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INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA ANO XXI - ABRIL 2005 - NÚMERO 93 Violência Contra Ambientalistas Violência Contra Ambientalistas Abrasco no Fórum Mundial II Simbravisa Atuação Internacional da Abrasco Desnutrição nas Populações Indígenas Entrevista: Carlos Coimbra Jr. Desnutrição nas Populações Indígenas Entrevista: Carlos Coimbra Jr. Abrasco no Fórum Mundial II Simbravisa Atuação Internacional da Abrasco

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INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM SAÚDE COLETIVA

ANO XXI - ABRIL 2005 - NÚMERO 93

Violência Contra

Ambientalistas

Violência Contra

Ambientalistas

Abrascono Fórum Mundial

II Simbravisa

AtuaçãoInternacional da Abrasco

Desnutrição nas Populações Indígenas

Entrevista:Carlos Coimbra Jr.

Desnutrição nas Populações Indígenas

Entrevista:Carlos Coimbra Jr.

Abrascono Fórum Mundial

II Simbravisa

AtuaçãoInternacional da Abrasco

2 Abrasco Abril 2005

Informativo da Associação Brasileirade Pós Graduação em Saúde ColetivaANO XXII - NO 93 - ABRIL 2005ABRASCO

Rua Leopoldo Bulhões, 1480, sala 208Manguinhos - Rio de Janeiro - RJ - 21041-210Tel/Fax.: (21) 2560 8699, 2560 8403 e 2598 2527Web Site: www.abrasco.org.brE-mail: [email protected]

Diretoria 2000-2003Moisés Goldbaum - DMP/FM/USP (Presidente);Júlio S. Müller Neto - ISC/UFMT; Madel Therezinha Luz - IMS/UERJ;Paulo Ernani Gadelha Vieira - COC/Fiocruz; Rômulo Maciel Filho -CPqAM/Fiocruz; Soraya Maria Vargas Côrtes - DS/UFRGS

Conselho 2000-2003Lígia Maria Vieira da Silva - ISC/UFBA ; Djalma de Carvalho Moreira Filho - DMPS/FCM/UNICAMP; Aristides Almeida Rocha - FSP/USP; Letícia Legay - NESC/UFRJ;Francisco Eduardo de Campos - NESCON/UFMG

Secretaria ExecutivaÁlvaro Hideyoshi Matida (Secretário Executivo); Mônia Mariani (Secretária ExecutivaAdjunta); Hebe Patoléa (Coordenadora Administrativa); Andréa Souza;Jorge Luiz Lucas (Apoio) e Inez Damasceno Pinheiro (Abrasco Livros)

Coordenação Editorial - Álvaro Hideyoshi Matida e Mônia MarianiEdição, Redação e Revisão - Ana Beatriz de Noronha, Caco Xavier e Cátia GuimarãesCriação e Arte - Martha BastosIlustrações - Caco XavierGráfica - Armazém das LetrasTiragem - 5 mil exemplares

EXPEDIENTE

editorial

Atingindo seus vinte e cinco anosde existência, a Abrasco par- ticipa diretamente da consoli-

dação da área de Saúde Coletiva, tan-to na sua vertente acadêmica quantona sua vertente de serviços, vertentesessas que se articulam de modoindissolúvel na organização e desenvol-vimento da área.

Em nível nacional, a Abrasco en-contra-se bem representada pela pre-sença marcante de seus associados emtodos os recantos do país, acompa-nhando os desdobramentos e desafiosexistentes no setor saúde, de educaçãoe de ciência e tecnologia.

Desde os primórdios de sua criação,a Abrasco encontra parceiros nacionaise latino- americanos, com os quais com-partilha seus projetos e ações na buscade melhores condições de vida e desaúde de nossas populações. No âmbi-to nacional, identifica-se o Centro Bra-sileiro de Estudos de Saúde (Cebes), aRede Unida e, mais recentemente, a As-sociação Brasileira de Economia daSaúde (Abres). A eles se associam asentidades latino-americanas, entre asquais se destacam a AsociaciónLatinoamericana y del Caribe deEducación en Salud Publica (Alaesp),a Asociación Latinoamericana de Me-dicina Social (Alames) e, especialmen-te, a Organização Pan-Americana daSaúde (Opas). Esse conjunto de orga-

nizações tem permitido a inscrição con-junta da atuação da Abrasco, de modoamplo e organizado, por intermédio deseus Congressos e pela sua presençanos inúmeros eventos e movimentosda área.

Nossas últimas diretorias se empe-nharam na ampliação e expansão dasfronteiras de atuação e de seus com-promissos. O primeiro deles prende-seà inscrição da Abrasco na FederaçãoMundial de Associações de Saúde Pú-blica (World Federation of Public HealthAssociation – WFPHA), que registracomo desdobramento imediato a reali-zação do próximo Congresso Mundialde Associações de Saúde Pública emterritório nacional, mais precisamenteno Rio de Janeiro, em agosto de 2006.Tendo por tema central ‘A Saúde Pú-blica no Mundo Globalizado: rompen-do as barreiras políticas, econômicas esociais’ e realizado conjuntamente como VIII Congresso Brasileiro de SaúdeColetiva (Abrascão), será uma ótimaoportunidade para mostrarmos e deba-termos aos olhos de todos os profissio-nais de saúde do mundo inteiro, entretantas outras questões, os nossos avan-ços e desafios na construção do Siste-ma Único de Saúde, bem comocompará-lo com outros sistemas.

