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PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO EM AMBIENTE AUDIOVISUAL DE UMA EMPRESA GESTORA DE CANAIS DIGITAIS: ESTUDO DE CASO Diogo Luis Lobato Leitão Nicole Nigri Musafir Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Eduardo Galvão Moura Jardim Coorientador: Renato Flórido Cameira Rio de Janeiro Agosto 2019

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PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO EM AMBIENTE

AUDIOVISUAL DE UMA EMPRESA GESTORA DE CANAIS

DIGITAIS: ESTUDO DE CASO

Diogo Luis Lobato Leitão

Nicole Nigri Musafir

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia de Produção da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Eduardo Galvão Moura Jardim

Coorientador: Renato Flórido Cameira

Rio de Janeiro

Agosto 2019

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PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO EM AMBIENTE

AUDIOVISUAL DE UMA EMPRESA GESTORA DE CANAIS

DIGITAIS: ESTUDO DE CASO

Diogo Luis Lobato Leitão

Nicole Nigri Musafir

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

_____________________________________

Prof. Eduardo Galvão Moura Jardim, PhD.

_____________________________________

Prof. Renato Flórido Cameira, D.Sc.

_____________________________________

Ricardo Sarmento Costa, D.Sc.

_____________________________________

Andréa Regina Nunes de Carvalho, D. Sc.

_____________________________________

Marcelo Garmatter Barreto

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

AGOSTO DE 2019

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Leitão, Diogo Luis Lobato

Musafir, Nicole Nigri

Planejamento e controle da produção em ambiente audiovisual

de uma empresa gestora de canais digitais: estudo de caso. /

Diogo Luis Lobato Leitão e Nicole Nigri Musafir – Rio de Janeiro:

UFRJ/ Escola Politécnica, 2019.

XIIl, 125 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Eduardo Galvão Moura Jardim

Coorientador: Renato Flórido Cameira

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia de Produção, 2019.

Referências Bibliográficas: p. 131-134.

1. Planejamento e Controle da Produção (PCP) 2. Audiovisual

3. Produção de vídeos para Internet

I. Jardim, Eduardo Galvão Moura et al. Cameira, Renato

Flórido. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso

de Engenharia de Produção. III. Planejamento e controle da

produção em ambiente audiovisual de uma empresa gestora de

canais digitais: estudo de caso.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO EM AMBIENTE AUDIOVISUAL DE

UMA EMPRESA GESTORA DE CANAIS DIGITAIS: ESTUDO DE CASO.

Diogo Luis Lobato Leitão

Nicole Nigri Musafir

Agosto de 2019

Orientador: Eduardo Galvão Moura Jardim Coorientador: Renato Flórido Cameira

Curso: Engenharia de Produção

Em um contexto em que o ambiente digital sofre constantes transformações, um novo

mercado de produção de vídeos para Internet e gestão de canais digitais ascende,

viabilizando novos modelos de negócio na Internet. A partir de um caso real e por meio de

conceitos e técnicas de Planejamento e Controle da Produção (PCP), esse trabalho

identifica como uma pequena empresa desse ramo deveria operar para atender as

exigências desse dinâmico negócio. Sem terem sido encontradas referências que

contemplem a aplicação de procedimentos de PCP a situação em questão, foi primeiro

realizado um diagnóstico detalhado dos processos de produção da empresa de referência.

A partir daí, desenvolveu-se um modelo de PCP a ser futuramente implementado no

contexto estudado e identificou-se elementos para o desenvolvimento de um sistema

computacional que suporte e permita sua operacionalização. Com a implantação e uso do

modelo, partes envolvidas na gestão da empresa passam a ter uma visão global do

processo de produção para que decisões particulares possam ser tomadas de forma

integrada, visando o melhor desempenho de todo o negócio. Além disso, dentre os

resultados a serem auferidos, espera-se também um aprimoramento na organização do

trabalho, no relacionamento entre as pessoas envolvidas, e uma melhoria na pontualidade

da entrega de vídeos, que hoje oscila em 75%.

Palavras chaves: Planejamento e Controle da Produção (PCP), Audiovisual, Produção de

vídeos para Internet.

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Abstract of Undergraduate Project presumed to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Engineer.

PLANNING AND CONTROL OF AUDIOVISUAL PRODUCTION OF A DIGITAL CHANNEL

MANAGEMENT COMPANY: CASE STUDY

Diogo Luis Lobato Leitão

Nicole Nigri Musafir

August/2019

Advisor: Eduardo Galvão Moura Jardim Co-advisor: Renato Flórido Cameira

Course: Industrial Engineering

In a world where the digital environment is constantly changing, a new market for Internet

video production and digital channel management is developing, enabling new Internet

business models. From real case examples, and through concepts and techniques of

Production Planning and Control (PPC), this work identifies how a small company in this

branch should operate to meet the demands of this dynamic business. Without having found

references that contemplated the application of PPC procedures to the situation in question,

a detailed diagnosis of the production processes of the reference company was first made.

From then on, a PPC model was developed for implementation and elements were identified

for the design of a computer system that supports and allows its operation. With the

implementation and use of the model, parties involved in managing the company have a

global view of the production process so that decisions can be made in an integrated

manner, to achieve optimal performance for the entire business. Other results that can be

expected from utilizing the PPC model are: improvements in the organization of the work

load; better communication between involved parties; and improvements in the timeliness

of video deliverables, which currently fluctuate by 75%.

Keywords: Production Planning and Control (PPC), Audio-visual, Internet video production.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 14

1.1 Formulação do Problema 14

1.2 Definição do Objetivo 15

1.3 Organização deste Trabalho 16

2. O CONTEXTO 18

2.1 Contexto Amplo 18

2.2 Contexto Específico 23

2.2.1 Definição da Empresa 23

2.2.3 Custos e Receitas 28

2.2.4 Estrutura Organizacional 30

2.2.5 Estrutura Processual 33

2.2.5.1 Produção de Conteúdo 35

3. METODOLOGIA 42

4. REFERENCIAL TEÓRICO 45

4.1 Planejamento, Sequenciamento, Programação e Controle de Produção 45

4.1.2 Planejamento 46

4.1.3 Sequenciamento 48

4.1.4 Programação 49

4.1.5 Controle 52

4.2 Filosofias de Gestão 54

4.2.1 Teoria das Restrições 54

4.2.2 Lean 56

4.2.3 Supply Chain Management 57

4.3 Sistemas de Apoio e Otimização da Produção 59

4.3.1 MRP – Materials Requirement Planning 59

4.3.2 MRP II – Manufacturing Resource Planning 59

4.3.3 ERP – Enterprise Resource Planning 60

4.3.4 SCM – Supply Chain Management Systems 60

4.3.5 BI – Business Intelligence 60

4.3.6 MES – Manufacturing Execution Systems 61

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4.3.7 APS – Advanced Scheduling and Planning Systems 62

4.3.8 Ferramentas Existentes 63

5. DIAGNÓSTICO DA FLOCKS 64

5.1 Sistema de Produção da Flocks 65

5.2 Principais Problemas 71

5.3 Modelos Testados 72

5.3.1 Modelo Inicial 72

5.3.2 Correção de Rota 77

5.4 Modelo Atual 83

6. PROPOSTA 89

6.1 Função do Planejamento e Controle na Flocks 89

6.1.1 Função do Planejamento 90

6.1.2 Função do Controle 92

6.2 Visão Sistêmica do Modelo Proposto 93

6.3 Especificações 97

6.3.1 Retroalimentação de Dados Semi-automática 98

6.3.2 Entradas 102

6.3.3 Processos 106

6.3.4 Saídas 109

6.4 Modo de Operação 112

7. AVALIAÇÃO PROSPECTIVA 116

7.1 Indicadores e Impactos Esperados 116

7.2 Vantagens e Considerações 117

8. IMPLEMENTAÇÃO 120

8.1 Facilidades e Necessidades 120

8.2 Prototipagem 121

8.3 Plano de Ação 122

8.4 Manutenção 125

9. DESDOBRAMENTOS 127

10. CONCLUSÃO 129

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 131

12. ANEXOS 135

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação da estrutura do negócio Flocks.

Figura 2: Organograma da Flocks.

Figura 3: Cadeia de valor da Flocks.

Figura 4: Fluxo completo do programa Fala Mané.

Figura 5: Fluxo do programa Fala Mané - Parte 1.

Figura 6: Fluxo do programa Fala Mané - Parte 2.

Figura 7: Fluxo do programa Fala Mané - Parte 3.

Figura 8: Últimos vídeos do Fala Mané publicados no YouTube.

Figura 9: Gráfico de Gantt.

Figura 10: Modelo simples de controle.

Figura 11: MES - Algumas funcionalidades componentes.

Figura 12: Simuladores Trilha nos 3 níveis da gestão de capacidade.

Figura 13: Relação entre os conceitos do referencial teórico para a elaboração da

proposta.

Figura 14: Sistema de Transformação de Materiais.

Figura 15: Estrutura de produção classificadas pelo instante de chegada do

pedido.

Figura 16: Exemplos de estrutura de produção da Flocks de acordo com o produto

Figura 17: Exemplo de gerenciamento de tarefas.

Figura 18: Planejamento de duas da Flocks, com destaque para um dia de

planejamento, com as tarefas coloridas por áreas, além de responsáveis alocados.

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Figura 19: Planilha de coleta de dados produtivos de edição do dia 09/07/2017.

Figura 20: Novo Layout do Asana com prazo finais de entrega de cada demanda,

com o dia 26 de julho enfatizado, com as tarefas e responsáveis definidos.

Figura 21: Exemplo de registro de tempo por subtarefa.

Figura 22: Análise histórica de programa específico com média e desvio padrão

levantados, presente no relatório mensal.

Figura 23: Tempo total de edição por canais no primeiro semestre de 2018,

presente no relatório mensal

Figura 24: Planilha de demandas de vídeos de janeiro de 2019.

Figura 25: Gráfico de Gantt de planejamento de dois dias de janeiro de 2019.

Figura 26: Exemplo de e-mail de planejamento para informe de demanda do dia

05/06/2019.

Figura 27: Exemplo de tarefa e subtarefas concluídas.

Figura 28: Diagrama de fluxo de informações do modelo atual da Flocks.

Figura 29: Gestão da Produção.

Figura 30: Visão hierárquica do Planejamento e Controle da Produção.

Figura 31: Diagrama de fluxo de informações dos sistemas de empresa fabricante

de placas de impressão de jornal.

Figura 32: Diagrama do fluxo de informações do modelo proposto para a Flocks.

Figura 33: Diagrama de fluxo de informações do modelo da Flocks com o sistema

integrado.

Figura 34: Fluxo de entradas e saídas.

Figura 35: Exemplo de armazenamento de arquivo.

Figura 36: Exemplo de etapas de produção indicadas no canto da tela.

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Figura 37: Exemplo de lembrete e marcação de tempos.

Figura 38: Arquivo em processo de exportação.

Figura 39: Diagrama de fluxo de informações do modelo atual da Flocks com

destaque para a que seria a Retroalimentação de Dados semi-automática do modelo

proposto.

Figura 40: Tipos de entradas.

Figura 41: Diagrama de fluxo de informações do modelo atual da Flocks com

destaque para o que seriam as Entradas do modelo proposto.

Figura 42: Processos de Tomada de Decisão.

Figura 43: Diagrama de fluxo de informações do modelo atual da Flocks com

destaque para o que seria o Processo do modelo proposto.

Figura 44: Tipos de saída.

Figura 45: Diagrama de fluxo de informações do modelo atual da Flocks com

destaque para o que seriam as Saídas do modelo proposto.

Figura 46: Diagrama de fluxo de informações do modelo da Flocks com o sistema

inserido.

Figura 47: Diagrama de fluxo de informações do modelo da Flocks com o sistema

inserido

Figura 48: Plano de ação para implementação do modelo proposto na Flocks

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Regras de sequenciamento.

Tabela 2: Indicadores operacionais intermediários e impactos esperados.

Tabela 3: Indicadores operacionais finais e impactos esperados.

Tabela 4: Indicadores financeiros finais e impactos esperados.

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LISTA DE NOMENCLATURA:

● APS - Advanced Scheduling and Planning Systems

● ASM - American System of Manufactures

● BI - Business Intelligence

● CPM - Custo por Mil Visualizações

● DVD - Digital Versatile Disc

● ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio

● ERP - Enterprise Resource Planning

● IBM - International Business Machines Corporation

● IEPG - Igreja Evangélica Pica das Galáxias

● IEC - International Electrotechnical Commission

● INT - Instituto Nacional de Tecnologia

● ISO - International Organization of Standardization

● MAC - Macintosh

● MES - Manufacturing Execution Systems

● MESA - Manufacturing Execution System Association

● MPV - Mínimo Produto Viável

● MRP - Materials Requirement Planning

● MRP - II - Manufacturing Resource Planning

● NVCE - Não Vai Cair no ENEM

● PCP - Planejamento e Controle da Produção

● PMP - Planejamento Mestre de Produção

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● PPC - Production Planning and Control

● PVO - Planejamento de Vendas e Operações

● SAP - System Applications & Products in Data Processing

● SCM - Supply Chain Management

● ToC - Theory of Constraints

● TV - Televisão

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1. INTRODUÇÃO

Inicialmente, será formulado o problema encontrado para em seguida definir o

objetivo e descrever como o trabalho foi organizado.

1.1 Formulação do Problema

Esse trabalho foi feito com base em um estudo de caso de uma pequena empresa,

Flocks, gestora de canais digitais, onde ambos os autores estagiaram na área de gestão,

sendo um deles colaborador atual. A empresa, ainda classificada como uma startup, aloca

grande parte dos seus recursos na produção de vídeos para Internet, contando com etapas

de criação, pré-produção, captação, pós-produção, divulgação, entre outras.

Lidando com um mercado complexo e novo, os autores foram em busca de

conhecimento e ferramentas que pudessem embasar o projeto, porém se depararam com

um desafio de não encontrar referências quanto ao modelo de Planejamento e Controle da

Produção para esse contexto. Dessa forma, optaram em dar os primeiros passos e construir

um arcabouço de como deveria ser o PCP da empresa.

De acordo com as causas que estão por trás da complexidade das operações atuais,

podemos atribuir à Flocks 4 principais “Vs” da complexidade; variedade de produtos feitos

simultaneamente entre os diferentes canais digitais ou até mesmo no mesmo canal;

variabilidade de processos, com diferentes recursos para um mesmo insumo, lidando com

diferentes casts como “fornecedores” de conteúdo e variáveis aleatórias presentes

constantemente na produção de cada vídeo; alta velocidade de mudanças, com entrada de

novos canais e produtos de forma bastante dinâmica, demandas de vídeos urgentes e

novos programas para testar na Internet; baixa volatilidade dos ciclos de vida de produtos

temporais, que rapidamente já viram ultrapassados com as novidades, já que um vídeo que

entra em alta um dia pode ser deixado de lado dias depois, vivendo a necessidade de inovar

e ser criativo constantemente (Costa e Jardim, 2016).

No seu primeiro ano de existência, a empresa possuía um planejamento da

produção que dificultava lidar com a complexidade demandada pelo mercado da Internet,

resultando na necessidade de métodos para organização da produção.

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Dessa forma, o projeto de implementação de um Planejamento e Controle da

Produção (PCP) para a Flocks foi iniciado em 2017 e vem se desenvolvendo até os dias de

hoje, sofrendo diversas alterações de acordo com os resultados e aprendizados

observados.

Aplicar conceitos e teorias da Engenharia de Produção na indústria do

entretenimento não é uma prática natural. Dessa forma, é importante estar sempre ciente

da realidade e complexidade de ambientes criativos e evitar que gerentes de produção

sejam vistos como impedidores, em vez de facilitadores, que controlam excessivamente o

processo (Catmull, 2014).

Essa foi uma das maiores dificuldades encontradas por ambos, além de lidar com

aspectos como hierarquia organizacional, clima e cultura, uso de novas ferramentas,

resistência à mudança, entendimento de processos, diversidade de áreas e formações,

entre outros. Dessa forma, os responsáveis buscaram conhecer cada vez mais o ambiente

que estavam situados e suas peculiaridades para adaptar seus conhecimentos de uma

forma construtiva.

1.2 Definição do Objetivo

Atualmente, a Flocks já utiliza métodos de PCP para gerir parte da sua produção,

algo desenvolvido pelos autores ao longo das necessidades específicas encontradas. O

trabalho busca aprimorar ainda mais esse projeto, entendendo os processos da empresa

de forma estruturada, analisando suas diferentes tentativas, dificuldades, sucessos e

carências, para desenvolver uma alternativa satisfatória para os problemas enfrentados.

Dessa forma, diante da necessidade apresentada, o trabalho tem como objetivo

geral estabelecer uma abordagem completa, um modelo de como deveria ser idealmente

operado o Planejamento, Sequenciamento, Programação e Controle da Produção de uma

produtora de vídeo para a Internet, ou gestora de canais digitais, de forma a melhorar o

desempenho do negócio por meio de um setor crítico, a pós-produção. Já o objetivo

específico é o de identificar elementos que permitam a geração de um sistema

computacional que suporte e possibilite a operacionalização desse modelo.

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Com o modelo proposto, os autores vislumbram uma futura implementação na

empresa estudada. Além disso, sendo um mercado novo e em ascensão, o trabalho

também busca prover conhecimento teórico para outras empresas do ramo que possuam

as mesmas complexidades.

1.3 Organização deste Trabalho

O trabalho a seguir foi dividido em onze capítulos, cada um com os seus subtópicos.

Após compreendido, no capítulo 1, o problema diagnosticado e objetivo do trabalho, o

capítulo 2 contextualiza o ambiente estudado, tanto de forma ampla, abordando a história

do mercado audiovisual, como de forma específica, explicando o funcionamento da

empresa Flocks, o estudo de caso desse trabalho.

Com o contexto esclarecido, o capítulo 3 explica a metodologia utilizada no projeto

para a realização da proposta, introduzindo definições da metodologia empreendedora

tecnológica, citando as entrevistas e materiais acessados, além das limitações do trabalho.

O capítulo 4 engloba todo o referencial teórico relativo aos conceitos analisados da

Engenharia de Produção, incluindo o Planejamento, Sequenciamento, Programação e

Controle da Produção, as Filosofias de Gestão (Teoria das Restrições, Lean e Supply Chain

Management), os sistemas de apoio e otimização da produção (MRP, MRP II, ERP, SCM,

BI e MES) e as ferramentas já existentes de apoio a esses sistemas.

Com os conceitos bem definidos, o capítulo 5 realiza um diagnóstico da Flocks ao

categorizar o seu sistema de produção e levantar os seus principais problemas. Além disso,

analisa os modelos de PCP já testados na empresa, e as correções de rotas realizadas até

resultar no modelo atual. Sendo assim, no capítulo 6, é proposto um modelo de

especificações, explicando a função do planejamento e controle, uma visão geral do

sistema, o modo de operação e os impactos esperados.

Com a proposta estruturada, é feita uma avaliação prospectiva no capítulo 7,

apresentando os indicadores e impactos esperados e comentando as vantagens e

desvantagens do modelo. No capítulo 8 é feita uma análise da implementação, com suas

facilidades e necessidades, plano de ação e de manutenção.

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O capítulo 9 cita os desdobramentos do projeto, sejam eles internos ou externos a

Flocks para, no capítulo 10 apresentar a conclusão do trabalho. Por último, as referências

bibliográficas utilizadas são descritas no capítulo 11 e os anexos no capítulo 12.

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2. O CONTEXTO

A partir do problema e objetivo claros, o contexto em que a empresa se encontra

deve ser compreendido, sendo caracterizado abaixo como amplo e específico. O contexto

amplo está inserido no mercado audiovisual, que tem se transformado constantemente e

hoje conta com produtoras de vídeos para Internet. O contexto específico explica a

realidade de uma pequena empresa que se define como gestora de canais digitais e aloca

grande parte dos seus recursos para produção de vídeos para Internet.

2.1 Contexto Amplo

Para fazer uma breve análise da história do mercado audiovisual é importante

esclarecer o que esse mercado abrange. Das expressões latinas, “audire” (ouvir) e “videre”

(ver), pode-se definir como a junção do vídeo e do áudio em produtos midiáticos. Dessa

forma, apesar da história das imagens em movimento ter mais de 200 anos, a junção entre

o ver e o ouvir tem menos de um século.

O ano de 1927 foi marcado pelo primeiro filme falado produzido em larga escala,

“The Jazz Singer”, nos Estados Unidos, seguido de um novo destaque em 1935, o cinema

colorido de três cores (Stringer, 2003). Seguindo com as inovações, apesar da primeira

estação de televisão ter sido criada em Washington D.C., em 1928 (Wu, 2010), no Brasil

esse evento ocorreu apenas duas décadas depois, por meio da TV Tupi de São Paulo, com

programações ainda em preto e branco, até a primeira transmissão em cores no país, em

1963 (Editora On Line, 2016).

A televisão foi contemplada sob o modelo broadcast: uma transmissão em sentido

único, de um ponto para vários pontos, ou seja, um meio de comunicação de massa,

concentrando a distribuição de conteúdo. O primeiro impacto no seu modelo de negócio do

fornecimento de vídeo em larga escala para um enorme público foi a TV por assinatura, na

década de 90. Esse modelo utilizava de uma menor fração da população, porém que

possuía renda para pagar por canais exclusivos e era o público alvo dos anunciantes

(Ribeiro, 2007).

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Na década de 1960, devido a necessidade de vigilância aérea durante as operações

da Guerra do Vietnã, foi introduzido o primeiro equipamento de vídeo portátil “non-

broadcast” de custo acessível. Com o desejo dos jovens norte-americanos por maior

participação na produção cultural, essa ferramenta foi vista como oportunidade por ativistas

e artistas, intensificando a democratização da produção, onde não seria preciso ser um

profissional do meio para produzir seus próprios vídeos (Andrews, 2014).

