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0 Planejamento Estratégico para a Cadeia Produtiva da Cachaça PEC – Cachaça R ELATÓRIO F INAL São Paulo, 2014

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Planejamento Estratégico para a Cadeia

Produtiva da Cachaça

PEC – Cachaça

RELATÓRIO FINAL

São Paulo, 2014

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Coordenadora: Maria Sylvia Macchione Saes

Pesquisadores Seniores: Rubens Nunes

Vivian Lara dos S. Silva

Rúbia Nara Rinaldi Leão de Sousa

Pesquisadores Juniores: Eder de Carvalho

Fausto Makishi

Fernando De Cesare Kolya

Leandro Simões Pongeluppe

Estagiários: Lucas Ruela de Oliveira Mosca

Melyssa Guimarães

Silvia Melo Neves

Center for Organization Studies

Universidade de São Paulo

Av. Prof. Luciano Gualberto , 908 – Sala 16 C

CEP 05508-900 – Cidade Universitária – São Paulo – SP

www.cors.usp.br

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Palavras de

Vicente Bastos

Presidente da Diretoria Executiva do IBRAC

Palavras de

Margareth Cesar Rezende Pereira Lima

Presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça

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Conteúdo

Introdução 4

1. Objetivo 7

2. Cadeia Produtiva da Cachaça 7

3. Ambiente Institucional 13

4. Ambiente Tecnológico 27

5. Ambiente Organizacional 32

6. Ambiente Competitivo 37

7. Entrevistas com agentes do setor 43

8. Pesquisa com consumidores 57

9. Competitividade da Cadeia Produtiva da Cachaça 63

10. Workshop de Planejamento estratégico da cadeia produtiva da cachaça 65

11. A cadeia produtiva da cachaça: Momento atual e visão de futuro 76

Apêndice 78

Anexo 1 83

Referências 88

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Explicação

“Meu verso é minha consolação.

Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua, cachaça.

Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,

folha de taioba, pouco importa: tudo serve.

Para louvar a Deus como para aliviar o peito,

queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos

é que faço meu verso. E meu verso me agrada.

Meu verso me agrada sempre...

Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota

mas não é para o público, é para mim mesmo essa cambalhota.

Eu bem me entendo.

Não sou alegre. Sou até muito triste.

A culpa é da sombra das bananeiras de meu pais, esta sombra mole,

preguiçosa.

Há dias em que ando na rua de olhos baixos

para que ninguém desconfie, ninguém perceba

que passei a noite inteira chorando.

Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,

de repente ouço a voz de uma viola...

saio desanimado.

Ah, ser filho de fazendeiro!

A beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrcgo

vagabundo,

é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.

E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.

Aquela casa de nove andares comerciais

é muito interessante.

A casa colonial da fazenda também era...

No elevador penso na roça,

na roça penso no elevador.

Quem me fez assim foi minha gente e minha terra

e eu gosto bem de ter nascido com essa tara.

Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.

A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro

e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.

O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.

Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,

lê o seu jornal, mete a língua no governo,

queixa-se da vida (a vida está tão cara)

e no fim dá certo.

Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.

Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?

De Alguma poesia (1930), Carlos Drummond de Andrade

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P E C – C a c h a ç a

Introdução

Nas últimas décadas, as cadeias agrícolas brasileiras sofreram profundas modificações no ambiente

competitivo mundial. Tais mudanças refletiram no aumento da atratividade do mercado brasileiro

resultando no ingresso de grandes empresas no mercado interno e a configuração de um novo padrão de

competição. Essa nova dinâmica aponta novas perspectivas para vários setores que nasceram totalmente

voltados para o mercado interno, com o surgimento de iniciativas de inserção de produtos de maior valor

agregado no mercado interno e mundial.

Esse é o caso da cachaça brasileira. Ao lado de estratégias voltadas à produção de cachaça com

qualidade especial, o setor se depara com questões institucionais importantes como o reconhecimento

internacional da cachaça como bebida exclusivamente produzida no Brasil. Os esforços empreendidos

pelo Instituto Brasileiro da Cachaça - IBRAC e pela Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça

para que isso ocorresse traz a medida da importância das ações coletivas para mudar o posicionamento

competitivo de um setor.

Entretanto, os dados de exportações do setor, mostram que há ainda muito a ser conquistado. Em 2012,

a venda de bebidas destiladas no mundo atingiu a marca de 20,9 trilhões de litros. Neste montante,

enquanto bebidas como a vodca destaca-se com mais de 11 bilhões de litros, o volume vendido de

cachaça permanece pouco expressivo. No mesmo período, foram exportados cerca de 8 milhões de

litros, que correspondem a aproximadamente a US$ 15 milhões, ou seja, menos que 1% da produção

nacional de cachaça. A Tequila, por exemplo, bebida exclusivamente mexicana, exportou 164,9 bilhões

de litros nesse mesmo ano (EUROMONITOR, 2013; SEBRAE, 2012).

Parte da dificuldade de formular ações coletivas reside na heterogeneidade do setor, uma vez que

grandes grupos industriais coexistem com pequenos produtores familiares, quase sempre marcados pela

baixa capacitação técnica e gerencial, também produtores com produção informal e alambiques

pequenos, médios ou grandes escalas.

Frente a essa complexidade, parece evidente que a análise de mercado, a análise de ambiente

competitivo e a proposição de ações coletivas devam considerar o todo (ou seja, o setor), mas também

as particularidades das partes (como estratégias de produtores de qualidade / origem de uma mesma

região) que compõem esse universo da cadeia produtiva da cachaça.

Este relatório é resultado de um projeto desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa CORS com a

colaboração do IBRAC e APEX - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. O

Projeto de Planejamento Estratégico para a Cadeia Produtiva da Cachaça, PEC-Cachaça, visam o

delineamento de uma Agenda Positiva, constituída de ações coletivas, políticas públicas e privadas,

para o fortalecimento e desenvolvimento da cadeia produtiva da cachaça. Tal proposta alinha-se às

discussões realizadas no âmbito da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça, sob a

coordenação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para a comunicação e promoção

do produto Cachaça no mercado interno e, principalmente, no exterior.

A primeira fase do PEC-Cachaça contemplou a análise dos ambientes institucional, organizacional,

tecnológico e competitivo que envolve a cadeia produtiva da cachaça. Em complemento a esse

abrangente estudo em bases nacionais e internacionais, foram conduzidas entrevistas com diversos

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P E C – C a c h a ç a

agentes do setor a partir das quais foram levantadas uma série de questões que podem ser

compreendidas como pontos de mudança, ruptura, conflito ou criação para competitividade do setor.

Uma secção discute a competitividade da cadeia, revelada pelos resultados passados e os desafios para

a competitividade futura. Na sequencia são apresentados os resultados do workshop realizado com

representantes institucionais e empresariais dos diferentes atores da cadeia produtiva da cachaça, no

qual foi discutido um conjunto de ações, por sua vez, voltadas a construção de uma agenda positiva para

cadeia produtiva da cachaça. Por fim a ultima parte trás uma discussão sobre o momento atual da cadeia

da cachaça e visão de futuro.

A metodologia na qual se baseou o presente trabalho assume que a competitividade de uma cadeia

produtiva está condicionada pelas relações entre os segmentos produtivos e influenciada por quatro

níveis distintos de ambientes: i) institucional, que corresponde ao conjunto de relações comerciais e

financeiras que se estabelecem entre todos os estágios de transformação do produto e que está regido

por regras que impõem limites e influenciam as trocas; ii) tecnológico, que diz respeito a estágio de

desenvolvimento técnico, uma vez que o sistema produtivo se constitui de uma sucessão de operações

de transformação dissociáveis, separadas e ligadas entre si por encadeamentos tecnológicos. O “espaço

tecnológico” é suscetível à transformação em função do estado de conhecimento técnico dominante e

de modificações organizacionais das relações de trabalho; iii) organizacional, que se refere a

possibilidade de estruturação de ações coletivas e seu papel na obtenção de bens que suprem as falhas

de mercado, tais como a provisão de informações (de preços, tecnologia, projeções de oferta e demanda,

estatísticas, prospecção de novos mercados) na criação de padrões de qualidade e normas técnicas e/ou

na modificação das regras do jogo em benefício do setor (lobby); iv) competitivo, relacionado ao

conjunto de ações econômicas que regem a organização dos meios de produção e asseguram as

articulações das operações entre seus segmentos em função do grau de interação entre as empresas de

cada segmento. Dentro das possibilidades de escolha, as empresas podem adotar basicamente estratégias

de diferenciação ou de custo, para isso elas adotam relações - integração vertical, contratos relacionais

ou formais, com seus clientes e fornecedores que qualificam a rede de trocas.1

O Quadro1 apresenta as variáveis chaves de análise e as questões que surgem em cada um dos ambientes

de interesse competitivo para a cadeia da cachaça. A caracterização dos ambientes se baseia nos

principais segmentos da cadeia produtiva apresentada na Seção 3 do trabalho.

Quadro 1: Ambientes de Interesse e Variáveis chaves de Análise

1 Abordagem teórica baseada em Farina; Azevedo; Saes (1997).

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•Sistema legal (câmbio, juros, impostos, barreiras comerciais)

•Regulamentações (Leis Ambientais)

•Tradições e costumes (educação, cultura de negociação)

•Sistema Político

•Políticas Setoriais governamentais

Ambiente Institucional

Quais são as regras institucionais que trazem oportunidades / desafios

para a cadeia da cachaça?

•Trajetória tecnologicas

•Estágio da difusão (inovações radicais / incrementais)

• Desenvolvimento de novas soluções tecnológicas

Ambiente Tecnologico

Qual o paradigma tecnológico dominante? Qual é o estágio de difusão das inovações? Quais as

implicações para o setor?

•Organizações corporativas

•Bureaus Públicos e privados

•Institutos de Pesquisas

•Políticas Setoriais Privadas

Ambiente Organizacional

Quais as ações coletivas que a cadeia da cachaça poderia adotar para modificar as regras do jogo em benefício do setor? Quais os bens coletivos poderiam ser supridos?

•Estrutura da indústria

•Padrões de concorrência: commodities X produtos diferenciados

•Característica do produto: frequência de consumo; bens substitutos etc.

Ambiente Competitivo

Como a competição proporciona lucros para o setor? Quais estratégias para a cadeia lidar com

concorrentes e crescer no mercado? Como obter superioridade competitiva?

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P E C – C a c h a ç a

1. Objetivo

O presente relatório tem como objetivo central apresentar uma análise dos ambientes institucional,

organizacional, tecnológico e competitivo que circunscrevem a cadeia produtiva da cachaça e dos

principais pontos de melhoria e ruptura identificados nas entrevistas conduzidas com diferentes agentes

do setor. Pretende-se, com isso, subsidiar o delineamento de ações coletivas (agenda positiva) em vista

a criação de vantagens competitivas para a cadeia produtiva da cachaça.

Antes dessa análise é necessário caracterizar o objeto de análise, ou seja, a cadeia produtiva da cachaça.

2. Cadeia Produtiva da Cachaça

O ponto de partida para o presente estudo é a cadeia produtiva da cachaça, entendida como sequencia

de operações unitárias (etapas do processo que podem ser dissociadas umas das outras), que vão desde

o plantio da cana-de-açúcar até a comercialização da cachaça, ligadas entre si por um encadeamento

técnico, bem como o conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem um fluxo de troca

entre fornecedores e clientes.

Característica marcante do setor de cachaça, que, por vezes, desafia uma representação simplificada do

tecido de interações organizacionais que o constitui, é a heterogeneidade no que diz respeito à escala de

produção dos seus atores e as estruturas de governança adotadas por cada empresa. Existem empresas

integradas verticalmente em diferentes níveis e empresas especializadas em um único segmento. A

cadeia produtiva da cachaça pode ser vista como um grande mosaico de empresas de diferentes portes

e de diferentes formas de coordenação vertical e horizontal.

A Figura 1 representa de forma esquemática os principais segmentos da cadeia produtiva da cachaça

considerados no presente estudo. A produção de cachaça está dividida em três principais segmentos ou

o que se denomina o núcleo da cadeia: produção de cana-de-açúcar, produção de cachaça e canais de

distribuição (separados conforme atuação em mercado interno e mercado internacional). Não menos

importantes são os fornecedores de insumos e implementos agrícolas, fornecedores de embalagens e

agentes facilitadores, entendidos como empresas e instituições que exercem funções relevantes para o

setor (empresas de transporte, publicidade, seguros, bancos, instituições de pesquisa e desenvolvimento

etc.) e atores institucionais (governo, IBRAC, associações de produtores e intersetoriais).

A produção agrícola de cana-de-açúcar, sobretudo a de grande escala, pode sofrer influência do mercado

de açúcar e etanol. Em grandes quantidades a indústria de cachaça concorre com grandes grupos

sucroalcooleiros na obtenção de matéria prima (cana-de-açúcar ou até mesmo etanol produzido em

propriedades agrícolas equipadas com colunas de destilação de pequeno porte). Em escalas menores, a

cana-de-açúcar deixa de ser interessante (em termos de custo de negociação) para grandes usinas

sucroalcooleiras.

Adicionalmente, é preciso lembrar que a cana apresenta especificidade locacional, ou seja, ela somente

será processada próxima ao local onde foi cultivada. No caso da cachaça, o tempo de espera entre a

colheita e a moagem interferem diretamente na qualidade do produto final (PEREIRA et al., 2006;

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SOUZA; LIMA; BORTOLETTO, 2013). Na maior parte das vezes, ela é produzida na própria

propriedade em que é cultivada, podendo ser engarrafada ou comercializada a granel. Ao contrário da

cana, a cachaça pode ser armazenada por tempo indeterminado e transportada em longas distâncias.

Grandes engarrafadores, por exemplo, podem adquirir cachaças em diferentes localidades do País.

Existe um número muito grande de produtores que fabricam cachaça em alambiques em volumes muito

pequenos (100 a 2500 litros de cachaça mensais). Esses produtores utilizam, muitas vezes, mão de obra

familiar e tem grande dificuldade de inserir seus produtos no mercado (por questões legais, técnicas,

gerenciais e econômicas). O volume de cachaça negociado com engarrafadores, distribuidores e

varejistas pode ser considerado uma barreira para pequenos produtores.

Produtores de pequena escala podem recorrer ao cooperativismo2 como forma de ampliar suas margens

de lucro na negociação da bebida com a indústria engarrafadora. Também é possível que cooperativas

regionais engarrafem a cachaça e a comercializem com marca própria. Contudo, ações cooperativas na

gestão de canais de distribuição e logística (distribuição própria) ainda são pouco expressivas.

Alambiques com marcas consolidadas podem recorrer à produção de cachaça em seu entorno como

forma de responder aumentos na demanda. Engarrafadores de maior porte normalmente recorrem a

cooperativas e fornecedores pré-qualificados como forma de abastecimento. A padronização e o

envelhecimento em toneis de madeira podem ser vistos como artifícios tecnológicos utilizados para

uniformizar e agregar valor, respectivamente, ao produto final.

A venda fracionada da cachaça em bares, restaurantes e boates, locais denominados “pontos de dose”,

assumem um papel importante na cadeia de distribuição da bebida. Sobre isso, esforços individuais e

coletivos têm convergido no sentido de buscar agregar valor a cachaça no ponto de consumo. Exemplos

podem ser vistos na criação e divulgação da “Carta de Cachaças” pela Associação Pernambucana de

Produtores de Aguardente de cana e Rapadura (APAR, 2013) e na recente parceria firmada pelo IBRAC

e SENAC para formação de especialistas, ou “sommeliers de cachaça” (IBRAC, 2013).

Em alguns casos a venda direta, através de comercio eletrônico ou loja própria serve de alternativa para

comercialização da cachaça produzida em pequenos alambiques. Alguns produtores têm desenvolvido

parcerias pontuais com bares, restaurantes e lojas especializadas para vender e divulgar sua cachaça.

Outra alternativa que vem crescendo e pode ser interessante para pequenos e médios produtores é o

turismo associado a produção de cachaça.

A participação de grandes grupos distribuidores de bebidas como a Diageo e Campari ajudam a inserção

da cachaça em grandes redes varejistas e em bares e restaurantes. Essas empresas, além de forte

investimento em publicidade, utilizam de amplo portfólio de produtos e redes de distribuição

abrangentes para colocar seus produtos, incluindo a cachaça, em diferentes pontos de venda e consumo

em todo território e, até, internacionalmente.

2 A formação de cooperativas e associações entre produtores representa uma alternativa para captação de recursos,

melhoria de qualidade na produção, marketing, acesso a informações de mercado e novas tecnologias, negociação

com fornecedores, prospecção de mercado e desenvolvimento de estratégias de diferenciação local (VERDI,

2005).

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Na figura 1, as setas indicadas com T1 e T2 representam, respectivamente, a aquisição de insumos

agrícolas e maquinários por parte do produtor de cana-de-açúcar. A produção de cana pode ser integrada

verticalmente a produção de cachaça, mas também podem ocorrer diferentes formas de relacionamento

entre o produtor agrícola e os segmentos que sucedem. T5 representa as transações existentes entre o

produtor de cana-de-açúcar com a pequena e média indústria de cachaça, cooperativas, grande indústrias

e a indústria sucroalcooleira. T3 e T4 representam a aquisição de maquinas e equipamentos e insumos

industriais, respectivamente, por parte dos produtores de cachaça, cooperativas e envasadores. A

cachaça de pequenos produtores pode ser comercializada a granel com industrias engarrafadoras (T6)

ou cooperativas (T7). As cooperativas , por sua vez, podem envasar e comercializar a cachaça

engarrafada por diferentes canais de distribuição (T9) ou comercializar cachaça a granel com grandes

industrias (T10). A cachaça engarrafada pode ser comercializada por diferentes canais de distribuição,

passando por distribuidores e exportadores, ou chegando, através da distribuição própria a canais de

comercialização como grandes redes varejistas, pequenos varejos ou estabelecimentos de venda

fracionada.

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Figura 1: Cadeia Produtiva da Cachaça Fonte: Elaborado pelos autores

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2.1. Panorama geral do setor de Cachaça

Segundo Pesquisa Industrial Anual do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE, 2012), a

produção brasileira de cachaça atingiu a marca de 1,2 bilhões de litros em 2011. O IBRAC estima que

existam cerca de 40 mil produtores e aproximadamente 4 mil marcas de cachaça no Brasil. Estatísticas

oficiais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) contabilizam apenas 1.483

produtores registrados e 4.182 marcas. Essa disparidade entre as estimativas do IBRAC e as estatísticas

oficiais se deve à existência de muitos produtores informais. A informalidade é reflexo, segundo agentes

do setor (CORS, 2013)3, da alta carga tributária que incide sobre os pequenos produtores, aspectos

culturais dos produtores e dos consumidores, dificuldade técnica de legalização em função da legislação

sanitária e falta de fiscalização eficiente.

Conforme IBGE (2012), entre 2005 e 2011 a produção de cachaça chegou a mais de 1,7 bilhões de litros

em 2006, retrocedendo posteriormente e mantendo-se entre 1,1 e 1,2 bilhões de litros. Essa redução na

produção, para alguns agentes do setor, representa um efeito do aumento de renda da população que

associa a cachaça a um produto de baixa qualidade. A hipótese levantada é que o aumento no poder

aquisitivo provocaria a substituição da cachaça por outras bebidas como uísque, vodca ou cachaças mais

sofisticadas. Sobre isso, é importante notar que a redução no volume produzido pode ser associada

redução no volume de cachaça voltada ao consumo em massa, produzida em grandes escalas. Nos

segmentos de cachaças diferenciadas, produzida em escalas mais modestas, porém com alto valor

agregado, verifica-se a existência de um mercado aquecido.

Figura 2: Evolução da Produção de Cachaça em milhões de litros

Elaborado com base em IBGE - Pesquisa Industrial Anual - Produto, 2012.

3 Centro para Estudos em Organizações – CORS, (2013). Planejamento Estratégico do Instituto Brasileiro da

Cachaça: Entrevista Com Agentes do Setor. Entrevistas realizadas com agentes do setor durante o período de julho

a novembro de 2014.

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Quadro 2 - Números do Setor de Cachaça - 2012

Indicador Valor

Produção 1,22 bilhões de litros

Vendas R$ 14,7 bilhões

Área cultivada 174 mil hectares

Exportações 18,1 milhões de litros (US$ 14,2 milhões)

Produtores 40 mil (1483 registrados)

Marcas 4182

Empregos Mais de 600 mil

Fonte: SEBRAE, EUROMONITOR, MAPA, ALICEWEB, IBGE, IBRAC.

Dados do EUROMONITOR (2013) apontam para a produção substancialmente inferior no ano de 2012,

no valor de 0,9 bilhões de litros, uma queda de 17% em relação ao ano de 2007 quando estimou-se uma

produção de aproximadamente 1,09 bilhões de litros. A hipótese apresentada no parágrafo acima de que

a cachaça esta sendo substituída por outras bebidas e esta se consumindo cachaças de maior valor

agregado pode ser confirmada pelas estimativas do EUROMONITOR (2013) de que entre 2007 e 2012,

a despeito da queda de 17% no volume produzido, o valor agregado total reduziu-se 10% (valor real4).

Isto indica que houve certa valorização real da bebida comercializada.

4 Valores deflacionados utilizando-se o deflator IPCA.

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3. Ambiente Institucional

3.1. Padrões de Identidade e Qualidade da Cachaça

Um ponto importante que permite reforçar (ou inibir) a competitividade em determinado setor produtivo

reside na definição das regras do jogo que irão balizar e influenciar as transações entre fornecedores e

clientes. A criação de padrões públicos ou privados, por exemplo, são aspectos fundamentais na

construção da identidade de um produto e na sua credibilidade junto ao consumidor. No caso específico

da produção da cachaça, tendo em vista a proteção da denominação típica, os padrões permitem atenuar

assimetrias de informação do tipo “o que é cachaça” e “o que esperar de uma cachaça em termos de

segurança alimentar”.

Neste sentido, a legislação Brasileira vigente define:

“Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com

graduação alcóolica de 38 a 48% em volume, a 20ºC, obtida pela destilação do mosto fermentado de

cana-de-açúcar, com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até

seis gramas por litro, expressos em sacarose” (BRASIL, Decreto Federal n° 6.871 de 4/6/2009,

Art. 53).

A definição de cachaça difere da definição de Aguardente de Cana em dois aspectos: limite superior de

graduação alcoólica da aguardente é de 54% e a possibilidade de se obter Aguardente a partir do

destilado simples de cana (destilado cuja graduação alcoólica excede 54% em volume). Sobre isso, cabe

lembrar que a obtenção de destilados alcoólicos com elevado teor alcoólico quase sempre implica perda

de compostos desejáveis em bebidas como cachaça e aguardente, causando alterações em seu aroma e

sabor, com depreciação da bebida (LIMA et al. 2009). Da mesma forma, mudanças no perfil de consumo

têm direcionado a produção de aguardentes com graduação alcoólicas inferiores a 48%. Ao final de

tudo, existe uma tendência para que se produza, predominantemente, cachaça (conforme a definição

legal, aguardente de cana com graduação alcoólica de 38 a 48% obtida do mosto fermentado de cana-

de-açúcar).

O mesmo decreto (6.871/2009) estabelece que cachaças com quantidades de açúcares superiores a seis

gramas por litro e inferiores a trinta gramas por litro devem ser denominada de “cachaça adoçada”. Da

mesma forma, cachaça com no mínimo 50% de cachaça envelhecida por período não inferior a um ano,

podendo ser adicionada de caramelo para a correção da cor, serão denominadas “cachaça envelhecida”.

De forma complementar, os padrões de identidade e qualidade da cachaça estão definidos na Instrução

Normativa (IN) nº 13 de 29 de junho de 2005 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(MAPA).

A IN 13/2005, de forma mais detalhada5, procura fixar os padrões de identidade e qualidade para

aguardente de cana e cachaça, tais como composição química, requisitos de qualidade, limites de

contaminantes, padrões de higiene, rotulagem etc. Em seu caráter quantitativo, a IN13/2005 estabelece

5 Cabe lembrar que uma IN, por definição, é uma norma complementar administrativa que visa detalhar aspectos

estabelecidos em leis, portarias e decretos, não podendo assim sobrepor-se a esses. Dentro de um contexto

dinâmico competitivo, as INs podem ser revisadas e reestruturas mais facilmente que Decretos Federais.

