plano de preservação do patrimônio cultural de duas barras

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Plano de Preservação do Patrimônio Cultural de Duas Barras Orientador | José Simões de Belmont Pessôa Supervisora | Laura Elza Gomes Convidada | Jurema Kopke Eis Arnaut Flora Oliveira de Souza Cardoso Universidade Federal Fluminense Escola de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação | 2.2011

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Trabalho Final de Graduação | Escola de Arquitetura e Urbanismo_ UFF | 2-2011

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Page 1: Plano de Preservação do Patrimônio Cultural de Duas Barras

Plano de Preservação do Patrimônio Cultural de Duas Barras

Orientador | José Simões de Belmont PessôaSupervisora | Laura Elza GomesConvidada | Jurema Kopke Eis Arnaut

Flora Oliveira de Souza Cardoso

Universidade Federal FluminenseEscola de Arquitetura e UrbanismoTrabalho Final de Graduação | 2.2011

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Índice

Apresentação e Objetivos | 05

Histórico e Evolução Territorial/Urbana | 06

Sertões de Macacu Duas Barras Patrimônio de Duas Barras Mapa de Configuração Urbana

Caracterização | 11

Natural Material Imaterial

Análises e Diretrizes | 19

Infraestrutura Urbana Problemas e Potencialidades Tipologias Usos Tombamento Municipal

Propostas | 31

Tombamento Estadual O Conjunto Parâmetros do Tombamento Proteção da Paisagem Praça Governador Portela Os Rios Agradecimentos | 53

Bibliografia | 55

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Não tenho nenhuma relação com Duas Barras (na realidade agora eu tenho), não nasci lá e nem tenho família bibarrense. Esse objeto de estudo me foi apresentado por um amigo e pelo meu orientador, mas o tema do trabalho era algo que me interessava e que gostaria de apren-der, um plano de preservação.Encarei o trabalho fi nal de graduação como uma chance de aprender mais sobre patrimônio ainda dentro da graduação. Quero continuar a estudar sobre gestão dos sítios históricos, esse trabalho será apenas o começo desse estudo e aprofundamento. Após iniciar minhas pesquisas sobre Duas Barras descobri o quanto ela se encaixa nos meus objetivos. Seu centro histórico está em processo de tombamento pelo IPHAN, mas não encontrei trabalhos acadêmicos sobre ela, é um tema ainda fresco, sendo assim todo trabalho que de-senvolvi poderá ser útil para um estudo futuro.

Duas Barras é uma cidade que valoriza seu patrimônio cultural, e en-xerga nele uma fonte de renda, mas não apenas o patrimônio material, também de seu patrimônio imaterial, de festas religiosas como a Folia de Reis. Já existe um decreto municipal que determina o tombamento de bens culturais e naturais com a defi nição desses objetos a serem preservados.

Localizada na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, Duas Barras faz divisa com Bom Jardim, Nova Friburgo, Sumidouro, Carmo, Can-tagalo e Cordeiro. O município possui uma área total de 376,3 quilô-metros quadrados, divido em quatro distritos, o de Duas Barras (sede), Monnerat, Fazenda do Campo e Vargem Grande. A população de Duas Barras em 2009 era de 10.891 pessoas, com uma densidade demográ-fi ca de quase 29 habitantes por km2.

Apresentação

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O Plano de Preservação é um instrumento de natureza urbanística e de caráter normativo, destina-se ao desenvolvimento de ações de preservação em sítios urbanos, o objetivo de presente trabalho é de-senvolver este instrumento de proteção para o patrimônio cultural da cidade de Duas Barras. Isso se dará através um estudo sobre a história e valor da cidade, com a defi nição de diretrizes gerais de intervenção que se expressam na produção de regulamentos que defi nam os pa-drões de uso e ocupação do solo; de normas e critérios de intervenção no sítio histórico urbano; e a elaboração de plano de massas, visando a defi nição de volumetrias, gabaritos, novas inserções e disposição espa-cial de volumes.

Objetivo

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Carta Chorographica da Província do Rio de Janeiro, 1858 a 1861. Caminho entre a Freguezia de Duas Barras e a Cidade de Cantagalo evidenciado em vermelho. Antes da estrada de ferro

A história de Duas Barras está intrinsecamente ligada a de Cantagalo, município a qual pertenceu até 1891. Sua origem se deu no princípio do século XIX, quando seus rios, Negro, Macuco e Grande, eram caminho para Carmo e daí ao Rio Paraíba. A ocupação e crescimento da região teve iníco na Fazenda Tapera.

A região onde hoje se encontra Cantagalo era conhecida como “Sertões de Macacu”, o médio Paraíba, mantida isolada e inexplorada para proteger a exploração de ouro em Minas Gerais. Essa mesma tática de proteção foi utilizada na Capitania da Minas Gerais, na região conhecida como “Sertões do Leste”, porém esse isolamento perdeu for-ça em 1734. Não demorou muito para o surto da mineração chegasse aos “Setões de Macacu”, com foco inicial na região de Cachoeiras de Macacu por volta de 1765, com ocupação efetiva na década de 1780.

A ocupação clandestina foi feita principalmente pela população de Minas Gerais, cujo acesso era menos vigiado do que pelo litoral. Foram vários os caminhos possíveis, um deles seguia o alto Rio Negro na Tapera, localidade onde se desenvolveu Duas Barras. Foi próximo a Cantagalo que se encontrou ouro, gerando a ocupação mais densa da região, formando um arraial. Essa clandestinidade tão próxima ao Vice-Reino era uma afronta a Coroa, que determinou a retomada da região, fi nalizada em 1786 com a exploração ofi cial das minas de Cantagalo.

Confi guração original do município de São Pedro de Cantagalo, compreendendo um território hoje dividido entre 15 municípios. Fonte: Cantagalo: Da miragem do ouro ao esplendor do café, p. 103.

A exploração de ouro não durou muito devido ao esgotamento de seus depósitos, a alternativa foi estimular a agricultura e ocupação das terras através das sesmarias. O primeiro trecho a ser ocupado foi o vale do Rio Grande, seguindo-se o vale do Rio Negro, região onde se encontra Duas Barras. Em 1815 a vila de São Pedro de Cantagalo se torna a nova uni-dade administrativa fl uminense, esse novo município compreendia toda a área entre as Serras dos Órgãos, Boa Vista e Macabu e o Rio Paraíba.

A agricultura ganhou força na região através do cultivo do café e da mão de obra extra dos colonos suíços e alemãs que chegaram aos sertões de Cantagalo em 1819 e 1824 respectivamente. Foi a partir da década de 1830 que a expansão do plantio do café acelerou gerando o enriqueci-mento da elite agrária e provocando profundas transformações nas vilas e povoados. Em 1857, a vila de Cantagalo foi elevada à categoria de cidade.

As transformações passaram a ser levadas por trilhos de trem, com a liga-ção entre Cantagalo e litoral, aceleramento o escoamento da produção de café. A construção da linha de ferro teve início em 1860 sendo fi nal-izada em 1876. Tanta riqueza tem fi m com a crise na produção do café, foram vários os fatores, desde a abolição da escravatura com redução da mão de obra, ao esgotamento das terras agricultáveis por conta da ex-ploração intensa do solo. O Fato é que a queda na produção signifi cou a queda do poder de Cantagalo, o que levou a uma série de emancipações, dentre elas a de Duas Barras em 1891.

