro de Reabilitação Urbana. 1995. [consultado em: 25 de Janeiro 2011].
Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/cartadelisboa1995.pdf>.
● Carta sobre o Património Construído Vernáculo. [em linha]. ICOMOS. 1999.
[consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em:
<http://www.international.icomos.org/charters/vernacular_sp.pdf>.
164
● Carta de Veneza. [em linha]. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos
de Monumentos Históricos/ICOMOS.1964. [consultado em: 25 de Janeiro 2011].
Disponível em: <http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/CartadeVeneza.pdf>.
● Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural. [em linha].
UNESCO. 1972. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em:
<http://www.igespar.pt/media/uploads/cc/ConvencaoparaaProteccaodoPatrimonioMu
ndialCulturaleNatural.pdf>.
● COSTA, Lúcio – O que é arquitectura. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro
2011]. Disponível em: <http://www.iabsp.org.br/oqueearquitetura.asp>.
● Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. [em linha]. [consultado em 07 de
Outubro 2011]. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>.
● Enciclopédia Britânica – “Eugene-Emmanuel-Viollet-le-Duc”. [em linha]. [consultado
em 06 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://www.britannica.com/EBchecked/
topic/629711/Eugene-Emmanuel-Viollet-le-Duc>.
● Enciclopédia Britânica – “John Ruskin”. [em linha]. [consultado em 06 de Fevereiro
2012]. Disponível em: <http://www.britannica.com/EBchecked/topic/513091/John-
Ruskin>.
● Enciclopédia e Dicionários Porto Editora. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro
2011]. Disponível em: <http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/>.
● GRANDE, Nuno – “Esfinge Mayor” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em
linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em:
<http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>.
● SIZA, Álvaro – “A adega” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em linha].
[consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em:
<http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>.
● SIZA, Álvaro – “Memória descritiva” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em
linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível na internet em:
<http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>.
● NABEIRO, Rui – “Adega Mayor” In GUERRA, Fernando – Adega Mayor. [em linha].
[consultado em Outubro 2011]. Disponível na internet em:
<http://ultimasreportagens.com/mag/entrada.html>.
● InfoVini. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011]. Disponível em:
<http://www.infovini.com/classic/index.php>.
● Instituto da Vinha e do Vinho. [em linha]. [consultado em 12 de Janeiro 2012].
Disponível em: <http://www.ivv.min-agricultura.pt/np4/home.html>.
165
● Junta de Freguesia de Louro. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011].
Disponível em: <http://www.freg-louro.pt/>.
● Junta de Freguesia de Vilar de Mouros. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro
2011]. Disponível em: <http://www.jf-vilardemouros.com/>.
● Lei de Bases da Politica e do Regime de Protecção e Valorização do Património
Cultural. In Diário da República Electrónico. [em linha]. [consultado em: 25 de Janeiro
2011]. Disponível em: <http://www.dgarq.gov.pt/files/2008/10/107_2001.pdf>.
● Regime Jurídico de Reabilitação Urbana. In Diário da República Electrónico. [em
linha]. [consultado em: 25 de Janeiro 2011]. Disponível em:
<http://www.base.gov.pt/legislacao/Legislacao/DL307_2009.pdf>.
● Sogrape Vinhos. [em linha]. [consultado em 09 de Fevereiro 2012] Disponível na
internet em: <http://www.sograpevinhos.eu>.
● Turismo de Portugal. [em linha]. [consultado em: 25 de Janeiro 2011] Disponível na
internet em: <http://www.turismodeportugal.pt>.
● United Nations Organization. [em linha]. [consultado em 07 de Outubro 2011].
Disponível em: <http://www.un.org/en/>.
Dissertações _ NP 405-3
● COSTA, Natália Morais da – A reabilitação do Antigo como Obra Nova. A partir da
Arquitectura de Fernando Távora, em Guimarães. Porto: Faculdade de Arquitectura
da Universidade do Porto. 2006. Prova Final para Licenciatura em Arquitectura.
● DUARTE, Nuno Miguel Pinto – Sinais do Passado, Reabilitação do Complexo da
Caniçada. Porto: Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. 2009. Prova
Final para Licenciatura em Arquitectura.
