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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA A CADEIA PRODUTIVA DA CACHAÇA PEC CACHAÇA

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Planejamento Estratégico para a Cadeia Produtiva

da Cachaça

PEC – Cachaça

RELATÓRIO FINAL

São Paulo, 2014

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Coordenadores: Maria Sylvia Macchione Saes

Fernando De Cesare Kolya

Pesquisadores Seniores: Rubens Nunes

Rúbia Nara Rinaldi Leão de Sousa

Vivian Lara dos S. Silva

Pesquisadores Juniores: Eder de Carvalho

Fausto Makishi

Leandro Simões Pongeluppe

Estagiários: Lucas Ruela de Oliveira Mosca

Melyssa Guimarães

Silvia Melo Neves

Center for Organization Studies

Universidade de São Paulo

Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 – Sala 16 C

CEP 05508-900 – Cidade Universitária – São Paulo – SP

www.cors.usp.br

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Palavras de

Vicente Bastos

Presidente da Diretoria Executiva do IBRAC

Palavras de

Margareth Cesar Rezende Pereira Lima

Presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça

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Conteúdo

1 Introdução 5

2 Objetivo 8

3 Cadeia Produtiva da Cachaça 8

4 Ambiente Institucional 13

5 Ambiente Tecnológico 18

6 Ambiente Organizacional 23

7 Ambiente Competitivo 29

8 Entrevistas com agentes do setor 34

9 Pesquisa com consumidores 49

10 Competitividade da Cadeia Produtiva da Cachaça 57

11 Workshop de Planejamento estratégico da cadeia produtiva da cachaça 60

12 A Cadeia Produtiva da Cachaça: Momento atual e visão de futuro 72

13 Casos Inspiradores de outras de bebidas alcoólicas no mundo 74

14 Recomendações para a cadeia produtiva da cachaça 84

15 Considerações finais e Próximos passos para Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça 90

Anexo I – Leis, Decretos, Instruções Normativas, Portarias e Resoluções da Cadeia Produtiva da Cachaça 92

ANEXO II 94

Referências 97

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Explicação

“Meu verso é minha consolação.

Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua, cachaça.

Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,

folha de taioba, pouco importa: tudo serve.

Para louvar a Deus como para aliviar o peito,

queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos

é que faço meu verso. E meu verso me agrada.

Meu verso me agrada sempre...

Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota

mas não é para o público, é para mim mesmo essa cambalhota.

Eu bem me entendo.

Não sou alegre. Sou até muito triste.

A culpa é da sombra das bananeiras de meu pai, esta sombra mole,

preguiçosa.

Há dias em que ando na rua de olhos baixos

para que ninguém desconfie, ninguém perceba

que passei a noite inteira chorando.

Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,

de repente ouço a voz de uma viola...

saio desanimado.

Ah, ser filho de fazendeiro!

A beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrego

vagabundo,

é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.

E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.

Aquela casa de nove andares comerciais

é muito interessante.

A casa colonial da fazenda também era...

No elevador penso na roça,

na roça penso no elevador.

Quem me fez assim foi minha gente e minha terra

e eu gosto bem de ter nascido com essa tara.

Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.

A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro

e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.

O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.

Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,

lê o seu jornal, mete a língua no governo,

queixa-se da vida (a vida está tão cara) e no fim dá certo.

Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.

Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?

De Alguma poesia (1930), Carlos Drummond de Andrade

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1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, as cadeias agrícolas brasileiras sofreram profundas modificações

no ambiente competitivo mundial. Tais mudanças refletiram no aumento da atratividade do

mercado brasileiro, resultando no ingresso de grandes empresas no mercado interno e a

configuração de um novo padrão de competição. Essa nova dinâmica aponta novas

perspectivas para vários setores que nasceram totalmente voltados para o mercado interno,

com o surgimento de iniciativas de inserção de produtos de maior valor agregado no mercado

interno e mundial.

Esse é o caso da cachaça brasileira. Ao lado de estratégias voltadas à produção de

cachaça com qualidade especial, o setor se depara com questões institucionais importantes

como o reconhecimento internacional da cachaça como bebida exclusivamente produzida no

Brasil. Os esforços empreendidos pelo Instituto Brasileiro da Cachaça - IBRAC e pela

Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça para que isso ocorresse trazem a medida da

importância das ações coletivas para mudar o posicionamento competitivo de um setor.

Parte da dificuldade de formular ações coletivas reside na heterogeneidade do setor,

uma vez que grandes grupos empresariais coexistem com pequenos produtores familiares,

quase sempre marcados pela baixa capacitação técnica e gerencial e também produtores com

produção informal e de pequena, média ou grandes escalas.

Frente a essa complexidade, parece evidente que a análise de mercado, a análise de

ambiente competitivo e a proposição de ações coletivas devam considerar o todo (ou seja, o

setor), mas também as particularidades das partes (como estratégias de produtores de

qualidade / origem de uma mesma região) que compõem esse universo da Cadeia Produtiva

da Cachaça.

Este relatório é resultado de um projeto desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa CORS

com a colaboração do IBRAC - Instituto Brasileiro da Cachaça e APEX - Agência Brasileira

de Promoção de Exportações e Investimentos. O Projeto de Planejamento Estratégico para a

Cadeia Produtiva da Cachaça, PEC-Cachaça, visa o delineamento de uma Agenda Positiva,

constituída de ações coletivas, políticas públicas e privadas, para o fortalecimento e

desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cachaça. Tal proposta alinha-se às discussões

realizadas no âmbito da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça, sob a

coordenação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para a comunicação e

promoção da cachaça no mercado interno e, principalmente, no exterior.

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A primeira fase do PEC-Cachaça contemplou a análise dos ambientes institucionais,

organizacional, tecnológico e competitivo que envolve a Cadeia Produtiva da Cachaça. Em

complemento a esse abrangente estudo em bases nacionais e internacionais, foram conduzidas

entrevistas com diversos agentes do setor a partir das quais foram levantadas uma série de

questões que podem ser compreendidas como pontos de mudança, ruptura, conflito ou criação

para competitividade do setor.

Uma secção discute a competitividade da cadeia, revelada pelos resultados passados e

os desafios para a competitividade futura. Na sequência são apresentados os resultados do

workshop realizado com representantes institucionais e empresariais dos diferentes atores da

Cadeia Produtiva da Cachaça, no qual foi discutido um conjunto de ações, por sua vez,

voltadas a construção de uma agenda positiva para cadeia produtiva da cachaça. Por fim a

última parte trás uma discussão sobre o momento atual da cadeia da cachaça e visão de futuro.

A metodologia na qual se baseou o presente trabalho assume que a competitividade de

uma cadeia produtiva está condicionada pelas relações entre os segmentos produtivos e

influenciada por quatro níveis distintos de ambientes: i) institucional, que corresponde ao

conjunto de relações comerciais e financeiras que se estabelecem entre todos os estágios de

transformação do produto e que está regido por regras que impõem limites e influenciam as

trocas; ii) tecnológico, que diz respeito ao estágio de desenvolvimento técnico, uma vez que o

sistema produtivo se constitui de uma sucessão de operações de transformações dissociáveis,

separadas e ligadas entre si por encadeamentos tecnológicos. O “espaço tecnológico” é

suscetível à transformação em função do estado de conhecimento técnico dominante e de

modificações organizacionais das relações de trabalho; iii) organizacional, que se refere a

possibilidade de estruturação de ações coletivas e seu papel na obtenção de bens que suprem

as falhas de mercado, tais como a provisão de informações (de preços, tecnologia, projeções

de oferta e demanda, estatísticas, prospecção de novos mercados) na criação de padrões de

qualidade e normas técnicas e/ou na modificação das regras do jogo em benefício do setor

(lobby); iv) competitivo, relacionado ao conjunto de ações econômicas que regem a

organização dos meios de produção e asseguram as articulações das operações entre seus

segmentos em função do grau de interação entre as empresas de cada segmento. Dentro das

possibilidades de escolha, as empresas podem adotar basicamente estratégias de diferenciação

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ou de custo, para isso adotam relações - integração vertical, contratos relacionais ou formais,

com seus clientes e fornecedores que qualificam a rede de trocas.1

O Quadro1 apresenta as variáveis chaves de análise e as questões que surgem em cada

um dos ambientes de interesse competitivo para a cadeia da cachaça. A caracterização dos

ambientes se baseia nos principais segmentos da cadeia produtiva apresentada na Seção 3 do

trabalho.

Quadro 1: Ambientes de Interesse e Variáveis chaves de Análise

1 Abordagem teórica baseada em Farina, Azevedo e Saes (1997).

•Sistema legal (câmbio, juros, impostos, barreiras comerciais)

•Regulamentações (Leis Ambientais)

•Tradições e costumes (educação, cultura de negociação)

•Sistema Político

•Políticas Setoriais governamentais

Ambiente Institucional

Quais são as regras institucionais que trazem oportunidades /

desafios para a cadeia da cachaça?

•Trajetória tecnologicas

•Estágio da difusão (inovações radicais / incrementais)

• Desenvolvimento de novas soluções tecnológicas

Ambiente Tecnologico

Qual o paradigma tecnológico dominante? Qual é o estágio

de difusão das inovações? Quais as implicações para o

setor?

•Organizações corporativas

•Bureaus Públicos e privados

•Institutos de Pesquisas

•Políticas Setoriais Privadas

Ambiente Organizacional

Quais as ações coletivas que a cadeia da cachaça poderia adotar para modificar as regras do jogo em

benefício do setor? Quais os bens coletivos poderiam ser supridos?

•Estrutura da indústria

•Padrões de concorrência: commodities X produtos diferenciados

•Característica do produto: frequência de consumo; bens substitutos etc.

Ambiente Competitivo

Como a competição proporciona lucros para o setor? Quais estratégias para a cadeia lidar com concorrentes e crescer no mercado? Como obter superioridade competitiva?

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2 OBJETIVO

O presente relatório tem como objetivo central apresentar uma análise dos ambientes

institucionais, organizacionais, tecnológicos e competitivos que circunscrevem a cadeia

produtiva da cachaça e dos principais pontos de melhoria e ruptura identificados nas

entrevistas conduzidas com diferentes agentes do setor. Pretende-se, com isso, subsidiar o

delineamento de ações coletivas (agenda positiva) em vista a criação de vantagens

competitivas para a Cadeia Produtiva da Cachaça.

Antes dessa análise é necessário caracterizar o objeto de análise, ou seja, a cadeia

produtiva da cachaça.

3 CADEIA PRODUTIVA DA CACHAÇA

O ponto de partida para o presente estudo é a cadeia produtiva da cachaça, entendida

como sequência de operações unitárias (etapas do processo que podem ser dissociadas umas

das outras), que vão desde o plantio da cana-de-açúcar até a comercialização da cachaça,

ligadas entre si por um encadeamento técnico, bem como o conjunto de relações comerciais e

financeiras que estabelecem um fluxo de troca entre fornecedores e clientes.

Característica marcante do setor de cachaça, que, por vezes, desafia uma representação

simplificada do tecido de interações organizacionais que o constitui, é a heterogeneidade no

que diz respeito à escala de produção dos seus atores e as estruturas de governança adotadas

por cada empresa. Existem empresas integradas verticalmente em diferentes níveis e empresas

especializadas em um único segmento. A Cadeia Produtiva da Cachaça pode ser vista como

um grande mosaico de empresas de diferentes portes e de diferentes formas de coordenação,

vertical e horizontal.

A Figura 1 representa de forma esquemática os principais segmentos da Cadeia

Produtiva da Cachaça considerados no presente estudo. A produção de cachaça está dividida

em três principais segmentos ou o que se denomina o núcleo da cadeia: produção de cana-de-

açúcar, produção de cachaça, envasilhadores, padronizadores e canais de distribuição

(separados conforme atuação em mercado interno e mercado internacional). Não menos

importantes são os fornecedores de insumos e implementos agrícolas, fornecedores de

embalagens e agentes facilitadores, entendidos como empresas e instituições que exercem

funções relevantes para o setor (empresas de transporte, publicidade, seguros, bancos,

instituições de pesquisa e desenvolvimento etc.) e atores institucionais (governo, IBRAC,

associações de produtores e intersetoriais).

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A produção agrícola de cana-de-açúcar, sobretudo a de grande escala, pode sofrer

influência do mercado de açúcar e etanol. Em grandes quantidades o setor da cachaça

concorre com grandes grupos sucroalcooleiros na obtenção de matéria-prima (cana-de-açúcar

ou até mesmo etanol produzido em propriedades agrícolas equipadas com equipamentos de

destilação de pequeno e médio portes). Em escalas menores, a cana-de-açúcar deixa de ser

interessante (em termos de custo de negociação) para grandes usinas sucroalcooleiras.

Adicionalmente é preciso lembrar que a cana apresenta especificidade locacional, ou

seja, ela somente será processada próxima ao local onde foi cultivada. No caso da cachaça, o

tempo de espera entre a colheita e a moagem interferem diretamente na qualidade do produto

final (PEREIRA; ROSA; FARIA, 2006; SOUZA et al., 2013). O cultivo da cana-de-açúcar

para a produção de cachaça geralmente é feito pelo próprio produtor quando em pequena

escala de produção da cachaça, podendo este engarrafá-la ou comercializá-la a granel e numa

produção em média ou grande escala são necessários outros fornecedores de cana para atender

a demanda de produção da destilaria. Ao contrário da cana, a cachaça pode ser armazenada

por tempo indeterminado e transportada em longas distâncias. Grandes engarrafadores, por

exemplo, podem adquirir cachaças em diferentes localidades do país.

Existe um número muito grande de produtores que fabricam cachaça em equipamentos

de destilação descontínuos, comumente denominados de alambiques em volumes muito

pequenos (100 a 2500 litros de cachaça mensais). Esses produtores utilizam, muitas vezes,

mão-de-obra familiar e tem grande dificuldade de inserir seus produtos no mercado (por

questões legais, técnicas, gerenciais e econômicas). O volume de cachaça negociado com

engarrafadores, distribuidores e varejistas pode ser considerado uma barreira para pequenos

produtores.

Produtores de pequena escala podem recorrer ao cooperativismo2 como forma de

ampliar suas margens de lucro na negociação da bebida com as envasilhadoras. Também é

possível que cooperativas regionais engarrafem a cachaça e a comercializem com marca própria.

Contudo, ações cooperativas na gestão de canais de distribuição e logística (distribuição própria)

ainda são pouco expressivas.

Pequenos produtores com marcas consolidadas podem recorrer à produção de cachaça

em seu entorno como forma de responder aumentos na demanda. Engarrafadores de maior

2 A formação de cooperativas e associações entre produtores representa uma alternativa para captação de

recursos, melhoria de qualidade na produção, marketing, acesso a informações de mercado e novas tecnologias,

negociação com fornecedores, prospecção de mercado e desenvolvimento de estratégias de diferenciação local

(VERDI, 2005).

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porte normalmente recorrem a cooperativas e fornecedores pré-qualificados como forma de

abastecimento. A padronização e o envelhecimento em tonéis de madeira podem ser vistos

como práticas tecnológicas utilizadas para uniformizar e agregar valor, respectivamente, ao

produto final.

A venda fracionada comumente denominada venda em dose da cachaça em bares,

restaurantes e boates, locais conhecidos por “pontos de dose”, assumem um papel importante

na cadeia de distribuição da bebida. Sobre isso, esforços individuais e coletivos têm

convergido no sentido de buscar agregar valor a cachaça no ponto de consumo. Exemplos

podem ser vistos na criação e divulgação da “Carta de Cachaças” pela Associação

Pernambucana de Produtores de Aguardente de cana e Rapadura (APAR, 2013) e na recente

parceria firmada pelo IBRAC e SENAC para formação de especialistas, ou “sommeliers de

cachaça” (IBRAC, 2013).

Em alguns casos a venda direta, através de comércio eletrônico ou loja própria, serve

de alternativa para comercialização da cachaça produzida em pequenos alambiques. Alguns

produtores têm desenvolvido parcerias pontuais com bares, restaurantes e lojas especializadas

para vender e divulgar sua cachaça. Outra alternativa que vem crescendo e pode ser

interessante para pequenos e médios produtores é o turismo associado a produção de cachaça.

A participação de grandes grupos de produção e comercialização de bebidas, nacionais

e internacionais como a Diageo e a Campari, ajudam a inserção da cachaça em grandes redes

varejistas e em bares e restaurantes. Essas empresas, além de forte investimento em

publicidade, utilizam de amplo portfólio de produtos e canais de distribuição abrangentes para

colocar seus produtos, incluindo a cachaça, em diferentes pontos de venda, inclusive em

camadas sociais mais altas, onde o produto não tinha grande penetração e consumo em todo

território e, até, internacionalmente.

Na Figura 1, as setas indicadas com T1 e T2 representam, respectivamente, a aquisição

de insumos agrícolas e maquinários por parte do produtor de cana-de-açúcar. A produção de

cana pode ser integrada verticalmente à produção de cachaça, mas também podem ocorrer

diferentes formas de relacionamento entre o produtor agrícola e os segmentos que sucedem.

T5 representa as transações existentes entre o produtor de cana-de-açúcar com a pequena e

média empresa de cachaça, cooperativas, grandes empresas e a indústria sucroalcooleira. T3 e

T4 representam a aquisição de máquinas e equipamentos e insumos industriais,

respectivamente, por parte dos produtores de cachaça, cooperativas e envasadores. A cachaça

produzida por pequenos produtores pode ser comercializada a granel com empresas

envasilhadoras (T6), cooperativas (T7) ou com o grande produtor de cachaça (T11). Por outro

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lado, pode ser envasada pelo próprio pequeno produtor e distribuída diretamente ao varejo ou

venda no próprio local de produção (T7) ou então direcionada à cooperativa (T8) que fará o

papel de distribuidor. As cooperativas, por sua vez, podem envasar e comercializar a cachaça

engarrafada por diferentes canais de distribuição (T10) ou comercializar cachaça a granel com

o grande produtor (T11). A cachaça engarrafada pode ser comercializada por diferentes canais

de distribuição, passando por distribuidores (T13) e exportadores (T14), ou chegando, através

da distribuição própria a canais de comercialização, como grandes redes varejistas, pequenos

varejos ou estabelecimentos de venda fracionada.

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Figura 1: Cadeia Produtiva da Cachaça

Fonte: Elaborado pelos autores

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3.1 Panorama geral do setor de Cachaça

Segundo o IBRAC (2013) a capacidade instalada de produção de cachaça gira em

torno de 1,2 bilhões de litros e estima-se que a capacidade instalada esteja distribuida entre 15

mil estabelecimentos. De acordo com os dados do último censo do IBGE em 2006, foram

levantados quase 12 mil estabelecimentos produtores no país em área rural, e pelo menos 3

mil estabelecimentos localizados em áreas urbanas. Porem são apenas 1.483 os

estabelecimentos e 4.182 marcas devidamente registrados no Ministério de Agricultura e

Receita Federal. Essa disparidade entre as estimativas do IBRAC e estabelecimentos

registrados nas estatísticas oficiais se deve à existência de muitos produtores informais. A

informalidade é reflexo, segundo agentes do setor (CORS, 2013)3, da alta carga tributária que

incide sobre os pequenos produtores, aspectos culturais dos produtores e dos consumidores,

dificuldade técnica de legalização em função da legislação tributária e sanitária e falta de

fiscalização eficiente.

A disponibilidade de informações sobre produção, venda e exporatção de cachaça, é

crítica no setor. A informação levantada pelo IBGE sobre a produção de cachaça considera

também a produção de rum, de forma que os dados não representam a realidade do setor

produtivo. Optou-se por não apresentar neste estudo informações que não fossem endossadas

pelos agentes do setor.

4 AMBIENTE INSTITUCIONAL

4.1 Padrões de Identidade e Qualidade da Cachaça

Um ponto importante que permite reforçar (ou inibir) a competitividade em

determinado setor produtivo reside na definição das regras do jogo que irão balizar e

influenciar as transações entre fornecedores e clientes. A criação de padrões públicos ou

privados, por exemplo, são aspectos fundamentais na construção da identidade de um produto

e na sua credibilidade junto ao consumidor. No caso específico da produção da cachaça, tendo

em vista a proteção da denominação típica, os padrões permitem atenuar assimetrias de

3 CORS - Centro para Estudos em Organizações. Planejamento Estratégico do Instituto Brasileiro da Cachaça:

Entrevista Com Agentes do Setor. Entrevistas realizadas com agentes do setor durante o período de julho a

novembro de 2014. 2013.

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informação do tipo “o que é cachaça” e “o que esperar de uma cachaça em termos de

segurança alimentar”. Neste sentido, a legislação Brasileira vigente define:

“Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no

Brasil, com graduação alcoólica de 38 a 48% em volume, a 20ºC, obtida pela

destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar, com características sensoriais

peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expressos

em sacarose” (BRASIL, 2009, Art. 53).

O mesmo decreto (BRASIL, 2009) estabelece que cachaças com quantidades de

açúcares superiores a seis gramas por litro e inferiores a trinta gramas por litro devem ser

denominada de “cachaça adoçada”. Da mesma forma, cachaça com no mínimo 50% de

cachaça envelhecida por período não inferior a um ano, podendo ser adicionada de caramelo

para a correção da cor, será denominada “cachaça envelhecida”.

De forma complementar, os padrões de identidade e qualidade da cachaça estão

definidos na Instrução Normativa (IN) nº 13 de 29 de junho de 2005 do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

A IN 13/2005, de forma mais detalhada4, procura fixar os padrões de identidade e

qualidade para aguardente de cana e cachaça, tais como composição química, requisitos de

qualidade, limites de contaminantes, padrões de higiene, rotulagem etc. Em seu caráter

quantitativo, a instrução normativa estabelece limites para determinados compostos químicos

(Coeficiente de Congêneres) e Contaminantes (orgânicos e inorgânicos).

Adicionalmente, a IN 13/2005 prevê denominações para a Cachaça, em função de seu

processo de produção e envelhecimento: adoçada, quanto ao teor de açúcar; envelhecida,

Premium, Extra Premium, quanto ao tempo e fração da bebida envelhecida; e, ainda, segundo

a Instrução Normativa, existe a possibilidade de se ter a denominação “Reserva Especial”,

quando a mesma possuir características sensoriais, diferenciadas do padrão usual e normal

dos produtos elaborados pelo estabelecimento, desde que devidamente comprovado junto ao

MAPA.

Por fim, a cachaça é um produto da cultura brasileira e sua produção é muito comum

em todas as regiões do Brasil. Algumas vezes, ela acontece em pequenas escalas voltada para

o “consumo próprio”, sem intenção comercial. Ocorre que a legislação não contempla tal

particularidade e produtores enquadrados desta maneira são informais ou mesmo “ilegais”.

