pesquisa - violência contra professores em são paulo
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Pesquisa realizada por alunos do 7º semestre de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo para coleta de dados para o projeto SOS Professor.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
CURSO DE JORNALISMO
ALINE TORRIERI CAMARGO
CAROLINA PEREIRA OTERO RODRIGUES
MARINA DANTAS GUIMARÃES
NATHALIA DE AZEVEDO SALVADO
RELATÓRIO DE PESQUISA DO PROJETO
“SOS PROFESSOR”
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2010
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ALINE TORRIERI CAMARGO
CAROLINA PEREIRA OTERO RODRIGUES
MARINA DANTAS GUIMARÃES
NATHALIA DE AZEVEDO SALVADO
RELATÓRIO DE PESQUISA DO PROJETO
“SOS PROFESSOR”
Relatório da pesquisa realizada para a
elaboração do Trabalho de Conclusão de
Curso para o curso de Jornalismo da
Universidade Metodista de São Paulo,
Faculdade de Comunicação. Disciplina:
Pesquisa de Comunicação, com orientação de
Marli dos Santos.
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2010
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 4
1.1 OBJETIVO DA PESQUISA.......................................................................... 5
1.2 O LIVRO....................................................................................................... 6
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................... 7
2.1 QUESTÕES OBJETIVAS E DISSERTATIVAS........................................... 8
2.2 APLICAÇÃO................................................................................................ 8
3 ANÁLISE........................................................................................................ 10
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 47
4.1 SOBRE A APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS....................................... 47
4.2 SOBRE AS RESPOSTAS........................................................................... 48
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 50
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1 INTRODUÇÃO
Em 2008, a cidade de São Paulo abrigava 5.867 escolas públicas de ensino
pré-escolar, fundamental e médio, segundo o IBGE. Ao todo, eram 81.348
docentes para lidar com os 1.964.639 alunos, matriculados no mesmo ano do
ensino pré-escolar ao médio.
O piso salarial dos professores do ensino básico é de R$ 1.024,67 para 40
horas semanais. Esse valor é resultado de um reajuste de 7,86% que foi
aplicado em 1º de janeiro de 2010 sobre o piso nacional que vigorava até o
momento, de R$ 950.
O salário que esses educadores recebem deveria ser uma recompensa pelo
trabalho de ensinar e passar conhecimento a crianças e adolescentes. Mas,
infelizmente, nem sempre o dia a dia desses professores inclui apenas
momentos de aprendizagem, pois podem se deparar também com situações de
risco. Todos estão sujeitos a enfrentar problemas em sala de aula, como falta
de respeito, desinteresse e agressões físicas e verbais.
A Udemo (Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do
Estado de São Paulo) realizou em 2008 a pesquisa “Violência nas Escolas”,
com instituições da rede pública estadual. Foram respondidos apenas 683
questionários dos enviados a 5.300 escolas.
Apesar da pouca participação dos educadores, os números merecem
destaque. Os resultados gerais apontam que em 86% das escolas que
participaram da pesquisa houve algum tipo de violência em 2007. E em 70%
dos casos foram registrados Boletins de Ocorrência (B.O.), com média anual
de 2,18 por escola.
Quando a pesquisa é desmembrada por regiões, a Grande São Paulo teve a
maior ocorrência de violência nas escolas em 2007, com 97%, seguida pela
capital (88%), litoral (87%) e interior (82%).
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No item Violência contra Pessoas, o desacato contra os profissionais da
educação foi o mais citado: 88% afirmam que houve na escola desacato contra
professores, funcionários ou direção no ano de 2007. Em sexto lugar ficaram
as ameaças de morte (neste caso envolvendo alunos, professores, funcionários
e direção), citadas em 21% dos questionários.
Antes, em 2001, uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Psicologia do
Trabalho, comparou a qualidade do ensino médio e fundamental em escolas
públicas e privadas de todo o Brasil. E os números mostram que os maiores
índices de violência são das escolas públicas.
O registro de atos violentos, graves e não graves, na quarta série da rede
pública, foi de 14,5%. Na rede particular, o índice atingiu apenas 2,4%. Nas
oitava séries a porcentagem é ainda maior nas escolas públicas, cerca de
24,3% contra 2,5 % das particulares. E na terceira série do ensino médio as
escolas públicas registraram 23,1% de ocorrências e as privadas apenas 3,2%.
Mesmo com resultados como esses sendo apontados em pesquisas sobre a
violência nas escolas, a cidade de São Paulo ainda conta com mais de 80 mil
professores. Ao menos uma parcela deles acredita no seu papel de educador e
pretende fazer da escola um ambiente melhor para eles próprios e para as
crianças e adolescentes.
1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA
A pesquisa que está sendo analisada neste relatório teve o objetivo principal de
compreender o cenário vivido pelos professores da rede de ensino público de
São Paulo e, assim, aprimorar o projeto do livro “SOS Professor”.
Dessa maneira, os questionários serviram para que as autoras conhecessem
melhor o público que vão abordar no livro e para quem o livro é destinado,
6
coletar dados para o projeto e ter noções básicas de como está a violência
contra professores dentro das escolas públicas da capital paulista.
O questionário também ofereceu espaço para que os professores que
quisessem participar do livro como personagens pudessem deixar um contato
às autoras e transformar-se em entrevistados.
1.2 O LIVRO
Diante dessas informações, será elaborado um livro reportagem que pretende
abordar o universo das escolas públicas da cidade de São Paulo através da
realidade vivida pelos professores: o "SOS Professor".
O livro será construído em cima de estudos, análises, histórias e projetos
relacionados às diversas formas de violência sofridas por esses profissionais.
Os personagens serão aqueles que, de alguma forma, conseguiram contornar
o problema, ou os que ainda não descobriram como fazer isso. O objetivo é
abrir os olhos da sociedade para um tema que nem sempre recebe a atenção
que merece.
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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para compreender o cenário vivido pelos professores da rede de ensino público
de São Paulo, foi desenvolvido um questionário. O método utilizado foi a
amostra não-probabilística por cota, ou seja, foi consultada uma parcela dos
professores de São Paulo. Ana Lucia Romero Novelli explica o conceito em
Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação:
A amostra de uma pesquisa pode ser selecionada de forma probabilística ou
não probabilística. No primeiro caso, todas as pessoas que fazem parte do
universo da pesquisa têm a mesma chance de ser selecionadas para
participar das entrevistas. A amostra é selecionada de maneira aleatória, e as
pessoas concorrem em igualdade de condições (...). A amostra não
probabilística já é selecionada de acordo com critérios de intencionalidade e
conveniência. Embora não possua a mesma representatividade que a
amostra probabilística, muitos surveys utilizam a amostragem não
probabilística (NOVELLI in BARROS e DUARTE, 2005, p. 168)
O questionário desenvolvido possui 27 questões, sendo 19 objetivas e oito
dissertativas. Ele foi repassado a 132 professores de escolas municipais e
estaduais da cidade de São Paulo.