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P E C – C a c h a ç a

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limites para determinados compostos químicos (Coeficiente de Congêneres) e Contaminantes

(orgânicos e inorgânicos), conforme resumido na Quadro 3 abaixo.

Quadro 3 - Limites de composição química e requisitos de qualidade de cachaça

Componente Limite máximo permitido

Co

efic

ien

te d

e C

on

gên

eres

Acidez volátil (expressa em ácido

acético) 150 mg/100 ml de álcool anidro

Ésteres totais (expressos em acetato de

etila) 200 mg/100 ml de álcool anidro -

Aldeídos totais (expressos em

acetaldeído) 30 mg/100 ml de álcool anidro

Soma de Furfural e Hidroximetilfurfural 5 mg/100 ml de álcool anidro

Soma dos alcoóis isobutílico (2-metil

propanol), isoamílicos (2-metil -1-

butanol +3 metil-1-butanol) e n-propílico

(1-propanol)

360 mg/100 ml de álcool anidro

Conta

min

ante

s

Org

ânic

os

Álcool metílico 20 mg/100 ml de álcool anidro

Carbamato de etila6 150μg/l

Acroleína (2-propenal) 5mg/100ml de álcool anidro

Álcool sec-butílico (2-butanol) 10mg/100ml de álcool anidro

Álcool n-butílico (1-butanol) 3mg/100ml de álcool anidro

Conta

min

ant

es

Inorg

ânic

os Cobre (Cu) 5mg/l

Chumbo (Pb) 200μg/l

Arsênio (As) 100μg/l

Fonte: elaborado com base na IN 13/2005.

Conforme lembram Alcarde et al. (2009), estes padrões e seus respectivos limites têm duas finalidades:

(a) proteger à saúde pública e (b) moderar a influência de cada um destes componentes na qualidade da

bebida. Contudo, o fato de uma aguardente ou cachaça se enquadrar nestes padrões não implica a sua

caracterização como um produto de qualidade sensorial superior (ALCARDE et al., 2009).

Adicionalmente, a IN 13/2005 prevê cinco possíveis variações para o produto cachaça, em função de

seu processo de produção e envelhecimento: (a) adoçada; (b) envelhecida; (c) Premium; (d) Extra

Premium; (e) Reserva Especial. Esta classificação não considera necessariamente a qualidade do

6 O limite de Carbamato de Etila, considerado muito baixo por alguns especialistas, tem sido amplamente discutido

no setor e nos comitês técnicos da Câmara setorial e IBRAC. Estes deverão ser revistos em breve.

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produto, mas apenas a fração e o período de envelhecimento e a adição ou não de açúcar ou caramelo

(corante).

Em resumo, entre aguardente de cana, cachaça e destilado simples de cana, a IN13/2005 em conjunto

com o Decreto 6.871 estabelece a seguinte classificação:

Aguardente de Cana é a bebida com graduação alcoólica de 38% volume (trinta e oito por cento em volume)

a 54% volume (cinquenta e quatro por cento em volume) a 20ºC (vinte graus Celsius), obtida do destilado

alcoólico simples de cana-de-açúcar ou pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar,

podendo ser adicionada de açúcares até 6g/l (seis gramas por litro), expressos em sacarose.

Aguardente de Cana Adoçada: É a bebida que contém açúcares em quantidade superior a 6g/l (seis gramas

por litro) e inferior a 30g/l (trinta gramas por litro), expressos em sacarose.

Aguardente de Cana Envelhecida: É a bebida que contém, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) da

Aguardente de Cana ou do Destilado Alcoólico Simples de Cana-de-Açúcar envelhecidos em recipiente de

madeira apropriado, com capacidade máxima de 700 (setecentos) litros, por um período não inferior a 1 (um)

ano.

Aguardente de Cana Premium: É a bebida que contém 100% (cem por cento) de Aguardente de Cana ou

Destilado Alcoólico Simples de Cana-de-Açúcar envelhecidos em recipiente de madeira apropriado, com

capacidade máxima de 700 (setecentos) litros, por um período não inferior a 1 (um) ano.

Aguardente de Cana Extra Premium: É a bebida envelhecida por um período não inferior a 3 (três) anos.

Cachaça é a denominação típica e exclusiva da Aguardente de Cana produzida no Brasil, com graduação

alcoólica de 38 % vol. (trinta e oito por cento em volume) a 48% vol. (quarenta e oito por cento em volume)

a 20ºC (vinte graus Celsius), obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar com

características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até 6g/l (seis gramas por litro),

expressos em sacarose.

Cachaça Adoçada: É a bebida que contém açúcares em quantidade superior a 6g/l (seis gramas por litro) e

inferior a 30g/l (trinta gramas por litro), expressos em sacarose.

Cachaça Envelhecida: É a bebida que contém, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) de Cachaça ou

Aguardente de Cana envelhecidas em recipiente de madeira apropriado, com capacidade máxima de 700

(setecentos) litros, por um período não inferior a 1 (um) ano.

Cachaça Premium: É a bebida que contém 100% (cem por cento) de Cachaça ou Aguardente de Cana

envelhecidas em recipiente de madeira apropriado, com capacidade máxima de 700 (setecentos) litros, por

um período não inferior a 1 (um) ano.

Cachaça Extra Premium: É a bebida envelhecida por um período não inferior a 3 (três) anos.

Destilado Alcoólico Simples de Cana-de-Açúcar, destinado à produção da Aguardente de Cana, é o produto

obtido pelo processo de destilação simples ou por destilo-retificação parcial seletiva do mosto fermentado do

caldo de cana-de-açúcar, com graduação alcoólica superior a 54% vol. (cinquenta e quatro por cento em

volume) e inferior a 70% vol. (setenta por cento em volume) a 20ºC (vinte graus Celsius).

Destilado Alcoólico Simples de Cana-de-Açúcar Envelhecido: É o produto armazenado em recipiente de

madeira apropriado, com capacidade máxima de 700 (setecentos) litros, por um período não inferior a 1 (um)

ano.

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Por fim, a cachaça é um produto da cultura brasileira e sua produção é muito comum em todas as regiões

do Brasil. Algumas vezes ela acontece em pequenas escalas voltada para o “consumo próprio”, sem

intenção comercial. Ocorre que a legislação não contempla tal particularidade e, produtores enquadrados

desta maneira são vistos como informais ou mesmo “ilegais”.

3.2. Caipirinha do Brasil

Uma tradicional forma de consumo da cachaça, difundida internacionalmente é a caipirinha. Sobre isso,

chama à atenção a existência de uma definição para caipirinha que, por muitas vezes, é desconhecida do

consumidor e daqueles que servem o mercado, uma vez que o Decreto n° 4.851, de 2 de outubro de 2003

define:

“Caipirinha é a bebida típica brasileira, com graduação alcoólica de quinze a trinta e seis por

cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida exclusivamente com cachaça, acrescida de limão

e açúcar”. (BRAZIL, 2003, art. 81).

Entretanto, não é difícil deparar-se com situações em que ao se pedir uma caipirinha o consumidor é

questionado se essa será de cachaça ou de vodca. É também comum o próprio consumidor demandar

erroneamente uma “caipirinha de vodca”.

3.3. Rotulagem, Registro e Classificação da Cachaça

Entende-se como rótulo “qualquer identificação afixada ou gravada sobre o recipiente da bebida, de

forma unitária ou desmembrada, ou na respectiva parte plana da cápsula ou outro material empregado

na vedação do recipiente” (BRASIL, 1997)7.

O rótulo é, em sua função principal, um veículo de comunicação entre fabricante (ou engarrafador) e o

consumidor. Esse consumidor irá utilizar, em muitas vezes, das informações contidas no rótulo para

definir sua decisão de compra. Mais do que isso, o conjunto rótulo e embalagem tem a função de atribuir

ao produto atratividade aos olhos do consumidor.

Nesse contexto, um conjunto de informações mínimas é exigido legalmente de forma a permitir

identificação, atribuições, comparações e responsabilidades aos produtos comercializados, inclusive a

cachaça. As regras de rotulagem também visam inibir ações oportunistas de veiculação de informações

que possam enganar consumidores menos atentos.

A cachaça, sob o ponto de vista de regulamentação, é uma bebida que destinada ao consumo humano.

Dessa maneira, seu rótulo deverá ser enquadrado às determinações do Governo Federal, Estadual e

Municipal (Leis e Decretos) e dos Ministérios (Resoluções e Instruções Normativas) da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento – MAPA e da Saúde, mais especificamente a Agência Nacional de Vigilância

7 Decreto nº 2.314, de 04 de setembro de 1997.

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Sanitária- ANVISA. A legislação básica considerada na rotulagem de cachaça pode ser assim

relacionada:

Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994 – Dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a

produção e a fiscalização de bebidas.

Decreto nº 2.314, de 4 de setembro de 1997 – Regulamenta a Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe

sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas.

Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996 – Dispõe sobre as restrições ao uso e a propaganda de produtos

fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do artigo

220 da Constituição Federal.

Decreto nº 2.018, de 1º de outubro de 1996 – Regulamenta a Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996, que dispõe

sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígenos, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias

e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do art. 220 da Constituição.

Decreto nº 3.510, de 16 de junho de 2000 – Altera dispositivos do Regulamento aprovado pelo Decreto no

2.314, de 4 de setembro de 1997, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a

produção e a fiscalização de bebidas.

Decreto n° 4.851, de 2 de outubro de 2003 – Altera dispositivos do Regulamento aprovado pelo Decreto nº

2.314, de 4 de setembro de 1997, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a

produção e a fiscalização de bebidas.

Lei nº 10.674, de 16 de maio de 2003 – Obriga a que os produtos alimentícios comercializados informem

sobre a presença de glúten.

Resolução ANVISA RDC nº 259/02 – Aprova o Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos

Embalados.

Instrução Normativa MAPA nº 55/02 – Aprova o Regulamento Técnico para Fixação de Critérios para

Indicação da Denominação do Produto na Rotulagem de Bebidas, Vinhos, Derivados da Uva e do Vinho e

Vinagres.

Instrução Normativa MAPA nº 13/05 – Aprova o Regulamento Técnico para Fixação dos Padrões de

Identidade e Qualidade para Aguardente de Cana e para Cachaça.

Decreto n° 6323 de 27 de dezembro de 2007 - Dispõe sobre a agricultura orgânica, e dá outras providências.

No caso especifico da IN 13, dois postos merecem ser destacados no que diz respeito à rotulagem de

cachaça: i) A possibilidade de identificação do processo de destilação (desde que sejam respeitados as

proporções gráficas estabelecidas pela mesma IN e ii) A proibição da expressão “ARTESANAL” como

designação, tipificação ou qualificação. Um exemplo de rótulo (parte frontal e traseira) pode ser visto

na Figura 3.

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Figura 3: Exemplo de rótulo para cachaça

Fonte: Elaborado pelos autores

3.3.1. Registros de Estabelecimentos e de Bebidas

Todos os estabelecimentos produtores de cachaça e aguardente devem compulsoriamente ser registrados

no MAPA. Ademais, o registro deve ser renovado a cada 10 (dez) anos e segue a IN n° 19 de 15 de

dezembro de 2003, que dispõe sobre os requisitos, critérios e procedimentos para o registro de

estabelecimento, bebida e fermentado acético e expedição dos respectivos certificados8.

3.3.2. Classificação dos Estabelecimentos e das Bebidas

8 MAPA, 2003. INSTRUÇÃO NORMATIVA N. 19, DE 15 DE DEZEMBRO DE 2003 do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <http://www.sni.org.pe/downloads/comext/otc-

sps/Brasil/SPS/SPS-BRA-91.pdf> Acessado em 18 de outubro de 2013.

-Nome do produtor, fabricante,

estandardizador ou padronizador;

-Endereço do estabelecimento;

-N° do registro do produto no

MAPA;

-Ingredientes:

-Expressão: Indústria Brasileira

- n° do lote

- teor alcoólico e volume:

- Validade:

Denominação do Produto

Marca Comercial

Informação obrigatória

para produtos que não se

enquadrem nos critérios de

envelhecimento

estabelecidos pela IN13

Frase de advertência

(Decreto 2.018/1996)

Conteúdo em ml

Opcional: tipo de destilação

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O Decreto nº 2.314, de 4 de setembro de 1997 classifica os estabelecimentos de acordo com sua atividade.

Essa classificação geral deverá ser considerada no processo de registro junto ao MAPA e deverá constar

no rótulo de identificação da bebida. Seis categorias são propostas:9

Produtor ou fabricante é o estabelecimento que transforma produtos primários, semi-industrializados ou

industrializados da agricultura, em bebida.

Estandardizador ou padronizador é o estabelecimento que elabora um tipo de bebida padrão usando outros

produtos já industrializados.

Envasador ou engarrafador é o estabelecimento efetuar as práticas tecnológicas previstas em ato

administrativo complementar.

Acondicionador é o estabelecimento que se destina ao acondicionamento e comercialização, a granel, de

bebida e produtos industrializados, destinados à elaboração de bebida.

Exportador é o estabelecimento que se destina a exportar bebida.

Importador é o estabelecimento que se destina a importar bebida.

3.4. Certificação

Por meio de Organismos de Certificação de Produto – OCB, o INMETRO concede o selo que atesta que

a cachaça está em conformidade com os critérios definidos no Programa de Avaliação da Conformidade

para Cachaça. A certificação do INMETRO é voluntária e segue à IN 13/2005, uma vez que não vai

além a suas exigências. Assim, o selo do INMETRO não indica que uma cachaça certificada possua

qualidade superior à outra não certificada, mas atesta que a cachaça foi produzida e engarrafada

conforme os padrões estabelecidos pela Instrução Normativa. Essa certificação deverá ser renovada a

cada três anos. O INMETRO passou a conceder a certificação voluntária da cachaça em

24 de junho de 2005, data da publicação da Portaria nº 126 no Diário Oficial da União (DOU).

Outras certificações voluntárias existem como uma tentativa de diferenciação de produto. A AMPAQ

(Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade) completa em 2013 vinte anos do “selo

de qualidade AMPAQ”. A associação reúne produtores de cachaça de alambique do Estado de Minas

Gerais. Alguns críticos ao selo da AMPAQ alegam que a certificação mineira represente uma ruptura à

construção de uma identidade para cachaça brasileira. Neste caso, o selo posiciona a cachaça mineira

como sendo a única passível de ser creditada como um produto de qualidade e desconsidera a existências

de cachaças de qualidade advindas de outros estados. Contudo a iniciativa é importante para o estado de

Minas Gerais, que com um número muito grande de pequenos produtores de cachaça, pode assegurar

ao consumidor aquelas que certamente estão dentro de padrões de qualidade.

Com relação à certificação de produto orgânico, a partir de 2007 o decreto presidencial nº6.323

regulamentou a lei nº 10.831 que estabelece a criação do Sistema Brasileiro de Avaliação de

Conformidade Orgânica. O sistema é composto pelo MAPA, órgãos fiscalizadores de estado e pelo

INMETRO. Este último é responsável pela acreditação dos Organismos de Avaliação de Conformidade

9 BRASIL, Decreto nº 2.314, de 04 de setembro de 1997. Disponível em:

<http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Decretos/Ant2001/Ant1999/Dec231497.htm>. Acessado em 03

de nov. de 2013.

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(OAC). Os OAC são as entidades interessadas em certificar os produtores de orgânicos. O selo do

MAPA se torna obrigatório para todos os produtores de produtos orgânicos certificados por um OAC.

3.5. Indicação Geográfica e Denominação de Origem

O Decreto nº 4.062, de 21 de dezembro de 2001 estabelece a indicação geográfica dos nomes “cachaça”,

“Brasil” e “cachaça do Brasil”. Assim, “o vocábulo de origem e uso exclusivamente brasileiros, constitui

indicação geográfica para os efeitos, no comércio internacional” (BRASIL, 2001).

Para que um produto tenha seu registro de indicação geográfica emitido, a solicitação deve passar pelo

Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) que é a instituição responsável por avaliar, conceder

e emitir o certificado. Tipicamente a indicação geográfica atesta o local e origem do produto, “o que

lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de distinguir em relação aos seus

similares disponíveis no mercado. São produtos que apresentam uma qualidade única em função de

recursos naturais como solo, vegetação, clima e saber fazer (know-how ou savoir-faire)” (INPI, 2013).

A indicação geográfica pode ser uma “indicação de procedência” (IP) ou “denominação de origem”

(DO). A diferença entre indicação de procedência e denominação de origem é que a primeira indica o

nome do local que ficou conhecido pela produção de determinado produto ou serviço, a segunda também

se refere ao nome do local que ficou conhecido pela produção do produto ou serviços, mas também é

uma atribuição de qualidade ou características à sua origem geográfica. Assim na denominação de

origem entende-se que o produto carrega características únicas em função da região que foi produzida.

Conforme registro existente no INPI o nome Paraty esta registrado desde 2007 como uma indicação de

procedência de cachaça e aguardente composta azulada produzidas na região de Paraty no Rio de

Janeiro. Outra indicação de procedência foi concedida em 2012 para a região de Salinas em Minas

Gerais para a cachaça produzida naquela região.

O reconhecimento mundial da marca cachaça como produto brasileiro é uma causa que o setor luta para

vencer. Em fevereiro de 2013, a entidade do governo estadunidense que regula a comercialização de

álcool e tabaco naquele país (Alcohol and Tobacco Tax and Trade Bureau) reconheceu a cachaça como

produto genuinamente Brasileiro (BRASIL, 2013). Desde os anos 2000 o destilado brasileiro entrava

no país com o nome de rum brasileiro ou “Brazilian rum”. O reconhecimento pelos EUA configurou

como o segundo reconhecimento de denominação de origem da cachaça no mundo - até então somente

e Colômbia concedia tal reconhecimento ao produto brasileiro.

Um desafio para o reconhecimento da cachaça como produto do Brasil na Europa, importante mercado

consumidor, passa pela comprovação de que existe uma organização interna no Brasil dos agentes capaz

de garantir que a cachaça que é produzida e exportada esta sendo produzida dentro das regras de um

“regulamento de uso da cachaça”.

3.6. Registro especial na Receita Federal

Os produtores, engarrafadores, cooperativas de produtores, estabelecimentos comerciais, atacadistas e

importadores de bebidas alcoólicas (cachaça e aguardente) estão obrigados à inscrição no registro

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especial na Receita Federal, não podendo exercer suas atividades sem prévia satisfação dessa exigência.

A concessão do registro especial é dada por estabelecimento, de acordo com o tipo de atividade

desenvolvida, e será específico para:10

I - produtor, quando no estabelecimento industrial ocorrer, exclusivamente, operação de fabricação

e/ou acondicionamento para venda a granel dos produtos;

II - engarrafador, quando no estabelecimento industrial ocorrer operação de engarrafamento dos

produtos, próprios ou de terceiros;

III - atacadista, quando no estabelecimento ocorrer, exclusivamente, operação de venda a granel

dos produtos;

IV - importador, quando o estabelecimento, ainda que realize outro tipo de operação, efetuar

importação dos produtos com finalidade comercial.

O registro especial será concedido pelo Delegado da Delegacia da Receita Federal (DRF) ou da

Delegacia da Receita Federal de Fiscalização (Defic), em cuja jurisdição estiver domiciliado o

estabelecimento, mediante expedição de Ato Declaratório Executivo (ADE), a requerimento da pessoa

jurídica interessada que deverá atender alguns requisitos, tais como:

I - estar legalmente constituída para o exercício da atividade;

II - dispor de instalações industriais adequadas ao tipo de atividade;

III - comprovar a regularidade fiscal: a) da pessoa jurídica; b) de seus sócios e administradores; c)

das pessoas jurídicas controladoras da pessoa jurídica e de seus respectivos sócios e

administradores.

3.7. Tributação e Encargos Sociais

O sistema tributário brasileiro estabeleceu 4 (quatro) formas de recolhimento tributário frente a pessoas

jurídicas. Sendo estas:11

a) Simples Nacional (Supersimples): aplicável às microempresas (ME) e as empresas de pequeno porte

(EPP), nos termos da Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006 (conhecida por Lei Geral

das ME e EPP). Contudo, segundo a referida lei, não pode optar pelo Simples Nacional a empresa que

exerça atividade de produção ou venda no atacado de bebidas alcoólicas, bebidas tributadas pelo IPI

com alíquota específica, cigarros, cigarrilhas, charutos, filtros para cigarros, armas de fogo, munições

10 Sistema de Informações Jurídico-Tributárias (SIJUT), INda Secretaria da Receita Federal SRF nº 504, de 03 de

Fevereiro de 2005. Dispõe sobre o registro especial a que estão sujeitos os produtores, engarrafadores, as

cooperativas de produtores, os estabelecimentos comerciais atacadistas e importadores de bebidas alcoólicas e

sobre o selo de controle a que estão sujeitos esses produtos, e dá outras providências. Disponível em:

<http://sijut2.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idAto=15417>. Acessado em 03

de nov. 2013.

11 Disponível em: <http://qualeoseunegocio.blogspot.com.br/>. Acessado em 03 de nov. de 2013.

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e pólvoras, explosivos e detonantes. Dessa forma, a cachaça ou aguardente não podem ser tributadas de

acordo com o Simples.

No passado os produtores de cachaça tinham a opção pelo simples nacional, que passou a ser proibido

a partir de janeiro de 200112. Desde então, o setor, representado pela Câmara Setorial da Cachaça e pelo

IBRAC tem uma frente de trabalho com o objetivo de dar uma tratativa tributária mais adequada a

pequenos produtores de cachaça reduzindo os custos para pequenos produtores de operaram na

legalidade. O Box 1 traz uma notícia sobre as ações que estão sendo desenvolvidas em vias de atender

as expectativas de pequenos produtores.

Devido a este impeditivo a cachaça, independentemente do porte da empresa que a produz, sofre

incidência dos seguintes impostos conforme Quadro 4 a seguir.

Quadro 4 - Impostos e contribuições federais e estaduais para cachaça

Sigla Nome Tipo Alíquota

Frequência

recolhimento Base de Cálculo

COFINS

Contribuição para

Financiamento da

Seguridade Federal 3,00% Mensal Receita Bruta

CSLL

Contribuição Social

sobre o Lucro Líquido Federal 9,00% Trimestral ou Anual Lucro Líquido

ICMS

Imposto sobre

Circulação de

Mercadorias e Serviços Estadual SP - 18,00% Mensal

Valor agregado aos

produtos

IPI

Imposto sobre Produto

Industrializado Estadual

Definido com

base nas classes

da tabela TIPI Decendial

Tabela de IPI

(TIPI)

IRPJ

Imposto de Renda para

Pessoa Jurídica Federal 15,00% Trimestral Lucro Líquido

PIS

Programa de Integração

Social Federal 0,65% Mensal Receita Bruta

Fonte: SEBRAE, 2008.

Vale destacar que a cachaça sendo considerada um produto industrializado sofre incidência de IPI, sendo

este imposto fixado em R$/unidade ou R$/quantidade de produto.

Segundo relatório do SEBRAE (2008) e de acordo com a Lei 7.798/89, que defini a regulamentação do

Imposto sobre produtos Industrializados, em seu anexo I, determina-se que:

Produtos a que se refere o art. 1 º, identificados de acordo com os códigos da Tabela de Incidência do

Imposto sobre Produtos Industrializados - TIPI, aprovada pelo Decreto n º 97.410, de 23 de dezembro

de 1988:

É importante diferenciar-se os tipos de bebida que muitas vezes são confundidos com a cachaça. A

Quadro 5 abaixo, apresenta algumas definições e diferenciações determinadas por lei.

12 Conforme artigo 14 da Medida Provisória nº 1.990-29 de 10 de março de 2000, a partir de 1 de janeiro de 2001, os

produtores de bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres (incluindo aguardente de cana e cachaça) ficaram impedidos de optar

pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das microempresas e empresas de pequeno porte -

SIMPLES.

