perspectivas hermenêuticas: uma releitura do conceito do...

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO Perspectivas Hermenêuticas: Uma Releitura do Conceito do Yahweh Criador a partir de Isaías 45,14-25. Roberto de Jesus Silva São Bernardo do Campo 2018

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Page 1: Perspectivas Hermenêuticas: Uma Releitura do Conceito do ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1748/2/ROBERTO DE JESUS SILVA.pdfTese de doutorado sob o título Perspectivas Hermenêuticas:

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

Perspectivas Hermenêuticas:

Uma Releitura do Conceito do Yahweh Criador a

partir de Isaías 45,14-25.

Roberto de Jesus Silva

São Bernardo do Campo

2018

Page 2: Perspectivas Hermenêuticas: Uma Releitura do Conceito do ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1748/2/ROBERTO DE JESUS SILVA.pdfTese de doutorado sob o título Perspectivas Hermenêuticas:

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

Perspectivas Hermenêuticas:

Uma Releitura do Conceito do Yahweh Criador a

partir de Isaías 45,14-25.

por

Roberto de Jesus Silva

São Bernardo do Campo

2018

Tese de Doutorado apresentada em

cumprimento às exigências do Programa de

Pós-Graduação em Ciências da Religião da

UMESP – Universidade Metodista de São

Paulo, para obtenção do grau de doutor.

Orientador: Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira

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FICHA CATALOGRÁFICA

Si38p

Silva, Roberto de Jesus

Perspectivas hermenêuticas: uma releitura do conceito do Yahweh criador

a partir de Isaías 45,14-25 / Roberto de Jesus Silva -- São Bernardo do

Campo, 2018.

171fl.

Tese (Doutorado em Ciências da Religião) – Universidade Metodista de São

Paulo - Escola de Comunicação, Educação e Humanidades Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Religião São Bernardo do Campo.

Bibliografia

Orientação de: Tércio Machado Siqueira

1. Bíblia – A.T. – Isaías – Crítica e interpretação 2.Yahweh I. Título

CDD 224.107

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Tese de doutorado sob o título Perspectivas Hermenêuticas: Uma Releitura do Conceito do

Yahweh Criador a partir de Isaías 45,14-25. Elaborada por Roberto de Jesus Silva, foi

apresentada em 14/03/2018.

__________________________________________________

Prof. Dr. Helmut Renders

Presidente da Banca Examinadora

__________________________________________________

Prof. Dr. Helmut Renders

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião.

Área de Concentração: Literatura e Religião no Mundo Bíblico.

Linha de Pesquisa: Estudos Históricos Literários do Mundo Bíblico.

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Dedico este trabalho, a todos os homens e mulheres que independente de seu credo religioso ou

língua, buscam fazer o bem e relacionam-se com o próximo com tolerância e respeito. Dedico

este trabalho, a todos que buscam ensinar e instruir outros, mesmo quando a obscuridade da

falta do saber já desesperançou o coração daqueles que não almejam mais a luz do

conhecimento. Dedico este trabalho, a todos os teólogos e cientistas da religião que não

desistem de labutar e de formar pensadores e pensadoras que deixarão sua marca especial no

mundo.

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AGRADECIMENTOS

A Jesus Cristo, pela força e inspiração.

Ao professor e orientador Dr. Tércio Machado Siqueira, por sua paciência, compreensão e

amizade.

A minha querida esposa Marinalda e meus filhos Vitória e Felipi por seu apoiou.

A todos os funcionários do curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião, pela gentileza.

Aos meus amigos e companheiros que conheci, durante nossa trajetória acadêmica.

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“Eis, assim disse Yahweh, o Criador dos céus o Elohim que formou

a terra e a fez, ele a estabeleceu; não a criou vazia, mas a

formou para ser habitada. Eu sou Yahweh; e não há outra”.

Dêutero-Isaías (540 a.C.)

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Esta tese contou com o apoio da CAPES

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SILVA, Roberto de Jesus. Perspectivas hermenêuticas: Uma Releitura do conceito do Yahweh

Criador a partir de Isaías 45,14-25. São Bernardo do Campo: Umesp, 2018. Tese (Doutorado

em Ciências da Religião) – Escola de Comunicação, Educação e Humanidades, Universidade

Metodista de São Paulo (Umesp).

RESUMO

Este trabalho pretende analisar o título de Criador dos céus e da terra, atribuído a Yahweh,

em Isaías 45,14-25, como também, demonstrar que a teologia do Yahweh Deus Criador em

Israel, foi iniciada pelo Dêutero-Isaías no período em que ele esteve exilado na Babilônia com

seus compatriotas.

Também destacamos nesta tese que a teologia do Deus Criador, dos céus e da terra sofreu

interferências culturais, da narrativa babilônica da criação conhecida como Enuma Elish.

Para tal, utilizamos o estudo exegético, partindo da análise do contexto histórico, literário e

religioso do Dêutero-Isaías, afim de, demonstrarmos que o título de Criador atribuído a

Yahweh, teve o objetivo de esclarecer a comunidade judaica que estava exilada na Babilônia,

que o deus Marduk não era o criador dos céus e da terra.

Portanto, interpretamos o título de Deus Criador atribuído a Yahweh pelo profeta Dêutero-

Isaías, como uma negação deste título direcionado à Marduk pelos babilônicos da dinastia

caldaica.

Demonstramos que no período pós-exílico, a teologia do Yahweh, Deus Criador passou por

evoluções, sendo que a segunda fase desta teologia deve ser vista na produção literária Gênesis

1,1-2, 4ª – 2,4b-25. Discutimos que os redatores das duas narrativas cosmogônicas citadas

acima no livro de Gênesis, produziram estes textos no período pós-exílico para re-afirmar a

teologia do Yahweh Deus Criador, iniciada pelo profeta Dêutero-Isaías, por volta do ano 540

a.C.

Por fim, mencionamos que os Salmos de Criação 104; 33; 19; 08 e 136 são a terceira fase

da teologia do Deus Criador em Israel no período pós-exílico e nesta os salmistas apresentaram

algumas novidades que não foram mencionadas pelo Dêutero-Isaías, tais como: Yahweh o Deus

Sustentador da criação, Yahweh o Deus Artesão que criou os céus com suas mãos e a criação

de Yahweh vinculada a sua hesed - bondade e outros temas que foram trabalhados nesta tese.

Palavras Chaves: Dêutero-Isaías; Cosmogonia; Criador, Sustentador e Enuma Elish.

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SILVA, Roberto de Jesus. Hermeneutics perspective: A re-reading of the concept of the Creator

Yahweh from Isaiah 45, 14-25. São Bernardo do Campo: Umesp, 2016. Thesis (Doctorate in

science of religion) – School of communication, education and Humanities, Methodist

University of São Paulo (Umesp).

ABSTRACT

This work intends to analyze the title of Creator of the heavens and the earth attributed to

Yahweh in Isaiah 45, 14-25, as well as to demonstrate that the theology of Yahweh God the

Creator in Israel was initiated by the Deutero-Isaiah in the period in which he was exiled in

Babylon with his countrymen.

We also emphasize in this thesis that the theology of the Creator God, the heavens and the

earth, suffered cultural interference from the Babylonian creation narrative known as Enuma

Elish.

For this, we use the exegetical study, starting from the analysis of the historical, literary and

religious context of the Deutero-Isaiah, in order to demonstrate that the title of Creator

attributed to Yahweh, had the purpose of clarifying the Jewish community that was exiled in

Babylon, that the god Marduk, was not the creator of the heavens and the earth.

Therefore we interpret the title of God the Creator attributed to Yahweh by the Deutero-

Isaiah prophet, as a denial of this title directed to Marduk by the Babylonians of the Chaldaean

dynasty.

We demonstrate that in the post-exilic period, the theology of Yahweh, God the Creator

went through evolutions, and the second face of this theology must be seen in the literary

production Genesis 1,1-2, 4a - 2,4b-25. We have argued that the writers of the two cosmogonic

narratives quoted above in the book of Genesis produced these texts in the post-exilic period to

re-affirm the theology of Yahweh God the Creator, begun by the prophet Deutero-Isaiah, circa

540 a.C.

Finally, we mention that the Creation Psalms 104; 33; 19; 08 and 136 are the third phase

of the theology of the Creator God in Israel in the post-exilic period, and in this the psalmists

presented some novelties that were not mentioned by the Deutero-Isaiah, such as: Yahweh, the

Lord of Creation, Yahweh the God Craftsman who created the heavens with his hands and the

creation of Yahweh bound to his hesed - kindness and other themes that were worked out in

this thesis.

Key Words: Deutero-Isaiah; Cosmogony; Creator; Sustainer and Enuma Elish.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AT - Antigo Testamento

NT - Novo Testamento

a.C. - Antes de Cristo

d.C. - Depois de Cristo

Is - Livro do Profeta Isaías

Sl - Livro dos Salmos

BJ - Bíblia de Jerusalém

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SUMÁRIO

INTRODUCÂO...................................................................................................................... 13

1. HISTÓRIA DA BABILÔNIA: RELIGIÃO, COSTUMES E POLÍTICA................... 17

1.1 Introdução.......................................................................................................................... 17

1.2 As Origens.......................................................................................................................... 18

1.3 Historiografia de Heródoto................................................................................................ 20

1.4 Leis e Costumes dos Babilônicos na Dinastia Caldaica Segundo Heródoto..................... 22

1.5 História e Religião dos Babilônicos nas Narrativas de Berossus....................................... 23

1.5.1 A Babylonika de Berossus.............................................................................................. 24

1.5.2 O livro 1.......................................................................................................................... 25

1.5.2 O livro 2.......................................................................................................................... 26

1.5.3 O livro 3.......................................................................................................................... 27

1.5.4 O Homem Primitivo Segundo Berossus......................................................................... 28

1.6 Deuses Babilônicos............................................................................................................ 29

1.7 A Formação do Homem, Segundo a Fé dos Babilônicos.................................................. 34

1.8 A Formação do Cosmo, Segundo a Fé dos Babilônicos.................................................... 35

1.9 Arqueologia e Religiosidade Babilônica na Modernidade................................................ 38

1.10 Arqueologia e Religiosidade Pérsia na Modernidade...................................................... 42

1.11 Conclusão......................................................................................................................... 49

2. ANÁLISE EXEGÉTICA DE ISAÍAS 45,18-25............................................................... 47

2.1 Introdução.......................................................................................................................... 47

2.2 Texto Massorético e Tradução........................................................................................... 48

2.3 Tradução Literal................................................................................................................. 50

2.4 Crítica Textual.................................................................................................................... 53

2.5Delimitação......................................................................................................................... 54

2.6 Estrutura da Perícope......................................................................................................... 57

2.7 Coesão Interna.................................................................................................................... 69

2.8 Estilo e Gênero................................................................................................................... 61

2.9 Época e Ambiente Vivencial.............................................................................................. 62

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2.10 Análise de Conteúdo........................................................................................................ 67

2.10.1 Apresentação (v. 14-16)................................................................................................ 67

2.10.2 Yahweh: Sou o Único El v. 14...................................................................................... 67

2.10.3 Profeta: Afirmação de Fé no El, Elohim Salvador de Israel vs.15-17......................... 69

2.10.4 Palavra de Yahweh e do Profeta (vs. 18-25)................................................................. 72

1.10.5 Yahweh: Eu sou o Criador dos Céus e da Terra vs. 18-23........................................... 72

2.10.6 Profeta: Yahweh Gloriará toda Descendência de Israel vs. 24-25................................ 78

2.11 Conclusão......................................................................................................................... 79

3 A INFLUÊNCIA DA COSMOGONIA DA CRIAÇÃO BABILÔNICA “ENUMA

ELISH” EM ISAÍAS 45,14-25 E EM GÊNESIS 1,1-3........................................................ 81

3.1 Introdução.......................................................................................................................... 81

3.2 O Dêutero-Isaías e o Enuma ELish.................................................................................... 82

3.2.1 Contexto Histórico em que Surgiu o Relato da Criação de Gênesis 1,1-3..................... 84

3.2.2 Análise Literária de Gênesis 1,1-3.................................................................................. 87

3.3 A origem da narrativa da criação vetero-testamentária...................................................... 91

3.4 Conclusão........................................................................................................................... 93

4 O CREDO HISTÓRICO DO HEXATEUCO E YAHWEH COMO DEUS CRIADOR E

SUSTENDOR NOS SALMOS 104; 19; 33; 08; 136........................................................ 95

4.1 Introdução.......................................................................................................................... 95

4.2 Yahweh, como o Deus de Israel......................................................................................... 96

4.3 Os cultos a Yahweh............................................................................................................ 98

4.4 Santuários e Divindades de Israel e em Judá................................................................... 100

4.5 Uma estátua para Yahweh................................................................................................ 102

4.6 O casal Yahweh e Asherah como divindades não cosmogônicas.................................... 104

4.7 Yahweh como Deus Criador não Descrito no Credo Histórico....................................... 105

4.8 Um Novo Credo: Yahweh Deus Criador nos Salmos Sl 104,19; 33; 08..........................108

4.9 Yahweh Deus Criador no Salmo 19.................................................................................113

4.10 Yahweh Deus Criador no Salmo 33................................................................................118

4.11 Yahweh Deus Criador no Salmo 8..................................................................................123

4.12 Yahweh Deus Criador no Salmo 136............................................................................. 126

4.13 Conclusão....................................................................................................................... 129

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CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 130

REFERÊNCIAS................................................................................................................... 133

ANEXO................................................................................................................................. 149

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13

INTRODUCÂO

Esta pesquisa desenvolve um trabalho de interpretação hermenêutica que se refere aos

estudos atuais da Exegese do Antigo Testamento. Para tanto, utilizamos a pesquisa bibliográfica

para fundamentarmos nossas hipóteses e apresentarmos nossa tese no decorrer deste trabalho.

Destacamos pontos da crítica bíblica, como também o cenário histórico e cultural ligado a

religiosidade dos babilônicos do período caldaico, com ênfase no seu imaginário religioso e

concepção de criação do cosmo e da humanidade.

Nosso tema apresenta a discussão do título de Deus Criador atribuído a Yahweh no período

vetero-testamentário, a partir da obra do profeta dêutero-isaiânico. Abordamos a concepção

religiosa dos babilônicos ligada à cosmogonia da criação e como esta influenciou na origem da

teologia da criação cosmogônica e antropogônica em Israel.

Sendo assim, a importância de nossa pesquisa se dá, ao fato que apresentamos novas

abordagens sobre a origem da teologia do Yahweh Deus Criador em Israel, partindo da obra do

profeta Dêutero-Isaías e de partes das duas narrativas cosmogônicas e antropogônicas vistas no

livro de Gênesis 1,1-2,4a e 2,4b-25.

Esta Tese é composta de quatro capítulos, o primeiro capítulo intitulado de História da

Babilônia: Religião, costumes e política, discutirá alguns dos aspectos da historiografia da

Babilônia do período sumeriano até os caldeus1.

Para tanto, analisar-se-á a obra de Heródoto2, o qual destaca leis, costumes, política, cultura

e crenças dos babilônicos da dinastia caldaica os quais foram os exiladores dos judaítas. Ainda

será mencionado o historiador babilônico Berossus que em sua obra Babyloniaka, destacou

importantes relatos da história e da religião dos babilônicos. Estes relatos são tidos como

ferramenta literária de suma importância para que os pesquisadores e pesquisadoras de nossa

contemporaneidade possam compreender o império babilônico durante a dinastia caldaica.

14

1DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos. 5º ed. São Leopoldo: Sinodal, 2005, 409-420. 2HERÓDOTO, O Relato Clássico da Guerra entre Gregos e Persas. Tradução J. Brito Broca. 2° ed. São Paulo:

Prestígio, 2001, p. 43-184.

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Ainda será trabalhada as citações de Berossus3, desde o período sumeriano até o neo-

babilônico como também suas narrativas do homem primitivo e a concepção teogônica dos

povos mesopotâmicos.

Também será mencionada a formação do homem a partir do imaginário religioso dos caldeus

e como o deus Marduk foi descrito como o salvador dos deuses e o criador do cosmo e da

humanidade.

Por fim, serão apresentadas alusões a importantes pesquisas e achados arqueológicos que

escavaram localidades da Mesopotâmia antiga trazendo a nossa acessibilidade artefatos, textos

e muitos outros elementos importantes.

O segundo capítulo, denominado de Análise Exegética de Is 45,14-25, tratar-se-á do

instrumental exegético da perícope Isaías 45,14-25, iniciando com uma tradução literal, seguido

por uma análise de crítica textual que teve como finalidade “limpar o texto”, observando assim

os apontamentos encontrados no aparato crítico do rodapé da Bíblia Hebraica Stuttegartensia.

Também serão apresentadas algumas delimitações de autores tais como Croatto4, Schökel

e Dias5, Westermann6 e outros. No entanto, será desenvolvida nossa própria delimitação e

estrutura da perícope de Isaías 45,14-25.

Ainda neste capítulo, serão destacadas as repetições de termos verbos e frases na coesão

interna, sedo que este trabalho nos possibilitou avançarmos com mais intensidade na questão

do estilo e gênero do texto.

Também serão apresentadas sugestões e possibilidades que se referem ao profeta Dêutero-

Isaías ser uma pessoa ou grupo e a temática da crise teológica que ocorreu entre os judaítas no

período que eles estiveram exilados na Babilônia.

15

3BEAULIEU, Paul-Alain. Berossus on Late Babylonian History. in: Special Issue of Oriental Studies, 2006, p.

117. 4CROTTO, José Severino. As linguagens da Experiência Religiosa: Uma introdução a fenomenologia da

religião. 3° Ed. São Paulo: Paulinas, 2010, p. 17-35. 5SCHÖKEL Luís Alonso e DIAZ J. L. Sicre. Profetas I: Isaías e Jeremias. 2º ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.

307-312-313. 6WESTERMANN, Claus. Isaiah 40-66: A Commentary. Philadelphia: The Westminster Press, 1969, p 11.

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Por fim, será discutida a análise de conteúdo da nossa exegese, destacando diversas

opiniões, comentários de biblistas e estudiosos do livro de Isaías, tais como North7·, Young8,

Ribeiro9 e outros, os quais nos auxiliaram para que chegássemos as nossas próprias

considerações e hipóteses levantadas no decorrer deste capítulo.

No terceiro capítulo intitulado de A influência da cosmogonia da criação Enuma Elish em

Isaías 45,18-25 e em Gênesis 1,1-3. Serão pontuados alguns detalhes da questão dos relatos

cosmogônicos da criação vistos no texto do profeta deutero-isaiânico e no Enuma Elish.

Por fim, serão destacados alguns trechos das duas narrativas cosmogônicas e antropogônicas

de Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25 e como as cosmogônicas do livro de Gêneses devem ser

observadas como a segunda fase da teologia do Deus Criador em Israel, sendo que estes textos

foram produzidos a partir da memória que os judeus tinham do Enuma Elish.

O quarto capítulo denominado de O credo histórico do Hexateuco e Yahweh como Deus

Criador e Sustentador nos Salmos 104; 19; 33; 08; 136. Discutirá como o título de Deus

Criador atribuído a Yahweh não foi utilizado nos textos de Dt 26,5-9; Dt 6,20-24 e Js 24b, 2-

13 apresentados nesta pesquisa como o credo histórico utilizado por Israel no período pré-

exílico10.

Desta maneira, será problematizada a questão que o título de Deus Criador não foi

direcionado a Yahweh no período pré-exílico e que esta teologia nasceu com o profeta Dêutero-

Isaías a partir de sua obra literária que serviu de texto passe para que os redatores do Gênesis

1,1-2,4ª e 2,4b-25 iniciassem no período pós-exílico a segunda fase da teologia do Yahweh

Deus Criador.

Por fim, será mencionado que os Salmos de Criação classificados nesta pesquisa como os

Salmos de número 104; 19; 33; 08; 136 são a terceira fase da teologia do Deus Criador em

Israel.

16

7NORTH, Christopher R. Isaiah 40-55 Introction and Commentary. 1 ed. SCM Press LTD: Grent Britain, 1952,

p. 92-93. 8YOUNG, Edward J. The Book of Isaiah – Chaptes 40 through 66. The English text, with introduction, exposition

and notas. Michigan, Eemans, 1972, p. 208-209. 9RIBEIRO, Osvaldo Luiz. A Cosmogonia de Inauguração do Templo de Jerusalém – o Sitzim Leben de Gn 1,1-3

como prólogo de Gn 1,1-2,4ª. Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em Teologia da PUC-Rio, 2008,

p. 155-156. 10RAD, Gerhard von. Estudios sobre el Antiguo Testamento. Salamanca. Ed. Síngueme, 1982, p. 377-388.

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Sendo assim, nesta terceira fase os salmistas direcionaram a Yahweh novos títulos

relacionados à criação, tais como: Yahweh o Deus Sustentador da sua criação e Yahweh o Deus

Artesão que efetuou a criação do cosmo e do ser humano com suas próprias mãos.

17

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1. HISTÓRIA DA BABILÔNIA: RELIGIÃO, COSTUMES E POLÍTICA

1.1 Introdução

Neste capítulo serão apresentados alguns dos aspectos da história da Babilônia suas

civilizações mais antigas e seus deuses, a partir do período sumeriano de 3500 a.C. até a dinastia

caldaica de 626 a.C. a 539 a.C.

Levar-se-á em consideração a importância do historiador grego conhecido como Heródoto,

visto que sua obra além de notificar as guerras entre os gregos e persas menciona a conquista

que Ciro rei da Pérsia evidenciou sobre a Babilônia. Também serão apresentados alguns pontos

da pesquisa de Heródoto relacionada à religião, leis e costumes dos babilônicos da dinastia

caldaica.

Ainda tratar-se-á sobre o historiador babilônico conhecido como Berossus, visto que em sua

obra Babylonika, ele destacou a fé dos babilônicos no que se refere ao ser humano primitivo

chamado de pré-diluviano, como também a relação dos deuses babilônicos com o ser humano.

Serão demonstramos alguns dos principais deuses babilônicos, sendo que destacamos

Marduk como o deus protagonista e herói entre os babilônicos da dinastia caldaica. Também

serão destacados alguns textos que comentam a formação do ser humano e do cosmo, segundo

o imaginário religioso dos babilônicos.

Será trabalha a questão que a narrativa cosmogônica dos babilônicos foi o elemento

motivador que impulsionou o profeta dêutero-isaiânico a produzir uma literatura onde Yahweh

foi mencionado como o Deus Criador dos céus e da terra, sendo, o profeta Dêutero-Isaías foi o

primeiro entre os profetas a direcionar este título de Deus Criador a Yahwah. Tendo em vista

que no profetismo pré-exílico este título de Deus Criador não foi dirigido a Yahweh por nenhum

outro profeta.

Por fim, serão destacados alguns achados arqueológicos de importância para nossa pesquisa

os quais apresentam alguns imaginários religiosos dos babilônicos de 3500 a.C. até o período

dos caldeus de 626 a.C. a 539 a.C.

18

1.2 As Origens

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A história da religião dos babilônicos não é fácil de ser reconstruída11, assim como tentar

reconstruir a história de qualquer outra religião, visto que todas sofreram desenvolvimentos em

longos prazos, como também evoluções.

Portanto, é preciso entender que a história da fé de um determinado povo não se paralisa,

mas está sempre em movimento, sofrendo interferências culturais de outras religiões assim

como interferindo em outras religiões.

Para Eliade12, a história do povo da Babilônia começou na Suméria visto que a fé deste povo

era politeísta e girava em torno de muitos deuses, tais como An – deus dos céus, Em-Lil deus

da atmosfera, Em-ki – senhor da terra, Shamach - deus do Sol, Ishtar - deusa da chuva, da

primavera e da fertilidade, Marduk - deus salvador da cidade da Babilônia que se tornou o líder

do panteão e outros.

As narrativas cosmogônicas sumerianas são vistas no decorrer da história política

mesopotâmica, desde 3 500 a.C. até a queda de Babilônia em 539 a.C. quando foi conquistada

pelo Império Aquemênida liderados por Ciro rei da Pérsia. Veja a baixo o gráfico da evolução

política Mesopotâmica.13

Sumerianos 3500 a.C. Ur, Uruk

Acádios 2230 a.C. Sargon I

Babilônicos 1830 a.C. Hammurabi

Assírios 1530-1120 a.C. Capital Assur

Assírios 932-625 a.C. Capital Nínive

Caldeus 625 a.C. Nabucodonosor

Pérsia 539 a.C. Ciro

19

11GERSTENBERGER, Erhard. Israel no tempo dos persas: Século V e IV antes de Cristo. 1 ed. São Paulo: Edições

Loyola, 2014, p. 80-81. 12ELIADE, Mircea. História das Crenças e das Ideias Religiosas: Da Idade da Pedra aos Mistérios de Elêusis

Tomo 1.2 ed Rio de Janeiro: Zahar Editores, p. 78-108. 13Disponível na Internet: https://unahistoriacuriosa.wordpress.com/tag/evolucion-politica-mesopotamia/. Acesso:

18/11/2017.

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Portanto, os deuses An, Em-Lil, Em-ki, Shamash, Ishtar, Marduk e outros eram vistos como

as divindades existentes e que eram cultuadas pelos povos acima citados. Eliade14 sugere que

nas narrativas cosmogônicas dos povos mesopotâmicos que comentam a origem do homem são

explicadas através da ação criadora dos deuses. Em uma narrativa o ser humano foi descrito

como alguém que brota do chão da terra como as plantas, em outra narrativa o ser humano foi

fabricado com argila por operários divinos.

Nesta questão do ser humano ser fabricado com argila temos uma semelhança com a

segunda narrativa antropogônica da criação do homem vista em Gênesis 2,7. Tendo em vista

que o redator de Gênesis mencionou que o primeiro ser humano - Adão, foi criado

através do pó da terra por - Yahweh.

Nos capítulos posteriores demonstramos a influência das narrativas antropogônicas e

cosmogônicas babilônicas na produção literária de Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25 e do Dêutero-

Isaías (Is 40, 28; 42,5 e 45,18). Assim, neste capítulo focaremos na história da religião

babilônica, a partir de suas origens e desenvolvimentos para compreendermos como esta

auxiliou na produção cosmogônica e antropogônica do Dêutero-Isaías, do Gênesis e dos Salmos

de Criação.

Eliade segue mencionando outra narrativa antropogônica mesopotâmica, a qual descreve o

homem como um ser criado pela deusa Nammu, esta que também era vista como a deusa que

modelou o coração do deus Em-ki concedendo-lhe a vida.

O poema babilônico da criação do cosmo e do homem, conhecido como Enuma Elish15,

menciona a criação do mundo e do ser humano tendo como protagonista principal o deus

Marduk. A quarta tábua do Enuma Elish notifica um mundo que foi criado pelo deus Marduk,

o qual prendeu a deusa Tiamat e transpassou seu coração. Após o assassinato de Tiamat,

Marduk foi descrito como o deus que dividiu o corpo de Tiamat ao meio e com uma metade

criou os céus e com a outra criou a terra.

Na sexta tábua do Enuma Elish, o poema se inclinou para a questão antropogônica e

menciona a criação do homem dizendo que Marduk perseguiu o deus Kingu e o matou, por ter

incitado a revolta da deusa Tiamat contra os demais deuses babilônicos. O poema descreve que

com o sangue de Kingu, o deus Marduk criou os seres humanos para servirem os deuses.

20

14IDEM. 15Narrativa babilônica da criação, descoberta por Austen Henry Layard em 1849 em forma fragmentada nas ruínas

da Biblioteca de Assurbanípal em Nínive, Mossul, Iraque, e publicado por George Smith em 1876.

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1.3 Historiografia de Heródoto

De acordo com a pesquisa de Condilo16, a biografia de Heródoto vem de uma vasta tradição

onde Heródoto foi mencionado como o “Pai da História”, que viveu entre 490-480/479 a.C., e

a guerra do Peloponeso 431 – 404 a.C. Nascido em Halicarnaso, na Ásia Menor e de uma

família numerosa que eram aliados dos persas. Este fato contribuiu para que ele vivesse exilado

por grande parte de sua vida, empreendendo viagens que contribuíram para que o mesmo

reunisse boa parte do material que comporia sua narrativa.

Se tornou cidadão de Túrio, cidade fundada pelos atenienses no sul da atual Itália, vinculo

este que faria com que Aristóteles e outros autores gregos o chamassem de “Heródoto de Túrio”.

Condilo também destacou que Heródoto recitou seu trabalho por volta de 445-444 a.C. na Boulé

de Atenas, tendo recebido agradecimentos como também uma boa recompensa por Péricles17.

A obra de Heródoto, conhecida como as “Histórias de Heródoto”, comenta sobre as

invasões dos persas sobre a Grécia no século V a.C. Esta obra foi composta em nove livros,

sendo a primeira tentativa do ser humano sistematizar o conhecimento de suas ações ao longo

do tempo.

Cada um dos livros foi dedicado a uma das Musas, que eram nove segundo a mitologia18,

estas eram responsáveis pelas artes. Portanto, foram nove livros de sua obra, sendo que os

quatro primeiros eram dedicados aos outros, ou seja, aos não gregos, (lídios, persas,

babilônicos, egípcios...), enquanto os cinco últimos se inclinaram mais para a narrativa das

Guerras Médias.

A proposta de Heródoto quando concebeu seus livros foi relatar os acontecimentos acerca

das Guerras (493-492 a.C/480-479 a.C) como também abordar aspectos sociais e culturais de

outros povos e locais que ele visitou em suas viagens.

21

16CONDILO, Camila da Silva. Heródoto, as Tiranias e o Pensamento Político na História. Dissertação de Mestrado

Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social do departamento de história da Faculdade de

Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Aprovada em 2008, tendo como orientador

o Prof. Dr. Norberbeto Luiz Guarinello, p. 13-50. 17Foi um importante e influente estadista, orador e general da Grécia Antiga, um dos principais

líderes democráticos de Atenas e uma das maiores personalidade política do século V a.C. 18O primeiro livro, este escrito pela década de 450 a.C, fora batizado de Clio em referência a Musa da História. Os

demais livros se chamam respectivamente: Euterpe, Tália, Melpômene, Terpsícore,

Erato, Polímnia, Urânia e Calíope.

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Heródoto expor suas pesquisas para impedir que os feitos dos gregos e bárbaros se

apagassem da memória, principalmente as razões de terem entrado em conflito. Em sua obra

Heródoto destacou as guerras entre gregos e persas possibilitando aos leitores uma melhor

compreensão da extensão e das conquistas militares do império da Pérsia na dinastia

aquemênida.

Heródoto teve a preocupação de apresentar quem eram os persas e contar a história do

surgimento do Império da Pérsia, antes de iniciar os relatos acerca das guerras empreendidas

por Dario o Grande e seu filho Xerxes I. Sendo assim, o primeiro livro aborda a história da

formação dos persas, contando como alguns territórios foram conquistados por Ciro o Grande.

As Histórias constituem um perfeito exemplo de composição literária livre, dentro da prosa

grega antiga. Não descreve os fatos de modo linear, a todo tempo a narrativa é interrompida por

comentários sobre o argumento central, sendo assim, um texto semelhante a Ilíada e Odisseia

de Homero.

Outro aspecto da obra de Heródoto diz respeito à cronologia, os livros não seguem uma

cronologia contínua, em dados momentos existem interrupções e retornos ao passado. Por

exemplo, ele começa a narrando da ascensão de Ciro, o Grande por volta de 539 a.C, isso no

Livro I - Clio, porém, já no Livro II - Euterpe ele se põe a contar parte da história do Egito, e

isso o faz remeter a séculos antes, para depois no Livro III - Tália, retornar ao século VI a.C

com Cambises II e sua conquista do Egito. No entanto, em dados momentos de sua obra, o

tempo parece ficar indeterminado, pois o mesmo começa a relatar aspectos sociais e culturais

de outros povos como visto no Livro IV - Melpômene.

Além deste fator, observa-se que a geografia, a descrição dos lugares e costumes são

questões importantes da sua obra. Alguns estudiosos chegaram a chamar Heródoto de geógrafo,

por causa disso. Heródoto identificou com precisão os locais e os povos que citou em sua obra,

fazendo descrições interessantes sobre a costa grega, a costa da Ásia Menor, o rio Nilo, etc.

Por fim, utilizaremos a tradução feita por Brito Broca19, a fim de destacarmos alguns dos

pontos mencionados por Heródoto a respeito da cidade da Babilônia.

22

1.4 Leis e Costumes dos Babilônicos na Dinastia Caldaica Segundo Heródoto

19Heródoto. O Relato Clássico da Guerra entre Gregos e Persas. Tradução J. Brito Broca. 2° ed. São Paulo:

Prestígio, 2001, p. 43-184.

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A obra de Heródoto menciona algumas questões referentes à religiosidade dos babilônicos,

no entanto destaca com exatidão assuntos relacionados às leis, costumes e poder bélico dos

babilônicos.

Segundo Heródoto, os babilônicos da dinastia caldaica tinham os seguintes costumes sobre

os mortos: Untar os mortos com mel; e quando um babilônico se relacionasse sexualmente com

a mulher do falecido ele deveria queimar essências e sentar-se em um canto para se purificar,

sendo que a mulher deveria fazer o mesmo20.

No que se refere às mulheres babilônicas, Heródoto notifica que elas deveriam uma vez na

vida ir ao Templo de Vênus, para entregar-se sexualmente a um estrangeiro. Concernente os

doentes, eles eram transportados para as praças públicas, para serem aconselhados por aqueles

que já tiveram a mesma doença, a fim de serem direcionados a buscarem um caminho para cura.

Não era permito passar perto de um doente sem inquirir do seu mal.

Na pesquisa de Heródoto até as roupas dos babilônicos foram destacadas, tais como: túnica

de linho que se estendia até os pés, e por cima outra de lã e um manto branco, cabelos longos

que cobriam a cabeça com uma espécie de mitra e impregnavam o corpo de perfume, traziam

na mão um bastão trabalhado artesanalmente com cabo em forma de maça, pois não lhes eram

permitidos usar bengalas sem um ornamento.

Nos que se refere o casamento, Heródoto destaca que os leiloeiros faziam diversas ofertas

para vender as que eles consideravam mais feias, a fim de conseguir melhores recursos com as

mais belas ou utilizar o recurso obtido com as mais belas para despachar as mais feias.

O pai não tinha direito de escolher o esposo para as filhas, mas era beneficiado com a fiança

do casamento, quando o comprador desposasse uma de suas filhas. Não era permitido conduzir

a filha de um homem sem pagar a fiança do casamento, entretanto se houvesse qualquer impasse

entre o fiador e o pai que estava entregando a filha todo negócio era desfeito.

23

1.5 História e Religião dos Babilônicos nas Narrativas de Berossus

20Dinastia que se deu de 612 a. C – 539 a.C. iniciando com Nabopolassar, pai de Nabucodonosor II e terminando

com a conquista de Ciro rei da Pérsia sobre o governo de Nabonido, ultimo rei da dinastia caldaica.

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As informações que possuímos a respeito de Berossus são escassas e por isso as dúvidas

que rodeiam este personagem são muitas e constantes. A primeira delas diz respeito à sua data

de nascimento e de morte. Tradicionalmente Berossus é visto como um estudioso do período

de Alexandre o Grande, que reinou na Babilônia de 331 a 323 a.C.

Berossus é descrito como um sacerdote caldeu babilônico que escreveu em língua grega a

História da Babilônia, composta por três livros, sendo que seu texto original se perdeu e seus

posicionamentos foram citados por Flávio Josefo.

Outra questão complexa sobre Berossus é o significado do seu nome, visto que geralmente

é traduzido como, Bel é o seu pastor e às vezes, Bel é o pastor deles21. A partir dessas duas

possibilidades, preservaram-se diversas formas do nome de Berossus em grego, As formas

variam apenas na quantidade de sigmas (um ou dois) e na acentuação. Seriam elas: Βηρωσσος,

Βηρω σσος, Βηρωσσος, Βηροσος, Βηρωσος.

Enfim, podemos perceber algumas variações do nome Berossus, entre as citações em

português, tais como: Berossos, Berossus, Berosos. Assim, decidimos adotar ao longo deste

trabalho a forma Berossus para se referir a este autor.

Observamos no decorrer desta pesquisa, que estudar Berossus e as obras que lhe são

atribuídas é um trabalho complexo visto que para alguns estudiosos existiram dois Berossus,

um historiador e o outro Astrólogo, outros defendem que ambos eram a mesma pessoa.

Alguns pesquisadores justificam que após Berossus, escrever a Babyloniaka, deixou a

Babilônia e migrou para a ilha de Cós, onde abriu uma escola para ensinar astronomia e

astrologia.

Baseamo-nos na fala de Breucker22 que menciona a figura do Berossus astrólogo como uma

produção literária, semelhante a outros personagens manifestos na literatura greco-romana,

como por exemplo, o “faraó” egípcio Nechepso e as diversas lendas que giraram em torno do

semi-lendário Pitágoras, desta forma apontamos a importância de Berossus no estudo da

Religião babilônica, devido sua obra Babyloniaka.

