pestana-ditados coríntios e ditados paulinos-1coríntios...1Álvaro césar pestana, provérbios de...

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ALVARO CESAR PESTANA Ditados Coríntios e Ditados Paulinos: um estudo das Cartas de Paulo aos Coríntios por meio da Análise Literária, Epistolar, Retórica e da Paremiologia 6a. Edição Escola de Teologia em Casa www.teologiaemcasa.com.br 2019

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A L V A R O C E S A R P E S T A N A

Ditados Coríntios e Ditados Paulinos:

umestudodasCartasdePauloaosCoríntiospormeioda

AnáliseLiterária,Epistolar,RetóricaedaParemiologia6a.Edição

EscoladeTeologiaemCasawww.teologiaemcasa.com.br

2019

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DitadosCoríntioseDitadosPaulinosÁlvaroC.Pestana

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DadosInternacionaisdeCatalogaçãodaPublicação(CIP)

Pestana,ÁlvaroCésar

DitadosCoríntioseDitadosPaulinos:umestudodascartasdePauloaosCoríntiospormeiodaAnáliseLiterária,Epistolar,RetóricaedaParemiologia.6ªEdição./ÁlvaroCésarPestana.–Recife:PE:EditorÁlvaroCésarPestana,2019.

p.97

Bibliografia

1.BíbliaNT1&2Coríntios–AnáliseLiterária,Epistolar,RetóricaeParemiológica.

2.Provérbios.3.Paulo.4.Igrejaprimitiva.5.Culturaesociedadegreco-romana.

I.Pestana,ÁlvaroCésar;II.Título

Índiceparacatálogosistemático:

227.206

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DITADOSCORÍNTIOSEDITADOSPAULINOS:

umestudodascartasdePauloaosCoríntiospormeiodaAnáliseLiterária,Epistolar,RetóricaedaParemiologia

6ªedição–2019

ÁlvaroCé[email protected]

Copyright(C)2019deÁlvaroCésarPestana

Todososdireitosreservados

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ÍNDICE

04 Dedicatória

05 Apresentação

06 Abreviações

07 Introduçãoaoestudodosprovérbiospaulinosecoríntios

07 Provérbios

07 Terminologia

09 Origem

10 Identificação

11 Necessidadeepossibilidade

12 Oralidade

12 Critériosdeidentificação

12 Identificandoprovérbioseslogans

14 Usoretórico

16 Ditadoscoríntiosepaulinos

17 EusoudePaulo!EusoudeApolo!EusoudeCefas!

19 Eu,porém,soudeCristo!

22 Interpretandoespirituaisparaespirituais

25 Nãoultrapasseisoqueestáescrito

27 Umpoucodefermentolevedatodaamassa

29 Nãoseenganem!

30 Ossantosjulgarãoomundo

33 InjustosnãoherdarãooReinodeDeus

35 Todasascoisasmesãolícitas

39 Osalimentosparaoestômagoeoestômagoparaosalimentos

42 Fujamdaimoralidade!

43 Todopecadooqualporventurafizerohomemestáforadocorpo

46 Bomparaohomeménãotocaremmulher

57 AcircuncisãonãoénadaeaincircuncisãonãoénadamasoquevaleéguardarosmandamentosdeDeus

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59 Todostemosconhecimento

61 Oconhecimentoincha,masoamoredifica

62 Nãohánenhumídolonomundo,nãoháDeussenãoumsó

65 AlimentonãonosrecomendaráaDeus

67 Olavradorquelavraeodebulhadordevemfazê-lonaesperançadeparticipar

69 Fiz-metudoparacomtodos,afimdeportodososmodossalvaralguns

73 Deuséfiel

73 Fujamdaidolatria!

75 Todasascoisassãolícitas

77 Ninguémprocureoseuinteresse,masodooutro

78 FazeitudoparaaglóriadeDeus

80 Falandoaovento

82 Ressurreiçãodemortosnãoexiste

86 Comamosebebamosporqueamanhãmorreremos

88 Máscompanhiascorrompembonscostumes

91 Quemsemeiapouco,colherápouco;quemsemeiacomabundância,colherácomabundância

92 Asepístolassãopesadasefortes,masapresençacorporaléfracaeapalavradesprezível

97 Conclusão

98 Bibliografia

104 Sobreoautor

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DEDICATÓRIA

Para

Linda,LucaseGabriela,

minhafamíliaquerida.

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APRESENTAÇÃO

Meu interesse nasmáximas e provérbios bíblicos iniciou-se longe do livro deProvérbiosdeSalomão.ForamosProvérbiosdaquelequeéMaiorqueSalomão1quemechamaram atenção para o fato que, dentro dos textos bíblicos, sobretudo osneotestamentários,muitosprovérbiossãocitados2oucriados.Provérbiospopularessãousadosnodiscursobíblicoefrasesbíblicastornam-seprovérbiospopulares.

Nesteestudopreliminardosprovérbioscitadosoucriadosnaliteraturapaulina,concentrei-me nas cartas aos Coríntios3, imaginando que esta limitação de escopo dapesquisaseriasuficienteparaqueeupudessecomeçareterminaroempreendimento.

Infelizmente,parecequeaindahá“muitaareiaparaomeucaminhãozinho!”Hámuitoapesquisaremuitoatrabalharnestacarta,daperspectivadasfrasese“slogans”queelaapresenta.Estetrabalhoaindaéumtrabalhopreliminar.Vemalume,contudo,na tentativadeprovocarodiálogosobreo temaesuarelevâncianoentendimentodosentidodestascartas.Asúltimasrevisõesaindanãoforamrealizadaseporestacausa,peçoaindulgênciadosleitores.

Uma das primeiras provocações para esta obra veio do Prof. Ebenézer SoaresFerreira, Citações de Poetas Gregos na Literatura Paulina, in Romanitas: revista decultura romana, ano IV, vol. 5, 1962, p. 124-131. Ele gentilmente enviou-me umaseparatadesteartigoqueserviudeinspiraçãoinicialparaestetrabalho.Outrapartedoestudo foi feita como tarefadeumadisciplina4ministradapelaProf.ªDr.ªGildaMariaReale Starzynski, na Universidade de São Paulo. Por esta causa, a parte sobre oscapítulos5,6e7temumestiloeumaextensãodiferenciadosdorestodotrabalho.

Para tentardarumaprimeira repassadaem todosestesprovérbios, aproveiteiparausá-los empregações feitasna igreja que se reúnenaAv.Novede Julho emSãoPauloena igrejaemSão JosédosCampos,no fimdoséculopassado.Aquelesestudosglobaisepreliminaresprepararamoterrenoparaestetexto.Maistarde,aministraçãodeaulassobre1CoríntiosaosmeusalunosnaSerCris,emCampoGrande,MS,forçou-meaoaprofundamentodoestudoque,finalmente,estáemsuasmãos.

Nesta quarta edição, disponibilizada como e-book com ISBN, aproveito parafazer leves adições ao texto e, sobretudo, aproveitar novas luzes da bibliografiabrasileirasobreoassunto.

Agradeço, especialmente, à minha esposa, Linda, com quem tenho discutidomuitos dos temas relativos a estes provérbios e que empreendeu uma revisãogramatical eortográficado texto.Ela é amelhor revisoraqueumautorpodedesejar,poisconhecebemmeupensamento,meuserrose,aomesmotempo,temcompetênciateológica e literária para encarar a tarefa. Antecipadamente, agradeço seu constanteapoio,responsabilizando-mepelaformafinaldomaterialqueoraapresento.

1ÁlvaroCésarPestana,ProvérbiosdeJesus–2ªEdição[ProvérbiosdeJesus–1ªEdição],SãoPaulo,Ed.VidaCristã,2002.2Intrigava-meofatodeumtextogregodoNT,editadoporNestlé-Aland,trazeralgumasreferênciasaprovérbiosdaliteraturagregacitados(AratoemAt17.28,EpimênidesemTt1.12,EurípidesemAt26.14,Heráclitoem2Pe2.22eMenandroem1Co15.33[porcontraste,tambémTucídidesemAt20.35]).3Chegueiapensaremescreverumaversãohumorísticadesteassuntocomotítulo:“ProvérbiosCorintianoseProvérbiosSãoPaulinos:nadaavercomfutebol!”Ficaasugestãoparaosteólogos-humoristas!4LiteraturaGrega:OpoderdeEroseAfroditeeapaixãoamorosanoteatrodeEurípides:HipólitoStephanephóros(FLC855),1995,

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DougraçasaDeusPai,etodaaglória,pois,somentenele,poreleeparaelesãotodasascoisas,nopoderdoEspíritoSanto,emnomedenossoSenhorCristoJesus!

ÁlvaroCésarPestana

EscoladeTeologiaemCasa-ETC

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AbreviaçõesBíbliasedicionáriosteológicos.

ARA=Almeida,RevistaeAtualizadanoBrasil(daSBB)

ARA2Almeida,RevistaeAtualizadanoBrasil,segundaedição(daSBB)

ARC=Almeida,RevistaeCorrigida(daSBBeoutras)

ARC2=Almeida,RevistaeCorrigida,segundaedição(daSBB)

BLH=BíblianaLinguagemdeHoje(daSBB)

NTLH=NovaTraduçãonaLinguagemdeHoje,SBB.[substituiBLH]

TPC=TraduçãoemPortuguêsCorrente[daSBP]

VFL=VersãoFácildeLer(daEditoraVidaCristã)

NVI=NovaVersãoInternacional(daEditoraVida)

AEC=Almeida,EdiçãoContemporânea(daEditoraVida)

AVR=Almeida,VersãoRevisada(daIBB)

VB=VersãoBrazileira(antigaversãodaSBB)

BJ=BíbliadeJerusalém(daPaulinas)

TEB=TraduçãoEcumênicadaBíblia(daPaulinaseLoyola)

BAM=BíbliaAveMaria,(daEditoraAveMaria,agora,EditoraSantuário)

BP=BíbliadoPeregrino(daPaulus)

TDNT=GerhardKittel&GerhardFriedrich (ed.s),TheologicalDictionaryofTheNew

Testament, (Theologisches Wörterbuch zum Neuen Testament, Stuttgart, W.

KohlhammerVerlag,1933-73,Trad.GeoffreyW.Bromiley),GrandRapids(MI),Wm.

B.EerdmansPublishingCompany,1964-76

NDITNT = Colin Brown (ed.), Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo

Testamento (The New International Dictionary of New Testament Theology

[traduzido, revisadoe ampliadodooriginal alemãoTheologischesBegriffslexikon

zumNeuenTestament,Wuppertal,TheologischerVerlagRolfBrockhaus,1967-71],

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GrandRapids, Zondervan, 1975-78, traduzido por Gordon Chown e revisado por

JúlioPauloTavaresZabatiero),SãoPaulo,EdiçõesVidaNova,1981-83

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INTRODUÇÃOAOESTUDODOSPROVÉRBIOSPAULINOSECORÍNTIOS

Os problemas que Paulo teve de enfrentar dentro da igreja de Corinto são notórios: partidarismo, mundanismo na avaliação da sabedoria, imoralidade, disputas sociais (problemas ligados à cultura de honra e vergonha dos antigos), ascetismo, libertinismo, materialismo, orgulho, conflitos internos por causa do ambiente social pagão, tensões ligadas ao poder e direitos entre os sexos, desordens na adoração e talvez até mesmo um tipo nascente de gnosticismo. O sistema social da colônia romana de Corinto incentivava e nutria todo tipo de problemas.5

Para vários destes problemas e tensões, parece que os coríntios encontravam “slogans” ou “lemas” que justificavam suas posturas. Paulo, por sua vez, contra-atacou estes “lemas” com outros lemas ou com outro tipo de refutação dos pecados ali envolvidos.

O alvo deste estudo é apresentar os lemas “ditados coríntios” e suacontrapartidapaulina,“ditadospaulinos”nosentidodemelhorexplicitarosentidodostextos,dasituaçãohistóricaoriginaledoconfrontodoutrinárioeéticoqueelesrevelamestar ocorrendo na correspondência coríntia. É interessante ver como muitos lemascoríntios ainda são defendidos hoje em dia, de uma forma ou de outra. Cumpre umaanálise dos mesmos para continuar a combater o que não corresponde à ‘mente deCristo’.

PROVÉRBIOS

É mais fácil reconhecer um provérbio do que defini-lo6. A definiçãogenialdeMigueldeCervantes,“Provérbioéumafrasecurtabaseadanumaexperiêncialonga”,defineoprovérbioduasvezes:umapeloconteúdodafraseeoutrapelaprópriaconstruçãoproverbialdafrase.Osparemiólogos,estudiososdosprovérbios,diriamqueumprovérbio é uma frase feita segundo uma formulação padronizada, que se tornoutradicional,àqualseatribuiautoridadeesabedoria.7

Entre as características principais dos provérbios estão: oralidade, usode ritmo,metáforas, aliterações, construções binárias (que favorecem a compreensãodandoum‘ecodesentido’paraafrase).Tambémaimpessoalidade,aatemporalidade,atradicionalidade, a autoridade (tradicional e sapiencial), mnemonicidade e aanonimicidade sãomarcas importantes nos provérbios. Geralmente, são fáceis de sermemorizadosporseuselementosestruturaiseporseremlinguagemdopovo.Omelhormododeentenderumprovérbioéverocontextodouso,poisistocontamaisdoqueopróprioconteúdo.8

5Clarke,AndrewD.,ServetheCommunityoftheChurch:ChristiansasLeadersandMinisters,GrandRapids,Eerdmans,2000,p.174-189.FazaseguintelistadosproblemasdaigrejadeCorinto:1)Tensõesligadasàdiferençasdestatussocialentreosparticipantesdacongregação;2)ProblemasligadosaoPatronato-Clientelismo;3)“Sabedoria”;4)Querelaspolíticas(politicagem);5)Disputasjudiciais;6)Imoralidade;7)Comidasacrificadaaídolosefestaspagãs;8)Cobrir(edescobrir)acabeçaemadoraçãoaDeus;9)ProblemasnaobservânciadaCeiadoSenhor;10)Jactância;11)Modismosdaretóricasofística.Osúltimositensaparecemmaisem2Coríntios.6JamesObelkevich,“ProvérbioseHistóriaSocial”inPeterBurke&RoyPorter(eds.),HistóriaSocialdaLinguagem,(TheSocialHistoryofLanquage,London,Cambridge,CambridgeUniversityPress,1987Trad.ÁlvaroHattnher)SãoPaulo,CambridgeUniversityPresseEditoraUnesp,1996,p.44.7RenzoTosi,DicionáriodeSentençasLatinaseGregas,(2ªed.),SãoPaulo,MartinsFontes,2000,p.XIII.8JamesObelkevich,Op.Cit.,p.44-51.

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TERMINOLOGIA

Chamaremos de “provérbios”, tanto coríntios, como paulinos, a umconjuto de frases que poderia, tecnicamente, ser classificados debaixo dos seguintestermos: sentenças [sententiae], gnomes [gnomai, gnw/mai], topos [topoi, to,poi], oupreceitos (mandamentos)9. Embora todos estes termos façam referência a “frases deefeito”,decaracterísticaincisivaeproverbial,háquemigualeassentençaseasgnomai10eháquemosdiferencie.11

As sentenças e os gnomes eram formas comuns de discursomoral daAntiguidade, usadas isoladamente ou em coleções de máximas e aforismos morais.Vários grupos da época usavam estes conjuntos de ditos como fonte de instruçãomoral12. Os pregadores e professores itinerantes do Primeiro Século utilizavam-se de“frasescurtaseincisivasparaensinarsobreproblemasespecíficos.”13

Também os judeus já tinham uma larga tradição na utilização deprovérbios e ditos em instruçãomoral14. Não seria de admirar que cristãos usassemtambémestesrecursosemseuensinodocertoedoerrado,emseucaminhocomJesus.A popularidade destas compilações de ditos e provérbios (apophthegemas) pode seraquilatada pelo fato que estas coleções eram amplamente usadas em exercíciosretóricosenaconfecçãodediscursos.15

9Modernamente,aparemiologia(estudodosprovérbios)aceitaediferenciaumaprofusãodetermos:máxima,sentença,dito,ditado,refrão,anexim,adágio,axioma,aforismo,etc.Defato,muitasvezes,asdistinçõesnãosãofáceisdeaceitar.Paranossoestudo,utilizaremosumadefiniçãogenéricadeprovérbiocomosinônimodetodosestestermos.RenzoTosi,Op.Cit.,p.XXIVafirmaqueadistinçãoentresentenças,gnomai,apotegmaseoutrasformaséteórica–naprática,todasasformassemisturam.Oslimitesexistem,massãoflexíveis.10WayneMeeks,TheOriginsofChristianMorality:thefirsttwocenturies,NewHaven&London,YaleUniversityPress,1993,p.71.AbrahamJ.Malherbe,MoralExhortation,AGreco-RomanSourcebook,Philadelphia,WestminsterPress,1986,diferenciagnomesdechreiai,p.109.11KlausBerger,AsformasliteráriasdoNovoTestamento(FormgeschichtedesNeuenTestaments,Heildelberg,Quelle&Meyer,1984,trad.FredericusAntoniusStein),SãoPaulo,Loyola,1998,p.60-61,par.19:NaafirmaçãodeBerger,as“‘sentenças’sãoditadosouprovérbiosemqueseexpressaumaexperiênciauniversal,geralmenteemformadescritivaeemfrasescurtas.Asgnomai,àdiferençadassentenças,têmtendênciaestritamentesimbulêutica[ouseja,procuramaconselhar];sãomaterialcomqueseconstroemasadmoestaçõeseparêneses.”12ExemplodestetipodeusodeprovérbiosparainstruçãomoraléainscriçãodélficacitadaemWilhelmDittemberger(ed.),SyllogeInscriptionumGraecarum-VolumemTertium,(Hildesheim/Zurich/NewYork,GeorgOlmsVerlag,1982.InscriçãoNº1268,Pág.s395-396)etambémaludidaporJohnFerguson,MoralsandValuesinAncientGreece,Bristol,BristolClassicalPress,1989,pág.26-27.Duascolunasdetextoalistavamprovérbiosquerepresentavamosconselhosdotemplo.Atraduçãoéminha.COLUNAI-01Socorraamigos;02Controlaacólera;03Fujadasinjustiças;04Testemunharitossagrados;05Controlaoprazer;06Considerasorte;07Honraaprevidência;08Nãousejuramentos;09Amaaamizade;10Retenhaaeducação;11Persigaumareputação;12Louvaavirtude;13Práticaajustiça;14Retribuaofavor;15Sejabenévolocomosamigos;16Afastaosinimigos;17Cuidadaparentela;18Guarda-tedomal;19Torna-teacessível;20Guardaaspropriedades;21Sêgenerosocomosamigos;22Odeiaadesmedida;23Sêeufêmico;24Apieda-tedesuplicantes;25Educafilhos.COLUNAII-01Preenchaolimite;02Sêamistosoparacomtodos;03Governaamulher;04Façabemasimesmo;05Torna-teafável;06Respondanahoracerta;07Afadiga-teatéafama;08Arrependa-tedoserros;09Controlaoolho;10Guardaaamizade;11Consideraotempo;12Ajarapidamente;13Distribuaoqueforjusto;14Pratiqueaconcórdia;15Aninguémdespreza;16Ocultaoinefável;17Respeitaopoder;18Confianotempo;19Nãofalaemfavordoprazer;20Adoraadivindade;21Aceitaaoportunidade;22Destruaainimizade;23Nãosejactenasuaforça;24Aceitaavelhice;25Façaoqueébenéfico;26Exercitaeufemismo;27Envergonha-tedeumamentira;28Fujadoódio;29Crendonão<...>;30Enriqueçahonestamente;31Mantémotrato.13DavidBradley,“TheToposasaForminPaulineParaenesis”inJournalofBiblicalLiterature72,(1953),p.238-46,citadoporGeorgeE.Cannon,TheUseofTradicionalMatherialsinColossians,Macon,MercerUniversityPress,1983,pág.133.14OVelhoTestamentoeatémesmoaliteraturasapiencialapócrifaétestemunhadesteuso.15Malherbe,AbrahamJ.,PaulandthePopularPhilosophers,Minneapolis,FortressPress,1989,p.97.

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O hipotético e controvertido “documento Q”, que segundo algumasteoriasde composiçãodosevangelhos,umadas fontesescritasdosatuaisevangelhos,seria composto, em sua maior parte, uma coleção de ditos e frases de Jesus,ocasionalmente, com um pouco da situação histórica que os originou16. O evangelhoapócrifo de Tomé também tem esta característica17. Os evangelhos e o livro de AtosestãotodosrepletosdestesditosdeJesusedeoutros,oraincorporadosemnarrativasediálogos,oraisoladosemumtextoepistolarouemdiscursos.

Outra formadenomearosprovérbiospaulinosqueabordamosaquiosconsidera como sendo “preceitos e mandamentos”.18Várias das frases que estamoschamando de “provérbios paulinos” são, na verdade, imperativos morais, vindos deJesus,dasEscriturasoudopróprioapóstolo.19

As cartas neotestamentárias aproveitam destes ditos e provérbios naconsecução de seus objetivos. Extensos textos paulinos de conselhos às igrejas, bempoderiamsercaracterizadoscomo“coleçõesdesentenças”ou“antologiadeprovérbioscristãos” de aplicação moral e espiritual20. Textos tais como Romanos 12.9-18,1Coríntios16.13-14,2Coríntios13.11b,Gálatas6.2-6;Filipenses4.4-9,1Tessalonicenses5.16-22etc.podemsercaracterizadoscomocoleçõesdeditoseprovérbioscristãos.21AepistoladeTiagotambémécarregadacomestegênerodesentenças22.

Quintiliano, escrevendo ao final do Primeiro Século AD, lidava eclassificava tradiçõesdoperíodo anterior que, certamente, envolveriamoshábitos dotempodePaulo.Ele falade trêsdiferentes formasdediscursoproverbial (sententiae):(1)oprovérbiognômico;(2)asentençagnômica;e(3)asententiamoral.23

Ramsaran, usando esta classificação de Quintiliano, cita os seguintesexemplos:(1)Provérbiognômico-“Ora,oqueserequerdosadministradoreséquecadaumsejafiel”(1Co4.2).Estetipodefrase,segundoesteautor,“oprovérbiognômicoerauniversaleindiscutível”;(2)Sentençagnômicajáseriaumafrasesonoradeumapessoareconhecida,contudo,afrasepoderiaserafirmadaounegada:“PoisaloucuradeDeusémais sabiadoqueoshomense fraquezadeDeusmais fortedoqueoshomens” (1Co

16Estesditos,queseguemumanarrativa,são,tecnicamente,chamadoschreiai[creiai].VejaKlausBerger,AsFormasLiteráriasdoNovoTestamento,pág.78ss,par.#25-29.AbrahamJ.Malherbe,MoralExhortation,AGreco-RomanSourcebook,Philadelphia,WestminsterPress,1986,p.109,111-115.17MarvinMeyer,OEvangelhodeTomé:AsSentençasOcultasdeJesus,(TheGospelofThomas:TheHiddenSayingsofJesus,SãoFrancisco,HarperCollins,1992,trad.JúlioCastañonGuimarães),RiodeJaneiro,Imago,1993.16-17.18W.Meeks,TheOriginsofChristianMorality,p.75.19R.B.Y.Scott,TheWayofWisdomintheOldTestament,NewYork,MacmillanPublishingCo.,1971,p.52fazumadistinçãoentrepreceitoeprovérbioqueéútilparanossadiscussão:“Preceitoseraminstruçãoautoritativaeregulamentaçõesparaocomportamento,baseadosemimperativosdeordemsocialevaloresouemcrençareligiosa.Provérbioseramregrasemoutrosentido,generalizaçõesdaexperiênciasobre‘comoomundoroda’ecomooshomenssecomportam....opreceitofalanoimperativo,oprovérbionoindicativo.Oprimeiro,chamaporobediência,osegundo,querevocarumarespostaespontânea.”20Sobreaimportânciadagnomologiagregaparaaparêneseneotestamentária,verKlausBerger,AsFormasLiteráriasdoNovoTestamento,pág.144-146.#48.21W.Meeks,TheOriginsofChristianMorality,p.72-3e49.22KlausBerger,Op.Cit.,p.61,citandoM.Küchler.TambémRollinA.Ramsaran,PauloeosProvérbiosinJ.PaulSampley(org.),Paulonomundogreco-romano:umcompêndio(PaulintheGreco-RomanWord:ahandbook,ContinuumInternationalPublishingGroup,2003,trad.deJoséRaimundoVidigal),SãoPaulo,Paulus,2008,pág.400.23Quintilian,InstitutioOratoria,8.5.1-35.SigotambémasideiasdeRollinA.Ramsaran,PauloeosProvérbiosinJ.PaulSampley(org.),Paulonomundogreco-romano:umcompêndio(PaulintheGreco-RomanWord:ahandbook,ContinuumInternationalPublishingGroup,2003,trad.deJoséRaimundoVidigal),SãoPaulo,Paulus,2008,pág.379-380.

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1.25); (3) Sentença moral seria “O Reino de Deus não consiste em palavras mas empoder”(1Co4.20)eatémesmo“Tudoépermitido”(1Co10.23).24

ORIGEM

Osprovérbioscoríntiospodemterseoriginado: (i)nosescritosounosensinos de Paulo; (ii) em reelaborações do ensino paulino, feitas por grupos decoríntios;ou(iii)naculturagrego-romana,naqualaigrejadeCorinto,querendoounão,estavaimersa.

Muitosdoschamados“ditadoscoríntios”devemtersidooriginadosdascartas anterioresoudoensinodePaulo25.Algunsdestesprovérbiospodemser clarascitações distorcidas do ensino de Paulo. Assim como eles não haviam entendido suarecomendação anterior para não se associarem com impuros (1Co 5.9) é muito fácilsuporqueelesestavamusandomaloensinodePauloemumasériedequestõescomoliberdade,casamento,etc.

Tambémpodeserqueos“slogans”ouasfrasescoríntiaseramresumosdoensinopaulinoqueadquiriramcaráterautônomoeantitéticoaoensinodoqual seoriginaram.Talvez,no ímpetodesintetizarcertosensinosdePaulo,a fórmula-resumofinaladquirisseumsentidoquecontrariavaoensinodoqualseoriginou.Umavezqueoprovérbio foi usado independentemente, seu sentido perderia a raiz no ensinoapostólico.

Umaoutragrandepossibilidadedeorigemparaosprovérbioscoríntiosseriaaculturagreco-romana.Muitosdostermoschaveedasideiasprincipaisdealgunsdestes ditados são perfeitamente congêneres com a filosofia e a ética populares domundodeentão26.Elesrepresentambemopensamentodaculturadaépoca.Algunsjárevelavamelementosquepoderiamserclassificadoscomoumgnosticismoincipienteeestãoperfeitamentedeacordocomatendênciaparaaqualfilosofiagregasedirigia.

Paramim foi profundamente iluminador, depois de trabalhar bastantecom a busca de “provérbios” na literatura paulina a informação que “a primeiraexperiência de leitura do estudante [no mundo greco-romano] envolvia estudarcuidadosamente provébios e breves passagens poéticas” 27 . De fato, Quintilianoincentivavaousodetaisfrasesparainculcarsentimentosmorais.28Assim,nãopodemosdeixar de imaginar que os provérbios paulinos, sobretudoos que tem ressonância nomundogreco-romano,nãotenhamseoriginadonosprimeirosestudosquePaulofezdalínguagrega.29

24RollinA.Ramsaran,Op.Cit.,pág.379-38025HansConzelmann,FirstCorinthians(DerersteBriefandieKorinther,Göttingen,Vandenhoeck&Ruprecht,1969,trad.deJamesW.Leitch),Philadelphia,FortressPress,1975,pág.7-citaumasériedeocasiõesemqueopróprioPaulocitasuacartaanterior.Oqueimpressionaéofatoquemuitasdestascitaçõescarregamos“provérbioscoríntios”queseriamdistorçõesdoensinopaulino.Conzelmanncita:6.12;10.23;6.13;7.1;8.1,4,5-6,11.2.Eleaindamencionaapossibilidadedeampliarestalistacom:6.13e8.8.26JohnE.Stambaugh&DavidL.Balch,ONovoTestamentoemseuAmbienteSocial(TheNewTestamentinitssocialenvironment,Philadelphia,WestminsterPress,1986,trad.JoãoResendeCosta),SãoPaulo,Paulus,1996,p.145.27RonaldF.Hock,PauloeaEducaçãoGreco-RomanainJ.PaulSampley(org.),Paulonomundogreco-romano:umcompêndio(PaulintheGreco-RomanWord:ahandbook,ContinuumInternationalPublishingGroup,2003,trad.deJoséRaimundoVidigal),SãoPaulo,Paulus,2008,pág.175,177.28RonaldF.Hock.Op.Cit.,pág.176citandoQuintiliano,InstitutoOratoria,1.1.3529RonaldF.Hock.Op.Cit.,pág.186-189.

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Quantoàorigemdosprovérbiospaulinos,assuasfontestambémnãosãosempre evidentes, mas podemos supor que seriam pelo menos quatro: (i) algunsprovérbiospaulinossãoproduçõesprópriasdePaulo,algumasfeitasadhoc,sobmedida,pararesponderàsituaçãoimediata,outraseramprovenientesdeensinamentoselemasjáanteriormenteusadosporele;(ii)outrosvêmdoensinodeJesus,poisnãoédifícilverque certas frases são resumos de ensinamentos de Jesus; (iii) alguns vêm do VelhoTestamento;(iv)finalmente,algunsvêmdasabedoriapopulargreco-romana30e,talvez,até mesmo do ensino primário e secundário, pelo qual Paulo pode ter passado paraaprendera línguaeculturagrega .AcompreensãodaorigemdosprovérbiosdePauloajudanasuainterpretação,masofatormaisimportanteseráocontextoeomodocomoelessãousadosnacarta.

IDENTIFICAÇÃO

A identificação dos provérbios, tanto paulinos como coríntios, não éimediatanemóbviaaoleitordesavisado.Otextogregooriginal,escritoemmaiúsculasesemseparaçãodepalavrasnãoforneceriaqualquersinalparaidentificarquandoPauloestavafalandoporelemesmoequandoeleestavacitandooscoríntiosououtrafonte.Defato, os “antigos não chamavam necessariamente a atenção para o seu uso deprovérbios”31.

Paulo usava os provérbios de dois modos.32(i) Em conjuntos deprovérbios,quechamamosdegnômologia–trata-sedepequenascoleçõesdefrases,taiscomoaquetemosemRm12.9-21ou1Ts5.12-23.Équaseimpossívelnãoverquecadafraseéumpequenomundo.33(ii)Provérbios isoladosou “embutidos”no texto–estessãoosmaisdifíceisdeidentificar.

Infelizmente, as versões bíblicas mais antigas e tradicionais34, atérecentemente,nãomarcavamouindicavamascitaçõesdePaulodasfrasesdoscoríntioscom o uso de aspas ou de outra forma gráfica de diferenciação. De fato, estadiferenciação de frases de Paulo das frases dos coríntios já é uma forma deinterpretaçãodotextoqueastraduçõesmaisantigasqueriamevitarfazer.

As versõesmaismodernas como a NVI35, BJ36, NTLH37, VFL38, colocammarcasaspasnostextosquesãofrasesdoscoríntios.Ocasionalmente,omesmorecursoé usado para citações do Velho Testamento ou indicação de frases de um diálogo,entretanto,aindicaçãodequeasfrasesnãosãodePaulo,mascitações,jáéumgrandeavançodestastraduçõesemrelaçãoàsversõesdeAlmeida39que,apesardemuitoboas,nãofazemestaindicaçãodemudançade“personagem”nodiscursoepistolar.

30SobretrêsdestasfontesdoensinodePaulo:JeromeMurphyO’Connor,SãoPauloeaMoraldosNossosTempos(TraduçãodeGilbertoGorgulho&AnaFloraAnderson),SãoPaulo,Paulinas,1973,p.54-63.31RollinA.Ramsaran,Op.Cit.,pág.383.32RollinA.Ramsaran,Op.Cit.,pág.384.33“Omundoemumafrase”éotítulodolivrodeJamesGeary(SãoPaulo,Objetiva,2007)quejádefine,emsimesma,oqueéumprovérbio.34ComoasversõesdeJoãoFerreiradeAlmeida.35ANVImarcacomaspasosditadosencontradosem:1.12;4.6;6.12;6.13;8.1,norodapé;10.23;15.33;2Co10.10.36ABJmarcacomaspasosditadosencontradosem:1.12;4.6;6.12;10.23;15.33;16.22;2Co10.10.37ANTLHmarcacomaspasosditadosencontradosem:1.12;4.6*;5.6*;6.12;6.13;8.1;10.23;15.32*;15.33;16.22;2Co10.10.Ostextosmarcadoscomoasterisco(*)sãointroduzidosexplicitamentepelaNTLHcomoditados.38AVFLmarcacomaspasosditadosencontradosem:4.6;5.6*;6.12;6.13;8.1;10.23;15.33;2Co10.1039IstoincluiARA2,ARC2,ACFeAVR.

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Muitos estudiosos do Novo Testamento perceberam e indicaram, naleitura do texto, muitos destes slogans ou provérbios. 40 De fato. pouquíssimosprovérbios coríntios e paulinos que estudaremos adiante já não terão sido indicadoscomotaisporversõesbíblicasouporestudiososdoNovoTestamento.Ospoucoscasos,contudo,emqueaindicaçãodeumprovérbiofordenossainteiraresponsabilidade,estaserájustificadapelocontexto,pelaformaeestruturadafrase.Oleitorpoderáapreciarosméritosdecadaumadestassugestões.41

NECESSIDADEEPOSSIBILIDADE

Alguém poderia questionar: “Será necessário descobrir ou identificarestesprovérbios coríntios epaulinosnas epístolasdePaulo? Seráquea reconstruçãonãoserápurareconstruçãoimaginativadoexegeta?”Empoucaspalavras:Serápossívelenecessárioempreendernestatarefa?

Em nosso ponto de vista, tal identificação é necessária e possível. Naverdade, como dissemos acima, as grandes versões bíblicas já estão acreditando napossibilidade e na necessidade de sinalizar aos leitores modernos as citaçõesproverbiais(oudeoutranatureza)feitasnotexto.

Atarefa,contudo,nãoéumluxoopcional.Certasfrasescoríntias,citadasnascartasdePaulo,quandolidascomosendodePaulo,fazemcomquetenhamosumamá impressão do ensino paulino e não poucas vezes, sejamos conduzidos a umamáinterpretaçãodoqueoapóstoloestádizendo.42ÉnecessáriosaberoqueédePauloeoqueédoscoríntios.

40Porexemplo:WayneA.Meeks,OMundoMoraldosPrimeirosCristãos(TheMoralWorldoftheFirstChristians,Philadelphia,TheWestminsterPress,1986-vol.6dasérieLibraryofEarlyChristianity,WayneA.Meeks(ed.)-trad.JoãoResendeCosta),SãoPaulo,Paulus,1996,reconhececomo“slogans”asfrases:“Evitafornicação”[6.18]e“Evitacarnesacrificadaaosídolos”[10.14](p.122);“Todostemosconhecimento”(p.122),“Nãohánenhumídolonomundo”e“sóháumDeus”[8.14];“Queninguémbusqueoseupróprio(bem),maso(bem)dooutro”[10.24](p.123);citaçãodoprovérbiopopular[9.10];“Fugidaidolatria[10.14](p.124);TambémBenjamimFiore,PassioninPaulandPlutarch:1Corinthians5-6andthePolemicagainstEpicureans,inDavidL.Balch,EverettFerguson&WayneA.Meeks,Greek,Romans,andChristians:EssaysinHonorofAbrahamJ.Malherbe,Mineapolis,FortressPress,1990,p.136,consideracomoprovérbioseslogansostextos:5.6;6.12-13;C.F.D.Moule,AnIdiom-BookofNewTestementGreek,2ndedition,Cambridge,CambridgeUP,1959.p.196-7,reconheceum“diálogodeslogans”ondeosprovérbioscoríntiossãocitadoseumprovérbiopaulinoéadicionadoemseguidaparacorrigi-los:istoocorreem1Co6.12(duasvezesérepetidoolemacoríntioePauloorebatecomdoisprovérbios),em6.13(umprovérbiocoríntioeumaréplicapaulina)eem6.18(afrase“pa/n ama,rthma o] eva.n poih,sh| a;nqrwpoj evkto.j tou/ sw,mato,j evstin”seriaoprovérbiocoríntioeafraseposteriorseriaaréplicadePaulo);GerdTheissen,SociologiadaCristandadePrimitiva,(StudienzurSoziologiedesUrchristentums,2ªed.ampliada,Tübingen,J.C.B.Mohr(PaulSiebeck),1983,trad.IvoniRichterReimereHaroldoReimer),SãoLeopoldo,EditoraSinodal,1987,pág.142citavárioslemas:“Todosnóstemosconhecimento”(8.1);“Nãoexistemídolos”(8.4);“HáumsóDeus”(8.4);“Tudoépermitido”(10.23)e“Osalimentossãoparaabarrigaeabarrigaparaosalimentos”(6.13).41Umbomrecursoparaavaliarquaisfrasestemsidoconsideradascomocitaçõespelostradutoreséobservaro“AparatodeSegmentaçãodoDiscurso”agoraincorporadonoTheGreekNewTestament(4thedition),daUBS,queoferece,nopédepáginadotexto,asváriasopçõesdedivisãodetextodealgumasediçõesdetextogrego(5)edealgumasversõesbíblicas.Comoeradeseesperar,predominamasversõesinglesas(6).Depoisdisto,asversõesfrancesassãorepresentadasportrêsversões.Hárepresentaçãodeumaversãoalemãeumaespanhola.Nãohárepresentaçãodasversõesemportuguês.42Creioqueocasoclássicoéafrase“Todopecadooqualfizerohomemestáforadoseucorpo!”(6.18).Seforumafrasecoríntia,éumafraselibertina,fácildeserentendida.Seforumafrasepaulinaéumgrandeproblema.AssimtambémpensaJeromeMurphyO’Connor,AVidadoHomemNovo,(MoralImperativesinSaintPaul,inédito,traduçãodeAlexandreMacintyre),SãoPaulo,Paulinas,1975,p.153.

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Outromotivo para a identificação dos provérbios é a compreensão doargumento,doraciocínioedasprovasretóricasquePauloutilizanacarta.Umamelhorapreciaçãodamensagemvirápelaidentificaçãodoqueestásendoditoeemqueforma.

ORALIDADE

Por outro lado, a dificuldade de separar ou marcar os provérbioscoríntiosnotextodacartaéapenasnossa.OsleitoresoriginaissaberiamdiscerniroqueeradePauloeoqueeradeles.

Os provérbios, sobretudo os coríntios, estavam sendo utilizados,circulandooralmente,parajustificarouafirmarcomportamentosedoutrinas.Quandoacarta fosse lida, em voz alta na assembleia, eles podiam facilmente identificar suaspróprias palavras, que circulavam entre a igreja. Eles observariam seus lemas sendocitadosporPauloerebatidos.Elesjáestavamenvolvidosemumdiálogoondeoqueeleshaviamafirmadoanteriormentedirigiasua leituradacarta.Logo,Paulopodiacitarosprovérbioscoríntiossemmuitoproblema,poiselesosreconheciam.

O critério original de reconhecimento dos “provérbios coríntios” e dos“provérbiospaulinos”erao conhecimentodos slogansqueestavamcirculandodentrodaigrejadeCorinto.43

CRITÉRIOSDEIDENTIFICAÇÃO

Modernamente, não temos o mesmo critério para reconhecer osprovérbios,poisnãoparticipamosdomomentohistóricoemqueosditoscirculavamnaigreja.Oquenosguia,agora,naidentificaçãodosprovérbios,seráaaplicaçãoconjuntade critérios que buscam encontrar: (i) estilo proverbial; (ii) pontuação oral; (iii)estrutura gramatical que indica uma citação; (iv) estrutura poética; (v) destaque docontexto;(vi)repetiçãoemoutrolugar;(vii)citaçãodoensinodeJesus;(viii)citaçãodoVelhoTestamento;e(ix)paralelonasabedoriaepensamentogreco-romano.44

Várias destas nove45características ocorrerão simultaneamente emváriosprovérbios.Aprimeiraéessencial,pois,seafrasenãotem‘estilo’deprovérbio,como poderíamos identificá-lo como tal? Todas estas características, contudo, só têmvalor se o contexto das frases permitir ou exigir a compreensão da frase como umacitaçãoproverbial.Ocontextoseráo juizna identificaçãodeslogansouprovérbiosnotextodacarta.

IDENTIFICANDOPROVÉRBIOSESLOGANS46

O critério geral para reconhecer os provérbios no texto de uma cartaserá pela observação de seu estilo diferenciado. Os provérbios serão frases afins a

43ReginaRocha,AEnunciaçãodosProvérbios:descriçõesemfrancêseportuguês,SãoPaulo,AnnablumeEditora,1995,p.83,falada“competênciaculturaldoreceptor”parareconhecerosprovérbios.44OexcelentelivrodeAndersEriksson,TraditionsasRhetoricalProof:PaulineArgumentationin1Corinthians(ConiectaneaBiblica,NewTestamentSeries29),Stockoholm,Almqvist&WiksellInternational,1998,p.81-84oferececincocategoriasdecritériosparaisolaras‘tradições’emumtexto:(i)presençadeumafórmulaintrodutória;(ii)natureza‘ínsita’dapassagem;(iii)oestilo;(iv)ocorrênciarepetida;(v)conteúdo.45RollinA.Ramsaran,Op.Cit.,pág.384faladeapenastrêsfatoresparaaidentificaçãodosprovérbios:1)Conteúdotradicional;2)Brevidadeouconcisão;3)Formafigurada.Depoisdisto,eleacrescentaumoutrofator(4)Argumentaçãoerecorrência.TodaadiscussãodeRamsaranéútil,masestácontidaedetalhadaeatésuplementadapormeusnovecritérios.46ÁlvaroC.Pestana.“IdentificaçãodeProvérbioseslogansnaliteraturepaulina”In:ViaTeológicaVol.15,n.30,dez.2014,p.8-31.

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adágiospopulareserefrães,sendo,geralmente,breves,conciso,deconstruçãosimples,defraseadopróximoàlinguagemcoloquial,47sepossível,sonorosemnemônicos.Pode-seidentificarasfrasesproverbiaisporsuabrevidade,concisãoeeconomia–oreduzidouso de artigos e outros elementos supérfluos, que alongariam o discurso edescaracterizariam o provérbio48. O uso de paralelismo, inclusões, quiasmo e outrosrecursosdestetipopodemajudaraidentificarprovérbios.Emboraestecritérionãosejadecisivo,eleexcluimuitasfrasesquenãotêmestascaracterísticas.

Outracaracterísticaaserlevadaemcontaaotentarisolarumprovérbioé observar a pontuação oral49do texto grego. Por exemplo, alguns provérbios são“pontuados” com as partículas gregasmene de [me,n de,] que, normalmente, não têmsignificado,mas indicamo iníciode frases, sendo sempre colocadosno segundo lugardestanovafrase.50

Outros são introduzidos por uma estrutura gramatical que indica umacitação: um artigo neutro51, uma conjunção que introduz uma citação52, uma fórmulaque espera uma conclusão53, ou uma fórmula citação54ou de advertência55. Algunsprovérbiospaulinossãointroduzidosporconjunções56oupartículas57que,emboranãosejamsempresinaisincontestesdaapresentaçãodeumacitação,ajudamadeterminarumprovérbioemconjuntocomoutrosfatoresdocontexto.

Outrosprovérbiosquenãoapresentamascaracterísticasdepontuaçãooral descrita acima, são claramente identificados pela sua estrutura poética.58Váriosprovérbios serão construídos com estruturas específicas da literatura proverbial esapiencialtaiscomoquiasmas,paralelismo,poesia,rima,etc.

47KlausBerger,op.cit,p.61.48Todososprovérbiosaquicitadostêmestacaracterística,masdestacamosaquiaquelesquesãoreconhecidosapenasporsuaformaeestrutura:6.12e10.23;10.24;6.13;6.18b.49HenriqueG.Muraccho,LínguaGrega:VisãoSemântica,Lógica,OrgânicaeFuncional,SãoPauloePetrópolis,DiscursoEditorialeEditoraVozes,2001,vol.1,p.78,635,638,660.50Assimsãodemarcadososprovérbiosencontradosem:1.12.51Em4.6oartigoneutroto[to,]introduzafraseproverbial.TheGreekNewTestament(4thed.),daUBS,iniciaafraseproverbialcomumaletramaiúscula,indicandoacreditartratar-sedeumacitação.TambémconsideraestecomoumcritérioimportanteaobradeL.L.Welborn,PoliticsandRhetoricinCorinthianEpistles,Macon,MercerUniversityPress,1997,citadoemAnthonyC.Thiselton,TheFirstEpistletotheCorinthians(NIGTC),GrandRapids,Eerdmans,2000,p.354.52Assimaconjunçãohoti[o[ti],chamadaderecitativa,introduzumacitaçãoem:5.6;8.1;8.4(bis);9.10;15.12;2Co10.10(alémdisto,estetextotemumaoutraindicaçãodetratar-sedeumacitação,noverbophesin[fhsi,n],istoé,“dizem”).53Esteéocasode10.14.54Ocasode2Co9.6:aexpressãotoutode,ouseja,“Isto(afirmo)...”introduzumamáxima.55“Nãovosenganeis”introduzoprovérbiode15.33etambémemGálatas6.7.Estaexpressãointroduzem1Co6.9umcatálogodevícios.ForadosescritosdePaulo,afrase“nãovosenganeis”voltaaocorreremTiago1.16.Elamesmaédenaturezaproverbialeseráanalisadamaistarde.56Ascontraposiçõespaulinasaosprovérbioscoríntiosem6.12e10.23começamcomaconjunçãoadversativa“mas”[avlla,].57Exemplos:6.13b-“o[de,]Deusdestruirátantoestequantoaqueles”6.18c-o[de,]impuropecacontraoprópriocorpo.58Oprovérbiocoríntioem6.13estáconstruídonumclaroquiasma,ondeostermos“alimentos”e“estomago”sãoinvertidosnasegundafraseaparecendonaordem“estomago”e“alimentos”.Sobrequiasma,aobraclássicaéNilsWilhelmLund,ChiasmusintheNewTestament:AStudyindeFormandFunctionofChiasticStructures(Obraoriginal:ChiasmusintheNewTestament:AStudyinFormgeschichte¸ChapelHill,NorthCarolinePrees,1942),Peabody,Hendrickson,1992.Napágina145eleapresentaumaanálisede1Coríntios6.12-14:oprovérbiode6.13etambémarespostadePauloaeleestãoidentificadoscomoclarosquiasmas.

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Ocasionalmente,iremostomarcomoprovérbioum“slogan”ouumlemaquesedestacadocontexto.Podemestarnestecaso,porexemplo,frasesimperativas59.Tambémasmudançasdapessoagramaticalnocontextopodemindicarumacitaçãodeumprovérbio.60

Arepetiçãoéavidadeumprovérbio.Assim,quandoobservarmosumafrase que se repete na literatura, podemos desconfiar de estarmos diante de umprovérbio.Elespodemserrepetidos,naíntegraoucompequenasmodificações.61

Certamente, quando uma frase apresentar grande semelhança com oensinodeJesus,devemosdesconfiarsenãoéum“ProvérbiodeJesus”62sendocitado.63

Textos do Velho Testamento podem ter sido transformados emprovérbios.64Certamente haverámuitas citações do Velho Testamento que não serãoconsideradas proverbiais. O contexto, contudo, tanto literário comohistórico-cultural,irádeterminarseaquelacitaçãofuncionacomoprovérbioounão.

Finalmente, será fácil identificar provérbios quando eles são lugarescomuns ou provérbios da sabedoria popular greco-romana. 65 Para fazer estaidentificação,dependeremosdefontesdoperíodooudeumacompreensãoacuradadamentalidadedaépoca.Umprovérbioterámaischancedeserrepetidoeaceitoquantomaiorforsuaafinidadecomamentalidadedogrupoquedeleseutiliza.