4 Cabe lembrar que uma IN, por definição, é uma norma complementar administrativa que visa detalhar aspectos

estabelecidos em leis, portarias e decretos, não podendo assim sobrepor-se a esses. Dentro de um contexto

dinâmico competitivo, as INs podem ser revisadas e reestruturas mais facilmente que Decretos Federais.

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Toda a legislação existente que regulamenta a produção, envase, rotulagem e

comercialização da cachaça está apresentado no ANEXO I - Leis, Decretos, Instruções

Normativas, Portarias e Resoluções.

4.2 Caipirinha

Uma tradicional forma de consumo da cachaça, difundida internacionalmente, é a

caipirinha. Sobre isso, chama à atenção a existência de uma definição para caipirinha que

aplica-se somente à caipirinha pronta para consumo (ready to drink) e não há uma definição

institucionalizada para aquela bebida produzida em bares e restaurantes imediatamente antes

do consumo. O Decreto n° 6.871, de 4 de junho de 2009 define:

“A bebida prevista no caput, com graduação alcoólica de quinze a trinta e seis por

cento em volume, a vinte graus Celsius, elaborada com cachaça, limão e açúcar,

poderá ser denominada de caipirinha (bebida típica do Brasil), facultada a adição de

água para a padronização da graduação alcoólica e de aditivos.”. (BRASIL, 2009,

art. 68).

4.3 Registros de Estabelecimentos e de Bebidas

Todos os estabelecimentos produtores de cachaça e aguardente devem

compulsoriamente ser registrados no MAPA. Ademais, o registro deve ser renovado a cada 10

(dez) anos e segue a IN n° 19 de 15 de dezembro de 2003, que dispõe sobre os requisitos,

critérios e procedimentos para o registro de estabelecimento, bebida e fermentado acético e

expedição dos respectivos certificados (BRASIL, 2003a).

4.4 Certificação

Por meio de Organismos de Certificação de Produto – OCB, o INMETRO concede o

selo que atesta que a cachaça está em conformidade com os critérios definidos no Programa

de Avaliação da Conformidade para Cachaça. A certificação do INMETRO é voluntária e

segue à IN 13/2005, uma vez que não vai além das suas exigências. Assim, o selo do

INMETRO não indica que uma cachaça certificada possua qualidade superior à outra não

certificada, mas atesta que a cachaça foi produzida e engarrafada conforme os padrões

estabelecidos pela Instrução Normativa. Essa certificação deverá ser renovada a cada três

anos. O INMETRO passou a conceder a certificação voluntária da cachaça em

24 de junho de 2005, data da publicação da Portaria nº 126 no Diário Oficial da União

(DOU).

Outras certificações voluntárias existem como uma tentativa de diferenciação de

produto. A AMPAQ (Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de

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Qualidade) completa, em 2013, vinte anos do “selo de qualidade AMPAQ”. A associação

reúne produtores de cachaça que utilizam alambiques descontínuo do estado de Minas Gerais.

Alguns críticos ao selo da AMPAQ alegam que a certificação mineira representa uma ruptura

à construção de uma identidade para cachaça brasileira. Neste caso, o selo posiciona a

cachaça mineira como sendo a única passível de ser acreditada como um produto de qualidade

e desconsidera a existências de cachaças de qualidade advindas de outros estados. Contudo, a

iniciativa é importante para o estado de Minas Gerais, que com um número muito grande de

pequenos produtores de cachaça, pode assegurar ao consumidor aquelas que certamente estão

dentro de padrões de qualidade.

Com relação à certificação de produto orgânico, a partir de 2007 o Decreto

Presidencial nº 6.323 regulamentou a lei nº 10.831 que estabelece a criação do Sistema

Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica. O sistema é composto pelo MAPA,

órgãos fiscalizadores de estado e pelo INMETRO. Este último é responsável pela acreditação

dos Organismos de Avaliação de Conformidade (OAC). Os OAC são as entidades

interessadas em certificar os produtores de orgânicos. O selo do MAPA se torna obrigatório

para todos os produtores de produtos orgânicos certificados por um OAC.

4.5 Indicação Geográfica e Denominação de Origem

O Decreto nº 4.062, de 21 de dezembro de 2001 estabelece a indicação geográfica dos

nomes “cachaça”, “Brasil” e “cachaça do Brasil”. Assim, “ (…) o vocábulo de origem e uso

exclusivamente brasileiros, constitui indicação geográfica para os efeitos, no comércio

internacional” (BRASIL, 2001).

O reconhecimento mundial da cachaça como uma denominação exclusiva do Brasil é

uma causa que o setor luta para vencer. Em fevereiro de 2013, a entidade do governo

estadunidense que regula a comercialização de álcool e tabaco naquele país (Alcohol and

Tobacco Tax and Trade Bureau) reconheceu a cachaça como produto distinto do Brasil

(UNITED, 2013). Desde os anos 2000 o destilado brasileiro entrava no país com o nome de

rum brasileiro ou “Brazilian rum”. O reconhecimento pelos EUA configurou como o segundo

reconhecimento da denominação Cachaça no mundo - até então somente a Colômbia concedia

tal reconhecimento ao produto brasileiro.

Um desafio para o reconhecimento da cachaça como denominação exclusiva do Brasil

na Europa, importante mercado consumidor, passa pela comprovação de que existe uma

organização interna no Brasil dos agentes, capaz de garantir que a cachaça que é produzida e

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exportada está sendo produzida dentro das regras de um “caderno de especificações5”.

4.6 Tributação e Encargos Sociais

No passado, os produtores de aguardente de cana (o que incluía a cachaça) tinham a

opção de aderir ao sistema de tributação simplificada conhecido por SIMPLES Nacional6.

Contudo, a partir de janeiro de 20017, a adesão deixou de ser permitida. Desde então, o setor,

representado pela Câmara Setorial da Cachaça e pelo IBRAC tem uma frente de trabalho com

o objetivo de dar uma tratativa tributária mais adequada a pequenos produtores de cachaça,

reduzindo os custos para pequenos produtores que operaram na legalidade.

Devido a este impeditivo, a aguardente de cana (o que inclui a cachaça),

independentemente do porte da empresa que a produz, sofre incidência dos seguintes

impostos, conforme Quadro 2 a seguir.

Quadro 2 - Impostos e contribuições federais e estaduais para cachaça

Sigla Nome Tipo

COFINS

Contribuição para

Financiamento da

Seguridade Federal

CSLL

Contribuição Social

sobre o Lucro Líquido Federal

ICMS

Imposto sobre

Circulação de

Mercadorias e Serviços Estadual

IPI

Imposto sobre Produto

Industrializado Estadual

IRPJ

Imposto de Renda para

Pessoa Jurídica Federal

PIS

Programa de Integração

Social Federal

Fonte: SEBRAE, 2008.

Existe uma visão no setor de que o pequeno e médio produtor são penalizados por uma

tributação superior à da grande empresa produtora. Contudo, argumenta-se também que os

impostos diretos são proporcionais ao valor final do produto e que a lógica de tributação

desigual não faz sentido e que o que acontece é que produtores pequenos e médios têm em

5 Termo usado pela União Europeia para definir as especificações que devem ser cumpridas para uma Indicação

Geográfica. Em resumo, o Caderno de especificações é o documento que contém os elementos e as

características técnicas do produto para o qual se solicita o registro como indicação geográfica. 6 O SIMPLES é aplicável às microempresas (ME) e as empresas de pequeno porte (EPP), nos termos da Lei

Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006 (conhecida por Lei Geral das ME e EPP). Contudo, segundo a

referida lei, não pode optar pelo SIMPLES Nacional a empresa que exerça atividade de produção ou venda no

atacado de bebidas alcoólicas, bebidas tributadas pelo IPI com alíquota específica, cigarros, cigarrilhas,

charutos, filtros para cigarros, armas de fogo, munições e pólvoras, explosivos e detonantes. Dessa forma, a

cachaça ou aguardente não podem ser tributadas de acordo com o Simples. 7 Conforme artigo 14 da Medida Provisória nº 1.990-29 de 10 de março de 2000, a partir de 1 de janeiro de 2001,

os produtores de bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres (incluindo aguardente de cana e cachaça) ficaram

impedidos de optar pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das microempresas e

empresas de pequeno porte - SIMPLES.

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geral produtos finais mais caros e consequentemente recolhem mais impostos. No entanto, o

fato é que, até então, não foram realizados estudos tributários capazes de informar qual a

tributação real que incide sobre uma grande, média ou pequena empresa produtora de

cachaça.

5 AMBIENTE TECNOLÓGICO

A produção da cachaça é uma prática secular que remete ao início da colonização

brasileira. Sua tradição se confunde, muitas vezes, com a própria história do Brasil. Da

mesma forma que o consumo de cachaça conquistou as mais diferentes classes da sociedade

brasileira, sua produção também se difundiu por quase todo território. É possível dizer que,

onde existe o consumo, também há a produção de cachaça. A história, a cultura, o clima e a

tecnologia de cada região e de cada produtor, fazem de cada cachaça um produto singular.

Pensando nisso, não se pode ignorar a contribuição das diferentes etapas do processo

de produção da cachaça, alinhadas as boas práticas de fabricação, nas características finais do

produto acabado. Inúmeros fatores parecem influenciar o resultado do trabalho que se inicia

no preparo da terra e escolha da variedade da cana-de-açúcar, passa pela colheita e

processamento da cana, fermentação, destilação, armazenamento, envelhecimento, envase, até

chegar à maneira de servir e apresentar a cachaça ao consumidor.

Embora o processo de fabricação da cachaça seja tradicionalmente conhecido, existe

uma grande infinidade de variáveis que podem ser combinadas originando produtos com

características específicas. É justamente essa pluralidade de características físicas, químicas e

sensoriais que tem despertado o interesse do consumidor da bebida, sinalizando um grande

potencial de sofisticação para o produto. Ao final de tudo, é o consumidor quem irá decidir

qual a cachaça de sua preferência (marca, preço, região, envelhecida ou não, adoçada ou

não, madeira, cor, história, reputação, apresentação, segurança etc.).

A tecnologia e sua difusão exercem um papel fundamental no desenvolvimento de

vantagens competitivas para o setor. A aplicação de tecnologia permite agregar valor ao

produto por meio da exploração de atributos únicos ou redução de custos de produção.

Avanços tecnológicos na área das comunicações têm permitido, cada vez mais, que mercados

se comuniquem, disseminando tendências de consumo e informações (boas ou ruins) sobre os

produtos e empresas. A internet oferece um canal de distribuição alternativo para muitos

produtores que não conseguem espaço nas gôndolas de grandes redes varejistas. A seção que

segue procura discutir alguns desses aspectos envolvendo o ambiente tecnológico no qual a

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Cadeia Produtiva da Cachaça está inserida.

5.1 Processo de Destilação

Um dos pontos mais debatidos no setor diz respeito às alternativas tecnológicas de

destilação, mais especificamente a possível distinção entre os produtos obtidos pelo processo

contínuo, empregado por empresas de médio e grande porte e pelo processo em batelada,

normalmente utilizado para produção de menor escala. O processo de destilação contínua é

conhecido como destilação “de coluna” e o processo em batelada (destilação descontínua) é

chamado de destilação “em alambique”.

Ambos os processos de destilação (continuo ou batelada) possuem, do ponto de vista

técnico, suas respectivas vantagens e limitações. Em outras palavras, não se pode

relacionar mecanicamente a tecnologia de destilação (“coluna” ou “alambique”) com a

qualidade da cachaça. Da mesma forma que existem cachaças produzidas em

alambiques descontínuos e coluna de destilação com elevada qualidade, existem

cachaças de baixa qualidade independente do processo de destilação adotado. A

condução do processo de fermentação, com adoção de BPF (Boas Práticas de

Fabricação) e rigoroso controle físico-químico e microbiológico do processo, resultam

em contribuições tão ou mais importantes quanto à destilação na qualidade sensorial e

aceitação do produto final pelo consumidor.

Paralelamente permeia no setor, também envolvendo o processo de destilação, uma

possível tipificação da cachaça obtida pelo processo de destilação em coluna, chamada por

alguns de cachaça “industrial”, e a cachaça chamada de “artesanal”, atribuída à cachaça

destilada em alambique descontínuo. Tal classificação remete as escalas normalmente

adotadas nesses sistemas, “industrial” equivaleria a grande escala e “artesanal” a pequena

escala, teoricamente utilizando mão-de-obra familiar. Ocorre, no entanto, que o termo

“artesanal” acaba sendo generalizado para qualquer cachaça produzida em alambique

descontínuo, quando, na verdade, nem todos esses produtores operam em pequenas escalas e

utilizam-se predominantemente mão-de-obra familiar. É preciso destacar que a utilização da

expressão “artesanal” como forma de tipificação da cachaça é proibida conforme a IN n°13 de

2005 do MAPA.

5.2 Capacitação e difusão tecnológica

Cabe lembrar que grande parte da tecnologia de produção da cachaça foi desenvolvida

de forma empírica a partir do acúmulo de conhecimento tácito ao longo da história. A

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limitação na capacidade de investimento em novas tecnologias por parte de uma significativa

fração dos produtores pode representar um ponto de fraqueza para todo o setor no ambiente

competitivo dinâmico em que se insere. O desenvolvimento de ações coletivas visando à

capacitação de pessoal e desenvolvimento tecnológico pode suprir essa aparente lacuna. Neste

contexto, alguns centros de pesquisa e formação universitária podem ser destacados como

potenciais de desenvolvimento técnico do setor: Centro de Tecnologia SENAI Alimentos e

Bebidas (Vassouras - RJ), Universidade Federal de Lavras (MG), Universidade Federal de

Viçosa (MG), Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" – USP (Piracicaba - SP),

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP (Jaboticabal – SP), Faculdade de

Ciências Farmacêuticas da UNESP (Araraquara- SP), dentre outras.

5.3 Envelhecimento em madeira

Inúmeras pesquisas têm demonstrado grande potencial de agregação de valor no

envelhecimento de cachaça em madeiras de origem brasileira (ALCARDE et al., 2010;

CARDELLO; FARIA, 2000; CARVALHO, 2001; YOKOTA, 2002; BOSCOLO et al., 2003).

A exploração efetiva dessa potencialidade depende, dentre outras coisas, da difusão dessa

tecnologia na produção, mas principalmente da divulgação dessas características junto ao

consumidor. Muitas marcas já comercializam cachaças envelhecidas em madeiras brasileiras

como: amburana, bálsamo, cerejeira, jatobá, jequitibá, freijó, ipê, peroba, além do

tradicionalmente conhecido carvalho estrangeiro. É preciso considerar, entretanto, o custo

decorrente do armazenamento da cachaça ao longo do tempo.

5.4 Embalagem primária (garrafa)

Cachaças são tradicionalmente comercializadas em garrafas de vidro, âmbar (escura)

ou transparente. Embora existam alternativas de envase em lata de alumínio e frascos

plásticos (PET). O vidro ainda representa a primeira opção, não só para o setor da cachaça,

mas também para outras bebidas alcoólicas destiladas. O vidro tende a valorizar seu conteúdo,

enquanto embalagens plásticas são associadas a bebidas de menor valor agregado.

O principal ponto de fraqueza envolvendo a embalagem primária da cachaça diz

respeito a sua disponibilidade. Ao que tudo indica, existe uma dificuldade de obter garrafas no

mercado interno. Essa aparente indisponibilidade estaria associada ao volume normalmente

negociado com pequenos produtores de cachaça, consideravelmente inferior ao negociado por

outras empresas de bebidas, que trabalham geralmente com vasilhames específicos (próprios a

cada marca), que acabam ocupando grande parcela e tempo das linhas de produção, enquanto

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os vasilhames chamados de comuns (geralmente utilizados para as cachaças) acabam

segregados a um segundo plano na escala de produção das grandes empresas de produção de

vasilhames de vidro.

Chama a atenção o grande número de marcas comercializadas em garrafa do tipo

âmbar, semelhantes às garrafas de cervejas. Embora esse tipo de embalagem remeta a uma

produção tradicional, a embalagem pode ser considerada de baixo apelo mercadológico

quando comparado a bebidas como uísque e vodca. Adicionalmente pode-se encontrar alguma

restrição à exportação de cachaças envasadas em garrafa não transparente. A dificuldade no

fechamento da tampa metálica, após a abertura, também pode afastar consumidores que

buscam maior praticidade. Algumas alternativas podem ser encontradas no mercado desde os

dosadores plásticos tradicionalmente utilizados em bebidas destiladas, sistema de tampa

metálica com rosca e rolhas sintéticas, tipo abre-fecha. A Figura 2 apresenta algumas das

embalagens mais comuns em que a cachaça é envasada.

Figura 2: Exemplo de garrafas de cachaça transparente (965 ml, 700 ml e 50 ml) e âmbar (600 ml)

Fonte: Imigrantes, 2014; Eco Embalagens, s/ ano; Acqua Mineira, 2009.

5.5 Manual de boas práticas de produção

Não existe um manual de boas práticas de produção de cachaça em âmbito nacional.

Existem iniciativas isoladas que não são, no entanto, vistas como um manual para o setor.

Destacam-se aqueles destinados a produção de cachaça em destilação descontínua ou

“alambique”, que aparecem mais frequentemente. Como exemplo tem-se o “Manual de Boas

Práticas Ambientais e de Produção” elaborado em convênio por instituições públicas e

representativas de classe do estado de Minas Gerais (OLIVEIRA et al., 2005). Outra iniciativa

é o documento elaborado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros

(ESALQ/USP), “Produção de Cachaça de Qualidade” (SOUZA et al., 2013).

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Em âmbito nacional, capitaneada pela Câmara Setorial da Cachaça, com apoio do

IBRAC, está em elaboração um manual de boas práticas para a cana e cachaça. O trabalho

está sendo desenvolvido pelo SEBRAE e a expectativa é que seja concluído no ano de 2014

(PINHEIRO, 2012).

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6 AMBIENTE ORGANIZACIONAL

6.1 Por que pensar em ações coletivas?

O anseio organizacional por competitividade sustentável (sobreviver e de preferência

crescer em mercados correntes ou mesmo em novos mercados) tem pressionado empresas de

diversos setores a buscarem maior flexibilidade, aprimoramento da capacidade tecnológica e

gerencial, alinhamento às tendências de consumo mundial e inserção em novos mercados.

Essa perspectiva leva a ideia de que os esforços individuais podem não ser suficientes para

garantir o desempenho positivo de uma empresa. Em outras palavras, o desempenho de

uma empresa individual está condicionado à provisão de um conjunto de bens públicos

ou privados sobre os quais a empresa não tem individualmente controle (FARINA,

1999).

Mais do que isso, neste contexto dinâmico global, empresas tem-se especializado cada

vez mais em suas atividades de negócio central ao mesmo tempo em que buscam desenvolver

alianças estratégicas para obter insumos, distribuir seus produtos, desenvolver pesquisa,

combinar competências, utilizar know-how de outras empresas, partilhar riscos, explorar

novas oportunidades e conseguir maior penetração em novos mercados. Adicionalmente, a

atuação dessas redes e associações pode modificar as regras do jogo em benefício do setor

(lobby) e também na criação de padrões de qualidade e normas técnicas, protegendo a

identidade de seu produto e garantindo credibilidade junto a novos mercados.

Essas alianças estratégicas podem ocorrer localmente pela associação de produtores de

uma determinada região (clusters), mas também ocorrem em um contexto mais amplo,

formando grandes redes de cooperação nacionais ou internacionais. Os esforços coletivos

despendidos ao nível regional ou nacional são complementares e podem ser vistos como

fatores críticos de sucesso para o desenvolvimento de vantagens competitivas individuais e

para o setor como um todo.

O presente capítulo aborda, em complemento às análises de ambiente institucional e

tecnológico apresentadas anteriormente, um panorama de como a Cadeia Produtiva da

Cachaça tem-se organizado ao nível nacional (Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da

Cachaça e Instituto Brasileiro da Cachaça) e ao nível regional (Associações Regionais), bem

como procura descrever a rede de cooperação em que participam essas instituições regionais e

nacionais.

6.2 Ações coletivas e uma rede de cooperação para cachaça do Brasil

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Em relação a ações coletivas, verificam-se esforços para o reconhecimento de regiões

produtoras8 e para a consolidação de organizações de representação de interesses do setor, nas

esferas local e nacional. Parte dessas iniciativas convergem para a construção de padrões

privados de qualidade e identidade da cachaça, defesa dos interesses do setor, divulgação da

cachaça no Brasil e no mundo, transmissão de informações sobre mercado e estatísticas do

setor, desenvolvimento de parcerias estratégicas para capacitação e suporte técnico e

gerencial, articulação com governo na revisão de leis e desenvolvimento de acordos para o

reconhecimento da cachaça internacionalmente.

De forma geral, as associações de produtores de cachaça têm como objetivo defender

os interesses de seus associados, possibilitando toda a atualização necessária quanto às

normas vigentes no país, dando suporte jurídico e mercadológico para que consigam o

desempenho esperado em mercados nacional e internacional. As associações buscam também

representar os interesses dos produtores nos demais elos que compõem o sistema produtivo da

cachaça.

Ao nível nacional, duas iniciativas devem ser destacadas: a Câmara Setorial da Cadeia

Produtiva da Cachaça do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, fundada em

2004; e o Instituto Brasileiro da Cachaça – IBRAC, que iniciou suas atividades em 2006.

Esforços empenhados por essas duas instituições têm resultado no fortalecimento do setor e

projeção no mercado internacional.

De forma localizada, as associações regionais têm um importante papel na

inserção de pequenos e médios produtores. Além de gerenciar e proteger a identidade e

qualidade da cachaça regional, essas organizações servem, muitas vezes, de ponte entre

produtores e a Câmara Setorial e o IBRAC, garantindo não somente que as necessidades

locais sejam levadas à pauta de discussão nacional, mas também possibilitando que as

ações estratégicas definidas em esferas mais abrangentes atinjam níveis de

desenvolvimento local (capilaridade para as ações coletivas).

8 Em 2007 foi concedida pelo INPI a Indicação Geográfica de Procedência, “Paraty” para cachaças produzidas

na região de Paraty no Estado do Rio de Janeiro.

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Figura 3 – Representação da relação entre as instituições participantes da cadeia produtiva da cachaça.

Fonte: elaborado pelos autores.

6.3 Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Cachaça

De forma geral, o papel das Câmaras Setoriais do Ministério da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento está relacionado com a ideia de um agrupamento de representantes dos

organismos, órgãos e entidades, públicas e privadas, representando diferentes atores da cadeia

produtiva, que tem por base um ou mais produtos, como é o caso da cachaça.