24

21DE BREUCKER. Oxford Handbook of Cuneiform Culture. p, 640-641. 22DE BREUCKER. The World of Berossos. p, 19.

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1.5.1 A Babylonika de Berossus

De acordo com Robert Drews23·, Berossus produziu apenas uma obra ao longo de sua vida

que chegou à atualidade somente através de 22 citações ou paráfrases do seu trabalho por outros

autores antigos e 11 afirmações a respeito de Berossus feitas por autores judeus e cristãos.

Essa obra maior de Berossus é intitulada de Babyloniaka, ou Chaldaica24. Por ser

Babyloniaka a forma mais difundida e utilizada nas pesquisas, esta será a forma a ser adotada

ao longo deste trabalho.

A Babyloniaka trata de três livros, da história da Babilônia desde a criação até o reinado de

Alexandre o Grande25. Berossus foi descrito como sacerdote em sua obra, isto explica o acesso

que ele tinha aos registros locais feitos em sumério e acádico. Entretanto, sua obra não foi uma

mera cópia desses registros em ordem cronológica, pois ele trouxe novas abordagens sobre a

religiosidade babilônica.

Berossus utilizou-os os registros suméricos como base para redigir a sua própria narrativa.

Este fato torna o rastreamento das fontes um trabalho mais árduo, visto que não há como

associar diretamente os fragmentos que possuímos da Babyloniaka com tábuas cuneiformes

específicas26.

É também uma particularidade de Berossus a forma como a Babyloniaka foi escrita. Apesar

de ser babilônico e da língua vernacular de sua região nativa ser o aramaico27, Berossus redigiu

a sua obra toda em grego. Ele não só utilizou a língua grega, mas também a modelando de

acordo com as formas, concepções e historiografia grega, possibilitando aos gregos

compreenderem a história da Babilônia28.

Por fim, passemos agora a averiguar sobre o conteúdo que foi trabalhado ao longo dos três

livros.

25

1.5.2 O livro 1

23DREWS, Robert. The Babylonian Chronicles and Berossus. in: Iraq, 1, Vol. 37, p. 50, 1975. 24DILLERY, John. Greek Historians of the Near East. in: MARINCOLA, JOHN (ed.). A Companion to Greek

and Roman Historiography. West Sussex: Blackwell Publishing, p. 222. 25HAUBOLD, The World of Berossos, p, 3-4. 26DILLERY, A. Companion to Greek and Roman Historiography. p, 223. 27Deve ser frisado aqui que, apesar de chamado de aramaico, o dialeto falado na Babilônia era, na verdade, uma

variação regional do aramaico mais conhecido como a língua dos judeus. 28DE BREUCKER. The World of Berosso, p. 24.

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Segundo Beaulieu29, o primeiro livro é dedicado a falar a respeito das origens do mundo e

do surgimento da civilização babilônica. Para tanto, Berossus iniciou a sua narrativa,

primeiramente, apresentando-se e, em seguida, falando a respeito da geografia, da fauna e da

flora da Mesopotâmia.

Após a introdução, Berossus passa a narrar à criação do mundo. Ele relata o surgimento de

um ser antropomórfico, metade peixe, metade humano, chamado Oannes que veio do Mar

Vermelho no ano um. Berossus fala que Oannes dedicou os seus dias a ensinar os homens a

construir cidades, fazer leis, dividir fronteiras, plantar e colher, etc. Além disso, foi Oannes

quem explicou aos homens como se deu a criação do mundo30. Em seguida Berossus põe-se a

contar o relato de Oannes. Diz que havia um tempo que o universo era apenas escuridão e água

e que havia seres maravilhosos de formas peculiares que eram capazes de gerar outros seres

vivos.

Sobre todos estes seres, havia uma mulher que detinha todo o controle: Omorka, que em

caldeu é chamada Tiamat. Enquanto o mundo ainda estava dessa forma, o deus Marduk

levantou-se contra a mulher e a cortou ao meio. Com uma de suas metades ele criou a Terra, e

com a outra criou os céus e estabeleceu a ordem no universo.

Marduk buscou matar o deus Kingu que persuadiu Tiamat na sua revolta contra os deuses,

desta forma Marduk criou o homem com o sangue de Kingu. Berossus, ao fazer esse relato da

criação, recontou o mito do Enuma Elish31, o principal texto religioso da Mesopotâmia antiga,

que era recitado no começo de todo Ano Novo32.

Assim podemos identificar que Berossus utilizou a narrativa de criação babilônica Enuma

Elish, para descrever a origem do cosmo e do ser humano, semelhante ao profeta Dêutero-Isaías

que também teve acesso as narrativas cosmogônicas e antropogônicas do Enuma Elish, pois

esteve exilado na Babilônia quando este era o assunto central da época. Assim, o Dêutero-Isaías

iniciou uma nova teologia entre os judeus exilados na Babilônia, a teologia o do Yahweh Deus

Criador.

29BEAULIEU, Paul-Alain. Berossus on Late Babylonian History. in: Special Issue of Oriental Studies, 2006, p.

117. 30Assunto este é se torno a base da teologia exílica e pós-exílica judaica desde 540 a.C. com o Dêutero-Isaías e

com a literatura pós-exílica do Gênesis e dos Salmos de criação. 31Assunto este que retornaremos nos próximos capítulos desata tese. 32VERBRUGGHE e WICKERSHAM. Berossos and Manetho. p, 16.

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26

1.5.2 O livro 2

No próximo volume, Berossus explanou três diferentes fatos. Estes fatos presentes no livro

2 da Babyloniaka, funcionam como um conector entre o livro 1 que trata de um mito do tempo

primeiro e o livro 3 que fala da história política33.

Para Verbrugghe e Wickerham34, Berossus fala a respeito de uma lista de dez reis que

antecederam o Dilúvio. Sendo que a origem mais provável da lista de Berossus é a Lista de reis

sumérios, onde ele tenta fazer sua própria versão.

Após a lista de reis, Berossus menciona o Dilúvio, seguido por outra lista de reis que vai

até Nabonassar. Nesta lista ele nos fornece alguns nomes de importantes governantes daquelas

localidades35.

1.5.3 O livro 3

Na terceira e última parte de sua obra, Berossus prosseguiu a sua narrativa no formato de

um relato histórico da sucessão de reis de Nabonassar até Alexandre o Magno. É importante

ressaltarmos que em momento algum Berossus preocupou-se em localizar o leitor na

transmissão entre o Império Babilônico, Império Assírio e Império Neo-babilônico.

Segundo Berossus, após o reinado de Nabonassar, Akise ascendeu ao trono, onde

permaneceu por trinta dias, quando foi morto por Baladas que tomou o seu lugar. Baladas reinou

por seis meses até que um homem chamado Belibos o matou e tornou-se rei.

No terceiro ano do seu reinado, Senakheirimos, rei dos assírios, liderou um exército contra

a Babilônia e a conquistou. Ele capturou Belibos e seus amigos e os levou para a Assíria. Após

isso, ele comandou a Babilônia e fez seu filho Asordanios rei quando retornou à Assíria.

Berossus também destacou que após vencer os gregos em uma batalha, foi erguida uma

estátua em homenagem a Senakheirimos com um inscrito na língua dos caldeus como uma

lembrança de sua bravura e seus atos heróicos36.

33HAUBOLD, Johannes. The World of Berossos, p. 48. 34VERBRUGGHE E WICKERSHAM, Berossos and Manetho, p. 20. 35DE BREUCKER, Oxford Handbook of Cuneiform Culture, p. 645. 36IDEM.

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27

Berossus relata que Senakheirimos foi morto em uma conspiração liderada pelo seu filho

Ardumuzan. Após ele, Samoges reinou por vinte e um anos e seu irmão, Sardanapallos, por

mais vinte e um anos. Posteriormente a Samoges e seu irmão, Nabopalassaros ascendeu ao

trono onde permaneceu por vinte anos e foi sucedido por seu filho, Nabucodonosor.

Segundo Verbrugghe e Wickersham37, Berossus ressaltou que Nabucodonosor marchou

contra o Egito, sob comando do seu pai, e conquistou e destruiu o Templo de Jerusalém,

deportando também muitos judeus para Babilônia38.

Também na narrativa de Berossus, Nabucodonosor foi descrito como o rei babilônico que

deu o controle dos prisioneiros capturados de Judá, Fenícia, Síria e Egito para alguns dos seus

aliados.

O rei babilônico Nabucodonosor também ficou conhecido por ser o reconstrutor da cidade

da Babilônia, sendo que nesta reconstrução ele fortificou a cidade, decorou seus portões como

se fossem sagrados e construiu um novo palácio para si mesmo. Berossus ainda menciona que

apesar de enorme e decorado, o palácio levou apenas quinze dias para ser construído e os jardins

suspensos do palácio foram construídos em homenagem a esposa do rei Nabucodonosor.

Nabucodonosor reinou por quarenta e três anos, até a sua morte e foi sucedido por Evil

Medodak, que permaneceu como rei por dois anos até que foi morto pelo marido de sua irmã,

Neriglisaros. Este então reinou durante quatro anos e foi sucedido por seu filho, que ainda era

criança, Laborosoardokhos que permaneceu no trono apenas nove meses. Ele foi morto por

conspiradores que não concordavam com os atos de seu pai.

Dentre os conspiradores foi escolhido Nabonido para ocupar o trono. No décimo sétimo ano

do reinado de Nabonido, Ciro rei da Pérsia pôs-se a marchar em direção à Babilônia. Nabonido

perdeu a batalha contra o rei persa e a Babilônia foi capturada. Berossus e Heródoto destacam

que Ciro comandou a Babilônia por nove anos e morreu em batalha contra Tómiris, a rainha

dos Masságetas39.

37VERBRUGGHE e WICKERSHAM, Berossos and Manetho, p. 58. 38 DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos. 5º ed. São Leopoldo: Sinodal, 2005, p. 433-439. 39 HERÓDOTO. O Relato Clássico da Guerra entre Gregos e Persas. 2° ed. São Paulo: Prestígio, 2001, p. 180-

181.

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28

1.5.4 O Homem Primitivo Segundo Berossus

Como já mencionamos anteriormente a obra Babyloniaka de Berossus se perdeu, no

entanto, trechos de sua obra foram conservados por escritores posteriores que utilizaram suas

narrativas para mencionar a humanidade primitiva da Babilônia40.

Segue a baixo um trecho41:

P

40DUPRAT, Cecília de M. A criação e o Dilúvio: segundo os textos do oriente Médio Antigo. 1 ed. São Paulo:

Paulus, 1990, p. 53-54. 41IDEM.

Havia numerosa multidão de homens em Babilônia e

estes viviam de maneira desordenada, como animais

selvagens. No primeiro ano, (isto é, do primeiro rei

antediluviano) apareceu fora do mar (...), em um local

contíguo a Babilônia, um animal cujo nome era Oannes;

o corpo inteiro era o de peixe, (mas) uma cabeça

humana crescera sobre a cabeça do peixe, e pés,

igualmente de homem, cresceram da cauda do peixe; ele

tinha voz de homem. Uma imagem sua é ainda hoje é

conservada.

(...) O animal passava todo o tempo com os homens,

durante o dia, e não procurava alimento algum.

Transmitiu-lhe o conhecimento das letras, e de toda

espécie de profissão.

A maneira de povoar a cidade e fundar templos; ajudou

ainda como estabelecer leis. Fez distinguir as sementes

e a colheita das frutas e transmitiu aos homens tudo o

que concerne à vida civilizada. Depois deste tempo,

nada mais foi descoberto. Mas, quando o sol se deitava,

este animal voltava a mergulhar no mar e passava as

noites nas profundezas (das águas), pois era anfíbio

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29

Na continuidade da narrativa de Berossus, ele menciona o aparecimento de mais seis

criaturas semelhantes à Oannes as quais lhe apareceram para explicar seus ensinamentos. Estes

seres segundo a narrativa eram meio-homens meio-deuses.

Os registros de Berossus eram transmitidos como uma experiência religiosa que Berossus

teve e não como algo criado por ele. Duprat42 em sua obra, diz que para Berossus o nome

Oannes era sumério e em uma tabinha cuneiforme este nome foi referido ao primeiro dos sete

sábios que teriam existido antes do dilúvio.

Duprat, também ressalta que a tabuinha acima mencionada era posterior a Berossus,

entretanto, a tradição da existência dos sete sábios ante-diluvianos era mais antiga que Berossus.

A mesma cita que em um texto acádioco anterior a Berossus, os sete sábios foram mencionados.

Outro texto acádico do século VIII menciona os sete sábios do deus babilônico Apsu,

dizendo que eles eram as grandes carpas puras que como o deus babilônico Ea era perfeito em

inteligência e sabedoria.

Por fim, Duprat menciona que em um hino sumério do século XXIII os sete sábios foram

apresentados como servos do deus babilônico Eridu e o próprio Oannes também foi visto em

um texto anterior a Berossus do século XXIV.

1.6 Deuses Babilônicos

Iniciamos este assunto comentando sobre o deus Apsu, este que na obra de Duprat43, pode

ser identificado nos textos da cosmologia caldéia, sendo também um deus conhecido e adorado

pelos babilônicos de 625 a.C. a 536 a.C., ou seja, do início do império neo-babilônico a queda

deste império pelos persas liderados por Ciro.

42IDEM. 43DUPRAT, Cecília de M. A criação e o Dilúvio: segundo os textos do oriente Médio Antigo. 1 ed. São Paulo:

Paulus, 1990, p. 17-18.

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30

O deus Apsu era identificado como a divindade das águas doces, das fontes subterrâneas,

dos lagos, dos rios, dos poços, e outras fontes de água doce. No v. 5 do texto conhecido como

“Encantação para o estabelecimento da casa de um deus44”,

Apsu é citado.

A citação de Apsu se refere a uma atemporaniedade mítica, pela qual o texto apresenta uma

época antes da criação dos rios e das águas doces, identificadas como o deus Apsu.

No hino ao Templo de Eridu45, o deus Apsu é mencionado sendo servo do rei Enki, este que

também foi identificado na mitologia suméria babilônica como Ea, o deus da sabedoria.

Segundo Hunt46, o deus Ea era devotado por deuses e homens, ele foi descrito como o filho

primogênito de Anu, com uma concubina chamada Ninul e

tinha por esposa oficial a sua meia irmã Damkina que depois

foi nomeada Ninki que significa, Senhora da Terra.

44Texto que se refere à cosmologia, segundo o imaginário religioso do período caldaico. 45DUPRAT, Cecília de M. A criação e o Dilúvio: segundo os textos do oriente Médio Antigo. 1 ed. São Paulo:

Paulus, 1990, p. 25-26. 46HUNT, Joel H. Mesopotamian suilla prayers to Ea, Mardu, and Nabu: exegetical studies. The Edwun Mellen

Press: Lewiston, Queenston, Lampeter, 2010, p. 17-19.

5. Nenhuma cidade tinha sido

feita, nenhum gado ali instalado;

Nipur não fora feita, O Ekur não

fora construído, Urik não tinha

sido feita, Eana não fora

construído;

O Apsu não tinha sido feito, Eridu

não fora construída; nenhuma

casa santa, casa de deuses, a

habitação não fora feita;

Naquele dia, quando o destino foi

decidido, quando num ano de

fartura gerado por Na, as pessoas

como verdura, fenderam a terra,

o senhor de Apsu, o rei Enki.

5. Enki, o senhor que decide os

destinos, construiu sua casa de

prata e de lápis-lazúli.

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31

Para Duprat47 o hino ao Templo de Eridu foi composto em uma época antiquíssima,

podendo ser datado entre 2000 a. C. por um determinado rei que viveu entre os habitantes da

terceira dinastia de Ur.

Segue uma parte do tempo apresentado por Duprat.

O texto citou um ano de fartura gerado por An, deus sumério babilônico conhecido como a

divindade que controlava os céus. É possível identificar no texto uma mítica narrativa

antropogônica, pois só os seres humanos eram descritos como verduras que fendiam da terra.

Após o senhor de Apsu o deus da sabedoria Enki é apresentado.

Ele foi mencionado como a divindade que tinha o poder de decidir o destino e era um deus

trabalhador que construiu sua casa de prata48.

Passemos ao deus Kingu, este que pode ser visto em alguns textos mesopotâmicos. No

entanto, foi mais conhecido como o deus citado pelo poema de criação babilônico conhecido

como Enuma Elish.

Na quarta tábua do Enuma Elish, pode-se identificar que Kingu foi deus que provou a

revolta da deusa Tiamat, contra o deus da sabedoria Ea e os demais deuses existentes. O texto

47DUPRAT, Cecília de M. A criação e o Dilúvio: segundo os textos do oriente Médio Antigo. 1 ed. São Paulo:

Paulus, 1990, p. 25. 48IDEM.

Foi Kingu quem provocou o combate,

que revoltou Tiamat e organizou a

batalha!

Tendo o capturado, trouxeram-no à

presença de Ea;

Impuseram-lhe o castigo e lhe

cortaram o sangue;

De seu sangue, formou a humanidade,

ele (lhe) impôs a tarefa dos deuses e

libertou os deuses.

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diz que, Kingu foi capturado e teve seu corpo retalhado por Ea, o qual criou a humanidade com

o seu sangue.

32

Podemos observar que o Enuma Elish apresenta o imaginário religioso babilônico ligado a

antropogonia da criação do ser humano, tendo como protagonista da criação o deus Ea. É

importante observamos que esta não é a única narrativa que apresenta a criação do ser

humano49.

No Enuma Elish, a deusa Tiamat foi descrita como esposa de dois deuses o primeiro foi

Apsu e depois Kingu. Ela era associada ao mar e águas salgadas, sendo mencionada também

na forma de um Dragão. E na combinação de seus poderes os deuses babilônicos e o universo

foram criados.

Os primeiros dois deuses chamaram-se: Lachmu e Lachamu. A primeira prole se reproduziu

e formou-se outra prole. Esses deuses irritavam profundamente Apsu que convocou seu auxiliar

Mummu e foram juntos a Tiamat a quem disseram que a descendência de ambos deveria ser

eliminada.

As crianças-deuses descobriram que Apsu tinha plano de matá-las e pediram auxílio ao deus

Ea. No entanto, Tiamat não apoiou os planos de Apsu, mas quando seu esposo foi morto por

Ea ela passou a perseguir as crianças-deuses.

A Deusa encontra outro companheiro, Kingu, com quem gerou varias divindades: serpentes

de garras venenosas, homens-escorpiões, leões,

monstros-tempestade, centauros e dragões voadores.

Tiamat instituiu Kingu como chefe de seu

exército dizendo:

49DUPRAT, Cecília de M. A criação e o Dilúvio: segundo os textos do oriente Médio Antigo. 1 ed. São Paulo:

Paulus, 1990, p. 15-16.

Exaltando-te na assembléia dos deuses, eu

te dou o poder para dirigir todos eles. Tu

és magnífico e meu único esposo. “Que os

Anunnaki exaltem teu nome.” Entregou-lhe

então as Tábuas do Destino.

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As crianças-deuses temiam lutar contra Tiamat até que Marduk, filho de Ea, decidiu lutar

contra ela. Os restantes dos deuses prometeram a Marduk que em caso de vitória, ele seria

coroado como rei dos deuses.

33

Marduk teceu uma rede e apanhou Kingu e todos os monstros. Ele os acorrentou e os atirou

no Sub mundo. Assim, partiu para matar Tiamat. Ele a cegou com seu disco mágico

representado pelo próprio sol, pois o deus era também um herói-solar. Depois feriu mortalmente

Tiamat com uma lança símbolo. Marduk também utilizou os sete ventos para destruir Tiamat.

Com metade do corpo dela ele fez o céu, e com a outra metade a Terra. Tomou sua saliva e

formou as nuvens e de seus olhos fez fluir o Tigre e o Eufrates e dos seus seios criou grandes

montanhas.

Esta narrativa consta na quarta tábua do Enuma Elish, e durante a dinastia caldaica os

babilônicos a compartilhavam como sua narrativa da criação dos céus e da terra e do ser

humano50.

50DUPRAT, Cecília de M. A criação e o Dilúvio: segundo os textos do oriente Médio Antigo. 1 ed. São Paulo:

Paulus, 1990, p. 41-42.

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Representação da vitória de Marduk, sobre a deusa Tiamat51

34

1.7 A Formação do Homem, Segundo a Fé dos Babilônicos

É importante ressaltarmos que grande parte dos textos que apresentam uma antropogonia

da criação humana, segundo a fé dos babilônicos, foram lidos no Templo de Eridu52, durante a

dinastia caldaica de 625 a.C. a 539 a.C. mesma época que os judeus estiveram exilados na

Babilônia53.

Este assunto abordaremos com maior ênfase, nos capítulos à frente, pois a antropogonia da

criação humana e a cosmogonia da criação dos céus e da terra, eram os assuntos principais da

religiosidade babilônica durante a dinastia caldaica e o Dêutero-Isaías após ter acesso a esta

teologia, iniciou sua produção literária destacando Yahweh como o Deus Criador54. Com isto,

51Disponível na Internet: htpp://www.ufodisgest.com/imagens/marduk/tiamat.jpg. Acesso dia 05/04 2017. 52ELIADE, Mircea. Origens história e Sentido na Religião. Edições 70, p. 95. 53SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exilo – História e Teologia do Povo de Deus no século VI

A.C. 1 ed. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 23-25. 54IDEM, p. 92-128.

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o profeta direcionou o título de Deus Criador a Yahweh para negar que Marduk era o deus

criador, diante dos demais judeus exilados na Babilônia.

Retornando a criação do homem segundo a fé dos babilônicos, Duprat55 destacou que muitas

destas narrativas divergem entre si. Visto que a, primeira apresenta o ser humano como uma

planta, onde o deus Enlil o introduziu na terra como uma semente que após brotar, nasceu o ser

humano.

Na segunda narrativa, o homem foi apresentado a partir da argila, tendo como divindade

artesã a deusa Namur e suas assistentes. No entanto, há outra narrativa em que o ser humano

foi descrito como advindo da moldagem do barro misturado com carne e sangue de um deus

condenado a morte. Duprat56 ainda destaca que nas narrativas de Berossus, a deusa criou o ser

humano do barro misturado com carne e sangue assistida por quatorze auxiliares.

Há outras narrativas antropogônicas da criação do ser humano na religiosidade babilônica,

onde o ser humano foi descrito como um ser criado através do sangue de vários deuses

condenados a morte, no entanto as mais conhecidas são as de Berossus.

35

Dubrat57 destacou algumas divindades protagonistas da criação do ser humano que o

criaram utilizando o sangue de divindades condenadas à morte. Por exemplo, o deus Ea58 foi

apresentado como o autor da criação do ser humano utilizando-se do sangue do deus Apsu o

primeiro marido da divindade Tiamat.

Na quarta tábua do Enuma Elish, o deus Marduk, foi descrito nas narrativas míticas

religiosas babilônicas como o filho de Ea que foi apresentado como o criador do ser humano.

Ele derrotou Kingu o segundo marido de Tiamat e com o seu sangue criou os humanos para

fazerem o trabalho dos deuses.

1.8 A formação do Cosmo, Segundo a Fé dos Babilônicos

55DUPRAT, Cecília de M. A criação e o Dilúvio: segundo os textos do oriente Médio Antigo. 1 ed. São Paulo:

Paulus, 1990, p. 23-25. 56IDEM. 57IDEM. 58Também visto como Enki.

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No poema babilônico da criação Enuma Elish, podemos observar umas das mais conhecidas

narrativas cosmogônicas da criação, conhecida pelos babilônicos da dinastia caldaica.

Propriamente na quarta tábua do Enuma Elish, pode-se identificar um poema da criação do

mundo, tendo como protagonista da criação o deus babilônico Marduk. O poema também

descreve outros deuses:

Tiamat – Deusa primordial da água salgada.

Apsu – Deus primordial da água doce.

Lahamu e Lahmu – Primeiras criações de Tiamat, deuses primitivos da lama.

Anshar – Primeiro filho de Lahamu e Lahmu, deus do horizonte celeste.

Anu – Filho de Anshar, outro deus do céu.

Mummu – Conselheiro de Apsu.

Ea – Deus da terra e da água, filho de Anu.

Kingu – Líder do exército de Tiamat.

36

A compreensão mítica, da criação do cosmo, segundo o poema babilônico da criação, o

Enuma Elish, foi utilizado pelo povo da Babilônia em suas festas de ano novo. Os babilônicos

faziam alusão ao Enuma Elish e enfatizavam a criação cosmogônica e antropogônica59, tendo

como deus principal Marduk.

Na quarta tábua do Enuma Elish, a obra da criação foi atribuída a Marduk, através da sua

vitória sobre a deusa Tiamat. No poema o deus babilônico foi descrito como aquele que retalhou

o corpo de Tiamat ao meio, fazendo de seu tórax o vácuo entre o céu e a terra, das lagrimas de

seus olhos o Rio Eufrates e Tigre.

59ELIADE, Mircea. Origens história e Sentido na Religião. Edições 70, p. 95.

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Representação da Criação do Cosmo por Marduk, após sua vitória sobre a deusa Tiamat60

37

Duprat61 fez menção a dois especialistas que comentaram sobre a formação do mundo, o

Dr. J. van Dijk62 e o Dr. W. von Soden63. Estes destacaram que além da formação do mundo

descrito no Enuma Elish, os babilônicos tinham outros poemas cosmogônicos da criação, os

quais nunca apontavam para uma criação sem a influência de uma divindade e que a criação do

cosmo passava sempre por processos evolutivos.

Assim, outra narrativa cosmogônica da criação foi mencionada, conhecida como a árvore

“hulupu64”. Nesta pukku e mekku65 foram dados a Gilgamesh pela deusa Inana, em

60Disponível na Internet: http://www.waldisio.com/proposta/ Acesso dia 20/06 2017 61DUPRAT, Cecília de M. A criação e o Dilúvio: segundo os textos do oriente Médio Antigo. 1 ed. São Paulo:

Paulus, 1990, p. 13. 62Atualmente é professora de ciências da sociologia e da comunicação na Universidade de Twente, Países Baixos. 63Assyriologista alemão da era pós-Segunda Guerra Mundial, nascido em 19 de junho de 1908 em Berlim e falecido

em 6 de outubro de 1996 em Münster. 64Este texto esta registrado na décima segunda tabuinha da epopéia de Gilgamesh. 65Entre os especialistas há muitas divergências do significado dos termos pukk e mekku.

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agradecimento por ter derrubado a árvore da qual deseja aproveitar a madeira para que fosse

feitos um tronco e um leito para uso pessoal. O poeta retomou a origem da árvore que crescia à

margem do Eufrates antes de ter sido transplantada para o jardim de Inana, retomando assim, à

origem do mundo descrita bem no início do poema66.

38

1.9 Arqueologia e Religiosidade Babilônica na

Modernidade

Um dos achados arqueológicos de maior

importância para os sumerólogos são sem dúvida os

textos do Enuma Elish descoberto por Austen Henry

Layard em 1849 nas ruínas da Biblioteca de

Assurbanípal em Nínive, publicado somente em 1876.

Em 1978, foram feitas descobertas arqueológicas no sítio de Tell Lilan, na Síria, localizado

a 120 km a nordeste de Hasaka. Estas escavações indicaram a importância histórica do local,

66Disponível na internet: http://www.angelfire.com/me/babiloniabrasil/hulupu1.html/ Acesso dia 20/06 2017

Nos primeiros dias, nos primeiros dias,

Nas primeiras noites, nas primeiras noites,

Nos primeiros anos, nos primeiros anos

Nos primeiros dias, quando tudo o que era

necessário foi trazido à existência

Nos primeiros dias, quando tudo o que era

necessário foi alimentado como devia

Quando o pão foi cozido nos templos desta

terra

Quando o pão foi provado [por todos] nos

lares desta terra

Quando o Firmamento se separou da Terra

E a Terra foi separada do Firmamento

E o nome do homem foi fixado

Quando o deus do Firmamento, Anu,

carregou consigo os céus

E o deus do Ar, Enlil, carregou consigo a

Terra,

Quando à Rainha das Grandes

Profundezas,

Ereshkigal, foi dado o Mundo Subterrâneo

para seu reino

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fazendo menção ao início do segundo milênio a.C. Foram encontrados 650 tabletes de tabuinhas

cuneiformes babilônicos que mencionaram o período de Uruk datado de 350067.

As escavações revelaram um importante assentamento humano que remonta à época de

Nínive. Foram encontradas algumas cerâmicas, copos amarelos serrilhados, pedestais de

estátuas e templos religiosos.

Tablete Encontrado nas escavações em Tell Lian em 02/13/201468

39

Segundo a arqueóloga Margarete van Ess69, a cidade de Uruk foi o centro do mundo de

cinco mil anos atrás, e seus habitantes tinham o conhecimento para construir obras complexas,

prédios monumentais de até doze metros de altura e torres de cinco metros de altura.

Margarete, ainda notificou que a grande metrópole de Uruk era protegia pelo muro de

Gilgamesh de 11,5 km que cercava a cidade e foi descrito no épico. Outra literatura da

Mesopotâmia semelhante ao Enuma Elish mencionou lendas, mitos e sagas que foram

67Disponível na internet: http://www.english.globalarabnetwork.com/201101258782/Travel/archaeologists-650-

babylonian-cuneiform-tablets-documents-8000-years-of-syrias-history.html. Acesso dia 26/06 2017 68IDEM. 69Disponível na internet: https://oglobo.globo.com/sociedade/historia/os-segredos-de-uruk-centro-do-mundo-de-

5-mil-anos-atras-8358041. Acesso dia 27/06 2017

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transmitidas pela tradição oral dp sumerianos de 3500 a.C. até os babilônicos da dinastia

caldaica de 625 a.C a 536 a.C.70.

Em meados do século XIX a arqueologia trouxe outra grande obra da Mesopotâmia à

modernidade conhecida como Epopoeia de Gilgamesh. Esta foi constituída em doze placas de

escrita cuneiforme que foram escavadas em uma época que os métodos não eram tão avançados

como hoje, isto fez com que as dificuldades e os perigos no empreendimento fossem grandes.

Em 1839 um jovem inglês, Austen Henry Layard, partiu com um amigo para uma viagem

por terra até o Ceilão; mas ele se deteve por algum tempo na Mesopotâmia para fazer um

reconhecimento das colinas assírias. A demora de algumas semanas se estendeu por anos, mas

as cidades de Nínive e Nimrud foram escavadas; e foi de uma dessas escavações que Layard

trouxe para o Museu Britânico uma grande parte de sua coleção de esculturas assírias junto com

milhares de tábuas quebradas do palácio de Nínive.

Quando Layard começou a escavar em Nínive, esperava encontrar inscrições; mas

encontrou uma biblioteca soterrada contendo toda uma literatura perdida que superou suas

maiores expectativas. A extensão e o valor da descoberta só foram avaliados posteriormente,

depois que as tábuas com caracteres em forma de cunha foram decifradas. Como era de esperar,

algumas dessas tábuas se perderam; no entanto, mais de vinte e cinco mil tábuas quebradas

foram levadas para o Museu Britânico.

O trabalho de decifração foi iniciado por Henry Rawlinson, na residência oficial do

governador-geral em Bagdá, onde Rawlinson ocupava o cargo de agente político.

40

A Epopeia de Gilgamesh, além de contribuir com as pesquisas da política relacionada à

Suméria, também auxiliou um vasto conhecimento das divindades e dos habitantes de Uruk e

Ur, sendo que estas divindades alcançaram o império babilônico de 625 a.C. e foram cultuadas

de 625 a.C. a 539 a.C. no período da dinastia caldaica. Segundo Daudt de Oliveira71 a Epopeia

de Gilgamesh, destaca alguns deuses como principais entre os sumerianos de 3500 a.C. sendo

que alguns destes também foram objetos de culto dos babilônicos caldeus.

70IDEM. 71DAUDT DE OLIVEIRA, Carlos. A Epopeia de Guilgamesh. Martins Fontens, p. 21-28.

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O deus An, foi cultuado entre os sumerianos habitantes de Uruk, e também foi descrito na

Epopeia de Gilgamesh como o pai dos deuses. Segundo o Prof. Kramer72, grande parte da

chamada teogonia de deuses sumerianos foi mencionada na Epopeia de Gilgamesh.

É importante mencionar que Marduk, o deus herói visto como protagonista do Enuma Elish,

não foi citado na Epopeia de Gilgamesh. Este tem sido o motivo pelos quais muitos assiriólogos

concordam que a Epopeia de Gilgamesh, foi uma literatura mais antiga que o Enuma Elish, no

entanto é importante ressaltar que na dinastia caldaica o deus principal do panteão babilônico

era Marduk.

Nas chamadas crônicas de Nabonido73, consta que as orações do último rei da dinastia

caldaica, foram direcionadas ao deus Marduk em favor de seu filho Belsazar, que estava

ocupando o trono, o rei Nabonido passou grande parte do seu tempo de reinado em seu oásis

de Teimã.

Tablete de argila conhecido como Crônica de Nabonido74

41

Retomando a Epopoeia de Gilgamesh, o deus sumeriano Enlil foi descrito como o deus do

ar, a deusa Nanna foi mencionada como deusa da lua, Nanna era conhecida pelos caldeus por

Sin, foi descrita na epopéia de Gilgamesh como a gerado do sol, descrita como Utu pelos

sumerianos e Shamash.

72IDEM. 73Disponível na internet: https: //cronologiadabiblia.wordpress.com/2011/05/10/a-cronica-de-nabonido-de-556-

ac-a-554-ac/ Acesso dia 28/06 2017 74As crônicas de Nabonido se encontram na posse do Museu Britânico, e mencionam os principais eventos dos 17

anos do governo de Nabonido.

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Segundo Daudt75, Enkidu na epopéia de Gilgamesh foi mencionado como aquele que

desceu no mundo inferior que tinha uma personificação conhecida como Kur, este que foi

mencionado mais como lugar escuro do que uma divindade76.

O deus Ea chamado pelos sumerianos de Enki foi mencionado na Epopeia de Gilgamesh.

Ea no Enuma Elish tinha um papel importante entre os deuses, mas foi seu filho Marduk que

foi descrito como o salvador dos deuses babilônicos, pois matou sua perseguidora a deusa

Tiamat.

Por fim, as divindades citadas foram destacadas na Epopeia de Gilgamesh, estas foram

mencionadas como divindades cultuadas pelos reis ante-diluvianos notificados também nas

obras de Berossus77.

Tábua sobre a Epopeia de Gilgamesh descrevendo o dilúvio78.

42

1.10 Arqueologia e Religiosidade Pérsia na Modernidade

75DAUDT DE OLIVEIRA, Carlos. A Epopeia de Guilgamesh. Martins Fontens, p. 21-28. 76IDEM. 77DUPRAT, Cecília de M. A criação e o Dilúvio: segundo os textos do oriente Médio Antigo. 1 ed. São Paulo:

Paulus, 1990, p. 13. 78Disponível na internet: http://www.klepsidra.net/klepsidra23/gilgamesh.htm. Acesso dia 27/06 2017

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No final da dinastia caldaica e na conquista dos persas, sobre o comando do rei Ciro79,

podemos observar o deus babilônico Marduk, sendo mencionado também pelo monarca persa.

Este achado arqueológico ficou conhecido como O Cilindro de Ciro80. Descoberto nas ruínas

da Babilônia na Mesopotâmia em 1879, pelo arqueólogo britânico Hormuzd Rassam.

O Cilindro menciona elogios direcionados ao rei Ciro, como também uma lista que

constando a sua genealogia. Esta enfatiza que Ciro era rei da linhagem de reis. O rei da

Babilônia, Nabonido, que foi derrotado e deposto por Ciro, foi denunciado como um ímpio

opressor do povo da Babilônia e suas origens humildes são implicitamente contrastadas com a

herança de Ciro.

O texto diz que o vitorioso Ciro foi recebido pelo povo da Babilônia como seu novo

governante que conquistou a Babilônia em paz. O texto também mencionou uma petição feita

por Ciro ao deus babilônico Marduk, para que lhe proteger, como também seu filho Cambises.

Assim, podemos observar como a religiosidade babilônica e a divindade Marduk,

influenciaram tanto os povos conquistados como também, o povo que a conquisto. O rei da

Pérsia Ciro foi descrito no cilindro como um benfeitor dos cidadãos da Babilônia responsável

por melhorar suas vidas, repatriar os povos exilados e restaurar templos e santuários religiosos

pela Mesopotâmia e em outros lugares na região.

O Cilindro de Ciro tem sido uma das mais ricas descobertas arqueológicas, que notificou a

conquista de Ciro, sobre o império babilônico. Dando continuidade a este assunto, passemos a

destacar mais sobre o conteúdo visto no Cilindro81.