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Sertões de Macacu

terras proibidas - Sertões de Macacu

surto da mineração do ouro

povoamento efetivo - Cantagalo

Coroa retoma a região

esgotamento do ouro - estimulo a agricultura

colônia suíça e alemã

Surto do platio de café

Cantagalo elevada a cidade

Estrada de ferro ligando ao litoral

Crise na produção de café

Perda de poder - emanciapações

1765

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Por volta de 1824, a fazenda Tapera era utilizada como local de des-canso no caminho entre Carmo e Rio Paraíba. No ano seguinte Tapera deixa de ser a única fazenda na região com a criação da fazenda São Sebastião das Duas Barras do Rio Negro. Em 1834 o padre José Dias de Oliveira fundou a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição doando a fazenda Tapera a essa irmandade, cuja capela foi declarada “Capela Filial Curada” em 1836. É marcante a presença da Igreja na formação e desenvolvimento do povoado, que se deu ao redor da fazenda Tapera.

Assim como toda a região, Duas Barras se desenvolveu com o café, em 1836 se torna Freguesia. O trem foi outro marco para região, em 1876 a Estrada de Ferro já passava próximo, a cerca de 16km da freguesia. Em 1885 foi inaugurada a Estação de Monnerat, ligando Duas Barras a es-trada de ferro. Com a emancipação de Cantagalo em 1891, Duas Barras passa a ter dois distritos: 1º distrito – Duas Barras, sede do município; 2º distrito – Monnerat.

Entre 1911 e 1915 foram feitas obras de urbanização das vilas de Mon-nerat e Duas Barras, com a instalação de serviço de água e esgoto no Paço Municipal (onde funcionava a Câmara e a Delegacia); melhorias no sistema de abastecimento de água da Vila, construção de captação de águas pluviais, construção de pontes e arborização.

O então distrito sede perde o poder para Monnerat em 1915, cuja câmara passa a ser presidida por um dos membros da família Monnert, esse fato se deu por conta de divergência de apoio ao atual governo da Primeira República. Durante todo o período em que Monnerat foi sede, o poder esteve nas mãos da família Monnert. Em 1924 a câmara

Vista da cidade de Duas Barras, década de 1920, a frente a rua Monnerat antes de ser retifi cada. Foto: Julio Pompeu.

Casarios da praça, 1920. Foto: Julio Pompeu.

rio Negro como caminho - por Tapera

vale do Rio Negra - ocupação para agricultura

emanciapação de Duas Barras

Fazenda Tapera para de viajantes

fundação Irmandade da Conceição

Freguesia

inauguração Estação de Monnerat

Monnerat como distrito sede

sede retorna para Duas Barras

crise da superprodução do café

êxodo para Nova Friburgo

pecuária como principal atividade econômica

Duas Barras

retorna a Duas Barras, que apresentava o maior crescimento popula-cional da região serrana, devido a revitalização das lavouras de café e o desenvolvimento da pecuária.

Chega a crise de 1929, a superprodução do café faz o preço do grão cair rapidamente, em Duas Barras assim como em todo o país são proibidas novas plantações, a redução da produção era necessária para o equilíbrio entre a oferta e a procura. Ocorreu um grande êxodo da população para Nova Friburgo em busca de trabalho na indústria, em 1940 a população era de 10 299 habitantes.

Os fazendeiros de café se transformaram em pecuaristas, mantendo uma econômica no setor primário, sem a demanda por transfor-maões no espaço urbano, preservando uma arquitetura do século XIX.

1824

1834

1836

1885

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Por conta da estagnação econômica o núcleo urbano de Duas Barras se manteve preservado ao longo do século XX. Com poucas inserções de arquitetura kistch venacular e outras edifi cações com inspiração colo-nial. Em 1963 foi instruído pelo IPHAN um processo de tombamento da Praça Governador Portela e do conjunto de edifi cações do seu entorno, incluindo a Igreja Matriz e a Prefeitura. Esse processo está na 6ª Super-intendência do IPHAN (RJ) para ser avaliado.

Patrimônio de Duas Barras Ao analisar o processo fi ca claro o motivo do tombamento do conjunto, os bens isoladamente não possuem tanto valor, o interessante é a con-tinuidade da cumeeira dos telhados. Os casarios que cercam a praça são todos térreos com cobertura de telhado capa e canal com duas a quatro águas.

Há também um estudo de 1988 realizado pelo INEPAC (Instituto Estad-ual do Patrimônio Cultural – RJ) para tombamento da Praça Governador Portela e de algumas ruas da cidade. Na justifi cativa do tombamento é destacado o núcleo histórico como um representante do cenário fl umi-nense de meados do século XIX.

Em 1996 a Prefeitura Municipal de Duas Barras passa a proteger o patrimônio da cidade através do decreto municipal Nº 723. Nele está defi nido o tombamento do “Núcleo Histórico da Cidade de Duas Bar-ras, abrange os conjuntos arquitetônicos (cerca de 80 casarões cen-tenários), urbanísticos e paisagísticos incluindo os lotes, as edifi cações, os equipamentos urbanos, as caixas de rua, as calçadas, a arborização e as pontes que os integram.

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Praça Governador Portela, 1963. Fonte: Arquivo Noronha Santos - IPHAN

Casarios da Praça Governador Portela, 1963. Fonte: Arquivo Noronha Santos - IPHAN

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Vista da Praça Governador Portela. Fonte: Arquivo Noronha Santos - IPHAN

Prefeitura e Empória Tapera. Fonte: Arquivo Noronha Santos - IPHAN

Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Fonte: Arquivo Noronha Santos - IPHAN

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Mapa da Configuração Urbana de Duas Barras em 1920

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Durante as pesquisas realizadas sobre o histórico de Duas Barras não foi encontrado qualquer tipo de cartografia da cidade, seja antiga ou atual. Não há planta cadastral, o levantamento do desenho de vias e edificações foi baseado em imagens de satélite e a topografia foi retirada de mapas do IBGE. Com a base produzida, fotos antigas e registros históricos de Duas Barras, foi possível ensaiar quais eram os caminhos mais antigos e um pouco do traçado urbano da cidade. O principal indício são as edificações remanescentes do período de auge econômico, que veio seguido da estagnação e não renovação urbana.

Os caminhos mais antigos são os em direção a Cantagalo, povo-amento principal, e Carmo, de onde os viajantes partiam para o Rio Paraíba. O caminho para Monnerat provavelmente surgiu com a inauguração da Estação de Trem, essa via passou a ligar a Freguesia com o mundo, era pelos trilhos de trem que a produção era escoada e por onde vinham as notícias e a cultura do litoral. Não há menções sobre o caminho para Nova Friburgo, apenas sobre o êxodo rural em busca de trabalho nas indústrias em 1940.