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Quadro 5 - TIPI- Tabela de Incidência do Imposto Sobre Produtos Industrializados

CÓDIGO DESCRIÇÃO DO PRODUTO Classe de IPI

Mínima Máxima

2204 Mostos de uvas, excluídos os do código 2009 0,11 0,83

2205 Vermutes e outros vinhos de uvas frescas aromatizados por plantas

ou substâncias aromáticas

0,11 1,26

2208.90.9903 Bebida alcóolica de jurubeba 0,11 1,5

2208.90.9904 Bebida alcóolica de gengibre 0,11 1,5

2208.90.9999 "Korn", "Arack" e outros 0,11 1,5

2208.90.9999 "ex" Bebida refrescante de vinho denominado "Cooler" 0,11 1,5

2208.90.0202 Aguardentes de agave ou de outras plantas ("tequila" e semelhantes) 0,11 2,23

2208.90.03 Aguardentes compostas 0,11 2,23

2208.90.0600 Batidas 0,11 2,74

2204 Vinhos de uvas frescas, incluídos os vinhos enriquecidos com álcool 0,11 3,34

2208.90.9901 "Steinhager" 0,11 3,34

2208.20 Aguardentes de vinho ou de bagaço de uvas 0,11 4,07

2208.40 Cachaças ou caninha (Rum e Tafiá) 0,11 4,07

2208.90.0203 Aguardentes de frutas (de cidra de ameixa, de cereja ou "kirsch" ou

de outras frutas)

0,11 4,07

208.90.0400 Licores ou cremes (curaçao, marrasquino, anisete, e outros) 0,11 4,07

2208.90.05 Aperitivos e Amargos ("Bitter" e outros) 0,11 4,07

2208.90.9902 Pisco 0,11 4,07

2208.90.9905 Bebida alcóolica de óleos essenciais de frutas 0,11 4,07

2208.30 Uísques 0,11 13,38

2208.50 Gin e Genebra 0,11 13,38

2209.90.0201 Vodca 0,11 13,38

Fonte: BRASIL, Lei nº 7.798, de 10 de julho de 1989.

Percebe-se que na classificação do IPI, a cachaça tem um IPI máximo menos competitivo que outras

categorias de bebidas, como vinhos ou mesmo a tequila. Contudo frente a dois dos principais

concorrentes, a Vodca e o Uísque, sua tributação é inferior. Ainda segundo a Lei nº 7.798, de 10 de julho

de 1989, o enquadramento em cada uma das categorias da TIPI se dará de acordo com o tamanho do

recipiente, seguindo a seguinte diferenciação:

a) a capacidade do recipiente em que são comercializados, agrupados em quatro categorias;

i. Até 180 ml;

ii. De 181 ml a 375 ml;

iii. De 376 ml a 670 ml;

iv. 671 ml a 1.000 ml.

b) Os preços normais de venda efetuada por estabelecimento industrial ou equiparado a industrial

ou os preços de venda do comércio atacadista ou varejista;

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c) Os produtos acondicionados em recipientes de capacidade superior a 1.000 ml pagarão o imposto

proporcionalmente ao que for estabelecido no enquadramento para o recipiente de capacidade de

1.000 ml, arredondando-se para 1.000 ml a fração residual, se houver.

Artigo 209 do RIPI, referente às faixas de classes para as aguardentes de cana:

“Os produtos das Posições 22.04, 22.05, 22.06 e 22.08 da TIPI estão sujeitos ao imposto, por Classes,

conforme estabelecido na NC (22-3) da TIPI e de acordo com a tabela a seguir (Quadro 6) (Lei nº

7.798, de 1989, arts. 1º e 3º)”

Quadro 6 - Alíquota de IPI para Rum e Aguardente de cana por capacidade do recipiente

Código DESCRIÇÃO

IPI por capacidade do recipiente (mL)

NCM Até 180 De 181 a 375 De 376 a 670 De 671 a 1000

2208.40.00 Rum e outras aguardentes de

cana Min. Max. Min. Max. Min. Max. Min. Max.

1. Rum e outras aguardentes

obtidas do melaço da cana. 0,12 0,47 0,26 1,01 0,47 1,84 0,83 2,74

2. Aguardentes de cana,

comercializadas em recipiente

retornável.

0,11 0,3 0,12 0,68 0,14 1,26 0,26 2,23

3. Aguardentes de cana,

comercializadas em recipiente

não retornável.

0,12 0,3 0,14 0,68 0,18 1,26 0,38 2,23

Fonte: SEBRAE, 2013. Dados trabalhados.

Observa-se que a tributação mais elevada se dá nos recipientes de 671 a 1000 ml em todas as categorias

consideradas. Por fim vale destacar que o selo do IPI é obrigatório para a cachaça e a IN nº 504/2005

define toda a sistemática de como usar os selos.

A Quadro 7 a seguir apresenta um resumo da incidência de impostos pela categoria de empreendimento.

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Quadro 7 - Caracterização da incidência tributária pela categoria em que se enquadra o empreendimento

TRIBUTOS EMPREENDIMENTOS

Sigla Nome Tipo Base de

Cálculo Simples Empresas Cooperativas

Alíquota

(Lucro

Presumido)

Alíquota

(Lucro

Real)

COFINS

Contribuição

para

Financiamento da

Seguridade

Federal Receita Bruta sim sim sim 3,00% 7,65%

CSLL

Contribuição

Social sobre o

Lucro Líquido

Federal Lucro

Líquido sim sim sim* 9,00%

9,00%

(12,00%)

ICMS

Imposto sobre

Circulação de

Mercadorias e

Serviços

Estadual Valor dos

produtos sim sim sim

18,00% (SP,

MG, ES, SC,

PR e RS)

IPI

Imposto sobre

Produto

Industrializado

Estadual Tabela de IPI

(TIPI)

sim

(indústria) sim sim

Definido

com base nas

classes da

TIPI

IRPJ

Imposto de

Renda para

Pessoa Jurídica

Federal Lucro

Líquido sim sim sim* 15,00%

15,00%

(8,00%)

PIS Programa de

Integração Social Federal Receita Bruta sim sim sim 0,65% 0,65%

FGTS

Fundo de

Garantia por

Tempo de

Serviço

Federal

Remuneração

ao

trabalhador

não sim sim*

8,00% sobre

remuneraçõe

s mensais

TFE

Taxa de

Fiscalização de

Estabelecimento

Municipal

Varia de

acordo com a

atividade

exercida

não sim sim Varia

anualmente

INSS Previdência

Social Federal

Remuneração

ao

trabalhador

sim

(Serviço) sim sim*

20% sobre a

folha de

pagamento

ISS Imposto Sobre

Serviços Federal

Preço do

Serviço

sim

(Serviço) não não -

CPP

Contribuição

Patronal

Previdencial

Federal Receita Bruta sim não não -

Nota: *indicam que são impostos que não incidiriam em cooperativas, mas para os quais cooperativas produtoras

de cachaça ainda têm incidência tributária.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Box 1 - Notícia sobre ações para redução da tributação na produção de cachaça

CACHAÇA DE ALAMBIQUE BUSCA REDUÇÃO DE TRIBUTO FEDERAL13

A redução do Imposto sobre os Produtos Industrializados (IPI) na comercialização da cachaça artesanal

de alambique é um velho sonho dos produtores mineiros que pode estar próximo de se realizar. O

coordenador da Câmara Técnica da Cachaça de Alambique, Trajano Raul Ladeira de Lima, informou

que Minas Gerais enviou diversas emendas para inclusão no Projeto de Lei da Cachaça, que se encontra

em tramitação na Câmara Federal, e a principal delas defende o fim da cobrança diferenciada do tributo.

Atualmente, o IPI recolhido é de R$ 2,23 sobre a garrafa da cachaça de alambique artesanal e de R$

0,38 sobre o litro da bebida industrializada”, explica o empresário.“ Os produtores de cachaça artesanal

de alambique de Minas Gerais consideram seus negócios ameaçados pelo tratamento diferenciado, mas

agora esperam que a situação seja resolvida com o pedido de isonomia feito pela câmara técnica, por

intermédio da bancada mineira na Câmara Federal.

Criada pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, a Câmara Técnica da

Cachaça de Alambique tem por objetivo analisar as questões do setor e propor soluções ao governo. O

grupo é formado por representantes dos produtores e de outros segmentos da cachaça artesanal, além da

participação dos setores do governo estadual cujas ações alcançam o agronegócio da cachaça,

universidades e instituições de pesquisa.

Ao enviar a proposta de emenda para equiparação do recolhimento do tributo federal, o coordenador da

câmara técnica observou que desde 11 de janeiro de 2007 o governo de Minas considera a cachaça

artesanal de alambique como patrimônio cultural do Estado. “Mantemos o sistema tradicional de

produção obedecendo às normas ambientais”, explicou Trajano Lima. “Os produtores têm um cuidado

especial em todas as fases do trabalho, com atenção especial para a destinação dos resíduos provenientes

da destilação, porque têm consciência da preservação dos recursos naturais.

Secretaria do Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais.

13 Parte extraído do texto original “Cachaça de alambique busca redução de tributo federal” divulgado pela

Secretaria do Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais. Disponível em:

<HTTP://www.agricultura.mg.gov.br/noticias/385> Acessado em 03 de nov. 2013.

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4. Ambiente Tecnológico

A produção da cachaça é uma prática secular que remete ao início da colonização brasileira. Sua tradição

se confunde, muitas vezes, com a própria história do Brasil. Da mesma forma que o consumo de cachaça

conquistou as mais diferentes classes da sociedade brasileira, sua produção também se difundiu por

quase todo território. É possível dizer que onde existe o consumo também há a produção de cachaça. A

história, a cultura, o clima e a tecnologia de cada região e de cada produtor, fazem de cada cachaça um

produto singular.

Pensando nisso, não se pode ignorar a contribuição das diferentes etapas do processo de produção da

cachaça nas características finais do produto acabado. Inúmeros fatores parecem influenciar o resultado

do trabalho que se inicia no preparo da terra e escolha da variedade da cana-de-açúcar, passa pela

colheita e processamento da cana, fermentação, destilação, envase, até chegar à maneira de servir e

apresentar a cachaça ao consumidor.

Embora o processo de fabricação da cachaça seja tradicionalmente conhecido, existe uma grande

infinidade de variáveis que podem ser combinadas originando produtos com características especificas.

É justamente essa pluralidade de características físicas, químicas e sensoriais que tem despertado o

interesse do consumidor da bebida, sinalizando um grande potencial de sofisticação para o produto. Ao

final de tudo, é o consumidor quem irá decidir qual a cachaça de sua preferência (marca, preço, região,

madeira, cor, história, reputação, apresentação, segurança etc.).

A tecnologia, e sua difusão, exerce um papel fundamental no desenvolvimento vantagens competitivas

para o setor. A aplicação de tecnologia permite agregar valor ao produto por meio da exploração de

atributos únicos ou redução de custos de produção. Avanços tecnológicos na área das comunicações têm

permitido, cada vez mais, que mercados se comuniquem, disseminando tendências de consumo e

informações (boas ou ruins) sobre os produtos e empresas. A internet oferece um canal de distribuição

alternativo para muitos produtores que não conseguem espaço nas gôndolas de grandes redes varejistas.

A seção que segue procura discutir alguns desses aspectos envolvendo o ambiente tecnológico no qual

a cadeia produtiva da cachaça está inserida.

4.1. Processo de Destilação

Um dos pontos mais debatidos no setor diz respeito às alternativas tecnológicas de destilação, mais

especificamente a possível distinção entre os produtos obtidos pelo processo contínuo, empregado por

indústrias de médio e grande porte e pelo processo em batelada, realizado em lotes, normalmente

utilizado para produção de menor escala. O processo de destilação contínua é conhecido como destilação

de coluna e o processo em batelada é chamado de destilação em alambique. Estima-se que 70% de todo

o volume de cachaça produzido seja obtida por meio da destilação em coluna (COOCACHAÇA apud

SEBRAE, 2012).

Ambos os processos de destilação (continuo ou batelada) possuem, do ponto de vista técnico, suas

respectivas vantagens e limitações. O Quadro 8 resume algumas dessas vantagens e limitações. A

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escolha da tecnologia de processo dependerá da estratégia delineada pela empresa (mercado alvo,

disponibilidade de recursos, concorrência e ambiente institucional).

Quadro 8 - Comparação técnica entre processos de destilação descontínuo (alambique) e contínuo (coluna)

Batelada (alambique) Contínuo (coluna)

Produto final: Cachaça Produto final: Cachaça

Pequena capacidade de produção

(entre 100 e 2400 litros/dia)

Alta capacidade de produção

(até 500.000 litros/dia)

Maior custo de produção por litro Menor custo de produção por litro e menores

gastos em energia

Grande flexibilidade de produção (permite

explorar combinações no processo, originando

produtos mais complexos sensorialmente).

Produtos altamente padronizados, com alto

rendimento em álcool etílico, maior capacidade

de controle dos componentes secundários.

Baixo investimento inicial se comparado ao

processo contínuo Elevado investimento inicial

Dependente da perícia do operador Grande capacidade de automação

Fonte: Elaborado pelos autores com base em Cardoso (2006); Pereira et al. (2006) e Souza et al. (2013).

Neste contexto, destaca-se que a caracterização e qualificação da cachaça é função da combinação de

diferentes compostos químicos, além da mistura majoritária de etanol e água. Esses compostos,

chamados secundários, são compostos por álcoois superiores, ácidos, ésteres, acetais, fenóis,

hidrocarbonetos, compostos nitrogenados, sulfurados e açucares, e deriva dos diferentes processos pelos

quais a bebida é submetida, desde a pré-colheita até a etapa de envelhecimento da cachaça em tonel de

madeira. De modo geral, o processo de destilação funciona por meio da separação de diferentes

componentes conforme seu ponto de ebulição ou mesmo pelo arraste ao longo da coluna de destilação.

Ou seja, o tipo de processo e as condições operacionais determinam uma combinação única de

componentes secundários, que irão caracterizar e qualificar a cachaça (BOZA; HORII, 1998;

CARDOSO et al., 2002; FRANCO et al., 2009; NACIMENTO et al., 1998).

Em outras palavras, não se pode, relacionar mecanicamente a tecnologia de destilação (coluna ou

alambique) com a qualidade da cachaça. Da mesma forma que existem cachaças produzidas em

alambiques e coluna com elevada qualidade, existem cachaças de baixa qualidade independente do

processo de destilação adotado. Etapas de fermentação e envelhecimento podem ter contribuições tão

importantes quanto à destilação na qualidade sensorial e aceitação do produto final pelo consumidor.

Paralelamente, permeia no setor, também envolvendo o processo de destilação, uma possível tipificação

da cachaça obtida pelo processo de destilação industrial, chamada de cachaça “industrial”, e a cachaça

chamada de “artesanal”, atribuída à cachaça destilada em alambique. Tal classificação remete as escalas

normalmente adotadas nesses sistemas, industrial equivaleria a grande escala e artesanal a pequena

escala, teoricamente utilizando mão de obra familiar. Ocorre, no entanto, que o termo artesanal acaba

sendo generalizado para qualquer cachaça produzida em alambique, quando, na verdade, nem todos

alambiques operam em pequenas escalas e utilizam-se predominantemente mão de obra familiar. É

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preciso destacar que a denominação artesanal como forma de tipificação da cachaça é proibida conforme

a IN n°13 do MAPA. No caso do vinho brasileiro, tramita na Câmara dos Deputados uma proposta de

denominação de “vinho artesanal”14 para vinhos elaborado de acordo com as características e

peculiaridades culturais, históricas e sociais da agricultura familiar. Entre os requisitos para produção

do vinho artesanal, a proposta estabelece que 70% das uvas utilizadas sejam colhidas no imóvel rural

do agricultor familiar, a produção deve restringir-se a 20 mil litros anuais e ocorrer exclusivamente no

imóvel e a comercialização deverá ser feita diretamente ao consumidor final.

4.1.1. Capacitação e difusão tecnológica

Cabe lembrar que grande parte da tecnologia de produção da cachaça foi desenvolvida de forma

empírica a partir do acúmulo de conhecimento tácito ao longo da história. A limitação na capacidade de

investimento em novas tecnologias por parte de uma significativa fração dos produtores pode representar

um ponto de fraqueza para todo o setor no ambiente competitivo dinâmico em que se insere. O

desenvolvimento de ações coletivas visando à capacitação pessoal e desenvolvimento tecnológico pode

suprir essa aparente lacuna. Neste contexto alguns centros de pesquisa e formação universitária podem

ser destacados como potenciais de desenvolvimento técnico do setor: Centro de Tecnologia SENAI

Alimentos e Bebidas (Vassouras - RJ), Universidade Federal de Lavras (MG), Universidade Federal de

Viçosa (MG), Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" – USP (Piracicaba - SP), Faculdade de

Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP (Jaboticabal – SP), Faculdade de Ciências Farmacêuticas

da UNESP (Araraquara- SP), dentre outras.

4.1.2. Envelhecimento em madeira

Inúmeras pesquisas tem demonstrado grande potencial de agregação de valor no envelhecimento de

cachaça em madeiras de origem brasileira (ALCARDE et al., 2010; CARDELLO; FARIA, 2000;

CARVALHO, 2001; YOKOTA, 2002; BOSCOLO et al., 2003; SILVA et al., 2012). A exploração

efetiva dessa potencialidade depende, dentre outras coisas, da difusão dessa tecnologia na produção,

mas principalmente da divulgação dessas características junto ao consumidor. Muitas marcas já

comercializam cachaças envelhecidas em madeiras brasileiras como: amburana, bálsamo, cerejeira,

jatobá, jequitibá, freijó, ipê, peroba, além do tradicionalmente conhecido carvalho estrangeiro. É preciso

considerar, entretanto, o custo decorrente do armazenamento da cachaça ao longo do tempo.

O processo de envelhecimento está atrelado a questões ligadas ao recipiente (madeira) e as condições

de armazenagem. Ao longo de todas as etapas do processamento da bebida (desde o pós-colheita,

passando pela fermentação e envelhecimento), um grande número de reações químicas e bioquímicas

produzem compostos fixos e voláteis, responsáveis pelas características sensoriais da cachaça. Sabe-se

que parte dessas reações ocorrem também durante o envelhecimento, formando novos compostos e

eliminando compostos característicos de bebidas recém destilada (gosto picante, odor pungente e

desagradável). Somado a isso, alguns compostos provenientes das madeiras dos toneis de

14 http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/ECONOMIA/447527-AGRICULTURA-APROVA-

REGRAS-PARA-PRODUCAO-DE-VINHO-ARTESANAL.html.

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armazenamento (óleos voláteis, substâncias tânicas, açúcares e glicerol, ácidos orgânicos não voláteis)

contribuem na modificação do aroma, o sabor e a coloração da cachaça (CARDELLO; FARIA, 2000).

4.1.3. Embalagem primária (garrafa)

Cachaças são tradicionalmente comercializadas em garrafas de vidro, âmbar (escura) ou transparente.

Embora existam alternativas de envase em lata de alumínio (cachaça adoçada) e garrafas plásticas

(PET). O vidro ainda representa a primeira opção, não só para indústria de cachaça, mas também para

outras bebidas alcoólicas destiladas. O vidro tende a valorizar seu conteúdo enquanto embalagens

plásticas são associadas a bebidas de menor valor agregado.

O principal ponto de fraqueza envolvendo a embalagem primária da cachaça diz respeito a sua

disponibilidade. Ao que tudo indica existe uma dificuldade de obter garrafas no mercado interno. Essa

aparente indisponibilidade estaria associada ao volume normalmente negociado com pequenos

produtores de cachaça, consideravelmente inferior ao negociado por outras indústrias de bebidas.

Chama a atenção o grande número de marcas comercializadas em garrafa do tipo âmbar, semelhantes

ás garrafas de cervejas. Embora esse tipo de embalagem remeta a uma produção tradicional, a

embalagem pode ser considerada de baixo apelo mercadológico quando comparado a bebidas como

uísque e vodca. Adicionalmente pode-se encontrar alguma restrição à exportação de cachaças envasadas

em garrafa não transparente. A dificuldade no fechamento da tampa metálica, após a abertura, também

pode afastar consumidores que buscam maior praticidade. Sobre, algumas alternativas podem ser

encontradas no mercado desde os dosadores plásticos tradicionalmente utilizados em bebidas destiladas,

sistema de tampa metálica com rosca e rolhas sintéticas tipo abre-fecha. A Figura 4 apresenta as duas

embalagens mais comuns em que a cachaça é envasada.

Figura 4: Exemplo de garrafas de cachaça transparente (700 ml e 50 ml) e âmbar (600 ml)

4.1. Manual de boas práticas de produção

Não existe um manual de boas práticas de produção de cachaça em âmbito nacional. Existem iniciativas

isoladas que não são, no entanto, vistas como um manual para o setor. Destacam-se aqueles destinados

a produção de cachaça em destilação descontinua ou alambique, que aparecem mais frequentemente.

Como exemplo tem-se o “Manual de Boas Práticas Ambientais e de Produção” elaborado em convênio

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por instituições públicas e representativas de classe do estado de Minas Gerais (OLIVEIRA et al., 2005).

Outra iniciativa é o documento elaborado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros

(ESALQ/USP), “Produção de Cachaça de Qualidade” (SOUZA; LIMA; BORTOLETTO, 2013).

Em âmbito nacional, capitaneada pela Câmara Setorial da Cachaça está em elaboração um manual de

boas práticas para a cana e cachaça. O trabalho esta sendo desenvolvido pelo Sebrae e a expectativa é

que seja concluído no ano de 2013 (MAPA, 2012).

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5. Ambiente Organizacional

5.1. Por que pensar em ações coletivas?

O anseio organizacional por competitividade sustentável (sobreviver e de preferência crescer em

mercados correntes ou mesmo em novos mercados) tem pressionado empresas de diversos setores a

buscarem maior flexibilidade, aprimoramento da capacidade tecnológica e gerencial, alinhamento às

tendências de consumo mundial e inserção em novos mercados. Essa perspectiva leva a ideia de que os

esforços individuais podem não ser suficientes para garantir o desempenho positivo de uma empresa.

Em outras palavras, o desempenho de uma empresa individual está condicionado à provisão de um

conjunto de bens públicos ou privados sobre os quais a empresa não tem individualmente controle

(FARINA, 1999).

Mais do isso, neste contexto dinâmico global, empresas têm se especializado cada vez mais em suas

atividades de negócio central ao mesmo tempo em que buscam desenvolver alianças estratégicas para

obter insumos, distribuir seus produtos, desenvolver pesquisa, combinar competências, utilizar know-

how de outras empresas, partilhar riscos, explorar novas oportunidades e conseguir maior penetração

em novos mercados. Adicionalmente, a atuação dessas redes e associações pode modificar as regras do

jogo em benefício do setor (lobby) e também na criação de padrões de qualidade e normas técnicas,

protegendo a identidade de seu produto e garantindo credibilidade junto a novos mercados.

Essas alianças estratégicas podem ocorrer localmente pela associação de produtores de uma determinada

região (clusters), mas também ocorrem em um contexto mais amplo, formando grandes redes de

cooperação nacionais ou internacionais. Os esforços coletivos despendidos ao nível regional ou nacional

são complementares e podem ser vistos como fatores críticos de sucesso para o desenvolvimento de

vantagens competitivas individuais e para o setor como todo.

O presente capítulo aborda, em complemento às análises de ambiente institucional e tecnológico

apresentadas anteriormente, um panorama de como a cadeia produtiva da cachaça tem se organizado ao

nível nacional (Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça e Instituto Brasileiro da Cachaça) e ao

nível regional (Associações Regionais), bem como procura descrever a rede de cooperação em que

participam essas instituições regionais e nacional.

5.2. Ações coletivas e uma rede de cooperação para cachaça do Brasil

Em relação a ações coletivas, verificam-se esforços para o reconhecimento de regiões produtoras (IGs)

e para a consolidação de organizações de representação de interesses do setor, nas esferas local e

nacional. Parte dessas iniciativas convergem para a construção de padrões privados de qualidade e

identidade da cachaça, defesa dos interesses do setor, divulgação da cachaça no Brasil e no mundo,

transmissão de informações sobre mercado e estatísticas do setor, desenvolvimento de parcerias

estratégicas para capacitação e suporte técnico e gerencial, articulação com governo na revisão de leis e

desenvolvimento de acordos para o reconhecimento da cachaça internacionalmente.

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De forma geral, as associações de produtores de cachaça têm como objetivo defender os interesses de

seus associados, possibilitando toda a atualização necessária quanto às normas vigentes no país, dando

suporte jurídico e mercadológico para que consigam o desempenho esperado em mercados nacional e

internacional. As associações buscam também representar os interesses dos produtores nos demais elos

que compõem o sistema produtivo da cachaça.