43

79SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exilo – História e Teologia do Povo de Deus no século VI

A.C. 1 ed. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 99. 80O Cilindro de Ciro é um cilindro de argila, atualmente dividido em vários fragmentos, onde descreve uma

declaração escrita em grafia cuneiforme acadiana, em nome do rei Aquemênida da Pérsia, Ciro, o Grande. O

Cilindro menciona a conquista de Ciro sob a Babilônia em 539 a.C. Estando hoje no Museu Britânico (British

Museum), que patrocinou a expedição responsável pela descoberta do cilindro. 81Disponível na Internet: http://dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/cilindro/index.htm. Acesso dia 04/07/2017

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O Cilindro destaca palavras de exaltação direcionadas ao deus Marduk lhe chamando de rei

dos deuses e súplicas dos habitantes da Babilônia que diziam que Marduk tinha se encolerizado

contra o rei Nabonido, por isso entregou a Babilônia ao rei Ciro.

Trecho do Cilindro de Ciro, linhas 15-21, dando a genealogia de Ciro,

o Grande, e relatando a sua captura da Babilônia em 539 a.C.

Marduk também foi descrito no Cilindro como o grande Senhor, um protetor do seu povo

que observou as boas ações e o coração reto de Ciro, para lhe entregar a Babilônia. Marduk

também foi mencionado como o deus que estava ao lado de Ciro em sua conquista, ao lado

como um “amigo”.

O Cilindro destaca que Marduk entregou a Babilônia ao rei Ciro sem necessitar de batalha,

pois o rei Nabonido não rendia adoração a Marduk. Desta maneira, os habitantes de Babilônia

bem como do país da Suméria e Acad com príncipes e governadores inclinaram-se para Ciro e

beijaram os seus pés, acreditando que ele era a realeza de face radiante. Felizes, aclamaram-no

como um senhor através de cuja ajuda todos tinham regressado da morte à vida e tinham sido

poupados ao prejuízo e ao desastre e reverenciaram o seu nome.

Ciro foi enunciado como, rei do mundo, grande rei, rei legítimo, rei de Babilônia, rei da

Suméria e Acad, rei dos quatro cantos da terra, filho de Cambises, grande rei, rei de Anshã,

neto de Ciro, grande rei, rei de Anshã, descendente de Teispes, grande rei de uma família de

perpétua realeza.

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O Cilindro também diz que Ciro ao entrar na Babilônia, estabeleceu a sede de governo no

palácio e exaltou Marduk. Desta forma, Ciro foi venerado como o grande senhor, que levou os

magnânimos habitantes da Babilônia a lhe amar. Eles diziam: Suas numerosas tropas passaram

por Babilônia em paz; não permitindo que ninguém espalhasse o terror no país da Suméria e

Acad, Ciro trouxe a paz na Babilônia e em todas as suas cidades sagradas.

O Cilindro ainda continua exaltando o rei Ciro, dizendo que ele foi o rei que tirou o jugo

da Babilônia, jugo que ia de encontro à vontade dos deuses. O Cilindro ainda menciona que

Ciro trouxe melhoria às degradadas condições de habitação, acabando com as razões de queixa.

Os registros também notificam que o deus Marduk, ficou bem agradado com as ações do rei

Ciro e lhe enviou amistosas bênçãos, mais tropos como também a um filho que se chamou

Cambises.

O Cilindro segue dizendo que, todos os reis do mundo inteiro do “Mar Superior ao Inferior”,

aqueles que estão sentados em salas de trono, ou vivem noutros tipos de edifícios bem como

todos os reis do Oeste, que vivem em tendas, trouxeram seus pesados tributos e beijaram os pés

de Ciro na Babilônia.

Ciro devolveu às cidades sagradas do outro lado do Tigre, santuários que estiveram em

ruínas durante muito tempo, de Assur a Susã, de Agadé a Eshnunna, as cidades de Zamban,

Me-Turnu e Der região da Mesopotâmia Oriental, assim como as regiões dos Gútios.

O Cilindro destaca as imagens que o rei Ciro estabeleceu em santuários, também menciona

que ele reuniu todos os habitantes e devolveu-lhes as suas habitações. Os registros também

destacam que por ordem de Marduk, Ciro restabeleceu todos os deuses da Suméria e Acad, que

Nabonido tinha trago para Babilônia, intactos nas suas capelas, lugares que os babilônicos

acreditavam que os tornavam felizes.

O Cilindro faz menção aos deuses que Ciro restabeleceu nas cidades sagradas, também

orações onde Ciro pediu diariamente a Bel e a Nebo, como também súplicas direcionadas a

Marduk a seu favor.

45

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Assim, podemos observar que Ciro foi descrito no Cilindro como um venerador de Marduk,

o deus que favoreceu sua conquista sobre a Babilônia. Observa-se que, Marduk foi venerado

durante a dinastia babilônica caldaica, como o deus criador dos céus e da terra, salvador dos

deuses da Babilônia e o como o deus que concedeu a Ciro o direito de conquistar a Babilônia

em paz.

Toda esta narrativa, nos auxilia na compreensão da importância do deus Marduk no período

da dinastia caldaica e como a teologia do Deus criador, fazia parte do cotidiano religioso dos

babilônicos.

Desta maneira, o profeta Dêutero-Isaías durante o período em que esteve exilado na

Babilônia juntamente com seus compatriotas judeus, redirecionou o título de Deus Criador a

Yahweh, iniciando assim uma nova teologia na fé de Israel.

Observa-se que o Dêutero-Isaías foi motivado pelo desejo de negar a ação criadora de

Marduk e dizer entre os exilados que o Deus Criador era Yahweh. Esta afirmação do profeta

Dêutero-Isaías se tornou um dos assuntos principais do período pós-exílico, onde os redatores

dos textos cosmogônicos e antropogônicos de Gênesis 1,1-2,4a e 2,4b-25 e dos Salmos de

Criação 104; 19; 33; 08; 136 apresentaram novidades a esta teologia.

1.11. Conclusão

Concluímos neste capítulo que a religiosidade dos babilônicos do período sumeriano pode

ser vista nas obras literárias conhecidas como Epopeia de Gilgamesh, sendo que este texto nos

indica como os sumerianos foram construindo seu imaginário religioso ligado a cosmogonia e

antropogonia da criação.

Também esclarecemos que o Enuma Elish, foi produzido em um período posterior a

Epopeia de Gilgamesh, tendo em vista que o nome do deus Marduk não foi mencionado na

Epopeia. Destacamos que o Enuma Elish, que descreveu Marduk como deus protagonista e

autor da criação.

46

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Também mencionamos que os babilônicos da dinastia caldaica de 626 a.C. a 539 a.C.

utilizaram o Enuma Elish, em suas celebrações cúlticas enaltecendo Marduk, como o deus autor

da criação.

Destacamos que os judeus que estiveram exilados na Babilônia neste período, tiverem

acesso a esta teologia do Marduk deus criador e o profeta Dêutero-Isaías direcionou o título de

Deus Criador a Yahweh, para negar entre os demais judeus exilados que Marduk era o deus

autor da criação do cosmo e do ser humano.

Mencionamos que o profeta Dêutero-Isaías, iniciou a teologia do Yahweh Deus Criador em

Israel e que esta teologia se tornou o assunto central da teologia do período pós-exílico

desenvolvida pelos redatores de Gênesis 1,1-2,4a e 2,4b-25 e dos Salmos de Criação 104; 19;

33; 08; 136.

Por fim, analisamos estudos arqueológicos modernos para averiguarmos a expansão política

e religiosa entre os reis mesopotâmicos, como também as literaturas religiosas que apresentam

a fé cosmogônica e antropogônica dos babilônicos do período caldaico.

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2. ANÁLISE EXEGÉTICA DE ISAÍAS 45,18-25

2.1 Introdução

O texto do Dêutero-Isaías deslumbra uma nova característica no estilo do profetismo do

período vetero-testamentário, visto que entre os profetas, principalmente os do período pré-

exílicos, podemos identificar que as profecias eram repletas de denuncias e ameaças. No

entanto, o profeta dêutero-isaiânico apresentou Yahweh como o Deus proclamador de salvação

e libertação ao seu povo e não como um Deus que iria subjugar seu povo devido suas

transgressões.

Nisto podemos identificar que as profecias dêutero-isaiânicas não foram apresentadas, a

partir da teologia de um Deus que estava disposto a julgar seus filhos rebeldes, mas de um Deus

disposto a perdoar o pecado de seu povo, concedendo o fim do cativeiro babilônico (JENSEN

2009, 199-201).

Portanto, neste capítulo será apresentada a exegese de Isaías 45,18-25 destacando o caráter

extremamente soteriológico da perícope, visto que Yahweh será apresentado como o Deus

salvador dos judeus exilados na Babilônia.

Também, analisar-se-á no decorrer deste capítulo, a nova teologia inicia pelo profeta

Dêutero-Isaías, em Israel. Refiro-me a teologia do Yahweh como deus criador do cosmo e do

ser humano.

Ainda neste capítulo, tratar-se-á como o Dêutero-Isaías teve o objetivo de direcionar o

título de Deus Criador a Yahweh, pois esta era a maneira como os babilônicos se referiam ao

deus Marduk.

Por fim, será discutida a problemática relacionada ao verbo hebraico -criar,

junto às palavras - os céus, e - a terra, direcionado a Yahweh.

Tendo em vista que nenhum outro profeta do período vetero-testamentário, direcionou o verbo

-criar, a Yahweh.

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2.2 Texto Massorético e Tradução

Isaías 45, 14-25

Assim disse

Yahweh

Produto do

Egito e

mercadoria de

Kux

e sabeus

homens de alto

Sobre ti

passarão e para

ti irão

atrás de ti

seguirão com

grilhões

passarão

e para ti se

prostarão para

ti suplicarão

certamente em

ti El e não há

outro

extremidade

Elohim.

Portanto tu El

se esconde

Elohim de

Israel salvador.

Envergonharam

e também

humilharam

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todo junto

caminharam

no insulto

artíficies de

ídolos.

Israel foi Salvo

por Yahweh

salvação de

eternidade

não vós

envergonhareis

e não sereis

humilados até

eternidades de

até.

49

Eis assim

disse

Yahweh

Criador

dos céus ele

o Elohim

o que

formou a

terra e o

que a fez ele

estabeleceu

não vazia

crioupara

habitar a

formou

Eu sou

Yahweh e

não há outro

Não no

esconderijo

falei em

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lugar de

terra escura

não disse

para

descendênci

a de Jaco

vazio

procurai-me

Eu Yahweh

falador de

justiça faço

anunciar

coisas retas.

Reuni-vos

e entrai se

achegai-vos

juntos

os que

escapam as

nações

não sabem

carregam

árvore de

suas

imagens

e dirigem

suas

súplicas a

El não

salva.

Anunciai e

trazei as

provas

ainda

consultam

junto

Quem fez

ouvir isto

desde de a

antiguidade

de tempo

fez declarar

A caso não

eu Yahweh

não há outro

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Elohim fora

de mim

El-justo e

salvador

não há fora

de mim.

Voltai sua

face para

mim e

sereis salvos

todos os

confins da

terra

Eis eu El e

não há

outro.

50

Em mim

jurei por

mim mesmo

saiu palavra

justiça de

minha e não

voltará

pois para

mim dobrará

todo joelho

jurará toda

língua.

Somente em

Yahweh para

mim disse

justiças e

vigor

até ele virá e

envergonharã

o todos os

que se irarem

contra ele.

Em Yahweh

serão

justificados e

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se gloriará

toda

descendência

de Israel.

2.3 Tradução Literal

Isaías 45,14-25

14. Assim disse82 Yahweh: Os produtos do Egito e as mercadorias de Kux, e os

sabeus, homens de grande estatura, passarão83 para o teu domínio e te

pertencerão84. Atrás de ti seguirão85, nos grilhões passarão86 e prostrar-se-

ão87 diante de ti, certamente a ti suplicarão :88 Certamente não há outro El,

extremidade de Elohim.

51

15. Portanto tu és El que se esconde89, o Elohim de Israel, salvador.

16. Eles estão envergonhados90 e também humilhados91 ; todos juntos,

caminharam92 com insulto, os fabricantes de ídolos.

82’amar, Qal perfeito,3° perfeito, masculino, singular, dizer. 83‘abar, Qal imperfeito, 3° pessoa, masculino, plural, passar. 84hayah, Qal imperfeito, 3° pessoa, masculino, plural, ser ou estar. 85’arar, particípio com sufixo na 2° feminino singular, seguir. 86‘abar, Qal imperfeito, 3° pessoa, masculino, plural, passar. 87ravah, Hitpael imperfeito, 3° pessoa, masculino, plural, prostrar. 88palal, Hitpael imperfeito, 3° pessoa, masculino, plural, suplicar. 89satar, Hitpael particípio, masculino singular, esconder. 90box, Qal perfeito, 3° pessoa, comum, plural, envergonhar. 91kalam, Nifal perfeito, 3° pessoa, comum, plural, humilhar. 92halak, Qal perfeito, 3° pessoa, comum, plural, caminhar.

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17. Israel foi salvo93 por Yahweh, com salvação eterna; não vós envergonhareis94

e nem sereis humilhados95, eternidade perpétua.

18. Eis, assim disse96 Yahweh, o Criador97 dos céus o Elohim que formou98 a

terra e a fez99, ele a estabeleceu100 ; não a criou101 vazia, mas a formou102 para

ser habitada103. Eu sou Yahweh ; e não há outra.

19. Não falei104 no esconderijo, em lugar escuro da terra. Eu não disse105

paradescendência de Jacó: Procurai-me106 no caos!

Eu sou Yahweh que falo107 justiça, faço anunciar108 caminhos retos.

20. Reuni-vos109 e entrai110! Se achegai-vos111 todos juntos, vós os que escapastes

às nações! Nada sabem112 os que carregam113 os seus ídolos de madeira, e

dirigem suas súplicas114 a um El que não pode salvar115.

52

93yaxa‘, Nifal perfeito, 3° pessoa, masculino, singular, salvar. 94box, Qal imperfeito, 2° pessoa, masculino, plural, envergonhar. 95kalam, Nifal imperfeito, 2° pessoa, masculino, plural, humilhar. 96’amar, Qal perfeito,3° perfeito, masculino, singular, dizer. 97bara’, Qal particípio, masculino, singular, criar. 98yatsar, Qal particípio, masculino, singular, formar. 99‘axah, Qal particípio, masculino, singular com sufixo 3° pessoa, feminino, singular, fazer. 100kun, Polel perfeito, 3° pessoa, masculina singular com sufixo, 3° pessoa feminino singular, estabelecer. 101bara’,Qal perfeito, 3° pessoa, masculino, singular com sufixo 3° pessoa feminino singular, criar. 102yatsar, Qal perfeito, 3° pessoa, masculino singular com sufixo 3° pessoa, feminino, singular,formar. 103yaxav, Qal infinitivo, construto, habitar. 104dabar, Piel perfeito, 1° pessoa, comum, singular, falar. 105’amar, Qal perfeito, 1° perfeito, comum, singular, dizer. 106baqax, Piel imperativo, masculino, plural com sufixo 1° pessoa, comum, singular, procurar. 107dabar, Qal particípio, masculino, singular, falar. 108nagad, Hifil particípio, masculino, singular, anunciar. 109qabats, Nifal imperativo, masculino, plural, reunir. 110bo’, Qal imperativo, masculino, plural, entrar. 111nagax, Hitpael imperativo, masculino, plural, achegar. 112yada‘, Qal perfeito, 3° pessoa, comum, plural, saber. 113naxa’, Qal particípio, masculino, plural, carregar. 114palal, Hitpael, particípio, masculino, plural, súplicas. 115yaxa‘, Hifil, imperfeito, 3° pessoa, masculino, singular, salvar.

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21. Anunciai116, trazei vossas provas117, juntos tomam conselho118! Quem fez

ouvir119 isto, desde a antiguidade ? Desde tempos antigos fez exclarecer120?

Não fui eu Yahweh ? Não há outro Elohim fora de mim, o El Justo e

salvador121, não há outro fora de mim.

22. Voltai122 sua face para mim e sereis salvos123, todos os confins da terra. Por

que eu sou El e não há outro.

23. Eu jurei124 por mim mesmo, o que sai125 da minha boca é palavra de justiça

e não voltará126. Pois diante de mim se dobrará127 todo joelho, toda língua

jurará128.

24. Disse129 para mim: Somente em Yahweh há justiças e vigor. Virá130 até ele

e serão envergonhados131 todos os que se irritaram132 contra ele.

25. Em Yahweh serão justificados133 e se gloriará134 toda descendência de Israel.

53

116nagad, Hifil imperativo, masculino, plural, anunciar. 117nagax, Hifil imperativo, masculino, plural, trazer. 118ya‘ats. Nifal imperfeito, 3° pessoa, masculino, plural, aconselhar. 119xama‘, Hifil perfeito, 3° pessoa, masculino, singular, ouvir. 120nagad, Hifil perfeito, 3° pessoa, masculino, singular com sufixo 3° pessoa feminino singular, esclarecer. 121yaxa‘, Hifil participo, masculino singular, salvar. 122pana, Qal imperativo, masculino, plural, voltar. 123yaxa‘, Nifal imperativo, masculino, plural, salvar. 124xaba‘, Nifal perfeito, 1° pessoa, comum, singular, jurar. 125yatsa’, Qal perfeito, 3° pessoa, masculino, singular, sair. 126xub, Qal imperfeito, 3° pessoa, masculino, singular, voltar. 127kara‘, Qal imperfeito, 3° pessoa, feminino, singular, se dobrar, se ajoelhar. 128xaba‘, Nifal imperfeito, 3° pessoa, feminino, singular, jurar. 129’amar, Qal perfeito, 3° pessoa, masculino, singular, dizer. 130bo’, Qal imperfeito, 3° pessoa, masculino, singular, vir. 131box, Qal imperfeito, 3° pessoa, masculino, plural, envergonhar. 132rarah, Nifal particípio, masculino, plural, irar. 133tsedaq, Qal imperfeito, 3° pessoa masculino, plural, fazer justiça. 134halal, Hitpael imperfeito, 3° pessoa, masculino, plural, gloriar.

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2. 4 Crítica Textual

Analisando o aparato crítico, inserido no rodapé da Bíblia Hebraica Stuttgartensia podemos

observar no v. 14 o termo - produto, que é marcado pela sigla (prp) propondo

uma leitura semelhante a de Gênesis 24,10, também a palavra- e mercadoria é

marcado pela sigla (prp) lido na Peshita135 e no Targum136 como , termo possivelmente

advindo da forma - migrante. O termo - passarão é visto como

no Códice Sinaítico, tendo uma modificação de Holem para Shevá na consoante

vav. No Códice L e em muitos manuscritos hebraicos medievais137 apalavra -

se prostarão é visto como com o sinal massorético shúrekno final,.

No v. 15 o pronome pessoal - tu, esta marcado pela sigla (frt dl), que significa

possivelmente apagado, e deve ser lido como .

No v. 16 os termos - todo junto, também estão marcados pela

sigla (frt dl) indicando que um outro termo foi apagado e substituidos pelos referidos.

Os vs. 17 – 18 do aparato crítico da Bíblia Hebraica Stuttgartensia não apresentam notas,

entretanto, no v. 19 o termo - Vazio, é marcado pela sigla (prp) propondo uma leitura

no vazio, tendo a presosição prefixada na palavra que segue.

No v. 20 o termo - juntos é indicado como na segunda edição dos

manuscritos hebraicos encomtrados a partir de 1947, em Hirbet Qumran, na região do Mar

Morto, na Judéia, em Israel.

54

135Versão siríaca. 136Nome das traduções, paráfrases e comentários em aramaico da Bíblia hebraica, escritos e compiladas em Israel

e Babilônia, da época do Segundo Templo até o início da Idade Média, utilizadas para facilitar o entendimento aos

judeus que não falavam o hebraico 137FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica: introdução ao texto massóreico: guia introdutório

para Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 2° Ed. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 61-89.

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No v. 21 o termo - conselho é marcado como um termo que sofreu

alterações na Peshita, no Targum e na vulgata.

Os vs. 22-23 não são pontuados pelo Aparato crítico da Bíblia Hebraica Stuttgartensia,

entretanto no v. 24 as palavras - Para mim disse, são marcadas pelo termo

le,gwn – dizendo, na Septuaginta e por na Peshita. O termo - virá é

marcado pelo códico Qª indicando que o termo esta identico a segunda edição dos manuscritos

hebraicos encontrados em Hirbet Qumran. Entretanto, em muitos manuscritos hebraicos

medievais como também na Septuaginta, Peshita e Vulgata a palavra ´pe é terminada com e

não somente com .

Por fim, o termo - os se irarem é indicado para ser conferido junto a

Isaías 41,11ª. Sendo assim, encerra-se os apontamentos do aparato crítico da Bíblia Hebraica

Stuttgartensia, para o texto de Isaías 45,14-25, apontando, os problemas encontrados na redação

do texto, no decorrer dos tempos.

Observa-se com esta analise que os problemas encontrados na redação do texto não

atrapalham a nossa análise, tendo em vista que nenhuma das questões apontadas indica uma

falha ou acréscimo posterior no que se refere ao título de Deus Criador atribuído a Yahweh pelo

Dêutero-Isaías.

2.5 Delimitação

Observa-se que o texto de Isaías 45,14-25, demonstra um novo começo tendo seu início e

fim de forma clara. O tema central desta perícope é o título de Deus Criador atribuído a

Yahweh138. Entretanto, também dá continuidade ao tema da convocação do rei Ciro. Este tema

é visto na perícope de Isaías 41,1-7, que apresenta a vinda de um libertador vindo do Oriente

Isaías 41,2.

55

138CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol. II A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, São Leopoldo: Sinodal 1998, p. 123-138.

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De acordo com Croatto139, muitos autores tentam organizar os textos do Dêutero-Isaías,

sendo que a maioria concorda que a partir de Isaías 44,24 inicia-se um novo bloco literário que

se estende até Isaías 45,25. A meu ver, este bloco literário deve se estender até Isaías 46,13,

visto que em Isaías 46,11 temos a continuidade do tema da convocação de Ciro e em Isaías

46,13 o profeta fala da salvação de Yahweh, assunto este que está totalmente ligado a um

contexto maior que se inicia em Isaías 44,24 e prossegue até Isaías 46,13, estando divido em

sete perícopes.

Na primeira, de Isaías 44,24-28 temos um oráculo de Salvação a Judá e a Jerusalém como

também a convocação de Ciro, citado pelo profeta de forma direta e chamado de pastor de

Yahweh, Isaías 44,28, aquele de diz para Ciro: tu és meu pastor.

Na segunda, de Isaías 45,1-7, observa-se que Ciro é mencionado como o Messias de

Yahweh. Assim diz Yahweh ao seu Messias, a Ciro a quem tomei pela mão direita, para

submeter diante dele nações. Segundo Schökel e Diaz,140 esta perícope apresenta um tema de

grande complexidade, tendo em vista que somente em Isaías 45,1-7 é possível observar pela

primeira vez na literatura vetero-testamentária um oráculo favorável do Deus de Israel que se

dirige a um rei estrangeiro, outorgando-lhe o título de “Messias de Yahweh”. Referente a este

assunto, concordo com K. Seybold141 que sugere que o autor dêutero-isaiânico atribuiu o título

de Messias ao rei Ciro num momento de entusiasma, pelo fato do profeta esperar que Ciro

libertasse os deportados judaítas e viesse permitir o retorno dos mesmos a Jerusalém para

reconstruírem a cidade e o Templo.

A terceira vista em Isaías 45,8, se refere a uma prece onde o profeta menciona à libertação

dos exilados e a justiça que Yahweh estava prestes a efetuar por intermédio de Ciro. Sendo que,

esta justiça deveria ser vista por todos exilados como uma criação de Yahweh.

A quarta perícope, observada a partir de Isaías 45,9-13 menciona o poder soberano de

Yahweh como o Deus Criador da terra e do homem e o Deus que escolheu Ciro para reconstruir

Jerusalém e reconduzir os exilados até ela.

56

139SCHÖKEL, Luís Alonso e DIAZ J.L. Sicre. Profetas I: Isaías e Jeremias. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.

309. 140IDEM. 141SEYBOLD, K. mashah, Em: Theological Dictionary of the Old Testament. Vol. IX. Grand Rapids/Cambridge:

Willian B. Eerdmans Publishing Company, 2004, p. 43-54.

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A quinta perícope, observada de Isaías 45, 14-25, apresenta Yahweh como o salvador de

Israel. Este tema está ligado a vocação de Ciro, tendo em vista que para o profeta dêutero-

isaiânico, Yahweh salvaria Israel utilizando o rei estrangeiro Ciro como seu instrumento.

A perícope ainda apresenta um novo assunto, de total característica do período exílico e pós-

exílico a questão da cosmogonia da criação, ou seja, quem foi o Deus criador dos céus e da

terra? O deus babilônico ou o Deus dos judeus exilados? Ainda nos vs. 18-19, o profeta descreve

Yahweh como o criador dos céus e da terra e o Deus que faz justiça e anuncia caminhos retos.

A sexta perícope, observada em Isaías 46,1-7 demonstra os deuses da Babilônia como deuses

vencidos, sendo que no v. 1 Bel142 é visto como o deus que caiu por terra e Nebo143 o deus que

ficou prostrado.

Por fim, na sétima perícope vista em Isaías 46,8-13, o profeta nos apresenta a convocação

de Ciro, aquele que foi descrito como, ave de rapina vinda do oriente v. 11. Também se observa

que em Isaías 46,13, o profeta diz que a justiça de Yahweh estava perto do povo e que sua

salvação foi estabelecida em favor de Sião. Este assunto foi visto nas perícopes anteriores.

Portanto, de Isaías 44, 24 - 46,13 temos um contexto maior de sete perícopes onde os

assuntos estão relacionados e giram em torno da vocação de Ciro. Alguns dos temas das

perícopes podem ser vistos como: a inferioridade e queda dos deuses estrangeiros, a

apresentação do Yahweh Deus Criador e Salvador de Israel.

Por fim, em Isaías 47, 1-15, temos duas perícopes dos vs. 1-7 e dos vs. 8-15 que não

mencionam Yahweh como o Salvador de Israel e Criador dos céus e da terra, como em todo

contexto maior acima mencionado, mas descrevem um lamento sobre a Babilônia.

Observa-se que o profeta dêutero-isaiânico direcionou profecias de ameaça contra o império

babilônico. No entanto, o profeta não direcionou nenhum oráculo de ameaça contra os persas.

57

142O título Bel foi inicialmente aplicado ao deus Enlil. Bel fazia parte da original tríade sumeriana de deidades,

junto com Anu e Enqui (Ea). Quando Marduk tornou-se o deus principal de Babilônia, ele também recebeu o nome

de Bel. 143Nebo era adorado tanto em Babilônia como na Assíria. Era considerado filho de Marduk com a deusa Sarpanitu.

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Podemos averiguar que dos vs. 1-7, o profeta fala da humilhação que viria sobre os

babilônicos e dos vs. 8-15 o Dêutero-Isaías denuncia e continua ameaçando a Babilônia,

dizendo que eles não conseguiriam se salvar da grande mortandade que estava por vir.

2.6 Estrutura da Perícope

Neste ponto, apresentaremos a proposta de estrutura de alguns autores que utilizam este

método em seus comentários bíblicos e exegéticos e logo após, apresentaremos nossa proposta

de estrutura da perícope.

Começamos apontando a fala de Croatto144 que estrutura o texto de Isaías 45,14-25 em seis

partes, sendo que no v. 14 ele diz que o texto fala de uma breve promessa, o v. 15 uma oração

e os vs. 16-17 devem ser vistos como uma crítica satírica a adoração de outros deuses. Os vs.

18-19 apresentam um texto de disputa, onde o adversário não é apresentado, os vs. 20-21 dizem

que não há provas a favor de outros deuses e os vs. 22-25, concluem o bloco com a afirmação

do profeta dizendo que somente em Yahweh é possível encontrar a liberdade.

Schökel e Diaz145 divergem da estrutura proposta por Croatto, pois dizem que o v. 16

apresenta os fabricantes de ídolos, o v. 17 menciona o tema da salvação perpétua, os vs. 18-19

apresentam a criação de um mundo povoado, o v. 20 comenta sobre os sobreviventes das

nações, o v. 21 ressalta a questão dos motivos desconhecidos do litígio o v. 22 fala de um

convite universal, o v. 23 o juramente de Yahweh, o v. 24 a confissão do justo Yahweh e o v.

25 descreve Yahweh como o único salvador de Israel.

Westermann146 divide a perícope de Isaías 45,14-25, em três partes, dos vs. 14-17, dos vs.

18-19 e dos vs.20-25, sendo que o v. 14, fala sobre um bem estar futuro para Israel, o v. 15

apresenta o El que se esconde, os vs. 16-17 comentam sobre os insultos aos artifícios de ídolos

e Yahweh como o salvador de Israel. Os vs. 18-19 iniciam outro tema que se refere ao Deus

Criador, em detrimento aos vs. 14-17 que estão ligados aos vs. 1-13, sendo um oráculo

direcionado a Ciro rei da Pérsia.

144CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol. II A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, São Leopoldo: Sinodal 1998, p. 139-152. 145SCHÖKEL, Luís Alonso e DIAZ, J. L. Sicre. Profetas I: Isaías e Jeremias. 2º.ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.

307-313. 146WESTERMANN, Claus. Isaiah 40-66 A Commentary.The Westminster Press: Philadelphia, 1969, p. 171176.

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58

Westermann ainda ressalta que os vs. 20-21 falam de um desafio para se comparecer na

corte, o v. 22 apresenta os vencedores de todos confins da terra e os vs. 23-25 apresentam a

confissão das transações dos deuses com a humanidade e a afirmação do profeta em que o único

Deus verdadeiro é o Deus de Israel.

Portanto, ao analisarmos Isaías 45,14-25 chegamos a uma estrutura própria, onde dividimos

a perícope da seguinte forma: Dos vs. 14-16, o texto faz a apresentação de Yahweh e do profeta,

sendo que no v. 14 o profeta fala em nome de Yahweh dizendo que ele é o único El, e as demais

frases deste verso giram em torno desta afirmação. Nos vs. 15-16, o profeta apresenta sua

própria afirmação de fé dizendo que El é o Salvador de Israel.

Dividimos os vs. 18-25 como palavras de Yahweh e do profeta, tendo em vista que dos vs.

18-23 o profeta fala em nome de Yahweh dizendo que a criação dos céus e da terra são obras

de Yahweh e dos vs. 24-25, o profeta fala por si, com o objetivo de encorajar os exilados

dizendo que Yahweh glorificaria toda descendência de Israel.

I – Apresentação v. 14-16

A) Yahweh: Sou o único El v. 14

B) Profeta: Afirmação de fé no El, Elohim Salvador de Israel vs. 15-17

III – Palavras de Yahweh e do Profeta vs. 18-25

A) Yahweh: Eu sou o Criador dos céus e da terra vs. 18-23

B) Profeta: Yahweh gloriará toda descendência de Israel vs. 24-25

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2.7 Coesão Interna

Observa-se que o texto apresenta coesão interna, tendo em vista que o texto de Isaías 45,14-

25 demonstra repetições de termos, verbos e frases. Por exemplo, no v. 14 encontramos duas

vezes o verbo - passaram, conjugado exatamente da mesma forma, como Qal

imperfeito, 3° pessoa, masculino, plural. No v. 15 a frase

- Elohim salvador de Israel, esta em total harmonia

com a frase do v. 17 - Israel foi salvo por

Yahweh.

Ainda observa-se que no v. 16, os termos - envergonhara-me - se

humilharam, se repetem no v. 17. Também no v. 17 o termo - Eterna, se repete

por duas vezes, sendo assim, a pérícope esta coesa e em total harmonia devido as repetiçoes

encontradas.

O v. 18 está plenamente produzido na concepção do Yahweh Criador, sendo que Yahweh

é identificado como o Criador dos céus, - o criador dos céus,

o formador da terra, - O Elohim que formou a terra,

como também o que a estabeleceu - estabeleceu. O mesmo verso ainda nos

mostra o Elohim que não criou a terra vazia

- não há criou vazia, mas a formou

para ser habitada. Ainda a expressão - Eu sou Yahweh

e não há outro, se repete, nos vs. 19; 21.

O substantivo - Terra, é visto nos vs. 18, 19 e 22. O adverbio de negação -

não, é constantemente identificado, uma vez no v. 18, duas vezes no v. 19, duas vezes no v. 20,

uma vez no v. 21 e uma vez no v. 23. O termo - Justiça é reptido por cinco vezes, uma

no v. 19, uma no v. 21, uma no v. 23, uma no v. 24 e uma no v. 25.

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60

Por fim, o tema da salvação também é visto nesta perícope, sendo que no v. 20 o termo

- salva é identificado como uma advertência do profeta as nações que dirigem as

suas súplicas a um El que não Salva.No v. 21 o Yahweh é visto como o Elohim único e o El

de Justiça e Salvação.

Isaías 45,21b

Também o v. 22 notifica um chamado ao arrependimento para uma salvação universal, ou

seja que abrange todos os judeus espalhados entre as nações.

Isaías 45,22a

Observa-se que as repetições de termos, palavras e frases, indentificados na coesão interna

e na estrutura da perícope, nos esclarecem que o texto de Isaías 45,14-25, faz parte de um

Eu Yahweh

não há outro

Elohima fora

de mim

El de justiça

salvaçã não

há fora de

mim

Voltai sua face

para mim e sereis

salvós todos os

confins da terra

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contexto maior apresentado na delimitação deste trabalho que utilizou-se do paralelismo típico

da poesia profética do período exílico e pós-exílico.

61

2.8 Estilo e Gênero

Observa-se que a perícope de Isaías 45,14-25 tem como estilo a poesias, tendo em vista que

o bloco lietrário foi prodizido com ênfase nas reptições de terminologias umas das

características da poesia hebraica.

De acordo com Croatto147, o gênero literário de nossa perícope pode ser descrito como um

oráculo de promessas para Israel. Sendo assim, observa-se que as promessas endereçadas a

Israel estão ligadas ao tema do Elohim Salvador de Israel, tema este que o Dêutero-Isaías

mencionou nos vs. 20,21, os quais estão ligados a todo contexto maior de Isaías 44,24-45,25.

Schökel e Diaz148 notificam que a partir do v. 18, o profeta fala em nome de Yahweh tendo

como objetivo, anunciar Yahweh como o criador dos céus

- Eis assim

diz Yahweh, o criador dos céus. Portanto, para Schökel e Dias, o v. 18 trata de um enunciado

para apresentar Yahweh como o Deus Criador dos céus e da terra.

Observa-se que o profeta quer ensinar a comunidade judaica exilada que Yahweh é o único

Deus Criador dos céus e da terra, como também o único Salvador de Israel. Esta instrução não

foi produzida aleatoriamente, mas tinha o objetivo de ensinar a comunidade judaica exilada que

a criação dos céus e da terra não foi obra das mãos de Marduk, deus babilônico, mas sim, de

Yahweh Deus de Israel.

147CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol. II A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, São Leopoldo: Sinodal 1998, p. 141-142. 148SCHÖKEL Luís Alonso e DIAZ J. L. Sicre. Profetas I: Isaías e Jeremias. 2º ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.

307-312-313.

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Esta instrução também tinha o objetivo de esclarecer aos exilados que Yahweh era o

Salvador de Israel, desta maneira eles negariam o título de salvador atribuído à Marduk pelos

babilônicos, após sua vitória sobre Tiamat, como consta no Enuma Elish e o direcionaria a

Yahweh. Portanto, o profeta dêutero-isaiânico além de direcionar a Yahweh o título de criador

do cosmo e do ser humano atribuído a Marduk, ele também direcionou a Yahweh o título de

Salvador que os babilônicos endereçavam a Marduk.

62

2.9 Época e Ambiente Vivencial

O livro de Isaías, mais especificamente os capítulos 40-55, conhecidos como Dêutero-Isaías

é uma obra prima da literatura bíblica do Antigo Testamento149. O mérito da leitura dos capítulos

40-55, lidos separadamente dos capítulos 1-39, cabe ao teólogo alemão Bernahard Duhm que

em 1892 em seu comentário ao livro de Isaías sugeriu que o 66 livros deveriam ser lidos

separadamente.

Este comentário deu origem às descobertas sobre a composição do livro de Isaías. Duhm

foi o primeiro a separar o livro do profeta Isaías em Isaías de Jerusalém também conhecido

como Isaías histórico, Proto-Isaías ou 1 Isaías.

Portanto, para uma compreensão da época e do ambiente vivencial de nosso texto é

importante trazer uma breve discussão sobre a autoria dos capítulos 40-55 do livro de Isaías

denominado como Dêutero-Isaías.

As discussões sobre este assunto giram em torno da pergunta. Quem é o autor do Dêutero-

Isaías? Foi um único profeta ou um texto de “autoria coletiva” da comunidade exilada. Para

Albertz,150 o Dêutero-Isaías foi produzido por um grupo que reproduziu algumas tradições

sapienciais e correntes proféticas.

Sugiro o posicionamento de Schwantes151que mencionou que os textos de Isaías 40-55,

seriam textos da comunidade cantores do Templo no meio dos exilados. Assim, o Dêutero-

149CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol I. A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 9. 150ALBERTZ, Raines. Historia de la religión de Israel en tiempos del Antiguo Testamento. Ed. Trotta, 570-571. 151 SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exilo – História e Teologia do Povo de Deus no século VI

A.C. 1 ed. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 89.