Por meio dele, buscou-se descobrir qual o perfil desses profissionais, quais as
maiores dificuldades enfrentadas por eles, que soluções eles possuem para
enfrentar esses problemas e, para se aproximar do tema central do projeto, se
eles já sofreram algum tipo de violência.
Para realizar uma pesquisa equilibrada, os questionários foram distribuídos em
escolas das zonas Norte (duas), Sul (três), Leste (duas), Oeste (duas) e
Central (duas) da cidade de São Paulo.
Ainda com o mesmo objetivo, as autoras escolheram, em cada região, uma
escola bem colocada no ranking do Idesp (Índice de Desenvolvimento da
Educação do Estado de São Paulo) e uma mal colocada. Com isso, a pesquisa
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pôde verificar a realidade geral do ensino público da cidade, tanto nas
instituições bem reconhecidas quanto nas pouco recomendadas.
No total, foram entrevistados 19 professores de escolas da região Central, 20
docentes de escolas da Zona Leste, 31 da Zona Norte, 21 da Zona Oeste e 41
professores de escolas públicas da Zona Sul.
O número de professores por escola e região variou de acordo com a
quantidade de docentes presentes nas reuniões em que os questionários foram
aplicados.
2.1 QUESTÕES OBJETIVAS E DISSERTATIVAS
As 19 perguntas objetivas do questionário foram colocadas para levantar dados
pontuais do perfil dos professores, como idade, tempo de profissão e disciplina
ministrada; e dados vinculados ao objetivo principal da pesquisa, que é verificar
a incidência da violência contra docentes nas salas de aula.
Nas dissertativas, a intenção foi a de entender quais são as principais
dificuldades enfrentadas durante o dia a dia, que soluções eles executam e
quais acham que deveria existir, além de descobrir até que ponto essa
violência interfere no gosto pela profissão.
2.2 APLICAÇÃO
Durante pouco mais de um mês, os questionários foram passados nas 11
escolas públicas determinadas. A intenção inicial era de as autoras da
pesquisa estarem presentes em todas as instituições, para garantir o
entendimento da proposta pelos professores e reafirmar a importância da
participação dos docentes.
Contudo, nem sempre foi possível estar presente nas escolas, devido a
horários incompatíveis com o trabalho das autoras, por isso, alguns
questionários foram enviados por correio.
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Do total, oito escolas foram visitas pessoalmente pelas autoras e três foram
contadas por telefone, com questionários encaminhados via correio.
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3 ANÁLISE Questão 1 - Idade
Como se pode perceber, a maior parte dos professores entrevistados, cerca de
42,42%, tem entre 41 e 50 anos. São mais velhos e, na maioria das vezes,
possuem mais experiência.
Em segundo lugar vêm os professores com mais de 50 anos, com 29,55%. A
proporção é quase a mesma entre os de 36 a 40 anos, que representam
9,85%, e os que têm entre 31 e 35 anos, cerca de 9,09%. Poucos professores
entre 26 e 40 anos foram entrevistados; eles representam apenas 5,30% do
total. E 1% dos entrevistados não respondeu a questão.
Apenas a minoria dos entrevistados, 3,3%, possui entre 20 e 25 anos. Com
isso, chega-se à conclusão de que dificilmente uma pessoa opta por lecionar
em seus primeiros anos de carreira.
Estes dados são importantes porque, sugerem que a diferença de idade entre
professores e alunos, pode gerar maior conflito entre gerações. Afinal, é muito
11
mais difícil, para um professor mais velho, falar a mesma linguagem do jovem e
saber penetrar em seu mundo.
Questão 2 - Qual seu regime de trabalho?
Quase a totalidade dos professores entrevistados estão efetivados; cerca de
85%. Apenas 15% trabalha em regime substituto.
Os professores efetivados tem, normalmente, uma carga horária de aulas
maior, e possuem mais contato no dia a dia com os alunos.
Questão 3 - Em qual escola trabalha?
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A pesquisa buscou entrevistar um número parecido de escolas de cada
macrorregião da cidade de São Paulo. Contudo, como se pode perceber,
obteve-se um número maior de questionários respondidos por professores da
Zona Sul, cerca de 31,06%, e em seguida da Zona Norte, com 23,48%. As
outras três aparecem em proporções muito parecidas, com 14,39% no Centro,
15,81% na Zona Oeste e 15,15% na Zona Leste.
O que acontece é que as escolas da Zona Norte e do Centro foram mais
receptivas à pesquisa. Nas outras regiões o acesso a reuniões de professores,
ou a aplicação deles por meio de coordenadores e diretores, foi mais
complicada.
Não será apresentado um gráfico sobre quantos professores de cada escola
responderam. Isso porque, para que o processo de entrega dos questionários
não fosse barrado pela coordenação nas escolas, o grupo de pesquisa
comprometeu-se a não divulgar nomes - nem de professores, nem de escolas.
Questão 4 - Também leciona em outra escola? Se não, pule para a questão 7
Conforme pode ser observado no gráfico acima, a maior parte dos professores
entrevistados, cerca de 55,3%, não dá aula em outra escola além daquela em
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que respondeu o questionário. 29,55% dos entrevistados também são
professores em outro lugar e 15,15% não responderam a pergunta.
São vários os motivos que podem levar um professor a trabalhar em mais de
um estabelecimento. Um deles é a própria distribuição de aulas do estado ou
do município. O outro é a necessidade de mais uma renda. Há também a
possibilidade de o professor optar por dedicar-se melhor a apenas uma
atividade.
Questão 5 - Se sim, de que tipo?
A maior parte dos entrevistados deixou esta questão em branco, cerca de
65,15%. Este número engloba tanto os que não quiseram responder se a outra
escola em que dão aula é pública ou privada, quanto os que, na questão
anterior, responderam que não dão aula em outro lugar além daquele em que
foi aplicada a pesquisa.
Nota-se que a maior parte dos professores que disse que trabalha em outra
escola, o faz em uma instituição privada; 29,55% do total. E a minoria
respondeu que trabalha em outra pública e em outra privada; apenas 1,52 %.
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A diferença entre os que têm uma escola pública e os que têm uma escola
privada como segunda fonte de renda é de 25,76 pontos percentuais. Como
espera-se que as instituições privadas de ensino fundamental e médio paguem
melhor que as públicas, conclui-se que a maioria dos professores que trabalha
em duas escolas o faz por considerar o salário de uma delas insuficiente.
Isso mostra um outro problema bastante citado pelos professores durante a
pesquisa: o baixo salário.