● MARGARIDO, Raquel Joana Freitas Gírio – Adegas contemporâneas, um novo
discurso na arquitectura vernacular ou o boom do Eno-arquitecturismo? Coimbra:
Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra. 2009. Dissertação para a Obtenção de Grau de Mestre em
Arquitectura
● RUSSEL, Filipe Amorim Sá Coutinho – Memória e Transformação, Reabilitação e
recuperação arquitectónica da quinta de Carrazedo. Porto: Faculdade de Arquitectura
da Universidade do Porto. 2009. Prova Final para Licenciatura em Arquitectura
Índice de imagens
169
I _ Introdução. Ilustração composta pelas imagens 1, 6, 19, 27, 28, 32, 34, 60 e 116.
II _ Arquitectura. Ilustração composta pelas imagens 1, 3, 11, 12, 14, 19 e 23.
1. Arquitectura condicionada pela circunstância territorial. Capela Netos. Figueira da
Foz. Arquitecto Pedro Maurício Borges. In Ultimas reportagens. [em linha].
[consultado em 02 de Janeiro 2012]. Disponível em:
<http://ultimasreportagens.com/399.php>.
2. Tempos diferentes da arquitectura. Edifício Habitacional. Vila do Conde. Arquitecto
José Cadilhe. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de Janeiro 2012].
Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/486.php>.
3. Geometria na procura da implantação no lugar. Piscina das Marés. Matosinhos.
Arquitecto Álvaro Siza Vieira. In TRIGUEIROS, Luiz – Álvaro Siza 1954-1976. Lisboa:
Editorial Blau Lda, 1997. pp. 88 e 89.
4. Le Modulor. Arquitecto Le Corbusier. In LE CORBUSIER – El modulor. Ensayo
sobre una medida armonica a la escala humana aplicable universalmente a la
arquitectura e a la mecânica. 1ª reimpressão. Buenos Aires: Editora Poseidon, 1961.
p.62.
5. Luz. Casa Ferreira da Costa. Matosinhos. Arquitecto Álvaro Siza Vieira. (da
esquerda para a direita) In TRIGUEIROS, Luiz – Álvaro Siza 1954-1976. Lisboa:
Editorial Blau Lda, 1997, pp. 95 e 96.
6. Entre o céu e a terra. In Olhares. [em linha]. [consultado em 23 de Dezembro
2011]. Disponível em: <http://olhares.uol.com.br/entre-o-ceu-e-a-terra-
foto558711.html>.
7. Orientação do homem no espaço. In Olhares. [em linha]. [consultado em 07 de
Outubro 2011]. Disponível em: <http://olhares.aeiou.pt/look_right_foto4370034.html>
8. Carácter urbano. Fotografia do candidato.
9. Carácter rural. Fotografia do candidato.
10. Inverno Nórdico. In NORBERG-SCHULZ, Christian - Genius Loci, Towards a
Phenomenology of Architecture. New York: Rizzoli, 1980. p. 20.
11. Alentejo. In Olhares. [em linha]. [consultado em 02 de Janeiro 2012]. Disponível
em: < http://olhares.aeiou.pt/cores-do-alentejo-foto1173523.html>.
12. Douro. In Olhares. [em linha]. [consultado em 10 de Outubro 2011]. Disponível
em: < http://olhares.aeiou.pt/douro_foto4268879.html>.
13. Régates à Argenteuil, 1872. Cloude Monet. In Musée d’Orsay. [em linha].
[consultado em 27 de Junho 2012]. Disponível em: <http://www.musee-
170
orsay.fr/fr/collections/catalogue-des-oeuvres/resultat-collection.html?no_cache=1&zo
om=1&tx_damzoom_pi1%5Bzoom%5D=0&tx_damzoom_pi1%5BxmlId%5D=001089
&tx_damzoom_pi1%5Bback%5D=fr%2Fcollections%2Fcatalogue-des-oeuvres%2Fre
sultat-collection.html%3Fno_cache%3D1%26zsz%3D9>.
14. Lugar Construído. Nova Iorque, EUA. In ultradownloads. [em linha]. [consultado
em 10 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://ultradownloads.com.br/papel-de-
parede/New-York-em-preto-e-branco/>.
15. Quotidiano urbano. In Olhares. [em linha]. [consultado em 10 de Outubro 2011].
Disponível em: <http://olhares.aeiou.pt/quotidiano_vii_foto2429163.html>.
16. Ilustração da página de rosto do livro “Essai sur l’Architecture” do abade Marc-
Antoine Laugier, 1753. In Vitruvius. [em linha]. [consultado em 06 de Outubro 2011].
Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.029/746>.
17. Relevo do território português. In MOUTINHO, Mário - Arquitectura Popular
Portuguesa. 3ª ed. s/l: Editorial Estampa, 1975. p. 17.
18. Momentos rurais. (da esquerda para a direita) In Olhares. [em linha]. [consultado
em 01 de Fevereiro 2012]. Disponível em:
<http://olhares.aeiou.pt/momentos_rurais_foto4435372.html>; <http://olhares.sapo.pt/-
momentos-rurais--foto2500985.html>; <http://olhares.aeiou.pt/rural_moments_foto
4216256.html>; <http://olhares.aeiou.pt/momentos_rurais_foto3256173.html>
<http://olhares.aeiou.pt/momentos-rurais-foto3428975.html> e <http://olhares.sapo.pt/
rural-moments-foto4569753.html>.
19. Casa minhota. In MOUTINHO, Mário - Arquitectura Popular Portuguesa. 3ª ed. s/l:
Editorial Estampa, 1975. p. 53.
20. Planta da casa minhota. In MOUTINHO, Mário - Arquitectura Popular Portuguesa.
3ª ed. s/l: Editorial Estampa, 1975. p. 54.
21. Casa serrana. In MOUTINHO, Mário - Arquitectura Popular Portuguesa. 3ª ed. s/l:
Editorial Estampa, 1975. p. 59.
22.Planta da casa serrana. In MOUTINHO, Mário - Arquitectura Popular Portuguesa.
3ª ed. s/l: Editorial Estampa, 1975. p. 60.
23. Igreja em Piódão. Arganil. In Olhares. [em linha]. [consultado em 11 de Fevereiro
2012]. Disponível em: <http://olhares.sapo.pt/piodao-2-foto2210488.html>
24.Casa de Emigrante. Fotografia do candidato.
171
III_ Princípios e metodologias para a reabilitação
Princípios, regras e ferramentas. Ilustração composta pelas imagens 27, 28, 30,
32, 34, 36, 38 e 40.
25. Fado. In Wikipedia. [em linha]. [consultado em 03 de Novembro 2011]. Disponível
em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A1lia_Rodrigues>.
26. Padrão dos Descobrimentos, 1940. Lisboa. Arquitecto Cottinelli Telmo e
escultores Leitão Barros e Leopoldo de Almeida, 1940. In Padrão dos
descobrimentos. [em linha]. [consultado em 23 de Dezembro 2011]. Disponível em:
<http://www.padraodosdescobrimentos.egeac.pt/index.php?option=com_content&vie
w=article&id=75&Itemid=95>.
27. Vista do Porto. In Olhares. [em linha]. [consultado em 23 de Dezembro 2011].
Disponível em: <http://olhares.aeiou.pt/porto-eterno-foto1091748.html>.
28. Reabilitação. Casa da Arquitectura. Matosinhos. Arquitecto Álvaro Siza Vieira. (da
esquerda para a direita) In Arquitectura Ibérica – N.º 36 Reabilitação. Casal de
Cambra: Caleidoscópio. Março 2011. pp. 79 e 83.
29. Porto. In Olhares. [em linha]. [consultado em 23 de Dezembro 2011]. Disponível
em: <http://olhares.aeiou.pt/o-velho-porto-foto1805330.html>.
30. Mosteiro de Santa Maria da Vitoria, 1386 a 1517. Batalha. In Wikimedia. [em
linha]. [consultado em 13 de Junho 2012]. Disponível em:
<http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/33/Mosteiro_da_Batalha_78a.jpg>
31. Restauro industrial. In Google. [em linha]. [consultado em 03 de Novembro 2011].
Disponível em: <http://www.google.pt/imgres?q=consertar+sapatos&um=1&hl=pt-
PT&biw=1440&bih=805&tbm=isch&tbnid=X0K2EKeo3HqTgM:&imgrefurl=http://vejasp
.abril.com.br/especiais/onde-consertar-tudo&docid=5e5RZvlhAbJNWM&w=540&h=36
0&ei=BfCJTsLOE8j74QS6n-mMDw&zoom=1&iact=rc&dur=177&page=1&tbnh=145&t
bnw=199&start=0&ndsp=28&ved=1t:429,r:2,s:0&tx=144&ty=57>.