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Isaías enfoca profecias comunitárias. Este posicionamento nos traz um melhor esclarecimento

sobre as divergências dos cantos do Servo, com o restante do livro do 2 Isaías.

Quanto à data, o texto não menciona grandes discussões, visto que pertence a uma unidade

literária maior (caps. 40-55). Sabe-se que estes textos são do período em que os judeus estavam

exilados na Babilônia. Sendo que a redação inicial se efetuou entre o final do exílio

aproximadamente 540 a.C., mas a conclusão da redação se deu no começo do pós-exílio, antes

da reconstrução do Segundo Templo.

63

Schwantes152 menciona que o texto do Dêutero-Isaías foi produzido no final do exílio por

volta de 540 a.C., tendo em vista que a rápida vitória de Ciro sobre o rei lídio Creso 546 a.C.,

refletiu nos textos de Isaías 41,2; 45,3, mas não na tomada da Babilônia em 539 a.C. Assim, a

fala de Schwantes fortalece nossa hipótese de que a redação inicial do Dêutero-Isaías se efetuou

no final do exílio babilônico.

O profeta esperava que Ciro libertasse os deportados judaítas e permitisse que eles

retornassem a Jerusalém para reconstruírem o Templo, obra que se finalizou por volta de 516-

515 a.C. quando Dario I era o monarca da Pérsia153. Assim, o Dêutero-Isaías apresentou Ciro

como o Messias de Yahweh em Isaías 45,1 e como o libertador de Israel154.

Segundo Matos155, a profecia do Dêutero-Isaías é posterior à profecia de Ezequiel que atuou

por volta de 570 a.C. Portanto, o Dêutero-Isaías pertence à segunda geração de judeus exilados

na Babilônia156.

O império babilônico foi marcado pelo enfraquecimento de outros impérios, tais como

Assíria e Egito157. O enfraquecimento destes impérios proporcionou a Babilônia o acumulo de

muita terra e água sinônima de poder no mundo antigo.

152SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exilo – História e Teologia do Povo de Deus no século

VI A.C. 1 ed. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 92-93. 153ALBERTZ, Raines. Historia de la religión de Israel en tiempos del Antiguo Testamento. Ed. Trotta, 578-579. 154FOHRER, Georg. História da Religião de Israel. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 400. 155MATOS, Sue’ Hellen Monteiro de. Não Temas! Eis que derramarei meu espírito! Análise Exegética de Isaías

44,1-5. Disponível www.revistaancora.com.br. Em: Âncora: Revista digital de estudantes de religião. Acesso em

10/10/2012. 156SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio: História e Teologia do povo de Deus no século VI

a.C. São Leopoldo: Oikos, 2009, p. 93. 157DONNER, Hebert. História de Israel e dos povos vizinhos. V.2. 4ªed., São Leopoldo: Sinodal, 2006, p. 410.

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No governo de Nabopolassar 625-605 a.C., todos os templos babilônicos principalmente

dos deuses Shamash e Marduk foram reconstruídos158. Não há documentos que esclarecem uma

tolerância religiosa dos babilônicos para com os povos conquistados. O próprio Templo de

Jerusalém foi destruído em 587 a.C. por Nabucodonosor filho de Nabopolassaar e foi

reconstruído somente na dinastia dos persas.

Na destruição do Templo em 587 a.C. ocorreram algumas deportações de judeus. A primeira

efetuou-se em 597 a.C. e foram levados o rei e a sua corte. Este gesto visava executar pressão

sobre os que ficaram como reféns e vassalos dos babilônicos.

64

A segunda deportação ocorreu em 587 a.C. onde foram levados mais habitantes da capital

e dessa vez alguns pobres também foram deportados (cf. Jr 52,15). Esses deportados se

juntaram aos exilados de 597 a.C. Após 587 a.C. parece ter ocorrido outra deportação, conforme

Jr 52,30. No entanto, uma deportação menor. Com as três deportações, foram levados cerca de

15 mil pessoas, oriundas basicamente da população de Jerusalém que representavam a nata

política, religiosa e intelectual da terra159.

O exílio babilônico foi principalmente um exílio dos cidadãos da capital levando em

consideração a primeira deportação em 597 a.C. Portanto, o início da pregação do Dêutero-

Isaías, assim como o inicio da redação de sua obra, se deu por volta de 540 a.C. onde já se tinha

passado quase 50 anos de exílio.

Os exilados não admitiam mais esperança de retorno à Palestina. Entretanto, o império

babilônico começou a ficar instável. A política religiosa de Nabônides (556-539) trouxe grande

discórdia para Babilônia, pois ele adorava a deusa da lua Sin e procurou elevá-la à suprema

posição do panteão babilônico o que atraiu a inimizades dos sacerdotes de Marduk. Nesse

mesmo período o poder de Ciro aumentou, sendo que ele conseguiu conquistar Ecbátana em

553 a.C. e a Lídia em 547 a.C.160.

158IDEM, 413-414. 159IDEM, p. 434-442. 160SCHÖKEL Luís Alonso e DIAZ J. L. Sincre. Profetas I: Isaías e Jeremias. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.

270.

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A comunidade exilada estava no campo num lugar chamado Nipur. Eram escravos, isto é,

trabalhadores forçados pelo império a produzirem para sua própria sobrevivência, tendo por

obrigação pagar pesados tributos aos babilônicos161.

Os judeus exilados possuíam liberdade para fazer reuniões e assim manter uma espécie de

vida comunitária (cf. Ez 8,1; 14,1; 33,30)162, mas no exílio houve uma crise teológica, sendo

que o próprio status do Deus de Israel foi colocado em dúvida.

A nação monoteísta de Israel havia sido subjugada por uma nação estrangeira. Desse modo,

havia uma grande tendência por abandonar a religião ancestral (cf. Jr 44,15-19; Ez 33,10).

65

Os capítulos 40-55 do livro de Isaías foram inicialmente escritos em período de catástrofe

nacional, pois o redator do livro estava entre os judeus exilados na Babilônia e como povos

conquistados a mercê de uma nova língua, cultura e religião.

Observa-se que a religião babilônica com sua declaração de fé no Marduk criador e

salvador, vista no Enuma Elish163, contribuiu para que o profeta dêutero-isaiânico produzisse

uma literatura (Isaías 40-55), onde os títulos de Criador e Salvador empregados ao deus

babilônico Marduk, fossem re-direcionados a Yahweh que foi descrito pelo Dêutero-Isaías

como o único Deus Salvador e Criador dos céus e da terra.

Assim, enfatizamos que a maior parte dos religiosos na Babilônia entre os anos 586 a.C. a

539 a.C., mesma época que os judeus permaneceram exilados tinham como divindade

protagonista do seu panteão o deus Marduk e sua literatura era o Enuma Elish.

Os povos exilados tiveram contato com esta literatura e o profeta Dêutero-Isaías, re-

direcionou a Yahweh os títulos de Deus Salvador e Criador que os babilônicos atribuíram a

Marduk.

161SCHWANTES, Milton. Breve História de Israel. São Leopoldo: Oikos, 2008, p. 55. 162BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p. 432. 163Mito de criação babilônico, descoberto por Austen Henry Layard em 1849 (em forma fragmentada) nas ruínas

da Biblioteca de Assurbanípal em Nínive (Mossul, Iraque), e publicado por George Smith em 1876.

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Segundo Eliade164, o Enuma Elish era recitado todos os dias do Ano Novo, sendo que os

acontecimentos relatados eram ritualmente reconstituídos fortalecendo as convicções religiosas

dos babilônicos em um Marduk criador dos céus e da terra.

Portanto, Eliade notifica que os povos conquistados e exilados na Babilônia ou aderiam esta

“verdade” ou a refutavam, reconstruindo por meio da literatura ou de forma oral a negação desta

teologia.

Observemos agora um pouco sobre a poesia da criação babilônica o Enuma Elish. De acordo

com Pontes165, esta poesia da criação babilônica foi descoberta por Austen Henry Layard em

1849 em forma fragmentada nas ruínas da Biblioteca de

Assurbanípal em Nínive Mossul, Iraque, e publicado por George Smith em 1876.

Este texto tinha cerca de mil linhas escritas em babilônico antigo sobre sete tábuas de argila,

cada uma com cerca de 115 a 170 linhas de texto.

66

A maior parte do Tablete V nunca foi recuperado, mas com exceção desta parte o texto está

quase completo. Uma cópia duplicada do Tablete V foi encontrada em Sultantepe,

antiga Huzirina, localizada perto da moderna cidade de Sanlıurfa na Turquia.

Observa-se que o Enuma Elish é uma das fontes mais importantes para a compreensão da

teologia babilônica do período caldaico e como o deus Marduk era cultuado como o Deus autor

da criação.

O texto descreve Marduk como o deus que criou a humanidade para servir os deuses.

Observa-se que a primeira tábua do Enuma Elish comenta sobre uma cena de abertura onde só

havia um mundo formado de matéria por dois seres mitológicos.

O primeiro era Apsu - (masculino), representando o oceano primitivo de águas doces e o

segundo era Tiamat (feminino), que representava o oceano primitivo de águas salgadas. Da

relação entre os deuses Apsu e Tiamat nasceu Ea e este gerou um filho por nome de Marduk,

deus da cidade da Babilônia.

As tabuas II e III contam como Marduk foi escolhido por seu pai Ea para lutar contra

Taiamat. Na Tábua IV, Marduk foi levado à supremacia entre os deuses. Esta descreve o

164ELIADE, Mircea. Origens história e Sentido na Religião. Edições 70, p. 95. 165PONTES, Antonio Ivemar da Silva. A “Influência” do Mito Babilônico, Enuma Elish em Gênesis 1,1-2,4ª.

Dissertação de Mestrado: Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, 2010, p. 55-92.

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momento em que Marduk dirige-se a batalha contra Tiamat e reuniu as seguintes armas: o ráio,

o treno e o vento. Assim, Marduk matou Tiamat e formou o mundo com seu corpo após a partir

ao meio.

Na V Tábua, Marduk estabeleceu as constelações e indicou os dias os meses e os anos.

Observa-se que a VI Tábua, se refere à criação do homem, dizendo que Marduk mesclou argila

com o sangue de Kingu o principal ajudante de Tiamat.

Na VII Tábua, Marduk foi promovido de principal deus da Babilônia a líder total do

panteão. Em (Isaías 45,18), o profeta tentou descontruir a imagem apresentada pelos

babilônicos de um Marduk criador, anunciando aos judeus exilados que Yahweh era o Deus

Criador dos céus e da terra.

Desta maneira o profeta dêutero-isaiânico abriu o caminho para o inicio da teologia do Deus

Criador em Israel.

67

Observa-se que Isaías 45,1-11, temos uma proclamação oficial do Templo de Jerusalém,

lugar este em que uma nova ordem teológica seria apresentada aos judeus, a teologia do Yahweh

Deus Criador dos céus e da terra.

Para Ribeiro166, o período pós-exílico especificamente entre o ano 516 a.C. época em que

o Templo de Jerusalém foi reconstruído, pode ser identificado como um período em que a

teologia se mantinha em torno do assunto do Deus Criador.

Ribeiro ainda salienta que no Templo de Jerusalém, o tema da criação foi evidenciado feito

de maneira semelhante aos babilônicos que proclamavam Marduk como o Deus criador no

templo de Nabu167.

Por fim, observa-se que a redação do Dêutero-Isaías serviu para inspirar os redatores da

cosmogonia e antropogonia da criação vistas nos textos do Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25, os quais

escreveram pela segunda vez que Yahweh era o Deus autor da criação. Eles aprofundaram o

166RIBEIRO, Osvaldo Luiz. A Cosmogonia de Inauguração do Templo de Jerusalém – o Sitzim Lebende

Gn 1,1-3 como prólogo de Gn 1,1-2,4ª. Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em Teologia da PUC-

Rio, 2008, p. 284-296. 167WESTERMANN, Claus. Isaiah 40-66: A Commentary. Philadelphia: The Westminster Press, 1969, p 11.

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tema, inseriram novos elementos a teologia do Deus Criador, principalmente a questão da

criação do ser humano, pois o Dêutero-Isaías não trabalhou em sua obra literária esta questão.

2.10 Análise de Conteúdo

2.10.1 Apresentação (v. 14-16)

A partir destes versos, o profeta fala em nome de Yahweh como também fala em seu nome.

Está prática era comum entre os profetas vetero-testamentários de Israel, ou seja, falar ao povo

em nome de Yahweh, afim de que o povo entendesse que o profeta seria o porta voz ou

transmissor da palavra de Yahweh ao povo.

2.10.2 Yahweh: Sou o único El v. 14

Neste verso o profeta fala em nome de Yahweh para encorajar os judeus exilados na

Babilônia, aludindo uma promessa da parte de Yahweh.

68

Muito se discute entre os estudiosos a possibilidade deste verso abranger vários povos

exilados, entretanto fico com a opinião de Brueggemann168, o qual salienta que este verso se

move abruptamente como uma palavra endereçada e dirigida somente para Israel e não há outras

nações.

Croatto169 compartilha da mesma linha que mencionamos. Ele ressaltando que as referências

ao -produto do Egito e a mercadoria de

Kux, se referem a uma linguaguem metafórica utilizada pelo profeta para se referir a restituição

que Yahweh efetuaria à seu povo devido os bens tomados durante a deportação babilônica de

587 a.C.

O profeta continua direcionando a palavra ao povo em nome de Yahweh, esclarecendo a

eles que - não há outro El, ou seja, nesta afirmativa o profeta fala em

nome de Yahweh ao povo descartando que não existia outro Deus além de El.

168BRUEGGEMANN, Walter. Isaiah 40-66. Louisville, Westminster Bible Companion: 1998, p. 80-81. 169CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol I. A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 141-142.

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Observa-se que no período exílico e pós-exílico o texto do Dêutero-Isaías não defendeu

uma monolatria170, mas um monoteísmo171, sempre com a intenção de esclarecer aos exilados e

aos repatriados que os deuses babilônicos eram ídolos e o único El, ou seja o único Deus era

Yahweh.

É importante comentar que o substantivo - El na perícope de Isaías 45,14-25 foi

mencionado nos vs. 14, 15, 21e 22, mas não faz menção ao El cananeu, pai de Baal e marido

de Asherah172.

Pois, o profeta dêutero-isaiânico não mencionou nesta perícope ou em outra parte de sua

produção literária as divindades cananeias. O mesmo também não advertiu os exilados contra

a adoração dos deuses cananeus, tendo em vista que seu foco foi negar que o deus Marduk era

o Deus Criador.

69

Portanto, o termo - El, no Dêutero-Isaías se tornou um termo genérico para se referir

a Yahweh como Deus ou o Deus de Israel.

Também o substantivo próprio - Elohimvisto nos vs. 15, 18 e 21 de Isaías 45,

não faz alusão as divindades cananitas, mas semelhente ao termo - El, se toenou um termo

genérico que se ao Deus de Israel.

Portanto, no v. 14 quando o Dêutero-Isaías, fala em nome de Yahweh e enfatiza que não há

outro - El ou no v. 15 que menciona - Elohim de Israel, o

profeta quer dizer que não há outro Deus além de Yahweh e que os deuses babilônicos eram

somente ídolos.

2.10.3 Profeta: Afirmação de Fé no El, Elohim Salvador de Israel vs.15-17

Nestes versos, temos uma oração efetuada pelo profeta onde o ele chama Yahweh no v. 15

de - Elohim e salvador de Israel. O fato do profeta

170Adoração centrada a um único Deus, mas reconhecendo a existência de outros. 171Crença em um único Deus e a negação da existência de outros deuses. 172Cf. Paulo Neto, EL, o verdadeiro deus dos hebreus politeístas. Artigo disponível em:

http://www.aeradoespirito.net/Livros1/El-ODeusdosHebreusPoliteistas.pdf. Data: 21/06/2016.

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chamar Yahweh de Elohim de Israel, está ligado a teologia exílica e pós-exílica que apresenta

Yahweh como o único Deus.

Croatto173 sugere que o v. 15 deve ser visto como uma exclamação do profeta ou talvez da

cumunidade que lê o texto. Assim, a afirmação -Tu és El, como também a frase

- Elohim de Isael, indicam dois títulos para Yahweh - El e

-Elohim, que esclarecem aos exilados que o Deus de Israel é Yahweh e ao mesmo

tempo adverte Israel contra os outros deuses descritos pelo profeta dêutero-isaiâno como ídolos.

Já mencionamos acima que no Dêutero-Isaías os títulos de Elohim ou El não se referem a

um sincretismo ou uma memória dos mitos cananeus ligados a El e Baal, tendo em vista que, o

profeta não faz menção a adoração de Baal ou até das divindades femininas da mitologia

cananeia, tais como Asherah ou Anat.

70

Assim, reforçamos que os títulos de El e Elohim, atribuidos a Yahweh pelo profeta, se

referem a uma afirmativa de fé em que o profeta esclareceu aos exilados que Yahweh era o

único Deus e salvador174.

Portanto, para o profeta dêutero-isaiânico a frase o El que se esconde, pode se referir a uma

linguaguem utilizada para apontar a questão do pensamento que muitos dos exilados estavam

reproduzindo durante o cativeiro.

Eles se questionavam através da seguinte pergunta: porque o Deus El se escondeu do seu

povo e permitiu a invação de Jerusalém, a deportação e a destruição do Templo em 587 a.C.?

Diante desta crise de fé o Dêutero-Isaías era um encorajador da fé, pois sempre proclamou a

restauração e libertação dos exilados.

Ao avançarmos na pesquisa, continuamos a discussão da pequena frase -

Tu és El, e sugerimos a fala dos autores Westermann175 e Croatto176. Os mesmos ressaltam que

173CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol I. A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 141-142. 174SCHMIDT, Werner H. A fé do Antigo Testamento. 1° Ed. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2004, p. 47-65. 175WESTERMANN, Claus. Isaiah 40-66: A Commentary. The Westminster Press: Philadelphia, 1969, p. 170-171. 176CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol I. A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 141-142.

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muitos estudiosos interpretam - Tu és El, por ‘Contigo está Deus’, incluindo o

v. 15 no discurso das nações do v. 14. Eles sugerem uma interpretação universalista do texto e

introduzem no Dêuter-Isaías o tema da salvação para outros povos. Entretanto, é uma

incoerência na leitura, pois afasta o leitor do objetivo único da mensagem do profeta, o de falar

da libertação aos exilados e proclamar a restauração de Jerusalém. Assim, a frase

- Tu és El, é uma afirmação de fé onde o profeta ressalta que Yahweh é o -

El, ou seja o único Deus de Israel.

Passemos agora a observar o v. 16 e o v. 17, nestes o profeta mencionou os fabricantes de

ídolos e afirmou que eles seriam envergonhados e também humilhados.

Portanto, o Dêutero-Isaías tentou encorajar os exilados admoestando–os a confiar somente

em Yahweh, pois todos que confiassem ou produzissem ídolos, cairiam em vergonha e

humilhação.

71

Anida na parte (b) do v. 17, o profeta continua sua fala contra os fabricantes de ídolos,

questionando o trabalho dos artíficies de Marduk um deus que segundo o profeta dêtero-

isaiânico não poderia salvar.

Sobre este assunto, meu posicionamento asemelha-se ao de Croatto177, Schökel e Diaz178 os

quais ressaltam que o profeta quer convencer os exilados referindo-se que Yahweh é o único

capaz de salvá-los.

North179 faz uma observação interessante ao dizer que o título de salvador atribuido a

Yahweh no v. 17 foi usado quase como um nome próprio no Dêutero-Isaías, devido as

constantes repetições vista no livro.

Neste assunto, podemos observar que o profeta dêutero-isaiânico afirmou que Yahweh era

o único capaz de salvar Israel. Desta forma, o Dêutero-Isaías pretendeu rejeitar o conceito do

177CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol I. A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 143-144. 178SCHÖKEL, Luís Alonso e DIAZ J. L. Profetas I: Isaías e Jeremias. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 312-313. 179NORTH, Christopher R. Isaiah 40-55 Introction and Commentary. 1 ed. SCM Press LTD: Grent Britain, 1952,

p. 92-93.

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Marduk salvador, pois se Yahweh é o único salvador era inutíl clamar a Marduk, como faziam

os babilônicos e os estrangeiros exilados na Babilônia que optavam por adorar Marduk.

Para Young180 , os vs. 16-17 notificam uma das maiores questões entre os povos exilados e

os exiladores, a questão da verdadeira divindade e dos fabricantes de ídolos. Concordo com o

mesmo, tendo em vista que havia entre os israelitas exilados, alguns pensavam que sua condição

de exilado era a maior prova de que o Deus de Israel se escondeu do seu povo e não estava

disponto a salvá-los, ou seja, libertá-los da Babilônia.

Young ainda destaca, que o tema central do v. 17 se refere a -

salvação eterna. Desta maneira, podemos identificar que o profeta falou de salvação por duas

vezes neste verso, reafirmando que Israel foi salvo por Yahweh e não por Marduk o salvador

dos babilônicos.

72

Portanto, o v. 17 é mais uma incansável exortação do profeta a Israel exilada, afim de que

ela não deixassem de acreditar que Yahweh era o Deus salvador e logo a libetaria de sua

condição de exilada e a faria retorn a Jerusalém.

2.10.4 Palavra de Yahweh e do Profeta (vs. 18-25)

Nesta parte temos o profeta endereçando palavras a Israel exilada, tanto em nome de

Yahweh como em seu nome. Anteriormente já mencionamos que esta prática era comum entre

os profetas, pois eles endereçavam as palavras ao povo como porta vozes de Yahweh a fim de

que o povo compreendesse que as exortações, denúncias e ameaças direcionadas pelo profeta

ao povo eram na verdade exortações ou orientações de Yahweh.

1.10.5 Yahweh: Eu sou o Criador dos Céus e da Terra vs. 18-23

Podemos averiguar como o profeta Dêutero-Isaías falou aos judeus exilados em nome de

Yahweh, destacando a questão da cosmogonia da criação referindo-se a Yahweh como Deus

180YOUNG, Edward J. The Book of Isaiah – Chaptes 40 through 66. The English text, with introduction, exposition

and notas, Michigan, Eemans, 1972, p. 208-209.

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Criador - Eis assim disse

Yahweh Criador dos céus.

Para discutirmos sobre este assunto, apresentaremos uma breve análise semântico-

fenomenológica do termo “criar”, e do termo “caos” vistos em Isaías 45,18 e que estão ligados

a questão do Yahweh Criador.

- Criar181

Este termo visto no v. 18 do livro do profeta Isaías, está conjugado no Qal182, gênero

masculino, particípio singular, tendo como raiz o verbo - criar, podendo significar,

criar num sentido de construir, como também, num sentido cosmogônico se referindo à criação

dos céus e da terra.

73

Segundo Ribeiro183, as seguintes passagens na Bíblia Hebraica em que o - criar,

expressa o sentido de construir, podem ser vistas nos seguintes textos: Êx 34,10; Sl 89,13; Sl

102,19; Is 43,1-7; Is 45,7; Is 54,16; Is 57,19; Is 65,17-18; Ez 21,35 e Ez 28,13-15.

Em (Isaías 40,28; 42,5 e 45,18) o termo - criar é visto em sentido de um criar

cosmogônico. Sendo que nos três versículos o termo é seguido pelo tetragrama

- Yahweh e está ligada às expressões - a terra, como também -

os céus, demonstrado um criar cosmológico e atemporal, desprovido de referências

cronológicas.

- Caos, deserto, vazio184

181SCHÖKEL, Luis Alonso. Dicionário Bíblico Hebraico-Português. 2° ed. São Paulo: Paulus, 1997, p. 116. 182As formas de verbos hebraicos no Qal expressam uma ação simples e ativa, ou o sujeito da frase, efetuando a

ação. 183RIBEIRO, Osvaldo Luiz. A Cosmogonia de Inauguração do Templo de Jerusalém – o Sitzim Leben de Gn 1,1-

3 como prólogo de Gn 1,1-2,4ª. Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em Teologia da PUC - Rio,

2008, p. 155-156. 184KIRST, Nelson. Dicionário Hebraico Português e Aramaico Português. 19 ed. Rio de Janeiro: Sinodal e Vozes,

2007.

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De acordo com Brueggemann185 o termo - caos, visto em Isaías 45,18-19, pode ser

identificado no contexto do exílio se referindo aos ídolos vistos em (Isaías 44,9).

Para Croatto186 - caos, se refere a um “caos” aquático e pré-criacional como em

(Gênesis 1,2). Segundo Schökel e Diaz187, o profeta quer destacar que Yahweh não criou uma

terra vazia ou caótica.

No que se referem os vs. 18-19, sugiro que o profeta apresentou uma afirmativa de fé, onde

ele demonstrou que Yahweh foi o criador dos céus e da terra, em detrimento a fé babilônica que

atribuiu o título de deus criador a Marduk.

Os judeus tiveram contato com a fé babilônica durante o período em que estiveram exilados

na Babilônia, entre o ano 587 a 540 a.C., eles tiveram acesso às ideologias religiosas, textos e

afirmações de fé que foram re-trabalhados pelo Dêutero-Isaías, o qual direcionou o título de

Deus Criador a Yahweh. Sendo assim, no v. 18, o Dêutero-Isaías se esforçou para fixar a

teologia do Yahweh Deus Criador dos céus e da terra, a fim de estabelecer para os demais

judeus exilados que Yahweh era o Deus Criador e não Marduk.

74

Sobre o termo - caós, destacamos que esta palavra pode ser vista em (Dt 32,10),

como região desértica, tendo em vista que a passagem descreve, “numa terra deserta e num

ermo desabitado”.

Assim, as duas expressões encontram-se sintática e semanticamente articuladas à expressão

. Portanto, o termo - caós, trata de um lugar em que se pode

considerar igual a “uma terra desértica”.

No texto de (Jó 12,24), Yahweh é apresentado como aquele que é capaz de trazer à luz as

nações e tomar os cabeças do povo da terra para e os fazer vaguear pelo deserto sem caminho.

Portanto, o termo - caos, neste texto é visto como deserto e lugar desabitado.

185 BRUEGGEMANN, Walter. Isaiah 40-66. Westminster Bible Companion: Louisville Kentucky, 1998, p. 82-

83. 186CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol. II A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, São Leopoldo: Sinodal 1998, p. 144-147. 187SCHÖKEL, Luís Alonso e DIAZ J. L. Profetas I: Isaías e Jeremias. 2º ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 312.

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Em (Salmos 107,40), temos uma expressão idêntica à citada de (Jó 12,24) que além de

denotar um lugar deserto e desabitado, também demonstrando uma situação de aflição onde

Yahweh faz os nobres vaguearem pelo deserto, mas livra o pobre da aflição.

No texto de Isaías 40,17, as nações são vistas como “nada”, sendo que o Dêutero-Isaías as

considera - confins e desertos. Destaca-se que o termoconfim apresenta

a parte mais extrema da terra.

Onde não há nada construído, nações no sentido geopolítico e onde ninguém mora se

referindo as nações no sentido político-social. Portanto, a palavra - caos indica um lugar

desolado e deserto em oposição a um lugar edificado e habitado.

Por fim, o termo - criar, assim como, - caos, deserto e vazio, são

expressões utilizadas pelo profeta dêutero-isaiânico, para fixar a ideia de que Yahweh deveria

ser visto pela comunidade de judeus exilada na Babilônia e posteriormente pelos judeus

repatriados antes e depois da reconstrução do Segundo Templo, como o Deus Criador dos céus

e da terra e não Marduk.

No texto de Isaías 45,20, o profeta fala aos exilados em nome de Yahweh e fazendo uma

convocação as nações. Vejamos abaixo.

75

Assim, o Dêutero-Isaías enderaçou sua profecia convocando as nações. Observa-se que por

causa da terminologia - nasções, a interpretação do texto se torna muito mais

difício.

Reuni-vos

e entrai se

achegai-

vos todos

juntos

escapastes

as nações

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De acordo com Croatto188 , os estudiosos costumam atribuir ao presente texto uma

interpretação universalita, onde o profeta ressalta o tema da salvação para as nascões e não

somente para Israel. Neste caso, o profeta também estaria endereçando sua professia aos

refugiados das conquistas de Ciro e levando os mesmos a terem uma visão negativa diante dos

homens que carregavam árvares sagradas que representavam seus deuses.

Meu posicionamento sobre este assunto, assemelha-se aos autores Schökel189 e

Westermann190 os quais salientam que o v. 20 se refere a um grupo de sobreviventes que

correspondem ao restante do povo de Israel, disperço na diáspora. Neste caso, o profeta

endereça sua professia somente para Israel exilada e não aos povos estrangéiros que foram

refugiados nas conquistas de Ciro.

Sendo assim, o texto pode ser interpretado como aos judeus exilados e os que estavam

espalhados entre as nações. Por isto, o profeta faz uma crítica, dizendo que -

não sabem, os que caregam suas árvores sagradas e as têm como seus deuses.

Observa-se que no verso v. 21, o profeta inicia sua fala direcionando uma mensagem em

nome de Yahweh aos judeus exilados, esclarecendo a eles que não há outro Deus fora de

Yahweh ,

- Eu

sou Yahweh e não há outro Deus fora de mim.

76

Este esforço do profeta em enfatizar que não há outro Deus além de Yahweh, se fere a

negação da existência de outros Deuses, como também de suas atividades salvíficas e

cosmogônicas.

Outro detalhe no texto de Isaías 45, 21 é a utilização feita pelo profeta de uma linguaguem

jurídica, onde ele falou em nome de Yahweh e se direcionou ao povo dizendo

e trazei as provas.

188CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol I. A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 147-148. 189SCHÖKEL, Luís Alonso e DIAZ J. L. Profetas I: Isaías e Jeremias. 2º.ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 312. 190WESTERMANN, Claus. Isaiah 40-66: A Commentary. The Westminster Press: Philadelphia, 1969, p. 174-175.

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Sobre este assunto sugiro o posicionamento de Croatto,191 o qual diz que a linguaguem

utilizada pelo profeta se refere a provas que certifiquem a capacidade de outros deuses. Ou seja,

quem pode provar que os outros deues possuem os atributos criacionais e salvíficos de Yahweh?

Portanto, o profeta dêutero-isaiânico não atribuiu a Marduk e a nenhum outro deus os

atributos de salvador e criador, pois para ele somente Yahweh era o Deus possuidor destes

atributos.

No v. 22, o profeta fala em nome de Yahweh a alguns judeus dizendo:

- Voltai-para mim e sereis salvós. Estes judeus podem

ser a comunidade judaica exilada na Babilônia e os demais que estavam espalhados entre as

nações daquela época, pois o profeta mencionou - todos os

comfins da terra.Sendo assim, ele não se dirigiu somente aos exilados, mas a todos judeus

espalhados pelo mundo.

Podemos observar que o Dêutero-Isaías também utilizou este tipo de linguaguem, quando

falou das ilhas em Isaías 41,1 ou 42,4. Portanto, a questão das ilhas, ou confins da terra, se

referm a comunidade de Israel espalhada em varias localidades do mundo antigo Babilônia,

Egito, Pérsia, etc.

Assim, discordo da interpretação universalista que diz que o profeta Dêutero-Isaías

direcionou sua profecia a um âmbito global, afirmando que todos foram convidados para serem

salvos por Yahweh.

77

Desta forma a interpretação israelita que notifica os termos - nações,

~yYIëa - ilhas e - todos confins da terra, deve ser

vista como uma metáfora para se referir a comunidade de Israel espalhada em varias localidades

191CROATTO, José Severino. Isaías A palavra Profética e sua releitura hermenêutica: Vol I. A libertação é

possível. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 147-148.

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do mundo antigo, pois devido a fé exclusivista192 judaica, o profeta não inclui outros povos na

salvação de Yahweh.

No v. 23 o Dêutero-Isaías continua direcionando a mensagem aos judeus exilados em nome

de Yahweh, dizendo queYahweh jurou por ele mesmo, - Em

mim jurei, por mim mesmo. Este juramento tinha o objetivo de atribuir atenção e importância

para a afirmativa que vem asseguir, a respeito da palavra de justiça que saiu da boca de Yahweh

- saiu (da) minha boca palavra (de) justiça. Ou

seja, o profeta quer exclarecer aos judeus exilados que Yahweh é um Deus de justiça

- justiça, que corrige seu povo quando nescessário, mas sempre que invocado se

dispõe a salvá-los.

Ainda referente a este assunto, sugiro que a palavra - justiça, se refere a uma

palavra chave no texto e que tem o sentido de demonstrar que não há justiça em nenhum outro

Deus, além de Yahweh.

Desta maneira, o termo - justiça, é mais um atributo que o profeta direcionou

a Yahweh, semelhantes aos de Criador e Salvador. Assim, o profeta dêutero-isaiânico

direcionou os títulos de Criador, Salvador, e Justo que os babilônicos atribuiam a Marduk para

Yahweh, a fim de deixar claro aos demais judeus exilados que estes títulos pertenciam a

Yahweh e não ao deus Marduk.

Ainda no v. 23, podemos observar que o profeta fala em nome de Yahweh mencionando que

todos os joelhos se ajoelharam e toda língua que jurará, - todos se

ajoelhão, e - toda língua jurará.Sobre estes termos há

muitas discuções entre os estudiosos, pois alguns dizem que a frase - todos

se ajoelhão,se refere a todas as pessoas de todas as nações do mundo.

78

A meu ver, a frase - todos se ajoelhão, e

- toda língua jurará , não se refere a soma total de todos os

homens em toda as partes do mundo, mas seria uma linguaguem utilizada pelo profeta para

192Exclusivismo religioso é a doutrina ou crença de que apenas um determinado sistema de religião ou fé é

verdadeira.

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destacar que toda Israel em toda parte do mundo antigo deveria se ajoelhar e com sua língua

confessar que Yahweh era o único Deus, Salvador de Israel e o Criador dos céus e da terra.

2.10.6 Profeta: Yahweh Gloriará Toda Descendência de Israel vs. 24-25

Observa-se que no v. 24, o profeta direcionou a mensagem ao povo em seu nome, afirmando

que Yahweh disse para ele que

- somente em Yahweh há justiças e vigor.Observa-se que no advérbio - somente, o

profeta enfatizou que as - justiçase o - vigor, só podem existir em Yahweh.

Ou seja, esta afirmativa também tinha o objetivo dizer que estes atributos não poderiam ser

encontrados em Marduk, mas somente em Yahweh.

Ainda sobre a particula -somente, Young193 salienta que o profeta direcionou esta

mensagem ao povo tendo como objetovo exclarecer a comunidade exilada que somente na

companhinha de Yahweh e de nenhum outro deus, há justiça e vigor. Sendo assim, o profeta

continuou seu árduo trabalho de motivar Israel a crer somente em Yahweh como o único Deus,

salvador de Israel e Criador dos céus e da terra, em detrimento a ideia de Marduk ser o deus

criador e salvador.

Por fim, no v. 25 o profeta concluiu a perícope direcionado a palavra à comunidade de

judeus exilados, dizendo que - em Yahweh serão justificados.

Ou seja, o profeta quer transmitir a Israel que Yahweh estava disposto a justificar seu povo.

Por isto, o Dêutero-Isaías quer destacar entre os judeus exilados na Babilônia que abandonar

a fé em Yahweh, justificando que Yahweh se escondeu do seu povo, devido o exílio e a

destreuição de Jerusalém, seria um erro.

79

Portanto, o profeta admoestou o povo, dizendo que a glória de Yahweh se estenderia a

toda descendência de Israel - e se

193YOUNG, Edward J. The Book of Isaiah – Chaptes 40 through 66. The English text, with introduction, exposition

and notas, Michigan, Eermans, 1972, p. 216-217.

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gloriará toda descendência (de) Israe. Para o profeta, Yahweh logo mudaria a sorte dos

exilados194.

Em fim, concluo a exposição deste comentário exegético enfatizando que a perícope

trabalhada no texto de Isaías 45,14-25, nos apresentou um anúncio de libertação à Israel exilada,

afirmações de fé do profeta como também algumas instruções de fé direcionadas pelo profeta

aos judeus exilados, afim de que eles não se irassem contra Yahweh. Pois, Yahweh os salvaria

do cativeiro babilônico e os faria retornar à Jerusalém, para que eles pudem professar sua fé e

anunciar a teologia criada pelo profeta Dêutero-Isaías, que se refere a Yahweh ser o Deus

Criador criador dos céus e da terra.

2.11 Conclusão

As afirmativas de fé e as narrativas de criação vistas na perícope estudada nos levam a

concluir que o profeta dêutero-isaiânico apresentou características distintas do profetismo pré-

exílico, pois no Dêutero-Isaías não há profecias de denúncias e ameaças direcionadas a Israel

exilada, mas de salvação e consolação como também a afirmação de que Yahweh era o Criador

dos céus e não Marduk.

Em outros profetas do Antigo Testamento, podemos identificar ameaças direcionadas ao

povo. Por exemplo, no profeta nortista Oséias (783-743 a.C.) podemos visualizar denúncias e

ameaças contra o estado195 e contra os habitantes da terra de Israel (Oséias 4,1), ao ponto de o

profeta dizer que - não havia

conhecimento de Elohim na Terra, - nem verdadee nem - bondade.