USORETÓRICO

O uso dos provérbios, tanto pelos coríntios, como por Paulo,desempenhava uma importante função retórica para afirmar ou negar umcomportamentoouumadoutrina.Os coríntiososutilizavampara legitimar e reforçarsuas posturas e Paulo vai usar outros para dar resposta à altura dos “slogans”anticristãos.66

59Esteéocasodosprovérbiospaulinosem6.18,10.14e10.24.60Umcasoé8.8:pois8.7estánaterceirapessoa,passaparaasegundapessoaem8.8edepoisparaasegundapessoa.61Umbomexemplodestecasoé5.6queérepetido,ipsislitteris,emGálatas5.9.62SobreosprovérbiosdeJesus:ÁlvaroCésarPestana,OsProvérbiosdoHomem-Deus,SãoPaulo,EditoraVidaCristã,(2002).63Oprovérbiode8.8podebemserumresumodeMarcos7.17-23,semelhanteaoresumoqueopróprioevangelistaMarcosfeznoverso19b.Romanos14.17tambémpoderememoraresteensinodeJesus.OceticismocontraPauloconhecercitareusarensinosdoJesus(chamadohistórico)precisaacabar.PaulocitaJesusmuitasvezes(At20.35;1Co7.10-11;9.14;11.23-25;1Ts4.15;1Tm5.18).NielsWillert,“TheCataloguesofHardshipsinthePaulineCorrespondence:BackgroundandFunction”inPederBorgen&SorenGiversen(eds.),NewTestamentandHellenisticJudaism,(Aarhus,AarhusUniverstiyPress,1995),Peabody,HendricksonPublishers,1997,p.225,afirma:“ParaPaulo,avidaterrenadeJesusCristoémaisimportantedoqueéfrequentementeassumido”.Esteautorcitaainfluênciadanarrativadapaixãoem1e2Coríntios,Romanos,Filipenses,Gálatase1Tessalonicenses.64Esteéocasode15.32queétantocitaçãodeIsaías22.12quantoumprovérbiopopularcontemporâneo,quejádeviaserusadoassimnotempodeIsaías.65Afrase“nãoháressurreição”de15.12étipicamenteummododefalardasabedoriagrega(Cf.At17.32).Demaisimediataidentificação,contudo,éafrasede15.33,queécitaçãodeumprovérbiopopular,oriundodaliteraturagrega.66ReginaRocha,Op.Cit.,defineoprovérbiocomo:p.14:“oprovérbioconstituiumafrasefeita,odiscursodoOutro,semprecitadooureenunciado,erenunciável”;p.60:“osprovérbiosconstituemporexcelênciaodiscursodoOutro,umdiscursocodificadoecitado”;p.69:“oprovérbioépuroestereótipoediscursodoOutroporexcelência”;p.169:“pode-sedefinirprovérbiocomoumafrasedeconotaçãoautonímicacomelementosprosódicos,referindo-seaseremenquantoclasseenãoindivíduos,ecaracterizadapelapresençaexplícitaouimplícitadeumuniversal,assimcomopelamodalidadealéticaoudeôntica”.

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Opoderdousoretóricodosprovérbiosnoprocessodepersuasãoedejustificaçãodeposturas se vê emAristóteles67que, emseu tratado sobre a retórica,AArteRetórica, cita,vezapósvez,provérbios,ditos,máximaseexpressõesdasabedoriapopular68.

Paraeste filósofo, “máximaéummeiode traduzirumamaneiradeverquenãoserefereaumcasoparticular...masaouniversal.Ouniversal,aqui,étudooqueserelacionacomosatoseoqueohomemprocuraeevitarelativamenteàação”69.

Aristótelesequiparaosprovérbioscomtestemunhos:“Osprovérbiossãotambémtestemunhos”.Assim,umoradorcitaumprovérbiocomo“testemunha”a seufavoremalgumassunto70.Asmáximasserãousadascomopartesdosentimemas71,deforma a serem partes integrantes da argumentação de um orador. Apesar disto,Aristótelesestabelecequeousodestesprovérbiostêmcertaslimitações72.

Aristóteles também sugere o uso de provérbios e máximas paracombater outras máximas. Ele aconselha, muitas vezes, ir contra um provérbio dedomínio público, para obter alguma vantagem na argumentação, transformando umdiscurso fraco em um discurso forte. Ele exemplifica ataques aos bem sucedidos aosfamosos provérbios délficos “Conhece-te a ti mesmo” [gnw/qi seauto,n] e “Nada emdemasia”[mhde.n a;gan]emcertascircunstâncias.73

Este últimoponto tem relação com a estratégia de Paulo ao contraporseus provérbios aos provérbios coríntios. Para corrigir os erros que grassavam emCorinto, Paulo precisava vencer uma guerra de slogans. Os provérbios ensinam, pornatureza,oquesedevefazer:colocamoouvintesob‘devermoral’,eportanto,dãoummodoveladodeordenar.74

Aristótelesexplicitoudoismotivosparaumoradorusarasmáximas:1)avaidadegrosseiradosouvintesquesentemprazerquandoooradorexprimeaquiloque

67CitamosocasodeAristótelespornossointeresseemseutratamentodousoretóricodosprovérbios,contudo,todaaliteraturagregafazamplousodeprovérbiosemáximas.Porexemplo,Platão,nodiálogodenominadoFédonfazdezenasdecitaçõesdelemasdasreligiões,dosfilósofos,dasabedoriapopular,edopróprioSócrates,queéumdosprotagonistasdodiálogo.68Aristóteles,ArteRetórica,LivroI,VII.14=“Nãohácoisamelhordoqueágua”;VII.37=“ajustiçatempoucovalor”;XI.3=“muitasvezesnãoestálongedesempre”;XI.4=“Éaflitivotudooquesefazsoboimpériodanecessidade”;XI.25=“Cadaqualcomseuigual”,“Lécomlé,crécomcré”,“dar-sesócomosdesuaigualha”;XII.20=“sãoapresadosmísios”;XII.23=“Amaldadebastaumsópretexto”;“XV.14=“Nuncafazerbemaumvelho”e“Insensatotodoaqueleque,depoisdetermortoopai,deixasubsistirosfilhos”;LivroII,IV.21=“ooleiroteminvejadooleiro”[tambémemX.6];VI.18=“Opudorestánosolhos”;XXI.2=“Quandoseénaturalmentesensato,nuncasedevedaraseusfilhosdemasiadosaber”,e“Nãoháhomemquesejaemtodoafortunado”,“Nãoháhomemquesejalivre”e“Porqueohomeméescravooudariquezaoudafortuna”;XXI.5=“Paraohomem,asaúdeéoquehádemelhor,aomenossegundoaminhaopinião”e“Nenhumamanteéverdadeirosenãoamasempre”;XXI.6=“Nãoguardesressentimentoimortal,umavezqueésmortal”;XXI.11=“Oúnico,omelhorpresságio,édefenderapátria”pág173.69Aristóteles,ArteRetóricaII,XXI.2.ReginaRocha,Op.Cit.,p.99,afirma“queosprovérbios,pelofatodeexpressaremideiasgenéricas,livresdascontingênciasespaciaisetemporais,desligadas,portanto,do“eu-aqui-agora”(aindaquepré-formadasparaseremintroduzidasemdiscursosespecíficos),nuncapodemseapresentarcomoenunciadosdotipoacontecimentooudotipoespecífico,...”.70ArteRetórica,I,XV,14.71GeorgeA.Kennedy,NewTestamentInterpretationThroughRhetoricalCriticism,ChapelHill,TheUniversityofNorthCarolinaPress,1984,p.17afirmaqueentimemasfrequentementeseapóiamemumamáxima.72SegundoAristóteles,“exprimir-sepormáximase,sobretudo,emmatériasquepressupõemexperiência,sóficabemnapessoasdeidade”,ArteRetórica,II,XXI.9).73Aristóteles,ArteRetórica,II,XXI.12-14).74ReginaRocha,Op.Cit.,p.125:“Emboraoprovérbiosejadeônticopornatureza,eleoépreferencialmentedemaneiravelada”.

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eles também acreditam; 2) a máxima confere ao discurso um caráter moral – amoralidadedasmáximasconfunde-secomadoorador.75Osmotivosseriam(1)reforçarascoisassobreoque jáseestápersuadido, teropathosaoseufavore(2)causarboaimpressão,convencerpeloethosdoprovérbio.

De fato, como ele mesmo já havia afirmado, os provérbios sãotestemunhose sãousadosporoutrosmotivosalémdosdescritosacima.Mas,nocasodosprovérbioscoríntios,ousodestesencaixava-sebemnosdoismotivosmencionadosporAristóteles.Algunsprovérbiosestavamsendousadosparareforçarcondutasjápré-estabelecidas.Elesseriamconvincentesparaquem jáestavaconvencido,umavezquemuitosdelesapelavamàculturaouàspreferênciasdogrupo76.Outros, geralmenteosmais exigentes, procurariam causarboa impressãopela aparênciade santidadeoudesabedoriaqueapresentavam77.

Paulotambémutilizaprovérbiosparareforçartemasbásicosdafécristãedemonstraroverdadeirocarátercristão.

O uso dos provérbios nas cartas de Paulo, em várias ocasiões, estávinculado ao uso do estilo de discurso chamado diatribe78. Diatribe é uma forma dediscursoondeooradordebatecomumopositorimaginário.Otextode1Co6.12-20éomais característico textoemdiatribedacarta, emboraesteestiloestejaespalhadoemtodo o documento. Os provérbios dos coríntios prestam-se muito bem para seremrepresentantes do pensamento a ser refutado e assim, são citados para seremcontraditadosoucorrigidos79.

O provérbio é um discurso autoritário e de autoridade80por doismotivos:(i)provémdeumasabedoriaanônimaetalvez,antiga,queédifícildecontestar–naantiguidade,oantigoéqueeraomelhor;(ii)oprovérbioimpõe-seporimpedirareciprocidadedodiscurso,poiseleécitadoenãopederesposta–elecalaooutrolado.81

Anders Eriksson, em um trabalho muito bem elaborado, demonstrou“que Paulo, em 1Coríntios, usa as tradições como prova retórica.”82Estas tradições,estudadasporEriksson,são:osumáriodoevangelho(15.3-5),afórmulasobreamortevicáriadeJesus(8.11b),aspalavrasdainstituiçãodaceia(11.23-25),aalusãoàceiadoSenhor(10.16),aaclamaçãodeJesuscomoSenhor(12.3),afrase“maranata”(16.22),adeclaração“UmDeuseumSenhor”(8.6)eafórmulabatismaldaunidadedoshomens(12.13).EsteestudiosomostracomoPauloapropriou-sedefrases,ensinos,narrativasedetodasortedematerialquejácirculavanaigrejaantiga,usandoestastradiçõescomoprovasafavordesuastesesemseudiscursoaoscoríntios.

Assim também, alguns dos provérbios paulinos irão funcionar como‘tradições’daigreja83oudefora84,quePauloutilizaráemseuprocessodeargumentação.

75Aristóteles,ArteRetórica,II,XXI,15-16.76Umexemplodestetipopodeserencontradonasfrasestaiscomo:6.12ou15.12.77Exemplosdestetiposãoosprovérbiosqueexigemascetismo,como7.1,ouosqueaparentementedeclaramsãdoutrinacomo8.4.78AbrahamJ.Malherbe,PaulandthePopularPhilosophers,p.25.79C.R.HolladayinDavidL.Balch,EverettFerguson&WayneA.Meeks,Greek,Romans,andChristians,p.83;W.Meeks,OMundoMoral,p.123.80JamesObelkevich,Op.Cit.,p.44.p.45–Usa-seoprovérbioparafazersituações“ondeosprovérbiosapresentamautoridade”:bomsensoevalores.81ReginaRocha,Op.Cit.,p.82.82AndersEriksson,Op.Cit.,p.304.83Porexemplo,adeclaração“UmDeuseumSenhor”(8.6),queopróprioprofessorAndersconsideraumatradiçãopré-paulina,enóstratamoscomoumprovérbio,primeirocoríntioedepoispaulino.84Porexemplo,oprovérbiogregode15.33.

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Acitaçãodeumprovérbioconhecidoetradicionalcaracterizaaquiloquecertosautoreschamamde“figurasdecomunhão”,onde,demodoelegante,fazoouvinteparticipardaopinião do orador. Assim, a citação de “slogans” faz com que o auditório participeativamentedaexposiçãoefiqueimpressionado,paranãodizertambémpersuadido.85Éfato que alguns provérbios paulinos eram ‘inovações’, cunhados para o momento.Outros, contudo, já faziamparte do ‘arsenal’ de pregação e instruçãoda igreja, sendoassim,tradições.

DITADOSCORÍNTIOSEPAULINOS

Nos próximos capítulos, analisaremos brevemente os provérbioscoríntioseosprovérbiospaulinosqueselecionamosparaesteestudo.Adiscussãoteráoobjetivodeapreciarocaráterproverbialdafrase,seuusoeseusignificadonocontextodacartae,talvez,atéforadele.

85ElisaGuimarães,“FigurasdeRetóricaeArgumentação”inLineidedoLagoSalvadorMosca(org.),RetóricasdeOntemedeHoje,SãoPaulo,Humanitas,1997,pág.158.

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1.12-VEgw. me,n eivmi Pau,lou( VEgw. de. VApollw/( VEgw. de. Khfa/( VEgw. de. Cristou/Å

“EusoudePaulo!”“Eu[sou]deApolo!”“Eu[sou]deCefas!”

As divisões na igreja de Corinto são notórias. Como alguns estudosrecentes86têmdemonstradocommaiorrigor,algumasdelaseramrealizadascombaseemaspectossociais,comonocasodasdivisõesentreosricoseospobresduranteaceia(1Coríntios 11.17-34). Outras se baseavam em diferenças culturais e de consciênciareligiosa (1Coríntios 9-10). Em composição com estas causas sociais e culturais, asdivisõesemCorintotambémpodiamserbaseadasnafidelidadeadiferentespregadoresemestresquehaviampassadoporCorinto(1Coríntios1-4).87

No mundo greco-romano, tal emulação e disputa era advogada pelosalunosparacomseumestreoufilósofo,ouentreosdevotosdecertocultoeatémesmoentreosdependentesparacomseuslíderesepatronos.88AcríticadePauloàsdivisõescoríntiaseraumacríticaà“autonomiadefamíliasproeminentesnomundohelênico.”89MesmoafamíliadeGaio,quehospedavaaigreja,tinhaquelembrar-seque,pelomenosnasreuniõesdaigreja,nãoestavammaisemcasa,masnaigrejadeDeus.90

Oslemas,“EusoudePaulo!”[VEgw, eivmi Pau,lou],“EusoudeApolo!”[VEgw, eivmi VApollw/] e “Eu sou de Cefas!” [VEgw, eivmi Khfa/] mostram os três91partidos queexistiamdentrodaigreja,centradosempessoas“influentesouimportantes”.AorigemdestespartidosémaisexplicávelaosetratardePauloeApolo,emaisdifícildeexplicarcomrespeitoàCefas,Pedro.PauloeApolotinhamsidoobreirosnacidadedeCorinto,eportanto,haveriaaquelesquesecercariamdelescomo“seusmestres”92.OcasodeCefas,não pode ser explicado da mesma forma, pois este apóstolo não teria passado porCorinto93,deacordocomainformaçãohistóricaquetemos.Podeserque,osdopartidode Pedro, assim se apresentassem por terem se tornado cristãos na Judeia ou naPalestina,sobainfluênciadePedrooudacomunidadejudaica-cristãligadaaele.Assim,

86GerdTheissen,SociologiadaCristandadePrimitiva(StudienzurSoziologiedesUrchristentums,2ªed.ampliada,Tübingen,J.C.B.Mohr(PaulSiebeck),1983),SãoLeopoldo,Sinodal,1985:oscapítulos“OsforteseosfracosemCorinto:analisesociológicadeumabrigateológica”(p.133-147)e“Integraçãosocialeaçãosacramental:umaanálisede1Co11.17-34”(p.148-167);AbrahamJ.Malherbe,SocialAspectsofEarlyChristianity,2ndedition,enlarged,Philadelphia,FortressPress,1983,p.71-84;etc.87AssimpensaNielsHyldahl,Op.Cit.,p.210-216,queafirmaqueoproblemaemCorintonãoeramospobreseosricos,masosseguidoresdeApoloePaulo.EmboranãoaceitandoaideiadeHyldahlquePaulotinhacertadistânciadeApolo,aideiaqueosseusseguidoresfossemumadasfontesdeproblemaparecemuitoplausível.Naspáginas209-210elemostraquatroquestõesqueasteoriasdeTheissennãoresponderamporcompleto.88RichardOster,Op.Cit.,pág.54.89VincentBranick,AIgrejaDomésticanosEscritosdePaulo,(TheHouseChurchintheWritingsofPaul,Wilmington,MichaelGlazier,1989,traduçãodeGilsonMarcondeSouza),SãoPaulo,Paulus,1994,pág.120.90VincentBranick,Op.Cit.,pág.122.91Amaioriadastraduçõesedoscomentaristasacreditaquehouvessequatropartidos,masisto,anossover,nãolevaemcontaocontexto.921Co3.4-7mostraPaulo‘plantando’eApolo‘regando’alavouradeDeus,demodoquepercebe-sequeofatodestesobreirosteremtrabalhadonacidade,faziacomquehouvessepartidosemtornodeseusnomes.NielsHyldahl,Op.Cit.,defendequeoproblemaeraumacompetiçãoPauloXApolo.93AsuposiçãodeF.F.Bruce,Peter,Stephen,James&John:StudiesinNon-PaulineChristianity,GrandRapids,Eerdmans,1980,p.40-41,quePedroteriapassadoporCorinto,porcausadaalusãoaofatodeleviajarcomsuaesposa,queseriadeconhecimentodoscoríntios(1Co9.3-5),nãoparecesuficientementesólidaparaserusadacomobasedereconstruçãodahistória.Teríamosquesuporqueos‘irmãosdoSenhor’etambémBarnabétivessempassadopelacidade?Certamentequenão!ProvavelmentealgunsdaigrejaconheciamaobradePedroedestesoutros.Senãoconheciam,sãoinformadosporPaulosobreaformacomoelesseconduziame,depoisdereceberemainformação,elaéusadacomoargumentoafavordopontodevistaquePaulodefende.

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aindaquetivessemchegadoaCorinto,mantinhamcertaidentidadecomsuasraízes.Talidentidade,contudo,tornou-sesectária,comotambémasoutras.

Ao que parece, tanto pela discussão de Paulo, como pela natureza dosnomes envolvidos, que não havia qualquer divergência doutrinária envolvendo estespartidos.94No máximo, havia diferentes metodologias de trabalho,95que Paulo fazquestãodemostrarquenãotinhaimportância,emvistadaimportânciadamensagem:Cristocrucificado96.

A resposta de Paulo é: VEgw. de. Cristou/, “Eu [porém] soude Cristo!”Háváriasrazõesparacrerqueistosetratadeumafrasepaulina97enãoumgrupocoríntioqueadvogavaexclusividadederelacionamentocomJesus.

1. Na discussão posterior, Paulo criticará os grupos que se associam anomesdehomens,masnãocriticaráotal“grupodeCristo”.OsnomesdePaulo(1.13-16;3.4-5,22;4.6),Cefas (3.22)eApolo (3.4-5,22;4.6)voltamaocorrernadiscussãosobreosgrupos,masnãoumhipotético“quartogrupo”.Pauloirácriticaros“Paulinos”,os “Apolinários” e os “Petrinos”, mas nunca “os de Cristo”. Necessariamente,esperaríamosquePaulocriticasseoexclusivismodestegrupo,reservandoCristoapenaspara si mesmo, e furtando-o dos outros. Conforme diz Oster, “parece historicamenteinimaginávelquequalquergrupoemCorintorealmentepensassequeeles,emcontrastecomorestodosirmãoscoríntios,tivessemsualealdadedadaaCristo”98.

2. Sua discussão posterior enfatizará justamente que devemos ser deCristo, enãodehomens.Aobjeçãoem1.13é contra tentardividirCristo.O corretivopara o partidarismo que exalta homens é a pregação de Cristo e da cruz. Não hánenhumacríticaaoqueafirmaestarassociadoaCristo.

3. Alguns irão objetar, com certa razão, que não há elementosgramaticaisparafazerocontrasteentreostrêsgruposanterioreseoúltimo:combasenisto eles afirmariam que havia quatro grupos em Corinto. Podemos, entretanto,responderqueoscoríntiossabiamquaiseramosgrupospresentesnasuaigreja.Assim,mesmo sem nenhum anúncio formal, a quarta frase, “Eu sou de Cristo!” seriacorretamente entendida emcontraste comasprimeiras: um reductioadabsurdum. Astrêsprimeiras fraseseram lemasdeamplacirculaçãona igreja,masoúltimoeraalgonovo99.

4. Conforme já foi proposto acima, a pontuação do discurso é oral! Osditadoscoríntiosnemsemprevemseparadosdas correçõese contrapartidaspaulinasporsinaisgráficosegramaticais,masaoralidadedosprimeiros,garantiasuaseparaçãodosúltimos.Nestecaso,aleituraoriginaldacartadiantedaigrejaseriasuficienteparasepararos“lemas”coríntiosligadosaPaulo,PedroouApolo,do“lema”paulino:“EusoudeCristo!”.

94OantigoesforçodecontraporPauloePedronãoconsegueencontrarsuabaseaqui.95OrefinamentoretóricodeApolocausouboaimpressãoemCorinto(At18.27-28),mas,provavelmentecontrasuavontade,geroucomparaçõesedisputasentreosadmiradoresdeumestilodetrabalhocontraoutro.NielsHyldahl,Op.Cit.,p.211-215,(especialmentenotas18e19)pensaqueApolotemmaisculpaequetemcerta‘mávontade’contraPaulo.96Esteétodooraciocíniodoscapítulos1-4,ondePaulonãosomenteafirmaaimportânciadoCristocrucificadomastambémmostraqueosobreirosfazemapenasseupapeldeservosfiéis,aopregaroevangelho.Assim,asdiscussõesefacçõescoríntias,emtornodevaloresda“sabedoria”humana,iamperderseuvalor.97VincentBranick,Op.Cit.,pág.120,descreveo“Eu,contudo,soudeCristo!”comoumasarcásticacorreçãopaulinadossloganscoríntios.98Oster,Op.Cit.,pág.53.99ABJcolocaestapossibilidadedecompreensãodotextonanotaderodapédesuatradução.

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Atendênciapeladivisão,porapegooufidelidadeapessoas,aparentenaigreja em Corinto, ainda não morreu. Hoje em dia, o chamado cristianismo é maisdividido por fidelidade a grandes caudilhos ou líderes do que por questõesverdadeiramentedoutrinárias.Naverdade,oquesepercebenamaiorpartedoscasosdedivisão,primeiramentehádisputaspessoaisporpodere,depois,quandoadivisãojáse assentou, busca-se justificar a divisão formadas com base em algum motivo“doutrinário”.Adisputadoutrináriavemdepoisdadisputapessoal.

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1.12-VEgw. de. Cristou/Å

“Eu,porém,soudeCristo!”

Enquantounsdiziam,“EusoudePaulo!”eoutrosafirmavam“EusoudePedro!”ou“EusoudeApolo!”,oprotestodePaulosefezouvirnoseugrito:“Eu,porém,sou de Cristo!” (1Coríntios 1.12). “Vocês estão se dividindo por causa de homens, euporém,ficocomJesus!”Defato,oapelodePauloparaaunidadebaseia-senapessoadeJesus que não está dividido, que morreu na cruz e no qual todos são batizados(1Coríntios1.13).

Amaiorpartedoscomentaristasacreditaquehaviaquatropartidosnaigreja de Corinto100. Assim, a frase “Eu sou de Cristo!” seria um “slogan” coríntio,condenávelpordoismotivos:

Em primeiro lugar, ele seria errado por seu exclusivismo: alguém estádizendoqueCristoésódeleenãoestádisponívelaosoutros101.Talposturaseriaerradae,portanto,condenadaporPaulo.

Emsegundolugar,haveriatambémerro,nãodeconcepçãoteológicaoudoutrinária,masde atitude, soberba e sectarista.Transformaramuma confissãode féemum“slogan”102.Oqueeraparasersinaldeuniãofoiusadocomosímbolodedivisão.

Poroutrolado,háquemcompreendaqueafrase“EusoudeCristo!”éum“slogan” de Paulo103para envergonhar e combater os slogans coríntios, baseados emfidelidadeahomens104.Esteéopontodevistaquesustentamosnestelivro.

ClementeRomano(1Ep.deClementeaosCoríntios47.2e4),escrevendono ano 95 d.C., nãomenciona o chamado ‘partido de Cristo’ em sua referência a estetextode1Coríntios.Elefalaespecificamentequeopartidarismocoríntiodaqueletempoera centrado em apóstolos (Paulo e Pedro) e em um varão aprovado pelos apóstolos(Apolo). Também Crisóstomo105acreditava que Paulo aprovava a frase “Eu sou deCristo!”,apelandopara3.22-23.

Tentativa de ligar o suposto partido de Cristo com os causadores doproblemaem2CoríntiosqueafirmavamserdeCristo(2Co10.7)nãoécorreto.Paulodiz

100Lenski(p.43)eMorris(p.32)citamapossibilidade,mas,nãoacreditamnelaporrazõesgramaticais,E.P.Gould,EpistolasaLosCoríntiosinAlvahHorvey(ed.),ComentárioExpositivosobreelNuevoTestamento,tomoV,CasaBautistadePublicaciones,1973,(p.17),Stott(30-36),Barclay,comoédeseufeitio,mencionaapossibilidade(15-16),Walter(p.28),F.W.Grosheide,CommentaryontheFirstEpistletotheCorinthians,GrandRapids(Michigan),Wm.B.EerdmansPublishingCo.,1953,(p.35n.33),RobertsonePlummer(p.12-13)queemboramencioneapossibilidadedePauloestaraprovandoestelema,logoabandonaaideiajuntocomalgumasoutras,Conzelmann,FirstCorinthians(p.33-34)emumexcursoinclui“osdeCristo”comoumquartopartidoemCorinto.101Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.13.102Conzelmann,FirstCorinthians,p.34.103RobertH.Gundry,PanoramadoNovoTestamento,(ASurveyofTheNewTestament,GrandRapids,Zondervan,1970,trad.JoãoMarquesBentes),SãoPaulo,EdiçõesVidaNova,1998,pág.311;Oster(p.53-54),Findlay(p.765),emboraacrediteemquatropartidos,citavárioscomentaristasqueacreditamqueafrase“EusoudeCristo!”eraaprovadaporPaulocomoumacontrapartidaaossloganscoríntios.EstepontodevistaeraapoiadopelososPaisGregosemuitosintérpretesdaantiguidadeeatémesmoporCalvino.MortonScottEnslin,TheEthicsofPaul,NewYork,AbingdonPress,1957,p.244citaapossibilidadedospartidosemCorintoseremtrêsouquatro.104Asconjecturasquesupõequealeituraoriginalfosse“EusoudeCrispo!”ou“EusoudeCresto!”émuitoingênuaparaserlevadaasério.Cf.Grosheide,p.36etambémRobertsonePlummer,p.12-13.105DevoestainformaçãoaRobertson&Plummer,p.12.

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que também é de Cristo (2Co 10.7) e toda a reconstrução da situação é altamentehipotéticacriticável.

Assim,parecequeoslogan“EusoudeCristo!”poderiaserpaulino:seriaadeclaraçãodequeoverdadeiroalvodenossafidelidadenãosãoosministrosdeCristo,masopróprioCristo.Setodosdisserem“EusoudeCristo!”,acabarãoasdivisões.

ArespostadePauloàsdivisõesencontradasemCorintoocupatodososprimeirosquatrocapítulosdacarta.

O proêmio106 (1.10-17) introduz a questão, citando os provérbioscoríntioseopaulino,estabelecendoqueoproblemadadivisãoéumproblemaquenãodeveriahaverentreosquepregamapenasaCristo.

Logo em seguida, vem a clara proposição107(1.18-25) de Paulo pararesolveraquestãodadivisão.AtesedePauloéqueamensagemdacruz,oevangelho,evitaaquiloqueoshomensvalorizam,eassim,acabacomadivisãobaseadaemvaloreshumanos.Aavaliaçãohumanadoevangelhoénegativa,maseleéoqueDeusvaloriza.Assim,osvaloreshumanosnuncarepresentamosvaloresdeDeus.

Asprovasestãodivididasemtrêspartes,outrêsprovas,maisoumenosdistintas e complementares. Todas estas provas estão a serviço da declaração daproposiçãooudatese,queafirmaqueDeusescolheuascoisashumildes,fracaseloucasdomundoparaenvergonharasgrandes,fortesesábias.

A primeira prova108(1.26-31) são os próprios coríntios, que por suamaioriahumilde,reforçamofatoqueDeusvalorizaoqueéhumildeenãoosobjetosdeorgulhoededivisãohumanos.

A segundaprova109(2.1-5) é Paulo e sua pregação em “fraqueza” comoJesus e sua cruz e em “temor e tremor”, ou seja, com grande senso de cuidado eresponsabilidade.

Antes da derradeira prova, há uma digressão110(2.6-16) onde Paulodiscorrerá sobre a verdadeira sabedoria do evangelho. Embora omundo considere oevangelhocomoloucura,eleéaverdadeirasabedoriadivina.

Aterceiraprova111(3.1-17)éumaespéciedesíntesedasduasprimeirasprovasedadigressãofeitaporPaulo.Naparteinicial(1-4),elemostraquesuasdivisõesao redor de Paulo, Apolo e Cefas manifestam sua falta de capacidade e crescimentoespiritual.Depois(5-17)eledesenvolvemetáforasdaseara,daconstruçãoedotemplo,paraafirmarqueosobreirosdeCristonãotêmvalormaiordoqueDeusesuaobra.Osobreirosnãoestãoemcompetiçãocomoestãoospartidoscoríntios,masemcooperação.Arecompensadoobreiroseráconformeapermanênciadeseutrabalho,massealguém,deliberadamente,destruiraigrejadeDeus,serácastigado.

106Oiníciodestadivisãododiscursoéobservadapelaexpressãoparakalw/ ))) avdelfoi,[1.10].107Aproposiçãocomeçacomaenunciaçãodaexpressãochavedetodoodiscurso:~O lo,goj ga.r o tou/ staurou/ [1.18].108Aprimeiraprova:Ble,pete ga.r th.n klh/sin umw/n( avdelfoi, [1.26]-ousodovocativo,adelphoi,geralmentemarcatransiçõesdepensamento.109Asegundaprovaémarcadacomaexpressão:Kavgw. evlqw.n pro.j uma/j( avdelfoi, [2.1].110AdigressãocomeçacomafraseSofi,an de. lalou/men,ondeotermosophiafazentreaprovaanterioreestadigressão.NielsHyldahl,op.cit,p.215reconheceestadigressãoedescreveseupapelnoargumentodePaulocomoumatentativademostrarqueafénoevangelholevaaoverdadeiroentendimentodoqueésábio:cremosparapoderentender-credoutintelligam.111Aterceiraprovaéintroduzidacom:Kavgw,( avdelfoi,[3.1].

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Começa, então, aperoração dividida tambémem trêspartesprincipais.TemosaquioapelodePaulo,fechandoasuacríticaàsdivisõescoríntiaseconvidando-osaoarrependimento.

A primeira parte da peroração112(3.18-23) é um apelo para negar asabedoriadomundoeaceitara sabedoriadivinaqueoferece tudoaoshomens.Nestetextoafirma-sequetudoédoscoríntiosenãodevehaverdivisãopormotivonenhum.Paulo,Pedro,ApoloetudomaissãodonsdeDeusparaoscoríntios:nãohárazãoparadividir-se.

Asegundapartedaperoração113(4.1-5)retomaaquestãodosobreirosemostraqueestesnãodevemsercomparadosparaserobjetodepartidarismo.Deusvaijulgarcadaum.

A terceira parte da peroração114(4.6-15) divide-se em três partes. Overso6apresentaumasíntesedoapelodePaulo,insistindo,atravésdeumprovérbio115,que os coríntios não se dividam por ir além da Bíblia, exaltando homens. Depois osversos7-13fazemumaexortaçãoatravésdeperguntasretóricas,desarcasmo,deironiaeatémesmoatravésdeumcatálogodedificuldades,paramostrarafaltadebomsensodadivisão.Finalmente,osversos14e15terminamcomumanotacarinhosaquerevelaocuidadopaternaldePauloparacomoscoríntios.

O epílogo116(4.16-21), conclui com a exortação de Paulo para que oimitemequeacolhamtantoaTimóteoqueiráatéláparaajudararesolveroproblema,comotambémacolhamosconselhos,semquePaulotenhaquesersevero.

Todoesteesforçoargumentativotentareafirmarqueoimportanteé“Serde Cristo” e que qualquer divisão que fira este princípio precisa ser rejeitada eabandonada.Pauloaindagrita:“EusoudeCristo!”

112Estaprimeiraetapadaperoraçãocomeçacomafraseestereotipada: Mhdei.j eauto.n evxapata,tw\[3.18].113Oinícioémarcadopor:Ou[twj hma/j[4.1].114Novamenteumvocativointroduzamudançadeassunto:Tau/ta de,( avdelfoi,[4.6].115Esteserádiscutidoabaixo.116Oepílogoinicia-secomamesmafrasequeiniciouoproêmio:parakalw/ ou=n uma/j [4.16],fazendoumaverdadeiraconclusãoda“composiçãoemcírculo”[“ringcomposition”].

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2.13–pneumatikoi/j pneumatika. sugkri,nontejÅ

“Interpretandoespirituaisparaespirituais”

Esta frase de Paulo é um provérbio, embora não seja a citação denenhum provérbio em curso na comunidade coríntia. Sua concisão, sonoridade eambiguidadenosobrigama classificá-lo e tratá-lo comoumprovérbiopaulino, criadoporeleparaestemomentoemquecomparaasabedoriahumanacomasabedoriadivina.

OpontoquePaulovemdesenvolvendodesdeoverso6destecapítulo117é que a pregação do evangelho não é feita nosmoldes da retórica humana,mas nosmoldesdeuma“retóricadoEspírito”,sepudermosclassificá-laassim:“Nãoempalavrasensinadas por sabedoria humana, mas por [palavras] ensinadas pelo Espírito”.Contrastam-sedoissistemas.Ocontrasteentrea‘sabedoriahumana’eo‘Espírito’comofontesdosaberéoquesecontrastaaqui.

Osentidogeralde todaestasecçãoéóbvio.Amensagemdoevangelhonão é considerada sábia pelos homens. Sua sabedoria só é reconhecida pelos que aavaliampeloscritériosdopróprioEspíritoSanto.

A sabedoria de Deus só pode ser apreciada devidamente pelos“perfeitos” ou “maduros” [teleiois, telei,oij]. Para estes o discurso do evangelho fazsentido(v.6).Estasabedoriatratadomistérioreveladonoevangelho(v.7).

Os sábios e os poderosos da época não a compreenderam, pois suaoposição a Jesus demonstrou sua completa falta de compreensão dos planos deDeus(v.6 e 8-9). Eles não sabiam de modo algum o que estavam fazendo. Isto pode seraplicadoemdoissentidos:sesoubessemquemeraJesus,nãooteriammatado;ouainda,se soubessem que amorte de Jesus cumpriria o plano deDeus, teimosamente, não omatariam!Éprovávelqueoprimeirosentidosejaovisadoaqui.

Contudo,osquetêmoEspírito,têmrecebido,gratuitamente,arevelaçãodascoisasmaisprofundasdamentedeDeus(v.10-12).ConhecemamentedeCristo(v.16).Ohomemquenão temoEspírito, ohomem ‘natural’nãoentendea revelaçãodoevangelho(v.14).Ohomemespiritual,contudo,templenacapacidadedeapreensãodetudoeelemesmorecebeumatransformaçãotalqueocolocaemcondiçãoprivilegiada(v.15).

Nestecontexto,oprovérbioocorrenoverso13:“Distotambémfalamos,nãoempalavrasensinadaspela sabedoriahumana,masem[palavras]ensinadaspeloEspírito, conferindo coisas espirituais com espirituais” [a] kai. lalou/men ouvk evn didaktoi/j avnqrwpi,nhj sofi,aj lo,goij avllV evn didaktoi/j pneu,matoj( pneumatikoi/j pneumatika. sugkri,nontej].

Oproblemacomesteprovérbioéaambiguidadedafrase,pneumatikoispneumatikasynkinontes [pneumatikoi/j pneumatika. sugkri,nontejÅ].Aprimeirapalavrapara‘espirituais’ (pneumatikois, pneumatikoi/j) pode pertencer ao gênero neutro oumasculino118. As traduções do “Grupo A” abaixo, entendem que a palavra é neutra,referindo-seacoisasespirituais.Astraduçõesdo“GrupoB”entendemqueapalavraémasculina,referindo-seapessoasespirituais.

117Conformediscutiu-seanteriormentenestetrabalho,osversos6-16sãoumadigressãopaulinaquetratadaverdadeirasabedoriaemcontrastecomasabedoriadomundo.(Vejaotratamentodoprovérbio:“Eu,porém,soudeCristo!”).118Asegundapalavrapneumatika[pneumatika,]éneutra,semdúvidaalguma.

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GrupoA

• ARA=conferindocoisasespirituaiscomespirituais• ARC&AVC=comparandoascoisasespirituaiscomasespirituais• AVR&VB=combinandocoisasespirituaiscomespirituais• NVI (rodapé) = comparando realidades espirituais com realidades

espirituais• TEB=exprimindooqueéespiritualemtermosespirituais• BJ=exprimindorealidadesespirituaisemtermosespirituais• VFL=palavrasespirituaisparaensinarmoscoisasespirituais• BP=explicandoascoisasespirituaisemtermosespirituais

GrupoB

• NVI=interpretandoverdadesespirituaisparaosquesãoespirituais• BLH & NTLH = assim, explicamos as verdades espirituais aos que são

espirituais• TPC119= dou a conhecer, aos que vivem pelo Espírito, as coisas que se

referemaessemesmoEspírito• BJ (nota) = mostrando o acordo das coisas espirituais para homens

espirituais120• BP(nota)=explicamoscoisasespirituaisagentedeespírito

Outrafontedeproblemaséoverbosynkrinontes[sugkri,nontej]quepodeser traduzido como: interpretando (LXX:Gn40.8; 41.5; 51.15;Dn5.7.Teod.:Dn5.12,17),comparando(2Co10.12)ereunindo.121

O sentido mais usual é “reunindo, combinando ou ajuntando”122. MasPaulousounosentidodecompararem2Coríntios(10.12)eousodaSeptuagintapodesermuitoimportanteemPauloqueconheciaeusavatambémestaversão123.

Tabulando os 2 sentidos de pneumatikois contra os 3 sentidos desynkrinontes,temos:

synkinontes=interpretando

synkrinontes=comparando

synkrinontes=reunindo,ajuntando

pneumatikoisneutro

interpretandocoisasespirituaiscomcoisasespirituais

comparandocoisasespirituaiscomcoisasespirituais

combinandocoisasespirituaiscomcoisasespirituais

pneumatikoismasculino

interpretandocoisasespirituaisparapessoasespirituais

comparandocoisasespirituaiscompessoasespirituais

reunindocoisasespirituaisparapessoasespirituais

Adecisãoporumsentidoououtrotemquevirdocontexto,masparecequequasetodasaspossibilidadesprincipaispodemapoiar-senocontexto.

119EditadapelaSociedadeBíblicaPortuguesaeequivalenteànossaBíblianaLinguagemdeHoje.120AnotaderodapédaBJaindasugere:“ascoisasespirituaissendoassimproporcionadasaosespirituais”e“submetendoasrealidadesespirituaisaojulgamentodoshomensinspirados”.121sugkri,nw (1)ofthingsbroughttogetherforexplanationinterpret,explain,combine(1Co2.13);(2)ofpers.settogetherforcomparison,compare(2Co10.12).NoL-S:sug&kri,nw,I.tocompound,Plat.;II. tocompare,ti pro,j ti Arist.,etc.:tomeasure,estimate,Anth.Hencesu,gkrisij 122AssimcrêL.Morris,p.47.123Fee,Op.Cit.,115.

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Tanto na questão do gênero de pneumatikois, como na questão dosentidode synkrinontes, há elementosno contextopara entenderoprovérbiodeumaformaoudeoutra.

C.Holladay124dizquenãopodeser‘parapessoasespirituais’,pois,nestecaso, o ensino cristão seria ensino apenas para profetas – portanto ele julga quedevemosadotarosentido‘interpretandocoisasespirituaisemtermosespirituais’.Masocontexto fala que os ‘naturais’, ou seja, os não-espirituais não compreendem amensagem.Logo,estesentidopermanecepossível.

Conzelmann125diz que a palavra é neutra, por referir-se às ‘palavrasensinadaspeloEspírito’maslogoécercadapelapalavra‘espirituais’noneutro.Mesmoassim,elereconhecequeosversosseguintestratamdepessoas,nomasculino.

Grosheide126tem razão em dizer que se pneumatikois fossemasculino,deveriaterumartigo.Defato,istoretirariapartedaambiguidadedafrase,masnãotoda.Oargumentoéquesendouma‘fraseproverbial’aausênciadeartigoséumaconvençãodesejada.

Oster127observa que o provérbio tem contrapartida em 1Co 14.37-38,ondeosespirituaisirãoreconhecerseuensinoespiritual.Assim,afrasereforçaoethosapostólico.

RobertsonePlummer128avisamqueaposiçãoenfáticadepneumatikoisnocomeçodafraseprovocaocontrastecom‘natural’,psychikos,noversoseguinte129.Oprovérbio fecharia o ciclo da expressão ‘perfeitos’ mencionada no início do texto, noverso 6, e desenvolveria a questão nos versos seguintes. Assim, o termo significaria‘pessoasespirituais’.

Em suma: a) os que pensam que o provérbio antecipa a questão daspessoasespirituaisedaspessoasnaturaisdosversos14e15sãopropensosapensarqueopneumatikoisémasculino;b)osquepensamqueoprovérbiosumarizaaquestãodo ensino das verdades espirituais mencionadas nos versos 10-13a, ficam maisinclinadosaverpneumatikoscomoneutro.

Adiscussãodaquestãoseguedemodoquase interminável130.Podeserque estejamos fazendo perguntas ao texto que ele não foi feito para responder.Perguntamos:“Paulorelacionacoisasespirituaisacoisasespirituaisourelacionacoisasespirituaisparapessoasespirituais?”Eotextonãonosdáumarespostaúnica!!

Talvez tenhamos aqui um caso raro de ambiguidade deliberada131emPaulo132.Talvez,elequisessedizerasduascoisas:“eleensinapeloEspíritoeosquetêm

124C.Holladay,TheFirstLetterofPaultoTheCorinthians,Abilene,ACUPress,1979,p.47.125Conzelmann,FirstCorinthians,p.67.126Grosheide,Op.Cit.,p.72.127Oster,Op.Cit.,p.87.128Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.47-48.129Apontuaçãooral,doversoseguinte(háumapartículade.)fazcomqueestecontrastetenhamaisumapoio.130MaisdiscussãoemThiselton,Op.Cit.,p.224.131NoEvangelhodeJoão,asambiguidadeseambivalênciasdasexpressõessãoumamarcantecaracterísticadaobra.Jo3.3–nascerdoaltoounascerdenovo;Jo4.10–águaviva=águacorrenteouáguaquedávidaeterna;Jo12.32–levantadodaterra=nacruz,naressurreição,naascensão;Jo12.43–glóriaouaprovação;etc.132UmcasoclássicodeambivalênciaouambiguidadeéRm8.28:éDeusquefazcomquetodasascoisascooperemouéDeusquefazcomquetodasascoisascooperem?Belapolivalênciadeexpressão.

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oEspíritooreconhecem”etambémque“eleensinapeloEspíritoeoprodutodoensinosão coisas do Espírito”. Na verdade, estas duas coisas estão presentes em toda aargumentaçãodosversos6-16esópodemserseparadasartificialmente.

Assim, temos neste provérbio paulino um convite ao duplo e talvezmúltiplosentidoda frase, fazendocomqueosprimeiros leitoresseapercebessemdasseguintesverdadesmúltiplasqueesteúnicoprovérbioensina:

Oensinocristão“interpretacoisasespirituaisparapessoasespirituais”eao mesmo tempo “reúne coisas espirituais com outras coisas espirituais”. Assim, oEspíritonãoproduznadaquenãosejadoEspíritoeosdoEspíritosãoempáticosaestaproduçãoeensino.

Não é possívelmisturar o ensino do Espírito com o ensino do homemnatural e nem é possível ao homem natural compreender as coisas do Espírito. OhomemconduzidopeloEspírito,facilmente,aprendeascoisasdoEspírito,pois, jáestáiniciado nelas (teleios do verso 6). Este aprendizado consiste em agrupar coisasespirituaiscomespirituais.

Seria esta uma saída covarde? Será que alguém dirá que esta saída‘eclética’éfalsa,poisnãodácertezadecomunicaçãoaotextodePaulo.

Épossívelqueacríticavenhaequeatésejaverdadeira.Contudo,ébomlembrar que vários textos bíblicos e não bíblicos trabalham claramente comambivalências,demodoaenriquecerodiscursoeprovocarreflexão.133

É lógico que esta carta não seria lida uma única vez em Corinto. Aprimeiraleituradoprovérbiofavoreceriasuainterpretaçãopelosversosanteriores,eotermo pneumatikois seria entendido como se referindo às coisas espirituais (neutro).Contudo,umasegundaleituraabririaumnovosentidoaoprovérbio,poispneumatikois,lido comomasculinono restanteda carta, poderia agora ‘contaminar’ o sentidodestanovaleitura.Cadareleituraéorientadapelosentidojáobtidonaleituraanterior.

OprovérbiodePaulo“conferindocoisasespirituaiscomespirituais”,é um belo exemplo de provérbio ambíguo, cuja leitura e releitura convergem paraensinaracomunidadecoríntiasobreanaturezadaaçãodoEspíritonoensinocristão,tantoemseuconteúdocomoemseupúblicoalvo.

133Estudando,pormotivosacadêmicos,atragédia“Agamenmon”deÉsquilo,pudenotarváriasinstânciasemqueocorriamambiguidadesdeliberadas,nascircunstânciasenasfalasdospersonagens.Asambiguidadestinhamafunçãoderevelardetalhesdatramaaopúblicoenquantoospersonagens,cegosaoseusignificadooculto,corremparaofinaltrágico.Omotivodaambiguidadeaquiseriadiverso:seriaumaapresentaçãodariquezadaverdadedafrase.

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4.6-mh. u`per a[ ge,graptai

“Nãoultrapasseisoqueestáescrito”

Esta frase tem várias características que a revelam como expressãoproverbial134. A frase toda é precedida e “governada” por um artigo [to,]135que tem oefeito demarcar as aspas da citação oumostrar que se trata de “uma lição” ou “umprincípio”.136

Ela é ligada ao contexto anterior pela expressão “Estas coisas, irmãos,apliquei-asfiguradamenteamimmesmoeaApoloporvossacausa,paraquepornossoexemplo aprendais isto: ...” A expressão “estas coisas” refere-se, obviamente, a todoodiscursoanteriorde1.10-4.5,ondeaquestãodospartidosemtornodosnomesdePauloeApolofoitratada.137

Afraseomiteoverbo(verboelíptico138),pois,literalmenteafraseseriatraduzida: “Não ... além do que está escrito”, mas a ideia do verbo está presente e atraduçãoacertadaé“Não[ir]alémdoqueestáescrito”139.Istopermiteàfraseproverbialsermaisclaraeforte140.

Tambémaideiade“nãoultrapassar”[mh. uper]aproxima-sedoclássicoefamosoprovérbiogrego“Nadaemexcesso”ou“Nadaemdemasia”[mhde.n a;gan].Háqueafirmequeopanodefundoparaentenderestafrasedeveriaserodainstruçãodadaacriançaspequenasnasociedadegreco-romana.Elesdeveriamseguiromodelodeescritadadopeloprofessore“nãoiralém,ousairfora”domodelo.141Contudo,opanodefundojudaicoecristãoseriammuitomaisnaturalparaestafrase.“Oqueestáescrito”éumafrase estereotipada como fórmula de citação de textos do Velho Testamento, asEscrituras142.Este,certamente,éumusomuitomaiscontextuadoparaafrase.

Algunssupõemtratar-sedeumprovérbiorabínicoqueexigequenãoseváalémdasEscrituras,ouseja,doVelhoTestamentoqueeraaBíbliadeles143.Poderia,também, ser um lema tanto de Paulo como de seus leitores144e, portanto, terrenocomumparaaconstruçãodeumaexortação.