A maioria das edifi cações indicadas no mapa são remanescentes da 2ª metade do século XIX, como a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de 1855, a Prefeitura Municipal, o Cemitério da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição e os casarios da praça e próximos a ela. Não há registros do desenho da praça, em fotos de 1920 pare-cia ser apenas um espaço vazio com algumas árvores, a delimitação atual já aparece em fotos de 1963.

Em foto de 1920 nota-se que a Rua Monnerat foi retifi cada, nesse processo três chalés foram demolidos, semelhantes aos encontrados na Rua Cel. Domingos José de Souza.

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Panorama 1. Fotos: Flora Oliveira

Panorama 2. Fotos: Flora Oliveira

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Fotos Panorâmicas

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O núcleo histórico de Duas Barras está implantado em uma parte plana do vale formado pelos Rios Negro, Resende e Córrego Baú, o encontro desses rios forma as barras que dão a denominação da cidade. O vale é cercado por colinas e montanhas cobertas por pastos e resquícios de Mata Atlântica, a sobreposição dessa topografia acidentada com as edi-ficações do núcleo histórico forma uma paisagem interessante e bela. Proteger o núcleo histórico é também proteger o patrimônio natural da cidade, gerando uma mútua valorização.

Os rios são elementos marcantes na paisagem e na história de Duas Barras, eles foram os caminhos dos viajantes e deter-minantes na formação malha da urbana de Duas Barras, e ainda hoje constituem os eixos de expansão da cidade.

O mapa ao lado mostra os elementos naturais, a topografi a e os rios que conformam a paisagem de Duas Barras.

ocupação urbana

ocupação urbanaCorte A

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Corte B

Paisagem Natural

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InfraestruturaPraça Governador Portela

Vista 2 Praça Governador Portela. Fotos: Flora Oliveira

Vista 3 Praça Governador Portela. Fotos: Flora Oliveira

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Praça Governador Portela

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A praça é o ponto mais importante da cidade, ela constitui como o es-paço político, social e comercial, ou seja, ela é o centro da cidade. Esse espaço, desde sua origem foi palco dos acontecimentos que marcaram a história de Duas Barras, é nela que encontramos o conjunto de edifi-cações preservadas do auge do café.

Dentre essas edificações há três que se destacam. A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição que está implantada onde existia a capela da Fazenda Tapera, origem do povoamento. A atual sede da Prefeitura Municipal de Duas Barras foi residência de fazendeiro de café, depois, sucessivamente, cadeia e escola pública. E o Empório Villa Thapera que possui registros de seu uso comercial ainda no final do século XIX.

A relação entre montanhas e ambiente construído é percebida na praça, principalmente de dentro da praça. Com a imagens é possível ter uma noção dessa sobreposição (Vistas 1, 2 e 3).

Vista 1 Praça Governador Portela. Fotos: Flora Oliveira

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1. Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição

2. Prefeitura Municipal de Duas Barras

3. Fórum Municipal de Duas Barras

4. Empório Villa Thapera

5. Hotel

Escola Pública (atual prefeitura) e Igreja Matriz., 1920. Foto: Julio Pompeu. Fonte: Inventário do Bens, Secretaria de Cultura e Turismo.

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Folia de Reis

A Folia de Reis é uma festa tradicional que acontece em vários lugares do estado do Rio de Janeiro em épocas próximas ao natal. Os grupos de devotos dos Reis Magos fazem suas romarias com cantos e símbolos devocionais, são formados por mestres, contra-mestres, palhaços e músicos; essas folias são organizadas por famílias afrodescendentes. Ocorrem encontros ao longo do ano onde um grupo recebe folias de diversas regiões, há registros das folias desde o século XIX, a manutenção dessa cultura vista como folclore, tradição ou devoção, depende da transmissão das memórias que os mais velhos para os mais novos.

Em Duas Barras as romarias acontecem na Praça Governador Portela, com um trajeto que vai da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição (1), para a Prefeitura Municipal onde fi ca montado o presépio (2), em seguida atravessam a praça com a possibilidade de parada no coreto (3) e por fi m chegam a um palco (4) montado no lado da praça oposto a igreja que se torna o cenário da romaria. A preservação do patrimônio material de Duas Barras é fundamental para a preservação do patrimônio imaterial.

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Fonte das fotos: Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI/UFF) e do Núcleo de Pesquisa em História Cultural (NUPEHC/UFF)

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Infraestrutura Urbana

O acesso principal a Duas Barras se dá pela rodovia estadual RJ–144 que passa pela cidade e segue para Cordeiro, uma estrada asfaltada até chegar aos limites da área urbana. Há outro acesso pela rodovia estadual RJ- 152 que também corta a cidade vindo de Nova Friburgo para Cantagalo. Esses acessos são os mesmos desde a origem do povoamento, como mostra o mapa de evolução urbana (pág.10). As vias próximas a Praça Governados Portela e as da própria praça são pavimentadas com paralelepípedo. Quanto mais se afasta do núcleo urbano em direção a parte mais rural as vias deixam de ser pavimen-tadas, sendo de terra, também há muitas vias novas demonstrando a expansão malha urbana.

A praça por ser o centro da cidade recebe uma grande quantidade de veículos ao longo do dia. Ela é o estacionamento para os funcionários da prefeitura e do fórum, para clientes das lojas, e fieis da igreja.Também há um ponto de taxi ao longo da praça, ou seja, sempre há muitos carros parados de forma desordenada, não há marcação de vagas.

Posteamento na Praça Governador Portela. Fotos: Flora OliveiraDrenagem superfi cial . Fotos: Flora OliveiraEsgoto domiciliar lançado no Rio Nego . Fotos: Flora OliveiraEstacionamento desordenado na Praça Governador Portela . Fotos: Flora Oliveira

A cidade possui abastecimento de água tratada, há uma estação de cloração em um dos pontos altos da cidade. A drenagem é feita super-ficialmente utilizando da declividade da vias, escoando a água direta-mente para os rios. Além das águas pluviais, o rios recebem o esgoto da cidade, não há qualquer tratamento, o esgoto é lançado in natura. Há muitas edificações com fundos de lote dando para os rios, lotes antigos e recentes, que fazem o lançamento direto do esgoto.

Na praça há um elemento marcante na paisagem, os postes eletrifica-dos. O fornecimento de energia elétrica em toda cidade é por via aérea. A iluminação se dá através desses mesmos postes e por outros de menor porte no entorno da praça. A poluição visual gerada por esses postes na praça é intensificada pela presença de muitos transforma-dores.

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Área de Estudo

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Problemas e Potencialidades

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Na Praça Governador Portela há duas edificações que desarmonizam o conjunto, o Fórum Municipal e o Hotel. O fórum foi construído em 1973 como uma edificação modernista, seguindo a tendência da épo-ca. Posteriormente foi realizada uma intervenção em suas fachadas na tentativa de manter a ambiência da praça, o que não teve sucesso. No terreno onde está implantado havia uma edificação térrea semelhante as encontradas no perímetro da praça. O hotel é o mais impactante, pelas suas proporções e pela sua localização, na esquina do acesso principal a praça e do lado oposto a igreja. Em fotos de 1963 o terreno onde está o hotel encontrava-se vazio.