O profeta nortista e campesiano Amos (783-743 a.C.), anunciou o julgamento de Yahweh

sobre as nações vizinhas de Israel, apresentando um estilo de profecia bem semelhante a Oséias.

80

194SCHÖKEL, Luís Alonso e DIAZ J. L. Profetas I: Isaías e Jeremias. 2º ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 313. 195CF. Livro do Profeta Oseias 1,2-9.

llllAssim diz Javé: Por três crimes de Damasco e por quatro, não voltarei atrás.

Porque moeram Galaad com grade de ferro. Porei fogo na casa de Hazael e

queimarei os palácios de Bem-Adad. (Amos 1,3-4)

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No profeta sulista Miquéias (725-701 a.C.), podemos identificar ameaças contra os chefes

de Jacó e contra Israel.

Em contra partida, o

Dêutero-Isaías direcionou

suas profecias a favor de Israel falando sobre consolo e perdão de pecados.

Ao analisarmos a

obra dêutero-isaiânica, observamos que o profeta não direcionou seus oráculos contra Israel ou

contra os persas que eram os seus conquistadores, mas do começo de sua obra até o final ele

falou de consolação e salvação para Israel exilada.

A outra questão que apresentamos, foi o novo estilo de profecia vetero-testamentária

iniciado pelo Dêutero-Isaías que apresentava Yahweh como o Deus Criador dos céus e da terra.

Destacamos que entre todos os profetas que desenvolveram suas atividades em Israel antes

do Dêutero-Isaías, nenhum direcionou o título de Deus Criador a Yahweh, pois Israel aprendeu

a teologia do Deus Criador do cosmo, no período que eles estiveram exilados na Babilônia.

Também foi o profeta Dêutero-Isaías que ao ter contato com as afirmações dos babilônicos

que diziam que Marduk era o deus criador, re-direcionou este título a Yahweh, como também

os títulos de Salvador e Justo. Portanto, nossa tese destaca que o profeta Dêutero-Isaías foi o

iniciador da teologia do Yahweh como Deus Criador em Israel e quem abriu o caminho para

que os redatores do Gênesis 1,1-2,4a e 2,4b-25 e dos Salmos de Criação (Sl 104; 19; 33; 08;

136), pudessem evoluir esta teologia no período pós-exílico.

81

Pois eu vou reduzir Samaria a um campo de ruínas, um lugar para plantação de

vinhedos. Jogarei suas pedras no vale e porei seus alicerces a descobertos.

Todos seus ídolos serão destruídos e suas ofertas serão queimadas. Vou reduzir

a pó suas imagens: dados que foram juntados como paga de prostituição, em

paga de prostituição elas vão se transformar. llllMiquéias 1,6-7

Consolem, Consolem meu povo, diz o Deus de vocês. Falem ao coração de

Jerusalém, gritem para ela que já se completou o tempo de sua servidão, que

seu crime já foi perdoado, que ela já recebeu da mão de Javé o castigo em dobro

por todos os seus pecados. Isaías 40,1-2

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3 A INFLUÊNCIA DA COSMOGONIA DA CRIAÇÃO BABILÔNICA “ENUMA

ELISH” EM ISAÍAS 45,14-25 E EM GÊNESIS 1,1-3

3.1 Introdução

Entre os chamados profetas, sejam aqueles que possuem uma coleção de livros anexados

no Canon do Antigo Testamento, ou entre os primeiros profetas, tais como: Elias, Eliseu, Natã

e Aías, nenhum trabalhou a teologia da cosmogonia da criação, nenhum apresentou a expressão

- Assim disse

Yahweh criador dos céus. Somente o profeta Dêutero--Isaías.

Este profeta também conhecido de profeta anônimo do exílio babilônico,196 foi um defensor

da fé em Yahweh e iniciador da Teologia do Deus Criador aplicado a Yahweh entre os israelitas.

Assim, neste capítulo analisar-se-á como o Enuma Elish teve um papel fundamental para o

profeta Dêutero-Isaías, criar a nova teologia em Israel que apresentaria Yahweh como o Deus

Criador dos céus e da terra. Também no decorrer deste, apresentaremos o conteúdo do Enuma

Elish, a fim de averiguarmos como o deus babilônico Marduk foi enaltecido na Babilônia como

o criador dos céus e da terra.

Ainda tratar-se-á como a narrativa de criação babilônica contribuiu para o surgimento da

narrativa da criação judaica vista no Gênesis 1,1-3 como também do Dêutero-Isaías, vista no

livro de Isaías 40,28; 42,5 e 45,18, onde o profeta fez uso do verbo -criar, mesmo

verbo utilizado no livro do Gênesis 1,1.

Por fim, apresentar-se-á o contexto histórico por trás da cosmogonia da criação do Gênesis

1,1-3. Discutirá sobre a origem da cosmogonia da criação vetero-testamentária, afim de que

possamos destacar que no texto do Dêutero-Isaías, temos a origem da teologia do Deus Criador

dos céus e da terra uma teologia que nasceu no exílio em terra estrangeira onde o profeta teve

a intenção de esclarecer aos demais judeus exilados que o Criador dos céus e da terra era

Yahweh e não Marduk.

82

3.2 O Dêutero-Isaías e o Enuma Elish

196JENSEN, José. Dimensões éticas dos profetas. 1º ed. Edições Loyola: 2009, p. 59-60.

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O profeta dêutero-isaiânico foi o único entre os profetas vetero-testamenários que

direcionou o título de Criador dos céus e da terra a Yahweh, divindade cultuada pelos judeus

exilados na Babilônia durante a terceira dinastia caldaida que se deu, do monarca Nabopolassar

até o rei Nabonido197 626 a 539 a.C.

Em Isaías 45,18

Eis assim disse Yahweh Criador

dos céus ele o Elohim

o que formou a terra e o que a fez

ele estabeleceu

não vazia crioupara habitar a

formou

Eu sou Yahweh e não há outro

Podemos observar no texto acima que Yahweh foi chamado de Elohim que formou a terra.

Também o profeta utilizou o verbo -criar, para atribuir a criação dos céus e da terra

a Yahweh Elohim. Notamos certa semelhança no texto do Dêutero-Isaías e no texto de Gênesis

1,1. Que diz:

-

Em princípio criou Elohim os céus e a terra.

Observa-se que, a semelhança dos dois textos pode ser explicada, pelo fato de ambos serem

de época contemporânea. No entanto, os redatores das duas narrativas cosmogônicas da criação

no Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25198, evoluíram o tema do Yahweh Deus Criador dos céus e da

terra, no período pós-exílico199, acrescentando novos elementos que não foram discutidos pelo

Dêutero-Isaías (Is 40, 28; 42,5 e 45,18).

83

197WEYNE, Monique Webler e LIMA, Maria de Lourdes Corrêa. A INVESTIDA DE NABUCODONOSOR

CONTRA JUDÁ: APROXIMAÇÃO E CONFLITO DOS DADOS BÍBLICOS E EXTRABÍBLICOS: Disponível em:

http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2010/relatorios/ctch/teo/ TEOMonique%20Webler20 Weyne.pdf.

Acesso em 10/01/2017. 198SCHWANTES, Milton. Projeto de Esperança: Meditações sobre Gênesis 1-11. 2 ed. São Paulo: Paulinas: 2009,

p. 31-102. 199SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio: história e teologia do povo de Deus no século VI

a.C. São Paulo: Paulinas. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 92-121.

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No período de cativeiro babilônico os judeus exilados foram alcançados pelo assunto central

do momento, o Deus Criador dos céus e da terra. Neste tema Eliade200 destaca que durante o

período da dinastia caldaica os babilônicos tinham o costume de citar o Enuma Elish201 todos

os dias do Ano Novo, sendo que os acontecimentos relatados eram ritualmente reconstituídos

fortalecendo as convicções religiosas dos babilônicos. Eles acreditavam que Marduk era o deus

criador dos céus e da terra (RIBEIRO, p. 2008, p. 155-156).

Assim, a preocupação dos babilônicos e de alguns povos conquistados era afirmar e

reafirmar as questões de cosmogonia esclarecendo que os céus e a terra foram obras da criação

do Deus Marduk.

Mediante esta questão o Dêutero-Isaías redirecionou o título de Criador a Yahweh, negando

a teologia do Marduk criador dos céus e da terra. Portanto, o verbo -criar, como já

mencionado foi aplicado a Yahweh num sentido de criar cosmogônico.

Sobre este assunto, Ribeiro também demonstra que o verbo - criar, expressa o

sentido de construir: Êx 34,10; Sl 89,13; Sl 102,19; Is 43,1-7; Is 45,7; Is 54,16; Is 57,19; Is

65,17-18; Ez 21,35 e Ez 28,13-15 (RIBEIRO, p. 2008, p. 155-170).

É importante destacar que no Dêutero-Isaías, propriamente nos seguintes textos (Isaías

40,28; 42,5 e 45,18) o termo - criar é visto em sentido de um criar cosmogônico.

Sendo que nos três versículos o termo é seguido pelo tetragrama - Yahweh, e está

ligado às expressões - a terra, como também - os céus,

apresentando um criar cosmológico e atemporal desprovido de referências cronológicas.

Enfim, nossa tese se embasa na questão do profeta Dêutero-Isaías ser o iniciador da teologia

do Deus Criador em Israel e seu trabalho literário ter sido a base para que os redatores das

cosmogonias de criação vistas no livro de Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25, viessem evoluir o tema

da criação em Israel, a partir das memórias que os repatriados tinham do Enuma Elish.

84

200ELIADE, Mircea. Origens história e Sentido na Religião. Edições 70, p. 95. 201Sete Tábuas que descrevem o mito de babilônico. Descoberto por Austen Henry Layard em 1849 (em forma

fragmentada) nas ruínas da Biblioteca de Assurbanípal em Nínive (Mossul, Iraque), e publicado por George Smith

em 1876.

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3.2.1 Contexto Histórico em que Surgiu o Relato da Criação de Gênesis 1,1-3.

Observa-se que os capítulos 1-11 de Gênesis, estão separados da história patriarcal vista

nos capítulos 12-25. Segundo Westermann,202 os capítulos 1-11 aludem histórias individuais

que uma vez foram transmitidas de forma independentes numa fase posterior de

desenvolvimento e sinalizadas pela união de história principal e história patriarcal, as quais

muitas vezes têm sido chamadas de novelas.

De acordo com Schwantes203, o capítulo 1 de Gênesis é data do século VI a.C. durante o

exílio babilônico. Schawantes menciona que são dois os argumentos que nos permitem esta

afirmação. O primeiro pode ser identificado pelo sábado, tendo em vista que o sábado constituiu

uma tradição antiga que teve relevância no exílio.

O segundo argumento se refere à polêmica contra os deuses da luz do sol e da lua. A

discussão a respeito destas divindades era evidenciada na Babilônia. A narrativa da criação vista

em Gênesis 1,1-3 é uma versão judaizada da narrativa babilônica da criação, extraída do Enuma

Elish.

Os judeus tiveram contato com as narrativas cosmogônico babilônico no período de

cativeiro. Donner204 notifica que as deportações dos judeus para Babilônia se sucederam em

598/7 e 587/6.

Para Bright,205 no ano 604 a.C. os babilônicos já haviam conquistados territórios habitados

por judeus e deportado alguns deles. Desta maneira, os judeus exilados na Babilônia tiveram

contato com as narrativas do Enuma Elish.

Schwantes ressalta que o fim do exílio se deu em 539 a.C206, já na historiografia de

Heródoto,207 o rei Ciro tomou a Babilônia desviando as águas do rio Eufrates para um lago

previamente escavado para este fim, fazendo entrar o seu exército pelo leito do rio.

85

202WESTERMANN, Claus. Genesis.T&T Clark International, 1987, p. 12. 203SCHWANTES, Milton. Projeto de Esperança. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p.34. 204DONNER, Herbert. História de Israel e dos Povos Vizinhos. 5 ed. São Leopoldo: Sinodal, 2010, p. 433. 205BRIGHT, John. História de Israel. 9 ed. São Paulo: Paulus, 2010, p. 393. 206SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exilo – História e Teologia do Povo de Deus no século VI

A.C.3 ed. São Leopoldo: Oikos, 2009, p. 122. 207HERÓDOTO. O Relato Clássico da Guerra entre Gregos e Persas. 2° Ed. São Paulo: Prestígio, 2001.

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As portas tinham permanecidos abertas durante a noite enquanto os habitantes festejavam

no palácio de Nabonido, o qual não estava presente, pois estava em uma campanha em Temã

na Arábia.

Seu filho Belsazar estava tomando conta do reino quando foi informado que o exército

de Ciro liderado pelo general Gobrias (ou Gubbaru), entrou pelas portas abertas do palácio e

tomou a Cidade em outubro de 539 a.C.

O príncipe Belsazar foi assassinado e Ciro conquistou a Babilônia. Grande parte dos judeus

exilados na Babilônia estavam prestes a retornar para Jerusalém. Esta informação pode ser vista

nos livros de II Crônicas 36, 22-23 e Esdras 1, 2-3 os quais nos informam que Ciro permitiu

que os cativos judeus voltassem para Jerusalém com a finalidade de reconstruírem o Templo.

De acordo com Schwantes208, a volta de alguns judeus se sucedeu em torno da campanha

militar persa, sob Cambises contra o Egito aproximadamente em 527/526 a.C. Portanto, este

longo tempo de estadia dos judeus na Babilônia contribuiu para que eles conhecessem as

narrativas da criação babilônica o Enuma Elish, e assim escrevessem suas narrativas de criação.

Portanto, o texto de Gênesis dos capítulos 1-11 foi uma literatura escrita posterior ao

Dêutero-Isaías, propriamente no período pós-exílico, entretanto ambas tiveram a finalidade de

negar a teologia do Marduk criador dos céus e da terra.

É importante ressaltar que em Gênesis 1,2 a terra foi apresentada sem forma e vazia, a

semelhança da narrativa babilônica. Observasse também que no Enuma Elish, a personagem

mitológica era o monstro marinho Tiamat, porém na cosmogonia judaica Tiamat foi substituído

por - abismo.

Desta maneira, o - abismo descrevia a vasta massa de aquosa da qual as águas que

estavam acima do firmamento foram separadas durante o segundo dia e na qual a terra seca

emergiu no terceiro dia.

86

Eliade209 faz menção à quarta tábua do Enuma Elish e relata o combate entre Marduk e

Tiamat. Também menciona como Marduk criou o cosmo com o corpo retalhado da Tiamat.

208SCHWANTES, Milton. Breve história de Israel. 3 ed. São Leopoldo: Oikos, 2009, p. 62. 209ELIADE, Mircea. O sagrado e o Profano. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 70.

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Este relato é identificado na narrativa bíblica em Gênesis 1,6 quando Elohim disse:

- haja firmamento. Neste relato, o próprio Elohim foi descrito como o

Deus que Criador o firmamento para separar as águas das águas.

É importante ressaltar que a narrativa poética judaica da criação não se apartou das ordens

de acontecimentos vistas no Enuma Elish, pois ambas iniciam com o espírito divino. Sendo que

no Enuma Elish, o espírito divino consiste das divindades primitivas Apsu e Tiamat, os quais

geraram os primeiros deuses. A cosmogonia judaica da criação também reteve o conceito de

“caos” extraídos do Enuma Elish e o relato do descanso dos deuses após a criação do mundo.

Enfim, a cosmogonia da criação do Gênesis 1 mostra uma predileção pelo número sete,

aludindo que os eventos da criação foram efetuados em sete dias. Esta predileção ao número

sete também procede do Enuma Elish que divide em sete tábuas o relato da cosmogonia da

criação.

Ribeiro210, ainda salienta que no período pós-exílico o texto do Gênesis 1,1-2,4a está

relacionado ao Templo de Jerusalém. Assim como a cosmogonia babilônica também estava

relacionada ao Templo de Nabu, tendo em vista que o relato cosmogônico do surgimento do

mundo visto no Enuma Elish era recitado nós últimos dias do ano e nos primeiros dias do ano

novo211.

Ribeiro212, também menciona o apontamento de Gwendolyn Leick, o qual insinua que a

cosmogonia de Eridu é datada no século VI a.C. contemporânea à produção de Gênesis 1,1-

2,4ª, como também da literatura dêutero-isaiânica. Neste tempo, os mitos de criação serviam de

introdução a uma extensa fórmula de encantamento para ser recitada no intuito de purificar o

Templo de Nabu em Borsippa. Observa-se que a cosmogonia semita da criação de Gênesis 1,1-

2,4ª, também era recitada e constituía como liturgia de inauguração do Templo de Jerusalém –

o de Zorobabel/Josué.

87

3.2.2 Análise literária de Gênesis 1,1-3

210RIBEIRO, Osvaldo Luiz. A cosmogonia de inauguração do templo de Jerusalém – o Sitz im Leben de Gn 1,1-

3 como prólogo de Gn 1,1-2,4ª. Tese (Doutorado em Teologia)-Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,

Rio de Janeiro, 2008, p. 33-34. 211ELIADE, Mircea. O sagrado e o Profano. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 70. 212IDEM.

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Iniciamos este ponto com a tradução de Gênesis 1,1-3, esta que tem o intuito de manter

uma maior fidelidade ao texto da Bíblia Hebraica Stuttgartensia213.

Genesis 1

Em princípio criou Elohim os céus e

a terra.

E a terra era informe e vazia e escura

sobre (a) face abismo e espírito Elohim

flutuava sobre (a) face das águas.

E disse Elohim haja luz e houve luz.

Ao compararmos o texto da Bíblia Hebraica Stuttgartensia com os textos das Bíblias

portuguesas, Bíblia de Jerusalém214 e Bíblia de Tradução Ecumênica215, podemos averiguar o

quanto elas se diferenciam entre si.

A Bíblia de Jerusalém traduz a perícope mais próximo da tradução literal. No entanto, a

Bíblia de Tradução Ecumênica inicia o v. 1 dizendo:

88

213Elliger et W. Rudolph. Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. A. Schenker: Deutsche Bibelgesellschaft. 214Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2004, p. 33. 215Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo: Loyola, 1994, p. 24.

Quando Deus iniciou a criação do céu

e da terra,

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Essa tradução sugerida pela Bíblia de Tradução Ecumênica, substitui a preposição

inseparável - em, e o substantivo -princípio, pelo advérbio מתי - quando.

Esta tradução da Bíblia Ecumênica se baseia na forma literária do texto onde o conto

cosmogônico é transmitido não pretendendo ser uma narrativa que sugere um começo

cronológico, estando em total semelhança à primeira tábua do Enuma Elish.

Ainda no v. 1, o texto da Bíblia Hebraico se

encerra com o ponto final chamado de sof passuq ( : )216. A Bíblia de Tradução Ecumênica não

encerra o versículo 1 e o versículo 2 com o sof passuq, mas em seu lugar introduziu uma vírgula

deixando subtendido que a cosmogonia da criação não tinha se encerrado.

O verso 3 encerra de forma simples o verso, pois tanto na Bíblia de Jerusalém, Tradução

Ecumênica da Bíblia, como na Bíblia Hebraica o sof passuq ou ponto final encerra o relato

apontando para a criação da luz.

O texto de Gênesis 1,1-3 relata a cosmogonia judaica da criação, a saber, as origens dos

céus e da terra. A narrativa atribui a Elohim a criação do cosmo sendo que esta criação é

efetuada a partir do caos que também é um símbolo da destruição de Jerusalém pelos

babilônicos.

Segundo Ribeiro,217 a “luz” vista no v. 3 do livro de Gênesis é um símbolo da autorização

persa da reconstrução do Templo de Jerusalém, lugar onde o mito cosmogônico da criação seria

repetido anualmente. Portanto, a criação dos céus e da terra em Gênesis 1,1-3 significa a

reconstrução do Templo de Jerusalém.

De acordo com Schmidt218, este texto seguiu um estilo narrativo onde Gênesis 1,1-3

expressa a narrativa cosmogônica do surgimento do mundo.

89

216KELLEY, Page. Hebraico Bíblico: Uma Gramática Introdutória. 6º Ed. RS: Sinodal, 1998, p. 36. 217RIBEIRO, Osvaldo Luiz. A cosmogonia de inauguração do templo de Jerusalém – o Sitz im Leben de Gn 1,1-

3 como prólogo de Gn 1,1-2,4ª. Tese (Doutorado em Teologia) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 2008, p. 274. 218SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. 4 ed. São Leopoldo: Sinodal, 1994, p. 46-47.

Quando no céu altura não foi nomeado, E embaixo na terra ainda não têm um nome, (...)

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Para Schwantes219, o capítulo 1 do Gênesis tem características de uma narração, mas é

profundamente poético, sendo que os vs. 1-3 são a primeira estrofe que vai de Gênesis 1,1 até

2,4a.

Desta maneira, reforçamos nossa tese de que o profeta Dêutero-Isaías foi o iniciador da

teologia que apresenta Yahweh como o Deus Criador dos céus e da terra, mas os redatores de

Gênesis 1,1-3 acrescentaram as novidades a esta teologia no período pós-exílico.

Observa-se que na cosmogonia de Gênesis, o redator construiu seu imaginário religioso da

criação dos céus e da terra sobre a influência das narrativas de criação babilônicas. Em nossa

pesquisa, observamos algumas semelhanças do texto do Gênesis e do Enuma Elish.

Destacamos algumas, o mito do “caos”, a criação do homem e da mulher, como também o

descanso dos deuses. Observa-se que estes relatos se repetem no Gênesis como também no

Enuma Elish.

Assim, analisamos que o texto do Gênesis 1,1-3 foi elaborado para ser lido em todo הבוט

Ano Novo judaico, no Segundo Templo. Os judeus aprenderam este rito de passagem na – הנש

Babilônia no período que estivam exilados.

Era costume entre os babilônicos recitar o Enuma Elish, todo fim de ano e começo de novo

ano novo, destacando entre todos que Marduk era o deus que criou os céus, a terra e todo ser

humano.

Desta maneira, a memória do Enuma Elish contribuiu para que o texto do Gênesis fosse

produzido e seu objetivo era reforçar a teologia do Yahweh como Deus Criador dos céus e da

humanidade.

Observemos a semelhança entre as narrativas de criação do Gênesis como também do

Enuma Elish.

90

219SCHWANTES, Milton. Projeto de Esperança. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p.31.

Gênesis 1,1.

Em princípio criou Elohim os céus e a terra.

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Na primeira tábua do Enuma Elish diz:

As duas narrativas da criação

estão registradas em um ambiente que valoriza o número sete. Observa-se que na narrativa

cosmogônico da criação babilônico, o texto está registrado em sete tábuas e na narrativa da

criação judaica as criações são evidenciadas no decorrer de sete dias.

Analisamos que o Enuma Elish foi proclamado na liturgia da festa de ano novo no Templo

de Nabu e o Gênesis 1,1-3 na liturgia da festa de ano novo do Segundo Templo. Portanto, os

judeus ao regressarem do exílio copiaram esta liturgia de proclamar a narrativa da criação nas

festas de ano novo.

No poema babilônico da criação, observa-se que o deus criador é Marduk. No livro de

Gênesis o Deus Criador foi descrito como Elohim. Em Gênesis 1,2 podemos visualizar esta

questão.

Observa-se que a narrativa judaica

não menciona que Elohim criou as

águas. No entanto, o mundo retratado no v. 2 foi alude como um caos. Descrito pelos termos,

informe e vazio. Assim, sugerimos que esta narrativa é uma copia da cosmogonia babilônica da

criação.

Quando no alto céu ainda não tinha sido nomeado, e, baixo, a

terra firme ainda não havia sido mencionada com um nome, só

apsú, seu progenitor, e a mãe, Tiamat a Geradora de todos,

mesclavam junto suas águas: ainda não se havia aglomerado os

juncos, nem os canaviais tinham sido vistos. Quando os deuses

ainda não havia aparecidos, nem tinham sidos chamados com um

nome, nem fixo nenhum destino, os deuses foram procriados

dentro deles. Tábua 1 linha 1-9.

E a terra era informe e vazia e escura sobre (a) face do abismo

e o espírito de Elohim flutuava sobre (a) face das águas.

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O mito babilônico da criação também começa descrevendo que o mundo era um caos de

águas, personificadas pelo casal divino. Apsú era formado pelas águas doces e sua esposa

Tiamat era personificada pelas águas salgadas220.

91

Ainda no v. 2, a narrativa judaica apresenta o espírito ou o vento de Elohim que flutuava

sobre (a) face das águas. Esta questão do vento também é vista no Enuma Elish, pois o deus

Anú criou quatro ventos e Marduk usou sete ventos

adicionais quando foi à batalha contra Tiamat.

Enfim, o Gênesis atribui à criação da luz à Elohim

pela força de sua palavra:

Na sétima tábua Marduk foi chamado de "Luz do pai”.

Kraus e Krchler se referem à criação da luz e comentam que a afirmação “houve luz”, faz

da luz uma criatura de Deus, provavelmente para não relacionar a origem da luz com o sol,

considerado na Babilônia como uma divindade (2007, p. 25).

3.3 A origem da narrativa da criação vetero-testamentária

Iniciamos este item, destacando que na literatura dêutero-isaiânica encontramos as origens

das narrativas cosmogônicas de criação vetero-testamentária. Propriamente nos textos de Isaías

40,28; 42,5 e 45,18, os quais como já ditos anteriormente, não expressão construir templos,

casas ou fortalezas, mas se referem à criação do cosmo.

Em Isaías 40,28 Yahweh é identificado como o - criador

das extremidades da terra, sendo que o termo hebraico traduzido por terra, segundo

Schökel221, também pode ser definido cosmogoniacamente significando universo, universo

220PONTES, Antonio Ivemar da Silva. A “Influência” do Mito Babilônico, Enuma Elish e Gênesis 1,1-2,4ª.

Dissertação de Mestrado: Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, 2010, p. 56-59. 221ALONSO SCHOKEL, Luis. Dicionário Bíblico Hebraico-Português. 2° ed. São Paulo: Paulus, 1997, p. 77-78.

Gênesis 1,3

E desse Elohim haja luz e ouve luz v.3.

O Asaru-alim-nuna, [Marduk] "o poderoso", "Luz do pai, que gerou a

ele", "Quem dirige os decretos de Anu Bel e Ea!"

7° Tábua.

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criado, morada dos homens e componente da criação ao lado da palavra hebraica

- céus, que a semelhança de - terra, também demonstra um sentido

cosmogônico de componente da criação que relacionam céu, universo, etc.

92

Em Isaías 42,5 o profeta destacou Yahweh era o Deus que criou os céus, os estendeu e

firmou a terra. Podemos observar que em Isaías 40,28 o verbo - criar, atribuiu o

título de Criador do universo a Yahweh.

Em Isaías 45,18 identificamos que o Dêutero-Isaías falou em nome de Yahweh e mais uma

vez enfatizou que os céus e a terra, eram obras da sua criação.

Em Isaías 45,18

Eis assim disse Yahweh Criador

dos céus ele o Elohim

o que formou a terra e o que a fez

ele estabeleceu

não vazia crioupara habitar a

formou

Eu sou Yahweh e não há outro

Como antes já mencionamos, os textos dêutero-isaiânicos foram produzidos durante o exílio

entre os anos 550 e 540 a.C222, na ocasião que os judeus estavam como cativos na Babilônia.

Nisto podemos observar o real motivo que fez com que o Dêutero-Isaías vinhece afirmar

que Yahweh era o autor da criação do universo, foi negar que o deus Marduk era o autor da

criação dos céus e da terra.

É importante mencionar que o verbo hebraico - criar, visto em Isaías 40,28;

42,5 e 45,18 direcionou o título de criador do universo a Yahweh iniciando esta teologia em

222SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio: história e teologia do povo de Deus no século Vl

a.C. São Paulo: Paulinas. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 92-94.

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Israel, mas foi no período pós-exílicos com os textos cosmogônicos vistos no livro do Gênesis

1,1-2,4ª e 2,4b-25 que esta teologia se tornou um dos temas centrais entre os repatriados em

Jerusalém.

93

Enfatizando a fala de Ribeiro já mencionada acima223 que o texto do Gênesis 1,1-3

menciona um ritual de fundação e de fundamentação do Templo de Zorobabel. Assim, a

narrativa cosmogônico da criação de Gênesis foi produzido sobre as bases do mito babilônico

de criação babilônico, o Enuma Elish.

Portanto, foi a narrativa babilônia da criação o Enuma Elish que contribuiu para a produção

literária e cosmogônica da criação vista no livro de Gênesis, como também dos textos de Isaías

40,28; 42,5 e 45,18.

3.4 Conclusão

Temos no Enuma Elish as bases para as construções literárias e cosmogônicas vistas em

Gênesis 1,1-3, como também em Isaías 40,28; 42,5 e 45,18. Desta maneira, nossa análise

priorizou a questão do texto do profeta dêutero-isaiânico ser o iniciador da narrativa

cosmogônica da criação vetero-testamentária.

Mencionamos que o texto do profeta Dêutero-Isaías foi uma produção literária do período

exílico e que o profeta escreveu sua literatura nos últimos anos de exílio por volta de 540224

a.C.

Destacamos que os texto do Dêutero-Isaías foram a primeira literatura judaica que se referiu

ao tema da cosmogonia da criação em Israel. Desta maneira, o profeta foi o iniciador desta

teologia.

Notificamos que o texto do Gênesis 1,1-3, foi uma literatura produzida no período pós-

exílico que teve por re-afirmar a teologia do Yahweh como Deus Criador iniciada pelo Dêuero-

223RIBEIRO, Osvaldo Luiz. A cosmogonia de inauguração do Templo de Jerusalém – o Sitz im Leben de Gn 1,1-

3 como prólogo de Gn 1,1-2,4ª. Tese (Doutorado em Teologia) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, 2008, p. 33-40. 224SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio: história e teologia do povo de Deus no século Vl

a.C. São Paulo: Paulinas. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 92-94.

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Isaías e que as narrativas cosmogônicas vistas no livro de Gênesis foram utilizadas no Segundo

Templo, nas festas de ano novo judaicas semelhante os babilônicos que recitavam o Enuma

Elish no templo de Nabu, durante as festas de Ano Novo.

94

No que diz respeiro ao período pós-exílico analisamos a questão sobre a ligação das

cosmogonia babilônica da criação vista no Gênesis e o Templo de Zorobabel. Desta maneira,

destacamos que o mito cosmogônico da criação do Gênesis estava ligado ao mito cosmogônico

babilônico extraído do Enuma Elish.

Por fim, destacamos que na quarta tábua do Enuma Elish ocorreu o combate entre Marduk

e Tiamat e como Marduk criou o cosmo com o corpo retalhado da Tiamat. Desta maneira,

sugerimos que o Enuma Elish foi utilizado como base para que o redator do Gênesis 1,6

substituísse Marduk da narrativa e inserisse Elohim como o Deus que criou o -

firmamento.

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95

4. O CREDO HISTÓRICO DO HEXATEUCO E YAHWEH COMO DEUS

CRIADOR E SUSTENADOR NOS SALMOS 104; 19; 33; 08; 136

4.1 Introdução

Neste capítulo analisar-se-á alguns dos aspectos de Yahweh destacando sua entrada em

Israel, seu nome e seu culto.225Também tratar-se-á como o credo histórico de Israel visto nos

textos Dt 26, 5-9; Dt 6, 20-24 e Js 24b, 2-13 não mencionam a concepção do Deus Criador.

Ainda, será apresentada nossa tese que se refere à teologia do Deus Criador ser uma teologia

que nasceu com o Dêutero-Isaías no período em que ele esteve exilado na Babilônia e que as

cosmogonias da criação vistas no livro de Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25, como também nos Salmos

de Criação 104; 19; 33; 08; 136, se referem a segunda fase e a terceira fase do processo de

evolução da teologia do Deus Criador, que ocorreu em Israel no período pós-exílico.

Portanto, a teologia do Deus Criador fez parte de um novo credo de fé para os exilados na

Babilônia, como também para os judeus repatriados que reconstruíram o Templo e os Muros

de Jerusalém no período pós-exílico.

Ainda será trabalhada a questão que na segunda fase e na terceira fase da teologia do Deus

Criador em Israel, foram apresentadas novidades que o profeta dêutero-isaiânico não

mencionou em sua obra.

Desta maneira, serão apresentadas as novidades na teologia do Deus Criador em Israel vistas

nos Salmos de Criação, onde os salmistas direcionaram a Yahweh novos títulos que se

relacionam a criação do cosmo e do ser humano.

Por fim, tratar-se-á como Yahweh foi mencionado como o Deus Artesão, que efetuou a

criação do cosmo e também do homem com as suas mãos, sendo que estas questões serão

225RÖMER, Thomas. A origem de Javé: O Deus de Israel e seu culto. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2016, p. 41-185.

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apresentadas como a teologia cosmogônica da criação que se desenvolveu no período pós-

exílico, propriamente pelas comunidades judaicas dos repatriados em Jerusalém.

Assim, finalizando o capítulo com a conclusão onde esclareceremos melhor nossa posição

e confirmaremos as questões levantadas neste capítulo.

96

4.2 Yahweh, como o Deus de Israel

De acordo com Thomas Römer226, a relação entre Yahweh e Israel não existiu desde sempre,

visto que Yahweh tem origens não israelitas como apresenta as pesquisas arqueológicas do final

do século XIX até nossa contemporaneidade.

Para Römer, alguns textos foram utilizados para relacionar o tetragrama Yhwh, sendo que

os textos foram encontrados nas seguintes localidades: Elba, Ugarit, Mari, Egito e região do

Sinai e o sul do Neguev.

Gionanni Pettinato227 destaca que foram encontrados alguns documentos em Ebla, que

constam nomes de pessoas terminados em ya, e esta terminação aponta para uma forma

abreviada do tetragrama - Yahweh.

Em Ugarit, desde as escavações de 1930 até a atualidade, os arqueólogos têm descoberto

muitos documentos cultuais. Römer menciona que um destes documentos faz alusão ao

banquete de El, onde se traduziu a seguinte frase, “O nome de meu filho Yw” 228. Sendo que a

expressão Yw, pose ser uma forma abreviada de Yahweh ou uma menção a uma divindade

chamada de Yam, vista nos textos ugaríticos229.

Entre o Egito e Seir, foi descoberto um papiro que data entre 1330-1230 a.C., onde se

encontrou um nome próprio que poderia certamente ser a forma abreviada de Yahweh, o nome

seria Yah230.

Por fim, entre estes e outros achados arqueológicos que nos apontam caminhos para a

origem de Yahweh é importante destacar que o título de criador dos céus e da terra não foi

226RÖMER, Thomas. A origem de Javé: O Deus de Israel e seu culto. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2016, p. 34-88. 227PETTINATO, Giovnni. “II calendário di Elba al tempo del re Ibbi-Sipis sulla base di TM. 75G.427”, archiv für

Oientforschung, 25, 1974-1977, p. 1-36. 228RÖMER, Thomas. A origem de Javé: O Deus de Israel e seu culto. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2016, p. 44. 229CAQUOT, André. Textos ougaritiques. Mythes ET Legendes, vol. 1, Paris: Cerf, 1974, p. 309. 230SCHNEIDER, Thomas. “The first documented occurrence of the god Yahweh? (Book of the Dead Pronceton

“Roll 5”)”, journal of Ancient Near Eastern Religions, p. 113-120.

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atribuído a Yw ou a Yah. Nos textos ugaríticos, a cosmogonia da criação gira em torno do casal

divino El e Asherah, como sugere a assirióloga Marie-Louise Thomsen231.

97

Assim, sugerimos que o Yahweh, descrito como Deus cosmogônico pelo profeta Dêutero-

Isaías (Isaías 45,18), é uma construção imagética contemporânea ao profeta e aos judeus que

viveram próximos aos anos 540 a.C., isto é, próximos do final do exílio.

Römer232 nos

apresenta alguns

textos bíblicos do período vetero-testamentário, cujo seus redatores mencionam Yahweh como

uma divindade proveniente do Reino do Sul. A primeira referência é vista no cântico de Moisés,

em

Deuteronômio

33,2.

Também o livro de

Juízes, faz alusão a uma vitória militar das tribos de Yahweh.

O texto de Salmos faz uma citação dizendo que Yahweh vem do Sinai.

Assim, podemos averiguar que houve um trabalho literário de produção sulista, que tentou

apresentar Yahweh como um Deus que veio do Sinai, isto é, do Sul. Nestes textos a teologia do

231Disponível na Internet: https://escamandro.wordpress.com/2015/01/02/o-festim-divino-de-el-um-poema-do-

ugaritico/. Acesso 16/10/2017. 232RÖMER, Thomas. A origem de Javé: O Deus de Israel e seu culto. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2016, p. 47-51.

Os carros de Deus são milhões de miríades; Yahweh veio do Sinai para o

santuário. (Sl 68,18)

Yahweh, saindo tu de Seir, caminhando tu desde o campo de Edom, a terra estremeceu; até

os céus gotejaram; até as nuvens gotejaram águas.