Questão 6. Qual o nome da escola?
A questão seis do questionário era uma consequência das questões quatro e
cinco, que perguntavam se o professor também ministrava aulas em outras
escolas e se elas eram públicas ou privadas.
Perguntar o nome desse segundo local de trabalho serviu simplesmente para
as autoras se certificarem de que nenhum professor consultado trabalhasse em
mais de uma escola pesquisada, ou seja, queriam evitar dois questionários de
uma mesma pessoa.
Como nenhum docente tinha uma das escolas abordadas como segundo local
de trabalho, não ocorreu nenhum tipo de problema.
As respostas dessa questão não foram colocadas em gráfico por não serem
relevantes para o projeto e porque as autoras se comprometeram a não
divulgar o nome das escolas.
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Questão 7 - Já lecionou em outras escolas? Se não, pule para a questão 9
O gráfico mostra que a maior parte dos entrevistados, 88,64%, não está dando
aulas pela primeira vez, pois responderam que já lecionaram em outras
escolas. Apenas 4,55% nunca deram aula em outro lugar, e 6,82% não
responderam a questão. Isso mostra que, raramente, um professor permanece
por toda sua vida profissional na mesma escola.
Questão 8- De que tipo?
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A maior parte dos entrevistados que já deu aula em outra escola o fez em uma
escola também pública - cerca de 76,52%. A minoria deles deu aula em
escolas públicas no passado, apenas 11,36%. Porém, 20,45% já tiveram
experiências em escolas tanto públicas quanto privadas.
A mudança de escola normalmente acontece porque nem sempre um professor
se adapta ao lugar que escolheu ou teve que escolher ao passar em seu
concurso público. Isso explica porque se encontra uma quantidade muito maior
de professores que já deram aula em outra escola pública antes.
São poucos os entrevistados que trabalharam apenas em escolas privadas
antes de trabalharem no lugar atual. Isso pode ser explicado pelo fato de que
as escolas particulares exigem certo nível de experiência em sala de aula,
enquanto para os concursos públicos de professores basta formação e
conhecimento.
Questão 9 . Qual sua área de atuação?
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Na pesquisa também foram consultadas as disciplinas ministradas pelos
professores. Como diversos docentes ensinam mais do que uma matéria, a
contagem final passou de 100%.
Assim, 25,76% dos professores entrevistados trabalham no Ensino
Fundamental, que vai da primeira a quarta série. A disciplina de Língua
Portuguesa é ministrada por 20,45% dos docentes. Em seguida, praticamente
empatadas, ficam as matérias Matemática e Ciências, exercidas por 12,12% e
12,88% dos professores, respectivamente.
Também foram consultados professores de História (10,61%), Geografia
(9,09%), Artes (9,09%), Educação Física (8,33%), Inglês (6,82%), Biologia
(6,82%), Química (4,55%), Informática (2,27%), Física (2,26%) e
Coordenadores (3,03%).
Alguns docentes ministravam matérias que não apareciam em alternativas e
foram consideradas como “Outros”. São elas Filosofia e Sociologia, que
totalizaram 3,03%.
A disciplina “Música”, alternativa “h” da questão, não era ministrada por
nenhum dos professores consultados. Do total, 1,52% dos docentes não
responderam a questão.
Esses resultados permitem compreender que professores das mais diversas
áreas participaram da pesquisa. Dessa maneira, as realidades apresentadas
englobam todos os setores possíveis da profissão.
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Questão 10. Formação?
Formação
A - 65,15%
B -2 8,03%
C - 4,55%
D - 0,76%
E - 1,52%
A - Graduado
B - Pós-graduado Lato Sensu
C - Pós-graduado Strictu
Sensu
D - Outros
E - Branco
De acordo com a análise dos questionários, verificou-se que a grande maioria
dos professores consultados tem apenas o Ensino Superior completo. Dos 132
docentes, 65,15% declararam ter a graduação.
Em segundo lugar ficou a formação com pós-graduação lato sensu, que atingiu
28,03% dos entrevistados. Programas de especialização e cursos definidos
como MBA (Master Business) fazem parte desse tipo de curso de extensão. A
pós-graduação lato sensu tem duração mínima de 360 horas e, ao concluir, o
aluno recebe um certificado (não é um diploma).
Esse tipo de pós-graduação costuma ser mais curto e mais viável
financeiramente e, por isso, deve ter sido mais escolhida entre as opções de
especialização.
Isso pode ser observado pelo baixo número de professores com pós-
graduação stricto sensu (4,55%). Fazem parte desse tipo de graduação os
programas de mestrado e doutorado. Ao concluir o curso, o aluno obtém um
diploma.
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Na categoria “Outros”, que recebeu 0,76% das respostas, foi inserido o nome
de um curso bastante específico: “Especialização de Voleibol em Cuba”.
Apenas 1,52% dos entrevistados não responderam a questão.
Com os resultados, percebe-se que os professores de Ensino Primário ao
Médio não têm o costume de buscar aprimoramento na área de atuação.
Existem dois motivos que podem levar a essa realidade – o salário dos
professores pode não permitir que cursem uma pós-graduação ou o dia a dia
da profissão pode desmotivar os docentes, tirando-lhes a vontade de se
aprofundar na área.
Questão 11. Há quanto tempo leciona?
A partir das respostas obtidas, nota-se que há certo equilíbrio em relação ao
tempo de formação dos professores das escolas públicas consultadas.
A maior parte dos docentes (18,94%) já tem de 21 a 24 anos de profissão.
Contudo, em segundo lugar, com 17,42%, estão os professores que possuem
de seis a dez anos de trabalho na área. É uma pequena diferença na
porcentagem, mas uma grande diferença em tempo de trabalho, que pode
chegar a 18 anos.
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Com 15,91% das respostas, está quem tem de 16 a 20 anos de carreira. Em
seguida vêm os que possuem até cinco anos de profissão (13,64%).
Praticamente empatadas estão as alternativas “entre 25 e 30 anos”, com
12,88%, e “entre 11 e 15”, com 12,12%.
A opção que menos apareceu foi a de quem já tinha mais de 30 anos de
carreira, por conta da aposentadoria aos 25 anos de profissão. Foram 9,09%
do total de respostas. Isso mostra que nem todos os professores pretendem
passar o resto da vida como docentes, deixando a profissão assim que têm a
possibilidade de se aposentar.
Questão 12 - Cite as três principais dificuldades que possui atualmente em seu
trabalho, colocando-as em ordem crescente de importância.