Os anos seguintes foram marcados por um avanço expressivo da Internet, que teve

sua primeira conexão em 1969, nos Estados Unidos, no contexto da Guerra Fria, porém,

obtendo seu “boom” apenas na década de 90, quando novos browsers e navegadores

permitiram a popularização mundial (Ryan, 2010).

Até então, a grande vantagem do broadcast de levar um programa a milhões de

pessoas favorecia a cultura de massa, sem dar muitas alternativas aos espectadores.

Entretanto, foi a Internet que permitiu que o oposto fosse feito: levar um milhão de

programas para cada pessoa, fragmentando o mercado em diversos nichos e ameaçando

o modelo convencional de marketing e da mídia (Anderson, 2006). A oferta de vídeos pela

Internet passa a ser incontáveis vezes maior que as produções televisivas ou

cinematográficas. O ambiente digital utiliza de mecanismos como download e streaming e

impossibilita a manutenção do monopólio de distribuição (Ribeiro, 2007).

A forma de consumo desses conteúdos passa a ser de livre escolha do espectador,

que define quando vai assistir e o aparelho que será utilizado, além do que será feito com

o conteúdo (Ribeiro, 2007). Porém, esse enfraquecimento da cultura de massa já havia sido

fortemente marcado pelo lançamento do videocassete e da expansão das locadoras de

fitas, na década de 1980. Sem depender da programação da TV, ofertando milhares de

filmes, nas próprias residências e nas noites escolhidas, foi a transição da mídia empurrada

para a mídia puxada (Anderson, 2006).

Esse mercado foi transformado com a ascensão da Netflix, que apesar de ter sido

fundada em 1997 entregando DVDs pelo correio, foi inovando por meio do seu sistema de

recomendação, streaming de vídeos, séries sob demanda, disponibilidade em quase todo

o mundo e possuindo, ainda, suas próprias produções (McDonald; Smith-Rowsey, 2016).

A Netflix chegou ao Brasil em 2011 e em 2018, estimava-se que o país já possuía 7,5

milhões de clientes (Paz, 2018).

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A Netflix foi utilizada como objeto de estudo principal para Chris Anderson, editor-

chefe da revista Wired, que explica a nova dinâmica de marketing e venda por meio do

conceito da “Cauda Longa”. Esse nome é oriundo da curva estatística chamada de

distribuição de cauda longa em que a cabeça é muito inferior ao comprimento da cauda. A

teoria explica a mudança da nossa cultura e economia que focava exclusivamente nos hits,

que ficam no topo da curva de demanda, para a inclusão da cauda da curva, com uma

quantidade numerosa de nichos (Anderson, 2006).

Chris explica que os três fatores que permitem essa mudança são a democratização

da produção: com as câmeras de vídeo digitais, softwares para edição de música e vídeo,

entre outros; a democratização da distribuição com ferramentas como Amazon, eBay,

iTunes e Netflix; e a ligação da oferta e da demanda, com as recomendações do Google,

lista de best-sellers, etc.(Anderson, 2006).

Foi nesse contexto, que em 2005 o YouTube foi lançado e fundado por ex-

funcionários do site de e-commerce PayPal, os norte-americanos Chad Hurley, Steve Chen

e Jawed Karim, como um site de cultura participativa (Burgess; Green, 2009).

Jawed Karim afirmou que as quatro características essenciais para a viralização do

site foi a recomendação de vídeos relacionados, facilidade de compartilhamento do

conteúdo por um link, ferramentas de interação, como os comentários, e um reprodutor de

vídeo externo, podendo ser anexado em outras páginas da Internet (Gannes, 2006).

O YouTube se encontra na posição de reach business, atendendo um grande

volume de consumidores com uma alta variedade de conteúdo (Burgess; Green, 2009),

voltados para nichos específicos que muitas vezes são ignorados devido a inviabilidade

econômica baseada na comunicação de massa (Ribeiro, 2013). Torna-se um exemplo

evidente de economia da Cauda Longa, em que Chris refere-se a “menu infinito”, com uma

enorme variedade de produtos, que antes seria antieconômico ofertar, em que todos os

pequenos nichos, quando unidos poderiam se tornar um mercado bastante significativo

(Anderson, 2006).

Essa redução de custos para alcançar os nichos é possibilitada pela democratização

da produção e distribuição, citadas anteriormente, com um custo de produção, embalagem

e estoque representando uma fração mínima do custo tradicional, e sem a preocupação de

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produtos que vendem pouco ocuparem espaço na prateleira, como no varejo tradicional.

Para se ter ideia, o custo médio de uma produção de Hollywood em 2006 era de US$ 60

milhões (Anderson, 2006), o custo de um episódio de uma telenovela em 2012 era entre

US$ 200 e US$ 350 mil (Castro, 2013), valores que justificam a impossibilidade de

produções para pequenos nichos. Entretanto, graças ao poder da economia digital, os

custos estão cada vez mais baixos (Anderson, 2006).

O consumidor de conteúdo no ambiente digital tem um comportamento diferente do

receptor de conteúdo no ambiente analógico. Com o crescimento exponencial da oferta

nesse novo ambiente, o consumidor passa a procurar o que precisa e não esperar que

outro selecione o conteúdo que verá (Ribeiro, 2007). Sendo assim, como a atenção humana

tem mais possibilidade de expandir do que o dinheiro, ao encontrar as preferências nos

nichos, a satisfação aumenta, com um provável aumento do consumo sem custo adicional.

Somado a isso, com a distribuição digital ampliando os potenciais clientes e reduzindo o

tempo de busca, o aumento das vendas e do mercado torna-se bastante provável

(Anderson, 2006).

Atualmente, o YouTube possui 2 bilhões de usuários mensais e suas horas

assistidas na televisão totalizam 250 milhões (Autran, 2019). Entretanto, o que a plataforma

é hoje em dia, é resultado de constantes inovações e mudanças para se adaptar ao

contexto do momento. Em 2011, a curta duração dos vídeos, raramente maiores que seis

minutos era característico da mídia online (Coelho; Oliveira, 2011). Entretanto hoje, o

YouTube já anuncia a distribuição de séries originais gratuitas (Autran, 2019).

O YouTube como um compartilhador de conteúdo comum e amador, sem

necessidade de divulgar vídeo de alta qualidade (Coelho; Oliveira, 2011) não condiz mais

com a dica do youtuber Alex Vargas de “caprichar na qualidade dos vídeos”, alegando que

o YouTube tem ganhado tanta importância que a qualidade das produções tem crescido

mais e mais. A diferença é que, atualmente, com o próprio celular e soluções baratas para

iluminação e áudio, essa preocupação pode ser facilmente resolvida (Vargas, 2019). Como

já dizia Chris em 2006, a Internet por si só oferece uma economia de escala que será

estendida para a produção de vídeos, surgindo milhões de produtores e programadores,

devido a facilidade de produção e distribuição (Anderson, 2006).

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Diante dessa realidade e do fato do YouTube, como empresa de mídia, não ser

classificada ainda como uma produtora de conteúdo, mas sim uma plataforma e um

agregador de conteúdo (Burgess; Green, 2009), um novo espaço no mercado é criado, para

as produtoras de vídeos para Internet. Essas produtoras devem ser compostas por uma

variedade de produtos, que possibilite diversas possibilidades de geração de renda. O

modelo de negócio consiste em duas estratégias; a do funil de vendas, onde o conteúdo

gratuito seria a isca para levar a sua audiência para um conteúdo premium; como é o caso

do Membership dos canais do YouTube que possuem conteúdo exclusivo para os

assinantes; e o oferecimento de produtos e serviços pelo criador de conteúdo, como

workshops, cursos presenciais, peças, venda de camisas personalizadas, etc. Junto a isso,

as métricas e indicadores são essenciais para avaliar o resultado e definir o que deve

manter e melhorar (YOUPIX). A YOUPIX é uma aceleradora da indústria de criadores de

conteúdo digital.

Outra característica importante do YouTube é a interação entre o criador do canal e

o utilizador (Coelho; Oliveira, 2011). O YouTube anunciou, em 2018, uma mudança no

modelo de monetização dos canais, valorizando a criação de comunidades e o

engajamento das mesmas, por meio da geração de valor. Para construir essa comunidade

é recomendada uma frequência de 3 vídeos por semana, sem deixar de se atualizar das

novidades (YOUPIX), já que é possível medir as preferências do mercado e padrões de

consumo em tempo real, e ajustar seu negócio com a mesma rapidez para atender o público

(Anderson, 2006).

Muitas das características desse negócio não são novidade para o mercado

audiovisual. As telenovelas, por exemplo, são classificadas como obra aberta, sendo

orientadas pelas pesquisas de opinião e informações obtidas pelas redes sociais,

influenciando, instantaneamente, no processo de criação. Sua produção conta com

imprevisibilidades e proximidade entre planejamento e ação e suas obras visam a

fidelização da audiência. As necessidades das telenovelas para lidar com o contexto e o

processo produtivo dinâmico também são compatíveis, sendo elas; a capacidade de

planejar, antecipando problemas e atuando de forma preventiva e de lidar com imprevistos

do processo produtivo (Castro, 2013).

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Entretanto, a maior diferença que afeta o processo produtivo como um todo é que

as telenovelas, assim como filmes, séries, etc., podem ser definidas como projetos, com

equipes específicas e com um ciclo de vida de 12 a 16 meses (Castro, 2013).

Sendo assim, uma produtora de vídeos para Internet que administre diferentes

canais ao mesmo tempo e com uma mesma equipe e possua flexibilidade para se atualizar

na mesma velocidade que a Internet precisa ter estrutura e processos que permitam lidar

com demandas fora do planejado, sem que afete a frequência e a pontualidade das

publicações ou a qualidade final do produto.

Dessa forma, a literatura encontrada para o mercado audiovisual não se aplica ao

processo produtivo de pequenas produtoras de vídeo para Internet, identificando uma

carência de estudos sobre Planejamento e Controle da Produção para essas empresas.

Sendo assim, para desenvolver esse material, é preciso entender o contexto específico que

essas organizações representam; sua definição, estrutura organizacional, modelo de

negócio e, principalmente, seu processo produtivo.

2.2 Contexto Específico

Para entender a realidade da empresa e o diagnóstico realizado mais adiante,

entenderemos como a Flocks se define, qual estrutura organizacional é adotada

atualmente, os custos e receitas do seu modelo de negócio, a estratégia perseguida e a

estrutura processual da empresa, com foco no processo de produção de conteúdo de um

vídeo para Internet.

2.2.1 Definição da Empresa

Fundada em 2016 pelo humorista Marcelo Madureira e seu parceiro de negócios

Pedro Paulo Magalhães, ambos Engenheiros de Produção formados na UFRJ, a Flocks

surgiu com o intuito de atender a novas demandas relacionadas à evolução da mídia online

e visando viabilizar o digital enquanto business, buscando uma solução para a falta de

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oportunidade e infraestrutura com a qual muitos talentos desse meio lidam, especialmente

no YouTube.

No ambiente volátil do digital, a Flocks busca se antecipar a tendências e se adaptar

facilmente a mudanças, de uma forma que, a cada ano, um retrato instantâneo da empresa

pode ser diferente. Dessa forma, nesse capítulo descreve-se a situação da empresa em

2019 e os dados abaixo são referentes a junho de 2019.

Com 26 colaboradores e localizada no Humaitá, a empresa define-se, atualmente,

como uma gestora de canais digitais, sendo canais digitais comunidades formadas pelas

redes do YouTube, Facebook, Instagram e Twitter, sem negligenciar algum novo canal com

potencial. Dessa forma, no presente momento, administra 8 canais, acreditando em uma

linguagem de Internet individual, orgânica, espontânea, e principalmente, autêntica, com

senso de comunidade e igualdade:

Casseta & Planeta: canal de humor e política, atualmente composto

pelo Beto Silva, Cláudio Manoel, Helio de la Peña, Hubert Aranha e

Marcelo Madureira. Possui 150 mil inscritos no YouTube, 245 mil

seguidores no Facebook, 200 mil seguidores no Twitter e 20 mil

seguidores no Instagram. Possui atualmente dois programas semanais

totalmente produzidos pela Flocks: Resenha Tabajara e Plantão Casseta

& Planeta e está entrando no mercado de show e Podcast.

South America Memes: a maior comunidade colaborativa de memes do

mundo. Criada pelos jovens Gabriel Hakkinem e Gabriel Félix, possui 2

milhões de inscritos no seu canal principal do YouTube, 2 milhões de

seguidores no Instagram e 270 mil seguidores no Twitter. Possui uma

produção intensa de memes por meme makers em todo o Brasil.

Canal Ixi: canal de humor popular que atualmente produz esquetes com

Cézar Maracuja, Alan Ribeiro, Isaú Junior e Leo Humilde. Possui 1,6 milhões

de inscritos no YouTube, 1 milhão de seguidores no Facebook, 4 mil

seguidores no Twitter e 50 mil seguidores no Instagram. Atualmente

produzem 2 esquetes por semana que são editadas e divulgadas pela Flocks

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e estão em cartaz com a peça “Reféns” que também teve produção e direção

da Flocks.

Canal do Madureira: canal de política feito unicamente pelo Marcelo Madureira

com relatos de sua opinião em acontecimentos do Brasil e do mundo. Atualmente

possui 80 mil inscritos no YouTube, 170 mil seguidores no Facebook, 10 mil

seguidores no Instagram e 50 mil no Twitter. Produz diariamente um vlog na

Flocks com os seus relatos.

Paparazzo Rubro Negro: canal criado por Gabriel Reis, um membro do

Conselho do Flamengo, jornalista e publicitário, ex-assessor de jogadores,

setorista do Flamengo e Fotógrafo. Possui 600 mil inscritos no YouTube, 200

mil seguidores no Instagram, 60 mil seguidores no Facebook e 80 mil no

Twitter. Atualmente a Flocks produz Lives semanais e o Gabriel, de forma

independente, também produz seus vlogs de jogos, críticas, mercado Rubro-

Negro, lives, lances da arquibancada e entrevistas.

Buenas Ideias: canal sobre a história do Brasil, com propósito

educacional e forma humorística, associando o aprendizado ao lúdico.

Realizado pelo jornalista Eduardo Bueno, pesquisador, escritor e agora

youtuber. Atualmente tem 440 mil inscritos no YouTube, 220 mil

seguidores no Facebook, 50 mil seguidores no Instagram e 3 mil no

Twitter. Possui dois programas semanais: Não Vai cair no ENEM

(NVCE), produzido na Flocks e Pílula, com produção caseira e edição e

divulgação pela Flocks. Além disso, está viajando pelo Brasil em cartaz

com “Não Vai Cair no ENEM - uma peça” produzida e dirigida pela

Flocks.

Igreja Evangélica Pica das Galáxias: canal de humor, em que o

comediante Arnaldo Taveira faz sátira de algumas igrejas pentecostais

evangélicas. Possui 640 mil inscritos no YouTube, 630 mil seguidores no

Facebook, 100 mil seguidores no Instagram e 13 mil no Twitter. Possui uma

produção caseira semanal do conteúdo Pregação, com edição e divulgação

da Flocks e há mais de dois anos realiza o stand up “Sessão de Descarrego”

pelo Rio de Janeiro com produção da Flocks.

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Rao TV: canal de entretenimento produzido pelo ator, publicitário,

roteirista, escritor, diretor e produtor Raony Phillips. Possui 1,8 milhões de

inscritos no YouTube, 100 mil seguidores no Facebook, 150 mil seguidores

no Instagram e 180 mil no Twitter. Produz os programas Girl in The House

e Klam, com público majoritariamente LGBT e feminino. Sendo uma

parceria recente com a Flocks, em breve haverá coproduções.

2.2.2 Estratégia

Assim como, segundo a YOUPIX, o YouTube anunciou uma mudança em 2018, que

passava a valorizar comunidades e engajamento, a Flocks também teve sua estratégia

alterada ao longo desses três anos. Atualmente, possui como missão “Fomentar

comunidades engajadas em torno de entretenimento audiovisual” e como visão “Ser uma

empresa referência, até 2025, na gestão de canais digitais, oferecendo conteúdo relevante

e de qualidade”.

Conteúdos relevantes são definidos como conteúdos com os quais o público se

identifica, gerando audiência e engajamento expressivos e polarizando comunidades que

atraem o mercado publicitário. Já conteúdo de qualidade é definido como conteúdo que

gera uma influência positiva no público pelo prazer ou pela inquietação proporcionados,

garantindo um roteiro, apresentação e técnica satisfatória.

Para compreender melhor a estratégia perseguida pela empresa, foram realizadas

entrevistas com os principais representantes do nível estratégico da Flocks, incluindo os

três diretores e a coordenadora geral. A partir do conteúdo dessas entrevistas, foi

construída uma visão unificada dos pontos mais importantes que definem o posicionamento

e a vantagem competitiva perseguida pela empresa.

A Flocks possui três principais stakeholders: o público, os artistas e principalmente

os clientes (anunciantes), gerando valor, se diferenciando e competindo de maneiras

diferentes para cada um deles.

Para o público, a Flocks proporciona entretenimento e conhecimento de qualidade

e gratuitos ou de baixíssimo custo. Ela se diferencia com a relevância e a qualidade do

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conteúdo, além da pontualidade e interação com os espectadores. Apesar disso,

atualmente a Flocks não possui uma característica específica que faça com que o público

diga “isso é da Flocks”. A Flocks compete com todos os tipos de canais digitais que levam

entretenimento, uma vez que a definição de concorrência é mais complexa no universo da

Internet, pois nesse caso, em vez de competirem pelo dinheiro dos clientes, as empresas

competem pelo tempo que os clientes dedicam ao entretenimento digital.

Para os artistas, a Flocks oferece uma parceria acolhedora e profissional para a

gestão de suas carreiras, atuando na criação e divulgação de conteúdo, na administração

comercial e na viabilização de projetos para que explorem o melhor do seu talento. Um

primeiro diferencial é o tipo de relação que se tem com o artista, pois a Flocks busca

desenvolver uma relação de parceria, com tratamento exclusivo e diferenciado para cada

um. Além disso, a empresa fornece sua expertise específica para o gerenciamento de

canais digitais. A Flocks compete com outras produtoras e agências que gerem a carreira

de artistas e produzem conteúdo.

Por último, para os clientes, a Flocks entrega suas mensagens de forma atraente e

sob medida, gerando uma influência orgânica e bem recebida nas comunidades formadas

em torno dos conteúdos. Como diferencial, oferece aos anunciantes a oportunidade de

influenciarem organicamente o seu público, com conteúdo personalizado direcionado para

as comunidades formadas em torno dos canais. Permite, também, que por meio de métricas

e do Data Science, as empresas anunciantes aufiram com precisão a eficácia de seus

gastos em comunicação, correlacionando, por exemplo, investimento e retorno por unidade

vendida. A Flocks compete diretamente com agências de propaganda e outras produtoras

mas também com qualquer outro veículo de publicidade.

Abaixo, na Figura 1, podemos ver a uma representação resumida da estrutura de

negócio da Flocks envolvendo os três stakeholders:

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Figura 1: Representação da estrutura do negócio Flocks

Fonte: Elaboração própria.

A receita gerada por clientes e pelo público pode ter um percentual repassado para

o artista, como representado na figura acima. Entretanto, vale ressaltar que a relação de

fluxo de capital entre o artista e a Flocks é dependente do contrato entre ambos.

2.2.3 Custos e Receitas

A Flocks possui como principais custos o capital humano, os equipamentos de

filmagem e pós-produção e despesas gerais com a produção de conteúdo, como cenários

e passagens. Suas fontes de receita podem ser relacionadas diretamente aos canais,

provenientes de AdSense (serviço de publicidade oferecido pelo Google), conteúdo

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publicitário, eventos e produtos ou a projetos especiais com produção de conteúdo próprio

para outras empresas.

Receita de Canais:

O principal tipo de conteúdo virtual é a chamada produção audiovisual, em que o

vídeo é gravado em um cenário, com um roteiro definido, e posteriormente passa por um

processo de pós-produção para que seja publicado no momento oportuno nos canais. A

receita dessa produção é direta proveniente das propagandas anunciadas nos vídeos,

porém classificada como uma pequena fonte de receita, conhecida como AdSense,

calculado pela multiplicação do CPM do vídeo (custo por mil visualizações) pelo número de

visualizações do mesmo. O YouTube não revela o modo de calcular o CPM mas sabe-se,

pelas análise já realizadas, que o conteúdo, direitos autorais e minutagem assistida têm

relação direta com o cálculo. Também podem ser produzidas lives, isto é, transmissões ao

vivo feitas pelos artistas diretamente nos canais que podem ser acompanhadas e

comentadas pelos usuários, além de permitir doações ao vivo.

As peças publicitárias são conteúdos produzidos sob encomenda de um anunciante

mediante pagamento de uma quantia. Em anúncios desse tipo o artista demonstra o

produto de maneira criativa para cativar o público por aquela marca, que se comunica, de

alguma forma, com o canal digital. A publicidade pode ser feita em diferentes redes por

meio de vídeos, publicação de textos e imagens ou memes. São uma potencial fonte grande

de receita.

Depois de o artista atingir uma certa visibilidade em seu canal, uma possibilidade de

produto a ser explorado é a realização de eventos presenciais. Exemplos de eventos podem

ser peças e shows, como é o caso de alguns dos canais descritos acima, com o “Não Vai

Cair no ENEM - uma peça”, “Reféns” e “Sessão de Descarrego”, onde a receita direta vem

da venda de ingressos. Entretanto, também é possível vender cotas de patrocínio de

eventos, como é o caso do Memeawards.