Fórum Municipal, antes da reforma. Foto: Farid Habib

A atual relação entre rios e cidade não cor-responde à importância que esses cursos de água tiveram na formação e desenvolvimento do povoado. Devido à ocupação densa de suas margens só é possível visualizar os rios nas pontes, uma visão nada agradável. Margens com lixo e detritos, ocupação de áreas que deveriam ser protegidas são exemplos da degradação. É necessária a princípio uma delimitação de uma área proteção das margens e a criação de me-canismos que impeçam a ocupação e ao mesmo tempo requalifique a área.

Fórum Municipal atualmente. Foto: Flora Oliveira Hotel. Foto: Flora Oliveira

Rio Resende. Foto: Flora Oliveira Ponte sobre o Rio Negro. Foto: Flora Oliveira Rio Negro. Foto: Flora Oliveira

Voltando a praça e a valorização das suas vistas ob-serva-se que a paisagem formada pelas montanhas e colinas está ameaçada pela expansão urbana. Áreas antes cobertas por mata e pasto passam a se ocupadas por edificações, umas das vistas já está comprometida, em direção a Rua Dr. Modesto de Mello. Nas fotos ao lado está marcada essa ocupação, mas ainda é possível evitar que o mesmo ocorra nas outras vistas, através de uma legislação de uso e ocupação do solo específica para a área.

Vista do conjunto histórico. Foto: Flora OliveiraVista da praça. Foto: Flora Oliveira

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Mapa Análise

Acesso Principal

Legenda

Vistas Degradadas

Edifi cação Problema

Vistas Interessantes

Não Edifi car

Centro Histórico

Vazios

Bens Isolados

A partir de visitas e das informações coletadas foi possível traçar esse mapa análise onde são apontados os princi-pais problemas e as potencialidades da área estudada. Uma análise que buscou trabalhar diferentes aspectos e escalas, da arquitetura a paisagem.

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Problemas e Potencialidades

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Em laranja está marcado o centro histórico de Duas Barras, composto pela praça e edificações do en-torno. As edificações em roxo são bens isolados que em sua maioria pertence a mesma época do con-junto da praça. Usando como base inicial a lista de bens tombados pelo decreto municipal foi feita uma seleção dos que realmente são interessantes. Entre eles há o Cemitério da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição e os chalés na Rua Cel. Domingos José de Souza próximos a igreja.

Chalés na Rua Cel. Domingos Jose de Souza. Fotos: Flora OliveiraCemitério da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição. Edifi ca.ção na esquina da Rua Moneerat com Rua Dr. Vicente Moncada

Ao andar na praça não se percebe nenhum vazio, as fachadas das edificações são contínu-as, porém alguns fundos de lotes estão vazios, junto aos rios. Dentre estes vazios há um junto ao encontro do Rio Resende com o Rio Negro, que dá o nome da cidade. Investigando in loco a possibilidade de integrar o terreno a praça foram encontradas duas portas em edificações contínuas que acessam os fundos dos lotes. Essa área poderá receber um espaço de lazer ativo para crianças e idosos, complemento ao lazer contemplativo oferecido pela Praça Gover-nador Portela.

Portas que dão acesso aos lotes vazios. Fotos: Flora Oliveira

Uma das portas, edifi cação de número 100. Foto: Flora Oliveira

A identificação das vistas interessantes auxilia na definição das áreas a serem protegidas, tanto no meio urbano como nas montanhas que cercam a cidade. As vistas da praça já foram mostradas, mas ainda há a vista que se tem do cemitério que é um ponto mais alto dentro da malha urbana.

Vista do Cemitério da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição. Foto: Flora Oliveira

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Mapa Base

O primeiro produto da análise da área de estudo está no mapa base onde estão representados os elementos prin-cipais. Os aspectos naturais: rios, topo-grafia e vegetação; os elementos con-struídos: vias, edificações com interesse de preservação e demais construções.

Legenda

Edificações a Preservar

Vegetação

Rios

Edificações

Vias

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Tipologias

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Dentre as edificações que apresentam valor foram identificadas três tipologias: de inspiração colonial da 2ª metade do século XIX, chalé do final do século XIX e o kitsch vernacular do início do século XX.

Edifi cações do auge do café, segunda metade do século XIX, carac-terizada por traços da arquitetura colonial de infl uencia portuguesa. São casas térreas sem recuos na testada e divisas laterais, as cober-turas variam pelo número de águas de uma a quatro com caimentos para os fundos ou para a rua, mas sempre com telhas cerâmicas do tipo capa e canal. Há presença de beirais sobre cimalhas e sobrever-gas de massa sobre as janelas e portas, que são todas retas.

A terceira tipologia é o Kitsch vernacular, do início do século XX, que em muitos caso tratam-se de alterações feitas em edifícios mais antigos, carac-terizam-se pela repetição de elementos inspirados em diversas tipologias arquitetônicas. O elemento mais marcante é a platibanda escondendo o tel-hado, há presença de adornos e molduras em argamassa em janelas e portas.

Atualmente há três exemplares do tipo chalé, mas existiram mais quatro, dentre eles um de dois pavimen-tos, localizados na Rua Monnerat e Rua Cel. Domingos José de Souza. Do final do século XIX, são casas térreas, sem recuo na testada e telhado com duas águas com cumeeira perpendicular a rua, possuem recuos laterais. Há presença de beirais e sobrevergas de massa sobre as janelas e porta.

Edifi cações tipo chalé na Rua Cel. Domingos José de Souza. Foto: Flora Oliveira Edifi cação tipo kitsch na Travessa Barros. Foto: Flora Oliveira Edifi cação inspiração colonial, Rua Cel. Domingos José de Souza Foto: Flora Oliveira

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Mapa Tipologias

Estão identificadas no mapa as três tipo-logias arquitetônicas das edificações do conjunto que apresentam valor. Em maior quantidade a tipologia de inspira-ção colonial da 2ª metade do século XIX, chalé do final do século XIX e o kitsch vernacular do início do século XX.

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TOMBAMENTO - DECRETO Nº 723 DE 02 DE DEZEMBRO DE 1996 DETERMINA O TOMBAMENTO DE BENS CULTURAIS E NATURAIS