32. Restauro artístico. In Facebook – Luís Ferreira Alves. [em linha]. [consultado em
27 de Dezembro 2011]. Disponível em: <http://www.facebook.com/media/set/?set
=a.109737662440274.19011.103320009748706&type=1#!/photo.php?fbid=10973849
9106857&set=a.109737662440274.19011.103320009748706&type=3&theater>.
33. Restauro arquitectónico. Adaptação de Palacete a Private Baking. Porto.
Arquitectos António Portugal e Manuel Maria Reis. (da esquerda para a direita) In
FERNANDES, Fátima, CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados. Casal de
Cambra: Caleidoscópio, 2009. pp. 66 e 77.
172
34. Retrato de Eugène Viollet-le-Duc. In Wikipedia. [em linha]. [consultado em 03 de
Novembro 2011]. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%A8ne_Viollet-
le-Duc>.
35. Restauro estilístico. Catedral de Notre-Dame. Paris, França. Arquitecto Eugène
Viollete-le-Duc. (da esquerda para a direita) In Sacred destinations. [em linha].
[consultado em 10 de Novembro 2011]. Disponível em: <http://www.sacred-
destinations.com/france/paris-notre-dame-cathedral-photos/slides/xti_9808p>; <http://
www.sacred-destinations.com/france/paris-notre-dame-cathedral-photos/slides/xti_98
20p>; <http://www.sacred-destinations.com/france/paris-notre-dame-cathedral-
photos/slides/xti_9872> e <http://www.sacred-destinations.com/france/paris-notre-
dame-cathedral-photos/slides/gargoyle-cc-beggs>.
36. Auto-retrato de John Ruskin. In Wikipedia. [em linha]. [consultado em 03 de
Outubro 2011]. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ruskin.jpg>
37. Ciclo biológico da arquitectura. Convento das Bernardas, 1509 a 1530. Tavira. In
Flickr. [em linha]. [consultado em 03 de Novembro 2011]. Disponível em:
<http://www.flickr.com/photos/7593077@N03/2775574302/in/photostream/>.
38. Retrato de Camillo Boito. In Vitruvius. [em linha]. [consultado em 03 de Novembro
2011]. Disponível em: <http://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/
08.086/3049>.
39. Reabilitação e ampliação da Igreja de Figueiredo. Braga. Arquitecto Paulo
Providência. Fotografia do candidato.
40. Ruínas de Conímbriga, Coimbra. In Olhares. [em linha]. [consultado em 22 de
Março 2012]. Disponível em: <http://olhares.sapo.pt/conimbriga-foto4826817.html>
41. Região Vinhateira do Alto Douro. In Olhares. [em linha]. [consultado em 22 de
Março 2012]. Disponível em: <http://olhares.sapo.pt/alto-douro-foto2161547.html>
42. Arco do Triunfo, 1806 a 1836. Paris, França. In Olhares. [em linha]. [consultado
em 22 de Março 2012]. Disponível em: <http://olhares.sapo.pt/arco-do-trunfo-
foto3153573.html>.
43. Convento de Nossa Senhora da Arrábida, século XVI. Serra da Arrábida. In
Olhares. [em linha]. [consultado em 11 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <
http://olhares.sapo.pt/convento-da-arrabida-foto2754904.html>.
44. Paisagem Cultural de Sintra. (da esquerda para a direita) In Parque de Sintra. [em
linha]. [consultado em 11 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <
http://www.parquesdesintra.pt/>; in Olhares. [em linha]. [consultado em 11 de
Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://olhares.sapo.pt/ruas-de-sintra-
173
foto1187303.html> e <http://olhares.sapo.pt/grande-muralha-de-sintra-
foto876347.html>.
45. Centro Histórico de Guimarães. In Olhares. [em linha]. [consultado em 13 de
Junho 2012]. Disponível em: <http://olhares.sapo.pt/guimaraes-3-
foto921891.html?nav1>.
46. Piódão Arganil. In Olhares. [em linha]. [consultado em 11 de Fevereiro 2012].
Disponível em: <http://olhares.sapo.pt/piodao-foto3727084.html>.
47. Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, 1178. Alcobaça. In FERNANDES, Fátima,
CANNATÁ, Michele – Territórios Reabilitados. Casal de Cambra: Caleidoscópio,
2009. p. 124.
48. Desrespeito pelo património. In Olhares. [em linha]. [consultado em 22 de Março
2012]. Disponível em: <http://olhares.sapo.pt/vandalismo-com-erros-
foto4086364.html>.