O evento é a primeira premiação de memes do Brasil e capitaneado por algumas

das maiores comunidades de memes do país, incluindo a South America Memes. Produzido

pela Flocks, o evento, segundo Marcelo Madureira, “é a construção de uma marca, um

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patrimônio, um asset para a empresa e uma nova forma de advertisement no mundo digital”,

possuindo o momento da premiação e uma afterparty.

Por último, existe a possibilidade de vender produtos produzidos pelos canais em

lojas virtuais, como por exemplo camisetas com dizeres famosos ou piadas. Essa fonte de

receita, atualmente, só é realidade de um dos canais, South America Memes, porém há

interesse de uma maior exploração dessa estratégia.

Receita de Projetos Especiais:

Os projetos especiais são projetos corporativos com grandes empresas e de

diferentes tipos. Eles não envolvem o core business da empresa, entretanto utilizam as

competências internas. Projetos já realizados vão desde a produção de vídeos corporativos,

envolvendo funcionários das fábricas e passando a mensagem desejada, até

desenvolvimento de cursos de comunicação digital para uma comunidade de uma região

onde o distrito industrial de uma empresa estava localizado.

Os projetos que surgem são bastante variados, demandando recursos também

variados e bastante dedicação, o que muitas vezes exige a contratação de pessoas

externas para o projeto. Por não depender do sucesso e investimento inicial dos canais

digitais, são uma fonte de receita alternativa, porém muito significativa.

A Flocks, apesar de não se definir como uma produtora de vídeos para Internet,

atende a necessidade descrita pela YOUPIX anteriormente; tanto de ser composta por uma

variedade de canais, como de explorar as suas diversas possibilidades de geração de

renda.

2.2.4 Estrutura Organizacional

A Flocks possui uma estrutura matricial com três diretores: de negócios, comercial

e de criação. Para coordenar a produção existe uma coordenação composta por três

pessoas: A coordenadora geral, especializada em mídias digitais, a coordenadora de pós-

produção, também responsável pela gestão de pessoas, e a coordenadora de pré-

produção. Esse núcleo coordena os canais de forma geral, onde cada um deles possui o

seu coordenador de mídia e a sua equipe de produção. A autora Nicole Nigri Musafir,

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atualmente ocupa funções do administrativo, além de coordenadora de pós-produção. A

figura 2 apresenta o organograma da Flocks.

Figura 2: Organograma da Flocks

Fonte: Elaboração própria.

A equipe de produção de cada canal tem entre seus membros pessoas

responsáveis por criação, pré-produção, captação, pós-produção e design. Algumas

dessas funções podem não existir para alguns canais, dependendo da participação da

Flocks na produção dos vídeos. Por exemplo, como citado acima, no canal do Casseta &

Planeta a Flocks participa de todo o processo produtivo. No canal do Paparazzo Rubro

Negro, contudo, a equipe é composta apenas de pessoas de captação para realizar as

transmissões ao vivo (lives).

A Flocks possui muitos colaboradores multifacetados por acreditar que a diversidade

nas tarefas melhora a produtividade. Dessa forma, a maioria dos funcionários faz parte de

mais de uma equipe de produção de canal e também pode exercer funções em mais de

uma área dentro de uma equipe. Isso significa que o editor de um canal pode estar na

equipe de criação de outro canal, se tiver as competências necessárias. Por isso, é

importante que as atribuições de cada função dentro e fora das equipes de produção

estejam muito bem definidas, para que essa atuação multifuncional seja produtiva. A Flocks

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busca que toda a sua equipe ajude na viabilização comercial dos canais da empresa e

define as atividades de cada área conforme abaixo:

➢ Criação/Roteiro: trabalha articulado com os Cast na criação dos formatos de

programa e dos temas/conteúdos abordados em cada vídeo, incluindo a parte de

pesquisa de imagens e vídeos. A criação atua não apenas na produção dos

programas como também nas demandas comerciais.

➢ Design: responsável pela criação das identidades visuais dos canais e

elementos visuais para os vídeos, como inserts (inserções de imagens, artes,

ilustrações, entre outros) e thumbnails (pequena imagem que aparece em um vídeo

do YouTube antes dele ser selecionado). Também atua na criação de artes para a

empresa como um todo, produzindo material institucional, identidade visual,

apresentações, entre outros.

➢ Pré-Produção: responsável pela providência e organização dos recursos

necessários à gravação dos vídeos, como locação, transporte, materiais cênicos,

calendário de gravação e controle de custos da produção.

➢ Captação: responsável pela captura dos vídeos e lives e pela gestão dos

arquivos brutos gerados, realizando a “logagem” dos arquivos gravados

(transferência dos arquivos captados para a ilha de edição, organizando e

nomeando os mesmos), preenchendo os boletins técnicos e organizando o estúdio

e equipamentos.

➢ Edição: a edição ou montagem dos vídeos se refere a seleção, ajuste e

ordenação de planos captados para realização do vídeo. Entretanto, apesar de

nomeada como edição, a área realiza diversas outras atividades da pós-produção

como tratamento de cor, tratamento de áudio, motion graphics (como peças de

animação) e podendo ajudar também na sugestão de inserções ou outros

elementos. Dessa forma, nesse trabalho, chamaremos os realizadores da pós-

produção de editores, como é feito na Flocks.

➢ Mídia Social: responsável pela criação e execução da estratégia de

divulgação de vídeos e posts, avaliando também a performance de cada um deles,

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incluindo resposta do público e análise de métricas e indicadores. Coordena o canal

e a equipe envolvida, identificando necessidades de ações e mudanças de rumo.

➢ Administrativo (financeiro/gestão): responsável pela administração das

finanças da empresa e pela gestão de suas operações. O financeiro se

responsabiliza por tarefas como atualização e projeção do fluxo de caixa, controle

de contratos e funções relativas à pessoal. Já gestão, tem funções como mapear e

sugerir alterações de processos para otimização, gerir o Planejamento e Controle

do processo produtivo, planejamento estratégico, além da gestão de pessoas.

➢ Comercial: responsável pela captação e gestão do relacionamento com os

anunciantes, buscando entender a necessidade do cliente e junto construir

propostas dentro do digital. O comercial tem o maior foco em projetos entre marcas

e canais digitais por meio do Branded Content. Este busca anunciar uma marca, se

comunicando de forma orgânica com o conteúdo do canal. “Contrapondo a ideia de

break, interrupção, na web, tem que existir uma simbiose entre a mensagem e

conteúdo”, diz Marcelo Madureira em entrevista realizada em Julho de 2019.

2.2.5 Estrutura Processual

Ao entender a estrutura organizacional e a estratégia da Flocks, a visão por

processos da empresa fortalece a compreensão de seu funcionamento. Para isso, a cadeia

de valor, indicada na figura 3, apresenta todos os processos da organização, divididos em

primários, de suporte e de gestão:

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Figura 3: Cadeia de valor da Flocks

Fonte: Elaboração Própria.

As atividades de suporte têm o objetivo de apoiar as atividades fim da empresa a

entregar valor ao cliente. O processo de gerir a produção tem maior proximidade com a

execução do processo de produção de conteúdo, analisando as demandas, priorizando e

programando as atividades diárias. A gestão de pessoas busca captar profissionais do

mercado para cargos demandados, avaliar o desempenho individual de cada colaborador

e fortalecer a cultura da Flocks a partir de feedbacks dos funcionários. Gerir Infraestrutura

é o processo de realizar a manutenção dos ativos da empresa de modo a garantir o melhor

funcionamento da mesma.

Os processos de gestão buscam definir as diretrizes da empresa, direcionando a

estratégia a ser seguida e a forma de utilizar os recursos financeiros. Gerir a estratégia

engloba realizar o planejamento da empresa e dos canais, desdobrando em planos de ação

e revisando-os periodicamente junto ao acompanhamento dos indicadores de

desempenho. Em relação a gestão das finanças, esse processo envolve o planejamento

financeiro e seu controle, com foco em analisar as receitas e custos por canais, usando

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como insumo para decisões estratégicas. Além disso, a realização de compras e

pagamentos fazem parte desse processo.

Ao buscar entender as atividades fim da Flocks, três frentes distintas foram

identificadas: gerir as redes sociais dos canais digitais, de forma a consolidar a identidade

dos parceiros na interação com o público, divulgando conteúdos nas diferentes redes e

analisando os resultados de acordo com as métricas e estratégias definidas; Realizar ações

comerciais, com o objetivo de rentabilizar a empresa, por meio de projetos publicitários ou

outras formas de monetização de cada canal, buscando atrair novos clientes e a fidelização

dos atuais; e produção de conteúdo, o processo de tangibilização das ideias do canal em

conteúdo digital, que será mais detalhado abaixo por se tratar do foco do trabalho em

questão. O processo primário de desenvolvimento de (novo) produto não foi mencionado

dentre as três frentes por ter uma frequência pouco repetitiva, e não contínua como os

anteriores. É o processo de construção do canal e de seus produtos, incluindo sua

identidade e objetivos. A prospecção comercial pode começar junto a essa etapa.

2.2.5.1 Produção de Conteúdo

O processo produtivo a ser descrito aplica-se para os conteúdos virtuais produzidos

e divulgados pela Flocks, produto mais relevante em termos de uso de recursos e que têm

maior impacto no funcionamento interno da empresa. Esse processo classifica-se como

primário e está inserido dentro da produção de conteúdo na cadeia de valor mostrada na

Figura 3.

Será usado como exemplo na figura 4 o antigo produto “Fala Mané” do cana l

Casseta & Planeta, que consistia em um programa que os Cassetas discutiam sobre

comentários do público no seu canal. Os episódios eram gravados nas terças-feiras no

estúdio da Flocks, com um cenário de chroma key (fundo verde) em que o fundo variava

toda semana e iam ao ar todo domingo.

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Figura 4: Fluxo completo do programa Fala Mané

Fonte: Elaboração Própria para Flocks.

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A Figura 5, 6 e 7 representam todo o processo de produção de conteúdo de forma

detalhada, desde a criação do conteúdo até o vídeo ir ao ar no YouTube e ser avaliado no

relatório semanal. Em verde estão as etapas que envolvem a área de criação; em roxo, pré-

produção e captação; em rosa, design; em amarelo, edição; e em azul, mídias.

O fluxo era iniciado com a realização de uma pauta com as perguntas selecionadas

para os Cassetas debaterem. Antes da gravação, era feita a montagem do cenário, no caso

o chroma, e em seguida eram gravados dois episódios e captadas fotos para o design da

thumbnail. Após a gravação, o cenário era desmontado e o assistente de câmera fazia a

“logagem” do material, que consiste na transferência dos arquivos do cartão para a ilha de

edição, nas pastas corretas e renomeação dos arquivos, de acordo com as nomenclaturas

definidas. Também era necessário checar o material e preencher o boletim técnico com as

informações da gravação e dos arquivos necessárias para o editor e para registro.

Figura 5: Fluxo do programa Fala Mané - Parte 1

Fonte: Elaboração Própria para Flocks.

O editor fazia a preparação dos dois projetos, que consiste em sincronizar o áudio

com a imagem (sync) e colocar os arquivos na ordem correta dos dois episódios, para

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depois começar a trabalhar no projeto com data de publicação mais próxima. Em seguida,

era feito um primeiro corte com as perguntas debatidas pelos Cassetas, que era colocado

no Framei.io (software para comentários e feedbacks dos vídeos) para a criação poder

realizar a pesquisa de inserts do programa, mídia poder determinar o título da thumbnail e

o design realizá-la. Enquanto isso, o diretor do programa fazia a captação do fundo que

seria aplicado no chroma, e essa aplicação, tratamento de cor e áudio e inserções padrões

(que têm em todos os programas, como a abertura e fechamento) eram feitas até que todos

os inserts estivessem pesquisados. Após a edição de inserts o programa era finalizado com

os ajustes finais de cor e áudio e era feita uma checagem técnica por outro editor da Flocks.

Figura 6: Fluxo do programa Fala Mané - Parte 2

Fonte: Elaboração Própria para Flocks.

Com o vídeo aprovado tecnicamente, ele era exportado e enviado para o

coordenador do canal pelo WeTransfer (serviço de transferência de arquivos em nuvem).

O coordenador, da área de mídias, fazia o upload para o YouTube como não listado (apenas

ele pode ver) para fazer a aprovação final, que consiste em ver o vídeo completo no celular

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e no computador para identificar qualquer problema, pode ser problemas provenientes do

meio em que é assistido, pois a qualidade do celular é muito menor que de uma ilha de

edição, problemas relacionado a políticas do YouTube, como direitos autorais de música

que são sinalizados quando o vídeo é “upado” ou até mesmo problemas de conteúdo ou

técnicos que não foram identificados anteriormente.

Após a aprovação do coordenador, o vídeo ia ao ar no YouTube, cortes de trechos

eram feitos para outras redes e o vídeo completo era exibido na televisão da empresa para

toda a equipe estar ciente dos conteúdos produzidos. Nas primeiras horas de publicação

do vídeo, o coordenador do canal respondia os comentários do público, para uma semana

depois fazer a análise de dados desse vídeo e realizar o relatório semanal.

Figura 7: Fluxo do programa Fala Mané - Parte 3

Fonte: Elaboração Própria para Flocks.

Abaixo, na Figura 8, é possível ver alguns exemplos dos últimos episódios do “Fala

Mané” com suas respectivas thumbnails, o resultado final do processo produtivo.

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Figura 8: Últimos vídeos do Fala Mané publicados no YouTube

Fonte: YouTube.

O Fala Mané era um exemplo de programa que não exigia tanta temporalidade

quanto os atuais programas do Casseta & Planeta. A Resenha Tabajara, é gravada na

terça-feira de manhã para ir ao ar no mesmo dia, no fim da tarde, com Cassetas

comentando sobre as principais notícias em alta; o Plantão Casseta & Planeta, também

gravado na terça-feira, vai ao ar apenas na sexta, porém admite a entrada de novos quadros

até sexta às 12h, pois faz um apanhado das principais notícias da semana, possuindo um

quadro chamada “Notícias de última hora”.

Por outro lado, o programa Não Vai Cair no ENEM, fala sobre a história do Brasil e,

já que a temporalidade não é um fator que influencia no sucesso desses vídeos, a gravação

ocorre uma vez por mês, gravando 4 ou 5 episódios. Entretanto, se algum evento

relacionado ao tema do canal, como o incêndio no Museu Nacional do Brasil, ocorre, é

importante que seja possível a produção de vídeos “não programados”.

Esses exemplos mostram as singularidades, não apenas de cada canal, mas de

cada programa. Para absorver as demandas temporais e não temporais e a chegada de

urgências não planejadas, é preciso que haja uma estrutura orientada para isso, uma frente

dos programas que permitem atemporalidade e uma programação da produção bem

definida e respeitada.

Nesse contexto, para um Planejamento, Sequenciamento, Programação e Controle

da Produção de vídeos, foi identificado o processo de pós-produção como o “gargalo” do

sistema, uma restrição de capacidade. O “gargalo” é o jargão para a restrição do processo,

pois ele que condiciona as saídas de um sistema regular. Sendo assim, o seu uso deve ser

o maior possível, subordinando os outros recursos a este (Jardim; Costa; Varella, 2015).

Ou seja, no caso da Flocks, atualmente, o processo de produção de vídeo deve estar

subordinado a pós-produção dos mesmos.

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Dessa forma, sendo a restrição do sistema a pós-produção, torna-se o recurso com

maior carência de planejamentos e controles minuciosos, que deve ser o foco prioritário na

gestão da produção (Jardim; Costa; Varella, 2015), sendo, também, o foco do nosso

trabalho.

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3. METODOLOGIA

Nesse trabalho, buscou-se entender de forma estruturada o processo de gestão da

Flocks e utilizar o conhecimento tácito de ambos os autores como a principal fonte de

informação desse novo mercado de empresas que produzem vídeos para Internet. Como

dito anteriormente, os conhecimentos teóricos da área de Planejamento e Controle da

Produção (PCP) foram adaptados para um ramo do mercado audiovisual, já que foi

originalmente concebido para o ambiente fabril e possui uma carência de estudos que

adaptem os seus conceitos à outros mercados, especialmente o de entretenimento.

Considerando que o trabalho poderia ter duas opções de abordagem, a

Empreendedora Tecnológica foi escolhida em contraponto à Acadêmico Científica. Jardim

(2004) aponta as diferenças entre ambas e sinaliza que a primeira metodologia identifica o

problema focando em oportunidades de desenvolvimento tecnológico de empresas ou

instituições, definindo o objetivo de forma centrada na presença do aluno o do autor na

empresa selecionada para a experiência piloto, com uma revisão bibliográfica vindo depois

de uma criteriosa análise do problema encontrado. Na visão acadêmica, o foco natural é

começar com uma ampla visão bibliográfica.

Enquanto uma tem como produto final uma tese e artigos publicados, apontando

uma solução genérica, particularizada caso por caso, a outra apresenta uma tecnologia

para uso nas empresas ou instituições e expande seus resultados por meio de uma solução

piloto, que logo é ampliada para incluir um universo de maior número de empresas com

estrutura de produção semelhante. Sendo assim, para o objetivo desse trabalho e

vislumbrando um sistema comercial para essa área, a metodologia empreendedora

tecnológica torna-se mais conveniente do que a acadêmico científica, onde a profundidade

é estudada e analisada antes da amplitude. A tabela completa de comparação das

metodologias pode ser vista no Anexo I.

Nesse contexto, o método utilizado no trabalho foi o seguinte: após o entendimento

estruturado dos processos da empresa, os autores optaram por focar no gargalo da

produção, baseado em conceitos como Teoria das Restrições (do inglês, ToC - Theory of

Constraints). Após debater sobre conceitos da literatura de PCP, um diagnóstico da

empresa foi realizado junto a avaliações quanto aos modelos antigos e atual de PCP. Dessa

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forma, uma proposta de especificações é indicada junto a sua análise preparatória para

implementação e seus desdobramentos.

Dentro da visão acadêmica, essa metodologia se encaixa como estudo de caso e

tem como uma das utilidades a exploração de novos processos ou comportamentos,

permitindo a geração de hipóteses e construção de teorias (Ventura, 2007), além de serem

recomendados para acontecimentos contemporâneos e condições contextuais (Yin, 2010).

Duas fontes de evidências utilizadas nos estudos de caso são; a série sistemática

de entrevistas e observação direta (Tin, 2010). Dessa forma, as informações sobre a

empresa, além do conhecimento dos autores, provêm de preenchimento de formulários,

survey, e entrevistas semipresenciais com os dois sócios fundadores, ambos engenheiros

de produção, e com a coordenadora geral, especializada na área de mídias sociais. O modo

de analisar o progresso do PCP desenvolvido na empresa foi por meio de documentos,

planilhas e acesso ao software de gestão de tarefas e do seu histórico.

Outras entrevistas também foram realizadas com; Eneide Maia, a antiga diretora

executiva de Planejamento e Controle de Custo de Produção da Conspiração filmes;

Sandro Santos, o Gerente de Tecnologia da Trilha, empresa de simuladores de

planejamento; Andrea Nunes de Carvalho, pesquisadora do Instituto Nacional de

Tecnologia (INT) e Felipe Ribeiro, Gerente de Serviço da SAP, empresa de software.

A literatura referente ao contexto amplo inclui artigos e livros sobre a história da

comunicação e do mercado audiovisual, com foco maior na “Cauda Longa”, de Chris

Anderson. Além disso, para estar atualizada quanto às novas realidades do YouTube, o

uso de matérias recentes foi essencial, com destaque para a Youpix, aceleradora da

indústria de criadores de conteúdo digital e fonte muito utilizada na própria Flocks, para se

manter atualizada. Já a literatura do referencial teórico se baseou em livros tradicionais

sobre o tema, tendo como base principal o livro “Administração de Produção e Operações”,

de Henrique e Carlos Corrêa, um material utilizado como referência em diversos cursos de

engenharia de produção.

Em relação às limitações encontradas neste projeto, vale destacar o embasamento

aprofundado das empresas de software estudadas. Considerando o desdobramento do

modelo de PCP proposto em um sistema de gestão integrado, como será visto mais a

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frente, o entendimento de outras ferramentas existentes foi feita de maneira detalhada

apenas com o software da Trilha, visto a proximidade possibilitada pelo orientador desta

tese e a oportunidade de entrar em contato com desenvolvedores do próprio sistema. Os

outros sistemas mencionados foram estudados por meio de bibliografias e contatos

telefônicos com funcionários, sem permitir que uma análise efetiva fosse feita.

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4. REFERENCIAL TEÓRICO

Para compreender como uma produtora de conteúdo audiovisual pode utilizar o

conceito de PCP de modo eficiente, visto que na empresa estudada tal conhecimento

aparenta ser útil para a otimização do gargalo do processo produtivo, este assunto deve

estar claro antes de ser introduzido em um ambiente novo. Dessa maneira, o conteúdo de

PCP será desdobrado em seus principais conceitos: Planejamento, Sequenciamento,

Programação e Controle de Produção. As três principais filosofias orientadoras de gestão

de operações também serão estudadas, entendendo o significado e importância desses

tópicos para embasar todo o conteúdo utilizado neste trabalho. Com o conhecimento

estabelecido, os sistemas de apoio e otimização da produção serão comentados,

conectando o conceito teórico a ferramenta e introduzindo este assunto para os próximos

capítulos.

4.1 Planejamento, Sequenciamento, Programação e Controle de

Produção

O conceito de Planejamento e Controle da Produção surgiu apenas no século XX,

mas sua aplicação é vista ao longo da história. Segundo Abernathy e Corcoran (1983), o

padrão de desenvolvimento industrial americano teve um início prático nos meados do

século XIX, conhecido na literatura como “Sistema Americano de Manufatura” (American

System of Manufactures - ASM), modelo adotado posteriormente por outros países, como

Grã-Bretanha, Japão, França e Alemanha. O sistema surgiu pouco depois da 1ª Revolução

Industrial, com a utilização de maquinários e um certo grau de divisão de trabalho (Corrêa

e Corrêa, 2017).