134Lenski,Op.Cit.,p.175,estranhamente,rejeitaapossibilidadedeserafraseditoproverbialoulema.C.F.D.Moule,AnIdiom-Book,p.64fazumaconjecturaqueafraseéumaglossamarginalqueentrounotexto!135Emtermosgramaticais,afraseficasubstantivada,comosefosseuma‘coisa’ouuma‘entidade’única.Cf.Grosheide,Op.Cit.,p.103;Lenski,Op.,Cit.,p.175.136Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.81.Cf.VincentOp.Cit.,p.205.137AssimtambémStanleyK.Stowers,“Paulontheuseandabuseofreason”inDavidL.Balch,EverettFerguson&WayneA.Meeks,Greek,Romans,andChristians:EssaysinHonorofAbrahamJ.Malherbe,Mineapolis,FortressPress,1990,p.257.138Aelipsedoverboécomumemmuitosprovérbios:ReginaRocha,Op.Cit.,p.125-129.139Outraspossibilidades:“Não[pensar]alémdoqueestáescrito”,Lenski,p.175;“Não[ensinar]alémdoqueestáescrito”;“Não[viver]além(i.é,desobedecer)doqueestáescrito”;“Não[fazeralgo]alémdoqueestáescrito”,Gould,p.38.140Gould,Op.Cit.,p.38.141Assim,porexemplo,pensaFitzgerald,citadoporNielsWillert,Op.Cit.,p.235.TambémStanleyK.Stowers,“Paulontheuseandabuseofreason”inDavidL.Balch,EverettFerguson&WayneA.Meeks,Greek,Romans,andChristians:EssaysinHonorofAbrahamJ.Malherbe,Mineapolis,FortressPress,1990,p.257.142Porexemplo:Mt2.5;4.4;4.6,7,10;11.10;21.13;26.24,31;Mc1.2;7.6;9.12;9.13;11.17;14.21,27;Lc2.23;3.4;4.4,8,10;7:27;10.26;19.6;24.46;Jo8.17;At1.20;7.42;13.33;15.15;23.5;Rm1.17;2.24;3.4,10;4.17;8.36;9.13,33;10.15;11.8,26;12.19;14.11;15.3,9,21;1Co1.19,31;2.9;3.19;4.6;9.9;10.7;14.21;15.45;2Co8.15;2Co9.9;Gl3.10,13;4.22,27;Hb10.7;1Pe1.16;etc.143Findlay,Op.Cit.,p.799-800;Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.81.144Morris,Op.Cit.,p.62,Grosheide,Op.Cit.,p.103.

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AmençãodolemafazcomqueoscoríntiosaprendamcomPauloeApoloa ficar apenas com as Escrituras e deixar de inclinar-se ou debater-se na direção doshomens. A exortação continua dizendo que se eles não ultrapassarem as Escrituras,evitarão o orgulho145de tomar posição à favor de um [uper tou/ eno.j ] e contra outro[kata. tou/ ete,rou].

OproblemaquePaulocombateemCorinto,conformeStanleyK.Stowersbemassinalou,146nãoera tantoaoposiçãoentrea féearazão,massimomauusodarazão com intenções orgulhosas, utilizando pressupostos mundanos e obtendoresultados facciosos. Assim. o problema começava com o orgulho humano, depois,utilizava-sedosraciocíniosedosvaloresdasociedadepara,finalmente,gerarfacçõesedivisõesnaigreja.Numsentido,oproblemaésemelhanteaoquePaulovaiencontrarnaépocaemqueescreveráaschamadasEpístolasPastorais147,ondeomelhorjeitodelidarcom a falsa doutrina é não entrar em discussão com ela.148Assim, em Corinto, oproblema não era apenas o uso do raciocínio, mas sobretudo, o uso orgulhoso econtenciosodoraciocíniohumano,quenãolevaemcontaoevangelhodacruz.

Olema“Nãoultrapasseisoqueestáescrito”ajudaaficarapenascomaBíbliaenãoiralém,paraocaminhodoorgulhoedapreferênciapessoal.Osegredoparanãogloriar-seemhomens(1Coríntios3.21)éficarcomaEscritura.

Além disto, o uso da Escritura feito por Paulo e Apolo seria um bommodeloparaoscoríntios149.SeaprendessemusaraBíbliacomoelesusavam,nãoiriamcorreratrásdehomens,masapenasdaverdade.AsalusõesecitaçõesdaBíbliaem1.19,1.31,2.9e3.19sãobonsmodelosparamostrarquenãosedeveiralémdoevangelho,reveladonasEscrituras,parairatrásdesabedoriahumana150.

A citação do provérbio é feita de uma forma instrutiva e espiritual.DepoisdetantofalardeleedeApolo,eradeseesperarquedissesse:“Então,agoraqueuseiamimmesmoeaApolocomoexemplos,aprendamisto: ‘Tratemcorretamenteosemissários de Deus’.” Mas Paulo surpreende, tirando de consideração os homens ecolocandoaquestãoemtornodaEscritura:“Nãoultrapasseisoqueestáescrito”.151

Certamente,seelesaprendessemanãoultrapassaroqueestavaescritonoVelhoTestamento,logoaprenderiamanãoultrapassaroslimitesdoqueoapóstoloescrevera,eacabariamcomseuentusiasmopeloshomensparaficarcomoevangelhoeaBíblia.152

145Overbogregoparaorgulhar-seaquiéphysioo[fusio,w],eéumverboqueacompanhatodososproblemasfundamentaisencontradosemCorinto:4.6;4.18,19-pessoasorgulhosasepretensiosascontraPaulo;5.2-orgulhoemnãocorrigiropecado;8.1-orgulhonotratodosoutros,supondo-sesermaissábio;13.4-orgulhocomocontráriodoamorcomunitárionousodosdons.OúnicooutrolugarondeoverboocorrenoNovoTestamentoéemCl2.18,ondejustamenteoorgulholevaaabandonaraverdadeparaalgo“melhoremaior(!)queaverdade”.146StanleyK.Stowers,“Paulontheuseandabuseofreason”inDavidL.Balch,EverettFerguson&WayneA.Meeks,Greek,Romans,andChristians:EssaysinHonorofAbrahamJ.Malherbe,Mineapolis,FortressPress,1990,p.253-262.147Emnossaopinião,asPastoraissãodePaulomesmo,erefletemsuareflexãosobretemasesituaçõesquegeraramcartassimilaresentresiedistintasdorestodoCorpoPaulino.ExcelentesdefesasdestaautoriapodemserencontradasemintroduçõesaoNovoTestamentoeemcomentáriosbíblicosquedefendemestepontodevista.1481Tm6.20;2Tm2.14,24;Tt3.9.149Oster,Op.Cit.,p.114.150NielsWillert,Op.Cit.,p.235.151Grosheide,Op.Cit.,p.103.152Lenski,p176,afirmaqueoqueestavaescritopoderiareferir-seaoquePauloescreveu.

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“Não ultrapasseis o que está escrito” é um lema que exige humildadeparanãocriarnovidades,não fazeralterações153,nãoprovidenciarmelhoramentosnavontadedeDeus.Equivalea“falarondeaBíbliafalaecalar-seondeaBíbliasecala”.NãoéumincentivoaolegalismoouaocasuísmotãocondenadoporJesusnosreligiososdoseu tempo. Pelo contrário, é um incentivo à confiança humilde que a Escritura é“inspirada e útil”154e não precisa que algum ‘homem famoso’ dê sua interpretaçãooficial.Éumaordempara“viverdeacordocomasEscrituras”155.

153Conzelmann,FirstCorinthians,p.86aproximaestelemadafrasedeApocalipse22.19queproíbeacrescentaroutirarcoisasdolivro.1542Tm3.16-17.155RobertL.Johnson,TheLetterofPaultoTheGalatians,Abilene,ACUPress,1969,p.77.

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5.6-mikra. zu,mh o[lon to. fu,rama zumoi/

“Umpoucodefermentolevedatodaamassa”

Esteprovérbio156écitadoemmeioaumapergunta,massuaidentidadeépreservadaemarcadanaperguntapelousodopronomerelativoque:“Nãosabeisque:‘umpoucodefermentolevedatodaamassa’?”OprovérbioécitadodenovoporPaulo,emGálatas5.9.Istoémaisumaprovadetratar-sedeumprovérbio.

O fermento pode ser usado como figurando coisas boas ou ruins,massempre fala de grande crescimento. Jesus falou do reino crescendo como a grandequantidadede farinha fermentadaporumapequenaquantidadede fermento (Mateus13.33).Talparábolanãofalade“máinfluência”noreino157,masdecrescimento,comosuaparábolaparalela,dogrãodemostarda(Mateus13.31-32).

Em outra ocasião Jesus usou a metáfora do fermento como uma máinfluênciapara seusdiscípulos (Marcos8.15).Também foineste sentidonegativoquePaulousouestafiguraemoutrolugar(Gálatas5.9).

Neste contexto, o provérbio é usado para repreender os coríntios quedeixavamcircularemseumeio,semqualquercorreção,umirmãovivendoemflagrantepecado sexual com a mulher de seu pai (supõe-se que não fosse sua mãe, mas suamadrasta).Alémdisto,elestinhamcertoorgulhodesua“liberalidade”e“menteaberta”!

Paulo, como profeta de Cristo, exige postura enérgica, para extirpar omal e provocar o retorno do pecador, pelo arrependimento. O pecador precisa serexpulsodacomunidadeparaqueretornecomodeve,semapráticadopecado(5.1-5).

Oprovérbioéusadoemantecipaçãoàobjeção: “MasPaulo ...não fiquetão alarmado!Este é apenasumcaso:nãoháoutros.”O apóstolo se antecipadizendoque “se isto não for consertado, este será só o primeiro”. O pecado se alastrarapidamente como fermento. O contato orgulhoso com o pecado irá gerar maispecado.158Defato,pelaleituradocapítulo6,veremosqueofermentodaimoralidadejáestava fermentando na igreja. A imoralidade daquele homem cristão tinha que serretirada da igreja para que a sinceridade e a verdade imperassem (5.8-9). Pequenascausas, grande efeitos159: este é o sentido do provérbio do fermento e é a razão paraevitartodotipodepecadonaigreja.

Oprovérbio,contudo,direciona-setambém,paraoorgulhodoscoríntios,citado logo antes da pergunta retórica que contém o provérbio (5.6). O orgulho doscoríntios éum fermentode toda sortedepecados. Como já semencionouno casodoprovérbioanterior,oorgulhoemCorintoiriacontaminartodaavidadaigreja160.

A alusão à Páscoa judaica fornece uma ilustração para a vida cristã.Assim como Israel celebrava sua principal festa lançando fora de casa todo tipo defermento,assimtambémONovoIsraeldeDeus,aigreja,comemoratodaasemana,naceiadoSenhor,umafesta,ondeofermentofoijogadofora,eportodaasemana,buscou-

156Conzelmann,FirstCorinthians,p.98,n.43;Lenski,p.219acreditaqueéumprovérbiobemconhecidopeloscoríntios.157AssimerraHomerA.KentJrMateusinEverretHarrison,ComentárioBíblicoMoody,volume4,SãoPaulo,IBR,1980,p.32-33.Otextoforçaainterpretaçãodasparábolasparasignificarumacoisamá.Nomesmovolume,oscomentaristasdeMarcoseLucasnãocomentemomesmoerro.1581Co15.33dizistodeoutromodo.159Conzelmann,FirstCorinthians,Op.Cit.,p.98,n.44.160Vejaacima,nota146.

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seviversemele.Agora,contudo,nãosefaladefermentodepães,masdofermentodopecado(5.7-8).

O provérbio sobre a má e perigosa influência do fermento é usadotambém, para lembrar a mudança de vida dos discípulos de acordo com o padrãovelho/novo161queconstaemmuitostextosdoNovoTestamento162.Éparalançarforao‘velho’fermentoeser‘nova’massa.AconversãoaCristofazumamudançadevidaquenãopodesernegadapelocomportamento,pelocontrário,expressa-sepelavida.

Deve-seamaropecadoreodiaropecado.Complacênciacomopecadosóincentivaopecadoecontaminaosquenãoseenvolveramcomeleainda.Complacênciacom o pecado é pecado: é orgulho. Um orgulho de não dar o “braço a torcer” e nãoreconhecerqueestáerrado.

Oversículoprediletodemuitosreligiososmodernosé“nãojulgueisparaquenãosejaisjulgados”.Assim,opecadoterá“vidalongaetranquila”naspessoasqueprofessamuma religião.Nãoé istoque seaprende comesteprovérbiopaulino.Pauloquer tirar o fermento do pecado das vidas daqueles que já escolheram a vida desantidadeemCristoJesus.Naverdade,Jesusdisseparanãojulgarosmotivosinterioresesecretosdosoutros,masopróprioJesusdiziaquesenãohouvessearrependimento,oresultadoóbvioseriacondenação(Lucas13.1-9).

No mundo pós-moderno em que vivemos, é “politicamente incorreto”recriminar o pecado.Muitas igrejas ainda vão ser processadas emuitos cristãos fiéisserãoacusadospordefenderemprincípiosmoraisdeCristonummundoondevaletudo!Contudo,senãoofizermos,logoestaremosvivendocomoomundo.Ocristianismonãoviveo“politicamentecorreto”quandoestaposturaofendeoevangelho.

Modernamente,adistinçãoentrepecadosgrandesepequenos ignoraapericulosidade de todo pecado. Pode ser pequeno, mas é como fermento. Os piorespecadospodemviremfrascospequenos.

161Ef4.22-24;Cl3.9-10;Rm7.6;etc.162Windisch,zu,mhinG.Kittel,TDNT,vol.2,pág.904,n.19,citaInáciodeAntioquia(AosMagnésios10.2)eJustino(DiálogocomTrifo,14.2-3)comparandoavelhavidacomfermentoeanovacomumnovofermento.

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6.9&15.33– mh. plana/sqe

“Nãoseenganem!”

Este grito de advertência não parece proverbial, contudo, suarecorrência e sua construção o empurram para a categoria dos ditos proverbiais ouaxiomáticos.

Em primeiro lugar, esta expressão ocorre pelo menos cinco vezes noNovoTestamento,deformaqueistojáotornaumtipode“slogan”oudelugarcomum(1Co6.9;15.33;Gl6.7;Tg1.16;enumaformalevementediferente,Lc21.8).

Emsegundo lugar,a frase temsentidopolivalenteouambíguo, comumaos aforismos.Me planasthe [mh. plana/sqe] pode ser traduzido de duas formas: “Nãosejamenganados”ou“Nãoseenganem”.163

Emterceirolugar,este lemaintroduz,muitasvezes,umoutroprincípioouatémesmooutro“slogan”.Ofatodeestafraseserusadajuntocomoutrasinjunçõesou conselhos é decorrência de sua amplitude de sentido – dizer para alguém não seenganar ou ser enganado precisa especificar o assunto ou tema sobre o qual estaadvertênciaestáseaplicando.Asadvertênciassãocitadasabaixo:

• 1Co6.9-introduzumalistadaquelesquenãoherdarãooreino.• 1Co15.33-introduzumprovérbio.• Gl 6.7 - introduz uma advertência sobre zombar de Deus e segue com um

provérbiosobresemearecolher.• Tg 1.16 - introduz uma correção no pensamento dos irmãos que estariam

tentadosaatribuiraDeusaorigemdatentação.• Lc21.8-introduzoutraadvertência.

Nos dois casos em que esta frase ocorre em 1Coríntios, Paulo estácorrigindoconceitoserradosdacomunidadequeoslevavamaumavidadissolutaenãocondizentecomasantidadedeDeus.

No primeiro caso (1Co 6.9), as lutas judiciais dentro da comunidadecoríntia, que acabavamsendo travadas entre irmãos, geravam injustiças epecadosdeambasaspartesenvolvidas.Paulousaoprovérbioparadizerqueelesnãoseenganem:os injustos não herdarão o reino de Deus – e ele fornece uma lista de exemplos deinjustiça.

No segundo caso (1Co 15.33), ele mostra que a descrença naressurreição conduz a uma vida desregrada. Conversas erradas geram vidas erradas.Assim,aadvertêncianovamentesevoltacontraavidadissoluta.

“Não se enganem!” é sempreumbomgrito. Temos interessespessoaisque nos induzem ao auto-engano. Os coríntios que estavam disputando por honra epoder contra os irmãos certamente justificariam suas ações injustas combase na suavontadedepoderedevencer,masoprovérbionosadvertecontraserenganadopelasprópriaspaixõesedesejos.

163OverboestánasegundapessoadopluraldoImperativoPresenteMédioouPassivodoverboplanao[plana,w].Aformaéamesmaparaosentidomédio,enganarasimesmo,eosentidopassivo,serenganado,vemdocontexto.EmLc21.8,afraseémeplanethete[mh. planhqh/te].Aformaéoutra:trata-sedasegundapessoadopluraldeumSubjuntivoAoristoPassivo.Nestecasonãoháambiguidadenatradução.

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“Não sejam enganados!” também é um bom lema, pois muitas vezesouvimosoquenãopresta–“Másconversações=Máscompanhias”–eistonoslevaaopecado.Assimcomoafévempeloouvir(Rm10.17),oprimeiropecadotambém(Gn3).

Este“slogan”éimportanteparaquenãodeixemosqueoutrosequenósmesmosguiemosnossavidaporumcaminhoquenosafastadeDeus.

“Hácaminhoqueaohomemparecedireito,

masaocabodáemcaminhosdemorte.”

Provérbios14.12(16.25)

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6.1– oi,` a[gioi to.n ko,smon kri,nosin

“Ossantosjulgarãoomundo!”

Este provérbio é introduzido com a marca de citação “ou não sabeisque164:”eéinseridonumaperguntaretórica,indicandoqueoscoríntiosdeveriamsaberdisto muito bem. O provérbio “os santos julgarão o mundo”, hoi hagioi ton kosmonkrinousin [oi a[gioi to.n ko,smon krinou/sin], éparalelo aoprovérbio “julgaremosos anjos”,angelouskrinoumen[avgge,louj krinou/men].

Em que sentido julgaremos o mundo e os anjos? O Novo Testamentomostraváriasformaspelasquaisistoéverdadeiro.

a)Osentidoescatológicoefuturo:osdiscípulosdeJesus,perseguidosemaltratados, participarão da glória de seu Mestre, e neste momento, quando eleexecutarsuajustiça,nósestaremoscomelee,nestesentido, julgaremosomundocomele(Mt19.29;Lc22.30;Ap20.4;Cf.2Tm2.12).

b) O sentido atual e presente: os discípulos de Jesus, por sua vidaexemplareporteremacatadoamensagemdagraça,julgamoucondenamosquenãoofizeram(ComoNoéemHb11.7).

O verso 2 explica que “por vocês o mundo será julgado”, en hyminkrinetai ho kosmos [evn umi/n kri,netai o ko,smoj], no sentido dos cristãos sereminstrumentosdeste julgamento.Fica subentendidoqueo juizéDeusequenós somosumaparteinstrumentaldestejulgamento.

O texto anterior (1Co 5.13) diz que Deus é o único juiz e que nãodevemos julgar uns aos outros.A questão aqui não é quenós tentamos julgar ounoscolocamosajulgar–istoéproibido(Mt7.1ss;Lc6.37;Rm2.1ss;Tg4.11-12).OfatoéquenósseremosusadoscomoprovadeacusaçãonojuízoequetambémparticiparemosdavitóriadeDeusnofinal.

Neste sentido, julgaremos os anjos maus, pois, eles desobedeceram aDeuse foraminfiéis,contudonós,criaturas inferiores,165decidimosconfiareobedeceraoCriador. Julgamososanjosnosentidodeque,mesmosendocriaturasmenoresqueeles,seremossalvosemdecorrênciadaféefidelidadeobediente.Elesserãocondenadosporinfidelidadeedesobediência.

O provérbio “os santos julgarão o mundo”, hoi hagioi ton kosmonkrinousin [oi a[gioi to.n ko,smon krinou/sin], contudo, é usado aqui para condenar oscoríntiosemumacoisaconcretaqueestavamfazendo.

O pecado que Paulo estava condenando era o fato de irmãos estaremdisputandoquestõesjudiciaisnostribunaisdeCorinto.Aideiadedisputajudicialdiantedeincrédulosémencionadanosversos1e6,formandouma“inclusão”.166

Estasdisputasnãoocorriamentrequalquerum,massóerampossíveisentre os ‘grandes’ da igreja. No sistema judicial greco-romano, o direito de processar

164Ochamadohotirecitativoencontra-seaqui.165Hebreus2.5ss166Inclusio,emLatim,éapalavradeondevemotermo“inclusão”.Éumrecursoliteráriocomum–iniciareterminarumparágrafooudiscursocomamesmafrase.Assim,numainclusão,otemaprincipalédeclaradonocomeçododiscursoerecapituladonofim.Nomeio,discute-seotema.Assim,nosversos1-6,umassuntoclaramentedemarcadoédiscutido.

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alguém não é de todos. Só haverá processos entre pessoas de condições iguais ou,ocasionalmente,dapartedeumsuperiorcontrauminferior.

O processomovido por alguémhumilde perdia a causa, simplesmente,por levar-seemcontao ‘status’dooutro:(1)nãosepodia insultarum ‘bomnome’dealguémgrande,e(2)nãosepodiadesrespeitarossuperiores,ospatrõesouosnobres.

Estes processos não eram disputas por justiça, mas competições porhonraepoder,vistoqueestaeraamoedamaispreciosadoambientesocialdaépoca167.Nãosebuscavajustiça,masreafirmaçãoouconquistadepoder.

Umprocessocivilcomeçavanacortedooficialdalei.EmCorinto,haviadoismagistradoshonorários:duoviri, escolhidos anualmentedentre os aristocratas.Oacusador apresentava seu caso ouquestão (o oponentepodia ser convocadoounão).Audiênciaspreliminaresfixamosparâmetros.Umjuiz,comauxílioounãodeumjúridearistocratas, decidia a questão. O magistrado presidia o processo, julgava, dava overedito e as penalidades.Nãohavia nada de ‘direito’,mas de interesse emmanter opoder.

O verso 1 diz que estes juízes eram “injustos”, adikon [ avdi,kwn ] e noverso6elessãochamadosde“incrédulos”,apiston[avpi,stwn].Estaidentificaçãopoderiasignificarqueotermo“injustos”significariaapenas“não-crentes”,masarealidadeéqueostribunaiseramtudo,menos justos.Acorrupçãodos juízesedosistemade justiçaébemcomprovadahistóricaearqueologicamente.

Os poderosos de uma cidade tinham uma série de privilégios eprerrogativasque lhesdavammuitasvantagens injustasempleitos judiciaiscontraosmenos poderosos. Por exemplo: (1) eram exigidas qualificações financeiras dosparticipantes de um júri168; (2) os ricos influenciavam claramente osmagistrados, osjuízes e o júri com suborno e propinas; (3) o “status” social do rico-poderosoinfluenciavadecisivamentenojulgamento–ojuizponderavamaissobreostatussocialdoacusadoedoacusadordoquenajustiça169.

Claro que ocorriam exceções, mas que apenas provam a regra. Ospoderososnadatemiamcontrao fracoemumtribunal.Averacidadedastestemunhastambém era avaliada em termos de sua riqueza. O ‘status’ social estavaindissoluvelmenteligadoaoprivilégiolegaldeumapessoa:tudoparamantero ‘statusquo’,ouseja,deixarascoisascomosão.

Cícero já reclamavados três grandes problemas do sistema judicial desua época: a)GRATIA, excessivo favor; b) POTENTIA, posse de recursos; c)PECUNIA,dinheirooupropina.

Se uma pessoa de statusmenor que outra estivesse envolvida em umlitígio,suaúnicachanceeraser‘apadrinhada’poralguémmaior,paracomistoenfrentaro seu oponente à altura. Se o patrono de um cliente lutasse por ele, ele teria maiscondiçõesdoquelutandosozinho.

167Nestespróximosparágrafos,dependopesadamentedeBruceW.Winter,SeektheWelfareoftheCity,GrandRapids,Eerdmans,1994,pág.s105-121.168Deveriater,pelomenos,7.500denários,maisde25anos,etc(Setivessemuitosfilhos,poderiaserdispensadodoserviço).169A“justica”nãopodiasubvertera“ordemsocial”previamenteestabelecida.Oantigodireitoapenasmantinhaostatusquo.

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Então, já vemos o motivo pelo qual Paulo diz que irmão não podedisputar judicialmente com outro irmão: no mundo pagão não se fará justiça, sódecidirãoalgoporinteressepróprioeemfavordopoderosoenãodojusto.

Outro motivo, contudo, está associado a esta condenação do uso detribunais civis entre os cristãos. Os litígios judiciais causavam ou agravavam asinimizadas.Comonãoserealizavaajustiça,oqueestestribunaismaisfaziameracriarouacentuarinimizade,partidarismo,invejas,iras,dissensões,facções,etc.

Muitos entrariam em uma disputa injusta contra alguém apenas paraprejudicá-loehumilhá-lo.Numaculturadehonraevergonha,comoeraaculturagreco-romana,estaeraaofensamáximaaserfeita:mancharareputaçãoeahonradealguém.Assim,asdemandaserafeitasparaprejudicarosinimigos.

Por outro lado, quando uma disputa entre casas ou pessoas que aindanão tinham qualquer histórico de disputa terminava, normalmente o condenadotornava-se inimigo de seu adversário, dos juízes, dos jurados, das testemunhas e detodososenvolvidos.Agora todoseramseus inimigos.O sistema judicialnãoproduziajustiça,masinimigos.

Imaginequeefeitodevastadoristoteriasobreaigreja.Noprimeirocaso,um irmão usaria o tribunal coríntio para humilhar e ofender um irmão que eleconsiderasse inimigo!?Ou ainda, no segundo caso, um irmão ficaria inimigodeoutro,porterperdidooprocessojudicial.Sãojustamenteestasdisputas,eris[e;rij],einvejas,zelos [zh/loj] que Paulomenciona em 1Co 3.3 que são provocados e aumentados porestestribunais.

Assim, podemos ver que o partidarismo dos primeiros capítulos podiaseralimentadoeaumentadocominimizadeedisputadeorgulhodeambasaspartes.

Paulo lamenta a existência de conflitos e brigas (1Co 6.7). Eles nãodeviamexistirnacomunidade,masseexistissem,aopçãonãoeraaresoluçãodo‘jeitoantigo’.

AprimeiraopçãoanunciadaporPauloéqueelesencontrassemalguémnacomunidadequepudesseajudaraspartesaresolveremaquestão(v.4-6).Otextotempossibilidadescomplexasdetradução,masaideiabásicaéque,paravergonhadeumaigreja que se julgava sábia,170não havia nem um sábio para julgar as questões. SemdúvidahácertaironianestacensuradePaulo.

Asegundaopção,conformeoespíritocristão,vemanunciadanofimdoverso7.Aoinvésdedisputarjudicialmente,émelhorsofrerainjustiçaesofrerodano.Paulo usa dois verbos na voz passiva: adikeisthe ... apostereisthe [avdikei/sqe avposterei/sqe]mostrandoqueéparaserapartequenadafazetudosofre.

Contudo, os coríntios estavam fazendo justamente o contrário. Elesestavamcausandoa injustiçaecausandoodano.Paulousaosmesmosdoisverbosdoversoanterior,masagoranavozativa:adikeite ...apostereite[avdikei/te avposterei/te].Eomaistristedetudo,“contrairmãos”!!!(v.8)

Recorreraosistemajudicialdacidadeera fazer injustiçaecausardanoou prejuízo. Aumentaria a inimizade e as facções, que já eram famosas nesta igreja:

170Veja,porexemplo,1Co1-4,8-10,12-14ondesediscutesobreosupostoconhecimentoesabedoriaqueimperavanacomunidade.

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desprezaria aqueles que, na igreja, tinhammelhores condições de executar a justiça,afinal, “os santos julgarão o mundo”, hoi hagioi ton kosmon krinousin [oi a[gioi to.n ko,smon krinou/sin].

A igreja deveria ter seu próprio tribunal. Num sentido, isto seriasubversivo, pois, a igreja já estava se apropriando do termo que era usado para aassembleia geral da cidade chamada ekklesia [evkklhsi,a]. Agora, criaria tribunaisparalelos?Simenão!

Não há nada subversivo aqui. A igreja não iria criar ‘tribunais’, pois, oquePaulosugerenãoénadaformalouhierárquico.Ele,apenas,sugerequeos irmãosque estão disputando entre si, sofram o dano ou aceitem conselhos de alguémmaissábio(aoinvésdeaceitaradecisãodeumpagãomaisrico!).Oscristãosjádeveriamteraprendidoanãojulgarosdeforadaigreja,mastinhamodeverdejulgarosdedentro,porcausadepecado(1Co5.12-13).

Sim,háumaraizsubversivaaqui.Osdeforanãotêmdireitodejulgaraigreja,pois, “ossantos julgarãoomundo”,hoihagioitonkosmonkrinousin [oi a[gioi to.n ko,smon krinou/sin]. Usando os critérios antigos: eles não têm ‘status’ para nos julgar –estãoabaixodenós!Elesserãojulgadospornós.Aigrejaéumaassembleiaparalela,asabedoriacristãéumtribunalparaleloeoreinodeDeuséumconcorrentedoImpérioRomano.NossoDeuseSenhornãoéoImperador,masumhomemquefoimortopeloImperador.

Certamente, textos como Romanos 13.1-7, apesar de interpretaçõesmodernas tentarem negar o fato, ensina a legitimidade do sistema criminal. O que1Coríntios 6.1-7 ensina é sua ilegitimidade na promoção de justiça entre os justos.Estamosacimadoqueelesnospodemoferecer.

Um exemplo moderno seria cristãos tentando pedir conselhos sobreética,moral,certoeerrado,casamentoevidaconjugalafilósofos,sociólogos,psicólogoseoutrosprofissionaisdehumanidades.Desculpem-nostodoseles,masoqueseaprendenoEvangelhoestáAnos-Luzadiantedoqueelestêmconseguidoaprender.

Certamente, estas disciplinas, têm suautilidade e se forem submetidasaoEvangelho,delassobraráalgobomeútil.Mas,comofrutodopensamentoautônomoda humanidade pós-renascentista, pós-iluminista e hoje pós-moderna, pouco ou nadapodemacrescentaraoevangelho.

Os irmãosdeCorinto,sobretudoos ‘poderosos’,estavamtrazendoparadentro da igreja as estruturas e os modos de operação da sociedade circundante. Aigrejanãopodeaceitarumsistemabaseadoempoder, influência,riquezae inimizade,pois,tudoistoéincompatívelcomanaturezadoevangelho.Nósvamosjulgaromundo!!

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6.9,10– a;dikoi Qeou/ basilei,an ouv klhronomh,sousin

“InjustosnãoherdarãooReinodeDeus!”

EsteprovérbioécitadonacontinuidadedoraciocíniodePaulocontraoscoríntiosqueestavamrecorrendoaostribunaispagãos,contraseusirmãos.Osversos9a 11 formam a conclusão de seu raciocínio sobre as disputas judiciais e, ao mesmotempo,umaadequadatransição(paranãodizer,retomadaderaciocínio)paraotemadaimoralidadesexual,queelejátinhatratadoanteriormente(1Co5.1-13).

Oprovérbioestáinseridoemumapergunta,“Ounãosabeisque...?”eoukoidatehoti [h' ouvk oi;date o[tiÈ]. O provérbio é reconhecido por sua constante citação (Ef5.5;Gl5.21;Hb13.4;Ap21.8;22.15;vertambém1Co15.50;).Emboranenhumacitaçãosejaliteralmenteidêntica,amesmaideiabásicapercorretodosostextos:“injustosnãoherdarão o reino de Deus!” adikoi theou basielian ou kleronomesousin [a;dikoi qeou/ basilei,an ouv klhronomh,sousin]. O provérbio é repetido no fim da lista de pecados dosversos9-10numaoutraforma,sendoqueapalavra“injustos”foisubstituídapelalistade10pecados171,quecaracterizamoinjusto.

Noverso8,aformaé:

• “InjustosnãoherdarãooReinodeDeus”Agora,noverso9aformaé:

• “HerdaráoreinodeDeusquem-não-pratica-tal-pecado”Arepetiçãodoprovérbio formauma inclusãoeadverte,enfaticamente,

oscoríntiostantosobreoúltimoassunto,ouseja,realizar injustiçasnotribunal,comotambémsobreoassuntoanterioraodos tribunais, a imoralidade sexual, que tambémvoltaráasertrabalhadonopróximoparágrafo.

O Reino deDeus, aqui, é interpretado como o Reino em seus aspectosfuturos,ouseja,emseuestadoeterno,depoisdaressurreição(1Co15.50).OconceitodeReinodeDeus tambémpode serusadopara a situaçãopresentedodomíniode Jesussobretudodesdesuaprópriaressurreição(1Co15.25-26).

Assim,emboraoReinodeDeustenhaaspectospresentesefuturos,nesteprovérbio,ousodotermorefereaofuturo.172

O catálogo de vícios173citado por Paulo aqui é uma caracterização depecados de várias áreas: sexual-religiosos [imorais, idólatras, adúlteros], perversõessexuais [homossexualidade ‘passiva’ e ativa], pecados materialistas [roubo, avareza],pecados sociais [bêbados, maldizentes, roubadores]. A nossa classificação é artificial,masonúmerode10pecadosenumeradostempoucachancedesercasual.

Observando as 3 listas de pecados que estes dois capítulos oferecemtemosqueaprenderváriascoisassobreestaslistasesobreopecadosrelacionados.

Emprimeirolugar,as listasnuncasãoiguais.Hátermosquesempreserepetem.Todososquatropecadosdalistamenor(5.10)tornamaaparecernasoutras

171Notextogregoháumasucessãodenegativas:ou;te ou;te ou;te ou;te ou;te ou;te ou;te ouv ouv ouvc basilei,an qeou/ klhronomh,sousinÅ172Paramaisdetalhes,leiaÁlvaroCésarPestana,“QuestõesFundamentaissobreoReinodeDeus”,CampoGrande,SerCris,2005.173Paramaisdetalhes,vejaÁlvaroCésarPestana,“CatálogosdeVirtudeseVíciosnaLiteraturaPaulina”,CampoGrande,SerCris,(empreparo).

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listas.Também,todosospecadosdalistadomeio(5.11)voltamaaparecernalistafinale maior (6.9-10). A ordem dos termos varia, embora imoralidade seja sempre o‘primeiropecado’.Aformagramaticaldostermosnãoésempreamesmaeasvariaçõesnecessáriasparaaboaredaçãodotextosãofeitas.

Emsegundolugar,aslistascaracterizampessoasesituaçõesdeixandooleitorcomumaimpressãoouimagem,mastambémcomliberdadeparaimaginaroutrospecados que também poderiam estar nas listas. Elas parecem adaptadas ao contexto,mas não totalmente. Certamente, se tomarmos os 10 pecados da lista maior epensarmos nas advertências da carta aos Coríntios, todos os pecados estão presentesnas advertências de Paulo. Contudo, há pecados que não são trabalhados nas listas,comoorgulho,masquesãomuitoimportantesnotranscorrerdacarta.Assim,podemosentenderqueaslistastemligaçãocomocontexto,mas,aomesmotempo,temumpoucodevidaprópria:eramlistasquejáexistiamecirculavamdemodoquetêmumcarátersemi-estereotipadoesemi-adaptadoadhoc.

5.10–quatropecados 5.11–seispecados 6.9-10–dezpecadosaosimpuros...ouaosavarentos,ouroubadores,ouidólatras;

...impuro,ouavarento,ouidólatra,oumaldizente,oubeberrão,ouroubador;

[osinjustos]nemimpuros,nemidólatras,nemadúlteros,nemefeminados,nemsodomitas,nemladrões,nemavarentos,nembêbados,nemmaldizentes,nemroubadores.

toi/j po,rnoij h' toi/j pleone,ktaij kai. a[rpaxin h' eivdwlola,traij(

po,rnoj h' pleone,kthj h' eivdwlola,trhj h' loi,doroj h' me,qusoj h' a[rpax(

a;dikoi ou;te po,rnoi ou;te eivdwlola,trai ou;te moicoi. ou;te malakoi. ou;te avrsenokoi/tai ou;te kle,ptai ou;te pleone,ktai( ouv me,qusoi( ouv loi,doroi( ouvc a[rpagej

Seos“injustosnãoherdarãooreinodeDeus!”adikoitheoubasielianoukleronomesousin [a;dikoi qeou/ basilei,an ouv klhronomh,sousin], cumpre-nos viver asantificaçãoqueo evangelhonosdeupela graçada salvação epelopoderdoEspírito(1Co6.11).Aclarareferênciaao lavar lembraobatismocristão,ondeagraçadeDeusnosaplicaosanguedeJesusquenossantificacomoperdãodepecadosecomopoderdoEspíritoSanto(Atos2.38;22.16;etc).Sefomosbatizados,nãoabusemosdagraça(Rm6.1ss)!

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6.12- pa,nta moi e;xestin

“Todasascoisasmesãolícitas!”

Oparágrafode6.12-20éotextomaisincrustadodeprovérbiosdetodaaepístola.174Há três provérbios coríntios que tratam da questão do uso do corpo,sobretudo na conduta sexual: pantamoiexestin [pa,nta moi e;xestin] (6.12), “Tudome épermitido”175; tabromata tekoliakaihekolia toisbromasin [ta. brw,mata th/| koili,a| kai. h koili,a toi/j brw,masin] (6.13), “Osalimentos sãoparao estômago, eo estômagoparaosalimentos.”176; pan hamartema ho ean poiese anthropos ektos tou somatos estin [pa/n ama,rthma o] eva.n poih,sh| a;nqrwpoj evkto.j tou/ sw,mato,j evstin\] (6.18), “Todo pecado que umapessoa fizer,éexteriorao(seu)corpo”.177Esteparágrafoéo fechodaquestãosobreaimoralidade,iniciadanocapítulo5.178

Oestiloadotadoéodadiatribe,usadofrequentementeporváriasescolasfilosóficas para revelar a fraqueza de certas objeções ou falsas inferências ou aindaatacar pontos de vista resistentes ao ensino proposto. Neste tipo de estilo, uminterlocutor imaginário é introduzido e suas falas são rebatidas, complementadas oudiscutidaspeloprofessor.179

“Todas as coisas me são lícitas” pode ter se originado no ensino dePaulo180sobrealiberdadeemCristo.181Naantiguidade,asreligiõesexigiamabstinênciademuitascoisas,especialmentedealimentos,comomeiodesalvação182.Também,podeter sido nutrida da filosofia popular, tanto Cínica como Estóica, que valorizava aliberdadeinterior183.Poderiaserorigináriadoque,arriscadamente,poderíamoschamarde“gnosticismoincipiente”184.

O problema é que este provérbio, que poderia ser originariamentebom185, dentro de certo contexto de uso, estava sendo usado para justificar o pecadosexual.Maistarde,nacarta,Pauloirámostrarqueelestambémusavamesteprovérbiopara justificar práticas que aproximavam os discípulos do paganismo greco-romano(10.23).Seoprovérbioerapaulinoemsuaorigem,podetersidodistorcidooutiradodo

174StanleyK.Stowers,“Paulontheuseandabuseofreason”inDavidL.Balch,EverettFerguson&WayneA.Meeks,Greek,Romans,andChristians:EssaysinHonorofAbrahamJ.Malherbe,Mineapolis,FortressPress,1990,p.263,discuteasfrasesabaixocitadascomocoríntias.175NVI.176ARA.177NesteversoARA,NVIeBLHdeixamdereconhecerolemadoscoríntiosetraduzemPANpor"qualqueroutro"ou"todososoutros".InterpretamquePauloéoautordafrase.Acreditamosqueestanãoéamelhortraduçãodestadiatribe.178Oster,p.148.179W.Meeks,TheOriginsofChristianMorality,p.132;Conzelmann,FirstCorinthians,p.108.180Prior,p.98,acreditaqueafrasepodiaserdePauloequepodiasercomoafrasedeAgostinho.“AmeaDeusefaçaoquequiser”,queécorreta,masquepodeserdistorcidasenãoselevaremcontaosentidobíblicodeamoraDeus;Robertson&Plummer,p.121,acreditamqueafraseédePaulo,transformadaemsloganpeloscoríntios.181Porexemplo:Gl5.1,13e1Co9.19.182Morris,Op.Cit.,p.79.183W.Meeks,TheOriginsofChristianMorality,p.132;Conzelmann,FirstCorinthians,p.109,n.5citaváriosexemplosdosignificadodestaliberdadenosmeiosfilosóficosdaépoca:Epicteto(Dissertações,4.1.1):evleu,qero,j evstin o zw/n bou,letai=“Livreéaquelequevivecomoquer”;DiógenesLaércio(Vidas7.121): ei=nai ga.r th.n eleuqeri,an exousi,an auvtopragi,aj =“Aliberdadeéafaculdadedeagirindependentemente”[traduçãodeMáriodaGamaKury].Háoutrosexemploscitados.184MortonScottEnslin,TheEthicsofPaul,p.126,n.58,acreditaqueolemaerados“antinominianos”eassimtambémolemasobreoestômagoeosalimentos.185Grosheide,p.144,observaquePaulopoderiaterusadoestafrase,masnãoimaginouquealguémausariatãomal,comoumaespéciedesumáriodesuaética.

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contexto, como em outra ocasião, o apóstolo reclama de falsos provérbios quesumarizavam seu ensino sobre a justificação pela fé186. De fato, Conzelmann chega aafirmarqueesteprovérbiosubjazadiscussãodoscapítulos6ao10187.

Certamente,o lema“Todasascoisasmesão lícitas!”nãopodiatomaraexpressão“todasascoisas”demodoabsoluto,poispoucosafirmariamclaramentequeassassinato, roubo,blasfêmiaeoutraspráticaseram“lícitas”.Naverdade,oprovérbiocoríntiodeviaestarsendousado,inicialmente,emáreasdeopinião.188Depois,contudo,odeslocamentodesteprovérbioparaoutrasáreasondejáhaviamandamentosdeDeusera inevitável. A máxima, então passou entrar em conflito com mandamentos, porexemplo,contraaimoralidade.

O provérbio é citadoquatro vezes na carta, sendoqueduas em6.12 eduas em 10.23. A diferença entre os textos é que nos primeiros dois casos (6.12) opronome é utilizado: “Todas as coisasme são lícitas”. Nas ocorrências posteriores afrase é mais geral: “Todas as coisas são lícitas” (10.23). A ênfase da colocação dopronome,portanto,pareceindicarquealgonapessoaquecitavaafrase,capacitava-oaseraptoparatudo.Opronomeéenfático.

A questão da liberdade foi muito importante para os coríntios. Elesqueriam “liberdade” sexual, algumasmulheres queriam “liberdade” do véu (11.2-16),queerasinaldesubmissão,outrosqueriamterliberdadeparaparticipardefestaspagãs(8 e 10), também havia excesso de liberdade no exercício de dons espirituais nasassembleias (12 e 14) de modo que havia desordem na igreja. Se existia umacongregação onde liberdade era um lema importante, Corinto era este lugar, ondemuitosdiziam:“Tudomeépermitido!”

A questão da imoralidade era um problema para todas as cidades domundo antigo (e tambémmoderno) e Corinto tinhamá fama neste assunto. A antigacidadegregatinhafamadeserumacidadeimoral.Overbo“corintizar”,korinthiazesthai[korinqia,zesqai] significava ‘fornicar’ou ‘ser imoral’.189Contudo,muitospesquisadoreserram ao atribuir à Corinto dos tempos de Paulo a situação descrita na literatura doquarto século antesdeCristo.O sempre citadoTemplodeAfrodite, noqualhaviamilprostitutaseprostitutoscultuaiséumdadodeEstrabão(c.58a.C.-entre21e25d.C.),que,embora,quasecontemporâneodePaulo,citaoTemplodeAfroditenocontextodaantigaCorinto,antesdasuadestruiçãopelosromanosem146a.C.Emboranãosepossaafirmar que este templo foi destruído e nem que a cidade ficou totalmente arrasadadepoisdesteevento,énecessárioacautelar-seemacusaranovaCorinto, reconstruídapelosromanos,dospecadosdaantigaCorinto,cidadegrega.

Escapaàpercepçãodemuitosintérpretesofatoque,aCorintodePaulo,éumacolôniaromanaenãomaisumatradicionaleantigacidadegrega.Adestruiçãoereconstruçãodacidade“sobnovadireção”deveterproduzidoumagrandemudançanaculturadacidade.Porexemplo,osarqueólogostêmdescoberto,nacidadedostemposneotestamentários,maisinscriçõesemlatimdoqueemgrego!A“leieordem”romanasseriamumbomfreioaosantigosdesvairosgregos.

186Rm3.8.187Conzelmann,FirstCorinthians,p.109.188Assim,ousodomesmolemaem1Co10,naquestãodasopiniõessobrealimentosdeveevidenciaro“localdenascimento”dousodesteprovérbio:somoslivresdasopiniõeshumanas,dassuperstiçõespagãs,etc.189OtermodevetersidocunhadopelocomediógrafoAristófanes(450-385a.C.)edevemoslembrarquesuamotivaçãoparaatribuiraoscoríntiosestafamanãoseria,necessariamente,rigorhistoriográfico.

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No fim,oque importaanósnaanálisedeste textoéquenãodevemossupor que os problemas da igreja de Corinto eram decorrência de viverem em umacidademaispecadoraqueasoutrasgrandescidadesdomundoantigo.Certamente,porserumacidadecomdoisgrandesportos,porserumapassagemobrigatóriadocomérciodo mundo antigo, e por ser uma colônia romana, a cidade ofereceria muitasoportunidades de pecado sexual. Nada, contudo, que não se encontraria em outrasgrandecidadesdaépoca.

Assim,osproblemasde imoralidadena igrejadeCorintopoderiamserencontrados em qualquer igreja espalhada pelomundo greco-romano. A prostituiçãoeratoleradaevistacomoumnecessidade.

Oscoríntios,dentroda fécristãestavamapelandoparaa liberdadeemCristo e afirmandoquepoderiamcometer imoralidadedentroda liberdade cristãquelhes havia sido concedida. Confundiram liberdade com libertinagem. Como dirá,posteriormente,Agostinho,“Quemnãoserefreiadenadaqueélícito,estábempertodoilícito”190. Este era bem o caso dos coríntios, com o agravante que eles já estavampraticando,concretamente,oilícito.

Arefutaçãopaulinaseráfeitaaolongodetodoesteparágrafo(6.12-20),mas, neste momento, observaremos somente os dois princípios reguladores oumoderadoresdoprovérbiocoríntio:(1)oprincipiodaconveniência;e(2)oprincípiodaverdadeiraliberdade.

“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm” [pa,nta moi e;xestin avll v ouv pa,nta sumfe,rei] (6.12) enuncia oprincípioda conveniência.A frase “masnem todas convém” [avll v ouv pa,nta sumfe,rei] não fazia parte do “slogan” coríntio, mas,agora,éadicionadaaeleporPaulo191comoumalimitaçãocontraosexcessos.Apalavraconvém, sympherei [sumfe,rei], tem ricas associações como que os filósofos populareschamavamde“proveitoso”,“útil”,“conveniente”ou“oportuno”192.

Dentro deste princípio da conveniência, Paulo chama à atenção para ofato que apesar de certas coisas não serem proibidas, devem ser rejeitadas por nãoserem“úteis”,“proveitosas”ou“convenientes”paraseuprogressoetrabalhoespiritual.Aqueles que têm como critério a busca do reino de Deus em primeiro lugar (Mateus6.33)ouoamor(Mateus22.34-40),saberãojulgara“utilidade’dequalquerpráticaemrelaçãoaestesgrandesprincípios.

Oprincípiodaconveniênciaexigequecadapessoapergunteasimesmoporoutrosprincípiosdavidaespiritualemoralquepodemserafetadospelaposturaouaçãoquesepretendetomar.Hánormasregulandoosdetalhesdavida,ecumpreacadaumveroqueéocertoemcadainstância.

É importante notar que apesar dos coríntios dizerem “Todas as coisasme são lícitas” ele fez questão de omitir qualquer pronome na segunda frase. Eleescreveu: “mas nem todas convêm”. Se tivesse escrito “mas nem todasme convém”,teriaintroduzidoumnovomododedistorceroprincípiodeliberdade,pensandoapenasnoqueconvémaointeressepessoal.Mas,daformacomoescreveu:“Todasascoisasme

190CitadoporLindolfoWeingärtner,FloresdoJardimdeAgostinho:avozdeumpaidaigreja,Curitiba,Encontrão,2005,p.25[frasepara14demarço].191Conzelmann,FirstCorinthians,p.109,n.6.192Conzelmann,FirstCorinthians,p.109,n.6olemafilosófico:to. a;gaton sumfe,ron=“Obeméproveitoso”;Epicteto(Entretenimentos,31.4):o[pou ga.r to. sumfe,ron evkei/ kai. to. euvsebe,j =“Ondeestiverointeresse(deumhomem),alitambémestará(sua)piedade”ou“Ondeestiveraquiloqueéproveitoso,alitambémestaráoqueépiedoso”.

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sãolícitas,masnemtodasconvêm”,Paulorespondeaosquequeremusarsualiberdadeegoisticamente,comresponsabilidadepeloqueconvêm,nãoapenasasi,mastambémaoutros.193

Oprincípiodaconveniênciaexigequeobservemosasconsequênciasdaaçãotomada,emtermosdoqueseria“omelhor”enãoapenasemtermosde“atéondeposso ir antes de pecar”.Não é tudo que convém, que é útil ou vantajoso, ou seja, àsvezes, uma ação se torna inconveniente em função dos resultados que provoca. Aoscristãoséordenadofazer“omelhorpossível”enunca,o“mínimonecessário”.Assim,aliberdadecristã,queeraumtematãoimportanteeacalentadopeloscoríntios,194recebeseuprimeirofatordelimitação.Liberdadenãoéindividualismo.

“Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar pornenhuma delas” [pa,nta moi e;xestin avllV ouvk evgw. evxousiasqh,somai upo, tinoj] (6.12)enunciaoprincípiodaverdadeiraliberdade.