Já neste ano, um importante even-to, a realizar-se em junho, na cidade deMontreal, no Canadá, a Conferência

Luso-Francófono em Saúde - Colufras,permitirá resgatar, em idiomas diferen-tes daquele ‘oficial da ciência’, um ricodebate sobre ‘Saúde, Justiça e Cida-dania’, trazendo para o mesmo cená-rio as preocupações, inquietações eprodução de pesquisadores canaden-ses, brasileiros e de países africanos delíngua portuguesa.

Pretende-se, no ano de 2008, emPorto Alegre, conjuntamente com oCongresso Brasileiro de Epidemiologia,hospedar o Congresso trienal da Asso-ciação Internacional de Epidemiologia(International Epidemiological Associ-ation – IEA), quando então teremos aoportunidade de reunir a comunidadeepidemiológica nacional e estrangeirapara uma viva demonstração de nos-sas virtudes, capacidades e inteligên-cia nessa área de atuação.

Registra-se, ainda, o Congresso daAssociação Mundial de Economia ePolíticas de Saúde e da Alames, quedeve se realizar na cidade de Salvador,em 2007, nos quais a Abrasco estarápresente, tanto na organização quantona sua programação.

Tais movimentos e realizações refor-çam a presença consistente e orgânicada Abrasco, expandindo sua visibilida-de e atuação para fora dos limites denosso território.

Moisés GoldbaumPresidente da Abrasco

A Abrasco no Cenário Internacional

Abril 2005 Abrasco 3

abrasco participa

Foram duas tragédias, no inter-valo de apenas dez dias.Dorothy Stang, missionária nor-

te-americana, defendendo as terrasdo Pará, e Dionísio Julio Ribeiro Fi-lho, diretor da organização não-go-vernamental Grupo de Defesa da Na-tureza, em Nova Iguaçu, Rio de Ja-neiro. Casos muito próximos, chama-ram atenção de todos, ocuparam aspáginas dos jornais e fizeram o Brasilse lembrar de outras histórias – prin-cipalmente a morte de Chico Mendes,em 22 de dezembro de 1988 –, mos-trando que o problema é antigo.

Irmã Dorothy, como a freira eraconhecida, de 73 anos, vivia e traba-lhava há mais de 30 anos na regiãoamazônica, defendendo o direito dostrabalhadores rurais à terra e a pre-servação do meio ambiente. Comessas bandeiras de luta, ia contra osinteresses de grileiros, fazendeiros emadeireiros. Recebeu ameaças demorte e informou a justiça. Mesmoassim, foi assassinada, em Anapu, nodia 12 de fevereiro deste ano. A polí-cia suspeita que fazendeiros da regiãotenham feito um consórcio para pa-gar a execução da missionária.

Dionísio também vinha sendoameaçado de morte por denunciar cri-mes ambientais – principalmente a ex-tração irregular de palmito e a caçade animais – na Reserva Biológica doTinguá, em Nova Iguaçu, municípioda Baixada Fluminense. Em 22 de fe-vereiro, foi vítima de uma embosca-da na entrada da Reserva e morreucom um tiro na cabeça.

Foram mortes anunciadas. E esseé apenas o primeiro traço em comumentre as duas histórias. Além disso,em ambos os casos estavam, de umlado, a defesa do meio ambiente e,do outro, a defesa, a qualquer preço,de interesses econômicos de gruposespecíficos e a violência como estra-tégia de ação. Mas o que tudo issotem a ver com saúde?

ção entre alterações impostas ao am-biente e problemas apresentados pe-los indivíduos”.

Movimentos sociaisNo diversos espaços, a luta dos

ambientalistas tem sido, segundoWaissman, pela preservação de “es-paços de vida” e por ações de gera-ção e promoção da saúde. “A vio-lência contra ambientalistas pode re-sultar na preservação de desigualda-des, do medo, da desesperança, demecanismos de gênese sócio-ambiental de patologias. Pode, inclu-sive, fragi l izar autoconfianças ereorientar, pelo medo, os modos deorganização de programas de saúdevoltados para as famí l ias cam-pesinas”, explica.

Violência, meio ambientee saúde pública

Saúde e meio-ambiente“O SUS deveria ser vol-

tado para a produção desaúde. Ora, ambiente éonde o homem serealiza e, portan-to, onde deve pro-duzir sua saúde”,responde WillianWaissman, pes-quisador daEscola Nacio-nal de SaúdeSergio Arouca emembro do GTSaúde e Ambien-te, da Abrasco,que completa:“Ambiente é o ob-jeto primeiro da saú-de pública”.

Exemplos paraafirmações comoessas não faltam.Primeiro, pode-sedizer que a tensãoque resulta de umasituação de conflitoambiental que acabaem morte configura um qua-dro muito propício a diferentes tiposde problema de saúde para a popula-ção envolvida. Além disso, em locaisde disputas acirradas, como no casoda região do Pará onde a freira foi as-sassinada, normalmente isso se dá porrazões econômicas que explicitam umcenário de grandes desigualdades so-ciais, pobreza e miséria: raízes de di-versas doenças e até epidemias.Waissman lembra que há ainda liga-ções mais imediatas, como várias pa-tologias que podem ser associadas àexposição a poluentes ambientais quepodem afetar funções hormonais e odesenvolvimento fetal e intelectual. Emtodos esses casos, a Saúde é quempaga a conta. “Em cada posto de saú-de, em cada ponto da rede, temos quevalorizar as possibilidades de associa-

4 Abrasco Abril 2005

ampliada e o domínio de técnicas querespeitem o meio ambiente.