O desenvolvimento industrial foi acelerado nos Estados Unidos da América, como

resultado do ASM e do desenvolvimento ferroviário no país, mas em termos de modelo de

gestão de operações, a Administração Científica, por Frederick Taylor, foi a grande

mudança de escala de produção no início do século XX. A divisão do trabalho e

especialização do funcionário permitiu elaborar um planejamento de produção muito

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eficiente, mas não previu o componente social do trabalho, derivando as primeiras

iniciativas de abordagens nesse sentido (Corrêa e Corrêa, 2017).

Diversos acontecimentos históricos impactaram na forma como a indústria

funcionava após a Administração Científica. A quebra da bolsa aumentou muito o poder do

consumidor, devido a queda da demanda, o que resultou na diferenciação dos produtos

como um fator decisivo no momento da compra. Em seguida, a Segunda Guerra Mundial

direcionou muitos esforços para as empresas manufatureiras apoiarem seus respectivos

países, desenvolvendo diversas áreas, mas com uma progressão destacável do uso de

técnicas de programação e análise matemática, o que originou a área de pesquisa

operacional. Ao fim da guerra, com o desenvolvimento de diversas tecnologias e temas que

gerassem vantagem competitiva às nações envolvidas, muitos desses conhecimentos

foram passados para a utilização na indústria. Dentre os novos conceitos, um

desdobramento interessante derivou da pesquisa operacional, a área de planejamento,

programação e controle de produção (Corrêa e Corrêa, 2017), sendo desenvolvida

desde o seu início e se desdobrando em outros métodos como a Teoria das Restrições e o

Lean.

4.1.2 Planejamento

Ao se falar sobre gestão de operações, independente do setor em questão, a

definição do objetivo pelo qual as atividades estão sendo feitas é a orientação básica para

uma organização realizar sua atividade fim. Com esse conceito claro, teoricamente a

tomada de decisão é simples, alinhando todos os esforços na meta definida e, ao perceber

uma necessidade de mudança, decidir uma alteração de percurso necessária. Em uma

situação real, porém, os processos decisórios possuem uma inércia intrínseca, o que

significa um período desde a tomada da decisão até seu efeito em si. Esse fato torna o

objetivo ineficiente como única orientação para o futuro almejado. O planejamento entende

a visão de futuro (uma forma de previsão) em conjunto com a situação presente, de modo

a influenciar o processo decisório para alcançar os objetivos (CORRÊA; GIANESI; CAON,

2007) de forma mais eficiente.

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A inércia mencionada entre a tomada de decisão e seu efeito varia, podendo ser

curta (p.ex.: turnos extras), apresentando menos riscos e menor impacto, ou longa (p.ex.:

expansão das instalações), trazendo resultados em um período distante, geralmente com

efeito maior e a probabilidade de falha proporcional. Métodos de agregação de dados em

famílias podem reduzir as chances de erro, úteis no longo prazo. Nesse contexto, o conceito

de planejamento hierárquico é muito importante, de modo que as decisões com maior

inércia restrinjam futuras decisões menores para manter a coerência das decisões,

mantendo a coesão do processo de planejamento (Corrêa e Corrêa, 2017).

Uma característica importante do processo em questão é a sua continuidade, na

qual em cada momento deve-se ter noção dos objetivos, situação presente e visão do futuro

para a tomada de decisão (Corrêa e Corrêa, 2017). Por conta disso, o replanejamento é

aplicado, pois com a mudança do presente, uma previsão nova pode ser necessária,

gerando decisões diferentes.

Em qualquer empresa, a necessidade de vendas de um produto ou serviço é

necessária. As estratégias de vendas são definidas de acordo com os objetivos da

organização, a demanda do mercado e a capacidade produtiva. O Planejamento de Vendas

e Operações (PVO) é importante para um alinhamento adequado sobre a capacidade

produtiva, visto que a visão dos produtos, principalmente no que tange a sua agregação, é

distinta entre vendas/ marketing, com uma orientação ao cliente, e a área manufatura,

orientada aos processos produtivos. O PVO é um processo de planejamento como definido

anteriormente, alinhando horizonte futuro e situação atual, porém estratégico para a

empresa adequar a sua oferta à demanda do mercado, assim como a manufatura ao

marketing (Corrêa e Corrêa, 2017).

Com um planejamento definido, alinhando vendas e operações, de forma mais

genérica quanto a produção, organizada em agregações de produtos, o Planejamento

Mestre de Produção (PMP) é necessário para realizar a desagregação da produção a um

nível de planos detalhados. O PMP tem um papel tático, de forma a adequar a produção

para alcançar o planejamento macro definido. Sua visão é de médio a curto prazo, e deve

utilizar diversas ferramentas e métodos para garantir que a produção agregada alcance o

planejamento, analisando os atrasos de cada família e produto, e propondo alternativas na

produção para alcançar o resultado desejado (Corrêa e Corrêa, 2017). O sequenciamento,

programação e controle de produção são extremamente importantes para o uso tático e

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operacional no PMP de modo a melhorar o desempenho produtivo no curto prazo,

impactando por consequência o médio e longo prazo.

4.1.3 Sequenciamento

Ao se falar no planejamento de curto prazo, a nível operacional, é importante o

conhecimento do conceito de centro de trabalho: área ou setor no qual recursos são

organizados e o trabalho é realizado por atividades que agreguem valor para o cliente

(Correa e Correa, 2017), podendo ser compostos por mais de um recurso (.ex: pessoas,

máquinas, equipamentos e etc). Em uma produção, podem existir um ou mais centros de

trabalhos com características distintas para um ou mais produtos com necessidades de

produção diferentes. De acordo com a oferta e demanda produtiva, uma fila de ordem de

produção pode se formar nos centros, o que gera uma necessidade da gestão de operações

priorizar a ordenação dos pedidos de acordo com as características da operação, da ordem

de produção e dos recursos e sua disponibilidade. A priorização das atividades é a definição

do sequenciamento da produção.

Para sequenciar uma produção, uma série de regras predefinidas são utilizadas

como base para a determinação das prioridades, com diferentes níveis de complexidade

(Slack, 2013). Uma das regras mais comuns, que geralmente apresenta um impacto maior

na operação, está relacionada a restrição física da produção, obrigando a seguir um

determinado sequenciamento. Outro exemplo de diretriz muito usada é quanto a prioridade

do cliente, principalmente quando a empresa se caracteriza por possuir uma grande

quantidade de pequenos consumidores/ contratantes e uma pequena parcela de grandes

clientes, que representam uma maior fatia no faturamento da empresa. O desagrado dos

principais compradores pode acarretar uma busca por outro produtor, causando um impacto

negativo muito maior financeiramente do que a saída de alguns clientes pequenos.

Dentre tantas opções por onde definir a diretriz do sequenciamento, não existe uma

regra superior a todas as outras. As características da operação determinam que regras

seguir ou se embasar para determinado sequenciamento. Para auxiliar na determinação

das diretrizes, alguns autores determinaram a forma de escolha do tipo de orientação do

sequenciamento. Segundo Henrique e Carlos Correa (2017), as regras dinâmicas devem

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ser escolhidas em oposição às estáticas, pois consideram as alterações das ordens de

pedidos ao longo do tempo. O autor lista uma série de exemplos de regras, apresentado na

tabela abaixo. Além disso, as regras globais devem se sobressair em relação às locais,

considerando o conjunto de operações em si. Já para Nigel Slack (2013), o julgamento para

a seleção das regras de sequenciamento deve ser feito principalmente perante o impacto

sobre a ótica de redução de custos, velocidade na produção e visão de confiabilidade

perante ao cliente.

Regras de sequenciamento usuais para determinar prioridades em job-shops

Sigla Definição

1 FIFO First in First Out - primeira tarefa a chegar ao centro de trabalho é a primeira a ser

atendida.

2 FSFO First in the System, First Out - primeira tarefa a chegar à unidade produtiva é a

primeira a ser atendida.

3 SOT Shortest Operation Time - Tarefa com o menor tempo de operação no centro de

trabalho é a primeira a ser atendida.

4 SOTI Mesma SOT, mas com limitante de tempo máximo de se esperar para evitar que

ordens longas esperem muito.

5 EDD Earliest Due Date - a tarefa com a data prometida mais próxima é processada antes.

6 SS Static Slack - folga estática, calculada como "tempo até a data prometida menos

tempo de operação restante".

7 DS Dynamic Slack - folga dinâmica, calculada como 'folga estática dividida pelo número

de operações por executar".

8 CR Critical Ratio - razão crítica, calculada como "tempo até a data prometida dividido

pelo tempo total de operação restante".

Tabela 1: Regras de sequenciamento

Fonte: Adaptado de A Administração de Produção e Operações (2017, pg. 499).

4.1.4 Programação

Apesar da extrema importância da priorização para maior entrega de valor de acordo

com os critérios definidos, como as três óticas mencionadas anteriormente, sua utilização

não especifica em relação a quando realizar uma atividade, visto que apenas a sequência

das tarefas está determinada. Existem elementos no processo produtivo que influenciam a

decisão sobre em que momento cada etapa deve ser feita, como o tempo de execução, a

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capacidade produtiva, a quantidade e capacidade de cada centro de trabalho, a quantidade

de funcionários e suas diferentes habilidades, e por fim a quantidade de processos

diferentes (Slack, 2013). A definição de alocar as atividades no tempo, de acordo com o

sequenciamento definido e as restrições consideradas é a Programação de Operações

(Corrêa e Corrêa, 2017), uma das atividades mais complexas na administração da

produção. Devido a quantidade de elementos envolvidos, o número de opções de se

programar uma produção geralmente é muito grande e algumas vezes inimaginável,

justificando sua complexidade. Esse fato faz com que muitos gerentes de produção

busquem uma programação aceitável ao invés de procurar o melhor resultado possível.

Uma das características da programação é quanto ao carregamento, podendo ser

finito ou infinito. Esse conceito está associado a alocação da atividade de acordo com o

prazo de entrega da mesma. No caso do carregamento infinito, o prazo é o único elemento

considerado para definir o momento de execução das atividades, desconsiderando

qualquer restrição de capacidade produtiva, como o limite de produção de um centro de

trabalho. A atividade deve começar de acordo com o seu tempo médio de execução, de

modo a entregar no prazo. Esse tipo de programação considera a sobrecarga dos

elementos produtivos após sua definição. A determinação das atividades do carregamento

finito, em contrapartida, considera as limitações de capacidade, postergando a entrega ou

adiantando uma atividade de modo a se enquadrar nas limitações produtivas de volume.

Desse modo, o prazo é atingido ou negociado, sem ter o risco de uma falta de capacidade

clara interferir no resultado (Corrêa e Corrêa, 2017).

A outra característica da programação é quanto a forma de orientação para se

programar a atividade, podendo ser para trás (Backward) ou para frente (Forward). A

programação para trás é determinada pela data futura, pelo prazo de entrega determinado

pelo cliente. Com essa data, a programação será feita a partir da duração estimada da

atividade, reduzindo esse período de tempo do prazo de entrega, encontrando uma data de

início ideal (Corrêa e Corrêa, 2017). Desse modo, a produção é determinada pelo prazo do

cliente e em teoria o estoque de produto final é próximo de zero, pois ao fim da produção,

o produto deve ser entregue. Na prática, a variabilidade da produção é levada em conta

para evitar atrasos na entrega, o que gera estoque final.

No caso da programação Forward, no momento que uma demanda chega ao

sistema, ela é iniciada de imediato, limitada apenas pela capacidade disponível, e é

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finalizada de acordo com o seu período de produção. O prazo da demanda não é

considerado neste caso, gerando estoque de produto final até a entrega para o cliente. Essa

produção é determinada pela capacidade da empresa e pedido dos clientes.

Pensando em facilitar o entendimento da programação da produção, uma

ferramenta muito utilizada devido ao seu poder de compreensão visual é o Gráfico de Gantt.

Esse método foi utilizado inicialmente na gestão de projetos, auxiliando a mostrar as tarefas

que precisam ser realizadas, porém logo foi trazido para o chão de fábrica. O gráfico

representa o tempo de execução das tarefas como barras, com comprimentos de acordo

com a sua duração, com o executor ou cargo responsável pela tarefa mencionado na barra.

Além da representação visual da produção, outra vantagem da ferramenta é sua utilização

na previsão de curto prazo, facilitando possíveis testes de novas formações de entrega nos

centros de trabalho. É importante ressaltar que o Gráfico de Gantt não é uma ferramenta

de otimização, mas sim para para comunicar a programação de maneira mais eficiente e

buscar possíveis alternativas (Slack, 2010). A Figura 9 apresenta um exemplo do gráfico

mencionado.

Figura 9: Gráfico de Gantt

Fonte: Operations Management (2013, pg. 308).

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4.1.5 Controle

Com a programação da produção definida, orientada pelas priorizações e o

planejamento a partir da estratégia, a empresa alcança os seus objetivos ou entende os

gaps para que isso aconteça. Entretanto, durante a execução do que está definido, diversas

eventos podem ocorrer de modo a alterar o planejamento, como o surgimento de uma nova

demanda emergencial, a falha em um componente do processo produtivo ou um simples

atraso em uma etapa específica. Visando a programação, o Gráfico de Gantt também

funciona como uma ferramenta de controle (Corrêa e Corrêa, 2017), de modo a

acompanhar o que foi programado, entendendo as previsões de entrega de cada atividade

em comparação com a proximidade de finalização da mesma.

O controle visual é interessante pela visão sistêmica da produção facilitada, porém

é necessário um entendimento quantitativo para comparação do planejado com o real. Para

compreender como isso pode ser feito, o objetivo do controle da produção deve estar claro,

sendo definido como o monitoramento do que foi planejado frente a realidade, uma

comparação das métricas reais de entradas e saídas com o previsto, de modo a garantir

que a programação seja entregue (Slack, 2013). Desse modo, o consumo real da

capacidade disponível é encontrado, permitindo a intervenção na produção para o alcance

dos objetivos. A Figura 10 representa esse fluxo de controle e intervenção.

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Figura 10: Modelo simples de controle

Fonte: Adaptado de Operations Management (2013, pg. 312).

A diferença entre os fluxos de saída e entrada também informam sobre a situação

do estoque em processo, ocorrendo uma redução quando o fluxo de entrada é menor do

que o de saída, podendo gerar a não entrega do que foi planejado, ou a situação contrária,

aumentando os custos com estoque em processo (Correa e Correa, 2017). Essa métrica é

alterada a partir da intervenção no fluxo de controle, que deve ser escolhida de acordo com

a estratégia da empresa. Existem dois conceitos de intervenção de controle dos fluxos de

entradas e saídas, o controle empurrado e o puxado:

● Controle empurrado: Controle em que cada centro de trabalho produz de

acordo com a sua capacidade, “empurrando” a saída de sua etapa para o centro de

trabalho seguinte;

● Controle puxado: O centro de trabalho seguinte determina a partir de sua

capacidade o quanto ele deve receber de insumos da etapa anterior, “puxando”

apenas o que é preciso.

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Desse modo, caso uma etapa tenha maior capacidade, ela produz abaixo de seu

limite, entregando apenas o necessário para o próximo centro de trabalho.

O controle empurrado em algumas óticas aparenta ser interessante pelo fato de

todos os centros de trabalho estarem funcionando em suas máximas capacidades, porém

o estoque processado é crescente por conta de gargalos produção. O controle puxado

busca reduzir os materiais no meio do processo orientando sua produção a partir do

gargalo. Essa forma de controle é muito favorável em operações Lean (Slack, 2013). Uma

das bases do pensamento enxuto por trás desse tipo de operação é que o entendimento

do que entrega valor ao cliente permite a identificação e eliminação dos desperdícios.

Considerando o processo produtivo como atividade fim de uma organização, entregando

valor diretamente ao cliente como produto final, o estoque em processo é um desperdício

encontrado que busca ser eliminado por essa forma de controle (Costa e Jardim, 2015).

4.2 Filosofias de Gestão

Após o entendimento detalhado dos conceitos de Planejamento e Controle de

Produção, o embasamento de filosofias de gestão é necessário para solucionar o problema

apresentado. A seguir, os três principais conceitos sobre o tema são descritos.

4.2.1 Teoria das Restrições

Os conceitos do Planejamento e Controle de produção, como visto anteriormente,

foram muito desenvolvidos de acordo com novos conhecimentos embrionados

principalmente na indústria. A Teoria das Restrições é uma filosofia de gestão oriunda

desse meio e é uma grande base para diversas aplicações da produção. A aplicação dessa

teoria na sequência de conceitos de produção mencionados está ligada principalmente ao

controle produtivo.

Segundo Eliyahu Goldratt, que introduziu esse conceito da gestão de empresas, a

Teoria das Restrições tem um orientador máximo: a meta da organização, razão de

existência da mesma. O outro conceito fundamental da ToC é o de restrição/ gargalo,

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definido como o elemento que, caso fosse mais abundante na empresa, o alcance do

objetivo seria mais rápido (Costa e Jardim, 2015). A partir disso, com ambos os conceitos

identificados, a Teoria das Restrições diz que as restrições devem ser analisadas de modo

a entender como explorá-las, para depois subordinar todos os outros elementos a essa

forma de exploração da restrição, elevando os seus limites e acelerando o alcance da meta.

É interessante reforçar que a restrição pode ser alterada e esse processo deve ser repetido

(Costa e Jardim, 2015).

Ao comparar esse conceito com a ideia de controle puxado e empurrado, fica claro

que buscando evitar os desperdícios em um pensamento para aumentar os ganhos, sendo

esse a meta da organização, a restrição como centro de trabalho “puxa” a produção e a

“empurra” para as próximas etapas de modo a aproveitar ao máximo o seu funcionamento.

Um conceito específico da Teoria das Restrições para o controle da produção é o caso do

Tambor, Pulmão e Corda, que explica exatamente a ideia de quando aplicar o controle

puxado e empurrado a partir do gargalo (Slack, 2013):

● Tambor: Encontrando o centro de trabalho gargalo do processo produtivo,

esse deve ditar o ritmo do restante da produção (controle puxado);

● Pulmão: O gargalo sempre deve estar trabalhando (controle empurrado),

pois como determinante do que será entregue, qualquer perda de capacidade é uma

perda de ganho final. Para garantir a capacidade máxima, sempre deve haver um

estoque excedente para a restrição produzir;

● Corda: É necessário existir uma comunicação entre o gargalo e os centros

de trabalho anteriores, de modo que não haja excesso de produção (controle

puxado).

Desse modo, entendemos como a Teoria das Restrições está relacionada aos

conceitos de Planejamento, Sequenciamento, Programação e Controle de Produção.

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56

4.2.2 Lean

Diferente de ToC, a filosofia de pensamento enxuto Lean tem o cliente como

principal orientador. A compreensão do que é valor entregue para o cliente orienta a

identificação e eliminação de desperdícios, a partir de melhorias contínuas na produção,

diferenciando a empresa do mercado (Costa e Jardim, 2016). Esse conhecimento surgiu

do Sistema Toyota de Produção, filosofia original de pensamento enxuto, ambos com a

principal vertente de entregar valor ao cliente e ser mais eficiente na redução de custos da

produção, o que geralmente era considerado um trade-off a ser feito pelas empresas.

Ao aprofundarmos o entendimento sobre o que orienta essa filosofia, o senso

comum do que um cliente enxerga de valor em um produto e serviço é suficiente para

identificá-lo. Essas características triviais seriam a qualidade e custo do que foi adquirido,

além do tempo de espera para recebê-lo e flexibilidade sobre alguma mudança necessária.

Qualquer questão na operação que interfira negativamente em algum desses fatores é

considerado um desperdício que deve ser eliminado ou reduzido ao máximo. O desperdício

clássico dessa filosofia é o alto estoque para garantir velocidade e flexibilidade ao cliente,

acarretando um custo elevado na operação e consequentemente no preço final. O

inventário elevado é preciso para sobrepor possíveis descontinuidades na entrega ao

cliente ligadas a problemas na produção, como quebra de máquinas, tempo de preparação

de máquinas e equipamentos, e problemas de qualidade dos produtos. Segundo Lean, tais

problemas deveriam ser eliminados ao invés de criar desperdícios no custo para aumentar

a velocidade e flexibilidade, eliminando consequentemente esse trade-off. A redução do

estoque aponta ao gerente da produção os problemas da operação, facilitando a busca por

soluções para a redução desses gastos, resultando em uma melhoria contínua e maior valor

ao cliente (Correa e Correa, 2017).

O exemplo do estoque como redução de desperdícios mostra o surgimento do

conceito de controle “puxado”. Considerando a busca por entregar mais valor ao cliente a

partir da redução de custos de inventário, o gargalo da produção deve ditar o ritmo para a

diminuição do material em processo. Em suma, o real gargalo na filosofia Lean é o cliente,

que deve orientar a produção para entregar o que foi pedido com o mínimo de desperdício

possível (Costa e Jardim, 2016). Vale enfatizar que a busca por diminuir/ eliminar os

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resíduos desnecessários da produção é um trabalho de melhoria contínua na organização.

Para facilitar a compreensão sobre esse tema, segue abaixo todos os 8 desperdícios Lean:

● Estocar desnecessariamente;

● Transportar itens desnecessariamente;

● Esperar desnecessariamente;

● Movimentar-se desnecessariamente;

● Retrabalhar algo já trabalhado e controlar desnecessariamente;

● Trabalhar de forma inadequada;

● Produzir mais do que o necessário;

● Não aproveitar a criatividade e inteligência dos colaboradores.