Esta questão é aberta. Os entrevistados tinham uma linha para escrever cada
item, sem nenhum tipo de sugestão de resposta. Porém, para facilitar a
contagem e a análise dos resultados, as respostas foram agrupadas de acordo
com seu conteúdo, como pode ser verificado a seguir:
Questão12, item A - Primeira principal dificuldade
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Como se pode observar no gráfico acima, a indisciplina dos alunos é
considerada a principal dificuldade de 23,48% dos professores, ou seja, a
maioria deles. Em proporção quase igual está o desinteresse dos alunos,
apontado como principal dificuldade por 21,21% dos entrevistados.
Esses dois problemas refletem um problema complexo e de raízes profundas,
que é o da perda da autoridade dentro da sala de aula. O professor tem
dificuldades em atrair a atenção dos alunos para o conteúdo a ser passado,
que parece desinteressante e longe da realidade deles. E, muito diferente de
escolas encontradas no passado, em que a rigidez mantinha a maior parte dos
alunos com uma postura impecável dentro da sala de aula, hoje o professor
tem sérias dificuldades em controlar o comportamento dos jovens. Isso pode
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ser exemplificado em outras respostas que apareceram nesta pesquisa, como
poderá ser visto mais a frente ao longo deste relatório.
Os outros dois problemas mais mencionados como principais, a desestrutura
escolar ( 6,82% ) e a desestrutura familiar (5%), também são um importante
reflexo do cenário em que se encontra a escola pública de São Paulo.
Dentro de estrutura escolar foram encaixadas respostas que reclamavam do
funcionamento da instituição em que os professores trabalham como um todo,
como desatenção do governo, troca de políticas educacionais quando trocam
as diretrizes políticas governamentais, a má organização administrativa,e até
mesmo a estrutura da legislação, quando relacionada à escola.
A desestrutura familiar envolve uma discussão muito séria a respeito da escola
no Brasil. Em uma instituição em que se espera a presença de todas as
crianças e jovens, é óbvio que se tem a presença de todos os tipos de pessoa,
com histórias de vida e quadros familiares distintos. Assim, a escola absorve
um papel que vai muito além do de fornecer conhecimento ou adequar
comportamentos. Como explica Nancy Cardia:
Quer os educadores estejam ou não conscientes da ampliação de
seu papel, o fato é que direta e indiretamente a escola passou a ter
outras responsabilidades, além daquela de prover os conteúdos
educacionais tradicionais. É na escola que milhares de crianças
aprendem a se relacionar umas com as outras, adquirem valores e
crenças, desenvolvem senso crítico, auto-estima e segurança. Esse
papel tem ainda maior peso quando não há, na comunidade, uma
rede de serviços de proteção social que dê um atendimento
suplementar a essas crianças e jovens, naqueles intervalos entre o
término do período escolar e a volta de seus pais para casa. Nesses
contextos a escola pode ser (e com freqüência é) o único local onde
crianças e jovens têm um contato estruturado com adultos outros que
a família. Esse contato tem um enorme potencial de proteção contra
riscos de problemas de comportamento ou de ampliação dos riscos
(CARDIA, 2006, p. 13)
23
O item "n" reúne as respostas únicas, apontadas por cada professor. São
problemas como: baixo rendimento dos alunos; desorganização da escola;
desvalorização da escola na vida dos alunos; excesso de obrigações; falta de
limites dos alunos; falta de tempo; impotência; irresponsabilidade dos alunos;
e até mesmo o interesse eleitoral do governo sobre a escola.
Questão 12, item B - 2ª Principal dificuldade
De acordo com esse gráfico, o desinteresse é o problema mais mencionado
como a segunda principal dificuldade dos professores, com 17,42% das
respostas. Em seguida vem a indisciplina, com 10,61%. São proporções
extremamente parecidas com as do item anterior, assim como a do itens "falta
de incentivo da família", com 12,88%. Assim, chega-se a conclusão de que a
maior parte dos professores realmente considera a indisciplina como maior
dificuldade de seu trabalho e o desinteresse dos alunos como segunda maior.
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A falta de recursos foi mais mencionada como segunda principal dificuldade do
que a desestrutura escolar. Em falta de recursos foram encaixadas respostas
referentes a detalhes que atrapalham de maneira incisiva o funcionamento da
escola, como por exemplo: materiais didáticos inadequados, lousas, carteiras e
salas em más condições, a hierarquia da escola, e etc. São ferramentas a que
muitas vezes não se dá a devida atenção, mas que são essenciais para que o
professor se sinta motivado a trabalhar.
Nessa questão também foram agrupadas em "outros" respostas únicas,
fornecidas por um só professor. São elas: descaso do governo; desestrutura
familiar; alunos desmotivados; desorganização da escola; falta de autonomia
da escola; alunos irresponsáveis; pais de alunos problemáticos e falta de pré-
requisitos (a pessoa que respondeu não disse se dos alunos, dos professores
ou da escola).
É curioso notar que, enquanto a desestrutura familiar dos alunos foi
mencionada por 5% dos professores como o principal problema de seu
trabalho, apenas um professor indicou isso como o segundo principal
problema. Isso significa que, para os que sofrem mais com alunos que tem
uma situação ruim em casa, isso é um problema ainda maior que a indisciplina,
o desinteresse ou a falta de recursos. Provavelmente essa é a situação dos
que trabalham em lugares onde a situação de vida da comunidade é mais
precária.
Apesar de todos os professores terem recebido a orientação de preencher
todas as perguntas do questionário, a maior parte deles - cerca de 19% -
deixou o segundo item da questão 12, o B, em branco. Isso também aconteceu
no item C, como pode ser visto a no próximo gráfico.
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Questão 12, item C - 3ª Principal dificuldade
Nesse gráfico, assim como no anterior, pode-se perceber que a maior parte
dos entrevistados - cerca de 32,58% - deixou o item C da questão 12 em
branco. A maioria dos que responderam indicou apenas uma ou duas
dificuldades em seu trabalho, que foram contabilizadas como A e B,
respectivamente.
Com esse gráfico, percebe-se que o desinteresse dos alunos é lembrado pela
maioria dos entrevistados que indicou a terceira principal dificuldade em seu
trabalho, cerca de 11,36% deles. E os outros três problemas mais lembrados
também são os mesmos colocados nos itens anteriores: Falta de incentivo da
família, com 10,61%. desestrutura familiar, com 9,09% e falta de recursos,
com 6,82%.
É interessante notar que o baixo salário não apareceu como a principal
dificuldade de nenhum dos professores, mas como a segunda principal de
2,27% e a terceira de 4,55%. Isso mostra que a maior parte deles está mais
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preocupada com sua atuação e suas condições de trabalho do que com sua
remuneração. Como pode ser visto nas respostas de outras questões, isso
prova que, de forma geral, o docente é um profisisonal extremamente engajado
com a proposta de ensinar e criar cidadãos para o futuro.