Em defesa da vidaAs histórias, recentes e antigas, de

crimes contra ambientalistas chamamatenção também para um outro pro-blema que vem sendo cada vez mais

A violência contra lideranças nadefesa do meio ambiente toca tam-bém em outro ponto: a capacidadede mobilização da sociedade. O do-cumento que subsidia o plano diretorpara o desenvolvimento da área desaúde e ambiente no âmbito do SUS,elaborado pelo GT da Abrasco e dis-ponível para down-load no site, apontacomo indispensávelpara esse debate a in-clusão do conceito departicipação popular,identificada como con-dição para que se al-cancem os princípiosda ética e da justiça so-cial. Qualquer semelhança com a his-tória do SUS não é mera coincidên-cia. Waissman lembra que a preocu-pação com o ambiente semprerepresentou um dos fundamentos dareforma sanitária, que, por sua vez,teve sua origem na organização de tra-balhadores por melhores condições desaúde. Por tudo isso, é natural, segun-do ele, que as lideranças ambien-talistas se aproximem dos espaços edas diretrizes da saúde. “Os princípi-os de universalidade e integralidade,por exemplo, reforçam ditames quese aplicam perfeitamente aos movi-mentos ambientais”, diz.

Outros movimentos sociais tam-bém têm feito o esforço de olhar paraalém da sua área imediata deatuação e reconhecer o meioambiente como uma preocu-pação. Três dias após a morteda missionária Dorothy Stang,o presidente nacional do Mo-vimento dos TrabalhadoresRurais Sem Terra (MST), JoãoPedro Stédile, deu um depoi-mento parecido na Escola Po-litécnica de Saúde JoaquimVenâncio, da Fiocruz, duranteuma aula inaugural. Segundoele, no começo, o movimentose preocupava apenas em com-bater o latifúndio, mas, com otempo, aprendeu que a lutapela terra deve estar inseridanuma proposta maior de mu-dança da sociedade, que en-volve, principalmente, a edu-cação, a saúde vista de forma

“Os princípiosde universalidade e integralidadereforçam ditames que se aplicam

perfeitamente aos movimentos ambientais”

discutido e apropriado pelas institui-ções da saúde pública brasileira. Sejanas grandes cidades ou no campo, emvirtude do caos urbano ou da luta porterras no meio rural, a violência temsido apontada como um grave pro-blema de saúde pública, inclusive porser uma das maiores causas de mor-te no país. “A violência é uma ques-tão epidêmica. Agir contra a violên-cia é sair em defesa da vida, uma lutahistórica dos sanitaristas no Brasil”,opina Luiz Odorico de Andrade, pre-sidente do Conselho Nacional dos Se-cretários Municipais de Saúde(Conasems).

Para reverter essa situação – se-gundo o IBGE, a taxa de mortalida-

de por homicídios cresceu 130% de1980 a 2000 –, o Conasems está nalinha de frente de um grupo de insti-tuições que quer construir a ‘RedeGandhi: saúde e cultura de paz’. Paraisso, foi organizado um encontro em2004 e já está agendado, para o perí-odo de 10 a 13 de maio, junto com o

XXI Congresso Nacio-nal das Secretar iasMunicipais de Saúde,o XX Congresso Bra-sileiro de Saúde, Cul-tura de Paz e Não-vio-lência, em Cuiabá,Mato Grosso.

Há cada vez maisum consenso de que

todas essas ações – lutar pelo meioambiente, garantir os direitos de gru-pos marginalizados ou expropriadospor interesses econômicos e agir con-tra a violência – são apenas formasdiferentes de se defender a vida. Eesse, ninguém tem dúvida: é um pro-blema da saúde pública: “Não éincomum a quem trabalha em saúdeambiental ouvir, de modo indigna-do, que só pensamos em saúde. É umvício de origem. Porque de fato tei-mamos que a saúde deve ser constru-ção de espaços, possibilidade de de-senvolvimento, preservação e evolu-ção de dire i tos e deveres”, dizWaissman. E conclui: “Idéia de quemgosta de gente”.

Abril 2005 Abrasco 5

A violência contra ambientalistasnão é um fator isolado

artigo assinado

A disputa de terras; a exploraçãode recursos naturais; a biopira-

taria; a expansão das frontei-ras agrícolas sobre terras indígenas;o tráfico de drogas, de armas, de gen-te; a corrupção; os desmandos políti-cos são elementos que se conectam eque estão presentes há muito tempono jogo político do Brasil, em especi-a l , quando se trata da pol í t icaambiental.

Os indicadores estão na imprensatodos os dias: desmatamento, conta-minação do solo, dos rios, do ar, per-da de biodiversidade, desterrito-rialização das populações tradicio-nais, fome, doenças e morte evitáveis,violências de todo tipo (assassinatosde lideranças ligadas ao movimentosociais, em especial de ambientalistase dirigentes sindicais; prostituição in-fantil; violência contra as mulheres;acidentes de t rabalho e cr imesambientais).

A questão ambiental aos poucosvem ocupando a consciência e a mili-tância de um número cada vez maiorde pessoas comprometidas com apaz, a saúde, o desenvolvimento so-cial e a qualidade de vida das atuaise das futuras gerações.

Certamente, os conflitos presentesnas questões ambientais exigem umpacto social que o Brasil reluta emfazer, a começar pela Reforma Agrá-ria. É um absurdo um país continen-tal, com tantos espaços vazios, ter umforte e justo movimento reivindi-cativo de Sem Terras que precisa de-monstrar sua condição com a mobi-lização de homens, mulheres e crian-ças que ocupam terras e permanecemresistindo em seus acampamentos pre-cários, à margem da escola, do SUSe de todas as políticas sociais. Genteque só quer trabalhar a terra.