CONSIDERANDO o valor cultural do conjunto arquitetônico e urbanísti-co do núcleo histórico da cidade de Duas Barras e de seu patrimônio natural, que há mais de cem anos vêm sendo preservados pela população local, enquanto símbolo de sua identidade; e a preservação do núcleo histórico de Duas Barras, cartão-postal da cidade.O Núcleo Histórico da Cidade de Duas Barras, abrange os conjuntos ar-quitetônicos (cerca de 80 casarões centenários), urbanísticos e pais-agisticos incluindo os lotes, as edifi cações, os equipamentos urbanos, as caixas de rua, as calçadas, a arborização e as pontes que os inte-gram.São tombados os maciços rochosos denominados Pedra do Mota e Pedra do Patrimônio que compõem a paisagem natural do núcleo histórico origi-nal e também as calhas do Rio Negro do Rio Resende e do Córrego do Baú, considerados como elementos marcantes da natureza do sitio onde se implantou o núcleo urbano e cujos percursos moldaram o traçado da cidade. - Conjunto da Praça Manoel Lutterbach Nunes números: 12,22,28,34,40,46,56,62,94,100,61, 69,83,91, e 103.- Nº 05 da Rua Batista Laper- Prédio da Prefeitura Municipal de Duas Barras- Igreja Matriz Nossa Senhora da conceição- Conjunto da Rua Domingos José de Souza números: 56,70,33,37,43,49,55,65,71,83.- Avenida Getúlio Vargas números 241 e 251.- Rua Mário Martins dos Santos 105 (travessa Jair Guimarães Pires)- Conjunto da Rua Dr. Vicente Moncada números: 90, 113, 116 e 126.- Conjunto da Rua Monnerat números: 12,60,68,76,86,94,100,108,114,122,128,65,75,85,85ª, 95,103,111,123.- Rua Feliciano Sodré número 03 e 11.- Rua Padre José de Oliveira números 17,74 e 83.- Rua Dr. Modesto de Mello números 13,21,29, 9,47,51,59,65,69,73,77,83.- Rua Comendador Alves Ribeiro números 03,11,25,33,41,47 e 53.- Antiga sede da Fazenda do Coronel Domingos José de Souza, atual CEDB (Centro Educacional Duas Barras) e respectivo prédio do mo-inho nº 61.- Cemitério da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, destacando-se o muro de pedra e primitiva capela.

Fonte: Prefeitura Municipal de Duas Barras, Secretaria de Cultura e Turismo

Duas Barras possui um instrumento de preservação de seu patrimônio, trata-se de um decreto municipal que determina o tombamento de diversas edificações. Ao analisar quais eram essas edificação tombadas percebe-se que houve um exagero com a inclusão de edificações que imitam o estilo colonial e outras que se encontram totalmente des-caracterizadas. Não há uma delimitação quanto a proteção do maciço rochoso citado no decreto, nem das calhas dos rios também incluídas.

A ausência de uma delimitação dificulta a fiscalização e controle so-bre o espaço a ser preservado, uma prova dessa situação frágil foi a demolição de algumas edificações tombadas e descaracterização de outras. O recente corte das árvores da Praça Governador Portela tam-bém demonstra essa ineficácia do decreto, que carece de uma maior definição em todas as suas esferas de proteção.

Tombamento Municipal

Mapa de tombamento municipal. Fonte: Inventário de Bens Culturais, Secretaria de Cultura e Turismo.

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Mapa Usos

O mapeamento dos usos indica a condição de centro para a praça, ela é o coração da cidade. Uso institucional, comercial, e residencial e de serviço se misturam, garantindo um fluxo constante de pessoas.

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Para garantir a preservação do centro histórico de Duas Barras propõem-se inicialmente o tombamento do conjunto da Praça Governador Portela a nível estadual, com o objetivo de valorizar patrimônio ambiental urbano. É a partir do tombamento que o plano de preservação é desenvolvido, levando em consideração todos os aspectos até então apresentados (patrimônio natural, material e imaterial) em suas diferentes escalas. E para comple-mentar as medidas de valorização são propostas uma série de intervenções projetuais para requalificação dos espaços públicos da cidade.

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Propõe-se o tombamento a nível estadual (INEPAC) do conjunto ar-quitetônico e urbanístico da Praça Governador Portela e do Cemitério da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, configurando-se como patrimônio histórico e paisagístico da cidade de Duas Barras.

Apesar da existência de um processo de tombamento ainda não fi-nalizado no IPHAN, o tombamento a nível nacional vai além da real importância e valor do conjunto, que possui uma relevância local. O espaço urbano de Duas Barras possui as marcas do auge do café na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, considerado um exemplar ímpar do cenário urbano fluminense de meados do século XIX.

A praça é o espaço central da malha urbana da cidade, nela convergem quatro ruas que recebem o fluxo das demais, é um verdadeiro entron-camento viário. É o espaço que expressa toda a história da cidade, foi naquele encontro de rios que se desenvolveu a fazenda da Tapera é nesse mesmo lugar que a cidade realiza suas principais atividades, a praça é o coração da cidade. As ruas que dão acesso a praça são as mesmas que levavam os viajantes e ainda hoje se configuram em im-portantes vias de circulação.

Sua implantação na parte plana do vale garante a vista das montanhas em quase todo seu perímetro gerando a relação ambiente urbano e natural que valoriza o conjunto. O tombamento carrega dentro dele mecanismos de preservação e valorização do patrimônio natural de Duas Barras.

A preservação do espaço físico fortalece a permanência de tradições populares, no caso de Duas Barras a famosa festa de Folia de Reis, que tem como cenário de suas romarias a Praça Governador Portela e algu-mas ruas próximas.

Através de delimitações e legislações específicas objetiva-se proteger o patrimônio cultural de Duas Barras como um fato cultural total.

Tombamento

A poligonal de tombamento do conjunto da praça engloba lotes, edificações, vias e a própria praça. A inclusão de duas edificações (1. Fórum Municipal e 2. Hotel) já identificadas como problemáti-cas visa um possível substituição buscando harmonizar a relação com as edificações de valor. Quanto ao cemitério há uma poligo-nal própria que engloba toda a sua extensão.

Ao todo são oito edificações tombadas na praça: a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição; o Empório Thapera (nº 12); edifício da Prefeitura Municipal de Duas Barras (nº 07); o Fórum Municipal de Duas Barras (nº 10); a edificação térrea que engloba os números 22, 28, 34, 40, 46, 56 e 60; o hotel (nº 80); edificação térrea com os números 94 e 100; edificação térrea números 83, 91 e 103; e por último edificação térrea números 05, 69, 61 e 16.

Delimitações

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mento Para garantir a visibilidade do conjunto da praça foram definidos

cones visuais nos eixo das quatro vias que lhe dão acesso a partir de pontos específicos. São quatro pontos externos a praça (A, B, C e D) e pode ser considerado mais um ponto E dentro da praça. A medida para proteger de fato o cone visual é a delimitação de uma poligonal que engloba os lotes e edificação cuja alteração signifique a obstrução da visão, e definir uma legislação especí-fica de uso e ocupação do solo.

Os pontos foram decididos em visita, o cone visual considerado mais importante é A, pois é o mais alto, enquanto a praça está a 553 metros de altitude o ponto A está as 570 metros de altitude, 17 metros mais alto.

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As poligonais de entorno englobam lotes diretamente vizinhos a poligonal de tombamento, são 28 lotes na poligonal do conjunto da praça e 17 na poligonal do cemitério. O objetivo é definir uma legislação de uso e ocupação do solo que impeça a obstrução da visibilidade e alteração da ambiência.

Como dita o atual Código Florestal, “Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: 1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;”. Considera-se 15 metros para cada mar-gem dos rios como área non aedificandi.

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Mapa Preservação

No mapa está indicada a poligonal de tombamento e a partir dela foi definida a poligonal de entorno e os cones visuais. A delimitação da área de influencia dos cones visuais busca proteger certas vistas que se tem do conjunto da praça.