A falta de incentivo da família também foi muito mencionada nos três itens da
questão 12, e em outras questões dissertativas também, como se pode
perceber ao longo deste relatório. Percebe-se que o docente sempre espera
que os responsáveis pela criança e do adolescente façam sua parte na
educação, incentivando-os a ir a escola, a estudar e saber a importância disso
para seu futuro. A impressão que se tem é a de que o docente sente que a
escola não representa, para eles, a importância que deveria representar.
Nesse item da questão 12, também foram agrupados as respostas únicas,
fornecidas por apenas um entrevistado cada. São elas: assiduidade dos
alunos, descaso do governo, desprestígio, excesso de alunos por sala, falta de
limites dos alunos, falta de rede de apoio fora da escola, impunidade aos
alunos, a mídia que interfere na escola e o projeto vida, sobre o qual não foram
encontradas informações.
Questão 13. Você gosta da sua profissão?
Os resultados obtidos por meio dessa questão foram surpreendentes para as
autoras da pesquisa. Dos 132 professores consultados, 92,42% declararam
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gostar da profissão. Apenas 0,76% afirmaram que não gostam da área e 6,06%
oscilam em relação a isso e responderam “Às vezes”. Do total, 0,76% não
responderam a questão.
Isso mostra que, mesmo com todas as dificuldades do cotidiano, os
professores ainda têm amor à profissão que escolheram. O que foi relevante
para a pesquisa é que as autoras esperavam um maior número de respostas
“Às vezes”, pois se pensava que os conflitos pudessem alterar o gosto pela
profissão.
Já o número de negativas fugiu pouco do esperado, afinal, seria difícil continuar
trabalhando em uma profissão não desejada.
Questão 14. Por quê?
A questão de número catorze do questionário era ligada à treze, que
perguntava se o professor gosta da profissão e indicava três opções de
resposta – sim, não ou talvez.
Como as razões fornecidas pelos docentes foram feitas de acordo com as
diferentes possibilidades de resposta da questão anterior, foram feitos gráficos
diferentes, que ajudam a analisar os resultados.
As respostas relativas a “talvez” foram inseridas nos gráficos dos motivos
relacionados às respostas “sim” ou “não”, de acordo com o significado. Não foi
feito um gráfico para os motivos dessas respostas, pois os professores
acabaram pendendo para apenas um lado no momento de dissertar a respeito.
As respostas dos professores foram dissertativas, ou seja, não foram
fornecidas alternativas. Os próprios docentes escreveram o que desejaram,
sem nenhum tipo de delimitação. Para tabular as respostas, as autoras as
dividiram em categorias, de acordo com a semelhança e significado.
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Um dos maiores motivos apontados pelos professores para gostar da profissão
foi o fato de eles terem a capacidade de formar cidadãos. Com 44,07%, essa
resposta mostra que o prazer de instruir um jovem é uma das maiores
recompensas desse trabalho. Foram incluídos nesse item respostas como
"Porque apesar das dificuldades existentes é gratificante contribuir para a
construção do conhecimento de outras pessoas" e "O que me fascina é a
possibilidade de transformar o ser humano, de atuar de forma tão importante
na vida do indivíduo."
Em segundo lugar na lista de razões para gostar da profissão, com 21,19%,
está o sentimento de gratificação. Isso significa que os docentes sentem-se
satisfeitos e realizados com o trabalho exercido, em diversos aspectos.
"Quando consigo dar aula sem o desgaste da falta de respeito e indisciplina me
sinto realizada", foi uma das respostas que estão incluídas nesse item. Outra
respondeu: "Sou feliz lecionando e plenamente realizada, do contrário, não
estaria há mais de 35 anos na rede pública."
Quase empatado ficou o motivo de gosto pela área, que totalizou 20,34% das
respostas. Os professores gostam da profissão pois têm interesse pelo ensino
e pela instituição escolar.
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Bem mais abaixo das últimas respostas está a razão “desafio”, com 3,39%.
Isso significa que os docentes têm gosto pela profissão por ela ser desafiadora,
por provocar uma vontade de superar os obstáculos do dia a dia. Com a
mesma porcentagem (3,39%), ficou a resposta “realização compensa
decepção”, que já é bastante clara. Os lados positivos da profissão superam os
negativos e esse é o motivo, considerando esse número de professores, para
gostar da profissão.
Há alguns docentes que gostam da profissão por ela ser a opção de vida deles.
Esse número foi de 2,54%. Com a mesma porcentagem ficou o gosto pela
disciplina, que significa que o gosto por determinada matéria (português,
matemática, etc) faz a profissão ser aprovada.
Com 1,69% das ocorrências, ficou o motivo da formação pessoal. Esse número
de docentes gosta da profissão pois sente que cresce e se instrui por meio
dela. Por último, com 0,85%, ficou a resposta “ambiente agradável”.
Com os resultados, é possível analisar que o objetivo principal da carreira de
um professor, que é o de formar pessoas, faz com que a profissão seja
valorizada por quem a pratica.
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O fato dos alunos serem desinteressados a ponto de atrapalhar o andamento
da aula é o maior motivo para os professores não gostarem da profissão, com
25% das ocorrências. "O que fazemos é administrar a bagunça", respondeu um
dos entrevistados nessa questão.
Todos os outros motivos apontados pelos docentes ficaram empatados, com
12,5%. São eles: “baixo salário”, “cansativo”, “decepção em relação à
profissão”, “indisciplina” e “ilusão passado”.
Assim é possível observar que tanto o comportamento dos alunos quanto à
situação do ensino público em geral desmotivam os professores e fazem os
profissionais perderem o gosto pela área em que trabalham.
A indisciplina e o cansaço podem ser relacionados ao problema
comportamental dos alunos. O baixo salário, a decepção em relação à
profissão e a ilusão em relação ao que já foi o ambiente escolar em outras
épocas está ligado à situação atual do ensino brasileiro.
Do total dos professores abordados, 89% responderam a questão de número
catorze. Já 11% deixaram a questão em branco.
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Questão 15. Se pudesse escolher novamente, ainda seria um professor?
Boa parte dos professores entrevistados escolheria a profissão novamente se
pudessem escolher. Foram 73,48% docentes que reafirmaram o gosto pela
profissão mesmo diante das dificuldades enfrentadas.
Contudo, 23,48% não seriam professores novamente. Essa parcela está
descontente com diversas facetas da profissão, como salário, comportamento
estudantil e institucional e, por isso, preferiria trabalhar em outro ramo. Do total,
3,03% não responderam a questão.
Questão 16. Por quê?
A questão de número dezesseis do questionário era ligada à quinze, que
perguntava se o professor escolheria a mesma profissão novamente, se
pudesse optar. Era possível responder “sim” ou “não”.