A violência é um grande proble-ma de saúde pública no Brasil e en-

tre os vulneráveis estão todos os quemilitam por uma causa justa, em es-pecial os ambientalistas. Quando ogoverno nomeou Marina Silva para oMinistério do Meio Ambiente, viu-sea possibilidade de transformar a ques-tão ambiental em uma prioridade, defazer crer que a luta de Chico Men-des e de tantos outros tinha valido àpena. Aos poucos, vimos que foi maisuma ilusão. A violência contra osambientalistas e os crimes ambientaisnão diminuíram. Acredito que afragilização da senadora/ministra –um símbolo da causa ambiental – éum forte indicador de que os interes-ses dos grupos que saqueiam a natu-reza e exploram o ser humano conti-nuam fortalecidos nos três poderesda nação.

Recentemente, o mundo assistiuperplexo ao assassinato da mis-sionária Dorothy Stang, uma norte-americana naturalizada brasileira,de 74 anos, que durante anos atuoucontra a extração ilegal de madeirana Amazônia. Foi morta a tiros emAnapu, oeste do Pará, um dos esta-dos mais violentos do País. Dias de-pois, houve o assassinato do ambien-talista Álvaro Marques, com váriostiros de pistola, enquanto estava sen-tado em seu carro. Sua luta era emdefesa dos manguezais de Angra dosReis-RJ, ameaçados por caçadores eespeculadores imobiliários. São doistristes exemplos da situação a quechegamos, pela falta de uma políticaclara em defesa da vida.

Nos falta um projeto político, emque a vida seja o centro da questão;precisamos de um projeto civilizatório,coerente, que articule o todo e issopassa também pela saúde, que nãopode ser apenas uma atribuição doSUS. Trata-se de uma questão trans-setorial de valorização da vida huma-na e dos ecossistemas, duas dimen-sões absolutamente interdependentes.

Precisaríamos verificar no setor

saúde qual é o valor que estamosdando ao ambiente, entendido comoespaços do desenvolvimento humanoe não como uma questão externa,alheia à saúde. Não precisamos deplanos mirabolantes. Pequenas coisasque são possíveis de serem feitas,desde que guiadas pelo compromissosocial. Façamos um exame de cons-ciência ou uma avaliação das políti-cas em curso, uma avaliação dos pro-gramas e dos serviços prestados, emtodos os níveis. Vamos corrigir, acer-tar o passo na direção de um com-promisso ético com a vida.

Vamos retomar nossa capacidadede crítica, de organização e de soli-dariedade. Isso passa por uma capa-cidade de se indignar e de reinventara possibilidade de criar saídas. Temosum país com enormes reservas natu-rais, com um povo aberto ao outro,temos capital cultural, temos umarelativa democracia, mas nos falta avontade de atuar.

Os sanitaristas sempre tiveramuma atitude de vanguarda diante daluta pela vida. Não podemos nos res-tr ingir a operar nos marcos datecnocracia; a nação precisa de nos-sa energia, de nossa capacidade in-telectual e compromisso coletivo naluta social.

À s vésperas de mais um Congres-so da Abrasco, onde a fragilidade davida será razão para a nossa reflexãocoletiva, devemos examinar a causaambiental com um olhar não de quemestá de fora, mas de quem é partedessa luta. Será uma forma concretade nos solidarizarmos com os am-bientalistas que vêm lutando por to-das as coisas que também acredita-mos. Precisamos construir essa novaaliança se quisermos alcançar a saú-de que entendemos ser a que todosnecessitam e merecem.

Pesquisadora da Fiocruz e coordenadorado GT Saúde e Ambiente, da Abrasco.

Lia Giraldo da Silva Augusto

6 Abrasco Abril 2005

O anúncio de que o Brasil vai sediar, em agosto de 2006, o11o Congresso Mundial de Saú-

de Pública, em evento conjunto com o8o Congresso Brasileiro de Saúde Cole-tiva, levou os associados da Abrasco eos atores da área da Saúde Coletivanacional a expressarem sua alegria emovimentarem suas perspectivas demuitas formas. Além do CongressoMundial, há ainda a expectativa poroutro evento internacional, este sediadoem Montreal, Canadá, no qual repre-sentantes da Abrasco, da Escola Naci-onal de Saúde Pública (Ensp), da Uni-versidade Federal da Bahia (UFBa),do Conselho Nacional de SecretáriosEstaduais de Saúde (Conass) e do Con-selho Nacional de Secretários Munici-pais de Saúde (Conasems) vêm tendoexpressiva participação: o 1o SimpósioInternacional da Conferência Luso-Francófona da Saúde (Colufras), queacontecerá entre os dias 14 e 18 de ju-nho de 2005 (veja o box).

Esses dois eventos internacionais sãoa expressão visível de uma linha de atu-ação da Abrasco que, apesar de mos-trar-se mais recentemente, já vem sen-do construída pacientemente há algunsanos. É hora, portanto, de contar umpouco desse processo, que tem por ob-jetivo a ampliação das atividades e daatuação internacional da Abrasco, re-cuperando algo de sua história e apon-tando perspectivas futuras. José Carva-lho de Noronha, presidente da Abrascona gestão 2000-2003 e coordenador doComitê ‘local’ de Organização do Con-gresso Mundial, traça um didático pa-norama da inserção internacional daAbrasco desde a sua fundação, e já ini-cia lembrando que “a Abrasco nasceuuniversalista”.