A frase“maseunãomedeixareidominarpornenhumadelas” [avllV ouvk evgw. evxousiasqh,somai upo, tinoj] também não fazia parte do slogan coríntio original e éadicionado por Paulo num verdadeiro trocadilho195: panta moi exestin all’ ouk egoexousiasthesomai196hupo tinos. Em português, aproximações do jogo de palavrasseriam:“Possotodasascoisas,masnãosereipossuídopornenhumadelas”ou“Todasas coisas estão emmeupoder mas eu não serei apoderado por coisa nenhuma”197;“Todasascoisasestãoemmeupoder,maseunãoestareisobopoderdenenhuma”198.

Paulo faz questão de dar ênfase na expressão “eu não” 199 emcontrapartidaaopronome“me”doprovérbiocoríntio: “todasascoisasme são lícitas,mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”. Aqui, ele introduz o “eu” doindivíduoqueusao“slogan”daliberdade,paraalertá-lodoperigodeficarescravizado.Umapessoanãodevetornar-seescravadascoisas.Istoseriaumcontra-senso.Todasascoisaspertencemaelesenãoelesatodasascoisas(1Co3.21-23).

OpontodePauloéqueninguémpodesertão“livre”queacabeviciadoeescravizado! Se o discípulo de Cristo for fazer alguma coisa que retire de sua vida osenhorio de Cristo, então ele não deve fazer aquilo. Se o discípulo for fazer algo queintroduzaumnovomestreousenhoremsuavida,entãoeledeveevitaraquilo.SóDeuspodeestarcontrolandonossavida.

Liberdadeverdadeiraénãoserescravizadopornada.Nemmesmoporsimesmo200.Liberdadecristãnãopodedarorigemaumaescravidãoaosdesejospessoais.Somente Cristo pode ser Senhor absoluto dos cristãos. A verdadeira liberdade não éfazer o que quer, mas escolher fazer o que Deus quer. A verdadeira liberdade não éignorarosoutros,maslevá-losemconsideração.

193Lenski,p.255.194Asquestõestratadasnoscapítulos5-6,8-10e11.1-16podemsertodasreduzidasaumacausacomum:"excessodevalorizaçãodaliberdade".195Lenski,Op.Cit.,p.257,paronomásia.196Conzelmann,FirstCorinthians,p.109,n.10,afirmaqueaconstruçãopassivadoverbo“serdominado”foifeitaporPauloparaesteusodemomento.Nãoéumaconstruçãousual,masinteressanteparaotrocadilho.197Morris,p.79,citandooutroautor,queporsuavez,dependedeCristóstomo.198Vincent,Op.Cit.,v.3,p.215.199Findlay,Op.Cit.,p.812;Morris,Op.Cit.,p.79.200WilliMarxen,NewTestamentFondationsforChristianEthics(“Christliche”undChristlicheEthikimNeuenTestamet,Gütersloh,GütersloherVerlaghausGerdMohn,1989,translatedbyO.C.DeanJr.),Minneapolis,FortressPress,1993,p.213.

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Liberdade não é sinônimo de licenciosidade (Gl 5.13-15). Liberdade époder escolher fazer o que é melhor aos olhos de Deus. Hoje, sob a bandeira daliberdade,háquemqueiraensinarpermissividadeerelativismodoutrinárioeético.NaEscritura, liberdade não é fazer o que se quer, mas fazer o que Deus quer: buscar omelhorenãoescravizar-seanada.

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6.13- ta. brw,mata th/| koili,a| kai. h` koili,a toi/j brw,masin

“Osalimentosparaoestômagoeoestômagoparaosalimentos!”

Dentro do estilo de diatribe, Paulo coloca outra frase na boca do seuinterlocutor imaginário201. “Os alimentos para o estômago e o estômago para osalimentos!”, ta bromata te kolia kai he kolia tois bromasin [ta. brw,mata th/| koili,a| kai. h koili,a toi/j brw,masin].

Esteprovérbioapresentaajáconhecidaestrutura‘quiástica’,ouseja,emforma de “X”, onde o primeiro termo da primeira frase também é o último termo daúltima frase.Observenadisposiçãodas frases abaixoque se alguém ligar aspalavrasiguaisdasduasfrases(alimentos-alimentoseestômago-estômago),surgiráaletraXqueésimilaràletragregachamada“qui”.

Osalimentosparaoestômago

eoestômagoparaosalimentos!”

Esta frasedeveserdoscoríntios202enãodePaulo. “Elesqueriamdaraentender que uma função natural é muito semelhante a outra. Apetite alimentar eapetitesexualsãocoisasdamesmacategoria,diziamoscoríntiosaocitaresteditado203.A fornicação é tão natural quanto comer.”204A lógica é a seguinte: assim como oalimento está para a barriga, a barriga está para os alimentos; da mesma forma: aatividade sexual existe para os órgãos sexuais e os órgãos sexuais para as atividadessexuais.205O relacionamento sexual era o que chamaríamos de uma mera funçãoorgânica,similaràalimentação,equenãopodiaterimportânciaespiritual.

Este provérbio coríntio, usado e associação com o anterior, “todas ascoisasme são lícitas!” faria o seguinte raciocínio. Assim como todos os alimentos sãolícitos,porseremcoisasnaturaisenecessárias,assimtambémaliberdadesexualélícitaporsernaturalenecessária.Istoestariadeacordocomasnormasdecondutadomundoantigo,quenãofariadistinçãoentreapetitesexualeapetitealimentar.Defato,anívelfilosófico,oensinomaisnobreeraodemoderaçãoe controleem todasasáreas,massemadmitirqualquerdiferenciaçãoentreoventreeocorpo.

Hojeemdia,pessoasrepetemesteprovérbiocoríntiodizendoque“sexoénatural”,querendodizerqueaimoralidade,osexoforadocasamento,sãonaturais.Aspessoas acreditam que a “vontade” de fazer algo é um impulso bom e, portanto, nãodeveserreprimido.Aquiloquepodeserconsiderado“bonito”,ouseja,quetemalgumapelo estético, deve também ser consideradobom.Assim, desejo sexual deve resultarematividade sexual, semqualquer restriçãoou avaliaçãomoral, pois, o que énaturaldeveserbom.Esteraciocínionãoficalongedopensamentocoríntio.

201W.Meeks,TheOriginsofChristianMorality,p.132.202Morris,Op.Cit.,p.79;Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.123acreditaqueafraseédePaulo.203Lenski,Op.Cit.,p.257.204Morris,Op.Cit.,p.79.205Conzelmann,FirstCorinthians,p.110,acreditaqueesteditoaplica-seàquestãodosalimentosenãoàquestãosexual.EleacreditaquePaulotrata,depassagem,daquestãoalimentar,dizendoqueoconteúdodaalimentaçãoéindiferenteemtermosespirituais,emvistadofatoquetudoistopassará.NãoacreditoqueelefazjustiçaaoargumentodePaulo.Aintroduçãodotemadosalimentoseimediatoabandonodotemanãopareceadequadoaocontexto.Alémdisto,afrase“ocorponãoéparaaimoralidade,masparaoSenhoreoSenhorparaocorpo”pareceseracontrapartidapaulinadoditadocoríntio,eportanto,osdoisdevempertenceràmesmadiscussão.Grosheide,p.146afirmaqueestafraseeapróximaestãotratandodaquestãodealimentos,masemseguida,admitequeamençãodestascoisasapenasintroduzaoportunidadedeclarificararelaçãoentreafornicaçãoeocorpo.

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A próxima frase pode ser paulina ou pode ser a continuação doprovérbiocoríntio:“Deusdestruirátantoestecomoaqueles”,hodetheoskaitautenkaitautakatargesei[o de. qeo.j kai. tau,thn kai. tau/ta katargh,sei].

Se for uma frase paulina, ela representa o início da sua réplica aoscoríntios.Pauloafirmariaqueatransitoriedadedascoisasligadasaosalimentosfazcomqueelesnãosirvamdebaseparaoqueéperene,ocorpo,que,pormeiodaressurreição,terá sua existência continuada. Se for frase de Paulo, ela é apenas a afirmação datransitoriedadedas funçõesorgânicascontrastadacomapermanênciadoserhumanoporcausadaressurreiçãoedavidaporvir.

Poroutrolado,seafraseforcontinuaçãodo“slogan”coríntio,elapoderáserusadaparajustificartantooascetismoquantoalibertinagem.206Oraciocínioseriaoseguinte: os apetites existem para ser satisfeitos e a satisfação se obtém através dosapetites;seDeusvaidestruirtodasestascoisas,elasnãoimportam,logo,pode-sefazeroquequisernestesassuntos.“Seestascoisassãotransitórias,porqueatribuir-lhealgumvalorreligioso?”,eraaperguntaqueelesfariam.Oslibertinosdiriamcomooprovérbiocoríntiode6.18,queopecadonãoafetaapessoa,maséumatoexternoàpessoa207.Seforfrasecoríntia,significa:jáqueDeusvaidestruirasfunçõesfisiológicas,nãoimportaoquefazemoscomelas,inclusivecomosexo.

Sendo a frase um provérbio coríntio ou não 208 , a próxima édefinitivamentepaulinaedestróitantooargumentoqueaproximaoapetitealimentardoapetitesexual(Osalimentosparaoestomagoeoestomagoparaosalimentos!),comotambémoargumentoda irrelevânciadas funçõesorgânicas, sejamalimentares, sejamsexuais(Deusdestruirátantoestecomoaqueles).

Afrasequeimpedeacontinuidadedequalquermauusodavidasexualé:“Ocorponãoéparaaimpureza,masparaoSenhor,eoSenhorparaocorpo”,todesomaou te porneia alla to kyrio kai ho kyrios to somati [to. de. sw/ma ouv th/| pornei,a| avlla. tw/| kuri,w|( kai. o ku,rioj tw/| sw,mati].

Estafrasetambémestáconstruídaemumaestrutura“quiástica”comooprovérbiocoríntioaoqualelaseopõe:

“Ocorponãoéparaaimpureza,masparaoSenhor,

eoSenhorparaocorpo”.

Se retirarmos a frase “não é para a impureza” o ‘quiasma’ fica maisevidente:

“Ocorpo...paraoSenhor,

eoSenhorparaocorpo”.

Logo, o provérbio paulino enfrenta o provérbio coríntio não apenasnegando seu sentido, mas utilizando a mesma forma mnemônica e poética de suaapresentação.Paulonãoiriadeixaramentirasermais“sonora”queaverdade!

206Prior,Op.Cit.,p.110,n.77,citandoF.F.Brucequeafirmaapossibilidadedoargumentosertododoscoríntios.Cf.tambémW.Meeks,TheOriginsofChristianMorality,p.181.207Vejaadiscussãodesteprovérbioinfra.208C.F.D.Moule,AnIdiom-Book,p.196,afirmaquenoverso12temosumprovérbiocoríntioeumpaulino,equeasmesmasduasondasocorrememverso13,assim,afrasesobreoestômago-alimentoseadadestruiçãodestesseriacoríntia,masafrasesobreocorposeriadePaulo.

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Os coríntios estariam querendo dizer: “O corpo é para a porneia e aporneiaparaocorpo”,onde,porneiaquenormalmentesignifica‘imoralidade’,teriaumsignificado mais neutro, algo como ‘necessidade sexual’. Ninguém, contudo, ousouformularesteprovérbioexplicitamente.Paulo,porém,claramente,dizduascoisas: (1)“Ocorponãoépara impureza ... ”; (2) “Ocorpo ... éparaoSenhor, eoSenhorparaocorpo”.

Assim,oqueé “natural”,dopontodevistadePauloéqueassimcomoexistea ligaçãoecomplementaridadeentrealimentos-estômago,assim tambémexisteligaçãoecomplementaridadeentrecorpo-Senhor.

O argumento que os alimentos e o estômago serão destruídos e sãoirrelevantes209,nãoseaplicaaocorpo,ouseja,àpessoa,poisDeusvairessuscitar(6.14)apessoaemsuaintegridadedepersonalidade,atosepensamentos210.

Umponto crucial do argumento paulino é o peso que ele dá à palavra‘corpo’ [sw/ma]211, que não é usada como “a parte material do homem”. Na verdade,estômagoealimentosrepresentamestetipode“coisamaterial”.Osentidoqueeledáa‘corpo’designatodaapessoa,noíntimodoseuser212.Nestaformadepensar,“ohomemnãopossuium soma; ele éum soma”213.A relação sexual, nopontodevistadePaulo,envolveocorpo,soma,enãoapenasacarne,sarx.Estepesoaindaseráutilizadoemseuargumentocontraoprovérbiocoríntiode6.18quetentadizerqueopecadoéexterioraohomemenãooafeta.

Adicotomiaalma-espíritooucorpo-almanãoexistenestetexto214.Mas,éjustamenteestetipodeseparaçãoentreomaterialeoespiritualquepodegerarascetasou libertinos, como já falamos antes e como se observa na história da filosofia e dareligião.

OraciocíniofinaldePauloéquearessurreição215dávaloràintegridadede nosso ser (6.14). A ressurreição do corpo “indica algo da dignidade do corpo” emostra quehá valorespermanentes oriundosda vida corporal.216Oque fazemos comnosso corpo é oque fazemos conoscomesmos, comoque somos. Se outilizamos empecadosexual,nãoapenasocorpopeca,mastodaanossapessoa.

A união sexual não é coisa superficial, assim como nossa união comCristotambémnãoé.Auniãosexualédescritacomoprofundaunidadeeintimidade,enãocomoumamera“atividadebiológica”ou“funçãofisiológica”.

AcitaçãodoGênesismostraque,jánasuaconcepção,asrelaçõessexuaisimplicavamemmaisdoquesimplesatividadefísica(6.16).Ser“umasócarne”éiguala

209Isto,naverdade,podeserencontradonoensinodeJesus(Mc7.14-23).210Aideiaderessurreiçãoeracontráriaaoespíritogrego.At17.31-33,mostraareaçãodeumpúblicotipicamentegregoaestadoutrina.Poristo,eraocampodebatalhacorretoparaafirmarousoadequadodocorpo.Osgregosdiriamqueocorponãoimporta.Oscristãosvãodizerqueocorpoimporta,porqueDeusseimportacomele,apontoderessuscitá-lo.211LeonMorris,Op.Cit.,p.80;DavidPrior,Op.Cit.,p.102.212W.Wibbing,CorpoinC.Brown,NDITNT,vol.1,pág.521-2.213R.Bultmann,citadoporW.Wibbing,CorpoinC.Brown,NDITNT,vol.1,pág.522.214Aideiadecorpoeespíritoéintroduzidaporalgunsmanuscritosnoverso20,“glorificaiaDeusnovossocorpoenovossoespíritoosquaissãodeDeus”.Estaleituratempoucaprobabilidadedeseroriginal,masmostraadificuldadedeaceitarotermosomanosentidoamplo,queenvolvatodooser.Paraosgregos,o“corpoeraotúmulodaalma”enãotinhaverdadeiraparticipaçãonanaturezadapessoa.215Nocapítulo15,elefaráumtratamentoextensodaquestão.216LeonMorris,Op.Cit.,p.80.

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“serumsó corpo”ou “seruma sópessoa”.217A relação sexual édefinida combasenalinguagemdoVelhoTestamento (Gênesis2.24) comouma ligação íntima,naqualnãosomenteseexercitaumafunçãoorgânica,masondeseproduzamaisperfeitaunidade(6.16). Na Bíblia, sexo é sinal da mais profunda unidade entre os seres humanos, ocasamento,ondedoistornam-seum.

Tal unidade, contudo, já existe entre o cristão e seu Senhor (6.17): auniãocomCristoéserumsóespíritocomele,ouseja,participarperfeitamentedoqueele é.Assim,porestarmosunidosaCristo,nãodevemos cometerpecado sexual, pois,seriacomoenvolverCristonisto,coisaquenãosefazdemodoalgum(6.15-17).Quemforçaria Jesus a servir-se de uma prostituta218? A própria pergunta é blasfema econstrangedora,porém,é istoque fazaquelediscípulodeCristoqueprocuracometerpecadosexual:querlevarJesusjubto,umavezqueeleestáunidoaCristo219.

OfatodoscristãosserempartesdeCristo,impossibilitariaqualquerusodeseucorpodemodocontrárioaoagirdeCristo.Tomarseucorpoejuntá-loaodeumameretriz,220seriaprofanaroqueédeCristo(6.15).

O pecado sexual rouba de Cristo o que é dele221, ou seja, a inteiradedicação de nosso ser em santidade a Deus. Na verdade, todo pecado tem estacaracterística,deummodooudeoutro.

Assim, o pecado não pode ser justificado como sendo “natural” ou“necessário”, poisnão fomos feitosparapecar,masparao Senhor, que se fezhomemparaquepudéssemoschegarasercomoele.Odonodenossocorpo,agoraedepois,éoSenhor,fatoevidenciadopelaressurreição,naqualDeusresgatarátudooquesomos,enão apenas uma parte de nós. Nosso compromisso de união é com o Senhor Jesus eassimsendo,“Cristóforos”222,portadoresdeCristo,devemosvivercomoeleviveu.

217Conzelmann,FirstCorinthians,p.111.218Acriticaaquinãosevoltacontraameretrizcomopessoa,vistoquemuitoscoríntiosforamconvertidosaCristoempecadossexuaissimilares(6.9-11).Acríticaécontraaporneiaqueelarepresentaerealiza.219Logicamente,PaulonãoafirmaqueCristoseuneaopecadoquandopecamos.Eleapenasmostracomoascoisasnãocombinam.Comanossapessoa,queédeCristo,nãopodeserenvolvidaemoutrascoisascontráriasaCristo.220Ocasodeimoralidadeéaquidescritocomumexemplodopontodevistamasculino.OsprincípiostambémseaplicamàsituaçõesdepecadosexualdasmulherescristãsdeCorinto.221Johnson,p.81.222AexpressãovemdeInáciodeAntioquiaemsuacartaaosEfésios9.2,referindo-seaoscristãos.

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6.18-feu,gete th.n pornei,anÅ

“Fujamdaimoralidade!”

O combate de Paulo aos lemas coríntios que tentavam abusar daliberdadeeinsinuarqueopecadosexualnãoera“grave”,encontraagoramaisumlemapaulino: “Fujam da imoralidade!”223Este lema se apresenta como uma “palavra deordem”nomeiododiscursoedoargumentodePaulo.Aintroduçãoabruptadafrase224contribuiparaqueaentendamoscomoumlemaurgente225.

“Fujamdafornicação!”ou“Fujamda imoralidade!”ouainda,“Fujamdaprostituição!” Todos os pecados sexuais estão envolvidos. Fugir é uma palavrarecorrentenaparênese226: fugirda idolatria(1Co10.14)e fugidetodotipodepecado(1Tm6.11;2Tm2.22;3.5).A formagramaticaldomandamentosugereumaconstantefugadestepecado227.Algunspecadossepodemcombater,masdaimoralidadedevemosfugircomofezJosénacasadePotifar(Gênesis39.12)228.

Numaconselhamentoparameusfilhos,lembro-medeterouvidominhamãedizer:“ABíbliadizquedevemosresistiraoDiaboeelefugirádenós;daspaixões,contudo, a Bíblia diz que nós é que devemos fugir”. Este pensamento reproduzperfeitamenteoquePauloquertransmitir.

Na carta aosCoríntios, fugir ocorre apenasneste tipode lemapaulino,referindo-seaospecadossexuais(6.18)eàidolatria(10.14).Estesdoispecadoseramosmaiscomunselementosdecaracterizaçãodasociedadepagã,dopontodevistajudaicoecristão.Tambémeramduasatividades,muitasvezes,unidasnaculturaantiga.229

Imoralidadesexualeratãocomumnomundoantigoquantoénonosso.Emtermosmorais,asociedadepré-cristãdeCorintoeasociedadepós-cristãdoBrasiledomundodehojenãosãomuitodiferentes.Muitasvezes,naslistasdepecadosdoNovoTestamento,imoralidadenãoapenasestápresente,mas,geralmente,éoprimeiroitemdalista!Esteantigopecadocontinuaatual:“Fujamdaimoralidade!”

223W.Meeks,OMundoMoral,p.122,124.224Findlay,Op.Cit.,p.821.225Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.127afirmamqueoassíndeto,ouseja,aausênciadeconjunções,marcaaurgênciadafrase.Aistopodemosacrescentarquetambémcolocaafrasenacategoriadosprovérbios,quetambém,muitasvezesseapresentamesãocitadosdestaforma.226Conzelmann,FirstCorinthians,p.112,vertambémnota32ondeoutrosverbossimilarestambémsãolistados:pheugein[feu,gein]:1Co6.18;10.14;1Tm6.11;2Tm2.22;3.5,apechesthai[avpe,cesqai]:1Ts4.3;5.22;1Pe2.11;apotithestai[avpoti,qesqai]Rm13.12;Cl3.8;Ef4.22.Aantítesedestesverbosédiokein[diw,kein].227Grosheide,Op.Cit.,p.151,Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.127.228Findlay,Op.Cit.,p.821.229OtextodeRomanos1.18-32mostraqueaidolatrialevaàdegradaçãosexual.

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6.18-pa/n a`ma,rthma o] eva.n poih,sh| a;nqrwpoj evkto.j tou/ sw,mato,j evstin

“Todopecadooqualporventurafizerohomemé(está)foradocorpo!”

A tradução e a interpretação deste texto têm sofrido maus tratos porfalta dos tradutores reconhecerem que se trata de um provérbio coríntio e não dodiscursopaulino230.

As traduções têm adicionado a palavra “outro(s)”231, que não está nosoriginaiseneménecessária232.Afraseficaassimquandoseadicionaapalavraoutro:

ARA–“Qualqueroutropecadoqueumapessoacometeréforadocorpo.”

NVI – “Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo oscomete.”

As palavras gregas que poderiam ser traduzidas por “outro”, mas quenãoocorremaquisão:allos,a;llojouheteros,e[teroj.Mesmoquemnãolêogrego,pode,porsimplescomparação,perceberqueestaspalavrasnãoocorremnoprovérbio.

Estaadiçãodistorceodiscurso.Quemlerotextosemaintroduçãotermo,percebeoabsurdodafrase:“pecadonãoafetaapessoa!”Assim,oleitorpercebequeafraseépartedeumdebatecomumoponenteimaginário,ochamadodiatribe.Nestecaso,esteprovérbioéproferidopelooponentedePauloeaoutrafraseviráparacorrigi-la.

Jáobservamosestetipodecitaçãoecorreçãonosprovérbiosanterioresem1Coríntios6.12e6.13.Agora,acitaçãodoprovérbioedaréplicafuncionaassim:“—Todopecadooqualfizerohomemestáforadoseucorpo!”Vem,então,aréplica:“—Oquepraticaaimoralidadepecacontraoprópriocorpo!”

Com a introdução da palavra “outro”, a frase não fica completa e énecessária a complementaçãodelaparaque saibamosoque se excluiu comapalavra“outro”. Ou seja, todos os pecados são externos ao homem menos este “outro”mencionado: O que é este “outro”? Seriam os pecados sexuais. Assim, a leitura ficaviciadaemuitos interpretesficamtentandoharmonizaresteditomaltraduzidocomadoutrinaeateologiapaulina.233

Estaria Paulo afirmando que apenas os pecados sexuais são contra oprópriocorpodequemospratica?Nãoestariamosvícioseosexcessostambémnestacategoria?Suicídionãoécontraocorpo?Seriamospecadossexuaisosúnicosmembrosdesta categoria? Sendo que a palavra corpo, soma, está sendo usada no sentidomaisamplo,seráqueestafrasesignificariaqueapenasospecadossexuaisatingemeferemomais íntimodapessoaqueoscomete?Orgulho,hipocrisia, faltadeamoroudeperdãonãoseriamtãogravesquantoopecadosexual? ‘Olharcom intenção impura’épecadocontraoprópriocorpoounão?

Transformar este provérbio coríntio em frase paulina, introduzdificuldadesnacompreensãodaéticadePaulo.EsteraciocíniodePaulonãodevelevara

230Johnson,Op.Cit.,p.81confessasuadificuldade.Estaédevidaafaltadepercepçãodetratar-sedeumprovérbiocoríntioenãoumafrasepaulina.231Introduzem“outro”notexto,asseguintesversões:ARA2,AVR,NVI,BJ,VFL,NTLH,TEB,TPC,TB,BLH,BAM.232Nãointroduzempalavrasestranhasnoprovérbioapenasasseguintesversões:ARC2,AEC(adicionaumartigoantesdepecado,quenãoénecessário).Naverdade,AECéapenasumaleverevisãodeARC.233JeromeMurphyO’Connor,AVidadoHomemNovo,(MoralImperativesinSaintPaul,inédito,traduçãodeAlexandreMacintyre),SãoPaulo,Paulinas,1975,p.153.

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pensar que os pecados sexuais sejam únicos. Pecar contra o próprio corpo tambémocorreemoutrospecados,taiscomogula,embriaguez,suicídio,vícios,ansiedade,etc.

Háquemtentedizerqueospecadossexuaissãoúnicosporquebrotamdocorpoparasatisfazerocorpo.Seriamdiferentesdegulaeembriaguezquesãoapenasexcessosematividadesquenãosãoerradasemsimesmas?Imoralidadeéerradaemsimesmo?234Tal raciocínio não convence, pois, a imoralidade é o indevido uso de umacoisaboa:avidasexual,foradasnormasdivinas,queprovidenciaramocasamentocomoambienteparaavidasexualemsantidade.Todopecadoéerradoemsimesmoevemdedentro(Marcos7.20-23).Sóporqueopecadosexualtemexpressãonocorpohumano,nãoporistoémaisinteriordoqueoutrosquenascem,igualmente,dedentrodohomemevisamasuaprópriasatisfação.

OutratentativadeentenderoquePauloestariadizendoaodiferenciarospecados sexuais dos outros é que, no caso dos pecados sexuais, o corpo era oinstrumentodopecado,enquantoquenosoutros,ocorpoéosujeitodopecado.235SeráquetaldistinçãoestánamentedePaulo?Ocorponãoseriaagenteemoutrospecadosde satisfação pessoal ou violência ao se buscar algo errado, ou usar o corpo,respectivamente.

Há quem afirme que o pecado sexual tem um tipo de contaminação,descritonocontexto,defazerohomemunir-se,porexemplo,comumaprostituta.Poristo,eleseriadiferentedosuicídiooudousodeálcooloudrogas.Opecadosexualseriadeumtipoúnico236.Serácorreto imaginar,contudo,queoutrospecados ‘contaminem’menosoqueédeCristo?Certamente,levarocorpoqueédeCristo(nossocorpo)euni-lo com uma prostituta é terrível, mas, será que usar este mesmo corpo em açõesviolentascontrapessoas indefesasnãoseria igualmente terrível?Ocorpoparticipadeambososprocessos.Seráqueaavareza,adesonestidade,oroubonãodessacralizamoEspíritodeCristoemnósdamesma formaqueodesrespeitodeenvolverocorpoemuma relação sexual ilícita? Parece que a criação de “graus” de pecado cria maisproblemasdoqueresolve.

Naverdade,amelhorsoluçãoéaceitarotextocomoestá,semintroduzirnovos termos e aceitando o “jogo dialético” que Paulo vem desenvolvendo em suadiatribe.

O lemacoríntio,“Todopecadoqueumapessoafizeréexteriorao(seu)corpo”:panhamartemahoeanpoieseanthroposektostousomatosestin [pa/n ama,rthma o] eva.n poih,sh| a;nqrwpoj evkto.j tou/ sw,mato,j evstin] (6.18) significa, em poucas palavras, que“opecadodo corponão afeta a alma”. Conformeobservou certo autor, ospecadosdocorponãopodematingiraverdadeirapersonalidadedeuminiciadonocristianismo.237Esteeraoverdadeirosentidodafrasecoríntia:nenhumpecadomeafeta,pois,nãoentrarealmenteemmim.238

Oscoríntiosatéutilizaramapalavrahamartema[ama,rthma]queenfatizaumpoucomaisoresultadodoqueoatodopecado.A frasecombinacomaafirmaçãoqueopecadoéalgoqueficaforadenós,comosefosseumobjeto,quefeito,ficadiante

234Grosheide,Op.Cit.,p.151235Vincent,Op.Cit.,p.217.236AssimargumentaOster,Op.Cit.,p,154-5,rejeitandoaideiadeserafrasesobreopecado,umprovérbiocoríntio.237CharlesFrancisDigbyMoule,AnIdiom-Book,p.196-7.238Afraseaproxima-seaumaparódiadaspalavrasdeJesussobreofatoqueosalimentosnãocontaminamohomempois,naverdade,nãoentramnele,masapenas‘passam’porele(Mc7.14-19).

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denós,masnãoemnós.Nofimdascontas,aafirmaçãoésempreamesma:“opecadonãoentra”.

A resposta de Paulo é fulminante e totalmente contrária ao que oprovérbio coríntio afirmou: o pecado é contra tudo o que a pessoa é; o pecado daimoralidade,inclusive,écontraapessoacomoumtodo.

A resposta de Paulo é: “O que pratica a imoralidade peca contra opróprio corpo!”,hodeporneuoneistoidionsomahamartanei [o de. porneu,wn eivj to. i;dion sw/ma amarta,nei](6.18).Aideiaéque,aocontráriodoquediziamoscoríntios,opecadosexualécontraatotalidadedapersonalidadedohomem.OsentidodeSOMA,nestetextoe também, em outros, é muito mais abrangente do que uma simples referênciacorporal.239

O corpo humano não pode ser desligado da personalidade humana.Obedecemos ou desobedecemos a Deus com este corpo. A vida sexual deste corpo,portanto,tambéméummododeobedeceroudesobedeceraDeus.

OcorpoeavidasexualdocristãotemimportânciaparaDeuspelofatodeterDeuscompradoocorpodocristão(6.19-20).Aideiade“sercompradoporpreço”[hegorasthetegartimes]faladaredençãoemCristo,provavelmente,usandoafiguradamanumissão sagrada.240Outros autores pensam que o contraste é entre o preço queCristopagoupelalibertaçãodeles,comparadocomopreçopagoàprostitutacultualdeAfrodite, em troca de seus favores.241Eles eram o templo de Deus, e não deviamfrequentarotemplodeAfrodite242.

Aceitandoafrase“Todopecadooqualporventurafizerohomemé(está)fora do corpo!” como um ditado coríntio, não afirmaremos, como Enslin243, que estafrasepareceum ‘anticlímax’depoisdePaulo terafirmado“Fujamda imoralidade!”noversoanterior.Naverdade, seela forumprovérbiocoríntio,osentidodoraciocínioémantido,masseforumprovérbiopaulino,trata-sedeumretrocesso,dejogar‘águafrianafervura’.

239CharlesFrancisDigbyMoule,AnIdiom-Book,p.197.240LeonMorris,Op.Cit.,p.83.ParalelossãocitadosporAdolfDeissmann,Op.Cit.,p.324,notas1e2.241CitadosemDavidPrior,opcit.,p.111,nota94.2422Co6.16.243MortonScottEnslin,TheEticsofPaul,p.156.

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7.1-kalo.n avnqrw,pw| gunaiko.j mh. a[ptesqai

“Bomparaohomeménãotocaremmulher”

“Bompara o homem244é não tocar emmulher” significa “é bomque ohomem se abstenha de ter relações sexuais com qualquer mulher”. ‘Tocar’ é umeufemismopara‘terrelaçõessexuais’.Afraseégenéricaeaplica-seacasadosesolteiros,ouseja,ossolteirosnãodeveriamtervidasexual,queécertoconformeanormacristã,mas,nemoscasadoscomseuscônjuges,coisaquenãotemnadaavercomoqueaBíbliaensina.Todosdeveriamrenunciaratodaequalqueratividadesexual!

Não se chegou a um acordo quanto à autoria da frase “bom para ohomem é não tocar emmulher”. Poderia ser de Paulo e poderia ser dos coríntios245.Poderia ser de Paulo e estar sendo mal usada por alguns coríntios. Poderia ser doscoríntioseestarsendoassumidaporPauloparasercorrigidaousuplementada.

UmafrasemuitosimilaréassumidaporPauloem7.26,“émelhorparahomempermanecer como está” [kalo.n avnqrw,pw| to. ou[twj ei=nai]. Por outro lado, a frasetem aquele tipo de pensamento exageradamente asceta que poderia originar-se doscoríntios e, portanto, precisaria de correção de Paulo. Para efeito de trabalho,assumiremosquea fraseéumslogandeumdosgruposcoríntios246,equeestásendocitadoecorrigidoporPaulo,emboraelemesmoconcordecomoslogan.Portanto,estaéuma frase que provavelmente poderia ser chamada de um slogan paulino-coríntio oucoríntio-paulino.

O problemanão estava na frase,mas nas dúvidas e nas ilações que oscoríntiostinhamsobreelaeassim,questionaramaPauloarespeitodela247.ArespostadePaulo irá tomar todo o capítulo 7 da carta e levará em conta, tanto o pensamentoescatológico e apocalíptico, quanto o aconselhamento cristão, similar ao moralismopopular248,masdiferenciadodestepeloEspírito.

O teor geral do discurso destes versos dá a entender que alguns doscoríntiosestavamsendoatraídosapráticasascéticas,comocelibato,quecausavamcertaadmiração nomundo antigo249. Para os cínicos, por exemplo, o celibato representavaatingir um alto grau de desenvoltura. 250 Um dos possíveis motivos para ocomportamentoascetaeraolibertinismo(sexual)decertaspessoasdentrodaigrejadeCorinto.251Tambémodesejodereagiraosmodoslicenciososreinantesnacidadepodemter gerado tal postura rigorosa contra qualquer forma de ato sexual. 252Outra

244Noprovérbiooriginal,homemestásemartigo,recomendandosuacompreensãomaisgenéricapossível.245UtaRanke-Heinemann,EunucospeloReinodeDeus:mulheres,sexualidadeeaigrejacatólica,2ªed.,(traduçãodePauloFróes)RiodeJaneiro,Ed.RosadosTempos,1996,p.53,afirmaquePauloem1Co7.1estariaapenasrepetindoaperguntaquelheforafeita.246W.Meeks,TheOriginsofChristianMorality,p.144.247AexpressãoPERIDEHONEGRAPSATE[peri. de. w-n evgra,yate(](7.1),chamaatençãoparaofatoquePauloestárespondendoaumacartadoscoríntios.248W.Meeks,TheOriginsofChristianMorality,p.181.249LeonMorris,ICoríntios:IntroduçãoeComentários(ICorinthians,AnIntroductionandCommentary,Leicester,Inter-VarsityPress,1958,trad.deOdayrOlivetti),SãoPaulo,EdiçõesVidaNova&EditoraMundoCristão,1981,p.84.250Epicteto,Diss.3.22.77,Estobaio,Ecl.4.22.28:HOTIOUKAGATHONTOGAMEIN.2511Coríntios5e6exemplificamoextremolibertinodaigreja.252DavidPrior,AMensagemde1Coríntios:Avidanaigrejalocal(TheMessageof1Corinthians,Leicester,Inter-VarsityPress,1985,trad.YolandaMirdsaKrievin),SãoPaulo,ABUEditora,1993,p.122,citandoF.Godet.

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possibilidade era o da incursão de um tipo de gnosticismo incipiente253 nestacomunidade que incentivaria o asceticismo como forma de libertação edesenvolvimentoespiritual.254

Podemos imaginar que a pergunta pudesse ter sido formulada pelogrupo asceta, ou pelos que defendiam a continuidade da vida sexual. O modo comoPaulorespondedáaentenderqueosrigoristaseascetasredigiramestaquestão.ÉaelesaquemPauloprimeirosedirigeemsuaresposta.

“Bomparaohomeménãotocaremmulher”kalonanthropogynaikosmehapesthai [kalo.n avnqrw,pw| gunaiko.j mh. a[ptesqai] (7.1),255pode bem ser o lema doscelibatários, com o qual Paulo inicialmente concorda, mas logo adiciona algunsatenuantes. Tal celibato expõe as pessoas aos pecados sexuais, “imoralidade” (tasporneias)eporisso,ocasamentodevecontinuarexistindocomoambientedeprevençãoeproteçãocontraospecadossexuais(7.2).256

Tal explicação tem levado alguns a acusarem Paulo de reduzir ocasamentoaumbaixonível.BrownchegaadizerqueaestratégiaalarmistaenegativadePauloirialegarumaherançafatalaosséculosfuturos.257

Talleituranãosejustificaàluzdocontextoliterárioehistórico.258Pauloconheciaoambienteemquevivemoscoríntios259econheciabemanaturezahumana.Neste texto, elenão está afirmandoqueopropósitodomatrimônio é evitaropecadosexual,massim,mostrarumasituaçãonaqualeleénecessário.Eleestásendoprático,como disse Calvino: “a questão não é quanto às razões pelas quais o casamento foiinstituído,masquantoàspessoasàsquaiseleénecessário”.260OelevadoconceitoquePaulotributavaaocasamentoficabemclaroemoutrostextosdesuascartas.261

O raciocínio de Paulo nos versos 2-7 mostra que o matrimônio e,especificamente, avidasexual sãoconsideradosporele comoaopçãonormaldavidacristã.Elenãodescartaapossibilidadedecelibato,masseesforçaparaconterosânimosdosascetasquetentariamexigi-lodetodaacomunidade.Assim,oprovérbio“Bompara

253HansConzelmann,FirstCorinthians(DerersteBriefandieKorinther,Göttingen,Vandenhoeck&Ruprecht,1969,trad.deJamesW.Leitch),Philadelphia,FortressPress,1975,p.15.254ComooquefoicombatidoemCl2.16-23.255ARA,traduz:"Ébomqueohomemnãotoquemulher";ANVIdiznorodapé:"Ébomqueohomemseabstenhadeterrelaçõessexuaiscomqualquermulher";ABLHinterpreta:"Ébomqueohomemnãosecase".F.W.Grosheide,Op.Cit.,p.155,citaousodamesmaexpressãonaSeptuagintacomoeufemismoparaointercursosexual:Gn20.6.256Paulonestaafirmação,afasta-secompletamentedoidealestóicode"treinamentoparaocontroledaspaixões".Comoelevaiafirmaradiante,casamentoecelibatosãoquestãodedomdivinoenãodeesforçohumano.HansConzelmann,Op.Cit.,p.116,nota18.257PeterBrown,CorpoeSociedade:Ohomem,amulherearenúnciasexualnoiníciodocristianismo(TheBodyandSociety:Men,Women,andSexualRenunciationinEarlyChristianity,NewYork,ColumbiaUniversityPress,1988,trad.deVeraRibeiro),RiodeJaneiro,JorgeZaharEditor,1990,p.56.258PeterBrown,Op.Cit.,p.57,chegaadizerquenaquela"época...afornicaçãoesuaevitaçãonãotraziamaPaulograndespreocupações.Eleestavamaisinteressadoemenfatizaravalidadepermanentedetodososvínculossociais".AprimeirafrasenãoencontraapoionaspalavrasdePaulonestecontextoimediato(7.1-7),nemnaparteanteriordacarta(capítulos5-6)emenosaindaemtodassuasepístolasondeháconstantesproibiçõesdospecadossexuais.AsimplesleituradePaulomostrasuapreocupaçãocomoassunto.Veja1Ts4.3.259SobreastentaçõessexuaisqueCorintorepresentariaparaoscristãosverColinKruse,Op.Cit.,p.18;tambémHansConzelmann,Op.Cit.,p.11-12.AcitaçãodeK.J.DoverfeitaporOster,Op.Cit.,p.161ésuficienteparadarrazãoaPauloemseuscuidadoserecomendações.260CitadoporLeonMorris,Op.Cit.,p.85.261Ef5.22-33.

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o homem é não tocar mulher” é ponderado e equilibrado pelas afirmações de Paulosobreocasamento.

AprimeirarespostadePauloaoprovérbiodoscoríntiosé:“porcausadaimpureza,cadaumtenhasuaprópriaesposa,ecadauma,oseuprópriomarido,diadetasporneiashekastostenheautougynaikaechetokaihekastetonidionandraecheto[dia. de. ta.j pornei,aj e[kastoj th.n eautou/ gunai/ka evce,tw kai. eka,sth to.n i;dion a;ndra evce,tw]262(7.2).“Tenha”,echeto[evce,tw]éimperativo263mostrandooquePauloconsideranormalocasamentoeavidasexual.Contudo,afirmadoispontos fundamentaisdamoralsexualcristã:primeiramente,sexosódentrodocasamento,entremaridoeesposa;emsegundolugar,aproibiçãodepoligamiaestáimplícitanaformacomootextoficouredigido264.

Comestafrase,Pauloiniciatodoumparágrafoondeeleapresentaumanoçãodeigualdadeemutualidadedorelacionamentosexualqueeramcompletamenterevolucionáriosemsuaépocaeemcertosentido,atéosdiasdehoje.265Háumaperfeitaequivalência e equilíbrio das frases que colocam o homem e a mulher em pé deigualdadenoquedizrespeitoàvidasexual.266Aoinvésdefalardosdireitosdecadaum,como é costumehoje, Paulo fala dos deveres de cada umpara como outro: cada umbuscasatisfazereagradarooutro.267

As expressões ten opheilen apodidoto (7.3) e tou idou somatos oukexousiazei [th.n ovfeilh.n avpodido,tw( tou/ ivdi,ou sw,matoj ouvk evxousia,zei ] (7.4) merecematenção.Aprimeiraenfatizaorelacionamentosexualcomodívidadeumcônjugeparacomooutro.“Pauloconclamacadaumapagaroqueédevido”,aomesmotempoqueoscolocaempédeigualdade.268Asegundaindicaquecadapartenãotemdireitodedispôrde sua vida sexual como quer, mas, conforme o interesse do outro. A liberdadeindividualeegoístaéabolidaetorna-seorientadapelocônjuge.

A ordem me apostereite allelous (7.5) usa, deliberadamente, o verboapostereo que significa "fraudar, roubar, defraudar"269, mostrando que qualquertentativaunilateraldesuspenderasrelaçõessexuaisdocasaléerrada.Paulonãopodeimaginarumcasamentosemvidasexual.Os"casamentosespirituais"270tãoemvoganosséculosposterioresnãopodemapoiar-senopensamentodePaulo.

262AdiferençaentreHEAUTOU[eautou/]eIDIOS[i;dioj]éconsistentecomoensinodePaulosobreasdiferentesfunçõesdohomemedamulhernocasamento.Emoutrostextostambémomesmousodestestermosseobserva.Sobreosmaridos:1Co7.37;Ef5.26,28,33.Sobreasesposas:1Co14.35;Ef5.22,24;Cl3.18;Tt2.5.F.W.Grosheide,Op.Cit.,p.155,nota1;HansConzelmann,Op.Cit.,p.116,nota16.263HansConzelmann,FirstCorinthians,p.116,nota16,diztratar-sedeimperativoqueexpressaconcessão.264Discute-seavalidadeounãodapoligamia,sobretudoemsociedadesnãocristãsqueestãosendoevangelizadastardiamente.Háquemacreditequeapoligamiaépermissível,emboranãosejaideal,eháquemacondenejuntamentecomtodasasoutraspráticasdopaganismo.Nãotemostempopararesponderestaquestãoaqui,masoquePaulosubentendeé“umhomemeumamulher”.PoligamianãoeraumapossibilidadenassociedadesemquePaulovivia.Defato,éenganosaaimpressãoquealgunstêmdoVelhoTestamentonestaquestão.NoVelhoTestamento,apenasumaminoriaerapolígama.AmaiorpartedopovodeIsrael,sobretudoaspessoasmaissimples,nãopraticavaapoligamiaporrazõeseconômicas,sociaiseatéespirituais.265DavidPrior,Op.Cit.,p.123.266NeilR.Lightfoot,OPapeldaMulher:PerspectivasdoNovoTestamento(TheRoleofWomen:NewTestamentPerspectives,1978,traddeNeydV.Siqueira),SãoPaulo,EditoraVidaCristã,1979,p.20-21.267DavidPrior,Op.Cit.,p.123.268LeonMorris,Op.Cit.,p.85.269DavidPrior,Op.Cit.,p.123,sugerequePauloestejafazendoumecodeliberadoentreoscasosdefraude,tratadosem6.1-8,eocasodeumcônjugequenãoquercorrespondersexualmenteaooutro.270Istoé,semrelaçõessexuais.

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Este texto (7.5) fala dapossibilidadede abstençãode relações sexuais,sobquatrocondições:2711.Adecisãodeseabsterdesexodevesermútua:eksymphonou[evk sumfw,nou].Assim,Paulosemantémcoerentesobreofatoqueasdecisõesnaáreadavida sexual de um casal não podem ser tomadas unilateralmente. 2. O período deabstenção deve ser curto: pros kairon. [pro.j kairo.n]. Trata-se de uma medidatemporária.3.Talabstençãodeveteroalvodeaprimoraravidadeoraçãodocasal:hinascholasete teproseuche [i[na scola,shte th/| proseuch/|]. Isto pressupõe o ensino, tambémencontradoemoutrostextos,272queocasamentoéolocalapropriadoparadesenvolverumcompanheirismonasorações.4.Aúltimacondiçãoéqueocasaldeveretornarlogoàvida sexual: kai palin epi to auto ete. [kai. pa,lin evpi. to. auvto. h=te]. Estes períodos deabstençãonãosãoformasdeaprenderacontrolarodesejosexual,mas,pelocontrário,são períodos limitados considerando o perigo de pecado sexual fora do casamento. Afrase hinamepeirazehumasho satanasdia tenakrasianhumon, [i[na mh. peira,zh| uma/j o Satana/j dia. th.n avkrasi,an umw/nÅ], expressa com realismo a preocupação de que Satanásutilizeafraquezahumanaparaproduzirpecado.

Paulofalasobresexonocasamentosemmencionaraideiadeprocriaçãoe filhos.Éumaomissãonotáveldo texto,umavezquedopontodevistaprevalecentetantono judaísmo273comonopensamentogreco-romano,deo sexo conjugal eraparaprocriação.274

Musônioque,emalgumasdeclaraçõeschega,a terconcordânciacomopensamentodePaulo,diz:

“OfimprincipaldoMatrimônioéacomunhãodevidaedeprocriaçãodefilhos.Énecessário,dizele,queoesposoeaesposaseunamdetalmaneiraquevivamum com o outro, procriem junto e aceitem que todas as coisas sejam comuns e quenenhumasejaprivada,nemmesmoocorpo.”275

EstesilênciodePaulotemsidojustificadoporalgunsemfunçãodesuasexpectativasescatológicas:aproximidadedofimnãoencorajariaacriaçãodefilhos.Nãopodemos concordar com tal afirmação, já que carece de base nos textos de ensino,nitidamente, escatológico. Mesmo supondo que esta fosse uma razão de Paulo, asrelaçõessexuaisaindasão tratadascomonormaiseobrigatóriasparaoscasados.276OfatoéquePaulodesligaasrelaçõessexuaisdafunçãoexclusivadeprocriação.Apartirdele, não se pode concordar comos cânones da TeologiaMoral Católica Romana queafirmamserageraçãodefilhosopropósitodoatosexualnocasamento.

271DavidPrior,Op.Cit.,p.124-5.2721Pe3.7;tambémMt18.19.273Tobias8.5-8;FlávioJosefo,C.Ápio,2.199;Filon,Spec.Leg.3.113e3.34-35;Mois.1.28;Abr.137;Jos.43;Virt.107.274RobertMcQueenGrant,AugustustoConstantine:TheRiseandTriumphofChristianityintheRomanWorld,SanFrancisco,Harper&RowPublishers,1990,p.271-2.TambémPeterBrown,Op.Cit.,p.16-37eElisabethSchüsslerFiorenza,Asorigenscristãsapartirdamulher:umanovahermenêutica,(InMemoryofHer:AFeministTheologicalReconstructionofChristiansOrigins,NewYork,TheCrossroadPublishingCompany,1988,trad.deJoãoResendeCosta),SãoPaulo,EdiçõesPaulinas,1992,p.261-262.275MusônioRufo,FragmentoXIIIA.TraduçãoextraídadeJ.Comby,&P.Lemonon,VidaeReligiõesnoImpérioRomanonoTempodasPrimeirasComunidadesCristãs(Vieetreligionsdansl'EmpireRomainautempsdespremierescommunautéschrétiennes,Paris,ÉditionsduCerf,1985,trad.deBenôniLemos),SãoPaulo,EdiçõesPaulinas,1988,p.58-9;OoriginalgregoécitadoemHansConzelmann,Op.Cit.,p.116,nota17.276WayneA.Meeks,Osprimeiroscristãosurbanos:OmundosocialdoapóstoloPaulo,(TheFirstUrbanChristians:TheSocialWorldoftheApostlePaul,NewHaven,YaleUniversityPress,1983,trad.deI.F.L.Fereira),SãoPaulo,EdiçõesPaulinas,1992,p.158-9.