Como as razões fornecidas pelos docentes foram feitas de acordo com as
diferentes possibilidades de resposta da questão anterior, foram feitos gráficos
diferentes, que ajudam a analisar os resultados.
As respostas dos professores foram dissertativas, ou seja, não foram
fornecidas alternativas. Os próprios docentes escreveram o que desejaram,
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sem nenhum tipo de delimitação. Para tabular as respostas, as autoras as
dividiram em categorias, de acordo com a semelhança e significado.
Praticamente empatados, os dois maiores motivos declarados pelo professores
para escolher a mesma profissão, caso pudessem optar, são o gosto pela área
(32,93%) e o sentimento de gratificação (30,49%).
Em sentimento de gratificação, uma das respostas mais interessantes obtidas
foi essa: "Foi essa escolha que já fiz, pois aposentei em 1990 e voltei a lecionar
e já sinto tristeza em saber que não mais terei contato com essas crianças que
me fazem sentir viva. "
Em terceiro lugar, com 15,85% das ocorrências, está o fato de as realizações
compensarem as decepções. Em seguida, com 8,54%, ficou a importância de
formar cidadãos e, logo abaixo, com 6,10%, o fato de a carreira ser
desafiadora.
A carreira de professor ser a única opção de vida para alguns docentes foi
escolhida como motivo por 2,44%. A resposta que melhor exemplifica isso é a
"Por que é que eu melhor que sei fazer".
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Algumas respostas apareceram apenas uma vez nos questionários. Elas foram
classificadas como “outros” para facilitar a visualização e entendimento do
gráfico, e ficaram com 3,66%.
Fazem parte dessa categoria as seguintes respostas: ambiente bom,
flexibilidade e necessidade intelectual.
Com os resultados, percebe-se que o que faz os professores da rede de ensino
público persistirem na profissão é o fato de o lado positivo prevalecer sobre o
negativo. O gosto pela instituição escolar, a realização pessoal e os casos de
sucesso encontrados em sala de aula permitem uma esperança por conta dos
docentes.
De acordo com a questão de número quinze do questionário, 23,48% dos
professores não escolheriam a mesma profissão novamente se pudessem
optar. O motivo mais recorrente apontado pelos docentes para isso é o fato de
a profissão estar desvalorizada (30,6%).
Uma das respostas mais interessantes que exemplificam isso é: "Apesar de
gostar da minha profissão e fazê-la com amor, gostaria de ter uma ocupação
mais rentável e reconhecida, valorizada pela sociedade. Infelizmente o
professor não é."
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Os entrevistados não sentem que a carreira de professor é vista com o respeito
e a valorização que deveria ter e, por conhecerem a real situação de um
docente, não escolheriam novamente essa profissão.
O segundo motivo, com 22,22% das ocorrências, é o baixo salário. Além de
enfrentarem diversas dificuldades durante o dia e de a profissão não ser
valorizada pela sociedade, eles também não são recompensados pelo trabalho
da maneira que gostariam.
Já 19,44% dos docentes estão descontentes com a baixa qualidade de ensino.
Eles não acreditam que a instituição possa oferecer estrutura para uma boa
formação de alunos e, por isso, não seriam professores novamente.
Mais abaixo, com 5,56%, está o estresse. O desgaste causado pelos
problemas de dentro da escola impacta os professores de tal maneira que faz
com que eles desistam da profissão com que um dia sonharam.
Algumas respostas apareceram apenas uma vez nos questionários. Elas foram
classificadas como “outros” para facilitar a visualização e entendimento do
gráfico, e ficaram com 22,22%.
Fazem parte dessa categoria as seguintes respostas: ilusão proveniente da
faculdade, falta de limites, governo, falta de incentivo, decepções maiores que
realizações, desgaste emocional, desejo de trabalhar com arte, interesse
eleitoral que atrapalha a escola.
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Do total de respostas da questão de número dezesseis, foram respondidas
82,57%. Mas 17,42% dos docentes deixaram a resposta em branco, não se
sabe se por receio ou por falta de comprometimento com a pesquisa realizada.
Questão 17. Como você considera sua relação com os alunos?
Do total dos professores consultados, 48,48% consideram ter uma boa relação
com os alunos. Em segundo lugar, com 34,85%, ficou a alternativa que define a
relação como muito boa. O relacionamento foi considerado regular por 14,39%
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dos professores e nenhum deles respondeu que a relação era ruim ou
péssima.
Três leituras podem ser feitas a partir desse resultado. A relação entre
professor-aluno realmente pode ser boa ou muito boa na maior parte dos casos
consultados ou os docentes talvez tenham uma noção equivocada do que é
uma relação saudável, devido à banalização da violência e à frequente falta de
respeito. A terceira hipótese é de que alguns professores não conseguem
admitir que não possuem uma boa relação com os estudantes.
Do total, 2,27% dos professores não responderam a questão, não se sabe se
por receio ou por falta de comprometimento com a pesquisa realizada.
Questão 18. Já sofreu violência por parte dos alunos, mesmo que de forma
não-física?
A maior parte dos professores consultados na pesquisa declararam já ter
sofrido violência por parte dos alunos. Foram 68,94% dos docentes que
admitiram o fato.
Já 28,79% dos professores disseram nunca ter sofrido violência na escola.
Esse número parece muito alto para as autoras da pesquisa e isso deve
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acontecer devido ao não esclarecimento de algumas pessoas em relação à
definição de violência, que também inclui a falta de respeito. É muito raro
conhecer docentes que nunca tenham sofrido com falta de atenção extremada
ou com falta de respeito em sala de aula.
Do total, 2,27% dos professores não responderam a questão, não se sabe se
por receio ou por falta de comprometimento com a pesquisa realizada.
Questão 19 – Se sim, de que tipo?
Ao contrário do que muitos podem pensar, há várias atitudes que podem ser
consideradas atos violentos. A falta de atenção que impossibilita o andamento
da aula é a forma de violência que mais atinge os professores, abrangendo
50% das respostas.
Os alunos não veem mais a escola como um local de aprendizado e pretendem
fazer o que bem querem nesse ambiente. A falta de autoridade dos
professores, que já não dão conta de lidar com as crianças e adolescentes de
hoje, impedem que as aulas tenham o encaminhamento adequado.
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Em segundo lugar aparece o desrespeito, por meio declarado ou não (49,24%),
o que mostra mais uma vez que os estudantes não encaram mais o professor
como alguém que deve ser respeitado. Hoje, os alunos falam o que querem,
como querem e quando querem, sem receio algum de enfrentar os docentes.
As ameaças aparecem em terceiro lugar, com 10,61%, seguido pela violência
física (3,79%). A agressão física não necessariamente vem após uma ameaça,
mas, em muitos casos, a violência parece não vir depois de ser anunciada.