A Reforma Sanitáriae a renovação internacionalista

Ao ser confrontado com a questãoacerca da entrada da Abrasco no ce-nário internacional, José Noronha apres-sou-se a dizer que “a Abrasco nuncaesteve fora”. Lembrando o movimentode renovação da Saúde Coletiva nos

O Congresso Mundial de Saúde Públicae a atuação internacional da Abrasco

anos 70, induzidos em grande parte peloDepartamento de Medicina Preventivae Social da Faculdade de Ciências Mé-dicas da Universidade de Campinas(Unicamp) e pela Ensp, Noronha diz quea Abrasco nasceu em 1979 sob a égidelargamente aceita de uma reforma de-mocrática internacional, da utopia deum ‘mundo de irmãos’. “Havia umavisão internacionalista”, diz ele, “e porisso, em relação às políticas de saúde,a Abrasco já nasce universalista e im-buída da idéia de solidariedade latino-americana”. Era a época em que, nocenário da América Latina, atuavaaquele que, segundo muitos, represen-tou a expressão da unidade continentalna Organização Pan-Americana daSaúde (Opas), o pensador social e pro-fessor Juan Cesar Garcia.

Mais tarde, em meados dos anos 80,o Brasil retoma os caminhos da demo-cratização com a eleição de um presi-dente civil. “A Nova República traz con-sigo o engajamento profundo e intensocom a realidade brasileira, e a área aca-dêmica da Saúde Coletiva faz como queum mergulho para dentro do Brasil”, dizNoronha, acrescentando que, nessa épo-ca, o Centro Brasileiro de Estudos deSaúde (Cebes), que havia ‘nascido’apenas 3 anos antes da Abrasco, em1976, manteve maior ligação com aAssociação Latino-Americana de Medi-cina Social (Alames), enquanto aAbrasco distanciou-se um pouco.

Moisés Goldbaum, presidente daAbrasco, lembra que, apesar de ocasio-nais distanciamentos ao longo do tem-po, a Associação sempre atuou junto aparceiros nacionais e latino-americanos,“com os quais até hoje compartilha seusprojetos e ações na busca de melhores

condições de vida e de saúde de nossaspopulações”. No âmbito nacional,Goldbaum cita como exemplos o Cebese a Rede Unida. Entre as entidades lati-no-americanas, ele destaca a Associa-ção Latino-Americana e do Caribe deEducação em Saúde Pública (Alaesp),a própria Alames e a Opas.

A Saúde viveu seus anos mais glori-osos com a promulgação da Constitui-ção brasileira, em 1988, na qual osmovimentos que lutavam pela ReformaSanitária conseguiram inscrever a pro-posta do Sistema Único de Saúde, pra-ticamente ‘desenhado’ na Oitava Con-ferência Nacional de Saúde, em 1986.Logo depois, os anos 90 trouxerammuitas transformações sociais, quandoa palavra ‘globalização’ passou a fre-qüentar o vocabulário também da áreada Saúde Coletiva. A queda do murode Berlim e o neoliberalismo expressamum movimento de muitas reformas, ea Saúde opõe resistência a elas. A‘internacionalização’ preconizada pelaglobalização financeira, aliada a umaforte convicção acerca da ‘minimização’do Estado, não é de modo nenhum bemrecebida pelas instituições que lutampelo SUS, e nem pela Abrasco, eviden-temente. Nessa época, o termo‘internacionalização’ estava ligado àidéia de expansão de mercados.

Por fim, no final dos anos 90, como fracasso da agenda liberal, a questãoperde sua “agressividade ideológica”,segundo José Noronha. Ele lembra que,na gestão de José Serra à frente doMinistério da Saúde, o Brasil levantoupelo menos três importantes bandeirasno cenário internacional da saúde pú-blica. Em primeiro lugar, as notas bai-xas do Relatório da OMS, de 2000,causaram grande impacto, não apenaspela classificação dos países, mas prin-cipalmente pela fragilidade conceituale metodológica da proposta e dos indi-cadores elaborados, o que levou aodesenvolvimento de uma metodologiade avaliação para o desempenho dosistema brasileiro de saúde, projeto co-ordenado por Francisco Viacava, da

abrasco participa

“A Abrasco já nasceuniversalista

e imbuída da idéiade solidariedade

latino-americana”

Fiocruz, e desenvolvido por vários ou-tros pesquisadores de diversas institui-ções de pesquisa filiadas à Abrasco.

A segunda grande bandeira foi acampanha pela quebra de patentes paraa fabricação de medicamentos essenci-ais mais baratos, o que possibilitou que,segundo o pesquisador Jorge Bermudez,o Brasil tenha sido, em certa época, oúnico país do mundo a ter acesso uni-versal a antiretrovirais. Depois de mui-ta pressão e luta, o Brasil conseguiuaprovar suas resoluções na 54a Assem-bléia Mundial da Saúde, realizada em2001, configurando a mais brilhanteatuação de uma delegação brasileira atéentão, quando nosso modelo de com-bate à Aids foi saudado como um dosmelhores do mundo.

Por fim, havia ainda a grande ofen-siva anti-tabaco quando, pela primeiravez na história da Organização Mundi-al da Saúde (OMS), um tratado legalfoi negociado, com base em acordosentre seus Estados membros, resultan-do nas negociações do Convênio Mar-co para o Controle do Tabaco (CMCT).Segundo Vera Costa e Silva, então co-ordenadora do Programa de Combateao Tabagismo da OMS, o Brasil teveparticipação muito ativa em todo esseprocesso, graças aos sucessos do pro-grama brasileiro, reconhecido e respei-tado internacionalmente.