A Câmara Setorial da Cachaça é composta por empresas e instituições, direta ou

indiretamente, envolvidas na Cadeia Produtiva da Cachaça, a exemplo da Associação

Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (ABBA), Associação

Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT), Associação Brasileira de bebidas (ABRABE), Associação Mineira dos Produtores

de Cachaça de Qualidade (AMPAQ), Associação de Produtores e Amigos da Cachaça do

Estado do Rio de Janeiro (APACERJ), Associação Pernambucana dos Produtores de

Aguardente de Cana (APAR), Associação dos Produtores de Cana de Açúcar e Seus

Derivados no estado do Rio Grande do Sul (APRODECANA), Associação Brasileira das

Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (ABRAER), Confraria da

Cachaça do Brasil (CCB), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),

Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), Cooperativa dos Produtores de Cana,

Aguardente, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (COPACESP), Federação dos

Governo Brasileiro

IBRAC Câmara Setorial da Cadeia

Produtiva da Cachaça -

MAPA

Produtores e

Envasilhadores

Representações Intersetoriais

(ex. ABRABE, ABBA etc.)

Distribuidores e

Grupos Internacionais

Instituições Parceiras (SEBRAE, APEX, SENAC, SENAI etc.)

Associações

Regionais

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Plantadores de Cana do Brasil (FEPLANA), Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC),

Instituto Brasileiro de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO),

Instituto Nacional da Propriedade Industria (INPI), Ministério do Desenvolvimento Agrário

(MDA), Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Serviço Brasileiro de Apoio às

Micro e pequenas Empresas (SEBRAE), Sindicato das Indústrias de Cervejas e bebidas em

Geral do Estado de Minas Gerais (SINDEBEBIDAS – MG), Sindicato da Indústria de

Bebidas em Geral do Ceará (SINDEBEBEIDAS – CE) e Sindicato da Indústria de Bebidas

em Geral do Estado de São Paulo (SINDEBEBEIDAS – SP).

Ao agrupar representantes de diferentes setores, inclusive governo, a Câmara Setorial

constitui certamente o mais abrangente fórum de discussão de assuntos relacionados ao setor

da cachaça atualmente.

Dentre os assuntos tratados na Câmara Setorial encontra-se a revisão de normas

técnicas, proposição de regimes específicos de tributação e acordos internacionais.

Dentre os frutos do trabalho da Câmara Setorial em conjunto com outras instituições

do setor privado, a “Agenda estratégica 2010-2015” procuraram pontuar, de forma

sistematizada, um conjunto de ações a serem realizadas em médio e longo prazo, divididas em

nove eixos temáticos considerados críticos para o setor: 1) Estatística; 2) Pesquisa,

desenvolvimento e Inovação; 3) Assistência Técnica; 4) Defesa agropecuária; 5) Marketing e

promoção; 6) Gestão da Qualidade; 7) Governança na cadeia; 8) Legislação; 9) Negociações

internacionais.

Grande parte dessas ações vem sendo desenvolvida conjuntamente com outras

instituições privadas, como o IBRAC e associações regionais. O trabalho representa uma

referência para o setor em termos de ações coletivas e serve de base para que as entidades

regionais e nacionais desenvolvam seus respectivos planejamentos estratégicos.

É importante destacar o papel político da Câmara Setorial na articulação dos interesses

coletivos do setor com o governo e outras instituições como IBGE, INMETRO, INPI e

Ministérios.

6.4 IBRAC

O Instituto Brasileiro da Cachaça – IBRAC constitui uma organização coletiva

privada, de associação voluntária, de abrangência nacional, que reúne as principais empresas

do segmento produtivo da cachaça (produtores, estandardizadores e envasilhadoras) bem

como as principais entidades de classe do setor. Seus associados estão agrupados em quatro

categorias (IBRAC, 2013):

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Produtores, estandardizadores (padronizadores) e envasilhadores;

Associados coletivos (entidades de classe);

Associados institucionais (órgãos do governo, entidades privadas com

atividades voltadas a pesquisa, dentre outros);

Associados honorários (pessoas físicas).

Desde sua criação, o IBRAC tem reunido esforços no delineamento e execução de

ações coletivas para a proteção e promoção da cachaça no mercado nacional e internacional.

Diferente da Câmara Setorial, que constitui um grupo representativo do setor junto ao MAPA,

o IBRAC defende e executa ações coletivas alinhadas aos interesses de seus associados,

pertencentes ao setor privado. Pela sua abrangência e número de associados, o IBRAC é a

principal entidade de classe do setor e tem participado ativamente das discussões

conduzidas na Câmara Setorial e, ao final de tudo, acaba desenvolvendo ações alinhadas

às decisões da Câmara. Na verdade, o IBRAC tem-se tornado uma peça fundamental na

articulação de ações conjuntas com outras instituições como SEBRAE, SENAC, SENAI e

APEX. As atuações da Câmara Setorial e do IBRAC podem ser vistas como complementares

na organização do setor.

Assim, o IBRAC tem como objetivo promover, ordenar institucionalmente e colaborar

com as autoridades competentes no controle e regulamentação da cachaça, da aguardente de

cana e de outras bebidas derivadas da cachaça ou da aguardente de cana, assegurando o

cumprimento da legislação nacional.

Dentre as ações priorizadas pelo IBRAC visando à consolidação e reconhecimento da

cachaça como um destilado genuinamente brasileiro, pode-se citar:

Articulação junto ao Governo Federal para redução da carga tributária,

principalmente para os micros, pequenos e médios produtores;

Articulação junto ao Governo Federal para regularização das Cooperativas

produtoras de Cachaça;

Gestão de convênios junto a Apex - Brasil do Projeto Setorial de Promoção de

Exportação de Cachaça;

Acompanhamento do processo de reconhecimento da cachaça nos Estados

Unidos;

Desenvolvimento de ações para o reconhecimento da cachaça como um

produto genuíno e exclusivo do Brasil;

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Desenvolvimento de ações de combate à clandestinidade e à informalidade

(Campanha Cachaça Legal).

6.5 Associações de produtores regionais

As associações de produtores regionais podem ser vistas como peças

fundamentais na organização de desenvolvimento de ações coletivas para um setor. Elas

permitem o desdobramento de ações idealizadas em um nível nacional para uma

realidade local. Por outro lado, as associações servem de veículo de representação de

pequenos e médios produtores na discussão de ações coletivas conduzidas ao nível

nacional.

Ocasionalmente, casos de sucesso conduzidos localmente podem servir de inspiração

para projetos desenvolvidos em outras localidades. Exemplo disso encontra-se na carta de

cachaças pernambucana desenvolvida pela APAR9. A fórmula de promoção da cachaça

regional encontrada pela associação pernambucana tem despertado o interesse de outras

associações espalhadas pelo Brasil.

No Brasil, existe uma grande variedade de associações de produtores regionais, desde

aquelas formadas para fortalecimento de Indicações Geográficas (ex.: Associação dos

Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas - APACS e Associação dos Produtores e amigos

da Cachaça Artesanal de Paraty - APACAP), passando por iniciativas de construção de um

selo de qualidade regional (ex: Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade -

AMPAQ), até chegar a associações formadas com intuito de defender dos interesses de

pequenos e médios produtores regionais (ex: Associação dos Produtores de Cana-de-Açúcar e

Seus Derivados no Estado do Rio Grande do Sul – Aprodecana; Associação Paulista dos

Produtores de Cachaça de Alambique - APPCA, Associação Paraibana dos Engenhos de Cana

de Açúcar - ASPECA e Associação dos Produtores e Amigos da Cachaça do Estado do Rio de

Janeiro - APACERJ). Basicamente, cada associação possui pontos fortes e pontos fracos que

deverão ser considerados caso a caso no desdobramento de ações coletivas regionais.

6.6 Bebida e Ciência

Este tópico mostra o número de publicações de artigos científicos sobre as bebidas até

fevereiro de 2014. Como se pode observar as bebidas tequila, vinho, uísque e Champagne,

9 A Associação Pernambucana dos Produtores de Aguardente de Cana e Rapadura - APAR, por exemplo, é um

caso interessante de associação regional que reúne pequenos e grandes produtores na promoção da cachaça

regional. O desenvolvimento de ações sinérgicas na APAR permite ganhos multilaterais entre seus associados.

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objeto de ações coletivas descritas anteriormente, apresentam um número bem superior de

artigos quando comparadas às pesquisas sobre a cachaça. Essa informação é interessante, pois

nos informa que as outras bebidas receberam uma atenção bastante superior que a cachaça na

academia e estas pesquisas geralmente relacionadas aos benefícios da bebida, qualidade,

segurança, mercado, consumo etc., permitem o desenvolvimento de ações no setor com o

suporte de estudos com alta validade e confiabilidade, características esperadas em estudos

acadêmicos.

Quadro 3 - Estatística das publicações acadêmicas sobre algumas bebidas selecionadas (mundo)

Bebida # publicações

Vinho (geral) 82.766

Champanhe 3.142

Uísque 2.229

Tequila 458

Cachaça 213

Fonte: Web of Knowledge10

7 AMBIENTE COMPETITIVO

É complexo quantificar precisamente o volume total de cachaça produzida no Brasil.

A grande diversidade de produtores e empresas, em suas diferentes escalas de produção e

operação, elevados índices de informalidade, a baixa barreira tecnológica à entrada de novas

empresas e a falta de um controle mais rígido sobre o que é produzido são alguns dos fatores

que dificultam elaborar uma fotografia quantitativa da produção de cachaça no País. Algumas

estimativas sugerem uma capacidade de produção instalada na ordem de 1,2 bilhões de litros

por ano dividida entre cerca de 15 mil produtores e um pouco mais de quatro mil marcas de

cachaça (IBRAC, 2013).

As microempresas correspondem a 99% do total de produtores de cachaça. Suas

atividades agropecuárias incluem a produção de milho, feijão, café, e leite, entre outras, e a

produção de Cachaça. O setor da Cachaça é responsável pela geração de mais de 600 mil

empregos, diretos e indiretos (SEBRAE, 2013).

7.1 Mercado interno

Como mencionado anterioremente, a disponibilidade de informações a cerca do

tamanho do mercado interno da cachça é crítica no setor. Assim, não é possível analisar o

10

Trabalhos científicos no Web of Science. Site. Disponível em:

<http://apps.webofknowledge.com/UA_GeneralSearch_input.do?product=UA&search_mode=GeneralSearch&S

ID=2Cv1UsVV4ha12oLIBjd&preferencesSaved=>. Acesso em: 27 jan. 2014.

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comportamento deste mercado no que se refere à evolução da produção, seu tamanho e

principais agentes. Assim, as projeções de futuro devem ser olhadas também com cautela.

Estimativas para o ano de 2017 preveem que o volume do consumo de cachaça decairá

em 3% em relação ao ano de 2012 enquanto o valor consumido crescerá 5%, resultando em

uma valorização média do produto consumido de cerca de 9% (EUROMONITOR, 2013).

O mercado de cachaça pode ser segmentado, grosso modo, em dois grandes grupos

estratégicos: o da cachaça voltada para o consumo em massa e o da cachaça diferenciada. No

primeiro grupo verifica-se a forte presença de grandes grupos industriais, que adotam

estratégias de baixo custo e distribuição com alta capilaridade no mercado para atender seu

público-alvo. No segmento de cachaças para consumo em massa a concorrência se dá, quase

sempre, por marcas e preços. Um importante canal de comercialização das marcas populares é

a venda em doses em bares populares (botecos e vendas), também chamados ‘pontos de dose’.

No segundo grupo (cachaças diferenciadas) atuam grande quantidade de produtores e

envasilhadores de diferentes escalas. Além das características intrínsecas do produto (atrativo

sensorial), a informação disponível é um elemento importante na escolha do consumidor. A

informação é dada por marcas famosas e pela reputação de regiões produtoras. Inclui-se nesse

segmento diversos tipos de cachaça, desde as cachaças premium e extra premium (cachaças

envelhecidas com elevado valor agregado), passando por produtos com denominação de

origem (Indicação Geográfica como o caso da cacha de Paraty e Salinas ou reputação de

regiões tradicionalmente produtoras), certificação de produto orgânico, até cachaças que

utilizam algum tipo de alternativa tecnológica como bi-destilação, envelhecimento parcial ou

“blendagem” com objetivo de atender a um público específico.

Acredita-se que no segmento de cachaças diferenciadas a elasticidade da renda da

demanda seja positiva, ou seja, o aumento na renda incentivaria o consumo de cachaças

diferenciadas. Seguindo esse raciocínio, a atual conjuntura socioeconômica brasileira,

sobretudo o aumento do poder de compra da população contribui para o aquecimento do

mercado de cachaças diferenciadas, com elevada qualidade e ingredientes e atributos de alto

valor agregado (EUROMONITOR, 2013).

A cachaça de consumo em massa comportar-se de forma contrária, o incremento na

renda do consumidor induziria a substituição por cachaças mais sofisticadas ou até outras

bebidas como a cerveja (EUROMONITOR, 2013).

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7.1.1 Papel de grandes grupos envasilhadores

A aquisição de marcas tradicionais de cachaça como Nega Fulô, Ypióca e Sagatiba por

grandes grupos internacionais como a Diageo e a Campari pode ser encarada como indicativo

de que o mercado de cachaças tende ao crescimento e a sofisticação. As estratégias adotadas

por esses grupos empresariais normalmente reúnem canais de distribuição eficientes, portfólio

de produtos variado (diferentes bebidas) e campanhas de publicidade.

Cabe destacar que a cadeia produtiva da cachaça, sobretudo as empresas de pequeno

porte, dificilmente conseguem atender as exigências de grandes redes varejistas, ter grande

amplitude na distribuição ou mesmo fazer grandes investimentos em publicidade. A ação de

grupos internacionais e de grandes engarrafadores pode ser vista de forma positiva na

divulgação e disponibilização da cachaça no mercado interno e externo. Em alguns casos, as

grandes empresas adquirem a cachaça de pequenos produtores, engarrafando-a sob marcas

próprias para distribuição nacional e internacional.

7.2 Exportação

A cachaça tem ganhado representatividade no cenário internacional e atualmente é

considerado o terceiro destilado mais consumido no mundo, ficando atrás apenas da vodca e

do sochu, destilado asiático feito de arroz e batata-doce, bebido em toda Ásia (IBRAC, 2013).

A quantidade de cachaça exportada é pouco expressiva se comparada ao volume

dedicado ao mercado interno. Apenas 8,1 milhões de litros, cerca de 15 milhões de dólares,

foram exportados em 2012 segundo dados do Ministério do Comércio Exterior (BRASIL,

2013). Na realidade, pelo quinto ano consecutivo, verifica-se uma tendência de queda na

exportação de cachaça, fato que deve servir de alerta. Espera-se que o acordo com os EUA

reconhecendo a cachaça como bebida típica brasileira ajude a reverter esse cenário de

retração. O valor médio do litro de cachaça exportada fica em torno de U$ 1,80.

Figura 4 – Evolução das Exportações Brasileiras de Cachaça em Milhões de litros

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Fonte: Brasil (2013)

O estado com a maior participação em volume nas exportações é São Paulo, sendo

responsável por 47% da cachaça que sai do país. Em segundo lugar vem o estado de

Pernambuco, seguido por Rio de Janeiro e Paraná.

Figura 5 – Participação dos Estados na Exportação Brasileira de Cachaça

Fonte: Brasil (2013)

A Cachaça é exportada para mais de 60 países e em 2012 a base de empresas

exportadoras foi composta por pouco mais de 90 empresas que exportaram um total 8,06

milhões de litros, gerando uma receita de US$ 14,99 milhões (BRASIL, 2013).

O principal destino (em volume) para cachaça exportada é a Alemanha, seguida de

Paraguai, Estados Unidos e Portugal. Juntos, esses países respondem por mais de 50% das

exportações de cachaça. Chama a atenção o fato do preço médio da cachaça que abastece o

SP 47,162%

PE 23,130%

RJ 7,992%

PN 7,578%

MG 4,844%

CE 3,858%

MS 2,553%

RS 2,153%

Outros ,730%

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mercado norte-americano ser quase três vezes superior ao da cachaça adquirida pela

Alemanha, respectivamente U$ 3,05 contra U$ 1,16. Isso faz com que os EUA ultrapassem a

Alemanha no ranking de valor exportado.

Figura 6 – Principais Destinos da Cachaça Brasileira

Fonte: Brasil (2013)

O Estado Unidos, apesar de importante importador em termos de volume e

principalmente valor bruto, tem a cachaça com uma bebida de baixíssima representatividade

em suas importações de bebidas alcoólicas. Segundo dados do Departamento de Agricultura

dos Estados Unidos (USDA, 2012) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior (BRASIL, 2013), a cachaça representa apenas 0,013% do volume de

bebidas importado pelos EUA. Ressalta-se assim o potencial deste mercado, que pode ser

melhor explorado pela cadeia produtiva da cachaça.

Alemanha 24,526%

Paraguai 11,217%

Estados Unidos 9,155%

Portugal 7,966%

Bolivia 7,531%

França 5,338%

Argentina 4,428%

Espanha 3,999%

Itália 3,022%

Uruguai 2,794%

Outros 20,023%

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8 ENTREVISTAS COM AGENTES DO SETOR

Ao longo do segundo semestre de 2013, foram realizadas trinta entrevistas com

agentes que de alguma forma estão relacionados à cadeia produtiva da cachaça. Dentre os

agentes, foram ouvidos pequenos, médios e grandes empresas produtoras de cachaça, que

utilizam tanto destilação contínua (coluna) quanto descontínua (alambique), exportadores,

associações, cooperativas, membros da Câmara Setorial da Cachaça, do IBRAC e do MAPA.

O objetivo das entrevistas foi captar os principais desafios da cadeia, na opinião dos diferentes

agentes, e de alguma forma, entender os pontos de conflitos, discordância e concordância

entre eles.

Nas subsecções a seguir será apresentado um resumo das observações dos agentes do

setor na fase de entrevistas. O objetivo é trazer a opinião dos agentes sobre diversos temas,

mas também evidenciar os conflitos existentes dentro da cadeia produtiva da cachaça,

conflitos estes que precisam ser, se não superados, deixados de lado, se o objetivo dos agentes

do setor é a promoção de ações coletivas com benefício à cadeia. Os seguintes temas foram

debatidos e estão na sequência registrados: i) Tributação; ii) Padrão de Identidade e

Qualidade; iii) Alambique vs. Coluna; iv) Ações coletivas; v) informalidade; vi) insumos; vii)

Mercado externo e concorrência; e viii) Papel do IBRAC.

8.1 Opinião dos Agentes do Setor Sobre Tributação

8.1.1 Resumo

Existem duas opiniões bastante contrárias entre os agentes do setor com relação à

tributação. Para alguns, ela leva pequenos produtores para a informalidade e um regime de

tributação diferenciada para pequenos reduziria os custos para que estes entrem no mercado

formal. Outros agentes acreditam que não é a tributação a responsável pela informalidade, que

por sua vez pode ser combatida com a conscientização do consumidor final. Além disso,

coloca-se que é impensável levar para o Estado a discussão para reduzir a carga tributária de

bebidas. Uma alternativa para que o pequeno seja menos impactado pela tributação é

apontada como a organização em cooperativas, no entanto há divergências quanto a esta

solução ser eficaz.

8.1.2 Principais Depoimentos

“Tributação impede que o pequeno produtor se formalize. Regime de tributação

diferenciado é uma solução para trazer o pequeno produtor à formalidade (ex.: simples

nacional) ”.

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“Ganhos de escala da grande empresa permite produto muito mais barato que por sua

vez recolhe menos impostos. Pequeno produtor fica sem competitividade”.

“Substituição tributária irá prejudicar os pequenos produtores que se verão obrigados a

recolher o ICMS de seu cliente e será ainda mais penalizado pela redução de margens”.

“Reduzir tributação para bebidas é impensável, não há ambiente político para isso”.

“A clandestinidade que existe pode ser atacada com a conscientização do consumidor

final e dos donos do ponto de dose (restaurantes, bares, hotéis) e não com regime de

tributação diferenciado”.

“Tributação não é a razão para a informalidade. O regime diferenciado não trará os

informais para a formalidade”.

“A associação por meio de cooperativas é a saída para os pequenos e não a redução de

tributação”.

“A regulamentação da cachaça é recente e precisa de regras passíveis de serem

aplicadas para trazer os informais”.

“Nunca houve o simples da cachaça e a associação em cooperativas produtoras não é

possível por lei”.

"No setor a questão da carga tributária está bem harmonizada e deve ser resolvida em

função de faturamento”.

8.2 Opinião dos Agentes do Setor Sobre Padrão de Identidade e Qualidade

8.2.1 Resumo

Parece não haver discordância quanto à adequação do padrão de identidade e

qualidade, mas critica-se a falta de fiscalização Além disso, alguns evidenciam que a cachaça

deveria ter um Regulamento de Uso Indicação Geográfica, controlado possivelmente pelo

IBRAC. No entanto, uns tendem a divergir deste argumento, pois acreditam que o modelo

funcionou no México com a Tequila que estava concentrada em uma região, mas no Brasil

pela pulverização da produção, esta política não seria aplicável. Existe alguma divergência

quanto à importância do selo do INMETRO, pois se para uns ele insere ruído no setor, para

outros ele é extremamente importante para o processo de exportação. Alguns entendem que é

importante diferenciar a cachaça de “alambique” e “coluna” não só no rótulo, mas nos

manuais de boas práticas de produção. Foi citado também a dificuldade em acessar os poucos

laboratórios que existem para realizar os testes necessários.

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8.2.2 Principais Depoimentos

“Controle de padrões de identidade e qualidade deveria estar dentro de um

regulamento de uso da IG da cachaça e seu controle deve ser atribuição de entidade do setor,

como um conselho regulador”.

“Regulamento de uso da IG da cachaça deveria ser controlado pelo IBRAC”.

“Não seria interessante usar o modelo da tequila pois o Brasil todo produz cachaça é

seria muito difícil controlar”.

“Padrões de identidade e qualidade contaram com participação do setor, estão

adequados e são atribuição do MAPA”.

“Existe uma dificuldade na formulação de regras para o setor, fruto da

heterogeneidade deste. Deve-se pensar muito antes de reformular padrões, pois podemos

facilitar práticas oportunistas. Existe uma corrente dentro do setor que defende que os padrões

são imposições da grande empresa sobre as pequenas. Isso não é verdade. As regras são

estabelecidas e vem sendo retrabalhadas visando a competitividade do setor”.

“O INMETRO introduziu um selo, mas é desnecessário, pois insere ruído no setor. O

selo é optativo e não garante que um produto que o tem é de maior qualidade que um produto

que não o tem”.

“Certificação de qualidade é importante para o setor, e deveria ser realizada por um

agente privado, com controle pelo INMETRO”.

“Certificação que atesta qualidade é importante para o processo de exportação. O

IBRAC deveria negociar com certificadoras para baratear o custo unitário da certificação”.

“A legislação atual é adequada, porém o controle não ocorre da maneira adequada.

Falta fiscalização”.

“Além das divergências entre “coluna” e “alambique”, no que se refere à legislação

alguns pontos devem ser mudados e revisados, como exemplo, o carbamato de etila em que a

legislação determina um limite muito inferior ao praticado na Europa.