4.2.3 Supply Chain Management

Ao analisar a trajetória da gestão de operações, é interessante perceber o foco no

processo produtivo. Desde Taylor, buscando otimizar a produção, até as duas filosofias

citadas anteriormente, trazendo o foco na entrega de valor ao cliente buscando reduzir os

desperdícios no gargalo e na produção como um todo, as organizações tiveram um enfoque

grande em otimizar a atividade fim. Com essas filosofias disseminadas nos anos 90, as

etapas produtivas das empresas estavam muito maduras, as diferenciando da concorrência

quando a aplicação dos métodos era minimamente efetiva. Apesar disso, esse

conhecimento já estava distante do estado da arte, o que facilitava o desenvolvimento da

concorrência. Em contrapartida, uma visão de rede de operações de uma organização

existia, porém não era tão desenvolvida. O entendimento de que as empresas faziam parte

de redes distintas, internas ou não, que se inter-relacionam, que o desempenho da rede

como um todo dependia do bom desempenho entre os agentes e que as interfaces entre

essas relações eram pouco maduras apresentou uma nova forma de diferenciação frente

ao mercado competitivo. O bom gerenciamento não só isolado da produção, mas dessas

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com foco também nessas inter-relações surgiu como gestão de rede de operações, ou

Supply Chain Management (SCM) (Correa e Correa, 2017).

Apesar desse enfoque nas redes de operações ter surgido como outra forma de se

diferenciar além do foco na operação interna da produção, a utilização das filosofias Lean

e ToC foram usadas para a otimização das redes. A visão de diversos atores sendo

considerados como elos em uma rede com o objetivo de entregar valor ao mercado é similar

a visão de etapas produtivas para entregar valor ao cliente. A busca por desperdícios nessa

cadeia de agentes e o entendimento do elo gargalo para orientar as relações a partir do

mesmo resultam em uma rede mais eficiente, agregando mais valor ao mercado e

consequentemente ao cliente (Costa e Jardim, 2016).

O grande foco nas interrelações de uma cadeia de suprimentos trouxe diversas

discussões para tomada de decisão das empresas. Encontrar o melhor equilíbrio entre

terceirizar ou verticalizar a cadeia talvez seja o mais famoso nesse debate, buscando

encontrar não só a melhor relação de enxugar os custos, mas se a atividade em questão

seria uma competência central da empresa. O custo de transição de uma atividade própria

para um serviço terceirizado junto com o entendimento das competências é extremamente

relevante para essa decisão, porém o relacionamento com os agentes da rede de

operações, sejam eles internos ou externos, também impactam muito no direcionamento

de posicionamento de verticalização das empresas (Correa e Correa, 2017).

Uma característica importante para ser levada em conta nas redes de operações é

o de efeito chicote. Ele se caracteriza pelo fato de os elos entre as cadeias de operações

serem geridos normalmente de forma isolada. Com o mercado sendo o ditador das

demandas de toda a rede, no momento em que existe alguma alteração, o primeiro elo

ligado ao mercado percebe a alteração e consequentemente muda a sua produção. Esse

ato é repetido para os outros elos na cadeia, porém em momentos distintos, apenas quando

a informação do fluxo de materiais demandados pelo elo anterior e informado. Esse “gap”

entre os elementos da cadeia formam o chamado “efeito chicote”, podendo causar

produções demasiadas distintas das necessidades reais do mercado, devido ao atraso

entre a percepção da nova demanda e a mudança na produção, gerando falta de ou

excesso de estoque. Um fluxo de informações imediato entre os agentes da cadeia (ou

próximo disso), reduziria muito o efeito em questão, principalmente em grandes redes de

operações (Correa e Correa, 2017). Alguns sistemas integrados existem hoje para auxiliar

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nesse sentido, orientando diretamente todo o Planejamento, Sequenciamento e

Programação da Produção de acordo com a demanda informada.

4.3 Sistemas de Apoio e Otimização da Produção

Além da parte conceitual para orientação sobre a melhor forma de gerir a produção,

ferramentas tecnológicas são necessárias para administrar de fato tais sistemas

complexos, principalmente no que tange o Planejamento, Sequenciamento, Programação

e Controle de Produção. Essas ferramentas são relevantes para gerir e integrar a produção

com os agentes necessários para a entrega de valor ao cliente. Costa e Jardim (2015)

elencaram esses principais softwares, suas características e vantagens produtivas, que

serão mencionadas a seguir.

4.3.1 MRP – Materials Requirement Planning

O MRP surgiu pela empresa IBM e auxilia na gestão de materiais para planejamento

da quantidade de insumos necessários e momento na linha de produção em que deve ser

utilizado. A partir do surgimento da demanda com prazo final, a programação é feita sobre

uma lógica de “Backward”. Desse modo, o gerente consegue ser guiado pela ferramenta

quanto a esse tipo de informação, auxiliando nas decisões a serem tomadas quanto a

compra de material e planejamento da produção.

4.3.2 MRP II – Manufacturing Resource Planning

Este sistema é uma evolução do anterior, como visto pela abreviatura do nome. Seu

principal diferencial é a análise da capacidade produtiva além da demanda da produção já

existente na tecnologia passada. A programação do MRP tem uma característica de

carregamento infinito por não considerar a capacidade do sistema de produção. Ao aplicar

o MRP-II, trazendo a ótica de carregamento finito, os gerentes conseguem realizar uma

programação mais precisa quanto a realidade do chão de fábrica.

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4.3.3 ERP – Enterprise Resource Planning

O ERP trouxe a ideia dos sistemas anteriores para a corporação inteira,

centralizando todos os dados de cada área da organização de maneira a se conectarem.

Além do controle dos materiais adquiridos na linha de produção, o mesmo controle pode

ser feito para materiais nas outras funções da empresa. Diversas áreas estão conectadas

com o material adquirido e produzido, como o setor financeiro, controlando o pagamento

de fornecedores e fazendo o planejamento financeiro da empresa. Recursos produtivos

como equipamentos e ferramentas podem ser centralizados nessa base de dados do ERP,

além das informações sobre os funcionários da linha produtiva que executarão cada

atividade. A centralização de todos os dados da organização facilita a comunicação e

tomada de decisão das áreas e da companhia como um todo. O principal ganho nessa

ferramenta é a integração da empresa para melhorar entendimento e tomadas de ação

sobre o seu comportamento holístico.

4.3.4 SCM – Supply Chain Management Systems

Além de ser considerado uma filosofia de gestão, também existem softwares de

SCM buscando integrar a rede de operações por completo. As características dessa

ferramenta são muito parecidas com o ERP, porém a visão holística é da rede como um

todo, integrando os dados dos elos de modo a ter um fluxo de informação ágil para a tomada

de decisões, de modo a otimizar os resultados de todos os agentes e não prejudicar a

cadeia.

4.3.5 BI – Business Intelligence

Ferramentas de BI buscam dar suporte a tomada de decisão. Com todos os dados

integrados da empresa e da rede de operações, essa ferramenta busca sumarizar e

analisar de modo a transformá-los em informações úteis para a orientação das ações. Os

dados obtidos são tanto dos sistemas envolvidos, como ERP e SCM, quanto informações

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externas, do mercado consumidor, concorrência e características gerais que possam

influenciar nas análises.

4.3.6 MES – Manufacturing Execution Systems

O MES auxilia mais diretamente no gerenciamento da operação, fechando a lacuna

entre a gerência e a execução dos processos (Cameira, 2019). Segundo a MESA

(Manufacturing Execution System Association), o MES “...entrega informações que

permitem a otimização das atividades de produção desde o lançamento do pedido até os

produtos acabados. O MES fornece informações críticas sobre as atividades de produção

em toda a empresa e na cadeia de suprimentos através de comunicações bidirecionais”.

Tal sistema pode ser melhor compreendido a partir de suas funcionalidades apresentadas

na Figura 11:

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Figura 11: MES - Algumas funcionalidades componentes

Fonte: Cameira, UFRJ (2019) apud André Ribeiro, UERJ (2010).

Vale ressaltar que as funcionalidades utilizadas em um sistema MES são definidas

de acordo com a sua necessidade, principalmente por conta de outros sistemas estarem

incorporando algumas dessas utilidades.

4.3.7 APS – Advanced Scheduling and Planning Systems

O APS complementa o MES com a realização de simulações da produção, com

análises sobre cada etapa do processo produtivo, apoiando com maior assertividade

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decisões relativas a cada máquina/ equipamento em cada período de tempo. A

programação da produção é feita pelo APS a partir dos dados coletados pelo MES, com

todas as restrições do sistema produtivo pré-definidas, permitindo uma simulação eficaz.

4.3.8 Ferramentas Existentes

Ao falar sobre os sistemas de apoio e otimização de produção, é fácil citar diversas

ferramentas existentes no mercado atual que entregam a maioria das funcionalidades

mencionadas, além de outras mais específicas. Para tangibilizar ainda mais este assunto,

algumas das principais ferramentas do mercado mundial e nacional serão citadas junto com

suas características:

● SAP - De origem alemã, hoje é líder mundial nos serviços de soluções de

negócios colaborativos. Está presente principalmente em grandes empresas, com

sistemas de ERP e SCM de destaque no mercado. Também oferece todos os outros

sistemas mencionados acima;

● ORACLE - Posicionada em segundo lugar nos serviços descritos acima, a

empresa americana Oracle é a principal concorrente do SAP. Oferece todos os

sistemas acima e possui uma segmentação de clientes próxima;

● TOTVS - Empresa nacional que, assim como SAP e Oracle, atende

principalmente grandes empresas. O escopo de produtos e segmentação de

clientes é muito próximo;

● Preactor - Ferramenta da Siemens, o Preactor está associado ao sistema

APS e busca auxiliar na programação, sequenciamento e controle da produção,

usando simulações para ser mais efetivo neste aspecto;

● Trilha - Assim como o Preactor, a empresa nacional Trilha oferece o sistema

APS com foco no PCP e utilização de simulações para aprimorá-lo. Seus

simuladores buscam programar detalhadamente as atividades e gestão da

capacidade no curto prazo, denominado como nível 3 da gestão de capacidade,

como pode ser visto na Figura 12 abaixo. Dessa forma, cenários são criados e

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avaliados para definir o sequenciamento da produção de cada recurso, incluindo

onde e quando fazer.

Figura 12: Simuladores Trilha nos 3 níveis da gestão de capacidade

Fonte: Material da Trilha (2019).

Devido a um maior acesso à Trilha do que as outras ferramentas, realizando

entrevistas com o Gerente de Tecnologia, Sandro Santos, e tendo a possibilidade de testar

um modelo de Simulador da empresa, o trabalho utiliza essa ferramenta como referência

de estudo para o modelo proposto adiante.

5. DIAGNÓSTICO DA FLOCKS

Após a compreensão dos conceitos apresentados no referencial teórico, na Figura

13 é possível entender como eles serão relacionados para entender o diagnóstico da Flocks

e elaborar o seu modelo de PCP.

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Figura 13: Relação entre os conceitos do referencial teórico para a elaboração da proposta

Fonte: Elaboração Própria.

As questões referentes ao Planejamento, Sequenciamento, Programação e

Controle da Produção da Flocks serão esclarecidas como diagnóstico da empresa, e as

filosofias de Teoria das Restrições, Lean e Supply Chain Management serão utilizadas

como base para o encaminhamento de uma proposta: o ToC ao buscar reduzir a restrição,

o Lean ao tentar reduzir o desperdício, e principalmente o SCM ao aumentar a integração

do processo produtivo, compreendendo as etapas da cadeia de valor apresentada na

Figura 3. Dessa forma, a proposta será materializada utilizando ferramentas de apoio como

o MES, ERP e APS.

Entretanto, antes de entender as questões da empresa, como referido na Figura 13,

será feito uma categorização do sistema produtivo da empresa, possibilitando um melhor

entendimento da Flocks e um embasamento mais preciso para a realização do diagnóstico.

5.1 Sistema de Produção da Flocks

A categorização do sistema de produção da Flocks foi realizada por meio de

algumas classificações feitas por Costa e Jardim (2016) que seriam relevantes para a

realidade da empresa: tipo de transformação, natureza da demanda, frequência da

produção e instante de chegada do pedido como mostra a Figura 14 a seguir.

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Figura 14: Sistema de Transformação de Materiais

Fonte: Adaptado do material do curso de PCP I da UFRJ. Jardim (2019).

Há cinco tipos de transformação de materiais:

● Transformação por processo, definida como uma junção irreversível de

materiais, seja física ou economicamente, que costuma contar com alto grau de

automação e, consequentemente, pouca contribuição humana, com alta

repetitividade nas atividades, tendo como exemplo a indústria química;

● Transformação simples, por partes discretas, envolvendo processos

discretos que se integram na montagem do produto, tendendo a ter uma

participação humana mais intensa, como é o caso de fabricação de roupas;

● Grandes projetos, onde os produtos possuem grande valor agregado e são

desenvolvidos sob medida;

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● Transformações complexas, com árvore verticalizada, caracterizadas pela

empresa assumir responsabilidade direta pela fabricação de itens semi ou

acabados;

● Transformações complexas, com árvore horizontalizada, onde a

terceirização predomina.

Como citado anteriormente por Castro (2013), as telenovelas podem ser

classificadas quanto a tipo de transformação como “Grandes Projetos” com suas equipes

específicas e ciclos de vida de 12 a 16 meses. Isso se aplica aos produtos audiovisuais

tradicionais como filmes, séries e novelas. Entretanto, no caso da Flocks, com a entrega de

diversos vídeos semanalmente, com colaborações simultâneas em diferentes equipes, a

classificação como projeto não se aplica. Nesse caso, a classificação que melhor se adapta

seria a de transformação simples, por partes discretas, podendo entender essas partes

como diferentes materiais captados, imagens, artes, áudios, entre outras partes. Na pós-

produção, o próprio termo “montagem” é usado como o processo de selecionar, ordenar e

ajustar os planos de vídeo.

A natureza da demanda refere-se ao fato gerador para haver uma demanda a ser

produzida, podendo ser de três tipos:

● Por previsão, onde a demanda é antecipada e o início da produção ocorre

sem que haja venda garantida;

● A partir de pedidos específicos, quando a produção só é iniciada quando o

pedido é confirmado;

● A partir de um plano mestre, sendo um meio termo onde a produção a curto

prazo ocorre por pedidos, e médio prazo por previsão,

No caso da Flocks, quanto a natureza da demanda, o mercado de vídeos para

Internet tem uma característica singular de não depender de pedido, possuindo uma

previsão de entregas para o público com uma frequência determinada, visando atrair a

venda de patrocínios e projetos comerciais. Entretanto, em caso de demandas comerciais,

como Branded Content, específicas para marcas patrocinadoras, a produção do vídeo

ocorre contra pedido. Dessa forma, a natureza da sua demanda seria por plano mestre,

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incluindo tanto vídeos feitos para cliente, contra pedido, como para conquistar clientes, por

previsão.

A terceira coluna da Figura 13 categoriza quanto a frequência de produção de um

produto:

● A produção contínua possui um fluxo que nunca é interrompido;

● A seriada se caracteriza por ter alta repetitividade e volumes de produção;

● A intermitente produz lotes que são feitas de tempos em tempos e costuma

contar com o compartilhamento de recursos

● A pouco repetitiva costuma referir-se a produção de encomendas específicas

e peças especiais, com uma alta dinamicidade e constante reprogramações;

● A única está associada a grandes e longos projetos.

A Flocks, com sua complexidade, se enquadra em várias das categorias acima. Se

formos analisar quanto a forma dos produtos, é possível produzir vídeos comerciais com

formato único ou até mesmo, vídeos em massa, como o Vlog no Canal do Madureira que

tem frequência diária. Entretanto, o mais comum é a produção de diferentes programas

semanalmente e repetitivamente, dessa forma, poderíamos enquadrar em uma produção

em lotes. Cabe ressaltar que a produção com frequência intermitente foi o berço da

abordagem MRP, com evolução para MRP II e ERP, e deu origem a termos citados

anteriormente, como ToC, que resultariam na filosofia de gestão explicada no capítulo 4.2

(Costa e Jardim, 2016). Dessa forma, torna-se bastante coerente a utilização dessas

abordagens para a Flocks.

Entretanto, o que complexifica a programação desse sistema de produção, é que

apesar da forma poder ser intermitente, o conteúdo é sempre único: nunca um vídeo será

publicado com o mesmo conteúdo que um anterior, cada um terá suas especificidades que

afetarão todo o processo produtivo, incluindo o modo de gravação, com consequência

direta no material captado e na pós-produção. Essa característica, faz com que a

programação da Flocks seja mais complexa devido a variabilidade entre os processos de

cada vídeo.

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Por último, a classificação de acordo com o instante de chegada do pedido refere-

se ao momento em que, dentro de um fluxo genérico de produção, a empresa passa a se

responsabilizar pelo pedido. Na Figura 15 abaixo, é possível ver exemplos desde o tipo de

empresa A, que está encarregada por toda a linha de produção, até a G, que que recebe o

produto apenas para distribuição.

Figura 15: Estrutura de produção classificadas pelo instante de chegada do pedido

Fonte: Adaptada de Produção e Serviços (2016, pg 209).

Ao aplicar essa categorização à Flocks, fica claro que cada um dos seus produtos

pode se enquadrar em diferentes classificações, representadas por letras na Figura 15

acima. Como explicado no capítulo 2.2, cada canal/cast, ou até programa, possui uma

relação diferente quanto ao “instante de chegada do pedido” à Flocks. Na Figura 16 a seguir

podemos ver alguns exemplos de produtos e a sua relação com o fluxo clássico de

produção de um vídeo para Internet, que representa a produção de conteúdo dentro dos

processos primários da cadeia de valor da empresa, como mostra a Figura 3, no capítulo

2.2.5.

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Figura 16: Exemplos de estrutura de produção da Flocks de acordo com o produto

Fonte: Elaboração Própria.

O programa Plantão Casseta & Planeta é classificado como um produto A, em que

a Flocks tem participação desde a criação do conteúdo até a publicação nas redes. Já no

caso da Pregação, do canal Igreja Evangélica Pica das Galáxias (IEPG), atualmente o

material captado é recebido apenas para editar e publicar nas redes. Cabe ressaltar que a

estrutura de produção da Flocks com relação a cada produto está longe de ser estática. O

próprio produto da Pregação, no início da empresa, era gravado na Flocks, e os roteiros,

apesar de serem escritos pelo próprio cast, ainda possuem interação com a empresa, que

costuma ler e aprová-los. Da mesma forma, os esquetes do Canal Ixi, possuem os roteiros

escritos pelo próprio cast, entretanto, recentemente a empresa passou a fornecer encontros

mensais de criação, para brainstorming de temas, participando do processo criativo. Dessa

forma, a Figura abaixo busca precisar como seria possível classificar esses produtos de

acordo com esse conceito da Engenharia de Produção, todavia, como dito anteriormente,

a cada momento o retrato instantâneo da empresa pode ser diferente.

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5.2 Principais Problemas

Após analisar o sistema de produção da empresa, possuindo diferentes frequências

entre produtos, momentos de chegada de material distintos e naturezas de demandas

variadas, foram levantados os principais problemas no processo produtivo da Flocks, desde

a sua fundação. Estes atuavam como impeditivos para lidar de uma forma satisfatória com

a realidade apresentada e com as complexidades do mercado.

Com o nascimento da empresa em 2016, o principal papel da Flocks era a criação

de conteúdo para os canais que faziam parte da sua rede, usando a expertise de seus

funcionários para isso acontecer. Nessa época, a operação da empresa era gerida

unicamente pelo responsável pela produção, usando de sua experiência para alocar os

funcionários nas diversas tarefas existentes. Ferramentas de auxílio na gestão da produção

eram criadas, como planilhas de suporte, pela necessidade de um controle mínimo das

demandas. Apesar disso, a decisão final sobre o que deveria ser feito era advinda do líder

da produção, ultrapassando qualquer planejamento prévio quando percebia tal

necessidade.

Essa experiência inicial da Flocks era muito dinâmica, com muitos pontos a melhorar

e aprendizados. Por mais que o pouco tempo de vida da empresa apresentasse pouca

maturidade em alguns processos, três principais problemas relativos ao sistema produtivo

podiam ser destacados:

1. A produção era programada unicamente de acordo com a data de entrega

do produto (Backward), desconsiderando possibilidades de construção de frentes

(estoque) e antecipação de prazos de chegada de material. A capacidade produtiva

também não era considerada, apenas adicionando a demanda na fila, característica

de uma programação por carregamento infinito, como visto no capítulo 4.1.4. Esses

fatores traziam consequências como; inflexibilidade para lidar com demandas

urgentes e não previstas; atraso na entrega de vídeos em caso de imprevistos e

singularidades; dificuldade na definição de prioridades sem ser pela data de

publicação.

2. O controle era feito de maneira informal, "no boca a boca", dificultando a

identificação de problemas no processo e não permitindo uma análise concreta de

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eficiência na produção, inibindo a melhoria contínua. A eficiência tem o propósito de

analisar o aproveitamento racional do tempo, máquinas, equipe e dinheiro (Costa e

Jardim, 2016).

3. Apesar de haver um gerente de produção, a coordenação das demandas de

pós-produção, na prática, era descentralizada. Isso ocorria em parte devido ao

costume dos colaboradores da empresa de realizarem pedidos diretamente aos

editores sem uma visão global das demandas e suas prioridades. Dessa forma, as

decisões eram tomadas por pessoas que não possuíam ciência quanto aos limites

de capacidade, atravessando qualquer tipo de planejamento.

5.3 Modelos testados

Os modelos testados passaram por algumas transformações por meio de uma

análise contínua da efetividade dos mesmos. Esse trabalho resume algumas das correções

de rota feitas no modelo inicial para que seja possível entender a linha de raciocínio dos

autores para a proposta realizada.