IV_ Obras de referência. Ilustração composta pelas imagens 51, 60 e 73.
49. Reconstrução do Sequeiro. Guimarães. In NEVES, José Manuel – José Gigante,
Habitar. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2008. p. 9.
50. Casa Cristina Silva. Porto. In Habitar Portugal. [em linha]. [consultado em 13 de
Setembro 2011]. Disponível em:
<http://www.habitarportugal.org/hp2009/uploads/imgs/1243624070T9uCC8ak6Uo24Z
R0.jpg>.
51. Reconversão do Moinho. Vilar de Mouros. In Facebook – José Gigante arquitecto.
[em linha]. [consultado em 11 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <
http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.182079341842
480&type=3#!/photo.php?fbid=182268175156930&set=a.182268085156939.57726.1
82079341842480&type=3&theater>.
52. Localização do Moinho. Vilar de Mouros. In Google Maps. [em linha]. [consultado
em 15 de Março 2012]. Disponível em: <http://maps.google.pt/>.
53. Plantas e cortes do moinho. (da esquerda para a direita) In Facebook – José
Gigante arquitecto. [em linha]. [consultado em 11 de Fevereiro 2012]. Disponível em:
<http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184
2480&type=3#!/photo.php?fbid=182268181823596&set=a.182268085156939.57726.
182079341842480&type=3&theater> e <http://www.facebook.com/media/set/?set=a.
182268085156939.57726.182079341842480&type=3#!/photo.php?fbid=18226827182
3587&set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3&theater>.
174
54. Entrada. In Facebook – José Gigante. [em linha]. [consultado em 11 de Fevereiro
2012]. Disponível em: <http://www.facebook.com/media/set/?set=a.
182268085156939.57726.182079341842480&type=3#!/photo.php?fbid=18226831515
6916&set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3&theater>.
55. Cobertura em cobre. (da esquerda para a direita) In Facebook – José Gigante
arquitecto. [em linha]. [consultado em 11 de Fevereiro 2012]. Disponível em:
<http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184
2480&type=3#!/photo.php?fbid=182268165156931&set=a.182268085156939.57726.
182079341842480&type=3&theater> e <http://www.facebook.com/media/set/?set=
a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3#!/photo.php?fbid=182268141
823600&set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3&theater>.
56. Piso térreo. (da esquerda para a direita) In Facebook – José Gigante arquitecto.
[em linha]. [consultado em 11 de Fevereiro 2012]. Disponível em:
<http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184
2480&type=3#!/photo.php?fbid=182268195156928&set=a.182268085156939.57726.
182079341842480&type=3&theater>; <http://www.facebook.com/media/set/?
set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3#!/photo.php?fbid=182268
215156926&set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3&theater>;
<http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184
2480&type=3#!/photo.php?fbid=182268231823591&set=a.182268085156939.57726.
182079341842480&type=3&theater> e <http://www.facebook.com/media/set/?
set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3#!/photo.php?fbid=182268
248490256&set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3&theater>.
57. Piso superior. (da esquerda para a direita) In Facebook – José Gigante arquitecto.
[em linha]. [consultado em 11 de Fevereiro 2012]. Disponível em:
<http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184
2480&type=3#!/photo.php?fbid=182268285156919&set=a.182268085156939.57726.
182079341842480&type=3&theater>; <http://www.facebook.com/media/set/?
set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3#!/photo.php?fbid=182268
295156918&set=a.182268085156939.57726.182079341842480&type=3&theater> e
<http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184
2480&type=3#!/photo.php?fbid=182268305156917&set=a.182268085156939.57726.
182079341842480&type=3&theater>.
58. Casa da costa Grande. Baião. In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira
arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 154.
175
59. Adega Quinta da Faísca. Alijó. In CASTANHEIRA, Carlos – Carlos Castanheira
arquitecto. Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2011. p. 143.
60. Adega Casa da Torre. Vila Nova de Famalicão. Fotografia cedida pelo gabinete
Castanheira & Bastai Arquitectos.
61. Localização da Adega Casa da Torre. Vila Nova de Famalicão. In Google Maps.
[em linha]. [consultado em 15 de Março 2012]. Disponível em:
<http://maps.google.pt/>.
62. Adega antes da intervenção. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira &
Bastai Arquitectos.
63. Implantação da adega. Desenhos cedidos pelo gabinete Castanheira & Bastai
Arquitectos, redefinidos pelo candidato.