Noronha sustenta que nesse mo-mento, portanto, parece ser recriada, nointerior da Abrasco, a idéia de que nos-so sistema de saúde é item de exporta-

Colufras: intercâmbio de saberes da Saúdeentre países de línguas francesa e portuguesa

blica no Mundo Globalizado: rompen-do as barreiras políticas, econômicas esociais’, propiciará um bom debate.“Isso é particularmente importante parao Brasil”, diz Noronha, “já que somen-te nós, a Costa Rica e o Canadá admi-nistramos sistemas de acesso universal”.No entanto, quando ambos são inda-gados a respeito dos possíveis desdobra-mentos desses eventos internacionais, aresposta é a mesma: “É cedo para sa-ber, mas já estamos discutindo nossasestratégias”. Goldbaum antevê que todoesse movimento em relação à incorpo-ração da Abrasco à agenda interna-cional será “uma ótima oportunidadepara mostrarmos e debatermos aosolhos de todos os profissionais de saú-de do mundo inteiro nossos avanços edesafios na construção do SistemaÚnico de Saúde”.

namental que busca favorecer o desenvolvimento deintercâmbios e cooperações entre países de línguas fran-cesa e portuguesa, tendo por objetivos aprimorar ossistemas de saúde e qualidade dos serviços oferecidosà população, por meio das experiências de cada parti-cipante.

A Ensp sediou, no dia 9 de março, o encontro doComitê Brasileiro para o 1º Simpósio da Colufras, comrepresentantes da Abrasco, da Ensp, da UFBa, doConass e do Conasems. Fernando Cupertino de Bar-ros, Secretário Estadual de Saúde de Goiás e represen-tante do Conass avaliou esse movimento como impor-tantíssimo, por “integrar saberes na área de saúde nosmundos de línguas portuguesa e francesa, que são muitomarginalizadas nos encontros específicos nas Amé-ricas”, já que quase todos eles são realizados eminglês e espanhol.

ção, “embora ainda estivésse-mos fora da agenda doItamaraty e da Saúde Públicacomo objeto de reflexão”. Paraele, o apoio à candidatura deMirta Roses à sucessão daOpas foi, estrategicamente,também muito importante. Ofim do milênio coincidiu como início de uma nova gestãona Abrasco, e em 2000 surgiua necessidade de incorporaçãoa essas agendas.

Nessa época, foi criado umGrupo de Trabalho ad hocpara pensar a participação in-ternacional da Abrasco. OGrupo, que contava com a participa-ção de Carlyle Guerra de Macedo,Reinaldo Guimarães, Jorge Bermudez,Antonio Ivo de Carvalho e José Fiori,dentre outros, produziu um documentoimportante, de análise da conjuntura in-ternacional. Tais iniciativas auxiliarama filiação da Abrasco à Federação Mun-dial de Associações de Saúde Pública(World Federation of Public HealthAssociation – WFPHA), o que possibi-litou, por sua vez, que o Rio de Janeiroviesse a sediar o Congresso Mundial.

Para José Noronha, no entanto, odesafio está só começando. Segundoele, é preciso, mais do que nunca, “in-corporar academicamente e politica-mente a agenda internacional”. O pre-sidente da Abrasco, Moisés Goldbaum,concorda e lembra que o próprio temaprincipal do Congresso – ‘A Saúde Pú-

O I Simpósio Internacional da Conferência Luso-Francófona da Saúde (Colufras) acontecerá entre os dias16 e 18 de junho, em Montreal, e será fechado a 300participantes, envolvendo representantes do Canadá,Brasil e demais países de línguas portuguesa e france-sa. O tema geral do Simpósio é ‘Saúde e Cidadania’,que está dividido em seis principais eixos temáticos:‘O lugar e o papel do cidadão na governança do siste-ma de saúde’; ‘Regulação e financiamento dos servi-ços de saúde’; ‘Descentralização e integração dos aten-dimentos em nível local’; ‘Atributo, Avaliação e Siste-mas de Informação’; ‘Formação e importância do ca-pital humano na área da saúde’; e ‘Institu-cionalizaçãoda cooperação’. Precedendo o Simpósio, nos dias 14e 15 de junho serão realizados painéis temáticos sobrediversos temas, em francês e em português.

A Colufras é uma iniciativa internacional não gover-

8 Abrasco Abril 2005

Reunindo cerca de 1200 parti-cipantes – profissionais dos ser- viços de Vigilância Sanitária das

três esferas de governo (municipal, es-tadual e federal) e de instituições deensino e pesquisa – oriundos de 25 es-tados brasileiros e de cinco países dasAméricas – Chile, Cuba, Canadá, Es-tados Unidos e Colômbia –, o II Sim-pósio Brasileiro e I Simpósio Pan-Ame-ricano de Vigilância Sanitária, promo-vido pela Abrasco e realizado em Cal-das Novas (GO), de 21 a 24 de novem-bro de 2004, representou um momentoprivilegiado de discussão e de formula-ção sobre o setor.

Durante o evento, cujo tema centralfoi ‘Vigilância Sanitária: ConsCiência eVida’, foram realizadas quatro confe-rências centrais, nove mesas-redondas,27 comunicações coordenadas e 24Painéis. Além disso, os 969 trabalhosapresentados, sendo 125 na modalida-de oral e 844 na forma de pôster, divi-didos em 22 temas, mostraram que aVigilância Sanitária está se consolidan-do como uma importante área da Saú-de Coletiva no país. Os presentes tam-bém participaram de inúmeras ativida-des culturais, como o lançamento devários livros (veja o box) e uma mostrade vídeo que exibiu quase 50 títulos, eartísticas, com a apresentação de vári-os grupos e artistas locais.