Ao nível nacional, duas iniciativas devem ser destacadas: a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da

Cachaça do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, fundada em 2004; e o Instituto

Brasileiro da Cachaça – IBRAC, que iniciou suas atividades em 2006. Esforços empenhados por essas

duas instituições têm resultado no fortalecimento do setor e projeção no mercado internacional.

De forma localizada, as associações regionais têm um importante papel na inserção de pequenos e

médios produtores. Além de gerenciar e proteger a identidade e qualidade da cachaça regional, essas

organizações servem, muitas vezes, de ponte entre produtores e a Câmara Setorial e o IBRAC,

garantindo não somente que as necessidades locais sejam levadas à pauta de discussão nacional, mas

também possibilitando que as ações estratégicas definidas em esferas mais abrangentes atinjam níveis

de desenvolvimento local (capilaridade para as ações coletivas).

Figura 5 – Representação da relação entre as instituições participantes da cadeia produtiva da cachaça.

Fonte: elaborado pelos autores.

5.3. Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça

Governo Brasileiro

IBRAC

Câmara Setorial da Cadeia

Produtiva da Cachaça -

MAPA

Associações

Regionais

Grandes

Produtores e

Engarrafadores

Pequenos

Produtores

Representações Inter

setoriais (ex. ABRABE,

ABBA etc.).

Distribuidores e

Grupos

Internacionais

Instituições Parceiras

(SEBRAE, APEX,

SENAC etc.).

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34

De forma geral, o papel das Câmaras Setoriais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

está relacionado com a ideia de um agrupamento de representantes dos organismos, órgãos e entidades,

públicas e privadas, representando diferentes atores da cadeia produtiva, que tem por base um ou mais

produtos, como é o caso da cachaça.

A Câmara Setorial da Cachaça é composta por empresas e instituições, direta ou indiretamente,

envolvidas na cadeia produtiva da cachaça, a exemplo do Embrapa, Instituto Nacional de Propriedade

Industrial (INPI), Banco do Brasil, Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA), Anpac

Indústria e Comércio Embaladora, Cooperativa dos Produtores de Aguardente do Estado de São Paulo

(Coopcesp), Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Industrial (Abece), Instituto Brasileiro

de Comércio Exterior (IBCE), Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Inmetro, Abravidro,

Prodecana, CNA e Contag.

Ao agrupar representantes de diferentes setores, inclusive governo, a Câmara Setorial constitui

certamente o mais abrangente fórum de discussão de assuntos relacionados ao setor da cachaça

atualmente. Dentre os assuntos tratados na Câmara Setorial encontra-se a revisão de normas técnicas,

proposição de regimes específicos de tributação e acordos internacionais.

Dentre os frutos do trabalho da Câmara Setorial em conjunto com outras instituições do setor privado,

a “Agenda estratégica 2010-2015” procurou pontuar, de forma sistematizada, um conjunto de ações a

serem realizadas em médio e longo prazo, divididas em nove eixos temáticos considerados críticos para

o setor:

Estatística;

Pesquisa, desenvolvimento e Inovação;

Assistência Técnica;

Defesa agropecuária;

Marketing e promoção;

Gestão da Qualidade;

Governança na cadeia;

Legislação;

Negociações internacionais

Grande parte dessas ações vem sendo desenvolvida conjuntamente com outras instituições privadas,

como o IBRAC e associações regionais. O trabalho representa uma referência para o setor em termos

de ações coletivas.

É importante destacar o papel político da Câmara Setorial na articulação dos interesses coletivos do

setor com o governo e outras instituições como IBGE, INMETRO, INPI e Ministérios.

5.4. IBRAC

O Instituto Brasileiro da Cachaça – IBRAC constitui uma organização coletiva privada, de associação

voluntária, de abrangência nacional, que reúne as principais empresas do segmento produtivo da cachaça

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(produtores, estandardizadores e engarrafadoras) bem como as principais entidades de classe do setor.

Seus associados estão agrupados em quatro categorias (IBRAC, 2013):

Produtores, estandardizadores (padronizadores) e engarrafadores;

Associados coletivos (entidades de classe);

Associados institucionais (órgãos do governo, entidades privadas com atividades voltadas a

pesquisa, dentre outros);

Associados honorários (pessoas físicas).

Desde sua criação, o IBRAC tem reunido esforços no delineamento e execução de ações coletivas para

a proteção e promoção da cachaça no mercado o nacional e internacional. Diferente da Câmara Setorial,

que constitui um grupo representativo do setor junto ao MAPA, o IBRAC defende e executa ações

coletivas alinhas aos interesses de seus associados, pertencentes ao setor privado. Pela sua abrangência

e número de associados, o IBRAC tem participado ativamente das discussões conduzidas na Câmara

Setorial e, ao final de tudo, acaba desenvolvendo ações alinhadas às decisões da Câmara. Na verdade, o

IBRAC tem se tornado uma peça fundamental na articulação de ações conjuntas com outras instituições

como SEBRAE, SENAC e APEX. As atuações da Câmara Setorial e do IBRAC podem ser vistas como

complementares na organização do setor.

Assim, o IBRAC tem como objetivo promover, ordenar institucionalmente e colaborar com as

autoridades competentes no controle e regulamentação da cachaça, da aguardente de cana e de outras

bebidas derivadas da cachaça ou da aguardente de cana, assegurando o cumprimento da legislação

nacional.

Dentre as ações priorizadas pelo IBRAC visando à consolidação e reconhecimento da Cachaça como

um destilado genuinamente brasileiro, pode-se citar:

Articulação junto ao Governo Federal para redução da carga tributária, principalmente para os

micros, pequenos e médios produtores;

Articulação junto ao Governo Federal para regularização das Cooperativas produtoras de

Cachaça;

Aprovação junto a Apex-Brasil do Projeto Setorial de Promoção de Exportação de Cachaça

(PSI);

Acompanhamento do processo de reconhecimento da Cachaça nos Estados

Unidos; Desenvolvimento de ações para o reconhecimento da Cachaça como um produto

genuíno e exclusivo do Brasil;

Desenvolvimento de ações de combate à clandestinidade e à informalidade (Campanha

Cachaça Legal).

5.5. Associações de produtores regionais

As associações de produtores regionais podem ser vistas como peças fundamentais na organização de

desenvolvimento de ações coletivas para um setor. Elas permitem o desdobramento de ações idealizadas

em um nível nacional para uma realidade local. Por outro lado, as associações servem de veículo de

representação de pequenos e médios produtores na discussão de ações coletivas conduzidas ao nível

nacional.

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Ocasionalmente, casos de sucesso conduzidos localmente podem servir de inspiração para projetos

desenvolvidos em outras localidades. Exemplo disso encontra-se na carta de cachaças pernambucana

desenvolvida pela APAR15. A fórmula de promoção da cachaça regional encontrada pela associação

pernambucana tem despertado o interesse de outras associações espalhadas pelo Brasil.

No Brasil, existe uma grande variedade de associações de produtores regionais, desde aquelas formadas

para fortalecimento de Identidade Geográfica (ex.: Associação dos Produtores Artesanais de Cachaça

de Salinas - APACS e Associação dos Produtores e amigos da Cachaça Artesanal de Paraty - APACAP),

passando por iniciativas de construção de um selo de qualidade regional (ex: Associação Mineira dos

Produtores de Cachaça de Qualidade - AMPAQ), até chegar a associações formadas simplesmente com

intuito de defender dos interesses de pequenos e médios produtores regionais (ex: Associação dos

Produtores de Cana-de-Açúcar e Seus Derivados no Estado do Rio Grande do Sul – Aprodecana;

Associação Paulista dos Produtores de Cachaça de Alambique - APPCA, Associação Paraibana dos

Engenhos de Cana de Açúcar - ASPECA e Associação dos Produtores e Amigos da Cachaça do Estado

do Rio de Janeiro - APACERJ). Basicamente, cada associação possui pontos fortes e pontos fracos que

deverão ser considerados caso a caso no desdobramento de ações coletivas regionais.

5.6. Bebida e Ciência

Este tópico mostra o número de publicações de artigos científicos sobre as bebidas até fevereiro de 2014.

Como se pode observar as bebidas tequila, vinho, uísque e Champagne, objeto de ações coletivas

descritas anteriormente apresentam um número bem superior de artigos quando comparadas às

pesquisas sobre a cachaça. Essa informação é interessante, pois nos informa que as outras bebidas

receberam uma atenção bastante superior que a cachaça na academia e estas pesquisas geralmente

relacionadas aos benefícios da bebida, qualidade, segurança, mercado, consumo etc., permitem o

desenvolvimento de ações no setor com o suporte de estudos com alta validade e confiabilidade,

características esperadas em estudos acadêmicos.

Quadro 9 - Estatística das publicações acadêmicas sobre algumas bebidas selecionadas (mundo)

Bebida # publicações

Vinho (geral) 82.766

Champanhe 3.142

Uísque 2.229

Tequila 458

Cachaça 213

Fonte: Web of Knowledge16

15 A Associação de Produtores de Aguardente de Cana e Rapadura de Pernambuco - Apar, por exemplo, é um caso

interessante de associação regional que reúne pequenos e grandes produtores na promoção da cachaça regional. O

desenvolvimento de ações sinérgicas na APAR permite ganhos multilaterais entre seus associados.

16 Trabalhos científicos no Web of Science. Disponível em:

http://apps.webofknowledge.com/UA_GeneralSearch_input.do?product=UA&search_mode=GeneralSearch&SI

D=2Cv1UsVV4ha12oLIBjd&preferencesSaved= Acessado em 27 de janeiro de 2014.

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6. Ambiente Competitivo

É complexo quantificar precisamente o volume total de cachaça produzida no Brasil. A grande

diversidade de produtores e indústrias, em suas diferentes escalas de produção e operação, elevados

índices de informalidade, a baixa barreira tecnológica à entrada de novas empresas e a falta de um

controle mais rígido sobre o que é produzido são alguns dos fatores que dificultam elaborar uma

fotografia quantitativa da produção de cachaça no País. Algumas estimativas sugerem uma capacidade

de produção instalada na ordem de 1,2 bilhões de litros por ano (IBRAC, 2013). Essa produção estaria

dividida entre 40 mil produtores e 5 mil marcas de cachaça (SEBRAE, 2013).

Para suprir essa indústria estima-se uma produção de cana-de-açúcar na ordem de 12,2 milhões de

toneladas por anos o equivalente a uma área plantada de 174 mil hectares17. Isso corresponde a 1,8% de

toda produção de cana-de-açúcar no País segundo a União da Indústria de Cana de Açúcar - UNICA.

As microempresas correspondem a 99% do total de produtores de cachaça. Suas atividades

agropecuárias incluem a produção de milho, feijão, café, e leite, entre outras, e a produção de Cachaça.

O setor da Cachaça é responsável pela geração de mais de 600 mil empregos, diretos e indiretos

(SEBRAE, 2013).

6.1.1. Mercado interno

Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (IBGE, 2008) o brasileiro gasta com bebidas alcoólicas

(excluindo chope e cerveja), em média, 0,5% das despesas dedicadas à alimentação. A porcentagem é

maior conforme o aumento de renda familiar, chegando a 1% e m grupos familiares de maior renda18.

O consumo médio diário de bebidas destiladas é de 2,5 ml/dia para homens e de 0,4 ml/dia para

mulheres. No caso específico da cachaça (aguardente de cana) o consumo anual per capita é de 188

ml/pessoa ano, o que corresponde a uma redução no consumo médio de cachaça de 13% com relação a

pesquisa realizada em 2002. O maior consumo per capita anual encontra-se no Rio Grande do Norte

conforme apresenta a Figura 6 que traz a evolução do consumo per capita por estado entre 2002 e 2008

por estado.

17 Estimativa considerou um rendimento agrícola de 70 toneladas de cana por hectare e um rendimento industrial

médio de 100 litros de cachaça por tonelada de cana (Souza et al,, 2013).

18 Alimentação corresponde a 20% das despesas de consumo.

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Figura 6 – Consumo Brasileiro per capta de cachaça por Estado consumidor

Fonte: POF – IBGE, 2008.

O mercado de cachaça pode ser segmentado, grosso modo, em dois grandes grupos estratégicos: o da

cachaça voltada para o consumo em massa e o da cachaça diferenciada19. No primeiro grupo verifica-se

a forte presença de grandes grupos industriais, que adotam estratégias de baixo custo e distribuição em

massa para atender seu público-alvo. No segmento de cachaças para consumo em massa a concorrência

se dá, quase sempre, por marcas e preços, que variam de R$ 3,00 a R$ 10,0020 a garrafa. O principal

canal de comercialização das marcas populares é a venda fracionada em bares populares (botecos e

vendas), também chamados ‘pontos de dose’.

19 As cachaças diferenciadas são representadas pelo conjunto de cachaças com identificação de qualidade

Premium, Extra Premium e/ou certificações de origem, de produto orgânico etc.

20 Faixa de preços de garrafas encontrada em lojas e supermercados de São Paulo – SP.

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No segundo grupo (cachaças diferenciadas) atuam grande quantidade de produtores e engarrafadores de

diferentes escalas. Além das características intrínsecas do produto (qualidade sensorial), a informação

disponível é um elemento importante na escolha do consumidor. A informação é dada por marcas

famosas e pela reputação de regiões produtoras. Inclui-se nesse segmento diversos tipos de cachaça,

desde as cachaças premium e extra premium (cachaças envelhecidas com elevado valor agregado),

passando por produtos com denominação de origem (Indicação Geográfica ou reputação de regiões

tradicionalmente produtoras), certificação de produto orgânico, até cachaças que utilizam algum tipo de

artifício tecnológico como bi-destilação, envelhecimento parcial ou “blendagem” com objetivo de

atender a um público especifico. Uma garrafa de cachaça premium pode custar de R$ 15,00 a

US$1000,00 (mercado internacional).

Acredita-se que no segmento de cachaças diferenciadas a elasticidade renda da demanda seja positiva,

o aumento na renda incentivaria o consumo de cachaças diferenciadas. Seguindo esse raciocínio, a atual

conjuntura socioeconômica brasileira, sobretudo o aumento do poder de compra das classes ‘C’ e ‘D’,

somado ao resgate de uma identidade cultural relacionada à origem familiar dessa classe emergente,

contribuem para o aquecimento do mercado de cachaças diferenciadas.

A cachaça de consumo em massa comportar-se de forma contrária, o incremento na renda do consumidor

induziria a substituição da cachaça por outras bebidas como vodca, uísque, cerveja ou cachaças mais

sofisticadas.

No ano de 2011 estimou-se que as cinco empresas que mais produziram cachaça no Brasil, responderam

por 43% do total consumido. Considerando as estimativas do IBRAC de que existam cerca de 4 mil

marcas no Brasil, 57% da produção de cachaça esta pulverizada em 3.995 marcas. Os principais players

de mercado e sua respectiva participação são: Pirassununga 51 com 18%, Pitú com 9%, Velho Barreiro

responsável por 8%, Caninha da Roça com 6% e Ypióca Premium com 2% do mercado consumidor

(Sebrae, 2012)

6.1.2. Papel de grandes grupos engarrafadores

As aquisições de marcas tradicionais de cachaça como Nega Fulô, Ypióca e Sagatiba por grandes grupos

internacionais como a Diageo e a Campari pode ser encarada como indicativo de que o mercado de

cachaças tende ao crescimento e a sofisticação. As estratégias adotadas por esses grupos empresariais

normalmente reúnem canais de distribuição eficientes, portfólio de produtos variado (diferentes bebidas)

e campanhas de publicidade.

Cabe destacar que a indústria de cachaça, sobretudo a de pequeno porte, dificilmente consegue atender

as exigências de grandes redes varejistas, ter grande amplitude na distribuição ou mesmo fazer grandes

investimentos em publicidade. A ação de grupos internacionais e de grandes engarrafadores pode ser

vista de forma positiva na divulgação e disponibilização da cachaça no mercado interno e externo21. Em

alguns casos, as indústrias adquirem a cachaça de pequenos produtores, engarrafando-a sob marcas

próprias para distribuição nacional e internacional.

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6.1.3. Exportação

A cachaça brasileira tem ganhado representatividade no cenário internacional atualmente é considerado

o terceiro destilado mais consumido no mundo, ficando atrás apenas da vodca e do soju, destilado

coreano feito de arroz e batata doce, bebido em toda Ásia (IBRAC, 2013).

A quantidade de cachaça exportada é muito pouco expressiva se comparada ao volume dedicado ao

mercado interno. Apenas 8,1 milhões de litros, cerca de 15 milhões de dólares, foram exportados em

2012 segundo dados do Ministério do Comércio Exterior. Na realidade, pelo quinto ano consecutivo,

verifica-se uma tendência de queda na exportação de cachaça, fato que deve servir de alerta. Espera-se

que o acordo com os EUA reconhecendo a cachaça como bebida típica brasileira ajude a reverter esse

cenário de retração. O valor médio do litro de cachaça exportada fica em torno de U$ 1,80.

Figura 7 – Evolução das Exportações Brasileiras de Cachaça em Milhões de litros

Fonte: MDIC – SECEX - ALICE WEB

O estado com a maior participação em volume nas exportações é São Paulo, sendo responsável por 47%

da cachaça que sai do País. Em segundo lugar vem o estado de Pernambuco, seguido por Rio de Janeiro

e Paraná.

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Figura 8 – Participação dos Estados na Exportação Nacional de Cachaça

Fonte: MDIC – SECEX - ALICE WEB

A Cachaça é exportada para mais de 60 países e em 2012 a base de empresas exportadoras foi composta

por pouco mais de 90 empresas que exportaram um total 8,06 milhões de litros gerando uma receita de

US$ 14,99 milhões.

O principal destino (em volume) para cachaça exportada é a Alemanha, seguida de Paraguai, Estados

Unidos e Portugal. Juntos esses países respondem por mais de 50% das exportações de cachaça. Chama

a atenção o fato do preço médio da cachaça que abastece o mercado norte americano ser quase três vezes

mais cara que a cachaça adquirida pela Alemanha, U$ 3,05 contra U$ 1,16 respectivamente. Isso faz

com que os EUA ultrapassem a Alemanha no ranking de valor exportado.

SP47,2%

PE23,1%

RJ8,0%

PN7,6%

MG4,8%

CE3,9%

MS2,6%

RS2,2%

Outros0,7%

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Figura 9 – Principais Destinos da Cachaça Brasileira

Fonte: MDIC – SECEX - ALICE WEB.

Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) a cachaça tem uma

participação expressiva a cachaça representou 12,7% do volume de bebidas importado pelos EUA em

2012.

Figura 10 - Participação da cachaça nas importações de bebidas dos EUA

Elaborado a partir de USDA e ALICEWEB

Alemanha24,5%

Paraguai11,2%

Estados Unidos9,2%

Portugal8,0%

Bolivia7,5%

França5,3%

Argentina4,4%

Espanha4,0%

Itália3,0%

Uruguai2,8%

Outros20,0%

5,2%7,4% 6,3% 5,5%

11,2% 9,6% 13,2% 16,5% 11,8%22,6% 28,1%

10,2% 10,1% 12,7%

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

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Outras Bebidas Cachaça Série3

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7. Entrevistas com agentes do setor

Ao longo do segundo semestre de 2013, foram realizadas trinta entrevistas com agentes que de alguma

forma estão relacionados à cadeia da cachaça. Dentre os agentes, foram ouvidos produtores de cachaça

de alambique e coluna, exportadores, associações, cooperativas, membros da câmara setorial da cachaça,

do IBRAC e do MAPA. O objetivo das entrevistas foi captar os principais desafios da cadeia, na opinião

dos diferentes agentes, e de alguma forma, entender os pontos de conflitos, discordância e concordância

entre eles.

O Quadro 10 a seguir apresenta um resumo das observações dos agentes do setor na fase de entrevistas.

O objetivo é trazer a opinião dos agentes sobre diversos temas, mas também evidenciar os conflitos

existentes dentro da cadeia produtiva da cachaça, conflitos estes que precisam ser se não superados,

deixados de lado, se o objetivo dos agentes do setor é a promoção de ações coletivas com beneficio à

cadeia. O Quadro 10 traz os seguintes temas em discussão: i) Tributação; ii) Padrão de Identidade e

Qualidade; iii) Alambique vs. Coluna; iv) Ações coletivas; v) informalidade; vi) insumos; vii) Mercado

externo e concorrênica; e viii) Papel do IBRAC.

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Quadro 10 – Opinião dos Agentes do Setor por Tema

i) TRIBUTAÇÃO

Resumo: Existem duas opiniões bastante contrárias entre os agentes do setor com relação à tributação.

Para alguns ela leva pequenos produtores para a informalidade e um regime de tributação diferenciada

para pequenos reduziria os custos para que estes entrem no mercado formal. Outros agentes acreditam

que não é a tributação a responsável pela informalidade que por sua vez pode ser combatida com a

conscientização do consumidor final. Além disso, coloca-se que é impensável levar para o Estado a

discussão para reduzir a carga tributária de bebidas. Uma alternativa para que o pequeno seja menos

impactado pela tributação é apontado como a organização em cooperativas, no entanto há

divergências quanto a esta solução ser eficaz.

Depoimentos dos entrevistados:

Tributação impede que o pequeno produtor se formalize. Regime de tributação diferenciado é uma

solução para trazer o pequeno produtor à formalidade (ex.: simples nacional).

Ganhos de escala da grande indústria permite produto muito mais barato que por sua vez recolhe

menos impostos. Pequeno produtor fica sem competitividade.

Substituição tributária irá prejudicar os pequenos produtores que se verão obrigados a recolher o

ICMS de seu cliente e será ainda mais penalizado pela redução de margens.

Reduzir tributação para bebidas é impensável, não há ambiente político para isso.

A clandestinidade que existe pode ser atacada com a conscientização do consumidor final e dos

donos do ponto de dose (restaurantes, bares, hotéis) e não com regime de tributação diferenciado.

Tributação não é a razão para a informalidade. O regime diferenciado não trará os informais para a

formalidade.

A associação por meio de cooperativas é a saída para os pequenos e não a redução de tributação

A regulamentação da cachaça é recente e precisa de regras passíveis de serem aplicadas para trazer

os informais

Nunca houve o simples da cachaça e a associação em cooperativas produtoras não é possível por

lei.

No setor a questão da carga tributária está bem harmonizada e deve ser resolvida em função de

faturamento.

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ii) PADRÃO DE IDENTIDADE E QUALIDADE

Resumo: Parece não haver discordância quanto à adequação do padrão de identidade e qualidade,

mas critica-se a falta de fiscalização Além disso, alguns evidenciam que a cachaça deveria ter um

regulamento de uso da marca, controlado possivelmente pelo IBRAC. No entanto, uns tendem a

divergir deste argumento, pois acreditam que o modelo funcionou no México com a Tequila que

estava concentrada em uma região, mas no Brasil pela pulverização da produção esta política não

seria aplicável. Existe alguma divergência quanto à importância do selo do INMETRO, pois se para

uns ele insere ruído no setor, para outros ele é extremamente importante para o processo de

exportação. Alguns entendem que é importante diferenciar a cachaça de alambique e coluna não só

no rótulo, mas nos manuais de boas práticas de produção. Foi citado também a dificuldade em acessar

os poucos laboratórios que existem para realizar os testes necessários.

Depoimentos dos entrevistados:

Controle de padrões de identidade e qualidade deveria estar dentro de um regulamento de uso da

marca cachaça e seu controle deve ser atribuição de entidade do setor, como um conselho regulador.

Regulamento de uso da marca cachaça deveria ser controlado pelo IBRAC

Não seria interessante usar o modelo da tequila pois o Brasil todo produz cachaça é seria muito

difícil controlar.

Padrões de identidade e qualidade contaram com participação do setor, estão adequados e são

atribuição do MAPA.

Existe uma dificuldade na formulação de regras para o setor, fruto da heterogeneidade deste. Deve-

se pensar muito antes de reformular padrões, pois podemos facilitar práticas oportunistas. Existe

uma corrente dentro do setor que defende que os padrões são imposições da indústria sobre os

alambiques. Isso não é verdade. As regras são estabelecidas e vem sendo retrabalhadas visando a

competitividade do setor.

O INMETRO introduziu um selo, mas é desnecessário, pois insere ruído no setor. O selo é optativo

e não garante que um produto que o tem é de maior qualidade que um produto que não o tem.