Os montes se derreteram diante de Yahweh, e do Sinai diante do Yahweh, o Deus de

Israel.(Jz 5,4-5).

Ele disse: Yahweh veio de Sinai, e lhes subiu de Seir; resplandeceu desde o monte

Farã. Chegou a Meriba de Cades, desde o sul até as encostas. (Dt 33,2)

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Yahweh Criador dos céus e da terra não foi apresentada, devido estas obras redacionais serem

do período pré-exílico, em um momento que a teologia do Deus Criador não havia sido trabalha

em Israel.

Observa-se que o texto de Juízes capítulo 5, segundo Schwantes233 é um dos textos mais

antigos da Bíblia, possivelmente um canto das mulheres junto ao poço de água. Sendo assim,

uma obra deuteronomista234 que semelhante ao Salmo 68235 é apresentado como redação

produzida antes do cativeiro babilônico e antes da teologia do Yahweh Deus Criador dos céus,

da terra e do homem.

98

4.3 Os cultos a Yahweh

Como já mencionamos acima as origens de Yahweh não são israelitas, logo os primeiros

símbolos e narrativas de Yahweh são uma incógnita. O redator do texto do Êxodo 18-24 destaca

como um sacerdote de Midiã ofereceu sacrifícios a Yahweh antes da “revelação”, do Sinai.

De acordo com Römer236, Yahweh se tornou o Deus de Israel a partir de sua revelação no

Sinai e a efetuação de um contrato ou aliança, Êxodo 19-24. Observa-se que nas memórias do

Êxodo, Yahweh foi mencionado como o Deus que se revelou a Moisés (Êx 19,4) e que fez sair

Israel da terra do Egito (Êx 20,2) e não o Deus Criador dos céus e da terra.

Portanto, a teologia do Yahweh autor da criação, não fez parte da memória do Êxodo e nem

da entrada de Yahweh como Deus de Israel. Para Römer,237 o El foi uma divindade que

precedeu Yahweh na história patriarcal e principalmente na história de Jacó que lutou com

Deus. Observa-se que o nome de El aparece frequentemente nas narrativas de Gênesis nos

capítulos 12-50 e estas ocorrências se entendem até o livro dos Reis.

Podemos analisar que em Gênesis 14,18-22 Melquisedec foi apresentado como o rei de

Salém e sacerdote de El Elion descrito no v. 19 como o possuidor dos céus e da terra -

- El Elion possuidor (dos) céus e (da)

terra. É importante ressaltar que na mitologia ugarítica o deus El foi descrito como o criador

233SCWANTES, Milton. Breve História de Israel. 3 ed. São Leopoldo: Oikos, 2008, p. 16-17. 234SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1994, p. 134-155. 235RÖMER, Thomas. A origem de Javé: O Deus de Israel e seu culto. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2016, p. 48. 236IDEM, p. 75. 237IDEM, p. 81.

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dos céus e da terra, esposo de Asherah e pai de Baal, Mot e Yamm238. Assim, um dos títulos

aplicados a El é possuidor dos céus e da terra, semelhante ao El ugarítico, visto como o criador

dos céus e da terra.

Outros títulos são atribuídos a El na literatura vetero-testamentária e pré-exílica, tais como

El Roi traduzido como El me vê (Gn 16), El Elion, traduzido como El altíssimo (Gn 14,19) ou

El Shadai que segundo Römer, o significado pode estar ligado a um nome de um estado de

Ugarit, ou a regiões desérticas, como também

uma aplicação de grandeza direcionada ao

próprio El, “aquele que se basta em si

mesmo239”.

99

Para Römer240, Yahweh foi identificado nos textos da Bíblia Hebraica, principalmente nos

Salmos como o próprio El. No entanto, Yahweh na literatura pré-exílica teve alguns títulos

próprios aplicados a ele, tais como:

Observamos que alguns dos títulos direcionados a Yahweh na literatura, pré – exílica não

estão ligados a divindade cananita El. Também é importante ressaltarmos que a teologia do

Yahweh Deus Criador na literatura dêutero-isaiânica, no Gênesis e nos Salmos de Criação os

quais estudaremos mais a frente, não destacam o El ugarítico chamado de criador dos céus e da

terra.

238Disponível na Internet: https://escamandro.wordpress.com/2015/01/02/o-festim-divino-de-el-um-poema-do-

ugaritico/. Acesso dia 17/10/2017. 239RÖMER, Thomas. A origem de Javé: O Deus de Israel e seu culto. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2016, p. 84-85. 240IDEM, p.126.

Yahweh-rapa - Yahweh que Cura (Êxodo 15,26)

Yahweh nissi - Yahweh minha Bandeira (Êxodo 17,15)

Yahweh xalom - Yahweh de Paz (Juízes 6,24)

Yahweh ’elohim - Yahweh é Elohim (Salmo 59,5)

Yahweh roi - Yahweh meu Pastor (Salmo 23,1)

Yahweh sbaot - Yahweh dos Exércitos (Isaías 1,24)

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Römer241 comenta sobre a entrada do culto a Yahweh em Jerusalém, destacando alguns

textos que mencionam santuários a Yahweh. O texto de (Js 18,1), demonstra como os israelitas

após a tomada da terra, ergueram o primeiro santuário, ‘ohel mo‘ed – “tenda de encontro”. A

fim de, oferecer culto a Yahweh, chamado pelo redator de Elohim de vossos pais,

- Yahweh Elohim de vossos pais, (Js 18,3).

Os textos dos livros de Samuel e Reis comentam sobre Saul, Davi e Salomão, destacando

Saul como um rei rejeitado por Yahweh, Davi um rei guerreiro de Yahweh e Salomão um rei

que adquiriu sabedoria de Yahweh.

Podemos averiguar que os redatores que mencionaram os personagens acima referidos,

assim o fizeram a partir de um posicionamento sulista e anti-nortista, pois para os redatores

sulistas o Saul rejeitado simbolizava a rejeição de Yahweh para com o Norte.

100

Portanto, a construção dos três reis Saul, Davi e Salomão destaca Yahweh como o Deus

protagonista do reino “unido”. Sabemos que houve uma produção redacional sobre a figura

dos três primeiros reis de Israel, entretanto, chama nossa atenção ao fato de Yahweh ter sido

apresentado como um Deus ligado a arca da aliança (1 Sm 4-6 e 2 Sm 6), como também um

Deus sem Templo, durante o reinado davídico.

Outra questão que chama nossa atenção no livro dos Reis é a figura de Salomão ligada a

um rei que construiu a casa de Yahweh em Jerusalém (1 Rs 6-8; 10,23). Assim, temos nos livros

dos Reis Yahweh relacionado à construção literária da figura dos três primeiros reis de Israel.

Temos, portanto a força de um grupo redacional que ligou Yahweh ao Templo no Sul, ao

“herói” da casa de Jessé que virou rei em Israel. No entanto, em nenhuma destas produções

Yahweh foi chamado ou cultuado como Deus cosmogônico, autor da criação dos céus e da

terra.

Observa-se que os livros de Samuel como também dos Reis são direcionados a obra

historiográfica Deuteronomista. Sendo, portanto produções literárias aproximadamente do

241IDEM, p. 87-104

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século VII a.C242. Neste período a teologia do Yahweh Deus autor da criação dos céus e da terra

ainda não tinha sido trabalhada na religiosidade de Israel.

O Dêutero-Isaías iniciador da teologia do Yahweh Deus autor da criação, desenvolveu esta

teologia entre os exilados como já destacamos nos capítulos anteriores, entre 540 a.C. e as

redações comogônicas e antropogônicas vistas nos textos de (Gn 1,1-2,4ª a 2,4b-25.), são

narrativas pós-exílicas que contribuíram para que os Salmos de Criação viessem ampliar a

teologia do Deus Criador em Israel como veremos mais adiante.

4.4 Santuários e Divindades de Israel e em Judá

Römer243 destaca que Yahweh foi venerado no Reino do Norte, sob os traços de um touro

como também um Deus antropomórfico sob a forma de um Deus da tempestade. Assim, como

vimos anteriormente o Reino do Norte foi apresentado de forma negativa pelos deuteronimista.

Entretanto, o livro dos Reis também menciona que Yahweh foi venerado no Norte.

101

Os santuários javistas estavam situados em localidades do Norte, tais como: Samaria, Betel,

Dã, Siquem, etc. Römer244 também destaca que havia santuários javistas em Judá e que Yahweh

não foi venerado em um único lugar. Assim, os bamôt - lugares altos, também foram vistos no

Sul.

Nossa questão é que os bamôt, mencionados principalmente nos livros de Samuel e Reis,

vistos na Bíblia Hebraica, não mencionam um Yahweh, como Deus Criador dos céus e da terra.

Römer245 destaca que Yahweh não foi venerado sozinho no sul, propriamente em Jerusalém. O

mesmo notifica que Yahweh foi cultuado como uma divindade solar e que possivelmente foi

subordinado à outra divindade.

Termos como “Yahweh é minha luz” (Sl 27,1), “Yahweh é minha lâmpada” (2 Sm 22,29),

para Römer, indicam a solaridade atribuída a Yahweh246. Observamos que a produção literária

do período pré-exílico demonstrou como Israel foi uma nação influenciada pela religiosidade

de outros povos principalmente de seus conquistadores. Assim, podemos observar traços da

242SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1994, p. 52-53. 243RÖMER, Thomas. A origem de Javé: O Deus de Israel e seu culto. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2016, p. 115-122. 244IDEM, p. 123-137. 245IDEM. 246IDEM.

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religiosidade cananita e até egípcia, na religião de Israel. Entretanto, diferente das outras

divindades solares a criação do cosmo não foi direcionada a Yahweh nas produções literárias

ou memórias redacionais no período pré-exílico.

Observa-se que nas narrativas da construção do Templo de Jerusalém, Yahweh foi

mencionado como uma divindade entronizada sobre os querubins. Para Römer, esta narrativa

difere-se do Norte e seus lugares altos, pois o sul apresentou Yahweh sentado em tronos

ladeados sobre querubins, ou como diz o profeta proto-isaiânico, rodeado de serafins (Is 6,2-

4.).

Nas narrativas da construção do Templo de Jerusalém, os querubins foram mencionados (1

Rs 6). Eles foram imaginados como os protetores da arca (Êx 25,18-31). A Bíblia Hebraica,

não apresenta textos que possam comentar sobre a criação dos querubins, logo eles são

mencionados como os protetores da arca, ou os querubins do jardim do Édem (Gn 3,22-24),

mas sua entrada na literatura vetero-testamentária, se deu pela influência neo-assíria, como

sugere Römer.

102

4.5 Uma estátua para Yahweh

Observamos que a Bíblia Hebraica nos apresenta cultos a Yahweh não icônicos247.

Entretanto, Römer248 chama nossa atenção ao fato que o culto de Yahweh foi acompanhado no

Norte por imagens teriomórficas249 e também antropomórficas250.

Assim, o capítulo 28 do livro de Gênesis, nos descreve Jacó erguendo uma pedra que ele

tinha tomado como travesseiro e a utilizou como uma massebah, dizendo que: “Esta pedra que

ergueu como estela será uma casa de Deus, (Gn 28,18-19ª e 22). A questão gira em torno da

pergunta. Se esta pedra se tornou objeto de culto, como uma representação de Yahweh?

Segundo Mendonça,251 no Tell Arad, localizado no deserto da Judéia ao sul do antigo

território de Judá, pertencente à região da bacia hidrográfica de Beerseba, junto ao nascente do

247Estudo descritivo da representação visual de símbolos e imagem. 248RÖMER, Thomas. A origem de Javé: O Deus de Israel e seu culto. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2016, p. 115-122. 249Que tem forma de animal. 250Atribuição de forma humana a divindade. 251MENDONÇA, Élcio V.S. TEL ARAD: CONTRIBUIÇÕES ARQUEOLÓGICAS. Disponível na internet em:

http://portal.metodista.br/arqueologia/artigos/2013/tel-arad-gp-arque. Acesso: 24/10/2017.

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Nahal Beerseba. Há duas pedras que possivelmente foram utilizadas como objeto de culto e

representavam Yahweh e Asherah.

O Santo dos Santos do Templo de Arad. (Foto: Acervo pessoal prof. José Ademar Kaefer)

103

As estelas ou massebot foram localizadas no local chamado de Santo dos Santos em um

Templo em Arad. A maior tinha o formato fálico e havia resquícios de tinta vermelha,

evidenciando um culto à fertilidade, a menor estava do lado direito.

Mendonça252 ainda desta que, os estudos arqueológicos mencionam que no sul de Judá, em

Kuntillet Ahrud, foi encontrado um pote de cerâmica com desenhos e uma inscrição, “Javé de

Samaria e sua Asherah”. Tal pote é datado do séc. XIX a.C. Esta inscrição confirmaria a

extensão do domínio de Israel e a influência que o javismo teve do baalismo.

De fato, o javismo sofreu influências do baalismo, principalmente na questão dos cultos de

fertilidades, ligados a Baal e Asherah, direcionados a Yahweh. No entanto, traços da

cosmogonia da criação cananita onde a divindade El era descrito como o criador dos céus e da

terra não foram trabalhados paralelos aos ritos e cultos a Yahweh no Norte ou Sul, ainda no

período pré-exílico.

252IDEM.

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Dois personagens sob a inscrição do Pithos A, encontrada em Kintollet Ajrud,

Representando Yahweh e Asherah253

Observa-se que, os cultos a Yahweh também sofreram influências da fertilidade dos cultos

cananeus. Também no Sul, Yahweh foi descrito como o Yahweh dos exércitos, tendo ao seu

redor seres alados, descritos como querubins e serafins.

Também é importante analisarmos que Yahweh foi mencionado na literatura vetero-

testamentária do séc. XIX a.C., como uma divindade que tinha uma montanha sagrada, chamada

frequentemente de Sião.

No entanto, os textos desta época não direcionaram o título de Deus Criador a Yahweh, isto

por que a teologia do Deus Criador em Israel foi uma teologia posterior do período exílico e

pós-exílico.

104

4.6 O casal Yahweh e Asherah como divindades não cosmogônicas

Iniciamos esta abordagem fazendo o apontamento da fala do Prof. Chistopher Uehlinger254,

o qual demonstrou uma representação do casal Yahweh e Asherah no plano iconográfico.

O artefato foi identificado numa terracota da altura de 16 centímetros, possivelmente

proveniente de Tell Beit Nirsim, em Judá. Trata-se de um casal divino sobre um trono como

uma figura masculina ocupando o lugar central e uma mulher ao seu lado, estando os dois

rodeados de animais sagrados, leões ou esfinges.

253RÖMER, Thomas. A origem de Javé: O Deus de Israel e seu culto. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2016, p. 160. 254UEHLINGER, Chistopher. “Anthropomorphic cuit statuary in Iron Age Palestine and The Seach for Yahweh’s

cult images”, loc. Cit., p. 150-151.

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Römer255 sugere que o artefato faz menção a uma representação icônica do casal Yahweh e

Asherah datando do século VIII ou VII a.C. No entanto, observasse que nas referências textuais

ou icônicas que representam Yahweh e sua consorte Asherah não foram encontradas alusões a

cosmogonia relacionada a Yahweh.

A pesquisadora Judith Hadley, menciona um achado arqueologia que data do século X – IX

a.C. e foi encontrado em 1968 em Ta’anakh, que também retrata o casal divino. No entanto,

também não há nenhum vestígio de cosmogonia relacionada a Yahweh256.

Isto reforça nossa tese de que a teologia que relaciona Yahweh como o Deus autor da criação

dos céus e da terra, foi uma teologia posterior que nasceu no exílio babilônico com o Dêutero-

Isaías, e que se tornou uma das principais teologias do período pós-exílico para Israel.

Observa-se que os traços de cosmogônia atribuidos as divindades cananitas proncipalmente

ao deus - El, não foram aplicados a Yahweh. Portanto, os nomes de dinvindades cananitas

aplicados a Yahweh no Antigo Testamento, devem ser vistos como adjetivos que qualificam

Yahweh com algum título relacionado sua divindade, mas o títiulo de Deus Criador, não foi

direcionado a Yahweh no período pré-exílico.

105

4.7 Yahweh como Deus Criador não Descrito no Credo Histórico

Nesta parte da pesquisa, nos inclinamos para averiguar o credo histórico vetero-

testamentário visto no Pentateuco ou Hexateuco. Para tanto, analisamos a obra de von Rad257e

como o mesmo nos apresenta este credo.

Também citaremos Schwantes258 que mencionou que o Pentateuco era um complexo

literário aberto, que demonstrava a entrada na Transjordânia.

Portanto, observa-se que no livro de Josué temos a continuidade desta história, sendo que o

redator mencionou a tomada da terra por volta de 1200 a.C. Também é possível averiguarmos

255RÖMER, Thomas. A origem de Javé: O Deus de Israel e seu culto. 1 ed. São Paulo: Paulus, 2016, p. 162-163. 256HADLEY, Judith M. The cult of Asherah in Ancient Israel ET Judah: Evidence for Hebrew Goddes, Camcridge,

Cambridge University Press, 2000. 257RAD, Gerhard Von. Estudios sobre el Antiguo Testamento. Salamanca. Ed. Síngueme, 1982, p. 15-71. 258SCHWANTES, Milton. Teologia do Antigo Testamento. Publicações Escola Superior de Teologia, São

Leopoldo, RS, 1986, p. 12.

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que o Pentateuco foi produzido a partir de algumas temáticas, tais como: humanidade,

patriarcas, povo oprimido, deserto, Sinai/Horeb.

Nestas questões, von Rad notifica que a grande chave para compreender a continuação do

Pentateuco está no credo histórico de Dt 26.5-9, e também em Dt 6.20-24 e Js 24b.2-13. O

mesmo argumenta que a promessa da terra a Israel está totalmente ligada com a posse da terra,

por isso devemos ver os livros de Gênesis a Josué como uma unidade. Assim, teríamos um

Hexateuco e não um Pentateuco259.

Não é nossa intenção entrarmos na discussão das terminologias Pentateuco ou Hexateuco,

mas averiguarmos como na recitação credal foi destacado os principais feitos de Yahweh e a

sua relação com o povo de Israel e que a teologia do Yahweh como Deus Criador dos céus e da

terra, não foi trabalhada neste credo.

Sendo assim, nas celebrações cúlticas propriamente do período pré-exílico e nas tradições

javistas, a teologia do Yahweh como Deus Criador não foi apresentada e nem discutida. É

possível observar que os redatores de Dt 26,5-9; 6,20-24 e Js 24,2-13 enfatizaram uma coleção

de fatos históricos e a intervenção de Deus, na vida do povo de Israel e dos patriarcas até a

ocupação da terra, onde os redatores mencionaram os atos salvíficos de Yahweh.

106

É importante notificar que nos credos históricos destacam-se o Êxodo, terra e os patriarcas,

no entanto, a narrativa cosmogônica da criação não foi mencionada, pelo fato desta ser uma

teologia posterior ao credo histórico.

Assim, analisemos o texto de Deuteronômio 26,5b-9, (BJ, 2004, p. 289).

5b. Meu pai era um arameu errante: ele desceu ao Egito e ali residiu com poucas pessoas;

depois tornou-se uma nação grande, forte e numerosa.

6. Os egípcios, porém, nos maltrataram e nos humilharam, impondo-nos uma dura escravidão.

7. Gritamos então a Yahweh, Deus dos nossos pais, e Yahweh ouviu a nossa voz: viu nossa

miséria, nosso sofrimento e nossa opressão.

259RAD, Gerhard Von. Estudios sobre el Antiguo Testamento. Salamanca. Ed. Síngueme, 1982, p. 15-71.

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8. E Yahweh nos fez sair do Egito com mão forte e braço estendido, em meio à grande terror,

com sinais e prodígios,

9. e nos trouxe a este lugar, dando-nos esta terra, uma terra onde mana leite e mel.

Observa-se que o redator centralizou a confissão de fé com um resumo da história da

salvação centrada na libertação do Egito. Estes mesmos elementos podem ser vistos em

Deuteronômio 6,20-24 e Josué 24,2b-13. Vejamos agora Deuteronômio 6,20-24, (BJ, 2004, p.

267).

20. Amanhã, quando teu filho te perguntar: Que são estes testemunhos e estatutos e normas

que Yahweh nosso Deus vos ordenou?

21. Dirás ao teu filho: “Nós éramos escravos do faraó no Egito, mas Yahweh nos fez sair do

Egito com mão forte.

22. Aos nossos lhos Yahweh realizou sinais e prodígios grandes e terríveis contra o Egito,

contra o Faraó e toda sua casa.

23. Quanto a nós, porém, fez – nos sair de lá para nos introduzir e nos dar a terra que, sob

Juramento havia prometido aos nossos pais.

24. Yahweh ordenou - nos então cumprirmos todos estes estatutos, temendo Yahweh nosso

Deus, para que tudo nos corra bem, todos os dias; para dar-nos a vida, como hoje se vê.

Passemos agora ao texto de Josué 24,2b – 13 que está em total paralelo com os dois acima

citados, e como já foi dito é a base usada por von Rad, para justificar que o livro de Josué não

deve ser lido separadamente dos cinco primeiros livros da Torá.

107

Josué 24, 2b-13, (BJ, 2004, p. 345).

2b. “Assim diz Yahweh, o Deus de Israel: Além do rio habitavam outrora os vossos pais, Taré,

pai de Abraão e de Naor, e serviam a outros deuses.

3. Eu, porém, tomei vosso pai Abraão todo outro lado do rio e o foz percorrer toda a terra de

Canaã, multipliquei sua descendência e lhe dei Isaac.

4. A Isaac dei Jacó e Esaú. A Esaú dei em herança a montanha de Seir. Jacó e seus filhos

desceram ao Egito.

5. Em seguida enviei Moisés e Aarão e feri o Egito com os prodígios que operei no meio dele;

depois vos fiz sair de lá.

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6. Eu fiz, portanto, os vossos pais saírem do Egito e chegastes ao mar; os egípcios perseguiram

vossos pais com carros e cavaleiros, até o mar dos juncos.

7. Claramente então a Yahweh, que interpôs uma nuvem espessa entre vós e os egípcios, e fez

o mar voltar-se sobre eles e cobri-los. Vós vistes com os vossos próprios olhos o que eu fiz no

Egito, e depois habitastes no deserto por longos dias.

8. Daí eu vos fiz entrar na terra dos amorreus que habitavam além do Jordão. Eles vos fizeram

guerra e eu os entreguei nas vossas mãos e assim tomastes posse da sua terra, pois os destruí

diante de vós.

9. Levantou-se então Balac, filho de Sefor, rei de Moab, que fez guerra a Israel, e mandou

chamar Balaão; filho de Beor, para vos amaldiçoar.

10. Eu, porém, não quis ouvir Balão; ele teve de vos abençoar e eu vos salvei de sua mão.

11. Em seguida, passastes o Jordão para chegar a Jericó, mas os chefes de Jericó vos fizeram

guerra – amorreus, ferezeus, cananeus, heteus, gergeseus, heveus e jebuseus – e eu os entreguei

nas vossas mãos.

12. Enviei vespas diante de vós, que expulsaram da vossa presença os dois reis amorreus, o

que não deves nem à tua espada, nem o teu arco.

13. Dei-vos uma terra que não exigiu de vós nenhum trabalho, cidades que não construístes e

nas quais habitais vinhas e oliveiras que não plantastes e dois quais comestes.

Conseguimos observar, o paralelo que há entre estes três textos e como os mesmos

apresentam um credo histórico da fé vetero-testamentária, onde Yahweh não foi citado como

Deus Criador dos céus e da terra.

108

4.8 Um Novo Credo: Yahweh Deus Criador nos Salmos Sl 104,19; 33; 08; 136

A teologia do Deus Criador dos céus e da terra iniciada pelo Dêutero-Isaías (Is 40, 28; 42,5

e 45,18), foi ampliada posteriormente pelos redores de Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25, como

também dos Salmos de Criação (Sl 104,19; 33; 08; 136), os quais desdobraram este assunto

com novidades que o profeta não mencionou.

Portanto, o fato do Dêutero-Isaías apresentar Yahweh como o Deus autor da criação dos

céus e da terra, deve ser visto como uma novidade na teologia vetero-testamentária, pois

nenhum dos profetas anteriores a ele atribuiu o título de Deus Criador a Yahweh.

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Assim, é importante destacar que os redatores do Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25, trabalharam

a concepções de criação de mundo260, a partir da narrativa cosmogônica do profeta Dêutero-

Isaías.

Observa-se que no período pós-exílio, o enfoque teológico que se tornou o novo credo de

fé dos repatriados foi à teologia do Yahweh Deus Criador dos céus e da terra. Esta teologia foi

trabalhada nos Salmos de Criação 104; 19; 33; 08; 136, em forma de hinos e composições

sapienciais que apresentam novidades na teologia do Yahweh Deus Criador, como também

Sustentador da sua Criação.

Observa-se que os Salmos de Criação são uma produção literária do período pós-exílico,

contemporâneos as narrativas cosmogônicas do Gênesis, assim os salmistas não são

questionadores da teologia do Marduk criador, pois Yahweh como o Deus Criador já tinha sido

aceito e estabelecido entre os repatriados devido o trabalho do Dêutero-Isaías.

Portanto, os Salmos de Criação são narrativas aprimoradas e evoluídas de Gn 1,1-2,4ª e

2,4b-25, que chamamos de a terceira fase da evolução da teologia do Yahweh Deus Criador,

visto que a primeira iniciou-se com o Dêutero-Isaías (Is 40, 28; 42,5 e 45,18) e a segunda com

os redatores de Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25.

Desta maneira, os Salmos de Criação não foram produzidos para questionar o Enuma Elish

ou Marduk como Deus Criador, mas para reafirmar com novos elementos que Yahweh era o

Deus Criador. Sendo assim, passemos a analisar o conteúdo dos Salmos de Criação, enfatizando

a questão cosmogônica dos mesmos.

109

Iniciaremos com o Salmo de Criação mais volumoso, o Salmo de número 104. De acordo

com Gerhard von Rad261, este Salmo é um hino cosmogônico, onde Yahweh foi apresentado

como o Deus que Criou os céus e a terra.

Salmo 104

1. Bendize, barak, ó meu ser, nepex, a Javé! Javé, meu Eloim, tu és muito grande, gadol.

Tu te vestes de esplendor, hod, e ornamento, hadar.

2. Envolto, ´atah, em luz, `or, como num manto, salemah, estendendo, notah, os céus,

xamayim, como tenda, yeri´ah.

260RAD, Gerhard von. Estudios sobre el Antiguo Testamento. Salamanca. Ed. Síngueme, 1982, p. 377-388. 261IDEM.

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3. Construindo com vigas de madeira, qarah, nas águas, mayim, suas altas moradas,

´aliyah, fazendo, sim, seus carros, rekub, nuvens, ´ab, caminhando, halak, sobre as

asas, kanap, do vento, ruah.

4. Fazendo, ´asah, dos ventos, ruah, teus mensageiros, male`ak, seus servidores, xarat,

chamas, lahat, de fogo, `ex.

5. Lançaste os fundamentos, yasad, da terra, `eres, sobre suas bases, miskon, que não se

abala, mot, para sempre e eternamente, ´olam wa´ed.

6. Cobriste-a, kasah, com o abismo, tehom, como vestido, labux, as águas, mayim, se

puseram, ´amad, sobre as montanhas, har.

7. À tua ameaça, ge´arah, eles fogem, nus, da voz, qol, do teu trovão, ra´am, se

precipitam, hapaz.

8. Subindo, ´alah, as montanhas, har, descendo, yarad, pelos vales, biqe´ah, para esse

lugar, maqom, que lhes tinha designado, yasad.

9. Colocaste, sim, um limite, gebul, para que não transpassem, ´abar, para que não

voltem, xub, cobrir, kasah, a terra, ´eres.

10. Das fontes de água, ma´yan, fazes soltar, xalah, vales com leitos de água, nahal, que

percorrem, halak, entre as montanhas, har.

11. Dão de beber, xaqah, a todos os animais selvagens, hayah, do campo, saday, e o

jumento selvagem, pere`, quebram, xabar, a sede, sama`.

12. Junto a elas, as aves, ´op, do céu, xamayim, se abrigam, xakan, produzindo, natan, sua

voz, qol, por entre as ramagens, ´apayim.

13. De cima, ´ili, das montanhas, har, dá de beber, xaqah, a terra, `eres, se sacia, saba´,

do fruto, peri, de sua obra, ma´aseh.

14. Aquele que faz brotar, samah, o capim, hasir, para o gado, behemah, e plantas, ´eseb,

para o trabalho, ´abodah, do ser humano, `adam, para que da terra, `eres, tire, yasa`.

o pão, lehem.

15. E o vinho, yayin, que alegra, xamah, o coração, leb, do homem, `enox, para que faça

o rosto brilhar, sahal, com o óleo, xemen, e o pão, , lehem fortifique, sa´ad, o coração,

leb, do homem, `enox.

110

16. As árvores, ´es, de Javé se saciam, saba´, os cedros, `erez, do Líbano que ele plantou,

nata´.

17. Que lá os pássaros, sipor, se aninham, qanan, no seu topo, ro`x, a cegonha, hasidah,

põe sua casa, bayit.

18. As altas, gabeah, montanhas, har, são para as cabras, ya´el, os rochedos, sela´, abrigo,

mahaseh, de arganazes.

19. Ele fez, ´asah, a lua, ´areah, com seu tempo marcado, mo´ed; o sol, xemex, conhece,

yada´, o seu ocaso, mabo`.

20. Colocas, xit, as trevas, hoxek, e faz-se, hayah, a noite, layelah; nela move-se, romas,

todos os seres vivos da selva, ya´ar.

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21. Os leõezinhos, kepir, rugem, xa`ag, pela presa, terep, e buscando, baqax, de El seu

alimento, `okel.

22. Ao nascer, zarah, do sol, xemex, recolhem-se, `asap, e acampam-se, rabas, em seus

covis, ma´on.

23. O ser humano, `adam, sai, yasa`, para a sua atividade, po´al, e para o seu trabalho,

´abodah, até à tarde, ´ereb.

24. Quão numerosas são as tuas obras, ma´aseh, Javé, todas elas fizeste, ´asah,

Com sabedoria, hakemah! A terra, `eres, está cheia, mala`, de teus pertences, qinyan.

25. Este é o grande, gadol, mar, yam, braços, yad, extensos, rahab, onde estão répteis,

remex, e sem número, `en miseper, animais, hay, pequenos, qaton, com grandes,

gadol.

26. Ali, os navios, `oni, circulam, halak, Leviatã que formaste, yasar, para brincar,

sahaq, com ele.

27. Todos eles esperam, sabar, por ti, que a seu tempo, ´et, lhes dê, natan, alimento,

`okel.

28. Tu lhe dás, natan, eles o recolhem, lapat, abres, patah, tua mão, yad, saciam-se,

saba´, de bens, tob.

29. Escondes, satar, o teu rosto, paneh, eles se apavoram, bahal, retiras, sapah, a

respiração, ruah, deles, e eles perecem, gawa´, e voltando, xub, ao seu pó, ´apar.

30. Envias, xalah, teu sopro, ruah, eles são criados, bara`, e renovas, hadax, a face,

paneh, da terra, `adamah.

31. Seja, hayah, a glória, kabod, de Javé para sempre; Javé se alegra, samah, com suas

obras, ma´aseh.

32. ele olha, nabat, a terra e ela estremece, ra´ad, toca, naga´, as montanhas, har, e

elas fumegam, ´axan.

33. Cantarei, xir, a Javé em minha vida, hay, tocarei instrumentos, zamar, para meu

Eloim enquanto, ´od, existir.

34. Que lhe seja agradável, ´arab, meu palavrório, sih. Eu me alegrarei, samah, em

Javé.

35. Que os pecadores, hata`, desapareçam, tamam, da terra, `eres, e os malfeitores,

raxa´, não mais existam. Bendize, barak, ó minha vida, a Javé! Aleluia, halelu-´ah!

111

Utilizamos oito tópicos para estruturar o Salmo 104, semelhante à Gerstenberger262.

I – Convocação para louvor v.1

II – Hino à Criação vs. 2-4

III – Hino ao Sustentador vs. 5-23

A) Criação vs. 5-9

B) Provisão vs. 10-18

262GERSTENBERGER, Erhards. Psalms and Lamentations Part 2.2001, p. 221.

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C) Regulamento vs. 19-23

IV – Adoração vs. 24-30

V – Desejo vs. 31-32

VI – Voto vs. 33-34

VII – Imprecação vs. 35ab

VIII – Convocação para louvor v. 35c

Observamos que Salmo 104 é um hino de louvor ao Deus Criador e Sustentador da sua

criação. Destaca-se que há semelhanças entre a cosmogonia do Salmo 104 e de alguns textos

do Gênesis.

Tais como: a palavra hebraica - luz, como também a palavra - céus,

empregadas em sentido cosmogônico no v. 2 do Salmo 104, podem ser vistas em Gênesis 1,1-

3. Também no v. 6 do Salmo 104, o salmista utilizou-se da terminologia - abismo,

esta que já tinha sido aplicada a Elohim em Gênesis 1,2ª.

Para explicar esta questão, sugerimos que o salmista simplesmente reafirmou a teologia do

Deus Criador apresentada no Gênesis aos repatriados que certamente utilizaram este hino no

ambiente cúltico do Segundo Templo. Observa-se que o salmista trabalhou uma novidade na

teologia do Deus Criador, ou seja, o título de Sustentador da Criação vs. 5-23.

112

Portanto, Yahweh no Salmo 104 não foi descrito somente como o Deus Criador, mas

também como o Deus Sustentador da sua criação, sendo o provedor de água a todos os animais

selvagens v. 11, abrigo para as aves do céu v. 12, capim para o gado e -pão como

também - vinho para o ser humano vs. 14-15.

Retomando a questão da semelhança entre linguagem cosmogônica do Salmo 104 e do

Gênesis, destacamos mais algumas semelhanças. Nos vs. 19-20 o salmista faz menção a

E a terra era informe e vazia

e escura sobre (a) face abismo

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- criação da lua e do - sol, como também a menção as

- trevas e - noite. Semelhante ao texto do Gênesis capítulo 1, onde em

vários versos o redator utilizou os mesmos vocábulos, a saber, -

trevas,- noite,- luz e os - grandes

luzeiros,para expressar a obra da criação de Elohim.

Portanto, o salmista conhecia os textos cosmogônicos do Gênesis e em seu hino de louvor,

resolveu reafirmar que Yahweh era o Deus Criador dos céus e da terra, como também o Deus

Sustentador da obra da sua criação.

Nota-se que no v. 26, do Salmo 104, temos a expressão - leviatã, semelhante

ao texto de Jó 40,25. De acordo com Terrien263, o v. 26, do Salmo 104 se assemelha ao texto

de Jó 40, 25 devido ambos serem literaturas do período pós-exílico que se utilizaram dos

folclores, poemas e imaginários religiosos mesopotâmicos. Desta maneira, reafirmamos nossa

hipótese de fixar o Salmo 104, como uma obra do período pós-exílico.

Também observamos que no v. 30 do Salmo 104, o salmista utilizou uma linguagem

semelhante ao Gênesis 1,2, ou seja, a questão do sopro criador, - teu

sopro eles são criados. No Gênesis

- sopro de Elohim

flutuava sobre a face das águas. Esta semelhança deve ser compreendida a partir do que

sugerimos acima, ou seja, o salmista conhecia a cosmogonia da criação de Gênesis 1,2, e

escreveu seu Salmo reafirmando que Yahweh era o Deus Criador, acrescentando-lhe o título de

Deus Sustentador da sua Criação.

113

4.9 Yahweh Deus Criador no Salmo 19

O Salmo 19, também é um Salmo onde a obra da criação foi atribuída ao Deus de Israel.

Portanto, o classificamos como Salmo de Criação.

Salmo 19

263TERRIEN, Samuel. Jó. 1ed. São Paulo: Paulus, 1994, p. 5-60.

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1. Do mestre de canto. Salmo (de/para, le) Davi

2. Os céus proclamam, sapar, a glória de El, e o firmamento declara, nagad, a obra de

suas mãos.

3. Um dia, para outro dia fluirá, naba‘, e dirá, noite para outra noite, proclamará, ravah,

conhecimento.

4. Não há ditos, não há palavras, nenhuma voz deles se ouve, xama‘.

5. em toda terra formou, yata’, sua linhagem e extremidade do mundo, seus ditos, para

sol colocou, sim, uma tenda para eles.

1. e ele genro, para sair de sua cobertura, exultará, xux, como forte para correr um caminho.

2. Do extremo céus, do seu lugar, e sua vinda, sobre suas extremidades não há, se esconde

para seu esquecimento.

3. A Torá, torah, de Yahweh é perfeita a que faz voltar à vida, o testemunho, ‘edut, de

Javé é fiel faz saber o ingênuo,

4. As ordens, piquddah, de Yahweh são retas as que fazem alegrar o coração,

Os Mandamentos, misewah, de Yahweh são puros, o que faz alumiar os olhos,

5. O temor, yir`ah, de Yahweh é genuíno o que permanece para a eternidade,

Os julgamentos, mixepat, de Yahweh são verdades são justos igualmente.