Cones VisuaisA – 570m de altitudeB – 555m de altitudeC – 551m de altitudeD – 555m de altitudeE – 553m de altitude

Edificações Problema1. Fórum Municipal2. Hotel

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Conjunto Arquitetônico_Praça

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Poligonal de Tombamento

Edifi cações protegidasO mapa mostra as poligonais de tombamento e as edifi cações a serem protegidas, a vista planifi cadas de todas as edifi cações do conjunto mostra a relação de alturas e vazios do entorno da praça.

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Conjunto Arquitetônico_Praça

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição - 1885Planta com capela-mor profunda, de nave retangular e contorno externo retangular; na fachada presença de um corpo central coroado por frontão e ladeado por torres. A cobertura da nave e capela-mor se dá em duas águas com telhas capa e canal, enquanto que os zimbóri-os piramidais que arrematam as torres sineiras são cobertos por telhas francesas.

Prefeitura Municipal de Duas Barras2ª metade do séc. XIXSobrado de dois pavimentos sem recuo na testada e planta retan-gular. Cobertura, com telhado de capa e canal em quatro águas encoberto por platibanda. Possui vãos em arco plenoFoi inicialmente, residência de fazendeiros de café da região do Rio Negro, na segunda metade do século XIX, depois, sucessivamente, cadeia, escola pública e, por fi m, sede do governo municipal.

Empório Villa Taphera2ª metade do séc. XIXCasa térrea, sem recuos nas testadas de planta retangular. Cobertura com telhado de capa e canal em quatro águas. Com pequenos beirais sobre cimalhas e sobrevergas nas janelas e portas de verga reta.

Trecho 3 da vista planificada.

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Conjunto Arquitetônico_Praça

2ª metade do séc. XIX O conjunto arquitetônico entorno da praça é composto de casas térreas, cober-tas por quatro e duas águas, de telhas capa e canal com beirais sobre cimalhas. Todas possuem seus vãos em verga reta. Construídas no alinhamento predial sem recuos. As fachadas são contínuas dando uma sensação de enclausura-mento na praça.

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Trecho 1 e 2 da vista planificada.

Trecho 3 da vista planificada.

Trecho 4 e 5 da vista planificada.

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Cemitério

1868Implantado em uma colina, o cemitério é de uso exclusivo da irmandade e destaca-se por seu muro de pedra e capela. Em sua fachada há elementos (coração invertido) semelhantes aos encotrados na fachada da Igreja Matriz, mostrando a relação entre as duas edifi cações.

Além da capela original há uma outra próximo ao acesso, que se dá por um portão de ferro seguido da escadaria de pedra e um trecho de rampa também em pedra, alinhados a capela antiga. O acesso a capela nova se dá diretamente pela rua lateral, sem qualquer elemento de transição.

No cemitério estão enterradas a famílias mais importantes na formação de Duas Barras, pertencentes a irmandade, tais como a família Monnerat, alguns túmulos se destacam pela beleza.

Um outro elemente interessante é a a vegetação, não há um jardim rebus-cado, porém as árvores formam um túnel entre o acesso e a capela, gerando sombras e uma atmosfera solene.

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Uso e Ocupação do Solo na Poligonal de ProteçãoE

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l Na área delimitada como proteção dos cones visuais o objetivo é manter a visibilidade limitando a altura das edificações. No cone visual D há uma maior preocupação com a ambiência por conta do conjunto de edificações da Rua Dr. Modesto de Mello que são tombadas municipalmente. O cone visual A tem a vista mais com-pleta do conjunto da praça, dos telhados das edificações térreas e parte da fachada da Igreja e da prefeitura. As novas edificações da Rua Dr. Vicente Mocanda e da Rua Júlio Wermelinger deverão manter o uso de telhados com telha cerâmica, assim como a rela-ção edificações e quintais deve ser a mesma encontrada nos lotes antigos, garantindo a relação entre verde e telhados.

Parâmetros:Implantação no lote - Cone A e DAfastamento lateral: mínimo 1,5m para abertura de vãos. Afastamento frontal: seguir o alinhamento existente.Distância mínima entre duas edificações no mesmo lote: 5mAfastamento lateral mínimo de edificação de interesse de preser-vação: 2mTaxa máxima de impermeabilização do solo: 40%Altura máxima: 5,0m

Na poligonal entorno há muitas edificações tombadas munici-palmente e poucos lotes vazios. Um dos objetivos é manter a visibilidade, sendo assim as alturas são limitadas, e como forma de manter a ambiência a implantação no lote segue o padrão existente, assim como os elementos arquitetônicos utilizados.

Parâmetros: Implantação no loteAfastamento lateral: mínimo 1,5m para abertura de vãos.Afastamento frontal: seguir o alinhamento existente.Distância mínima entre duas edifi cações no mesmo lote: 5mAfastamento lateral mínimo de edifi cação de interesse de preser-vação: 2mTaxa máxima de impermeabilização do solo: 40%Altura máxima: 5,0m

Elementos ArquitetônicosCobertura de telhados com telha cerâmica.Vãos nas fachadas frontais deverão ter dimensão vertical maior que a horizontal.Fica proibida a construção de elementos que ultrapassem o plano de alinhamento da fachada.

Elementos Arquitetônicos - Cone DVãos nas fachadas frontais deverão ter dimensão vertical maior que a horizontal.Fica proibida a construção de elementos que ultrapassem o plano de alinhamento da fachada.

Elementos Arquitetônicos - Cone ACobertura de telhados com telha cerâmica.Vãos nas fachadas frontais deverão ter dimensão vertical maior que a horizontal.Fica proibida a construção de elementos que ultrapassem o plano de alinhamento da fachada.

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mento Dentro da área de tombamento há dois lotes que poderão

receber edifi cações novas, o do Fórum Municipal e do hotel. Os parâmetros de ocupação do solo e de elementos arquitetônicos serão os mesmos da poligonal de entorno.

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Mapa Preservação

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Simulação das Novas Edificações

Rua Monnerat

Rua Dr. Vicente Moncada

Rua Dr. Vicente Moncada

Rua Cel. Domingos José de Souza

Seguindo a diretrizes determinadas para ocupação da poligo-nal de entono e do cone visual foram realizadas as simulações abaixo. As novas edifi cações seguem a implantanção e volumetria das edifi cações permantentes, porém não há restições para o uso de materiais.

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Praça Governador Portela, nova edifi cação do Fórum Municipal

Praça Governador Portela, edifi cação no lugar Hotel

Simulação das Novas Edificações

Praça Governador Portela, edifi cação atual do Fórum Municipal

Praça Governador Portela, o Hotel atual

A substituição das edificações do Fórum Municipal e Hotel é uma parte importante da valorização da praça. A proposta é seguir a tipologia das edificações térreas, com telhado em quatro águas em telha capa e canal, no alinhamento predial e sem recuos. Vãos em verga reta. Porém essas edificações devem expressar que são novas através dos materiais utilizados. Como exemplo o uso de vidro nos fechamentos dos vãos para edificação do banco e a utilização de estrutura metálica aparente.

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Proteção da Paisagem

Em amarelo a delimitação do perímetro urbano do distrito sede de Duas Barras definido em lei municipal em 2009. Engloba áreas caracterizadas como rural e áreas de mata.