Certificação de qualidade é importante para o setor, e deveria ser realizada por um agente privado,

com controle pelo INMETRO

Certificação que atesta qualidade é importante para o processo de exportação. IBRAC deveria

negociar com certificadoras para baratear o custo unitário da certificação.

A legislação atual é adequada, porém o controle não ocorre da maneira adequada. Falta fiscalização.

Além das divergências entre coluna e alambique, no que se refere à legislação alguns pontos devem

ser mudados e revisados, como exemplo, o carbamato de etila em que a legislação determina um

limite muito inferior ao praticado na Europa.

Pesquisadores da área técnica, poderiam oferecer uma base para as decisões sobre identidade e

qualidade, mas divergem em opinião.

Só existe um laboratório autorizado para fazer análises no País, isso é um grande gargalo. Precisa

mandar suas amostras do Paraná para Pernambuco, e o processo leva de 15 a 20 dias, e se torna

uma dificuldade importante. “Não é possível que só exista um laboratório acreditado no país”.

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iii) ALAMBIQUE e COLUNA

Resumo: Um dos pontos de grande divergência no setor é a distinção entre cachaça de alambique e

de coluna. Alguns entendem ser importante esta separação e tratam a cachaça de alambique como um

produto de maior qualidade e prestígio. Acreditam ainda que é importante informar tal diferença ao

consumidor a fim de valorizar a cachaça de alambique. Outros veem a distinção como algo

desnecessário e que tolhe as forças do setor em torno de ações conjuntas.

Depoimentos dos entrevistados:

É importante que o MAPA reconheça diferenças entre alambique e coluna, pois o consumidor não

conhece. Os estados de MG e RS acreditam que alambique tem características sensoriais mais

aceitas pelo consumidor e uma diferenciação pelo órgão regulador seria interessante.

Desafios da comunicação da cachaça, sobretudo na diferenciação entre cachaças de coluna (mais

commoditizadas - menores preços) e cachaças de alambique (diferenciadas - mais caras). O

consumidor precisa identificar esta diferença inclusive no rótulo do produto.

A separação correta é cachaça de coluna e cachaça de alambique. A cachaça de coluna branca é

apropriada para o consumo como drinques, a envelhecida pode ser tomada pura. No entanto este

não é o entendimento do setor, pois as destiladoras de coluna defendem que sua cachaça é para ser

tomada pura também. Contudo, é fato que a cachaça envelhecida é mais suave e tem características

mais agradáveis ao paladar para ser consumida pura.

A qualidade do produto não pode ser vinculada ao processo de produção, esse tipo de classificação

não deve ser utilizado.

Importante consumidor diferenciar estes os dois tipos de processos de produção de cachaça.

Identificação no rótulo deveria colocar alambique no rótulo. Mas controle deveria ser feito no

manual de boas práticas e deveria ter certificação, não como selo do INMETRO, mas sim de como

é feito o processo de alambique – como um ISO.

Regionalmente há muita rixa entre alambiqueiros e colunistas e as associações regionais tem papel

fundamental como agente catalisador das ações para alinhar estes dois grupos em torno dos

interesses comuns. Ações que podem ter interesse comum: resolução das questões tributárias,

legalização dos agentes que operam na ilegalidade, preparação do setor de serviços para oferta da

cachaça (pontos de dose), obrigatoriedade dos padrões mínimos de qualidade definidos pelo

INMETRO e controle para fazer valer a legislação em vigor.

A cachaça de alambique, a artesanal, é boa, a de coluna é ruim. A indústria quer se aproveitar do

valor da cachaça.

A distinção alambique e coluna não é relevante, não traz benefícios ao setor.

Não é interessante dividir o setor entre cachaça de alambique e coluna, pois isto reduz a força de

atuação do setor. A distinção entre cachaça de alambique e coluna não importa uma vez que o

produto final é exatamente o mesmo.

São apenas processos diferentes. O produtor pode optar por um ou outro, de acordo com sua

necessidade. Como ele vai usar isso é importante e influencia na qualidade do produto. Essa

separação é alimentada por alguns, não faz sentido, mesmo para o consumidor.

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Deve-se deixar de classificar os processos por alambique e por coluna. Indústria produz destilado

simples que tem adição de açúcar, mas não é cachaça. Seria um single malte e o blend (como em

outras indústrias).

A cachaça de coluna não separa coração, cauda, cabeça é tem características muito mais pobres que

a cachaça de alambique.

Fazer chegar ao consumidor que a cachaça é um produto diferenciado para ser bebido pura

(alambique) e a de coluna (por ser adoçada) poderia ser para drinks. Comunicar que cachaça de

alambique pode ser bebida pura.

A distinção não tem sentido, é uma briga desnecessária

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iv) AÇÕES COLETIVAS

Resumo: Há o entendimento de que as ações coletivas são importantes inclusive para combater a

concorrência como não foi feito na época da entrada da vodca. Ações para trazer mais produtores para

o mercado formal pode ser pela exploração dos casos de sucesso. Além disso, é importante a

mobilização regional dos agentes para promoção de adequação técnica e ações de construção de uma

marca que está desgastada. Apesar da importância da câmara setorial, acredita-se que as ações são

tímidas e as divergências entre produtores de alambique e coluna tire força para ação. É importante a

união de forças.

Depoimentos dos entrevistados:

Negligência em trabalhar a cachaça em 1988 levou ao crescimento da Vodca. E para concorrer na

caipirinha com as grandes é complicado. Antes uma Vodca era 4 vezes mais barata que a cachaça

e hoje é duas vezes.

Melhor incentivo para formalização, depois da flexibilização de impostos, são os exemplos de

sucesso como caso da tequila e outros.

Deve-se fortalecer o setor regionalmente com adequação técnica e ações coletivas que possam

construir uma marca “cachaça”, hoje bastante desgastada.

Câmara setorial tem o papel de promover ações coletivas, mas ainda faz timidamente, e representa

dois produtos diferentes. Um precisa do outro, talvez com indicações geográficas de regiões

diferentes isso reduza os conflitos. Os dois grupos querem vender cachaça e é importante que cada

um consiga encontrar sua posição no mercado.

Juntos os produtores são mais fortes que sozinhos, e financiados por eles mesmo.

Ações coletivas para mercado externo favorece as grandes empresas, mas tudo que é realizado no

exterior para promoção da cachaça acaba de uma forma ou de outra favorecendo a todo o setor.

v) INFORMALIDADE

Resumo: Se por um lado há um entendimento de que a informalidade possa se um resultado de

elevada carga tributaria e que um regime de tributação diferenciado possa trazer mais produtores para

a formalidade, por outro entende-se que é importante distinguir o que é uma produção para “consumo

próprio” de uma produção informal. A legislação não aborda este aspecto que deve ser discutido pelo

setor. Atribui-se também a informalidade a algo da cultura nacional, de técnicas produtivas

transmitidas pela família e que se torna “pitoresco” ao consumidor final.

Depoimentos dos entrevistados:

A informalidade ocorre em função da carga tributária, baixo valor agregado, o “pitoresco” de

produzir uma cachaça no interior.

A informalidade tem uma dimensão cultural em muitas localidades.

A informalidade é motivada pela elevada tributação assim o médio produtor não tem incentivo à

legalização. Em geral os associados pequenos e médios acreditam que são mais tributados que a

indústria, pois não tem economia de escala e seus produtos são mais caros e por isso pagam mais

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imposto. A redução da carga tributaria a partir da adequação do setor ao simples é o caminho mais

adequado

Os produtos informais trazem insegurança quanto a qualidade da bebida e segurança da cachaça.

No entanto é importante entender a cachaça como um produto da cultura brasileira e a forma de

produzir é passada por laços familiares. Assim, é importante separar o “consumo próprio” da

comercialização de cachaça não registrada. Não se pode fechar uma unidade de produção em um

sítio se não houver a constatação de que o produto é vendido. Não há no entanto especificação na

legislação sobre o que vem a ser “consumo próprio” ou consumo para não comercialização e isto

deve partir de discussões do setor.

vi) INSUMOS

Resumo: Com relação aos insumos há uma questão proeminente relacionada ao fornecimento de

garrafas, que além de ter uma oferta insuficiente não oferece muitas alternativas para os que desejam

envasar produtos mais sofisticados em embalagens diferentes.

Depoimentos dos entrevistados:

A dificuldade hoje está em conseguir mão de obra para trabalhar no campo. Ninguém quer trabalhar

no campo. Melhor conseguir cachaça direto de outros produtores e somente engarrafar.

Envasamento é um problema, pois as opções são péssimas. A garrafa de cerveja acaba sendo a

opção. Sai caro importar garrafas, só uma garrafa custa R$9,00.

Dificuldade de vinculação de marketing (garrafas sofisticadas para linha de carvalho) perde

identidade por mudança no envasamento.

Hoje existem duas fábricas de garrafa no Brasil. Duas fábricas formam um oligopólio com 95% do

mercado. Em MG há um problema de descontinuidade de fornecimento de garrafas (modelos).

Sindicato tentou trazer fábricas para estado, mas alegam que não há demanda. Alternativa é

importação de garrafas (mas custo é muito elevado).

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vii) MERCADO EXTERNO e CONCORRÊNCIA

Resumo: Com relação ao mercado externo, além de dificuldades burocráticas e custos portuários,

para exportar o produto existe a dificuldade do negócio em si que envolve o estabelecimento de

parcerias e o despacho de volumes consideráveis, geralmente pouco viáveis a pequenos produtores.

Comenta-se também que os agentes não tem muita informação, a despeito dos esforços da APEX e

há falta de recursos para financiar os pequenos a ir ao mercado externo. Não há consenso sobre que

tipo de produto deve ser o foco do mercado externo, uns acreditam que seja de cachaças baratas para

consumo em drinques e outros acreditam em um mercado de nicho de produtos de alto valor.

Com relação à concorrência a visão apresentada é de que a cachaça deve explorar seu apelo cultural

em argumento de venda, principalmente contra a vodca. Há a percepção de que o Brasil possa explorar

eventos como a copa para coordenar ações em prol da cachaça, mas o momento para isso parece ter

passado.

As questões burocráticas para exportação são absurdas, tanto os documentos quanto os custos

portuários. “É tudo muito complicado”.

Dificuldade de conseguir um parceiro para exportar. É possível se adequar nos termos da lei para

exportação, mas a abertura de mercado é muito difícil.

Os custos portuários são muitos. Isso faz com que o pequeno seja desfavorecido. Poderia existir

diferenciação para volume de produção.

Os principais gargalos à exportação estão relacionados à falta de preparo dos agentes, sobretudo

dos produtores de alambique e também a falta de lastro financeiro para suportar a operação. Falta

preparo com relação aos processos para exportar, barreira da língua e mesmo a falta de cuidado

para preparação das ações para promoção de marca própria.

Exportação irá reposicionar o produto no mercado interno. Apex apenas financia participação em

feiras. O mesmo produto que é vendido aqui a preço baixo, é vendido lá fora a preços altos.

Mercado externo demanda grandes volumes, marcas únicas e regularidade de fornecimento –

produtores pequenos isolados não conseguem fazer isso. Cooperativas, associações entre

produtores podem possibilitar o acesso ao mercado externo para os pequenos. Isoladamente é difícil

de atingir mercado externo.

Não adianta pensar que vamos replicar o consumo interno lá fora. Cachaça deve ser vista como

uma bebida (no mercado externo) de nicho. Ou seja, é uma bebida típica brasileira e exótica. Mais

do que isso, a dificuldade de qualquer bebida em mercados internacionais está na “orientação de

uso”. Para que exista consumo de cachaça lá fora precisamos orientar e divulgar como se bebe

cachaça. No caso da Europa e EUA, o veículo é a caipirinha. Ásia tem potencial de consumo em

shot.

Para fora tem que ser artesanal (com preço alto). O conhecimento que eles tinham era da cachaça

de coluna usada apenas para drinks. Há mercados para ambos os tipos.

Foco na exportação deve ser os EUA, mas é preciso ter folego, para manter ponto de dose fora

custa, só para ter o produto lá U$107.

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Cachaça fora do BR é para consumo na caipirinha, ou seja, uma cachaça de baixo valor agregado.

Assim, não faz sentido enviar ao exterior cachaça de alto valor. Somente grandes empresas têm

condições de fazer propaganda para exportar seu produto.

Não acredito no consumo de cachaça ou qualquer destilado puro. Os consumidores misturam a

cachaça com outras bebidas. A cachaça deve ser consumida com sucos e frutas tropicais, de

preferência. Não precisa ser um produto envelhecido.

Quanto à atuação no mercado internacional, é muito difícil, pois um ponto de dose fora do Brasil é

muito complicado e caro, na Europa especificamente.

O Brasil perdeu a oportunidade de organizar ações coordenadas na copa do mundo para estimular

o consumo da cachaça

Cachaça é uma bebida com apelo cultural e dessa forma se diferencia do uísque e vodca (isso pode

ser explorado no argumento de venda).

A cachaça não compete com a cerveja, mas sim com a vodca.

viii) PAPEL DO IBRAC

Resumo: Parece haver certo consenso sobre o papel do IBRAC como um protagonista das ações para

desenvolvimento do setor. É atribuído ao Instituto o papel de gestor de regulamento de uso da marca,

articulação politica entre diversos interesses, levar informação ao consumidor, proteção de identidade

geográfica e combate à informalidade. No entanto, parece haver uma necessidade de que o IBRAC

melhor divulgue suas ações e assuma um posicionamento mais claro sobre sua forma de ação.

Depoimento dos entrevistados:

No ambiente político do setor, a questão da cobrança de uma taxa (para o IBRAC como gestor do

regulamento do uso da marca) já foi bastante debatida e esta madura. No entanto, há preocupação

com relação ao pequeno produtor que pode ser penalizado por uma taxa muito elevada.

IBRAC deve fazer articulação politica em favor dos pequenos.

IBRAC deve levar informação ao consumidor e aos vendedores do ponto de dose. Exemplo:

Perguntar ao consumidor sobre qual a cachaça que gostaria de ter em sua caipirinha, e não se quer

com vodca ou cachaça”. A vodca não deveria ser uma opção.

Falta uma visão clara de o que é o IBRAC. “É uma instituição política ou de administração?”.

Falta divulgar melhor o que o IBRAC faz.

É correto o IBRAC protagonizar isso (regulamento de uso da marca), sustentado pelos produtores,

mas o IBRAC também precisa ir atrás de financiamento para auxiliar o setor.

IBRAC deve focar em conscientização do consumidor

O IBRAC representa muito bem o setor, porém está vivenciando um momento difícil (baixa

arrecadação).

Deve ter uma entidade coletiva promovendo e gerenciando a marca cachaça. Precisamos promover

a cachaça como todo, mas não adianta promover aqui ou lá fora a marca x como a melhor cachaça

do Brasil se não se entende nem mesmo o que é cachaça.

Acha que as iniciativas coletivas sempre são mais eficientes, ações independentes leva à dispersão,

é preciso fazer algo consensual. No entanto o controle pelo modelo “CRC” (Conselhor Regulador

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da Cachaça) é bastante difícil considerando a dimensão do mercado brasileiro. No caso da tequila

havia uma concentração regional que favoreceu a união e controle da produção.

O IBRAC deve ser a referência para a cachaça no Brasil e isto envolve ações de proteção da

indicação geográfica e promoção. Mas o modelo atual do IBRAC não é eficiente, isto é, a relação

do IBRAC não deveria ser com as indústrias produtora, mas sim com as associações. Assim, as

associações “filtram” as demandas regionais e de seus grupos de interesse e o IBRAC lida com

menos conflitos. Os associados ao IBRAC devem ser as diversas associações do setor.

Diferenças do setor como um todo devem ser deixadas de lado, e o IBRAC devem se mais geral

para todos.

Cachaça Legal – IBRAC são ações pontuais para tentar coibir cachaça clandestina.

Relação do IBRAC com Associações regionais é boa, ocorre um bom diálogo.

Ações que o IBRAC deve tomar parte: 1) Resolver questão da tributação; 2) Fiscalização mais

eficiente; 3) Flexibilização em função das estruturas de produção; 4) Campanha mais forte, papel

do IBRAC, ideia que foi cachaça legal;

Antes de construir a imagem cachaça é preciso restaurar a imagem do próprio IBRAC junto aos

produtores.

No delineamento da agenda do setor é muito importante considerar o papel de outros participantes,

não só de produtores. Outras instituições devem estar envolvidas nisso (universidades, secretarias

de turismos, associações a bares e restaurantes, etc.). No entanto é difícil traçar objetivos comuns

em função das divergências no setor.

IBRAC será o regulador da cachaça no futuro. Formular ações coletivas, executar e regular deve

ser feito por uma instituição privada, como o IBRAC.

IBRAC, câmara setorial, Sebrae e programas estaduais (associações). No caso das associações

estaduais deve haver maior esforço no sentido de alinhar os diferentes agentes. Existe caso de

associações que se colocaram como inimigas dos grandes produtores e este tipo de rixa deve ser

quebrada.

7.1. Pesquisa on line com agentes da cadeia produtiva: indústria, cooperativas, associações e

demais agentes

Além das entrevistas, foi aplicado um questionário on line que foi divulgado pelo IBRAC com o objetivo

de coletar, de maneira sistemática, a opinião dos agentes com relação aos seguintes tópicos: i) papel do

IBRAC; ii) papel da APEX; iii) legislação; iv) tributação; v) qualidade; vi) concorrência com outra

bebidas; vii) conflito: alambique x coluna; viii) ações coletiva; iv) informalidade. A resposta dos agentes

foi dada em escala likert22 de 4 pontos. Na sequencia, são apresentados os resultados do questionário on

line no Quadro 11. Para cada grupo de questões, foi aplicado um teste estatístico (chi-quadrado) para

identificar se existe diferença estatisticamente significantes entre a opinião de associados e não

associados e entre produtores de cachaça de alambique e coluna. Além disso foi realizada uma média

22 A escala Likert (escala de 4 pontos) é a escala de medida utilizada em formulários de pesquisa. Os pontos são

atribuídos a questões afirmativas ou negativas e vão de 1 (totalmente em desacordo) a 4 (totalmente de acordo).

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das respostas para cada questão sendo que em uma escala de 1 a 4, a nota 2 é o corte entre concordância

e discordância de cada assertiva.

Foram respondidos 47 questionários de uma amostra não probabilística. Os respondentes eram

basicamente os agentes que fazem parte da rede de contatos e colaboração do IBRAC. É importante

destacar que das 47 respostas obtidas houve certo equilíbrio quando a associados e não associados ao

IBRAC, sendo estes 26 e 21, respectivamente. No entanto, 11 respondentes não eram produtores, mas

agentes que de alguma forma estão envolvidos com o setor (ex.: MAPA, INMETRO, APEX, IBRAC

etc.). A relação entre produtores de cachaça de coluna e alambique ficou desequilibrada uma vez que

somente 3 produtores de coluna responderam ao questionário. No entanto os três respondentes

representam as principais indústrias produtoras de cachaça em volume.

Com relação a distribuição geográfica dos respondentes, os estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás

responderam por mais de 50% da amostra com 20, 6 e 3 respondentes, respectivamente. Na sequencia

Goiás e Rio de Janeiro tiveram 3 respondentes cada, Paraná foi representado por duas respostas e com

somente um respondente foram representados os estados do Rio Grande do Sul e do Norte, Pernambuco

e Paraíba.

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Quadro 11 – Resultado do questionário on line com agentes do setor

Assertivas Média das

respostas23 Opinião Geral

Diferença entre

opinião dos

Associados e não

associados

Diferença entre

opinião dos

produtores de

Alambique e Coluna

1) Considero que as ações

do IBRAC são importantes

para o desenvolvimento da

cadeia da cachaça

3,6

Na média, os

respondentes

entendem que ser

associado ao IBRAC é

positivo e que o

IBRAC promove

ações e práticas em

prol do setor.

Em geral, os

associados conhecem

mais as ações do

IBRAC. Os não

associados em parte

declaram que não

conhecem e outros

não sabem se

conhecem as ações.

Os associados

acreditam que o

IBRAC é importante

para o

desenvolvimento do

setor produtivo da

cachaça, enquanto

uma pequena parte

dos não associados

não têm este mesmo

entendimento e uma

parcela considerável

desconhecem as ações

e se estas são

importantes para o

setor.

Os produtores de

alambique tendem a

considera mais

importantes as ações

do IBRAC, mas ao

mesmo tempo eles

têm um maior

desconhecimento

sobre estas ações.

2) Considero que as ações

do IBRAC favorecem as

exportações de cachaça

3,2

3) O IBRAC esta envolvido

em praticas que asseguram

o cumprimento da

legislação nacional da

padronização, da produção,

comercialização e

qualidade da cachaça.

3,3

4) A Associação ao IBRAC

traz benefícios aos

associados

3,1

5) Conheço as ações da

Agencia Brasileira de

Promoção de Exportação e

Investimentos (APEX)

voltadas à promoção da

cachaça brasileira ao

mercado externo

2,9 As ações da APEX

são de conhecimento

dos agentes do setor e

favorecem a

exportação.

Os associados

acreditam mais na

importância da APEX

para a promoção da

cachaça, enquanto a

maior parte dos não

associados não

conhecem as ações da

APEX.

Sem diferença

estatística

significativa.

6) Acredito que as ações da

APEX são de interesse para

todo o setor da cachaça

3,1

7) A legislação atual para

classificação da cachaça é

adequada

2,2 Em geral os agentes

do setor não acreditam

que exista incentivos

para produzir cachaça

de qualidade, mas em

média acreditam que a

legislação é adequada

e a fiscalização

garante ao consumidor

acesso a uma cachaça

de qualidade. No

entanto a média esta

no limite e indica que

a satisfação quanto

Há uma percepção

pelos associados de

que a fiscalização seja

inadequada à garantia

da qualidade da

cachaça.

Os produtores de

alambique acreditam

que atual legislação

não seja adequada.

8) Os atributos de qualidade

da cachaça são bem

definidos pela legislação

atual

2,2

9) Existe fiscalização

adequada que garante ao

consumidor final que a

cachaça comercializada é

um destilado de qualidade

2,2

10) Existem incentivos para

produzir cachaça de

qualidade

1,8

23 Resposta de 1 a 4, sendo que valores inferiores a 2 representam algum nível de discordância com a assertiva em

questão.

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aos itens 7,8 e 9 não

são elevados.

11) Existe muita

informalidade no setor 3,6

Os agentes atribuem a

alta informalidade no

setor à tributação e

legislação inadequada.

Sem diferença

estatística

significativa.

Os produtores de

alambique acreditam

que haja muita

informalidade no

setor.

12) A informalidade do

setor é reflexo de

dificuldades tributárias

3,4

13) A informalidade do

setor é reflexo de falta de

legislação adequada

3,2

14) A cachaça concorre

com outras bebidas

destiladas no mercado

nacional

3,3

A cachaça concorre

com outros destilados

e também com não

destilados no mercado

interno e externo.

Os associados

acreditam que a

cachaça concorra com

outras bebidas

destiladas, mas não

com não destiladas no

exterior.

Sem diferença

estatística

significativa.

15) A cachaça concorre

com outras bebidas

alcoólicas (exceto

destiladas) no mercado

nacional (ex.: cerveja,

vinho,)

2,9

16) A cachaça concorre

com outras bebidas

destiladas no exterior

3,4

17) A cachaça concorre

com outras bebidas

alcoólicas (exceto

destiladas) no exterior (ex.:

cerveja, vinho,)

2,5

18) A cachaça em geral é

uma bebida prestigiada no

Brasil

2,5

Na média os agentes

entendem a cachaça é

uma bebida

prestigiada no Brasil.

Os associados

acreditam que a

cachaça não seja uma

bebida prestigiada no

Brasil, enquanto os

não associados a veem

como uma bebida

prestigiada

Sem diferença

estatística

significativa.

19) A distinção entre

cachaça de alambique e

cachaça de coluna é

importante para setor

3,3

Os agentes acreditam

que distinguir cachaça

de alambique e de

coluna é importante,

ao mesmo tempo

ainda que com menos

certeza, entendem que

ambos podem

produzir cachaça de

igual qualidade, mas

mais em geral

atribuem a maior

qualidade à cachaça

de alambique.

Há uma visão de que

deve haver distinção

entre as cachaças, que

ambas podem ser

igualmente de

qualidade, mas que a

cachaça de alambique

tem reputação de

melhor qualidade.