“Pesquisadores da área técnica, poderiam oferecer uma base para as decisões sobre

identidade e qualidade, mas divergem em opinião”.

“Só existe um laboratório autorizado para fazer análises no País, isso é um grande

gargalo. Precisa mandar suas amostras do Paraná para Pernambuco, e o processo leva de 15 a

20 dias, e se torna uma dificuldade importante. Não é possível que só exista um laboratório

acreditado no país”.

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8.3 - Opinião dos Agentes do Setor Sobre a Rivalidade “Alambique” versus “Coluna”

8.3.1 Resumo

Um dos pontos de grande divergência no setor é a distinção entre a cachaça produzida

através do processo de destilação contínua popularmente denominada de “cachaça de coluna”

e a produzida pelo processo de destilação em batelada (destilação descontínua) popularmente

denominade de “cachaça de alambique”.. Alguns entendem ser importante esta separação e

tratam a cachaça “de alambique” como um produto de maior qualidade e prestígio. Acreditam

ainda que é importante informar tal diferença ao consumidor a fim de valorizar a cachaça “de

alambique”. Outros veem a distinção como algo desnecessário e que tolhe as forças do setor

em torno de ações conjuntas

8.3.2 Principais Depoimentos

“É importante que o MAPA reconheça diferenças entre “alambique” e “coluna”, pois

o consumidor não conhece. Os estados de MG e RS acreditam que “alambique” tem

características sensoriais mais aceitas pelo consumidor e uma diferenciação pelo órgão

regulador seria interessante”.

“Desafios da comunicação da cachaça, sobretudo na diferenciação entre cachaças de

coluna (mais comoditizadas - menores preços) e cachaças de “alambique” (diferenciadas -

mais caras). O consumidor precisa identificar esta diferença inclusive no rótulo do produto”.

“A separação correta é ‘cachaça de coluna’ e ‘cachaça de alambique’. A ‘cachaça de

coluna branca’ é apropriada para o consumo como drinques, a envelhecida pode ser tomada

pura. No entanto este não é o entendimento do setor, pois as destiladoras de coluna defendem

que sua cachaça é para ser tomada pura também. Contudo, é fato que a cachaça envelhecida é

mais suave e tem características mais agradáveis ao paladar para ser consumida pura”.

“A qualidade do produto não pode ser vinculada ao processo de produção, esse tipo de

classificação não deve ser utilizado”.

“Importante consumidor diferenciar estes os dois tipos de processos de produção de

cachaça. Identificação no rótulo deveria colocar “alambique” no rótulo. Mas controle deveria

ser feito no manual de boas práticas e deveria ter certificação, não como selo do INMETRO,

mas sim de como é feito o processo de alambique – como um ISSO”.

“Regionalmente há muita rixa entre “alambiqueiros” e “colunistas” e as associações

regionais têm papel fundamental como agente catalisador das ações para alinhar estes dois

grupos em torno dos interesses comuns. Ações que podem ter interesse comum: resolução das

questões tributárias, legalização dos agentes que operam na ilegalidade, preparação do setor

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de serviços para oferta da cachaça (pontos de dose), obrigatoriedade dos padrões mínimos de

qualidade definidos pelo INMETRO e controle para fazer valer a legislação em vigor”.

“A cachaça “de alambique”, a “artesanal”, é boa, “a de coluna” é ruim. A indústria

(grande empresa) quer se aproveitar do valor da cachaça”.

“A distinção “alambique” e “coluna” não é relevante, não traz benefícios ao setor”.

“Não é interessante dividir o setor entre cachaça de “alambique” e “coluna”, pois isto

reduz a força de atuação do setor. A distinção entre cachaça de “alambique” e “coluna” não

importa uma vez que o produto final é exatamente o mesmo”.

“São apenas processos diferentes. O produtor pode optar por um ou outro, de acordo

com sua necessidade. Como ele vai usar isso é importante e influencia na qualidade do

produto. Essa separação é alimentada por alguns, não faz sentido, mesmo para o consumidor.

Deve-se deixar de classificar os processos por “alambique” e por “coluna”. Indústria

(grande empresa) produz destilado simples que tem adição de açúcar, mas não é cachaça.

Seria um single malte e o blend (como em outras indústrias).

A “cachaça de coluna” não separa coração, cauda, cabeça e tem características muito

mais pobres que a cachaça de alambique.

“Fazer chegar ao consumidor que a cachaça é um produto diferenciado para ser bebido

pura (alambique) e a de coluna (por ser adoçada) poderia ser para drinks. Comunicar que

‘cachaça de alambique’ pode ser bebida pura”

“A distinção não tem sentido, é uma briga desnecessária”.

8.4 Opinião dos Agentes do Setor Sobre Ações Coletivas

8.4.1 Resumo

Há o entendimento de que as ações coletivas são importantes inclusive para combater

a concorrência como não foi feito na época da entrada da vodca. Ações para trazer mais

produtores para o mercado formal podem ser pela exploração dos casos de sucesso. Além

disso, é importante a mobilização regional dos agentes para promoção de adequação técnica e

ações de construção de uma marca que está desgastada. Apesar da importância da câmara

setorial, acredita-se que as ações são tímidas e as divergências entre produtores de

“alambique” e “coluna” tire força para ação. É importante a união de forças.

8.4.2 Principais Depoimentos

“Negligência em trabalhar a cachaça em 1988 levou ao crescimento da Vodca. E para

concorrer na caipirinha com as grandes é complicado. Antes uma Vodca era quatro vezes

mais barata que a cachaça e hoje é duas vezes”.

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“Melhor incentivo para formalização, depois da flexibilização de impostos, são os

exemplos de sucesso como caso da tequila e outros”.

“Deve-se fortalecer o setor regionalmente com adequação técnica e ações coletivas

que possam construir uma marca “cachaça”, hoje bastante desgastada”.

“Câmara setorial tem o papel de promover ações coletivas, mas ainda faz timidamente,

e representa dois produtos diferentes. Um precisa do outro, talvez com indicações geográficas

de regiões diferentes isso reduza os conflitos. Os dois grupos querem vender cachaça e é

importante que cada um consiga encontrar sua posição no mercado”.

“Juntos os produtores são mais fortes que sozinhos, e financiados por eles mesmo”.

“Ações coletivas para mercado externo favorece as grandes empresas, mas tudo que é

realizado no exterior para promoção da cachaça acaba de uma forma ou de outra favorecendo

a todo o setor”.

8.5 Opinião dos Agentes do Setor Sobre Informalidade

8.5.1 Resumo

Se por um lado há um entendimento de que a informalidade possa se um resultado de

elevada carga tributária e que um regime de tributação diferenciado possa trazer mais

produtores para a formalidade, por outro entende-se que é importante distinguir o que é uma

produção para “consumo próprio” de uma produção informal. A legislação não aborda este

aspecto que deve ser discutido pelo setor. Atribui-se também a informalidade a algo da cultura

nacional, de técnicas produtivas transmitidas pela família e que se torna “pitoresco” ao

consumidor final.

8.5.2 Principais Depoimentos

“A informalidade ocorre em função da carga tributária, baixo valor agregado, o

“pitoresco” de produzir uma cachaça no interior”.

“A informalidade tem uma dimensão cultural em muitas localidades”.

“A informalidade é motivada pela elevada tributação assim o médio produtor não tem

incentivo à legalização. Em geral os associados pequenos e médios acreditam que são mais

tributados que as grandes, pois não tem economia de escala e seus produtos são mais caros e

por isso pagam mais imposto. A redução da carga tributaria a partir da adequação do setor ao

simples é o caminho mais adequado”.

“Os produtos informais trazem insegurança quanto a qualidade da bebida e segurança

da cachaça. No entanto é importante entender a cachaça como um produto da

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cultura brasileira e a forma de produzir é passada por laços familiares. Assim, é importante

separar o “consumo próprio” da comercialização de cachaça não registrada. Não se pode

fechar uma unidade de produção em um sítio se não houver a constatação de que o produto é

vendido. Não há no entanto especificação na legislação sobre o que vem a ser “consumo

próprio” ou consumo para não comercialização e isto deve partir de discussões do setor”.

8.6 Opinião dos Agentes do Setor Sobre Insumos

8.6.1 Resumo

Com relação aos insumos há uma questão proeminente relacionada ao fornecimento de

garrafas, que além de ter uma oferta insuficiente não oferece muitas alternativas para os que

desejam envasar produtos mais sofisticados em embalagens diferentes.

8.6.2 Principais Depoimentos

“A dificuldade hoje está em conseguir mão-de-obra para trabalhar no campo. Ninguém

quer trabalhar no campo. Melhor conseguir cachaça direto de outros produtores e somente

engarrafar”.

“Envasamento é um problema, pois as opções são péssimas. A garrafa de cerveja

acaba sendo a opção. Sai caro importar garrafas, só uma garrafa custa R$9,00”.

“Dificuldade de vinculação de marketing (garrafas sofisticadas para linha de carvalho)

perde identidade por mudança no envasamento”.

“Hoje existem duas fábricas de garrafa no Brasil. Duas fábricas formam um oligopólio

com 95% do mercado. Em MG há um problema de descontinuidade de fornecimento de

garrafas (modelos). Sindicato tentou trazer fábricas para estado, mas alegam que não há

demanda. Alternativa é importação de garrafas (mas custo é muito elevado)”.

8.7 Opinião dos Agentes do Setor Sobre Mercado Externo e Concorrência

8.7.1 Resumo

Com relação ao mercado externo, além de dificuldades burocráticas e custos

portuários, para exportar o produto existe a dificuldade do negócio em si que envolve o

estabelecimento de parcerias e o despacho de volumes consideráveis, geralmente pouco

viáveis a pequenos produtores. Comenta-se também que os agentes não têm muita

informação, a despeito dos esforços da APEX e há falta de recursos para financiar os

pequenos a ir ao mercado externo. Não há consenso sobre que tipo de produto deve ser o foco

do mercado externo, uns acreditam que seja de cachaças baratas para consumo

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em drinques e outros acreditam em um mercado de nicho de produtos de alto valor.

Com relação à concorrência, a visão apresentada é de que a cachaça deve explorar seu

apelo cultural em argumento de venda, principalmente contra a vodca. Há a percepção de que

o Brasil possa explorar eventos como a Copa para coordenar ações em prol da cachaça, mas o

momento para isso parece ter passado.

8.7.2 Principais Depoimentos

“As questões burocráticas para exportação são absurdas, tanto os documentos quanto

os custos portuários. ‘É tudo muito complicado’”.

“Dificuldade de conseguir um parceiro para exportar. É possível se adequar nos

termos da lei para exportação, mas a abertura de mercado é muito difícil”.

“Os custos portuários são muitos. Isso faz com que o pequeno seja desfavorecido.

Poderia existir diferenciação para volume de produção”.

“Os principais gargalos à exportação estão relacionados à falta de preparo dos agentes,

sobretudo dos produtores de “alambique” e também a falta de lastro financeiro para suportar a

operação. Falta preparo com relação aos processos para exportar, barreira da língua e mesmo

a falta de cuidado para preparação das ações para promoção de marca própria”.

“Exportação irá reposicionar o produto no mercado interno. Apex apenas financia

participação em feiras. O mesmo produto que é vendido aqui a preço baixo, é vendido lá fora

a preços altos”.

“Mercado externo demanda grandes volumes, marcas únicas e regularidade de

fornecimento – produtores pequenos isolados não conseguem fazer isso. Cooperativas,

associações entre produtores podem possibilitar o acesso ao mercado externo para os

pequenos. Isoladamente é difícil de atingir mercado externo”.

“Não adianta pensar que vamos replicar o consumo interno lá fora. Cachaça deve ser

vista como uma bebida (no mercado externo) de nicho. Ou seja, é uma bebida típica brasileira

e exótica. Mais do que isso, a dificuldade de qualquer bebida em mercados internacionais está

na “orientação de uso”. Para que exista consumo de cachaça lá fora precisamos orientar e

divulgar como se bebe cachaça. No caso da Europa e EUA, o veículo é a caipirinha. Ásia tem

potencial de consumo em shot”.

“Para fora tem que ser “artesanal” (com preço alto). O conhecimento que eles tinham

era da cachaça de coluna usada apenas para drinks. Há mercados para ambos os tipos.

Foco na exportação deve ser os EUA, mas é preciso ter folego, pois para manter ponto

de dose fora custa, só para ter o produto lá U$107”.

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“Cachaça fora do Brasil é para consumo na caipirinha, ou seja, uma cachaça de baixo

valor agregado. Assim, não faz sentido enviar ao exterior cachaça de alto valor. Somente

grandes empresas têm condições de fazer propaganda para exportar seu produto”.

“Não acredito no consumo de cachaça ou qualquer destilado puro. Os consumidores

misturam a cachaça com outras bebidas. A cachaça deve ser consumida com sucos e frutas

tropicais, de preferência. Não precisa ser um produto envelhecido”.

“Quanto à atuação no mercado internacional, é muito difícil, pois um ponto de dose

fora do Brasil é muito complicado e caro, na Europa especificamente”.

“O Brasil perdeu a oportunidade de organizar ações coordenadas na Copa do Mundo

para estimular o consumo da cachaça”.

“Cachaça é uma bebida com apelo cultural e dessa forma se diferencia do uísque e

vodca (isso pode ser explorado no argumento de venda)”.

“A cachaça não compete com a cerveja, mas sim com a vodca”.

8.8 Opinião dos Agentes do Setor Sobre Papel do IBRAC

8.8.1 Resumo

Parece haver certo consenso sobre o papel do IBRAC como um protagonista das ações

para desenvolvimento do setor. É atribuído ao Instituto o papel de gestor de Regulamento de

Uso da Indicação Geográfica, articulação política entre diversos interesses, levar informação

ao consumidor, proteção de Indicação Geográfica e combate à informalidade. No entanto,

parece haver uma necessidade de que o IBRAC melhor divulgue suas ações e assuma um

posicionamento mais claro sobre sua forma de ação.

8.8.2 Principais Depoimentos

“No ambiente político do setor, a questão da cobrança de uma taxa (para o IBRAC

como gestor do regulamento do uso da indicação geográfica) já foi bastante debatida e esta

madura. No entanto, há preocupação com relação ao pequeno produtor que pode ser

penalizado por uma taxa muito elevada”.

“IBRAC deve fazer articulação política em favor dos pequenos”.

“IBRAC deve levar informação ao consumidor e aos vendedores do ponto de dose.

Exemplo: Perguntar ao consumidor sobre qual a cachaça que gostaria de ter em sua

caipirinha, e não se quer com vodca ou cachaça”. A vodca não deveria ser uma opção.

“Falta uma visão clara de o que é o IBRAC. “É uma instituição política ou de

administração?”.

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“Falta divulgar melhor o que o IBRAC faz”.

“É correto o IBRAC protagonizar isso (Regulamento de Uso da Indicação

Geográfica), sustentado pelos produtores, mas o IBRAC também precisa ir atrás de

financiamento para auxiliar o setor”.

“IBRAC deve focar em conscientização do consumidor”.

“O IBRAC representa muito bem o setor, porém está vivenciando um momento difícil

(baixa arrecadação)”.

“Deve ter uma entidade coletiva promovendo e gerenciando a “marca” cachaça.

Precisamos promover a cachaça como todo, mas não adianta promover aqui ou lá fora a

“marca” x como a melhor cachaça do Brasil se não se entende nem mesmo o que é cachaça”.

“Acho que as iniciativas coletivas sempre são mais eficientes, ações independentes

leva à dispersão, é preciso fazer algo consensual. No entanto o controle pelo modelo “CRC”

(Conselho Regulador da Cachaça) é bastante difícil considerando a dimensão do mercado

brasileiro. No caso da tequila havia uma concentração regional que favoreceu a união e

controle da produção”.

“O IBRAC deve ser a referência para a cachaça no Brasil e isto envolve ações de

proteção da Indicação Geográfica e promoção. Mas o modelo atual do IBRAC não é eficiente,

isto é, a relação do IBRAC não deveria ser com as empresas produtoras, mas sim com as

associações. Assim, as associações “filtram” as demandas regionais e de seus grupos de

interesse e o IBRAC lida com menos conflitos. Os associados ao IBRAC devem ser as

diversas associações do setor”.

“Diferenças do setor como um todo devem ser deixadas de lado, e o IBRAC devem se

mais geral para todos”.

“Cachaça Legal – IBRAC são ações pontuais para tentar coibir cachaça clandestina”.

“Relação do IBRAC com Associações regionais é boa, ocorre um bom diálogo”.

“Ações que o IBRAC deve tomar parte: 1) Resolver questão da tributação; 2)

Fiscalização mais eficiente; 3) Flexibilização em função das estruturas de produção; 4)

Campanha mais forte, papel do IBRAC, ideia que foi Cachaça Legal”.

“Antes de construir a imagem cachaça é preciso restaurar a imagem do próprio

IBRAC junto aos produtores”.

“No delineamento da agenda do setor é muito importante considerar o papel de outros

participantes, não só de produtores. Outras instituições devem estar envolvidas nisso

(universidades, secretarias de turismos, associações a bares e restaurantes, etc.). No entanto é

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difícil traçar objetivos comuns em função das divergências no setor”.

“IBRAC será o regulador da cachaça no futuro. Formular ações coletivas, executar e

regular deve ser feito por uma instituição privada, como o IBRAC”.

“IBRAC, Câmara Setorial, Sebrae e programas estaduais (associações). No caso das

associações estaduais deve haver maior esforço no sentido de alinhar os diferentes agentes.

Existe caso de associações que se colocaram como inimigas dos grandes produtores e este

tipo de rixa deve ser quebrada

8.9 Pesquisa “on-line” com agentes da cadeia produtiva: empresas, cooperativas,

associações e demais agentes

Além das entrevistas, foi aplicado um questionário on-line que foi divulgado pelo

IBRAC com o objetivo de coletar, de maneira sistemática, a opinião dos agentes com relação

aos seguintes tópicos: i) papel do IBRAC; ii) papel da APEX; iii) legislação; iv) tributação; v)

qualidade; vi) concorrência com outras bebidas; vii) conflito: alambique x coluna; viii) ações

coletiva; iv) informalidade. A resposta dos agentes foi dada em escala likert11

de 4 pontos. Na

sequência, são apresentados os resultados do questionário on-line no Quadro 4. Para cada

grupo de questões, foi aplicado um teste estatístico (chi-quadrado) para identificar se existe

diferença estatisticamente significante entre a opinião de associados e não associados e entre

produtores de cachaça de “alambique” e “coluna”. Além disso, foi realizada uma média das

respostas para cada questão, sendo que em uma escala de 1 a 4, a nota 2 é o corte entre

concordância e discordância de cada assertiva.

Foram respondidos 47 questionários de uma amostra não probabilística. Os

respondentes eram basicamente os agentes que fazem parte da rede de contatos e colaboração

do IBRAC. É importante destacar que das 47 respostas obtidas houve certo equilíbrio quando

a associados e não associados ao IBRAC, sendo estes 26 e 21, respectivamente. No entanto,

11 respondentes não eram produtores, mas agentes que de alguma forma estão envolvidos

com o setor (ex.: MAPA, INMETRO, APEX, IBRAC etc.). A relação entre produtores de

cachaça de “coluna” e “alambique” ficou desequilibrada uma vez que somente 3 produtores

de coluna responderam ao questionário. No entanto os três respondentes representam as

principais empresas produtoras de cachaça em volume.

11

A escala Likert (escala de 4 pontos) é a escala de medida utilizada em formulários de pesquisa. Os pontos são

atribuídos a questões afirmativas ou negativas e vão de 1 (totalmente em desacordo) a 4 (totalmente de acordo).

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45

Com relação a distribuição geográfica dos respondentes, os estados de Minas Gerais,

São Paulo e Goiás responderam por mais de 50% da amostra com 20, 6 e 3 respondentes,

respectivamente. Na sequência, Goiás e Rio de Janeiro tiveram 3 respondentes cada, Paraná

foi representado por duas respostas e com somente um respondente foram representados os

estados do Rio Grande do Sul e do Norte, Pernambuco e Paraíba.

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Quadro 4 – Resultado do questionário on-line com agentes do setor

Assertivas

Média

das

resposta

s12

Opinião Geral

Diferença entre

opinião dos Associados

e não associados

Diferença entre

opinião dos

produtores de

“Alambique” e

“Coluna”

1) Considero que as

ações do IBRAC são

importantes para o

desenvolvimento da

cadeia da cachaça

3,6

Na média, os respondentes

entendem que ser associado

ao IBRAC é positivo e que

o IBRAC promove ações e

práticas em prol do setor.

Em geral, os associados

conhecem mais as ações

do IBRAC. Os não

associados em parte

declaram que não

conhecem e outros não

sabem se conhecem as

ações.

Os associados acreditam

que o IBRAC é

importante para o

desenvolvimento do

setor produtivo da

cachaça, enquanto uma

pequena parte dos não

associados não têm este

mesmo entendimento e

uma parcela

considerável

desconhecem as ações e

se estas são importantes

para o setor.

Os produtores de

“alambique” tendem

a considerar mais

importantes as ações

do IBRAC, mas ao

mesmo tempo eles

têm um maior

desconhecimento

sobre estas ações.

2) Considero que as

ações do IBRAC

favorecem as

exportações de

cachaça

3,2

3) O IBRAC está

envolvido em

práticas que

asseguram o

cumprimento da

legislação nacional

da padronização, da

produção,

comercialização e

qualidade da cachaça.

3,3

4) A Associação ao

IBRAC traz

benefícios aos

associados

3,1

5) Conheço as ações

da Agencia Brasileira

de Promoção de

Exportação e

Investimentos

(APEX) voltadas à

promoção da cachaça

brasileira ao mercado

externo

2,9 As ações da APEX são de

conhecimento dos agentes

do setor e favorecem a

exportação.

Os associados acreditam

mais na importância da

APEX para a promoção

da cachaça, enquanto a

maior parte dos não

associados não

conhecem as ações da

APEX.

Sem diferença

estatística

significativa.

6) Acredito que as

ações da APEX são

de interesse para todo

o setor da cachaça

3,1

7) A legislação atual

para classificação da

cachaça é adequada

2,2 Em geral os agentes do

setor não acreditam que

exista incentivos para

produzir cachaça de

qualidade, mas em média

acreditam que a legislação é

adequada e a fiscalização

garante ao consumidor

acesso a uma cachaça de

qualidade. No entanto a

média esta no limite e

indica que a satisfação

quanto aos itens 7,8 e 9 não

Há uma percepção pelos

associados de que a

fiscalização seja

inadequada à garantia da

qualidade da cachaça.

Os produtores de

“alambique”

acreditam que atual

legislação não seja

adequada.