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Paulo ainda acrescenta: "Digo isto como concessão, e não comomandamento" (NVI) toutode legokatasungnomenoukat'epitagen [tou/to de. le,gw kata. suggnw,mhn ouv katV evpitagh,nÅ](7.6),. Os intérpretes divergem sobre o alvo destaponderação:todoodiscursodosversos1-5ouapenasdoverso5.Osqueafirmamquetodo o texto anterior é o alvo deste comentário, pensam que Paulo está falando quecasamento não é obrigatório para todos.277A favor deste ponto de vista, corrobora oversoseguinte(7.7).Outros,contudo,pensamquePauloestáfalandoapenasdaquestãodesuspenderavidasexualparaconsagrar-seaoração,mostrandoquetalpráticanãoémandamento.278

Inclinamo-nos pela última interpretação, uma vez que dentro dosconselhos de Paulo aos casados, os deveres sexuais não podem ser consideradosopcionais. Já a questão de abstinência sexual parece uma concessão, visto não havernenhumaincompatibilidadeentreoraçãoevidaasexualdeumcasal.279

Afrase“gostariaquetodososhomensfossemcomoeu”,thelodepantasanthropous einai hos kai hemauton [qe,lw de. pa,ntaj avnqrw,pouj ei=nai wj kai. evmauto,n\](7.7), é uma destas frases quemostram que o provérbio “bompara o homem é nãotocarmulher”podiaserpaulino.Pauloacreditaquesercélibeémelhor!

Contudo,afrasenãopodesertiradadocontextoimediatoparaafirmarque o alvo da pregação paulina era produzir comunidades de celibatários. Ele estáapenas mostrando sinceridade e simpatia aos que optaram pelo celibato. Paulo erasolteiro ou viúvo.280Reconhecia, entretanto, que tanto o casamento como o celibatoeramdonsdeDeusenãopodiamserimpostosaqualquerpessoa:"mascadaumtemoseuprópriodomdapartedeDeus;umdeummodo,outrodeoutro."allahekastosidionecheicharismaektheou,homenhoutos,hodehoutos [avlla. e[kastoj i;dion e;cei ca,risma evk qeou/( o me.n ou[twj( o de. ou[twjÅ](7.7).

Talvez, seu exemplo pessoal de celibato estivesse sendo usado comoargumentodosascetasàfavordaimposiçãodesteestilodevidaatodaacomunidadeetalvez,fosseomaiormotivodadivulgaçãoirrestritadoprovérbio“bomparaohomeménão tocar mulher”. Paulo, sem tentar dissimular sua evidente preferência pessoal,incentiva cada um a descobrir o dom divino para sua vida sexual. Desta forma, eleesperadaroexemplodotipodeatitudequeoscelibatárioseoscasadosdevemnutrirunsparacomoutros.281

Aopçãopelocelibatoporpessoascomunsnãoerabemvistanomundogreco-romano.282Paulo,aqui,ofereceaoscristãoumaopçãoqueasociedadenãoestaria

277AssimpensamLeonMorris,Op.Cit.,p.86;HansConzelmann,FirstCorinthians,p.118;F.W.Grosheide,Op.Cit.,p.158.278DavidPrior,Op.Cit.,p.126-7;BredanByrne,PauloeaMulherCristã,(PaulandtheChristianWoman,Homebush,NGS<Austrália>,StPaulPublications,1988,trad.deEdsonGracindo),SãoPaulo,EdiçõesPaulinas,1993.p.47.279BredanByrne,ibidem,p.47:Nãohánadanotextoqueautorizeadeduçãodequeasrelaçõessexuaistornamumapessoaineptaparaprestarcultoreligioso.Talideiaeradifundidatantonatradiçãogreco-romana,comonajudaica,masnãoéocasoaqui.Mishná,Ketuboth,5.6eEduyoth4.10,falamdeperíodosdeabstençãoderelaçõessexuaisentreosjudeusemencionamcasosondeoestudodaLeieraomotivoparatal.280RejeitoaspossibilidadesdePauloserseparadooudivorciadocombaseem1Coríntios9.5,ondedefendeseudireitoviajarcomumaesposacristã.Sefossecasado,nãopoderia"privar"suaesposadavidaconjugal,vivendosozinho.Setivesseumaesposaincrédulaqueoabandonou,nãoseriairrefutáveldizerquetinhaodireitodearranjaroutra.Talargumentopoderiavirarcontraele.ParaoutraopiniãovejaBredanByrne,Op.Cit.,p.114-20;DavidPrior,Op.Cit.,p.127.281Em1Co12eleirádefenderaharmoniaecooperaçãoentreospossuidoresdediferentesdonsespirituaisnaigreja.Esteversoseadiantanesteraciocínio.282ElisabethS.Fiorenza,Op.Cit.,p.261-2;PeterBrown,Op.Cit.,p.16-20;BredanByrne,Op.Cit.,p.56.

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dispostaaofereceratodos.Nospróximosversosetambémmaisadiantenestecapítulo,eleirámostrarcomoodomdocelibatopoderiaserexercidoeutilizado.

Os princípios gerais de 7.1-7 começam agora a ser aplicados a váriasclassesdentrodaigreja.Osprimeirossãoosque,nomomento,nãoestãosobcontratodecasamento.

"Digo, porém, aos solteiros e às viúvas: é bom que permaneçam comoeu."283legodetoisagamoiskaitaischerais,kalonautoiseanmeinosinhoskaikago [Le,gw de. toi/j avga,moij kai. tai/j ch,raij( kalo.n auvtoi/j eva.n mei,nwsin wj kavgw,\] (7.8), agamoispodereferir-setantoahomenscomomulheres.284Amençãoespecíficadasviúvasdevejustificar-sepela vulnerabilidadede sua situação285oupelo fatoqueparapermanecersozinha, a mulher teria que agir de modo incomum.286O adjetivo “bom”, kalon, queocorreunolemadosascetasem7.1,voltaaserusadoaqui.Paulogostavadaopçãopelocelibatoevaivoltarainsistirnistoem7.25-40.Mas,agora,elesóapresentaaideiaparacolocá-ladentrodejustoslimites,reveladospelapróximafrase.

"Caso,porém,nãosedominem,quesecasem;porqueémelhorcasardoque viver abrasado."eideoukenkrateuontai,gamesatosan,kreittongarestingamesaiepyrousthai [eiv de. ouvk evgkrateu,ontai( gamhsa,twsan( krei/tton ga,r evstin gamh/sai h' purou/sqai](7.9),Seanteseleafirmou,atravésdoprovérbio,quenãocasarébom(kalon,kalo,n),agora,ponderaumcondiçãoondecasarémelhor(kreitton,krei/tton).

A comparaçãonãoéqueocasamentoémelhorqueocelibatoouvice-versa.Acomparaçãoéqueavidapura,decasadooudesolteiro,émelhorqueumavidadedesejoeimpureza,deumsolteiroquenãosecontrola.

Ofatoéquesemodomdacontinência(enkrateia),atentativadeviverocelibatovaigerarproblemas.ConformeobservaHansConzelmann,287nãosefalaaquidavirtude que todos os cristãos são incentivados a ter.288Não há nenhuma notadepreciativacomoseavidasexual fosseparacristãosquenãotêmautocontrole.Mas,dentro do contexto, Paulo mostra como saber se alguém tem o dom do celibato:verifiquesetemodomdoautocontrolenaquestãodosdesejossexuaisapontodeficarsolteiro.

O verbo pyrousthai parece acusar uma deliberada ambiguidade. Seusentido pode ser "ficar ardendo de desejo sexual" ou, em um sentido especial de"queimarnoInferno",poracabarpecandosexualmente.289Celibatomantidocomdesejode casarou compecadosexual (porneias)nãoéaceitável.Neste caso, émelhor casar.Assim,nestecaso,oprovérbio “bomparaohomeménão tocarmulher”nãopodeseraplicado.

Depois,Paulodirige-seaoscasados.Conformeseobservará,doisgrupossão claramente identificados: os casais onde os dois cônjuges são cristãos e os casais

283NVI.NesteversoARAerraaotraduzirTAISCHERAISpor"viúvos".Naverdade,nomundoantigo,homensqueperdemocônjugeficam“solteiros”emulheresnamesmasituaçãoficam“viúvas”.ÉumadiferençadesituaçãoculturalesocialquedeveserobservadapelosleitoresdoNovoTestamento.284F.W.Grosheide,Op.Cit.,p.161.285LeonMorris,Op.Cit.,p.86.286F.W.Grosheide,Op.Cit.,p.161,citaocasodeLc2.36.287F.W.Grosheide,Op.Cit.,p.120.288Gl5.23;2Pe1.6;At24.25.289F.Rienecker,&C.Rogers,ChaveLinguísticadoNovoTestamentoGrego,(LinguisticKeytotheGreekNewTestament,GrandRapids,Michigam,ZondervanPublishingHouse,1980,Trad.deGordonChown&JulioP.T.Zabatiero),SãoPaulo,EdiçõesVidaNova,1985,p.299,citandoF.F.Bruce.

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onde um não aceitou a fé cristã. Como se verá, seu conselho não permite o uso doprovérbio “bom para o homem é não tocar mulher” para justificar o divórcio e adestruiçãodocasamento.

ParaoscasaiscristãosPaulocitapalavrasexpressasde Jesus,oriundasda tradição oral ou de textos dos evangelhos que já estavam sendo redigidos nestaocasião.290Omesmoequilíbrioeequivalênciaobservados,anteriormente,entremaridoemulher,ocorremaqui:

Os verbos usados funcionam como sinônimos neste capítulo, e não hánecessidadedeverqualquerdistinçãorealentreeles.291

A frase de Jesus que Paulo cita deve ser aquela registrada emMarcos10.11-12:"Quemrepudiarsuamulherecasarcomoutra,cometeadultériocontraaquela.Eseelarepudiarseumaridoecasarcomoutro,cometeadultério."Esteditotambémfoitranscrito nos outros evangelhos,292e fazia parte dos ensinos de Jesus que a igrejaconhecia.Aabsolutaproibiçãodedivórcioporpartede Jesus, eraalgo surpreendentedentrodojudaísmo.293

Paulo, utilizando o dito de Jesus, coloca o divórcio como umaimpossibilidadeparaoscristãosdeCorinto.Paraele,ocasamentoépermanente.Assim,casohouvesseumaseparação,aspartesdeveriamoptarentre:solidãooureconciliação.Novo casamento não é uma opção, ean de kai choristhe, meneto agamos e to andrikatallageto[ eva.n de. kai. cwrisqh/|( mene,tw a;gamoj h' tw/| avndri. katallagh,tw](7.11).

PaulojáafirmouquecasamentoéumdomdeDeusequeosexodentrodocasamentoéummodoadequadodedarereceberprazer,evitandoopecadosexualqueépraticadoforadocasamento.Agora,insistequeoscristãospermaneçamcomseuscasamentos,pois,nãoháoutraoportunidadedeexpressãodavidaconjugalesexual,anãosercomoseuprópriocônjuge.

A sociedade sempre justifica divórcio e novo casamento como umanecessidade daquele que já foi casado de readquirir companheirismo e vida sexual.Paulo justifica a reconciliação com as mesmas necessidades. Para Paulo, os fortesimpulsos sexuais podiam ser usados como motivação para manter um casamento,mesmoemdificuldades.

290OUKEGOALLAHOKYRIOS(7.10),"nãoeumasoSenhor".CarstenPeterThiede,&MatthewD’Ancona,TestemunhaOculardeJesus,ImagoEditora,RiodeJaneiro,1996,apresentamargumentosparaumadataçãoantigadacomposiçãodosevangelhos,anterioraosanos50.291Nestecapítulo,CHORIZEIN(separar)ocorreem:10,11e15;APHIENAI(apartar)em7.11,12,13.DavidPrior,Op.Cit.,p.147,nota32ofereceduasexplicaçõesparaavariaçãodostermosnosversos10-11.Ummotivoseriapelofatodeque"nojudaísmoapenasomaridotinhadireitodedivorciar-se"(citandoC.K.Barrett).Umamelhorexplicaçãoseriaofatoqueohomemestáemsuaprópriacasa,epermanecelá,enquantoamulherdeixaoseudomicílio(CitandoF.Godet).292Mt19.9.OstextosdeMt5.31-32eLc16.18tratamdomesmoensino,masemocasiãodiversa.293DavidPrior,Op.Cit.,p.129observaqueJesuscontrarioutantoasescolasrabínicasdeHilleleShammai(asmaisinfluentes),comomodificoueensinocontidonoVelhoTestamento.WayneA.Meeks,Op.Cit.,p.159afirmaqueopontodevistadePaulo(edeJesus)poderiaserencarado"comoradicalizaçãodanormadamonogamiae,assim,comotraçodistintivodosgruposcristãos".ParecequeosEssêniostambémradicalizaramestaquestão,nãoaceitandodivórciopormotivoalgum.VejaJosephA.Fitzmeyer,“TheMattheanDivoceTextsandSomeNewPalestinianEvidence”inTheologicalStudiesvol37,nº2(1976).VejaumaexplicaçãobreveemJamesH.Charleswortth,JesusDentrodoJudaísmo(JesuswithinJudaism,Chicago,Doubleday,1988,trad.HenriqueAraújoMesquita),RiodeJaneiro,Imago,1992,pág.85.OutraexplicaçãoumpoucomaisextensaemJosephA.Fitzmeyer,101PerguntassobreosManuscritosdoMarMorto,(Responsedo101QuestionsontheDeadSeaScrolls,Mahwah,PaulistPress,1992,trad.MarcosBagno),SãoPaulo,Loyola,1997,págs.147-153.

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Assim,maisumavez,Paulonegaapossibilidadedeaplicaroprovérbio“bomparaohomeménãotocarmulher”comojustificativadedivórcio.Aoscasados,oSenhorjáordenouque“aoqueDeusajuntou,nãoosepareohomem”(Marcos10.9).

“Aos mais”, tois de loipois (7.12), marca a mudança do grupo a quemPaulo se dirige.294Fala agora aos casais onde apenas um dos dois é cristão e o outropermanece pagão.295A continuidade destes casamentos é incentivada (7.12-13). Aconversãoreligiosanãointerferenoscompromissosconjugaispré-arranjados.Havendoconsentimento da parte não cristã, o cristão não deve procurar nenhuma forma derompimentodovínculomatrimonial.

Novamente, é possível observar a equivalência e equilíbrio dasrecomendaçõesdadasaosmaridoseàsesposasnosversos12-16.Asfrasessãodirigidastantoaoshomenscomoasmulheresnumasurpreendenteequiparaçãodoscônjuges.

O peso da decisão é colocado sobre o lado não cristão por motivosóbvios:éestapartequevaidecidirseficacomoparceiroouoabandona.Apartecristãjátemcomopressupostoadecisãodeficarcomocompanheiro:omandamentodeJesussempreéválidoparaumcristão.

Paulo trata esta questão porque alguns cristãos cujo cônjuge não seconvertera, estavam pensando que seu contato sexual com um pagão estavaatrapalhando seu desenvolvimento espiritual.296A resposta de Paulo é extremamentereveladoradeseusconceitossobreasexualidade.

Para Paulo, o convívio com o descrente não acarretaria nenhumaimpurezanemparaocônjugecristãonemparaseusfilhos,muitopelocontrário,estesseriamsantificadospelomembrocristãodafamília.Aspalavrashegiastaiehagiaestin(7.14)devemserentendidoscomocontráriosaakathartos(7.14),istoé,"aquiloquenãopode ser posto em contato com a divindade."297O fato de Paulo usar um palavrateologicamente tão forte é importante. Conforme se observa,298ele poderia usar umtermomais fraco.Ousode "santificado" e "santo"mostra suadefesada santidadedarelaçãosexualetambémdosfilhosnascidosemcasamentosmistos.

Assim,oconceitodePaulosobresexualidadeéextremamentepositivo.Opoderdafécristãémaisfortequeopoderdomundodescrente.Oscristãos,nomundoqueoscerca,sãoopartidomaisforte.Elesnãoestãoàmercêdos"poderesdomalquecontrolamomundo",mastêmopoderdelevarasantidadeaoutros.299

O verso 15 trata daqueles casos em que o incrédulo não aceitavacontinuarcasado,masqueriaseparar-se(chorizein)docristão.Nestecaso,Pauloexplica

294Afrase"LEGOEGOOUCHHOKYRIOS"(7.12),mostraquesobreesteassuntooSenhorJesusnãohaviafeitonenhumpronunciamentoduranteseuministérioterrestree,portanto,oapóstolo,usandosuasprerrogativas,estabelececomoascoisasdeveriamser.295Conforme1Co7.39(casar...somentenoSenhor),oscristãossósecasariamcomcristãos.Afrase"mulherirmã"de1Co9.5)tambémpressupõeamesmanormadeacordocomWayneA.Meeks,Op.Cit.,p.159.296DavidPrior,Op.Cit.,p.132diz:"Oscoríntiosprovavelmentepensavamqueaincredulidadedeumcancelavaacrençadooutro.HansConzelmann,Op.Cit.,p.121,nota28refere-seaosconceitosjudaicosdaimpurezaritualcomouma"forçainfecciosa".297WillianF.Arndt,&F.WilburGingrich,AGreek-EnglishLexiconoftheNewTestamentandOtherEarlyChrystianLiterature(AtranslationandadaptationofWalterBauer'sGriechisch-DeutschesWörterbuchzudenSchriftendesNeuenTestamentsundderübrigenurchristlichenLiteratur,4aedição,1952),Chicago,TheUniversityofChicagoPress,1957,p.28.298DavidPrior,Op.Cit.,p.133.299HansConzelmann,Op.Cit.,p.122.

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queapartecristãnãoficaescravizadapelopagão:oudedoulotai.Ocristãopodedeixá-loirembora.

Aexpressãooudedoulotai,"nãoficasujeitoàescravidão"nuncaéusadapara designar o vínculo do casamento,300mas sim, o apego a algo a ponto de gerarescravidão,vício,dependência incondicional.ElaéusadaemTito2.3parafalarqueasmulheresmaisvelhasnãodevemserdependentesouviciadasemvinho.301Oamoraovinhonãopodesermotivodeescravidãoaele.Esteéopontoaqui:oamoraocônjugenão pode arrastar o discípulo para fora de Cristo. Mesmo assim, Paulo não abrepossibilidadeparaumaseparaçãovisandoumnovocasamento.

Aúltima frasedesteparágrafo (7.16) tem sido interpretada comoumanotadeesperançaoudeincertezaparaoscasamentosmistos.AlgunspensamquePauloestáafirmandoque"é incertoqueumconsortecrenteconsegia 'salvar'o incréduloaomanter o casamento". 302 Outros têm sugerido que Paulo estaria insistindo nacontinuidadedoscasamentosmistos,naesperançadaconversãodaparteincrédula.303Somosinclinadosaestaúltimainterpretação,emfunçãodocontextosubsequentedestecapítulo.304

Nofimdascontas,tudooquePaulofalouparaoscasados,dosversos10-16,negaapossibilidadedeaplicaroprovérbio“bomparaohomeménãotocarmulher”paraoscasados.Elesnãotêmmaisescolha:elestêmqueviveravidaconjugal.

“Comrespeitoàsvirgens”305,peridetonparthenon(7.25),marcaoiníciodarespostadePauloaoutraquestãoqueoscoríntiosformularam.Épossívelimaginarque esta questão e a anterior estivessem ligadas ou que fossem oriundas da mesmapreocupação.Naquestãoanterior,contudo,Paulo já faloudepessoassolteiras(7.8-9),deformaqueoqueelerespondeaquidevetratar-sedealgomaisespecífico.

As virgens, alvo desta resposta, devem ser as moças solteiras cujocasamento realizar-se-ia pelo arranjo do pai ou tutor.306As referências a homens,307nestetexto,sãoargumentosparaarespostadocasodasmoçase,logicamente,oquesedizsobreasmoçasteriaaplicaçãoerepercussãoparaosrapazes.Oproblemadeveter

300UmbomnúmerodecomentadoresaquioptapordizerquePaulopermiteodivórcioenovocasamentocomestafrase:HansConzelmann,Op.Cit.,p.123;LeonMorris,Op.Cit.,p.88;eoutros.MassePauloquisesseem1Co7.15dizerqueocristãoestálivreparacasar,poderiaterusadoaexpressãode1Co7.39:"ficalivreparacasarcomquemquiser".OtermochaveparaaligaçãodecasamentoéoverboDEIN,queocorreem7.27[=casado]eem7.39[=ligada].OverboDOULOUNnãoserefereaestevínculodocasamento,masaumaescravidãoàvontadedooutro(nestesentidoem1Co9.19).DEINsignificaaligaçãodocasamentoeestasóserompecomamorte(1Co7.39).301MEOINOPOLLODEDOULOMENAS.302LeonMorris,Op.Cit.,p.89;F.W.Grosheide,Op.Cit.,p.167.303JoachimJeremias,"LatareamisionalenlosmatrimoniosmixtossegunPablo(1Cor7,16)"inABBAyelMensajeCentraldelNuevoTestamento(Abba,JesusundsieneBotschaft,Göttingen,Vandenhoeck&Ruprecht,1966,trad.deAlfonsoOrtizetal.),3ªedição,Salamanca,EdicionesSiguime,1989,p.171-6;DavidPrior,Op.Cit.,p.133-4.304Nosversos17-24,Pauloestabeleceo"princípiodaestabilidade".Afirmaanecessidadedoscristãosnãoficaremextremamentepreocupadosem"mudar"desituaçãosocialdepoisdeconvertidoaCristo.ElesdeveriamdeixarDeustransformarsuasituaçãoenãoficarpreocupadosemcausarmudanças.Istocolaboraparaatesede"ficarcasado"queeleacabadedesenvolverparaoscasamentosmistosenaqualvoltaráatocarem7.27.Sobreapossibilidadedeconversãodeumcônjugeincrédulopelocristãover1Pe3.1-6.305ARA.ANVItraduz,"Quantoàspessoasvirgens",ampliandoosentidodotermovirgensparapessoasdeambosossexos.ABLHusaotermo"solteiros".306Apossíveltraduçãodosversos36-38referindo-seaosnoivosenãoaopaidamoçaesuafilhaéapresentadaemnotadepédepáginaemNVI.ContratalinterpretaçãovejaadiscussãoapresentadaporLeonMorris,Op.Cit.,p.96-97,ondeoptapelainterpretação"pai-filha"contraaideia"noivo-noiva".307Emverso26porexemplo.

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sidoqueo rigor contra relações sexuais, já combatidoporPaulo, tenha levadoalgunspaisarecusarcasarsuasfilhas.

Suaresposta inicia-semostrandoquenesteassuntoelenãopodiacitarnenhumditodoSenhorJesus308enemapresentarummandamentoapostólico.309Oqueapresenta é gnomen, "opinião, consentimento, parecer."310O valor deste deve seraquilatadoem termosdo fatodePaulo ter "recebidoamisericórdiadoSenhorde serfiel"etambémdeter"oEspíritodoSenhor".Taisexpressões,apesardeconfirmaremaimpressão de que Paulo não está dando ordens, deixam transparecer sua capacitaçãodivina311quedáimportânciaasuasopiniões.

Aquestãoéabordadaemtrêsraciocínios:312nosversos26-31elefalaafavor do celibato em função das pressões e problemas da época; nos versos 32-35defende a mesma ideia apelando para a possibilidade de uma maior consagração aCristo;porúltimo,nosversos36-38, incentivaaumaanáliserealistadasituação,paraquenãoseforceaocelibatopessoascomfortesdesejossexuais.313

Também, quatro frases são importantes para entender as razões darespostadePaulo.diatenenestosanananken (7.26), "porcausadaangustiosasituaçãopresente"; thlypsinde tesarkihexousin (7.28), "sofrerão angústia na carne";hokairossunestalmenos estin (7.29), "o tempo se abrevia"; paragei gar to schema tou kosmou(7.31),"porqueaaparênciadestemundopassa".

Estas frases de Paulo sobre as circunstâncias de sua época quejustificariam o celibato têm sido interpretadas de três formas: 1. Expectativaescatológica concernente à volta de Cristo e ao fim dos tempos; 2. Previsão deperseguição governamental ostensiva que começaria a ocorrer em menos de quinzeanosapósaredaçãodestacarta314;3.SituaçãoinéditadeproblemasemCorinto,sobreosquaispoucosabemos.

A favor da primeira interpretação corroboram as frases "o tempo seabrevia"e "aaparênciadestemundopassa".HansConzelmannvaialémemostraqueananke e thlypsis são termos apocalípticos que estabelecem omotivo escatológico.315Contudo, é muito estranho que em outras cartas onde os temas escatológicos foramimportantes,316omitiu-secompletamentetaisrecomendações.Defato,esteseriaoúnicotexto neotestamentário a ligar a volta de Cristo com a conveniência de celibato. Emoutro lugar, Paulo chega a considerar a proibição do casamento como uma heresiacompleta.317Oprópriocontextoanterior(versos1-7)querecomendouocasamentoea

308Comoem7.10.309Comoem7.12.310WillianF.Arndt,&F.WilburGingrich,Op.Cit.,p.162;JohannesP.Louw,&EugeneAlbertNida,Greek-EnglishLexiconoftheNewTestament:basedonsemanticdomains,secondedition,NewYork,UnitedBibleSocieties,1989,vol.1,p.366,parágrafo31.3.311LeonMorris,Op.Cit.,p.98.312DavidPrior,Op.Cit.,p.139.313Otextodosversos39-40falasobreasviúvas.314OsestudosmodernosdaambientaçãodascomunidadespaulinasestácadavezmaisconscientedaforçaedocrescimentoassustadordocultoaoImperadoremtodasascidadesdoImpério.CorintoeraumacolôniaromanaeocultoaoImperadoreraarrasadorali.OsestudiososdaBíbliamaisantigospensavamqueaigrejasóteveproblemascomocultoaoImperadornaépocadeDomiciano,mashojeestáprovadoqueestavisãoéequivocada.OcultoaoImperadoreraumaforçaquenãopodiaserignoradaporninguém.Oscristãos,queestavamdecertaformaisentosdocultoaoImperadorenquantoparecessemserumaseitajudaica,logoseriamdesmascaradosevistoscomoumgruposocialmenteperigosoparaapazsocial.315Conzelmann,Op.Cit.,p.132.316Comonascartas1e2Tessalonicenses.3171Tm4.1-5.

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vida sexual pareceriam contraditórios se adotássemos aqui uma interpretaçãoescatológica.

AsegundainterpretaçãopressupõequePauloestavaalertandosobreasperseguições inevitáveis que o cristianismo sofreria assim que o Estado Romanopercebesse que eles não eram uma seita judaica, mas uma nova religião, com ascaracterísticas de uma religião ilícita. O silêncio desta recomendação em outrosdocumentosquetratamdeperseguição318tambémeliminaestatese.

Resta-nosa terceirahipóteseque,apesardenãopoderqualificarquaiseramascircunstânciasdifíceisdequefalavaPaulo,reconheceseucaráterúnico,jáquetalpreocupaçãosóocorrenestacartaaosCoríntios.319Talvez,umaconjunçãodefatoresambientais adversos de Corinto (perversão e maldade), juntamente com a oposiçãogovernamental(perseguições),levassePauloasugerirocelibatoaosqueestãoprontosparaele.

Noverso26eleenunciaumlemaquejáfoipreparadoparaenunciaçãopeloparágrafoanterior.kalonanthropotohoutoseinai (7.26),"serbomparaohomempermanecer como está." Conforme diz Leon Morris, "quando os mares se encapelamenfurecidos,nãoéhorademudardenavio."320Oscasadosdeveriamcontinuarassim,eosolteiros continuar solteiros (7.27). Na verdade, Paulo está citando de novo seuprovérbio.

Talrecomendaçãonãoestáatreladaaqualquernoçãoética(7.28).Nãoháqualquerpecadoemcasar:ouchhemartes...ouchhemarten, insistePaulo.Seualvoépoupar de sofrimento. Sua recomendação nos versos 29-31 mostram uma situaçãoalarmante,ondetodosteriamdeagirdemodoanãoficarpresoanadaparanãosofrer.Taldesprendimentoenvolverianãoapenasocasamento,mastodasasesferasdavida.

Assim,oquePauloestádizendosobrea sexualidadeeocelibatonestetextoatéagora(verso31),nãorevelasuaavaliaçãodosexo,massuapreocupaçãocomavidacristãemsituaçõesextremamentedesfavoráveis.

OdiscursodePaulonosversos29-31sãoconsideradosporalguns,como"a passagem mais fortemente sujeita à influência estóica em todas as epístolaspaulinas."321Falandodocínicocomosinônimodefilósofo,Epictetodisse:

"Mas, no presente estado de coisas, no qual, por assim dizer, nós nosencontramosemplenabatalha,nãoénecessárioqueoCínicopermaneçalivredetudooquepossadistrai-lo,entregueinteiramenteaoserviçodeDeus,podendomisturar-seaoshomens, sem ser escravizado aos deveres privados, sem estar comprometido comrelações sociais às quais não possa subtrair-se, caso queira preservar seu papel dehomem da sociedade, papel que ele não poderá conservar sem destruir em si omensageiro,oguia,oarautodosdeuses?"322

Tal aproximação ajuda a ver o conselho de Paulo à luz de padrões depensamentoaceitáveisaoseutempo.Aomesmotempo,oscontrastesficamevidentes:Paulo fala de virgens e Epicteto fala de filósofos engajados em seu trabalho; Paulobaseia-seemexpectativasdetemposdifíceis,enquantoEpictetopressupõeoidealcínicodedesprendimentodomundoedascircunstâncias.

318Como1Pe,porexemplo,queemboranãosejadaautoriadePaulo,tratadotemadasperseguições.319AssimpensatambémLeonMorris,Op.Cit.,p.26.320Morris,Op.Cit.,p.93.321HansConzelmann,Op.Cit.,p.133.SemdúvidaeledesconsideradestacontagemasEpístolasPastorais.322Epicteto,Entretenimentos,III,22,67-71,citadoemJ.Comby&P.Lemonon,Op.Cit.,p.61.

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O próximo argumento de Paulo é seu alvo de que os coríntios fiquem"livresdepreocupações."thelodehumasamerimnouseinai (7.32).Nosversos32-35aspalavraschavetêmsuaraiznovocábulomeros,"parte":amerimnos(32),merimna(32,33, 34duas vezes),merizesthai (34). Seu argumento é que o solteiro podededicar-semaisaoSenhor,queocasadotemquedividirseucuidadocomocônjugeecomascoisasrelativasaocasamento.

Nãohánotexto,nenhumaacusaçãodefaltadeconsagraçãodoscasados,masapenasasugestãodePaulodequeumcelibatopormotivosdeconsagraçãoaDeuspoderia sermuito positivo. Provavelmente, Paulo está pensando em seu próprio casoque,comocelibatário,temcondiçõesdefazermaisdoqueaquelesquevivemdentrodasobrigaçõesdocasamento.Comodizcertoprovérbio:“VocênãopodecasarcomoPedroepregarcomoPaulo!”

No que diz respeito à sexualidade, Paulo afirma, mesmo que depassagem,323que no casamento, tanto o esposo como a esposa devembuscar agradarumaooutro(7.33,34):hodegamesas...posarestetegynaiki(33),hedegamesasa...posareste toandri (34). Embora estes termos sejam abrangentes e falem de toda a vidaconjugal, sem dúvida dizem respeito também à vida sexual do casal. Assim, Paulopressupõequeavidasexualdocasaléummeiodecadaparceiroagradarooutro.

Estes conselhos não visavam ser um problema para os que não têm odom do celibato, mas sim uma sugestão para aqueles que queriam uma opção deconsagração aDeus. Este é o sentido de seu reparo no verso 35. Paulo desconhece ocelibato imposto a todosou aumgrupoespecífico, comooque aconteceunahistóriaposteriordacristandade.324Paraele,ocelibatopodeserumaexpressãodeconsagraçãoaDeusopcional.

Seuterceiroraciocíniovoltadoseuidealpessoalparaarealidadepráticadecadaum.Seadecisãodenãosecasar forumproblema,ocasamentonãodeveserconsideradoerradooupecado(7.36).Ascondiçõesparaqueocasamentoserealizesão:1.eanehuperakmos325(7.36),"seestápassandooclímaxdaidade",ouseja,seaépocacerta de casar já chegou; 2. kai houtos opheilei ginesthai (7.36), "e assim deve serfeito"326, ou seja, as condições de abstinência e controle anteriormente mencionadas(7.9) não existem. Paulo insiste que não há erro nestes casamentos: “não peca”,ouchhamartanei(7.36).

ApesardaclarapreferênciadePaulopelocelibato,elemostraquenãohánenhumerronocasamento.Considera,nocasoemquestão,dadaasituaçãoangustiosaeas possibilidades de consagração, o celibato melhor (home gamizon kreisson poiei),emboraaindaconsidereocasamentocomoalgobom(hogamizon...kalospoiei)(7.38).

Numa última observação, Paulo volta sua atenção às viúvas (7.39-40).Enfatizao fatodocasamentoserválidoduranteavidaeambososcônjuges,demodoqueamorte libera aparte vivaparaumnovo casamento.327"Paulo concedeàs viúvas

323OalvodePauloédemonstrarasliberdadesdeopçãodoscelibatários,masacabafalandodoqueépróprioaoscasados.324Pauloinsiste,porexemplo,queosbisposdaigrejasejamcasadoscomorequisitofundamentalparasuaordenação(1Tm3.2,4-5;Tt1.6).Assim,nãosepodeafirmarquecasamentoindicariafaltadeconsagração,massimqueocelibatoabriaalgumaspossibilidadesfechadasaoscasados.325DavidPrior,Op.Cit.,p.148nota59,sugereque"sesuaspaixõessãofortes"comoparáfraseparaestafrase,indicandoquefortedesejossexualéumarazãoaquimencionadaparacasar.326LeonMorris,Op.Cit.,p.96.327Romanos7.1-6comparaovínculocasamentocomaligaçãodohomemcomaleimosaica.Assimcomoocasamentovaleportodaavida,assimaleideMoisésvaleenquantoohomemestávivo.Mascomoocristão

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liberdade completa para se casarem novamente."328O único requisito é que talcasamentosejafeitocomalguémquejáécristão.329Insistecontudo,nopossívelvalordocelibatodeconsagração(7.40).

O conselho de Paulo para que estas viúvas não se casem parececontraditóriocomoqueeleescreveuaTimóteo,recomendandojustamenteocasamentodecertasviúvas:

"Portanto,aconselhoqueasviúvasmaisjovenssecasem,tenhamfilhos,administremsuascasasenãodêemaoinimigonenhummotivoparamaledicência".(1Timóteo5.14).A divergência de conselhos é devida a diferentes situações.Na carta aTimóteo,Pauloestáregulamentandootipodeviúvaquedeveráserinscritanonúmerodaquelas que, por não terem sustento nem amparo, ficarão aos cuidados da igreja,realizando tarefasdecompromissoespiritual.Nestas condições, asviúvasmaisnovas,compossibilidadedenovocasamento,nãodeviamserinscritas,masincentivadasaumavidanormal(1Timóteo5.3-16).

OquesededuzdestacomparaçãonãoéqualquerincoerênciadePaulo,massimadiferençadesituaçõesentreasduascomunidades.EmCorintoseriamelhornãocasardenovo,masnasituaçãodeÉfeso,oconselhofoiparaquesecasassem.Nãohá em Paulo qualquer preconceito contra o segundo casamento dos viúvos, comoaconteceunacristandadedosséculosposteriores.330

Assim, o provérbio “é bom ao homem não tocar mulher” recebe umacompletaponderação,atendendoatodosostiposdeexperiênciaededom,comrespeitoaocasamento.

morreuparaaleipelobatismo(Rm6.1-14),eleestálivredela.OpontocentraldestetextoéodeensinararelaçãodohomemcomoVelhoTestamento.Oqueseaprendedepassageméopressupostoquecasamentosóédissolvidopelamortedeumdoscônjuges.328DavidPrior,Op.Cit.,p.145.329Assimentende-seafrase:MONONENKYRIO.Nãoaceitamosasuposiçãoqueosentidodafrasepoderiaseralargadoparasignificar"apenasdentrodavontadedoSenhor".TalsuposiçãosignificariaqueaviúvadeveriaolharparaváriosoutrosaspectosdavontadedoSenhor,antesdesuadecisãoenãoapenasseopretendidoéumcristão.AssimpensaDavidPrior,Op.Cit.,p.148,nota60.Seistofossefeito,certamente,oresultadoseriaomesmo:ocasamentosópoderiaserdentrodavontadedoSenhorseocônjugefosseumcristão.330E.A.C."Sexuality"inEverettFerguson,(Ed.),EncyclopediaofEarlyChristianity,NewYork&London,GarlandPublishingInc.,1990,p.843-5.

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7.19–h` peritomh. ouvde,n evstin

kai. h` avkrobusti,a ouvde,n evstin(

avlla. th,rhsij evntolw/n qeou/)

“Acircuncisãonãoénada

eaincircuncisãonãoénada,

mas[oquevale]écumprirosmandamentosdeDeus”

Vários fatores identificam esta frase como um provérbio. (1) Esteprovérbiopaulinoéumbomexemplodeumditoconstruídoemparalelismoedepoisem antítese. Esta forma “poética” do discurso, por si só, já recomenda a frase comoproverbial. (2) Outro aspecto que faz a frase ser proverbial é a ausência de artigo,sobretudoantesdapalavra“mandamentos”. (3)Alémdisto,corroborapara identificarestafrasecomum“ditado”paulinoésuarecorrênciaemGálatas5.6e6.15comformasum pouco diferentes. (4) Ramsaran enfatiza o uso da frase dentro de um raciocínioretórico muito coerente que envolve 1Co 7.17-24.331Assim, temos uma frase com alinguagem,belezaeusoqueesperaríamosparaumprovérbio.

1Coríntios 7.17-24 está construído em uma clara inclusão. Utilizo aanálise de Ramsaran, com leves alterações.332Paulo vai falar sobre duas diferentescondições: (i) estar circuncidado ou não; (ii) ser escravo ou não. Contudo, como nocontextoanterior,oargumentoésobrenãoabandonarocasamento(1Co7.1-16)enocontextoposterior, o argumentoénãoentrar emumcasamento (1Co7.25-40), oquePaulo diz aqui aplica-se muito bem a todo o seu esforço argumentativo, embora eletrabalheemduasfrentesdiferentes.

Otextosedesenvolvecomaretóricaconcêntrica,tãocaraaosoradoresorientais. A diretriz principal está no início (v. 17), no centro (v. 20) e no fim doparágrafo(v.24),caracterizandonãoapenasuma“inclusão”,mastambémenfatizando,semsombradedúvidas,qualéoconselhoprincipaldetodoesteargumento.

Texto(1Co7.17-24) ConselhoBásico

A Diretriz 17 Eiv mh. e`ka,stw| w`j evme,risen o` ku,rioj( e[kaston w`j ke,klhken o` qeo,j( ou[twj peripatei,twÅ kai. ou[twj evn tai/j evkklhsi,aij pa,saij diata,ssomaiÅ

Permanecer nacondição em que setornoucristão.

B Ilustração 18 peritetmhme,noj tij evklh,qh( mh. evpispa,sqw\ evn avkrobusti,a| ke,klhtai, tij( mh. peritemne,sqwÅ

Secircuncidadoounão,istoéindiferente.

C Provérbio 19 h` peritomh. ouvde,n evstin kai. h` avkrobusti,a ouvde,n evstin( avlla. th,rhsij evntolw/n qeou/Å

O importante é aobediênciaaDeus.

A’ Repetiçãodadiretriz

20 e[kastoj evn th/| klh,sei h-| evklh,qh( evn tau,th| mene,twÅ

CENTRO DO TEXTO:permaneçacomoestá.

331RollinA.Ramsaran,Op.Cit.,pág.398.332Ibidemacima.

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B’ Ilustração 21 dou/loj evklh,qhj( mh, soi mele,tw\ avllV eiv kai. du,nasai evleu,qeroj gene,sqai( ma/llon crh/saiÅ 22 o` ga.r evn kuri,w| klhqei.j dou/loj avpeleu,qeroj kuri,ou evsti,n( o`moi,wj o` evleu,qeroj klhqei.j dou/lo,j evstin Cristou/Å

Se é escravo ou não,istoéindiferente.

[Estas mudanças destatus social erampossíveis].

C’ Exortaçãoproverbial

23 timh/j hvgora,sqhte\ mh. gi,nesqe dou/loi avnqrw,pwnÅ

O importante é serservodeDeusenãodehomens.

A’’ Repetiçãodadiretriz

24 e[kastoj evn w-| evklh,qh( avdelfoi,( evn tou,tw| mene,tw para. qew/|Å

Logo, era para ficar nacondição inicial da suafé.

Oquesepercebenestaanáliseéqueoargumentoda“indiferença”333éusado tanto para falar do caso da circuncisão/incircuncisão (v. 18) como no caso daescravidão/liberdade(v.21-22).EstescasossãoilustraçõesdopontoprincipaldePaulo:“permaneçamnoestadocivil(casado/solteiro)emqueestão”.

Assim, surge um quadro tríplice de coisas indiferentes: (1)circuncisão/incircuncisão;(2)escravidão/liberdade;(3)casamento/celibato.Elesestãoem óbvio paralelo com Gálatas 3.28, que fala da indiferença das condições: (1)judeu/grego;(2)escravo/livre;(3)homem/mulher.

OsdoisargumentosdePauloseutilizamdeumailustração(B)edeumprovérbio(C).Assim,oprovérbiosobreopoucovalordacircuncisãofechaoprimeirociclo do argumento. O que vale é guardar os mandamentos – e, logicamente, acircuncisãonãoéummandamentodeDeusparaosdiscípulosdeJesus.

EmGálatas5.6e6.15,estesprovérbiosdesempenhamumcarátermaiscentralnoargumento,poisaquestãotratadaláéexatamenteanecessidadeounãoderealizarcircuncisãonosdiscípulosdeJesus.Seem1Coríntios,oprovérbioécitadocomoexemplo,emGálataseleéafirmadocomoumprincípioperenedeação.

Uma comparação das três ocorrências do provérbio ajuda a ver assemelhanças e diferenças, além de enfatizar uma certa identidade das três cláusulasfinais.Ouseja,guardarosmandamentos(1Co),aféatuantepeloamor(Gl5)eosernovacriação(Gl6)

1Coríntios7.19

h peritomh. ouvde,n evstin

kai. h avkrobusti,a ouvde,n evstin(

avlla. th,rhsij evntolw/n qeou/)

Gálatas5.6

evn ga.r Cristw/| VIhsou/ ou;te peritomh, ti ivscu,ei

ou;te avkrobusti,a

333WillDeming,PauloeascoisasindiferentesinJ.PaulSampley(org.),Paulonomundogreco-romano:umcompêndio(PaulintheGreco-RomanWord:ahandbook,ContinuumInternationalPublishingGroup,2003,trad.deJoséRaimundoVidigal),SãoPaulo,Paulus,2008,pág.337-354.

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avlla. pi,stij diV avga,phj evnergoume,nhÅ

Gálatas6.15

ou;te ga.r peritomh, ti, evstin

ou;te avkrobusti,a

avlla. kainh. kti,sijÅ

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8.1-pa,ntej gnw/sin e;comen

“Todostemosconhecimento”

Este provérbio, certamente dos coríntios334, era um “slogan” daquelesquequeriamjustificarsualivreparticipaçãoecirculaçãonomundopagãodeseutempo.Os capítulos 8, 9 e 10 desta epístola, tratam da delicada questão, formulada peloscoríntios em sua carta ao apóstolo,335sobre o procedimento cristão diante dasatividadesassociadasaopaganismoeàidolatriadomundoantigo336.

Quase toda carne, vendida nos mercados, já tinha sido oferecida aalguma divindade ou passado por um templo pagão. Muitas festas e reuniões deassociaçõescomerciais,sindicatosetc,eramfeitosemrecintosdetemplospagãos,sob“patrocínio”dedeuses.Muitasatividadessociaisdacidadeedaspessoascomasquaisos cristãos deviam relacionar-se eram feitas em clara associação com paganismo. Ouseja,todaavidasocial,comunitáriaeatémesmoprofissionaldosantigosestava,deumaformaououtra,ligadacomrituaispagãos.337

Nesta questão, formaram-se dois partidos (seria melhor dizer‘tendências’) em Corinto: “os sábios” e “os fracos”338. A tentativa de associar estespartidosaoscitadosnoiníciodacartanãopassadeconjectura,vistoquenãohánotextoda carta, qualquer indício de ligação daqueles grupos com estes. As associaçõesgeralmenterefletemmaisaperspectivadointérpretesobreospartidosdoquequalquerinformaçãoconcreta.339

“Ascoisas sacrificadasaos ídolos”, taeidolothyta [ta. eivdwlo,quta] (8.1,7,10,19)340,tambémpodemserchamadosporoutrotermo,hierothuta[iero,quta](10.28)ereferem-se,especificamente,aosalimentosquetinhampassadoporqualqueroferendapagã, “da comida sacrificada aos ídolos”, tesbroseos toneidolothyton [th/j brw,sewj tw/n eivdwloqu,twn] (8.4).Asquestões levantadas sobreo consumodestes alimentospodiamser de âmbito particular e de âmbito público ou social. Em casa, sua ou de outro: ocristão poderia comer destes alimentos? Em público: o cristão pode participarsocialmentedasrefeiçõesemtemplosdeídolos?Estasduasquestõessemisturam,earespostafinaldePaulosóseobservarálendo8.1até11.1.

Os chamados ‘sábios’ tinham “slogan” “Todos temos conhecimento”,pantesgnosinechomen [pa,ntej gnw/sin e;comen] (8.1), que é explicado no verso 4-6: “osídolosnãosãonada;todossabemqueDeuséumsóequeháumsóSenhor,portanto,não há restrição em um alimento por ter passado por um ídolo – o ídolo não temqualquerpoder.”341

334Conzelmann,FirstCorinthians,p.140,tambémn.8,Vincent,Op.Cit.,p.226,AndersEriksson,Op.Cit.,p.141,143,150-151,305.335AndersEriksson,Op.Cit.,p.137,n.10acreditaquePaulorespondeaumaquestãodoscoríntios,mascitaalgunsestudiososquelevantamobjeçõesoudúvidassobreafórmulaperidereferir-sesempreàsquestõescoríntias.336Rm14.1-15.13tratadamesmaquestão,comalgumasoutrasquestõessendoenvolvidas.337Morris,p.99,Prior,p.149-150citandoW.Barclay;Findlay,Op.Cit.,p.838.338AceitoesigoasrecomendaçõesdeAndersEricksson,querecomendanãoseutilizaraterminologia“fortexfraco”oriundadeRomanos14-15,masostermos“‘sábios’xfracos”destelivro.AndersEriksson,Op.Cit.,p.138-144.339Prior,p.150,identifica“osfracos”com“osdePedro”.Nãoháfundamentoparatalafirmação.340TambémemAt15.29;21.25;Ap2.14,20.AexpressãoéchamadaemAt15.20de“contaminaçãodosídolos”,tonalisgematontoneidolon[tw/n avlisghma,twn tw/n eivdw,lwn].341Meeks,OMundoMoral,p.122.

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A frase é citada com ironia: 342 uma versão traduz o provérbioironicamente dizendo “todos somos senhores do saber”343. Com ela, os chamados‘sábios’,negamaos“fracos”odireitodeexistir344.Naverdade,senegamaverqueoutrospensamdiferentedeles.

“Todostemosconhecimento”nãopodeserumlemagnóstico,pois,estesafirmavamque‘sónóstemosconhecimento’.Poroutrolado,estatendênciadejulgar-seconhecedor de tudo e portanto, acima de crítica e de juízo moral, é um frutonormalmentecolhidonognosticismo.

Oproblema,comoPauloirámostrar,nãoestáno“conhecimento”ounadoutrinaqueos‘sábios’professavam.Defato,Pauloirácondordarcomeles.Oproblemado lema “Todos temos conhecimento!”, como se observará, é o orgulho e a falta desensibilidadeparacomosoutroseparacomopecado.

Este slogan será explicitamente negado no verso 7: “não há esteconhecimento em todos” ouch en pasin he gnosis [ouvk evn pa/sin h gnw/sij]. Existem “osfracos”eelestêmdireitonãosomenteàsuaopiniãomas,sobretudo,aorespeitoeamor.Quem se julga “sábio”, devemostrar sua “sabedoria” suportando os outros. Também,mostraoseu“conhecimento”,reconhecendoaexistênciadeoutrosmodosdepensar.

Osversos7-13são,emtermosretóricos,umaamplificaçãodotema“nãoháesteconhecimentoemtodos”.345Numaamplificação,umaideiaétratadaeretratadade vários modos, por vários ângulos. Neste caso, a tese de que “não há esteconhecimento em todos” é amplificada por: (i) apresentação das razões da afirmação(v.7b-8);(ii)apresentaçãodosefeitosnegativosdaopiniãocontrária:tropeço, induçãoaopecado,perdadeumaalmaepecadocontraosirmãosecontraCristo(v.9-12);(iii)apresentaçãodeumexemploedecisãopessoal,recomendadosatodos(v.13).

“Todos temos conhecimento” é um bom alvo, mas raramente serádescrição da realidade da vida na igreja. O povo de Deus sempre necessita levar emconta os fracos, os novos na fé, os ignorantes e todos os que pensam diferente. Oconhecimentotemqueserusadocomamor.