Há uma percepção

produtores de

alambique de que seja

importante a distinção

entre alambique e

coluna e que cachaça

de alambique tem

reputação por maior

qualidade.

20) A cachaça de

alambique e de coluna

podem ser igualmente de

qualidade

2,6

21) A cachaça de

alambique tem reputação

por maior qualidade

3,3

22) A cachaça de coluna

tem reputação por maior

qualidade

1,9

23) O setor é bem

coordenado e existe um

órgão que o representa de

maneira adequada

2,2

A denominação de

origem é vista com

algo que favorece todo

o setor bem como

ações de promoção da

cachaça no exterior.

Na média os agentes

acreditam ser possível

Há pelos associados

uma percepção de que

o setor não esteja bem

coordenado.

Os associados

acreditam que as

ações de promoção no

mercado externo

Sem diferença

estatística significativa 24) Ações para promoção

da cachaça brasileira no

exterior favorecem a todo o

setor

2,9

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25) A denominação de

origem ("cachaça")

favorece a todo o setor

3,6

a união do setor

produtivo em torno de

ações comuns a todos.

Também há o

entendimento de que

existe um órgão que

represente o setor de

maneira adequada

ainda que com menor

concordância.

favoreçam a todo o

setor.

26) Acredito ser possível a

união de todo o setor

produtivo da cachaça em

torno de ações comuns a

todos

3,4

27) Conheço o

planejamento estratégico da

Câmara Setorial da Cachaça

2,8

Os agentes tem algum

conhecimento sobre o

planejamento

estratégico da Câmara

setorial da cachaça.

O planejamento

estratégico da câmara

setorial da cachaça é

de conhecimento dos

associados.

Sem diferença

estatística significativa

28) O uso da denominação

de origem deve ser de uso

exclusivo daqueles que

contribuem financeiramente

pelas ações de fiscalização,

controle, certificação e

promoção da marca

"cachaça"

2,7

Os agentes entendem

que uso do nome

cachaça deve ser

restrito àqueles que

contribuem

financeiramente para

uma entidade que

cuida de ações de

fiscalização, controle

e promoção da marca.

Os associados veem

como importante o

pagamento pelo uso

da marca cachaça.

Sem diferença

estatística significativa

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8. Pesquisa com consumidores

O Planejamento Estratégico da Cachaça, não seria completo se não considerasse em sua análise

o agente final de sua cadeia produtiva, o consumidor. Para tanto, procurou-se realizar uma análise

das características do consumidor de cachaça, propiciando ganho de informações úteis ao

produtor e aos demais agentes da cadeia produtiva. A presente pesquisa também permitiu

contrastar a visão do consumidor com os relatos colhidos nas entrevistas com os produtores.

A seguir serão apresentadas as características metodológicas principais da pesquisa realizada com

os consumidores, assim como algumas estatísticas descritivas encontradas pela pesquisa.

Posteriormente serão descritas quais as características determinantes para um indivíduo ser, ou

não, consumidor de cachaça. Também se busca verificar quais outras bebidas alcóolicas são

produtos “complementares” (consumidos em conjunto à cachaça) e quais são “substitutos”

(consumidos em detrimento à cachaça). Por fim, serão evidenciadas relações entre a frequência

de consumo de cachaça e de outras bebidas.

8.1. Metodologia da Pesquisa com Consumidores e Estatísticas Descritivas

O estudo teve por objetivo geral, verificar características do consumidor de cachaça, assim como

investigar os determinantes do consumo de cachaça (o que determina o consumo ou não) de forma

a contribuir com ações para desenvolvimento do setor. Para tanto foram entrevistados homens e

mulheres maiores de 18 anos, consumidores de alguma bebida alcoólica.

O presente trabalho deu ênfase à pesquisa quantitativa com amostragem randômica estratificada,

ou seja, os indivíduos de uma determinada população são escolhidos de forma aleatória e

divididos por grupos (no presente caso seguindo a proporção entre os sexos, idade, renda e região

da cidade de São Paulo). A realização de pesquisas randômica estratificadas são importantes

porque permitem ao pesquisador chegar a padrões de comportamento semelhantes para um

pequeno número amostral. Estes podem então, serem generalizados para um universo muito

maior, com robustez e segurança estatística. No caso da pesquisa com os consumidores, foi

utilizado um questionário estruturado composto de mais de 23 perguntas relacionadas à percepção

da bebida cachaça, padrão de consumo de cachaça, de outras bebidas alcoólicas e perfil do

respondente. A amostra é comporta de 500 respondentes distribuídos em diferentes regiões da

cidade de São Paulo e contou com um pré-teste com 50 indivíduos, o qual validou a realização da

pesquisa final.

Inicialmente serão expostas algumas das estatísticas descritivas mais pertinentes ao

entendimento do padrão de consumo da cachaça. A Tabela 1 a seguir apresenta as características

da amostra pesquisada. Inicialmente percebe-se que há uma distribuição adequada com a

proporção total da população, quanto às diferentes faixas etárias. Lembrando que, como a

pesquisa se relaciona ao consumo de bebidas alcoólicas, apenas foram entrevistados indivíduos

maiores de 18 anos.

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Tabela 1 – Estratificação Etária da Amostra

Fonte: elaborados pelos autores.

Quanto à distribuição de sexos, respeitando a proporcionalidade da população brasileira, foram

entrevistados 250 indivíduos do sexo masculino e 250 do sexo feminino. Em relação à renda, a

presente amostra contém também uma segmentação entre diferentes faixas de renda (vide Tabela

2), e também escolaridade (vide Tabela 3). Sendo assim uma pesquisa representativa do universo

da população a ser compreendido.

Tabela 2 - Estratificação por Renda Mensal da Amostra

RENDA MENSAL Freq. %

Até R$ 1.500,00 139 27,9

de R$ 1.501,00 a R$ 4.000,00 216 43,4

de R$ 4.001,00 a R$ 7.500,00 95 19,1

de R$ 7.501,00 a R$ 11.500,00 27 5,4

Acima de R$ 11.500,00 21 4,2

Total* 498 100,0

*dois dos indivíduos não responderam a qual faixa de renda pertenciam.

Fonte: elaborado pelos autores.

Tabela 3 - Estratificação por Nível de Escolaridade da Amostra

IDADE Freq. %

18 a 24 anos 126 25,2

25 a 39 anos 157 31,4

40 a 54 anos 151 30,2

55 anos ou mais 66 13,2

Total 500 100

ESCOLARIDADE Freq. %

Fundamental incompleto 28 5,6

Fundamental completo 68 13,6

Segundo grau incompleto 40 8,0

Segundo grau completo 143 28,6

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P E C – C a c h a ç a

Fonte: elaborado pelos autores.

Quanto ao consumo de cachaça, os dados apontam que dos 500 indivíduos entrevistados

391(78,2%) não consomem cachaça e 109 (21,08%) consomem a referida bebida. Apenas entre

os consumidores de cachaça, 42 (38,5%) deles conhecem a diferença entre os processos de

produção (Alambique e Coluna). Já 67 (61,5%) desconhecem as diferenças entre estes processos.

Os consumidores foram também indagados sobre a frequência de consumo e lugares onde o

produto é consumido de forma mais recorrente. Dos 109 consumidores 33,9% consomem cachaça

uma vez por semana, 24,8% a cada quinze dias, 17,4% consomem uma vez no mês, 22,9% alguma

vez no ano contra 0,9% menos de uma vez ao ano. Sendo que 55% da amostra, ou seja, 55 dos

respondentes costumam comprar cachaça em bares, padarias e restaurantes, 32,1% em mercado,

supermercado, hipermercado o que representa 35 indivíduos, 11,9% (13 respondentes) compram

em adegas, depósitos e/ou mercearias, e apenas 6 consumidores, 5,5% do total, compram direto

do produtor. O fato de a pesquisa haver sido realizada na cidade de São Paulo pode explicar um

pouco do baixo número de consumidores que compram direto do produtor.

Buscou-se identificar a forma em que o consumidor compra a cachaça e quais os locais eles

consomem o produto. Neste caso o respondente poderia indicar mais de uma forma de consumo.

Foi constatado que 60,6% compram garrafas rotuladas e 63,3% consomem em doses, 3,7% em

garrafa ou garrafão não rotulado a Granel; 1,3% em garrafão rotulado. No que se refere à forma

de como é consumido, ou seja, como é ingerido, do total da amostra 63,3% consomem na forma

de caipirinha, 56,9% consome pura, sem adição de nenhum outro ingrediente e 15,6% consomem

com adição de outra bebida, do restante 13,8% na forma de outros drinques. Vale ressaltar que

aqui de forma análoga, um respondente utiliza uma ou mais forma de consumo e compra do

produto em analise.

Por meio dos dados apresentados, é notado que o consumidor de cachaça em geral, tem

preferencia de consumo da bebida pura ou na forma caipirinha sendo, esta apreciada em casa ou

em eventos sociais, de acordo com suas respostas. Mais detalhadamente, os locais onde de

consome a cachaça, de acordo com dados da pesquisa 97,2% dos respondentes apreciam a bebida

em sua própria casa e/ou na casa de amigos; 98,2 % consomem em bar, restaurante e padaria;

95,4% em festas e 40,4% em outros locais não especificados.

Com o objetivo de entender quais os sentimentos os consumidores de cachaça, associam ao

produto, foram desenvolvidas perguntas direcionadas a entender tal associação, dos resultados

gerais amostra 25,2% associam a bebida sentimentos negativos, 22,8% a momentos de

descontração, 15,4% a festas; 9,8% à ‘volta às origens’; 8,4 % a empolgação 3,0 % a sentimentos

positivos em geral.

Tais números auxiliam a entender o padrão de consumo da cachaça, mas ainda resta a dúvida

sobre quais são as características determinantes para a efetivação do consumo da cachaça, a

subseção abaixo, irá detalhar o modelo proposto para realizar-se esta análise, bem como seus

resultados.

Técnico 11 2,2

Graduação incompleta 64 12,8

Graduação completa 99 19,8

Pós-Graduação incompleta 8 1,6

Pós-Graduação completa 39 7,8

Total 500 100,0

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P E C – C a c h a ç a

8.2. Características Determinantes para o Consumo de Cachaça

Conforme visto anteriormente as estatísticas apresentadas evidenciam algumas informações

sobre a amostra utilizada na pesquisa e sobre as o padrão de compra e consumo de cachaça pelos

consumidores respondentes. Contudo, apenas tais informações não são suficientes para maiores

inferências e generalizações. É importante ir além, e verificar quais características determinam o

consumo de cachaça pelos indivíduos.

Para se chegar a esta resposta, comparou-se os grupos consumidor e não consumidor de

cachaça, verificando as diferenças entre as respostas de cada grupo para um mesmo conjunto de

perguntas. Através de métodos econométricos, foi possível chegar-se a resultados, que apontam

com segurança estatística quais são as características determinantes para o consumo de cachaça24.

Objetivando responder à questão: quais as características levam ao consumo de cachaça?

Foram estabelecidos três blocos de características, relativas ao consumidor e à cachaça, com a

finalidade de verificar, quais características ajudam a diferenciar o consumidor do não

consumidor de cachaça. Os três blocos seguem detalhados na sequência:

1) Bloco 1: Características da bebida cachaça. Nesta categoria estão questões relativas à:

a. Percepção de qualidade da bebida

b. Percepção de impacto à saúde que a bebida gera

c. Percepção do status da bebida

d. Percepção sensorial agradável (relativo a características organolépticas).

e. Percepção cultural (relacionado a associação de cachaça como elemento da

cultura brasileira)

f. Preço (avaliação se preço é importante na decisão de consumo)

2) Bloco 2: Perfil do respondente. Nesta categoria estão dados relativos a:

a. Sexo do respondente

b. Idade do respondente

c. Escolaridade do respondente

d. Estado civil do respondente

e. Renda Mensal do respondente

3) Bloco 3: Frequência no Consumo de Outras Bebidas Alcóolicas. Nesta categoria estão

questões relativas à:

a. Frequência de consumo de Vodka (destilado)

b. Frequência de consumo de Whisky (destilado)

c. Frequência de consumo de Tequila (destilado)

d. Frequência de consumo de Vinho (fermentado)

e. Frequência de consumo de Cerveja ou Chopp (fermentado)

f. Frequência de consumo de Outras bebidas alcóolicas.

A Figura 11 auxilia na visualização do modelo proposto, onde as características associadas a

cada bloco (à esquerda) determinam a efetuação do consumo de cachaça (à direita). Vale destacar

que as características da bebida, foram selecionadas de acordo com a revisão da literatura e o

levantamento de informações realizado com os produtores e agentes do setor.

Figura 11 - Determinantes do Consumo de Cachaça

24 Para a avaliação dos consumidores foram aplicadas quatro técnicas estatísticas de causalidade, a saber:

regressão mínimos quadrados ordinários; regressão logística; regressão probabilística; regressão tobit.

Todos os modelos se mostraram válidos pelo teste F > Pchi2; sendo as regressões MQO homocedásticas.

As equações do modelo bem como seus resultados são aqui omitidos, com finalidade de dinamizar a leitura,

sendo estes expostos em maiores detalhes no Anexo 1.

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P E C – C a c h a ç a

Fonte: elaborado pelos autores.

O bloco 1 visava observar quais características da bebida cachaça que mais agradam aos

consumidores e que influenciam de forma estatisticamente significativa para a efetivação do

consumo. Neste bloco verificou-se que os determinantes para a realização do consumo de cachaça

são a Qualidade; Aspectos Sensoriais e Preço. Ou seja, de acordo com as análises o consumo de

cachaça ocorre em função: i) da avaliação dos consumidores sobre a cachaça ser uma bebida de

qualidade superior às demais bebidas alcóolicas (destiladas ou fermentadas); ii) pelo gosto do

consumidor com relação às características sensoriais/organolépticas da cachaça, notadamente seu

sabor, aroma e boa aparência; e iii) o fator preço como sendo importante para as decisões de

consumo do indivíduo.

Em suma, no bloco 1 percebeu-se que no que se referem as características da cachaça, os fatores

que mais influenciam o consumo são a percepção da cachaça como uma bebida de qualidade

superior, com características sensoriais/organolépticas agradáveis e com preço mais baixo. Não

necessariamente todos os consumidores apreciam as três características ao mesmo tempo, pode

haver consumidores que avaliem de forma mais destacada o preço, e outros as características

sensoriais, por exemplo. Em linhas gerais as três características mencionadas se mostram como

os principais determinantes para a efetivação do consumo, sendo aspectos relacionados a saúde,

status da bebida e associação cultural, não relevantes na decisão de consumo.

Seguindo com o bloco 2, observou-se que das características de perfil, o principal fator

encontrado é o consumidor de cachaça ser do sexo masculino. Em todas as análises o fato de ser

homem implica em uma maior probabilidade de ser consumidor de cachaça. No entanto, idade

mais elevada e menor renda, também aparecem como fatores determinantes para o consumo de

cachaça em alguns dos modelos.

Por fim, o bloco 3 expõe se a frequência de consumo de outras bebidas pode ser fator explicativo

para a ocorrência também do consumo de cachaça. Neste aspecto, os resultados evidenciam que

os consumidores de cachaça são mais frequentemente consumidores das outras bebidas destiladas

como vodca, uísque e tequila, mas não das bebidas fermentadas (vinho ou cerveja/chopp). Isto

indica que em geral os consumidores de destilados também consomem cachaça, e que

potencialmente este seria o público que estaria disposto a trocar o consumo pela cachaça.

A Figura 12 apresenta de forma esquemática, os principais resultados que respondem à pergunta

sobre quais as características levam ao consumo de cachaça?

Figura 12 - Resultados dos Determinantes para o Consumo de Cachaça

Bloco 2: Perfil do respondente

Bloco 3: Frequência no Consumo de Outras Bebidas Alcóolicas

Bloco 1: Características da bebida cachaça

Consumo

de

Cachaça

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P E C – C a c h a ç a

Fonte: elaborado pelos autores.

8.3. Considerações Finais do Capítulo

Pela análise dos dados oriundos da pesquisa com os consumidores, foi possível traçar um perfil

de quem é o consumidor de cachaça, além de possibilitar a verificação de características que

levam ao consumo da referida bebida. Percebeu-se que os principais atributos da cachaça que o

consumidor valoriza são a qualidade, aspectos sensórias e preço; sendo este consumidor

majoritariamente do sexo masculino, destacadamente de maior idade, renda mais baixa e também

consumidor de outras bebidas destiladas. Tais informações podem ser úteis ao setor como forma

de direcionamento estratégico de marketing e de posicionamento de produto, tanto para consolidar

sua posição em nichos de mercado já estabelecidos, quanto para definir formas de atuação em

outros mercados.

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P E C – C a c h a ç a

63

9. Competitividade da Cadeia Produtiva da Cachaça

Considerando a descrição dos diferentes ambientes que suportam a cadeia produtiva da cachaça apresentados

anteriormente, e também a visão dos agentes envolvidos na cadeia com relação a seus principais desafios, é

possível avaliar de maneira ampla sua competitividade.

A seguir iremos descrever os desafios para a competitividade da cadeia produtiva da cachaça em relação aos

ambientes que foram analisados.

Perda de participação no mercado

Observa-se no capítulo 0 uma relativa diminuição na competitividade revelada25 da cadeia da cachaça quando

se analisa a queda do consumo médio per capita brasileiro da bebida entre 2002 e 2008. À mesma conclusão

se observa na evolução das exportações que encolheram nos últimos dez anos. Com relação à produção

industrial registrada pelo IBGE, entre 2005 e 2011 a cachaça apresentou a mesma tendência de queda. Há que

se fazer menção, no entanto, ao aumento da importação da cachaça pelos EUA entre 2003 e 2013, quando

comparado com as outras bebidas alcoólicas. Os EUA são o principal mercado consumidor de cachaça em

valor depois do Brasil. Destaca-se, que o valor agregado da produção entre 2007 e 2012 aumentou uma vez

que a queda em volume foi da ordem de 17% enquanto o valor (real) reduziu-se em 10%, o que indica a

exportação de produtos com maior valor agregado.

Legislação ambígua e desigual

No capítulo 3 observou-se que a legislação atual para classificação da cachaça é imprecisa e pode gerar redução

do valor percebido da bebida no mercado. Isto porque a legislação atual determina o uso da denominação

premium ou extra premium para cachaças envelhecidas. Entretanto, o envelhecimento não garante a maior

qualidade da bebida. Além disso. a legislação atual não prevê o uso de denominação específica para casos de

misturas (blends) o que pode limitar a forma de ação da indústria no mercado.

Outro ponto crítico em relação ao ambiente institucional é a ausência de tratativa diferenciada para pequenos

produtores frente às dificuldades tributárias e burocráticas que se impõe no ambiente de negócios brasileiro e

que impede em última instância a legalização de parte dos produtores. Este fato pode ser responsabilizado em

partes pela elevada informalidade no setor, que atenta para a sua competitividade uma vez que coloca empresas

a competir em situação de desigualdade com negócios informais e ainda podem levar uma imagem depreciada

da cachaça no mercado dado que não é possível atestar a qualidade dos produtos ilegais comercializados pelos

rincões do país.

Também não se tem definido o que vem a ser um “produtor de cachaça cuja produção serve para consumo

próprio”. Isto por si só coloca pequenos produtores familiares, que produzem quantidades pequenas para

25 A competitividade revelada, de acordo com as teorias de concorrência, é definida como a capacidade sustentável de

uma firma (no caso setor) sobreviver e, de preferência, crescer em mercados concorrentes ou novos mercados

(FARINA,1999).

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64

consumo próprio, na informalidade ex ante. Como mencionado, a história do País se mistura com a história da

produção de cachaça de tal forma que a pequena produção esta enraizada nas diferentes regiões do país. Deste

modo, é complexo pensar que as dezenas de milhares de pequenos produtores presentes em todas as regiões

do país se estruturem na forma de empresas ainda que exista uma tratativa diferenciada para pequenos

produtores com reduzida cara tributária e menor burocracia. Assim, o desafio que se impõem é de como trazer

este tipo de produção para uma situação de formalidade.

Por fim, o regulamento de uso da marca sob gestão de uma instituição que represente o setor é primordial para

conferir agilidade ao processo obtenção da indicação geográfica no mercado externo. Além disso, este

regulamento permitiria uma fiscalização mais adequada da produção regular e conferiria maior agilidade nas

discussões do setor em torno de modificação e melhorias do regulamento em vigor.

Gargalos tecnológicos

No capítulo 4 vimos a atual situação do ambiente tecnológico. O que se observou é o baixo nível de difusão

de tecnologia e práticas de produção em âmbito nacional. Soma-se a isso, a inexistência até o momento de um

manual de boas práticas produtivas amplamente aceito e difundido, o que .dificulta o acesso a pequenos produtores a

informações que podem levar à produção de produtos com maior qualidade e em última instância beneficiar o

consumidor geral. Existe atualmente a iniciativa de produção de um manual de boas práticas do setor, pelo

IBRAC em parceria com o SEBRAE e que deverá conferir maior difusão de informações. A difusão

tecnológica é, no entanto, um entrave para a competitividade da cadeia que tem uma capilaridade intensa e que

como já discutido, a existência de produtores com qualidade inferior pode prejudicar a imagem de toda a

cadeia.

Ainda com relação ao ambiente tecnológico as dificuldades relacionadas à obtenção de garrafas para atender

ao setor acaba por gerar dificuldades mercadológicas como, por exemplo, a impossibilidade de manter um

padrão/identidade de garrafa utilizada pelos agentes. Muitas vezes a alternativa não é a opção mais adequada

para acessar o mercado consumidor, mas aquela mais viável dificultando as estratégias individuais dos agentes.

Necessidade de recursos para ações coletivas

Como visto no capitulo 5, o ambiente organizacional da cadeia produtiva da cachaça teve diversos avanços

dentre elas, as ações de planejamento estratégico da câmara setorial e mesmo a constituição do IBRAC e ações

decorrentes. Contudo, alguns grandes desafios à competitividade da cadeia se impõem. A câmara setorial

desempenha um importante papel na articulação de ideias e promoção de discussões relevantes do setor e

consegue reunir diversas esferas públicas que podem se mobilizar em torno de assuntos relevantes à cadeia.

Contudo, muitas ações necessárias ao setor demandam trabalhos com maior intensidade e que nem sempre

podem ser levados para as discussões na câmara. O IBRAC ou outra organização de representação do setor

pode desempenhar o papel de conduzir as discussões relevantes ao setor e promover as ações ainda necessárias.

Contudo, para que isso seja possível o setor deve conseguir se financiar. Pouco provável que esta verba possa

vir de outros agentes que não da própria cadeia produtiva. Ações isoladas e pontuais podem até conseguir

verbas de instituições públicas de fomento como o caso da APEX financiando parte das ações para

desenvolvimento da cachaça no mercado externo, no entanto um planejamento de ações em diversas áreas

demanda uma coordenação central com financiamento próprio conferindo maior autonomia e legitimidade à

cadeia como um todo.

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65

Conclui-se, portanto, que houve recente perda de competitividade da cadeia produtiva da cachaça dado o

encolhimento da produção, e exportação, mas que a perda não foi superior em função do incremento de valor

agregado da produção. A competitividade dinâmica considerando os ambientes institucional, organizacional e

tecnológico aponta para a necessidade de muito avanço no setor com o suporte de uma entidade articuladora

com capacidade financeira para desenvolver as ações.

10. Workshop de Planejamento estratégico da cadeia produtiva da cachaça

Relatamos a seguir os trabalhos realizados pelo CORS no Workshop da Cadeia Produtiva da Cachaça, nos dias

26 e 27 de Fevereiro, que teve como objetivo colaborar no processo de implementação de gestão estratégica

do setor.

Objetivos do trabalho

O objetivo do trabalho foi contribuir com o Instituto Brasileiro da Cachaça na criação de uma agenda de ações

que devem ser desenvolvidas pelo setor a fim de superar os desafios que se impõem para: a) valorização da

cachaça no Brasil e no exterior; b) desenvolvimento e exploração dos potenciais mercados da cachaça.