64. Plantas de reabilitação e ampliação da adega. Desenhos cedidos pelo gabinete
Castanheira & Bastai Arquitectos, redefinidos pelo candidato.
65.Vista frontal da adega. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai
Arquitectos.
66. Escritório. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai Arquitectos.
67. Escada. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai Arquitectos.
68. Passadiço. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai Arquitectos.
69. Laboratório. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai Arquitectos.
70. Espaço interior da adega. Fotografia cedida pelo gabinete Castanheira & Bastai
Arquitectos.
71. Casa de Chá da Boa Nova. Matosinhos. In Ultimas reportagens. [em linha].
[consultado em 02 de Janeiro 2012]. Disponível em:
<http://ultimasreportagens.com/siza.php>.
72. Adega Quinta do Portal. Sabrosa. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado
em 02 de Janeiro 2012]. Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/siza.php>.
73. Adega Mayor. Campo Maior. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em
02 de Janeiro 2012]. Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/178.php>.
74. Localização da Adega Mayor. Campo Maior. In Google Maps. [em linha].
[consultado em 15 de Março 2012]. Disponível em: <http://maps.google.pt/>.
75. Implantação da Adega Mayor. In VIDIELLA, Àlex Sánchez – Àlvaro Siza.
Apontamentos de uma arquitectura sensível. Lisboa: Bertrand Editora, 2009. p.70.
76. Esquema programático da adega. Desenho do candidato.
77. Recepção. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de Janeiro
2012]. Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/178.php>.
176
78. Sala de reuniões. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de
Janeiro 2012]. Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/178.php>.
79. Nave das barricas. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de
Janeiro 2012]. Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/178.php>.
80. Jardim. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de Janeiro 2012].
Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/178.php>.
81. Esquiço da reconversão do Moinho. In Facebook – José Gigante. [em linha].
[consultado em 11 de Fevereiro 2012]. Disponível em:
<http://www.facebook.com/media/set/?set=a.182268085156939.57726.18207934184
2480&type=3#!/photo.php?fbid=182268111823603&set=a.182268085156939.57726.
182079341842480&type=3&theater>.
82. Esquiço da reabilitação e ampliação da Adega Casa da torre. Esquiço cedido
gabinete Castanheira e Bastai Arquitectos.
83. Esquiço da construção da Adega Mayor. In VIDIELLA, Àlex Sánchez – Àlvaro
Siza. Apontamentos de uma arquitectura sensível. Lisboa: Bertrand Editora, 2009.
p.74.
V _ Caso de Estudo. Ilustração composta pelas imagens 87, 90, 109, 116 e 133.
Uma Adega em Casas Novas
84. Esquema de produção vinícola. Desenho do candidato.
85. Espaço de recepção, desengace e esmagamento. In Ultimas reportagens. [em
linha]. [consultado em 02 de Janeiro 2012]. Disponível em:
<http://ultimasreportagens.com/178.php>.
86. Área de fermentação. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de
Janeiro 2012]. Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/178.php>.
87. Nave das barricas. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em 02 de
Janeiro 2012]. Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/178.php>.
88. Sala de controlo de qualidade. In Ultimas reportagens. [em linha]. [consultado em
02 de Janeiro 2012]. Disponível em: <http://ultimasreportagens.com/178.php>.
89. Espaço de engarrafamento e rotulagem do vinho. In Facebook – Adega Mayor.
[em linha]. [consultado em 02 de Janeiro 2012]. Disponível em: <http://pt-
br.facebook.com/AdegaMayor?sk=photos#!/photo.php?fbid=133529826666273&set=
o.95158163846&type=3&theater>.
177
90. Visitação das vinhas. In NERY, Isabel - “A paixão do Vinho” In Visão, n.º 970.
Lisboa: Medipress – Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. 6 a 12 de Outubro 2011.
p. 86 e 87.
91. Apanha da uva. In NERY, Isabel - “A paixão do Vinho” In Visão, n.º 970. Lisboa:
Medipress – Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. 6 a 12 de Outubro 2011. p. 88.
92. Pisar da uva. In NERY, Isabel - “A paixão do Vinho” In Visão, n.º 970. Lisboa:
Medipress – Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. 6 a 12 de Outubro 2011. p. 89.
93. Prova do vinho. In NERY, Isabel - “A paixão do Vinho” In Visão, n.º 970. Lisboa:
Medipress – Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. 6 a 12 de Outubro 2011. p. 89.