342Vincent,Op.Cit.,p.226,Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.163.343ARA.344Meeks,OMundoMoral,p.123345AndersEriksson,Op.Cit.,p.160.

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8.1-h` gnw/sij fusioi/( h` de. avga,ph oivkodomei/\

“Oconhecimentoincha,masoamoredifica”

Nos versos 1-3, Paulo faz seu slogan de combate346ao ditado coríntio,“todostemosconhecimento”.Oditadopaulinoé“osaberincha,masoamoredifica”,hegnosisphysioi,hedeagapeoikodomei[h gnw/sij fusioi/( h de. avga,ph oivkodomei/\](8.1).

Paulomostra que o caminho da edificação347verdadeira não se realizacomconhecimentosemamor,nemcomorgulhodedefendersuarazão,apesardeoutrosnãoconseguiremacompanharoconhecimentoquesedefende.

Os versos 2-3 são um parêntesis348ou detalhamento dos dois termoschavescitadosnoprovérbiopaulino:doamoredosaber.

Em primeiro lugar, quem acha que sabe tudo, não sabe nada. Quantomaissesabe,maisseaprendeadimensãodoquenãosesabe.Háumagrandediferençaentrepossuirconhecimentoeserpossuídoporele349.

Em segundo lugar, a proposta de Paulo é que, quem ama a Deus éconhecido porDeus. Seria de se esperar uma frase orgulhosa e pretensiosa tal como:“QuemamaaDeus, conhece tudo”350.Paulo, contudo,mostraqueoque importaé serconhecido por Deus, participar da graça, e ser aprovado por Deus. É melhor serconhecidoporDeusdoquepretenderconheceraDeus.

Assim, elemostra que o amor émelhor que o conhecimento, tanto norelacionamento com Deus, como no trato com os irmãos. O amor vem antes doconhecimento.

Esteprovérbiopaulino, recentemente, temsidousado foradocontextoqueogerou,sendooprediletodaquelesquesesentemintimidadospeloconhecimentoda Bíblia. Quando observam que alguém está usando o conhecimento bíblico paracorrigi-lo,eleslogoapelamparaestetexto,comoseelejustificasseaignorância.Queremdizer:“Estudarmuitovaifazervocêorgulhoso”.

Naverdade,aliçãonãoéparasermosignorantes.Paulovaiidentificar-secomos‘sábios’emseusaber(4,8),masnãoemsuaatitude.Assim,oquesecorrigenãoéadoutrina,masaatitude.Emoutrolugar,oconselhoserá,“falar/viveraverdadeemamor”(Efésios4.15).

346AndersEriksson,Op.Cit.,p.161nota112mostracomoexemplosostextosde6.12,6.13,7.1,8.1e10.23comoexemplosdatáticadePaulodeadicionarumafraseponderadoraaosprovérbioscoríntios.347Buscaroamoreaedificaçãoseráasoluçãoparaoexercíciodosdonsem1Co12-14.Nocapítulo13elediráespecificamenteque“oamornãoseensoberbece”(13.4).Nocapítulo14,comoconseqüênciadeterescolhidoocaminhodoamor,eleincentivaaigrejaabuscaraedificaçãoumdooutronoexercíciodosdonsespirituais,enãoapenaspermitirqueosabersejaexercidosemamor(13.2)esemoalvodeedificar.348Vincent,Op.Cit.,p.226.349Oster,Op.Cit.,p.190.350Morris,Op.Cit.,p.100.

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8.4-ouvde.n ei;dwlon evn ko,smw|( ouvdei.j qeo.j eiv mh. ei-jÅ

“Não[há]nenhumídolonomundo;não[há]Deussenãoumsó.”

Duas frases que ocorrem em 1Coríntios 8.4 podem ser provérbiospaulinos e tambémcoríntios351, vistoque são frases absolutamenteverdadeiras equepodiam ser usadas em conjunto ou isoladamente. Boa parte da pregação cristã aosgentios desmascarava a idolatria352e, portanto, estes provérbios podiam sempre serincluídosnestetipodeprática.

A primeira parte do provérbio, nega a existência dos deuses, emboraexistissemsuasestátuasourepresentações:“Não[há]nenhumídolonomundo”oudeneidolonenkosmo, [ouvde.n ei;dwlon evn ko,smw|] (8.4).Osdeusessãoum ‘não-ser’.A frase ‘nomundo’ refere-se ao universo real: assim, não há realidade objetiva por trás dasrepresentaçõesartísticasdosdeuses.353

A segunda frase afirma que Deus é um só e somente ele está nestacategoria,ouseja,nãohá‘deuses’:“Não[há]Deussenãoumsó”,oudeistheoseimeheis,[ouvdei.j qeo.j eiv mh. ei-j](8.4).

Estes lemaspoderiamserprofessadospelos judeus354,peloscristãos355,poralgunsfilósofospagãos356epormuitosmais357.OsídolossãonadaeDeuséumsó.Assimsendo,asuperstiçãoeotemordiantedasdivindadesécoisaridícula.Nãoháumaverdadeirarealidadenareligiãofalsa.

Comoarealidadenaqualoscoríntiosviviameraclaramenteidólatra358(verso 5), os chamados cristãos ‘fracos’ viam estas atribuições de divindade demodomaissérioerealistadoqueoschamados‘sábios’dentrodaigrejadeCorinto.

Há quem pense que as frases do verso 5 que afirmamque “hámuitosdeuses e muitos senhores” poderiam ser o “slogan” dos ‘fracos’.359Se a frase é um“slogan”ounão,representaotemoreorepúdioaomundoidólatradoqualoscristãoshaviamseconvertido:daidolatriaparaoDeusúnico(1Tessalonicenses1.9).

Na verdade, Paulo concede aos deuses e ídolos (no verso 5), umaexistênciadevidaàspessoasqueosconsideravamcomo ‘deusesesenhores’.DevemoslembrarqueocultoaoImperadoreàsuafamíliacomodeusesvivoseraumadasforçasmaispujantesevisíveisdoImpérioRomanoedacidadedeCorinto.360Seriamuitodifícil

351Esteprovérbioéintroduzidocom“sabemosque”.Éexatamenteassimqueoprovérbiode8.1tambéméintroduzido.Assim,tantoestesslogan(8.4)comoaquele(8.1)estãosendoutilizadospelos‘sábios’dentreoscoríntios.352At14.15-18emListra;At17.22-31emAtenas;At19.26emÉfeso.353Hc2.18:‘imagemdefundição,mestradementiras’;Salmo106.28:‘ídolosmortos’;Sl115.4-7;135.15-17.354Assimdiziaaconfissãodefédosjudeus,Shema:Dt6.4.355Ef4.4-6;1Tm2.5-6;Rm3.30;11.36;1Tm1.17;6.16;etc.356Porexemplo:MarcoAurélio,Meditações,VII.9:“Comefeito,unoéomundoquecompõemtodasascoisas;unooDeusqueestáemtodaparte;unaasubstância;unaalei;unaarazãocomumatodososseresracionais;unaaverdade”(traduçãodeWillianLi)[ko,smoj te ga.r ei-j evx apantwn( kai. qeo.j ei-j dia. pa,ntwn( kai. ouvsi,a mi,a( kai. no,moj ei-j( lo,goj koino.j pa,ntwn tw/n noerw/n zw|,wn( kai. avlh,qeia mi,a].357Numaevidenteironia,Tg3.19dizqueosdemôniostambémcrêemqueDeuséumsó!358Ébomlembrarqueosimperadoresromanosusavamtítulostaiscomo:deus,senhor,salvador,etc.359AndersEriksson,Op.Cit.,p.155-156.Grosheide,p.192acreditaqueosversos5e6contêmcitaçõesdacartadosCoríntiosaPaulo,masnãoexplicaquaisseriamostextoscitados.Morris,p.100acreditaqueoprovérbio‘nãoexistenenhumídolonomundo’éestacitação.360RichardA.Horsley,ed.,PauloeoImpério:religiãoepodernasociedadeimperialromana,SãoPaulo,Paulus,2004.Emboranãosedevaconcordarcomtodasasinterpretaçõesdosautores,acompilaçãodedadosémuitoinformativaeforte.

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viver em Corinto e dissociar-se das celebrações, monumentos e coisas relativas aos‘deusesesenhores’encontradosnafamíliaimperialenopróprioimperador.

Contudo, Paulo não considera que sejam verdadeiros ‘deuses’.Considerarestesoutroscomodeuseséumaconcessãoà linguagemepensamentodosquenelesacreditam.361

Todos os cristãos afirmam: “Um-só-Deus-e-um-só-Senhor”362 (verso6).363Os‘sábios’levamestafraseparaumlado,os‘fracos’paraoutro.

Os chamados cristãos ‘sábios’ que afirmavam que os ídolos não eramnada, não se importavam com qualquer contato com eles ou com as coisas a elesrelacionadas.

Paulo introduz uma ‘fórmula de fé’364, com a qual todos os cristãosconcordariam e que apóia os provérbios acima que falam da unicidade de Deus. Afórmula de fé, além de afirmar queDeus é um só, afirma que as coisas destemundoforam criadas por Deus, pormeio de Jesus. Assim, ele “dessacraliza” os ídolos e seusrituaise“abençoa”todasascoisas, inclusiveosalimentos,enquantocoisascriadasporDeus.

Estas‘fórmulasdefé’,deviamfazerpartedovastorepertóriode“clichês”cristãos,atradiçãodoevangelho365,utilizadostantoparapregaçãocomoparaoensino.Afórmulaé(verso6):

“HáumsóDeus,oPai,

dequemvêmtodasascoisasenósparaele;

eumsóSenhor,JesusCristo,

pormeiodequemvieramtodasascoisasenósatravésdele”

Dopontodevistadoestudodas formasda literatura cristã, esteversopertenceàcategoriadas“aclamaçõesei-j”,ouseja,asfórmulasdeféquefalamdehaver“um”Deusou“um”Senhor,ou“um”Espírito.366

Adeclaraçãoéverdadeira.(i)AfirmaqueháumsóDeuseumsóSenhor:éumadeclaraçãodadivindadedeJesusedaunidadedeJesuscomoPai367.(ii)AfirmaqueDeuséoCriadorde todasas coisas atravésde Jesus: éumadeclaraçãodadivinaatividade na qual o Pai sempre age pelo Filho e o Filho faz tudo que quer o Pai. (iii)

361Oster,Op.Cit.,p.193.362Comparecom1Tm2.5.363Certosmanuscritosrecentes(630eoutros),queriamtambémintroduzirumafraseparaoEspíritoSanto,paraequilibrarseuspontosdevistatrinitarianosposteriores:“eumEspíritoSanto,noqualexistemtodasascoisasenósnele”.364ExemplosdefórmulasdefésimilaressãoencontradoscomcertaconstâncianascartasaTimóteoeaTito:1Tm1.15;2.5-6;3.16;4.10;6.13;2Tm1.8-10;2.8;4.1;Tt1.2-3;2.11-14;3.4-8.Também1Co12.3e[At8.37],apesardaincertezatextualdesteúltimo.365AndersEriksson,Op.Cit.,p.120-127.366PhilippVielhauer,HistóriadaLiteraturaCristãPrimitiva,SantoAndré,AcademiaCristã,2005,pág.61-64.Textossimilaressão:Ef4.4-6;1Tm2.5-6.367SobreadivindadedeJesusnoNovoTestamento,oartigodeRichardBaucham,Paul’sChristologyofDivineIdentity,égrandementeiluminador,aoafirmarqueaAltaCristologiadoNovoTestamentoqueafirmavaadivindadedeJesusatingiaseusobjetivosidentificandoJesuscomoPaideformaquesuadivindadenãoeraatribuídapelaextensãodacategoriadedivindadeaoutros,maspelaparticipaçãodeJesusnaidentidadedaquelequeéoÚnicoDeus.

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AfirmaqueodestinoúltimodoshomenséiraDeus,atravésdeJesus:afirmaoamordeDeusearedençãodeJesus.

Mas,seutilizadademodointeresseiro,causavamaisproblemasdoquepromovia o conhecimento da verdade. Este é um exemplo de “verdade sem amor”368.Eles estavam usando a doutrina da unicidade de Deus para apoiar seu procedimentocontra os que ainda não tinham chegado a compreender todas as aplicações desteensinoemsuasvidas.Eraumprocedimentocruel.

Os‘sábios’369daigrejadeCorintousavamestafórmulaparaafirmarquenão haveria problema em participar das comidas oferecidas a ídolos, até mesmo emtemplospagãos(v.10).

Este conhecimento, contudo, não estava bem digerido e assentado emtodososcristãos(v.7).Partedaigrejatinhaproblemasdeconsciênciaemparticipardequalquercoisaqueoslembrassedeseusantigosdiasdepecado(v.7).

Pauloreconhecequeosalimentosnãotêmligaçãocomaespiritualidade(v.8).Oídolonãoénadaeosdeusessãomentiras.Nãohápodernamentira.Contudo,mais tarde, em seu argumento, vai introduzir a figura dos demônios na questão daidolatria,mostrandoque,emboraosdeusesnãoexistam,osdemôniossim(10.20).

Nestemeio tempo, não se pode usar o conhecimento da verdade paraatrapalharafédaquelesqueaindanãoamadureceram.Pode-sepecar(v.12)contraosirmãos:(a)contaminando-lhesaconsciência,por induzi-los370aparticipardealgoqueelesjulgamerrado(vs.7,10);(b)fazeralguémtropeçarecairdafé(vs.9,11).

Este provérbio paulino e coríntio prova que é possível agir errado,mesmo à partir de premissas verdadeiras. Isto pode ocorrer, quando não se leva emcontatodaarealidade.

ApropostadePaulonãonegaasfrases“nãohánenhumídolonomundo;não háDeus senão um só”,mas, apenas pondera que pecar contra um irmão é pecarcontra o próprio Cristo (v. 12), coisa que Jesus já havia afirmado antes371e que eleconheciaporexperiênciapessoal372.

Paulo prefere uma postura radical, não comer mais carne, a fazerqualquerpessoaseafastardeJesus(v.13).Nãohánovidadenesteconselho,vistoqueparafraseiaosditosdeJesussobrearrancarecortaroquefazalguém(ounósmesmos)tropeçar373.

368ContrariamenteaEf4.15.369Meeks,OMundoMoral,p.122-3-“osfortes”.370Apalavraoriginalqueétraduzidacomo‘induzida’(ARA),‘induzido’(NVI)significa,literalmente,‘edificada/o’[oivkodomhqh,setai].Conzelmann,FirstCorinthians,p.149,vênistoumaobservaçãoirônicadePaulo.Nãoseriaedificação,masdestruição,comoeleafirmaránopróximoverso(11).371Mt10.40;Mc9.37.372At9.4.373Mt18.6-9;Mc9.42-48;Lc17.1-2.

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8.8-brw/ma de. h`ma/j ouv parasth,sei tw/| qew/|

“AlimentonãonosrecomendaráaDeus”

“Alimentonãonos recomendaráaDeus”,bromadehemasouparasteseitotheo [brw/ma de. hma/j ouv parasth,sei tw/| qew/|] éumprovérbiopaulinoque se contrapõeatodo tipo de tentativa de estabelecer dietas alimentares como modo de adoração aDeus374. Este provérbio poderia ser afirmado pelos ‘sábios’ de Corinto, que estavamaceitando qualquer alimento, não importando sua fonte ou seu envolvimento com aidolatriapagã.

A palavra ‘recomendará’ traduz parastesei [parasth,sei] do verboparistemi [pari,sthmi], que significa, neste contexto, ‘aproximar, apresentar, colocar emcontato,etc’.375

Duas frases do verso 8, exemplificam ou detalham a força desteprovérbio:“nadaperderemossenãocomermos;nadaganharemossecomermos”376.Ouseja, a dieta alimentar é uma questão ‘adiáfora’, ou seja, sem implicações espirituais,visto que não há normas alimentares na Nova Aliança. Este provérbio de Paulo éilustradoemmuitosoutroslugares:

Romanos14.17-“PorqueoReinodeDeusnãoécomidanembebida...”; Colossenses2.16-23-aproibiçãodealimentos,aoestilodaleideMoisés

oudequalquerprincípiodefilosofiahumanaédescartadoemfacedarealidadedaféemCristo;

1Timóteo4.1-5-aproibiçãodealimentoséqualificadacomodoutrinadosdemônios;

Hebreus13.9-osalimentosnãoconfirmamapessoanafé,masagraçadeDeus.377

Assim,afrase“AlimentonãonosrecomendaráaDeus”éumbomresumodo pensamento cristão e paulino na questão das normas alimentares judaicas ou dequalqueroutraespécie.

A base deste ensino sobre a não obrigatoriedade do alimento foidescoberto cedo pela igreja (Atos 10-11). Quando Deus quis revelar aos judeus suaaceitaçãodegentiosna igreja, revelouadestruiçãodasbarreirasentreos judeuseosgentiosatravésdasupressãodas leisalimentares judaicas(Atos10.9-16;11.5-10).Foiatravés da visão que liberava Pedro dos tabus alimentares da lei, que ele chegou àconclusãoqueDeusaceitavatodososhomens(Atos10.28).

374Háquempensequehaviaumprovérbiocoríntionoseguinteteor:“ComidanosrecomendaráaDeus:perdemossenãocomermos,ganhamossecomermos”.Oargumento,apesardepossível,nãoconvence.Édifícilimaginarestaposturadentrododebate‘sábios’e‘fracos’.Os‘fracos’eramcontracomeracarnesacrificada.Os‘sábios’julgavamaquestãoalimentarindiferente.Assim,o‘provérbio’nãoteriadefensores!ParecemaisprovávelsuporqueafraseinicialédePaulo,umprincípiogeral,equeasoutrassãoapenasumdesdobramentodosentidodaprimeira.AndersEriksson,Op.Cit.,p.161defendeaideiadeseremestasfrases,semasnegativas,umprovérbiocoríntio.Contudo,Morris,p.103,afirmaqueafrase,comoestánotexto,seriaumditousadopeloscoríntios,coisacomaqualémaisfácilconcordar.375BAG,p.633mencionaapossibilidadedeparistemisertermotécnicoquesignifica‘trazeroulevardiante(deumjuiz),masprefereosentidode‘levardiantedeDeusoulevarmaispróximoaDeus’paraotextode1Co8.8epara2Co4.14.376Aformaatualdestacomplementaçãodoprovérbioéinesperada.EsperaríamosquePaulodissesse“NãocomernãonosrecomendaaDeus”,poiséesteopontodepartidadadietajudaica:deixardecomercertascoisasparaseraceitávelaDeus.377MesmoHebreusnãopodendoserprovadaserdePaulo,édecírculopaulino.

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Aremoçãodasleisalimentarespermitiaaaceitaçãodegentiosnaigrejaenacomunhão.Seestasleisvoltassemaserpraticadas378,haveriadivisãoedestruiçãodaunidadequeCristoconstruiupelacruz.Paraqueoevangelhocontinueemvigor,aigrejaprecisavacontinuarafirmandoque“AlimentonãonosrecomendaráaDeus”.

De fato, o provérbio “alimento não nos recomendará a Deus” vem dopróprio Senhor Jesus. Em certa ocasião, ele discutiu com os fariseus criticando astradiçõesqueinvalidavamaPalavradeDeus(Marcos7.1-13).Adiscussãocomeçoupelaquestão da lavagem cerimonial das mãos (v. 1-5). Esta questão, gerou umpronunciamento geral de Jesus não somente sobre as tradições de purificação ritual,mastambémsobreostabusalimentaresjudaicos(Marcos7.14-23).

AdeclaraçãogeraldeJesusfoiapresentadademodoproverbial379:“Nadaháforadohomemque,entrandonele,opossacontaminar,masoquesaidohomeméoque contamina” [ouvde,n evstin e;xwqen tou/ avnqrw,pou eivsporeuo,menon eivj auvto.n o] du,natai koinw/sai auvto,n( avlla. ta. evk tou/ avnqrw,pou evkporeuo,mena, evstin ta. koinou/nta to.n a;nqrwponÅ].(Marcos7.15).

Estadeclaraçãogeral,provocouumquestionamentomaisdetalhadodosdiscípulos de Jesus (Marcos 7.17). Jesus explica, em duas etapas, conforme as duasfrasesqueconstituemoprovérbioqueeleformulouemMarcos7.15.

Emprimeirolugar,elemostraqueosalimentos,defato,não‘entram’nohomem, mas ‘passam’ por ele (Marcos 7.18-19a). O ventre e o coração são coisasdistintas no raciocínio de Jesus. Os alimentos entramno ventre,mas não no coração.Assim,osalimentossãoirrelevantes.Estaconclusãoéressaltadapela“notaeditorial”doescritor Marcos, que afirma em 7.19b: “E assim considerou ele puros todos osalimentos”.

Emsegundolugar380,elemostraqueoquesaidohomeméoquesaidocoração.Ocoraçãoéoverdadeirointeriordohomem(Marcos7.20-23).Ocoração,comoficaóbvionocontexto,éasededasdecisões,dospensamentos,daspalavrasedasações.Ocoraçãoéohomem.

Portanto,odito“alimentonãonosrecomendaráaDeus”vemdopróprioSenhorJesusque,conformeMarcos fezquestãodecomentar, “consideroupurostodososalimentos”(Marcos7.19b).

Apesardaboaorigemedaverdadedestedito,haveriaboasrazõesparaevitaralimentos,nãoporelesmesmosseremimpurosoucontaminados,masporrazõesde fraternidade e de compromisso espiritual. Por amor aos irmãos fracos, dever-se-iaevitar certaspráticas e certos alimentos, paraque elesnãoviessema seperderna fé(1Coríntios 8.9-13). Também, para não participar de alguma forma da idolatria e daatividade dos demônios, os cristãos evitariam a participação das festas em templospagãos(1Coríntios10.14-22).

Um outro modo de pensar é o seguinte: se os alimentos não sãoimportantes, porque fazer questão de participar deles como se fosse uma questão

378EsteeraoriscoemGl2.12,ondecomercomosgentiossignificavaqueasleisalimentaresnãoestavammaisemvigoreocomportamentocontrário,deretirar-sedacomunhãoàmesacomosgentios,significariaqueasleisalimentaresaindavigoravameseparavamosjudeusegentios.379C.F.Burney,ThePoetryofOurLord,London,OxfordUniversityPress,1925,p.74:paralelismoantitético.380Jesusretomaadiscussãodoprovérbiorepetindoapartefinaldomesmonoverso20:To. evk tou/ avnqrw,pou evkporeuo,menon( evkei/no koinoi/ to.n a;nqrwponÅ

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importante? Assim, os ‘sábios’ com seu monoteísmo radical precisariam rever serealmenteconsideramosalimentoscomomatériaindiferente.381

Assim,mesmoentendendoque“alimentonãonosrecomendaráaDeus”,oscristãosprocuramagirdeformaanãocausarproblemasparaoutrosenemparasimesmos.

381Oster,p.196.

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9.10- ovfei,lei evpV evlpi,di o` avrotriw/n avrotria/n kai. o` avlow/n evpV evlpi,di tou/ mete,ceinÅ

“olavradorquelavraeodebulhadordevemfazê-lonaesperançadeparticipar”

No capítulo 9 da primeira carta aos Coríntios, numa aparentedigressão382apologéticasobresuacondiçãodeapóstolo,Paulomostra,porseupróprioexemplo,quealiberdademaiornãoéadaquelequeexigeoudaquelequesimplesmentedeixadeexigirseusdireitos,masamaiorliberdadeéaquelaquecapacitaparaservireescravizar-sepelobemdosoutros.383Aliberdademaioréservir.

Assim, este capítulo tem dupla função: (i) em primeiro lugar, defendePaulo das acusações de não ser apóstolo por não ter exigido sustento da igreja deCorintoenquantoesteve lá384; (ii)emsegundo lugar,ele forneceumexemplopara“os‘sábios’”paraqueabandonemseusdireitosdecomeroquequerempelobemdosoutros.

A frase “o lavrador que lavra e o debulhador, devem fazê-lo naesperançadeparticipar”,opheileiep’elpidihoarotrionarotriankaihoaloonep’elpiditou metechein [ovfei,lei evpV evlpi,di o avrotriw/n avrotria/n kai. o avlow/n evpV evlpi,di tou/ mete,cein] (9.10) é um provérbio corrente385, usado em conjunção com uma série deoutrosargumentos,nomomentoemquePauloestádemonstrandoqueospregadoresdapalavratêmdireitodeseremsustentadospararealizarseutrabalho.Esteprovérbiopaulino está na primeira etapa do argumento do capítulo, quando Paulo demonstraquaissãoseusdireitos.

O sentido é claramente reconhecido nas versões: “o lavrador quandolavraeodebulhador,devemfazê-lonaesperançadeparticipardacolheita”.Aexpressão“dacolheita”ou“dosfrutos”nãoestáexplícitanooriginal,massubentendidanapalavra“participar”.

A forma lembra o chamado “paralelismo” dos provérbiosveterotestamentáriose tambémdosde Jesus386.Literalmente,usandoamesmaordemdaspalavrasoriginais,afraseficaassim,distribuídaemduaspartesparalelas.Osverbosque governam os provérbios estão no início e no fim da parelha de frases (deve eparticipar).Afrase‘naesperança’ocorreantesdamençãodotrabalhador,naprimeirafrase e depois da menção do trabalhador, na segunda frase:esperança/obreiro/obreiro/esperança.Talestruturacaracterizaumquiasma387,ouseja,umaestruturaemX:

“Deve,naesperança,olavradorlavrar,

382Adigressãotemfunçãoretóricadeexemplificar,noprocedimentodopróprioPaulo,oqueelepededos‘sábios’dentreoscoríntios.Asdeclaraçõesdofimdocapítulo8(11-13)poderiamcriarumclimadecontrariedade,demodoquePaulotivessedificuldadedecontinuarsuasrecomendações.Então,adigressão,alémdecumpriropropósitodedarexemplo,abrandariaoimpactodassuasfuturasconsiderações(cap.10).SobreaestratégiaretóricadePaulovejaAndersEriksson,Op.Cit.,p.148-153.383Oraciocíniopodecorrerdaseguinteforma,nosversículosdocapítulo9:(i)Liberdadeparaexigirseusdireitos,versos1-12;(ii)Liberdadeparadeixarseusdireitos,versos12-18;(iii)Liberdadeparaservireescravizar-seportodos,versos19-27.Esteéumesboçoumtantohomilético,masquenãoperdedevistaoaumentodaintensidadedasexigências.384AincompreensãodestealtruísmodePaulovoltaráasertratadaem2Co11.7-12.385Meeks,Mundo,p.124386J.Jeremias,TeologiadoNovoTestamento:apregaçãodeJesus,3a.edição,(NeutestamentlichetheologieErsterTeil:DieVerkündigungJesu,Gütersloh,GütersloherVerlagshausGerdMohn,1971,trad.deJoãoResendeCosta),SãoPaulo,Paulinas,1984,p.31-39.Conzelmann,p.155.387Umaobraclássicasobreotemaé:WilhelmLund,ChiasmusintheNewTestament:AStudyindeFormandFunctionofChiasticStructures(Obraoriginal:ChiasmusintheNewTestament:AStudyinFormgeschichte,ChapelHill,NorthCarolinePrees,1942),Peabody,Hendrickson,1992.

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eodebulhador,naesperançadeparticipar”

Afrase,colocadadestaforma,nãoparecefazsentidoemportuguês,maspode-se ver a ordemdos termos e a semelhança das ideias. Abaixo, apresentamos asfrases, colocando-a em uma ordem adequada para nossa língua e tambémsuplementandooselementosomissos,massubentendidos:

“Olavradordevelavrarnaesperança[departicipar][dacolheita];

odebulhador[devedebulhar]naesperançadeparticipar[dacolheita].

Os dois personagens doprovérbio, lavrador e debulhador, lembramasduasetapas fundamentaisdo trabalhonocampo.O lavradoréaquelequepreparouosoloeplantouassementes:eleiniciouaplantação.Odebulhador,certamente,éaquelequeparticipadaceifaedaseparaçãodocerealdapalha:comele,oprocessodeplantiofecha o seu ciclo. Estas tarefas nem sempre eram feitas pelasmesmas pessoas, comodisseumprovérbiocitadoporJesus:“Uméosemeadoreoutrooceifeiro”(João4.37).Mesmo, assim, todos os que trabalham com um campo precisam e esperam receberalgumacoisapeloseutrabalho.

Comoprovérbioagrícola,lembraasituaçãoperfeitamentenaturalparaohomemdocampo.Otrabalhoárduoérealizadocomesperança:esperançadeparticipardosfrutoselevarumpoucodealimentoparaosseus.

Esteprovérbioéusadoemconjugaçãocomváriosoutrosargumentosemproldosustentodeobreiros:citaçãodoVelhoTestamentocomconsequenteexplicaçãode seu significado (v. 9-10), uso de perguntas retóricas (v. 11-13), uso da lógica daprioridadedascoisasespirituaissobreascoisasmateriais(v.11),citaçãodoprecedentejá estabelecido da igreja (v. 12a), o exemplo dos sacerdotes do templo (judaico oupagão) (v.13).Oargumento final, que fazo clímaxdoargumento, é a citaçãodeumapalavradeJesusqueresolveaquestão:

“Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho, quevivam do evangelho” (ARA), houtos kai ho kyrios dietaxen tois to euangelionkatangellousin ek tou euangeliou zen [ou[twj kai. o ku,rioj die,taxen toi/j to. euvagge,lion katagge,llousin evk tou/ euvaggeli,ou zh/nÅ](9.14).

AfrasedeJesusquePaulodeveestarcitandoéumfamosoprovérbiodeJesus, usado em pelo menos duas ocasiões com pequenas variações, mas com umsentidoúnico:“Dignoéotrabalhadordoseualimento”,haxiosgarhoergatestestrophesautou [a;xioj ga.r o evrga,thj th/j trofh/j auvtou/Å] (Mateus 10.10); “Digno é o trabalhador doseu salário”, haxios gar ho ergates tou misthou autou [a;xioj ga.r o evrga,thj tou/ misqou/ auvtou/Å](Lucas10.7).388

Assim, o provérbio de Paulo sobre os agricultores que esperamparticipardosfrutosdacolheitacompõeoargumentoemproldodireitoqueosobreirostêmdeseremsustentadospelas igrejas,enquanto trabalhampeloevangelho.Comoseveráno contextoposterior, Paulo abriumãodeste direito, quando trabalhou entre oscoríntios e usa este fato comoexemplopara aquelesqueprecisamabrirmãode seusdireitosemfavordosmaisfracos.

Isoladamente,oprovérbioensina,juntocomseucontextomaispróximo,queaigrejapodeedevesustentarobreirosparaotrabalhodoSenhorJesus.

388ÁlvaroCésarPestana,OsProvérbiosdoHomem-Deus,SãoPaulo,EditoraVidaCristã,(2002).

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9.22-toi/j pa/sin ge,gona pa,nta( i[na pa,ntwj tina.j sw,swÅ

“Fiz-metudoparacomtodos,afimdeportodososmodossalvaralguns”

Nocapítulo9,Paulodemonstraque temdireitos.Doverso1até12aedepois,continuandoumpoucomaisaindanosversos13e14,elemostraquetinhatodoo direito de receber sustento dos coríntios por ocasião de sua passagem entre eles,pregandooevangelho.Mas, jánoverso12bedepois,de15até18elemostraquenãousouenemquerusarestedireito.

Ele explica sua recusa de sustento com base em duas razões: (i) emprimeiro lugar, era para que não houvesse tropeço ou escândalo389entre os coríntiospelofatodelesersustentadoparapregar(v.12b);(ii)emsegundolugar,jáqueeletinhaobrigaçãodepregaroevangelho,oqueelepodiafazer ‘amais’nocumprimentodestedevereranãoreceberosustentodevido–estaeraaúnicaformadeteralgodequese‘gloriar’(v.15-18).

O sustento poderia ser considerado um ‘obstáculo’ ao evangelho sefizesse com que Paulo fosse considerado como um dos filósofos itinerantes de seutempoquepregavampordinheiroesustento.Paulodiferenciava-senesteaspecto,atémesmodeoutrosobreiroscristãosquerecebiamsustento.390

Depois de apresentar estas duas razões da recusa de sustento, Paulo,iniciaumparágrafonoqualmostraquecolocoudeladosualiberdadeparaserviroutrose para atingir os alvos salvíficos do evangelho (v. 19-23). É neste contexto que oprovérbio“fiz-metudoparacomtodosafimdeportodososmodos,salvaralguns”(v.22).

Emboraaidentificaçãodesteditocomoumaunidadeoucomoumafraseisolada não seja possível demonstrar, sua forma é própria de frases proverbiais. Ascaracterísticasaseremnotadassão:paralelismoealiteração391.

Oparalelismoascendentepodesernotadonasegundafrasequevaialémdaprimeiraatéoalvofinalde“salvaralguns”.

“Paracomtodos,fiz-metudo,

para,detodososmodos,salvaralguns”

A aliteração, ou seja, repetição de ummesmo somdentro da frase.Notextogrego,notamosarepetiçãodaletra‘pi’[p]edasílabatônica‘pa’[pa],assimcomoaletra‘t’eapalavratudo/todosserepeteemportuguês.

Toispasingegonapanta[Toi/j pa/sin ge,gona pa,nta]

hinapantostinassoso[i[na pa,ntwj tina.j sw,sw]

389At20.34-35;2Co11.7-9;12.13;1Ts2.9;2Ts3.9.390NielsWillert,“TheCataloguesofHardshipsinthePaulineCorrespondence:BackgroundandFunction”inPederBorgen&SorenGiversen(eds.),NewTestamentandHellenisticJudaism,(Aarhus,AarhusUniverstiyPress,1995),Peabody,HendricksonPublishers,1997,p.239.391E.W.Bullinger&FranciscoLacueva,DiccionariodeFigurasdeDicciónUsadasemLaBíblia(FiguresofSpeechUsedintheBibleExplainedandIlustraded,London,1898,traduçãoeadaptaçãodeFranciscoLacueva),Barcelona,EditorialCLIE,1985,p.169-170.

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Defato,todooparágrafo,versos19-23,temumasimetriadeconstruçãoquepoderiaserarranjadapoeticamente,masafrasemaisgeraldoverso22éaquenosparecemaisproverbial.

DavidDauberessaltouosparalelos judaicosaestamáximamissionáriadePaulo392.Elemostrouque tantoestamáximade ‘ser tudopara com todos,paradetodososmodossalvaralguns’,queelechamoude ‘princípiodaacomodação’,encontraparalelonaspráticas e nos escritos rabínicos ligados ao trabalhomissionário judaico:fazerprosélitos.

EsteprincípiodeacomodaçãooudedesprendimentojáfoimencionadoporPauloem8.13,ondeelejámostrouestardispostoadeixardeladoseusdireitosparanãoserproblemaparaoevangelho.Esteprincípiogovernatodoopensamentodotextoatéo términodo tratamentodoassunto,pois, em10.33eleafirmará, concluindoseuspensamentos,que“tambémeuprocuroemtudoseragradávelatodos,nãobuscandoomeu próprio interesse,mas o demuitos, para que sejam salvos”393. [kaqw.j kavgw. pa,nta pa/sin avre,skw mh. zhtw/n to. evmautou/ su,mforon avlla. to. tw/n pollw/n( i[na swqw/sinÅ]

Suaatitudetemoobjetivode“ganhar”judeus(v.20),“gentios”(semlei,v. 21) e até os “fracos” (v. 22), que são os cristãos cheios de escrúpulos sobre osalimentos ligados com a idolatria (1Co 8.7-13). Ganhar é explicado neste provérbiocomo“salvar”.394

Obviamente,olema“Fiz-metudoparacomtodos,afimdeportodososmodossalvaralguns”originou-seemJesus.Aencarnaçãodáofundamentoteológicoeopoder motivador para esta atitude. Jesus fez-se homem (Fp 2.5-11), participando denossa carne (Jo1.1-14), denossas tentações (Hb4.14-16) e atémesmodamorte (Hb2.14-18)parasalvarohomem.Elesefezdetudo395paracomtodospara,portodososmodos,salvaralguns.

Assim,seentendermosqueolema“fiz-metudoparacomtodos,afimdepor todos os modos salvar alguns” como um lema advindo da encarnação, não serádifícilentendê-locomolemamissionário,pois,aprópriaencarnaçãodoLogosdivinoéogrande e perfeito paradigma missionário para todas as gerações de discípulos deJesus.396

É por esta causa que não devemos ficar constrangidos ao ver Paulotomando um voto em Cencreia (Atos 18.18) que, ao que tudo indica, era o voto deNazireu(Números6.18).Quandoeleparticipaepatrocina,emJerusalém,domesmotipodevotoqueestavasendorealizadoporquatro judeusdiscípulosdeJesus(Atos21.23-26),eleestásendocoerentecomseusprincípiosdeserjudeucomosjudeusparaganharos judeus (1Coríntios 9.20). Ele falou a língua aramaica dos judeus, para despertar aatenção favorável deles, sempre que possível fosse (Atos 22.2). Ele não estava

392DavidDaube,TheNewTestamentandRabinicJudaism(London,SchoolofOrientalandAfricanStudies-TheUniversityofLondon,1956),Peabody,Hendrickson,s.d.,p.336-351.393ARA.394ComoemMt18.15ou1Pe3.1.395Atépecador(2Co5.21)emaldito(Gl3.13-14)elesefezparanossalvar!396OartigodeEdMathews,“ChristandKenosis:AModelForMissions”,JournalofAppliedMissiology,2,1(april,1991),pág.1-8,chamaatençãoparaarelaçãoentreoesvaziamentodeJesusnacruzeotrabalhomissionário.Inclusive,umaquestãocomaqualoartigoéencerradaéadoteólogobrasileiroLeonardoBoff,conclamandoosmissionáriosaimitaremJesusnoseuesvaziamento,parapregaroCristo.

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“judaizando”, ou seja, “vivendo como judeu”397, mas sim tentando alcançar os judeussemcriarimpedimento.398

Por outro lado, não podemos estranhar que omesmohomempudesseagircomoumgentio, fazendodiscursoscomooque feznoAreópago399,ondenãocitaclaramente nenhuma vez o Velho Testamento,mas cita filósofos e poetas gregos, fazinúmerasalusõesaquestões filosóficase teológicasdaculturagrega.Eleestavasendo“grego comos gregos, como fimdeganhar algunsgregosparaCristo.”QuandoPaulofalavacomumgentio,usavatermosqueooutropodiacompreender,assumiaopontodevistadooutro,encarnava-senacarnedooutropararesgatá-loparaDeus.400

Quando conversava comFélix, o governadorda Judeia, escolheu temasde grande interesse para a cultura greco-romana: “a respeito da justiça, do domíniopróprio e do juízo vindouro” [peri. dikaiosu,nhj kai. evgkratei,aj kai. tou/ kri,matoj tou/ me,llontoj].401Certamente,suaabordagemchegariaaocernedoevangelho,Jesus,masaformadodiscursoadaptava-seaosinteressesdopúblico.Pauloestavasendo“tudoparacomtodos,paradetodososmodos,salvaralguns”.

Estaadaptabilidade,nãodeviaserentendidacomohipocrisia,mascomoverdadeiravirtude,encontradapelosgregosnoseupróprioheróiOdisseu(Ulisses),quese adaptava às situações para vencer.402De fato, Odisseu poderia muitas vezes sertachadodedissimulador,porém,Paulonão.

EsteprovérbiomostraumagrandemudançaocorridaemPaulo.O“Saulo,fariseu” não estava disposto a transigir qualquer um de seus princípios rigorosos edetalhados403. Ele perseguia a igreja em seu zelo pelo seu sistema religioso. Agora,contudo,comodiscípulodeJesus,aprendeuqueépossívelcederemassuntosequestõesemqueDeusnãodeterminouumúnicomododefazerascoisas.

“Fiz-metudoparacomtodos,afimdeportodososmodossalvaralguns”éo lemadetodososdiscípulosde Jesusqueprocuram“portar-secomsabedoriaparacomosquesãodefora”,objetivando“aproveitarasoportunidades”que,paraodiscípulodeJesusé“oportunidadeparapregaroevangelho”.404

397EsteéosentidodoverbovIoudai,zein noNovoTestamento:vivercomojudeu.398DentrodestamesmalógicaentenderemosacircuncisãodeTimóteoemAt16.3.399At17.22-31.400AssimtambémpercebemosqueodiscursoaospagãosdeListra,registradoemAt14.15-17,baseou-seemideiasqueelespodiamentendercomsuaculturapagã,enãoforçousobreelessuaculturajudaica.401At24.25.402ArespeitodestesparalelosdePaulocomOdisseu,vejaAbrahamJ.Malherbe,PaulandthePopularPhilosophers,Minneapolis,FortressPress,1989,págs.91-119,sobretudo,100-101.403EleafirmasuaexaltadacondiçãodefariseuemAtos26.5eFilpenses3.5-6(Cf.Gl1.13-14).404Cl4.5-6.

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(1.9)10.13-pisto.j o` qeo,jÅ

“Deuséfiel!”

Estafraseproverbialatéhojeésloganutilizadoemcamisetas,adesivosparacarro,etc.Seuaspectoproverbial,contudo,épercebidopeloseuusorepetitivonaobradePaulo.405

AfidelidadedeDeuséumfatobásico,afirmadojánoVelhoTestamento.Contudo,seuusonoVelhoTestamentosefundamentanaaliançadeDeus.AfidelidadedeDeusnãoésomenteumprivilégio,comomodernamentealgunsimaginam,masumagranderesponsabilidade.

MoiséschamouoDeusdeIsraelde“DeusFiel”(Deuteronômio7.9).Istosignificava que ele nunca falharia em cumprir suas promessas e sua parte na aliançacom o povo. Mas, a continuação do discurso de Moisés mostra o outro lado destafidelidade divina: ele castiga “fielmente” aqueles que quebram ou abandonam asobrigaçõesdecorrentesaaliança(Deuteronômio7.10).Logo,afidelidadedeDeuséumfortíssimoincentivoàobediência(Deuteronômio7.11).406

Aquelesquehojeemdiadizem“Deuséfiel”deveriamlembrar-sequeelenãonegasuanaturezaemmomentoalgum407:pornatureza,eleabençoaoobedientee,pelamesmanaturezadivina,puneeamaldiçoaodesobediente.Assim,dizer“Deuséfiel”só é consolo para os fiéis. Para os infiéis, a fidelidade de Deus é umamaldição, pois,afirmaqueeleirácondená-lossemnenhumachance.

QuandoPaulocitouoprovérbio“Deuséfiel!”aoscoríntios,logonoinícioda carta (1.9), estava conclamando-os a viver em fidelidade, na certeza que DeuscumpririasuaspromessasequeDeusfariasuaparteparaasseguraraconsumaçãodochamamentodaquelesdiscípulosdeJesus408.NãohácomojogaraculpaemDeus.Deuséfiel: fez, faze faráonecessárioparanoscolocarnoseuFilho.Logo,quandoPaulo falaqueDeuséfiel, tambémestá,comooVelhoTestamento,colocandoaresponsabilidadenosdiscípulosdeseremfiéistambém.

AfidelidadedeDeuseraummodeloparaPauloemsuapalavraeemsuafidelidade(2Coríntios1.18).Logo,afidelidadedeDeusémotivoparanossafidelidadeenossavidafiel.

O uso do provérbio, “Deus é fiel!” aqui em 1Coríntios 10.13, contudo,afirmaqueDeus não nos deixará sem saída ou sem recurso nas horas de tentação. Apromessaéqueatentaçãonãoseráacimadacapacidadehumanae,também,queDeus

4051Co1.9;2Co1.18;1Ts5.24;2Ts3.3;2Tm2.13;Hb10.23(11.11)considerandoestaobra,nomínimo,influenciadaporPaulo.AbrahamJ.Malherbe,TheLetterstotheThessalonians:anewtranslationwithintroductionandcommentary(TheAnchorBiblev.32B),NewYork,Doubleday,2000,pág.340,consideraafraseuma“formula”comumnascartasdePaulo.406AideiadebênçãooumaldiçãoparaosobedientesouparaosdesobedientesjáhaviasidodeclaradanostextosdosDezMandamentos,eafirma,antecipadamente,qualseráaaçãodivinadiantedarespostahumanaàssuasleis(Êx20.5-6/Dt5.9-10).4072Tm2.11-13éumapoesia,talvezmúsica,quecelebra,afidelidadedeDeus,apesardainfidelidadedohomem.Istoquerdizer,contrariamenteaoquemuitospensam,queseDeusforfielcomosquesãoinfiéis,eleiránegá-losecondená-los,poiselenãomente.Deusprometeunegartodoqueonegasse.Deuséfiel.Portanto,éexatamenteoqueelevaifazercomosinfiéis.Elevaidizer“Nuncavosconheci!”(Mt7.21-23).408Assimtambéméousodoprovérbioem1Ts5.24eemHb10.23.

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sempreprovidenciaráummeiopara escapardopecado, ou resistir a ela.Apromessanãoéquenãoteremostentações,masquepoderemos,comajudadivina,vencê-las.409

Assim, mais uma vez, a frase “Deus é fiel” é privilégio e responsabilidade. Privilégio de saber que Deus nos apóia e dá forças. Responsabilidade de vencer o pecado e resistir ao mal, pois, se cairmos, a culpa será inteiramente nossa. Deus é fiel, não temos desculpa!

409Estetambéméosentidodoprovérbioem2Ts3.3ondePaulogarantequeDeusnãonosdeixaráouabandonaráaoMaligno.

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10.14-feu,gete avpo. th/j eivdwlolatri,ajÅ

“Fujamdaidolatria!”

Em primeiro lugar precisaremos caracterizar a frase “Fujam daidolatria!”comoproverbial.Depois,precisaremostrabalharcomseusentidogenéricoefinalmente,comseusentidonocontextode1Coríntios.

“Fujamda idolatria!” erauma regra já amplamentedivulgadana igrejaantiga. Suas origens veterotestamentárias foram reforçadas no chamado “DecretoApostólico”410.Juntamentecomaregra“Fujamdaimoralidade!”(6.18),agoraPaulodiz,“Fujamdaidolatria!”(10.14).Assim,oaspectoproverbialdafrasenãodeveescapardenós,apesardesuaexcelenteadaptaçãoàfrase.411Suaposiçãonoargumentofazcomqueestafraserecebaênfaseetorne-seotemadadiscussãodosversossubsequentes(v.14-22)412.

Fugir é termo usado por Paulo em suas recomendações a Timóteo.413comumemvários textosparenéticos414,demodoquetemosnistomaisumaevidênciadalinguagemproverbialporseuformato“padronizado”.

Osentidogeralde“Fujamdaidolatria!”aplica-seàadoraçãodeídolosetodasascoisasaelarelacionadas:participaçãodoscultos,participaçãodosbanquetesfestivos415e, sobretudo, a imoralidade.416Não há como restringir o termo a algumascoisassimplesouisoladas.Aidolatria[eivdwlolatri,a]estavainseparavelmenteligadaàscomidassacrificadasaosídolos[eivdwlo,quton417ouiero,quton418]quetambémerachamada,pelosjudeus,de“contaminaçãodosídolos”[avli,sgma tw/n eivdw,lwn].419

Assim, quando Paulo afirma, “Fujam da idolatria!”, ele está ordenando aos coríntios um completo afastamento de tudo aquilo que os levaria a vários pecados ligados aos templos pagãos. No versículo anterior (v.13) ele falou da fidelidade divina em providenciar escape para o discípulo, no momento da tentação. Agora, neste verso (v 14), a responsabilidade do seguidor de Jesus é claramente descrita: “para escapar da tentação, fuja dela”. A promessa de escape oferece e exige uma ação imediata e resoluta, contra o pecado.420

Vincentapontaparao fatodoartigoestarpresentena frase “Fujamdaidolatria”, indicariaquea tentaçãosemprepresentenas festaspagãs seria justamenteesta:aidolatria.421

410At15.20,29;21.25.411Emboranãochameestafrasedeproverbial,Meeks,MundoMoral,p.122e124,reconhecesuaexistênciacomouma“normacristãprimitiva”.412AndersEriksson,Op.Cit.,pág.167.4131Tm6.11e2Tm2.22.HansConzelmann,FirstCorinthians,p.112n.32associaestapalavracomcatálogosdevíciosemostraoutrostermosparalelos.414Porexemplo:Ep.de“Barnabé”4.104151Co8.10,supõeumafestareligiosanotemplopagão,queenvolviarefeição.4161Pe4.3associaosbanquetespagãoscomaidolatria.VejatambémMortonScottEnslin,TheEthicsofPaul,NewYork,AbingdonPress,1957,ps.139-143.417At15.29;21.25;1Co8+1,4,7,10;10.19;Ap2.14,20.418Ocorreapenasem1Coríntios10.28noNovoTestamento.419AssimtambémdemonstraAndersEriksson,Op.Cit.,págs.139-141,ondeelemostraagrandeabrangênciadotermo,queincluía:1)Comernotemplodoídolo[8.10];2)participardamesadosdemônios[10.21];3)comeracartavendidanomercado(latimmacellum)[10.25];4)comerestascoisasquandoconvidadoporumdescrente[10.27].420Oconectivogregodio,permostraqueaconsequênciadafénafidelidadedeDeusquenosproporcionaescapenatentaçãoéfazernossaparte:fugir.421Vincent,Op.Cit.,p.242.