Para a presidente do evento e coor-denadora do GT Vigilância Sanitária(GT-VISA) da Abrasco, Vera LúciaEdais Pepe, a realização do II Sim-bravisa em Goiás, 17 anos depois doacidente com o Césio 137, em Goiânia,foi bastante emblemática e serviu paraaprofundar a discussão de alguns as-pectos que relacionam a Ciência e odesenvolvimento científico-tecnológico,com suas implicações no pensar, no agire na forma de organização da Vigi-lância Sanitária, bem como de suasinterfaces com a sociedade.

– A idéia era estimular a reflexãosobre o acelerado desenvolvimento ci-

II Simpósio Brasileiro e I Simpósio Pan-Americano de Vigilância Sanitária:

evento mostra amadurecimento do setor

reflexões

AOS MOÇOSEu sou aquela mulher

A quem o tempo muito ensinou.Ensinou a amar a vida.

Não desistir da luta.Recomeçar na derrota.

Renunciar palavras e pensamentosnegativos.

Acreditar nos valores humanos.Ser otimista.

Creio na força imanenteque vai ligando a família humana

numa corrente luminosade fraternidade universal.

Creio na solidariedade humana.Creio na superação dos erros e

angústias do presenteAcredito nos moços.

Exalto sua confiança,generosidade e idealismo.

Creio nos milagres da ciênciaE na descoberta de profilaxiafutura dos erros e violências

do presente.Cora Coralina

entífico e tecnológico no campo da saú-de, cujos benefícios e possíveis malefí-cios às pessoas e ao ambiente são mui-tas vezes desconhecidos ou até mesmodesconsiderados. É imperativo que aVigilância Sanitária seja cada vezmais uma prática a ser exercida nãoapenas com Ciência, mas, sobretudo,com Consciência e em defesa da saúdee da Vida, como nos inspira a poesia-tema do evento, Aos Moços, de CoraCoralina.

Temário relevantepara a VISA

O Simpósio foi desenvolvido a par-tir de três eixos temáticos: ‘Ciência,Saúde e Sociedade’, ‘Tecnologia, Éticae Vigilância Sanitária’ e ‘Políticas e siste-mas de Vigilância nas Américas’.

Nas Conferências, foram propostasdiscussões importantes sobre o papel doEstado na proteção da Saúde, a com-plexidade do conhecimento na atuali-dade, a necessidade de uma posturaética como forma de proteger os cida-dãos e a sociedade do avanço desenfre-ado da ciência e da tecnologia e sobreo desafio da Vigilância Sanitária de pro-mover o equilíbrio entre interesses sani-tários e econômicos, preservando os re-cursos ambientais e os valores sociais.

Nas mesas-redondas foram aborda-dos inúmeros temas, dentre os quais, anecessidade de a ciência ser tratadacomo bem público e o papel da Vigilân-cia Sanitária na luta contra as desigual-dades sociais, promovendo ações quepossibilitem diminuir a exclusão. Alémdisso, também foram divulgados os pri-meiros resultados do Censo Nacionaldos Trabalhadores em Vigilância Sani-tária, que podem ser encontrados no siteda Anvisa (www.anvisa.gov.br), em‘Institucional’ > ‘Comitê de Política deRecursos Humanos para Vigilância Sa-nitária’ > ‘Censo Nacional dos Traba-lhadores de Vigilância Sanitária’.

A necessidade de se imprimir trans-parência às ações de VISA, buscandoa ampliação do controle social e, con-

seqüentemente, mais efetividade dasações de Vigilância Sanitária foi apon-tada como um dos grandes problemaspara o setor. Outras prioridades iden-tificadas foram: focar o modelo deregulação nos interesses do consumidore no mercado interno e não no setorregulado e no mercado externo; coor-denar ações com outras secretarias eórgãos de governo, com organizações de

defesa do consumidor e com o Ministé-rio da Justiça, entre outros; aumentara publicização do trabalho de VISApara a população; estabelecer um pla-no de carreiras para o setor, com o ob-jetivo de reduzir a rotatividade profis-sional; e aumentar as discussões sobrea Propriedade Intelectual e a conces-são de patentes de medicamentos, equi-librando a relação entre quem ‘inven-ta’ um novo medicamento e o direitodos consumidores/cidadãos.

O II Simbravisa e I Simpósio Pan-Americano de Vigilância Sanitária foirealizado com apoio da Agência Naci-onal de Vigilância Sanitária (Anvisa),da Organização Pan-Americana de Saú-de (OPAS/OMS), da Fundação Oswal-do Cruz (Fiocruz), do Ministério da Saú-de, dos Conselhos Nacionais de Secre-tários de Saúde (Conass) e de Secretá-rios Municipais de Saúde (Conasems),da Secretaria Estadual de Saúde deGoiás e do Banco do Brasil.

Um futuro de expectativasO sucesso do II Simbravisa foi in-

contestável, tanto quanto foi ousada arealização do I Simpósio Pan-America-no de Vigilância Sanitária. Ambos, noentanto, refletem o esforço que vemsendo feito para dar visibilidade e for-talecer uma área que até algum tempoera considerada o ‘patinho feio’ ou o‘primo pobre’ da Saúde. Esse tempo,felizmente, ficou para trás e os apelidoscertamente perderam a razão de ser,como mostra a breve, mas bem sucedi-da, história do Simbravisa, cuja primei-ra edição foi realizada em São Paulo,em 2002, com o tema ‘O saber e o fa-zer na proteção da vida’.