94. Visita de conhecimento da região. In NERY, Isabel - “A paixão do Vinho” In Visão,
n.º 970. Lisboa: Medipress – Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. 6 a 12 de
Outubro 2011. p. 91.
95. Adega Dominus, Napa Valley, Califórnia. Arquitectos Jacques Herzog e Pierre de
Meuron. In Travelmodus. [em linha]. [consultado em 23 de Dezembro 2011].
Disponível em: <http://travelmodus.com/dominus-winery-napa.html>.
96. Quinta do Vallado. Douro. Arquitectos Francisco Vieira de Campos e Cristina
Guedes. In Facebook – Luis Ferreira Alves. [em linha]. [consultado em 23 de
Dezembro 2011]. Disponível em:
<http://www.facebook.com/photo.php?fbid=142978189116221&set=a.142977662449
607.38340.103320009748706&type=3&theater>.
97. Localização de Chaves em Portugal. Desenho do candidato.
98. Limites do concelho de Chaves. Desenho do candidato.
99. Freguesias do concelho de Chaves. Desenho do candidato.
100. Ruínas das Termas Romanas. In Museu da Região Flaviense. [em linha].
[consultado em 06 de Outubro 2011]. Disponível em: <http://
museudaregiaoflaviense.blogspot.com/2010/07/termas-romanas-de-chaves.html>.
101. Ponte Romana de Trajano. Fotografia do candidato.
102. Torre de Menagem. Fotografia do candidato.
103. Igreja de Santa Maria Maior. Fotografia do candidato.
104. Forte de S. Neutel. In Chaves. [em linha]. [consultado em 27 de Dezembro
2011]. Disponível em: <http://www.chaves.pt/Default.aspx?ID=316>.
105. Pelourinho de Chaves. In Chaves. [em linha]. [consultado em 27 de Dezembro
2011]. Disponível em: <http://www.chaves.pt/Default.aspx?ID=323>.
106. Câmara Municipal de Chaves. Fotografia do candidato.
178
107. Paço dos Duques de Bragança. In Chaves. [em linha]. [consultado em 27 de
Dezembro 2011]. Disponível em: <http://www.chaves.pt/Default.aspx?ID=318>.
108. Mapa com Regiões Vitivinícolas em Portugal continental, com destaque para a
região de Trás-os-Montes: a) Chaves; b) Valpaços; c) Planalto Mirandês. Desenho do
candidato.
109. Vista aérea da Aldeia de Casas Novas. In Google Maps. [em linha]. [consultado
em 29 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://maps.google.pt/>.
110. Ruas em Casas Novas. Fotografias do candidato.
111. Casa de dois pisos. Desenho do candidato.
112. Hotel Rural Casas Novas. Fotografias do candidato.
113. Solar dos Vilhenas. Fotografia do candidato.
114. Capela N. Sr. dos Aflitos. Fotografia do candidato.
115. Capela de S. Bernardino. Fotografia do candidato.
116. Vista panorâmica sobre o sítio, o edificado e a vinha. Fotografia do candidato.
117. Vista aérea do conjunto vitivinícola. In Google Maps. [em linha]. [consultado em
29 de Fevereiro 2012]. Disponível em: <http://maps.google.pt/>.
118. Coberto. Desenho do candidato.
119. Lagares. Desenho do candidato.
120. Adega e palheiro. Desenho do candidato.
121. Armazém e sequeiro. Desenho do candidato.
122. Forno e arrecadação. Desenho do candidato.
123. Pátio e espigueiro. Desenho do candidato.
124. Programa de administração e gestão. Desenho do candidato.
125. Programa de produção vinícola. Desenho do candidato.
126. Programa de enoturismo. Desenho do candidato.
127. Esquema de evolução de intervenção. Reabilitação. Desenho do candidato.
128. Vista sobre o conjunto vinícola. Fotografia do candidato.
129. Vista sobre a capela S. Bernardino. Fotografia do candidato.
130. Esquema de evolução de intervenção. Ampliação. Desenho do candidato.
131. Esquema de evolução de intervenção. Pátios. Desenho do candidato.
132. Materialização e pormenorização. Desenho do candidato.
133. Maqueta da reabilitação e ampliação da Adega Casas Novas. Fotografias do
candidato.
VI _ Conclusão. Fotografias do candidato.
O presente documento encontra-se escrito conforme o antigo acordo ortográfico da língua portuguesa.
11 de Julho de 2012