8) Os atributos de

qualidade da cachaça

são bem definidos

pela legislação atual

2,2

9) Existe fiscalização

adequada que garante

ao consumidor final

que a cachaça

comercializada é um

destilado de

2,2

12

Resposta de 1 a 4, sendo que valores inferiores a 2 representam algum nível de discordância com a assertiva

em questão.

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qualidade são elevados.

10) Existem

incentivos para

produzir cachaça de

qualidade

1,8

11) Existe muita

informalidade no

setor

3,6

Os agentes atribuem a alta

informalidade no setor à

tributação e legislação

inadequada.

Sem diferença estatística

significativa.

Os produtores de

“alambique”

acreditam que haja

muita informalidade

no setor.

12) A informalidade

do setor é reflexo de

dificuldades

tributárias

3,4

13) A informalidade

do setor é reflexo de

falta de legislação

adequada

3,2

14) A cachaça

concorre com outras

bebidas destiladas no

mercado nacional

3,3

A cachaça concorre com

outros destilados e também

com não destilados no

mercado interno e externo.

Os associados acreditam

que a cachaça concorra

com outras bebidas

destiladas, mas não com

não destiladas no

exterior.

Sem diferença

estatística

significativa.

15) A cachaça

concorre com outras

bebidas alcoólicas

(exceto destiladas) no

mercado nacional

(ex.: cerveja, vinho,)

2,9

16) A cachaça

concorre com outras

bebidas destiladas no

exterior

3,4

17) A cachaça

concorre com outras

bebidas alcoólicas

(exceto destiladas) no

exterior (ex.: cerveja,

vinho,)

2,5

18) A cachaça em

geral é uma bebida

prestigiada no Brasil

2,5

Na média os agentes

entendem a cachaça como

uma bebida prestigiada no

Brasil.

Os associados acreditam

que a cachaça não seja

uma bebida prestigiada

no Brasil, enquanto os

não associados a veem

como uma bebida

prestigiada

Sem diferença

estatística

significativa.

19) A distinção entre

“cachaça de

alambique” e

“cachaça de coluna”

é importante para

setor

3,3 Os agentes acreditam que

distinguir cachaça “de

alambique” e “de coluna” é

importante, ao mesmo

tempo ainda que com

menos certeza, entendem

que ambos podem produzir

cachaça de igual qualidade,

mas mais em geral atribuem

a maior qualidade à cachaça

de alambique.

Há uma visão de que

deve haver distinção

entre as cachaças, que

ambas podem ser

igualmente de qualidade,

mas que a cachaça de

alambique tem

reputação de melhor

qualidade.

Há uma percepção

produtores de

alambique de que

seja importante a

distinção entre

“alambique” e

“coluna” e que

cachaça “de

alambique” tem

reputação por maior

qualidade.

20) A cachaça “de

alambique” e “de

coluna” podem ser

igualmente de

qualidade

2,6

21) A cachaça “de

alambique” tem

reputação por maior

qualidade

3,3

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22) A cachaça “de

coluna” tem

reputação por maior

qualidade

1,9

23) O setor é bem

coordenado e existe

um órgão que o

representa de maneira

adequada

2,2 A denominação de origem é

vista com algo que favorece

todo o setor bem como

ações de promoção da

cachaça no exterior. Na

média os agentes acreditam

ser possível a união do setor

produtivo em torno de

ações comuns a todos.

Também há o entendimento

de que existe um órgão que

represente o setor de

maneira adequada ainda

que com menor

concordância.

Há pelos associados uma

percepção de que o setor

não esteja bem

coordenado.

Os associados acreditam

que as ações de

promoção no mercado

externo favoreçam a

todo o setor.

Sem diferença

estatística

significativa

24) Ações para

promoção da cachaça

brasileira no exterior

favorecem a todo o

setor

2,9

25) A denominação

de origem

("cachaça") favorece

a todo o setor

3,6

26) Acredito ser

possível a união de

todo o setor

produtivo da cachaça

em torno de ações

comuns a todos

3,4

27) Conheço o

planejamento

estratégico da

Câmara Setorial da

Cachaça

2,8

Os agentes têm algum

conhecimento sobre o

planejamento estratégico da

Câmara setorial da cachaça.

O planejamento

estratégico da câmara

setorial da cachaça é de

conhecimento dos

associados.

Sem diferença

estatística

significativa

28) O uso da

denominação de

origem deve ser de

uso exclusivo

daqueles que

contribuem

financeiramente pelas

ações de fiscalização,

controle, certificação

e promoção da marca

"cachaça"

2,7

Os agentes entendem que

uso do nome cachaça deve

ser restrito àqueles que

contribuem financeiramente

para uma entidade que

cuida de ações de

fiscalização, controle e

promoção da marca.

Os associados veem

como importante o

pagamento pelo uso da

marca cachaça.

Sem diferença

estatística

significativa

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9 PESQUISA COM CONSUMIDORES

O Planejamento Estratégico da Cachaça não seria completo se não considerasse em

sua análise o agente final de sua cadeia produtiva, o consumidor. Para tanto, procurou-se

realizar uma análise das características do consumidor de cachaça, propiciando ganho de

informações úteis ao produtor e aos demais agentes da cadeia produtiva. A presente pesquisa

também permitiu contrastar a visão do consumidor com os relatos colhidos nas entrevistas

com os produtores.

A seguir serão apresentadas as características metodológicas principais da pesquisa

realizada com os consumidores, assim como algumas estatísticas descritivas encontradas

pela pesquisa. Posteriormente serão descritas quais as características determinantes para um

indivíduo ser, ou não, consumidor de cachaça. Também se busca verificar quais outras

bebidas alcoólicas são produtos “complementares” (consumidos em conjunto à cachaça) e

quais são “substitutos” (consumidos em detrimento à cachaça). Por fim, serão evidenciadas

relações entre a frequência de consumo de cachaça e de outras bebidas.

9.1 Metodologia da Pesquisa com Consumidores e Estatísticas Descritivas

O estudo teve por objetivo geral verificar características do consumidor de cachaça,

assim como investigar os determinantes do consumo de cachaça (o que determina o

consumo ou não) de forma a contribuir com ações para desenvolvimento do setor. Para

tanto, foram entrevistados homens e mulheres maiores de 18 anos, consumidores de alguma

bebida alcoólica.

O presente trabalho deu ênfase à pesquisa quantitativa com amostragem randômica

estratificada, ou seja, os indivíduos de uma determinada população são escolhidos de forma

aleatória e divididos por grupos (no presente caso seguindo a proporção entre os sexos,

idade, renda e região da cidade de São Paulo). A realização de pesquisas randômica

estratificadas são importantes porque permitem ao pesquisador chegar a padrões de

comportamento semelhantes para um pequeno número amostral. Então, estes podem ser

generalizados para um universo muito maior, com robustez e segurança estatística. No caso

da pesquisa com os consumidores, foi utilizado um questionário estruturado composto de

mais de 23 perguntas relacionadas à percepção da bebida cachaça, padrão de consumo de

cachaça, de outras bebidas alcoólicas e perfil do respondente. A amostra é comporta de 500

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respondentes distribuídos em diferentes regiões da cidade de São Paulo e contou com um

pré-teste com 50 indivíduos, o qual validou a realização da pesquisa final.

Inicialmente serão expostas algumas das estatísticas descritivas mais pertinentes ao

entendimento do padrão de consumo da cachaça. A Tabela 1 a seguir apresenta as

características da amostra pesquisada. Inicialmente percebe-se que há uma distribuição

adequada com a proporção total da população, quanto às diferentes faixas etárias.

Lembrando que, como a pesquisa se relaciona ao consumo de bebidas alcoólicas,

apenas foram entrevistados indivíduos maiores de 18 anos.

Tabela 1 – Estratificação Etária da Amostra

Fonte: elaborados pelos autores.

Quanto à distribuição de sexos, respeitando a proporcionalidade da população

brasileira, foram entrevistados 250 indivíduos do sexo masculino e 250 do sexo feminino.

Em relação à renda, a presente amostra contém também uma segmentação entre diferentes

faixas de renda (vide Tabela 2), e também escolaridade (vide Tabela 3). Sendo assim uma

pesquisa representativa do universo da população a ser compreendido.

Tabela 2 - Estratificação por Renda Mensal da Amostra

RENDA MENSAL Freq. %

Até R$ 1.500,00 139 27,9

de R$ 1.501,00 a R$ 4.000,00 216 43,4

de R$ 4.001,00 a R$ 7.500,00 95 19,1

de R$ 7.501,00 a R$ 11.500,00 27 5,4

Acima de R$ 11.500,00 21 4,2

Total* 498 100,0

*dois dos indivíduos não responderam a qual faixa de renda pertenciam.

Fonte: elaborado pelos autores.

IDADE Freq. %

18 a 24 anos 126 25,2

25 a 39 anos 157 31,4

40 a 54 anos 151 30,2

55 anos ou mais 66 13,2

Total 500 100

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Tabela 3 - Estratificação por Nível de Escolaridade da Amostra

Fonte: elaborado pelos autores.

Quanto ao consumo de cachaça, os dados apontam que dos 500 indivíduos

entrevistados 391 (78,2%) não consomem cachaça e 109 (21,08%) consomem a referida

bebida. Apenas entre os consumidores de cachaça, 42 (38,5%) deles conhecem a diferença

entre os processos de produção (“Alambique” e “Coluna”). Já 67 (61,5%) desconhecem as

diferenças entre estes processos.

Os consumidores foram também indagados sobre a frequência de consumo e lugares

onde o produto é consumido de forma mais recorrente. Dos 109 consumidores, 33,9%

consomem cachaça uma vez por semana, 24,8% a cada quinze dias, 17,4% consomem uma

vez no mês, 22,9% alguma vez no ano contra 0,9% menos de uma vez ao ano. Sendo que

55% da amostra, ou seja, 55 dos respondentes costumam comprar cachaça em bares,

padarias e restaurantes, 32,1% em mercado, supermercado, hipermercado, o que representa

35 indivíduos, 11,9% (13 respondentes) compram em adegas, depósitos e/ou mercearias, e

apenas 6 consumidores, 5,5% do total, compram direto do produtor. O fato de a pesquisa

haver sido realizada na cidade de São Paulo pode explicar um pouco do baixo número de

consumidores que compram direto do produtor.

Buscou-se identificar a forma em que o consumidor compra a cachaça e quais os

locais consomem o produto. Neste caso o respondente poderia indicar mais de uma forma de

consumo. Foi constatado que 60,6% compram garrafas rotuladas e 63,3% consomem em

doses, 3,7% em garrafa ou garrafão não rotulado a Granel; 1,3% em garrafão rotulado. No

que se refere à forma de como é consumido, ou seja, como é ingerido, do total da amostra

63,3% consomem na forma de caipirinha, 56,9% consome pura, sem adição de nenhum

outro ingrediente e 15,6% consomem com adição de outra bebida, do restante 13,8% na

ESCOLARIDADE Freq. %

Fundamental incompleto 28 5,6

Fundamental completo 68 13,6

Segundo grau incompleto 40 8,0

Segundo grau completo 143 28,6

Técnico 11 2,2

Graduação incompleta 64 12,8

Graduação completa 99 19,8

Pós-Graduação incompleta 8 1,6

Pós-Graduação completa 39 7,8

Total 500 100,0

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P E C – C a c h a ç a

forma de outros drinques. Vale ressaltar que aqui de forma análoga, um respondente utiliza

uma ou mais forma de consumo e compra do produto em análise.

Por meio dos dados apresentados é notado que o consumidor de cachaça em geral

tem preferência de consumo da bebida pura ou na forma caipirinha, sendo esta apreciada em

casa ou em eventos sociais, de acordo com suas respostas. Mais detalhadamente, os locais

onde de consome a cachaça, de acordo com dados da pesquisa 97,2% dos respondentes

apreciam a bebida em sua própria casa e/ou na casa de amigos; 98,2 % consomem em bar,

restaurante e padaria; 95,4% em festas e 40,4% em outros locais não especificados.

Com o objetivo de entender quais sentimentos os consumidores de cachaça associam

ao produto, foram desenvolvidas perguntas direcionadas a entender tal associação, dos

resultados gerais amostra, 25,2% associam a bebida sentimentos negativos, 22,8% a

momentos de descontração, 15,4% a festas; 9,8% à ‘volta às origens’; 8,4 % a empolgação

3,0 % a sentimentos positivos em geral.

Tais números auxiliam a entender o padrão de consumo da cachaça, mas ainda resta

a dúvida sobre quais são as características determinantes para a efetivação do consumo da

cachaça. A subseção abaixo irá detalhar o modelo proposto para realizar-se esta análise, bem

como seus resultados.

9.2 Características Determinantes para o Consumo de Cachaça

Conforme visto anteriormente, as estatísticas apresentadas evidenciam algumas

informações sobre a amostra utilizada na pesquisa e sobre o padrão de compra e consumo de

cachaça pelos consumidores respondentes. Contudo, apenas tais informações não são

suficientes para maiores inferências e generalizações. É importante ir além e verificar quais

características determinam o consumo de cachaça pelos indivíduos.

Para se chegar a esta resposta, comparou-se os grupos “consumidor” e “não

consumidor” de cachaça, verificando as diferenças entre as respostas de cada grupo para um

mesmo conjunto de perguntas. Através de métodos econométricos, foi possível chegar-se a

resultados que apontam com segurança estatística quais são as características determinantes

para o consumo de cachaça13

.

13

Para a avaliação dos consumidores foram aplicadas quatro técnicas estatísticas de causalidade, a saber:

regressão mínimos quadrados ordinários; regressão logística; regressão probabilística; regressão tobit. Todos

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Objetivando responder à questão: quais as características levam ao consumo de

cachaça? Foram estabelecidos três blocos de características relativas ao consumidor e à

cachaça, com a finalidade de verificar quais características ajudam a diferenciar o

consumidor do não consumidor de cachaça. Os três blocos seguem detalhados na sequência:

1) Bloco 1: Características da bebida cachaça. Nesta categoria estão questões

relativas à:

a. Percepção de qualidade da cachaça;

b. Percepção de impacto à saúde que a bebida gera;

c. Percepção do status da cachaça;

d. Percepção sensorial agradável (relativo a características organolépticas);

e. Percepção cultural (relacionado a associação de cachaça como elemento da

cultura brasileira);

f. Preço (avaliação se preço é importante na decisão de consumo).

2) Bloco 2: Perfil do respondente. Nesta categoria estão dados relativos a:

a. Sexo do respondente;

b. Idade do respondente;

c. Escolaridade do respondente;

d. Estado civil do respondente;

e. Renda Mensal do respondente;

3) Bloco 3: Frequência no Consumo de Outras Bebidas Alcoólicas. Nesta categoria

estão questões relativas à:

a. Frequência de consumo de Vodka (destilado);

b. Frequência de consumo de Whisky (destilado);

c. Frequência de consumo de Tequila (destilado);

d. Frequência de consumo de Vinho (fermentado);

e. Frequência de consumo de Cerveja ou Chopp (fermentado);

f. Frequência de consumo de Outras bebidas alcoólicas.

A Figura 7 auxilia na visualização do modelo proposto, onde as características associadas a

cada bloco (à esquerda) determinam a efetuação do consumo de cachaça (à direita). Vale

destacar que as características da bebida foram selecionadas de acordo com a revisão da

literatura e o levantamento de informações realizado com os produtores e agentes do setor.

os modelos se mostraram válidos pelo teste F> Pchi2; sendo as regressões MQO homocedásticas. As equações

do modelo bem como seus resultados são aqui omitidos, com finalidade de dinamizar a leitura, sendo estes

expostos em maiores detalhes no Anexo 1.

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Figura 7 - Determinantes do Consumo de Cachaça

Fonte: elaborado pelos autores.

O bloco 1 visava observar quais características da cachaça que mais agradam aos

consumidores e que influenciam de forma estatisticamente significativa para a efetivação do

consumo. Neste bloco verificou-se que os determinantes para a realização do consumo de

cachaça são a Qualidade; Aspectos Sensoriais e Preço. Ou seja, de acordo com as análises o

consumo de cachaça ocorre em função: i) da avaliação dos consumidores sobre a cachaça ser

uma bebida de qualidade superior às demais bebidas alcoólicas (destiladas ou fermentadas);

ii) pelo gosto do consumidor com relação às características sensoriais/organolépticas da

cachaça, notadamente seu sabor, aroma e boa aparência; e iii) o fator preço como sendo

importante para as decisões de consumo do indivíduo.

Em suma, no bloco 1 percebeu-se que, no que se referem as características da

cachaça, os fatores que mais influenciam o consumo são a percepção da cachaça como uma

bebida de qualidade superior, com características sensoriais/organolépticas agradáveis e com

preço mais baixo. Não necessariamente todos os consumidores apreciam as três

características ao mesmo tempo, pode haver consumidores que avaliem de forma mais

destacada o preço, e outros as características sensoriais, por exemplo. Em linhas gerais, as

três características mencionadas se mostram como os principais determinantes para a

efetivação do consumo, sendo aspectos relacionados à saúde, status da bebida e associação

cultural não relevantes na decisão de consumo.

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Seguindo com o bloco 2, observou-se que, das características de perfil, o principal

fator encontrado é o consumidor de cachaça ser do sexo masculino. Em todas as análises o

fato de ser homem implica em uma maior probabilidade de ser consumidor de cachaça. No

entanto, idade mais elevada e menor renda também aparecem como fatores determinantes

para o consumo de cachaça em alguns dos modelos.

Por fim, o bloco 3 expõe se a frequência de consumo de outras bebidas pode ser fator

explicativo para a ocorrência também do consumo de cachaça. Neste aspecto, os resultados

evidenciam que os consumidores de cachaça são mais frequentemente consumidores das

outras bebidas destiladas como vodca, uísque e tequila, mas não das bebidas fermentadas

(vinho ou cerveja/Chopp). Isto indica que em geral os consumidores de destilados também

consomem cachaça, e que potencialmente este seria o público que estaria disposto a trocar o

consumo pela cachaça.

A Figura 8 apresenta de forma esquemática, os principais resultados que respondem

à pergunta sobre quais as características levam ao consumo de cachaça?

Figura 8 - Resultados dos Determinantes para o Consumo de Cachaça

Fonte: elaborado pelos autores.

9.3 Considerações Finais do Capítulo

Pela análise dos dados oriundos da pesquisa com os consumidores, foi possível traçar

um perfil de quem é o consumidor de cachaça, além de possibilitar a verificação de

características que levam ao consumo da referida bebida. Percebeu-se que os principais

atributos da cachaça que o consumidor valoriza são a qualidade, aspectos sensoriais e preço;

sendo este consumidor majoritariamente do sexo masculino, destacadamente de maior idade,

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renda mais baixa e também consumidor de outras bebidas destiladas. Tais informações

podem ser úteis ao setor como forma de direcionamento estratégico de marketing e de

posicionamento de produto, tanto para consolidar sua posição em nichos de mercado já

estabelecidos, quanto para definir formas de atuação em outros mercados.

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10 COMPETITIVIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DA CACHAÇA

Considerando a descrição dos diferentes ambientes que suportam a cadeia produtiva da

cachaça apresentados anteriormente, e também a visão dos agentes envolvidos na cadeia com

relação a seus principais desafios, é possível avaliar de maneira ampla sua competitividade.

A seguir iremos descrever os desafios para a competitividade da cadeia produtiva da cachaça

em relação aos ambientes que foram analisados.

Perda de participação no mercado mundial

Observa-se no capítulo 7 que as exportações de cachaça apresentaram tendência de

encolhimentonos últimos dez anos. Há que se fazer menção, no entanto, ao aumento da importação

da cachaça pelos EUA entre 2003 e 2013, quando comparado com as outras bebidas alcoólicas. Os

EUA são o principal mercado consumidor de cachaça em valor depois do Brasil. Destaca-se que o

valor agregado da produção entre 2007 e 2012 aumentou, uma vez que a queda em volume foi da

ordem de 17%, enquanto o valor (real) reduziu-se em 10%, o que indica a exportação de produtos

com maior valor agregado.

Legislação ambígua e desigual

No capítulo 3 observou-se que a legislação atual para classificação da cachaça é imprecisa e

pode gerar redução do valor percebido da bebida no mercado. Isto porque a legislação atual

determina o uso da denominação premium ou extra premium para cachaças envelhecidas.

Entretanto, o envelhecimento não garante a maior qualidade da bebida. Além disso, a legislação

atual não prevê o uso de denominação específica para casos de misturas (blends), o que pode limitar

a forma de ação das empresas no mercado.

Outro ponto crítico em relação ao ambiente institucional é a ausência de tratativa

diferenciada para pequenos produtores frente às dificuldades tributárias e burocráticas que

se impõe no ambiente de negócios brasileiro e que impede, em última instância, a legalização

de parte dos produtores. Este fato pode ser responsabilizado em partes pela elevada

informalidade no setor, que atenta para a sua competitividade, uma vez que coloca empresas

a competir em situação de desigualdade com negócios informais e ainda podem levar uma

imagem depreciada da cachaça no mercado dado que não é possível atestar a qualidade dos

produtos ilegais comercializados pelos rincões do país.

Também não se tem definido o que vem a ser um “produtor de cachaça cuja produção serve

para consumo próprio”. Isto, por si só, coloca pequenos produtores familiares que produzem

quantidades pequenas para consumo próprio, na informalidade ex ante. Como mencionado, a

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história do país se mistura com a história da produção de cachaça de tal forma que a pequena

produção está enraizada nas diferentes regiões do país. Deste modo, é complexo pensar que as

dezenas de milhares de pequenos produtores presentes em todas as regiões do país se

estruturem na forma de empresas, ainda que exista uma tratativa diferenciada para pequenos

produtores com reduzida carga tributária e menor burocracia. Assim, o desafio que se

impõem é de como trazer este tipo de produção para uma situação de formalidade

Por fim, o Regulamento de Uso da Indicação Geográfica sob gestão de uma instituição

que represente o setor é primordial para conferir agilidade ao processo reconhecimento da

Indicação Geográfica no mercado externo. Além disso, este regulamento permitiria uma

fiscalização mais adequada da produção regular e conferiria maior agilidade nas discussões

do setor em torno de modificação e melhorias da legislação em vigor.

Gargalos tecnológicos

No capítulo 4 vimos a atual situação do ambiente tecnológico. O que se observou é o baixo

nível de difusão de tecnologia e práticas de produção em âmbito nacional. Soma-se a isso a

inexistência até o momento de um manual de boas práticas produtivas amplamente aceito e

difundido, o que dificulta o acesso a pequenos produtores à informações que podem levar à

produção de produtos com maior qualidade e em última instância beneficiar o consumidor geral.

Existe atualmente a iniciativa de produção de um manual de boas práticas do setor, pelo SEBRAE

em parceria com o IBRAC e que deverá conferir maior difusão de informações. A difusão

tecnológica é, no entanto, um entrave para a competitividade da cadeia que tem uma

capilaridade intensa e que como já discutido, a existência de produtores com qualidade

inferior pode prejudicar a imagem de toda a cadeia.