Questão 20 – Você teve algum problema de saúde em consequência das
violências por que passou?
As diferentes formas de violência às quais os professores são expostos todos
os dias podem causar traumas inesquecíveis na vida desses profissionais. Mas
está visível que a maioria deles não teve problemas de saúde devido à
violência.
Foram 56,06% de respostas negativas, e apenas menos da metade (22,73%)
dos entrevistados, afirmam que tiveram problemas de saúde.
O número de respostas em branco atingiu 21,21%, o que faz supor que muitas
pessoas podem ter enfrentado problemas de saúde sem se darem conta de
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que eram provenientes do desgaste causado pela atividade de lecionar.
Questão 21 – Se sim, que tipos de problema de saúde?
A maioria dos professores, 78,03%, deixou a resposta desta questão em
branco. Isso significa que 30 das 74 pessoas que afirmaram na questão
anterior ter problemas de saúde como resultado da violência não identificaram
qual o problema enfrentado.
Mesmo assim, os números mostram as doenças que mais afetam os
educadores, que são as com relação ao psicológico e mental desses
profissionais: o estresse (9,09%) e a depressão (6,06%).
A resposta de um dos professores nesta questão ilustra bem isso: “Acabei
ficando com depressão, pois é difícil se preparar para uma aula e não
conseguir concluí-la por falta de respeito”.
A voz e as doenças de fundo emocional empataram como os problemas que
menos atingem os professores, com 2,27% das respostas.
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Questão 22 – Como é sua relação com os pais dos alunos que enfrentam/causam problemas durante a aula?
A relação com os pais dos alunos parece não ser a grande causa dos atos
violentos contra professores por parte da família. A maioria dos entrevistados
considera como boa a relação com os pais (47,73%) e apenas 2,27% acha
essa convivência ruim.
Muitas vezes, apesar da boa relação com os professores, os pais partem para
cima com palavras grosseiras e até ameaças. Porém, não é possível afirmar
que pais com boa convivência na escola têm menos riscos de agredir um
professor, e que nos casos nos quais a convivência entre ambas as partes é
regular, há mais riscos dos pais usarem da violência contra os professores.
Na maioria das vezes, o que vai influenciar na agressão dos familiares é a
maneira como a situação será exposta pelos filhos. Afinal, com a tendência de
serem bons protetores, eles vão querer defender seus filhos.
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Questão 23 – Você já sofreu violência por parte de pais de alunos?
Os professores convivem cinco dos sete dias da semana com os alunos,
sujeitos diariamente a situações de risco. Porém, não são apenas as crianças e
adolescentes que podem agir com violência contra os educadores.
Apesar de a maioria afirmar que não sofreu violência por parte dos pais dos
alunos (71,21%), 26,52% disseram que sofreram algum tipo de ato violento por
parte deles.
Assim, é possível notar que os riscos para os educadores estão além dos
limites da escola. Mesmo não sendo a maior porcentagem de respostas, os
números mostram que quase um terço dos professores sofreu violência por
parte dos pais. Apenas 2,27% deixaram de responder a questão.
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Questão 24 – De que tipo?
A maior porcentagem de alternativas em branco se justifica pelas respostas da
questão anterior, na qual mais de 70% dos professores admite não ter sofrido
violência por parte dos mais.
Quando isso acontece, na maioria das vezes se trata de desrespeito à pessoa,
por meio declarado ou não (21,21%). Isso é facilitado pelo contato próximo que
as escolas permitem que os pais tenham dos professores. Muitos familiares
aproveitam essa ocasião para ameaçar os pais, o que ocorreu com 9,09% dos
educadores entrevistados.
Talvez isso pudesse ser evitado se o professor não tivesse que receber os pais
em qualquer ocasião, mesmo que não em casos mais graves. A violência física
foi a opção menos citada, com 0,76%.
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Questão 25 – Como você lida com o problema da violência de seus alunos?
De acordo com os professores, a conversa ainda é a melhor opção para
resolver o problema da violência. A maioria deles (69,70%) orienta os alunos
diante de um ato violento dentro da escola.
A seguinte frase de um professor, escrita em um dos questionários, exemplifica
bem isso: “Tento mostrar aos alunos que o caminho do diálogo, da
compreensão, é sempre o melhor. Converso em particular, busco o motivo,
tento trabalhar o respeito mútuo e a ética interdisciplinadamente”.
A segunda opção mais citada foi chamar os pais, representando 16,67% das
respostas, empatada com as respostas em branco. Muitos professores já
descobriram que conversar apenas com os alunos não resolve mais. Assim,
preferem fazer isso com os pais, passando para eles uma parcela da
responsabilidade em cuidar das atitudes dos filhos na escola.
Apenas 1,52% dos professores culpam a sociedade pela violência no ambiente
escolar. Isso mostra que os educadores estão cada vez mais cientes do seu
papel e das suas responsabilidades na escola, ainda mais perante aos
problemas.
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Questão 26 – Como você acredita que a escola poderia lidar com esses
problemas?
Quando o assunto é a melhor maneira de lidar com a violência nas escolas,
muitos professores aparentam não saber o que fazer. Essa afirmação vem da
resposta com segunda maior porcentagem desta questão, a qual 20,45%
deixaram em branco.
Uma frase interessante de um professor pode explicar por que tantos
professores não responderam a questão. “Honestamente, não sei. A violência
já vem de casa, da família, da sociedade e, muitas vezes, parece que a escola
está sempre contra o aluno e não tentando ajudá-lo”.
Porém, para a maioria dos professores (26,51%) a saída ideal para resolver o
problema é aproximar a escola da família, como descreve um docente: “Não é
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um problema simples, mas a interação família-escola-comunidade de uma
forma mais abrangente pode ajudar”.
Tendo em vista que cada uma dessas partes é responsável pelo aprendizado e
educação de crianças e adolescentes, levar a família para a escola pode fazer
com que os pais também reconheçam suas responsabilidades e saibam a
melhor maneira de agir, junto com a atuação da escola, não apenas em casos
de violência, mas em qualquer situação.
Como ressalta um professor, os pais precisam ser mais participativos e não
apenas passar toda a responsabilidade da educação de seus filhos para a
escola e criticar a atuação de professores, coordenadores e diretores. “Os
problemas fogem da alçada escolar. A raiz de grande parte dos problemas é a
família, desestruturada, sem cumprir seu papel e delegando suas obrigações
para a escola”.
As medidas que parecem ser menos efetivas para resolver casos de violência
no ambiente escolar são a conscientização dos alunos e o encaminhamento ao
Conselho Tutelar ou a especialistas. Apenas 2,27% dos entrevistados citou
cada um desses três itens.
Questão 27 – Você conhece professores que sofrem com violência na escola?