5.3.1 Modelo inicial

Com um diagnóstico claro e utilizando os conhecimentos de Planejamento e

Controle de Produção, um modelo de PCP foi idealizado. Para isso acontecer, todos os

processos produtivos dos programas existentes foram mapeados, seguindo de uma

primeira tentativa de planejamento das atividades.

Por ser uma startup, ainda sem ferramentas de gestão de tarefas, o Asana foi o

aplicativo selecionado para tal feito, já que era usado na empresa para outras funções. Com

essa plataforma, pretendia-se não apenas gerenciar o trabalho, mas também programar,

sequenciar e controlar por uma interface limpa e intuitiva, como visto na Figura 17, com

diversas possíveis integrações a outros softwares.

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Figura 17: Exemplo de gerenciamento de tarefas

Fonte: Asana, acesso em 08/06/2019.

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74

Definida a ferramenta, o planejamento das atividades deveria ser moldado a partir

dos processos mapeados, incluindo todas as áreas do processo de criação de conteúdo.

Com o objetivo de automatização do mesmo, os autores programaram todos os processos

produtivos em ciclos de 4 semanas. Para isso, foi considerada a capacidade produtiva da

empresa e estimativas de tempo pouco precisas das atividades, baseadas na experiência

dos executores.

Essa programação foi posta no Asana, alocando os responsáveis de cada atividade

e criando uma automatização da seguinte maneira: quando o executor realizasse a tarefa,

ele apontaria sua conclusão no Asana, o que geraria uma tarefa no futuro, de acordo com

sua frequência de ocorrência (a frequência variava de semanal até a cada 4 semanas,

possuindo poucos casos com frequência menor que uma semana).

Desse modo, o planejamento estava automatizado, com a necessidade dos

responsáveis pelo PCP acompanharem a produção para fazer um replanejamento quando

preciso. As atividades estavam separadas pelos diferentes canais digitais da empresa, com

o seguinte padrão de nomenclatura e formatação: a sigla do produto entre parênteses, o

nome da atividade por extenso, o número do programa ao final e a cor da atividade

relacionada a área de trabalho responsável. A Figura 18 apresenta na ferramenta Asana

um planejamento de 2 semanas da empresa, com foco em um dia de trabalho,

apresentando diversas tarefas de exemplo, com seus responsáveis definidos e a

formatação citada anteriormente.

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75

Figura 18: Planejamento de duas semanas da Flocks, com destaque para um dia de planejamento, com as

tarefas coloridas por área, além de responsáveis alocados

Fonte: Asana, acesso em 08/06/2019.

O controle das tarefas era feito com um acompanhamento diário das atividades do

Asana, conferindo apenas se o planejado havia sido cumprido. Caso existissem demandas

atrasadas, o executor em teoria comentava a atividade, justificando o atraso e informando

a previsão de entrega, porém na prática essa informação era buscada de forma proativa

pelos responsáveis pelo PCP. A reprogramação era feita a partir dos comentários e

informações coletadas, de forma imprecisa e imediata, sem gerar análises para melhoria

contínua.

A compreensão de todos os detalhes do funcionamento do PCP foi garantida com

um e-mail explicativo e concretizada via um workshop com toda a empresa.

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Problemas Encontrados

Em poucos meses, o PCP já caia em desuso. Alguns motivos existiram para isso

acontecer, sendo listados abaixo:

● Necessidade da empresa inteira se adequar a uma nova forma de

trabalho, de acordo com o planejamento. Além de terem dificuldade, por estarem

acostumados a um trabalho criativo mais livre, não viam ganhos com o

planejamento. O resultado não era imediato para empresa e pouco claro no dia-a-

dia da parte operacional.

● Cultura de não cumprir prazos intermediários. O fato do trabalho ser

pautado principalmente sobre vídeos que irão ao ar em uma data específica enviesa

qualquer prazo intermediário. Ao tentar definir prazos para cada etapa do processo,

grande parte dessa programação não era cumprida (por negligência ou

capacidade), pois a data de publicação era a única respeitada.

● Controle pouco rigoroso para seguir a nova forma de trabalho.

Justamente pelo motivo anterior, a necessidade de acompanhar com maior

proximidade a execução da nova forma de trabalho era necessária. Entretanto, não

foi pensada uma forma de controle devido a uma visão idealizada de que o

planejamento seria seguido com pouca necessidade de alteração.

● O novo formato de trabalho não era utilizado pelo gerente de produção.

A mudança realizada sofreu grande resistência pelas lideranças que ocuparam esse

cargo, que já tinham uma forma estabelecida de conduzir o trabalho. Em alguns

casos, as ações tomadas eram contraditórios ao PCP, direcionando o trabalho de

forma totalmente diferente do planejado. Como consequência, os liderados não

eram incentivados a aderir ao novo modelo.

● PCP estático para processo dinâmico. O planejamento era feito sobre

estimativas de execução das atividades de forma estática, sem considerar a

variabilidade das atividades. O replanejamento era feito quando possível, porém

utilizando os prazos predefinidos inicialmente, sem atualizá-los de acordo com a

evolução do processo produtivo.

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● Planejamento baseado em estimativas não precisas e dados não

coletados. O acompanhamento das tarefas realizadas era feito utilizando a

ferramenta Asana ou de maneira informal, buscando apenas as informações sobre

o andamento da atividade. A decisão gerada sobre esse processo era o

replanejamento das tarefas atrasadas, sem realizar o registro do histórico de tempo

da atividade e motivo de atraso. Isso dificultava um planejamento mais preciso das

atividades da empresa, dependendo ainda das estimativas.

5.3.2 Correção de Rota

Após entender os principais motivos para o desuso do modelo de PCP inicial, uma

correção sobre a forma de realizar o Planejamento e Controle da Produção era necessária.

A partir dos problemas notados, a primeira alteração na trajetória foi o foco em apenas uma

área, visto que era uma mudança muito brusca em uma empresa criativa. A partir da Teoria

das Restrições, ficou claro que o foco no gargalo era a resposta, e este foi identificado como

a pós-produção. Este fato ficou evidente ao longo da implementação e execução do

primeiro modelo, pois a pós-produção apresentou diversos indícios de afunilar a produção,

sendo eles a capacidade não adequada devido aos poucos equipamentos, grandes tempos

para execução das atividades e alta variabilidade na produção.

Outra importante decisão tomada nesse modelo foi em optar por inicialmente

acompanhar a produção e construir uma base de dados. A justificativa para isso era a

necessidade de ter referência de tempos de cada etapa do processo de pós-produção

realizado. Com a criação dessa base, um planejamento mais assertivo poderia ser feito

futuramente, definindo prazos baseados no tempo médio e na variância de cada programa,

sem depender de conhecimentos tácitos e possivelmente pouco precisos dos funcionários.

A coleta dos dados era compilada em uma planilha de Excel para cada mês do ano,

com abas divididas por semana, linhas de horários para cada dia, macro colunas com os

centros de trabalho e colunas com os inputs de informação a serem feitos. Na Figura 19

temos uma mostra da planilha de coleta de dados do Excel. Uma versão mais completa

pode ser vista no Anexo II.

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Figura 19: Planilha de coleta de dados produtivos de edição do dia 09/07/2017

Fonte: Elaboração própria para Flocks.

Com a Figura 19 acima, podemos ver que, além da previsão dos tempos de pós-

produção dos programas de cada canal e outras demandas, os tempos por executor e por

centro de trabalho (ilhas de edição Mac 1 e Mac 2 na Figura 19) eram coletados e serviam

para análise de capacidade e produtividade do sistema. As coletas de chegada e saída dos

executores auxiliavam ainda mais na análise da eficiência, comparando o período em que

estavam presentes no ambiente de trabalho com o tempo de operação, de modo a fazer

uma análise Lean de redução dos desperdícios.

Para auxiliar a visualização das tarefas de pós-produção e conseguir compilar os

dados de cada processo, o layout utilizado no Asana foi alterado, como visto na figura 20,

colocando apenas a data de postagem de cada vídeo no cronograma, seguindo a linha de

priorização já existente na empresa.

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Figura 20: Novo Layout do Asana com prazos finais de entrega de cada demanda, com o dia 26 de julho

enfatizado, com as tarefas e responsáveis definidos

Fonte: Asana, acesso em 15/06/2019.

Dentro das tarefas dos programas, cada etapa do processo produtivo estava

informada como uma subtarefa, orientando a sequência de atividades que o executor

deveria realizar. Para indicar os dados, o editor abria a subtarefa e informava a hora em

que começava a editar, fazendo o mesmo ao finalizá-la e marcando a subtarefa como feita,

como mostra a Figura 21. Dessa forma, além do responsável pela produção conseguir

compilar os tempos, o gestor da pós-produção acompanhava todas as demandas e suas

subtarefas, auxiliando ainda mais o gerenciamento de atividades. O calendário completo

de julho de 2019 pode ser visto no Anexo III.

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Figura 21: Exemplo de registro de tempo por subtarefa

Fonte: Asana, acesso em 15/06/2019.

Para garantir que o modelo fosse efetivo, um controle rígido de sua utilização por

parte dos usuários foi necessário. Nesse aspecto, a cobrança de utilização e preenchimento

do Asana era diária, buscando apoio dos líderes de edição e produção. Esse

posicionamento foi crucial para o sucesso do modelo, visto a cultura de não enxergar valor

nesse trabalho e resistência das lideranças.

O objetivo final era que, com alguns meses de trabalho, a base de dados dos

programas fosse robusta o suficiente para que as estimativas de tempos fossem mais

precisas, considerando a variância de cada produto. Além disso, indicadores estratégicos

poderiam ser levantados, como o tempo do gargalo gasto para cada canal e programa da

empresa, oferecendo a oportunidade de análise em contrapartida com os custos e receitas

de cada canal, auxiliando na tomada de decisões estratégicas. Esses dados e indicadores

eram reportados para os diretores da empresa no formato de um relatório mensal, além dos

dados sobre a capacidade dos editores, média, variância e outliers (valores inconsistentes)

dos programas e categorização ABC dos canais por consumo de edição. As Figuras 22 e

23 exemplificam essa análise.

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Figura 22: Análise histórica de programa específico com média e desvio padrão

levantados, presente no Relatório Mensal

Fonte: Elaboração própria para Flocks.

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Figura 23: Tempo total de edição por canais no primeiro semestre de 2018, presente no relatório mensal

Fonte: Elaboração própria para Flocks.

Oportunidades de Melhoria:

O modelo em questão apresentou ótimos resultados no que foi proposto. Apesar

disso, boa parte do trabalho era feito manualmente, preenchendo e coletando informações

do Asana, compilando os dados nas planilhas e fazendo as análises. A integração de todas

essas frentes junto a sua automatização reduziria muito os gastos com tempo de gestão e

dos próprios executores do gargalo, além de realizar análises mais precisas. Entretanto, o

principal ponto de melhoria seria a implementação de um processo completo de

Planejamento, Sequenciamento, Programação e Controle da Produção, que agregaria valor

ao processo produtivo, reduzindo diversos desperdícios mencionados em Lean, como:

● Espera desnecessária para execução → Sem um planejamento bem feito,

atividades que poderiam começar a ser executadas antes, por já haver material

disponível, não eram feitas, pois a orientação do gestor da produção era apenas

embasada no prazo final;

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● Transportar itens desnecessariamente → Considerando a troca de

informações presente nesse processo como o “item transportado”, o fluxo de

informação passava tanto pelo Asana quanto por planilhas do Excel devido a não

integração dos dados;

Além dos dois desperdícios acima, com apenas a orientação sobre o prazo final de

entrega, sem um planejamento diário, o executor não tinha a visão de que etapa do

processo deveria ser feita no seu dia-a-dia, acarretando nos quatro desperdícios Lean

abaixo:

● Trabalhar de forma inadequada → Tomado de decisão sem embasamento,

o que gerava margem para erros;

● Retrabalhar algo já trabalhado → Decisão de trabalhar em algo que outra

pessoa já havia feito, devido a falta de visão global da realização das demandas;

● Produzir mais do que o necessário → Adiantamento da pós-produção de

materiais futuros sem ter a certeza de que seriam usados, gerando esse desperdício

de excesso de produção;

● Não aproveitar a criatividade e inteligência dos colaboradores → Esforços

gastos nas decisões acima, que não deveriam ser tomadas pelos editores,

reduzindo o seu esforço em criatividade e melhoria do seu trabalho.

5.4 Modelo Atual

Acatando a oportunidade de melhoria, o modelo atual conta com, além do controle

da produção, o planejamento, que segue utilizando a mesma planilha do Excel para

compilação de dados e armazenamento da base global.

Para realizar o planejamento, são levantadas todas as demandas, prazos para os

vídeos estarem finalizados, datas de publicação, datas de chegada dos materiais, entre

outras informações, sequenciando as demandas em ordem de prioridade. Com o tempo

médio de edição por programa levantado durante o controle, as demandas são divididas

entre os editores da casa de forma equilibrada. A Figura 24 mostra a planilha que é

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preenchida toda sexta-feira como um levantamento das demandas existentes para planejar

a semana seguinte e controlada ao longo da semana de acordo com o realizado.

Figura 24 Planilha de demandas de vídeos de janeiro de 2019

Fonte: Elaboração própria para a Flocks.

Por meio da tabela de demandas, o planejamento é feito resultando em um Gráfico

de Gantt com capacidade finita no Excel, como mostrado na Figura 25, que também é

controlado de acordo com a sua realização. Pode-se observar as etapas em verde, que

auxiliam visualmente para entender o que foi realizado.

Figura 25: Gráfico de Gantt de planejamento de dois dias de janeiro de 2019

Fonte: Elaboração própria para a Flocks.

Em toda sexta-feira, a ilha de edição é programada para a semana, entretanto, o

planejamento oficial, divulgado para a equipe por e-mail, é diário. A imagem 26 apresenta

um exemplo de e-mail de planejamento.

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Figura 26: Exemplo de e-mail de planejamento para informe de demanda do dia 05/06/2019

Fonte: E-mail da Flocks.

Ou seja, no final de cada dia, de acordo com o que foi realizado e com o surgimento

de novas demandas, é feito um replanejamento da semana e do dia seguinte. O Asana é

atualizado assim que a mudança é feita, da seguindo o formato do modelo anterior,

representado na Figura 20, e um e-mail de planejamento do dia seguinte é enviado. Isso

exige uma forte comunicação entre a ilha de edição e o planejamento e um respeito da

equipe ao processo de informar novas demandas diretamente ao planejamento.

O Asana funciona, atualmente, em tempo real: toda mudança no planejamento

quanto a prazo ou responsável é atualizada de imediato; os editores são cobrados de

preencher o início e fim de cada etapa da edição nas subtarefas do Asana, além de dar o

check nas mesmas quando finalizadas, como mostrado na Figura 21; o coordenador do

canal é cobrado de dar o check na tarefa por ser responsável pelo aprovação final do vídeo

e adicionar as demandas fixas semanais de cada canal; a equipe é cobrada de adicionar

as tarefas no caso de chegada de novas demandas, deixando claro a descrição e o prazo

das mesmas, porém podendo solicitar demandas por e-mail ou até mesmo no “boca boca”

em que o próprio planejador adiciona a tarefa no Asana. Na Figura 27 abaixo é possível ver

um exemplo de tarefa dividida nas suas subtarefas, todas concluídas.

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Figura 27: Exemplo de tarefa e subtarefas concluídas

Fonte: Asana, acesso em 15/06/2019.

Além do relatório mensal que segue sendo utilizado, atualmente também é gerado

um relatório semanal, com os seguintes dados para análise: uso das ilhas de edição,

eficiência dos editores (comparação do tempo de empresa com tempo editando),

observações diárias, tempo editado por dia, por programa e por canal. Esses dados,

analisados semanalmente, permitem uma visão do progesso (ou não) relacionado aos

processos produtivos da empresa. Um exemplo do relatório semanal pode ser encontrado

no Anexo VI.

Analisando o modelo atual da Flocks, o diagrama representado na Figura 28 foi

elaborado visando apresentar de forma clara a troca de informações necessárias para a

execução das demandas e emissão dos relatórios gerenciais:

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Figura 28: Diagrama de fluxo de informações do modelo atual da Flocks

Fonte: Elaboração Própria.

Apesar desse modelo atual contar com a integração entre Planejamento e Controle,

as ferramentas de cada um, Excel e Asana, não são integradas e exigem uma transferência

de dados e informações manual de um para o outro, além do tempo gasto para atualização

do banco de dados e planejamento e replanejamento manual.

A plataforma do Asana também possui uma dependência de preenchimento dos

editores, maior dificuldade encontrada desde o início da implantação do PCP, havendo uma

forte resistência por serem os únicos da empresa a terem o controle de horário, exigindo

um altíssimo nível de cobrança e acarretando, ainda, em um desgaste de relação.

Entretanto, essa resistência tem diminuído bastante, principalmente com a integração do

Asana as outras áreas da empresa.

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Outro ponto considerável, é a delicadeza no uso desses dados para cobrança

quanto a eficiência no trabalho, pois pode acarretar em um preenchimento incorreto do

Asana, com falsa melhora nos relatórios.

Uma vantagem do PCP atual é a visualização da situação geral da ilha na semana,

definindo a possibilidade de realizar, ou não, demandas imprevistas e de construir frentes

de vídeos não temporais, permitindo, também, que os editores estejam a par das suas

tarefas diárias e semanais. Todavia, o replanejamento constante da produção, como citado

acima acerca da exigência de uma forte comunicação, possui uma dependência de um bom

feedback diário dos editores, seja ele pelo Asana ou informalmente.

Uma grande diferença do PCP para a forma que a empresa era programada no seu

início é a utilização de dados históricos para a realização do planejamento, atualizado

constantemente. Contudo, o tempo médio de pós-produção por programa possui um alto

desvio padrão e não são utilizados métodos formais para uma definição prévia de variáveis

que afetem esse tempo, possuindo uma alta variabilidade no processo, como descrito no

início do trabalho como um dos principais “Vs” da complexidade. Por último, cabe ressaltar

que a definição de prioridade dos vídeos está focada no coordenador da pós-produção, por

meio de decisões embasadas no conhecimento do negócio e no julgamento de urgência e

complexidade da demanda, sem haver critérios formais a serem respeitados.

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6. PROPOSTA

Analisando o contexto amplo e específico, como descrito no capítulo 2, e o resultado

do diagnóstico da empresa junto a evolução do projeto de PCP desenvolvido na Flocks

desde 2017, como visto no capítulo anterior, é proposto um modelo de Planejamento e

Controle da Produção para pequenas empresas produtoras de vídeos para Internet que

contam com uma demanda expressiva e dinâmica. O objetivo desse modelo é planejar da

melhor maneira possível a edição de vídeos da empresa e, para isso, precisa ter frequência

diária de planejamento e replanejamento devido a variabilidade do processo e do mercado.

As filosofias ToC e Lean embasam esse objetivo, buscando atuar sobre o gargalo da

produção e reduzir ao máximo os desperdícios, com o foco em otimizar o uso dos recursos

produtivos.

6.1 Função do Planejamento e Controle na Flocks

Antes do entendimento da visão geral do modelo proposto e suas especificações,

as funções de controle e planejamento devem ser compreendidas. Conforme mostra a

Figura 29, o planejamento decide o que será feito no futuro para atingir os objetivos que

agregam valor aos stakeholders.

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Figura 29: Gestão da Produção

Fonte: Material do curso de PCP I da UFRJ. Jardim (2019).

Após a execução do planejamento, os apontamentos permitem uma comparação

entre o que foi planejado e o que foi realizado, definido como controle, para que se possa

replanejar.

6.1.1 Função do Planejamento

O planejamento que estamos analisando da Flocks se enquadra no que Correa e

Correa (2017) chamam de planejamento de curto prazo, a nível operacional, nomeado

como nível 3 na hierarquia do Planejamento e Controle da Produção, como mostra a Figura

30.

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Figura 30: Visão hierárquica do Planejamento e Controle da Produção

Fonte: Material do curso de PCP I da UFRJ. Jardim (2019).

Esse nível engloba as atividades de sequenciamento e programação, ao analisar

recursos, disponibilidades, demandas, prioridades, entre outros fatores. Correa e Correa

(2017) também afirmam que programar quando e por quem cada tarefa será feita é uma

das atividades mais complexas da gestão da produção, por ter inúmeras opções de

programação. Devido a essa complexidade, evidencia-se um paradoxo da Engenharia de

Produção, onde as empresas fazem um investimento maior nos softwares corporativos,

como SAP, ORACLE e TOTVS, englobando o nível 1 e 2 de decisão de investimento e

identificação de gargalos, mas exploram pouco o nível 3, como Preactor e Trilha, de

acionamento de fábrica e programação do dia a dia. Esse conhecimento provém da

experiência e conversas com professores e autores em trabalhos de consultoria, que

observam que, não obstante a existência de softwares corporativos, o que é visto gerindo

o chão de fábrica são as planilhas Excel. As planilhas proporcionam a flexibilidade

necessária, que nem sempre se consegue prontamente e a um baixo custo num software

tradicional. Entretanto, tendem a gerar bases de dados desconectadas, ou não integradas,

algo que os softwares tentam evitar.

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Tendo em vista essa realidade, podemos dizer que o planejamento para Flocks tem

como função diminuir o impacto das incertezas, aumentar a pontualidade das entregas, a

eficiência do uso de recursos e a flexibilidade para demandas imprevistas. Dessa forma,

por meio de um gerador de cenários, é possível comparar os mesmos e definir o

planejamento que que satisfaz para os objetivos estabelecidos no momento. Tratando-se

de um ambiente com capacidade finita, ferramentas, como o Gráfico de Gantt, permitem

visualizar o que cada editor deve fazer em cada dia, quando cada produto estará pronto e

quando cada processo intermediário deve ser feito. Nesse caso em específico, a maioria

das programações passam a ser Forward, sendo iniciadas na chegada do material gravado,

limitada apenas pela capacidade disponível.