Ainda com relação ao ambiente tecnológico as dificuldades relacionadas à obtenção de

garrafas para atender ao setor acaba por gerar dificuldades mercadológicas como, por exemplo, a

impossibilidade de manter um padrão/identidade de garrafa utilizada pelos agentes. Muitas vezes, a

alternativa não é a opção mais adequada para acessar o mercado consumidor, mas aquela mais

viável dificultando as estratégias individuais dos agentes.

Necessidade de recursos para ações coletivas

Como visto no capítulo 5, o ambiente organizacional da cadeia produtiva da cachaça teve

diversos avanços, dentre elas, as ações de planejamento estratégico da Câmara Setorial da Cadeia

Produtiva da Cachaça e mesmo a constituição do IBRAC e ações decorrentes. Contudo, alguns

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grandes desafios à competitividade da cadeia se impõem. A Câmara Setorial desempenha um

importante papel na articulação de ideias e promoção de discussões relevantes do setor e consegue

reunir diversas esferas públicas que podem se mobilizar em torno de assuntos relevantes à cadeia.

Contudo, muitas ações necessárias ao setor demandam trabalhos com maior intensidade e que nem

sempre podem ser levados para as discussões na Câmara. O IBRAC ou outra organização de

representação do setor pode desempenhar o papel de conduzir as discussões relevantes ao setor e

promover as ações ainda necessárias. Contudo, para que isso seja possível, o setor deve conseguir se

financiar. Pouco provável que esta verba possa vir de outros agentes que não da própria cadeia

produtiva. Ações isoladas e pontuais podem até conseguir verbas de instituições públicas de

fomento como o caso da APEX, financiando parte das ações para desenvolvimento da cachaça no

mercado externo, no entanto um planejamento de ações em diversas áreas demanda uma

coordenação central com financiamento próprio, conferindo maior autonomia e legitimidade à

cadeia como um todo.

Conclui-se, portanto, que houve recente perda de competitividade da cadeia produtiva da

cachaça dado encolhimento da produção e exportação, mas que a perda não foi superior em função

do incremento de valor agregado da produção. Considerando a dinâmica competitiva da cadeia

produtiva da cachaça e os ambientes institucionais, organizacionais e tecnológicos, vê-se a

necessidade de implementar ações coletivas alinhadas com os anseios de seus membros com o

suporte de uma entidade articuladora com capacidade financeira para desenvolver as ações.

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11 WORKSHOP DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA CADEIA

PRODUTIVA DA CACHAÇA

Relatamos a seguir os trabalhos realizados pelo CORS no Workshop da Cadeia Produtiva da

Cachaça, nos dias 26 e 27 de Fevereiro, que teve como objetivo colaborar no processo de

implementação de gestão estratégica do setor.

11.1 Objetivos do trabalho

O objetivo do trabalho, realizado com o apoio da Apex-Brasil, foi contribuir com o Instituto

Brasileiro da Cachaça na criação de uma agenda de ações que devem ser desenvolvidas pelo setor a

fim de superar os desafios que se impõem para: a) valorização da cachaça no Brasil e no exterior; b)

desenvolvimento e exploração dos potenciais mercados da cachaça.

11.2 Metodologia de Trabalho

Para alcançar este desafio, o CORS apresentou o resultado de alguns trabalhos

desenvolvidos anteriormente ao workshop, com o objetivo de criar maior entendimento entre todos

os participantes sobre questões importantes que foram identificadas nas etapas preliminares do

trabalho. Na sequência, foram desenvolvidas dinâmicas em grupos com o objetivo de mapear

problemas e soluções relativas a cadeia produtiva da cachaça e priorizar uma agenda de ações para

o setor.

Os trabalhos anteriores ao Workshop estão todos contidos no corpo do documento

“Relatório Final” do projeto “Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça” produzido

pelo CORS. Os resultados do workshop são apresentados a seguir, e na sequência são apresentados

os comentários do CORS com o objetivo de suscitar alguns pontos de reflexão.

11.3 Detalhamento das atividades

O Workshop de Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça contou com a

participação de 68 pessoas, das quais, 16 representavam produtores de cachaça, 17 eram agentes

ligados a instituições privadas de interesse coletivo e 21 representavam sindicatos e associações em

esfera regional e nacional.

No primeiro dia pela manhã, foram apresentados os trabalhos de instituições (SENAI,

SENAC e Sebrae) que podem suportar a cadeia produtiva da cachaça. À tarde, iniciaram-se os

trabalhos do CORS. Os resultados das entrevistas com 30 agentes do setor, realizadas anteriormente

ao Workshop, o resultado do questionário on-line aos produtores e o resultado de uma pesquisa

probabilística realizada na cidade de São Paulo com o objetivo de identificar os determinantes do

consumo de cachaça, foram expostos.

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Após estas apresentações, os participantes foram divididos em cinco grupos e com a

coordenação dos pesquisadores do CORS, foi realizada uma dinâmica chamada pontos de

melhoria e pontos de ruptura. Nesta dinâmica, os agentes eram convidados a levantar problemas

e/ou desafios da cadeia produtiva em torno de dez grandes temas e para cada problema ou desafio

apresentado, foi solicitado que indicassem ações de melhoria ou ruptura. Os dez temas avaliados

foram:

1. Tributação;

2. Fiscalização e Controle;

3. Mercado Interno e Concorrência;

4. Mercado Externo;

5. Padrão de identidade e qualidade (IG, DO, Rotulagem, Definições do Produto);

6. Fatores de produção;

7. Papel do IBRAC;

8. Financiamento das ações do setor;

9. Atuação de outras instituições (SEBRAE, SENAI, SENAC, APEX, INMETRO, INPI,

Câmara Setorial, MAPA, MDIC, MRE, EMBRAPA, etc.);

10. Assistência técnica.

O 1º dia terminou com a realização desta dinâmica. Os resultados de cada um dos cinco

grupos foram consolidados pela equipe CORS e no dia seguinte, em plenária, foram apresentados

todos os problemas e ações sugeridas a fim de corrigir erros de interpretação e adicionar ações não

sugeridas no dia anterior.

Os problemas e ações sugeridas estão apresentados nos quadros de 12 a 20, a seguir.

Quadro 5 - Tributação

Problemas/Desafios Ações

1. Falta de isonomia tributária para pequenos produtores 1.1 Inclusão do pequeno produtor no SIMPLES

1.2 Diferenciação tributária por porte e não por tipo de

produção

2. Falta de uniformidade da legislação de ICMS e substituição

tributária 1.3 Ações perante o Confaz

3) Alta tributação para importação de equipamentos Nenhuma ação sugerida

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4) Critérios tributários não claros Nenhuma ação sugerida

5) Guerra fiscal entre estados Nenhuma ação sugerida

Quadro 6 - Fiscalização e Controle

Problemas/Desafios Ações

6) Morosidade do governo no registro do produto 2.1 Simplificação das exigências legais via Câmara

Setorial

7) Infraestrutura do estado (recursos humanos e operacionais

8) Falta de fiscalização dos produtores 2.2 Mais fiscalização sob a informalidade da produção

8) Falta de padronização de critérios e procedimentos entre os

estados

9) Falta de qualificação dos fiscais - treinamento 2.3 Implantação do SUASA (Sistema Único de Atenção

a Sanidade Agropecuária); descentralização do controle

2.4 Implementação da IG

10) Falta de fiscalização dos pontos de venda

2.5 Informação do consumidor sobre informalidade

(ex.: Campanha Cachaça Legal)

2.6 Ampliação da fiscalização dos pontos de venda pelo

INMETRO, Vigilância Municipal, Estadual e Federal,

Secretaria da Fazenda, Ministério Público e outras

instituições de fiscalização.

11) Informalidade e falsificação

2.7 Desburocratizar e criar mecanismo que facilite a

formalização

2.8 Ampliar o número de laboratórios de análises (ex.:

parceria com SENAI e outros)

Quadro 7 - Mercado interno e concorrência

Problemas/Desafios Ações

12) Falta de estratégia de promoção setorial,

13) Falta de informação para o consumidor

14) Valorização de bebidas importadas;

15) Imagem depreciada da cachaça

3.1 Campanha de Marketing (estratégia institucional), junto a

formadores de opinião e divulgação de bebidas mistas (ex.:

cachaça + suco.)

3.2 Formar multiplicadores de degustação via cursos de

sommelier, treinamento de garçons entre outras iniciativas

16) Dificuldade de distribuição e logística para pequeno

produtor

3.3 Criar cartilha para fomento de lojas e/ou distribuidores

especializados

3.4 União dos produtores para elevar o poder de barganha com

o varejo

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17) Falta de trabalho com relação ao Consumo

Responsável

3.5 Ação institucional para o Consumo Responsável

3.6 Ampliar o conhecimento do consumidor sobre o risco do

produto clandestino por meio de campanhas

Quadro 8 - Mercado Externo

Problemas/Desafios Ações

18) Falta de recurso para promoção;

19) Falta de divulgação de produto envelhecido;

4.1 Ampliação do projeto da APEX (escopo e prazo)

4.2 Maior alinhamento da APEX para formular

contatos com compradores externos

20) Inadequação dos procedimentos do MAPA para os países

importadores

4.3 Maior coordenação com os Ministérios, Câmara

Setorial e Conselho Regulador

21) Desconhecimento e difícil acesso ao mercado externo 4.4 Criar cartilha com apoio técnico aduaneiro

22) Falta de comprometimento da política comercial com a

cachaça 4.5 Pleitear entendimento com MDIC e MRE

23) Burocracia e ineficiência na emissão de certificados para

exportação, custo portuário, de logística e distribuição Nenhuma ação sugerida - Custo Brasil

24) Barreiras técnicas e tarifárias Nenhuma ação sugerida

Quadro 9 - Padrão de Identidade e qualidade

Problemas/Desafios Ações

25) Falta de informação ao produtor / consumidor

5.1 Destaque do processo produtivo no rótulo do

produto

26) Falta de padronização 5.2 Incentivar certificação

27) Maior Regulamentação quanto à qualidade; limites

mínimos de congêneres

5.3 Aperfeiçoar IN13/2005 com relação aos limites

aceitos para congêneres (mais restritos)

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28) Falta de Laboratórios Homologados

29) Dificuldades dos pequenos produtores de arcar com custos

das análises

5.4 IBRAC com projeto junto ao

SEBRAE/Universidades/Embrapa para subsidiar as

análises; e outras iniciativas

30) Indicação Geográfica 5.5 Implementação da Indicação Geográfica

Quadro 10 - Fatores de produção

Problemas/Desafios Ações

31) Baixa qualidade de insumos (garrafa rótulo, tampa, rolha e

equipamento individual)

32) Poucos fornecedores (com poder de mercado) com grandes

exigências na escala de entrega

6.1 Reduzir carga tributária para importação de

insumos

33) Buscar solução para madeiras para envelhecimento

6.2 Certificação; pesquisas em universidades para

buscar solução para madeiras para envelhecimento

6.3 Atenção aos tanoeiros (treinamento)

34) Baixo nível de inovação no setor 6.4 Realizar conexões com FINEP, MCT, dentre outras

entidades, devido o baixo nível de inovação

Quadro 11 - Papel do IBRAC

Problemas/Desafios Ações

35) Problemas de Comunicação e Capilaridade

7.1 Aumento das reuniões por videoconferência/skype®

para aumentar participação de todos

7.2 Aumento das comunicações com produtores;

cartilhas e informativos

7.3 Melhorar comunicação do IBRAC sobre cursos

disponíveis (link no site). Calendário de Eventos.

7.4 Melhorar levantamento de dados e maior geração

de estatísticas sobre o setor (relatórios técnicos sobre o

setor)

7.5 Fortalecer ações sobre Consumo de Responsável

36) Problema de Governança, gestão e ações coletivas

7.6 Melhorar a estrutura institucional/organizacional,

para conseguir atender as demandas dos stakeholders

7.7 Adequação do setor sobre a lei dos resíduos sólidos

7.8 Articular pontos de convergência de interesses com

outros setores

7.9 Garantir representatividade na instituição

(proporcional aos produtores)

7.10 As iniciativas relacionadas à cachaça devem estar

mais alinhadas ao IBRAC

7.11 Definir um regulamento para os concursos de

cachaça

7.13 Incentivar turismo da cachaça (maior interlocução

com órgãos de turismo Ministérios, Secretarias)

37) Concursos isolados 7.12 IBRAC promover um concurso da Cachaça

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Quadro 12 - Financiamento das ações do setor

Problemas/Desafios Ações

38) Problema de Financiamento da produção

8.1 Criação de Fundo Setorial

8.2 Pleitear linhas de crédito específicas (em nível

Federal)

8.3 Financiamentos para boas práticas de fabricação

39) Falta de informação sobre financiamentos 8.4 Melhorar divulgação de oportunidades de

financiamento articulando IBRAC e Associações;

40) Financiamento das ações do IBRAC

8.5 Benchmark com IBRAVIN sobre sustentação

financeira

Como pode ser observado, inicialmente havia 10 temas, que foram consolidados em oito

após o workshop. O tópico sobre assistência técnica e atuação de outras instituições recebeu menos

atenção pelos agentes e acabaram sendo contemplados de alguma forma nos itens seis e oito. Ao

todo, foram listados 40 problemas/desafios e 49 ações necessárias para enfrenta-los. Em

plenária, foram discutidos todos os problemas e ações sugeridas a fim de verificar se nada foi

esquecido e se estavam de acordo com a proposição inicial dos agentes. Na própria plenária, alguns

agentes expuseram sua opinião para os demais a fim de defender que algumas ações propostas eram

mais importantes que outras ou que da maneira como ação havia sido proposta é prejudicial ao

setor. Mediante concordância geral, foram realizados os ajustes sugeridos.

11.4 Dinâmica de Priorização

Na sequência, foi solicitado que cada agente concedesse uma nota para o grau de

importância e urgência para cada uma das ações listadas. Por importância entende-se o impacto

positivo ou negativo que a implementação ou não daquela ação pode trazer ao setor. Assim, ações

com elevado grau de importância tem um alto impacto positivo para o setor caso seja implementada

ou trazem um alto impacto negativo caso não sejam implementadas. Com relação a urgência,

entende-se que ações urgentes são aqueles em que se não implementadas trarão impactos negativos

em curto espaço de tempo. Assim, quanto maior o grau de urgência, em menos tempo a não

implementação daquela ação implicará em resultados indesejáveis à cadeia produtiva da cachaça.

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P E C - C a c h a ç a

A opinião de cada agente sobre a importância e urgência das ações foi compilada e uma

média das respostas foi calculada. Com isso obtém-se uma nota média geral para cada ação sobre

sua importância e urgência. Este resultado é uma maneira de se priorizar as ações propostas de

maneira objetiva e que considera a pluralidade de opiniões dos agentes participantes. É importante

notar, contudo, que não foram considerados na priorização os custos de implantação destas ações,

que por si só podem sem uma barreira à ação do setor. Após maior detalhamento das ações

proposta, recomenda-se que o setor na figura do IBRAC, estime os custos de condução de cada ação

para verificar a viabilidade de sua implantação ou mesmo para planejar a alocação de recursos

financeiros e humanos na condução das ações.

A Figura 9 a seguir apresenta as ações priorizadas plotadas em uma escala de importância e

urgência. Na sequência são expostas quatro figuras e quadros com as ações listadas do maior

produto da importância e urgência (nota dada a importância X nota dada à urgência) para o menor,

relativo ao maior escore dentre as ações. Com isso, tem-se uma ideia das ações prioritárias as quais

foram divididas em quatro faixas de priorização, a saber: Alta (score relativo de 100 a 75); Média-

Alta (score relativo 74,9 a 50); Média-Baixa (score relativo 49,9 a 25) e Baixa (24,9 a 0). Com esta

divisão pretende-se melhor evidenciar ao setor quais ações devem ser prontamente “atacadas” pela

cadeia produtiva da cachaça, logicamente com a ressalva da disponibilidade de recursos para

implanta-las.

Figura 9 - Priorização com Todas as Ações

Fonte: elaborado pelos autores.

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Urg

ênci

a

Importância

Alta Média-Alta Média-Baixa Baixa

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P E C - C a c h a ç a

Figura 10 - Priorização Alta

Fonte: elaborado pelos autores.

Quadro 13 - Ações de Alta Prioridade

Prioridade ID Ações

Score

Relativo

Alt

a

1.1 Inclusão do pequeno produtor no simples 100,00

2.4 Implementação da IG 84,81

2.2 Mais fiscalização sob a informalidade da produção 81,44

2.5 Informação ao consumidor sobre informalidade (cachaça legal) 77,27

2.8 Ampliar o número de laboratórios de análises (em parceria com

SENAI, entre outros) 75,40

Fonte: dos autores.

2.8 2.5

2.2 2.4

1.1

7

8

9

10

7 8 9 10

Urg

ênci

a

Importância

Alta

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P E C - C a c h a ç a

Figura 11- Priorização Média-Alta

Fonte: elaborado pelos autores.

Quadro 14 - Ações de Média-Alta Prioridade

Prioridade ID Ações Score

Relativo

Méd

ia-A

lta

3.6 Ampliar o conhecimento do consumidor sobre o risco do

produto clandestino por meio de campanhas 74,25

2.7 Desburocratizar e criar mecanismo que facilite a formalização 72,88

8.2 Pleitear linhas de crédito específicas (em nível Federal) 72,17

4.1 Ampliação do projeto da APEX 71,40

3.2 Formar multiplicadores de degustação, cursos de sommelier;

garçons; etc. 69,95

2.6

Ampliação da fiscalização dos pontos de venda pelo Inmetro,

vigilância (Municipal; Estadual e Federal); Secretaria da

Fazenda; outras instituições relevantes (Incluir o ministério

público)

68,77

5.5 Implementação da Indicação Geográfica 68,09

1.3 Ações perante o CONFAZ 67,20

4.3 Coordenação com os Ministérios; Câmara Setorial e Conselho

Regulador 66,88

7.3 Melhorar comunicação do IBRAC sobre cursos disponíveis

(link no site). Calendário de eventos 66,30

1.2 Diferenciação por porte e não por tipo de produção 66,15

2.3 Implantação do SUASA (Sistema Único de Atenção a

Sanidade Agropecuária); descentralização do controle. 65,61

7.1 3.4

7.7 7.5 7.6

7.9

7.13

3.5 2.1

4.5

4.4 4.2

6.1 8.3

7.4

5.4 7.2

8.5 8.4

3.1

8.1 2.3 1.2

7.3

4.3

1.3

5.5

2.6

3.2

4.1

8.2 2.7

3.6

6

7

8

6 7 8

Urg

ênci

a

Importância

Média-Alta

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P E C - C a c h a ç a

8.1 Criação de Fundo Setorial 63,90

3.1 Campanha de Marketing (estratégia institucional), junto a

formadores de opinião; divulgar bebidas mistas; etc.) 63,58

8.4 Melhorar divulgação de oportunidades de financiamento

articulando IBRAC; Associações; etc. 63,04

8.5 Benchmark com IBRAVIN sobre sustentação financeira 62,82

7.2 Aumento das comunicações com produtores; cartilhas e

informativos 62,11

5.4

IBRAC com projeto junto ao

SEBRAE/Universidades/Embrapa para subsidiar as análises; e

outras iniciativas

61,53

7.4 Melhorar levantamento de dados e maior geração de

estatísticas sobre o setor (relatórios técnicos sobre o setor) 61,26

8.3 Financiamentos para boas práticas de fabricação 60,69

6.1 Reduzir carga tributária para importação de insumos 60,04

4.2 Maior alinhamento da APEX para formular contatos com

compradores externos 58,09

4.4 Criar cartilha com apoio técnico aduaneiro 57,48

4.5 Pleitear entendimento com MDIC e MRE 57,26

2.1 Simplificação das exigências legais via câmara setorial 56,88

3.5 Ação institucional para o consumo responsável 56,87

7.13 Incentivar turismo da cachaça (maior interlocução com órgãos

de turismo Ministérios, Secretarias) 54,26

7.10 As iniciativas relacionadas à cachaça devem estar mais

alinhadas ao IBRAC 54,15

7.9 Garantir representatividade na instituição (proporcional aos

produtores) 54,02

7.6 Melhorar a estrutura institucional/organizacional, para

conseguir melhorar as demandas dos stakeholders 53,36

7.5 Fortalecer ações sobre Consumo Responsável 52,50

7.7 Adequação do setor sobre a lei dos resíduos sólidos 50,55

3.4 União dos produtores para aumentar o poder de barganha com

o varejo 50,54

7.1 Aumento das reuniões por videoconferência/skype® para

aumentar participação de todos 50,38

Fonte: dos autores.

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P E C - C a c h a ç a

Figura 12 - Priorização Média-Baixa

Fonte: elaborado pelos autores

Quadro 15 - Ações de Média-Baixa e Baixa Prioridade

Prioridade ID Ações Score

Relativo

Méd

ia-B

aixa

6.2

Certificação; pesquisas em universidades para buscar solução

para madeiras para envelhecimento 48,45

7.8

Articular pontos de convergência de interesses com outros

setores 48,34

3.3

Criar cartilha de fomento em lojas ou distribuidores

especializados 46,18

6.4

Realizar conexões com FINEP, MCT, dentre outras entidades,

devido o baixo nível de inovação 44,74

5.3

Aperfeiçoar IN13/2005 com relação aos limites aceitos para

congêneres (mais restritos) 44,38

6.3 Atenção aos Tanoeiros (treinamento) 40,71

5.2 Incentivar a Certificação 37,96

7.11 Definir um regulamento para os concursos de cachaça 36,69

5.1 Destaque do processo produtivo no rótulo do produto 35,98

Baixa 7.12 IBRAC promover concurso de cachaça 19,50

Fonte: elaborado pelos autores.

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P E C - C a c h a ç a

Considerações

A priorização das ações revela a preocupação principal dos agentes que é a alta

informalidade no setor, que leva à competição desigual. Observando-se as ações de alta prioridade,

vemos que cinco de seis ações sugeridas visam resolver de alguma maneira a questão da

informalidade, com ações tanto no setor como no mercado consumidor, que passam pela questão da

tributação, fiscalização e conscientização do consumidor. Atenção foi dada também à implantação

da Indicação Geográfica que visa favorecer o acesso ao mercado externo.

No bloco de ações que receberam grau médio-alto de prioridade, nota-se ainda ações

relacionadas à resolução da questão da informalidade e também atuação no mercado externo. Foram

apontadas também diversas ações de articulação com outras instituições tais como APEX, Inmetro,

Vigilância Sanitária, Ministério Público, Confaz, Ministérios, Câmara Setorial, SEBRAE, SENAI,

SENAC, MDIC e MRE. Isso mostra a disposição e necessidade do setor de ações nas mais diversas

esferas, no entanto as ações listadas estão bastante genéricas e pouco claras, sendo necessário um

maior detalhamento do que podem contemplar. Tanto este trabalho de detalhar, quanto a articulação

posterior com as instituições, dependem fortemente de capacidade operacional da cadeia em termos

de recursos humanos e financeiros, e este deve ser o principal gargalo para que sejam executadas.