6. Os que são mais agradáveis como ouro e como ouro muito puro, e doçura de mel

e mel de favos.

7. Também teu servo, ensina para eles, para manter muita conseqüência.

8. Erros, quem discernirá, bin, dos escondidos eu estou vazio.

9. Também dos insolentes, retém teu servo, não esta sei dito comigo, naquele momento,

termina e estou vazio, naqah, por causa das muitas transgressões.

10. Se tornarão, hayah, favor, palavra da minha boca, e ressoante para meu coração, perante

a tua face Yahweh, meu penhasco e meu resgatador.

114

Segundo Schökel e Carniti264, o Salmo 19 está divido em duas partes, a primeira segue dos

v. 2-7, sendo o assunto central a criação, seguida pela segunda parte dos vs. 8-15 que enfoca a

lei de Deus como tema principal.

264SCHÖKEL, Luís Alonso e DIAZ, Sicre. J. L. Salmos I (Salmos 1-72). 1º ed. São Paulo: Paulus, 1998, p. 322-

336.

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Para Weiser265, o Salmo deve ser estrutura da seguinte maneira, v.1 cabeçalho que não

discutiremos, pois não faz parte desta pesquisa. Nos vs. 2-7 temos um hino da natureza e dos

vs. 8-15 um hino sobre a lei.

De acordo com Knierim266, o Salmo 19, deve ser divido dos vs. 2-7 como um Hino à Criação

e dos vs. 8-11 um Hino à Torá. Knierim ainda sugere que esta junção de dois temas teológicos

não seria um acidente, nem tampouco uma ingenuidade teológica de alguém, ou mesmo uma

imposição individualista. Assim, essa combinação literária seria o resultado de vários fatores

presentes na comunidade do Segundo Templo, os quais retrabalharam a teologia do Deus

Criador.

Portanto, utilizaremos uma estrutura semelhante à de Knierim, que segue: v. 1 cabeçalho,

vs. 2-7 Hino à Criação, vs. 8-11 Hino à Torá e finalmente vs. 12-15 um Pedido a Yahweh.

Estrutura

Cabeçalho v. 1

I – Hino à Criação v. 2-7

II – Hino à Torá vs. 8-11

III – Um Pedido a Yahweh vs. 12-15

Observa-se que, tanto o Hino à Criação como o Hino à Torá estavam ligados às reuniões

cúlticas do período pós-exílico. Por isso, ambas as partes foram juntadas uma a outra, sem

muitos transtornos literários, para fazer parte da estrutura litúrgica da comunidade israelita.

115

Trabalharemos nesta tese somente o Hino à Criação v. 2-7, para evidenciarmos a questão

que os Salmos de Criação reafirmam a criação apresentada pelos redatores de Gn 1,1-2,4ª e

2,4b-25 no período pós-exílicos aos repatriados de Jerusalém.

265WEISER, Artur. Os Salmos. São Paulo: Paulus, 1994, p. 141-143. 266KNIERIM, Rolf P. The Task of the OT Theology, p. 322-352.

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Observa-se que o Salmo 19, tal como se encontra na Bíblia Hebraica, foi adaptado para a

linguagem e a teologia javista. Seu campo semântico está ligado à criação, como nos mostra os

substantivos: - céus; - firmamento; - dia;

- noite; - palavra, e - terra.

Os v. 2-7 estão marcados pela linguagem cosmológica, sendo boa parte dela relacionada ao

relato da criação (Gn 1,1-2,4a). Há evidentes indícios que esta canção é parte de um hino da

criação dos cananeus, bem como um hino egípcio dedicado ao sol (cf. Rainer Albertz, A History

of Israelite Religion in the OT Period, p. 557).

Ainda destaca-se que o Salmo 19, tem como intenção afirmar que a obra de Deus era perfeita

e boa para a humanidade (naturalmente os versos 2-7 devem ser entendidos à luz dos versos 8-

11). O campo semântico da criação está presente com os substantivos: - céus;

- obra (de Deus); - firmamento; - dia; - noite;

- palavra, e - terra. Ao mesmo tempo, a terminologia da comunicação está

presente nos versos 2-7 para caracterizar a intenção do hino.

Também, os verbos do relato da criação estão presentes: - contam;

- anunciar; - ouvir e - expor, apresentar. Da mesma forma, os

substantivos justificam a intenção do salmista: - informação; -

conhecimento; - palavra; - voz; e - expressão vocal.

O encontro destes dois campos semânticos - criação e atos da criação - formam um produto

literário de grande força poética e teológica. A intenção do salmista é mostrar que a criação do

mundo tem que ser vista e interpretada à luz da ordem estabelecida pela Torá de Javé (v. 8-11).

116

No v. 2, o salmista destaca que as obras das mãos de - El, foram proclamadas pelo

- firmamento.Observa-se que no texto de Gênesis 1, 6 a palavra hebraica

- firmamento, foi aplicada como uma das obras da criação do -

Elohim.E no v. 8 o redator de Gênesis 1 notifica que Elohim chamou o firmamento de céus-

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- e chamou Elohim o

firmamento de céus.

Possivelmente a memória do texto do Gênesis 1, 6-8, possibilitou a produção da poesia do

salmista lhe servindo de ponto de partida, para sua afirmação de que o firmamento proclama as

obras das mãos de Yahweh. Desta maneira, sugerimos que o Salmo 19, também tinha o objetivo

de reafirmar a obra da criação aos judeus repatriados em Jerusalém no período pós-exílico.

Podemos observar a compreensão antropomórfica do salmista, imaginando Yahweh criando

o firmamento com as mãos. Sugerimos que esta é uma linguagem típica do pós-exílio, visto

que, o salmista não imaginou Yahweh somente como o Deus Criador dos céus e da terra como

fez o profeta Dêutero-Isaías, mas como um Deus Artesão que efetuou a obra da criação com as

suas mãos.

Portanto, o Salmo 19 trouxe como novidade um novo tema para a teologia do Deus Criador,

ou seja, - El, como Deus Artesão. Observa-se que no segundo relato antropogônico da

criação, visto no Gênesis 2,4b-25, temos uma inferência de Yahweh como um Deus Artesão

que criou o - ser humano, com suas mãos e lhe soprou a - vida. Entretanto,

no Salmo 19,2, - El, foi descrito como o Deus que criou os céus com as suas mãos.

Observa-se que esta linguagem do Deus Artesão que criou os céus com suas próprias mãos,

não foi trabalhada pelo profeta Dêutero-Isaías em suas narrativas cosmogônicas (Is 40, 28; 42,5

e 45,18), e nem pelas narrativas cosmogônicas vistas nos dois relatos da criação no Gênesis 1,1-

2,4ª e 2,4b-25. Portanto, a teologia do - El, como Deus artesão é uma novidade apresentada

pelo salmista.

117

Continuando nossa análise, observamos que no v. 3, há um paralelismo nas terminologias

- dia e a - noitesemelhante ao texto de Gênesis 1,3-4. Segundo

Schwantes267, os termos - dia, - noite ou - sol, direcionam o

texto para o período pós-exílico, visto que o redator tinha a intenção de dizer, que os tempos e

os astros não eram deuses, mas sim obras da criação de - Elohim.Portanto, o

267SCHWANTES, Milton. Projeto de Esperança: Meditações sobre Gênesis 1-11. 2 ed. São Paulo: Paulinas: 2009,

p. 39-42.

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salmista inspirou-se nos paralelismos das narrativas de criação do Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25,

antes de criar sua poesia.

Observa-se que no v. 7, o salmista descreve que:

Neste verso podemos averiguar que Yahweh foi descrito pelo salmista como o Deus que

não apenas criou o cosmo, mas o Deus que não deixou sua criação no esquecimento. Ou seja,

o Deus que sustenta sua criação, mesmo estando no - extremo

céus. Aqui podemos analisar a ligação entre o

segundo hino e o primeiro hino, visto que no

v. 8 a Torá é equiparada a criação de Deus.

Por fim, o salmista quer comunicar aos repatriados que Yahweh não é apenas o Deus

Criador, mas também o Deus Sustentador da sua criação, sendo que sua criação estava ligada a

perfeição da Torá.

Temos então, mais uma novidade

apresentada pelo salmista, Yahweh como o

Deus que sustenta sua criação com Torá. Assim, a criação de Yahweh passa a ter os elementos

vistos nos v. 8-11, perfeição, vida, testemunho, fidelidade, retidão, mandamentos, pureza e

justiça.

118

4.10 Yahweh Deus Criador no Salmo 33

Do extremo céus, do seu lugar, e sua vinda, sobre

suas extremidades não há, se esconde para seu

esquecimento. (Sl 19,7)

A Torá, torah, de Yahweh é perfeita a que faz voltar à

vida, o testemunho, ‘edut, de Javé é fiel faz saber o

ingênuo. (Sl 19,8)

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Este Salmo é um Salmo alfabético que não possui cabeçalho, foi produzido com 22 versos

para lembrar as 22 letras do alfabeto hebraico. Segundo Schökel e Carniti268este Salmo foi

elaborado em forma rítmica 3+3 de gênero hínico, que demonstra - Yahweh, como

o autor da criação dos céus e de seus exércitos (Salmos 33,6). Sendo assim, o Salmo 33, fez

parte da liturgia do culto israelita do período pós-exílio.

Salmo 33

1. Gritai de júbilo, ranan, justos a Yahweh, aos retos, é um adequado louvor.

2. Louvai, yadah, a Yahweh com harpa, kinor, com instrumentos de dez cordas, nebel.

3. Tocai instrumentos musicais, zamar, para ele! Cantai, xir, para ele uma canção nova,

xir hadax. Fazei bem, yatab, tocando instrumento, nagan, em sinal de alegria, teru´ah !

4. Eis que! Correta, yaxar, é a Palavra, dabar, de Yahweh e toda sua obra, ma´aseh, é

fidelidade, `emunah.

5. Aquele que ama, `ahab, a justiça e o direito, sedaqah umixepat, a bondade, hesed, de

Yahweh enche, mala`, a terra, `ares.

6. Pela palavra, dabar, de Yahweh os céus, xamayim, foram criados, ´asah, e todo o seu

exército, saba`, com o sopro, ruah, de sua boca.

7. Aquele que reúne como no dique as águas do mar, mey hayaom; Aquele que coloca

em depósitos oceanos primevos, tehom.

8. Tema, yara`, diante de Yahweh, toda terra, diante dele temam todos habitantes do

mundo, tebel.

9. Eis que! Ele disse e aconteceu, hayah; Ele ordenou, sawah, e ela se põe de pé, ´amad

10. Yahweh destrói, pur, os planos das nações; Ele frustra, nu`, os planos, mahaxabah,

dos povos.

11. O plano, ´esa`, de Yahweh permanece, ´amad, para sempre; Os propósitos,

mahaxabah, de seu coração, leb, são de geração e geração, ledor wador.

119

12. Feliz, `axere, a nação que Yahweh seu Elohim escolheu, bahar, o povo por sua

herança, nahalah.

13. Do céu, Yahweh fita atentamente, nabat. Ele vê, ra`ah, todos os filhos de Adão.

268SCHÖKEL, Luís Alonso e DIAZ, Sicre. J. L. Salmos I (Salmos 1-72). 1º ed. São Paulo: Paulus, 1998, p. 484-

492.

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14. Do lugar de seu descanso, xabat, ele observa, xagah, todos habitantes, yaxab, da terra,

`ares.

15. Ele, que forma, yasar, inteiramente seus corações, e conhece, bin, todas suas obras,

me´aseh.

16. Não há rei que se salva, yawa´, com numeroso exército, hel; Um guerreiro, gibor, não

se liberta, nasal, com muita força, koah.

17. Falso, xeqer, o cavalo, sus, para libertação, texu´ah, e todo o seu vigor, gibor, de seu

exército não ajuda escapar, malat.

18. Eis! O olho, ´ayin, de Yahweh está em direção dos que o temem, yara`, sobre os que

esperam, yahal, por sua bondade, hesed,

19. para livrar, nasal, da morte suas vidas, nepex, e fazer viver, hayah, no tempo de fome,

ra´ab

20. Nossa vida espera, hakah, por Yahweh; Ele é o nosso auxílio, ´ezer, e nosso escudo,

magen. Eis que!

21. Nele se alegra, samah, o nosso coração, leb. Eis que! No seu nome santo, bexem

qadexo, nós confiamos, batah.

22. Yahweh, que tua bondade, hesed, esteja sobre nós como que esperamos, yahal, por ti.

O Salmo 33 é um hino de louvor a Deus, tendo uma introdução vista dos vs. 1-3 onde

convida a comunidade para louvar a Deus com os instrumentos musicais, a partir dos vs 4-9

temos uma celebração a palavra criadora de Yahweh, dos vs. 10-19, podemos identificar que

Yahweh foi descrito como o Deus que está agindo na história da humanidade, desfazendo o

designo das nações e frustrando os projetos dos povos.

Observa-se que a abertura do Salmo 33, está dos vs. 1-3, e o seu fecho dos vs. 20-22. Sendo

que, o âmago desta composição encontra-se nos versos 4-19 onde ele expressa duas afirmações

teológicas: nos versos 4-9, o salmista afirma que Yahweh criou o mundo e o sustenta, através

de seus atos salvíficos. Os versos 10-19 declaram que Yahweh age na história da humanidade,

através de seu projeto de sustentação de sua criação.

120

Vamos apresentar a estrutura em tópico, para uma melhor visualização dos assuntos

propostos.

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I - Chamada para o culto vs. 1-3

II - Yahweh, o criador, preservador e sustentador da criação vs. 4-19

a) Celebração a ação criadora de Yahweh vs. 4-9

b) Yahweh, agindo na história em defesa de sua criação vs. 10-19

III - Afirmação de confiança vs. 20-22

Comentário

I - Chamado para o culto (v. 1-3).

Os verbos no imperativo - gritai de júbilo, ranan; louvai, yadah, tocai instrumentos

musicais, zamar, cantai, xir, e fazei bem, yatob - mostram que o salmista estava convidando a

comunidade para uma celebração.

Para Weiser269, os vs. 1-3, notificam um hino festivo, acompanhado sempre pelos

instrumentos musicais sendo utilizado para celebrar a libertação do povo de Yahweh.

Para Kraus270, o Salmo 33 foi produzido em uma estrutura hínica, utilizada em celebrações

e acompanhada pelos instrumentos musicais. Sendo que um dos temas principais está

relacionado ao ato de Yahweh na Criação efetuado por intermédio de sua palavra.

Kraus também destaca o paralelo entre o Salmo 33 e o texto de Gênesis 1, 6, 14. Como o

texto de Salmos 147, 15 onde o salmista diz que Yahweh envia ordens a terra e sua palavra

corre velozmente.

A convocação para celebrar foi dirigida aos justos, sadiqim, e aos retos, yexarim, possível

congregação do culto pós-exílico. A orientação para a celebração usando cinco verbos na forma

imperativa aponta para a intensidade da emoção do compositor e celebrante. A lógica do

salmista é perfeita: a celebração é somente para Yahweh e os celebrantes são pessoas especiais

que, certamente, passaram pelo austero crivo das normas éticas do Templo (conforme Salmos

15 e 24)

121

II - Yahweh, o criador, preservador e sustentador da criação (v.4-19)

269WEISER, Artur. Os Salmos. São Paulo: Paulus, 1994, p. 210-215. 270IDEM.

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Cercados por essa declaração de fé estão os versos 4-19, divididos em duas partes. O

primeiro celebra a ação criadora de Yahweh (v. 4-9) e o segundo descreve Yahweh agindo na

história em defesa de sua criação (v. 10-19). O salmista evidencia, nessas duas partes, a sua

teologia, elaborada a partir de sua preocupação com o mundo criado, trazendo novos elementos

para a teologia do Yahweh Deus Criador, que não foram trabalhados pelo Dêutero-Isaías (Is 40,

28; 42,5 e 45,18), e nem pelos redatores do Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25.

É importante observar que no verso 6, o salmista mencionou a palavra criadora de Yahweh,

- os céus foram feitos pela palavra de

Yahweh.

Observa-se que o salmista utilizou a frase - palavra de Yahweh,

aplicadas a criação dos céus por Yahweh, destacando que a criação efetuou-se pela -

palavra, esclarecendo como a criação foi efetuada detalhando o processo de maneira mais

abrangente que o profeta Dêutero-Isaías, assemelhando-se a narrativa de criação do Gênesis

1,1-2,4ª.

Segundo Gerstenberger271, a ênfase de Salmo 33,6 está na frase “palavra de Yahweh”,

sendo que sua aplicatividade estava relacionada à teologia do pós-exílio. Portanto, o salmista

tem em memória a teologia do Deus Criador, entretanto trouxe um novo elemento a esta

teologia. Ou seja, Yahweh o Deus que efetuou a criação pela sua palavra -

palavra de Yahweh.

É importante observar que os versos 4-9 abrem e fecham com a partícula - eis que

(v. 4 e 9). Parece que a posição dessa partícula não constitui uma inserção para a beleza poética.

Na verdade, ela abre uma série de afirmações da mais alta importância teológica. A partícula

- eis que, tem a função de chamar atenção para as ações de Yahweh ao longo da história.

Portanto, no Salmo 33, o salmista chama a atenção para depois falar da criação dos céus pela

palavra.

122

271GERSTENBERGER, Erhards. Psalms and Lamentations Part 1.2001, p. 143-146.

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Para o salmista, Yahweh além de criar os céus e a terra, também contempla e vê todos os

filhos de Adão. Portanto, o salmista destacou que além de Deus ser o Criador do mundo ele

também é o Sustentador da sua criação.

A teologia do Deus Sustentador, pode ser vista nos vs. 13-15 os quais destacam que

- Yahweh dos céus contempla e vê,

- todo os filhos de Adão.Assim, o salmista declarou sua fé

no Yahweh que contempla toda humanidade.272Ou seja, o Deus que criou o mundo e não o

abandonou nas mãos dos seres criados.

Assim, os versos 6-9 reafirmam numa linguagem litúrgica, a declaração de fé no Deus

Criador. O salmista reproduz e interpreta o evento criador narrado de duas formas por Gn 1,1-

2,4a e 2,4b-25. O que surpreende, entretanto, é a abundante concentração da linguagem da

criação, no Salmo 33 tal qual encontrada nesses dois relatos do livro de Gênesis.

Todavia, se tomar os versos 4-9 como uma unidade de pensamento, é possível crer que o

salmista intencionalmente misturou duas terminologias pertencentes a dois âmbitos da

linguagem bíblica - a da Criação e a da Justiça - para formular uma teologia que pudesse atender

às expectativas de um povo desestruturado e sem perspectiva de reconstrução.

Portanto, a novidade da teologia deste salmista se inclina na ação criadora de Yahweh ser

um ato de justiça, sedaqah, e a questão de Yahweh ser descrito pelo salmista como o que

sustenta sua obra criada.

III - Afirmação de confiança vs. 20-22

Estes versos mostram uma declaração de fé feita pelo salmista que exaltou Yahweh como

Deus Criador e Sustentador da ordem do mundo. No verso 20b, os substantivos auxílio, yezer,

e escudo, magen, são sinônimos do nome Yahweh.

Observa-se que o salmista resume toda a sua esperança, alegria e confiança na bondade,

hesed, de Yahweh, pelo seu cuidado de Guardar e Sustentar a sua Criação (v. 22a).

123

272SCHÖKEL, Luís Alonso e DIAZ, Sicre. J. L. Salmos I (Salmos 1-72). 1º ed. São Paulo: Paulus, 1998, p. 490-

491.

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4.11 Yahweh Deus Criador no Salmo 8

Observa-se que o salmista destacou o tetragrama - Yahweh, como também a

linguagem da criação. Portanto, também trabalhamos o Salmo 8 como um dos Salmos de

criação, os quais apresentam uma evolução na teologia do Yahweh Deus Criador, no período

pós-exílico.

Salmo 8

1. Do mestre de canto. Sobre a... de Gat. Salmo de/para Davi.

2. Yahweh, nosso Adonay, como é majestoso teu nome em toda terra! Que presenté-a,

natan, tua majestade sobre os céus.

3. Da minha boca, crianças mamam, yanaq, determinou, yasad, vigor para que te

envolvam, tasar, para cessar, xabat, hostilidade, ’yab, e seja vingado, naqam.

4. Eis que, verei, ra’ah, teus céus, obra dos teus dedos, lua e estrelas, que estabeleceste,

qun.

5. Quem é homem, para que dele te lembres, zakar, e filho de Adão, para visitá-lo, paqad.

6. E sentiu falta dele, raser, pouco de Elohim, e abundância e esplendor se coroas-te, ‘atar.

7. Governas seu, maxal, obras das tuas mãos, tudo colocaste, xit, embaixo de seus pés.

8. Rebanho e gados, todos e também feras do campo.

9. pássaros dos céus, e peixes do mar, passou, ‘abar, veredas dos mares.

10. Yahweh nosso Adonay, como é majestoso teu nome em toda terra!

Podemos observar que este Salmo, menciona a teologia do Deus Criador e Sustentador da

sua criação, teologia esta que se tornou um dos assuntos principais para os judeus repatriados

em Jerusalém. Para tanto, organizamos o Salmo da seguinte forma:

No v. 1 temos o cabelhaço indicando que o Salmo foi direcionado em memória de Davi ou

em sua homenagem, nos vs. 2-3, o nome de Yahweh foi reverenciado como nome poderoso,

nos vs. 4-5a os céus foram descritos como obra da criação de Yahweh, nos vs. 5b-9 Yahweh

como o Sustentador da criação e no v. 10 o Salmo se encerra com a afirmação do nome poderoso

de Yahweh.

124

Assim apresentamos a estrutura em tópicos.

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Cabeçalho: Salmo de/para Davi v. 1

I – O nome poderoso vs. 2-3

II – Os céus, obras da criação de Yahweh vs. 4-5a

III – Yahweh como o Sustentador da Criação vs. 5b-9

IV – Afirmação do nome poderoso de Yahweh v. 10

O Salmo 8 chama nossa atenção, devido algumas das suas terminologias nos possibilitar,

analisá-lo como uma produção do período pós-exílico, que se utilizou da linguagem

comogônica destacando novas contribuições.

No v. 1 temos a apresentação do cabeçalho, o qual não discutiremos, pois não faz parte

desta pesquisa. Dos vs. 2-3 o salmista destaca a majestade do nome de Yahweh em toda terra

- como é majestoso teu nome em toda

terra. Certamente esta frase era expressada no momento do cântico para anteceder a afirmação

da sua criação.

Observa-se que o v. 4, demonstra que o salmista atribuiu a criação dos céus a Yahweh

- Eis que, verei teus céus,

obra dos teus dedos. Sendo, portanto um Salmo semelhante ao Salmo 19, onde Yahweh não foi

descrito somente como o Deus que criou os céus, mas como um Deus Artesão que criou com

suas mãos.

Portanto, o Salmos 8 desdobra o tema do Deus Criador, trazendo novos elementos que não

foram trabalhados pelo Dêutero-Isaías (Is 40, 28; 42,5 e 45,18). Ainda no v. 4 o salmista fez

referência aos luminares - lua e estrelas, semelhante ao texto

do Gênesis 1,14-18. Observa-se que a semelhança da linguagem cosmogônica dos Salmos de

Criação com a cosmogonia vista no Gênesis, se dá, pelo fato das duas narrativas serem

produções pós-exílicas. Portanto, os Salmos de Criação reafirmam a cosmogonia do Gênesis,

inserindo-lhe novos elementos.

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Observa-se que, no v. 5 o salmista utilizou-se de uma linguagem antropogônica,

mencionando o primeiro ser humano criado - Adão.Esta menção pode ser entendida

pelo fato do salmista ter memória do texto do Gênesis 2,4b-25 propriamente o v. 7 que diz:

Então Yahweh Elohim modelou o ser humano com argila do solo, sobrou em suas narinas um

hálito de vida e o - Adão,se tornou num ser vivente.

Ainda no v. 5b, o Salmista destacou a visita de Yahweh para com Adão. Neste verso, ele

fez menção de Gênesis 3,8, aludindo às visitas que Yahweh fez para Adão. Portanto, o salmista

enfatizou que Yahweh criou o ser humano, mas também lhe sustentou e interagiu com ele.

É importante destacar que nos Salmos de Criação, Yahweh é o Deus Criador e Sustentador

da sua criação e no Dêutero-Isaías (Is 40, 28; 42,5 e 45,18), Yahweh foi descrito somente como

o criador dos céus e da terra.

Esta questão se dá, ao fato que o profeta dêutero-isaiânico direcionou o título de Deus

criador a Yahweh para negar que Marduk era o Deus criador, como já mencionamos

anteriormente e os Salmos de Criação reafirmam que Yahweh é o Deus Criador, sendo que os

salmistas foram influenciados pelas narrativas do Gênesis 1,1-2,4a e 2,4b-25.

Observa-se que os vs. 7-9, destacam que Yahweh atribuiu ao homem o direito de governar,

maxal, sobre sua criação. Estes versos podem ser visto como uma reafirmação de Gênesis 1,26

onde o ser humano foi criado por Yahweh para dominar sobre a sua criação, seus animais

domésticos e selvagens, que vivem no mar, na terra ou no ar. Portanto, para o salmista a criação

de Yahweh estava sobre seu sustento, tanto o ser humano quanto os animais.

Por fim, no v. 10 o salmista não conclui o cântico enfatizando o governo do homem, mas

retorna a enfatizar o nome poderoso de Yahweh como fez no começo do cântico.

Desta maneira, o salmista terminou sua poesia de maneira teocêntrica e não antropocêntrica,

pois para o salmista Yahweh além de criar o

cosmo, o homem e os animais ele sustentou e

interagiu a todo o momento com sua criação.

126

Yahweh nosso Adonay, como é majestoso teu

nome em toda terra. (Sl 8,10)

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4.12 Yahweh Deus Criador no Salmo 136

De acordo com Schökel e Diaz273, o Salmo 136 é um hino que contém respostas idênticas

para cada invocação. Para Weiser274, este Salmo foi conservado da mesma forma que ele era

utilizado nos cultos de celebração no período pós-exílico, possivelmente no Segundo Templo.

Chama nossa atenção, o fato que o refrão do Salmo foi mencionado 26 vezes, pois sua

bondade, hesed, é eterna! Assemelhando-se com as ladainhas populares da piedade popular.

Segundo Kraus275, este Salmo é um cântico litúrgico que direciona ação de graça pelos atos

salvíficos de Yahweh. Observa-se que seus atos salvíficos estão relacionados à ação criadora e

sustentadora de Yahweh, como nos mostram os vs. 5-9.

Salmo 136

1. Celebrai, yadah, a Yahweh, por que é bom, pois sua bondade, hesed, é eterna!

2. Celebrai, yadah, o Elohim dos Elohim, pois sua bondade, hesed, é eterna!

3. Celebrai, yadah, o Senhor dos Senhores, pois sua bondade, hesed, é eterna!

4. Ele fez, ‘asah, grandes maravilhas, pala’, pois sua bondade, hesed, é eterna!

5. Ele fez, ‘asah, os céus com inteligência, pois sua bondade, hesed, é eterna!

6. Ele firmou, raqa‘, a terra, sobre os céus, pois sua bondade, hesed, é eterna!

7. Ele firmou, raqa‘, grandes luminares, pois sua bondade, hesed, é eterna!

8. O sol para dominar o dia, pois sua bondade, hesed, é eterna!

9. A lua e as estralas para dominar a noite, pois sua bondade, hesed, é eterna!

10. Ele feriu, nakah, o Egito com seus primogênitos, pois sua bondade, hesed, é eterna!

11. E fez sair, yasa’, Israel do meio deles, pois sua bondade, hesed, é eterna!

12. Com mão forte e braço estendido, pois sua bondade, hesed, é eterna!

13. Ele dividiu, gazar, o mar dos juncos em partes, pois sua bondade, hesed, é eterna!

14. E fez, abar, passar Israel entre eles, pois sua bondade, hesed, é eterna!

273 SCHÖKEL, Luís Alonso e DIAZ, Sicre. J. L. Salmos I (Salmos 73-150). 1º ed. São Paulo: Paulus, 1998, p.

1549. 274WEISER, Artur. Os Salmos. São Paulo: Paulus, 1994, p. 620-621. 275 KRAUS, Hans Joachim. Los Salmos 60-150. 1º ed. Salamanca: Ediciones Sigueme, 1995, p. 682-688.

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15. E arrojou, na‘ar, Faráo e seu poder no mar dos juncos, pois sua bondade, hesed, é eterna!

16. Ele guiou, halak, seu povo no deserto, pois sua bondade, hesed, é eterna!

17. Ele feriu, nakah, grandes reis, pois sua bondade, hesed, é eterna!

18. Ele matou, harag, reis magestasos, pois sua bondade, hesed, é eterna!

19. Seon, reis dos amorreus, pois sua bondade, hesed, é eterna!

20. E Og, rei de Basã, pois sua bondade, hesed, é eterna!

21. E deu, natan, terra como herança, pois sua bondade, hesed, é eterna!

22. Herança para Israel seu servo, pois sua bondade, hesed, é eterna!

23. De nossa humilhação ele se lembrou, zakar, pois sua bondade, hesed, é eterna!

24. Ele nos livrou, paraq, de nossos adversários, pois sua bondade, hesed, é eterna!

25. Deu pão, para toda carne, pois sua bondade, hesed, é eterna!

26. Celebrai, yadah, ao El dos céus, pois sua bondade, hesed, é eterna!

Utilizamos a estrutura sugerida por Gerstenberger276, o qual divide o Salmo 136 em 6

tópicos que apresentaremos abaixo.

I – Convocação para Celebração vs. 1-3

II – Ação de graças à criação vs. 4-9

III – Ação de Graças pela Libertação vs. 10-15

IV – Ação de graças pela proteção vs. 16-22

V – Ação de Graças pelo sustento vs. 23-25

VI – Convocação para agradecer vs. 26

Observa-se que na primeira parte do Salmo 136, dos vs. 1-3, o salmista destacou o motivo

pelo qual a comunidade deveria celebrar a Yahweh, ou seja, sua - bondade.

Temos, portanto outra semelhança com as narrativas cosmogônicas vista no Gênesis. Neste

caso, a primeira narrativa (Gn 1,1-2,4ª) o redator enfatizou que Elohim viu que sua criação era

boa.

276 GERSTENBERGER, Erhards. Psalms and Lamentations Part 2. 2001, p. 406.

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Nesta tese, focaremos somente na segunda parte do hino, dos vs. 4-9, pois o mesmo destaca

Yahweh como o Deus Criador e Sustentador de sua criação. Observa-se que os atos de criação

de Yahweh foram destacados pelo salmista em três momentos, v. 5 céus com inteligência, v. 6

firmar a terra sobre os céus e v. 7 a criação dos grandes luminares.

O salmista destaca que Yahweh efetuou sua criação sobre céu, terra, sol e lua,

assemelhando-se com a primeira narrativa de criação do Gênesis 1,1-2,4ª. Já mencionamos

anteriormente o motivo pelo qual os Salmos de Criação são parecidos com as narrativas de

criação do Gênesis, tanto a primeira acima destacada como a segunda vista em Gênesis 2,4b-

25.

Portanto, as narrativas cosmogônicas do Gênesis foram às fontes de inspiração para que os

Salmos de Criação fossem produzidos no período pós-exílico pelos repatriados em Jerusalém.

Observa-se que, estes Salmos foram utilizados na celebração cúltica. Sendo assim, os atos de

criação de Yahweh não foram apenas lidos ou transmitidos oralmente em forma de narrativa,

mas também cantados entre a comunidade.

Os vs 8-9 notificam a maneira pela qual Yahweh estabeleceu sua criação e o domínio da

sua criação.

O sol que domina o dia e a lua e as estrelas que dominam a noite não excluem o sustento de

Yahweh na sua criação, pelo contrario, expressão a saberia de Yahweh e seu domínio sobre

seus elementos criados, tendo em vista que no v. 7 o salmista esclarece que os grandes luminares

foram feitos por Yahweh.

Por fim, no Salmo 136 a criação de Yahweh também estava sujeita a sua hesed - bondade.

Nesta expressão podemos averiguar que a criação de Yahweh vinculada com sua bondade, deve

ser analisada como novidade na teologia do Deus Criador, apresentada pelo salmista visto que,

a hesed - bondade de Yahweh na sua criação, não foi um elemento mencionado nas narrativas

comogônicas dêutero-isaiânicas (Is 40, 28; 42,5 e 45,18) e nem nas duas narrativas de criação

vista no Gênesis 1,1-2,4a e 2,4b-25.

O sol para dominar o dia, pois sua bondade, hesed, é eterna!

A lua e as estralas para dominar a noite, pois sua bondade, hesed,

é eterna! (Sl 136,8-9)

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4.13 Conclusão

Concluímos que o credo histórico visto nos textos do Pentateuco ou Hexateuco, discutidos

anteriormente e identificados em Dt 26.5-9; Dt 6.20-24 e Js 24b. 2-13 não apresentaram a

concepção ou a teologia do Deus Criador, devido esta teologia ter surgido somente no final do

exílio com o Dêutero-Isaías (Is 40, 28; 42,5 e 45,18) e retrabalhada no pós-exílio com as

narrativas de criação do Genesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25 e os Salmos de Criação (Sl 104; 19; 33; 8;

136).

Assim, os textos que compõem o credo histórico são obras deuteronomistas do período pré-

exílico que não demonstraram a linguagem do Yahweh Deus Criador, devido esta não ter sido

trabalhada em Israel neste período.

Portanto, o iniciador da teologia do Deus Criador em Israel, foi o profeta Dêutero-Isaías, no

final do exílio entre 540 a.C. Sua literatura trouxe para a compreensão da fé dos judeus a

teologia do Yahweh autor da criação dos céus e da terra, contribuindo para o surgimento de um

novo credo de fé utilizado pelos judeus exilados na Babilônia e retrabalhados pelos re-patriados

em Jerusalém nas atividades cúlticas no Segundo Templo.

Também mencionamos que, o motivo que levou o profeta dêutero-isaiânico a apresentar

Yahweh como o Deus Criador, foi seu interesse em negar que o título de Deus Criador pertencia

a Marduk.

Desta maneira, destacamos que as narrativas cosmogônicas e antropogônicas vistas no livro

de Gênesis, foram um desdobramento da teologia do Deus Criador apresentada pelo Dêutero-

Isaías.

Assim, os textos de Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25, contribuíram como fonte de inspiração na

produção dos Salmos de Criação, que trouxeram novos elementos para a teologia do Deus

Criador e Sustentador.

Por fim, os judeus do período pós-exílico, deram continuidade à teologia do Deus Criador

iniciada pelo Dêutero-Isaías, desdobrando esta teologia com novos temas e novidades que

apresentamos nos Salmos de Criação 104; 19; 33. 08; 136.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer desta pesquisa, observamos que outros trabalhos acadêmicos discutiram a

questão da influência da cosmogonia da criação babilônica Enuma Elish no Antigo Testamento.

No entanto, todos fizeram esta abordagem a partir das narrativas cosmogônicas e

antropogônicas do livro de Gênesis.

Portanto, nosso trabalhou traz como novidade para a teologia do Deus Criador em Israel, a

tese de que o iniciador desta teologia foi o profeta Dêutero-Isaías no período que viveu os

últimos anos de exílio na Babilônia. Destacamos que o objetivo do profeta foi negar que o título

de Deus Criador, pertencia ao deus babilônico Marduk.

Outra novidade de nossa tese, foi à questão de que as narrativas cosmogônicas e

antropogônicas da criação vistas no livro de Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25, foram elaboradas no

período pós-exílico pelos repatriados em Jerusalém, os quais re-trabalharam este tema para

confirmar a teologia do Deus Criador iniciada pelo Dêutero-Isaías.

Desta maneira, sugerimos que os textos que aludem à criação no livro de Gênesis, devem

ser vistos como a segunda fase da teologia do Deus Criador em Israel. Ainda, mencionamos

que foram os textos de criação do Gênesis que inspiraram os salmistas a produzirem os Salmos

de Criação (Sl 104; 19; 33; 08; 136). Os quais apresentamos como a terceira fase da teologia

do Deus Criador em Israel.

Destacamos que na terceira fase da teologia do Deus Criador em Israel, os salmistas

trabalharam novos temas relacionados à criação. Tais como: Yahweh Deus Sustentador e

Yahweh o Deus Artesão.

Mencionamos que algumas das nossas contribuições podem ser identificadas em nossa

averiguação da historiografia de Heródoto e Berossus, pois em suas obras os mesmos nos

apresentaram textos antigos da Mesopotâmia, que destacaram as narrativas de criação dos

sumerianos até o império neo-babilônico e como estes textos foram utilizados pelos caldeus

neo-babilônicos na construção de sua teologia que tinha como tema central a criação dos céus

e da terra efetuada por Marduk.

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Desta maneira, demonstramos que os relatos cosmogônicos da criação vistos na literatura

do profeta Dêutero-Isaías, identificados no livro do profeta Isaías (Is 40, 28; 42,5 e 45,18),

foram produzidos a partir da influência do Enuma Elish.