Metodologia de Trabalho

Para alcançar este desafio o CORS apresentou o resultado de alguns trabalhos desenvolvidos anteriormente ao

workshop com o objetivo de criar maior entendimento entre todos os participantes sobre questões importantes

que foram identificadas nas etapas preliminares do trabalho. Na sequencia foram desenvolvidas dinâmicas em

grupos com o objetivo de mapear problemas e soluções relativas a cadeia produtiva da cachaça e priorizar uma

agenda de ações para o setor.

Os trabalhos anteriores ao Workshop estão todos contidos no corpo do documento “Relatório Final” do projeto

“Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça” produzido pelo CORS. Os resultados do

workshop são apresentados a seguir, e na sequencia são apresentados os comentários do CORS com o objetivo

de suscitar alguns pontos de reflexão.

Detalhamento das atividades

O Workshop de planejamento estratégico da cadeia produtiva da cachaça contou com a participação de xx

pessoas, das quais, y representavam produtores de cachaça, z eram agentes ligados a instituições privadas de

interesse coletivo, w representavam sindicatos e associações em esfera regional e nacional.

No primeiro dia pela manha foram apresentados os trabalhos de instituições que podem suportar a cadeia

produtiva da cachaça. À tarde iniciaram-se os trabalhos do CORS. Os resultados das entrevistas com 30 agentes

do setor, realizadas anteriormente ao Workshop, o resultado do questionário on line aos produtores e o

resultado de uma pesquisa probabilística realizada na cidade de São Paulo com o objetivo de identificar os

determinantes do consumo de cachaça, foram expostos.

Após estas apresentações, os participantes foram divididos em cinco grupos e com a coordenação dos

pesquisadores do CORS, foi realizada uma dinâmica chamada pontos de melhoria e pontos de ruptura. Nesta

dinâmica os agentes eram convidados a levantar problemas e/ou desafios da cadeia produtiva em torno de dez

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66

grandes temas e para cada problema ou desafio apresentado, foi solicitado que indicassem ações de melhoria

ou ruptura. Os dez temas avaliados foram:

1. Tributação

2. Fiscalização e Controle

3. Mercado Interno e Concorrência

4. Mercado Externo

5. Padrão de identidade e qualidade (IG, DO, Rotulagem, Definições do Produto)

6. Fatores de produção

7. Papel do IBRAC

8. Financiamento das ações do setor

9. Atuação de outras instituições (SEBRAE, SENAI, SENAC, APEX, INMETRO, INPI, Câmara

setorial, MAPA, MDIC, MRE, EMBRAPA, etc.)

10. Assistência técnica

O 1º dia terminou com a realização desta dinâmica. Os resultados de cada um dos cinco grupos foram

consolidados pela equipe CORS e no dia seguinte, em plenária foram apresentados todos os problemas e ações

sugeridas a fim de corrigir erros de interpretação e adicionar ações não sugeridas no dia anterior.

Os problemas e ações sugeridas estão apresentados nos quadros de 12 a 20, a seguir.

Quadro 12 - Tributação

Problemas/Desafios Ações

1. Falta de isonomia tributária para pequenos produtores

1.1 Inclusão do pequeno produtor no simples

1.2 Diferenciação tributária por porte e não por tipo de

produção

2. Falta de uniformidade da legislação de ICMS e substituição

tributária 1.3 Ações perante o Confaz

3) Alta tributação para importação de equipamentos Nenhuma ação sugerida

4) Critérios tributários não claros Nenhuma ação sugerida

5) Guerra fiscal entre estados Nenhuma ação sugerida

Quadro 13 - Fiscalização e Controle

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67

Problemas/Desafios Ações

6) Morosidade do governo no registro do produto 2.1 Simplificação das exigências legais via câmara

setorial

7) Infraestrutura do estado (recursos humanos e operacionais

8) Falta de fiscalização dos produtores 2.2 Mais fiscalização sob a informalidade da produção

8) Falta de padronização de critérios e procedimentos entre os

estados

9) Falta de qualificação dos fiscais - treinamento

2.3 Implantação do SUASA (Sistema Único de Atenção

a Sanidade Agropecuária); descentralização do controle

2.4 Implementação da IG

10) Falta de fiscalização dos pontos de venda

2.5 Informação do consumidor sobre informalidade (ex.:

cachaça legal)

2.6 Ampliação da fiscalização dos pontos de venda pelo

Inmetro, vigilância municipal, estadual e federal,

secretaria da fazenda, ministério público e outras

instituições de fiscalização.

11) Informalidade e falsificação

2.7 Desburocratizar e criar mecanismo que facilite a

formalização

2.8 Ampliar o número de laboratórios de análises (ex.:

parceria com SENAI e outros)

Quadro 14 - Mercado interno e concorrência

Problemas/Desafios Ações

12) Falta de estratégia de promoção setorial,

13) Falta de informação para o consumidor

14) Valorização de bebidas importadas;

15) Imagem depreciada da cachaça

3.1 Campanha de Marketing (estratégia institucional), junto a

formadores de opinião e divulgação de bebidas mistas (ex.:

cachaça + suco .)

3.2 Formar multiplicadores de degustação via cursos de

sommelier, treinamento de garçons entre outras iniciativas

16) Dificuldade de distribuição e logística para pequeno

produtor

3.3 Criar cartilha para fomento de lojas e/ou distribuidores

especializados

3.4 União dos produtores para elevar o poder de barganha com

o varejo

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68

17) Falta de trabalho com relação ao consumo

responsável

3.5 Ação institucional para o consumo responsável

3.6 Ampliar o conhecimento do consumidor sobre o risco do

produto clandestino por meio de campanhas

Quadro 15 - Mercado Externo

Problemas/Desafios Ações

18) Falta de recurso para promoção;

19) Falta de divulgação de produto envelhecido;

4.1 Ampliação do projeto da APEX (escopo e prazo)

4.2 Maior alinhamento da APEX para formular contatos

com compradores externos

20) Inadequação dos procedimentos do MAPA para os países

importadores

4.3 Maior coordenação com os ministérios, câmara

setorial e conselho regulador

21) Desconhecimento e difícil acesso ao mercado externo 4.4 Criar cartilha com apoio técnico aduaneiro

22) Falta de comprometimento da política comercial com a

cachaça 4.5 Pleitear entendimento com MDIC e MRE

23) Burocracia e ineficiência na emissão de certificados para

exportação, , custo portuário, de logística e distribuição Nenhuma ação sugerida - Custo Brasil

24) Barreiras técnicas e tarifárias Nenhuma ação sugerida

Quadro 16 - Padrão de Identidade e qualidade

Problemas/Desafios Ações

25) Falta de informação ao produtor / consumidor

5.1 Destaque do processo produtivo no rótulo do

produto

26) Falta de padronização 5.2 Incentivar certificação

27) Maior Regulamentação quanto à qualidade; limites mínimos

de congêneres

5.3 Aperfeiçoar IN13/2005 com relação aos limites

aceitos para congêneres (mais restritos)

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69

28) Falta de Laboratórios Homologados

29) Dificuldades dos pequenos produtores de arcar com custos

das análises

5.4 IBRAC com projeto junto ao

SEBRAE/Universidades/Embrapa para subsidiar as

análises; e outras iniciativas

30) Indicação Geográfica 5.5 Implementação da Indicação Geográfica

Quadro 17 - Fatores de produção

Problemas/Desafios Ações

31) Baixa qualidade de insumos (garrafa rótulo, tampa, rolha e

equipamento individual)

32) Poucos fornecedores (com poder de mercado) com grande

exigências na escala de entrega

6.1 Reduzir carga tributária para importação de insumos

33) Buscar solução para madeiras para envelhecimento

6.2 Certificação; pesquisas em universidades para

buscar solução para madeiras para envelhecimento

6.3 Atenção aos tanoeiros (treinamento)

34) Baixo nível de inovação no setor 6.4 Realizar conexões com FINEP, MCT, dentre outras

entidades, devido o baixo nível de inovação

Quadro 18 - Papel do IBRAC

Problemas/Desafios Ações

35) Problemas de Comunicação e Capilaridade

7.1 Aumento das reuniões por videoconferência/skype®

para aumentar participação de todos

7.2 Aumento das comunicações com produtores;

cartilhas e informativos

7.3 Melhorar comunicação do IBRAC sobre cursos

disponíveis (link no site). Calendário de Eventos.

7.4 Melhorar levantamento de dados e maior geração de

estatísticas sobre o setor (relatórios técnicos sobre o

setor)

7.5 Fortalecer ações sobre consumo de responsável

36) Problema de Governança, gestão e ações coletivas 7.6 Melhorar a estrutura institucional/organizacional,

para conseguir atender as demandas dos stakeholders

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P E C – C a c h a ç a

70

7.7 Adequação do setor sobre a lei dos resíduos sólidos

7.8 Articular pontos de convergência de interesses com

outros setores

7.9 Garantir representatividade na instituição

(proporcional aos produtores)

7.10 As iniciativas relacionadas à cachaça devem estar

mais alinhadas ao IBRAC

7.11 Definir um regulamento para os concursos de

cachaça

7.13 Incentivar turismo da cachaça (maior interlocução

com órgãos de turismo Ministérios, Secretarias)

37) Concursos isolados 7.12 IBRAC promover um concurso da Cachaça

Quadro 19 - Financiamento das ações do setor

Problemas/Desafios Ações

38) Problema de Financiamento da produção

8.1 Criação de Fundo Setorial

8.2 Pleitear linhas de crédito específicas (em nível

Federal)

8.3 Financiamentos para boas práticas de fabricação

39) Falta de informação sobre financiamentos 8.4 Melhorar divulgação de oportunidades de

financiamento articulando IBRAC e Associações;

40) Financiamento das ações do IBRAC 8.5 Benchmark com IBRAVIN sobre sustentação

financeira

Como pode ser observado, inicialmente havia 10 temas, que foram consolidados em oito após o workshop. O

tópico sobre assistência técnica e atuação de outras instituições recebeu menos atenção pelos agentes e

acabaram sendo contemplado de alguma forma nos itens seis e oito. Ao todo foram listado 40

problemas/desafios e 49 ações necessárias para enfrenta-los. Em plenária foram discutidos todos os problemas

e ações sugeridas a fim de verificar se nada foi esquecido e se estavam de acordo com a proposição inicial dos

agentes. Na própria plenária alguns agentes expuseram sua opinião para os demais a fim de defender que

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P E C – C a c h a ç a

71

algumas ações propostas eram mais importantes que outros ou que da maneira como ação havia sido proposta

é prejudicial ao setor. Mediante concordância geral, foram realizados os ajustes sugeridos.

Dinâmica de Priorização

Na sequencia, foi solicitado que cada agente concedesse uma nota para o grau de importância e urgência para

cada uma das ações listadas. Por importância entende-se o impacto positivo ou negativo que a implementação

ou não daquela ação pode trazer ao setor. Assim, ações com elevado grau de importância tem um alto impacto

positivo para o setor caso seja implementada ou trazem um alto impacto negativo caso não sejam

implementadas. Com relação a urgência, entende-se que ações urgentes são aqueles em que se não

implementadas trarão impactos negativos em curto espaço de tempo. Assim, quanto maior o grau de urgência,

em menos tempo a não implementação daquela ação implicará em resultados indesejáveis à cadeia produtiva

da cachaça.

A opinião de cada agente sobre a importância e urgência das ações foi compilada e uma média das respostas

foi calculada. Com isso obtém-se uma nota média geral para cada ação sobre sua importância e urgência. Este

resultado é uma maneira de se priorizar as ações propostas de maneira objetiva e que considera a pluralidade

de opiniões dos agentes participantes. É importante notar, contudo que não foram considerados na priorização

os custos de implantação destas ações, que por sí só podem sem uma barreira à ação do setor. Após maior

detalhamento das ações proposta, recomenda-se que o setor na figura do IBRAC, estime os custos de condução

de cada ação para verificar a viabilidade de sua implantação ou mesmo para planejar a alocação de recursos

financeiros e humanos na condução das ações.

A Figura 13 a seguir apresenta as ações priorizadas plotadas em uma escala de importância e urgência. Na

sequencia são expostas quatro figuras e quadros com as ações listadas do maior produto da importância e

urgência (nota dada a importância X nota dada à urgência) para o menor, relativo ao maior escore dentre as

ações. Com isso tem-se uma ideia das ações prioritárias as quais foram divididas em quatro faixas de

priorização, a saber: Alta (score relativo de 100 a 75); Média-Alta (score relativo 74,9 a 50); Média-Baixa

(score relativo 49,9 a 25) e Baixa (24,9 a 0). Com esta divisão pretende-se melhor evidenciar ao setor quais

ações devem ser prontamente “atacadas” pela cadeia produtiva da cachaça, logicamente com a ressalva da

disponibilidade de recursos para implanta-las.

Figura 13 - Priorização com Todas as Ações

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72

Fonte: elaborado pelos autores.

Figura 14 - Priorização Alta

Fonte: elaborado pelos autores.

Quadro 20 - Ações de Alta Prioridade

Prioridade ID Ações

Score Relativo

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Urg

ênci

a

Importância

Alta Média-Alta Média-Baixa Baixa

2.8 2.5

2.2 2.4

1.1

7

8

9

10

7 8 9 10

Urg

ênci

a

Importância

Alta

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73

Alt

a 1.1 Inclusão do pequeno produtor no simples 100,00

2.4 Implementação da IG 84,81

2.2 Mais fiscalização sob a informalidade da produção 81,44

2.5 Informação ao consumidor sobre informalidade (cachaça legal) 77,27

2.8 Ampliar o número de laboratórios de análises (em parceria com SENAI, entre outros)

75,40

Fonte: dos autores.

Figura 15- Priorização Média-Alta

Fonte: elaborado pelos autores.

Quadro 21 - Ações de Média-Alta Prioridade

Prioridade ID Ações Score

Relativo

Méd

ia-A

lta

3.6 Ampliar o conhecimento do consumidor sobre o risco do produto clandestino por meio de campanhas

74,25

2.7 Desburocratizar e criar mecanismo que facilite a formalização 72,88

8.2 Pleitear linhas de crédito específicas (em nível FederaL) 72,17

4.1 Ampliação do projeto da APEX 71,40

3.2 Formar multiplicadores de degustação, cursos de sommelier; garçons; etc

69,95

7.13.4

7.77.5 7.6

7.9

7.13

3.52.1

4.5

4.44.2

6.18.3

7.4

5.47.2

8.5 8.4

3.1

8.1 2.31.2

7.3

4.3

1.3

5.5

2.6

3.2

4.1

8.22.7

3.6

6

7

8

6 7 8

Urg

ênci

a

Importância

Média-Alta

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74

2.6 Ampliação da fiscalização dos pontos de venda pelo Inmetro, vigilânica (Municipal; Estadual e Federal); Secretaria da Fazenda; outras instituições relevantes (Incluir o ministério público)

68,77

5.5 Implementação da Indicação Geográfica 68,09

1.3 Ações perante o CONFAZ 67,20

4.3 Coordenação com os Ministérios; Câmara Setorial e Conselho Regulador

66,88

7.3 Melhorar comunicação do IBRAC sobre cursos disponíveis (link no site). Calendário de eventos

66,30

1.2 Diferenciação por porte e não por tipo de produção 66,15

2.3 Implantação do SUASA (Sistema Único de Anteção a Sanidade Agropecuária); descentralização do controle.

65,61

8.1 Criação de Fundo Setorial 63,90

3.1 Campanha de Marketing (estratégia institucional), junto a formadores de opinião; divulgar bebidas mistas; etc.)

63,58

8.4 Melhorar divulgação de oportunidades de financiamento articulando IBRAC; Associações; etc.

63,04

8.5 Benchmark com IBRAVIN sobre sustentação financeira 62,82

7.2 Aumento das comunicações com produtores; cartilhas e informativos

62,11

5.4 IBRAC com projeto junto ao SEBRAE/Universidades/Embrapa para subsidiar as análises; e outras iniciativas

61,53

7.4 Melhorar levantamento de dados e maior geração de estatísticas sobre o setor (relatórios técnicos sobre o setor)

61,26

8.3 Financiamentos para boas práticas de fabricação 60,69

6.1 Reduzir carga tributária para importação de insumos 60,04

4.2 Maior alinhamento da APEX para formular contatos com compradores externos

58,09

4.4 Criar cartilha com apoio técnico aduaneiro 57,48

4.5 Pleitear entendimento com MDIC e MRE 57,26

2.1 Simplificação das exigências legais via câmara setorial 56,88

3.5 Ação institucional para o consumo responsável 56,87

7.13 Incentivar turismo da cachaça (maior interlocução com órgãos de turismo Ministérios, Secretarias)

54,26

7.10 As iniciativas relacionadas à cachaça devem estar mais alinhadas ao IBRAC

54,15

7.9 Garantir representatividade na instituição (proporcional aos produtores)

54,02

7.6 Melhorar a estrutura institucional/organizacional, para conseguir melhorar as demandas dos stakeholders

53,36

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7.5 Fortalecer ações sobre consumo responsável 52,50

7.7 Adequação do setores sobre a lei dos resíduos sólidos 50,55

3.4 União dos produtores para aumentar o poder de barganha com o varejo

50,54

7.1 Aumento das reuniões por videoconferência/skype® para aumentar participação de todos

50,38

Fonte: dos autores.

Figura 16 - Priorização Média-Baixa

Fonte: elaborado pelos autores

Quadro 22 - Ações de Média-Baixa e Baixa Prioridade

Prioridade ID Ações Score

Relativo

Méd

ia-B

aixa

6.2 Certificação; pesquisas em universidades para buscar solução para madeiras para envelhecimento

48,45

7.8 Articular pontos de convergência de interesses com outros setores 48,34

3.3 Criar cartilha de fomento em lojas ou distribuidores especializados 46,18

6.4 Realizar conexões com FINEP, MCT, dentre outras entidades, devido o baixo nível de inovação

44,74

7.12

5.1

7.11

5.26.3

5.36.4

3.3 7.86.2

3

4

5

6

7

3 4 5 6 7

Urg

ênci

a

Importância

Média-Baixa e Baixa

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5.3 Aperfeiçoar IN13/2005 com relação aos limites aceitos para congêneres (mais restritos)

44,38

6.3 Atenção aos Tanoeiros (treinamento) 40,71

5.2 Incentivar a Certificação 37,96

7.11 Definir um regulamento para os concursos de cachaça 36,69

5.1 Destaque do processo produtivo no rótulo do produto 35,98

Baixa 7.12 IBRAC promover concurso de cachaça 19,50

Fonte: elaborado pelos autores.

Considerações

A priorização das ações revela a preocupação principal dos agentes que é a alta informalidade no setor, que

leva à competição desigual. Observando-se as ações de alta prioridade, vemos que cinco de seis ações sugeridas

visam resolver de alguma maneira a questão da informalidade, com ações tanto na indústria como no mercado

consumidor, que passam pela questão da tributação, fiscalização e conscientização do consumidor. Atenção

foi dada também à implantação da indicação geográfica que visa favorecer o acesso ao mercado externo.

No bloco de ações que receberam grau médio-alto de prioridade nota-se ainda ações relacionadas à resolução

da questão da informalidade e também atuação no mercado externo. Foram apontadas também diversas ações

de articulação com outras instituições tais como APEX, Inmetro, vigilância sanitária, ministério público,

Confaz, ministérios, câmara setorial, SEBRAE, MDIC e MRE. Isso mostra a disposição e necessidade do setor

de ações nas mais diversas esferas, no entanto as ações listadas estão bastante genéricas e pouco claras, sendo

necessário um maior detalhamento do que podem contemplar. Tanto este trabalho de detalhar quanto a

articulação posterior com as instituições dependem fortemente de capacidade operacional da cadeia em termos

de recursos humanos e financeiros, e este deve ser o principal gargalo para que sejam executadas.

Com relação às ações de média-baixa e baixa prioridade, houve predominância de ações relacionadas à

assistência técnica, papel do IBRAC e fatores de produção. Chama atenção que a ação de pleitear uma alteração

na IN13/2005 para mudança na exigência de limites mínimos de congêneres não recebeu alta prioridade, no

entanto ela se mostra, conforme alguns agentes do setor, extremamente importante para o acesso ao mercado

externo, o que se torna uma ação coletiva extremamente importante e relativamente urgente se se tem a

intenção de alcançar maior participação no mercado internacional de bebidas.

11. A cadeia produtiva da cachaça: Momento atual e visão de futuro

A cadeia produtiva da cachaça já possui um histórico de muitas ações construídas. A constituição do IBRAC,

o desenvolvimento e desenrolar do Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça 2010 – 2015 no

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P E C – C a c h a ç a

77

âmbito da câmara setorial, o reconhecimento da cachaça como produto genuinamente brasileiro (indicação

geográfica) pelo mercado americano (principal importador em termos de valor agregado do produto – R$/litro)

demonstram o avanço que setor buscou e continua buscando em termos de organização e exploração do

potencial de mercado. Além disso, e a despeito de muita competição no mercado e rivalidade entre produtores

de diferentes processos produtivos, existe – observando-se o que foi construído no workshop –, um

considerável alinhamento entre todos em relação ao que é importante para o setor.

Se muito aconteceu, ainda há bastante por fazer. A inexistência de informações mais acuradas sobre a indústria

e mesmo sobre o mercado consumidor é desafiador para as estratégias individuais da cadeia produtiva, mas

principalmente para a construção de estratégias setoriais, sobretudo no pleito por políticas direcionadas ao

setor. E ainda, a discrepância entre o conhecimento entre os diferentes agentes e mesmo a interpretação errônea

sobre legislação demonstra a necessidade de criação e manutenção de canais de comunicação que promovam

a troca para nivelamento de conhecimentos básicos entre todos os produtores e consequentemente

consumidores.

Há tanto a fazer, quantos são os interessados para que seja feito. A lista de 46 ações sugeridas deve trazer

avanços inestimáveis à cadeia produtiva, na direção de maior coordenação e exploração de um mercado

nacional e internacional com potenciais ainda pouco explorados pelo setor. Mas, frente a isto, a percepção

declarada pelos agentes, falta identidade ao setor principalmente no que se refere a um organismo que o

represente e isto pode ser alcançado pelo fortalecimento do IBRAC entre na cadeia produtiva e para o mercado.

Tudo o que foi proposto e esta por vir só encontrará meios de acontecer caso o setor encontre formas de

financiamento (ação proposta número 8.1) e de convergência de interesses entre os produtores em um fórum

legitimo construído por todos.

Depreende de tudo que foi discutido ao longo dos dois dias de workshop e pelas ações que foram e estão sendo

desenvolvidas a seguinte visão de futuro da cadeia da cachaça:

Coordenada por uma instituição que encontra reconhecimento pela indústria e mercado consumidor

Capaz de buscar financiamento para as ações que se propõem

Alcançar mais consumidores no mercado nacional e internacional pelo fortalecimento e

reconhecimento da marca como um produto genuinamente brasileiro, de qualidade, com

características exclusivas e seguro.

Sugestão de frase:

“Tornar-se uma cadeia produtiva coordenada por uma instituição que a represente e que seja reconhecida pelo

mercado consumidor, com capacidade de alcançar o financiamento necessário para as ações a que se propõem.

Pretende alcançar mais consumidores no mercado nacional e internacional, pelo fortalecimento e

reconhecimento da marca cachaça como um produto genuinamente brasileiro, de qualidade, com

características exclusivas e seguro”.

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78

Apêndice

Casos Inspiradores de outras de bebidas alcoólicas no mundo

Nesta secção serão apresentados quatro casos de estratégias coletivas implementadas em outras indústrias de

bebidas alcoólicas e que podem servir de inspiração para o setor produtivo da cachaça. Os casos - indústria da

tequila mexicana; indústria argentina de vinho; indústria de produtores de uísque da Escócia; a indústria de

Champanhe francesa - buscam mostrar algumas s lições que cada uma das experiências traz para a cadeia da

cachaça. Os casos:

Os casos estão estruturados de forma a responder quatro questões, são elas: a) Qual era o problema/dificuldade

do setor?; b) Quem coordenou as ações?; c) O que foi feito em termos de ação privada, coletiva e/ou pública?;

e d)Qual foi o resultado destas ações? Subsequente a estas questões, será discutido de que forma cada caso

pode contribuir para as discussões da cadeia produtiva da cachaça.

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79

Caso 1: A indústria de Tequila mexicana

Qual era o

problema/dificulda

de do setor?