Com relação às ações de média-baixa e baixa prioridade, houve predominância de ações

relacionadas à assistência técnica, papel do IBRAC e fatores de produção. Chama atenção que a

ação de pleitear uma alteração na IN nº 13/2005 para mudança na exigência de limites mínimos de

congêneres não recebeu alta prioridade. Contudo, alguns agentes do setor entendem que se trata de

uma ação extremamente importante para o acesso ao mercado externo. Além disso, é considerada

relativamente urgente se tem a intenção de alcançar maior participação no mercado internacional de

bebidas. O destaque do processo produtivo no rótulo do produto foi priorizado como uma ação de

média-baixa prioridade. Isso chama atenção, pois nas entrevistas com os agentes este ponto foi

bastante citado, mas parece haver entendimento de que isso não é uma ação coletiva que eleva a

competitividade do setor. Além disso, a legislação atual já prevê a possibilidade de informar no

rótulo o processo produtivo, mas isto é facultativo.

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P E C - C a c h a ç a

12 A CADEIA PRODUTIVA DA CACHAÇA: MOMENTO ATUAL E VISÃO

DE FUTURO

A Cadeia Produtiva da Cachaça já possui um histórico de muitas ações construídas. O

Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaça (PBDAC), criado em 1997 e extinto após a

criação do IBRAC, as diversas iniciativas regionais de valorização da Cachaça, a constituição do

IBRAC, o desenvolvimento e desenrolar do Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da

Cachaça 2010 – 2015 no âmbito da Câmara Setorial, o reconhecimento da cachaça como produto

distinto do Brasil pelo mercado americano (principal importador em termos de valor agregado do

produto – R$/litro), demonstram o avanço que o setor buscou e continua buscando em termos de

organização e exploração do potencial de mercado. Além disso, e a despeito de muita competição

no mercado e rivalidade entre produtores de diferentes processos produtivos, existe – observando-se

o que foi construído no workshop –, um considerável alinhamento entre todos em relação ao que é

importante para o setor.

Se muito aconteceu, ainda há bastante por fazer. A inexistência de informações mais

acuradas sobre a indústria e mesmo sobre o mercado consumidor é desafiador para as estratégias

individuais da cadeia produtiva, mas principalmente para a construção de estratégias setoriais,

sobretudo no pleito por políticas direcionadas ao setor. E ainda, a discrepância entre o

conhecimento entre os diferentes agentes e mesmo o desconhecimento e a interpretação errônea

sobre legislação, demonstra a necessidade de criação e manutenção de canais de comunicação que

promovam a troca para nivelamento de conhecimentos básicos entre todos os produtores e

consequentemente consumidores.

Há tanto a fazer, quantos são os interessados para que seja feito. A lista de 46 ações

sugeridas deve trazer avanços inestimáveis à cadeia produtiva, na direção de maior coordenação e

exploração de um mercado nacional e internacional com potenciais ainda pouco explorados pelo

setor. Mas, frente a isto, a percepção declarada pelos agentes é de que falta identidade ao setor

principalmente no que se refere a um organismo que o represente. Essa identidade de representação

pode ser alcançada pelo fortalecimento do IBRAC, articulando ações na cadeia produtiva e de

mercado. Tudo o que foi proposto e esta por vir só encontrará meios de acontecer caso o setor

encontre formas de financiamento (ação proposta número 8.1) e de convergência de interesses entre

os produtores em um fórum legítimo construído por todos.

Depreende de tudo que foi discutido ao longo dos dois dias de workshop e pelas ações que

foram e estão sendo desenvolvidas, a seguinte visão de futuro da cadeia da cachaça:

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P E C - C a c h a ç a

Coordenada por uma instituição que encontra reconhecimento pelo setor e mercado

consumidor;

Capaz de buscar financiamento para as ações que se propõem;

Alcançar mais consumidores no mercado nacional e internacional pelo fortalecimento e

reconhecimento da Cachaça como um produto genuinamente brasileiro, de qualidade, com

características exclusivas e seguro.

Visão da Cadeia Produtiva da Cachaça:

“Tornar-se uma cadeia produtiva coordenada por uma instituição que a represente e que seja

reconhecida pelo mercado consumidor, com capacidade de alcançar o financiamento necessário

para as ações a que se propõem. Pretende alcançar mais consumidores no mercado nacional e

internacional, pelo fortalecimento e reconhecimento da cachaça como um produto genuinamente

brasileiro, de qualidade, com características exclusivas e seguro”.

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P E C - C a c h a ç a

13 CASOS INSPIRADORES DE OUTRAS DE BEBIDAS ALCOÓLICAS NO

MUNDO

Nesta secção serão apresentados quatro casos de estratégias coletivas implementadas em

outras indústrias de bebidas alcoólicas e que podem servir de inspiração para o setor produtivo da

cachaça. Os casos - indústria da Tequila; indústria argentina de vinho; indústria de produtores de

uísque da Escócia; a indústria de Champanhe francesa - buscam mostrar algumas lições que cada

uma das experiências traz para a cadeia da cachaça. Os casos:

Os casos estão estruturados de forma a responder quatro questões, são elas: a) Qual era o

problema/dificuldade do setor?; b) Quem coordenou as ações?; c) O que foi feito em termos de ação

privada, coletiva e/ou pública?; e d) Qual foi o resultado destas ações? Subsequente a estas

questões, será discutido de que forma cada caso pode contribuir para as discussões da cadeia

produtiva da cachaça.

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75

13.1 Caso 1: A indústria de Tequila mexicana

Qual era o

problema/dificuldade do

setor?

A produção de tequila se defrontava com disputa entre produtores (grandes e pequenos) por áreas produtivas de agave na região atualmente

denominada DOT (Denominación de Origen del Tequila). Ademais, devido à crise econômica interna e a baixo apelo da bebida no mercado

externo fizeram com que a produção se reduzisse em 10% de 1980 a 1988.

Quem coordenou as ações?

Em 1993 surge o CRT (Consejo Regulador del Tequila), instituição interprofissional que definiu padrões de qualidade, características,

indicação geográfica e de origem à bebida mexicana. O CRT detém um mandato do governo para promover a qualidade, a cultura e o

prestígio da bebida nacionalmente e internacionalmente, tendo competência para verificar e certificar o cumprimento da Norma Oficial da

Tequila.

O que foi feito em termos de

ação privada e/ou ação

coletiva e/ou ação pública?

Além da governança corporativa do CRT envolver todos produtores de tequila de diferentes portes, ele inclui produtores de agave,

envasadores, intermediários e autoridades. O CRT ainda comporta em sua estrutura diversos departamentos responsáveis pela verificação e

certificação de qualidade, garantia do produto terminado, e defesa da marca tequila no exterior.

Qual foi o resultado destas

ações?

A partir de 1993, a cooperação entre agentes privados e destes com o Estado por meio do CRT possibilitam um boom na produção de tequila

(de menos de 104,3 milhões de litros/ano para mais de 226.5 milhões litros/ano.

A efetivação do NAFTA (North America Free Trade Agreement), em 1994, e o reconhecimento pela UE em 1997 também favoreceram as

exportações, que saltaram de 64.6 milhões de litros/ano para 172 milhões de litros/ano.

Vale destacar que recentemente tem ocorrido uma grande concentração na indústria, no qual quatro empresas produziram cerca de 65% da

tequila em 2005, e que grandes grupos internacionais tem crescentemente investido no mercado produtor. Neste cenário, empresas pequenas

permanecem ativas, atuando preferencialmente em nichos específicos que demandam produtos diferenciados com maior valor agregado.

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P E C - C a c h a ç a

76

13.2 Lições do caso da Tequila para a Cachaça

Além da inevitável semelhança com a cachaça, por ser uma bebida de um país em

desenvolvimento, o caso da Tequila tem alguns elementos importantes para serem levados em

consideração no planejamento estratégico da cachaça. O mandato concedido pelo governo para o

CRT administrar a denominação “Tequila” somado a organização do CRT envolvendo os

produtores e sendo financiado por estes por meio de mensalidades condizentes com seu porte,

permitiu uma melhor gestão da cadeia produtiva da Tequila. Esta gestão do CRT propiciou um

melhor controle de qualidade e de efetivação da Norma Oficial da Tequila. Além de resultar em

uma maior representação da tequila externamente de modo a alavancar tanto sua produção quanto

exportação.

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13.3 Caso 2: A indústria Argentina de Vinho

Qual era o

problema/dificuldade do

setor?

Produção de vinho na Argentina era tradicionalmente voltada ao mercado interno com pouca diferenciação. No final da década de 80, com a

abertura do mercado e aumento do poder aquisitivo da população argentina, que passou a importar vinho da europa, a indústria entrou em

crise. A produção de vinhos argentinos era voltada, sobretudo, para ganhos em escala, ocasionando, na maioria das vezes, queda na qualidade.

Quem coordenou as ações?

Incentivo do governo (sobretudo, das províncias produtoras), somado a iniciativa de produtores rurais (vinhedos) e grandes fabricantes de

vinhos (adegas).

Movimento desencadeado pela ameaça dos produtos importados no mercado interno e colapso do sistema de subsídio à produção rural.

O setor vinícola argentino pode ser visto como rede de clusters onde associações empresariais, governo e instituições de apoio estão inseridas

regionalmente e desenvolvem ações alinhadas a um contexto de interesse nacional, cuja representação é dada pela Corporación Vitivinícola

Argentina (COVIAR) e Instituto Nacional de Vitivinicultura (INV).

O que foi feito em termos de

ação privada e/ou ação

coletiva e/ou ação pública?

Característica que marca o recente processo de reestruturação do setor vinícola argentino é a mudança no foco de produtividade para

qualidade

(vinhos de maior sofisticação).

As ações coletivas/ privadas (locais e nacionais) podem ser resumidas em:

Capacitação e captura de Recursos Humanos;

Criação de uma identidade e imagem para o vinho argentino;

Aprimoramento técnico-produtivo e inovação;

Incentivo à integração e articulação da cadeia produtiva;

Desenvolvimento de ações sinérgicas com setores de turismo, restaurantes e hotelaria;

Regulamentação e controle da produção;

Revisão das normas e leis;

Qual foi o resultado destas

ações?

O vinho argentino tem recuperado espaço no mercado doméstico, chegando apresentar ligeiro aumento no consumo per capita (8º consumidor

mundial, 32º em população, e 59º em PIB per capita).

Contudo, o resultado que mais chama a atenção vem do reconhecimento da Argentina como uma das principais produtoras de vinhos (finos)

mundial, 5ª posição do ranking.

Em um período inferior a 15 anos, as exportações aumentaram de 2% para 6% da produção nacional. A meta estabelecida pelo Planejamento

Estratégico COVIAR é que as exportações argentinas representem, em 2020, 10% das exportações mundiais de vinho (atualmente: 2%).

Estima-se que o setor tenha atraído US$ 500 milhões em investimentos entre 1992 e 2002;

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P E C - C a c h a ç a

78

13.4 Lições do caso do Vinho Argentino para a Cachaça

A maior parte dos esforços despendidos coletivamente convergem na construção e

reconhecimento de uma identidade para o vinho argentino como um todo (qualidade e reputação).

Esse direcionamento não marginalizou as características particulares de cada região produtora. A

experiência argentina mostra que é possível a construção de uma identidade para um produto ao

nível nacional respeitando diferenças regionais ou locais.

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13.5 Caso 3: A indústria produtora de uísque Escocês

Qual era o

problema/dificuldade do

setor?

Até 2009, não havia regras formais para a rotulagem, envase e comunicação do uísque na Escócia. Somente para a forma de produção do

uísque e que foram estabelecidas em 1988. Os uísques “misturados” (blended) se tornaram uma alternativa frente à escassez de “single malt”

em função de demanda aquecida e a ausência regras causaram atritos na indústria. Isto ocorreu pois, apesar de haver um entendimento

informal entre os agentes sobre o que era um single malt e um blended whisky, as indústrias podiam rotular com certa liberdade. Essa ausência

de regras claras levou a um conflito importante entre o fabricante de Cardhu´s (um uísque famoso) e uma parcela substancial da indústria

escocesa de single malt whisky.

Quem coordenou as ações? A associação escocesa de produtores de uísque (Scotch Whisky Association – SWA

14), instituição criada em 1912 e que regula as regras para

produção de uísque mediou as discussões sobre a questão entre os agentes da indústria. Neste caso, toda a ação foi coordenada pela associação

em torno de conversas amigáveis.

O que foi feito em termos de

ação privada e/ou ação

coletiva e/ou ação pública?

As discussões levaram a um acordo e o produtor do uísque Cardhu, retirou o produto do mercado. Os depoimentos15

a seguir dão o tom de

como a questão foi resolvida e também da união da indústria a despeito das diferenças do produto final.

“Eu acho que inicialmente houve um pouco de constrangimento, mas depois tudo ficou certo. Algumas insatisfações surgiram... mas somos

todos parte da SWA e sentamos todos juntos na mesma mesa... Ainda temos trabalho a fazer e ainda temos coisas pelas quais precisamos

brigar, como um corpo único, superando o incidente do uísque Cardhu”.

“Do ponto de vista da produção nos temos nossa amizade onde todos ajudam uns aos outros. Eu acho que no que concerne o marketing e as

vendas é onde o negócio fica um pouco perverso. É onde a competição acontece. No entanto eu posso ir e conversar com outras destilarias a

respeito do que estão fazendo, fazer perguntas sobre a produção e caminhar pela planta industrial com eles”.

Qual foi o resultado destas

ações?

Em 2009 - possivelmente como um reflexo da ausência de regras adequadas e recorrência de conflitos como o do Whisky Cardhu -, foram

estabelecidas regras claras pela SWA sobre como deve ser a rotulagem, envase e comunicação do uísque escocês. As regras eliminam

inclusive a possibilidade de desentendimento do mesmo gênero do caso do uísque Cardhu.

14

Scotch Whisky Association – SWA. Site. Disponível em: <http://www.scotch-whisky.org.uk/>. 15

MUNSHI, M. V. A Sociocognitive Perspective of Industry Level Collective Stakeholder Action: The Case of The Scotch Whisky Industry. City University London, United

Kingdom.

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P E C - C a c h a ç a

80

13.6 Lições do caso do Uísque para a Cachaça

O uísque Escocês pode assumir diferentes formas de produção no que concerne seus

insumos (malte e cereais não malteados) e misturas (puros, misturas de uísques malteados ou de não

malteados e/ou misturas com uísques de várias destilarias). Apesar das diferenças substanciais entre

os produtos e a rivalidade entre os produtores de um tipo de uísque e outro (principalmente no

mercado), a Associação Escocesa dos Produtores de Uísque conseguiu, junto com os integrantes da

indústria, criar uma forma de rotulagem dos diferentes produtos que atendem aos interesses de todo

o setor.

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13.7 Caso 4: A indústria francesa de Champanhe

Qual era o

problema/dificuldade do

setor?

Produtores de diversos países passaram a produzir espumantes com o nome de Champanhe. Ampla maioria entre os consumidores não conseguia

distinguir as diferenças entre espumantes e Champanhe

Quem coordenou as

ações?

A primeira ação a defender a marca Champanhe foi no ano de 1993 através do acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual

Relacionados ao Comércio (TRIPS) da Organização Mundial do Comércio (OMC) que foi efetivado em 2005. Entretanto o acordo não definiu

bem a venda do genuíno Champagne Francês no mercado americano. O uso da nomenclatura Champagne utilizada pelos EUA era vendido de

forma a entender que tanto o Champanhe francês quanto o americano tinham a mesma origem, o que não era verídico.

O que foi feito em termos

de ação privada e/ou ação

coletiva e/ou ação

pública?

A estratégia utilizada pelo Comité Interprofessionnel du vin de Champagne (CIVC)16

, foi na diferenciação do produto em relação aos vinhos

espumantes americanos. Outra estratégia foi à coordenação de todo o sistema agrícola, produção, distribuição e promoção dos vinhos do

champanhe.

CIVC tomou medidas enérgicas para a proteção da marca champanhe nos EUA, pressionando o governo a desenvolver uma legislação mais

solida a favor da bebida.

O CIVC também desenvolveu Campanha de marketing com o objetivo de conscientiza o consumidor sobre o produto e a aumentar o Market

share no mercado americano. Foram desenvolvidas campanhas de marketing de caráter informativo e, banners, internet e m degustações, sempre

enfatizando a genuinidade do Champanhe francês

Qual foi o resultado

destas ações?

As ações de marketing trouxeram respostas positivas para a Cadeia Produtiva do Champanhe no mercado americano, tornou o consumidor mais

ciente das diferentes nomenclaturas, aumentando o consumo em 34%. Entre os anos de 2009 e 2011, o Champagne francês teve um aumento de

85% nas vendas no mercado americano. No ano de 2006, foi sancionado uma legislação para proibir o uso do nome “ Chamapgne”, por outros

produtores de vinho que não fossem da região original.

16

É uma associação voltada para os interesses dos agentes envolvidos no setor O seu principal objetivo é promover a Champanhe e os interesses

ligado ao desenvolvimento econômico, técnico e ambiental, melhoria contínua da qualidade, gestão da indústria, marketing e comunicações, bem

como a promoção e proteção da Champanhe em todo o mundo.

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13.8 Lições do caso da Champanhe

O caso da Champanhe francês é de grande valia quando comparado ao setor da

cachaça no Brasil. Primeiramente, os franceses procuraram definir bem os seus direitos

de propriedade relacionada à marca, procurando promover identidade ao produto

produzido na França. As ações foram coordenadas pelo CIVC (Comité

Interprofessionnel du vin de Champanhe) desenvolvendo campanhas de marketing

valorizando o produto, com isso, mudaram o posicionamento do setor perante os

consumidores.

As ações do CIVC foram essenciais para identificação (marca) e padronização

da Champanhe (francesa) e desenvolvimento da cadeia como todo, coordenando os elos

de produção, distribuição e promoção dos vinhos de Champanhe. No que serve de lição

para a cachaça podemos destacar o papel do agente institucional o CIVC (Comité

Interprofessionnel du vin de Champagne) que tomou frente a todos os problemas

ligados ao setor, coordenando ações estratégicas relacionadas ao setor.

13.9 Lições Apreendidas

Por meio da avaliação dos casos das bebidas apresentados anteriormente, é

possível refletir sobre ações coletivas que a cadeia da cachaça poderia se inspirar para se

posicionar melhor no mercado de bebidas. O caso da Tequila ressalta a importância de

uma organização, no caso CRT (Consejo Regulador del Tequila), como forma de gestão

da denominação “Tequila” e representação dos produtores. Estes, ao financiarem o

CRT, conseguiram obter uma melhor gestão da denominação tequila e das práticas de

qualidade, impulsionando as exportações da bebida.

Nesta linha, o caso do vinho mostra a importância de ações de valorização da

bebida nacional visando a consolidação do “vinho Argentino”, apesar das

particularidades de cada tipo no que concerne à uva utilizada, à região de produção, à

maturação etc. O caso do uísque Escocês mostra como a ação coletiva propiciou a

valorização da bebida nacional mesmo comportando diferenças entre a forma de

produzir o produto, no que diz respeito aos diferentes tipos de cereais e “blends”, que

dão a cada uísque características particulares. O caso do vinho argentino e uísque nos

ensinam que é possível implementar uma estratégia de marca conjunta, apesar das

particulares de cada bebida produzida.

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Por fim, o caso da Champanhe se mostra relevante como forma de articulação

entre os produtores para valorizar a denominação nacional “Champagne” frente a

concorrentes externos. A diferenciação de produto por sua origem favoreceu a todos,

apesar do pequeno porte dos produtores e das diferenças em seus processos produtivos.

Estima-se que a organização dos produtores possa ser uma forma de conjuntamente

atuarem de modo a perpassar todas estas estratégias, favorecendo a produção e

comercialização interna e externa da cachaça.

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14 RECOMENDAÇÕES PARA A CADEIA PRODUTIVA DA

CACHAÇA

A partir das discussões realizadas no I Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da

Cachaça, são apresentados a seguir, os problemas e ações propostas para que a Cadeia

Produtiva da Cachaça se torne mais competitiva, na visão dos pesquisadores do CORS-

USP.

14.1 Cooperação horizontal

Problema: A condução e resultados alcançados com o I Workshop de

Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça mostraram que existe

alinhamento entre os diferentes agentes da cadeia em muitos aspectos. Contudo,

para que o setor se fortaleça, há necessidade de adoção de ações para a provisão

de bens coletivos, como a criação de padrões de qualidade, normas técnicas, e

principalmente a representação do setor com o objetivo de influenciar a

definição das regras que afetam a cadeia produtiva, como por exemplo a

tributação. Só uma entidade que represente todo o setor pode ser capaz de

executar essa tarefa com eficácia. Nesse sentido, a diminuição de assimetrias de

informação soma-se a outras necessidades como a maior interação entre o setor e

o poder público e o desenvolvimento de ações coletivas para maior

competitividade.

Ações propostas:

Fortalecimento do IBRAC como organização nas dimensões horizontal e

vertical, reconhecida pelos diferentes elos que compõe a Cadeia Produtiva da

Cachaça, de forma a contribuir com os seguintes objetivos: a) organizar e

tornar acessíveis as informações, conforme será disposto no tópico a seguir;

b) organizar fóruns de discussão para as questões relacionadas ao setor

envolvendo representantes de toda cadeia; c) representar os interesses do

setor junto as demais instituições; d) criar um projeto para captação de

recursos e para gerenciar sua aplicação; e) construir e operacionalizar o

planejamento estratégico do setor;

Buscar alinhamento entre IBRAC, Associações regionais, representações

coletivas como ABBA, ABRABE, ABRE e ABIA e governo;

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Fomentar o desenvolvimento de parcerias ao nível internacional, nacional e

regional de forma a impulsionar o negócio da cachaça no Brasil e no Mundo;

Fortalecer as associações regionais e locais e seu papel articulador das

discussões em âmbito regional;

14.2 Informações quantitativas do setor

Problema: A falta de informação quantitativa sobre todos os elos da Cadeia

Produtiva da Cachaça dificulta o estabelecimento de estratégias coletivas e

também individuais. Informações sobre o número de estabelecimentos, perfil dos

produtores, volume produzido, distribuição nacional, entre outras, são de

extrema importância para que o setor possa planejar e desenvolver ações de

fortalecimento da cadeia produtiva em todo o território nacional e internacional.

A ausência de informações no elo produtor impede também a articulação e

coordenação de ações em âmbito regional.