Segundo o código florestal vigente, rios com largura inferior a 10 metros possuem 30 metros de proteção de suas margens (15 metros para casa lado). Em vermelho a indicação da área non aedificandi dos Rios Negro, Resende e córrego Baú.

Indicação das cumeeiras das montanhas e colinas, essas linhas são os limites da visibilidade que se tem da cidade, com a identificação dos seus pontos mais altos.

O pouco de mata ainda existente nos pontos mais altos deve ser prote-gida, e o reflorestamento interligará esses pontos isolados.

Considerando os elementos naturais de Duas Barras como elemento importante para valorização do conjunto da praça, a sua preserva-ção será interligada ao tombamento. Assim como a poligonal de entorno possui uma legislação de uso e ocupação do solo específica visando garantir a visibilidade e ambiência do conjunto, a delimita-ção de zonas de ocupação controlada nos morros e colinas vinculada ao tombamento garantirá sua proteção independente da legislação municipal que é bastante permissiva.

Duas Barras não possui uma legislação específica de uso e ocupação do solo, existe apenas um código de obras, Decreto Lei Nº 22 de 7 de maio de 1943. Nele há um zoneamento da cidade em urbana com bairros comerciais, residenciais e industriais; suburbana e rural. Delimitação foi feita a partir da indicação de ruas, atualmente a zona urbana pode ser considerada o perímetro urbano da Lei Municipal nº 985 de 10 de setembro de 2009.

O código de obras determina quais são os usos permitidos nos zo-neamentos, porém há pouca definição quanto a ocupação. Estabele-ce taxa máxima de ocupação de 70% e o máximo de 3 pavimentos no bairro residencial e industrial, também estabelece afastamentos laterais de 1,50 m e de 4,00 m entre edificações em um mesmo lote para o bairro residencial. Quanto ao bairro comercial apenas fala do alinhamento com o logradouro e sobre o pé direito mínimo de 4,00 m no pavimento térreo. Não foi encontrada qualquer delimitação de quais seriam esses bairros.

Quanto ao meio ambiente, há um Código Municipal de Meio Ambi-ente, Lei Municipal nº1032 de 06 de dezembro de 2010 que de-termina como Áreas de Preservação Permanente remanescentes da mata atlântica, inclusive os capoeirões (reserva de mata nas proprie-dades rurais de onde é extraída madeira); e as elevações rochosas de valor paisagístico. Ou seja, já há uma proteção da paisagem, o quem vem a ser fortalecido pelo tombamento estadual.

Para definição da zona de ocupação controlada foram levadas em consideração quatro questões: o perímetro urbano, a área non ae-dificandi dos rios, a cumeeira das montanhas e as áreas de mata. O resultado foram duas zonas, as manchas amarelas, sendo a menor com 38 hectares e a maior com 60 hectares. Em verde escuro são as áreas de reflorestamento cujo objetivo é unir pontos isolados de mata, formando um cordão verde.

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Zona de ocupação controlada

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Dentro do perímetro urbano de Duas Barras passam a existir três zonas específicas, a de proteção do conjunto arquitetônico e urbanístico; a zona de ocupação controlada complementando a proteção do patrimônio paisagístico; e o restante da cidade que não possui uma legislação específica de uso e ocupação do solo.

Na zona de ocupação controlada o objetivo é criar um espaço com baixa a nenhuma ocupação, configurando em chácaras, mantendo a área verde e livre da expansão urbana. Para tal as re-gras de ocupação do solo são: lote mínimo de 5000m² com taxa de ocupação de 10% e de impermeabilização também de 10%, número máximo de 2 pavimentos. O resultado são edificações de 500m² em uma área de ½ hectar.

Uso e Ocupação do Solo no Perímetro Urbano

Somando a área das duas machas, 38 e 60 hectares, o loteamento seguindo esses critérios gera 196 lotes. O esquema ao lado mostra a proporção terreno e edificação.

edificação | 500m²

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Analisando os lotes mais recentes da cidade percebe-se um ad-ensamento, os lotes antigos em média possuem 10m de testada e 500m². A testada dos lotes novos continua a mesma, porém a área é a metade, e a ocupação no lote em alguns casos é maior. O esquema abaixo mostra as proporções e a relação entre os lotes antigos e novos.

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Esse adensamento tende a descaracterizar a morfologia urbana da cidade, que tem uma proporção de cheios e vazios que geram áreas verdes, os grandes quintais percebidos principalmente junto aos rios. Com parâmetros de ocupação do solo é possível preservar a ambiência de Duas Barras.

Parâmetros:Lote mínimo de 250m² com testada mínima de 10m e taxa máx-ima de ocupação e impermeabilização do solo de 50%. Máximo de 2 pavimentos. Quanto a afastamentos segue a regra básica, laterais de 1,5m para abertura de janelas, de 5m entre edificações no mesmo lote e seguindo alinhamento existente, ou em caso de novos loteamentos, afastamento frontal de 1,5m.

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Todas o propostas até então apresentadas se manifestam no projeto de requalificação da Praça Governador Portela. O objetivo é valorizar o conjunto solucionando as questões levantadas ao longo do diagnóstico e análise.

A primeira questão são as edificações que desarmonizam o conjunto, o Fórum Municipal e o Hotel, a proposta é utilizar um lote vazio e outro lote subutilizado na Rua Dr. Vicente Mocanda. A atual edificação do Hotel possui três pavimentos com um total de 680m², o térreo tem um uso comercial incluindo uma agência do Banco do Brasil. Essa parte comercial continuaria na praça, em uma edificação térrea que respeita as proporções do conjunto (Comércio/Banco), os dois andares de hotel seriam transferidos para o lote que fica na rua de acesso principal a praça, dividido em duas edificações (Hotel) respeitando os parâmetros de ocupação do solo.

Projeto: Praça Governador Portela

que integre o edifício da cultura ao marco de formação da cidade (encontros dos dois rios), e que ao mesmo tempo esteja ligado a praça através dos caminhos ao longo das margens dos rios.

A localização do Centro Cultural de Duas Barras possibilita a criação de novas áreas públicas de lazer, oferecendo a população espaços para cri-anças e idosos. Com os caminhos ao longo dos rios é possível proteger as margens dos rios e proporcionar lazer ativo.

Outro problema encontrado na praça é o excesso de carros parado ao longo da via, principalmente junto a prefeitura e fórum, boa parte desses carros pertence a funcionários dessas edificações. Foram identi-ficadas 10 vagas nessa área que passaram para o interior do lote onde está o fórum e prefeitura, área liberada após o avanço da nova edifica-ção que se alinha ás demais edificações do conjunto.

A solução para o Fórum Municipal foi dividi-lo em duas edificações, uma já existente junto a prefeitura onde estão a Secretaria de Cultura e Tur-ismo, a Biblioteca Municipal, o Museu do Martinho da Vila e o Museu da Folia de Reis; e a outra seria uma nova edificação térrea no mesmo lote seguindo os parâmetros estabelecidos para a poligonal de entorno, as duas edificações possuem a mesma metragem quadrada do fórum origi-nal de 390m². Essas duas edificações são próximas, o que não dificulta a rotina do fórum. A nova edificação avança em relação ao Fórum atual, que está recuado destoando do conjunto. Em fotos antigas é possível per-ceber que o alinhamento era respeitado pela edificação anterior ao fórum.