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A maioria dos professores, o que corresponde a 65,91% dos entrevistados,
afirmou conhecer alguém que já sofreu algum tipo de violência. Os educadores
que não sofreram isso - ou que não quiseram se expor quanto ao assunto - e
até mesmo os que viveram situações dessas poderiam contribuir com a
pesquisa indicando alguém que sabiam que passou por situações de violência
no contexto escolar.
Porém, apesar de mais da metade ter respondido “sim” nesta pergunta, poucos
desses deixaram o contato. Com isso, perdemos algumas possíveis fontes
para o livro.
O número de respostas em branco nesta questão foi o menor entre as três
alternativas, 6,82%. Porém, não é um número pequeno.
E o que se pode entender disso é que muitos educadores têm medo de contar
suas experiências quando sofrem violência e de expor seus colegas trabalho
para um grupo desconhecido que pretende fazer um livro sobre a violência nas
escolas. Talvez, nesses resultados esteja escondida uma porcentagem ainda
maior de pessoas que sofreram violência nas escolas.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
4.1 SOBRE A APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS
Durante a aplicação dos questionários para os professores, foram encontradas
diversas dificuldades em relação à aceitação da atividade de pesquisa
realizada nas escolas.
Um ranking que classifica as escolas públicas da cidade de São Paulo quanto à
qualidade do ensino foi usado como base para selecionar escolas boas e ruins
neste quesito para compor uma lista com 20 escolas das cinco regiões da
capital paulista.
Porém, o número de escolas foi reduzido a 11, sendo duas da região Norte,
duas da Leste, duas da Oeste, duas do Centro e três da região Sul. O contato
com a pessoa certa foi difícil, e foram necessárias várias ligações para cada
escola até achar uma pessoa que liberasse a visita às instituições de ensino.
Em alguns casos, a pesquisa foi recusada ou a aplicação foi proibida já durante
visita.
Uma das percepções quanto a isso foi a de que os diretores têm receio do que
pode ser respondido nos questionários e, posteriormente, levado a público.
Têm medo de que seja divulgado algo que comprometa sua posição e a escola
que representa. Também observou-se que muitos representantes das escolas
se esquivam de tudo o que foge da rotina deles. Reclamam que têm atividades
demais, programas demais para cumprir e que a aplicação do questionário só
viria a atrapalhar.
Em relação aos professores, surgiram os mais diferentes perfis, desde os que
responderam ao questionário com atenção e expuseram disposição em
colaborar de alguma forma com o trabalho, até os que demonstraram pouco
interesse e responderam às perguntas com pouca dedicação e vontade,
deixando algumas, ou mesmo quase todas as questões em branco.
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Foi possível notar também que a direção da escola faz toda a diferença em
relação às respostas dos professores, apesar disso não poder ser quantificado
em gráficos estatísticos. Percebeu-se que as escolas que contam com uma
direção rígida – e não necessariamente áspera -, organizadas e bem
hierarquizadas , se mostram mais efetivas e com menos probabilidade de
ocorrência de violência.
E o curioso é que, diferentemente do que pensavam muitos do grupo,
descobriu-se não são os bairros mais carentes que possuem escolas mais
violentas. Houve inclusive surpresa ao verificar que uma escola na Brasilândia,
por exemplo, foi uma das mais bem organizadas com que foi feito o contato,
com respostas de professores dedicados e apaixonados pela profissão.
Em algumas visitas, foram presenciados momentos curiosos do cotidiano das
instituições de ensino. Entre eles, brigas entre mães e diretoras e bagunça
incontrolada em salas de aula.
Apesar dos contratempos, o contato com as escolas e a aplicação e análise
dos questionários foram experiências muito enriquecedoras. Pudemos
conhecer a realidade dentro das escolas, que muitas não conheciam, sua
hierarquia e a burocracia tão presente nessa instituição.
Além disso, aprendemos um pouco mais de como "funciona" a cabeça de um
professor, o que pode tornar mais fácil a coleta dos depoimentos para a
elaboração do livro-reportagem.
As experiências, junto com os dados coletados, vão agregar muito ao produto
final deste trabalho, a produção do livro-reportagem “SOS Professor”.
4.2 SOBRE AS RESPOSTAS
A primeira conclusão que pode ser tirada ao analisar as respostas dos
questionários é que muitos professores, apesar de sua formação em ensino
superior, não compreendem corretamente a pergunta. Na questão "25 - Como
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você lida com o problema da violência de seus alunos?" e na questão "26 -
como você acredita que a escola poderia lidar com esses problemas?", muitos
entrevistados escreveram um desabafo sobre as causas da violência, as
mazelas da sociedade, e etc.
Além disso, muitos deles não conseguem expressar corretamente sua opinião,
escrevendo de forma confusa e pouco coesa. E é extremamente irônico que
justo aqueles que deveriam servir de exemplo tenham problemas em
comunicar-se por escrito.
Outro fato que pode ser observado é que praticamente todos os professores -
alguns mais, outros menos - estão insatisfeitos com suas condições de
trabalho. Porém, são poucos os que se mostram realmente ativos na hora de
resolver os problemas da sala de aula. A maioria deles encaminha o aluno para
a coordenação, culpa o sistema, culpa a família... Mas não tem muitas ideias
ou propostas que possam ajudar a mudar a situação em que vivem.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelos professores, as respostas apontam
que a maioria ainda gosta do que faz e optaria novamente pela profissão se
pudesse escolher novamente. E se eles, vítimas dessa violência, ainda
acreditam na profissão, podemos ter a certeza de que as histórias do SOS
Professor podem atingir esse público, seja para se identificar com os
depoimentos ou para servir de exemplo em possíveis situações de violência
nas escolas.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVAY, Miriam e RUA, Maria das Graças. Violência nas Escolas –
Versão Resumida. Brasília: UNESCO Brasil, 2003. Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001339/133967por.pdf
BARROS, Antonio e DUARTE, Jorge. Métodos e técnicas de pesquisa em
comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.
IBGE – Cidades. São Paulo – SP. Capital: São Paulo. Informações
estatísticas: Ensino - matrículas, docentes e rede escolar 2008. Acesso em
05/05/2010
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1
PEREIRA, Maria Auxiliadora Pereira. Dissertação de Mestrado: Violência
nas Escolas – Visão de Professores do Ensino Fundamental sobre esta
Questão. USP, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto,
2003.
RUOTTI, Caren; ALVES, Renato e CUBAS, Viviane de Oliveira. Violência na
Escola: Um guia para pais e professores. Andhep: Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo. São Paulo, 2006.
Violência nas Escolas, São Paulo, UDEMO, 2008. Disponível em:
http://www.udemo.org.br/Violencia%20nas%20Escolas%202008.htm