A existência de uma plataforma de dados setoriais consistentes pode ser vista

como um bem coletivo de grande importância no delineamento de ações

coletivas ou individuais para o setor. O monitoramento sistemático de dados

como produção, capacidade, estoque e vendas servem de subsídio para criação

de “inteligência setorial” possibilitando aumentar a competitividade do setor.

Ações propostas:

Desenvolver e capacitar as associações regionais e locais para o registro e

monitoramento de dados de seus associados e compartilhamento com a

entidade nacional;

Estabelecer parcerias com instituições públicas e/ou privadas para

desenvolvimento de pesquisas sobre mercado em níveis: regionais, nacional

e internacionais;

Desenvolver uma plataforma de dados comum e com informações

acessíveis, promovendo o compartilhamento de informações sobre o setor.

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14.3 Tributação

Problema: De maneira geral, independentemente da escala operacional, o setor

de cachaça está sujeito a uma elevada carga tributária. Tal fato pode ser visto

como um dos principais motivadores para informalidade que marca a Cadeia

Produtiva da Cachaça.

Na hipótese de que os impostos diretos são proporcionais ao preço final do

produto, produtores de menor porte, sem capital de giro, sem economias de

escala, e, por consequência, na maioria das vezes, ofertantes de produtos com

maior custo, encontram dificuldades de fixar-se no mercado competitivo, e

encontra na informalidade uma maneira de se manter viável. No entanto, esta

hipótese defendida por alguns (e desmentida por outros) carece de comprovação

por estudos tributários sérios. Além dos desdobramentos já conhecidos como a

expulsão do produtor do campo, o enfraquecimento de cachaças produzidas em

pequena escala, abre espaço para substituição da cachaça por outras bebidas

como uísque e vodca. Grandes produtores e engarrafadores de cachaça nem

sempre conseguem suprir todo o mercado. Dessa forma, a solução da questão

tributária, apesar de dependente do poder público, deve catalisar esforços de

todo o setor.

Ações propostas:

Diminuir assimetrias de informação sobre o sistema de tributação da

cachaça entre agentes do setor, uma vez que existe um entendimento muito

heterogêneo sobre a composição dos impostos e taxas e peso da

contribuição relacionada a escala;

Desenvolver estudo tributário que avalie o impacto da tributação sobre a

pequena, média e grande produção de cachaça;

Articular, junto a Câmara Setorial e Governo, a aprovação do SIMPLES

como alternativa para inclusão de pequenos produtores no ambiente de

formalidade;

Em parceria com associações locais e regionais, promover campanhas com

o intuito de levar o pequeno produtor à formalidade.

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14.4 Padrões de identidade, qualidade e rotulagem

Problema: A construção de uma identidade para cachaça passa pelo

estabelecimento de regras claras que, dentre outras coisas, balizem o “que é

cachaça” e garantam a qualidade dos produtos ofertados em termos de segurança

alimentar. Mais do que isso, os padrões de identidade e qualidade devem

acompanhar o caráter dinâmico das mudanças ocorridas nos mercados

consumidores nacional e internacional. Igualmente, a forma de comunicar o

produto ao consumidor deve ser a mais transparente possível, sem deixar

margem a interpretações duvidosas. No caso da Cachaça, a exemplo de outras

bebidas e gêneros alimentícios, as regras de identidade, qualidade, rotulagem e

pesos e medidas, são dadas de forma descentralizada e complementar pelo

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério da

Saúde (por meio da ANVISA) e INMETRO. Tal divisão tende a dificultar a

adequação.

Ações propostas:

Buscar a consolidação da gestão do Regulamento de Uso da Indicação

Geográfica sob uma entidade que represente o setor, seguindo como o

exemplo a Tequila e Uísque Escocês;

Revisar padrões de rotulagem visando tornar mais claro para o consumidor o

significado das definições adotadas. (Exemplo: palavra “Premium” adotada

como sinônimo de Cachaças envelhecidas pode gerar interpretações

equivocadas);

Desenvolver programas de capacitação, orientação e assistência técnica para

produtores e engarrafadores referente à adequação legal;

Buscar alinhamento dos Padrões de Identidade e Qualidade com mercado

nacional e internacional, em termos de segurança alimentar para garantir que

as regras que estão sendo criadas no mercado interno atendam aos diversos

potenciais países importadores;

Informar o consumidor sobre os Padrões de Identidade e Qualidade da

Cachaça e os riscos associados ao consumo de produtos fora dos padrões;

Desenvolver programas e projetos que permitam ampliar o número de

laboratórios de análise.

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14.5 Marketing coletivo e comunicação

Problema: O convênio existente entre a Agência Brasileira de Promoção de

Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e o Instituto Brasileiro da Cachaça –

IBRAC deverá fortalecer o produto/identidade Cachaça no mercado externo e

gerar benefícios para todo o setor, sobretudo para agentes exportadores. É

preciso notar que enquanto campanhas de marketing coletivo voltadas ao

mercado externo visam apresentar a cachaça a novos consumidores, no mercado

interno, essas campanhas devem ter um foco para atrair os consumidores, que

sabem o que é cachaça, mas não conhecem a bebida e suas variações e não a

consomem por razões diversas. Neste sentido, o estudo com consumidores

realizado pelo CORS/USP, apresentado no I Workshop de Planejamento

Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça, serve de exemplo de como o

desenvolvimento de projetos de pesquisa e parcerias para investigação de

hábitos de consumo contribuem com informações importantes, servindo de

substrato para ações coletivas ou individuais em marketing para promoção da

cachaça. A valorização da cachaça no mercado interno é importante para

estimular a cadeia produtiva à inovação, melhoria contínua de seus produtos e

eficiência produtiva para que se alcance uma posição de competitividade

sustentável no mercado externo.

Ações propostas:

Buscar parcerias e promover pesquisas sobre o consumo de cachaça,

identificando tendências e oportunidades de atuação;

Criar direcionadores para o desenvolvimento de campanhas de marketing

individuais e coletivas que impulsionem a cachaça no mercado nacional e

internacional;

Promover a cachaça como produto genuinamente brasileiro;

Valorizar aspectos sensoriais que atribuem sofisticação exclusiva à cachaça

(Exemplo: utilização madeiras brasileiras para envelhecimento);

Fomentar a realização de concursos e exposições para divulgação da

cachaça;

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Incentivar, buscar parcerias, ampliar e divulgar programas de capacitação de

mão-de-obra para atuação no ponto de venda, a exemplo da formação de

sommelier de cachaça;

Ampliar a divulgação do programa ”Cachaça Legal”, ou campanhas

similares que informem aos consumidores a importância do consumo de

cachaças registradas no MAPA;

14.6 Informalidade

A informalidade é um aspecto bastante negativo do setor. Participantes informais

concorrem de forma desleal com empresas regulares, por não arrecadarem

impostos, não cumprirem com a legislação sanitária em vigor e criam uma

imagem negativa para o setor como todo. Por sua vez, a informalidade encontra

justificativa na elevada carga tributária, falta de coesão e homogeneidade nas

ações fiscalizadoras ao nível Estadual e Municipal, aspecto culturais e falta de

conhecimento por parte do produtor sobre o caminho para a formalidade.

Ações propostas:

Buscar aprovação do SIMPLES, conforme visto no item 3 ou regime

diferenciado de tributação para associações de pequenos produtores;

Combater a cultura da cachaça informal como produto pitoresco;

Promover fóruns de discussão para entender de que forma o setor irá tratar

pequenos produtores que produzem volumes para “consumo próprio” ou

mesmo como um complemento à sua atividade de turismo rural, sem que

esses sejam marginalizados;

Divulgar benefícios da formalização (exemplo: acesso a crédito financeiro,

assistência técnica e gerencial);

Estreitar o diálogo entre IBRAC, associações, com o poder público e órgãos

de fiscalização, visando maior equidade nas ações fiscalizadoras.

14.7 Captação de recursos financeiros

A iniciativa de coordenação em âmbito nacional da Cadeia Produtiva da

Cachaça é um fenômeno recente que acompanha a tendência organizacional de outras

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cadeias produtivas que compõe o agronegócio brasileiro. Neste contexto o IBRAC vem

assumindo um papel de grande importância na articulação de uma rede de cooperação

com objetivo de garantir de competitividade para a cachaça no Brasil e no mundo.

Diante da complexidade e dinamismo em que novos desafios são revelados no

futuro da Cadeia Produtiva da Cachaça, especialmente na implantação das ações

sugeridas no I Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça, surge a

necessidade de buscar novos mecanismos de captação de recursos financeiros. Se por

um lado, o setor privado encontra-se sobrecarregado com a elevada tributação, por outro

o apoio de instituições como a APEX são limitados e nem sempre estarão disponíveis.

Torna-se necessário, dessa forma, incluir na pauta de discussão questões como: Como o

setor pode se autofinanciar? Quais serão as contribuições dadas pela iniciativa privada e

pelo governo? É possível estabelecer critérios que definam a participação de cada

empresa no orçamento do IBRAC conforme sua atuação e dependência da Cadeia

Produtiva da Cachaça? Como será feita a cobrança?

15 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PRÓXIMOS PASSOS PARA

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA CADEIA PRODUTIVA

DA CACHAÇA

A Cadeia Produtiva da Cachaça é herdeira de um bem único, com raízes e

tradição no Brasil. O fato de a cadeia estar inserida em uma história, com um potencial

enorme de crescer no mercado interno e externo explorando a originalidade do produto

com qualidade, impõe ao setor a importante tarefa de criar consensos.

O I Planejamento Estratégico da Cadeia Produtiva da Cachaça mostrou que o

setor já tem claro a sua missão, assim como os problemas que lhes afetam, caracterizado

principalmente pela informalidade e heterogeneidade de padrões de qualidade. O

Planejamento Estratégico também mostrou que há uma tendência geral de buscar

consensos dos temas tratados, ou seja, nota-se que já há um caminho percorrido. O

reconhecimento pelo mercado americano da cachaça como um produto distinto do

Brasil é a expressão dessa observação, que mostra já uma ação coletiva do setor.

A lista bastante extensa de ações recomendadas geradas para implantação pelos

participantes do Planejamento mostra o quanto estes conhecem os problemas que

afetam o setor. Contudo, as ações sugeridas e priorizadas ainda são genéricas e carecem

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de maior detalhamento sobre seu escopo. Além disso, há ações que, para serem

implementadas, dependem de recursos e outras que demandam forte interlocução na

esfera pública.

Outro ponto relacionado ao planejamento estratégico é como se dará o

desdobramento das ações priorizadas. Há um enorme trabalho a ser feito no sentido de

implementação. Por fim, o planejamento estratégico não é algo “estanque” e seus

resultados não podem ser tomados como definitivos sem ser avaliados com certa

frequência. O planejamento é um processo contínuo.

Para que o Planejamento encontre mais condições de ser executado e

acompanhado sugere-se:

Maior detalhamento de cada ação priorizada e transformação de todas as

ações em “projetos” que deverão ter seu escopo bem delineado, prazo

para execução, responsáveis, rotina de acompanhamento e custo de

implementação;

Avaliação da viabilidade de implantação de cada um dos projetos pelos

critérios de custo de implementação, barreiras à implementação e/ou

outros critérios relevantes;

Criar rotina de acompanhamento dos projetos (desdobramento das ações)

pela diretoria executiva do IBRAC;

Revisão do Planejamento Estratégico com frequência de 3 a 5 anos.

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ANEXO I – LEIS, DECRETOS, INSTRUÇÕES NORMATIVAS,

PORTARIAS E RESOLUÇÕES DA CADEIA PRODUTIVA DA

CACHAÇA

Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994 – Dispõe sobre a padronização, a

classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de

bebidas.

Decreto nº 6.871, de 4 de junho de 2009 – Regulamenta a Lei no 8.918,

de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação,

o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas.

Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996 – Dispõe sobre as restrições ao uso e

a propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos,

terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do artigo 220 da

Constituição Federal.

Decreto nº 2.018, de 1º de outubro de 1996 – Regulamenta a Lei nº

9.294, de 15 de julho de 1996, que dispõe sobre as restrições ao uso e à

propaganda de produtos fumígenos, bebidas alcoólicas, medicamentos,

terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do art. 220 da

Constituição.

Lei nº 10.674, de 16 de maio de 2003 – Obriga a que os produtos

alimentícios comercializados informem sobre a presença de glúten.

Resolução ANVISA RDC nº 259/02 – Aprova o Regulamento Técnico

sobre Rotulagem de Alimentos Embalados.

Instrução Normativa MAPA nº 55/02 – Aprova o Regulamento Técnico

para Fixação de Critérios para Indicação da Denominação do Produto na

Rotulagem de Bebidas, Vinhos, Derivados da Uva e do Vinho e

Vinagres.

Instrução Normativa MAPA nº 13/05 – Aprova o Regulamento Técnico

para Fixação dos Padrões de Identidade e Qualidade para Aguardente de

Cana e para Cachaça.

Decreto n° 6323 de 27 de dezembro de 2007 - Dispõe sobre a agricultura

orgânica, e dá outras providências.

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Portaria 157/2002, de 19/08/2012, Aprova o Regulamento Técnico

Metrológico estabelecendo a forma de expressar o conteúdo líquido a ser

utilizado nos produtos pré medidos.

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94

ANEXO II

Os modelos de determinação de características pertinentes para a ocorrência de

consumo de cachaça foram definidos com base na teoria estudada e nas entrevistas com

agentes do setor. Para testar as hipóteses relacionadas a cada uma das características

apontadas foi escolhido o modelo de regressão logística, regressão probabilística e

regressão tobit, dado que estes se configuram como os mais adequados quando se

trabalha com uma variável dependente discreta binária - variável dependente limitada

(WOOLDRIDGE, 2006). Vale destacar que o último modelo (tobit) é ideal para

problemas com solução de canto, onde a proporção da variável dependente está

desbalanceada, como é o presente caso (21,8% consumidores frente a 78,1% não

consumidores). Foi realizada em cada sequência uma regressão Mínimos Quadrados

Ordinários (MQO) de modo a compararem-se também os resultados deste modelo.

No presente modelo a variável dependente é consumo de cachaça, sendo = 1 o

valor daqueles que consomem cachaça, e = 0 aqueles que não consomem. É importante

destacar que trabalhou-se com um universo de 500 respondentes, dos quais todos eram

maiores de 18 anos e consumiam algum tipo de bebida alcoólica.

De acordo com as pesquisas realizadas estima-se que o consumo de cachaça

possa ocorrer por três vetores de influência: i) características da bebida cachaça (CC);

ii) perfil pessoal (PP); iii) frequência de consumo de outras bebidas alcoólicas (FB).

Vale destacar que estes três blocos foram desmembrados em uma série de variáveis a

serem analisadas no modelo proposto. Abaixo segue o modelo proposto para a função

logística.

P(Consome Cachaça = 1| Xi) = F(β0 + γ1CCi + γ2PPi + γ3FBi + ei)

Onde,

CC = vetor de variáveis de características da bebida cachaça (percepção de

qualidade da bebida; percepção de impacto à saúde que a bebida gera; percepção do

status da bebida; percepção sensorial agradável (relativo a características

organolépticas); percepção cultural (relacionado a associação de cachaça como

elemento da cultura brasileira); preço (avaliação se preço é importante na decisão de

consumo).

PP = vetor de variáveis do perfil pessoal do respondente (sexo; idade;

escolaridade; estado civil e renda mensal).

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95

FB = vetor de variáveis de frequência de consumo de outras bebidas alcoólicas

(Frequência de consumo de Vodka (destilado); Whisky (destilado); Tequila (destilado);

Vinho (fermentado); Cerveja ou Chopp (fermentado); e Outras bebidas alcoólicas).

Na Tabela 4 são apresentados os resultados dos modelos:

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Tabela 4 - Resultados dos Modelos Econométricos para Consumo de Cachaça OLS Logit Probit Tobit OLS Logit Probit Tobit OLS Logit Probit Tobit

VARIABLES

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Consome_Cach

aça

Qualidade 0.0367* 0.225* 0.141** 0.162** 0.0345* 0.211* 0.134* 0.148* 0.0307* 0.255* 0.163* 0.135**

(0.0187) (0.123) (0.0708) (0.0806) (0.0187) (0.125) (0.0725) (0.0797) (0.0168) (0.145) (0.0834) (0.0679)

Saúde 0.0214 0.150 0.0781 0.0871 0.0160 0.122 0.0609 0.0668 0.0252 0.196 0.0958 0.0790

(0.0175) (0.111) (0.0637) (0.0726) (0.0180) (0.117) (0.0673) (0.0748) (0.0159) (0.135) (0.0765) (0.0629)

Status 0.0356 0.292* 0.149 0.171 0.0321 0.248 0.127 0.138 0.0240 0.274 0.152 0.0999

(0.0236) (0.176) (0.0955) (0.109) (0.0239) (0.179) (0.0982) (0.109) (0.0212) (0.204) (0.114) (0.0921)

Sensorial 0.0822*** 0.722*** 0.373*** 0.443*** 0.0896*** 0.829*** 0.430*** 0.496*** 0.0523*** 0.704*** 0.372*** 0.326***

(0.0210) (0.179) (0.0912) (0.108) (0.0212) (0.189) (0.0967) (0.111) (0.0191) (0.211) (0.111) (0.0921)

Cultural -0.00158 -0.198 -0.0464 -0.0486 0.00892 -0.128 -0.0157 -0.0181 -0.0280 -0.404* -0.186 -0.142

(0.0260) (0.208) (0.108) (0.123) (0.0264) (0.214) (0.112) (0.123) (0.0239) (0.245) (0.134) (0.106)

Preço 0.0583*** 0.389*** 0.231*** 0.268*** 0.0646*** 0.428*** 0.246*** 0.277*** 0.0623*** 0.592*** 0.307*** 0.249***

(0.0181) (0.125) (0.0700) (0.0807) (0.0181) (0.130) (0.0714) (0.0802) (0.0161) (0.156) (0.0821) (0.0676)

Homem 0.0994*** 0.690*** 0.401*** 0.450*** 0.0787** 0.835*** 0.419** 0.339**

(0.0349) (0.248) (0.141) (0.159) (0.0318) (0.311) (0.171) (0.140)

Idade 0.000305 -0.000786 0.000507 0.000252 0.00368*** 0.0319** 0.0179** 0.0143**

(0.00151) (0.0106) (0.00616) (0.00680) (0.00138) (0.0137) (0.00755) (0.00605)

Escolaridade -0.0139 -0.0940 -0.0482 -0.0507 -0.0101 -0.0598 -0.0325 -0.0214

(0.00874) (0.0591) (0.0339) (0.0375) (0.00799) (0.0805) (0.0443) (0.0358)

Solteiro -0.0170 -0.201 -0.0991 -0.0997 -0.0485 -0.536 -0.280 -0.208

(0.0431) (0.303) (0.176) (0.195) (0.0384) (0.378) (0.209) (0.170)

Renda_Mensal -0.00118 -0.0197 -0.0106 -0.0132 -0.00466* -0.154 -0.0693 -0.0511

(0.00279) (0.0408) (0.0213) (0.0248) (0.00249) (0.172) (0.0941) (0.0771)

VodkaFq 0.0273** 0.231** 0.137** 0.112**

(0.0126) (0.110) (0.0618) (0.0510)

WhiskeyFq 0.0286** 0.271** 0.143** 0.126**

(0.0134) (0.116) (0.0662) (0.0560)

TequilaFq 0.113*** 0.766*** 0.429*** 0.351***

(0.0153) (0.130) (0.0723) (0.0609)

VinhoFq 0.00346 0.0658 0.0299 0.0270

(0.00918) (0.0884) (0.0500) (0.0416)

CervejChoppFq 0.00196 0.0252 0.0243 0.0240

(0.00887) (0.0936) (0.0536) (0.0442)

OutrasFq 0.0204 0.111 0.0569 0.0465

(0.0168) (0.139) (0.0762) (0.0604)

Constant -0.501*** -6.381*** -3.781*** 0.268*** -0.543*** -6.702*** -3.966*** -0.0132 -0.541*** -9.056*** -5.173*** -4.324***

(0.116) (0.900) (0.503) -4.398*** (0.135) (1.027) (0.586) -4.462*** (0.121) (1.334) (0.741) (0.656)

Observations 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500 500

R-squared 0.139 0.151 0.150 0.114 0.161 0.176 0.174 0.131 0.351 0.383 0.385 0.288

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* p<0.1

Fonte: elaborado pelos autores.

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conversão, em capital social, de obrigações no exterior de pessoas jurídicas domiciliadas no

País, amplia as hipóteses de opção, pelas pessoas físicas, pelo desconto simplificado, regula a

informação, na declaração de rendimentos, de depósitos mantidos em bancos no exterior, e dá

outras providências. D.O.U. – Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 13

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atacadistas e importadores de bebidas alcoólicas e sobre o selo de controle a que estão sujeitos

esses produtos, e dá outras providências. D.O.U. – Diário Oficial da União, Poder

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D.O.U. – Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 15 dez. 2006. Seção 1, p. 1

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dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígenos, bebidas alcoólicas,

medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4º do art. 220 da Constituição.

D.O.U. – Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 2 out. 1996. Seção 1, p.

19707.

______. Ministério da Saúde. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Decreto

nº 2.314, de 4 de setembro de 1997. Dispõe sobre as restrições ao uso e a propaganda de

produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos

termos do § 4º do artigo 220 da Constituição Federal. D.O.U. – Diário Oficial da União,

Poder Executivo, Brasília, DF, 5 set. 1997. Seção 1, p. 19549.

______. Ministério da Saúde. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Decreto

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no 2.314, de 4 de setembro de 1997, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o

registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. D.O.U. – Diário Oficial da

União, Poder Executivo, Brasília, DF, 19 jun. 2000. Seção 1, p. 1.

______. Ministério da Saúde. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Decreto

nº 4.851 de 2 de outubro de 2003. Altera dispositivos do Regulamento aprovado pelo Decreto

nº 2.314, de 4 de setembro de 1997, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o

registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. D.O.U. – Diário Oficial da

União, Poder Executivo, Brasília, DF, 3 out. 2003c. Seção 1, p. 6.

______. Ministério da Saúde. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Lei nº

10.674, de 16 de maio de 2003. Obriga que os produtos alimentícios comercializados

informem sobre a presença de glúten, como medida preventiva e de controle da doença

celíaca. D.O.U. – Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 19 mai. 2003d.

Seção 1, p. 1 (publicação original), p. 30 (veto).

______. Ministério da Saúde. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Lei nº

8.918, de 14 de julho de 1994. Dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a

inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas, autoriza a criação da Comissão Intersetorial

de Bebidas e dá outras providências. D.O.U. – Diário Oficial da União, Poder Executivo,

Brasília, DF, 15 jul. 1994. Seção 1, p. 10661 (publicação original), p. 10721 (veto).

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