O I Simbravisa pode ser considera-do o primeiro espaço de cunho científi-co específico da área de Vigilância Sa-nitária. Ele mostrou que, já naquelaépoca, havia uma importante produçãocientífica sobre o tema e comprovou anecessidade de se realizar constante-mente a troca de conhecimentos e ex-periências entre os profissionais dos ser-viços e das instituições científicas.

O ótimo resultado do I Simbravisa,do qual participaram cerca de 700 pro-fissionais, serviu de estímulo para a co-missão organizadora da segunda ediçãodo evento que, além de contar com aparticipação ampliada de profissionaisde quase todo o país, também serviucomo espaço de integração para os GTsda Abrasco.

– A parceria com outros GTs, comoo de Saúde e Ambiente, Promoção daSaúde, Saúde do Trabalhador, Educa-ção Popular em Saúde, Comunicaçãoe Saúde e Gênero e Saúde, mostrou aimportância de se trabalhar em conjun-to e representou a complexidade da Vi-gilância Sanitária – afirma Vera.

Se for considerado o objetivo da pró-pria Abrasco, que é o de ampliação daqualificação profissional para oenfrentamento dos problemas de saú-

de da população brasileira, o Sim-bravisa já está consolidado como umimportante espaço de divulgação daVigilância Sanitária e de sua impor-tância na promoção e prote-ção da saúde. Ele estimula aprodução técnico-científica, pe-las instituições de ensino e pes-quisa e pelos serviços de saúde,nas temáticas de interesse da Vigilân-cia Sanitária, e amplia a participa-ção dos segmentos da sociedade civilenvolvidos com o setor Saúde.

Sobre o futuro do evento,nada está realmente definido,mas as expectativas são grandes.Ele continuará a ser realizado de acor-do com a importância, o crescimentoe o amadurecimento da Vigilância Sa-nitária, a partir de temas que concor-rem para o desenvolvimento desse cam-po estruturante da Saúde Pública.

– Espera-se que haja continuida-de no relacionamento com importan-tes parceiros da área da Saúde, comoo Ministério, a Anvisa, o Conass, oConasems, a Fiocruz e a Opas, e deoutros setores, como o Banco do Bra-sil, e que novas parcerias, especial-mente com as organizações sociais,sejam estabelecidas, sempre com oobjetivo de viabilizar a divulgação daimportância da Vigilância Sanitária.Espera-se, também, que haja conti-nuidade na integração com os demaispaíses, que se encontram em diferen-tes estágios de organização, e naintegração com as diferentes áreas daSaúde e com a sociedade para que aVigilância Sanitária caminhe cada vezmais ao encontro dos cidadãos e pos-sa refletir sobre sua própria práticaem defesa da saúde e da vida – dizVera, lembrando que um dos resulta-dos da integração com outros países,devido a realização do I SimpósioPan-Americano, é a proposta de umaoficina de Vigilância Sanitária no 1ºSimpósio Internacional da Conferên-cia Luso-Francófona da Saúde (Colu-fras), que ocorrerá em junho (ver pá-gina 7).

Com o tema ‘A Vigilância Sanitáriae a proteção do consumidor no mun-do globalizado’, a oficina vai discutiros efeitos da globalização na saúde daspopulações, propondo estratégias decooperação e intercâmbio no campoda Vigilância Sanitária, que visem à pro-teção da saúde do consumidor.

A Vigilância Sanitária no Bra-sil, de Ana Cristina Souto, edito-ra Sobravime: mostra 25 anos dehistória da vigilância sanitária nopaís – compreendendo o períodode 1976 a 1994, do regime autori-tário à redemocratização – a par-tir de minucioso levantamento dalegislação sanitária, publicaçõestécnicas, notícias de jornal e en-trevistas com dirigentes do órgãofederal que examina sucessivasgestões da saúde, suas lacunas eavanços.Políticas Farmacêuticas: a ser-viço dos interesses da saúde?,de José Augusto Cabral de Bar-ros, editora Unesco: explica o pa-pel do setor público, as relações,em geral conflitantes, entre os se-tores público e privado e as con-seqüências que sofrem a popula-ção.Flagrantes do OrdenamentoJurídico-Sanitário, de Helio Pe-reira Dias, editora Anvisa (2ª edi-ção): criteriosa análise do amploespectro de ações de vigilância sa-nitária e seus suportes legais.Vigilância Sanitária, proteçãoe defesa da Saúde, de EdináAlves Costa, editora Sobravime(2ª edição aumentada): lançaquestões que iluminam a reflexãosobre a atuação de Vigilância Sa-nitária, a função do Poder Públi-co e “o dever-poder do Estado nasua investidura de legitimidade vol-tada aos interesses sanitários dacoletividade”.

TÍTULOS LANÇADOSDO II SIMBRAVISA

NESTA EDIÇÃO

VIOLÊNCIA,MEIO AMBIENTE

E SAÚDE PÚBLICA

CONGRESSO MUNDIALDE SAÚDE PÚBLICA E

ATUAÇÃO INTERNACIONAL DA ABRASCO

II SIMBRAVISA –AMADURECIMENTO

DO SETOR

ABRASCO NO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

DESNUTRIÇÃO CRÔNICA ENTRE CRIANÇAS

INDÍGENAS

A CRISE DA SAÚDENO RIO DE JANEIRO

APONTAMENTOS,OPORTUNIDADES,

PUBLICAÇÕES EEVENTOS