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Assim, o argumentodePaulo em10.14-22 é uma amplificação422desteprovérbioemv.14:

1. Tema: Fuja da idolatria (v. 14) – todos os argumentos abaixoestãocorroborandocomestainjunção.

2. Razão: Vocês são pessoas criteriosas: podem julgar por simesmosoqueestoudizendo(v.15).

3. Argumentodoexemplo:OcasodaCeiadoSenhor:Porexemplo,comeraceiadoSenhorétercomunhãokoinonia[koinwni,a]comCristo (v. 16). Argumento é aplicado aos coríntios: premissamaior:Háumúnicopão; premissamenor:nósparticipamosdoúnicopão;conclusão:nós,quesomosmuitos,somosumsócorpo(v.17).

4. Argumento da analogia: O caso de Israel: Os que comem dossacrifíciossãoosqueparticipamdoaltarcomoadoradores[istoquer dizer que participar de um altar é identificar-se com areligiãoqueelerepresenta](v.18).

5. Argumentodocontrário:OcasodaIdolatria:Oídolonãoénada,mas atrás dos ídolos estão os demônios. Assim, sacrificar aosídolosésacrificaraosdemôniosetercomunhãocomeles(v.19-20).

6. Conclusão:NãoépossívelenemcorretoparticipardoSenhoredosdemônios.Sãomutuamenteexclusivos(v.21).

7. Exortação:NãoprovocarzelosnoSenhor,poisnãopodemoscomele(v.22)

Assim, “Fujam da idolatria!” é um provérbio Paulino de grandeimportâncianofinaldoargumentodePaulosobreaquestãodascarnessacrificadasaosídolosetambém,pararesolverasdisputasentreos“fortes”eos“fracos”.

Nuncasedevebrincarcomopecado.Umaaçãodrásticaedecisivadeveser tomada toda vez que algo ameaça fazer com que tenhamos comunhão com odemônio.

422AndersEriksson,Op.Cit.,pág.167-168.

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10.23-pa,nta e;xestin

“Todasascoisassãolícitas”

A argumentação de Paulo a respeito das comidas relacionadas com osídolos é desenvolvida em um longo trajeto: 1Coríntios 8.1 a 11.1. Paulo assume umaestratégiabemfácildeacompanhar.Paulocomeçaconcordandocomosquenãoviamproblemasnoconsumodacomidasacrificadaaídolos(nocapítulo8),mas,finalmente,mostra os grandesproblemas envolvidosna questão (no capítulo 10). Ele parece queestá favorecendoos “fortes” equepensa comoelesno capítulo8.Contudo,depoisdeabdicar de seus “direitos” no capítulo 9, ele, finalmente, favorece os “fracos”,recomendandoatodosquefujamdaidolatriaequenãobrinquemcomopecado.

Esta estratégia era chamada, na retórica antiga, de insinuatio, ou seja,paraobterumamelhoraceitaçãodesuatese,ooradornãoapresentasuasconclusõeslogo no começo, mas vai ‘se insinuando’ ou construindo um raciocínio, até chegardefinitivamenteondequeria.423OalvodePauloseráobservadonoparágrafofinaldestaparte da carta: 1Coríntios 10.23-11.1. Neste parágrafo ele irá sumarizar um plano deaçãoparaoscoríntios.

Meeksconsideraesta“tática”comoumadasformasmaisimportantesda“gramáticamoral”doscristãosprimitivos.Umaformadoscristãosprimitivosensinaremseus princípios morais era através de um duplo movimento – afirmação e inversão.Primeiro,Pauloafirmouqueelespoderiamcomerascarnesdostemplospagãos.Depois,eleinverteaopção,praticamenteproibindoseuconsumo.424

O provérbio “Todas as coisas são lícitas!” marca o início dasconsiderações finais e conclusivas de Paulo com respeito às comidas sacrificadas aosídoloseasimplicaçõesdeseuconsumoemcasaounostemplospagãos.Certamente,os“fortes”estariamusandoesteprovérbioparadizerquesuaparticipaçãonosbanquetespagãos ou nas comidas sacrificadas a ídolos não era problema. “Todas as coisas sãolícitas” para eles significaria que todos os alimentos e ambientes eram lícitos, nãoimportandooutrasconsiderações425.

Acaracterizaçãodesteprovérbiojáfoifeitaacima,quandocomentamossua ocorrência em 6.12. Nota-se aqui neste texto, sobretudo, a pequena diferença deenunciaçãodoprovérbio,comaausênciadopronome“me”.Estaformamaisdespojadado provérbio, sem dúvida, é uma forma mais natural ao estilo proverbial, cuja fraseprocura despojar-se de tudo e tornar-se omais geral possível, que é da natureza dosprovérbios.

Neste momento da argumentação paulina, o apóstolo já revelou suapreocupaçãocoma irresponsabilidadesocialeespiritualda frase “todasas coisas sãolícitas”. Não podemos ofender os outros (argumento “social” do capítulo 8) e nãopodemosbrincar comopecado e comodemônio (argumento “espiritual” do capítulo10).

423GeorgeA.Kennedy,NewTestamentInterpretationThroughtRhetoricalCriticism,ChapelHill,TheUniversityofNorthCarolinaPress,1984,p.36;AndersEriksson,Op.Cit.,p.51-52,148-150.424Meeks,Omundomoral,p.123-5mostraqueesteraciocínioéusadoporPaulonocapítulo9,ondeeleafirmaodireitoderecebersustentoparadepoisnãoaceitá-lo.Omesmomododeraciocinaréusadonaquestãodasmulheresfalandonaigreja.Nocapítulo11eleparecepermitirqueoremeprofetizem,desdequeusemvéu,mas,nocapítulo14eleasproíbeabsolutamentedeprofetizaroufalarempúblico(naassembleia)nasreuniõesnascasascristãs.425Richard.E.Oster,Op.Cit.,p.246apontaesteprovérbiocomo“filosofia”destegrupo.

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Paulo refuta o provérbio coríntio com dois provérbios paulinos,adicionadosaoprovérbiocoríntio:“Todasascoisassãolícitasmasnemtodasconvêm”,panta exestin all ou panta synpherei [pa,nta e;xestin avllV ouv pa,nta sumfe,rei] e “todas ascoisas são lícitasmas nem todas edificam”pantaexestinalloupanteoikodomei[pa,nta e;xestin avllV ouv pa,nta oivkodomei/Å]. Os princípios reguladores ou moderadores doprovérbiocoríntio,nestecaso,sãodois:(1)oprincípiodaconveniência;e(2)oprincípiodaedificação.

O princípio da conveniência já foi exposto acima, em nossa discussãosobre 6.12. Contudo, aqui ele se ajusta melhor ainda ao contexto. Certamente, asconsiderações de Paulo sobre o fato que tudo pertence a Deus (8.4-6) pareceriaconcordarcomafrase“todos(osalimentos)sãolícitos”.Noentanto,elejámostrouque“nem tudo convém”, neste caso, “nem todos (os alimentos) convêm”, pois haveriaassociaçãocomodemônio(10.20)eperigodeparticipaçãonopecado(10.14).

O princípio da conveniência, o que “convém”, sympherei [sumfe,rei],mostraquenemtudoqueépermitidoérealmentebenéfico426e,portanto,nãodevesernecessariamenterealizado.Nossocritériomoralnãoé“esticaraspermissões”divinasaomáximo,masveroquerealmenteéomelhor.

Para que este “melhor”, “proveitoso” ou “conveniente” não ficasse semespecificação,osegundoprincípio,odaedificação,defineoqueémelhor:omelhoréoqueedifica.427Anecessidadedebuscaroqueéútil,melhorouproveitosoresume-senanecessidade de edificar outros. Quando Paulo teve que tratar domesmo assunto dascomidas sacrificadas aos ídolos, na carta aos Romanos, ele utilizou-se do mesmopensamento:na igreja,buscamos“ascoisasdapazedaedificaçãodeunsparacomosoutros”(Rm14.19).

“Todas as coisas sejam feitas para a edificação”, pantaprosoikodomenginestho [pa,nta pro.j oivkodomh.n gine,sqw] (14.26). Este bem poderia ser o provérbio dePauloparaocultoaDeuseparatodaavidacristã.

Uma definição mais extensa e detalhada da questão do que é que“convém”edoque“edifica”,édiscutidanopróximoprovérbioPaulino428ondeeleexigequesebusqueobemdooutroaoinvésdebuscarapenasoseuprópriobem.

426RichardE.Oster,Op.Cit.,p.246.427IstoantecipaadiscussãodePaulosobreosdonsespirituaisondeomelhordomparaareuniãodaigrejaéoqueedifica.Oamoréodomsupremoporqueedifica.Assim,esteprincípiodeedificação,mesmoquenãoexplicitamenterepetido,dominatodaadiscussãodePaulonoscapítulos12-14,sobretudonocapítulo14.428Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.220.

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10.24-mhdei.j to. e`autou/ zhtei,tw avlla. to. tou/ e`te,rou

“Ninguémprocureoseuinteresse,masodooutro”

Esteprovérbiobempoderiaserextensãodoanterior(10.23).Defato,eleéocomentárioeexplicaçãodoqueéconvenienteeedificante.Conzelmannoconsideraumamáximanoestilodaliteraturasapiencial.429Éumprincípiogeral430atravésdoqualocristãoexercesualiberdade.431Meeksvêneleumsumáriodoensinonoscapítulos8-10. Sua tradução do provérbio é: “Que ninguém busque o seu próprio (bem), mas o(bem)dooutro.”432

“Ninguémprocureoseuinteresse,masodeoutro”érepetidooualudidono verso 33, “assim como também eu procuro em tudo ser agradável a todos, nãobuscando omeu próprio interesse,mas o demuitos, para que sejam salvos”, kathoskagopantapasinareskomezetontoemautousumphoronallatotompollonhinasothosin[kaqw.j kavgw. pa,nta pa/sin avre,skw mh. zhtw/n to. evmautou/ su,mforon avlla. to. tw/n pollw/n( i[na swqw/sin], com referência ao agirdopróprioPaulo.433Esta é a segundaveznestacartaemqueelecolocaseuexemplopessoalcomomodelo.434

A origemda atitude recomendadanoprovérbio é atribuída aopróprioJesus(11.1),pois,nesteaspecto,Pauloestáincentivandooscoríntiosaimitá-locomoeleestavaimitandoJesus435.Nadiscussãosobreestemesmoassunto,comidassacrificadasaídolos, na carta aos Romanos, Paulo, ao final de suas considerações sobre o assunto,concluioargumentoefazseuapelobaseando-setambémemJesus(Romanos15.1-3).

De fato, os conflitos de interesse e de opiniões, na igreja, sempre são solucionados quando olhamos para Cristo. Na carta aos Filipenses, Paulo apela para a solução das dificuldades dos irmãos, pedindo que cada um busque o interesse dos outros (2.4). O poder para fazer isto é fornecido imediatamente, através de um convite para “pensar Cristo” (2.5-11).

Assim, o provérbio Paulino, “ninguém procure o seu interesse, mas o de outro”, mostra o caminho para a solução final da questão das comidas sacrificadas. “Não pense em fazer o que quer, faça o que é bom para o outro”. Em última instância, isto é que é o amor: “não procura os seus interesses” (1Coríntios 13.5), mas que procura servir aos outros. Ser servos uns dos outros é o meio de exercer o amor (Gálatas 5.13), ao invés de usar a liberdade cristã para fins destrutivos.

Assim,“ninguémprocureoseuinteresse,masodeoutro”,cumpreoalvodosprovérbiospaulinosanterioresquebuscavam“oqueconvém”e“oqueedifica”.Não

429Conzelmann,FirstCorinthians,Op.Cit.,p.176.430Grosheide,Op.Cit.,p.240.431Grosheide,Op.Cit.,p.240.432Meeks,OMundoMoral,p.123.433Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.224,mostramqueoverboaresko[avre,skw]temumsentidomuitoclarode“agradarporserviçoprestado”.Assim,oalvodePaulonãoépopularidade,masserviçoabnegado.4341Co4.16.EmoutrostextosPauloapelaparaseuexemplo:Fp3.17;4.9;1Ts1.6.EraesperadoqueimitassemPaulonoseuaprendizadodocaminhodeJesus:1Ts2.14.ParaobservarasmodificaçõesquePaulofezaocostumedeapresentarexemplosaseremimitadoscomométododeinstruçãomoral,vejaAbrahamJ.Malherbe,PaulandthePopularPhilosophers,Minneapolis,FortressPress,1989,pág.56-66.Lenski,p.427-8lembraqueMoisésmostrouamesmaatitudeemÊx32.32.435Jesussempreéonossoexemploaserimitado,conformeensinavaPaulo:Rm15.2-3;2Co8.9;Ef5.2;Fp2.4-5.

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bastabuscar igualdadeou justiça.Nãosepodebuscaro interessepessoal.Temosquebuscarobemdosoutros.436

436Estaéumaênfasedestacarta:buscarobemdosoutrosenãooproveitopessoal:12.12,25,26.Tambémaideiadeedificaraosoutros:14.4,19etc.

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10.31- pa,nta eivj do,xan qeou/ poiei/teÅ

“FazeitudoparaaglóriadeDeus”

“Fazei tudo para a glória de Deus” é, sem dúvida, uma máxima437. Aoinvésde“tudo(é)lícito”,pantaexestin[Pa,nta e;xestin],Paulosugere,“tudo,paraaglóriadeDeus, fazei”,pantaeisdoxantheoupoieite [pa,nta eivj do,xan qeou/ poiei/teÅ]. Trata-se daconclusãodePauloparaoprocedimentocristãonasquestõesdealimentoetc:tudodeveserfeitoparaaglóriadeDeus.438

Fazer tudo para a glória de Deus foi o motivo da vida de Jesus. Numcontexto similar aoque estamos estudando, Paulo fala quequando acolhemos irmãosque têmopiniãodiferente, repetimosemescalamenor,aacolhidaqueCristonosdeu.Isto,defato,produzeproduziráaglorificaçãodeDeus.439

Esteensinoaproxima-sedaquelenoqual se incentivaa fazer tudo “emnomedoSenhorJesus”ou“comoparaoSenhor”.440Todasasatividadesdaigreja,queéocorpodeCristo,devemconduzir,emúltimainstância,àglorificaçãodeDeus.441

Por causa disto, as chamadas doxologias, frequentemente, encontramlugarnoNovoTestamento.DoxologiassãopequenasfrasesquelouvamaDeus.442Nossoalvo nunca deve ser o interesse pessoal, mas aquilo que fará com que Deus sejaglorificado.Seos“fortes”dentreoscoríntios,insistissememsualiberdadeedireitodecomerascarnesdossacrifícios,semimportar-secomosoutros,Deusiriaacabarsendoblasfemado443eelesmesmos,vituperados(v.30)444,porcausadamácompreensãodeoutros(dentroeforadaigreja)sobreosignificadodesuaação.

O lema “fazei tudoparaaglóriadeDeus” temgeradooutros lemas.OsJesuítas usavama frase “AdmaioremDeigloriam”, ou apenas a siglaA.M.D.G., isto é,“ParaamaiorGlóriadeDeus”445.SementrarnumaavaliaçãodosJesuítas,olemaébeloebíblico.Outrolema,filhode“fazeitudoparaaglóriadeDeus”,normalmenteusadoporevangélicos,é“SoloDeigloria”,ouseja,“ADeus,todaaglória!”.

Estelemaestáincorporadonofamoso“HinoaCristo”deFilipenses2.5-11,ondeoclímaxdaexaltaçãodeJesusérealizada“paraaglóriadeDeusPai”eisdoxantheoupatros[eivj do,xan qeou/ patro,jÅ]446.

Um dos mais antigos hinários da igreja primitiva, chamado “Odes daigreja cristã”, apresenta a frase dentro de suas aclamações de louvor a Jesus,

437AndersEriksson,Op.Cit.,p.153.Conzelmann,p.179,consideratalfrase,isoladamente,um“clichê”.TambémGrosheide,p.244consideraafraseumamáxima.438InáciodeAntioquia,tambémrefleteousoproverbialdestasfrases,contudo,comumaterminologialigeiramentediferente:CartaaPolicarpo,5.2,“QuetudosejafeitoparahonradeDeus”pantaeistimentheouginestho[pa,nta eivj timh,n qeou/ gine,sqwÅ].HáoutrasocasiõesemquePolicarpousaestalinguagem,emboranãodemodocompletamentecorreto:AosEfésios21,AosMagnésios3,AosTralianos12;AosEsmirnenses11.Robertson&Plummer,p.224,chamaramminhaatençãoparaestestextosdeInácio.439 Rm 15.7 Dio. proslamba,nesqe avllh,louj( kaqw.j kai. o Cristo.j prosela,beto uma/j eivj do,xan tou/ qeou/Å 440Cl3.17,23.4411Pe4.11;Fp.1.11;2Co4.15442Rm11.36;16.27;Gl1.5;Ef3.20-21;Fp4.20;1Tm1.17;6.15-16;2Tm4.18;Hb13.21;1Pe4.11;5.11;2Pe3.18;Jd25;Ap1.6;5.13;7.12;etc.443Rm14.20.444Rm14.16.445Tosi,#1485;DonaldT.Kauffman,TheDictionaryofReligiousTerms,Westwood,FlemingH.RevellCo.,1967,p.16dáaentenderqueelesadotaramestelemaTeísta,comoeleassimodefine.446Fp2.11.

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reconhecendo, como na passagem paulina acima citada, que a glorificação de Jesusconduz,emúltimainstância,àglóriadeDeusPai:

25 su. o]ti su. ei= mo,noj a[gioj

26 su. ei= mo,noj ku,rioj

27 VIhsou/j Cristo,j

28 eivj do,xan qeou/ patro,j amhn

Cujatraduçãoportuguesaé447:

25PorquesótuésSanto,

26sótuésSenhor,

27JesusCristo,

28paraglóriadeDeusPai.Amém.

Odes da Igreja Cristã 14.28 Fazer tudo para a glória de Deus, portanto, torna-se um lema importantíssimo

para a vida cristã, pois é o motivo último de tudo que se faz. Assim, se na questão do convívio com outros cristãos, for necessário fazer sacrifícios, deixar de exercer seus direitos ou seguir a própria vontade, em benefício de outros, estaremos agindo corretamente. Estaremos confessando que vivemos para algo maior e mais importante do que nós mesmos: a glória de Deus!

447ÁlvaroCésarPestana,{Umnoj ewqino,j (“HinodaManhã”)inRevistadeTraduçãoModelo19,ano5,número10(verãode2000),p.64-65.

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14.9-e;sesqe ga.r eivj ave,ra lalou/ntejÅ

“Falandoaovento”

“Falas ao vento” “anemo dialege”, avne,mw| diale,gh|, é uma máxima jáatestadaemHomero,EurípideseTeócrito.Aformalatinadesteditadoaproxima-semaisdo texto de Paulo, pois diz: “Ventis verbaprofundere”, ou seja, “espalhar palavras aovento”448. O provérbio aplica-se ao falar sem sentido, sem resultado: indica palavrasperdidas,destinadasanãoproduzirnenhumefeito.449

É surpreendente que poucos comentaristas levassem em conta o fatodestafrasejáserproverbialnotempodePaulo450.Certoautor,chegaacelebrarafrasecomoumagrandeantecipaçãodePaulodenossasmodernasteoriasdecomunicação451.

Oquetemos,nestemomentodacarta,éousodeumprovérbiopopularpara afirmar o argumento principal de Paulo, no que diz respeito ao uso do dom delínguas.

EmCorinto,parecequeodomdelínguas452estavasendousadodemodoinadequado.Osquetinhamodom,usavam-nosemquehouvessecompreensãodoqueestavasendodito:nemoorador,nemosoutroscompreendiamoqueforadito(14.2).Orelacionamento resultante era o de um encontro de “estrangeiros”: um era “bárbaro”paraooutro(14.11).

Certamente,oqueforaditotinhasentido,pois,eraumalínguahumana,com significado e sentido. Língua sem sentido ou significado não existe, argumentaráPaulo (14.10). Mas, falar um idioma estrangeiro diante de uma assembleia que nãocompreendea língua,écomo“falaraoar”ecomoficarbalbuciando“bar-bar-bar-bar”,deondeveioapalavragrega“bárbaro”.

Assim,Paulomostraqueelesnãodevem“falaraovento”,mas“falaràspessoas”.ParaPaulo,amelhorformadefalaràspessoaséousododomda“profecia”,ou seja, dapregaçãoondeopúblico recebe edificação, ânimoe encorajamento (14.3).Outra forma, contudo, de não falar ao vento, é o uso de tradução ou interpretação.Quandoalguémfalaemumalínguaestrangeira,devehaveralguéminterpretandoparatodaaigreja(14.5).

Senãohouvessealguémtraduzindoodiscurso feitoemoutra língua,odiscursoemlínguasnãodeveriaserfeito(14.27-28).Seria“falaraoar”.Seriaalgoinútil

448AVulgatatraduziuaexpressão:inaeraloquentes.449Tosi,Op.Cit.,#434.450G.G.Findlay,“StPaul'sFirstEpistletotheCorinthians”,inW.RobertsonNicoll,TheExpositor’sGreekTestement,vol.2,GrandRapids,(1979reprint),pág.905;HansConzelmann,1Corinthians,p.236.451AntonyC.Thiselton,TheFirstEpistletotheCorinthians(NIGTC),GrandRapids,Eerdmans,2000,p.1105.452Odomdelínguasaparece,pelaprimeiraveznahistóriadaigrejaemAtos2.Láeleédefinidocomo“falaridiomasoudialetoshumanossemprévioconhecimentoouestudodosmesmos”.NafestachamadaPentecostes,osapóstolos,todosgalileus,falaramnosidiomasnataisdosjudeusvindosdetodasaspartesdomundoconhecidopelosjudeus.TalpoderfoidadopeloEspíritoSanto,conformeainterpretaçãodePedro.EmCorinto,odomdeveriatersidorecebidopelaimposiçãodemãosdoapóstoloPaulo(At19.1-7)ouporoutromembrodocolégioapostólicocomoqualeventualmentealgumdoscoríntiostinhatidocontato,foradeCorinto.AlgunssupõemqueodomqueocorreemCorintonãoeraomesmodescritoemAtos.Nãohárazãoparatalraciocínio.OproblemaemCorintoéquenãohaviapessoasestrangeirasparaapreciareverificaratraduçãodoquefoidito.Porcausadisso,odomdetraduzirouinterpretartambémprecisavaserconcedido.

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einaproveitável.Aquestãodo“útil”edo“proveitoso”éaquestãochavede1Coríntios14.453

Línguasseminterpretaçãonãoservemparanada:ninguémentende(v.2), ninguém aproveita nada (v. 6), ninguém compreenderá o que fazer (v. 7-9), nãohaveráverdadeiraintegraçãoentreoshomens(v.11),aprópriapessoaquefalalínguanãocresceemnenhumaspecto454(v.13-15)eosoutrosnãopodemdizer‘amém’paraoquefoidito(v.16-17).

“Falaraoar”,ouseja,usarodomdelínguassemtradução,levaráapenasos incrédulos a confirmarem sua incredulidade. Eles virão a uma reunião de cristãos,observarãomuitosfalandocoisassemsentidoechegarãoàseguinteconclusão:“Estãoloucos!”(1Co14.20-23).“Falaraoar”écoisadelouco!

Modernamente,muitodiscursoreligiosoprecisareavaliarsuaeficáciaelegitimidade.Muitosaindaafirmam“falaremlínguas”quandonaverdadeestão“falandoaovento”–nãohárazãoparafalaremanãoser“autoexaltação”.Também,outrosquenãodefendemapráticamodernadodomdelínguastambém“falamaovento”quandousamumvocabulárioouumaabordagemquenãoécompreendidaounãoérelevantepara os ouvintes. Quando isto ocorre, o indivíduo “fala ao vento”, fala um idiomaestrangeiroaosnãoiniciados.

Paulojáhaviaditoquenasualuta,nãodava“murrosnoar”(1Co9.26),masesmurravaasimesmonadisciplinadefazertudooqueerapossívelparacolaborarcom o evangelho. Assim, a frase eseshe gar eis aera lalountes , e;sesqe ga.r eivj ave,ra lalou/ntej,“porqueestareis falandoaovento”, caracterizaumaatitude inútilquePaulonão quer acompanhar. Falemos para as pessoas demodo compreensível para sermosouvidos.

453Overboedificareosubstantivoedificaçãosãopalavraschavedocapítulo14de1Coríntios.454Muitosentendemerradamenteoverso4,imaginandoquemesmosemcompreenderoquesediz,épossível“edificar-seasimesmo”!Contudo,avistadosversos13-15,vemosque“edificarasimesmo”éumaironiaetambémumaimpossibilidade.Comoedificar-sesementendernada?Comocrescersemcompreenderecrer?Edificar-seasimesmo,naverdade,étudoqueaquelequetemamornãofaz:“oamornãobuscaosseusprópriosinteresses”(13.5).Assim,seminterpretação,ninguéméedificadopelodomdelínguas,nemmesmoquemopossui.

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15.12-avna,stasij nekrw/n ouvk e;stin

“Ressurreiçãodemortosnãoexiste!”

O lema “Ressurreição demortos não existe!” é citado seis vezes nestecapítulo em duas formas. A primeira é “ressurreição demortos não existe”,anastasisnekron ouk estin, [avna,stasij nekrw/n ouvk e;stin], sendo citada nos versos 12 e 13. Asegunda forma é “Mortos não ressuscitam!”, nekroi ouk egeirontai, [nekroi. ouvk evgei,rontai],eocorrenosversos15,16,29e32.

“Não existe ressurreição!” seria um dos lemas de alguns [tinej]455coríntios,bemaclimatadosemsuacultura.456Os leitoresdoNovoTestamentosemprerecordam-sedofatoqueosermãodePaulo,noAreópago,emAtenas,foiinterrompido,quandoelemencionoua“ressurreição”deJesus(Atos17.31-32).Eraotípicodiscursoqueosgregosconsiderariam“loucura”,comotambémconsideravamloucuraapregaçãodacruzdeCristo.

Contudo,aquestãoé:Comoumaigrejacristã,queaprendeuoevangelhodo próprio Paulo poderia negar a ressurreição? O que eles queriam dizer com seuprovérbio“Ressurreiçãodemortosnãoexiste!”?

i)Emprimeirolugar,ébomobservarqueeles,provavelmente,negavama “ressurreição”, sem, necessariamente, negar a ressurreição de Jesus457. Paulo iráargumentar com base na historicidade e na biblicidade da ressurreição de Jesus,apresentandoasEscrituraseas testemunhasapostólicascomoos fiadoresdatradiçãorecebida (1Co 15.1-11). Em 1Coríntios, como bem demonstra Anders Ericksson, astradições são utilizadas como poderosas provas de persuasão retórica. Tomando porcertoa ressurreiçãode Jesus,Pauloestá, indiretamente, afirmandoa ressurreiçãodoscrentes (15.1-11). Por outro lado, se os coríntios insistiremno lema “Ressurreiçãodemortos não existe!”, então seria necessário negar também a ressurreição de Jesus(15.12-19).Assim,oscoríntiosperguntaramaPaulosobrearessurreição458,nãoporquenãoacreditassemna ressurreiçãode Jesus,masporquealguns,mesmoaceitandoestaressurreição,nãoaceitavam,comoveremosabaixo,outrasimplicaçõesdaressurreiçãodeJesus.ProvavelmenteaceitavamaressurreiçãodeJesuscomofatoúnicoeirrepetível.Contudo,Paulonãovaiaceitarestepontodevista.

ii)Uma segundapossibilidade éque algunsdos coríntios, comooutrosgruposgregosejudaicos,negavamtotalmenteapossibilidadedevida(verdadeira)apósamorte.“Nãoexistevidaapósamorte”.Osepicureus459,ossaduceus460pensariamassim.

Ésquilo, na peça Eumênides afirma com toda a clareza que nem osdeusespoderiamtrazeralguémdamorte.461

“Mas,quandoopócobreosanguedoumhomem

455Nãoétodaacongregaçãoquepensaassim,masapenasumgrupo.456AndersEriksson,op.cit,p.235,consideraonossoprovérbiocomoopontodepartidaparareconstruirasituaçãoeopontodevistadoscoríntiosnaquestãodaressurreição.457AssimtambémpensamRobetson&Plummer,Op.Cit.,Op.Cit.,p.346.458Ocapítulo15nãocomeçacomamesmaexpressãoquevemosnoiníciodoscapítulos7,8,12e16,maspareceestardentrodasquestõeslevantadaspeloscoríntios.459ElessãocitadosemAtos17.18.Opróximoprovérbioaserestudado,temraízesepicureias.460Mc12.18:afrasedossaduceuséanastasinmeeinai[avna,stasin mh. ei=nai]:nãohaveráressurreição(Mt22.23;Lc20.27;At23.8;cf.tambémAt23.6e4.2).,461CitadoporVincent,Op.Cit.,Vol.3,pág.274-5,masparecequeareferênciaàobraéerrada.ElecitaAgamenão,masdeveserEumênides.

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definitivamenteestámorto:nãoháretornoàvida”

avndro.j d v evpeida.n ai-m v avnaspa,sh| ko,nij

a[pax qano,ntoj( ouç;tij e;st v avna,stasij

Repare que a última frase, grifada, soa exatamente como o provérbiocoríntio: “não há retorno à vida” poderia ser lido e vertido “não há ressurreição” emmeioscristãos.

TambémPlatão,nodiálogodenominadoFédon(70a),fazCebes,umdosinterlocutoresdodiálogo,afirmarque“todasaquelascoisasquedizemrespeitoàalmaeque são, para os homens, uma fonte abundante de incredulidade. Talvez, dizem eles,uma vez separada do corpo, a almanão existamais emnenhumaparte e talvez, commaiorrazão,sejadestruídaepereçanomesmodiaemqueohomemmorre.”462

Certamente,osgregostinhamemsuaslendaseemsuateologia,muitosquetestemunhavamacontinuaçãodaexistênciadasalmasdosmortosnaCasadoHades,deusdosinfernos.Contudo,avidaquealihaviaera,naconcepçãodosgregos,umanão-vida!463Havia outras lendas, como a de Alceste que teria voltado à vida, depois demorrer,mas isto era uma grande exceção que confirmaria a regra: “Ressurreição nãoexiste!”

Assim, é possível que Paulo tivesse que lutar contra esta tendênciacompletamente “materialista” da vida. Contudo, a maioria dos intérpretes estaconvencidaqueosprincipaisproblemasdoscoríntiosdescrentesnãoparariamaqui.Aspróximasduaspossibilidadestemmaischancesdeexplicarosverdadeirospensamentosdaquelesqueafirmavamque“Ressurreiçãonãoexiste!”

iii)Oprovérbio “Ressurreiçãonão existe!” poderia ser assemelhadoaoque ocorre em 2Timóteo 2.18: “A ressurreição já ocorreu!”, anastasinedegegonenai,[avna,stasin h;dh gegone,nai]. Assim, os alguns coríntios, assumindo uma forma radical daposturachamada,modernamente,“escatologiarealizada”,tinhamaideiabásicadequeofuturojáestápresente:ofuturocomeçouagora.

Emboraesta classificaçãosejamoderna,hábaseparaestepensamentonopróprioNovoTestamento.QuandovemosJesusfalardaquelesqueoseguem:“quemouveaminhapalavraecrênaquelequemeenviou,temavidaeterna,nãoentraemjuízo,maspassoudamorteparaavida”(Jo5.24,vertambémv.25).Ouseja,Jesusjádávidaeternaagora.Certamente,elasóseconsumanofuturo,naressurreição(Jo5.28-29),maselajáestápresenteeantecipadaaosquecrêem.

Paulotambémfala,emumsentido,quearessurreição“jáocorreu”.Nãonosentidodosheregesqueeleacusaem2Timóteo2.18,masnosentidodoqueocorreunobatismo:nobatismomorremosparao velhohomemepara a realidade anterior enascemos de novo ou ressuscitamos com Jesus (Romanos 6.1ss; Colossenses 2.11ss;Efésios5.14;etc).

Assim,algunscoríntios,numaantecipaçãodepensamentosgnósticosouporqualqueroutrotipode“espiritualização”,negavamaideiadeumaressurreiçãodo

462Platão,FédoninPlatão,Diálogos,traduçãodeJorgePaleikateJoãoCruzCosta,SãoPaulo,EditoraAbril,1983(2ªedição),pág.72.463ÉsemprecitadaafamosaentrevistadeOdisseu(Ulisses)comoespectrodograndeAquiles,ondeafirmoupreferirserlavradordeumpequenositiantedoquereidomundodosmortos(Homero,Odisseia,Canto11).

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corpo,desconfortávelaopensamentodeles,acatandouma“ressurreiçãoespiritual”quetalvez já tivesseocorrido, seelesestivessemraciocinandocomoos falsosmestresquePaulodesmascaraem2Timóteo2.18.

Atáticade“demitologização”464,agrossomodo,ésempreesta:seaideiade corpos mortos (cadáveres) voltarem à vida parece impossível a alguém, entãointerpretamosaideiaderessurreiçãocomo“espiritual”ou“existencial”oudequalqueroutraformadandodaroutrosentidoàlinguagemdotexto,parafazê-loaceitável.

Assim,nestaterceirahipótese,oscoríntiosconseguiriamusarapalavraressurreição, sem ser no sentido físico. Eles poderiam afirmar que “Ressurreição nãoexiste!”porqueaúnicaressurreiçãopossível játeriaocorridonobatismoouemoutraexperiênciaespiritual.Seestaerasuapostura,logoaargumentaçãodePauloirádestruí-la,mostrandoquearessurreiçãodocorpoéumarealidadefutura.

iv) Outro sentido possível que os coríntios estavam dando para amáxima:“Ressurreiçãonãoexiste!”seriaoseguinte:“Ressurreiçãodocorponãoexiste,mas aceitamos a imortalidade da alma”. Para os gregos, o corpo era como que otúmulodaalmaefalarqueaalmapodiavoltarparaocorpoeraumabsurdo.Contudo,aimortalidadedaalma,quedepoisdamortepoderiareceberrecompensasoupunições,eraaceitávelaosgregos.NodiálogodePlatãojácitadoanteriormente,Fédon,Sócratesestáconvencidodisto,apesardenãoternenhumacerteza.

Assim, o ditado coríntio não estaria sendo usado para negarcompletamenteavidaapósamorte,comoalgumaspossibilidadesexpostasantes,masafirmando que a ideia de uma ressurreição do corpo não era nem aceitável e nemnecessáriaparaquemjáaceitavaaideiadaimortalidadedaalma.

Modernamente,hámuitossistemasreligiosos,inclusivealgunsdentrodacristandade,queaceitamaideiadeimortalidadedaalma,masqueabominamadoutrinada ressurreição do corpo. Desta forma, podemos entender, por analogia, como oscoríntioschegaramaaceitaraideiadoprovérbio“Ressurreiçãonãoexiste!”.

É possível que pelomenos os dois últimos pontos de vista estivessemcombinados na mente dos coríntios e que estivesse levando-os a dizer que“Ressurreição não existe!” Isso fica claro quando percebemos que a argumentação dePaulobuscaprovardoispontosfundamentais:i)acertezadaressurreiçãodocorpo;ii)eafuturicidadedaressurreiçãodocorpo.465

Assim, o provérbio “Ressurreição não existe!” levanta uma quaestioconiuncta, ou seja, uma ‘questão conjunta’ onde dois problemas relacionados serãoresolvidos.466

AargumentaçãodePauloseguiráaseguintelinharetórica467:

464DemitologizaçãooudemitizaçãoéoprocessopropostopeloteólogoRudolfBultmann,noséculopassado,paralidarcomos“mitos”(símbolos)encontradosnostextosantigos,masquenãosãocompatíveiscomonossomodernodepensaredeencararomundo.Estesmitosprecisamser“demitizados”,ouseja,deveconservar-sesuamensagembásica,masretirarsuaforma(oucasca)antiga,paraexpressá-loemnossotempopresente.Assim,seressurreiçãopareceimpossívelàmentemoderna,podemosimaginaralgumtipoderenovaçãoousuperaçãodoserhumano,eassiminterpretaromitoantigoporumaimagemmodernacoerentecomonossopensamentocientíficoquenãoacreditaemmilagres.Assim,Bultmanntentavasalvarasafirmaçõesbíblicasdascríticasdosmodernos.465AndersEriksson,op.cit,p.238-9.466AndersEriksson,op.cit,p.242.467AndersEriksson,op.cit,p.249-251;AntonyC.Thiselton,Op.Cit.,p.1177-8.

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NoExordium [1-2], Paulo ganha a boa vontade do grupo, afirmando aefetividadedoevangelhonasalvaçãoqueelesjáhaviamrecebidoenoqualprecisavamperseverar.

Logo vem o primeiro narratio [3-11] onde se assentam fatos sobre aressurreição de Jesus, recebidos pela tradição (pregação) do evangelho (v.3-5), ondetambémseapresentaumalistadetestemunhasdaressurreiçãodeJesus(v.6-8)eondePaulocolocaumadigressão,narrandosuaprópriaparticipaçãotantocomotestemunha,quantocomopregadordaressurreição(v.9-11).

Segue, então, oprimeiro refutatio [12-19]onde, atravésdeumacadeiade sete frases condicionais, ele mostra o absurdo da negação da possibilidade daressurreição.Assim,elerefutaoprovérbio“Ressurreiçãonãoexiste!”,paraaquelesquepensamquenãoépossívelumaressurreiçãodocorpo.

No primeiro confirmatio [20-34], ele confirma o fato da ressurreiçãomostrandooparalelodeAdãocomCristo(v.20-22)etambém,adiantandoaquestãodafuturicidadedaressurreição,navoltadeJesus(v.23-28).Eleaindaapelaparaaprópriaexperiênciadoscoríntiosquesebatizavamparapoderemumdiaestarcomseusentesqueridos(ouamigos)quehaviammorridoemCristo(v.29):seelessebatizavamparareencontrá-los no dia da ressurreição, como negar a ressurreição? Finalmente, eleconfirmaacrençanaressurreiçãousandoseupróprioexemplodesofrimentos(v.30-32)emostrandoqueéaressurreiçãoquedábaseaosimperativosmorais(v.33-34).

Depois disto, ele parte para um segundo refutatio [35-49], atacando aquestãodo“como”daressurreição.Agrandeobjeçãodosgregosera“nãocreremnadaque não se possa entender”. De fato, muitos modernos também querem pensar quecontrolam a fé desta forma. Paulo faz sua refutação usando a natureza (v. 35-44) edepoisasEscrituras(v.45-49).

Fechando a argumentação comum segundo confirmatio [50-57], Paulorevelamaisdetalhessobrearessurreição(v.50-52),falandotambémnãoapenasdabasebíblicadesuarealização(v.53-55),mastambémdosefeitoseternosdavitóriasobreamorte(v.56-57).

Ocapítuloterminacomoperoratio [58],ondeoensinodaressurreiçãopodeserusadoparaanimaralutacristãnopresente,sabendoquehaverárecompensafutura.

Em uma frase, o resumo desta argumentação paulina está em 15.20:“Cristo ressuscitou!” christos egegertai, Cristo.j evgh,gertai.468É justamente com basenestepontodeapoiooupontodepartidaquePaulofaztodasasconsideraçõescontraprovérbio“Ressurreiçãonãoexiste!”

Passados muitos anos e muitas ideias, o provérbio “Não existeressurreição!”ressuscitaoureencarna,detemposemtemposemsuaformaoriginalouem“slogans”maismodernostaiscomo“Milagresnãoexistem!”469

A argumentaçãodePaulo, tomando comobase a ressurreiçãode Jesusaindaéumexcelentepontodepartidaparaestasquestões

468ParaAndersEriksson,Op.Cit.,pag.261,maisumapeçadetradiçãorememoradaemumpequenodito.469Robertson&Plummer,p.346.

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15.32-fa,gwmen kai. pi,wmen au;rion ga.r avpoqnh,|skomen

“comamosebebamosporqueamanhãmorreremos”

Umavezquealguémacrediteque“Ressurreiçãonãoexiste!”,oresultadoé um verdadeiro caos moral. Robertson considera esta frase como um “ditodesastroso”.470.

Oprovérbioécitadonoestilodediatribe,comoumaprovapeloabsurdo,argumentumadabsurdum,que,naverdade,funcionacomoargumentoadhominem,ouseja, um argumento que mostra o absurdo de uma ideia, quando a levamos às suasúltimasconsequências.471

Indo nesta direção, Paulo cita uma frase proverbial “Comamos ebebamos porque amanhãmorreremos!”,não para expressar seu ponto de vista,mas,pelo contrário, para mostrar a incoerência daqueles coríntios que procuravam vivercomocristãos,masnegavamaressurreição:senãoháressurreição,aproveiteoagora!

Não é necessário fazermuito esforço para perceber a proverbialidadedestafrase“Comamosebebamosporqueamanhãmorreremos!”,phagomenkai.piomenauriongarapothneskomen[fa,gwmen kai. pi,wmen au;rion ga.r avpoqnh,|skomen].

EsteprovérbiojáéatestadonolivrodeIsaías,noVelhoTestamento(Is22.13;tambémIs56.12),comodescriçãodeumpovoquenãoquerarrepender-seeusaotempoquerestaparadivertir-seaoinvésdebuscaroSenhor.472

Os autores clássicos também trazem máximas deste tipo com grandefrequência473Edamus,bibamus,gaudeamus,istoé,“Comamos,bebamos,folguemos!”474

Mais interessante (e trágico) é ver a grande quantidade de inscriçõestumulares,osepitáfios,queafirmamestemesmopensamento:

Vincent475cita o fato da cidade de Anchiale, vizinha de Tarso, possuiruma estátua de Sardanapalus, o fundador de Tarso, que tinha a seguinte inscrição:“Coma, beba, aproveite: o resto é nada”, esthie, pine, aphrodisiaze: talla d´ouden,e;sqie( pi/ne( avfrodisi,aze\ ta;lla d v ouvde,n. Como Paulo era de Tarso, talvez até conhecesseaestátuaesuainscrição.

Uma outra inscrição preservada em uma catacumba romana dizia: “ÀdivinasombradeTito,queviveu57anos.Aquieleaproveitoudetudo.Banhosevinhodestroemnossasconstituições,maselesfazemavidaqueéesta.Adeus!Adeus!”

UmtaldeCrisógonodeCós,quemorreuaos83anos,deveterordenadoqueseescrevesseemseuepitáfio:“Crisógono...jazaqui,adoradordasNinfas,dizendoacada passante: ‘Beba para ver o fim.’ 83 anos.” Este tipo de exortação para beber em

470Robertson&Plummer,p.362.471Fee,Op.Cit.,p.772.472Oapócrifo,Sabedoria1.16-2.11traçaumquadroquecombinaperfeitamentecomaatitudequeesteprovérbiorecomenda,naausênciadevidaepuniçãoapósamorte.473Umagrandelistadereferênciaspodeservistaem:Robertson&Plummer,Op.Cit.,p.362-363;Lenski,Op.Cit.,p.698;HansConzelmann,ICorinthians,p.278;Findlay,Op.Cit.,p.932.474Tosi,Op.Cit.,#578e577.475Vincent,Op.Cit.,p.278.

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antecipação à morte, era muito comum na Antiguidade476: Bibamus, moriendum est,Bebamos,poisestamosmorrendo.

Arqueólogostêmencontradomuitastaçasecoposparavinho,oriundosdaculturagreco-romana,comfrasesproverbiaistaiscomo477:

“Oprazeréoalvo(=ofim)”,to, te,loj hdonh,)

“Alegraatuaprópriavida”,te,rpe zw/n seauto,n)

“Avidaéumatenda(=épassageira)”,skhnh. bi,oj)

“Ohomeméisto”,tout v a;nqrwpoj(escritosobreumesqueletohumano).

“Aproveita a vida, pois o amanhã é incerto”, zw/n meta,labe to. ga.r au;rion a;dhlon evstin)

Enfim,oprovérbio“Comamosebebamosporqueamanhãmorreremos!”retrata bem o hedonismo, culto do prazer, constantemente atribuído aos epicureus eaqui,éusadosemreferênciadiretaaeles,maspodiasercompreendidoportodos,jáqueeste tipo de ditado era parte do arsenal, normalmente usado para caracterizar eridicularizarosepicureus.478

Esta morte no prazer é acidamente retratada na fábula de Esopo da“moscaepicureia”,que tinhacaídonumapaneladecarne.Prestesaafogar-seamoscadizparasimesma:“Eucomi,eubebi,eutomeibanho:aindaqueagoramorra,issonãomepreocupa”.479

Naverdade,Pauloprocuramostrar,pelacitaçãodesteprovérbio,aquiloque já disse em 15.19 numa linguagem mais terrível: “a futilidade da vida sem amotivaçãodadapelaressurreiçãodeCristo”480.Frasesmodernastaiscomo“Domundonão se leva nada. Vamos sorrir e cantar”. “Aproveite enquanto pode”,mostramque ohedonismoaindaestáemaltahojeemdia.

A vida do ateu ou domaterialista, contudo, que vive pelo princípio do“Carpediem”, “Aproveitaodia!”, levariaaumavidadedesregramentoededesespero,pois a ânsia de aproveitar o que está se esvaindo já seriamotivo suficiente para nãoconseguiraproveitarnemmesmoodia.

Haveráressurreição,ejulgamentoparavivosemortos(2Coríntios5.10).A solução não é o carpe diem, mas o “remir o tempo” (Efésios 5.16, to.n kairo.n evxagorazo,menoi,eColossenses4.5,evxagorazo,menoi to.n kairo,n).

476AdolfDeissmann,LightfromtheAncientEast(LichtvomOsten,Tübingen,J.C.B.Mohr<PaulSiebeck>,4ªed.,1923,trad.LionelR.M.Strachan),GrandRapids(Michigan),BakerBookHouse,1978,p.295.477CitadosemFindlay,Op.Cit.,p.932.478AbrahamMalherbe,PaulandthePopularPhilosophers,p.85;Enslin,p.18-19.479ManoelAveleza,AsfábulasdeEsopo:textobilíngue,RiodeJaneiro,EditoraThex,1999,pag250-1.480AndersEriksson,op.cit,p.266.

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15.33-fqei,rousin h;qh crhsta. o`mili,ai kakai,

“Máscompanhiascorrompembonscostumes”481

Aindaargumentandoafavordaressurreição,PauloagoracitaumafrasedopoetagregoMenandro (322a.C.), epicureueatuantenoperíodoclassificadocomoNova Comédia.482 Este provérbio “Más companhias corrompem bons costumes”,phtheirousin ethe chresta homiliai kakai [fqei,rousin h;qh crhsta. omili,ai kakai,], poderiajáserproverbialantesdesuaépoca483,ousetornouproverbialdepois.484

ÉmuitoprovávelqueMenandrotenhatomadoestamáximaemprestadadeEurípides (Séc.Va.C.).485Contudo, a ideiaepartedo fraseadodoprovérbioémaisantigoepodeseratestadoemÉsquilo(Séc.Va.C.):486

“Aidodestinodosmortais,quefazassociação

dohomemjustocomosímpios.

Emtodasasquestões,nadaépiordoquemáscompanhias”

feu/ tou/ xunalla,ssontoj o;rniqoj brotoi/j

di,kaion a;ndra toi/si dussebeste,roij

evn panti.\ pra,gei d v e;sq v omili,aj kakh/j

ka,kion ouvde,n

O texto grifado, “más companhias”, é similar ao que encontramos noprovérbiocoríntiocitado.

NoPrimeiroSéculo,afrasejáeraprovérbiocorrente487eváriosfilósofosusavam expressões similares a este provérbio para inculcar suas lições.488Era umprovérbiodotempodePauloesimilaraoutrosditosfilosóficos.ClementedeAlexandria,teólogocristãodoSegundoSéculo,jáafirmavaquePaulo“fezusodeumalinhaiambicatrágica”,aocitaresteprovérbio.489

Paulo podia ter tomado este provérbio da sabedoria popular, e nãodiretamente das obras gregas mencionadas.490Por outro lado, muitos autores nãoqueremvernascitaçõesdePaulodosautoresclássicos491,qualquersinaldeeducaçãosofisticada.Afirmamqueestaeoutrascitaçõesnãocomprovam,nemobrigamapensar

481Valeapenamencionar,otrabalhopioneiroesemparalelo,noBrasil,doprofessorEbenézerSoaresFerreira,CitaçõesdePoetasGregosnaLiteraturaPaulina,inRomanitas:revistadeculturaromana,anoIV,vol.5,1962,p.124-131,queserviudeinspiraçãoparaestetrabalhosobreprovérbiosnaliteraturapaulina.482Menandro,Thais,Fragmento218Kock(=Eurípides,Fragmento1024Nauck:[Conzelmanndizqueéofrangmento1013]).483Findlay,Op.Cit.,p.933.484RobertsonePlummer,Op.Cit.,p.363.485AbrahamJ.Malherbe,SocialAspectsofEarlyChristianity,secondedition,enlarged,Philadelphia,FortressPress,1983,p.42.486Ésquilo,“OsSetecontraTebas”,v.593-595.487Thisselton,Op.Cit.,p.1254.488Enslin,Op.Cit.,p.205,nota.22,citaEpictetoeSêneca.489ClementedeAlexandria,Stromata,livroI,capítulo14,(ANF,vol.II,pág.314.).490JeromeMurphyO’Connor,SãoPauloeaMoraldosNossosTempos(TraduçãodeGilbertoGorgulho&AnaFloraAnderson),SãoPaulo,Paulinas,1973,p.35,61.491NestetextoeemAt17.28eTt1.12.