O planejamento também permite, no curto prazo, prever o atraso de entregas, tomar

decisões de produção como, hora-extra, terceirização ou até mesmo informar quando há

impossibilidade de realização de novas demandas. No longo prazo, o planejamento nos

indica quando há necessidade de expansão de capacidade.

6.1.2 Função do Controle

Como dito no referencial teórico, o controle tem a função de comparar o programado

com o realizado, avaliando as entradas e saídas, quantitativamente, de acordo com o

planejado. No caso da Flocks, após gerado o Gráfico de Gantt relativo a edição dos vídeos,

apontamentos devem ser feitos para indicar o que e quanto de cada etapa do processo foi

realizada, para que seja possível replanejar o dia seguinte.

Entretanto, por se tratar de um processo com bastante variabilidade e complexidade

de estimativa de tempo, o controle também tem a importante função de computar os tempos

de realização, para que os dados de cada etapa de pós-produção de programas fixos sejam

atualizados a cada semana e para que novos programas ou demandas passem a ter

também uma base de comparação de dados.

O controle também é uma ferramenta de análise do processo produtivo, que permite

a comparação de tempos de edição entre diferentes episódios de cada programa,

registrando também as ocorrências que justifiquem irregularidades, e a eficiência dos

editores. Analisando com frequência, é possível entender quais variáveis de um produto

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tem correlação com o tempo de edição do mesmo. Por exemplo, podem variar o tamanho

do material bruto (gravado), o editor que realiza o trabalho, a precisão em que um boletim

técnico é preenchido, entre outros. Cada programa pode ser afetado ou não por diferentes

variáveis, e apenas observando o comportamento das mesmas é possível tirar conclusões

sobre o processo produtivo e formas de aprimorá-lo.

Por último, o controle também tem uma função estratégica de compilar os tempos

de edição utilizados para cada programa e canal, permitindo uma avaliação da divisão de

custos e investimentos da empresa e decisões de continuidade e mudança de rumo.

6.2 Visão Sistêmica do Modelo Proposto

Ao analisar o diagrama de fluxo de informações da Flocks, apresentado na Figura

28 no capítulo 5, é possível verificar uma quantidade considerável de troca de insumos

entre planilhas distintas, algo comum em sistemas produtivos não integrados. Além disso,

a realização de tarefas manuais para o fluxo de informação ocorrer aumenta a margem de

erro humano. A grande quantidade de troca de informações e possibilidades de perda

desses dados reflete uma série de desperdícios, referentes a:

● Tempo de fluxo de informação;

● Tempo de trabalho manual;

● Perda de informação.

Esses desperdícios estão muito próximos do que foi mencionado na filosofia Lean,

no capítulo 4, principalmente no que tange a perdas devido ao tempo gerado pelo fluxo de

informação longo e trabalho manual. O retrabalho gerado e a forma inadequada de

execução das atividades também são desperdícios Lean claros.

Para a aplicação de um modelo de PCP, é necessário entender a viabilidade de sua

inserção no sistema produtivo da Flocks. Para isso, dentre o que tivemos acesso, foi

possível utilizar a Trilha para o embasamento do modelo em questão. Desse modo, será

usado um diagrama da Trilha, como exemplo. A Figura 31 a seguir apresenta o fluxo de

informações de uma empresa fabricante de placas de impressão de jornal.

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Figura 31: Diagrama de fluxo de informações dos sistemas de empresa fabricante de placas de impressão de

jornal

Fonte: Material da Trilha (2019).

É possível perceber o sistema MES na Figura 31 acima, conceito já levantado no

capítulo 4. Seu papel principal no exemplo em questão é garantir o preenchimento das

lacunas entre o chão de fábrica e os outros sistemas do Planejamento e Controle de

Produção, captando os dados da produção e transmitindo de forma viável para os outros

sistemas.

Ao olhar o sistema corporativo e o simulador da produção, podemos traduzi-los de

acordo com o que também foi apresentado no referencial teórico. O sistema corporativo

está relacionado ao ERP, coletando todos os apontamentos advindos do MES para integrá-

los aos dados da empresa. As informações integradas são úteis para facilitar uma visão

sistêmica da organização a partir de seus dados e direcionar tomadas de decisão, como

visto na orientação de demandas de materiais, estrutura de produtos e roteiros.

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O simulador de produção também foi mencionado no capítulo 4, quando o APS foi

apresentado como complemento do MES com a realização de simulações do processo

produtivo. Com as informações reais do sistema produtivo recebidas, além dos tempos

teóricos de produção resultantes do histórico de informações da base integrada de dados,

o simulador elabora um programa de produção de curto prazo para o chão-de-fábrica

executar, determinando as sequências de produção de cada recurso, incluindo onde e

quando fazer, de modo a alcançar de forma eficiente os objetivos da empresa oriundos de

sua estratégia.

Os três sistemas citados buscam alavancar os resultados da organização, com um

potencial maior quando em conjunto. O modelo de PCP proposto pode ser apresentado

analogamente aos 3 elementos citados anteriormente, sendo encaixados no diagrama de

fluxo de informações da Flocks de acordo com a Figura 32 a seguir:

Figura 32: Diagrama do fluxo de informações do Modelo Proposto para a Flocks

Fonte: Elaboração Própria.

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É possível notar na figura acima que 6 interfaces de comunicação foram eliminadas

em comparação com as 13 apresentadas no modelo atual, na Figura 28. Além disso, 4

atividades manuais foram automatizadas. Outras 3 interfaces surgiram no diagrama: a

marcação de tempos feita pelo editor de forma manual, como será apresentado no tópico

6.3.1, e as conversões de dados feitas pelo MES, também automatizada. Vale ressaltar a

necessidade de verificar se o ERP e APS realizam a funcionalidade executada pelo MES

de acordo com a figura 32.

Apesar de estar em um mercado complexo, segundo Felipe Ribeiro, Gerente de

Serviço da SAP, a simplicidade do sistema produtivo de uma pequena empresa gestora de

canais digitais, em comparação com um chão de fábrica genérico, possibilita que o modelo

proposto seja integrado em um único sistema. Essa unificação engloba tanto o

planejamento quanto o controle da produção, diferente do realizado em sua empresa. A

Figura 33 apresenta o fluxo de informação da Flocks com o modelo de PCP proposto

implementado como um sistema integrado:

Figura 33: Diagrama de fluxo de informações do modelo da Flocks com o sistema integrado

Fonte: Elaboração Própria.

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Com esse modelo, desperdícios Lean mencionados anteriormente serão eliminados

ou reduzidos a partir da integração da informação e automatização de seu fluxo. Para a

concretização do diagrama apresentado, as especificações do sistema integrado devem

ser definidas.

6.3 Especificações

Após entender a visão sistêmica do modelo proposto, é necessário aprofundar suas

especificações e forma de funcionamento com as respectivas entradas e saídas: A figura

34 representa essas especificações.

Figura 34: Fluxo de entradas e saídas

Fonte: Elaboração Própria.

As entradas do sistema incluem informações de capacidade de produção, dos

produtos da empresa, das demandas existentes e do controle da produção. O processo é

o momento de análise dos cenários existentes para tomadas de decisão do planejador. As

saídas são as diferentes perspectivas do planejamento e os relatórios gerados. A

retroalimentação de dados semi-automática é o registro de quanto tempo levou para cada

atividade ser feita, atualizando os tempos do sistema tanto nas entradas como nas saídas

do fluxo, de forma contínua.

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6.3.1 Retroalimentação de Dados Semi-automática

O conjunto de especificações proposto além de integrar o Planejamento e Controle,

também deve garantir que o registro dos dados seja feito com menor dependência manual,

automatizando o máximo possível, para que possa retroalimentar o sistema de forma

eficiente. Entretanto, deve-se estar atento para não ultrapassar a barreira em que a forma

de controle passa a limitar os editores e prejudicar o seu trabalho operacional e criativo.

Para isso, é sugerido uma interação do modelo com os softwares de pós-produção

utilizados pela empresa, no caso da Flocks; Adobe Premiere Pro, Adobe After Effects,

Media Encoder, além do explorador de arquivos do computador, onde o material gravado é

transferido para a ilha de edição na etapa de “logagem”.

O tempo de “logagem” deve ser computado a partir do momento em que uma nova

pasta, referente a um novo produto, é criada. A partir do nome da pasta é registrado a qual

produto essa “logagem” se refere. O nome deve seguir a nomenclatura padrão, algo que

não é feito hoje em dia. O tempo dessa etapa deve ser computado até o editor fechar o

explorador de arquivos, incluindo a organização e renomeação dos mesmos como parte do

processo. A Figura 35 é uma amostra do explorador de arquivos da ilha de edição da Flocks.

Figura 35: Exemplo de armazenamento de arquivo

Fonte: Finder na Ilha de edição.

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Ao abrir o programa de edição, um projeto deve ser criado, também de acordo com

a nomenclatura padrão. Dessa forma, as etapas de produção desse produto são

reconhecidas e indicadas no canto da tela para que o editor possa selecionar quais delas

está realizando, como no exemplo de Figura 36.

Figura 35: Exemplo de etapas de produção indicadas no canto da tela

Fonte: Elaboração própria.

O registro do tempo de uma etapa é feito com a marcação dos tempos, iniciado ao

apertar “play” e pausado no “pause” ou ao apertar o “play” da etapa seguinte. Para evitar

marcações erradas pelas indicações dos editores, após 5 minutos sem registro de uso do

computador o tempo seria automaticamente pausado (um vídeo rodando ou em exportação

não conta como desuso, pois existe atividade no computador). Já quando um programa de

edição estivesse aberto e em uso sem nenhum tempo sendo registrado, um lembrete seria

gerado: “O que você está realizando?”. Além disso, para prevenir o esquecimento de

marcar a mudança de etapa, também seriam gerados lembretes quando o tempo estivesse

acima do seu desvio padrão. No exemplo da Figura 37, se a base de um projeto tivesse

média de 30 minutos e desvio padrão de 4 minutos, o lembrete surgiria no minuto 35.

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Figura 37: Exemplo de lembrete e marcação de tempos

Fonte: Elaboração própria.

Após finalizado, o vídeo é exportado no formato desejado, em um programa

chamado Media Encoder. Todo o tempo trabalhado nesse programa deve ser computado

como etapa de exportação, até o arquivo ser concluído. Ao iniciar a exportação do vídeo, a

integração permitirá que esse tempo seja automaticamente computado do início ao fim.

Nesse caso, ele finalizaria junto com a exportação sem depender de indicação do editor, já

que em produtos muito pesados não há necessidade do editor estar presente até o final da

exportação. A Figura 38 mostra o Media Encoder exportando um programa do Canal Ixi.

Figura 38: Arquivo em processo de exportação

Fonte: Media Encoder.

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O Adobe Premier Pro é o programa oficial de pós-produção da empresa, além do

After Effects. Entretanto, outros programas também podem ser utilizados como para tratar

o áudio em um programa específico, tratar cor, motion graphics, entre outros. Sendo assim,

é necessário estar sempre atento para a utilização de novos programas pela empresa, que

devem ser englobados nessa integração, fornecendo sempre as etapas do produto de

acordo com a nomenclatura salva, para que o editor registre a etapa realizada.

O modelo proposto, integrado com os programas de pós-produção, realiza a

atualização dos tempos médios e desvios padrões de cada etapa do processo, sempre que

finalizada uma demanda, em tempo real, e excluindo outliers. Além disso, servem de

entrada para a geração de relatórios. Dessa forma, o sistema preenche a lacuna da

produção com a base de dados para o planejamento, coletando de forma semi-automática

os dados gerados pela produção.

Essa tarefa é a evolução do que antes era feito na ferramenta Asana, porém com os

“comentários dos tempos”, como mostra na Figura 20, passando a ser a seleção da etapa

produtiva no próprio sistema, como mostra a Figura 27. A compilação manual desses dados

do Asana feita pelo planejador também mudaram, sendo algo semi-automático realizado

pela ferramenta. Em suma, as funções do modelo atual destacadas na figura 39 abaixo

(compilação de informação diária e mensal, registro de tempos e informações sobre tempos

de programas) seriam saciadas por esse sistema de retroalimentação de dados semi-

automática.

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Figura 39: Diagrama de fluxo de informações do modelo atual da Flocks com destaque para a que seria a

Retroalimentação de Dados semi-automática do modelo proposto

Fonte: Elaboração Própria.

6.3.2 Entradas

Os cinco tipos de entradas podem ser detalhados conforme a Figura 40 a seguir:

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Figura 40: Tipos de entradas

Fonte: Elaboração Própria.

As entradas de capacidade incluem informações referentes aos recursos da

empresa:

➢ Centros de trabalho → As ilhas de edição existentes na Flocks.

➢ Equipe → Os editores que trabalham na empresa.

➢ Padrões de horário → O padrão de horário de funcionamento da empresa e

o padrão de cada editor, incluindo as folgas de almoço, finais de semana, etc.

➢ Feriados → Os dias que não há trabalho de edição funcionando na empresa.

As entradas globais são:

➢ Canal → Canais geridos pela Flocks.

➢ Regras de fila → regras gerais para priorização das demandas da empresa,

podendo incluir canais, programas, prazos, datas de publicação, receita gerada por

um produto, etc. O modelo proposto deve investigar qual a melhor ordenação de

fila, pois terá impacto direto na pontualidade, e agrupar ou classificar a produção,

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permitindo que sejam tomadas as decisões prioritárias. Ou seja, caso as demandas

de um canal sejam prioridades, é preciso que elas estejam agrupadas no mesmo

canal.

As entradas de produto incluem:

➢ Nome → Nome do programa de acordo com a nomenclatura padrão.

Exemplo: RTA para Resenha Tabajara.

➢ Canal → A qual canal esse produto ou programa pertence, de acordo com a

nomenclatura padrão. Exemplo: CEP para o canal Casseta & Planeta do programa

Resenha Tabajara. O produto pode pertencer a uma demanda geral da empresa,

como um vídeo de apresentação ou a nenhum canal, como um vídeo institucional,

selecionando “Flocks” e “Outro”, respectivamente, caso a instituição seja um projeto

de curto prazo não registrado como um canal.

➢ Processo → Qual o processo de edição desse vídeo, etapas e relações de

dependência entre elas. Em caso de demandas novas sem processo definido é

possível definir genericamente como “Edição”.

➢ Responsável → Quem é o responsável por realizar cada etapa de cada

vídeo, em ordem de prioridade. Quando um vídeo não tem preferência de editor,

todos devem ter a mesma prioridade.

➢ Tempo médio → Tempo médio de realização de cada etapa de acordo com

bases de dados anteriores e retroalimentado pelo registro de dados. Em caso de

demanda novas, esse tempo deve ser estimado.

➢ Desvio padrão → Desvio padrão de cada etapa de acordo com bases de

dados anteriores e retroalimentado pelo registro de dados. Em caso de demanda

novas, esse tempo deve ser estimado.

➢ Receita → Receita direta estimada que será gerada pelo produto.

As entradas de demanda são:

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➢ Ordem do produto → Define o produto e a numeração do mesmo.Exemplo:

RTA31 refere-se ao programa Resenha Tabajara, número 31 e canal Casseta &

Planeta.

➢ Prazo → Refere-se a data e horário em que o produto deve estar pronto para

respeitar o tempo de checagens e aprovações, além de possíveis alterações.

➢ Publicação → Data e horário em que o programa vai ao ar para o público na

Internet.

➢ Chegada de material → Data e horário previsto para a chegada de materiais,

seja o material bruto do vídeo gravado, inserções que tem que ser pesquisadas,

imagens tratadas ou ilustradas pelo design, áudios enviados, entre outros.

➢ Frequência → Informar com que frequência esse programa se repete para

não precisar adicionar demandas fixas toda semana. Nesse caso, a ordem do

produto deve ser alterada de forma automática. Caso seja uma demanda não fixa,

informar como “única”.

➢ Prioridade → Sistema de sequenciamento para ultrapassar a regra de fila

quando necessário.

As entradas de produção devem ser entradas dos editores no final de cada dia,

incluindo:

➢ Controle → Planejado versus realizado. Os editores devem indicar o que foi

e não foi realizado de acordo com o planejamento. Caso algo da programação do

dia não tenha sido realizado, o editor deve informar o andamento do processo de

três possíveis maneiras: com uma estimativa do tempo que falta para a sua

conclusão, com as etapas do processo que foram ou não concluídas ou com a

porcentagem da etapa ou do processo que foi realizada. Nos dois últimos casos,

será utilizado o tempo de edição médio por etapa do banco de dados.

➢ Ocorrências → O editor deve indicar, caso haja, ocorrências que tenham

acontecido ao longo do dia que tenham influenciado no seu processo produtivo.

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As entradas, em comparação com o modelo atual, teriam as funções destacadas

na Figura 41 a seguir:

Figura 41: Diagrama de fluxo de informações do modelo atual da Flocks com destaque para o que

seriam as Entradas do modelo proposto

Fonte: Elaboração Própria.

6.3.3 Processos

Durante o processo, pode ser necessário que decisões sejam tomadas devido à

falta de capacidade para realização das demandas com os prazos e responsáveis

determinados. Estas são realizadas pelo planejador e podem ser vistos na figura 42 a

seguir:

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107

Figura 42: Processos de Tomada de Decisão

Fonte: Elaboração Própria.

➢ Mudança de responsável → O planejador pode optar por mudar os editores

que possam realizar cada etapa do processo de edição do vídeo.

➢ Mudança na data de entrega → Decidir que alguma ou algumas demandas

sofrerão um atraso no prazo definido ou até mesmo na data de publicação.

➢ Alteração na chegada de material → Alterar a data de chegada de algum

material, seja ele externo ou interno.

➢ Decidir por hora-extra → Escolher a possibilidade de pagar hora extra para

algum editor não atrasar ou atrasar menos alguma entrega.

➢ Decidir por terceirização → Contratar um serviço externo a empresa que

possibilite entregar a demanda nos prazos definidos.

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➢ Cancelamento de demanda → Cancelar alguma(s) demanda(s) da empresa.

As variabilidades podem ocorrer ao longo de todo o processo e o planejador deve

alterar as entradas para que o planejamento seja refeito nas condições certas. Exemplos

de acontecimentos são:

● Atraso ou antecipação na chegada de materiais;

● Falta de algum funcionário que seja responsável de alguma etapa;

● Antecipação ou adiamento de algum prazo de entrega de vídeo;

● Problemas que inviabilizam o uso de alguma das ilhas de edição, como

atualização do sistema ou falta de energia;

● Alteração no processo de pós-produção do vídeo, com adição ou subtração

de alguma etapa, ou com mudanças de especificações que influenciem o tempo do

processo nesse vídeo em específico.

Todas as mudanças e decisões que ocorrem durante o processo são representadas

abaixo comparativamente com o modelo atual, destacadas na Figura 43:

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Figura 43: Diagrama de fluxo de informações do modelo atual da Flocks com destaque para o que seria o

Processo do modelo proposto

Fonte: Elaboração Própria.

6.3.4 Saídas

Como saída, o modelo proposto deve gerar o planejamento da ilha de edição da

empresa e os relatórios para análise. Isso inclui o que está apresentado na figura 44:

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Figura 44: Tipos de saída.

Fonte: Elaboração Própria.

As saídas de planejamento englobam:

➢ Planejamento por editor → O planejamento separado de cada editor no

período planejado.

➢ Planejamento por demanda → Quando cada etapa do processo de edição

do produto será realizado e por quem.

➢ Planejamento por centro de trabalho → Qual etapa, produto, e editor estará

ocupando a ilha de edição no período planejado.

➢ Gráfico de Gantt → Planejamento dos editores com as etapas e produtos

realizados por intervalo de tempo, no período planejado.

Os formatos dos relatórios são definidos pela empresa, que determina quais dados

e informações devem estar incluídos. As saídas de relatórios incluem:

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➢ Relatório de pontualidade → Relatório com a data de entrega programada

para cada produto com índice de pontualidade e antecipação por demanda e geral.

Esse índice é uma comparação da data de entrega programada com o prazo pré-

determinado.

➢ Relatório Semanal → Com os dados captados pelo próprio software, o banco

de dados dos tempos e ocorrências por demanda seriam inputs para os relatórios

semanais, que teriam o mesmo formato do relatório atual.

➢ Relatório Mensal → Além dos novos dados captados, o relatório mensal

também utiliza o banco de dados e deve ser gerado de forma automatizada e com

os mesmos dados que o relatório atual.

As saídas fornecidas, apesar de possuir mais opções que o modelo atual, seriam

referentes às funções destacadas na Figura 45:

Figura 45: Diagrama de fluxo de informações do modelo atual da Flocks com destaque para o que seriam as

Saídas do modelo proposto

Fonte: Elaboração Própria.

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Após o entendimento das saídas, processo e entradas, o modo de operação será

apresentado para maior compreensão do funcionamento do sistema integrado.

6.4 Modo de operação

A partir do entendimento geral do modelo proposto, suas funções e especificações,

a forma de interação dos usuários com o sistema integrado deve ficar mais clara. Para isso,

primeiramente é importante esclarecer que o modelo proposto neste trabalho deve ser

monousuário para o planejamento, pois no ato de planejar a base de dados não pode ser

alterada. Mesmo assim, a base de dados pode ser acessada e analisada por mais de uma

pessoa, de uma forma que diferentes setores da organização poderão ver o impacto das

suas decisões no desempenho da empresa. Sendo assim, o planejamento, do ponto de

vista computacional, é monousuário, mas do ponto de vista gerencial é multiusuário

Entretanto, com relação às interfaces de apontamento e controle, o sistema permite

que diferentes usuários façam uso compartilhado e simultâneo para que, por exemplo,

editores possam estar fazendo seus apontamentos ao mesmo tempo, por meio da sua

assinatura digital. Para facilitar tal compreensão, usaremos o novo modelo de fluxo de

informação, apresentado novamente na figura 46, como guia dessas interações:

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Figura 46: Diagrama de fluxo de informações do modelo da Flocks com o sistema inserido

Fonte: Elaboração Própria.