A produção de tequila se defrontava com disputa entre produtores (grandes e pequenos) por áreas

produtivas de agave na região atualmente denominada DOT (Denominación de Origen del

Tequila). Ademais, devido à crise econômica interna e a baixo apelo da bebida no mercado

externo fizeram com que a produção se reduzisse em 10% de 1980 a 1988.

Quem coordenou

as ações?

Em 1993 surge o CRT (Consejo Regulador del Tequila), instituição interprofissional que definiu

padrões de qualidade, características, indicação geográfica e de origem à bebida mexicana. O

CRT detém um mandato do governo para promover a qualidade, a cultura e o prestígio da bebida

nacionalmente e internacionalmente, tendo competência para verificar e certificar o cumprimento

da Norma Oficial da Tequila.

O que foi feito em

termos de ação

privada e/ou ação

coletiva e/ou ação

pública?

Além da governança corporativa do CRT envolver todos produtores de tequila de diferentes

portes, ele inclui produtores de agave, envasadores, intermediários e autoridades. O CRT ainda

comporta em sua estrutura diversos departamentos responsáveis pela verificação e certificação

de qualidade, garantia do produto terminado, e defesa da marca tequila no exterior.

Qual foi o

resultado destas

ações?

A partir de 1993, a cooperação entre agentes privados e destes com o Estado por meio do CRT

possibilitam um boom na produção de tequila (de menos de 104,3 milhões de litros/ano para mais

de 226.5 milhões litros/ano.

A efetivação do NAFTA (North America Free Trade Agreement), em 1994, e o reconhecimento

pela UE em 1997 também favoreceram as exportações, que saltaram de 64.6 milhões de

litros/ano para 172 milhões de litros/ano.

Vale destacar que recentemente tem ocorrido uma grande concentração na indústria, no qual

quatro empresas produziram cerca de 65% da tequila em 2005, e que grandes grupos

internacionais tem crescentemente investido no mercado produtor. Neste cenário, empresas

pequenas permanecem ativas, atuando preferencialmente em nichos específicos que demandam

produtos diferenciados com maior valor agregado.

Lições do caso da Tequila para a Cachaça

Além da inevitável semelhança com a cachaça, por seu uma bebida de um país em desenvolvimento, o caso

da tequila tem alguns elementos importantes para serem levados em consideração no planejamento estratégico

da cachaça. O mandato concedido pelo governo para o CRT administrar o nome “Tequila” somado a

organização do CRT envolvendo os produtores e sendo financiado por estes por meio de mensalidades

condizentes com seu porte, permitiu uma melhor gestão da cadeia produtiva da tequila. Esta gestão do CRT

propiciou um melhor controle de qualidade e de efetivação da Norma Oficial da Tequila. Além de resultar em

uma maior representação da tequila externamente de modo a alavancar tanto sua produção quanto exportação.

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80

Caso 2: A indústria Argentina de Vinho

Qual era o

problema/dificulda

de do setor?

Produção de vinho na Argentina era tradicionalmente voltada ao mercado interno com pouca

diferenciação. No final da década de 80, com a abertura do mercado e aumento do poder

aquisitivo da população argentina, que passou a importar vinho da europa, o a indústria entrou

em crise . A produção de vinhos argentinos era voltada, sobretudo, para ganhos em escala,

ocasionando, na maioria das vezes, queda na qualidade.

Quem coordenou

as ações?

Incentivo do governo (sobretudo, das províncias produtoras), somado a iniciativa de produtores

rurais (vinhedos) e grandes fabricantes de vinhos (adegas).

Movimento desencadeado pela ameaça dos produtos importados no mercado interno e colapso

do sistema de subsidio à produção rural.

O setor vinícola argentino pode ser visto como rede de clusters onde associações empresariais,

governo e instituições de apoio estão inseridas regionalmente e desenvolvem ações alinhadas a

um contexto de interesse nacional, cuja representação é dada pela Corporación Vitivinícola

Argentina (COVIAR) e Instituto Nacional de Vitivinicultura (INV).

O que foi feito em

termos de ação

privada e/ou ação

coletiva e/ou ação

pública?

Característica que marca o recente processo de reestruturação do setor vinícola argentino é a

mudança no foco de produtividade para qualidade

(vinhos de maior sofisticação).

As ações coletivas/ privadas (locais e nacionais) podem ser resumidas em:

Capacitação e captura de Recursos Humanos;

Criação de uma identidade e imagem para o vinho argentino;

Aprimoramento técnico-produtivo e inovação;

Incentivo à integração e articulação da cadeia produtiva;

Desenvolvimento de ações sinérgicas com setores de turismo, restaurantes e hotelaria;

Regulamentação e controle da produção;

Revisão das normas e leis;

Qual foi o

resultado destas

ações?

O vinho argentino tem recuperado espaço no mercado domestico, chegando apresentar ligeiro

aumento no consumo per capita (8º consumidor mundial, 32º em população, e 59º em PIB per

capita).

Contudo, o resultado que mais chama a atenção vem do reconhecimento da Argentina como uma

das principais produtores de vinhos (finos) mundial, 5ª posição do ranking.

Em um período inferior a 15 anos, as exportações aumentaram de 2% para 6% da produção

nacional. A meta estabelecida pelo Planejamento Estratégico COVIAR é que as exportações

argentinas representem, em 2020, 10% das exportações mundiais de vinho (atualmente: 2%).

Estima-se que o setor tenha atraído US$ 500 milhões em investimentos entre 1992 e 2002;

Lições do caso do Vinho Argentino para a Cachaça

A maior parte dos esforços despendidos coletivamente convergem na construção e reconhecimento de uma

identidade para o vinho argentino como um todo (qualidade e reputação). Esse direcionamento não

marginalizou as características particulares de cada região produtora. A experiência argentina mostra que é

possível a construção de uma identidade para um produto ao nível nacional respeitando diferenças regionais

ou locais.

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81

Caso 3: A indústria produtora de uísque Escocês

Qual era o

problema/dificulda

de do setor?

Até 2009, não havia regras formais para a rotulagem, envase e comunicação do uísque na Escócia.

Somente para a forma de produção do uísque e que foram estabelecidas em 1988. Os uísques

“misturados” (blended) se tornaram uma alternativa frente à escassez de “single malt” em função

de demanda aquecida e a ausência regras causaram atritos na indústria. Isto ocorreu pois, apesar

de haver um entendimento informal entre os agentes sobre o que era um single malt e um blended

whisky, as indústrias podiam rotular com certa liberdade. Essa ausência de regras claras levou a

um conflito importante entre o fabricante de Cardhu´s (um uísque famoso) e uma parcela

substancial da indústria escocesa de single malt whisky.

Quem coordenou

as ações?

A associação escocesa de produtores de uísque (Scotch Whisky Association – SWA26),

instituição criada em 1912 e que regula as regras para produção de uísque mediou as discussões

sobre a questão entre os agentes da indústria. Neste caso, toda a ação foi coordenada pela

associação em torno de conversas amigáveis.

O que foi feito em

termos de ação

privada e/ou ação

coletiva e/ou ação

pública?

As discussões levaram a um acordo e o produtor do uísque Cardhu, retirou o produto do mercado.

Os depoimentos27 a seguir dão o tom de como a questão foi resolvida e também da união da

indústria a despeito das diferenças do produto final.

“Eu acho que inicialmente houve um pouco de constrangimento, mas depois tudo ficou certo.

Algumas insatisfações surgiram...mas somos todos parte da SWA e sentamos todos juntos na

mesma mesa...ainda temos trabalho a fazer e ainda temos coisas pelas quais precisamos brigar,

como um corpo único, superando o incidente do uísque Cardhu”.

“Do ponto de vista da produção nos temos nossa amizade onde todos ajudam uns aos outros. Eu

acho que no que concerne o marketing e as vendas é onde o negócio fica um pouco perverso. É

onde a competição acontece. No entanto eu posso ir e conversar com outras destilarias a respeito

do que estão fazendo, fazer perguntas sobre a produção e caminhar pela planta industrial com

eles”.

Qual foi o

resultado destas

ações?

Em 2009 - possivelmente como um reflexo da ausência de regras adequadas e recorrência de

conflitos como o do Whisky Cardhu -, foram estabelecidas regras claras pela SWA sobre como

deve ser a rotulagem, envase e comunicação do uísque escocês. As regras eliminam inclusive a

possibilidade de desentendimento do mesmo gênero do caso do uísque Cardhu.

Lições do caso do Whisky para a Cachaça

O uísque Escocês pode assumir diferentes formas de produção no que concerne seus insumos (malte e cereais

não malteados) e misturas (puros, misturas de uísques malteados ou de não malteados e/ou misturas com

uísques de várias destilarias). Apesar das diferenças substanciais entre os produtos e a rivalidade entre os

produtores de um tipo de uísque de e outro (principalmente no mercado), a associação escocesa dos produtores

de uísque conseguiu junto com os integrantes da indústria, criar uma forma de rotulagem dos diferentes

produtos, que atendem aos interesses de todo o setor.

26 Scotch Whisky Association – SWA (http://www.scotch-whisky.org.uk/).

27 MUNSHI, M. V. A Sociocognitive Perspective of Industry Level Collective Stakeholder Action: The Case of The

Scotch Whisky Industry. City University London, United Kingdom.

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82

Caso 4: A indústria francesa de Champanhe

Qual era o

problema/difi

culdade do

setor?

Produtores de diversos países passaram a produzir espumantes com o nome de Champanhe. Ampla maioria

entre os consumidores não conseguia distinguir as diferenças entre espumantes e Champanhe

Quem

coordenou as

ações?

A primeira ação a defender a marca Champagne, foi no ano de 1993 através do acordo sobre Aspectos dos

Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) da Organização Mundial do

Comércio (OMC) que foi efetivado em 2005. Entretanto o acordo não definiu bem a venda do genuíno

Champagne Francês no mercado americano. O uso da nomenclatura Champagne utilizada pelos EUA era

vendido de forma a entender que tanto os Chamapgne francês quanto o americano tinham a mesma origem,

o que não era verídico.

O que foi feito

em termos de

ação privada

e/ou ação

coletiva e/ou

ação pública?

A estratégia utilizada pelo Comité Interprofessionnel du vin de Champagne (CIVC)28,foi na diferenciação

do produto em relação aos vinhos espumantes americanos. Outra estratégia foi à coordenação de todo o

sistema agrícola, produção, distribuição e promoção dos vinhos do champanhe.

CIVC tomou medidas enérgicas para a proteção da marca champanhe nos EUA, pressionando o governo a

desenvolver uma legislação mais solida a favor da bebida.

O CIVC também desenvolveu Campanha de marketing com o objetivo de conscientiza o consumidor sobre

o produto e a aumentar o Market share no mercado americano. Foram desenvolvidas campanhas de

marketing de caráter informativo e, banners, internet e m degustações, sempre enfatizando a genuidade do

champanhe frances

Qual foi o

resultado

destas ações?

As ações de marketing trouxeram respostas positivas para a cadeia produtiva do Chamapgne no mercado

americano, tornou o consumidor mais ciente das diferentes nomenclaturas, aumentando o consumo em 34%.

Entre os anos de 2009 e 2011, o Champagne francês teve um aumento de 85% nas venda no mercado

americano. No ano de 2006, foi sancionado uma legislação para proibir o uso do nome “ Chamapgne”, por

outros produtores de vinho que não fossem da região original.

Lições do caso da Champanhe

O caso da Champanhe francês é de grande valia quando comparado ao setor da cachaça no Brasil.

Primeiramente os franceses procuraram a definir bem os seus direitos de propriedade relacionada à

marca procurando promover identidade ao produto produzido na França. As ações foram coordenadas pelo

CIVC (Comité Interprofessionnel du vin de Champanhe ) desenvolvendo campanhas de marketing valorizando

o produto, com isso mudaram o posicionamento do setor perante os consumidores.

As ações do CIVC foram essenciais para identificação (marca) e padronização da Champanhe (francesa) e

desenvolvimento da cadeia como todo coordenando os elos de produção, distribuição e promoção dos vinhos

de Champanhe. O que serve de lição para a cachaça, podemos destacar o papel do agente institucional o CIVC

(Comité Interprofessionnel du vin de Champagne ) que tomou frente a todos os problemas ligados ao setor.

Coordenando ações estratégicas relacionadas ao setor.

28 É uma associação voltada para os interesses dos agentes envolvidos no setor O seu principal

objetivo é promover a Champagne e os interesses ligado ao desenvolvimento econômico, técnico e

ambiental, melhoria contínua da qualidade, gestão da indústria, marketing e comunicações, bem como

a promoção e proteção da Champanhe em todo o mundo.

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Considerações Finais

Por meio da avaliação dos os casos das bebidas apresentados anteriormente, é possível refletir

sobre ações coletivas que a cadeia da cachaça poderia se inspirar para se posicionar melhor no

mercado de bebidas. O caso da tequila ressalta a importância de uma organização, no caso CRT

(Consejo Regulador del Tequila), como forma de gestão da marca “Tequila” e representação dos

produtores. Estes ao financiarem o CRT conseguiram obter uma melhor gestão da marca tequila

e das práticas de qualidade, impulsionando as exportações da bebida.

Nesta linha, o caso do vinho mostra a importância de ações de valorização da bebida nacional

visando a consolidação do “vinho Argentino”, apesar das particularidades de cada tipo no que

concerne à uva utilizada, à região de produção, à maturação etc. O caso do uísque Escocês mostra

como a ação coletiva propiciou a valorização da bebida nacional mesmo comportando diferenças

entre a forma de produzir o produto, no que diz respeito aos diferentes tipos de cereais) e

“blends”, que dão a cada uísque características particulares. O caso do vinho argentino e uísque

nos ensinam que é possível implementar uma estratégia de marca conjunta, apesar das particulares

de cada bebida produzida.

Por fim, o caso da Champanhe se mostra relevante como forma de articulação entre os produtores

para valorizar a marca nacional “Champagne” frente a concorrentes externos. A diferenciação de

produto por sua origem favoreceu a todos, apesar do pequeno porte dos produtores e das

diferenças em seus processos produtivos. Estima-se que a organização dos produtores possa ser

uma forma de conjuntamente atuarem de modo a perpassar todas estas estratégias, favorecendo a

produção, e comercialização interna e externa da cachaça.

Anexo 1

Os modelos de determinação de características pertinentes para a ocorrência de consumo de

cachaça foram definidos com base na teoria estudada e nas entrevistas com agentes do setor. Para

testar as hipóteses relacionadas a cada uma das características apontadas foi escolhido o modelo

de regressão logística, regressão probabilística e regressão tobit, dado que estes se configuram

como os mais adequados quando se trabalha com uma variável dependente discreta binária -

variável dependente limitada (WOOLDRIDGE, 2006). Vale destacar que o último modelo (tobit)

é ideal para problemas com solução de canto, onde a proporção da variável dependente está

desbalanceada, como é o presente caso (21,8% consumidores frente a 78,1% não consumidores).

Foi realizada em cada sequencia uma regressão Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) de modo

a compararem-se também os resultados deste modelo.

No presente modelo a variável dependente é consumo de cachaça, sendo = 1 o valor daqueles que

consomem cachaça, e = 0 aqueles que não consomem. É importante destacar que trabalhou-se

com um universo de 500 respondentes, dos quais todos eram maiores de 18 anos e consumiam

algum tipo de bebida alcóolica.

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De acordo com as pesquisas realizadas estima-se que o consumo de cachaça possa ocorrer por

três vetores de influência: i) características da bebida cachaça (CC); ii) perfil pessoal (PP); e

frequência de consumo de outras bebidas alcóolicas (FB). Vale destacar que estes três blocos

foram desmembrados em uma série de variáveis a serem analisadas no modelo proposto. Abaixo

segue o modelo proposto para a função logística.

P(Consome Cachaça = 1| Xi) = F(β0 + γ1CCi + γ2PPi + γ3FBi + ei)

Onde,

CC = vetor de variáveis de características da bebida cachaça (percepção de qualidade da bebida;

percepção de impacto à saúde que a bebida gera; percepção do status da bebida;

percepção sensorial agradável (relativo a características organolépticas); percepção cultural

(relacionado a associação de cachaça como elemento da cultura brasileira); preço (avaliação se

preço é importante na decisão de consumo).

PP = vetor de variáveis do perfil pessoal do respondente (sexo; idade; escolaridade; estado civil

e renda mensal).

FB = vetor de variáveis de frequência de consumo de outras bebidas alcoólicas (Frequência de

consumo de Vodka (destilado); Whisky (destilado); Tequila (destilado); Vinho (fermentado);

Cerveja ou Chopp (fermentado); e Outras bebidas alcóolicas).

Na Tabela 4 são apresentados os resultados dos modelos:

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Tabela 4 - Resultados dos Modelos Econométricos para Consumo de Cachaça

OLS Logit Probit Tobit OLS Logit Probit Tobit OLS Logit Probit Tobit

VARIABLES

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Consome_Ca

chaça

Qualidade 0.0367* 0.225* 0.141** 0.162** 0.0345* 0.211* 0.134* 0.148* 0.0307* 0.255* 0.163* 0.135**

(0.0187) (0.123) (0.0708) (0.0806) (0.0187) (0.125) (0.0725) (0.0797) (0.0168) (0.145) (0.0834) (0.0679)

Saúde 0.0214 0.150 0.0781 0.0871 0.0160 0.122 0.0609 0.0668 0.0252 0.196 0.0958 0.0790

(0.0175) (0.111) (0.0637) (0.0726) (0.0180) (0.117) (0.0673) (0.0748) (0.0159) (0.135) (0.0765) (0.0629)

Status 0.0356 0.292* 0.149 0.171 0.0321 0.248 0.127 0.138 0.0240 0.274 0.152 0.0999

(0.0236) (0.176) (0.0955) (0.109) (0.0239) (0.179) (0.0982) (0.109) (0.0212) (0.204) (0.114) (0.0921)

Sensorial 0.0822*** 0.722*** 0.373*** 0.443*** 0.0896*** 0.829*** 0.430*** 0.496*** 0.0523*** 0.704*** 0.372*** 0.326***

(0.0210) (0.179) (0.0912) (0.108) (0.0212) (0.189) (0.0967) (0.111) (0.0191) (0.211) (0.111) (0.0921)

Cultural -0.00158 -0.198 -0.0464 -0.0486 0.00892 -0.128 -0.0157 -0.0181 -0.0280 -0.404* -0.186 -0.142

(0.0260) (0.208) (0.108) (0.123) (0.0264) (0.214) (0.112) (0.123) (0.0239) (0.245) (0.134) (0.106)

Preço 0.0583*** 0.389*** 0.231*** 0.268*** 0.0646*** 0.428*** 0.246*** 0.277*** 0.0623*** 0.592*** 0.307*** 0.249***

(0.0181) (0.125) (0.0700) (0.0807) (0.0181) (0.130) (0.0714) (0.0802) (0.0161) (0.156) (0.0821) (0.0676)

Homem 0.0994*** 0.690*** 0.401*** 0.450*** 0.0787** 0.835*** 0.419** 0.339**

(0.0349) (0.248) (0.141) (0.159) (0.0318) (0.311) (0.171) (0.140)

Idade 0.000305 -0.000786 0.000507 0.000252 0.00368*** 0.0319** 0.0179** 0.0143**

(0.00151) (0.0106) (0.00616) (0.00680) (0.00138) (0.0137) (0.00755) (0.00605)

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Escolaridade -0.0139 -0.0940 -0.0482 -0.0507 -0.0101 -0.0598 -0.0325 -0.0214

(0.00874) (0.0591) (0.0339) (0.0375) (0.00799) (0.0805) (0.0443) (0.0358)

Solteiro -0.0170 -0.201 -0.0991 -0.0997 -0.0485 -0.536 -0.280 -0.208

(0.0431) (0.303) (0.176) (0.195) (0.0384) (0.378) (0.209) (0.170)

Renda_Mensal -0.00118 -0.0197 -0.0106 -0.0132 -0.00466* -0.154 -0.0693 -0.0511

(0.00279) (0.0408) (0.0213) (0.0248) (0.00249) (0.172) (0.0941) (0.0771)

VodkaFq 0.0273** 0.231** 0.137** 0.112**

(0.0126) (0.110) (0.0618) (0.0510)

WhiskeyFq 0.0286** 0.271** 0.143** 0.126**

(0.0134) (0.116) (0.0662) (0.0560)

TequilaFq 0.113*** 0.766*** 0.429*** 0.351***

(0.0153) (0.130) (0.0723) (0.0609)

VinhoFq 0.00346 0.0658 0.0299 0.0270

(0.00918) (0.0884) (0.0500) (0.0416)

CervejChoppFq 0.00196 0.0252 0.0243 0.0240

(0.00887) (0.0936) (0.0536) (0.0442)

OutrasFq 0.0204 0.111 0.0569 0.0465

(0.0168) (0.139) (0.0762) (0.0604)

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Constant -0.501*** -6.381*** -3.781*** 0.268*** -0.543*** -6.702*** -3.966*** -0.0132 -0.541*** -9.056*** -5.173*** -4.324***

(0.116) (0.900) (0.503) -4.398*** (0.135) (1.027) (0.586) -4.462*** (0.121) (1.334) (0.741) (0.656)

Observations 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500

R-squared 0.139 0.151 0.150 0.114 0.161 0.176 0.174 0.131 0.351 0.383 0.385 0.288

Standard errors in parentheses *** p<0.01, **

p<0.05, * p<0.1

Fonte: elaborado pelos autores.

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que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a padronização e a fiscalização

de bebidas. DOU. Brasília, 2009.

_______. Decreto n° 4.851, de 2 de outubro de 2003. Altera dispositivos do Regulamento aprovado

pelo Decreto nº 2.314, de 4 de setembro de 1997, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o

registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. DOU, Brasília 2003.

______. Decreto n° 6323 de 27 de dezembro de 2007 - Dispõe sobre a agricultura orgânica, e dá outras

providências. DOU, Brasília, 2007.

_______. Decreto nº 2.018, de 1º de outubro de 1996. Regulamenta a Lei nº 9.294, de 15 de julho de

1996, que dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígenos, bebidas alcoólicas,

medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do art. 220 da Constituição. DOU,

Brasília 1996.

_______. Decreto nº 2.314, de 4 de setembro de 1997. Dispõe sobre as restrições ao uso e a

propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas,

nos termos do § 4º do artigo 220 da Constituição Federal. DOU, Brasília 1997.

_______. Decreto nº 3.510, de 16 de junho de 2000. Altera dispositivos do Regulamento aprovado

pelo Decreto no 2.314, de 4 de setembro de 1997, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o

registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. DOU, Brasília 2000.

_______. Decreto nº 4.851 de 2 de outubro de 2003. Altera dispositivos do Regulamento aprovado

pelo Decreto no 2.314, de 4 de setembro de 1997, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o

registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. DOU, Brasília, 2003.

_______. Lei nº 10.674, de 16 de maio de 2003. Obriga que os produtos alimentícios comercializados

informem sobre a presença de glúten. DOU, Brasília 2003.

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_______. Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994. Dispõe sobre a padronização, a classificação, o

registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas, autoriza a criação da Comissão

Intersetorial de Bebidas e dá outras providências. DOU, Brasília 1994.

_______. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Decreto n. 2.314, de 04 de setembro

de 1997. Regulamenta a Lei No 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a

classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. DOU, Brasília 1997.

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_______. Ministério da Casa Civil. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.990-29, de 10 de março de 2000.

Altera a legislação do imposto de renda relativamente à incidência na fonte sobre rendimentos de

aplicações financeiras, inclusive de beneficiários residentes ou domiciliados no exterior, à conversão,

em capital social, de obrigações no exterior de pessoas jurídicas domiciliadas no País, amplia as

hipóteses de opção, pelas pessoas físicas, pelo desconto simplificado, regula a informação, na

declaração de rendimentos, de depósitos mantidos em bancos no exterior, e dá outras providências.

DOU, Brasília, 2000.

_______. Ministério da Fazenda. Instrução Normativa SRF nº 504, de 03 de fevereiro de 2005. Dispõe

sobre o registro especial a que estão sujeitos os produtores, engarrafadores, as cooperativas de

produtores, os estabelecimentos comerciais atacadistas e importadores de bebidas alcoólicas e sobre o

selo de controle a que estão sujeitos esses produtos, e dá outras providências. DOU, Brasília, 2005.

_______. Ministério da Fazenda. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o

Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. . DOU, Brasília, 2006.

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