Um segundo lote junto ao encontro do Rio Negro com o Rio Resende será usado para realocação da Secretaria de Cultura e Turismo, a Biblioteca Municipal, o Museu do Martinho da Vila e o Museu da Folia de Reis, é o Centro Cultural de Duas Barras. A proposta é criar um espaço

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A poluição visual gerada pelo posteamento eletrificado exige que essa rede de transmissão seja subterrânea. A iluminação pública passa a ser feita por pequenos postes ao longo da praça e poste maiores nas calça-das opostas a praça.

O desenho da praça foi mantido, com o mesmo formato e sua configu-ração de rótula, o que parece ser o mesmo há 50 anos, porém o desenho de seus canteiros e pavimentação atual é de 1994, quando a praça foi reformada. O grande problema da praça é a localização do coreto, que é um mobiliário muito valorizado pela população, mas atualmente está localizado no eixo da fachada da igreja, dificultando a visibilidade da edi-ficação mais importante do conjunto, justamente no principal cone visual. Além de simplesmente mudar a localização do coreto se propõe a modi-ficação da pavimentação para algo mais simples, assim como a

redução dos canteiros e eliminação daqueles que estivessem no eixo da igreja, criando uma praça mais seca com um caráter mais cívico. São mantidos alguns recantos para o lazer contemplativo, garantindo o simples estar na praça.

Destacar a igreja liberando aumentando sua visibilidade foi uma escolha que acompanha o que já é expresso no desenho urbano. A existência de vias nas laterais da igreja não permite que outra edifi cação se aproxime dela, todas as suas faces são livres.

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Para proteger a área non aedificandi nas margens dos rios, será propos-to um parque linear com a criação de caminhos e replantio de espécies da Mata Atlântica. Boa parte dessa área é de propriedade privada em fundo de lotes, sendo necessária uma desapropriação. O parque daria utilidade pública a essa área, impedindo futuras ocupações, sendo um espaço de lazer público a tendência é que a população cuide e vigie.

Os caminhos seguem as margens de acordo com o espaço disponível, atravessando o rio quando necessário através de pequenas pontes de estrutura metálica. A proposta também inclui a revisão das pontes para automóveis, trocando o guarda-corpo atual de desenho pesado por um em hastes metálicas, que permite uma maior visibilidade do rio. Dentro da área de estudo há um total de 750 metros de pista para caminhada e 3 pontes.

Nos cortes ao lado há três exemplos de intervenção em locais com limitantes diferentes. O primeiro corte (A) mostra uma das pontes que fazem a travessia de margens, em estrutura metálica simples e de desenho horizontal. A pista de caminhada possui 2,0m de largura per-mitindo mão dupla, sendo sempre iluminada.

O segundo corte (B) mostra uma das pontes de automóveis, há um desnível entre a via e o rio, para vencer a altura e dar continuidade ao caminho ao longo da margem foi necessária uma rampa. Também há pouco espaço para a pista de caminhada, solucionado com uma espé-cie de deck.

O último corte mostra um trecho ideal do parque, onde não há tanto desnível nas margens, nem edifi cações. Há espaço o sufi ciente para a pista, o trecho para replantio e ainda um local mais elaborado para lazer. Há outros trechos assim ao longo dos rios, o que permite criar pequenos recantos.

Projeto: Margem dos Rios

Corte A

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Mapa Projeto Rios

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Foto: Murilo Ferrari

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O trabalho final de graduação expressa o crescimento e evolução ao longo do curso de arquitetura e urbanismo, foram anos de vivências, trocas e experiências sempre compartilhadas com ami-gos. Hoje sou o resultado dessas amizades, desses encontros fabulosos.

Dentro do Casarão da EAU conheci professores inspiradores e apaixonados, pessoas únicas que se tornaram meus amigos de jornada, pessoas que preciso citar e agradecer diretamente. A querida Sônia, que abriu ainda mais meus olhos para o mundo in-justo, mas mostrou que é possível e devemos mudá-lo; ao Juarez pelo engajamento humorado, por ser um ser humano mais huma-no que conheço; a Andréia que me ajudou a ampliar a minha visão sobre patrimônio; e ao meu orientador José Pessôa, que me aturou em todas as fases do curso nas disciplinas de Análise Urbana, Teoria do Urbanismo III, Projeto de Restauração e por fim o TFG, eu não tinha percebido, mas essas disciplinas foram decisivas nas minhas escolhas profissionais, obrigada mesmo Zé.

Ainda na EAU, mas agora no Chalé, hoje o espaço dos estudantes, está o EMPAZ. Escritório Modelo onde pude praticar o ser arquiteto e urbanista, na troca com os mais novos e com professores dedi-cados, a Laura que topou e sempre topa nossas empreitadas e o Gerônimo com seus causos intermináveis e jeito calmo de ser. No Chalé há outro espaço que talvez tenha sido o mais importante na minha passagem pela EAU, a sala do DACA, no pátio da pizzada.. lá estão amizades profundas. Amigos veteranos como Aline, João, Tom, Maria, André, Magrão, Carol, Pati; amigos de turma como Jo-nas, Patrick, Pedro, Diego, Marcinha; amigos calouros, Fabi, Ivan, Lucas, Paulo, Bezerra, Rafael, Adriana, Luana, Camilas, Natassia, Xexeu... são muitos e são muito queridos. Valeu galera.

Saindo dos limites da EAU, extrapolando todas as fronteiras, indo além mar em alguns casos, também estão alguns que me apóiam e se importam comigo. E como sempre dizemos, “não deixe a faculdade atrapalhar seus estudos” aprendi muito com a FeNEA, com as pessoas que se importam, pessoas que não suportam a indiferença e o conformismo, assim como eu, são semelhantes que vencem todas as distâncias para estarem junto, para um simples papo de boteco ou para saber como está seu TFG. A eles agradeço.. Murilo, Paloma, Lua, Vítor, Rebeca, Henrik, LP, Luciana, Marina, Raquel, Lobão, Guto, Rogério, Pio, Garé, Aline, João, So-fia..

Dentre as experiências extra academia, agradeço muito ao meu período dentro do IPHAN, foi o verdadeiro despertar. Estar imersa em patrimônio com pessoas que são verdadeiros apaixonados pelo que fazem e valorizam a troca de conhecimentos e que me ensinaram muito. Obrigada Paula, Jurema, Helena, Sandra, Adler.

Como um bom estudante de arquitetura e urbanismo, passei por várias viradas de noite.. trabalho intenso durante as madrugadas. Mas não estava sozinha, amigos me inspiravam, valeu quarteto de Liverpool, Bob Marley, Jim Morrison, Bob Dylan e mais alguns ami-gos inspiradores e imaginários.

E por fim, agradeço a quem me atura a 25 anos, mãe e pai, meus melhores amigos, e ao meu irmão Raoni companheiro desde a barriga da mamãe. Dedico todo esse trabalho a vocês e todo meu amor a vida e as coisas boas que ela tem.

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LISBOA, Edson de Castro. Duas Barras: nos caminhos da Tapera. Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1992.

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