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quePauloteriaconhecimentodeprimeiramãodosclássicos.Normalmente,sedizquePauloutilizouumafrasepopular,pois,eraumlugarcomum.492

Malherbe, embora concordando com as ideias anteriores, vê, nestascitações de autores gregos, o bom nível literário de Paulo e doNovo Testamento emgeral. O nível da linguagem do Novo Testamento está bem acima dos papiros nãoliterários encontrados pelos arqueólogos nos séculos passados. Contra as ideias deDeissmann493,quesópodiaveroNovoTestamentocomoliteraturapopular,ouseja,nãoliteratura,MalherbevêqueosescritoresoNovoTestamentodemonstram,nomínimo,teralcançadoosmaisaltosníveisdainstruçãosecundáriadeseutempo.494

Devemos lembrar que Paulo era nascido em Tarso, um dos maiorescentros universitários do mundo greco-romano. Alem disto, seus estudos dentro dojudaísmonãonecessariamenteexcluiriamoutrasleiturasediálogos.Provavelmente,elepodialerváriosdestesautoresclássicosnosmanuaisdeensinoquefaziamcompilaçõesdeváriosautoresparaousodosalunos.Assim,eleteriaotipodeacessoaostextosqueoutrostambémteriam.

“Máscompanhiascorrompembonscostumes”,phtheirousinethechrestahomiliai kakai [fqei,rousin h;qh crhsta. omili,ai kakai,], ocorre no texto da carta paraadvertir os coríntios do perigo de sua postura de não crer na ressurreição. Nãoacreditandonaressurreição,logoadotarãoomododevidahedonista,descritonafrase“comamosebebamos...”e,nofinaldascontas,osbonscostumessãodestruídos.

Paulo cita o provérbio grego, pois, sendo “função retórica damáxima...reforçaraexortaçãocomsabedoriaproverbial”495,ofatodelecitarumpoetagregoparacombater ideias gregas aumentaria a força do argumento. É sempre com estemotivoquePaulobusca testemunhosdentroda culturada sua audiência. Sempreque ele fazcitações da literatura grega, esta é sua estratégia (Veja Tito 1.12 e Atos 17.28). Ostestemunhossão“domeiodeles”.

Ao que se aplica a máxima “Más companhias corrompem bonscostumes”?

Similar ao provérbio sobre o fermento (1Co 5.6), o risco é o de fazerassociaçõesquelevemaopecado.Osentidodehomiliai, omili,ai,combinatantoa ideiade conversa496como a de convívio ou associação. Certo autor, para dar a ênfase dosentido de associação que a palavra carrega, resolveu traduzir a expressão “máscompanhias”, homiliai kakai [omili,ai kakai,] pela expressão “más gangues”!497Seuobjetivocomatradução,comoelemesmoexplica,émostrarqueapressãodepertenceraumgrupoacabaformandoocaráter.

Fazer parte de um grupo, ter convívio com ele acaba moldando os“costumes”ou“ocaráter”.Osentidodeethe,h;qh,écostume,modos,atémesmocaráter.Neste caso, ficar conversando e convivendo com aqueles que crêem que não há

492RobertsonePlummer,Op.Cit.,p.363.493Deissmann,Adolf,LightfromtheAncientEast(LichtvomOsten,Tübingen,J.C.B.Mohr<PaulSiebeck>,4ªed.,1923,trad.LionelR.M.Strachan),GrandRapids(Michigan),BakerBookHouse,1978.494AbrahamJ.Malherbe,SocialAspectsofEarlyChristianity,secondedition,enlarged,Philadelphia,FortressPress,1983,p.41-45.495AndersEriksson,Op.Cit.,p.266.496Apalavraportuguesaparasermõesqueseusanomeiocatólico-romano,homilias,vemdestetermogrego.497Thisselton,Op.Cit.,p.1254.

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ressurreição e vivendo de acordo com isto, logo os bons costumes e o bomprocedimentoestarãodestruídos.

Doutrinamudaavida.Écertoqueaspráticasehábitosgeramdoutrinas.Muitasvezes,umgruporeligiosopraticaalgoe, sómais tarde,vaibuscarargumentosparajustificaraprática.Poroutrolado,tambéméverdadeiroqueodiscurso,aconversa,oconvívioeopensamentomoldamaação.Assim,avigilâncianãopodefalhar.

Assim,oprovérbio“Máscompanhiascorrompembonscostumes”aplica-seaoconvívioeàamizade(2Co6.14-16),àconversa,àsleituras,aoentretenimento,etc.Sequeremosumavidasanta,devemosbuscarsantidade.Novamente498,nãoéparasairdomundo,masparaevitarassociaçõesmaisprofundasquelevemaopecado.

O convívio, a conversa, o pecado, tudo tem consequências! Não háneutralidade. Nos primórdios, a serpente apenas ‘conversou’ com Eva, mas asconsequênciasforamfunestas.Nãoadiantaaproximar-sedomaleacreditarqueistonãoteráconsequências.“Máscompanhiascorrompembonscostumes”.

Um colega meu que trabalha com computadores sempre diz, sobre ofuncionamentodamáquina,“Seentralixo,sailixo”.499Elequeriadizerque,seosdadoscolocados no aparelho, ou se o programa, estiverem erradas, a máquina vai darresultadoserrados.Seentracoisaerrada,saicoisaerrada.

Este é o alerta do provérbio “Más companhias corrompem bonscostumes”.Sealimentamosnossavidacomaquiloquevaicorromperocaráter,nãoháoquefazerdepois,sórestacolherosfrutosdacorrupção.

498Paulojátratoudestaquestãoem1Co5-6.499Istovemdeumamáximanoinglês,quetemomesmosentido.

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(2Co)9.6- o` spei,rwn feidome,nwj feidome,nwj kai. qeri,sei(

kai. o` spei,rwn evpV euvlogi,aij evpV euvlogi,aij kai. qeri,sei

“Quemsemeiapouco,poucocolhera;quemsemeiacomabundânciacomabundânciacolherá”

Trata-se, sem dúvida, de um provérbio agrícola: “semear... colher”. Amarcaçãoinicialdesteprovérbioéexplícita,aexpressão“digoisto”,toutode[Tou/to de,],quejáocorreuemoutrostextos.

Aestruturadasfrasesé,também,indicaçãodesuanaturezaproverbial.Éumaforismocompostoporduas frases justapostas emparalelismoantitético, ou seja,duas frases que ensinam coisas contrárias. Além disto, as próprias frases estãoconstruídasemestrutura“quiástica”,ouseja,noformato:ABB´A´.Vejaabaixo:

o spei,rwn feidome,nwj feidome,nwj kai. qeri,sei(

kai. o spei,rwn evpV euvlogi,aij evpV euvlogi,aij kai. qeri,sei

Quem(A)semeia(B)parcamente,(B’)parcamente(A’)colherá;

quem(A)semeia(B)comabundância,(B’)comabundância(A’)colherá.

Notequeoselementosiniciaisefinaisdasduasfrasessãoidênticosesóo “miolo” do provérbio é alterado. O contraste ocorre nestes elementos centrais –contrasta-seo ‘pouco’ como ‘muito’.A liçãoéque “iremoscolheroque semeamos”–neste caso, iremos semear a quantidade que semeamos. Semeando pouco, colhemospouco;semeandomuito,colhemosmuito.Éaleidasemeadura.

Estaproverbialleidasemeadura(semear-colher)éusadaporPauloemGálatas6.7-9.Ocontextodousoéomesmo,pois,tantoem2Coríntios9comoemGálatas6,Pauloestá falandosobreousodenossosrecursosmateriaisparaaobradeDeus.Adiferença é que em2Coríntios, a lei aplica-se à quantidade e emGálatas, a lei fala dequalidadedasemeadura.

EmGálatas6-7-9,oprovérbioé:(i)apresentadodeformagenérica,(ii)aplicadoaduassituaçõesconflitantese(iii),aofinal,reformuladocomoexortação.

I.Aleidasemeadura:“aquiloqueohomemsemear,colherá”,

hogareanspeireanthropostoutokaitherisei

[o] ga.r eva.n spei,rh| a;nqrwpoj( tou/to kai. qeri,sei].

II.Aleidasemeaduraaplicada:

“oquesemeiaparaasuaprópriacarne,dacarnecolherácorrupção;

“oquesemeiaparaoEspírito,doEspíritocolherávidaeterna.”

o[ti o spei,rwn eivj th.n sa,rka e`autou/ evk th/j sarko.j qeri,sei fqora,n(

o de. spei,rwn eivj to. pneu/ma evk tou/ pneu,matoj qeri,sei zwh.n aivw,nionÅ

III.Aleidasemeadurarecomendada:

9 to. de. kalo.n poiou/ntej mh. evgkakw/men( kairw/| ga.r ivdi,w| qeri,somen mh. evkluo,menoiÅ

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9Enãonos cansemosde fazerobem,porquea seu tempoceifaremos, senãodesfalecermos.

O que Paulo fez foi usar o provérbio para dizer aos gálatas quesustentassem seus obreiros (Gálatas 6.6), pois, isto era semear para o Espírito Santo,istoerafazerobem.Acolheita,Deusadarianotempocerto.

Em2Coríntios,o textoaplica-seàsofertasqueestavamsendodirigidasparaasigrejasjudaicaspelasigrejasgentílicas.500Aliçãoeraqueaquantidadedaofertaseriaproporcional àquantidadedo louvordadoaDeus atravésdestasofertas. Paraoapóstolo,asofertaseramumaformadesemearbensmateriaisparaolouvordeDeus.

500RollinA.Ramsaran,Op.Cit.,pág.384.

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(2Co)10.10- Ai` evpistolai. me,n barei/ai kai. ivscurai,( h` de. parousi,a tou/ sw,matoj avsqenh.j

kai. o` lo,goj evxouqenhme,nojÅ

“Asepístolassãopesadasefortesmasapresençacorporaléfraca

eapalavradesprezível!”

Chegamos a um “slogan” muito ácido: trata-se da crítica que osoponentesdePaulofaziamaele.Afraseera:“Asepístolassãopesadase fortes,masapresençacorporaléfracaeapalavradesprezível!”,haiepistolaimenbareiaikaiischyraihe de parousia tou somatos asthenes kai ho logos exouthenemenos [Ai evpistolai. me,n barei/ai kai. ivscurai,( h de. parousi,a tou/ sw,matoj avsqenh.j kai. o lo,goj evxouqenhme,nojÅ].Pauloeraacusadodeescreverdeumjeitopoderoso,masnarealidade,nãoterpoderouforçaalguma.Assim,seus inimigostentavamminimizaroefeitodamensagemdesuascartaseacusarPaulodeumtipode“charlatanice”.

Para compreender o provérbio, precisamos relembrar a situação daigrejaatéomomentodestasegundacartaaosCoríntiosserescrita.

Paulo iniciou a igreja em Corinto, ficando aproximadamente um ano emeio naquela cidade (Atos 18.11). De Corinto, escreveu cartas para as igrejas emTessalônica501, de modo que os coríntios já conheciam esta metodologia de Paulo,usandocartasparaacompanhareaconselharasigrejasporondepassava.

DepoisdesairdeCorinto,PaulopassouporÉfeso,masnãoficoumuitotempo.FoiparaaJudeia,depoisparaAntioquia.Finalmente,voltouaÉfeso,nachamadaterceiraviagemmissionária,eláficouporcercade2a3anos(Atos19.10e20.31).

Nesta longa estada em Éfeso, escreveu uma primeira epístola aosCoríntiosqueseperdeu,esótemosmençãodelaem1Co5.9.Chamaremosestacartade“EpístolaPerdida”.

QuandoaindaestavaemÉfeso,recebeunotícias(1Co1.11)evisitasdapartedoscoríntios(1Co16.17-18),bemcomoumacartacomdúvidas(1Co7.1,etc.).Emrespostaaestescontatoseàcarta,PauloescreveuaPrimeiraCartaaosCoríntios,queconhecemosetemospreservadaemnossoNovoTestamento.

Contudo, depois disto, a igreja tomou novos e perigosos rumos. UmagrandeoposiçãoaPaulosefezsentirdentrodaigreja.Porestacausaelefezumavisita,nãonarradanolivrodeAtos,paraacidadeeaigrejadeCorinto(2Co1.15mencionaasegunda visita; 13.2 fala que esteve lá pela segunda vez e no verso 1 promete umaterceira visita). Como estes textos declaram, foi uma “visita triste”, pois, Paulo teveoposiçãodealgunserevoltadeoutros.

Ele, entristecido, retorna a Éfeso e escreve uma terceira carta para aigrejadeCorinto,quechamaremosdea“CartaSeveraaosCoríntios”(2Co2.4;7.8).Estacarta também se perdeu, embora alguns queiram dizer que ela está preservada em2Coríntios10-13.502Contudo,nãohárazãoparapensarqueestacartaestivessefundida

501HáquempensequetambémGálatasfoiescritanestaépoca.Pessoalmente,estoupersuadidoqueGálataséanterior,tendosidoescrita,provavelmentedeAntioquia,entreaprimeiraeasegundaviagensmissionáriasdePaulo,antesdareuniãocomaigrejaemJerusalémemAtos15.502AssimpensaColinKruse,IICoríntios:IntroduçãoeComentário(TheSecondEpistleofPaultotheCorinthians,AnIntroductionandCommentary,Leicester,Inter-VarsityPress,1987,trad.deOswaldoRamos),SãoPaulo,EdiçõesVidaNova&EditoraMundoCristão,1994.

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à outra. A chamada “Carta Severa” perdeu-se como a primeira “Carta Perdida” aosCoríntios.503

Tito levouesta “CartaSevera”paraCorinto,enquantoPaulocombinaradeencontrar-secomTitoemTrôade,depoisdetudoserresolvidoemCorinto(2Co2.12-13e7.5-16).Defato,Titovoltoucomboasnotícias:aigreja,arrependida,davasinaisdeadesão a Paulo. Então ele escreve a Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios, quechamamosde2Coríntioseplanejafazerumaterceiravisita,associadaàsofertasparaasigrejas da Judeia (2Co 1.13; 2.1; 12.14; 13.1, 10). Esta visita para recolher ofertas jáestavaplanejadadesdeaprimeira cartadePaulo (1Co16.1ss),masele fez a segundavisita,avisitatriste,poroutrosmotivoseagora,fariaaterceiravisita(mencionadaemAtos20.1-2).

No quadro abaixo tentamos resumir o relacionamento pessoal, porcartaseporemissáriosentrePauloeosCoríntios.

HISTÓRIA DOCUMENTOSPaulocomeçaaigrejaemCorinto(Atos18.1-18) CartaPerdidaaosCoríntioscitadaem1Co5.9 Acarta“perdida”aos

CoríntiosEmissáriosdeCorintovãotercomPauloemÉfeso(1Co16.17e1.11?).ElestrazemumacartaparaPaulo(1Co7.1)

CartadosCoríntiosparaPaulo

1Coríntioséescritaemresposta,deÉfeso. APrimeiraCartaaosCoríntios

EmissáriosdePauloquelevam1CoríntiosououtrosdevemteravisadoPaulodosproblemasdaigreja[Aentradados“super-apóstolos”?]

Paulofazachamada“visitadolorosa”aosCoríntios(2Co1.23;2.1;12.14;13.10)eretornaparaÉfeso.

PauloenviaTitocomachamada“CartaSevera”(2Co1.13;2.3-4;7.8,12)

CartaseveraaosCoríntios

TitovaiaCorinto,resolveosproblemasevolta,encontrandoPaulonaMacedônia(2Co7.5-7)

Pauloescreve2CoríntiosdaMacedônia ASegundaCartaaosCoríntios

PaulovisitaosCoríntiosepassa3mesesali(Atos20.2-3)

Assim,selevarmosemcontaasinformaçõesquetemos,PauloescreveupelomenosquatrocartasaosCoríntios:

• a“CartaPerdida”• “1Coríntios”• a“CartaSevera”• “2Coríntios”

De todas estas, obviamente, apenas as que chamamos 1 e 2Coríntiosestãopreservadas504,masosinimigosdePaulo,quejáhaviamrecebidopelomenosduas

503Umadefesamagníficadaunidadede2CorítioséfeitaporHyldahl,Niels,Op.Cit.,p.204-216.504Asteoriasqueafirmamque2Coríntiosseriaumacartacompostaporváriascartassãoasseguintes.(i)Háaquelesquepensamque2Coríntioséajunçãodeduascartas:1-9&10-13.(ii)Háosqueimaginamquatrodocumentos:1-7+8+9+10-13.Alémdisto,quasetodoscrêemque2.14-7.4e6.14-7.1seriam

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ou três cartas dele, queriam desacreditá-lo, dizendo que “As epístolas são pesadas efortes,masapresençacorporaléfracaeapalavradesprezível!”Ouseja,eleécorajosoquandoestálonge,mascovardequandoestáperto.

Pode-se descartar estas observações como sendo comentáriosmentirosos emaliciosos dos inimigos de Paulo e partir para outro assunto. Contudo,Paulo não faz isto e a própria literatura paulina nos aconselha a aprender com estasacusaçõesecríticasparaentenderoambienteeaprópriapessoadoapóstolo.

Emprimeirolugar,esteprovérbioreconheceaforçadascartasdePaulocomoliteraturaapostólicaecomoEscrituraSagrada.Logonoiníciodahistóriadaigreja,somos informados que um dos critériosmais importantes para o reconhecimento daautoridadeespiritualdeumlivroeraasualeituranasassembleiascristãs.

É importante lembrar que as Escrituras eram o único material lidopublicamente (1Tm4.13).QuandoPaulo instituiuo costumedepedirque suas cartasfossem lidas diante de toda a igreja (1Ts 5.27; 2Ts 3.14; Cl 4.16), conscientementeestava equiparando seus conselhos às Escrituras (1Co 14.37-38). Assim, as cartascertamentepareciam‘pesadas’e‘fortes’.

Um teórico da retórica antiga, Dionísio de Helicarnasso,505usou ostermos “pesado” e “forte”, no grego barys e ischuros, baru,j e ivscuro,j, para designartreinamentonasartesdaretórica.Assim,apesardacríticaàoratóriadePaulo,osseusdetratoresreconhecemsuashabilidadesretóricasnaepistolografia.

Em segundo lugar, a condição de apóstolo era reforçada pelas cartas,pois, elas tornavam-se uma declaração concreta do seu apostolado. Elas tornavam-secomoque ‘decretos’ ou ‘ordensoficiais’, dandouma impressãode autoridade epoderquenãovinhamdapessoadoapóstolo,masdopróprioSenhorJesus,aquemoapóstolorepresentava. De qualquer forma, o apostolado fazia as cartas tornarem-seaparentementemais‘pesadas’e‘fortes’doquequalqueroutracomunicação.

Em terceiro lugar, na Antiguidade, as cartas eram consideradassubstitutasdapresença.Naverdade,pormeiodas cartas,Paulo fazia-sepresente ‘emespírito’ (1Co5.4). Ele escolhia, deliberadamente ser severo por carta para poder serbrandoquandopresente‘emcarneeosso’(2Co10.1).Poristo,aobservaçãodoscríticostinha um grande fundo de verdade. Em pessoa Paulo era brando e manso –deliberadamente.Contudo,porcartas,eraforteeousado–deliberadamente.

Podemos ver um exemplo desta postura em 1Coríntios. Na partemaisseverade1Coríntios, capítulos 1 a 4, Paulo sómenciona a possibilidadede sua visitapessoal no fim do capítulo 4, depois de escrever severas repreensões. Repreensõescombinamcomausência.Mas,nocasodosassuntosde1Coríntios5a16,suapresençapessoal não atrapalharia o ensino (emgeral) e por isso, toda esta parte da carta está

interpolaçõesvindasdeoutrascartasedocumentos.Hámuitosargumentoscontraashipótesesde2Coríntiosserajunçãodeváriascartas.(1)NenhummanuscritodoNTtemqualquersinaldequeoutrascartaspudessemestarassimiladasaqui;(2)Ondeestariaopós-escritodascartas?Ondeestariaopré-escritoeoraçãodascartas?;(3)Aordempropostaparaascartasnãocombinacomoconteúdoquesabemosestarpresentenelas.Porexemplo:2Co10-13nãotratadoirmãoofensor;2Co6.14-7.2nãofaladepecadosdeirmãos;etc;(4)Aseparaçãoempequenasunidadestiraasequênciaeopoderde2Coríntios.Paramaisdiscussõescontraatentativadeentenderque2.14-7.4éumainterpolação,vejaÁlvaroCésarPestana,DoresdoCrescimento:umestudodevocionalde2Coríntios2.14-7.4,2ªedição,CampoGrande,SerCris,2005.505RobertStephenReid,“AdHerenniumargumentstrategiesin1Corinthians”,JournalofGreco-RomanChistianityandJudaism3(2006),p.203-4

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“envolvida”ou“incluída”entredoisanúnciosdesuapossívelvisita(1Co4.18-21e16.3),alémdeterváriasmençõesdesuapossívelvisita(1Co11.34b).

Quando teve que ser severo com os coríntios, ausentou-se, escreveu aCarta Severa e enviou Tito (2Co 1.23-2.4, 9; 7.8-12, etc). Nesta carta ele escreveu ascoisasqueelenãoqueriadizerfaceaface,masàdistância.Podeparecerparadoxal,masojeitoderesolveraquestãoquesurgiuemCorinto,entreaprimeiraeaterceiravisitasseriamaisbemresolvidoàdistância,pormeiodeuma“CartaSevera”enviadaelidaporTito,oemissáriodoapóstolo.Haviacoisasparaseremditasquenãopodiamserditaspessoalmente.

A estratégia funcionou, pois Tito trouxe boas novas para Paulo naMacedônia(2Co7.5-15).Depoisdisto,amesmatáticaseráusadaaoescrever2Coríntios.Ou seja, quando escrevia a parte severa de 2Coríntios, (capítulos 10-13), ele usou deseveridadeàdistânciaparaquenãoprecisasseser severoempessoa (2Co13.10).Elesabia que se estivesse presente diante daquela situação, teria que usar de muitaseveridade(2Co10.8)eistoelenãoqueriafazer,poispodiaatéatrapalharamensagem.

Assim, descobrimosuma estratégia retórica eministerial de Paulo: serseveroàdistânciaparapoderserbrandoquandoestivessepresente(2Co10.1).Emboraesta frasepossa serentendida comouma resposta irônicaaosqueoacusavamcomolemade2Co10.10,elabemrepresentavaodesejodoapóstolo.

Os inimigosdePaulo reconheciam isto e tentavamusar isto contra ele(2Co10.10).Contudo,Pauloqueriadartempoparaoarrependimentodosrevoltososenãoterqueserseveropessoalmentecomoeranascartas(2Co10.11).Eletardavaemvirparaqueninguémseperdesse,masquetodossearrependessem.506

Esta diferença entre a retórica das cartas e a retórica pessoal507eraverdadeira,eopróprioPaulooadmite.Hácoisasqueumobreirocristão,embenefíciodoarrependimentoedahumildadepessoal,preferenãodizerfaceaface508.

Emquarto lugar, oprovérbio “Asepístolas sãopesadase fortes,masapresença corporal é fraca e a palavra desprezível!” era uma nova reação de algunscoríntioscontraaformacomoPaulopregavaeanunciavaoevangelho.Jáem1Coríntios1-4 ele teve quemostrar que a pregaçãodo evangelhonão era feita com recursos dasofísticaoudaretóricahumana,masbaseava-senacruzenoEspírito.

Certamente, os detratores de Paulo se jactavam de suas capacidadesretóricaseacusavamPaulodenãoaspossuir.Pauloconcordacomelesem2Coríntios11.6–elenãoé‘oradoreloquente’,mastem‘conhecimento’.Nãodevemosnosenganarcom esta frase de Paulo. Certamente ele era um bom orador, mas não era cheio de‘truques’ e ‘sofismas’ como aqueles “super-apóstolos”. De fato, ele não queria serconfundido com eles. Ele afirma: “O que eu tenho não é lábia para convencer,mas averdadepararevelar”.Assim,aceitandoacríticadenãoserum“oradorprofissional”,elecoloca-se em posição única: ele é o que conhece a verdade. Não é um vendedor dediscursos,masafontedosaber509.

506Façoumadeliberadaalusãoa2Pe3.9.507JamesW.Thompson,“TheRhetoricof1Peter”RestorationQuarterly,36/4,4thquarter1994,SpecialIssue:StudiesinHonorofThomasH.OlbrichtonOccasionofHisSixty-FifthBirthday,p.241.508Gl4.20mostraqueseeleestivessepessoalmentecomeles,teria(egostaria)deusaroutrotipodediscursomaisafetuoso.509Meeks,Osprimeiroscristãosurbanos,p.117.

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OdiscursodePaulobaseava-senosaberenãonoencantar;naverdadeenãonaverossimilhança.Porcausadisto,suapregaçãoparecia“fracaedesprezível”.

A retórica pagã, nos escritos de Aristóteles, atingia seus objetivos pormeio da tríade: logos-ethos-pathos. Logos é a racionalidade do discurso; Ethos é ocarisma do orador; e Pathos é a capacidade de produzir paixões e sentimentosadequadosnopúblico.Naverdade,aretóricatrabalhavamuitonesteúltimoponto,pois,percebia-sequenãoeraaracionalidadequegovernavaavitóriadeumdiscurso,masossentimentos gerados nos ouvintes. Por isto, a retórica antiga era, sem dúvida, umaretórica das paixões. Este último elemento era o determinante do resultado, já que odiscursomaisforteevencedornemsempreeraoverdadeiro.

Sepodemosfalardeumaretóricacristã,oselementosfundamentaisdesuacomposiçãoserão: logos-ethos-pneuma, sendoqueesteúltimoéopredominantesobre os dois primeiros510. Logos ainda é o argumento ou a revelação e o ethos dooradoraindaéimportante,pois,seforumapóstoloouumatestemunhaoficialdeJesus,seudiscurso temmuito valor.Anovidade é opneuma, ou seja, oEspírito!A retóricacristã não quer provocar paixões, pois, estas geralmente, nos levam a pecados ou aestadosdeânimoquenãodeterminamavontadedeDeus.Aretóricacristãbaseia-senarevelaçãodoEspírito,nopoderdoEspíritoenatransformaçãodoEspírito.

Assim, os falsos mestres provocavam sentimentos, mas Paulo queriapreencheroscristãoscomoEspírito.Nesteembateentreasduasretóricas,adePaulo(edo Espírito) parecia fraca em provocar o que há de mais forte e violento no gênerohumano – seus impulsos apaixonados. Justamente por isto, Paulo e sua pregaçãopareciamfracos.

Modernamente, temos bons exemplos disto. Os pregadores que seutilizam da neuro-linguística, do apelo à “autoestima”, “autoajuda”, prosperidadefinanceira e uma série de outras paixões da humanidade têm sido consideradosprofundamente convincentes!!! Lógico, eles nos falam o que queremos ouvir – nosconvencemdecoisasdasquaisjáestamosconvencidos!

Certamente, a retórica do arrependimento, responsabilidade, confiançaemDeus,simplicidade,contentamento,esperança,sofrimentoecoisassemelhantesnãonosatraimuito.“Êtasermãozinhofraco!!”,dizem...

Emquintolugar,aacusaçãoque“Asepístolassãopesadasefortes,masapresença corporal é fracae apalavradesprezível!”não ficava restrita ao conteúdododiscursoenemaomododeenunciá-lo.Aplicava-seàposturapessoalegeraldePaulo.

Pessoalmente,eleandava,sempre,comtemoretremor511,porcausadagranderesponsabilidadenotrabalho.SuaatitudeeradeexaltarapregaçãodoCristoedaCruz(1Co1-4),enãodesimesmo(2Co4.5;10.12-18,etc.).Suaposturaeradeamoreserviço,comodeumpaieservodaigreja(2Co11.7-12;12.14-18).Todoesteamoreramalinterpretadocomofraqueza.

Contudo, se fosse necessário, Paulo afirma, ele podia agir com força evigor–masistoseriaprejudicialparaaigreja(2Co10.2,11;13.2-4).Elesofretantocom

510NãoestouafirmandoqueosescritosediscursosdoNTnãoseaproveitemdopathos.Claroquesim.Eleéummodonormaldelevarohomemaraciocinar,envergonhando-opeloserrosoudespertandoneleacoragemparafazeroquedeve.Contudo,nãoháadesonestidadedeprovocarumpathosqueiludaoouvinteouoleitordemodoa‘enrolá-lo’nodiscurso.OquesefazétentarproduzirofrutodoEspíritoemsuavida!511Temoretremoréumafrasecaracterísticadele:Ef6.5;Fp2.12;2Co7.15.

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o pecado e com o fato de ter que ser duro com os pecadores, que considera estapossibilidadedeaçãocomoumahumilhação(2Co12.21)!!

Sim,paraPaulo,problemasnaigrejageravamlágrimasesofrimentoparaele.Deveriaassombrar-nosofatoquePaulofalatantodeensinocomlágrimasemseudiscurso de despedida dos bispos de Éfeso (At 20.19 e 31). O fato é que o NovoTestamentonãoconheceafigurade“líderforte”,facilmenteprojetadasobrePaulopelosmodernos“líderesfortes”dacristandade.Oensinocristãoverdadeiroéumaagonia,umconstanteverterlágrimasatéque,depoisdemuitasdoresdeparto(Gl4.19),Cristosejageradonosdiscípulos.Éumprocessodolorosoehumilhante.Oconceitode ‘liderança’de Paulo envolvia serviço, lágrimas, abnegação e não exercício dos direitos eprerrogativasnormaisdasociedadedesuaépoca.

Paraosobreirosorgulhososemundanos,Paulopareciaumpalhaçoeumfraco!

Este provérbio crítico, contudo, ilumina nossa visão para entender agrandezaeafraquezadohomemqueDeustantousounadivulgaçãodoevangelho.

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CONCLUSÃO

Hámuitosoutrosprovérbiospaulinosenãopaulinos512quepoderíamosaindarebuscarnestascartas.Talvez,algunsdosapresentadosdeverãoserabandonadoscomo“slogans”ouprovérbios,pois, talveznuncativessemtal funçãooucaracterística.Fica,contudo,aprovocaçãoeanecessidadedeler,nascartasdePauloavozdeoutrosou dele mesmo, em forma de bordões, “slogans”, provérbios e frases de efeito. Semdúvida,estatambéméumadastarefasdointérprete.

Sempre me assombrou o fato dos Efésios ficarem gritando por duashorasseubordão:“GrandeéÁrtemisdosEfésios!”(At19.28e34).Seráqueénecessáriofalar amesma coisa por tanto tempo? Qual a dinâmica? Imagine-se nomeio daquelamultidão, no teatro de Éfeso – o teatro comportava 25.000 pessoas sentadas!!Provérbios,máximase“slogans”sãoarmasdeguerra.“Slogans”podemconduziravida,podem levantar uma causa, podem provocar uma guerra! Temos que escolher os“slogans”corretos.FrancisBacondiziaque“Ogênio,sagacidadeeespíritodeumanaçãosãodescobertosemseusprovérbios”513.

“Abocafaladoqueestácheioocoração”

ProvérbiodeJesus.

512Podemospensaremmaisprovérbiospaulinos.Oquechamamosde"provérbiosdePaulo"serãofrasesproverbiaiscriadas,assumidas,modificadas,rejeitadasoucriticadasporPaulo.Porexemplo:"Tudoépuro,nadaérecusável"(1Tm4.4&Tt1.15);"SejaDeusverdadeiroementirosotodoohomem"(Rm3.4);"Façamosmalesparaquenosvenhambens"(Rm3.8);"DeDeusnãosezomba"(Gl6.7);"Nãoemumcantinho"(At26.26);“NãodestruaaobradeDeusporcausadecomida”(Rm14.20);“AntesimportaobedeceraDeusqueaoshomens”(PedroeSócrates!,At5.29;4.19-20);Osfiosdecabelocontados(At27.34eMt10.30);“Opecadonãoélevadoemcontaquandonãohálei”(Rm5.13);“Quemmorreu,justificadoestádopecado”(Rm6.7);“Nãodeixemqueninguémosenganedemodonenhum”(2Ts2.3);“Deemacadaum...”(Rm13.7);Provérbiosjurídicos:Gl3.15;Rm6.7;7.1;“OSenhorvemcomoladrão”(1Ts5.3);“OdiadoSenhorchegou”2Ts2.2;“Ressurreiçãojáocorreu”(2Tm3.18);“Notempoeforadotempo”(2Tm4.2),etc.513CitadoporJamesObelkevich,Op.Cit.,p.51.

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IDENTIFICANDOPROVÉRBIOSESLOGANSNALITERATURAPAULINA

ÁlvaroCésarPestana*

RESUMO:AscartasdeSãoPaulonoNovoTestamentocitamprovérbioseslogansque necessitam ser identificados no texto para uma correta interpretação. Osleitoresoriginaisnão tinhamdificuldadede identificarestesaforismosdurantealeituradacartaporsaberemquaiseramosditoscorrentesentreeles.Nossaatualleituranãotemesta informaçãodocontextohistóricooriginal.Assim,esteartigopropõenovecaracterísticasindicativasdapresençadeumacitaçãoproverbialnaliteraturapaulina.

PALAVRAS-CHAVE:Provérbio,Aforismo,Ditado,Slogan,NovoTestamento.

Introdução:

OtextogregooriginaldoNovoTestamentofoiescritotodoemletrasmaiúsculas,sem separação entre as palavras e com total ausência do que chamamos depontuaçãográfica.

A identificação da citação de provérbios e slogans nas cartas do NovoTestamentonãoé imediata.Ocasionalmente,a simples leiturado textosinalizaque o autor poderia estar fazendo uma citação. Contudo, na maior parte dasvezesos “antigosnãochamavamnecessariamenteaatençãoparao seuusodeprovérbios”i.

Apesardasdificuldadesaidentificaçãodosditadosefrasesdeefeitonascartaspaulinas, a tarefa é necessária. A interpretação correta do texto decorre disto.Sem fazer esta identificação, certas frases ficam estranhas ao pensamentopaulinoecristão.iiÉnecessáriosaberoqueédePauloeoqueédosoutros.

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Outromotivoparaaidentificaçãodosprovérbioséacompreensãodoargumentoou do raciocínio que Paulo utiliza. Suamensagem ficamais clara depois destaidentificação.

Nassuasepístolas,Paulousavaprovérbiosdedoismodos:iii(i)emconjuntosdeprovérbios formando pequenas coleções de frasesiv; (ii) ou ditos isolados,“embutidos”notexto–estessãoosmaisdifíceisdeidentificar.

Asversõesbíblicasmaisantigasv,atérecentemente,nãoindicavamascitaçõesdeprovérbiosou slogans comousodeaspasoudeoutra forma.Asversõesmaismodernasviusam aspas nos textos que consideram “ditados”.viiAtualmente,muitos estudiososdoNovoTestamentoperceberame indicaram,na leituradotexto,muitosdestesslogansouprovérbios.viii

Discussão:

Adificuldadedesepararoumarcarosprovérbioscitadosnotextodascartaséapenasnossa.Os leitoresoriginaissabiamdiscerniroqueeradePauloeoqueeradeles.Algunsaforismoscitadosestavamcirculandooralmente,parajustificarouafirmarcomportamentosedoutrinas.Quandoacartafosse lida,emvozaltana assembleia, eles podiam facilmente identificar suas próprias palavras, quecirculavamnaigreja.ix

Modernamente,nãotemosomesmocritérioparareconhecerosprovérbios,poisnãoparticipamosdomomentohistóricoemqueosditoscirculavamnaigreja.Oquenosguia,agora,naidentificaçãodestes,seráaaplicaçãoconjuntadecritériosque buscam encontrar: (i) estilo proverbial; (ii) pontuação oral; (iii) estruturagramatical que indica uma citação; (iv) estrutura poética; (v) destaque docontexto; (vi) repetição em outro lugar; (vii) citação do ensino de Jesus; (viii)citaçãodoVelhoTestamento;e(ix)paralelonasabedoriaepensamentogreco-romano.x

Várias destas nove características ocorrerão simultaneamente em váriosprovérbios.Aprimeiraéessencial,pois,seafrasenãotem‘estilo’deprovérbio,comopoderíamosidentificá-locomotal?Todasestascaracterísticas,contudo,sótêm valor se o contexto das frases permitir ou exigir a compreensão da frasecomoumacitaçãoproverbial.Ocontextoseráojuiznaidentificaçãodeslogansouprovérbiosnotextodascartas.

(1)O critério geral para reconhecer os provérbios no texto de uma carta serápela observação de seu estilo diferenciado. Os provérbios serão frases afins aadágios populares e refrões, sendo, geralmente, breves, conciso, de construçãosimples, de fraseado próximo à linguagem coloquial,xise possível, sonoros emnemônicos. Pode-se identificar as frases proverbiais por sua brevidade,concisãoeeconomia–oreduzidousodeartigoseoutroselementossupérfluos,que alongariam o discurso e descaracterizariam o provérbioxii. O uso deparalelismo, inclusões, quiasmo e outros recursos deste tipo podem ajudar aidentificarprovérbios.

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(2)Outra característica a ser levada em conta ao tentar isolar umprovérbio éobservarapontuaçãooralxiiidotextogrego.Porexemplo,algunsprovérbiossão“pontuados” com as partículas gregas men e de que, normalmente, não têmsignificado,masindicamoiníciodefrases,sendosemprecolocadosnosegundolugardestanovafrase.xiv

(3) Outros são introduzidos por uma estrutura gramatical que indica umacitação: um artigo neutroxv, uma conjunção que introduz uma citaçãoxvi, umafórmula que espera uma conclusãoxvii, ou uma fórmula citaçãoxviii ou deadvertênciaxix.Algunsprovérbiospaulinossãointroduzidosporconjunçõesxxoupartículasxxique, emboranão sejam sempre sinais incontestesda apresentaçãode uma citação, ajudam a determinar um provérbio em conjunto com outrosfatoresdocontexto.

(4)Outrosprovérbiosquenãoapresentamascaracterísticasdepontuaçãooraldescritaacima,sãoclaramenteidentificadospelasuaestruturapoética.xxiiVáriosprovérbiosserãoconstruídoscomestruturasespecíficasdaliteraturaproverbialesapiencialtaiscomoquiasmas,paralelismo,poesia,rimaetc.

(5)Ocasionalmente,iremostomarcomoprovérbioumsloganouumlemaquesedestacadocontexto.Podemestarnestecaso,porexemplo,frasesimperativasxxiii.Também as mudanças da pessoa gramatical no contexto podem indicar umacitaçãodeumprovérbio.xxiv

(6)Arepetiçãoéavidadeumprovérbio.Assim,quandoobservarmosumafraseque se repete na literatura, podemos desconfiar de estarmos diante de umprovérbio, lema ou um slogan. Eles podem ser repetidos, na íntegra ou compequenasmodificações.xxv

(7)Certamente,quandoumafraseapresentargrandesemelhançacomoensinode Jesus,devemosnosperguntarsenãosetratadeum“Provérbiode Jesus”xxvisendocitado.xxvii

(8) Textos do Velho Testamento podem ter sido transformados emprovérbios.xxviii Certamente muitas citações do Velho Testamento não sãoconsideradas proverbiais. O contexto, contudo, tanto literário como histórico-cultural,irádeterminarseaquelacitaçãofuncionacomoprovérbioounão.

(9)Finalmente,seráfácilidentificarprovérbiosquandoelessãolugarescomunsou provérbios da sabedoria popular greco-romana. xxix Para fazer estaidentificação, dependeremos de fontes do período ou de uma compreensãoacurada da mentalidade da época. Um provérbio terá mais chance de serrepetido e aceito quantomaior for sua afinidade com amentalidade do grupoquedeleseutiliza.

Conclusão:

Ariquezadaliteraturapaulinaficamaiorquandoaprendemosanotarseuusodeprovérbios,sloganseditadospopulares.Suaargumentaçãoficamaisvivaesuamensagemecoaatéhojepormeiodesuaantigadialética.

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Assim,aidentificaçãoeinterpretaçãocorretadestesprovérbiosajudar-nos-ãoatambémdialogarcomotexto,encontrandonelenovasaplicaçõesdestesantigosconselhosparacomunidadescristãsemdesenvolvimento.

* Aluno do curso de Pós-Graduação Latu-Sensu em Educação à Distância da

UNIGRAN-Net.

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Notas:

iRAMSARAM,RollinA.PauloeosProvérbios.In:SAMPLEY,J.Paul(org.).PaulonoMundoGreco-Romano:umcompêndio.SãoPaulo:Paulus,2008,pág.383.iiOexemploclássicodistoéafrase“Todopecadooqualfizerohomemestáforadoseucorpo!”(1Co6.18).Seforumafrasecoríntia,éumafraselibertina,fácildeserentendida.Seforumafrasepaulinaéumgrandeproblema.AssimtambémpensaMURPHY-O’CONNOR,Jerome.AVidadoHomemNovo,SãoPaulo:Paulinas,1975,p.153.iiiRAMSARAM,2008.pág.384.ivComoasqueencontramosemRomanos12.9-21ou1Tessalonicenses5.12-23.vComoasversõesdeJoãoFerreiradeAlmeida.viComoaNovaVersãoInternacional,aBíbliadeJerusalém,aNovaTraduçãonaLinguagemdeHojeeoutras.viiUmbomrecursoparaavaliarquaisfrasestemsidoconsideradascomocitaçõespelostradutoreséobservaro“AparatodeSegmentaçãodoTexto”agoraincorporadonoONovoTestamentoGrego.4.ed.revisada,Stuttgart:DeutscheBibelgesellschaft,Barueri:SociedadeBíblicadoBrasil,2008,queoferece,nopédepáginadotexto,asváriasopçõesdedivisãodetextodealgumasediçõesdetextogregoedealgumasversõesbíblicaseminglês,francês,alemãoeespanhol.viiiPorexemplo:MEEKS,WayneA.OMundoMoraldosPrimeirosCristãos.SãoPaulo:Paulus,1996,p.122-124);FIORE,Benjamim.PassioninPaulandPlutarch:1Corinthians5-6andthePolemicagainstEpicureans.In:BALCHDavidL.;FERGUSON,Everett;MEEKS,WayneA.(eds.)Greek,Romans,andChristians:EssaysinHonorofAbrahamJ.Malherbe.Mineapolis:FortressPress,1990,p.136;MOULE,C.F.D.AnIdiom-BookofNewTestamentGreek,2ndedition,Cambridge:CambridgeUP,1959.p.196-197;THEISSEN,Gerd.SociologiadaCristandadePrimitiva,SãoLeopoldo:Sinodal,1987,p.142.ixROCHA,Regina.AEnunciaçãodosProvérbios:descriçõesemfrancêseportuguês,SãoPaulo:AnnablumeEditora,1995,p.83,falada“competênciaculturaldoreceptor”parareconhecerosprovérbios.xERIKSSON,Anders.TraditionsasRhetoricalProof:PaulineArgumentationin1Corinthians.Stockoholm:Almqvist&WiksellInternational,1998,p.81-84,oferececincocategoriasdecritériosparaisolaras‘tradições’emumtexto:(i)presençadeumafórmulaintrodutória;(ii)natureza‘ínsita’dapassagem;(iii)oestilo;(iv)ocorrênciarepetida;(v)conteúdo.RAMSARAM,2008,p.384faladeapenastrêsfatoresparaaidentificaçãodosprovérbios:1)Conteúdo

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tradicional;2)Brevidadeouconcisão;3)Formafigurada.Depoisdisto,eleacrescentaumoutrofator(4)Argumentaçãoerecorrência.TodaadiscussãodeRamsaranéútil,masestácontidaedetalhadaeatésuplementadapormeusnovecritériosxiBERGER,Klaus.AsFormasLiteráriasdoNovoTestamento.SãoPaulo:Loyola,1984,p.61.xiiExemplos:1Coríntios6.12e10.23;10.24;6.13;6.18b.xiiiMURACCHO,HenriqueG.LínguaGrega:VisãoSemântica,Lógica,OrgânicaeFuncional.SãoPaulo:DiscursoEditorial,Petrópolis:Vozes,2001,vol.1,p.78,635,638,660.xivAssimsãodemarcadososprovérbiosencontradosem:1Coríntios1.12.xvEm4.6oartigoneutrotointroduzafraseproverbial.ONovoTestamentoGrego,2009,p.489,iniciaafraseproverbialcomumaletramaiúscula,indicandoacreditartratar-sedeumacitação.THISELTON,AnthonyC.TheFirstEpistletotheCorinthians.GrandRapids:Eerdmans,2000,p.354.xviAssimaconjunçãohoti,chamadaderecitativa,introduzumacitaçãoem:1Coríntios5.6;8.1;8.4(bis);9.10;15.12;2Coríntios10.10(alémdisto,estetextotemumaoutraindicaçãodetratar-sedeumacitação,noverbophesin,istoé,“dizem”).xviiEsteéocasode1Coríntios10.14.xviiiOcasode2Co9.6:aexpressãotoutode,ouseja,“Isto(afirmo)...”introduzumamáxima.xix“Nãovosenganeis”introduzoprovérbiode15.33etambémemGálatas6.7.Estaexpressãointroduzem1Coríntios6.9umcatálogodevícios.ForadosescritosdePaulo,afrase“nãovosenganeis”voltaaocorreremTiago1.16.Elamesmaédenaturezaproverbialeseráanalisadamaistarde.xxAscontraposiçõespaulinasaosprovérbioscoríntiosem6.12e10.23começamcomaconjunçãoadversativa“mas”alla.xxiExemplos:6.13b-“o[de]Deusdestruirátantoestequantoaqueles”6.18c–o[de]impuropecacontraoprópriocorpo.xxiiOprovérbiocoríntioem1Coríntios6.13estáconstruídonumclaroquiasma,ondeostermos“alimentos”e“estomago”sãoinvertidosnasegundafraseaparecendonaordem“estomago”e“alimentos”.Sobrequiasma,aobraclássicaéLUND,NilsWilhelm.ChiasmusintheNewTestament:AStudyindeFormandFunctionofChiasticStructures,Peabody:Hendrickson,1992,p.145.xxiiiEsteéocasodosprovérbiospaulinosem1Coríntios6.18,10.14e10.24.xxivUmcasoé1Coríntios8.8:poisoversoanterior(8.7)eposterior(8.9)estãonaterceirapessoa,masoditoproverbial(8.8)estánasegundapessoa.xxvUmbomexemplodestecasoé5.6queérepetido,ipsislitteris,emGálatas5.9.xxviPESTANA,ÁlvaroCésar.OsProvérbiosdeJesus,SãoPaulo:VidaCristã,2002.xxviiOprovérbiode1Coríntios8.8podebemserumresumodeMarcos7.17-23,semelhanteaoresumoqueopróprioevangelistaMarcosfeznoverso19b.Romanos14.17tambémpoderememoraresteensinodeJesus.OceticismocontraPauloconhecercitareusarensinosdoJesusprecisaacabar.PaulocitaJesusmuitasvezes(At20.35;1Co7.10-11;9.14;11.23-25;1Ts4.15;1Tm5.18).WILLERT,Niels.TheCataloguesofHardshipsinthePaulineCorrespondence:BackgroundandFunction.In:BORGEN,Peder;GIVERSEN,Soren(eds.)NewTestamentandHellenisticJudaism,Peabody:HendricksonPublishers,1997,p.225,afirma:“ParaPaulo,avidaterrenadeJesusCristoémaisimportantedoqueéfrequentementeassumido”.Esteautorcitaainfluênciadanarrativadapaixãoem1e2Coríntios,Romanos,Filipenses,Gálatase1Tessalonicenses.xxviiiEsteéocasode1Coríntios15.32queétantocitaçãodeIsaías22.12quantoumprovérbiopopularcontemporâneo,quejádeviaserusadoassimnotempodeIsaías.xxixAfrase“nãoháressurreição”de1Coríntios15.12étipicamenteummododefalardasabedoriagrega(Cf.At17.32).Demaisimediataidentificação,contudo,éafrasede1Coríntios15.33,queécitaçãodeumprovérbiopopular,oriundodaliteraturagrega.