Com a Figura acima, podemos ver 5 grandes relações do usuário com o sistema.

Analisaremos o modo de operação sobre cada uma dessas trocas de informação, com base

nas especificações já citadas, simulando um processo completo da produção de um vídeo:

● Informação repassada

Ao surgirem novas demandas de vídeos, o responsável pela mesma deve informar

o planejador por e-mail ou verbalmente, com todas as informações necessárias.

● Adição de demanda e informação

O planejador, como coordenador de produção, deve adicionar a demanda no

sistema, incluindo todas as “entradas do produto” e “entradas da demanda” representadas

na Figura 34. No caso de demandas já realizadas anteriormente, as entradas do produto já

estarão no sistema e é possível, inclusive, utilizar a função de frequência caso seja

conveniente.

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114

● Programação da produção

Com as informações adicionadas, o sistema realiza a simulação de possíveis

cenários para que o planejador defina o melhor e realize as tomadas de decisões, caso haja

necessidade. O planejamento pode ser feito sempre pelo planejador com o período de

tempo desejado para simular prazos de entrega, capacidade de absorção de demandas e

antecipar possíveis problemas. Entretanto, a programação da produção ocorre diariamente

para os editores. Ao logar como usuário do sistema, o editor tem a visão do seu

planejamento do dia, no formato de um Gráfico de Gantt, e pode iniciar o seu trabalho.

● Registro de tempo

Logado no sistema, o editor é identificado e é possível iniciar o registro de tempos.

Como dito anteriormente, a única necessidade de interação do usuário nessa etapa é para

selecionar no sistema qual atividade ele está fazendo, selecionando o botão “play e

“pause”” nas tarefas que aparecerem na tela da ferramenta de edição. As realizações dos

editores podem ser acompanhadas em tempo real pelo planejador. O banco de dados deve

ser congelado nos momentos de simulação de planejamento e apenas os dados dos

programas concluídos devem ser utilizados.

● Controle

Outra atividade manual, porém necessária, é o controle da evolução da etapa de

produção. Como essa tarefa depende de uma análise subjetiva do editor, o mesmo deve

informar ao sistema o andamento do processo. Em caso de ocorrências, elas também

devem ser sinalizadas ao final do dia pelo editor para contar nos relatórios semanais. Com

essa informação ao final de cada dia, a ferramenta consegue simular um novo planejamento

para o dia seguinte com base em tais controles, que deve ser aprovado pelo planejador.

Caso o planejador não tenha disponibilidade para aprovar um planejamento de um dia para

o outro e já esteja no horário de trabalho de algum editor, a programação da produção deve

ser fornecida aos editores, sinalizando que está pendente de aprovação.

Ao terminar o processo de pós-produção, o editor classifica o vídeo como

“concluído”, porém ainda sujeito a retornar à fila. Sendo assim, apenas após a aprovação

do coordenador ou do responsável pela demanda, que o vídeo passará a estar “aprovado”.

Caso haja alterações, os controles são feitos para que o planejador possa estimar o tempo

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necessário para os ajustes e replanejar. Tanto os controles como as aprovações devem ser

feitas com a assinatura digital do responsável.

● Emissão de relatório

A última interação de um usuário é quanto a geração de relatórios. Com a

retroalimentação de dados, relatórios podem ser gerados de forma semi-automática a partir

de parametrizações customizáveis, de acordo com as necessidades do planejador.

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7. AVALIAÇÃO PROSPECTIVA

Esse capítulo busca avaliar criticamente o modelo proposto, destacando seus

indicadores e impactos esperados, além de suas vantagens e considerações.

7.1 Indicadores e Impactos Esperados

Para medir se o modelo proposto trouxe os benefícios esperados para a empresa,

alguns indicadores devem ser analisados. Os indicadores serão classificados como

operacionais e financeiros, que como os próprios nomes dizem, medem resultados na

operação da empresa e nas suas finanças, respectivamente. Outro modo de classificação

é entre indicadores intermediários e finais. O primeiro se refere aos indicadores de processo

ou fluxo que medem o esforço operacional de alocação de recursos, enquanto os finais, ou

de resultado, estão relacionados a razão de ser da empresa, medindo a eficácia de

atingimento das metas (Januzzi, 2005).

Abaixo podemos ver os indicadores e seus impactos, classificados como

operacionais intermediários, operacionais finais e financeiros finais.

Tabela 2: Indicadores operacionais intermediários e impactos esperados.

Fonte: Elaboração própria.

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117

Tabela 3: Indicadores operacionais finais e impactos esperados.

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 4: Indicadores financeiros finais e impactos esperados.

Fonte: Elaboração própria.

Para realizar tal análise dos impactos, seria coletada uma base histórica dos

indicadores para uma comparação com os mesmos a partir da implementação do modelo.O

modo de medir os indicadores está apresentado nas tabelas acima.

7.2 Vantagens e Considerações

Avaliando a proposta desenvolvida foram levantadas vantagens e considerações da

aplicação da ferramenta. Além dos impactos esperados descritos nas Tabelas 1, 2 e 3,

outras vantagens podem ser antevistas. Podendo ser classificadas como gerenciais ou

operacionais:

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Vantagens Gerenciais:

➢ Compartilhamento da atividade de coordenação do PCP, com menor dependência do

conhecimento tácito de uma única pessoa. Como exemplo, a priorização global passa a

ser definida por critérios formais da empresa, sem depender apenas da avaliação do

coordenador de pós-produção.

➢ Maior flexibilidade quanto a demandas não previstas devido a uma rápida

reprogramação, avaliação rápida de hipóteses e melhor sequenciamento. Permitindo,

também, que esforços comerciais não sejam limitados pela pós-produção.

➢ Aplicação da máxima do pensar globalmente antes de agir localmente, permitindo

que pessoas de diferentes áreas olhem o impacto de suas decisões no desempenho da

empresa, como, por exemplo, na pontualidade ou no lucro.

➢ Facilidade de implementação de disciplina de trabalho, evitando desgaste de relação

entre os editores e coordenadores, causada pela alto nível de cobrança de preenchimento.

Os editores passam a ter uma maior articulação direta com a própria ferramenta. O

aumento da organização do trabalho pelo modelo proposto ameniza a necessidade dos

editores em realizar horas extras para a entrega das demandas no prazo, já que na maioria

das vezes essa necessidade só existe devido ao não cumprimento do planejamento.

➢ Visão integrada da pós-produção, com entendimento geral da alocação de recursos,

dependência de chegada de materiais e possibilitando um pensamento global das

demandas antes da tomada de decisão.

Vantagens Operacionais:

➢ Dados gerados em tempo real, tornando-os, além de disponíveis, paulatinamente mais

confiáveis e precisos, por não estarem tão sujeitos a esquecimento de preenchimento ou

manipulação de dados. Esses dados são obtidos com o uso contínuo, gerando

planejamentos e orçamentos mais precisos para a empresa.

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➢ Menor gasto de tempo dos executores da atividade fim com atividades de coordenação,

pela indicação do início e fim de cada tarefa de forma mais ágil e automatização de algumas

das funções.

➢ Menor dependência da comunicação informal, pelos próprios editores preencherem o

que foi e não foi realizado e as ocorrências do dia, permitindo um fluxo de informação mais

enxuto.

➢ Ferramentas integradas, sem necessidade de possuir o planejamento e o controle em

diferentes softwares.

➢ Atualização do tempo médio de edição por etapa em tempo real e automática, sem

necessidade do relatório mensal para o mesmo.

Considerações:

➢ Custos de implementação que podem ser significativos para uma pequena empresa

ainda no início do seu crescimento.

➢ Possível complexidade de integração com outros softwares de pós-produção, por

não ter sido encontrado ainda no mercado, de acordo com breve levantamento

realizado, mas que deverá ser, como será dito a seguir, estendido.

➢ Ferramenta suscetível a erros de computação de dados caso o editor não realize os

apontamentos da forma correta.

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8. IMPLEMENTAÇÃO

Esse capítulo busca analisar as possibilidades de implementação a luz das

realidades conhecidas, definindo o protótipo do modelo e o seu plano de ação.

8.1 Facilidades e Necessidades

A implementação do modelo proposto na organização, naturalmente, possui

facilidades e dificuldades dependendo do estágio organizacional da empresa, das suas

operações e cultura, conforme analisaremos a seguir. Como facilidades poderíamos citar:

Facilidades:

➢ Não existe mais uma barreira cultural de Planejamento e Controle da

Produção, mesmo se tratando de uma empresa criativa, pois sua produção já

funciona organicamente com base no PCP.

➢ Não há necessidade de parar o funcionamento da empresa para

implementação, pois o PCP pode continuar sendo feito manualmente durante essa

fase.

➢ Há a possibilidade de testes e comparações da ferramenta com o

planejamento manual, permitindo um feedback e uma avaliação mais precisa da sua

utilidade, não apenas qualitativa.

➢ Possibilidade de implementação por prototipagem, inserindo entradas e

saídas à medida que o protótipo funciona e podendo avaliar e corrigir o seu

desempenho, até se alcançar um funcionamento integral.

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121

Necessidade:

➢ Realizar um trabalho conjunto entre a Flocks e a empresa provedora do

serviço de forma a analisar o funcionamento do protótipo e realizar os ajustes.

➢ Customizar o software da empresa provedora para adaptar às características

identificadas no modelo desenvolvido.

➢ Fomentar utilização integrada da empresa quanto às nomenclaturas

padrões, algo que não ocorre atualmente, apesar da existência dos mesmos.

➢ Adquirir ou desenvolver nova tecnologia para retroalimentação de dados

semi-automática, para a integração de softwares de pós-produção. Nesse sentido,

reconhecer que novos softwares de pós-produção poderão surgir e estar atento para

a integração dos mesmos, realizando contrato de manutenção adaptativa, que

atende a dinamicidade do setor.

8.2 Prototipagem

A possibilidade de implantação por prototipagem permite a realização de um MPV

(mínimo produto viável) para iniciar os testes de funcionamento. O MPV incluiria as entradas

de capacidade, global, produto e demanda, o processo de tomadas de decisão e a saída

do Gráfico de Gantt. Dessa forma, o preenchimento de dados no Asana e a transferência

para o Excel seguiria sendo uma realidade. Além disso, o replanejamento ainda seria feito

pelas informações da comunicação informal com os editores para entender o que foi

realizado no dia. A figura 47 representa o MPV do modelo proposto.

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Figura 47: Diagrama de fluxo de informações do modelo da Flocks com o sistema inserido

Fonte: Elaboração Própria.

8.3 Plano de Ação

Com base nas necessidades apontadas e no MPV, definiu-se um plano de ação

para o desenvolvimento do modelo proposto, com a ordem de atividades realizadas e

entregas com diferentes especificações de entrada, processo e saída, de acordo com a

Figura 35. As ações planejadas foram apresentadas sequencialmente na Figura 48 e

descritas em seguida.

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Figura 48: Plano de ação para implementação do modelo proposto na Flocks.

Fonte: Elaboração Própria.

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1. Levantamento de possíveis fornecedores - Com as especificações

já definidas, a primeira etapa é o levantamento de possíveis fornecedores para a

implementação do modelo proposto;

2. Requisição de proposta - A etapa de compras é feita após encontrar

o fornecedor ideal para a implementação;

3. Realização de prova de conceito - Antes de concretizar o contrato,

é preciso realizar uma prova de conceito para garantir que a execução do fornecedor

será honrada de acordo com o oferecido;

4. Contratação de provedor - Após confirmação de competência

técnica, a contratação é realizada. É importante ressaltar que uma cláusula de

manutenção adaptativa deve estar redigida no contrato, para atender a

dinamicidade do setor em questão;

5. Prototipação de Software - Realizar um trabalho conjunto entre a

Flocks e a empresa provedora do serviço de forma a analisar o funcionamento do

protótipo e fazer os ajustes;

6. Construção de MPV - Após o protótipo ter sido aprovado, o MPV

pode ser construído e implementado. Os colaboradores que terão interface com o

sistema devem ser envolvidos nessa etapa, de modo a incentivar a cocriação,

fortalecendo a utilização do modelo;

7. Capacitação de equipe para utilização de sistema - Após a

finalização da versão inicial do sistema, um treinamento formal quanto a sua

utilização pelos usuários deve ser feita, garantindo que todos os envolvidos

entendam a nova forma de trabalho, maximizando assim os benefícios gerados;

8. Adição de funções das entradas de produção - Incremento do

MPV com as funções de entradas de Controle e Ocorrência;

9. Adição de mais funções de saídas de planejamento - Incremento

do MPV com as funções restantes de saídas de planejamento: planejamento por

editor, por demanda e por máquina;

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10. Integração de softwares de edição - Incremento da última versão

da ferramenta com a integração dos softwares de edição, criando uma

retroalimentação semi-automática;

11. Adição de saídas de relatório - Incremento da última versão da

ferramenta com as funções de saídas de relatórios: relatório de pontualidade,

semanal e mensal.

8.4 Manutenção

A partir da implementação do modelo proposto no formato de um sistema de gestão

integrado, precauções devem ser tomadas para que seu funcionamento ocorra sem

interferências negativas no processo produtivo e para que o modelo esteja sempre

atualizado com a melhor forma de trabalho para a empresa. Isso é comum em sistemas

corporativos no qual as organizações dependem da utilização do software para as rotinas

diárias e/ou tomadas de decisão. Existem diferentes tipos de manutenções de softwares

para garantir o funcionamento do mesmo de acordo com as necessidades das empresas.

Essas categorias serão abordadas de acordo com a norma ISO/IEC (IEEE, 1998),

buscando explicar a aplicação de cada manutenção no contexto da Flocks.

● Manutenção Corretiva: Busca modificar o software após sua entrega de

modo a corrigir problemas percebidos. Alterações devem ser feitas para a

adequação do modelo proposto, caso o planejamento do mesmo, em sua teoria,

tenha divergências com a realidade do processo produtivo em alguma interface com

o software, causando erros e/ou inconsistências;

● Manutenção Preventiva: Modifica o sistema de modo a alterar

inconsistências detectadas antes do impacto na execução. Testes com

funcionalidades da ferramenta devem ser feitos para a percepção de erros, como

por exemplo uma inconsistência nos relatórios gerenciais antes de liberá-los para

visualização, realizando as correções necessárias;

● Manutenção Adaptativa: Após a entrega e início do funcionamento do

software, alterações são realizadas de modo a mantê-lo operacional de acordo com

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126

as mudanças do ambiente em que se encontra. Para o caso da Flocks, essa

adaptação é clara devido a dinamicidade do setor, como, por exemplo, quando

novos softwares de edição surgem e começam a ser utilizados pela empresa, sendo

necessária uma nova integração;

● Manutenção Evolutiva: Com o funcionamento do software, novas

funcionalidades podem ser implementadas para melhorar a sua performance.

Pensando em desdobramentos futuros, a aplicação desta última categoria é

aplicável visto possíveis aplicações que aumentem a sua efetividade, como por

exemplo expansões para outras áreas.

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9. DESDOBRAMENTOS

Após apresentar a proposta e uma avaliação crítica sobre a mesma, cabe ressaltar

as possibilidades de evolução do projeto, pontuando desenvolvimentos capazes de serem

feitos e expansões possíveis no mercado. Dessa forma, os desdobramentos apontados

foram classificados como externos e internos.

Desdobramentos externos:

➢ Diante do grau de inovação do projeto e com as interações realizadas

durante o trabalho com o INT e a Trilha, além do interesse e participação de

professores da UFRJ, vislumbra-se a possibilidade de conseguir recursos em editais

junto à agência de fomentos, para viabilização da implementação da ferramenta em

uma empresa com pouco capital.

➢ Diante da expansão desse setor, pretende-se buscar outras empresas do

setor para expandir a aplicabilidade da implementação, identificando aspectos

comuns e específicos do modelo proposto e integrando o projeto entre

multiparceiros.

➢ Aprofundar a análise de outros provedores para ajudar ou complementar o

processo de integração e desenvolvimento do sistema e das tecnologias.

➢ Estender a pesquisa realizada sobre possibilidade de integração dos

softwares de pós-produção ao modelo proposto.

Desdobramentos internos:

➢ Implementação do modelo proposto na empresa estudada, para testar o

projeto na prática e, diante da complexidade, realizar um protótipo para aprimorar

com o tempo.

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➢ Realização de um maior estudo sobre variáveis que influenciam no tempo de

pós-produção de um vídeo para servirem como inputs e aumentarem ainda mais a

precisão do planejamento.

➢ Inclusão de todo o processo produtivo dos vídeos no PCP, entretanto sem

necessidade de controle de tempo real para todos eles, mas sim de prazos de

entrega. Isso resultaria na integração do processo primário de produção de

conteúdo. Dessa forma, o prazo de chegada do material seria decomposto em

entrega de roteiro, captação do material, entre outras etapas do processo. Isso

permitiria uma visão integrada do negócio já que o processo interino da empresa

estaria sendo controlado e planejado pela mesma ferramenta.

➢ Com os avanços da quarta Revolução Industrial, tecnologias como

reconhecimento facial e apontamentos automáticos permitirão evoluir do sistema de

retroalimentação de dados proposto semi-automática para automática, captando

automaticamente as informações sobre os vários estágios da produção, sem

depender de apontamentos humanos. Essa automatização por completo depende,

também, da padronização do processo de trabalho dos editores, algo que não

ocorre hoje em dia. Como dito anteriormente, seria necessário avaliar o quanto essa

padronização seria produtiva para o trabalho dos mesmos e benéfica para a

qualidade final do produto, sem limitar suas operações ou tolher a criatividade no

processo.

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10. CONCLUSÃO

Esse projeto de graduação contempla um ambiente de negócio dinâmico, novo e em

crescimento, o mercado de produção de vídeo para Internet. Nesse contexto, os autores se

depararam com um problema complexo, com muita variabilidade no processo de

Planejamento e Controle da Produção. Diante disso, partiu-se para o estudo de referências

e constatou-se que pouco material na literatura de PCP contemplava a necessidade

encontrada, como ferramentas e especificações para tratar da questão.

Sendo assim, baseando-se em uma empresa de referência, a Flocks, realizou-se

um estudo aprofundado da mesma, mapeando os seus processos, categorizando o seu

sistema de produção e compreendendo seus problemas encontrados na gestão da

produção. Em seguida, a partir do diagnóstico realizado, foi desenvolvida uma

especificação de um modelo de Planejamento, Sequenciamento, Programação e Controle

da Produção, orientado por conceitos da Engenharia de Produção e por modelos já

testados na empresa.

Para a implementação e uso do modelo especificado, foram estabelecidos

elementos que suportam o desenvolvimento de um sistema computacional, permitindo a

sua operação na Flocks. Para tanto, desenvolveu-se ainda uma sequência de planos de

ação. Com isso, espera-se que a proposta aplicada proporcione benefícios quantitativos e

qualitativos, com indicadores de desempenho intermediários e finais, operacionais e

econômicos.

O fluxo de informações enxuto e a maior flexibilidade de planejamento permitem

mais esforços da empresa em suas competências centrais, sem a pós-produção limitar a

criação de conteúdo e ações comerciais, uma vantagem competitiva essencial no mercado

dinâmico em que a organização pertence.

Além disso, uma vez materializado numa ferramenta computacional, permitirá um

planejamento integrado onde diferentes setores da organização poderão ver o impacto das

suas decisões no desempenho da empresa. Com essa proposta, vislumbra-se um

incremento na organização do trabalho e no relacionamento entre as pessoas envolvidas,

gerando maior pontualidade de entrega dos vídeos no prazo (hoje estimada em 75 %).

Dessa forma, cria-se oportunidades para a maior estruturação e organização do mercado

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de produção de vídeo para Internet, com uma nova tecnologia de gestão para o setor,

permitindo o seu crescimento e inovação.

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11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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12. ANEXOS

ANEXO I - Adaptação de tabela de comparação entre abordagem acadêmico-científica e

empreendedora-tecnológica

Etapas de desenvolvimento de projeto de investigação

Princípios e abordagens da visão acadêmico-científica

Princípios e abordagens da visão empreendedora-tecnológica

Identificação do problema Centrada em estudos setoriais e

aspectos estratégicos

Centrada em oportunidades de desenvolvimento tecnológico identificadas em empresas ou

instituições

Definição do objetivo Centrada em revisão bibliográfica dos

últimos avanços publicados

Centrada na presença do aluno ou pesquisador na empresa ou instituição

selecionada para a experiência

Filosofia de expansão dos resultados Solução genérica a seguir, particular para

cada caso

Solução piloto, que logo é ampliada para incluir um universo de maior número de

empresas com estrutura de produção semelhante

Origem típica do investimento Governamental Contrapartidas das empresas e eventuais

presenças governamentais

Origem típica do financiamento Governamental Através de sócios

Política de remuneração ao aluno ou pesquisador

Salário e/ou renda fixa Salário ou remuneração variada

Produto intermediário do trabalho Ensaios, provas e avaliação tecnológica Teses e artigos publicados

Produto final do trabalho Teses e artigos publicados Tecnologia em uso nas empresas ou

instituições

Avaliação de desempenho (Indicadores) Artigos publicados em revistas/

publicações periódicas com painéis editoriais, prêmios e condecorações

Produtos absorvidos pelo mercado, patentes e softwares em uso, novos

negócios, novas empresas, novos empregos, lucros gerados e impostos

pagos

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ANEXO II - Planilha de controle do tempo de edição.

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ANEXO III - Calendário completo de edição do mês de julho de 2019.

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ANEXO IV - Exemplo de Relatório Semanal da Ilha de Edição - 15 a 21 de julho.