Destacamos que os relatos de criação vistos no livro de Gênesis 1,1-2,4ª e 2,4b-25, também

foram influenciados pelo Enuma Elish e seus redatores tinham como objetivo central, re-afirmar

a teologia do Deus Criador, iniciada pelo Dêutero-Isaías.

Mencionamos que os autores dos Salmos de Criação (Sl 104; 19; 33; 08; 136), não

produziram seus hinos para questionar a criação de Marduk, segundo a fé dos babilônicos, pois

a teologia do Yahweh Deus Criador, já tinha sido aderida em Israel.

Assim, o objetivo dos salmistas foi re-afirmar a teologia do Yahweh Deus Criador, tendo

como fonte de inspiração as narrativas cosmogônicas apresentadas no livro de Gênesis. Para

tanto, demonstramos as semelhanças que há entre as narrativas de criação, vistas nos Salmos

de Criação e no livro de Gênesis.

Notificamos que o título de Deus Criador atribuído a Yahweh pelo Dêutero-Isaías, nunca

foi utilizado no profetismo pré-exílico. Portanto, o profeta criou uma nova teologia e um novo

credo de fé, que se tornou o assunto central da teologia judaíta no pós-exílio.

Assim, a partir destas e outras abordagem trabalhadas nesta tese, sugerimos novas propostas

que destacaram a teologia cosmogônica da criação vetero-testamentária, a partir do Dêutero-

Isaías.

Destacamos que o Enuma Elish chegou ao conhecimento dos judaítas exilados na Babilônia

e serviu como motivação para que o Dêutero-Isaías viesse produzir um texto que teve por

finalidade negar a autoria da criação do cosmo direcionada a Marduk, e atribuí-la a Yahweh.

Por fim, observamos o quando a linguagem religiosa, ritos e mitos de uma religião

contribuem na construção imagética de outra religião. Sobre esta questão não devemos nos

surpreender, pois o judaísmo não foi à única religião que sofreu influências e interferências

culturais de outras religiões.

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Portanto, religiões geram religiões, sentidos geram sentidos, e quem da importância a tudo

isto é o grupo religioso motivados pela fé.

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149

ANEXO: AS TÁBUAS DO ENUMA ELISH

PRIMEIRA TÁBUA

Quando nos altos céus não era mencionado,

E a terra em baixo ainda não tinha nome,

E o primeiro (primitivo) Apsu, que os criou,

E o Caos, Tiamat, a mãe de ambos

As suas águas foram misturadas umas com as outras,

E nenhum campo fora formado, e não se via nenhum pântano;

Quando nenhum dos deuses havia sido chamado à existência,

E nenhum alcançado um nome, e os destinos tinham sido ordenados;

Então foram criados os deuses no meio dos céus,

Lahmu e Lahamu foram chamados à existência…

As idades (eras ou épocas) aumentaram,…

Então Ansar e Kisar foram criados, e dominaram-nos…

Passaram-se muitos dias, então eles trouxeram à existência…

Anu, o seu filho,...

Ansar e Anu...

E o deus Anu...

Nudimmud, cujos pais, seus progenitores…

Eram cheios de toda a sabedoria,… ’

Ele era extremamente forte…

Não tinha rival

Deste modo foram estabelecidos e foram… os grandes deuses.

Mas Tiamat e Apsu estavam ainda em confusão… Estavam em dificuldades

e...

Em desordem...

Apsu não foi diminuído em poder...

E Tiamat rugiu...

Ela castigou, e as suas ações...

O caminho deles era mau...

Então Apsu, o progenitor dos grandes deuses,

Gritou para Mummu, o seu ministro, e disse-lhe: "Oh Mummu, meu ministro

que fazes regozijar o meu espírito,

Vem, até Tiamat vamos!

Então foram e diante de Tiamat se prostraram,

Eles consultaram-se sobre um plano com respeito aos deuses seus filhos.

Apsu abriu a sua boca e falou,

E para Tiamat, o cintilante, ele dirigiu a palavra:

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...o caminho deles...

Durante o dia não tenho descanso, e de noite não consigo deitar-me em paz.

Mas eu destruirei o seu caminho, Eu o destruirei...

“Haja uma lamentação, e descansemos em paz. Então Tiamat ouviu estas

palavras,

Ela se enraiveceu e gritou alto...

Ela... gravemente...,

Ela pronunciou uma maldição, e para Apsu ele falou:

"Então que podemos nós fazer?

Que o seu caminho se torne difícil, e deitemo-nos de novo em paz."

Mummu respondeu, e aconselhou Apsu,

...e o conselho que deu Mummu era hostil aos deuses:

Vem, o caminho deles é forte, mas tu o destruirás;

Então durante o dia poderás ter descanso, e de noite te poderás deitar em

paz."

Apsu deu-lhe ouvidos e o brilho em seu semblante aumentou,

Dado que ele (Mummu) planeava o mal contra os deuses seus filhos.

... vós fizestes...

... deitemo-nos em paz.

... eles infligirão derrota....

... Deitemo-nos em paz.

... tu tomarás vingança por eles,

... para a tempestade tu serás...!"

E Tiamat prestou atenção à palavra do deus brilhante, e disse:

... tu confiarás! Ganhemos a guerra!"

... os deuses no meio de...

... porque os deuses que ela criou.

Eles uniram-se e ao lado de Tiamat avançaram;

Estavam furiosos; planearam prejudicar sem descanso noite e dia.

Prepararam-se para a batalha, enfurecidos e enraivecidos;

Juntaram as suas forças e fizeram guerra,

Ummu-Hubur [Tiamat] que formou todas as coisas,

Page 159: Perspectivas Hermenêuticas: Uma Releitura do Conceito do ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1748/2/ROBERTO DE JESUS SILVA.pdfTese de doutorado sob o título Perspectivas Hermenêuticas:

Fez em adição armas invencíveis; Ela gerou serpentes-monstros, 151

De dentes aguçados, e implacáveis garras;

Ela encheu os seus corpos com veneno em vez de sangue.

Vívoras-monstro horríveis ela vestiu com terror,

Com esplendor ela as forrou, fê-las de estatura elevada.

Qualquer que as observasse, o terror o vencia,

Os seus corpos se elevavam e ninguém podia resistir ao seu ataque.

Construiu vívoras e dragões, e o monstro Lahamu,

E furacões, e cães raivosos, e homens-escorpiões,

E poderosas tempestades e homens-peixe, e carneiros;

Criaram armas cruéis, sem medo de lutar.

As ordens dela eram poderosas, ninguém lhes podia resistir;

Depois de toda esta parafernália, de estatura enorme, fez onze (espécies de)

monstros.

Entre os deuses que eram os seus filhos, porquanto ele lhe tinha dado ajuda,

Ela exaltou Kingu; do meio deles ela o levantou para o poder.

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... Ele estava temeroso..., 152

Os seus joelhos enfraqueceram; estavam a ir-se abaixo,

Em razão do mal que o seu primogênito tinha planeado.

... eles... eles alteraram.

... eles...,

Lamentação eles sentaram-se em amargura

..................

Então Ea, que sabia de tudo isto, levantou-se e atentou para a sua

murmuração.

[cerca de 30 linhas ilegíveis]

... ele falou:

... tu... ele tinha conquistado e

... ele chorou e sentou-se atribulado.

... de medo,

... Não nos deitaremos em paz.

... Apsu é tornado desperdício,

... e Mummu, que tinha sido levado cativo, em...

Para marchar diante das forças, para liderar a hoste,

Para dar o sinal da batalha, para avançar com o ataque,

Para dirigir a batalha, e controlar a luta,

A ele ela confiou; em tecido de grande preço ela o fez sentar, dizendo:

Eu expressei o teu discurso, na assembleia dos deuses eu te levantei para o

poder. O domínio sobre todos os deuses eu to confiei.

Sê exaltado, tu meu escolhido esposo,

Possam eles magnificar o teu nome sobre todos eles ó Anunnaki. "

Ela lhe deu as Tábuas do Destino, sobre o seu peito ela as colocou, dizendo:

A tua ordem não será sem proveito, e a palavra da tua boca será estabelecida."

Agora Kingu, assim exaltado, tendo recebido o poder de Anu,

Decretou o destino entre os deuses seus filhos, dizendo:

"Que o abrir da tua boca extinga o deus do fogo;

Aquele que é assim exaltado na batalha, que ele revele o seu poder!"

Fim da Primeira Tábua

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153

SEGUNDA TÁBUA

Tiamat tornou pesado o seu trabalho manual, Ela perpetrou o mal contra os deuses seus

filhos. Para vingar Apsu, Tiamat planeou o mal, Mas conforme ela adquiria as suas

forças, o deus divulgava para Ea.

Ea prestava atenção a esta coisa, e

Ele estava gravemente aflito e sentou-se em amargura.

Passaram os dias e a sua ira fora satisfeita,

E para o lugar de Ansar seu pai ele tomou o seu caminho.

Foi e, colocando-se diante de Ansar, o pai que o gerou,

Tudo aquilo Tiamat havia traçado repetia de si para si,

Dizendo, "Tiamat nossa mãe concebeu ódio por nós,”

Com toda a sua força ela se enraiveceu, cheia de ira.

Todos os deuses se voltaram para ela,

Com aqueles, os quais tu criaste, se colocaram ao seu lado.

Juntos ao lado de Tiamat eles avançam;

Estão furiosos, eles buscam o prejuízo sem descanso noite e dia.

Preparam-se para a batalha, enfurecidos e enraivecidos;

Juntaram as suas forças e estão fazendo guerra.

Ummu-Hubur, que formou todas as coisas. Fez em adição armas invencíveis;

Ela gerou serpentes-monstros,

De dentes aguçados, e implacáveis garras;

Ela encheu os seus corpos com veneno em vez de sangue.

Vívoras-monstro horríveis ela vestiu com terror,

Com esplendor ela as forrou, fê-las de estatura elevada.

Qualquer que as observasse, o terror o vencia,

Os seus corpos se elevavam e ninguém podia resistir ao seu ataque.

Construiu víboras e dragões, e o monstro Lahamu,

E furacões, e cães raivosos, e homens-escorpiões,

E poderosas tempestades e homens-peixe, e carneiros;

Criaram armas cruéis, sem medo de lutar.

As ordens dela eram poderosas, ninguém lhes podia resistir;

Depois de toda esta parafernália, de estatura enorme, fez onze monstros.

Entre os deuses que eram os seus filhos, porquanto ele lhe tinha dado ajuda,

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Ela exaltou Kingu; do meio deles ela o levantou para o poder. 154

Para marchar diante das forças, para liderar a hoste,

Para dar o sinal da batalha, para avançar com o ataque,

Para dirigir a batalha, e controlar a luta,

A ele ela confiou; em tecido de grande preço ela o fez sentar, dizendo:

Eu expressei o teu discurso, na assembleia dos deuses eu te levantei para o

poder. O domínio sobre todos os deuses eu to confiei.

Sê exaltado, tu meu escolhido esposo,

Possam eles magnificar o teu nome sobre todos eles. "

Ela lhe deu as Tábuas do Destino, sobre o seu peito ela as colocou, dizendo:

A tua ordem não será sem proveito, e a palavra da tua boca será estabelecida.”

Agora Kingu, assim exaltado, tendo recebido o poder de Anu,

Decretou o destino entre os deuses seus filhos, dizendo:

"Que o abrir da tua boca extinga o deus do fogo;

Aquele que é assim exaltado na batalha, que ele revele o seu poder!"

Quando Ansar ouviu como Tiamat estava tão poderosamente em revolta,

os seus lábios tremeram, a sua mente não estava em paz.

...ele fez uma amarga lamentação: ...batalha, ...tu... Mummu e Apsu vós tendes

golpeado

Mas Tiamat exaltou Kingu, e onde está aquele que se pode opor?

... deliberação

... o ... dos deuses, -Nudimmud.

[Uma lacuna de uma dúzia de linhas ocorre aqui.]

Ansar dirige a palavra ao seu filho:

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155

"... meu poderoso herói,

Cuja Fortaleza é grande e cuja ofensiva não pode ser suportada,

Vai e põe-te diante de Tiamat,

Para que o seu espírito possa ser satisfeito, para que o coração dela possa ser

misericordioso.

Mas se ela não atentar para a tua palavra, A nossa poderás tu falar para ela,

para que possa ser apaziguada."

Ele ouviu a palavra do seu pai Ansar

E dirigiu o seu caminho para ela, em direção a ela ele tomou o seu caminho.

Ann chegou perto, ele olhou para a murmuração de Tiamat,

Mas não pôde resistir-lhe, e voltou para trás.

... Ansar

... ele falou-lhe:

[Uma lacuna de vinte linhas ocorre aqui.]

um vingador...

... Valente no lugar da decisão

... ele falou-lhe:

... o teu pai

" Tu és meu filho, que tornou o seu coração misericordioso.

... para a batalha te aproximas,

aquele que atentar para ti terá paz."

E o senhor se alegrará na palavra do seu pai,

E se aproximará e estará diante de Ansar.

Ansar o escutará e o seu coração ficará cheio de alegria,

Ele beijá-lo-á nos lábios e o seu temor sairá dele.

"Ó meu pai, que a palavra dos teus lábios seja feita,

Deixa-me ir para que cumpra tudo que está no teu coração.

Ó Ansar, que a palavra dos teus lábios jamais seja sobrepujada,

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Qualquer que as observasse, o terror o vencia, 156

Os seus corpos se elevavam e ninguém podia resistir ao seu ataque.

Construiu víboras e dragões, e o monstro Lahamu,

E furacões, e cães raivosos, e homens-escorpiões,

E poderosas tempestades e homens-peixe, e carneiros;

Criaram armas cruéis, sem medo de lutar.

As ordens dela eram poderosas, ninguém lhes podia resistir;

Depois de toda esta parafernália, de estatura enorme, fez onze monstros.

Entre os deuses que eram os seus filhos, porquanto ele lhe tinha dado ajuda,

Ela exaltou Kingu; do meio deles ela o levantou para o poder.

Para marchar diante das forças, para liderar a hoste,

Para dar o sinal da batalha, para avançar com o ataque,

Para dirigir a batalha, e controlar a luta,

A ele ela confiou; em tecido de grande preço ela o fez sentar, dizendo:

Eu expressei o teu discurso, na assembleia dos deuses. Eu te levantei para o

poder. O domínio sobre todos os deuses eu to confiei.

Sê exaltado, tu meu escolhido esposo,

Possam eles magnificar o teu nome sobre todos eles o Anunnaki “

Ela lhe deu as Tábuas do Destino, sobre o seu peito ela as colocou, dizendo:

A tua ordem não será sem proveito, e a palavra da tua boca será estabelecida.”

Agora Kingu, assim exaltado, tendo recebido o poder de Anu,

Decretou o destino entre os deuses seus filhos, dizendo:

"Que o abrir da tua boca extinga o deus do fogo;

Aquele que é assim exaltado na batalha, que ele revele o seu poder!" Enviei

Anu, mas ele não pôde resistir-lhe

Nudimmud teve medo e recuou.

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Deixa-me ir, para que possa cumprir tudo aquilo que está no teu coração. 157

Qual é o homem, que te gerou para a batalha?

... Tiamat, qual é a mulher, que está armada e te ataca.

... regozija-te e alegra-te;

O pescoço de Tiamat rapidamente tu pisarás debaixo do teu pé.

... regozija-te e alegra-te;

O pescoço de Tiamat rapidamente tu pisarás debaixo do teu pé.

Ó meu filho, que tens o conhecimento de toda a sabedoria,

Pacifica Tiamat com o teu puro encantamento.

Com rapidez percorre o teu caminho,

Porque o teu sangue não será derramado; tu tornarás a voltar;"

O senhor se regozija na palavra do seu pai,

O seu coração exulta, e para o seu pai falou:

"Ó Senhor dos deuses, Destino dos grandes deuses,

Se eu, teu vingador,

Conquistar Tiamat e te der vida,

Convoca uma assembleia, torna o meu destino preeminente e proclama-o.

Em Upsukkinaku sentai-vos juntos alegremente,

Com a minha palavra em teu lugar eu decreto o destino.

O que quer que eu faça permanece inalterável,

Seja qual for a palavra dos meus lábios nunca será mudada ou tornada sem

valor."

FIM DA SEGUNDA TÁBUA

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A TERCEIRA TÁBUA 158

Ansar abriu a sua boca, Para Gaga, o seu ministro, falou a palavra.

"Ó Gaga, meu ministro que fazes regozijar o meu espírito,

Para Lahmu e Lhamu te enviará.

... vós não podeis alcançar,

... vós fareis que diante de vós seja trazido.

... que os deuses, todos eles,

Se aprontem para a festa, que se sentem no banquete,

Que comam pão, que misturem o vinho,

Para que Marduk, o vingador deles possa ser decretado o destino.

Vai, Gaga, põe-te diante deles,

E tudo aquilo que te disse, repete-o para eles, e diz:

'Ansar, o teu filho, enviou-me,

O propósito do seu coração mo fez conhecer.

O propósito do seu coração ele mo fez conhecer.

Ele disse que Tiamat a tua mãe concebeu ódio por nós,

Com toda a sua força ela se enraiveceu plena de ira.

Todos os deuses se voltaram para ela,

Com aqueles que tu criaste, se puseram ao seu lado.

Se uniram conjuntamente, e ao lado de Tiamat avançam;

Estão furiosos, eles buscam o prejuízo sem descanso noite e dia.

Preparam-se para a batalha, enfurecidos e enraivecidos;

Juntaram as suas forças e estão fazendo guerra.

Ummu-Hubur, que formou todas as coisas. Fez em adição armas invencíveis;

Ela gerou serpentes-monstros,

De dentes aguçados, e implacáveis garras;

Ela encheu os seus corpos com veneno em vez de sangue.

Vívoras, monstro horríveis ela vestiu com terror,

Com esplendor ela as forrou, fê-las de estatura elevada.

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Qualquer que as observasse, o terror o vencia. 159

Os seus corpos se elevavam e ninguém podia resistir ao seu ataque.

Construiu víboras e dragões, e o monstro Lahamu,

E furacões, e cães raivosos, e homens-escorpiões,

E poderosas tempestades e homens-peixe, e carneiros;

Criaram armas cruéis, sem medo de lutar.

As ordens dela eram poderosas, ninguém lhes podia resistir;

Depois de toda esta parafernália, de estatura enorme, fez onze monstros.

Entre os deuses que eram os seus filhos, porquanto ele lhe tinha dado ajuda,

Ela exaltou Kingu; do meio deles ela o levantou para o poder.

Para marchar diante das forças, para liderar a hoste,

Para dar o sinal da batalha, para avançar com o ataque,

Para dirigir a batalha, e controlar a luta,

A ele ela confiou; em tecido de grande preço ela o fez sentar, dizendo:

Eu expressei o teu discurso, na assembleia dos deuses. Eu te levantei para o

poder. O domínio sobre todos os deuses eu to confiei.

Sê exaltado, tu meu escolhido esposo,

Possam eles magnificar o teu nome sobre todos eles o Anunnaki “

Ela lhe deu as Tábuas do Destino, sobre o seu peito ela as colocou, dizendo:

A tua ordem não será sem proveito, e a palavra da tua boca será estabelecida.”

Agora Kingu, assim exaltado, tendo recebido o poder de Anu,

Decretou o destino entre os deuses seus filhos, dizendo:

"Que o abrir da tua boca extinga o deus do fogo;

Aquele que é assim exaltado na batalha, que ele revele o seu poder!" Enviei

Anu, mas ele não pôde resistir-lhe

Nudimmud teve medo e recuou.

Page 168: Perspectivas Hermenêuticas: Uma Releitura do Conceito do ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1748/2/ROBERTO DE JESUS SILVA.pdfTese de doutorado sob o título Perspectivas Hermenêuticas:

Mas Marduk saiu pelo diretor dos deuses, 160

Para se colocar contra Tiamat o seu coração o despertou.

Ele abriu a sua boca e falou-me, dizendo: “Se eu, teu vingador,

Conquistar Tiamat e te der a vida,

Convoca uma assembleia, torna o meu destino preeminente e proclama-o.

Em Upsukkinaku sentai-vos juntos alegremente,

Com a minha palavra em teu lugar eu decreto o destino.

O que quer que eu faça permanece inalterável,

Seja qual for à palavra dos meus lábios nunca será mudada ou tornada sem

valor."

Apressa-te, portanto e rapidamente decreta para ele o destino que tu traçaste,

Para que ele possa ir e combater o teu forte inimigo. Gaga foi, tomou o seu

caminho e humildemente diante de Lahmu e Lahamu, os deuses, seus pais,

Fez uma vénia, e beijou a terra diante dos seus pés..

Humilhou-se a si próprio; então levantou-se e falou para eles dizendo:

"Ansar, o teu filho, enviou-me,

A mim me fez conhecer o propósito do seu coração.

Ele disse que Tiamat a nossa mãe concebeu ódio por nós,

Com toda a sua força ela se enraiveceu, plena de ira.

Todos os deuses se voltaram para ela,

Com aqueles que tu criaste, se puseram ao seu lado.

Se uniram conjuntamente, e ao lado de Tiamat avançam;

Estão furiosos, eles buscam o prejuízo sem descanso noite e dia.

Preparam-se para a batalha, enfurecidos e enraivecidos;

Juntaram as suas forças e estão fazendo guerra.

Ummu-Hubur, que formou todas as coisas. Fez em adição armas invencíveis;

Page 169: Perspectivas Hermenêuticas: Uma Releitura do Conceito do ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1748/2/ROBERTO DE JESUS SILVA.pdfTese de doutorado sob o título Perspectivas Hermenêuticas:

Ela gerou serpentes-monstros, 161

De dentes aguçados, e implacáveis garras;

Ela encheu os seus corpos com veneno em vez de sangue.

Vívoras-monstro horríveis ela vestiu com terror,

Com esplendor ela as forrou, fê-las de estatura elevada.

Qualquer que as observasse, o terror o vencia,

Os seus corpos se elevavam e ninguém podia resistir ao seu ataque.

Construiu víboras e dragões, e o monstro Lahamu,

E furacões, e cães raivosos, e homens-escorpiões,

E poderosas tempestades e homens-peixe, e carneiros;

Criaram armas cruéis, sem medo de lutar.

As ordens dela eram poderosas, ninguém lhes podia resistir;

Depois de toda esta parafernália, de estatura enorme, fez onze monstros.

Entre os deuses que eram os seus filhos, porquanto ele lhe tinha dado ajuda,

Ela exaltou Kingu; do meio deles ela o levantou para o poder.

Para marchar diante das forças, para liderar a hoste,

Para dar o sinal da batalha, para avançar com o ataque, Para dirigir a batalha,

e controlar a luta,

A ele ela confiou; em tecido de grande preço ela o fez sentar, dizendo:

Eu expressei o teu discurso, na assembleia dos deuses Eu te levantei para o

poder. O domínio sobre todos os deuses eu to confiei.

Sê exaltado, tu meu escolhido esposo,

Possam eles magnificar o teu nome sobre todos eles... o Anunnaki “

Ela lhe deu as Tábuas do Destino, sobre o seu peito ela as colocou, dizendo:

A tua ordem não será sem proveito, e a palavra da tua boca será estabelecida.”

Agora Kingu, assim exaltado, tendo recebido o poder de Anu,

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Decretou o destino entre os deuses seus filhos, dizendo: 162

"Que o abrir da tua boca extinga o deus do fogo;

Aquele que é assim exaltado na batalha, que ele revele o seu poder!"

Enviei Anu, mas ele não pôde resistir-lhe

Nudimmud teve medo e recuou.

Mas Marduk saiu o diretor dos deuses, seu filho;

Para se colocar contra Tiamat o seu coração o despertou.

Ele abriu a sua boca e falou-me, dizendo: “Se eu, teu vingador,

Conquistar Tiamat e te der a vida,

Convoca uma assembleia, torna o meu destino preeminente e proclama-o.

Em Upsukkinaku sentai-vos juntos alegremente,

Com a minha palavra em teu lugar eu decreto o destino.

O que quer que eu faça permanece inalterável,

Seja qual for a palavra dos meus lábios nunca será mudada ou tornada sem

valor."

Apressa-te, portanto e rapidamente decreta para ele o destino que tu traçaste,

Para que ele possa ir e combater o teu forte inimigo.

Lahmu e Lahamu ouviram e gritaram alto Todos os Igigi [os deuses mais

velhos] lamentavam amargamente, dizendo: O que foi alterado para que eles

pudessem Não compreendemos as ações de Tiamat!

Então se reuniram e foram,

Os grandes deuses, todos eles, que decretam o destino.

Entraram diante de Ansar, Encheram.

Beijaram-se uns aos outros, em Assembleia.

Prepararam-se para a festa, no banquete se sentaram;

Comeram pão, misturaram vinho de sésamo.

A bebida doce, a água mel, confundiu as suas.

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Estavam embriagados com a bebida, os seus corpos estavam cheios. 163

Estavam totalmente descontraídos, o seu espírito estava exaltado;

Então para Marduk, o vingador deles, eles decretaram o destino.

FIM DA TERCEIRA TÁBUA

A QUARTA TÁBUA

Eles prepararam para ele um quarto principesco,

Antes o seu pai como príncipe tomou o seu lugar.

"Tu és principal entre os grandes deuses,

O teu destino é inigualável, a tua palavra é Anu!

Ó Marduk, vós sois principal entre os grandes deuses,

O teu destino é inigualável, a tua palavra é Anu!

Doravante as tuas ordens não serão sem proveito,

O teu poder será para exaltação e para abatimento.

A palavra da tua boca será estabelecida, irresistível será a tua ordem,

Nenhum entre os deuses transgredirá os teus limites.

Abundância, o desejo dos santuários dos deuses,

Será estabelecida no santuário, ainda que faltem as ofertas.

Ó Marduk, tu és o nosso vingador!

Damos-te a soberania sobre todo o mundo.

Senta-te em poder; sê exaltado nas tuas ordens.

As tuas armas jamais perderão o seu poder, ele esmagará o inimigo.

Ó Senhor, poupa a vida daquele que pôs a sua verdade em ti,

Mas quanto ao deus que deu início à rebelião, derrama a sua vida."

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Então coloca no meio deles uma vestimenta, 164

E falaram para Marduk,- o, seu primogênito:

"Que o teu destino possa, ó senhor, ser supremo entre os deuses,

Para destruir e para criar, fala tu a palavra, e as tuas ordens sejam cumpridas.

Ordena agora e faz com que a coberta desapareça;

E fala a palavra de novo e faz com que a vestimenta reapareça!

Então ele falou com a sua boca, e a vestimenta desapareceu;

Ordenou de novo e ela reapareceu.

Quando os deuses, os pais dele, cumpriram a sua palavra,

Regozijaram-se, e prestaram-lhe homenagem, dizendo, “Marduk é rei!”

Entregaram-lhe o cetro, e o trono, e o anel,

Deram-lhe uma arma invencível que dominará o inimigo.

Vai, e tira a vida a Tiamat,

E deixa que o vento leve o seu sangue para os lugares secretos.

Depois os deuses seus pais decretaram para o senhor o seu destino,

Fizeram que fosse colocado numa vereda de prosperidade e sucesso.

Aprontou o arco escolheu a sua arma, pegou numa lança e a segurou...

Levantou o bastão, na sua mão direita o segurou O arco e a aljava fixou ao seu

lado.

Colocou o relâmpago diante de si,

Com chama abrasadora encheu o seu corpo.

Fez uma rede para envolver as partes internas de Tiamat,

Reteve os quarto ventos para que nada dela pudesse escapar;

O vento do Sul e o do Norte do Este e do Oeste

Trouxe para junto da rede, a oferta do seu pai Anu.

Ele criou o vento do mal, e a tempestade, e o furacão,

E o vento quarto vezes mais poderoso, e o vento sete vezes mais poderoso e o

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redemoinho, e o vento que não tinha igual; 165

Ele enviou os ventos que havia criado, os sete;

Para causar distúrbio nas partes interiores de Tiamat, eles seguiam-no.

Então o senhor provocou o trovão, a sua ponderosa arma,

Subiu à sua carruagem, a tormenta inigualável para o terror;

Ele colocou o harnez e o jugo sobre os seus quarto cavalos,

Destruidor, feroz, opressor, e rápido de ritmo;

onde os seus dentes, estavam manchados de espuma;

Eram, destros em,... tinham sido treinados para espezinharem.

poderosos na batalha,

Esquerda e direita.

A sua cobertura era... , ele estava vestido de terror,

A sua cabeça estava coroada com brilho ofuscante.

Ele saiu, seguiu o seu caminho,

E em direção a enraivecida Tiamat colocou a sua face.

Nos seus lábios detinha.

Segurava em sua mão.

Então eles o observavam, os deuses o observavam,

Os deuses seus pais o observavam, os deuses o observavam,

E o senhor aproximava-se, ele olhava intensamente para as partes internas de

Tiamat,

Apercebeu-se da murmuração de Kingu, o seu esposo.

Enquanto Marduk olhava com intensidade, Kingu mostrava um semblante

incomodado,

A sua vontade fora anulada e os seus movimentos cessaram.

E os deuses, seus ajudadores, que marchavam ao seu lado,

Atentavam para os seus lideres... e o seu parecer mostrava-se incomodado.

Mas Tiamat..., não voltou o seu pescoço,

Com lábios que não falhavam ela proferiu palavras de rebelião:

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"... a tua vinda como senhor dos deuses, 166

Nos seus lugares se juntaram, no seu lugar eles estão! "

Então o senhor ergueu o seu trovão, a sua arma poderosa,

E contra Tiamat, que estava enraivecida, por isso ele enviou a palavra:

Tu te estás tornando grande, te exaltaste a ti mesma nas alturas,

E o teu coração te tem despertado chamando-te para a batalha.

Seus pais...,

Seus tu odiaste...

Tu exaltaste a Kingu para ser o teu esposo,

Tens aquele que, mesmo como, Anu, ele editou decretos

Tu seguiste após o mal,

E contra os deuses meus pais tu tens maquinado o teu plano maquiavélico.

Que os teus exércitos se equipem, cinge as tuas armas!

Levanta-te! Eu e tu, batalhemos!

Quando Tiamat ouviu estas palavras,

Estava como alguém possesso, ela perdeu a razão.

Tiamat proferiu penetrantes gritos selvagens,

Ela tremia e sacudia-se até aos seus fundamentos.

Recitou um encantamento, pronunciou o seu discurso,

E os deuses da batalha gritaram pelas suas armas.

Então avançaram Tiamat e Marduk, o conselheiro dos deuses;

Chegaram-se à batalha, á batalha se aproximaram.

O senhor estendeu a sua rede e apanhou-a,

E o vento mau estava atrás dele ele o soltou na face dela.

Como Tiamat abrisse a sua boca em toda a sua extensão,

Ele introduziu o vento mau, enquanto ela não fechou os seus lábios.

Os terríveis ventos encheram o seu ventre,

E a sua coragem se foi dela, e a sua boca se abriu a toda a largura.

Ele apanhou a lança e rebentou o seu ventre,

Ele separou as suas partes interiores, perfurou o seu coração.

Venceu-a e tirou-lhe a vida;

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Lançou por terra o seu corpo e se colocou em cima dele. 167

Depois de ter massacrado Tiamat, a líder,

O poder dela se foi, o seu exército fora espalhado.

E os deuses seus ajudadores, que marchavam ao seu lado,

Tremiam e estavam com medo, e recuaram.

Fugiram para salvarem as suas vidas;

Mas eles foram cercados, de modo que não puderam escapar.

Ele os levou cativos, quebrou as suas armas;

Na rede em que foram apanhados na armadilha em que caíram.

O mundo que eles encheram de gritos de sofrimento.

Eles receberam o castigo dele, foram levados em cativeiro.

E sobre as onze criaturas que ela havia enchido do poder do terror

Assombroso.

Sobre as tropas de demônios, que marchavam após ela,

Ele trouxe aflição, a sua força ele;

Eles e a sua oposição ele espezinhou.

Além disso, Kingu, que tinha sido exaltado sobre eles,

Ele conquistou, e com o deus Dug-ga contou Tomou dele as Tábuas do

Destino que por direito não eram dele,

Ele as selou com um selo e no seu próprio peito as colocou.

Agora depois de o herói Marduk ter conquistado e lançado por terra os seus

inimigos,

E ter feito o mesmo ao arrogante inimigo

E ter estabelecido o triunfo de Ansar sobre o inimigo E ter alcançado o

propósito de Nudimmud,

Sobre os deuses cativos ele fortaleceu a sua prisão,

E para Tiamat, que ele conquistou, ele voltou.

E o senhor permaneceu sobre as partes ocultas de Tiamat,

e com o seu implacável bastão ele esmagou a sua caveira.

Cortou todos os canais do sangue dela,

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E fez com que o vento do Norte o arrojasse para os lugares secretos. 168

Os seus pais atentaram, e se regozijaram e ficaram alegres;

Presentes e ofertas lhe foram trazidos.

Então o senhor descansou, olhando intensamente para o corpo dela morto,

Enquanto dividia a carne de... , e punha em prática um plano desenvolto.

Ele a separou como um peixe sem escamas em duas metades;

Metade dela a estabeleceu com uma coberta para o céu.

Fixou uma plataforma, postou uma sentinela,

E ofereceu-as para não deixarem as suas águas saírem.

Passou pelos céus, examinou as suas regiões,

E nas profundezas estabeleceu a morada de Nudimud.

e o senhor mediu a estrutura do Abismo,

Fundou E-sara, uma mansão como para ele.

A mansão E-sara que ele criou como céu,

Ele fez que Anu, Bel, e Ea habitassem em seus distritos.

.

FIM DA QUARTA TÁBUA

A QUINTA TÁBUA

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Ele (Marduk) fez as estações para os grandes deuses; 169

As estrelas, as suas imagens, tal como as estrelas do Zodíaco, ele fixou.

Ordenou o ano em secções ele o dividiu;

Para os doze meses ele fixou três estrelas.

Depois ele teve, os dias do ano, imagens,

Fundou a estação de Nibir [o planeta Júpiter] para determinar os seus limites

Para que ninguém possa errar os se desviar,

Estabeleceu a estação de Bel e Ea conjuntamente com ele.

Abriu grandes portas em ambos os lados,

Tornou forte a plataforma à esquerda e à direita.

No meio delas fixou o zênite;

Fez com que brilhasse o deus-Lua, a ele lhe confiou à noite.

Apontou-o como um ser da noite, para determinar os dias;

Todos os meses sem cessar com a coroa o cobriu, dizendo:

"No princípio do mês, quando brilhares sobre a terra,

Governarás a armação para determinar seis dias,

E no sétimo dia para dividir a coroa.

No décimo quarto dia estarás no oposto, a metade....

Enquanto que o deus-Sol na fundação do céu vós,

O ...tu farás que..., e tu farás o seu...

...para a vereda do deus-Sol tu farás que se aproxime,

E sobre o ...dia estarás oposto, e o deus-Sol...

... para atravessar o seu caminho.

... aproximar-te-ás, e julgarás o direito.

... para destruir..."

[Aproximadamente cinquenta linhas perderam-se aqui.]

Os deuses, seus pais, atentaram para a rede que ele havia feito,

Observaram o arco e como a sua obra tinha sido acabada.

Louvaram o trabalho que ele tinha feito...

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Então Anu levantou o... na assembleia dos deuses. Beijou o arco salvando, " 170

ele é...!"

E assim ele nomeou os nomes do arco, salvando,

"'Pau-comprido” será um nome, e o Segundo nome será ...,

E o seu terceiro nome será o Arco-estrela, no céu ele será...!"

Então fixará uma estação para ele...

Então depois o destino de…

Ele estabeleceu um trono...

...no céu...[o restante desta tábua falta.]

FIM DA QUINTA TÁBUA

A SEXTA TÁBUA

Quando Marduk ouviu a palavra dos deuses,

O seu coração despertou-o e ele estabeleceu um plano desenvolto.

Abriu a sua boca e falou para Ea

Aquilo que ele tinha concebido no seu coração lho concedeu:

"O meu sangue eu tomarei e osso eu formarei

Farei o homem, para que o homem possa Criarei o homem que habitará a

terra,

Para que o serviço dos deuses possa ser estabelecido e para que os seus

santuários possam ser construídos .

Mas eu alterarei o caminho dos deuses, e mudarei as suas veredas;

Juntos serão oprimidos e para o mal eles....

E Ea respondeu-lhe e falou a palavra:

"... o ... dos deuses eu mudei ... e um...

... será destruído e os homens farei eu...

... e os deuses .

... e eles..."

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[Falta o resto do texto com a exceção das últimas poucas linhas 171

da tábua, que reza como se segue.]

Eles se regozijaram...

Em Upsukkinnaku eles estabeleceram a sua morada.

Do heroico filho, seu vingador, eles clamaram:

" Nós, a quem ele socorreu.... !"

Sentara-se e na Assembleia o nomearam...,

Todos eles clamaram em voz alta, eles o exaltaram...

FIM DA SEXTA TÁBUA

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